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A Revolucao Americana 1763-1787
A Revolucao Americana 1763-1787
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A Revolução Americana
(1763-1787)
Introdução
conta de uma questão essencial que importa entender para poder apreender a
1
Departamento de História e CEHCP do ISCTE
Revolução Americana em todo o seu significado: é que a Revolução Americana
britânico, mais concretamente contra a forma como esse mesmo domínio foi
territorial muito além da que tinha sido conquistada no terreno. Por fim, será
abordada outra das facetas mais "revolucionárias" de todo este processo que
guerra, cuja dimensão, quer militar, quer diplomática, urge não desprezar,
uma vez que, como se verá, veio a assumir uma feição decisiva em momentos
determinantes deste processo; foi, por fim, uma verdadeira revolução política
na Constituição de 1787.
1. Resistência e Revolta
concretamente contra a forma como esse mesmo domínio foi exercido nas
pelo Tratado de Paris de 1763, a ceder vastas porções dos territórios que
2
região do vale do Rio Ohio – que se torna assim a potência dominante na
Guerra dos Sete Anos mas que, a partir de 1763, ganham nova acuidade.
multiplicavam nesta altura muito mais rapidamente do que qualquer outro povo
entre 1764 e 1776 calcula-se que 125 mil pessoas terão partido das ilhas
quinto. Colonos britânicos como Benjamin Franklin previam já que, mais tarde
britânico4.
2
"The definitive Treaty of Peace and Friendship between his Britannick Majesty, the Most
Christian King, and the King of Spain. Concluded at Paris the 10th day of February, 1763. To
which the King of Portugal acceded on the same day", em
http://www.yale.edu/lawweb/avalon/paris763.htm.
3
Gordon Wood, The American Revolution. A History, Modern Library Edition, New York, 2002, p.
4.
4
Gordon Wood, The American Revolution. A History, p. 6.
3
Por outro lado, a vitória sobre os franceses na Guerra dos Sete Anos
francesa e também com uma atitude mais cautelosa por parte das tribos
novas localidades entre 1756 e 1765, mais nestes anos do que em toda a
fama nesta época, como Daniel Boone que começou a abrir caminhos e trilhos
década de 1760, como nunca antes se tinha registado. Desde 1745, aliás, que
com dados citados pelo historiador Gordon Wood, entre 1747 a 1765, o valor
700 mil libras para 1 milhão e meio, enquanto que as importações aumentaram
5
Gordon Wood, The American Revolution. A History, pp. 7-8.
6
Gordon Wood, The American Revolution. A History, p. 13.
4
velho continente significava um aumento de preços para os exportadores
melhoria dos níveis de vida de mais americanos. Não eram apenas os grandes
pela gentry ou pequena aristocracia local, e que agora cada vez mais se
reduzindo para metade o tempo gasto nas entregas. Apesar de tudo, porém, a
7
Gordon Wood, The American Revolution. A History, p. 14.
8
Gordon Wood, The American Revolution. A History, pp. 14-15.
5
Por tudo isto, após a Paz de Paris de 1763, que pôs termo a Guerra dos
da Guerra dos Sete Anos, a dívida de guerra da coroa britânica era de 137
milhões de libras, com um juro anual de 5 milhões, uma quantia imensa quando
julgava ser ainda necessária uma força permanente de 10 mil soldados para
conseguir manter a paz com os franceses e os Índios, bem como para lidar
com as populações locais, cada vez mais desafiantes das autoridades coloniais.
Por conseguinte, nesta década de 1760, o governo britânico acabou por tomar
dimensão duas vezes maior daquele que existira nas colónias antes da Guerra
só tinha sido posta em vigor, na Inglaterra, com recurso à força militar. Por
outro lado, o regresso dos soldados britânicos à sua terra-mãe fazia com que
colónias para fazer face a estas novas despesas, o que implicava profundas
9
Gordon Wood, The American Revolution. A History, pp. 17-18.
6
As reformas iniciaram-se com a "Proclamation of 1763". Esta
Transformava também a vasta área para além dos Montes Apalaches numa
no Canadá10.
com pouco rigor e alguns dos colonos viram-se, de um dia para o outro, a viver
interesses feridos por esta nova medida; a alteração das fronteiras entre as
10
"The Royal Proclamation – October 7, 1763", em
http://www.yale.edu/lawweb/avalon/proc1763.htm. Cf. também Gordon Wood, The American
Revolution. A History, pp. 21-22.
