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Marília/SP
2014
JOÃO ARLINDO DOS SANTOS NETO
Marília/SP
2014
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3 MEDIAÇÃO
Sob um mesmo olhar, Braga (2012, p. 32) discorre que “em perspectiva
genérica, uma mediação corresponde a um processo em que um elemento é
intercalado entre sujeitos e/ou ações diversas, organizando as relações entre estes.”
O mesmo autor complementa que “os sentidos específicos variam segundo o
elemento mediador; conforme os sujeitos cuja relação é intermediada; e de acordo
com o seu modo de atuação.” (BRAGA, 2002, p. 32).
Dessa maneira, a mediação se refere à interposição de alguém ou de algum
elemento, com o intuito de melhorar as relações entre os sujeitos envolvidos. Porém,
essa mediação varia de acordo com a maneira que ela é desenvolvida, dos sujeitos
que estão sendo mediados e principalmente do agente mediador.
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Bastos (2012) coloca as telenovelas como produtos midiáticos.
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Ainda que não seja somente uma construção teórica, como mencionado pela
autora, concordamos que a mediação também busca discutir sobre as práticas
comunicacionais e informacionais. No entanto, pretendemos avançar mais em
relação ao conceito de mediação. Desse modo, buscamos o significado de
mediação em Luft (2000, p. 449), na obra “Minidicionário Luft” e deparamo-nos com
a seguinte definição “ato ou efeito de mediar” e com os termos “intercessão,
intervenção.” Mesmo que essa definição não esgote a curiosidade da pesquisa e se
apresente de maneira sucinta, ela, todavia reforça a questão da interferência em sua
ideia.
Recorremos também a autores de bases semióticas e comunicacionais para
enriquecer a discussão a respeito da mediação. Nessas circunstâncias,
apresentamos Charles Sanders Peirce (2005, p. 27) que define mediação como a
terceira categoria fenomenológica ou “triplicidade intelectual”, pois, segundo Peirce,
pensamos em signos e através da nossa inteligência representamos e interpretamos
o mundo, produzimos conhecimento. Entendemos que, para atingir um objetivo,
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heurística que não depende dos objetos mediais [...]”, e que ela “[...] implicaria
sempre na transferência de um signo para outro sistema de signos [...]” (WIRTH,
2008 citado por BASTOS, 2012, p. 65).
Nessa mesma tessitura, também apresentamos o pensamento de Almeida
(2012), o autor nos afirma que “[...] a mediação (ato ou efeito de mediar, interceder e
interpôr) é uma atividade de natureza semiótica, isto é, institui-se por e nas
representações.” Nesse caso, o autor nos remete a ideia de que a mediação é
compreendida através e pelas representações, ou seja, a mediação surge na
representação.
Por continuar a caminhada na busca por mais bases conceituais a respeito da
mediação, recorremos a Davallon, pelo sentido do termo na área da comunicação, e
o autor nos sugere que:
esse valor em sua conta bancária, e o sujeito “beneficiário” passa a fazer posse
desse valor “x”. Ao se buscar o significado de transferência em Ferreira (1988, p.
644) deparou-se com a seguinte definição “ato pelo qual se declara ceder ou
transferir a outrem a propriedade de algo, ou uma renda ou um título, etc.” e com os
termos “passagem, troca, substituição.” Sendo assim, elimina-se a possibilidade de
transferência de informação, pois a informação não nos é propriedade, não é algo
palpável, é imaterial16.
No entanto, existe uma tendência em se estabelecer uma relação entre os
processos da mediação e da transmissão, pois a mediação está mais comprometida
com a transmissão de que com a comunicação, pois esta última está relacionada
com o espaço, com o contexto; e a transmissão se dá com o tempo, não é imediata.
Já o processo de transmissão é mais amplo que o da comunicação. Contudo, sabe-
se que esta última antecede a primeira. Assim como a mediação, o processo de
transmissão também não é impessoal/imparcial, necessita de uma interferência.
Para que haja transmissão, é preciso que ocorra transformação, apropriação, se
não, conversão, bem como na mediação (DEBRAY, 2001).
O que de fato ocorre é o compartilhamento da informação, a exteriorização, a
socialização. Até mesmo porque nós mesmos não conseguimos exteriorizar todo o
nosso conhecimento e/ou informação, quanto mais conseguiríamos transferi-los.
