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PERGUNTE.ME
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ERNESTO VON RÜCKERT

PERGUNTE.ME

CLUBE DE AUTORES
2013
Copyright © 2013 – Ernesto von Rückert

Ficha catalográfica

Rückert, Ernesto von, 1949 –


R279p Pergunte.me / Ernesto von Rückert
2013 São Paulo: Clube de Autores, 2013.
356p.; 21 cm
ISBN (em preparo)
1. Ensaio. 2. Literatura Brasileira. I. Título
CDD 814

Viçosa, Minas, março de 2013

Revisão e diagramação do autor


A meus filhos
Érika Alessandra
Dimitri Aleksander
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SUMÁRIO

PREFÁCIO ..................................................................................................................................... 9
INTRODUÇÃO .......................................................................................................................... 11
PERGUNTAS E RESPOSTAS .............................................................................................. 13
BIBLIOGRAFIA ......................................................................................................................313
GLOSSÁRIO .............................................................................................................................319
ÍNDICE DE QUESTÕES POR ASSUNTO ......................................................................345
ÍNDICE REMISSIVO (por página) .................................................................................347
PREFÁCIO
O QUE O ERNESTO “ACHA”
O Ernesto pode “achar” (as respostas que dá) porque sabe (soube) procu-
rar e encontrar perguntas – tanto as que responde para si mesmo, quanto as que,
solicitamente, responde para os outros. O verbo “achar” pode dizer, ao mesmo
tempo, “encontrar” (fisicamente) alguma coisa e “ter uma opinião” sobre. É dessa
categoria que ele quer que consideremos suas respostas (palavras suas, no pará-
grafo 4, da Introdução). Mesmo quando, mais do que opinar, responde efetiva e
objetivamente. Neste caso, porém, chamar de opinião sua resposta é sinal de mo-
déstia de sábio.
O livro do Ernesto não é de se ler uma só vez e julgar-se, a partir daí, ca-
pacitado a prefaciar, embora, por seu dinamismo e vivacidade, se impregne tão
fortemente no leitor que deixa parecer que dispensa de ler de novo. Mas será um
erro.
Primeiro, ele é, por sua origem, multifacético, pois as perguntas que se
propõe responder são as mais diferentes, disparatadas e desconexas, quando vis-
tas em conjunto, e suas respostas compõem-se de fatos (que ele pode afirmar
com base científica) e de opiniões, que ele embasa em vasto conhecimento. Em
qualquer dos casos, considerei-as muito bem dadas, embora, sendo menos cava-
lheiresco e educado, se fosse eu a responder, mandaria mais “chumbo grosso”, no
consulente e na questão. Por exemplo, na resposta em que ele sugere ler Josué
como mostra das violências de Jeová, na Bíblia, eu acrescentaria os Evangelhos,
em muitos pontos sementes de violências iguais, embora não piores (não haveria
como).
Segundo, trata-se do professor e extremo estudioso Ernesto von Rückert,
o auto-definido “nerd” da resposta 24 (confirmada pela 532). Se Platão estiver
certo, no seu Crátilo, ou dos Nomes, o nome corresponde ao ser, tem a ver com
sua natureza. Ora, Ernesto vem do alto alemão antigo “ernust”, lutador, resoluto,
decidido (não, necessariamente, egocêntrico, como ele esclarece, protestativa-
mente, na resposta 601, pergunta de atrevido).
A partir daqui, tomando liberdades com a Semântica de uma língua que
conheço só por alto, lembro que “rück”, devolução, pode remeter a volta, dorso,
olhar por trás para entender as entranhas da coisa – como fazemos, pelas costas,
quando queremos ver o mecanismo de uma boneca falante -, e devolver, em in-
formações (fatos) ou opiniões, o conhecimento obtido nesse trabalho de ver por
trás, por dentro. Eis aí o encalacrado prefaciador já antevendo uma luzinha no
fim do túnel de sua tarefa, se não for a lanterna acesa de uma locomotiva ...vindo!
Porque o livro pulula e saltita em suas mãos, como o fará nas de qualquer bom lei-
tor. Repetirei: bom leitor ...!
Terceiro: o trabalho do Ernesto é uma obra de generosidade. Que outra
motivação o moveria a distribuir tão randomicamente o seu saber, acolhendo
perguntas verdadeiramente a esmo e se esmerando para deixar nenhuma sem
resposta?
Exatas, Humanas, ou, particularizando: Matemática, Física, Música, Ótica,
Filosofia, Religião, Esoterismo e muito mais, de tudo o Ernesto tira dúvidas, ora
com fatos que conhece, ora com opiniões sempre abalizadas. E, para atender a es-
sa obra verdadeiramente missionária, seu livro é vivo, inquieto, cada resposta é
corajosa, estimulante, proativa. Por exemplo: Pergunta / resposta número
602:Quero lhe dizer que, a cada dia, você ajuda a me transformar numa pes-
soa melhor. / Fico feliz de ler isso, pois é justamente o que me proponho fa-
zer....
Pois bem, além de, a um prefácio, não caber a pretensão de explicar a
obra que precede – no máximo cabe-lhe estimular a curiosidade do leitor (se for
lido!) -, é imperativo que seja curto. Por isso, passo a recomendar que se leia e re-
leia essa obra, autenticamente, de professor e divulgador, que não refuga pergun-
tas, reparte seu conhecimento, não teme pôr seu pescoço na forca dos preconcei-
tos e fanatismos (principalmente neste nosso canto tão progressista e nada pro-
vinciano), sendo o ernust, lutador resoluto, e o rückert, o pesquisador que esmi-
úça o interior das questões, o autoconfessado “nerd” que seu texto comprova.
Estou à vontade para saudá-lo por colocar sua vasta cultura a levar co-
nhecimento onde houver crendice. Não ousarei dizer que, na pergunta / resposta
443, por exemplo, ele se aproxima suficientemente do nobre ideal de levar dúvida
onde houver fé (nem é sua intenção). Leiam lá. Os que concordarem e os que não.
Mas leiam. O Ernesto desasna e faz pensar.
José Levy de Oliveira
Academia de Letras de Viçosa
INTRODUÇÃO
Sou usuário da internet desde a década de oitenta do século passado, quando
fazia uso da Bitnet, na Universidade Federal de Viçosa, em que lecionava. Muito antes
da Web e do Windows, eu usava telnet e e-mail, pelo VMS dos mainframes da IBM.
Meu primeiro microcomputador foi um PC-AT 286, com o MS-DOS. Entrei para a in-
ternet ao comprar um modem e me conectar com um provedor local, a Homenet, já em
um PC-486. Foi pela internet que conheci minha atual mulher, Fátima. Fui um dos
primeiros usuários do ICQ e uso o Orkut desde sua vinda para o Brasil. Tenho um site
e um blog desde 2005 (www.ruckert.pro.br/blog) e participo de vários sites como Fa-
cebook, Orkut, Twitter, YouTube, Picasa, Scribd, Delicious e outros. No Orkut tenho
tido uma participação bem ativa em muitas comunidades de discussão, especialmente
sobre Filosofia, Religião, Ciências, Física, Matemática, Informática, Cosmologia, Astro-
nomia, Neurociências, Evolução, Ecologia, Educação, Artes, Música, Literatura e Cultu-
ra em geral. Em fevereiro de 2010 conheci o Formspring e me cadastrei, aguardando
as perguntas (www.formspring.me/wolfedler). Para minha surpresa elas vieram aos
montes, perfazendo quase onze mil, nesses 38 meses, das quais ainda me faltam umas
mil para responder. O fluxo de chegada é, em média, dez por dia, mas tem crescido ul-
timamente para umas trinta por dia. O curioso é que as perguntas são, em geral, muito
interessantes. Tive a idéia de reuni-las em um livro para publicar. Minha enteada Ma-
yra compilou-as em um arquivo texto. Procedi a uma revisão, excluindo algumas sem
importância e outras repetidas, e eis aqui o livro pretendido, com as primeiras 602
perguntas. Novos volumes seguirão, havendo aceitação.
As perguntas estão numeradas na ordem cronológica de minhas respostas e
não da chegada das perguntas. Quando abro o site, respondo logo as que já tenho a
resposta pronta. Outras, porém, requerem consulta e estudo, de modo que as deixo
para depois, quando já tiver feito o estudo. Para comodidade do leitor, incluí uma lis-
tagem das perguntas por assunto, ao fim. Incluí, também, um glossário dos termos
mais técnicos que empreguei, já que, possivelmente, nem todos dominam todo o voca-
bulário usado. O livro possui, ainda, uma bibliografia das referências que consultei pa-
ra as respostas. A referência bibliográfica, todavia, não está remetida a cada pergunta
em que foi utilizada. Tampouco citei as inúmeras consultas a sites da internet. Muitas
foram feitas à Wikipedia em sua versão em inglês, já que a portuguesa, salvo exceções,
não é muito boa. Na Wikipedia, inclusive, há referências a sites sobre o assunto do ar-
tigo. Muitos sites interessantes podem ser encontrados em meu Delicious
(www.delicious.com/ernestovon). Muitas respostas tiveram por base minhas publica-
ções no blog do meu site (www.ruckert.pro.br/blog), no meu outro blog da Blogger
(wolfedler.blogspot.com), no Facebook e nas comunidades de discussão do Orkut de
que participo, cujas postagens são transcritas em minha comunidade Wolf Edler do
Orkut.
O conteúdo do livro não é uma escolha minha, mas dos internautas que me
dirigiram as perguntas. Certamente, eles tomaram por base o tipo de assunto que
abordo em meus blogs e nos sites de discussão e relacionamento de que participo.
Poucas questões foram rejeitadas e, quando o foram, é porque se tratavam de pergun-
tas completamente inconvenientes ou descorteses. Posso dizer que desfrutei de um
grande prazer intelectual em responder todas as perguntas, muitas que, até mesmo,
descortinaram panoramas até então não contemplados por mim, consistindo em um
lúdico processo de aprendizagem.
É preciso que fique claro que este não é um livro técnico e nem uma obra de
referência. Tudo o que está dito é minha opinião sobre cada tema. É o que eu acho a
respeito. Mas o que eu acho é fruto de minhas leituras, meus estudos, meus cotejos e
minhas reflexões, além de conversas e trocas de opinião que travo com amigos e pela
internet. Todavia, sou inteiramente aberto a mudar meu modo de pensar, se for con-
venientemente convencido por bons argumentos. O mais importante, para mim, não é
achar as respostas, mas formular e discutir as perguntas. Para isso o Formspring é
ideal. A responsabilidade sobre tudo o que está dito, contudo, é inteiramente minha.
Essas respostas, contudo, foram dadas em 2010. De lá para cá, posso ter mudado mi-
nhas opiniões em função do que tenho lido e estudado. Espero dar prosseguimento a
este livro com as demais perguntas já respondidas.
Não posso deixar de expressar meus agradecimentos a minha enteada Mayra
Resende Alexandre, Veterinária, que me secretariou na elaboração do livro, ao meu
caro amigo e confrade da Academia de Letras de Viçosa, José Levy de Oliveira, por ter
escrito o prefácio, ao professor Adil Rainier Alves, diretor do Colégio Anglo, por todo o
apoio, à minha mulher Maria de Fátima Alves Resende Alexandre, pelo incentivo e pe-
la paciência e aos inúmeros internautas que enviaram as perguntas, sem as quais este
livro não existiria.
Espero que a leitura deste livro abra a mente de todos para novas e ousadas
possibilidades, para novas concepções e visões de mundo, no intuito de se construir
uma sociedade próspera, justa, harmônica e fraterna, em que todos alcancem a felici-
dade e vivam significativamente suas vidas. Convido-os, portanto, a visitar meu For-
mspring e formular novas perguntas, que entrarão nos próximos volumes desta obra,
num futuro nem tão distante. Convido-os, também, a acessar meu site e visitar as de-
mais páginas de internet de que participo.

Ernesto von Rückert


www.ruckert.pro.br
www.formspring.me/wolfedler
PERGUNTAS E RESPOSTAS
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PERGUNTE.ME

1. Você acredita no “Intelligent Design”? (Cosmologia, Evolução)


Absolutamente não. Trata-se de uma manobra evasiva para dar um caráter
científico ao criacionismo, que não possui nenhum fundamento sólido, como é o
caso das teorias científicas cosmológicas e biológicas do surgimento do Universo,
da vida e sua evolução.
2. Qual a causa e a origem do Universo? (Cosmologia, Metafísica)
O Universo não possui causa e nem procedência. Seu surgimento deu-se de
modo fortuito, sem que tenha sido proveniente de coisa alguma que o antecedes-
se. Isso não é proibido por nenhuma consideração física ou filosófica, pois, não
existindo Universo, não há também lei natural nenhuma a ser seguida. Causa não
é uma necessidade para os eventos, como o demonstram miríades de eventos in-
causados que ocorrem a todo o momento, como a desintegração radioativa e a
emissão de luz por átomos excitados. Além disso, não há impedimento para o
surgimento de algo sem provir de outra coisa. Note que não estou dizendo que
isso significa que haveria algo, denominado “nada”, do qual tudo tenha surgido.
“Nada” não é coisa alguma e não pode gerar nada. Mas o surgimento de algo não
requer que tenha sido criado nem que seja gerado por algo antecedente. Se o Uni-
verso tivesse sido criado por alguma entidade extrínseca a ele, certamente que
essa entidade o teria feito a partir de nada, pois nada existia. A não ser que ela o
fizesse a partir de si mesma, como o quer o Panteísmo. Nesse caso, contudo, ela
não seria extrínseca ao Universo e a criação seria, meramente, uma transforma-
ção, uma vez que ele, então, já existia desde sempre.
3. Como você se porta em relação ao vegetarianismo? (Pessoal, Saúde)
Não sou vegetariano, mas considero salutar o consumo moderado de carne,
dando-se preferência à branca. O que observo é que, na natureza, animais comem
outros animais e o ser humano é capaz de digerir carne, portanto não é herbívoro.
Acho, contudo, que o abate de animais deve ser feito do modo mais indolor possí-
vel.
4. Em que você baseia sua moral e por quê? (Ética, Pessoal)
Acho que a moral tem que seguir três princípios éticos: que toda ação pro-
mova a maximização da felicidade para o maior número de seres, que possa ser
erigida como norma universal e que seja tal que a desejemos para nós mesmos.
Atendendo a tais critérios as ações serão sempre benéficas à coletividade e à pró-
pria pessoa, no cômputo final. O bem e o mal são noções válidas por si mesmas,
sem necessidade de referências extrínsecas à ética, como uma possível vontade
divina.
5. Você considera a posição agnóstica viável ou que seja apenas um enga-

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Ernesto von Rückert

no na compreensão do significado dessa palavra? (Ateísmo)


Não aceito o agnosticismo porque considero que a existência ou não de Deus
é algo passível de verificação, mesmo que ainda não se tenha uma resposta defini-
tiva. Posiciono-me pelo ateísmo cético ou não dogmático, pois vejo que os maio-
res indícios são no sentido da inexistência de Deus.
6. "Nada não é coisa alguma e não pode gerar nada." O nada-jocaxiano
não é considerado por você? (Cosmologia)
O nada jocaxiano é simplesmente nada, isto é, a ausência de tudo, inclusive
de regras. Logo não é capaz de gerar coisa alguma. Mas as coisas podem surgir
sem terem sido geradas. Quando se diz "surgir do nada", quer-se dizer que surge
sem ter do que provir. O correto seria dizer “surgir de nada”, pois “nada” não é
algo.
7. O que você acha dos argumentos em prol da existência de Deus apre-
sentados nesse vídeo comercial sobre Einstein quando estudante?:
http://www.youtube.com/watch?v=VqgcrJs5cPE (Ética)
Há certos valores que se distribuem positivamente a partir do zero, como é o
caso da luminosidade e da temperatura, isto é, escuridão é apenas baixa lumino-
sidade e frio é apenas baixa temperatura. Outros, contudo, estendem-se a partir
do zero no sentido positivo e no negativo, como a carga elétrica. Tal é o caso da
beleza e da feiúra, como do bem e do mal. Mal não é apenas a ausência do bem. É
algo deliberadamente urdido para causar dor, prejuízo, sofrimento, tristeza, infe-
licidade. Ausência do bem e do mal é a indiferença, uma situação neutra. Além do
mais, o mal não é apenas o produto de uma ação consciente. Pode ser resultante
de ocorrências da própria natureza, como catástrofes, doenças etc. Se Einstein
disse o que esse vídeo mostra, ele equivocou-se em sua analogia. De fato, em de-
sacordo com essa idéia, proposta por Agostinho de Hipona, o mal é uma realidade
em si e, portanto, se tudo o que existe é obra de Deus, também o é o mal e, se Deus
o permite, ou não é bom ou não é onipotente. É o argumento de Epicuro. Isso,
contudo, não comprova que ele não exista, pois pode ser que, existindo, de fato,
não seja bom.
8. Você considera que a Matemática existe no mundo ou está apenas na
mente humana? A propósito, como você se coloca em relação à mente
humana? Você é eliminativista? (Matemática, Neurociências)
Os fatos matemáticos existem no mundo, mas a construção de um arcabouço
teórico que os correlacionem e expliquem é um construto mental, que, inclusive,
pode transcender aos fatos existentes no mundo e conceber sistemas puramente
abstratos, sem relação nenhuma com a realidade. Todavia, a Matemática que se
presta a descrever os fenômenos naturais é calcada em um modelamento da pró-
pria realidade natural. Em outras palavras, a própria lógica, que é decorrente do

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PERGUNTE.ME
modo operacional da mente, é tal qual é porque a natureza opera segundo as leis
que existem para descrever seu comportamento. Se o Universo tivesse surgido
funcionando de outra forma, com outras leis descritivas, a lógica não seria como
é. Isso inclui qualquer concepção de lógica e não apenas a dicotômica tradicional.
Quanto à mente, não compartilho da concepção eliminativista de que não existam
estados e processos "mentais", mesmo que conceba a mente como uma ocorrên-
cia do organismo, sem participação de nenhuma entidade de ordem não física,
como algum tipo de "alma". O que se dá é uma categoria de fenômenos complexos
ocorridos, especialmente no sistema nervoso, mas não apenas, que se configuram
nos estados e processos ditos "mentais", como percepções, pensamentos, raciocí-
nios, emoções, sentimentos, desejos, volições e tudo o mais em que consiste a "vi-
da psíquica", de acordo com a psicologia popular, tão defenestrada pelos elimina-
tivistas. No entanto, o eliminativismo dá grande contribuição à psicologia e às
neurociências, ao procurar encontrar que ocorrências neurais correspondem a
tais estados e processos psíquicos.
9. Qual é sua opinião sobre Leonardo Boff e a “Teologia da Libertação”?
(Política, Religião, Anarquismo)
A doutrina de Boff, a "Teologia da Libertação", em resumo, considera Jesus
Cristo e, em decorrência, sua Igreja, como agentes libertadores da opressão dos
pobres pelos ricos. Que os pobres sejam oprimidos pelos ricos e precisem ser li-
bertados, tornando-se ricos, não resta dúvida. Que isso tenha sido o projeto de
Jesus Cristo é que não confere, pois sua pregação foi no plano espiritual. Preten-
der associar o Cristianismo ao Marxismo é um equívoco, pois o Marxismo, dentre
outras propostas, pretende, exatamente, libertar o homem do jugo das religiões,
consideradas "o ópio do povo". Sou um ateu anarcocomunista, mas não um mar-
xista, pois repudio a luta de classes e a ditadura do proletariado. Minha linha se
aproxima mais de Bakunin, Kropotkin e Malatesta, mas sou pacifista. Considero
que o anarquismo é um caminho natural da humanidade, fatalmente a ser atingi-
do, cujo alcance, contudo, pode ser abreviado por um processo educativo e por
medidas políticas democráticas. Mas é um longo processo, da ordem de séculos.
10. O que você acha do governo e do regime cubanos? (Política)
Sou um comunista que abomina as ditaduras. O governo cubano é ditatorial.
Isso macula tudo quanto de bom ele possa ter feito.
11. Você acredita que todas as retas se encontram no infinito? (Geometria)
Não é uma questão de crença. Retas podem ser concorrentes em qualquer
lugar. O conjunto de todas as retas paralelas a alguma dada reta é que não se in-
terceptam em lugar nenhum, exceto se forem coincidentes, caso em que se inter-
ceptam em todos os pontos. Infinito, em geometria, não é um lugar e sim uma ex-
pressão para algo que esteja mais afastado do que qualquer distância que se pos-
sa conceber.

