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A CONVERSÃO DRAMÁTICA DE PAULO

Texto Básico: Atos 9.1-31


“Mas Barnabé, tomando-o consigo, levou-o aos apóstolos; e
contou-lhes como ele vira o Senhor no caminho, e que este lhe
falara, e como em Damasco pregara ousadamente em nome de
Jesus”

Alvo da Lição: O aluno compreenderá a importância de compartilhar


com os outros o que Deus tem feito em sua vida, através da
salvação em Jesus, tendo como base a vida de Saulo e Tarso.
 

Introdução
Talvez este seja o homem mais conhecido como representante do
cristianismo, além de ser de fundamental importância para a história
da igreja. Saulo, seu nome aramaico na comunidade judaica em
Jerusalém, e Paulo, a forma romana de seu nome, ecoam nos livros
de teologia e também de filosofia. Ele também é o homem que mais
escreveu sobre doutrina no Novo Testamento: treze cartas são de
sua autoria. Paulo foi o primeiro teólogo da igreja e foi chamado por
alguns de seu segundo fundador.

Era natural de Tarso, uma importante cidade da Cilícia, e era


cidadão romano, título que herdou de seu pai ou de algum parente
que prestou serviços ao império e como recompensa ganhou a
cidadania.

Sua educação preliminar foi doméstica tendo seu pai como tutor.
Em Filipenses 3.5, Paulo nos mostra credenciais de quem mantém
em dia sua ligação com a família: circuncidado no oitavo dia,
israelita da tribo de Benjamim, hebreu nascido de hebreus. Com
aproximadamente seis anos, Paulo foi à escola da sinagoga para
ser educado na Torá e no hebraico. De acordo com Atos 22.3, foi
educado em Jerusalém aos pés de Gamaliel. Este era um rabino
moderado (At 5.34-39). Embora Paulo não o mencione em suas
cartas, seu estilo reflete o método rabínico de pensar.

Alguns acreditam que Atos 26.10 tem implícito que Paulo foi
membro do Sinédrio. Fariseu, foi perseguidor fanático da igreja,
antes de sua conversão.

I. Saulo, o perseguidor dos crentes (At 8.1; 9.1-2)

Atos 8 traz a história posterior à morte de Estêvão, consentida por


Saulo de Tarso. Alguns estudiosos afirmam que a expressão “Saulo
consentia em sua morte” significava que dera o seu voto no
Sinédrio para a execução de Estêvão. Mas é no versículo 3 desse
mesmo capítulo que vemos a ferocidade de Paulo como
perseguidor. “Saulo, porém, assolava a igreja, entrando pelas
casas; e, arrastando homens e mulheres, encerrava-os no
cárcere.” Alguns comentaristas nos explicam que o verbo
“assolava”, em grego, nesse versículo pode ser traduzido como
destruição e não tem paralelos no Novo Testamento. No Antigo
Testamento, o equivalente usado descreve a destruição que um
animal selvagem podia causar a uma planta ou a outro ser. Ele
realmente era algoz e tinha um sentimento de ódio no coração em
relação aos cristãos. Em suas próprias palavras, em Atos 26.11, ele
diz que estava demasiadamente enfurecido.
Depois desse parágrafo, encontramos Saulo em Atos capítulo 9. O
versículo registra: “Saulo, respirando ainda ameaças e morte contra
os discípulos”. A palavra ainda liga os acontecimentos desse trecho
com os descritos anteriormente, ou seja, a morte de Estêvão (At 7)
e a expulsão de cristãos de Jerusalém. Não se contentando em
atuar na área sob domínio do Sinédrio, Saulo vai até o sumo
sacerdote e pede recomendações para conseguir apoio das
sinagogas de Damasco, região sob domínio de um outro povo
(Nabateus), para perseguir cristãos fora de Jerusalém.

II. Saulo e Jesus, a conversão na estrada (At 9.3-9)

Foi a caminho para praticar mais um de seus atos perseguidores


que Saulo encontrou Jesus de forma singular e definitiva. Quase no
fim de sua viagem de 240 km, ele viu e ouviu o Senhor Jesus
ressurreto. Posteriormente, esse fato foi muito importante para
conferir autoridade apostólica a Paulo. A pergunta feita ao
perseguidor lhe mostrou quanto o Senhor prezava, amava e era
unido com a Sua igreja. Ele não perguntou por que Paulo perseguia
a igreja, mas sim porque O perseguia.

