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Internacionais

A Declaração da Independência dos Estados Unidos da Grã-Bretanha em 1776 levou


os crioulos, espanhóis nascidos na América do Sul, a acreditar que uma revolução e
independência do Império Espanhol era algo alcançável.[1][2] Os patriotas norte-
americanos das Treze Colônias travaram sua Guerra de Independência até 1783
contra lealistas locais e a própria Grã-Bretanha, eventualmente estabelecendo um governo
popular que substituiu a monarquia britânica. O fato da Espanha ter auxiliado os
revolucionários em sua luta enfraqueceu a ideia de que seria um crime encerrar a lealdade
contra a metrópole.[3]
Os ideais da Revolução Francesa iniciada em 1789 espalharam-se pelas Américas e
também pela própria Europa.[4] A deposição e execução do rei Luís XVI da França e sua
esposa a arquiduquesa Maria Antonieta da Áustria encerrou séculos de monarquia e
removeu os privilégios da nobreza. Ideias liberais foram desenvolvidas nos campos político
e econômico e propagaram-se através das Revoluções do Atlântico para a maior parte do
mundo ocidental. O conceito do direito divino dos reis foi questionado pela
francesa Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, pela afirmação
frequentemente citada de que "todos os homens são criados iguais" contida na Declaração
da Independência dos Estados Unidos e até mesmo pela Igreja Católica espanhola.[1]

José Bonaparte em 1808 por François Gérard.

Entretanto, a divulgação de tais ideias era proibida nos territórios espanhóis, assim como a
venda de livros relacionados ou a posse não autorizada deles.[5] A Espanha instituiu esses
banimentos quando declarou guerra contra a França depois da execução de Luís em 1793
e os manteve após a assinatura do tratado de paz em 1796.[1] As notícias dos eventos de
1789 e cópias das publicações da Revolução Francesa espalharam-se pela Espanha
apesar dos esforços para mantê-los banidos.[5][6] Muitos dos crioulos iluministas entraram
em contato durante seus estudos universitários com autores liberais e suas obras, tanto na
Europa quanto na Universidade de Chuquisaca, atual Sucre na Bolívia.[7] Livros norte-
americanos também conseguiram chegar às colônias espanholas por meio de Caracas,
devido à proximidade do Vice-Reino de Nova Granada com as Índias Ocidentais e
os Estados Unidos.[8]
A Revolução Industrial havia começado na Grã-Bretanha com o uso de canais, trilhos e
força a vapor. Isso levou a um aumento enorme das capacidades produtivas do país[9] e
criou a necessidade do estabelecimento de novos mercados para vender os produtos.
[10]
 As Guerras Napoleônicas contra a França do imperador Napoleão Bonaparte tornaram
isso difícil após o estabelecimento em 1806 do Bloqueio Continental, que proibia os
aliados franceses de negociarem com o Reino Unido. Os britânicos dessa forma
precisavam negociar com as colônias espanholas, porém não podiam fazer isso pois elas
só tinham permissão de realizar negócios com sua metrópole.[11] O Reino Unido tentou
invadir o Vice-Reino do Rio da Prata e conquistar cidades importantes a fim de alcançar
seus objetivos econômicos.[12] Quanto isto falhou, eles escolheram promover as aspirações
hispano-americanas de independência.[11][13]
O Motim de Aranjuez em 1808 fez o rei Carlos IV da Espanha a abdicar do trono em favor
de seu filho mais velho, que tornou-se o rei Fernando VII.[14] Carlos pediu para que
Napoleão o ajudasse a reconquistar a coroa; em vez disso, o imperador francês também
forçou a abdicação de Fernando e passou o trono para seu próprio irmão, José Bonaparte.
[14][15]
 Esses eventos ficaram conhecidos como as Abdicações de Baiona. A coroação de
José enfrentou grandes resistências na Espanha, iniciando a Guerra Peninsular, enquanto
a Junta Suprema Central assumiu o governo em nome de Fernando.[16] Isto fez com que a
aliança da Espanha mudasse da França para o Reino Unido.[10] Os franceses acabaram
invadindo Sevilha e conquistando a Andaluzia, substituindo a Junta Suprema Central
recuada em Cádis pelo Conselho de Regência da Espanha e das Índias.[17]

