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FACULDADES INTEGRADAS SIMONSEN

ROGÉRIO PEREIRA DOS SANTOS

O Associativismo Comunitário em Áreas Residenciais Segregadas na


Cidade do Rio de Janeiro: A Comissão de Desenvolvimento Social da
Área da Maré como um Elemento Norteador da História Social na
Favela da Maré

Orientador: Profº Drº Rodrigo do Amaral Aguiar

Rio de Janeiro
2019
ROGÉRIO PEREIRA DOS SANTOS

O Associativismo Comunitário em Áreas Residenciais Segregadas na Cidade do Rio de


Janeiro: A Comissão de Desenvolvimento Social da Área da Maré como um Elemento
Norteador da História Social na Favela da Maré

Monografia apresentada às Faculdades Integradas


Simonsen como requisito parcial para a obtenção do
grau de Especialista em História do Rio de Janeiro.

Orientador: Profº Drº Rodrigo do Amaral Aguiar

Rio de Janeiro
2019
Esta pesquisa é dedicada aos meus entes queridos: Meu irmão José Rinaldo
Pereira dos Santos e meu pai Edésio Pereira dos Santos (ambos já falecidos!);
Aos meus irmãos Rildo e Roberto Pereira dos Santos; À minha mãe Francisca
Maria de Aquino Santos e a minha filha Ellen Ferreira Pereira dos Santos!
AGRADECIMENTOS

Ao maior de todos os fenômenos religiosos deste universo, Deus, por ter aberto as portas do
meio científico, a este pesquisador, através dos trabalhos que venho desenvolvendo, pois sem
essas oportunidades eu não poderia ter tornado o sonho de prosseguir meus estudos, uma
realidade.

Aos alunos da Turma de 2017 do Curso de Especialização em História do Rio de Janeiro das
Faculdades Integradas Simonsen: Abraão, Allan, Carlos, Seu Jesus, Kelly, Marcos
“Romarinho”, Marcus “Chatuba”, Mariana, Seu Rigo, Simone e Taisa.

Ao professor Rodrigo Amaral por aceitar me orientar nesta pesquisa!

Aos funcionários das Faculdades Integradas Simonsen, pela grande contribuição antes e
durante as aulas, valeu galera!

Ao professor Rafael Soares Gonçalves por aceitar fazer parte da banca examinadora desta
pesquisa! Assim como o professor Mauro Sergio Vieira e a Coordenadora Geral da FIS, Joyce
Serpa Medeiros

Gostaria de aproveitar o momento para agradecer, em especial, a todos aqueles pesquisadores


acadêmicos que, como eu, moram em comunidades carentes e que fazem de sua ‘luta de vida’
um estímulo a mais no momento da produção de seus trabalhos acadêmicos onde enaltecem o
seu ‘local de origem’: a Favela.

A favela tem vozes!


Fenômeno característico do rápido crescimento contemporâneo dos centros
urbanos em conseqüência da revolução industrial, a condensação de
populações empobrecidas, em núcleos mais ou menos importantes, vem
trazendo nos anos que correm graves preocupações para os governantes e
sociólogos. No Distrito Federal, por causa das particularidades da sua
configuração topográfica, esses núcleos se instalaram preferencialmente nos
morros de acessos penoso incrustados nos bairros de maior atividade.
Segundo a tradição os pioneiros desse gênero de coletividade acomodaram-
se no Morro da Providência e a aglomeração formada ficou sendo conhecida
por Favela, adotando toponímico que na época tanto impressionara as
camadas populares, por isso que evocava local nos sertões baianos onde as
forças legais dos primeiros anos da República tinham travado dramático
combate contra os fanáticos de Antônio Conselheiro. A denominação
generalizou-se para todas as aglomerações análogas criadas na época ou que
posteriormente vieram a se constituir. Foram assim as favelas incorporadas à
tradição da cidade (Censo das Favelas – Aspectos Gerais. Rio de Janeiro.
1949. p. 5).
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Tipo Título Página
Figura 01 Morro do Timbáu, década de 70/80 22
Figura 02 Favela Baixa do Sapateiro em 22.02.1973 23
Figura 03 Parque Maré na década de 1950 24
Figura 04 Parque União à esquerda e Rubens Vaz à direita do canal 25
Figura 05 O Centro de Habitação Provisória da Nova Holanda 26
Figura 06 As ‘Palafitas’ na Favela da Maré 32
Figura 07 Autoridades no viaduto de acesso à Ilha do Fundão 45
Figura 08 Ministro Mário Andreazza com lideranças comunitárias da Maré 46
Figura 09 Arquiteto Oscar Niemeyer na Maré 46
Figura 10 Seu Manolo 54

LISTA DE MAPAS
Tipo Título Página

Mapa 01 Divisão territorial das dezessete favelas do atual Bairro Maré e Limites 27
Administrativos e Limites de Comunidades
Mapa 02 Área de Implementação do PROJETO RIO 33

Mapa 03 Área Prioritária do Promorar (Projeto Rio) 40

LISTA DE QUADROS
Tipo Título Página

Quadro 01 Remoções realizadas no Estado da Guanabara 31

Quadro 02 População, Família e Domicílios por favelas – 1980 35

ANEXOS
Tipo Título Página

Anexos 01 Atas das Reuniões Ordinárias da Comissão de Desenvolvimento Social 72


da Área da Maré
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS
SIGLA/ABREV. SIGNIFICADO
AGB Associação de Geógrafos Brasileiros
ANPOCS Associação Nacional de Pós Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais
ANPUR Associação Nacional de Pós Graduação e Pesquisa em Planejamento Urbano e Regional

BNH Banco Nacional da Habitação


CEDEPLAR Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional da UFMG
CEHAB Companhia Estadual de Habitação do Rio de Janeiro
CESHE Carteira de Erradicação da Subhabitação e Emergências Sociais
CHP Centro de Habitação Provisória
COHAB Companhia Estadual de Habitação do Estado do Rio de Janeiro
CRU Coordenadorias Regionais de Urbanismos
CODEFAM Comissão de Defesa das Favelas da Maré
CODESCO Companhia de Desenvolvimento de Comunidades
DNOS Departamento Nacional de Obras de Saneamento
EDUSP Editora da Universidade de São Paulo
ENGA Encontro Nacional de Geografia Agrária
FAFEG Federação das Associações de Favelas do Estado da Guanabara
FAFERJ Federação das Associações de Favelas do Estado do Rio de Janeiro
FAPERJ Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro
FASE Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional
IAPAS Instituto de Administração Financeira da Previdência e Assistência Social
IPPUR Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional
MINTER Ministério do Interior
ORG. Organizadores
PLANHAP Plano Nacional de Habitação Popular
PROMORAR Programa de Erradicação da Subhabitação
PUC Pontífice Universidade Católica
UERJ Universidade do Estado do Rio de Janeiro
UNIOESTE Universidade Estadual do Oeste do Paraná
UFF Universidade Federal Fluminense
UFG Universidade Federal de Goiás
UFMG Universidade Federal de Minas Gerais
UFRJ Universidade Federal do Rio de Janeiro
UFRS Universidade Federal do Rio Grande do Sul
USP Universidade de São Paulo
RESUMO

No Brasil, durante o decênio de 1970 e 1980, houve um significativo aumento no interesse


por temas relacionados ao debate democrático em experiências que vão além do paradigma
eleitoral e tendo como cerne, discussões em modelos de participação popular, sendo tal
interesse espelhado em produções no meio acadêmico, como esta. Fica subentendido a idéia
de que há um espaço para a atuação da sociedade civil no processo de planejamento e/ou
implementação de políticas e ações de interesse público, ainda que cedido e mediado pelo
poder público em uma ou mais de suas várias jurisdições. Neste instante, o país, que vivia um
momento de interrupção de direitos democráticos, viu manifestar – como resultado de tal
contexto histórico – uma convincente organização comunitária em busca de espaços de
atuação política, em particular no Rio de Janeiro, tendo em vista a expropriação do direito ao
voto e outras liberdades populares. Neste sentido, as associações de moradores recém-criadas
reivindicavam um espaço de atuação cidadã e um papel na construção coletiva do espaço
comum das suas respectivas regiões de poder. Esta pesquisa tem como objetivo geral resgatar
o papel de uma comissão, que atuou como uma associação de moradores no cenário da
política local nas Favelas da Maré, durante o processo de formulação e execução do
PROMORAR na Cidade do Rio de Janeiro – entre 1982 a 1985 – e como objetivo específico,
tendo em vista sua relação com o poder público, caracterizar a atuação dessa entidade aqui
selecionada – a Comissão de Desenvolvimento Social da Área da Maré – como agente
político capaz de ampliar as possibilidades de participação da sociedade civil. Para tal, me
propus a responder algumas questões: Como se deu a criação, organização e atuação desta
associação de moradores? Sua atuação, de alguma forma, foi benéfica para os moradores da
Maré à época do PROJETO RIO? Em quê a ‘participação política’ influenciou, positivamente
ou negativamente na atuação desta instituição? Esse trabalho justifica-se pela necessidade de
esclarecer dúvidas em relação ao comportamento dos moradores no que tange às incertezas,
durante o PROJETO RIO, se haveria remoções de parcelas de moradores; e se os mesmos
poderiam ser alocados em apartamentos a serem construídos pelo poder público na área da
Maré. Posto isso, busca-se incorporar a questão em um quadro teórico adequado e
espaldando-a em uma vasta pesquisa bibliográfica.

Palavras-chave: Favelas da Maré – Projeto Rio – Associativismo Comunitário – Comissão de


Desenvolvimento Social da Área da Maré
ROGERIO PEREIRA DOS SANTOS

O ASSOCIATIVISMO COMUNITÁRIO EM ÁREAS RESIDENCIAIS SEGREGADAS NA


CIDADE DO RIO DE JANEIRO: A COMISSÃO DE DESENVOLVIMENTO SOCIAL DA
ÁREA DA MARÉ COMO UM ELEMENTO NORTEADOR DA HISTÓRIA SOCIAL NA
FAVELA DA MARÉ

Aprovado em 05 de Agosto de 2019.

BANCA EXAMINADORA

____________________________________

Professor Dr. Rodrigo do Amaral Aguiar

( Orientador – FIS/RJ )

____________________________________

Professor Ms. Mauro Sergio Vieira

( Diretoria de Serviço Geográfico/Ministério da Defesa )

____________________________________

Professor Dr. Rafael Soares Gonçalves

( Professor Convidado – PUC/RJ )

____________________________________

Professora Ms. Joyce Serpa Medeiros

( Coordenação Geral – FIS/RJ )


S U M Á R I O

Numeração TÍTULO Página

1 Introdução 11

2 Localização e Descrição de Espaços Segregados: 14


As Favelas da Maré

3 O Programa de Erradicação da Subhabitação: 30


O Projeto Rio nas Favelas da Maré

4 Associativismo Comunitário na Maré: A Codefam e a 42


Comissão de Desenvolvimento Social da Área da Maré

5 Conclusão 58

6 Referências 61

7 Anexos 72
11

1 – INTRODUÇÃO

Alguns fatores têm contribuído para a alteração no ponto de vista dos


administradores municipais e estaduais em face da problemática no que tange aos processos
de recuperação das favelas, por meio da urbanização ao invés da remoção, bastante difundida
na década de 1960, na Cidade do Rio de Janeiro. Nesse sentido a realização de estudos
voltados para a identificação, o registro, a avaliação e a integração de experiências de
intervenções de recuperação de assentamentos urbanos degradados no país, especificamente a
urbanização de favelas, têm se mostrado bem eficientes.
Em trabalho apresentado na Cidade de João Pessoa, na Paraíba, em 1980, João
Agripino Maio de Vasconcelos indicava alguns desses fatores:
O insucesso das remoções realizadas no Rio de Janeiro; a insatisfação e a
repercussão política desfavorável geradas pelas remoções; o crescimento
desordenado das cidades brasileiras; e a expansão da população favelada
nessas cidades, acarretando a necessidade de recursos cada vez mais
vultosos para a solução do problema (p. 6).

No processo de implementação do PROMORAR (Programa de Erradicação da


Subhabitação) nas Favelas da Maré em 1979 até meados de 1985, do século passado, a
problemática da remoção – pode-se afirmar que seja a solução popular para a ‘incompetência
das políticas urbanas, principalmente nas grandes cidades brasileiras’ – deu lugar a realocação
de moradores das áreas de palafitas1, para novas áreas criadas durante o mesmo programa de
urbanização na Maré, impossibilitando, assim, a experiência negativa da ‘expulsão branca’,
proveniente da especulação imobiliária que afeta, com certa freqüência, essas áreas
segregadas da cidade.
Para tomar a frente dessas problemáticas na Maré, durante o PROJETO RIO, foi
criada a CODEFAM (Comissão de Defesa das Favelas da Maré) para ser um autêntico canal
de comunicação entre os moradores da Maré e os órgãos envolvidos no programa, com o
intuito de ser uma verdadeira entidade que, de início, queria ser uma instituição que
promovesse o “associativismo comunitário local’, impedindo as remoções na área da Maré.
Quando se trata de associativismo comunitário na Cidade do Rio de Janeiro, teremos
que voltar ao tempo e citar a participação, de certa forma ‘positiva’, de uma das primeiras
1
De acordo com o Dicionário Michaelis Online: “Estacaria que sustenta as habitações construídas sobre a água”.
“Habitação construída sobre estacas na água”. “Barracos de madeira sobre a lama e a água”, como consta no
sítio do Museu da Maré na seção “História da Maré – Parte II, disponível em
http://www.museudamare.org.br/joomla/index.php?option=com_content&view=article&id=103&Itemid=124
Acesso em 15/05/2015.
12

instituições carioca com esse propósito, a Pastoral de Favelas, da mesma forma cabe realçar
as ações, de mesmo cunho político, da FAFEG (Federação das Associações de Favelas do
Estado da Guanabara), mais tarde, FAFERJ (Federação das Associações de Favelas do Estado
do Rio de Janeiro). Como afirma o professor Mário Brum (2011):

A Pastoral de Favelas, surgida em 1977, foi uma das grandes articuladoras


desse tipo de associativismo, com alguns padres e leigos promovendo
reuniões com grupos de favelados, a exemplo do que ocorria com diversos
outros segmentos que voltavam a se organizar no fim da ditadura a partir das
Comunidades Eclesiais de Base (CEBs). A questão da posse do solo urbano se
mostrava como a maior preocupação da população favelada, ainda sob o
impacto das políticas de remoção de favelas vigentes nas décadas de 1960 e
1970, quando a política de segregação espacial da cidade tomou proporções
inéditas, com os favelados sendo removidos das áreas centrais do Rio de
Janeiro, particularmente da valorizada Zona Sul, e transferidos para terrenos
vazios nas periferias (p. 70).

A maneira de lutar para trazer melhorias para as favelas teve uma maior relevância
dado a maior mobilização dos moradores e, dessa forma, essa atitude era vista não apenas
como um instrumento para obtenção de melhorias para a própria favela, mas como um bom
alicerce político para os envolvidos na diretoria da CODEFAM. Sobre a atuação da
CODEFAM vide trabalho anterior (SANTOS, 2016).
Após a criação dessa entidade na Maré, houve a necessidade, já em 1982, da criação
de uma nova organização que ficasse responsável pela organização e escolha dos futuros
condôminos dos conjuntos habitacionais que seriam construídos na área da Maré por aqueles
moradores da antiga área palafitada na Maré. Essa entidade recebeu o nome de Comissão de
Desenvolvimento Social da Área da MARÉ, a qual iremos discutir nessa pesquisa.
Destarte, essa monografia visa debater a especificidade de atuação do associativismo
comunitário como forma de desenvolvimento e planejamento local, por parte da Comissão de
Desenvolvimento Social da Área da MARÉ no bojo do processo de implementação do
PROJETO RIO nas Favelas da Maré. Será discutido de que forma se deu a atuação dessa
organização comunitária na luta travada entre essa entidade e os órgãos municipais, estaduais
e federal, à época do PROMORAR, na formulação, discussão e distribuição dos apartamentos
nos conjuntos habitacionais criados em 1982 na Maré aos moradores da área das palafitas.
Além de uma discussão quantitativa com as fontes, me proponho realizar uma
discussão qualitativa, utilizando, para isso, o arcabouço teórico de ‘Espaço’, ‘Território’ e
‘Associativismo Comunitário’, empregados nessa pesquisa, que visa obter uma melhor
compreensão desses termos para um fácil entendimento da atuação dessa associação de
moradores local. A pesquisa qualitativa tem como objetivo tentar compreender os fenômenos
através da coleta de dados narrativos, estudando as particularidades e experiências
13

individuais. Aqui os dados coletados de forma narrativa são provenientes de documentação


em “Atas de Reuniões Ordinárias” adquiridas por empréstimos à professora Licia do Prado
Valladares. Essa documentação será utilizada para entender os motivos, opiniões e
motivações subjacentes ao objeto de pesquisa e é usada para descobrir tendências de
pensamento e opiniões. As análises dos dados envolvem o uso de observações e comentários
para se chegar a uma conclusão e, neste sentido, a pesquisa qualitativa se torna mais
apropriada para investigar os fenômenos humanos. Como afirma Rita Jaqueline Nogueira
Chiapetti (2015, p. 145), “Devem ser usadas quando buscamos percepção e entendimento
sobre a natureza geral de uma questão, abrindo espaço para interpretação”.
Além de artigos, capítulos de livros, monografias e dissertações, iremos utilizar
matérias de jornais da época de implementação do PROJETO RIO na Maré (1979-1985).
Nesse sentido, e para dar conta do objetivo e do caminho de investigação, a pesquisa
apresenta-se estruturada em quatro capítulos.
No primeiro capítulo apresentarei, de forma concisa, a história, a formação, bem
como a localização das seis favelas da Maré que foram ‘beneficiadas’ pela intervenção
governamental do programa de erradicação das palafitas. Para dar conta dessa descrição,
serão utilizados alguns materiais bibliográficos expedidos pelas Organizações Sociais que
atuam no território da Maré, como o Centro de Estudos e Ações Solidárias da Maré – o
CEASM –, o Museu da Maré e o Redes de Desenvolvimento da Maré. Além disso, iremos
esclarecer o nosso ponto de vista em relação aos conceitos geográficos de ‘Espaço’ e
‘Território’.
No segundo capítulo farei uma exposição do que foi o PROMORAR, mais
conhecido na Cidade do Rio de Janeiro como PROJETO RIO: seu surgimento, suas formas de
organização, suas diretrizes e funcionalidades. Para dar conta disso serão utilizados, como
referência bibliográfica, materiais publicados desse autor que ora se apresenta.
Já no terceiro capítulo irei abordar o conceito de ‘Associativismo Comunitário’
como forma de entendimento da atuação da Comissão de Desenvolvimento Social da Área da
MARÉ nas Favelas da Maré: sua estrutura organizacional, sua finalidade e desempenho
enquanto uma organização comunitária que luta pelos diretos da população local. Para tal,
serão utilizados alguns autores das Ciências Sociais para apresentarem a definição do conceito
e suas relações com o objeto dessa pesquisa. Discutiremos se a atuação dessa entidade foi
positiva ou não para os moradores.
E para finalizar, farei uma análise geral da pesquisa como forma de conclusão, e
concomitantemente, iremos verificar se os objetivos desse trabalho foram alcançados.
14

2 – LOCALIZAÇÃO E DESCRIÇÃO DOS ESPAÇOS SEGREGADOS:


AS FAVELAS DA MARÉ

Para conseguirmos êxito na proposta dessa pesquisa, se faz necessária esmiuçar dois
conceitos chaves da Geografia como forma de contribuição às discussões que serão travadas
mais adiante nesta pesquisa: o Espaço e o Território. Para isso, utilizaremos alguns autores,
tanto da Geografia, quanto das Ciências Sociais, que irão corroborar para um melhor
entendimento acerca do objetivo geral dessa pesquisa.
De acordo com o geógrafo francês Claude Raffestin (1993) “o espaço é anterior ao
território”, e com essa afirmação iniciaremos o debate sobre a conceituação de ‘Espaço’ para
depois discutirmos o ‘Território’. Esse mesmo autor continua sua explanação:

Espaço e território não são termos equivalentes. Por tê-los usado sem
critério, os geógrafos criaram grandes confusões em suas análises, ao mesmo
tempo que, justamente por isso, se privavam de distinções úteis e
necessárias. Não discutiremos aqui se são noções ou conceitos, embora
nesses últimos vinte anos tenham sido feitos esforços no sentido de conceder
um estatuto de noção ao espaço e um estatuto de conceito ao território. O
estatuto de conceito permite uma formalização e/ou uma quantificação mais
precisa do que o estatuto de noção. É essencial compreender bem que o
espaço é anterior ao território. O território se forma a partir do espaço, é o
resultado de uma ação conduzida por um ator sintagmático (ator que realiza
um programa) em qualquer nível. Ao apropriar de um espaço concreta ou
abstratamente (por exemplo, pela representação), o ator "territorializa" o
espaço (p. 178).

