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Teatro e Educação

Desde os tempos mais antigos que as práticas ligadas ao teatro estão ligadas as
desenvolvimento da sociedade, das comunidades, tendo sido, porém, no início do século
XX que ocorre a emergência decisiva do teatro e do drama na Educação.
O drama e o teatro na Educação foram influenciados por várias correntes ao
longo dos tempos, assim como o texto teatral. Actualmente, este último, tem sido fonte
de várias interrogações e novas pesquisas. Isto acontece por alguns motivos em
particular que segundo Lopes (1991:15) estão relacionados com o problema da
especificidade do texto e com a heterogeneidade que caracteriza o teatro. Em relação ao
primeiro aspecto referido, a mesma autora afirma que “a escrita teatral adquirindo uma
grande flexibilidade no nosso século, tem recolocado o problema da especificidade do
texto a que, por convenção, se chama dramático.” Já no que respeita ao segundo aspecto
acima mencionado, Lopes refere que “sendo o teatro caracterizado pela heterogeneidade
e constituindo simultaneamente uma prática de escrita e uma pratica de representação,
pressupõe uma complexa teia de relações entre o texto e a cena.” O pensamento acerca
do valor educacional da arte está centrado, nos nossos dias, tanto no âmbito da
concepção de propostas que possam valer-se desse potencial próprio à actividade
artística, quanto no desafio de tentar elucidar em que medida a fruição da arte pode, por
si, ser compreendida enquanto actividade pedagógica.
No entanto e apesar de todos os questionamentos que possam surgir e apesar de
das origens tão longínquas do teatro, é irrefutável o facto de este “continuar com toda a
vitalidade, a atravessar os séculos como espaço de lazer, de manifestação de
sentimentos, de angústias e de perplexidades, acompanhando o caminhar dos homens e
das sociedades.” (Lopes, 1991:15)
No que toca à relação Teatro/Educação, esta pode ser vista como uma
“combinação sedutora pela diversidade de caminhos que convida a percorrer”. Se
tivermos em conta o que refere o relatório para a UNESCO da Comissão Internacional
sobre Educação para o século XXI, “à Educação cabe fornecer, dalgum modo, a
cartografia de um mundo complexo e constantemente agitado e, ao mesmo tempo, a
bússola que permite navegar através dele” (Delors et al. 1996:77), é possível entender
que é o papel da escola desenvolver o conhecimento dos alunos em todas as vertentes,
logo a Expressão Dramática não deve ser desacreditada. Se queremos que haja um
desenvolvimento o mais completo possível dos nossos alunos, teremos que apostar em
todas as áreas para que todas as suas dimensões sejam desenvolvidas.
Quando se fala da relação Teatro/Escola, não nos devemos limitar à actividade
artística ou ao espectáculo propriamente dito, mas sobretudo devemos centrar a nossa
atenção às inúmeras e diversificadas formas de que se reveste a criação teatral. Deste
modo, a Expressão Dramática e o Teatro na escola devem ser “enquanto práticas
criativas, sejam instrumentos de descoberta das capacidades individuais e de grupo,
espaços de diálogo e de experimentação, privilegiando-se todo o processo de
aprendizagem.” (Lopes, 1991:7)

A criação teatral na escola


Apesar de ser o texto dramático aquele que está direccionado para ser
dramatizado, a verdade é que se pode fazer “teatro de tudo: a partir de obras narrativas,
poéticas ou mesmo sem texto previamente estabelecido.” (Lopes, 1991:4)
A partir do trabalho de um texto para ser representado e da própria preparação
da peça teatral é possível mobilizar potencialidades, saberes e aptidões. É potenciada a
descoberta das capacidades individuais e de grupo, espaços de diálogo e de
experimentação, privilegiando-se, assim, todo o processo de ensino-aprendizagem.
A criação teatral é favorável à cooperação entre os alunos, uma vez que
enquanto actividade colectiva, realizada por um grupo, não só depende em absoluto
desse grupo, como gera um objectivo comum pelo qual todos trabalham e desenvolve
relações afectivas entre os diversos elementos. Por outro lado, um projecto teatral
promove o “respeito pelas diferenças e a aceitação do outro, necessários ao
desenvolvimento do trabalho em conjunto; a disponibilidade, o espírito de partilha e a
entreajuda, factores indissociáveis do sucesso.” (Lopes, 1991:8) Enquanto espaço de
experimentação, a criação teatral permite a estimulação da criatividade, apela ao espírito
de iniciativa, favorece o uso da imaginação, explora as capacidades expressivas,
mostrando-nos tudo isto que “o teatro depende do contingente, do maleável, da procura
paciente tanto como da invenção” (Ryngaert, 1981 citado por Lopes, 1991:8). No fundo,
a criação teatral como um espaço de descoberta e de conhecimento permite que os
alunos desenvolvam a capacidade de lançar um olhar mais atento sobre a realidade que
os cerca.
No que respeita à interdisciplinaridade, um projecto teatral pode funcionar como
um eixo desta. Isto porque representar uma peça de teatro não é apenas dizer em voz
alto algumas falas decoradas, uma vez que uma representação teatral “por um lado
constitui sempre uma leitura particular da obra original e, por outro, constrói-se com
uma multiplicidade de signos, que fazem apelo a diversas linguagens e que solicitam
saberes diversificados.” (Lopes, 1991:17) Por tudo isto, a criação teatral não se coaduna
com a compartimentação dos saberes que ainda tende a existir na escola, onde os
conhecimentos são trabalhados de forma estanque e até muitas vezes desligados das
situações concretas.
Assim, e dado o referido anteriormente, é necessário “a necessidade de romper
fronteiras e de criar pontes entre as várias disciplinas e áreas do saber, entre o curricular
e o extracurricular.” (Lopes, 1991:17)

 LOPES, Maria Virgílio Cambraia. (1991). Texto e Criação Teatral na Escola.


Porto: Edições ASA

 DELORS, Jacques (et al). (1996). Educação – Um tesouro a descobrir. Relatório


para a UNESCO da Comissão Internacional sobre Educação para o século XXI.
Porto: Edições ASA

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