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Ernesto von Rückert

12. Qual sua concepção sobre infinito? (Matemática)


Infinito é uma noção que descreve a idéia de algo que seja maior do que a
maior coisa (número, tamanho, tempo, distância) que se possa conceber. Infinito
não é algo, concretamente falando. Não é um número para especificar nenhuma
grandeza. Não obedece nenhuma regra operacional dos números. Para ser mani-
pulado é preciso recorrer-se aos limites, em Matemática. No entanto existem vá-
rias modalidades de infinito, com propriedades distintas. O infinito enumerável
não é o mesmo do infinito contínuo, por exemplo. Escrevi um trabalho, quando na
graduação em Matemática, sobre os Cardinais Transfinitos, no qual abordo essas
questões. Veja-o em:
http://www.ruckert.pro.br/blog/?page_id=114
13. O que o governo cubano tem de ditatorial? (Política)
Em Cuba existe um partido único. Fidel ficou décadas no poder, sem rodízio
nem eleições presidenciais. Raul foi eleito como candidato único, pois não existe
oposição legal. As pessoas não têm liberdade de expressão e várias outras. Isso é
ditadura!
14. Qual sua fruta preferida? Qual a cor que você prefere? Por quê? (Pesso-
al)
Prefiro a manga por seu sabor e sua textura incomparáveis. Prefiro o azul,
pois me traz a sensação de imensidão e paz.
15. O que tem a dizer sobre o estado de nirvana? (Pessoal, Espiritualidade)
Não acho nada interessante se estar em um estado de desligamento sensori-
al e de vazio de pensamentos total. Prefiro a meditação monástica ocidental à ori-
ental. Na ocidental você disciplina o pensamento para um foco, sobre o qual recu-
pera todas as suas memórias e desenvolve todas as associações, articulações e
conclusões que conseguir tirar, esgotando o tema em sua mente e planejando as
investigações que terá que fazer para dominá-lo mais ainda. Alternativamente
pode-se focar a mente em um tema contemplativo, de forma a provocar sensações
e pensamentos suaves, doces, inebriantes e calmos, para fruir uma paz verdadei-
ramente celestial. Atingir o nirvana é negar à mente a fruição do prazer de pensar
e de sentir.
16. Você considera mais importante a Metafísica e as ciências formais ou
as ciências produtivas? Explique sua escolha. (Ciência)
Nem mais nem menos. Tanto quanto. As disciplinas formais e teóricas são
importantes como ferramentas e como embasamento para os conhecimentos
aplicados. Esses, por sua vez, são os que resolvem os problemas práticos da exis-
tência. Mas eles não seriam nem eficazes nem eficientes se não houvesse aqueles.
Além do mais, os conhecimentos teóricos suprem a curiosidade humana pelo en-

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PERGUNTE.ME
tendimento do Universo e da vida, possuindo, também, um apelo estético consi-
derável, o que leva à fruição de um prazer intelectual insuperável.
17. Estime a massa de ar contida em uma sala de aula. Indique claramente
quais as hipóteses utilizadas e os quantitativos estimados das variáveis
empregadas. (Física, Termologia)
Considerando uma sala de 60 m² de área e 3 m de altura, ela terá 180 m³ de
volume, ou seja, 180.000 litros. Como o ar tem, mais ou menos, 20% de oxigênio
(massa molecular = 32 uma) e 80% de nitrogênio (massa molecular = 28 uma),
sua massa molecular média é de 0,2*32+0,8*28 = 28,8 uma, o que dá a massa mo-
lar de 28,8 g. Supondo estar-se nas CNTP e o ar ser um gás perfeito, cada mol
ocupa 22,4 litros, ou seja, na sala tem-se 180.000/22,4 = 8.036 mols, o que dá
uma massa de 8.036*28,8 = 183.221 g, aproximadamente 183 kg, ou, grosso mo-
do, uns 200 kg.
18. Qual sua opinião acerca da arte, da música e do que é inteligência? (Ar-
te, Psicologia)
As belas artes, incluindo a música, para mim, são as máximas expressões da
capacidade humana, pois são atividades inteiramente gratuitas, isto é, não sendo
necessidades, são cultivadas apenas para fruição, mesmo que sejam meio de vida
para os artistas. Sem arte, especialmente a música, a vida seria muito insossa.
Inteligência é o aspecto da mente que dá ao ser a capacidade de solucionar
problemas de qualquer ordem, não só de sobrevivência. Animais a possuem em
grau variado e, atualmente, dos que conhecemos, o homem é o que tem mais. No
futuro, novas espécies que eventualmente surgirão, poderão ser tão ou mais inte-
ligentes do que ele. Artefatos robóticos também podem vir a ser construídos com
inteligência.
19. Qual é sua opinião acerca do materialismo humano e quais devem ser
as ações humanas em busca do progresso em todas as suas formas? Ex-
plique o que considera como: progresso, real, racional, ideal e verda-
deiro. (Política, Economia)
Há dois conceitos de materialismo. Um é valorização apenas dos aspectos
materiais da vida, que acho medíocre e desprezível. Outro, melhor chamado de
fisicalismo ou naturalismo, é a consideração de que o sobrenatural não existe, o
que acho corretíssimo. Mas, não admitir o sobrenatural não significa não ter valo-
res espirituais, entendidos como nobres, elevados, virtuosos e altruístas.
Buscar o progresso, por si, não tem significado. Mas passa a ter se isso é o
meio para se chegar a um mundo justo, harmônico e fraterno. O fundamental, pa-
ra isso, é investir ininterruptamente na educação, entendida plenamente como
instrução e formação. Tudo o mais virá por acréscimo, ou seja: paz, saúde, pros-
peridade, enfim... felicidade.

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Ernesto von Rückert

Progresso real é o que se tem objetivamente concretizado em cada momen-


to. Racional é o que se pode obter, não espontaneamente, mas pela aplicação de
meios planejados de forma lógica, estudada e objetiva. Ideal é o que se pretende a
fim de atingir as metas planejadas. Verdadeiro é o que se obtém quando as metas
idealizadas foram colocadas em consonância com as lídimas aspirações do ser
humano.
20. Há alguma maneira de aumentar o coeficiente intelectual ou QI? (Psico-
logia, Educação)
Certamente que sim, a qualquer época da vida. O segredo está em dois pon-
tos: desafios mentais e estímulos sensoriais cruzados. Ambos promovem a cria-
ção de conexões neuronais que aumentam a inteligência. Em suma: é preciso
complicar. A lei do menor esforço é a lei do emburrecimento. Evitar hábitos tam-
bém aumenta o QI. Fazer sempre tudo de modo diferente a cada vez.
Ler muito, fazer palavras cruzadas, sodoku, jogar xadrez, resolver o cubo de
Rubik, charadas, enigmas e mais desafios são ótimos recursos. Fazer testes de QI
também. Estudar só por diletantismo. Aprender sempre algo novo, a vida toda.
Mas coisas complicadas, de preferência. Teoria musical, novos idiomas, progra-
mação em assembler. Escrever poesia e prosa, pintar quadros, esculpir, tocar ins-
trumentos musicais, Consertar coisas quebradas. Se se é de exatas, estudar Biolo-
gia, se de humanas, Matemática, se de biológicas, Economia, por exemplo. Ficar só
vendo televisão emburrece. É como um atleta olímpico. Tem que por o cérebro
para funcionar, e muito.
Quanto às conexões sensoriais, os exercícios são adivinhar o que é alguma
coisa pelo tato ou o olfato, como os pratos que estão na mesa, sem vê-los. Comer e
escrever com a mão não dominante, banhar-se e vestir-se de olhos fechados, an-
dar de fasto, usar o relógio invertido e outras coisas assim promovem a criação
dessas conexões. Trata-se do que se chama "neuróbica". Há livros sobre isto.
Recomendo os três livros do Pierluigi Piazzi: "Aprendendo Inteligência", "Es-
timulando Inteligência" e "Ensinando Inteligência".
Vejam este vídeo de uma palestra que fiz sobre o tema:
http://www.youtube.com/watch?v=uQ9Vnt6wOqI
21. Sabe-se que, para o olho emétrope, o ponto remoto situa-se no "infini-
to". Um garoto de vista normal coloca as lentes de contato de sua irmã,
cuja convergência é de + 2,0 di. Nessas condições, qual passa a ser sua
distância máxima de visão distinta? (Física, Ótica)
Meio metro. Na fórmula 1/f = 1/o + 1/i , se se colocar 1/f = 2 di e o = infinito,
obtém-se i = 0,5 m . Ou seja, o garoto verá tudo o que está longe a meio metro de
distância, perdendo, a partir daí, a noção de profundidade.

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PERGUNTE.ME
22. Após qual destes acontecimentos a Europa ocidental perdeu o poder e
o controle sobre grande parte do mundo: Segunda Guerra Mundial ou
descolonização das colônias da África e da Ásia? Por quê? (História, Po-
lítica)
Considero que foi a Segunda Guerra Mundial que provocou a queda da he-
gemonia européia, pois a Alemanha e a Itália foram derrotadas e a França e a In-
glaterra ficaram arrasadas. Os Estados Unidos e a União Soviética foram os ven-
cedores e passaram a dividir a hegemonia do mundo, já que não sofreram tanto
com a guerra, tendo, inclusive, os Estados Unidos, com o "Plano Marshall" ganha-
do ascendência sobre a Europa. A perda das colônias africanas e asiáticas decor-
reu daí.
23. Você diz que as mulheres são superiores aos homens. Não entendi seu
ponto de vista e vejo nele uma contradição: como considerar as mulhe-
res, possuidoras de um cérebro voltado para o emocional e o irracio-
nal, como superiores? (Biologia, Psicologia)
O sexo feminino não é superior ao masculino. São equivalentes. O que ocorre
é que o sexo essencial para toda espécie animal é o feminino, que gesta a descen-
dência. A fecundação pode ser partenogenética, sendo o sexo um mecanismo, não
para garantir a perpetuação da espécie, mas a variabilidade genética. Assim o se-
xo masculino é acessório. Uma espécie poderia existir só com fêmeas, mas não só
com machos.
Não é verdade que o cérebro feminino seja voltado para o emocional e o
masculino para o racional. Ambos são emocionais e racionais. Além disso, não é
verdade, também, que o aspecto emocional seja inferior ao racional. Razão e emo-
ção são componentes essenciais do psiquismo tanto feminino quanto masculino.
24. O que você acha de "O senhor dos Anéis" e da cultura "nerd" em geral?
(Pessoal, Aconselhamento)
Adoro literatura fantástica e ficção científica. Só não acho que possam ser
consideradas nada além de ficção. Sou e sempre fui um "nerd" convicto. Fruo
imenso prazer e satisfação em estudar, sem pensar em qualquer utilidade prática.
Sem ser pragmatista, todavia, não acho que se deve supervalorizar esse aspecto
em relação à condução prática da vida. A cultura, a erudição e a intelectualidade
são valores a se cultivar por fruição, sem dúvida, mas também por utilidade, não
só individual, mas, principalmente, social.
25. Quais livros você recomenda para leitura, acerca dos temas: Filosofia,
Física, Psicologia e Psicanálise? (Filosofia, Física, Psicologia, Aconse-
lhamento)
Não é bom ser uma pessoa de um livro só, em qualquer assunto. Sobre Filo-
sofia, para começar, recomendo "Filosofia" de Stephen Law (Guia Zahar) e "Convi-

21
Ernesto von Rückert

te à Filosofia" de Marilena Chauí. Em Física, "Física Conceitual" de Paul G. Hewitt e


"Física em 12 Lições", de Richard P. Feynman. Psicologia e Psicanálise: "História
da Psicologia", Ana Maria Jacó-Vilela e "O Livro de Ouro da Psicanálise", de Manu-
el da Costa Pinto. Certamente que há muito mais, mas isto é um bom início para
uma pessoa de 15 anos.
26. Qual o maior desafio para elevar o Brasil ao patamar dos países desen-
volvidos? (Política, Educação)
Educação, educação, educação e educação. Tirar o povo da ignorância e da
burrice. Alfabetizar de fato, principalmente cientificamente e tecnologicamente.
Mas também política e culturalmente. O resto, vem por acréscimo.
27. Quais são suas opiniões a respeito do aborto e do uso de drogas? (Com-
portamento, Saúde, Feminismo)
Drogas são uma droga, inclusive o álcool e o fumo. É preciso o maior empe-
nho para que tais coisas não sejam usadas por nenhuma pessoa. Aceito apenas o
álcool, com BASTANTE moderação. O combate ao tráfico tem que ser radical e in-
transigente, principalmente aos que se locupletam com isso, sem se expor. Quan-
to ao uso, há que se ter meios de dissuadir quem quer que seja de o fazer. Legali-
zar é uma temeridade.
Acho que fazer um aborto deve ser a coisa mais triste que pode acontecer
com uma mulher. É preciso que a sociedade acolha crianças indesejadas de modo
a permitir que toda gravidez seja completada. E que apóie a gravidez de quem
não tem condições para conduzi-la. Numa sociedade anarquista isso não seria
problema nenhum, pois toda criança é filha de todo adulto, não existindo famílias.
E o amor seria livre e compartilhado entre todas as pessoas.
Na estrutura atual da sociedade há situações em que levar avante uma gra-
videz pode ser pior. Então admito o aborto, desde que feito bem no início. Há que
se estudar até quando, e isso depende de se entender quando é que o feto se tor-
na uma pessoa. É preferível aceitar-se legalmente essa possibilidade do que exis-
tir uma indústria clandestina de abortos extremamente perigosos para a vida das
mulheres que o fazem.
28. Quais reformas você considera importantes para a educação? (Política,
Educação)
Antes de tudo fazer com que o magistério seja uma profissão não apenas
condignamente, mas atrativamente remunerada, de modo a ser a opção dos mais
competentes. Isto é: professor tem que ganhar mais do que médico, engenheiro
ou advogado, não famosos, certamente. Digamos uns cinco mil por mês para o
primário até uns vinte mil para o superior. Mas isso tem que ser feito por meio de
uma reforma que crie uma nova carreira a que se acesse por uma rigorosa sele-
ção. Assim os novos professores e os antigos que passassem nessa seleção teriam

22
PERGUNTE.ME
excelência, enquanto os que não passassem, ficariam como estão até a aposenta-
doria. Em vinte anos o magistério seria todo excelente. Enquanto isso, programas
de aperfeiçoamento seriam feitos para que todos pudessem ser selecionados. Mas
de modo rigoroso e exigente. O que resolve é a qualidade do professor. Recursos
materiais são importantes, mas em segundo lugar. Outra coisa importante é aca-
bar com a garantia incondicional de estabilidade, não só para professores, mas
para todo o funcionalismo. Negligência e incompetência teriam que ser razão pa-
ra demissão por justa causa. Para tal seria preciso um processo sério e continua-
do de avaliação de desempenho na carreira.
Além disso, seria muito bom estabelecer o turno integral (manhã e tarde,
com almoço na escola) e parar de se preocupar com o número de aprovações e
passar a exigir aprovação só com bom desempenho.
Recursos para isso há, desde que se estanque a roubalheira. Político corrup-
to tem que perder a elegibilidade para o resto da vida e ir para a penitenciaria
junto dos criminosos comuns, sem a menor regalia.
29. A Globo "atrapalha" a educação atual dos jovens? (Educação, Compor-
tamento)
Não só a Globo, mas a televisão de modo geral, exceto os canais de documen-
tários, arte, ciência, cultura e bons filmes da TV por assinatura. Televisão é o mai-
or veículo de emburrecimento nacional, não só pelo conteúdo dos programas,
mas, especialmente, pela atitude passiva de os assistir, seja o que for, por horas a
fio. Ler, escrever, estudar, namorar, praticar esportes, conversar, pintar quadros,
tocar instrumentos, fazer trabalhos manuais ou, mesmo, usar a internet, são mo-
dos muito mais estimulantes e produtivos de passar o tempo. Ou trabalhar mes-
mo, para o sustento pessoal e da família. Só dou um desconto a certas novelas que
levantam questões polêmicas e preconceituosas, como homossexualidade, intole-
rância religiosa, portadores de necessidades especiais e coisas assim, que acho
positivo.
30. Porque você vê tanto valor na emoção, visto que ela é praticamente a
maior fonte de males do mundo? Exemplo: dois sujeitos se apunhalam.
O que os leva a tal ação? A emoção! (Psicologia)
De jeito nenhum! Emoção pode levar ao crime sim, mas é um componente
essencial da vida, sem o qual não se consegue sequer raciocinar. Além disso, é a
emoção que, processada racionalmente, leva aos sentimentos de amor, solidarie-
dade, justiça e todos os outros bons sentimentos, como também os maus. Não é
porque a emoção possa causar males que deva ser execrada, pois causa mais bem
do que mal. Emoção e razão são componentes indissociáveis do psiquismo e ne-
nhuma é superior à outra.
31. O que você acha da época medieval? E da cultura viking, os primeiros

23
Ernesto von Rückert

proto-socialistas, antes mesmo dos espartanos? (História)


Os vikings não foram anteriores aos espartanos, que os precederam em mais
de mil anos. A Idade Média européia, mesmo sem ter sido tão tenebrosa quanto a
pintam, de fato foi um período obscuro pela obstrução do livre pensamento e da
liberdade de expressão. O controle eclesiástico da vida, em todos os seus aspec-
tos, nos estados teocráticos de então, como hoje nos fundamentalistas islâmicos,
foi um grande fator de empobrecimento científico e cultural e, mesmo, artístico,
apesar da beleza das catedrais góticas. Se o Império Romano pagão tivesse preva-
lecido sobre os bárbaros, que não eram tão bárbaros assim, acho que o progresso
teria sido mais rápido. Por incrível que parece, foi o mundo islâmico que deixou
florescer a cultura, a ciência e a tolerância intelectual.
32. Acredita em alma e em vida após a morte? Explique o fisicalismo conti-
do em sua opinião. (Religião)
Não. Para mim não existe alma e nem vida após a morte. Aliás, o que seria is-
so? Fisicalismo é a concepção de que tudo o que existe seja natural, isto é, de que
o sobrenatural não exista.
33. Quais os tipos de música que você considera como "enobrecedoras" e
quais você acha que podem corromper a “psyche” humana? (Música)
Para mim, música “enobrecedora” é a música clássica, ou melhor, erudita, já
que o classissismo é um período da música. Mas há música popular de boa quali-
dade também e eu aprecio a bossa nova, o samba, o tango, o fado, as canções fran-
cesas, italianas, mexicanas e as americanas, do tipo “easy music”.
Ritmos como o funk e o axé, para mim, são realmente empobrecedores e
prejudiciais à saúde psíquica e, mesmo, orgânica. Não só pela idiotice do conteú-
do de suas letras, mas, principalmente, pela total mediocridade de suas melodias
e pelo ritmo massacrante. Música, para mim, tem que ser analisada por partes. Se
a letra escrita no papel, sem a música, for um poema de poesia patente e se a mú-
sica, ouvida sem a letra, tiver melodia, harmonia e ritmo agradáveis, então a mú-
sica é boa.
34. Pesquisas recentes demonstraram que a genialidade está mais ligada à
loucura do que se imaginava. A atuação da dopamina em cérebros de
gênios é similar à que ocorre em esquizofrênicos, conforme pesquisa
sueca. O que você acha disto? (Psicologia)
Corretíssimo. Se entendermos por "loucura" um comportamento desviado
da normalidade, então os gênios e os grandes condutores da humanidade em suas
profundas guinadas, sempre foram loucos. Quem se comporta de forma dócil em
relação ao que está estabelecido, sem questionar coisa alguma, jamais será capaz
de mudar o mundo.

24
PERGUNTE.ME
35. A arte é fruto do lado irracional do ser humano, assim como a poesia,
assemelhando-se, logicamente, a um trabalho, por exemplo, de um cu-
pinzeiro, construído por instinto do animal. Por que você defende que
a arte seja tão essencial? (Arte)
Claro que não! A arte é só 10% de inspiração, mas 90% de transpiração. Fa-
zer arte é um extenuante trabalho mental, além de, muitas vezes, muscular, exi-
gindo uma apurada coordenação motora, como acontece na pintura, escultura,
dança, teatro e canto. Tão exigente como um esporte. Não tem nada de instintivo,
pelo contrário, é uma elaboração altamente cerebral, envolvendo a expressão ra-
cional das emoções de forma precisamente calculada para provocar o efeito dese-
jado no apreciador. A arte é que consegue dar à vida um sentido de realização e
não apenas de uma luta pela sobrevivência. Mesmo para quem tenha alguma
crença religiosa, é pela arte que ela consegue se expressar. A Bíblia é uma obra
literária, as catedrais e os templos são arte arquitetônica. A música sacra é arte
refinadíssima. O trabalho instintivo dos animais irracionais não é arte. Arte é algo
pensado, planejado, engenhado para provocar a comoção estética. É emoção ao
ser apreciada, mas a apreciação é muito mais significativa quando associada a
uma análise racional da mensagem transmitida.
36. O que acha de José Saramago? Qual, em sua opinião, é o melhor de seus
livros? (Literatura)
Além de um grande escritor e cultor da língua portuguesa, de uma forma ou-
sada e inovadora, foi uma pessoa de grande valor humano ao levantar corajosa-
mente a bandeira da verdade a respeito das crendices religiosas e denunciar a
mistificação que as igrejas fazem em sua pregação. Dele só lí o "Evangelho segun-
do Jesus Cristo" de modo que não posso fazer um julgamento dos outros e dizer
qual o melhor. Em minha fila de espera estão "Ensaios sobre a cegueira" e "Histó-
ria do cerco de Lisboa".
37. O que você acha dos esportes em geral e em que sentido acha que eles
ajudam ou não no progresso humano? (Comportamento, Esportes)
Pessoalmente não pratico nem aprecio esportes em geral, especialmente os
que envolvem bola. Futebol, nunca assisto, nem a copa e nem sei nada a respeito.
Acho que atividades físicas são essenciais para a saúde e deploro não fazê-las, o
que me é prejudicial. A questão é de aversão, apenas. Fazê-las por meio da prática
de algum esporte é mais agradável do que de outra forma, de modo que, assim, o
esporte é algo que ajuda o progresso da humanidade, por conferir saúde aos seres
humanos. Além do mais, o esporte pode desenvolver atitudes de tolerância e coo-
peração. Mas tem um lado negativo, quando se torna um desporto com competi-
ção para definir um vencedor ou campeão. Acho que isso não é bom e fomenta
muita rivalidade entre torcidas, o que vai, exatamente, no sentido oposto ao ideal
de confraternização. Eu diria que esporte sim, desporto não.

