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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

CAMPUS UNIVERSITÁRIO DE SINOP


INSTITUTO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS E AMBIENTAIS

AGROMETEOROLOGIA: CONCEITOS E APLICAÇÕES

PROF. DR. ADILSON PACHECO DE SOUZA

Material didático para acompanhamento em


disciplinas de Graduação e Pós-Graduação.
Não recomenda-se a sua utilização (citação)
como referência para trabalhos técnicos e
científicos.

SINOP
MATO GROSSO – BRASIL
2017
1. ELEMENTOS E FATORES DO CLIMA

1. Caracterização dos elementos e fatores do clima.


2. Estrutura meteorológica do Brasil.
3. Métodos de monitoramento dos elementos meteorológicos.
4. Estações meteorológicas de superfície.
5. Instrumentos meteorológicos de superfície: estações mecânica e automática.

1. Elementos e fatores de clima:

TEMPO: O tempo meteorológico é o estado instantâneo da atmosfera caracterizado por


uma combinação definida de todos os elementos meteorológicos.

CLIMA: Clima é uma generalização ou a integração das condições de tempo para um


certo período em uma determinada área.

1.1 ELEMENTO DE CLIMA: Os elementos de clima são grandezas meteorológicas


que comunicam ao meio atmosférico suas propriedades físicas e características
peculiares. Os principais elementos de clima são:
a) Temperatura
b) Umidade
c) Velocidade e direção do vento,
d) Pressão
e) Precipitação
f) Radiação Solar
g) Insolação
h) Quantidade, tipo e altura de nuvens, entre outros.

1.2 FATORES CLIMÁTICOS: São aqueles que influenciam os elementos de clima no


tempo e no espaço. Os fatores de clima podem ser classificados em 2 (duas) categorias:
Global e Regional.

Em escala Global, os fatores que modificam o clima são:


a) Flutuações da quantidade de energia emitida pelo Sol.
b) Variações da órbita terrestre e do eixo de rotação da Terra.
c) Atmosfera (estrutura, composição e interação)
d) Aumento ou diminuição de dióxido de carbono e/ou poeira atmosférica.

Em escala Regional, os fatores que modificam o clima são:


a) Altitude
b) Relevo
c) Latitude
d) Continentalidade/Oceanalidade
e) Presença de mar
f) Tipo de solo
g) Vegetação
h) Correntes oceânicas
i) Estações do ano
EXEMPLO1: A elevação em ALTITUDE resulta em um decréscimo de temperatura,
que é devido à rarefação do ar e a diminuição da pressão.

Campos do Jordão: Latitude –22,44°, altitude 1600 m.


Temperatura média anual 13,3 ºC.

Ubatuba: Latitude –22,05°, altitude nível do mar.


Temperatura média anual 20,6 °C.

EXEMPLO2: PRESENÇA DE MAR gera ventos locais denominada brisa terra-mar,


que ocorrem devido a diferença de temperatura e pressão entre a terra e o mar,
formando uma célula de pequena circulação.

Figura 1. Representação esquemática das brisas marítima (a) e terrestre (b).

EXEMPLO3: RELEVO, A presença de montanha e vale geram, devido as diferenças de


temperatura entre pontos em altitude, brisa de vale (dia) e brisa de montanha (noite).

EXEMPLO4: CORRENTE OCEÂNICA, proporciona efeitos sobre elementos de clima


de temperatura e chuva em águas adjacentes de um continente. Vejamos o caso de
Salvador/BA banhado pelo Atlântico e Lima(Peru) banhado pelo Pacífico que se
encontram na mesma latitude:

Salvador/BA Temp. Média Anual 22,9 °C. Precipitação acumulada 1850 mm.

Lima (Peru) Temp. Média Anual 19,4 °C. Precipitação acumulada 40 mm.
2. Estrutura meteorológica do Brasil

As observações meteorológicas em escala nacional são feitas pelos ministérios


da Agricultura, Aeronáutica e Marinha. Os ministérios da Aeronáutica e Marinha visam
os interesses específicos da navegação aérea e marítima, enquanto que o da Agricultura,
através do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), é o responsável pela
coordenação e desenvolvimento das atividades meteorológicas do país.

A nível Nacional, as funções do INMET são:


• Observação,
• Coleta dos dados
• Análise das observações
• Previsão de tempo

Em escala Internacional, as funções do INMET são:


• Coleta
• Organização
• Difusão da América do Sul

Outras fontes de observações meteorológicas:


• INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais)
• FUNCEME (Fundação Cearense de Meteorologia)
• IAC (Instituto Agronômico de Campinas)
• IAPAR (Instituto Agronômico do Paraná)
• INSTITUIÇÕES PRIVADAS (ClimaTempo, Somar etc)

3. Métodos de monitoramento dos elementos meteorológicos

As principais técnicas utilizadas no diagnóstico e prognóstico das condições do


tempo e do clima são:
• Observações de superfície
• Observações de altitude (radiossondagem)
• Observações por satélites meteorológicos
• Observações por radares meteorológicos

3.1 Observações de Superfície


São destinadas a avaliação das condições do tempo presente e da sua variação no
local da estação. Nelas são feitas dois tipos de observações:

Visuais: tipo de nuvem, altura da base das nuvens e visibilidade do horizonte.

Instrumentais: Temperatura, pressão, velocidade e direção de vento, umidade,


precipitação, radiação e insolação.

As principais estações de superfície são:


• Estação meteorológica sinótica
• Estação climatológica
• Estação agrometeorológica
• Estações especiais (radiometria solar, oceânica, aeronáutica, turbidez
atmosférica entre outras)

3.2 Observações em Altitude: São balões atmosféricos que medem temperatura,


umidade, pressão e vento e transmitem para a superfície terrestre.

3.3 Observações por Satélite: São satélites que fotografam as nuvens (movimento,
altura etc) na camada atmosférica. Um processador de imagens efetua a montagem do
mosaico e um transmissor encaminha para um receptor na Terra a dinâmica da
nebulosidade.

3.4 Observações por Radar: As informações dos radares auxilia na previsão do tempo
(previsão de chuva) à curto prazo (4 horas). O princípio utilizado é o efeito Doppler
similar aos utilizados nas estradas. Uma estação de radar encontra-se instalada no
IPMet/UNESP.

4. Estações meteorológicas de superfície

4.1 Estação meteorológica sinótica: Sinótico significa “ao mesmo tempo”. São
destinadas ao monitoramento de elementos meteorológicos no mesmo tempo nos
horários estabelecidos pela Organização Mundial de Meteorologia (OMM) tomado
como referência o tempo médio de Greenwich. O número de observações ocorre a cada
3 horas.

Alguns tipos de estações sinóticas são: superfície e oceânica. As observações


meteorológicas medidas nessas estações são:
• Superfície: pressão atmosférica, temperatura do ar, umidade, direção e
velocidade do vento, quantidade, tipo e altura de nuvens e caracterização
de fenômenos especiais (elétricos, granizo, névoa).
• Oceânica: além dos já citados de superfície, temos temperatura da
água, período e altura das ondas e gelo.

4.2 Estações Climatológicas: São destinadas à obtenção de dados meteorológicos para


caracterização do clima. Existem dois tipos de estações: Principal e Ordinária. Nessas
estações, exigem-se pelo menos uma leitura ao dia dos seguintes elementos:
• Principal: pressão atmosférica, precipitação, umidade, temperaturas do
ar (média, máxima e mínima), direção e velocidade de vento, radiação,
insolação, temperatura do solo, quantidade, tipo e altura de nuvens,
visibilidade do horizonte.
• Ordinária: temperatura do ar (média, máxima e mínima), precipitação e
umidade.

4.3 Estações Agrometeorológicas: Tem por objetivo obter informações necessárias das
atividades agrícolas ou biológicas. Além das observações atmosféricas, são também
realizadas observações fenológicas.
Os elementos meteorológicos monitorados são: precipitação, velocidade e
direção do vento, radiação, insolação, evaporação, temperatura do solo, temperatura e
umidade do ar a diferentes alturas até 10 m.

Os elementos fenológicos são: crescimento e desenvolvimento da cultura,


ocorrência de pragas e doenças, danos causados por condições adversas de tempo.

4.4 Estações Especiais: enquadram-se nesta categoria todas estações que se destinam à
observação de elementos ou fenômenos especiais.
Exemplo: Estação de Radiometria Solar de Botucatu mede as componentes da
radiação solar que atingem a superfície terrestre: global, difusa, direta na incidência,
ultra-violeta, infra-vermelho, fotossinteticamente ativa etc.

5. Instrumentos meteorológicos de superfície: estação tradicional

Os instrumentos meteorológicos nas estações de superfície podem ser


classificados como instrumentos de leitura direta e instrumentos registradores
mecânicos.

• Os instrumentos de leitura direta são aqueles cuja leitura indica apenas o valor
do elemento meteorológico assumido em determinado instante.
• Instrumentos registradores são aqueles capazes de processar o registro contínuo
dos valores assumidos pela variável meteorológica considerada num intervalo de
tempo.
2. NOÇÕES DE COSMOGRAFIA

A Terra é uma figura geométrica complexa e não pode ser rigorosamente


descrita por uma simples expressão matemática, em função da sua forma exata: ligeiro
achatamento polar e rugosidade natural.
Em 1924, a UNIÃO INTERNACIONAL de GEODÉSIA e GEOFÍSICA
concluiu que a forma da Terra poderia ser representada por uma elipsóide de revolução,
cujo achatamento poderia ser definido em função dos semi-eixos equatorial e polar, pela
equação f = a-b / a , onde f é o achatamento, a é o semi-eixo equatorial e b é o semi-eixo
polar.

a = 6,378388 x 106 m
b = 6,356912 x 106 m
f = 0,034

Recentes determinações através de satélites evidenciaram que no caso da Terra:


f=0,034, valor este considerado muito pequeno. Assim é possível admitir a excentricidade
da Terra como unitária para muitos casos, sem que esta aproximação ocasione erros
grosseiros. Neste sentido é muito comum o uso da expressão para a Terra de GLOBO
TERRESTRE.
No caso da rugosidade superficial, para um certo número de aplicações, a superfície
terrestre pode ser tomada como lisa, já que a diferença entre o pico mais elevado (MONTE
EVEREST) e a base da fossa mais profunda (FOSSA CHALLENGER) representa 0,32%
do raio médio da Terra (R=6371 km).

1. LINHAS E PLANOS DE REFERÊNCIA

A Terra possui um eixo de rotação, cujas extremidades constituem os pólos


geográficos ou verdadeiros: NORTE (N) e SUL (S). O plano perpendicular ao eixo terrestre
e que passa pelo seu centro dividindo a Terra em dois hemisférios (Norte e Sul) é
denominado PLANO do EQUADOR. Sua intersecção com os dois hemisférios constitui a
LINHA do EQUADOR.
Planos paralelos ao plano do equador que interceptam a superfície do Globo
Terrestre determinam círculos chamados PARALELOS. Semi-planos perpendiculares ao
plano do equador e que tenham como limite o eixo de rotação da Terra, determinam na
superfície do Globo, semi-círculos que se chamam MERIDIANOS.
Seja uma esfera hipotética em torno da Terra com seus centros coincidentes, onde
estariam projetados todos os astros. A VERTICAL à superfície da Terra, num dado ponto P
é definida pela direção local da força da gravidade (direção de um fio de prumo). O
prolongamento dessa direção no sentido oposto ao do interior da Terra, considerado
positivo, determina na esfera celeste um ponto Z, que constitui o ZÊNITE do ponto P. O
sentido oposto, considerado negativo, determina outro ponto da esfera celeste, chamado
NADIR. Denomina-se PLANO do HORIZONTE em um certo ponto da superfície terrestre
como plano tangente ao meridiano e perpendicular a vertical de um ponto P.

2. COORDENADAS TERRESTRES

A localização dos pontos situados na superfície terrestre ou em sua vizinhança pode


ser feita utilizando-se os seguintes sistemas de coordenadas: ESFÉRICAS-POLARES e
REFERÊNCIA LOCAL.

2.1. Coordenadas Polares

Se P representa um ponto P na superfície terrestre, denomina-se


 - Latitude: Ângulo compreendido entre o plano do equador e o raio r da esfera
terrestre cuja extremidade encontra-se o ponto P. A latitude é considerada positiva no
hemisfério norte, nula no equador e negativa no hemisfério sul. Os limites de φ encontram-
se entre -90° ≤  ≥ 90°.

Sinop  = -11° 51’ ≈ -11,85°

 - Longitude: Ângulo compreendido no plano do equador entre o plano do


meridiano que passa pelo ponto P da superfície terrestre e um meridiano de referência. Foi
internacionalmente estabelecido que o meridiano de referência é o que passa pelo
observatório de GREENWICH, cuja longitude é por convenção igual a zero. A longitude é
geralmente considerada positiva para todos os pontos localizados a LESTE do meridiano de
GREENWICH e negativa para os pontos localizados a OESTE do meridiano de referência.
A variação da longitude ocorre entre –180o ≤  ≥ 180º.

Sinop  = 55° 29’ OESTE

A latitude (  ) e a longitude (  ) são coordenadas que permitem estabelecer a


posição dos pontos situados sobre a superfície terrestre. No entanto, considerando que a
superfície da Terra não é lisa e que também é necessário caracterizar a posição do local,
acima ou abaixo dela, é indispensável a introdução de uma terceira coordenada denominada
ALTITUDE (A) e representa a distância vertical entre o ponto considerado e o nível médio
do mar.

2.2 Referencial Local


Para muitos estudos meteorológicos, é conveniente estabelecer referenciais em
partes selecionadas da superfície terrestre (locais de observação). Tais referenciais são
solidárias a Terra e são chamados de referencial local. Em cada referencial local podemos
associar o sistema coordenadas mais conveniente para que o estudo se realiza. Em geral se
utiliza o sistema de coordenada esférica que é particularmente útil para se estudar: o
movimento da atmosfera, definir a posição dos astros e acompanhar o deslocamento de
balões atmosféricos.
O sistema de coordenadas esféricas associadas a um referencial local centrado no
ponto de observação, em geral é definido por (r, a, Z)
• r – módulo do raio vetor posição (r) cuja origem está em P e se orienta para o ponto
observado A.

• a – azimute do ponto observado. É o ângulo formado entre o semi-plano polar e a


projeção de r sobre o plano do horizonte, medido a partir do norte no sentido do
movimento dos ponteiros do relógio. A variação do azimute situa-se entre 0° ≤ a ≥
360°.

• Z – zênite do ponto observado. É o ângulo formado entre o semi-eixo vertical e a


direção de r medido a partir do zênite. A variação do ângulo zenital situa-se entre 0°
≤ a ≥ 180°.

Ao complemento do âgulo zenital, denomina-se ângulo de elevação (E), e que é


determinado a partir do plano do horizonte. Uma relação entre E e Z é dada por:

Z + E = 90°

2.3. Culminação e Declinação do Sol

Quando o Sol assume uma posição da esfera celeste que seu centro coincide com o
plano meridional local, diz-se que o Sol culminou naquele instante e local. Na realidade esta
culminação verifica-se também para todos os pontos situados naquele meridiano, embora
com ângulos zenitais diferentes.
A culminação é dita zenital quando o astro ocupa o zênite local de observação no
instante considerado. Denomina-se declinação do Sol o ângulo compreendido entre o plano
do equador e o raio vetor deste astro, tomado como referência o centro da Terra. Na prática,
pode-se considerar a declinação (  ) igual a latitude (  ) do local em que o Sol culmina no
zênite, naquele instante.
A declinação do Sol (  ) para qualquer dia do ano pode ser calculada por várias
equações. Uma delas pode ser representada por:

 360
  23,45sen DJ  80
 365 

Essa aproximação, porém, não introduz erros apreciáveis na prática meteorológica.


É conveniente esclarecer que, embora a declinação do Sol varie continuamente com o
tempo, pode-se tomá-la constante ao longo do dia já que a variação diária é relativamente
pequena. Isto possibilita a utilização de equação sem maiores problemas.
Exemplo: Calcule a declinação solar para o dia 07/09 para a cidade de Campos de Jordão -
SP (latitude 22,44° S) e Sinop - MT (latitude 11,85° S).

07/09 → DJ = 250  = 23,45 sen [ 360/365 (250 – 80) ]


 = 23,45 sen [ 0, 986 (170) ]
 = 23,45 sen [167,62]
 = 23,45 0.214
 ≈ 5,03°

2.4. Movimento da terra e estações

Para um observador fixo na Terra, o Sol se movimenta na esfera celeste e este


movimento é helicoidal, com periodicidade de aproximadamente 1 ano. O movimento
aparente do Sol é helicoidal em consequência do eixo terrestre ser inclinado em relação ao
plano da ecliptica (plano que contém a trajetória da Terra em torno do Sol). Atualmente, o
ângulo entre o plano da ecliptica e plano equatorial é de 23°27’.

A combinação da obliquidade da ecliptica e a translação causa a impressão de que o


Sol se desloca na direção NORTE/SUL, dando origem as estações do ano. De forma
análoga, a rotação da Terra dá impressão de que o Sol se desloca de LESTE/OESTE, ao
longo do dia.
As estações do ano se iniciam nos instantes denominados SOLSTÍCIOS E
EQUINÓCIOS.
Os solstícios são os instantes em que o Sol se encontra mais afastado do plano
equatorial – o Sol culmina sobre um ponto nos trópicos 22/06 e 22/12. Os equinócios são os
instantes em que o Sol passa pelo plano equatorial – o Sol culmina sobre um ponto no
equador.
Em geral, as características climáticas de um determinado local variam com as
estações. Esta variação é tanto mais sensível quanto mais afastado do equador for o local.
Próximo do equador, por não haver alteração acentuada no suprimento de energia solar ao
longo do ano, praticamente não se consegue caracterizar as estações do ano. Nas regiões de
latitudes médias e elevadas, a alteração é suficiente para que o contraste entre as estações
sejam mais caracterizadas.

Data Hemisfério Sul Hemisfério Norte


21/03 OUTONO PRIMAVERA
22/06 INVERNO VERÃO
23/09 PRIMAVERA OUTONO
21/12 VERÃO INVERNO

2.5. Ângulo horário (h) e ângulo zenital

O ângulo formado, no plano equatorial, pela projeção do segmento de reta CA e a


projeção da linha que liga o Sol ao centro da Terra CS é chamado de ângulo horário (h).
Como a Terra dá um giro completo em torno do seu próprio eixo em aproximadamente 24
h, este ângulo apresenta uma variação de 15o por hora. Por convenção, h é considerado igual
a zero ao meio dia solar, negativo no período da manhã e positivo no período da tarde.
Uma importante relação geométrica existente entre Z,  ,  e h é dada por:

cos Z  sen  sen δ  cos  cos δ cos h


Exemplo: Calcule o ângulo zenital para o dia 07/09, as 16:00h, na de Sinop - MT (latitude
11,85° S).

07/09 → DJ = 250 Conforme calculado anteriormente:  ≈ 5,03°

Então 16h → h = 4 x 15° = 60°

cos Z  sen - 11,85 sen 5,03  cos - 11,85 cos 5,03 cos 60
cos Z  - 0,2054 0,0877  0,97870,99620,5
cos Z  - 0,0180  0,4875
cos Z  0,4695

Z ≈ 61,99°

2.6. Duração efetiva dos dias

Em decorrência do movimento de rotação da Terra, a luz solar atinge a metade da


superfície terrestre em cada instante, originando a alternância dos dias e das noites. Mas a
duração dos dias e das noites não é a mesma em todos os pontos da Terra nas diversas
estações do ano. As porções iluminadas em cada hemisfério não são necessariamente iguais
num dado instante.
A equação:

cos Z  sen  sen δ  cos  cos δ cos h

é frequentemente empregada para calcular a duração efetiva dos dias (N) em qualquer local
(  ,  e Z) e época do ano. Para aplicá-la deve-se notar que o ângulo zenital Z é igual a 90°
(Z = 90°) quando o centro do disco solar atinge o plano horizontal local, o que corresponde
aos instantes do nascimento e o ocaso do Sol, do ponto de vista geográfico. Nestas
condições em que Z = 90°,
Z = 90 → Cos 90 = 0

0  sen  sen δ  cos  cos δ cos h


- (sen  sen δ)  cos  cos δ cos h
- (sen  sen δ)
 cos h
cos  cos δ
cos h  - tg  tg δ

h  arcos (-tg  tg δ)

Nota-se que h representa o ângulo horário entre o nascimento do Sol e sua passagem
pelo plano meridional local (meio dia solar) ou entre esse instante e o pôr-do-sol. Tendo em
conta que o Sol percorre 15o por hora em seu movimento aparente diário de E para O,
evidencia que a duração efetiva do dia será:

2h
N → N = 0,13333h (em horas)
15

Com base na equação é possível calcular os fotoperíodos com base num ano e
explicá-lo em função das estações do ano.

Estação Fotoperíodo
VERÃO (21∕12) N > 12h
OUTONO (21∕03) N = 12 h
INVERNO (22∕06) N < 12 h
PRIMAVERA (23∕09) N = 12 h

Exemplo: Calcule o comprimento do dia 07/09 em Sinop - MT (latitude 11,85° S).

h  arcos - tg - 11,85 tg 5,03

h  arcos 0,01847

h  88,94

2 88,94
N N  11,86h
15
3. INTRODUÇÃO A RADIAÇÃO SOLAR

3.1. Absorção e emissão de energia radiante

Denomina-se radiação, ou energia radiante, à energia que se propaga sem


necessidade da presença de um meio material. O termo radiação é igualmente aplicado
para designar o próprio processo de transferência desse tipo de energia.
A verdadeira natureza da radiação ainda é objeto de permanente investigação
científica no âmbito da Física Moderna. Dependendo da experiência que for conduzida,
a energia radiante ora revela uma natureza corpuscular (fóton), ora se comporta como
uma onda eletromagnética.
Na escala subatômica as propriedades ondulatória e corpuscular coexistem e se
completam. O aspecto ondulatório é o que interessa à Agrometeorologia. Sob a ótica
ondulatória, a radiação, se caracteriza pelo comprimento de onda (λ), ou pela freqüência
de oscilação (υ).
O comprimento de onda é definido como a distância que separa duas cristas
consecutivas; a freqüência pelo número de cristas que passa por um ponto de referência,
na unidade de tempo. O comprimento de onda é normalmente expresso em centímetros
ou em micra (1Å =10-4 cm) e a freqüência em ciclos por segundo, ou Hertzs (Hz).
A transmissão da energia do Sol à Terra ocorre através de ondas eletromagnéticas.
Esta proporção é feita no vácuo em todas as direções a uma velocidade aproximada de
300.000 km s-1. As ondas eletromagnética são caracterizadas por uma frequência (f), um
comprimento de onda (λ) e com a velocidade de proporção (C), através da equação:

c=υλ

em que: c = 3 x 105 km s-1 = 3 x 108 m s-1


f = s-1
λ = (múltiplos de metros) - Å= 10-10 m = 10-4 μm e 1 μm = 10-6 m

Essa relação mostra que é fácil transformar freqüência em comprimento de onda


e vice-versa. São conhecidas radiações com comprimento de onda que variam desde 10-
10
cm (raios gama) até cerca de 107 cm (ondas longas de rádio). Ao conjunto de todas
elas denomina-se espectro eletromagnético.

- Emissividade (  ): é definida como a razão entre a emitância monocromática deste


corpo e a correspondente emitância monocromática de um corpo negro, â mesma
temperatura do corpo considerado.

Todo corpo cuja temperatura esteja acima de 0 K emite e absorve radiação


(Princípio de Prevot). A razão entre a energia emitida (Eem) a energia absorvida (Eabs)
por um corpo é somente função da temperatura e comprimento de onda e define uma
característica importante do corpo: a emissividade (ε).

E em
 T,  
E abs

Se o corpo é negro ε = 1, Eem = Eabs = E CN , e a equação acima pode ser escrita como Eem =
E CN . Para um corpo qualquer, a equação acima pode ser representada por Eem = εECN, onde
ε é sempre menor que 1. Em outras palavras, é uma condição hipotética, em que ocorre a
absorção integral de toda a energia radiante incidente sobre ele.

- Absortividade (a): é definida como a razão entre a quantidade de energia radiante


absorvida pela substância e o total incidente, para um dado comprimento de onda (λ).
Nota-se, que pela definição, a absortividade do corpo negro é também igual a 1.

- Refletividade (r): é tida como a razão entre a quantidade de energia radiante refletida
pela substância e o total incidente, para um dado comprimento de onda (λ). Um corpo
negro tem refletividade nula.

- Transmissividade (t): a transmissividade monocromática de um meio é definida como


a razão entre a quantidade de energia radiante transmitida e o total incidente, para um
dado comprimento de onda (λ). Um corpo negro também tem transmissividade nula.

3.2. Leis de propagação da radiação

Quando uma certa quantidade de radiação monocromática (Qλ) incide sobre um


corpo, pode ser parcialmente refletida (Qrλ), parcialmente absorvida (Qaλ) e
parcialmente transmitida (Qtλ) através dele. O princípio da conservação de energia
permite estabelecer que:

Qa  Qr  Qt  1

Dividindo todos os termos dessa expressão por Qλ tem-se:

aλ+rλ+tλ=1

em que: aλ, rλ e tλ representam, respectivamente, os coeficientes de absorção, reflexão e


transmissão da substância considerada, em relação à energia radiante de comprimento
de onda (λ) dado. Os valores desses coeficientes dependem do comprimento de onda da
radiação.

Na prática costuma-se estabelecer esses coeficientes considerando todo o


intervalo da radiação visível. Nesse caso particular, o coeficiente de reflexão é
denominado albedo.

A energia de um fóton da radiação eletromagnética pode ser expressa por:

E  hf

em que: E = (J), energia de um fóton.


h = 6,62 x 10-34 Js, constante de PLANCK.
f = Hz

Expressando na equação da energia em função do comprimento de onda λ, temos:


hc
E

Como a cada comprimento de onda existe associada uma quantidade de energia, a E


= E(λ) será uma curva de distribuição denominada espectro eletromagnético solar.

Lei de Planck

A lei de Planck permite deduzir a maior parte das propriedades emissivas de um


corpo negro com bases em considerações da teoria quântica. Uma equação com forma mais
simples para o cálculo da intensidade de emissão é dada por:

1
 C 
5
E   C1  T 2 
 e 1

em que: E é a intensidade de emissão, λ comprimento de onda, T a temperatura do corpo e


C1 e C2 são constantes cujos valores podem ser obtidos teoricamente ou experimentalmente.
Os valores citados na literatura são:

C1 = 3,7427 x 108 W μm e C2 = 1,4388 x 104 μm K

Com os valores de C1 e C2, o comprimento de onda expresso em μm e a temperatura


em K, a emitância espectral do corpo negro será dada por Wm-2 μm-1.

Lei de Wien

A partir de curvas de radiância em função do comprimento de onda para várias


temperaturas, é constatado que o comprimento de onda (λ*), para o qual a emitância
espectral de um corpo negro é máximo, é inversamente proporcional a sua temperatura
máxima, ou seja:

Figura 1. Espectro de radiação para diferentes temperaturas.


K
* 
T

em que K = 2897,7 μm K

De acordo com a lei de Wien, para um corpo negro, como são os casos do sol e da
terra, nas temperaturas normais de 5570 e 300K, verificamos que:

2897,7
*  *  0,5202 μm (região visível, entre 0,2 μm e 3,0 μm)
5570
2897,7
*  *  9,659 μm (região infravermelho, entre 3 μm e 200 μm)
300

Por esta razão a radiação solar é denominada radiação de ondas curtas e a terrestre
de ondas longas.

Lei de Stefan-Boltzmann

Se E é a energia emitida por um corpo negro e T a sua temperatura absoluta (K), a


lei de Planck permite o cálculo da emitância total em função da temperatura, através de
integral

 
5 d
E CN   E  d  C1  C2
   T4
1
0 0 T
e

E
Como   então E    E CN
E CN

Substituindo E CN na equação acima, temos:

E  T 4

ou seja, a energia radiante total de um corpo negro é diretamente proporcional a quarta


potência de sua temperatura absoluta. σ é chamada de constante de BOLTZMANN e tem
valor de 5,7 x 10-8 W m-2 K-4 = 0,827 x 10-10 cal cm-2 min-1 K-4.

Principais relações para conversão de unidades da quantidade de energia radiante por


unidade de área:

Unidade J cm-2 cal cm-2 mWh cm-2


1 J m-2 10-4 2,39 x 10-5 2,78 x 10-5
1 erg cm-2 10-7 2,39 x 10-8 2,78 x 10-8
1 mWh cm-2 3,6 0,861 1
1 cal cm-2 4,19 1 1,163
Principais relações para conversão de unidades do fluxo de energia radiante por unidade de
área:

Unidade 1 mW cm-2 1 cal cm-2 min-1


-2 -1
1 erg cm s 10-4 1,433 x 10-6
1 W m-2 0,1 1,433 x 10-3
1 mW cm-2 1 0,01433
1 cal cm-2 min-1 69,8 1

3.3. Espectro Solar

Diferentes termos são freqüentemente empregados para designar a mesma


variável radiativa, o que é inconveniente. A Organização Meteorológica Mundial
unificou a terminologia e os símbolos associados, recomendando a todos os países
membros a adoção das seguintes grandezas:

- Fluxo de radiação (Fe): quantidade de energia radiante recebida, transmitida ou


emitida por unidade de tempo, ou seja:

dQe
Fe 
dt

A unidade recomendada internacionalmente para exprimir o fluxo radiativo é o


watt (W), mas, ainda é usual o emprego da caloria por minuto (cal min-1).
Ao fluxo de radiação por unidade de área costuma-se chamar densidade de fluxo
radiante ou irradiância (I), ou seja:

dFe
I
dA

Para exprimir a irradiância (I) utiliza-se o Watt por metro quadrado (W m-2), ou
a caloria por centímetro quadrado por minuto (cal cm-2 min-1).

Figura 2. Elemento infinitesimal de área (dS) localizado à superfície de uma esfera.


A integração e um determinado período de tempo, então é chamada de irradiação
(H), apresentando como exemplo, a seguinte terminologia: H dG , em que o índice
sobrescrito indica a partição de tempo analisada (hora e dia) e índice subscrito indica o
tipo de radiação avaliada.

Conhece-se, atualmente, com boa precisão a estrutura do espectro solar


completo, obtidos através de medidas especiais realizadas a várias altitudes acima do
nível do ar, incluindo medidas extra-atmosfera realizadas por foguetes.

