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UNIPÊ – CENTRO UNIVERSITÁRIO DE JOÃO PESSOA

2ª TURMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESIGN E ARQUITETURA DE


INTERIORES

ANÁLISE DE INTERVENÇÃO EM EDIFÍCIO HISTÓRICO: ESTUDO DE CASO DA


ACADEMIA PARAIBANA DE LETRAS

DEBORAH PADULA KISHIMOTO


UNIPE – Centro Universitário de João Pessoa
Professora do Departamento de Arquitetura e Urbanismo
deborah.kishimoto@unipe.br

ALINE RAMALHO FERREIRA DA SILVA


UNIPE – Centro Universitário de João Pessoa
Tecnóloga em Design de Interiores
alineramalhofs@gmail.com

João Pessoa - PB
Setembro de 2018
ALINE RAMALHO FERREIRA DA SILVA

ANÁLISE DE INTERVENÇÃO EM EDIFÍCIO HISTÓRICO:


ESTUDO DE CASO DA ACADEMIA PARAIBANA DE LETRAS

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado ao Centro Universitário de
João Pessoa – UNIPÊ, como requisito
final para a obtenção do título de
Especialista em Design e Arquitetura de
Interiores.

João Pessoa, 01 de outubro de 2018.

BANCA EXAMINADORA

________________________________________
Profª. Ms. Deborah Kishimoto
Professora do Departamento de Arquitetura e Urbanismo

________________________________________
Profª. Ms.Tatiana Rodrigues
Professora do Departamento de Arquitetura e Urbanismo

________________________________________
Profª. Esp. Isis Méro
Professora do Departamento de Arquitetura e Urbanismo
S586a Silva, Aline Ramalho Ferreira da.
Análise de Intervenção em Edifício Histórico: Estudo de
Caso da Academia Paraibana de Letras /
Aline Ramalho Ferreira da Silva. - João Pessoa, 2018.
22f.

Orientador (a): Prof. Deborah Padula Kishimoto.


Artigo (Curso de Pós-Graduação em Design e Arquitetura
de Interiores) –
Centro Universitário de João Pessoa – UNIPÊ.

1. Patrimônio Histórico. 2. Intervenção. 3.Academia


Paraibana de Letras I. Título.

UNIPÊ / BC CDU – 351.853(813.3)


ANÁLISE DE INTERVENÇÃO EM EDIFÍCIO HISTÓRICO: ESTUDO DE
CASO DA ACADEMIA PARAIBANA DE LETRAS - APL

ANALYSIS OF INTERVENTION IN HISTORICAL BUILDING: CASE STUDY


OF THE PARAIBANA ACADEMY OF LETTERS - APL

DEBORAH PADULA KISHIMOTO


UNIPE – Centro Universitário de João Pessoa
Professora do Departamento de Arquitetura e Urbanismo
deborah.kishimoto@unipe.br

ALINE RAMALHO FERREIRA DA SILVA


UNIPE – Centro Universitário de João Pessoa
Tecnóloga em Design de Interiores
alineramalhofs@gmail.com

RESUMO
O presente artigo é um estudo de caso que surgiu diante das crescentes intervenções
no patrimônio edificado do centro histórico da cidade de João Pessoa – PB. Nesse
sentido, este trabalho analisa a estrutura edilícia da Academia Paraibana de Letras
(APL), edifício do período colonial que sofreu intervenções em sua estrutura física,
devido à necessidade de adaptação aos novos usos que foram surgindo. A APL é
tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado Paraíba (IPHAEP,
1980) e sua implantação é localizada no núcleo de surgimento da cidade, em um
entorno de grande importância histórica e identitária para a comunidade pessoense.
Dessa forma, através da análise de documentos e publicações que versam sobre o
objeto de estudo e análise do levantamento físico da APL, este estudo tem como
objetivo a comparação dos dados levantados, a fim de investigar o estado de
descaracterização da APL em relação aos seus possíveis aspectos originais de
arquitetura colonial.

Palavras-chave: Patrimônio histórico, intervenção, Academia Paraibana de Letras.

