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Um efeito da era digital que ninguém previu está tirando o humor dos
ambientalistas. Até 2004, deverão ser descartados 315 milhões de micros em todo
o planeta. O entulho conta com a contribuição dos brasileiros: calcula-se que 850
mil máquinas ficarão obsoletas por aqui até o fim de 2001. O problema é maior do
que o espaço que monitores ou teclados ocupam na lata do lixo. Muitas peças
eletrônicas são feitas de metais pesados, como mercúrio, níquel, cádmio, arsênico
e chumbo, om efeitos tóxicos para a saúde do ser humano.
Não dá tempo para esperar que um dia a indústria crie o computador
biodegradável. O jeito de evitar que o veneno decomposto do "lixo eletrônico"
afete o usuário é armazenar equipamentos em aterros industriais superprotegidos
ou reciclá-los.
Em países onde o movimento ambientalista é mais forte, a reciclagem é o
método mais incentivado. "Japão, França, Suécia, Alemanha e Estados Unidos
desestimulam a manutenção dos aterros com a cobrança de impostos elevados",
diz a química Glória Nair Freire de Araújo, do Ceped (Centro de Pesquisa e
Desenvolvimento), um dos dois laboratórios de análise de pilhas e baterias
credenciados no Brasil. Quem procura se livrar de um micro obsoleto deve
procurar uma empresa de reciclagem. São poucas no país.
O tema da reciclagem de computadores começa a aparecer em círculos
especializados. Mas, por enquanto, a Convenção de Basiléia (1989) é a única
regulamentação internacional a respeito. Criada por representantes
governamentais, de ONGs e de indústrias de cerca de 120 países, entre eles o
Brasil, ela visa proibir o movimento de resíduos perigosos entre as fronteiras dos
participantes. "A sucata eletrônica entrou na lista dos componentes vetados há
apenas três anos", diz Marcelo Furtado, coordenador de campanha do
Greenpeace, um dos participantes. "Não existe controle sobre a doação de
equipamentos velhos – que muitas vezes viram lixo", alerta.
O interesse pela sucata eletrônica, em geral por parte de países em
desenvolvimento, tem motivos econômicos. Muitos computadores possuem
metais preciosos em sua composição, como a prata e o ouro (veja quadro). Além
de valiosos, 98% do ouro e da prata podem ser reutilizados. Uma das maiores
empresas de reciclagem na Itália, a Geodis Logistics, aproveita mais material.
Segundo seus cálculos, 94% dos componentes de um micro são reaproveitáveis. A
notícia interessou outras grandes empresas.
A IBM criou o Design for Environment, grupo que projeta peças que não
agridem a natureza, como soldas sem chumbo. Outras fabricantes, como a HP,
Compaq, Fujitsu, Toshiba, Dell, Sony, Sharp e Unisys participam de programas
"take back" (pegar de volta). O usuário paga uma taxa no ato da compra que
inclui os gastos com a devolução e reciclagem do material. É um jeito de ganhar
dinheiro e acabar com o entulho.
Fabricantes e lojas autorizadas que trabalham com pilhas e baterias
receberam um ultimato, no ano passado. O Conama (Conselho Nacional do Meio
Ambiente) deu 12 meses a essas empresas para encontrarem modos de recolher
baterias esgotadas. O prazo venceu em 23 de julho. Daqui a um ano, a reciclagem
ou o armazenamento em lugares seguros será obrigatório.
A resolução do Conama é ainda mais abrangente. Há um mês, embalagens
de pilhas e baterias têm de sair da fábrica com advertências sobre os riscos que os
metais podem causar ao ambiente. Pela primeira vez, a quantidade de mercúrio,
cádmio e chumbo tem de seguir padrões internacionais. Mas até julho, os dois
únicos laboratórios credenciados para esse tipo de análise – o Ceped e o Cetind –
na Bahia não haviam recebido produtos para examinar.
Resíduo lucrativo
[http://galileu.globo.com/edic/109/rep_ambiente.htm]