A visão do geógrafo brasileiro Milton Santos (2009), em consonância com Claude


Raffestin sobre o espaço é apresentado da seguinte forma, “A produção do espaço urbano não
acontece de maneira isolada, é um somatório das práticas sociais através das relações
políticas, econômicas e culturais e que constituem diferentes formas espaciais (p. 18)”.
Em um trabalho de tradução livre do livro ‘A Produção do Espaço’, de Henry
Lefebvre, Pereira e Martins (2006, p. 34) apontam que, para Raffestin o espaço (social) é um
produto (social).
Para o geógrafo da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Roberto Lobato Corrêa,
o espaço seria “fragmentado e articulado, reflexo e condicionante social, um conjunto de
símbolos e campo de lutas” (CORRÊA, 1989, p. 09). Na visão deste mesmo autor (2013), o
espaço urbano caracteriza-se, em qualquer tipo de sociedade,
Por ser fragmentado, isto é, constituído por áreas distintas entre si no que diz
respeito à gênese e dinâmica, conteúdo econômico e social, paisagem e
arranjo espacial de suas formas. Essas áreas, por outro lado, são vivenciadas,
percebidas e representadas de modo distinto pelos diferentes grupos sociais
que vivem na cidade e fora dela (p. 39).
15

No entender do geógrafo britânico David Harvey (2012, p. 10), refletindo sobre a


natureza do espaço, em trabalho de 1973, introduz a idéia de uma ‘divisão tripartite’ no modo
de entendimento do espaço, que poderia ser explicado da seguinte maneira:
Se considerarmos o espaço como absoluto ele se torna uma “coisa em si
mesma”, com uma existência independente da matéria. Ele possui então uma
estrutura que podemos usar para classificar ou distinguir fenômenos. A
concepção de espaço relativo propõe que ele seja compreendido como uma
relação entre objetos que existe pelo próprio fato dos objetos existirem e se
relacionarem. Existe outro sentido em que o espaço pode ser concebido como
relativo e eu proponho chamá-lo espaço relacional – espaço considerado, à
maneira de Leibniz, como estando contido em objetos, no sentido de que um
objeto pode ser considerado como existindo somente na medida em que
contém e representa em si mesmo as relações com outros objetos (HARVEY,
1973, p. 13).

Deste modo, acredito ter esclarecido a minha visão sobre espaço, a qual utilizarei,
como base conceitual, dessa pesquisa. Neste instante, iniciarei a discussão do conceito de
‘Território’, para melhor entendimento da nossa problemática inicial.
Álvaro Heidrich, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRS),
entende que esse espaço (2017) é visto como:
O espaço social, então, se constitui por um jogo de relações dependente das
posses materiais e simbólicas. O corpo (o indivíduo biológico) e suas
posses estabeleceriam no espaço as distinções, o valor diferencial entre suas
regiões (p. 32).

Marcelo Lopes de Souza, geógrafo da UFRJ (2011), define o território como sendo,
fundamentalmente, “um espaço definido e delimitado por e a partir de relações de poder, do
quarteirão aterrorizado por uma gangue de jovens até o bloco constituído pelos países
membros da OTAN” (p. 11).
Na visão de Marco Aurélio Saquet (2011), professor da Universidade Estadual do
Oeste do Paraná (UNIOESTE), o território:

É apropriado e produzido socialmente no tempo e no espaço; significa a


relação espaço-tempo em movimento de unidade; é reconstruído
incessantemente, tanto espacial como temporalmente, pelas relações sociais,
econômicas, políticas e culturais (E-P-C) unidas, no mesmo movimento, com
as naturezas orgânica e inorgânica do homem, como síntese da relação
sociedade-natureza (E-P-C-N) (p, 40).

A definição de território para o geógrafo baiano Milton Santos (2006), seria


relacional aos objetos. Quando afirma que:
A materialidade do território é dada por objetos que têm uma gênese técnica,
um conteúdo técnico e participam da condição da técnica, tanto na sua
realização como na sua funcionalidade. Esses sistemas técnicos atuais são
formados de objetos dotados de uma especialização extrema. Isso é
sobretudo válido para os objetos que participam dos sistemas hegemônicos,
aqueles que são criados para responder às necessidades de realização das
ações hegemônicas dentro de uma sociedade (p. 146).
16

Concluindo essa parte conceitual sobre o território, irei focar adiante, a evolução da
conceituação de território, nos estudos do geógrafo Rogério Haesbaert, professor de Geografia
da Universidade Federal Fluminense (UFF) e que há mais de uma década vem analisando esse
conceito geográfico.
Rogério Haesbaert é um dos maiores autores da geografia que tem se dedicado a
discutir o conceito de território, alimentando com suas formulações o conhecimento das
relações sociais inerentes ao processo da produção do espaço. Compreende o autor (2001, p.
1770) que as concepções de território podem ser agrupadas em três pontos – tendo como
influências as leituras de Augé (1992), Deleuze, Guattari (1997), Storper (1994), Raffestin
(1993) e Sack (1986):
* Jurídico-político = “... é a mais difundida, onde o território é visto como um espaço
delimitado e controlado, através do qual se exerce um determinado poder, na maioria das
vezes visto como o poder político do Estado”.
* Cultural (ista) = “... prioriza a dimensão simbólico-cultural, mais subjetiva, em que o
território é visto sobretudo como o produto da apropriação/valorização simbólica de um grupo
sobre seu espaço”.
* Econômico = “... bem menos difundida, enfatiza a dimensão espacial das relações
econômicas, no embate entre classes sociais e na relação capital-trabalho”.

Já em outro material (HAESBAERT, 2011), esse mesmo autor considera que:

Se os territórios são espaços de exercício de poder, de relações de poder


feitas (no/pelo) espaço, este poder, contudo, tem múltiplas faces. Devemos
considerar desde aquelas do poder político “tradicional”, restrito à figura do
Estado e/ou das “classes hegemônicas”, quanto aquelas mais amplas, que
enfatizam também sua dimensão simbólica (p, 3).

E assim “o território – que ficou ausente das preocupações geográficas até


recentemente – retorna com insistência na última década do século XX como elemento que
condiciona as relações de produção”, como salienta Sposito (2004, p. 119).
Como visto anteriormente, a geografia, como campo essencial do conhecimento, foi a
disciplina que melhor se apropriou das discussões conceituais e empíricas, tanto do espaço,
quanto do território, tornando-a uma disciplina sempre atual.
E dessa convergência espacial dos opoentes, surgiu a reação à gestão central, à
desterritorialização e à integração com a formação de novas territorialidades, novas formas de
concepção do uso e do processo de domínio do território (SANTOS, 2005, p. 16). Essa
concepção de uso e o processo de domínio do território nas Favelas da Maré, serão abordadas
17

mais adiante, quando discutirmos à respeito da ação da Comissão de Desenvolvimento Social


da Área da Maré durante o PROJETO RIO.
Nos dias atuais, a produção desse espaço urbano tem se caracterizado por relações,
processos e ações, ocasionando uma interseção: uma relatividade ou até mesmo uma
dificuldade de se estabelecer o que seja este espaço: social e/ou geográfico.
A seguir, iremos concretizar uma descrição detalhada da história, da formação, bem
como da localização das seis favelas da Maré que faziam parte da reconfiguração territorial da
área da Maré à época de implementação do PROJETO RIO. O seu espaço geográfico e seu
território serão abordados de forma única, numa totalidade centralizadora.
Como visto na citação da geógrafa do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística) Valéria Grace Costa, em artigo publicado em 1996, na Revista Brasileira de
Geografia, a favela carioca já surge embutido no espaço urbano da urbe carioca há cerca de
cento e vinte e dois anos. Posteriormente, após o surgimento da considerada ‘primeira favela’
em 18972, o que foi percebido, é que houve uma intensa expansão dessa forma de habitação
popular assaz peculiar na Cidade do Rio de Janeiro.
A favela, embora existente na cidade desde 1897, somente a partir de 1930
passa a se constituir na principal alternativa habitacional para os migrantes e
parcela da população, substituindo as outras formas predominantes, até
então, como· os cortiços, vilas operárias e casas de cômodos. Torna-se o
principal destino da população de baixa renda, expulsa de suas antigas
residências muitas vezes pelas reformas urbanas ou constantes aumentos de
aluguel. Este processo estaria associado à industrialização dos países
subdesenvolvidos, ocorrida fundamentalmente a partir dos anos de 1930, e
que repercutiu no Brasil como um novo momento de organização social que
propiciou entre outras coisas o inchamento das grandes cidades onde a oferta
de habitações era inferior à demanda (p. 26).
Mas afinal o quê é favela? Como defini-las?
Na visão do historiador Rafael Soares Gonçalves (2007, p. 01), professor da
Pontífice Universidade católica (PUC), “as favelas são uma das realidades mais marcantes da
história e da estrutura urbana da cidade do Rio de Janeiro”. Já na visão de Nunes (2008),
favela é vista como:
Assentamento popular que guarda condições tipicamente periféricas –
população de baixa renda, incluindo seu modo de vida, condições sanitárias
e do atendimento de infraestrutura e equipamentos públicos de baixo padrão
e, em geral, irregularidades quanto ao regime de propriedade – em razão de
estar situado no centro (p, 180).

2
De acordo com vasta literatura a respeito, não há um consenso sobre a primeira favela existente na Cidade do
Rio de Janeiro. Muitos autores afirmam ser o antigo ‘Morro da Favela’, atual ‘Morro da Providência, no centro
do Rio de Janeiro, a primeira a existir em solo carioca, em 1897. Mas, quatro anos antes, no Morro de Santo
Antônio, no Largo da Carioca, onde atualmente há somente o Convento e a Igreja de Santo Antônio, já havia
moradias por soldados provenientes da Guerra do Paraguai e também da Guerra de Canudos. Ver (ABREU e
VAZ, 1991; COSTA, 1992; ABREU, 1993; ABREU, 1994; VALLADARES, 2000; ABREU, 2004; VAZ, 2003;
VAZ e JAQUES, 2003; CAMPOS, 2010; KEHL, 2010).
18

Em 2009, realiza-se na Maré, um seminário para discutir esse tema, através da


Organização Social de Pesquisa ‘Observatório de Favelas’, e após diversos palestrantes
argumentarem sobre a temática ‘favela’, foi desenvolvido um documento chamado
“Declaração: O Que é A Favela, Afinal?”, considerando quatro perfis (listados a seguir), os
organizadores do evento chegaram a conclusão que, em relação às favelas:
a) “Considerando o perfil sociopolítico, a favela é um território onde a incompletude de
políticas e de ações do Estado se fazem historicamente recorrentes, em termos da
dotação de serviços de infra-estrutura urbana e de equipamentos coletivos” – favela
aqui seria considerada como territórios sem garantias de efetivação de direitos sociais;
b) “Considerando o perfil socioeconômico, a favela é um território onde os
investimentos do mercado formal são precários, principalmente o imobiliário, o
financeiro e o de serviços” – neste caso, haveria distâncias socioeconômicas em
relação à qualificação do tempo e espaço das favelas, em relação às condições
presentes de um modo geral na cidade;
c) “Considerando o perfil sócio-urbanístico, a favela é um território de edificações
predominantemente caracterizadas pela autoconstrução, sem obediência aos padrões
urbanos normativos do Estado” – aqui favela significaria morada urbana resumindo as
condições desfavoráveis da urbanização brasileira, concomitantemente, à luta dos
cidadãos pelo direito legítimo de habitar a cidade;
d) “Considerando o perfil sociocultural, a favela é um território de expressiva presença
de negros (pardos e pretos) e descendentes de indígenas, de acordo com região
brasileira, configurando identidades plurais no plano da existência material e
simbólica” – sobrepujando os estereótipos de territórios miseráveis e violentos. Aqui a
favela é vista com uma rica pluralidade de convivências de sujeitos sociais em suas
diferenças culturais, simbólicas e humanas. (SOUZA e SILVA, 2009, pp. 96-97, grifo
nosso).
Em contrapartida, as favelas sempre tiveram uma representação ‘negativa’ em
relação ao bojo da cidade, ligada em demasia a estereótipos da alcunha de ‘outra cidade’,
‘terra sem lei’, ‘cidade partida’, ‘morro e asfalto’, entre outras designações. Como aponta
Souza e Silva (2005) citando Benjamim Costallat (1924):

Encravada no Rio de Janeiro, a Favela é uma cidade dentro da cidade.


Perfeitamente diversa e absolutamente autônoma. Não atingida pelos
regulamentos da prefeitura e longe das visitas da polícia. Na Favela ninguém
paga impostos e não se vê um guarda civil. Na Favela, a lei é a do mais forte e
a do mais violento. A navalha liquida os casos. E a coragem dirime as
contendas (p. 28).
19

O primeiro documento oficial que menciona o termo ‘favela’ foi o Decreto 6.000, de
01.07.1937, divulgado pelo Código de Obras do então Distrito Federal (1937), em seu artigo
349, define a favela como sendo:
Capítulo XV, Título único “Extinção das Habitações Anti-Higiênicas”,
Seção II – Favelas. Art. 349.º – A formação de favelas, isto é, de
conglomerados de dois ou mais casebres regularmente dispostos ou em
desordem, construídos com materiais improvisados e em desacordo com as
disposições desse Decreto, não será absolutamente permitida
(PREFEITURA DO DISTRITO FEDERAL, p. 47).

Em 1953 o primeiro documento oficial do Instituto Brasileiro de Geografia e


Estatística – o IBGE –, elaborado por Alberto Passos Guimarães, definia a favela assim:

Nenhuma diferença essencial separava os casebres dos morros, dos demais


casebres. Eram todos habitações igualmente rústicas, igualmente pobres e
desconfortáveis. A denominação popular de favela não teria, pois, surgido da
diferenciação entre o tipo arquitetônico das vivendas dos morros, mas do
conjunto de condições que a caracterizaram, entre estas, notadamente, o
aspecto típico de seu grupamento desordenado e denso.
Por sua contextura, os casebres dos morros ou dos subúrbios, da zona urbana
ou da zona rural, não apresentam dessemelhanças substanciais. Pelo contrário,
eles conservam traços comuns em todo o país e, de resto, a vivenda pobre dos
países quentes em geral, já estudada por vários pesquisadores, guarda
pronunciadas semelhanças (p. 06 e 07).

Atualmente, a Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro trabalha com a hipótese de que


‘favela’ é vista como:
Art. 234, § 3º Entende-se por favela a área predominantemente habitacional,
caracterizada por ocupação clandestina e de baixa renda, precariedade da
infraestrutura urbana e de serviços públicos, vias estreitas e alinhamento
irregular, ausência de parcelamento formal e vínculos de propriedade e
construções não licenciadas, em desacordo com os padrões legais vigentes
(PREFEITURA DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO, 2011).

Na visão do Instituto Pereira Passos – o IPP –, órgão subordinado da Prefeitura da


Cidade do Rio de Janeiro, que propôs “Uma Nova Classificação de Favelas para o
Planejamento de Políticas Públicas”, elaborado em 12.09.2012, define algumas características
para que se possam definir as favelas:
As características que o IPP considera para definir uma área como favela são:
1) ocupação irregular da terra; 2) falta de títulos de propriedade formais, o que
não significa que a ocupação seja ilegal; 3) tecido urbano disposto de forma
irregular; 4) lotes pequenos e indefinidos; 5) vias estreitas; 6) infraestrutura de
saneamento precária; 7) equipamentos sociais inexistentes ou insuficientes; 8)
habitações precárias em desacordo com as normas; 9) inexistência de normas
urbanísticas especiais. A rigor, as normas urbanísticas existentes deveriam ser
aplicadas a todo o bairro, mas não é isso que ocorre. E, ao mesmo tempo, não
existem normas urbanísticas especiais; 10) não inserção dos imóveis nos
cadastros Imobiliários; 11) predominância de população de baixa renda
(INSTITUTO PEREIRA PASSOS, p. 03 e 04).
20

Na visão de Licia do Prado Valladares (1968), favela seria:

El fenômeno de la favela se apresenta em casi todas las grandes capitales


brasileñas, pero fue em Rio de Janeiro donde adquirió mayores proporciones.
Em el paisaje carioca encontramos por todos lados estos “aglomerados
humanos”, localizados em áreas no urbanizadas, constituídos por
habitaciones rústicas o improvisadas, desprovistas de mejoramientos
públicos, construídos em tierras de terceros: del gobierno, de particulares o
de domínio no definido (p, 19).

