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Aula 14

Múltiplos aspectos que caracterizam


o estado atual do relevo costeiro
e de suas condições futuras

Jorge Soares Marques


Aula 14  •  Múltiplos aspectos que caracterizam o estado atual do relevo costeiro e de
Aula 14  •  suas condições futuras
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Meta

Demonstrar como os relevos costeiros podem ser estudados e entendi-


dos a partir de teorias e de classificações geomorfológicas.

Objetivos

Esperamos que, ao final desta aula, você seja capaz de:

1. reconhecer as formas de relevo que existem nas áreas costeiras;


2. identificar tipos de costas;
3. explicar o porquê de as teorias geomorfológicas ajudarem a entender
e prever como os ambientes costeiros evoluirão.

Pré-requisito

Geomorfologia Geral: Aula 13 – “As classificações do relevo no ensino


da Geomorfologia” – e Aula 14 – “As classificações do relevo brasileiro
usadas no ensino básico de Geografia”.

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Geomorfologia Costeira

Como encontrar os tipos ideais de ambientes


costeiros para viver perto da praia?

Essa pergunta é apresentada para facilitar a introdução e a lembrança


de conhecimentos (alguns mais gerais e outros mais específicos) neces-
sários à compreensão e formulação de classificações e ao uso das classes
referentes às áreas costeiras.
Para respondê-la, é sugerido, entre outros, o uso de um dos dois ca-
minhos apresentados a seguir, para se chegar a uma classificação que
apresente a solução procurada.

1º caminho

a) Relacionar todas as características que você gostaria que esses lugares


tivessem, levando em conta a possibilidade de atribuir valores para cada
uma delas. Por exemplo: mar com águas limpas, praias largas, marés
de amplitudes não muito grandes, ondas mais fracas, praias com areias
coloridas, clima tropical, relevos próximos de dunas (ou falésias), brisa
marinha nas tardes quentes, lagoas próximas das praias, sol nascendo
do lado do mar etc.;
b) depois, verificar se cada lugar possui as características selecionadas e
se elas se apresentam da forma desejada (valor atribuído);
c) os lugares a serem escolhidos serão aqueles que tiverem o maior nú-
mero possível das características pré-estabelecidas, com os melhores
valores atribuídos.

2º caminho

a) Verificar e relacionar, em cada lugar, quais as características existentes


e como cada uma se apresenta (valor);
b) com a relação de todas as características encontradas, selecio-
nar aquelas que mais agradam, ou seja, as que você considera ter os
maiores valores;
c) procurar os lugares que possuam o maior número das características
selecionadas, com os maiores valores atribuídos.
Em ambos os caminhos, pode-se chegar a um resultado classificatório
com os piores e os melhores lugares com praias ideais, respondendo à
indagação inicial.

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Uma pessoa leiga deve encontrar a solução sem se dar conta de que
está usando um dos caminhos apontados. Entretanto, essa seria uma
solução pessoal, atrelada apenas ao gosto, e que estaria descartando a
necessidade de expor os critérios utilizados para a escolha das carac-
terísticas e atribuição de valor. As opções de escolha poderiam ser as
mais variadas possíveis e outras pessoas também poderiam escolher os
mesmos locais.
A partir dessa ideia, quais características poderiam levar uma ou
mais pessoas a escolherem os locais representados nas Figuras 14.1 e
14.2? A criação de pesquisas de opinião poderia ajudar a obter a respos-
ta para essa pergunta.

Figura 14.1: Praia de Ipanema - Rio de Janeiro (RJ). Joonasl


Fonte: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/5/57/
Ipaneman_beach_Rio_de_Janeirossa.jpg
Fred

Figura 14.2: Praia de Areia Preta - Taiti.


Fonte: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/
commons/5/5f/Plage.sable.noir.Tahiti.JPG

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Geomorfologia Costeira

No caso de profissionais de diferentes áreas, tais como pesquisadores


e professores, é necessário seguir os métodos de trabalho (caminhos) e
critérios, e explicitar quais deles foram utilizados para chegar ao resul-
tado de uma classificação.
Na questão apresentada, o primeiro caminho usa o método deduti-
vo. Com as características pré-selecionadas, procuram-se lugares onde
elas existam. O segundo, por sua vez, usa o método indutivo, escolhen-
do, entre as características encontradas, aquelas que serão usadas para
definir os melhores lugares.
Ambos os casos geram novas perguntas:
• Quais critérios foram empregados para selecionar as caracterís-
ticas que serão utilizadas na classificação e os valores atribuídos a
cada local?
No caso de uma praia, por exemplo, os critérios utilizados seriam as
características que definem o que é uma praia. Nesse caso, poderia ser
o material que constitui a praia: a areia. Um aspecto valorizado seria o
tamanho dos grãos (se a areia é fina ou grosseira).
• Quais métodos, técnicas e critérios foram empregados para obter
a classificação?
As escolhas desses itens não são aleatórias; elas buscam atender
ao objetivo da classificação, devendo ser apresentadas e defendidas
com justificativas, comprovações e argumentos. A qualidade da clas-
sificação passa, necessariamente, pela propriedade e adequação dos
critérios utilizados.

Uma classificação pode não ser muito utilizada por não ter em-
pregado os melhores critérios, mas não pode ser usada se não ti-
ver critérios aceitáveis.

É importante comentar que a tarefa de classificar não é tão simples


como aparenta ser. Muitas vezes, envolve alta complexidade de conteú-
dos requeridos, de procedimentos e de volumes de dados e informações.

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Para criar critérios de classificação, é sempre necessário ter bom conhe-


cimento sobre o assunto, que é objeto da classificação. Basta lembrar
que, em todas as ciências, as classificações mais importantes, conhecidas
e empregadas, são aquelas que logo lembram o nome de seus autores,
personalidades do passado e do presente, que se tornaram referências
ilustres em suas atividades. Essas classificações também refletem os ní-
veis de conhecimento existentes em cada época e o seu aperfeiçoamento
ao longo do tempo. Isso se verifica tanto no que se refere ao melhor en-
tendimento e definição dos conteúdos e dos objetos classificados quanto
no nível de detalhamento alcançado.
Dependendo do objetivo de cada área de trabalho, podem-se criar
ou simplesmente empregar as classificações já existentes. Há uma quan-
tidade enorme de tipos de classificação que pode ser aplicada. Muitos
desses tipos, inclusive, são empregados rotineiramente, com o uso de
padrões já estabelecidos como, por exemplo, para definir o tamanho dos
grãos de amostras de sedimentos trabalhadas em laboratórios.
A partir do tamanho dos grãos de sedimentos das amostras, as praias
de onde eles saíram podem ser classificadas. Nesse caso, por exemplo,
com relação às praias, utilizam-se as classes de padrão granulométrico
como critério, ou seja, elas são classificadas em função do tamanho dos
grãos de suas areias.
Outro aspecto que merece ser destacado refere-se à utilização de
classificações como uma etapa de procedimentos necessários para al-
cançar patamares mais elevados de conhecimento. O primeiro nível se-
ria a descrição, responsável por melhor identificar e explicitar as carac-
terísticas do objeto em estudo. O segundo seria a comparação, em que
se identificam aspectos similares e diferenciadores entre objetos de uma
mesma categoria. O terceiro, a classificação.
Podemos exemplificar os níveis com as dunas:

1. descrever as formas das dunas encontradas numa região;

2. comparar as características descritas;

3. classificar as dunas encontradas para estabelecer os tipos de forma


que elas apresentam.

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Geomorfologia Costeira

Classificações

Classificações mais simples e


classificações mais complexas

Existem muitos tipos e modos de classificação. Alguns são mais sim-


ples e outros mais complexos.
Os considerados mais simples envolvem a classificação de um objeto
ou característica, ou seja, apenas um elemento variável. Por exemplo,
classificar praias pelo tamanho dos seus grãos de areia.
Já os mais complexos envolvem mais de uma variável. Por exemplo:
classificar praias, levando em conta o tamanho dos seus grãos de areia,
o seu comprimento, a sua largura, a média da altura máxima de ondas
que chegam nela e os valores de amplitude de marés.
Nota-se que, em todas as classificações, o primeiro passo é definir as
características que serão utilizadas, ou seja, o que é mais relevante de ser
considerado como variável. Isso implica expor critérios de escolha para
a obtenção de informações necessárias. A partir daí, outros procedi-
mentos surgirão, tais como a metodologia a ser empregada e os critérios
estabelecidos para desenvolver o processo classificatório.
Caracterizar uma classificação como simples não quer dizer que ela
seja mais fácil ou que tenha menor valor. Ela está atendendo a um ob-
jetivo, e sua relevância depende de seu valor. Por exemplo, obter dados
para classificar praias em função apenas de uma variável, como o ta-
manho médio de suas ondas, não é tarefa fácil. Por sua vez, o valor do
seu emprego refere-se ao motivo de realizar a classificação. No caso de
ondas, tal motivo pode ser a definição de riscos para banhistas ou de
qualidades para a prática de esportes em cada uma das praias.
Mesmo em classificações mais complexas, em que entram várias ca-
racterísticas (variáveis), a escolha de cada uma resulta de atribuições de
valor a sua importância. Isso significa que uma classificação mais com-
plexa não se faz apenas pela quantidade de características empregadas.
A inclusão de cada uma depende da importância a ela atribuída para
participar do conjunto de variáveis, que será utilizado para classificar,
por exemplo, as praias.
É necessário também saber que as classificações podem ser feitas
atendendo a interesses mais específicos ou mais gerais. Assim, as classifi-
cações mais específicas frequentemente visam a utilizações mais práticas

