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FEIRA DE CIENCIAS - PROJETO DE IDEIA 1

Como funciona o mercado de roupa usada?


Caminhões carregados com fardos de roupa usada entram e saem da
Zona Franca de Iquique, mais conhecida como Zofri.
Este paraíso das compras abriga um imenso parque industrial onde
operam mais de mil empresas que comercializam seus produtos
isentos de impostos.
Seu lugar estratégico no norte do Chile - a poucos quilômetros do
porto do Iquique - transforma a área em um importante centro
comercial para outros países latino-americanos como Argentina,
Brasil, Peru e Bolívia.
Aqui estão instaladas ao menos 50 importadoras que diariamente
recebem dezenas de toneladas de peças de segunda mão que depois
são distribuídas por todo o Chile para revenda.
O negócio é imenso e completamente legal. De acordo com o
Observatório de Complexidade Econômica (OEC), uma plataforma
que registra diversas atividades econômicas pelo mundo, o Chile é o
maior importador de roupa usada na América do Sul, recebendo 90%
desse tipo de mercadoria na região.
Os proprietários das importadoras têm nacionalidades distintas:
alguns são de países longínquos como o Paquistão.
Com um domínio precário do espanhol, vários se recusam falar sobre
o assunto. "Ninguém quer se responsabilizar", diz um dos
importadores.
Após várias tentativas, a fundadora da PakChile, Paola Laiseca,
explica à BBC Mundo como funciona o negócio.
Nós trazemos roupa dos Estados Unidos, mas também chega da
Europa", diz ela, sentada no escritório de um imenso galpão onde se
acumulam vários fardos de peças de segunda mão.
A maioria dessas roupas foi doada a organizações de caridade em
países desenvolvidos. Muitas vão para locais de distribuição ou são
entregues a pessoas necessitadas.
Mas o que não é aproveitado (por defeito na peça, por exemplo)
segue para países como Chile, Índia ou Gana.
Laiseca explica que ao porto de Iquique chegam peças de qualidades
distintas.
"A roupa usada vem em sacos e nós aqui fazemos uma seleção
dividida em primeira, segunda e terceira categoria."
"A primeira é das melhores peças, sem defeitos, sem manchas,
impecáveis. A segunda pode ter peças sujas ou descosturadas. Na
terceira há produtos mais deteriorados", explica.
A empresária diz que as peças de terceira categoria são, sim,
vendidas (e que ela só descarta 1% de tudo o que é importado). Mas
autoridades locais ouvidas pela BBC Mundo afirmam que grande parte
acaba em lixões clandestinos.
"Sabe-se que ao menos 60% [do que se importa] é resíduo ou
descartável e é isso que forma os montes de lixo", afirma Edgard
Ortega, responsável pela área de meio ambiente na municipalidade
de Alto Hospicio.
No Chile é proibido descartar têxteis até em depósitos legais porque
causa instabilidade do solo. Assim, não há, em teoria local, para jogar
fora o que não se comercializa.
Laiseca reconhece que existem pessoas que recebem dinheiro para
descartar a roupa que não é vendida.
De acordo com Patricio Ferreira, prefeito de Alto Hospicio, os
importadores da zona franca "contratam carreteiros ou um caminhão
coletor e pagam para que deixem em qualquer lugar".
Carmen García, que veio da pequena cidade de Colchane, compra
roupa dos importadores para revender na imensa feira de La
Quebradilla, em Alto Hospicio. É possível encontrar marcas como
H&M, Pepe Jeans, Wrangler e Nike.
Os preços são incrivelmente baixos: por menos de US$ 1 é possível
comprar uma camiseta ou calças.
"Tudo o que você vê aqui vem da Zofri", diz ela, mostrando sua
barraca com araras cheias de roupa.
García diz que compra tudo por saco, sem garantia do que vem
dentro.
"Com sorte você se dá bem. Mas tem vezes que tudo acaba no lixo",
diz.
Quando questionada onde essa roupa vai parar, ela diz, sem dar
muitos detalhes, que as peças são doadas para pessoas necessitadas.