Smit (2009) destaca sobre a mitologia resultada a partir da tríade
“organização, acesso e transferência da informação” na CI. De acordo com a autora,
essa sequência “[...] propõe uma lógica de causalidade: a organização causa o
acesso e o acesso causa a transferência.” (SMIT, 2009, p. 57). Essa logicidade
transmite uma ideia de sequência obrigatória, cabendo a uma etapa levar à outra
etapa necessariamente. No entanto, essa obrigatoriedade não ocorre de maneira
lógica e simples, mas perpassa um processo longo e complexo.
Para Smit (2009, p. 59) “[...] neste processo, no qual a informação passa por
uma organização, é dado o acesso à mesma e a transferência da informação é
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No trabalho com a imaterialidade da informação, surgem questões ligadas à diversidade
e aos atributos de dispositivos culturais de registro, armazenamento, recuperação,
divulgação, acesso e uso da informação, como também ao processo dialógico que
permite a um universo distinto de interlocutores espaço de contato e de manifestação da
subjetividade que emana da interlocução (inter e intrasubjetiva). (GOMES, 2010, p. 88).
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Esta última definição nos remete à ideia de que a mediação faz ligação,
permite o processo da comunicação, une o emissor ao receptor a partir de uma
necessidade.
Distanciando-nos da ideia de mediação como representação e/ou
comunicação, e buscando por uma ideia que se aproxime mais com a CI e com as
intenções aqui propostas, recorremos a Araújo (2012). O autor nos sugere que a
ideia de mediação consiste em “[...] uma intervenção intencional, de um ‘colocar-se
entre’ e, por meio justamente desta ação, fazer se relacionarem diferentes sujeitos,
instituições e instâncias.” (ARAÚJO, 2012, Não paginado). Nesse caso, podemos
inferir que a mediação é intencional, é pensada, não é neutra e nem passiva, ela se
posiciona para que determinadas relações possam ser estabelecidas, sejam essas,
relações pessoais ou institucionais.
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Na obra, o autor investiga e discute a mediação sob a ótica dos meios de comunicação
de massa e dos movimentos sociais.
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Quadro 1 - Análise das ocorrências dos termos e expressões localizadas a partir das
definições de mediação trabalhadas na pesquisa.
Termos Expressões/proposições
Mediação da Leitura
Mediação Custodial Mediação da Informação
Literária
Mediação da
Mediação da Língua Mediação da Ritualidade
Sensibilidade
Mediação do
Mediação Digital Mediação do Livro
conhecimento
Mediação do objeto
Mediação Documental Mediação dos saberes
cognitivo
Mediação Oral da
Mediação Múltipla Mediação para a paz
Literatura
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O Grupo de Pesquisa foi mencionado e apresentado anteriormente no capítulo 1 desta
dissertação.
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Mediação Vídeo-
Mediação Televisiva;
tecnológica.
[...] visa fazer aceder um público a obras (ou saberes) e a sua acção
consiste em construir um interface entre esses dois universos
estranhos um ao outro (o do público e o, digamos, do objeto cultural)
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“[...] interferência casual ou planejada visando a levar o leitor a ler literatura em diferentes
suportes e linguagens” (BORTOLIN, 2010, p. 115). Exemplo de mediador: Professor,
Bibliotecário.
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“Institucional: enquadra-se nas tradicionais instituições culturais, como são as Bibliotecas
e as Arquivos, é exercida pelos mediadores especializados, como são os bibliotecários e
os arquivistas, mas ao mesmo tempo, tempo é partilhada com informáticos e designers
de informação, de quem depende a feitura do website através do qual são
disponibilizados os acervos em depósito. Distribuída e/ou partilhada: ocorre em certos
tipos de serviços e media digitais, como websites e blogs, pertencentes a entidades
colectivas e a indivíduos, em que há o(s) mediador(es) que localiza(m), digitaliza(m),
seleciona(m) e disponibiliza(m) conteúdos, há o designer e a empresa que vendem ou
fornecem de forma livre a aplicação e há aderentes ao serviço que são convidados a
intervir activamente com conteúdos e comentários. Cumulativa: À medida que se inovam
e expandem mais as possibilidades tecnológicas (novas soluções e produtos) o papel do
‘prossumidor’ (produtor e usuário) cresce enormemente, desenvolvendo um tipo de
mediação cumulativa que pode abranger a de designer e de programador, e que produz
efeitos e é condicionada através da activa participação em comunidades que agregam
interagentes idênticos ou parecidos.( MALHEIRO; RIBEIRO, 2011, p. 180).
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