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As Mulheres na Capoeira

As Mulheres na
Capoeira

Por

Elias Fernando Ribeiro


(Mestre Xoroquinho)

Irani Jorge da Silva


(Aluno Camaleão)

Porto Velho – RO Página 1 5/12/2021


As Mulheres na Capoeira

Indice

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As Mulheres na Capoeira

Palavras do Mestre Xoroquinho

Nasceu nas senzalas, veio para a cidade. Cresceu nos


quilombos, conheceu a alta-sociedade. Está fazendo a volta ao
mundo da pré-escola a universidade. Diga quem não quer jogar o
jogo da liberdade? Negros, brancos, amarelos... Vai da criança à
terceira idade. É a capoeira de norte a sul meu Senhor, entrando
na roda e mostrando o seu valor. Axé!

A capoeira

A Capoeira é a história, filosofia de vida, dança, música


ritmo educação, jogo, cultura, poesia e arte de brincar com o
nosso próprio corpo. Não só dá psicomotricidade, mas dá
flexibilidade, criatividade, agilidade, explosão e alongamento,
resistência muscular e aeróbica. Tudo isto é movimento físico,
mental. Benefício da atividade, e saúde e da disciplina e da
percepção. Isto é capoeira. Axé!

Declaração

Capoeira é luz que harmoniza o corpo, a mente, a vida. Arte


bela, proporcional a alegria de seus criadores, negros fortes,
responsáveis pela felicidade de seus discípulos, dos mais antigos
aos mais jovens. Capoeira razão de vida. Conquista só quem
pratica com seriedade, determinação e persistência. Sabe o
retorno das respostas adquiridas por tentar aproximar-se da
perfeição de um mestre.

Capoeira, uma vez capoeira, impossível largar essa filosofia,


porque o objetivo não é derrubar o oponente, mas sim jogar e
gingar com ele. Isto se chama “mandinga”, que é utilizada dentro
da roda, e da vida de um capoeirista.

Capoeira é respeitar e orgulhar-se de seus ancestrais. Ter


consciência de que eles foram extremamente explorados, mas o

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principal foi que nada chegou a ofuscar a cultura desta forte raça
com poder suficiente para brilhar nos dias atuais.
Só participando, em todos os momentos, para saber um
pouco desta arte-cultura tão admirável por seus momentos únicos.
Logo, enquanto tiver vida, quero estar ao lado do berimbau,
atabaque, pandeiro e do agogô, e também dos mestres, e ouvindo
as histórias dos ancestrais. Capoeiristicamente falando!

Pensamento

Faz-se necessário que a juventude caminhe na trilha dos


exemplos. Que se guie, sobretudo, por aqueles que deixaram uma
pegada mais profunda nos caminhos do mundo. Só assim poderá
surgir nela a luz de novas inspirações! Quando se faz o bem
conscientemente, quando se faz com naturalidade, sem soberba e
nem arrogância, por uma necessidade espiritual, a vida
logicamente se amplia. Axe!

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Dedicatória

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Introdução

Mesmo com o enorme legado cultural africano na formação


das nações americanas, no Brasil esta massa de conhecimentos
tem sido ignorada enquanto objeto de estudos nas classes
estudantis do ensino regular.

Diz-se que esta ignorância, da parte de quem escreve a


história, de modo consciente ou não, trás consigo a idéia de não
fornecer modelos de referência àqueles indivíduos de origem
africana.

A eliminação cultural não é novidade na relação entre povos


dominadores e dominados e, no nosso caso, começou ainda na
colonização. Ao observamos registros fim do século XIX,
encontramos, por exemplo, documentos sobre a “higienização” do
centro de Salvador – BA. Naquela ocasião, os negros foram
afastados para a periferia da cidade com claros objetivos estéticos.
Isto, analisado friamente, e somado às idéias coloniais, justifica o
comportamento encontrado ainda hoje nos livros de geografia
editados por brasileiros. Nestes, o continente africano está, quase
sempre, colocado no fim das publicações e o conteúdo
normalmente é mínimo, se comparado ao conteúdo dispensado ao
estudo das demais áreas do planeta. No século XIX, o Brasil
totalmente influenciado pela Europa, queria ser branco.

A África é o berço da civilização, como tal, seus estudos


geográficos deveriam iniciar todo e qualquer outro relacionado à
história da humanidade, já que os fluxos migratórios que ali
começaram, deram origem aos demais povos ao redor do globo.
Desta forma, podemos dizer que trata-se de um paradoxo ignorar-
se tal importância.

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Capoeira - Origens

Há muito tempo há discussões acerca de quais são as reais


origens da capoeira. Há quem diga que a capoeira não é uma arte
genuinamente brasileira, suas origens estariam nas savanas
africanas e que nós brasileiros apenas nos apropriamos deste
extrato cultural de algum, ou alguns, dos povos trazidos ao Brasil
durante a diáspora africana. Há também aqueles que repudiam tal
afirmação, pois estudos recentes demonstraram que em toda a
África não existe outra manifestação cultural semelhante à
capoeira tal e qual a praticada no Brasil, hoje e em tempos
passados. “Pessoalmente, acredito que esta discussão seja inútil.
A origem africana ou brasileira é irrelevante, tendo em vista que a
Capoeira já se encontra tão arraigada no contexto histórico e
cultural do país, que virou patrimônio brasileiro,
independentemente de sua origem, tal como ocorreu com o
futebol.” [José Augusto Maciel Torres – 2008].

Olhando-se para a capoeira enquanto esporte nacional, de


fato, as origens são irrelevantes, dado o grau de absorção de seus
conceitos pela população brasileira, e estrangeira também. A
aceitação de “ser este um esporte brasileiro” é geral. Entretanto,
entendemos que há alguns dados pouco analisados os quais
permitem creditar às mulheres uma parte importante do processo
de criação e maturação da capoeira desde a África, entra aí a
importância de suas origens. Neste livro queremos mostrar a
importância da mulher naquela que é considerada, desde o século
passado, a “ginástica nacional”.

África e Europa – século XV

Na áfrica do século XV, poucos povos conheciam a escrita.


Alguns povos do norte da África já a conheciam, principalmente
os islâmicos eram letrados devido ao comércio e as necessidades
religiosas. Incluem-se também neste grupo os egípcios. Na
Europa e suas novas colônias, mesmo conhecidas as letras, a
alfabetização era luxo de alguns ricos e dos religiosos, diga-se

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Igreja Católica e, na maior parte das vezes, utilizada apenas para o


controle das finanças e bens.

Muito do que sabemos hoje acerca da diáspora e da vida dos


povos daqui e da África durante os primeiros séculos da
colonização, é resultado de pesquisas em livros europeus que
registravam a compra e a venda das pessoas consideradas
escravas. Nestes registros tais pessoas eram tratadas apenas como
gado.

