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Geotécnica

Material Teórico
Sistemas de Classificação dos Solos

Responsável pelo Conteúdo:


Prof.ª Me. Francieli Sant’ana Marcatto

Revisão Textual:
Jaquelina Kutsunugi
Sistemas de Classificação dos Solos

• Os sistemas de classificação dos solos;


• Roteiro de classificação dos solos.

OBJETIVO DE APRENDIZADO
• Conhecer e distinguir os sistemas de classificação dos solos;
• Aprender a classificar os solos em diferentes sistemas de classificação.
Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem
aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua
formação acadêmica e atuação profissional, siga
algumas recomendações básicas:
Conserve seu
material e local de
estudos sempre
organizados.
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Procure manter indicações
contato com seus de Material
colegas e tutores Complementar.
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Determine um Isso amplia a
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para estudar.

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as redes sociais.

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de se alimentar
Assim: e de se manter
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte hidratado.
da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e
horário fixos como seu “momento do estudo”;

Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma


alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo;

No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos
e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você tam-
bém encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão
sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados;

Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus-
são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o
contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e
de aprendizagem.
Unidade Sistemas de Classificação dos Solos

Sistemas de Classificação dos Solos


Os sistemas de classificação dos solos aplicados à engenharia buscam enquadrar
a diversidade de solos existentes em grupos que apresentam características seme-
lhantes, considerando, como atributos, a sua composição granulométrica e os limi-
tes de consistência. Segundo Souza Pinto (2006, p. 63) “o objetivo da classificação
dos solos, sob o ponto de vista da engenharia, é poder estimar o provável compor-
tamento do solo ou, pelo menos, orientar o programa de investigação necessário
para permitir a adequada análise de um problema”.

Ao classificar os solos, são atribuídas algumas características, que podem ser


entendidas por todos que conhecem um sistema de classificação determinado. Por
exemplo, quando se fala em um solo arenoso mal graduado, classificado conforme
o Sistema Unificado, sabe-se que esse solo possui mais de 50% de material gros-
so, predominando a fração areia, não apresenta compressibilidade e os índices de
compacidade indicam um material pouco uniforme. Dessa forma, os sistemas de
classificação facilitam a comunicação entre os responsáveis técnicos.

Entretanto, é necessário se atentar para o fato de que as classificações mais


conhecidas e utilizadas atualmente foram elaboradas para atender áreas específicas
e, quando aplicadas em outras áreas, podem não corresponder de forma eficiente
à nova demanda. Um sistema que classifica os solos conforme a demanda rodo-
viária, como ocorre com o HRB, pode não atender com a mesma eficácia a área
de construção civil. Assim, é necessário cautela no uso desses sistemas, lembrando
sempre o objetivo a que ele foi proposto.

Nesta Unidade, serão apresentados dois sistemas de classificação: o Sistema


Unificado e o HRB, ambos utilizados mundialmente.

Sistema Unificado de Classificação dos Solos (SUCS)


O Sistema Unificado de Classificação foi proposto, inicialmente, em 1942, por Ca-
sagrande, foi difundido e, atualmente, é amplamente utilizado por engenheiros na área
de Geotécnica. O Sistema Unificado de Classificação de Solos, publicado em 1960,
pela U.S. Army and Corps of Engineers, baseia-se em características que indiquem de
que maneira o solo se comportará como um material de construção de engenharia.

Você Sabia? Importante!

O Sistema Unificado de Classificação foi proposto inicialmente para classificar os solos,


com o propósito de serem utilizados para a implantação de aeroportos. Mais tarde, o uso
foi difundido para as demais áreas da Engenharia, sendo muito utilizado atualmente na
área de barragens.

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Nessa classificação, os solos são identificados por duas letras: uma que indica
o tipo de solo, representando um grupo geral, e a outra que aponta informações
complementares, formando um subgrupo (Tabela 1). Assim, por exemplo, um solo
com classificação CL corresponde a uma argila de baixa compressibilidade ou GP,
que se refere a um pedregulho mal graduado.
Tabela 1 – Terminologia utilizada pelo Sistema Unificado e os seus significados
Terminologia Significado
G Pedregulho
S Areia
M Silte
C Argila
O Solo orgânico
W Bem graduado
P Mal graduado
H Alta compressibilidade
L Baixa compressibilidade
Pt Turfas
Fonte: Pinto (2006).