Desta forma, seguirei nessa pesquisa adotando esses parâmetros apresentados como
definidor do termo ‘favela’ pois entendemos que a mesma “é o principal tipo de assentamento
precário urbano brasileiro” como citado por Queiroz Filho (2015, p. 345).
Após discorrermos sobre o nosso entendimento da definição de ‘favela’, iremos
adiante tratar do espaço-favela nas Favelas da Maré. Neste instante será usada, como fonte
bibliográfica, “A História da Maré” na página da internet da ONG – Organização Não
Governamental – Museu da Maré (http://www.museudamare.org.br/) e “História da Maré”
narrada por outra ONG da Maré, o Redes de Desenvolvimento da Maré
(http://redesdamare.org.br/blog/uncategorized/a-historia-da-mare) e por fim, a ‘História da
Maré em Capítulos’, do CEASM – Centro de Estudos e Ações Solidárias da Maré
(www.ceasm.org.br), site atualmente indisponível, usado em trabalho anterior (SANTOS,
2005).
A formação da Maré é um longo processo de alterações urbanas significantes que
assolou a Cidade do Rio de Janeiro durante o século XX, em particular, após a sua segunda
metade (SILVA, 2010).
Múltiplas transformações ocorreram ao longo da história na própria cidade, sendo
talvez o mais interessante para essa pesquisa, o acréscimo evolutivo da atividade industrial,
pois atraiu o interesse de boa parcela da população nordestina que deixaram sua terra natal –
principalmente do polígono das secas – em busca de trabalho e de uma nova condição de vida.
A essa altura, a região da Zona da Leopoldina3 já havia se transformado em núcleo
industrial. E, como as ‘terras boas’ do subúrbio tinham se tornado objeto da especulação
imobiliária, sobrou para a camada mais pobre da população a ocupação das áreas alagadiças
no entorno da Baía da Guanabara.
Ao fim da década de 40, já havia palafitas – barracos de madeira sobre a lama e a
água – na região. Surgem focos de povoação onde hoje se localizam as comunidades da

3
Zona da Leopoldina ou Região da Leopoldina é formada por dezessete bairros: Bonsucesso, Brás de Pina,
Cordovil, Del Castilho, Engenho da Rainha, Higienópolis, Inhaúma, Jardim América, Manguinhos, Maria da
Graça, Olaria, Parada de Lucas, Ramos, Tomás Coelho e Vigário Geral, Complexo do Alemão e Maré
(GUIMARÃES e GOUVEIA, 2010, p. 4).
21

‘Baixa do Sapateiro’, ‘Parque Maré’ e o ‘Morro do Timbáu’ – única naturalmente de terra


firme. As palafitas proliferaram por toda a Maré e só no início dos anos 80 foram erradicadas,
como comprovaremos no capítulo que trata do PROJETO RIO.
O início das obras de construção da Avenida Brasil – concluída em 19474 – foi
determinante para a ocupação da área, que avançou pela década de 50, surgindo outras
comunidades como ‘Rubens Vaz’ e ‘Parque União’.
Na década de 60, surge um novo fluxo de ocupação na Maré. Durante o Governo
Estadual de Carlos Lacerda (1961-1965), foram realizadas obras de modernização na Zona
Sul da cidade com a conseqüente erradicação de favelas e remoção de sua população para
regiões distantes do município.
A partir de 1960, moradores de favelas como Praia do Pinto, Morro da Formiga,
Favela do Esqueleto e desabrigados das margens do rio Faria-Timbó foram transferidos para
habitações ‘provisórias’ construídas na Maré. Daí surgiu a comunidade de ‘Nova Holanda’.
Essas comunidades ocuparam e demarcaram territórios ao longo da Avenida Brasil e
se expandiram logo depois na direção do Canal do Cunha e da Baía de Guanabara – embora já
subsistissem núcleos de pescadores na região desde o final do século 19 (atualmente ainda há
resquícios desses pescadores no local).
As palafitas que serviram de morada para centenas de famílias ainda estão nas
lembranças dos habitantes da Maré, assim como as lembranças de lutas pela permanência de
suas moradas diante das tentativas de remoção por parte do Estado, nos anos 1960 e 1970.
Até o início dos anos 80, a Maré das palafitas era símbolo de “carência nacional”,
como reproduzida na música Alagados, da banda de rock ‘Paralamas do Sucesso’. Mas esse
período marca também a primeira grande intervenção do Governo Federal na área da Maré: O
Projeto Rio, que previa o aterro das regiões alagadas e a transferência dos moradores das
palafitas para construções pré-fabricadas, como as comunidades da Vila do João, Vila do
Pinheiro, Conjunto Pinheiro e Conjunto Esperança.
Das dezessete comunidades atuais do bairro5 Maré, iremos elencar apenas as seis
que faziam parte das Favelas da Maré, à época do PROJETO RIO. Para isso, realizaremos um
breve resumo dessas seis primeiras localidades:

4
Conforme Costa (2006, p. 289).
5
De acordo com o IBGE, “Bairros são subdivisões intraurbanas, de uso popular e relacionadas à história local.
Nem todos os Municípios possuem bairros, e existem casos em que o Município adota a estrutura legal de
Bairro, mas possui, além dos Bairros legalmente definidos, outros com denominação popular (não oficial) que
não são cadastrados pelo IBGE” (IBGE, 2019, p. 35).
22

→ Morro do Timbáu: Ocupação inicial na década de 1940 (figura 01), ‘período de mais
forte proliferação de favelas no Rio de Janeiro’ (VARELLA, BERTAZZO e JACQUES,
2002, p. 20), pouco antes da construção e abertura da Avenida Brasil, de 1946, que simboliza
a época de expansão da industrialização da cidade, onde a burguesia industrial se firma e
consolida seu poder. Essa região foi conquistada desde o período colonial, por se localizar,
ali, o antigo Porto de Inhaúma. A seguir, a área foi ocupada por portugueses e italianos que ali
estabeleceram suas chácaras e por pescadores que estabelecem uma colônia de pesca.
A ocupação se dá a partir da chegada da primeira moradora da comunidade, Dona
Orosina, que num passeio de final de semana se apaixona pelo lugar, e recolhendo a madeira
que a maré trazia, demarca uma área e constrói o primeiro barraco, com a ajuda de seu marido
(CEASM, 2005).
O Morro do Timbáu foi a primeira favela da Maré a ter sistema de rede de água, rede
de luz, rede de esgoto, pavimentação de ruas e equipamentos urbanos. Essas conquistas se
deram, principalmente, durante a administração de Joaquim Agamenon Santos, a frente da
Associação de Moradores do Morro do Timbáu, entre 1968 a 1983 (SANTOS, 1983, p. 25).

Figura 01 – Morro do Timbáu, década de 70/80

Fonte: Museu da Maré


→ Baixa do Sapateiro6: Enquanto o Morro do Timbáu apresentou um lento crescimento,

6
A origem do nome "Baixa do Sapateiro" é controversa e apresenta várias versões. Alguns moradores afirmam
que tal nome teve origem no fato de que a área hoje ocupada, teria sido de propriedade de um morador do centro
de Bonsucesso, que mantinha como zelador um português que também exercia o ofício de sapateiro. Outros
dizem que tal nome surgiu do jargão policial da época, que se referia aos nordestinos em geral como "baianos".
Pelo fato de na época haver um alto índice de criminalidade na comunidade, que por sua vez era formada
predominantemente por nordestinos, "baianos", teria a comunidade, por analogia, sido designada nas páginas
policiais como "Baixa do Sapateiro", numa alusão clara à região do mesmo nome localizada na cidade de
Salvador. Outra versão é a de que a área, por se localizar na parte baixa da Ponta do Tibau, que era dominada
pelo morro, e por apresentar vasta vegetação de mangues, principalmente de uma espécie conhecida como
"sapateiro", seria pelos antigos moradores chamada "Baixa dos Sapateiros", e que mais tarde, "Baixa do
Sapateiro". Disponível em: http://www.museudamare.org.br/index.php?option=com_content&view=article&id=127&Itemid=150
Acesso em 22.04.2019.
23

permanecendo na década de 40 com poucos habitantes surgia, ao final deste período (1947), a
primeira grande concentração humana que foi a Baixa do Sapateiro (ver figura 02) que na
época, teve sua formação a partir de um pequeno grupo de barracos construídos sobre
palafitas. Não há consenso sobre a origem do nome (SANTOS, 2005, p. 34).
A ocupação por moradias, de forma incipiente, ocorreu a partir dos limites do
“loteamento de Bonsucesso”, onde ainda se podem notar muitas moradias do início do século
XX. Nesse momento encontramos informações dos primeiros barracos nos jornais da época:

Há dois anos, mais ou menos, trabalhadores iniciaram a construção de


barracões nos terrenos de Marinha, à margem da Avenida Brasil, em
Bonsucesso. Esses terrenos formavam um charco. Os próprios moradores, à
proporção que iam levantando as suas humildes casas “de sopapo”, iam
aterrando. Assim se localizaram, ali, aproximadamente, cerca de 800
barracos. Já havia, na parte alta, na Rua Nova Jerusalém, outros grupos de
tais residências. Eis que agora, sem nenhum aviso, de um momento para o
outro, a Prefeitura resolveu mandar destruir tudo. Vários caminhões, um
Grupo do Socorro Urgente da Polícia de Vigilância, no sábado, foi ali e
começou a derrubada. O próprio material – táboas e telhas – é carregado
pelos caminhões. Há barracos com famílias de 8 a 10 pessoas. Hoje veio a
redação de A Noite uma grande comissão de moradores, composta de mais
de 50 moradores da “Favelinha de Bonsucesso” para formular um apelo no
sentido de ser suspensa a ordem de mudança desses milhares de pessoas que
não têm para onde ir (Fonte: Jornal ‘A Noite’, edição 12.730 de 24/11/1947,
p. 04).
Cerca de 2000 pessoas ficarão desabrigadas (...) Prefeitura ameaça demolir
800 barracões. Há quase dois anos construídos por operários, em terrenos
existentes no lugar denominado ‘Favelinha do Mangue de Bonsucesso’, no
fim da Rua Nova Jerusalém – Comissão faz veemente apelo ao prefeito
Ângelo Mendes de Moraes (Fonte: Jornal ‘O Globo’, 26/11/1947).

Figura 02 – Favela Baixa do Sapateiro em 22.02.1973

Fonte: Alcyr Cavalcanti – Acervo Correio do Amanhã – Arquivo Nacional


24

→ Parque Maré: Em 1950, surgem as primeiras moradias (vide figura 03) como um
prolongamento da ocupação ocorrida na Baixa do Sapateiro, vista anteriormente, e essa área
tornou-se bastante atrativa às populações que chegavam com o fluxo migratório,
fundamentalmente da Região Nordeste. A área que ia sendo ocupada pelos moradores do
Parque da Maré (1953 já estabilizado) era dominada pela lama, por vegetação de mangue e
pelo movimento das águas, tendo a partir da década de 60, ocorrido uma grande expansão da
ocupação em direção à Baía da Guanabara, sendo o Parque Maré, nesta época,
predominantemente tomado pelas palafitas.
Figura 03 – Parque Maré na década de 1950

Fonte: Museu da Maré

→ Parque Major Rubens Vaz: A história do Parque Rubens Vaz inicia-se no ano de 1951,
quando nascem no local os primeiros barracos. O território, nesta época, era conhecido como
areal, devido à grande quantidade de areia distribuída no local, pela conjuntura da drenagem e
canalização do Canal da Portuária. Quando um indivíduo chegava à área para fixar residência,
já era comunicada de que não poderia construir à margem da Avenida Brasil, devido ao fato
de que seria futuramente alargada, como de fato ocorreu. Deste modo, ninguém construiu sua
habitação a menos de 40 metros da Avenida Brasil.
Em 1965, durante o Governo Carlos Lacerda, a população da área sente necessidade
de encontrar um nome oficial para o lugar. Escolhem o nome Rubens Vaz em homenagem ao
major assassinado em atentado na Rua Toneleros7, em Copacabana. A Associação de
moradores é, deste modo, registrada com o nome de Associação de Moradores do Parque
Major Rubens.

7
Rubens Florentino Vaz nasceu no Rio de Janeiro no dia 17 de março de 1922, filho de Joaquim Florentino Vaz
Júnior e de Zilda de Oliveira Vaz. Trabalhou na segurança do deputado e jornalista Carlos Lacerda quando na
madrugada de 05.08.1954, ao retornar de uma palestra na Tijuca, foi morto na entrada do prédio na Rua
Tonelero, 180, em Copacabana.
25

Figura 04 – Parque União à esquerda e Rubens Vaz à direita do canal

Fonte: Museu da Maré


→ Parque União: O advogado Antoine de Magarinos Torres Filho8 – o mesmo que defendeu
a população e seu direito de permanecerem na área hoje conhecida como Parque Major
Rubens Vaz – ligado ao PCB e que tinha um escritório nesta localidade, deu todas as
coordenadas para o arcabouço da favela Parque União (figura 04), em 1959, e este espaço foi
uma das áreas com um certo planejamento de ocupação, pois ele demarcou áreas para a
permanência dessa população. As moradias eram construídas primeiramente em madeira.
Internamente eles iam levantando as paredes em alvenaria, isso tudo feito às escondidas, pois,
segundo a população, o governo proibia a construção em alvenaria9. A madeira só era
retirada, quando a casa já estava praticamente pronta. Magarinos e sua equipe lideraram e
administraram da área até 1961.
→ Nova Holanda: A favela Nova Holanda (figura 05) foi criada como um “Centro de
Habitação Provisória” (CHP) que funcionaria como um sítio de triagem, no bojo da ‘política
de remoções do governo’, que tinha a tendência de retirar núcleos favelados de áreas nobres
da cidade, do que resolver a problemática habitacional. A missão de controlar o processo de
transferência dos moradores de favelas a serem erradicadas ficou a cargo da Fundação Leão

8
O advogado foi um dos principais envolvidos na criação da União dos Trabalhadores Favelados (UTF), um
dos primeiros órgãos a ter como objetivo organizar a ação conjunta de associações de moradores de favelas,
além de projetos que visassem à construção de uma via de acesso ao “direito à cidade” para os moradores desses
espaços. Atuou na Favela do Borel, na Tijuca, e na Favela Parque União, na Maré (GONÇALVES e
AMOROSO, 2015, p. 707).
9
A mudança na concepção das moradias nas favelas cariocas se deu, principalmente, no primeiro mandato do
Governo Leonel Brizola (março/1983 a março/1987) que permitiu que os moradores pudessem erguer suas
habitações, antes de madeira e zinco, por alvenaria. Como afirma Silva: “As favelas então passam por um
período de mudança, deixando evidenciado o poder de compra do pobre, visto que rapidamente as favelas foram
tomadas por casas de alvenaria” (SILVA, 2010, p. 79).
26

XIII10, que foi incorporada à Secretaria de Serviço Social da Prefeitura da Cidade do Rio de
Janeiro, nesse período estudado. Para uma melhor análise dessa situação é preciso voltar ao
passado e conhecer melhor o ‘Programa de Erradicação de Favelas’, que deu origem aos
CHPs – como a Nova Holanda.

Figura 05: O Centro de Habitação Provisória da Nova Holanda

Fonte: Museu da Maré

Neste momento, farei um breve relato sobre a localização da ‘Maré’.


Atualmente, a Maré é um dos maiores conjuntos de favelas do Rio de Janeiro.
Localizada na Zona Norte da Cidade do Rio de Janeiro; é limitada pela Avenida
Brasil e pela Linha Vermelha (RJ-071, oficialmente denominada Via Expressa Presidente
João Goulart), às margens da Baía de Guanabara. Ao longo da Avenida Brasil, sentido
Centro, inicia-se na Praia de Ramos e termina no Conjunto Esperança, próxima à Refinaria de
Manguinhos (ver mapa um).
A área em questão se localiza na XXXª Administração Regional, criada em
04/08/1986, conforme o Decreto Municipal nº 6.011 Art. 2º da Prefeitura da Cidade do Rio de
Janeiro. A delimitação territorial da Região Administrativa está em Decreto Municipal nº
7.980, de 12 de agosto de 1988. Já o bairro da Maré foi criado através da Lei Municipal nº
2.119 de 19/01/1994 (a delimitação do Bairro Maré corresponde à delimitação da XXXª R.A.
– Maré), está organizada, de acordo com o Instituto Pereira Passos, como pertencente às

10
A Fundação Leão XIII foi criada na Cidade do Rio de Janeiro, no dia 22 de Janeiro de 1947, através do
Decreto nº 22.498. Sua história e, principalmente, sua atuação sistemática no cenário sócio-político-espacial
carioca diferenciaram-na, talvez, de todas as outras instituições de assistência social brasileira do século XX por
ter sido a principal instituição assistencial no tocante às intervenções para a melhoria nas favelas. Suas ações
assistenciais, no período de 1947 até 1962, foram marcadas pela atuação concomitante em 33 favelas na cidade
do Rio de Janeiro. Mesmo essas ações variando em níveis de intervenção, garantiram algumas necessidades
sociais jamais proporcionadas anteriormente pelo Estado nesses espaços, como as questões de educação,
alimentação, saúde, lazer, apoio jurídico e urbanidades (ROBAINA, 2013, p. 177)
27

Coordenadorias Regionais de Urbanismos (CRU) e Área de Planejamento (AP) 03 (SANTOS,


2013, pp. 09-10).
O recorte definido pelo IBGE ignorou a condição formal de bairro da Maré,
estabelecida desde o final da década de 80, reconhecendo as comunidades locais como
“Unidades Territoriais Específicas” – é a maior concentração de população de baixa renda do
município do Rio de Janeiro (SANTOS, 2005, p. 05). O conjunto de 17 comunidades [Morro
do Timbáu (1940), Baixa do Sapateiro (1947), Conjunto Marcílio Dias (1948), Parque Maré
(1953), Parque Roquete Pinto (1955), Parque Rubens Vaz (1961), Parque União (1961), Nova
Holanda (1962), Praia de Ramos (1962), Conjunto Esperança (1982), Vila do João (1982),
Vila do Pinheiro (1989), Conjunto Pinheiro (1989), Conjunto Bento Ribeiro Dantas ou Fogo
Cruzado (1992), Nova Maré (1996) e Salsa e Merengue (2000)] totaliza, segundo o ‘Censo
Maré – 2.000’11, uma população de 132.176 representando esse contingente, 2,26% da
população do município do Rio de Janeiro e apenas 0.97 % dos habitantes do Estado do Rio
de Janeiro abrigados em 38.273 domicílios (Censo Maré 2000) 12-13.
Mapa 01 – Divisão territorial das dezessete favelas do atual Bairro Maré e Limites Administrativos e Limites de
Comunidades e Conjuntos Habitacionais Compreendidos pela XXX RA – Maré, no Município do Rio de Janeiro
em 2015

Fonte: Guia de Ruas – Maré 2012 e Instituto Pereira Passos – 2015

11
O Censo Maré, a fim de melhor descrição da heterogeneidade local, considerou a comunidade de Mandacaru,
localizada no território de Marcílio Dias, como uma comunidade específica, devido às suas condições peculiares.
12
O “Censo Maré 2000” foi um empreendimento com iniciativa do CEASM, com financiamento do BNDES e
com vínculos a um conjunto de iniciativas de Políticas Sociais da Prefeitura do Rio de Janeiro e que ficou
conhecido como “Projeto Multissetorial da Maré”.
13
Nesta pesquisa, optamos por trabalhar com dados do CENSO 2000 pois, o CENSO 2010, alterou a categoria
‘favela’ por ‘aglomerados subnormais’ e, desta forma, a metodologia usada pelo IBGE, a partir desse censo de
2010, modificou, totalmente, os parâmetros de definição de favelas e assemelhados.
28

Em documento de 2016, o IPP implementou uma nova classificação para o bairro


Maré que ficaria, dessa forma, constituído de “quinze favelas e sete conjuntos habitacionais”
(2016, p. 14), conforme visualizadas no Mapa 01.
Desta forma, a Maré teria a seguinte distribuição de favelas e conjuntos
habitacionais: 1 - Praia de Ramos; 2 - Comunidade Vila do Pinheiro; 3 - Paraibuna; 4 - Joana
Nascimento; 5 - Maré (Rua Guilherme Frota); 6 - Morro do Timbau; 7 - Baixa do Sapateiro; 8
- Parque Maré; 9 - Nova Holanda; 10 - Parque Rubens Vaz; 11 - Parque União; 12 - Avenida
Canal; 13 - Avenida Canal II; 14 - Pata Choca; 15 - Roquete Pinto; 16 - Conjunto Pinheiros;
17 - Conjunto Bento Ribeiro Dantas; 18 - Novo Pinheiro (Conjunto Salsa e Merengue); 19 -
Conjunto Nova Maré; 20 - Conjunto Vila Pinheiros; 21 - Conjunto Vila do João; 22 -
Conjunto Esperança (IBIDIM, p. 15).
Em relação à ilegalidade atribuídas às favelas, o documento “Censo de
Empreendimentos – Maré” (2014), redigido em parceria entre o Redes de Desenvolvimentos
da Maré e o Observatório de Favelas, revela que:

A desordem e a ilegalidade atribuídas às favelas não podem ser concebidas


ou tratadas como naturais aos grupos sociais que as habitam. Como
podemos perceber, no caso da Maré há uma configuração de legitimidades
e formalidades em seu processo de ocupação e demarcação do território.
Mesmo nas mais precárias de suas configurações de habitação e serviços
básicos, as favelas são territórios onde os pobres garantiram sua presença
no espaço urbano. Podemos afirmar, então, que as favelas representam a
maximização das possibilidades econômicas, culturais e sociais realizada
pelos pobres nos seus mais legítimos esforços para habitar a cidade (p. 18).

