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UNIVERSAL CURSOS HERMENÊUTICA FILOSÓFICA

Esta obra não tem a pretensão de esgotar o assunto, muito pelo


contrário, reconhecemos que a Hermenêutica Filosófica é muito mais
ampla do que o exposto abaixo; todavia o nosso alvo são aqueles que
ainda não tiveram a oportunidade de se aprofundarem no assunto, mas
querem ter uma base sólida; e para os que já foram mais adiante uma
oportunidade para relembrar ou atualizar-se.

Todos os Direitos Reservados. Copyright – 2004.


Está em vigor a Lei 9.610, de 19/02/98, que legisla sobre
Direitos Autorais, que diz que se constitui crime reproduzir por
xerocópia ou outros meios, obras intelectuais sem a Autorização
por Escrito do autor.

HERMENÊUTICA FILOSÓFICA
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO . . . . . . 04
I. CONCEITOS . . . . . . 05
II. MOMENTO FILOLÓGICO . . . . 12
III. MOMENTO FILOSÓFICO . . . . 13
IV. MOMENTO LÓGICO . . . . . 15
V. MOMENTO SISTEMÁTICO . . . . 18
VI. MOMENTO HISTÓRICO . . . . 19
VII. MOMENTO HISTÓRICO-EVOLUTIVO. . . 20
VIII. MOMENTO TEOLÓGICO . . . . 22
IX. MOMENTO SOCIOLÓGICO . . . . 25
X. CONCLUSÃO . . . . . . 29

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XI. BIBLIOGRAFIA. . . . . . 30
INTRODUÇÃO

O nosso trabalho sobre Hermenêutica consta de um


estudo sintético, mas abrange do assunto.
A matéria foi desenvolvida de forma que se tenha uma
compreensão geral, sem contudo deixar de se aprofundar na
estrutura dos conceitos e definições, bem como nos ramos de
aplicação da Hermenêutica.
Apresentamos os conceitos, as definições, as aplicações
e os aspectos gerais.
Assim sendo, temos certeza que neste trabalho, apesar
de simples, foi estudado tudo sobre “Hermenêutica”.
Hermenêutica é a ciência e a arte da interpretação –
Hermenevein (vem do grego) – interpretar.
a) É considerada “ciência” porque estabelece normas ou regras
positivas e invariáveis, isto é, postula princípios seguros e
imutáveis.
b) É arte porque a comunicação é flexível e suas regras são
práticas.

Ciências que se completam na interpretação


a) Hermenêutica: que busca desvendar o sentido das palavras do
texto – O que significa? O que quer dizer o escritor?
b) Crítica Textual: se ocupa em averiguar o que está escrito – É
verdade? É lenda? É ficção?
c) Exegese: é a aplicação, na pratica, dos princípios e regras da
hermenêutica e da crítica textual para chegar-se a um
entendimento correto do texto.

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I - CONCEITOS

Hermenêutica, na sua acepção mais geral, é a


interpretação do sentido das palavras.
Esse sentido das palavras, que cabe à Hermenêutica
interpretar, restringe seu campo à linguagem verbal, excluindo,
assim, o conceito amplo de linguagem, aquele que abarca.
“toda as formas que servem a propósitos
comunicativos”.

A palavra hermenêutica provém do grego hermeneúein,


interpretar, e deriva de Hermes, deus da mitologia grega,
considerado o intérprete da vontade divina.
No Örganon”, de Aristóteles, encontramos o mais
remoto emprego do vocábulo hermenêuticas, tal como o traduziu
Theodor Waitz, em 1844.
Grande prestígio ganhou a Hermenêutica quando se
intensificou o interesse pela interpretação das Sagradas Escrituras.
Isso ocorreu, especialmente, a partir do século XVI, com Mathias
Flacius Ilyricus.
A Hermenêutica afirma-se como disciplina filosófica
em 1758, ano em que Georg Friedrich Maier escreve uma obra,
defendendo sua importância no campo da especulação.
Segundo Heidegger, a Hermenêutica é o estudo do
compreender. Compreender significa compreender a significação
do mundo. O mundo consiste numa rede de relações, é a
possibilidade de relações. Pode-se organizar o mundo
matematicamente; pode-se conceber o mundo teologicamente;

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pode-se interpretar o mundo como linguagem, que é o que interessa


ao hermeneuta. Então, o mundo se torna dizível, o mundo é
convertido na linguagem que nós utilizamos.
A Hermenêutica é sempre uma compreensão de
sentido: buscar o ser que me fala e o mundo a partir do qual ele me
fala; descobrir atrás da linguagem o sentido radical, ou seja, o
discurso.
Heidegger, Husseri e os demais filósofos da corrente
fenomenológica entendem que só se possa compreender o homem e
o mundo a partir de sua facticidade.
Dentro dessa concepção, toda hermenêutica é uma
metafísica, uma ontologia fenomenológica.
A lei é uma forma de comunicação humana. Forma
imperativa de comunicação, destinada a regular a conduta de um
grupo social e emanada de um homem, de um grupo de homens, de
uma classe, ou da totalidade do grupo social, para traduzir os
interesses absolutos da classe minoritária dominante, numa
sociedade de opressão ilimitada, ou para expressar soluções de
compromisso, numa sociedade onde os dominados tenham
possibilidade de fazer valer uma força, ou para estabelecer a
igualdade e o direito de todos, uma sociedade que tenha superado,
ou esteja em vias de superar, forma de dominação e exploração.
A hermenêutica jurídica é parte desse processo de
comunicação.
David Berio assinala a presença de seis elementos no
processo completo de comunicação: a fonte, o codificador, a
mensagem, o canal, o decodificador e o receptor.

