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Texto adaptado, extraído da Revista da Feneis: SANTOS, I.; GRILLO, J.; DUTRA, P.

Intérprete educacional: teoria


versus prática. In: Revista da Feneis, n° 41, set-nov, 2010. p. 26-30.

Intérprete educacional: teoria versus prática


Itamar Lopes dos Santos1
Jocimara Paiva Grillo2
Perpétua Aparecida A. Dutra3

Resumo
O interprete de língua de sinais é um profissional presente em vários locais da sociedade
devido à lei da acessibilidade. A escola é o ambiente onde mais vemos este profissional,
mas infelizmente ele ainda não é reconhecido e pouco se sabe sobre ele e assim a
confusão de papéis é frequente. Ser interprete educacional vai além do ato interpretativo
entre línguas. Este artigo irá analisar, questionar, discutir e comparar a teoria e a prática
do interprete educacional que não é um professor, mas faz parte da educação dos surdos
sendo assim é um profissional que está construindo sua identidade. Parece estranho
abordar teoria versus prática uma vez que deveriam andar juntas infelizmente para esse
profissional da educação especial andam em sentido contrário. Vários fatores, tais como a
falta de reconhecimento e regulamentação da profissão para sua efetivação como
educador de surdos. Vários conflitos fazem parte da vida acadêmica dos surdos e que
sempre acaba por refletir na sua formação, a questão profissional dos interpretes é um
deles.

Palavras-chave: Interprete Educacional. Educação de surdos. Profissão. Atuação.

Introdução Para melhor apresentar a discussão,


os assuntos foram distribuídos por tópicos
Ao longo dos anos trabalhando como onde serão discutidos desde a definição até a
intérpretes de Língua Brasileira de Sinais atuação dos tradutores/intérpretes de Libras
(Libras) e inseridos nos movimentos da (TILS).
comunidade surda de Campo Grande, estado
do Mato Grosso do Sul, onde realizamos
nossa pesquisa, notamos que o tradutor O Tradutor Intérprete de Libras – TILS
intérprete possui papel de grande valor, pois
ele é o elo entre as culturas dos ouvintes e Para iniciarmos a discussão,
dos surdos. usaremos a definição de Quadros (2004, p.
Percebemos também a escassez de 07), para quem o TILS é como “uma pessoa
profissionais capacitados, as dificuldades que interpreta de uma dada língua de sinais
enfrentadas por eles e o despreparo das para outra língua, ou desta outra língua para
escolas. Sendo assim, foi necessário buscar uma determinada língua de sinais”.
mais informações a respeito do tradutor Segundo Pereira (2008):
intérprete e, para a nossa surpresa,
encontramos literatura escassa sobre o O intérprete de Língua de Sinais é a pessoa
assunto. que, além de proficiência em Língua
Brasileira de Sinais (Libras) e em Língua
Portuguesa, exerce a profissão de:

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Texto adaptado, extraído da Revista da Feneis: SANTOS, I.; GRILLO, J.; DUTRA, P. Intérprete educacional: teoria
versus prática. In: Revista da Feneis, n° 41, set-nov, 2010. p. 26-30.