Pode-se considerar que os solos desse sistema são classificados em três grandes
grupos: os solos grossos (pedregulho e areia), os solos finos (silte e argila) e os so-
los orgânicos. Para classificá-los em um ou outro grupo, é necessário considerar a
quantidade de materiais finos presentes no solo, ou seja, a quantidade de material
que passa pela peneira de diâmetro 0,075 mm. Se o material passante for superior
a 50%, será considerado granulação fina e, se inferior a 50%, granulação grosseira
(PINTO, 2006).

A identificação do grande grupo dos solos grossos (pedregulho ou areia) é feita


de acordo com a fração granulométrica predominante. Assim, um solo cuja com-
posição for 20% de pedregulho, 50% de areia e 30% de silte e argila será classifi-
cado como S (areia).

As letras G e S referem-se ao grande grupo do material grosso e as letras W e


P, as características de uniformidade desse material, que pode ser bem graduado
(W) ou mal graduado (P). Entretanto, a presença de material fino deve ser inferior a
5% e não deve alterar as características de resistência da fração grossa e a sua per-
meabilidade. Caso isso ocorra, é necessário avaliar a consistência do material fino.

Quando os solos grossos possuem mais de 12% de material fino, a classificação


em um subgrupo é descartada e adota-se a letra correspondente ao material fino.
Assim, os pedregulhos poderão ser classificados como GC ou GM e as areias,
como SC ou SM, se forem secundariamente identificados como argilosos ou silto-
sos. O posicionamento no gráfico de plasticidade determinará a classificação.

Os materiais que possuem de 5 a 12% de material fino ou valores inferiores a


5%, mas que exibem plasticidade deverão ser classificados como limítrofes e apre-

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UNIDADE Sistemas de Classificação dos Solos

sentarem um símbolo duplo. Por exemplo, os símbolos SW – SM, indicam uma


areia bem graduada siltosa.

As características de um solo bem graduado indicam que os grãos ocorrem em


uma faixa de diâmetro mais extensa, ao passo que nos solos mal graduados há
a predominância de partículas com um diâmetro (Figura 1). A uniformidade dos
grãos dos solos grossos confere melhor comportamento quanto à aplicação em
obras de engenharia, tendo em vista que solos bem graduados têm os espaços
vazios ocupados pelas partículas menores, tornando-os mais resistentes e menos
compressíveis (PINTO, 2006).

Figura 1 - Curva de distribuição granulométrica de solos bem graduados,


mal graduados e com granulometria descontínua
Fonte: Das (2007)

A uniformidade dos solos granulares é expressa pelo coeficiente de não-unifor-


midade e pelo coeficiente de curvatura. O coeficiente de não-uniformidade é dado
por:

em que D60 = diâmetro abaixo do que 60% das partículas se situam;

D10 = diâmetro que representa a porcentagem que passa igual a 10%.

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O coeficiente de curvatura é expresso por:

Para o Sistema Unificado, os pedregulhos deverão ser classificados como bem


graduados quando o seu coeficiente de não-uniformidade for superior a 4 e, para
as areias, superior a 6. Além disso, o coeficiente de curvatura deverá indicar uma
curva de formato côncavo, com intervalo entre 1 e 3, para que seja considerado
bem graduado. Assim, quanto maior o coeficiente de não-uniformidade de um
solo, mais bem graduado é o material, e quanto mais a curvatura granulométrica se
aproxima do formato côncavo, mais bem graduado será o solo.

A figura 2 apresenta três curvas granulométricas de distribuição de solos gros-


sos, com diferentes coeficientes de não-uniformidade e curvatura.

Figura 2 - Curva granulométrica com o coeficiente de não-uniformidade (CNU)


e coeficiente de curvatura (CC) de diferentes amostras de solos arenosos
Fonte: Pinto (2006)

Em relação aos solos finos, podem ser classificados em M e C quando forem


de silte ou argila, e em H e L quando se referir a sua compressibilidade. No caso
dos solos finos, não é somente a quantidade proporcional de argila que define o
comportamento do solo, mas também a sua atividade.

