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Acórdão Nº 1289422
EMENTA
1. Em regra, a desclassificação dos crimes descritos na denúncia deve ser efetuada pelo Juiz na sentença,
após o encerramento da instrução probatória, nos termos dos arts. 383 e 384, do Código de Processo
Penal, a não ser que exista manifesto erro material na capitulação jurídica efetuada na denúncia. Isso
porque o réu se defende dos fatos descritos na peça acusatória e não da qualificação jurídica. O
Magistrado, na decisão que a recebe deve se limitar a analisar somente a presença das condições da ação e
dos pressupostos processuais, conforme ditames dos arts. 41 e 395, do Código de Processo Penal,
deixando a subsunção dos fatos ao tipo penal para a sentença, quando as partes já tiveram a oportunidade
de produzir todas as provas cabíveis e exercer o contraditório, sob pena de ofensa ao devido processo
legal.
2. Ocorre que, em recentes julgados, o Superior Tribunal de Justiça firmou entendimento de ser possível,
excepcionalmente, a antecipação da emendatio libelli na decisão que recebe a denúncia, somente nos
casos em que houver possibilidade da alteração da competência absoluta ou o rito procedimental ou se
houver restrição de benefícios penais por excesso de acusação. No caso, o Juiz determinou
antecipadamente a desclassificação dos crimes de lesão corporal dolosa para culposa em razão da
alteração da competência para o Juizado Especial Criminal.
3. No entanto, existindo razoáveis e sérios indícios de provas de que o denunciado tenha assumido o risco
na produção do resultado lesivo e não atuado com mera imperícia, a desclassificação antecipada dos
crimes mostra-se temerária. Os indícios de provas, até então colhidos, não autorizam concluir, com
4. Para a configuração do crime de estelionato faz-se necessário o preenchimento dos seguintes requisitos:
(i) emprego de artifício, ardil, ou qualquer outro meio fraudulento; (ii) induzimento ou manutenção da
vítima em erro; e (iii) obtenção da vantagem patrimonial ilícita em prejuízo alheio (do enganado ou de
terceiro).
6. Quando a prova de uma infração ou de qualquer de suas circunstâncias elementares influir na prova de
outra infração a competência será determinada pela conexão. No caso dos autos, os crimes de lesão
corporal foram praticados no mesmo contexto fático e temporal, existindo perfeita conexão probatória, a
demandar análise e julgamento conjunto pelo Juízo de origem.
ACÓRDÃO
RELATÓRIO
Em suas razões recursais, o Ministério Público (ID 14286110, p. 1/24), pleiteia, inicialmente, o
conhecimento do recurso de apelação, embora parte da decisão seja atacável via recurso em sentido
estrito, pois, nos termos do art. 593, § 4º, do Código de Processo Penal, não poderá ser usado o recurso
em sentido estrito quando cabível a apelação, ainda que somente de parte da decisão se recorra. Assim, a
interposição da apelação se justifica por ser recurso mais abrangente.
No mérito, pretende seja mantida a imputação dos crimes de lesão corporal dolosa, bem como requer o
julgamento conjunto do feito em relação às vítimas. Pede seja cassada a decisão de absolvição sumária em
relação aos crimes de estelionato, determinando-se o prosseguimento do feito. Subsidiariamente, pleiteia
o prequestionamento das matérias suscitadas, a fim de que Juiz a quo se pronuncie de forma explícita e
fundamentada sobre a emendatio libelli após o recebimento da denúncia.
Alega que as condutas imputadas ao apelado no tocante às lesões corporais sofridas pelas vítimas,
ocorreram na modalidade dolosa (dolo eventual), porque mesmo ciente das deformidades causadas em
seus pacientes, o denunciado continuava a aplicar a substância PMMA (polimetilmetacrilato) em
quantidade excessiva e em locais não recomendados, seja nos pacientes anteriormente lesionados, seja em
novos, sem falar que, na condição de médico, tinha conhecimento de que a substância aplicada não era
recomendada para fins estéticos, e que poderia ocasionar danos, como de fato ocorreu.
Argumenta que o fato de o denunciado ser médico e possuir registro no CRM, o qual, inclusive, está
suspenso em razão dos fatos retratados na denúncia, não o exime de ter agido com dolo eventual.
Sustenta que não se trata o feito de simples conduta culposa decorrente de imperícia médica, pois o
denunciado atuava em total descaso para com os pacientes que lesionou e deformou e, ainda, tentava
convencê-los de que a melhor forma de ajustar as assimetrias criadas era realizando novas aplicações.
Ressalta que a denúncia, nos termos em que fora proposta, já havia sido recebida (ID 44644140), de modo
que não há que se falar em alteração do enquadramento jurídico apresentado na peça acusatória sem
prévia instrução probatória ou fato novo hábil a justificar essa alteração de posicionamento. Nem mesmo
a apresentação da resposta à acusação justificaria tal modificação, devendo, por ora, o Juiz limitar-se a
verificar se estão presentes as hipóteses de absolvição sumária previstas no art. 397, do Código de
Processo Penal, não podendo realizar alteração de capitulação que já havia sido aceita e que nem mesmo
fora requerida pela Defesa.
