Você está na página 1de 68

ACADEMIA MILITAR

DIRECÇÃO PEDAGÓGICA

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS EXACTAS

Apostila
de
Electrodinâmica e Tecnologias de Altas
frequências (1)

Elaborada por: Nuri Dhinema, MA

Nampula, Outubro de 2014


Elaborado pelo: Eng. Nuri Dhinema Pag. 1
Lista de figuras
Figura 1:Sentido de um campo magnético ..................................................................................................... 7
Figura 2:Campo gerado por um ímã ............................................................................................................... 8
Figura 3:Campo magnético criado por um solenóide .................................................................................. 8
Figura 4:Direcção do campo magnético .......................................................................................................10
Figura 5:Forças que actuam no campo magnético......................................................................................11
Figura 6:Sentido do vector campo magnético .............................................................................................13
Figura 7:A troposfera ......................................................................................................................................35
Figura 8:Estrutura básica da ionosfera ..........................................................................................................40
Figura 9:Onda de céu ......................................................................................................................................45
Figura 10:Sistema de comunicação real ........................................................................................................53
Figura 11:Difracção de ondas ........................................................................................................................55
Figura 12:Princípio de Huygens .....................................................................................................................56
Figura 13:Zonas de Fresnel ............................................................................................................................57
Figura 14:Raio da 1ª Zona de Fresnel ...........................................................................................................58
Figura 15:Obstáculos do tipo gume de faca .................................................................................................59
Figura 16:Reflexão da luz num espelho ........................................................................................................59
Figura 17:Representação das leis de Reflexão..............................................................................................61
Figura 18:Refracção da luz..............................................................................................................................62
Figura 19:Dioptro plano .................................................................................................................................64
Figura 20:Formação de imagens através dum dioptro ...............................................................................64
Figura 21:Formação do arco-íris ....................................................................................................................66

Elaborado pelo: Eng. Nuri Dhinema Pag. 2


Índice
1.Radiação ........................................................................................................................................................... 4
1.1.Campo elétrico ......................................................................................................................................... 4
1.2. Campo Magnético .................................................................................................................................. 7
1.3.Equações de Maxwell............................................................................................................................15
2.O Dipolo Eléctrico de Hertz (DEH).........................................................................................................25
2.1.Campo radiado pelo Dipolo Eléctrico de Hertz ...............................................................................25
2.2.Potência radiada pelo DEH .................................................................................................................27
3.Propagação das Ondas Electromagnéticas ...............................................................................................34
3.1. A atmosfera terrestre ...........................................................................................................................34
Frequência óptima de trabalho (FOT) .................................................................................................42
3.2.Índice de refracção ................................................................................................................................43
3.3.Propagação de Ondas de rádio ............................................................................................................44
3.3.1.Modos de Propagação ...................................................................................................................44
3.4.Propagação em Ondas Médias ............................................................................................................48
3.5.Zonas de Fresnel ...................................................................................................................................55
3.6.Difracção ................................................................................................................................................58
3.7.Reflexão e Refracção .............................................................................................................................59
Bibliografia ........................................................................................................................................................67

Elaborado pelo: Eng. Nuri Dhinema Pag. 3


1.Radiação
1.1.Campo elétrico

Um campo elétrico é o campo de força provocado por cargas elétricas, (elétrons, prótons ou íons)
ou por um sistema de cargas. Cargas elétricas num campo elétrico estão sujeitas a uma força elétrica.

A fórmula do campo elétrico é dada pela relação entre a força elétrica F e a carga de prova q:

Vector campo elétrico

Campo elétrico gerado pela carga Q

O campo elétrico é uma grandeza vectorial, portanto é representado por um vector. Para
determinarmos a sua presença, colocamos uma carga de prova no meio. Se esta ficar sujeita a uma
força, dizemos que a região em que a carga se encontra, está sujeita a um campo elétrico. O vector
campo elétrico tem sempre a mesma direção da força a que a carga está sujeita, e o sentido é o mesmo
da força, se a carga de prova estiver carregada positivamente (Q > 0), ou contrária à força, se a carga
for negativa (Q < 0). O módulo é calculado da seguinte forma:

Elaborado pelo: Eng. Nuri Dhinema Pag. 4


K é a constante dielétrica do meio

Nota-se, por essa expressão, que o campo elétrico gerado por uma carga é directamente proporcional
ao seu valor, e inversamente proporcional ao quadrado da distância

Campo elétrico devido a uma carga elétrica

O campo elétrico sempre "nasce" nas cargas positivas (vector) e "morre" nas cargas negativas. Isso
explica o sentido do vector mencionado acima. Quando duas cargas positivas são colocadas próximas
uma da outra, o campo elétrico é de afastamento, gerando uma região no meio das duas cargas isenta
de campo elétrico. O mesmo ocorre para cargas negativas, com a diferença de o campo elétrico ser de
aproximação. Já quando são colocadas próximas uma carga positiva e uma negativa, o campo "nasce"
na primeira, e "morre" na segunda.

Campo elétrico uniforme

É definido com uma região em que todos os pontos possuem o mesmo vector campo elétrico, em
módulo, direção e sentido. Sendo assim, as linhas de força são paralelas e equidistantes.

Para produzir um campo com essas características, basta utilizar duas placas planas e paralelas
eletrizadas com cargas de mesmo módulo e sinais opostos. Um capacitor pode ser citado como
exemplo de criador de campo elétrico uniforme.

Linhas de força

Elaborado pelo: Eng. Nuri Dhinema Pag. 5


As cargas de prova positivas encontram-se em movimento dentro de um campo elétrico. A partir da
trajetória dessas cargas, traçam-se linhas que são denominadas linhas de força, que têm as seguintes
propriedades:

Saem de cargas positivas e chegam nas cargas negativas;

As linhas são tangenciadas pelo campo elétrico;

Duas linhas de força nunca se cruzam;

A intensidade do campo elétrico é proporcional à concentração das linhas de força.

Campo elétrico gerado por uma esfera (oca) condutora

Quando uma esfera está eletrizada, as cargas em excesso repelem-se mutuamente e por isso migram
para a superfície externa da esfera, atingindo o equilíbrio eletrostático. Assim, o campo elétrico dentro
da esfera (em equilíbrio eletrostático) é nulo, já que não há uma força que atraia uma carga para dentro
do corpo. Lembrando que na superfície da esfera, K|Q|/d é multiplicado por 1/6.

(No interior da Esfera)

(superfície exterior próxima da esfera)

Elaborado pelo: Eng. Nuri Dhinema Pag. 6


(distante da esfera), onde R é o raio da esfera.

1.2. Campo Magnético

Em eletricidade cada carga cria em torno de si um campo elétrico, de modo análogo o imã cria um
campo magnético, porém num imã não existe um mono-pólo assim sempre o imã tem a carga positiva
e a negativa.

Para representarmos o campo magnético usaremos o símbolo, para determinar o sentido de


utilizamos uma bússola (que só a partir dos estudos do magnetismo pôde ser utilizada para a
navegação, com grande importância até nos dias de hoje).

Abaixo representaremos o sentido de um campo magnético.

Figura 1:Sentido de um campo magnético

Assim do real para o esquema à direita temos que o sentido adotado para o campo magnético é sempre
do pólo norte do imã para o pólo sul.

Podemos gerar um campo magnético uniforme com o imã abaixo:

Elaborado pelo: Eng. Nuri Dhinema Pag. 7


Figura 2:Campo gerado por um ímã

1.2.1.Campo magnético por um fio.

, campo magnético (B) é a permeabilidade magnética do vácuo ,


multiplicado pela corrente elétrica que passa pelo fio dividido pela distância ao fio.

Figura 3:Campo magnético criado por um solenóide

Campo magnético em um solenóide.

, onde B, ,e i são os mesmos da relação para o fio e é o quociente do


número de espiras por unidade de comprimento.

Elaborado pelo: Eng. Nuri Dhinema Pag. 8


Força magnética sobre cargas elétricas (força de Lorentz)

A força de Lorentz é a força aplicada por uma partícula que está carregada eletricamente, sobre um
campo eletromagnético. Vejamos a equação da força de Lorentz:

Sendo que F representa a força que foi aplicada na carga puntiforme, pelo campo eletromagnético, E
representa o campo elétrico, B representa o campo magnético, q representa a carga elétrica e v
representa a velocidade da carga.

Essa força possui algumas características, vejamos cada uma delas:

*Intensidade: para podermos descobrir a intensidade, usamos a seguinte fórmula:

É importante ressaltarmos que a força magnética é proporcional ao módulo da carga elétrica, ao


módulo da velocidade de lançamento e também à intensidade do campo magnético. Considerando o
Sistema Internacional, temos as seguintes unidades:

Para a força f, a unidade de medida é Newton N, para a carga elétrica q, a unidade de medida é
Coulomb C, para a velocidade, a unidade de medida é m/s, e para o campo magnético B, a unidade
de medida é tesla T.

Elaborado pelo: Eng. Nuri Dhinema Pag. 9


Figura 4:Direcção do campo magnético

De acordo com a figura acima, podemos observar que F é perpendicular a v e B.

*Sentido: o sentido irá depender do sinal da carga elétrica, ou seja, vai depender se ela é positiva ou
negativa. Se a carga for positiva consequentemente o sentido da força magnética iram obedecer a regra
da mão esquerda, ou seja, o dedo polegar irá indicar a força magnética (F), o dedo indicador indicará
o campo magnético (B) e o dedo médio irá indicar o sentido a velocidade.

Já se a carga for negativa consequentemente o sentido da força magnética irá se inverter.


Uma convenção didática para representação de vectores

Para representar um vector que possui uma direção perpendicular em relação ao plano do papel,
existem dois símbolos, vejamos cada um deles e o que eles representam:

1.2.2.Intensidade do campo magnético (H)

1.2.2.1.Propriedade fundamental do campo magnético

Elaborado pelo: Eng. Nuri Dhinema Pag. 10


A propriedade fundamental do campo magnético é a seguinte: o quociente dessas forças pelas massas
magnéticas correspondentes colocadas em A é uma grandeza vectorial constante em módulo, direção
e sentido, para o mesmo ponto A .

