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Aula 13

Recifes e sambaquis: bichos e gente


construindo formas de relevo

Jorge Soares Marques


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Meta

Apresentar os recifes como formas de relevo importantes para a prote-


ção dos litorais, diferenciando-os pelas suas origens. Demonstrar a im-
portância dos sambaquis.

Objetivos

Esperamos que, ao final desta aula, você seja capaz de:

1. explicar as diferenças entre os recifes de arenito e os de corais;


2. explicar o que pode ser encontrado no interior do relevo de
um sambaqui.

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Geomorfologia Costeira

Introdução: existem seres


vivos criando relevos?

A criação do relevo da superfície da Terra e suas transformações


estão fortemente associadas às ações de fatores geológicos e climáti-
cos. Entretanto, dois aspectos importantes não podem ser esquecidos.
O primeiro diz respeito ao crescimento da atuação do homem, prin-
cipalmente a partir dos últimos séculos, passando a construir o que já
é entendido como uma nova natureza. Novas paisagens são criadas,
superpondo-se às antigas que eram chamadas de naturais, como as
de milhares de cidades e de grandes metrópoles, parques industriais,
grandes áreas de cultivo e de criatório, áreas de mineração, represas,
estradas, instalações portuárias, ilhas, canais de navegação, de drena-
gem e de irrigação (Figura 13.1).

Figura 13.1: São Paulo, uma metrópole. Onde está a terra, a água e a vege-
tação? Talvez possam ser encontradas formando pequenas ilhas nesse mar
de concreto.
Fonte: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/7/71/Panorama_de_
SP.jpg/1920px-Panorama_de_SP.jpg

Para fazer essas novas paisagens existirem, o homem se tornou um


terceiro fator, interagindo com os outros e atuando diretamente na cria-
ção, modificação e destruição de relevos. Formas de relevo em áreas
elevadas ou deprimidas, como morros e lagoas, surgiram ou desapare-
ceram por sua iniciativa.
O segundo aspecto refere-se ao antigo reconhecimento de que, de
modo indireto, os seres vivos, a flora e a fauna também têm alguma
participação na existência dos relevos e nos processos geomorfológicos.
Nesse particular a vegetação sempre mereceu maior destaque, como,
por exemplo, por sua participação no intemperismo e nos efeitos de sua
presença para o armazenamento das águas (Figura 13.2).

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Figura 13.2: Uma das nascentes do rio Tietê (SP). A presença da vegetação cria
condições mais propícias para a infiltração de águas no solo. Um lençol freático
bem abastecido produz nascentes e garante a existência de rios permanentes.
Fonte: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/f/f1/Nascente_do_Tiete.
jpg/640px-Nascente_do_Tiete.jpg

Já a fauna, além de também participar do intemperismo, sempre foi


mais lembrada pela sua participação nos processos de formação do solo.
Entretanto, quando se fala em criar relevo, os animais têm sido mais
efetivos do que as plantas. São deles os principais exemplos de relevos
criados por seres vivos e, entre eles, merecem referência as formigas, os
cupins, os castores e os corais.

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Geomorfologia Costeira

As formigas, ao construírem seus formigueiros, trazem para a super-


fície do terreno enorme volume de terra que vai sendo depositado em
montículos. Alguns formigueiros enormes acabam construindo relevos,
que se caracterizam por serem montes de terra, criados pela coalescên-
cia de montículos de cada uma das dezenas de saídas do formigueiro
(Figura 13.3).

Figura 13.3: Montículo formado na entrada de um formigueiro.


Fonte: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/3/37/Lesn%C3%AD_
mraveni%C5%A1t%C4%9B.jpg/800px-Lesn%C3%AD_mraveni%C5%A1t%C4%9B.jpg

Os cupins, assim como as formigas, trazem para a superfície a terra


que tiram do solo. Diferentemente das formigas, que jogam para fora a
terra, os cupins usam a terra para construir suas moradias, modelando
inclusive as formas que elas terão (Figura 13.4).
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Figura 13.4: Cupinzeiro. Forma de relevo construída pelos cupins.


Fonte: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/7/73/Termite_
Cathedral_DSC03570.jpg/800px-Termite_Cathedral_DSC03570.jpg

Outro animal construtor de relevo é o castor: começa cortando ár-


vores e arbustos. Com eles, constrói barragens e sua casa nos riachos.
Nelas se criam e se desenvolvem peixes, garantindo-lhes o alimento. As
barragens retêm águas e sedimentos, criando novos relevos no seu en-
torno, como praias (Figura 13.5).

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Geomorfologia Costeira

Figura 13.5: Barragem construída por castores.