Figura 3. Espectro radiante solar.

O espectro solar é predominante térmico tendo 99% dos comprimentos de onda da


radiação solar situado entre 0,22μm à 4,0μm , e esta região é denominada radiação de ondas
curtas. Acima de 4,0 μm é denominada radiações de ondas longas.
Do total de energia solar que atinge o topo da atmosfera, 9% aproximadamente
encontra-se na região do ultravioleta (0,1μm ≤ λ < 0,35μm), 45% no visível (0,35μm ≤ λ ≤
0,75 μm), e 46% no infravermelho (0,75μm ≤ λ ≤4,0 μm).
Todavia, a nível de superfície ocorrem variações desses percentuais. Para a cidade
de Botucatu, resultados recentes das componentes UV, visível (PAR) e infravermelho da
radiação global são mostradas na figura abaixo.
O infravermelho pode ainda ser dividido em infravermelho próximo compreendido
entre os comprimentos de ondas de 0,75 μm à 4,0 μm e infravermelho distante de 4μm à 10
μm.
Apenas as radiações de comprimentos de onda compreendidos entre 0,36 e 0,74
μm podem ser detectadas pelo olho humano, constituindo a faixa visível do espectro
eletromagnético ou luz visível. Esses intervalos são arbitrários e aproximados, pois não
há limites nítidos entre as cores. A transição entre cores vizinhas se dá de maneira
gradual, como se pode verificar em um arco-íris.

Cores Faixa espectral


Violeta 0,36 μm a 0,42 μm
Índigo-Azul 0,42 μm a 0,49 μm
Verde 0,49 μm a 0,54 μm
Amarelo 0,54 μm a 0,59 μm
Laranja 0,59 μm a 0,65 μm
Vermelho 0,65 μm a 0,74 μm

O efeito que a radiação exerce sobre as plantas varia conforme o comprimento


de onda. Segundo Chang (1968), radiações com comprimento de onda:
- até 0,28 μm, provocam rapidamente a morte das plantas (ultravioleta);
- de 0,28 a 0,40 μm, são bastante nocivas até 0,32 μm e acima desse limite
provocam inibição do crescimento (ultravioleta e violeta);
- de 0,40 a 0,51 μm, têm acentuada absorção pela clorofila e xantofila
(correspondem, aproximadamente, às cores índigo e azul);
- de 0,51 a 0,61 μm, abrangendo praticamente as cores verde e amarela, exercem
pouca influência no processo fotossintético;
- de 0,61 a 0,72 μm, coincidem aproximadamente com as cores laranja e
vermelha e possuem acentuada ação fotossintética;
- de 0,72 a 1,0 μm, interferem na elongação, floração, coloração dos frutos e
germinação das sementes;
- acima de 1 μm, ao que se sabe, não exercem nenhum papel especial. Quando
absorvidas são usadas nos processos bioquímicos.
3.4. Origem da Radiação Solar

O Sol emite radiação em praticamente todos os comprimentos de onda, embora


99,9% da energia vinda do Sol se situe na faixa compreendida entre 0,15 e 4,0 μm de
comprimento de onda.
Atualmente, acredita-se que a energia solar é originada de reações
termonucleares, capazes de produzir um núcleo de hélio (partícula alfa) a partir de
quatro núcleos de hidrogênio (prótons), usando o carbono e o nitrogênio como
elementos intermediários e que são restaurados no final da reação (à semelhança de
catalizadores). Por isso, a quantidade de carbono e nitrogênio existente no Sol não deve
se alterar com o tempo (em decorrência do processo de gênese da energia).
Na formação de uma partícula alfa (massa de 6,644 x 10-24 g) pela união de
quatro prótons (massa de 4 x 1,672 x 10-24 g), verifica-se uma redução de massa de
0,044 x 10-24 g, a qual foi transformada em energia. Assim, a energia liberada (E) no
processo de formação de uma partícula alfa pode ser calculada, empregando-se a
conhecida equação de Einstein:

E = m c2

onde m designa a massa e c a velocidade de propagação da luz no vácuo.

Vê-se que é produzida energia equivalente a 3,96 x 10-5 ergs por cada núcleo de
hélio formado. Mas, como somente 0,66% da massa total de quatro prótons se
convertem em energia em cada reação, torna-se claro que apenas 0,66% da massa total
de prótons existente no Sol é passível de tal transformação (Robinson, 1966).
A reação anteriormente descrita se processa na parte central do Sol, onde a
temperatura é estimada em 20 x 106 graus e a pressão em 109 atmosferas. A partir dali a
energia gerada se propagaria até a superfície do Sol (fotosfera), onde a temperatura
média é da ordem de 5788 K e a pressão alcança 0,01 atmosferas, percorrendo centenas
de milhares de quilômetros. Atingindo a superfície, a energia difunde-se para o espaço
como radiação.
A fotosfera solar não possui luminosidade uniforme. Apresenta áreas mais
brilhantes (mais quentes) disseminadas num fundo de menor brilho (menos aquecido).
As porções mais brilhantes da fotosfera são classificadas em grânulos e fáculas. Os
grânulos são 40% mais brilhantes que a zona adjacente e ocupam cerca de 35% da
fotosfera, têm diâmetro oscilando entre 400 e 1000 km e duram apenas poucos minutos.
As fáculas, muito maiores, têm brilho 10% superior ao da zona circunvizinha e
persistem por aproximadamente 30 minutos. Em geral, as fáculas circundam zonas mais
escuras, cuja temperatura é da ordem de 4300 a 4500 K (Robinson, 1966): as manchas
solares.
A quantidade, o tamanho e a duração das manchas solares variam com o tempo.
Quando o número de manchas aumenta além do normal, o Sol é dito ativo, já que elas
intensificam o fluxo de partículas liberadas para o espaço; caso contrário o Sol é
considerado calmo. De acordo com o que se conhece no momento, parece haver um
ciclo de aproximadamente 11 anos entre as épocas de máxima atividade solar.
Figura 4. Emitância solar.

O Sol ocupa o centro do sistema planetário em que a Terra se encontra e que


denomina sistema solar. Como visto, a Terra gira em torno do Sol em um plano
denominado eclíptica, que tem seu ângulo variável com o equador solar, em largos
espaços de tempo, sendo em nossos dias aproximadamente 23°27’.

3.5. Cálculo da Constante Solar

A Terra ocupando um ponto qualquer do plano de eclíptica, gira em torno do


Sol, com as distâncias oscilando entre 1521 x 105 km (afélio) e 1471 x 105 km (periélio),
ou seja, uma distância média de 1495 x 105 km.
O Sol tem seu raio máximo igual a 696.000.000 m, um volume de 1.409.615.984
x 10 km³ e uma massa de 1.984.774.143 x 1018 toneladas. A sua composição em
9

porcentagem de massa corresponde a praticamente dois constituintes: 75 % hidrogênio e


24,25% de hélio.
As estimativas sugerem que o Sol perde cerca de 4 x 106 ton s-1 (ou 5 x 10-22 de
sua massa total atual por segundo). Se for aceito que a massa de prótons do Sol
corresponde a, pelo menos, 50% de sua massa total, o que é uma hipótese
demasiadamente pessimista, suas reservas lhe permitiriam assegurar ao sistema solar o
atual fluxo energético por muitos milênios ainda. Essa energia liberada ao espaço
sideral, por uma superfície solar de 6 x 1018 m², é da ordem de 3,85 x 1023 Kw.
Como a intensidade de iluminamento é inversamente proporcional ao quadrado
da distância, a energia que alcança a superfície interna de uma esfera hipotética na qual
a Terra se encontraria, em sua distância média, seria de 3,85 x 1025 W dividido pelo
quadrado da distância média Terra-Sol (raio vetor unitário) isto é, 14,95 x 1010 m. O
resultado dessa relação seria 1,72 x 104 W m-2.
Dentro desse raciocínio, a seção reta da terra deveria receber π R² . 1,72 x10 4 W.
Como o raio do círculo máximo da Terra é igual a 6.378.388 m, portanto a energia total
contínua na seção reta da terra seria igual a 34,46 x 1010 W.
A emissão energética solar ocorre pela sua fotosfera, à uma temperatura
estimada entre 5770 K.
Aplicando a Lei de Stefan-Boltzman e considerando o Sol como um corpo
negro, a irradiância é dada por:

E CN  T 4
Por conseguinte, como o Sol é uma esfera, se R é o seu raio, a irradiância total
por ele emitida será:

E T  E CN  AS

E T  T 4  4R 2

Nesse mesmo sentido, a radiação total emitida pelo Sol será:


E TS  5,73x10 8 5770  4 6,96x108
4

2

E TS  5,73x108  1108,42x1012  6,087x1018


E TS  38660,0381x10 22

Considerando o plano de eclíptica concêntrica no qual a Terra desenvolve o


movimento de translação com raio médio de 1,495 x 108 km, a energia incidente por
metro quadrado da Terra (topo da atmosfera) será:

T 4  4R 2
I0 
4  r 2
38660,0381x10 22
I0 

4  1,495x1011 
2

38660,0381x10 22
I0  22
= 1376,5 W m-2 ou 1,97 cal cm-2 min-1
28,0862

O valor de I0 definido como constante solar, vem a ser o total de energia recebida
por unidade de área, perpendicular aos raios solares, colocada limite mais externa da
atmosfera. O valor da constante pode variar em função da variação da distância Terra-Sol,
por isso adotada o valor aproximado de 2,0 cal cm-2 min-1.
4. RADIAÇÃO SOLAR

4.1. Cálculo da Radiação incidente no topo da atmosfera (Qo)

A energia total (Q0) no topo da atmosfera é uma função do local (latitude), época
do ano (declinação) e hora do dia (ângulo horário), visto que pela Lei dos Cossenos de
Lambert, temos que a irradiância (valores instantâneos de energia) em uma superfície
real é igual a projeção da irradiância incidente em uma superfície normal pelo cosseno
do ângulo zenital.

I z  I 0 CosZ
De uma maneira generalizada podemos representar por a variação diária da
densidade de fluxo ou irradiância ao longo do dia pela figura abaixo:

Observe que o valor máximo da irradiância será no máximo igual a constante


solar (1367 W m-2) quando a transmissividade atmosférica for unitária. Em todos os
demais casos esse valor máximo será inferior.
Instantaneamente,a irradiância no ponto P é dada pela Lei de Lambert. Que por
sua vez, traduz uma variação de um infinitesimal de energia por um infinitesimal de
tempo.

dQ
 I 0 CosZ
dt
onde: Qo = energia da radiação solar recebida no topo da atmosfera. I0 = constante solar
≈ 2,0 cal cm-2 min-1 ou 1367 W m-2. Z = ângulo zenital Z = Z(φ, δ,h).

Assim, para um intervalo de tempo, temos a quantificação da irradiação (valores


integrados) nas partições horárias ou diárias. Para fins das principais aplicações
agrometeorológicas, focaremos a obtenção em valores diários.
dQ  Io Cos Z dt

hp hp
 hn
dQ   Io Cos Z dt
hn

Como Cos Z  sen φ sen δ  cos φ cos δ cos h 

Teremos

Q   Io sen φ sen δ  cos φ cos δ cos h  dt


hp

hn

Neste caso, temos um problema, visto que o ângulo horário h varia em graus e o
infinitesimal de tempo em segundos. Todavia, pelo movimento de rotação da Terra,
temos que:

dh 2 2  720dh
    dt 
dt 24h 1440 min 720 min 

Substituindo,

Q   Io sen φ sen δ  cos φ cos δ cos h 


hp 720dh
hn 

720 hp
 hn
Q  Io sen φ sen δ  cos φ cos δ cos h dh

720  hp
cos φ cos δ cos h dh 
hp
Q  Io
π  hn
sen φ sen δ dh  hn 

Todavia, neste caso, o ângulo horário diário é dado entre o nascer do Sol e a
passagem meridional, consequentemente o intervalo de integração precisa ser
modificado.

720  h
sen φ sen δ dh   cos φ cos δ cos h dh 
h
Q  Io 
π  hn hn 

Como a latitude e a declinação solar não dependem da variação do ângulo


horário.

720 
sen φ sen δ  dh  cos φ cos δ  cos h dh 
h h
Q  Io
π  hn hn 

Q  Io
720
sen φ sen δ h - h n   cos φ cos δ sen h - h n 
π
Como hn é igual a zero, a equação se simplifica em

Q  Io
720
sen φ sen δ h *  cos φ cos δ sen h 
π

Como a constante solar equivale a aproximadamente 2,0 cal cm-2 min-1 ou 1367
-2
W m e pela integração foi determinada apenas para o período matutino, temos

Q  2 2
720
sen φ sen δ h *  cos φ cos δ sen h 
π

Q  917 sen φ sen δ h *  cos φ cos δ sen h  em cal cm-2

Q  37,59 sen φ sen δ h *  cos φ cos δ sen h  em MJ m-2

Nesse caso, ocorre a consideração de que a distância média Terra-Sol é


constante ao longo do ano. Como isso não ocorre, existe a necessidade da aplicação do
fator de excentricidade do plano de órbita terrestre.

Q  917 dr sen φ sen δ h *  cos φ cos δ sen h  em cal cm-2

Q  37,59 dr sen φ sen δ h *  cos φ cos δ sen h  em MJ m-2


Radiação no topo da Atmosfera (MJ m dia )
-1

48

44
-2

40

36

32

28

24 -10°
-20°
20 -30°
-40°
16 Sinop
12

0 30 60 90 120 150 180 210 240 270 300 330 360


Dia Juliano

Calculando Qo para todos os dias do ano pela equação acima a partir do


conhecimento da latitude de Sinop, declinação e ângulo horário diários, obtemos a
figura abaixo, que mostra a variabilidade da irradiação máxima no topo da atmosfera
algumas latitudes em função dos dias do ano. É possível constatar, pelos valores de
energia plotados no eixo vertical, que para latitude local, a diferença dos níveis
energéticos entre o máximo e o mínimo é praticamente de 31%, com níveis atingidos da
ordem de 40,0 MJ/m² e 30,5 MJ/m² aproximadamente.
É importante destacar que esses valores máximos não ocorrem nos equinócios e
nem nos solstícios e sim nos dias julianos 313 e 172. O aumento da latitude,
proporciona uma amplitude entre esses valores máximo e mínimo crescente.

EXEMPLO:

Calcule a quantidade de energia que atinge o topo da atmosfera de um local com


latitude (11,85° S), no solstício de verão.

DJ (21/dez) = 355

 360
  23,45sen 355  80 δ = -23,45°
 365 

h  ar cos tan  11,85 tan  23,45 h = 95,22°

2  95,22
h*  h* = 1,6619
180

 2  180 
dr  1  0,033 cos 355 dr = 1,0325
 365 

Q  37,59(1,0325) sen(-11,85) sen(-23,45) 1,6619  cos (-11,85)cos (-23,45)sen 95,22

Q = 39,68 MJ m-2 dia-1


4.2. Características da atmosfera

A atmosfera é o conjunto de gases, vapor d'água e partículas, constituindo o que


se chama ar, que envolve a superfície da Terra. Não existe um limite superior para a
atmosfera, no sentido físico, verificando-se apenas uma progressiva rarefação do ar com
a altitude. No âmbito da Meteorologia, geralmente se considera que a atmosfera
terrestre possui cerca de 80 a 100 km de espessura. Deve-se ter em mente que essa
camada, predominantemente gasosa, é muito delgada quando comparada com o raio
médio do planeta. De fato, representa apenas cerca de 1,6% desse raio. A porção mais
importante da atmosfera, sob o ponto de vista meteorológico, porém, não atinge 20 km
de altitude, o que representa apenas 0,3% do raio do planeta. Justifica-se, portanto, a
crescente preocupação em preservá-la.
Sob o ponto de vista termodinâmico, a atmosfera é um sistema aberto (há
intercâmbio de massa com a superfície terrestre e com o espaço), multicomponente e
plurifásico. A fase dispersante é o ar propriamente dito: uma mistura homogênea de
nitrogênio (N2), oxigênio (O2), argônio (A), dióxido de carbono (CO2) e outros gases
que figuram em pequenas proporções, chamados constituintes menores (Tabela 1),
juntamente com o vapor d'água. As fases dispersas, líquida e sólida, estão representadas
por partículas de natureza hídrica ou não, em suspensão ou em queda livre. O estudo das
fases dispersas é, por comodidade, feito separadamente.
Na análise da composição do ar é conveniente suprimir o vapor d'água,
exatamente porque sua concentração varia bastante no espaço e também no tempo,
alterando as proporções dos demais constituintes. Quando se desumidifica o ar, obtém-
se o chamado "ar seco". A composição média do ar seco é praticamente constante até
cerca de 25 km de altitude (Tabela 1).
O ar seco pode ser considerado como um único gás especial cuja massa
molecular aparente (Ma) equivale à média ponderada das massas moleculares de seus
componentes. A soma dos produtos da fração molar pela massa molecular de cada gás,
fornece:

Ma = 28,964 g mol-1

Tabela 1. Composição do ar seco até 25 km de altitude.


Constituinte Fração molar Massa molecular
(% do volume) (g mol-1)
Nitrogênio (N2) 78,084 28,013
Oxigênio (O2) 20,946 31,999
Argônio (A) 0,934 39,948
Dióxido de carbono (CO2) 0,031 44,01
Neônio (Ne) 0,0018 20,183
Hélio (He) 0,000524 4,003
Criptônio (Kr) 0,00015 83,8
Hidrogênio (H2) 0,00005 2,016
Xenônio (Xe) 0,000008 131,3
Ozônio (O3) 0,000001 47,998
Radônio (R3) 6 x 10-18 222
Massa molecular média (aparente) 28,964
Fonte: Varejão-Silva (2006).
Eventuais desvios da composição média do ar seco são devidas, principalmente,
às variações observadas na concentração do dióxido de carbono (junto à superfície) e do
ozônio (em níveis elevados). Como se trata de constituintes encontrados em pequenas
proporções, porém, é evidente que essas flutuações não são suficientes para alterar de
modo expressivo a composição do ar seco e, por conseguinte, também não introduzem
modificações significativas no valor de Ma. Segundo Murgatroyd et al. (1965), a massa
molecular aparente do ar seco pode ser considerada constante até 90 km de altitude
(Tabela 2).
Quando se estuda o ar propriamente dito (contendo vapor d'água), o problema da
composição torna-se bastante complicado, exatamente devido às flutuações espaciais e
temporais observadas na concentração de vapor d'água. Essa questão, todavia, é
facilmente contornada, tratando-se o ar como sendo uma mistura de apenas dois
componentes, o ar seco e o vapor d'água.

Tabela 2. Variação de propriedades do ar com a altitude.

Altitude Pressão Temperatura Densidade L.P.M.* Ma


(km) (atm) (K) (kg m-3) (cm) (g mol-1)
10 2,62 x 10-1 223 4,14 x 10-1 1,96 x 10-5 28,96
20 5,45 x 10-2 217 8,82 x 10-2 9,15 x 10-5 28,96
30 1,18 x 10-2 227 1,84 x 10-2 4,41 x 10-4 28,96
40 2,83 x 10-3 250 4,00 x 10-3 2,03 x 10-3 28,96
50 7,88 x 10-4 271 1,03 x 10-3 7,91 x 10-3 28,96
60 2,22 x 10-4 256 3,06 x 10-4 2,66 x 10-2 28,96
70 5,45 x 10-5 220 8,75 x 10-5 9,28 x 10-2 28,96
80 2,05 x 10-5 181 2,00 x 10-5 4,07 x 10-1 28,96
90 1,62 x 10-6 181 3,17 x 10-6 2,56 28,96
100 2,97 x 10-7 210 4,97 x 10-7 16,3 28,88
110 7,25 x 10-8 257 9,83 x 10-8 81,5 28,56
120 2,49 x 10-8 349 2,44 x 10-8 3,23 x 102 28,07
130 1,20 x 10-8 534 7,59 x 10-9 1,02 x 103 27,58
* L.P.M. é o livre percurso médio das moléculas.
Fonte: Adaptado de Murgatroyd et al. (1965) por Varejão-Silva (2006).

Oxigênio e ozônio
O oxigênio desempenha um papel essencial, do ponto de vista da Biologia: torna
possível a vida aeróbia na Terra. A ele se deve a oxidação de compostos orgânicos,
através do processo fisiológico da respiração. Além disso, possibilita a formação de
ozônio na atmosfera.
Na alta atmosfera o oxigênio molecular (O2) se dissocia quando absorve energia
ultravioleta proveniente do Sol. A energia que provoca a fotodissociação do oxigênio
molecular possui comprimento de onda entre 1,3 x 10-4 e 2,0 x 10-4 cm,
aproximadamente. Então:

O2 + radiação ultravioleta ⇒ O + O.

Os átomos de oxigênio, assim formados, podem se combinar entre si ou com


moléculas ou átomos de outros constituintes atmosféricos. Para a formação de ozônio a
combinação se processa da seguinte forma:
O + O + M ⇒ O2 + M
O2 + O + M ⇒ O3 + M

A presença da molécula (M) de um gás qualquer é importante para absorver a


energia química liberada durante a combinação. Sem ela o produto final seria instável e
tornaria a se dissociar (Fleag e Bussinger, 1963). A essa liberação de energia é que se
atribui o aquecimento da atmosfera observado em torno dos 50 km de altitude.
As reações apresentadas ocorrem em níveis elevados, sendo a última delas
responsável pela formação de quase todo o ozônio presente no ar. As descargas elétricas
que se verificam na atmosfera também produzem ozônio, mas a quantidade formada é
insignificante quando comparada àquela devida ao processo de recombinação
fotoquímica (Retallack, 1971).
O ozônio é encontrado desde níveis próximos da superfície terrestre até cerca de
100 km de altitude. A camada compreendida entre 10 e 70 km, por ser a mais rica em
ozônio, é conhecida como ozonosfera. A concentração desse gás varia com a latitude e,
em uma dada latitude, com a época do ano, com a hora do dia e, ainda, com a maior ou
menor atividade do Sol. Quando se considera a média espácio-temporal para todo o
planeta, a maior concentração de O3 se situa em torno de 35 km de altitude (Dobson,
1968).
O ozônio é um gás instável. Ao absorver radiação solar ultravioleta, de
comprimento de onda compreendido entre 2,3 x 10-4 cm e 2,9 x 10-4 cm, se dissocia,
produzindo uma molécula e um átomo de oxigênio.
O equilíbrio assegurado pelos processos naturais de formação e destruição do
ozônio é muito delicado pois, se todo o ozônio atmosférico fosse concentrado junto à
superfície, sob pressão e temperatura normais, formaria uma camada com apenas 3 mm
de espessura.
Graças às propriedades radiativas que possui, o ozônio se torna um dos mais
importantes gases da atmosfera terrestre. Sabe-se que o excesso de radiação solar
ultravioleta, que passaria a atingir a superfície terrestre, caso a concentração de ozônio
diminuísse, causaria grandes queimaduras na epiderme dos seres vivos, aumentando
drasticamente a incidência de câncer de pele. Por outro lado, se a concentração de
ozônio aumentasse a ponto de absorver totalmente a radiação ultravioleta oriunda do
Sol, não haveria formação de vitamina D no organismo animal e, como conseqüência,
estaria seriamente comprometida a fixação do cálcio e do fósforo, indispensáveis à
formação do tecido ósseo.

Gás carbônico

Do total de dióxido de carbono existente na Terra, cerca de 98% se encontra


dissolvido na água dos oceanos, sob a forma de bicarbonato; quase todo o restante está
na atmosfera, onde sua concentração oscila muito pouco em torno de 0,5 g por
quilograma de ar. Essa concentração, porém, pode aumentar consideravelmente nas
vizinhanças dos grandes parques industriais e dos conglomerados urbanos de maior
porte.
Há um intercâmbio contínuo de gás carbônico entre a atmosfera e os seres vivos
(respiração e fotossíntese), os materiais da crosta (combustão e oxidação) e os oceanos.
Cerca de 90% dos principais constituintes vegetais não provêm do solo, mas da
atmosfera, através da atividade fotossintética. O carbono, integrante das moléculas
sintetizadas pelos vegetais provém do gás carbônico atmosférico. O CO2 também
desempenha um papel de destaque na energética do sistema globo-atmosfera,
absorvendo energia solar e terrestre de determinados comprimentos de onda. Por outro
lado, emite energia em direção à superfície terrestre.

Variação das propriedades ao longo da atmosfera

Em valores aproximados pode-se dizer que 50% da massa total da atmosfera


advém do ar existente nos primeiros 5 km de altitude; abaixo de 10 e de 20 km
concentram-se, respectivamente, 75 e quase 95% do ar existente. Essa progressiva
rarefação do ar ao longo da vertical é que torna impossível estabelecer um limite físico
externo para a atmosfera.

A 120 km de altitude, por exemplo, o livre percurso médio das moléculas é


estimado em cerca de três metros, mas ainda há atmosfera!
Diversas tentativas foram feitas no sentido de dividir a atmosfera em camadas
aproximadamente homogêneas no que concerne as suas propriedades físicas, o que
tornaria mais fácil seu estudo. O critério atualmente aceito fundamenta-se na variação
da temperatura do ar com a altitude.
De conformidade com o critério térmico, a atmosfera está dividida em quatro
camadas, aproximadamente homogêneas (troposfera, estratosfera, mesosfera e
termosfera), separadas por três zonas de transição (tropopausa, estratopausa e
mesopausa). No estudo dessas camadas não se pode perder de vista que se está diante de
um meio fluido e, assim, não se deve esperar que existam limites definidos entre elas.
Tampouco pode ser esquecido que o critério térmico se baseia na distribuição vertical
média da temperatura do ar, observada em todo o planeta.
Isto quer dizer que, em um dado instante e região da atmosfera, as condições
reais podem ser bastante diferentes das correspondentes à média planetária. Por
exemplo: na troposfera, em geral, a temperatura do ar diminui com a altitude ( Γ > 0 )
mas não raro verifica-se a presença de uma camada onde há uma variação vertical de
temperatura positiva (a temperatura aumenta com a altitude), caracterizando o que se
conhece por camada de inversão.

4.3. Atenuação da radiação pela atmosfera

A radiação solar ao incidir no topo da atmosfera recebe o nome de radiação solar


extraterrestre e corresponde a constante solar I CS = 1367 W m-2 multiplicada pelo cosseno
do ângulo zenital θZ.
Ao entrar na atmosfera, a intensidade da radiação é modificada por três processos
físicos: reflexão; absorção por gases atmosféricos; e espalhamento (difusão) causado por
moléculas de gases, vapor d’água, poeira, e outras partículas de aerossóis e, ao atingir a
superfície terrestre, recebe o nome de radiação solar global.
A radiação solar global é composta por duas componentes: radiação solar direta, que
é a parcela transmitida diretamente sem interação com a atmosfera, atingindo a superfície
num ângulo de incidência normal a sua transmissão; e radiação solar difusa, proveniente do
espalhamento da radiação por gases e partículas suspensas na atmosfera e das multi-
reflexões ocorridas na atmosfera.
A radiação solar ao ser transmitida do topo à atmosfera terrestre interage através dos
seguintes fenômenos: absorção, difusão (seletiva e não seletiva) e reflexão.

a) Absorção

OZÔNIO - intercepta radiações menor que 0,3 μm - ultra-violeta. O espectro mostra que o
ozônio tem bandas de absorção no infra-vermelho nos comprimentos de onda próximo de 3
μm,6 μm, 8 μm, 10 μm, 12 μm e 16 μm. A absorção total percentual deste componente é em
média de 1%.

GASES PERMANENTES E POEIRAS - A absorção por este conjunto é quase sempre


desprezível. No caso de vulcões, poluição industrial, atinge valores da ordem de 20 à 30%.

GÁS CARBÔNICO (CO2) - possui absorção seletiva no infra-vermelho para os


comprimentos de onda 1,5 μm, 2,8 μm, 4,3 μm e 15 μm.

VAPOR D’ÁGUA - proporção é de 2,0% na constituição gasosa da atmosfera.


Aparentemente é baixo, porém é um dos mais importantes absorventes. A absorção se
processa na região do infra-vermelho entre 0,8 e 2,7 μm; 5,5 e 7,0 μm e 15 μm para cima. A
absorção total devido ao vapor d’água e em média de 15%. Como o vapor d’água situa-se
nas baixas regiões da troposfera as perdas podem sofrer variações dependendo da latitude,
estações do ano e tipo de massa de ar.
O espectro da radiação solar foi mostrado para 3 situações: calculado para um corpo
negro; acima da camada atmosférica e na superfície terrestre ao nível do mar. É possível
constatar a importância do ozônio nas regiões UV e visível; do oxigênio e vapor de água no
visível e vapor de água e CO2 na região no infra-vermelho.
b) Espalhamento (difusão)

O espalhamento da radiação é classificado em função do tamanho das partículas em


relação ao comprimento de onda da radiação incidente: espalhamento Rayleigh, para
partículas da ordem de 10% do tamanho do comprimento de onda incidente e espalhamento
Mie, para partículas da ordem do comprimento de onda.
O espalhamento Rayleigh é causado principalmente pela interação com os gases
oxigênio e nitrogênio e ocorre para situações de atmosfera limpa e livre de poluição. Esse
espalhamento é conhecido como espalhamento isotrópico, pois a radiação é espalhada
uniformemente tanto no sentido atmosfera-solo como no sentido atmosfera-espaço. Na
realidade, também é conhecido como difusão seletiva, visto que, ocorre quando o diâmetro
médio das partículas difusoras forem da ordem de um décimo do comprimento de onda
incidente. Este tipo de radiação é responsável pela cor azul do céu, pois difunde mais
intensamente os menores comprimentos de onda do espectro solar.
O espalhamento Mie é causado por aerossóis e vapor dá água, ocorrendo portanto
para situações de atmosferas poluídas e túrbidas. O espalhamento causado por partículas
maiores deixa de ser uniforme, havendo um maior fluxo radiativo no sentido atmosfera-solo
do que atmosfera-espaço. Esse efeito recebe o nome de anisotropia da radiação, e é mais
marcante na região em torno da aureola solar, causando o surgimento da radiação
circunsolar, computada na forma de radiação difusa. Ou em outras palavras, é a difusa não
seletiva, pois ocorre quando o diâmetro médio das partículas forem iguais ou maiores que o
comprimento de onda da radiação incidente

Espalhamento da radiação difusa. a) Isotropia (Espalhamento Rayleigh). b) Anisotropia


(Espalhamento Mie). (Iqbal, 1983)
4.4. Componentes da Radiação Solar em superfícies horizontais

Da quantidade transmitida na atmosfera temos dois tipos de radiações que atingem a


superfície terrestre: Direta e Difusa como mostra a fig.1, e após a interação com a mesma
surge uma outra componente denominada refletida.
• QD - radiação direta é a fração que atinge a superfície sem interagir com a
atmosfera.
• Qd - radiação difusa é a fração extra terrestre que sofre difusão na atmosfera,
seletiva ou não seletiva.
• Qr - radiação refletida é a fração da radiação global refletida pela superfície.

