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A l!ÇONARIA E 08 JESUIT!

INSTRUCÇÃO PASTORAL
DO

�b;trn de @linda

AOS SEUS DIOCESANOS

Vcrbum Dei non est alligatum.


(2 T1M. e. 2 v. 9 )

BIO DE .làNEIBO

TTP. DO APOSTOLO, RUA Nov.&. DO Oov1noa, N.14: E 16


-
1&'r&

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INSTRUGQÃO PASTORAL
DO

BISPO DE OLINDA AOS SEUS DlOílESANOS

SOBRE· A MAÇONARIA E OS JESUITAS

D. FREI VITAL MARIA \Q_ONÇALVEs DE OLIVEIRA, por


mercê de Deus e da Santa Sé Apostolica,
Bispo de Olinda.

A todo o Clero e Fieis das provincias de Pernambuco, !lagôaa,


Parahyba. e Rio-Grande do Norte, saude, paz e ben9ã� em Jesus
Christo, nosso adoravel Salvador.

A Igreja de Jesus Christo, Irmãos e Filhos dileetissimos,


tem sido sempre mais ou menos perseguida pela impie­
dade, nunca cessou de luctar com i nim i gos sanh udos que
haviam jurado a sua ruina total.
Ainda estava no be rço e já ten tavam afogal--a no proprio
sangue. Mas um� A njo baixa do Céo, furta-a ao furor
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do desconfiado ldumeo , sedento do sangue da recem-nas­
cida, e salva-a, transportando-a , no silencio da noite, da
Judéa para o Egypto. (1)
Deixa as fachas da infancia, começa a crescer ; eis que
acorrentam-na, açoitam-na e procuram abafai-a no fundo
de sombrias m�morras ; porém, abi mesmo, ella.se desen­
volve, vigora , como se livre respirasse o ar puro das
praças publicas. (!)
Relaxam-lhe as cadeias , ella corre pela Asia , vai á Gre­
cia, invade todo o lmperio Romano, penetra até o co­
ração do mundo civilisado , Roma, a cidade dos Cesares.
Ahi sanguinolenta perseguição arrebenta contra ella. O
paganismo assanha-se contra a divina estrangeira, lança-a
ás féras do amphitheatro, rasga-lhe as carnes com unhas
de ferro, desconj unta-lhe os membros sobre os equuleos ,
atira-a ás chammas da fogueira, estende-a sobre grelhas
encandecidas, mergulha-a em caldeiras de azeite fervendo ,
tortura-a com o maior requinte de barbarias horripilantes!
Mas ainda assim ella não succumbe ; é mais forte que
o duro gladio do fero algoz ; tocla dilacerada vence as
unhas lacerantes , cança o braço do cruel verdugo: Stete­
runt torti torquentibus fortiores, et pulsantes ac laniantes
ungulas pulsata ac laniata membra vicerunt. (3)
Ainda lhe sangram as feridas , lagrimas ainda lhe hu­
medecem as faces, e eis que surgem filhos ingratos e des-
-

venturados a rasgarem-lhe as entranhas com as heresias.


Pelagjo nega a graça, Macedonio combate a divindade do

(1) Mat. cap. 2.


(2) Act. eap. 4.
(8) S. Cyprian. L. t. Erist. 6.

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Espirito Santo, Nestorio ataca a unidade de pessoa em Jesus
Christo , Eutyches confunde-lhe as duas naturezas, Ario
impugna a consubstancia1idade do Verbo .
Elia, porém , consola-se de tantos infortunios e de tão
acerbas dores , dando á luz a filhos da tempera dos Athana­
sios, Hilarios , CyrilJos, Ambrosios, Jeronymos , .Ago�tin hos e
outros muitos grandes luzeiros da fé que com tamanho bri­
lho esmaltam o firmamento da Igreja. Ao despontarem nos
seus limpidos horisontes esses astros rutilantes , dissipam-se
os densos nevoeiros da heresia , e o genio do erro , fulmi­
nado , precipita-se no poço do abysmo.
Se supplanta o espirito da heresia que no pó vai occultar
a fronte orgulhosa, é para chorar amargamente a perda
dolorosa de grandes povos e christandades florescentes, q ue
do amoroso seio materno lhe são arrancados por innumeros
schismas.
Além da magua pungente com que lhe partiram o terno
coração os schismas parciaes de Novaciano em Roma, de
Melecio em Alexandria , dos Donatistas em Carthago, de Lu-

cifei', da Istria, dos Gregos , etc . , ella teve que deplorar as


immensas calamidades occasionadas pelo grande schisma do
Occidente , que tão dolorosamente lhe dilaceraram a unidade.
Muitos , cahindo então da Barca de Pedro, desappare­
ceram sob as ondas, afundiram-se no pelago do erro ;
·ao passo que ella , ora agitada e açoitada pelo vendaval

das paixões politicas e m undanas, ora calma e serena, oon­


ünuQu seguindo a sua gloriosa derrota para as ribas da
eternidade. Turbari potest, mergi non potest; (4)

(4) Santo Agostinho.

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E que não soffreu ella das frequentes invasOes dos


pol'os barbaros , que tantas amicções lhe causaram, e das
inopinadas irrupções dessas hordas de Agarenos, que
tantas vezes ameaçaram a Europa catho1ica 1 Que não
tem sofrido constantemente da perniciosa reforma do
frade apostata, que forceja por levar-lhe a morte ao
coração, solapando as bases ·do principio de auctoridade 1
Mas, ella falia pelo orgão de S . Leão, e Attila, o flagello
de Deus, recua espavorido; empunha a cruz do missionario,
e os Barbaros civi1isam-se,convertem-se os filhos de "Ismael,
ou são repellidos pelo braço potente de Fernando catholico e
pela espada flammejante de Carlos Magno ; em quanto, que
a obra de Luthero se está esphacelando por toda a parte ,
cahindo aos pedaços, principalmente na Allemanha.
E hoje, Irmãos e Filhos muito amados, a santa Igreja
de Deus se acha 'a braços com um inimigo terrivel, peior
que todos os passados; mais terrivel que Herodes com a
sua tyrannia; mais terrivel que os Imperadores Romanos
com as suas hecatombes humanas ; mais temivel que as
heresias e scbismas com as suas impiedades e rompimen­
tos; mais temivel que os Barbaros e �arracenos com as
suas constantes ameaças, e que os Protestantes com as
suas innovações.
Este inimigo formidavel, já vosso coração o adivinhou,
é a Maçonaria , a Maçonaria, peior que todos aquelles an•
tigos adversarios; porquanto, reunindo-os em si a todos
elles, fundindo-os juntos, constitua um todo poderoso, a
personificação ou unificação de todos elles, que faz hoje
a um só tempo tudo o que elles fizeram, cada um de per

si, em epochas remotas umas das outrM.

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Sim ; a Maçonaria , o supremo esforço do poder das


trevas contra a luz da verdade, é incontestavelmente o
mais temeroso i nimigo que a Egreja tem tido que debellar .
Quando lhe convém, a seita perversa em prega com habi­
lidade summa, superior até a daquelles tempos idos , ora
a requintada atrocidade de Herodes; ora as estudadas
cr�eldades de Nero e Diocleciano ; ora a refinada malicia
das heresias e schismas ; ora a perfidia , a ironia , o ridi­
culo de Juliano ; ora o carcere , a proscripção e confisca­
ção de Valente ; ora os sophismas de Celso e Porphirio ;
ora o facho e a machadinha de Alarico, o ferro e o fogo do
f>ropheta arabe ; ora , finalmente , a seducção e as argucias
de Luthero e Calvino .
Provas i rrefra gaveis de tudo isto temol-as de sobej o nos
assombrosos acontecimen tos e barbaras scenas da grande
Revolução franceza ; no que se deu no período dos trinta
annos que a precederam ; e no que actualmente estamo �
com dOr immensa presenciando por toda a parte.
Sob as odiosas denominações de fanatismo, ultra­
montanismo, romanismo , jesuitismo, etc. , não cessa a M·a ­
çonaria de mover guerra sem tregoas ao Catholicismo ,com­
batend o-o a todo o transe, por todos os meios, por todos
os lados .
Nesta lacta renhida , travada ha seculos , tem de ordi­
nario a maxima parte nas tribulações a ill ustre Sociedade
de Jesus, que, estando sempre a pé firme na estacada,
sempre impavida na ,�ang.uarda dos exercitos do Senhor,
é a que primeiro arrosta com o odio, furor e impetuosos
acoommettimento5 das hostes adversas.
Por isso é que esta inclyta Companhia tão estimada e

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louvada por S. Carlos Borromeu, S. Felippe Nery , S. Fran­


cisco de Salles, S. Vicente de Paula, Santo Aflonso de Liguo­
rio. Santa Thereza de Jesus (5) e ou tros santos; tão apreciada
e encomiada por quasi todos os Papas que se têm sentado na
Cadeira Apostolica desde S. Pio V até o immortal Pio IX,
gloriosamente reinando (6); tão encarecida e favorecida
pelo sacrosan\o Concilio de Trento que deferio-lhe o hon­
roso appellido de -Pio lfistitutn- (7) ; por isso é , dize­
mos, que esta preclara Sociedade actualmente se acha sob
os amiudados golpes de atroz perseguição, igual á de que
já fôra victima no seculo passado.
No momento em que vemos , Irmãos e Filhos carissimos,
a seita maçonica proscguir dissimulada e afanosa , m ais que
nunca , na sua obra de demolição contra a Igrej a Catho­
lica, de um lado tentando illaquear a boafé dos homens
simples , probos e honestos , e do outro suscitando contra
os venerandos Padres Jesuitas uma dessas tempestades que
as Paginas Sagradas nos representam debaixo da pavorosa
figura de turbilhão impetuoso e de 1:hamma devoradora (8) ,
cumpre-nos, a exemplo do grande Apostolo das nações ,

(5) Vid e A •
obras deste� santos.
vida
(6) Vi de os Breves de Pio V ao E l e i tor de Colonia, 156-3, e a S. Fran­
cisco de Borja; a Bulla de GrAgorio XIII, Immensa Dei; a de Clemen t e
VllI, ln sacra celestis clauig1ri sede, 1531: R de 1602, sobre as Con­
gregaçõ ,s e seu Breve a Henrique IV. O Rreve de Gregorio XV ao Do­
ge de Veneza, 1622; o d� Urbano VIII aos cantEes catholicos da Suissa
o da Clemente Xl aos magistrados dA Dô\e; a Bulia de Beatifteação de
S. Francisco Re�ds, 1716: qu�tro Bull a s de BP.nto XIII, nos anno� de
1724 e 172-3; a de OlPmente XII par'l a canoniRRção de S. Francisco
Regis; os Breves de Bqnto XIV, de 1747 e 1748; o Brevo de Pio IX ao
Cardeal Patrizi. de 2 de Març'l d e 1871.
(7) Sess. 25. O. 16.
(8) V \)09 magna turblnis et tempestati�, et flamme lgnis devorantis.
(Is. 29, 6.J

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honrar o nosso ministerio: Ministerium meum honorabo ,


(9) cumpre-nos levantar a voz afim 1. º de premunir as
nossas queridas ovelhas contra as pcrfidas ciladas da
astuta serpente; 2. º de ad vC\gar a causa da innocencia
ealumniada e opprimida .
Tal é o que, em desempenho dos arduos deveres de nosso
augusto cargo Pastoral, vamos fazer com toda a franqueza
e liberdade apostoli ca , porque assim urge ante Deus e
ante os homen s N ihil in sa�erdote tam periculosum apud
:

Deum, tam turpe apud homines, quam qu od sentiat non


libere denuntiare (10).
Soltamos o gri to de alarma , bradamos-alerta l Cum­
primos o dever de atalaia de Israel. Ai, porém , daquelle
que fôr surdo f
Attentos , pois , de ani mo calmo e repousado , ouvi , ó
Filhos de minha alma f
a voz de Deos que p ela
OUl'i
nossa boca vos exhorta e vos põe de sobreaviso: Tanquam
Deo exhortante per nos. {11)

(9) Rom 11. 13.


. .

(10) Santo Ambrota. Epist. 29 ad Theodos. Imper.


(11) 2 Cor. 5. 20.

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PRIMEIRA PARTE

1.

A sse n tem os , Irm ãos e F i lh os muito ama dos , a pedra


an g ul ar do edificio de nossa argumentação.
Como base f un dame n tal solida, in concussa da primeira
,

parte d �s ta Ins tr ucção que o ra vos dirige o Nosso zelo


Pas toral vamos transcrever fielmente u m tlocumen to de
,

irrefragavel auctoridade , fornecido pela p rop ria M açonari a .

Este documento precioso é a lnstrucção secre ta e perma­


nente da Venda Suprema, que , tendo sido endereçada a
todas as Vendas , em 1 81 9 , para servir de norma e guia
aos iniciados mais adiantados nos fun dos arcanos da Orden1,
sahio a lume ha cerca de quatorze para qu i n ze annos.
O ti tu lo deste docum en to basta para ,·ol-o recommendar
e merecer de voss a parte leitura attenta e retlectida.
Eil-o na sua integra :
« que nos constituimos em co rpo de acção e que
Des d e
a nossa Ordem reina tanto no fun do da Venda mais dis­
tante , como da que mais se avisinha do centro, um p en sa­
mento ha qu e sempre preoccupou os homens que aspira­
ram á regen eração universal : é o livramento da I talia ,
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donde deve resultar em dia determinado a alforria do
mundo inteiro, a republica fraternal e a harmonia da hu-
'manidade. Este pensamento não foi ainda comprehendido
pelos nossos irmãos d'além dos Alpes. Elles crêm que a
Italia revolucionaria só póde conspirar na sombra, distri­
buir algumas punhaladas a esbirros e traidores, e sotlrer
tranquillamente o jugo dos successos que se verificam
além dos montes _pela Italia, mas sem a Italia. Este erro já
muitas vezes nos foi fatal: não devemos combatel-o com
phrases; seria o mesmo que propagai-o : é mister acabar
com elle por meio de factos. Por isto, entre os cuidados
que têm o privilegio de agitar os espiritos mais poderosos
das nossas Vendas, um ha que não devemos esquecer.
« O Papado exerceu sempre acção decisiva nos negocios
da ltalia. Pelo braço, voz, penna e coração dos seus nume­
rosos Bispos, padres. f1·ades, religiosos e fieis de todos os
paizes, o Papado tem sempre pessoas dedicadas para o
martyrio e para o enthusiasmo. Em toda a parte onde os
chama, encontra amigos que morrem por elle ou de tudo
se privam por sua causa. E' uma immensa alavanca, cuja
força só alguns papas avaliaram, empregando-a todavia
com muita parcimonia. Não se trata hoje para isso de res­
tabelecer esse poder, cujo prestigio momentaneamente se

acha debili tado: o nosso fim princ·ipal é o de Voltaire e da


Revolução franceza : o ANIQUILAMENTO PERPETUO no CATHO­
L1c1s110 E ATÉ DA IDÉA CHRISTÃ, que, caso de perma necer
no

de pé sobre as ruinas de Roma, viria a perpetuar-se mais


adiante. Para attingir porém com mais certeza este fim e
não prepararmos com satisfáção revezes, que adiam inde­
'
finidamente e compromette m no futuro o exito de uma boa

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causa, não devemos escutar esses francezes vaidosos, nem


os nebulosos allemães, nem os melancolicos inglezes, que
julgão uns e outros matar o Catholicismo, ora com uma
canção obscena, ora com uma deducção illogica, ora com
um sarcasmo insolente, que passa como contrabando, como
os algodões d'lnglaterra. O Catholicismo tem vida mais
tenaz do que isto. Vio inimigos mais implacaveis e terriveís
e di-vertio-se em lançar agua benta no tumulo dos mais
furiosos. Deixemos pois nossos irmãos d'aquelles paizes
entregar-se ás intemperanças estereis de seu zelo anti-ca­
tholico: consinta·mos ..lhes até que ·zombem das nossas Ima­
gens de Nossa Senhora e da nossa APPARENTE DEVOÇÃO. Cem
este passaporte podemos conspirar á vontade, e pouco a
pouco chegar ao termo proposto.
« O Papado ha dezeseis seculos que é inherente á historia
da Italia. Não póde ella respirar nem mover-se sem licença
do pastor supremo: com elle tem os cem braços de Briareo:
sem elle está condemnada á lamentavel impotencia. Só tem
divisões para fomentar, odios para patentear, hosiilidades
para levantar desde a pririleira cordilheira dos Alpes até
ao ultimo monte dos Appeninos . Nós não podemos querer
semelhante estado de cousas : importa pois procurar remedio
á esta situação. Achado está o remedio. O Papa, seja elle
quem fõr, não virá para as sociedades secretas : á estas é
que cumpre dar os primeiros passos para a 1greja, afim de
"6neel-os a ambos (o Papa e a Igreja).

« O · trabalho que vamos emprehender não é obra nem

de um dia, nem de nm mez ou anno: póde durar muitos


annos, um seculo talvez; mas, em nossas fileiras, morre o
·SOidado e o combate continua.

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« Não está em nossa mente angariar os Papas para


a nossa causa, fazer delles neophytos para os nossos prin­
cipios , propagado res de nossas ideias. Seria sonho ridiculo
e por qual quer modo que os successos volteiem, que os
cardeaes ou prelados, por exempJo, hajam entrado por
vontade ou surpreza em uma parte dos nossos segredos,
não é isto uma razão para desej armos a sua elevação á
cadeira de Pedro. Esta elevação perder-nos-hia : bastava a
ambição para os im p ellir á a postasia, a necessidade do
poder havia de forçai-os a i mmolar nos . O que devemos
-

pedir, p rocurar e encontrar, como os J udeos esperam o


Messi as , é um Papa adaptado ás nossas necessidades. Ale­
xandre VI, com todos os seus crimes particulares, não nos
conviria, porque nunca errou em mat�ria de fé. Um Cle­
m ente XIV, pelo contrario, seria o que nos convinl1a em
Ioda a extensão. Borgia era um libertino, verdadeiro sen­
sualista do seculo XVIII, extraviado ·no XV. Apezar dos
seus vicios foi anatbematizado por todos os vicios da phi­
losophia e incredulidade, e incorreo n·este anathema pelo
vigor com que defendeu a I greja . Ganganelli entregou-se,
de pés e punhos liga dos, aos ministros dos Bourbons, que
lhe incutian1 medo, aos incredulos, que apregoavam a sua
tolerancia, e Ga n ganelli \ornou se 001 grande papa. Pouco
-

roais ou menos outro assim é que nos convinha agora,


sendo possivel. Assim marcharemos com ma is firmeza ao
assalto da Igreja, do que por meio dos escriptos de nossos
irmãos da França, e até do ouro da Inglaterra. Quereis
saber a razão? E' porque, d'este modo, para destruirm os o
rochedo sobre o qual fundou Deus a sua Igreja, não pre­
cisamos de vinagre corrosivo, polvora, ou m esmo de nossos

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braços: leremos o dedinho do successor de Pedro envolvido


na conspiração, e este dedinho vale, em tal cruzada, todos
os Urbanos II e S. Bernardos da Christ andade.
« Não duvidamos chegar a este termo suprelllo de
nossos esforços ; mas quando e como? Ainda se não acha
desembaraçada a incognita. Sem embargo, como nada nos
deve d3sviar do plan
· o traçado e, pelo contrario, tudo
deve concorrer para elle, como se o exito feliz devesse co­

roar desde o dia de amanhã a obra apenas planejada,


queremos nesta instrucção QUE FIC.,RÁ SECRETA PARA 03

SIMPLES 1N1c1Anos, dar aos propostos da Venda Suprema


conselhos qoe elles deverão transmittir á universalidade dos
irmão�, sob a fórma de doutrina ou memc;randum. Im­
porta principalmente, usando de certa discrição cujos
motivos são palpaveis, nunca deixar presentir que estes con­
selhos dimanam da' orden' desta Venda. Manobra-se ahi em
demasia com o clero para que possamos a esta hora brin­
car com elle como com um desses pequenos soberanos ou
principes que um sopro faz desapparecer.
« Pouco ha que fazer com velhos Cardeaes on Prelados
cujo caracter é bastante decidido : é mister deixar os in -
corrigiveis á escola de Gonsalvi, ou procurar nos nossos
arsenaes de popularidade as armas que lhes tornarão ridi­
culo ou inutil o poder quando o tiverem nas mãos. Uma
palavra que se inventa com habilidade � se lem a arte de
derramar no seio de certas familias honradas e escolhidas
para que dahi desça aos botequins e destes ás ruas : uma
palavra pôde algt'mas v ezes matar um homem. Se um
padre chegar de Roma para exercer alguma funcção pu­
blica. nos confins da provincia, indagai logo qual é o seu

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caracter, antecedentes,qualidades e defeitos principalmente .


E' elle um inimigo declarado? Um Albani, um Palotta,
un1 Bernetti, um Della Genga, um Rivarola 1 Envolvei-o
com todos os laços que puderdes armar-lhe debaixo dos
pés: c rea i lke uma (lessas reputações que atemorisam as
-

creanças e as velhas ; pintai-o c ruel e sanguinario, contai


a lgu n s feitos de crtieldade que possam facil'"""nte gravar-se

ua memoria do povo. Quando os jornaes POR INTERVENÇÃO


NOSSA se aproveitarem d'estas narrações, que elles aformo­
searão inevitavelmente, pelo respeito á verdade, mostrai, ou
antes fazei mostrar por algum respeitavel imbecil, essas
folhas onde estão relatados os nomes dos individuos e os
excessos inventados. Na Italia não faltarão, como não faltão
'

em França e na Inglaterra, penas taes que sabem aparar-se


para aJ ment iras uteis á boa causa . Com jornal, cuja lingua
elle não comprehende, mas onde encontrar o nome de seu
juiz ou delegado, o povo não precisa de outras provas. Elle
está na infancia do liberalismo, crê nos liberaes como de­
pois crerá em nós, não sabemos muito em que.
« Esmagai o inimigo quem quer que elle seja, es­
magai o poderoso á força de maledicencia ou de calum­
nias; mas principalmente esmagai-o no c1vo. A' mocidade
é q_ua devemos dirigir�nos, a ella é que de v emo s sedu�
zir, SEM QUE DISSO DESCONFIE, sob o estandarte das so­
ciedades secretas. Para caminhar com passos� contados,
mas seguros, nesta via perigosa, duas cousas são indis­
pensaveis. Deveis simular a simplicidade das pombas e a
prudencia d�' serpentes. Vossos pais, filhos e mulheres
até devem sempre ignorar os segredos que guardais no peito;
e se vos aprouvesse, para melhor illudir as vistas inqui-

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sitoriaes , IR MUITAS '1EZES Á CONFISSiO, estais como de


direito authorisados a guardar o silencio mais absoluto
sobre estas cousas. '\!ós sabeis que a minima revelação ,
o mais leve indicio que escape no b ibunal da Peni­..

tencia o u em otltra qualquer parte , póde acarretar gran�


des calamidades , e q ue o revelador voluntario ou in­
volun tario ASSIGNA A SUA SENTENCA DE MORTE •

« Ora , pois , para assegurar um Papa como nós o q ue-


remos , deve-se--lhe adaptar uma geração digna do rei­
nado que imaginamos . Deixai de lado a velhi ce e a i dade
madura : ide á mocidade, e, se possivel fõr, até a in­
fancia . Nunca tenhais para ella uma palavra de impie­
dade ou impureza: Ma xima debetur puero reverentia, n unca
esqueçais estas palavras do poeta , po�que ellas vos- servi­
rão de salvaguarda contra as licenças de q ue i mporta
essencialmente abster-se no interesse da causa . Para fa­
zei-a fructificar no seio de cada familia , para terdes di­
reito de asylo no lar domestico , deveis apresentar-vos
com todas as apparencias de homem grave e moral . Es­
tabelecid a a vossa reputação nos collegios , lyceus , univer­
sidades e seminarios, tendo captado a confiança dos pro­
fessores e e stud an tes , esforçai-vos principalmente para
conseguir que os que se alistam na milicia clerical pro­
curem a nossa convivencia. Nutri-lhes o espirito com o
antigo esplendor de Roma papal;. existe sempre no fun do
do coração do italiano um pezar pela Roma republicana.
Confundi estas duas recordações com habilidade . Excitai ,
electrisai essas naturezas tão susceptiveis d e inOammar­
se , Ião cheias de patrio tico orgulho . OfJerecei-lhes primei­
ramente, mas sempre em segredo , livros inoffensivos�

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poesias fulgentes com emphase nacional, e pouco a pouco
trareis os vossos babosos ao gráo requerido. Quando em
todos os pontos do Estado ecclesiastico este trabalho quo­
tidiano tiver dérramado nossas itléas como a luz, então
podereis apreciar a prudencia do conselho de que toma­
mos a i niciati va.
« Os aconteci1nentos que , como pensamos , se preci­
pitam com grande velocidade , vão chamar ne�essariamen t e
d'aqui a alguns mezes uma intervenção armada da
Austria. Ha loucos , que, com alegria , se comprazem em
arremessar os outros nos perigos; e sem embargo são
elles que em hora certa arrastam até os prudentes. A re­
vol ução que se faz meditar á Italia só terminará em des­
graças e proscripções. Nada está maduro ainda , nem os
homens, nem as cousas, e nada sel-o-ha ainda por n1uito
tempo ; mas estas desgraças poderão facilmente servir­
vos para fazer vibrar nova corda no coração do clero novo ,
e será o odio ao estrangeiro. Fazei com que o Allemão se
torne ridiculo e odioso antes mesmo da sua entrada pre­
vista. A' idéa de Supremacia Pontific-ia ajuntai sempre
a lembrança das guerras do sacerdocio com o imperio .
.Ressuscitai as paixões mal apagadas dos Guelfos e Gibelinos
e assim com pouco trabalho alcançareis uma reputação de
bom catholico e patriota puro.
« Esta reputação dará entrada ás nossas doutrinas no
'

seio do clero novo, assim como no fundo dos conventos.


Dentro de alguns annos este clero terá , pela força das.
cousas, i nvadido todas as funcções : governará , adminis­
trará , formará o conselho do soberano ; será chamado
para a escolha do futuro Pontiflce , e este Pontifice, como

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a maioria de. seus contemporaneos, estará mais ou menos


1
imbuido nos rn·incipios italianos e humanitarios que vamos
principiar a pOr em giro. E' um grãosinho de mostarda
que confiamos á \erra ; mas o sol das justiças fal-o-ha
germinar até á sua mais elevada poLencia, e Yereis um
dia que rica seára ha de produzir este pequeno grão f
« No caminho que abrimos aos nossos irmãos, ha
grandes obstaculos que vencer, difficuldades de mais de
uma especie que superar; pela experienci'a e pela perspi­
cacia é que se ha de triumphar; mas o fim é tão justo que
para attingil-o importa soltar todas as vélas. Quereis revo­
lucionar a Jtalia '! Procurai v Papa, cujo retrato acabamos
de esboçar. Quereis estabelecer o reinado dos eleitos no
throno da prostituta de Babylonia? Ande o clero debaixo
das nossas bandeiras, pensando que 1narcha sempre sob o
estandarte apostolico. Quereis fazer desapparecer o ultimo
vestigio dos tyrannos e oppressores? Lançar as vossas
redes como Simão Bar Jon a ? Lançai-as no fundo das sa­
-

cr·istias, dos seminarios e conventos, antes do que no fundo


dos mares; e se n�da precipitardes, nós vos promettemos
pesca mais miraculosa do que a delle. O pescador de pei­
xes torna-se pescador de homens ; cl1amareis amigos em
torno da cadeira apostolica. Terei.� péscado uma revolução
co1n tiara e capa de asperges, marchando com a cruz e
oom a bandeira, revolução que só precis:i.rá de ser t1m
pouco aguilhoada para incendiar os quatro cantos do
mundo.
« Deve cada um dos actos da n'Ossa vida tender á des­
coberta desta pedra philosophal. Os alchimistas da idade
média. perderam o seu tempo e ouro em procura deste

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-!O-
sonho. sociedades secrete.is realizar-se-ha por uma
O das
razão muito simples,- porque funda-se nas paixões huma­
nas. Não desanimeis, pois, com uma derrota, revez ou
contratempo; preparemos as nossas armas no silencio das
· s; assestemos as nossas baterias ;
Venda lisongeemos todas
as paixões, tanto as mais perversas, como as mais generosas ,
e tudo nos induz a crêr que este plano será bem succe­
dido algum dia, mesmo além de nossos calculos menos
provaveis. » (12)
Eis ahi, Irmãos e Filhos em Jesus-Christo, bem mani­
festo, patente, escancarado, o plano tenebroso das socieda·
des secretas 1 ,

Nesta peça archetypa , feitura de malicia, para assim


dizer, mais que humana, que acabeis de lêr, sem duvida
cheios de horror e de assombro, se acham formulados com
toda a clareza :
1. º O fim a que tende a }laçonaria ;
2. º O meio mais efficaz, a seu ver, com que póde attingir
esse fim :
3. 0 O methodo que deve seguir, para remover quaesquer
obices que por ventura lhe embarguem a realização do seu
,,

plano infernal ;
4. 0 A preparação que deve ter e a marcha gradual que
deve levar.
Testemunho mais poderoso, prova mais exuberante, d�
cumento mais peremptorio ·não é preciso para revelar-vos
toda a malicia dos negros e temerarios intentos da Maço­
naria. Este documento por si só é sobrem·a neira eloquente,

(12) Crét1neau-Joly. L'Eglise Romaine en fac1 às la rholutioft, t. n.


�)
pag. u .....

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- 21-
esmagador, e basta para levar a convicção ao animo menos
credulo e mais refractario. Commentemol-o, todavia, cor­
·roborando-o com outras provas ir.recusaveis hauridas ·nas
mais puras e genuinas fontes da Maçonaria.
Uma observação, antes de começarmos.
que a Maçonaria
Não se diga brazileira nada tem de
commum �om a da Europa.
Escusado parece demorarmo-nos em responder a tão f ri­
vola objecção. Porquanto já o inclyto Prisioneiro d a Ilha
das Cobras refutou-a cabalmente (13), já Nós mesmo a des­
lruimos (1.i) , já um maçon, r epresentante da Nação , pul­
verison-a no seio do nosso ·parlamento (15).
« A Maçonaria, diz um auctor sagrado da seita, não é
de paiz nenhum ; não é f ranceza, eseosseza ou am eri cana .
Não póde ser sueca em Stockolmo, prussiana em ·B erlim ,
turca em Constantinopla , se lá existe. E' UMA E UNI­
VERSAL: tem muitos centros de acção, mas só um centro
de uni dade. Se ella perdesse este caracter
. de unidade e
universalidade, DEIXARIA DE EXISTIR. )) ( 16)
E pouco importa que ella se subdivida em mil socie­
dades mais on menos secretas, mais ou menos revo­
lucionarias, mais ou menos impias, tomando diversos
nomes, segundo as circums\ancias de tempo e lugar.
Não é porque se denomine Carbonaria, /Iluminismo ,
Joven Italia, loven França, Joven Allemanha, etc., que

(13) Instrue. Pastoral de 25 de Março de 1878, que mandamos publicar


em nossa Diocese.
(14) Carta Pastoral de 2 de Fevereiro de 1878.
(13) Deputado Silveira Martins. Sess. de 29 de Maio de 1874.
(16) Irmio Ragon. (Curso phil.)

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- !!-
ella deixa de ser essencialmente a mesma. Ninguem
ha ahi que ignore que essas associações diversamente­
intituladas são uma e a m esm a cousa, são vergonteas
de um só tronco, ramos da grande arvore maçonica.
Uma só attenuante encontramos para os maçons bra­
sileiros; - é que, d' entre elles, poucos são os que têm
cabal conhecimento dos planos sinistros da Maçonaria.
Facilmente se comprehende que assim seja, por isso
que a lnstrucção 1ecreta que acima reproduzimos não·
póde se r communicado senão aos filiados que. tendo
attingido os nltimos gráos maçonicos, já houverem sido·
iniciados nos altos segredos da seita.
Isto, porém, de modo algum absolve a Maçonaria
brazileira, nem obsta a , que, na essencia, no fim e
no plano, _seja ella identicamente a mesma que a da.
Europa.
E ntremos� fagora em mataria.

II.

I.• -Qual o fim da !Haçon�rla?

« nosso fim principal é o de Voltaire e da Re-·


O
volução franceza:- o ANIQUILAUENTO PERPETUO DO CA­
THOLICISllO E ATÉ DA IDEIA CHRISTÃ, que, no caso de
perm an ecer de pé sobre as rulnas de Roma, viria a.
perpetuar-se n1ais a dian te . . »
Eis o fim ultimo.

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-!3-

« Desde que nos consLituimos em corpo de acção e ·

que a nossa Ordem reina tanto no fundo da Venda


mais distante, como da que mais se avisinha do centro t

um pensamento ha que sempre preoccupou os homens


que aspiram á regeneração universal : é o livramento
da Italia., donde deve resultar em dia determinado a
alforria do mundo inteiro, A REPUBLICA FRATERNAL. ))
Eis o fim secundaria.
C<'m quanto affirmem alguns maçon:i que a �laço-
,naria se não envolve em religião nem em politica,
por lhe ser isso vedado pelas suas constituições, nada
todavia é menos verdade que semelhante asserto. Pro­
vam-no os proprios escriptores mais abalisados e � de­
dignos da seita.
Ides ouvir, Irmãos e Filhos carissimos, o que, em
1854, dizia o irmão Bourlard no Grande Oriente da
BeJgica, no meio de geraes applausos do povo ma­
çonico:
« Nós, maçons, temos o direito e o dever de occu­
par-nos com a questão religiosa dos conventos e de
atacai-a de (tente ; é mister que o paiz inteiro cure-se
dessa lepra, ainda quando lhe seja preciso empregar a
força.. . .... As grandes questões de principios politicos,
tudo o que é relativo á organisação, á existencia, á vida
de um Estado, ah 1 tudo isto. sim , tudo isto pertence­
nos em primeiro lugar, tudo é de nossa alçada, para dis­
secar e fazer passar pelo crisol da r�zão e da intelli­
gencia. & (17).

(17) Cri d'alarme. p. 11, 12.

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- 2'1 -

Da mesma sorte pensam os irmãos Rebold, Crémieux ,


Ragon , L. Blanc, Verhaegen ; pois sustentam que , sendo
as constituições maçonicas meros regulamentos, acima dellas
estão os princip·io� da Maçonaria; e que, por conseguinte,
póde ella envolver-se como jd o tem {eito, nas lutas religio­
,

sas e politicas. Nega l o accrescentam, seria calumniar a


- ,

historia. (18).
Com o estes , amados Filhos, facil , facillimo ser-nos-hia
adduzir uma infinidade de outros documentos, demons­
trando á toda a luz da evidencia que, em vez de conser­
var-se estranha, como inc u lca , a Maçonaria envolve-se
por demais em eleições, governos, negocios publicos, em
todas as questões , em summa, politicas e religiosas que
se ventilam no seio da sociedade. Mas, para não sermos
demasiado prolixo, forçoso é restringirmo-nos aos dous
pontos capitaes.
1. º - A abolição da religião ca tholica a negação com ­ ,

pleta do Catholicismo é o fim supremo da Maçonaria·.


Provemol-o com outros documentos : invoquemos o tes­
temunho dos auctores maçons mas assignalados , cujos
�scriptos são, na seita, de grande auctoridade e como que
·sagrados.
« A Maçonaria,. diz o irmão Franz-Faider , está acima
das religiões e das· constituições , quaesquer que sejam
.as suas formulas . A MACONARIA É PARA NÓS A RELIGIÃO

VERDADEIRA E SUBLIME ' que nosso coração ambicio-


na. » (19).

(18) Gautrelet. A Franc-Maoonaria t. 1. p. 109, 110.


{19) Gautrelet. t. 1. p. 87.

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« Nada de dogmas, diz o irmão Potwin, nada de jugo


nem de tyrannos, nada de Messias. » !
( O)
« O culto da natureza, diz o irmão Ragon, é o alvo
da_ Maçonaria. » (21)
« Os maçons, diz o irmão Proudhon, não têm altares,
simulacros , sacrificios, orações, sacramentos, graça , mys­
ter-ios, sacerdocio, profissão de fé. µem culto. » (22)
Não se póde ser mais claro , mais explicito, nem mais
positivo!
Quereis ainda auctoridades ?
Pois bem : fallem agora os oraculos da seita, as Lojas.
Eis o impio programma que , em 1866, adoptaram as
Lojas-Perfeita Intelligencia e Estrella, do Grande Oriente
de Liége, e mais a Loja dos Philadelphos, do Grande
Oriente de Londres :
« Subtrahir a humanidade ao jugo dos padres ;
« Substituir a (é pela sciencia ;
« Crear as austeras satisfações da consciencia , pelo

bem que se haja feito, em lugar das po�posas esperanças


de recompensas celestes ;
« Desviar do espirito vã preoccupação de uma vida
a

futura e o fetichismo de tima providencia prompta a soccorrer


todas as miserias;
<( Realisar a justiça em vez de promettel-a n'um mundo

incognito:
« Taes são as nossas e vossas tendencias. » {23)

(�) Ibidem.
(21) Curso phil.
(22) De la justice dana la Révolution et dans l'Eglise.
(28) �eut. t. 1. p. 206.

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- !6 -

Tudo isto é o mais claro possivel f


Funda-se um templo maçonico 1 O primeiro eebo que
Jhe rebõa nas tetricas abobadas é o brado de gu�rra á
Religião Catholica 1
Na abertura da loja Burlamacbi, em Lucca, declarou
o irmão Fortini que (( aos maçons fõra confiada a grande
missão de desarraigar os antigos prejuizos, profligar o
obscurantismo (o Catholicismo} e ensinar o povo credulo,
enganado pelas manhas perfidas dos· Jesuitas. )) Depois
delle levantou-se o irmão Borganti, exhortando os ma­
çons « a fabricar um templo á virtude e cavar uma
masmorra ao vicio, reforçando os principias maçonicos
e aniquillando a obra dos principios catholicos. » (�4)
O que levamos dito , caros Irmãos e Filhos no Se­
nhor, por si só prova de sobejo quaes os iniquos in­
tentos da Maçonaria contra o Catholicismo. Vamos porém
além, penetremos até o amago da questão; e ve remos
a seita anathemaiisada atacar todo o magestoso edificio
da Religião Catliolica, combatendo-lhe a um tempo o en­
sino, os sacramentos, o sacerdocio.
Principiemos pelo ensino.
- A Fé cath olica ensina que ha um Deos creador de
todas as cousas.
Affirma a impiedade maçoniea que Deos
é uma palavra
ôca de sentido, que f6ra da natureza se não deve pro­
curar a divindade; e que a natureza é Deos. (25)
- A Fé catholica nos ensina que este lleos reve­
lou-se aos nossos primeiros pais.

(�) A Maçonaria desmascarada, pag. 00.


(25) Irmão Lacroix. Loja de Liége, 1965. Neut. t. II. plg. 289.

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Affirma a impiedade maçonica que o Deos revelador


não existe e nem é possivel. (!6}
- A Fé catbolica nos ensina qae este Deos é senhor
e juiz. nosso, ante cujo tribunal havemos todos de com-
parecer um dia.
Affirma a impiedade maçonic� que só respondemos por
nossos actos á nós mesmos; e que cada um d,e nós é para
si um padre e um Deos. (27)
- A Fé cathollca ensina que este Deus remunera os
bons com a bemaventurança sem fim e castiga os máos com
penas eternas.
Affirma a impiedade maçonica que não ha bemaventu­
rança semtermo, nem supplicio infindo. (28).
- A Fé calholiea ensina que este Deus é um em es­
sencia e trino em pessoas : Padre, Filho, e Espirito Santo .
.Affirma a impiedade maçoniea que a SS. Trindade É
UH INVENTO SACERDOTAL, (!9) e que Deus não é nem Crea­

dor, nem Pai, nem Verbo , nem Paracleto , nem amor, nem
Redemptor. (30)
- A. Fé catholiea ensina que o Filho baixou do Céo á
terra, tomou carne humana nas purissimas entranhas da
Immaculada Virgem Maria, e nasceu sem que Elia deixasse
de ser virgem antes do parto, no parto e depois do parto.
Affirma a impiedade maçonica que o mysterio da Incar­
nação é pura fabula ; que na conceição de 1esus nada hou"e

(26) Irmão Lacombé, Neut. t. 1. pag. 1!4.


(�) Irmão Lacroix. Discurso proferido nos funeraes do ir. •• Ve�
baegem.
(28) Neut. t II. p. 901.
(29) Bibliotheca Maçonica. v. 1 p. 59.
(80) Proudhon. De la justice dana la Revolut. et dana l'Egliae.

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- 28 -
de extraordinario, senão as eminentes faculdades de que
EUe foi dotado; e que, exceptuando isto, Elle nasceu se­
gundo o curso ordinario da natureza. (31).
- A Fé catholica ensina que o Filho é verdadeiro
Deus e verdadeiro homem e que morreu pela nossa sal­
vação.
Affirma a impiedade maçonica que Jesus Christo não foi,
mais que um sublime philosopho, um agitador por excellen­
cia (32), cuja morte ignominiosa fôr-a a justa rmnição de
seus crimes. (33).
Que horrores J 11 que blaspbemias 11 !
- A Fé calbolica ensina que Jesus-Christo fundou,
como sua, a Igreja uma, santa, catholica e apostolica, com
seus dogmas, mysterios e cuJto, e que esta é a Igreja
Romana .
Affirma a impiedade maçonica que Elle não fundou reli­
gião nenhuma, nem ensinou dogmas, nem estabeleceu culto
(34), e que a Igreja Romana é a synagoga dos novos phari­
seus (35), cadaver putr·ido já decompondo-se em deleterias
·exhalações (36).
- A Fé catholica ensina que se deve ouvir o magisterio
dessa Igreja Santa, acatar as suas decisões, executar. os seus
mandamenlos, sob pena de ser havido como publicano e
pagão.
Affirma a impiedade maçonica que se deve sempre cons-

(81) Irmão Damm. A Franc-Maçoneria do P• Gyr. p. 45. 55.


(32) Verdade n. 1.
(3.1) Irmão Ragon. Curso phil.
(84) Pelicano n. 69.
(35) Jornal do Commercio de 2-2 de Abril 1872.
(36) Verdatü de 15 de Janeiro de 1873.

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pirar contra a Igreja de Roma servindo-se. de todos os acci­


dentes, aproveitando quaesquer eventualidades (37).
- A Fé eatbolica ensina , em summa, que se deve crêr
em todas as verdades prégadas pela santa Igreja de Deus .
Ajlirma a impiedade maçonica que crêr é opposto de saber,
e o homem credulo muitas vezes não é senão um miseravel,
que depende de qt,alquer que não tem compaixão de um ente
sem defeza (38) .

Quantos dislates ! quantos horrores f quantas blaspbe­


mias 1 •

E assim por diante. A rasoura. maçonica nã() poupa ne-


nhum dos outros dogmas e mysterios sacrosantos do Catho­
licismo 1
Ouvi agora, Irmãos e Filhos dilectissimos , o que pensa
a Maçonaria ácerca dos sacramentos . Ouvi e pasmai 1

« O Baptismo- christão, diz ella , que deriva do antigo uso

das abluções, é um reconhecimento publico do menino ,


que lhe dá um caraeter de legitimidade.
« A Confirmação foi estabelecida para confirmar o estado

baptismal dos meninos. Segundo reconhecimento publico.


Por esta ceremonia e· pela do Baptismo chegava-se a conhe­
cer, despezas publicas , o recénseamento da população.
sem

« A Extrema Uncção teve por fim conhecer o numero

das pessoas que morrem e certificar a identidade do fal­


lecido, com receio de que houvesse substituição para as
heranças na ausencia dos herdeiros legilimos e assegurar
os seus direitos de suecessão. » (39)

(37) Carta de Piccolo-Tigrs aos agentes superiores da Venda piemon teza .


(88) �rmio Ragon. Cura . phil .
(39) Irmão Ragon . Curso phil. p. 128.

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« Eucharistia é apenas um symbolo que serve de


A
recordar, não a morLe de Jesus-Christo , senão a excel­
lencia de sua dout1'ina e seu grande preceito de amor do
proximo. » (40)
« �latrimonio indissoluvel é opposto ás leis da na­
O
tureza e da razão : ás primeiras , porque as co�veniencias
.

sociaes têm unido frequentes vezes entes que a natureza


linha separado por antbypathias que só no matrimonio
se manifestam ; ás segundas , porque a indissolubilidade
faz do i\IDOr uma lei e procura avassallar o mais capri­
choso e involunLario dos sentimentos » (41) . . .

