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Felizmente Há Luar - Resumos
Felizmente Há Luar - Resumos
Caráter épico
Luís de Sttau Monteiro foi um homem que entendeu a vida como um desafio: o de
conciliar uma profissão com o prazer e a liberdade de ser e estar.
Nunca abdicou dos seus ideais, nomeadamente a defesa da liberdade, a luta contra a
intolerância e as injustiças sociais, o que o levou a afirmar que, para ele, “a única coisa
sagrada (era) ser livre como o vento”
Contextualização histórica
Estrutura
Estrutura Externa
Estrutura Interna
Não se trata de uma obra que respeite a forma clássica nem obedeça à regra das três
unidades (de lugar, de tempo e de ação), no entanto o esquema clássico está implícito
(exposição, conflito, desenlace).
Tempo
Espaço:
Espaço físico:
A ação desenrola-se em diversos locais, exteriores e interiores, mas não há nas
indicações cénicas referência a cenários diferentes.
Ao longo da peça surgem referências a espaços físicos reais, contextualizadores da
ação e criadores de verosimilhança (aparência de verdade):
Campo de Ourique
“ Em Campo d`Ourique – já lá vão mais de dez anos – quando eu era soldado no regimento de
Gomes Freire…” (na fala do Antigo Soldado)
Cais do Sodré
“No Cais do Sodré há um café, Excelência, onde se reúnem todos os dias os defensores do sistema
das cortes…” (fala de Vicente dirigindo-se a D. Miguel)
O Rato
“ Tenho uma missão para si. Quero que se torne conhecido para os lados do Rato e que veja quem
entra em casa do meu primo” (Fala de D. Miguel dirigindo-se a Vicente)
S. Julião da Barra
“ Que estará ele fazendo a esta hora, fechado numa cela em S. Julião da Barra?” (fala de
Matilde interrogando-se acerca da detenção do General Gomes Freire de Andrade)
Campo de Sant`Ana
“Durante uns instantes ouve-se o latim dos padres que acompanham os presos ao Campo de
Sant`Ana e veem-se os populares, sentados, a meia-luz.”
Espaço social:
A articulação entre o espaço físico e o espaço social é conseguida pela utilização de
objetos – símbolos e pela postura e comportamento de personagens que identificam os dois
grupos socias em oposição: o grupo do poder e o do povo oprimido.
O meio social em que estão inseridas as personagens, havendo vários espaços sociais,
distinguindo-se uns dos outros pelo vestuário e pela linguagem das várias personagens;
Linguagem e estilo:
Logo no início da peça, nas didascálias laterais, Sttau Monteiro apela para a
necessidade de o leitor “entender, logo de entrada, que tudo o que se vai passar no palco tem
um significado preciso” e “que os gestos, as palavras e o cenário são apenas elementos de
uma linguagem a que tem de adaptar-se”.
Desta forma afirma que na peça Felizmente há luar! existe um paralelismo entre um
passado histórico revisitado e a contemporaneidade portuguesa dos anos sessenta. Assim
sendo esta obra apresenta um caráter dual: reflete duas épocas (o Absolutismo do séc. XIX e a
ditadura salazarista do séc. XX); é constituído por dois atos que se iniciam de forma
semelhante, alertando assim o espectador para a necessidade de estar atento e manter uma
atitude crítica; e as personagens estão agrupadas em dois núcleos dicotómicos – Poder e Anti-
Poder. Os atos I e II estão fortemente interligados, pois a ação narrada no ato II decorre em
consequência da situação apresentada no ato I. Em ambos os atos, Gomes Freire surge como
elemento estruturador da ação: são a sua condenação e execução que condicionam o
comportamento das restantes personagens.
A obra Felizmente há Luar é entendida como uma alegoria politica. Sttau Monteiro
remete o leitor/espectador para os problemas sociais e políticos de Portugal não apenas
no início do século XIX e durante o regime ditatorial do século XX, mas para todos os
regimes despóticos e situações repressivas.
Existe um paralelismo entre a ação presente na peça e os contextos ideológico e
sociológico do país.
Há um mergulhador no passado onde se revisitam os acontecimentos históricos para
levar o leitor/espectador a interpretar o presente e a refletir sobre a necessidade de
lutar contra qualquer opressão.