Fonte: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/b/bb/BeaverDam_8409.jpg

Contudo, como a disciplina é sobre geomorfologia costeira, a con-


versa com você vai ser sobre duas dessas construções que são importan-
tes nesse campo: os recifes e os sambaquis.
De todos os animais construtores de relevo, nenhum supera os co-
rais, em área e volume construído, como será visto nesta aula. Eles estão
presentes em todos os mares tropicais permanentemente, fazendo cres-
cer suas construções (Figura 13.6).

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Figura 13.6: Atol de Nukuoro – Polinésia – Ilha formada por corais.


Fonte: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/4/4b/Nukuoro_
ISS013-E-28610.jpg/1920px-Nukuoro_ISS013-E-28610.jpg

Vai se falar mais sobre isso daqui a pouco, pois os recifes de corais
constituirão o assunto da primeira parte desta aula. Mas nas áreas lito-
râneas não se poderia deixar de abordar a presença de relevos, na forma
de morros, de origem humana, contendo uma herança cultural deixada
por povos antigos, sob a forma dos chamados sambaquis (Figura 13.7).
Este será o assunto da segunda parte desta aula.

Figura 13.7: Litoral de Santa Catarina. Morro formado pelo sambaqui deno-
minado Figueirinha II.
Fonte: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/5/50/Figueirinha_II_Areia.JPG

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Geomorfologia Costeira

Os recifes

Quando se fala em recifes, muitas pessoas logo os associam aos co-


rais. No entanto, os recifes existentes não são apenas os construídos por Recifes (ou
corais. Existem também os de arenito e os artificiais. arrecifes)
Barreiras naturais, ou
construídas, que protegem
as costas das ações erosivas
marinhas, principalmente
promovidas pelas ondas.
Os recifes naturais são
formados por arenitos ou
pelos corpos de calcário de
O termo barreira, que aparece com frequência nos textos geoló- corais. Os artificiais são os
construídos pelo homem.
gico- geomorfológicos, é terminologia com diferentes empregos,
embora todos tenham relação com o próprio significado da pala-
vra. São também chamados de barreiras as barras de canais e de
rios, as falésias, as restingas e os esporões, as ilhas, os recifes e os
sedimentos que formam os tabuleiros costeiros do litoral brasileiro.

Recifes de arenito

Os recifes de arenito existem em várias áreas costeiras, constituindo


barreiras paralelas aos litorais. No Brasil, eles aparecem, principalmen-
te, no litoral nordestino da Bahia até o Ceará, de forma nem sempre
contínua (Figura 13.8).

Figura 13.8: Praia da Boa Viagem, Recife (PE). As manchas


escuras, formando duas linhas sob as águas são de recifes de
arenito paralelos à costa. Nos últimos anos, esta praia tem tido
destaque na imprensa pela ocorrência de ataques de tubarões.
Fonte: Google Earth

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O arenito é uma rocha sedimentar, com consistência dura, consti-


tuída por areia, cujos grãos foram agregados por substâncias que fun-
cionam como um cimento. Normalmente, nos arenitos que afloram nas
áreas costeiras, essa substância é o calcário. No interior desses arenitos,
é possível encontrar fragmentos de conchas, que atestam sua origem em
ambiente marinho.
Os arenitos se formam a partir de depósitos de areias não consolida-
das, soltas, como as praias e as restingas. Para a sua formação, é necessá-
ria a presença de uma fonte que forneça o cálcio.
O cálcio é elemento presente na água do mar e é absorvido por vários
seres vivos para constituir seus esqueletos e carapaças. Entre outros, os
corais e os moluscos se colocam, de modo geral, como grandes consu-
midores de cálcio. Esse consumo é potencializado porque várias espé-
cies desses animais têm uma altíssima taxa de reprodução.
Entre os moluscos, um dos destaques são as bivalves. Animais que
vivem fechados no interior de duas carapaças (conchas) que se abrem
e se fecham às custas de potentes músculos (Figura 13.9). Muitas são
as espécies conhecidas, como os sururus, ou mexilhões, as ostras e os
mariscos. Estes (Anomalocardia brasiliana), bastante conhecidos por
diversos nomes populares como sendo um bom alimento, são encon-
trados em grandes colônias nas planícies arenosas e lamosas de marés,
de ambientes litorâneos e estuarinos de baías e lagunas.