Ainda, alega ser imperiosa a análise conjunta do feito em relação a todas às vítimas em face da conexão
instrumental probatória, pois o art. 76, inciso III, do Código de Processo Penal estabelece que a
competência será determinada quando a prova de uma infração ou de qualquer de suas circunstâncias
elementares influir na prova de outra. No caso dos autos, os delitos descritos na denúncia possuem
dependência probatória, eis que foram todos cometidos no mesmo contexto fático, utilizando-se do
mesmo modo de agir, qual seja, aplicação da substância PMMA em quantidade excessiva, de maneira
inadequada e para fins diversos do que determinado pela ANVISA, ocasionando lesões nos pacientes.
Além disso, o desmembramento do feito ofende os princípios da celeridade e da economia processual,
podendo resultar em decisões conflitantes.
Portanto, não há como se acolher, ao menos nessa fase processual, a atipicidade da conduta em relação à
imputação feita na peça acusatória dos crimes de estelionato. Eventuais dúvidas acerca das hipóteses
taxativas dispostas no art. 397, do Código de Processo Penal militam a favor da sociedade.
Por fim, aduz que o momento adequado para a alteração da capitulação jurídica dos fatos descritos na
denúncia é na sentença. Em que pese o entendimento excepcional de que a correção do enquadramento
típico possa ocorrer no recebimento da denúncia, o caso dos autos não comporta tal relativização, vez que
a peça acusatória já havia sido recebida pelo órgão julgador competente que ressaltou, inclusive, a correta
classificação dos crimes. Assim, não se vislumbra eventual equívoco na definição jurídica dos fatos que
justifique a desclassificação prévia realizada na decisão ora impugnada.
Em contrarrazões (ID 14286114, p. 1/12), a Defesa pugna pelo desprovimento do apelo ministerial.
Em parecer, a Procuradoria de Justiça Criminal oficia pelo conhecimento e provimento do recurso (ID
14580140, p. 1/3).
É o relatório.
VOTOS
2. Durante procedimentos médicos estéticos, no período e local mencionados, agindo de forma livre,
consciente e assumindo o risco de produzir o resultado danoso, ofendeu a integridade corporal e a saúde,
ocasionando incapacidade para as atividades habituais por mais de trinta dias, deformidades permanentes
e/ou enfermidade incurável, de diversos pacientes quando da aplicação inadequada e em quantidade
acima do recomendado pela literatura médica da substância polimetilmetacrilato (PMMA), praticando
lesões corporais graves e gravíssimas em concurso material.
4. Verificou-se que o denunciado nem mesmo respeitava os procedimentos de higiene exigidos para
procedimentos invasivos, deixando de utilizar luvas e de realizar a correta assepsia das mãos.
Registra-se, inclusive, que, em razão dos graves fatos narrados, o Conselho de Medicina procedeu à
Interdição Cautelar Total do médico ora denunciado.
5. No caso, o dolo constatado é eventual, haja vista que o agente assumiu o risco de ocasionar o resultado
danoso, mostrando-se indiferente a ocorrência de lesões.
7. Em que pese conhecer tais riscos, ainda assim, o denunciado, de forma livre e consciente, aplicou
quantidades excessivas da substância, assumindo o risco de ocasionar danos em diversos pacientes, o que
de fato ocorreu.
No mérito, pretende seja mantida a imputação dos crimes de lesão corporal dolosa, bem como requer o
julgamento conjunto do feito em relação às vítimas. Pede seja cassada a decisão de absolvição sumária
em relação aos crimes de estelionato, determinando-se o prosseguimento do feito. Subsidiariamente,
pleiteia o prequestionamento das matérias suscitadas, a fim de que Juiz a quo se pronuncie de forma
explícita e fundamentada sobre a emendatio libelli após o recebimento da denúncia.
DO CONHECIMENTO DA APELAÇÃO
Conforme relatado, a decisão, ora recorrida, possui diversos capítulos, pois, absolveu sumariamente o
denunciado dos crimes de estelionato, desclassificou os delitos de lesão corporal grave para a
modalidade culposa e declarou a incompetência do Juízo. A última parte é recorrível mediante recurso
em sentido estrito, por expressa previsão legal (art. 581, inc. II, do CPP). O capítulo da absolvição
sumária, por sua vez, é reformável via apelação, também por expressa previsão legal (art. 593, inc. I, do
CPP). Sobre a desclassificação das condutas e a alteração da capitulação jurídica, com efeito, recai
dúvidas sobre qual o recurso cabível, pois, de regra, a desclassificação é feita em sentença, após
encerrada a instrução probatória, e, portanto, seria objeto de apelação.