Assim pois, segundo a Maçonaria, os sacramen·tos,


1 .º não são de instituição divina ; 2.0 não têm fim nem
efJeitos sobrenaturaes r
A seita maçonica não só sustenta esta doutrina acerca
dos sacramentos como até lhes substitua sacl'ilegas mo­
rnices, que não d�screveremos aqui'. por amor da brevi­
dade . (42}
Basta dizer-vos que á l\'laçonaria , verdadeira synagoga
de Satanaz , como admiravelmente caracterisou-a o incom­
paravel Pio IX , applica... se perfeitamente o que do demonio
dizia Tertuliano : « Nas sombrias cavernas de seus templos,
imita ella as eeremonias dos nossos Sacramentos divinos ;
baptisa os que crêm em sua doutrina ; promette-lhes a
terr1issão dos peccados ; confere-lhes funcções sacerdotaes ;
imprime-lhes na fronte o signal da confirmação ; celebra a

(40) Irmão Damm . A Je·ranc-Maçon . do P. Gyr. p . C5 .


(41) Saint Albain, p . 211 .
(42) Vide Historia da Maçonaria, por Dubreuil. tom . II.

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ob lação do pão ; e como pontifice supremo administra-lhes


o matrim on io » (43)
.

O sacrame nto da Ordem tambem não lhe merece mais


conside ração e respeito , e por isso o ataca com ig oal
furia.
Para convencer-vos desta triste v erdade , não preci sais
senão ver a im pi edade com que a seita sacri lega trata os
sacerdotes de Jcsus-Cbristo os ministros da Religião
,

Catholica.
Elia diz que REPELLE 03 PADRES , porque os julga escravos
do Vaticano ; e porque o clero catholico, é clero escravo,
cler o machina , para curvar 0.1 povos diante do despotis­
mo. (44)
Elia diz que o maior obstaculo para a liberdade physica,
intellectt1al e moral do homem é, sem contradicção , o padre
tal como a Igreja o fez, o artista, o propagador mais pode­
roso e formidavel dos prejuizos, da ignorancia e supers­
tição . (45)
Elia diz que « o pad re a hydra monachal , é para a Ma­
,

çonaria uma odiosa :personificação d e superstição e fana-


1ismo : foram os pad res que inventaraJI} o céo e o inferno ,

o temor das penas futuras e a esperança das recompensas


eternas, e que i m a gi naram a confissão para estab6lecer o
:$eU governo. » ( '6)

( 13) Diabolus ips.is .q uo que res divi norum &acramentorum in id olorum


�mysteriis wmulatur : i n g i t et i pse quosda10 u tiqu e credentes . Expiationem
t
delictoru1n repromittit et sic ad huc initiat . • • Signat illic in írontibua ml­
·lites anos : celebrat panis oblationem . . . Quidquod et summum ponti­
JJ.eem in un is nuptii � st ituit . -(De prtesC'ip t . e. 40) .
(ü) lomal do Commercio, � da Abril de 1872 .
(45) Cadeia da Uni4o às Lonà, ·es, 15 de Setembro de 1865 .
(46) lrmio Franz Faider,, j á cllado .

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Como acabais de ver , dilectos Irmãos e Filhos em Jestis­


Christo , nada fica intacto no rnagestoso edificio do Catho­
licismo . A mão sacrilega da seita ominosa, com insano
labor, se esforça por destruil-o até as suas bases. Abi ,
cada pedra , desde o apice até os mais fundos alicerces,
faisca aos repetidos golpes do infernal carnartello !
A auctoridade da Igreja, a divindade do seu Ado­
ravel Fundador, sua doutrina, seus dogmas, mysterios,
sacramentos, ministros, tudo , tudo guerreia a hydra
das trevas , tudo nega a seita i ncredula , de tudo blas­
phema a sua lingna ímpia !

2.º Se bem propale a Maçonaria que não trata de po­


litica, como não trata de religião , e exteriormente
inculque obediencia, submissão, acatamento aos Sobe­
ranos ; nada, todavia, é menos exacto do· que isto ;
porquanto o seu fim secundaria é levantar sobre as
ruinas das monarchias a REPUBLICA UNIVERSAL .
Senão , vejamos o que ella, a seita manhosa, pensa,
diz e faz a tal respei to .
�< A realeza, diz a maçonica Sociedade das E�tações

aos seus filiados, é execravel. 'fão funestos são os reis


á especie humana , como aos outros animaes o são os
tigres. Os reis não se julgam, matam-se. » (47}
« A queda dos thronos, diz o Piccolo Tigre, sum­
midade da Maçonaria , tenho-a como certa, eu que acabo
de estudar, em França, na Suissa , na Allemanha e
até na Russia, o TRABALHO DE NOSSAS SOCIEDADES . o assalto
que d'aqui a alguns annos, talvez mesmo d'aqui a
(47) St. Albain . p . 456.

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al guns mezes, daremos aos principes da terra, sepul ­

tal-os-ha debaixo dos destroços de seus ex e rci tos .im­


potentes e caducas monarchi as . » (48)
Na Maçonaria de adopção, d i ri ge o Grão Mestre á Per­
feita Mestra, quando lhe confere este gráo, as se guintes
palavras
« A principal de vossas obrigações será irritar o povo

cont ra os reis e os padres ; no botequim , no theatro nos ,

b ailes trabalhai com esta sacf'osanta intenção,,


« Só um segredo me resta a revelar-vos , e fallemos bai�
xinho, porque ainda não chegou a occasião de manifes­
tai-o ao mundo profano . A autoridade monarchica , com
que parecemos preoccupar-nos , deve cahir um dia soo
Nossos GOLPES , e este dia está proximo. No eniretanto afa­
gamol-a para chegarmos sem e�torvo ao compl 6m en to final
da nossa missão sa grada que é o ANIQUILAMENTO DE TODAS
,

AS MON-ARCHIAS. » (49) .
Não é passivei fallar com maior clareza.
Ouçamos agora a A lliança Republ·icana Universal, soci e­
dade organ isada, em 1857 , em Nova York, pela Maç onari a
e por ella diri gida :
« fim da associação é affirmar o di r eito de todos os
O
paizes de mudarem os' seus governos em r epublica , e, por
conseguinte, o direito de todos os rep ublicanos de se reuni­
rem entre si para for mar uma solidariedade republicana .

« Para espalhar estas verdades propõe-se formar uma

s6 associação fraternal de todos os homens de principior

{4S) Carta a Nubius, de 5 de Janeiro de 1846.


(4:9) �t. Albain . p . 382.

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livres, que !desejam promover o desenvolvimento do verdo­
lleiro republicanismo EM TODOS os pAIZES E EM TODOS Oi
POVOS. » (50) .
Não se póde ser mais positivo.
Quereis ainda mais provas, amados Filhos ?
Penetremos em espirito no recinto de uma Loja maçoni-
ca , e assistamos á iniciação do gráo de cavalleiro Kadosch.

« Tendo o Grão-Mestre ajoelhado com o candidato que

vai receber o gráo , diz-lhe : « Até aqui só viste na maoo­


naria emblemas ; é tnister que vejas agora as realidades.
Estás decidido a melter debaixo dos pés os prejuizos a qne
te sujeitaste , e obedecer sem reserva a tudo o que te f6r
prescripto para a felicidade do genero humano ? » Pro­
mette-o o candidato ; levanta-se o Grão-Mestre e conlinúa :
« Se assim é , vou dar-te o meio de provares a pureza de
tuas intenções e fazeres-nos conhecer a extensão de tuas
luzes. Prostra-te por terra diante destes restos illnstres
e repete o juramento que vou dictar-te. »
O Grão-Mestre dieta o j uramento que o candidato
repete : « Em presença de Deus, nosso pai , e desta augusta
victima, eu F. juro e prometto solemnemente, sob a
,

minha palavra de honra, nunca revelar os mysterios. do


cavalleiro Kadosch e obedecer ã tudo quanto me ·for pres­
cri pto pelos regulamentos da Ordem . Juro , outro sim ,
punir o crime e proteger a innocencia. »
Então diz-lhe o Grão-Mestre : « Levanta-te e imila-me.»
Uma cabeça está alli coroada com uma tiara : o Grão­
Mestre apunhala-a, dizendo : « Odio á impostura, morte ao

(50) Neut . t. II . p. 208. 218.

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ecime. » O mesmo faz o candid�io, repetindo as mesmM
iw.Iavras. Proximo es,ti. outra ��eça eoroa�a .de louros ;­
o Grão-Mestre e o cai;ididato �jQelbam ante ella , dizendo:
o primeiro : « Gloria eterl)a ao mariyr da virt\lde 1 Sirva­
nos de lição o seu supplicio 1 Una"'°-DDs para esmagar a
�yrannia e a impostura. »
Levantam-se outra vez e aproximam-se de o.ntra cabeça
que tem a corôa real. O Grão-Mestre apunhala-a dizendo :
« Odio á tyrannià, morte ao crime. Outro tanto faz o

candidato , repetindo as mesmas palavras. » (51)


Eis ahi paten\e, bem patente , o duplo fim da :&laço.
naria : estrangular o uUimo dos padres com os intest�nos
do ultimo dos reis I
Tudo isto é por extremo significativo. Entretanto nin­
goem ·COmprehende 1
Mas, objectar-nos-hão talvez, como póde a Maçonaria
maquinar .contra o throno, ser hostil aos mQnarchas, se
os acolhe com tamanha benevolencia em suas officin.as,
fal-os sentar ao oriente das Lojas, empunhar o malhete
de Grã.O-Mestre, e presidir os trabalhos ?
A razão é muito simples ; e nol-a dá a propria
Maçonaria.
Attendei :
« A saberanos aprouve, diz um famigerado maçon , . . .

tomar a trolha e tingir o avental . ' Porque não ? Sende­


lhes cuidadosamente occultados os altos gráos , elles sabiam
da Maçonaria sómente o que se lh'Js podia mrJstrar sem risco .
Não tinham de que desassocegar-se retidos comQ esta-

(51) Ritual do Irmão Laffon t de Landebat.

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vam nos gráos inferiores , onde só viam banquetes


alegres, principios deixados e retomados á entrada das
Lojas, formulas sem applicação á vida commum , emfim ,
uma comedia de igualdade. Mas em taes materias a
comedia toca ao drama ; e os prineipes e nobres FORAM
LEVADOS A APADRINHAR COM SEU NOME , E A SERVIR COM: A
SUA INFLUENC[A , EMPREZAS LATENTES , DIRIGIDAS CONTRA
BLLE S ' (5!)
PROPRIOS . »

Sendo assim , poderão replicar-nos · ainda, que lucro


aufere a Maçonaria da admissão dos soberanos em suas
officinas ? que proveito d'ahi lhe advem ?
Acaba de nol-o dizer de passagem o celeberrimo irmão
Luiz Blanc. Ouvi agora o irmão '\renturini :
« A entrada dos soberanos na Ordem é de muito bom

agouro. COHQUANTO NÃO POSSAM ELLES CONCORRER PARA A


· coNSTRUCÇÃO DO TEMPLO MAÇONICO , e posto que tenhamos de
soffrer o espectaculo de brilhantes condecorações na sua
farda, são todavia summamente preciosos para a Ordem ,
já pelas riquezas, já pela immema influencia de que dis-
põem . . . . Onde o prin.;ipe desconfia, haveria perigo em
. .

elevar-se demasiado ; ao passo que póde-se singrar á velas


Cheias DESDE QUE BRISA FAVORAVEL SOPRA DA CôRTE. (53) .
Quereis ainda melhor 1
Ouvi o seguinte trecho de uma carta secreta da Venda
piemonteza :
« O burguez é util, mas o principe o é mais . A Venda

Suprema quer que, sob qualquer pretexto, se admittam


nas Loj� maçonicas o maior numero possivel de principes

(52) Irmão Luiz Blanc. Hist. da Bevolu. franc. t. II. ps. 82 e 83.
(68) Historia da Franc-Maoon . p. 149.

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e ricos. Ha muitos na Italia e fóra della que aspiram ás


honras assaz mode$tas do avental e da trolha symbolicas.
Lisongeai estes ambiciosos de popular·idade e arrebanhai-os
para as Lojas maçonicas.
« i Venda Suprema verá depois o qµe póde fazer delles

para a causa do progresso. ·um principe que não tem reino


a esperar é uma boa acquisição para nós. Ha muitos neste·
caso. Fazei delles franc-maçons. SERVIRÃO DE visco aos
imbecis , intrigantes, cidadãos e necessi,tados . Estes pobres
principes serão INSTRUMENTO Nosso , pensando que nós o
somos delles. E' UMA MAGNIFICA IABOLETA (5 4 ) .
Documentos os ha de sobra. : temos apenas o embaraço
da escolha. Destes ultimas, que acabamos de transcrever,
a logica concluo :
1 º Que a Maçonaria tenta substituir as diversas monar­
chias por uma R�publ·ica Universa� ;
2° Que, sentando os ·Soberanos nos Orientes da Ordem
tem a cautella de occultar-lhes sempre e cuidadosamente
os seos planos e segredos ;
3° Que se os recebe no seio das Lojas é tão sómente por
interesse, calculo e sordida especulação.
Provado fica, Irmãos e Filhos muito amados, e provado
á toda a luz da evidencia, o duplo fim da Maçonaria. Eis
ahi descoberto esse segredo, cuja revelação o mundo, no
seculo passado, não poderia supportar, attenta a sua fra­
queza (55).
Contra o altar e o throno é que a Maçonaria hastea o

(54)Ibidem .
t55) Isto d i z o irmão Ragon repetindo as palavrb s proferidas pela grande
Lbja da AllAmAnha, em 1 774.

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f
,

pe·n dão dá revoita . Deus é CE!sar são os dous inimigos


conh'a os quaes ella brande utna só arma utr·inque feriens.
E como não seria assim , se à sua divisa é : Liberdade,
fraternidade, igualdade 1 (56) Se o seu grito de guerra é o
do anjo rebelde : Non remiam t isto é, desobediencia a
todas as leis divinas e hnmana.5, resistencia á toda a auto­
ridade espiritual e temporal , aniquilamento de todo o
poder ecclesiastico e civil 1 1
Porém, a Santa Igreja d·e Deos , sentinella sempre attenta,
'Ye1an·do dia e noite pela guarda e segurança da sociedade
humana, não tem cessado de soltar o gri to de alarma, ha
constantemente denunciado o perigo commum a todos os
Soberanos do universo. Estes, porém, estão surdos, não
-0uvem , ou encolhem os hombros em signal de ind.ifferença.
Alerta ! - brada ella ás demais sentinellas da sociedade ,
-os soberanos.
Alerta 1 -brada-lhes, das eminencias do Vaticano , pela
voz de seus Pontifices . . . . . Ninguem responde r
Alerta 1 - brada-lhes , das atalaias de Israel, pela voz
de seus Bispos e Pastores . . . . . Todos se callam !
Alerta 1 brada-lhes, do alto do palpito , pela voz de
..__

seus prégadores . Nenhum se abala !


. . • . . . .

!Jerta 1 - brada-lhes, do pino da i mprensa , pelo orgão


de seus escriptores . . . . Silencio profundo !
• .

Todos dormem 1 1 !
Entretanto o perigo é imminente 1 A sociedade está
em cima de um vulcão, os Estados assentam em chão
maçonico. O terreno está · minado ; a terra estremece ;

(56) Irmão Massol . Neut . t. 1 . pag . 196.

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os thronos vacillam ; as corôas balançam sobre a ca­
beça dos monarchas ; estes, porém , nada sentem , nada
ouvem , nada vêm 1
A Igreja clama, mas ninguem a attende, porque sua.
voz é tida por suspeita .
Ah ! quando , porém , de repente se abate o solo, quando.
se alluem as columnas d'algum throno , quando algum
rei cambalea, resvala e rola no abysmo de envolta com
os destroços de sua monarchia ; ah l então sim , ao cahir
record�se esse rei do grito de alerta da santa Igreja
de Deos ; reconhece-lhe razão , sinceridade, fidelidade .
Mas • já é tarde : está feita a obra da Maçonaria !
• •

Ili .

�-º-Qual o meio principal que emprega


a Maçonaria para attingir o seu flm ?

« O papado exerceu sempre acção decisiva nos negocios


da Italia e do mundo inteiro , pelo braço , voz, penna e.
coração de seus numerosos Bispos, padres, frades, reli�
giosos e fieis d� todos· os paizes.
« O Papa, quem quer seja, não virá para as sociedades

secretas : a estas é que cumpre dar os primeiros passos para


a Igreja AFIM DE VENCEL-os A AMBOS (o Papa e a Igreja) .
« O que devemos procurar é um Papa adaptado ás

nossas necessidades, para que se entregue aos governos


que lhe causam susto, e aos incredulos que lhe festejam
a sua tolerancia. »
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Eis ahi o m eio .


Levando os A po stolos , um dia, caminho á Ce saréa em ,

companhia do Divino �lestre, perguntou-lhes este : « Quem


dizem os home ns que eu sou 1 »
-« Alguns, Senhor, respon d eram os Apos to los , dizem

que sois João Baptista resuscitado ; outros , Elias ; outros ,


emfim , Jeremias ou algum dos an tigós proph etas redivivo. ))
- « �las, vós ou tros , torna-lhes Jesus, quem pensais

que eu sou 1 »
Subitamente illuminado pelo Espirito-Santo , Simão Pe­
dro , tomando a palav ra , responde por todos, e, em n ome
da Igreja nascente e futura , exclama com transportes de
fé e adoração : « So is Christo , Filho do Deus vivo 1 Tu
es Christus, Filiw De i vivi ! »

Olhando então con1 ternura para elle , diz-lhe o Divino


Mestre solemnemente : « Bemaventurado és tu, Simão
Bar-jonas , porque nem a carne nem o sangue \'o revelou ,

mas sim meu Pa i que es tá nos Céos. E eu te digo que tu

és Pedro e sobre esla pedra edificarei a minha Igreja ; e


contra ella não prevalecerão � portas do i n ferno . E a ti
dar-te-hei as chaves do reino dos Céos ; e todo quanto
ligares na terra, ligado será nos Céos ; e tudo qu a nto na
terra desatares , será desatado n� Céos. » (57)
Pedro é pois Irmãos e F!lhos dilectissimos, a pedra
,

inconcu�, o grande fundamento do edificio da Igreja de


Deus : Petf!I, tolidislirna, rnagnKm Ecdesi� fundamentum,
-como lhe chama o Origenes. (58)

(57) llath . 16. 13 e seguint.es.


'59) Homil. 1. in Y&th ..

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Sobre esta base , unica inabalavel , é que Jesus Christo


firn1ou , segundo a phrase do grande Santo Athanazio , as
columnas da sua Igreja ; isto é , os Bispos : Tu es Petrus,
et super fundamentum tuu.m Ecclesire columnre, id est
Episcopi sunt confirmati. (59\
« Oh f venturoso fundamento da Igreja bem podemos 1
nós exclamar com San to Hilario, Bispo de Poi liers . Oh !
bemaventurado Pedro, que foste honrado com um novo
nome 1 Oh ! Pedra digna de sustentar o edificio da
Igreja f » (60)
Mas , Pedro ainda vive . Pedro o homem privado, o
p escador da Galilea , o apostolo , o santo , o martyr , esse ,
sim , já pão existe , morreu ha 1 809 annos , está na celes­
tial Jerusalém ; porém , Pedro , o homem publico , o Papa,
o Pastor da Igreja universal , � Vigario de Jesus-Christo ,
este não morre , está vivo e contin uará a viver, até a con­
sumação dos secnlos, e soa residencia é em Roma.
« J,edro , diz Bossuet, viverá sempre em seus succes­
Sores ; Pedro ensinará sempre de sua Cadeira : é o que
dizem os Santos Padres e confirmam 630 Bispos no Con­
cilio de Calcedonia 1 » (61 )
A ssim é , amados }filhos no Senhor , qualquer que
seja o verdadeiro Papa que esteja sen tado na Cadeira
A postolica, Lino ou Cleto, Clemente ou lnnocencio , (ire­
gori.o ou Pio , é sempre Pedro que nelle vive e nella
preside : Beatus Petrus qui in propria Sede vivit et prm-

(59) E pist. aà Pap . Felix . 1

(60) ln Math . e . 16 .
(61) Serm . sobre a u nidade da Igreja.

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(6 2) E' sempre elle que governa a Santa Igreja


sidet.
de Deos ; porque, « o seu privilegio e ministerio soo.
de instituição permanente, » nos ensina S. Leão Magno : 1

llanet Petri privileg·ium (63) « e porque, ainda nos diz


o mesmo Santo Padre, a solidez da fé que foi a gloria
do Principe dos Apostolos, é perpetua ; e bem como a
fé de Pedro em Jesus Christo é facto permanente,
assim tambem perdurará para sempre o ministerio que
Jesus Christo instituio na pessoa de Pedro. » (6 4)
Logo, com sobeja razão disseram os Padres do Con­
cilio ecumenico de CaJeedonia que o successor d e
S. Pedro é a pedra angular, o baluarte da Igreja
Catholiea, o fundamento d& verdadeira fé : S.uccessor
Beatis.,imi Petri Apostoli , Petra et crepido Eccles-ire Ca­
tholicre et rectm fidei (undamentem.
A Sé do Successor do Principe dos A postolos, a Igreja·
Romana , é , como bem dizia Santo Ambrozio aos Impera­
dores Graciano, Valentiniano e Tbeodosio� a cabeça de todo
orbe , porque della manam para todos os fieis os sagrados
direitos da veneranda eommunhão catholica. (65)
A. benefica influencia do Papado se faz sentir no
mundo inteiro porque elle atcz e desata em todos os
pontos do universo ; (66) porqne elle é o sol radiante

:(62) S. Pedro Chrysol . ' E p i s t a l Euty .


.

(63) Serm , IV .
(61:) &li d itas enim i llius fide i , qure in A postolorum Pri ncip� est lnn·
d:1 te , pe rpetua e s t : et sieut p �rmanet quod in Christo Potrus cred id i t
ita permanet quod i n Petro Christus i u s ti tuit Serm . III .
.

(65) Totius o rbis Ro mani caput Romanam Ecclesiam, at.que illam sa­
erosanctam Apostolorum fidem . Epist. X . 1 .
(66) P io VI, Breve Super soliàitatem Petrce, de 28 de Novembro
de 1786.

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em torno do qnal giram os outros planetas , que delle
recebem luz e eqnilibrio ; porque , finalmen te , o sen
throno é base de toda a auctoridade , é colnmna a
que se prende a cadeia dos demais thronos.
Logo , removido esse centro de attracção , solapado esse
fundamento, derrocada essa colnm na ,. com toda a certeza,
infallivelmente desequilibra-se todo o mundo moral , des­
morona-se todo o edificio da ·Religião Catbolica , despe­
daça-se a cadeia dos thronos e somem-se os seus élos nos
medonhos abysmos da revolução.
Isto é obvio, é intuitivo, é logico.'
Bem o sabe a Maçonaria. Eis ahi pois a razão por que
ella nunca deixou de mover ao Papado guerra, ora surda ,
ora patente , mas sempre guerra a todo o transe. Todas as
suas baterias estão assestadas contra Roma ; todos os seus
esquadrões fazem pontaria sobre o Vaticano ; todos os
seus projectis têm por alvo a Cadeira Apostolica .
Ouçamol-a :
« A conspiração contra a Sé Romana, diz ella pelo
orgão de um de -seus chefes , se não deve confundir com
outros projectos . . . . . . A revolução na Igreja é a revo­
lução em permanencia , é a quéda infallivel dos thronos
e das dynastias . • . . . . NÃO CONSPIREMOS SENÃO CONTRA
Ro11A ; sirvamo-nos para esse fim de todos os incidentes ,
aproveitemo-nos d e todas as eventualidades. » (6 7)
Em carta de 5 de Janeiro do 1846 , dizia o mesmo
personagem a um certo Nubius , alto funccionario da
Maçonaria , o seguinte :

(67) Carta do Piccolo ·Tigr(aos agentes superiores da Venda piemonteza.

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« Para dar cabo com certeza do mundo velho, j nlgam os
que é n ecessario aba (ar o germen catholico e christão , e
vos offerecestes para (e·r ir, na testa o novo Golias ponti­
ficio, co m a funda de David . Muito bem ! Quando porém
o ferireis 'l A nhel o ver as soci edades secretas ás mãos
com esses cardeaes do Espirito:-Santo. � (68)
Uma folha maçonica escreveu o segu in te em 1 5 de Ou­
tubro de 1866 :
« Viv em os em uma época memoravel , época de grandes

lutas e grandes transformações ; vivemos em um te m po em


que lutam os espiritos para libertarem-se inteiramente
de todas a s cadeias politicas e religiosas. Até o presente o
Papa conservou se de pé, firme , qual rochedo em meio de
-

tempestades ; actualmente , porém , o seu poder avisinha-se


do fim . O poder temporal já lhe (oi tirado , e o espiritual
está muitissimo abalado , m esmo no pe queno numero de
nações enropéas, onde até agora o tinham aceiLado sem res­
tricção . E assim como a séde do principe ecclesiastico
em Roma foi abalada , ap ezar do rochedo de S. Pedro,
assi m tambem sêl-o-hão igualmente os THRONOS SECULA­
RES. » (69)
Mais um documento.
« A revolução, d iz uma Loja de c arbon ari os , só é possivel

com u ma condição : A DESTRUIÇ ÃO DO PAPADO.


« As conspirações no estrangeiro, as re vol u�es em
França nunca obterão ma is que resultados secundarios,
EtiQUANTO ROMA ESTIVER DE PÉ. S-e bem que fracos como
potencia temporal , os Papas gozam ainda de immensa força

{68) Cri . p . 68 e 69

. .(69) Ga;eta d.es Franc-Maçons, ,redigida pelo Pastor Zille .

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moral. PARA RouA , pois, é que devem conver·gir Tonos os


ESPoaços dos amigos da humanidade . Para DESTRUIL-A todos
os meios são bons. Derrubado o Papa baquearão natural­

mente todos es thronos » (70) .


.

_.
Como vedes, Irmãos e Filhos carissimos, o Papado é o
ponto de mira da Maçonaria ; e para destruir essa solida
columna sobre a qual repousa todo o edificio do Catholi­
cismo, eJla, a seita demolidora, não recua ante meio algum ,
e emprega co n stantemente a mina e o ariete ; isto é, sola­
pa-lhe os alic erces isola-a de todo o sustentacnlo e afiual
,

empurra-a, carrega ndo sobre ella. ·


1 º-Solapa-lhes os alicerces, insi nuando se furtivamente
-

no sanctuario do Senhor, no re manso do claustro , no consis­


torio das Irman dades, na cella do seminarista, onde tenta
fazer propaganda surda, diabolica, já illaqueando incautos
cleri gos, tanto seculares como re g ulares, e pervertendo-lhes
os costumes ; já contaminando as confrarias religiosas, detur­
pando-lhes o fim de sua creação e insnmando-lhes o espi­
rito de rebellião contra a legitima autoridade ecclesiastica ;
já finalmente, procurando, a pretexto de inspecção dos
estudos, ou secularisação dos seminarios, introduzir nesses
pios estabelecimentos compendias e mestres eivados de
doutrinas regalistas, janse nistas , gallicanas, que corrom­
pam as Iimpidas fontes �o puro ensino catholico e distillem
no animo do joven clero o veneno tão subtil quão mortifero
dos principios maçonicos.
Em abono do que dizemos, vamos transcrever um impor�
tante documento da seita ardilosa, sem dar-lhe credito

(70) Cri . 71 .

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relativamente ao grande numero. de padres, frades e moQse­


. nhores que diz haver arregimentado em suas fileiras.
Que alguns infelizes sacerdotes, obliterando os sagrados
deveres de seu augusto caracter, meltendo debaixo dos
f.

pés as leis da Igreja, abafando os clamores da cooscien cia,


se h ajão despenh ado nos pavorosos abysmos d.aB sociei­
dades secretas , bem o sabemos ; este s poré m são raris­
simos e pois não póde m constituir esse apregoado grande
numero .
Quando mesmo fos se rigorosame nte exacto o que sus­
tenta a Maço n ari a , duas cousas tão sómente provaria :
1 .º a desve n t u ra de taes sacerdotes ; 2.0 a divindade da
Religião Catholica, cujo ediflcio dezenove vezes secular,
ainda se s ustenta apezar da nimia fraqueza de taes co-
1.umnas, e sustentar-se-ba até a. consummação dos tempos.
Ouçamos porém a M a ço nar i a fallando por um de seus
orgãos :
« Caminhamos a passos largos , a Nobius escrevia
Beppo , em 2 de Novembro de 1 844 , e todos os dias novos
fervorosos neophitos afili amos á no ss a conj uração : Ferve t
opus. O mais difficil , po rém não só resta Ilôr fazer, como
,

até por esboçar. Adquirimos , e sem grande trabalho , reli­


giosos de todas as ordens, padres de quasi todas as
c on di ç õ es e certos monsenhores intrigantes e ambi ci osos
, .

Não é o que ha de melhor nem mais apresentavel ; mas


não importa. Para o fim proposto , um fra de aos olhos do
....
povo é semp re um frade ; um prelado será sempre um
prelado. Naufragamos completamente junto aos Jesuitas ;
DESDE QUE CONSPIRAMOS AINDA NÃO NOS FOI POSSIVEL PÔR A

MÃO EM UM IGNACIANo, e cumpre saber qual a razão de


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tamanha e tão unanime obstinação . Não creio na since­


ridade da fé nem na dedicação delles á Igreja ; porque,
entretanto ainda não descobrimos em nenhum delles a
falha da couraça ? Não temos Jesuitas comnosco ; mas
podemos sempre dizer e mandar dizer que os temo s , o
que vem a ser ·absolutamente o mesmo.
« Não será assim com os cardeaes ; todos elles esca­

param ás nossas ciladas. De nada serviram as lisonjas


mais bem combinadas ; de tal sorte que nos achamos
tão adiantados hoje, como hontein . Nem sequer um 1

menibro do sacro Collegio cahio no laço. Os que foram


sondados e tentados, todos, desde a primeira palavra
sobre as socidades secretas e seu poder , fizeram signaes
de exorcismo , como se os quizera o diabo transportar ao
cume do monte ; e, morrendo Gregorio XVI (o que vai
acontecer breve) achar-nos-hemos, como em 1823 , na
·

morte de Pio \'II. » (71 )


O documento que acabamos de citar, tlilectos Filhos ,
é tão claro que não .necessita de commen tarios ; prova
exuberantemente e revela :
1 . º O tr�balho latenLe, infernal , da Maçonaria no pro­
prio Sanctuario do Deus vivo, cujos ministros ella- esfor<{a­
se para apanhar em s:uas redes :
2 . 0 A razão ·por que -ella vota sanha mortal , odio de
exterminio aos Jesuitas, a quem nunca tem podido illudir
ou alliciar ;
3 . º Que n-em um só Cardeal foi illaqueado pelas socie­
dades secretas ;

(71) Cri . p . 67 .

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!. 0Que redobram se os seus insanos esforços , activam'!""


-

se os seus diabolicos trabalhos ao avizinhar-se o occaso


de cada Pon ti fice .
Prosigamos .

2 . 0-A Maçon ari a afasta do Papado tudo o que lhe poderia


servir de ponto de apoio e sustentaculo .
Não é preciso grande esforço para vol-o provar.
Os Estados Pontificios são pequenos terri to rio s. , doados
á Igrej a por diflerentes monarchas e Senhores catholicos,
e cuj o Soberano assim t em p oral como ' espiri t ual é o
Ro mano Pontifice. lle posse d ell es, o Papa é i n de­
'

pendente e desim p edido, livre e desembaraçada é a


I

acção de sua A uctori dad e A postoli ca ; sem elles, está


preso , dependente do arbitrio de outrem , suj eito aos cap ri ­
chos de um Prin ci pe que póde ser catholico, schismatico,
protestante , musulmano , etc . , e sua acção espiritual

enormemente difficultad a. Os Estados Pontificios são, pois ,


um ponto de apoio para o Papado . Pois bem ! por
isso mesmo a Maçonaria usurpou-lhe essa d i mi n u ta nesga
de terra, cham a da patrimonio da Igreja, e esbulhou-o do
Poder te m poral !
As Orde n s re l igiosas são as tropas mais aguerridas e
mais bem discipli n adas da Igreja ; immensos e relevantes
serviços prestam na p rop agação e conservação da · fé ;
summamente auxiliam o Papado no desempenho de
sua missão divina. Pois , sim 1 por essa mesma razão
vemol-as dissolverem-se por toda a parte, sob a acção
deleteria dos po deres maçonicos, que juraram exter­
m ina i-as f
.As nações e os governos sinceramente eatholioos são
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as trinch ei ras do Papado i são valentes barreiras , diques
podero sos que abrigam -n o da invasão da onda revolu­
"
cionaria ; e, estreitamente u ni d os , governos e Papado ,
communicam-se reciprocamente força inexpugnavel. E' jus­
t.amente este o motivo por que a quasi omn ipotente
Maçonaria risca taes nações do mappa-mundi, ou as
abate e debilita ; derriba taes governos, ou separa-os
da Santa Sé 1
Assim é que a Polonia desappareceu da car t a · da Europa ;
assim é que o rei no de Napoles , os ducados de Mod en a ,

Parma , Toscana sumiram-se nas crateras do vulcão re­


vol u cio n ar i o ; assim é que a Austria está co n sid erav el ­
mente enfra qu e ci d a a França profundamente humilhada ,
,

a Hespanha sobremodo dividida ; ao passo que actualmente


dominam as potencias ailti-cath_olicas, i n fe ns a s á Igreja
Romana .
Tudo isto, Irmãos e Fi l ho s muito amados , é obra da
tenebrosa M açonaria E para que vos con ve n çais de que
.

a i n fl ue ncias maçonicas. nada attribuimos de mais , nem


tão po ucp sem fundamento, vamos inse rir aqui , em prova
da nossa· asserção alguns trechos de um relatori o official
,

que o celebre Mazzini , c h efe , ou pelo menos alto funccio­


·nario, das, soci edades secretas, -dirigio , em 185 1 , de Paris
ao Comité central revolucionar-ia , em Londres , e , depois ,
aos p ri nei paes agentes da França, Italia, !ll e m anh a e
Snissa :
« Nossa grande obra, senhores, diz elle se compõe de
,

duas partes. Trata-se em primeiro lugar de fazer des­


apparecer o que é velho e usado , o qne llio póde mais
servir. Trata-se depois de reconstruir de novo . . . . . .

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� Quanto ao pri meiro fim a que nos propomos attingir,


um olhar lançado sobre a Europa deve com razão encher­
nos de profunda gratidão para com Deus e inspirar-nos
ao mesmo tempo coragem inquebrantavel. Encham-se os
governos de orgulho e de complace{\cia em suas obras !
Nós reconhecemos em nós mesmos a MÃO SUPREMA QUE DI­
RIGE os DESTINOS nos Povos ; deixemos aos governos sua
pomposa e iÍlutil li nguagem ; trabalhemos sempre e sempre
com promptidão e efficacia . . . . . .

« Tenho razão para estar satisfeito com a França ;


neste grande paiz prospera a doutrina do porvir , e os
detestaveis esforços dos partidos, que disputam uma po­
sição que nenhum delles poderia conservar, auxiliam e
favorecem nossos progressos e conquistas. A Providencia
serve-se desses mesmos partidos, encontra nas tentativas
delles meios de convencer cada vez mais os po,v os da
decrepitude das formas velhas e preparai-os para a appli­
cação proxima das nossas fórmas 1iovas. Os esforços que
fazem alguns dos ministros do ephe�ero poder que ora
governa a França , com intuito de consolidar ·essas fórmas
afim de tornai-as duraveis, esses tentamens são symp­
tomas ani.m adores da cegueira do poder , mantêm salu­
tar fermentação que se estende incess·a ntemente e nos
promette , em termo prox_i mo, feliz exito . O ensino ·de
nossos princípios e a actividade de nossos amigos , ·que não
me é preciso designar nominativamente, fundam um
terreno maravilhosamente preparado pelos nossos proprios
adversarias . . . . • . .

« 4. Peninsula Hiber-ica, onde os elementos de re­


...

sistencia apresentam ainda espessa camada , não retro-

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- 51 -

gráda senão na apparencia . Ella se transforma . . • . • . .

Sem descanço prosegue-se o trabalho da decomposição naqnelle


eorpazil , nada poderia parai-o ou suspender-lhe os effeitos;
e os aconteci mentos que se dão em Portugal, longe
de inspirar-nos o menor susto , coadjuvam, pelo con­
trario, ·os nossos esforços para atlingirmos o nosso fim .
« A Peninsula Italiana , nossa cara patria , tão digna
de futuro que lhe cure as chagas , está hoje mais po­
derosa e resoluta que nunca . . . . . DEVEMOS CONTAR ,
CONTAMOS COM CERTEz,A 1 1 1 com o governo esclarecido de
Turim. Elle tem o sentimento de sua missão e está
prompto a recomeçar seus gloriosos combates , apenas
as circumstancias previstas colloquem, nos paizes vizinhos1
os homens do futuro á frente dos negocios . . . •

« Quanto ' á Suissa, fóco da liberdade éuropéa , nada


vos direi , porquanto de outra parte recebeis informações
a seu respeito . Dir-vos-hei apenas que os perigos , que
inda a · pouco ameaçavam esse paiz., foram removidos ,
graças á prudente direcção que OBRIGÁ MOS o governo
francez a tomar.
« Eu poderia dispensar-me, pela .m esma razão , de
fallar-vos a respeito da A llemanha ; não posso , porém ,
deixar de manifestar-vos a particular satisfação que
experimento , quando reflicto sobre o estado desse im­
portante paiz . Não se realizou a união tão receiada
entre a Prussia e a A ustria. Os esforços do prim:eiro
ministr<;> austriaco , que é o contin uador do prin cipe de
Metternic.k. , naufragaram co ntra a resistencia �a Prussia ,
que conservou-se fiel á sua missão historica . . . . • . . • •

Uma voz eloquente pronunciou ácerca da A ustria uma

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- 52 -

palavra que diz tudo , e vós a conheceis : DELENDA. EST


AUSTRIA I •

« Não poderiamas empregar bastante actividade em

Londres , em, Paris , até em Berlim, para suscitar emba­


raços á A ustria . . . . . . Poderosos motivos tenho para
crer que os babeis esforços d'aquelles que, sem o sa­
berem , ser\tem aos nossos interesses, debaixo deste
ponto de vista, obterão alguma cousa em Berlim . O DE­
LENDA EST AusTRIA é a primeira e ultima palavra de
acção contra essa potencia. Ccnvém apoderarmo-nos da
Prussia excitando os seus brios militares e a sua suscepti­
bilidade, e da Austria açulando umas contra as outras
as diferentes nacionalidades de que se compõe esse

iínperio. »
Depois de haver mencionado, sempre com satisfação ,
o lmperio Ottomano , na parte européa, e a Russia, con­
tinua o celeberrimo Mazzini :
« A historia de todos os povos e de todos os se­

eulos nos ensina que os instrumentos da tyrannia


pódem-lhe recusar o seu serviço no momento diffi,cil, e
as leis da natureza nunca se desmentem . Uma sociedade -

organisada contra a natureza morre entregue a si pro­


pria, e NÓS SOMOS , além disso os MEDICOS MAIS ADAP­
,

TADOS para facilitar-lhe e preCipitar-lhe a morte. » (7!)


Este memoravel documento, caros Irmãos e Filhos no
Senhor, onde, atravez do véo de apparente moderação,
se entrevê o espirita da destruição, a obra revolucionaria

das soéiedades secretas , tornando bem patente que a

(72) Journal dea Dt\bats, 16 de Maio de 1851 .

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- 53 -

!l�çonari- é a �ola mys\eriosa que faz subir ou 4eseer


�s nações, � força mo�riz que rege todo o mechanismo
�o.s go-verpQ.s h9diernos, imprimindo-lhes movirnento im­
pulsivo pa�a esta ou aquella direcção , prova á saciedade
quão verdadeira é a nossa proposição.
forta�to , nada mais precisamos acereseen�ar.

3 . 0 - A Maçonaria, depois de haver minado as bases do


Papado, depois de o haver isolado de tudo o que lhe po­
deria servir de sustentaculo , julga ehegado o momento
de dar-lhe o ultimo empurrão , para deital-o por terra.
E aqui , Irmãos e Filhos dilectissimos , não se faz
neeessario invocarmos o testemunho dos escriptores ma­
çogico� , nem tão pouco soccorrermo-nos das principaes
auctoridades da seita. Documentos, temol-os abundantes,
eloquentissimos, ante os olhos, escriptos na fronte das
nações pela mão mysteriosa da senhora das trevas : basta
relancear rapido olhar sobre os dous continentes europeu
e americano .
At�endei , na realidade� para o que ora se está pas­
sando na Prussia, Austria, Suissa, Italia, Portugal , Brasil,
Chile, Perú, Venezuela , Guatemala e Mexico .
.Aqui , arrancam violentamente os Bispos do seio do
rebanho querido, processam com clamorosa inj ustiça a
sacerdotes venérandos , deportam padres innocentes, con­
eulcam os sagrados Canones, postergam as divinas pre­
rogativas da Igreja ; e exigem , ao mesmo tempo, que o
Santo Padre sanceione. tudo isto , sob pena de maiores
arbitrariedades !
4,lli, tentam separar o Estado da Igreja, impor o casa-
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- 54 -

mento civil, abolir ou deseonher certos direitos inalie­


naveis da Igreja de Jesus-Cbristo, confeccionar leis
oppressoras da oonscieneia catboliea , promulgar edictos
destruidores da divina autonomia da nossa Religião sacrQ,..
saneta ; e pretendem, ao mesmo �empo, que o Summo
Pontifice tudo approve, sob pena de mais tristes cala­
midades 1
Acolá, extinguem as Ordens religiosas, expellem da
mansão da paz as castas esposas. do Cordeiro sem macula,
despojam-nas de seus bens, usurpam o Patrimonio de
S. Pedro, tolhem a liberdade ao Vigario de Jesus-Christo,
maquinam a destruição do Cathólicismo ; e qu·erem , ao
mesmo tempo, que o Papa ratifique todos estes deploraveis
attentados, sob pena de maiores e mais flagrantes vio­
lencias 1
Além , encarceram tambem , depoem , on deportam os
legitimos Pastores da Santa Igreja de Deus ; tambem
prendem , multam, responsabilisam, ou desterram os· sa­
cerdotes catholicos, fieis aos seus heroicos Prelados ;
tambem expulsam todos os religiosos de qualquer Ordem
que sejam ; tambem promulgam leis, fazem baixar de­
cretos diametralmente oppostos á fé caLholiea ; e ousam
esperar que o Chefe supremo do Catbolicismo se conforme
com todas essas horrorosas vexações, sob pena de mais
tyrannieo despotismo 1
Por toda a parte notamos , com mui leves discre­
pancias, a mesma tactica, o mesmo systema , os mesmos
meios de ataque , a mesma uniformidade de acção :
tudo isto obra da Maçonaria 1
Sim , por toda a parte a seita hypoerita, a pretexto
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I

- 55 -

de soberania nacional , de prerogativas da Corôa, de


direitos magestaticos, etc . , etc. , suscita constantemente
lamentaveis confllctos entre os dous poderes-ecclesiastico
e civil ; fomenta injustas desconfianças do Estado contra
a Igreja ; aviva antigos ciumes d'aquelle para com esta ;
e , por intermedio dos governos, feitura sua, faz pressão
sobre o Vigario de Jesus Christo , ameaçando-o com
carceres , confiscações, exilios para os Bispos e padres
fiéis, com o rompimento diplomatico , schisma religioso,
e furiosa perseguição contra os catholicos.
O plano sombrio da seita é a.temorisar com esses
arreganhos o Romano Pontifice , afim de arrastai-o a
transigir com certos principios modernos, a fazer con­
cessões que nada menos importariam que a escravidão
da Igreja e um golpe fatal desferido em cheio no
Catholicismo.
A synagoga de Satan resolveu, todos o sabem , des­
truir o Papado , e para tal fim envidará todos os es­
for�os, não vacillará ante meio algum , por mais ini­
quo que seja. Mas, antes de tudo , tenta se póde
conseguir que o Papa se suicide, como o Amalecita,.
desfeche em si proprio golpe mortal , se precipite nos
mortaes abysmos do erro, declinando por pouco que·
seja do caminho da verdade.
Que louca pretensão ! que pasmosa cegueira ; que·
deploravel illusão 1
« A Santa Igreja Romana, garantimos nós com S. Je­
ronymo , que sempre conservou--se pura e immaculada,
permanecerá sempre , em todos os tempos do porvir,
firme, immutavel em sua doutrina, a despeito dos mais

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- 56 -

furiosos ataques dos hereges, pela providencial pro­


tecção do Senhor e pela assistencia do Bemaventurad·o
Pedro. » (73)
Ouvi, agora , Irmãos e Filhos muito amados, trechos
de um documento precioso, importantissimo por ser de
nossos dias : é A CIRCULAR OFPICIAL do Grande Oriente
de Roma, dirigida, em 1 4 de Dezembro de 187�, ás
Lojas da ltalia :
« O noso estabelecimento em Roma tem aberto nova

éra para a humanidade , para a ltalia , .JJa ra a Maço­


naria. Apagámos da legislação humana uma infame
theocracia que el'a um insulto á civilisação , conquis­
támos para a nação a sua capital historica. A MA­
ÇONARIA alcançou nova victoria eni favor dos principios
POR QUE PUGNA .
« No entanto , nem a Maçonaria nem a Italia com­
pletaram ainda a sua missão , e a humanidade ainda
espera de NO'S o extremo golpe vibrado a t&ma reli­
gião rapinante e ranguinaria. O termos revindicado
para o poder leigo esta séde da civilisação ; o encon­
trarmo-nos senhores, ou exercendo nossa soberania,
entre estes solemnes monumentos da antiga grandeza,
. . . . . i rn põe-nos maiores deveres , e deve-nos infundir
maior alento para combater os inimigos do progresso
e proclamar o reinado da j usti.ça e a victoria da razã,o .
« Deve notar-se que as condições do paiz s3o taes,

que devem attrahir mais que nunca a nossa attenção ,


e reclamam toda a nossa energica actividade. Por uma

(78) Comm . in Joan . H<Bc est 'fl.des .