A soma QD + Qd = Qg é a radiação global solar que atinge a superfície terrestre.


QR
Denomina-se albedo da superfície a razão A  , que é dependente do comprimento de
QG
onda (λ), cor e natureza da superfície (rugosidade etc).

De maneira estimada o percentual da radiação global que atinge a superfície


terrestre, após atravessar a superfície atmosférica.
Como exemplo, para Botucatu-SP (latitude 22,85° S), a relação percentual entre
radiação difusa e direta em relação a do topo da atmosfera não segue o mesmo percentual,
embora haja uma coincidência com o nível global. As figuras a seguir mostram a exata
relação entre as radiações global, difusa e direta obtidas experimentalmente. Os números
mostram que Botucatu é uma cidade clara como pode ser verificado nas relações direta/topo
em relação a difusa/topo.
4.5. Estimativas das radiações com base na razão de nebulosidade

Ainda hoje é de consenso da grande maioria de pesquisadores que monitoram


parâmetros meteorológicos, que as estações meteorológicas sejam substituidas por estações
meteorológicas automáticas, uma estação meteorológica bem equipada é aquela que
monitora:

- o nº de horas de brilho solar através de um heliógrafo. - n


- a radiação global através de um actinógrafo - Qg

O grande problema é que a grande maioria das estações não dispõe do actinógrafo,
ou qualquer outro detector da radiação global. Quando isto acontece a solução é encontrar
uma equação de estimativa que permite calcular Qg em função da medida de n.
Dimensionalmente, Qg e n não podem ser correlacionados em função de Qg ter unidade de
energia por metro quadrado e n horas. Porém, a relação abaixo é fisicamente correta.

QG n
 f 
Q G max  N

Por horas Qgmax é a radiação total sob atmosfera em dias completamente claros e N
é o único número máximo possível de brilho solar, também chamado de fotoperíodo; a
n
relação é chamada de razão de insolação.
N

Uma das primeiras equações propostas por ANGSTRON foi representada por:
QG n
 a  b  , na condição em que a + b = 1
Q G max  N
QG n
 a  1  a  
Q G max  N

O limite da equação é a utilização de Qgmax devido a baixa ocorrência dos dias


completamente sem nuvens. Mesmo assim, mais de 20 trabalhos foram publicados entre
1924 e 1974 utilizando esta equação.
Posteriormente em 1924, PRESCOTT propôs uma modificação na equação de
ANGSTRON substituindo o termo Qgmax por Q0 e eliminou a dependência de que a soma
a + b = 1.

A equação de ANGSTRON/PRESCOTT assumiu a forma, perfazendo a


dependência de Qg quanto a época do ano e do local.

QG n
 a  b 
Q0  N

Os coeficientes a e b são coeficientes obtidos através de regressão linear adequada a


cada série de dados. Nesta equação os significados físicos para os coeficientes a e b podem
ser entendidos como:

n Q
- Quando tende a zero, a razão G tende a a.
N Q0

A equação mostra que a não pode ser maior que 1 e segundo, a representa a
transmitividade mínima da radiação local.
Para o outro extremo, num dia completamente claro

n Q
- Quando tende a um, a razão G tende a a + b.
N Q0

A soma a + b representa a fração da radiação solar extraterrestre incidente da terra


em condições de dias de céu aberto. Ou seja, representa o coeficiente de transmissão
atmosférica. Como exemplo de aplicação da equação de Angstron-Prescott no município de
Botucatu-SP, foram geradas algumas equações com diferentes agrupamentos de dados.
Para os meses temos os seguintes valores dos coeficientes:

Mês a b
Janeiro 0,234 0,502
Fevereiro 0,221 0,515
Março 0,254 0,488
Abril 0,215 0,520
Maio 0,206 0,514
Junho 0,225 0,502
Julho 0,192 0,532
Agosto 0,202 0,533
Setembro 0,196 0,563
Outubro 0,217 0,541
Novembro 0,245 0,500
Dezembro 0,231 0,506
5. BALANÇO DE RADIAÇÃO A SUPERFÍCIE

O espectro de distribuição da radiação solar que chega na superfície terrestre é


constituído predominantemente por ondas curtas (comprimentos menores que 4,0 μm). Essa
radiação ao interagir com a atmosfera sobre processos de atenuação (absorção, reflexão e
difusão), todavia uma parte do que chega no limite externo da atmosfera (Qo) pode atingir a
superfície sem nenhuma atenuação. Quando chega a superfície parte dessa radiação (Qg)
pode ser refletida diretamente ainda na forma de ondas curtas (albedo). Isto estabelece um
balanço de radiação de ondas curtas (BOC), através dos ganhos e perdas de radiação nessa
trajetória.
Entretanto, para uma superfície terrestre qualquer, seja uma cobertura vegetada,
uma superfície liquida, uma construção, um animal, etc., a energia disponível para os
processos biológicos e/físicos que neles ocorrem depende não somente desse balanço de
ondas curtas, visto que, ao absorverem energia solar, todos os corpos terrestres passam a ser
também emissores e a trocar energia radiante (Lei de STEFAN-BOLTZMANN), mas com
distribuição de comprimento de ondas longas (comprimentos maiores que 4,0 μm).
Para cada instante e caracteristicas da superfície estabelecer-se-á um balanço de
radiação específico. Esse balanço de radiação RN (também conhecido como saldo de
radiação ou radiação liquida) é composto pelo balanço de ondas curtas e de ondas longas,
podendo ser expresso por:

R N  SR  BOC  BOL

Denomina-se balanço de radiação de ondas curtas (BOC) ao nível Z, a diferença


entre os fluxos de radiação vertical incidentes e da superfície deste nível.

Matematicamente, o balanço de ondas curtas BOC é dada pela diferença entre a


radiação global e refletida. Nota-se que esse balanço nada mais é do que uma simplificação,
mostrando no final que uma superfície recebe uma irradiância solar global (Qg) que é
composta pela soma entre as componentes direta e difusa (G = D + d) e reflete rQg.

BOC  Q G  Q R

Substituindo na equação anterior temos:

BOC  Q G  A  Q G 

Ou

BOC  Q G 1  A
Com a aplicação da equação de Angstrom-Prescott para estimativa da radiação
global com base na radiação no topo da atmosfera, o próprio BOC pode ser dado por:

  n 
BOC  Q 0 a  b  1  A 
  N 

Considerando que o albedo é descrito pela razão entre a quantidade de energia


refletida pela incidente em um determinado corpo, temos que então Q R  A  Q G . A
Tabela 1 apresenta os valores médios de albedo para alguns tipos de superfície. Durante o
período diurno, o BOC é positivo, sendo nulo a noite.

Tabela 1. Coeficientes de reflexão (r) para algumas superfícies.

Superfície Coeficiente de Superfície Coeficiente de


reflexão (r, %) reflexão (r, %)
Água 5 Feijão 24
Areia seca 35 a 45 Tomate 23
Areia úmida 20 a 30 Abacaxi 15
Solo claro seco 25 a 45 Sorgo 20
Solo cinza 10 a 20 Floresta 10 a 15
Solo escuro 5 a 15 Eucalipto 19
Gramado 20 a 30 (23) Coníferas 16
Algodão 20 a 22 Tropical 13
Alface 22 Nuvens 50 a 90
Milho 16 a 23 Animal de pêlo preto 10
Arroz 12 Animal de pêlo vermelho 18
Batata 20 Animal de pêlo amarelo 40
Trigo 24 Animal de pêlo branco 50
Cevada 24 Asfalto 9
Fumo 19 a 24 Alumínio 85
Amendoim 17 Cobre 74
Pepino 26 Aço 80
Pastagem 18 Neve 95

Nas superfícies planas e horizontais não vegetadas, o albedo varia com as


propriedades físicas dos materiais que as constituem (cor, rugosidade etc.) e com o
ângulo zenital do Sol, sendo menor quando este astro se encontra próximo à
culminação.
Havendo vegetação, o albedo varia com a espécie, a fase do desenvolvimento, o
estado de sanidade, a geometria da copa, o índice de área foliar, etc., das plantas
presentes. Em geral, utiliza-se o valor médio em um dado intervalo de tempo (uma dada
fase de desenvolvimento da cultura em estudo, por exemplo). Para uma folha
especificamente, o coeficiente de reflexão é dependente da idade, da sua angulação e da
sua posição ao longo da copa.

A fração absorvida Qg(1-A) será responsável pelo aquecimento da superfície


terrestre. Em face desta absorção e também da absorção da atmosfera, tanto o solo como a
atmosfera emitirão pela lei de STEFAN-BOLTZMANN radiação de ondas longas terrestre
(Qt) e atmosférica (Qatm).
O fluxo de radiação radiante emitida pela atmosfera em direção a superfície –
denomina-se contra-radiação atmosférica, sendo dependente da própria temperatura do ar,
da quantidade vapor d’água nela presente (pois o vapor absorve ondas longas longas) e da
cobertura de nuvens.
Já o fluxo de energia radiante emitida pela superfície em direção a atmosfera –
denomina-se emitância da superfície, que depende da sua temperatura e da sua emissividade
(ε).
Adotando-se como positivo o sentido dos fluxos que entram no sistema e negativo o
dos que saem do sistema, verifica-se que o balanço de radiação de ondas longas BOL
matematicamente pode ser expresso por:

BOL  Q ATM  Q TER

A soma dos dois balanços: ondas curtas (BOC) e ondas longas (BOL), é
denominada radiação líquida ou saldo de radiação (RN ou SR) ou seja:

BOL  Q G  Q R  Q ATM  Q TER


BOL  Q G 1  A  Q ATM  Q TER

O sinal do BOL depende dos valores de Qatm e Qter. Normalmente, o valor diário
do BOL em uma superfície natural é negativo. Em algumas literaturas o balanço de radiação
de ondas longas pode ser chamado de saldo de radiação infravermelho.

O saldo de radiação de ondas longas (RL) ou BOL pode ser determinado, por
diferença, quando se dispõe de equipamentos que possibilitem medir simultaneamente o
saldo de radiação (Rn), a radiação global (Q) e a radiação refletida (QR). Infelizmente,
esta situação é excepcional, o que motivou os pesquisadores a se dedicarem à tarefa de
investigar expressões empíricas para estimar RL.
Tais expressões, não obstante práticas têm o inconveniente de apresentarem
resultados confiáveis, em princípio, apenas nas condições para as quais foram
desenvolvidas. Sua utilização, em outras regiões, com características diferentes das de
origem, pode conduzir a erros grosseiros. Por esse motivo, seu uso deve ser
recomendado apenas após testadas e ajustadas às condições locais. Neste contexto, o
BOL diário pode ser estimado a partir de medidas meteorológicas feitas em uma
estação, por equações empíricas, como a de Brunt (1939) adaptada por Dorrenbos &
Pruitt (1975), com fatores de correção para o efeito da nebulosidade, são dadas por:
• Para clima úmido:


    n  
BOL   4,903  10 9  T 4 0,56 - 0,25 e a   0,1  0,9    (MJ m-2 d-1)
   N  

• Para clima seco:


    n  
BOL   4,903  10 9  T 4 0,34 - 0,14 e a   0,1  0,9    (MJ m-2 d-1)
   N  

em que: T - temperatura média do ar (K); ea - pressão parcial de vapor d’água da atmosfera


(kPa); n – insolação (números de horas de brilho solar); N – fotoperíodo (horas).

Nas superfícies naturais o valor diurno do BOC (maior do que o do BOL) torne a
radiação líquida (Rn) positiva (a superfície tem ganho líquido de energia) enquanto que à
noite, sendo BOC = 0 e o BOL negativo, tem-se Rn negativo (a superfície tem perda de
energia).

Como a radiação líquida (saldo de radiação) é dado pelo somatório entre BOC e
BOL, teremos:

SR  BOC  BOL
Neste caso ea é a pressão de atual de vapor d’água à temperatura de bulbo
molhado, em kPa; Todavia, com base na temperatura média do dia, podemos obter o
valor de es que é a pressão de saturação de vapor d’água, ou seja, o máximo que a massa
de ar reinante seria capaz de suportar. A umidade relativa traduz uma relação entre a
pressão atual e a pressão de saturação.

 7 , 5T 
 
e s  0,6108  10  237,5 T 

ea
UR 
es

Exemplo da estimativa da radiação líquida sobre um gramado

Local: Sinop (11,85° S) Data: 15/01/10


r (do gramado) = 0,23 Brilho solar: 9,3 horas
Temperatura média do dia: 28,1 °C Umidade relativa média do dia: 45%
Usar coeficientes a = 0,29 cos Φ e b = 0,52

Primeiro passo: Calculo da radiação no topo da atmosfera (Qo)

 360
  23,45sen  15  80 = - 21,1°
 365 
h  ar cos tan  11,85 tan  21,1 = 94,64°
2  94,64
N = 12,62 h
15
  94,64
h*  = 1,6518
180
 360 
dr  1  0,033 cos  15  = 1,0319
 365 

Qo  37,59  1,03191,6518  sen(11,85)  sen(21,1)  cos(11,85)  cos(21,1)  sin(94,64)

Qo = 40,04 MJ m-2 d-1

Segundo Passo: Calculo do Balanço de ondas curtas (BOC)

a  0,29  cos(11,85) = 0,28


  9,3 
BOC  40,040,28  0,52  1  0,23 = 20,45 MJ m-2 d-1
  12,62 

Terceiro Passo: Calculo do Balanço de ondas longas (BOL)


 7 , 5 28,1 
 
e s  0,6108  10  237,5 28,1  = 3,80 kPa

e a  3,8  0,45 = 1,71 kPa


 
  9,3  
BOL   4,903  10 9  301,14 0,56 - 0,25 1,71   0,1  0,9   
   12,62  

BOL = - 7,17 MJ m-2 d-1

Quarto Passo: Calculo do Saldo de radiação ou radiação líquida

SR  BOC  BOL

SR  20,45  7,17 = 13,28 MJ m-2 d-1

Equipamentos de medidas do saldo de radiação

O balanço de radiação de uma superfície pode ser medido por um saldo-


radiometro, constituído de duas placas sensoras com pares termoelétricos, uma voltada
para cima e outra para baixo, captando as energias de ondas curtas e de ondas longas
direcionadas para dentro e para fora do sistema, sendo que o aquecimento diferencial
das placas gera uma força eletromotriz nos termopares, que é registrada e transformada
em energia, por um coeficiente de calibração, proporcional ao saldo de radiação. Sobre
cada placa sensora há uma cúpula de polietileno, para protegê-las das intempéries
climáticas.
Na ausência de um saldo-radiometro aplica-se as equações acima explicitadas.

Qg
QATM

QSUP
rQg
Balanço de radiação em Ambiente Protegido (adaptado de Pereira et al., 2002)
O conhecimento dos princípios do balanço de radiação ajuda a entender
fenômenos como o “efeito estufa” e ajuda também a utilizá-los na busca de alternativas
que minimizem seus efeitos desfavoráveis. Um exemplo, na prática agrícola, é a
alteração do balanço de radiação para proteção contra geadas. Outro é o uso de
coberturas plásticas, ou de outro tipo, sobre o solo para modificar sua temperatura
quanto à diferentes aspectos, como a solarização (como método de desinfestação do
solo), promover temperaturas adequadas ao sistema radicular ou a própria parte aérea.
Um exemplo desse uso são os cultivos protegidos, realizados sob cobertura,
especialmente plásticas. Nesse caso, o balanço natural de radiação sofre alterações, pois
o plástico absorve e reflete parte da radiação incidente, sendo o restante transmitido para
dentro do ambiente. Dentro do ambiente, há novamente absorção e reflexão pela
superfície protegida, e assim sucessivamente até que os processos de reflexão e
absorção pela cobertura e pela superfície do terreno tornem-se desprezíveis.

Definindo-se, para a cobertura, r1 como coeficiente de reflexão, e t como


coeficiente de transmissão; e r2 como coeficiente de reflexão das plantas, o balanço de
ondas curtas dentro do ambiente protegido terá a seguinte descrição:

1) a entrada principal de ondas curtas é aquela transmitida pela cobertura, isto é,


tQg.
2) a energia incidente sobre as plantas sofre uma primeira reflexão, que resulta em
r2-t-Qg, representando uma saída de ondas curtas da vegetação.
3) essa energia refletida internamente atinge a face interna da cobertura plástica
sofrendo uma segunda reflexão, isto é, r1-r2-t-Qg, e que representa uma entrada
secundária de ondas curtas para as plantas.
4) Novamente, essa energia incidente sobre as plantas sofre mais uma reflexão, que
é representada por r2-r1-r2-t-Qg, indicando nova saída de ondas curtas das plantas.

Esse é um processo de multi-reflexões, em que a quantidade de energia refletida


vai diminuindo rapidamente. Considerando-se apenas os termos descritos acima, tem-se
o seguinte balanço de ondas curtas (BOC).

BOC  tQg  r2 tQg  r1r2 tQg  r1r22 tQg


 
BOC  tQg 1  r2  r1 r2  r1 r22

Neste contexto, para a maioria das plantas o valor de r2 varia entre 0,2 e 0,3 (ver Tabela
1). Os valores da transmissividade e da refletividade dependem do tipo de cobertura.
Quando o objetivo é captar energia solar (épocas frias) utiliza-se uma cobertura
plástica com t de valor grande e r1 de valor pequeno e nestas condições os termos r1 r2 e
r1 r22 são desprezíveis quantitativamente. Por exemplo, se r1 = 0,15 e r2 = 0,25 esses
dois termos representam menos de 3% de erro se desprezarmos nos cálculos.
Quando o objetivo é proteger as plantas do excesso de radiação solar, como é o
caso em viveiros de preparo de mudas, a cobertura deve ter baixa transmissividade (t
pequeno) e alto poder refletor (r1 grande). Por exemplo, se t = 0,40 e r1 = 0,55, então a
diferença (r1 r2 - r1 r22 ) será igual a 0,06 ou 6% do total.
Logo para fins práticos, o balanço de ondas curtas pode ser reduzido com erros
inferiores a 10%, da seguinte forma:

BOC  tQg1  r2 

A Tabela 2 apresenta os valores médios de atenuação (a + r) provocada por


diferentes tipos de cobertura utilizados em estufas e viveiros (Sentelhas et al., 1997).
Verifica-se que o material que menos atenua a radiação solar e a luminosidade é o
Polietiliento de Baixa Densidade (PEBD), plástico comumente utilizado em estufas
comerciais, com média de 20%. Em seguida, a tela branca com 24%, o PVC com 33%,
a tela verde e da manta com 40% e a tela preta com mais de 50%.

Tabela 2. Atenuações médias, em % da radiação global, radiação fotossinteticamente


ativa, radiação liquida e da luminosidade provocadas por diferente tipos de cobertura,
em mini-estufas, em Piracicaba-SP. (Sentelhas et al., 1997).

Cobertura Qg RFA Rn Lum Média Geral


Manta 37,4 39,6 41,5 41,3 40,0
PBED 20,3 13,3 22,6 23,4 19,9
PVC 35,0 29,9 39,6 26,7 32,8
Tela branca (50%) 26,6 18,6 24,6 25,1 23,7
Tela verde (50%) 41,2 38,8 43,5 36,1 39,9
Tela preta (50%) 55,4 48,8 49,7 52,3 51,6

No caso do balanço de ondas longas (BOL) é preciso levar em consideração o


fato de um corpo emissor de ondas longas ser também um ótimo absorvedor de ondas
longas (Lei de Kirchhoff das radiações). Portanto, o BOL dentro de um ambiente
protegido artificialmente depende fundamentalmente da diferença de temperatura entre
as plantas (Tp) e a cobertura (Tc). No caso da cobertura plástica, um fator que afeta
significativamente o balanço de ondas longas é a espessura do plástico (densidade).
Todavia, ainda é importante a consideração de que pode ocorrer condensação do
vapor d’água sobre o plástico, aumentando o efeito atenuante sobre as perdas,
verificadas na Tabela 2 da radiação liquida interna.
Portanto, o BOL interno é uma fração f do BOL externo, ou seja,

BOL INT  f  BOL EXT

E o balanço global de radiação dentro do ambiente protegido será:

Rn  tQg1  r2   f  BOL EXT


6. TEMPERATURA DO SOLO E DO AR

Material adaptado de: VAREJÃO SILVA, M.A. Meteorologia e Climatologia.


Recife: Versão Digital, 463 p. 2006.

6.1. Saldo de radiação

A superfície do solo com ou sem vegetação é o principal receptor da radiação


solar e da radiação atmosférica (emitida pelas nuvens), sendo também um emissor de
radiação. Seu balanço de radiação, variável no decurso do dia e do ano, promove
variações diárias e anuais na temperatura do ar e do solo.
As variações diárias do balanço de radiação da superfície do solo ocorrem em
função da trajetória diária do sol acima do horizonte, enquanto que as variações
estacionais em função da variação da declinação solar ao longo do ano.
O balanço de radiação de uma superfície é composto pela entrada de energia, a
radiação solar absorvida, e pela saída de energia através da emissão efetiva terrestre. A
radiação absorvida ocorre durante o período em que o Sol está acima do horizonte, e sua
intensidade é proporcional à altura do Sol acima do horizonte, sendo máxima na sua
passagem meridiana. A emissão efetiva terrestre é crescente do nascer do Sol até a sua
passagem meridiana, quando passa a ser decrescente até o nascer seguinte. A figura 1
mostra uma curva do saldo de radiação para as condições de Botucatu, SP, em dia de
céu parcialmente nublado.

Figura 1: Saldo de radiação ao longo do dia 14/09/08.

A área positiva representa o total diário da radiação solar absorvida e que é


disponível para outros processos, enquanto que a região negativa representa o total
diário da emissão efetiva terrestre e indica o déficit de radiação da superfície.
Os pontos A e B da figura 1 são momentos em que o balanço de radiação é nulo;
o intervalo entre A e B é um período em que o balanço é positivo e entre B e A, ele é
negativo. Sob condição de balanço positivo de radiação, a energia excedente é repartida
em três fluxos, conforme figura 2a, que são: A, fluxo de calor para aquecimento do ar;
S, fluxo de calor para o interior do solo; e E, fluxo de calor latente usado na evaporação.
Sob condição de balanço negativo de radiação, geralmente ocorre fluxo de calor latente
de evaporação E, sendo o déficit de energia suprido por um fluxo de calor doar A e um
fluxo de calor interior do solo S.
Os fluxos de calor A são responsáveis pelo aquecimento e resfriamento do ar,
enquanto que os fluxos S são responsáveis pelo aquecimento e resfriamento do solo.

Figura 2. Repartição do balanço de radiação Q da superfície do solo . (a) Balanço


positivo. (b) Balanço negativo. A= fluxo de calor de/para o ar; E= fluxo de calor latente
de evaporação; S= fluxo de calor de/para o solo.

6.2. Temperatura do solo

De acordo com a textura e estrutura, o solo absorve maior ou menor quantidade


de energia radiante. Essa absorção limita-se aos primeiros milímetros de sua superfície,
tornando-se, portanto, tanto mais energética quanto maior a energia absorvida. Parte
dessa energia se propaga por condução no perfil ocupado pelo sistema radicular da
planta. Como é intermitente a chegada de energia à superfície, devido a ocorrer dias e
noites, também é intermitente o sentido do fluxo e sua intensidade. Essa intensidade
variável estabelece uma amplitude energética, que interagindo com o sistema radicular
da planta irá estimular as trocas iônicas entre raízes e solo.
O aquecimento da superfície do solo ocorre quando o balanço de radiação é
positivo e viceversa. A figura 3 mostra o fluxo de calor no solo ao longo do dia
14/09/08. Os valores negativos do fluxo de calor do solo coincidem com o período em
que o Sol encontra-se acima do horizonte e os valores positivos coincidem quando o Sol
está abaixo do horizonte. O fluxo de calor do ou para o solo (FCS) é função do
gradiente vertical de temperatura em profundidade e da condutividade térmica do solo, e
pode ser expressa pela equação:

dt
FCS  K  (1)
dZ

em que: FCS é dado em energia por área; K é a condutividade térmica do solo; dt/dz
representa o gradiente (variação) da temperatura entre dois níveis de profundidade do
solo (Z2 e Z1).
Essa condutividade térmica do solo deve ser entendida como a possibilidade de
transportar energia por transferência de energia interna, sendo considerada na unidade
de comprimento, durante a unidade de tempo, em um nível energético unitário. Pelo
CGS é dada em cal cm-1 s-1 °C-1.

FCS

Figura 3. Fluxo de calor no solo ao longo do dia 14/09/08.

Desta maneira quando a temperatura em superfície for maior que as camadas


inferiores o FCS é para o interior do solo, sendo negativo pois representa saída de
energia do meio. Por outro lado quando a temperatura em superfície é menor que as
camadas inferiores o FCS é para a superfície, representando ganho de energia que
estava armazenado. Geralmente ao longo do dia o FCS é negativo e a noite positivo.
A temperatura do solo é o elemento do ambiente que determina a velocidade de
germinação das plântulas, sendo sua influência maior nos subperíodos semeadura-
emergência e crescimento inicial, quando ocorrem acentuadas amplitudes térmicas
diárias, principalmente próximo a superfície (Scheneider et al, 1993). As hortaliças
como beringela, pimentão, tomateiro e melão encontram temperaturas adequadas de
desenvolvimento entre 15 e 20 oC (Castillo, 1983).
A figura 4 mostra curva de temperatura do solo quantificados em Botucatu, SP.

Hora

Figura 4: Temperatura do solo em três profundidades.


A variação da temperatura do solo ao longo do dia e da profundidade pode ser
estudada a partir da elaboração de perfis (tautócronas) de temperatura (Figura 5). Nesse
exemplo, observa-se que houve isotermia a partir de 35 cm de profundidade, ou seja, a
partir daí ocorreu amortecimento das ondas de calor.

Temperatura do solo (o C)
15 20 25 30 35 40 45
0
-5
Profundidade do solo (cm)

-10
-15
-20

-25
13h
-30
19h
-35
23h
-40 5h
-45 9h

-50

Figura 5. Perfil (tautócronas) de temperatura de um Latossolo desnudo.

A variação temporal e espacial da temperatura do solo é dependente de sua


condutividade térmica, do calor específico e da emissividade (poder emissor da
superfície), os quais irão depender da sua textura, densidade e umidade. Além disso,
essa variação é decorrente da inter-relação com uma série de fatores.

a) Fatores externos
São aqueles relacionados aos elementos meteorológicos que afetam o balanço de
energia na superfície e sua partição (balanço de energia), ou seja, a irradiância global,
temperatura do ar, nebulosidade, ventos e as precipitações.

b) Fatores intrínsecos
Os fatores intrínsecos são aqueles determinados pelo tipo de cobertura da
superfície, pelo relevo e pela composição (tipo) do solo. O tipo de revestimento de um
solo é um fator microclimático. Solos desnudos ficam sujeitos a grandes variações
térmicas diárias nas camadas mais superficiais em dias de alta irradiância. A existência
de cobertura com vegetação ou com cobertura morta (mulch) modifica o balanço de
energia, pois a cobertura intercepta a radiação solar antes dela atingir o solo. Esse é um
fator importante a ser considerado em cultivos em que as plantas são dispostas em
linhas bem separadas, como é o caso de pomares. É comum deixar-se uma vegetação
rasteira nas entrelinhas pois essas amenizam o regime térmico no solo.
Porém em regiões sujeitas a geadas, é importante que essa vegetação rasteira
seja eliminada nos períodos críticos (inverno), pois assim o calor do Sol pode penetrar e
ser armazenado no solo durante o dia, reduzindo o resfriamento noturno. A Figura
abaixo exemplifica bem essa situação (Varejão-Silva, 2006).
Figura 6. Amplitude da temperatura no solo em diferentes condições de cobertura.

O relevo é outro fator intrínseco topoclimático que condiciona o terreno a


diferentes exposições à radiação solar. Em latitudes maiores que 10 °S, as faces dos
terrenos voltadas para o Norte tendem a apresentar maior temperatura do solo que as
faces Sul. A configuração do terreno (côncavo ou convexo) também influi na
temperatura.
O tipo de solo é outro fator intrínseco e será relacionado à textura, estrutura e
composição do solo. Assim, desconsiderando-se os outros fatores, os solos arenosos
tendem a apresentar maior amplitude térmica diária nas camadas superficiais e menor
profundidade de penetração das ondas de calor, em função da sua menor condutividade
térmica. Os solos argilosos têm maior condutividade térmica, conduzindo calor a
maiores profundidades, com menor amplitude nas camadas superiores. Os solos
orgânicos são mais complexos, sendo que a amplitude térmica depende da relação entre
teor de matéria orgânica e água.
70

Temperatura do solo ( o C)
60

50

40

30

20

10
Arenoso Argiloso
0
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24
Hora

Figura 7. Variação da temperatura em função da textura do solo ao longo do dia.

A medição da temperatura do solo é efetuada através de termômetros de solo


(geotermômetros), termógrafos de solo (geotermógrafos) e sondas dotadas de resistores
que permitem leituras e armazenamento de dados de forma instantânea. Geralmente
instala-se os sensores a profundidades de 2, 5, 10, 20, 30, 50 e 100 centímetros.
Como observamos na Figura 4, as temperaturas em níveis superiores apresentam
as maiores amplitudes térmicas (Tmáxima – Tmínima) em virtudes da variação do
armazenamento e do “caminhamento” do calor no solo, diminuindo a medida que
aumentamos a profundidade. A Tabela 1 mostra os valores de temperatura do solo.

Tabela 1: Valores de temperatura do solo a 10, 20 e 30 cm de profundidade. Botucatu –


SP, 14/09/08.