Seja o campo produzido pela massa magnética M. Suponhamos que num ponto A desse campo seja
colocada a massa magnética puntiforme m, suficientemente pequena para não alterar o campo

magnético de M (fig. 1). Em m actuará uma força , que pode ser de atração ou repulsão, de acordo
com os sinais de M e m. Suponhamos que retiremos do ponto A a massa magnética m e coloquemos

nesse mesmo ponto, sucessivamente, as massas magnéticas , todas elas satisfazendo


as duas condições: puntiformes, e suficientemente pequenas para não alterarem o campo de M. Nessas

massas atuarão, respectivamente, as forças . A propriedade fundamental do campo


magnético é a seguinte: o quociente dessas forças pelas massas magnéticas correspondentes colocadas
em A é uma grandeza vectorial constante em módulo, direção e sentido, para o mesmo ponto A

Figura 5:Forças que actuam no campo magnético

(constante)

Essa grandeza vectorial é chamada vector campo magnético, ou simplesmente, o campo magnético
no ponto A. Considerando só uma igualdade, temos:

Elaborado pelo: Eng. Nuri Dhinema Pag. 11


ou

A equação do campo magnético é a que corresponde à equação do campo elétrico,

e do campo gravitacional.

Considerando os módulos de e m, temos:

Quando

, resulta

Significa que o módulo do campo magnético em um ponto é igual à intensidade da força que atua
sobre a unidade de massa magnética colocada nesse ponto.

A equação mostra que a força que atua na massa magnética m colocada em um campo
magnético depende de dois fatores:

1o) da própria massa m;

2o) do fator vectorial , que não depende de m, mas sim do ponto em que ela é colocada.

3. Características do vector campo H

1. Significado físico

é o quociente de uma força por uma massa magnética.

2. Módulo

No cálculo do módulo suporemos que a massa magnética M que produz o campo seja puntiforme.
Elaborado pelo: Eng. Nuri Dhinema Pag. 12
onde é a permeabilidade magnética do meio em que se produz o campo.

3. Direção

O campo magnético é também um campo newtoniano. O vector tem a direçao da recta MA.

4. Sentido

Analogamente ao caso de campo elétrico, podemos provar que: quando M é positiva, isto é, é massa

magnética de um polo norte, o sentido de é o sentido MA; quando M é negativa, isto é, é massa

magnética de um polo sul, o sentido de é o sentido AM (fig. 2).

Figura 6:Sentido do vector campo magnético

Observações

Pelas características de vemos que essa grandeza vectorial depende exclusivamente da massa
magnética M, da permeabilidade e da distância d. E não depende da massa magnética m, que

tínhamos suposto colocada em A para definirmos . Esse fato já está contido na definição de ,

porque quando dizemos que o quociente é constante, queremos dizer que ele não depende de

nem de m.

4: Unidades de intensidade de campo

a. Sistema CGSES

Elaborado pelo: Eng. Nuri Dhinema Pag. 13


É obtida da equação considerando-se e .

Resulta:

Um oersted é a intensidade do campo magnético em um ponto tal que, a massa magnética de uma

, colocada nesse ponto fica sujeita à força de um dine.

b. Sistema MKS

Considerando:

resulta:

Recordemos que a unidade de massa magnética do sistema MKS também pode ser expressa por

. Como consequência, a unidade de intensidade de campo também pode ser expressa assim:

Um é a intensidade do campo magnético num ponto tal que a massa magnética


puntiforme de um weber colocada nesse ponto fica sujeita à força de um newton.

2.2.Indução magnética ou densidade de fluxo magnético

Elaborado pelo: Eng. Nuri Dhinema Pag. 14


Além do vector campo magnético , existe no campo magnético uma outra grandeza vectorial, que
desempenha papel importantíssimo em muitos fenômenos eletromagnéticos. É chamada indução

magnética, ou densidade de fluxo magnético e representada por .

Definição

Chama-se indução magnética em um ponto ao produto da permeabilidade magnética do meio pelo


campo magnético nesse ponto.

Isto é,

1.3.Equações de Maxwell
James Clerk Maxwell (1831-1879), foi o físico britânico que explicou as propriedades do
eletromagnetismo. Publicou um conjunto de quatro equações diferenciais nas quais descreve a
natureza dos campos eletromagnéticos em termos de espaço e tempo.

Características Básicas

A propagação em linha recta é a primeira característica fundamental da luz. Esse fenômeno acontece
em todos os meios infinitos e homogêneos e já era conhecido por Platão na Grécia Clássica. Mais
recentemente, Einstein previu que a luz caminha em uma trajetória curva, quando em presença de um
campo gravitacional. Todavia, essa curvatura, já comprovada experimentalmente, pode ser desprezada
em presença da gravidade terrestre, para todos os efeitos práticos. Uma segunda característica é fato
de a velocidade da luz no espaço livre (representada pela letra c) ser uma constante universal, ou seja,
um observador situado em uma espaçonave, com equipamentos para medir a velocidade da luz,
sempre irá obter o mesmo valor para c, independentemente de estar orbitando ou pousando na Terra
e para qualquer fonte que tenha emitido luz. Por outro lado, o mesmo não ocorre com freqüência ou
com os campos eletromagnéticos, pois estes variam com a velocidade da fonte emissora em relação
ao observador. A variação da freqüência com a velocidade de observação e denominada Efeito
Doppler e é responsável, por exmplo, pelo aumento da largura espectral dos lasers a gás. O valor de c
é dado por:

Elaborado pelo: Eng. Nuri Dhinema Pag. 15


em que µ0 é a permeabilidade magnética do espaço livre (ou vácuo) e 0 é a permissividade elétrica
do espaço livre.

Em relação ao valor da velocidade da luz nos meios dielétricos, inicialmente admitiu-se (Descartes e
Newton, por exemplo) que a luz tivesse velocidade maior no vidro que no espaço livre. Esse raciocínio
seguia a analogia da velocidade de propagação do som é maior, por exemplo, no aço que no ar.
Entrectanto, os dielétricos atuam no sentido de opor resistência à propagação do meio. Nesse caso, a
energia dos campos da luz interage com os elétrons dos átomos do meio, ou deslocando-os
harmonicamente de sua posição original ou atuando em seu momento angular. O efeito final dessa
interação resulta em uma diminuição da velocidade da luz para um valor igual ao inverso da média
geométrica da permissividade elétrica e da permeabilidade magnética µ do meio, ou seja:

; onde e

É importante notar que o valor c é a máxima velocidade com que qualquer energia pode se deslocar
no universo, sendo também chamada de velocidade limite.

As equações de Maxwell, mostradas a seguir, constituem o formalismo básico para a análise


quantitativa da energia eletromagnética.

1.3.1.As Equações de Maxwell

As equações de Maxwell descrevem transporte, dissipação, armazenamento e geração da energia


eletromagnética nos meios materiais ou no espaço livre. Maxwell, ao formular sua teoria no século
passado, acreditava que a energia eletromagnética provocava um estado de tensão no meio. A
propagação dessa energia dava-se perpendicularmente à direção das tensões elétricas e magnéticas.
Por sua vez, a tensão exercida pelo campo magnético era perpendicular à provocada pelo campo
elétrico. A onda eletromagnética seria a condição de movimento dessas tensões em um meio especial,

Elaborado pelo: Eng. Nuri Dhinema Pag. 16


chamado Eter, que permeava todo o espaço. Experimentos posteriores, entrectanto, não confirmaram
a existência do Eter e , modernamente, aceita-se que os campos elétricos e magnéticos tenham
existência em si, independentemente da fonte que os gerou ou do meio propagante.

Antes da apresentação formal das equações de Maxwell, far-se-á uma breve introdução aos fasores
visto que, para as aplicações em engenharia elétrica ou optoeletrônica, é utilíssimo considerar funções
harmônicas que variem senoidalmente no tempo. Essas funções harmônicas são expressas por
vectores complexos denominados fasores, conforme exemplo abaixo, apresentado uma componente
do campo elétrico, Ex:

em que é a freqüência angular (rad/s), Ex representa a componente do campo na direção de eixo x

e especifica a fase do campo. Normalmente, confunde-se Ex(t) com sua expressão complexa Exejvt.
Todavia, deve-se tomar o cuidado de usar as expressões que utilizam explicitamente as funções sen vt
ao se calcular o produto de dois campos harmônico, como, por exemplo, na detecção heteródina ou
em dielétricos não lineares.

Com o formalismo dos fasores, as equações de Maxwell podem ser expressas por:

em que: r é a densidade volumétrica de cargas (Coulumb/m³) e j, a densidae de corrente


(Ampères/m²).

Elaborado pelo: Eng. Nuri Dhinema Pag. 17


As relações entre os campos elétricos (E) e magnéticos (H) e os campos de deslocamento (D e B)
dependem do estado de polarização do meio, caracterizado pelas grandezas e e m, tal que:

Equações de Maxwell (forma de diferencial)

A seguir, derivaremos as equações de Maxwell na forma diferencial a partir da forma integral. Para
este fim, faremos uso dos teoremas de Gauss e Stokes.

Lei de Gauss (eletrostática)

Podemos rescrever a lei de Gauss, para a eletrostática, em função de uma densidade de carga
volumétrica, como a seguir:

onde r é a densidade de carga volumétrica e V é o volume no interior da superfície gaussiana. Usando


o teorema de Gauss, o qual correlaciona uma integral de superfície com uma integralde volume, temos
que,

Comparando os lados direitos das duas equações acima encontramos,

Elaborado pelo: Eng. Nuri Dhinema Pag. 18


como esta igualdade é verdadeira para qualquer volume, então o integrando da equação deve ser nulo,
isto é

Esta equação corresponde à lei de Gauss na forma diferencial. Isto significa que, se o divergente do campo
elétrico é não nulo, então, deve existir campos elétricos na região resultantes de carga total não nula.

Lei de Gauss (magnetostática)

A lei de Gauss para a eletrostática é igual a

Usando o teorema de Gauss, como no caso anterior, encontramos a seguinte equação para a
magnetostática,

Desta equação tiramos as seguintes conclusões; os campos magnéticos não divergentes e não existem
monopolos magnéticos.

Lei de Faraday

Fazendo uso do teorema de Stokes derivaremos a lei de Faraday na forma diferencial.

Sabemos que o teorema de Stokes relaciona uma integral de caminho com a integral de superfície
aberta delimitada por este caminho.

Elaborado pelo: Eng. Nuri Dhinema Pag. 19


Comparando os lados direitos das duas últimas equações temos que,

Como a integração é válida para qualquer superfície, então a integral será sempre nula quando o
integrando for igual a zero. Isto é,

Esta equação representa a lei de Faraday na forma diferencial. Desta equação, concluímos que campos
magnéticos variáveis no tempo gera campos elétricos do tipo rotacionais. Estes campos elétricos
diferem daqueles gerados por cargas elétricas estáticas, os quais, são sempre divergentes. Isto explica
o fato da integral do campo elétrico, em um caminho fechado ser diferente se zero. Em resumo,
podemos dizer que os campos rotacionais têm integral de circuitação não nula.