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e imediatas, assim como atender objetivos mais restritos, como por


exemplo, classificar praias de um litoral para prática de esportes, tipos
de dunas de um trecho do litoral e locais bons para viver.
As classificações feitas com objetivos mais gerais são realizadas vi-
sando ampliar o nível de conhecimento sobre as temáticas de suas áreas
de estudo. Em função disso, essas classificações são consideradas traba-
lhos mais teóricos, que permitem visões mais amplas dos conteúdos te-
máticos abordados, e frequentemente facilitam a divulgação do conhe-
cimento no ensino e são empregadas em trabalhos aplicados. Alguns
exemplos são as classificações de tipos de dunas, estados de praia, tipos
de estuários e tipos de áreas costeiras.
As classificações realizadas para definir tipos de áreas costeiras são
as mais abrangentes. Elas tendem a utilizar como variáveis as caracte-
rísticas que se destacam nesses ambientes. Nas classificações existentes,
podem ser identificadas aquelas que são mais utilizadas, portanto, as
que podem ser consideradas mais importantes.
As características mais utilizadas para a classificação das áreas
costeiras são:

1. tipo de estrutura geológica;


2. composição das rochas;
3. estabilidade tectônica;
4. movimentos horizontais da linha do litoral;
5. movimentos verticais da linha do litoral;
6. agente modelador – maré;
7. agente modelador – ondas;
8. agente modelador – correntes;
9. forma;
10. materiais em trânsito;
11. tipo de energia;
12. nível de energia;
13. padrão geométrico;

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Geomorfologia Costeira

14. condições de equilíbrio;


15. perfil transversal (relevo e altura das partes submersas e emersas);
16. erosão/deposição;
17. estágio evolutivo;
18. clima local;
19. tempo (cronológico).

Quanto maiores o número de características a serem utilizadas e a


quantidade de litorais a serem classificados, maior será a dimensão do
trabalho. Mesmo não considerando todas as características, ainda assim
ele tenderá a ser grande. Cabe lembrar que, além de classificações com-
plexas, utilizando todas essas variáveis ou conjuntos reunindo algumas
delas, também seria possível realizar classificações simples para cada
uma das características relacionadas.
Cada vez mais, a evolução do sensoriamento remoto, das técnicas de
geoprocessamento e do emprego de sistemas geográficos de informação
tem viabilizado e ampliado os modos e a eficiência de procedimentos
classificatórios no tempo de execução e na precisão dos resultados. Com
essas técnicas, é possível obter, no mesmo processo, não só classificações
levando em conta muitas características ao mesmo tempo, como tam-
bém dispor de classificações efetuadas para cada uma delas.
Como exemplo, obtendo imagens de satélite referentes a duas épo-
cas, será possível executar um trabalho de classificação dos trechos de
um litoral quanto a sua estabilidade. Seriam identificados, nas imagens,
os locais onde a linha do litoral avançou por deposição, onde recuou por
erosão e onde ela permaneceu sem grandes alterações.
Nessa classificação, outras variáveis poderiam ser incluídas, tais
como a altitude dos locais e os tipos de rocha existentes. No caso da
altitude, a instabilidade poderia se dar em áreas de praias, de falésias ou
em ambas. No caso da rocha, a instabilidade poderia estar ocorrendo
apenas em áreas de rochas menos resistentes.
Com o geoprocessamento, há, ainda, a possibilidade de calcular
quanto, em área, o litoral avançou ou recuou.

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Atividade 1

Atende ao objetivo 1

Certamente, você já foi a uma praia e gostou dela. Descreva algumas


características dessa praia e da área costeira que está imediatamente em
torno dela. Nessa descrição, diga o valor de cada característica para o
seu gosto (em uma escala de muito bom a muito ruim).

Resposta comentada
Meu nome é Jorge Marques e sou o professor responsável por esta aula.
Como sugestão de resposta, segue a descrição de uma paisagem costeira
que, atualmente, encontra-se bastante diferente da praia que costumava
frequentar em minha infância. Verifique.
Na minha infância, gostava muito de frequentar a praia da Bica, na Ilha
do Governador, no Rio de Janeiro (RJ). Era uma praia abrigada, às mar-
gens da Baía da Guanabara, por isso as ondas não eram muito fortes,
ficando maiores com ventos fortes locais. Como praia de baía, sua areia
era grosseira e tinha lama que eu pisava quando a maré estava baixa.
Eu não gostava dessa lama, achava muito ruim, pois ainda não sabia
que era por causa dela que ali se pegavam pequenos camarões e siris,
que eu levava para a cozinha de minha casa. A água era limpíssima e
transparente, era como uma piscina, permitindo um banho de mar que
achava muito bom, nas tardes quentes do clima tropical do local. Com
o sol muito quente, era boa a brisa marinha nas sombras das árvores.
Ainda tinha muita vegetação nativa de praia, porém as árvores, como os

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Geomorfologia Costeira

pés de abricó que eu gostava de comer, foram plantadas. Havia elevações


cobertas de vegetação cercando um trecho a partir da extremidade da
praia, que achava serem bonitos morros e que, hoje, sei que são falésias.
Hoje, existem outros valores para o local. A praia e a Baía de Guanabara
estão muito poluídas. Tudo está ocupado por construções urbanas. Lá
estive no ano passado e constatei que não tinha nada mais que poderia
me agradar como praia.

Classificações de áreas costeiras

No início do século XX, surgiram as primeiras classificações e, desde


então, vários autores têm criado classificações de costas, muitas delas
atreladas à perspectiva de evolução segundo teorias difundidas na época
e com destaque para diferentes aspectos. Essas classificações configu-
ram-se como o resultado da ampliação e do aprimoramento dos conhe-
cimentos existentes sobre Geomorfologia Costeira, do mesmo modo
como ocorre com outras temáticas, nas mais diversas ciências.
Como destaca Antonio Christofoletti (1974), Eduardo Suess, em
1906, e Douglas Johnson, em 1919, foram os primeiros a levar em con-
ta a questão da estabilidade do litoral. Enquanto o primeiro o fez com
relação à tectônica, classificando o litoral leste da América do Sul como
geologicamente estável e contrastando-o com a instabilidade do lado
oeste, o segundo debruçou-se sobre as variações da posição do litoral,
com as subidas e descidas do nível do mar.
Bem mais adiante, H. Valentim, em 1952, também citado por
Christofoletti, criou um modelo mais dinâmico, destacando também
as ações da erosão e da deposição. Classificou os tipos de costa sob os
seguintes critérios:
• as que avançam por deposição ou por emersão;
• as que recuam por erosão ou submersão;
• as estáveis, cujos efeitos das ações de erosão e de deposição, ao se
alternarem, se compensam;
• as estáticas, cuja posição da linha do litoral não se modifica durante
um certo período de tempo.

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Litoral estático?! Como?

A existência de uma costa do tipo estática é uma concepção de


natureza teórica.
Se uma pessoa está andando em uma direção e, por algum mo-
tivo, quer passar a andar no sentido oposto, certamente terá que,
por um instante, parar e girar o corpo sem sair do lugar, para só
depois recomeçar a andar. Quanto tempo demorará o giro e a
parada? Poderão durar segundos ou até minutos. O tempo dessa
parada deve estar aferido à escala de tempo usada pelo homem.
Na Matemática, se eu ando de um lado para outro na escala de
números positivos ou negativos, necessariamente tenho que pas-
sar pelo zero (valor nulo), que não é positivo nem negativo.
Os exemplos facilitam o entendimento do que ocorre quando,
em um litoral, há troca de tendências de atuação de um tipo de
processo costeiro por outro (erosão ou deposição). Para que haja
a passagem de uma situação para outra, durante algum tempo
aferido à ocorrência do fenômeno, a linha da costa permanecerá
relativamente fixa. Isso porque não estará ocontecendo nem ero-
são, nem deposição nesse local.

Ainda segundo Christofoletti (1974), Arthur Bloom, em 1965, in-


cluiu no modelo de Valentim uma nova variável: o tempo. Com isso,
admitiu que uma costa pode passar por mudanças de comportamento
ao longo do tempo, fazendo com que a sua classificação seja modifica-
da. Isso ocorreu, por exemplo, em áreas costeiras classificadas como de
deposição, que, por algum motivo, passaram a tender a ou tornaram-se
locais de erosão. Ao ser admitida essa possibilidade, abriram-se novos
caminhos para a pesquisa em áreas costeiras, e as classificações dos mo-
delos pré-estabelecidos de evolução possibilitaram novos moldes, cons-
truídos pela observação.