Figura 13.9: Bivalves. Alguns com parte do corpo fora de suas


carapaças.
Fonte: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/8/84/
Muscheln_mit_Sipho_Nahaufnahme.jpg/1280px-Muscheln_mit_Sipho_
Nahaufnahme.jpg

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Geomorfologia Costeira

As conchas desses animais, ao morrerem, permanecem no interior


das camadas de sedimentos onde viviam, formando concheiros. Ao Concheiros
permanecerem juntos quando mortos, vão aumentando o nível de con- Depósitos naturais
biodetríticos constituídos
centração do calcário no depósito. por camadas sedimentares
que contêm alta
Além desses concheiros formados pela morte de bivalves, outros concentração de conchas.
podem ser formados com biodetritos diversos que contenham cálcio.
Esses sedimentos podem ser levados para locais de deposição, como
praias, por ondas e correntes.
Como foi visto na aula sobre praias, os sedimentos mais grossos ten-
dem a se manter nelas. Os refluxos das ondas levam os sedimentos mais
finos. Em momentos de erosão, na medida em que os finos saem em
maior quantidade, os grossos se acumulam cada vez mais, em posições
mais profundas, próximas à base da praia, no nível de maré mais baixa
local. Depois, retomando o processo de deposição, mais sedimentos –
inclusive os de maior talhe, como conchas – podem chegar e, posterior-
mente, ser conduzidos para se concentrarem na base da praia.
Pelas duas situações expostas, entende-se que, em praias e restingas,
podem existir estratos com conchas ou haver, em suas retaguardas, an-
tigos ambientes de baías ou lagunas, nas quais tenham se acumulado
conchas em camadas sedimentares.
No interior das restingas e praias, com as marés subindo, as águas
salgadas avançam em direção ao lençol freático do continente. Quando
ela baixa, são as águas doces que avançam em direção ao mar. Nas áreas
tropicais, há sempre muita pressão das águas continentais por saírem,
principalmente nos períodos mais chuvosos, barrando a entrada da
água salgada.
Como foi visto em aula anterior, a água é um bom solvente. A água
doce, ao ficar armazenada ou ao passar por local contendo muito cálcio,
como nos concheiros, tende a dissolvê-lo e agregá-lo como soluto em
grandes proporções. Assim, no interior de praias e restingas, por onde
passam esses fluxos de água saturados de cálcio, os grãos de areia po-
dem ficar em contato com elas.
Nas áreas tropicais, também as temperaturas, principalmente de ve-
rão, são altas. Em função disso, quando o calor aumenta no interior
das areias, o cálcio pode se precipitar, solidificando-se e cimentando
os grãos de areia entre si, dando início ao processo de formação de
arenitos de praia.

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Ao longo do tempo, o processo vai criando mais arenito e o solidi-


ficando cada vez mais, passando a existir uma praia com sedimentos
soltos e, abaixo dela, uma praia de pedra (beach rock).

Como foi visto na primeira aula, muitos termos em inglês são


utilizados com frequência para designar formas ou feições de re-
levo, por não existirem termos em português considerados como
correlatos apropriados por todos os especialistas da área. Beach
rock é um deles.

A química da formação de arenito

O que foi descrito, para explicar a formação do arenito, refere-


-se às reações químicas de transformação do carbonato de cálcio
(calcário) em bicarbonato de cálcio e, novamente, em carbonato
de cálcio. A reação é descrita pela fórmula química a seguir apre-
sentada, que é considerada reversível, pois o carbonato pode se
transformar em bicarbonato e vice-versa.
CaCO₃ + H₂O + CO₂→←Ca (HCO₃)₂
Juntando a água e o gás carbônico ao carbonato de cálcio (calcário),
ele se transforma em bicarbonato de cálcio, solúvel em água. Com
o aumento da pressão e da temperatura, o cálcio do bicarbonato
se precipita, voltando a ser calcário, mais a água e o gás carbônico.
Essa reação química envolvendo o cálcio é a mesma que já foi
vista quando foram estudados o intemperismo e o relevo calcário,
nas disciplinas anteriores de Geomorfologia.
Nos ambientes marinhos, encontram-se também carbonatos em
que o cálcio foi substituído pelo magnésio, constituindo os cha-
mados dolomitos.

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Geomorfologia Costeira

Formado o arenito, se o nível do mar baixar, a praia passará a ser


uma praia fóssil, no interior do continente, não mais na linha do litoral,
com o arenito em seu interior.
Se o nível do mar subir com ações erosivas promovidas pelas ondas,
a praia arenosa poderá ser destruída ou levada em direção ao conti-
nente, formando uma nova linha de litoral. Resistindo à ação erosiva, o
arenito (praia de pedra) poderá permanecer no local, transformando-se
em uma barreira, recife, e num testemunho da antiga linha de praia.
Acredita-se que os recifes de arenito do Nordeste, como o que foi
mostrado nas Figuras 13.8 e 13.10, a seguir, representem testemunhos
de nível do mar mais baixo que o atual, ou seja, o que sobrou das antigas
praias que existiam na linha da costa, que tiveram suas areias removidas
quando da subida do nível do mar.

