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ELE401 – Circuitos Magnéticos

CAPÍTULO I – CONCEITOS BÁSICOS

Esta propriedade é exibida pelas linhas de campo


1.1 INTRODUÇÃO em materiais homogêneos (composição uniforme).
Deve-se chamar a atenção para o fato das linhas
O magnetismo desempenha um papel importante procurarem ocupar a menor área possível.
em quase todos os aparelhos elétricos utilizados
A intensidade do campo magnético em uma dada
hoje, seja na indústria, comércio, em casa ou na
região é diretamente proporcional à densidade de
área de pesquisa.
linhas de campo nessa região. Na figura 1.1 a
As máquinas elétricas (transformadores, motores e intensidade do campo em “a” é maior que em “b”
geradores), disjuntores, aparelhos de TV, pois o número de linhas que atravessam “a” é
computadores, etc., empregam os efeitos maior do que “b” e as áreas de “a” e “b” são iguais.
magnéticos.
Se colocarmos um material não magnético (por
Um circuito magnético é aquele onde existe um exemplo o vidro ou o cobre) nas proximidades de
caminho para o fluxo magnético, de forma análoga um imã permanente, a distribuição das linhas de
ao circuito elétrico, que proporciona um caminho campo sofrerá uma alteração quase imperceptível.
para a corrente elétrica. Caso o material seja magnético (pro exemplo o
ferro), as linhas tenderão a passar pelo ferro e não
Os materiais magnéticos utilizados no
pelo ar, conforme a figura 1.2.
desenvolvimento de circuitos magnéticos
determinam as dimensões dos equipamentos, suas
capacidades, e introduzem limitações nos
desempenhos, devido a saturações e perdas. É
importante, portanto, conhecer suas características
e propriedades básicas, para possibilitar um
desenvolvimento mais econômico e adequado dos
diversos equipamentos.

1.2 CAMPOS MAGNÉTICOS

Na região do espaço em torno de um imã Figura 1.2 – Efeitos sobre as linhas de campo
permanente existe um campo magnético que pode
ser representado por linhas semelhantes às linhas Observação: As linhas de campo magnético
de campo associadas a um campo elétrico. buscam ser mais curtas possível e tomar o
caminho com maior permeabilidade.
Conforme a figura 1.1, observamos que as linhas
de campo magnético não começam e terminam em Uma das aplicações práticas deste fenômeno é a
cargas, mas formam curvas fechadas. construção de blindagens eletromagnéticas na
proteção de instrumentos elétricos sensíveis a
ação de campos magnéticos espúrios, conforme a
figura 1.3.

Figura 1.1 – Linhas de campo magnético em um imã


permanente

As linhas de campo se dirigem do polo norte para o Figura 1.3 – Efeito da blindagem eletromagnética
polo sul no exterior e do polo sul para o polo norte
Em torno de qualquer fio percorrido por corrente
no interior. As linhas estão igualmente espaçadas
elétrica existe um campo magnético (representado
no interior da barra e simetricamente distribuídas
por linhas circulares), conforme figura 1.4.
no exterior desta.

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ferromagnético (por exemplo o ferro, aço, cobalto)


no interior do enrolamento para concentrar as
linhas de campo. Ao introduzirmos um núcleo para
aumentar a densidade do campo, criamos um
eletroímã, conforme a figura 1.7. Este eletroímã,
além de apresentar todas as propriedades de um
imã permanente, produz um campo magnético cuja
intensidade pode ser modificada alterando-se um
Figura 1.4 – Linhas de campo nas proximidades de um
dos seus parâmetros (corrente ou número de
condutor percorrido por corrente espiras).

Ao formar uma espira com este condutor, as linhas


de campo terão a mesma direção e sentido no
centro da espira e o campo magnético nesta região
ficará mais intenso, de acordo com a figura 1.5.

Figura 1.7 – Eletroímã

1.3 INDUÇÃO ELETROMAGNÉTICA

1.3.1 Fluxo Magnético


Considere um campo magnético não uniforme de
módulo “ ” onde são colocadas três espiras,
Figura 1.5 – Linhas de campo em uma espira percorrida conforme a figura 1.8, a seguir.
por corrente

Um enrolamento com várias espiras produzirá um


campo magnético como o da figura 1.6.