A definição da consistência do solo utilizada nesse sistema de classificação parte


do gráfico de plasticidade elaborado por Casagrande (Figura 3), que representa os
solos de textura argilosa acima da Linha A, e os solos orgânicos e siltes inorgâni-
cos, abaixo dessa linha. A Linha A é definida pela equação IP = 0,73 x (LL - 20).

Para definir o comportamento do solo em relação a sua consistência conforme


o gráfico de plasticidade (Figura 3), é necessário localizar os valores corresponden-
tes ao índice de plasticidade e ao limite de liquidez, classificando-os em argila ou
silte, com baixa ou alta compressibilidade.

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Figura 3 – Gráfico de plasticidade com as classes de solos proposta pelo sistema unificado
Fonte: Adaptado de U. S. Army and Corps of Engineers (1960)

A compressibilidade é uma característica importante dos solos: é proporcional


ao limite de liquidez, sendo que solos que possuem o mesmo limite de liquidez
apresentam compressibilidade semelhante. Dessa forma, a classificação com os
símbolos L ou H expressam a compressibilidade do solo, sendo L de baixa com-
pressibilidade e H, alta compressibilidade. A subdivisão entre baixa e alta com-
pressibilidade é representada pela Linha B, que cruza o limite de liquidez em 50%,
sendo que à direita estão os solos de alta compressibilidade e à esquerda os solos
de baixa compressibilidade.

Importante! Importante!

Ao comparar as características de solos que possuem o mesmo limite de liquidez, obser-


va-se que o aumento do índice de plasticidade indica um aumento da coesão do solo e
uma diminuição na sua permeabilidade.

Semelhantemente ao que ocorre nos solos grossos, é possível classificar os solos


finos em situações intermediárias ou limítrofes. Isso ocorre quando estão muito
próximos à linha A ou linha B, ou quando ocorrem entre a linha de índice de
plasticidade de 4 a 7. Assim, um silte pode ser classificado, por exemplo, como
MH – ML.

Os solos orgânicos (argila ou silte) são representados pela letra O e podem ser
classificados, conforme o gráfico de plasticidade, como de alta compressibilidade

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ou baixa compressibilidade. Em situação específica, na qual o solo identificado é
uma turfa, é designado o símbolo Pt.

A representação esquemática dos parâmetros e símbolos utilizados para a clas-


sificação dos solos conforme o SUCS são apresentados na figura 4.

Figura 4 - Representação esquemática do Sistema de Classificação Unificada


Fonte: Marcatto (2019)

Quando os valores dos índices plotados no gráfico de plasticidade coincidem


com duas classes de solo, como um silte inorgânico de baixa compressibilidade
(ML) e um silte orgânico de baixa compressibilidade (OL), é necessária uma dife-
renciação adicional, nesse caso, da matéria orgânica. A identificação pode ser feita
em campo, por meio da cor e odor do solo ou por procedimentos de laboratório.

Sistema de Classificação HRB


O Sistema de Classificação HRB é muito utilizado na engenharia rodoviária e foi
proposto, inicialmente, em 1929, pelo Bureau of Public Roads, órgão do governo
dos Estados Unidos. Em 1945, sofreu alterações e revisões propostas pela Ameri-
can Association of State Highway Officials (AASHTO), constituindo a atual versão.

Esse sistema de classificação dos solos se baseia nos limites de Atterberg e na


granulometria, e define sete grupos principais de solos, representados por A-1 a
A-7. Os solos granulares são classificados nos grupos A-1, A-2 e A-3 e os solos
finos, nos grupos A-4, A-5, A-6 e A-7.

Para que o solo seja classificado como granular (classes A-1 a A-3), é necessário
passar o material pela peneira nº 200 (0,075 mm de abertura). Se menos de 35%
do seu material passar por essa peneira, ele possuirá granulação grosseira. Essa
classificação é diferente do que ocorre com a Classificação Unificada, em que 50%
do material pode passar. Para que o solo seja classificado como fino (classes A-4
a A-7), é necessário que mais de 35% do seu material passe pela peneira nº 200.