Figura 13.10: São José da Coroa Grande (PE) – Recifes de arenito, parale-
los ao litoral, indicadores de antigo nível do mar. Na imagem, a linha branca
sobre os recifes é resultado das ondas que se quebram, em função da menor
profundidade local.
Fonte: Google Earth

Esses recifes constituídos por arenitos não podem ser chamados de


recifes de corais porque não foram feitos por corais. Entretanto, eles
também protegem a costa da erosão marinha e, sobre eles, também ha-
bitam espécies da fauna e da flora típicas de ambientes recifais, incluin-
do inclusive espécies de corais neles fixadas.

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Recifes de coral

Ao se falar em recife, logo vem à lembrança a beleza desse tipo de


relevo, atribuída principalmente às formas de vida que nele existem. Nos
recifes de arenito, os organismos vivos se agregam a ele, nos recifes de co-
ral, o próprio recife é feito por uma forma de vida, que se associa a outras.

Formação do recife e habitantes

Os recifes de corais são barreiras criadas por colônias de corais cha-


mados hermatípicos. Neles existem indivíduos chamados pólipos, que
assimilam cálcio e constroem o esqueleto dos seus corpos. Vivem, ali-
mentam-se, reproduzem-se e morrem (Figura 13.11). Sobre seus cor-
pos mortos novas gerações de corais se fixam, e assim, sucessivamente,
os novos corais vão se superpondo, crescendo verticalmente uns sobre
os outros.

Figura 13.11: Pólipos de corais hermatípicos e os dois peixes que, aparente-


mente, fizeram questão de sair na foto.
Fonte: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/b/b7/Common_
clownfish.jpg/1280px-Common_clownfish.jpg

Junto aos corais, uma diversificada quantidade de espécies animais


e vegetais se desenvolve, criando-se um complexo e importante ecos-
sistema. Além dos corais, outros seres vivos, como as algas coralinas,

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Geomorfologia Costeira

também contribuem, assimilando o cálcio e ajudando no crescimento


do recife com seus esqueletos.
Nos recifes habitam, entre muitos outros, corais, algas, esponjas,
caranguejos, camarões, lagostas, polvos, ouriços, estrelas-do-mar, pe-
pinos-do-mar e águas-vivas. Também seres menores, como bactérias e
invertebrados (Figura13.12).

Figura 13.12: A foto mostra um minúsculo trecho de um recife de coral com


inúmeras espécies de seres vivos.
Fonte: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/7/76/Blue_Linckia_
Starfish.JPG/800px-Blue_Linckia_Starfish.JPG

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No que se refere aos peixes, existem enormes quantidades de espé-


cies, algumas típicas dos recifes, como o peixe-borboleta e o papagaio.
Nesse ambiente, os pequenos peixes e os alevinos (filhotes de peixes re-
cém-saídos dos ovos) encontram abrigos para crescer. Muitos grandes
peixes ali residem até alcançar idade adulta. Grandes peixes, tartarugas
e mamíferos, como golfinhos e baleias, frequentam áreas de recifes.
Embora exista uma disputa muito grande pela sobrevivência, a ca-
deia alimentar também se mostra rica pela quantidade de elementos de
cada espécie, em função da alta reprodutividade delas.

Características ambientais e áreas de ocorrência

A existência dos recifes está intimamente relacionada à existência


de características ambientais que apresentem condições ótimas para o
desenvolvimento da vida dos corais hermatípicos. São essas:
• temperaturas sempre superiores a 18º C, sendo o intervalo melhor
entre 25º C e 30º C;
• águas limpas, com alta transparência, que permitam alta luminosi-
dade no recife;
• profundidade de ocorrência de corais vivos, do nível de maré mais
baixa local até 25 m. A tolerância para mais profundidade depende
da transparência da água;
• salinidade aceitável entre 27 e 40 ppm e ideal de 33 a 37 ppm;
• movimentação constante da água.
Isso porque os corais, como animais que estão fixos no fundo, só
se alimentam do que passa à sua frente, ao seu alcance. Além disso, as
correntes que circulam por esses ambientes costeiros trazem oxigênio
dissolvido em suas águas, que é ali altamente consumido, sendo por isso
essencial à manutenção de suas existências.

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Geomorfologia Costeira

Como há níveis de tolerância para os intervalos dos valores das


características apresentadas, nem sempre o mesmo valor é en-
contrado para todos os autores e, nem sempre, o mesmo autor
apresenta valores para todas as características.
Os valores apresentados foram extraídos de Christofoletti (1974),
levando em conta uma fonte única.