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A seguir comentaremos um pouco o processo de


comunicação que é tão importante dentro uma sociedade como
veículo da hermenêutica.
Processo de Comunicação
Creio adequado utilizar o esquema de David Berio para
dissecar o processo de comunicação que se efetiva através da lei.
Teremos, então: como fonte, o legislador; como codificador, a
palavra escrita; como mensagem, o conteúdo da lei; como canal, o
pergaminho, o jornal ou o livro no qual de faça o registro do texto
legal; como decodificador, a leitura; como receptor, a pessoa a
quem a lei é dirigida, a qual opera o processo de decodificação.

Embora a lei seja codificada, normalmente, através da


palavra escrita, uma exceção à regra são os sinais de trânsito, que
obrigam sob sanção, com características de lei, e que não se
limitam ao uso da palavra escrita mas apelam também para o
desenho.
A palavra sob a forma escrita (em oposição forma oral)
é, modernamente, o código obrigatório para o legislador.
No Brasil, a lei entra em vigor quarenta e cinco dias
depois de oficialmente publicada, salvo disposições contrária.
Na prática, porém, a palavra escrita não é o único nem
o principal veículo de comunicação entre o legislador e o receptor.
O rádio e a televisão noticiam a promulgação das leis antes de sua
publicação na imprensa oficial. E depois de ter sido a lei
publicada oralmente, pela circulação verbal da notícia.

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A comunicação será tanto mais fiel quanto menor


número de fatores, nas diversas etapas do processo, influírem na
interação da mensagem que fonte pretenda transmitir ao receptor
No caso da comunicação através da lei, a fonte deve
cuidar da fidelidade à mensagem, no momento da codificação.
Contudo, desprestigiada, modernamente, a idéia de que o intérprete
deveria descobrir e revelar a vontade, a intenção do legislador, o
processo hermenêutico parte da mensagem já codificada.
A expressão hermenêutica jurídica é usada com
diferente extensão, ou acepção pelos autores.
Com freqüência, vê-se hermenêutica jurídica usada
como sinônimo de interpretação da lei. Outras vezes, é dado aos
vocábulos um sentido, que abrange a interpretação e a aplicação.
Carlos Maximiliano distingue Hermenêutica e
Interpretação. A Hermenêutica é a teoria científica da arte de
interpretar. Tem por objeto
“o estudo e a sistematização do sentido e o alcance das
expressões do Direito”.

A interpretação é a aplicação da Hermenêutica.


Ainda Carlos Maximiliano observa que
“interpretar uma expressão de Direito não é
simplesmente tornar claro o respectivo dizer, abstratamente
falando; é conducente a uma decisão reta”.
Interpretar é aprender ou compreender os sentidos
implícitos nas normas jurídicas. É indagar a vontade atual da
norma e determinar seu campo de incidência. É expressar seu

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sentido recorrendo a signos diferentes dos usados na formulação


original.

A interpretação é tarefa prévia, indispensável à aplicação do Direito.

A aplicação do Direito consiste em submeter o fato


concreto à norma que o regule.
A aplicação transforma a norma geral em norma
individual, sob a forma de sentença ou decisão administrativa.
Quando para o fato não há norma adequada, o aplicador
preenche, através da integração do Direito.
Quando para o fato não há norma adequada, o aplicador
preenche a lacuna, através da integração do Direito.
- A integração é o processo de preenchimento das
lacunas existentes na lei.
Na interpretação, parte-se da lei, para precisar-lhe o
sentido e o alcance. Na integração, parte-se da inexistência de lei.
Se existe a norma, o aplicador, a grosso modo,
enquadra o fato na norma.
Na pesquisa da relação entre o caso concreto e o texto
abstrato, entre a norma e o fato social, a tarefa do aplicador,
sobretudo a do juiz, não se resume, contudo, a um mero silogismo,
no qual fosse a lei a premissa maior, o caso, a premissa menor, e a
sentença judicial, a conclusão.
A liberdade maior ou menor do juiz, no julgar, a
irrestrita submissão à lei ou o abrandamento dessa submissão, em
diferentes graus, marcam posturas ligadas às diversas escolas
hermenêuticas.

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Vejo a evolução da Hermenêutica, em geral, e da


Hermenêutica Jurídica, em particular, refletindo a evolução das
idéias sobre o homem e seu papel no mundo; de uma preocupação
em investigar a vontade do legislador, entendido como se
onipotente, passou-se para a posição, mais liberal, de pesquisa da
própria lei, como produto social, fruto da consciência jurídica do
povo, segundo seus pregoeiros.
O novo salto que penso deva ser dado, corajosamente,
pelo aplicador do Direito, sobretudo pelo juiz, impõe que este não
se enclausure na sua ciência, causadora de rigidez preceptiva, mas
que se abra às outras ciências, à Economia, à Política, à
Sociologia, à Psicologia, e que se deixe tocar pela influência das
correntes fenomenológica e existencialista, bem como das escolas
sociológicas.
Os processos de interpretação são os recursos de que se
vale o hermeneuta para descobrir o sentido e o alcance das
expressões do Direito
A interpretação incide sobre a lei e as demais
expressões do Direito, e não sobre o próprio Direito
A lei é a forma, o Direito é o conteúdo; a interpretação
recai sobe a forma, buscando o conteúdo, já a aplicação é do
Direito; ante o fato concreto a tarefa do aplicador, revelado o
conteúdo da lei, sua substância, é fazer prevalecer esse conteúdo.
A lei não evolui. Segue com passo tardo a mudança
social. O Direito, entretanto, pode acompanhar as transformações
econômicas, políticas e sociais. Ao intérprete e ao aplicador cabe
responder ao desafio de dinamizar a lei, para que não seja força
retrógrada dentro da sociedade.