Ora ditas estas coisas, pergunta-se: há quinhentos anos, a


quem interessaria, fala-se aqui do europeu dominador, conhecedor
da palavra escrita, o que o negro ou o índio faziam em seus
poucos momentos nos quais não se encontrava trabalhando? Ou
aquela dança desengonçada praticada pelos mais jovens? Ou os
cultos e as celebrações? Os europeus fizeram poucos registros
destas coisas, provavelmente por ser o cotidiano, tornou-se o
“lugar comum”. A exceção ficou por conta dos artistas e de
alguns poucos estudiosos que por aqui passaram, estes registraram
alguns aspectos da vida nas colônias. Mais fácil ainda é
compreender que, por falta de conhecimento de um sistema de
comunicação escrita, pelo menos dos primeiros negros que aqui
desembarcaram, parte de sua própria história foi perdida.

À tragédia anterior, some-se que no Brasil e demais países


americanos observamos a ocorrência daquilo que podemos
chamar de eliminação cultural, como dito anteriormente: para
exercer um controle mais fácil dos homens e mulheres
escravizados, os europeus misturavam indivíduos de povos de
diferentes origens e línguas, povos estes, muitas vezes inimigos
entre si em sua terra natal. Desta forma, com a comunicação
dificultada, africanos, e também os índios, enquanto brigavam
entre – si, facilitavam o controle do dominador. Não atentando,
muitas vezes, que eram hostilizados por um dominador comum.
Criado o empecilho à comunicação torna-se evidente que
registrar-se a vida diária tornara-se impraticável pelos dominados.

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Sabemos que a história analisada apenas pelos pontos de


vista do vencedor, pode trazer consigo uma visão distorcida dos
fatos.

O Período Colonial Brasileiro

É impossível compreender o processo de criação, ou


adaptação, da capoeira no Brasil sem entendermos como viviam
as pessoas no período colonial e como se dava a divisão social.

Gilberto Freire afirma que “... devemos considerar


preponderante o fato de que as técnicas de produção influenciam
a estrutura da sociedade e na caracterização de sua fisionomia
moral. É uma influência sujeita às reações das outras.” [Gilberto
Freire – 1930].

A história das sociedades demonstra que diversos povos em


variadas épocas, usaram o sistema econômico escravagista.
Mesmo na África, muitos povos tinham escravos. Ter ou ser
escravo era natural e moralmente aceito em grande parte das
sociedades organizadas.

Também registra muitas atrocidades cometidas do homem


para com o seu semelhante e contra a natureza, porquanto na
busca do lucro, em muitas épocas, adaptou-se a sociedade a
economia e não a economia à sociedade. A escravidão afro-
Americana estabelece o dito anterior porque foi um acidente sem
precedentes na história do homem. Demonstra que, durante cerca
de quatro séculos, no caso do Brasil, milhões de pessoas foram
arrancadas de sua terra, tiveram sua dignidade extinta e passaram
à condição de animais, pela ganância de uns e o medo de outros.
Mesmo sendo a escravidão lugar comum nas sociedades da época,
os escravos eram normalmente os perdedores de uma guerra ou
pessoas endividadas, vendidas para saldar seus compromissos.
Diferente da situação que se desenrolava na America, local para
onde milhões de africanos foram enviados apenas para a

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dinamização da economia da Europa e o aumento dos lucros dos


reinos e sociedades locais.

Ora, o modo de produção de bens e serviços adotados,


influenciou o modo como se dividiu a sociedade que nascia no
Brasil, e moldou suas ações. Para citar um exemplo, sabemos que
o plantio da cana-de-açúcar requeria grande quantidade de mão de
obra. Se considerarmos que havia poucos brancos e milhares de
escravos, pode-se deduzir que o único expediente para o controle
da população, era o da violência pelo dominador e o medo, pelo
indivíduo dominado. Violência esta que começava na busca desta
mão de obra. Ficando estabelecida a adaptação da estrutura social
às necessidades econômicas.

A extração, as monoculturas, o ciclo do ouro, a pecuária e


todas as demais atividades econômicas primárias desenvolvidas
na época, exigiam grande quantidade de mão de obra; a
intensificação na busca por esta mão-de-obra era incentivada pela
crescente exportação de produtos para as metrópoles.

Considerando-se a pequena quantidade de indivíduos


brancos aqui, podemos concluir que o método de controle do
trabalho e das pessoas, foi implacável. E não é exagero pensar:
baseado no medo. Tínhamos aqui o indivíduo dominador em
pequena quantidade: branco, europeu, dono dos meios de
produção, armas e benfeitorias; e os indivíduos dominados:
mulheres brancas (em pequeníssimas quantidades) os brancos
pobres assalariados ou artesãos e abaixo disto, milhares de índios
e os negros africanos.

Temos então, conforme Gilberto Freire, estabelecido que o


sistema econômico europeu, no período colonial, moldou o
sistema social brasileiro estabelecendo o regime de trabalho
escravagista e o modelo social chamado patriarcal. Originando
daí, por parte principalmente do negro, a necessidade de busca de
segurança para a sua vida através da resistência a escravidão
devido à extrema violência do colonizador. Encontramos neste

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fato, a adaptação do n`Golo africano à nova realidade de seus


conhecedores, os quais transformaram-no, através de um processo
gradual, na arte marcial conhecida hoje por capoeira do Brasil.

Os Índios

A princípio, foi o índio explorado como mão de obra sem se


dar conta disto. No início da colonização os portugueses não se
aventuravam pelo interior das terras recém descobertas,
preferindo o comércio baseado na troca de bens, cabendo ao índio
a coleta. Os portugueses traziam facas, machados, espelhos, etc.,
ou seja, bens manufaturados e produtos de metalurgia e levavam o
pau-brasil, peles e animais, alimentos vegetais, entre outros.

Esta forma de comércio denominada escambo, foi muito


incentivada pelo rei de Portugal na época do descobrimento; deu
certo até certo tempo, mais ou menos até 1545. “O regimento ao
qual eles deveriam se submeter deixava claro que seus contatos
com os nativos deveriam restringir-se ao estritamente necessário”
[Eduardo Bueno – 1998].

Naquela ocasião (1545), problemas econômicos na


metrópole fizeram os portugueses voltarem seus olhos para o
Brasil. O caminho das Índias já não era mais tão lucrativo. “Por
outro lado, na Índia, como se não bastasse o perigo permanente e
os constantes conflitos com os muçulmanos, Portugal obtinha
cada vez menos dinheiro com as especiarias. Além de ter
inundado o mercado europeu com grandes quantidades de
pimenta, noz-moscada, canela e gengibre – o que forçara a
diminuição do preço daqueles produtos – os portugueses
encontravam cada vez mais dificuldades para a sua obtenção: os
freqüentes combates contra os muçulmanos impunham uma série
de obstáculos ao comércio e ao tráfego das especiarias.” [Eduardo
Bueno – 1999].