traduzir/verter, em tempo real escola em prol do sucesso cognitivo dos


(interpretação simultânea)ou com um alunos surdos.
pequeno lapso de tempo (interpretação
consecutiva), uma língua sinalizada para Segunda Albres e Vilhalva (2005, p.
uma língua oral (vocal) ou vice-versa, ou 07), em Campo Grande o intérprete
então, para outra língua sinalizada. educacional atua desde 1995, através de um
projeto elaborado pela professora Shirley
No Brasil, esse trabalho se iniciou Vilhalva, que no ato era diretora da escola
com atividades voluntárias, por volta da para surdos (CEADA). O início do
década de 1980, e foi valorizado ao longo atendimento deu-se primeiramente na rede
dos anos. O advento da inclusão dos surdos estadual, nas escolas Lúcia Martins Coelho e
fez este profissional aparecer em vários Adventor Divino de Almeida, e em 1999 na
lugares, tais como consultas médicas, rede municipal, nas escolas Arlindo Lima e
palestras, assistência social, televisão, ações Bernardo Franco Baís. Desde então, o
judiciárias, escolas e universidades, entre atendimento aos surdos é crescente. Antes
outros. era apenas exigida desse profissional a
O tradutor intérprete educacional fluência em Língua de Sinais. Hoje é
vem conquistando seu espaço desde o necessário ter formação de nível superior
reconhecimento da Libras através da Lei n° com habilitação em licenciaturas e ter
10.436, de 24 de abril de 2002, certificação de proficiência em Libras
regulamentada pelo Decreto n° 5.626, de 22 (PROLIBRAS/MEC) ou ser aprovado em
de dezembro de 2005. mas quem é esse avaliações realizadas por órgãos específicos
profissional? Quadros (2004, p. 59) explica de atendimento aos surdos.
que “o intérprete educacional é aquele que
atua como profissional intérprete de língua Além do domínio das línguas envolvidas no
de sinais na educação”. Lacerda (2004, p. processo de tradução e interpretação, o
01) não o define, mas salienta que: profissional precisa ter qualificação
específica para atuar como tal. Isso
significa ter domínio dos processos, dos
O intérprete de Língua de Sinais é uma modelos, das estratégias e técnicas de
figura pouco conhecida no âmbito tradução e interpretação. O profissional
acadêmico. Os estudos existentes no Brasil e intérprete também deve ter formação
no cenário mundial são escassos, tanto no específica na área de sua atuação (por
que diz respeito ao intérprete de maneira exemplo, a área da educação). (QUADROS,
ampla, quanto a pesquisas que remetam ao 2004, p. 28)
intérprete educacional especificamente.
Aqui encontramos os primeiros
Analisando estes dados podemos entraves desse profissional tão questionado
entender que este profissional deve ter no mundo acadêmico. Aqueles que são
domínio das línguas envolvidas no processo contratados como professores deveriam ter
de tradução e interpretação além de ter um os mesmos direitos e deveres destes
bom relacionamento com a comunidade profissionais, mas não é isso que acontece
surda, o que facilita sua atuação. na realidade. Fator este que nos leva a
Ressaltamos, porém, que a formação indagar sobre o verdadeiro papel do TILS
pedagógica é extremamente relevante para o educacional.
desempenho de sua função. Uma vez que
atua na educação, deve ter os conhecimentos O papel do TILS Educacional
básicos de um bom professor e assim seguir
em conjunto com a equipe pedagógica da

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Algumas pessoas acreditam que ser b) imparcialidade (o intérprete deve ser