25
Ernesto von Rückert

38. Você fala quantas línguas? Aprendeu a falar com que idade? Quando
descobriu que era superdotado e como? (Pessoal, Educação)
Não sei com que idade aprendi a falar, mas deve ter sido em torno de um ano
de idade, como todo mundo. Só sei que aprendi a ler com quatro anos. Quanto aos
idiomas, leio e escrevo inglês bem e falo razoávelmente. Francês, italiano e espa-
nhol eu leio, mas não falo. Apesar de minha ancestralidade austríaca, não leio
nem falo alemão. Tenho muito interesse sobre o tema “superdotação”, uma vez
que posso me considerar assim, pelo que percebo de meu comportamento na in-
fância. Mas nunca tive tratamento especial na escola pública em que estudei. Em
casa, contudo, meus pais me municiavam de leituras e conversas estimulantes, já
que eram intelectuais, como é o caso de toda a minha família, tanto materna
quanto paterna. No ensino fundamental, eu já estudava em livros de História e
Geografia de nível superior, pois meu pai era professor dessas matérias. E nunca
me contentava em saber só o que os professores ensinavam. Comecei a estudar
Filosofia com onze anos, juntamente com Física Atômica e Nuclear, Eletrônica e
Mecânica. Além disso, tocava piano e pintava quadros. Só nunca gostei de espor-
tes nem de negócios. Chamava Matemática de Boatemática. Hoje penso o quanto o
mundo perde em não apoiar adequadamente os superdotados.
Procurei conhecer a Mensa Internacional para me juntar a uma comunidade
de pessoas mais inteligentes, para colocar este dom a serviço da humanidade,
mas decepcionei-me com a vaidade de muitos membros. Inteligência é algo im-
portante, mas caráter é mais ainda.
A questão do caráter é fundamental, pois uma grande inteligência voltada
para o mal é o maior desastre. Todavia vejo uma grande correlação, com exce-
ções, é claro, entre uma maior inteligência e um comportamento ético positivo e,
mesmo, um espírito de desprendimento e altruísmo. O que costuma faltar é só a
modéstia. Por isso a educação tem que ser integral: inteligência, conhecimentos,
habilidades e caráter.
39. Quando você era adolescente, costumava "pegar" muita mulher? Se em
sua época não se fazia muito isso, você faria se fosse adolescente atu-
almente? (Pessoal, Sexualidade, Comportamento)
Não. Em minha adolescência eu era católico convicto e tinha o ideal de me
tornar santo. Assim prezava a castidade. Atualmente considero que um relacio-
namento afetivo pode envolver o sexo de forma natural. Manter-se virgem é ruim
tanto para os rapazes quanto para as moças. Não é só pelo fato de ser ateu. Mes-
mo que acreditasse em Deus teria essa opinião e, certamente, não seria cristão,
muito menos católico. Mas não acho que seja algo bom a busca pelo sexo apenas
em si mesmo, sem envolvimento emocional.
40. Quais foram seus trabalhos mais importantes e sobre que tratavam?
(Pessoal)

26
PERGUNTE.ME
Fótons não lineares em Cosmologia, isto é, possíveis consequências cosmo-
lógicas da existência de uma massa não nula para eles. O resultado é que isso
acarretaria uma anisotropia do Universo, ou seja, características diferentes em
relação a eixos diferentes. A isotropia observada é um forte indicador da nulidade
da massa do fóton. Para se estudar isso, constroem-se equações substitutivas das
equações de Einstein a partir de uma função lagrangeana de acoplamento não
mínimo entre a gravitação e o eletromagnetismo e se resolve esse sistema de
equações diferenciais para uma métrica do tipo da de Kasner. Veja isto:
http://cbpfindex.cbpf.br/index.php?module=main&moduleFile=pubDetails
&pubId=1001&typeId=10
http://www.sbfisica.org.br/bjp/download/v13/v13a62.pdf
41. Você teve uma infância relativamente normal para um superdotado?
Quando fez seu primeiro teste de QI e que pontuação obteve? (Pessoal)
Sim, relativamente minha infância foi normal, em que pese o fato de ter sido
eu um menino incomum, pois sempre detestei esportes (especialmente futebol),
não fumava nem bebia, lia muitas horas por dia, era o primeiro aluno da turma e
nunca colava em provas (e nem dava cola). Mesmo assim tinha muitos amigos,
talvez por meu espírito cordial, solícito e generoso, apesar de altivo e assertivo.
Ao me formar no ginásio (atual fundamental), fui o único a ser aplaudido de pé
por todos os meus colegas. Sempre fui benquisto, admirado e respeitado por mi-
nhas convicções extremamente éticas e minha cultura enciclopédica. Mas não me
gabava disto. Digo-o agora porque fui perguntado e não finjo ser o que não sou.
Aos 17 anos fiz um teste de QI e deu 137. Depois fiz outros, que variaram até 145
ou 148, não me lembro. Não acho que o QI seja muito significativo. Por exemplo,
não tenho raciocínio rápido nem sou bom para negócios, para vendedor, advoga-
do ou político, talvez porque seja extremamente sincero, mesmo que em prejuízo
pessoal.
42. Como se entra na Mensa e onde? (Inteligência)
Para entrar para a Mensa é preciso fazer um teste em São Paulo ou no Rio de
Janeiro. Às vezes ele é aplicado em Belo Horizonte, Salvador ou Porto Alegre. É só
procurar o site da Mensa Brasil na internet e se informar.
43. Poesia é obra da insanidade. Qual é a lógica que você vê na poesia?
(Poesia, Comportamento)
Claro que não! Poesia não tem lógica, mas nem por isso é insana. Apesar de
aparentemente serem sinônimos, poesia e poema possuem nuances de significân-
cia distintas. Enquanto poema é a forma literária em que o texto é composto em
versos, implicando um ritmo, poesia é a qualidade do texto que provoca uma im-
pressão estética com maior apelo à emoção, geralmente ligada à sua beleza e sen-
sibilidade. Assim pode-se ter poesia em um texto em prosa e um poema pode não

27
Ernesto von Rückert

ter poesia nenhuma.


O ofício do poeta é levar ao leitor a magia da palavra em provocar emoção,
tanto sensorial, quanto intelectual. Não pretende ele convencer de nenhuma tese
nem fazer proselitismo ou moralizar. O único compromisso da poesia é com ela
mesma, com sua beleza intrínseca, que emana não só do tema, mas, principalmen-
te, da forma com que é colocado, da melodia do som das palavras, do ritmo de sua
silabação, da estrutura gráfica, das conotações semânticas, do duplo sentido, das
alegorias e tudo o mais que se faça uso. Nisso o poeta se vale de sua sensibilidade,
talento e, principalmente de seu esforço e trabalho, calcado em seu cabedal de
conhecimento da língua, de seu rico vocabulário, de sua memória, de tudo o que
já leu de poesia e de seu agudo senso de análise psicológica do ser humano, de
sua fina percepção das nuances capazes de fazer o leitor rir, sorrir, chorar, enfu-
recer, enfim, de provocar o estado de comoção e prazer estético na leitura do po-
ema.
Para conseguir tal proeza não basta que tenha traquejo linguístico e fluência
em escrever, mas é preciso também. Há que se ter uma centelha mágica de gênio,
uma sensibilidade entranhada no ser, uma inspiração profunda e, principalmente,
um ardor nunca arrefecido de proclamar ao mundo tudo o que de dentro de si
transborda, num furor insano de labor poético.
Se o homem vivesse apenas para produzir o que seja útil não haveria civili-
zação. É claro que o engenho humano se volta, com proveito, para desenvolver
inúmeras utilidades e nisso consiste o progresso. Mas, em verdade, o homem per-
segue o progresso para conseguir tempo livre para se dedicar àquilo que lhe dá
simplesmente, prazer. Assim, a Arte, a Ciência e a Filosofia desenvolveram-se
porque o homem aprecia o belo, tem uma curiosidade incansável e deseja doar de
si mesmo, sem recompensa. Que utilidade tem uma poesia? Ou uma sinfonia, ou
uma escultura? Ou saber a origem do Universo, ou a prova do Teorema de Fer-
mat? Para que saborear um vinho Bourgogne se só a água é necessária para ma-
tar a sede? Sim, são os supérfluos, as inutilidades que fazem a vida ter sabor e é
para isso que se batalha. A visão que se tem do Paraíso é a de um lugar em que se
vive em êxtase contemplativo, fruindo-se a máxima felicidade sem esforço para
sobreviver. É o sonho do homem. Assim, quando se luta por um ideal e por ele dá-
se até a vida, esse ideal, como o próprio nome diz, não é nada de útil ou prático. É
um valor transcendental, como a liberdade, a justiça, a felicidade. A vida só vale a
pena ser vivida se, ao encerrá-la, tivermos a certeza de que, por causa dela, o
mundo ficou melhor, mais fraterno, mais justo, mais harmonioso, mais igual para
todos. O que vale na vida é a doação de si, fazer o bem pelo bem e não por ne-
nhuma recompensa, nem mesmo a salvação eterna. A supervalorização do que é
útil e do que é prático, em relação ao que é certo e verdadeiro, é uma inversão
sem cabimento.
44. Você acha fundamental possuir um cérebro desenvolvido igualmente

28
PERGUNTE.ME
no hemisfério esquerdo e direito? Por quê? (Psicologia)
O que se entende por cérebro desenvolvido? Grande volume? Muitos neurô-
nios? Muitas sinapses? Imagino que o que se está querendo dizer seja um cérebro
possuidor de faculdades operacionais mais desenvolvidas. Dentro de uma mesma
espécie isso não depende do volume nem do número de neurônios nem do de si-
napses, mas sim do número de específicas sinapses, que confiram habilidades es-
peciais, como é o caso da inteligência, da sensibilidade, da habilidade motora ou
outras. Associam-se a diferentes hemisférios cerebrais (bem como ao cerebelo, ao
hipocampo, à amígdala e a outros componentes encefálicos) faculdades distintas.
O pensamento lógico é atribuído ao hemisfério esquerdo, enquanto o pensamento
simbólico e a criatividade ao direito, mas isso não é de forma exclusiva. De qual-
quer modo, um desenvolvimento mental superior é caracterizado por um "Fator
Global" de inteligência, significando uma superioridade em todas as modalidades
de inteligência: lógico-matemática, linguística, musical, espacial, cinestésica, in-
trapessoal, interpessoal, naturalista, existencial e emocional. Tais aspectos reque-
rem o uso de ambos os hemisférios em maior ou menor grau, de forma que é im-
portante que eles sejam desenvolvidos com o mesmo empenho. Entretanto é im-
portante saber que a formação integral de uma pessoa envolve não só a inteligên-
cia, mas também o caráter, que tem a ver com a educação da sensibilidade e da
vontade, pela aquisição e introjeção de valores éticos e disposições elevadas de
conduta e ação. Assim sendo, a pessoa se torna alguém mais capaz de obter su-
cesso na condução de sua vida, tanto em proveito próprio, em termos de felicida-
de, quanto em proveito geral da coletividade em que se insere, incluindo, além de
outras pessoas humanas, o próprio ambiente natural.
45. Você acha que o autismo pode ser importante para o desenvolvimento
filosófico e científico? Quero dizer, como Einstein e Newton foram di-
agnosticados como autistas, então não pode existir uma relação fun-
damental entre o Asperger e a genialidade? (Psicologia)
Einstein e Newton não eram autistas. Nem sequer eram tímidos. Eram ape-
nas introspectivos, o que é diferente. Os portadores de Síndrome de Asperger têm
severas dificuldades de comunicação social sem comprometimento da capacidade
cognitiva nem da linguagem. Mas isso não é correlacionado com genialidade, que
pode ser encontrada em pessoas altamente comunicativas. O que ocorre é que a
genialidade confere à pessoa uma personalidade muito incisiva, fazendo com que
ela não siga normas sociais, bem como sinta-se confortável em estar solitária, não
por rejeição ao contato mas por bastar-se a si mesma. Não depender de outros
para se realizar não significa que não se deseje contato humano.
46. Você pessoalmente considera qual atividade de lazer como a mais no-
bre forma de escapismo? E quanto aos games de computador, incluindo
os de categoria estratégica? (Pessoal)

29
Ernesto von Rückert

Meu lazer predileto é a leitura e o estudo, especialmente de história, cosmo-


logia, neurociências e evolução. Mas também gosto muito de pintar quadros, can-
tar, escrever poesia e ensaios, assistir filmes, passear, namorar e, principalmente,
conversar, além de acessar a internet. Não gosto de esportes e nem de jogos, in-
cluindo os de computador. Jogo xadrez, mas não sou aficionado, Detesto jogo de
cartas.
47. Segundo pesquisas recentes, o autismo leve pode auxiliar em um de-
senvolvimento matemático aprimorado. Porque você aparentemente
não possui sintomas, infere que a comunidade intelectual de elite não
possua a doença. Qual é a sua defesa? (Psicologia)
Não é certo para a comunidade científica que Einstein e Newton sofressem
Síndrome de Asperger, que é uma modalidade de autismo. Isto é controverso. Al-
guns autores afirmam que sim (Helen Muir, Ioan James, Michael Fitzgerald) ou-
tros que não. Ambos tinham interesses variados. Veja este cotejo:
http://en.Wikipedia.org/wiki/Historical_figures_sometimes_considered_aut
istic
O fato de possuir uma inteligência maior que a dos outros leva a pessoa a
isolar-se por não achar muitos interlocutores à altura. Isso não é autismo. É pos-
sível que haja correlação entre presença de autismo e nível elevado de inteligên-
cia. Mas isso não é uma necessidade nem uma relação causal. Há autistas de nível
normal ou baixo de inteligência e pessoas de elevado nível de inteligência que não
são autistas.
48. Diga quais são os pontos de incoerência da Filosofia dos sofistas e ex-
plique. (Filosofia, Ética)
Os sofistas não eram incoerentes. O que se pode condenar neles é sua opção
pelo relativismo moral e por um pragmatismo efetivo, no sentido de valorizar não
o bem e a verdade, mas a vantagem e o sucesso. Nesse sentido ensinavam a ar-
gumentar para vencer uma discussão, mesmo sem ter razão, o que se denomina
“erística” Foram os precursores dos advogados.
49. Estou interessado em sua opinião sobre as atitudes do matemático Pe-
relman concernentes à recusa do prêmio. O que acha das atitudes dele?
(Comportamento)
Acho que cada um pode agir como quiser. Recusar a medalha Fields e o prê-
mio Clay, bem como cátedras em Princeton, Berkeley, Stanford e no Massachu-
setts Institute of Technology (MIT) é uma excentricidade que admito como legí-
tima. Pode ser que ele não se sentisse seguro de seu domínio matemático em ge-
ral, apesar de ter provado a Conjectura de Poincaré sobre a topologia da esfera,
proeza que inúmeros matemáticos tentaram por mais de cem anos.

30
PERGUNTE.ME
50. Qual sua concepção sobre a morte, o que ela representa e o que você
acha que há depois dela? (Biologia, Psicologia, Religião)
Morte é a cessação do funcionamento do organismo. Depois da morte a pes-
soa não existe mais. Sua consciência extingue-se. É como um sono profundo do
qual não se acorda mais. Acaba tudo. A matéria do corpo certamente que continua
a existir como adubo ou o que for. Mas o "eu" acaba. Não há nada como uma "al-
ma" que sobreviva à morte do corpo e leve consigo a consciência, a personalidade
e a memória. Isto não existe. A mente é uma ocorrência advinda do funcionamen-
to do organismo biológico e também morre quando o corpo morre.
51. Você afirma ser ateu. Gostaria de questioná-lo se este ateísmo refere-se
unicamente à não crença na existência de uma divindade antropomór-
fica, ou se estende-se até questões metafísicas em geral, como qualquer
deus, espíritos, reencarnação etc.? (Ateísmo)
Não acredito em espíritos, deuses, anjos, demônios, gênios, duendes, fadas,
silfos, gnomos, djins, elfos, outros elementais e em nada que seja sobrenatural.
Para mim só existe a natureza e o pensamento. Metafísica, contudo, não tem nada
com sobrenatural. Metafísicas são concepções abstratas, isto é, do mundo das
idéias, sem existência fora de mentes que as concebam. Sobrenatural, se houves-
se, não seriam meros conceitos, mas entidades de existência real, mas não natu-
rais.
52. A ida do homem à Lua, em 1969, tem gerado muita repercussão. Ela re-
almente ocorreu ou não? Toda a tecnologia da época seria capaz de ul-
trapassar o Cinturão de Van Allen sem que os tripulantes viessem a so-
frer complicações futuras, como câncer, por exemplo? (Ciência)
Claro que ocorreu! E o homem tanto pode quanto atravessou o cinturão de
Van Allen, que é um cinturão magnético e não radiativo. Não provoca câncer. Não
há problema em atravessá-lo. Ele é extremamente etéreo, em termos de matéria.
53. A teoria do Big Bang mostra que a singularidade passou da inexistência
para existência por algum motivo desconhecido e que quando esta não
existia havia apenas o nada? A Ciência já evoluiu a ponto de provar, por
qualquer método, tais conjecturas? (Cosmologia)
O surgimento do conteúdo que iniciou sua expansão no Big Bang não é obje-
to de explanação pela teoria do Big Bang, que supõe que ele já existia extrema-
mente concentrado. Não há teoria que explique seu surgimento. Pode ter surgido
no momento do início da expansão ou já ser existente, inclusive como o produto
final de uma contração anterior. Mas não se sabe e ainda não se tem como saber.
Nada impede que tenha surgido sem motivo nem propósito nenhum e sem ser
proveniente de coisa alguma que lhe antecedesse. Mas não teria surgido “do na-
da” e sim “de nada”, pois nada não é algo.

31
Ernesto von Rückert

54. Existem ligações entre a Filosofia nietzscheniana e os métodos político-


sociais empregados por Hitler? Já ouvi falar sobre a teoria do "Super
Homem" ou algo semelhante? (História, Filosofia)
Em parte sim, mas Nietzsche não era nazista. O conceito do Super-Homem
dele foi assimilado por Hitler como modelo para o povo alemão, mas de uma for-
ma inteiramente descaracterizada. O “Übermensch” (sobrehumano) de Nietzsche
é um ideal de ser humano que superaria os valores mesquinhos e subservientes
do Cristianismo e se pautaria por valores e ideais superiores de realização plena
de suas potencialidades humanas. Isto superaria, também, toda conotação racial e
nacionalista da humanidade. O que o Nazismo interpretou, erroneamente, é que
seria a glorificação da raça ariana e da nação alemã, o que, de forma nenhuma, Ni-
etzsche abonaria.
55. Se a vida tiver um sentido, qual você acha que seja ele? (Espiritualida-
de)
O sentido intrínseco da vida é apenas viver para poder se reproduzir e per-
petuar os genes. Não há um sentido transcendental. Todavia, nós, humanos, por
termos desenvolvido uma mente inquiridora, buscamos um sentido para ela e
podemos encontrá-lo, cada um para si, de forma a suportar as mazelas em nome
de um ideal. É o que propõem as religiões, mas, mesmo sem elas, é possível se ter
um ideal humanitário que dê sentido à vida, sem apelo para nada além dela mes-
ma.
56. Você concorda com Ernst Mayr de que a Biologia seja uma ciência au-
tônoma? Se não me engano, para chegar a tal conclusão, ele precisa
descartar o fisicalismo e também, o ponto principal, o reducionismo.
(Biologia, Epistemologia)
Discordo. Sou reducionista. Mas considero um reducionismo não linear, isto
é, que considera a complexidade, as retro-alimentações, os termos produto e tudo
o mais. Assim o holismo se enquadra dentro do reducionismo, ou seja, o todo
provém das partes, mas não é a soma apenas. Nada em Biologia funciona sem a
Física. Mas há coisas próprias da Biologia, mesmo que se reduzam à Física. Não há
escapatória para isso. Até a Política e a Sociologia se reduzem à Física, em última
análise, pois esta é a ciência fundamental da natureza e não existe nada além da
natureza. A cultura provém da natureza, pois é um construto humano e o homem
é um ser natural. Sobrenatural não existe.
57. Um físico disse-me que o indeterminismo do microuniverso gerava o
determinismo do mesouniverso. No momento, dei-me por satisfeito.
Agora, entretanto, me pergunto se isso seria verdade, como se daria es-
se processo e por quais motivos? (Física)
Trata-se de um fenômeno estatístico, conhecido como "lei dos grandes nú-