Graças à distanciação histórica, denúncia um ambiente politica repressivo dos inícios do
século XIX, para provocar a reflexão sobre um tempo de opressão e de censura que se
repete no século XX.
Luís de Sttau Monteiro, evoca na obra situações e personagens do passado usando-as
como pretexto para falar do presente (ditadura de Salazar). Foi esta a forma que o
escritor encontrou para ludibriar a censura oficial e poder criticar a sociedade
portuguesa do seu tempo.
Conteúdo da Obra
Crítica e intemporalidade
O título da peça, Felizmente Há Luar!, aparece duas vezes ao longo da peça, ora
inserido nas falas de um dos elementos do poder, D. Miguel, ora inserido na fala de um dos
elementos do povo, Matilde.
Em primeiro lugar é curioso e simbólico o facto de o título coincidir com as palavras
finais da obra, fala de Matilde, o que desde logo lhe confere circularidade.
Miguel Pereira Forjaz: nas falas do governador, esta relacionada com o desejo de
garantir a eficácia desta execução pública: a noite é mais assustadora, as chamas
seriam visíveis em vários pontos da cidade e o luar atrairia as pessoas à rua para
assistirem ao castigo, que se pretendia exemplar e dissuasor, uma vez que O luar é
favorável por permitir a visibilidade.
O mesmo enunciado pronunciado por Matilde assume um significado totalmente
distinto. Para ela, estas palavras são fruto de um sofrimento interiorizado refletido, de
coragem e de estimulo para que o povo de revolte contra a tirania dos governantes.
(Para ela, a morte de Gomes Freire constitui um incentivo à revolta contra a tirania dos
opressores e é, por isso, importante que seja visível.)
Outra explicação
- É uma expressão que faz parte de um documento escrito por D. Miguel e enviado ao intendente da
polícia, no dia da execução do general.
-No texto de Sttau Monteiro, é uma expressão proferida por duas personagens de “ mundos “ diferentes,
no final do ato II: D. Miguel, símbolo do poder , e Matilde , símbolo da resistência .
- Tendo em conta esta dualidade, o luar é interpretado de forma diferente por cada uma das personagens.
Para D. Miguel, o luar permitirá que o clarão da fogueira seja visto por todos, atemorizados aqueles que
ousem lutar pela liberdade, sendo por isso um efeito dissuasor. Para Matilde, o luar sublinha a intensidade
do fogo, incitando à ousadia daqueles que acreditam na mudança e na caminhada para a “ luz da
liberdade”(prenúncio da revolução liberal), constituindo-se, por isso, como um estimulo para que o povo se
revolte.
- Intencionalmente, Sttau Monteiro escolhe esta expressão para título da sua obra e reforça o seu objetivo:
a esperança no restabelecimento da justiça.
Simbologia:
Saia verde:
-Prenda de Gomes Freire a Matilde, comprada em Paris, no inverno, com o dinheiro da venda
de duas medalhas, vendidas devido ao aperto financeiro do casal. O verde é a cor
predominante na natureza e dos campos na Primavera, associando-se à força e à fertilidade. A
saia é uma peça eminentemente feminina e o verde encontra-se destinado à esperança de que
um dia se reponha a justiça, associada à felicidade e foi comprada numa terra de liberdade. Ao
escolher aquela saia para esperar o companheiro apos a morte, destaca “alegria” do
reencontro, esperança e o amor verdadeiro.
Lua:
-Por estar privada de luz própria, na dependência do Sol e por atravessar fases, mudando de
forma, a Lua representa dependência, periocidade.
-A luz da lua, devido aos ciclos lunares, também se associa à renovação. E também a força
extraordinária que permite o conhecimento e a lua poderá simbolizar a passagem da vida para
a morte e vice-versa, o que , aliás, se relaciona com a crença na vida para além da morte.
-para além disso a luz simboliza a vida, saúde e felicidade, vencendo a escuridão da noite (Mal,
castigo, morte, opressão e de falta de liberdade), advém quer da fogueira quer do luar. Ambas
são a certeza de que o bem e a justiça triunfarão, não obstante todo o sofrimento inerente a
eles. A luz representa a esperança num momento trágica.
Luar:
-Duas conotações: para os opressores, mais pessoas ficarão avisadas; e para os oprimidos,
mais pessoas poderão um dia seguir essa luz e lutar pela liberdade.