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Unidade Sistemas de Classificação dos Solos

Os grupos de solos podem ser divididos em subgrupos, em que:

A-1 é subdividido em A-1-a, A-1-b;

A-2 é subdividido em A-2-4, A-2-5, A-2-6 e A-2-7;

A-3, A-4, A-5 e A-6 não possuem subdivisões;

A-7 é subdividido em A-7-5 e A-7-6.

As subdivisões dos solos grossos partem sempre de que menos de 35% do ma-
terial passou pela peneira de nº 200, assim:

A-1-a: são solos grossos e compostos por fragmentos de rochas, pedregulhos


e areia, com ou sem material fino bem graduado. Nesse subgrupo, menos de 50%
do material deve passar pela peneira nº 10 (2 mm de abertura), menos de 30% na
peneira nº 40 (0,42 mm de abertura) e menos de 15% na peneira nº 200 (0,075
mm de abertura). Além disso, o índice de plasticidade deve ser inferior a 6.

A-1-b: solos grossos, compostos por fragmentos de rochas, pedregulhos e


areia, apresentam plasticidade inferior a 6, com ou sem material fino bem gradu-
ado. Menos de 50% de material passa pela peneira nº 40 e menos de 25% passa
na peneira nº 200.

A-3: solo composto por areia fina, com ausência de material argiloso ou silto-
so, portanto, sem plasticidade. Mais de 50% passa pela peneira nº 40 e menos
de 10% passa pela peneira nº 200, caracterizando-se, dessa maneira, como mal
graduados.

A-2: são solos compostos por pedregulhos e areia siltosa ou argilosa. Menos de
35% do material passa pela peneira de nº 200. Os subgrupos se diferenciam pelo
limite de liquidez e índice de plasticidade. Assim, no A-2-4 o limite de liquidez é
menor do que 40% e a plasticidade, inferior a 10%; no A-2-5 o limite de liquidez
é superior a 41% e o índice de plasticidade é inferior a 10%; no A-2-6 o limite de
liquidez é menor do que 40% e o índice de plasticidade, superior a 11% e o A-2-7,
em que o limite de liquidez é superior a 41% e o índice de plasticidade maior do
que 11%.

Para os solos finos, considera-se que mais de 35% da amostra total tenha passa-
do pela peneira nº 200. As subdivisões dos solos finos são diferenciadas pelos dis-
tintos valores de índice de consistência, e são utilizados os termos “siltoso” quando
o solo possui índice de plasticidade ≤ 10, ou “argiloso”, quando esse índice é ≥ 11,
conforme representado na Figura 5. Assim:

A-4: solos siltosos não-plásticos ou moderadamente plásticos: o limite de liqui-


dez é menor do que 40% e o índice de plasticidade é inferior a 10%.

A-5: solos siltosos, com limite de liquidez superior a 41% e o índice de plastici-
dade é inferior a 10%;

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A-6: solos argilosos plásticos, com limite de liquidez menor do que 40% e o ín-
dice de plasticidade superior a 11%. Esses solos podem apresentar grande variação
de volume entre o estado seco e o úmido;

A-7: solos argilosos, em que o limite de liquidez é maior do que 41% e o índice
de plasticidade é superior a 11%. No subgrupo A-7-5, IP ≤ LL - 30 e no subgrupo
A-7-6, IP> LL - 30. Podem apresentar elevada variação de volume.

Figura 5 - Classificação dos solos finos em relação ao limite de liquidez e


índice de plasticidade, de acordo com o Sistema de Classificação HRB
Fonte: Pinto (2006)

Quando se deseja avaliar a qualidade do solo como material de subleito para


uma rodovia, deve-se calcular o índice de grupo, que será acrescentado aos grupos
e subgrupos de solos. O índice de grupo é dado por:

IG = (F200 - 35) [0,2 + 0,005 (LL - 40)] + 0,01 (F200 - 15) (IP - 10)

em que F200= porcentagem de material que passa pela peneira nº 200;

LL = limite de liquidez;

IP = índice de plasticidade.

