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R E V I S T A

2 Suas Notas
5 Aqui na Weril
6 Por Estas Bandas
8 Fique de Olho
9 Workshop: O Legato no Trombone
12 Entrevista: Maestro Barry Ford

Março/Abril 2000 - Ano 22 - nº 128


Distribuição Gratuita - www.weril.com.br

Sons
Latinos
Conexão Cuba-Brasil volta a
fazer sucesso e atrair os
músicos de sopro para novos
projetos
Pág. 10 e 11

4o Prêmio Weril:
Professor do
Confira o Sax Primeiro Colocado
Alto na Dica do Ganha Viagem para
Mestre
Pág. 4
o Exterior
Pág. 8
Gerson Galante: A Flauta Mágica de Altamiro Carrilho
testando o sax Weril Pág. 3
SUAS NOTAS

“Sou o professor brasileiro que fez o contato com o “Parabéns pela Dica Técnica sobre respiração circular
saxofonista Dale Underwood, entrevistado da edição (edição 127), que explicou com clareza o assunto”
126. Como ele mesmo conta no texto, foi através de Roberto Luiz Colaço, Florianópolis (SC)
uma troca de e-mails que este grande músico veio ao
Brasil. O fato demonstra o poder da internet para a troca R: Roberto, confira neste número o complemento da
de informações em nosso meio. O que seria apenas um Dica Técnica, assinada por nosso colaborador Angelino
contato com um ídolo se transformou numa grande Bozzini.
amizade. Hoje, Dale Underwood e eu nos falamos
sempre, sobre dicas de aulas, agenda de concertos e “Sinto dificuldades no aprendizado do alegro no
outros assuntos” trombone de vara. Vocês poderiam me passar alguma
Erik Heimann, Jundiaí (SP) informação a respeito?”
Clênio Camargo Souza, São Paulo (SP)
R: A dica do professor Erik vale para todos. A internet
já se tornou um importante aliado para a atualização R: Clênio, leia o workshop desta edição, à página 9,
do músico, seja através da pesquisa ou da troca de para saber mais sobre o assunto.
informações.

“Escrevo com satisfação e gratidão para dizer que estou


Correção
• Os exemplos apresentados
aplicando todas as Dicas & Técnicas da Revista e
Também recebemos e agradecemos cartas e e-mails de:
Adriano R. Fagundes, Três Lagoas (MS); Agnelson F. Ferreira, Barra
do Bugres (MT); Alexandre Herrera (por e-mail); Almir S. Abreu,
obtendo resultados surpreendentes. Mostrei os artigos Osasco (SP); Ana Maria Tomei, Peruíbe (SP); André J. Brás, Campinas
no workshop da última aos amigos músicos, e juntos estamos praticando as (SP); Antonio C. Secco, Campinas (SP); Antonio E. A. Gil, São Paulo
edição (“Introdução ao dicas para uma boa execução” (SP); Carlos H.S. Durão, Rio de Janeiro (RJ); Celso Marczal, Porto
Blues II”, pág. 9) saíram Kleberson M. Costa Calanca, Adamantina (SP) União (SC); Claudia S. Santos, Juiz de Fora (MG); Douglas F. H.
Oliveira (por e-mail); Edvaldo G. Sousa, Santa Luzia (PB); Enéas
incompletos. Confira na
O.Silva (por e-mail); Evandro A. Silva, Batatais (SP); Ezequiel Santos
home page da Weril R: Kleberson, como saxofonista, você não pode deixar Brasil, Amargosa (BA); Fabiana Belasco (por e-mail); Fábio Moura
(www.weril.com.br) a de conferir a Dica do Mestre desta edição, na página (por e-mail); Francisco Hofflin (por e-mail); Gabriel Monteiro,
representação correta. 4. Parabéns pela evolução nos estudos. Piracicaba (SP); Giovana R. Guerreiro, Assis (SP); Hélio Miranda
Mendes, Alvinópolis (MG); Henrique B. Silveira (por e-mail); Ieda
F. Silva, Birigüi (SP); Jaques Niremberg (por e-mail); Jasiel A. Silva,
São Lourenço da Mata (PE); Jefferson F. Bastos, Mauá (SP); Joelson
C. Silva, São Sebastião do Alto (RJ); Johann F. Genthner, Curitiba
Grande Encontro de Instrumentistas (PR);Jônatas A. Silva, São Lourenço da Mata (PB); José Antonio P.
França (por e-mail); José J.C. Silva, Sobral (CE); Josias Cardeal (por
De 14 a 20 de maio, na Escola de Música da UFMG, e-mail); Josué C. Souza, Uruará (PA); Juliana S. Rocha, Ervália (MG);
acontece o 1º Encontro Internacional de Instrumentistas Juliana Soares, São Paulo (SP); Laura D. Monica, São Paulo (SP);
Leonardo B.R. da Cunha, Santa Luzia (MG); Leston R. Oliveira,
de Sopro de Minas Gerais, com a presença de convidados Santo Antônio do Norte (MG); Lilia Rosa, São Paulo (SP); Livingston
estrangeiros – como Per Brevig (1º trombonista da Hass, Americana (SP); Lucas J. C. Figueiredo, Socorro (SP); Marcelo
Metropolitan Opera of New York) e Steven Trinkle A. Conceição (por e-mail); Marcos Ronaldo dos Santos (por e-mail);
(professor de trompete da Shenandoah University, Marcelo Bonvenuto, (por e-mail); Marcos Battistuzzi, (por e-mail);
Mario A. Guimarães (por e-mail); Paulo A. Cassiano, Juiz de Fora
Virgínia, EUA) - e os artistas Weril Gilberto Gagliardi, (MG); Paulo Flores (por e-mail); Paulo P. Linhares, Serranos (MG);
Bocão e Radegundis Feitosa Nunes. Mais informações Paulo R. Silva, Belo Jardim (PE); Paulo R. Silva Sampaio, Fortaleza
sobre o evento pelo telefone (31) 499-4700 ou 499-4715 (CE); Salvio S. Garcia (por e-mail); Sandro M. Corrêa, Belém (PA);
(Ceenex). Silas José da Silva (por e-mail).