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- 57 -

parte, o Pap?-do tenta os ultimos esforços para manter


firme um edificio que desaba ; . . pela outra, o governo ,
. . .

com damno da patria e da civilis�ção, abraça-se com este


agonisante, sem lembrar-se de que o halito do mor·ibundo
acabará por envenenai-o e apressar- lhe a mo r te RENEGANDO ,

a ·missão italiana. E' mister , pois, lutar contra os esforços

da 1greja e as tetidencias do governo ,· educar as populações


para a verdadei ra liberdade ; preparar seriamente o dia
em· que sobre a terra não ex·istirão mais NUMEs, nem 1n0Los ,
riem TYRANNos, nem escravos, nem homens que gozem,
nem miseraveis que soffram ; mas uma federação de fa­
milias independentes, livres, instruidas, activas, prosperas .
Não podemos , sem Mentir· ao nosso juraniento , sém renegar
a nossa historia , FICAR MUDOS ESPECTADORES nes tes mome.ntos
supremos . » (7 !)
. . . •

- Mais claro do que isto, Irmãos e Filhos da minha


alma , não é possivel , nem é preciso !
Este documento prova pois á toda luz da evidencia :
1 . Que foi a Maçonaria quem estabeleceu em Roma

o Governo de Turim , e . que , hesitando este em ir


avante na obra desvastadora da impia seita , ella o
ameaça e j ura apeai-o do poder, se não quizer proseguir ;
!. º Q ue ella não está satisfeita com a queda mo­
mentanea do Poder temporal dos Papas ; mas que se
esforça ainda por destruir o Poder espiritual deites para
conseguir o seu fim , que é, como já o dissemos,­
º ANIQUILAMENTO DO CATHOLICISMO , PELA ABOLIÇ_ÃO DO
PAPAD O .

(74) A Maçonaria desmasearuda . p . 254, 256 .

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- 5g · . -

IV.

3.•- Como procura a Ma<.'onarla desviar


os ob&t,aenlo• que lhe embara<.'&Dl a

reall&a ç.iio do &eu plano ?

« Pouco ha que fazer com os velhos cardeaes ou pre­


lados, cujo caracter é bastante decidido : é mister . . . . .
procurar nos nossos arsenaes de popularidade as armas
que lhes tornarão ridiculo ou inutil o poder nas mãos.
Uma palavra que se inventa com habilidade e se tem a
arte de derramar em certas familias honradas e escolhidas,
para que. d'ahi desça aos botequins e destes para as ruas ,
uma palavra pód e a lgumas vezes ma tar um homem . . • . . • •

« Cheg� de Roma um padre para exercer uma funcção

publica, creai-lhe uma dessas reputações que atemorisam as


crianças e as velhas ; pintai:...o cruel e sanguinario ; contai
alguns feitos de crueldade que possam fac�lmente gravar-
se na memoria do povo . . . . . .

« Na Italia não faltarão , como não faltam em França e

na Inglaterra , dessas pennas que sabem aparar-se nas


mentiras utei.ç á boa causa . . . . . .

« Esmagai o poderoso á força de maledicencias ou de

calumnias.
« Deveis simular a simplicidade das pombas e a pru­

dencia das serpentes.


� Se vos aprouver, para melhor illudir as vistas inqui­

s-itoriaes , IDE MUITAS VEZES Á CONFISSÃO .

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- 59 -
« Deveis apresentar-vos com todas as apparencias de
homem grave e moral . »

Em resumo , 1 .º difJamar, espalhando o ridiculo , a men­


tira, a calumnia, no seio das familias , verbalmente, e no
seio do povo pelo orgão da imprensa ; 2. º dissimular pela
hypocrisia e até pelo sacrilegio : eis o methodo diabolico
que · segue a Maçonaria para superar os embaraços que
encontra no seu caminho .

1 . 0-lnfelizmente , dilectos Irmãos e Fi lhos , assim é 1 A'


Maçonaria e aos seus coripheus applica-se admiravelmente
o que dizia Isaias de certos homens de então que , tendo
feito alliança com a morte, formado pacto com o inferno , na
mentira depositavam toda a sua confiança, no aleive achavam

grande auxil io (75) da· calumnia e do tumulto esperavam o


,

ex·ito dos seus projectos e abominaveis intentos. (7 6)


Sim , para sobrepujar os obstaculos que lhe embargam
o passo , e chegar ao fim almejado , demonstra-nos a quo­
tidiana experiencia que a Maçonaria nunca trepida sequer
um instante em lançar mão das armas da calumnia e da
mentira, peiores que a morte. (7 7 )
A lei santa de Deus diz aos Christãos : « Não mintais
contra a verdade ; � (78) porque é peecado mortal .
Diz , porém , a }laçonaria aos seus adeptos : « Menti ,
menti , porque sempre alguma cousa ha de ficar. »

(75) Vi Ti ill usores dixistis enim : Percussimua fmdus cum morte, et


• • • •

cum inferno fecimus p actum . . . . p os uimus me n dacium spem nostram; et


mendacio protecti sumus. (laai . 28. 14, 15. )
(76) Sperastis i n calumnia et in tumultu, et innixi estis super eo.
(Isal. 80. 12. }
(77) Calumniam mendacem. sup er mortem . (Eccles . 26 . 7.)
(78) Noli te gloriari et mendaces esse iM!versus verltatem. ·(Jac. 8. 14.)

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- 60 -
1

A lei santa do Senhor diz mais aos Christãos : « Não '

calumniels o vosso proximo ; » (79) porqu e é c u l pa lethal�


Diz , porém , a seita anti...ehristã aos seus filiados : « Es­
magai o i ni m i go esmagai o poderoso á força de male«lir­
,

cencias ou cal umni as 1 »


Se a seita &enebrosa bem o recommenda, m e lho r o
pratica.
Para di tia mar os p ad res , os Bispos , os Cardeaes , o Papa1
a Ig rej a , emfim ; para indispor contra elles o� Impe­
rantes as cl asses elevadas da sociedade, as camadas in­
,

ferjores , o povo si mples e de boa fé, a Ma çon aria sobe


respeitosa os degráos do throno , cu rva se hypooritamente
-

ante o S ob e rano , e depois segred a lh e ao ouvido uma


-

palavra habilmente inventada, que o torna susp ei \osQ .

enfadado , de semblante carregado con tra o clero .

Sahindo dos reaes aposentos , penetra nas an te salas


-

do Parlam ento , e ahi deixa e scapar uma meia palavra,


'

um a reticencia, que é mais que bastante para tisnar a


reputação dos ministros do Senh or , dos p ri n cipes da
Igrej a .
D'ahi dirige-se ao lar domestico, i n sin ua se , qual a s­
-

tuta serpente , no seio das familias nobres e honradas,


onde , balbuciando , como que a medo certa palavrinha ,

habilniente inventada, depõe o germen mortifero da des -

confiança , desrespeito, ogeriza, e ás vezes de odio contra


a classe sacerdotal .
Desce, de po i s ao theatro , ao bot equ i m , ao club, ao
,

paz; seio publico, á tenda do operario , á ch o upan a ido

(79) Non facies calumniam proximo tuo . (Levit. 19� 13 . )

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- 61 -

pobre, ete. , ete. ; e por toda a parte vai murmurando


uma queixa fallaz contra a Igreja, vai proferindo um
dito, uma pa1avra , uma calum nia, que indispõe , irrita,
inflama o povo contra todo o clero.
Assim é que a pouco e pouco vai a seita nefand a in­
filtrando nas veias do corpo social a subtil peçonha da
maledicencia e da calumnia, com que ella tenta levar-lhe
a morte ao coração , tirar-lhe a. sua vida ,-a Igrej a Catho­
lica A postolica Romana.
Será isto por ventura, amados Filhos , cousa estranha
entre nós , ou antes um facto palpitante de actualidade que
todos os dias presenciamos com magna funda e pungente ? 1
O rosa1gar veneno da calum nia verte-o ainda a Maçonaria
1

no seio das massas populares , por meio da imprensa ; e


desta vez com maiore� estragos e mais crescido numero de
-victimas ; porquanto mais longe alcabça -0 orgão da im­
prensa que a voz humana , mais fundo penetra a penna
calu mniadora que a lingua maldizen te.
A im prensa é , com efleito , o grande canal por onde se
escoam no seio da sociedade todas � immundicies da Ma­
çonaria; é por ella que todas as doutrinas perniciosas , todos
os principios subversivos, todas as idéas revolucionarias ,
todas as calumnias, aleives e falsidades , defluindo dessa
fonte impura , sentina, no dizer de um grande Pontifice , de
todas as heresias , de todos os sacrilegios e blasphemias ,
(80) se comm unicam aos individuos , aos povos , ás nações ,
e infestam o mundo em peso .
e Espeto ·q ue em ' bréve, dizia ba ânnos o irmão Bour-

(8>) Greg. XVI. Encycl. Mirari "º ' .

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- 6! -

lard, no Grande Oriente Belga, terá a imprensa u.m a parte


de sua missão a, desempenhar para vuLGARISAR as verdfldes
que a maçonaria professa. DEVEMOS AO LADO DE CADA UI[
DOS NOSSOS TEMPLOS TER ESSA FORÇA · PODEROSA , LEGAL , CONS­
TITUCIONAL. » (81)
E na realidade assim procede a seita. Por toda a parte
tem ella gazetas suas , orgãos genui nos de suas idéas e
princi pios. .

Para que ciLar-v(ls o Franc-Maçon, o Monde Maçon-


nique , o Jo u rnal des iniciés , a :11 1111 Maçonnique, Frei­
maurer Zeitung , e outras folhas maçonicas do estrangeiro ?
Recordar-vos o Pelicano, a Luz , a Fraternidade, a
Verdade, a Familia Universal, o Labarum, a Familia �
outros periodicos maçonicos do Imperio é provar o nosso
asserto , é relembrar ao mesmo tempo a alluvião de ca­
lumnias , insulto�, ridiculo , aggressões , blasphemias , que
a seita de ha t1·ez annos tem entre nós vomitado contra
as pessoas e cousas sagradas.
Além dos que se declaram francamente orgãos seqs,
tem a �1açonaria outros muitos jornaes. que , se bem se
não confesse1n taes , o são todavia.
'fratando da fundação de um jornal maçon ico , entr�
outras cousas decidio o Grande Oriente da Belgica o se-:­
g_u inte :
« Só o Grande Cornmendador é que dirigirá o jornal.�
seus e1npregados, redacção e administração .
« O jornal não terá nenhum titulo maçonico.. Professará

abertamente os principios m�çonicos, ,e , quanilo fOr ne-

(81) Gain trel . t. II . p • 159 .

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cessario , defenderá a Maçonaria contra os ataques dos


jornaes jesuítas. » (8!)
Ainda mais.
Além das gazetas com ou sem titulo ·maçonico , decla­
radas , ou não, maçonicas, tem a seita ingerencia directa
ou indirecta n'uma infinidade de outros jornaes que
�operam com ella ; e sobre elles exerce poderosa in:­
flnencia já em virtude de coadj uvação pecuniaria, ou
outro qualquer auxilio , já pelas sympathias de principios
e identidades de vistas , já finalmente por intermedio
de algum maçon que lhes insinua na redacção . 1

De sorte que , seja deste ou d'aquelle modo , a im prensa


actual está, quasi em sua totalidade , debaixo do influxo
deleterio da Maçonaria, que só a tornou livre, para
maiores vantagens auferir. Pouquíssimas folhas se contam
nos dous hemispherios , que lhe escapem á acção ma­
lefica .
D'ahi vem , Irmãos e Filhos carissimos , essa formidavel
conspiração da imprensa moderna . contra a Igreja Catho­
Jica e seus ministros ; conspiração que , de uma á outra
extremidade do globo , se traduz em gritaria atroadora, · ou
em silencio profundo.
Entra nos calculos e interesses da �laçonaria assaltar
a Igreja, calumniar os sacerdotes , attribuir-lhes factos
horrorosos, cuja anctoria a outrem compete, propalar
anecdotas adrede inventadas para desmoralisal-os ?
De subito levanta-se , por toda a parte , na imprensa,
alarido medonho ·e celeuma aturdidora. Os jornaes ela-

(82) Neut. t. 1 . p . 882.

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mam , soltam brados que vão repercutir até os mais re­


motos confins da terra .
Eis a conspiração da gritaria 1
Cumpre, pelo contrario , calar um acontecimento favo­
ravel ao Catholicismo, não tornar conhecido um aeto
virLuoso, uma virtude heroica da Igreja e de seus minis­
tros ? Não é possivel negai-os ou pelo menos deturpal-os T
.
Dá-se então a conspiração do silencio. A imprensa to­
ma-se de repentino estupor ; fica muda , nada vê , nada
ouve, nada se11te . tudo ignora !
Ainda não é tudo.
A seita que tão grande proveito sabe tirar da imprensa
jomalistica , não o tira menor dos livros , brochuras e outros
impressos.
Possue ella officinas typographicas em diversos paizes,
com as quaes despende avultadas sommas e que todos os
annos lhe produzem enorme quantidade de obras que só
fructos de morte podem dar.
« Em breve , dizia o Piccolo Tigre aos agentes superiores
da Venda piemonteza, teremos á nossa disposição uma typo­
graphia em �falta . Poderemos então , impunemente por
certo , e debaixo da bandeira l>r-itannica , espalhar de um a
outro ponto da Italia os livros, brochuras , etc . , que a Venda \

julgar conveniente pôr em circulação. » (83)


« As nossas typographias da Suissa , dizia o mesmo

personagem maçonico a Nubius, estão em bom camjnho ,


produzem livros taes como o s deseja�s ; , mas custam­
nos um tanto caro. Tenho consagrado à essa propaganda

(88) Crét. joQr. III p . 128.

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necessaria parte assás consideravel dos subsidios recolhi­


dos. )) (84)
Poesia , historia , litteratura , romance , folhetim , tudo a
maçonaria embebe nó veneno da corrupção, no fél da
calumnia, na peçonha da difJainação contra o clero e a
Igreja Catholica. Para tal fim tem ella escriptores seus ,
a que.m subvenciona generosamente , exalta até o septim o
Céo , anima, remunera , agradece com pennas e medalhas
de ouro , como em 1 845 fizeram com Eugenia Sue as Lojas
de A nvers e de Bruxellas. (85)
Isto é f�cto incontestavel .
Aj untai agora, Irmãos e Filhos m uito amados , . á somma
de calumnias de todo o genero contra a Igrej a e o cl�ro ,
que a �Iaçonaria , de viva voz , derrama no seio de todas as
classes da sociedade , essas outras i nfinitas calumnias que
ella propala pela im prensa em jornaes , livros , brochuras ,
romances , etc. , etc . ; e calculai que males insondaveis não
causam ao espirito religioso esses innumeros impressos que
inundam as cidades , circ ul am nas aldêas e pequenos
povoados; penetram até os mais longinquos sertões , cahindo
indistinctamente nas. mãos do instruído e do ignoran te , do
eivil isado e do rustico , do homem reflectido e do mancebo
inexperto , da velhice prudente e dá mocidade incauta 1
Vêde se , nas ...mãos da 11açonaria, não é esse um meio
poderoso de vencer os obstaculos que lhe possam antepor
pobres padl'es indefesos , coitados, e sem apoio dos h11manos
'

poderes.

(Si) Oarta de 5 de Janeiro de 18!6.


(85) _9autrel t . II p . 1 62 .

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�:0-Se , para attingir os seus fins , nunca hesita a Maço­


naria no emprego do ridiculo , da maledicencia e da ca­
lumnia , inda m�nos vacilla em recorrer á dissirr1ulação, á
hypocrisia e até ao sacrilegio . Ahi está, no documento
.

que serve de base á esta primeira parte de nossa Instrucção·


Pastoral, sim , ahi está tudo isto aconselhado e encarecida-
.

mente recommendado .
A Maçonaria toma, á imitação do Protheo da fabula, mil
formas diversas , segundo as suas cunveniencias e interesses.
Aqui , finge sentimentos de humanidade , que não tem ;
alli , frequentando os sacramentos , assistindo ao santo sa­
crificio da Missa, cobre-se com o manto da religião , que
aborrece , detesta e jura exterminar ; acolá convive com
os Principes e Soberanos, a quem tenta derrubar ; além ,
visita assiduame11te os Bispos, os Prelados, os Cardeaes e
outros personagens eccJesiasticos , a quem vota odio de
morte , guerra de extermínio : tudo isto com o fim de
melhor il ludir os incautos e chegar sem embaraço ao termo
de seus abominaveis projectos 1
Eis o que de Roma escrevia Nubius a um j udeo prus­
siano :
« Passo algumas vezes um a hora de manhã com o velho
Cardeal della Somaglia, secretario d' Estado ; passeio a
cavallo em companhia ora do d uque de Laval , ora do
principe Cariati ; vou , DEPOIS DA MISSA , beijar a mão
á formoza princeza Doria, onde quasi sempre encontro o
bello Bernetti . D'ahi corro á casa do Ca rdeal Pall,; ta, um
Torquemada moderno, que m uita honra faz ao nosso es­
piriLo de invenção ; depois visi� nas proprias cellas o
Dominicano Jabalot, procurador geral da inquisição, o

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- 6'1 -

Theatin o Ventura, ou o Franciscano Orioli . A' tarde co­

meço de novo em casa de outros essa vida ociosa , tão bem


occnpada aos olhos do mundo e da cõrte . . • . • » (86)
Isto é infame 1 é horroroso 1
Notai bem , Irmãos e Filhos muito amados 1 Este fer­
voroso personagem , frequentador constante dos Cardeaes ,
�id uo visitante dos frades e até do procurador geral da
inquisição ( !) é um dos chefes mais assignalados da l\'Iaço­
naria, e por ella chamado a Roma .
Que é isto senão desempenhar o papel de Judas ?
A gora u m d�cum ento da Maçonaria franceza , fornecido
pelo Globe, orgão das Lojas.
<� Quando nós (m açons) , diz este j ornal em seu numero
de 25 de Novembro de 1 830 , juravamüs fidelidade a
Carlos X e obediéncia á Carta ; quando azoavamos os
ouvidos deste monarcha com protestos de amor e cobriamos
de ramos as estradas por onde passava , por debaixo de
arcos de tri umpho ; quando r euniamos o povo para vi_c­
tor·iar a sua passagem e semeavamos a adulação debaixo
de seus passos ; quando os templos, as academias e
escólas retumbavam com um concerto de elogios e bençãos·
para elle e sua raça , e nossos poetas cantavam-lhe as v ir­
tudes ; quando el les espadanavam allusões de louvor á
bravura do nosso Hen rique IV e do valente Francisco 1 ,
TUDO ERA .-\PENAS FiNGIMEN'fO , por meio do qual
procuravamos evitar os grilhões com que elle prete ndia
manietar-nos . Vós fostes como esses espectadores novi�s
que, indo sentar-se pela vez primeira na plateia, tomam

(86) Ori. p. 66 .

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- 68 -

oomo realidades as scenas, que se passam ante si .


DESILLU Dl-VOS , Pares, Deputados. Magistrados, simples
cidadãos, NÓS TODOS REPRESENTAMOS UMA comedia de quinze
annos. » (8 7 )
Quanta simulação r quanta hypocrisia ! é horrivel 1 Mas
que sÚblime lição ! 1 1
O mesmo praticou a seita hypocrita e sacrilega com o
immortal Pio IX . Nos primeiros tempos do Pontificado deste
grand e Papa , a Maçonaria, com o fim de illudil-o, não can­
sava de acclamal-o calorosamente, victorial-o com ovações
estrepitosas ; e, o que mais é , os seus chefes e altos per­
sonagens CONFESSAVAM-SE A lllUDO , COMMUNGAVAM TO.DOS os
DIA8 DA PROPRIA MÃO DO SANTO PADR E , REZAVAM PU­
BLICAMENTB NAS IGREJAS ATÉ CAMBALEAREM, ATÉ CAHIREM EM
SYNCOPES !
Factos como estes , caros Filhos, contam-se aos milhares.
Não ha muito ' referia o Monde um delles, acontecido nos
Estados-Unidos em 1865.
Um religioso Passionista fõra chamado para sacramentar
um moribundo, em Brooklim . Este, que era maçon e j á
muito adiantado nos arcanos da seita , coNFEssou-sE , entre­
gando depois ao confessor as suas insignias e papeis ma­
çon�eos.
Levando eomsigo tão ricos despojos , retirou-se o vene�·
ravel religioso feliz e contente por haver arrancado aquella
alma ás garras de Satan , quando foi avisado pela filha do
enfermo, excellente eatholica, de que tudo não estava alli,
pois seu pai ainda havia conservado um escripto secreto,

(81) Gautrel . t. m. p . 71 .

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- 69 -

que . depois da mor te delle , seria entregue sellado ao ch·efe


de sua Loja.
''olta incontinen te á ·cabeceira do moribundo . Este nega
formal e obstinadamente a ex l stencia de tal papel , resis­
tindo ás exhortações , aos rogos do bom padre , e até ás
ameaças da j ustiça divina . '?encido . afinal , por urna subita
inspiração da filha extremosa, entrega o execrando escri pto :
era um juramento de guerra sem. fim , �·em treguas contra

A IGREJA , O PA PADO E OS RE IS , com as mais horripi­


lantes maldições , se elle violasse a sua palavra , ASSIGNADO
COM SANGUE 1 1 1
Este m ala\1ent�rado , graças á infinita misericordia de
Deus , ainda teve tempo de �rrepeader-se ·de seu ultimo
sacrilegio : viveu algu mas horas , e as suas derradeiras
palavras foram um acto de· contricção , de fé e espe-
rança. (88) ,
Mas , para que citarmos deploraveis exemplos do que se
dá em paizes estrangeiros , quando i nfelizmente os temos
de sobra na cara patria 1
Ouvi , amados Filhos , a narração de um facto cuj a ve­
racidade vos garanti mos.
Menos de dous annos ha , apresentou-se a rim Bispo
brasileiro um ancião grave no porte , venerando pela coroa
de caos , semelhando a fios de prata , que lhe cin giam a
fronte , credor de respei to pela classe a que pertence e
pela posição que occupava na sociedade . Este homem era,
e ai nda hoj e é , maçon , gráo 33 . Com signaes de arre­
pendimento , com exteriores de santa compuncção , com

(8S) Vide a Unillo de 9 de Jan9iro de 1875.

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- 70 -

fervorosas palavras ·d e piedade nos labios, ajoelhando anie


o seu Prelado, pede-lhe a absolvição das censuras , em que
se acha incurso por ser filiado á Maçonaria, sociedade
condemnada pela Igreja.
Vendo Lão boas disposições , crendo-as sinceras , depois
de haver obtido deste infeliz formal promessa de nunca
mais voltar aos lngobres an tros da seita perflda , cujos
diplomas, insignias , livros assegurava o penitente j á ter
inntilisado completamente , não hesitou o confiante Pastor
em attender-lhe os rogos , e , erguendo a dextra ,. pressuroso ,
alegre , clleio de ventura , levantou-lhe a excommunhão ,
extra confessionem, abraçando , depois , enternecido até ás
as lagrimas , o fil�o prodigo restituido ao amor do pai
carinhoso , a ovelha tresmalhada volvida ao aprisco do
Senhor.
Pois bem .f ouvi agora o resto, Irmãos e Filhos da minha
alma, e estremecei de horror 1
Esse penitente que tantos testemunhos dá de sen não
fingido arrependimento ; esse convertido que tamanha
contrição e dõr tão funda revela no amargu rado sem­
bl ante ; esse homem que mil protestos e j uramentos sem

par acaba de fazer ,-oh 1 é inqualificav el !-desprenden­


do-se dos braços do ill udido Pastor , que o cerra contra o
peito com effusões de j ubilo , encaminha�se direi to, im­
med:atamente, para uma Loja maçonica , e , ahi , empu­
nhando o malhete de Veneravel , preside os trabalhos da
seita 1
.

Não é tudo . ;Na mesma noite este desv enturado sustenta


e affirma que não tinha abj urado a Maçonaria 1 f
A.inda mais. Dias depois , escrevia elle que NUNCA

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- 71 -

tjnlta dado semelhante passo , e que JAMAIS o havia de


dar r r ·1
Arrepiam-se-nos as carnes de horror !
Oxalá fora este o unico caso que deste genero podes­
semos referir f Mas i nfelizmente de outros identieos �
hemos Nós , acontecidos no Brasil , na mesma .D iocese ,
eom maior ou menor requinte de hypocrisia e sacrilegio .
E , para não irmos mais longe , o que significa a insis..
tencia da Maçonaria e m permanecer no seio das Irman­
dades ?
Estando as Irmandades e Con frarias religiosas dentro da
Igrej a Catholica , como a parte no todo ; tendo el las por fim ,
al é m da eterna salvação , curar d a decencia do culto catho-
1

lico, suffragar , pelos meios usados no catholi1:ismo , os seus

irmãos adormecidos no Senhor, fallecidos no regaço da.


San ta Madre Igrej a ; claro está que para fazer parte dessas
pi� associações é de absoluta necessidade , é condição sine
qua non ser catholico ; nem é necessario , por ocioso , que de
�l circuIDsLancia façam menção os respectivos compro-

m1ssos.
Ora , os maçons, quem hoj e o ignora. ? por mais que di­
gam , pretendam � sustentem , não são catholicos , porque de
moto proprio se pozeram fóra da Igrej a Cátholica , inician­
do-se na Maçonaria , a despeito da pena de excommunhão
m aior incurrenda ipso facto, fulminada pelos Romanos Pon-
1iflces , contra as sociedades secretas , especialmente contra
as maçonicas .
Logo , emqu anto não volverem ao gremio da lgrej.a Ca­
lholica , abj urando a seita execranda e recebendo a absolvi­
ção das censur&is , não podem de modo algum pertencer a
esses pios sodalfcios.
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- 72 -

Não se póde estar n'uin a parte do todo , quando do todo


&e está completamente separad o , ou n' um ponto dentro do

circulo , quando se está fóra da sua circumferencia.


Isto é obvio , é evidente, é de primeira in tuição. O con­
trario é , além de illogico , absurdo e ridiculo .
En tretanto a �laçonaria que é impia, incredula , athéa,
que desconhece , despreza, mofa da auctoridade da Igreja
Catholica ; que en vida todos os esforços para aniquilar
o Catbolicismo , como já provámos : a Maçonaria , dizemos,
pretende os fóros e regalias de catholica ; introduz... se nas
Irmandades e dellas não quer sahir ; dorriina despotica­
mente as igrejas , a ponto de reduzir os parocl;los á cate­
goria somenos a de méro sacristão e de forçal-os a pactuar
com ella, sob pena de trancar-lhes as pnrtas da propria Ma­
triz ; frequenta os Sa r.ramentos , faz pomposas fP�tas , de
opas ás costas, assiste piamente ao Santo Sacrificio de
nossos A ltares , acompanha procissões , e enterros, etc .
'

Será isto ignorancia ou má fé ?


A primeira hypothese , depois de tudo quanto se tem dito
e escripto , dP.pois das arbitrariedades e inconsequencias,
injustiças e desacatos , que deploramos na amargura do
coração , se nos antolha hoj e como inadmi3sivel .
Fica, vois , a . segunda . Se , para atlingir o seu fim a
Maçonaria recommenda e emprega a dissimulação, a hypo­
crisia e até o sacrilegio em outros paizes , onde menos tem
ella que· receiar ; com rnaioria d� razão empregal-os-ha no
Brazil , onde a quasi totalidade da nação é sinceramente
catltolica, apo�tolica, romana.
Bem comp.rehende a seita manhosa que, se não escon­
desse a �ua horripilante hediondez sob o IQanto da religião

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- 73 -
do paiz , não poderia encontrar agasalho no seio do povo
brazileiro , intrinseca e naturalrnente religioso. '

lluiio c u sta , porém , levar á paeien·cia que catholicos se


d igam homens que escarnecem da anctoridade da Igrej a ..
Catholica ; que não crêm o que ella ensina ; que não obser­
van1 as suas santas prescripções : que até fazem garbo de
conculcal-as ; que não querem saber do Papa , cl1efe do
CathoJicismo ; que lhe movem guerra a todo o transe .
Digam- se , .sejam maçons , protestantes , schismaticos ,
j udeus , mahometanos, turcos , budhistas ; ainda b·e m · !
Laborarão , é verdade , em erro deploravel , commetterão
peccado gravissimo ; mas , ao menos , serão consequentes
com seus pri ncipios, coherentes com seu theor de vida ;
e ninguem lhes irá á mão, ninguem os violentará a ser
1

catholicos. Sua alma , sua palma .


A Santa Madre Igreja, essa sen tirá profundamente ta­
manha desdita de filhos que foram seus , procurará illu­
minal os e convertei-os ; neste intento , porém , en1pregará
tão só1nente as armas da oração , dos gemidos , das lagrimas,
d.o conselho , ela prégação , da persuasão , e nada mais.
Digam-se tudo quanto quizerem , menos catholicos ;
porque não o são e não sel-o-hão , ernquanto não crerem
o que ensin a a Igreja, emquanto não fizerem o que ella
manda fazer . em quanto não obedecerem aos seus pre­
ceitos e divinas disposições.
O contrario dist.o é zombar da logica e do bom senso.
Em prO\'a de seu catho1icismo allega a Maçonaria que
tem por patronos a S . João Baptista e S . Juão Evan­
gelista, cujas festas celebra com o maior brilhantismo e
pompa.

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- 74 -

Pois bem : quereis , Irmãos e Filhos dileclissimos,


saber o que são esses patronos da Maçonaria ?
Ouvi o que ella propria diz :
·

« S. João é apen� o que os Romanos chamavam Janua


inferi e Janua cmli, a porta dos lugares inferiores e dos
supeflores , isto é , o ponto por onde o sol passa dos signos
superiores para os in(eriores e destes regressa aos pri­
meiros. » (89)
« Em todas as ceremonias , que se fazem nas Loj as,
reconhecereis constantemente o mesmo pensamen to (a
mesma allegoria solar) . Por isso a nossa A ssociação col­
locou-se debaixo da invocaçãCI de S. João ; isto é , de
Janus, o sol dos solsticios . Nestas duas epochas do
anno é qoe nós celebramos a festa de nosso padroei ro �om
um ceremonial i nteiramente astronomico : a mesa , em
torno da q ual nos sentamos , tem a fórma de um a fer­
radura , e figura a metade do circulo do zodiaco ; e nos
trabalhos das mesas offerecemos sete libações em ho nra dos
set e planetas. » (90)
Eis ahi o espirito cnm que a Maçonaria celebra festas
religiosas !
Como pro''ª resumida de tudo o que levamos dito sobre
este assumpto , e para perpetua memori a da requ i ntada
impied ade e diabolica mal icia da Maçonaria , vamos exarar
aqui algu ns trechos de u ma carta do chefe da ''enda
Sup re m a a u m cumplice , escri pta ha cerca de 50 annos :
« Assisti , com a cidade inteira (Roma) , á execução de
Targhin·i e Montanari ; e mais me agradou a morte que a

(89) Ritual do Mestre . Irm ão Rebold .


(00) Irmão C laver . Hist. pittor . da Franc-Maçon .

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- '1·5 -

vida delles . . . . Cahiram com animo , e esse espectaculo


. .

fructificará . . . .Bradar voz em grita, na praça do Povo,


. . •

em Roma, na cidade mãi do Catholicismo, em face do


carrasco que vos agarra, do povo que vos contempl a , que
morreis innoeente, frane-maçon e IMPENITENTE , é admi­
ravel ! . . . . . Montanari e Targhini slío dignos de nosso
.

martyrologio , porquanto NÃO QUIZERAM ACCEITAR o PERDÃO


DA IGREJA , NEM A RE(:ONCILIAÇÃ O COM o CÉO. Até o

presente os pacientes choravam arrependidos, com o fim de


commover a alma do ' i gario das misericordias ; AQUEI..LEs ,
'

porem , NADA QUIZERAM OUVIR DAS CELESTIAES FELICIDADES ,


E A SUA MORTE DE PRECITOS PRODUZIO MA GICO
E FFEITO NO POVO Esta é a primeira proclamação das
.

sociedades seereias , e a tomada de posse das almas. »


Quem não �entirá eriçarem-se-lhe os cabellos f
Vistes , Filhos da minha alma, a seita infernal recom­
mendar e praticar a dissimulação , a hypocrisia, o sacri­
legio ; pois , vede-a agora recommendando , praticando,
encomiando , exaltando a impenitencia final ! a m orte dos
reprobos ! a perda eterna· !
« Os mortos terão o seu Pantheon ; depois irei , no correr

do dia, dar 01 pezames a Monsenhor Piatti. Este pobre


homem dei xou escapar' essas duas almas de carbonarios.
Para confessai-os empregou toda a sua tenacidade de
padre ; e entretanto foi vencido . Cumpre-me , pelo que
devo a mim proprio , ao meu nome , á minha posição, e
prin ci palm e n te ao meu futuro , deplorar com todos os co­
rações cathfJlicos tal escandalo nunca visto em Roma.
E deploral-o-hei com tamanha eloquencia, que espero com­
mover o proprio Monsenhor Piatti. »

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Este trecho-, onde tanto fingimento e Ião re­


resso m bra
finada hy pocrisia , não é mais que a re petição dos escriptos
e factos que vos ciiámos.
« A proposi to de flores , pro�egue a carta , mandámos
pedir , por intermedio de ttm dos nos�os mais eminentes
filiados da Franc-Maçonaria, ao poeta fra n cez Casi mir
Delavi gne , uma MeNsenia sobre Ta r ghini e �lontanari.
O p:•eta p ro m etteu verter ama lagrima em honra dos mar­
ty res e f u l m i n a r um anathema contra os verd u gos : o Papa
e os pad res Os correspondentes inglezes tambem farão
.

MIRABJLIA , e aqui m a i s de um conheço eu que já e 1n bo c o u

a tuba e pica em l o u vor da causa. �


Eis como a Maçonaria usa e abusa da i m pre n sa e até da
poesia, dom celeste , para e ndeosa r o crime , a i m p i edad e ,
e fulminar anathemas c o � t ra o Papa e a I g rej a Catholica !
� E' po rt a nto máo negocio fazer assim h ero es e n1arty­

res• . Se nós um dia tri umpharmos, e se , para cternisar


. .

a n ossa victoria , houvermos mister de algumas gottas de


sarigue , cumpre não conceder ás victimas designadas o di­
rei,to de morrer com dignidade e firmeia. Mor tes assim só
s e rvem de fomentar o e spi ri to de opposição e d ar ao povo
m ar ty res cujo sangue frio elle admira e aprecia. E' um
,

máo e x em plo , e delle aprovei ta mo s hoje ; c reio porém ser


uti l fazer certas rese rv as para casos u lteri o res . . . . . .

« Acreditaes que em p re se n ça dos p ri m i ti vo s christãos

não teria sido melhor que os Cesares antes enfraquecessem ,


attenuassem , confiscassem em proveito do pag a n i s m o todos
os hero i co s p r u ridos do Céo , do q ue dei xarem provocar o
fervor do povo por uma morte bonita ? Não teria sido mais
acertado medicar a força d'alma. embrutecendo o oorpo?

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Uma drogri bem preparada. e mnis bem administrada, que
debil i te o pacien te até a prostração , é , segundo penso , de
effeito sal utar. Se os Cesares houvessem empregado as Lo­
custas d'aquelle tempo nesse mister, estou persuadido de
que nem o nosso velho Jupiter Olympico , nem todos esses
pequenos deuses de segunda ordem teriam succumbillo
tão miseravelmente ! Tão be11a não fora por certo· a sorte
do Christianismo. Chamaram os A postolos , os Padres , as
Virgens , para morrerem nos dentes dos leões , no amphi­
theatro e nas praças publicas, debaixo das vistas de uma
multidão atten ta . Levados por sentimentos de fé , de imi­
tação , de proselytismo, ou enthusiasmo , todos elles morriam
sem empallidecer , cantando hymnos de victoria . . . .
« Se esses pobres Cesares houvessem tido a honra de
ser mem bros da Venda Suprema, eu lhes teria simples­
mente pedido manda�sem admi!tistrar aos neophytos mais
audazes CERTA B EBERA GEM , segundo a nos�a receita ,
e não haveria mais conversões , porque cessariam os
martyres . . . . . Os christãos tornaram-se rapidamente po­
pulares, por isso que ao povo apraz o que o impressiona.
Se tivesse visto fraqueza, medo n ' um invol ucro tremulo ,
com o suor da febre , ter-se-hia posto a assoviar, e se
houvera dado cabo do Cbris-tianismo logo no terceiro acto
da tragi-comedia .
« A Revolução franceza, que tão boa foi , enganou-se

neste ponto. Loiz X''I , Maria Antoinette e a mór parte


das hecatombes de então são sublimes de resignação ou
de magnanimidade . • • • .

« Em certa e determinada circumstancia arrange­

mo-nos de modo qoe nm Papa e dous ou tres Cardeaes

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morram como m ulheres velhas , com todos os transes da


agonia e horrores da morte ; assi m paral y saremos os
desejos de imitação . Poupa-se o corpo , porém mata-se o
espirito. »

Mais que humana , satanica é, 'por sem d uvida, Irmãos


e Filhos dileclissimos , a malicia que transpira de todo
esse lon go trecho ! Que perversidade ! ...
Os Imperadores pagãos , e a revolução franceza , diz a
Maçonaria , commetteram o grave erro de combater a Igrej a ,
dando-lhe martyres e heróes ; ao passe que poderiam haver.
alcançado maiores resultados sem Lão grande inconveniente,
admi nistrando , por exemplo , aos christãos certa poção .
certo ingrediente de pharmacia, que , e nfraqu ecendo-lhes
o corpo , lhes tirasse toda a energia do espi ri ta , os fizesse
tremer . suar, chorar ante os supplicios e assim morrer in­
glori amen Le 1
Tão refinada malicia , alvitre tão ardiloso só o espirito
das trévas , só o anj o de perdição pudéra inspi rar 1
« A mora ! é que nos i mporta atacar ; é pois o coração
que devemos ferir . . . Se uma pedrinha na be xiga bastou
para abater a Cromwell , o que será preciso para prostrar o
homem mais robusto e tornai-o sem energia , sem vontade,
sem coragem ás mãos do algoz ? Se elle não tiver força para
colher a palma do martyrio , não terá tambem altares , nem
admiradores , nem neophytos. » (9 1 )
O que acabais de ouvi r , Irmãos e Filhos amados , causa ..
assom b ro , parece incrivel ; entretanto é a pura verdade 1
Para chegar a seu fim supremo , para remover os obsta-

(91) Cri . 131

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colos que se lhe an tepõem , a seita execranda não esmorece,


não vacilla, não recúa ante meio algum . O ridiculo e a
falsidade , a malediceoeia e a calumnia , o fi ngimen to e a
hypocri sia o p e rj u ri o e o sacrilegio , tudo lhe serve , tudo
,

lhe é licito e permittido , de tudo lança ella mão , sem ·o


minimo escru p ulo , bem o vistes, com tanto que fique
occulto o seu iniquo e monstruoso i n ten to ; po is sua
di v i sa é a dos antigos Priscillianistas : Jura, perjura, se­
cretum prodere noli. (92)

, 4° Qual a. preparação e marcha gradoa l­


ment,e seguida p ela lHaçonaria ?

« é que devemos dirigir-nos : a ella é que


A' m oci dad e
devemos seduzir , sem que o desconfie , sob o estandarte
das �oc ieda de s secretas . . . . . Ide á mocidade , e , se po�ivel
fôr, até a infancia . . . .
« Estabelecida, a nossa repu tação nos collegios , Iyceus ,

universidades e semlnarios , tendo captado a confiança


dos profeS&ores e estudantes, e sforçai vos principalmente
-

para q u e os que se aJ istam na milicia clerical p roc urem


a nossa co n v ive n c i a . . . . .

« Otlerecei-lbes p rimei ramente , mas sempre em ,(·egredo,


livros i noffensivos, poesias fulgentes com emph�e nacio­
nal� e p ou co a pouco trareis os vossos babosos ao gráo
requerido. »

(92) 8. August. De hceres. e . 70.

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t . •-Envenenar, Irmãos e Filhos muito amados , as fon­


tes da educação da infancia, seduzir e perverter a mocida­
de, eis ahi , em resumo , o trabalho de preparação em que
se empenha a 1'Iaçoi:iaria , com o abominavel i ntento de
formar em seus moldes uma geração i mpia , que lhe desobs- .

trua o caminho e a leve commodamente ao fim proposto .


O coração do menino é cera molle que fiel mente copia
os traços do sinete que se lhu imprime ; é tela branca ,
sem desenhos , que um d ia represJntará vistas risonhas ,
apraziveis paizagens , ou quadros sombrios , tetricos paineis ,
conforme as primeiras pi nceladas com que a colorir a mão
do mestre ; é terreno virgem e fecundo , onde com abu n­
dancia germinarão Dores perfumadas , fructos saboros o s ,
ou só cardos, abrolhos, hervas damninhas brotarão , segundo
a semente boa ou má , com que lhe hou verem enchido os
primeiros sulcos .
Nu.n ca se apagam os primeiros traços, sempre duram as
primeiras pinturas , os mesmos fructos até o fim sem pre pro­
duzem os primeiros germens que se depositam em animo
infantil ; porque , segundo a linguagem de S . Jeronymo,
difficil mente se perde o que dão os verdes annos : Diffe,cul­
ter traditur quod rudes anni perhiberunt . . . . Recens testa diu
et saporem retinet et odQrem , quo primum imbuta est . (93)
O animo j uvenil , diz um auetor pagão , á imitação do
frasco de essencias que sempre exbala o aroma que pri­
meiro embebe u , nunca dei xa exiinguirem-se as pri meiras
impressões que nelle se gravaram : Sicut vasa odorem,
quo primttm fuerint imbuta, re(er11nt, sic juvenum atiimi,

(93) Epist. 7. ad Lactan .