O percentual de moradores desses espaços estigmatizados da Cidade do Rio de


Janeiro, vem, ao longo das últimas quatro décadas, sofrendo um aumento considerável em seu
contingente populacional. Como demonstrado no documento “Guia de Ruas da Maré – 2014”:

No caso da cidade do Rio de Janeiro, a população residente em favelas vem


crescendo de modo contínuo, sobretudo quando comparada à população total
do município (14% em 1980, 16% em 1990, 19% em 2000, 22% em 2010;
segundo as informações censitárias do IBGE). Na atualidade, 1,3 milhão de
pessoas residem em 763 espaços populares identificados em diversos bairros
da cidade (Censo IBGE, 2010). Apesar de entrar na conta estatística da
cidade, as favelas ainda são invisíveis como territórios da vida de milhares
de pessoas (p. 15).

Assim sendo, o IPP promove a distribuição das favelas e conjuntos habitacionais da


Maré da seguinte forma, conforme Mapa 01: Área de Planejamento 03; Região
Administrativa XXXª; Complexos Roquete Pinto e Maré; e Conjuntos e Favelas: Pata Choca,
Parque Roquete Pinto, Ramos, Parque Rubens Vaz, Parque União, Baixa do Sapateiro, Parque
Maré, Timbáu, Nova Holanda, Vila do Pinheiro, Avenida Canal I, Avenida Canal II, Maré
29

(Rua Guilherme Frota), Joana Nascimento, Paraibuna, Conjunto Bento Ribeiro Dantas,
Conjunto Esperança, Conjunto Nova Maré, Conjunto Pinheiros, Conjunto Salsa e Merengue,
Conjunto Vila do João e Conjunto Vila Pinheiros.
Após a descrição e formação das seis comunidades que constituíam as ‘Favelas da
Maré’ à época de implementação do PROMORAR, partirei agora, para o esclarecimento do
que foi o Programa de Erradicação das Palafitas na Maré, que ficou mais conhecido na Cidade
do Rio de Janeiro, como ‘PROJETO RIO’.
Irei perceber que o espaço geográfico e territorial da Maré se reconfigura,
amplamente, devido à implementação desse programa governamental que, a partir de 1979 até
meados de 1985, realiza um rearranjo do espaço da Maré14, como explicitado a seguir.

14
De acordo com o Projeto de Lei nº 584/2010 de 24.03.2010, de autoria do Vereador Paulo Messina, em 08.05,
comemora-se o aniversário do Bairro Maré.
30

3 – O PROGRAMA DE ERRADICAÇÃO DA SUBHABITAÇÃO: O


PROJETO RIO NAS FAVELAS DA MARÉ

Reconhecemos que a erradicação da pobreza em todas suas formas e


dimensões, incluindo a pobreza extrema, é o maior desafio global e um
requisito indispensável para o desenvolvimento sustentável. Reconhecemos
também que a crescente desigualdade e a persistência de múltiplas dimensões
da pobreza, incluindo o número crescente de moradores de favelas e
assentamentos informais, estão afetando tanto países desenvolvidos quanto
em desenvolvimento e que a organização espacial, a acessibilidade e o
desenho do espaço urbano, bem como a infraestrutura e a prestação de
serviços básicos, em conjunto com políticas de desenvolvimento, podem
promover ou dificultar a coesão social, a igualdade e a inclusão (NOVA
AGENDA URBANA, 2016, p. 11).

Após as jacentes divergências contra a população favelada, referentes às remoções


de favelas, durante, principalmente, a década de 1960, no autoritarismo do Governador Carlos
Lacerda, eis que o Governo acena para uma mudança de atitude na política habitacional.
Esta década foi marcante pois foi testemunhada, na Cidade do Rio de Janeiro, a
origem de uma enorme operação que tinha como meta a remoção sumária de favelas para uma
nova forma de habitação: os conjuntos habitacionais, estes, financiados pelo BNH (criado em
1964) – Banco Nacional da Habitação – e comercializados pela COHAB (Companhia
Estadual de Habitação do Estado do Rio de Janeiro). Na visão de Licia do Prado Valladares
(1980):
Este programa nasceu da construção das chamadas vilas populares em 1962–
1964, culminando com a intervenção federal que criou, em 1968, a
CHISAM. Atuante até 1973, ano de sua extinção, o balanço de atividades
deste órgão foi muitas vezes superior a qualquer um realizado até então (p,
21)

A concepção de remoção por parte do governo tinha o objetivo de desalojar as


‘fábricas de marginais’, que seriam as favelas, com vistas a ‘purificar’ a cidade, como afirma
Patrícia Birman (2008, p. 100).
Freire (2008) analisa esses espaços segregados da cidade com sendo de suma
relevância para o substrato da urbe:
Apesar de sua grande contribuição econômica, política e cultural para a
cidade, as favelas do Rio de Janeiro são, desde seu surgimento, na passagem
para o século XX, percebidas como espaços indesejáveis. Se, por um lado,
elas vêm sendo cada vez menos percebidas como problema eminentemente
sanitário ou moral, por outro aparecem hoje com freqüência na mídia como o
foco transmissor da violência e da criminalidade (p. 95).
31

As políticas públicas voltadas particularmente para a urbanização são


exclusivamente relevantes uma vez que boa parte da população se encontram nos centros
urbanos. Políticas voltadas para a tentativa de equacionar as conseqüências sociais do rápido
processo de urbanização tornam-se prioritárias neste momento na Cidade do Rio de Janeiro.
O remocionismo15 – como se caracterizou o período de forte remoção de favelas no
Rio de Janeiro (ver quadro 01 das remoções) – enfrenta forte reação social de moradores,
estudantes, intelectuais e até de alguns políticos comprometidos na tentativa de inaugurar um
processo democrático de urbanização. Essas reações aumentam sobremaneira os custos das
remoções, tornando-se um dos principais motivos de seu abandono. Sob essas circunstâncias,
houve uma reformulação do planejamento urbano estratégico no final da década de 1970
como um ensaio de afastar os processos autoritários e homogeneizantes em voga. Em razão
disso, a Cidade do Rio de Janeiro foi a primeira metrópole que procurou adotar mecanismos
participativos em sua administração.
Nesse cenário nasce a política de urbanização das favelas na Cidade do Rio de
Janeiro e que se consolida no tecido urbano na década de 1980. Trata-se de uma das principais
conquistas da população oriunda de favelas a garantia de permanência em seus ‘microbairros’
de origem, com a urbanização e realocação de seus moradores.

Quadro 01 – Remoções realizadas no Estado da Guanabara, no período de 1962-1974


Administração e Períodos Total de Favelas Total de Barracos Total de
das Remoções Atingidas Removidos Habitantes
Removidos
Calos Lacerda (1962-1965) 27 8.078 41.958

Negrão de Lima (66-67/68- 66-67 (s/r) 68-71 (33) 66-67 (s/r) 68-71 (12.782) 6.685/63.910
71)

Chagas Freitas (1971-1974) 20 5.333 26.665

Total 80 26.193 139.218

Fonte: COHAB-GB – Extraído de Valladares (1980, p. 39) – Adaptado.

15
De acordo com Brum: “Na década de 1960, a política de segregação espacial no Rio de Janeiro tomou
proporções inéditas, removendo os favelados das áreas centrais da cidade, particularmente na valorizada Zona
Sul, com a transferência destes para terrenos vazios na periferia. No contexto ditatorial do período, a política
sistemática de erradicação das favelas trouxe uma mudança drástica na relação entre Estado e favelas, quando a
remoção, ameaça sempre presente na vida das favelas, pôde ser executada com força total, garantida por uma
repressão nunca vista antes. Os favelados tiveram drasticamente reduzidas suas margens de manobra para se
contraporem aos interesses envolvidos na erradicação das favelas. Na virada da década de 1970 para 1980, a
Redemocratização afastou o fantasma da remoção, sendo algo muito esporádico no cenário da cidade. Fantasma
discreto, mas não eliminado” (BRUM, 2013, p. 180).
32

Desse período (década de 1960) até o início dos anos 80, a “cidade de casas de
palafitas” tornou-se marca da miséria nacional. Foi então que o governo federal arquitetou a
sua primeira grande intervenção na área: o PROJETO RIO, que previa o aterro das regiões
alagadas e a transferência dos moradores das casas de palafitas para construções pré-
fabricadas. Estes ‘novos territórios’ dariam origem às comunidades da Vila do João, Vila do
Pinheiro, Conjunto Pinheiro e Conjunto Esperança (CHAGAS e ABREU, 2007, p. 137).
Em 25/06/1979 surge o PROMORAR, resposta do governo a problemática
habitacional, através da Exposição de Motivos Ministerial nº 6616, por intermédio do então
Ministro do Interior do Governo do Presidente João Baptista Figueiredo, Mário Andreazza
(SANTOS, 2009, p. 24). O documento oficial rezava que:
(Em conjunto com os Ministérios da Marinha e da Fazenda e Secretaria de
Planejamento da PR). Programa de recuperação de áreas alagadas, através de
aterro hidráulico, com o aproveitamento de bancos de areia próximos,
objetivando solucionar a questão da submoradia nas zonas faveladas de
diversas capitais do País, com prioridade para a área da Favela da Maré, nos
Municípios do Rio de Janeiro e Duque de Caxias. "Aprovo. Em 25.6.79."
(BRASIL, 1979).

Por conseguinte, nas palavras de Victor Valla (1986, p. 141), “o programa visava
solucionar o problema das habitações subumanas, as favelas e as palafitas (ver figura 06),
urbanizando-as, quando possível, e erradicando-as, quando eram vistas como caso perdido17”,
na fala do Ministro ao discursar sobre o projeto.

Figura 06 – As ‘Palafitas’ na Favela da Maré

Fonte: Acervo CEASM/Arquivo Orosina Vieira

16
Essa Exposição de Motivos Interministerial foi apresentada, em 25.06.1979, ao Presidente João Baptista
Figueiredo, e dizia entre outros pontos que “A remoção de agrupamentos para pontos afastados dos locais de
origem, por exemplo, nem sempre se mostra recomendável, porquanto pode significar não só a ruptura de
vínculos mantidos com a comunidade, mas, também, transtornos relativos a estilo de vida, situação de emprego,
condições de trabalho da família a nível complementação de salário, para se consumar mo desconforto do
aumento das distâncias e na ampliação dos encargos domésticos”.
17
Como rezava o Art. 66 da Constituição do Estado da Guanabara, de 27/03/1961.
33

O ‘Projeto Rio’ previa uma assistência desde a Ponta do Caju, até os rios Sarapuí e
Meriti, em Duque de Caxias, num trecho de 27 quilômetros (ver mapa 02), e apresentava
como objetivos centrais a criação de espaços para abrigar populações de baixa renda e criação
de condições para ambientação ecológica e paisagística do trecho mais poluído da Baía de
Guanabara. A execução do projeto coube ao Banco Nacional de Habitação (BNH), como
órgão financiador, e ao Departamento Nacional de Obras e Saneamento, incumbido de fazer
os aterros e macrodrenagem à FUNDREM, órgão estadual, coube o encargo das pesquisas de
levantamento cadastral (SANTOS, 2009, p. 60).

Mapa 02 – Área de Implementação do PROJETO RIO

Fonte: Capa do Jornal do Brasil de 09.06.1979

Conforme Valla (1996, p. 141-142), o PROMORAR atingiria uma população de 250


mil habitantes e tinha os seguintes objetivos (ver quadro 02 da população da Maré):
→ Eliminar os focos de poluição da Baía e recuperar as praias, preservando a ecologia local;
→ Ordenar o espaço urbano, recuperando a paisagem e melhorando as condições de
navegação da Baía;
→ Prover solução para o sistema viário (Avenida Brasil), há muito tempo reclamada;
→ Solucionar os problemas de saneamento ambiental e básico de áreas próximas às Ilhas do
Fundão e do Governador, onde a poluição atinge níveis elevados, inadequados à vida humana;
→ Recuperar e urbanizar as favelas existentes na área, sem remoção da população atual, que
deverá ser mantida em condições adequadas de habitação, emprego e atendimento escolar e
de saúde, nas mesmas áreas onde vive atualmente.
34

De início o Programa seria executado na área da Maré e, em seguida, seria ampliado


a outras capitais do país. Recebeu a alcunha de PROJETO RIO obtendo ampla divulgação nos
meios de comunicação da época. Era interesse do Governo evidenciar o Programa,
principalmente, nos jornais lidos pela classe média18, buscando aproximação desse leitor com
a ‘atitude’ do poder público face a realidade mais importante naquele momento, em referência
ao déficit habitacional.
O PROMORAR seria desenvolvido e inserido no Plano Nacional de Habitação
Popular e teria, como principais objetivos, segundo o Departamento de Planejamento e
Análise de Custo do Banco Nacional de Habitação (1982, p. 24):
→ Erradicar, através da eliminação e conseqüente substituição por outras moradias
construídas sob projeto aprovado pelo BNH, as subhabitações destituídas das condições
mínimas de serviços, conforto e salubridade, especialmente as que compõem aglomerados
conhecidos por “palafitas”, “mocambos”, “favelas”, “invasões”, etc;
→ Propiciar a permanência das populações beneficiadas nas áreas onde anteriormente se
localizavam, após a eliminação das subhabitações;
→ Promover a recuperação de assentamentos de submoradias, sujeitas a inundações, mediante
a utilização de sistemas de aterro sob a responsabilidade do Departamento Nacional de Obras
de Saneamento (DNOS), para efeito de desenvolvimento nessas áreas de projetos aprovados
no âmbito do PROMORAR.
A Unidade Executiva do programa caberia à Carteira de Erradicação da
Subhabitação e Emergências Sociais (CESHE/BNH); os agentes financeiros seriam as
COHABs e órgãos assemelhados, os bancos oficiais e estabelecimentos de crédito aceitos
pelo BNH; os agentes promotores seriam os Governos dos Estados, os Territórios Federais, os
Municípios, as concessionárias de serviços públicos, as COHABs e órgãos assemelhados, ou
ainda, outras entidades, a critério da Diretoria do BNH e, os Beneficiários Finais, seriam os
adquirentes das unidades habitacionais, os Estados, os Territórios Federais, os Municípios, as
concessionárias de serviços públicos ou outros órgãos governamentais aceitos pelo BNH. De
acordo com documento do BNH de 1982, as fontes de recursos do programa seriam o próprio
BNH (com recursos próprios, recursos internos e externos captados) e os Governos Federal,
Estadual e Municipal (SANTOS, 2009, p. 25).
Em relação às diretrizes específicas relacionadas ao PROJETO RIO, o documento
elaborado em novembro de 1979 pela Fundação para o Desenvolvimento da Região

18
“Erradicação de favelas começa pelo Rio de Janeiro e Caxias” (Jornal do Brasil de 29/06/1979, p. 24).
“Andreazza anuncia plano contra favelas” (O Estado de São Paulo de 29/06/1979, p. 16).
35

Metropolitana do Rio de Janeiro (FUNDREM), mencionava, quanto à habitação, os seguintes


itens:
→ Consolidação das áreas residenciais de baixa renda e favelas, criando condições para sua
integração ao complexo urbano a ser criado;
→ Suprimento de serviços básicos nessas localidades, melhorando assim as condições de
habitabilidade da área;
→ Consideração de formas não convencionais de construção e infra-estrutura, visando
baratear custos e evitar deslocamentos da população residente;
→ Oferta de serviços sociais e equipamentos comunitários adequados;
→ Estímulo à associação comunitária através de esquemas de apoio que orientem a
organização da população em condomínios, cooperativas, associações de moradores, etc.
(FUNDAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO DA REGIÃO METROPOLITANA DO
RIO DE JANEIRO, 1979, p. 10).
Após a assinatura de um protocolo de intenções envolvendo esferas dos governos
Federal e Estadual, estabeleceu-se, neste momento, o compromisso de urbanizar a área objeto
do programa nas três instâncias governamentais. Após isso se deu a assinatura de convênios
entre a FUNDREM, a Companhia Estadual de Águas e Esgoto (CEDAE) e a Companhia
Estadual de Gás (CEG), assim como a contratação da fundação pelo BNH para a execução do
levantamento cadastral da Maré (SILVA, 1984).

Quadro 02 – População, Família e Domicílios por favelas – 1980


Favelas População Famílias Unidades Residenciais

Timbáu 6.313 (9.13%) 1.500 (8.53%) 1.147 (9.12%)

Baixa do Sapateiro 15.907 (23.02%) 3.709 (21.02%) 2.940 (23.36%)

Parque Maré 16.945 (24.51%) 4.500 (21.50%) 3.573 (28.38%)

Nova Holanda 11.347 (16.41%) 2.615 (14.83%) 2.240 (17.79%)

Rubens Vaz 6.124 (8.85%) 1.567 (8.89%) 989 (7.87%)

Parque União 12.500 (18.08%) 3.749 (21.23%) 1.698 (13.48%)

TOTAL 69.136 (100%) 17.640 (100%) 12.587 (100%)

Fonte: Detalhamento da área prioritária – ENGEVIX – FUNDREM (SILVA, 1984, p. 79)

Esta mesma autora afirma ainda que esse levantamento foi desenvolvido em nove
meses – entre junho de 1980 a março de 1981 –, a um custo estimado de US$ 131.000,
segundo câmbio de 1980, envolvendo, sob a coordenação da FUNDREM, a Fundação Leão
36

XIII, a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social e a Companhia Estadual de


Habitação do Rio de Janeiro – CEHAB/RJ.
Nesse momento, a Maré detinha “cerca de 80% de sua área ocupada pertencentes,
até 1980, às seguintes entidades governamentais: Ministério do Exército, Ministério da
Marinha, o Instituto de Administração Financeira da Previdência e Assistência Social
(IAPAS), o Banco Central e Banco do Brasil”, os 20% restantes são terrenos aforados a
terceiros, conforme afirma Valladares em trabalho de OLIVEIRA (1983, p. 214). Ainda esta
autora (1985), referindo-se a publicidade que foi dada ao Conjunto de Favelas da Maré
quando da instalação e execução do PROJETO RIO, em 1979:
Estas favelas ganharam visibilidade e os jornais da época dedicaram grandes
espaços a artigos sobre suas condições sociais e físicas e sobre as origens da
população que as constituía. Três anos depois, em 1983, surgiram as
primeiras análises do Projeto Rio e estes estudos abordaram, de forma mais
sistemática, um pouco da história da ocupação e expansão das seis favelas,
bem como a experiência associativa nestas comunidades faveladas (p. 35).