expediente
REVISTA WERIL é uma publicação bimestral da Weril Instrumentos Musicais Ltda.
Conselho Editorial: Angelino Bozzini, Demétrio Lima, Eduardo Estela, Gilberto Gagliardi, Ivan Meyer, Jessé
Martinez, Magno D’Alcântara, Marcelo de J. Silva, Milton Lelis.
Editora: Aurea Andrade Figueira (MTb 12.333) - Redator: Nelson Lourenço - Fotos da capa: Beatriz Weingrill
- Redação e correspondência: Em Foco Assessoria de Comunicação - Rua Dr. Renato Paes de Barros, 926, São
Paulo/SP 04530-001 e-mail: revista@weril.com.br
Projeto gráfico, diagramação e editoração eletrônica: Matiz Design - Tiragem: 19 mil exemplares
As matérias desta edição podem ser utilizadas em outras mídias ou veículos, desde que citada a fonte.
Atendimento ao Consumidor Weril 0800 175900

2 Revista Weril - nº 128 - Março/Abril-2000


PERFIL

O Dom do Improviso
Aos 75 anos, Altamiro Carrilho dedica-se ao choro e impressiona a todos com seu
talento natural

Um pequeno acidente caseiro – cortar o dedo mínimo uma de brinquedo, depois passou para outra de bambu
ao abrir uma lata de conserva – não é o suficiente para e só foi conseguir um instrumento “decente” quando
estragar o humor de Altamiro Carrilho. Ele já tem a venceu o concurso do programa “Calouros em Desfile”,
receita para evitar que o dedo se infeccione: mergulha- comandado ao vivo por Ari Barroso nos auditórios da
o em uma pequena vasilha com álcool. “O mínimo é rádio Tupi, no Rio de Janeiro. A peça que tocou na
fundamental na execução da flauta, por isso todo o ocasião foi a difícil “Harmonia Selvagem”, de Dante
cuidado é pouco”, justifica ele, enquanto se prepara para Santoro. “Com o prêmio, não só pude comprar uma
a entrevista. flauta nova, como também conheci Ari Barroso, que
Esse é apenas um dos macetes que Altamiro aprendeu depois se tornaria meu amigo”, lembra ele.
em sua carreira de mais de 50 anos como músico Os programas de auditório na década de 40 eram
profissional. No entanto, apesar de toda a experiência e muito populares, e a repercussão da vitória de Altamiro
foi instantânea. Logo seria
convidado para tocar em
“Para conseguir uma embocadura grupos famosos a época, até
ter a oportunidade de montar
perfeita, é preciso estudar muito” seu próprio conjunto na Rádio
Guanabara. Sempre fiel ao
técnica, a obra deste flautista consagrado no Brasil e chorinho, de lá para cá realizou mais de 100 discos,
Exterior é profundamente marcada pelo veloz improviso, alguns gravados em países como Estados Unidos,
um dom que nasceu com ele e foi desenvolvido ao longo México e Rússia. Em todos as nações que visitou, fez
de décadas de estudo. Altamiro é capaz de fazer questão de divulgar a riqueza
variações sobre um tema por tempo indeterminado, o da música popular brasileira,
que o diferencia de outro grande nome mundial, o que defende até hoje. “Nossa

Divulgação
francês Jean Pierre Rampal, reconhecido internacio- música é muito rica e impor-
nalmente por suas gravações de música erudita, mas tante, mas nem sempre recebe
nem sempre à-vontade quando executa ritmos populares. o reconhecimento necessário
O segredo desse virtuosismo? Bem, como era de se dentro de nosso próprio país.
esperar, talento apenas não é o bastante. “Para conseguir No momento, o chorinho está
uma embocadura perfeita, é preciso estudar muito, sendo valorizado pelos pau-
treinar os maxilares durante anos para fortalecer a listas, o que é um bom sinal”,
musculatura”, explica Altamiro, que gosta de citar o afirma Altamiro.
nome de seus alunos que seguiram carreira. “Tem gente E da mesma forma carinho-
que estudou comigo e está hoje na Filarmônica de sa com a qual se refere ao cho-
Berlim”, completa, orgulhoso. rinho, seu gênero preferido,
Altamiro começou a tocar cedo entre os grandes ele encerra a entrevista, para
mestres da flauta e de outros instrumentos. Seu padrinho voltar ao “tratamento” do dedo
artístico foi o cantor Moreira da Silva, o Kid Moran- machucado. Os fãs de sua mú-
gueira. Ele foi o primeiro a acreditar que Altamiro, ainda sica agradecem.
menino, seria capaz de acompanhar os grandes nomes
da era do rádio. Nas apresentações teatrais de Moreira,
a flauta de Altamiro era o contraponto perfeito para suas
histórias.
Altamiro
Como qualquer prodígio, ele já demonstrava talento Carrilho:
antes mesmo de conhecer os fundamentos teóricos. defensor do
Trabalhava em uma farmácia e memorizava as canções chorinho e da
que ouvia, para tirá-las depois na flauta. Começou com MPB