No caso dos autos, há uma excepcionalidade: o Juiz alterou a classificação jurídica dos fatos descritos na
denúncia em decisão que a recebeu, fato que ensejou a declinação de sua competência.
Em comentário ao art. 581, inc. I, do Código de Processo Penal, Guilherme de Souza Nucci salienta que,
a princípio, “não cabe, por parte do magistrado, a alteração da desclassificação feita pelo promotor, no
momento de receber a denúncia, de forma que inexiste recurso para tanto”. Ressalva, todavia, a hipótese
de o Juiz assim o fazer por existir erro material na denúncia, por exemplo, hipótese em que o Promotor
descreveu um homicídio qualificado na denúncia, mas classificou os fatos como homicídio simples. Não
há problema em o Juiz corrigir o erro já na decisão inicial. No entanto, “caso o Juiz altere a classificação,
porque modifica, de ofício, os fatos narrados na denúncia, estará prejulgando, o que é inadmissível”,
caso em que a decisão implicará rejeição parcial da denúncia, atacável via recurso em sentido estrito
(Código de Processo Penal. 11ª ed., rev., atual. e ampl. – São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2012,
pág. 1011).
Dessa forma, em razão de a decisão comportar diversos capítulos a ensejar mais de um recurso cabível,
por ser a apelação mais abrangente e pelo princípio da unirrecorribilidade das decisões, deve ser
conhecida a apelação para impugnar a decisão inteira, nos termos do art. 593, § 4º, do Código de
Processo Penal.
Isso porque o réu se defende dos fatos descritos na peça acusatória e não da qualificação jurídica. O
Magistrado, na decisão que a recebe deve se limitar a analisar somente a presença das condições da ação
e dos pressupostos processuais, conforme ditames dos arts. 41 e 395, do Código de Processo Penal,
deixando a subsunção dos fatos ao tipo penal para a sentença, quando as partes já tiveram a oportunidade
de produzir todas as provas cabíveis e exercer o contraditório, sob pena de ofensa ao devido processo
legal.
Nesse sentido, esse Tribunal de Justiça decidiu constituir error in procedendo a alteração da qualificação
jurídica dos fatos na decisão que recebe a denúncia. Vejamos:
Ocorre, todavia, que em recentes julgados, o Superior Tribunal de Justiça firmou entendimento de ser
possível, excepcionalmente, a antecipação da emendatio libelli na decisão que recebe a denúncia,
somente nos casos em que houver possibilidade da alteração da competência absoluta ou o rito
procedimental ou se houver restrição de benefícios penais por excesso de acusação.
Confira-se os precedentes:
2. Deve-se ressaltar ainda que a condenação do paciente não ocorreu pelo delito constante da
queixa-crime, mas nos termos da emendatio libelli, a demonstrar que essa alteração não foi realizada
com a finalidade de burlar a competência do Juizado Especial, mas sim de dar a correta qualificação
jurídica aos fatos imputados ao querelado.
3. Agravo regimental desprovido” (AgRg no HC 455.831/RJ, Rel. Ministro JOEL ILAN PACIORNIK,
QUINTA TURMA, julgado em 28/05/2019, DJe 06/06/2019);
4. Agravo regimental não provido” (AgRg no AREsp 1268233/SP, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI
CRUZ, SEXTA TURMA, julgado em 19/02/2019, DJe 11/03/2019).
No caso dos autos, o Juiz prolator da decisão recorrida considerou possível a desclassificação jurídica
dos fatos, vez que a nova adequação e o desmembramento do feito para cada vítima individualmente,
ensejou o deslocamento da competência do feito para o Juizado Especial Criminal de Águas Claras.
Portanto, no caso concreto, cabível a desclassificação antecipada dos crimes, porque presentes, em tese,
as hipóteses excepcionais.
Segundo a denúncia, imputa-se ao acusado a prática de lesão corporal grave e gravíssima, na modalidade
dolosa (dolo eventual), contra os pacientes que se submeteram ao procedimento de bioplastia, haja vista
o resultado malsucedido da intervenção estética, bem como a prática de estelionato, porque teria
propalado aos pacientes que, com o resultado do procedimento, eles ficariam mais bonitos, jovens e com
traços mais harmoniosos, de modo que os convencia a realizar o procedimento e, com isso, obtinha
vantagem econômica indevida.
Em decisão prolatada em 10/05/19, o MM. Juiz de Direito da Vara Criminal e Tribunal do Júri, Dr.
Gilmar Rodrigues da Silva, recebeu a denúncia, haja vista a inexistência de inépcia manifesta e o
preenchimento dos requisitos do art. 41, do Código de Processo Penal, além de presentes indícios da
materialidade e da autoria dos crimes atribuídos ao denunciado (ID 14286074).