intérprete educacional significa apenas neutro e não interferir com opiniões
próprias);
traduzir o que os professores falam em sala c) discrição (o intérprete deve estabelecer
de aula e que não é preciso planejar suas limites no seu envolvimento durante a
atuações e preparar as aulas. De fato, atuação);
elaborar atividades é responsabilidade do d) distância profissional (o profissional
professor, mas o TILS deve ter contato com intérprete e sua vida pessoal são
separados);
o planejamento para se preparar para a e) fidelidade (a interpretação deve ser fiel,
interpretação na aula. Caso haja dúvidas do o intérprete não pode alterar a
conteúdo, elas deverão ser sanadas com informação por querer ajudar ou ter
antecedência para que não se prejudique o opiniões a respeito de algum assunto, o
processo cognitivo do aluno surdo. Não objetivo da interpretação é passar
realmente o que foi dito).
sabendo como mediar a explicação do
professor, é preciso entender para
Para que a atuação profissional seja
interpretar.
adequada, é necessário mais informação a
A falta de conhecimento da equipe
respeito das atribuições dos intérpretes
pedagógica da escola sobre o papel do TILS
educacionais. Eles precisam conhcer o seu
faz com que alguns equívocos aconteçam.
verdadeiro papel na escola para não ficarem
Às vezes lhes é delegado o papel de
alheios aos problemas cognitivos dos surdos
professor dos alunos surdos, quando deveria
em meio ao total despreparo do corpo
ser visto apenas como instrumento de
docente quanto à elaboração das atividades e
comunicação. Nossa experiência em sala de
à metodologia de ensino.
aula nos remete a uma realidade cada vez
Lacerda (2004, p.3) destaca:
mais diferente. Atuamos com alunos em
níveis linguísticos totalmente diferentes,
sendo que uns sabem ler e escrever, outros, Em relação ao papel do intérprete em sala
de aula, se verifica que ele assume uma
nem sempre. O professor confia a nós a série de funções (ensinar língua de sinais,
responsabilidade de ensinar os alunos atender a demandas pessoais do aluno,
surdos, quando na realidade somos apenas cuidados com o aparelho auditivo, atuar
mediadores do ensino. Para isso estudamos frente ao comportamento do aluno,
muito, estamos em constante estabelecer uma posição adequada em sala
de aula, atuar como EDUCADOR frente a
aperfeiçoamento linguístico e, dificuldades de aprendizagem do aluno) que
principalmente, buscando meios de facilitar o aproximam muito de um educador. [...] ele
o processo de ensino-aprendizagem dos deva integrar a equipe educacional, todavia
surdos. Ainda há casos em que a escola isso o distancia de seu papel tradicional de
acredita que a responsabilidade do ensino é intérprete gerando polêmicas.
apenas do intérprete.
Quadros (2004, p. 28) considera ser O intérprete deve ter bem clara a
antiético exigir que o intérprete tutore os dicotomia entre uma interpretação
alunos surdos em qualquer circunstância ou meramente automática, ou seja, o professor
realize atividades que não façam parte de fala e ele interpreta, de uma significativa
suas atribuições. A autora também destaca onde o ensino-aprendizagem é levado em
algumas de suas atribuições observando consideração e isso envolve muito mais a
preceitos éticos: sua atuação em sala de aula e que o força a
encarar vários desafios.
a) confiabilidade (sigilo profissional);

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Outro desafio é a falta de sinais


Os Desafios dos TILS Educacionais específicos para os conteúdos. Nas
disciplinas de química, física e biologia, por
exemplo, enfrentamos os maiores problemas
O primeiro e um dos maiores pela falta de acesso aos conteúdos
desafios que enfrentam os TILS é a específicos em Libras, dificultando a criação
aceitação da equipe escolar em ter um novo de sinais para serem usados nas aulas. Isso
profissional em seu quadro docente. Muitas se reflete no aprendizado e faz com que os
escolas apenas o aceitam pelo simples fato surdos tenham mais dificuldade nessas
de cumprirem a lei, para evitarem conflitos disciplinas e, em alguns casos, continuem
que acabam com a imagem da instituição. defasados se comparados aos alunos
Assim delegam ao TILS a tutela dos alunos ouvintes. Dessa forma, faz-se relevante a
surdos. presença de um grupo de pesquisa em Libras
O correto seria que todos os para desenvolver sinais específicos para o
professores saíssem das universidades uso em sala de aula. Assim os TILS devem
preparados para essa inclusão, sabendo pelo ter habilidades lingüísticas compatíveis para
menos o básico de Libras, mas a realidade é conseguirem adequar a explicação destes
que a maioria dos educadores não tem conteúdos, o que muitas vezes acontece sem
interesse em buscar informações ou se o apoio do professor regente e acaba
aprofundar no mundo da Libras; preferem deixando o aluno surdo um passo atrás da
deixar tudo nas mãos dos intérpretes. Isso turma.
acaba por sobrecarregá-los, pois precisam Muitos surdos chegam às escolas
aprofundar seus conhecimentos para com grande defasagem cognitiva e recai
atenderem adequadamente os surdos. Para sobre o intérprete o resgate desse atraso. A
amenizar os problemas, são necessárias falta de conceitos e de contato com as
capacitações onde todos possam aprender informações nos períodos certos de sua
Libras e assim compreender os alunos com aprendizagem faz com que os surdos percam
surdez. O intérprete deve seguir as muitas informações. A falta de
orientações do Decreto 5626/2005, que conhecimento e de domínio da Libras
exige a certificação de proficiência em também é fator relevante para que isso
Libras para atuar como TILS. O professor aconteça. Alunos surdos filhos de pais
deve buscar informações para não prejudicar ouvintes, não usuários da língua de sinais,
o aluno. As universidades devem oferecer a sempre apresentam mais dificuldades devido
disciplina de Libras para que os futuros à ausência de estímulos na família. Por outro
professores possam ter o conhecimento lado, os surdos filhos de pais surdos também
necessário para atuar nas escolas. têm dificuldade devido à falta de
O projeto pedagógico da escola deve conhecimento da família. Assim, a educação
ser adaptado para o atendimento dos surdos é como uma faca de dois gumes,
especializado, adequando o currículo e as e geralmente recairá sobre a escola a
metodologias que facilitem o aprendizado responsabilidade de educá-los. Mas, se o
do aluno surdo. É relevante ser flexível na trabalho não for feito em conjunto,
correção das provas, uma vez que são feitas possivelmente nada será aproveitado. O
na língua portuguesa e os surdos não têm certo a fazer é encarar a realidade e chamar
domínio necessário, pois sua língua materna as famílias para, em conjunto, resolver os
é a Libras. problemas apresentados e para que não fique
apenas com os intérpretes a função de