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quas primum formas imaginatione conceperint, nunquam


aboleri sinunt. (94) .
D' ahi se collige·, carissimos Irmãos e Filhos no Senhor,
que desvellos, sollicitude e esmero não deve merecer
de nossa parte a primeira educação do homem , cuj�
influencia se faz sentir em todo o resto de sua vida·.
E' ella, diz o venerando D . Romualdo Antonio de
Seixas, que dasenvolve e corrige o germen das nascentes
inclinações , encaminhando-as para a vir1nde,. e acostuman­
do-as ao imperio da: razão ; é ella que pela diuturnidade
das prin1eiras impressões fórma esses l)abitos e costumes,
que fortificados com o tempo contituem uma como segunda
natureza, que nenhuma força humana é capaz de arran­
car , e que muita� veze� se transmitte con1 os mesmos
principios da vida ; é ella que estabelece tão grande
intervallo entre �eres �lotados das mesmas faculdades,
que quasi os faz parecer de especie di flereote ; (95 ) é ella,
aceresceiltaremos Nós com um sabio auctor sagrado , que
decide de toda a nossa vida, e del�a depende a nossa sal­
vação oa condemnação , como da couceira pende a porLa :
A b educatione pendet vita et salus , vel damnatio cujusque,
sicut ostium pe ndet a cardine (9fl) .
Esta é a razão por que a Santa Igreja, mãi estremecida
e carinhosa, nunca dei1ou de recommendar com encare­
cimento a educação da linfaneia, sempre cercou-a das
maiores attenções e em todos os tempos consagrou-lhe des­
velados cuidados.

(9') Philon.
(95) Pastoral I.
(98) Oorneliua a Lgpide, Comment. in Apoe .
D
�- 21 .

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- !8 -

Ainda estava no berço , e já clamava pela voz dos


Apostolos : « Pais de familias, curai sollicitos da ed·u­
cação de vossos filhos ; educai-os no santo temor e amor
de Deu� : Educate illos in disciplina et correctione Do·
mini {97) .
Já tinha quasi quatro seculos d e existencia, e não ces­
sava de dirigir aos pais a mesma exhortação, pela boca e
pela penna dos Jeronymos, (98) dos Gregorios, (99) dos
Chrysostomos, dizendo que nenhum thesouro lhes de,Teria
ser mais caro nem mais precioso que a educação dos filhos :
Nulla nobis possessio , nullus fundus ceque nobis gratus et
charus esse d�bet : quippe haec omnia filiis quarruntur . ( l 00)
Hme est patrum cura pulcherrima ; hrec germana parentum
sr.llic-itudo ( 101 ) .
Os seculos foram-se multiplicando , os seus dias cres­
cendo : e ella sempre a fazer a mesma rt'commendação ,
sempre a velar sollicita pela educação ela infancia. Nesse
intuito, funda Ordens religiosas de ambos os sexos , exclu­
sivamente destinadas a este mister ; abre collegios e escó­
las gratui tas ; creia salas de asylo e outr'ls pios estabele­
cimentos , onde , a par de solida instrucção , offerece á
juventude o pabulo da sã doutrina , o alimento sadio
tia verdade, e lhe nutre o coração com os puros senti­
mentos da fé , á medida que lhe vai enriquecendo o espirito
com os vastos thesouros da sciencia .
.,\os proprios sabios do paganismo não escapou a impor-

(97) Ephes. 6, 4 .
(98) Epist. ai Gand . E pist . nd Demetr .
<99) Epist. ad Eudox .
(100) Hom . 9 . in 1 . Tim . 2 .
(101) Serm. Cur . i n Pentec . Acta Apost. lega ntur .

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- 83 -

taneia da primeira educação e da instrueção da mocidade.


Na phrase de Platão , é ella de summa transcendencia para
a direcção de toda a vida, ( 102) e de todos os publicos ne­
gocios o mais serio e momentoso. (10 3) Assevera o Orador .

romano que de todos os serviços que se pódem prestar á


patria o maior e mais relevante é incontestavelmente
·educar 6 instruir a mocidade : N ullum mu�,us reipublicm
alferri majus meliusve posse quam si doceamus et erudiamus
juventutem. (104)
Com effeito . assim é , d. ilectos Filhos em lesas Christo ;
por quanto da boa ou má educação da mocidade depende
totalmente a regeneração, ou a perda da sociedade ; da boa
ou má di recção dada aos seus estudos resulta infallivel_
mente a salvação ou a ruina da patria .

!.º-Bem o sabe a �Iaçonaria. Tanto assim que liga


maxima i mportancia á questão do ensino, e busca por·
todos os meios ao seu alcance assenhorear-se da educação .

e da instrucção da mocidade , afim de preparar uma


geração digna de si , isto é, sem J)eus , sem lei 11em grei ;
uma geração materi alista , rica dos ouropeis da falsa
I

sciencia e balda de todo o ensi no religioso .


Neste iniquo empenho a sei ta ·manhosa prosegue gra­
dualmente. Começa arrancando o menino dos braços da
Santa Igreja de Deus , mãi pressurosa, 3 quem incumbe
de modo todo particular a missão de ed ucar e instruir

(102) P uerilis institu t,i'; e; ,, . 1naximi m 0 me n t i al u n iver3a1n vitam recte


i nstituendam . Lib . 2 de Republ .
(103) AdoJ escentioo rectlL institutio est publicorum n egotior u m omnium
maxim e serium . Lib . 6 . de Legibu s .
(14) _Lib . 2 . de oftlciis .

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- 84 -

todo o ho mem _que vem a este mundo , (1 05) pois só a ella


e aos seus ministros disse o Filho de De us : Docete omnes
gentes. ( 1 0 6)
Vamos ás provas.
« Debalde, diz o irmão Franz-Faider, nos lisongeamos

eom o seculo XVIII de ter es m a gado a infame : esta. r�­


nasce cada vez mais vigorosa , intolerante , rapace e esfai­
mada, do que nunca . Para estabelecer com mais firmeza
o seu im perio , é da mocidade que deseja apoderar-ff�. Tomar
o m e ni no no b erço encarregar-se da sua educação até a
,

vida vi ril , tal é a sua pretensão .


� E' CONTRA ESTE DOMINIO QUE DEVEMOS COMBATER . Para

alcançar este fim é m i s ter levantar altar contra altar , oppor


ensino a en �in o . » (107)
Ainda mais positivo é o seguinte :
« Propagar, diz o irmão Beringer, e derramar a instruc­
ção em todos os gráos , por todos os modos e fórmas ; ARRAN­
CAR PEDAÇO A PEDAÇO AOS NOSSOS ETERNOS INIMIGOS o dominio
absoluto que exercem nas aldeias, é o ponto de partida, a
base essencial da regeneração social á que se dedicou a
nossa instituição , e á que d6ve continuar a dedicar-se
acima de tudo . » (1 08)
« Sob pretexto, diz,r nma loja maçonica da Inglaterra , de

ensin ar ao homem o caminho que deve conduzil-o á feli­


cidade n' uma vida futura e problematica , o padre apode­
ra-se delle desde que i nasce e inocula-lhe , sob a fórma de

(106)Joan . 1 . 9.
(106) Math . 28. 19.
(107) Instai . da Loj a Fidelidade ; Gand, 1840 .
(108) Assembléa Geral do 1867 . Grande Oriente da Belgica, 5• seeçio,, 14
ü �ulho.

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- 85 -

en�ino , um veneno i ntellectu al , que o dispõe para o cap ti ­

veiro e op pressão para a ty ra nnia e sujeição .


,

« E' obvio , á sombra do Sac r am ento do Baptismo o

pad re recebe a cri ança ao nascer , mais adiante em nome


da f.omm u nhão faz com os pais uma especie de contracto,
,

pelo qu al fortifica o exercicio de um poder, c Djos efJe i tos


pernici osos são , o m ais d� vezes , indestructiveis. Quem
i gnora que das p r i m e i ras im pressões se n ti das pelo homem
na tenra idade de p e nd e quasi . sempre o seu destino 1
O pad re experto, astucioso na ar te de dominar, conhece
,

todo o alcance desta verdade : é .o motivo por que elle for­


ceja por assenhorear-se do homem desde a i n fanci a , gra­
vando-lhe no espirito as prim eiras i m p res sõe s » (109} .

Em conclusão , terminemos o pe n sam e n to da Loj a , é


mister que a Maçonaria arra n que o home1n , desde o be r ço ,

á i n fl ue n c i a do p ad re .

3 . º Não pára aqui a sei ta anti-catholica. Dado este


-

prim ei ro passo, s ubt rahi d a a c r ia nça á a cção da Igreja


e ao ensino do sacerdote, em pe nh a s e a �Iaçonaria totis
-

viribus em eliminar a religião da ed ucação da i n fan c ia e


pri v ar a m o ci d ade de toda inst rucção re ligi os a .

Falle por nós ella propri a : 1

« O en si n o do cathec ismo , diz a Loj a de AnvP.rs, é o


maior obstaculo ao dese nv ol vim en to das facu1dades da
criança. Libertado o espirito humano des.� e acervo de cousa.
que o falseam, tor n ar se-ha mais j usto, mais recto e
-

m oral . » (110)

(109) Cadeia de União, de Londres.


(110) Neut . t. 1. p. 848.

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- 86 -

e O principal �bjecto do ensino obrigatorio, diz a Loja


de Namu r, é nãÓ curar de religifjo, NEM MESMO DE

KOÍlAL. » (1 1 1)
� �· trisl.e , ��� a Loja <le Louvaina, ter que. �enc�on�r
a inf(uenc-ia deleteria do Catho�icismo sobre o progre�
intellectoal das m�ssas. O protestantismo comprehendeu
melhor d!J que o Catholicismo o que deve ser uma religião
moral bumanitaria. O p_aoperi.s mo e a ignorancia T�M
POR BASE O EVANGELHO . » (1 1 2)
SuppressãQ. de tod� instrucção religiosa é o segundo ar­
tigo de um projecto de lei sobre a liberdade do ensino ,
elaborado pelo �rande Oriente da Belgica 1 (1 13)
Ainda mais Qnl documento :
« E' mister empregar, diz o irmão Eugenio �ue , todos

os recursos da imprensa e dos meios de agitação legal


no paiz, �ara fazer penetrar na opinião publica esta ver­
dade incontestavel , que a instrucção moral dos meninos
poderia e deveria ser completamente fóra e distincta da
instrucção religiosa : resum'ir a educação moral no que
chamarei cATHEcrsMo CIVIL . Esta educação seria muito
superior á que dá o Catheci�mo cathol ico . Este, excep­
tuada a recommendação de respeitar. aos pais, de amar ao
proximo e de não roubar' só CONTÉM UM APONTUADO DE
IDOLATRIAS E MENTIRAS, cháos de impostura incompre­
hensivel . » (114)

(11 1) lbi . p. 8�9.


(112) Ibidem .
(113) Ibidem .
(114) Cartas ao Naciona l, em 1852 .

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- 87 -

Nada mais evidente ! Está tão claro como a luz me­

ridiana 1

4 .º- ! Maçonaria vai além , Irmãos e Filhos muito


amados. Feito isto , arrancado o menino dos braços da
Igreja, súa unica mestra: legitima e competente , excluida
a religião de todas as fontes do ensino , da educação e
instrucção da juventude , d'ellas se apodera a seita
diabolica , para formar homens a seu talante , queremos
dizer , sem Deus , sem religião , nem moral .
Ensino secular e livre , ensi no gratuito e obrigatorio são
os meios de que ella lança mão, para ir direito á moci­
dade , assenhorear-se della e infliltrar-lhe nas veias o
Yeneno da impiedade .
Não calumniamos a Maçonaria ; fazemos timbre de
sempre provar o que asseveramos citando as suas proprias
palavras , escriptos e feitos.
Ouvi :
« Quando os ministros , dizia o irmão Bourlard , na festa
solsticial de 24 de Junho de 1 854 , no Grande Oriente
belga , vierem annunciar ao paiz como pensam organisar
o ensino do povo. exclamemos : « A mim, maçon , a mim ..

pertence a questão do ensino, a mim o seu exame e


solução. » (1 15)
Não lhe pertence 1 Elia é que delle se apodera sorratei­
ramente e ás vezes até por meio da violencia .
« Organizem os nossos Irmãos da Be1gica o ENSINO LIVRE
e mul lipliqnem os centros, diz a Cadeia de União , de Lon-

(110) Gautrel . t . li . p . 118.

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- 88 -

dres . em 1 865 ; porque no dia em que se exija dos pais que


Jivrem os filhos do vírus do ensino clerical , será mister
abrir-lhes as portas de estabelecimentos , onde recebam uma
EDUCAÇÃO RACIONALISTA . � ( 1 1 6)
Quanto ao e n sino gratuito e obrig�torio , diz a seita pelo
orgão do i rmão Goffin , que a e lia se deve a fandação das
bibliothecas populares . « �l as , accrescenta , para que·esta
. .

institu ição produza resul tados satisfactorios , lbe é mister ,


como complemento inrlispensavel , o en�ino gratuito e (Jbriga.­
torio. E' para este ponto que devem convergir todos os
esforços da Maçonaria. » (1 1 7)
Eis ahi , amados Filhos , como a �façonaria se apodera da
i nstrucção da mocidade , para prof1,igar a ignorancia clerical ,
e preservar os 1nenino:; dos preconceitos , superstições e fana­
tismo {Catho1 icismo , dr gmas e mysteri1 is) ! { 1 1 8)

Com este fim ella f o nda escolas suas , creia associações 1

protectoras da instracção pri maria , estabelece Ligas de


ensino ,, como na França e Belgica ; e , não ccntente com
tudo isto , procura ainda exercer sua 1naletlca influencia nas
escolas publicas . nos collegios particulares , nas academias
e até , --- quem tal diria 1 nos Seminarios !
-

O peior é que, infelizn1ente , logra a seita o sinistro


intento , introduzindo por tod·a a parte, á sorrelfa , peda­
gogos , professores . le-n tes que lbe sej am filiados, ou pelo
menos esposem as suas idéas , abracem os seus princi pios ,
compendios e livros , em cujas paginas envenenadas a

(116) Neut . t. 1 . p. 366 .


(117) Hist . popul . de la Fran c-Maçon. p . 4.
(118) Monde Maçon . , d e lSôG, p . r40 .

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- 89 · -

infancia ingenua e a incauta mocidade bebem a longos


haustos, sem que o presintam , a morte d'alma.

5.•-A ssim corrompidas todas as fontes da instrucção,"infi­


cionadas as aguas da vida social , o que será da sociedadeT
Ainda Jhe resta uma fonte de salvação , uma nascente
d'agua viva , pura , regeneradora.
Mas , até ahi tenta a Maçonaria distillar a peçonha do
erro , , verter o lethal veneno da irnpiedade f
A sociedade , caros Filhos em Jesus Christo , tem por
base fundamental a familia ; de sorte que a sociedade será.
o que for a familia. Esta, a seu turno , quasi que depende
.

exclusivamen te da mulher.
Este ente de tão apregoada fraqueza , exerce prodigios3
influencia sobre o homem , sobre a. familia , sobre a so­
ciedade inteira.
Quando virtuosa , é , na linguagem dos Livros Santos,
para o lar domestico , o que é o rei dos astros para todo o
mundo : Sicut sol ori ens mundo i n altiss·imis Dei , sic mulieris
bonre rpeci�s in ornamentum domus ejus . ( 1 19) Quando boa,
é a 1ampada do sanctuario da familia: Luccrna splendens
super candelabrum sanctum (1 :20) cuja luz n1eiga, suave ,
,

benefica reflecle docemente sobre o esposo , filhos e criados ,


all umia-lhes as ingremes veredas da virtude e dirige-lhes
os passos com segurança , monstrando-lhes os temerosos
despenhadei ros do vicio .
Quando má porém , é , segu ndo outra comparação das
Sagral1as Escripturas , aspidE peçonhento , que envenena

(119) Eceles . 2 L 21 .
{1 �íl) Ibidem . 22 .

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- 90 · -

os dias do amargurado esposo , corrompe a educação da


desditosa prole , toma impossiveis as santas e puras deli­
cias do lar domestico, e, levando a morte ao seio da fami'­
Jia, prepara a inevi&avel decom posi ção do corpo social : Mu­
lier nequam , qui tenel illam , quasi ,a fJPprekendit scor­
pionem . (1 21 )
Comquanto tenha o homem a chefia, o mando supremo
sobre a familia . todavia o seu intluxo sobre ella é infinita­
mente inferior ao da mulher. Nem póde haver termo de
,,

comparação . Levado pelo turbilhão dos aflazeres exteriores,


peq uena estancia faz no remanso da familia , e poucos lazeres
lhe restam para curar ·d os negocios domesticos .
A mulher é quem delles geralmente .se encarrega ; é ella
quem vive em contacto diario constante com todos da casa ;
,

é ella. em summa , cuja immediata auctoridade sen tem os


domestieos, cujo olhar solicito acom panha sem cessar os
filhos , cuja mão diurna e nocturna cultiva essas delicadas
plantasinhas . quem exerce ,maior domínio e acção mais
directa , mais positiva, mais efficaz no seio da familia.
Nunca deve desesperar da salvação o povo que porven­
tura ainda possua joia tão preciosa , - a mnlher vi rtu osa.
Elia vai a pouco e pouco-regenerando-lhe os cos tu m es , exer­
cendo sua branda mas poderosa influencia no sanctuario da
familia , e por conseguinte, no seio da sociedade � -sapiens
mulier redificat . ( t!·� ) Sendo poré m l"iciosa a mul her, ne­
nhuma esperança de sal v ação haverá para o povo , antes
cabirão sobre ell e todos os infortunios ; porquanto todo ella
estraga e des\róe , tudo perverte e corrompe, o es poso , o

(191) Eccles. 26. 10.


(122) Prov . 14. 1 .

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- 91 -

filho, o domestico, a familia, até a sociedade : Insipiens


destruit. ( 1 !3)

6.•-0ra, sendo assim , claro está , Irmãos e Filhos di­


leetissimos, que não. era possivel escapasse tão poderoso
elemento de edificação ou de ruina á acção cor.rosiva e dis­
solvente da lia�,onaria.
A seita tenebrosa não só tenta associar a mulher adulta
á sua obra de demolição , por meio da Maçonaria de
adopção, como até , e principalmente , se esforça por apo­
derar-se deUa em tenra idade , . por meio das escolas pro­
fessionaes , creadas ad hoc , em varios paizes da Europa.
E não data de hoje este em penho da }façonaria : é
antiquissimo. No seculo
. passado foram ap prehendidos pelo
Governo Bavaro im portante� pa peis maçonicos e docu-
mentos altamente com promettedores da seita ; entre elles
encontrou-se um projecto de escolas normaes , regidas por
irmãs illu11.inàdas , que ella pretendia fundar na !llemanha,
para a educação e instrucção das meninas.
Jlinos (o Barão Dittfuhrth , conselheiro na camara im­
perial de Wetzlar) expõe ao corpo central da Ordem o
projecto nos termos seguintes :
« Hercules pen sa em crear uma escola Minerval , p roj ec\o

que merece a mais seria attenção. Igual pensamento me


1em vi ndo . m uitas vezes , e delle hei fallado a Pbilon . A s
mulheres exercem grande influencia sobre os homens, d e
m odo que , se quizermos reformar o mundo, precisamos co-
meçar pe la re{t rma das mulheres. Como porém se ha de
emprebender isto 1 Eis abi toda a difficuldade. As mo-

{12a) IbWem .

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- 9! -

lheres adultas ,, as mãis sobretudo , qne são imbuidas em


preconceitos , sotJrerão que outrem se i ncumba da edu­
cação de suas filhas? E' preciso , pois, comecar pelas RAPA­
RIGAS NOVAS. Hercules propõe-se a empregar nesta missão

a m ulher de Ptolomeu Lagus , e eu nada tenho que lhe


objectar. Eu indico as minhas quatro enteadas, que são
boas moças. A mais velha principalmenie tem tudo o que
é preciso : tem vinte e quatro annos , é m uito lida e supe­
rior a todos os preconceitos. Em materia religiosa, pensa
como eu . (1 24)
« As minhas quatro enteadas têm muitos conheci­
mentos entre as raparigas da sua idade , e , portanto ,
depressa coustituir-se-hia uma pequena sociedade, diri­
gida pela mulher de Ptolomeyi Lagus . . . . . A esposa de.

Ptolomeu. Lagus corresponder-se-hia com seu marido ,


sem que as outras o soubessem , a mais velha de minhas
.,

enteadas seria regente e se corresponderia comm i go . . . . . .


Cu mpri r-nos-bia vigiar ás occultas que se não admitlisse
algu ma m ul her indigna ; e tambem lhes suggeririan1os
algumas ideias. » ( 1 25)
Eis ahi , como a M açonaria procur �
assenhorear-se do
sexo feminino e da educação daquellas que um dia serão
esposas , mãis de familia , educadoras das gerações fu turas r
Pois bem , Irmãos e Filhos m uito amados ; já boje é uma
realidade este sonho da Maçonaria no seculo passado. Já na
França e na B�_lgica ba escólas f andadas com este i ntuito
pelas Lojas, e leccionadas por mestras a sabor da seita.
(124) Mi r&os, diz o autor do n de extrahi mos estP. docun1e nto, era total­
m e n te i ncredulo . Os s eu s col legas u m só d e fe i to lha reconheciam ,-o de
ser em d em asi a arde nte e propenso a fazer alarde de sua incredulidade.
(125) Neut. t. I . p. 336 .

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- 93 -
« Nestas escólas, diz Monsenhor de Sega r , é expressa­
mente prohibido emittir qualquer idéa de religião , por
mais vaga e geral que seja, e não se brinca a respeito
deste ponto : ultimamente uma mestra , a quem por des­
cuido escapou o nome de Deus , foi immediata e cruelmente
despedida. » (126)
San to Deus ! que filhas , que esposas , que mãis . não
sahirão desses viveiros da l\'l açonaria ? ! Que plantas , que
flores , que fructos não produzirão taes semen teiras da
impiedad e ? !
Por nós respondam· as celeberrim as petroleiras da Con1-
m u na de Paris .
..

Ahi tendes , carissimos Irmãos e Filhos em Jesus-Christo ,


desvendado todo o plano sombrio da l\1laçonaria , descoberta
uma pequena parle de seus infernaes manejos.
\

Praza aos Céos ache a nossa voz é cho sympatbico em vosso


coração ! Desperte este nosso grito de alarma os que ainda
dormem a somno solto , descuidados do com mum perigo
que a lodos nos ameaça ! Descerre os olhos dos que a i nda
os têm fechados , .Pelo erro , á luz da verdade 1 Desilluda os
que de boa fé laboram em funesto engaIJo 1 A todos , em
summa, preserve, afaste , tire dos medonhos abysmos das
sociedades maçonicas.
Não fizemos imput�ções gratuitas ; tudo quanto dissemos ,
hem o vistes , provámos com as autoridades mais i nsuspei­
tas e ponderosas da seita. Muito de proposito accumulámos

(126) Lea Franc-111 tàço11s.

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- 9 .f -
mais documentos da :&laçonaria , que reflexões nossas : calá­
mos estas para dei xar fallar aquelles .
Do conj uncto de todos elles resulta qoe o trabalho da
M aço n ari a na realisa ção de seu plano diabolieo é , em resu­
mo, o seg u i n te :
J .ºComo da e duca ção d epende o futuro da sociedade , ella
proc ura arrancar a infa ncia e a mocidade aos desvellados
cuidados da Igrej a , subtrabindo-as ao ensino do sace rdote ,

e dar ás cria n ç as d e am bos os sexos ed uc ação e instrucção


-

sem idéa de mo ral , nem ensi no re l i g1 o so , afim de formar


gerações á sua feição e contento.
2. º Tenta su pe ra r os obstaculos que lhe embargam o
passo , ridicularisando , cal umniando , d iffam a n do toda a
j e rarcb i a ecclesiasLica , quer por meio da conversação no
seio das fam i l i a s quer �o seio das massas po pula res pel os
,

canaes da im p re nsa ; e ill udindo p ela dissim ulação ou si­


·mulação , pela. h ypocrisia , e até pelo sacrilegio, que ella
recom rnenda , bem como a impe n i te n cia final .
3 . º �endo a Cad e i ra A postolica princi pio da auctoridade
rel i gi o sa e sustentaculo dos thro nos , esforça-se por der.­
ruil-a. Neste in tento m i na l he os fundámentos, alliciando
-

o cl e ro tanto secular, como re g ula r e corrompendo-lhe a


,

pureza dos co st u me s ; d'ella afasta tudo o qne lhe poderia


prestar apoio, tirando-lhe o poder tem poral , extinguindo as
O rd e ns religiosas, abatendo ou v ol ta n do contra ella os go ­

vernos que lhe eram a m igos e favoraveis ; atira-se , a�nal ,


sobre ella , suscitando por Loda a parte conflictos en tre o
Estado e a I g rej a e impellindo co n t ra ella os gove rnos
. ,

creatul'as suas.

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- 95 -
4. • Feitoisto , pensa a Maçonaria q ue só um passo a
separa de seu fim . Desmoronado o throoo dos Papas, j ulga
ella que facill i mo lhe ha de ser derrubar todas as Monar­
ehias e levantar sobre s u as rui n as a i m aginada Republica
universal ; ani q u il ar o Catbolicismo, cuj o en si no do gmas, 1

mysterios , sacramentos e ministros ella gu errea com ardor


sempre crescen te e substituir-lhe o p an thei sm o ou o
,

a lbei stp o .
lnfe1izmente , I rm ãos e Fill1os da minha alma , com
m agoa funda o di ze mos parte deste pl a n o si nistro , abo­
,

min a vel execrando , já está posto em execução.


,

Com lagrimas nos o l h os , pred i sse Santo A fJonso de Li guori ,


o seg u in te : (( Â SEITA DOS FRANC-MAÇONS UM DIA VIRÁ A SER
A RUINA , NÃO DA IGREJA , MAS DOS ESTADOS E SOBERA NOS .
Os PRINCIPES NÃO LH E HÃO DE LIGAR J MPORTANCIA ; PORÉM
QUANDO J�.\.' FOR �IUI TARDE , CONHECERÃO 'TODO o MAL

QUE OCCASIONARAM COM A SUA NEGLIGENCIA . Os HOMENS QUE


T�M A DEOS EM POUCA CONTA A INDA MENOS C ASO FA llÃO DOS
REIS . » (1 27)
Esta memoravel p rophecia do S an to B i sp o e Doutor da
Igrej a está boje rea1isada e m p ar te E bem p o deri a acon­
.

tecer q u e a �I aço nari a l o g rasse co1npletamente o seu


nefando i n te nto em re la ção ás �lonarchias ; porquanto ,
além de não te re m ellas por si a garan ti a das promessas
divinas , m uitas vezes succed� q u e prevaricando os So­ ,

beranos, o Rei d os reis , a i n finita M age slad e dos Cé os e


da terra , A quel le , por cuja vo1itade e poder os reis go­
vernam , ( 1 28) reti ra lh es o apoio de se u braço Omni-
-

( 1 2i) Tanoja. Vida <.le San to Aft"onso, 1 . III. e. 25.


( l ·. 8) Per me reges re5nant. Prov. 8 . 16.

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- 96 -

potente, abandona-os aos desvarios das paixões populares


desenfreadas ; então os seus thronos tornam-se , como
palhas agitadas pelo vento , (1 29) os seus reinos e dynas­
tias desapparecem arrebatados pelo sopro abrasador do
tufão revolucionario : Tollet ventus urens et auferet . (130)
Desde Saul até Napoleão I l i a quantos monarchas não
foi intimada a terrivel sentença do Propheta ? quantos
não a viram cum prida lilteral mente 1 Stulte egisti, nec
custodisti mandata Domini Dei tui, qum prmcepit tibi . . . . .
Nequaquam regnum tuum ultra consurget . (1 3 1 )
Demais. tudo nos induz a crer que dia virá, breve
.

talvez , em que um d uello de morte travar-se-ha entre o


llaçonismo e o �Ionarcb\smo . Então , de duas uma : ou a
�Iaçonaria fará baquear todos os tbronos e os nivelará com
o solo ; ou todos os Soberanos, não obstante hoje tanto
protejel- a, ver-se-hão na imperiosa necessidade de colli­
gar--se contra ella, seu inimigo commu m , e mover-lhe
guerra de exterminio. Isto é infalli\'el ; é questão de
tempo apenas.
�Ias , quanto a f grej a . . . é inutil ! Trabalho baldado !
A �J açonaria não consegu irá seu impio fim ! Não ! e mil
vezes não ! Porque assim nol-o garantio Aquelle , a cujo
Nome bemdito curvam-se reverentes ou forçados todos os
joelhos nos Céos, na terra e até nos infernos ! (1 !32)
A Esposa querida de Jesus-Christo , essa nada tem que
receiar. Qual firme rochedo em meio de eneapelJado oceano ,

(129) Erunt aicut palem an te raciem vent i . Job . 21 . 1 8 .


(130) Ibid9nt . :ll .
(131) Reg . e. 13. v . 18 e 14 .
(132) l n nomine Jesu omne genu fteetatur cmleRtiu m, terrestrium et infer­
norum . Phil . 2. 10.

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- 97 -
ha dezanove secn1o� , que resiste inabala,1el ao furioso
embate .das ôndas da im piedade , lnta ·i mpavida com as
·arrebatadas correntes das paixões :humanas, contempla
cálma e sobranceira as mais temerosas procellas .
Os homens passam , os povos desapparecem , as nações
abysmam-se , os imperios baqaeam, as idades renovam -se ;
só ella ·ttca, como marco estavel no cami nho da eternidade ;
só ella permanece immovel , fitos os olhos no Céo , absorta
:em Deus , sem sentir o perpassar dos seculos , nem ouvir o

·pavoroso arruido dessas estrondosas revol uções que , fazendo


·estremecer a terra até os seus fundamentos , ·muda1n com-
.

pletamente a face do m undo .


Todo tomba e desapparece no pó do esquecimento ; só
ella ficf). e continúa serena e tranq ui l là a sua gloriosa pere­
grinação pela terra do exilio . Tado some-se na i m mensa
voragem dos tempos ; só el l a fica e conti núa magestosa a
sua marcha augus ta e triumphante , atravez dos povos e dos
seculos, até o seio da eternidade : Quis vero fidelium du­
bitet Ecclesiam , etiamsi ali1s abeuntibus , aliis venientibtts ,
ex hac vita mortaliter transit , ta·m en in reternum esse fun­

datam ? (J 33)
A Maçonaria , é verdade , bem póde fazer renascer os
ominosos dias do3 Neros e Dioclecianos ; bem póde reviver
as éras cruen tas , porém luminosas , dos martyres ; bem póde

reaccender. as fogueiras e renovar as hecatombes daquelles


tempos calamitosos ; bem póde despojar esta Fil ha do Céo
de seus bens, de seu Patrimonio secular, de suas ordens re­
ligiosas. etc. , etc. ; bem póde constrangei-a a volver para as

(133)
,.,
S. Augn,at in Psal. 77.
. .

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- 98 -

catacumbas , a andar errante por des ertos e erm os bosques ,


a occultar-se nas sombrias cavernas dos montes : sim ,
tudo isto póde a soberana deste m u n do : Princeps hujus
mundi (1 3.i) ; tudo isto pode m os filhos deste seculo :
Filii hujus sreculi (1 35) .
Mas , a E sposa immaculada do Homem D eus , vestida ou
despida, amparada o-n abandonad a protegida ou perse­

guida, estavel ou foragida, se ntad a no throno ou s ep ul tada


I

em subterran eos esco ndrij o s , continuará sempre , levada


pela mão do Esposo , guiada pel a luz do Espirito-Santo , a


sua missão divina, até o fim dos tempos, e só deixará de
ser militante sobre a terra, para ser triumphante no Céo :
Et portre inferi non pramalebunt adversus eam. Ab praete­
ritis et futuris crede. ( 136)

(134) Joann . 16. 1 1 .


(135) Luc. 16 . 8 .
(186) S . Joan. Chrysost . Lib. Qllod Chriatus si t Deua.

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SEGUNDA PARTE

1.

1 .º--Como j á vistes, Irmãos e Fi l h os dilectissimos, a Ma­


ço nari a o u a Revolt1ção em permanencia , para at ti n gir o
seu d uplo fim , a destruição do Catholicismo e das Mo­
-

narchias, e mpreb e nd e as mais loucas tentativas ; para dar


cabo do Papado, prin cipi o de tod a a auctoridade re l ig i osa
e sust e n tacu l o dos tbronos , pri va-o do val ioso concurso
das Ordens r eligi osas , exti nguindo-as, e de tudo o m ais
qun lhe poderia prestar auxilio e servir l he de ponto de
-

apoio .
Das O rd ens re l ig i os as, porém , a que ell a p ri meiro
acco m m e tte ; aqu el la pela qua l c o m eça quasi sempre o seu
rompi men to de hostil idades contra a Igreja ; aqu e lla ,
em fim , a que a sei la nefanda vota m ai o r exec ração e
odi() mortal , é i ndubitavelmente a i n cl yta Com p anh i a de
J esus ; por isso que esta phalange co m pac ta e ag uerri d a
de i n L repidos e destem i dos athletas da fé é tamhem o
mais forte baluarte da Ig reja Catholica , o mais formidavel
i nimi go do erro e da Revolução.
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- 100 -
Cada uma das diversas corporações monasticas , que
formam o exercito bri lhante, inexpugnavel da Igreja,
geralmente sóe pelej ar nas batalhas do Senhor. mane­
jando uma arma especial . Esta, no silencio do claustro ,
na solidão dos bosques , sahoreando as delicias da Yida
contemplati va , pre1ibando as ce1estiaes doçuras , tem par­
ticul 1r destreza em arren1essar o dardo valente da oração :
Ingens telus est oratio i ( 1 37) aqu el1a , dedicada aos
afans d a vida activa , ás lides penosas do A postolado ,
brande com n1estria e puj ança o gladio aceratlo da pala­
vra divina : Lingua eorum gladius acutus ; (1 38) essa
outra , con sagrada inteiramente á tarefa i n grata de educar
e instruir a mocidade , é perita no manej o da arma po­
derosa do en-s ino . De sorte que a Esposa de J esus Christo
anda cercada , guardada, defendida por uma admiravel
varied ade de arrn·as A dstitit regina circumdata va­
rietate . ( 1 39)
Notai , porém , Irmãos e Filhos di lectos , que a egregia
Com panhia de Jesus m anej a , e com su mma pericia, todas
essas armas a um tem po .
Em seu seio vivem aos milhares santos religiosos , que ,
ignorados do m undo , desconhecidos m uitas vezes até dos
proprios irmãos , só entregues aos m isteres de Maria ,
emquanto outros se app1 icam aos de �lartha, batem com
denodo o inimigo por m eio da oração .
Outros ha fervoroso3 , q u e , em punhando a cr11z do
missionario, voam ás extremidades da terra , aos inhos-

(137) S . Joan . Ohrysost. Serm . 1 � in Script . Aet . Apost.


(188) Ps . 56. 5 .
{189) Ps. 4A. 10.

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- 101 -

pitos desertos da Lybia longínqua , aos areaes abrazados


da A frica torrida, aos eternos gelos dos polos glaciaes , e
por toda a p�r� vão fulminando o dragão i nfernal com
os raios do Evangelho, vão conquistando almas para a
Igreja1 vão. fazendo recuar as "Lartareas fronteiras , e alar­
ga�do assim os limites do imperio de Jesus Christo !
Contam-se alli canonistas erninentes , theologo·s consum­
m"dos, philosophos profundos � professores desvellados
que , nos Seminarios , l yceus e collegios , debellam i nces­
santemente a hydra do erro por meio do ensino da ver-
dade ; e já não fallamos nessa pleiade numerosa de
grandes escriptores e pré gadores sublimes que , na im­
prensa e no pulpito , dia e noite , profligam o espirito
do n1al .
O que ora vos dizemos não é mais que a fie l traduc­
ção do juízo emjttido por um grande Papa, sobre essa
Socied�de tão veneranda quanto odiada , cal umniada e
perseguida .
« Ensina-nos a experiencia , diz o Santissimo Padre
Clemente XIII, de saudosa e gl oriosa memoria , que esta
Com panhia tem formado até noss· 1s dias grande numero de
esforçados · defensores da fé orthodoxa e zelosos missiona­
rios que . animados de invencivel coragem , se expõem a
mil perigos por mar e por terra, p ara irem levar a tocha da
doutrina evangelica ás nacões ferozes e barbaras. \' emos
que todos os que professam este Jouvavel lnstituto entre­
gam-se a santas occupações : uns a educar a moci«l.ade na
virtude e nas sciencias ; outros a dar exercicios espirituaes ;
parte a administrar assiduamente os Sacramentos , maxi�e
da Penitencia e da Eucharistia , e a persuadir os fieis a fre-

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:- 10! -
quentalr•OS ; parte a prégar a palavra do Evangelho aos
1

fieis camponezes. » (140)


Dahi vem que dentre todas as Ordens monasticas , aquella
á que os inimigos da I�reja votam odio mais entranhado
e contra a qual não cessam de mover guerra de exterminio ,
é essa numerosa Sociedade de homens , cuja oceupação con­
siste em progredir na piedade e nas sciencias, e que cheios
de zelo , animados de um só espirito , combatem sem descanso
o erro e o espírito de independencia. » (1 i1)
Para qualquer parte que se volva , a impiedade depára
com esse formidavel esquadrão sempre firme , sempre im­
perterrito ; por qualquer lado que tente escalar os muros
do Sanctuario , sempre se encontra face á face com essa
destemida guarda avançada das sagradas milicias , que
não sabe o que é prudencia , quando se trata de defender
e guardar intemerato o deposito da Igreja.
Para desmoronar o Papado, bem o sabem os operarias
da iniq uidade , é indispensavel primeiro que tudo tirar-lhe
o auxilio desta Ordem , o mais solido de seus pilares, o
seu mais firme esteio ; para chegar até á Cadeira de
Pedro , é preciso , em primeiro l ugar, superar este enorme
obstaculo ; para tomar de assalto a torre de David ,
cumpre , primeiro que tudo . exterminar esses seus mais
denodados g uardas , abater a mais altaneira e forte de suas
trincheiras. Por isso é que elles envidam todos os esforços
afim de destruil-a , servindo-se da impostura e da calumnia,
por não acharem ·n a verdade armas suffecientes. (1 42)
(140) Con�U t . A post . de 25 de Março de 1764 approvando de novo o Insti.
..

tuto da Companhia de Jesus .


(141 } Letras A post . de Clement XIII a Luiz XV, de 28 de Janeiro de 17�.
(142) Ibidem .

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- 1 03 -

..4ssim. pensava. , carissimos Filhos, o grande Papa a que


acima nos referimos ; assim pensam ainda todos os verda­
deiros catholicos e ' Bispos da Santa Igreja.
« Os inimigos de Jesus �hristo, dizia Santo Atlonso de
Ligoori , procuram acabar com a Sociedade de Jesus unica-
.

mente com o fim de deitar por terra o mais valente


baluarte da Igreja de Deus. Se o conseguirem , estarão
completos os seus desejos ; mas que de convulsões na
Igreja e no Estado, se vier a cahir esta Fortaleza ! Des­
truidos o& Jcsuitas , o Papa e a Igreja achar-se-hão em
situação por extremo melindrosa. Não são os Jesuitas o
unieo ponto de mira dos jansenistas e incredulos , que só
atacam a Companhia para ferir com mais segurança a
Igreja e o Estado . » (1 43)
Deixemos , porém , essas autoridades catholicas, que a
muitos parecerão parciaes ; invoquemos testemunhos menos
suspeitos.
Ouçamos a este respeito os protestantes, .que por certo
não estão inquinados de jesuitismo :
« A pplaodiam (os inimigos da Ig rej a) diz um protes­ ,

tante , todos os projectos tendentes a abolir a 1nais poderosa


e habil de todas as ()rdens re l igi osas contando como certo
,

que , depois desta , não tardariam todas as outras a cahir


tambem. » (1 44)
« Haviam votado, diz outro protestante , odio irrecon­
eiliavel á Religião Catholica, ha seculos incorporada ao
Estado . . . Para levar a effeiJo esta rev1j lução interior e para
tirar ao antigo systema religioso e catholico o seu principal
(143) Robrb. tcher. Hist. Uni ver. t . XXVII . p . 28.
{l ti) Si smon·U . Hist. deJ li'rançais t . 29 . p . 225.

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- 1 ()4 -

as divensas cõrtes da casa de Bou�bon·, ignorando


OEr'lllUJ ,

que iam confiar a instru.cção da mocidade a mãos m uito.


diflerentes , reuniramrse contra os Jesu:tas , a quem os jan•
senistas, de ha muito tinham roubado por meios muitas
v.ezes equívocos, a estima adquirida desde seculos. » (14.5)
De modo ainda mais significativo expri me-se o protestante
SGhoell : « Para destruir o poder ecclesiastico , diz elle , itn�
portava isolai-o , privando-o do apoio dos Jesuitas , dessa
phalange sagrada que se havia dedicado á defeza do throno
Pontip,cio . TAT.. FOI A. VERDADEIRA CAUSA DO RANCOR VOTADO
>.' ESTA SOCIEDADE . » (146)
Outro eseriptor protestante diz o segui nte :
« Em todas as côrtes da Europa. formaram-se , no se­
culo XVIII , dous partidos : um que fazia guerra ao PapadQ,
á Igreja, ao Estado , e outro que buscava manter as cousas
taes quaes eram e . conservar a prerogativa da Igreja uni­
ve rsal . Este ultimo era representado principalmente pelo s.
Jesttitas. Esta Ordem se antolhou como o mais formidavel
baluarte dos principios catholicos : contra el la foi que se
dirigio i m mediatamen.te a tempestade . » (t47)
A ssim fal lam auctores protestantes !
.Aos testemunhos declinad°" podemos ai nda addiciona.r
ó do protestante Starck, que, em uma obra escrlpta em
A llemão , prova a toda a evidencia que a Revolução fran­
ceza foi obra do Philosophismo ; que os philosophos urdiram
uma tremenda conj uração contra a Religião e o Estado ;
e que, pa1·a levai-a. ao cabo, o principal meio adoptado fora

(l15) Sch losser Hist. des Révolutions politiques et .litterai1'"es à'Europe


au 18 siécle, t . 1 .
(146) Cours d'hist . de s E' tats e uropéens . t. 44 p . 71 .
(147) Ran ke . Hist. de la Papauté t . 4, p . 486 .

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- 1. 05 -

a. de�truição- da Ordem dos Jesuitas e substituir-lhe as so­


ciedndes reeretas . ( 1 48)
Ernmudeçam porém os catholicos, callem-se os protes­
tantes , e:; fallem os dous mais encarniçados inimigos da
Igrej a Cathol ica , e , por conseguinte , dos Jesuitas.
O primeiro é Voltaire , blasphemador de Nosso Senhor
Jesus Christo . Dizia o im pio patriarcha de Ferney que
não se poderia leva r vantagem contra o infame , EM.QUANTO
SE NÃO HOUVESSE DEST RUIDO A ÜRDEM DOS J ESUlTAS .
Osegu ndo é d 'A lembert que exclamou : « O mais dif­
fici l estará fei to , quando a philosophia se hou ver desem­
baraçado dos granadeiros magnos do fanatismo e da into­
lerancia. Os outros são apenas Casacos e Panduros· (soldados
russos e hun garos) q ue não podem resistir . ás nos�as tropas
regulares. » (1 i9)
Eis ahi , Irmãos. e Filhos carissimos , o n1otivo uriico da
guerra , pertinaz , de que sem pre tem sido victima a il­
lustre Companhia de Jesus ; ouvistel-o não só · da boca
de cathol icos , como tambem de protestantes e até dos mais
enfurecidos ini migos dos J esuí tas.
Que tri umpho para esses inclytos sacerdotes ! Que glo­
ria ! que ventura 1 Serem perseguidos por amor da Igreja 1
,

2. º- A perseguição aos Padres J esuitas é de ordinario'


prodomo i nfall i vel d e grandes convulsões no corpo social :
uma só tormen ta se não desencadeia contra a I grej a , que
não comece por elles.
Assim é que m uito antes de arrebentar sobre o altar e o

(1 18) Tri u m phe de


l a Phi losophic. t . 2 .
(149) Vide Cha ntre! . His t . U n iver s . t . 6 . p . 229.