11
"The Quebec Act, 1774 (Extract)", em
http://www.geocities.com/Yosemite/Rapids/3330/constitution/1774qact.htm.
7
protestantes americanos recearam igualmente que os britânicos apostassem
Sugar Act impôs novos tributos sobre o açúcar, o café, as roupas e o vinho
uso do papel selado e novos impostos sobre os jornais americanos bem como
12
Gordon Wood, The American Revolution. A History, pp. 22-23.
13
"Sugar Act, 1764 (excerpts)", em
http://courses.smsu.edu/ftm922f/Documents/SugarAct.htm. Cf. também Gordon Wood, The
American Revolution. A History, p. 23.
14
"The Stamp Act, British Parliament – 1765", em
http://ahp.gatech.edu/stamp_act_bp_1765.html.
15
"The Declaratory Act, March 18, 1766", em http://www.constitution.org/bcp/decl_act.htm.
8
criava novos impostos sobre produtos importados pelas colónias,
mar a carga de três navios ingleses. Os ingleses, por seu turno, responderam
do governador da colónia.
Congresso aprovou uma declaração dos direitos dos colonos e dos abusos de
que eles tinham vindo a ser vítimas por parte dos ingleses. Esta declaração
tinham poder para estabelecer impostos sobre si próprios e para fazer leis
16
Ver, por exemplo, "The T ownshend Revenue Act" de 1767 em
http://www.ushistory.org/declaration/relateds/townshend.htm.
17
"The Tea Act, British Parliament – 1773" em http://ahp.gatech.edu/tea_act_bp_1773.html.
18
"Boston Port Act" em http://www.ushistory.org/declaration/relateds/bpb.htm.
9
pacificamente, o direito de enviar petições e protestos ao governo inglês, o
2. Guerra e Paz
Unidos da América.
auxílio dos franceses. Por muito que os lideres coloniais se quisessem isolar
independência20.
19
"Declaration and Resolves of the First Continental Congress", em
http://www.yale.edu/lawweb/avalon/resolves.htm.
10
a seu favor a fim de conseguir da França o dinheiro e as armas necessários à
chamado "Model Treaty", aprovado pelo Congresso para servir de modelo não
militar em Saratoga, facto que levou a coroa inglesa a procurar pela primeira
vez negociar com os insurgentes. Franklin não hesitou em usar este facto
Inglaterra22.
20
Sobre a diplomacia norte-americana e em especial as relações com a França veja-se o clássico
Thomas A. Bailey, A Diplomatic History of the American People, Appleton-Century-Crofts, Inc.,
New York, 1950, especialmente o capítulo "The Diplomacy of the French Alliance, 1775-1778",
pp. 8-22.
21
"Journal of Congress. Tuesday, September 17, 1776", em
http://www.yale.edu/lawweb/avalon/diplomacy/france/fr1778p.htm.
22
Thomas G. Paterson (ed.), American Foreign Relations. A History to 1920, Lexington,
Massachusetts, D.C. Heath and Company, 1995, p. 14.
11
No ano seguinte, em Fevereiro, os Estados Unidos e a França chegam a
era o domínio sobre Gibraltar. Por outro lado, devido ao seu extensíssimo
23
Cf. Thomas G. Paterson (ed.), American Foreign Relations. A History to 1920, p. 14. Textos dos
tratados em http://www.yale.edu/lawweb/avalon/diplomacy/france/fr1778m.htm
12
guerra com a Inglaterra e, mesmo assim, a sua aliança era com a França e não
a Madrid com o objectivo de assinar uma aliança formal com a Espanha, mas
24
As instruções para John Jay podem ser lidas em "Instructions to John Jay, September 28,
1779", reproduzidas em http://www.skidmore.edu/~tkuroda/gh322/Conginst1779.htm. Ver
também Thomas G. Paterson (ed.), American Foreign Relations. A History to 1920, pp. 17-18.
13
entre Franklin e os ingleses – que aliás decorreram em Paris – e
manter uma relação privilegiada com o novo país. Por outro lado, a paz
ingleses a assinar uma paz separada com linhas de fronteira muito generosas
"construir uma nação". Tratava-se de tarefa complexa, desde logo porque não
independentes.
25
Cf. "Preliminary Articles of Peace: November 30, 1782", em
http://www.yale.edu/lawweb/avalon/diplomacy/britain/prel1782.htm.
26
Thomas G. Paterson (ed.), American Foreign Relations. A History to 1920, p. 23.
27
Cf. "The Paris Peace Treaty of September 3, 1783", em
http://www.yale.edu/lawweb/avalon/diplomacy/britain/paris.htm.