Lei de Ampère A lei de Ampère na forma integral tem a forma;

O teorema de Stokes fornece-nos uma relação entre uma integral de circuitação e uma integral de
superfície aberta como a seguir,

Igualando os dois lados direitos das equações acima temos que,

Elaborado pelo: Eng. Nuri Dhinema Pag. 20


Para que esta igualdade seja verdadeira para qualquer superfície é necessário que seu integrando seja
nulo. Isto é,

Esta equação representa a lei de Ampère na forma diferencial. Dela, concluímos que campos elétricos
variáveis no tempo, assim como correntes elétricas, produzem campos magnéticos. Estes campos
magnéticos são, como esperado, do tipo rotacional.

As equações de Maxwell, na forma diferencial, podem ser resumidas como se seguem:

Destas equações podemos concluir que ;

a) Os campos elétricos criados por cargas elétricas são divergentes ou convergentes.


b) Os campos magnéticos são rotacionais, isto é, não existem monopolos magnéticos.
c) Campos magnéticos variáveis no tempo geram campos elétricos rotacionais.
d) Campos elétricos variáveis no tempo geram campos magnéticos rotacionais.
e) Correntes elétricas ou cargas em movimento geram campos magnéticos.

A Equação de Onda Eletromagnética

Elaborado pelo: Eng. Nuri Dhinema Pag. 21


A seguir, mostraremos que campos magnéticos e elétricos variáveis no tempo, podem gerar ondas
eletromagnéticas. Para demonstrar que as equações de Maxwell levam, inevitavelmente, a ondas
eletromagnéticas, é necessário fazer uso das e equações de Maxwell na forma diferencial. Por
simplicidade, estudaremos a propagação da onda eletromagnética no vácuo. Limitaremos a este caso
particular devido as dificuldades matemáticas para resolver um sistema de equações de onda.

Devido ao facto de não existirem cargas elétrica e correntes no vácuo, as equações de Maxwell
assumem a seguinte forma;

Tomando o rotacional do lado esquerdo da equação de Faraday teremos,

pois, o divergente de E é nulo no caso do vácuo. Por outro lado, temos que;

Podemos proceder de forma análoga ao caso anterior e aplicar o operador rotacional em ambos os
lados da lei de Ampère. No caso do lado esquerdo obtemos,

e para o lado direito da equação teremos,

.
Elaborado pelo: Eng. Nuri Dhinema Pag. 22
Os resultados obtidos, tanto para a lei de Faraday quanto para a lei de Ampère, conduzem as equações
que se seguem;

Estas equações são conhecidas como as equações de propagação das ondas eletromagnéticas. No caso geral,
suas soluções são complexas pois temos que resolver, simultaneamente, um sistema de seis equações
diferenciais de segunda ordem, no espaço e tempo, como a seguir;

Campo elétrico

Campo magnético

Elaborado pelo: Eng. Nuri Dhinema Pag. 23


Para simplificar o estudo do sistema de equações acima, restringiremos a um caso particular, cuja
solução seja relativamente simples. Isto não invalidará os resultados obtidos pois suas soluções valem
para qualquer caso.

Inicialmente, vamos supor que é possível estabelecer campos elétricos e magnéticos que satisfaçam as
condições: campo elétrico uniforme que tenha apenas uma componente na direção y e campo
magnético uniforme apontando na direção z. Ou seja, E(x,t) e B(x,t), dependentes do tempo e de uma
coordenada. Queremos com isto estudar o comportamento da velocidade de uma onda
eletromagnética.

Sejam os campos elétricos e magnéticos dados por,

Substituindo estes campos nas equações de onda acima encontramos,

Soluções para este conjunto de equações são do tipo;

onde k = 2p /l e w = 2p n . k é referido como número de onda;

l - comprimento da onda eletromagnética;

n - freqüência e

w é a freqüência angular.

Elaborado pelo: Eng. Nuri Dhinema Pag. 24


2.O Dipolo Eléctrico de Hertz (DEH)

2.1.Campo radiado pelo Dipolo Eléctrico de Hertz

O dipolo eléctrico de Hertz, é uma antena linear teórica e infinitamente fina que tem como principal
característica o facto de ter um tamanho dl infinitesimal e, portanto, poder ser considerada uma fonte
pontual. Assume-se que a envolvente da corrente que o percorre é constante e que esta está dirigida
segundo o eixo de orientação do dipolo (neste caso, o eixo Oz). Embora este tipo de elementos não
exista no mundo real é utilizado para modelar dipolos lineares curtos (dl << ¸) carregados
capacitivamente nos topos (a carga capacitiva serve para garantir uma corrente não nula nos topos) e
serve também como elemento de base para o estudo de antenas mais elaboradas, como é o caso das
antenas lineares. Além disto, do ponto de vista pedagógico, é um bom exemplo de aplicação do
método de cálculo dos campos radiados apresentado anteriormente, pois ao cálculos envolvidos são
relativamente simples.

As superfícies nos extremos dos braços são muito maiores que a superfície dos braços e esta é muito
pequena (diâmetro dos braços muito mais pequeno que o seu comprimento)

A dimensão do DEH, 2l, é muito pequena comparada com o comprimento de onda. Assim, ao longo
do DEH, onde está instalada uma onda estacionária, não se nota a variação sinusoidal de amplitude
da corrente.

Distribuição de corrente no DEH

Elaborado pelo: Eng. Nuri Dhinema Pag. 25


Devido à importante corrente de deslocamento entre as superfícies nos extremos dos braços, a
corrente de condução dos braços não se anula nas extremidades do DEH

Ao longo do tempo, a corrente de condução no DEH vai tomando valores oscilantes com f.

PARA CALCULAR OS CAMPOS RADIADOS, É NECESSÁRIO SABER PRIMEIRO OS


POTENCIAIS VECTOR E ESCALAR.

O Potencial Vector

 J z e jt e  jkr
Az   dl dS
4 V r

Para r > 2l e 2l << , vem

 e jt e  jkr  l  e jt e  jkr


Az   I dl  I 2l
4 r l 4 r

Os campos do DEH calculam-se dos potenciais:

I2l 1  j 1 e  jkr cos  I2l 1  j 1  j 1 e  jkr sen 


E r  Z0 
2r 2 

kr 
E   jZ0
2r 
 
kr k 2 r 2  E  0 Hr  0 H  0

H  j
I2l 1  j 1 e  jkr sen 
 
2r  kr 

Elaborado pelo: Eng. Nuri Dhinema Pag. 26


Circuito equivalente da antena em emissão

Impedância (de entrada) da antena

que se divide na Resistência e na Reactância da antena.

2.2.Potência radiada pelo DEH

A potência radiada é o integral da densidade de potência (vector de Poynting, ) numa superfície

que envolva o dipolo e a densidade de potência vale Se


considerarmos a superfície como esférica, então o vector de Poynting deverá ter a direcção de r e os
campos deverão ser os transversais.

ZONAS PRÓXIMA E DE RADIAÇÃO

Os termos dos campos são proporcionais a 1/r, a 1/r2 e a 1/r3 Estas três funções decrescem
diferentemente:

Uma análise dos resultados obtidos revela que existem parcelas que decaem com 1/r3,outras com 1/r2
e outras com 1/r. À medida que nos afastamos da antena cada uma destas parcelas vai perdendo peso
relativamente nas outras, chegando a uma altura em que apenas as parcelas em 1/r têm relevância.
Assim, distinguem-se 3 diferentes zonas de radiação:

Elaborado pelo: Eng. Nuri Dhinema Pag. 27


Vemos assim que, próximo do DEH, os termos predominantes são os proporcionais a 1/r2 e a 1/r3.

Na zona distante (zona de radiação), o termo proporcional a 1/r é predominante.

A POTÊNCIA RADIADA calculada na zona próxima, com os termos predominantes nesta zona, é
imaginária, ou seja, o seu valor médio real é nulo.

Zona Próxima: é a zona imediatamente a seguir na antena e onde todos os termos têm importância.
Nesta zona próxima há predominantemente uma oscilação de energia entre a antena e o meio.

Zona Intermédia: Aqui os termos com 1/r3 podem ser desprezados face na amplitude dos termos em
1/r2 e 1/r, sendo estes os únicos verdadeiramente importantes nesta zona.

Zona Distante: Agora são os termos em 1/r predominam sobre os restantes. Em antenas esta é a zona
mais importante pois, dadas as distâncias tipicamente utilizadas numa ligação entre duas antenas, cada
antena encontra-se na zona distante da outra. A POTÊNCIA RADIADA calculada na zona
DISTANTE, com o termo predominante nesta zona, é REAL.

Aqui, os campos são transversais e o vector de Poynting é radial. No vácuo, ela

vale (W=J s-1)


Elaborado pelo: Eng. Nuri Dhinema Pag. 28
Im é um valor máximo da corrente e é também o valor da corrente de entrada

Deste resultado podemos concluir que os campos oscilam em fase, existe ortogonalidade entre os
campos e entre estes e a direcção de propagação e E e H estão relacionados pela impedância
característica do meio uma vez que

E/H=Z

No entanto as ondas radiadas não são ondas planas mas sim ondas esféricas, uma vez que, na zona
distante de radiação, os campos são da forma e-βr/r . Na figura é mostrado o diagrama de radiação do
campo eléctrico do dipolo de Hertz na zona distante de radiação. A radiação é feita com maior
intensidade segundo as direcções transversais na orientação do dipolo (θ = π/2) e é nula para as
direcções correspondentes ao alinhamento do dipolo (neste caso é nulo segundo o eixo Oz, ou seja, θ
= 0).

Campo eléctrico de um dipolo de HZ orientado segundo Oz

Campos na zona de radiação

Na zona distante, temos aproximadamente uma onda plana, com campos eléctrico e magnético
puramente transversais:

Elaborado pelo: Eng. Nuri Dhinema Pag. 29


I2l e jkr sen  H  j
I2l e  jkr sen   E 
E   jZ0
2r 2r Z0

RESISTÊNCIA DE PERDAS e POTÊNCIA DE PERDAS do DEH

Como o valor eficaz da corrente no DEH é aproximadamente constante ao longo do seu


comprimento, a resistência de perdas é o produto da resistência por unidade de comprimento do
condutor da antena (Ri) pelo seu comprimento (2l).

Rp=Ri 2 l

Se o condutor da antena for cilíndrico, de raio a, temos:

m-1 em que Rs é a resistência própria do material da antena:

 profundidade de penetração

A POTÊNCIA DE PERDAS vale W

RESISTÊNCIA DE RADIAÇÃO

À semelhança formal da relação entre potência de perdas e resistência de perdas, também podemos
definir,

em que vem, para o vácuo:

MONOPOLO ELÉCTRICO DE HERTZ

Elaborado pelo: Eng. Nuri Dhinema Pag. 30


Para a mesma corrente de entrada, radia o mesmo campo que o DEH.