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- 1 00 -

throno o raio revolucionario de 1789, já ao longe furibun­


da tempestade roncava medonha sobre a cabeça dos conspi­
cuos filhos de San.to Ignacio.
Depois de haver ella pairado algum tem po no ar, amea­
çadora, desabou , por fim , começando em Portugal . A pre­
texto da supposta cumplicidade de alguns Padres Jesuitas
na sublevação das -Redoeções do Paraguay, e na mallograda
tentativa de assassinato contra D. José , sem processo nem j ul­
gamento, foram· todos então sacrificados. Uns encontraram
a morte em humidas e sombrias masmorras ; outros , como o
Padre Malagrida e mais c1neoenta e dous companheiros ,
succumbiram nas labaredas da fogueira ; outros, emfim ,
atirados ao porão dos navios , foram conduzidos ao desterro 1
Perto de quinhentos religiosos foram repentina e vio­
lentamente arrancados do seio das n u merosas populações
que elles haviam engendrado para Jesus Christo, nos
montes Asiaticos , nos desertos Africanos e nas Americanas
florestas : e , carregados de pesados ferros , compartilharam
a dura sort,e de seus irmãos , quer sepultados vivos nos
tetricos sobterraneos do poderoso valido, primeiro mi­
nistro da coroa, quer saturados do pão da dõr e da agua
da affiicção -Panem arctum et aquam brevem ( 1 50) -da
terra do exilio 1
E' impossivel ler sem horror o requinte de malicia com
que foram torturados esses pobres innocentes , expostos,
coitados 1 -até os enfermos e anciãos - a todas as intem pe­
ries e ultrajes do tempo , aos ardores do sol e á humidade <la
chuva , aos incommodos da fome e sede e aos escarneos e

(150) Is . SO. 20.

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- 107 -

insultos da plebe infrene ; e bem assim não se póde ler,


sem que lagrimas borbul hem nos olhos , os edificantes
exemplos de piedade e virtude , as 1ições sublim es , arre­
batadoras_, de mansidão evange1ica , de perdão das otJensas ,
de apego e amor á Santa J greja de Jesus Christo , que
dérão então aquelles santos sacerdotes.
Até inimigos houve , que não puderam deixar de render
homenagem á.'3 virtudes dessas candidas victimas , estygma­
tisando ao mesmo tempo a barbara tyrannia do despotico
ministro d'El-rei D . José I.
« N§o fallo aqui , diz um delles . de u ma sociedade
religiosa que o ministro de Lisboa qaiz associar a esse
regicídio ; ouso , porém , affirmar q ue tão facil é provar
que os Jesuitas nenhuma parte tiveram nessa conjuração ,
como demonstrar a futilidade das accusações . . . . . . Ai dos
reis que , em negocios tão graves , não examinam tudo
por si proprios f » ( 1 51 )
Outro, Maupertois , materialista e incredulo , em resposta
a La Cooclamine , que lhe narrava esta questão dos Jesui­
tas, diz : « Muito v os agradeço a n oticia que me dais da
conj uração. Quanto aos J esuitas, penso em tudo de accor­
do comvosco. Será preciso que el l es sejam muito inno­
centes para que escapem ao supplicio ; mas , quando mes­
mo eu ouvisse dizer que foram q ueimados vivos, ainda
assim não os acreditaria cul pados. » ('1 5!)
E' admiravel ! Assim faliam inimigos figadae.s, é ver­
dade ; mas , leaes , ao menos l
.

De Portugal a tempestade , soprada pelQ impio Philoso-

(151 ) Mil rechal de Bel le-lsle . Testame:i u t pol i t . 1762, p . 95.


(152) His t . de la Chute des Jés uites, pa r J_,r•amache .

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phismo , seguio ru�o da Françar . A illustre Com panhia,
que nesse ultimo paiz contava quatro mil Jesu itas , foi
tambem su pprimida por motivos· futi lis�imos ; e mais de.
cem collegios foram fechados, as casas tomada� á benemerita
Sociedade , e seus bens confiscados.
D'ahi passou á Hespan.b a.
l\loli vos nem pretextos plausiveis havia para se pr{)ceder
contra os denodados batalhadores da fé. Mas, fabricam-se
documen tos , falsificam-se firmas, escrevem-se cartas , que
são e n treg u es e ao mesmo tempo appr·ehendidas p e l a poli­
cia, antes de serem lidas. Isto basta. Então , sem p rocesso ,
como no reino visinho , e por um só traço de penna, perto
de seis mil religiosos# são de subito , sem saberem porque ,
arrancados de seus piedosos asylos , de seus collegios , de
suas missões, carregados de ferreas cadeias e desterrados.
O mesmo praticou-se nas colonias.
« A violenta prisão dos Jesuitas , diz Sismondi , que nq
mesmo dia se effectuára na Hespanha d a Euro pa , proseguio
com o mesmo segredo e rigor em todas as po,ssessões da
monarchia hespanhola. No Mexico, no Perú , no Chile e n�
Philippiuas, foram accom mettidos em seus collegios, no
mesmo dia e hora, os papeis ap preben d id os , as pessoas
agarradas e embarcadas. Temia-se a resistencia delles nas
n1issões, onde eram adorados pelos novos convertidos ; mos­
traram pelo contrario resignação , humildade unidas á calma
e firmeza verdadeiramente heroicas ! » (1 53)
Notai , dilectos Filhos no Senhor , quem isto escreve é um
protestante, insuspeito por conseguinte.

(158) Sismondi . t . 29. p . 372 .

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Que b el l o e glorioso testemunho para os J esu i ta s f
O fogo da perseguição que ia lavrando , qual chamma
voraz , i m pe l l i da pelo v e nto ganhou terras de Napoles ,
,

Malta e Parma. Em Portugal , França e Be spa n ha ai nda pro­


curaram pretextos, forj aram ealumnias , crearam motivos
para colorir as barbarias e crueis tratos infli gidos aos
jesnitas ; mas , alli nem de tal se curou 1
Al ta noite , quando todos dormiam o somno da innocencia ,
são despertados pelo tinir de espadas e por soldadesco
vozear, echoando na mansão da paz ; são arrastados para
fóra das cellas ; são atirados ao convéz dos navios e tran s­
portados aos Estados Pontiflcios.
"\7eneza e Genova que não chegaram a ex pul sai o s , cer­ -

cearam-lhes os privilegios que de ha muito fruiam e pri­


varam-nos das cadeiras de ·r heologia e Philosophia.
E dest'arte em pouco te1npo vio-se a inclyta Companhia
de Jesus barbaramente prosc ri pta de todos os Estados,
onde reinava a casa de Bourbon , banida das respe cti vas
colonias, e desmanteladas, aniquiladas , toda.� as suas fio­
rece ntes missões da Asia , da A frica e da Ame ri ca .

Isto, porém , não era bastante. Os acerrimos inimigos


da preclara Sociedade que visavam muito além , não se
contentando com tão pouco , resolveram desferir-lhe golpe
·m ais ·fundo e mortal , j uraram a ruina total , a destruição
com pl eta dos Jesuitas.
f.o l l i gam se contra elles as cortes Bourbonicas , ou , para
-

melhor d ize rm os, proseguem no trama urdido, e com


·ame ças d e schismas, exigem im periosam e�te do Papa
. .

Clemente XIV a abolição da egregia Companhia 1


Dete rm in ado , como elle proprio declara no Breve Do-

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minus ac Redemptor, por motivos de prudencia, como �­


dida governamental , e para evitar maiores calamidades ,
com que não cessavam de amea'Çal-o os Sob era n o s col­
ligatlos accedendo alfim o Su mmo Pontifica a i m portunas
,

iostancias , s u ppr i mi o a Ordem d o s J e so i tas .

Mas , como observa um author p rotestante , « o Breve


não condemna a doutrina, nem os costumes, nem a dis­
ci p l i na dos Jesuitas. As queixas das côrtes contra a Ordem
são os uni c os motivos da suppressão all egado s, e o Papa
j u st i fica essa medida com o exemplo de outras Ordens
p recede n tem e nte supprimidas, em virtude das e x ige ncias
da opi nião p ub l i ca » (15� )
.

3 .º- Eis ahi , caros Filhos em Jesus Christo , a largos


traços esboçada a fonnidavel perseguição de que , no seculo
passado , fõra gl ori osa victima a preclara Sociedade de Jesus ,
e cuja v e rd a de i ra e unica razão já nos tornaram bem pa­
tente não só esc r i p to res catholicos , se n ão tambem protes­
tantes e o s mais porfiados inimigos da Igreja.
Pois bem l T u do isto , como de costume, não era mais que
o prel u d i o das assombrosas catastrophes que estav a rn immi­
nentes á Igreja e ao Estado ; era o m u gi d o surdo e l o n gi n ­

quo do medonho v ulcão latente ', que não tardou a fazer


h o rr i da explosão em 1 789 ; e ra o desobstr ui r a passagem ,
.

remover os obstaculos , apl ai n ar os cami nhos que mais tarde


levaram á essa pavorosa revolução que fez vacil1 ar todos os
thronos da Europa, tremer em suas bases o edificio social ,
e a tudo ameaçou sub ve r te r em um sorvedouro insondavel .
Escutai -agora, ó Filhos da· minha alma ! Exageração

(15 !) Schv ell . Co ara d'hist. des E tats eu ropéens. t. 44:.

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- 111 -
talvez vos pareça o que entretanto é a pura verdade l Tanto
a perseguição aos Jesuitas como a Revol ução franceza foram
obra da Maçonaria i
Sim 1 Essa infernal conspiração c ontr� a Igreja e o Estado ,
dirigida pelos philosophos , executada por Soberanos calho.
licos, cegos, illudidos, seduzidos pelas fallaciosas dou tri­
nas do PhilosophiJmo do seculo XVIII , repetimos, foi tra­
mada nas lojas maçonicas 1 (155)
E' facto incontestavel que os agentes d'aquella horrivel
perseguição feita aos jesuítas eram da seita dos philosophos :
o Marquez de Pombal , ministro de D . José , rei de Portugal ;
o duque de Choiseul , ministro de Luiz XV , rei de França ;
o conde d' Ara nda, ministro de CarJos Il i , rei da Hespa-

nha ; Tan ucci , ministro de Fernando I V , rei de Napoles ,


eram todos , segundo o testemunho de varias bistoriadores,
ardentes sectarios do Philosoph1smo .
E' sabido , outrosim , que foram as perniciosas theorias
dos philosophos que convulsionaram a Europa no seculo
p�sado, e que os principios proclamados em França
de 1789 a 1 793 são iden ticamen te os mesmos, ensi nados ,
apregoados , assoalha.dos por toda a parte pela incredula
Philosophia de então.
Ora , Philosophia e 1Iaçonaria n'aquelle tempo era uma
e a mesma cousa. A primeira não era mais que a Ma­
çonaria publica, activa, executa11do á luz do dia os planos
traçados pela Maçonaria occulta, nas trevas das Lojas.
Isto p ro va-se com facilidade .
Os fins de ambas são iden ticos :

(153) Vide Chan trel . His t. Un ivers . t . 6 .

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- 1 1! -

-· -- 1\ Philosophia arro gava se a missão de combater a su­


-

perstição e o fan atismo , a tyra n n ia e o despotismo (Catho­


licisrno e Mon archi a . ) De missão perfeitamente analoga se
incum be a �t aço n aria .
- A s blasphem i as que i r ro m p i a m da boca de uma , rom­
pem i g u a l m e nte dos J abi os da outra : « Esmagai o i nfame !»
gritava aquella. « Esmagai o infame 1 » cla ma esta .
- Uma dizia « �lenti , men ti , que sem pre alguma
cousa ha d e ficar ! » « Esmagai o inim ig o á força de
maledicencias e calum nias t » recommenda a ou tra.
Os pri ncipios de ambas são os mesmos :
« Helvetius , philosopho e maço n escreveu que a ver­
,

dadei ra monarchü .. é uma insti tuição produzida pela ima­


gi nação ex altada , para corrom per os cos tumes e escravisar
as nações .
« R ay n al philosopho e m�on , diz que os reis são bestas
,

eruei ..; q ue devoraU) os · povos .


« Charu . ph·ilosopho e maçon, disse aos povos : « Os vos­
sos reis são os primeiros algozes de seus vassal los ; a força
e a e3tupidez levantaram pri meiro seus tbro nos . »

« Diderot , philosopho e mo çon , exclamou : « Quando


terei cu o prazer de ver o ulti mo rei enforcado com a
tripa do u l timo padre ? ))
« D' A lembert , philosopho e maçon , escreveu em 30 de
Abril d e 1 7 70 a Frederico II : « A distribuição dos bens
na so c i e d a de é muito desigual : seria tão cruel como i nsen ­
sato que uns nadassem na abundancia , emquanto que
a outros faltasse o necessario . »

« Freret, philosopho e maçon , escrevia a Tbravil : « As


noções da j ustiça e da inj ustiça, da virtude e do vicio , da

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- - 113 -

honra e da infamia, são arbitrarias e só dependem do


costume . »
« Dami1aville , philosopho e flt!1ÇOn , escreveu no seu Chris­
tianismo desvendado que « o temor de Deus, longe de ser
o principio da sabedoria , é o pPinci pio da loucura. »
« Voltaire, philosopho e maçon, publicou contra o Est�do
e a Egreja todas as abominações que os impios modernos
não cessam de repetir depois delle.
« Sim , á allia·nça da Philu'<ophia com a Maçonaria é que
se deve attribuir a declinação da fé J o desprezo da Religião ,

a rebellião dos vassallos e , em que peze aos maçons, todos

os horrores da Revolução franceza.


« Foi nas Lojas que os Mirabeaus, os Daotons, os Brissots,
os Robespierres, os Fouquier-Tinvilles se formaram para
a destruição da ordem social. » (1 56J
.

Isto é mais que sufficiente para provar o nosso asserto.


Ouvi , porém , ainda mais um testemunho · insuspeito :
« Ref'llgio seguro da Philosophia , diz o mui auctorisado
irmão �agon , É A llIAÇONARIA , qoe salvou o povo do j ugo
aviltante do fana tismo e da e crav:dão . Aos conheci-
,

mentos que a l\'I açonaria derramou nas classes elevadas


'

da sociedade ingleza é que se atLribue em grande parte a


emancipação da Inglaterra e sua reforma pacifica em 1 6 68.
Cem annos depois a l'hi losophia moderna, ESCLARECIDA
PELAS LUZES DA INICIAÇÃ O , FEZ MAIS EM FRANÇA . » (157)

.&:.--0 que . levamos dito . di leetos Filhos, prova á toda


a luz da evidencia que o Ph. losophismo não dift'eria da

(156) Gyr . t . 2. p . 48 a 49.


(157)_ Coura phil . p . Jr/7.

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- 114 -
Maçonaria, e bem assim já dá a conhecer a acção desta na
Revolução franceza. Mas, esclareçamos ainda melhor esie
ultimo . ponto.
Sta_rck , eseriptor protestante , que acima eitámos, em
sua obra intitulada Triomphe de la Philosoph·ie, demonstra·
com documentos originaes e peças authenticas, que a

doutrina revolucionaria dos Illuminados allemães lhes


fOra ensinada pelos philosophos incredulos da França ;
demonstra que toda ella se resumia no atheismo e na
abolição de toda e qualquer auctoridade, á excepção da
paterna ; demonstra, finalmente, que tendo ido da França
revolucionar a Allen1anha por meio dos Illuminados , voltou
deste para aqnelle paiz, afim de acabar de anarchisal-o
por meio das Lojas maçonicas , protegidas pelo duque de
Orleans, depois regicida. ( 158)
Vamos, porém , a provas mais positivas. Faliam os
oraculos da seita.
Contemplando os espantosos estrago& e horrorosas devas­
tações de qoe a lava revolucionaria , despedida das crateras
abertas em França , ia j uncando todo o solo do continente
Europeu , exclamou em 1794 o Grande Capitulo dos maçons
allemães , cheio de intirna satisfação : « A ORDEM MA­
ÇONICA REVOLUCIONOU os povos da Europa por muitas
gerações . »

Um apologista da ntaçonaria (1 59) , á pergunta se os


maçons nunca conspiram , responde do modo seguinte :
« E' opinião minha, que elles não fizeram outra cousa
desde 1725 até 1 7�9. As provas de iniciação , o segredo
(158) Robrbarcher. Hist . univer:; . de l'Eglis t. XX VII . p . 321 .
(159) Edmond Abo u t .

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- 115 �

das assembléas , as palavras e signaes mysteriosos, o ju.�


ram e nto , todas as minueias do rito indicam clara mente>
que a Maçonaria tem sido um a eonj ur•o energtea, -ter­
rivel . contra as iniquidades do velho mun<lti. » { 1 60)
Tudo isto é bem frisante ; nada , porém , tão evideete
como as espantosas revelações que , por adn1iravel disposi•
ção da di vi na Providencia , escapoe á pen na de u1n 009
principaes chefes da conspiração contra o altar e o throno ,
o irmão Luiz illanc.
Eseutemol-o :
« Commovida por invenci veis desejos , agitada por mil
esperanças confusas , a França tinha tomado, ha via algum
tempo , estranho aspec\Q.
« Então , na verd ade , come·çaram a correr ootre o povo
rumores que o agitaram em sentido diverso. Fal lava-se
de personagens ligados entre si por j uramen tos terri veis , e

todos entregues a tenebrosos proj ectos. Dizia-se que eram


possui�ores de segredos que valiam theso-nros , e attribuia­
se-Ibes um poder magioo . Dentro em pouco correu e acre­
ditou-se o boato de que alchim istas desco nhecidos se ti-.
nham estabelecido no arrabalde de Sai nt-M arcea u . Em
laboratorios , que vigilantes cu idados occul tavam á perse­
guição , homens de vis'ª penetrante , de linguagem ini ntel­
ligivel ,com vestidos sujos , se oecu pavam activameu te ou a
fazer o ou ro , ou a fixar o mereu-rio, ou a d u plicar o tama­
nho dos diamantes , ou a com por eli x ires.
I

conservajam-se de boar
« Estes si ngulares trabalhadores
mente dentro dos limi tes do se u bai rro , habitavam morada&
obscuras, e não pareciam de fórma alguma associad o s ao
'

(lôO) Gautrel . t. 11 . p . l8i .

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- 116 -

gozo das riquezas , de que se teria podido suspeitar que


'

eram creadores . �las tinham chefes que se fazi am procu-


rar no m an do , e ah i osten tavam com graça , com generosi­
dade , unia o pulencia deslumbrante. Havia tal enlre elles ,
que se não sabia tivesse pro pri edades , con tractos. rendas
nem fam i l ia , q ue passava u m a existe ncia de soberano, e
gastava mais· em· be ne ficios que os pri nci pes em especta­
,

culos ou em festas .
« Se elles aflectavam vi ver mergu lh ados no estudo
. . .

das scie ncias occultas, era com o fim de desviar a vigi l a n­


eia e e nga nar a inquietação dos governos ; se cam i n h avam
cercados de mysterios , era para melhor d om i narem . pelo
attractivo do maravilhoso, a mu lti dão cred ula ; os seus chefes
eram apo.�tolus da Reoolução ; e :l o uro que servi a para pre­
parar os camin hos para a propaganda , esse ouro que se·
preLendia ser fundido em magitjos cadi nhos, sabia de uma
caixa central alimentada por subscripções secretas e syste­
maticas, por subscripções de conspiradores.
« Convém pr i meiro que o le i to r sej a i n trodDzido na m i n a
qne cavavam então por baixo do throno , por baixo dos alta­
res , outro� revolucionarias MUITO MAIS PROFUNDOS E ACTIVOS

que o� encyclopedistas . »

Atten lei , ó Filhos carissimos, para estas pal avras !


« Uma associação com posta de ho m e n s de todns os pai zes ,
de todas as rel i gi ões de todas as classes, ligados entre si
,

por eon ,·enções symbolicas , em penhados pela fé do j ura­


mento em g u a rd ar de urr. modo i nviolavel o se g1·e d o da soa
existencia i n te ri or , sujeitos a p ro vas lugabres, oecupando-se
em eere mon i as fantasticas, porém p ra ti c ando aliás a bene­
Jleencia e tendo-se por i gua es , ainda que estivessem divi-

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- 1 17 -
didos em tres classes :. aprendius, companheiros e mestres,
é nisto que consiste a Maçonaria , mystica instituição que
uns ligam ás antigas iniciações do Egypto e que outros
fazem descender de uma confraria de architectos formada
já no terceiro seculo .
« Ora, nas vesperas da Revolução franceza , a Maçonaria
tinha tomado um desenvolvimento immenso . Espalhada
por toda a Europa , coadj uvava o genio meditativo da A lle­
manha , agitava surdamente a França, e apresentava por
toda a parte a imagem de uma sociedade fundada sobre
princípios contrarias aos da sociedade civil. »

Que preciosa confissão r


« Nas Loj as maçonicas , com efleito , as pretensões do
orgulho hereditario eram proseriptas e os privilegios do
nascimento desviados . Quando o profano , que queria ser
iniciado , entrava na sala chamada - gabinete das refl,exões ,
lia nas paredes ,. cobertas de preto e de emblemas funera­
rios , esta inseri pção earacteristica :
« Se tens apego ás distincções humanas , sahe , que não
I

são conhecidas aqui . »


« Pelo discurso do orador sabia o candidato que o fim

da Maçonaria era apagar as disti ncções de cor, de condição '


e DE PATRIA ; aniquilar o fanatismo ; ex tirpar os od io.s
nacionaes ; e era i sto o que se exprimia debaixo da
alleg• 'ria de um templo material , levantado ao Grande
Architec to do universo , pelos sabios -d e diversos climas ,
templo augusto , cuj as columnas , symbolos de força e de sa­
bedoria , estavam cercadas eom as gratiadas da amizade. Crêr'
em Deus era o unico dever religioso exigido do candidato .
Por isso havia, por cima do throno do presidente de ead&
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- 1 18 -

Loja, • VeMrcwel, um dslt11 briMtante , no cen t ro do qual


ealav.a eserit>to em raraetems hebraicos o nome de-J rbovah.
e Assim é que , pelo ·simples facto das bases constitutivas

d- su a exis�nda, a JIaçonwia tendia a desacred tar .as


institu·ições e as idéas do mundo exterior que a cercava.
"· E' :verd ade €fOO as 1nslitu·ições m aço nic as orden avam

a sabmissão .ás leis, obserYancia das formulas e usos admit­


tid4>s pela sooiecl&de ei�erior, e respeito aos soberanos ..

E' v e rdade '8mbem �ae., reanidos á meza , os maço n s be­


bi am á sauda dos reis nos estados mooarchicos , e á sande
dos s u premos m&8Wradas nos estados republican• •s. Se­
melhantes reservas , poré m recommendadas á prudenc!a
,

de unia so.ciedade a (fuem ame açavam tantos governos


receiosos, nãn basiavam para annullar as influencias NA­
TURALMENTE revolucionarit&s , ainda que em geral paci­
ficas. tla .Maçonaria . »
Estais ouvi ndo, Irmãos e Filhos da mi nh a alma 1
« . . .A som bra o myslerio., mn juramento terri v el que
,

ae pronunciava , um segredo que se ensinava em premio


de muitas provas sinistras animosamente sofJridas . um se­
gred o que se @'ttaAiava com a pena de ser votado á exe­
eraçio 0 á morte , signaes {)attienlares pe lo s qoaes o s irmãos
-

se reoooheeiam nas duas extremidade s da terra , ceremonias


que se referiam a uma historia de ho m ici d i o e pareciam
e000Drlf idéas de V ingaóça , que Cóf.tSll mais propria para
formar conspirtJdorts f E po r que razão não haveria tal
anociaçã<J, us 'Yesperas da eMe e�igida pela soci etlade
em fe rmentação, 'mifl,iswad,o armas á astucia calculada dos
IOOlarios, geniio � prudefile lifJerdade '! . . .
ao

� Qnand.o , debaixo da presaão de poderes ·violen tos , a


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- 1 19 -

IOCiedade e�tremecia de impaciencia , mas se via obri gada a

encobrir a �ua c.:. lera , QUAN:TOS REClJRSOS PRATIOOS ESSAS


REUNIÕES NÃO PROPORCIONAVAM AOS ORGANISADORES DE CON­
SPIRA ÇÕ ES ? »

Nada m a i s evidente f

« A l a rgando se o quadro da insti tui ção , a demo-


-

cracia corre u a to m ar lugar 11elle ; e , ao lado de muitos


irmãos . cuja vida maçoni<�a só servia para embalar o orgu­
lho , para passa r o tempo ou p ara põr em acção a bene­
ficencia, e. tavam aquelles que· se alimentavam de pensa­
mentos activos , AQUELl.. ES A QUEM AGITAVA o ESPIRITO DAS
REVOLUCÕES •

« . . Depressa a p p arecer am innovações de um carac-


. .

ter t e m i vel Como os tres grãos da Maçonaria o rd i nari a


.

compreh�nd iam grande numero de homens oppostos ! por


estado e por princ i pio s a to do o proj ecto de subversão
,

social , os innovadores multiplicaram os d eg ráos da escada


m ysti ca que se d evi a subir , crearam lojas i n t eriores reser­ ,

vadas ás almas ardentes ,· instituiram os altos gráos de


eleito. de cavalleiro do sol, da stricta observancia , de Ka­
dosch . ou homem rege n e rado , sanctuarios tenebrosos, cujas
portas não se abri am ao adepto senão depois de longa
serie de provações , calculadas de modo que se verificassem
os prog re "sos DE SUA EDUCAÇÃO REVOLUCIONARIA , se experi­
mentasse a constancia de .s ua fé , e se ensaiasse a tempera
de seu coração . Alli , no meio da multidão de prati� ,
umas pueris , ou tras sini stras nada havia que se não refe­
,

risse ás idéa� de liberdade e igualdade. »


Tudo isto é muito significativo e se está mettendo pelos
olhos a dentro l

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- 120 -

« Não é , pois , de admirar i nsp i rasse m os maçons


certo vago terror aos governos mais suspeitosos ; fo�sem
excommungados em Roma por Clemente X I I , condemnados
em Hespanha pel a Inquisição e perseguidos em Napoles ;
os decl arasse a Sorbonna, em França , dignos das penas
eterna� . »
Porque não será tão franca a Ma� l>naria no Brazil ?
<i E .comtndo , graças ao habil mechani�mo da Instituição,

a Maçonaria achou nos principes e nobres menos i nimigos


que protectores .
« Entre os principes de que fallamos, um
houve, todavia , para quem não foi necessaria a discrição.
Foi o duque de Chartres, o futuro amigo de Danton , esse
Philippe E gal i té , Lão celebre nos fastos da Revolução, á
qu al se tornou . suspeito e que o matou. Posto que ainda
novo e entregue ás vertigens do prazer , já sentia agitar-se
em si esse espirito de opposição que é algumas vezes a
virtude dos ramos mais novos , outras o seu crime , sempre
o seu movei e tormento. A ll açonaria attrahio-o.
« Elia dava-lhe um poder que exercia sem esforço ,
promettia-lhe conduzil-o , por cciminhos abrigados, até
dominar o forum , preparava-lhe um tbrono menos appa­
ratoso, mas tamb�m menos vulgar e exposto que o de
Luiz X\tl ; finalmente , ao lado do reino conhecido � em
q ue a fortuna havia arremessado a sua casa para o
segundo plano , forn1ava-lhe u m imperio povoado de sub­
ditos voluntarios, e guardado por soldados passivos. Elle ,

acceitou pois o Grão-Mestrado logo que lh'o ofJereceram ; e


no anoo seguinte (1 7 7 2 ) a �Iaçonaria de França, desde
muito tempo presa de rivalidades anarchicas, se agrupou
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- 1 !1 -
debaixo �e uma direcção central e regular que se apressou
em destrui r a im mobilidade dos '7eneraveis , constituio
a Ordem sobre bases completame·n te democraticas e · tomou

o nome de Grande · Oriente . A hi se estabeleceu o ponto


cen tral da corres pondencia geral das Lojas ; abi se reu niam
e residiam os deputados das cidades que o movimento 1

o_cculto abra ngia ; d'ahi partiram instrucções, cujo sen­


tido uma e fra especial O ll uma linguagem enigmatica não
permittiarn fossem �om prehendidas pelos ini migos .
« Desde esse momento , A M A ÇO NARIA. ABRIU-SE , DIARIA­

MENTE , Á MÓR PARTE DOS HOMENS QUE ENCONTRAMOS NO


MEIO DA CONFUSÃO REVOLUCIONA RIA . » (161 }
Isto escreveu , Irmãos e Filhos dilectissimos, não algum
profano, inqui nado de Jesu.itismo, calouro nas cousas da
Maçonaria ; mas, um insigne maçon dos mais altos gráos,
profu ndamente versado nos segredos da seita revolu­
cionaria !
Este documento é admiravel de c lareza, franqueza e
exactidão historica l Este documento , pois, nos revela :
1 . º Que a �laçonaria assenta sobre principias contrarias
aos da sociedade civil ,·

2.º Que é natura lmente revolucionaria ;


3. º Que, nos al tos gráos , dá a seus adeptos uma educa­
çã(J toda rev� luci 11nnria ;
� ." Que, já antés de 1789, mi nava sorrateiramente o
altar e o tbrono , era ini m iga mais temerosa , revolucionaria
mai� profunda , que os encyclopedistas ;
5. º Que de seus an Lros sahiram os monstros de fórma
humana d a Revolução franceza ;
(161) Hi st. d '"! la R� volu t . fra nc. chap. Rê volutionnaires mystiques .

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- 1!! -
6 .º Que foi ella a auctora de todas as calamidades
d'aquel les ominosos tempos ;
7 . º Que , com toda a razão, é ella eondemnada pela
Igreja e pelos governos , cooseios de seus deveres .

A este im portante documento aeereseentaremos as se­


guintes reflexões que sobre elle fizera um e1-maçon :
« A Maçonaria que tem por divisa : Liberdade e
igualdrule,
é ESSENCIALMENTE ANTIPATHICA á anctoridade . Por isso é que
nunca a vemos abraçar o partido della, a não ser nos luga­
res onlk o Estado combate a Igreja, porq ue a �1 açonaria
odeia m enos a auctoridade humana que a diYi na , manifes­
tada pela Revelação . »

A ttendei bem , ó Filhos carissi mos , para o que acabais


de ouvir 1
« As histori as , discursos , jornaes , todas as prod ucções
litterarias ou ora\orias , sabidas da penna ou d.a boca da
Maçonaria veri ficam o nosso asserto. E para que se não
j ulgue que é cal umnia , citamos um testemunho que nenhum
maçon ousará argu ir de falso . EstA testemu nho é o do i rmão
Luiz Blanc . Como ha pouco mui jud!ciosamente observou
certo j ornal , faltando a respeito deste escri ptor . « acon tece
hoje , por j usta e admi ravel disposição da Providencia, que
um dos principaes chefes da conj u ração contra o throno e
o altar , acha-se re pen tinam ente pri vado de sua i ntelli ­
gen cia de conspirador . Chega a revelar elle proprio a per­
fid'ia d e sua sei ta tenebrosa , e a dar áq uel l es a q uem
ill udio uma lição que deveriam gravar bem fu n da na 1n e­
moria para n unca mais esquecei-a . Nenhu m homem de
Estado , nenhum campeão da f grej a , podrria dar aos sobe­
ranos e magnates sociaes , propensos a se alistarem na Ma-

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- 1!3 -
çonaria, aviso mais momentoso do que o que Deos lhes
dirige pelo orgão insuspei to de Luiz Blaoc. »

« Ora , eis como se enuncia Lu iz BJanc, falla ndo acerca


da R e,·ol ução francez:i : « Graças ao habi l mechanismo da
institu i ção, a Maçonaria encontrou nos pri nci pes e nobres
menos inimigos que protectores. A prouve a soberanos, ao
grande Frederico . tomar a trolha e ci ngi r o avental Porque
não ? Sendo-lhes et1idadosame11te e · condida a existencia do1
aUo.• gráos , sabiam só da Maçonaria o que se lhes podia
mostrar sem perigo. »
« De balde,allega a Maçonaria , para enfraquecer o tes­
tem u nho esmagador de Luiz Blanc, os brindes que faz em
seus banquetes aos chefes do governo ; em vão allega os
pretestos de fidelid ade e dedicação que lhes prodigalisa a
eada ins� ante : a tudo isto j á de antemão respondeu Luiz
Blane. » ( 16!.}
Está pois . provado á toda a luz d a evidencia que á �la­
çonaria compete exclusivamente a auctoria da Revolução
franceza !
Foi ella que , pelos tenebrosos manejos das Lojas e in­
sumações do Philosopki,mo , depoi � de haver conseguido
abater a inclyta Companhia de Jesus, o seu mais pujante
embaraço , atêoo aquelle pavoroso i ncend io contra a Igreja
e o Estado , em cujas ebammas pereceram martyres u m
rei , o rn a rainha , doos princi pes, duas princezas e grande
numero de nobres, um A rcebispo , tres Bispos , trezen tos e
oitenla e tantos padres, e mais sessenta e quatro reli­
giosas 1 ( 163)

(16-�) La Franc-M tçonerie d&ns 1 'Etat, par un ancien Fr . · . de l'Ordre·


(ll>S) Viàc . Rohrbacher . Hisl . U11ivers . da l'E;Jl ise . t. 27.

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- 1!4 -
5. 0 - Ab ! é muito para receiar , 1 rmãos e Filh os caris­
simos , que ai nda tenhamos a dor immensa de ver re pro­
duzidas em nossos dias , em maior escala tal vez , as scenas
horrorosas d'aquella tenebrosa época.
A seita nefanda tem simulado repouso ; mas , ha um
seeulo que está machinand� e trabalhando nas trevas.
Agora que estendeu a sua vasta rede sobre as ci nco partes
do mu ndo ; agora que , segu ndo o computo d o irmão Re­
bold , con ta mais de oito mil Loj as e cerca de nove milhões
de maçons, activos ou avulsos , espalhados pelo globo ;
agora que é senhora do� governos e domina ás escancaras
por toda a parie , j u l ga afinal chegado o momento de levar
ao cabo , de rematar a obra encetada e não terminada no
seculo passado .
A q u illo que ella então pensava, dizia e fazia pelo Philo­
sophismo , hoj e pensa , diz e faz pelo Liberalismo, seu orgão ..
.

genuino . Já o pri meiro não figura senão nos annaes da


historia ; m as , desapparecendo , deixou o lu gar ao segundo .
O que, porem , en tendamos por Liberalismo , vamos
dizer-vol-o , appropriando-nos a definição que delle dá
certo auctor contemporaneo :
« Pela palavra - Liberalismo - entendemos o systema
doutri n al que , em materia de religião e de politica, a pre­
texto de alargar a liberdade do homem , favorece a l icr.nça .
Diminu i r a auctoridade de quem governa e ani rnar a i ude­
pendencia de quem obedece ; abater o su perior e , se pos­
sivel fõra , emancipar o subdito ; peJo temor da tyran nia
amesqui nhar o poder. senão destroil-o com pletan1en te :
�1 parece ser a grande preoccupação do - Liberalismo ; tal
é a sua ten den cia.

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- t i5 -

« �ystema fatal ,
que , a pretexto de evitar a o p pressão ,
fomenta a rebeldia, e pelo desejo de alliviar o j ugo da obe­
diencia e submissão ás leis tende a supprimil-o total mente f
� Este L berali$mo é formulado nos grandes princi pios
..

de 89, que m uita gente exalta sem conhecei-os, e foram


para a França, como para a Europa i nteira , origem fecunda
de males i ncaleulaveis. » (1 6.i)
O Liberalismo assim definido , é o mesmo que o Philo­
sophi�·mo do seculo XVI II e que o Maçonismo de todos os
tempos : lia entre elles a mais perfeita identidade d e es­
pirito , de idéas e aspirações .
Demos a palavra á prop1ia seita .
« A Maço.n aria , diz o irmão Grisar, corpo robusto ,

colosso de mil cabeças e cem braços, é ou não poderoso


instrumento de progresso , reformas , melhoramentos so­
eiaes? E' ou não grande laboratorio de idéas novas ? Dá ou
não vida ás idéas livres pela emissão de idéas liberaes? . » . • .

« Se nós elevassemos os nossos i ntentos. pensamentos


e acções á altura das necessidades actaaes , não nos collo­
eariamos immediatamente á frente dos partidos liberaes '! . . .

Não quero puxar pelo partido liberal ; mas Nós soMos o


LJBEB ALISMO , somos o seu pensamento alma e vida , somos ,

ELLE em fim » ( 1 65)


. • . .

Nada conhecemos mais peremptorio r


lteflictam , pois, aquelles a quem estam confiados os des­
tino� tJos povos, das nações , da sociedade inteira ! EnuJi­
mini qui judicatis ferram. ( 166)

(16i) Ga u trelet . t. 2. p . 66. ,


(l-i5) Disc. na I oja
.. Perseverança de Anvers . 1845 .
(166) Ps. 2. 10.

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- 1 26 -
Parece que volvemos aos dous oo ires l ustros que pre­
cederam a gra nde Revol ução do secu1o passado . As eir�
cumstancias são no todo analogas. Ha sómente differença
de nomes : em lugar do Philosophismo , é hoje o Liberalismo
a mani vella de que se serve a Maçonaria para pôr em mo­
vimento todo o mecbanismo dos governos hodiernos ; os
soberanos e seus ministros são quasi todos sequazes desse
fatal systema ; por toda a parte eampêa altiva a Maçona­
ria , e com maior poderio do que nos tristes dias d'aquella
luctuosa quadra .
A causa , ninguem ha ahi que o ignore , posta em iden­
ticas circu mstancias , não póde deixar de produzir os
mesmos efJeitos .
J a lgamo -nos , portanto , com o direito de concluir que
um grande cataclysma social está imminente , gravissimos
acontecimentos se avizi nham ; presen1em-n'os os homens
que reflectem , annunciam-n'os como inevitaveis os que
estam em contacto com a Maçonaria. Assim é que , ainda
ha pouco , os dous chefes politicos dos partidos militantes
da Inglaterra consideravam e chegaram a declarar mui
proximos taes acontecimentos .
Sim : j á os signaes precursores estam bem visiveis. A
cbamma da perseguição , ateada contra a Igreja Catholica,
vai lavrando por toda a parte . A preclara Sociedade de
Jesus , pela qual invariavelmente começa a perseguição, por
ser a mais valente e alti va barreira que embarga o curso
impetuoso da onda revol ucionaria , vai sendo . estes ulti­
mos annos , banida , proscripta, victima de iniquas vexa­
ções , em todos os p aizes onde domina a seita anti-catholica .
Digam-o n o continente Europeu , a Hespanha , a ltalia , a

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- 1 27 -

Prussia ; e DQ continente Americano , as · republir.as do Sal­


vador, Guatemala, Perú , a Republica Argen �ina ; .fliga·o
tambem , - oh l dor 1 - o Imperio do Brazil 1 diga o ajpatria..

sempre amada r
Por amor da brevidade, passaremos em silencio o 'IU0 ota
tem soflrido a illustre Com-panhia em todos aquelles paizes ;
não podemos, porém , calar-nos ante a viol�ncia de que,
entre nós , foi ella victima , na pessoa de alguns de seus·
virtuosos membros .
O Nosso ca rgo Pastoral impõe-nos o stricto e indeclioavee
dever de examinar detidamen te as razões e fundamen.tos
que auctorisaram a depor lação dos Padres J esuitas de nossa
querida Diocese.
E' dever ? . . . Cumpril-o-hemos pois, ainda com perigo . da
propria vida 1

II

1 .º-Muito ha, bem o sabemos, Irmãos e Filhos - muito


amados , que anciosos esperais alcemos a nossa fraca voz em
defeza de uma bella e importante porção do nosso mimoso
Rebanho, para demonstrar a clamorosa inj ustiça de que
foram victimas alguns illustres sacerdotes estrangeiros , e
com que se ten tou embaciar o refulgente brilho da inclyta
Companhia de Jesus , que tão assignalados serviços ha
prestado ao vosso humi lde Pastor na cultura da Vinha do
Senhor .
De ha muito que já houveramos correspondido á
vossa lão j usta expectativa, se nos tivessemos deixado

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- 1 28 -

guiar unicamente pelos im pulsos do coração intla m mado


em vehementes desejos de clamar em favor da innocencia
calumniada, perseguida e opprimida. �lotivo nos assistio ,.
porém , e mui ponderoso, para q u e até hoje guardassemos
silenci o profundo.
Poderá ra�ão valiosa de prudencia, actuando sobre o
nosso animo, induzir-nos, como agora, a aguardar a o ppor ·

tnnidade ; pqrqnanto nos ensinam os Livros sagrados que


ha o tempus tacend·i e o tempus loquendi ( 167) �las , fugir
ao dever de leva n tar a voz , q uando iu1porta fazei -o ; calar,
quando urge fallar ; emm udecer , quando cum pre bradar
alerta 1 ; desertar do nosso posto, abandonar a causa da
Igreja , quando releva defendei-a . . . isto nu nca ! ! ! Fuger�
aut�m et relinquere Ecclesiam non soleo . (1 68)
E que Pastor , que Sentinella , que Bispo seriamos nós
..

então ?
A t te n de i :

A penas chegou a esta corte a noticia dos lamen Laveis


acontecimen tos, que enlutaram algu mas provincias do Norte
do Im perio , e que todo o coração patriotico , amante da
paz e da ordem , não póde dei xar de deplorar amargamente,
espalhou-se ao mesmo tem po , com a velocidade do relampa­
go, o grave boato de que eram elles promovidos , insuflados
pelo clero , ou , pelo menos , por certa classe de sace rdotes.
O cond uctor electrico nunca deixou de transmitti r aqaellas
tristes notícias sempre de envolta com esse odioso rumor..
Dia não havia em que d'al1i não viessem telegrammas
do jaez dos seguintes :

(167) Eecle . 3 . 7.
(168) S . Ambros . Serm . contra Auxentium .

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- 1 29 -

« Recife, 4 de ·o ezembro.
« Os padres jesuítas _compromettidos são todos estran-·

geiros . Alguns delles estam pelo interior desta (Pernambuco)


e da província da Parahyba do Norte . . . . . . . . . . . . . . . . .

« A sedição que está em campo, segundo me informa pes­

soa que vio os documentos , E ' OBRA DELLEs.


« A principio tiveram o pensamento de FAZEL-A APPARE­

CER por meio do Dr. lbiapina , que para isso foi chamado a

S. Lourenço, mas esse pensamento foi abandonado , porque


o Dr. lbiapina não põde compal'ecer, e porque reconhe­

ceu-se que elle -com os se us 70 annos e enfermidades não


servia para outras missões differentes da em que se occupa
- prégar no sertão.
« Informam-me que ha cartas importantes do Bispo

D. Vital 'sobre os padres . . . » (169)

« Pern amb u co , 20 de Dezembro.


I

« Chegou ordem do governo para deportar os padres es-


trangeiros pertencentes á congregação de Jesus , que , pelos
documentos apprehendidos ou outras provas SE MOSTRAREM
DIPLICADÓS NOS TUMULTOS DESTA PROVINCIA E DA DA PAR A.­
HYBA . » (1 70)
« Recife, 28 de Dezembro .
« A medida ton1ada pelo governo geral , em fazer sabir

para fóra do paiz homens tão perigosos e de cujas doutrinas


_
quatro provincias foram victimas, DERRAMANDO-SE SA.NGUE '
é apenas uma medida de segurança, afim de evitar-se qne
elles sejam victimas da indignação popular . » (171) . .

(169) .A Naç6o, 5 de Dezembro de 1874 .


(170) Jornal ão Commercio� 21 de 0'1zembro de 1874.
(171) A Naç&J, 29 de Dezembro de 1874.

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Além de uma infinidade de despachos telegraphicos neste


mes m o sentido, publicados por todos os jornaes desta cõrte,
ouvi como falla o orgão ministerial , folha semi-oficial :
« Si jesuitQ,$ CONCITARAM uma parte das populações dó

norte ás CORRERIAS E. caruEs de que temos sido testemunhas ,


culpa não é do governo . » (1 72)
« O Sr. D . Vital, que tem nos jesuitas os seus meJhores
amigos e conselheiros, deve estar satisfeito cou A suA OBRA.
Elia é d-igna de o recommen(lar á admiração do mitndo e
ás bençãos de sua patria.
« Não anteciparemos , todavia, reflexões que não pódem

escapar a ninguem .
« Emquanto o Sr. D . Vital se cala perante os aconte­
cimentos que enl utam a sua diocese, FAI..LEM os TELE -
GllAMMAS. >> (1 73)
<( Os ultramonta1'os d·e vem estar satisfeitos com a sua

obra.
(( Resolveram agitar a diocese do santo martyr Fre i
Vital , e o sangue brasileiro, e sangue de irmãos, já \em
corrido em varios pontos.
« Assassinos e ladrões aproveitaram-se do ensejo par a

sallirem a cam po , graças ás boas doutrinas e á edi,ficante


prupaganda de o�guns padres estrangeiros , e de outros sa­
cerdotes que , por vergonha nossa , nasceram nesta
terra. » (1 7 4)
Escutai agora, Irmãos e Filhos da minha alma ! esc uta i
o proprio Diario Offi,cial :

{172) Ibidem.
(173) IJem . 4 de Dezembro de 1874 .
(174) Idem . 24 de Dezembro de 1874: .