Fogueira:
D. Miguel Forjaz – ensinamento ao povo; Matilde – a chama mantém-se viva e a liberdade há-
de chegar é um elemento destruidor e ao mesmo tempo purificador e regenerador, sendo a
purificação pela água complementada pela do fogo. Se no presente a fogueira se relaciona
com a tristeza e escuridão, no futuro relacionar-se-á com esperança e liberdade.
Moeda de cinco reis: símbolo de desrespeito que os mais poderosos mantinham para com
os mais desfavorecidos, contrariando os mandamentos de Deus.
1. Povo
2. Delatores
Representam os “bufos” do regime salazarista.
3. Governadores
Representam o poder político e são o cérebro da conjura que acusa Gomes Freire de
traição ao país; não querem perder o seu estatuto; são fracos, mesquinhos e vis; cada um
simboliza um poder e diferentes interesses; desejam permanecer no poder a todo o custo
Beresford
Representa o poder militar
Tem um sentimento de superioridade em relação aos portugueses e a Portugal
Ridiculariza o nosso povo, a vida do nosso país e a atrofia de almas
Odeia Portugal
Está sempre a provocar o principal Sousa
Não é melhor que aqueles que critica mas é sincero ao dizer que está no poder só
pelo seu cargo que lhe dá muito dinheiro
Tem medo de Gomes Freire (pode-lhe tirar o lugar)
Oportunista, severo, disciplinar, autoritário e mercenário
Bom militar, mau oficial
Principal Sousa
É demagogo e hipócrita
Não hesita em condenar inocentes
Representa o poder religioso/clerical/Igreja
Representa o poder da Igreja que interfere nos negócios do estado
Não segue a doutrina da Igreja para poder conservar a sua posição
Não tem argumentos face ao desmascarar que sofre de Matilde
Tem problemas de consciência em condenar um inocente mas não ousa intervir
para não perder a sua posição confortável no governo
Fanático religioso
Corrompido pelo poder eclesiástico
Desonesto
Odeia os franceses
Defende o obscurantismo
D. Miguel Forjaz
Representa o poder político e a burguesia dominadora
Quer manter-se no poder pelo seu poder político-económico
Personifica Salazar
Prepotente, autoritário, calculista, servil, vingativo e frio
Corrompido pelo poder
Primo de Gomes Freire
As personagens do poder:
D. Miguel
-Pequeno tirano, inseguro e prepotente, revela-se um homem contrário ao
progresso e insensível à justiça a à miséria.
- O seu discurso preconceituoso e profundamente demagógico constrói-se sobre
verdades e convicções falsas. Os argumentos do “ardor patriótico”, da construção
de “um Portugal próspero e feliz, com um povo simples, bom e confiante, que vivia
lavrando e defendendo a terra, com os olhos postos no Senhor” são o eco fiel do
discurso politico Salazarista.
- D. Miguel revela falsidade e hipocrisia.
Beresford
- Personagem cínica e controversa que lidera o processo de Gomes Freire, não
como um dever nacional ou militar, mas apenas motivado por interesses
individuais: a manutenção do seu posto e da sua tença anual.
A sua presença contribuiu para acentuar as contradições no seio do poder.
É um homem crítico em relação a Portugal e está sempre pronto a denegrir a sua
imagem.
Surge como uma voz que reprova a atuação de D. Miguel e do principal Sousa.
Principal Sousa
Além da hipocrisia e da falta de valores éticos, esta personagem deixa
transparecer que os interesses particulares suplantam o bem comum – “Agora me
lembro de que á anos, em Campo de Ourique, Gomes Freire prejudicou muito a
meu irmão Rodrigo! “
Simboliza, de igual modo, o arranjo entre a Igreja, enquanto instituição, e o poder
e a demissão da mesma em relação à denúncia das verdadeiras injustiças.
As didascálias que acompanham esta personagem no ato I – “ O principal Sousa
surge no palco imponentemente vestido.” (p.36) – e no ato II – “ Surge a meio do
palco (…) Está vestido de gala e sentado na cadeira em que apareceu no 1º ato” (p.
121) – mostram tratar-se de um homem vaidoso que aprecia a riqueza e o luxo, o
que entra em conflito com os princípios da Igreja.