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Processos de Interpretação – Elementos de Interpretação


Como observou Emmanoel Augusto Perillo, o conteúdo
da lei é inteiramente vago, dentro de sua esquematização lógica;
sem a intervenção do hermeneuta, a lei morre no tempo.
Os processos de interpretação são também chamados
elementos de interpretação, métodos ou modos de interpretação,
fases ou momentos da interpretação, ou critérios hermenêuticos.
Os processos de interpretação não ocorrem ao
intérprete numa ordem sistemática, mas numa síntese imediata.
Esse caráter unitário da atividade hermenêutica
aconselha que se encarem os processos de interpretação como
momentos do processo global interpretativo, de preferência a
conceituá-los como métodos.
Pós reconhecer que o processo interpretativo não
obedece a uma ascensão mecânica das partes ao todo, mas
“representa antes uma forma de captação do valor das
partes, inserido na estrutura da lei, por sua vez inseparável da
estrutura do sistema e do ordenamento”
Miguel Reale promugna por uma hermenêutica
estrutural.
C.H. Porto Carreiro defini-se por um método
hermenêutico dialético, que
“Abrange realidade como um todo e, como um todo, a
examina, procurando tudo quanto existe na letra e no espírito da
lei.”
Embora haja variações terminológicas, de um autor
para outro, se queremos buscar o máximo de abrangência e

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pormenorização, podemos enumerar como momentos (ou


processos) de interpretação os seguintes:
momentos (ou processos) literal, gramatical ou filológico;
momentos (ou processos) lógico ou radical;
momentos (ou processos) sistemático ou orgânico;
momentos (ou processos) histórico
momentos (ou processos) histórico-evolutivo
momentos (ou processos) teológico
momentos (ou processos) sociológico
II - MOMENTO FILOLÓGICO

O momento (ou processo) filológico estabelece o


sentido objetivo da lei com base em sua letra, no valor das palavras,
no exame da linguagem dos textos, na consideração do significado
técnico dos termos.
Forma de comunicação humana que se utiliza da
linguagem verbal, a lei é uma realidade morfológica e sintática.
Essa circunstância trona inafastável a utilização do processo
gramatical de interpretação. A interpretação exclusivamente
filológica, ou a preferência pela exegese verbal, ou mesmo a idéia
de que se deva partir, progressivamente, do processo gramatical
para atingir depois a compreensão sistemática, lógica, teológica ou
axiológica dos textos é que constituem posições doutrinárias
ultrapassadas. Certamente, foi com vistas a esses desvios
hermenêuticos que Recaséns Siches qualificou a interpretação
literal com irracional e inútil.
A interpretação filosófica deve perseguir o conteúdo
ideológico dos vocábulos, descobrir o que de subjacente existe
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neles, com vista a uma compreensão semântica das palavras usadas


na lei.

Está em vigor a Lei 9.610, de 19/02/98, que legisla sobre Direitos


Autorais, que diz que se constitui crime reproduzir por xerocópia
ou outros meios, obras intelectuais sem a Autorização por Escrito do
autor.

III - PROCESSO FILOSÓFICO

No uso do processo filosófico, deve o intérprete estar


advertido de que nem sempre a palavra é fiel ao pensamento, afora
as impropriedades de redação, freqüentes nas leis. Sempre é
preciso encontrar o que se acha implícito por trás das palavras.
As palavras empregadas pelo legislador devem ser
interpretadas em conexão com as demais que constituem o texto.
Deve-se atentar para o uso da palavra no local em que
foi redigida a lei ou a matéria a ser interpretada.
A pesquisa filosófica há de interligar-se e harmonizar-
se com os demais processos, pois,
“desde Saussure, não se tem mais uma compreensão
analítica ou associativa da linguagem, a qual. também só pode ser
entendida de maneira estrutural, em correlação com as estruturas
e mutações sociais.”
Essa visão estrutural da linguagem desautoriza o
entendimento dogmático das palavras da lei e impões o
entendimento histórico.
A linguagem é um patrimônio comum, arsenal coletivo,
instituição. A fala é a escolha individual, a opção entre as
possibilidades de expressão que se apresentam na língua.