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- 131 -
« Convindo descobrir a origem de taes movimentos ,
attribuidos em grande parte aos jesuitas, e havendo
denuncia de que na casa habitada pelo jesuiia capellão
do collegio de Santa Dorothéa, se faziam reuniões noc­
turnas por modo mysterioso , deliberou o chefe de policia
de Pernambuco dar busca na dita casa, na do vigario · de
S. Lourenço da Matta, onde residiam outros jP�uitas e na
do governador do bispado.
« Foram apprehendidas varias cartas, das quaes se

infere QUE os JESUITAS NÃO SÃO ES'fRANHOS AOS MOVIMENTOS


e têm tomado parte directa no conflicto epis­
· sEn1c1osos ,

copal . » (175)
Todos esses telegrammas e trechos dizem claramente
que os movime�tos sediciosos, a que n o s referimos, foram
obra do Bispo , do clero e , especialmente, dos Jesuitas.
Tomai nota l
Vamos adiante.
A gora ides .ver, como tudo isto combina admiravelmente
com as noticias que a Maçonaria transmitte para t odos os
pontos do globo.
O Boletim do Grande Oriente Unido, em o seu noticia­
rio para o estrangeiro , escrip\o en1 francez , diz o seguinte :
\

« As ultimas noticias tel e g ra phi ca s assegurarn que des-

cobriram-se no Recife , na resitlencia. dos Jesuitas , onde


tinham organisado uma sociedade secreta, diversos docu-
mentos que provam a particip.1 ção delles na revolta diri­
gida , segundo dizem , PELO B I SPO DE PERNAMBUCO . )) { 1 76 )
Como combina tudo isto l

(175) Diario 01flcial . 22 de Dezembro de 1874 .


(176) B oleti m de Agost•J a Dezembro de 1874, p. 624 .

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- 1 32 -

Aceresce que se disse , se escreveu com certa insistencia,


que o vosso humilde Pastor « déra um jantar , no dia de
seu anniversario natalicio , aos seus amigos e aos membros
mais proeminentes da Sociedade Catholica ; e que , emquan­
to todos os bons Brasileiros enchiam-se de vergonha e tris­
teza, ao receberem a noticia de qu e gru pas de facinoras,
de sertanejos ignorantes , illudidos pelas prédicas d'alguns
fanaticos , empunhavam os bacamartes e penetravam em
cidades, villas e povoações aos gritos de - morram os
maçons 1 viva a Religião 1 o joven e imprudente Prelado
-

banqueteava-se, e , che·io de regozijo , dizia aos seus convivas


o seguinte : « Quero ser propheta. Não hei de completar os

quatro annos de prisão . Breve estarei em liberdade. » (1 7.7 )


�ão palavras textuaes o que ahi fica transcripto na
integra 1
Disse-se mais e se escreveu, sempre com insistencia,
que os Bispos encarcerados, depois de começados os dis­
turbios dessas Provincias , entretinham correspondencia
activissima pelo telegrapho , e POR METO DE CIFRA , com Per­
namWco e Pará.
« O que explica, perguntava-se , tantos e tão repetidos

despachos reservados entre os illustres martyres e os seus


delegados ? (1 78)
Tudo isto não passou de uma falsidade sem nome , para
não dizermos , da mais infame calumnia 1 (1 79)

(177) Jornal do Oommercio,, de.29 de Novembro e 1° de Dezembro de 187..


(178) Idem . 30 de Novembro de 1874.
(179) Quanto i fabula. malevola do jantar, regozijo e esperanças de
proxima liberdade, já o proprio governo imperial certamente reconh�ceu-a
como tal , depois da syndicancia i qae nesta Fortaleza procedeu um ma­
rechal de campo.

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.
-
- 1"33

Releva ponderar ainda· que taes telegrammas e noticias


não só percorreram todo este vastissimo Imperio de uma
á outra ex tremi dad e , como até voaram· aos paizes estran­
geiros ; não só foram publicados pelas folhas brasileiras,
m aS tambem pelas gazeta8 d'além mar : vimol-os estam­
pados em mais de um jornal da .E uropa.
O Univers , de 1 0 de Fevereiro do corrente anno , trans­
creve o seguinte do A nglo-Brasilian-Times :
« Em Pernambuco , o Presidente mandou prender e
deportar, por ordem do governo , seis Jesuitas italianos ,
não só por terem excitado os Bispos de Olinda e do Pará
á revolta e a oppor resisteneia á ordem imperial de levantar
os interdictos, como tambem por haverem sido os provo­
cadores das -sedições e perturbaçõe�, que se deram nas pro­
vincias do Norte. »

A respeito d os t el egramma s em cifra , ouçamos as Agencias telegra phicas


desta Côrte .
Eis o que em 9 da Dezembro de 1874 atte sto u a A genc ia Ame ricana :
« O ab aix o assignado decla ra em resposta á re quisi ç ão de S . Ex .
,

Revma. o Sr . Bispo de Olinda , que e rn tem po algu m lhe foram confiados,


p or S . Ex. , d esp ach o s em ci fra ou de outro modo, para qualquer ponto
do Imperio,, ou para fó ra del l e .
« M . Gomes de Olit,eira, D i rec t or GerC:jnte . »
Na. m e 3 ma d a ta di sse a Agencia Hava.s-R�ut�r :
« De cl aro que S . E� . Revma . o Sr . Bispo de Olinda, nunca enviou,

por intermedio da Age n cia telegraphi c.a Havas-Re lt ter, d espach o s em


cifra ou de outro modo, para n e nh u m pon to d o . Imperio do Brasil .
« O Director geral ,dos serviços telegraph icos Havas-Reuter. na Amar ica
do · S ul , Mercadier. »
A Wcste rn a n d Brazil i an Telegra ph Oom pany Limi ted, em 22 de
D e z e mbro do mesmo anno., declara o seguinte :
« Tenho a h o n ra d� i n formar q u e d epo i s d e c uid adoso exame dos
,

li vros , n e n hum a nola achei de qualquer te le gramm a mandado ou rece­


bido por S. Ex. o Sr. Bispo de O l i n d a , de ou p .ira o Rio de Janeiro ,
entre Sete n1bro e a data d a pergunta de S . Ex. (19 do corrente) . Tenho
a honra, etc .
'

« Assignado : Henrique Higgius� Gerent13 no Brasil . »

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}·oram , além disto , varejadas , pela auctoridade policial ,


tanto a residencia dos Padres Jesuitas , no Recife e em
S. Lourenço da Matta, como a da Auctoridade Diocesana,
nosso dignissimo Delegado , sendo o motivo allegado para
laes medidas e violencias , segundo affi rma o Diario offe,cial,
descobrir a origem dos movimentos sediciosos , attribuidos
em grande parte aos lesuitas .
Ora , d e todos esses telegrammas , de todos esses trechos ,
de todos esses actos, torna-se ·bem patente , transparece ,
como o raio solar atravez de limpido crystal , o malevolo
intento da seita calumniadora de constituir a Igrej a res­
ponsa vel pelos movimentos sediciosos que todos nós sen­
timos profundamente , e sobre cuj a causa verdadeira muito
teriamos que dizer, se porventura não fõra o nosso
intuito, antes fazer uma defeza , que form ular accusações .
Com efleito , de tudo quanto ahi fica exarado , para eterna
memoria , e do mais que se disse, se escreveu , se asseverou ,
é forçoso concluir :
1 .º Que o clero , os Jesuitas e o vosso humilde Pastor
foram os auctores d'aquelles tristes acontecimentos , ou ,
pelo menos , nelles tomaram a ma xima parte ;
2.0 Que os Padres Jesu�tas foram banidos , por terem sido
encontrados , em sua residencia , documentos que atiestam
a interferencia delles nos movimentos sediciosos.
Não foi isto , com efleito , o que se disse e se escreveu ,
com aturada insistencia , nos orgãos offe,ciaes e semi-offe,ciaes ,
Ora, de um lado a, accusação , como estais vendo , 1 rmãos e
Filhos muito amados, é gravissima e uma das mais pesadas
que se podem articular contra um Bispo catholico , posto que
indigno , contra virtuosos sacerdotes , credores dos maiores

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encomios, contra toda uma classe. respeitabilissima da so­


ciedade., que deve ser o �al da terra, a luz do mundo. (180)
Não menos grave e momentoso é por certo o facto do bani­
mento d'aquelles venerandos ministros da Igrej a Catholica.
De outro lado é rigoroso dever de justi �a suppor que em
nenhum paiz catholico, amante da justiça e da rectidão ,
jámais abalançar-se-hiam a dar passo de tamanho. alcance
e de tão funestas consequencias para a Religião e para o

Estado, sem plena certeza do facto , sem provas irrefraga­


veis do crime, sem estarem firmemente estribados em 4ocu­
mentos numerosos e �smagadores_.
Mas, além de que os documentos até hoje publicados não
só não provam a consistencia das gravissimas accusações
formuladas , como até demonstram , pelo contrario; á toda
a· luz , a innocencia dos accusados ; além de que a Portaria
de 21 de Dezembro de 1874 , peça o(ficial , garante a exis-

tenci a de out -ros documentos alli nãú especificados, disse-nos


mais a folha ministerial , orgão semi-o(fic-ial, o seguinte :
(< Os documentos publicados pelo presidente de Pernam­

buco não são os unicos apprehendidos, e além de outros que


APPARECER Ã O em occasião opportuna, ahi estam os de­
poimentos dos matutos presos para tornar patente a inter­
venção dos ultramontanos nessas desordens. » (181)
Que fazer, portanto, neste caso ?
A' vista das razões expendidas, á vista da cathegorica
affirmação da peça o(ficial sobre a existencia
.
de outros do-
cumentos com probativos, á vista , emfim , da formal asse-
veração do orgão semi-o(ficial de que opportunametite taes

(180) Math. 5, 18 e l i .
(181) Naçlfo 8 1 d e Dezembro de 187.t .

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documentos seriam publicados , cumpria- nos , se bem esti­


vessemos plenamente convencido da innocencia dos accu­
sados , aguardar a publicação promettida e . até hoje , tão
j ustamente , tão an ciosamente esperad a.
Eis ahi , Irmãos e Filhos dilectissimos , a razão por que
até a data presente l1avemos guardado silencio.
Tres longos mezes , porém , já são decorridos 1 Debalde
temos esperado ! Nada da p ublicação promettida !
Não podemos esperar mais .
Vamos , pois, analysar os documentos vin dos á luz , re­
servand o-nos para reformar o nosso j uizo , quando forem
os outros publicados , ou então para refutai-os , quer do
fundo do carcere , quer da terra do exilio .

2. º- Pelo que diz respeito á Nossa i>retendida interven­


ção di1 ecta ou indirecta nesses deploraveis movimentos
sediciosos , protestando com todas as forças de nossa- alma
co ntra essa calumniosa insinuação , do mais intimo do cora­
ção perdoamos áquelles que tão grande inj uria irrogaram ao
nosso caracter Episcopal.
Em quanto restar-nos u m hal1to de vida , consagrai-o-he­
mos sem pre á defeza do sagrado deposito que nos foi con­
fiado , e m ais facil será, em Deus firm emente confiamos , per-
....

der a existencia q u e abandonar a cu stodia da fé : Prius est ut


animam mihi quam fidem auferant. (1 82) Esme rar-nos-hemos
sempre em desem penhar os nossos d everes d e Bispo , sem
temor das violencias ou amarguras que d'ahi nos possam
advir , sem preoccupar-nos com o que pensarão , dirão ,
ou farão os poderes da terra . Defenderemos sempre ,

(182) S . Ambr . contra Auxentiu m .

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- 137 -

oom o aux i lio divino, os direitos inauferiveis da Santa


Igreja de Deus, e por ella propugnaremos , com o favor ce­
leste , até o nosso· ultimo suspiro .
�las, nos certames da fé , só brandi remos , ante o vesti­
bulo e o al tar , as armas irresistiveis d a palavra , da oração ,
dos gemidos e das lagrimas , qu e são as do ministro do
Se nhor ; e nenhu ma outra j ámai s empunharemos incom­
pati vel com a nossa mi ssão Sàcrosancta : Paratus eram,
ut ille face 1 et quod olet esse regiae potestatis , ego subirem
·

quod sacerdotis esse con�uevit valens nunquam jus de­


. • .

s eram , coactus repugnare non novi Dolere poter6, potero


.
.

flere, p11tero gemere : adver�us arma , milites , ·Gothos quoque,


arma mea la crymre sunt. Talia enim sunt munimenta sa­
cerdotis A liter nec debeo , nec posssum resistere (18 3 .)
. .

Pelo desempenho d o dever , alegre continuaremos a


sofJrer os incommodns da prisão , alegre iremos mendigar
o pão do exilio , alegre receb�remos a morle , se preciso
fõr ; n unca , porém , empregaremos outra resistencia que
não sej a a passiva.
O m esmo po·d emos garantir acerca do Clero de nossa
querida Diocese ; pois temos plena certeza de que nenhuma
parte , por m i ni ma que seja, tomou e11e em taes moviwentos ;
antes procurou i mpedil-os , acalmando os ani mos excitados,
onde lhe foi passivei , com o em Ingazeira , Bom-Conselho,
Bom-Jardi m , Campina Grande, Bezerros , Triu1npbo , etc.
Quando mesmo se ch egasse a provar com testem unhos
'

irrespondi \·eis, que um , dous ou tres sacerdotes , des-


Jembrados d e seus augustos deYeres , houvessem tomado

(183) Ibidem.

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parte nesses lamentaveis disturbios , que deporia este


facto i solado em desabono do Clero ?
Poder-se-hia , sem flagrante inj ustiça, attribu ir á classe
o erro do indi viduo 1
Magistrados têm havido prevaricadores , j uizes venaes ,
soberanos tyrannos ; mas , poder-se -hia acaso d'ahi con­
cluir , sem grave erro , sem clamorosa i nj ustiça , qu e todos
os magistrados são prevaricadores , que todos os j uizes são
venaes , que todos os soberanos são lyrannos 1
Padres houve im plicados nas revoluções de '
181 7 , 1824,
1 8 4 8 em Pernambuco , e na de 1 8 42 em S . Paulo
, e )finas
Geraes ; en tretanto quem nunca se len1brou de lançar laes
revol uções ·á conta do Clero 1
São deploraveis desvarios do individuo , pelos quaes se
não póde responsabilisar a classe inteira .
Tanto mais que um só padre não poderá ser i ndigitado ,
como real mente cul pado . O proprio que ora está preso
por este motivo , só tem um crime , mas crime gravissimB,
- é haver tentado ex pellir a Maçon aria das Irmandades
de sua Paroch ia. (18 4) '

(184) O Revd . Vigari :> de Campina G ra n d e, Pad re Ca lixt o Corrê·a. da.


No brega, fo i pro n u r"ciado e prr.sn por s u p posta i u tervenção n os m ovi­
m en tos SP.d i ciosos : a.o pa5so que, não só é elle no todo in noc( u te do
...

er im '1 '} U e l he im p u ta m , como até muito concorreu para apa zigu a r aq


ira� popula res ..
FaH em 03 docu men tos .
Eis o qne d i z o Juiz d'3 dire i to da co1n a rca de Campi n a Grande. o

Dr. An tonio da T ri n dada A n tunes Me i ra Henriques, em resposta a u m a.


petição d o d ito Vigario :
« Attesto que o su pplicantc prestou a mim e ãs demai s auctori··l ades
desta comarca o n1ais prompto auxilio no intuito de re:-,tabel ecP. r a orde m
pu blica a l terada pel o movim ento popul ar, que n ella se leva n tou no fi m
do an no proxi mo pass ado, convoca.ndo o � seus parochianos par-a. acu d i rem
á defeza desta cidade q u nndo fosse an: eJçada de ser invadida pelos grupos

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- 1 39 -

Não r O Clero nunca fez revoluções , nem as fará , por


que não é este o nosso costume , diremos com o A postolo
das nações , n em da Santa Igrej a de Deus : Nos talem
consuetudinem non habemus, neque Ecclesia Dei. (185)
Os sacerdotes de Jesus Christo , repetimos com o Santo

sed iciosos.. apresentando-se com esses parochianos a m i m p ar a todos os


misteres d o serviço pub lico, acudin d o ás feiras desta cidade quando
Invad idas por e sses grupos, .p ara por 1neio de consel hos dispersal-os ;
e praticando outros actos com pativeis com sen ministerio, tenden tes á
pacificação de m inha comarca. Cidade de C1:&n1 pina Grande, 13 de Fe­
vereiro de 1875 . - A ntonio da Trindade Antunes Mei,·a Henriques . »

Ouçamos agora o Jui z municipal do mesmo termo, o bacharel Bento


José Alves Via n na :
«
A t teslo que o supplicante n ão só auxiliou as auatoridades desta
comarca dura n te os movimentos sediciosos que n ella tiveram lugRr,
como tambem foi um 'do s principaes elemen to� d a ordam, aconselhando
e d i ssuadindo o po vo para nã:o pr oseguir �tn tae s desati n os, e finalm ente
que poz sempre á m inha disp osi ção, assim com o das ma; s auctoridades,
todos <' S seus serviços no sentido de ser� m os sediciosos repellidos e
restabelecida a ordem. Cam piná Gra n de, 18 d a Fevere iro de 1875 . - O juiz
municipal, Bento José .Al1'es Vianna . »
Lêa-se mais este documento, firmado pelo Delegado de Policia do termo
.de Oampi n a Grande :
.

« João Theodoro Pereira de MAUo.. ofticia l d a i m perial ord em d a Rosa,


cavalleiro das do Qruzeiro e Christo. S. Be n t o d?. Aviz, condecorado com
a meda l h a de campanha d o Estado O riental em 1852, e com a do Me rito
Militar com dous passadores e a da cam pan h a do Paraguay sob n . 5,
ten ente-coro nel eom mandtt.nte do 14 batalhão de in fantaria por S. M. Im­
perlal. Delegado de Policia do termo de Campi n a .Grande da provínci a
da Parahyba do Norte .
« Attesto pela affirmativa o que me req u ereu na petição supra. o
Revd . Vigario desta freguezia., Calixto Corrêa da Nobre.� a ; pois que
tanto pelas diligencias po liciaes qu e procedi para de8cobri mento dos
cabeças dos movimentos pop u lares deste term o, com o pPlas i n form eçê'es
das auctoridades superi ores e pessoas gra d as d este m P. s m o termo .. n ão
_ resultou in•:iicio algum da participação u P. SSAS m ovimen tos e desres­
peito ás leis, e ás auctoridades con t ra o supplicante, o qu al desde a
minh a chegad a neste me�mo termo poz á min h a <li�posição todos os
seus serviç• ·s para o restabeleci mento da ordem pub lica. Cidad e d e Cam­
pin a Grande, 18 de Fevereiro de 1875.
J ollo Th,.. odoro Pereiro de
-

Jlello .
(18õ) 1 . Cor . 11 . 16.

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- 1 40 -

A rcebispo de Milão , nunca foram tyrannos ; antes muitas


e m oi tas vezes softreram inauditas crueldades e atrozes
barbarias dos tyrannos, com a mais profunda humildade e
angelica paciencia . Nós oramos e não pelej amos , porque
assim cumpre ao verdadeiro catholico : Nunquam sacer­
dotes tyranni fuerunt , sed tyrannos smpe passi sunt . . . .
Rogamus, non pugnamus . . . . Hoc christianis decet . (1 86)
Examinemos agora , Irmãos e Filhos carissimos , os fun­
.damentos da grave e mui grave imputação que pesa sobre
os illustres Padres Jesuítas.
São accusados esses preclaros sacerdotes de compartici­
pação , pelo menos , nos movimentos sediciosos , que , na
phrase auctorisada do Diario Offecial, lhes foram attribui­
dos EM GRANDE PARTE . (187)
Vejamos as provas adduzidas pela Portaria de bani­
mento :

PROVA I.

'
« Uma carta do j esuita Joseph Lasemby , escripta de
Liverpool ao j esuita padre Rocha , em 7 de Maio ulti1no , na
qual se lê os topicos seguintes :
« Ll1e agradeço muito as commo�entes noticias do Bispo

Frei Vital . Eu tive o cuidado de fazer com que fosse elle


bem conhecido por todo o mundo onde peneira a lingua
ingleza ; e , no meu tempo livre , a mi nha penna occupa-se
muito do Bispo. « A biographia do Bispo de Olinda ; uma
carta em favor da Companhia ; o Bispo do Pará : o alvará

(186) SA.mbros. Epist. XXI ad Valentin.


• .

(187) Diario Otflcial de 22 de Dezembro de 1874 .

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- 141 -

de 3 de Setembro de 1 7 59 , a lei de 28 de A go sto de 1 7 67 ,


commen tarios muito honrosos aos nossos p re se nteme n te
no Brazil ; a m açonari a , elemento de desorganisação social
no Brazil ; a m es m a , elemento de desorganisação religio s a
no Brazil . Os co m m en tarios acima ditos são dirigidos aos
nossos, e farão , eu o espe ro uma impressão muito favora­
,

vel aos meus irmãos do Brazil , de Roma e de toda a parte .


'

Eis o trecho de um de meus discursos O governo b razi -

leiro , é verd ad e , m udou a pena ( do Bi spo) em prisão sem


trabalho ; porém em deixar a parte p ri n ci p al da i n j u stiça ,
confirmou a opinião q ue tem perdido inteiramente a fé .
Ga nhou para si a execração de todos os bons catholicos e
para o Bi spo de Pernarnbuco a rep u tação de ser elle um dos
·

campeões mais atrevi d o s d a I g rej a . »


Que prov a este documento, Irmãos e F ilhos muito
amados 1
Este documento prova apenas o seguinte :

1 .0 Que o p adre Lasemby . lá na I nglate r ra , recebeu , e


agradece , noticias do· humilde Bi sp o de OJ in da ;
2. º Que tem escripto a biographia de Bi spo s do Brazil ;
3 . º Que julga, com toda a razão , que a Maçonaria é ele­
m en to de desorganisaç�o social e religi osa ;
! . • Q ue entende, que o go verno brasileiro, commn tando
a sentença de eon dem n ação do Bi'po em prisão si mpl es ,
deixou permanente a parte pri ncipal da i nj ustiça e confir­
mou a opinião d e haver perdido a fé ; e ganhou para si a
execração dos bons catbolicos e para o Bispo a reputação
de campeão da I greja .

Demonstrará isto porventura que os Jesuitas de Per­


nambuco tiveram grande parte na sedição '!
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- 1�! -

__ Que tem que vêr uma cousa com a outra 1


Este pri meiro documento nada absolutamente prova ,
a não ser a inconsistencia da aceusação e a evidente inno­
cencia dos accusados.
Vamos á

PROVA rr .

« Uma carta do predicto j esuita, · padre Lasemby , de 17


de J ulho do corrente anno , a um de seus irmãos aqui
residentes , em que comm unica :
« J á p ubliquei a nota do Cardeal Antonelli ao governo
brazileiro no Tablet. Tenho os materiaes promptos para os
seg11intes artigos : « A verdadeira causa da perseguição
no Brazil » (trecho de Zacarias , Jornal do Commercio,
10 de Junho) ; « As vacillações do Sr. Visconde do Rio­
Branco e as suas consequencias » (trecho de Paulino de
Souza, ibidem} ; As cartas do barão de Penedo em 8 e 30
de Abril sobre a nota do Cardeal Antonelli » (Jornal do
Commercio , 8 de Junho) ; « Refutação das mesmas , » de
Pereira da Silva (ibidem , 1 3 de Junho) ; « Outra refutação
de Zacarias (ut supra) . »
Esta prova é do quilate da primeira .
Ora , dizei-nos, Filhos caríssimos , mostrar que o padre
Lasemby , de lá da Inglaterra , diz : 1° haver publicado
no Tablet a nota de Sua Eminencia o Cardeal Antonelli
ao nosso governo ; 2° \er promptos materiaes para varios
artigos ; 3.º ir transcrever do nosso Jornal do Commercio
trechos de illustres Senadores e Deputados brasileiros ,
será acaso provar que os J esuitas liveram grande parte nes

movimentos sediciosos '!


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- 1 �3 -

PROVA Ili .

« Uma carta d o · Dr. José Soriano de Souza ao padre


reitor Sottovia, do 1 • de J1ulho, em que lhe diz : « O mi­
nisterio está agarrado como ostra. Mas emfim algum dia
elle ha de cabir . E até hoje nada de resposta do Santo
Padre á Sociedade Catholica 1 ! E agora chegava muito a
ternpo , .porque o Collaço afinal separou-se de nós, e está
fundando , dizem , outra sociedade que lhe sane o desme­
surado orgulho. A Esperança teve outr'ora um Breve do
Santo Padre, e entretanto fez menos e sofJreu rr1enos do
que a União. Porque esta tambem não será digna d�
mesma graça ' Pense um pouco sobre o caso. »
''amos de mal a peior !
Que força ou que valor tem a opinião privada de um
distincto secular : 1 sobre a perduração do ministerio ;
º,

2° . sobre o supposto o rgulho de outro secular não menos


distincto ; 3°, sobre uma resposta do Santo Padre á Socie­
dade Catholica , e um Breve para a União ; que força tem
tudo isto , perguntamos , para demoµstrar o fundamento da
accusação formulada contra os Padres Jesuitas ' Que tem
que vêr tudo isto com a sedição que, segundo pesso a que vio
os dacumentos , é obra delles '! ( 188) Que é da logica?
Prosigamos :

PROVA IV.

« Uma nota do secretario das Lettras Latinas, Carlos


Nocelli , ao reitor Sottovia, remettendo-lhe o Breve de que
trata a carta supra, louvando aos Drs. Vicente Pereira. do

(188) A Naçtlo. 5 de Dezembro de 1874.

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- 1 44 -

Rego , A ntonio de Vas,�onpellos �lenezes de Drumond , José


Soriano de Souza , Tarqni nio Braulio de Souza Amaran tho ,
aos bachareis José Honorio Bezerra de Menezes , Manoel
Barbosa de Araujo, Pedro Gaudiano de Ratis e Silva , e
finalmente aos cidadãos A ntonio Luiz do A maral e Silva,
Manricio José Torres Tem poral , Antonio Climaco Torres
Tem poral e Domingos Ferreira das Neves Guimarães ,
accrescentando no final des ta nota que , se elle Padre Sot­
tovi&, e ntendesse que as pessoas indicadas no Breve não
eram dignas de louvor, o guardasse . »
Este documento não signi fica cousa a1ghma na questão
vertente 1 Nada , absolutamente nada , prova contra os pa­
dres Jesuitas ! A menos que se raciocine do modo seguinte :
O Secretario das Cartas Latinas enviou de Roma um
Breve de louvor aos membros da Associação Catholica ;
Jogo, os Jesuítas de Pernambuco são cabeças da revolução
ou pelo menos tomaram grande parte nella.

Que enthymema formidavel 1


Até aqui pois, nada de provas !

PROVA V •

« Uma carta do Dr. Tarquínio Braulio de Souza A ma­


rantbo ao mesmo padre Sottovia, em data de 24 de Junho,
con tendo os trechos seguintes :
« Firmado em maioria fraca e vacillante , o ministerio

vai-se sustentando e resistindo á opposição vigorosa que


tem con tra si ; mas não perdemos. a esperança de der­
ribal-o .
« A causa da ·nossa Santa Igreja tem ganho muito , se­

gundo todos pensamos, em cons.equencia das muitas e


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- 145 -

poderosas vozes que se têm levantado para p ro fli gar <>­

proced imento do governo perseguido r dos Bispos.


« Sei um pouco do que tem havido em Rom a ; mas
temo que , coril a chegada alli do Sr. Sanguigni , as cousas
tomem outra direcção , que cum pre evitar por todos os
meios. Esse homem , Deus me perd õe fez m u i to mal ; foi
,

fatal aos interesses catholicos n o Brasil , e a fi nal descon­


tentou a todos , faze ndo passar a a u ctori dad e da Santa Sé
por d uras provações . Protestou em segredo contra o j ul­
gam e nto do Bispo e o seu protesto foi considerado imper­
tinente e nullo pelo ministro dos estrangeiros , como consta
do rel ator io do mesmo ministro .
« Muit as ou tras cousas tinha a dizer-lhe ,, mas falta-me
\

tempo e não quero con fiar tudo ao papel . »

Que prova esta carta ?


Esta carta prova o modo de ver , tod o part ic ul ar , de um
Exm. represe n ta nte da Nação , catholico sincero : 1 º sobre
a firmeza e existencia do ministerio ; 2° sob re as van­

tagens que para a Ig rej a resultaram da d efeza feita , por


vozes eloquen tes , aos Bispos encarcerados ; 3° sobre o
proceder de �f onsen b or Sanguigi:ti . . e mais nada.
. . .

Que têm que ver , po rém , as o p iniões pri v adas do illus­


tre parlamentar com a i n terv e n ção dos Jesuitas nos mo­
vimentos sediciosos ?
Esta prov a é , pois , do calibre das precede n tes !

PROVA VI .

« Uma carta do Bispo D . Frei Vital , de 9 de Setembro


ultimo, ao Padre rei\or Sottovia , . na qual ee lê o seguinte :
..

« �arece m e escusado fallar-Jhe ácerca dos nossos nego-


- -

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- 146 -
cios ; porquanto o Dr. Tarquinio, que delles está bem a
par , referir-lhe-ha quanto por cá se tem passado .
« Em Roma é que é preciso muita cautela e vigilancia.
A Maçonaria não dorme , e o governo , que acaba de man­
dar nova mis&ão j unto á Santa Sé , está , ou pelo menos
mostra- se sobremodo esperançoso .
« Certas conce�ões que em outro tempo se poderiam
fazer sem inconveniente algum e em Roma pareceriam
simplissimas , agora e aqui seriam muito e m uito perni­
ciosas. Eu tenho sempre escripto neste sentido : receio,
porém , que , apezar de Bispo , eu pareça suspeito nesta
questão .
« Ha pouco recebi algumas linhas do Padre Santinelli ,
que muitissimo me consolaram : mas não estou tranquillo ,
porque sei quanto é perfido um governo maçonioo que
tão habilmente manej a a mentira , a calumnia e a ditJa­
mação . »

Esta carta nossa , Irmãos e Filhos dilectissimos , mostra


o seguinte :
1 . 0 Que j ulga1amos o illustre Deputado catholico a par
de quan\o, aqui na cõrte , se passa va attinen\e á questão
��� - ,
2 . º Que temos correspondencia constante com a Santa.
Sé, como é dever de todo o Bispo catholico .
3 . 0 Que não nos illudimos com a apparente quietação
da Maçonaria, pois sabemos que ella nunca cessa de ma-

quinar .
4. 0 Que em nenhum governo maçon temos confiança,
porque nos tem demonstrado a eiperiencia de quanto é
capaz a seita anti-ca\holica.

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Eis o que unicamente prova esta documento.


Como pois pod erá elle provar que os venerandos padres.
Jesuilas são cumplices nos movimentos sediciosos T
Respondam os. homens de bom senso.

PROVA VII .

« Outra carta do Bispo D. Vital ao mesmo padre rei­


tor Sottovia , datada de 19 de Novembro proximo findo ,,
contendo os topieos seguintes :

me fizeram exn!tar
« Se as magnificas Letras Apostolicas
no Senhor , não menos consolação e alegria me têm causado
as ultimas abj urações realisadas em minha d i ocese . Ah f

mande , m ande um novo anjo a Roma ; que elle se mu na de


todos os papeis e documentos que puder encontrar ácerca da
questão religiosa . Quanto não lhe devemos e aos seus eu,
a minha diocese, a Igrej a brazileira e a universal 1 »
« Ainda mais um favor Jhe peço em nome da minha
querida diocese. Procure , todas as vezes que lhe fõr pas­
sivei, aj udar com os seus conselhos , directa ou i ndirecta­
mente, os governadores e demais autoridades ecclesi�ticas.
Anime-os constantemente na luta que vai recrudescer e ore ,

muito por alies. Mil agradecimentos pelos ex ercícios que


prégou no Seminario . Sem duvida, o reitor e o pádre Maia
me fallarão ácerca delles nas cartas que acabo de receber :
a de V . R vma. foi a primeira que abri w li . »

Esta outra carta nossa prova, amados Filhos no. Senhor,


que, ao ou!fir o vosso humilde Pastor a-voz consoladora do
glorioso Vigario de Jesus Christo, dilatou-se-.1he O· ooração
attribu J &M Q . seotio allivi� ; como a ft6r cvie,. apoz. dia cal-

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m o so c restad a pel os raios ard e n tes


, . do sol do estio, expan­
de-se <\O h al i to da bri sa fresca da noite e recolhe na rese­
quida corolla as gottas do refrigeran te orvalho .
Prova que o desvelado Pai das vossas almas se não
esquece de vós , e que e st rem ece de alegria , experimenta
j ubi l o inefJavel , derrama lagri m as de consol ação , q u an do
aos ouvidos lhe chega , cá na solidão do carce re , a grata
nova de que al gum de seus filhos transviados nos so m b ri os
'

antros da M açon a ria volveu á casa p ate rna .


Prova que enviámos al gu em a Rom a não para inverter
,

os facto s , obscurecer a verdade , como outros fizeram ; mas


para fazei-a b r i lhar em toda a sua l uz ; não munido de
sophismas e enganos , mas si m de Tonos os PAPEIS E no­
cuMENtos !
Prova que sabem os aquilatar dev i d am e n te os relevaQtes
serviços prestados p ela i n cl yta Com panh i a de Jesus á nossa
querid a Diocese , á patr i a muito a m ad a , á I grej a i n teira ;
e que , na q u al id ad e de brazileiro , de catholico e de Bispo,
lh'os agradecemos ex abundantia cordis.
Prova, emfim , que rendemos prei to e hom e n a ge m ás
luzes e virtudes dos precl aro s Pad r es J e s uitas pedindo -lhes
,

ajudassem com os seus cons e lhos aos nossos D el egados n a


qu e s tão reli gios a , sustentassem -lhes o animo com suas
fervorosas e santas orações, para que nunca de clinassem
do trilho do dever.
Tudo isto ,
e mais nada, prova est& documento. A gora
como, de que modo, se ousa invocai-o para confirmar a
aecusação articulada contra os Jesuitas ?
E' · o que não alcança a nossa fraca i ntelli genci a !

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- 1 49 -

PROVA VDI .

« Uma carta do padre jesuita Antonio Onorati , escripta


aos 18 de Junho ultimo , de Baixa-Verde , ao vigario de
S . Lourenço da Matta, Francisco de Arauj o , contendo os
trechos seguintes :
« Não lhe dou noticias da Baixa-Verde , porque, escre­
vendo-as ao padre reitor as escrevi tambem para V. Revma. ,
j esuita como todos , e mais do que eu; p o ré m não no sen tido
,

dos vocabularios portuguezes . Quanto ao pedido que V.


Revma. me inculcou tão repetidas vezes que eu faça
áquelle santo varão padre Jbiapina, se elle vier cá, não
o deixarei ; porém , duvido m ui to que venha , por v arias
razões que elle nestes ultimos dias deu em resposta a uma
minha que lhe escrevi , solicitando a sua vinda . Parece
que , cansado por seus gra.n des trabalhos na vida de mis­
sionaria , com sua idade tão avançada de 7 0 annos, queira
mais cuidar do go v erno de suas vinte casas , que de outras
missões. »
D' este documento infere-se :
,

1 .0 Que o Reverendo Vigario de S . Lourenço d a Matta


encarregou o Padre OnoraLi de sollicitar do virtuoso Padre
Missionario , Dr . lbi apin a , o favor de prégar missões em
sua parochia.
2. 0 Que o Padre Onorati j ulgava que . o reverendo Mis­
sionario não accederia ao convite , em eonsequencia de sua
�vançada idade e grandes fadigas apostolicas.
Mas, prova isto que os Jesuitas houvessem promovido · a
sedição ?
A té o presente uma só prova ainda · não encontramos 1

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-1 50 -

Continúa por terra a aoonsação ;· ao passo que a inno­


cencia dos accusados brilha como o sol em pleno dia r
Examinemos as outras provas.

PROVA IX .

« Uma carta do professor publico de Vertentes, �lanoel


1. Xavier Ribeiro , sem data, ao referido vigario de S . Lou­
r�nço da Matta, contendo os topicos seguintes :
« Será amanhã, porque ha portador, que hei de escrever

ao lbiapina, o qual acha-se na missão para as partes de


Guarariba. Soube bontem que elle me escreveu , mas até
esta hora ainda não recebi essa carta por estar o portador
demorado em Gravatá de J aburú. Não me esqueço da pre­
tensão do meu amigo, e neste sentido instarei com elle
afim de ver o meu amigo satisfeito ; mas desde já lhe
advirto que faz-se necessaria a ida do dito padre á Baixa
Verde primeiro do que ahi a S. Lourenço. Convém irmo-nos
fi,rmando acolá, de II}aneira que possamos (embora a ope­
ração seja de tempo) attingir ao desideratum que alme­
jamos. Em conclusão declaro a V. Revma. que vou em­
penhar-me com o lbiapina para este ir a S. Lourenço,
apenas acabar a santa missão de Baixa-Verde.
« Para outros Jogares ha os mesmos desejos ; entretanto

os taes que tenham paciencia. Não tarda quem chega a


tempo. Estes povos, como já te"n ho dito, detestam o maço­
nismo , mas detestam-no por um sentimento vago ; não é
porque elles saibam o que é a Maçonaria, nem seus modos
della, fins, ete. Ha uma ou outra pessoa , como este seu
creado , que , arrostando as iras da energumena, não cessa
de instruir os matutos eonvenlentemente, etc. Eu sei que
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- 151 -

os cachorros estam damnados commigo, assim como pa­


rece-me que em certas localidades (do matto , bem entendido)
elles não ladram . Estimo a sua saúde e dos padres da Ve­
neranda Companhi1. etc. Diga ao padre Sottovia que agra ­
deço o retrato que me mandou do Santo Pádre Pio IX , e tc. »
Ora , carissimos Filhos, que demonstra esta carta ?
Esta carta demonstra tão sómente o seguinte :
• 1 .º Que o Reverendo Vigario de S . Lourenço incumbio ,
além do Padre Onorati , ao profe�sor publico de Vertentes
de induzir o Rev m . Padre lbiapina a ir missionar na r e ­
ferida freguezia ;
2.0 Que o professor achava mais conveniente que a
santa missão fosse prégáda primeiro em Bai xa -Verde , e
só depois em S. Lourenço ;
3 . Que elle conhece a Maçonaria, procura Lorn al-a bem
º

conhecida, e por isso tem soflrido da parte dos maçons ;


4 . º Que o padre Sottov.i a enviou-lhe um retrato do Santo
Padre Pio IX.
Bom ! A que vem tal documento ? prova elle a accusa­
ção de · sedição feita aos Jesuitas ?
Sobre isto, nem palavra !

PROVA X .

Uma carta do bacharel Souza Rangel , de 10 de lunho


«

ao padre Sottovia, na qual se encontra o topico seguinte :

« Si j á tiver noticia da missão de Baixa-Verde, não


deixe V. Revd. de communicar-m'a. »
Está claro, é evidente que este topico refere-se á missão
de que trata a carta precedente ; isto é , a missão que se
projee&ava prégar em Baixa-Verde.
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- 1 52 -
Agora, dizei-nos, Filhos caríssimos , como, de q11e modo ,
se poderá d ah i colligir que os Jesuitas tiveram grande parle
'

nos movimentos sedif,,iosos f


'

Ignoramos semelhante logica .


Abi vem agora a ultima prova . Ha de ser esmagadora r
l�ejamol-a :

PROVA XI .

« Outra, de 1 6 de Agosto , do re feri do bacharel ao mes­


mo padre Sottovia , em que se lê o seguinte : « Acabo de
red i gir em n om e da União Catholica , um requerimento --á
,

-assembléa desta provincia, pedindo que mande por á dis­


posição de D. Vital o producto dos dizimos. Não espero
resultado, e até re ceio que se abafe o requerimento ; mas
desejo levar ao seio dessa corporação algum estimulante , e
n ão me occo rre outro . » Em outras cartas posteriores do
referi do bacharel , lê-se o que se segu e : « Padre Negri me
disse : Cun1pre sahi r, só fica riamos se tivessemos familias
que nos recebessem nas con d i çõ es que nos convém . » « Não
disse e nem posso saber qnaes as condições a que se· referio
o amavel padre Negri . Quaesquer que el l a s sejam , eu as
acce i to porque o jugo de Jesus é s u av e e o peso leve.
,

Comecei a no ve n a de S . João e é proposito meu fazer appa­


recer o retrato de D. Vital sob docel , e m uito sinto não· ter
o do· Bispo do Pará e o do Santissllllo Papa, para· fazei-os
tambem a pparecer . »
Lêde , ó Fi lhos da mi-oh& alma 1 lêde com· toda a· at1eno10 ;
esta tiltima pro\ta , cha'e de ouro� settt dufftl&, da argumen­
tação ofli'Cial, e j olg&i par Ws mesmos se de ·alg\lm� sorte
d emo n stra ella o f und.amento da fomildavel âOOUSltlf>

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- 153 -

lançada á face de sacerdotes, sobre innocentes, mui


credores das m·aiores encomios. pelos profundos conheci­
mentos e acrisoladas virtudes que os exornam . •

Oh 1 que é o que acabamos de vêr ?


A presentam-se fragmentos de cartas ; citam-se cartas
de leigos e ecclesiasticos, cartas de padres e frades , cartas
de Monsenhores e Bispos ; cartas de Liverpool , cartas de
Roma , cartas do Rio de Janeiro, cartas do Recife, cartas
da Parahyba, e cartas de '1ertentes ; transcrevem-se tre­
chos , e não cartas, que assim truncados pódem variar de
sentido.
Pois bem 1 Conseguio-se provar , com taes documentos ,
a pesadíssima ac.cus�ção feita á veneranda Sociedade de

Jesus , ou a alguns de seus illustres membros ?


Não ! não !
Logo , temos o direito d� concluir, até que nos con ­
vençam do contrario, os Padres Jesuitas não tiveram a
minima parte nos movimentos sediciosos.
Logo , os Padres 1esuitas foram inj ustamente accusa­
dos e · escandalosamente calumniados, até em um doeu�
mento official J
I. ogo , são falsos, falsissimos, os telegrammas e os pro­
positos dos diarios officiaes e smni-officiaes a respeito da in­
tervenção dos J· esuitas nos movimentos sediciosos .
Logo , a deportação dos Jesuitas não teve por motivo a
sua supposta cumplicidade na sedição matuta, ou, se o teve,
foi um enorm e attentado contra a segurança individual , foi
uma i nj ustiça revoltMlte , foi uma inqualificavel iniquidade 1
:E o que, mais que tudo , nos enche de pasmo e· assombro
é que, tres, vinte e vinte sete dias depois da apprehcnsão
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� 1 5.cl -
dessas cartas que acab�tes de lêr, ainda ous�sem o Dia.rio
Offecial e a folha ministerial escrever o seguinte :
,

Dos offe,cios recebidos do presidente de Pernambuco,


de !5 e !.7 de Novembro ultimo, e de 1 , 5 e 6 do cor rente ,

a respeito dos movimentos sedi ci osos qoe se manifestaram


em alguns lugares daquella e da prov inc ia da Parahy ba
cons ta o seguinte :·

• • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • •

Convin do descob rir a origem de taes m ov imentos , attri­


«

buidos em grande parte aos jesuitas, e havend o denuncia de


que na casa habitada pelo jesu i ta eapellão do co1legio de
Santa Dorothéa, se faziam reuniões nocturnas por modo
m ys ter ioso , deliberou o chefe de policia de Pernambuco
dar busca na dita casa, na do vigario de .S. Lourenço da
Malta, onde residiam 'outros j esuitas e na do gover n ador ,

do Bispado.
« Fo ram apprehendidas
varias cartas, das quaes se INFERE
que os jesuítas NÃO SÃO ESTRANHOS AOS MOVIMENTOS SEt>I­
CIOSOS . » (189)
Onde estam porém essas cartas tão decantadas ?
« �e os jesuitas concitaram u m a parte das populações do

norte ás correrias e crimes de que temos sido testemunhas , \


.

culpa não é do governo. » (' 1 90)


sedição que está em campo, segu n do nos refere pes­
« A
soa que vio os documentos , é olJra delles . » (191)
Isto. não se exp1iea, nem se póde com prehe nder !