Somam-se a isto, as freqüentes invasões francesas e


holandesas no litoral brasileiro. Assim, tornou-se necessário o

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estabelecimento de colônias nas terras do pau-brasil, bem como a


produção de bens na nova colônia ao menor custo possível,
mesmo porque era necessário pagarem-se os investimentos no
Brasil e nas Índias, principalmente com os navios. Não sendo
mais o escambo tão lucrativo, condenou-se então o índio ao
trabalho escravo!

No entanto, o índio, desacostumado que era à economia de


acúmulo, principal característica do sistema capitalista, não se
adaptou ao trabalho contínuo. Assim, dada a sua resistência, foi
considerado preguiçoso, tornando-se, numa uma visão
portuguesa, indolente e inapto para o trabalho.

A explicação para a “indolência” indígena encontra-se no


fato de que, em seu ambiente e dentro de sua cultura, o índio
produz apenas o suficiente para o seu consumo imediato; dentro
de uma tradição ancestral, ele caça ou pesca para comer hoje.
Suas plantações produzem o suficiente apenas para uma
determinada época. Tal comportamento “econômico” é
compreensível à luz do clima chuvoso nas Américas tropicais: há
praticamente duas estações, a chuvosa e a menos chuvosa, desta
forma, a produção agrícola dura o ano todo, variando-se apenas o
que se produz. A caça e a pesca abundantes eliminam a
necessidade do trabalho contínuo. Observava-se ainda o senso de
comunidade entre os indígenas, o que fazia que estes não se
vissem como os donos dos meios de produção ou do que fosse
produzido: tudo era compartilhado por todos, já que a terra não
podia, na visão indígena, ser possuída. Podemos afirmar que os
indígenas viviam em um sistema econômico parecido ao
socialista.

Este comportamento sócio-econômico permitia ao índio


permanecer mais tempo com sua família, estreitando desta forma
os laços comunitários e o cuidado mútuo.

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Tal visão foi absolutamente incompreensível ao explorador


português da época, que não aceitou a cultura diferente da sua. Os
índios foram considerados pelos europeus, uma sub-raça.

Os Africanos

No Brasil, o clima favorecia o estabelecimento da indústria


canavieira. Esta, por sua vez, demandava quantidades enormes de
trabalhadores. A partir desta constatação, incrementou-se o
transporte de Africanos para o Brasil. Sabe-se que bem antes do
ciclo da cana-de-açúcar, já havia negros escravizados no Brasil.

Dada a extrema dificuldade encontrada na escravização do


índio americano, os portugueses, e demais povos europeus,
voltaram seus olhos para a África. Os portugueses já tinham
experiência na escravização dos africanos, dadas as necessidades
de mão-de-obra em suas novas colônias ao longo da costa
africana onde também produziam cana-de-açúcar. Acrescente-se a
isto que em suas explorações pela costa atlântica da África,
enquanto buscavam o caminho para as índias, Portugal instalou
diversas feitorias para o abastecimento e cuidado dos navios em
trânsito.

Estudos de Waldo Frank [Gilberto Freira – 1930]


conferiram ao negro o título de “verdadeiro filho dos trópicos”,
dadas as suas adaptações físicas e psicológicas. O negro era
perfeito para o trabalho que se propunha nas Américas devido à
sua estrutura física, adaptada ao clima tropical. A adaptação
psicológica deve ser entendida através da visão que o negro tinha
de sua nova condição: era escravo, mas em um sistema
econômico que já conhecia; isto é claro, facilita a compreensão de
que o negro cativo adaptou-se mais facilmente, mas não nos leva
necessariamente idéia de que ele aceitou passivamente o fato.
Tais homens e mulheres, presumindo o conhecimento de técnicas
de metalurgia, manejo de gado, culinária, etc., com certeza
tiveram sua adaptação facilitada por serem estas atividades já
praticadas em sua terra de origem.

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Assim, a escolha africana por parte dos Europeus parece-nos


obvia: os povos indígenas americanos, à época de seu primeiro
contato com os europeus, encontravam-se na idade da pedra, ou
pré-agrícola, segundo alguns historiadores. A exceção ficava por
conta dos Maias, Astecas e Incas, povos estes que viviam na
cordilheira do Andes e América Central e que foram aniquilados
pelos europeus, mais precisamente os espanhóis, quando estes
descobriram ouro em seus domínios.

Em contraponto à condição dos povos americanos, a maioria


dos povos africanos possuía uma cultura muito desenvolvida, em
alguns aspectos muitas vezes em condições superiores às
encontradas na Europa. “Os escravos vindos das áreas de cultura
mais adiantadas foram um elemento ativo, criador e, quase que se
pode acrescentar, nobre na colonização do Brasil, degradado
apenas pela condição de escravos” [Gilberto Freire – 1930].

A Diáspora

Já a partir do transporte marítimo, cujas naves eram


conhecidas pelo nome de navios negreiros, podemos deduzir a
precariedade das condições a que os africanos foram submetidos
ao analisarmos o outro nome comum destas embarcações:
tumbeiros. Clara alusão às criptas, pois muitos dos cativos não
chegavam a conhecer a nova terra, vindo a falecer dos maus tratos
e das várias doenças disseminadas devido à falta de condições
mínimas de higiene.

“Se há hábito que faça o monge, é o do escravo; e o africano


foi muitas vezes obrigado a despir a sua camisola de Malê para
vir de tanga, nos negreiros imundos, da África para o Brasil. Para
de tanga tornar-se carregador de “tigre”. A escravidão
desenraizou o negro do seu meio social e familiar, soltando-o
entre gente estranha e muitas vezes hostil.” [Manoel Correia de
Andrade – 1987].

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O termo Malê, em iorubá, um idioma africano, significa


“islâmico”.

Ao fazer tal referencia a “hábito” e “male”, Manoel Correia


deixa claro que este povo em particular tinha rígidas tradições
relacionadas ao cuidado pessoal, alimentos e higiene, justamente
por serem muçulmanos, mas foram obrigados a acomodar-se
numa condição vil imposta pelo colonizador. A acomodação deve
ser entendida pelo cuidado com a própria vida, no sentido de não
perdê-la, e pela esperança de voltar a ver a terra ancestral.

O banzo, ou balanço, provocado pelas ondas do mar,


provocava terrível mal-estar durante a viagem. Esta palavra foi
adaptada para designar também depressão psicológica extrema.
Esta depressão tirou a vida de muitos africanos, quando estes
concluíram ser quase impossível livrar-se da opressão. Muitos
preferiram manter a sua dignidade à própria vida.

Os negros reagiram à escravidão, às vezes com o suicídio,


no extremo do banzo, outras vezes com o assassinato de seus
senhores e capatazes e, na maioria das vezes, com a fuga. Esta
última invariavelmente terminava em algum quilombo.

A Nova Sociedade Brasileira

No convívio das três etnias: brancos, negros e índios, no


período colonial, favoreceram-se mais os brancos e índios,
porquanto estes receberam dos negros, novas técnicas,
consideradas avançadas, para a realização de muitos trabalhos.
“Os negros não abandonaram a sua cultura, transmitiram-na aos
índios.” [Gilberto Freire -1930].