ABSTRACT
This present article is a case study that originated from the increasing interventions in
the built patrimony of the historic centre of João Pessoa – PB. For that matter, this
work analyzes the building structure of the Academy of letters of Paraíba (APL), a

3
building that dates back to the colonial period and has undergone interventions in its
physical structure, due to the needs of readapting to new uses of the space. The
Academy building is heritage listed by the Institute of Historic and Artistic Patrimony of
Paraíba State (IPHAEP, 1980) and its construction is located in the heart of the city’s
birthplace, in an environment of great historical and identity importance for the people
of João Pessoa. Therefore, through the analyses of documents and publications that
state about the study object and through analyses of the physical assessment of the
building, this study aims to compare the data collected in order to investigate the state
of disfigurement of the APL in relation to its possible original features from the colonial
architecture.

Keywords: Historical heritage, intervention, Academia Paraibana de Letras.

1. INTRODUÇÃO

Diante do crescimento das cidades e das mudanças no estilo de vida das


pessoas, aumenta a necessidade de modificar o patrimônio edificado existente com o
objetivo de adaptá-lo aos novos usos, sejam de cunho comercial, institucional ou
residencial. Nesse sentido, as poligonais de proteção delimitadas nos centros
históricos das cidades servem, entre outras funções, para criar limites legais para
intervenções naquelas áreas de valor, com o intuito de garantir que as mesmas não
interfiram na representatividade e identidade do edifício e de seu entorno perante a
sociedade.

Em João Pessoa, capital do Estado da Paraíba, não foi diferente. Tendo sua
localização no Nordeste do Brasil, foi fundada em 1585 e batizada pelos colonizadores
portugueses de cidade de Nossa Senhora das Neves, conforme explica Costa (2009),
em sua dissertação de mestrado, na qual estuda as três décadas da história da
delimitação do perímetro de proteção do centro histórico de João Pessoa. Por ser a
terceira cidade mais antiga do país, possui em seu núcleo histórico uma paisagem de
grande beleza, sendo composta por edificações de variados estilos e épocas, de valor
arquitetônico, paisagístico, cultural e histórico.

Costa (2009), ainda em sua dissertação, cita que a capital da Paraíba teve,
entre os anos de 1975 e 2007, cinco diferentes delimitações de seu perímetro de
proteção de conjunto urbano, e somente em 2004, através do Decreto n.º 25.138 do
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Governo Do Estado Da Paraíba, foi unificada a área de atuação da Comissão
Permanente de Desenvolvimento do Centro Histórico de João Pessoa (CPDCHJP) e
do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Estadual da Paraíba (IPHAEP). A autora
complementa ainda que em paralelo acontecia o processo de tombamento nacional
do Centro Histórico de João Pessoa, sendo posteriormente formalizado pelo Instituto
do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) em 2007.

Dessa forma, no contexto de sítio histórico, a cidade de João Pessoa apresenta


em seu perímetro de proteção o traçado urbano ainda característico do período
colonial, ressaltado por sua ortogonalidade e aproveitamento da topografia, como
expõe Silva (2016a, apud CASTRO, 2006), cujo estudo sobre forma, uso e patrimônio
edificado no centro de João Pessoa destaca a divisão entre Cidade Baixa, que dava
suporte às atividades relacionadas ao então atracadouro – que posteriormente tornou-
se o Porto do Capim – e Cidade Alta, onde estavam situadas as principais edificações
da época.

Em sua pesquisa acerca da arquitetura residencial na capital paraibana, Moura


Filha (2015) descreve esse núcleo inicial da cidade, destacando a formação da cidade
alta através das duas principais ruas da época, a Nova e a Direita, que definiram os
primeiros quarteirões da cidade, seguindo o formato ortogonal já conhecido de outras
atuações do universo português da época.

Nesse sentido, este trabalho se justifica pela necessidade de analisar as


intervenções realizadas em uma edificação de interesse histórico e cultural, a
Academia Paraibana de Letras (APL), tombada individualmente pelo IPHAEP através
do Decreto n°8.643 (IPHAEP, 1980) e cuja implantação pertence ao núcleo de
surgimento original da capital Paraibana, localizada na antiga Rua Direita, hoje Duque
de Caxias.

Sua estrutura edilícia modificou-se ao longo do tempo, passando de uso


residencial para institucional. Como consequência da nova ocupação, a APL sofreu
intervenções e reformas, e seu aspecto atual é mostrado na Figura 01. Tratando-se
de um imóvel inserido na poligonal de proteção do IPHAN e tombado individualmente
pelo IPHAEP, tais reformas constituem um problema social, patrimonial e cultural.