Em relação às obras no que se refere aos aterros hidráulicos nas Favelas da Maré,
houve conflito entre os agentes envolvidos no projeto e os ambientalistas. De acordo com Del
Rio (1990):
Ao mesmo tempo decidiu-se, ao contrário da opinião de inúmeros
ambientalistas, promover o aterro hidráulico de uma enorme área já bastante
comprometida com os processos de assoreamento, cujas causas principais
evidentes eram a ação do homem e a poluição da baía. A área total de
intervenção do ‘Projeto Maré’ incluía cerca de 130 hectares de aterro, uma
escala que, evidentemente, representou imensos custos ao BNH, que não
poderia repassá-los aos mutuários pois isto significaria uma prestação muito
acima de sua capacidade de pagamento. Apesar de não ser nosso objetivo
desenvolver esta questão, é necessário apontar que estes fatores, ao moldar a
ação do BNH no caso Maré, representaram fardo significativo na falência
institucional do sistema e,principalmente, que esta experiência serviu para
demonstrar o despreparo do órgão para atuação em primeira linha e como
agente promotor (p. 124).

O BNH participa, desde 1979, da fixação dos Programas de Desenvolvimento


Comunitário do MINTER – Ministério do Interior –, vinculado a novas diretrizes orientadas à
atenção da população de baixa renda, com até três salários mínimos (essencialmente o
Promorar). Anteriormente, o BNH tinha enfrentado problemas de rejeição de seus projetos
habitacionais por famílias de baixa renda. Esses problemas de inadimplência, abandono,
depredação ou invasão de conjuntos, conhecidos como "conjuntos-problema" prejudicaram a
imagem do Banco, pelo que se implantaram com sucesso Programas de Desenvolvimento
Comunitário (POGGIESE, 1985, p. 109).
37

No que diz respeito ao alto número de inadimplência nos pagamentos das


mensalidades, o BNH assume uma nova postura política: afastar investimentos em habitações
populares, como afirma Ermínia Maricato (1987):
Os fracassos sucessivos dos investimentos do BNH em habitação popular, o
baixo poder aquisitivo da maior parte da população em contraposição à
formação de uma classe média mais afluente, beneficiada pela concentração
da renda nos estratos mais privilegiados da sociedade (15%), a necessidade
de buscar clientes de responder aos juros e a correção monetária dos
financiamentos do BNH, o interesse da indústria da construção (subsetor
edificações e subsetor construção pesada), a política financeira e a política
nacional de grandes projetos levam o BNH a se afastar dos investimentos
destinados à habitação popular (p. 82).

A confirmação do Programa PROJETO RIO na Cidade do Rio de Janeiro, mais


precisamente na Favela da Maré, a partir de 1979, criaria uma certa expectativa de
modificação da configuração da ocupação do uso do solo na favela pela legalização da
moradia. Sendo assim, para viabilizar o objetivo da regularização fundiária o Banco Nacional
da Habitação, o BNH, obteve terras na área da Maré ao longo do programa.
De acordo com Cavallazzi (1993, p. 10) o BNH adquiriu, entre 1980 e 1986, “terras
da União Federal através de contrato de cessão, sob o regime de aforamento, e do Banco
Central do Brasil, através do contrato de compra e venda”. Vale frisar que o longo processo
de regularização fundiária na Maré veio a ser, a época do PROJETO RIO, apenas parcial. O
contingente de contratos de promessa de compra e venda entre os moradores e o BNH, tendo
como objetivo a obtenção da propriedade do solo, era reduzido e, deste percentual, apenas
uma parcela mínima da população reverteu em escritura definitiva de compra e venda, como
mostrado no caso em estudo apresentado.

O processo de regularização, incluía cadastramento dos moradores da área,


via de regra efetuado através das Associações de Moradores da respectiva
comunidade, com a expedição de um “protocolo” aos chefes de famílias
cadastrados. Os moradores cadastrados realizavam diretamente com o BNH,
e alguns com a interveniência da Companhia Estadual de Habitação do Rio
de Janeiro, o contrato de promessa de compra e venda do lote referente às
suas habitações. O PROJETO RIO engendrou na Favela da Maré uma
situação de “legalidade parcial”, em função dos efeitos da regularização
proposta na área. Esta situação configurou-se ao longo da existência do BNH
e, posteriormente, quando a Caixa Econômica Federal, com a extinção do
BNH em 1986, assumiu a responsabilidade pelo Programa PROMORAR (p.
12).

A realização de uma nova orientação na política urbana brasileira adquiriu, nos anos
de 1980 e 1981, grande relevância, principalmente na denominada política de urbanização de
favelas, que inclui a regularização da posse precária dos moradores que ocupam e constroem
38

em terrenos de outros proprietários, como, também, a transferência da propriedade da terra ao


morador (POGGIESE, 1982, p. 20).
Quanto às incertezas dos moradores em relação ao PROJETO RIO na Maré, às
lideranças comunitárias encontravam várias dúvidas no que diz respeito ao programa e, nem
mesmo os órgãos envolvidos, esclareciam as inseguranças para a população. Em assunto do
Jornal da FAFERJ, de abril/1980, sob o título “Projeto Rio: Uma Ameaça para 250 mil
Favelados”, essa entidade já mostrava a sua preocupação com a falta de informações sobre o
programa:

Há alguns meses, o Governo vem falando que vai implantar nas favelas da
Maré um tal Projeto-Rio; fala de várias mudanças mas não menciona a
ameaça de remoção que paira sobre os 250 mil moradores da favela, contra o
qual a FAFERJ se utilizará de todos os instrumentos para impedir,
dependendo apenas da união dos moradores em torno da defesa de seus
Interesses. Pelo que foi dito até agora, esse projeto vai modificar tudo na
Avenida Brasil. Fala-se em acabar com as palafitas, urbanizar algumas partes
da favela e construir numa área próxima um conjunto onde ficará parte dos
moradores e, no que parece, a coisa será maior, abrangendo desde o Caju até
Caxias, como a construção de uma avenida paralela a Avenida Brasil,
sobrando espaço para uma zona industrial, áreas de lazer, transporte fácil,
emprego perto. Enfim, o paraíso estaria a nosso alcance. Mas como pobre
quando vê muita esmola desconfia..., é melhor botar as barbas de molho.
Assim como não falam da ameaça as 250 mil pessoas, não mencionam que o
meio ambiente da Baía de Guanabara será atingido, causando distúrbios
marítimos gravíssimos e nem que a Universidade Federal do Rio de Janeiro,
situada no Fundão, também será atingida, Com tudo isso, o Governo não se
dispõe, até hoje, a divulgar seu plano de trabalho. Com tanta gente e tantos
interesses sendo afetados, como explicar o silêncio das autoridades, ainda
mais que as obras já se iniciaram? O quê há por trás do Projeto-Rio? Os
moradores da Maré vão botar as barbas de molho mas não vão ficar de braços
cruzados. O importante é continuar brigando, para que o projeto seja
divulgado e os moradores – e demais interessados possam fazer as sugestões
que acharem necessárias. Devemos Impedir a remoção de qualquer forma.
Uma única família removida constitui o primeiro passo para a remoção de
uma após outra. Eles devem estar premeditando uma remoção sutil, sem
escândalos e dificultando a reação dos moradores. Foi assim em Brás de Pina.
A única forma de combater esse novo golpe é estarmos unidos e organizados
nas Associações de Moradores, exigindo um plano de urbanização que não
prejudique os moradores. E, neste sentido, a FAFERJ continua disposta a
cerrar fileiras (p. 03).

Por conseguinte, podemos afirmar que, as favelas podem ser identificadas como
territórios segregados dentro do espaço urbano e esta segregação é potencializada pelo
constante reconhecimento destas áreas como lócus de concentração, seja através do tráfico de
drogas, da marginalidade ou, principalmente, da ausência do estado nesses locais (SANTOS,
2009, p. 26).
Em relatório intitulado “Favelas” de 1958 do SERFHA – Serviço Especial de
Recuperação de Favelas e Habitações Anti-Higiênicas –, mostrado por Reynaldo de Mattos
39

Reis ao então prefeito do Distrito Federal José J. de Sá Freire Alvim, é oferecido algumas
preposições à respeito dessas habitações populares: um estudo de momento, bem como, o
plano estrutural para solucionar a problemática das favelas.
Em suas palavras, Reynaldo Reis (1958) culpa o poder público municipal pela
situação e a existência das favelas cariocas:
Embora a existência de “favelas” não seja peculiar ao Rio de Janeiro, a
verdade é que a formação desses aglomerados se deve, em parte, à abstenção
das autoridades municipais, no que se refere ao planejamento e à ordenação
urbana, bem como a ausência de uma política habitacional que deveria
constituir sempre matéria básica de urbanismo (p. 05).

Conforme o projeto inicial, o órgão responsável pela campanha de esclarecimentos


do programa seria a Fundação Leão XIII, que se responsabilizaria pelos contatos com as
lideranças comunitárias neste sentido, abrir-se-ia um canal de comunicação e de participação
dos moradores.
Ao término do programa, foram erguidas duas vilas de casas (novas favelas na
Maré), a Vila do João e Vila do Pinheiro19 e dois conjuntos habitacionais (de acordo com o
IBGE os conjuntos habitacionais não são considerados favelas), o Conjunto Pinheiro e o
Conjunto Esperança.
De acordo com Valladares (1985, p. 72) foram erguidas, no Setor Pinheiro, 4.272
casas-embrião e 2.760 apartamentos e, no Setor Maré, 1.039 casas-embrião e 1.280
apartamentos, totalizando 5.311 casas e 4.040 apartamentos. Esta mesma autora afirma que
seriam distribuídos 12.000 títulos de propriedade20 dos terrenos aos moradores da área
consolidada das seis favelas e esta distribuição seria feita “a preço simbólico com diferentes
formas de pagamento, cujas mensalidades não poderiam ultrapassar a 10% do salário
mínimo” (1985, p. 73).
O PROJETO RIO poderia ser dividido em dois momentos distintos: de 1979 a 1981,
e que foi marcado pela criação de um grupo de trabalho, resultante de um protocolo assinado
entre o Governo Chagas Freitas, o Ministro do Interior e um representante do Prefeito da
Cidade do Rio de Janeiro, em 15/06/1979, e o segundo instante foi de 1981 até o fim do
programa em 1984 (SANTOS, 2013, p. 33).

19
De acordo com Steinert este foi o setor que teve o melhor tratamento pela Consultora, a Engevix, pois foi
prevista a implementação de 4.300 lotes, sendo 1.300 no trecho prioritário sobre o solo existente e 3.000 sobre o
aterro hidráulico (1983 p. 171).
20
De acordo com Oliveira, “no que refere à distribuição de títulos de propriedade, calcula-se em torno de 10 mil
o número de habitações que terão sua situação regularizada, nas seis favelas que compõem o subconjunto de
Ramos, área definida como prioritária pelo Projeto” (OLIVEIRA et alii, 1983 p. 245).
40

De forma resumida podemos pontuar as realizações do PROJETO RIO até 1984 na


área prioritária, da seguinte forma:
→ Obras de aterro: Concluídos um total de 256,2 hectares nos seguintes setores: a) Setor Caju
(30 ha), b) Setor Pinheiros (66 ha), c) Setor Maré (35 ha), d) Setor Ramos (7,2 ha), e) Setor
Missões (115 ha).
→ Obras de instalação de Unidades Residenciais: Setor Pinheiros: 1.546 unidades
habitacionais que compõem a Vila do João; Vila Pinheiro (2.300 casas e 1.360 apartamentos);
→ Obras de Infraestrutura: Criação das vilas do João e Pinheiro. Essas obras se localizariam
na chamada ‘Área prioritária’, conforme mapa 03 a seguir:

Mapa 03 – Área Prioritária do Promorar (Projeto Rio)

Fonte: Revista Manchete, edição 1524. p. 84.

Maria Jose Pedroso, em artigo sobre o ‘Pró-morar’ de 1982, afirma que:

As favelas, os mocambos, as palafitas são uma realidade em todo o Brasil.


Sem água, sem luz, em regiões alagadas, nos morros, os aglomerados de
subabitações têm se tornado um desafio para os governos, de todos os tempos.
Desde 1979 o Ministério do Interior, através do BNH se propôs a corrigir isso
de duas formas: fixando o homem no local que escolheu para viver, dando-lhe
o título de propriedade de terra e radicando ali a favela ou oferecendo
habitações aos moradores na mesma área da favela e melhorando as
condições de habitabilidade de seus ocupantes, com casas de Cr$ 400 mil (p.
18).

Concluindo, o PROJETO RIO, no que refere às áreas do Conjunto de Favelas da


Maré, teve como finalidade realizar intervenção que se apóia em três grandes linhas de ação: a
erradicação das palafitas com o remanejamento da população para o setor Pinheiro e Vila do
41

João; a transferência da propriedade aos moradores do Conjunto de Favelas da Maré não


removidos; e a urbanização da área remanescente da Maré (SILVA, 1984).
Durante todo esse processo de execução do PROJETO RIO nas Favelas da Maré,
havia a premência de uma entidade que pudesse reivindicar seus direitos junto aos órgãos
envolvidos no programa.
Para finalizar essa parte, trago o pensamento de Fortuna e Fortuna (1974) em relação
às associações de moradores de favelas na Cidade do Rio de Janeiro:

As associações de moradores surgiram espontaneamente da união de


residentes em favelas que procuravam alcançar melhoramentos e defender
interesses próprios das comunidades. Antes da existência das associações de
moradores, os favelados, que não contavam com lideranças internas
organizadas, eram explorados por políticos que prometiam pequenos
favores: um cano d'água, um sapato ou uma roupa, em troca de votos. Esta
situação, além de só possibilitar poucos benefícios, era perigosa: se uma
favela apoiasse um candidato do PTB e esse perdesse as eleições, a favela
também perdia a ajuda do candidato vencedor, não apoiado por ela.
Cansados dessa situação, os favelados começaram a perceber que somente a
união poderia levar à solução de seus principais problemas (FORTUNA e
FORTUNA, p. 104).

Neste sentido, as lideranças locais da Maré, se encontram e concebem uma entidade


única e que pudesse reivindicar os direitos e reclamações dos moradores. Deste modo nasce a
Comissão de Defesa dos Moradores da Maré – a CODEFAM, e mais tarde, surge a Comissão
de Desenvolvimento Social da Área da Maré, as quais irei abordar no capítulo seguinte.
42

4 – ASSOCIATIVISMO COMUNITÁRIO NA MARÉ: A CODEFAM E A

COMISSÃO DE DESENVOLVIMENTO SOCIAL DA ÁREA DA MARÉ

Pode-se dizer que a Associação é o único espaço formalmente constituído,


que é aberto à participação de todos os moradores da comunidade. Existem
várias Associações que funcionam apenas com a participação daqueles
moradores que são associados e que, portanto, se vêem obrigados a pagar
uma taxa mensal como sócios. Outras, entretanto, funcionam com a
participação de todos os moradores que assim o desejarem,
independentemente de serem sócios ou não. Nos estatutos da maioria das
Associações de moradores só é garantida a voz e o voto dos moradores que
são sócios. No entanto, nos últimos anos, tem crescido a prática da
participação com voz e voto de todos os moradores, ainda que condicionada a
uma decisão prévia tomada em assembléia geral dos sócios (OLIVEIRA e
CARVALHO, 1994, 103).

Antes de discutirmos sobre a criação da Comissão de Defesa das Favelas da Maré e,


posteriormente, da Comissão de Desenvolvimento Social da Área da Maré, daremos um
enfoque no que entendemos como ‘associativismo comunitário’, para em seguida,
entendermos como se deu a funcionalidade desse associativismo, pelas duas instituições na
Maré.
Houve um aumento significativo no percentual de fundação dessas instituições,
principalmente, entre 1947 a 1980, como especificado a seguir: entre 1947 e 1960 surgiram
16 associações de moradores; entre 1961 e 1965 surgiram 24; entre 1966 e 1970 há 23; entre
1971 e 1975 surgem 6; e entre 1976 e 1980 surgem 31, totalizando 100 associações entre
1947 e 1980 (DINIZ, 1982). Eli Diniz afirma que em 1979, ano de fundação da CODEFAM,
que falaremos mais adiante, “foi o ano de maior incidência de casos, cerca de 15% do total de
associações foram criadas nesse ano” (DINIZ, 1982, p. 33). Para esse mesmo autor essas
instituições são caracterizadas da seguinte forma:
As associações de favelas, como os demais tipos de associações de moradores,
são organizações voluntárias formadas com base em relações de vizinhança em
torno de interesses comuns de caráter bastante específico. Em geral, seus
objetivos, definidos estatutariamente, relacionam-se à defesa de certos direitos
da população favelada, principalmente quanto à sua inserção no conjunto dos
setores populacionais atingidos pela ação estatal em termos da prestação de
serviços urbanos básicos. Pretendem, pois, representar os moradores de uma
dada favela perante os poderes públicos tendo em vista a obtenção de melhorias
específicas, tais como eletrificação, abastecimento de água ou ainda instalação
de redes de esgoto. Como se pode observar, seus objetivos estão claramente
associados às motivações que podem impulsionar os estratos urbanos de baixa
renda à ação coletiva através da criação dessa modalidade de grupos de
interesse. Tais estratos tendem a localizar-se em zonas segregadas, densamente
povoadas e tradicionalmente carentes quanto a serviços públicos essenciais e
acesso à educação, atendimento médico-hospitalar. Entretanto, além das
motivações mais gerais ligadas à precariedade das condições de vida que
afetam esse segmento das população urbana, fatores associados às orientações
e políticas governamentais em relação às áreas faveladas interferem também na
criação e ciclo das associações (p. 32).
43

Licia do Prado Valladares (1977, p. 1393) afirma que a origem das associações que
aparecem na favela tem sua importância e seus significados. A autora distingue dois tipos de
organizações nas favelas: uma de origem local e outra de origem externa (a estas vêm juntar-
se aquelas que foram fundadas por dissidência ou fusão das existentes).
As associações de moradores conseguem se organizarem de forma mais sistemática
e, desta forma, em maio de 1960 criam o Congresso Permanente das Associações de Amigos
de Bairros do Rio de Janeiro, que inicia com vinte entidades e, mais tarde, esse número chega
a quarenta e quatro filiadas (FILHO, 1990, p. 47).
A funcionalidade de uma associação de moradores depende de alguns pontos:
1º) Seus membros têm que conhecerem bem o território em que estão envolvidos e quais
necessidades se apresentam e quais potencialidades devem ser aproveitadas dando uma boa
imagem àquelas pessoas que são de fora desse território, pois assim, podem propor uma
melhora na qualidade de vida dos moradores locais;
2º) Essa entidade deve ter um conjunto de princípios e objetivos e responsabilidade por parte
de seu presidente e sua diretoria. Só assim haverá uma melhor comunicação entre essa
associação e seus credenciados. Isso agrega os associados no sentido de maior participação no
processo democrático, na solidariedade e na liberdade, para que aja uma participação
dinâmica entre os comuns (VILAÇA, 1991).
Diante de tantas dúvidas e incertezas quanto ao PROJETO RIO e suas implicações
quanto à eficácia de suas realizações prometidas e, muitas delas, não cumpridas, eis que surge
nas Favelas da Maré, a Comissão de Defesa das Favelas da Maré – a CODEFAM21.
Na tentativa de se criar uma voz de defesa em relação aos moradores da Maré é
criada a Comissão de Defesa das Favelas da Maré (CODEFAM) em 10/06/1979, composta de
cinco diretores, dois assessores e um presidente, todos ligados a entidades representativas das
seis favelas da Maré (SILVA, 1984). Essa associação teve o mérito de ser o canal de
comunicação entre os moradores e as entidades envolvidas do programa, principalmente o
DNOS, e sua atuação foi assim definida por Santos (2005):

Por várias vezes surgiam desconfianças por parte dos moradores devido aos
atrasos nas obras e ao não cumprimento dos cronogramas e, neste sentido, as
associações de moradores tiveram um papel de suma importância ao criarem
a CODEFAM – Comissão de Defesas das Favelas da Maré – onde exerceram
forte pressão para que as promessas de campanha fossem cumpridas (p. 45).