O ambiente americano impôs ao europeu a necessidade de


relacionar-se com índios e africanos quanto às comunicações
genéticas e sociais [Gilberto Freire – 1930]. Praticamente não
havia mulheres brancas disponíveis, assim, mesmo mantidas as
relações superiores/inferiores, o passar do tempo afrouxou os

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padrões europeus e permitiu a criação de famílias dentro de novas


circunstâncias genéticas. Obviamente que tal comportamento
social caminhou no sentido da redução das distancias entre as
camadas sociais em alguns lugares. Temos agora, entre brancos,
negros e índios, indivíduos livres resultados desta miscigenação.
Nasceram o caboclo, o mameluco e o cafuzo.

Apesar da Igreja Católica na época colonial impor a


necessidade da pureza da raça, os costumes incentivarem a
miscigenação, “o Brasil formou-se, despreocupados os seus
colonizadores, da unidade ou pureza da raça.” [Gilberto Freire –
1930]. Ou seja, a importação de pessoas também visava também
abastecer de mulheres as colônias, fosse para a satisfação sexual,
fosse para o aumento do espólio financeiro do senhor branco. Os
filhos das mulheres negras, nascidos escravos, já tinham sua
propriedade assegurada pelo senhor branco a custo zero.

Lemos em Casa Grande e Senzala: “Ilustres famílias


daquele estado, que ainda hoje guardam traços negróides, terão
tido o seu começo nessa união de brancos com negras Minas
vindas da África como escravas e aqui elevadas a condição de
donas de casa... Quantas terão permanecido como escravas ao
mesmo tempo que amantes dos senhores brancos; preferidas
como mucamas e cozinheiras. A negra Mina apresentou-se
sempre no Brasil com todas as qualidades de uma excelente
companheira: sadia, engenhosa, sagaz, afetiva. Com semelhantes
predicados, acrescenta Araripe, e nas condições precárias em que
no primeiro e segundo séculos o Brasil se encontrava em matéria
de belo-sexo, era impossível que a Mina não dominasse a
situação.” [Gilberto freire – 1930]

Negros e índios também miscigenaram entre si. Documentos


relatam que, principalmente nos Quilombos, negros fugidos
também casavam com mulheres de diferentes etnias. Muitas
vezes, uma mulher era de mais de um homem simultaneamente.

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Na recém criada sociedade brasileira, a mulher negra foi,


indubitavelmente a pessoa mais importante ao determinar os
novos falares brasileiros, muito de sua culinária e principalmente
as novas feições do povo brasileiro nas principais regiões
metropolitanas da época. Apesar disto, foi a pessoa que mais
sofreu durante este processo.

Em suas experiências na casa grande, as negras misturaram


histórias africanas com histórias portuguesas, introduziram as
fábulas na insipiente cultura brasileira além de modificar e
acrescentar palavras no léxico português, tornando-o, nas palavras
de Gilberto freire, mais encantador.

“A ama negra fez, muitas vezes com a palavra, o que fez


com a comida: machucou-as, tirou-lhes as espinhas e os ossos, as
durezas, só deixando para a boca do menino branco as sílabas
moles... a linguagem geral, a fala séria, solene, da gente grande,
toda ela sofreu no Brasil, ao contato do senhor com o escravo, um
amolecimento de resultados às vezes delicioso para os ouvidos. ...
Mães negras e mucamas, aliadas aos meninos e às meninas, às
moças brancas das casas grandes, criaram um português diverso
do hiato gramatical que os jesuítas tentaram ensinar aos meninos
índios e semi-brancos em seus colégios... João Ribeiro, mestre em
assuntos de português e de história da língua nacional, que o diga
com voz autorizada: número copioso de vocábulos africanos
penetrou na língua portuguesa, especialmente no domínio do
Brasil, por efeito das relações estabelecidas com as raças negras.”
[Gilberto Freire – 1930].

O mesmo Gilberto Freire afirma que a contribuição dos


“falares dos negros ao idioma português é tão importante que
somos metades confraternizantes que se vêem mutuamente
enriquecendo de valores e experiências diversas...” isto porque é
impossível dissociar da cultura brasileira os elementos africanos
já que desde a casa grande foram, principalmente pelas mulheres,
inseridos no cotidiano nacional.

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As Mulheres na Capoeira

Percebemos o lado ruim desta história ao analisarmos que


desde crianças, os meninos e meninas brancos eram ensinados, e
incentivados, a criar e manter uma diferenciação nos
relacionamentos com os índios e africanos, na maioria das vezes
usando a violência. Desta forma, as crianças negras e índias eram
tratadas como objetos pelas outras crianças brancas, normalmente
da mesma idade, além dos adultos, seus pais. Normalmente, as
crianças negras e índias tornavam-se brinquedos nas mãos das
demais brancas. “Enfim, a ridícula ternura dos pais anima o
insuportável despotismo dos filhos.” [Gilberto Freira – 1930]

É de supor que a repercussão psíquica sobre os adultos


(brancos) de semelhante tipo de relações infantis – seja favorável
ao desenvolvimento de tendências sadistas e masoquistas. Sobre a
criança do sexo feminino, principalmente, se aguça o sadismo
pela maior fixedez e monotonia nas relações da senhora com a
escrava. De fato, a mulher branca da época colonial era quase
prisioneira em sua casa. Muitas vezes analfabeta, dependia em
tudo de seu marido e senhor, sendo este muitas vezes mais senhor
do que marido. Gilberto Freire compara com a vida da mulher
árabe, a vida da mulher brasileira da época colonial até o fim do
século XIX. Reclusa e sem direitos! [nota dos autores]

As senhoras de engenho eram, conforme já dito, mais cruéis


que os homens no trato com as mulheres negras ao seu serviço.
Atribui-se este fato à competição pela atenção do marido já que
este quase sempre dividia seu leito com as escravas. Estas, por sua
vez, além de violentadas pelos caprichos de homens sem pudores,
sofriam na sequencia, a violência das esposas ciumentas.

Indo um pouco mais longe, devemos considerar que muitos


povos africanos trazidos para o Brasil tinham cultura muçulmana.
Neste particular, a mulher que sofria a violência sexual,
normalmente era segregada de seu grupo social, quando este
existia, e dificilmente conseguia estabelecer novas relações
afetivas com outros homens de sua etnia e cultura, já que além de

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depender da autorização de seu senhor branco, vinha a ser


considerada impura pelos de sua cultura.

No Brasil-Colônia, na recém formada sociedade patriarcal, o


Senhor branco, ditava os rumos: tudo era por si e para si. O
regime econômico escravagista criava cepas de cidadãos cujos
direitos variavam em função das posses e, neste particular, é
claro, os escravos não tinham direito algum, posto serem eles
apenas objetos.

Origens da Capoeira

Dentre as várias hipóteses para a origem da capoeira, a que


tomou destaque nas três últimas décadas é a que confere ao n’golo
africano as bases para a criação da capoeira brasileira.