Revista Weril - nº 128 - Março/Abril-2000


3
EFEITO SONORO

R X AIO

O som brilhante do Sax Alto Weril Spectra


Modernos, bonitos, leves, fáceis de serem executados com o saxofone alto Weril Spectra. Ele possui chave do
e com excelente resposta sonora. Um instrumento com Fá sustenido agudo, apoio do polegar ajustável e três
essas características seria capaz de conquistar o mais versões de acabamento: dourado 24 K, prateado ou
exigente de músicos, e é exatamente isso o que acontece niquelado. Seu mecanismo possibilita uma performance
confortável, com total controle de afinação e timbre. É
excelente para músicos de todos os níveis, oferecendo
todos os recursos que o profissional utiliza para tirar
Beatriz Weingrill

um som de primeira qualidade.


Confira os detalhes do sax alto Weril Spectra nas
fotos desta página.

D ICA DO MESTRE

Evoluindo
O professor e saxofonista Gerson Galante, da big
Regulagem Fina do Apoio do Polegar da Articulações das
band Sound Scape, testou o sax alto Weril Spectra
Dó Sustenido Mão Esquerda Chaves
durante quase uma hora. “Já havia acompanhado a
mudança realizada pela Weril na linha Master e
estava ansioso para conhecer o Spectra”, revelou ele,
antes do teste. O instrumento o impressionou logo
de cara pela beleza e, principalmente, por ser leve.
“É confortável de se tocar, e esta primeira impressão
é muito importante”, disse ele.
Aos poucos, novas descobertas surgiram. “O
instrumento responde bem, inclusive nos harmônicos
e superagudos”, detectou Gerson. “O som é proje-
tado, tem o timbre característico, aquele som bri-
lhante do sax alto. Não é difícil tirar os subtons e
sons mais macios”, completou.
No final, a avaliação foi positiva: “Ele está
competitivo e pode ser adotado por profissionais. É
importante a Weril ter essa qualidade e avançar
sempre para competir no mercado”, recomendou o
saxofonista. E, por fim, deu a sua Dica do Mestre:
“Após adquirir um instrumento novo, use e abuse de
Ângulo do Todel Chaves do Fá Campana
notas longas, intervalos e oitavas nos primeiros
Sustenido e Fá
meses, para se habituar ao sax e `amaciá-lo´, fazendo-
Sustenido Agudo
o vibrar. Treine bastante para depois não se apresentar
com aquele som apertado, espremido...”

O e-mail de Gerson Galante é:


gersongalante@regra.com.br.

4 Revista Weril - nº 128 - Março/Abril-2000


AQUI NA WERIL

Abel Larrosa vem ao Brasil para


encontro de trombonistas
Primeiro trombone da Orquestra Sinfônica do Teatro
Colón em Buenos Aires, Abel Larrosa veio ao Brasil
em fevereiro, com o apoio da Weril, para participar do

Beatriz Weingrill
VI Encontro Nacional e II Encontro Latino-Americano
de Trombonistas, realizado no Conservatório Dramático
e Musical Dr. Carlos de Campos, em Tatuí (SP). Larrosa,
que também é artista Weril, participou da programação
como professor de um workshop para 70 alunos, e ainda
se apresentou ao público em show gratuito, ao lado do
brasileiro Gilberto Gagliardi, Renato Farias e outros
músicos. O evento foi patrocinado pela Weril, Secretaria
de Cultura do Estado de São Paulo e Ordem dos Músicos
(SP, RJ, PR, BA e MG), com apoio do Conservatório
de Tatuí.
Larossa ficou admirado com o nível de nossos
trombonistas. “Não imaginava que havia tantos aqui com
essa qualidade. Em três ou quatro anos, o Brasil estará
exportando talentos para o Exterior”, acredita ele.
Segundo Larrosa, o músico brasileiro tem uma técnica
virtuosística, mas com personalidade. “Falta apenas
agregar um pouco mais de conhecimento sobre obras
sinfônicas e óperas, para que eles possam disputar um Larrosa
lugar nas melhores orquestras do mundo”, avalia o acredita
argentino, que foi mestre de quase todos os trombonistas que o Brasil
em atividade de seu país. logo estará
exportando
Sinceridade trombonistas
Como professor, Larossa defende algo muito comum
entre os músicos da Argentina, que é o “ataque” às
dificuldades de cada aluno, em separado, antes de
partirem para os ensaios em grupo. Outra recomendação Quarteto de Trombones da Paraíba
é a sinceridade, mesmo entre amigos, sobre o potencial
de cada músico. “Não adianta darmos tapinha nas costas O grupo fundado em 1990 por
dos outros quando notamos que ele não possui os professores universitários e músicos de
requisitos necessários para prosseguir a carreira, ou banda visitou a Weril em fevereiro, ao
mesmo quando ele não está se dedicando. Se você não lado de outros músicos, incluindo o
tem facilidade para o trombone, isso não significa que trombonista paraibano Radegundis
não poderá se tornar um excelente saxofonista. Devemos Feitosa Nunes. Famoso por shows em
ser sinceros em nossos comentários, para não atrapalhar festivais no Brasil e Exterior, o Quar-
o futuro das pessoas”, aconselha. teto de Trombones da Paraíba é for-
Larrossa explica ainda porque escolheu a marca Weril mado por Sandoval Moreno de Oli-
em suas apresentações: “Quando fui conferir o lança- veira (professor da UFPB), Gilvando
mento da linha G. Gagliardi em Buenos Aires, impres- Pereira da Silva (professor da UFRN),
sionei-me não apenas com os trombones, mas também Roberto Ângelo Sabino (trombonista da Orquestra
com as tubas e bombardinos. É importante termos uma Sinfônica da Paraíba) e Stanley Bernardo da Silva. Todos
marca forte de instrumentos musicais produzidos na os músicos utilizam trombones G. Gagliardi em suas
América Latina”, conclui ele. apresentações.