10 cm 20 cm 30 cm
Máxima (°C) 24,6 24,2 23,2
Mínima (°C) 20,6 21,7 21,5
Amplitude térmica (°) 4,0 2,5 1,7
Média (°C) 22,4 23,0 22,3

Termômetros de solo são termômetros comuns, que servem para a observação da


temperatura no interior do solo e, por essa razão, referidos na literatura especializada
como geotermômetros (Figura 8).
Figura 8. Esquema de um termômetro de solo (acima) e de um termômetro de imersão
(abaixo).

Os termômetros de solo para as profundidades de 2, 5, 10, 20, 30 e 50 cm têm a


haste longa e flexionada, permitindo que a porção enterrada fique na vertical, enquanto
a parte emergente forma com a superfície do solo um ângulo de 60o, o que facilita a
realização das leituras. O geotermômetro para 100 cm tem a haste reta, inserida em um
suporte cilíndrico, que se desloca dentro de um tubo-guia, mantido no solo. Esse
termômetro é retirado do solo por ocasião da leitura. Para evitar alteração da coluna,
enquanto permanece fora do solo, o bulbo desse geotermômetro está inserido em um
bloco de material apropriado, que retarda as trocas de calor.

6.3. Temperatura do ar

Para fins agrometeorológicos, a temperatura do ar é medida sob uma condição


de referência, para que haja comparação entre locais. A condição padrão para a medida
da temperatura do ar é: sobre área plana e gramada, a uma altura entre1,5 a 2,0 m acima
da superfície e dentro de um abrigo meteorológico que permita a passagem de ar e
impeça a incidência de radiação solar sobre os equipamentos.
Conforme apresentado na Figura 9, a temperatura do ar representará a “energia
disponível àquele meio” e terá ao longo do dia curva semelhante a curva do saldo de
radiação, contudo, como a temperatura do ar é monitorada a 1,5 m de altura nas estações
meteorológicas, existe um certo atraso entre as curvas. Isso ocorre em função da
radiação solar incidir inicialmente sobre a superfície do solo, parte é refletida e parte é
absorvida (albedo da superfície) e, inicia-se o processo de transferência de calor para as
camadas superiores através dos processos de convecção e condução. Assim, as
temperaturas máximas ocorreram em média com duas horas de atraso em relação a
máxima intensidade de energia, que ocorre ao meio-dia, e as temperaturas mínimas nas
horas de máxima perda de energia, ou seja, poucos instantes antes do nascer do sol. A
Figura 9 mostra curva da temperatura do para a mesma data da Figura 9.
Figura 5: Curva da radiação global e da temperatura do ar a 1,5 m de altura em
Botucatu-SP para o dia 14/09/08.

A escala Celsius, ou centígrada (oC) é internacionalmente aceita e recomendada


para o intercâmbio de dados. A escala absoluta (K) é usada para fins científicos.
Infelizmente, alguns países ainda insistem em manter a escala Fahrenheit. A conversão
das escalas Fahrenheit (°F), Celsius (°C) e absoluta (K) é feita através das seguintes
relações:
t C 100
 (2)
tF  32 180
tK  273,16  tC (3)

em que t designa a temperatura expressa na correspondente escala. Na escala


Fahrenheit, o ponto de fusão da água corresponde a 32 °F e o de ebulição a 212 °F. A
diferença entre eles (180 °F) equivale, na escala Celsius, a 100 °C. É claro que 0 °C =
273,16 K.
A medição da temperatura do ar, atualmente, é efetuado por meio de
termômetros, termógrafos, conjunto de termopares e sensores eletrônicos resistivos.
Fornecem, em geral, o valor instantâneo dessa variável. Em Meteorologia, os
termômetros convencionais são do tipo líquido-em-vidro, cujo princípio de
funcionamento se baseia na variação do volume de um líquido apropriado (o elemento
sensível), em resposta a uma mudança da temperatura do meio em que está situado o
instrumento (Figura 10).
Os termômetros convencionais são constituídos por um tubo capilar de vidro
(assim chamado por ter o diâmetro interno muito pequeno), hermeticamente fechado,
tendo uma das extremidades muito dilatada, formando um depósito: o bulbo. A
extremidade oposta dispõe apenas de uma pequena dilatação, denominada câmara de
expansão. O bulbo e uma porção variável do tubo capilar contém o líquido usado como
elemento sensível. A parte do tubo capilar, ocupada pelo líquido, recebe o nome de
coluna termométrica e seu comprimento varia em função da temperatura ambiente.

Figura 10. Esquema de um termômetro convencional de mercúrio em vidro.

Quase sempre o mercúrio é usado como elemento sensível dos termômetros


convencionais, pois apresenta uma série de vantagens:
- coeficiente de dilatação linear elevado;
- temperatura de congelamento baixa (–37,8 °C);
- temperatura de ebulição alta (360 °C).

O álcool etílico, ou uma mistura de mercúrio e tálio, é empregada quando o


termômetro se destina a operar sob temperaturas abaixo de –36 °C.

A expressão “leitura de um termômetro” refere-se à avaliação da temperatura


por ele indicada. Nos termômetros de líquido-em-vidro, equivale a estabelecer,
analogicamente, o valor da escala que corresponde à extremidade da coluna
termométrica (menisco). Nesses instrumentos, deve-se ter o cuidado de evitar erros de
paralaxe, pois a escala e a coluna não se encontram no mesmo plano (Figura 11). Os
termômetros elétricos normalmente estão acoplados a m visor que permite a leitura
digital, evitando erros desse tipo.

Figura 11. Maneiras corretas (A) e incorretas (B e C) de efetuar a leitura de um


termômetro convencional. Nas situações B e C há erro de paralaxe.
Termômetro de máxima
Esses instrumentos se destinam a indicar a mais elevada temperatura que se
verifica em determinado local, durante um dado intervalo de tempo (temperatura
máxima). Exatamente por isso, possuem um estrangulamento no tubo capilar, situado
nas proximidades do bulbo, que permite apenas a saída do mercúrio deste para aquele.
O dispositivo (Figura 12) impede o retorno do mercúrio ao bulbo quando a temperatura
ambiente começa a diminuir. Por conseguinte, a extremidade da coluna termométrica
estará sempre indicando a temperatura mais elevada a que foi submetido o instrumento,
a partir do instante de sua última reinstalação.
O termômetro de máxima permanece em um suporte especial, que o mantém
inclinado cerca de 5° em relação ao plano do horizonte local, estando o bulbo em um
nível mais baixo que o da câmara de expansão. Com isso evita-se que o mercúrio da
coluna, seccionada pelo estrangulamento, desloque-se para a câmara.
Terminada a leitura, o termômetro de máxima deve ser retirado de seu suporte e
novamente preparado para o próximo intervalo. A preparação consiste em, segurando-o
pela haste, imprimir-lhe movimentos vigorosos, rápidos e firmes, de cima para baixo,
com o objetivo de fazer retornar ao bulbo a maior quantidade de mercúrio possível
(Figura 13). Após a preparação, o termômetro de máxima deverá ficar indicando uma
temperatura igual ou inferior à do ar (obtida a partir do termômetro de bulbo seco do
psicrômetro). Algumas vezes, para facilitar o retorno do mercúrio ao bulbo, é
conveniente molhá-lo antes de iniciar essa operação. Concluída a preparação, o
instrumento é reinstalado em seu suporte.

Figura 12. Diferentes tipos de estrangulamento (E) do tubo capilar, em termômetros de


máxima.

Figura 13. Movimento necessário à preparação de em termômetros de máxima.

Termômetro de mínima
O termômetro de mínima serve para indicar a menor temperatura ocorrida em
um determinado intervalo de tempo. Possui o bulbo bifurcado (Figura 14) para
aumentar sua eficiência e têm como elemento sensível o álcool etílico. No interior do
tubo capilar há um índice de fibra, em forma de halteres, imerso no álcool. A
extremidade do alteres voltada para o bulbo será designada como proximal e a outra
como distal.
A redução da temperatura ambiente provoca o movimento do menisco em
direção ao bulbo. Atingindo a extremidade distal do índice, o menisco adere a ele,
deslocando-o. O arraste se verifica enquanto a temperatura ambiente estiver diminuindo.
Quando a temperatura ambiente volta a aumentar, o álcool flui livremente entre o vidro
e o índice (o menisco se desprende de sua extremidade distal), deixando-o na posição
atingida ao se verificar a temperatura mais baixa. A extremidade distal do índice indica
a menor temperatura a que esteve exposto o instrumento, em um dado intervalo de
tempo.
Nos abrigos termométricos convencionais o termômetro de mínima é instalado
no mesmo suporte do de máxima, porém em posição horizontal. Após cada leitura,
deve-se retirá-lo do suporte e incliná-lo, com o bulbo para cima. Assim, o índice se
move, até que a sua extremidade distal adira ao menisco do álcool. Essa operação é
conhecida como preparação do termômetro de mínima e, uma vez terminada, o
termômetro deverá ser reinstalado no suporte próprio, para novo período de
funcionamento.

Figura 13. Termômetro de mínima.

Termógrafos convencionais
Termógrafos são instrumentos destinados a fornecer um registro contínuo da
temperatura durante um certo intervalo de tempo (Figura 14). O termo "convencional"
está sendo empregado para designar aqueles equipamentos puramente mecânicos, ainda
encontrados em muitas estações meteorológicas.
De um modo geral são constituídos por uma unidade sensora que, sob variações
da temperatura ambiente, aciona um sistema de alavancas. Esse sistema termina por
deslocar uma haste, em cuja extremidade está a pena registradora. O movimento da
haste da pena se efetua em um plano vertical, fazendo com que a própria pena se
desloque ao longo de um segmento de arco.
O deslocamento da pena fica registrado em um diagrama de papel (o
termograma), fixado no tambor rotativo que se move sob ela (Figura 14). Em geral, o
tambor efetua uma rotação a cada 25 horas, permitindo que se obtenha um gráfico
contínuo, durante 24 horas consecutivas.
O termograma, que é substituído diariamente a uma determinada hora, tem a
escala vertical expressa em unidades de temperatura e a escala horizontal em unidades
de tempo.
Figura 14. Esquema de um termograma (registro termográfico).

Figura 15. Termógrafos bimetálico (esquerda), de tubo e de Bourdon (centro) e de


mercúrio em aço (direita), todos sem a tampa protetora.

Abrigo dos instrumentos termométricos


Nas estações meteorológicas convencionais, as observações da temperatura do ar
(instantânea, máxima e mínima) são obtidas a partir de termômetros instalados no
interior do chamado abrigo de instrumentos (Figura 16).
Esses abrigos evitam que a luz do Sol incida diretamente sobre os sensores de
temperatura, mantendo-os, ao mesmo tempo, em um ambiente aceito como
adequadamente ventilado.
A geometria e os materiais empregados na fabricação dos abrigos de
instrumentos, para fins meteorológicos, variam de país para país. No Brasil, são
confeccionados com duas caixas de madeira, uma por dentro da outra, cujas paredes
laterais possuem venezianas com inclinação oposta. As portas estão situadas de um só
lado e, quando o abrigo é instalado, devem ficar orientadas para o pólo do Hemisfério
em que se encontra; as duas paredes laterais ficam orientadas na direção norte-sul
verdadeira. Isto minimiza o risco de penetração da luz solar, que atingiria os
instrumentos quando o abrigo fosse aberto para a realização das leituras.
Figura 16. Abrigo de instrumentos meteorológicos usado em estações convencionais.

Termopares
Os termopares e os sensores resistivos permitem medidas instantâneas (em
intervalos de segundos) e armazenamento de dados em módulos de memória e posterior
transferência para micros, possibilitando uma amostragem mais real das condições do
meio, assim como a manipulação estatística desses dados. Esses tipos de sensores
geralmente estão associados a uma estação meteorológica automática (EMA).
Em 1821, o físico alemão Thomas Johann Seebeck (1770-1831), observou que
unindo as extremidades de dois metais diferentes “x” e “y” e submetendo as junções “a”
e “b” a diferentes temperaturas T1 e T2, surge uma f.e.m. (força eletromotriz,
normalmente da ordem de mV) entre os pontos a a e b, denominada “tensão
termoelétrica” (Figura 17).

Figura 17. Dois metais diferentes, com as extremidades unidas e mantidas a


temperaturas diferentes.
Portanto, se abrirmos o circuito em qualquer ponto entre as junções,
conseguiremos com instrumento adequado quantificar o valor da f.e.m., conforme
podemos observar na Figura 18.

Figura 18. Abertura do circuito e quantificação da f.e.m. com uso do multímetro.

De acordo com a Primeira Lei Termoelétrica: A força eletromotriz (ε) de um


termopar depende somente da natureza dos condutores e da diferença de temperatura
entre as junções de contato. Algumas conseqüências importante desta lei:
a) se as junções estiverem a mesma temperatura, a f.e.m. gerada pelo termopar é
nula;
b) a f.e.m. gerada pelo termopar independe do ponto escolhido para medir o
sinal. Por isso, ao confeccionar-se o termopar, em uma das junções não é realizado
solda, introduzindo-se ali o medidor da f.e.m.

Figura 19. Introdução de um metal diferente no circuito. A f.e.m. não se altera desde
que as junções “c” e “d” permanecem iguais.

Assim, se mantivermos uma das junções a uma temperatura conhecida,


poderemos calcular a temperatura de um meio qualquer manipulando a seguinte
equação:

  k  Tar  Tref  (4)


Em que: ε = força eletromotriz gerada pelos termopares (mV); k = constante
termoelétrica que depende do material (mV °C-1); Tar = temperatura que se deseja medir
(°C); Tref = temperatura de referência que deve ser obrigatoriamente conhecida (°C).

a) mantendo a Tref em 0°C, teremos:

Tar  Tref   Tar (5)

Substituindo (5) em (4)

  k  Tar (6)

Então


Tar 
k

b) conhecendo-se o valor de Tref, teremos:

  k  Tref
Tar  (7)
k

Assim, conhecendo-se o tipo de material do termopar e sua constante


termoelétrica, pode-se determinar a temperatura de um meio qualquer. A título de
exemplo, um termopar de cobre-constantan (0,041 mV °C-1), mantido em uma das
junções a zero grau (gelo fundente), obteve-se em um instante qualquer, uma f.e.m. da
ordem de 0,7 mV. A temperatura do ar será então:

0,7mV
Tar  = 17,07 °C
0,041mVC 1

6.4. Perfil da temperatura do ar com a elevação


A temperatura do ar é um dos efeitos mais importantes da radiação solar. O
aquecimento da atmosfera próximo à superfície terrestre ocorre por transporte de calor,
a partir do aquecimento da superfície. O transporte de calor ocorre por dois processos:

a) condução molecular: que é o processo lento de troca de calor sensível, pois se dá por
contato direto entre “moléculas” de ar; logo, esse processo tem extensão espacial muito
limitada, ficando restrito a uma fina camada de ar próxima à superfície (camada limite)
junto à superfície aquecida.

b) Difusão turbulenta: que é o processo mais rápido de troca de massa, pois parcelas de
ar aquecidas pela superfície entram em movimento desordenado transportando calor,
vapor d’água, partículas de poeira, entre outros, para as camadas superiores.

Um exemplo do decréscimo da temperatura do ar com a elevação é mostrado na


Tabela 2. Esta tabela indica uma redução na temperatura com a elevação até o nível de
13 Km. Após este ponto não se observa redução significativa na temperatura. O
intervalo de temperatura é irregular, sendo a queda mais forte nos primeiros 5 a 9 Km
de camada atmosférica. Na média, podemos dizer que a temperatura cai de 0,5 a 0,6 °C
a cada 100 m de elevação, na atmosfera livre.
Esta variação de temperatura a cada 100 m é chamada de gradiente vertical de
temperatura. Esta quantidade caracteriza a estabilidade atmosférica. Suponhamos que
um quilograma de ar com a mesma temperatura que a sua vizinhança seja impelido a
subir, por alguma razão. À medida que ele sobe encontra uma camada mais estagnada e
expande-se constantemente. A teoria nos diz que o ar ascendente perde 1 °C para cada
100 m, no trabalho de expansão. De forma que a 100 m de altura a massa de ar que se
eleva estará 0,5 °C abaixo da temperatura da vizinhança. A 200 m a temperatura da
massa de ar ascendente estará 1 °C abaixo da temperatura da vizinhança.

Tabela 1. Perfil da temperatura na atmosfera.

Altitude (km) Temperatura (°C)


1 4,6
3 -4,9
5 -16,9
7 -30,7
9 -44,4
11 -52,8
13 -54,4
15 -54,3

Em outras palavras, em todas as elevações a massa de ar estará a uma


temperatura inferior à vizinhança. Se nosso quilograma de ar não estiver mais sendo
impelido para cima, mas for deixado livre então, sendo menos denso e mais frio que a
vizinhança, a tendência será de retorno a sua posição inicial. Esta situação é
característica do que conhecemos como equilíbrio estável.
Portanto uma atmosfera na qual a temperatura decai 0,5 °C a cada 100 m de
elevação está em equilíbrio estável; todos os movimentos verticais são automaticamente
extintos uma vez cessada a causa que os gerou.

6.5. Variação anual da temperatura do ar


As variações temporal e espacial da temperatura do ar são condicionadas pelo
balanço de energia na superfície. Assim, todos os fatores que afetam o balanço de
energia influenciam também a temperatura do ar. Entre esses fatores destacam-se:

- na escala macroclimática: predominam os efeitos da irradiância solar, ventos,


nebulosidade, transporte convectivo de calor e concentração de vapor d’água na
atmosfera.
- na escala topoclimática: a exposição e configuração do terreno são os moduladores da
temperatura do ar e do solo;
- na escala microclimática: o fator condicionante é a cobertura do terreno.

A marcha anual da temperatura do ar depende da latitude (figura 20) e da


natureza da superfície sob a camada de ar em estudo.
A amplitude de oscilação anual da temperatura, isto é, a diferença entre as
temperaturas médias mensais do mês mais quente e do mês mais frio é muito pequena
nas regiões equatoriais, onde a elevação solar varia muito pouco ao longo do ano. As
oscilações anuais mais extremas ocorrem nas regiões polares.
Em latitudes medianas, as temperaturas médias mínima e máxima anuais
ocorrem após os solstícios de inverno e de verão respectivamente (julho e janeiro).
Nesta faixa um período de transição, claramente perceptível, ocorre entre o inverno e o
verão (primavera) e do verão para o inverno (outono), caracterizando as quatro estações
do ano. Uma vez que a distribuição de Terra e áreas marítimas não é uniforme, este
processo fica mais destacado na América do Norte e na Eurásia bem como no norte dos
oceanos atlântico e pacífico, sendo que a amplitude anual aumenta em locais distantes
de grandes corpos de água.
Em médias latitudes, no Hemisfério Sul, a marcha anual da temperatura, por
outro lado, reflete claramente o predomínio de duas estações mais contrastantes.
Observa-se que tanto as temperaturas máximas, médias e mínimas respondem
claramente à chegada de radiação solar à superfície, com valores consideravelmente
superiores nos meses de verão.
Além da marcha da temperatura, é importante, para fins agropecuários, a análise
de seus extremos e das amplitudes térmicas. Em geral, as áreas continentais e desérticas
apresentam amplitude e extremos térmicos mais pronunciados, contrastando com as
regiões marítimas e vegetadas, onde as temperaturas oscilam menos.
Figura 20. Temperaturas máxima, média e mínima para diferentes elevações. (a)
Botucatu 786 m.

Variação diária da temperatura do ar


Sob a condição de referência, observa-se que a temperatura máxima ocorre com
uma defasagem de 2 a 3 horas em relação ao horário de maior irradiância solar (12h),
enquanto que a temperatura mínima ocorre um pouco antes do nascer do solo, em
função do resfriamento noturno. Esse padrão pode ser alterado em função das condições
macroclimáticas vigentes, como por exemplo, a entrada de uma frente fria, ocorrência
de chuvas, etc.
Para nossas aplicações, as temperaturas do ar e do solo são expressas em valores
médios (horários, diários, mensais e anuais), valores extremos (máxima e mínima) e as
amplitudes correspondentes. Se torna mais exato quanto maior for o número de
observações no período considerado.
A formula oficial no território brasileiro foi obtida pelo INMET, se baseando em
medidas em estações convencionais em horários padronizados pela Organização
Mundial de Meteorologia (OMM), ou seja, as 9h, e as 21h, que correspondem as 12h e
as 24h GMT, completada por duas outras medidas correspondentes aos valores
extremos do dia.

T9 h  Tmax  Tmin  2T21h


Tmed  (8)
5

O Instituto Agronômico de Campinas (IAC) emprega na sua rede de estações


agrometeorológicas uma medida que corresponde a temperatura mínima (7h), uma
próxima da hora mais quente do dia (14h) e uma de um ponto intermediário (21h).

T7 h  T14 h  2T21h
Tmed  (9)
4

Outra fórmula muito comum é utilizar apenas os valores observados nos


termômetros de máxima e de mínima, pois a temperatura média esta neste intervalo.
Inicialmente, a idéia era calibrar essa fórmula com aquelas mais completas e utilizar
uma correção para que eles tivessem perfeito ajuste.

Tmax  Tmin
Tmed  (10)
2

Recentemente, com o desenvolvimento da microeletrônica, apareceram os


sensores de custo mais reduzido e com o atrativo de não necessitar de observador, e com
a possibilidade de acesso remoto as medidas em qualquer instante. Apareceram as
estações automobilizadas com intervalos bem reduzidos, aumentando a qualidade das
medidas e das estimativas dos valores médios.

Tmed 
T ar
(11)
N

Sendo que N representa o número de observações feitas (depende da programação do


sistema de aquisição de dados) e Tar é a temperatura de cada observação. É importante
notar que nesse caso, as observações são contadas entre as 0h e 24h, em função da
programação do sistema de aquisição automática dos dados.

Em muitas situações quando se planeja uma atividade agrícola, é importante


saber-se a temperatura média mensal de um local. A temperatura média mensal pode ser
calculada a partir das temperaturas médias diárias. No entanto, nem todos os locais
dispõem de posto meteorológico, e na falta de tais observações, pode-se estimar um
valor médio mensal normal (média de vários anos) pelas coordenadas geográficas. Pois
a temperatura do ar varia de acordo com a latitude (pela variação da irradiância global)
e pela altitude (variação da pressão), e em alguns casos com a longitude (efeito da
localização próxima ao litoral ou ao interior do continente).

Tmed  a  b  ALT  c  LAT  d  LONG (12)

Em que: Tmed é expressa em °C (média mensal); altitude em metros; latitude e


longitude, ambas em graus. Os parâmetros a, b, c e d são determinados por analise
estatística de regressão e variam entre as regiões.

Tabela 3. Valores dos coeficientes a, b, c e d na estimativa da Tmed para GO, MG e SP.

Coef. Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
Goiás
a 27,04 26,48 27,22 30,03 32,21 32,13 31,83 31,65 33,07 30,73 27,70 26,92
b -0,0043 -0,0046 -0,0048 -0,0049 -0,0050 -0,0043 -0,0049 -0,0061 -0,0051 -0,0048 -0,0055 -0,0056
c -0,0012 -0,0002 -0,0010 -0,0043 -0,0080 -0,0096 -0,0090 -0,0057 -0,0060 -0,0037 -0,0007 -0,0002
d - - - - - - - - - - - -
São Paulo
a 32,02 32,62 35,10 36,11 36,49 36,61 39,31 42,35 50,19 47,39 42,03 34,93
b -0,0063 -0,0060 -0,0061 -0,0058 -0,0056 -0,0051 -0,0053 -0,0055 -0,0054 -0,0059 -0,0064 -0,0063
c -0,0045 -0,0044 -0,0066 -0,0088 -0,0110 -0,0124 -0,0148 -0,0156 -0,0169 -0,0169 -0,0120 -0,0064
d - - - - - - - - - - - -
Minas Gerais
a 25,49 26,51 24,57 23,81 22,87 22,62 19,10 12,51 15,10 18,80 19,95 22,83
b -0,0056 -0,0055 -0,0054 -0,0051 -0,0047 -0,0048 -0,0051 -0,0049 -0,0051 -0,0055 -0,0054 -0,0055
c -0,0031 -0,0039 -0,0044 -0,0077 -0,0092 -0,0105 -0,0107 -0,0105 -0,0115 -0,0104 -0,0065 -0,0041
d 0,0019 0,0015 0,0026 0,0037 0,0038 0,0053 0,0053 0,0053 0,0085 0,0072 0,0051 0,0031
6.6. Temperatura do ar e produtividade vegetal
A temperatura do ar influencia diretamente a velocidade das reações químicas e
dos processos internos de transporte. Esses processos ocorrem de forma adequada
somente entre certos limites térmicos. A tolerância aos níveis de temperatura é variável
entre espécies e variedades. Plantas de clima tropical são sensíveis a baixa temperatura,
enquanto que plantas de clima temperado necessitam de temperaturas baixas para
produzirem.
O modelo de graus dia (GD) baseia-se no fato de que a taxa de desenvolvimento
de uma espécie vegetal está relacionado à temperatura do meio. O conceito de GD
pressupõe a existência de temperaturas basais (inferior – Tb e superior – TB) além dos
quais a planta não se desenvolve e se o fizer a taxas muito reduzidas. O GD admite que
entre a temperatura base inferior e a temperatura ótima a relação entre a temperatura do
ar e desenvolvimento é praticamente linear.
Cada espécie vegetal ou variedade possui suas temperaturas basais, as quais
podem variar ainda em função da idade da planta ou da fase fenológica da planta, sendo
tanto as temperaturas diurnas quanto noturnas igualmente importantes no
desenvolvimento vegetal. Para as condições do centro sul do Brasil as temperaturas não
chegam a atingir níveis elevados, não sendo usual, portanto, a adoção da temperatura
base superior (TB), considerando-se somente a inferior (Tb). Podemos calcular o GD
diário (GDi) através da seguinte relação:

GDi  Tmed  Tb (13)

em que: GDi é a temperatura média do ar em °C, no dia i.

Portanto para cada grau acima da Tb teremos um GD. Dessa forma a constante
térmica de uma cultura para que ela atinja uma de suas fases fenológicas ou a maturação
será dado pelo total de GDi acumulado ao longo da fase ou do ciclo:

n
CT   GDi (14)
i 1

Valores da constante térmica e Tb para diferentes espécies são apresentados na


Tabela 4. Essas informações são bastante úteis, possibilitando o planejamento de
plantio/semeadura, de colheitas, a escolha de variedades e o acompanhamento em
tempo real do desenvolvimento da cultura.

Existem inúmeras equações para estimativas dos graus-dias acumulados nas


fenofases das plantas. Uma das mais empregadas foi apresentada por Ometto (1981).

Caso 1: Tm  Tb ; TB  TM

GD 
TM  TB 2  (Tm  Tb ) (15)
2
Caso 2: Tm  Tb  TM ; TB  TM

GD 
TM  TB 2 (16)
2TM  Tm 
Caso 3: Tb  Tm ; TB  TM

2  (TM  Tm ) (Tm  Tb )  TM  Tm   (TM  TB ) 2


2
GD  (17)
2TM  Tm 
Caso 4: Tb  Tm ; TB  TM

1  TM  Tb   TM  TB  
2 2
GD     (18)
2  TM  Tm  

em que: TM = temperatura máxima média diária, (ºC); Tm = temperatura mínima média
diária, (ºC); Tb = temperatura mínima basal, (ºC); TB= temperatura máxima basal, (ºC).

Outro método bastante empregado, que permite uma correção em função do


brilho solar, foi apresentado por Barbieri et al. (1978):
Caso 1: TM  Tb  Tm

GD 
TM  Tb   TM  25
2 2
f n (19)
2TM  Tm 
Caso 2: Tb  Tm
  TM  Tm  TM  252 
GD  Tm  Tb     f n (20)
 2  2TM  Tm  
Sendo:
2
 N 
f    N (21)
 24 
em que: N = comprimento do dia em horas; TM = temperatura máxima média diária,
(ºC); Tm = temperatura mínima média diária, (ºC); Tb= temperatura mínima basal,
(ºC); n = número de dias do mês.

Dentre as principais limitações de alguns métodos estão:


- Suposição que Tb é constante durante o ciclo;
- Conceito de graus-dia dá mesma importância às temperaturas diurna e noturna;
- Conceito de graus-dia não diferencia a combinação primavera quente e verão
frio de primavera fria de verão quente;
- Não considera os seguintes fatores: fotoperíodo N, fertilidade do solo,
população de planta, tipo do solo, temperatura e umidade do Sol.
Tabela 4. Constante térmica e temperatura base para diferentes culturas.

Cultura Variedade/ Período/Sub-período Tb (°C) GDA


Cultivar (°C dia)
Arroz IAC4440 Semeadura-Maturação 12 1990
METICA-1 Semeadura-Maturação 10 1800
CICA-8 Semeadura-Maturação 10 1860
Abacaxi Rondon Florescimento-Maturação 10 2300
Cayenne Florescimento-Maturação 10 2020
Feijão - Semeadura-Maturação 10 1000-1200
Carioca 80 Emergência-Floração 3 813
Rio Tabagi Emergência-Floração -2 1005
Milho Cargill 805 Semeadura-Maturação 8 1140
BR 201 Semeadura-Maturação 10 1190
Agroceres 612 Semeadura-Maturação 10 1200
Pioneer 3041 Semeadura-Maturação 10 1170
Soja Santa Rosa Semeadura-Maturação 14 1275
Paraná Semeadura-Maturação 14 1030
Tomate - Semeadura-Maturação 7 700-800
Uva Niagara Rosada Poda-Maturação 10 1550
Itália/Rubi Poda-Maturação 10 1990
7. UMIDADE DO AR

Material adaptado de: VAREJÃO SILVA, M.A. Meteorologia e Climatologia.


Recife: Versão Digital, 463 p. 2006.

A umidade do ar é a água na fase de vapor que existe na atmosfera e representa


um fator determinante do nível e da qualidade de vida num ambiente. A existência de
água na atmosfera e suas mudanças de fase desempenham papel fundamental em vários
processos físicos naturais, tais como:
• Evaporação;
• Evapotranspiração;
• Absorção de diversos comprimentos de onda da radiação solar e terrestre;
• Transporte e distribuição de calor na atmosfera;

Exemplo I: Este exemplo ilustra de que forma o vapor d’água atua no transporte e
distribuição de calor na atmosfera (mudança de fase).