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Figura 01 – Fotografia atual da APL.

Fonte: Autora, 2018

Após o exposto, este artigo buscou analisar os dados levantados pela equipe
de estagiários da UBTech Office, escritório universitário do Centro Universitário de
João Pessoa (UNIPÊ), que em parceria com o IPHAEP realizou o levantamento físico
e documental do objeto de estudo. Além disso, o presente trabalho analisou
documentos históricos que retratem os aspectos originais do objeto de estudo,
comparando esses dados e analisando o nível de descaracterização do edifício,
através das avaliações analíticas prévias ao mapeamento dos danos encontrados.

Dessa forma, no que se refere aos procedimentos metodológicos, esta


pesquisa foi classificada como do tipo exploratória e os métodos utilizados foram o
levantamento bibliográfico, registro de arquivos e estudo de caso. Assim, este trabalho
se desenvolveu em três etapas: consultas bibliográficas, análise dos dados e
diagnóstico.

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 Contexto edilício e urbanístico em movimento

O MEMÓRIA JOÃO PESSOA é um portal eletrônico resultado de um projeto de


extensão do Departamento de Arquitetura e Urbanismo (DAU) da Universidade
Federal da Paraíba (UFPB), e tem como objetivo fornecer informações sobre a história
e formação da cidade de João Pessoa.

Nesse contexto, o MEMÓRIA JOÃO PESSOA (2016) descreve que no fim do


século XIX e início do XX a cidade de João Pessoa passou por mudanças com o
crescimento populacional, que somado ao surgimento de novas necessidades dos
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usuários e de novos usos nos espaços da cidade fizeram com que houvesse uma
expansão do território em dois eixos. O primeiro em direção ao bairro Tambiá e o
segundo ao bairro Trincheiras, como pode ser observado no Diagrama 01 abaixo.

Diagrama 01 – Poligonais de preservação do IPHAN E IPHAEP, eixos de expansão da cidade em


direção aos bairros do Tambiá e Trincheiras

Igreja São Francisco

Fonte: Secretaria de Planejamento (Seplan) da Prefeitura Municipal de João Pessoa (PMJP),


modificado pela autora, 2018.
Nessa conjuntura, as modificações do patrimônio edificado foram sendo cada
vez mais recorrentes, devido ao deslocamento das pessoas que residiam no núcleo
de surgimento da cidade em direção aos bairros das Trincheiras e Tambiá, e
posteriormente em direção ao litoral. Ainda que de forma lenta, esse deslocamento
para outras porções da cidade fez surgir a necessidade de adequar os espaços
preexistentes aos novos usos e ocupações.

Diante dessa realidade, ao longo do crescimento da cidade de João Pessoa, a


arquitetura edificada dentro do seu centro histórico apresentou muitas
descaracterizações em edifícios de valor histórico e cultural. Apesar dessa dinâmica,
Maia (2008), descreve em sua pesquisa sobre Ruas, Casas e Sobrados da cidade
histórica de João Pessoa que ainda há um cenário de valor relevante nesses espaços
remanescentes, onde o traçado urbano e fachadas do período colonial remetem às
paisagens dos séculos XIX e XVIII.

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Dessa forma, visando resgatar e preservar o patrimônio material e imaterial da
cidade de João Pessoa, o IPHAEP e o IPHAN delimitaram poligonais de proteção,
cuja área de preservação envolve vários bairros da cidade, dentre eles, o Bairro do
Centro possui uma grande porção inserida nesses perímetros de preservação.

Nesse contexto, a APL está inserida no bairro do Centro e localizada na


Avenida Duque de Caxias, antiga Rua Direita, como pode ser observado no Diagrama
02. Composta pelas edificações de números 37 e 25, a APL é um exemplar de imóvel
preservado pelos dois órgãos citados anteriormente, sob o nível de Conservação
Parcial no imóvel n°25 e Conservação Total no n°37, segundo o Projeto de
Revitalização do centro histórico de João Pessoa: Cadastro Técnico e Normativa de
Proteção (MINC, 1989).

A Ordem Terceira Franciscana detinha a propriedade do casarão de número


25, mas desde 1947 o mesmo abriga a Academia Paraibana de Letras, de acordo com
Aguiar (1992), em seu livro sobre a Memória da Cidade de João Pessoa. Após a sua
compra, o edifício sofreu reformas onde foram inseridos salões, banheiros e biblioteca,
como será descrito posteriormente.