Segundo estudos de Mathias Röhrig Assunção, o mestre


cobra mansa, esta arte praticada em algumas regiões da África
chegou ao nosso conhecimento quando, em 1960, o mestre
Pastinha recebeu em sua academia o pintor Albano Neves e Souza
o qual na ocasião disse-lhe que conhecera na África uma dança
semelhante a nossa capoeira com o nome de N’golo.

Contou-lhe Albano que o n’golo era um ritual praticado no


sul de Angola onde dois oponentes tentavam atingir-se
mutuamente no rosto apenas com os pés em um local demarcado
no chão ao som de palmas; um movimento em particular chama a
atenção: é o que imita o movimento do coice da zebra, que é,
aliás, o significado de N’golo (coice da zebra).

Este ritual era praticado durante o “mufico, efico ou


efundula”, que é o período no qual a menina é considerada apta ao
casamento, passando à condição de mulher.

Esta teoria tem grande credibilidade já que nos meios


urbanos como Salvador e Rio de Janeiro, ambas as cidades
portuárias de grande afluxo de navios negreiros, a capoeira

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difundiu-se principalmente entre os negros originários da África


centro-ocidental e mais especificamente, do Congo, Angola e
Benguela. A capoeira, já no século XIX, era chamada de
“brincadeira dos negros-angola”.

Tais afirmativas permitem-nos, inicialmente, chegar a duas


conclusões: a primeira acerca do caráter também marcial da
“dança”, termo usado por Albano Neves e Souza, desde a sua
origem, já que era utilizada para derrotar um oponente na busca
por um prêmio; a segunda e principal, que coloca a mulher como
centro motivador da criação e desenvolvimento da “dança”
marcial.

Ora, devemos supor que, além das artes religiosas, culinária,


metalúrgica e pecuária, os negros também trouxeram suas danças
e jogos marciais. “Sabe-se que os exércitos congolês e angolano
eram formados por guerreiros exímios na luta corporal. Vários
cronistas destacaram a habilidade com que eles evitavam golpes,
jogando o corpo para o lado de maneira imprevisível e
confundindo o aniversário.” [Matthias e Mestre Cobra Mansa –
2008].

Assim, podemos afirmar que a capoeira é, de fato, algo afro-


brasileiro. Na sua forma mais rudimentar, uma dança ritual
africana. Porém, um produto marcial desenvolvido e aperfeiçoado
no Brasil, em função da necessidade de defesa de alguém que,
desprovido de outras armas, nada dispunha, além do próprio
corpo para defender-se. Esta foi levada a efeito pela extrema
crueldade dos dominadores na época colonial.

A Capoeira no Século XIX

A capoeira, no século XIX, já era praticada por grupos de


escravos africanos de diversos grupos. Esta prática tinha relação
direta com a resistência à escravidão e curiosamente teve seu
principal ponto de desenvolvimento nas principais cidades
costeiras do Brasil na época colonial: Recife, Salvador e Rio de

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As Mulheres na Capoeira

Janeiro. Não podemos esquecer que a capoeira também era


praticada nos quilombos ou regiões rurais, já que nestes lugares,
decerto as condições eram ideais para o aprendizado e o treino. A
liberdade de expressão e de ir e vir proporcionado pelos
quilombos, decerto foram preponderantes para a perpetuação e o
desenvolvimento marcial da arte.

No inicio do século XIX, normalmente os capoeiristas eram


homens, trabalhadores das áreas portuárias das cidades litorâneas
e, geralmente, o cais do porto era o seu teatro. Eram carregadores,
vendedores de rua, estivadores ou outros tipos de trabalhadores
marcados pela pobreza e pelo viver urbano.

Em Salvador, Rio de janeiro e Recife, os registros policiais


dão a dimensão da importância que arte marcial tomou ao se
tornar, inclusive, um instrumento de guerra utilizado contra o
Paraguai, para citar um exemplo. Naquela guerra, os negros foram
enviados para as primeiras fileiras armados apenas com paus.
Historiadores contam que este expediente fora tomado também
com a intenção de controle populacional, já que o contingente de
negros no Brasil era muito maior que a população branca. Temia-
se no Brasil o que ocorrera nas colônias britânicas e francesas no
Caribe onde levantes de negros forçaram a independência.

Para termos uma idéia desta quantidade, O Iorubá foi a


língua mais falada na Bahia em determinada época. Dentre os
Bantus, muitos outros povos foram transportados para o Brasil.
Entre as línguas faladas pelos negros, destacavam-se o Gegê,
Haussá, Nagô ou Iorubá. [Gilberto freire – 1930], donde se
explica a preocupação do colonizador com o aumento da
população negra cativa.

Ainda no século XIX a capoeira era utilizada por


desordeiros, trapaceiros, valentões e até policiais, após a chegada
da república. Nesta época, aliás, a sua prática foi oficialmente
proibida de 1890 até 1938. “O artigo 402 do código penal, ao
criminalizar a capoeira esteve baseado em suas práticas sociais no

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As Mulheres na Capoeira

decorrer do século XIX: Não há hoje desordeiro, faquista,


perverso, criminoso por ferimentos ou assassino, que não seja um
capoeira; é um modo de dizer, é uma locução que se tornou vulgar
e que está na linguagem do povo, direi mesmo da polícia.”
[Antônio L. C. S. Pires – 2004].

O capoeirista daquela época usava, com freqüência, armas


como facas e navalhas, paus, pedras e, em alguns casos,
revólveres. Costumavam também agregar-se a outros capoeiristas
em grupos que, no Rio de Janeiro e Salvador, eram chamados de
Maltas. Estas por sua vez, tinham suas características próprias e
seus rituais específicos já que cada malta estava associada a uma
área da cidade. Na cidade de Salvador havia maior tolerância
policial a pratica da capoeira, talvez porque ela estivesse mais
concentrada nos subúrbios de Salvador, esta tolerância decerto
esta associado a “higienização do centro de Salvador”, o qual fora
tornado área de circulação de brancos.

Antônio L. C. S. Pires afirma que, mesmo tendo penetrado


no mundo do trabalhador, após sua origem no mundo escravo, a
capoeira carioca e baiana, foram eminentemente negras, apesar da
participação de membros das classes média e altas demonstrando,
com sua penetração nas camadas mais altas da sociedade, a
aceitação da capoeira como algo intrinsecamente brasileiro.

Este decreto demonstra de modo indefectível o poder


marcial que a capoeira adquiriu ao longo dos anos em que esteve
sendo desenvolvida. Ao colocar as autoridades como reféns de
uma situação criada pela violência do senhor branco e que agora
se voltava contra o seu principal expoente. Ironicamente a
capoeira devolveu a dignidade aos povos africanos, que agora, já
se consideravam brasileiros.