Libera 590 cal

(vaporização)
1 g de H2O 1 g de H2O 1 g de H2O
(fase líquida) (fase vapor) (condensação) (fase líquida)

Consome 590 cal

No campo da Agronomia, a presença de vapor d’água na atmosfera é igualmente


importante como condicionante de ocorrência e controle de pragas e moléstias vegetais
e animais, e também como determinante da qualidade, do armazenamento e da
conservação dos produtos agrícolas. No campo da Ecologia, a presença de vapor d’água
atua na prevenção nos riscos de incêndios em matas e florestas.
O conhecimento da quantidade de vapor d'água existente no ar é essencial em
vários outros ramos da atividade humana. Sabe-se, por exemplo, que a umidade
ambiente é um dos fatores que condicionam o desenvolvimento de muitos
microorganismos patógenos que atacam as plantas cultivadas e a própria transpiração
vegetal está intimamente relacionada com o teor de umidade do ar adjacente. Também é
conhecida a influência da umidade do ar na longevidade, na fecundidade e na taxa de
desenvolvimento de muitas espécies de insetos. Por outro lado, um dos parâmetros
utilizados para definir o grau de conforto ambiental para pessoas e animais é, também, a
umidade atmosférica reinante no local em questão. Finalmente, para não tornar a lista de
exemplos enfadonha, ressalta-se que a manutenção da faixa ótima de umidade do ar
constitui objeto de constante controle durante a armazenagem de inúmeros produtos.
O vapor d'água que surge na interface globo-atmosfera mistura-se ao ar por
difusão turbulenta, sendo rapidamente transportado pelas correntes aéreas.
Posteriormente, encontrando condições favoráveis, volta ao estado sólido ou líquido no
interior da própria atmosfera, ou em algum outro ponto da superfície, em geral muito
distante do local em que se originou. Por tudo isso, a concentração de vapor d'água no
ar é bastante variável, tanto no espaço como no tempo. Essa variação é, em geral, tanto
maior quanto mais próxima da superfície-fonte for a camada atmosférica que se
considere.

Vapor d’água na atmosfera

O teor d’água na atmosfera varia desde valores quase nulos em regiões


desérticas e polares até valores de 4% (em volume de ar úmido) nas regiões quentes e
úmidas. Desempenha também uma função de termorreguladora entre solo e atmosfera.
O ar atmosférico é composto de uma mistura de gases e vapores. Cada
constituinte atmosférico exerce uma pressão independente da presença dos outros, de tal
modo que a pressão total (atmosférica) é igual à soma das pressões de cada gás ou
vapor. Portanto, considera-se a pressão atmosférica (Patm) como sendo composta pela
pressão exercida por todos os constituintes atmosféricos exceto o vapor d’água (Par seco)
mais a pressão exercida pelo vapor d’água (ea), também conhecida como tensão de
vapor d’água, ou seja,

Patm  Par sec o  e a (1)

Unidades de pressão:
1 atm = 760 mmHg = 1013,3 mb = 1013,3 hPa = 101,33 kPa

A pressão parcial de vapor (ea) varia desde zero, para o ar totalmente seco, até
um valor máximo denominado de pressão de saturação de vapor d’água (es).

Tensão de saturação do vapor d’água

Um ambiente é dito saturado a uma determinada temperatura, quando possui a


quantidade máxima possível de vapor d'água àquela temperatura. Chama-se pressão de
saturação do vapor d'água, ou pressão saturante, à pressão máxima exercida pelo vapor
d'água. No caso da atmosfera, quando a quantidade de vapor atinge o máximo, diz-se
que o ar está saturado.
Pela Lei dos gases ideais, verifica-se que em condição de pressão constante, o
volume de uma massa de ar é diretamente proporcional à sua temperatura (PV = n R T).
Portanto, o volume de ar se contrai/expande com a variação da temperatura T. Esta
variação de volume impõe um limite à quantidade de vapor d’água que pode ser retida
pelo volume.
Quanto maior T, maior esta quantidade. Logo, a quantidade máxima (saturante)
de vapor d’água pode ser descrita por uma função da temperatura ambiente. A pressão
exercida pelo teor saturante de vapor d’água é representado por es e sua dependência
com T pode ser descrita pela equação de Tétens. A equação de Tetens é válida na faixa
de –50 °C a 100 °C.
Quando e = 0, o ar está seco; caso e = eS ou e = ei, o ar encontra-se saturado em
relação a uma superfície plana de água ou de gelo, respectivamente. Em qualquer outra
situação o ar é dito úmido.
Atingida a saturação, desde que a temperatura não se altere, nenhuma quantidade
adicional de vapor d'água pode ser incorporada ao ar. Qualquer tentativa nesse sentido
sempre provocará a passagem, à fase líquida ou sólida, de uma quantidade de vapor
igual ao excesso incorporado. Efeito semelhante é obtido quando se resfria uma amostra
de ar saturado, pois, quando a temperatura diminui, diminui também o valor da pressão
saturante.

Figura 1. Curva de saturação do vapor d'água. O ponto X(e, t) representa uma amostra
de ar úmido; A, B e C, três diferentes modos de se obter sua saturação; td é a
temperatura do ponto de orvalho.

7 , 5T

e s  4,58  10 237 , 5 T
em mmHg (2)

7 , 5T

e s  6,11 10 237 , 5 T
em mb (3)

7 , 5T

e s  0,611 10 237 , 5 T
em kPa (4)

Em que: T é a temperatura do ar em °C.

A saturação de uma amostra de ar úmido pode ser atingida por um dos seguintes
processos:
a - aumentando o teor de umidade (evaporando água no interior da amostra de
ar, por exemplo) à temperatura constante, até que a pressão parcial (e) atinja o
valor máximo possível àquela temperatura;
b - reduzindo a temperatura, sem acrescentar vapor d'água, até o ponto em que a
pressão parcial (e) torne-se saturante; e
c - combinando, simultaneamente, os processos anteriores.
Esses procedimentos podem ser claramente visualizados utilizando-se a curva de
saturação (Figura 1). O primeiro deles está representado pelo segmento de reta entre os
pontos X(e, t) e A, já que o valor da pressão parcial (e) aumenta isotermicamente.
O segundo processo corresponde ao segmento de reta de X(e, t) até B, indicando
um resfriamento isobárico (sem alteração do valor da pressão parcial do vapor), até
atingir a curva de saturação. Neste caso, o valor da pressão parcial não muda; apenas
busca-se a temperatura (td) para a qual esse mesmo valor torna-se saturante.
Uma outra evolução que unisse o ponto X(e, t) a qualquer outro ponto (C) da
curva, situado entre A e B, estaria representando um processo combinado (resfriamento
e umidificação simultâneos).

Temperatura do ponto de orvalho

O umedecimento isotérmico (processo a) não poderia continuar indefinidamente,


ultrapassando a curva de saturação. De fato, após a saturação ter ocorrido (ponto A da
Figura 1), qualquer acréscimo de vapor d'água iria apenas provocar condensação. Caso
se desejasse realmente colocar mais vapor d'água na amostra de ar, já saturada, seria
preciso seguir a curva de saturação (para a direita) e, portanto, aumentar a temperatura.
Quando a temperatura ambiente se eleva, cresce também o valor da pressão de
saturação do vapor, indicando que um maior número de moléculas d'água pode
permanecer no estado gasoso.
Considere-se, agora, o segundo processo (b): o resfriamento isobárico,
representado pelo segmento de reta unindo X(e, t) a B (Figura 1). Após atingida a
temperatura (td) em que a saturação acontece, qualquer resfriamento adicional deve ser
feito seguindo a curva de saturação (não o prolongamento da linha X(e, t) – B) e, isso,
implica reduzir o valor da pressão de saturação. Essa redução só se justifica pela
passagem de parte do vapor ao estado líquido (condensação), de modo que o valor
máximo da pressão de saturação à nova temperatura seja respeitado.
Evidentemente a condensação do "excesso" do vapor, provocado pelo
resfriamento, vai originar a formação de gotas d'água nas superfícies em contacto com
essa amostra de ar (formação de orvalho). Exatamente por isso td ou to é chamada de
temperatura do ponto de orvalho, à qual se deve resfriar o ar úmido para torná-lo
saturado, sem que se altere o valor inicial da pressão parcial do vapor nele contido.
Como se observa, a saturação, neste caso, é obtida apenas por resfriamento (sem
acréscimo algum de vapor d'água).
Qualquer amostra de ar que atinja sua temperatura do ponto de orvalho torna-se
saturada. Se, após atingir to, o resfriamento prosseguir, haverá formação de depósitos de
água nas superfícies mais próximas. É exatamente isto que explica a formação de gotas
d'água na superfície externa de um copo contendo uma bebida bem "gelada". Em
contato com a superfície arrefecida do copo, cuja temperatura é inferior à do ponto de
orvalho, parte do vapor d'água se condensa.
O hábito que certas pessoas têm de expirar seu hálito sobre a lente dos óculos
antes de limpá-las, é justificado do mesmo modo. O ar quente e úmido proveniente dos
pulmões resfria-se ao contacto com a superfície mais fria da lente, provocando a
condensação de vapor, haja vista que a temperatura da lente é inferior à do ponto de
orvalho do ar expirado. Um terceiro exemplo é a formação natural de orvalho sobre a
superfície das folhas e de corpos expostos ao ar livre. Durante a madrugada as
temperaturas dessas superfícies podem tornar-se inferiores à do ponto de orvalho,
advindo daí a condensação.
A determinação de to é feita a partir do valor da pressão parcial do vapor (e) presente na
amostra de ar. Uma vez que, pela definição de to, o valor da pressão parcial (e) não
muda durante o processo (a saturação acontece apenas por resfriamento), usa-se a
própria equação de Tétens, reajustada para se obter o valor de to.
 e 
237,5  Log a 
To   0,611 (5)
 ea 
7,5  Log 
 0,611

Caracterização da umidade atmosférica

Além da pressão parcial (e), há outras variáveis para quantificar o teor de vapor
d'água presente no ar, de uso mais corrente.

Razão de mistura (r)


A razão de mistura (r) do ar úmido, submetido a uma dada pressão atmosférica
(p) e temperatura (t), é o quociente entre a massa de vapor (mv) e a massa de ar seco
(ma) na qual o vapor está contido. De acordo com essa definição, tem-se:
m
r v (6)
ma

Conhecendo as massas moleculares do ar seco e do vapor d’água Ma/MV =


0,622, e retornando ao fato de que a pressão atmosférica e o somatório entre a pressão
exercida pelo ar seco e a pressão do vapor d’água (e), tem-se:
0,622  e
r (7)
pe

sendo r expresso em gramas de vapor por grama de ar seco quando a pressão parcial do
vapor (e) e a pressão atmosférica (p) são dadas nas mesmas unidades (mm Hg ou mb).

Sendo p >> e, essa expressão pode assumir a seguinte forma aproximada,


quando não se requer alta precisão:
0,622  e
r (8)
p

No caso do ar estar saturado, a razão de mistura saturante (rs) será dada por:
0,622  e s
rs  (9)
p  es

Tendo em vista que p >> eS, a seguinte forma aproximada pode ser útil em
estimativas que não requeiram precisão:
0,622  e s
rs  (10)
p

As expressões anteriores podem fornecer a razão de mistura em gramas de vapor


por quilograma de ar úmido, bastando que os respectivos numeradores sejam
multiplicados por 1000.
Umidade absoluta do ar

A quantificação da umidade atmosférica (vapor d’água contido na atmosfera) é


dada pela relação entre a massa de vapor pelo volume de ar, denominada massa
específica ou Umidade Absoluta (UA).
m
UA  v (11)
V

e pode ser calculada a partir da equação de estado dos gases ideais:

PV = nRT (12)

Esta equação, aplicada ao vapor d’água no ar, torna-se:

mV
ea V  RT (13)
MV

Substituindo a equação (11) em (13), teremos:

ea M V
UA  (14)
RT

Como Mv = 18g/mol, R = 0,082 atm.L mol-1 K-1, 1 m³ = 10³ L e 1 atm = 760 mmHg,
temos que a umidade absoluta UA é:

289  e a
UA  em g de vapor . m-³ (15)
273  T

Umidade de saturação do ar

Pode ser obtida da mesma forma inserindo-se es no lugar de ea:

ea es implica em UA US

Então:

289  e s
US  em g de vapor . m-³ (16)
273  T

Umidade relativa do ar

É definida pela razão entre a umidade absoluta UA e a umidade de saturação US:

UA
UR (%)   100 (17)
US
Combinando as equações (15) e (16) na equação (17). Neste caso, a umidade
relativa (U) do ar úmido, submetido a uma determinada temperatura (t), é traduzida
como o quociente entre a pressão parcial do vapor (ea) e a pressão de saturação (es)
àquela temperatura.
e
UR (%)  a  100 (18)
es

Essa expressão revela que a umidade relativa atinge 100 % quando o ar está
saturado (ea = es).
Fisicamente UR representa a fração da umidade máxima possível que já se
encontra preenchida. Note-se que, como es depende de t, mantendo-se constante a
pressão parcial do vapor (ea), a umidade relativa varia com a temperatura.
De fato, UR aumenta quando t diminui pois a diferença es - ea diminui, já que o
valor da pressão de saturação (es) tende a se aproximar do valor constante da pressão
parcial do vapor (ea). A recíproca é igualmente verdadeira: quando t aumenta, a
umidade relativa diminui à pressão parcial constante.

Déficit de saturação (D)

É obtido pela diferença entre US e UA, ou es e ea, que pode ser representado por:

D  US  UA 
289
e s  e a  em g m-3 (19)
273  T

Razão de mistura (W)

É dada pela razão entre a massa de vapor mv e a massa de vapor do ar seco mas:

M v Ve a
m M e
W  v  RT  v  a (20)
m as M as VPas M as Pas
RT

Como Pas = Patm – ea; Mv = 18 g mol-1 e Mv = 29 g mol-1, então

ea
W  0,622 (21)
Patm  e a

Em que o índice “as” representa os demais gases atmosféricos (ar seco).

Umidade especifica (q) é dada por:

mv mv 1 1 W 0,622  e a
q     
m u m v  m as m 1 W  1 0,622  e a  Patm  e a
1  as 1 
mv W
0,622  e a
q (22)
Patm  0,378  e a

Cálculo da Umidade do ar

Há três métodos de se calcular a umidade do ar: tabular, analítico e gráfico. O


método gráfico consiste na utilização do psicrômetro. A Psicrometria é o estudo
termodinâmico do vapor d’água na atmosfera.
O psicrômetro (Figura 2) é constituído de dois termômetros, sendo um, com
bulbo seco, que mede a temperatura real do ar, e outro, com o bulbo envolto em uma
gaze sempre umedecida, que mede o poder evaporante do ar. Quanto maior a diferença
entre essas temperaturas, maior o poder evaporante do ar, indicando que a concentração
de vapor d’água na atmosfera está distante do valor saturante, isto é, que a UR é baixa.

Figura 2. Generalização de um psicrômetro.

Quando as temperaturas desses termômetros se aproximam significa que o teor


atual de vapor d’água está próximo do valor de saturação, ou seja, a UR é alta.
A pressão parcial de vapor d’água, ou seja, a pressão exercida por uma
quantidade de vapor existente num certo instante, pode ser determinada pela equação
psicrométrica:

e a  e su  AP Ta  Tu  (23)

sendo esu a pressão de saturação de vapor d’água à temperatura de bulbo molhado, em


kPa; P é a pressão atmosférica local, em kPa; Ta a temperatura do bulbo seco, Tu a
temperatura do bulbo molhado, ambas em °C; e A é um coeficiente psicrométrico.

Para psicrômetros com ventilação forçada A = 0,00067 °C-1, e para psicrômetros


não ventilados (em abrigo meteorológico com ventilação natural) A = 0,00080 °C-1.

O valor de esu é determinado fazendo-se T = Tu na equação de Tétens (4).


Exemplo I: Calcule a tensão de vapor d’água e a umidade relativa (UR) para uma
localidade que apresenta pressão atmosférica de 720 mmHg e temperaturas de bulbo
úmido Tu = 16,2 °C e bulbo seco Ts = 18 °C. de um psicrômetro com ventilação forçada
( A = 0,00067 °C).

Temperatura do bulbo úmido = 16,2 °C

7 , 516, 2

e su  0,611 10 237 , 516, 2


= 1,841 kPa

A pressão atmosférica apresentada foi 720 mmHg, que equivale a 95,997 kPa. Assim,
podemos determinar a pressão parcial de vapor d’água.

e a  1,841 0,00067 95,99718  16,2 = 1,725 kPa

A umidade relativa dependerá da obtenção de es.

7 , 518

e s  0,611 10 237 , 518


= 2,063 kPa

1,725
UR   100 = 83,62%
2,063

Variação temporal da Umidade do ar

Quando o parâmetro utilizado é a umidade relativa não se pode esquecer,


também, sua dependência em relação à temperatura. Um aumento, ou redução, da
umidade relativa não significa ter havido uma mudança na concentração de vapor
d'água do ar. A alteração na umidade relativa pode advir exclusivamente de alteração na
temperatura ambiente. A umidade relativa do ar aumenta quando a temperatura diminui
e vice-versa. Como conseqüência desse efeito, deve-se esperar que a umidade relativa
diminua, a partir do nascimento do Sol, atingindo o valor mínimo nas horas mais
quentes do dia, voltando a aumentar em seguida, apenas por efeito térmico. Esse é o
comportamento esperado e normalmente observado. No entanto, pode ser bastante
modificado sob situações atmosféricas capazes de alterar a temperatura, a razão de
mistura, ou ambas.
A tendência de variação temporal de umidade relativa do ar está relacionada ao
fato de a pressão parcial de vapor (ea) varia pouco durante o dia, mas a pressão de
saturação de vapor (es) varia exponencialmente com a temperatura do ar durante as 24
horas do dia. Assim, a UR terá tendência de evolução inversa à da temperatura do ar.
Essa relação entre T e UR pode ser vista na Figura 3.
Nas horas mais quentes do dia a UR atinge seu valor mínimo. Quando T tende
ao valor mínimo, a UR tende à saturação (100%). Em condições naturais é muito difícil
ocorrer supersaturação, e próximo à superfície quando a UR ultrapassa 95%, ocorre
deposição de orvalho.
Figura 3. Evolução diária da temperatura e umidade relativa do ar.

Figura 4. Evolução mensal da temperatura e umidade relativa do ar.


8. PRECIPITAÇÃO

Introdução

Nas regiões tropicais, a chuva, ou precipitação pluviométrica, é a forma


principal pela qual a água retorna da atmosfera para a superfície terrestre após os
processos de evaporação (evapotranspiração) e condensação, completando, assim, o
ciclo hidrológico. A quantidade e a distribuição temporal de chuvas que ocorre
anualmente numa região determinam o tipo de vegetação natural e também o tipo de
exploração agrícola possível.

8.1. Condensação na atmosfera

O vapor d’água sofrendo um resfriamento por um processo qualquer, libera uma


quantidade de energia intrínseca a ele, na forma de calor latente de condensação
passando ao estado liquido, estado que vai dar origem aos diferentes gêneros de nuvens.
Na sua passagem ao estado liquido, ocorre a necessidade de uma superfície de
contato, e, no caso de uma parcela de ar úmido livre na atmosfera, essas superfícies são
chamdos núcleos de condensação. Os núcleos de condensação são partículas
higroscópicas, que se encontram em suspensão no ar atmosférico.
O NaCl, de origem marítima, é o mais abundante, visto que dois terços da
superfície terrestre é coberta por oceanos. Essas partículas se caracterizam por serem
moderadamente higroscópicas, existindo a necessidade da umidade relativa estar ao
redor de 97% a 98% para iniciar a condensação, sendo em decorrência dessa condição, a
generalização do início da condensação quando UR alcança 100%.
Outros tipos de núcleos de condensação importantes são os óxidos de enxofre e
fósforo, especialmente ácido sulfúrico anidro, colocados na atmosfera por intermédio de
chaminés industriais, em regiões de alta poluição atmosférica. Esses núcleos são
responsáveis pelos intensos nevoeiros em áreas de grande concentração industrial e
aparecem quando UR estiver em torno de 80%.
Experiências demonstraram que partículas de poeiras não reagem eficientemente
como núcleos de condensação nas condições atmosféricas normais, sendo consideradas
partículas neutras. Na baixa atmosfera (troposfera), encontram-se de 2000 a 5000
núcleos de condensação por centímetro cúbico de ar. Os raios mais freqüentes oscilam
entre 10-4 a 10-6 μm, sendo os mais ativos no processo em torno de 10-5 μm.

Além da presença de núcleos de condensação, o vapor d’água na atmosfera


condensa-se quando as condições tendem à saturação, o que pode ocorrer de duas
maneiras:

a) Pelo aumento da pressão de vapor d’água devido à evaporação e transpiração – na


natureza isto ocorre quando uma massa de ar frio aproxima-se de uma superfície aquosa
relativamente mais quente, ocasionando uma rápida evaporação da superfície, saturando
o ar frio. A condensação resultante constitui uma espécie de vapor visível, chamado de
nevoeiro de advecção e ocorre sobre superfícies de lagos e rios em madrugadas de
inverno.
b) Por resfriamento do ar úmido até a temperatura do ponto de orvalho, mantendo a
tensão atual de vapor d’água constante.

Na realidade, esses dois processos podem ocorrer simultaneamente, mas na


natureza, o segundo é bastante efetivo em promover a formação do orvalho e de nuvens.
No caso destas últimas, a formação ocorre quando parcelas de ar úmido sobem e se
resfriam adiabaticamente, devido à expansão interna causada pela diminuição da
pressão atmosférica. As taxas de decréscimo da temperatura da parcela com a elevação
em altura recebe o nome de Gradiente Adiabático, sendo representado pelo símbolo Ί.
No processo adiabático, a variação de temperatura ocorre somente pelo efeito de
variação da pressão, sem que ocorra trocas de energia com o ambiente externo à parcela.
Os valores de Ί variam em função da umidade presente na parcela de ar, assumindo
extremos de cerca de 0,98 oC/100m, no caso do ar seco, e –0,4 oC/100m, quando o ar
está saturado.
O gradiente térmico da atmosfera como um todo (Gradiente Real Observado,
ΊRO) é variável, situando-se em torno de –0,6 oC/100m. Dependendo do gradiente
adiabático das parcelas que sobem, em comparação ao ΊRO, os movimentos convectivos
térmicos são favorecidos (atmosfera instável) ou não (atmosfera neutra ou estável).
No primeiro caso, pode ocorrer formação de nuvens quando, ao se elevar, a
parcela úmida atinge a temperatura do ponto de orvalho (nível de saturação da parcela).
Outra forma de ocorrer condensação é quando uma parcela de ar úmido é forçada a se
elevar devido ao relevo (efeito orográfico), ou devido ao encontro com outra massa de
ar mais fria (efeito de frentes frias).

8.2. Formação da Chuva


O processo de condensação por si só não é capaz de promover a precipitação,
pois são formadas gotas muito pequenas, denominadas elementos de nuvem (diâmetro
em torno de 100 μm), que permanecem em suspensão sustentada pela força de flutuação
térmica. Para que haja precipitação, deve haver a formação de gotas maiores (elementos
de precipitação, com diâmetros de 2 mm), e isto ocorre por coalescência das pequenas
gotas, de forma que a ação da gravidade supere a força de sustentação, promovendo a
precipitação.
A coalescência é resultado de alguns fatores que ocorrem dentro da nuvem.
Quanto mais intenso for a movimentação dentro da nuvem, maior será a probabilidade
de choque entre as gotas, resultando em gotas sempre maiores, até o limite da tensão
superficial.

3.1. Diferenças de temperatura entre os elementos das nuvens: essa condição propicia
a formação de um gradiente de pressão de vapor sobre as superfícies das partículas, em
que as mais energéticas tendem a se dirigir para as menos energéticas. Quanto mais
baixa a energia da gotícula (baixa temperatura) menor a sua pressão de vapor
superficial. Isto resulta na tendência de aumento do tamanho das gotículas menos
energéticas (mais frias).

3.2. Diferenças de tamanho entre os elementos das nuvens: estabelece-se um gradiente


de tensão superficial, pois, quanto maior o raio da partícula menor é a sua tensão
superficial. Nesse caso, a diferença entre tensões superficiais, estabelece uma tendência
de movimento das menores partículas em direção as maiores, e quanto maior a diferença
de tamanho entre partículas maior a velocidade desse fluxo.
8.3. Movimentos turbulentos dos elementos de nuvens: em decorrência da quantidade
de movimento (momentum) adquirida pela massa de ar em ascensão, obtida através da
variação da sua energia interna (expansão) a parcela de ar alcança o nível de
condensação. Inicia-se o processo da condensação e a massa de ar continua em
ascensão, carregando consigo vapor d’água e gotículas d’água para diferentes níveis.
Dependendo da intensidade do processo essas gotículas alcançam o ponto de
congelamento, passando ao estado sólido, na forma amorfa (granizo).
Se mais intenso ainda o processo, o vapor d’água não condensado alcança o
ponto de sublimação, passando ao estado sólido, na forma cristalina (neve).
Independentemente da intensidade do processo existem movimentos turbulentos
dentro da nuvem. Essa condição estabelece choques entre as partículas, sendo que as
maiores partículas absorvem as menores.

3.4. Existência de cargas elétricas entre os elementos de nuvens: o processo de


turbulência no interior da nuvem pode ocasionar, em partículas de aproximadamente a
mesma massa e com diferentes quantidades de movimento, o fenômeno do atrito, sem
necessariamente fusão. Pode ocorrer a ionização possibilitando o aparecimento de
cargas elétricas estáticas no interior da nuvem. Começa a aparecer entre as partículas da
nuvem uma nova força de atração (eletrostática). A partícula de menor massa, vem em
direção das de maior massa, ocasionando o aumento das gotículas.

8.4. Tipos de chuvas

Os tipos de chuvas se caracterizam pela sua origem. Assim, existem chuvas


geradas por passagem de frentes, por convecção local, e por efeitos orográficos
(montanhas).

4.1 Chuvas Frontais e Não-Frontais


Estão associadas com o movimento de massas de ar de regiões de alta pressão
para regiões de baixa pressão. Essas diferenças de pressões são causadas por
aquecimento desigual da superfície terrestre. Podem ser classificadas como frontal ou
não frontal.

a) Frontal: tipo mais comum, resulta da ascensão do ar quente sobre o ar frio na zona de
contato entre duas massas de ar de características diferentes. Se a massa de ar se move
de tal forma que o ar frio é substituído por ar mais quente, a frente é conhecida como
frente quente, e se por outro lado, o ar quente é substituído por ar frio, a frente é fria. A
Figura 1 ilustra um corte vertical através de uma superfície frontal.
Na grande maioria dos casos, a massa quente e úmida (mais leve) tende a se
elevar, resfriando-se adiabaticamente, isto é, sem trocas de calor com o meio adjacente.
Nesse processo forçado de subida da massa úmida ocorre a condensação. As chuvas
frontais caracterizam-se por intensidade moderada a fraca, longa duração (dias), e sem
horário predominante para sua ocorrência.

b) Não Frontal: é resultado de uma baixa barométrica, neste caso o ar é elevado em


conseqüência de uma convergência horizontal em áreas de baixa pressão.
As precipitações ciclônicas são de longa duração e apresentam intensidades de
baixa a moderada, espalhando-se por grandes áreas. Por isso são importantes,
principalmente no desenvolvimento e manejo de projetos em grandes bacias
hidrográficas.

Figura 1. Modelo de uma frente fria, frente quente e frente oclusa, com o conjunto de
nuvens associados.

4.2 Chuvas Convectivas


Originam-se de nuvens formadas a partir de correntes convectivas (térmicas) que
se resfriam adiabaticamente ao se elevarem, resultando em nuvens de grande
desenvolvimento vertical (cumuliformes). As chuvas convectivas se caracterizam por
forte intensidade, mas curta duração, podendo ocorrer descargas elétricas, trovoadas,
ventos fortes, e granizo, predominando no período da tarde e à noite, quando a força
gravitacional supera a força de sustentação térmica.
As chuvas convectivas, também conhecidas como chuvas de verão, por terem
maior intensidade, apresentam grande potencial de danos, especialmente no aspecto de
conservação do solo, visto que muitas vezes sua intensidade supera a velocidade de
infiltração da água no solo. Isso gera escoamento superficial, que aumentando a
quantidade de movimento, poderá causar erosão do solo, desde que outros fatores como
cobertura do solo, teor de umidade, e declividade também contribuam.

Figura 2. Chuva de convecção.

4.3 Chuvas Orográficas


Chuvas orográficas ocorrem em regiões montanhosas, onde o relevo força a
subida da massa de ar. Essa subida forçada é equivalente ao processo de convecção
livre, resultando nos mesmos fenômenos daquela situação. Devido aos ventos, o ar sobe
pela encosta resfriando-se adiabaticamente, com condensação e formação de nuvens
tanto cumuliformes como estratiformes. Nessa situação, um lado da montanha
geralmente é mais chuvoso que o outro, resultando na chamada Sombra de Chuva.

Figura 3. Chuva orográfica.

8.5. Medidas da precipitação pluviométrica

Um índice de medida de chuva é a altura pluviométrica, que vem a ser a altura


de água precipitada, expressa em milímetros (mm). Essa altura pluviométrica (h) é
definida como sendo o volume precipitado por unidade de área horizontal do terreno, ou
seja,

1 litro de água 1000 cm3


h   0,1 cm  1 mm de chuva (01)
1 m 2 de terreno 10000 cm2
Isso indica que uma chuva de 15 mm de altura de água, significaria em toda uma
superfície plana e impermeável, a retenção desses 15 mm de altura de água.
Por exemplo: uma chuva de 15 mm de altura propiciou para um hectare (10.000
m²), o volume de 150.000 litros.

Outro índice de expressão da chuva é a intensidade (i), definida como a altura


pluviométrica por unidade de tempo:

h
i (02)
t

podendo “i” ser expresso também em mm/min. Esse índice tem aplicação em
dimensionamento de sistemas de drenagem e conservação do solo, tanto para a
agricultura como para a construção civil.

Por conseguinte, a duração da precipitação é o período de tempo contado desde


o início até o fim da precipitação (h ou min).
O equipamento básico de medição da chuva é o Pluviômetro (Figura 4), que é
constituído de uma área de captação (≥ 100 cm2) e de um reservatório onde a água da
chuva é armazenada até o momento da leitura.

Figura 4. Esquema geral de um pluviômetro e proveta pluviométrica.