Diagrama 02 – Poligonais de preservação do IPHAN E IPHAEP, localização da APL e destaque para


a Rua Duque de Caxias, anteriormente denominada como Rua Direita.
Igreja São Francisco

Fonte: Secretaria de Planejamento (Seplan) da Prefeitura Municipal de João Pessoa (PMJP),


modificado pela autora, 2018.

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A fim de investigar os aspectos originais das edificações da APL, como a
datação de suas construções, destacamos a relevância da Rua Direita, atual Duque
de Caxias. Segundo Tinem (2006), no fim do século XIX constava em sua extensão
uma arquitetura estabelecida e motivada pelo clero e pela grande representatividade
eclesiástica do entorno. A autora (2006, p.93 apud ALMEIDA 1985, p.96) descreve
que em 1959 “não havia calçamento das ruas, salvo na Rua Direita e em parte do
Varadouro”, além de citar que foi uma das primeiras ruas a receber iluminação pública,
bem como os primeiros postes de luz elétrica, posteriormente.

Apesar de não haver datação precisa das construções das edificações aqui
estudadas, Tinem (2006) descreve que os primeiros edifícios construídos na Rua
Direita são datados a partir de 1708, com construções atingindo os limites dos lotes.
A autora descreve ainda que entre 1850 e 1900 algumas edificações começaram a
apresentar recuos de uma das laterais do lote. Tal relato indica um intervalo temporal
compreendido entre o início do século XVIII e o meio do século XIX, em que podem
ser encaixadas as construções dos edifícios que compõem a APL, visto que n°25 e
n°37 são geminados de ambos os lados. Vale a pena ressaltar que atualmente o n°
25 apresenta um jardim que foi incorporado posteriormente ao lote, na fachada norte,
segundo Targino (1990).

2.2 Aspectos Originais da APL

Em termos de tipologia e layout das edificações estudadas antes da ocupação


da APL, entende-se que do surgimento da cidade de João Pessoa até o século XIX,
além da arquitetura religiosa, existia a predominância de três tipologias, as quais Maia
(2008, p. 11) coloca em sua pesquisa que “foram se formando, ou eram caminhos:
casas de palha, casas térreas e sobrados”. Tais edificações tinham sua localização
de acordo com a condição social e financeira da família que a habitava.

Reis Filho (2000), em seu livro Quadro da Arquitetura do Brasil, descreve


profundamente as edificações existentes do período colonial no território nacional,
classificando-as como casas de “chão batido” e sobrados, onde as principais
características se davam pela posição social e econômica da família que ali residia,
condizendo com o relato de Maia (2008), anteriormente citado.

Reis Filho (2000) destaca ainda que as disposições dos ambientes internos
dessas edificações, onde salas voltadas para a rua, circulações que cruzavam a casa

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da porta da rua à porta dos fundos e alcovas que não recebiam luz natural eram a
configuração mais encontrada, como é possível visualizar nas Figuras 02 e 03, em
nível de croqui e sem especificação de norte geográfico.

Figura 02 – Esquema de planta baixa de um Figura 03 – Esquema de volume e planta baixa


sobrado colonial. de uma casa térrea colonial.

Fonte: Reis Filho (2000) editado pela autora, Fonte: Reis Filho (2000) editado pela autora,
2018. 2018.

Observamos que não há grande diferença em relação à disposição dos


ambientes internos, comparando o sobrado da Figura 02 e a casa térrea da Figura 03,
o layout é praticamente o mesmo, a maior diferença é a circulação vertical, inexistente
na casa térrea. Ambos podem ser geminados em um ou ambos os lados, possuindo
ou não o recuo nos fundos da edificação.

No fim do século XIX e início do século XX, a decadência do trabalho escravo,


a implantação de serviços de água e esgoto nas residências e o aperfeiçoamento das
técnicas construtivas, proporcionaram o surgimento das casas urbanas com novos
esquemas de implantação, onde as edificações são afastadas dos vizinhos, abrindo
espaço para os jardins laterais (REIS FILHO, 2000).

Devido à ausência de documentação que fornecesse as características


originais nos layouts internos dos edifícios de números 25 e 37, as descrições das
casas térreas coloniais expostas até o momento servem de parâmetro para que seja
entendido e posteriormente analisado o histórico das intervenções realizadas no
objeto de estudo.