Saulo não sabia quem estava falando com ele. Então, ouviu o
Senhor responder: “Eu sou Jesus, a quem tu persegues” (At 9.5).
Após a resposta, o novo convertido foi instruído quanto ao que
fazer. Todos à sua volta ouviam a voz, mas não viram ninguém.
Além disso, ouviram o som, mas não compreenderam o que a voz
havia dito. Levantando-se do chão, Paulo estava cego. Ele deveria
seguir viagem, levado por outros para a cidade, onde aguardaria a
pessoa que lhe diria o que lhe convinha fazer (At 9.6).
1. A experiência de Saulo foi marcante: um ponto entre dois
extremos
De perseguidor passou a apóstolo, de odiento à causa de Cristo se
tornou um dos mais apaixonados discípulos de Jesus.

2. A experiência de Saulo foi pessoal


Somente Saulo entendeu completamente o que estava
acontecendo. Ele viu e ouviu o que Jesus lhe pedira e Lhe
obedeceu imediatamente, mesmo que ainda não estivesse
compreendendo exatamente o que estava acontecendo. Note que a
obediência de Saulo foi completa porque, primeiramente, foi sua
resposta a alguém que até então ele não cria ser o “Messias”; em
segundo lugar, porque aquela ordem mudou o curso de seus planos
imediatamente; e em terceiro porque teria de confiar em um
desconhecido. Tais atitudes seriam impensadas para um
personagem com o currículo de Saulo, mas mostraram sua fé e
obediência em ação.

3. A experiência de Saulo foi uma demonstração da graça de


Deus
Calvino fala que a graça de Deus é vista não apenas em um lobo
tão cruel sendo transformado em ovelha, mas também em ele
assumir o caráter de um pastor. O próprio Paulo reconhece isso em
seus escritos. Basta observar a linguagem que usa para descrever
sua conversão. Em Gálatas 1.15-16, ele diz “aprouve [a Deus]
revelar seu Filho a mim”, e em 1Coríntios 15.10 – “Mas, pela graça
de Deus, sou o que sou; e a sua graça, que me foi concedida, não
se tornou vã; antes, trabalhei muito mais do que todos eles; todavia,
não eu, mas a graça de Deus comigo”. Você poderá encontrar um
exemplar de versículo como este em quase todas as cartas de
Paulo. Essa consciência impulsionava Paulo sempre na
dependência daquele que o salvara e o chamara ao ministério e
que deve nos impulsionar na mesma direção.

III. Paulo e Ananias – A recepção na igreja (At 9.10-25)

A recepção de Paulo na igreja foi um pouco diferente. Ele jejuou,


orou e esperou por três dias antes que obtivesse alguma explicação
para tudo aquilo que aconteceu com ele. Essa atitude de Paulo
mostra sua rápida transformação. Claro que, como fariseu, orava e
jejuava, mas agora era diferente. Esperou calmamente que o
Senhor lhe enviasse uma resposta e, enquanto isso, apenas jejuou
e orou. Como diz Stott, “o rugido do leão foi transformado em balido
de cordeiro”. Seu relacionamento com Deus foi transformado.

1. O diálogo com Ananias


Enquanto Paulo esperava jejuando e orando, o Senhor tinha um
diálogo muito interessante com Ananias, um membro mais velho da
igreja de Jesus naquele lugar. Ao receber a ordem de orar por
Saulo, Ananias respondeu ao Senhor que Saulo era um homem
muito perigoso e demonstrou certo medo a Deus. Mas a resposta
do Soberano foi reveladora. Ananias recebeu a revelação de que
Saulo se tornaria apóstolo aos gentios e aos seus reis, como de fato
foi. O próprio livro de Atos nos mostra isso. Além de ser o apóstolo
dos incircuncisos (Rm 11.13; Gl 2.2, 7-8; Ef 3.8), foi testemunha
perante o governador Felix e sua esposa, Drusila (At 24.24), o rei
Herodes Agripa II, além de comparecer perante César. Após essa
palavra, Ananias se encheu de coragem e foi ao encontro do novo
convertido. Em Ananias, Saulo encontrou uma resposta para seu
problema de cegueira, recebeu oração, ficou cheio do Espírito
Santo, foi batizado e, finalmente, se alimentou. Ananias foi o
primeiro a reconhecer o perseguidor como cristão e quando foi orar
por ele o chamou de “Saulo, meu irmão”.