Contaminação
A indústria da moda está entre as mais poluentes do mundo, depois
da indústria do petróleo.
De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), ela é
responsável por 8% dos gases do efeito estufa e por 20% do
desperdício de água no mundo.
Para produzir uma peça de jeans são gastos algo como 7.500 litros
de água.
Além disso, grande parte da roupa está cheia de poliéster, um tipo de
resina plástica derivada do petróleo e que oferece grandes vantagens
em relação ao algodão: mais barato, pesa pouco, seca rápido e não
amassa.
O problema é que demora 200 anos para se desintegrar - o algodão
leva 2 anos e meio.
E aqui, no deserto do Atacama, a maioria das peças estão cheias
justamente de poliéster. Camisetas esportivas, trajes de banho ou
shorts brilham como novos, mas provavelmente estão há meses ou
anos nas pilhas de lixo.
Com o passar do tempo, as roupas se desgastam e liberam
microplásticos que acabam na atmosfera, afetando fortemente a
fauna marítima ou terrestre das cercanias.
Outra coisa que preocupam as autoridades são os incêndios que
anualmente ocorrem nos lixões clandestinos.
"Como não há um dispositivo legal, a única solução é queimar [a
roupa]. E a poluição da fumaça é um grande problema", explica
Eduardo Ortega. "São provocados incêndios anuais de grandes
proporções, que duram entre dois e dez dias."
Além disso, grande parte da roupa está cheia de poliéster, um tipo de
resina plástica derivada do petróleo e que oferece grandes vantagens
em relação ao algodão: mais barato, pesa pouco, seca rápido e não
amassa.
O problema é que demora 200 anos para se desintegrar - o algodão
leva 2 anos e meio.
E aqui, no deserto do Atacama, a maioria das peças estão cheias
justamente de poliéster. Camisetas esportivas, trajes de banho ou
shorts brilham como novos, mas provavelmente estão há meses ou
anos nas pilhas de lixo.
Com o passar do tempo, as roupas se desgastam e liberam
microplásticos que acabam na atmosfera, afetando fortemente a
fauna marítima ou terrestre das cercanias.
Outra coisa que preocupam as autoridades são os incêndios que
anualmente ocorrem nos lixões clandestinos.
"Como não há um dispositivo legal, a única solução é queimar [a
roupa]. E a poluição da fumaça é um grande problema", explica
Eduardo Ortega. "São provocados incêndios anuais de grandes
proporções, que duram entre dois e dez dias."

Soluções?
O problema da roupa no deserto do Atacama não é novo.
Faz cerca de 15 anos que os descartes têxteis se acumulam nesse
lugar icônico, mas agora o problema tem atingido proporções
gigantescas, afetando 300 hectares (algo como 420 campos de
futebol) da região, segundo a secretaria de meio ambiente de
Tarapacá.
A solução, no entanto, não é simples.
No momento, há dois planos em andamento: um programa de
erradicação de lixões clandestinos e a incorporação da roupa usada à
Lei de Responsabilidade Estendida do Produtor, que estabelece
obrigações para empresas importadoras.
Mas ainda faltam passos importantes para que os planos sejam
colocados em prática: no caso do primeiro, é necessária a aprovação
do governador regional e, no caso do segundo, ainda é preciso
elaborar o decreto de regulamentação.
"Não é fácil conciliar tantos interesses para uma solução ampla e
incisiva, como proibir a entrada de roupa usada, isso não é factível",
diz Moyra Rojas, secretária de meio ambiente da região de Tarapacá.
A falta de fiscalização e controle na área faz com que seja muito fácil
descartar as peças em depósitos ilegais.
"Alto Hospicio é uma área vulnerável, que tem um orçamento muito
baixo. Não podemos contratar mais fiscais, não recebemos recursos",
declara Ortega.
Uma das soluções é o uso de tecidos sintéticos mais amigáveis com
o meio ambiente.

O poliéster é a fibra mais usada do mundo, sua popularidade ganhou


força, principalmente nas últimas décadas, com o surgimento do fast
fashion, tanto na moda esportiva quanto na moda casual.
Sozinho ou misturado com algodão ou outras fibras, o principal
intuito de fazer uso extensivo deste material, é o de baixar os custos
das peças. A poliamida é a fibra mais nobre dentro das fibras
sintéticas, pelo seu toque macio e gelado. Ela foi criada em 1929,
com o objetivo de criar uma fibra capaz de substituir a seda. Os
tecidos feitos com poliamida são leves e elásticos, e são usados
principalmente em moda esportiva, moda praia e roupas íntimas.
Nos últimos anos, novas tecnologias foram se desenvolvendo para
diminuir o impacto destas duas fibras que são derivadas de matérias
primas não renováveis.

Poliamida convencional (não sustentável)


Origem: Petróleo ou gás natural.
Prós: Demora aproximadamente 50 anos para se degradar,
considerando que o poliéster demora 400 anos, é uma vantagem...
Usa menos energia e água que a produção de algodão.
Ela é reciclável, porém, no Brasil ainda não se recicla poliamida. Ela é
macia, fresca e não acumula mau cheiro.
Contras: É derivada de um recurso não renovável. No pós consumo,
principalmente nas lavagens, libera microplásticos na rede de esgoto,
que acabam chegando nos oceanos e rios, prejudicando a vida que
neles habita.