Revista Weril - nº 128 - Março/Abril-2000


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POR ESTAS BANDAS

Desde 1831, quando foi executado pela primeira vez, execução é obrigatória. É o caso da continência à
o Hino Nacional Brasileiro tornou-se peça obrigatória bandeira nacional ou ao presidente da República, ou
na carreira de um regente ou músico de banda. Cedo ou ainda ao Congresso Nacional e ao Supremo Tribunal
tarde, a oportunidade para tocá-lo surgirá, e é necessário Federal quando incorporados.
estar preparado para essa ocasião. Pode ser uma festa Com música de Francisco Manuel da Silva, o Hino
pública em que se deseja demonstrar respeito e Nacional recebeu a letra que conhecemos hoje somente
admiração pelo país, ou uma solenidade na qual sua neste século. De acordo com o decreto assinado pelo
presidente Epitácio Pessoa, em 1922, os versos do poeta
Joaquim Osório Duque Estrada foram oficialmente
instituídos como letra do Hino Nacional, após
Osuel populariza música orquestrada adaptações feitas pelo maestro Alberto Nepomuceno.
O hino pode ser executado em duas tonalidades com
finalidades diferentes: Si bemol maior e Fá maior. A
Divulgação

primeira, mais aguda, é apenas orquestrada, sendo


tocada em continências. Inclui introdução, primeira parte
e coda final. Nessa tonalidade, pode ser incluída a
marcha batida para execução com cornetas em Si bemol,
cujo arranjo é do Major Antão Fernandes. Executada
isoladamente por cornetas e tambores, a marcha batida
substitui o hino na ausência de banda para tocá-lo.
Quando cantado, a execução é em Fá maior. Nesse
Osuel: divulgando a música na região caso, para exprimir regozijo público em ocasiões
festivas, o Hino Nacional é tocado da seguinte forma:
Com 15 anos de existência, a Orquestra Sinfônica da Universidade Estadual de introdução, primeira parte, introdução, segunda parte e
Londrina (Osuel) tem contribuído bastante para a popularização da música coda final.
orquestrada no sul do país. Graças a recursos vindos de leis de incentivo e da “Nas duas tonalidades, devem ser respeitados os
Sociedade dos Amigos da Osuel, a orquestra consegue manter-se, crescer e ganhar arranjos originais de Assis Republicano para orquestra
o reconhecimento do cenário musical. e de Antônio Pinto Jr. para banda”, explica o maestro
Contando com 50 integrantes, a Osuel é regida há quatro anos pelo maestro Antonio Domingos Sacco, do Forte das Artes. “Com
Norton Morozowicz. A corporação agrada a todos por dar ênfase ao repertório relação ao canto, é preciso tomar cuidado com a correção
brasileiro popular, além de executar peças de compositores clássicos, como das palavras do poema”, acrescenta o regente Hermes
Beethoven e Mozart. Essa mescla musical faz com que, anualmente, a sinfônica de Andrade.
seja apreciada por um público de aproximadamente 50 mil pessoas. Tocar o hino é um exercício não apenas musical, mas
A Osuel faz apresentações em parques, praças e teatros, no campus da também de cidadania por parte do músico e regente.
universidade e em festivais de música. Já tocou com sucesso no Estado de Santa Porém, alguns cuidados são necessários, como manter
Catarina e nas cidades de Curitiba, Juiz de Fora e Goiânia. Entre seus trabalhos o andamento metronômico a 120 semínimas por minuto.
mais recentes está a gravação de um CD com composições de artistas brasileiros. “A execução da partitura original e, principalmente, a
Outro projeto de sucesso é a realização de concertos didáticos, que demonstram interpretação da forma como ela está escrita, garantem
para alunos de 1o e 2o graus cada instrumento da orquestra, despertando entre os o sucesso de um Hino Nacional bem tocado”, define o
jovens o interesse pela música e criando um novo público. maestro Sacco.