A Capoeira e as Mulheres no Século XIX

Não há muitos registros do século XIX, ou anteriores a este,


que indiquem a presença feminina nas maltas de capoeiristas no

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As Mulheres na Capoeira

Rio de Janeiro ou em Salvador. Antônio L. C. S. Pires indica em


pesquisas nos registros policiais do século XIX e início do século
XX, que menos de 3% dos processados pela justiça eram
mulheres. Entretanto, entre as vítimas, este número sobe para
10%, caracterizando assim que a violência contra a mulher
deveria assumir números alarmantes. O mesmo autor, em sua
pesquisa, nos afirma que no mundo da capoeira do século XIX, a
figura feminina foi masculinizada. Ele cita o apelido de Maria-
Homem e Maria do Camboatá, acrescento aqui o nome de Júlia-
Fogareira. Para Maria do Camboatá, ele cita uma canção que lhe
faz referencia:

Dona Maria do Camboatá


Ela entra na roda querendo jogar
Dona Maria do Camboatá
Ela disse que deu, ela disse que dá
Dona Maria do Camboatá
Ela dá rabo-de-arraia com as pernas p’ro ar
Dona Maria do Camboatá
Ela chega na venda, ela manda botá (botar)
É do cambo, é do cambo, é do Camboatá

“Com certeza mais uma mulher que enfrentou a moral social


da época e esteve presente na prática cultural da capoeira,
tornando-se lendária e imortalizada na tradição.” [Antônio L. C.
S. Pires – 2004].

A Capoeira e As Mulheres Hoje

Com a liberdade proporcionada pela liberação feminina,


principalmente a partir da década de 1960, a mulher assumiu
papéis de muita relevância em todas as áreas do conhecimento
humano. A capoeira não fugiu a esta regra. Segundo a doutora
Paula Cristina da Costa Silva em Imagens da Mulher na Capoeira
de 1998 a 2000, a presença da mulher na educação física
brasileira, no início do século XIX vinculava-se “a proposta
higienista e eugenista colada aos ideais de regeneração e

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As Mulheres na Capoeira

embranquecimento da raça.” Resquício de um passado europeu.


Seu intuito era criar mulheres brancas fortes para a criação de
filhos que, se homens, defenderiam os direitos e posições da
nação.

No caso da capoeira, em seus estudos realizados em revistas


com publicações regulares acerca da capoeira no período entre
1998 e 2000, ela destaca que a presença da mulher, em muitos
aspectos, era até então, apenas estético. A mulher se apresentava
para a divulgação de produtos associados a capoeira sem ter uma
participação mais profunda nos seus processos de organização e
manutenção e, em muitos casos, sequer eram de fato capoeiristas,
posando apenas de modelos de apelos comerciais.

Talvez o que explique esta situação seja o fato de que até


1950, segundo a mesma estudiosa, as mulheres eram proibidas da
prática de qualquer modalidade esportiva marcial, assim a
educação física feminina limitava-se a trabalhos manuais, jogos
infantis e ginástica esportiva. A capoeira, portanto, que pertencia
quase que exclusivamente ao universo masculino, lhes era vedada
pelas normas morais da época. Ora, sabemos que padrões morais
são dos mais difíceis de serem modificados em qualquer
sociedade, e este fato fica demonstrado na análise de algumas
revistas especializadas em capoeira entre 1998 e 2000, época da
pesquisa da Doutora Cristina, muitas utilizavam algumas
mulheres apenas como modelos.

Quero crer que, num primeiro momento, no início do século


XX, tudo o que a mulher buscou na capoeira foi a proteção que
nem o estado nem seus familiares lhes davam.

As mulheres negras, no período colonial, diga-se


escravagista, desde a mais tenra idade, eram usadas ou alugadas
como prostitutas. Em muitos casos, acabavam por ter mais valor
financeiro que o homem negro, já que tinham seus filhos escravos
engrossavam a economia de seu senhor e ainda rendiam um
dinheiro a mais através da prostituição, quando eram alugadas a

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As Mulheres na Capoeira

outros homens. No mesmo período, à mulher branca cabia


administrar a propriedade, a jardinagem, os filhos, a comida,
inclusive dos escravos, etc. tudo isto, muitas vezes a partir dos
treze anos de idade em casamentos arranjados. Ela comia e bebia
na mesa de seu marido, apesar de chamá-lo de senhor; tinha sua
liberdade de ir e vir totalmente controlada, de modo que se diz
que ela também não era livre.

Com o fim do regime econômico escravagista e o início do


período republicano, as mulheres não mais aceitaram a violência
masculina animosamente. De fato, as mudanças com o fim da
escravidão deram uma nova visão às mulheres que mesmo não
tendo muitos direitos assegurados, viram-se diante de novos
papéis sociais. A partir desta constatação, o homem passou a ter
sua onipotência contestada diante das questões do lar, do trabalho
e na criação dos filhos. Ora, o lar era o único lugar onde o homem
podia exercer o seu poder sem questionamentos externos. Era,
num falar antropológico, seu reino.

Até o século XIX a mulher estava sujeita em tudo a seu pai,


irmão(s) ou primos e por fim, seu marido. Certos direitos, mesmo
aqueles assegurados por lei, lhes eram tolhidos no seio da família,
e quando cercear-lhes o direito mostrava-se ineficiente, a
violência era aplicada. Se esta era a realidade da mulher branca,
dita livre, a vida da mulher negra e cativa no século XIX era bem
pior, já que, conforme dito, ela sofria a violência do senhor e da
senhora a quem pertencia, dos capatazes e de quem mais lhe
tivesse poder. O estupro era lugar comum e certamente a mais
contundente das violências contra as mulheres.

A Capoeira e as Mulheres no Século XX

A doutora Paula Cristina da Costa e Silva afirma que a


presença da mulher na capoeira deu-se de modo mais proeminente
nas últimas décadas do século XX. Com a emancipação feminina
da década de sessenta e posteriores. Espaços masculinos passaram
a ser cada vez mais freqüentados pelas mulheres. Hoje, são

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As Mulheres na Capoeira

poucas as atividades exercidas pelos homens que não sejam


também exercidas pelas mulheres. Em alguns casos, com muito
mais competência. Tal afirmativa não deve gerar surpresa já que a
mulher passa mais tempo na escola, é mais dedicada e
principalmente, se faz mais disponível para aprender.

Pedro Abib (Pedrão de João Pequeno) afirma que,


atualmente muitos grupos de capoeira, sem a organização
providenciada pela mulher, teriam muitos problemas. De fato,
observa-se na mulher uma capacidade gerencial excelente, já que
a mulher não costuma perder o foco de seu objetivo. Assim, ao
tornarem-se mestras, contramestras ou alunas graduadas, podem
dar uma contribuição enorme ao grupo de capoeira ao qual fazem
parte.

De fato, quando a Mestra Cigana assumiu o posto de


presidente da Federação Carioca de Capoeira em 1996, vemos a
conclusão de um processo longo e penoso que trouxe de volta a
capoeira ao seu motivo de existência: a mulher. O n’Golo nasceu
para que os homens pudessem disputá-las como troféus, depois de
desenvolvido e transformado na nossa capoeira, voltou às suas
mãos.