Em decisão proferida em 05/11/19, o MM. Juiz, Dr. Paulo Afonso Correia Lima Siqueira, ratificou a
ausência de inépcia manifesta da denúncia, eis que preenchidos os requisitos do art. 41, do Código de
Processo Penal, estando a peça acusatória lastreada em lastro probatório mínimo. No entanto, quanto à
capitulação jurídica dos fatos, desclassificou as condutas para as previstas no art. 129, § 6º, do Código
Penal (lesão corporal culposa) e absolveu sumariamente o acusado da imputação pelos crimes de
estelionato em face da atipicidade. Além disso, antes da remessa do feito ao Juízo competente,
determinou o seu desmembramento em relação às diversas vítimas por entender inexistir qualquer
hipótese de conexão ou continência (ID 14286104).
Com efeito, para que haja o dolo, é necessária a demonstração do ânimo de produzir lesão corporal na
vítima. Leciona Cezar Roberto Bitencourt:
O elemento subjetivo do crime de lesões corporais é representado pelo dolo, que consiste na vontade
livre e consciente de ofender a integridade física ou a saúde de outrem. É insuficiente que a ação causal
seja voluntária, pois no próprio crime culposo, de regra, a ação também é voluntária. É necessário, com
efeito, o animus laedendi. O dolo deve abranger o fim proposto, os meios escolhidos e, inclusive, os
efeitos colaterais necessários. Os elementos volitivos e intelectivos do dolo devem abarcar a ação
(conduta), o resultado e o nexo causal, sob pena de o agente incorrer em erro de tipo (Tratado de Direito
Penal, parte especial, volume 2, 14º edição, editora Saraiva, pág. 196).
Consoante disposto no art. 18, inc. I, do Código Penal, age dolosamente aquele que, diretamente, quer a
produção do resultado (dolo direto) ou aquele que, mesmo não o desejando, assume o risco de
produzi-lo (dolo eventual).
No dolo eventual, a vontade do agente não se dirige diretamente à produção do evento danoso, mas sim a
sua conduta. Ele percebe que é possível causá-lo e, não obstante, realiza o comportamento. Entre desistir
da conduta e poder causar o resultado, este se lhe mostra indiferente.
Por outro lado, para a responsabilização do agente por crime culposo, faz-se necessária a existência
simultânea dos seguintes requisitos: a) conduta humana voluntária, comissiva ou omissiva; b)
inobservância de dever de cuidado objetivo; c) resultado lesivo não querido ou não assumido pelo
agente; d) nexo de causalidade entre conduta e resultado; e) previsibilidade e f) tipicidade.
A inobservância do dever de cuidado objetivo se verifica quando o agente atua em desacordo com o
esperado pela lei, nas formas de imprudência, negligência ou imperícia.
No caso, pelos elementos probatórios até então carreados aos autos, há sérias e razoáveis dúvidas acerca
de elemento volitivo do acusado – se, com sua conduta, assumiu o risco do resultado lesivo ocasionado
às vítimas ou se apenas agiu com inobservância do dever de cuidado objetivo na modalidade de
imperícia.
Com efeito, o denunciado é formado em Medicina (ID 44643314) e possuía, à época dos fatos, registro
no Conselho Regional de Medicina (ID 44643307, 44643310), o que lhe permitia realizar o
procedimento de bioplastia, sendo que a substância utilizada, “polimetilmetacrilato” (PMMA), não
figura como proibida pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA para correção
volumétrica facial.
No entanto, pelas declarações das vítimas abarcadas nestes autos, ao todo quatro, algumas delas já
sentiram os efeitos maléficos da aplicação realizada pelo denunciado ainda no próprio consultório: dor
excessiva, inchaço nos locais de aplicação e evidente deformidade nos contornos faciais, em especial, na
região dos maxilares e queixos, como demonstrado também pelas fotografias constantes de IDs
14285913, 14285922, 14285928, 14285943, 14285962, 14285964, 14286007, 14286025, 14286026 e
14286027.
Segundo relatado pela vítima Alexandre Cunha Garzon, no ano de 2011, procurou a clínica estética do
denunciado e contratou um pacote de 10 (dez) aplicações de carboxiterapia, para tratamento de calvície.
Durante as sessões de carboxiterapia, o acusado ofereceu a Alexandre o procedimento de bioplastia, haja
vista que o paciente se queixava das marcas deixadas por espinhas. Segundo o réu, o procedimento
consistia em um procedimento simples que tiraria as manchas de espinha e que deixaria os traços do
rosto da vítima mais harmoniosos e bonitos. Segundo a vítima, no mesmo dia, o médico aplicou em seu
rosto, por meio de uma cânula, a substância plástica. Embora tenha sido utilizada anestesia local,
Alexandre disse ter sentido muita dor a ponto de sua pressão baixar e o acusado precisar lhe dar “água
com açúcar”. No final do procedimento, o médico lhe deu um espelho dizendo que o resultado ficara
muito bonito, no entanto o declarante, ao se olhar, levou um susto, pois seu rosto estava deformado.