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Geomorfologia Costeira

A partir dessa nova classificação, é possível enquadrar qualquer cos-


ta em uma classe identificadora de lugares que estejam submetidos ao
mesmo estado dinâmico. Entretanto, apesar dessa constatação ser im-
portante, deve-se levar em consideração que, dentro de uma mesma
classe, os lugares e os processos não são absolutamente iguais. Por isso
é preciso, cada vez mais, caracterizar melhor cada lugar, considerando
os componentes que o formam e os processos que agem sobre ele. Para
isso, é necessária uma visão que integre todas as características estáticas
e dinâmicas que ele possui.
A verticalização do conhecimento, ou seja, o ato de procurar conhe-
cer cada vez mais detalhadamente um objeto de estudo, é eficiente para
ampliar o que se sabe sobre determinada característica. Entretanto, tam-
bém é importante estabelecer relações, tais como o aprofundamento do
conhecimento das demais características que, juntas, formam o ambien-
te como um todo. A necessidade de integrar conhecimentos faz com
que o avanço de um beneficie os outros e vice-versa. É nessa direção que
caminham as abordagens geográficas.
Na primeira aula, foi dito que os ambientes costeiros, reunindo ele-
mentos e processos de natureza continental e marinha, apresentam
grande complexidade, que se amplia cada vez mais devido à intensa
ocupação e utilização dessas áreas pelo homem.
Nos estudos sobre Geomorfologia Costeira, o relevo é visto como um
dos diversos componentes do ambiente. Reconhecer as formas do rele-
vo, sua origem e os processos atuantes nele não só aumenta o conheci-
mento geomorfológico, mas também o que se sabe sobre a área costeira.
Como será visto mais adiante, no caso brasileiro, mesmo sendo a faixa
litorânea a mais antiga no que diz respeito à ocupação e ao grande aden-
samento populacional, foi apenas no final do século XX que se estabe-
leceu, para essas áreas costeiras, uma classificação mais precisa, a partir
do detalhamento de seus atributos específicos. Anteriormente, as áreas
costeiras estavam incluídas nas classificações gerais do relevo brasileiro
como uma área específica, entretanto de modo bastante generalizado.

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Abordagens geográficas e escalas

Nas abordagens dos estudos de Geografia, a questão espacial é fun-


damental, o que mostra a importância dada aos mapas, que constituem
bases para a espacialização de dados e informações, como os que são
oriundos de classificações. Além disso, um trabalho geográfico implica
a utilização de três escalas espaciais:
• Escala menor: coloca a área de estudo inserida em um espaço mais
amplo (Figura 14.3A);
• Escala maior: permite ampliar o espaço da área de estudo, detalhan-
do o seu interior (Figura 14.3B);
• Escala de interesse: é relativa ao objetivo do trabalho e é para onde
convergem os resultados obtidos nas outras duas escalas (Figura
14.3C).
A seguir, exemplificamos a questão do espaço em Geografia. Ao de-
senvolver, com imagens, um estudo sobre a cidade de São João da Barra
(RJ), utiliza-se uma escala de interesse a fim de apresentar o trabalho.
Para ver onde a cidade se situa, é preciso uma escala menor, assim é pos-
sível identificar que ela fica em terrenos costeiros de restinga. Para ver
como é o seu interior, com suas construções, é preciso uma escala maior.

Figura 14.3: A) Escala menor: identifica-se que a cidade foi construída sobre
terrenos de restinga. B) Escala maior: identificam-se os tipos de imóveis da
área central da cidade. C) Escala de interesse: identifica-se a dimensão do
objeto de estudo, ou seja, a cidade de São João da Barra (RJ).
Fonte: Google Earth

As informações e os dados obtidos ou criados são representados


em mapas (escalas cartográficas) que, de modo direto e em síntese,
permitem visualizar de uma só vez a posição, a identificação e a dis-
tribuição de cada uma e de todas as categorias classificadas em um
trabalho geográfico.

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Geomorfologia Costeira

Escalas pequenas (1:1.000.000, por exemplo) representam gran-


des áreas reduzidas, em tamanho pequeno.
Escalas grandes (1:5.000, por exemplo) representam pequenas
áreas ampliadas, em tamanho grande.

No Brasil, a grande dimensão do país sempre se colocou como fator


limitante para o detalhamento em escalas maiores da base cartográfica
do seu território. Nas últimas décadas, a disponibilidade de imagens de
satélite tem ajudado a diminuir essa deficiência, tanto para grandes es-
calas quanto para pequenas.
Levantamentos gerais, classificando todas as áreas costeiras brasilei-
ras, ainda se apresentam em escalas pequenas. Essas escalas valorizam
aspectos de similaridade encontrados ao longo de grandes trechos. Na
medida em que as classificações vão sendo aplicadas em escalas maio-
res, elas vão sendo subdividas em maior número de classes, destacando
aspectos de diferenciação entre cada lugar.

No Brasil: mapeamentos e classificações


gerais do relevo e as contribuições de
outras áreas do conhecimento
Mapas do relevo

O mapeamento, na escala 1:1.000.000, realizado por volta da metade


do século XX, foi a primeira grande fonte cartográfica de dados e infor-
mações sistemáticas e detalhadas de todo o território brasileiro. Foi um
trabalho viabilizado pelo emprego de fotografias aéreas, um recurso que
surgiu nessa época. Nesses mapas, o relevo é representado por curvas
de nível.
Mesmo considerando a pequena escala e a equidistância utilizada
de 100m, tal mapeamento foi um grande avanço para a época, tendo
marcado também o começo da consolidação da capacitação do país em
produzir mapas. Além do Ministério do Exército, o Instituto Brasileiro

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de Geografia e Estatística (IBGE), hoje Fundação IBGE, já contava com


a Cartografia.
Embora esse mapeamento tenha permitido observar e detalhar me-
lhor os relevos das montanhas e dos planaltos em função da equidis-
tância de 100m, não foi possível identificar com precisão as formas de
relevo nos terrenos de planícies de baixa altitude, como os costeiros.
Mesmo posteriormente, com a produção sistemática de mapas em es-
calas maiores, como a de 1:50.000, a limitação continuou, passando a
atingir os terrenos abaixo do valor da equidistância de 20m. Restingas,
praias e grande parte das dunas do litoral não são identificadas topogra-
ficamente, pois suas altitudes são inferiores ao valor citado.

Mais de 10.000 mapas para ver o


Brasil inteiro. Isso é verdade?

A ampliação das escalas dos mapas que cobrem um país com as


dimensões do Brasil é tarefa que envolve elevados custos e enor-
me volume de trabalho.
O território brasileiro é coberto por pouco mais de 40 mapas na
escala 1:1.000.000. Para recobri-lo com mapas de 1:50.000, que
mostram mais detalhes de seu território, são necessários mais de
10.000 mapas.
Isso é fácil de entender pois, toda vez que se dobra a escala de
um mapa, ele se transforma em quatro novos mapas, cada um
com o mesmo tamanho do inicial. Veja, como apresentado na
Figura 14.4: se um mapa é um quadrado de 1 metro de lado, ele
tem 1m² de área. Se dobrarmos o seu tamanho, ele terá 2 metros
de lado e 4m² de área. Entende-se, então, que a área dos novos
mapas será 4 vezes maior, cabendo nela 4 mapas do tamanho do
que foi ampliado.

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Geomorfologia Costeira

Figura 14.4: Ampliação de escalas. A figura menor representa esque-


maticamente o tamanho de um mapa de 1m² de área. A figura maior
representa o tamanho maior do mapa, resultante da ampliação desse
mapa menor, com o dobro de sua escala.

Para simplificar o cálculo, arredondando para menos, 40 ma-


pas de 1:1.000.000 cobrem o território brasileiro; ampliados para
1:500.000, seriam 40 x 4, dando um total de 160 mapas. Para
1:250.000, seriam 160 x 4 = 640 mapas. Para 1:125.000, seriam 640
x 4 = 2.560 mapas. Para 1:62.500, seriam 2.560 x 4 = 10.240 mapas.

Até hoje não há um mapeamento mais detalhado de toda a área da


costa brasileira, salvo em alguns lugares, em função de projetos locais
ou dos que foram feitos para áreas urbanas de regiões metropolitanas,
como é o caso da cidade do Rio de Janeiro, que dispõe de mapas na es-
cala 1:10.000 e maiores.
Os mapeamentos para a área marinha são atribuições da diretoria de
Hidrografia e Navegação. A partir da metade do século XX, trabalhos de
levantamentos batimétricos foram intensificados, tendo como primeiro
objetivo a produção de cartas de apoio à navegação costeira, destacando
com maior detalhe as áreas onde se localizam os principais portos.
Como já foi visto em aulas anteriores, o uso de cartas batimétricas
também é necessário para estabelecer as trajetórias das ondas que in-
cidirão sobre o litoral. Esse procedimento pode criar alertas para áreas
que serão atingidas por ressacas ou podem servir para orientar os pro-
jetos de implantação de estruturas costeiras.
Para os estudos e o melhor conhecimento das áreas costeiras, o ideal
seria ter, no mesmo mapa, a presença dos relevos emersos e dos submer-
sos das áreas costeiras, o que não acontece.