21
Lembrando que nesse momento (1979), nas seis comunidades da Maré, já haviam sido criadas as associações
de moradores. A CODEFAM surgiu com o intuito de agregar idéias e ideais que eram concomitantes às
reivindicações dos moradores de cada comunidade.
44

Uma das principais finalidades da CODEFAM22 era em relação às remoções de


moradores, maior incerteza da população da Maré, principalmente, daqueles que residiam nas
palafitas. Em relação a essas remoções, o governo tinha uma certa idéia de que, com essa
nova política, não haveria espaço para essa intervenção, desta forma, como já foi abordado
anteriormente, o PROJETO RIO, iria valorizar a realocação desses moradores das áreas
palafitadas, para áreas que seriam formadas com a futura urbanização na Maré. Como aponta
Gustavo Heck (1984) em relação às remoções feitas anteriormente pelo governo na Cidade do
Rio de Janeiro:
A remoção do agrupamento para pontos afastados dos locais de origem, por
exemplo, nem sempre se mostra recomendável, porquanto pode significar não
só a ruptura de vínculos mantidos com a comunidade, mas também,
transtornos relativas ao estilo de vida, situação de emprego, condições de
trabalho da família a nível de complementação de salário, para se consumar
no desconforto do aumento das distâncias e na ampliação dos encargos
domésticos (p. 47).

Na realidade, a população da Maré, mesmo com a criação da CODEFAM, era pouco


ouvida pelo poder público. Os moradores tiveram participação em momentos pontuais, como,
por exemplo, no instante em que a empresa responsável pelas obras, a ENGEVIX, iniciou o
processo de disposição das ruas23. Nesse instante a população foi ouvida no sentido de
melhoria do projeto (SANTOS, 2013, p. 29).
No início, o Governo se mostrava solícito em relação ao esclarecimento das dúvidas
dos moradores. José Reinaldo Tavares, diretor do DNOS, expondo sobre as recomendações
do Ministro do Interior, Mário Andreazza, em matéria de 12.06.1979:
A Fundrem dará todas as informações sobre o projeto aos favelados,
enfocando o que o ministro Mário Andreazza já garantiu: que todos ficarão na
mesma área, portanto perto do Centro, como querem; que não haverá
desmonte de nenhum barraco antes de seu dono receber a chave da nova
habitação, pelo qual pagará prestação mensal de dez por cento do salário
mínimo (hoje, Cr$ 226,80). (GOVERNO..., 1979)

Em notícia de 15.06.1979, do Jornal O Globo, o prefeito da Cidade do Rio de


Janeiro, Israel Klabin (ver figura 07), ao lado do Ministro Mário Andreazza, do Diretor do
DNOS José Reinaldo Carneiro Tavares e do Secretário Municipal de Planejamento Matheus
Schnaider, afirmava sobre o plano de recuperação da Maré que o “favelado ganhará mais do
que podíamos imaginar”.

22
Nesta pesquisa iremos abordar, de forma sucinta, a CODEFAM, pois essa instituição foi esmiuçada em
trabalho anterior (SANTOS, 2016). Daremos uma ênfase maior a Comissão de Desenvolvimento Social da Área
da Maré por se tratar do objeto de pesquisa desse trabalho.
23
Como mostrado no Projeto de Loteamento (PAL) nº 38.994 e Projeto de Alinhamento (PAA) nº 10.310, que
inclui a Baixa do Sapateiro e o Morro do Timbáu, encontrado no site da Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro.
Disponível em: http://www2.rio.rj.gov.br/smu/acervoimagens/imagenspaa/4/0/52.JPG
45

Figura 07 – Autoridades no viaduto de acesso à Ilha do Fundão

Fonte: Jornal O Globo, edição de 15.06.1979, página 7.

Em princípio, o Governo indicava a idéia de não remoção para os moradores da Maré:


Em assembléia da Comissão de Defesa da Favela da Maré (Codefam),
realizada ontem, representantes dos moradores da região manifestaram-se
favoráveis ao Projeto Rio, “desde que não ocorram remoções de favelados e
a urbanização seja feita dentro de critérios lógicos, sem prejudicar os
habitantes”.
Antes do início da assembléia, a ex-secretária de Serviços Sociais da antiga
Guanabara, Hortência Dunshee de Abranches, colaboradora da Codefam,
entregou à diretoria da entidade um documento assinado pelo ministro Mário
Andreazza, prometendo que não haverá remoções de favelados. Segundo
Hortência, que esteve reunida com Andreazza, o ministro disse que uma
comissão da Codefam integrará o grupo de trabalho encarregado de definir
as diretrizes do Projeto Rio. Ela informou que o ministro marcará uma
reunião com o grupo de trabalho e a comissão de favelados, na próxima
semana (Moradores..., 1979).
Em relação às desapropriações na área da Maré, o Presidente da CODEFAM
deixava claro sua preocupação em prol dos moradores:
Seria justo, num país com o déficit habitacional como o nosso, derrubar-se
milhares de casa de alvenaria, muitas com valor de Cr$ 500,00 mil? –
argumenta o documento da Codefam, que também defende a primazia das
casas sobre os apartamentos, se bem que advogue a construção de pequenos
conjuntos para aqueles que assim desejarem, mas só após levantamento
socioeconômico...
O presidente da Codefam, Manoelino Silva, disse acreditar que “as soluções
para os habitantes das favelas da área da Maré possam ser encontradas, desde
que devidamente documentadas, pois de boca eu não acredito em muita
coisa” (GOVERNO..., 1979).

Durante o percurso do Promorar na Maré, o Ministro do Interior, Mário Andreazza,


esteve no local por diversas vezes, ora acompanhando as obras, ora participando de reuniões
com membros da CODEFAM, como visto na figura 08.
46

Figura 08 – Ministro Mário Andreazza com lideranças comunitárias da Maré

Fonte: Acervo Orosina Vieira – Museu da Maré

Outro personagem ilustre que acompanhou de perto a problemática dos favelados da


Maré foi o arquiteto Oscar Niemeyer (ver figura 10). Em 16 e 17.07.1979, o arquiteto
inspecionou a Maré, caminhou por um trecho e pode constatar que, ao contrário a que muitos
falavam, a mancha de palafitas não era a maior parte das moradias, e sim as favelas eram
como verdadeiros bairros24.

Figura 10 – Arquiteto Oscar Niemeyer na Maré

Fonte: Revista Veja. Edição 568. 25.07.1979 página 79.

24
Jornal O Globo, 16/07/1979, p. 09 e 17/07/1979, p. 13.
47

No que se refere a relevância da CODEFAM para os moradores da Maré, o Senhor


Clóvis de Andrade, outro diretor desta associação, em entrevista concedida em junho de 2006
à Rodrigo Silva Magalhães (2008) , destacava a organização desta entidade:

A CODEFAM era um lugar onde todos nós juntávamos nossas experiências,


necessidades e preocupações. Ali a gente se abria para resolver como a gente
ia ser representado, quando tivesse uma reunião fora da Maré. Uma vez, eu fui
numa reunião na FAMERJ e eles disseram que a nossa idéia era uma boa
iniciativa, porque as nossas comunidades são muito próximas uma das outras.
Com essa união, as coisas, às vezes, eram mais fáceis de se conseguir (p. 81).

Magalhães afirma ainda que uma suposta “unidade nem sempre era possível, pois
cada representante pensava de uma forma e, por isso, entre uma reunião e outra, tal aliança
não se estabelecia por interesses políticos diferentes” (Ibidem).
Destacaremos, agora, em relação a CODEFAM, o lado ‘negativo’ da atuação de seus
representantes. Em trabalho realizado em agosto/1980-1983, Pinheiro e Maia relatam que a
CODEFAM:

Passou a freqüentar as reuniões do Grupo de Trabalho, palestras em


faculdades de arquitetura, debates no Instituto de Arquitetos do Brasil,
entrevistas à imprensa e com o Ministro do Interior, sendo portanto
informados de tudo o que havia para informar. Essas informações não foram
repassadas às suas populações – que continuam sem de nada saber, numa
clara demonstração de manipulação política, exatamente como acontece com
outras lideranças em relação a qualquer setor da sociedade. Talvez isso se
explique pela pouca representatividade desses líderes, sempre mais
vinculados a instituições, como a Fundação leão XIII, que representam (p.
54).

Em matéria de 06.11.1984, o Jornal Última Hora revela outro ‘momento negativo’


envolvendo as lideranças comunitárias da Maré. Com o titulo de “Maré troca líderes para
cobrar promessas”, o jornal afirma que:

Todos os presidentes de associações de moradores das sete favelas da área da


Maré estão sendo substituídos pelos moradores da região, acusados de
inoperância e desprezo pelos problemas das comunidades que representam.
Eles foram os primeiros a ser beneficiados pelo Projeto Rio e, corrompidos,
não têm mais como levantar a voz em nossa defesa perante o BNH, disse
Conceição Maia, secretária geral da Associação de Moradores da Favela do
Timbau, que já substitui dois presidentes considerados inoperantes. A
substituição desses presidentes é o início de um movimento que, segundo
ela, a média prazo irá reivindicar do Ministério do Interior e do BNH todas
as promessas feitas em nome do Projeto Rio, iniciado em 79 com o objetivo
de beneficiar cerca de 250 mil pessoas (MARÉ..., 1984).

Em 26.05.1982, o Jornal O Globo noticiava a inserção da CODEFAM, através


Estado, como um dos órgãos de poder decisório na Comissão de Desenvolvimento Social da
Área da Maré. A matéria citava ainda que:
48

Os presidentes das associações de moradores de cinco favelas –


representando as 17.067 famílias da área da Maré – agradeceram ao
Governador Chagas Freitas... Na Ocasião a CODEFAM entregou um
documento, denominado “Carta de Agradecimento”, no qual expressa
gratidão daquela comunidade pela criteriosa ação das autoridades e pelas
demonstrações de interesse por aquela faixa carente da população
(CODEFAM..., 1982).

Em relação à entrega dos títulos de propriedades aos moradores da Maré pelo


Governo, ver trabalho anterior (SANTOS, 2016), que discutiu, a fundo, esse momento muito
esperado pelos favelados da Maré.
Para finalizar esse momento, trago o depoimento de Oscar Niemeyer (1980) para a
Revista Módulo, no qual o ilustre arquiteto aponta para a problemática dos moradores da
Maré naquele momento:
A base do problema do favelado é a exploração do homem pelo homem. Na
Favela da Maré, por exemplo, a coisa é flagrante. Em volta dela, houve muito
progresso. Estradas foram abertas, pontes, e viadutos construídos, etc.
Entretanto, os 300 mil favelados em nada foram beneficiados. O Governo não
se lembrou deles. E a favela ficou esquecida, como coisa secundária... No
caso da Maré, é evidente que as palafitas sejam removidas e que áreas anexas
sejam entregues aos favelados. Não se pode aceitar que, num país tão grande,
um continente, o nosso irmão mais pobre não possa ter um pequeno lote e seja
obrigado a morar sobre a água, expulso da terra, que pertence aos donos do
dinheiro. A luta principal é pela posse da terra. Na Maré, a solução é uma
união dos favelados pela posse da terra. Se não for possível dividir a terra em
lotes, já que os barracos são muito próximos uns dos outros, que se faça um
condomínio. O importante é que a terra seja dos favelados. Por isso é que eu
digo que o primeiro passo no caso da Maré teria que ser a doação da terra. O
projeto proposto (o Projeto Rio) é coerente, corrige a poluição e, segundo
dizem, os favelados das palafitas ganharão uma reserva de área dos aterros. A
Baía deve ser preservada e esse é um dos objetivos do projeto. O que nos
interessa, antes de tudo, é que se respeite a favela. Doar a terra é a primeira
providência, garantindo o direito de morar na Maré a quem sempre morou lá
(p. 20-22).

No mesmo instante que a CODEFAM se apresentava como uma organização que


estava inserida e mergulhada num turbilhão de acusações de seus diretores, eis que surge,
como um ponto de reflexão por parte relacional entre os moradores, a própria CODEFAM 25 e
o poder público, a Comissão de Desenvolvimento Social da Área da Maré, através do Decreto
Estadual26 nº 5.371 de 18.03.1982.
As competências dessa comissão estavam estabelecidas em seu segundo artigo:

25
Essas atitudes nefastas da CODEFAM, em nada tem haver com o parágrafo segundo do Art. 2º de seu estatuto
que rezava que essa instituição deveria: “Defender, intransigentemente, os direitos dos moradores da área da
Maré, lutando para que sejam atendidas as necessidades das comunidades dela participantes no que tange à
implementação do Projeto Rio ou outro que trate da urbanização da área”, extraído do Estatuto da Comissão de
Defesa das Favelas da Maré (1979, p. 02).
26
No Art. 1º, o Decreto apontava que: “Fica criada, no âmbito da Secretaria de Planejamento e Coordenação
Geral da Governadoria do Estado, a Comissão de Desenvolvimento Social da Área da Maré”.
49

→ Formular e propor a adoção de critérios a serem aplicados pela CEHAB, na seleção dos
futuros moradores das unidades construídas pela CEHAB, na área do Projeto Rio, incluindo o
Conjunto Habitacional do Canal do Cunha; e
→ Realizar o levantamento e atualização de dados e indicadores para trabalho social na área
em questão.
Os representantes dessa comissão estavam assim representados no terceiro artigo:
Arquidiocese de São Sebastião do Rio de janeiro (Pastoral das Favelas), Comissão de Defesa
das Favelas da Maré (CODEFAM), Banco Nacional da Habitação (BNH), Companhia
Estadual de Habitação do Rio de janeiro (CEHAB), Fundação Leão XIII, Secretaria
Municipal de Desenvolvimento Social (SMDS) e a Fundação para o Desenvolvimento da
Região Metropolitana (FUNDREM). O presidente desta comissão será escolhido pelos
membros na seção de inauguração dessa entidade, como consta do Decreto.
Em documentos cedidos pela socióloga Licia do Prado Valladares, em referência à
Comissão de Desenvolvimento Social da Área da Maré, foi possível encontrar e analisar atas
de vinte e duas ‘Reuniões Ordinárias’ dessa comissão, ocorridas entre abril a outubro de 1982.
Nessas atas foi possível verificar que, de forma resumida, a importância da criação dessa
entidade naquele momento de turbulência política na Maré (Ver anexos).
Neste momento, iremos realizar uma breve discussão sobre os pontos principais que
constam dessas vinte e duas reuniões realizadas pela Comissão de Desenvolvimento Social da
Área da Maré:
→ Na primeira reunião, realizada em 13.04.1982, fica evidenciada a principal função da
Comissão: o “Estabelecimento de critérios de ocupação de cada conjunto habitacional;
→ Realizada em 19.04.1982, a segunda reunião apresenta, como ponto principal que, “a
Comissão reitera pedido junto ao BNH por um representante nas reuniões”. O BNH ignora a
participação nas reuniões;
→ Na terceira reunião da Comissão, em 23.04.1982, uma das principais medidas tomadas foi
a “Solicitação ao TRE para instalação de um posto para confecção de Título de Eleitor”;
→ No quarto encontro da Comissão, em 30.04.1982, o ponto relevante foi a “Destinação de
recursos da Fundrem para construção de uma passarela na Av. Brasil”, principal via de acesso
dos moradores da Maré naquele instante;
→ Em 07.05.1982, na quinta reunião, a relevância foi a “Solicitação à Xª Região
Administrativa de uma agência de empregos na Maré”, aproveitando os aparelhos municipais
e estaduais que seriam implementados na área da Maré, naquele momento;
50

→ Já na sexta assembléia, em 13.05.1982, surgiu a “Proposta da Secretaria Municipal de


Saúde do ‘Programa de Saúde Educativo’ na Maré”. A intenção desse projeto era educar os
moradores quanto a necessidade de uma melhor higiene em relação às doenças a que a
população da Maré estava sujeita naquela ocasião;
→ No sétimo encontro da Comissão, em 21.05.1982, ocorre a segunda “Negativa do BNH de
enviar um representante às reuniões”;
→ Em 28.05.1982, na oitava reunião da Comissão, a discussão pautou “Em relação ao valor
da taxa de atribuição dos imóveis, onde a Cehab indica que iria corresponder a uma prestação
para o favelado”;
→ Na nona reunião ordinária dessa Comissão, em 04.06.1982, ocorre a “Divulgação pela Xª
Região Administrativa do ‘Projeto Cidadão’ na Maré, por parte de sua administradora, a
professora Maria Aparecida Gama de Souza, que traria muitos benefícios aos moradores;
→ No dia 15.06.1982, ocorre o décimo encontro, que teve como cerne das discussões a
“Utilização, de forma errônea, do “Certificado de Cadastramento” assinado pelo BNH ou o
aval das Associações de Moradores da Maré, por mais de um mesmo morador”. Nesse
instante, observa-se que havia, por parte dos moradores, a tentativa de burlar os acordos antes
firmados entre os promotores do Projeto Rio e a própria população;
→ No décimo primeiro encontro, em 22.06.1982, foi discutido a “Aceitação de sindicância
sobre nomes de candidatos aos apartamentos que não constassem do cadastro da Fundrem e
da Fundação Leão XIII. Essa medida restringiria a tentativa dos alguns moradores de
ludibriarem o acordo inicial e evitar que um mesmo moradores obtivesse mais de um
apartamento;
→ Em 07.07.1982, acontece a décima segunda reunião, onde o “Representante do Morro do
Timbáu questiona que sua localidade está sendo titulada e a Prefeitura não elaborou um ato
contendo as normas de construções e as posturas municipais para estabelecer a Convenção de
Condomínio”. Como apresentado em trabalho anterior (SANTOS, 2016), o Morro do Timbáu
foi a primeira favela na Maré onde acorreram a titulação social e entrega em definitivo dos
títulos de propriedades a seus moradores;
→ A décima terceira reunião ocorreu em 14.07.1982, onde o cerne das discussões foi a
“Proposta da Secretaria Municipal de Planejamento da criação de um grupo de trabalho com
participação de entidades a nível estadual/municipal para acelerar os trabalhos dos Projetos de
Alinhamentos na Área da Maré”;
→ No décimo quarto encontro da Comissão, em 21.07.1982, discuti-se a “Elaboração do
Código de Urbanização e Edificação para as área faveladas no Projeto Rio, através da
51