Figura 1.8 – Espiras colocadas em um campo magnético

A espira 1 tem uma área “A1” e está colocada de


forma perpendicular ao vetor campo magnético de
módulo B1. A espira 2 tem uma área “A2 < A1” e
está colocada de forma perpendicular ao vetor
campo magnético de módulo B2, sendo B2 > B1. A
Figura 1.6 – Linhas de campo em uma bobina percorrida espira 3 tem uma área “A3 = A2”, porém está
por corrente posicionada de tal forma que existe um ângulo ""
As linhas de campo da figura 1.6 são bastante entre a normal à superfície e o vetor campo
magnético de módulo B3 (observar que B3 = B2).
semelhantes as de um imã permanente (figura
Pode-se perceber da figura 1.8, que:
1.1). A diferença mais evidente entre os dois está
na densidade das linhas de campo, muito maior no a) O número de linhas de campo que atravessa as
caso do imã. Assim o campo gerado pela bobina espiras 1 e 2 é igual, embora as áreas sejam
da figura 1.6 é mais fraco do que o campo gerado diferentes. Isto se deve ao fato do campo
pelo imã. magnético B2 ser mais intenso do que o campo
magnético B1 (devido a maior densidade de
Pode-se aumentar a densidade do campo
linhas de campo);
magnético inserindo-se um núcleo de material

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b) O número de linhas de campo que atravessa as S.I. CGS Inglês


espiras 2 e 3 é diferente, embora elas possuam
 1 108 Maxwell 108 Linhas
a mesma área e estejam colocadas em
posições de densidades iguais de campo 6,452 x 104
1 104 Gauss
magnético. Isto acontece porque a espira 3 está Linhas/pol2
inclinada em relação ao vetor campo magnético, A 1 m2 104 cm2 1,550 pol2
formando um ângulo “”; portanto, a sua área Tabela 1.1 - Conversão
projetada na perpendicular ao campo é menor
que a área real. 1.3.2 Lei de Faraday
Assim, pode-se dizer que, o fluxo magnético que Em 1831, o físico inglês Michael Faraday descobriu
atravessa uma espira corresponde ao número de o princípio da indução eletromagnética, através de
linhas de campo que passa pela mesma e depende diversas experiências. Estas experiências estão
do campo magnético B, da área “A” da espira e do sintetizadas no exemplo a seguir.
ângulo “” formado entre a normal à superfície da Considere uma espira circular cujos terminais
espira e o campo magnético. foram ligados a um amperímetro, fechando o
De uma outra forma, pode-se dizer que o fluxo circuito. Considere também um imã em forma de
magnético corresponde ao conjunto de linhas de barra se aproximando da espira, conforme ilustra a
campo magnético que emerge do pólo norte de um figura 1.9, a seguir.
imã e retorna ao pólo sul.
Matematicamente pode-se expressar o fluxo
magnético como sendo:
  B  A  cos  (1.1)
Ou ainda, de uma forma mais geral:

   B  n  dA (1.2)
A

Onde:

 = Fluxo magnético através de uma


superfície; Figura 1.9 – Espira fechada com um amperímetro
B = Vetor campo magnético;
Faraday verificou que, enquanto ele aproximava o
n = Vetor unitário normal à superfície; imã da espira, a agulha do amperímetro se
dA = Elemento de área de uma superfície. deslocava para um determinado lado (admitindo
que ele estivesse trabalhando com um
Dimensões do Fluxo Magnético  : amperímetro de zero central), o que significava que
havia aparecido no circuito uma corrente elétrica
No sistema internacional, a unidade de fluxo induzida. No momento em que Faraday parou de
magnético é o Weber (Wb). movimentar o imã, ele notou que a corrente através
do circuito se anulava. Em uma terceira etapa,
afastando o imã da espira, o físico inglês viu a
A unidade (Weber) pode ser expressa, também, agulha do amperímetro novamente se deslocar, só
como sendo: que para o lado oposto, sinal de que havia surgido,
outra vez no circuito, uma corrente induzida de
sentido contrário àquele com a qual ela havia
aparecido na primeira vez.
A tabela 1.1 mostra as conversões entre os Com base nesta e em outras experiências
parâmetros. realizadas, Faraday concluiu que:
“Sempre que houver variação do fluxo
magnético através de uma espira, surgirá nesta
espira uma força eletromotriz induzida (f.e.m)”.