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A lei é a fala do legislador, revelando a percepção da


pessoa ou do grupo de pessoas que elaborou a lei, mas também,
sem dúvida, a visão da época.
Cada época tem uma visão da realidade.
A consideração desses aspectos não pode ser ignorada
pelo hermeneuta.
Se o intérprete possuir conhecimento de filosofia,
lingüística e filosofia da linguagem, poderá utilizar-se, com
proveito do auxílio desse processo.
O momento (ou processo) lógico baseia-se na
investigação da ratio legis. busca descobrir o sentido e o alcance
da lei, sem o auxílio de qualquer elemento esterno, aplicando ao
dispositivo um conjunto de regras tradicionais e precisas, tomadas
de empréstimo á lógica geral. Funda-se no brocardo - “Ubi eadem
ratio, ibi eadem legis dispositc”. Procura a idéia legal que se
encontra sub litteris, partindo do pressuposto de que a razão da lei
pode fornecer elementos par a compreensão de seu conteúdo, de
seu sentido, de sua finalidade. Numa lei o que interessa não é o
seu texto, mas o alvo fixado pelo legislador.
O elemento lógico empregado nesse processo de
interpretação é o fornecido pela lógica formal.
A ratio legis consagra, necessariamente, os valores
jurídicos dominantes e deve prevalecer sobre o sentido literal da
lei, quando em oposição a este.
O processo lógico permite que a interpretação alcance
elevado padrão de rigor e segurança. contudo, como sulinha
Flócolo da Nóbrega,
“o processo tem o grave inconveniente de esvaziar a
lei todo o conteúdo humano, de tratá-la em termos de precisão
matemática, como se fosse um teorema de geometria”.
Também Carlos Maximiliano censura o processo
afirmando que da preocupação de reduzir toda a Hermenêutica a
brocados, a conseqüência é multiplicarem-se as regras de

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interpretação, gerando a sutileza, incompatível com a segurança


jurídica pretendida.

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ou outros meios, obras intelectuais sem a Autorização por Escrito do
autor.

IV - PROCESSO LÓGICO

Antes de prosseguirmos vamos falar um pouco sobre a


Lógica. Substituindo a dialética por um conjunto de procedimentos
de demonstração e prova, Aristóteles criou a lógica propriamente
dita, que ele chamava de analítica (a palavra lógica será empregada,
séculos mais tarde, pelos estóicos e Alexandre de Afrodísia). Esses
procedimentos de demonstração e prova mais tarde foram
conhecidos como empirismo.
Podemos concluir então que havia uma diferença entre
dialética e a lógica.
Em primeiro lugar, a Dialética platônica é o exercício
direto do pensamento e da linguagem, um modo de pensar que
opera com os conteúdos do pensamento e do discurso. A Lógica
Aristotélica é um instrumento que antecede o exercício do
pensamento e da linguagem, oferendo-lhes meios para realizar o
conhecimento e o discurso. Para Platão, a dialética é um modo de
conhecer. Para Aristóteles, a lógica (ou analítica) é um
instrumento para o conhecer.

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A Dialética platônica é uma atividade intelectual


destinada a trabalhar contrários e contraditórios para superá-los,
chegando à identidade da essência ou idéia imutável. A Lógica
Aristotélica oferece procedimentos que devem ser empregados
naqueles raciocínios que se referem a todas as coisas das quais
possamos ter um conhecimento universal e necessário, e seus ponto
de partida não são opiniões contrárias, mas princípios, regras e leis
necessárias e universais do pensamento.
A lógica tem várias características, vejamos algumas
delas numa classificação Aristotélica:
 Instrumental: é o instrumento do pensamento para pensar
corretamente.
 Formal: não se ocupa com os conteúdos pensados ou com os
objetivos referidos pelo pensamento, mas apenas com a forma
pura e geral dos pensamentos.
 Normativa: fornece princípios, leis, regras e normas que todo
pensamento deve seguir.
 Doutrina da Prova: estabelece condições e os fundamentos
necessários de todas as demonstrações.
É bom lembrar que o objeto da lógica é a proposição,
que exprime, através da linguagem, os juízos formulados pelo
pensamento.
Recaséns Siches considera o processo lógico
imprestável na aplicação do Direito. A lógica formal, de tipo puro,
a priori, só a adequada na análise dos conceitos jurídicos essenciais.
Para tudo que pertence à existência humana - a prática do Direito,
inclusive - impõe-se o uso da lógica do humano e só razoável
(lógica material).
Carlos Coelho de Miranda Freire adverte que o
raciocínio jurídico não se regula por uma lógica do necessário.
Nele domina um procedimento fundamentado em silogismos
retóricos, que são concluídos a partir de premissas prováveis.
André Franco Montoro pensa que o jurista usa
habitualmente a lógica em suas sentenças, petições, pareceres etc,
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se bem que nem sempre o faça de forma consciente. Todas as


vertentes da Lógica, segundo sua opinião, desde a lógica clássica
até a lógica simbólica, a lógica da linguagem, a lógica deôntica e a
lógica do concreto (incluído-se, nesta última designação, a lógica
razoável, da argumentação, da controvérsia, nova retórica e tópica)
têm aplicação na tarefa hermenêutica.
Wilson de Souza Campos Batalha observa que o rigor
lógico, na interpretação e aplicação das normas jurídicas, e simples
aparência. Há em toda interpretação e aplicação ingredientes
estimativos, emocionais e irracionais.
Embora a sentença - prossegue - revista-se de forma
silogística, a conclusão, freqüentemente, precede as premissas.
C. H. Porto Carreiro acha que, modernamente, a
exegese racional voltou a merecer atenção, uma vez que pode
fornecer informações sobre as razões sociais da lei, isto é, sobre o
direito que, em dado momento, se cristalizou em regra jurídica.
Por isso, ao lado da “ratio legis”, aprofundou-se o
exame “occasio legis”, como elemento histórico capaz de revelar
ao intérprete as condições sociais que deveriam ter influenciado na
redação da lei.
O processo lógico, ou racional, reformulado, poderá
penetrar no espírito histórico da lei, retirando daí as razões que a
presidiram à sua feitura.
Vê cada regra legislativa como
“parte do inteiro organismo dos princípios de
determinado regime ou sistema de direito positivo”.
consiste na
“adaptação do sentido de uma norma ao espírito do
sistema”
Carlos Maximiliano fixa diretriz para o uso do
processo:
“Examine-se a norma na integra, e mais ainda: o
Direito todo, referente ao assunto. Além de comparecer o
dispositivo com outros afins, que formam o mesmo instituto
jurídico, e com os referentes a institutos análogos; força é,
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também, afinal por tudo em relação com os princípios gerais, o