Caso alguma dessas condições não seja atendida, a colônia de coral


não se desenvolve e, consequentemente, o recife também não.
Levando em conta essa restrições, é possível entender por que em
alguns lugares os corais não se desenvolvem.
Em lugares em que existam grandes embocaduras de rios, como o
Amazonas por exemplo, não há possibilidade de formação de recifes de
coral, como os aqui descritos, à frente da sua foz, porque os sedimentos
trazidos em suspensão prejudicam a transparência da água, principal-
mente nos períodos de suas grandes cheias.
Não se formam recifes onde a temperatura das águas do oceano che-
gue a valores mais baixos do que 18ºC. Isso explica a pouca quantidade
de recifes no oceano Atlântico e na costa oeste da América, assim como
próximo aos polos, conforme mostra a Figura 13.13. Nela, observa-se
a grande quantidade de recifes que se concentra na zona tropical, mais
quente e, particularmente, entre os oceanos Índico e Pacífico, em local
onde existe um litoral repleto de ilhas.

Figura 13.13: Mapa da distribuição de ocorrência de recifes de coral.


Fonte: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/c/cb/Coral_reef_locations.jpg

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Tipos de recife

Quando encontram condições satisfatórias, os corais crescem em


direção à luz, ou seja à superfície. Entretanto, esse crescimento só vai
até próximo ao nível mais frequente de maré baixa local. Isso porque a
insolação direta faria a temperatura, sobre o coral, ultrapassar o limite
máximo de tolerância, levando-o à morte.
Outro aspecto importante e limitador de crescimento é a sua presen-
ça como barreira, principalmente, para a ação de ondas no litoral. Com
ondas de tempestade quebrando sobre os corais, eles são castigados.
Podem se quebrar e se transformar em biodetritos, permanecendo
ou sendo transportados para fora do ambiente de corais.
Eles podem ser classificados como recifes em franjas, em barreiras
ou atóis (Figura 13.14).

Figura 13.14: Os recifes podem ser classificados como franja, barreira e atol,
cujas formações você pode ver nessas três imagens.

Os recifes como franjas se localizam encostados à linha do litoral


(Figura 13.15).

Figura 13.15: Recifes em franja. Ilha de Itaparica (Bahia).


Fonte: Google Earth

448
Geomorfologia Costeira

Os recifes de barreira se formam paralelamente à linha do litoral, man-


tendo certo afastamento dela (Figura 13.16). Por essa razão, existe, entre
a barreira e o litoral, uma área de mar abrigada. Seu fundo tende a ser pre-
enchido pelos sedimentos biodetríticos produzidos pela erosão do recife.

Figura 13.16: Em azul mais escuro, trecho da Grande Barreira de Recife


(Austrália). No total, são cerca de 3.000km de comprimento; em torno de
30km de largura e aproximadamente mais de 700km² de área.
Fonte: Google Earth

O atol é uma situação peculiar (Figura 13.17). A explicação mais


difundida de sua forma está relacionada à presença de uma montanha
vulcânica, que sofre um processo de subsidência; ou seja, por forças in-
ternas, esse relevo está sendo rebaixado.

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Figura 13.17: Atol das Rocas (Brasil) visto do espaço.


Fonte: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/2/2f/ESC_large_ISS022_
ISS022-E-79937k.JPG/1280px-ESC_large_ISS022_ISS022-E-79937k.JPG

Na figura 13.18, estão as etapas da formação dos atóis:

1. Instala-se um relevo em franja.


2. A montanha vai afundando, mas os corais continuam a crescer
verticalmente, para se manterem vivos, tornando-se um recife
em barreira.
3. A montanha desaparece, o recife vira uma ilha “circular”, tendo no
interior uma lagoa na depressão formada, que vai sendo entulhada
pelos sedimentos biodetríticos produzidos no recife.

450
Geomorfologia Costeira

Figura 13.18: Etapas de


formação de um atol.

Variações do nível do mar

Os recifes de corais são importantes indicadores de variações do nível


do mar. Se o nível do mar sobe, os corais crescem verticalmente, buscan-
do se manterem vivos. Existem recifes de coral com alturas superiores
a centenas de metros. Neles os corais vivos estão mais próximos da su-
perfície do mar. Se o nível do mar desce ou sobe muito rapidamente, os
corais morrem.
Além dos recifes de corais atuais, existem outros mortos que teste-
munham variações do nível do mar. Segundo Mendes (1984), são en-
contradas no Brasil algumas formações de recifes, já mortos, que datam
do Pleistoceno, sendo que algumas delas foram recobertas por recifes
recentes. Ainda segundo esse autor, datações feitas no recife de Coroa

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Vermelha (BA) indicaram a ocorrência de variações no nível do mar


do Holoceno.
Além do Quaternário, também durante outros períodos geológicos
mais antigos, foram encontrados testemunhos de recifes. Esses achados
não só propiciam reconstituições de ambientes do passado como auxi-
liam na busca por recursos minerais como petróleo.