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A este fenômeno dá-se o nome de “indução É importante observar, ainda, que o fenômeno da
eletromagnética”. indução também ocorre quando se mantém o imã
fixo e se movimenta o circuito fechado.
Da experiência desenvolvida por Faraday é
necessário destacar que, para que surja uma f.e.m. b) Variação do Fluxo pela variação da Área
induzida no circuito, não é necessário somente a
Considere um circuito fechado de área “A”
existência de um fluxo magnético através da
movendo-se no plano do papel sobre um campo
espira, mas sim o fato de que este fluxo deve variar
magnético uniforme e perpendicular à folha,
no decorrer do tempo.
conforme ilustra a figura 1.11, a seguir.
Assim, pode-se escrever matematicamente que:

(1.3)

Onde:
 = Fluxo magnético, variável com o tempo,
que atravessa o circuito.
e = Forca eletromotriz induzida no circuito (ou
espira).
Figura 1.11 – Circuito fechado entrando em um campo
magnético
1.3.3 Fatores que influem na variação do
Fluxo Magnético No instante em que o circuito passa a se
a) Variação do Fluxo pela mudança da intensidade movimentar, penetrando no campo, inicia-se o
do Campo Magnético aumento do fluxo no seu interior, pois ocorre uma
variação na área “A” imersa no campo magnético
Considere um circuito fechado fixo e um imã em (“A” varia com o tempo). Aparece então uma f.e.m.
forma de barra, conforme ilustra a figura 1.10, a induzida no circuito, esta f.e.m. dá origem a uma
seguir. corrente e consequentemente o amperímetro sofre
imã móvel uma deflexão.
Quando o circuito estiver totalmente imerso no
S
campo magnético, o fluxo através da área “A” não
N mais varia e, portanto, não há corrente induzida no
circuito.
c) Variação do Fluxo pela variação do Ângulo “”
Considere um circuito fechado imerso em um
B campo magnético uniforme de módulo “B”,
inicialmente na posição (1) perpendicular ao
circuito fechado campo, conforme mostra a figura 1.12, a seguir.
Figura 1.10 – Imã se aproximando de um circuito fechado
fixo

Na medida em que o imã se aproxima do circuito


fechado, ocorre o aumento da intensidade do
campo magnético e, portanto, há um aumento do n
n B
fluxo através do circuito (maior número de linhas O

de campo o atravessa). A variação do campo


magnético conduz a uma variação do fluxo
magnético (lembrar que   B  A  cos  ). Por outro
lado, o fluxo magnético variável faz surgir no (1) (2)
circuito uma f.e.m. induzida (lei de Faraday). Como
o circuito é fechado, irá circular neste uma corrente Figura 1.12 – Espira girando em um campo magnético
elétrica.

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Girando-se o circuito muda-se o ângulo entre a na bobina é denominada “f.e.m. de efeito


normal à superfície e o campo magnético. Nessas transformador”.
condições ocorre uma variação do fluxo através do
circuito. Esta variação produz uma f.e.m. induzida
e consequentemente haverá a circulação de uma 1.3.4 Lei de Lenz
corrente elétrica. Sabe-se que a intensidade da corrente elétrica
Observação: As análises anteriores podem ser originada pela variação do fluxo magnético, num
verificadas através das expressões (1.1), do fluxo circuito fechado, puramente resistivo, é dada por:
magnético e (1.3), da lei de Faraday.
e
d) Variação do Fluxo pela Variação da Corrente i (1a Lei de Ohm)
R
Considere um circuito fechado colocado próximo O estudo do sentido da corrente elétrica é
de um eletroímã em forma de barra, sendo ambos determinado pela Lei de Lenz, que diz o seguinte:
fixos, conforme ilustra a figura 1.13 a seguir.
“O sentido da corrente elétrica induzida é tal
i que seus efeitos tendem sempre a se opor à
variação de fluxo que lhe deu origem”.