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versus prática. In: Revista da Feneis, n° 41, set-nov, 2010. p. 26-30.

educar os alunos surdos que se tornam um canal de comunicação que tem sua
limitados, devido à falta de apoio e de responsabilidade apenas com os alunos
informação em casa. surdos.
Apesar de ser bem requisitado no Os professores, por falta de
meio acadêmico, o TILS ainda enfrenta um conhecimento, delegam ao intérprete toda a
grande desafio quanto a sua contratação. É responsabilidade desses alunos, e é comum
um profissional que não se enquadra nos ouvirmos “seus alunos”, quando na
concursos públicos, e, por isso, seu papel se realidade os surdos são alunos da escola.
confunde, muitas vezes, com o de professor, “Considerando as questões éticas, os
e assim é contratado. Há várias entidades intérpretes devem manter-se neutros e
representativas que lutam pelo garantirem o direito dos alunos de manter as
reconhecimento da profissão, e em alguns informações confidenciais.” Por passarem
estados já podemos encontrar concursos muito tempo com os alunos em sala de aula,
para TILS, em universidade com um quadro é comum que procurem o intérprete como
de funcionários públicos da educação. amigo para contar confidências e até pedir
No caso específico da educação, o conselhos. Quando isso acontecer, jamais
intérprete deve ter consciência de sua ele deve contar a alguém o que se passou,
atuação e lutar pela qualidade de trabalho. mesmo quando questionado, mas, em casos
Uma vez contratado como professor, deve em que a integridade moral e física de
seguir as atribuições dessa função, o que alguém esteja envolvida, ele deve buscar
acaba sobrecarregando-o de orientação da equipe pedagógica da escola.
responsabilidades e lesando o seu direito ao “Os intérpretes têm o direito de
descanso. Para uma língua que exige de seu serem auxiliados pelo professor através da
usuário esforço físico e mental, é revisão e preparação das aulas que garantem
extremamente relevante um tempo de a qualidade da sua atuação durante as aulas.”
descanso. Salientamos que o fato de o aluno Quando o professor oportuniza o contato
não estar na escola não significa que o com o planejamento das aulas, a atuação do
intérprete deva fazer outros serviços, mas TILS é facilitada, uma vez que ele terá a
sim aproveitar a folga para procurar os oportunidade de se preparar para a
professores para esclarecer dúvidas e até explicação do professor. Além disso, ele
mesmo pesquisar sinais para facilitar seu também poderá interagir e até mesmo
trabalho na sala de aula. sugerir se juntos podem encontrar uma
Destacamos que existe o código de solução para que os surdos sejam
ética que orienta os intérpretes e assegura contemplados com o conteúdo. Quando o
seus direitos e deveres. Vamos analisar o professor não antecipa o conteúdo ao
que diz Quadros (2004, p. 61) referente à intérprete, certamente este terá mais
ética e à atuação dos intérpretes dificuldades para realizar um bom trabalho.
educacionais: “As aulas devem prever intervalos
“Em qualquer sala de aula, o que garantem ao intérprete descansar, pois
professor é a figura que tem autoridade isso garantirá uma melhor performance e
absoluta.” Na verdade, a figura do intérprete evitará problemas de saúde para o
muitas vezes confunde os alunos, como se intérprete.” Este, pode-se dizer que está
fossem dois “professores.” É necessário sendo o maior problema para as escolas. Os
deixar bem claro que o professor regente da professores, em geral têm horas de
disciplina é o responsável pela sala toda, planejamento que lhes permitem certo
inclusive pelos alunos surdos, o intérprete é descanso, além de trocarem de uma turma