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Os mapas citados, além de apresentarem o relevo, constituem bases


cartográficas sobre as quais podem ser feitos mapeamentos evidencian-
do espacialmente conteúdos classificados sob diferentes temáticas. Com
eles, podem ser estabelecidas análises das relações entre os diversos com-
ponentes do ambiente. A integração desses componentes faz com que os
mapas ora funcionem como elemento ativo, ora como elemento passivo
e, assim, essas relações estabelecem encadeamentos de causa e efeito.
A existência de um relevo pode derivar de ações relativas ao clima
ou à geologia. Entretanto um relevo topograficamente elevado, criado
por forças tectônicas, influencia o clima local que, por sua vez, pro-
duzirá grandes efeitos sobre a formação tanto do solo quanto da ve-
getação da área costeira, que têm seus processos de desenvolvimento
bastante integrados.
Com essa perspectiva, pode-se admitir que o conhecimento das ca-
racterísticas de um dos componentes do ambiente permite projetar in-
terpretações em relação às características dos demais. Assim, ao estudar
o relevo de um local, o trabalho será bastante facilitado se for possível
dispor de informações relativas aos demais componentes.
Desse modo, para entender um relevo costeiro com sua forma e sua
dinâmica, deve-se também procurar ou até mesmo criar informações
sobre o clima, a geologia, os solos e a vegetação. Se já existirem essas
informações na escala desejada, localizadas, classificadas e descritas a
partir da legenda de mapas específicos, esse trabalho será extremamente
facilitado. O mesmo pode ser dito acerca do trabalho a ser feito com
qualquer outro componente do ambiente.

Classificações do relevo

Nos mapas que classificam o relevo brasileiro, o relevo costeiro está


incluído como uma classe específica. Nesta aula, é necessário recolocar
as classificações para destacar o nível de conhecimento acerca do relevo
das áreas costeiras, que vem sendo adquirido ao longo do tempo.
A primeira classificação do relevo brasileiro, bastante divulgada no
ensino da Geografia, foi feita por Aroldo de Azevedo em 1949. Foi um
passo inicial, calcado na observação direta e nas informações disponí-
veis na época. Os principais critérios foram estabelecidos levando em
conta a altimetria e a estrutura geológica. No seu mapa de relevo do
Brasil, a área costeira é classificada em quatro categorias, que podem ser
identificadas na Figura 14.5 e que são descritas em seguida:

480
Geomorfologia Costeira

Figura 14.5: Reprodução do mapa do relevo de Aroldo de Azevedo, de 1949,


que mostra os diferentes relevos existentes no Brasil.
Fonte: Azevedo (1949).

• duas categorias caracterizando os litorais a partir da presença, na


área costeira, dos terrenos do Planalto das Guianas, no Amapá, e das
Serras Cristalinas do Planalto Atlântico, no trecho do litoral entre o
sul do estado de Santa Catarina até o sul do estado do Rio de Janeiro.
• duas categorias caracterizando os litorais baixos. A continuidade da
Planície Amazônica até o litoral e a Planície Costeira propriamente
dita (do estado do Maranhão até o estado do Rio de Janeiro e o litoral
do Estado do Rio Grande do Sul).
Em 1958, Aziz Ab`Saber apresentou uma classificação que, além dos
critérios de Aroldo de Azevedo, levava em conta:
• a predominância dos processos de erosão ou de sedimentação;
• as diferenças das naturezas cristalina e sedimentar dos terrenos
constituintes dos planaltos;
• nas áreas costeiras, a presença das planícies e das terras baixas costei-
ras, os tabuleiros terciários.
481
Aula 14  •  Múltiplos aspectos que caracterizam o estado atual do relevo costeiro e de
Aula 14  •  suas condições futuras
Aula 14  •  

O mapa de Ab’Saber, apresentado na Figura 14.6, de certo modo,


repete as categorias do relevo definidas por Aroldo de Azevedo. Porém,
no texto do trabalho em que este autor apresenta esse novo mapa, cons-
tam, nas descrições das categorias, as modificações por ele detalhadas.

Figura 14.6: Mapa de relevo do Brasil segundo Aziz Nacib Ab’Saber.


Fonte: Ab’saber (1964).

As contribuições de Ab’Saber continuaram acrescentando novas ca-


racterísticas à visão do relevo brasileiro. Em 1967, é publicada a sua clas-
sificação dos Domínios morfoclimáticos brasileiros. Nela, são indicadas e
delimitadas, nas áreas costeiras, as influências do clima, com destaque
para os domínios: Amazônico (clima equatorial), dos Mares de morros
(clima tropical úmido), da Caatinga (clima tropical seco) e os de Tran-
sição (Figura 14.7).

482
Geomorfologia Costeira

1. Amazônico
Terras baixas
Florestas equatoriais
2. Cerrados
Chapadões tropicais interiores com
cerrados e matas-galerias
3. Mares de morros
Áreas mamelonares tropical-atlânticas
florestadas
4. Caatingas
Depressões intermontanas e
interplanálticas semi-áridas
5. Araucárias
Planaltos subtropicais com araucárias
6. Pradarias
Coxilhas subtropicais com pradarias
mistas
7. Áreas de transição

Figura 14.7: Mapa dos domínios morfoclimáticos brasileiros de Ab’Saber,


1967. Acompanhando a linha do litoral, pode-se identificar a que domínios
morfoclimáticos pertencem os trechos do litoral brasileiro.
Fonte: Ab’saber (1967).

Em paralelo a essa classificação, realizada em pequena escala devi-


do ao crescente desenvolvimento de pesquisas, foram sendo amplia-
dos, em várias temáticas, os conhecimentos sobre o território brasilei-
ro. Cada local, desde uma região a um pequeno lugarejo, começou a
contar com informações que nem sempre se apresentavam na mesma
escala, o que trouxe dificuldades para conectá-las. Surgiram, então,
necessidades e perspectivas para a criação de levantamentos sistemá-
ticos da realidade do país.
No Brasil, aconteceu um dos maiores levantamentos sistemáticos de
recursos naturais feitos no mundo: o projeto Radambrasil. Em 1971, o
projeto foi criado para trabalhar na área da Amazônia (Projeto Radam).
Buscou, através de imagens de radar, superar as dificuldades que a co-
bertura de nuvens na região trazia para a realização de levantamentos
com fotografias aéreas. Em 1975, foi estendido para todo o Brasil, conti-
nuando seus trabalhos até a década seguinte.

483
Aula 14  •  Múltiplos aspectos que caracterizam o estado atual do relevo costeiro e de
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Aula 14  •  

O projeto produziu mapas, cobrindo todo o território brasileiro na


escala 1:1.000.000, com relatórios de descrição das legendas e volumes
impressos, feitos a partir da interpretação de imagens de radar em esca-
las maiores, chegando a 1:250.000.
Os mapas e seus respectivos volumes de relatórios, produzidos pelo
projeto, apresentam, na mesma escala, as seguintes temáticas: geologia,
geomorfologia, relevo, solos, vegetação e uso potencial da terra. Neles
constam as relações dos principais trabalhos impressos, até então, rela-
tivos às citadas temáticas.
Esses mapas e relatórios apresentam a classificação, a localização e a
identificação das principais características da Geomorfologia e das de-
mais temáticas de toda a área do país. Naturalmente, neles está incluída
a faixa costeira brasileira, o que também permite contextualizar seus
ambientes dentro de uma área maior, que inclui os terrenos continentais
adjacentes com os quais se relaciona.
Deve ser ressaltado que o sistema taxonômico criado para a clas-
sificação da temática de Geomorfologia passou a servir de referência
para novas classificações do relevo brasileiro. O trabalho realizado abriu
horizontes para pesquisas e criou uma nova base analítica de dados e
informações para a aplicação dos conhecimentos geomorfológicos.

Radambrasil: um “atlas detalhado”


do espaço físico brasileiro

O acervo do Radambrasil encontra-se disponível, em formato di-


gital, na Biblioteca da Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE), com acesso em: http://www.ibge.gov.br/home/
geociencias/recursosnaturais/sistematizacao/sist_doc3.shtm.

Se, de um lado, o trabalho do Radambrasil muito avançou, criando


e aplicando uma sistemática de caracterização do relevo brasileiro, por
outro, trouxe dificuldades para sua utilização no ensino. Isso porque o
caráter analítico do trabalho gerou grande detalhamento e a terminolo-
gia utilizada apresenta um elevado nível técnico.
484
Geomorfologia Costeira

A partir deste ponto, a aula será encaminhada sob a perspectiva de


duas contribuições que se destacam: a de Jurandyr Ross e a do IBGE.
Em 1996, Ross apresentou uma nova proposta, que vinha sendo tra-
balhada desde a década anterior. Ela foi atualizada com os conteúdos
advindos do Radambrasil, buscando levá-la ao nível do Ensino Médio.
Mesmo assim, ela ainda se colocava com bastante detalhamento, com
seus três táxons (níveis de hierarquia) e suas 28 categorias (Figura 14.8).

Figura 14.8: Mapa representando as grandes unidades do relevo brasileiro


de Jurandyr Ross.
Fonte: Ross (1996).