- É um homem que não apresenta uma forte convicção relativamente aos
procedimentos adotados contra o general Gomes Freire : tem dúvidas e
hesitações. “Não me agrada a condenação dum inocente…”
Vicente
Elemento do povo
Trai os seus iguais, chegando mesmo a provocá-los, apenas lhe interessando a sua
própria ascensão político-social.
A sua atuação evidencia dois momentos distintos:
• Num primeiro momento, tenta denegrir junto do povo o prestígio do general,
assumindo-se como um provocador e agitador: “ Vocês ainda não estão fartos de
generais? (…) Tu, José: Tens sete filhos com fome e frio e vais para casa com as
mãos a abanar. Julgas que o Gomes Freire os vai vestir? (…) E tu (…) Julgas que
matas a fome com balas? Idiotas! (…) O que eles querem é servir-se da gente”
Sousa Falcão
Sousa Falcão, “o inseparável amigo”, “ o amigo de todas as horas”, é o amigo fiel
em quem se pode confiar e que está sempre pronto a exprimir a sua solidariedade
e amizade.
No entanto, ele próprio tem consciência de que, muitas vezes, não atuou de
forma adequada com os seus ideais, faltando-lhe coragem para passar à ação. Por
isso, para ele, o general é mais do que um amigo, é alguém que ele desejaria ser.
- O processo de Gomes Freire permite a Sousa Falcão uma reflexão e
consciencialização da sua própria existência- “ Há homens que obrigam todos os
outros homens a reverem-se por dentro”( Diálogo final com Matilde)
Matilde de Melo
“Companheira de todas as horas” de Gomes Freire é ela quem dá voz á injustiça
sofrida pelo seu homem.
As suas falas, imbuídas de dor e revolta, constituem também uma denúncia da
falsidade e da hipocrisia do Estado e da Igreja, identificando-se com a ideologia
progressiva dos anos 60.
- Os monólogos desta personagem revelam tratar-se de uma mulher que foge
ao paradigma das mulheres da sua época. Ex: Não estava casada com Gomes
Freire, sendo, por isso, apelidada de “a amante de Gomes Freire”.
Quando dialoga com os representantes da Igreja, revela um profundo
conhecimento dos seus princípios e insurge-se contra a leviandade de um Igreja
que desconhece o verdadeiro significado da caridade da justiça e da igualdade
entre os homens.
Quando dialoga com o povo mostra-se insatisfeita com a sua falta de
solidariedade e apoio.
Matilde é uma personagem modelada, uma vez que se apresenta inicialmente
como uma mulher que apenas quer salvar o seu homem mas ao tomar
consciência da trama maquiavélica que envolve o general, acaba de assumir a
luta de Gomes Freire, revelando-se firme e corajosa.
Acreditando num reencontro pós-morte, Matilde reafirma a crença numa outra
vida para além da vida terrena, revelando-se, assim, como uma cristã autêntica.
- No entanto, a consciência da inevitabilidade do martírio do seu homem
arrasta-a para um delírio final em que envergando a saia verde que o general lhe
oferecera em Paris, Matilde dialoga a uma só voz , com Gomes Freire vivendo
momentos de alucinação intensa e dramática. Estes momentos finais pelo seu
caracter surreal, denunciam o absurdo a que a intolerância e a violência dos
homens conduzem.
O Povo
Encontra-se representado pela presença de “vários populares” e não tem uma
intervenção direta no conflito dramático .
- É um grupo de infelizes , de desanimados, que ninguém respeita, que não vive,
mas apenas sobrevive, e cuja condição contraria os princípios da dignidade
humana.
Manuel e Rita
- São símbolos de um povo oprimido e esmagado, sem vitalidade.
- Têm consciência da injustiça em que vivem, sabem que são simples joguetes
nas mãos dos poderosos, mas sentem-se impotentes para alterar a situação.
- Veem em Gomes Freire uma espécie de messias e, desta forma, a sua prisão é
uma espécie de traição à esperança que o povo nele depositava.
A fala de Manuel, no início do ato II, evidencia um tom irónico que acompanha o
desdobramento de personalidades que a personagem ensaia: o oprimido que
suplica miseravelmente uma esmola e o opressor que humilha de forma
arrogante.
Reforça o panorama de injustiça social, de falta de liberdade e dignidade humana que toda a peça claramente
denuncia.
Manuel e Rita acabam também por simbolizar a desesperança, a desilusão, a frustração de toda uma legião de
miseráveis face á quase impossibilidade de mudança da situação opressiva em que vivem.