A potência radiada é metade da do DEH: A potência radiada é o integral da densidade de potência

(vector de Poynting, ) numa superfície que envolva o dipolo

Se considerarmos a superfície como semi-esférica.E a densidade de potência vale

tal como valia no caso de DEH

Elaborado pelo: Eng. Nuri Dhinema Pag. 31


A resistência de radiação igual a metade da do DEH

ANTENA CURTA

É uma antena linear, pequena comparada com o comprimento de onda e sem cargas
capacitivas.Vamos considerá-la infinitamente fina.

Em relação ao DEH: O potencial vector reduz-se a metade, O campo radiado reduz-se a metade, A
potência radiada reduz-se a ¼ ,A resistência de radiação reduz-se a 1/4

MONOPOLO CURTO

Em relação à antena curta, para a mesma corrente de entrada:

O campo radiado é o mesmo mas a potência radiada é metade e também é metade a resistência de
radiação

Em relação ao DEH: O potencial vector reduz-se a metade, O campo radiado reduz-se a metade, A
potência radiada reduz-se a 1/8 ,A resistência de radiação reduz-se a 1/8 ,

Elaborado pelo: Eng. Nuri Dhinema Pag. 32


Características das espiras pequenas e dipolo magnético equivalente

ESPIRA CURTA

(Antenas de quadro)

Uma espira curta, de área A e corrente I, em que o diâmetro é muito pequeno comparado com o
comprimento de onda, radia como um DMH (Dipolo Magnético de Hertz).A radiação do DMH
tira-se da do DEH aplicando as regras da dualidade que se aplicam nas equações de Maxwell.
E → Hm

H → -Em

Na zona distante, a espira curta de corrente I e área A, radia com os seguintes campos:

H  
IA  e  jkr sen 
2 r

E    Z0 H 

Se tivermos n espiras, os campos vêm multiplicados por n.

- Antenas lineares finas e grossas, de qualquer comprimento


- Campos radiados, distribuição de corrente e diagramas de radiação
- Intensidade de radiação, Directividade e Ganho
- Impedância de entrada

Elaborado pelo: Eng. Nuri Dhinema Pag. 33


3.Propagação das Ondas Electromagnéticas

3.1. A atmosfera terrestre

A propagação normalmente faz-se na atmosfera terrestre. As ondas electromagnéticas propagam-se


no espaço livre (meio perfeito). A atmosfera terrestre não é homogênea, ela divide-se em 3 regiões
principais: Troposfera, Estratosfera e Ionosfera.

3.1.1.Troposfera

A Troposfera é a camada atmosférica que se estende da superfície da Terra até a base da estratosfera.
Esta camada responde por cerca de oitenta por cento do peso atmosférico e é a única camada em que
os seres vivos podem respirar normalmente. A sua espessura média é de aproximadamente 12 km,
atingindo até 17 km nos trópicos e reduzindo-se para em torno de 7 km nos pólos. Praticamente todos
os fenómenos meteorológicos estão confinados a esta camada. Ela tem características variáveis porque
a pressão do ar e a tensão do vapor de água decrescem.

3.1.1.1.Tropopausa

A tropopausa é o nome dado à camada intermediária entre a troposfera e a estratosfera, situada a uma
altura média em torno de 17 km sobre a linha do Equador. A distância da tropopausa em relação ao
solo varia conforme as condições climáticas da troposfera, da temperatura do ar, da latitude, entre
outros factores. Se existe na troposfera uma agitação climática com muitas correntes de convecção, a
tropopausa tende a subir. Isto se deve por causa do aumento do volume do ar na troposfera, este
aumentando, aquela aumentará, por consequência, empurrará a tropopausa para cima.

Elaborado pelo: Eng. Nuri Dhinema Pag. 34


Figura 7:A troposfera

3.1.2.Estratosfera

Na estratosfera a temperatura aumenta com a altitude e se caracteriza pelos movimentos horizontais


do ar. Situa-se aproximadamente entre 7 e 17 até 50 km de altitude aproximadamente, compreendida
entre a troposfera e a mesosfera. Apresenta pequena concentração de vapor de água, e a temperatura
cresce conforme maior a altitude até a região limítrofe, denominada estratopausa. Muitos aviões a jacto
circulam na estratosfera devido à sua estabilidade. É nesta camada que está situada a camada de ozono,
e onde começa a dispersão da luz solar (que origina o azul do céu).

3.1.2.1.Estratopausa

É a região limítrofe entre a estratosfera e a mesosfera e onde a temperatura para de aumentar conforme
a elevação da altitude, marcando o início da mesosfera.

3.1.3.Ionosfera

A ionosfera, a parte da atmosfera ionizada pela radiação solar, estende-se de 50 a 1.000 km de altitude
e, normalmente, engloba tanto a termosfera quanto a exosfera. A ionosfera, como o nome diz, é
composta de partículas carregadas electricamente chamadas íons. Íons nada mais são do que átomos
ou moléculas que ganharam ou perderam elétrons apresentando, portanto carga elétrica negativa
(chamados ânions) ou carga elétrica positiva (chamados cátions). O processo de transferência de
elétrons (perda ou ganho) envolve energia, e essa energia tem de vir ou ir para algum lugar. Retirar
elétrons é sinônimo de realização de trabalho logo gasta energia. Na ionosfera esses íons estão

Elaborado pelo: Eng. Nuri Dhinema Pag. 35


dispostos em muitas camadas que são capazes de refletir as ondas de rádio na faixa de HF e devolvê-
las à Terra em uma trajetória que faz com que as mesmas percorram grandes distâncias.

As características elétricas dessas camadas, as quais são coletivamente referidas como ionosfera, estão
sujeitas a amplas variações. Isto ocorre por que a ionosfera é formada pela radiação proveniente do
SOL. É essa a fonte da energia necessária para arrancar os elétrons das moléculas do topo da atmosfera
e transformá-las em íons. A intensidade da radiação solar modifica-se com a hora, com a estação do
ano, com a localização geográfica. Além disso ocorrem variações cíclicas na capacidade da ionosfera
de refletir ondas de rádio. Esses ciclos estão vinculados ao ciclo de aproximadamente 11 anos de
atividade solar.

De 11 em 11 anos ocorre um aumento no número de manchas solares. Essas manchas são área
turbulentas que produzem considerável quantidade de radiação. Quando a superfície solar está coberta
com um grande número de manchas,a ionosfera é eletricamente mais carregada e as radio
comunicações em ondas curtas são geralmente muito boas. Quando o número de manchas solares
diminui, as condições tornam-se piores. O atual ciclo solar, o vigésimo terceiro observado desde que
registros precisos começaram, encontra-se um pouco além do máximo, já em fase decrescente, mas
ainda com muita atividade solar.

3.1.3.1.Estrutura da ionosfera

Cada região ou camada se sobrepõem em alguma extensão formando uma contínua mas não uniforme
área ionizada com ao menos 4 picos de intensidade de densidade iônica, chamadas regiões D, E, F1 e
F2. Existem diferenças grandes entre os perfis das camadas de acordo com a estação do ano, devido
a mudança da proximidade com o Sol e a sua posição no céu. Esta “posição” é chamada de ângulo de
zênite solar. Mantidos outros fatores constantes, quanto mais alto o Sol, maior a densidade eletrônica.
O uso das letras para designar as várias regiões da ionosfera foi devido ao trabalho de Edward
Appleton, baseado na descoberta da camada Kenelly-Heaviside em 1924. Ele utilizou a letra E para
esta camada, já que essa simbologia normalmente é usada para designar o vector campo elétrico. Como
ele mesmo previu, deixou assim muitas letras tanto acima quanto abaixo para designar futuras
descobertas. O nome ionosfera foi dado por Sir Robert Watson-Watt, um colega de Appleton no
início do trabalho e um dos pioneiros do trabalho sobre o radar.

Elaborado pelo: Eng. Nuri Dhinema Pag. 36


3.1.3.1.1.A camada D

Apesar de todo o trabalho experimental a respeito da ionosfera no final dos anos 60 e nos 70, do
século passado, a camada D continua ainda um pouco enigmática. Esta camada, a qual se estende de
65 a 100 km acima da superfície terrestre e somente existe durante o dia enquanto a Terra encontra-
se iluminada pelo Sol. Determinar a composição química da camada D foi muito difícil utilizando as
modernas técnicas experimentais. A esta altitude relativamente baixa quando comparada com as outras
camadas, a pressão ainda é suficientemente “grande” para produzir uma alta frequência de colisões
entre as partículas elementares constituintes da atmosfera, assim, os estudos convencionais não podem
ser usados.

Portanto a química da camada D é a menos conhecida. Com respeito as comunicações via rádio a
camada D é um gigantesco atenuador, absorvendo os sinais de HF que passam através. Como a
atenuação varia com o inverso do quadrado da frequência, quanto maior a frequência do sinal de rádio
utilizado, menor a absorção do sinal pela camada D. Após o pôr-do-sol essa camada se recombina e
as baixas frequências passam a ser refletidas pelas camadas superiores. Esse é o motivo porque a noite
é possível ouvir transmissões em O.M. muito distantes por meios de propagação ionosférica (a
chamada onda de céu, ou no original, skywave).

3.1.3.1.2.A camada E

O limite superior da camada D acaba se misturando com outra região distinta chamada camada E, a
qual ocorre principalmente durante o dia entre 100 e 125 km. É uma fina camada de 5 a 10 km de
espessura, Existem muitos tipos de mecanismos de ionização que operam a essa faixa de altitude
dependendo da latitude, estação do ano, e nível de atividade solar. Acreditava-se que esta camada
desaparecia durante a noite. Mas experimentos no início dos anos 80 do século passado, durante o
pico do ciclo solar 21, demonstraram o contrário. A camada E não desaparece, mas de fato apresenta
uma permanente mas ineficiente fonte de propagação noturna. Foi também durante essa série de
medidas experimentais que foi determinado que a ionosfera é turbulenta, já que após 2 minutos,
qualquer variável medida na ionosfera modifica-se de valor.

