Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Metodológicos do
Ensino da Arte e Música
As Linguagens Artísticas: Cênicas
Revisão Textual:
Prof. Me. Claudio Brites
As Linguagens Artísticas: Cênicas
• As Artes Cênicas;
• Fundamentos do Ensino de Dança na Escola;
• Fundamentos do Ensino de Teatro na Escola.
OBJETIVOS
DE APRENDIZADO
• Estudar as linguagens do teatro e da dança;
• Refletir, principalmente, sobre qual o papel dessas expressões artísticas na escola;
• Perceber as linguagens da dança e do teatro na escola como conhecimento e expressão,
merecendo assim uma atenção maior por parte dos educadores;
• Apresentar fundamentos e proposições pedagógicas dessas linguagens.
UNIDADE As Linguagens Artísticas: Cênicas
As Artes Cênicas
As artes da cena es tão ligadas à apresentação direta, não adiada ou
apreendida por um meio de comunicação, do produto artístico. O equi-
valente inglês (performing arts) dá bem a ideia fundamental destas artes
da cena: elas são “performadas”, criadas diretamente, hic et nunc, par
a um público que assiste (a) a representação: o teatro falado, cantado,
dançado ou mimicado (gestual), o balé, a pantomima, a ópera são os
exemplos mais conhecidos. Pouco importa a forma do palco, e a relação
palco-plateia (relação teatral); o que conta é a imediatidade da comuni-
cação com o público por intermédio dos performers (atores, dançarinos,
canto res, mímicos etc.). (PAVIS, 2008, p. 27)
Como destacado por Patrice Pavis, as artes cênicas se caracterizam pela multi-
plicidade de formas que tem como elemento comum a imediaticidade de sua relação
com o público mediada pelos performers. Esse tipo de comunicação se realiza em
um tempo e em um espaço comum, consolidando assim a cena como um ponto de
encontro e contato entre os artistas e o público, que, dada a sua abertura e variedade,
pode se realizar em muitos lugares, como palcos, praças, casas, escolas, fábricas,
ruas, parques etc.
Além da variedade espacial, há a variedade de modalidades das artes cênicas,
teatro e dança, que são as categorias mais conhecidas, mas também se configuram
nesse escopo: performances, happenings, instalações, site specific etc. E mesmo
dentro das categorias mais tradicionais existem variedades e fusões, como: dança-
-teatro, teatro gestual, teatro de bonecos, teatro de máscaras e inúmeros estilos de
dança e teatro. E em todos esses casos, há sempre o encontro dos corpos e suas
inúmeras relações naquele espaço-tempo.
Para abarcar esse manancial de possibilidades, o ensino das artes cênicas deve
valorizar a riqueza e a complexidade da linguagem da cena, procurando apresentar,
debater e experimentar as mais variadas formas cênicas, percebendo suas proximi-
dades e afastamentos. Esse processo pode proporcionar uma reflexão crítica sobre
como nos comportamos, como nossos corpos interagem uns com os outros, e
quanto de comum e incomum há em nossas relações públicas e íntimas.
8
Espetáculo Paraíso Perdido, do Teatro da Vertigem: https://bit.ly/30L5NQX
A autora de vasta literatura sobre o ensino da dança, Isabel Marques, que atua
também como coreógrafa e diretora de grupos de dança, faz críticas a uma concep-
ção muito comum no ensino da dança, trata-se das coreografias mecânicas e temá-
ticas, as quais, em geral, são apresentadas nos finais dos ciclos escolares. Esse tipo
de proposta valoriza o evento em si, a direção da escola e o público, que geralmente
são os pais das crianças, mas não articula objetivos pedagógicos nem a preocupação
com o que a criança está aprendendo. Com esse tipo de proposta, a escola perde o
seu papel principal, deixando a potência do aprendizado por meio das expressões
cênicas esvaziada.
Dança
dan · ça
[d’ɐ̃ sɐ] s. f. (Do Fr. danse)
1. Sequência de passos, de movimentos corporais, executados geralmente ao som de música
por uma ou várias pessoas segundo uma arte, técnica ou código cultural específico.
2. Mover os pés e o corpo, geralmente ao som da música e de acordo com o seu ritmo,
executando uma série de passos, por vezes específicos.