A ação da peça
1º Resumo
Ato I
O ato inicia-se com uma cena coletiva.
Do conjunto do povo, andrajosamente vestido, destacam-se Manuel, Rita, dois populares,
uma velha e Vicente. O diálogo entre as personagens incide sobre a miséria em que vivem e a
impotência de a solucionar, traduzida na interrogação de Manuel ”Que posso eu fazer?”.
O Som dos tambores, que se ouve ao longe , faz com que os populares comecem a falar de
Gomes Freire de Andrade - “ Um amigo do povo! Um homem às direitas !”
- Todos parecem adorar Gomes Freire, exceto Vicente que desconstrói a imagem do general
como homem perfeito. O seu discurso é repleto de ironia , tentando mostrar aos que o ouvem
que o general não é diferente dos outros poderosos, porque “ O que há é homens e
generais”.
Entretanto, o povo dispersa com a chegada de dois polícias que vêm
recolher informações e que se aproximam de Vicente.
-O diálogo entre as três personagens mostra-nos, progressivamente, que Vicente orienta a sua
vida em função do dinheiro e do poder – “Só acredito em duas coisas: no dinheiro e na força”.
Por isso, não tem pudor em afirmar que vende os seus ” irmãos”, porque eles lhe fazem
lembrar a fome e a miséria em que nasceu - “…sempre que olho para eles me vejo a mim
próprio: sujo , esfomeado, condenado à miséria por acidente de nascimento”.
-Este “acidente” foi determinante para a revolta contra a sua condição – “A única coisa que
me distingue de um fidalgo é uma coisa que se passou há muitos anos e de que nem sequer
tive a culpa : o meu nascimento “.
-Depois, os dois polícias comunicam a Vicente que o governador do reino , D. Miguel Pereira
Forjaz , lhe quer falar para, provavelmente o incumbir de “uma missão especial”. Vicente
imagina-se já chefe de polícias e, face ao comentário do primeiro polícia de que , tendo sido
“os portadores da boa nova”, poderiam ser recompensados, lembra a arrogância dos
poderosos , mesmo quando a sua origem é humilde. “ Ah! Ah! Ah! Os degraus da vida são logo
esquecidos por quem soube a escada… Pobre de quem lembre ao poderoso a sua origem… Do
alto do poder, tudo o que ficou para trás é vago e nebuloso. (…) Quem sobe, amigos, larga os
homens e aproxima-se de Deus! Passa a ser julgado por outras leis…”
- D. Miguel dá uma missão a Vicente: vigiar a casa de seu primo, o general Gomes Freire
de Andrade, para os lados do Rato.
- Vicente sai e os” três reis do Rossio”, D. Miguel, o principal Sousa e o Marechal
Beresford dialogam sobre o estado da nação, o perigo das novas ideias subversivas
que destruirão o país e o “reino de Deus”. Chegam, então à conclusão de que é
necessário encontrar um nome , alguém que possam acusar de ser o responsável pelo
clima de insurreição que alastra pelo país. Andrade Corvo e Morais Sarmento, antigos
companheiros do general e atuais delatores apresentam-se diante dos governantes,
dando-lhes conta dos resultados das suas investigações , em troca de “algo mais
substancial”.
- De novo sós, os três governadores dialogam sobre o castigo a aplicar a quem ousa ser
inimigo do reino, tomando forma a ironia de Beresford, que sem inibições ,
desprestigia os portugueses e assume sem pudor a sua sobranceria e o seu interesse
meramente económico – “Pretendo uma única coisa de vós: que me pagueis - e
bem!”. Pragmaticamente Beresford afirma que troca os seus serviços ( a reorganização
do exército) por dinheiro. O principal Sousa confessa que a atitude do marechal lhe
desagrada, mas que precisa dele para encontrar “o chefe da conjura”.
- Mais tarde Andrade Corvo, Morais Sarmento e Vicente indicam o nome do opositor,
era general Gomes Freire de Andrade. Agora só resta a “Morte ao traidor Gomes Freire
de Andrade”.
Ato II
Inicia-se com uma cena coletiva.
Manuel revela a sua impotência perante a prisão do general e constata que a situação de
miséria em que vivem é ainda mais desesperante – “E ficamos pior do que estávamos… Se
tínhamos fome e esperança, ficamos só com fome …”.