3.1.3.1.3.A camada E esporádica

Elaborado pelo: Eng. Nuri Dhinema Pag. 37


Em adição a camada E normal da ionosfera, existem regiões ionizadas que ocorrem esporadicamente.
Diferentemente das camadas normais, estas regiões esporádicas vem e vão irregularmente, e existem
diversas teorias a respeito da sua causa. A altura destas regiões ou “caminhos” é variável, mas elas
ocorrem na maior parte das vezes a uma altitude de 100 km. Desde que apresenta a mesma altitude
da camada E, por isso são chamadas coletivamente de E esporádico.
A camada E esporádica é uma região intensamente ionizada, e muito limitada em termos de extensão.
Uma “nuvem” de camada E esporádica pode ter de 80 a 170 km em diâmetro, e pode permanecer
somente por algumas horas antes de dissipar. Muitas dessa “nuvens” se deslocam a velocidade de
centenas de quilômetros por hora. A causa da ionização da camada E esporádica não é ainda
totalmente entendida. É sabido que meteoros se desintegram nas altitudes da camada E e que os íons
metálicos residuais criam “caminhos” de alta ionização. Este pode ser um fator envolvido no
surgimento de E esporádico.

Em regiões equatoriais o E esporádico é um fenômeno diurno, e provavelmente é causado pela


instabilidade no plasma causada pelo jato eletrônico equatorial (convém mencionar que existem
correntes de convecção de altíssima velocidades associadas a altas altitudes). As altas velocidades
encontradas aqui podem criar densos “caminhos”. Ao redor do equador geomagnético o E esporádico
pode permanecer por 90% das horas do dia.

3.1.3.1.4.As camadas Fs

As camadas Fs são as mais importantes regiões da ionosfera e com elas as comunicações de ondas
curtas em alta distância estão relacionadas. Durante as horas do dia existem duas regiões bem
definidas, a camada F1 e a camada F2. Em um dia de inverno a camada F1 começa um pouco acima
do limite superior da camada E (150 km) e se estende até cerca de 250 km. Durante o dia de verão a
camada F1 é encontrada em altitudes maiores. A camada F2 varia de 350 km durante o inverno e pode
chegar a 500 km durante o verão. A maioria das transmissões em ondas curtas é acompanhada através
da camada F2.

A evidência experimental indica que a camada F1 desaparece durante a noite. Já durante o dia é essa
camada que suporta transmissões de curto a médio alcance. A camada F1 se comporta de forma
semelhante a camada E . Diferentemente de todas as outras camadas a camada F2 existe independente

Elaborado pelo: Eng. Nuri Dhinema Pag. 38


de ser dia ou noite e é sempre capaz de sustentar propagação em alguma freqüência. É a mais
importante das camadas e é o seu comportamento que é predito pela maioria dos programas de
computador que fazem predição de condições de propagação, como o MINIMUF, por exemplo.

3.1.3.1.5.Acima da região F

Aproximadamente 95% dos átomos e moléculas que formam a ionosfera estão contidos abaixo dos
1000 km de altitude. Medidas utilizando satélites indicam que a densidade eletrônica entre 650 e 1000
km é muito pequena e que tem pouca importância para transmissões em ondas curtas ou
radioamadores.

Graças à existência da dependência da ionosfera com a radiação solar, é evidente que mudanças na
posição relativa entre Terra e Sol (rotação e translação), bem como mudanças nos padrões de radiação
solar, irão influenciar como a ionosfera se comporta.

As variações “típicas”, e que podem ser relativamente preditas e antecipadas classificam-se nas
seguintes categorias:

1 - Dia e Noite
2 - Sazonal (estação do ano)
3 - Geográfica
4 - Cíclica

3.1.3.1.5.1.Variação dia e noite

A variação durante um dia, ou seja, as mudanças de hora a hora nas várias camadas da atmosfera, é
causada pela rotação da Terra ao redor do próprio eixo. Esta rotação não é somente responsável pelas
variações na quantidade de luz solar alcançado a Terra, resultando em dia ou noite, mas também pela
correspondente variação na intensidade da radiação ultravioleta que alcança a ionosfera em qualquer
ponto. Durante as horas diurnas, quando a radiação ultravioleta alcança a atmosfera superior terrestre,
a ionosfera pode tornar-se altamente ionizada com a separação em camadas; durante as horas de
escuridão muito pouca radiação alcança a atmosfera superior no lado terrestre distante do Sol, logo a
ionosfera perde densidade eletrônica e forma-se uma relativamente fraca e única camada. Como já

Elaborado pelo: Eng. Nuri Dhinema Pag. 39


mencionado, as variações diurnas nas camadas D,E e F1 apresentam um padrão regular que
principalmente depende da elevação solar (ou seja, o ângulo de zênite solar). A ionização destas
camadas aumenta a partir de níveis muito baixos a partir do nascer do sol, alcança o máximo à tarde,
e então decresce até o pôr-do-sol.

A ionização na região F2 aumenta rapidamente ao nascer do sol. A máxima ionização é alcançada


quando o Sol alcança seu zênite, ou o ponto mais alto no céu. A ionização então decresce, alcançando
valores baixos durante a noite. A menor densidade eletrônica é encontrada logo antes do sol nascer e
a queda observada na frequência crítica é chamada depressão pré-nascer-do-sol.

Figura 8:Estrutura básica da ionosfera

3.1.3.1.5.2.Variação sazonal

Devido ao facto da posição de qualquer ponto na Terra modificar sua posição com relação ao Sol, a
medida em que a Terra move-se em sua órbita ao redor Sol, então as propriedades da ionosfera
também se modificam. Ionização da camada E comporta-se de maneira regular, sendo quase que
totalmente dependente do ângulo do zênite solar. A ionização é muito mais forte no verão devido ao
Sol estar mais “alto” no céu. Durante todos os meses de inverno a frequência crítica da camada F1
varia de maneira semelhante a da camada E, dependendo da elevação Solar. Durante o inverno, a
camada F1 se “funde” com a camada F2, e não pode ser identificada de forma separada, exceto nas
regiões equatoriais.

O comportamento da camada F2 é mais complicado. Durante os meses de inverno no hemisfério


norte, a atmosfera está mais fria, mas a Terra está mais próxima do Sol, e a ionização diurna é muito
Elaborado pelo: Eng. Nuri Dhinema Pag. 40
intensa; então as frequências críticas são altas. Durante as longas horas de escuridão do inverno, por
outro lado, a ionosfera tem mais tempo para perder sua carga elétrica, e as frequências críticas descem
para valores muito baixos.

No verão um efeito de aquecimento ocorre na camada F2, causando a expansão durante as horas
diurnas e resultando em uma densidade de ionização mais que a observada durante o inverno. Em
resultado, as frequências críticas são menores que os valores de inverno. Por outro lado, graças as
longos períodos diurnos do verão, a recombinação não ocorre na mesma extensão que ocorre no
inverno. Em resultado, as frequências críticas noturnas da camada F2 são maiores do que aquelas
observadas durante os meses de inverno. A variação entre as frequências críticas diurna e noturna,
durante o verão, é menores do que durante o inverno.

3.1.3.1.5.3.Variação geográfica

A intensidade de radiação ionizante que chega até a ionosfera varia conforme a latitude, sendo
consideravelmente maior em regiões equatoriais, onde o Sol está mais directamente perpendicular do
que em latitudes altas. Frequências críticas para as regiões E e F1 variam directamente com a elevação
solar, sendo altas em regiões equatoriais e decrescendo proporcionalmente para norte e sul com a
latitude. As variações da camada F2 com a latitude são mais complexas. Isto ocorre provavelmente
devido à ionização de outras fontes. Existem evidências de que o campo magnético terrestre exerce
uma importante influência. No grau de ionização da camada F2.
Apesar de complexa, a frequência crítica da camada F2 segue um padrão geral de começar alta em
regiões equatoriais e diminuir conforme o aumento da latitude.

Apesar de não ser complexa quanto à variação de latitude, a ionização da camada F2 também difere
ao longo dos meridianos (com a longitude) ao longo do mesmo tempo local e ao longo da mesma
latitude. Muito dessa variação é creditada a influência do campo magnético terrestre. As frequências
críticas são geralmente maiores na região Asiática e Australásia que aquela da Europa, África e
hemisfério ocidental.

3.1.3.1.5.4.Variação cíclica

Elaborado pelo: Eng. Nuri Dhinema Pag. 41


Se fossem somente as variações diurnas e sazonais os factores que influenciam o comportamento
ionosférico, o padrão de frequência crítica em longo prazo seria bem determinado, com valores
sazonais repetindo-se de ano para ano na mesma localização geográfica. Infelizmente, isso não ocorre.
Há também uma variação cíclica, de aproximadamente 11 anos de duração, que é o fator mais
importante a afetar a ionosfera. Esta variação depende do nível de atividade das manchas solares, a
qual está constantemente variando, durante o transcorrer do ciclo de 11 anos.

Maximum usable frequency (MUF)

Máxima frequência utilizável é máxima frequência utilizável para a qual a onda se propagará entre
dois pontos. Como existe uma variação na densidade da região F2, as MUFs calculadas para um
determinado momento são limites estatísticos, podem não corresponder para com a verdade prática.
Quando se trata de previsões de propagação, as variáveis são tão grandes quanto a previsão das
condições da atmosfera.

Também é definida como a máxima frequência utilizável para a qual a onda de rádio em determinadas
frequências se propagará entre dois pontos, refletindo ou refratando, dependendo dos fatores de
refração e reflexão dados a cada momento na atmosfera, nas regiões onde prevalece a maior densidade
iônica, chamada de ionosfera.

A MUF relaciona-se com a frequência critica pela expressão:

MUF = fc * sen αi

Onde: sen αi =

αi – ângulo de incidência, quanto maior ele for, maior será a MUF

Frequência óptima de trabalho (FOT)


É uma frequência que é cerca de 85 a 90% da MUF. Esta frequência é então chamada de frequência
óptima de trabalho (FOT). Esta percentagem é baseada no facto estatístico em que as variações diárias
da MUF não descem abaixo de 90% do seu valor, isto é um valor de frequência 10% a 15% inferior à
MUF que dá muito mais estabilidade nas comunicações.

Elaborado pelo: Eng. Nuri Dhinema Pag. 42


3.2.Índice de refracção

Na troposfera e estratosfera o índice de refracção é determinado pelas 3 características: tensão de


vapor de água, temperatura e a pressão do ar.

−6 𝑃𝑎 𝑃𝑣
𝑛 = 1 + 79. 10 + 0.38 2
𝑇 𝑇

À superfície terrestre o índice de refracção não é exactamente igual à 1, pois os raios luminosos não
são uma linha recta.