6 Revista Weril - nº 128 - Março/Abril-2000


POR ESTAS BANDAS

Sensibilidade na educação
Desde 1998, quando decidiu fundar uma banda idade dos alunos, queremos preservá-los e assumirmos
marcial para atender aos pedidos de alunos e familiares, mais compromissos lentamente, sem muito desgaste”,
o Colégio Integração vem colhendo excelentes finaliza Vilma.
resultados, não apenas na área da música, mas também
em outras disciplinas. “Não queríamos apenas ter uma
banda, mas sim criar uma ferramenta de formação
musical, para desenvolver a sensibilidade e despertar
um novo interesse do estudante pelo mundo”, lembra
Vilma Sacchetti Raymundo, mantenedora do colégio,
que está sediado em São Vicente (SP).
A música faz parte da grade de disciplinas do
Integração para crianças da primeira à quarta série.
Como avaliação, são preparadas anualmente pelo menos
duas apresentações para os pais. A partir da quinta série,
os alunos do ensino fundamental podem ingressar na
banda. “A idéia é envolvermos no futuro o pessoal do
segundo grau, formando assim mais uma banda,
juvenil”, acrescenta Vilma.
Entre os instrumentos de sopro, são dois flugelhorns,
dez trompetes, quatro melofones, quatro trombones e
quatro bombardinos. A banda tem recebido vários
convites para apresentações na região de São Vicente, Alunos da banda: música desperta a
mas nem sempre é possível aceitá-los. “Devido à pouca imaginação

Gravação ao vivo traz


revelações do gospel
Na estrada desde 93, a Banda Revelação está o CD “Aleluia”, com dez faixas instrumentais de música
lançando o CD “Deus Vivo”, que traz os melhores evangélica tradicional.
momentos de um show realizado no Clube Jovem de O estilo da banda é totalmente influenciado pelo
Taubaté, cidade de origem do grupo. É uma boa autêntico gospel norte-americano. Em “Deus Vivo”, o
oportunidade para conhecer o trabalho desta banda destaque é a faixa de abertura, “Exaltai”, versão em
evangélica, que possui um afinadíssimo naipe de sopros português de “Be Exalted Oh Lord”, do grupo Hosana
(sax, trombone e trompete). Music. O CD termina com um belo instrumental,
A Revelação tem estúdio próprio e já gravou com marcado por um incrível solo de flugelhorn. Para
mais de 20 artistas, de vários estilos. O mais recente divulgar o trabalho, a Revelação irá se apresentar nas
trabalho foi com o saxofonista Mauro Dias, que realizou principais capitais do Brasil.

Contato
Banda Revelação – tel. (12) 232-2149
Colégio Integração – tel. (13) 468-0123
Orquestra Sinfônica da Universidade Estadual de Londrina – tel. (43) 322-5224,
Divisão de Música

Revista Weril - nº 128 - Março/Abril-2000


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FIQUE DE OLHO

Partituras: onde comprar


4º Prêmio Weril
Em Santa Catarina, a Revista Weril encontrou boas dicas de
locais onde você pode comprar partituras. Confira:
Bartosiak
Rua dos Jasmins, 65
Definidos o
Sta. Mônica
CEP 88037-140 Prêmio Especial
Florianópolis (SC)
Telefone: (48) 233-0973
Pedidos pelo e-mail: bartosiak@koizarada.com.br
ao Mestre e o
Graves & Agudos
Rua Mário Lobo, 106 – salas 131 a 134 show da
Centro
CEP 89201-330
Joinville (SC)
grande final
Telefone: (47) 422.6837
Pedidos pelo site: www.graveseagudos.com O 4º Prêmio Weril para Solistas de Instrumentos de
Sopro está encerrando suas inscrições e reunindo todo
Associe-se o material para iniciar a fase de avaliação dos trabalhos.
A Associação dos Tubistas, Eufonistas, Baritonistas e Sousafonistas do Brasil Entre as novidades desta edi-
(Atebs do Brasil) está iniciando suas atividades e recebendo novos associados. Os ção está a homenagem ao
interessados podem entrar em contato pelos telefones (11) 222-4163, com Donald, professor
ou (11) 9155-9084, com Dráuzio. do primeiro
colocado, que
• O Maestro Ezidemar Siemiatkovsk compõe recebe uma distinção espe-
Intercâmbio músicas para bandas, orquestras, big bands e
grupos musicais. Encomendas podem ser feitas
cial. A Weril anunciou a pre-
miação destinada ao mestre:
pelo endereço: Rua Cristiano Stróbel, 3289, casa 56, Curitiba (PR), CEP 81750-000, uma passagem ida e volta para qual-
ou pelo telefone (41) 286-9686. quer país da Europa ou América. O
• O professor e maestro Mário da Silva Magalhães gostaria de receber doações de objetivo é aumentar o intercâmbio
arranjos para banda. Seu endereço é: Rua José Alves Dias, 204, Campos (RJ), CEP cultural com o Exterior. O profes-
28020-300. sor terá um ano para definir
• O trombonista Jailson C. Costa também procura arranjos para bandas. destino e datas de ida e
Correspondências podem ser enviadas para Trav. São Francisco, 60, Maceió (AL), volta para utilizar sua
CEP 57019-380. passagem. A companhia
• Paulo Roberto S. Sampaio aceita doações de arranjos evangélicos, através do telefone aérea será escolhida pela
(85) 286-4461. Weril.
• Marcílio X. Carvalho procura clarinetistas para se corresponder. Seu endereço é: Rua Foi definido também
Santos Dumont, s/nº, Alto Paraguai (MT), CEP 78410-000. que o show de encer-
• A Banda Municipal de Música de Uruará procura métodos para estudo de trombone ramento da grande
de vara. Correspondências podem ser enviadas para: Rua Nova, 109, Uruará (PA), finalíssima será realiza-
CEP 68140-000. do pelo trombonista Bocato, no dia 30 de maio, na Sala
São Luiz, em São Paulo.