Poliamida Amni Soul Eco


Origem: Petróleo ou gás natural.
Prós: Possui a propriedade de biodegradação acelerada, biodegrada
em 3 anos, quando descartada em aterros sanitários bem
controlados. Não possui componentes tóxicos em sua formulação. O
tecido possui certificação Oekotex ®. Fórmula e produção 100%
brasileiras. Usa menos energia e água que a produção de algodão.
Ela é reciclável, porém, no Brasil ainda não se recicla poliamida. Ela é
macia, fresca e não acumula mau cheiro.
Contras: É derivada de um recurso não renovável. No pós consumo,
principalmente nas lavagens, libera microplásticos na rede de esgoto,
que acabam chegando nos oceanos e rios, prejudicando a vida que
neles habita. (Lembrando que a biodegradação se dá nos aterros e
não na água. Estudos já estão sendo feitos para aprimorar isso e
conseguir a sua biodegradação no meio aquático)

Poliéster reciclado
Origem: Redes de pesca recuperadas dos oceanos.
Prós: Ajuda na limpeza dos oceanos, recuperando redes que foram
perdidas ou jogadas no mar por barcos pesqueiros. A produção é
considerada de ciclo fechado e usa menos água e energia que uma
poliamida tradicional. Usa menos energia e água que a produção de
algodão. Ela é reciclável, macia, fresca e não acumula mau cheiro.
Contras: Não está presente no Brasil, é feita na Itália.
No pós consumo, principalmente nas lavagens, libera microplásticos
na rede de esgoto, que acabam chegando nos oceanos e rios,
prejudicando a vida que neles habita.
A longo prazo, não estimula a mudança de hábitos ou o cumprimento
da penalidade severa que deveria ser aplicada para quem abandona
redes no mar.

Poliéster convencional (não sustentável)


Origem: Petróleo ou gás natural.
Prós: É uma fibra reciclável, pode ser reciclada várias vezes. Usa
menos energia e água que a produção de algodão.
Contras: Não está presente no Brasil, é feito na China. Demora 400
anos para se degradar. É derivada de um recurso não renovável.
No pós consumo, principalmente nas lavagens, libera microplásticos
na rede de esgoto, que acabam chegando nos oceanos e rios,
prejudicando a vida que neles habita.
O poliéster tem a desvantagem de ser uma fibra quente, com pouca
respirabilidade, áspera para peles sensíveis e que colabora com a
proliferação de bactérias que causam mau cheiro permanente.

Poliéster reciclado
Origem: Garrafas pet pós consumo.
Prós: Além de reaproveitar garrafas que iriam pro lixo, usa 70%
menos da energia que o poliéster convencional. Usa menos energia e
água que a produção de algodão.
Contras: Demora 400 anos para se degradar, é feito na China.
No pós consumo, principalmente nas lavagens, libera microplásticos
na rede de esgoto, que acabam chegando nos oceanos e rios,
prejudicando a vida que neles habita.
A longo prazo, não estimula a mudança de hábitos; não diminui a
produção de garrafas pet, nem estimula a substituição delas por
novos materiais ecológicos.
O poliéster tem a desvantagem de ser uma fibra quente, com pouca
respirabilidade, áspera para peles sensíveis e que colabora com a
proliferação de bactérias que causam mau cheiro permanente.

Ele é feito a partir da reciclagem de algum produto


pós consumo ou lixo?
Produtos reciclados são, em geral, melhor que aqueles que não são
biodegradáveis. Mas cuidado! Para reciclar fibras como o poliéster,
muita água é utilizada na lavagem das garrafas pet, no começo do
processo de reciclagem.
Então, ao mesmo tempo que temos um produto reciclado, a
fabricação dele consome mais água que a versão não reciclada,
porém consome menos energia.
Nos últimos anos, os processos de reciclagem têm sido bastante
questionados, porque eles também consomem recursos da natureza e
isso muitas vezes é ignorado pelos consumidores por ser pouco
divulgado pelos fabricantes.
Outro ponto interessante para pensarmos é que, mesmo que reciclar
seja um processo muitas vezes bom, ao mesmo tempo, evita ou
demora mudanças de comportamento, como por exemplo, parar de
usar envases descartáveis do jeito que usamos ou o abandono de
redes por barcos pesqueiros no mar. Utilizar resíduos para criar
produtos novos é necessário, porém é urgente que a humanidade
consiga reduzir a produção de lixo.

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