(189) Diario Official de 22 de Dezembro de 1874.


(190) A Naç8o de 29 de Dezembro de 1874.
(191) Idem de 5 de Dezembro de 1874, telegr. do 'dia 4.

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- 1 55 -

Ill.

O motivo da deportação dos Padres Jesuitas, bem o vistes,


Irmãos e Filhos muito amados, não foi nem pod i a ser a sua
pretendida e não provada comparticipação nos movimentos
sediciosos .

Investiguemos, pois , que razão on razões levaram a


esse acto de tanto alcance e magnitude . Nove são as que
foram indicadas ao publico , e lá se acham todas consigna­
d� na para sempre memoravel Portaria de 21 de Dezem­
bro de 1874 .
Aquilatemos o valor de cada uma dellas .
-
1 • a RAZAO .

« Considerando que dos trechos citados, interrogatorios


e outros documentos aqui não especificados se verifica que
os padres jesuitas residentes nesta provincia, esquecen­
do-se do bom acolhimento que receberam desde o primeiro
dia em que á ella aportaram , têm-se desviado da linha de
proceder que o seu sagrado ministerio e a sua qualidade de
estrangeiros lhes prescrevem, perturbando a paz e harmonia
que sempre reinaram entre a Igreja e o Estado, e violando
as santas leis da hospitalidade, que deviam ser os primeiros
a manter e respeitar . »
Eis ahi a primei ra razão do banimento : - Os Jesuitas
se desviaram da linha de proceder que lhes prescrevia o seu
sagrado ministerio e a sua qualidade de estrangeiros. E com­
metteram tal delicto , perturbando a paz e a harmonia da
1greja com o Estado e violando as santas leis da hospitalide�A

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- 1 56 -

Mas, que é da prova disto '


Vós , que lestes, Irmãos e Filhos dilectissimos , todos os
documentos publicados até o presente , podeis avaliar se
algum delles fundamenta esta. nova aeeusação .
D'onde consta, na verdade, que os Jesuitas expulsos de
Pernambuco perturbasse 1n a harmonia da Igrej a com o
Estado , violassem as leis da hospitalidade ?
Será dos discursos do Padre Laseinby, lá na Inglaterra ,
ou dos seus artigos no [fablet ?
Será da publicação, por elle feita , em paizes estrangei­
ros , de trechos de discursos de Senadores e Deputados
brazileiros 1
Será das opiniões do illustre publicista Dr. José Soriano
de Souza sobre o ministerio e sobre um distincto catholico?
Será do Breve de louvor do Secretario das Cartas la­
tinas , enviado de Roma a alguns membros da Sociedade
Catholica ?
Será do sentir particular do distincto parlamentar catho­
lico ácerca do ministerio e de Monsenhor Sanguigni ?
Será do nosso modo de pensar a respeito da Maçonaria
e do Governo ?
Será do regosijo que experimentamos ao recebermos
Letras do Immorial Pio IX. ou a noticia de terem voltado
para o redil ovelhas tresmalhadas 1
Será de havermos enviado alguem a Roma 1 . . . Adiante
responderemos .
Será da apreciação do Padre Onorati sobre os trabalhos,
cansaço e adiantada idade do Missionario Padre lbiapina 1
Será das noticias que um ill ostre catbolieo· pede das
missões de Baixa· Verde 1
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- 1 57 -

Será., em fim , do requerimento que o mesmo dirije á


Assembléa provincial a respeito de dizimos, ou da novena
de S . João , ou do nosso retrato ?
Não l De nenhum destes documentos, consta semelhante
cousa ! A menos que conste dos outros documentos não espe­
cipcado� , ou dos interrogatorios secretos .
Mas , emquanto não forem elles publicados, temos o pleno
direito de sustentar que esta nova accusação é gratuita,
para não dizermos, calumniosa, e que a primeira razão
allegada é inconsistente e sem fundamento.
Passemos á

!.• RAZÃO.
« Considerando que foram os ditos padres jesuitas os que
promoveram o actual con"'icto religioso , que todo o bom
catbolico deve sinceramente lamentar , publicando no
periodico Esperança, e depois União , de que são assíduos
colJaboradores, artigos contra as leis do Estado, . leis anti­
quíssimas sempre acatadas pelos virtuosos prelados que
têm governado esta Diocese, e , no entretanto, por elles
(padres jesuitas) atacadas e qualificadas como usurpações
das prerogativas e immunidades da Santa Sé . »
Ahi temos a segunda razão do banimento dos Padres
Jesuitas :-Foram elles os que· promoveram o actual con­
ff,icto religioso I
Com ·efleito 1 Admira que ainda tal se ouse escrever,
quando a todos se mette pelos olhos que o actual conflicto
teve origem nas provocações directas e no insolito proce­
dimento da Maçonaria, a começar desde o dia 3 de · Março
de 1872 até ás vergonhosas scenas de 1 4 de Maio de 18 7 3 ,
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- 158 -

que ennodoaram a veneranda imagem da patria querida ,

com salpicos de sangue sacerdotal l {19t)


(1�) V id e a nossa Carta,. de 2 de Agosto de 1874. ao Exm. e Revm . Sr .
'
Arcebispo de Buenos Ayres .
Além de tudo qu>tnto ahi di888moa a respeito da origem do actual
confticto r,ligioso, lêa-se mais o seg uin te documento maçonico :

« Fe rido u ni ir. · . distincto (o padre A � Martins) e por m o U vos que todos


julgaram pundonorosos. moveram -se ioconUnente as forças maç. · . Ambos
os cire. · . se empenharam em m anifestar ao sacerdote suspenso provas
de adm iração respeito e fraternidade.· E porq ue j ulgasse m que no padre
,

e ir. ·. A . M . se aggredia a maç.·. os Or. · • dissidentes se conservaram .


em attitude de o pposi oio ao aggre�or (a o b is po) .
O Or.·. do Lav. · . celebrou aess. aoi m &dQs, nas quaes ventilou-se
·. a
magna questão A . M . (Almeida Martins) e d e llberou - se :

1.• Nomear uma comm. · . ad hoc para tratar do as s umpt o ;


2.0 A uctorisar a p ublicaoão pela im p rensa, de ar tigos que tivessem
por fi m defender a maç. · . do ataque contra ella dirigido p elo Sr. bispo ;
fazer conhecer a i nj u st iça do acto ; mostrar as aspiraç�es da maç. · .
S.0 Nomear uma com m . · . para receber,. publicar ou rej eitar os ar tigos ;
p ara dirigir emftm todo o mov i m e nto da imprensa .
4.0 Solicitar das Loj . • • e obr. · . dos clr.· . o seu valioso concurso, na
proporção das forças de cada um, para contribuirem com os met. • .
5 .o Nomear um Th�s. · . parR receber as quantias e distribuil-as .
6.0 Cu mmunicar oilieialmente ao Oir. · . Beo . · . as resoluções adoptadas
pelo Lav . · . con vidando-o a fazer causa commum com elle nesta questão
de INTE.8ESSB GEtiL da O rd. · .
Foram tomadas estarJ deliberações a 16 de Abril . . .
Antes, porém, de serem tomadas providencias em benefici o do Ir . · . aggre·
dido, o Ir . · . S . M . ( Sald a nha Marinho) foi visitar a este, e manifestar-lhe
as mais vivas demonstraçõe::1 de sympathia, declaran do - lhe que MA. QUESTlo
TIGBNTB :Nlo HA.VU DIVE RGENCl.l DB CIRO • • • M A S UKA. O!CDA.
DDIBNSA. que se
levantava eontra o ultramon tanism� (o Oatboliciamo Romano) . (Bol. · . do
La.v. · . to an no. · . pa�. 205) . » ..

E a 27 de Abril r�une-se em As. ·. ger. . do Pov. . maç. · . o Or. · . Ben.· • •

na q u� l dão-se oa 11eguin�1 factos :,

1 . o O G. · . M. · . S . M . p ronuncia uma virulenta allocuçào (sic) na qual


é profligado o acio episcopal :
2. o Approva-1P. u nanimemente, sem dia1Cuasão, um Manifesto, pro testa n do
contra o mesmo acto ;
8.o Saúda - se a. maç . • • UNIDA. com vivaa e applausos .
Em seguida a esses successoa :
4.• Dirigiram os Ren . · • uma praucn . • • aos do Lav. · • adheriodo á uKdo
DOI DOUS CORP • • • para desaffrQnta da maç • • •
õ . o Endereçaram circulare=1 aua II . · . de sua obedieaci�, convidando-o� a
reaair pela imprensa :

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- 1 59 -

Ecomo promoveram os Jesuitas o actual conflicto ?


Os Jesuitas promoveram o actual conOicto , diz o
documento offecial , publicando nos periodicos Esperança
e União , de que são assid1'os collaboradores, artigos .
contra as leis do Estado.
Mas , se o aetnal conflicto é obra, como não cessa de
affirmar o orgão ministerial , da imprudencia de um joven
Bispo, que só entrou para o Episcopado em 1872, como
póde ser que os Jesuitas o tenham provocido por meio
da Esperança que deixou de public�r-se desde 1867 ?
Respondam-nos !
Onde estam as provas de que os Padres Jesuítas são ou
foram assiduos collaboradores da União '! Onde estam as pro­
vas de que escrevem ou escreveram contra as leis do Estado ?
Não basta atirar imputações aos quatro ventos ; mas
cumpre a quem preza o proprio caracter, a propria pala­
vra, a propria honra, fu ndamental-as com documentos. E
que é d' esses documentos ?
Emquanto não forem ap resentados, temos todo o direito
de affirmar que esta nova aceusação é tão gratuita, esta
segunda razão tão frívola, como as primeiras .
..
3 •
a
RAZAO .

(:0nsiderando que para animarem uma tal propaganda,


«

que começou a ter lugar com o seu estabelecimento no


6 . o Abriram· se por t das as Loj . · • Maç . · . s ubscripções para i�so ;


7 .• DELIBUU.RAM EKPIK, KARCHA.B DB HABll ONIA NISTO COM O LA V .• . (Boi.
do Lav. 1o auno pg . 2()j e 204) .
·•

Eis com o procederam os II; . de ambos os cir. · . na questão A . ?ti .


(An n�s da Aug. · . e Resp. · . Loj. · . Firmeza e União 2• instal1ada no li.a­
ranhão, etc. , pag . 26, � e 224) .

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I
- 1 60 - '

Brazil não escrupu1isaram em abusar da prodi giosa in­


�-

fluencia de que gozam em Roma , para ob,erem, como


obtiveram, cartas pontificias, louvando aos redactores do
citado jornal UNiÃo , que , pela sua linguagem virulenta e
acrimoniosa, impropria de uma folha religiosa, se tem con­
vert�do em uma verdadeira pedra de escandalo. »
Santo Deos l Oh 1 que motivo para deportar sacerdotes
catholicos !
Os Jesuítas foram ex pulsos de Pernambuco, e do terri-
,

torio brasileiro , porque alcançaram Cartas Pontificias lou-


vando aos redactores da União , periodico religioso , estrenuo
I

defensor dos direitos da Igreja 1


Tal jámais acreditáramos, se o não vissemas exarado em
'

uma peça official , que certamente ha de passar á poste-


ridade .

Julgai , amados Filhos no Senhor ! , julgai se obter do


Santíssimo Padre uma palavra de animatão para um jorn al
catholico, que por amor da causa catholica já soffreu um
auto de fé, em 1 4 d e �faio, póde ser crime merecedor da
pena de banimento !

4.• RAZÃO.

« Co nsi de ra n d o
que está mais qtte provada a sua inter­
ferencia na actual questão religiosa, na qual 'êm tomado
parte activa, como se deprehende d os docume11tos citados
e confessa um delles no interrogatorio · a que ultimamente
respondeu (embora houvessem negado a principio, quàndo
tiveram logar os acontecimentos de 1 4 de Maio do anno
proximo passado) levando o seu desrespeito ao ponto de
de clarar ao Dr. chefe de policia, em audiencia, que com
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- 16 1 -

cinco tostões haviam conseguido mais , quanto á questão


religiosa . do que o governo imperial , enviando plenipo­
tenciarios e despendendo centenas de contos de réis� »
Os Jesuitas foram deportados , segundo esta razão do
documento offecial , por haverem tomado parte na questão
religiosa. 'fomai nota deste considerando.
Pois bem ! Indaguemos qual é a actual questão religiosa
e v ej amos se os Jesuitas , com intervirem nella , commette­
ram algum crime ou cumpriram um rigoroso dever de
• •

consc1enc1a.
Eis a lucta que se aclía empenhada :
- lle um lado está a Maçonaria, affirmando que é
sociedade meramente beneficente , philantropica , huma­
nitaria, e que se póde ser maçon e catholico a um
tempo.
Do outro está a Santa Igreja, não só ensinando o con­
trario , coltlo até fulminando corn pena de excommunhão
piaior latw sententiw reservada ao Summo Pontifice , tanto
aos q'l.Le se alistam na seita 11.açon·ica, como aos que a
favorecem de qualquer modo q'l.Le seja. ( 193)
- De um lado está a Maçonaria , affi.rmanclo que , apezar
das excommunhões Pontificias , é catholica e ha de conti­
nuar no seio a·as Irmandades .
Do outro está a Santa Igreja, ensinando que todo o ex-
'

commungado se acha cor tado de toda a con"J munhão catho-


lica , e , por conseguinte , não póde estar unido á uma parte
desta communhão ; o que seria simul esse et non esse.
- De um lado está a Maçonaria, affi.rmando que o poder

(198) Constit. Apo1t1licce Sedi1 moderationi . de 12 de Outubro de 1869.


.. ..

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- 16! -
ecclesia.� tico não póde exercer a sua auctoridade sem licença
e co nse ntime nto do governo civil.

Do outro está a Santa Igreja, ensinando que isto é erro


grave e como tal condemnado por ella . (1 94)
- De um lado está a Maçonaria , affirmando que não é
licito aos Bispos , �em licença do governo, publ·icar nem as
proprias Letras Apostolicas.
Do outro está a Santa fgrej a , ensinando que isto é erro
intoleravel e como tal por ella con dem nado . (195 .)
- De um lado está a Maçonaria , affirmando que ao poder
civil pertence não só o direito que se chama de exequatur ,
mas ainda o de uppellação, que se chama ab abuso .

Do outro está a Santa Igrej a, ensinando


"
... que isto é erro
insustentavel e como tal por ella condemnado . (1 96)
- De um lado está a 1\Iaçonaria , affir1nando que a aucto­
ridade civil p6de envolver se nas cousas relativas á Religião ,
-

aos costumes e ao governo espiritual . •

Do outro está a Santa Igrej a , ensinando que isto é erro


i nsupportavel e como tal por ella condem�ado . (1 97)
-De u m lado está a Maçonaria , affirmando que em caso de
confl cto entre os dous poderes deve prevalecer o poder civil .

Do outro está a Santa Igreja en�i nando que isto é erro


insoflrivel e como tal por ella condemnado . (198)
- De u m lado está a Maçonaria , que arranca Bispos de
suas dioceses , encarcera-os e retem-n�os .
Do outro está a �anta Igreja, não só protestando contra

(194) Syllabus . Prop . 2 1 .


(195) lden1 . Pro p . 28 .
(193} Idem . P r o p. 4 1 .
(197) Ide m . Prop . 44.
(193) Idem. Pro p . 42 .

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- 163 -

estes attentados , mas tambem comminando pena de excom­


munbão latm sententim reservada de um modo especial ao

Romano Pontifica , contra aquelles que tal praticam, e con­


tra os que para este fim mandam, approvam ou prestam
auxilio , conselho ou favor. ( 1 99)
-De um lado está a Maçonaria, que directa ou indirecta­
mente força juizes leigos a atrastarem á barra dos tribunaes
os Bispos e seus Governadores, contra as disposições dos
Sagrados Canones.
Do outro está a Santa Igrej a que não só protesta contra
taes violencias , como até fulmina a mesma pena de excom­
munhão contra quem assim procede e c ontra os que promul­
gam leis e decretos olfen.,ivos da sua liberdade e direitos ina­
lienaveis . (200)
Eis ahi brevemente resum ida toda a questão religiosa
do Brazil , e bem discriminados não só os trabalhos e
pretensões da Maçonaria , como tambem as doutrinas e
soffrimentos da Igreja.
De um lado estam as theorias maçonicas , do outro os

principias catholicos .
A questão , pois , que se agita entre n� , é tod a de prin­
cipias . E por isso é que , ainda boj e , continúa ella de pé , tão
temerosa, tão insol uvel , como no primeiro dia.
Se não fôra questão de princi pios, mas sim unicamente de
pesso a , já de ha muito que o vosso hum ilde Pastor houvera
sido sacri ficado , teria succumbido, não podendo arcar sósi­
nho com o monstro colossal da Maçonaria.
Mas , como a questão não é com um si mples religioso

(199) Conslit. Apostoliccs Seàis moàerationi, de 12 ·le Outubro de 1869.


(20n) Ibi·iem .

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- 164 -
obscuro , porém com Bispos , e esses não p ode m ser sacri­
ficados , sem qt1e o sejàm ig u al me n te p r i neipi o s fixos da
Ig rej a catbolica, eis ahi po rq ue cootinúa a lucta en tre a
Maço n ari a e a Igreja, en tre o e rro e a verdade. Aquella
não quer recuar , esta não pód e ceder, porquanto , nunca !
n unca J a verdade de v e ced e r ao e r ro .

Quanto a Nós , promettemo-vos , Ir mãos e Fi1hos carís­


simos, que , auxiliado pela graça d i v i n a , jámais sacrifica­
re m os os prineipios da I grej a , jám ais a vi l tare mos o nosso
Ministerio sacro san to 1
Sacri fique-se muito embora a pessoa , qu an d o .fõr possi­
v el separai a da ques tão de prineipios ; mantenha-s e ,
-

porém , i l l esa , in\emerata, a Auetoridade Episcopal q u e


nos foi confiada e que have m os de legar intact a aos nossos
suceessores 1
A questão pois, como a cabais de vêr , dilectos Filhos, é
toda de p r i n cipi o s
.

Ora, dizei-pos , que deveriam fazer os Padres Jesuitas


em taes colli �es 1

Ficarem mudos , quedos, de braços cruzados 1 Conser-


varem-�e ne u traes 1 •

Ah 1 em Pernambuco no começo da questão , quando


ell a limi tava-se á d esobedi encia de Irmandades recalci­
trantes. ás pa temaes admoestações de seu Prelado , até 14
de Maio, e mesmo até 10 ou 11 de J u nho de 1 87 3 , ainda
se poderia relevar semelhante proceder.
Mas, d e poi s que os Sagrados Canor1es foram co n cul �

eados, d epoi s que todos os direitos da Igreja foram espesi­


nhados, d epois que as suas divinas prerogativ as fora m
obliteradas , depois, em summa, que a questão , transpondo

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- 165 -

as fronteiras da Diocese , entrou nos domi nios da Igrej a


universal . . . não ! Já não era mais possivel essa abstenção !
Urgia então decidir-se ou pelas doutrinas da Maçonaria
ou pelos prjncipios da Igreja ; ou pelos erros maçonicos
ou pela verdade catholica ; ou por Barrabás ou por
Cbristo.
Aqui não ha meio termo . De duas uma : ou favorecer a
obra da Maçonaria, senão positiva e directamente , ao
menos inllirecLamente pelo silencio , mudez , inacção e
abstenção ; ou auxiliar a causa dos principios catholicos
e da Igreja, apoiando-a , orando , fallandà , escrevendo,

empregando , . em uma palavra, todos os meios licitos e


permittidos.
Por maior equilibrista que se seja, ninguem jámais
poderá sustentar-se em tão difficil posição, sem deixar
de pender ou bem para a direita, ou bem para a esquerda.
De um Jado está cavado o abysmo insondavel do erro,
que leva insensivelmente ao schisma, á her�sia, á apos­
tasia, e só finda na eterna perdição ; do y ntro está a
estrada firme da verdade , da fé , da Igreja, e da salvação.
Ora , respondei , amados Filhos no Senhor 1 , para que
lado pender ? Por quem decidir-se ? Pela �Iaçonaria ou
pela Igreja ?
Não ba vacillar : pela Igreja 1 . porque disse o divino
. .

Salvador : Qui non est mecum, contra m,e est : et qui non
congregat mecum, spargit. (�01 )
Logo, cumpria em consciencia aos Padres Jesuítas
esposar a causa dos Bispos perseguidos ; e assim o fizeram ,

(001) Math . l'A. 30.

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por dever, não só os Jesuitas de Pernambuco, mas ainda


os de todo o Br�il e do mu ndo inteiro ; e bem assim
todos os Lazaristas, todos os Benedictinos , todos os Ca­
puchinhos, todos os Franciscanos, todos os Carmelistas,
,odos os ecclesiasticos , todos os leigos , todos aquelles, em
summa, que se honram e se gloriam do titulo de catho­
licos ; porquanto a questão não é pessoal , senão de prin­
cipios da Igreja Catholica .
Logo , nenhum crime commetteram os Jesuitas, antes
cumpriram o seu dever, intervindo na questão re1igiosa
em favor dos Bispos da Igreja Catholica contra a Maço­
naria ; e , portanto , não podiam ser banidos por tal mo­
tivo, que lhes é sobremodo honroso.
Que punição terão os demais sacerdotes e seculares ,
Deputados e Senadores que têm tomado parte tão activa
nessa mesma questão ?
Não fecharemos esta analyse sem primeiro tornar bem
patente um embuste da seita ardilosa.
Tem-se querido especu1ar com a m ui respeitavel Ordem
á que temos a gloria de pertencer. Tem-se dito e. até es­
cripto (20�) que os nossos ''eneraveis Irmãos de habito
não nos aco1npanham na questão vertente.
Como filho estremecido , se bem que indigno, da preclara
Ordem dos Padres Capuchinhos , que nos amamentou com
o puro leite do ensino catholico ; que nos creou e nutr_io
com o pão da sã doutrina ; que nos robusteceu na fé ca­
Ulolica ; em cujo seio bebemos o mais ardenle amor e
intei.ra dedicação á Santa �ladre I greja ; e em cujo regar,o

(202) Vide Naçi/,o, de 8 de Dezembro <le 1874 .

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aprendemos a amar , venerar e acatar o Romano Pontí fice ,


Vigario de Jesus Chr�sto sobre a terra , não podemos passar
em silencio , deixar sem protesto tão maliciosa insinuação .
Como Capuchinho , somos em extrem o cioso da gloria
de nosso santo habito , zelamos a reputação d· aquella que
nos servio de mãi carinhosa , e não nos podemo3 resignar
a vel-a ultrajada sem defendei-a , nem tão po uco podemos
ser insensivel ao bem ou mal que della di gam ; por isso
que sobre os filhos recabe a honra ou deshonra dos pais:
Dedecus filii pater sine honore. (203) Glo'ria fil-iorum patres
eorum. (204)
Os nossos veneraveis Irmãos de habito , a despeito do qu e
se tem fei to acreditar, estam e não pódem deixar de
estar ao Jado dos Bispos perseguidos ; por isso que a
questão , como demonstrámos , é toda de principias , dos
quaes a ninguem é licito aberrar sem precipitar-se nos
pavorosos abysm os do erro .
Estamos profundamente con vencido de que , entre elles ,
nenhum ha que censure os nossos actos Episcopaes ;
m as , se porventura algum hou,·era , o que m uito longe es­
tamos de suppor , lhe perguntariamos : Como o usas re­
provar o que o Vigario de Jesus Christo approvou sem
restricção ?
Se entre elles al gum houvera , que tivesse a desdita de
afastar-se dos principios cathoJicos acima enunciados e de
abraçar algu m dos contrarios condemnados pela Igrej a , ah !
neste caso , com lagrimas nos olhos , com o coração partido
de dor , Jhe clamariamos : É s infiel a teus votos , á regra

(2();3) Eecle . S . 18.


(204) Prov . 17 . 6.

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que juraste observar , e cujo primeiro capitulo prescreve
obediencia ao Summo Pontífice e á Igreja Romana ! (205)
Ainda quando tal viesse a acontecer, o que de modo
algum podemos admittir, a infidelidade de um Religioso
não poderia , sem flagrante inj ustiça , ser attribuida a todo&
os outros .
Ai 1 uma pedra teria, nes se easo , rolado da abobada do San­
tuario, uma estrella se houvera precipitado do firmamento
da Igrej a ; mas a Ordem , esta, chorando a desventura do
filho desgarrado, continuaria sempre formosa , resplande­
cente , intimamente unida á Santa Sé A postolica ; e nunca
poder-se-hia inquirir com o l,ropheta : « Como se escureceu
este ouro fino 1 Como se lhe mudou o brilho de soa linda
cõr 1 Como estam espal hadas as pedras deste magnifico San�
tuario por todos os can tos das ruas ? Como os inclytos filhos
· de Sião , cobertos do mais puro ouro , agora se contam por
vasos de argila, obra da mão do oleiro ? » (206)
Não f não 1 jámais tal havemos de indagar !
.

Não passam de alicantinas da Maçonaria o que se tem


dito e escripto a este respeito. E' um ardil d� que se serve
a sei ta h y pocrita não só para tornar impopular e odioso o
,·osso humilde I>astor, fazendo acreditar que nem sequer
·os seus virtuosos Irmãos de habito lhe approvam os actos ,
senão tambem para desprestigiar a esses respeitavei s sacer-

(205) Frater . . . pro mittit obedientiam, et reverentiam Domino Pap� Ho­


norio e t suceessoribus s u is ca n onice electis et Ecelesi� Romanre. (Regula
S . Patris Francisci . )
(206) Q u oniodo obscuratum est aurum. m uta t os e.st eolor optimus, dis­
persi sunt lapides sanctuaril in capite omnium pla�arum ? Filii Sion i o·
clyti et amicti auro primo. quomodo reputati su nt in vasa testea, opua
manuum flguli 't (Thren . 4 . 1 . 2. )

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dotes no seio das popula.ções religiosa& dos sertões , onde


gozam de grande ascendente , e exercem summa influencia .
Infeli zmente a cal u m nia j á produzio parte de �eus dam­
nados fructos . Não foi sem dor , e dor bem funda , que vimos
um d esses fer\'orosos operarias da Vinha do Senhor desat­
tendido por aquel les mesmos povos que an nos ha , á voz
d e o utro virtuoso Capuchinho , depozeram a seus pés �
armas insurgidas .
Que rrlud an ça 1
Estej am· todos de sobre-aviso l A cau telem-se todos com
o que diz e faz a .seita enganadora !

Prosigamos na nossa analyse .

5 . RAZÃO.
ª

t< Considerando que elles padres j esui tas não se têm li­
mitado a aconselhar e animar o actual Bispo em sua rebeldia
aos poderes da nação , mas , ao con trario , têm levado a sua
i ntervenção na rtferida questão , ao ponto de enviar emis­
sarios a Roma, que hão c� n\·eguido illaquear a boa fé do
venerando Pontífice , ad ul terando os factos � aprese � tando
o chf fe do Estad o e seus ministros como m açons e i nimigos
da re l igião catholica , ao passo que o Bispo é por elles j ul­
gado u 1n martyr da fé , um caqipeão denodad o da I g r ej a e

um opti m o pastor. »

Esta razão allegada , caros Filh·os ,é du pl a : ·J 0 Os Pa­ •

dres Jesuitas acunselharam e 11 nimaram o Bispo na sua re­


beldia aos poderc.� ·da Nação ; 2 . º enviaram emissarios a
Roma que hão consegu-idu illaquear a boa fé do venerando
Pontifice.
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- 170 -

1 .º Diz a peça o(fi,cial que os J esuitas nos aconselharam


e an i m ara m . .Mas , ond e est am as provas ?
Pasma a faci l id a de eom que se affirmam taes propo­
sições J
Este trecho é apen as um fio das u rd i d uras maçonieas.
é o é c h o dos rumores espalhados pela Maçonar ia, q ue ,

-
para ti ra r nos o p rest i gio neeessario á a u c to ri d a d e e p ara
tornar aquelles Padres responsaveis pelos nossos actos ,
sempre se empenhou em fazer-nos passar por i n fl u e ncia d o ,
i n spi rad o , dirigido pelos Jesuitas.
Isto é tac tic a antiga e mui sed iça A m e&m a accusação
.

tem s i do e é feita pe los inimigos da Igrej a aos Summos Pon­


tifices . Ha quatro annos o SS . Padre Pio tX ju l go u conve­
niente protestar con\rf' est3 aleivosa im putação , com que
te n ta v a m empanar o deslumbran te esplendor do seu longo
Pontificado .
Ouvi o que disse o Immortal Pontifice :
« A I g rej a de Dens , á m a n e i ra de Rainha cercada de
·
v ar ie dade assim como foi aformoseada pelo nobre a cl u 1 no
,

q as diversas Ord€ns R eligiosas , assim empregou sempre


os de sve l ad os trabalhos d'essas Ordens na propagação das
gl o ri as do �orne d o Senhor. na ex ped ição dos ne goci o s da
sociedade cb ri s tã e e m introduzir e promover entre os
,

povos , por meio da i n s t r ucção e da ca r id ad e a cultura d a


,

vida ci vil.
« Por isso todos os i n i tn i gos da Igreja, quantos exis­
tir a m em q ual q ue r tempo , perseguiram especialmente as
Ordens R eg u lares e enLre essas costnmaram d ed i car o
,

seu pri n cipal odio á Com panhia de J e s u s por ser a que jul­
,

garam mais ac t i v a e por consequencia mais nociva aos seus


,

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- 171 -

intentos. E' isto ·mesmo o que cheios de dOr estamos vendo


fazer de novo neste momento , em que os invasores dos Nos­
sos Estados , aneiosos pela presa, sempre fatal aos roubado­
res, dão mostras de querer princi piar a suppressão de todas
as Ordens Religiosas pelos Padres da Companhia de Jesus.
« Para aplanarem pois o caminho á esta iniquidade,
esforçam-se por atiçar contra elJes as iras populares , e os
accusam de inimigos do actual governo , e sobretudo dão o
poder e valimento .de que gozam j unto de Nós, como causa
de sermos ainda mais adversos ao mesmo regimen , e con10
tendo tanta força sob re Nós , para que tudo aquillo que fa­
zemos não seja senão pelos seus conselhos.
« Esta estulta caJum nia , se tende a cobrir-Nos com o
mais profundo desprezo , j u·1 gando-Nos totalmente embo­
tados e incapazes de tomar por Nós mesmos qualquer reso­
lução , inteiramente se convence de absurda, sabendo todos
que o Romano Pontifice , depois de implorar as luzes e o
.a uxilio divino, faz e ,ordena a qui l lo que julga recto e util
para a 1 greja , e que nas cousas mais graves· costuma pre­
valecer-se do concurso d'aquelles , a quem por mais versa­
dos na materia de que se trata, qua1quer que seja emfim o
seu gráo e a sua condição , ou a Ordem Religiosa a que per­
tençam , j ulga que possam dar o se u parecer com maior sabe­
doria e prudencia.
« E de certo não raras vezes Nos �ervimos tambem dos

Padres da Com panhia- de Jesus , e lhes confiamos varios


encargos , e principalmente o do sagrado ministerio , no
desem penho dos qoaes sempre elles nos dão maiores provas
d a qu el la d ed ica ção e zelo que lhes -grangearam frequentes
'

e amplissimos louvores dos Nossos Predecessores .

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- 1 72 -
« Porém este Nosso j ustissimo affecto e estimação pela '

Companhia , sempre altamente benemerita da Igreja de


Christo , desta Santa Sé e do povo christão , está bem longe
d'esse obsequio servil que escogitam os seus detractores,
cuja calumnia com indignação repellimos de Nós e da
submissa dedicação d'aquelles optimos Padres. »
« Julgamos corntudo dever fazer-vos estas declarações,
Veneravel Irmão Nosso , não só para que sejam manifestas
as i nsidias tecidas contra a Com panl1ia, mas tambem para
que o Nosso Juizo , torpe e loucamente contorcido e
desfigurado, appareça qual é , e fique consignado um novo
testemunho da Nossa grandiss1ma afleição á mesma inclyta
Companhia. » (207 )
Não podemos melhor responder á insidiosa imputação
que se nos faz e aos preclaros Padres J esuitas , d o que
fazendo nossas, mutatis mutandis, as palavras do grande
Papa, as quaes admiravelmente traduzem os nossos sen ­
timentos a respeito da . illustre Companhia , e ·no todo se
applicam ás nossas circnn1stancias .
Mas , admittamos � por um momento , que sej a perfei­
tamente fundada a accusação da peça offi,cial. Será ,
porém , crime , e crime de ser punido com pena de bani­
mento , dar e pedir conselhos ?
Em qu,e codigo , em que legislação , em que paiz do
mundo civilisado ou barbara nunca tal �e vio?
Ha ahi , Irmãos e Filhos carissimos, uma proposição
sobremodo offensiva do nosso caracter Episcopal , que não
podemos deixar passar sem reparo.

(�7) Breve de 2 de Março de 1871, ao Emm . Cardeal Vigario.

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- 1 73 -

Diz o documento offe,cial que os Jesui tas aconsel haram e


animaram o actual Bispo em sua rebeldia aos poderes da
nação.
Não ! não somos rebelde aos al to s poderes do Estado ! . . .

antes nos ufana mos de lhes ser muito submisso , e com a


mesma fidelidade com que nos esforçamos por observar as
ve n e rav eis disposições da I greja, alegre e p ressuroso cum­
priremos sempre as p rescri pçõ es e decretos do poder civil ,
todas as vezes que estes não ultrapassem os limites de sua
alçada. Emquanto damos a Deos o que é de Deos , jámais
deixaremos de dar a Cesar o que é de Cesar .
E como poderiamos nós ser fiel ao- que devemos a Cesar,
se foramos infiel ao que a Deos devemos ?
Ha leis do Estado que são man ifest ame n te contrarias
á vontade de Deos , offensivas da Fé catholica, invasoras
dos direitos e pre ro gativas da Igreja ; e as ha que são con­
formes á vontade divina , justas e rectas : quem desobe­
decer áquellas , diz a Mest ra infallivel da verdade , pelo
orgão do grand e luminar de Hippona cumpre o seu dever
,

e torna-se credor de grande premio ; quem negar obedien­


cia á estas , commette culpa grave e se co nstitue mere­
cedor de grande castigo Quicumque legibus imperato r um
quae contra Dei voluntatem feruntur obtemperare non vult.
acquirit grande premium ; quicumque autem legibu� impera­
torum quae pro Dei voluntate feru�tur, obtemperare non
vuU, acquirit grande supplici um (208) .

Esta é justamente a triste e dolorosa collisão em que nos


achamos : ou torn arm o- nos digno de m erecimento não ,

(208) S. August . Ep ist . Rd B on if. De correct . Donat.

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- 1 74 -

abraçando os prinei pios condemnados pela Igreja e não


obtemperando a prescripções inj ustas ; oo constituirmo-nos
réo de enorme delieto , e incorrermos nas iras celestes, adop­
tando como verdades a erros fui minados pelo Vigario de
Jesus Christo, obedecendo a mandamentos contrarios á
vontade divina.
Preferimos então desagradar aos homens para não des­
agradar a Deos . E assim praticando, cumprimos a nossa
estricta obri gação : desobedecemos a Cesar, para não des­
obedecer a Deos.
Ah J lembrem-se os que nos condemnam por haver assim
procedido , nunca esqueçam os que governam que não será
jámais fiel ao rei quem não o é primeiro a Deos r f !
2.º Os Jesuítas enviaram emissarios a Roma.
Foi o vosso humilde P�tor, dilectos Filhos em Jesus
Christo , como bem se deprehende do documento 7 . º que m
enviou alguem · a Roma e mandoQ ao Padre Sottovia en­
v i as se de novo outra p essoa .

Ora , s e n do 03 Padres Jesuítas sacerdotes c�tholicos , au­


xiliares dos Bispos, e estando, além d'isto , debaixo da sua
jurisdicção , que lhes cumpria fazer , senão obedecer ?
.
E será crime , crime merecedor de ba n im e n to , ir o u mand ar
a Roma, tratar corh o Pai commum dos· fieis ?
Pois, aos i n im i gos da Igrej a , á impia �laçonaria é per­
mittido mandar um , d ou s , tres e mais e missario s a Roma
para contorcer os factos , obscurecer a verdade dos acon­
tec i m en tos , e só a u m B ispo catholico não é licito lá ma11=dar
alguem para defender-se com docume nto s authentjcos e
desmanchar a teia delgada e subti1 da aranha maçonica 1
Que logica 1 que direito !

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- 1 75 -

O que se deu tanto de uma como de o u tra parte não é


n ovo antes muito antigo na historia da Igreja.
,

Em todos os tempos, os inimigos da Igreja calumniaram


os Bispos zelosos; e os herejes , indo ou mandando a Roma ,
com a mais refinada hypocrisia, tentaram , sem que jámais
o conseguissem , surprehender a bOa fé do Summo Pontifice :
juncto a Cadeira de Pedro nunca teve accesso a per fidia :
A à quam perfidia habere non po,esd accessum . (209)

Em taes emergencias Bispos, como Santo Athanazio ,


S. João Chrysostomo ; Santo A gostinho, nunca deixaram de
enviar alguem a Roma. nem cartas aos Papas S. J ulio e
Santo lnnocencio , repondo a verdade adulterada pelos
Arianos , Pelagianos e demais herejes. E não consta dos
an n aes ecclesiasticos que fossem os enviados deportados
nem soffressem outra qualquer pena.
Diz a peça official que os Padres Jesuitas hão conseguido
illaquear a boa fé do Venerando Pontifice.
Vai nesta pequena phrase grande ultrage feito não só ao
caracter dos Pa dres Jesuítas, como e principalmente á
augusta pessoa do Vigario de Jesus Cbristo.
Protestamos contra tamanha i nj uria e passamol-a em
silencio . . . .
Diz mais o documento official que tal conseguiram os
Jesuitas, adulterando os factos e apresentando os ministros
conw maçons e inimigos da Religião Catholica.

Sempre accusações sem provas !


D' onde se infere tão grave im putação ?
A outrem que não aos Padres J esuitas referem-se as

(209) S . Cyprian . Epist . 53 .

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- 176 _...

seguintes palavras do Santissimo Padre : « De ·muito boa­


mente tomámos conhecimento de cada uma das circumstan­
cias dos factos relativos a todo o eontlie\o do Episcopado
brasileiro contra o maçonismo, factos não levemente obscu­
recidos por aquelle que a N6s viera tractnr deste negocio , e
cuja sinceridade os aco ntec iment os posteriores vieram ainda
mais claramente manife.�tar. » (!10)
Não nos provaram que os Jesuitas houvessem apresen­
tado os ministros, todos ou em parte> como maçons ; nem
nós tão pouco o sabemos. Qual , porém , seja a verdade
acerca do maçonismo de alguns Exms. ministros , vós bem
a conheceis , Irmãos e Filhos muito amados.
A du pla razão allegada neste con�iderando , que acabamos
de analysar , é, como vistes , Filhos carissimos , futil a mais
não ser, e nunca poderia servir de fundamento para a
deportação dos Padres Jesuilas, nem rnesn1n quando exae­
tas fossem as accusações articuladas contra elles.

6 . RAZÃO.
ª

« Considerando que taes conceitos t�m sido , por mais de


uma vez , manife.-: tados do pulpito a pessoas simple., e ig no­
rantes , expondo d' est' arte º ·' agentes do governo ao odio e á
execração das turbas fanaticas . »
Mas , quando , em que parte do Bispado de Pernambuco ,
em que cidade , em que igreja, em que pulpito se deu
e ste facto ?

{210) Pe rlibenter didiciinus sin gula factoru m o.dj u ncta, qure de toto Bra·
silien�i� Episeop 1tu� co nftictu adversus masson i s 1nu1n non levi ter obscu·
rata fuerant ab ili o, q ni hac d e re acturns ad Nos venernt et euj us ftdem
posteriora lacta eladus e tiam oste n d erunt . (Letr . Apostol . de Maio de 1874. )

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- 1 77 -

Que é das provas ? Onde estam as testemunhas. ? onde os


documentos ?
Que os Padres Jesuitas tenham fallado contra a Maço­
naria, assim como tem fallado e escripto o vosso humilde
Pastor, e em Deos espera continuar para premunir as suas
querid� ovelhas , não duvidamos ; que hajam elogiado o
procedimento dos Bispos perseguidos, tambem acreditamos.
O que , porém , não podemos admittir e até cremos ser ver­
gonhosa caluronia, emquanto não nos exhibirem provas
irrefragaveis, é que tenham elles pré gado contra os agentes
do governo (a menos que estes agentes sejam as Lüj as Ma­
çonic�s) expondo-os d' est'arte ao odio e á execração das
turbas fanaticas.
A razão allegada neste cons ..derando basea-se n' uma
imputação inteiramente gratuita, e não fundamentada ;
portanto, emquanto não nos provarem o contrario , não
poderá ella j ustificar a violenta expulsão dos Jesuitas.

7 . RAZÃO.
ª

« Considerando que os sobreditos padres j esuítas se hão


constituido , nesta diocese, o centro de todo o poder eccle­
siastico , a ponto de manterem frequente correspondencia
com grande numero de parochos e clerigos qué lhes prestam
céga obediencia, e de serem encarregados pelo proprio Bispo
de aconselhar e animar os governadores e auctoridades
ecclesiasticas na luta que. diz elle , vai recrudescer. »
Que estupenda aecusação f
Os Jesuitas se hão constituído, na Diocese de Pernam-

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- 1 78 -

bueo, ce11tro de todo o poder ecclesiastico 1 Os Parochos


e os demais clerigos lhes prestam cega obediencia 1
Mas, ainda uma vez perguntamos, onde estam as p rovas
d'isto ?
Admira, pasma, causa assombro a facilidade e calma
com que se fazem 1mputações tão graves , se accumul�m
accusações, cada qual a mais pesada, em um documento
publico, offi,c ial , e nem sequer UMA SO' PROVA se declina 1
Quem é o centro da Auctoridade ecclesistica na Diocese
de Olinda 1
Não será aquelle que deixamos em nosso lugar ?
Quem dá dispensas matrimoniaes ? quem despacha outras
dispensas e licenças ? quem nomêa ou demitte os Parochos
e Coadjuctores ? quem lhes confere ou tira as faculdades ,
a elles e aos demais sacerdotes 1
Não é o Governador do Bispado , delegado nosso ?
Como então se ousa affirmar offi,cialmente o contrario ?
Nunca nos constou que os Padres Jesuitas houvessem
exercido semelhantes poderes. Se , porém , tal fizeram , o
que é inverosimil , desde já declaramos n ullas , irritas , de
nenhum effeito , todas as dispensas, todas as nomeações,
1odas as demissões , todas as faculdades por elles conferidas.
�Ias , pedimos instan temente que se nos cite um só desses
actos praticados pelos Padres Jesuitas 1
Dizer que elles se hão constituido o centro de ·t o do o poder
ecclesiastico e que os Parochos e demais clerigo s lhes pres­
tam cega obediencia é calumniar escandalosamente a uns e
outros !
Desafiamos a quem quer que seja a provar-nos o con-
/

trari o f

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- 179 -

Um dos crimes dos Jesuitas é terem correspondencia


com os Parochos 1
Ora, sendo missionarios esses venera.n dos sacerdotes,
recebendo convites dos Parochos para irem prégar em suas
respectivas freguezias, devendo responder-lhes - sim ou
não - , que admira tal correspondencia?
E desde quando no Brazil , ou em parte alguma do
mundo , receber cartas e responder é crime, e � rime de
banimento ?
Com e ffeito 1 E' incrivel f 1 1
Outro delicto dos Jesuitas é o lhes havermos pedido
aconselhassem os Governadores, e orassem por elles, na
lucta que ia recrudescer.
Já mostrámos que dar e receber conselhos nunca foi
crime de ser puni do com pena de dep ortação .