O índice de grupo possui um intervalo de variação de 0 a 20, e o pior solo será


o que apresentar o maior valor de índice de grupo, e o melhor, o que obtiver menor
índice de grupo.

Segundo Das (2007), algumas regras devem ser consideradas para a aplicação
do índice de grupos, entre elas:
1. se o valor obtido for negativo, deve ser considerado igual a 0;
2. o índice de grupo deve ser arredondado para o número inteiro mais pró-
ximo;
3. não há limite superior para o índice de grupo;

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Unidade Sistemas de Classificação dos Solos

4. o índice de grupo para os solos classificados em A-1-a, A-1-b, A-2-4, A-2-


5 e A-3 é igual a 0;
5. ao determinar o índice de grupo para os solos que pertencem ao A-2-6 e
A-2-7, deve-se usar o índice de grupo parcial para o índice de plasticidade,
expresso por:
Explor

No Brasil, o Sistema HRB é muito empregado por engenheiros rodoviários e o Sistema Uni-
ficado é mais conhecido entre os engenheiros de barragens. Na área de fundações, ambos
são pouco utilizados, sendo mais conhecidas as classificações regionais de solos (SOUSA
PINTO, 2006).

No HRB, os solos recebem uma designação que indica a qualidade do material


como subleito. Geralmente, os solos grossos possuem uma qualidade de excelente
a boa, e mais recomendados os solos do grupo A-1, por serem constituídos de ma-
terial grosso e apresentarem uma pequena quantidade de material fino cimentante.
Os solos finos são de satisfatórios a deficientes, e a adequação para o uso como
subleito diminui, em ordem crescente, do grupo A-4 para o grupo A-7.

Exercícios resolvidos
1. A tabela a seguir apresenta a granulometria de um solo e os seus limites
de consistência.

Tabela 2
Descrição Índices dos solos
Porcentagem que passa pela peneira nº 4 100
Porcentagem que passa pela peneira nº 10 100
Porcentagem que passa pela peneira nº 40 93
Porcentagem que passa pela peneira nº 200 75
Limite de liquidez 59
Limite de plasticidade 21
Fonte: Marcatto (2019).

a) Classifique o solo de acordo com o Sistema Unificado.


b) Classifique o solo no Sistema HRB.

Solução:

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a) A porcentagem de material passante pela peneira nº 200 é superior a
50%. Trata-se um solo fino, classificado como M ou C, de acordo com
o índice de plasticidade e limite de liquidez.

O índice de plasticidade é dado por: IP = LL - LP

IP = 59 - 21 = 38

No gráfico de Casagrande consulta-se o índice de plasticidade e o limite de liqui-


dez para definir o tipo de solo e a sua compressibilidade.
Figura 6

Fonte: Adaptado de U. S. Army and Corps of Engineers (1960).

Assim, o solo pode ser classificado como CH ou uma argila de alta compressi-
bilidade.
b) O material passante na peneira nº 200 é superior a 35%, portanto, um
solo classificado como fino. O índice de plasticidade e o limite de liqui-
dez que determinam o grupo ao qual o solo pertence, assim:

Como LL ≥ 41 e IP ≥ 11, o solo pertence ao grupo A-7, no subgrupo A-7-6,


pois IP > LL - 30. Portanto, um solo argiloso.

2. O diâmetro da partícula da porcentagem que passa de 60%, 30% e 10%


da curva de distribuição granulométrica de um solo classificado como are-
noso no Sistema Unificado são apresentados a seguir:

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Unidade Sistemas de Classificação dos Solos

Tabela 2
Porcentagem que passa (%) Diâmetro da partícula
60 0,165
30 0,115
10 0,085
Fonte: Marcatto (2019)

Determine o coeficiente de não-uniformidade e o coeficiente de curvatura desse


solo e indique se se trata de um solo bem graduado ou mal graduado.