485
Aula 14  •  Múltiplos aspectos que caracterizam o estado atual do relevo costeiro e de
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A classificação da área costeira feita por Ross, embora caracterize


melhor as classes estabelecidas, segue uma divisão bem próxima da pro-
posta por Ab’Saber e Aroldo de Azevedo. Do sul para o norte, são apre-
sentadas as seguintes:
• Planícies das Lagoas dos Patos e Mirim (Rio Grande do Sul);
• Planaltos e serras do Atlântico leste-sudeste (Santa Catarina/Paraná/
São Paulo/Rio de Janeiro);
• Planícies e tabuleiros costeiros (Espírito Santo até Maranhão);
• Planície do rio Amazonas (Pará);
• Depressão marginal norte-amazônica (Amapá).
Outro trabalho que, em princípio, vinculou-se às pesquisas do pro-
jeto Radambrasil, é o Manual Técnico de Geomorfologia, produzido e
publicado pelo IBGE, atualmente em sua 2ª edição, revisada em 2009.
Nele, é apresentada uma classificação taxonômica para fins de mapea-
mento geomorfológico do território brasileiro e, além disso, alguns as-
pectos podem ser observados:
• Partindo do nível mais amplo, pode-se destacar o fator geológico, em
que estão os Domínios morfoestruturais dos quais os Depósitos se-
dimentares quaternários, incluindo as áreas costeiras, fazem parte.
• O segundo nível é composto pelas regiões geomorfológicas, que são
compartimentos inseridos em conjuntos litomorfoestruturais. A
ação de fatores climáticos atuais e pretéritos confere a essas regiões
características genéticas comuns.
• O terceiro nível é estabelecido com as unidades geomorfológicas, ca-
racterizadas por arranjos de formas altimétricas de fisionomias se-
melhantes. Nesse nível estão incluídas as planícies costeiras, as de-
pressões e os tabuleiros.
• O quarto nível é composto pelos modelados, que se referem às for-
mas e padrões de relevo, caracterizados por: acumulação, aplaina-
mento, dissolução e dissecação. Na área costeira, são exemplos os
modelados de acumulação marinha, eólica e os lagunares.
• Há ainda um quinto nível, composto por formas de relevo simboliza-
das, ou seja, que possuem pequena expressão espacial.
Uma representação cartográfica desses níveis de classificação é apre-
sentada no mapa de unidades de relevo do Brasil, na escala 1:5.000.000,
em edição do IBGE datada do ano de 2006. Entretanto, assim como

486
Geomorfologia Costeira

no projeto Radambrasil, o detalhamento das classificações do rele-


vo do IBGE dificulta a divulgação para estudantes de Ensino Médio.
Para atender às publicações didáticas desse nível, as soluções passaram
pela redução de escalas, o que acabou por diminuir o detalhamento
das classificações.

Veja quantos detalhes do relevo brasileiro podem ser vistos no


mapa mural do IBGE na escala de 1:5.000.000: ftp://geoftp.ibge.
gov.br/mapas_tematicos/mapas_murais/relevo_2006.pdf.

Atividade 2

Atende ao objetivo 1

A partir da imagem abaixo, responda às perguntas a seguir.


Sugestão: Para ajudar em sua análise, busque Maranduba (São Paulo)
no Google Earth e veja essa área com mais detalhes. Acesse também a
mesma área pelo Google Maps.

Figura 14.9: Maranduba (Ubatuba - SP).


Fonte: Google Earth

487
Aula 14  •  Múltiplos aspectos que caracterizam o estado atual do relevo costeiro e de
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Aula 14  •  

a) Destaque três propriedades importantes na caracterização


desse litoral.

b) Levando em conta a topografia, como você classificaria essa costa?

c) Como Ross classificaria esse relevo?

Resposta comentada
a) Ao observar a imagem, ressalta-se a presença de terrenos eleva-
dos (montanhosos). Como consta no texto da questão e no mapa, que
também pode ser acessado, há a indicação de que se trata do litoral do
estado de São Paulo. Logo, a área elevada corresponde aos terrenos cris-
talinos da borda do planalto brasileiro (Serra do Mar). A área da serra é
coberta pela Mata Atlântica. Os pequenos terrenos baixos, entre a serra
e o mar, correspondem às planícies costeiras que se apresentam como
praias na linha do litoral, que é bastante recortado.
b) Este litoral apresenta, predominantemente, áreas montanhosas pró-
ximas à linha da costa, que correspondem à Serra do Mar, podendo al-
cançar altitudes de centenas de metros. Portanto, é um litoral que deve
ser classificado como litoral alto e que recebe sedimentos oriundos dire-
tamente da erosão das vertentes da serra.

488
Geomorfologia Costeira

c) 3. Sabendo onde fica Maranduba, basta identificar, na classificação


de Ross, em que categoria esse litoral encontra-se localizado. Sendo as-
sim, pode-se verificar que ele está classificado como litoral dos Planaltos
e serras do Atlântico leste-sudeste. Sabendo a categoria, é possível bus-
car mais informações na descrição desse litoral no trabalho do autor e
comparar com o que está sendo visto na imagem, de modo a adquirir
mais informações sobre as características do local.

As classificações dos tipos de áreas costeiras

Em um contexto mundial, Emmanuel de Martonne foi um dos pri-


meiros autores, no início do século XX, a apresentar e caracterizar tipos
de costas. Já no Brasil, João Dias da Silveira (1964) é sempre citado por
sua classificação do litoral do país e até hoje seu trabalho é utilizado
nos livros didáticos de Ensino Médio, com pequenas adaptações. Em
sua classificação, o litoral é dividido em cinco setores: Norte, Nordeste,
Leste, Sudeste e Sul.
Nos anos 1980, a importância das questões ambientais gerou várias
iniciativas em direção à produção de planos e projetos. Entre eles, surgiu
o do Gerenciamento Costeiro, evidenciando o crescente interesse, inicia-
do na década anterior, pelo mar territorial e pela área costeira. A partir
dessa época, ampliou-se a quantidade de trabalhos voltados para apri-
morar o conhecimento da região costeira do país, com foco não apenas
na Geografia, mas em diversas áreas do conhecimento e em prol do de-
senvolvimento de diversas atividades, como as voltadas para a produção
de petróleo.
Mais adiante, em 1996, foi realizado, pelo Ministério do Meio Am-
biente, o Macrodiagnóstico da Zona Costeira na Escala da União, bus-
cando oferecer contribuições que ampliassem, de modo sistemático,
o conhecimento sobre a área litorânea. Em 2006, foi apresentada uma
segunda versão do Macrodiagnóstico, atualizada e ampliada, sob a for-
ma de um atlas, contendo cartas-síntese e relatórios técnicos sobre os
seguintes tópicos:

489
Aula 14  •  Múltiplos aspectos que caracterizam o estado atual do relevo costeiro e de
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• óleo e gás;
• biodiversidade;
• Geomorfologia;
• dinâmica populacional;
• risco social;
• risco natural;
• risco tecnológico;
• gestão costeira.
A espacialização das informações em mapas foi adotada, visando
criar e oferecer um meio importante para o seu uso na análise de ações
de políticas públicas e para a gestão do território.
A inserção da Geomorfologia, fornecendo a caracterização do es-
paço e dos processos que nele atuam e sobre os quais se apresentam os
demais tópicos, demonstra a importância e a aplicabilidade dessa área
da Geografia.

Fontes de informações para melhor


conhecer o litoral brasileiro

O Laboratório de Gestão do Território (Laget) do Departamento


de Geografia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)
coordenou os trabalhos do Macrodiagnóstico da Zona Costeira.
Em seu site, pode ser obtido material constante desse trabalho,
que inclui a classificação geomorfológica do litoral com a sua des-
crição. Acesse através do link:
http://www.laget.eco.br/index.php?option=com_content&
view=article&id=62:macrodiagnostico&catid=43:mapas-e-
cartas&Itemid=5.
Já no site do Ministério do Meio Ambiente, além do material do
Macrodiagnóstico, poderão ser obtidos dados e informações re-
lativos aos projetos e atividades referentes à participação do Mi-
nistério nas áreas costeira e marinha. Acesse:

490
Geomorfologia Costeira

• http://www.mma.gov.br/component/k2/item/10420;
• http://www.mma.gov.br/images/arquivo/80033/Macrodiagnos-
tico-capitulos/xpre2.SPMacrodiagGeomorfologia_p23-40.pdf.

Logo após 1996, Dieter Muehe (1998), que foi responsável pelo tó-
pico de Geomorfologia no Macrodiagnóstico, publicou um trabalho de
classificação do litoral brasileiro acrescentando revisões e descrevendo
cada tipo identificado de costa. Sua classificação levou em conta, como
referência, as classes estabelecidas anteriormente por Silveira.
Para a elaboração da classificação, o autor adotou o método deduti-
vo, no qual as classes foram estabelecidas em compartimentos que, por
sua vez, foram definidos como trechos do litoral possuidores de caracte-
rísticas morfológicas e processos atuantes mais ou menos homogêneos.
Para definir cada trecho, Muehe valeu-se do que chamou de variáveis
indutoras da compartimentação, relacionadas a dois condicionantes:
• Condicionantes geológicos e geomorfológicos: são os lineamentos
estruturais, a orientação da linha da costa, a plataforma continental
interna e a antepraia.
• Condicionantes oceanográficos: são o clima de ondas, o transporte
litorâneo e a amplitude de maré.
A partir da análise das características assumidas pelas variáveis esco-
lhidas, ao longo do litoral foram estabelecidos 19 macrocompartimen-
tos costeiros (Figura 14.10). Você pode utilizar o Google Earth para, a
partir dos limites fornecidos na imagem, visualizar cada um dos com-
partimentos estabelecidos por Muehe.