Nacionais
A Espanha proibia suas colônias americanas de negociarem com outras nações ou
colônias estrangeiras, impondo-se como a única compradora e vendedora para o comércio
internacional.[18] A situação prejudicou os vice-reinos da América espanhola já que a
economia da metrópole não era poderosa o suficiente para produzir as enormes
quantidades de produtos que as numerosas colônias necessitavam. Isto causou escassez
e recessão econômica.[18][19] As rotas de comércio espanholas favoreciam os portos do Vice-
Reino da Nova Espanha e de Cidade dos Reis no Vice-Reino do Peru em detrimento de
Buenos Aires no Rio da Prata.[20] Como resultado, a cidade contrabandeava produtos que
não poderiam ser obtidos legalmente.[21] As autoridades locais permitiam esse contrabando
por o considerarem um mal menor, mesmo sendo ilegal e ocasionalmente com um volume
igual ao comércio tradicional com a Espanha.[22] Duas facções antagonistas surgiram:
donos de terras que desejavam comércio livre para que assim pudessem vender seus
produtos para o exterior, e mercadores que se beneficiavam dos preços altos das
importações contrabandeadas e dessa forma opunham-se ao comércio livre pois isto
diminuiria os valores das mercadorias.[23]
A monarquia espanhola nomeava seus próprios candidatos para a maioria dos cargos
políticos nos vice-reinos, geralmente favorecendo espanhóis da Europa.[24] Os nomeados
na maioria das vezes tinham pouco conhecimento ou interesse nas questões locais das
colônias. A rivalidade consequentemente cresceu entre os crioulos e os peninsulares,
aqueles nascidos na Espanha. A maior parte dos crioulos achavam que os peninsulares
tinham vantagens não merecidas e recebiam tratamento preferencial na política e pela
sociedade.[18] O baixo clero tinha sentimentos similares sobre os altos escalões da
hierarquia eclesiástica.[22] Os eventos desenvolveram-se em um ritmo muito mais lento do
que na independência dos Estados Unidos. Isso se deu em parte porque o clero controlava
todo o sistema educacional da América espanhola, fazendo com que a população tivesse
o mesmo pensamento conservador e seguisse os mesmos costumes da Espanha.[25]
Ilustração da invasão inglesa de Buenos Aires por Madrid Martínez em 1807.