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3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Esta pesquisa foi desenvolvida em três etapas, onde na primeira foi realizada
a análise bibliográfica, com consultas em livros, artigos, revistas, legislações e normas
pertinentes ao tema. Na segunda etapa foram analisados os dados do levantamento
físico e a análise visual. Por último, na terceira etapa, foi realizado o diagnóstico.

Na primeira etapa foram consultados os livros Quadro da Arquitetura do Brasil,


de Reis Filho (2000), Fronteiras, Marcos e Sinais: Leituras das ruas de João Pessoa,
de Tinem (2006) e Cidade de João Pessoa, a memória do tempo, de Aguiar (1992).
Os artigos consultados foram os trabalhos de Silva (2016), Maia (2008), Costa (2009)
e Moura Filha (2015), assim como a revista da APL escrita por Martins (1984). Além
disso, as legislações e normas que determinam as práticas de intervenções em
edificações históricas e documentos do acervo da APL e do IPHAN, que retratam os
aspectos originais do objeto de estudo também foram consultados.

Na segunda etapa foram analisados os dados obtidos no levantamento físico


da APL, realizado pelo UBtech Office, e feita a análise visual de fotografias
atualizadas. Na terceira etapa foi realizado o diagnóstico através das avaliações
analíticas prévias ao mapeamento de danos.

Considerando a proposta deste trabalho em analisar as intervenções realizadas


na edificação da APL, pode-se classificar esta pesquisa como de caráter exploratório,
segundo Acevedo e Nohara (2013), uma vez que para alcançar o objetivo proposto foi
necessário compreender com profundidade as intervenções ocorridas no objeto de
estudo e a sua atual configuração arquitetônica.

Acevedo e Nohara (2013, p.71) definem como objetivo principal da pesquisa do


tipo exploratória a possibilidade de “(...) proporcionar maior compreensão do
fenômeno que está sendo investigado, permitindo assim que o pesquisador delineie
de forma mais precisa o problema.”.

Quanto aos métodos de pesquisa a serem utilizados neste estudo, Acevedo e


Nohara (2013) definem o levantamento bibliográfico como a investigação de estudos
científicos geralmente publicados em livros e artigos. E conceituam o levantamento
de registros de arquivos como aqueles realizados em um momento anterior, com
finalidades distintas do estudo em questão e registrados por órgãos públicos. Quanto

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ao estudo de caso, ainda de acordo com as autoras, é caracterizado por uma análise
aprofundada de um objeto, podendo ser indivíduo ou organização.

4. ESTUDO DE CASO: ACADEMIA PARAIBANA DE LETRAS

4.1 As Intervenções documentadas

Ao analisar os documentos e livros disponibilizados pela secretaria da APL,


encontramos uma passagem no livro de Aguiar (1992), descrevendo que em 13 de
maio de 1947 foi comprado o prédio de número 25 e que internamente foi quase todo
reconstruído. Na edição da Revista da APL nº9 há o relato de Martins (1984) sobre a
reforma do imóvel recém adquirido:

Constou de terraplanagem de uma area [sic] lateral, de onde foi removido um


plantio de bananeiras, que o tornava intransitável [sic]; terraplanagem de um
terreno que compreende a area [sic] existente nos fundos do predio [sic];
construção, na area [sic] acima citada, de uma galeria para aguas [sic]
pluviais; construção de uma calçada de proteção, contornando toda a área
supra referida; substituição de três portas; conserto de uma janela;
reassentamento de tacos em dois compartimentos; revestimento do piso de
três compartimentos a cimento; demolição de um fogão e um forno antigos,
em ruinas, que existiam na cozinha, com acésso [sic] para a área lateral;
construção, a cimento, da balaustrada da frente, na extensão de 8.70 por 1.20
de altura; construção de uma sapata de proteçã [sic] na parte lateral ao
prédio, em toda a sua extensão; reconstituição de toda a instalação dagua
[sic]; reconstituição de toda a instalação de luz eletrica [sic]; plantio de 5
coqueiros, sendo 4 do tipo “anão” e um do tipo “marfim”, na área laterial [sic].
(MARTINS, 1984, p. 236)
Logo após a primeira reforma, foi realizada uma segunda, não datada, mas
também relatada por Martins (abaixo):