NAVEGUE Festival de MPB


www.uol.com.br/musica
Um novo site “musical” está no ar. A estação do “Uol Música” é um site para quem quer ouvir, O Teatro Procópio Ferreira será palco do 9º Festival
comprar e ler sobre música, começando com três rádios, cinco revistas especializadas e cinco sites de MPB de Tatuí, a ser realizado nos dias 26 e 27 de
de compras de CDs. Os internautas podem bater papo com músicos convidados, consultar
roteiros de shows, baixar arquivos em MP3, conferir os lançamentos e acessar sites oficiais. maio e 3 de junho. Os prêmios vão de R$ 1 mil a R$ 80
mil, e os participantes podem inscrever até duas compo-
www.asminasgerais.com.br/qf/Cult_uai_s/index.htm sições, mesmo em parceria. Mais informações, ficha
Este site com a história da cultura de Minas Gerais dedica um link para a Sociedade Musical de inscrição e regulamento podem ser obtidos pela
União Social, de Cachoeira do Campo. A página conta a história da banda, desde a sua origem.
Os contatos podem ser feitos pelo e-mail nbatista@uai.com.br; para entrar na página, clique no internet, no site http://www.webgraphic.com.br/cdmcc,
ícone “bandas”. ou pelo telefone (15) 251.4573.

8 Revista Weril - nº 128 - Março/Abril-2000


WORKSHOP

O Legato no
Trombone de Vara
Antonio Seixas Oliveira (Bocão)*

A articulação denominada legato é uma das mais


importantes e difíceis de serem executadas com perfeição
no trombone de vara. Antes de entrarmos na questão prática
de como executá-la, é importante uma breve
fundamentação teórica.
A palavra legato é de origem italiana. Em português,
significa ligado (unido, atado). Este tipo de articulação tem
como objetivo a execução de um trecho ou frase musical
na qual não há a interrupção do som, por meio da não-
interrupção do fluxo de ar.
O símbolo gráfico que representa o legato no
pentagrama é uma linha curva colocada sobre ou sob as
notas que pretendemos executar com este tipo de
articulação (exemplo 1):
No caso do trombone de vara, o estudo adequado do
legato, sob a orientação de um professor, faz-se necessário,
pois esse instrumento não possui pistos ou válvulas, o que
torna mais difícil a execução correta dessa articulação.
A outra maneira é denominada legato natural, segundo
Como executar corretamente o legato? a qual executa-se uma seqüência de notas, também sem
Para a execução correta do legato no trombone de vara, interromper o fluxo de ar, porém sem a utilização da língua
é necessário que sejam seguidos alguns passos: para articular cada nota. Utilizam-se somente os
• Manter o fluxo de ar constante, sem interrupção; movimentos inversos da vara e os harmônicos sobre a
• Articular a língua em cada nota, tocando-a na parte mesma posição (exemplo 3).
traseira dos dentes, sem permitir que ultrapasse os dentes O legato natural é bastante utilizado no gênero popular,
e encoste nos lábios, e pronunciando a sílaba “ra”; enquanto que o artificial é mais empregado no gênero
• Coordenar com precisão o movimento da vara com a erudito (sinfônico). Neste, atualmente, alguns professores
articulação da língua, de modo que, ao mover a vara de utilizam uma mescla dos dois legatos, privilegiando o
uma posição para outra, a língua articule a nota exatamente natural sempre que possível. Particularmente, não sou favo-
sobre a posição (nem antes, nem depois); rável a essa mistura. Para um aluno que está se iniciando
• Movimentar a vara com bastante rapidez de uma no estudo do legato, é um pouco complicado entender e
posição para outra, independente do andamento do trecho escolher entre uma ou outra maneira e usá-las corretamente.
a ser executado. Na verdade, a relação é inversamente Também acredito que, ao fazer essa mescla, corre-se um
proporcional: quanto mais lento o andamento do trecho, risco, pois se ambos os legatos não estiverem muito
mais rápido deverá ser o movimento da vara. O mesmo parecidos, o trecho musical pode perder a sua uniformidade
não vale para o inverso: se o andamento do trecho for e consistência.
rápido, deve-se movimentar a vara também com rapidez.
Assim, elimina-se a desagradável sensação de “moleza” Conclusão
ao tocar (oriunda dos glissandos), ou, como se diz na gíria O legato é uma articulação fundamental em qualquer * Antonio Seixas Oliveira
musical, “tocar mamado” ou “mamar” no trombone. instrumento, utilizada principalmente nos trechos (Bocão) é trombonista da
Orquestra Sinfônica
melódicos e cantados, e que depende de um estudo
Brasileira e professor.
Legato artificial x legato natural adequado, sempre orientado por um professor ou Tel.: (21) 9113-3429.
Existem duas maneiras de executar o legato: a primeira, profissional capacitado, para ser executado corretamente. E-mail:
denominada legato artificial, na qual executa-se uma Existem métodos que trabalham esse assunto com seixas@whouse.com.br
seqüência de notas sem interromper o fluxo de ar, bastante ênfase, como o “Método para Iniciantes”, de
articulando-se cada nota com a língua, como explicado Gilberto Gagliardi, e “Melodious Etudes for Trombone”,
no item acima (exemplo 2). de Joannes Rochut.