491
Aula 14  •  Múltiplos aspectos que caracterizam o estado atual do relevo costeiro e de
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Figura 14.10: Macrocompartimentos costeiros.


Fonte: Muehe, Dieter, Garcez (2005, p. 75).

A seguir, destacamos características das regiões identificadas na clas-


sificação de Muehe e os compartimentos que possuem.

492
Geomorfologia Costeira

A região Norte possui uma plataforma larga, recoberta por sedi-


mentos lamosos com forte influência do rio Amazonas. Ela possui os
seguintes compartimentos:
• Litoral do Amapá;
• Golfão Amazônico;
• Litoral das reentrâncias Pará–Maranhão.
Na região Nordeste, há dois aspectos que se destacam: a presença dos
tabuleiros terciários e o clima. Ela possui os seguintes compartimentos:
• Costa semiárida norte;
• Costa semiárida sul;
• Costa dos tabuleiros norte;
• Costa dos tabuleiros centro;
• Costa dos tabuleiros sul.
Já a região Oriental ou Leste apresenta semelhanças com a região
Nordeste, devido à presença dos tabuleiros terciários. Ela tem signifi-
cativa presença de rios, com suas planícies e bancos de corais, além de
possuir os seguintes compartimentos:
• Litoral de estuários;
• Banco Real Charlotte e Abrolhos;
• Embaiamento de Tubarão;
• Bacia de Campos.
Na região Sudeste destacam-se as presenças de terrenos cristalinos,
planícies com restingas e baías. Ela possui os seguintes compartimentos:
• Litoral dos cordões litorâneos;
• Litoral das escarpas norte;
• Litoral das planícies costeiras e estuários;
• Litoral das escarpas cristalinas sul;
• Litoral das planícies litorâneas de Santa Catarina.
Por fim, o litoral Sul apresenta uma costa retilínea, com presença de
cordões e lagunas e destaque para as lagoas dos Patos e Mirim. Possui os
seguintes compartimentos:
• Litoral retificado do norte;
• Litoral dos sistemas laguna-barreira do Rio Grande do Sul.
493
Aula 14  •  Múltiplos aspectos que caracterizam o estado atual do relevo costeiro e de
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Atividade 3

Atende ao objetivo 2

A partir da imagem abaixo, responda às perguntas a seguir.


Sugestão: Para ajudar em sua análise, busque Araruama (RJ) no Google
Earth e no Google Maps, assim você poderá ver o local com mais detalhes.

Figura 14.11: Cidade de Araruama, RJ.


Fonte: Google Earth

a) Quais são as características desse litoral?

b) Qual o processo que atua na linha do litoral nessa área?

494
Geomorfologia Costeira

c) A qual macrocompartimento o litoral indicado pertence e quais as


suas características principais, de acordo com a classificação proposta
por Muehe?

Resposta comentada
a) A imagem não apresenta relevos de altitude elevada. Há a presença
de uma grande lagoa, contendo, em seu interior, compartimentos que
estão sendo formados pelo desenvolvimento de esporões. Ela é separada
do mar por duas restingas, sendo uma delas de maior extensão e am-
bas ancoradas em pontões do litoral. Lagoas desse tipo foram formadas
pelo surgimento de restingas. Nas restingas identificadas, encontramos
praias. O nível da topografia dos relevos de natureza sedimentar que
foram descritos indica se tratar de um litoral arenoso e baixo.
b) A imagem é estática. Portanto, nela não se podem ver processos atu-
ando. Entretanto, ao reconhecer ambientes e relevos, é possível inferir
os tipos de processos que atuam sobre eles. A presença das praias, em
restingas e no interior de lagoas, como as identificadas na imagem, in-
dica ações de ondas e correntes longitudinais. Ao ampliar a imagem,
também é possível verificar, na porção direita, a presença de dunas, o
que demonstra a ação de ventos.
c) Existe a importante presença do relevo de cordões litorâneos (res-
tingas) no litoral de Araruama. Ao consultar a posição em que se encon-
tra localizada Araruama nos macrocompartimetos do litoral brasileiro,
verifica-se que se enquadra no compartimento que destaca, exatamente,
a característica que ele tem: litoral dos cordões litorâneos.

495
Aula 14  •  Múltiplos aspectos que caracterizam o estado atual do relevo costeiro e de
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As áreas costeiras e as teorias geomorfológicas

Não se pode deixar de colocar, mesmo que de forma breve e bem


geral, as teorias que norteiam as ideias da criação e do desenvolvimento
do relevo. Através delas, busca-se entender melhor o passado e antever
o que poderá acontecer no futuro.
Desde os gregos e romanos até o século XIX, muitos conhecimentos
sobre as áreas costeiras já existiam, como o das formas de relevo e dos
processos geomorfológicos. Entretanto, faltava algo que, em conjunto
com o conhecimento existente, pudesse explicar como surgiram os rele-
vos, como eles se desenvolvem e como serão no futuro. Faltava, enfim,
uma teoria.
William Morris Davis foi o primeiro a teorizar sobre a evolução do
relevo. Sua teoria se baseava na existência de um ciclo, iniciado pelo so-
erguimento rápido de uma superfície por forças internas. A partir desse
momento, o trabalho da água, que ele chamou de erosão normal, passa a
ter energia (devido ao desnivelamento do terreno) para desgastar todo o
relevo, até rebaixá-lo formando uma superfície de erosão, um peneplano.
Um novo soerguimento reiniciaria o processo, daí a ideia de ciclo.
Por essa teoria, as grandes cadeias montanhosas, como os Andes
e o Himalaia, assim como os planaltos soerguidos, como o brasilei-
ro, seriam classificados como relevos novos a serem trabalhados pela
erosão normal.
Adotando as ideias evolucionistas, Morris Davis admitiu que o re-
levo tem um nascimento e uma morte. Portanto, inicialmente, seria jo-
vem, tornar-se-ia maduro e ficaria velho ou senil. Em cada fase, o relevo
teria formas que identificariam sua posição na evolução.
Outro aspecto também marcante na teoria de Morris Davis era o do
equilíbrio. Com o soerguimento, o relevo ficaria desequilibrado, só se
reequilibrando quando tivesse sido arrasado.
Sua teoria era fácil de ser entendida e aplicada e perdurou até metade
do século XX. Entre as críticas, estão: o rápido soerguimento e o longo
tempo de estabilidade, a analogia com os seres vivos na evolução e não
levar em consideração a ação de outros climas, além do temperado.
No Brasil, até metade do século XX, tal teoria se fez presente em vá-
rios estudos e materiais didáticos. Alguns exemplos são o da aplicação
da ideia de evolução, por Alberto Lamego, em seu trabalho sobre as
lagoas costeiras do estado do Rio de Janeiro e os livros para o Ensino
Médio, de Aroldo de Azevedo.
496
Geomorfologia Costeira

Uma concepção baseada nessa teoria foi a da retilinização da linha


do litoral, que postula que os pontais serão erodidos e as reentrâncias
preenchidas por sedimentos. Atualmente, é valido admitir que essa
pode ser uma tendência e não que, de fato, chegará a ocorrer. Essa con-
cepção assemelha-se a entender, como tendência, que a erosão destruirá
o terreno elevado e os sedimentos se depositarão em depressões, que
gradativamente vão sendo entulhadas. Ao final, o terreno estará nive-
lado, de um lado por uma superfície de erosão e, do outro, por uma
superfície de deposição.
Embora continuando a admitir a importância da Geologia para o re-
levo, novas concepções surgiram, ampliando a importância do clima. O
recuo paralelo das vertentes, os sistemas morfoclimáticos e os testemu-
nhos de paleoclimas constariam como evidências a serem consideradas.
Junto ao clima, há também outras questões que passaram a ser tratadas
com maior destaque: os níveis de base locais e as variações do nível do mar.
Entre outros nomes que se destacaram com as novas ideias de uma
geomorfologia climática, estão os de André Cailleux, André Cholley e
Jean Tricart. A partir da contribuição desses pesquisadores, o clima,
para as áreas costeiras, passa a ser visto de duas maneiras: diretamente,
atuando no modelado das formas emersas, e, indiretamente, criando
recuos e avanços do nível do mar.
No litoral, o recuo de falésias vivas e mortas, a presença, na área cos-
teira, de depósitos de sedimentos continentais antigos e as evidências
de níveis mais altos e mais baixos do mar, abriram novos horizontes de
pesquisa e aquisição de conhecimento. No caso brasileiro, não apenas
os depósitos de sedimentos quaternários mais antigos, encontrados no
litoral, indicam que, no passado, havia outro tipo de clima no local. Os
tabuleiros costeiros são considerados depósitos com sedimentos que
se constituíram no Terciário, principalmente em condições climáticas
mais secas.
Entretanto, mesmo com as novas ideias relacionadas à ação do clima,
as concepções do relevo em um modelo evolutivo (tendo o seu equilí-
brio no final do processo) só foram efetivamente abandonadas com a
chegada das perspectivas apresentadas pela Teoria Geral dos Sistemas
(TGS), desenvolvida na Biologia por Ludwig von Bertalanffy.
Na TGS, novos conceitos foram introduzidos, como os de equilíbrio,
dentre os quais o de equilíbrio dinâmico. No conceito de equilíbrio dinâmi-
co, é dito que, a todo o momento, tendem-se a gerar estados de estabilidade.