A instalação desse equipamento é a 1,5m de altura, devendo a área de captação


(boca) estar bem nivelada. A coleta dos dados normalmente é feita todos os dias às 7
horas, no posto agrometeorológico convencional.
Existem basicamente três processos para quantificar a água acumulada em um
pluviômetro: usar uma proveta especialmente graduada, uma régua, ou uma balança.
Uma proveta capaz de indicar a quantidade de água acumulada em um dado
pluviômetro, diretamente em milímetros de precipitação (1 m-2), deverá possuir a
graduação da escala considerando sua área de secção reta, bem como a do coletor do
pluviômetro. Desse modo, uma dada proveta pluviométrica somente pode ser usada em
instrumentos que tenham área de captação igual àquela considerada para definir a sua
escala.
Sendo R o raio da secção reta do bordo do coletor, o espaçamento entre cada
intervalo da escala, equivalente a 1 mm de precipitação, é dado por (R/r)2, em que r é o
raio da secção reta da proveta.
Buscando maior precisão nas leituras, quando acontecem precipitações de
pequena magnitude, as provetas pluviométricas possuem fundo cônico, tornando maior
o espaçamento entre os traços da escala equivalentes aos primeiros décimos de
milímetro.
Para efetuar a determinação da chuva, a água acumulada no reservatório do
pluviômetro deve ser previamente transferida à proveta. A quantidade de precipitação é
indicada, sobre a escala, usando-se como referência o plano tangente ao menisco da
coluna líquida, mantendo-se a proveta perfeitamente a prumo.
Uma régua pluviométrica é uma escala que se mergulha verticalmente no
vasilhame contendo a água oriunda do pluviômetro. As réguas pluviométricas são
confeccionadas em material de baixa capilaridade. Na graduação da escala de uma
régua pluviométrica são levadas em conta as áreas das secções retas do vasilhame (π r2),
da própria régua (s) e do coletor (πR2). A distância (h) entre dois traços consecutivos da
escala, equivalentes à variação de 1mm de precipitação, será:

R 2
h

r 2  s  (03)

O terceiro método de se de terminar a precipitação é por pesagem da água


coletada. Embora muito mais exato, exige uma balança de precisão.

Se o pluviômetro tiver um sistema de registro contínuo da quantidade e da hora


de ocorrência de chuvas, então ele é denominado pluviógrafo. Esses registradores de
precipitação também estão dotados de um coletor que apara o produto das precipitações
e o transfere à unidade sensível. Possuem, ainda, um mecanismo de registro capaz de
traçar a curva representativa da evolução da chuva com o tempo, sobre um diagrama
apropriado: o pluviograma (Figura 5). Nestes a escala horizontal corresponde ao tempo
e a vertical é graduada em milímetros de lâmina d'água.

Figura 5. Pluviógrafo de bóia e respectivo esquema de registro e acumulação de água. A


linha A-B corresponde a uma sifonagem; as horas estão indicadas no alto; a escala
vertical está em milímetros pluviométricos.

Nesses pluviógrafos de bóia a água que procede do coletor é acumulada em uma


cisterna cilíndrica, provida de uma bóia e de um sifão. A acumulação da água na
cisterna desloca a bóia para cima e uma haste solidária a ela move o sistema de
alavancas que aciona a pena registradora. Quando a cisterna enche, o sifão entra em
funcionamento, esvaziando-a, o que faz retornar a pena ao nível zero da escala gravada
no pluviograma. Deve-se notar que, nos pluviógrafos desse tipo, toda a precipitação que
se verifica durante o intervalo de tempo necessário à sifonagem, deixa de ser
computada.

Nas estações automáticas, o registro é contínuo obtendo-se valores de


intensidade e altura total diária das 0 às 24h. Neste caso o pluviômetro é dotado de um
sensor eletrônico em forma de báscula, que possibilita resolução de 0,1mm.
No caso do pluviógrafo basculante a água oriunda do coletor cai em um
recipiente de perfil triangular, dividido em dois compartimentos, simétricos em relação
ao eixo transversal que o apóia (Figura 6). Apenas um dos compartimentos recebe água
de cada vez. Quando esse compartimento enche, o recipiente como um todo tomba para
o lado e a água nele contida escoa, enquanto o outro compartimento passa a encher.
O movimento em báscula do recipiente alterna o enchimento dos
compartimentos. Nesse tipo de pluviógrafo, há um erro instrumental que pode ser
apreciável, especialmente quando a precipitação for intensa. De fato, o recipiente
consome um certo tempo para se mover e, durante a metade dele, a água continua a cair
no compartimento que, estando cheio, começa a se esvaziar. Essa água, portanto, não é
levada em conta para fins de registro.
Na parte inferior do recipiente há uma haste que sustenta um ímã. Este se move
sobre uma ampola na qual há um interruptor magnético. Assim, o movimento do
recipiente desloca o ímã para a esquerda ou para a direita e sua passagem acima da
ampola aciona o circuito elétrico que faz movimentar a pena registradora a qual traça
sobre o pluviograma, não uma curva contínua, mas uma série de degraus. Aliás, esta é
outra desvantagem dos pluviógrafos do tipo basculante: seu registro é discreto.

Figura 6. Unidade sensível do pluviógrafo basculante. Quando o recipiente oscila, o ímã


passa sobre a ampola de vidro e atrai um dos terminais do interruptor, fechando o
circuito.

A construção de um pluviômetro pode ser simples, podendo ser feito com um


garrafão e um funil coletor. É fundamental que a boca do funil esteja nivelada
horizontalmente. Conhecendo-se a área de captação do funil e o volume coletado a cada
chuva, em cm2, determina-se a altura pluviométrica pela relação:

Volume coletado
h (04)
área da boca do funil
8.6. Critérios para obtenção de dados de precipitação

Para uma grande área, e como a precipitação é um elemento meteorológico


aleatório, a representatividade de um pluviômetro é muito baixa. Isto devido também a
topografia do terreno, vegetação e características da chuva. Para tanto, é conveniente
que haja diversos coletores, distribuídos pelo terreno. A partir daí é necessário
estabelecer alguns critérios de análise.

6.1. Método aritmético


A maneira mais simples de se determinar o valor médio provável da
precipitação, dada pela média aritmética entre os coletores.

h
P  P  P 1 2  P3  ...  Pn
(05)
N N

em que: P é a precipitação em cada ponto; N é o número de pontos observados.

6.2. Método de Thiessen


Esse método subdivide a área da bacia em áreas delimitadas por retas unindo os
pontos das estações, dando origem a vários triângulos. Traçando perpendiculares aos
lados de cada triângulo, obtêm-se vários polígonos que encerram, cada um, apenas um
posto de observação. Admite-se que cada posto seja representativo daquela área onde a
altura precipitada é tida como constante. Cada estação recebe um peso pela área que
representa em relação à área total da bacia. Se os polígonos abrangem áreas externas à
bacia, essas porções devem ser eliminadas no cálculo.
Se a área total é A e as áreas parciais A1, A2, A3, etc., com respectivamente as
alturas precipitadas P1, P2, P3, etc., a precipitação média será dada por:

h
P A n n

P1A1  P2 A 2  P3 A 3  ...  Pn A n
(06)
AT A1  A 2  A 3  ...  A n

A Figura 7 representa os polígonos do método de Thiessem na área e os dados


da tabela abaixo representam um exemplo de cálculo com as precipitações observadas e
as áreas de influência de cada posto de observação:
Figura 7. Ilustração dos polígonos de Thiessem.
(1) (2) (3) (4) (5)
Precipitações Área do Percentual da Decimal de Precipitação
observadas Polígono (km²) área total (%) AT ponderada (1 x 4)
68,0 10,9 22,76 0,228 15,50
50,4 12,0 25,05 0,251 12,65
83,2 7,6 15,87 0,159 13,23
115,6 8,2 17,12 0,171 19,77
99,5 9,2 19,21 0,192 19,10
Total 47,9 100 80,25

Pelo quadro acima, temos:

- Pelo método aritmético: Pm = 83,34 mm

- Pelo método de Thiessem: Pm = 80,25 mm

6.3. Preenchimento de falhas

Muitas observações pluviométricas apresentam falhas em seus registros devido à


ausência do observador ou por defeitos no aparelho. Entretanto, como há necessidade de
se trabalhar com dados contínuos, essas falhas devem ser preenchidas.
Existem vários métodos para se processar o preenchimento, todavia, os dois
métodos só devem ser utilizados em regiões hidrologicamente homogêneas, isto é,
quando as precipitações normais anuais dos postos não diferirem entre si em mais de
10%. Para isso devem ser consideradas séries históricas de no mínimo 30 anos.

a) Regressão Linear: explica o comportamento de uma variável em função de outra.

P2  a  b P1 (07)

A estima a precipitação no posto B a partir do valor de precipitação no posto A.


Os coeficientes da equação linear (a e b) podem ser estimados plotando-se os valores de
precipitação de dois postos em um papel milimetrado ou com a utilização do método
dos mínimos quadrados.

b) Média aritmética entre os postos vizinhos:

P4 
1
P1  P2  P3  ...  Pn  (08)
n

8.7. Variabilidade temporal e espacial da precipitação pluviométrica

A distribuição das precipitações é declaradamente irregular durante o ciclo anual


e também varia de local para local. A variação temporal pode ser observada na Figura 8,
que representa os totais mensais de precipitação pluvial para Botucatu/SP, enquanto que
a variação espacial pode ser observada na Figura 9, que apresenta as precipitações
média mensais para diferentes estados brasileiros.
Figura 8. Evolução mensal da precipitação pluviométrica em Botucatu, SP. (normal
climatológica).

Figura 9. Curso anual da precipitação média mensal em alguns estados brasileiros.


9. CLASSIFICAÇÃO CLIMÁTICA

9.1. Considerações iniciais

Na climatologia tradicional ou separatista, os elementos do tempo são: a


temperatura do ar, a pressão atmosférica, a umidade e as precipitações, o vento, a
insolação e a nebulosidade. Cada elemento é considerado de forma isolada dos outros,
perdendo o contato com a realidade, pois não leva em conta a interação dos elementos
meteorológicos, e sim considera a média dos elementos. Sabemos que a média está
longe de retratar a realidade, principalmente no que se referir aos elementos do clima.
Por exemplo: duas cidades podem apresentar a mesma média de temperatura e
de precipitação, além de apresentar uma dinâmica climática distinta uma da outra,
levando em conta a distribuição da pluviosidade ao longo das estações do ano e as
oscilações da temperatura.
Já a climatologia dinâmica, ao invés de separar os elementos do tempo, tem
como princípio essencial os tipos de tempo e cada tipo é analisado em seus elementos
constitutivos. No entanto, essa climatologia apresenta algumas dificuldades de ordem
prática, pois a rede meteorológica é pouco densa nas várias regiões do globo terrestre.
Essa climatologia relaciona todos os elementos e fatores com a dinâmica das massas de
ar (circulação atmosférica) e suas respectivas características, além de relacioná-los com
o meio biótico (ecossistema).
A climatologia dinâmica é distinta da meteorologia em função dos métodos de
investigação e dos objetivos. A meteorologia se preocupa por massas de ar e frentes
como problemas individuais, já a climatologia dinâmica usa circulação atmosférica para
explicar um determinado fenômeno climático persistente num local ou região. Essa
análise é feita a partir de cartas sinóticas da região num maior período de tempo
possível (representatividade).
No exemplo a seguir, pode ser observada a junção das duas classificações: a
classificação climática de Arthur Stralher (baseada na dinâmica das massas de ar) e a
classificação climática de W. Köppen (baseada nos elementos climáticos)

“Clima Tropical Úmido ou Chuvoso (equatorial). Ocorre em áreas de baixas


latitudes, como no Amazonas. As temperaturas são elevadas e as precipitações
abundantes na maior parte do ano. As amplitudes térmicas anuais são baixas (inferior
a 3°C) e a evaporação muito elevada. A vegetação é rica e exuberante, do tipo perene,
higrófila e latifoliada como a floresta Amazônica".

Em 1970, na Europa, já era comum entre os geógrafos a adoção do método


tradicional de classificação climática "Método de Köppen". No Brasil, a utilização dessa
metodologia é praticada principalmente pelo Instituto de Geografia e Estatística (IBGE)
e outros órgãos estaduais ou estatais, Secretaria de Estado da Agricultura e do
Abastecimento, Instituto de Terras e Floresta.
Algumas definições de “tempo”:

"Tempo é o conjunto de valores que, num dado momento, caracteriza o estado


atmosférico" (Moreira, 1985);
"Tempo atmosférico é algo momentâneo, que varia constantemente" (Vesentini, 1995);
"Tempo atmosférico é uma combinação passageira dos elementos do clima" (Adas,
1985);
"Tempo atmosférico são as condições atmosféricas de um determinado lugar em um
dado momento" (Coelho, 1996);
"Tempo é o conjunto de valores que, em um momento dado e em um lugar determinado,
caracteriza o estado atmosférico" (Albert Baldt, citado por Pédelaborde, 1970).

As definições são bastante homogêneas, sendo que em todas as definições há


uma certa preocupação em caracterizar o instante, o momento, as combinações
instantâneas. É interessante adotarmos o tempo (tempo = duração) de um dia ou até de
alguns dias, dependendo da estação do ano e da dinâmica das massas de ar, pois o que
causa algumas alterações na paisagem é o ritmo, a dinâmica, ou seja a sucessão dos
estados do tempo.
Algumas definições para “clima”:

“Clima é a sucessão habitual dos tipos de tempo"( Adas, 1992);


"Clima é a sucessão habitual dos tipos de tempo de um determinado local da superfície
terrestre" (Vesentini,1990);
"Clima é a sucessão dos estados da atmosfera em determinado lugar da superfície da
Terra" (Moreira, 1985);
"Clima é a sucessão habitual dos tipos de tempo num determinado lugar da superfície
terrestre" (Coelho, 1996);
"Clima é o conjunto dos fenômenos meteorológicos que caracteriza o estado médio da
atmosfera em um ponto da superfície da Terra" (Julius Hann citado por – Pédelaborde,
1970)

Esta é a definição aceita e que foi utilizada durante o século XIX, e está sendo
usada atualmente (definição utilizada na classificação tradicional); A definição de Julius
Hann foi a utilizada por Willian Köppen em sua metodologia de classificação climática
(método de Köppen). Ele considera os dados a partir de suas médias, quer dizer, uma
abstração desconectada da realidade, pois os elementos do tempo interagem entre si no
tempo e no espaço e não são elementos estáticos.

9.2. Classificação climática

Uma região climática é caracterizada por uma certa área da superfície da Terra
Sobre a qual os efeitos combinados de diversos fatores resultam em um conjunto de
condições climáticas aproximadamente homogêneas. Para facilitar a descrição e
proceder ao mapeamento das regiões climáticas, é necessário identificá-las e classificá-
las em diferentes tipos. A climatologia regional dedica-se a essa tarefa e para isso
utiliza-se de técnicas analíticas e descritivas.
A classificação climática tem como objetivo a definição dos limites geográficos
dos diferentes tipos de clima que ocorrem em todo mundo, sendo considerado um
estudo básico para áreas afins. As classificações climáticas possuem três objetivos que
se inter-relacionam: ordenar grande quantidade de informações; facilitar a rápida
recuperação; e facilitar a comunicação. Para isso, faz-se a descrição e mapeamento das
regiões climáticas, necessitando-se identificá-las e classificá-las em diferentes tipos.
O número de elementos que devem ser combinados em uma determinada
classificação climática depende do propósito a que ela se destina. Por exemplo, uma
classificação climática baseada em temperaturas críticas e limites de umidade é
satisfatória para o crescimento de certas plantas ou para organismos animais, mas não
para fins de previsão do tempo, sendo assim portanto, primordial identificar o fim a que
se destina essa classificação.
Pode-se adotar três enfoques na realização das classificações climáticas:

a) Empírico: apoia-se na configuração climática observada, que pode ser baseada em


um único elemento climático ou na combinação de vários elementos. O critério da
temperatura, por exemplo, deve produzir tipos climáticos, como quente, frio, temperado
etc., que podem ser definidos por limites puramente matemáticos.

b) Genético: classificações climáticas de acordo com os fatores causais, reconhecendo


as relações causais entre latitudes e temperaturas. Ao lado da latitude, configurações da
circulação geral, efeitos dos oceanos e continentes, barreiras montanhosas e altitudes
são outras bases comuns para a classificação genética, produzindo tipos climáticos,
como polar, tropical, continental, marítimo, climas de montanhas, de terras baixas, etc.

c) Aplicado: procura classificar os climas para auxiliar na solução de problemas


específicos que envolvem um ou mais fatores climáticos. Definem limites de classes em
termos dos efeitos do clima sobre outros fenômenos. Um bom exemplo é a procura de
relações sistemáticas entre elementos do clima e a distribuição mundial da vegetação.
Baseia-se no fato de que a vegetação natural integra os efeitos do clima de um modo
melhor que quaisquer instrumentos até hoje construídos, sendo, portanto, excelente
indicador climático. Numerosas correlações entre a vegetação e calor ou índices de
umidade têm sido descobertas, permitindo o uso de tais elementos como critérios para
tipos climáticos.

A saúde e o conforto humano sugerem outro possível enfoque para definir tipos
climáticos com aplicações em tipos de vestuário, habitação, fisiologia, medicina.

9.3. Classificação climática de Köppen

Wilhelm Köppen (1846 - 1940) foi um biólogo nascido na Rússia, que dedicou a
maior parte de sua vida aos estudos climáticos. Usando o mapa de vegetação mundial de
um fisiologista francês (Alphonse de Candolle), aceitou a vegetação natural como a
melhor expressão do clima. Em 1901, publicou sua primeira classificação, que foi
sucessivamente aperfeiçoada. O mérito da classificação de Kõppen é incontestável, uma
vez que tem sido usada há mais de 80 anos. Além da vegetação, incorpora também
temperatura, chuva e características sazonais.
Uma vantagem adicional é o seu caráter didático, permitindo adaptá-la para
diferentes níveis, sendo, ao mesmo tempo, simples e detalhada. Consiste na divisão do
clima mundial em cinco grandes grupos. Estes grupos, juntamente com onze principais
tipos, fornecem a essência para um conhecimento rudimentar das configurações
climáticas do Globo.
Utilizando-se de símbolos adicionais, a classificação de Köppen fornece
abundância de detalhes, e utiliza-se de valores numéricos para definir os limites. Desde
que se conheçam valores observados de temperatura e chuva, é possível a outros
pesquisadores questionar a validade de limites particulares, permitindo a atualização da
classificação, à medida que dados mais confiáveis se tornem disponíveis.
Critérios para classificação

A primeira letra (indicador de grupo) – maiúscula:


Código Tipo Descrição
Climas megatérmicos:
Clima • Temperatura média do mês mais frio do ano > 18 °C
A Tropical • Estação invernosa ausente
Forte precipitação anual (superior a evapotranspiração potencial
anual)
Climas secos (precipitação anual inferior a 500 mm)
B Clima Árido • Evapotranspiração potencial anual superior a precipitação
anual
• Não existem cursos de água permanentes
Clima Climas mesotérmicos
Temperado • Temperatura média do ar do mês mais frio compreendida
C ou entre -3 °C e 18 °C
Temperado • Temperatura média do mês mais quente > 10 °C
Quente • Estações de verão e inverno bem definidas
Clima Climas microtérmicos
D Continental • Temperatura média do ar do mês mais frio compreendida < -
ou clima 3 °C
Temperado • Temperatura média do mês mais quente > 10 °C
Frio • Estações de verão e inverno bem definidas
Climas polares e de alta montanha
E Clima • Temperatura médio do ar no mês mais quente < 10 °C
Glacial • Estação do verão pouco definida ou inexistente

A segunda letra (indicador de tipo)


Código Descrição Aplica-se ao
grupo
Clima das estepes
S • Precipitação anual total média compreendida entre 380 e B
760 mm
W Clima desértico B
• Precipitação anual total média < 250 mm
Clima úmido
f • Ocorrência de precipitação em todos os meses do ano
• Inexistência de estação seca definida A-C-D
• Precipitação do mês mais seco > 60 mm
w Chuvas de verão A-C-D
s Chuvas de inverno A-C-D
w’ Chuvas de verão-outono A-C-D
s’ Chuvas de inverno-outono A-C-D
m Clima de monção
Precipitação total anual > 1500 mm e precipitação do mês mais A
seco < 60 mm
T Temperatura média do ar no mês mais quente entre 0 e 10 °C E
F Temperatura média do mês mais quente < 0 °C
M Precipitação abundante E
• Inverno pouco rigoroso
A terceira letra (indicador de sub-tipo)
Código Descrição Aplica-se ao
grupo
a: Verão quente Temperatura média do ar no mês mais quente > 22 °C C-D
b: verão temperado Temperatura média do ar no mês mais quente < 22 °C
• Temperaturas médias do ar nos 4 meses mais C-D
quentes > 10 °C
c: verão curto e Temperatura média do ar no mês mais quente < 22 °C
fresco • Temperaturas médias do ar > 10 °C durante
menos de 4 meses C-D
• Temperatura média do ar no mês mais frio > -
38 °C
d: inverno muito frio Temperatura média do ar no mês mais frio < - 38 °C D
h: seco e quente Temperatura média anual do ar > 18 °C
• Deserto ou semi-deserto quente (temperatura B
anual média do ar igual ou superior a 18 °C)
k: seco e frio Temperatura média anual do ar < 18 °C
• Deserto ou semi-deserto frio (temperatura B
anual média do ar igual ou inferior a 18 °C)

EXEMPLOS A SEREM ESTUDADOS

Cananéia – SP
Latitude: 25° 00’ Longitude: 47° 32’ Altitude: 6 m

Temperatura do ar (°C) Precipitação


Mês
Mínima média Máxima média Média (mm)
Jan 21,5 33,9 27,7 352,9
Fev 21,8 34,3 28,0 406,2
Mar 21,0 33,5 27,2 390,2
Abr 18,0 30,8 24,4 246,8
Mai 15,2 28,2 21,7 192,1
Jun 13,6 26,7 20,1 136,7
Jul 12,8 26,9 19,8 124,2
Ago 14,2 28,8 21,5 111,3
Set 16,0 28,9 22,4 189,9
Out 17,4 30,5 23,9 212,7
Nov 18,8 32,3 25,6 191,9
Dez 20,6 32,7 26,7 238,9
Ano 17,6 30,6 24,1 2793,8
Mínimo 12,8 26,7 19,8 111,3
Máximo 21,8 34,3 28,0 406,2
10. EVAPOTRANSPIRAÇÃO

10.1. Considerações Iniciais

A evapotranspiração (ET) é perda de vapor d’água das superfícies vegetadas


para a atmosfera. Esta perda de vapor é decorrente de dois processos simultâneos: a
transpiração de água pelas plantas, e a evaporação de água do solo.
A ET é um importante componente do ciclo da água na natureza. Estima-se que
ela é responsável pelo retorno à atmosfera por aproximadamente 2/3 da água que cai na
forma de chuva no planeta.
Nos sistemas agrícolas, é indiscutível a importância da água no desenvolvimento
e crescimento das plantas.Vários autores determinaram uma estreita relação entre a água
evapotranspirada e a produtividade das culturas. Apesar de menos que 1% da água que
passa pela planta é aproveitada na fotossíntese, a manutenção do nível máximo de
transpiração é uma condição necessária para a máxima produtividade.
Então, a determinação da quantidade de água evapotranspirada é importante pois
permite o planejamento, construção, operação de reservatórios e sistemas de irrigação e
drenagem. Esse conhecimento é útil mesmo na agricultura não irrigada, pois permite
ajustamentos de épocas de semeadura em função da disponibilidade hídrica média,
determinando uma maior eficiência no aproveitamento das chuvas.

10.2. Definições

2.1) Evaporação (E): É o processo físico pelo qual um líquido passa para o estado
gasoso à temperatura ambiente. No presente texto, será abordada apenas a evaporação
da água. A evaporação da água ocorre tanto numa massa contínua (como o mar, lagos,
rios e poças) como numa superfície úmida (como o solo e a planta). É um fenômeno que
exige o suprimento de energia externa sendo essa fornecida pelo balanço de energia no
ambiente, pelo vento e pela disponibilidade de água do solo (Um bom exemplo de
evaporação é quando se deixa roupa para secar no varal).
Para transformar 1 g de água em vapor é necessário aproximadamente 2466 J e
essa energia é chamada de calor latente de vaporização.

2.2) Transpiração (T): É o processo de evaporação da água que foi utilizada nos
diversos processos metabólicos de crescimento e desenvolvimento das plantas. Essa
evaporação se dá principalmente através dos estômatos (Figura 1) que são estruturas de
dimensões microscópicas (< 50 μm) que ocorrem nas folhas (de 50 a 20.000 estômatos
cm-2) e que permitem a comunicação entre a parte interna da planta e a atmosfera.

Figura 1- Corte transversal da folha de milho (a) e detalhes sobre os estômatos (b).
O fechamento dos estômatos é visto como um 'mal necessário' pois no mesmo
momento que impede que a planta sofra ressecamento, impede também a absorção do
CO2 diminuindo a fotossíntese, afetando diretamente a produtividade final. A
transpiração é grandemente responsável pela absorção de água/nutrientes pelas raízes
pela diferença de potencial de água na atmosfera e no solo. O potencial atmosférico
sendo mais negativo funciona como um dreno para o vapor d'água. Quanto mais seco
estiver o ar (baixa umidade relativa-UR), maior (mais negativo) será a força desse dreno
(Figura 2).

Figura 2- Representação esquemática do movimento de água no sistema solo-


plantaatmosfera, em condições ótimas de desenvolvimento.

2.3) Evapotranspiração (ET): É o processo simultâneo de liberação de vapor d’água


para a atmosfera através da evaporação da água do solo e da transpiração das plantas.

10.3. Tipos de ET

3.1) Evapotranspiração Potencial ou de Referência (ETP ou ETo): Corresponde à


água utilizada por um extensa superfície vegetada (Mundialmente tomou-se a grama
como cultura padrão pois já era utilizada em postos meteorológicos: altura entre 8 e 15
cm), em crescimento ativo e cobrindo totalmente o terreno, estando este bem suprido de
umidade, ou seja, em nenhum instante a demanda atmosférica é restringida por falta de
água no solo.
Assim definida a ETP corresponde ao processo oposto da chuva. O sentido de
área extensa implica em área tampão suficientemente grande para que a
evapotranspiração seja resultante apenas do balanço vertical de energia. Condições
realmente potenciais ocorrem 1 a 2 dias após uma chuva generalizada, onde toda a
região está umedecida e as condições advectivas são minimizadas.Sabe-se que um
gramado nas condições acima descrita, possui índice de área foliar (IAF) próximo a 3
(m2folha m2área) e coeficiente de reflexão (albedo) ao redor de 23%.

3.2) Evapotranspiração Real (ETR): É a quantidade de água que realmente foi


utilizada por uma superfície vegetada, independentemente de seu porte, com ou sem
restrição hídrica. Ela pode ser limitada tanto pela disponibilidade de radiação como
pelo suprimento de água pelo solo.
ETP ≥ ETR

3.3) Evapotranspiração de Oásis (ETO) : É a quantidade de água utilizada por uma


pequena área vegetada (irrigada) que é circundada por uma extensa área seca, de onde
provém energia advectiva (Vento- transporte lateral de calor por deslocamento da massa
de ar). Então:

ETO > ETP

A Figura 3 indica a área tampão ou bordadura necessária para que haja


minimização do transporte lateral de energia da área seca para a área úmida (irrigada).
Nessa área tampão, a ET que o corre é a de oásis, e o tamanho dessa área depende do
clima da região, do porte da vegetação e da velocidade do vento. Vegetação de maior
porte, por possuir maior IAF, necessita de maior área tampão que um gramado. As
plantas que estão próximas da transição (seco/irrigado) recebem uma quantidade extra
de energia que vem da área seca aumentando seu consumo de água. As plantas mais
distantes da transição são menos influenciadas pelas áreas secas e usam menos água no
mesmo período. No caso de irrigação deve-se delineá-la de maneira a levar em conta
essa variação ao longo da área irrigada.

Figura 3- Representação esquemática da ETO e ETP em corte lateral (A) e da área


tampão no caso de pivô central - vista de cima (B).

3.4) Evapotranspiração de Cultura (ETc): É a evapotranspiração que ocorre em


qualquer fase de desenvolvimento de uma cultura desde o plantio/semeadura até a
colheita, quando não houver restrição hídrica. A ETc é função do índice de área
foliar (superfície transpirante), pois quanto maior a área foliar maior será a ETc para a
mesma demanda atmosférica. A ETc pode ser obtida a partir da ETP pela relação:

ETc = ETP * Kc

em que o Kc é o coeficiente de cultura. O Kc varia com as fases fenológicas, e também


entre espécies e variedades (cultivares), sendo função do IAF. Na Figura 4 pode-se ver a
variação do Kc para culturas anuais e perenes. Em culturas anuais, à medida que a
planta se desenvolve o IAF cresce até atingir um valor máximo decrescendo
posteriormente devido ao período de senescência das folhas. O estádio I representa o
estabelecimento da cultura (semeadura-germinação); estádio II caracteriza o
desenvolvimento vegetativo (germinaçãoflorescimento); estádio II é o período
reprodutivo (florescimento- final do enchimento dos grãos); e estádio IV maturação.
Figura 4- Relação entre estádios fenológicos e Kc para cultura anual (1) e entre idade e
Kc para cultura perene (2).

Em culturas perenes, em função do contínuo crescimento das plantas, o valor de


Kc é crescente durante os anos que precedem a maturidade e daí em diante praticamente
constante, com pequenas variações sazonais, em função da variação do IAF. Um
exemplo é a seringueira, que perde as folhas no outono, e também o cafeeiro, que
devido à colheita e ao período de repouso invernal tem seu IAF reduzido.
O valor de Kc varia normalmente de 0 a 1,2, principalmente para culturas
anuais, e seu valor pode ser estimado em função da cobertura do terreno, pela seguinte
relação empírica:

Kc=1,2 * (% Cobertura do terreno/100)

Por exemplo, se uma cultura mais o mato das entrelinhas cobrirem 90% do terreno, o
Kc = 1,2 * (90/100)= 1,08. Essa equação não se aplica a uma superfície gramada onde
temos 100% de cobertura do terreno, nesse caso Kc = 1.