Solução:

Para obter o coeficiente de não-uniformidade:

CNU = D60 / D10

CNU = 0,165 / 0,085

CNU = 1,9

Para o coeficiente de curvatura:

CC = (D30)² / (D60 x D10)

CC = (0,115)² / (0,165 x 0,085)

CC = 0,94

O solo pode ser classificado como uma areia mal graduada, pois CNU < 6 e CC < 1.

Roteiros de Classificação dos Solos


A definição de roteiros para a classificação dos solos facilita a compreensão
dos procedimentos que deverão ser adotados para o enquadramento do solo em
seu respectivo grupo. Serão apresentados a seguir, roteiros que podem auxiliar na
classificação dos solos no Sistema Unificado e no HRB.

Roteiro de classificação dos solos pelo Sistema Unificado


Para a classificação no Sistema Unificado, primeiramente, deve-se reconhecer a
composição granulométrica do solo e depois, separadamente, classificar o material
grosso e fino. Para tanto, alguns passos devem ser seguidos:
1. determinar a composição granulométrica do solo, com a definição da por-
centagem retida e passante em cada peneira.

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2. se a porcentagem retida na peneira nº 200 for superior a 50%, será classi-
ficado como um solo grosso (pedregulho e areia), procedendo como segue:
a) determinar a fração granulométrica predominante. Se for pedregulho,
atribui-se o símbolo G e para a areia, o símbolo S;
b) determinar o coeficiente de não-uniformidade (CNU) e o coeficiente de cur-
vatura (CC), analisando o gráfico com a curva de distribuição granulométrica;
c) a partir dos valores encontrados para o coeficiente de curvatura e coeficien-
te de uniformidade, determinar se o solo é bem graduado ou mal graduado:

Pedregulho:

CNU ≥ 4 e 1 < CC <3 – bem graduado – Símbolo GW

CNU < 4 e 3 < CC <1 – mal graduado – Símbolo GP

Areia:

CNU ≥ 6 e 1 < CC <3 – bem graduado – Símbolo SW

CNU < 6 e 3 < CC <1 – mal graduado – Símbolo SP


d) se os solos grossos possuírem mais de 12% de material fino, adota-se
também a letra do material fino. Ex: SC – areia argilosa;
e) se os solos grossos possuírem de 5% a 12% de material fino, adota-se
um símbolo duplo, que indica a uniformidade do material grosso e a
compressibilidade do material fino. Ex: SW – SM, areia bem graduada
siltosa.
3. Se a porcentagem de material passante na peneira nº 200 for superior a
50%, o solo será classificado como fino (silte e argila), seguindo os seguin-
tes procedimentos:
a) determinar o limite de liquidez do solo, conforme a NBR 6459;
b) determinar o limite de plasticidade do solo, conforme a NBR 7180;
c) determinar o índice de plasticidade do solo, a partir dos valores obtidos
com o limite de liquidez e limite de plasticidade;
d) a partir do índice de plasticidade e do limite de liquidez, definir o tipo de
solo no gráfico de plasticidade,
e) para solos classificados como argilosos, atribui-se o símbolo C e para os
siltosos, o símbolo M;

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Unidade Sistemas de Classificação dos Solos

f) o comportamento em relação à plasticidade, definido no gráfico de plas-


ticidade, determinará se o solo possui alta compressibilidade, represen-
tada pelo símbolo H ou baixa compressibilidade, dado pelo símbolo L;
g) caso o solo fino possua uma classificação intermediária, devido à proximi-
dade com a Linha A ou B do gráfico de plasticidade ou quando ocorrem
entre a linha de índice de plasticidade de 4 a 7, utiliza-se um símbolo duplo.
Ex: MH - ML.
4. Se o solo possuir em sua composição grande quantidade de matéria or-
gânica, observada em campo ou obtida com observações de índices no
laboratório, será classificado como um silte orgânico ou argila orgânica,
representado pelo símbolo O.
a) Os solos orgânicos devem utilizar a mesma simbologia dos solos inorgâni-
cos em relação à compressibilidade (H ou L).