conjunto do sistema em vigor.
Nos países de constituição rígida, importante é ter
presente a supremacia dos dispositivos constitucionais, em
comparação com os dispositivos da legislação ordinária.
Quando se adota, como se faz, por longa tradição, no
Brasil, o sistema de constituições pormenorizadas, exaustivas,
regulando matérias atinentes aos mais diversos campos do Direito,
indispensável é o cotejo de qualquer dispositivo que se queira
interpretar com o que, a respeito, disponha, específica ou
genericamente, a Constituição Federal
V - PROCESSO SISTEMÁTICO
O processo sistemático tem a função de preservar a
harmonia do sistema legal, zelar por sua coerência.
Esse objetivo deve ser perseguido não pelo controle
constitucional das leis: também entre normas de igual hierarquia o
princípio deve ser invocado.
A meu ver, assiste razão a Cavalcanti lana, em voto
vencido que proferiu no 1º Tribunal de Alçada do Rio de Janeiro:
“Tem a jurisprudência um papel que não esta
suficientemente esclarecido e estudado: o de preservar a harmonia
do sistema legal. Não é ela mera intérprete da lei e nem se unifica,
em homenagem aos casos análogos, a fim de garantir a isonomia
das decisões. Sua função mais importante é a de zelar pela
coer6encia do sistema. Argumenta-se esta coerência é dada o elo
controle constitucional das leis, não havendo como invocá-la entre
normas igual magnitude hierárquica. mas o argumento deixa ao
juiz uma pobre função - transforma-o em computador destinado a
processar os dados que o legislador, em desavisada hora, entendeu
de lhe propiciar.”
Integra o processo sistemático o recurso ao Direito
Comparado, ou seja, a confrontação do texto, sujeito a exegese,
com leis congêneres de outros países, especialmente daqueles que

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exercem influência na construção do instituto jurídico que se


investiga.
Nas matérias alcançadas pela Declaração Universal dos
Direitos Humanos, é necessário ter presente esse documentos
supranacional, quer quando se acolhe a doutrina que sustenta sua
auto-aplicação ao direito interno. - posição que julgo acertada -
quer, pelo menos, como fonte subsidiária,
O processo (ou momento) sistemático possibilita uma
compreensão larga da lei. A mens legis, - que parecia muito
precisa - , após a confrontação do texto interpretado com outras normas
de igual ou superior hierarquia, com os princípios gerais do Direito, com
o Direito Comparado, pode restringir-se, aplicar-se, ser, enfim, eliminada
por uma visão enriquecedora, que uma interpretação meramente lógica
tornaria impossível.
VI - MOMENTO HISTÓRICO

O momento (ou processo) histórico leva em conta as


idéias, os sentimentos e os interesses dominantes, ao tempo da
elaboração da lei. A lei representa uma realidade cultural que se
situa na progressão do tempo.
Uma lei nasce, observando a determinadas aspirações
da sociedade ou da classe dominante da sociedade, traduzidas
pelos que a elaboraram, mas o seu significado não é imutável. É
necessário verificar como a lei disporia se, no tempo de sua feitura,
houvesse os fenômenos que se encontram presentes, no momento
em que se interpreta ou aplica a lei.
A lei observa Paulo Dourado de Gusmão,
“não é elaborada para um corpo social moribundo,
mas para um corpo social vivo, em desenvolvimento, com épocas
de crise e com épocas de estabilidade.

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Fundamenta esse processo hermenêutico a convicção


de que o Direito é produto histórico, herança cultural, criação da
vida social, capaz de adaptar-se a todas as condições e exig6encias
novas, fruto da comunidade, e não resultado da vontade do
legislador. Daí, o realce que seus corifeus deral à tradição e ao
costume imemorial.

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VII – MOMENTO HISTÓRICO-EVOLUTIVO

O processo histórico-evolutivo considera que a lei não


tem
“conteúdo fixo, invariável, não pode viver para sempre
imobilizada dentro de uma fórmula verbal, de todo impermeável às
reações do meio, às mutações da vida. Tem de ceder às
imposições do progresso, de entregar-se ao fluxo existencial, de ir
evoluindo paralela à sociedade e adquirindo significação nova, à
base das novas valorizações”.
O interprete busca descobrir a vontade atual da lei
(voluntas legis), e não a vontade pretérita do legislador (voluntas
legislatoris), vontade que deve sempre corresponder às
necessidades e condições sociais.
O elemento histórico permite apreender as linhas gerais
da evolução jurídica, as transformações que sofreram os institutos
no decurso do tempo, os traços comuns na sucessão das leis, traços
que estão a indicar o que existe de permanente em meios à
multiplicidade e variedade dos dispositivos.