Acessando o link abaixo, você poderá assistir a um vídeo sobre a


vida num recife de coral:
http://meioambiente.culturamix.com/natureza/recifes-de-corais.
Já nesse outro, você terá acesso a diversos materiais incluindo ví-
deos sobre recifes:
http://pt.slideshare.net/zooxantelas/recifes-de-corais-1f-
-13369816?related=2.

Colocações finais sobre recifes

Não só a natureza tem criado recifes, o homem também. Eles têm


sido construídos, principalmente, para criar áreas abrigadas para portos
e para proteger litorais de problemas de erosão. Há também atualmente
manifestações de interesse por criar recifes artificiais, visando produzir
ondas de boas conformações para a prática de esporte.
Por outro lado, tanto os recifes de arenito como os de corais têm
sido objetos de ação humana que lhe causam grandes prejuízos e, con-
sequentemente, também ao próprio homem.
Os recifes de arenito têm sido retirados para servirem de material
para construções civis. Sua remoção tem causado a erosão de praias que
antes estavam protegidas.
Por sua vez, os recifes de corais são muito sensíveis por necessitarem
de condições bastante específicas para continuarem vivendo e crescen-
do. Por isso estão mais propensos a se degradarem. São muitas as ações
impactantes ocorrendo contra eles, principalmente aquelas que mais

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Geomorfologia Costeira

atingem as espécies vivas, como a poluição das águas, a pesca predatória


e mesmo atividades turísticas e de lazer sem controle.

Atividade 1

Atende ao objetivo 1

1. Qual a principal diferença entre os recifes de arenito e o de corais?

2. O cálcio tem papel importante nos recifes de arenito e de coral. Por


que e como?

3. Se o nível do mar subir, o que irá acontecer com os recifes de arenito


e de coral?

4. Como e por que o recife de arenito tende a perde menos cálcio do


que o de coral?

5. O recife de coral possui corais o de arenito não. Certo ou errado?


Por quê?

Resposta comentada

1. O de arenito é formado por areias que se consolidam com um


cimento de calcário e o de coral é formado por organismos vivos,
principalmente corais.

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2. O cálcio agrega os grãos de areia que irão formar o arenito. O cálcio,


ao ser absorvido pelos organismos vivos do recife de coral, transforma-
-se nos seus esqueletos e carapaças.

3. O recife de arenito poderá deixar de funcionar como uma barreira. O


coral no recife irá crescer verticalmente para acompanhar a subida do nível
do mar.

4. Os seres vivos e mortos do recife de coral tendem a ser menos resisten-


tes à erosão pelo impacto das ondas do que o de arenito, consequentemente
poderão perder mais cálcio.

5. Errado. O recife de coral é todo construído pelo coral. No recife de are-


nito, o coral se estabelece sobre ele.

Sambaquis

Os sambaquis são encontrados em diversos terrenos costeiros, como


restingas, praias, dunas, beira de lagoas, estuários e margens de rios
próximas à área costeira. Vejamos a seguir mais detalhes, incluindo
suas características.

Construtores de sambaquis

Na primeira parte desta aula, foi vista a origem dos concheiros natu-
rais e sua participação na formação de recifes de arenito. Nesta segunda
parte, os assuntos tratados referem-se aos concheiros artificiais, cons-
truídos por povos pré-históricos que habitavam as regiões costeiras.
Esses concheiros artificiais são conhecidos por sambaquis, pala-
vra de origem tupi que significa monte de conchas (tambá = conchas
e ki = montes).
Não só no Brasil eles existem. Há referências de terem sido encon-
trados, entre outros lugares, no Peru, no Chile e nos Estados Unidos. A
dimensão desses concheiros varia de cerca de 1 metro de altura (Figura
13.19) até dezenas de metros (Figura 13.20).

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Geomorfologia Costeira

Figura 13.19: Pequeno sambaqui encontrado nos Estados Unidos.


Fonte: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/5/59/Tree_RootsShell_Midden.jpg

Figura 13.20: Sambaqui do Figueirinha I - Jaguaruna (SC) com quase 20


metros de altura.
Fonte: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/4/45/Figueirinha_I_Central.JPG

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Eles ocorrem em todo o litoral brasileiro, sendo que a maior parte se