Conforme dito anteriormente, o grau de instrução elevado, a


dedicação e o foco feminino aplicados a um objetivo, tornaram
notório de súbito, o trabalho de muitas mulheres capoeiristas.
Destacamos alguns pela relevância alcançada ao serem expostos
na mídia nacional especializada em capoeira.

Nalvinha

Filha de Mestre Bimba, Nalvinha foi, por seu pai, muitas


vezes proibida de praticar a capoeira porque os treinos eram
realizados no Pelourinho (Salvador – BA). Aos onze anos a
promessa: “...deixa aparecer outras alunas, aí eu levo.” Em suas
palavras, mulher fazer capoeira naquela época era raridade.
Quando o Mestre Bimba mudou-se para Goiânia, dada a

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As Mulheres na Capoeira

quantidade de mulheres na prática da capoeira, Nalvinha deu-se


aos treinos com mais afinco. Após a morte de seu Mestre e pai,
Nalvinha retornou para Salvador e, pouco tempo depois, parou de
vez com a capoeira ficando na pratica apenas do samba-de-roda,
que era uma praxe nas rodas realizadas pelo Mestre Bimba.

Preguiça

Estabelecidas por Mestre Bimba, as etapas necessárias à


formação do capoeirista são chamadas de “emboscadas”. Os
alunos não comentam o que se passa durante este curso, do qual a
primeira aluna a passar foi Cleonice da Silva Damasceno da Silva,
a Preguiça. Tal conhecimento a habilita a ministrar aulas de
capoeira regional em todo o seu conteúdo. A professora
atualmente ministra aulas para crianças no Projeto Capoerê,
voltado para crianças entre 5 e 14 anos.

Mestra Janja

Coordenadora do Grupo de Capoeira Angola N`Zinga, nos


anos 80-90 defendeu tese de mestrado sobre Capoeira Angola na
Bahia na Universidade de São Paulo. Em 2001 realizava na
mesma universidade suas pesquisas de doutorado onde propunha
um estudo comparativo das escolas de Capoeira Angola no Brasil
e nos estados Unidos. Com uma visão bem ampla do mundo da
Capoeira Angola, a Mestra Janja, em entrevista a revista Cordão
Branco em 2001, limitou-se a falar exclusivamente de seu campo
de atuação, quando na ocasião informou que o preconceito contra
mulher no meio da capoeira de angola praticamente não existe.
Na mesma entrevista, a mestra expõe que a violência observada
na capoeira, naquela época, devia-se em parte a cultura
“hoolywodiana” posto que muitos capoeiristas, ao inserirem na
capoeira, valores de outras artes marciais demonstravam falta de
base capoeirística. Prática esta condenada pela mestra que a
rebate dizendo que a capoeira que ela ensina aos seus alunos é a
mesma que ela recebeu de seu mestre. Esta mesma capoeira,

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As Mulheres na Capoeira

impregnada de valores muito complexos é o que a mantém “nesta


dupla jornada de reconhecimento e respeito, seja pelo nome dos
nossos mestres, seja pelo próprio nome da capoeira Angola.”
[Mestra Janja – 2001].

Mestra Cigana

Começamos pelo trabalho realizado pela Mestra Cigana.


Em 2003, em uma entrevista dada a uma revista especializada em
capoeira, a presidenta a Federação de Capoeira do RJ, destacou a
importância da uniformização da graduação, o resgate das
manifestações folclóricas, a criação de uma escola técnica de
capoeira, um senso para saber a quantidade de atletas capoeiras
existentes (no Rio de Janeiro) e por fim, um passaporte para o
capoeirista, que seria um registro de sua vida de atleta. Todos
estes assuntos, alguns muito polêmicos, foram explorados de
modo simples e com bastante autoridade. Tão importante quanto a
efetivação das ações, a aceitação dela como presidente e a simples
colocação e a aceitação das idéias demonstra que o mundo da
capoeira despiu-se da maioria dos preconceitos relacionados à
mulher.

Professora Aninha

Fora do País, podemos citar a professora Aninha, aluna do


Mestre Mão Branca. A capoeirista, em 2003 iniciou o
desenvolvimento de um trabalho de difusão do Grupo Capoeira
Gerais no estado do Texas – EUA.

Professora Carol

Citamos ainda a professora Carol do Grupo barro Vermelho,


que desenvolveu um trabalho em escolas e academias de Vitória –
ES. Formada em educação física, em 2004 a capoeirista informou
em entrevista que “Hoje o meu trabalho em Salvador é mais de
pesquisas e treinamento, ...”. Ou seja, o desenvolvimento do seu
trabalho não estava baseado apenas no corpo, mas também no

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As Mulheres na Capoeira

intelecto. De fato, quem almeja destacar-se na capoeira, jamais


poderá desprezar a necessidade do estudo e da pesquisa constante.

Ginga dos Ventos

Na Escola de Capoeira Ginga dos Ventos as responsáveis


são Cenira, Viviane e Cristiane, respectivamente mãe e filhas. A
escola foi fundada em agosto de 2000. Originárias do Grupo
Almada Santos do Mestre Ananias Tabacow, as meninas
decidiram iniciar um trabalho próprio ao constatarem que tinham
um diploma que lhes dava o direito de andar pelos seus próprios
caminhos. Nas palavras de Viviane “Nós temos muitas idéias,
muitos projetos, e o grupo limitava nossa criatividade.”
Observamos nestas palavras o desejo de ir adiante e apresentar
uma metodologia diferente, pois conforme disse Cristiane: “...
hoje em dia, é muito difícil ver mulheres trabalhando com a
capoeira sem estarem vinculadas a algum grupo ou mestre. Para
arrematar, palavras de Viviane: “..., gostaria que as pessoas
tivessem mais consciência, porque a capoeira, além de ser uma
luta, é cultura, é um patrimônio cultural , e esse lado precisa ser
mais trabalhado, mas não com demagogia, e sim, com um
trabalho mais sério.”

Araúna

Recentemente, no grupo Candeias de capoeira, por ocasião


do FestPorto de Capoeira, organizado pelo mestre Xoroquinho
para festejar os dez anos do grupo Candeias em Rondônia, sua
aluna graduada Araúna mostrou-se extremamente competente ao
organizar e ensaiar um grupo de mulheres para apresentar um
número de dança onde misturou-se dança afro e contemporânea.
Além deste, organizou outro número de dança solo, realizado com
muita beleza e graça, por um homem. Tudo isto em um período
de tempo de 30 dias. A mesma também ministra aulas na
academia, sob supervisão de seu mestre, onde se percebe sua
extrema dedicação. Sua experiência internacional faz toda a
diferença nestes momentos

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As Mulheres na Capoeira

Aluna Cris

Aluna e esposa de Uilivan Lopes Nunes, o famoso professor


PV de Capoeira Angola de Porto Velho - Rondônia, ela é também
sua assessora. Seu trabalho ganha notoriedade na medida em que
mantém em dia os compromissos da academia. Sabe-se que o
sistema de graduação na capoeira angola difere dos demais estilos
e, neste particular, a aluna Cris está certamente de parabéns.