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No processo (ou momento) histórico-evolutivo,


socorre-se o intérprete da pesquisa dos documentos históricos do
Direito, quais sejam, dentre outros, os projetos e anteprojetos de lei,
mensagens e exposições de motivos, debates parlamentares,
pareceres, relatórios, votos, emendas, justificações. Esses
documentos não têm força vinculativa, pois a lei, uma vez
sancionada, desgarra-se do autor ou autores, porém, de qualquer
forma, constituem subsidio apreciável para o estudo das razões
históricas da lei.
Consideram-se aqui também a história do direito
anterior especialmente a história do instituto de que faz parte a lei,
a história do dispositivo ou norma submetida a exegese, bem como
Os fatos e circunstâncias que deram causa à lei.
No processo histórico-evolutivo, como no processo
lógico e no sistemático o intérprete mantém-se dentro das balizas
da lei, não se admitindo ai a interpretação criadora, a despeito ou a
margem da lei. Justamente por isso, os apologistas deste processo
reputam-no valioso, porque, sem colocar o interprete contratam os
códigos, permite a evolução jurídica: concilia o princípio da
legalidade com as transformações sociais.
A utilização, na França, do processo histórico-evolutivo
possibilitou atualizar o código de Napoleão (código civil), com a
adoção pela jurisprudência de institutos da maior relevância como a
teoria da responsabilidade civil por riscos criados, na teoria da
imprevisão (que permitiu a revisão judicial dos contratos) e a teoria
do abuso dos direitos.
Sem negar o valor da história, no conhecimento das
instituições sociais, C. H. Porto Carreiro entende, conjunto, que é
fundamental dar-lhe um tratamento dialético, abandonando a
simples relação cronológica dos fatos, para submetê-los a uma
análise infra-estrutural que conduza a real apreensão de uma
realidade em movimento. Só se revezando a História, nas suas
bases e nos seus conflitos, é possível chegar a esse resultado.

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A ênfase dada pelo processo histórico de interpretação


ao exame dos materiais legislativos merecem a critica desse mesmo
autor. Essas peças tem a finalidade de mistificar a opinião publica,
pois o verdadeiro objetivo - a garantia dos privilégios de classe -
nunca é confessada.
Georges Ripert também produziu veemente libelo
contra a insinceridade das exposições de motivos.
Alias, já os Estatutos de Coimbra preveniam que
“se não devem seguir, e abraçar cegamente as razões
indicadas na lei; antes pelo contrário se deve sempre trabalhar
por descobrir a verdadeira razão delas.”
Desprezada a postura estática, meramente descritiva, e
assumida a postura crítica, de aprofundamento da realidade,
dialética, o momento histórico é de grande valia no trabalho
hermenêutico.

VIII – MOMENTO TEOLÓGICO

O processo ou momento teológico busca a finalidade


da lei. O fim da lei, numa primeira abordagem, é garantir
interesses, com base em valorizações econômica, políticas, sociais
e morais dominantes.
A lei não explicita os interesses que defendem, nem a
valorizações que a fundamentam. Cabe ao hermeneuta pesquisa-
los, com vistas a se descobrir o fim da lei, o resultado que a mesma
precisa atingir em sua atuação pratica, assegurando a tutela do
interesse, para a qual foi estabilizado, ou de outro que deva
substituí-lo.
A interpretação teológica deve buscar objetivo atual
das disposições, à medida que interesses emergentes possam ser
enquadrados no textos primitivo.
Dentro da perspectiva oferecida pela teoria do valor e
da cultura, Miguel Reale diz que
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“fim da lei é sempre um valor, cuja preservação ou


atualização do legislador devem em vista garantir, armando de
sanções, assim como também pode ser o fim da lei impedir que
ocorra um desvalor. Ora, os valores não se explicam segundo
nexos de casualidade, mas só podem ser objeto de um processo
compreensivo que se realiza através do confronto das partes com
o todo vice-versa, iluminando-se e esclarecendo-se
reciprocamente, como é próprio do estudo de qualquer estrutura
social”.
Assim, na concepção de Reale, toda interpretação
jurídica é teológica, funda-se na consistência axibiológica.
O Direito brasileiro sufragou, amplamente, a
interpretação teológica ao estatuir o art. 5º da Lei de Introdução ao
Código Civil Brasileiro,
“Na aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins sociais a
que ela se destina e as exigências do bem comum.”
Embora colocado na Lei de Introdução ao Código
Civil, esse dispositivo não se aplica apenas à interpretação do
Código Civil: é uma diretriz do ordenamento jurídico.
Divergem os autores no entendimento do alcance que
deve ter ao artigo 5º da Lei de Introdução ao Código Civil
Brasileiro.
Entendem alguns que o bem comum a que a lei se
destina é aquele que a norma, objeto da interpretação, está
orientada a satisfazer. outros pensam que deve o juiz atende as
exigências últimas e gerais do bem comum, afastando a incidência
da lei ao caso concreto, quando dessa incidência resulte obstrução
àquele desiderato.