Contratamos essa reforma com a firma “Cunha & Di Lascio”. Foram


demolidas duas paredes laterais de dois compartimentos, uma parede na sala
da biblioteca, fôrro [sic] de todos, os compartimentos à excessão [sic] da sala
de entrada, única então forrada, mudança de piso, mudança de toda a
instalação eletrica [sic], aposição de três lustres coloniais de cristal, um com
5 [sic] braços e 2 com 3 braços, no salão de conferencias [sic], aposição de
globos em todos os pontos de luz, pintura geral do edificio [sic], além de varios
[sic] reparos em piso, portas e instalação dagua [sic]. (MARTINS, 1984, p.
237)
Em 1981, conforme a escritura do imóvel cedida pela secretaria da APL, foi
adquirido o imóvel de n° 37, onde atualmente funciona uma sala dedicada ao Memorial
Augusto dos Anjos. O edifício é geminado com o n° 25 na Rua Duque de Caixas e
possui fachada com ritmo e elementos arquitetônicos semelhantes, como é possível
verificar na Figura 04.

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Figura 04 – Fotografia atual da APL, mostrando os dois edifícios unidos.

Fonte: Autora, 2018.

Posteriormente, na década de 70, segundo relato de Aguiar (1992), houve uma


intenção de intervenção que consistia no aumento do gabarito da edificação de n°25
para a inserção de um auditório, mas que foi barrada pelo IPHAN, cuja justificativa era
de que “quebrava a harmonia visual do conjunto barroco do Convento de São
Francisco localizado nas proximidades” (AGUIAR, 1992, p. 226-227) (Figura 05).

Figura 05 – Fotografia atual da APL, mostrando o contexto histórico no qual está inserida.

Fonte: Google Earth, modificado pela autora, 2018.

Após anos desse impasse, ainda segundo Aguiar (1992), a responsabilidade


da reforma passou a ser do município, onde o arquiteto Alberto José de Souza, da
equipe de planejamento da prefeitura de João Pessoa, elaborou um projeto que
resolvia a questão do entorno, pois previa a construção do auditório no interior do
13
edifício de n°25, que devido ao seu pé-direito de mais de seis metros de altura,
possibilitava tal intervenção sem descaracterizar a imagem do entorno existente.

4.2 Avaliações Analíticas Prévias ao Mapeamento de Danos

4.2.1 Aspectos Externos

Tinem (2006) relata que em 1928 foi sancionado o Código de Posturas da


cidade de João Pessoa e, dentre outros decretos, tornou obrigatória a platibanda em
edificações alinhadas com a rua, a fim de evitar o caimento de águas pluviais nos
passeios públicos. Dessa forma, houve mudanças significativas na arquitetura colonial
encontrada na Rua Direita, e a APL foi um exemplo desse contexto, onde em sua
coberta introduziram uma platibanda que posteriormente foi retirada, com o objetivo
de resgatar suas características originais.

A fim de investigar o máximo dos aspectos originais da APL, inserimos as


Figuras 06 e 07 para visualização de cinco intervenções externas realizadas após o
ano de 1947, e a Figura 08 é uma planta baixa da APL que mostra o ângulo de
visualização das Figuras 06 e 07.

A primeira intervenção identificada é a retirada da platibanda citada no


parágrafo anterior; a segunda é a abertura de duas janelas na fachada norte da
edificação, que dão para o auditório inserido no mezanino; a terceira é a abertura de
uma porta na fachada norte, provavelmente para suprir a função da porta que existia
na fachada oeste e trazer acessibilidade para a o acesso principal da APL; a quarta é
a transformação de uma porta em janela, na fachada oeste da APL; e a quinta é a
modificação do muro que delimita o lote de n° 25, nas fachadas oeste e norte.

Figura 06 – Fotografia da APL com sobreposição Figura 07 – Fotografia atual da APL tirada em
de imagens e platibanda na fachada oeste, em 29 de novembro de 2017, sem platibanda na
1947. fachada oeste.

Fonte: Revista da Academia Paraibana de Letras Fonte: Autora, 2018.

14
Figura 08 – Planta esquemática de Locação e Coberta da APL, com ângulos das Figuras 06 e 07 em
vermelho.

Fonte: Autora, 2018.


No acervo virtual do IPHAN, há registros fotográficos da APL cadastrados em
1981, na Superintendência Estadual do IPHAN em Pernambuco - Recife. Nesse
acervo, as Figuras 09, 10 e 11 são registros de uma reforma em andamento na APL,
iniciada em agosto de 1974 (Figura 10), e mostram seu aspecto externo próximo ao
que havia em 1947 (Figura 06).