ELET ROIMÃ
Desta forma pode-se escrever a Lei de Faraday
(expressa matematicamente pela equação 1.3),
como sendo:

(1.4)

A equação (1.4) corresponde à expressão


CIR CU ITO
matemática da “Lei de Lenz-Faraday”.
F ECHAD O

Figura 1.13 – Circuito fechado próximo de um eletroímã 1.3.5 Lei de Lenz-Faraday


Enunciado: “Sempre que houver variação do
Para uma corrente “i” variável injetada na bobina
fluxo magnético através de um circuito surgirá
do eletroímã, corresponderá um fluxo magnético
neste uma força eletromotriz induzida. Se o
variável que irá envolver o circuito fechado. Este
circuito for fechado circulará uma corrente
fluxo variável dará origem a uma f.e.m. induzida (lei
induzida cujo sentido será tal que tenderá a se
de Faraday) e consequentemente uma corrente
opor às variações do fluxo que lhe deu origem”.
elétrica irá circular no referido circuito.
Expressão Matemática:
Dos quatro casos analisados anteriormente pode-
se concluir que:
- A variação do fluxo causada, ou por mudança
na intensidade do campo magnético, devido a Onde:
aproximação relativa entre o imã e o circuito
 = Fluxo magnético, variável com o tempo,
(caso “a”); ou por variação da área do circuito que atravessa o circuito.
(caso “b”); ou ainda por variação do ângulo “” e = Forca eletromotriz induzida no circuito (ou
(caso “c”), produz uma f.e.m. induzida no espiral).
circuito fechado. Esta f.e.m. é induzida por Sinal = Retrata a oposição ao fluxo de origem
efeito de algum tipo de movimento. Desta (-) (Lei de Lenz).
forma ela é denominada “f.e.m. de
movimento”.
- A variação do fluxo causada por variação na
intensidade da corrente, considerando o
eletroimã e o circuito, fixos (caso “d”) produz
uma f.e.m. induzida no circuito fechado. Esta
f.e.m., que é induzida, não por efeito de
movimento, mas sim pela variação da corrente

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1.4 FLUXO ENLAÇADO Considere agora o fluxo enlaçado com a bobina da


figura 1.16, a seguir.
Considere a barra de ferro da figura 1.14, a seguir,
envolvida por uma bobina de “N” espiras. a e b
e1 e2 e3
N

O N=3

i a b
Figura 1.16 – Fluxo enlaçado com uma bobina
Figura 1.14 – Barra de ferro com N espiras

Para uma corrente “i” injetada no terminal “a” Se o fluxo “” for variável com o tempo tem-se,
obtém-se um fluxo “” no material ferromagnético. através das leis de Lenz e Faraday, que:
Na figura 1.14, este fluxo “” enlaça ou concatena d
as “N” espiras da bobina. Assim, pode-se definir e1   (1.6)
dt
que:
  N d
(1.5) e2   (1.7)
dt
Onde:
d
 = Fluxo enlaçado ou concatenado e3   (1.8)
dt
   Weber  espira  ou Wb  esp 
Compondo, agora, as equações (1.6), (1.7) e (1.8),
Portanto, “” corresponde ao fluxo que enlaça ou vem:
envolve as “N” espiras da bobina.
d d d
A figura 1.15, a seguir, apresenta outros exemplos. e  e1  e2  e3     (1.9)
dt dt dt
(1)
Ou ainda,
d
(2)
e  3  (1.10)
dt
Para uma bobina de “N” espiras obtém-se:
o2 d
o1 e  N  (1.11)
dt
(3) Ou de outra forma:
(4) d (N  )
e (1.12)
dt
Figura 1.15 – Fluxos enlaçados ou concatenados
Com   N   (ver equação 1.5), pode-se
Na figura 1.15 pode-se observar que: escrever que:

1  3  1  fluxo enlaçado com a bobina (1); d


e (1.13)
dt
 2  2   2  fluxo enlaçado com a bobina (2);
Sendo “” o fluxo total enlaçado ou concatenado
 3  1   2  fluxo enlaçado com a bobina (3); com a bobina.

 4  4   2  fluxo enlaçado com a bobina (4).

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1.5 INDUTÂNCIA PRÓPRIA equivalente da figura 1.18, a seguir.