Fundrem”. Outro passo importante para a consolidação das favelas da Maré no que tange à
urbanização da área;
→ A décima quinta reunião ordinária da Comissão realiza-se em 29.07.1982 e tem como foco
principal, pela terceira vez, a solicitação dos “Presidentes de Associações de Moradores da
Maré, sobre a participação do BNH, nas reuniões dessa Comissão, através de um memorial”.
→ No décimo sexto encontro, em 11.08.1982, a Comissão debate a “Posição dos trabalhos de
inscrição para o Conjunto do Canal do Cunha através da Cehab”;
→ A décima sétima reunião ocorre em 17.08.1982, onde é analisado a “Instalação provisória
da Polícia Militar próximo ao escritório de obras da Cehab”. A presença de um destacamento
policial na área da Maré naquele momento, se torna imprescindível;
→ Em 24.08.1982 acontece a décima oitava reunião onde é apresentado aos presentes que “A
Codefam acusa o BNH de contratar pessoas da área da Maré para fazer um trabalho paralelo
junto às comunidades”. Essa medida torna os trabalhos dos órgãos envolvidos no Projeto Rio
inviável, pois ‘essas pessoas da área da Maré’ eram, em boa parte, associados ao tráfico local.
→ No encontro do dia 01.09.1982, na décima nona reunião da Comissão, coloca-se em
questão que “A Comissão toma ciência que foi entregue 1.546 casas no Conjunto Setor
Pinheiros em 26.08.1982 e também a ocupação dos apartamentos do Canal do Cunha, por
parte do BNH, sem o conhecimento de ‘todos’ dessa Comissão”;
→ A vigésima reunião ordinária da Comissão, realizada em 15.09.1982, tem como ponto
principal de debate o ponto em que “A Cehab reclama que ‘não foi convidada’ para a
inauguração das casas da recém criada Vila do João”. Mais uma vez evidencia-se a falta de
comprometimento por parte do BNH em se manter próximo dos órgãos associados no Projeto
Rio e a população local;
→ No vigésimo primeiro encontro, em 22.09.1982, a discussão concentra-se no
“Representante da Fundação Leão XIII que reclama que ‘Elementos da Chamada Equipe de
Apoio27’, contratada pelo BNH, estaria coibindo a atuação de representantes do Estado e do
Município no processo cotidiano dos órgãos envolvidos no Projeto Rio, como apresentado na
décima oitava reunião;
→ E para finalizar, no vigésimo segundo encontro dessa Comissão, em 06.10.1982, há o
“Pedido do Corpo de Bombeiros para a cessão da área de 1.112,28 m2 para a instalação de um

27
Em matéria do Jornal A Luta Democrática dizia que “O gerente da carteira Promorar do BNH, Edgar Gurgel
do Amaral, negou que o banco tivesse contratado marginais para orientar a transferência das famílias. Disse que
sua remoção foi feita com apoio da Comunidade, onde há muitos marginais, “com os quais mantemos um ótimo
relacionamento, e a sua ajuda foi espontânea” (FAVELADOS..., 1983).
52

destacamento na Vila do João”. Assim como o destacamento policial, era fundamental, que o
Corpo de Bombeiros tivesse um destacamento na área da Maré naquele momento.
A seguir irei apresentar algumas matérias jornalísticas sobre os pontos que
consideramos ‘negativos’ na atuação da Comissão de Desenvolvimento Social da Área da
Maré, principalmente, no que se refere à entrega dos apartamentos do Conjunto Esperança.
Em 19.10.1982, o Jornal do Brasil, noticiava a invasão no Conjunto Esperança:

Armas sacadas não chegaram a disparar, mas houve muito tumulto, com
empurrões e correria, quando centenas de favelados da área da Maré,
arrombaram, invadiram e ocuparam, ontem à tarde, os apartamentos do
conjunto Esperança, da Cehab. Móveis, colchões e pessoas entraram pelos
portões abertos a pontapés ou pelas janelas quebradas, marcando o direito de
quem chegasse primeiro. Ao todo, 320 apartamentos, foram invadidos, numa
ação decidida durante o final de semana em reuniões de pessoas inscritas na
Cehab e que temiam ficar sem seus apartamentos, inaugurados mês passado
mas ainda não distribuídos. O órgão estadual informou, à noite, estar
buscando uma solução pacífica para o impasse (FAVELADOS..., 1982).

Mais adiante, nesta mesma matéria, o jornal afirmava que, em relação à invasão:

A Assessoria de Comunicação Social da Cehab-RJ informou que, a propósito


da invasão de apartamentos no Conjunto Esperança, deve esclarecer que
sobre a invasão, verificou-se tratar-se de grupos oriundos do Parque
Proletário Roquete Pinto, com as quais a Comissão de Desenvolvimento
Social da Área da Maré, criada por ato do Governo do Estado, já mantinha
entendimentos para cessão de imóveis. A eles, assegurou-se um
processamento regular do pedido de atribuição de apartamentos. Após esse
procedimento, as 11 famílias prontificaram-se e realizaram a desocupação de
apartamentos irregularmente ocupados. Acrescenta-se a isso que a Comissão
de Desenvolvimento Social da Área da Maré, integrada por representantes
de todas as associações de moradores dos parques proletários da Maré,
definiu prioridades na indicação de famílias a receber os imóveis do
Conjunto Esperança. A prioridade foi dada aos grupos de familiares
ocupantes de casas nas palafitas, em seguida, aos moradores de casas da área
consolidada das favelas, que se dispusessem a ceder seus imóveis às famílias
oriundas das palafitas, sem renda para os apartamentos (FAVELADOS...,
1982).

O Jornal Folha de São Paulo, edição de 20.10.1982, exibiu uma pequena matéria
sobre as denúncias de corrupção e favorecimento na entrega de apartamentos no Conjunto
Habitacional Esperança:
A datilógrafa da Telerj, Ligia Machado Pereira, afirmou ontem que “tive
que dar meu telefone, no valor de Cr$ 250 mil”, ao presidente da
Associação de Moradores do Parque União, Custódio Balardino, para poder
tomar posse do apartamento que comprou da CEHAB, no conjunto
residencial Esperança, invadido há dois dias por cerca de 600 pessoas, no
Rio de Janeiro. Ela foi a única que se identificou ao fazer denúncias sobre
corrupção e favorecimento na entrega dos 1.400 apartamentos do conjunto,
que foi construído pelo governo do Estado para atender aos favelados da
Maré, dentro do Projeto Rio. Outras pessoas, sem dar o nome, acusaram os
dirigentes das sete associações de moradores da Maré de cobrar entre Cr$
200 mil e Cr$ 600 mil para a entrega das chaves aos proprietários dos
apartamentos (CORRUPÇÂO..., 1982).
53

O Jornal O Globo de 21.10.1982 noticiava que “Invasores do conjunto: Cehab inicia


o cadastro”, onde citava as manobras de Manoelino Silva nas vendas de apartamentos:

Um dos mais tensos era o motorista Sebastião Alexandre da Silva. Ele queria
conversar com alguém da Cehab para saber se receberia de volta os Cr$ 100
mil pagos a Manolo para ganhar um dos apartamentos. O motorista contou
que dera a Manolo, que além de presidente da Associação do Parque da
Maré, é presidente da Comissão de Defesa da Área da Maré (Codefam), o
dinheiro em troca da seguinte declaração, em papel timbrado da primeira
entidade: “Da Codefam para a Comissão de Desenvolvimento Social da Área
da Maré. Declaração. Declaro para os devidos fins e direitos que o Sr.
Sebastião Alexandre da Silva reside na Rua Santo Antônio nº 13, no Parque
Maré, pagando aluguel em substituição ao Sr. Manoel Antônio da Silva,
sendo a residência de propriedade do próprio, cadastrado sob o nº 303013-A.
O mesmo é verdade. Assino e dou fé. Assinado Manoelino Silva”
(INVASORES..., 1982).

Em matéria de 22.10.1982, do Jornal do Brasil, “Líder favelado é procurado por


venda ilegal de moradia”, a reportagem dizia que:
A 21ª Delegacia Policial está procurando o presidente da Comissão de
Defesa dos Favelados da Maré (Codefam), Manoelino da Silva, porque
surgiu contra ele a primeira denúncia formal de venda irregular de
apartamentos no Conjunto Esperança, de Cehab, invadido há cinco dias.
Chorando e tremendo muito, com uma filha de nove meses no colo, Maria
de Lourdes Rodrigues, de 29 anos, contou ao delegado Geraldo Proccoli
que na terça-feira passada de Cr$ 200 mil a Manoelino – conhecido como
Manolo – pelo apartamento 501 do bloco 106, com a garantia de que não
teria nenhum problema com a Cehab (LÍDER..., 1982).
Foto 11 – Seu Manolo

Fonte: Jornal do Brasil, edição 197, de 22.10.1982. p. 14.

Em 23.10.1982, o Jornal do Brasil destacava que a “Polícia ainda não encontrou


líder da Maré”:
Manolo, segundo a polícia, fazia os contatos entre os favelados e a Cehab e
está desaparecido. Os policias souberam ontem que ele é ligado à políticos
com influência no Governo do Estado e funcionários do Projeto Rio.
Segundo a polícia, os presidentes das associações de favelas tinham
intermediários para oferecer apartamentos do Conjunto Esperança
(POLÍCIA..., 1982).

Em 23.10.1982, o Jornal O Fluminense noticiava que eram “Denunciados atos


ilícitos na Maré”, onde afirmava que:
“O Governador errou ao dar poderes a Manoelino Silva, presidente da
Associação de Moradores da Maré, e a Custódio Belarmino, do Parque
União, para cadastrarem os favelados em condições de receberem
apartamentos na Vila”. A declaração é Jorge Peixeiro, morador do
Conjunto Nova Esperança, ao denunciar os atos ilícitos praticados pelos
dois líderes comunitários da área da Maré que, segundo ele, “primeiro
acomodaram seus parentes, depois passaram a cobrar até Cr$ 300 mil pela
carta que dá direito à posse do apartamento” (DENUNCIADOS..., 1982).
54

O Jornal Folha de São Paulo noticiava, em 25.10.1982, que o ministro Mário


Andreazza quer saber as causas da invasão no Conjunto Habitacional Esperança:

O Ministro do Interior, Mario Andreazza, disse que “interessa ao governo


saber as causas da invasão do Conjunto Esperança, no Rio, porque nós somos
os financiadores da obra”. E acrescentou: “esperamos que a Cehab (Cia.
Estadual de Habitação) encontre a melhor solução possível para o problema”.
Segundo ele, o conjunto, com 1.400 apartamentos, não faz parte do Projeto
Rio, apesar de estar situado ao lado da área para onde estão se transferindo os
moradores das favelas da Maré. A invasão ocorreu na última segunda-feira e
até ontem a Cehab não conhecia o número exato de apartamentos ocupados
(ANDREAZZA..., 1982).

Em 26.10.1982, em reportagem do Jornal O Globo, denominada “Líder favelado diz


que não vendeu apartamento”, cita que:

O Presidente da Associação de Moradores da Favela da Maré, Manoelino


Silva, o Manolo, desaparecido há uma semana, desde a invasão do Conjunto
Esperança e procurado pela polícia, apresentou-se ontem na 21ª Delegacia e
negou ter recebido Cr$ 200 mil de Maria de Lourdes Rodrigues para conseguir
um apartamento da Cehab (LÍDER..., 1982).

Em outra matéria, agora do Jornal do Brasil, de 08.01.1983, os invasores desses


apartamentos estavam receosos de serem expulsos e tentavam reclamar junto ao governador:

Preocupadas com a provável expulsão e com o processo de esbulho em que


poderão ser enquadradas, delito passível de punição com prisão ou multa,
cerca de trinta pessoas, invasoras do Conjunto Esperança, da Cehab, foram
até o Palácio Guanabara, mas não conseguiram o que queriam: ser recebidas
pelo Governador Chagas Freitas para pedirem regularização da ocupação
dos apartamentos onde moram. Todas alegam ser ex-moradoras da área da
Favela da Maré, portanto, com direito à ocupação dos imóveis. Recebidas
pelo Secretário de Governo, Marcial Dias Pequeno, foram encaminhadas por
ele ao presidente da Cehab, Heitor Vignolli. Ao final do encontro, as pessoas
se mostravam decepcionadas... (INVASORES..., 1983).

A edição de 06.11.1984 do Jornal Última Hora, intitulada “Maré troca líderes para
cobrar promessas”, afirmava a real situação política envolvendo os presidentes das
associações de moradores locais:

Todos os presidentes de associações de moradores das sete favelas da área


da Maré estão sendo substituídos pelos moradores da região, acusados de
inoperância e desprezo pelos problemas das comunidades que representam.
Eles foram os primeiros a ser beneficiados pelo Projeto Rio e, corrompidos,
não têm mais como levantar a voz em nossa defesa perante o BNH, disse
Conceição Maia, secretária geral da Associação dos Moradores da Favela do
Timbáu, que já substituiu dois presidentes considerados inoperantes. A
substituição desses presidentes é o início de um movimento que, segundo
ela, a médio prazo irá reivindicar do Ministério do Interior e do BNH todas
as promessas feitas em nome do Projeto Rio, iniciado em 79 com o objetivo
de beneficiar cerca de 250 mil pessoas (MARÉ..., 1984).
55

Entre 1984 e 1985, o PROJETO RIO perde forças e, essencialmente, verbas


provenientes do BNH, que é extinto pelo Decreto-Lei nº 2.291, de 21.011.198628. Sendo
assim, as últimas notícias que diziam sobre o programa pelos jornais da época, referiam-se
não às entregas de títulos de propriedades, mas sim, de supostas tentativas de invasões nos
conjuntos habitacionais construídos no ‘Conjunto Pinheiros’ atual ‘Conjunto Bento Ribeiro
Dantas’, como citado nas matérias dos jornais anteriormente.
A título de observação, trago neste momento, a análise de Caroline Rocha dos
Santos no que tange aos apartamentos do Conjunto Habitacional Esperança que, a princípio,
não estaria disponível para os moradores palafitados da área da Maré. Segundo ela:

O Conjunto Esperança foi destinado, a princípio, aos funcionários do


DNOS, com faixa salarial maior do que o público ao qual se dirigia as
ações do Promorar. Devido à aproximação das eleições estaduais de 1982 e
a pressão feita pelos favelados da região, foi criada uma comissão de
desenvolvimento social da área da Maré composta por membros da Cehab,
Fundrem, Fundação Leão XIII, Secretaria Municipal de Desenvolvimento
Social (SMD), Arquidiocese do Rio de Janeiro e a Comissão de Defesa das
Favelas da Maré (Codefam) que criou novos critérios para a ocupação dos
conjuntos onde se priorizou os moradores das palafitas, os moradores da
área consolidada cadastrados pela Fundrem, os moradores da área
consolidada que se comprometessem a repassar seu imóvel em troca de
outro neste conjunto e inquilinos da região da Maré, respectivamente. As
associações de moradores ficaram responsáveis por indicar os aptos a
ocuparem os imóveis do Conjunto Esperança, donde começam a surgir
denúncias de que algumas lideranças, juntamente com funcionários da
Cehab, estariam cobrando valores para realizar este cadastro. Assim, sem a
garantia de que o cadastro era a fonte segura para acessar a casa própria,
em outubro de 1982 o Conjunto Esperança é ocupado por moradores da
região da Maré e por pessoas de outros lugares da cidade, conforme noticia
a matéria do Jornal do Brasil: “[...] O processo da invasão, iniciado na
surdina domingo à noite, foi decidido e organizado no fim de semana em
reuniões de pessoas inscritas na Cehab- construtora do Conjunto –mas que
temiam ficar sem apartamentos, vazios desde a inauguração, dia 17 de
setembro. Consumada a ocupação de 320 imóveis, os moradores,
revoltados, justificavam a rebelião acusando intermediários da Cehab e das
associações de moradores das favelas da Maré de cobrarem propinas de ate
Cr$ 500 mil para a entrega das chaves. Assustado, nervoso, encurralado em
um apartamento, o funcionário da Cehab e coordenador da ocupação do
Conjunto, Helio Sampaio, não se surpreendeu com as acusações mas
garantiu: ‘ – aqui não se paga nada. Só Cr$ 1 mil 600 da taxa de inscrição
(Favelados da Maré invadem conjunto pela janela. Jornal do Brasil. Rio de
Janeiro, 19/10/1982. 1º Caderno, Cidade, p. 08).

Em entrevista realizada com o Senhor Joaquim Agamenon Santos29 – presidente da


Associação de Moradores do Morro do Timbaú por 32 anos e um dos diretores da
CODEFAM à época do PROJETO RIO e das reuniões da Comissão de Desenvolvimento
Social da Área da Maré –, foi constatado alguns pontos imprescindível da atuação dessa

28
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del2291.htm Acesso em 10.12.2015.
29
Falecido em novembro de 2018.
56

instituição na Maré. Para ele cada diretor da CODEFAM e da Comissão de Desenvolvimento


Social da Área da maré pensavam politicamente diferente. Em sua fala, a Fundação Leão XIII
exercia um importante papel político na Maré, não só na CODEFAM, mas também, na
Comissão e nas seis associações de moradores... Havia a falta de comunicação entre os
presidentes e os moradores. Em relação a troca de presidentes das Associações de Moradores
devido à inoperância deles, acusados de serem beneficiados pelo Projeto Rio (conforme
matéria do Jornal Última Hora, de 06.11.1984, dita anteriormente), ele afirma que não... Isso
foi conversa fiada... Não existiu isso não... Foi papo de jornal e nega que algum presidente
tenha recebido casa ou apartamento via Projeto Rio.
Em outra entrevista, desta vez mais recente, realizada em 26.05.2019 com uma
colaboradora da Associação de Moradores do Morro do Timbáu à época, Cleuma Lucindo,
afirma que houve sim corrupção por parte do presidente desta instituição.
Ela afirma que ouviu várias histórias que diziam que o presidente da Associação de
Moradores cobrava uns trocados aos moradores em troca da “declaração” que daria direito a
um apartamento no Conjunto Esperança. Primeiro, ele favoreceu parte de sua própria
família... Depois, ele ‘vendia’ para os moradores por um preço bem camarada... E ele não foi
o único... Disse que lá na associação ouvia várias histórias que envolviam os outros
presidentes das associações de moradores. O Manolo, do Parque Maré, e o Belarmino, do
Parque União. Mas acreditava que ‘todos’ os outros presidentes também se beneficiaram com
esse tipo de comércio. Concluindo, ela afirma que não tem idéia do número exato de
apartamentos que foram negociados, pois esse trato era feito na surdina.
Desta maneira, “a criação (ou estimulo à criação) dessas instâncias de articulação,
para servir como instâncias de representação e interlocução com os órgãos públicos, é prática
recorrente dos governos locais” (TOMMASI e VELAZCO, 2015, pág. 09).
O aparecimento desses órgãos nas favelas cariocas teve início, principalmente, da
necessidade de dois pontos relevantes, como afirmam Fortuna e Fortuna *1974):

As associações de moradores surgiram espontaneamente da união de


residentes em favelas que ‘procuravam alcançar melhoramentos e defender
interesses próprios das comunidades’. Antes da existência das associações de
moradores, os favelados, que não contavam com lideranças internas
organizadas, eram explorados por políticos que prometiam pequenos favores:
um cano d'água, um sapato ou uma roupa, em troca de votos. Esta situação,
além de só possibilitar poucos benefícios, era perigosa: se uma favela
apoiasse um candidato do PTB e esse perdesse as eleições, a favela também
perdia a ajuda do candidato vencedor, não apoiado por ela. Cansados dessa
situação, os favelados começaram a perceber que somente a união poderia
levar à solução de seus principais problemas (p. 104). Grifo nosso.
57

Com os testemunhos do Senhor Joaquim Agamenon Santos e da ex-funcionária da


Associação de Moradores do Morro do Timbáu, Cleuma Lucindo, vistos anteriormente, que
foram de muita relevância para tentar minimizar as últimas incertezas quanto à atuação da
CODEFAM e da Comissão de Desenvolvimento Social da Área da Maré à época do Projeto
Rio, acredito ter encontrado as respostas que esperávamos para as questões que propus na
sugestão desta pesquisa.
58