Os restantes populares acompanham-no no seu desalento, até uma nova intervenção policial,
que dispersa o grupo.
- Rita mostra a sua piedade relativamente a Matilde (tinha-a ouvido chorar após a prisão do
seu homem) e suplica a Manuel que não se meta “nestas coisas”.
Matilde surge, proferindo um discurso solitário, em que relembra os momentos de intimidade
vividos com o seu general e ironiza dizendo que, se o seu filho ainda fosse vivo, lhe ensinaria a
ser cobarde e “ a cuidar mais do fato do que da consciência e da bolsa do que da alma.”
Sousa Falcão, “amigo inseparável de Matilde e de Gomes Freire”, surge diante de Matilde,
confessando o seu desânimo e desencanto face ao país em que vive – “O Deus deste reino
é um fidalgo responsável que trata como amigo o Pôncio
Pilatos (…) Vive num solar brasonado e dá esmolas, ao domingo, por
amor a Deus.”
Sousa Falcão despede-se de Matilde e parte em busca de notícias do amigo, deixando Matilde,
chorosamente triste, mas com vontade de enfrentar o poder.- “Vou enfrentá-los. É o que ele
(o general) faria se aqui estivesse”.
- Diante de Beresford, que aproveita a situação para humilhar a mulher do general, Matilde
suplica-lhe a sua libertação- “Quero o meu homem! Quero o meu homem, aqui ao meu lado!”
-sem qualquer fruto.
Matilde desesperada, aproxima-se dos populares, que, indiferentes à sua presença, evocam
Vicente, agora feito chefe da polícia.
No entanto, Manuel e Rita, após momentos de recriminação a Matilde, de que a oferta de
uma moeda como esmola é símbolo, manifestam-lhe a sua solidariedade moral- “Não a
podemos ajudar, senhora. Deus não nos deu nozes e os homens tiram-nos os dentes…”
Sousa Falcão reencontra-se com Matilde e revela-lhe que ninguém pode ver o general, já
encarcerado numa masmorra sombria em S. Julião da Barra, sem direito a julgamento.
Matilde, inconformada, recorda, então, a saia verde que o general um dia lhe oferecera em
Paris e, como que recuperada do seu desgosto, decide enfrentar uma vez mais o poder.
O seu objetivo é exigir um julgamento e, para isso dirige-se ao principal Sousa, desmontando a
mensagem evangélica, para lhe mostrar quanto o seu comportamento é contrário aos
ensinamentos de Cristo- “ Como governador, já perdoou a Cristo o que ele foi e o que ele
ensinou?”
Sousa Falcão anuncia que a execução do general está próxima. Matilde, em desespero, pede,
uma vez mais, pela vida do general e D. Miguel Forjaz informa que a execução se prolongará
pela noite ,”mas felizmente á luar…”
Matilde inicia ,então, um discurso de grande intensidade dramática : dirige-se a Deus,
interpelando-o e lembrando-lhe os seus ensinamentos e os resultados práticos desses
ensinamentos- “Senhor: não pretendo ensinar-te a seres Deus, mas, quando chegar a hora da
sentença não te esqueças de que estes sabiam o que faziam!” Os populares comentam a
execução do general: recusaram-lhe o fuzilamento e vai ser queimado.
- O ato termina com Sousa Falcão e Matilde em palco: o amigo do general elogia-o; Matilde
despede-se do homem que amou -“ Dá-me um beijo- o último na terra – e vai! Saberei que lá
chegas-te quando ouvir os tambores!”, e lança palavras de coragem e ânimo ao povo – “Olhem
bem! Limpem os olhos no clarão daquela fogueira (…) felizmente há luar!”
2º Resumo
Ato I:
Do conjunto do povo destacam-se as personagens Manuel, Rita, dois populares, uma velha e
Vicente. O diálogo entre estas personagens incide sobre a miséria em que vivem e a
impotência de a solucionar. O som dos tambores faz com que os populares comecem a falar de
Gomes Freire de Andrade. Todos pareciam ter Gomes Freire como ídolo menos Vicente.
Entretanto, o povo exaltado com a presença de dois polícias (PIDE) que vinham recolher
informações, aproximam-se de Vicente. Vicente orienta a sua vida em função do poder e do
dinheiro. Perante esta fraqueza, os dois polícias comunicam a Vicente que o governador do
reino, D. Miguel Forjaz, lhe quer falar para, lhe incumbir de uma missão. Vicente imagina-se já
chefe da polícia, lembra a arrogância dos poderosos, mesmo quando a sua origem é humilde.