𝛾
𝑛=
𝛾0

Onde: γ é a constante de propagação na atmosfera

𝛾0 é a constante de propagação no vácuo

Admitindo que a atmosfera é em termos gerais caracterizada pelas constantes σ, ε e μ, a sua constante
de propagação será dada por:

√𝑗𝜔𝜇 (𝜎+𝑗𝜔𝜀)
𝛾 = √𝑗𝜔𝜇 (𝜎 + 𝑗𝜔𝜀) e para o vácuo será: 𝛾𝑜 = √𝑗𝜔𝜇0 ∗ 𝑗𝜔𝜀0 , então : 𝑛 = mas o
√𝑗𝜔𝜇0 ∗𝑗𝜔𝜀0

√(𝜎+𝑗𝜔𝜀)
μ na atmosfera é igual ao 𝜇0 no vácuo logo μ = 𝜇0 = 0 logo: 𝑛 = assim :
√𝑗𝜔𝜀0

𝜀 − 𝑗𝜎
𝑛= √
𝜀0 𝜔𝜀0

𝜀
Na troposfera e estratosfera o 𝜎 = 0, assim teremos : 𝑛 = √
𝜀0

3.2.1.Índice de refracção na ionosfera

Para frequências altas o índice de refracção tem uma pequena variação. Usando a frequência de Ultra
high frequency (UHF) ou very high frequency (VHF), não há possibilidade de comunicar-se com a Terra

Elaborado pelo: Eng. Nuri Dhinema Pag. 43


porque estas frequências furam a ionosfera. Para o caso das ondas curtas, high frequencies (HF), podem
ocorrer 2 coisas:

 A onda fura a ionosfera se a frequência for maior do que a frequência crítica


 A onda é reflectida e volta para a Terra, se a frequência for menor do que a frequência crítica.

3.2.1.Frequência crítica

A frequência crítica é a frequência mais alta a partir da qual um eco é recebido quando um pulso de
rádio é enviado verticalmente para a ionosfera. Mais adiante mostraremos que existe uma relação
directa entre as frequências usadas para comunicação entre dois pontos quaisquer (propagação
oblíqua, quando comparada com a transmissão do pulso vertical) e a frequência crítica. A camada F2
é a mais altamente ionizada das camadas normais com a característica de suportar a propagação em
frequências muito altas. Além disso, devido à lenta taxa de recombinação, ela permanece forte muitas
horas depois do por do sol. Por esses motivos, a camada F2 é a mais importante para comunicações
de longa distância em onda curta.

3.3.Propagação de Ondas de rádio

As ondas de rádio são uma forma de radiação eletromagnética similar às ondas sonoras e à luz visível,
mas diferindo destas quanto ao modo como são geradas e detectadas (i.e. transmitidas e recebidas),
assim como a forma como se propagam no espaço, a uma velocidade aproximada de 300.000 km/s (a
velocidade da luz). As ondas de rádio podem ser reflectidas, refractadas e difractadas, e apresentam
perda de energia devido factores como a frequência usada e a distância percorrida, assim como a
atenuação no espaço livre e outros tipos de perda.

3.3.1.Modos de Propagação

As ondas de rádio, dependendo da frequência utilizada, se propagam de diferentes modos, brevemente


referidos a seguir:

Elaborado pelo: Eng. Nuri Dhinema Pag. 44


 Propagação por onda de terra: as ondas de rádio se propagam acompanhando a superfície
da Terra, possibilitando comunicações além do horizonte. Este modo ocorre mais comumente
nas transmissões em LF e MF (i.e. ondas longas e ondas médias).
 Propagação por onda ionosférica: as ondas de rádio são refractadas pela ionosfera de volta
à Terra, possibilitando comunicações a longa distância. As transmissões em HF (i.e. ondas
curtas) propagam-se desse modo. Também referida como propagação por onda celeste.
 Propagação por onda directa: as ondas de rádio propagam-se ao longo de linhas quase rectas
do transmissor ao receptor; as antenas transmissora e receptora estão visíveis entre si.
Transmissões em VHF e UHF (e.g. FM, TV-VHF e TV-UHF) propagam-se por visibilidade
(ou linha de vista).

Para as ondas médias não é possível fazer-se a propagação por onda directa porque elas são
suportadas por antenas muito grandes e não é possível desligá-las da terra. Para estas antenas
podemos usar uma propagação por onda de terra. Este método é o mais viável porque as
comunicações são feitas à superfície da terra.

Ao conjunto da onda de directa e onda reflectida temos a chamada onda de céu.

Figura 9:Onda de céu

Este tipo de comunicação é para pontos altos. E não pode ser usada em todos os casos, por causa
dos diferentes obstáculos. Existe um terceiro processo de propagação que é o de onda ionosférica.
A onda de céu reflecte-se e volta para terra em certas condições. Em ondas médias esta propagação
só é possível de noite. Porque a terra é uma má condutora, apesar de guiar a onda, por isso ela
absorve a energia da onda.

Elaborado pelo: Eng. Nuri Dhinema Pag. 45


3.3.1.1.Propagação por onda de terra

A onda superficial se propaga em contacto com a superfície da Terra. Devido à condutividade


terrestre uma porção da energia da onda superficial é absorvida pela superfície terrestre. O grau
de absorção varia de modo inversamente proporcional à condutividade da superfície: quanto maior
a condutividade menor é a absorção, e maior é o ângulo de inclinação (o ângulo entre a superfície
e o plano de transmissão), resultando em um maior alcance da onda superficial. Por exemplo,
transmissões sobre água salgada têm alcance consideravelmente maior se comparado com
transmissões sobre terra.

Este tipo de propagação depende de 3 factores:

 Polarização da antena;
 Frequência da onda; e
 Características eléctricas da Terra;

Polarização da antena

A polarização de uma antena é a polarização da onda radiada pela antena numa dada direcção. No
caso da antena vertical, à superfície da Terra os campos das antenas real e imaginárias somam-se.

Fig.

Enquanto que para as antenas horizontais, a antena real e a imaginária anulam-se.

Fig.

Frequência da onda

Sendo a Terra um condutor não perfeito, a onda entra no seu interior e provoca uma profundidade
de penetração que depende das caractetísticas do terreno.

Elaborado pelo: Eng. Nuri Dhinema Pag. 46


2
Σ =√𝜔𝜇𝜏 onde : 𝜔 é a frequência angular; 𝜇 é a permeabilidade magnética ; e

𝜏 é a condutibilidade da Terra.

Nota: quanto maior forem as frequências, mais à superfície da Terra andam as correntes e maiores são
as perdas.

Características eléctricas da Terra

As características eléctricas da Terra são:

Condutibilidade (𝜏) ;

Constante dieléctrica (ε); e

Permeabilidade magnética (𝜇)

A permeabilidade magnética é quase constante para qualquer tipo de material e não depende da
frequência, enquanto a condutibilidade e a constante dieléctrica variam do terreno.

Em ondas longas e ondas médias o facto determinante na propagação é a condutibilidade. Em ondas


curtas, a constante dieléctrica e a condutibilidade têm a mesma importância. Em VHF e UHF o factor
determinante é a constante dieléctrica.

Tabela: Constante dieléctrica de vários materiais

Elaborado pelo: Eng. Nuri Dhinema Pag. 47


3.4.Propagação em Ondas Médias

Em Ondas médias o factor determinante para a propagação é a condutibilidade. Quanto maior for a
frequência, maiores serão as perdas. Interessa em ondas médias, uma propagação com uma frequência
pequena e uma condutibilidade baixa para a onda chegar mais longe. A condutibilidade deve ser média.

Durante o dia, quando a onda média chega a camada D ela é absorvida nessa camada. Durante a noite,
como a camada D desvanece-se, a onda chega à camada E que já está muito ionizada e isso permite
que a onda seja reflectida sem grandes perdas.

A onda ionosférica tem 2 factores que limitam a sua qualidade:

 Maior índice de interferência entre emissoras;


 A onda reflectida é muito instável devido à instabilidade da ionosfera.

Nas zonas próximas, a onda de terra é muito mais forte do que as outras ondas, ela abafa a todas
outras ondas. Nas zonas muito distantes a onda ionosférica é que maior sinal mas a qualidade não é
boa.

Na zona intermédia, onde as duas ondas têm uma potência quase idêntica elas apanham-se num fading
selectivo. Nesta situação as ondas ou somam-se ou subtraem-se de acordo com a grandeza de uma delas
e assim esta zona é de difícil recepção.

O alcance por onda de terra diminiu nesta região porque ela é prejudicada pela onda ionosférica. Para
combater essas ondas ionosféricas usam-se as antenas anti-fading, com uma altura de 0.52ᴧ
(correspondentes a 190º eléctricos).

3.3.4.Propagação em ondas curtas

A onda de terra só pode ser usada para frequências de ondas médias e longas porque tem perdas
razoáveis. Em ondas curtas, VHF e UHF e as outras não é possível usar-se porque as perdas são
elevadíssimas. Usar-se uma onda directa não seria possível porque teria que sobreelevar-se as antenas.
A propagação das ondas curtas só é possível via ionosfera, de acordo com as suas características
internas.
Elaborado pelo: Eng. Nuri Dhinema Pag. 48
Vantagens das ondas curtas

Consegue-se cobrir uma longa distância a um preço bastante baixo.

Desvantagens das ondas curtas

 As ondas curtas estão sujeitas as interferências, sugere-se que as emissoras trabalhem em canais
distantes;
 São de fraca qualidade e susceptíveis de captar ruídos;
 A instabilidade da ionosfera de segundo a segundo cria a mudança de frequência da onda;
 Tem o inconveniente da mudança de frequência ao longo do dia e dos meses.

Em ondas curtas, pelo facto de a reflexão fazer-se em altas altitudes (acima da camada G) o seu alcance
é maior do que as ondas médias.

Comportamento da ionosfera em função da frequência

Durante o dia as ondas longas e médias são absorvidas na camada D. As ondas curtas ou são
reflectidas, se elas forem menores do que a MUF, ou furam a camada F1 e F2 pois elas só são
reflectidas na camada F. As ondas de VHF, UHF e também são furam a ionosfera. Durante a noite as
ondas médias e longas são reflectidas na camada E, pois a camada D desvanece-se.

Propagação em VHF e UHF

Em VHF e UHF a propagação por onda directa é possível, porque as antenas já tem dimensões
suficientemente pequenas para poderem ser sobreelevadas. Para que a propagação possa ser
considerada uma propagação por onda directa, é preciso que os obstáculos da superfície terrestres
estejam suficientemente afastados da linha do raio da onda, entre a antena de emissão e a antena de
recepção. Neste caso a única atenuação sofrida pela onda é a resultante da Lei do Inverso da
Distância.

Lei do Inverso da Distância.

Elaborado pelo: Eng. Nuri Dhinema Pag. 49


“ Se a distância aumenta para o dobro, o campo eléctrico atenua-se para a metade, o que corresponde
a uma diminuição de 6dB. Se a distância decuplica, o campo reduz-se a um décimo, o que corresponde
a uma diminuição de 20dB.”