Questionado, o médico disse que o inchaço era normal e que melhoraria com o tempo. Relatou que o
acusado lhe orientou a retornar à clínica, por dois meses, toda semana, para dar “manutenção” que
consistiu em aplicação de corticóide. Esclareceu que já nos primeiros quatro dias após o procedimento,
saía secreção dos furos feitos pela cânula. Passados dois meses, percebeu que o médico o estava
enganando e, em pesquisa à internet, descobriu que a substância plástica aplicada na sua face era o
PMMA, microesfereas de plástico que aderem ao tecido (gordura, músculo e pele) de forma permanente.
Relatou ter sofrido depressão e ter feito tratamento psicológico. Entrou com ação de indenização por
danos morais e materiais na qual logrou êxito. Descobriu um blog em que encontrou várias vítimas do
mesmo médico, chegando a formar um grupo de whatsapp com cerca de 40 (quarenta) pessoas, todas
vítimas. Precisou fazer tratamento médico com outros especialistas para “consertar o seu rosto” (ID
14285912).
A vítima Natália Katarine Bittencourt Junqueira narrou ter procurado a clínica do acusado para fazer
tratamento contra celulite e bioplastia, tendo o médico lhe dito que faria modificações na mandíbula,
queixo, malar, nariz e maçã do rosto, tendo ela concordado em fazer somente mandíbula e queixo. A
declarante se submeteu ao procedimento uma semana depois da consulta, ocasião em que, mediante
anestesia local, foram aplicadas várias injeções da substância PMMA (polimetilmetracrilato), mas que o
médico exagerou na quantidade, além de aplicar em locais errados. Ao ver o resultado no espelho, a
vítima ficou “horrorizada” com o resultado e ficou em choque. Ao perceber que o inchaço não passava
após dez dias após o procedimento, procurou outro especialista, Dr. Eduardo, que disse que já havia
atendido diversos pacientes do acusado que haviam se submetido à bioplastia. Segundo Dr. Eduardo, o
denunciado havia injetado a substância em locais errados do rosto da declarante e em quantidade
excessiva. Teve que submeter, inclusive, a uma cirurgia para raspar o produto da face. Informou que o
réu tinha uma clínica em Goiânia, mas por ter “ficado queimado na praça”, mudou o nome para Beaute
Corps, na qual atuava de forma disfarçada (14285918).
A vítima Aliete Gonçalves de Oliveira relatou ter procurado a clínica do acusado em dezembro de 2016
para fazer um tratamento para amenizar suas olheiras. Durante a consulta, o médico ofereceu outro
procedimento, chamado por ele de “harmonização facial”, dizendo que resolveria o problema dela e que
iria deixá-la “de parar o trânsito, com filas de homens atrás dela”. Em janeiro de 2017, deu início ao
tratamento, o qual perdurou durante 05/01/17 a 18/10/18. Todavia, narrou que, logo depois da primeira
aplicação, a declarante ficou inchada e deformada, além de ter sentido muita dor. Porém, o acusado disse
que era normal e que, com o tempo, o inchaço acabaria. A vítima acreditou e continuou a frequentar a
clínica, na tentativa de “consertar” a sua face. Disse que o denunciado somente falou que a substância se
A vítima Juliana de Ávila Panisset relatou, na delegacia, ter ido à clínica do acusado em julho de 2015 e
durante a consulta, o médico sugeriu a ela a aplicação de PMMA para corrigir assimetrias em seu rosto.
A declarante concordou em realizar o procedimento que transcorreu sem intercorrências. No entanto, ele
receitou um antibiótico para ela tomar durante três dias, o qual sabia não ser indicado para o caso porque
era fisioterapeuta. Em setembro do mesmo ano, a declarante concordou em retornar ao consultório para
fazer um retoque no nariz, ocasião em que o denunciado sugeriu a ela que fizesse outro procedimento,
qual seja, correção da mandíbula, maçã do rosto e correção da região temporal, apontando diversos
defeitos estéticos. Após insistência do médico, a declarante concordou em se submeter ao procedimento.
Dessa vez, o procedimento foi extremamente dolorido, ao contrário do garantido pelo médico, e ele
injetou a substância em local equivocado, logo abaixo do nariz, fazendo com que a declarante a sentisse
em sua garganta. Em razão da manobra desastrosa, várias consequências foram sentidas pela paciente,
quais sejam, problemas respiratórios e alergias recorrentes. No final do procedimento, a declarante
passou mal e teve vontade de desmaiar. Verificou que seu rosto apresentava um aspecto de deformidade.