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PERGUNTE.ME
meros", Vou exemplificar. A emissão de luz por um átomo excitado é fortuita, com
uma distribuição de probabilidade em função do tempo do tipo decaimento ex-
ponencial. Todavia, havendo muitos átomos excitados, a emissão se dará por
qualquer um deles, passando a probabilidade ser o produto da de cada um pelo
número deles, o que se aproxima da unidade, ou seja, é certo que muitos decairão
e luz será emitida, mesmo que, para um só, não se saiba se e quando haverá emis-
são.
58. Não sei se você é especialista em Psicologia, entretanto gostaria de sa-
ber sua opinião sobre as mais diversas abordagens da Psicologia, mais
estritamente, quero saber qual abordagem você considera mais ade-
quada e por quais motivos. (Psicologia)
Acho que a correta é a neuropsicologia, que reduz os fatos psicológicos aos
neurológicos. Isso é muito incipiente, requerendo, ainda, abordagens holísticas
empíricas. Mas não sou adepto de nenhuma corrente em especial, nem a Psicaná-
lise, nem o Behaviorismo, nem a Gestalt, nem a Psicologia Evolutiva. Acho que a
existência de escolas enfraquece a Psicologia, pois tudo fica dependendo de opi-
niões e não de razões comprovadas. Para mim a Psicologia é parte da Biologia e
da Medicina. Isto é: a mente é uma ocorrência do organismo, em especial do cére-
bro, mas não só dele, logo, algo inteiramente natural, como a digestão e a respira-
ção.
59. Existem argumentos teístas a favor de Deus, citando o estado imper-
turbável da singularidade do Universo há muito tempo. A ciência pro-
vou que o Universo já esteve completamente parado, ou isso ainda é
uma hipótese? (Cosmologia)
É uma hipótese. A teoria do Big Bang apenas diz que o conteúdo começou a
expandir em dado momento a partir de um estado de alta densidade, mas não diz
nada sobre a origem desse conteúdo. Ele pode ter surgido naquele momento ou já
existir. De qualquer modo o tempo atual começou lá (podem ter havido tempos
anteriores), pois estando tudo imperturbável não há passagem de tempo, já que
este advém das alterações do estado do Universo. Isso, contudo, não prova a exis-
tência de Deus, pois o surgimento não precisa ter tido uma causa, nem uma ori-
gem, nem um propósito, mesmo que possa o ter. Pode ser, ainda, que o Big Bang
tenha sido um ponto de inflexão entre uma contração anterior e a atual expansão.
Neste caso o Universo poderia ser eterno para o passado. Não há razão lógica, on-
tológica nem fenomenológica que o impeça.
60. Nietzsche via o sofrimento como algo benéfico para o desenvolvimento
humano e assemelhava as igrejas a um bar, especificamente à bebida
alcoólica, pois ambos apenas aliviavam a dor por instantes. A seu ver,
como a sociedade atual lida com o sofrimento? (Comportamento)
A sociedade hoje aplaca o sofrimento, justamente, com bebidas mesmo, com

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Ernesto von Rückert

drogas, esportes, diversão. Alguns, ainda, com a religião. Tudo isso é engodo. Só a
Filosofia, a Ciência e a Arte podem dar uma genuína consolação, além de fornece-
rem estímulo e ferramentas para transformar o mundo de forma a suprimir ao
máximo, qualquer sofrimento, pela construção de uma sociedade próspera, justa,
harmônica e fraterna, além de tecnologia e medicina para aliviar o suor do traba-
lho e a dor da doença.
61. Admiro muito suas idéias. Parabéns pelo ótimo blog. A Ciência já pôde
provar, ou apresentar fortes indícios, de que, no passado, o Universo
não existia e havia apenas o nada? Um Universo que sempre existiu e
está em eterna transformação ainda é uma possibilidade? (Cosmolo-
gia)
De fato os indícios são esses. Antes do Big Bang, parece que não havia coisa
alguma, o que se denomina nada, desde que se entenda que não havia “o nada",
pois "nada" não é nada. Tudo parece ter surgido ali, sem ter do que provir e sem
causa e nem propósito nenhum para tal surgimento, Isso, contudo, não é compro-
vado. É possível, também, que o Universo não tenha tido um início, ou seja, sem-
pre existiu. Não confundir esse conceito com a afirmação de que o Universo pode-
ria ter tido um início infinitamente afastado para o passado, o que é uma impos-
sibilidade.
62. O que tem a dizer sobre extraterrestres? Você acredita que há vida em
outro planeta ou só no planeta Terra mesmo? (Biologia)
Isso não é uma questão de crença. Admito essa possibilidade, especialmente
no caso de vida primitiva, como bactérias. Mas não há confirmação nenhuma de
vida fora da Terra. Se houver, a possibilidade de que se comuniquem conosco é
remotíssima, mas não impossível. Contudo, acho que todos os casos relatados de
contatos com extraterrestres, ou são fraudes ou são enganos. As condições que a
Terra apresenta para a vida são extremamente raras no Universo. Possivelmente
não mais de uma ou duas terras por galáxia. Veja o livro "Sós no Universo?", de
Peter Ward e Donald Brownlee.
63. Por que alguns cientistas afirmam categoricamente que o tempo teve
um início se a Física Quântica e a Relatividade Geral não funcionam
bem na singularidade? É certo que o tempo teve um início ou é uma hi-
pótese? (Cosmologia)
Singularidade é algo sem existência física. Aparece como resultado das solu-
ções das equações de Einstein para o Universo, mas, em suas condições, as pró-
prias suposições de validade das equações não se dão. Logo, não pode ser admiti-
da. O mesmo ocorre com a Teoria Quântica de Campos. O que se pode dizer é que,
muito próximo da hipotética singularidade, haveria uma condição de extrema
densidade, mas não infinita. Acima de certa densidade não se tem teoria para
descrever o estado do Universo. Parte-se, assim, para conjecturas plausíveis. Se o

34
PERGUNTE.ME
espaço e o tempo estão a expandir-se desde as proximidades dessa singularidade,
então, extrapolando-se para trás, pode-se considerar que ali se deu o início de sua
existência, bem como do conteúdo que preenche o espaço e evolui no tempo. Não
há espaço sem conteúdo e nem tempo sem evolução. Contudo, pode ser que tal
conteúdo não tenha surgido naquele instante zero, para o qual não havia "antes",
mas lá apareceu como produto de uma contração de um Universo anterior, em
que corria um tempo que lá teve a sua terminalidade, dando ensejo ao início de
uma nova sequência de momentos. Pode-se considerar, pois, um "metatempo",
um "metaespaço" e um "metauniverso" que seriam o conjunto dos ciclos de uni-
versos que se sucederiam. Há também a possibilidade de que haja universos pa-
ralelos, inteiramente disjuntos deste e, então, haveria um "Multiverso", como o
conjunto de todos os universos. Nenhuma dessas considerações passam de meras
conjecturas, sem a menor possibilidade de comprovação fática, pelo menos, por
enquanto. Considero que nada disso existe e que este Universo é único, tanto ao
longo do tempo quanto em relação à possibilidade de outros universos, incomu-
nicáveis com este (tanto em tempo quanto em espaço). Isso, de fato, é uma cren-
ça, mas tem por base a ausência de indícios observacionais que sustentem as ou-
tras possibilidades.
64. Deus e religiões. O que são essas coisas em sua opinião? (Religião)
Deus é um conceito inventado pelos homens para dar conta de explicações
consideradas inexplicáveis a respeito dos fenômenos observados. Como, nor-
malmente, sempre é possível identificar um sujeito agente da ocorrência obser-
vada, quando tal sujeito não é achado, imagina-se que há algum, invisível. No caso
de ocorrências fantásticas, há que se supor que tal agente seja detentor de grande
poderio. Daí imaginarem-se os deuses. Por outro lado, os pensamentos dão a im-
pressão de ocorrerem em um "locus" não corpóreo. Supor, então, que haja uma
entidade, denominada "alma" que lhe seria a sede, como também dos sentimentos
e emoções, é um passo fatal. Isso é semelhante a considerar que os sentimentos
ocorrem no coração. Além disso, admitir a morte como a cessação completa da
consciência, parece algo muito cruel, novamente levando à suposição que a tal
"alma" sobreviveria ao corpo, quando da morte deste. Outra coisa é a recompensa
do bem e a punição do mal. É muito difícil aceitar que uma pessoa que pratique
toda sorte de malvadezas e nunca se dê mal, fique ilesa de qualquer punição por
sua conduta. Considerar que os deuses providenciariam o castigo ou a recompen-
sa no prolongamento da vida da alma fora do corpo é outro passo quase inesca-
pável. Sofisticações ulteriores levarão à consideração da unicidade de Deus, até o
prodígio de doutrinas da ordem de complexidade das corporificadas, por exem-
plo, na Igreja Católica Romana ou na Ortodoxa. Mas, até hoje, nunca se apresentou
prova cabal, nem por evidências, nem por raciocínio, de que tais conceitos (Deus,
alma, imortalidade) sejam realizados em alguma espécie de realidade, isto é, que
existam, de fato.

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Ernesto von Rückert

Quanto às religiões, tratam-se de corporificações de certos conjuntos de


crenças, abraçados por alguma coletividade, em uma instituição que, além das
crenças, desenvolveu um corpo doutrinário para sustentá-las, uma hierarquia de
funcionários para geri-las (os clérigos), edificações (templos, seminários, mostei-
ros etc.), enfim, uma mega-organização em torno desse corpo de crenças.
Tal tipo de organização tem um aspecto positivo em promover a pacificação
interna de seus seguidores, uma razão de viver para muitos, um consolo para
atribulações, um auxílio nas necessidades (hospitais, asilos, creches etc.) e coisas
assim, que as religiões promovem. Por outro lado, criam razões para conflitos en-
tre os partidários de religiões diferentes, que não admitem as outras como tão vá-
lidas como a sua, além de basearem toda a sua existência em um grande equívoco
epistemológico, isto é, trata-se de uma ilusão, uma tapeação, mesmo que seus lí-
deres estejam convictos da veracidade de seus pressupostos. Sem falar, é claro, da
possibilidade de haver manipulação malévola, ou mesmo, criminosa, da crendice
do povo em favor do enriquecimento dos detentores do poder religioso. Penso
que é um dever moral, de quem seja suficientemente esclarecido, fazer valer de
todos os modos de persuasão e convencimento para, se não ateizar o mundo, pelo
menos, acabar com o fanatismo religioso e fazer todos tolerarem uns a religião
dos outros, de forma pacífica e construtiva.
65. Gosto muito do que você pensa e escreve. Considero-o mais um ensaís-
ta do que um filósofo. Diga-se de passagem, um pensador sem a perda
do valor cientifico das coisas ou fatos apreendidos pelo seu modo de
pensar. (Pessoal, Filosofia)
Obrigado por suas palavras. Gostaria que se identificasse. O conceito de filó-
sofo é aberto e não se refere apenas a quem tenha uma formação acadêmica for-
mal em Filosofia, como, de fato, foram muitos filósofos da história. Quem tem o
diploma de Filosofia é um entendido em Filosofia, mas pode não ser um filósofo.
Quem tem interesses e conhecimentos razoáveis em áreas distintas, como eu
que, sendo um educador e cientista, possuo um bom trânsito nas artes e na Filo-
sofia, sofre de um tipo curioso de solidão, que nos deixa deslocados entre cientis-
tas, por sermos filósofos e artistas, entre artistas por sermos cientistas e filósofos
e entre filósofos por sermos artistas e cientistas. Entre religiosos, somos discri-
minados por sermos ateus e entre ateus por admirarmos alguns aspectos das re-
ligiões e algumas pessoas religiosas de valor. Em suma, por prezarmos acima de
tudo a verdade e a bondade e não a vaidade e as vantagens. Daí sentirmos uma
grande solidão e, muitas vezes, nos fecharmos em nós mesmos. Mas é preciso re-
agir e externar a riqueza que essa interação de saberes em uma única mente é ca-
paz de produzir.
Disso tudo, o mais importante é a Filosofia, mas não apenas conhecer Filoso-
fia, e sim, filosofar. É claro que, para tal, há que se conhecer o que outros já filoso-

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PERGUNTE.ME
faram, não só para encurtar o tempo e não precisar reinventar a roda, como para
treinar a embocadura. E, sem dúvida, da mesma forma que é essencial ao cientista
o conhecimento filosófico, também o é, ao filósofo, o conhecimento científico, es-
pecialmente de Matemática (Lógica, Geometria e Análise), Física (Quântica e Rela-
tivística), Cosmologia, Biologia (Genética e Evolução) e Psicologia (Neurociên-
cias). Claro que a capacidade de expressão verbal e articulação de argumentos
são requisitos essenciais, não descuidando de uma boa cultura geral e artística.
Filosofar é debruçar-se sobre a realidade em todos os seus aspectos (lógico,
matemático, geométrico, físico, astronômico, cosmológico, geológico, químico, bi-
ológico, psíquico, social, econômico, ético, político, cultural, artístico, científico,
tecnológico, metafísico, espiritual e qual outro seja); assimilar seu conteúdo, re-
fletir sobre ele, inteirar-se de tudo o que já se disse a respeito, contestando o que
se considerar incorreto; formular conceitos que descrevam de forma adequada a
realidade assimilada, delimitando sua esfera de aplicabilidade; fazer levantamen-
tos e experimentos no que for pertinente e possível para verificar as relações
existentes entre aquilo que os conceitos representam nas várias categorias exis-
tentes; formular hipóteses que proponham explicações para as relações obtidas;
deduzir consequências a partir dessas hipóteses; testar a veracidade das achadas,
reformulando as hipóteses, caso as conclusões não se adéquem à realidade e arti-
cular argumentos que defendam o resultado concluído e sejam capazes de se
opor às explicações alternativas existentes e verificadas errôneas. Essa é a meto-
dologia científica que proponho seja também aplicada à Filosofia, para que esta
deixe o patamar de uma esfera de conhecimentos baseada em pontos de vista
pessoais e se coloque como um corpo objetivo do saber, independente de “escolas
de pensamento”.
Nisso tudo é mister ter desenvolvido as habilidades e competências filosófi-
cas que o estudo formal pode propiciar. Mas é preciso ir além do costume de se
fazer apenas o estudo crítico da produção filosófica de algum autor ou escola e ter
a ousadia de propor sua contribuição pessoal, ou mesmo, quem sabe, criar uma
escola. Todavia, meu ideal é ver a Filosofia despida de qualquer rótulo ou adjeti-
vação, isto é, que se apresente em toda beleza de sua nudez, pois assim é que po-
derá ser admirada na sua verdade e esplendor.
66. Quais suas indicações de música para um melhor desenvolvimento e
desempenho no aprendizado matemático e das ciências exatas? (Músi-
ca)
Para mim as melhores músicas para acompanhar o estudo são as de Bach,
Mozart, Haendel, Haydn e outros barrocos e clássicos: concertos, sinfonias, suítes,
sonatas, quartetos e música instrumental em geral, desde que suficientemente
suave.
67. Não consigo entender essa coisa de "espaço-tempo". Explique, por fa-

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Ernesto von Rückert

vor. (Relatividade, Física)


Espaço-tempo nada mais é do que o conjunto de todas as possibilidades de
localização e momentos de acontecimentos que possam se dar com alguma coisa.
Da mesma forma que um ponto do espaço é o elemento que permite localizar a
posição de qualquer coisa e um instante do tempo é o elemento que localiza o
momento em que se deu algum acontecimento, um ponto do espaço-tempo é um
momento com a inclusão de sua localização. Um evento ocorre em um lugar num
certo momento. O conjunto de todos os eventos, isto é, de tudo o que está aconte-
cendo com todas as coisas em todos os possíveis lugares está situado no espaço-
tempo. Ele tem quatro dimensões, três para localizar a posição e uma para locali-
zar o momento. Isso diz onde e quando algo ocorreu. Dados dois eventos distin-
tos, pode-se medir o intervalo de espaço-tempo que os intermedia. Ele é calcula-
do por uma extensão do teorema de Pitágoras, desde que se considere a coorde-
nada temporal com sinal contrário ao das espaciais. Assim, enquanto a distância
espacial é dada por Δl² = Δx² + Δy² +Δz², o intervalo é dado por Δs² = c²Δt² - Δl².
Dados dois eventos, o intervalo Δs é um invariante, qualquer que seja o referenci-
al e o sistema de coordenadas usado para calculá-lo. Δs² > 0 refere-se a um inter-
valo “tipo tempo”, ou seja, para o qual é possível se achar um referencial em que o
primeiro e o segundo eventos tenham se dado no mesmo lugar. Δs² < 0 refere-se a
um intervalo “tipo espaço”, para o qual é impossível haver um referencial no qual
o primeiro e o segundo eventos tenham se dado no mesmo lugar. Δs² = 0 é um in-
tervalo “tipo luz”, pois relaciona eventos vivenciados por um raio de luz em seu
trajeto.
Recomendo a leitura dos livros:
ABC da Relatividade, Bertrand Russell, Jorge Zahar, 2009;
Introdução à Relatividade Especial, Robert Resnick, Polígono, 1971;
Teoria da Relatividade Especial, Roberto de Andrade Martins, GHTC.
68. Você é contra o casamento homossexual? (Relacionamento, Sexualida-
de)
Não, mas, em verdade, para que o casamento, mesmo heterossexual? Acho
muito melhor que as pessoas tenham uma convivência conjugal sem nenhum vín-
culo formal. Assim, o fato de estarem juntos se deve apenas ao desejo de que as-
sim o seja, sem nada que obrigue. Muito melhor! Quanto à parte legal e econômi-
ca, considero que todo adulto deve prover-se a si mesmo e nunca depender de um
relacionamento para sobreviver. Filhos? Sempre o serão de ambos os pais, que
têm o dever moral de cuidar deles, com ou sem casamento. Herança? Nem deve-
ria existir. Todavia, se se opta pelo casamento, qual o problema que ele seja cele-
brado entre pessoas do mesmo sexo? Trata-se, simplesmente, da legalização de
uma situação de fato, que é a convivência das pessoas, geralmente numa mesma

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PERGUNTE.ME
casa, para que possam se apoiar mutuamente na vida e fruir, de forma mais satis-
fatória e constante, da companhia recíproca, incluindo o intercurso sexual. Isso
pode se dar entre pessoas de sexo oposto ou do mesmo sexo, e, mesmo, entre
mais de duas pessoas.
69. Tenho grande dificuldade em Matemática, até no básico mesmo, no ní-
vel do Ensino Médio. O que você recomenda pra melhorar? (Matemáti-
ca, Educação)
Isso é um problema, pois Matemática é um assunto cumulativo em que cada
coisa depende de tudo que lhe antecede. A única solução é se apaixonar pela Ma-
temática e estudar sofregamente desde o início. Sem uma dedicação muito grande
não se vai longe. Tem que gostar mesmo. Vou procurar se existe algum livro para
adultos que não conseguiram vencer o ensino ao longo do nível fundamental e do
médio e que querem recuperar o tempo perdido. É uma pena que, desde os pri-
meiros anos da escola, os professores não criem nos alunos a fascinação pela Ma-
temática. Assim eles aprenderiam tudo por gosto e não para tirar nota, como se
fosse um castigo. Sempre chamei a Matemática de "Boatemática".
70. Você já leu "Eram os Deuses Astronautas”? Se sim, o que achou? (Esote-
rismo)
Li. Sinceramente: tudo é a mais completa baboseira, como é o caso de "Quem
somos nós", "O Segredo" e outras obras de literatura esotérica. Vale apenas pela
divulgação dos fatos. A interpretação é inteiramente equivocada. Não se iluda: ex-
traterrestres, se os houver, e não nego, nunca entraram em contato conosco e
nem possivelmente conseguirão entrar, como nós com eles. Aqueles documentá-
rios do "History Channel", Caçadores de OVNIs, são sensacionalistas. Ficção na
forma de documentário, sem a mínima credibilidade.
71. Você acha possível vivermos na Matrix, ou esta é apenas mais uma in-
venção de nossa "mente inquisidora"? E por que a Ciência não pode
provar fatos como esse? (Psicologia)
Claro que não. Isso é ficção. É como o solipsismo, que é a concepção de que
não existe mundo exterior, apenas a mente de cada um (nem outras mentes). Não
há como provar que não pode ser assim, mas a implausibilidade é muito grande.
Assim é a matrix.
72. Você já pensou, em algum momento, na carreira política? Juro que vo-
taria em você para presidente, se pudesse votar. (Pessoal, Política)
Sim, mas não ia dar certo porque os eleitores não querem um político que
coloque o bem comum acima das demandas pessoais de cada um, como eu faria.
Nem querem quem faça tudo dentro da lei, sem abrir exceções nem privilégios. Os
políticos, os empresários, todos só querem quem os beneficie e a minha platafor-
ma é de renúncia e sacrifícios em prol de uma sociedade melhor. Nessa, os mais