Figura 09 – Fotografia da APL em 1981, sob Figura 10 – Fotografia da APL em 1981, sob
registro online FPE 01826. registro online FPE 01829.

Fonte: Acervo digital do IPHAN, acessado em Fonte: Acervo digital do IPHAN, acessado em
2018. 2018.
A Figura 12 é acervo digital do IPHAN – PB de 1992 e não apresenta
possibilidade de visualizar maiores detalhes da APL, porém estão visíveis a platibanda
retirada e as novas aberturas da fachada norte. O registro mostra o início da antiga
Rua Direita repleta de barracas durante a Festa das Neves¹, e a APL com um aspecto
próximo ao encontrado atualmente.

1. A Festa das Neves é uma tradicional festa de rua da cidade de João Pessoa, onde é comemorado
seu aniversário de fundação. A celebração geralmente conta com uma programação religiosa e
cultural que acontece nas ruas do centro histórico de João Pessoa. 15
Figura 11 – Fotografia da APL em 1981, sob Figura 12 – Fotografia da APL em 1992, sob
registro online FPE 01830. registro online F001456.

Fonte: Acervo digital do IPHAN, acessado Fonte: Acervo digital do IPHAN, acessado
em 2018. em 2018
Os principais elementos da arquitetura colonial encontrados externamente na
APL são a coberta de duas águas em telha cerâmica do tipo canal (Figura 13), os
beirais triplos, as cercaduras em pedra calcária e os ornamentos, também em pedra
calcária, nas esquadrias (Figura 14). As colunas visíveis na fachada norte também
são em pedra calcária remanescente do período colonial (Figura 13)

Figura 13 – Fachada Norte. Figura 14 – Cercaduras em Pedra Calcária.

Fonte: Autora, 2018.


Fonte: Autora, 2018
4.2.2 Aspectos Internos
No início deste trabalho identificamos a configuração espacial de uma casa
térrea colonial, através dos croquis realizados pelo Reis Filho (2000) (Figura 03).

A APL é um exemplo dessa tipologia arquitetônica do período Colonial, dessa


forma, trazemos a Figura 15 com a configuração atual de sua planta, a fim de
investigar as intervenções que ocorreram no layout da APL, e demarcando as duas
edificações que a compõem e o lote ao norte que posteriormente foi incorporado ao
lote n° 25. A Figura 16 mostra a localização do Mezanino, inserido em reforma após a
década de 1970.
16
Figura 15 – Planta Baixa do Térreo da APL. Figura 16 – Planta Baixa do Mezanino da APL.

Fonte: Autora, 2018 Fonte: Autora, 2018.


Diante das Figuras 15 e 16, as principais indicações do período colonial que
corroboram com a descrição de Reis Filho (2000) são as implantações geminadas de
ambas as edificações e suas frentes alinhadas com a rua.

Como dito anteriormente, ao menos duas das divisórias existentes até o ano
de 1947 foram demolidas nas reformas da edificação n°25, e apesar de não termos
vestígios das demolições, utilizamos os exemplos de Reis Filho (2000) acerca do
layout interno das casas térreas coloniais e produzimos uma planta baixa esquemática
com uma possível localização das divisórias demolidas, mostradas na cor amarela
(Figura 17).

Figura 17 – Planta baixa esquemática das demolições na edificação nº25.

Fonte: Autora, 2018.

17
Quanto aos elementos da arquitetura colonial remanescentes nos interiores das
duas edificações, os principais são as conversadeiras e as cercaduras em pedra
calcária nas esquadrias (Figuras 18 e 19).

Figura 18 – Conversadeira em Pedra Figura 19 – Cercadura em Pedra Calcária, no


Calcária. edifício n°25.

Fonte: Autora, 2017. Fonte: Autora, 2017.

A APL é composta por diversas salas e uma biblioteca, há também um


ambiente dedicado à exposição fixa do Memorial Augusto dos Anjos no edifício de
n°37 que funciona desde 1984. No memorial há um acervo que conta a história do
escritor paraibano, onde fotografias, exemplares de seus livros e documentos são
expostos ao público (Figuras 20 e 21).

Figura 20 – Memorial Augusto dos Anjos. Figura 21– Memorial Augusto dos Anjos.