Questionado, o médico disse que era normal. Após dois dias, a mucosa bucal abaixo dos dentes
inferiores apresentou sinais de infecção, como aspecto purulento, dor e inchaço. A declarante entrou em
contato com o acusado, tendo ele informado que não estava em Brasília. A vítima foi, então, ao Hospital
Pronto Norte, onde se submeteu a uma tomografia que mostrou “dados clínicos de celulite na
mandíbula”, ou seja, uma infecção muito grave. A declarante comprou a medicação orientada pelo
médico do hospital. No dia seguinte, acordou com fortes dores em sua panturrilha direita, foi ao Hospital
Santa Helena, onde se constatou trombose venosa profunda, confirmada por dois exames. Em razão do
grave quadro, foi transferida e internada por quatro dias no Pronto Norte. Durante a internação,
constatou-se que seu quadro evoluiu para um tromboembolismo pulmonar, razão pela qual foi
novamente transferida para o Hospital Santa Luzia e internada em uma UTI, onde permaneceu por cinco
dias. Ressaltou que, enquanto estava internada neste hospital, recebeu visita do acusado, o qual lhe
sugeriu fazer uma “moldagem do produto em seu rosto”, sem se atentar para as condições frágeis da
paciente, o que lhe assustou. Após isso, a declarante teve que se submeter a diversos tratamentos e
procedimentos para reverter o seu quadro, tendo tentado ressarcimento dos gastos médicos perante a
clínica do acusado, sem sucesso. Salientou ter iniciado um tratamento com corticóide e remédio
quimioterápico. Informou que, apesar dos tratamentos, as deformidades em seu corpo são permanentes
(ID 14285959).
A genitora do acusado também foi ouvida na delegacia, na data de 21/12/18, oportunidade em que
esclareceu que no ano de 2010 aproximadamente, chamou a pessoa de Eliana para trabalhar na clínica do
filho, localizada no Taguatinga Shopping e nessa época, também, foi aberta uma clínica em Goiânia.
Informou que, inicialmente, os pagamentos eram depositados nas próprias contas do acusado, do Banco
Bradesco e Sicoob. Posteriormente, “em razão de problemas das clínicas com execuções judiciais de
indenizações”, o seu filho passou a não mais utilizar suas contas para receber valores de pacientes.
Assim, a declarante relatou que abriu uma outra empresa apenas para criar uma conta bancária com o
objetivo de receber os pagamentos dos pacientes. Portanto, com a abertura da nova empresa, os valores
pagos pelos pacientes da Clínica de Goiânia passaram a ser depositados nessa conta. Disse que a clínica
de Goiânia foi fechada em razão do alto valor do aluguel e, em seguida, a namorada de seu filho, abriu
uma empresa, Beaute Corps, colocando Eliana como administradora da empresa. Após a criação dessa
empresa, a declarante perdeu o controle da situação, pois era Sarah, namorada de seu filho, quem tomou
a frente dos negócios. Registrou que o acusado passou a atender todos os pacientes na clínica Beaut
Corps e que os atendia sem alvará (ID 14285981).
Verifica-se dos depoimentos transcritos, para citar apenas os relativos às vítimas tratadas nestes autos,
pois constam dos autos vários outros, que o acusado sugeria aos pacientes a aplicação da substância
denominada PMMA, com o fim de correção de suposta assimetria facial. Aceito pelos pacientes, o
procedimento era realizado, tendo alguns deles experimentado dor extrema e deformidade logo depois da
aplicação, no que o acusado dizia se tratar de inchaço normal que desapareceria em poucos dias. No
entanto, com a permanência das deformidades e, em alguns casos, com a superveniência de infecções, o
denunciado, procurado por algumas vítimas, sugeria nova aplicação da mesma substância. Causa
assombro o relato da vítima Juliana de Ávila Panisset que, durante sua internação por tromboembolismo
pulmonar decorrente do procedimento estético realizado pelo acusado, recebeu visita do médico que
chegou a lhe sugerir fazer uma modelagem do mesmo produto em seu rosto.
Registre-se que essas vítimas realizaram o tratamento com o apelado entre os anos de 2012 e 2018, ou
seja, mesmo alertado por diversas delas logo após a aplicação da substância sobre as consequências
nefastas daquele procedimento, continuou a fazê-lo em sua clínica. Aliás, há nos autos vários relatos de
outras vítimas com deformidades após serem submetidas àquele procedimento na clínica do acusado,
tendo sido informado por elas, inclusive, a existência de um grupo de whatsapp, com cerca de trinta a
cinquenta pessoas, todas supostas vítimas do mesmo médico, ora recorrido.
Conforme visto, há indícios de que o acusado abriu empresa com nome diverso em Goiânia (Beaute
Corps), em nome de sua gerente administrativa, apenas para se furtar das responsabilizações cíveis e
criminais em razão das várias notícias nas redes sociais sobre os procedimentos malsucedidos, a indicar
que ele tinha conhecimento dos resultados maléficos de sua conduta e, mesmo assim, continuava a
indicar e realizar o procedimento de bioplastia, o que denota, a princípio, indiferença e assunção do risco
pelo resultado danoso.