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Ernesto von Rückert

ricos teriam que ceder parte de sua riqueza, ter menos lucros, distribuir a renda.
E os trabalhadores teriam que trabalhar mais, uns pelos outros, sem preguiça
nem cobiça. É difícil ser eleito com essa plataforma e eu jamais faria uma campa-
nha mentirosa. Além disso, eu não me filio a partido nenhum, pois, se eu discor-
dar de alguma posição partidária eu voto contra, além de votar em propostas ad-
versárias, se considerar benéficas para o povo. Em suma, eu não me sujeito ao jo-
go político que vigora por aí. Então, nenhum partido me aceitaria.
73. Gostaria de ouvir sua opinião sobre certa aversão que possivelmente
existe entre o pensamento lógico mais elaborado, a inteligência voltada
para um sentido mais crítico, e a integração social. O simples fato do in-
teresse diferente pode ser propulsor de uma exclusão social ou há algo
mais, como a falta de compreensão entre os indivíduos? Schopenhauer
dizia que não deviam se misturar os filósofos, mas seria essa uma tare-
fa igualmente fácil? (Comportamento, Filosofia)
Discordo de Schopenhauer, se ele disse isto. Um filósofo não precisa ser an-
tissocial. Nada impede alguém de ter ótimos relacionamentos sociais, ser ben-
quisto por todos e também ser uma pessoa reflexiva, crítica e contestadora. Basta
ser cortês e educada, sem deixar de ser assertiva. Casmurrice não é sinal de inte-
ligência. O verdadeiro filósofo tem mesmo é que se imiscuir entre todos para le-
var a luz do esclarecimento onde imperam as trevas da ignorância. Precisa saber
se fazer compreendido, sem esnobar sua erudição. Precisa, acima de tudo, ser um
educador e, para tal, tem que saber dialogar no nível de seus interlocutores, exa-
tamente para levá-los a um nível mais elevado de entendimento. Isto não é fácil,
mas aquele que se encastela em sua pretensa superioridade não cumpre a princi-
pal tarefa da Filosofia, que é mudar o mundo para melhor.
74. Agradeço muito por abertamente dividir tanto conhecimento e pensa-
mentos tão cuidadosamente elaborados e, portanto, contribuir inten-
samente com o desenvolvimento de cada um. Agradeço também por
ser tão solícito. (Pessoal)
Obrigado. Considero como uma espécie de missão levar a todos a luz do es-
clarecimento racional, do livre pensamento, do ceticismo metodológico e do com-
portamento ético, bem como o deslumbramento pela maravilha do conhecimento
sobre o Universo, a vida, o homem e tudo o que lhe diz respeito, como a arte e a
política, por exemplo. Assim procuro espancar as trevas da ignorância, dos mitos,
das superstições, dos preconceitos, da mesquinhez e do egoísmo, para que se
possa construir um mundo mais lúcido, justo, harmônico e fraterno, em que todos
possam viver em paz de forma tolerante e realizarem-se plenamente como pes-
soas integrais, altruístas e felizes.
75. O que você acha da Revista VEJA? (Pessoal, Política)
Defende uma posição capitalista neoliberal a que faço muitas restrições. Com

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PERGUNTE.ME
isso acaba perdendo a isenção requerida de um veículo democrático. Mas isto
acontece também com as publicações de esquerda. O remédio é ler todas e procu-
rar tirar as próprias conclusões. Não tenho tempo de ler jornais diários, nem
mesmo ver os da televisão. Acabo lendo as revistas semanais VEJA, ÉPOCA, ISTO
É, CARTA CAPITAL, além de notícias pela internet, dos portais Terra, Yahoo, Folha
de São Paulo e Jornal do Brasil. Assim faço minha triagem de interesses mais ra-
pidamente, pois não aguento notícias esportivas e criminais. Economia e política,
só leio o que tenha macroimportância. Procuro mais o noticiário científico e cul-
tural.
76. Qual a fonte das imagens que você pintou na coleção de "Paisagens
Cósmicas" que estarão em sua exposição lá na Biblioteca da UFV a par-
tir do dia 9 de agosto (de 2010)? (Pessoal, Pintura)
Todas as telas são baseadas em fotos do telescópio Hubble. Imprimo-as e
vou pintando a mão livre, olhando a foto. Não faço decalque ou outro processo de
transcrição para a tela. Só um esboço à mão mesmo. Uso tinta acrílica ou a óleo.
No caso da acrílica, primeiro faço as cores de fundo com uma diluição fraca em
glicerina e água e no caso do óleo, em óleo de linhaça. Depois adiciono as sombras
sem diluição, usando pincel chato duro e, finalmente, os detalhes em relevo, com
uma aplicação da tinta por um pedaço de bucha vegetal. Após a secagem aplico
um verniz spray semi-brilhante.
Escolhi as galáxias e nebulosas com maior apelo estético, que, justamente,
possam maravilhar o espectador com a beleza do Universo. Tais objetos não se
apresentam assim a olho nu, de modo que não se pode pintar pela observação di-
reta. Somente uma exposição fotográfica de longa duração, obtida em telescópios
e composta pela superposição de imagens tomadas com vários filtros é capaz de
revelar todo o esplendor de luz e cores que se apresentam.
77. Você gostava de estudar ou só o fazia por obrigação? (Pessoal, Educa-
ção, Comportamento)
Sempre gostei de estudar e, até hoje, adoro fazê-lo. Mas nunca estudava o
que cairia na prova e sim, outras coisas. O da prova eu sempre sabia só de ir à au-
la. É que minha curiosidade é imensa a respeito de tudo. Não quero saber a utili-
dade, quero só saber. Isto me dá um prazer enorme. É muito gostoso saber das
coisas. Quanto mais difícil, complicado, trabalhoso e demorado, mais satisfação eu
tenho em dominar o conhecimento. Tem assuntos que não me interessam: espor-
tes, negócios, direito, economia, política. Mas Matemática, Física, Astronomia,
Cosmologia, Geologia, Biologia, Psicologia, Filosofia, Literatura, Poesia, Música,
Pintura... Ah! isso tudo é uma delícia para se dedicar horas a fio a ler, estudar, pin-
tar, cantar...
Acho que o prazer do estudo está ligado à vitória sobre os desafios e à satis-
fação de dominar um conhecimento ou uma habilidade, como saber praticar al-

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Ernesto von Rückert

gum esporte ou tocar algum instrumento. Isto aumenta a auto-estima pelo reco-
nhecimento que as pessoas dão ao seu desempenho. E, é claro, a gratificação de se
sentir contribuinte para a melhoria do mundo. Por isto é preciso que os professo-
res, desde bem cedo, às criancinhas, não façam do estudo um castigo, mas um jo-
go e sejam eles mesmos deslumbrados com o saber, de modo a passar isto para a
criança. Assim ela crescerá vendo no estudo algo maravilhoso e desejável, mesmo
que sem cobrança.
Em verdade, é só pela educação e pela cultura que todas as mazelas da hu-
manidade poderão ser resolvidas. Prosperidade, saúde, habitação, igualdade soci-
al, combate à criminalidade e às drogas, tolerância religiosa, abolição de precon-
ceitos, erradicação de todas as guerras, enfim: paz, harmonia, justiça, fraternidade
e tudo o que se pode desejar de um mundo bom para todos só será alcançado se
se começar pela educação. E educação envolve não somente estudo, mas estudo
também, sem dúvida. Gostar de estudar é, assim, condição básica para a melhoria
do mundo. Há um profissional especialmente preparado para fazer isto: o profes-
sor. Considero esta a mais importante profissão que existe. Pena que as melhores
cabeças não a busquem porque não enriquece. Por isto temos professores que
não gostam de estudar. E isso passa para o aluno. Professor tem que ser vibrador
com o conhecimento, como um atleta com seu esporte. Sou professor e me orgu-
lho muito de o ser. Não queria ser outra coisa na vida. Cientista, artista e filósofo
são complementos. Essencialmente, sou um professor e, como tal, adoro estudar.
78. Talvez já lhe tenha sido perguntado, mas qual sua opinião sobre a situ-
ação pedagógica durante o período militar? (Educação)
Por um lado, foi no período militar, e eu vivi isto, que o acesso à educação
formal se democratizou mais acentuadamente. Antes, quando eu era criança, o
ensino público era para a elite e a classe média. Os mais pobres, no máximo, fazi-
am o curso primário (atual quinto ano do fundamental). Entrar para o Colégio Es-
tadual era uma proeza que exigia cursinhos de admissão. Depois isso foi abolido e
a educação básica, incluindo o ensino médio, se tornou acessível a todos. Mas
houve um preço: a queda da qualidade. Isso porque o aumento do número de
bancos escolares exigiu a contratação de muitos professores e, para dar conta, o
salário de cada um diminuiu, e bastante. Antes o professor da escola pública tinha
o status de um médico, engenheiro ou advogado, tinha casa própria e boa, bom
carro, era sócio do Rotary e assim por diante. Hoje é como se fosse balconista de
loja e, no fundamental, vale menos do que empregada doméstica. Isto afugenta as
melhores cabeças, que antes aspiravam à carreira do magistério. Outro problema,
bem grave, foi o patrulhamento ideológico, tanto nos textos escolares quanto na
atuação dentro da classe. A disciplina "Educação Moral e Cívica" deixou de ser o
que o seu título diz e passou a ser proselitismo direitista, sem chance para ne-
nhum questionamento. Tanto que, com a abertura, ela foi abolida, o que conside-
rei uma pena, pois sua proposta original, num contexto de liberdade, era muito

42
PERGUNTE.ME
válida.
79. A humanidade se tornou um software pesado demais para ser suporta-
do por um hardware antigo como o da Terra. Nossas próprias mentes
estão incapazes de gerenciar tantas informações em tão pouco tempo.
Qual sua opinião? (Educação, Sociologia)
Acho que esta analogia computacional não é apropriada. O homem, mesmo
com sua sociedade, ciência e cultura, é um membro da natureza, e nela não há dis-
tinção entre hardware e software. Tudo é mesclado. É preciso entender que es-
tamos imersos no processo evolutivo e, na verdade, os desafios definirão quem
sobreviverá. A humanidade é capaz de enfrentá-los. Até piores ainda. De alguma
forma as coisas se ajeitarão, pois é assim que se processa a evolução. Poderá ha-
ver perdas de vida, se não se criar juízo, mas os sobreviventes prosseguiram o
caminho. O ideal é que quem tenha consciência dos problemas, aja no sentido de
ampliar essa consciência, para que se possam tomar medidas que evitem sacrifí-
cios desnecessários. Estou falando dos problemas ambientais, dos conflitos reli-
giosos, da desigualdade econômica, da pobreza extrema, dos problemas de saúde
pública e, principalmente, da extrema carência educacional. Este é o ponto que
tem que ser atacado primeiro, pois dele tudo depende. Alfabetizar, mas alfabeti-
zar cientificamente também, as extensas parcelas da humanidade que estão à
margem dos conhecimentos mais elementares e presas a mitos e preconceitos
que só servem para atrasar suas vidas e promover discórdias, impedindo o pro-
gresso e a conquista de uma sociedade global próspera, justa, harmônica, fraterna
e feliz para todos. É possível se chegar lá e é o que vai acontecer mais cedo ou
mais tarde. Podemos fazer com que seja mais cedo, isto é, em menos de mil anos.
80. Acredita na frase: "socialismo ou barbárie”? (Política)
Não! Socialismo é uma possibilidade de gestão econômica da sociedade, co-
mo o capitalismo, o feudalismo, o comunismo, o comunitarismo ou o anarquismo.
Em todas essas pode haver barbárie ou não, pois esta está ligada não à estrutura
organizacional, mas ao modo de condução do processo. Este pode ser liberal ou
tirânico, em que geralmente se estabelece a barbárie, a despeito de possíveis
"déspotas esclarecidos". Normalmente essas opções econômicas são correlacio-
nadas com formas políticas de governo, mas não necessariamente, como se vê ho-
je na China. Democracia e totalitarismo podem existir em qualquer regime eco-
nômico. Barbárie também não é privilégio de regimes totalitários. Pode ser que
algum seja benigno e pode haver barbaridade numa democracia, desde que a
maioria tiranize a minoria, democraticamente.
81. Você se considera um empirista, racionalista ou apriorista kantiano?
(Epistemologia, Lógica)
Faço questão de não ser rotulado filosoficamente. Em relação ao empirismo,
racionalismo, criticismo, apriorismo, positivismo, pragmatismo ou outra concep-

43
Ernesto von Rückert

ção que se tenha a respeito do conhecimento e da verdade, minha posição tende


ao empirismo, mas não de forma radical. Não considero que o cérebro seja total-
mente uma "Tabula Rasa", pois sua própria estrutura anatômica e fisiológica já é
um dado que não provém da experiência. Assim, pode-se dizer que a própria lógi-
ca advém da estrutura da mente humana, isto é, outros seres inteligentes e cons-
cientes podem construir lógicas diferentes. Mas a lógica mental não necessaria-
mente é a lógica da natureza, daí ser preciso investigar como o mundo funciona
de modo empírico. Isto significa, inclusive, que os fundamentos da Matemática
não são juízos analíticos, mas sintéticos, ou seja, que a Matemática, de fato, é uma
ciência e não apenas uma linguagem. Esta é a minha concepção. Para mim não
existem "juízos sintéticos a priori". Por exemplo, "tudo que ocorre tem uma cau-
sa", é algo que não se pode afirmar, pois trata-se de uma assertiva induzida de
observações empíricas e, de fato, não é verdade. Em suma: os fundamentos do
conhecimento são empíricos, mas a partir deles pode-se, de forma racional, isto é,
usando-se a lógica, tirar conclusões que não se possa verificar empiricamente de
forma direta, mas cuja veracidade seja aceita racionalmente. Note-se que isto é
diferente de dizer que existem verdades inatas. Quanto aos juízos analíticos, de
fato não são juízos, mas meras definições e, assim, arbitrárias, ou seja, convencio-
nais. Todavia, muitos juízos considerados analíticos, não o são. Por exemplo, "O
homem é um animal racional", é sintético, pois os conceitos de homem e de racio-
nal são independentes e o homem poderia não ser racional, bem como pode ha-
ver outros animais racionais não humanos.
82. O que você acha do método de admissão nas universidades? (Educa-
ção)
Para mim o ideal seria a aplicação apenas do ENEM a todo mundo. De posse
de seu escore, o candidato se habilitaria às vagas em qualquer lugar. Nada de ves-
tibular, especialmente se ele considerar pontuação específica por área. O impor-
tante não é ver se o candidato seja competente para ser médico, engenheiro ou
advogado, mas se tem conhecimento geral em todas as áreas, em nível suficiente
para fazer qualquer curso superior. Pois um engenheiro e um médico têm que sa-
ber Português, História e Geografia, como um advogado e um médico têm que sa-
ber Matemática, Física e Química e um engenheiro e um advogado têm que saber
Biologia. Mas deploro a mudança de concepção do ENEM adotada no "novo
ENEM". Acho que a interdisciplinaridade é imprescindível, devendo as questões
ser formuladas sem que pertençam a uma disciplina em particular e distribuídas
aleatoriamente ao longo da prova. O caráter de medir habilidades e competên-
cias, além do conhecimento é extremamente relevante. O ENEM, além disso, fir-
mar-se-ia, na versão anterior, como balizador dos currículos e procedimentos pe-
dagógicos do Ensino Médio. Mas ainda falta muita coisa, como a inserção da Física
Moderna nos conteúdos do Ensino Básico, com cobrança no ENEM, além de dei-
xar de lado aspectos puramente técnicos, que só deveriam ser abordados em cur-
sos profissionalizantes terminais no nível médio, sem constar do ENEM.

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PERGUNTE.ME
83. Uma dúvida que sempre me inquietou: a liberdade plena pode existir,
se o homem sofre a própria limitação de não poder conceber todas as
opções possíveis? Isto é, ele é livre sim dentro do que conhece, mas isso
não é uma liberdade muito relativa? (Sociologia)
Liberdade significa poder de escolha sem coações. O fato de não se conse-
guir, por incapacidade ou incompetência, realizar as escolhas, não é restrição à
liberdade. Este é o conceito e, deste modo, a liberdade pode ser plena. Porém,
mesmo assim, é preciso restringir o uso da liberdade para ações maléficas ao ou-
tro ou à coletividade e, talvez, a si mesmo, enquanto integrante da coletividade,
pois o prejuízo pessoal também é danoso ao grupo. Ou seja, proibir o uso de dro-
gas pode ser válido, enquanto preserva o indivíduo de danos a si mesmo e a soci-
edade da privação de sua contribuição construtiva a ela própria. Mas isto tem que
ser visto com muito cuidado para evitar tiranias, especialmente a da maioria em
relação às minorias.
84. Você é jogado em algum lugar do espaço, e com você existem dois fras-
cos. Um é veneno e o outro é a eternidade. Qual escolheria? (Pessoal,
Comportamento)
A eternidade, pois poderia contar com a possibilidade de, algum dia, ser res-
gatado. Além disso, tornando-me imortal, poderia realizar o meu sonho de cons-
truir, em minha mente, com o que já tivesse adquirido de conhecimento empírico,
um construto completo de relações entre tudo, de modo a ter a percepção total da
realidade do Universo. Quando eu cria em Deus e na imortalidade da alma, o que
mais eu desejava era morrer, para ir para o céu e aprender de Deus a totalidade
de todos os conhecimentos possíveis.
85. O que é a partícula de Deus? (Física, Quântica)
É o bóson de Higgs, uma partícula que se supõe, de acordo com a teoria da
grande unificação, atualmente o paradigma da Física, tenha surgido na primeira
quebra de simetria do campo indiferenciado primordial, a partir da qual os fér-
mions e os outros bósons se formaram, adquirindo massa a partir da energia e
começaram a constituir a matéria, a radiação e os campos que hoje são os com-
ponentes substanciais do Universo (e não matéria e energia, como dizem - ener-
gia é um atributo, não uma entidade). Para observá-lo é preciso que se forneça
uma densidade de energia da ordem da existente antes que ele decaísse, o que se
supõe que o "Large Hadron Collider" possa suprir.
86. O que te dá mais prazer na vida? (Pessoal)
Amar, em espírito e na carne. Depois disso, pensar. A seguir o resto: conver-
sa, comida, música, literatura, pintura, Filosofia, cosmologia, física, matemática,
cinema, nesta ordem. Arte, ciência e cultura em geral. Mas não curto esportes, fo-
foca, badalação, barzinhos, televisão e muitas outras coisas que a maioria curte.

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Ernesto von Rückert

87. Você acredita que o Universo seja infinito? (Cosmologia)


Isto não é uma questão de acreditar e sim, de verificar. Tanto pode ser quan-
to não ser. Ao que parece, pelos dados observacionais disponíveis, é infinito
mesmo. Mas estes dados ainda são bem precários, de modo que pode ser que, no
futuro, a posse de dados mais confiáveis mude o resultado. Tais dados se referem
à densidade média de massa e energia e à aceleração da expansão. Se a primeira
prevalecer, é finito, se a segunda, infinito. O problema é que os valores estão bem
no limite das duas possibilidades e têm um erro de medida cuja amplitude tem
limites um em cada um dos casos.
88. Acerca do bem e do mal, prove-me que a existência de um Deus bom
significa necessariamente a inexistência do mal. (Ética)
Se houvesse um Deus, onipotente, mas não bondoso por definição, nada im-
pediria a existência do mal. Mas se, além de onipotente (senão não seria Deus)
também fosse bom, então ele não poderia permitir a existência do mal, pois se o
fizesse, ou não seria bom ou não seria onipotente. Como o mal, de fato, existe, ou
Deus não existe ou, se existe, não é bom.
89. Sabemos que o Universo está se expandindo, contudo ele está se ex-
pandindo em que? Sabemos que para algo expandir é necessário haver
espaço, contudo o que seria esse espaço em que o Universo se expan-
de? (Cosmologia)
Nada disso. Não existe espaço fora do Universo para aonde ele possa se ex-
pandir. O Universo contém todo o espaço existente, seja ele finito ou infinito. Em
ambas as possibilidades, a expansão cósmica não é um movimento do conteúdo
do Universo para um espaço vazio circundante. Não existe vazio no Universo nem
fora dele. Todo o espaço existente é preenchido por conteúdo, pelo menos de
campo e radiação. Quando não há matéria, tem-se o vácuo, mas nunca o vazio. A
expansão é um inchamento do próprio espaço, isto é, o conteúdo, sem se mover,
afasta-se mutuamente porque a separação cresce, ou seja, as distâncias aumen-
tam por si mesmas, não porque algo se mova para longe. Isto é que é a expansão
cósmica. O espaço não é uma entidade apriorística, dentro da qual as coisas se
alojam. Ele existe em função daquilo que contém. Da mesma forma o tempo, que
existe em função das alterações no estado do Universo. Se nada se alterar, o tem-
po não passa.
90. Sabemos que a eternidade está no coração do homem, contudo não se-
ria dramático ser eterno em natureza humana e sozinho em algum lu-
gar do espaço? (Comportamento)
A eternidade não está no coração do homem. É um fato objetivo. Possivel-
mente não existe, isto é, o Universo teria um fim e, então, não se passaria mais
tempo. Viver sozinho até o fim dos tempos não é dramático, mas é triste. Todavia