Além disto , aquelle mesmo pedido fizemos a varios


outros sacerdotes brasileiros da nossa Diocese que mais
se nos recommendam pelas suas luzes, prudencia, expe­
riencia e pureza de costumes.
E seria preciso ser aguia para conhecer que a lucta
ia recrudescer ?
Se muito antes , quando se pro pal ava que a questão re­
l i g i osa ia afinal ter paradeiro , que o governo ia volver ao
bom caminho , visto como mandava pagar os atrasados
vencimentos dos Parochos e dos Lentes do Seminario,
nunca tal acreditámos, e sempre avaliámos isto tactica
semelhante á da serpente que simula recuar, e se enrosca,
para melhor atirar o bote fatal ; com maioria de razão
assim pensavamos, depois do dia 6 ae Novembro do anno
passado_, quando os jornaes annunciaram· que os Gover-
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- 180 -

nadores do Pará e O lin da iam ser intimados para levan­


tarem os interdictos.
Nada mais natural que desde então previssemos pro­
cessos, eo n de mnações d eportações e o a tras arbitrariedades
,

com qu e sóe impOr-se · o direi to da força ; e assim ann un ­

ciassemos que a lucta ia recrudescer, qu a n do ella j á estava


recrudescendo.
A razão, Irmãos e Filhos dilectissimos, consignada
neste considerando , es trib a se pois sobre o fundamento in
- ..

consistente de um a ealumnia revoltante, que nem ao men os •

visos de verosi m ilhança apres e n ta .


Decidi se póde ella auctorisar a de portação de Padres ,
além de innocentes , recommendaveis a todos os titulos.

...
8.• RAZÃO

« Considerando que é publico e notorio , e d ep reheo de ­

se da leitura dos documentos citados sob os ns. 8 a 1 1 ,


que os mencio n ados padres Jesuítas c oncebera m o plano
de um movimento sedicioso, que devia ser dirigido pelo
padre Ibiapina, a quem se insinuou que , sob o pretexto \

de vir buscar uma imagem em S . Lourenço da Matta,


devia arrastar após si o povo do sertão , o que não se levou
a effei to, óu porque o padre lbiapina não se quizesse
prestar a isso , ou p orque , como mandou dizer o Jesuita
padre Onorati , aquelle sacerd ote com os seus 70 anno s e
,

en fe rm idades era agora mais proprio p ara cuidar do governo


de :Soas vinte casas do que de outras m issõ es » .

Esta razão é gra vi ssim a f


1 .0 Os Padres Jesuitas conceberam o pl ano de um
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- 181 -
movimento sedicioso , que devia ser dirigido pelo Padre
lbiapina.
2·. º Este Padre , a pretexto de ir buscar uma imagem
em S. Lourenço da Matta , devia arrastar após si o povo
do ser�o .
3.0 Isto é publico e notorio e deprehende-se da lei'ura
dos documentos ns·. 8 , 9 , 10 e 1 1..
Tal é o que diz a peça offe,cial I
De nossa parte garantimos que para nós taes oousas
nunca foram publicas e notarias ; porquanto d' ellas só
tivemos noticia , quando lemos a Portaria· de 21 de
Dezembro do anno proximo passado .
Vejamos porém se isto se deprehende dos quatro do.­
cumentos mencionados.
O 8° documento a que se allude a este respeito diz o
seguinte :

« Quanto ao pedido que V . Revm . me inculcou tão re­


pe tidas vezes , que eu faça áquelle santo varão , padre
Ibiapina, se elle vier cá não o deixarei ; porém duvido
mui·to que elle venha, por varias razões que élle nestes
ultimos dias deu , em resposta á uma minha que lhe escrevi
solicitando a &ua v i nd a . Parece-me que , cansado por seus
grandes trabalhos na vida de missionaria, com sua idade
de 70 annos , queira mais cuidar do governo de suas vinte
casas , que de outras missões . »

A palavra missão, é verdade , póde ter dous sentidos :


1

ou o sen tido de encargo , incnmbencia , ete, ou o de praticas ,

prégações de Missionario .
Ora, mette-se pelos olhos aos mais myopes que a palavra
missões, aqui empregada no plural, depois de se haver falia.do

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- 182 -
em santo varão cansado por seus grandes trabalhos na vida
de MISSIONARIO, só póde ser tomada na segunda
aceepção ; e que a ida do Missionario padre lbiapina á
Baixa Verde e a S . Lourenço tinha por fi m prégar missões.
Este é que é o sentido obvio e verdadeiro da palavra mis­
sões empregada pelo padre Onorati ; e por m ai s que se es­
forcem por contorcei-o e envenenai-o, cada vez mais
patente se· torna elle do contexto dos tres seguintes do­
cumentos.
A gora� dizei , Filhos dilectissimos , deprehende-se deste
primeiro doeumeoto que os Padres Jesuitas houvessem
concebido o plano de uni movimento sedicioso , qtre devia ser
dirigido pelo padre Ibiapina '!
Deprehende-se d'ahi que o Padre l bia p i na sob pretex­ ,

to de ir buscar uma imagem em S. Lourenço da Matta,


devia arrastar após si o povo do sertão '!
De certo que não !
\7ejamos se tal se deprehende do 9° documento.
E i l-o :

« Será amanhã, porque ha portador, que hei de escrever


ao lbiapina, o qual acha-se em missão para as partes de
Garabira. Soube hontem que e11e me escreveo ; mas até
esta hora aioda não recebi essa carta, por estar o portador
demorado em Gravatá de Jaburú. Não me esqueço da
pretensão do meu amigo e neste sentido instarei com
elle afim de ver o meu amigo satisfeito ; mas desde já lhe
ad·v irto que faz-se necessario a ida do dito padre á Baixa­
Verde primeiro do que ahi em S . Lourenço. Convém
irmo-nos firmando acolá, de 1naneira que possamos (em­
bora a operação seja de tempo) , attingir o desideratum que

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- 183 -

almejamos. Em conclusão, declaro a V. Revma. que voo


empenhar-me com lbiapina para este ir a S. Lourenço,
apenas acabar a s a nta missão de Baixa-Verde . »
Este trecho, como estais vendo, caros Filhos, esclarece
ainda melhor o sentido já por demais obvio do antecedente ;
mas n e m de leve se póde cl'elle deprehender n e n h u m a das
pesadissimas accusações formuladas no documen to offecial.
Já l a vão dous documentos invocados de falso.
Examinemos o 1 0° documento.
« Um a carta do bacharel Souza Rangel , de 1 0 de Junho
ao padre Sottovia, na qoal se encontra o topico seguinte :
« Se já ti ver noticia da missão da Baixa-Verde não deixe
V. Revma. de communicar-me. »
Que prova este documento ?
Este documento nada, absolutamente nada, prova contra
os Padres Jesuitas ; prova, antes, e confirma o verdadei ro
sentido da palavra missão, prégação de �I_issionario.
Deprehende-se d' elle o que pretende a peça offeciaJ, '!
Não t E nem tão pouco do 1 1 º documento .
« Acabo de redigir, em nome da lTnião CatboJica, um

requerimento á Assembléa desta província, p edi ndo que


mande põr á disposição de D. Vital o producto dos dizimos.
Não espero resultado, e até receio que se abafe o reque­
rimento, mas desejo levar ao seio dessa corporação algum
estimulante e não me occorre outro. »
« Em outras cartas posteriores do referido bacharel ,
lê- se o que se se g u e : « Padre Negri me disse : « Cumpre
sahir, só ficariamos, se tivessemos familias que nos rece­
bessem nas condições que nos convem . » Não disse e nem

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- 1 84 -

posso saber quaes as condições a que se referio o amavel


padre Negri . Quaesquer que ell� sej am eu as aceito , por­
que o j ugo de Jesus é suave e o peso leve . f,omecei a
novena de S . João , e é proposito meu fazer apparecer o
retrato de D. ''ital sob docel , e muito sinto não ter o do
Bispo do Pará e o do Santissimo Papa , para os fazer
tambem apparecer. »

E' incrivel 1 Parece que se mofa do bom senso publico


e do criterio de uma Na�o catholica 1
Ora , dizei , Irmãos e Filhos da minha alma , poder-se-ba
j ámais inferir deste documento : 1 . º que os Padres Jesuitas
conceberam o plano de um movimento sedicioso ; 2 . º que o
Missionaria Padre lbiapina , a p retex to de ir buscar uma
imagem em S. Lourenr,o da Matta, devia arrastar após si
o povo do sertão '!
Entretanto que o affi1·ma o documento o(ficial I
O' tempora I O' mores !
Todo este considerando , que temos analysado , ê pois mais
uma calumnia, que de modo algum póde servir de razão
para deportar sacerdotes innocentes .
Investiguemos a ultima razão , que sem duvida ha de
ser a mais valiosa e melhor fundamentada ; talvez que no
ultimo consideratido encontremos a prova caba] , irrecu­
savel , esmagadora , de todas as accusações que foram arti­
.culad� pela peça ufficial e até aqui ainda não prov�das.
Desenganar-nos-hemos bem depressa.

9.ª RAZÃO.
« Considerando , finalmente, que a permanencia dos
padres JesuiW, nesta provincia é perigosa ao socego e á

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- 1 85 -
tranquilidade publica, e prejudicial aos interesses catho­
licos. »
! digna peça official quiz acabar como havia princi­
piado - sempre accusando e nunca ·provando !
Que deplorave1 systema !
Porque ao menos se não provaram estas ultimas accu­
sações ?
Se são os Padres Jesuitas perigosos á tranquilidade pu­
blica , se fazem revoluções , oh ! porque não foram respon­
sabilisados ? porque não foram j ulgados ? porque não
foram convencidos do crime de sedição ? porque não foram
confundidos com provas peremptorias , esmagadoras ?
J '

Ah 1 não o foram porque não podiam sei-o 1


ôs Jesuitas são prejudiciaes aos interesses cathol1:cos !
Só por escarneo isto se podéra escrever !
1

Em todo o caso mais j uizes são neste . Ponto os Pastores das


almas, do que leigos , e leigos maçons , os quaes, ao'passo que
se arvoram em zeladores, defensores , tutores do s interesses
catholicos , processam , condemnam , encarceram os Bispos
catholioos e seus delegados , incorrendo d'est'arte em pena
de excomun-hão lataí sententim.
A verdade , porém , é o contrario do allegado neste ultim o
considerando.
Os Padres Jesuitas , prégando aos povos paz e concordia
entre si , respeito e fidelidade aos poderes legitimamente
constituídos , submissão e obediencia ás 1eis do paiz , amor
e observancia dos m andamentos da lei de Deos e de sua
Igrej a Santa ; aconselhando no sagrado tribunal da Peni­
tencia a pratica das virtudes ci vicas e religiosas a velhos
e ma ncebos , a grandes e pequenos , a ricos e pobres, a sa-
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- 186 -

bios e insipientes ; educando christãmente a nossa infan­


cia e juventude, gravando-lhes bem fundo no animo os
principios de ordem , paz , justiça e dever ; ateando-lhes no
peito o sacro fogo do palrio e divino amor, só pod i am ser
utejs, e até necessarios, ao socego e tranquillidade publica
e aos interesses catholicos.
Mas , é que se tem medo do ensino catholico , ao qual se
acoima de ultramontanismo , jesuitismo, romanismo, etc .
Tarde , porém . comprehender-se-ha , talvez , o erro gra­
vissimo que se commetteu , ainda politicamente fallando.
O exemplo não é para animar a emigração de colonos catho­
licos, ou de qualquer estrangeiro, de que em alto gráo ha
mister a patria querida.
Em conclusão, esta ultima razão que deveria ser a chave
de ouro da argumentação o(ficial , não só . não justifica. de
modo algum a deportação dos Padres Jesuitas, mas até con­
demna-a como anti-religiosa e anti-social .

Ahi estam , Irn1ãos e Filhos dilectissimos , os autos da


corpo de delicto dos inclytos Padres Jesuitas . Examinámos
uma por uma todas as razões do banimento dt'sses ve­
ner.a ndos Sacerdotes , e qual dellas achámos funda­
mentada 1
.A.montoaram-se accusações sobre accusações, cada qual
mais pesada ; fi�eram-se imputações as mais graves,
recriminaçÇies calumniosas a innocentes sacerdotes estran­
geiros, e nem sequer o menor vislumbre de prova se
apresentou r

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- 1 87 -

E' o caso de repetirmos· dolorosamente com o Propheta :


A dvenam opprimebant calumnia, absque ju dicio 1 (! 1 1 )

A ssim se procedeu em negocio de tanta magnitude e tran­


scendencia ! Isto praticou-se em um paiz catholico , contra
sacerdotes catholicos , e por motivo da Religião catholica,
Religião do Estado 1
Sim ! por motivo da Religião catholica foram expulsos
de Pernambuco os Padres Jesuítas 1 E' o que se concl ue da
peça official ; é o· que d'ahi se torna patente , manifesto ,
claro , como á lnz do sol em pleno dia 1
Incontestavelmente a unica razão da violenta expulsão
d'aquelles preclaros ministros do Senhor , que não dobraram
o j oelho ante o grande ídolo da hodierna apostasia , - qui
non curvaverunt genua ante Baal (212) - foi terem elles
preferido acompanhar , ajudar , prestar o seu concurso aos
-

Bispos perseguidos no desempenho do Munas Pastoral , do


que favorecer pela inacção , silencio , abstenção , a obra ini­
qua da sacrilega Maçonaria ; foi antes haverem querido per­
manecer fieis aos principias catholicos , consagrados no Syl­
labus , do que abraçar , saltem tacíte, as subversi vas e i mpias
lheorias maçonicas , qoe importam vergonhosa apostasia
dos arraiaes da Igrej a de Jesus Christo .
Ora, sendo assi m , poderiamos , gaiado pela bussola da
logica , chegar desde j á á seguinte illação : a potente M a ­
çonaria , que , segundo disse um chefe da Maçonaria Bra ­
sileira , governou , governa e ha de governar no Brasil , {21 3)

(21 1) Ezech . 22 . 29.


(212) Ad. Rom . 11 . 4 .
(213) SJld anha Marinho . Discurso proferido n a Assembléa Maço nic�a de
27 de Abril de 1872, pag . 18 .

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- 188 -
cedo ou tarde, infligirá igual castigo aos demais Iesnitas
do lmperio , pois todos , sem excepção de um. só , tem por
divisa : - Potius mori qu am fmdari ; e bem assim a lodos
1

os demais sacerdotes estrangeiros, seculares ou regulares,


que. se conservarem fieis aos seus deveres de catholicos .
Nutrimos , porém , Irmãos e Filhos muito amados, a
lisongeira esperança de que tal nunca chegará a acon­
tecer .
Primeiro que tudo temos a firme confiança de que Aquelle
que traçou inviolaveis limites ao mar , oppoz-lhe dique in­
superavel , dizendo-lhe :-Até aqui chegarás , não passarás
além e aqui virão arrebentar-se as tuas vagas entumecidas;­
outro tanto fará com as ondas da impiedade ; e, quando , nos
inexcrutaveis arcanos de sua Sabedoria infinita, j ulgar
I

opportuno , com voz imperiosa, irresistivel , bradará tambem


á M açonaria : Detem-te 1 Usque huc venies et non procedes
amplius , et hic confringes tumentes fl,uctus tuos ! (214)
Confiamos, além disso , e comnosco todos os catholicos
brasileiros , que AquelJe, em cujas mãos impetiaes repousam
os destinos da cara patria, jámais , consentirá em tamanha
iniquidade , nem permittirá que a immensa maioria de seus
subditos mais fieis e dedicados seja privada dos auxilios
espirituaes desses zelosos e santos ministros d e Jesus
Christo.
Alimentamos a doce esperança de que , apenas o nosso
Augusto Monarcha chegue a convencer-se de que a Maço­
naria brasileira é tão infensa ao altar e ao throno , como a
de todo o m undo, fechando-lhe incontinente as avenidas do

(214J Job. 88 . 11.

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Poder, não só inhibirâ de que se realise a ousada ameaça
do chefe maconico acima mencionado, senão tambem im­
pedirá que se effectuem os tenebrosos planos da seita
anti-catholica.
Serão frustradas as nossas esperanças ?

IX

1'iremos agora , Irmãos e ·F ilhos dilectissimos , algumas


con élusões praticas ; fixe�os particularmente as nossas
vistas sobre tres pontos capitaes :
1 . º A Maçonaria. - Conheceis o fim da seita manhosa ;
conheceis-Jh ê os sacrílegos intentos ; conheceis as ciladas
que ella não cessa de armar aos incautos. Pois bem !
evitai-as com o maior cuidado .
A todos ora nos dirigimos, mas com especialidade a vós ,
ó homens illudidos , que j ulgais que a Maçonaria só con­
siste em beneficencias e banquetes ; a, vós , ó maçons, de
gráos inferiores, que. ignorando os segredos da seita, sup­
pondes que ella não. é hostil á Igreja, nem ao Estado.
Meditai bem , �editai profundamente, ó homens de boa
fé, nas seguintes palavras de um grande maçon :
« No alto da Ordem estam os homens perversos que não

desej am senão riquezas , dominação e gozo , e para os quaes


todos os meios são bons , com tanto que sirvam para con­
seguir o fim . �ais abaixo estam aquelles que j ulgam ter
alcança<lo o ultimo gráo, ernquanto que nem �equer tem su­
bido o primeiro degráo do templo que lhes é desconhecido.
« Em primeiro l ugar estam os enthusiastas que querem

propagar o reinado da razão, custe o que custar ; segue-se


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- 1 90 -

depois os limitados que se contentam em contribuir com a


bolsa para a obra eommum . Cada uma destas cathegorias
j ulga benevolamen te que é a chave da abobada de toda a
Ordem ; um Veneravel dos limitados não ficaria pouco
I

surprehendido , sabendo que acima delle estam os enthu-


siastas, e estes vos tratariam de impostor se pretendesseis
que elles mesmos não são mais que um Joguete dos in­
trigantes. » ('2 1 5)
.� inda uma vez vos recommendamos , meditai muito nestas
palavras , escriptas não por algum profarw, ignaro dos
arcanos da Maçonaria, senão por um maçon de alto gráo.
Se tendes , ó Filhos da minha alma , a ventura de não
ser filiados á seita impia, continuai a fugil-a,. como do maior
inimigo da Reli gião e do Estado . Se , porém , tendes a des­
dita de lhe estar ligados , ah ! rompei sem perda de tempo
as vossas ignominiosas cadêas l espedaçai , quanto antes,
os aviltantes grilhões que a ella vos prendem ! não deis
m ais um só passo avante 1 arrepiai carreira 1
Ouvi com attenção o sensato conselho que vos dá o mui
abalisado irmão Philon (o Barão de Kinigg) o mais famoso,
m ai.� instruido e mais activo chefe do lll uminismo no se­
culo passado
« Occupei-me , diz este alto personagem maçonico , por
tanto tem po destes obj ectos que ouso invocar a minha ex­
periencia , e posso , com conhecimento de causa; aconselhar
a todo o joven activo e laborioso , que não se aggregue a
nenhuma sociedade secreta, qualquer que seja o nome com
que se adorne.

(215) �emoria de Mar wilzt.


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« Na verdade, ellas não são todas rep rehensiveis no
mesmo gráo , mas são todas, sem dis\incção � inuteis ou
perigosas .
.

.-:< ·são inuteis ; porque , na époha em que vivemos , não

ha necessidade de escondt;r debaixo do véo ·do mysterio


qualquer doutrina . . .
« São perigosas e funestas ; porque todo o acto my�terioso

provoca suspeitas legitimas ;


« Porque aquelles que têm a missão de velar pelo bem da
sociedade civil , estão por isso mesmo encarregados de inda­
gar o fim de toda e qualquer socie.dade ; sem o que , de­
baixo do véo das trévas, se poderiam occultar planos peri­
gosos e doutrinas funestas , da mesma sorte que alli se
poderia mirar a fins vantajosos ;
« Forque os membros iniciados nem todos estão ao facto
das intenções perversas que muitas vezes se têm o cuidado
de dissimular debaixo das mais bellas apparencias ;
« Porque só os espíritos mediocres se deixam encerrar
neste círculo , ao passo que os homens �uperiores ou recuam
depressa, ou se abysmam e degeneram , ou seguem uma
direcção obliqua, ou finalmente se apoderam do do�inio á
custa dos outros ;
« Porque , ás mais das vezes, chefes desconhecidos se con­
servam por detraz da cortina, e é indigno de um ho!ll em de
intelligencia e de coração trabalhar na execução de um
plano que ignora , cuja bondade e importancia não lhe são
afiançadas senão p or homens que não conhece , com os
quaes contrahe compromissos sem reciprocidade, sem
saber de quem se deve queixar, pois que não ha ninguem
que se apresente como fiador ;

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- 1 92 -

« Porque intrigantes e vadios exploram estas sociedad es ,

impõe-se-lhes e l evam n as a parti lh ar suas idéas pessoaes ;


-

« Porque cada homem tem paixões que l eva eomsigo para


a associação , onde á sombra e debaixo do véo do segredo ,
ellas têm campo mais livre que á luz do dia ;
« Porque estas sociedades degeneram pouco a pouco , em
oo n se qn e n ci a da escolha que fazem dos seus membros ;
« Porqu e custam dinheiro e tempo ;
« Porque desviam dos negocios serios da vida civil , para
instigarem á preg ui ça ou á occupação sem fim ;
« Porque se tornam em breve um lugar de reunião para
todos os aventureiros e m andriões ;
« Po rque protegem toda a especie de fanatismo poli tico ,
religioso e philosophico ;
« Porque geram um perigoso espirito de associação e
lançam as .sementes dos m aiores males ;
« Porque , finalmente , são occasioo das conspirações, das
dissenções das perseguições da intolerancia e da injustiça ,
,

não só para com os irmãos associados , como tambem para


com bons maçons que não são membros da nossa Ordem ,
ou que não são partidarios do mesmo systema .
« E' esta a minha profissão de fé a respeito das socie­
dades sec retas . E haverá alguma dellas á que se não
possam fazer algumas destas accusações 1 » (21 6)
Eis abi bem poderosos motivos para que nin guem seja
maçon 1
A estas razões puramente naturaes e humanas, allegadas
por nm dos chefes da Maçonaria , accresc�ntai agora , Filhos
,

(216} Gyr . t . 1 . p . 251 a 254 .

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- 198 -

dilectissimos, a9 de ordem sbbteóamral, a pena de e�

ooinmunbão, por exemplo, ·fulminada pelos Romanos P.án­


tifta8 con,ra as sotcledldes maçoniras4
A.' •ista «&e tudo isto· cumpre-nos· eão só fug.ir da
Maçonaria� seaiQ &ambem esforçar.;.nos por neulralisaP­
llie á aeçtio dissolvente;, o ppor uma remorà, por todos ds
·

lbeios licitas e permi&titlos1 ao enrse· impetuosa de espirüe


·
ma çenlco fjoe 'udo ià:vade e ludo ameaoa destruit'. Elle já
penetrou nas escólas õe ins1tucção primatia; nos oollegios,
nas academias . na magistratura, nos tribunaes , nos par ..

lamentos e até nos goveruos.


Não é isto o que ora estamos vendo . n-0 mondo inteito ?
Por toda a pàrte o ar está oomo que impregnado deste
mito lethal ; de sorte qoe a pouco e pouco , ioseiiSitel­
mente ,. vamos bebendo· eom o ambiente que se res·pir� a
subtil peço n ha dos principias
maçonicas , eleme�io de deé­
orga·n isação, que produz inevitave!mente a morte e a
decomposição do oorpo soeial .
O patrio amor impõe-nos· a todos nós Brasileiros o OOlér
imprescindivel de empenharmo--nos em· preservar a nossa

cara pátria 00 in8Uto deleterio da Maçonaria e de· s�


prineipios corruptores ; porque ai· do paiz ob<le elles de­
miMm l

Coitado f « A hi a auctoridade cabe em avil tamentó ,- a


ttt agestade do throno· é· c·altada· aes pésf o trime fica im­
puwe·,. a pt&ptiedáde inYadi<t:a, � forçà pu�Iikr setn �ão ,
a inooeeotia· •ppriWnidat � jasêi� � vig4>l'. k»elos os
vi cios acatados ; as leis só são pl'-tlMilRadae "'� tafrér
dos qtM! as iteSf)8i1àm.
« �hi á· inatiga·� o· orptbo,, o i-Biertasê· "'tem e1mlobo

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- 194 -

aos prim eiros lugares do Estado , nelJes se sustentam pelo


-c rim e e i nj u stiça , abusam da· aúctoridade de que estam

revestidos , para desgraça de todos quan tos a ella recorrem .


« Apoderam-se dos capitaes pnblicos, dissi pam- nos em

�alariar facções , declamam contra antigos vicios , para


desviar as vistas dos inauditos flagicios que com n.etLem ;
cercam-se de todos os homens gastos pela crapula e pela
devassidão , de todos os bandidos afleitos a grandes crime s e
para quem. nada ha sagrado ; parece que punem com
exagerada se ver idade as faltas leves contra a orde m pu­
blica , e nem ao m eno s quererão examinar os crimes que
solapam as bases do Estado .
« Afugentam o credi to a fortuna publica, os melhores
,

cidadãos , os mais babeis artistas ; privam o Estado de todos


os soccorros e dizem que esiá regenerado , que goza de li­
berdade e · que todos são felizes .
« Os principios de moral são combatidos, a verdadeira
Religião é proscri pta para dar l u gar ao erro e á todas as

heresias ; os costumes se corrompem , o vicio frue das hon­


ras devidas á virtude , e dizem que a verdade voltou ao
m u n do , que a tocha da pbilo�phia illuminou os h om e n s ,

e que os phllosophos devem ser ho nrados como deoses , em


consequencia dos bens com que locupletaram o genero
humano.
« Os templos , dedicados á divindade, mudam de destino
e. são consagrados á philosophia para servir de pan theon ,
onde os ph i losopbos recebem as homenagens que lhes iri­
bnta a patria reconhecida.
« Exigem juramentos , perseguem desapied.a.damente ac.
que têm a delicadeza deJ não querer prestai-os, ao p�

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que i n fringem nos por brinquedo ou desprezam-nos . Bem


-

alto exalçam o nome de prob i dade e virtude , mas não têm


boa fé nem j ustiça. Tudo promettem e nada cumprem ; ( �

julgam -se obrigados por dever a esmagar as almas vir­


tuosas e favorecer , ·honrar os corações mirrados pelo habito
do crime cuj a existencia é c.arga para o Estado e obj ecto
,

de e x ecração para os cidadãos dedicados á felicidade


da patria .
« A ffecta-se destruir tudo o que pertence ao anti go re­
gímen , para substitnir-lhe novas instituições, i n finitarn e nte
mais dispendiosas ao Estado ; diz-se que só se de seja go­
vernar com as leis, e se i n frin gem todas ellas abertamente,
ou se permitte sejam violadas para opprimir aquell es cuja
virtude é censura que confunde os impios .
« Discursa-�se de modo o mais capaz de ill udir o povo
e encadear-lhe a força , ou obra-se em se gredo de maneira,

a fazei-o s u ccumb i r sob a oppressão do vicio ; porquanto


do gue nao é elle susceptivel desde que não ha mais
barreir:.L s que o �ontenham 1 . . .
« Parece que S . Pedro previo as insidias e seducções
de taes homens, quando disse : « Entre vós haverá falsos
.

doutores , que encobertamente introduzi rão seitas per v ersas


e negarão a Jesus Christo que os remio , attrahindo sobre
si repentina perdição. Muitos seguirão as impurezas delles ,
ap p rova rão as blasphemias que vomitarem contra o caminho
da verdade ; vos embairão com palavras fallazes e por
di n he i ro obterão o vosso co nsentime n to » ln vobis erunt
.

magistri mendaces, qu·i introducent sectas perditionis, et


eum qu·i emit eos Dominum negant, superducentes sibi
celerem perditíonem. Et multi sequentur eorum lux·urias ,

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- 1 96 -

per quos via veritatis blasphemabitur. Et in avaritia fletis


"mns de vobis negotiabuntttr. )) (!. Epist. !. 1-3 .) {!1 7)
Eis ahi o estado misero , d e plorave J , consternador , a que
ftea reduzido o paii ond e domina a Maçonaria f
Be1n diz o Espirito Santo que a j ustiça exalta as nações,
ao passo qne o peccado torna os povos desgraçados t (! 1 8)
Caro Brasil ! ó patria estremecida ! livre-te Deos de tão
lastimoso estado !

!.º Os Jesuitas.- Em s u a gnerr$ encarniçada a todas. ás


Ordens relig�osas , a seita perversa distingue sempre a inclyta
Companhia de Jesus por ser a qµe m�ior damno lhe causa,
� maiores empecilhos lhe põe á realisação de seus negre­
gados intentos.
Para destruir este forte baluarte da Igrej a Catholica a
Maçonaria não poupa esforços , não recua ante medida al­
g uma, não escolhe meios : todos são bons ! A mentira e a
calumnia , a aleivosia e a infamia, o ferro e o fogo , tudo,
tudo lhe serve para debellar o formidavel inimigo !
Estej amos, portanto , de sobre-aviso , Irmãos e Filhos ca­
rissimos ; não nos deixemos surprehender em nossa boa fé
elas fallaciosas asserções e ·perfidas cantilenas da seita
p
ardilosa ; nãQ sejamos tão faceis em acreditar accusações
sem provas, c;i,lumnias revoltantes , de que todos os dias
éstam sendo victimas innocentes os illustres Padres J esuitas.
Çom ;i historia na mão, com testemunhos insuspeitos,
com a confissão dos proprios inimigos e com a logiea . de­
monstrámos á s�ciedade que esses venerandos Sacé rdo'tes

(217) Le rranc. Oonjuration contre la Religion et les souverains. Cbap. II .


(2is1 � qstit�� elevat �e1;1tea ; pop�Qs auiem miseras facit peccatum .
Prov. 14:. 8 1 .

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- 197 -

têm sido sempre perseguidos por amor da Religião e pela


defeza dos direitos da Igrej a ; o que eada vez mais augmen­
ta-lhes o thesouro d� ·m erecimentos , realça.-lhes o esplendor
das virtudes , aprimora a corôa de gloria que nos Céos lhes
depara Aquelle que na terra lhes disse de modo todo espé­
cial , na pessoa de seus Apostolos e Disci pulos : « Beati estis
cum maledixerint vobis et persecuti vos fuerint , et dixerint
omne malum adversum vos mentientes, propter me . (219)

Vós os vistes e conhecestes bem de perto ; comvosco mo­


raram m uitos an nos ; pois bem , dizei , de que cri me algum
dia os achastes culpados 1
De nossa parte outra · cousa não podemos fazer f senão
confirmar o que , no seculo passado , dizia a respeito desses
conspicuos sacerdotes o grande Bispo de Santa A gatha .
« Sinto-me penetrado , escrevi a Santo Atronso de Liguori
ao Santissimo Padre Clemente XIII , da maior estima e con­
sideração para com a Companhia de Jesus , em virtude do
sum mo bem que fazem esses santos religiosos , pelos seus
bons exemplos e continuos trabalhos , nos lugares onde se
acham , nas escolas , nas igrej as, nas capellas de tantas
congregações que dirigem , não só pelas confissões, sermões
e exercicios espirituaes que prégam , senão tambem pelas
fadigas a que se sacrificam para sanctificar as prisões e
galés : eu mesmo posso dar testemunho do zelo delles , pois
tive occasião de admirai-o. » (220)
Eis o que não podemos de modo algum calar ; eis os
sentimentos que não nos é possivel abafar por mais tempo

(;219) Math. 6. 11.


(2'JD) Cart<i de 19 d e J u nho d e 176.> .

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no intimo do coração ; eis o solemne testemunho qoe o amor
da verdade e o imperioso dever de Pastor summamente
re conhecido e eternamente grato nos impelle m a dar aos
virtuosos padres J esuitas de Pernambu co, tão vergonho­
sàmente calumniados e persegu idos : Qui digni habiti sunt
pro nom·ine Jesu contumeliam pati. (221 )
Emquanto não nos declinarem provas incontestaveis, o

que jámais poderão fazer, das gravissi mas accusações que


tão levianamente articularam contra a cgregia Sociedade de
Jesus , con tinuemos, Irmãos e Filhos muito amados, con­
tin uemos a cereal-a de toda . a nossa estima e respeito ,
de todo o nosso amor e veneração ; e est.ej amos sempre
acautelados contra os ardis, insidias e alicantinas dà seita
maçonica , inimiga tradicional dos Jesu itas .

3 ." A Santa Sé Apo.;tol·ica.-A ' medida que cerra os seus


numerosos esquadrões e assalta a um só tempo a Igreja
por todos os lados , com uma uniformidade de acção admi­
ravel , a Maçonaria envida todos os esforços para estabe�
lecer a desunião e discordia nos arraiaes catholjcos ,
fomenta desavenças entre os lei gos , entre os ecclesia�ticos ,
e ten ta i ntroduzil-as até no seio do Episcopado , e assim
di vidi ndo , proc ura enfraquecer para vencer.
Cumpre- nos , pois, dilectos Filhos em Jesus Christo ,
cerrar tambem as nossas fileiras , evitar qualquer desmem­
bramento , para assim melhor resistirmos aos impetuosos ata­
ques das hostes adversas. Conservem-se os leigos bem liga-
. dos aos eeclesiasiicos , as ovelhas aos pastores , os fieis aos
parochos, estes ao seu Bispo , e todos nós perfeitamente

(221) Act. 5. 4:1.

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unidos de coração e de espiri to , de palavra e de obras a•


augusto Vigario de Jesus Christo , princ·ipe do côro Apos­
tolico , bocádos àiscipulos , columna da Igreja , �rme� da
fé , fu11damenlo da Religião . l2!2)
Uni�os a Pedro , que ora vive , falia e nos rege na pessoa
de Pio , seremos , qual formidavel exercito , bem _aguerrido ,
invencível ,. o espanto e terror dos nossos inimigos , a quem
sempre opporemos um peito de bronze : Terr ibilis ut cas­
trorum acies ordinata (223) : ao passo que delle separados ,
seremos exercito sem chefe , cujas phalanges são facilmente
desbaratad� ; seremos navio sem piloto , que torna-se o
joguete das ondas encapelladas ; seremos- corpo sem ca­
beça, que n�o póde subsistir .
.Acerque1no-nos todos nós da sagrada Cadeira de S . Pedro
que é , na elegante linguagem do grande luminar da ] �reja
de Carthago , o fóco da luz da fé , que se irradia por todo
o orbe ; o tronco da arvore frondosa da vida, cujos ram os
estendem-se até os mais longin quos limites da terra ; a
fonte crystallina d'onde deflue o rio caudal da graça ,
cujas aguas sal utiferas banham todas as regiões do
globo . (224)
Sim ! estreitemo-nos mais e mais á S anta Sé , não só
para sustentai-a , defendei-a dos assaltos e golpes sacri-

(22-J) S . João Chrvsost


..
. Homil . de decem m il l . ta l ent

(�) Cant. ô . 3 .
(2'2 i) Q u om o i o s o l i s mul ti rad i i , f ed l 11men u n u m ; t t ran1i arbo ri s
multi , sed robor unum tenace radica fu nd at u m ; et quum de fonte uno
.T1vi pi u ri m i deft u u n t, nume rositas lice t di ffu s a vide a tu r e x undn ntis
eopire J argi tate, u n !ta i tamen se rva t u r in origine . Avelle radium so l ia
a corpora divisionem lucis unitas n o n oa pit
.. . . . • S i c et Eoelesia Domini
luce pe r fusa , per o rbem tolum radios s u o s po rrigit . . . . Ramos su a s in
universam terram copia uberan tis e1 tendit, proftuentes Jarg iter rivos
latius expandit . (S . Cyp ri an de Unitate Eccles.)
.

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- !00 -

lagos do eamartetlo maçoni·eo , 1senlo tambem , e princi­


palmente , no propiio Interesse . Ah ! se perdessemos de
vista um instante aquelle ·fanai di·•ino , andariamos taete­
ando na temerosa escuridão do erro ; se nos destigassemos
d'aqnelle tronco celeste , ·m irrar-se�nos-hi& a alma, per­
dendo a seiva de sua vida ; se nos separassemo-s d'aquel1a
fonte perenne , immortal , estancando.:se-nos de snbito · os
regatos da graça , finar-nos-biamos á min gua dessas aguas
.
vivas que brotam para a vida eterna. ·(!!5)
Ah 1 Quem da Igrej a de Boma se desprende , vos dizemos
com o mesmo santo Doutor , para unir-se á adultera, sepa­
ra-se das divi nas promessas feitas á verdadeira Igrej a ,
não conseguirá j ámais as celesti aes recompensas ; porque
torna-se estranho e inimigo . (!26) Quem come o Cor­
deiro paschal fóra desta casa é profano , dlz S. Jeronymo ;
quem não estiver nesta arca de Noé ha de lnfa1lliv�lmente
perecer nas aguas do diluvió : Quicumque extra hanc domum
agnum comeder·it , profanus est. Siquis in Noe arca non

fuerit, per-ibit regnante diluvio. (2�7)


Quem de Roma se separa e se diz Catholico A postolioo
não romano, é simplesmente schismatico . Poderá ser pro­
testante , maçon , herej e , mas catholico , nunca 1 porquan to
nã o ha nem se póde comprehender Catholicismo sem Papa :
não tem a Jesus Christo por pai quem não presta obedi­
encia ao seu Vigario na terra , nem reconhece a sua Igreja

(2"25) Joa n . 4 . 14.


(226) Quisquis ab E�lesia segregatus adulter2 j un gitur, a promissis
Eeclesim separatur, nec pervenerit ad Christi pl'<Bmia . . . . Alienus est,
profanus est., hostis est. (S. Oyprian . de Unittlte Eccles . )
f2Z"I) Epist. XV ad Damasum .

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por mãi r Habere jtim non potefll Dewm patrem , qui Eccle­
siam non Mhet ·matrem . {!!8)
Eia, pois f « Quem não quizer ser herej e , nem por tal
pássar, apresse-se, quanto antes, em dar plena satisfação
á Santa Sé de Roma ; cumprido este dever , todos o reco­
nhe�erãD por toda a pane cwmo fiel e orthodoxo . Perde o
tempo em vans palavras aquelJe que esta obrigação não
desempenha e se não dirig� ao bemaventurado Papa da
Santissima lgrej� de Roma ; isto é, á Sé Apostolica , que
recebeu da pessoa mesm a do Verbo incarnado , como pro­
cl amam todos oa Concilios , p imperio , autori dad e e pode r
de l i gar e desl i gar tu do e por \oda a par&e , sem restricção
al guma, e que assim domina as vener�veis Igrejas disse­
minadas por todo o orbe. » (2!9)
Por conseguinte , Irmãos e Filhos da minha alma 1 tudo
sofJramos calmos e reslgna.dos ; poré m não nos �aparemos
j ám ais , nem sequ er um só momento, de Roma, centro da
un idade . Deixemos muito embora que nos cal umniem ,
deixemos que nos processem , dei xemos que nos ar rastem
4 barra dos tribunaes, deixem os que no s condemnem
injustamente, dei xem os que nos am on toem nas enxovias ,
deixemo� que nos levem para o de&terro, tudo sotlramos

(2�8) S . Cyprian . de Unit. EccJes .


(220) S i v u l t hrereticus non esse, nee audire . . • • . festi net prre om nibus
s.41 Romaam s·itisfacgre ; hac enhn sa$isfaicta, oomm\lniter ubique omne �
pium hunc et orthodoxum proodicabunt. Nam írnstra sol um1notlo loquit u r
qui. . n o n saUsf<lcit, et i mplorat 1an1:ti1slmm Romano rum Eoelesim
. •

l;>,atiesimum Papa1n . iJ est, Apo.stolicaQl Sedem. qure ab ipso i n carni\to


Dei Verbo. sed et om ll ibus sanctis synodis secundum sacros eanones et
krminos, nnivcrsar um qme in U>*o terraru.m orbe aupt, sanctarum Dei
Ecclesiarum in omn ibus et per om nia percepi t et habet imperium , aueto­
ritate m et potestatem ligand i et solvendl . (S . M.aximo de Constantinopla .
Epistolce fragmentum.)

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- !Oi -
alegres e de semblanie risonho por amor da Santa Igreja
de Roma ; mas , nunca nos desliguemos della, a unica�
v erdadei ra 1
Seremos invenciveis emquanto só empregarmos estar
resistenci a passi va .f
Se acaso pedirem-nos o sacrificio da propria vida, pelo
nosso apego á San ta Sé Apostolica, pela nossa fidelidade ao
l i gari o de Jesus Christo , pela nossa constancia na Religião
1

�aerosanta que sugamos com o leite m ate rno façamol-o.r ,

sim , façamol-o generosamente 1


Subamos j ubilosos, com pa� firme e reso l uto os de­ ,

gráos do cadafal so ; de joelhos , com os braços cmz ad os ,


mas com a fé viva, pura, intemerata, no sacrario do peito ,
estendamos placidamente o pescoço ao ferro do algoz ;
nunca, porém , consintamos em ser arrancados dos bra­
ços amorosos de n ossa Mãi estremecida e desve l ad a , a
sancta Igreja de Roma f
1 por amor della abandonemos o corpo áque ll e s que
Oh
só podem dar a morte ao corpo e n e nh um poder exercem
sob re a alma ; mas, co nse rvem o nos fieis a A quelle que
-

póde a um tempo matar corpo e alma 1 Nolite timere eos


qui occidunt corpus , animam autem non possunt occidere ;
sed potius timete eum qui potest et animam et corpus perdere
in gehennam I (230)
n os cumpre fazer, Irmãos e Filhos dilec ti ssi mos
Eis o que .

Agora diremos, com S. João Chysostomo a cada um dos


. .
,

inimigos da Igreja : « E tú, ó hom em , desengana-te , con-


vence-te, nada é m ais forte que a Igreja de J esus Christo :

(280) Math. 10. 28.

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Christi Ecclesia nihil (ortius. Faze paz com ella, não d eclara
guerra ao Céo. Se - pelejasses contra outro homem , igual
probabilidade terias de vencer ou ser vencido ; mas com -
batendo con,ra a Igreja jámais serás vencedor ; porquanto
Deós é mais forte que todas as creaturas juntas.
« Queremos nós rivalisar com o Senhor '! Em que lhe
somos superior 1 Quem tentará abalar o que elle estabeleceu
e firmou 1 Elle olha para a terra , e o seu olhar fal a tremer. -

Ordena, e consolida-se o que estava vacillando. Não foi elle


quem disse : « Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a
minha Igreja e as portas do inferno não prevaleeerão contra
ella 1 »
« Vê, quantos tyrannos já tentaram opprimil-a 1 quan­

tos comb�tes , quantas fogueiras, quantas féras , quantas


espada s agudas, quantas torturas ! Entretanto nada con­
seguiram 1 Nihil agere potuerunt r
« Onde estam esses inimigos tão numerosos e cheios de
poder 1 Estam para sempre sepultados no pó do esqueci­
mento !. E a Igreja ' . . . Essa resplandece mais que o sol
no seu zenith.» (!31}
« Os Imperadores pagãos Augusto , Tiberio, Caio, Nero ,

\7espasiano, Tito e os demais até o bem�ventu1ado Impe-


rador Constantino, todos sem exeepção perseguiram a Igreja,
uns eom mais outros com menos vehemencia . . . . . mas todas
as suas ciladas e ataques dissiparam-se com mais facili­

dade do que tei� de aranha : Facalius quam aranem telm


düsipati sunt.
« Ao p� que a Igreja ainda perdura, porque aquill o que

(181) Bomll . ante exllium .

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Jesus Christo edifico11 ningU8111 póde d68troir e o· que elle


destroe ninguem poderá edificar. Ediftoou a sna Igreja de
modo que pessoa Mg11ma jáma.ia· poderá des\roil-a. : Eài­
p,caw Bcclesiam ut nemo eam deslruere possit. » (�2)
Revelámos , dilectos Irmãos e Filbes em. Jesus Christo,
os p lanos e insidias, as trieas e alicantinas da Maç onaria;
aterrámos a �alumnia impudente e fizemos brilhar a i n no ­

cencia dos preclaros Padres Jesuítas injustamente perse­


guidos . Resta-nos o grande consolo , temos a mais intima
satisfação de h aver cumprido o nosso dever de Pastor
e de Pai estremecido 1
Faça-se agora a vontade de Deos !
Dada e passada em nossa prisão , na Fortaleza de
S . João , sob o signal e sello de Nossas armas , aos 28
de Março de 1875 , festa da RESURREIÇÃO DE NOSSO
SENHOR JESUS CHRISTO .

Lugar + do sello .

t Fa&r VITAL
Bispo de Olinda.

(�) Homil. Quod Ohristus sit Deus .


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E R RATA

Pg . 9-.2 lin . 21 :
procurar em vez de procura .

Pg . 115 lin . �8 :
conservaram-se em vez de coKS�avam-11 .

P g . 127 lin . 10 :
inà6clina•e em vez de inàeclinavel .

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