14
Por conseguinte, correndo o risco de uma simplificação grosseira, pode
dizer-se que o grande debate que se travou nos Estados Unidos, a partir de
de trocas com a Grã Bretanha. Era disso que viviam os mercadores destas
actividades dessas colónias. Para isso era necessário um poder mais forte e
vias de comunicação com o Oeste. Estas divisões foram acentuadas por uma
profunda depressão económica nos Estados Unidos que atinge o seu auge em
1784.
15
Determinados sectores das elites políticas norte-americanas tomam
estabelecia que cada estado mantinha a sua soberania, a sua liberdade e a sua
tão pouco tempo se tinham libertado. De alguma maneira, havia uma certa
28
"Articles of Confederation", em http://www.yale.edu/lawweb/avalon/artconf.htm.
29
Cit. por Gordon Wood, The Creation of the American Republic, 1776-1787, New York, W.W.
Norton & Company, 1969, p. 355.
30
Cit. por Gordon Wood, The Creation of the American Republic, 1776-1787, p. 356.
16
fraquezas em alguns pontos fundamentais. Desde logo, não previam a
limitados. Não só não tinha poder para cobrar impostos directamente, como
não podia obrigar um cidadão a servir num exército nacional. Além disso, o
dos países estrangeiros, como por exemplo a Inglaterra, em relação aos quais
emitir papel moeda e nem sequer se referiam aos Estados Unidos com letras
31
"Articles of Confederation", em http://www.yale.edu/lawweb/avalon/artconf.htm.
17
Inglaterra, de modo a que eles não fossem vendidos na América a preços mais
existente Congresso.
Como referi atrás, esta situação havia resultado, para os recém criados
acabando por conduzir a uma profunda depressão económica que atingiu o seu
lhes era autorizado pelos Artigos da Confederação: emitir mais moeda e mais
iniciaram uma revolta em 1786 que quase derrubava o governo estadual e que
Artigos da Confederação32.
baixo" mas de "baixo para cima". Ou seja, terá sido o receio de desagregação
o medo que a própria organização estadual fosse posta em causa que terá
32
Paul Boyer et allia, The Enduring Vision. A History of the American People, Volume I: To 1877,
Houghton Mifflin Company, Boston, 2000, pp. 171-172.
18
assim que os acontecimentos políticos mais significativos que acabaram por
"os vastos ataques à ideia de soberania dos estados, vindos de baixo, ou seja,
sobreanos do povo"33.
revolucionário35.
33
Gordon Wood, The Creation of the American Republic, 1776-1787, p. 362.
34
Bernard Bailyn, The Ideological Origins of the American Revolution (enlarged edition), The
Belknap Press of the Harvard University Press, Cambridge, 1992, p. 321.
35
Cf. Gordon Wood, The Creation of the American Republic, 1776-1787, p. 475.
19
confederação de estados independentes que constituíriam, assim, um "centro
que a nova Constituição começasse com a expressão "We, the People" em vez
existir.
pelos diversos estados, acabou por ser adoptado um novo contrato social: a
36
Gordon Wood, The Creation of the American Republic, 1776-1787, p. 472.
20
por um lado um estado federal dotado de certos poderes, mas ao mesmo
conferindo por isso mais poder aos estados mais numerosos e mais povoados.
impróprias sobre os mais pequenos". Todas as leis tinham que ser aprovadas
sul, que eram menos, concordaram que essas medidas pudessem ser tomadas
apenas por maioria e não por dois terços, como eram anteriormente sob os
outras nações, propostos pelo presidente e aprovados por dois terços dos
37
Uma tradução portuguesa da Constituição norte-americana pode ser consultada em Nuno
Rogeiro, Constituição dos EUA anotada e seguida de estudo sobre o sistema constitucional dos
Estados Unidos, Lisboa, USIS/Gradiva, 1993. Mais recentemente foi também publicado em
Portugal um estudos sobre o federalismo norte-americano da autoria de Viriato Soromenho
Marques, A Revolução Federal. Filosofia política e debate constitucional na fundação dos E.U.A.,
Lisboa, Edições Colibri, 2002.
21
James Madison, o grande teórico da Constituição Americana, argumentou
dos americanos. Muito pelo contrário, este novo pacto social que os
aos outros países. Esta realidade era possível, Madison argumentava, com o
mesmas mãos"38.
38
Gordon Wood, The Creation of the American Republic, 1776-1787, p. 550.
22