2. Seu relacionamento com a igreja


Deste ponto em diante, ocorreu a Saulo a maior mudança de toda
sua vida – em relação à igreja. Assim que se sentiu fortalecido com
a acolhida de Judas e Ananias, Saulo saiu pregando na cidade,
causando espanto e confusão em todos os judeus, e passou a ser
perseguido. Alguns deles tramaram a morte de Saulo, que saiu
fugido em um cesto pela muralha da cidade. A igreja a qual odiara
passou a ser objeto de um amor apaixonado e contagiante. Saulo
também mudou seu relacionamento com os judeus. Em vez de
concordar com eles sobre o Messias, passou a demonstrar que
Jesus era o Cristo que eles ainda esperavam. Ia até as sinagogas
para persuadir seus compatriotas da verdade que tinha
experimentado a caminho de Damasco. Antes foi aos judeus para
pedir autorização para matar os cristãos, depois foi aos judeus para
que eles morressem para a sua incredulidade e nascessem como
cristãos.

Aplicação
Não existe conversão genuína em que não haja mudanças de
comportamento e de relacionamento para com Deus, com a igreja e
com o mundo. Ensinemos essa verdade tão importante e tão
ausente nas pregações evangélicas de hoje.

IV. Saulo e Barnabé a apresentação aos apóstolos em


Jerusalém (At 9.26-31)
A mesma dificuldade enfrentada por Ananias quando teve de
encontrar Saulo foi também enfrentada pelos irmãos em Jerusalém
quando o novo convertido voltou para lá. Novamente, Deus
providenciou um homem que se dispôs a acreditar em sua
conversão genuína e o apresentou aos irmãos. Temos de lembrar
que entre sua conversão em Damasco e sua chegada em
Jerusalém há um período de três anos que Paulo passou na Arábia.
Alguns entendem que ele buscou isolar-se para buscar a Deus,
entendê-Lo melhor e estudar. Outros comentaristas afirmam que
esses três anos compensaram os três anos que ele não passou
com o Senhor Jesus, assim como os outros apóstolos. Enfim, voltou
de lá para ser recebido em Jerusalém.

O papel de Barnabé foi muito importante nesse processo. Ele foi a


carta de apresentação de Paulo aos líderes da igreja que acolheu o
novo convertido. Uma vez acomodado na igreja, Paulo mostrou o
mesmo espírito corajoso e saiu às ruas para testemunhar. Então, o
que aconteceu em Damasco se repetiu em Jerusalém. Ele foi
perseguido, e os apóstolos o mandaram secretamente para outro
lugar.

Aplicação
Precisamos de Ananias e Barnabés na igreja de hoje. Pessoas que
ensinam a igreja a receber os novos adeptos que vêm de contextos
diferentes. Devemos prestar atenção nisso! Não é somente o novo
convertido que vem unir-se a igreja, mas também a igreja deve
demonstrar-se receptiva ao novo convertido.

CONCLUSÃO
Em seu comentário, Stott assinala algumas características do
testemunho de Paulo que devemos desenvolver em nossa vida e
também ensinar àqueles que chegam ao evangelho sob nossos
cuidados.

1. Era cristocêntrico
Sua mensagem era centrada em mostrar o Cristo e Sua graça
salvadora. A ênfase não era ele mesmo ou sua própria experiência.

2. Era no poder do Espírito Santo


Sem Ele é impossível cumprir a grande comissão, pois Ele é a
grande condição para isso.

3. Era corajoso
Lucas menciona que sua pregação era ousada: não tinha medo
nem das privações nem das perseguições que poderia sofrer.

4. Custou caro
Paulo pagou com sofrimento seu desvelo pela pregação do
evangelho. Várias vezes fugiu, foi apedrejado e preso. No entanto,
quanto mais oposição, mais testemunho fluía da vida desse nosso
irmão.

A conversão de Saulo nos ensina muitas lições que podemos


resumir aqui:

 devemos orar pelos irmãos que são perseguidos;


 testemunhar é um dever que mostra nossa temperatura
espiritual;
 vivenciar a conversão genuína implica necessariamente
mudança.
Devemos imitar Ananias e Barnabé, e nos empenhar para receber
bem os novos convertidos que chegam à igreja.

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