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TODOS OS TONS

Beatriz Weingrill
Música para bailar
Depois de

conquistar o
mundo, os

ritmos cubanos

chegam ao
Brasil, no

cinema e nas

casas de
espetáculos

Apresentação da Os ritmos latinos, particularmente os originários de invariavelmente rende-se ao ritmo caliente do mambo,
banda Havana Brasil Cuba, são hoje um dos mais importantes segmentos da da salsa, da rumba e do chá-chá-chá. A música cubana é
em São Paulo: ritmo indústria mundial da música. A brasileira Kyra muito dançante e conta sempre com um naipe de sopros,
dançante Carbonell, manager da banda Afro Cuban All Stars, vive seja como solo ou acompanhamento.
em Barcelona e confirma: na Europa, Estados Unidos e
Japão, a procura pela som latino tornou-se uma febre. E Brasil
o fenômeno poderá se repetir também no Brasil, um
país cujas raízes sonoras têm muitos pontos em comum Um dos grupos que está experimentando esta
com o valorizado repertório cubano, mas que nem sonoridade é o Havana Brasil, de São Paulo, que possui
sempre explorou essa identidade musical. naipe de sopros com quatro músicos: Matias Capovilla
Estréia em abril nas principais capitais brasileiras o (trombone), Cláudio Faria (trompete), Chico Guedes
documentário “Buena Vista Social Club”. O filme é uma (sax tenor) e Sérgio Lyra (sax alto, substituído
boa oportunidade para conhecer o trabalho da velha eventualmente por Goio Lima). “Resolvemos formar a
guarda cubana, um grupo de compositores autênticos, banda e desfrutar de ritmos que cultuamos. Depois,
que inspira uma nova geração de músicos na ilha, vamos investir em novas composições”, explica Matias.
composta por grupos como o Afro Cuban All Stars e o “Todos os integrantes da banda já foram a Cuba e
Habana Ensemble, ambos com passagem recente pelo também visitaram uma colônia cubana em São Paulo.
Brasil. Nas suas apresentações, o público local Essa convivência trouxe-nos maturidade e conheci-

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TODOS OS TONS

Uma história em comum


Para o músico Guga Stroeter, a influência exercida quando o cinema norte-americano descobriu e
pelos músicos retratados em “Buena Vista Social Club” explorou a música local sem se preocupar em
é a vertente mais autêntica desta onda de música latina evitar visões estereotipadas do povo latino. Na
que chega agora ao Brasil. “As outras referências que o década seguinte, no Brasil, o bolero fazia

Beatriz Weingrill
músico brasileiro está recebendo hoje são na verdade sucesso, com suas canções que falavam de
misturas e pasteurizações, como é o caso do pop de Ricky amor (originado da habanera cubana, o bolero
Martin e Lou Bega. No filme, porém, está a música que evoluiu no Brasil para o samba canção).
encontramos nas ruas de Cuba. São octagenários que Depois, nos anos 50, foi a vez de o mambo
estão mostrando sua arte, vendendo discos e propagando tomar conta dos bailes, a ponto de gerar
o som cubano para o mundo”, compara Guga, que protestos de gente como Vinícius de Morais.
explora os ritmos latinos com sua banda, apresentando- A presença da música cubana entre nós
se semanalmente em São Paulo, no Bar Avenida. sofreria um abalo com o isolamento provocado
Em seus estudos para futuros projetos, Guga, ex- pela revolução liderada por Fidel Castro, no
Heartbreakers, traçou um histórico da relação entre o início dos anos 60. “Houve um distanciamento
som cubano, o Brasil e os Estados Unidos. “Nós temos em todos os sentidos, inclusive no cenário
um forte elemento comum, que são as matrizes negras, musical”, lembra Matias Capovilla, da Havana
presentes na origem dos mais importantes fenômenos Brasil. Apenas na segunda metade dos anos 70
musicais deste século: o jazz, o funk, o blues, o samba e é que houve uma reaproximação, incentivada
a música cubana. No caso de Cuba, essa ascendência por intelectuais e protagonizada por artistas
vem das etnias bantu e iorubá. Motivos religiosos como Milton Nascimento e Chico Buarque.
Alfred Thomson, do
marcam profundamente a música africana e, graças a Enquanto isso, nos Estados Unidos, imigrantes cubanos
Habana Ensemble:
essa influência de origem, fica difícil separar a música e radicados em Nova York inventavam a salsa, dando o
músico cubano já
a alegria que ela proporciona”, explica ele. pontapé para a nova onda de música cubana, que continua
trabalhou com Bocato
O interesse pelos ritmos da ilha começa nos anos 30, forte até hoje.

mento. É um desafio ser um dos interlocutores desse americanos valorizam sua cultura e se entregam
ritmo sem deixar de lado nossa própria música”, apaixonadamente à sua música.
acrescenta.
Assim como o pessoal do Havana Brasil, há muitos Estrangeiros
apaixonados pela música latina espalhados entre
instrumentistas e o público de música. Existe uma Recentemente, estiveram no Brasil duas bandas
identificação entre as duas culturas, explicada pelas representativas do atual momento da música cubana:
raízes em comum – particularmente as de influências Afro Cuban All Stars e o Habana Ensemble. Nesta, de
negra e religiosa. Isso faz com que o brasileiro assimile um total de 11 músicos, quatro pertencem ao naipe de
com facilidade os ritmos cubanos e vice-versa. sopros, incluindo o diretor musical e saxofonista Alfred
Mas, mesmo com essa afinidade, a música latina Thomson (ex-integrante do tradicional grupo Irakerê),
sempre viveu altos e baixos no Brasil (leia box no alto que já gravou com o trombonista Bocato e veio pela
desta página). Segundo Matias, falta-nos uma colônia terceira vez ao Brasil. Ele acha que o Brasil sempre
hispânica expressiva, como acontece nos Estados ofereceu excelente recepção à música cubana. “As
Unidos. “A salsa surgiu em Nova York através dos pessoas dançam muito durante os shows”, comenta ele.
latinos locais. Muitos nem falam inglês. As comunidades Além do trabalho de artistas consagrados (principal-
cubana, mexicana ou porto-riquenha produzem sua pró- mente daqueles que gravam para trilhas de novelas
pria música nos Estados Unidos”, conta o trombonista. brasileiras, que fazem sucesso na TV cubana), Thomson
Em compensação, a simpatia dos brasileiros pelo gostou do forró, que não conhecia. “Bossa nova é uma
ritmo cubano é muito espontânea. E muitos de nossos de nossas influências. Tchorinho também é muy bueno”,
músicos admiram a forma como nossos irmãos latino- completa.

