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Universidade do Estado da Bahia

Departamento de Educação - Campus XV


Disciplina: Teoria da Constituição
Professora: Luiza Campos
Aluno: Givanildo Ribeiro Braz
Data: 06 de Maio de 2014
Texto: A força Normativa da Constituição

HESSE, Konrad. A força normativa da Constituição.  Porto Alegre: Sergio


Antonio Fabris, 1991.

Nascido em Könisberg (Antiga Prússia Oriental), em 29 de janeiro de 1919 e


falecido em 15 de Março de 2005, Konrade Hesse além de exercer o magistério na
Universidade de Freiburg (Alemanha) também foi membro do Tribunal Constitucional
Alemão entre 1975 e 1987, tendo como discípulos importantes constitucionalistas como Peter
Häberle, Friedrich Müller e Hans Peter Schneider, publicando diversas obras entre elas
“Elementos de Direito Constitucional da República Federal da Alemanha”(1999), Direito
Constitucional e Direito Privado" (1988) e A Força normativa da Constituição (1959) o obra
no Brasil traduzida no ano de 1991 por Gilmar Mendes atual membro Supremo Tribunal
Federal, a qual será objeto de estudo no presente resumo.
Neste livro composto por apenas 32 páginas, Konrad Hesse traz importantes
reflexões para o estudo e compreensão do papel da constituição na estrutura político-social do
Estado contrapondo os argumentos de Ferdinand Lassale para o qual a Constituição Escrita é
tão somente a expressão da correlação das forças dominantes (militares, latifundiários,
empresários, capitalistas e intelectuais) de um país. Os fatores reais de poder fomentam a
Constituição Real do estado, não passando a Constituição escrita, de um mero pedaço de
papel que tem sua capacidade de regulação e motivação disciplinada e limitada pela
Constituição Real a verdadeira fonte de regulação social de um país.
Hesse no capítulo introdutório afirma que apesar destes conceitos expressarem o
contexto histórico e cultural comtemplado por Lassale, eles ainda se fazem presente na
atualidade de maneira simplificada e imprecisa. O autor introduz seu diálogo contrapondo os
argumentos de Ferdinand diferenciando o Direito Constitucional ciência normativa da
Sociologia ou da Ciência Política ciências da realidade. Em seguida salienta ainda que a
Constituição não é uma simples congregação de fatos da realidade política condenados pela
mutabilidade, que se a assim fosse, a constituição perderia sua principal característica, a força
normativa, finalizando o capítulo com uma série de indagações suscitada pelas ideias de
Lassale as quais são respondidas ao longo do livro.
Segundo Konrad Hesse existe um condicionamento reciproco entre Constituição
jurídica e a realidade político social percebido através da análise dos limites e possibilidades
da atuação da Constituição jurídica e da análise dos pressupostos da eficácia da constituição
tendo em vista que uma análise unilateral não fornece bases para a solução das questões
proposta por Lassale. Para isso o autor propõe a criação de um ponto de equilíbrio entre
norma constitucional e a realidade fática como forma de encontrar um caminho rumos às
indagações anteriormente suscitadas visto que a norma só existe em face da realidade.
O autor prossegue nas suas discussões afirmando que a norma constitucional
não esta desconectada da realidade, sua essência se forma na sua vigência na sua pretensão de
eficácia, que não está isolada de condicionantes históricos de concretização, os quais criam
regras próprias e que não podem ser desconsideradas. A constituição não é apenas uma
expressão de um “ser” mais também de um dever “ser”, imprimindo ordem e conformação a
realidade política e social ao mesmo em que estes acabam por determina-las condicionando-se
de maneira reciproca e independente sendo impossível definir os limites de atuação das
partes.
Ao evocar Wihelm Humboldt, Konrad Hesse ratifica sua concepção de que a
constituição deve ser elaborada não apenas no plano racional, mas vinculada as experiências
históricas concretas e seus condicionantes. Uma constituição construída numa concepção de
um Estado abstrato e teórico permanecerá estéril não pode haver constituição se as leis
culturais, sociais, politicas e econômicas são ignoradas, a sua força vital e eficácia devem
estar correlacionadas as forças espontâneas e as tendências que permeiam seu tempo
permitindo assim sua ordenação objetiva de relações de vida. Não basta seja pautada nos
princípio de razão e de experiência a constituição se objetiva ter força normativa deve ser
adequada ao povo e ao Estado que pretende regular.
Paralelo à correlação com a realidade a constituição figura-se numa força ativa
impondo tarefas, permeando a consciência geral principalmente dos responsáveis pela ordem
constitucional, fazendo valer a vontade constitucional. A qual está assentada em três
fundamentos distintos. Primeiro a compreensão da necessidade de uma ordem normativa
legitimável e inquebrantável que proteja o Estado contra arbítrios desmedidos e disformes.
Segundo essa ordem precisa ser legitimada pela vontade humana. E por último as forças
impulsionadoras e transformadoras que fomentam a essência e a eficácia da constituição estão
na natureza das coisas transformando-a em força ativa tanto no I – conteúdo, quanto na II -
práxis constitucional:
I - Conteúdo: A segurança da força normativa da constituição está condicionada na:
incorporação espiritual do seu tempo o qual asseguram ordem justa, apoio e a defesa da
consciência geral e não de grupos, de interesses momentâneos, particulares, políticos ou
classes dominantes. Doutra forma tal atitude levará a constante revisão constitucional e, por
conseguinte na desvalorização da força normativa da Constituição; na constitucionalização
poucos princípios fundamentais com vista a ser desenvolvidos com capacidade de atualizar-se
na pretensão de justiça frente a mudanças de condicionantes; e na incorporação estruturas
contrárias: aos direitos garantidos devem fazer frente os deveres, o estabelecimento do
princípio federalista pressupõe o unitarismo, a separação dos poderes tem que ser balizada
pela concentração do poder. O estabelecimento de um único critério enfraqueceria a
Constituição não permitindo a esta mover-se frente a novos contextos.