Em presença de D. Miguel e do Principal Sousa (representante da igreja), é questionado pelo
primeiro acerca da eventual existência de um agitador político junto do povo, Vicente
especula, dando algumas informações dispersas. D. Miguel acaba por lhe dar uma missão:
vigiar a casa do seu primo, o general Gomes Freire de Andrade, para os lados do Rato. Vicente
sai e D. Miguel, o Principal Sousa e o Marechal Beresford, militar inglês, dialogam sobre o
estado da nação, onde os perigos das novas ideias subversivas que destruirão o país, e chegam
à conclusão de que é necessário encontrar um nome, alguém que possam acusar de ser o
responsável. Os três governadores dialogam sobre o castigo a aplicar a quem ousa ser inimigo
do reino.
Vicente entra em cena, dando conta das suas negligências, inicialmente pouco consistente,
mas que acabam por se concretizar na indicação de um nome, o general Gomes Freire de
Andrade. Está encontrada a vítima e só resta a “Morte ao traidor”.
Ato II:
Manuel revela a sua impotência perante a prisão do general e constata que a situação de
miséria em que vivem é ainda mais desesperante. Os restantes populares acompanham-no no
seu desalento, até uma nova intervenção policial, que dispersa o grupo.
Rita mostra a sua piedade relativamente a Matilde de sousa, na análise que faz de toda a teia
que envolve a prisão e condenação de Gomes Freire. Acusa o povo de cobardia mas depois
compreende-o. Personifica a dor das mães, irmãs, esposas dos presos políticos. No entanto, a
consciência da inevitabilidade do martírio do seu homem, arrasta-a para um delírio final em
que, envergando a saia verde, que o general lhe oferecera em Paris, Matilde começa a alucinar
dramáticamente. Matilde surge, proferindo um discurso solitário, em que relembra os
momentos de intimidade vividos com o seu general.
Sousa Falcão surge diante de Matilde, confessando o seu desânimo e desencanto face ao país
em que vive. Este despede-se de Matilde e parte em busca de notícias do amigo, deixando-a
dolorosamente triste, mas com vontade de enfrentar o poder diante de Beresford, que
aproveita a situação para a humilhar, a mesma súplica pela liberdade do seu general.
Matilde, desesperada, aproxima-se dos populares, que, indiferentes à sua presença, evocam
Vicente, agora feito chefe da polícia. No entanto, Manuel e Rita, após momentos de
recriminação a Matilde, de que a oferta de uma moeda como esmola, manifestam-lhe a sua
solidariedade moral.
Sousa Falcão reencontra-se com Matilde e revela-lhe que ninguém pode ver o general (Gomes
Freire que foi acusado de conspirador), já encarcerado numa masmorra sombria em S. Julião
da Barra, sem direito a julgamento. Matilde, inconformada, recorda, então, a saia verde que o
general um dia lhe oferecera em Paris e, como que recuperada do seu desgosto, decide
enfrentar uma vez mais o poder. O seu objectivo é exigir um julgamento e, para isso, dirige-se
ao principal Sousa, desmontando a mensagem evangélica, para lhe mostrar quanto o seu
comportamento é contrário aos ensinamentos de Cristo. De forma arrogante, Matilde dirige as
últimas palavras ao principal Sousa, amaldiçoando-o. Sousa Falcão anuncia que a execução do
general e dos restantes prisioneiros está próxima. Matilde, em desespero, pede, uma vez mais,
pela vida do general e D. Miguel Forjaz informa que a execução se prolongará pela noite, “mas
Felizmente há luar”. Matilde inicia, então um discurso de grande intensidade dramática. Os
populares comentam a execução do general: recusaram-lhe o fuzilamento e vai ser queimado.
O acto termina com Sousa Falcão e Matilde em palco: o amigo do general elogia-o; Matilde
despede-se do homem que amou – “Dá-me um beijo – o último na Terra – e vai! Saberei que lá
chegaste quando ouvir os tambores!”, e lança palavras de coragem e ânimo ao povo – “Olhem
bem! Limpem os olhos no clarão daquela fogueira, felizmente há luar!”