Comentando esse artigo escreveu Oscar Tenório:


“O direito positivo brasileiro preferiu caminho mais
seguro e menos difícil. Deu ao juiz a missão de, na aplicação da
lei, apreciar a sua finalidade social e as exigências do bem
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comum. confiou ao juiz a missão de vencer os óbices criados por


leis prenhes de individualismo. Instaurou-se o governo dos juizes,
sem que possamos falar, entretanto, em oligarquia ou ditadura
judiciária.:”
C.H. Porto Carreiro não vê , com otimismo, a efetiva
aplicação do artigo 5º da Lei de Introdução ao Código Civil,
encontrando um conflito entre o artigo e o sistema jurídico-
político-econômico em que está inserido:
“Não especificando as fronteiras dos “fins sociais” a
que se destina a lei, deixa a critério do juiz o exame da questão.
Mas, qual espada de Dámocles, pendente sobre a cabeça do
julgador, estão os princípios gerais do Direito, garantidores do
status e da vigas mestras do regime. Teoricamente, o juiz tem
liberdade de pesquisar os “fins sociais” da lei, perquirindo, como
filósofo e como sociólogo, a verdadeira “ratio legis”. No entanto,
ao fazê-lo, há ele de esbarrar, fatalmente, com os institutos
jurídicos preestabelecidos (e que não podem ser por ele mudado),
que têm de ser seguidos e mantidos, sob pena de ser apontado
como uma ameaça à segurança nacional.”
Penso que, realmente, a interpretação teológica -
sufragada, sem restrições, pelo direito brasileiro, aram o judiciário
de grandes poderes e de inarredável missão política.
De independência e coragem os juízes sempre
precisarão, caso queiram ser úteis ao povo, e não dóceis
instrumentos da dominação de poucos. Independentes e
corajosos, ao aplicarem teleologicamente o direito, tendo em vista
as exigências da finalidade social e do bem comum, os juizes não
pedirão obscurecer que o bem comum é, até etimologicamente,

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felicidade coletiva, bem geral, e nunca o individualismo, a


opressão, que uma lei particular ou artigo de lei consagrar.

Está em vigor a Lei 9.610, de 19/02/98, que legisla sobre Direitos


Autorais, que diz que se constitui crime reproduzir por xerocópia
ou outros meios, obras intelectuais sem a Autorização por Escrito do
autor.

IX - O MOMENTO SOCIOLÓGICO
O momento (ou processo) sociológico conduz à
investigação do motivos e dos efeitos sociais da lei. Leva a aplicar
os textos de acordo com as necessidades contemporâneas, com
olhos postos no futuro, e não no passado. considera a consciência
jurídica da coletividade, as aspirações do meio. Atende às
conseqüências econômicas, políticas e sociais da exegese. Vê o
sistema jurídico como subsistema do sistema, e não como sistema
autômato.
Segundo Machado Neto, são objetivos pragmáticos
do processo sociológico de interpretação:
a) conferir a aplicabilidade da norma às relações sociais
que lhe deram origem;
b) estender o sentido da norma a relações novas,
inexistentes ao tempo de sua criação;

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c) temperar o alcance do preceito normativo, a fim de


fazê-lo corresponder às necessidades reais e atuais de caráter social.

A Conexão dos Fenômenos

O intérprete deverá conhecer a conexão do fenômeno


jurídico com os demais fenômenos sociais, o que reclama a
cooperação da Economia, da Sociologia, da Ciência Política, da
Psicologia Social, da Antropologia etc. Para a declaração do
sentido atual da norma para a determinação da vontade genérica da
lei, será importante o estudo sociológico do ambiente histórico, das
condições de vida, dos valores e exigências sociais dominantes.
Para C.H. Porto Carreiro o processo sociológico visa a
“perscrutar a lei como um produto orgânico que tem
capacidade de evoluir por si mesma, segundo a possibilidade de
evolução da própria sociedade.”
Conforme a opinião desse autor, para que a
interpretação sociológica alcance seus resultados, deve-se indagar
os motivos primários que levaram a feitura da lei, os interesses
protegidos pela norma, a forma que se deu a essa proteção e a
maneira pela qual deve ela funcionar. O processo sociológico
precisa ser reformulado, em termos de uma Sociologia integral e
completa, à base de uma realidade dialética.
Homero Junger Mafra observa que pode alguém
infringir a lei, sem infringir as regras de seu grupo.
Em fase dessa situação - pergunta -, cabe ao jurista o
papel de, mecanicamente, aplicar o texto, decidir com o valores que
traz o réu?

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Qual a Questão? Qual o motivo?

Discutindo a questão, opta pela segunda alternativa,


adotando a opinião da corrente finalista do direto Penal, que julga
o dolo pela ação e entende que a culpabilidade é um juízo de valor,
só tendo sentido a norma em termos de relevância social.
Essa posição, que vai ao encontro do motivo social da
lei, sufraga exegese tipicamente sociológica.
Theodor Sternberg afirma que o jurista não deve ser,
ordinariamente um repetidor escolar de sentenças, ao que ela
somente em ocasião especial fosse permitida a livre criação; ao
contrário, por sua profissão deve ser um pensador social e só
excepcionalmente deve estar acorrentado à lei.
Renato José Costa Pacheco parte da averiguação de
que, na situação de mudança social em que nos encontramos, a lei
é inadequada à direção da vida social. No caso brasileiro, em que
a taxa de mudança é desigual, diante da diferença entre meio
urbano e meio rural, bem como entre as diversas regiões do país,
mas que ilusória é a ficção da igualdade de todos perante a lei.
Em face desse quadro, reflete o autor sobre o papel do
juiz frente à mudança social. Examina as posições de Mário
Moacir Porto, que quer uma magistratura criadora, legiferante,
finalistica, intervencionista, e de Mário Guimarães, para que à
magistratura compete velar pela tradição jurídica. Entre os dois
extremos fixa-se Renato Pacheco no que ele denomina mediania
virtuosa.
Dentro do contexto da sociologia devemos ter em
mente que o momento sociológico traz consigo uma aculturação
que vale a pena ser pensada diante de uma breve pergunta:

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“VOCÊ TEM CULTURA?”