As cidades de Buenos Aires e Montevidéu foram bem sucedidas em resistir a duas


invasões britânicas.[13] A primeira foi em 1806, quando um pequeno exército liderado
por William Carr Beresford tomou Buenos Aires por um breve período até ser derrotado
por uma força comandada por Santiago de Liniers. Um exército maior conquistou
Montevidéu no ano seguinte, porém foram subjugados pelas forças de Buenos Aires; os
britânicos capitularam e entregaram a cidade.[26] A Espanha não enviou auxílio em ambas
as invasões.[18][27] Liniers organizou milícias crioulas durante as preparações para a segunda
invasão, mesmo existindo proibições contra suas existências nas colônias.[28][29][30] O 1º
Regimento de Infantaria "Os Patrícios" liderado por Cornelio Saavedra era o maior dos
exércitos crioulos. Esses eventos deram aos crioulos poder militar e influência política que
nunca tinham possuído antes e, já que suas vitórias foram realizadas sem qualquer tipo de
ajuda vinda espanhola, aumentou sua confiança de que possuíam a capacidade para
alcançar a independência.[18][31]
A família real portuguesa fugiu da Europa em 1808 e estabeleceu-se na colônia do
Brasil depois do exército de Napoleão ter invadido Portugal.[32] A infanta Carlota Joaquina
da Espanha, irmã de Fernando, era a esposa de D. João, Príncipe Regente, porém tinha
seus próprios objetivos políticos.[33] Ela tentou assumir o controle do Rio da Prata como
regente por ter evitado ser capturada junto com o resto da família real espanhola.[34] Este
projeto político ficou conhecido como Carlotismo e procurava impedir a invasão francesa
das Américas.[35] Apoiavam essa ideia uma pequena sociedade secreta de crioulos
composta por políticos como Manuel Belgrano e Juan José Castelli, além de militares
como Antonio Beruti e Hipólito Vieytes.[36][37] Eles consideravam a situação como a
oportunidade para se ter um governo local em vez de um europeu, ou ainda um passo em
direção de uma declaração de independência.[38][39] O projeto foi resistido por Liniers, que
fora nomeado vice-rei em 1807; a maioria dos peninsulares e alguns crioulos, incluindo
Saavedra e os advogados Mariano Moreno e Juan José Paso.[36][39] Eles suspeitavam que o
Carlotismo escondia uma ambição expansionista portuguesa sobre a região.[36] Os
apoiadores de Carlota Joaquina tinham a intenção que ela fosse a chefe de estado de
uma monarquia constitucional, enquanto a própria desejava governar como uma monarca
absolutista; estes conflitos minaram o projeto e levaram ao seu fracasso.[36][37] O Reino
Unido, que tinha enorme influência sobre Portugal, também se opunha à ideia: eles não
desejavam ter a Espanha dividida em vários reinos e consideravam que Carlota Joaquina
era incapaz disso.[40]
A Revolução de Maio foi uma série de eventos que ocorreram entre 18 e 25 de
maio de 1810 na cidade de Buenos Aires, capital do Vice-Reino do Rio da Prata. Esta era
uma colônia do Império Espanhol que incluía aproximadamente os territórios dos atuais
países da Argentina, Bolívia, Paraguai e Uruguai. O resultado foi a remoção do vice-
rei Baltasar Hidalgo de Cisneros e o estabelecimento de um governo local, a Primera
Junta. A Revolução de Maio foi a primeira revolta bem sucedida no processo de
independência da América do Sul.
A revolução foi uma reação direta à Guerra Peninsular. O rei Fernando VII da Espanha foi
forçado em 1808 a abdicar em favor de Napoleão Bonaparte, que passou o trono para seu
irmão mais velho José Bonaparte. A Junta Suprema Central liderou a resistência contra o
governo de José e a ocupação da Espanha pela França, porém eventualmente sofreram
uma série reveses que resultaram na perda espanhola da metade norte de seu país. As
tropas francesas tomaram Sevilha em 1 de fevereiro de 1810 e conquistaram o controle da
maior parte da região da Andaluzia. A Junta Suprema recuou até Cádis e se dissolveu,
sendo substituída pelo Conselho de Regência da Espanha e das Índias. As notícias sobre
esses eventos chegaram em 18 de maio no Rio da Prata por meio de navios britânicos.
Cisneros tentou manter a situação política, porém um grupo de advogados e oficiais
militares crioulos organizaram um cabido aberto em 22 de maio para decidir o futuro do
Rio da Prata. Os representantes negaram-se a reconhecer o Conselho Regencial e
estabeleceram uma junta para governar no lugar do vice-rei, já que o governo que tinha
nomeado Cisneros não mais existia. Ele inicialmente foi nomeado presidente da junta para
manter uma sensação de continuidade, entretanto isso causou agitações populares e
Cisneros foi forçado a renunciar do posto. O governo recém formado incluía
representantes apenas de Buenos Aires, que convidaram as outras cidades do Rio da
Prata a enviarem delegados. Isto resultou no começo de uma guerra entre as regiões que
aceitaram o resultado dos eventos ocorridos na capital e aquelas que rejeitavam.
A Revolução de Maio iniciou a Guerra da Independência da Argentina, apesar de nenhuma
declaração formal de independência ter sido emitida na época e da Primeira Junta ter
continuado a governar em nome do deposto Fernando VII. A revolta é considerada como
um dos primeiros eventos da Independência da América Espanhola já que eventos
similares ocorreram em outras cidades pelo continente. Os historiadores atualmente
debatem se os revolucionários eram verdadeiramente leais à coroa espanhola ou se a
declaração de fidelidade ao rei era um ardil necessário a fim de esconder seus verdadeiros
objetivos de uma população que ainda não estava disposta a aceitar uma mudança tão
radical. Uma declaração formal de independência foi emitida em 9 de julho de 1816
pelo Congresso de Tucumán.

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