Roteiro de classificação dos solos pelo Sistema HRB


Semelhantemente ao Sistema Unificado, o HRB utiliza, como parâmetros, a
granulometria e a consistência do material para a definição de classes. Os procedi-
mentos a serem seguidos são:
1. determinar a composição granulométrica do solo, com a definição da por-
centagem retida e passante em cada peneira;
2. se menos de 35% do material passar pela peneira nº 200, o solo será
classificado como granular, devendo-se observar:
a) Os solos grossos são divididos em 3 grandes grupos, com 6 subdivisões;
b) os pedregulhos e areias serão classificados no grupo A-1 e deverão
apresentar índice de plasticidade inferior a 6%. Os subgrupos serão
diferenciados pela porcentagem de material passante pelas peneiras nº
10, 40 e 200, assim:

A-1-a: o material passante pelas peneiras nº 10, 40 e 200 deverá ser inferior a
50%, 30% e 15%, respectivamente.

A-1-b: o material passante pelas peneiras nº 40 e 200 deve ser inferior a 50%
e 25%.
c) A areia fina será classificada no grupo A-3 e não deverá apresentar
plasticidade. O material passante na peneira nº 40 deve ser superior a
51% e, na peneira nº 200, inferior a 10%;
d) a areia e as areias siltosas e argilosas serão classificadas no grupo A-2.
O material que passa pela peneira nº 200 deve ser inferior a 35%. Os
subgrupos serão diferenciados pelo limite de liquidez e índice de plasti-
cidade, como segue:

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A-2-4: LL ≤ 40 e IP ≤ 10

A-2-5: LL ≥ 41 e IP ≤ 10

A-2-6: LL ≤ 40 e IP ≥ 11

A-2-7 LL ≥ 41 e IP ≥ 11
3. Se a porcentagem de material passante pela peneira nº 200 for superior
a 35%, o solo será classificado como fino (siltoso ou argiloso), seguindo os
seguintes procedimentos:
a) determinação do limite de liquidez do solo, conforme a NBR 6459;
b) determinação do limite de plasticidade do solo, conforme a NBR 7180;
c) determinação do índice de plasticidade do solo, a partir dos valores ob-
tidos com o limite de liquidez e limite de plasticidade;
d) observação do limite de liquidez e do índice de plasticidade para a clas-
sificação do solo em grupos e subgrupos, conforme segue:

A-4: LL ≤ 40 e IP ≤ 10 – solo siltoso

A-5: LL ≥ 41 e IP ≤ 10 – solo siltoso

A-6: LL ≤ 40 e IP ≥ 11 – solo argiloso

A-7: LL ≥ 41 e IP ≥ 11, sendo que A-7-5, IP ≤ LL – 30 e A-7-6, IP> LL – 30


– solo argiloso.

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Unidade Sistemas de Classificação dos Solos

Em Síntese Importante!

Nesta Unidade, conhecemos os sistemas mais utilizados na classificação dos solos e suas
aplicações. É importante recordar:
1. os sistemas de classificação buscam enquadrar os solos em clas-
ses com características semelhantes;
2. o sistema unificado utiliza uma terminologia com letras, que
indicam as características principais do solo e as características
secundárias;
3. nos solos grossos, a fração predominante indicará se se trata
de um pedregulho (G) ou areia (S). Nos solos finos, ocorrerá a
partir da observação do gráfico de plasticidade, em que os solos
argilosos (C) se localizam acima da linha A e os solos siltosos
(M), abaixo dessa linha;
4. os solos grossos podem ser classificados como bem graduados
(W) ou mal graduados (P) de acordo com a uniformidade do
material. Já os solos finos serão classificados de acordo com a
compressibilidade alta (H) ou baixa (L), conforme o gráfico de
plasticidade;
5. o sistema HRB divide os solos em 7 grandes grupos e 8 sub-
grupos. Os solos grossos são representados pelos grupos A-1,
A-2 e A-3 e os solos finos, por A-4, A-5, A-6, A-7 e seus res-
pectivos subgrupos;
6. os solos grossos se diferenciam pela quantidade de material
passante pelas peneiras e pela presença ou não de plasticidade;
7. os solos finos se diferenciam pelo índice de plasticidade e limite
de liquidez.