A indutância própria é também chamada de auto-


indutância. Para entender o seu significado,
considere inicialmente a bobina de “N” espiras com
corrente “i”, da figura 1.17 a seguir.
N

Figura 1.18 – Circuito Elétrico Equivalente


i
Da equação (1.14) tem-se que a indutância própria
a b apresenta a seguinte dimensão:
Figura 1.17 – Bobina de “N” Espiras com Corrente “i” ∙
A corrente “i” passando pela bobina de “N” espiras è
dá origem a um fluxo enlaçado “”. Em É importante observar também que, pela definição
determinadas condições pode-se dizer que existe a indutância corresponde a uma constante de
uma proporcionalidade entre esta corrente e o fluxo proporcionalidade entre o fluxo enlaçado e a
enlaçado por ela produzido. Esta constante de corrente que o produz. Isto não é verdadeiro no
proporcionalidade é denominada “indutância caso de materiais ferromagnéticos onde, devido a
própria da bobina”, e é normalmente representada saturação, a indutância pode apresentar valores
pela letra “L”. Desta forma, pode-se escrever que: variáveis com a corrente.
 De uma forma geral, pode-se dizer que a
L (1.14) indutância própria de uma bobina depende: das
i
dimensões, do número de espiras e do meio onde
Ou ainda, se encontra esta bobina.
  L i (1.15)
1.6 INDUTÂNCIA MÚTUA
Como   N   , em (1.14), vem:
Para entender o significado da indutância mútua,
N  considere a configuração com duas bobinas
L (1.16)
i apresentada a figura 1.19, a seguir.
Considere agora uma corrente variável com o
tempo sendo injetada na bobina de “N” espiras da
figura 1.17. Pode-se escrever que:
d di
 L (1.17)
dt dt
Através da lei de Lenz-Faraday, tem-se:
d
e (1.18)
dt
Figura 1.19 – Configuração com Duas Bobinas
Levando (1.18) em (1.17), obtém-se:
di A indutância mútua retrata o efeito de uma bobina
e  L  (1.19) com corrente, sobre uma ou mais bobinas
dt
adjacentes. Na figura 1.19, tem-se uma corrente
Portanto, da equação (1.19), observa-se que há “i1” passando pela bobina de “N1” espiras. Esta
uma queda de tensão na bobina, como efeito de corrente “i1” dá origem a um fluxo enlaçado com a
sua indutância própria. Este comportamento pode bobina de “N2” espiras, de valor “21”, ou seja:
ser representado através do circuito elétrico

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 21  N 2   21 (1.20) apresenta a seguinte dimensão:



Onde,
è
 21 = Fluxo magnético da bobina (2), produzido
pela corrente i1; Da mesma forma que a indutância própria.
N2 = Número de espiras da bobina (2).
É importante observar também que, pela definição
a indutância mútua corresponde a uma constante
Em determinadas condições, existe uma de proporcionalidade entre um fluxo enlaçado e a
proporcionalidade entre a corrente “i1” e o fluxo corrente que o produz. Isto não é verdadeiro para o
enlaçado (“21”), por ela produzido. Esta constante caso em que o meio entre as bobinas é constituído
de proporcionalidade é denominada indutância por materiais ferromagnéticos, onde as indutâncias
mútua entre as bobinas 2 e 1, e é normalmente mútuas podem apresentar valores variáveis com as
representada por M21. Desta forma, pode-se correntes, em função da saturação.
escrever que: De uma forma geral pode-se dizer que a indutância
 21 mútua entre duas bobinas adjacentes depende: da
M 21  (1.21) distância entre as bobinas, das dimensões físicas
i1 das duas bobinas, do número de espiras em cada
bobina, e do meio considerado.
Ou ainda,
 21  M 21  i1 (1.22)
1.6.1 Convenção do Ponto
De (1.20) e (1.21), tem-se:
A convenção do ponto tem por objetivo a definição
 21 do sinal do termo relativo à indutância mútua.
M 21  N 2  (1.23)
i1 A polaridade da indutância mútua depende dos
aspectos construtivos do circuito. A convenção do
Considere agora uma corrente “i1” variável com o ponto elimina a necessidade de descrever os
tempo sendo injetada na bobina (1), da figura 1.19. aspectos construtivos.
Pode-se escrever que:
Para se definir a polaridade deve-se proceder
d 21 di como:
 M 21  1 (1.24)
dt dt a) Adotar um sentido para a corrente em uma
das bobinas do acoplamento e colocar um
Através das leis de Lenz e Faraday, tem-se que:
ponto no terminal onde a corrente adotada
d 21 ENTRA no enrolamento.
e2   (1.25)
dt
Levando (1.25) em (1.24), obtém-se:
di1
e2   M 21  (1.26)
dt
Portanto, da equação (1.26), observa-se que há
uma tensão induzida na bobina (2), como efeito da
circulação de uma corrente variável com o tempo b) Com a regra da mão direita, determinar o
na bobina (1). Esta tensão induzida depende da sentido do fluxo gerado pela corrente
indutância mútua entre as duas bobinas (M21). adotada.