Em casos específicos, conforme o porte da pastagem, o comportamento


evapotranspirométrico é semelhante ao da cultura de referência, e quando isso ocorrer,
teremos:
Kc=1,0 * (% Cobertura do terreno/100)

10.4. Fatores que afetam a ET


os primórdios da civilização o homem percebeu uma estreita relação entre o
secamento de uma superfície molhada e as condições do ambiente. Sabia-se que em dias
ensolarados, com ar seco, o secamento é mais rápido, mas atualmente tem-se melhor
visão do processo e de seus determinantes principais:

4.1. Fatores Climáticos

• Radiação Líquida (Rn): É a principal fonte de energia para o processo de


evapotranspiração. Depende da radiação solar incidente e do albedo da superfície.

• Temperatura: Durante o dia, o aumento da temperatura do ar provoca aumento no


déficit de saturação (es-ea), tornando maior a demanda evaporativa do ar.
• Umidade Relativa (UR): Atua em conjunto com a temperatura. Quanto maior a UR,
menor a demanda evaporativa e conseqüentemente menor a ET.

• Vento (Adveção Regional de Energia): O vento retira da camada acima da superfície


evaporante o ar saturado ou próximo da saturação, ficando sobre essa superfície um ar
mais seco, o que determina a manutenção do processo evaporativo. A relação do vento
com a evapotranspiração é limitada pois acima de uma determinada velocidade a
evaporação torna-se independente da velocidade do vento.

4.2. Fatores da Planta

• Espécie: Está relacionado à arquitetura foliar (distribuição espacial da folhagem), à


resistência interna ao transporte de água e a outros aspectos morfológicos que exercem
influência direta na ET.

• Coeficiente de Reflexão (Albedo): Influencia a disponibilidade de Rn para o processo


de ET. Quanto mais escura for a vegetação, menor será a reflexão dos raios solares
incidentes.

• Estádio de Desenvolvimento (IAF): Está diretamente relacionado ao tamanho da


superfície foliar transpirante. Quanto maior o Índice de área foliar (IAF) maior será a
potencialidade para a ET.

• Altura do Dossel: Plantas mais altas interagem mais com a atmosfera em movimento,
extraindo mais energia do ar, aumentando a ET.

• Profundidade do sistema radicular: Está diretamente relacionado ao volume de solo


explorado pelas raízes, visando o atendimento da demanda hídrica atmosférica. Sistema
radicular superficial, por explorar volume pequeno de solo, deixa a cultura mais
susceptível em períodos de estiagem.

4.3) Fatores do Manejo e do Solo

• Espaçamento/ Densidade de Plantio: Determina a competição intra-específica, isto


é, entre plantas da mesma espécie. Os espaçamentos mais largos permitem mais
aquecimento do solo e das plantas, e também circulação mais livre do vento entre as
plantas tendo como conseqüência o aumento de ET.

• Orientação: Culturas orientadas perpendicularmente aos ventos predominantes


tendem a extrair mais energia do ar do que as orientadas paralelamente. Uma solução
seria o uso de quebra ventos em regiões com ventos fortes.

• Tipo de solo/ Capacidade de armazenamento de água: Solos argilosos têm maior


capacidade de armazenamento de água do que os solos arenosos, e são capazes de
manter uma taxa de ET por período mais longo.

• Impedimentos Físicos e Químicos: Limitam o desenvolvimento do sistema radicular,


fazendo com que as plantas explorem volume menor de solo, resultando em efeitos
negativos tanto no período chuvoso como no seco. No período chuvoso, o solo fica
encharcado asfixiando as raízes; no período seco, o volume de água disponível às raízes
fica reduzido, não permitindo aprofundamento em busca de águas mais profundas.

• Relação entre demanda atmosférica e o suprimento de água pelo solo: Os solos


arenosos, devido a baixa capacidade de retenção de água e poucos colóides permitem
uma rápida retirada de água, ao contrário dos solos argilosos, em que a umidade não
pode ser retirada rapidamente. Então, o solo é um reservatório ativo que, dentro de
certos limites, controla a taxa de perda de água pelas plantas em associação com a
demanda hídrica da atmosfera. Na Figura 5 observa-se a relação entre a água disponível
no solo (%), a demanda atmosférica, indicada pela evaporação do tanque classe A-ECA
e a evapotranspiração relativa (ETR/ETP).

Figura 5 - Relação entre evapotranspiração relativa (ETR/ETP), água disponível no solo


e demanda atmosférica expressa por ECA.

Na situação A (ECA < 5mm/d), em virtude da baixa demanda, a planta consegue


extrair água do solo em níveis potenciais (ETR=ETP) até cerca de 60% da água
disponível no solo. E na Situação C (ECA > 7,5 mm/d), mesmo com bastante umidade
no solo, a planta não consegue extraí-la numa taxa compatível com suas necessidades,
resultando em fechamento temporário dos estômatos para evitar secamento das folhas.
Essa condição ocorre normalmente nas horas mais quentes do dia.
Nas condições Brasileiras a ETP é maior entre os meses de novembro e março
decorrente da maior temperatura e maior disponibilidade de radiação solar (Figura 6.A).
Durante o dia devido também a maior disponibilidade energética as maiores ETP
ocorrem durante o período da tarde (Figura 6.B).

Figura 6 - Variação mensal da ETP (mm dia-1) (A) e horária (B).


10.5. Medida da Evaporação e da Evapotranspiração

5.1 Evaporação
A medida direta da evaporação exige a utilização de um reservatório (tanque)
onde o nível de água possa ser medido com precisão. A diferença das alturas dos níveis
da água em dias consecutivos indica o total evaporado no período. Devido à facilidade
dessas medidas em tanques, estas tem sido utilizadas para estimar a evaporação de lagos
e até mesmo de culturas, admitindo-se que existe correlação positiva entre a evaporação
da água do tanque com aquela de um lago ou de uma superfície vegetada. Os principais
tipos de tanques utilizados para a medida da evaporação são:

• Classe A: desenvolvido nos E.U.A., é de uso generalizado. É um tanque cilíndrico de


chapa de ferro galvanizado ou inox no.22, com 121cm de diâmetro e 25,5cm de
profundidade. Deve ser instalado a 15cm do solo sobre um estrado de madeira em área
gramada. A leitura no nível da água é feita num poço tranquilizador de 25cm de altura e
10cm de diâmetro, onde é instalado um parafuso micrométrico de gancho com
capacidade para medir variações de 0,01mm. A água dentro do tanque deve ser mantida
entre 5 e 7,5cm abaixo da borda (Figura 7).

Figura 7- Tanque Classe A com tanque tranquilizador instalado em área gramada sobre
estrado de madeira.

• GGI-3000: desenvolvido na antiga União Soviética. É um tanque cilíndrico, de fundo


cônico, com 61,8cm de diâmetro, 60cm de altura na borda e 0,685 de profundidade no
centro. Este tipo de tanque é enterrado no solo, com borda a 7,5cm da superfície do
solo. A leitura é feita num frasco volumétrico instalado num cano fixo no centro do
tanque. O tanque deve ser pintado de branco e mantido com água no mesmo nível do
solo. Bastante empregado em cultivos protegidos por possuir uma área de 3000 cm2.

• 20m2: é um tanque cilíndrico, com 5m de diâmetro e 2m de profundidade. O fundo é


plano, construído de chapa de ferro de ¼” de espessura e a parede lateral de 3/16“. O
tanque deve ser enterrado no solo, deixando a borda a 7,5cm da superfície do solo,
sendo pintado internamente de branco. A leitura do nível da água é feita num poço
tranquilizador idêntico ao do tanque Classe A, podendo-se utilizar tanto o parafuso
micrométrico como o copo volumétrico.
A relação existente entre a evaporação que ocorre num lago de
aproximadamente 1,0 ha e aquela que ocorre nos tanques foi determinada por Oliveira
(1971), sendo em média a seguinte para o ano:

ELAGO = E20m2 = ECA * 0,76 = EGGI * 0,95

5.2. Evapotranspiração
A medida direta da evapotranspiração é extremamente difícil e onerosa,
justificando sua utilização apenas em condições experimentais.
Os equipamentos mais utilizados para esse fim são os lisímetros. O lisímetro é
um equipamento que consiste de uma caixa impermeável, contendo um certo volume de
solo que possibilita conhecer com detalhe alguns têrmos do balanço hídrico do volume
amostrado. Os lisímetros mais empregados são:

• Lisímetro de Drenagem: esse tipo de lisímetro funciona adequadamente em períodos


longos de observação (± 10 dias). Baseia-se no princípio de conservação de massa para
a água num volume de solo:

DARM = P + I - ET + AC - DP

Considerando que a ascensão capilar (AC) inexiste, que a chuva (P) e a irrigação
(I) são facilmente medidas, que a variação de armazenamento (DARM) é praticamente
nula, e que a drenagem profunda (DP) é medida, pode-se obter o evapotranspiração
(ET) como resíduo desta equação.

• Lisímetro de lençol freático constante: esse tipo de lisímetro adota um sistema


automático de alimentação e registro da água reposta de modo a manter o nível do
lençol freático constante, sendo a evapotranspiração diretamente proporcional à água
que sai do sistema de alimentação.

• Lisímetro de pesagem: esse tipo de lisímetro utiliza a medida automatizada de células


de carga instaladas sob uma caixa impermeável, medindo a variação de peso desta.
Desse modo, havendo consumo de água pelas plantas do lisímetro ocorre uma
diminuição do peso do volume de controle, a qual é proporcional à evapotranspiração.

10.6. Estimativa da Evapotranspiração Potencial (ETP)


Os valores de ETP podem ser estimados a partir de elementos medidos na
estação agrometeorológica, existindo vários métodos para tal estimativa. Aqui serão
tratados apenas alguns que apresentam maior potencial de aplicação prática dependendo
das informações meteorológicas disponíveis no local.

6.1. Método do Tanque Classe A


O método do Tanque Classe A para estimativa da ETP é um método de manejo
de irrigação e baseia-se no princípio de que a água no tanque não oferece nenhum
impedimento ao processa evaporativo, estando sempre disponível. Portanto, o valor
obtido no tanque é exagerado em relação à perda efetiva de uma cultura mesmo estando
ela em condições ótimas de suprimento de água no solo. Logo, o valor do tanque precisa
ser corrigido por um fator denominado de coeficiente de tanque (Kp), ou seja:

ETP = ECA * Kp

em que: ECA é a evaporação medida no Tanque Classe A, em mm/dia; Kp o coeficiente


de ajuste. O valor de Kp é função da velocidade do vento e da umidade relativa do ar e
do tamanho da bordadura (área circunvizinha ao tanque). Esse método é recomendado
pela FAO (Doorenbos & Kassam, 1994), sendo Kp fornecido pela Tabela abaixo.

Tabela 1. Coeficiente do tanque (Kp) para Tanque Classe A para diferentes bordaduras
e níveis de umidade relativa e velocidade do vento em 24 horas, para tanques instalados
em áreas cultivadas com vegetação baixa. Fonte: Doorenbos & Kassam (1994).

Para facilitar a interpolação dos dados e a determinação da ETP em sistemas


informatizados, Kp pode ser obtido através da seguinte equação de regressão linear
múltipla, proposta por Cuenca (1975).

Kp = 0,482 + 0,024 Ln (B) - 0,000376 U + 0,0045 UR

em que: B é a bordadura, em metros; U a velocidade do vento (km.d-1); e UR a


umidade relativa média diária, em %.
É comum a adoção de um valor fixo de Kp quando os dados de UR e U não são
disponíveis. Nesse caso resultados experimentais mostram que Kp=0,72 é o valor que
proporciona menores erros para condições de clima úmido.

6.2. Método de Thornthwaite (1948)


Foi um dos primeiros métodos desenvolvidos exclusivamente para se estimar a
Evapotranspiração Potencial em regiões de clima úmido na escala mensal. Inicialmente
calcula-se a evapotranspiração potencial padrão (ETP, mm/mês) pela fórmula empírica:

ETP= 16*(10 * Tn / I)a 0 < Tn< 26,5 ºC


sendo Tn a temperatura média do mês n, em ºC; e I é um índice que expressa o nível de
calor da região. O subscrito n representa o mês, ou seja n=1 é janeiro; n=2 é fevereiro;
etc.
No caso de Tn 26,5 ºC a ETP será dada por:

ETP= -415,85 + 32,24 * Tn - 0,43 * Tn2 Tn ≥ 26,5 ºC

O valor de I depende do ritmo anual da temperatura, integrando o efeito térmico


de cada mês, sendo calculado pela fórmula:

I = 12 (0,2 * Ta)1,514 sendo Ta = temp. média anual normal

O expoente a, sendo uma função de I, também é um índice térmico regional, e é


calculado pela expressão:

a = 0,49239 + 1,7912x10-2 * I – 7,71x10-5 * I2 + 6,75x10-7 * I3

O valor de ETP representa o total mensal de evapotranspiração que ocorreria


naquelas condições térmicas mas para um mês padrão de 30 dias, e cada dia com 12
horas de fotoperíodo. Portanto a ETP deve ser corrigida para se obter a ETP do mês
correspondente:

COR = N/12 * NDP/30 (11)

em que: = fotoperíodo do mês em questão; NDP = dias do período em questão

6.3. Método de Camargo


Para simplificar a estimativa de ETP pelo método de Thornthwaite, Camargo
(1971) propôs a seguinte fórmula:

ETP = 0,01 * Qo * T * NDP (12)

em que: Qo é a irradiância solar no topo da atmosfera, expressa em mm de evaporação


equivalente (mm dia-1); T a temperatura média do ar (oC), no período considerado; e
ND o número de dias do período considerado. Essa fórmula facilita a estimativa de ETP
pois não há necessidade de se conhecer a temperatura média anual (normal).

6.4. Método de Hargreaves & Samani


Este método foi desenvolvido por Hargreaves & Samani (1985) para condições
semiáridas:

ETP = 0,0023 * Qo * (Tmáx - Tmin)0,5 * (Tmed + 17,8)

em que Qo é a irradiância solar no topo da atmosfera, expressa em mm de evaporação


(mm dia-1); Tmax a temperatura máxima do ar (ºC); Tmin a temperatura mínima do ar
(ºC) e Tmed a temperatura média do ar (ºC), no período considerado.
6.5. Método de Priestley-Taylor
Se no local houver medida do Saldo de Radiação (Rn), pode-se utilizar a
fórmula de Priestley & Taylor (1972) para estimar a ETP (mm d-1), pela fórmula:

ETP = 1,26* W *(Rn-G)/2,45

em que: Rn é a radiação líquida total diária (MJ m-2 d-1); G é o fluxo total diário de calor
no solo (MJ m-2 d-1); W é um fator de ponderação dependente da temperatura e do
coeficiente psicrométrico, sendo calculado pelas seguintes equações:

W = 0,407 + 0,0145* T ( 0,0 oC < T < 16 oC)


W = 0,483 + 0,01* T (16,1 oC ≤ T)

No caso de G não ser medido (situação mais comum), adota-se uma fração de
Rn como representativa dessa fluxo, ou seja G=f * Rn, sendo 0 ≤ f ≤ 0,1 para gramado
(condição de ETP). É comum adotar-se f = 0, mas Wright & Jensen (1972) propuseram
que:
G = 0,38 *(Td - T-3d)

em que Td é a temperatura média do dia em questão e T-3d é a temperatura média dos 3


dias anteriores.
No caso de estimativa mensal, admitindo-se que a temperatura varia até uma
profundidade de 1m, a equação será:

G = 0,14 *(Tm - T-m)

em que Tm é a temperatura média do mês e T-m é a temperatura média do mês anterior.

No geral também é bastante aceito usar o valor de f = 0,03, sendo G obtido por:
G = 0,03 * Rn.

6.6. Método de Penman-Monteith (Padrão FAO/1991)


Este é um método micrometeorológico que foi adaptado por Allen et al. (1989)
para estimativa da ETP na escala diária. Atualmente, este é o método padrão da FAO
(Allen et al., 1994) sendo a ETP (mm d-1) dada pela seguinte fórmula:
900
ET0 
s
Rn  G  1  U 2 ea  es 
s  *  s   *T  273

em que Rn é a radiação líquida total diária (MJ m-2 d-1); G é o fluxo de calor no solo
(MJ m-2 d-1), as mesmas considerações feitas sobre G no método anterior são válidas
aqui; λ é o calor latente de vaporização; γ é o coeficiente piscrométrico (Kpa ºC-1); γ* é
o coeficiente piscrométrico modificado; T é a temperatura média do ar (ºC); U2 é a
velocidade do vento a 2 m (m s-1); es é a pressão de saturação de vapor (kPa); ea é a
pressão parcial de vapor (kPa); e s é a declividade da curva de pressão de vapor na
temperatura do ar (kPa), dado por:

4098 es
s
 
P
T  237,52   0,0016286   2,501 2,361103 T *   1  0,33U 2 
λ
7. Critérios para escolha do método de estimativa de ETo
A escolha de um método de estimativa da evapotranspiração potencial depende
de uma série de fatores. O primeiro é a disponibilidade de dados meteorológicos, pois
métodos complexos, que exigem grande número de variáveis, somente terão
aplicabilidade quando houver disponibilidade de todos os dados necessários. O método
de Penman- Montheith não poderá ser empregado em locais que só disponham de dados
de temperatura do ar.
O segundo fator é a escala de tempo requerida. Normalmente métodos
empíricos, como os de Thornthwaite e de Camargo, estimam bem a ETP na escala
mensal, ao passo que os métodos que envolvem o saldo de radiação apresentam também
boas estimativas em escala diária.
Por fim, no caso dos métodos empíricos, é necessário que se conheça as
condições climáticas para as quais foram desenvolvidos, pois normalmente não são de
aplicação universal. Desse modo, métodos como os de Thornthwaite e de Camargo
fornecem boas estimativas em regiões de clima úmido (superestimam em regiões de
clima seco) e Hargreaves & Samani adapta-se melhor em climas secos.

8. Estimativa da evapotranspiração das demais culturas


Como apresentado anteriormente a evapotranspiração da cultura (ETc) é obtida
pelo produto ETo * Kc, traduzindo a perda de água da cultura livre de doenças, com
desenvolvimento em um campo relativamente extenso, sem restrições hídricas e
nutricionais, atingindo o seu pleno potencial produtivo.
Os valores de Kc variam entre espécies, variedades (cultivares) e com as fases
fenológicas, sendo uma função do índice de área foliar (IAF). Na Figura 8, pode-se
verificar a variação do Kc para culturas anuais e perenes. Em culturas anuais, a medida
que a planta se desenvolve o IAF cresce até atingir um valor máximo, decrescendo
posteriormente devido ao período de senescência das folhas. O estádio I representa o
estabelecimento da cultura (semeadura-germinação), em que a cobertura do solo é
inferior a 10%; o estádio II caracteriza o desenvolvimento vegetativo (germinação-
florescimento), com cobertura do solo variando entre 10% e 80%. O estádio II é o
reprodutivo (florescimento – final do enchimento dos grãos), que apresenta cobertura
plena do solo; e o estádio IV, corresponde ao início da descoloração das folhas até a
plena maturação ou ponto de colheita.

Figura 8. Variação dos coeficientes de cultivo em função do ciclo de desenvolvimento


das plantas e do índice de área foliar. Fonte: Allen et al., (1998).
Tabela 2. Coeficientes de cultivo em diferentes fases de desenvolvimento e alturas
máximas de plantas, cultivadas sob condição padrão de URmin = 45% e U2 = de 2 m s-1.
Cultura Kcinicial Kcmedio Kcfinal Altura máxima
da cultura (m)
Brócolis 0,7 1,05 0,95 0,3
Repolho 0,7 1,05 0,95 0,4
Cenoura 0,7 1,05 0,95 0,3
Couve-flor 0,7 1,05 0,95 0,4
Aipo 0,7 1,05 1,0 0,6
Alho 0,7 1,0 0,7 0,3
Alface 0,7 1,0 0,95 0,3
Espinafre 0,7 1,0 0,95 0,3
Rabanete 0,7 0,9 0,85 0,3
Pimenta doce 0,6 1,05 0,90 0,7
Tomate 0,6 1,15 0,7-0,9¹ 0,6
Pepino 0,6 1,0 0,75 0,3
Melão 0,6 1,05 0,75 0,4
Melancia 0,4 1,0 0,75 0,4
Mandioca – 1°ano 0,3 0,8 0,3 1,0
Mandioca – 2°ano 0,3 1,10 0,3 1,5
Batata 0,5 1,15 0,5 0,6
Batata doce 0,5 1,15 0,75 0,4
Nabo 0,5 1,10 0,65 0,6
Beterraba 0,5 1,05 0,95 0,4
Feijão 0,4 1,15 0,90 0,4
Lentilha 0,4 1,10 0,35 0,5
Ervilha fresca 0,5 1,15 1,1 0,5
Ervilha – grãos secos 0,5 1,15 0,3 0,5
Soja 0,4 1,15 0,5 0,5-1
Amendoim 0,4 1,15 0,6 0,4
Algodão 0,35 1,15-1,20¹ 0,7-0,5¹ 1,2-1,5
Mamona 0,35 1,15 0,55 0,3
Girassol 0,35 1,0-1,15¹ 0,35 0,6
Cevada 0,3 1,15 0,25 1,0
Aveia 0,3 1,15 0,25 1,0
Milho verde 0,3 1,20 0,60-0,35¹ 2,0
Milho semente 0,3 1,15 1,05 1,5
Milheto 0,3 1,0 0,30 1,5
Sorgo 0,3 1,0-1,10¹ 0,55 1,0-2,0
Arroz 1,05 1,20 0,9-0,6¹ 1,0
Cana-de-açúcar 0,40 1,25 0,75 3,0
Banana – 1° ano 0,5 1,10 1,0 3,0
Banana – 1° ano 1,0 1,20 1,1 4,0
Cacau 1,0 1,05 1,05 3,0
Café – em fase de crescimento 0,9 0,95 0,95 2,0-3,0
Café com grãos 1,0 1,10 1,1 2,0-3,-0
(Adaptado de Allen et al., 1998). ¹ Os valores mais baixos referem-se a condições
chuvosas com menor densidade populacional.
O valor de Kcinicial (estádio 1) pode varia significativamente, pois quanto maior a
variação da demanda evaporativa da atmosfera indica que o solo tenderá a secar mais
rápido entre eventos de aplicação de água, e o valor de Kcinicial será menor num
determinado intervalo de tempo. Assim, para facilitar a escolha do valor de Kcinicial
pode-se aplicar as variações da Tabela 3. Cabe ressaltar que o seu emprego é
condicionado apenas para o estádio 1, de culturas anuais e com o turno de irrigação
variando entre 1 e 6 dias. Na Tabela 3 são fornecidos os coeficientes para se estimar o
coeficiente de cultura inicial com base em classes de demanda evaporativa, pela
aplicação da seguinte equação:

Kcinicial = a + b (Tr) Tr = turno de rega

Tabela 3. Valores dos coeficientes a e b para predição do coeficiente de cultura inicial.

Demanda evaporativa ETo - mm a b


Baixa ETo ≤ 2,49 1,176 -0,0746
Moderada 2,5 ≤ ETo ≥ 4,99 1,0813 -0,0837
Alta 5,0 ≤ ETo ≥ 7,49 0,9513 -0,0837
Muito alta 7,5 ≤ ETo 0,9013 -0,0837

Segundo Allen et al. (1998), para os valores de Kcmedio e Kcfinal, quando a


umidade mínima do ar for diferente de 45% ou a velocidade do vento for maior ou
menor que 2,0 m s-1, é preciso aplicar a seguinte equação:

Kc  Kc TAB  0,04 * u 2  2  0,004 * UR min  45* h / 3


0, 3

em que: h = altura da planta durante a fase 2 e 3 para o Kcmédio e na fase 4 para o Kcfinal.
Para aplicações na estimativa do Kcfinal, recomenda-se a aplicação dessa equação
somente quando os valores tabulados excederem a 0,45.

Essa equação reduz os valores de Kcfinal com o aumento da URmin, que é


característica de culturas que são colhidas verdes ou antes de se tornarem
completamente secas. Nenhum ajuste é necessário quando Kcfinal < 0,45.
11. BALANÇO HÍDRICO

11.1. Considerações iniciais


O balanço hídrico é a contabilização da água do solo, resultante da aplicação do
princípio de conservação de massa num volume de solo vegetado. A variação de
armazenamento de água no volume considerado (DARM), por intervalo de tempo,
representa o balanço entre o que entrou e o que saiu de água do volume de controle.
Como a chuva é expressa em milímetros, isto é, em litros de água por metro
quadrado de superfície, para facilitar a contabilização do balanço hídrico, adota-se
também uma área superficial de 1 m2 para o volume de controle. Portanto, o volume de
controle torna-se uma função apenas da profundidade do sistema radicular das plantas.
Admite-se que esse volume de controle seja representativo de toda a área em estudo.
Genericamente o balanço hídrico de uma área vegetada pode ser representado pela
Figura 1:

Figura 1. Representação esquemática dos fluxos do balanço hídrico.

A chuva e o orvalho dependem do clima da região, enquanto que as demais


entradas dependem do tipo de solo e de relevo. O orvalho (O) representa uma
contribuição com ordem de magnitude muito pequena (no máximo 0,5mm/dia), muito
menor que o consumo diário de uma vegetação em pleno crescimento ativo. Nessas
condições, sua contribuição é mais importante no aspecto ecológico, sendo desprezado
para o cálculo do balanço hídrico.
As entradas e saídas por escorrimento superficial (Ri e Ro) e drenagem lateral
(DLi e DLo) tendem a se compensar pois o volume de controle adotado é pequeno (1m²
x profundidade efetiva do sistema radicular), nessas condições o balanço hídrico pode,
então, ser expresso da seguinte forma:

±DARM = P + I - ET + AC - DP
A precipitação (P) e a irrigação (I) podem ser medidas facilmente. A ascensão
capilar (AC), que ocorre em períodos secos, e a drenagem profunda (DP), que ocorre
em períodos chuvosos, podem ser determinadas utilizando-se conhecimentos de física
de solos. E por fim, a evapotranspiração (ET) pode ser determinada pelos diversos
Métodos ou modelos matemáticos já tratados em aulas passadas. Uma observação
importante é que o modelo de ET utilizado, como os dados meteorológicos disponíveis,
é que vão determinar o intervalo de tempo do cálculo do balanço hídrico para que se
possa conhecer a disponibilidade hídrica do solo, ou seja, o seu armazenamento (ARM).
O volume de controle é, portanto, determinado pelo conjunto Solo-Planta-
Clima. Em solos profundos sob alta demanda atmosférica, as raízes das plantas se
desenvolvem explorando um volume maior de solo, na procura por mais água, visando
atender a demanda. Nessa situação, as plantas investem na formação do sistema
radicular como modo de garantir sua sobrevivência. Por outro lado, se a demanda
atmosférica for baixa, um volume menor de solo será suficiente para atendê-la. De
modo geral, nos solos argilosos, com maior capacidade de retenção de água, as raízes
não necessitam se aprofundar tanto quanto em solos arenosos, que retêm menor
quantidade de água. Alguns solos apresentam uma camada compactada que impede
tanto a penetração das raízes como a drenagem profunda, e na época chuvosa, o solo
fica encharcado, asfixiando as raízes mais profundas, reduzindo o volume efetivo de
solo disponível. Nessa situação as plantas são incapazes de atender à uma demanda
elevada por muito tempo. Se o terreno for inclinado a drenagem lateral amenizará o
problema pela eliminação do excesso de água. Então,o impedimento físico é prejudicial
tanto na época da chuvas como na seca.
Muitos solos são fisicamente profundos mas agronomicamente rasos pelo
acúmulo de elementos tóxicos numa certa profundidade, que interferem no crescimento
das raízes. Nesse caso o impedimento químico pode ser minimizado pela correção
química (calagem, etc) ou pela utilização de plantas e variedades resistentes aos
elementos tóxicos Para culturas anuais, a profundidade de solo explorado pelas raízes
varia com o estádio de desenvolvimento das plantas. Uma vez definida a profundidade,
tem-se o volume de controle.

11.2. Determinação da Capacidade de Água Disponível (CAD)


Dependendo da magnitude dos fluxos de entrada e saída de água no volume de
controle considerado, o solo pode ter diferentes condições hídricas ao longo do tempo.
Um conceito importante a se considerar é o de água disponível às plantas, a qual é
considerada como sendo aquela água retida no solo entre as umidades na "capacidade de
campo" (limite superior) e no "ponto de murcha permanente" (limite inferior).

Figura 2. Situações de retenção de umidade pelo solo: qSAT= Umidade de Saturação,


qCC = Umidade na Capacidade de Campo, qPMP = Umidade no Ponto de Murcha
Permanente e qSECO = Solo Totalmente Seco (só em laboratório).
Durante uma precipitação pesada ou forte irrigação, um solo poderá ficar
saturado de água, ocorrendo imediata drenagem profunda. Nesse momento o solo é
considerado como saturado (qSAT) e encontra-se na sua máxima capacidade de
retenção. A tensão matricial é essencialmente igual a zero. Quando a água de drenagem
parar de escorrer teremos (o que ocorre aproximadamente em 2 a 3 dias) a situação de
capacidade de campo (qCC). Nesse momento a água já saiu dos macroporos (seu lugar
foi ocupado pelo ar), e os microporos encontram-se ainda preenchidos pela água, nessa
situação teremos ETP= ETR. Se o solo estiver em processo de secamento (até o ponto
de murcha permanente), cada vez mais a ETR será menor que ETP o que acarretará uma
perda na produtividade da cobertura vegetal.
O ponto de murcha permanante (qPMP) é aquela condição que o solo
apresenta umidade (microporos menores e ao redor das partículas do solo) mas esta já
não está disponível para as plantas. As plantas submetidas nessas condições morrerão se
um suprimento hídrico não for providenciado. Então, a capacidade de água disponível
(CAD) para as plantas pode ser calculada pela seguinte expressão:

CAD = (qCC - qPMP) x D x Z

sendo qCC e qPMP são as umidade com base em volume ( cm3 H2O cm-3 solo), D a
densidade do solo (g/cm3) e Z a profundidade adotada, sendo considerada como aquela
correspondente à profundidade efetiva de exploração de água do sistema radicular. Se Z
for expressa em mm a CAD terá a unidade de mm de lâmina de água.
Os valores de umidade na CC e no PMP são característicos de cada tipo de solo
e dependem da textura e da densidade global (ou aparente) do solo e podem ser
determinados em laboratório. Entretanto, o valor da CAD é dependente do clima, pois
está relacionado à disponibilidade hídrica às plantas o que determina a profundidade do
sistema radicular.