Portanto, há razoáveis e sérias dúvidas a respeito do dolo subjetivo do autor do fato, se agiu
culposamente, com mera imperícia, ou se assumiu o risco da produção dos resultados lesivos, eis que
desconsiderou as reclamações dos pacientes que retornaram à sua clínica queixando-se de deformidades
e complicações decorrentes do procedimento de bioplastia, insistindo em sua conduta, no mínimo,
desidiosa, durante, ao menos, seis anos. Além disso, as circunstâncias narradas pelas vítimas e
testemunhas indicam que ele sabia dos resultados danosos produzidos por ele, tanto que chegou a abrir
uma outra clínica em nome de sua secretária para não ser responsabilizado, tanto cível, quanto
penalmente, e continuar a submeter os seus pacientes ao mesmo procedimento estético. Ressalte-se,
Com efeito, os indícios de provas até então colhidos não autorizam concluir, com segurança, que o
acusado agiu com mera imperícia, impondo-se a necessidade do prosseguimento do feito, com a
conclusão da instrução probatória, para que o Juiz possa conhecer todos os fatos e provas com
profundidade e formar a sua convicção a respeito do elemento subjetivo do tipo.
Registre-se que a própria Defesa, em resposta à acusação, não pediu a desclassificação dos fatos
descritos na denúncia, aduzindo, ao contrário, que a acusação carecia do mínimo suporte probatório, vez
que as provas produzidas em ação cautelar não foram carreadas aos autos e os laudos de exame de corpo
de delito aguardam suas conclusões. Formulou pedido subsidiário para que o prazo para resposta à
acusação fosse contado após à disponibilização à Defesa dos autos da cautelar de busca e apreensão,
oportunidade em que abordaria as teses de mérito (ID 14286097).
Assim, a decisão há de ser cassada no tocante à desclassificação dos crimes de lesão corporal
grave/gravíssima para lesão corporal culposa ante a precariedade das provas até então colhidas,
mostrando-se necessário o encerramento da instrução probatória para que se possa concluir sobre o
elemento subjetivo do tipo, pois há razoáveis e sérias dúvidas sobre se o denunciado assumiu, com sua
conduta, o risco da produção dos resultados lesivos às vítimas ou se atuou com mera imperícia. Finda a
instrução, aí sim, estará o Magistrado autorizado, nos termos do artigo 383 e 384, do Código de Processo
Penal, a operar a desclassificação das condutas, se for o caso.
Segundo a narrativa da denúncia, imputa-se ao acusado a prática de estelionato, porque teria propalado
aos pacientes que, com o resultado do procedimento, eles ficariam mais bonitos, jovens e com traços
mais harmoniosos, de modo que os convencia a realizar o procedimento e, com isso, teria obtido
vantagem econômica indevida.
Chama-se a atenção que não existe diferença entre a fraude civil e a fraude penal,
havendo apenas uma só fraude. Trata-se, no entanto, de uma questão de qualidade ou grau,
determinado pelas circunstâncias da situação concreta. São elas que determinam se o ato do agente não
“(...) as vítimas celebraram contrato de prestação de serviços médicos com o acusado, seja de forma
escrita (IDs 44643204 e 44643106) ou verbal (consistente no ajuste de vontades), tendo algumas delas
assinado termo de consentimento para a submissão à bioplastia (ID 44643042) e recebido recibos dos
valores pagos (ID 44643098).
A circunstância de o acusado ter persuadido as vítimas afirmando que a bioplastia os deixaria mais
bonitos, com traços mais harmônicos e atraentes não configura fraude ou ardil, pois, de fato, a bioplastia
tem esse objetivo de proporcionar melhorias estéticas. Agora, se o resultado embelezador não foi
efetivamente alcançado, isso não configura fraude, mas sim inadimplemento da obrigação de resultado
assumida pelo médico esteticista, o que é passível de atrair sua responsabilidade civil, sem que isso
caracterize estelionato.
Nesse contexto, a conduta do réu de oferecer o tratamento de bioplastia e não alcançar o resultado
estético pretendido não se amolda ao crime de estelionato, pois em tal situação não se vislumbra dolo de
obtenção de vantagem ilícita, em detrimento de outrem, mediante emprego de fraude. No caso, o serviço
foi prestado, ainda que de maneira imperita e insatisfatória, motivo pelo qual não se pode falar em
obtenção de vantagem ilícita por parte do réu.
Nesse diapasão, o caso enseja a absolvição sumária do réu quanto à imputação de crimes de
estelionato.(...)”
(...)
(...)
15. Assim, no dia 11 de abril de 2012, no interior de sua clínica, o denunciado, dolosamente e iniciando
nova conduta delituosa, assumindo o risco do resultado, ofendeu a integridade corporal e a saúde da
vítima Alexandre Cunha Garzon ao realizar nele bioplastia facial com aplicação, por meio de cânula, da
substância PMMA (polimetilmetacrilato).