3. Ação de dançar.
4. Modo ou forma de execução de movimentos corporais.
5. Passos cadenciados, geralmente ao som e compasso de música.
6. Movimento incessante (figurado).
Fonte: https://bit.ly/30SFEQf
9
9
UNIDADE As Linguagens Artísticas: Cênicas
Roger Garaudy (1980), filósofo e estudioso, diz que a dança é a expressão que
potencializamos por meio de movimentos do corpo. Esses movimentos são orga-
nizados em sequências significativas; dançar é uma experiência que vai além das
palavras. Esse autor realça a ideia que dançar é uma das formas de existir.
Existem danças étnicas, populares, folclóricas, teatrais etc. Uma das formas de
ampliar saberes culturais dos alunos é apresentar espetáculos de dança para nutrir
esteticamente o repertório cultural. O melhor é sempre assistir presencialmente,
mas hoje há muitas possibilidades, como fazer pesquisas na internet ou assistir a
espetáculos gravados.
A dança desde tempos remotos foi se consolidando de maneira particular nas dife-
rentes culturas e etnias que foram se formando por todo o mundo. Dessa forma, cada
civilização desenvolveu sua lógica, mística e estética para criar na arte dos movimentos.
No geral, tem-se por dança étnica aquela produzida por uma comunidade étnica e
cultural. A forma e os motivos em dançar são passados de geração em geração, com
mínimos acréscimos e modificações. Nesse caso, estariam as danças ritualísticas, de
vários grupos que vemos ainda hoje, sendo executadas. A dança étnica pressupõe
também uma elaborada expressão artística, exigindo conhecimento e dedicação por
parte dos executantes e dos demais membros da comunidade. Muitas vezes, vemos
que as danças étnicas podem influenciar o folclore de uma região ou de um país, e
muitas ainda são praticadas. Danças essas que são consideradas patrimônios históricos
e culturais da humanidade.
10
Figura 1 – Espetáculo Água, de Pina Bausch
Fonte: design-is-fine.org
11
11
UNIDADE As Linguagens Artísticas: Cênicas
em que cada pessoa, seja essa adulta ou criança, traz consigo uma experiência e
repertório de movimentos, e que cabe às pessoas dançantes descobrir qual é o seu
movimento mais expressivo.
Pina Bausch acredita que para dançar precisamos aflorar nossas emoções e sensi-
bilidades, e fazer os movimentos que o nosso corpo nos pedir. Precisamos mergulhar
em nossas emoções, como nas memórias, sonhos e medos.
Café Muller, criado em 1978, é um dos grandes espetáculos da história da dança. Com
a própria Pina Bausch em cena, essa coreografia, com invenções formais sofisticadas e
uma pesquisa corporal vertical, interveio de modo crítico sobre diversos aspectos da vida
modernae foi filmada pela televisão alemã em 1985, sendo uma das grandes referências
para os estudos da dança. Disponível em: https://youtu.be/WZd2SkydIXA
Pensando nos ensinamentos de Pina Bausch na escola como uma das propostas me-
todológicas, podemos contar histórias com os movimentos e criar sequências coreográfi-
cas a partir de como cada um sente o seu próprio corpo e os movimentos que ele pode
fazer. Para isso, é importante conhecer também os elementos de linguagem corporal.
Rudolf Laban, que viveu entre 1879 e 1958, foi um bailarino e coreógrafo austro-
húngaro que analisou de forma sistemática os elementos constitutivos do movimento
humano (linguagem corporal). Além disso, enfatizou a importância da dança na es-
cola, onde deveriam ser realizadas atividades que reforçassem as faculdades naturais
de expressão da criança, preservassem a espontaneidade do movimento, mantendo-o
vivo, e estimulassem a expressão artística no âmbito da arte do movimento.
Laban elaborou um sistema de análise da movimentação humana, apli-
cável à dança, à terapia, à interpretação e a qualquer outra atividade que
inclua movimentos. [...] Ao final de seu trabalho, criou um esquema das
várias qualidades do movimento, um código (sistema de notação) que
atende a várias linguagens expressivas. (SIQUEIRA, 2006, p. 78)
12
• Tempo na relação de velocidade e variações de unidades de andamento lento ou
rápido do movimento;
• Espaço como as possíveis relações de trajetórias, ocupação de planos, dos lugares
em que podem acontecer os movimentos.
O treinamento corporal busca desenvolver as diferentes nuances destas
qualidades dinâmicas no aluno, além de suas preferências cotidianas.
Por oscilarem num continuum entre dois pólos reciprocamente influen-
tes..., o estudo corporal de cada fator implica em perceber suas duas
vertentes e as gradações entre elas. Quanto mais se explora, por exem-
plo, o peso forte, mais fácil é perceber e experienciar o peso leve...