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PERGUNTE.ME
uma pessoa com personalidade suficiente para bastar-se a si mesma é capaz de
contornar esta tristeza e fruir prazer de seu próprio pensamento. Isto acontecia
com os anacoretas do Cristianismo primitivo, como Antão do Egito. Como a situa-
ção proposta é hipotética, certamente haveria suprimento inesgotável de alimen-
to para prover esta vida inacabável.
91. Como podemos provar que o Universo não cresce num vazio ou um es-
paço maior que ele? (Cosmologia)
Simples: Por definição, Universo é o conjunto de tudo, logo não há nada fora
dele, nem vazio. O Universo é constituído de espaço, tempo, matéria, radiação,
campo e suas estruturas, bem como dos eventos que se dão com tais constituin-
tes. O que requer verificação é a inexistência de vazio dentro do Universo. A ob-
servação da radiação de fundo mostra que, para aonde quer que se mire, há radi-
ação provindo, mesmo que não haja matéria, como de fato há grandes vácuos no
Universo. Além disso, o campo gravitacional não aceita, como o eletromagnético,
nenhuma blindagem, nem pode ser cancelado por outra componente repulsiva.
Assim se estende por todo o Universo, impedindo a existência de qualquer espaço
vazio, pois ele sempre estará presente.
92. Em um mundo criado por um ser perfeito, creio que ele possibilitaria a
democracia, fora disso seria um déspota. Ao dar ao homem a possibili-
dade de escolher se o seguiriam ou não, Deus, mesmo sabendo dos ris-
cos, foi perfeito ao ser democrático. (Religião)
De jeito nenhum. Deus, por definição, é um déspota mesmo. Se ele é onipo-
tente, então tudo o que ocorre, decorre de sua vontade e ação. Havendo Deus, na-
da se dá por si mesmo. Se houver qualquer mal, ele não só foi permitido, mas de-
terminado por Deus. Isto significa que, de fato, Deus, se existir, não pode ser bom
de forma alguma. Democracia é um sistema humano de gestão da sociedade. Jesus
Cristo é o "Rei dos Reis", absolutista, e não o "Presidente da República dos Presi-
dentes das Repúblicas".
93. Digamos que a história de Einstein esteja certa, e o mal, seja a ausência
do bem, em que o bem é Deus. Deus não criaria a própria ausência, po-
rém é mais lógico pensarmos que o mal surge quando suas criaturas se
distanciam dele, criando assim o mal. (Ética, Religião)
Também não. Einstein e Agostinho de Hipona estão completamente errados.
O mal não é ausência do bem, mas uma atitude deliberada de causar prejuízo, dor,
sofrimento, tristeza ou o que for de ruindade. A analogia de Einstein com respeito
à luz e o calor não procede, pois bem e mal, assim como beleza e feiúra ou carga
elétrica não são grandezas que se distribuem em uma semirreta, com o zero em
um extremo, mas em uma reta, com o zero no meio, admitindo valores positivos
(bem) e negativos (mal). Além disto, há males que não são causados por pessoas e
sim pela própria natureza, como terremotos, furacões e doenças. Isto seria uma

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Ernesto von Rückert

maldade exercida pelo próprio Deus. Outrossim, mesmo que se pudesse dizer que
o mal é a ausência do bem, isto não identificaria o bem com Deus, pois bem não é
um ente, mas um valor, enquanto Deus seria um ser (ente que existe). São catego-
rias diferentes, sendo o bem e o mal valores cuja existência não depende da exis-
tência de Deus nenhum. Pelo contrário, a atribuição de bondade a Deus é posteri-
or à noção de bem, isto é, ao conceber a idéia de Deus, a humanidade lhe atribuiu
o atributo bondade. Mas há concepções de Deus sem esse atributo.
94. Em um trabalho acadêmico em grupo, você fica como o "carregador de
piano", que faz o trabalho sozinho, enquanto os outros pedem para vo-
cê os considerar no trabalho. Mas você requer o seu direito de criador.
Você estaria sendo déspota ou justo? (Ética)
Justo, é claro! Déspota eu seria se não considerasse o trabalho que os outros
tivessem feito. Como não fizeram nada, a justiça manda não levá-los em conside-
ração. Tanto é injusto punir um inocente quanto inocentar um culpado. Se você
fez esta pergunta com relação ao comportamento de Deus, a questão do seu des-
potismo não é a punição aos culpados, que, inclusive é uma das razões que tenho
para desejar que Deus exista, mas sim punir os inocentes. Isto é despotismo e as
catástrofes naturais, bem como as doenças, não distinguem bons de maus. Outra
coisa é o que Deus considera como certo e como errado. Conforme a maioria das
religiões, é passível de danação eterna ser adepto de outras religiões, mesmo que
se seja uma pessoa honrada e bondosa. Isto é despotismo.
95. Você acredita que a interdisciplinaridade seja imprescindível. Seria o
modelo da UFABC o da universidade do futuro? (Educação)
Considero que sim. Acho muito boa a proposta da Universidade Federal do
ABC, que penso poderia ser até generalizada.
96. Por que não podemos provar cientificamente lógicas matemáticas, as-
sim como opiniões de valor, julgamentos estéticos, ou a própria Ciência
que é permeada de suposições, como, por exemplo, a Teoria da Relati-
vidade? (Epistemologia, Lógica)
Ciência é uma explicação da realidade construída com base em noções primi-
tivas, definições, princípios, leis e teoremas. Como uma definição é o estabeleci-
mento do significado de algum termo em função de outros previamente conheci-
dos, há um momento em que não há nada previamente conhecido em que se ba-
sear. Tal termo é, pois, primitivo, ou indefinido, mesmo que possa ser conceitua-
do, já que definição é precisa e conceito é vago. Uma vez definidos os entes e seus
atributos, investigam-se as relações que tais coisas possuem entre si. Esta inves-
tigação é feita empiricamente, isto é, pela observação e pela experiência, com a
formulação de hipóteses que, testadas contra seu falseamento, são consignadas
em "leis" que descrevem (e não prescrevem) o comportamento da realidade na-
tural ou cultural. A partir das leis e das definições, por raciocínio, podem-se deri-

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PERGUNTE.ME
var novas proposições, que também precisam ser checadas, estabelecendo rela-
ções fenomenológicas entre entidades e entre atributos de entidades. Tais são os
teoremas. Muitas vezes é possível se estabelecer uma proposição de caráter mais
genérico que, todavia, não é passível de verificação empírica, da qual uma lei pos-
sa ser derivada como um teorema. Isto é um "princípio". Esta coletânea de asser-
tivas, devidamente sistematizada, consiste em um modelo teórico descritivo de
alguma categoria da realidade. Note que a realidade não "obedece" teoria ne-
nhuma. As teorias "descrevem" como a realidade funciona. Qualquer discrepância
requer o aperfeiçoamento ou, até, a substituição do modelo teórico.
Existem, é claro, suposições não verificáveis nas teorias científicas. Elas, con-
tudo, podem ser mantidas, desde que as consequências delas deduzidas sejam ve-
rificáveis e se apresentem como verdadeiras. Uma das boas qualidades de um ci-
entista é, justamente, intuir que suposições precisam ser formuladas para que a
teoria faça uma descrição do mundo que tenha grande aderência ao comporta-
mento dele próprio. Isto inclui, inclusive, "crenças", como a da existência da pró-
pria realidade exterior às mentes, fundamento de todo o construto científico.
Na dedução de um teorema ou de uma lei a partir de um princípio, por um
raciocínio dedutivo, faz-se uso da "lógica", no caso da Física, especialmente da ló-
gica embutida na Matemática. Esta lógica também possui leis e teoremas. Podem
eles ser considerados "científicos"? Há controvérsias. Existem várias modalidades
de lógica, desde a dicotômica tradicional até as lógicas policotômicas, dialéticas,
polialéticas, modais, difusas e multidimensionais, das quais a dicotômica seria um
caso particular. Seria uma questão empírica verificar se tal ou qual aspecto da re-
alidade se enquadraria em tal ou qual modalidade de lógica. De qualquer modo,
as próprias leis da lógica só estabelecem o que é verificado ser verdadeiro em tes-
tes de confronto com a realidade. Assim a própria lógica e, com ela, a Matemática,
passam a ser "científicas". De fato a Matemática conduz a previsões teóricas con-
firmadas, exatamente porque a lógica em que se baseia é aderente ao comporta-
mento da realidade.
Quanto aos julgamentos de valor, eles também são científicos e podem, per-
feitamente, ser enquadrados em esquemas lógicos, passíveis até de avaliação por
computadores, como é o caso da ética e da estética. O que acontece é que, devido
à complexidade envolvida num processo desse tipo, muitas vezes não se tem um
método disponível para proceder tal análise, como, por exemplo, da beleza de um
rosto, ou do aroma de um perfume ou a melodia de uma música. Quando se pro-
cede a um julgamento de valor por um júri, por exemplo, que atribui notas aos
participantes de um concurso, cada jurado faz uma avaliação que, mesmo que
possua escala numérica com itens específicos, a atribuição dos pontos a cada item
é intuitiva. Mas o que é intuição senão um raciocínio inconsciente em que o cére-
bro procede a avaliações por comparação com tudo o que de semelhante esteja
registrado na memória, sem a consciência da pessoa. Não é impossível que um

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Ernesto von Rückert

sistema computacional possa fazer a mesma coisa de modo objetivo e, assim,


atribuir um juízo de valor científico a algo, mesmo que aparentemente seja im-
possível, como a bondade ou o caráter ético de uma ação.
97. Se tivermos um sistema presidencialista, mudanças precisam ocorrer
ao longo do tempo. Mudanças de poder significam imperfeição. Quando
temos um Rei dos reis, que jamais foi destronado, concluímos que a
perfeição ocorre em seu governo. (Religião)
Jesus só é rei para quem acha que seja e tem mais gente que acha que não se-
ja, pois o Cristianismo abrange apenas um terço da humanidade. Logo ele já está
destronado, especialmente pela sexta parte da humanidade que não tem religião
nenhuma. Supondo que o Cristianismo seja a religião detentora da verdade a res-
peito do assunto, não há perfeição nenhuma, pois há muita coisa errada, como
doenças e catástrofes, além da maldade e da feiúra. Além disso, mudança de po-
der não é imperfeição nenhuma, mas algo extremamente desejável, mesmo que se
tenha um Presidente da República ou Primeiro Ministro perfeito. Por outro lado,
a existência de um “poder”, qualquer que seja ele, democrático ou absolutista, é
uma imperfeição. O ideal é que tudo funcione perfeitamente por conta própria,
sem necessidade de poder mandatório nenhum.
98. Não vejo como mau um Deus que, ao correr da história humana, tem a
capacidade de morrer pela sua criatura, ou de defender o pobre, a viú-
va e os órfãos, ou que apenas diz, "Se não deixar eu te servir, não tem
parte comigo". (Religião)
A redenção de Cristo é a maior prova da perversidade de Deus. Porque ele
não perdoou simplesmente a humanidade sem exigir o sacrifício expiatório de
seu próprio filho? E porque demorou tanto tempo? Defender o pobre, a viúva e os
órfãos, todos podem fazer e muitos o fazem sem serem cristãos, portanto isto não
é privilégio do Cristianismo.
99. Digamos que fomos criados eretos, mas um dia nós decidimos andar de
joelho em estrada sem asfalto. Logo depois de arranhões, reclamamos
do Criador. Mas então quem está certo? Deste modo, os arranhões de
toda sorte se iniciam de quem? Da escolha, é claro. (Religião)
Então por que vários santos e santas morreram martirizados, tuberculosos
ou de outras formas dolorosas? Dizer que Deus concede privações para testar a fé
é outro atestado da perversidade de Deus, pois, sendo onisciente, para que testar
o que ele já sabe?
100. Como esse Deus pode ser um déspota ao, por exemplo, deixar que reis
reinem sobre o seu povo judeu? Se fosse déspota ignoraria seu povo e
não permitiria que os seus escolhessem um rei, como exemplo o Saul.
(Religião)

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PERGUNTE.ME
Essa questão de povo eleito é outra prova da parcialidade de Deus. Ora, para
Deus todos os homens, além de todos os seres do Universo, seriam o seu povo,
inclusive os que ainda vão surgir ao longo da evolução. Determinar que os he-
breus exterminassem os habitantes da Terra Prometida ao fim do êxodo é outra
crueldade divina. Porque eles não teriam direito de morar lá também, como os
atuais palestinos?
101. E como diferenciar o homem bom do mal? Se o ser criado faz boas
obras não é mais que sua obrigação, já que foi criado para isso. Se odi-
armos o próximo, já o estamos matando, segundo Deus. Então somos
todos iguais em questões de erro, não há humanos piores. (Religião)
Há sim! Há pessoas que fazem maldades rotineiramente, que são injustas,
desonestas, trapaceiras, criminosas e cruéis e outras que são honradas, honestas,
justas, solidárias e bondosas. Tanto umas quanto as outras têm a capacidade de
fazer mal e bem, mas escolhem caminhos diferentes. Isto é patente e facilmente
observável. E tem mais: tal modo de comportar-se não é ligado a crer ou não em
Deus. Há gente do bem e do mal entre crentes e entre descrentes. Outrossim, que
valor tem fazer o bem só por medo de ir para o inferno?
102. A humanidade pode não o reconhecer como seu Rei, mas isto não signi-
fica que ele deixará de ser, ou você viu alguém retirando a coroa de
Cristo nos céus? (Religião)
Claro que não, pois não existe céu nenhum onde Cristo esteja coroado. Cristo
já morreu e sua ressurreição é uma lenda. Ascender aos céus corporeamente é
outra impossibilidade. Onde está o céu? Lá tem água e comida para alimentar o
corpo de Jesus? Tem um chão para ele se apoiar? Tem ar para ele respirar? Diga-
mos que seu corpo seja de outra natureza, não biológica. O que significa isto? Co-
mo se pode saber? Como verificar? Percebe quantas questões não respondidas
isto suscita?
103. Não tenho nada contra você. Respeito-o, porque foi uma aluna sua que
me indicou você. É raro isto. Só estou discutindo no campo das idéias,
OK? (Pessoal, Religião)
Entendo perfeitamente e também respeito quem seja religioso, pois já o fui e
muitas pessoas que me são queridas o são. Minha mãe e minha mulher são católi-
cas e tenho uma irmã espírita, além de muitos amigos protestantes, judeus e hin-
duístas. Só não tenho muçulmanos nem budistas. A eles devoto respeito e estima.
Tenho participado de debates religiosos em comunidades cristãs do Orkut, sem-
pre de forma cordial e com base em argumentos.
104. É provado cientificamente que, alguns minutos depois que uma pessoa
morre ela fica 21 gramas mais leve. Isto é chamado de ''peso da alma''.
Se não é uma alma, o que você acha que essas 21 gramas representam?

51
Ernesto von Rückert

(Religião)
Alma, se existir, não seria algo material, nem físico, como um campo ou uma
radiação. Portanto, mesmo que exista, não teria massa e nem peso. Se esta ques-
tão da perda de massa com a morte for mesmo comprovada (e penso que seja
uma farsa, mas pode não ser), há que se investigar sua origem, que pode ser de
várias naturezas. O ideal seria deixar a pessoa morrer dentro de um invólucro
hermeticamente fechado e, então, fazer a pesagem. Mas isto seria criminoso. Se a
perda é de massa, então não é devida à saída da alma.
105. Por que as pessoas confundem ceticismo e ateísmo? Por que o ateísmo
está sendo tão fortemente combatido nos meios judiciais e televisivos,
como no caso do Datena, que chamou os ateus de bandidos ao vivo?
(Ateísmo)
Não é só uma questão de ignorância, mas também uma confusão proposital,
feita por muitos crentes. Mesmo que a maioria dos ateus também seja cética, há
ateus não céticos e céticos não ateus. Ateísmo é a descrença na existência de deu-
ses ou a crença em sua inexistência, enquanto ceticismo é a postura metodológica
da dúvida na busca da verdade. Ateus dogmáticos, que crêem na inexistência de
Deus não são céticos a respeito disto. O ateu cético não crê que existam deuses, o
que é diferente. Um cético, mesmo aplicando a dúvida metódica em seu questio-
namento da verdade, pode crer em deuses. Céticos possuem crenças, pois não é
possível se viver sem elas, pelo menos a de que existe um mundo exterior à nossa
mente. Mas suas crenças são sempre provisórias e passíveis de abandono, em face
de novas evidências ou comprovações. Quanto ao Datena, trata-se de um coitado
ignorante e preconceituoso. Nem valeria a pena perder tempo com ele, não fora a
influência que tem em extenso segmento da sociedade que, infelizmente, assiste
programas indecorosos como o dele. Felizmente não o assisto, como, geralmente,
a nenhum programa da televisão aberta, nem aos noticiários. Dizer que ateus são
criminosos é um despautério. Em geral, muito pelo contrário, ateus convictos e
declarados são mais honestos, justos e, mesmo, mais bondosos, do que crentes,
sem dúvida, pode conferir. É que existem muitas pessoas que dizem acreditar em
Deus e agem como se ele não existisse, como é o caso dos criminosos, a maioria
declaradamente crente.
Não tenho notícia de que, tanto o ateísmo quanto o ceticismo, esteja sendo
combatido nos meios judiciais. Nos televisivos é uma questão de audiência. Por-
que Paulo Freire vende tantos livros que enfocam temas esotéricos? Porque o po-
vo quer crer que existam meios mágicos de se conseguir superar as mazelas, difi-
culdades e sofrimento, que, em verdade, só o podem ser pelo trabalho, pela justi-
ça e pela ciência humana, sem mágica nenhuma. Encarar a impotência e a inexis-
tência de Deus ou a mortalidade da alma pode ser algo terrível para muita gente,
que prefere a ilusão.

52
PERGUNTE.ME
106. Se você acha que o ateísmo é sua "fé", beleza, embora não deixe de ser
uma fé. (Ateísmo)
O ateísmo só é fé quando dogmático, dos que crêem na inexistência de deu-
ses. O ateísmo cético, que postulo, apenas não crê na existência de deuses, mas
admite que possam existir. Isto não é fé religiosa, mas ausência dela. Um ateu cé-
tico pode aceitar a existência de deuses, desde que isto seja evidenciado ou pro-
vado, o que ainda não se deu. Também não é agnosticismo, pois considera que a
existência de deuses é passível de verificação, independente de fé. O ateu cético
não tem fé em coisa alguma, considerando fé uma crença não fundamentada. Mas
pode e tem, várias crenças, entre elas a de que não existam deuses. Percebe a di-
ferença conceitual entre crença e fé? Crença é baseada em indícios plausíveis,
mesmo não provados, enquanto a fé é gratuita.
107. Estou tendo um debate saudável com você e gosto disso. Contudo, ne-
nhum argumento seu vai mudar minha opinião, e olha que eu sou um
cara curioso e estudo numa boa Universidade. (Ateísmo, Religião, Pes-
soal)
Também já fui religioso. Católico convicto. Ia à missa e comungava todo dia.
Rezava o rosário (três terços) completo e meditado todo dia. Desejava ser santo e
me esforçava para tal. Era Congregado Mariano e membro da TFP (Sociedade
Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade), uma associação leiga
católica de extrema direita (mas não nazista), tradicionalista, na linha de Marcel
Lefebvre ou da Opus Dei, fundada e presidida, até a morte, por Plínio Corrêa de
Oliveira e atualmente fragmentada em três segmentos (mas isso é outra história).
Porque me tornei ateu?
Porque sempre fui extremamente estudioso e me aprofundei no estudo da
doutrina católica, tanto pela Bíblia quanto pelos escritos dos Padres da Igreja,
como Tomás de Aquino e dos documentos pontifícios. Mas também estudava ou-
tras abordagens, como os textos protestantes, espíritas, muçulmanos e budistas,
além de muita Filosofia, Física, Matemática, Cosmologia, História, Biologia, Evolu-
ção. O que menos eu estudava eram as matérias da escola. Mesmo assim sempre
fui o primeiro aluno da turma, mas, para a escola, bastava assistir às aulas. Com
onze anos já estudava Relatividade e Física Quântica. Além disso, pensava muito
(aliás, pensar, depois de amar, é a coisa que mais gosto de fazer na vida). Foram
meus estudos e reflexões que me levaram a concluir pela total implausibilidade
da existência de deuses, de qualquer tipo, bem como de espíritos, alma, anjos,
demônios, e tudo que seja sobrenatural. Também sou inteiramente descrente de
qualquer superstição, como astrologia, numerologia e todas as pseudociências
existentes por aí. Isto é, sou um fisicalista, que considera que a realidade só é na-
tural e cultural, esta inteiramente humana. Nada de sobrenatural.
Quanto a possessões, são doenças sim, mas nem sempre médicos curam do-

53
Ernesto von Rückert

enças. A Bíblia tem trechos lindíssimos e muitos preceitos de alto valor. Mas tam-
bém tem muita coisa errada, muita crueldade, muita história inventada. Dizer que
está na Bíblia não é garantia de veracidade de coisa alguma. Ela foi escrita por
pessoas que pensavam que aquilo fosse o certo ou que queriam que os outros
aceitassem que assim o fosse. Ela mesma é cheia de contradições, não podendo
ser adotada como um código de conduta, muito menos como um tratado científi-
co. Há que se estudá-la sob o aspecto antropológico e histórico, como se estudam
os vedas e demais escritos religiosos. O mesmo se dá com o Corão. Quanto a Allan
Kardec, tudo o que ele diz é mera opinião, isto é, "doxa". Alguém é levado a sério
hoje se diz que acredita nos deuses egípcios ou greco-romanos? E quanto aos in-
dianos? Porque o Deus judaico-cristão-muçulmano não está no mesmo nível de
credibilidade? Todos são invenções dos povos.
108. Você acha que a religião é necessária ou que ela deveria ser extinta?
(Religião)
Não é necessária. Existem coisas boas nas religiões, como um código de ética
e um incentivo à solidariedade (nem sempre). Tudo isto pode ser feito sem as re-
ligiões. Por outro lado, além de fomentarem conflito entre elas, seus fundamentos
espirituais são ilusórios e enganadores, logo desonestos. Para mim todas devem
ser extintas, mas isso precisa ser feito de forma gradual, por meio da educação
científica, ao longo de várias gerações. Para começar há que se difundir a tolerân-
cia mútua entre elas e a noção de que nenhuma tem a garantia de ser possuidora
da verdade, mesmo que Deus exista. Assim todas podem ser consideradas certas,
desde que não promovam sacrifícios humanos ou coisas assim. Daí para se consi-
derar que nenhuma seja certa é mais fácil. Não haver religião não significa que
não se tenha nenhum código de ética e nenhum princípio de amor ao próximo e
nem de vida virtuosa, prática do bem e execração do mal. Só que por motivos hu-
manos e não divinos. Nada de castigo eterno no inferno. O bem tem que ser prati-
cado por si mesmo, sem recompensa nem por medo de castigo.
109. O que leva pessoas de alta capacidade intelectual a trair sua inteligên-
cia e continuar se prendendo aos dogmas absurdos das religiões? (Re-
ligião, Comportamento)
Elas não traem sua inteligência. Sua crença é sincera e suas motivações acei-
tas como racionais. Elas só não chegaram à conclusão de que Deus não existe
porque ainda não examinaram profundamente a questão ou, se examinaram, não
deram o passo decisivo de ruptura com suas convicções íntimas, que acalentaram
por toda a vida. Isto não é fácil e, de fato, é traumatizante, porque promove a ruí-
na de ilusões muito confortantes. Eu, mesmo sendo ateu e estando inteiramente
convicto da inexistência de Deus, gostaria de estar errado, pois saber que existe
uma vida eterna e um Deus para punir os malvados é muito agradável.
110. Sou protestante. Mas isto não define meu conceito da Ciência. Há erros