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ENTREVISTA

Da terra do blues à Amazônia

Elza Lima
RW: E as aulas de regência, quando começaram?
BF: Sempre gostei de saber como a música funciona. No
segundo grau, um dos professores me ensinava como ler a
partitura e, às vezes, na sua ausência, deixava que eu regesse
a banda. Não era fácil, porque sou tímido por natureza, mas
essa experiência foi suficiente para que me apaixonasse pela
regência.

RW: De instrumentista a regente, quais as principais dificul-


dades encontradas, e como um músico pode se preparar para
esta transição?
BF: Além de muito estudo, ao se tornar regente, o músico
precisa manter viva a lembrança das dificuldades de ser
instrumentista, e vice-versa. Não acredito que o regente tenha
que ser inimigo natural do instrumentista. Eles precisam
respeitar a música e colocar suas habilidades a serviço dela. A
Barry Ford: transição, mais especificamente, funciona da seguinte forma:
em busca o instrumentista, tocando solo ou em grupo, é responsável
da clareza pelo seu som e depende de sua capacidade como intérprete,
de mesmo que seus colegas de orquestra tenham uma visão
expressão musical diferente. Já o instrumento do regente é o grupo, ele
tem centenas de pessoas sob o seu comando, cada uma com
Radicado em Belém, o jovem maestro e trompetista Barry Ford já pode ser considerado muito idéias e problemas próprios, e sua função é uni-las. O regente
mais do que um músico promissor. Ele vem conseguindo realizar um excelente trabalho à precisa aceitar a responsabilidade por todos os sons da
frente da Orquestra Sinfônica do Teatro da Paz, a mais tradicional do Pará, e da Amazônia orquestra e ser o “advogado” do compositor. Durante o estudo
Jazz Band. Apesar da nacionalidade norte-americana, Barry nasceu na França, onde o pai da peça, ele precisa aprender como a música foi composta.
trabalhava à época, numa base militar. Adotou Chicago, a cidade do blues, como residência, Depois, tem que comunicar todo esse conhecimento sobre o
após ter se formado. Estudou regência e composição na Universidade de Missouri, com os compositor ao grupo e gerenciá-lo, para que possam ensaiar e
maestros Edward Dolbashian, Dale J. Lonis, John Cheetham e Thomas McKenney, e há três chegar ao som desejado.
anos desembarcou no Brasil através de um intercâmbio cultural, a princípio para ser professor
de trompete, depois assumindo a batuta da orquestra. Agora, sua intenção é ampliar RW: Qual a influência do som de Chicago sobre o seu
horizontes aqui mesmo, trabalhando com outros grupos orquestrais, conforme disse à Revista trabalho? Que tipo de música costuma ouvir?
Weril nesta entrevista. BF: Adotei Chicago como minha cidade depois de me formar
na Northwestern University. Foi o primeiro lugar onde me
senti em casa. A energia, personalidade e até o clima da cidade
combinam comigo. E o blues é uma de minhas formas
Revista Weril: Qual era o seu conhecimento sobre nossa preferidas de música. É uma forma simples, 12 compassos
música quando recebeu o convite para dar aulas no Brasil? organizados em três frases harmonizadas, com apenas três
Barry Ford: Na época, meu conhecimento era limitado a Villa- acordes. Claro que há muitas variações, mas geralmente não
Lobos e Tom Jobim. Conhecia também um pouco da MPB de vão tão longe da forma básica. Então, estamos falando de uma
Gilberto Gil, Chico Buarque e Milton Nascimento. O mercado forma de música simples, na qual todo mundo pode absorver
popular americano é bem fechado, o que dificulta a entrada rapidamente quase toda a matéria-prima. Apesar disso, é
de artistas estrangeiros. Na área da música clássica, isso é possível fazer música de expressão profunda e variada dentro
ainda mais complicado. dessa forma, sem que fique banal. Não quero dizer que a
música simples seja fácil. Em termos de atuação, busco clareza
RW: Por que escolheu o trompete como instrumento de de interpretação e expressão, sem “fumaça” ou truques.
estudo?
BF: Na verdade, queria tocar oboé ou trompa. Mas, quando RW: Quais são seus planos na área musical?
entrei na banda da escola, minha professora disse que deveria BF: Gostaria de realizar mais na área de composição e de
estudar antes dois anos de clarinete antes de passar para o música contemporânea. Também quero trabalhar com outros
oboé. No caso da trompa, teria que estudar trompete, e isso grupos no Brasil. A Amazônia Jazz Band tem uma proposta
influenciou minha escolha. Só que, após dois anos, não quis para ir a Hannover, na Alemanha, mas dependemos da
trocar o trompete pela trompa. disponibilidade de patrocínio.

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