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com mais freqüência.já os intérpretes ficam projetor podem ser recursos utilizados em
em sala de aula durante cinco tempos, e isso sala de aula. (QUADROS, 2004, P. 61)
acaba por sobrecarregá-los. Sendo assim
deve-se acordar com a direção algumas Para que a inclusão dos surdos seja
adaptações, como, por exemplo, “não real, é preciso considerar todos os tópicos
exigir” que os intérpretes participem de discutidos acima. Um profissional completo
reuniões aos sábados, ou até mesmo será aquele que souber unir teoria e prática,
daquelas nas quais serão discutidos ou melhor, aquele que tiver domínio da
problemas específicos que não envolvam língua de sinais e souber defendê-la
diretamente os surdos. Da mesma forma, nos teoricamente além de ter uma formação
dias em que o aluno não estiver na escola, o pedagógica adequada à sua atuação. Ser um
TILS poderia ser liberado mais cedo, não intérprete educacional exige ter muita
sendo obrigado a cumprir horário. Também disciplina e coragem para realizar uma tarefa
durante as aulas o professor deve dar um árdua de preparação tanto dos alunos quanto
tempo para que o intérprete descanse pelo da própria equipe da escola, envolver-se nas
menos dez minutos de uma aula para outra. atividades da escola, estar em constante
[...] Todos esses casos resolvem-se com estudo e aprimoramento de técnicas de
conversas, mas infelizmente, ainda existe a interpretação e, acima de tudo, respeitar as
idéia de que os intérpretes não precisam de regras da escola e lutar para que seja
planejamento e que o serviço é “leve e fácil” respeitado em seus direitos.
e não exige muito esforço físico e mental do
profissional.
Para concluir esta análise, citamos o Considerações finais
último item que. De tão completo em
informações, dispensa mais comentários.
Apenas afirmamos que não é isso que Atualmente, no Mato Grosso do Sul
acontece em sala de aula, mas sim seu existem várias escolas e universidade,
oposto: públicas e privadas, com pelo menos um
intérprete em seu quadro funcional. Nas
Deve-se também considerar que o intérprete escolas públicas, ele é confundido com o
é apenas um dos elementos que garantirá a professor, por ser contratado como tal; nas
acessibilidade. Os alunos surdos participam particulares, como funcionário
das aulas visualmente e precisam de tempo administrativo da empresa, uma vez que
para olhar para o intérprete, olhar para as
anotações no quadro, olhar para os também é registrado assim. Na verdade, está
materiais que o professor estiver utilizando mais próximo de professor do que
em aula. Também, deve ser resolvido como administrativo. A diferença está em que não
serão feitas as anotações referentes ao necessita de elaborar atividades para o aluno
conteúdo, uma vez que o aluno surdo nem preencher diários de classe, mas precisa
manterá sua atenção na aula e não disporá
de tempo para realizá-las. Outro aspecto planejar suas ações juntamente com o
importante é a garantia da participação do professor de cada disciplina, par amelhor
aluno surdo no desenvolvimento da aula adequar a interpretação. Não basta apenas
através de perguntas e respostas que exigem saber a língua de sinais e, muito menos,
tempo dos colegas e professores para que a entrar em sala de aula despreparado,
interação se dê. A questão da iluminação
também deve sempre ser considerada, uma contando apenas com o que o professor vai
vez que sessões de vídeo e o uso de retro falar; para o aluno surdo, isso é insuficiente.
O intérprete deve sim assumir seu papel de