54
PERGUNTE.ME
não questionados. Por que animais não falam como seres humanos?
Por que os animais não têm a "inteligência emocional"? Se há evidên-
cias do “design inteligente”, por que ele não atingiu todos os seres?
(Evolução)
Não há evidências de "Design Inteligente" nenhum, mas os animais possuem
emoções também, além de raciocínio, em variáveis graus, atualmente máximos no
ser humano, mas outros humanos e humanóides, como os Neandertais, hoje ex-
tintos, também os possuíram e, no futuro, outras espécies poderão vir a ser tão
inteligentes ou mais do que a nossa, sem contar as possíveis existentes em outros
planetas. Dizer que "animais não falam como humanos" parece querer dizer que
humanos não são animais, mas são. Macacos, inclusive. É melhor dizer que, atu-
almente, neste planeta, apenas os humanos, dentre os animais, falam. A inteligên-
cia é uma questão de grau entre os animais, sendo possuída por todos eles, mes-
mo primitivos. Quando se fala em "Design Inteligente" não se está dizendo que a
criação foi feita possuindo inteligência e sim que houve um "criador" inteligente,
fato que não há o que comprove.
111. Você se descobriu ateu há quanto tempo? Assisti a uma palestra sua no
COLUNI e fiquei muito intrigado. Estudei Cosmologia mais a fundo e
comecei a questionar a verossimilhança da Bíblia. Agora me considero
agnóstico. (Ateísmo, Pessoal)
Desde meus dezessete anos que comecei a questionar a existência de Deus.
Minha mãe me educou dentro do catolicismo com uma religiosidade profunda e
contrita e uma fé límpida e sincera. Na infância e na adolescência eu aspirava à
santidade. Aos quinze anos ingressei como militante da Sociedade Brasileira de
Defesa da Tradição, Família e Propriedade (TFP), de índole católica tradicionalis-
ta, liderada pelo falecido Plínio Corrêa de Oliveira. Em Barbacena éramos um
grupo de jovens idealistas e determinados a resgatar a civilização cristã no mun-
do. Como sempre que me dedico a algo, o faço com total imersão e compromisso e
como sou um intelectual de nascença, passei a estudar profunda a abrangente-
mente a doutrina católica, tanto pela Bíblia, quanto pelos escritos dos Padres da
Igreja, das Encíclicas Papais e várias obras exegéticas. Paralelamente, minha
grande curiosidade científica e filosófica sempre me levou a estudar Física, Cos-
mologia, Biologia, Filosofia, História, outras religiões e outros assuntos, muito
além do que era exigido no Ensino Fundamental e no Médio. Além do mais, uma
das coisas que mais gosto de fazer é pensar. Assim fui refletindo e sopesando tu-
do a respeito do conceito de Deus e do significado da fé, chegando à conclusão
que não havia sustentação nenhuma para ela, especialmente a cristã. Aos dezeno-
ve anos rompi com a TFP, por discordância com sua sustentação católica. Minha
evolução se deu do Cristianismo para o teísmo genérico não cristão (isto é, que
admite a pessoalidade e a providência divina, mas não a divindade de Jesus Cris-
to, como um islamismo, sem Maomé nem o Corão), então para o deísmo, depois

55
Ernesto von Rückert

para o agnosticismo e, enfim, para o ateísmo. Isto levou mais ou menos uma dé-
cada. Aos trinta anos já me considerava um ateísta cético convicto. De lá para cá,
minhas leituras e estudos, além de minha observação da natureza, da sociedade e
do mundo só têm fortalecido minha concepção ateísta. Além disso, me tornei
anarquista. Mas é outra história.
112. Acredita, como eu, numa relação direta entre inteligência e ateísmo
nos dias de hoje? (Ateísmo)
A correlação entre inteligência e ateísmo não é total. Há muita gente inteli-
gente que crê em Deus. Todavia, realmente, chegar à conclusão de que Deus não
existe requer inteligência. Mas há pessoas menos inteligentes que também não
crêem em Deus, mas não são capazes de articular bons argumentos para susten-
tar sua descrença e podem ser confundidos por crentes bem preparados. Por isso
considero importantíssimo que o tema seja debatido lealmente nas escolas, colo-
cando os alunos frente a todas as concepções a respeito e promovendo debates
entre representantes de religiões, ateus e agnósticos.
113. Se eles não desenvolveram, então a grande explosão demonstrou fa-
lhas do sistema, não? Se o homem tem 50 milhões de anos, ele está in-
voluindo e não evoluindo. Ele teria uma idade mais avançada e não tão
curta. (Evolução, Antropologia)
De que grande explosão você fala e quem não a desenvolveu? O homem não
tem 50 milhões de anos, mas 200 mil anos. E ele está evoluindo sim. É preciso en-
tender que evolução é apenas mudança, não necessariamente para melhor, do
nosso ponto de vista, mas, mais bem adaptado ao ambiente. Há sinais evolutivos
na mandíbula humana, por exemplo, além de outras mais sutis, como resistência
a patógenos e adaptação a mudanças de dietas e de condições climáticas. O sur-
gimento de variedades raciais é uma evolução, mesmo que não tenha sido carac-
terizado como especiação. O que você entende como "involução"?
114. Prepotência + Arrogância = Falta de Fé. Ceticismo + Falta de Caráter =
Ateísmo. Isso é o que muitas pessoas amigas, até minha família pensa.
Ser ateu é um grande desafio, pois há hostilidade, preconceito e REJEI-
ÇÃO. Como nós, ateus, devemos lidar com isso? (Ateísmo, Comporta-
mento)
Como todas as minorias: para serem respeitadas têm que ser melhor do que
a maioria em tudo. Então, seja mais honesto, mais bondoso, mais solidário, mais
erudito, mais estudioso, mais cordial, mais justo, mais virtuoso, mais brilhante,
mais honrado, enfim... superlativo em tudo o que significa ser uma pessoa de bem,
sem deixar de ser assertivo em seu posicionamento ateísta, sem arrogância, sem
prepotência, sem mesquinhez, sem sarcasmo, sem ironia, sem pernosticismo...
Tendo sempre afiados bons argumentos para defender seu ponto de vista com
vigor, mas serenidade, sem perder a calma nem fazer ataques "ad hominem", se

56
PERGUNTE.ME
valer de recursos erísticos nem humilhar o opositor. Você tem que mostrar que é
superior de forma nobre e cavalheiresca, para que possa convencer os outros de
seu ponto de vista. É isto, amigo ou amiga: "Noblesse oblige".E principalmente,
ser sincero em suas convicções, nunca fingindo nada. Assim, todos verão que o
ateísmo é uma postura "do bem" e não "do mal", como se pensa. É um grande de-
safio e exige renúncia e sacrifícios. Mas a paz de consciência mais que compensa
tudo isto, além do que, é na virtude que se alcança a verdadeira felicidade. Note
que isto não exclui um comportamento epicurista, numa síntese dialética com o
estoicismo, que personifica um verdadeiro caráter de valor.
115. Como a possessão pode ser doença, se só ao chamado de Cristo a doen-
ça se vai? É simples ver se é uma doença ou não. O homem possesso
passa por varias sessões medicas e não sara, mas ao passar por exor-
cismos ele é liberto e não tem mais essas experiências. (Religião)
Como você, que não é espírita, explica os fenômenos mediúnicos de se falar e
escrever em línguas desconhecidas, passar informações dos mortos a respeito
dos vivos que só eles poderiam conhecer, revelar fatos da vida das pessoas só de-
las mesmas conhecido e coisas assim? Para mim, é fingimento e teatralidade dos
pretensos possessos, com fitos mercadológicos dos gestores das igrejas neopen-
tecostais para angariar adeptos que passem a contribuir dízimos e aumentar o
aporte financeiro da instituição e, em decorrência, de seus proprietários. Sim,
porque essas igrejas são, na verdade, negócios, empreendimentos comerciais.
Não que a venerável Igreja Católica também não o seja. Mas é mais sutil.
116. Belo currículo o que você tem! Contudo, não vejo nenhuma plausibili-
dade de que o estudo seja garantia da não existência de Deus. Por que,
ao mesmo tempo em que temos ateus, temos teístas de mesmo nível ci-
entífico ou maior, que não veem problema algum em crer em Deus.
(Ateísmo)
É claro que estudo não é garantia da inexistência de Deus. Aliás, o estudo
mostra que não existe essa garantia, ao contrário do que dizem os ateus dogmáti-
cos. E também mostra que não há garantia de sua existência, mas uma grande
plausibilidade de que não exista. O fato de haver tanto teístas quanto ateístas de
grande inteligência e gabarito científico e cultural não pesa a favor de nenhuma
das duas concepções. O que pesam são os fatos, muito mais indicativos da inexis-
tência do que da existência de Deus, já que a fé não é garantia de coisa alguma.
117. Vejo ataques contra a religião, vejo ataques contra a Igreja Católica,
contudo não vejo de sua parte nenhuma prova da não existência de
Deus. Ao encaixá-la num argumento falacioso, que é da cabeça humana,
ainda mais sem provas, creio que é anticientífico. (Ateísmo)
Não há provas e nem evidências da inexistência de Deus, da mesma forma
que não há provas e nem evidências de sua existência, de modo que considerar

57
Ernesto von Rückert

que Deus exista ou não, não é um fato científico. Mas também não é uma questão
de fé. Se Deus existe, mesmo que não se creia nele, ele existe, da mesma forma
que se Deus não existe, mesmo que se creia nele, ele não existe. Assim a questão
está em nível de "eudoxa", isto é, não é nem opinião nem certeza, mas um conhe-
cimento baseado em indícios e plausibilidades. Assim que tiver tempo redigirei
um extenso artigo em meu blog sobre a implausibilidade da existência de Deus.
Aguarde.
118. Deus jamais disse que o seu fiel seria isento de sofrimento. Já que o
mundo se corrompeu, e haveria lutas, mas que nessas lutas ele estaria
junto em quem confiasse nele. Eu já passei por doenças gravíssimas, e
em momento nenhum me vi desamparado. (Religião)
Como é que você sabe o que Deus disse ou deixou de dizer? Porque está na
Bíblia? Mas a Bíblia se contradiz em muitas coisas e, certamente, Deus não seria
contraditório. E porque a verdadeira palavra de Deus é a Bíblia e não o Corão ou
os Vedas? Como saber? Porque a própria Bíblia diz isto? Bem... Isto não vale. Por-
que se tem fé nisto? Mas os muçulmanos também têm fé de que o Corão seja a pa-
lavra de Deus, revelada pelo Arcanjo Gabriel a Maomé. Porque eles estariam er-
rados e os judeus e cristãos não? Ou os hinduístas, zoroastristas, siques, budistas,
espíritas etc.? Como você pode saber que seu restabelecimento de graves doenças
foi obra de Deus? Muitos fiéis piedosos morrem de doenças e muitos pecadores
inveterados se curam. Há algum levantamento estatístico que comprove a signifi-
cância da fé ou da oração na cura de doenças? Estou falando não só de fé de qual-
quer religião, mas, em especial, da fé cristã.
119. O povo eleito faria parte do planejamento de Deus para a chegada do
Messias. Aliás, este vem dos Judeus... E esse povo teria que ser diferen-
ciado em suas ações. Como pode chegar o Deus único na Terra em um
povo politeísta e com práticas abomináveis? (Religião)
O livro de Josué relata práticas abomináveis dos judeus. A Torá (Pentateuco)
também. Em que os judeus são mais virtuosos do que povos politeístas? Entre to-
dos eles, como entre os judeus, houve e ainda há quem seja bom e quem seja mau.
Isto não depende de qual religião se professe ou que não se professe nenhuma.
Aliás, não foram os judeus que autorizaram Pilatos a mandar crucificar Jesus Cris-
to? Que povo bondoso...
120. Allan Kardec diz, em seus trabalhos, que existem espíritos maus que
retardam a verdade. Ele próprio diz que recebeu os espíritos de Sócra-
tes, Agostinho etc., para escrever obras. Mas quem garante que não te-
nham sido esses espíritos maus que tenham falado com ele? (Religião)
Quem garante qualquer coisa a respeito?
121. E quem garante que um mundo sem religiões seja melhor? Quando ve-

58
PERGUNTE.ME
mos Pol Pot, Fidel Castro, Stalin e Mao, entre outros ateus que viam um
mundo sem religiões, mas não pela passividade e sim pela violência.
(Religião, Ateísmo)
A maldade do comunismo, do nazismo, das ditaduras latino-americanas, dos
regimes fundamentalistas islâmicos, bem como do Cristianismo inquisitorial, não
se deve ao ateísmo ou a qualquer religião professada oficialmente, mas ao caráter
totalitário e ditatorial que possuem, em que todas as liberdades são suprimidas e
as pessoas só podem viver de acordo com as prescrições do regime, sendo perse-
guidas e até mortas caso se rebelem. É uma questão política e não religiosa. Num
regime libertário, todos podem professar a crença ou a descrença que quiserem,
desde que não prejudiquem aos outros nem lhes tolham a liberdade.
122. No caso de Pol Pot, Fidel e companhia, vemos sim, homens que faziam
ataques a igrejas, padres etc. Por que eles viam um mundo livre de
Deus. No livro de Dostoievski, se não há Deus tudo é permitido. Basea-
dos nisso, mataram mais cristãos do que três séculos de inquisição.
(Ateísmo)
É preciso não confundir niilismo com ateísmo. O primeiro considera que,
sem Deus, tudo é permitido. O ateísmo não diz isso, mas apenas que Deus não
existe. O ateísmo admite e valoriza um elevado código de ética, no meu entender
muito mais válido, por não se basear em prêmio ou castigo nenhum, mas na prá-
tica do bem pelo valor intrínseco do bem. Além do mais, não são as estatísticas de
mortes que definem a perversidade de qualquer regime. São as atitudes. Dizer
que a inquisição e o nazismo mataram menos do que o comunismo não significa
que são melhores do que ele. Todos são péssimos.
123. Porque acreditar em Maomé, que narra fatos de Cristo cinco séculos
depois? Quando temos Lucas, testemunha ocular de Cristo, cujos escri-
tos são culturalmente e arqueologicamente comprováveis. Os evange-
lhos e suas datações são contemporâneos a Cristo. (Religião)
Não digo que Maomé seja mais crível do que os autores da Bíblia ou de qual-
quer outra escritura sagrada. Em todas elas, há lições morais muito proveitosas,
ao lado de prescrições inteiramente descabidas. O pior é que muita gente consi-
dera que o que se diz nessas escrituras é correto no aspecto histórico, científico e
filosófico também, o que não é verdade.
124. A Bíblia tem erros sim. Contudo isso mostra ainda mais sua veracidade
e que Deus usa homens que erram para falar sobre sua obra. Nenhuma
das passagens, porém, ameaça a fé cristã. Quando vemos os pergami-
nhos de Qunramvemos que Deus preservou sua palavra. (Religião)
Dizer que a Bíblia é uma obra de Deus e que ele permitiu que contivesse er-
ros para confirmar sua veracidade é algo inteiramente contraditório. As discre-

59
Ernesto von Rückert

pâncias e incoerências da Bíblia, justamente, mostram que ela foi escrita por pes-
soas que disseram o que pensavam e não o que Deus ditou.
125. Porque não acreditar no Deus Cristão? Vemos igrejas para Zeus ou Po-
seidon? Acho que não. O ruim do ser humano é tentar encaixotar Deus
em sua limitação de pensamento. Questões, como o próprio falara:
"Pensara você que eu fosse como tu". (Religião)
Hoje em dia não mais há culto às divindades egípcias e greco-romanas e ou-
tras, mas ainda há às hinduístas, além do Deus judaico-cristão-muçulmano. Mas
há dois mil anos atrás havia e muita gente orava nos templos. Nada garante que
algum culto permaneça indefinidamente. As religiões são instituições humanas
que surgem e desaparecem, como as nações, os impérios e as línguas. Hoje há
Brasil, há mil anos não havia, daqui a mil anos pode não haver mais. A língua por-
tuguesa não existia há 1500 anos e poderá desaparecer também. O mesmo pode
ocorrer com o Cristianismo, o Judaísmo e o Islamismo.
126. Fenômenos mediúnicos para quem se passa por anjo de luz, é como pe-
gar pirulito de criança, fácil. Enganar as pessoas, dizendo que não exis-
te mal, como no espiritismo, é querer desarmar as pessoas. Numa
guerra do bem e o mal, sem armas, somos vulneráveis. (Religião)
Não me consta que o espiritismo considera a inexistência do mal.
127. Não é de se admirar que satanás se disfarce de anjo de luz. Se a pessoa
acredita mesmo nisso, ele fará o possível para que pareça verdade. (Re-
ligião)
Como provar que a entidade que é incorporada em um médium em transe é
satanás e não o espírito de alguém que morreu? Para mim não é uma coisa nem
outra, mas sim um transe psíquico da própria pessoa.
128. As pesquisas já mostram que os países mais pacíficos são os ateístas.
Estados profundamente religiosos como os do Oriente Médio estão no
final da lista. (Ateísmo)
Isto é de se esperar, pois o ateísmo é tolerante, uma vez que não considera
que ninguém seja dono da verdade, nem ele mesmo. Religiões é que são dogmáti-
cas e prejudicam o pleno desenvolvimento das potencialidades da humanidade
em fazer deste mundo um lugar aprazível, justo, harmônico, fraterno, próspero e
feliz para que todos possam fruir a especialíssima ventura de existir e gozar esta
vida única e raríssima neste Universo.
129. Como você julga o envolvimento político-diplomático do Brasil com o
Irã a respeito do apedrejamento de mais uma mulher, mãe de dois fi-
lhos, por "adultério"? E qual sua visão acerca do assunto como um to-
do? (Política, Religião)

60
PERGUNTE.ME
Pragmatismo é uma praga! É isso. Governos precisam ter princípios éticos e
se pautar por eles, mesmo levando prejuízo. Regimes fundamentalistas como o do
Irã precisam ser derrubados por uma pressão internacional muito forte. Esse ne-
gócio de respeito à autodeterminação dos povos só vale se a escolha for mesmo
do povo e não de uma minoria tirânica como os Aiatolás e seus sequazes. O mes-
mo se dá com Cuba, Venezuela, Bolívia, Arábia Saudita, Afeganistão, Paquistão,
Coréia do Norte etc. Não importa se é de direita ou de esquerda: totalitarismo, di-
tadura, tirania são inadmissíveis. Lula é um boboca deslumbrado, merecedor da
chacota internacional que lhe fazem. Não estou desmerecendo nada de bom que
ele fez, mas isto não é desculpa para deixar de criticá-lo em seus disparates. Esse
negócio de pena de morte por adultério, especialmente por apedrejamento, é uma
barbaridade sem precedente e que não pode ser tolerada. As nações livres deve-
riam parar de comprar petróleo do Irã até que eles se emendem. Podem continu-
ar a ser muçulmanos, mas como na Turquia, por exemplo. Aliás, para mim, adul-
tério não é crime nenhum. O máximo que o marido ou a mulher de um adúltero
deve fazer é abandonar o cônjuge e pronto. Se quiser pode continuar com o rela-
cionamento plural consentido por todos os envolvidos, o que é que tem? Isto não
é imoral, desde que ninguém esteja sendo lesado. E depois, em que alguém é lesa-
do se seu cônjuge também tem relações com outra pessoa? Não consigo entender
isto. Amor, para mim, tem que ser uma coisa livre. Infidelidade e traição é a men-
tira, isto sim, não a pluralidade amorosa consentida. E se não for consentida, en-
tão a parte que quer ter outro relacionamento, rompe o primeiro. O que não pode
e depender financeiramente um do outro. Cada um provê-se a si mesmo de forma
independente. Patriarcalismo é algo sem cabimento.
130. Respeito seu ceticismo. No entanto, já que aqui é só um debate, como
imaginar um mundo em que homens, como Richard Dawkins, mostram
desprezo pela diferença de opinião em relação à crença, e dizem que os
que a seguem são idiotas. Não é pacífico isto que ele faz. (Ateísmo,
Comportamento, Pessoal)
Até que entendo o Dawkins, apesar de não achar que se deva agir como ele.
É que os teístas são muito menos pacíficos ainda e acusam os ateus de barbarida-
des muito piores do que as de que os ateus acusam os teístas. Os teístas até bri-
gam entre si, como se vê na Irlanda do Norte, em Israel e outros lugares: protes-
tantes contra católicos, judeus contra muçulmanos, muçulmanos contra hinduís-
tas e vice-versa. Ateus são muito mais tolerantes com a fé. Mas estão ficando can-
sados de serem vilipendiados como imorais, desonestos, corruptos e toda sorte
de vilanias que se lhes atribuem. Por isto acabam extrapolando. Mas os crentes
são muito mais ásperos com os ateus, sem falar dos tempos em que o ateísmo
merecia a morte na fogueira.
Um crente falar mal de ateus depõe contra as pessoas religiosas sérias e
bem-intencionadas. Respeito a crença de todos, apenas lamento seu equívoco e