De forma análoga pode-se analisar a influência da


passagem de uma corrente “i2” pela bobina (2),
sobre a bobina (1). Neste caso, tem-se uma
indutância mútua M12 cujo valor é idêntico ao da
indutância M21, anteriormente descrita.
Da equação (1.21) tem-se que a indutância mútua

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c) Colocar no outro enrolamento o fluxo que


deve, SEMPRE, se opor ao fluxo inicial (Lei
de Lenz).
di1 di 2
e2  M e1  M
dt dt

Figura 1.21 – Convenção de Pontos

d) Utilizando a regra da mão direita,


determinar o sentido da corrente que circula di1 di 2
e2  M e1  M
pelo enrolamento. Com o sentido da dt dt
corrente determinado, colocar um ponto no
terminal onde a corrente SAI do
enrolamento. Figura 1.22 – Convenção de Pontos

Seja a figura 1.23 a seguir:

Com a polaridade dos enrolamentos definida, pela Figura 1.23 – Bobinas em Série
marcação de pontos, o núcleo dos enrolamentos
não precisa mais ser desenhado e o circuito passa A convenção de pontos para indutores conectados
a ser representado como mostrado a seguir. em série, com pontos se somando, a indutância
total (polaridade aditiva) será:
L  L1  L2  2 M (1.27)
Para indutores conectados em série, com pontos
opostos, a indutância total (polaridade subtrativa)
será:
Figura 1.20 – Polaridade das Bobinas
L  L1  L2  2 M (1.28)
Portanto, para um par de bobinas acopladas o sinal
do termo relativo à indutância mútua fica definido 1.6.2 Coeficiente de Acoplamento
da seguinte forma: Na figura 1.19, a corrente “i1” na bobina (1)
1) Quando as correntes assumidas nos estabelece um fluxo magnético total “1”. Parte
enrolamentos entram ambas ou saem deste fluxo total atravessa a bobina (2), mais
ambas dos terminais marcados, o sinal do precisamente a parcela “21”. A relação entre a
termo M será positivo. parcela de fluxo magnético “21” e o fluxo total “1”
é denominada coeficiente de acoplamento (K) e
2) Quando uma corrente entra e a outra sai pode ser expresso por:
dos terminais marcados o sinal do termo M
será negativo.  21 12
K  (1.27)
Assim, a polaridade de referência de uma tensão 1  2
mútua depende da direção de referência da
corrente induzida e os pontos nas bobinas Da expressão (1.23) tem-se que:
acopladas.  21
A aplicação da convenção de pontos pode ser
M 21  N 2 
i1
ilustrada conforme as figuras a seguir.

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De forma análoga pode-se escrever que: 05) Quais são as unidades de fluxo magnético
normalmente utilizadas?
12
M 21  N1  (1.28) 06) Fale sobre a experiência realizada por Michael
i2 Faraday.
Como M12=M21, tem-se: 07) Qual é o significado da lei de Faraday?
M 12  M 21  M 2 (1.29) 08) O que é uma f.e.m. de movimento? Onde se
aplica? Dê exemplos.
E ainda,
09) O que é uma f.e.m. de efeito transformador?
      Onde se aplica? Dê um exemplo.
M 2   N 2  21    N 1  12  (1.30)
 i1   i2  10) Qual é o significado da lei de Lenz?

Levando (1.27) em (1.30), vem: 11) Qual é o significado de fluxo enlaçado?


12) Dê exemplos de fluxos enlaçados com
      bobinas.
M  K   N 2  21    N 1  12 
2 2
(1.31)
 i1   i2  13) O fluxo enlaçado tem o mesmo significado que
Ou ainda, o fluxo concatenado?
14) O que é a indutância própria de uma bobina?
     