Fonte: aplpl.com.br, acessado em 2018. Fonte: aplpl.com.br, acessado em 2018.

5. DIAGNÓSTICO

No Projeto de Revitalização do centro histórico de João Pessoa: Cadastro


Técnico e Normativa de Proteção (MINC, 1989), inventariou-se as edificações que

18
faziam parte da poligonal da proteção do IPHAEP, através das fichas cadastrais, a fim
de registrar seus aspectos externos e internos.

Dessa forma, o cadastro técnico² classifica a edificação n°25 como imóvel de


Conservação Parcial, visto que apesar de se tratar de uma edificação de interesse
histórico e cultural e apresentar elementos significativos da arquitetura colonial, como
as conversadeiras nas janelas em pedra calcária e as cercaduras nas esquadrias
(Figuras 22 e 23), e possuir a maioria dos elementos externos com seu aspecto
próximo ao original, apresenta descaracterização do seu interior, restando apenas a
menor parte dos seus elementos originais (MINC, 1989).

Figura 22 – Cercaduras em pedra calcária nas Figura 23 – Cercaduras em Pedra Calcária e


esquadrias da Fachada Leste conversadeira em pedra calcária.

Fonte: Autora, 2018. Fonte: Autora, 2018

Um dos fatores que possivelmente contribuiu com a classificação do n°25 como


imóvel de Conservação Parcial foi a inserção do Mezanino para o auditório (Figuras
24 e 25), que constituiu em uma alteração radical na estrutura do edifício colonial.

Figura 24 – Mezanino inserido no nº25. Figura 25 – Mezanino inserido no nº25.

Fonte: Autora, 2018. Fonte: Autora, 2018

2. O Cadastro Técnico é um dos documentos que compuseram o diagnóstico do estudo desenvolvido


pela Comissão Permanente de Desenvolvimento do Centro Histórico de João Pessoa, do qual
resultou o Projeto de Revitalização do Centro Histórico de João Pessoa, que tinha como prioridade
a revitalização de áreas degradadas (Silva, 2016b)
19
Sobre a edificação de n°37, o Cadastro Técnico ressalta que a maior parte de
suas características originais estão preservadas, tanto internamente quanto
externamente, classificando-o como imóvel de Conservação Total. Foi destacado
também que apesar de sua classificação, o edifício n°37 não possui a mesma riqueza
de detalhes que o n°25 (MINC, 1989).

Diante das investigações realizadas neste trabalho, as evidências documentais


consultadas certificam que as intervenções mais significativas ocorridas no edifício da
APL aconteceram entre as décadas de 1940 a 1980.

As fichas cadastrais do Projeto de Revitalização do centro histórico de João


Pessoa: Cadastro Técnico e Normativa de Proteção (MINC, 1989), revelaram uma
situação próxima da encontrada no nosso levantamento técnico da edificação (2018).

Dessa forma, apesar dos edifícios encontrarem-se com manutenção estrutural


desejada, apresentam carências de retificação de conservação em alguns locais.

Nesse sentido, a partir da análise realizada entendemos que os imóveis de n°25


e n°37 mantém-se na classificação de Conservação Parcial e Conservação Total,
respectivamente, diante do fato de que pouco mudanças foram percebidas do fim da
década de 1980 para os dias atuais.

6. CONCLUSÕES

Após a análise desenvolvida neste trabalho, verificamos que em decorrência


das intervenções sofridas na estrutura física da APL, percebemos que as edificações
perderam parte de sua identidade de casa térrea colonial, especialmente no que se
refere aos seus aspectos internos, que ao longo do tempo foram modificados de forma
a resultar uma classificação de Conservação Parcial no imóvel n°25.
Como conclusão, entendemos que apesar das descaracterizações sofridas
pelas edificações estudadas, a ocupação e mudança de uso na década de 1940 pela
APL contribuiu positivamente para sua manutenção. Sendo palco de eventos culturais
e reuniões regulares, a APL fomenta a permanência de atividades deste tipo no centro
histórico de João Pessoa.
Diante disso, sua estrutura física e elementos remanescentes da arquitetura
colonial precisam ser conservados, para que a APL permaneça apresentando a
riqueza de detalhes que ainda possui, principalmente em suas fachadas, e continue
ajudando a formar a paisagem histórica na qual faz parte.
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