- Comentar o tema considerando:


 Porque não existe sociedade sem cultura:
Toda sociedade tem sua cultura, pois sem cultura não há
sociedade, não tem interação, (ação entre elas), ou seja, todos
precisam viver em grupo e assim expressar o modelo de
sociedade (pensar, sentir e agir), não consegue se manter como
um todo, ela dá identidade aos grupos ou pessoas.
A Cultura é sempre adquirida pelo processo de socialização,
criando seus próprios valores, para entender melhor o que está à
sua volta. Em sociedade ocidental ou oriental a cultura tem suas
características próprias, enraizando-se por processo político-religiosos,
as vezes confundido-se com estes num a simbiose historicamente
inseparável.
 O conceito de Cultura como código simbólico e suas
implicações:
Antropologicamente falando cultura trata-se de dar identidade a
um grupo, já no caso de Cultura como código simbólico, ter
cultura significa, quantidade de leituras, grau de escolaridade,
conhecimentos gerais. Como implicações há discriminações
entre idade, etnia, sexos e etc. Citamos como um exemplo a
mulher desempenhando o mesmo papel social do homem e
tendo remuneração menor.

 Porque não se deve hierarquizar Culturas diferentes?


Porque não existe cultura superior ou inferior e sim códigos
diferentes entre si, por isso não se pode julgar cultura e nem é
possível estabelecer um parâmetro de critério de avaliação para

28 JORGE LEIBE
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comparar a cultura, se for usado algum parâmetro então é um


ato etnocêntrico.

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Está em vigor a Lei 9.610, de 19/02/98, que legisla sobre Direitos


Autorais, que diz que se constitui crime reproduzir por xerocópia
ou outros meios, obras intelectuais sem a Autorização por Escrito do
autor.

X - CONCLUSÃO

Em síntese hermenêutica é a compreensão do


sentido da norma, a interpretação do sentido das palavras.
Ela é a interpretação da verdade, da mentira, da
cultura e etc., segundo os prismas das sociedade nos seus
momentos históricos-normativos, pois a norma as vezes é divina, as
vezes é humana. Ora ela vem dos deuses ora dos reis. Uma é
interpretada pelo Sacerdote outra pelo Escriba. Não sempre ao bel-
prazer.
Por vezes vemos a hermenêutica jurídica usada
como sinônimo de interpretação e Carlos Maximiliano diz que a
hermenêutica é a teoria científica da arte de interpretar e tem por
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objetivo “o estudo e a sistematização do sentido e o alcance das


expressões do Direito”
O processo literal deve ser estabelecido de forma que a
interpretação do texto, seja de maneira clara e que se observe as
lacunas que a redação, pode deixar. Dessa forma não será afetada a
harmonia com o sistema legal, (que por sua vez é zelada pelo
processo sistemático de interpretação), facilitando assim, a
investigação dos motivos e efeitos sociais da lei, adequando-as a
sociedade.

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XI - BIBLIOGRAFIA
1. MAXIMILIANO, Carlos. Hermenêutica e Aplicação do
Direito. 17ª Ed. Rio de Janeiro : FORENSE, 1998.
2. AZEVEDO, Plauco Faraco de. Critica a Dogmática e
Hermenêutica Jurídica. Porto Alegre: SAFE, 1989.
3. FRANÇA, Rubens Simongi. Hermenêutica Jurídica. 5ª Ed.
Revisada e aumentada. São Paulo: SARAIVA, 1997.
4. FRIEDE, Reis. Ciência do Direito, Norma, Interpretação e
Hermenêutica Jurídica. Rio de Janeiro: FU, 1997.
5. “Direito Em Revista” - Ano II nº 6 julho/agosto 1998.
6. PEARLMAN, Myer. Conhecendo as Doutrinas da Bíblia –
Editora Vida, Miami, USA, 78.
7. THOMPSON, Bíblia de Referência. Edição Contemporânea,
RJ: Ed. VIDA, 95.
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8. LEIBE, Jorge, S. Pereira. Introdução à HERMENÊUTICA, A


Arte e Ciência de Interpretar – Instituto Bíblico Universal – RJ
– Brasil – 98.

Agradeço ao Senhor Jesus por poder abençoar vidas através


desta pequena obra

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Outras Obras do Autor:
Doutrinas, Costumes e Tradições – 1998/RJ.
Teologia do Casamento - 1997/RJ.
Cerimonial e Liturgias – 1998/RJ.
Mini-Dicionário Contextualizado - 1999/RJ.
Teologia da Oração - 1996/RJ.
Vencendo a Depressão - 1999/RJ.
Cura Interior – Sarando as Feridas – 2003/RJ.

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