encontra nas regiões Sul e Sudeste. Há registros de existirem ainda hoje
cerca de mil. São Paulo e Santa Catarina são os estados em que se têm os
maiores indicativos de ocorrência.
As datações de conteúdos dos sambaquis permitiram estabelecer que
esses povos indígenas habitaram essas áreas entre 8.000 e 2.000 anos atrás.
Os levantamentos arqueológicos deram conta de que esses povos vi-
viam da coleta de alimentos, da pesca e da caça de pequenos animais.
Não praticavam a agricultura ou algum criatório. Entre eles havia afini-
dades culturais, mas também diferenciações.
Até hoje não se tem uma posição conclusiva sobre os motivos efeti-
vos dessas ocupações que duraram milhares de anos. Entretanto, alguns
aspectos podem ser levados em conta. As conchas de bivalves indicam
que a localização se fazia em função do acesso aos ambientes onde exis-
tia esse tipo de alimento. A sequência das camadas que foram sendo
agregadas aos sambaquis representa a história da ocupação do local.
Ao ser retirado o alimento das bivalves, as conchas poderiam ser
consideradas “lixo” a ser jogado fora, assim o sambaqui seria um grande
depósito, entretanto armazenando um grande valor cultural e histórico.
Nesse local se fazia fogo, que se atesta ter existido pela presença de car-
vão nos sambaquis.
Outro aspecto importante é que eles serviram como locais de sepul-
tamento. Os corpos eram enterrados com enfeites, havendo poucas evi-
dências de que houvesse festas. Entretanto há colocações que atribuem
às conchas valores nesses momentos.
Um fato foi marcante na ocupação mais antiga: a presença de cerâ-
mica, considerada como o registro da primeira encontrada nas Améri-
cas. Mas não se sabe muito sobre a sua inserção como objeto produzido
pelo grupo.
No período mais recente, há cerca de 2.000 anos, o desaparecimento
dos grupos é fato sem uma melhor explicação, apenas hipóteses em re-
lação à chegada de povos agricultores, entre outras.

Características dos sambaquis

Desde o período colonial até quase a metade do século XX, a cons-


trução civil, que incluía a cal como grande demanda, propiciou o
aparecimento e a atividade de muitas caieiras. Elas usavam como maté-

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Geomorfologia Costeira

ria-prima o material obtido em concheiros. Só na segunda metade do


século XIX, iniciou-se e começou a ser divulgado um conhecimento
maior sobre os sambaquis. Mesmo assim a atividade continuou e, devi-
do a elas, muitos sambaquis desapareceram.
Atualmente, os sambaquis estão protegidos pela legislação e as pes-
quisas sobre eles se desenvolvem com minuciosos trabalhos de arqueo-
logia, principalmente em universidades e museus.

Hoje a construção civil demanda a brita, a areia e o saibro. Até o


início do século XX, a demanda para as construções era de cal,
areia, arenito de praia e óleo de baleia, que também era usado
para a iluminação.
As caieiras, além das conchas dos concheiros, também utilizavam
ossadas de baleias. No passado, em todo o mundo, uma enorme
quantidade de baleias eram caçadas e trazidas para as áreas cos-
teiras, onde quase tudo delas era aproveitado: carne, pele, gordu-
ra e ossos. Em razão disso, dificilmente hoje é encontrado nestes
locais algum de seus ossos, a menos que mais recentemente algu-
ma baleia tenha vindo morrer no litoral.
No Rio de Janeiro, num dos andares da Universidade do Estado
do Rio de Janeiro (UERJ), uma mandíbula de baleia, talvez a úl-
tima que reste no Rio de Janeiro, está em exposição permanente.
Essas práticas, que ocorriam no litoral da América, também se
faziam presentes nos litorais da Ásia e da África.

Nas camadas dos sedimentos dos sambaquis, não são apenas encontra-
das conchas. Há muitos objetos, como lascas de pedras, batedores, cerâ-
micas, anzóis, enfeites, ossos de animais, espinhas de peixe. A partir deles,
os arqueólogos continuam buscando conhecer melhor esses povos, encon-
trando nas camadas dos sedimentos sequência de ocupação e mesmo de
mudanças dos grupos que ocupavam o local (Figuras 13.21 e 13.22).

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Figura 13.21: Um pequeno corte em perfil de um sambaqui. Observa-se a


disposição em camadas e a presença de outros materiais além das conchas,
como pedras e fragmentos de cerâmica.
Fonte : http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/a/aa/Modelo_
de_extratifica%C3%A7%C3%A3o_de_sambaqui.jpg/1280px-Modelo_de_
extratifica%C3%A7%C3%A3o_de_sambaqui.jpg

Figura 13.22: Jarro de cerâmica encontrado num sambaqui.


Fonte: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/5/5b/
Cer%C3%A2mica_de_sambaqui.JPG/1280px-Cer%C3%A2mica_de_sambaqui.JPG

458
Geomorfologia Costeira

Os ossos de animas e as espinhas de peixe permitem interpretações


acerca da fauna existente em cada época no local, inclusive de espécies
que poderiam ser bastante presentes então e hoje não o habitam mais.
Datações relativas podem ser realizadas para acompanhar reconstitui-
ções paleogeográficas, aferidas a cada camada identificada no sambaqui,
assim como a possibilidade de datações absolutas, com o uso do método
do carbono 14, principalmente empregado para sedimentos de natureza
orgânica encontrado em cada camada.
Os esqueletos encontrados também são fontes de informações im-
portantes para reconstruir o passado desses povos. Por eles muitas in-
formações podem ser obtidas quanto às características físicas dos indi-
víduos e até suas doenças.