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educador em conjunto com a equipe


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pedagógica da escola. A avaliação é de Pedagoga, Especialista em Educação Especial,
responsabilidade do professor, mas o TILS Formação Generalista, Mestra em Educação pela
UCDB. Professora do Curso de Pedagogia da
precisa acompanhar a correção, para que o UNIDERP, da UNIASSELVI. Professora orientadora
aluno não seja prejudicado. deste artigo e coordenadora do Instituto LIBERA
O domínio da língua de sinais é o LIMES. E-mail: perpetuadutra@yahoo.com.br.
requisito principal para ser um bom
intérprete, sendo que para a educação se faz Referências:
relevante o conhecimento pedagógico. Uma ALBRES, Neiva de A. História da Língua
vez educador, proficiente no uso e Brasileira de Sinais em Campo Grande –
interpretação da Libras, o intérprete MS. Campo Grande, 204. Disponível em:
educacional pode ser contratado como http://www.editora-arara-azul.com.br
professor que exerce a função de intérprete Acesso em: 20 maio 2009.
educacional, tendo os mesmos direitos e BRASIL. Coordenadoria Nacional para
deveres. O correto seria a regulamentação da Integração da Pessoa Portadora de
profissão, para que o TILS possa ser Deficiência. Acessibilidade. Brasília:
contratado conforme sua função, TILS Secretaria Especial dos Direitos Humanos,
educador de surdos, não o único 2005.
responsável, mas um mediador ativo na CÂMARA reconhece profissão de intérprete
educação dos surdos. da língua de sinais. Disponível em:
O primeiro passo para resolver o http://www.apilms.org. Acesso em: 15 nov.
impasse profissional do intérprete já foi 2009
dado. O Projeto de Lei n° 4.673/2004, de LACERDA, Cristina B. F. de; POLETTI,
autoria da deputada Maria do Rosário (PT- Juliana E. A escola inclusiva para surdos: a
RS), que reconhece a profissão de intérprete situação singular do intérprete de língua de
da Língua Brasileira de Sinais (Libras), já sinais. FAPESP/ANPED, 2004.Disponível
foi deliberado pelo Senado e agora aguarda em:
a sanção presidencial. Uma grande conquista http://www.anped.org.br/reunioes/27gt15/t151.pdf.
para os profissionais que há anos lutam pelo Acesso em: 20 maio 2009.
seu reconhecimento e respeito. PEREIRA, Maria Cristina Pires. Tradutor e
Aos poucos, os TILS estão Intérprete de Língua de Sinais. Disponível
conquistando seu espaço, mas ainda há em:
muitas barreiras à frente para serem http://geocities.yahoo.com.br/macripiper/tils.htm.
derrubadas, por isso muito esforço é Acesso em: 3 jan. 2009. [Última atualização
necessário. Para alcançar o sucesso, as em dez. 2008].
forças devem ser unidas em prol da QUADROS, Ronice M. o tradutor e
educação para todos declarada em intérprete de língua brasileira de sinais e
Salamanca. língua portuguesa. Secretaria de Educação
Especial; Programa Nacional de Apoio à
Educação de Surdos. Brasília: MEC;
SEESP, 2004.
1
Pós-graduando em “Libras e a prática da educação VILHALVA, Shirley. Histórico da LIBRAS
inclusiva na formação do intérprete”. E-mail: de Mato Grosso do Sul. Campo Grande
itamar.interprete@gmail.com. MS> [Enviado por e-mail pela autora, em 15
2
Pós- graduanda em “Libras e a prática da educação
inclusiva na formação do intérprete”. E-mail: jul. 2009, para jojopaiva@hotmail.com, da aluna
jojopaiva@hotmail.com. Jocimara Paiva Grillo].

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