Conhecidos os dois sistemas de classificação, é importante lembrar que devem


ser aplicados com a devida cautela, pois em algumas situações os solos podem ser
enquadrados em grupos cujas características não correspondem realmente. Esses
sistemas foram desenvolvidos em países de clima temperado, onde a atuação do
intemperismo químico é muito reduzida e, portanto, apresentam solos com com-
portamento muito distinto dos encontrados em países tropicais.

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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

Leitura

Classificação Geotécnica dos Solos da Bacia do Rio Almada – Bahia


O artigo intitulado “Classificação geotécnica dos solos da bacia do Rio Almada – Bahia”
aplica o Sistema Unificado para classificar os solos em classes. Nesse trabalho, foi verificado
que, apesar de a classificação pedológica indicar solos diferentes do ponto de vista do
comportamento mecânico dos solos, eles podem ser enquadrados no mesmo grupo.
FRANCO, G. B.; MARQUES, E. A. G.; CHAGAS, C. S.; GOMES, R. L.; SOUZA, C.
M. P. Classificação geotécnica dos solos da bacia do Rio Almada – Bahia. Caminhos
da Geografia, Uberlândia, v. 13, n. 42, 2012.
https://bit.ly/2T7EcXB

Estudo Comparativo de Diferentes Sistemas de Classificações Geotécnicas aplicadas aos Solos Tropicais
A dissertação de mestrado intitulada Estudo comparativo de diferentes
sistemas de classificações geotécnicas aplicadas aos solos tropicais, apresenta
outros tipos de classificações, que consideram o comportamento distinto
dos solos tropicais. Trata-se de um estudo interessante, pois aplicam-se
diferentes classificações nas mesmas amostras de solos, buscando compará-las.
SANTOS, E. F. Estudo comparativo de diferentes sistemas de classificações geotécnicas
aplicadas a solos tropicais. Dissertação (Mestrado em Engenharia Civil) –
Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2006.
https://bit.ly/2SrxVRn

Propriedades Geotécnicas do Solo Residual de Basalto da região de Ijuí/RS


O trabalho intitulado “Propriedades geotécnicas do solo residual de basalto da região de
Ijuí/RS”, é um estudo aplicado, que busca levantar características geotécnicas dos solos
e, com base nesse levantamento, classificá-los pela sua composição granulométrica,
pelo sistema unificado e pelo HRB. É interessante observar que os diferentes sistemas
de classificação atribuíram, aos mesmos solos, características distintas, demonstrando o
quanto é importante se atentar para o objetivo da aplicação de um sistema de classificação.
DIEMER, F.; RAMBO, D.; SPECHT, L. P.; POZZOBON, C. E. Propriedades do solo
residual de basalto da região de Ijuí/RS. Teoria e Prática na Engenharia Civil, n. 12, 2008.
https://bit.ly/2Srd1C1

Análises dos solos de Urucu para fins de uso rodoviário


O trabalho Análises dos solos de Urucu para fins de uso rodoviário constitui-se de um
estudo aplicado, que busca analisar os solos e classificá-los com o objetivo de uso em
projetos rodoviários. Além disso, foram empregadas técnicas de estabilização química
com diferentes produtos para melhorar as propriedades geotécnicas do solo e torná-
los aptos ao uso rodoviário, demonstrando como o conhecimento das propriedades
dos solos e o seu correto tratamento melhoram os seus atributos para usos especí-
ficos. PESSOA, F. H. C. Análises dos solos de Urucu para fins de uso rodoviário.
2004. 151 f. Dissertação (Mestrado em Engenharia Civil), Universidade de Brasília,
Brasília, 2004.
https://bit.ly/2Hagume

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Unidade Sistemas de Classificação dos Solos

Referências
DAS, B. M. Fundamentos de Engenharia Geotécnica. 7. ed. São Paulo: Cen-
gage Learning, 2007.

PINTO, C. S. Curso Básico de Mecânica dos Solos. São Paulo: Oficina de


textos, 2006.

U.S. Army Engineer Waterways. American Society of Enginners. Experiment


Station and Corps of Engineers. The Unified soil classification system. Technical
memorandum, n. 3-357, 1960.

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