B) Práxis: Aqui se faz presente o conceito que permeia toda a obra do autor a Vontade
Constitucional o qual assevera sacrificável respeito pela preservação dos princípios
constitucionais que garantem a essência do Estado. Assegurando a estabilidade e a confiança
da população na ordem construída e impedindo revisões da Carta frente à necessidades
políticas e transitórias . A estabilidade constitui a condição fundamental da eficácia da
constituição. Outro ponto que segundo Hesse fundamental a força normativa da Constituição,
é a interpretação a qual deve valorizar o Texto Constitucional, objetivando concretizar da
melhor forma possível o sentido da proposição normativa frente a realidade da situação.
Mudanças na realidade jurídicas demandam mudanças na interpretação constitucional,
respeitando-se, entretanto os limites de interpretação posto pela proposição jurídica. A
interpretação construtiva que fornece condições essenciais para força normativa da
constituição e sua estabilidade.
Konrad Hesse desenvolveu como podemos perceber importantes considerações
acerca da força normativa da constituição e os limites da mutação constitucional, asseverando
o caráter normativo e rígido da constituição jurídica, mas de espírito flexível para ajustasse
dentro de certos termos, as mudanças históricas de cada contexto político-social. Ao contra
argumentar Ferdinand Lassale, Hesse não nega a influência da realidade social sobre o
ordenamento jurídico, porém, afirma o autor, este não deixa de ser um condicionante dessa
mesma realidade, ordenando-a e conformando-a, e esta força normativa cresce na medida em
que se conscientiza o seu papel no meio social.
Ao relacionamos as contribuições de Konrad Hesse com a nosso ordenamento
jurídico podemos perceber o quanto este espírito normativo constitucional tem contribuído
para o paulatino modelamento da realidade político-social brasileira, ao mesmo tempo em que
é modelada por esta. Ao longo destes vinte seis anos de Carta Constitucional Cidadã,
percebemos nela, como aponta Hesse, o seu caráter estruturante dialético percebido em dois
distintos momentos. Mostrando-se rígida e impondo a sua “Vontade de Constituição” quando
o Supremo Tribunal Federal (STF) declarou que Lei Complementar (LC) 135/2010, a
chamada Lei da Ficha Limpa, não deveria ser aplicada às eleições realizadas no ano 2010, por
desrespeito ao artigo 16 da Constituição Federal, dispositivo que trata da anterioridade da lei
eleitoral: “por melhor que seja o direito, ele não pode se sobrepor à Constituição” afirmou o
Ministro do STF, Luiz Fux ao proferir seu voto contrário à aplicação da Lei. Os interesses
devem ser sacrificados em prol da preservação da Constituição, isso fortalece-a e garante um
bem indispensável a vida do Estado afirma o autor.
Por outro lado ainda fundamentada na dialética a Constituição Brasileira mostra
flexível ao permitir emendamentos ou através da hermenêutica constitucional principio
definido por Hesse de a otimização da concretização da norma, possibilitando uma nova
interpretação da proposição normativa dentro das condições reais dominantes numa
determinada situação. Quando o mesmo STF reconheceu por unanimidade o casamente entre
pessoas do mesmo sexo: “O que se está aqui a analisar e discutir é porque há que se adotar a
melhor interpretação da norma do art. 1723 do Código Civil em consonância com os
princípios constitucionais (...)” afirmou a ministra Carmen Lúcia ao proferir seu voto
favorável a reconhecimento pelo Estado da união matrimonial homoafetiva.
Para nós estudantes de Direito, os conceitos trazidos por Konrad Hesse fornecem
importantes balizadores para o desenvolvimento não só para o exercício jurídico mais também
para o exercício da cidadania diante dos conflitos e tensões sociais geradas pelas crescentes e
rápidas alterações no contexto político, econômico e cultural. Neste sentido como afirma o
autor se o futuro do Estado é uma questão de poder ou um problema jurídico isto dependerá
primordialmente da preservação e do fortalecimento da força normativa da Constituição, bem
como de seu pressuposto fundamental, a vontade de Constituição. E esta tarefa com bem o
autor salienta foi confiada a nós.

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