𝑗(𝜔𝑡−𝛽𝑟)
1
Segundo a expressão: 𝐸 = 𝐸0 𝑓(𝜃, 𝜑)𝑒
𝑟

Onde: 𝑓(𝜃, 𝜑) – factor direcional da antena de emissão; - r é a distância da antena de emissão ao


ponto de recepção.

Radiodifusão

 Não se tem em conta as características da antena de recepção, faz-se o cálculo da intensidade


do campo eléctrico no local de recepção. Define-se o valor do campo eléctrico utiliz´vel pelos
receptores mais simples;
 Propagação por onda directa não é possível devido à proximidade da antena de recepção da
Terra;
 O percurso de propagação varia de direcção para direcção.

Comunicação

 Tem-se em conta as características da antena de recepção, que considera-se incluída na cadeia


de comunicação. Faz-se o cálculo da potência colocada aos terminais do receptor;
 A comunicação por onda directa é uma situação possível e frequente;
 O percurso de propagação é único (entre as duas estações terminais).

Área de abertura efectiva duma antena de recepção

É a área que multiplicada pela densidade de potência radiada, no ponto de recepção e na direcção de
captação máxima da antena, dá-nos a potência disponível aos terminais da antena de recepção. Isto é:

Pr = 𝑆𝑟 ∗ 𝐴𝑒 , onde Pr é a potência radiada ;

Elaborado pelo: Eng. Nuri Dhinema Pag. 50


Ae – abertura efectiva

Sr – densidade de potência que chega

Para uma antena isotrópica a abertura efectiva é dada por:

ᴧ2
𝐴𝑒 =
4𝜋

Para um Dipolo de Hertz (Dipolo curto) a abertura efectiva é dada por:

3ᴧ2
𝐴𝑒 =
8𝜋

Para um Dipolo de meia onda a abertura efectiva é dada por:

3.3ᴧ2
𝐴𝑒 =
8𝜋

Para um Dipolo de onda completa a abertura efectiva é dada por:

4.8ᴧ2
𝐴𝑒 =
8𝜋

Para uma antena com reflector parabólico a abertura efectiva é dada por:

𝜋𝑑 2
𝐴𝑒 = (0.45 𝑎 0.69)
4

Perdas por propagação

Denomina-se perdas de propagação no espaço, as perdas de transmissão entre duas estações terminais
fictícias supostamente equipadas com antenas isotrópicas. Nestas condições as perdas de propagação
são dadas por:

𝑃
𝜏 = 10 log
𝑃𝑖
Elaborado pelo: Eng. Nuri Dhinema Pag. 51
Onde : P – potência radiada pela antena de emissão isotrópica;

Pi – potência recebida pela antena de recepção isotrópica.

Perdas no espaço livre

A densidade de potência radiada conseguida por uma antena isotrópica no espaço livre, a uma distância
D, é dada por:

𝑃𝑟𝑖𝑠𝑜
𝑆𝑟𝑖𝑠𝑜 = 4𝜋𝐷 2

Onde: Sr iso – densidade de potência radiada pela antena isotrópica

Pr iso – potência radiada radiada pela antena isotrópica

D – superfície da esfera

ᴧ2
Se a área de abertura duma antena isotrópica é dada por: 𝐴𝑖 = , então a potência recebida por
4𝜋 2

uma antena isotrópica situada no espaço livre, a uma distância D da antena de emissão, será:

𝑃𝑟𝑒𝑐 = 𝑆𝑟𝑖𝑠𝑜 ∗ 𝐴𝑖

Sistema de comunicação por referência

Um sistema de comunicação por referência é um sistema que usa uma antena isotrópica (emissão e
recepção) e nele desprezam-se as perdas nos feeders.

Sistema de comunicação real

Neste sistema temos antenas reais e feeders que introduzem perdas

Elaborado pelo: Eng. Nuri Dhinema Pag. 52


Figura 10:Sistema de comunicação real

Onde:

Pt – potência de transmissão

Lf1 – perdas no sistema de feeder (transmissão)

P1 – potência de emissão na antena de emissão (potência de transmissão)

G1(iso) – ganho isotrópico da antena de emissão

G2(iso) - ganho isotrópico da antena de recepção

P2- potência de emissão na antena de recepção

Lf2 - perdas no sistema de feeder (recepção)

Pr – potência de recepção

Perdas = ΓdB + Lf1dB + Lf2dB – G1dB –G2dB

𝑃𝑡 𝑃
𝐿𝑓1 = 10 log 𝑃1 𝐿𝑓2 = 10 log 𝑃𝑟2

Como é que a terra influi no sistema?

Elaborado pelo: Eng. Nuri Dhinema Pag. 53


De uma forma geral, três fenômenos básicos devem ser destacados quando se considera o ambiente
de propagação: reflexão, difração e espalhamento ou difusão.

Reflexão – quando a onda eletromagnética incide na superfície de separação de dois meios, parte da
energia é refletida e parte é transmitida, penetrando no segundo meio. As parcelas correspondentes
de energia são calculadas através dos coeficientes de reflexão e transmissão (ou refração). Tais
coeficientes dependem das propriedades elétricas dos meios em questão (permissividade elétrica e
condutividade), da polarização da onda, da frequência e do ângulo de incidência sobre a superfície de
separação, a qual deve ter dimensões muito maiores do que o comprimento de onda. Este fenômeno
é usualmente analisado pela óptica geométrica, fazendo-se uso da teoria de raios, sendo de
fundamental importância nos enlaces em visibilidade. Nesta situação, os raios refletidos no solo e nas
paredes dos prédios fazem variar a intensidade do sinal recebido relativamente ao raio que se propaga
em espaço livre;

Difração – é o fenômeno responsável pela existência de energia na região de não visibilidade de um


obstáculo. A intensidade do campo difratado apresenta um valor sempre inferior ao que seria obtido
em espaço livre. Matematicamente, avaliar a atenuação por difração é mais difícil do que os efeitos da
reflexão e transmissão dos sinais. Através da difração pelo relevo do terreno e por construções
existentes nas áreas urbanas e suburbanas das cidades pode-se cobrir áreas de sombra de um
transmissor;

Espalhamento – acontece quando o meio onde se propaga a energia possui obstáculos com
dimensões da ordem ou inferior ao comprimento de onda. Relativamente aos fenômenos da reflexão
e da difração, a análise teórica do espalhamento é bem mais complexa de ser estruturada, razão pela
qual os modelos empregados na prática são, em geral, empíricos, obtidos a partir de dados
experimentais. O espalhamento pela vegetação, por fios da rede elétrica, por sinais de trânsito, chuva,
etc., são exemplos que acontecem em áreas urbanas e suburbanas. Cumpre acrescentar que o meio
responsável pelo espalhamento sempre possui condutividade, portanto, dependendo da frequência,
observa-se adicionalmente certa absorção da onda em propagação.

Elaborado pelo: Eng. Nuri Dhinema Pag. 54


Considerando a influência da superfície da terra, aparentemente é impossível obter condições de
propagação em espaço livre. Entrectanto, dependendo a posição relativa do receptor em relação ao
transmissor e do coeficiente de reflexão do solo, existem situações onde o efeito do relevo pode ser
ignorado e a intensidade de campo elétrico na antena receptora pode ser aproximada por seu valor em
espaço livre. Para melhor fundamentar a questão é recomendável introduzir algumas definições
preliminares.

Figura 11:Difracção de ondas

3.5.Zonas de Fresnel
A propagação das ondas eletromagnéticas em um meio ilimitado e sem perda considerando a presença
de obstáculos pode ser entendida a partir do princípio de Huygens. Este princípio pode ser resumido
segundo os dois pontos apresentados a seguir:

1. Cada elemento de uma frente de onda em um determinado instante de tempo pode ser considerado
o centro de uma fonte secundária que gera frentes de ondas esféricas.

Elaborado pelo: Eng. Nuri Dhinema Pag. 55


2. A posição da frente de onda em qualquer posição no tempo é a envoltória de todas as frentes de
ondas esféricas.

Este princípio está ilustrado na Figura abaixo e explica o fenômeno da difração.

Figura 12:Princípio de Huygens

Uma consequência directa do princípio de Huygens são as zonas de Fresnel. As zonas ou elipsóides
de Fresnel podem ser entendidos como uma consequência do princípio de Huygens. De acordo com
a Figura 3, um campo eletromagnético no ponto é o somatório dos campos produzidos por re-
irradiação a partir de uma área circular e perpendicular ao eixo de propagação considerando o
deslocamento desta área do ponto de transmissão T até o ponto de recepção R. Assim, os círculos
projetados sobre o plano perpendicular que contém a área correspondem aos lugares geométrico dos
pontos com, (d+ ᴧ/2), (d+ 2ᴧ/2), (d+ nᴧ/2) , primeira zona de Fresnel, segunda zona de Fresnel, . .
, enésima zona de Fresnel. Nota-se que os círculos projectados sobre o plano perpendicular ao eixo
de propagação formam elipsóides que são os lugares geométricos dos pontos de mesma fase do campo
eletromagnético.

Elaborado pelo: Eng. Nuri Dhinema Pag. 56


Figura 13:Zonas de Fresnel

Teoria de Fresnel

“Cada frente de ondas é um conjunto infinito de fontes secundárias, podendo resultar num reforço
do campo devido à sobreposição das duas ondas”.

O espaço de propagação é considerado livre de obstáculos quando pelo menos 0,6 do raio da primeira
zona de Fresnel (R1), abaixo da linha de vista, não é invadido por qualquer obstáculo ao longo do
percurso. Desta forma o raio aproximado da enésima zona de Fresnel,
s 0,6 do raio da primeira zona de Fresnel , abaixo da linha de visada, não é invadido por qualquer
obstáculo ao longo do percurso. Desta forma o raio aproximado da enésima zona de Fresnel,
considerando-se a geometria apresentada na Figura 4, pode ser obtido a partir de:

𝑑1𝑑2
𝑅𝑛 ≅ √𝑛ᴧ( )
𝑑1 + 𝑑2

onde d1 e d2 são as distâncias do ponto T e do ponto R até a posição do obstáculo. Para a obtenção
do raio da primeira zona de Fresnel em metros e em função da frequência em GHz e das distâncias
𝑑1𝑑2
em Km, a equação anterior torna-se : 𝑅𝑛 ≅ 17.3 √ 𝑓𝑑

Elaborado pelo: Eng. Nuri Dhinema Pag. 57


Figura 14:Raio da 1ª Zona de Fresnel

3.6.Difracção
As perdas por difração em radioenlaces terrestres dependem do tipo de terreno e da vegetação. Para
um dado percurso com um único obstáculo as perdas por difração variam de acordo com o formato
do obstáculo, sendo que as perdas serão menores para obstáculos com o topo agudo, chamados de
gume de faca, e maiores para enlaces transhorizonte onde o obstáculo é a própria curvatura da terra.
A atenuação, em dB, para um único obstáculo, do tipo gume de faca, no percurso entre o transmissor
e o receptor:

𝐴0 (𝑉1) = 6.9 + 20 log(√(𝑉1 − 0.1)2 + 1 + 𝑉1 − 0.1)

Válida para valores de V1 maiores do que -0,78. O valor de V1 é simplesmente a relação entre a
distância da extremidade do obstáculo até à linha de vista H e o raio da primeira zona de Fresnel R 1,
ou seja:

±𝐻
𝑉1 =
𝑅1

Quando o obstáculo ultrapassa a linha de vista, H é tomado como positivo, caso contrário, H é
negativo, conforme mostrado na figura a seguir

Elaborado pelo: Eng. Nuri Dhinema Pag. 58


Figura 15:Obstáculos do tipo gume de faca

3.7.Reflexão e Refracção

3.7.1.Reflexão
A reflexão é fenômeno no qual uma propagação energética periódica (onda) volta ao ponto de origem
após atingir determinado ponto.