Uma qualidade naturalmente influencia a outra, numa constante trans-
formação e gradual habilidade para realizar e identificar cada variação.
(FERNANDES, 2006, p. 122)
Propostas, como convidar as crianças para formar uma roda em um espaço am-
plo e depois conversar sobre como elas se movem no dia a dia, podem ser um bom
começo. Depois, exercícios em que as crianças possam expressar de forma livre e
dinâmica esses movimentos, assim como fazer combinações de movimentos e criar
sequências coreográficas são oportunidades de desenvolver a dança na escola, indo
além dos movimentos estereotipados e repetitivos das apresentações sem propósitos
pedagógicos de festinhas escolares. Pense nisso! A dança é uma linguagem do corpo
e, como tal, é área de conhecimento e expressão poética.
Teatro
te · a · tro
[tj’atru] s. m. (Do Lat. theatrum < Gr. théatron, θέατρον)
1. Arte de representação em palco.
2. Lugar onde se representam obras dramáticas ou líricas, comédias, revistas.
3. Construção que, nos primeiros locais de representação, na Grécia, era em forma de anfi-
teatro adossado a uma colina, compreendendo três espaços fundamentais: o local para os
espetadores, o teatro, para o coro a orquestra, e para a movimentação dos atores, a cena.
4. Conjunto de obras dramáticas, geralmente de um autor, de um país, de uma época.
Fonte: https://bit.ly/2N8tPgP
13
13
UNIDADE As Linguagens Artísticas: Cênicas
Apesar da especificidade da linguagem teatral, ela não pode ser vista isoladamente,
devendo ser inserida no mundo da ciência, da história, da literatura, entre outras áreas
do conhecimento, destacando seu ensino de forma global e constitutiva de uma cida-
dania cultural.
O teatro é mesmo, na verdade, um ponto de vista sobre um aconteci-
mento: um olhar, um ângulo de visão e raios ópticos o constituem. Tão
somente pelo deslocamento da relação entre olhar e objeto olhado é
que ocorre a construção onde tem lugar a representação. Durante muito
tempo, na língua clássica dos séculos XVII e XVIII, o teatro será também
a cena propriamente dita. Por uma segunda transação metonímica, o te-
atro se torna enfim a arte, o gênero dramático (daí as interferências com
a literatura, tão amiúde fatais à arte cênica), mas também a instituição
(o Teatro Francês) e finalmente o repertório e a obra de um autor (o teatro
de Shakespeare). (PAVIS, 2008, p. 372)
14
Faz parte do mundo da criança brincar de interpretar papéis. Com o passar
do tempo, a criança cresce e podemos introduzir os jogos com regras, em que há
combinados para as brincadeiras. Dessa forma, o teatro faz parte do desenvolvi-
mento das crianças.
Para a educadora Ingrid Koudela (2011), o jogo teatral no contexto da sala de aula
é importante enquanto proposta metodológica de aprendizagem cognitiva, afetiva e
psicomotora. É por meio de jogos em grupos que a criança desenvolve o senso de
coletividade e cooperação. Nos jogos teatrais, as crianças podem criar e aprender
como se dá a linguagem do teatro.
No jogo teatral, pelo processo de construção da forma estética, a criança
estabelece com seus pares uma relação de trabalho em que a fonte da
imaginação criadora – o jogo simbólico – é combinada com a prática
e a consciência da regra de jogo, a qual interfere no exercício artístico
coletivo. O jogo teatral passa necessariamente pelo estabelecimento de
acordo de grupo, por meio de regras livremente consentidas entre os par-
ceiros. O jogo teatral é um jogo de construção com a linguagem artística.
Na prática com o jogo teatral, o jogo de regras é princípio organizador do
grupo de jogadores para a atividade teatral. O trabalho com a linguagem
desempenha a função de construção de conteúdos, por intermédio da
forma estética. (KOUDELA; SNATANA, 2005, p. 149-150)
15
15
UNIDADE As Linguagens Artísticas: Cênicas
Fazer o jogo teatral pressupõe que a criança entenda as regras que o próprio jogo
apresenta, como também aceite o desafio que o jogo coloca. Nesse sentido, o papel
do professor é fundamental. É ele quem, como propositor do jogo, terá de dar as
instruções para que o jogo aconteça, instruções que devem ser claras e objetivas,
para que os participantes do jogo as entendam.