Instrutora Felina

Um trabalho internacional que merece nossa consideração é


o que foi realizado pela então Instrutora Felina (Alessandra
Tabosa Simas). A mesma, sob supervisão do Mestre Boneco em
Los Angeles – Califórnia - EUA, ministrava aulas em escolas
públicas norte-americanas em um programa chamado after-school
(após a escola). Outro fato que chama a atenção aqui é que os
americanos tenham percebido que a capoeira seja um modificador
de pessoas tão importante ao ponto de permitir que uma cultura
tão diferente da sua tenha um espaço tão relevante. Tomara
nossos governantes tenham esta percepção um dia. Tal período foi
tão importante que no seu retorno para o Brasil, a instrutora
Felina iniciou um trabalho com adultos e crianças na Gávea, um
bairro na zona sul do Rio de Janeiro.

Instrutora Kalunga

“Apesar de estar a pouco tempo na capoeira, Edvânia


(Ferreira de Jesus) destaca-se nas rodas pela expressão dos
movimentos, rapidez e precisão dos golpes.” [Letícia Cardoso de
Carvalho – Revista Praticando Capoeira - 2005]. Este elogio feito
a instrutora Kalunga reforça o que anteriormente já fora falado: a
dedicação feminina as leva a extremos.

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As Mulheres na Capoeira

Contra-Mestra Iúna

“As mulheres terão muito espaço como educadoras, pois


elas têm o dom da maternidade, são sensíveis e realizarão bons
trabalhos nas escolas e nos projetos sociais.” [Contra Mestra Iúna
– 2005]. A goiana Valdise Ângela de Abreu, a contra-mestra Iúna
e um destaque feminino no grupo Candeias de capoeira. Com um
currilum que inclui um vice-campeonato e um tetra campeonato
por equipe nos Jogos Escolares Brasileiros (JEB), podemos dizer
que ela fez por merecer a graduação de contra-mestra recebida do
mestre Suíno em 2005. Em entrevista do mesmo ano, a
capoeirista que já realizava um trabalho com crianças, planejava
gravar CD’s, imprimir a sua experiência no exterior e, em suas
palavras “espero formar algum aluno e, se puder, chegar a ser
mestra”.

Professora Magali

Ao considerar a capoeira um esporte completo, ao ponto de


envolver o corpo e a alma, a carioca Marluci da Silva Souza, a
professora Magali, destacou em entrevista para a revista
Praticando Capoeira em 2004 que ao escolher a capoeira como
esporte, a mulher está tomando uma das decisões mais
importantes de sua vida. Em 2004 enquanto realizava um trabalho
em uma cheche-escola, a professa ainda participava de shows e
ministrava aulas na academia Espaço Vital. Em sua opinião, para
ser um bom capoeirista, o mesmo deve respeitar o próximo, ter
humildade, saber os fundamentos e ser um bom discípulo; mais
ainda, a massa muscular não é um fator determinante para um
bom jogo, pois as mulheres têm menos massa muscular que os
homens, porém compensam com a sua flexibilidade e habilidade.

Contra-Mestra Jô

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As Mulheres na Capoeira

“Nunca se sintam ofendidas por nada, no meio da capoeira.


Dedicação no que querem e união, para a bandeira ser
fortalecida.” [Contra Mestra Jô – 2007]. Com estas palavras de
encorajamento para as mulheres, a aluna do mestre Boneco
finaliza uma entrevista na qual pudemos perceber o seu
engajamento no mundo da capoeira. Realizando trabalhos de
capoeira e shows na cidade de Nova York – EUA, ela é um
exemplo de perseverança e profissionalismo que deve ser seguido.
Palavras de seu mestre: “... ,senti que ela tinha chegado para
ficar.” Esta foi a constatação após sua chegada de Juazeiro, ao
longo de alguns meses de treinos árduos.

Final

Deveras, as mulheres mostram-se normalmente mais


pontuais e dedicadas que os homens na maior parte das atividades
a que propõem-se realizar. Ora, sabemos que as mulheres se dão
muito bem na execução de tarefas repetitivas, e é exatamente o
caso de treinos em qualquer modalidade esportiva. Na capoeira a
repetição de golpes, defesas, mandingas, depende de muita
paciência, que as mulheres têm de sobra, assim realizam muitas
vezes com mais perfeição que os homens porquanto não perdem o
foco, procurando executar tão só e unicamente aquilo que lhes é
proposto a cada novo exercício.

Observando sob uma perspectiva histórico-evolucionária, as


mulheres administravam o lar e cuidavam dos filhos, enquanto os
homens passavam dias na caça e na coleta. Considerando-se
pouca a probabilidade de fartura de alimentos e abrigo naquela
época, é natural pensarmos que somente aquelas que
administravam bem o que havia disponível, logravam êxito na
criação de seus filhos. Anos de seleção natural moldaram na
mulher características psicológicas que a capacita a realizar
tarefas extremamente complexas, do ponto de vista da
administração, sem que para isto ela precise esforçar-se muito.
Com certeza isto não seria diferente na capoeira!

Porto Velho – RO Página 32 5/12/2021


As Mulheres na Capoeira

E viva as mulheres, principalmente as que praticam


capoeira! Capoeiristicamente falando!

Reflexão

“Você é o resultado de todos os quadros que pintou para si


mesmo... e você sempre pode pintar novos quadros.”
Wayne W. Dyer

“Todo Homem válido só deve contar consigo. Uma vez de


pé, deve caminhar com as próprias pernas, pois ninguém tem o
direito de ser carregado.”
Franklin Roosevelt

Porto Velho – RO Página 33 5/12/2021


As Mulheres na Capoeira

BIBLIOGRAFIA

Abib, Pedro
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http://portalcapoeira.com/Cronicas-da-Capoeiragem/a-mulher-na-
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1989

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O LUGAR DA MULHER (Coletânea de Artigos)
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Faculdade de Educação, Programa de Pós-Graduação strictu
senso em educação, conhecimento, linguagem e arte –
LABOARTE – Unicamp - SP

Enciclopédia Abril Cultural


CAPOEIRA (Volume II)

Lopes, André Luiz Lacé - 1996


A Mulher na Capoeira (Artigo)

Anjos, Rafael Sanzio Araújo - 2009


Quilombolas. Tradições e Cultura da Resistência
ISBN: 85-99953-01-X

Revista Ginga Capoeira


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2002
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Revista Praticando Capoeira


Ano II - Nº 25
2004
ISSN 1517-6118

Revista Praticando Capoeira


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2005
ISSN 1517-6118

Revista Iê, Capoeira


Ano I - Nº 5
ISSN 1516-66678

Revista Capoeira Arte e Luta Brasileira


Ano II - Nº 7
1999
ISSN 771415-846002

Porto Velho – RO Página 36 5/12/2021

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