Essa propagação energética pode ser mecânica (como uma sucessão de ondas em uma corda) ou
electromagnética (propagação da luz), entrectanto, por ser mais voltado ao estudo da física óptica,
trataremos da reflexão da luz incidente sobre uma superfície. Para isso, é necessária a apresentação de
alguns conceitos:

Recta Normal

Quando a luz é refletida, mede-se o ângulo de incidência (i), e o ângulo de reflexão (r), como o desvio
dos feixes em relação a uma recta perpendicular (N) ao espelho:

Figura 16:Reflexão da luz num espelho

Elaborado pelo: Eng. Nuri Dhinema Pag. 59


Ângulo de Incidência

O ângulo de incidência é o respectivo ângulo (a partir da recta N) no qual um feixe de luz sobrevém
numa face espelhada. Sendo que, a reflexão realmente acontece se o ângulo i for diferente de 90° (feixe
paralelo ao espelho).

Ângulo de Reflexão

O ângulo de reflexão é o respectivo ângulo (a partir da recta N) no qual um feixe de luz provém de
uma face espelhada. Sendo assim, r é sempre diferente de 90°.

Uma onda que incida numa superfície com um ângulo θi é reflectida com o mesmo ângulo:
𝜃𝑖 = 𝜃𝑟
Como já vimos o índice de refracção de um meio é dado pelo quociente entre a velocidade da luz no
vácuo e a velocidade da luz nesse meio:
𝑐 ᴧ0
𝑛= =
𝑣 ᴧ𝑛

em que λo é o comprimento de onda no vácuo e λn o comprimento de onda no meio. Quanto maior


for n, menor a velocidade de propagação e menor será λ. Também se designa n como densidade óptica
do meio.

Notas:
1. ao passar num meio o que varia é o comprimento de onda da radiação - a frequência mantêm-se
inalterada.
2. se o meio for absorvente o índice de refracção é um número complexo onde a parte imaginária I n
está relacionada com a taxa de absorção do meio μ da seguinte forma:
𝑛𝐼 𝜔
𝜇=
𝑐

Elaborado pelo: Eng. Nuri Dhinema Pag. 60


3.7.1.1.Leis da Reflexão

1. A primeira lei da reflexão diz que o raio incidente, o raio refletido e a recta Normal são
coplanares. Ou seja, coexistem no mesmo plano geométrico;
2. O ângulo refletido é igual ao ângulo de incidência.

De forma análoga, a figura 17 representa as duas leis:

Figura 17:Representação das leis de Reflexão

As leis da reflexão podem ser analisadas pela teoria corpuscular da luz: seria a colisão dos fótons com
a superfície espelhada. De forma análoga à colisão de uma esfera completamente elástica, inclinada a
um determinado ângulo, com uma superfície. Nesse caso, não haveria perdas energéticas e a esfera
sairia da superfície em movimento ascendente e com direção igual à de chegada.

3.7.2.Refracção
Quando uma onda atravessa um meio com um índice de refracção n1 para um outro meio com um
índice de refracção n2, verifica-se a seguinte relação:
𝑛1 𝑠𝑒𝑛 𝜃1 = 𝑛1 𝑠𝑒𝑛 𝜃2
em que θ1 é o ângulo de incidência do raio em relação à normal da superfície e θ2 é o ângulo do raio
𝜋
refractado. Esta é conhecida pela lei da refracção ou lei de Snell. Podemos ver que quando 𝜃1 = 2 ,
𝑛1
o ângulo do raio refractado será dado por: 𝑆𝑒𝑛 𝜃𝑐 = = 𝑛12
𝑛2

Elaborado pelo: Eng. Nuri Dhinema Pag. 61


Chamamos de refração da luz o fenômeno em que ela é transmitida de um meio para outro diferente.
Nesta mudança de meios a frequência da onda luminosa não é alterada, embora sua velocidade e o
seu comprimento de onda sejam. Com a alteração da velocidade de propagação ocorre um desvio da
direção original. Para se entender melhor este fenômeno, imagine um raio de luz que passa de um
meio para outro de superfície plana, conforme mostra a figura abaixo:

Figura 18:Refracção da luz

Onde:

a) Raio 1 é o raio incidente, com velocidade e comprimento de onda característico;


b) Raio 2 é o raio refratado, com velocidade e comprimento de onda característico;
c) A recta tracejada é a linha normal à superfície;
d) O ângulo formado entre o raio 1 e a recta normal é o ângulo de incidência;
e) O ângulo formado entre o raio 2 e a recta normal é o ângulo de refração;
f) A fronteira entre os dois meios é um dioptro plano.

Conhecendo os elementos de uma refração podemos entender o fenômeno através das duas leis que
o regem.

1ª Lei da Refração

A 1ª lei da refração diz que o raio incidente (raio 1), o raio refractado (raio 2) e a recta normal ao
ponto de incidência (recta tracejada) estão contidos no mesmo plano, que no caso do desenho acima
é o plano da tela.

Elaborado pelo: Eng. Nuri Dhinema Pag. 62


2ª Lei da Refração - Lei de Snell

A 2ª lei da refração é utilizada para calcular o desvio dos raios de luz ao mudarem de meio, e é expressa
por:

No entanto, sabemos que:

Além de que:

Ao agruparmos estas informações, chegamos a uma forma completa da Lei de Snell:

Dioptro

É todo o sistema formado por dois meios homogêneos e transparentes. Quando esta separação
acontece em um meio plano, chamamos então, dioptro plano.

Elaborado pelo: Eng. Nuri Dhinema Pag. 63


Figura 19:Dioptro plano

A figura acima representa um dioptro plano, na separação entre a água e o ar, que são dois meios
homogêneos e transparentes.

Formação de imagens através de um dioptro

Considere um pescador que vê um peixe em um lago. O peixe encontra-se a uma profundidade H


da superfície da água. O pescador o vê a uma profundidade h. Conforme mostra a figura abaixo:

Figura 20:Formação de imagens através dum dioptro

A fórmula que determina esta distância é:

Elaborado pelo: Eng. Nuri Dhinema Pag. 64


3.3 O Arco-Íris

Um arco-íris (também chamado arco-celeste, arco-da-aliança, arco-da-chuva, arco-da-velha) é


um fenômeno óptico e meteorológico que separa a luz do sol em seu espectro (aproximadamente)
contínuo quando o sol brilha sobre gotas de chuva. É um arco multicolorido com o vermelho no seu
exterior e o violeta em seu interior; a ordem completa é vermelho, laranja, amarelo, verde, azul, anil
(ou índigo) e violeta. No entanto, a grande maioria das pessoas consegue discernir apenas seis cores,
e o próprio Newton viu apenas cinco cores, e adicionou mais duas apenas para fazer analogia com as
sete notas musicais.

Para ajudar a lembrar a sequência de cores do arco-íris, usa-se a mnemónica: «Vermelho lá vai violeta»,
em que l, a,v, a,i representam a sequência laranja, amarelo, verde, azul, índigo. O efeito do arco-íris
pode ser observado sempre que existirem gotas de água suspensas no ar e a luz do sol estiver brilhando
acima do observador em uma baixa altitude ou ângulo. O mais espetacular arco-íris aparece quando
metade do céu ainda está escuro com nuvens de chuva e o observador está em um local com céu claro.
Outro local propício à apreciação do arco-íris é perto de cachoeiras.

Como curiosidade vamos descrever a formação de um arco-íris. O arco-íris é produzido pela dispersão
da luz solar quando é refractada no interior de uma gotícula de água. Para ser observado um arco-íris
o sol deve estar descoberto e incidir numa zona em que esteja a chover em frente do observador.

Os raios que entraram na gota e incidirem na parede interna com um ângulo inferior são refractados
para o outro lado da gota e os que incidirem com um ângulo superior não poderão chegar ao
observador. Por isso a luz vai emergir da gota tangencialmente à superfície e portanto o arco-íris forma
um cone circular com um ângulo com a horizontal que é o complementar do ângulo crítico da
superfície água-ar, ou seja: θ = 90 – arcsen (1/1.33) = 42º, em que 1.33 é o índice de refracção da água.
As cores violeta e azul surgem em cima do arco e o vermelho no final porque a água tem um índice
de refracção maior para as primeiras.

Elaborado pelo: Eng. Nuri Dhinema Pag. 65


Figura 21:Formação do arco-íris

Elaborado pelo: Eng. Nuri Dhinema Pag. 66


Bibliografia

D. Cheng, “Field and wave electromagnetics”, Addison-Wesley, 1989.


D. Marcuse, “Light transmission optics”, Van Nostrand Reinhold, 1972.
D. Pozar, “Microwave engineering”, Addsion-Wesley, 1990.
Fransisco J.C. Marques Dias “Antenas” Folhas da AM;

G. Keiser, “Optical fiber communications”, McGraw-Hill, 1991.


G. Miner, “Lines and Electromagnetic Fields for Engineers”, Oxvord University Press, 1996.

Hall, Barclay, Hewitt, “Propagation of Radiowaves” Phisics and Modeling, 1991;

J. Jackson, “Classical eletrodynamics”, John Wiley, 1999.


Kraus and Fleisch, “Electromagnetics with Applications” McGraw-Hill, 1999.

M. Abramowitz, I. Stegun (ed), “Handbook of Mathematical Functions”, Dover, 1965.

M. de Abreu Foro, “Radiação” Técnica AEIST, 1980;

Robert Chipman, “Teoria e problemas de Linhas de Transmissão”, 1972;

Elaborado pelo: Eng. Nuri Dhinema Pag. 67

Você também pode gostar