497
Aula 14  •  Múltiplos aspectos que caracterizam o estado atual do relevo costeiro e de
Aula 14  •  suas condições futuras
Aula 14  •  

As formas de relevo existentes ou em transformação representam os re-


sultados das constantes relações entre as ações dos processos e os com-
portamentos dos materiais sobre os quais elas atuam. A concepção do
equilíbrio dinâmico, vista em sistemas abertos, ganhou um caminho
teótico e, nessa direção, destacam-se, entre outros pesquisadores, John
Tilton Hack e Richard John Chorley.
A concepção de sistema como um todo integrado é tão importan-
te quanto a questão do equilíbrio e ajudou a difundir a chamada visão
holística. Conforme foi visto nas aulas até aqui, nas áreas costeiras, essa
visão responde pela explicação do encadeamento e da integração dos
processos. A partir deles, são criadas formas de relevo que se associam
formando conjuntos, que definem os tipos de área costeira.
Muitos outros conceitos foram incorporados na TGS pela importân-
cia que representam ao descreverem características dos sistemas. Entre
eles, podem ser citados:
• Autorregulagem: responde pela capacidade do sistema em se re-
cuperar, ao sofrer alguma ação que o desajuste. Praias que, de-
pois de ressacas, voltam as suas formas anteriores são exemplos
desse comportamento.
• Lapso de reação: define-se pelo tempo que uma reação leva para
acontecer. A ação de um processo erosivo ocorre sobre formas cons-
tituídas por materiais diversos. Diferenças de resistência poderão
fazer com que alguma forma se mantenha por muito tempo sem ser
destruída, restando como testemunho de uma situação passada. Os
recifes de arenito são bons exemplos, pois, não tendo sido destruídos,
continuam indicando onde era a antiga linha do litoral. Outro exem-
plo interessante refere-se à presença de vegetação típica de clima
seco (sempre citada por Ab’Saber), que dominou o litoral brasileiro
no passado, quando o nível do mar era mais baixo. O clima mudou
para úmido, mas ela resiste até hoje, com suas cactáceas e bromélias.
Nesse tipo de vegetação, os solos arenosos e afloramentos rochosos
criaram condições de secura que lhe são favoráveis à sobrevivência.
• Feedback: é um resultado da ação dos processos que interferirá no
funcionamento do sistema. Forma um circuito de retroalimentação
negativo, reequilibrando o sistema, ou positivo, destruindo-o. Por
exemplo, se uma praia que não recebe mais aporte de sedimentos a
cada ressaca perde certa quantidade de areia, cada vez mais o pro-
cesso atuará, até a sua destruição (feedback positivo). Isso poderia

498
Geomorfologia Costeira

ocorrer também pela ação do homem retirando sedimentos para


diversos fins. Se, ao contrário, tivermos um circuito em que as on-
das de ressaca, ao provocar erosão da praia, alcançam dunas de pós-
-praia, elas fornecerão areia, impedindo que a erosão avance. Cessa-
da a ressaca, os sedimentos podem voltar para a praia e dela também
sair, para formarem novamente dunas, restabelecendo o equilíbrio
(feedback negativo).
As conceituações da TGS favoreceram o desenvolvimento de várias
concepções, como a de Geossistemas e da aplicabilidade da quantifica-
ção para a caracterização dos fenômenos físicos.
Outro caminho adotado foi o de uma teoria probabilística, que leva
em conta a multiplicidade de resultados possíveis, oriundos da ação de
vários processos e suas complexas interações em amplas áreas. Essa pos-
sível aleatoriedade, ao invés de trazer um resultado determinado, indica
uma condição provável. Em outras palavras, seria a previsão de como
um relevo evoluirá no futuro, no continente ou na área costeira, poden-
do chegar a vários resultados, sendo que uns revelam-se mais prováveis
do que outros.
Nessa teoria também se faz presente o conceito da entropia, que trata
da distribuição da energia em um sistema. Quando tudo está organiza-
do e em pleno funcionamento, a energia está bem distribuída (entropia
mínima), ao passo que, quando há desordem, a energia está mal dis-
tribuída (entropia máxima). Um pontal no litoral, por exemplo, é uma
área de convergência de energia, que gera forte erosão. Na medida em
que o pontal é destruído, a energia das ondas dissipa-se lateralmente.
Ou seja, uma forma de relevo é criada por um processo e é mantida pela
ação dele, mas, ao longo do tempo, tanto a forma quanto o processo
sofrem desgastes.
Outro conceito que passou a ser considerado nessa perspectiva é a
incerteza. Algo não previsto que, acontecendo, muda o rumo ou a ten-
dência do estado ou do desenvolvimento do relevo de um local.
Além de os fatores geológicos e climáticos gerarem tal situação, um
fator, hoje, faz-se presente: o homem. A previsibilidade de um fenô-
meno físico pode ser enorme, como a maré; porém, para algo gerado
pelo comportamento humano, essa previsão pode ser muito mais difícil
de equacionar. Uma repentina expansão agrícola em uma bacia fluvial
pode afetar o fluxo de água e sedimentos do rio que chega ao litoral, pro-
vocando alterações em um ambiente estuarino ou colocando em risco a
existência de um recife de coral, por exemplo.
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Aula 14  •  suas condições futuras
Aula 14  •  

Junto às dificuldades de prever (levando em conta incertezas possí-


veis), novas colocações teóricas abrem perspectivas de análise, descorti-
nando desafios a serem enfrentados. Já há algum tempo, em várias áreas
do conhecimento, fala-se na teoria do caos com o emprego de análises
fractais. Nela, a grande questão que se coloca é saber o que fará mudar o
padrão vigente, quando isso acontecerá e qual será o novo padrão.
Para as áreas costeiras, há previsões de elevação do nível do mar, mas
sabemos que em cada local não ocorrerá apenas a elevação do nível da
água. Haverá também mudanças na atuação dos processos e nos relevos
sobre os quais eles atuam e, assim, prever qual será o novo padrão para
cada área costeira é um desafio.
O homem cada vez mais busca controlar a natureza a seu favor mas,
para isso, é necessário conhecê-la. As classificações das áreas costeiras
representam etapas de aperfeiçoamento do nosso conhecimento sobre
elas. A partir dessas classificações, é possível entender melhor os dife-
rentes ambientes, que são tão sensíveis às mudanças.
Ao longo das últimas aulas, foi observado que tanto o relevo quanto
os processos que nele atuam são componentes importantes nos ambientes
costeiros. Essa importância justifica a necessidade do aprimoramento e da
transmissão do conhecimento da Geomorfologia e de sua aplicação.

Conclusão

As classificações e teorias têm ampliado o nível dos conhecimentos


sobre a caracterização dos relevos e processos geomorfológicos nas áre-
as costeiras, oferecendo também condições de promover ações preven-
tivas, levando-se em conta as condições futuras desses ambientes.

Atividade final

Atende aos objetivos 1, 2 e 3

1. A partir das imagem a seguir, responda às perguntas referentes a


cada uma delas.
Sugestão: Para ajudar em sua análise, busque Pajuçara (Macéio, AL)
no Google Earth e no Google Maps. Assim você poderá ver o local com
mais detalhes.

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Geomorfologia Costeira

Figura 14.12: Praia de Pajuçara, cidade de Maceió, Alagoas.


Fonte: Google Earth

a) Quais são as características desse litoral?

b) Que tipo de relevo apontado é um interessante exemplo de uso do


conceito de lapso de reação? Explique por que, mas, antes, diga em
que teoria esse conceito foi formulado.

c) Hoje em dia, para muitas pessoas, o aquecimento global deixou de


ser uma teoria. Em função de evidências verificadas, assumiu-se
que não é algo imaginado, mas um fato. Partindo dessa ideia, com
a previsão de elevação do nível do mar, qual a perspectiva futura da
atuação das ondas e marés nesse litoral?

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2.
Sugestão: Para ajudar em sua análise, busque o litoral próximo à Baía
de Tromaí, MA no Google Earth e no Google Maps. Assim, poderá ver o
local com mais detalhes.

Figura 14.13: Litoral do Maranhão, próximo à Baía de Tromaí.


Fonte: Google Earth

a) Como se caracteriza esse litoral?

b) Em que categoria esse litoral se enquadra nas classificações do re-


levo brasileiro e dos macrocompartimentos do litoral, elaboradas,
respectivamente, por Ross e Muehe? Para os estudos e o ensino da
Geomorfologia, qual seria a importância de consultar as fontes de
origem dessas classificações?

502
Geomorfologia Costeira

c) A teoria do caos admite a existência de padrões e estes, por um mo-


tivo qualquer, podem mudar. Seria possível aplicar essa teoria para
entender o que aconteceria nesse litoral caso ocorresse a elevação
do nível do mar?