Ex. Um indivíduo fez uma análise física de solo e determinou que a densidade do
solo=1,2, qCC =0,287 (cm3 H2O /cm3 SOLO) e qPMP =0,163. A CAD para uma
profundidade de 50 cm (500 mm) será:
CAD= (0,287-0,163) x 1,2 x 500 = 74,4 mm

Critério prático: Como o balanço hídrico, segundo Thornthwaite & Mather (1955), é
mais utilizado para fins de caracterização da disponibilidade hídrica de uma região em
bases climatológicas e comparativas, uma opção prática é fazer a seleção da CAD em
função do tipo de cultura do que do tipo de solo. Justifica-se isso comparando-se um
solo arenoso e um argiloso: se no primeiro o valor de (qCC-qPMP) é menor, a
profundidade do efetiva do sistema radicular (L) é maior, de maneira que há uma
compensação, tornando a CAD aproximadamente igual para os dois tipos de solo.
Assim, independentemente do tipo de solo, pode-se adotar os seguintes valores de
CAD:

Tabela 1: Valores adotados de CAD para diferentes grupos de culturas no cálculo do


balanço hídrico.
Culturas CAD
Hortaliças 25 a 50 mm
Culturas anuais 75 a 100 mm
Culturas perenes 100 a 125 mm
Espécies florestais 150 a 300 mm
11.3. Balanço Hídrico Climatológico (ou Normal)
O balanço hídrico climatológico, desenvolvido por Thornthwaite & Mather
(1955) é uma das várias maneiras de estimar o armazenamento médio de água do solo
ao longo do tempo. Partindo-se do suprimento natural de água ao solo, simbolizado
pelas chuvas (P), e da demanda atmosférica, simbolizada pela evapotranspiração
potencial (ETP), e com uma CAD apropriada ao tipo de planta cultivada, o balanço
hídrico climatológico fornece estimativas da evapotranspiração real (ETR), da
deficiência hídrica (DEF), do excedente hídrico (EXC) e do armazenamento da água no
solo (ARM).
Para que não haja nem excesso nem deficiência hídrica, a chuva (P) deve ser
igual a ETP. Portanto a ETP representa a chuva ideal (que deveria entrar no volume de
controle). Essa situação só acontece esporadicamente em alguns períodos. Em algumas
regiões há excesso praticamente o ano todo, enquanto que em regiões áridas e semi-
áridas isso nunca ocorre. Em regiões tropicais, é mais comum haver excesso numa
época, e deficiência em outra.
Thornthwaite & Mather (1955) demonstrou, então que :

Neg .acumulado
ARM  CAD  e CAD

O Negativo Acumulado indica a perda potencial acumulado de água no solo


que será detalhada mais adiante. Uma simplificação, para fins práticos, é considerar
desprezível a ascenção capilar (AC=0). Desse modo, torna-se possível estimar a
variação do armazenamento, denominada alteração do armazenamento (ALT), a
evapotranspiração real (ETR), e a drenagem profunda, agora denominada de excedente
hídrico (EXC), resultando na seguinte equação:

±ALT = P – ETR - EXC (ou ARMATUAL - ARMANT)

Além de ALT e de EXC, a determinação de ETP e ETR permite estimar o déficit


hídrico (DEF), definido como:

DEF= ETP- ETR

A equação anterior indica que sempre que ocorrer uma umidade do solo inferior
à CAD, teremos ETR<ETP e portanto a ocorrência de deficiência hídrica. A DEF assim
definida não é somente função do solo mas sim do sistema solo-planta e atmosfera (ver
capítulo sobre ET). Relacionando ALT, ETP, ETR, DEF, EXC e ARM, poderemos
achar 5 situações diferentes mostradas na Figura 3 (valores hipotéticos).

• A situação 1: Como o ARM inicial era máximo (=CAD) e a P que ocorreu foi >= ETP
a demanda atmosférica foi totalmente atendida pois não houve falta de água no solo,
nessa situação a ETR foi igual a ETP sendo que ainda "sobrou água" ocorrendo EXC.

• Situação 2: Apesar do ARM inicial ter sido menor que a CAD, a chuva (P) que
ocorreu fez com que o valor da CAD fosse atingido ocorrendo uma reposição hídrica
no solo suficiente para que ETR fosse igual a ETP e ocorresse novamente EXC.

• Situação 3: As mesmas condições da situação 2 só que não sobrou água para o EXC.
(A chuva não foi tão intensa)
• Situação 4: Apesar do ARM inicial ter sido igual a CAD, a chuva (P) não foi tão
intensa (< ETP) ocorrendo uma diferença negativa entre P-ETP, denominada de
Negativo Acumulado. Nessa situação, como ARM< CAD a ETR < ETP, resultando em
DEF. Como houve uma diminuição do ARM temos uma retirada hídrica do solo.

• Situação 5: As mesmas condições da situação 4 só que o ARM inicial já era menor que
a CAD. O Balanço Hídrico Normal pode ser calculado tanto na escala diária como em
escalas maiores como a mensal, utilizando-se valores médios de vários anos. Dessa
forma ele (o BH), torna-se um indicador climatológico da disponibilidade hídrica de
uma região.

Figura 3. Representação das possíveis situações de variação do armazenamento,e sua


relação com ETR, DEF e EXC do balanço hídrico de Thornthwaite & Mather (1955).

Essa Metodologia também se aplica quando se quer fazer o acompanhamento da


disponibilidade hídrica regional em tempo real, para tanto, calcula-se o balanço hídrico
em períodos seqüenciais ao longo do ano ou do período de interesse, e não mais com
valores normais. Nessa Situação, o balanço hídrico é dito seqüencial ou seriado.
3.1 Roteiro para Elaboração do Balanço Hídrico Climatológico
Normalmente se emprega método de Thornthwaite, simplificado por Camargo
para a estimativa da ETP, todavia, ETP pode ser utilizado com ETP estimada por
qualquer método. É óbvio que se for outro método então serão apresentadas as colunas
na planilha correspondentes à necessidade de cada método de estimativa. A vantagem
do método Thornthwaite é que são necessários apenas dados de temperatura e de chuva,
que representa a principal entrada de água no solo, em condições naturais.

a) PREENCHIMENTO DOS CÁLCULOS POR COLUNAS

Para obtenção da ETP


T (ºC): Preencher com a temperatura média do ar do local, nos meses correspondentes
ETp: Determinar mensalmente a evapotranspiração padrão não corrigida pelo método
de Thornthwaite simplificada por Camargo ETP
Cor: Preencher com os valores da Correção de ETp para cada mês, em função da
latitude local.
A partir desta coluna, usar números inteiros fazendo aproximações nos cálculos

• ETP: Calcular mensalmente a evapotranspiração potencial (ou seja,


ETP=ETp.Cor). Representa a perda potencial de água por uma extensa
superfície vegetada com grama, em crescimento ativo e sem falta de água

• P: Preencher as alturas pluviométricas (chuva) de cada mês

• P – ETP: Mantém-se os sinais positivo ou negativo. Valor positivo significa


chuva em excesso e, valor negativo representa perda potencial de água nos
meses secos quando o solo apresenta pouco armazenamento de água. A situação
mais comum, quando se usa dados normais é a existência de um conjunto de
valores positivos seguidos por um conjunto de valores negativos de P-ETP,
depende, porém, das condições do local.

As duas próximas colunas (NEG. ACUM. e ARM) devem ser preenchidas


simultâneamente. Inicia-se o preenchimento coluna NEG. ACUM. no primeiro mês
em que ocorrer o valor negativo de P-ETP, após um período de valores positivos.
Nesse 1º mês o NEG.ACUM. Será igual a P-ETP. Com esse valor calcula-se o valor
da coluna ARM pela equação abaixo

Neg .acumulado
ARM  CAD  e CAD

• NEG.ACUM.: Denomina-se de Negativo Acumulado ao somatório da


seqüência de valores negativos de P-ETP.

• ARM: Representa o armazenamento de água do solo.

Se no próximo mês também apresentar valor negativo de P - ETP, acumula-se este


com o valor do mês anterior e utiliza-se esse valor para o cálculo de ARM. Isso
prossegue enquanto P - ETP for NEGATIVO
Quando aparecer um mês com P-ETP POSITIVO (após a sequência de P-ETP
negativos), procede-se da seguinte forma:
ARM

Neg.Acumulado  CAD  ln CAD

Após o preenchimento dessas duas colunas, prossegue-se com as demais, uma de


cada vez

• ALT: Representa a alteração do armazenamento. É obtida pela diferença entre o


ARM do mês em questão e o ARM do mês anterior.
±ALT = ARMATUAL - ARMANT

• ETR: Representa a evapotranspiração real, aquela que realmente ocorre em


função da disponibilidade de água do solo. Existem 2 situações distintas para seu
cálculo:
- Quando P - ETP > 0 ETR=ETP
- Quando ALT ≤ 0 ETR=P + │ALT│

• DEF: Representa a deficiência hídrica, ou seja, o quanto de água deixou de


evapotranspirar (em relação à ETP).
DEF=ETP-ETR

• EXC: Representa o excedente hídrico, é a água que se perde por drenagem


profunda após um período chuvoso, existindo 2 situações:
- Quando o ARM < CAD EXC = 0
- Quando o ARM = CAD EXC = (P - ETP) – ALT

EXEMPLO 1:
Local: Ribeirão Preto (SP) Latitude: 21°11’S Período: 1961-1990 CAD = 100mm

Aferição Dos Cálculos


Depois de terminado o Balanço Hídrico Normal é conveniente verificar a
exatidão dos cálculos, através das seguintes relações:
ΣP = Σ ETP + Σ (P - ETP)
ΣP = Σ ETR + Σ EXC
Σ ETP = Σ ETR + Σ DEF
Σ ALT = 0
Aferição do exemplo:
Σ P = Σ ETP + Σ (P - ETP) 1534 = 1096 + 438 = 1534
Σ P = Σ ETR + Σ EXC 1534 = 1021 + 513 = 1534
Σ ETP = Σ ETR + Σ DEF 1096 = 1021 + 75 = 1096
Σ ALT = 0

3.2 Inicialização do Balanço Hídrico Climatológico Normal


Existem várias maneiras de se inicializar o balanço hídrico climatológico
normal. O critério proposto por Thornthwaite & Mather (1955) é o de que o solo se
encontra na capacidade máxima de armazenamento no final do período úmido, ou seja,
NEG.ACUM = 0 e ARM = CAD. Caso isso não seja a realidade (SALT ¹ 0), procede-
se novamente os cálculos do balanço hídrico com o último valor encontrado para o
ARM no final do período úmido e assim sucessivamente até que a SALT seja igual a
zero na aferição final. Esse critério é facilmente aplicável em regiões onde o clima é
úmido ou super-úmido, onde as chuvas no período úmido são suficientemente elevadas
para reabastacer completamente o armazenamento de água no solo. No entanto, em
regiões onde isso não ocorre (regiões de clima semi-árido e árido), o critério desses
autores torna-se um processo repetitivo, demandando tempo e dificultando sua
informatização.
Outro critério de inicialização do balanço hídrico é o proposto por Mendonça
(1958), o qual é válido no caso da região ter uma estação úmida e uma estação seca.
Esse critério possibilita se determinar os valores corretos de ARM e NEG.ACUM
dispensando os cálculos iterativos originalmente propostos por Thornthwaite & Mather
(1955). O critério parte da soma dos valores de P-ETP da estação seca (N), negativos, e
da soma dos valores de P-ETP da estação úmida (M), positivos, dividindo-se em dois
casos:

a) Caso 1: soma anual de P-ETP ³ 0 - neste caso no final do período chuvoso o solo está
plenamente abastecido de água (ARM = CAD) (O que ocorreu no exemplo de Ribeirão
Preto).

b) Caso 2: soma anual de P-ETP < 0 e CAD > M - Como a CAD > M, o ARM nunca
será igual à CAD, sendo assim desconhecidos os valores iniciais de ARM e
NEG.ACUM. A solução proposta por Mendonça (1958) é a seguinte:

 M 
Neg.acumulado  
 Ln  CADN 
CAD 1  e CAD 
 

Se porventura ocorrer soma anual de P-ETP<0 e CAD< M, significa que no fim


do período chuvoso o ARM aumentará até atingir o valor da CAD então inicia-se o
balanço conforme o caso 1.
EXEMPLO 2:
O BHC de Barra-SP foi inicializado como proposto por Mendonça (1958) pois
Σ(P - ETP)ANUAL < 0 e a soma dos valores positivos de (P - ETP) foi inferior a CAD,
indicando que no fim do período chuvoso (P-ETP > 0) o ARM não atingiu a CAD.
BARRA -SP (LAT. 21,1ºS) CAD=125 mm

Neste caso: N = - 775,0 mm


M = 11,0 mm

 11 
Neg.acumulado  
 Ln  125  775 
= -2,4284
CAD 1  e 125 
 
Então, ARM = CAD . exp (NEG.ACUM/CAD) = 125 . exp (-2,43) = 11,02 mm será o
ARM do último mês do período de P – ETP > 0 (Abril)

11.4. Representação Gráfica do Balanço Hídrico


A representação gráfica tem por finalidade permitir a visualização do ritmo
anual dos elementos do balanço hídrico para facilitar sua interpretação.
Tradicionalmente essa representação pode ser completa ou simplificada.

• Completa: plota-se os dados de Precipitação (P), ETP e ETR, pelas áreas


formadas obtém-se os EXC (ETP>P), DEF (ETR<ETP), REPOSIÇÃO (ALT
>0) e RETIRADA (ALT<0). O período com EXC significa que as chuvas (P)
foram maiores que a ETP. Nessa situação ETR=ETP pois não há restrição de
água no solo. No início do período seco, o solo ainda tem água suficiente para
atender a demanda atmosférica por no mês de abril, mas depois, as chuvas sendo
inferiores a ETP, resulta em um período com restrição hídrica (DEF),
ocasionando ETR< ETP. No início do período chuvoso em setembro, as
primeiras chuvas são usadas para repor a água no solo e para manter a ETR, até
que finalmente o solo esteja plenamente abastecido (ARM=CAD) e as chuvas
cada vez maiores ocasionam novamente EXC (Figura 4).

Figura 4 - Representação gráfica completa do BH Climático da cidade de Ribeirão


Preto-SP (Período de 1961-1990).

• Simplificada: Também denominada de Extrato do Balanço Hídrico, essa


representação utiliza somente os valores de EXC (valores positivos) e DEF
(valores negativos).

Figura 5 - Representação gráfica simplificada do BH Climático (Extrato) da cidade de


Ribeirão Preto- SP (Período de 1961-1990).
11.5. Aplicações do Balanço Hídrico Climatológico (Normal)

O balanço hídrico climatológico tem várias aplicações, entre as quais destacam-se:

• Comparação da disponibilidade hídrica regional com outras áreas.

• Caracterização de secas e seus efeitos na agricultura, como redução da produção.

• Zoneamento Agroclimático: BHC serve de base para o estudo climático regional,


sendo a região classificada como apta, marginal ou inapta em função das exigências
térmicas e hídricas de um determinado cultivo.

• Determinação das melhores Épocas de Semeadura: indica qual época é menos


sujeita a restrições hídricas para a cultura em questão. Pelas Figuras 4 e 5, constata-se
que na região de Ribeirão Preto, SP, em média, a melhor época de cultivo para plantas
de ciclo anual sem irrigação é o período que se inicia em Outubro/Novembro e termina
em Março/Abril. Cultivos fora desse período só serão possíveis desde que se disponha
de suporte de irrigação para corrigir a deficiência hídrica regional. Dentro do período
chuvoso, há plenas condições para aparecimento de doenças e pragas pelo excesso de
umidade regional.

5. Alguns exemplos de possibilidades do Balanço Hídrico Climatológico (Normal)

Figura 6 - Balanço Hídrico Climatológico (Normal) de Catanduva-SP, latitude 21,1° S,


para CAD = 125 mm.
Figura 7 - Balanço Hídrico Climatológico (Normal) de Ubatuba-SP, latitude 24,5° S,
para CAD = 125 mm.

Figura 8 - Balanço Hídrico Climatológico (Normal) de Muritiba-SP, latitude 12° S, para


CAD = 125 mm.

Figura 9 - Balanço Hídrico Climatológico (Normal) de Barra-SP, latitude 21,1° S, para


CAD = 125 mm.
11.6. Balanço Hídrico Seqüencial
Thornthwaite & Mather (1955) descrevem que o balanço hídrico também pode
ser utilizado para o acompanhamento do armazenamento de água no solo em tempo
real, isto é, no momento ou até mesmo num determinado período já ocorrido. Este
balanço, deixa, então, de ser cíclico e passa a representar sequencialmente os valores de
entradas e saídas no sistema solo-planta-atmosfera. Esse tipo de balanço hídrico
climatológico recebe o nome de Balanço Hídrico Sequencial e pode ser feito em várias
escalas de tempo, como a diária, a semanal (7 dias), a decendial (10 dias) ou mensal.
A escala de tempo a ser empregada deve ser compatível com o Método de
Evapotranspiração Potencial e em última instância com objetivo da utilização do
balanço hídrico. Para se iniciar o sequenciamento do balanço deve-se partir de um
período onde o armazenamento seja pleno, isto é, ARM = CAD, pois neste caso não se
aplicam os critérios de inicialização propostos por Thornthwaite & Mather (1955) e de
Mendonça (1958), (este balanço não é cíclico). Os cálculos do balanço hídrico
seqüencial seguem a mesma orientação utilizada no caso do balanço hídrico cíclico
(normal).

EXEMPLO 3: Balanço Hídrico Seqüencial Decendial:

Local: Piracicaba (SP) Lat: 22°42’S Long: 47°38’W Alt.: 546m.


Período: Janeiro a Abrril Escala: Decendial CAD = 100mm Tanual=21°C

Observa-se através do balanço hídrico acima, que o armazenamento de água do


solo no dia 10 de abril de 1997 é de apenas 53mm, o que indica uma baixa
disponibilidade de água no solo para aproveitamento pelas plantas. Além disso, o
conhecimento das condições hídricas dos solos possibilita a tomada de decisão com
relação às atividades agrícolas, como: preparo do solo, semeadura, irrigação, colheita,
aplicação de defensivos, entre outras.
Esse tipo de balanço hídrico possibilita o acompanhamento em tempo real ou
quase real da disponibilidade de água no solo. No EXEMPLO 3, podemos verificar que
até o dia 10 de abril de 1997, o armazenamento de água no solo em Piracicaba era de
53mm, o que possibilita a tomada de decisão quanto a práticas de manejo do solo e
plantio.
O balanço hídrico seqüencial possibilita o acompanhamento da disponibilidade
de água no solo ao longo de vários anos e sua comparação com um ano médio (normal).
Isso também permite a quantificação de danos provocados às culturas, devido à alta
correlação entre a evapotranspiração relativa (ETR/ETP) e a produtividade das culturas.
11.7. Balanço Hídrico de cultura
O balanço hídrico visto até agora, denominado climatológico, visa o
conhecimento das condições do balanço de água no solo coberto por uma cobertura
vegetal padrão (grama), visto que a Evapotranspiração Potencial (ETP) e a
Evapotranspiração Real (ETR) são por definição, obtidas em uma extensa área
gramada, em crescimento ativo, cobrindo totalmente o solo, com altura entre 8 e 15 cm,
sem e com restrição hídrica, respectivamente.
O balanço hídrico de uma cultura, por sua vez, visa indicar o balanço de água no
solo levando-se em consideração diferentes tipos de cobertura do solo, ou seja,
diferentes tipos de cultura. Desse modo, entende-se que a evapotranspiração a ser
considerada neste tipo de balanço deve ser a Evapotranspiração da Cultura (ETc), a qual
é definida como sendo função da ETP, como segue:
ETc = ETP * Kc

Nesse tipo de balanço, é interessante que a capacidade de água disponível no


solo (CAD) seja determinada de acordo com as propriedades físico-hídricas do solo
como já comentado. As propriedades físico-hídricas dependem da textura e da estrutura
do solo e são extremamente variáveis; na grande maioria dos solos brasileiros a CAD
por unidade de profundidade variando de 50 a 200 mm/m de profundidade, sendo 130
mm/m um valor médio prático.
A profundidade efetiva do sistema radicular depende do tipo de solos, de cultura
e do regime hídrico e nutricional a que o solo está submetido. Devido a essas variações,
o ideal é que o cálculo da CAD seja feito para as condições locais e de cultura, inclusive
considerando-se a variação da profundidade do sistema radicular com o estádio de
crescimento da cultura. No caso de haver variação acentuada das propriedades físico-
hídricas com a profundidade, deve-se calcular a CAD de cada camada de solo, sendo a
CAD total da profundidade efetiva dada pelo somatório das CAD das camadas.

EXEMPLO: Determine da CAD para uma cultura de milho (Tabela 4: Zmilho = 500
mm) em 3 solos distintos:

Solo 1 - CC = 0,32, PMP = 0,2, D = 1,3g/cm3


CAD = (0,32 - 0,20) * 1,3 * 500 = 78mm

Solo 2 - CC= 0,25, PMP= 17, D = 1,2g/cm3


CAD = (0,25 - 0,17) * 1,2 * 500 = 48mm

Solo 3 - Camada 1: CC = 0,26 PMP = 0,19 d= 1,12 Z= 200 mm


Camada 2: CC = 0,30 PMP = 0,21 d= 1,21 Z= 300 mm
CAD1 = (0,26 - 0,19) * 1,12 * 200 = 15,68 »16mm
CAD2 = (0,3 - 0,21) * 1,21 * 300 = 32,67 »33mm
CADTOTAL = CAD1 +CAD2 = 16+33 = 49 mm

Conhecendo-se, portanto, ETc e a CAD podemos determinar então o balanço


hídrico da cultura, que seguirá basicamente o mesmo procedimento do balanço hídrico
climatológico seqüencial, podendo ser feito nas diferentes escalas de tempo (mensal,
decendial, quinqüidial ou diário). A relação ETR/ETc é muito importante pois informa
o quanto de matéria seca poderá deixar de ser produzida; se a relação for menor que 1 é
indicativo do quanto de evapotranspiração deixou de ser liberada por falta de umidade
no solo.
125

Tabela para aplicação do Balanço hídrico segundo THORNTHWAITE &


MATHER (1955).

Temp. ETP P P – EP NEG. ARM ALT ETR DEF. EXC.


Meses Correção
(°C) (mm) (mm) (mm) Acum. (mm) (mm) (mm) (mm) (mm)
Jan
Fev
Mar
Abr
Mai
Jun
Jul
Ago
Set
Out
Nov
Dez
Ano
126

12. ZONEAMENTO AGROCLIMÁTICO

12. 1. Considerações iniciais

O conhecimento do ambiente (clima e solo) é decisivo para o desenvolvimento


da agricultura produtiva rentável e sócio-economicamente viável. Das condições do
ambiente depende a distribuição da vegetação natural, das culturas e das diferentes
atividades agrícolas. Quanto melhor for o conhecimento que se tem das condições
ambientais prevalecentes numa região, mais apto se estará para a seleção das culturas
mais adequadas, das melhores épocas de plantio, das melhores variedades, dos sistemas
de cultivo mais racionais, objetivando uma agricultura mais produtiva. Portanto, as
condições ambientais devem ser adequadamente levantadas antes de se implantar uma
atividade agrícola.
Com relação ao clima, para se alcançar uma produtividade econômica cada
cultura necessita de condições favoráveis durante todo o seu ciclo vegetativo, isto é,
exigem determinados limites de temperatura nas várias fases do ciclo, de uma
quantidade mínima de água e de um período seco nas fase de maturação e colheita. O
atendimento dessas exigências é que fará de uma determinada região ser considerada
apta para uma dada cultura.
Ao se considerar a aptidão agrícola de uma região, é necessário considerar, além
dos elementos do clima, os seguintes fatores: a) edáfico (solo); b) social; c) econômico.
A associação desses fatores é que determina o Zoneamento Agrícola.
Resumindo, o Zoneamento Agroclimático é a arte da ciência de escolher a
espécie para um ambiente. No entanto, nas áreas adequadas ao cultivo de uma espécie o
sucesso do empreendimento agrícola ira depender dos fatores sócio-econômicos da
comunidade envolvida no processo produtivo. Combinando-se os fatores ambientais
(clima e solo), econômicos e sociais, se saberá qual o sistema agrícola mais adequado
para a região.

12.2. Aptidão climática

O zoneamento climatológico, é, em geral, o primeiro a se considerar. O


macroclima de uma região pode ser considerado praticamente invariável e característico
no decorrer de algumas décadas. Uma determinada espécie encontra aptidão climática,
para cultura comercial, em uma região em função das condições normais do clima. O
agricultor, eventualmente, pode corrigir certas deficiências, como a falta de água, ou se
utilizar de recursos para reduzir os efeitos de elementos adversos (geadas, granizos,
ventos fortes), mas não pode cultivar economicamente espécies não adaptadas ao clima.
Para o estudo da aptidão climática das espécies vegetais, é necessário o
conhecimento de suas exigências climáticas e das condições do ambiente em que irão se
desenvolver.

2.1. Necessidades climáticas das culturas

Os elementos do clima a serem considerados no zoneamento de uma cultura


dependem de suas necessidades climáticas. Isso envolve o estudo das condições
climáticas tanto da região de origem da planta como das principais áreas onde há cultivo
econômico da espécie.
127

As necessidades climáticas de uma cultura não são constantes durante toda a


estação de cultivo. Assim, a variação sazonal do clima também é muito importante no
zoneamento. Em geral, culturas anuais demoram de 3 a 6 meses para completar o seu
ciclo (semeadura-maturação/colheita). Portanto, o planejamento da semeadura pode ser
feito para a adequação às condições climáticas. Culturas perenes, no entanto, não
permitem tais ajustes e deve ser implantadas em condições de clima que minimizem os
estresses ambientais.

Temperatura do ar
As culturas variam quanto à sensibilidade à temperatura do ar. Em geral, há um
limite inferior e um superior de temperatura, aquém e além dos quais o crescimento e
desenvolvimento das plantas é fortemente prejudicado e até mesmo totalmente inibido.
Plantas tropicais são sensíveis à ocorrência de geadas e a melhor proteção ainda é a sua
implantação em áreas onde a probabilidade de ocorrência desse fenômeno é menor.
Plantas de clima temperado exigem um período invernal com frio suficiente para que
haja repouso vegetativo e preparação para a próxima estação de crescimento.
As principais características térmicas consideradas no zoneamento agroclimático
são: temperatura média do ar; temperatura médio do mês mais frio; temperatura média
do mês mais quente; probabilidade de ocorrência de geadas; probabilidade de
ocorrência de temperaturas elevadas.

Balanço hídrico
A chuva é apenas um dos componentes do balanço hídrico, ou seja, ela
representa apenas a entrada de água no solo e mananciais, e não deve ser considerada
isoladamente no zoneamento agroclimático. A evapotranspiração, que corresponde à
água que sai do sistema, é outro elemento igualmente importante no balanço hídrico. A
variação sazonal do balanço hídrico mostra se há ocorrências de épocas com excesso e
com falta de água na região. Essa variação sazonal deve ser considerada no
planejamento das melhores épocas de semeadura e de colheita para a região.
Em algumas situações, onde o valor econômico da cultura permite, deficiências
hídricas podem ser corrigidas com irrigações. Os principais elementos fornecidos pelo
balanço hídrico e utilizados em um zoneamento agroclimático são: deficiência hídrica
mensal e anual; excedente hídrico mensal e anual.
Devido a estreita ligação entre umidade do solo e umidade do ar, os dados de
excedente hídrico são uma ferramenta importante na avaliação da possibilidade de
ocorrência de doenças de plantas, servindo para o zoneamento de áreas de escape de
patógenos.

12.3. Determinação da potencialidade agroclimática de uma região

Para se determinar a potencialidade agroclimática de uma dada cultura, são


necessárias as seguintes etapas:

a) conhecimento da fenologia e características da cultura:


- época de crescimento – duração do ciclo da cultura (semeadura a
maturação/colheita);
- estádios críticos de desenvolvimento – fases fenológicas mais susceptíveis às
condições adversas do clima;
- duração das fases fenológicas;
128

b) necessidades climáticas da cultura:


- limites requeridos pela cultura para cada elemento do clima;
- elementos climáticos a serem considerados.

c) mapeamento dos elementos climáticos:


- por interpolação com auxilio de sistema computadorizado de informações
geográficas (SIG). Normalmente utilizados para os elementos do balanço hídrico;
- por equação de regressão que relacionam o elemento climático com fatores
geográficos (latitude, altitude e longitude) da região. Normalmente utilizado para a
temperatura do ar.

d) sobreposição das cartas climáticas (Zoneamento Agroclimático), preparadas no item


anterior, considerando-se as necessidades da cultura em questão na região em que será
delimitada, em:
- áreas onde a cultura pode ser cultivada economicamente (área apta);
- áreas onde a cultura encontrará sérias restrições climáticas para seu
crescimento e desenvolvimento (Área inapta);
- áreas onde as restrições climáticas não são totalmente limitantes ao cultivo
(área marginal), que podem ser utilizadas se:
- os solos forem profundos, no caso de deficiência hídrica;
- a irrigação for economicamente viável;
- houver disponibilidade de variedades resistentes.

e) Sobreposição do zoneamento agroclimático às cartas de capacidade de uso do solo e


aos fatores sócio-econômicos gerando o Zoneamento Ecológico para a cultura em
questão.

12.4. Considerações finais


As condições ambientais são fundamentais ao sucesso das atividades agrícolas e,
portanto, devem ser adequadamente acessadas.
O zoneamento agroclimático se preocupa com o macroclima, isto é, com o clima
do município, que é determinado pelas observações obtidas em postos meteorológicos
padronizados. No entanto, dentro do clima regional estão os topoclimas e os
microclimas, que são estabelecidos pelo relevo local e pela cobertura do terreno. O
zoneamento agroclimático feito a nível macroclimático não entra em detalhes topo e
microclimáticos. Considerar essas duas escalas de clima, é nesse caso, função dos
profissionais envolvidos no processo produtivo, pois depende da análise das condições
da propriedade.
O zoneamento agroclimático é um instrumento de orientação e suporte técnico,
sendo de fácil compreensão e utilização. Deve-se deixar bem claro quais são os
impedimentos das áreas marginais e inaptas, pois, com o melhoramento genético podem
surgir variedades resistentes/tolerantes, sendo possível a sua utilização em áreas
marginais. Portanto, o zoneamento agroecológico não é definitivo, sendo passível de
mudança e revisões com o tempo.

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