5 – CONCLUSÃO

Figuras ilustres da ‘Sociologia Urbana’, Anthony e Elizabeth Leeds publicaram em


1978, com uma reedição em 2015, a obra ‘A Sociologia do Brasil Urbano”, onde afirmam que
a favela é “uma unidade sociogeográfica facilmente observável, que possui todas as formas de
organização como características de localidade30” (2015, p. 82). Afirmam, ainda, que esses
espaços segregados “tem uma ecologia, ou seja, uma distribuição social de atividades através
de seu território conforme a topografia, os solos e outras condições geográficas” (Ibidem).
Assim sendo, percebemos que as associações de moradores agem, como afirmam
Leeds e Leeds, numa distribuição social de atividades voltados para os interesses de seus
moradores, ora atuando em benefícios deles, ora atuando de forma ‘política’ e renegando sua
função social que é informar sobre acontecimentos em prol dos moradores locais, como
observados tanto na CODEFAM quanto na Comissão de Desenvolvimento Social da Área da
Maré.
Destarte, o associativismo comunitário executado por associações de moradores em
áreas segregadas da Cidade do Rio de Janeiro (áreas essas localizadas primariamente em
favelas), mostra-se como um instrumento essencial de defesa, para seus moradores, em suas
reivindicações contra as imposições dos governos em suas diversas atuações.
O Projeto Rio não foi o primeiro programa de urbanização em favelas na Cidade do
Rio de Janeiro. Voltando ao passado, pode ser verificado a atuação de alguns órgãos do
governo, principalmente, da CODESCO (Companhia de Desenvolvimento de Comunidades),
que estabeleceu no Rio, a título de projeto-piloto e em caráter experimental, a urbanização
integral da favela de Brás de Pina (VALLADARES, 1981), mas foi o primeiro programa,
como dito durante esta pesquisa, que não se utilizou da ‘política de remoção’, havendo
apenas, realocações de moradores da área palafitada para novas áreas criadas no mesmo
território da Maré.
Durante este trabalho podemos perceber que o Projeto Rio serviu como uma forma
de organização territorial do espaço físico das Favelas da Maré, essencialmente, no que se

30
Os autores trabalham com a hipótese de localidade ao invés de comunidade devido às confusões existentes
com relação a este último, usado para designar as etnografias de lugares específicos. Para eles a ‘Comunidade’
“é tomada como uma unidade socioestrutural de algum tipo. Em geral, ela tem sido considerada como uma
forma de microcosmo de uma espécie de macrocosmo chamado sociedade total, ou algo equivalente” (LEEDS &
LEEDS, 2015. P. 67). Já localidade, esses autores definem como sendo uma “organização social que pode ser
vista como um sistema altamente flexível de adaptação humana. Sua extrema flexibilidade e fluidez, sua
complexidade não mapeada e não especificada permitem-lhe uma ampla gama de respostas para uma variedade
quase infinita de acontecimentos, contextos e exigências” (Ibidem, p. 73).
59

refere ao planejamento urbano local. A Maré se transformou por completo, principalmente,


após o término do Programa de Erradicação da Subhabitação. Basta lembrarmos que, durante
o Projeto Rio, havia na Maré, apenas seis comunidades e, atualmente, há 17 micros bairros
contidos no atual bairro maré, como apresentado anteriormente.
Identifiquei que a Comissão de Desenvolvimento Social da Área da Maré, como um
exemplo de organização voltada para o associativismo comunitário, amplificou no território
da Maré, uma ‘atividade de pressão’, perante ao poder público, na incumbência de que os
moradores da Maré fossem ‘ouvidos’ por estes, durante a implementação do Projeto Rio.
Mesmo que de forma tímida.
Mesmo que a participação da Comissão durante o Projeto Rio fosse, de certa forma
‘benéfica’ para os interesses de parte da população da Maré, como visto anteriormente, essa
participação foi, de certa forma, incipiente e sem estrondos, pois como afirma Caroline Rocha
dos Santos, a atuação da CODEFAM foi efêmera: “além da oposição, por parte dos favelados,
a qualquer ação que representasse a retirada dos moradores da Maré para outras partes da
cidade, houve duras críticas no que tange a ausência de canais que viabilizassem a
participação efetiva da população nos rumos e processos tomados pelo Projeto Rio”
(SANTOS, 2014, pp, 654-655).
Como forma de conclusão deste trabalho me apropriei dos conceitos de Espaço e
Território (conceitos geográficos), Associativismo Comunitário (Ciências Sociais) e Favela
(Ciências Sociais) para dar conta do objeto desta pesquisa.
Concluindo esta pesquisa em relação à Comissão de Desenvolvimento Social da
Área da Maré:
→ Essa instituição foi criada em 18.03.1982, através do Decreto Estadual nº 5.371, para
suprir a defasagem de informações que a população da Maré não tinha acesso, principalmente,
no que se refere a sua função primordial, que era o de ordenar a entrega de apartamentos dos
conjuntos habitacionais criados à época do Projeto Rio. Sua estrutura organizacional se deu
através deste decreto que nomeou os seguintes órgãos: A Pastoral de Favelas em nome da
Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro; Codefam; BNH; Cehab; Fundação Leão
XIII, Fundrem e Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social. Tendo como presidente,
em eleição na primeira reunião ordinária da Comissão, realizada em 13.04.1982, o Arquiteto
da Cehab, Sr. Heitor Annes Dias Vignoli.
→ Sua atuação, de um modo geral, pode ser classificada por este pesquisador como positiva,
na medida em que, durante seu tempo vigência, essa instituição muito colaborou nas
reivindicações dos moradores em relação ao PROJETO RIO, principalmente, no que tange à
60

conduta em relação ao planejamento de distribuição dos apartamentos dos conjuntos


habitacionais na Maré. Contudo, sua atuação não foi 100% positiva. Como vimos, houve
momentos de ‘falta de engajamento’ maior por parte de alguns diretores, principalmente, no
que tange a possíveis ‘manipulações políticas’ durante o período em que essa Comissão
atuou, evidenciados nos casos de corrupções de venda de apartamentos, como apresentados
anteriormente. Essa ‘fragilidade’ foi evidenciada, principalmente, na relação de alguns
diretores, tanto com a Fundação Leão XIII e a Cehab, quanto em relação aos órgãos
envolvidos no PROJETO RIO. Um ponto que merece destaque numa melhor atuação desta
Comissão foi, sem dúvidas, a completa ‘ausência’ de representantes do BNH nas reuniões
dessa Comissão. É possível vislumbrar que alguns fatos poderiam ser evitados, como por
exemplo, a invasão por parte de alguns moradores ao Conjunto Habitacional Esperança.
→ De início, a participação de órgãos da estrutura municipal, estadual e federal, indicava que
a finalidade de atuação da Comissão, poderia ter tido um final mais próximos aos anseios da
população da Maré mas, como apresentado anteriormente, a falta de equidade por parte de
algumas instituições, a ausência do ‘interesse no bem comum’ desses órgãos em relação à
conduta durante a implementação do Projeto Rio na Maré guiou a Comissão ao fracasso no
que diz respeito à sua finalidade principal.
→ Quanto ao PROJETO RIO, percebemos que, após a incompleta implementação do
programa (a proposta era por dez anos: 1979 à 1989 e durou até meados de 1985) o que se viu
no espaço territorial da Maré foi, sem dúvida nenhuma, um novo rearranjo de sua população,
distribuída por suas 17 comunidades que formam o atual ‘Complexo da Maré’. O PROJETO
RIO serviu, desta forma, como um instrumento fundamental no rearranjo urbano na Maré que
ora presenciamos.
Concluo que o objetivo proposto nesta pesquisa foi alcançado!
61

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71

A N E X O S
72

Anexo 01 – Atas das Reuniões Ordinárias da Comissão de Desenvolvimento Social da Área da Maré
Reunião Data Local Representantes Principais pontos

Cehab, Pastoral de Favelas, Indicação do presidente da


CEHAB/RJ Codefam, Fundação Leão Comissão; Definição dos
1ª 13.04.1982 (Mercado São XIII, S. M. D. S., Fundrem, objetivos da Comissão;
Sebastião/Penha) Associação de Moradores do Estabelecimento de
Parque Major Rubens Vaz critérios de ocupação de
cada conjunto
habitacional.

A Comissão reitera
Cehab, Pastoral de Favelas, pedido junto ao BNH
CEHAB/RJ Codefam, Fundação Leão por um representante
(Mercado São XIII, S. M. D. S., Fundrem, nas reuniões; Reclamação
2ª 19.04.1982 Sebastião/Penha) Associação de Moradores do da Codefam com o BNH
Parque Major Rubens Vaz sobre a entrega de títulos
definitivos aos
proprietários da Maré, não
somente do Timbáu, que
já ocorreu.

Cehab, Codefam, Pastoral de Instalação de posto


Favelas, Fundação Leão provisório do Instituto
3ª 23.04.1982 CEHAB/RJ XIII, S. M. D. S., Fundrem, Félix Pacheco;
(Mercado São Associação de Moradores do Solicitação ao TRE para
Sebastião/Penha) Parque Major Rubens Vaz e instalação de um posto
do Parque Roquete Pinto, p/ confecção de Título de
Cedae Eleitor.

Cehab, Codefam, Pastoral de Destinação de recursos


Favelas, Fundação Leão da Fundrem p/
XIII, S. M. D. S., Fundrem, construção de uma
4ª 30.04.1982 CODEFAM Associação de Moradores do passarela na Av. Brasil;
(Sede na Maré) Rubens Vaz, Roquete Pinto, Discussão entre Cedae e a
Baixa do Sapateiro Comissão sobre a
problemática da
água/esgoto.

Cehab, Codefam, Fundação Solicitação à Xª R.A. de


Leão XIII, S. M. D. S., uma agência de
Fundrem, Associação de empregos na Maré;
CODEFAM Moradores do Rubens Vaz, Reiteração das
5ª 07.05.1982 (Sede na Maré) Roquete Pinto, Baixa do solicitações: ao TRE do
Sapateiro e Parque União, posto de feitura do Título
Cedae, S.M. de Saúde, Xª Eleitoral e do R.G. e ao
R.A. BNH, de um representante
nas reuniões dessa
Comissão.

Cehab, Pastoral de Favelas, Proposta da S.M. de


6ª 13.05.1982 G.R.B.C. IMPÉRIO Codefam, Fundação Leão Saúde do “Programa de
DE BONSUCESSO XIII, S. M. D. S., Fundrem, Saúde Educativo” na
Associação de Moradores do Maré; Criação de um
Rubens Vaz, Roquete Pinto Posto de Saúde nos
e Parque União, Cedae, S.M. Conjuntos Habitacionais
de Saúde, Feema, Faferj, Xª do Projeto Rio na Maré
R.A.
73

Cehab, Pastoral de Favelas, Negativa do BNH de


Xª REGIÃO Codefam, Fundação Leão enviar um representante
7ª 21.05.1982 ADMINISTRATIVA XIII, S. M. D. S., às reuniões dessa
Associação de Moradores do Comissão; Aprovação do
Rubens Vaz, Baixa do BNH dos equipamentos
Sapateiro, Roquete Pinto, comunitários para os
Parque União, Vila Sto. Conjuntos Habitacionais
Amaro, Cedae, Xª R.A., do Projeto Rio
Fundo Rio.

Cehab, Pastoral de Favelas, Solicitação de


Codefam, Fundação Leão asfaltamento na área
8ª 28.05.1982 GALPÃO NA XIII, Fundrem, Associação consolidada na Maré pelo
MARÉ de Moradores do Rubens DER/RJ; Em relação ao
Vaz, Baixa do Sapateiro, valor da taxa de
Roquete Pinto, Parque atribuição dos imóveis, a
União, DER/RJ, S.M. de Cehab indica que irá
Obras e Serviços Públicos, corresponder a uma
Xª R.A. prestação para o
favelado.

Cehab, Codefam, Faferj,


Fundação Leão XIII,
9ª 04.06.1982 GALPÃO NA Fundrem, S. M. D. S., Divulgação, por parte do
MARÉ Associação de Moradores do I.M.A.C., do projeto
Rubens Vaz, Baixa do “Palco sobre Rodas”;
Sapateiro, Roquete Pinto, Divulgação pela Xª R.A.
Parque União, Timbáu, do “Projeto Cidadão” na
Nova Holanda, Instituto Maré.
Municipal de Artes e
Cultura, Xª R.A. e
Representante dos CHPs da
Nova Holanda

Cehab, Pastoral de Favelas, Discussão sobre a


Codefam, Fundação Leão utilização, de forma
XIII, Fundrem, Associação errônea, do “Certificado
10ª 15.06.1982 GALPÃO NA de Moradores do Rubens de Cadastramento”
MARÉ Vaz, Roquete Pinto, Parque assinado pelo BNH ou o
União, Timbáu, Nova aval das Associações de
Holanda Moradores da Maré, por
mais de um mesmo
morador

A Codefam expressa seu


desalento às polêmicas
11ª 22.06.1982 CEHAB/RJ Cehab, Codefam, Fundação criadas em torno dessa
(Mercado São Leão XIII, Fundrem, Comissão; Aceitação de
Sebastião/Penha) Associação de Moradores do sindicância sobre nomes
Rubens Vaz, Roquete Pinto, de candidatos aos
Parque União e Baixa do apartamentos que não
Sapateiro constassem do cadastro
da Fundrem/Leão XIII
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Reivindicação da Pastoral
de Favelas de um
integrante do “Jornal
União da Maré” nas
Cehab, Pastoral de Favelas, reuniões dessa Comissão
Codefam, Fundação Leão (Sendo negada);
XIII, S.M.D.S., Fundrem, Representante do
12ª 07.07.1982 E.M. BAHIA Associação de Moradores do Timbáu questiona que
Rubens Vaz, Roquete Pinto, sua localidade está sendo
Parque União, Baixa do titulada e a Prefeitura
Sapateiro e Timbáu não elaborou um ato
contendo as normas de
construções e as
Posturas municipais
para estabelecer a
“Convenção de
Condomínio”.
Cehab, Codefam, Fundação
Leão XIII, S.M.D.S., Proposta da S.M.P. da
Fundrem, Associação de criação de um grupo de
CENTRO Moradores do Rubens Vaz, trabalho com
13ª 14.07.1982 ADMINISTRATIVO Parque União, Baixa do participação de
DA CEHAB/RJ Sapateiro, Timbáu, Parque entidades a nível
Maré, Nova Holanda, estadual/municipal p/
Roquete Pinto e Sto. Amaro, acelerar os trabalhos dos
Subsecretaria de “Projetos de
Planejamento de Obras e Alinhamentos na Área
Serviços Públicos, Faferj, da Maré.
Xª R.A.
Cehab, Codefam, Fundação
Leão XIII, S.M.D.S., Elaboração do
Fundrem, Associação de “Código de
Moradores do Rubens Vaz, Urbanização/Edificação
14ª 21.07.1982 CEHAB/Escritório Parque União, Baixa do para as área faveladas
de Fiscalização na Sapateiro, Parque Maré, no Projeto Rio”, através
Maré Nova Holanda, Roquete da Fundrem.
Pinto e Sto. Amaro, Xª R.A.
e Faferj

Solicitação, por parte dos


Bombeiros, de uma área
Cehab, Codefam, Pastoral de no Conjunto do Canal do
Favelas, Fundação Leão Cunha p/ instalação de um
15ª 29.07.1982 CEHAB/Escritório XIII, S.M.D.S., Associação pelotão; Através de um
de Fiscalização na de Moradores do Rubens memorial, os presidentes
Maré Vaz, Parque União, Baixa de Associações de
do Sapateiro, Nova Holanda, Moradores da Maré,
Roquete Pinto e Timbáu solicitam a participação
do BNH, nas reuniões
dessa Comissão.

Cehab, Codefam, Fundação


Leão XIII, Fundrem, Posição dos trabalhos de
16ª 11.08.1982 CEHAB/Escritório S.M.D.S., Associação de inscrição p/ o Conjunto
de Fiscalização na Moradores do Rubens Vaz, do Canal do Cunha
Maré Parque União, Nova através da Cehab.
Holanda, Roquete Pinto e
Sto. Amaro
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Cehab, Codefam, S.M.D.S., Instalação provisória da


Fundação Leão XIII, Polícia Militar próximo
17ª 17.08.1982 CEHAB/Escritório Associação de Moradores do ao escritório de obras da
de Fiscalização na Rubens Vaz, Baixa, Parque Cehab; Solicitação de
Maré União, Roquete Pinto e 22º uma linha de ônibus na
Batalhão da Polícia Militar área da Maré.
Cehab, Codefam, S.M.D.S., O BNH indica que a
Fundação Leão XIII, remoção dos palafitados
Pastoral de Favelas, poderá iniciar em 26.08; A
Fundrem, Associação de Codefam acusa o BNH
18ª 24.08.1982 CEHAB/Escritório Moradores do Rubens Vaz, de contratar pessoas da
de Fiscalização na Baixa, Parque União, Área p/ fazer um
Maré Parque Maré, Roquete Pinto trabalho paralelo junto
e Sto. Amaro às comunidades da
Maré.
A Comissão toma ciência
Cehab, Codefam, S.M.D.S., que foi entregue 1.546
Fundação Leão XIII, casas no Conjunto Setor
Pastoral de Favelas, Pinheiros em 26.08 e
19ª 01.09.1982 CEHAB/Centro Fundrem, Associação de também a ocupação dos
Administrativo Moradores do Rubens Vaz, apartamentos do Canal
Parque União, Parque Maré, do Cunha, por parte do
Roquete Pinto, Timbáu e BNH, sem o
Sto. Amaro conhecimento de
“TODOS” dessa
Comissão.
Cehab, Codefam, S.M.D.S., A Telerj se compromete a
Fundação Leão XIII, instalar “orelhões” na área
Pastoral de Favelas, da Maré; A Cehab
Fundrem, Associação de reclama que “NÃO FOI
20ª 15.09.1982 CEHAB/Centro Moradores do Rubens Vaz, CONVIDADA” para a
Administrativo Parque União, Parque Maré, inauguração das casas
Roquete Pinto, Timbáu e da recém criada Vila do
Sto. Amaro, Xª R.A., e João.
Telerj
Representante da
Fundação Leão XIII
reclama que “Elementos
Cehab, S.M.D.S., Fundação da Chamada Equipe de
Leão XIII, Fundrem, Apoio”, contratada pelo
Associação de Moradores do BNH, estaria coibindo a
21ª 22.09.1982 CEHAB/Centro Rubens Vaz, Parque União, atuação de
Administrativo Roquete Pinto, Baixa, Nova representantes do
Holanda, Timbáu e Sto. Estado/Município no
Amaro processo cotidiano dos
órgãos envolvidos no
Projeto Rio.

Cehab, S.M.D.S., Fundação Pedido do Corpo de


Leão XIII, Codefam, Bombeiros para a cessão
CEHAB/Centro Fundrem, Associação de da área de 1.112,28 m2
22ª 06.10.1982 Administrativo Moradores do Rubens Vaz, para a instalação de um
Parque União, Roquete destacamento na Vila do
Pinto, Baixa, Nova Holanda, João; Solicitação da
Timbáu e Sto. Amaro, Xª Fundação Leão XIII de
R.A. reserva de doze unidades
habitacionais no Conjunto
Esperança.
Fonte: Material cedido por Licia do Prado Valladares. Grifo nosso.

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