M  K   N1  1    N 2  2 
2 2
(1.32) 15) Qual é a relação entre a indutância própria e o
 i1   i2  fluxo enlaçado?
Como, 16) O que você entende por indutância mútua
entre duas bobinas?
1
L1  N1  (1.33) 17) Qual é a unidade da indutância própria?
i1
18) Qual é a unidade da indutância mútua?
2
L2  N 2  (1.34) 19) O que é o coeficiente de acoplamento?
i2
20) Qual é a relação entre a indutância mútua de
Temos que: duas bobinas e as suas respectivas auto-
indutâncias? Faça uma dedução matemática.
M  K  L1  L2 (1.35)
1.8 PROBLEMAS PROPOSTOS
Onde:
Resolva os seguintes problemas:
01) Considere um fluxo magnético de 3000 linhas.
K = Coeficiente de acoplamento;
Calcule seu valor em Weber.
L1 = Indutância própria da bobina (1);
L2 = Indutância própria da bobina (2); 02) Qual é a densidade de fluxo em Tesla quando
M = Indutância mútua entre as bobinas (1) e (2). existe um fluxo de 0,0006 Wb através de uma
área de 0.0003 m2?
1.7 PERGUNTAS PROPOSTAS 03) Determine a polaridade magnética do
eletroímã da figura a seguir (utilize a regra da
Responda as seguintes perguntas: mão direita):
01) O que é um circuito magnético? Onde são
utilizados?
02) Porque é importante o estudo de circuitos
magnéticos?
03) O que se entende por fluxo magnético
atravessando uma espira?
04) Do que depende um fluxo magnético? 04) O fluxo de um eletroímã é de 6 Wb. O fluxo

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ELE401 – Circuitos Magnéticos

aumenta uniformemente até 12 Wb em um pelas seguintes variações de fluxo:


intervalo de 2 s. Calcule a tensão induzida
(a) 0,4 Wb aumentando para 0,6 Wb em 0,1 s;
numa bobina que contenha 10 espiras, se a
bobina estiver parada dentro do campo (b) 0,6 Wb diminuindo para 0,4 Wb em 0,1 s;
magnético. (c) 4000 linhas de fluxo aumentando para 5000
05) No problema anterior, qual é o valor da tensão linhas em 5.10-6 s;
induzida se o fluxo magnético permanecer (d) 0,4 Wb constante durante 0,1 s.
constante em 6 Wb após 2 s?
12) Em um par de bobinas acopladas, a corrente
06) Um imã permanente desloca-se dentro de uma contínua na bobina (01) é de 5 A e os fluxos
bobina e produz uma corrente induzida que
correspondentes 11 e 21 são,
passa pelo circuito da mesma, conforme figura
respectivamente, 20000 e 40000 Maxwell.
a seguir. Determine a polaridade da bobina e o
Sendo N1 = 500 e N2 = 1500, os totais de
sentido da corrente induzida.
espiras, determinar L1, L2, M e K.
13) Duas bobinas L1 = 0,8 H e L2 = 0,2 H tem um
coeficiente de acoplamento K = 0,9.
Determinar a indutância mútua entre elas, bem
como a relação N1/N2.
14) Duas bobinas cujas respectivas auto
indutâncias são L1 = 0,05 H e L2 = 0,20 H têm
coeficiente de acoplamento igual a 0,5. A
bobina (2) tem 1000 espiras. Sendo
i1  05  sen 400  t  A, a corrente na bobina
07) Uma bobina de 100 espiras, com auto (1), determinar a tensão na bobina (2) e o fluxo
indutância de 10 H, é percorrida por uma máximo estabelecido pela bobina (1).
corrente de 5 A, que tem uma taxa de variação 15) Duas bobinas têm coeficiente de acoplamento
de 200 A/s. Calcular o fluxo enlaçado com a igual a 0,85 e a bobina (1) tem 250 espiras.
bobina e a f.e.m. induzida na mesma. Com i1 = 0,2 A na bobina (1), o fluxo total 1 =
08) Uma bobina tem uma indutância própria igual 0,0003 Wb. Reduzindo-se i1 linearmente até
a 5H e corrente “i” dada por: zero, em dois milissegundos a tensão induzida
i  i MÁX  sen 377  t  A. Desenhar o gráfico do na bobina (2) fica igual a 63,75 V. Determinar
L1, L2, M e N2.
fluxo magnético, do fluxo enlaçado e da f.e.m.
induzida em função do tempo. 16) O coeficiente de acoplamento de duas
bobinas, respectivamente, com N1 = 100 e N2
09) Qual é a densidade de fluxo de um núcleo que = 800 espiras é 0,85. Com a bobina (1) aberta
possui 20000 linhas e uma área da seção reta e uma corrente de 0,5 A na bobina (2), o fluxo
de 5 cm2? é 0,00035 Wb. Determinar L1, L2 e M.
10) Complete o quadro a seguir com os valores 17) Duas bobinas idênticas têm indutância
que estão faltando. Todas as respostas devem equivalente de 0,08 H, quando ligadas em
ser dadas em unidades do Sistema série aditiva, e de 0,035 H, quando em série
Internacional. subtrativa. Quais são os valores de L1, L2, M e
K?