Dois vídeos, um sobre os povos dos sambaquis e outro sobre um


sambaqui em ambiente fluvial, podem ser vistos no seguinte link:
http://meioambiente.culturamix.com/natureza/sambaquis-uma-
-montanha-que-conta-historia.

Colocações finais sobre os sambaquis

Quando os arqueólogos trabalham um sambaqui retirando os sedi-


mentos de cima para baixo, camada por camada, embora registrem com
detalhe e guardem o valioso material encontrado, no final do trabalho
ele não existe mais.
Por isso há um sentimento e o cuidado de que alguns devem perma-
necer intocados, para que no futuro, com novos instrumentos e novas
metodologias, possam ser “lidos” com mais precisão, para inclusive aju-
dar nas respostas das dúvidas que existem.
Isso hoje já acontece com os instrumentos de posicionamento (GPS),
assim como outros equipamentos capazes de perfilar o terreno para
identificar camadas de sedimentos ou objetos que nele estão enterrados.

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Não se pode esquecer as imagens de satélite com alta resolução, que


permitem identificar e mapear ocorrência de sambaquis, pelas carac-
terísticas de seu relevo e pelas diferenças notadas do tipo de vegetação
que se instala sobre ele, por causa do efeito do cálcio de conchas no
desenvolvimento das plantas. Outro aspecto pelo qual os sambaquis são
valorizados se refere às questões relativas ao nível do mar. Quando um
local é ocupado, ele está aferido ao nível do mar em função da fonte de
obtenção das bivalves. Se há mudanças, ele é abandonado.
Acredita-se que muitos sambaquis possam ter desaparecido quando
do último maior evento transgressivo. Desse modo, os ainda existentes
podem estar aferidos às últimas oscilações holocênicas, fornecendo por
isso, para o presente, informações valiosas.

Atividade final

Atende ao objetivo 2

1. Por que existem tantas conchas nos sambaquis?

2. Por que o material no interior do sambaqui está em camadas?

3. Por que existem ossos de animais e espinhas de peixe?

4. Qual a importância de existirem corpos sepultados no interior


do sambaqui?

5. O que pode ter estabelecido a relação entre o sambaqui e a linha


do litoral?

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Geomorfologia Costeira

Resposta comentada

1. Porque faziam parte da alimentação de grupos numerosos de pesso-


as que estiveram no local durante um longo período de tempo.

2. Porque os materiais ali existentes foram sendo depositados uns so-


bre os outros.

3. Porque caçavam e pescavam para se alimentar.

4. Através dos corpos, muitas coisas acerca das características físicas


das pessoas podem ser avaliadas, assim como aspectos das suas condi-
ções de vida e saúde.

5. Os locais onde existiam e se desenvolviam as bivalves (mariscos).

Resumo
Os recifes são relevos que protegem a linha do litoral. Os recifes de are-
nito surgiram através de um processo que se inicia com a formação do
arenito no interior de praias e restingas, em que os grãos de areia são
agregados por cimento calcário. Com a elevação do nível do mar, as
areias soltas da praia podem ser transportadas para uma nova linha de
litoral, e o arenito mais resistente se mantém no local, transformando-se
num recife. Os recifes de coral são criados por organismos vivos, prin-
cipalmente por corais. Os corais construtores de recifes só vivem em
condições muito específicas de temperatura, transparência de águas, sa-
linidade, movimentação de águas e profundidade.
Os recifes de coral formam ecossistemas complexos e diversificados de
alta produtividade. Eles se apresentam de três modos em franja: colados
na linha da costa; em barreiras paralelas ao litoral e sob a forma de atol,
ilha circular com uma lagoa em seu interior. Os recifes de coral são in-
dicadores de variação do nível do mar. Morrem quando o nível do mar
abaixa ou quando ele se eleva rapidamente. Os sambaquis são concheiros
artificiais que formam relevos, criados por povos coletores e pescadores.
No Brasil estão presentes em todo o litoral, principalmente nas regiões
Sul e Sudeste. Esses depósitos de conchas têm em seu interior registros
da vida e da cultura desses povos, bem como serviram de local de ali-
mentação e de sepultamento. Além disso, também os sambaquis são in-
dicadores de variações do nível do mar. Novos instrumentos e tecnolo-
gias tendem a disponibilizar novos meios para obter melhores respostas
para questões ainda pendentes que cercam a existência dos sambaquis.
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Informações sobre a próxima aula

Veremos os múltiplos aspectos que caracterizam o estado atual do rele-


vo costeiro e suas condições futuras. Até lá!

Referências

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