16. O produto foi aplicado em toda a face da vítima, gerando deformidades permanentes e danos
estéticos aparentes e irreparáveis, além de debilidade permanente de sentido, consistente na perda da
sensibilidade na face por longo período.
(...)
23. No dia 29 de julho de 2015, Juliana De Ávila Panisset foi ao consultório do denunciado, ocasião em
que ele lhe imputou diversos defeitos estéticos, afirmando que seu rosto era assimétrico e, por isso,
deveria fazer bioplastia com aplicação de PMMA.
(...)
25. Induzida em erro, a vítima pagou ao denunciado R$ 8.100,00 (oito mil e cem reais) pelo
procedimento e, no dia 29 de julho de 2015, iniciando nova conduta, o denunciado dolosamente aplicou
PMMA no rosto da vítima, (...).
26. Em setembro de 2015, Juliana retornou à clínica reclamando da falta de assepsia, sendo ludibriada
pelo denunciado que aplicou uma injeção abaixo do nariz, em franca imperícia, de modo que a vítima
chegou a sentir a substância em sua garganta, aspirando parte do produto.
(...)
28. No dia seguinte, a paciente sentiu fortes dores na panturrilha e se dirigiu ao hospital Santa Helena,
onde foi diagnosticada com trombose venosa profunda. A paciente permaneceu internada e seu quadro se
agravou para um tromboembolismo pulmonar, afastando-se das suas atividades habituais por mais de
trinta dias.
(...)
30. Ressalta-se que o estado geral de saúde da vítima foi afetado gravemente, visto que esta até o
presente momento sofre com “falta de ar constante, fadiga, limitações para viajar, pois necessariamente
utiliza meias compressivas, associadas a injeções de anticoagulantes no abdômen”, além do “surgimento
de varizes e ‘foliculite’ em razão do anticoagulante criar maior fluxo sanguíneo” e “quadro alérgico
(...)
(...)
38. Assim, em dezembro de 2016, no interior de sua clínica, o denunciado, dolosamente iniciando nova
conduta delituosa, assumindo o risco do resultado, ofendeu a integridade corporal e a saúde da vítima
Natalia Katarine Bittencourt Junqueira injetando, aproximadamente, 15 (quinze) seringas de PMMA no
rosto dela, em áreas completamente inadequadas.
39. Após a bioplastia, a vítima apresentou aumento do volume da face, deformidade estética, assimetria e
alteração na sensibilidade no rosto, além de aspectos inflamatórios, tais como odor, inchaço, ardência e
vermelhidão.
40. Em razão das lesões, a vítima ficou incapacitada para suas ocupações habituais, por mais de 30
(trinta) dias, (...).
(...)
(...)
46. Assim, no período de 05/01/2017 a 18/10/2018, no interior de sua clínica, o denunciado, dolosamente
e iniciando nova conduta delituosa, assumindo o risco do resultado, ofendeu a integridade corporal e a
saúde da vítima Aliete Gonçalves de Oliveira ao realizar nela bioplastia facial com aplicação, por meio
de cânula, da substância PMMA (polimetilmetacrilato), apesar de tê-la feito acreditar que se tratava de
aplicação de ácido hialurônico.
(...)
50. Verifica-se que o denunciado ofendeu a integridade corporal e a saúde de Aliete, ocasionando
deformidade permanente de seu rosto, consistente no dano estético aparente e irreparável, mais
especificamente na região dos olhos.
(...)
61. Ao agir da forma escolhida, o médico WESLEY NORYUKI MURAKAMI DA SILVA violou os
artigos 129, §1º, inciso I e III, 2º, incisos II e IV e 171 (c/c o art. 69), todos do Código Penal, (...).
Consoante o disposto no artigo 76, inciso III, do Código de Processo Penal, quando a
prova de uma infração ou de qualquer de suas circunstâncias elementares influir na prova de outra
infração a competência será determinada pela conexão.
Por sua vez dispõe o artigo 79, do Código de Processo Penal que, ressalvado alguns
casos especiais, a conexão e a continência importarão unidade de processo e julgamento.
DISPOSITIVO
Ante o exposto, conheço do recurso e a ele DOU PARCIAL PROVIMENTO para manter a
classificação jurídica imputada ao apelado, na denúncia, no tocante aos crimes previstos no art. 129, § 1º,
incisos I e III, e § 2º, incisos II e IV, do Código Penal, e reconhecer a conexão probatória entre eles,
mantendo o processamento e julgamento da demanda no Juízo da Vara Criminal e do Tribunal do Júri de
Águas Claras, cassando a decisão de 1ª Grau na parte que promoveu antecipada desclassificação dos
crimes para receber a denúncia e determinar o prosseguimento da ação penal. Mantenho, contudo, a
decisão de absolvição sumária do denunciado pelos crimes de estelionato, com base na atipicidade das
condutas.
É como voto.
DECISÃO