Resposta comentada
1.
a) É uma costa muito baixa, de relevo quase plano. É uma planície cos-
teira que tem sobre ela uma densa ocupação urbana. Na linha do litoral,
observa-se uma extensa praia assentada sobre uma restinga. Percebe-se
a existência de relevos submersos, mais ou menos paralelos à linha do
litoral. Esses relevos são recifes, que, no litoral do Nordeste, são consti-
tuídos por arenitos.
b) O conceito de lapso de reação é empregado quando um objeto ou
um resíduo dele continua existindo, ao longo do tempo, ao resistir à
ação de um processo com potencial para transformá-lo ou destruí-lo.
Esse conceito é oriundo da TGS. Os recifes de arenito são testemunhos
da antiga linha do litoral e esses arenitos são resultado da consolidação
de areias por cimento calcário no interior de praias. Quando há subida

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do nível do mar, os grãos de areia das praias tendem a ser levados em


direção ao continente. Se no interior das praias existirem arenitos (ro-
cha coesa e dura), eles serão mais resistentes à erosão, permanecendo no
local onde existiam as praias como recifes.
c. Os recifes são barreiras de proteção para o litoral. Sua presença faz
com que as ondas se quebrem sobre eles e não cheguem à linha do li-
toral. Esse é o papel atual dos recifes localizados à frente da praia de
Pajuçara. Na medida em que o nível do mar for subindo, lentamente,
eles continuarão desempenhando esse papel de proteção durante muito
tempo. Entretanto, com essa elevação, as águas tenderão a invadir o con-
tinente, inundando os espaços urbanos hoje existentes em terrenos de
altitudes bem próximas às do nível do mar. Quanto à maré, as posições
dos níveis de maré baixa e alta tenderão a se deslocar para o interior do
continente, agravando os problemas de inundação.
2.
a) A linha do litoral é bastante recortada. É um litoral com muitos ca-
nais de drenagem, que terminam em reentrâncias costeiras, formando
pequenas baías. A parte submersa é rasa e a área costeira emersa é muito
baixa, coberta por densa vegetação. Isso indica ambientes de mangue-
zais e, portanto, com influência de marés.
b) Na classificação de Ross do relevo brasileiro, esse litoral faz parte
da planície amazônica. Na classificação dos Macrocompartimentos do
litoral brasileiro, esse litoral, de acordo com Muehe, faz parte do litoral
das reentrâncias Pará-Maranhão.
É importante consultar as fontes porque nelas os autores apresentam
os critérios e os métodos adotados para as classificações que fizeram,
descrevem, com mais detalhes, as principais características dos lugares
que se enquadram em cada uma das categorias apresentadas na legenda
dos mapas e propiciam uma visão geral, além da atualização do nível do
conhecimento que existe sobre o tema e toda a área classificada.
c) Essa ideia poderia ser aplicada levando-se em conta que a área cos-
teira possui formas de relevo e processos que a caracterizam, ou seja,
pode ser enquadrada em um tipo de litoral (um padrão).
Esse é o tipo de um litoral baixo, coberto por vegetação de mangues.
Ocorrendo a elevação do nível do mar, a área de mangue deixará de
crescer em direção à água e a vegetação será afogada e morrerá.

504
Geomorfologia Costeira

Nesse local, um novo modo de atuar das ondas e marés poderá fazer
surgir outro tipo de litoral, ou seja, um padrão diferente do anterior.
Assim se pode explicar o que poderá acontecer no local e fazer previsões
sobre o possível novo padrão de litoral que ali vai existir, levando-se em
conta as características atuais dos locais onde poderá se posicionar a
nova linha do litoral.

Resumo

O processo de classificação é uma tarefa bastante importante e requer


conhecimento sobre o objeto a ser classificado, além de procedimentos
metódicos e criteriosos. Seus resultados consistem em instrumentos im-
portantes na obtenção de conhecimento e na sua transmissão.
As classificações de relevo expressam o nível de conhecimento dispo-
nível ao longo do tempo. Por isso, foram vistas classificações sobre o
relevo e os ambientes costeiros brasileiros, cuja elaboração ocorreram a
partir de 1940. As classificações apresentadas demonstram que as mais
antigas, como a de Aroldo de Azevedo, eram mais generalizadas, en-
quanto as mais recentes já são bastante detalhadas, como as produzidas
por Jurandir Ross, Dieter Muehe e pelo IBGE. Ressalta-se que as clas-
sificações mais recentes, de certo modo, não abandonam totalmente o
que foi apresentado pelas mais antigas. Nas atuais, há um maior número
de categorias e subdivisões, existindo também um detalhamento mais
expressivo das características e dos limites espaciais dos tipos de litorais
e ambientes classificados.
A grande dimensão do território nacional trouxe dificuldades para o
mapeamento do seu relevo. Até a metade do século XX, os trabalhos de
mapeamento eram feitos diretamente no campo. Nessa época, com o
aparecimento da fotografia aérea, foi possível mapear o Brasil em uma
escala de 1:1.000.000, um grande avanço, ainda que em pequena escala.
Com a presença das atividades da cartografia do IBGE, foram amplia-
dos os trabalhos de mapeamento do território brasileiro, e grandes áreas
passaram a ser recobertas por mapas na escala de 1:50.000. Atualmente,
o Brasil ainda não está totalmente recoberto por mapas nessa escala;
para isso seriam necessários mais de 10.000 mapas.

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A utilização de fotografias aéreas, a partir da segunda metade do século


XX, e, posteriormente, o uso de imagens de sensoriamento remoto fa-
voreceram o rompimento com essa dificuldade. Com isso, houve maior
desenvolvimento de trabalhos sistemáticos de mapeamentos e reconhe-
cimento das características ambientais do país. O mapeamento reali-
zado pelo Radambrasil, por exemplo, consistiu, em nível mundial, no
maior levantamento de recursos naturais. Os mapas e os relatórios desse
projeto, até hoje, constituem importante fonte de dados e informações
sobre a Geomorfologia brasileira, assim como sobre a geologia, os solos,
o relevo e a vegetação do país.
Atualmente, o relevo brasileiro possui uma classificação mais detalha-
da, obtida com critérios mais precisos. É a classificação feita pelo IBGE,
que está representada em seu mapa geomorfológico do Brasil, na escala
1:5.000.000.
Os ambientes costeiros, além das classificações gerais de seu relevo, mais
recentemente passaram a contar com classificações próprias, que levam
em conta características específicas de seu relevo e de atuação de pro-
cessos marinhos. Exemplo disso é a classificação de Muehe. O estabele-
cimento de categorias em sua classificação derivou de um critério que
levou em conta variáveis indutoras de compartimentação, relacionadas
a dois condicionantes: a) geológicos e geomorfológicos e b) oceano-
gráficos. O primeiro condicionante considera lineamentos estruturais
e orientações da linha da costa, plataforma continental interna e ante-
praia. Já o segundo atenta para clima de ondas, transporte litorâneo e
amplitude de maré. A partir do critério adotado, foram estabelecidos 19
trechos do litoral brasileiro, cada um ocupado por um tipo de compar-
timento geomorfológico com características específicas.
Outro assunto importante abordado foi a utilização de teorias. Esse as-
sunto, já tratado em aulas anteriores de Geomorfologia, foi colocado
de forma resumida, apresentando aspectos principais que também se
aplicam aos relevos das áreas costeiras. As teorias, ao criarem explica-
ções sobre as características dos ambientes presentes, oferecem meios
de estabelecer cenários futuros, ou seja, previsões.
Foram apresentadas a importância e as características da primeira teoria
geomorfológica, formulada por Davis, no século XIX. Ela destacava a
existência de ciclos de formação do relevo inicial pela ação das forças
internas (geológicas) e a posterior erosão total desse relevo pelas forças
externas (climáticas). Conferia importância principal à ação erosiva da
água corrente (rios) em clima temperado, criava conceituações sobre

506
Geomorfologia Costeira

o equilíbrio e a evolução do relevo e adotava a ideia evolucionista para


classificar os relevos como jovens, maduros e senis. A aceitação da teoria
de Davis permaneceu até a primeira metade do século XX. Posterior-
mente, além do aparecimento de críticas sobre a classificação, também
se passou a considerar a importância da ação de outros climas, princi-
palmente o semiárido, na evolução dos relevos da superfície terrestre.
Uma grande mudança foi estabelecida a partir da segunda metade do
século XX, com a adoção da Teoria Geral dos Sistemas e a introdução
de suas concepções e conceitos, tais como, a visão holística, a entropia,
o equilíbrio dinâmico, o feedback, a autorregulagem e o lapso de reação.
As concepções dessa teoria permitiram considerar a possibilidade de
melhor estabelecer previsões como tendência de comportamento futuro.
Mais adiante, novas colocações sobre tendências de atuações dos pro-
cessos geomorfológicos passaram a assumir a importância da teoria da
probabilidade e a previsão das condições futuras. Mais recentemente,
ideias sobre a importância da incerteza e a teoria do caos, que preconi-
za a ocorrência de mudanças de padrões existentes, passaram a ganhar
mais evidência para orientar a produção de previsões para o futuro.

Informações sobre a próxima aula

A aula seguinte tratará da Geomorfologia no planejamento e na gestão


dos espaços costeiros e de seus recursos.

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