16
seja necessário um enredo ou estória para a comunicação; uma forma de
arte; transformação; produz detalhes e relações com um todo orgânico;
processo vivo. (SPOLIN, 2005, p. 341)
O professor pode, nesse sentido, ser aquele que no jogo teatral proporá os proble-
mas e desafios por meio de instruções, agindo como um mediador e orientador do
grupo de crianças enquanto jogam. A instrução tem como objetivo a manutenção do
foco da atividade realizada pelo aluno. Ela deve levar o jogador para a dimensão do
“aqui e agora”, para a resolução de um problema ou desafio que o jogo teatral sugere.
Essas três noções básicas (onde, quem e o que) compõem o sistema de jogo teatral
proposto por Viola Spolin, e podem contribuir para o ensino do teatro nas escolas.
Vejamos o que Ricardo Japiassu, pesquisador do ensino de teatro, diz a respeito das
noções de onde, quem e o que. Essas noções compõem os princípios fundamentais
para a instalação da realidade cênica, quer dizer, da realidade do signo teatral ou da
existência propriamente dita do fenômeno teatral criado com base no jogo:
Essas noções compõem os princípios fundamentais para a instalação
da realidade cênica, quer dizer, da realidade do signo teatral ou da exis-
tência propriamente dita do fenômeno teatral criado com base no jogo.
(JAPIASSU, 2005, p. 70)
17
17
UNIDADE As Linguagens Artísticas: Cênicas
Figura 2 – Espetáculo O canto da praça, grupo TEIA do colégio Nossa Senhora das Dores
Fonte: noato.org
18
Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
Sites
Plataforma Teatro na Escola
https://bit.ly/2NmDIYg
Vídeos
Angel Vianna conversa sobre dança no Arte do Artista – Arte do Artista
Na conversa com Aderbal Freire-Filho, Angel Vianna revisita sua trajetória
profissional, como o nascimento do trabalho de expressão corporal, termo
disseminado no Brasil por ela e pelo marido, Klaus Vianna. Também relembra como
sua escola começou nos anos 50, em sua terra natal (Minas Gerais), passando pela
efervescente cena universitária baiana dos anos 60, para só depois se estabelecer
no Rio de Janeiro.
https://youtu.be/bJ2KJIDtECc
A Sagração da Primavera, por Pina Bausch
Nesta brilhante coreografia criada em 1975 para sua Tanztheather Wuppertal,
Pina Bausch criou a coreografia com a música de Stravinski. No ano em que a
coreógrafa e bailarina morreu, 30 de junho de 2009, a Temporada de Dança do
Teatro Alfa trouxe tal coreografia.
https://youtu.be/nd_ZCuqYdVE
Percursos da Arte na Educação - Ingrid Dormien Koudela
O vídeo Percursos da Arte na Educação é tributário de uma experiência iniciada
em 2008 na Universidade de São Paulo com apoio da Pró-Reitoria de Cultura e
Extensão no Centro Universitário Maria Antonia (USP), projeto de memória que
concentrou-se majoritariamente em pesquisadores do campo acadêmico.
https://youtu.be/9TigyEiS0eg
Colóquio: “O que é Pedagogia do Teatro” com Ingrid Koudela, Ivam Cabral e Maria Thaís
https://youtu.be/XAZ6D6PMatk
Leitura
Educação como expressão do corpo que dança: um olhar sobre a vivência da dança em projetos sociais
https://bit.ly/3d8BINL
Revista Nupeart – Volume 17
https://bit.ly/2BmmaZv
19
19
UNIDADE As Linguagens Artísticas: Cênicas
Referências
ARAÚJO, P. A linguagem do corpo: passos e gestos se transformam em instru-
mentos de comunicação e expressão. Revista Nova Escola. Abril/Setembro, 2007.
Disponível em: <https://novaescola.org.br/conteudo/3276/a-linguagem-do-corpo>.
Acesso em: 27/05/2020.
BOAL, A. Jogos para atores e não atores. São Paulo, Cosac Naify, 2015.
20
RENGEL, L. P. A dança e o corpo no ensino. In: SÃO PAULO (Estado) Secretaria da
Educação. Coordenadoria de Estudos e Normas Pedagógicas. O ensino de arte nas
séries iniciais: ciclo I/Secretaria da Educação, Coordenadoria de Estudos e Normas
Pedagógicas; organização de Maria Alice Lima Garcia. São Paulo: FDE, 2006.
________. Jogos teatrais na sala de aula: um manual para o professor. 2. ed. São
Paulo: Perspectiva, 2010.
21
21