 18) Duas bobinas idênticas têm L = 0,02 H e


B A coeficiente de acoplamento K = 0,8.
0.000035 (Wb) ? 0,001 (m2) Determinar M e as duas indutâncias
? 0,8 (T) 0,005 (m2)
equivalentes, admitindo que elas estejam
10000 (linhas) ? 2 (cm2)
ligadas em série aditiva e em série subtrativa.
0,000090 (Wb) ? 0,003 (m2)
19) Duas bobinas cujas indutâncias estão na
relação de quatro para um têm coeficiente de
11) No campo estacionário de uma bobina de 500 acoplamento igual a 0,6. Ligadas em série
espiras, calcule a tensão induzida produzida aditiva, sua indutância equivalente é 44,4 mH.

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Determinar L1, L2 e M.
20) Qual é a indutância de uma bobina que induz
20 V, quando a corrente que passa pela
bobina varia de 12 para 20 A em 2 s?
21) Uma bobina tem uma indutância de 50 mH.
Qual é a tensão induzida na bobina quando a
taxa de variação da corrente for de 10000 A/s?
22) Uma determinada bobina de 20 mH opera com
uma frequência de 950 kHz. Qual é a reatância
indutiva da bobina?

1.9 BIBLIOGRAFIA

[1] Robert Stein and William T. Hunt Jr., “Electric


Power System Components - Transformers and
Rotating Machines”, Van Nostrand Reinhold
Company, 1979.
(Ver capítulo 02 - págs. 10 a 14);
[2] Milton Gussow, “Eletricidade Básica”, Coleção
Schaum, Editora McGraw-Hill do Brasil, Ltda, 1985.
(Ver capítulo 09 - págs. 232 a 235, capítulo 12 -
págs. 307 a 316);
[3] Joseph A. Edminister, “Circuitos Elétricos”,
Coleção Schaum, Editora McGraw-Hill, Ltda e
Makron Books do Brasil Editora Ltda, 1991.
(Ver capítulo 01 - págs. 6 e 7, capítulo 13 - págs.
362 a 365);
[4] Paul A. Tipler, “Física”, Volume 2a, Editora
Guanabara Dois S.A., Segunda Edição, 1986.
(Ver capítulo 27 - págs. 764 a 766, capítulo 28 -
págs. 775 a 781 e 784 a 786);
[5] David Halliday e Robert Resnick, “Fundamentos
de Física”, Parte 03 - Eletromagnetismo, LTC -
Livros Técnicos e Científicos Editora Ltda, 1991.
(Ver capítulo 32 - págs. 189 a 194, capítulo 33 -
págs. 219 a 222 e 227 a 228);
[6] “Curso Completo de Eletricidade Básica”, U. S.
Navy, Bureau of Naval Personnel, Training
Publications Division, Hemus Livraria Editora Ltda.
(Ver capítulo 08 - págs. 209 a 213 e 220 a 222,
capítulo 10 - págs. 241 a 248 e 254 a 259);
[7] L. Bessonov, “Applied Electricity for Engineers”,
MIR Publishers - Moscow, 1973.
(Ver capítulo 04 - págs. 114 a 122 e 127 a 129).

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