61
Ernesto von Rückert

procuro esclarecer de forma lúcida e cortês. Estou aberto a críticas bem funda-
mentadas e respeitosas. Se você me convencer de que estou errado, mudo o meu
pensar. Mas isto não será fácil, pois minhas convicções ateístas são fruto de pro-
longados e profundos estudos e reflexões, já que isto não é algo leviano, uma vez
que envolve toda a minha cosmovisão. Espero ser respeitado da mesma forma
que respeito quem pensa diferente de mim. Só não respeito o escracho, a arro-
gância, a presunção e a hipocrisia, bem como a crueldade para quem tenha opini-
ões diversas. Meu ateísmo não faz de mim um ser humano menos ético, compas-
sivo, tolerante, honesto, justo, probo, solidário, virtuoso e bondoso do que qual-
quer outro que assim o seja como crente. Pessoas vis, covardes, mesquinhas, into-
lerantes, malvadas, cruéis, desonestas, corruptas e venais as há entre crentes e
descrentes, do mesmo modo que inteligentes ou burras, cultas ou ignorantes, di-
ligentes ou preguiçosas, altruístas ou egoístas, democratas ou ditatoriais, virtuo-
sas ou pecadoras. A diferença está apenas em considerar se Deus existe ou não,
sem outras implicações.
Os argumentos ateístas não são falácias nem bobagens, nem irracionais, nem
erísticos. Pode ser que algum ateu não saiba por que o seja, mas eu sei bem. Meu
ateísmo é fruto de bastante estudo e reflexão, pois, inclusive, partiu de um posici-
onamento teísta que eu tinha e que procurei me aprofundar. Certamente que não
me valho de argumentos com base nas incoerências das religiões ou na imorali-
dade de muitas de suas práticas. Isto é irrelevante para o mérito da questão da
existência ou não de Deus. Tampouco teço críticas pessoais a defensores da fé,
mesmo que alguns possam merecê-las, mas isto também é irrelevante. Centro-me
nos fundamentos da própria fé e na contestação das propaladas provas filosóficas
ou científicas da existência de Deus, como as apresenta Craig, por exemplo. Além
disso, apresento todos os indícios que me levam a descrer da existência de qual-
quer divindade. Espero debater no plano das idéias e ser respeitado em minha
posição, como sempre o faço em relação a meus contendores em todos os debates
que já participei. E mais: espero, sinceramente, que me convençam de que estou
errado. Todavia, até o momento, ninguém foi capaz de fazê-lo.
Considero um direito de ateus, como também de religiosos, procurarem
convencer o povo de que estão com a verdade. Isto é proselitismo sim e é uma
coisa inteiramente justificável e legítima. O que não é legítimo é fazer uso de in-
verdades, trapaças, enganações e métodos erísticos de argumentação. Estou con-
victo de que Deus não existe em face do grande volume de indícios nesse sentido,
mesmo sem provas cabais, como também não as há no sentido oposto. Considero
meu dever e minha missão difundir isto a todos, para que não se iludam com uma
crença infundada. Mas não considero que quem a possua seja, só por isto, igno-
rante, burro ou mal intencionado. Não vejo diferença entre ateus e néoateus, que,
para mim, são apenas ateus. Além disso, não considero que Dawkins, Hitchens,
Dennett, Onfray, Harris e outros sejam diferentes de Craig, Lewis, Dembsky, Behe,
Denton e outros na defesa insistente de seus pontos de vista, nem que sejam men-

62
PERGUNTE.ME
tirosos. O mesmo respeito que os religiosos exigem dos ateus quanto à legitimi-
dade de sua crença e ao direito de a propagarem, os ateus exigem dos religiosos
quanto à legitimidade de sua descrença e ao direito de a propagarem também.
Criar rejeição social a néoateus é algo tão inadmissível quanto criá-la em re-
lação a crentes de qualquer espécie, como fazem muitos religiosos em relação a
religiosos de outras crenças que não as suas.
Sou ateu e defendo minha posição, inclusive fazendo meu proselitismo para
converter os crentes à não crença. É claro que existem ateus lúcidos e conscientes
do que são, que, realmente, consideram que não existe nenhuma espécie de deus
ou deuses, nem espíritos, como anjos, demônios ou uma alma imortal. Sim, mate-
rialista mesmo (aliás, fisicalista, como é melhor se dizer, pois o mundo natural
não é feito só de matéria, mas também de radiação e campos). Não há evidência
nenhuma de que exista algum deus, de modo que, mesmo não se tendo prova ca-
bal de sua inexistência, os indícios a favor dela são tão grandes que não se pode
ter outra forma de considerar. Por outro lado não há nenhuma prova de que deus
exista, de modo que, como sua existência não é uma evidência, a hipótese nula é
supor que não exista, o que não requer prova alguma. Por outro lado é preciso en-
tender que ser ateu não significa absolutamente ser uma pessoa sem princípios
nem virtudes. O comportamento ético, nobre, altruísta, justo, honesto, verdadeiro,
generoso e bondoso é uma qualificação humana que independe de se acreditar ou
não em Deus.
Porque ser ateu?
Porque é mais honesto, mais verdadeiro, mais coerente, mais responsável,
mais racional, mais evidente, mais justo, mais simples, mais honrado, mais lúcido,
mais inteligente, mais consciente, mais caridoso, mais comprometido com o pre-
valecimento do bem e a erradicação do mal, sem outorgar isto a nenhum hipotéti-
co preposto.
131. Como responde às cinco vias de São Tomás de Aquino? (Religião, Filo-
sofia)
Isto é uma questão bem longa. Vou escrever um artigo em meu blog, mas só
tenho tempo no fim de semana. Não só essas cinco vias, mas outras ditas "provas"
da existência de Deus são falácias em algum aspecto que apontarei. Até lá, visite
meus blogs e procure por "existência de Deus" nas caixas de busca.
132. Eu não creio que, por ser cristão, seja menos sincero comigo mesmo,
bondoso, carinhoso e coisas afins. É justamente pela sinceridade da
minha mente, que eu creio em Deus, não vejo nenhuma lacuna escan-
carada que venha apoiar a sua inexistência. (Religião, Ateísmo)
Quando digo que o ateísmo é mais sincero estou dizendo que ele promove
uma adequação entre o discurso e a realidade, já que, de fato, não há nada que

63
Ernesto von Rückert

mostre que exista algo que se possa denominar Deus, como mostrarei no artigo
que escreverei em resposta à pergunta do anônimo que acabei de postar. Verdade
pode ser entendida objetiva e subjetivamente, esta como uma adequação entre o
que se diz e o que se sabe ou se pensa que se sabe e aquela como adequação entre
o que se diz e o que, de fato, seja, independente da opinião. Quem falta subjetiva-
mente à verdade não é mentiroso, mesmo que o que esteja dizendo não seja ver-
dadeiro, pois ele pensa que é. Assim, quem tem fé na existência de Deus e a pro-
clama, é sincero, mesmo que não esteja dizendo algo verdadeiro. Outrossim, ja-
mais afirmei que quem seja cristão ou crente de qualquer outra religião, por isso,
não possa ser uma pessoa virtuosa, justa, honesta, bondosa, caridosa e coisas as-
sim.
133. Eu não considero ateu uma pessoa sem moral. Aliás, como bem falou
Craig, só de o ateu ter uma moral, patenteia a existência de Deus, que
nos colocou sua lei moral ao nos criar a sua semelhança, independente
se cremos nele ou não. (Ética)
De jeito nenhum! A moral, que deve se basear na ética, não tem nada a ver
com Deus nenhum. Bem e mal, certo e errado não são situações estabelecidas por
nenhuma deliberação soberana de entidade nenhuma, nem Deus. Aliás, ao inven-
tarem o conceito de Deus, as pessoas lhe atribuíram a propriedade de ser bom e
justo, mas isto não é essencial ao conceito de Deus. Assim, Deus é que seria bom e
não o bem que seria a conformação à vontade de Deus. O bem e o mal, o certo e o
errado são valores axiológicos, advindos da qualidade de alguma ação em produ-
zir efeitos benéficos ou maléficos, alegria ou tristeza, benefício ou prejuízo, paz ou
atribulação, júbilo ou sofrimento e assim por diante, não importa o autor da ação,
seja ele consciente ou não, como a natureza. Mas a imputação de culpabilidade só
pode ser feita quando o agente é consciente e agiu em gozo de plena liberdade.
134. Acerca do niilismo e da violência cristã, assim como você não considera
o niilismo, eu não considero as Cruzadas, porque as ambições não fo-
ram divinas e sim um pretexto para o enriquecimento. O Deus cristão
jamais usou de violência para levar a fé, como o Islã. (Religião)
Como não? É só ler o livro de Josué.
135. Rebatendo à outra pergunta, não existe nenhum país ateísta, ou civili-
zação em que não se acreditasse em divindades. O país pode ser laico,
mas isto não significa que ele seja ateu. (Ateísmo)
Certamente nenhum país é ateu ou religioso. O povo que habita o país é que
professa tal ou qual religião em tal ou qual porcentagem. Dizer que um país é ca-
tólico, muçulmano, protestante, hinduísta ou budista é, na verdade, dizer que a
maior parte do seu povo professa aquela religião. O mesmo se pode dizer do ate-
ísmo. Dizer que um país seja ateu é, apenas, dizer que a maior parte do seu povo é
atéia, como acontece com a Rússia, Grã-Bretanha, França, Suécia, Noruega, Dina-

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PERGUNTE.ME
marca, República Tcheca, Holanda, Islândia e Albânia, Estônia e Letônia na Euro-
pa, por exemplo.
136. Por suas respostas, acredito que já tenha lido o livro Deus - Um Delírio.
E mesmo sendo ateu, acredito que alguns dos argumentos contrários
ao livro, apresentados no blog “Neo-Ateísmo, Um Delírio” foram bem
estruturados. O que achou? (Ateísmo)
Já li este livro e vários outros, tanto do lado ateísta quanto do lado teísta, de-
ísta e panteísta e suas contestações. Meu posicionamento é fruto de leituras, es-
tudos e reflexões que faço sobre o assunto há 45 anos. Muitos tratados de ateolo-
gia são mais panfletários do que argumentativos. Ainda prefiro Feuerbach e In-
gersoll. Quero escrever um livro a respeito. Em meus dois blogs já tenho umas
três mil postagens em seis anos, sem contar estas respostas do Formspring que
são copiadas no Blogger. Mas não só sobre ateísmo. Veja em meu site:
www.ruckert.pro.br. Isto dá mais de duas mil páginas do Word. Preciso classifi-
car, concatenar, enxugar e revisar para publicar.
137. A Noruega e a Dinamarca, assim como outros países, têm mais de 80%
da população luterana. Os dados da pesquisa GPI foram mal interpre-
tados, o que há por lá é uma religiosidade menos comprometida. (Ate-
ísmo)
Saiu uma notícia de que a Grã-Bretanha tem 63% de pessoas sem religião.
De qualquer modo, mesmo que a fração da população que não possui religião nos
países que citei não seja mais da metade, é expressiva. Além disso, mesmo os que
possuem religião são muito mais tolerantes em relação às outras religiões e ao
ateísmo. Parece, de fato, haver uma correlação entre relaxamento religioso e de-
senvolvimento social e econômico.
138. "O Deus cristão jamais usou de violência pra levar sua fé"? Acho que se
mais cristãos lessem a Bíblia, haveria menos cristãos. (Religião)
Sem dúvida. A Bíblia é uma tragédia de horrores. Mas tem também bons
conselhos e boa poesia. Só não se pode tomá-la como revelação divina, tratado
científico, compêndio de história ou outra coisa que não uma obra de ficção, in-
tentada a ser um manual de práticas e comportamentos propiciatórios à salvação
da alma. O mesmo se dá com o Corão e os Vedas. O Bhagavad Gita, por exemplo, é
lindíssimo e muito proveitoso em vários de seus conselhos, parecendo Epicteto
ou Seneca.
139. Creio que todos nós carregamos a lei moral de Deus em nosso íntimo. É
por isso que achamos errado matar, roubar, abortar. Até crianças con-
cebem isto. Desde pequenos temos noções de bem e mal, sem os pais
ensinarem. (Ética, Comportamento, Educação)
Crianças pequenas são como animais. Têm um comportamento reativo, dita-

65
Ernesto von Rückert

do pelo sistema de recompensa do cérebro, mas não proativo. É claro que gostam
de atenção e carinho, como um gatinho. Mas são egoístas e belicosas. O discerni-
mento do bem e do mal é-lhes inculcado por seus cuidadores, por meio do recur-
so de prêmio e castigo. Isto significa: é adquirido e não inato. Se a moral não lhes
for inculcada, poderão assumi-la por observação, mas certos princípios éticos
nem sempre são assumidos e, certamente, não estão programados aprioristica-
mente, como o de que não se deve fazer nada que não se gostaria que fosse feito a
si mesmo. O ser humano tem capacidade de ser egoísta e altruísta, maldoso e
bondoso, desleal e leal, incorreto e correto e assim por diante. O que virá a ser ao
longo de sua evolução pessoal depende, em parte, de sua carga genética, mas,
principalmente, do ambiente social em que se desenvolve. Nem é bom nem é mal
por natureza. A moral é uma convenção social, geralmente ditada pelos detento-
res do poder. Mesmo assim, precisa ser baseada na ética, que estabelece os prin-
cípios que a devem nortear. Esses princípios são estabelecidos por reflexão filosó-
fica sobre o que seja conveniente para a manutenção da estabilidade da sociedade
e a consecução da felicidade das pessoas. Não têm nada a ver com divindade ne-
nhuma.
140. Já teve dois infartos e ainda continua no ORKUT? Saúde e vida longa!
(Pessoal, Internet)
Pois é... A internet, para mim, é como a televisão para muitos. Um entreteni-
mento, ao lado da leitura, do estudo, da escrita, da pintura, do canto, da audição
de música, da assistência de um bom filme, da conversa e do namoro. Mas um en-
tretenimento ativo e produtivo, pois me permite aprender e ensinar muita coisa.
Assim funciona como um fator de proteção cardíaca, por dar um sentido de utili-
dade à minha vida (além do que mais faço) e por aliviar a tensão dos compromis-
sos profissionais e familiares.
141. Força é igual à massa vezes o quê? (Física)
Isto é o que estatui a “Segunda Lei de Newton”. A soma vetorial de todas as
forças atuantes sobre um sistema, e não cada uma delas, é igual ao produto da
massa do sistema pela aceleração linear do centro de massa desse sistema, quan-
do medida em relação a um referencial inercial, desde que a velocidade do siste-
ma seja pequena em comparação com a velocidade da luz, que o sistema não este-
ja sujeito a um campo gravitacional muito intenso e que o valor das grandezas
envolvidas seja bem maior que a menor grandeza de mesma dimensão construída
com a constante de Planck. Estas últimas considerações remetem aos campos da
Relatividade Restrita, Relatividade Geral e Mecânica Quântica, respectivamente,
nos quais a Segunda Lei de Newton é convenientemente corrigida. Complemen-
tando, a resultante das forças vale a massa vezes a aceleração, só quando o siste-
ma possui massa constante. Para massas variáveis a resultante é igual à derivada
do momento linear (quantidade de movimento) em relação ao tempo (taxa ins-
tantânea de variação). Isto acontece em foguetes, por exemplo. Cada força, por

66
PERGUNTE.ME
outro lado, é a medida da intensidade da interação sofrida (e não exercida) pelo
sistema. Diferentes "leis de força" estipulam o seu valor para cada interação. Além
da intensidade, as interações podem ter outros atributos medidos, como a quan-
tidade ao longo do tempo e do espaço, respectivamente denominadas impulso e
trabalho. Nas interações térmicas, a quantidade de interação trocada é denomi-
nada "calor".
A denominada “Força Resultante” não é nenhuma força verdadeiramente
atuante. É uma força fictícia que, se agisse sozinha sobre o sistema, em seu centro
de massa, provocaria a mesma aceleração que as forças reais em conjunto, a cada
momento. O interessante é que essa força tem para valor a soma vetorial das for-
ças reais atuantes. É por isso que o Cálculo Vetorial se tornou uma importante
ferramenta matemática da Física. Mas nem sempre. Essa superposição linear de
forças só vale para intensidades moderadas. A resultante de forças muito intensas
é maior do que a soma vetorial das forças. Este é o caso que se dá nos campos elé-
tricos de um feixe de luz coerente de alta potência (laser). Este é o domínio da
“Ótica não Linear”.
142. Você acha que a Ciência, quando dogmática e muito abstrata, excluin-
do-se a Matemática, torna-se uma espécie de religião, considerando
que muitas teorias são apresentadas apenas pelo seu teor lógico, em
detrimento do empirismo? (Ciência, Epistemologia)
Absolutamente, não! A construção da Ciência é feita de forma empírica e ra-
cional, uma completando a outra. É claro que a palavra final cabe à verificação
experimental ou observacional, mas o desenvolvimento teórico, no caso da Física
muito baseado na Matemática, permite considerar possibilidades jamais vislum-
bradas apenas pelos métodos empíricos, como é o caso dos buracos negros e qua-
se todas as aplicações da Física Quântica que hoje estão no dia-a-dia tecnológico.
Cientistas teóricos, em suas deduções, com base nos conhecimentos empíricos,
sugerem situações e fenômenos que, então, os experimentais testam. Caso con-
firmados, passam a fazer parte do arcabouço da Ciência como fatos bem estabele-
cidos e explicações convincentes. Mas isto não é nenhuma religião porque tudo é
provisório, nada é dogmático. Fica como está até ser derrubado por algum novo
fato ou explicação mais completa. Assim é a Ciência em sua busca da verdade, isto
é, em estabelecer explicações que dêem conta do que se dá na realidade. No mo-
mento em que a realidade apresentar algo que a explicação não contempla, parte-
se para buscar nova explicação. Isto não acontece com as religiões.
143. O que dizer do cientista que sugeriu, a partir de cálculos (abstrações),
que os buracos-negros na verdade seriam pontos de origem de outros
Universos, onde a matéria se desorganiza e se reorganiza? "Aceitar" es-
sa teoria seria uma forma de dogmatismo? (Epistemologia)
Isto não é uma teoria e sim uma hipótese. Teorias são hipóteses confirma-

67
Ernesto von Rückert

das. Não há confirmação nenhuma sobre isto, logo não se pode considerar que se-
ja um fato científico. É bom que sejam feitas propostas variadas, mas isto não sig-
nifica que sejam aceitas como verdades pela Ciência. É preciso testar sua consis-
tência e validade. A Ciência não aceita estas propostas em seu corpo, apenas as
admite como possibilidades a se investigar. O mesmo acontece com os Universos
Múltiplos, a Quantização da Gravitação, a Teoria das Supercordas, das P-branas e
a Teoria M. Ainda são hipóteses, mesmo que se invista muito dinheiro nas pesqui-
sas a respeito. Pode ser que venham a ser confirmadas ou não. Por outro lado, a
Evolução das Espécies Biológicas já deixou de ser hipótese e se tornou teoria,
bem como a do Big Bang, a Teoria dos Quarks, a Relatividade Geral e Especial e a
da Unificação das Interações, exceto a gravitação, além de muitas outras.
144. De onde vem o Universo? (Cosmologia)
O Universo não vem de lugar nenhum. Surgiu espontaneamente sem ser
proveniente de coisa alguma. No seu surgimento apareceu seu conteúdo, o espaço
que ele ocupa e o tempo em que evolve. Antes não havia nada disso, nem o "an-
tes". Além de não ter origem também não teve causa, como não tem propósito
nenhum. Poderia perfeitamente não ter surgido, como pode acabar e não deixar
resto nenhum, nem espaço nem tempo, nem conteúdo. Em meus blogs, discuto
tais coisas mais extensamente. Procure por palavras-chave nas caixas de busca:
www.ruckert.pro.br/bloge wolfedler.blogspot.com
145. Há alguma resposta plausível para um dos grandes mistérios do ser
humano, a consciência? Como emerge a consciência? (Psicologia, Neu-
rociência)
Sim, é claro que há, mas ainda não se sabe exatamente como. A consciência é
uma função da mente e a mente é uma ocorrência do organismo, em especial do
sistema nervoso, mas não só. Muitas pesquisas estão sendo feitas para identificar
o surgimento da consciência no funcionamento do cérebro (mas não só do cére-
bro, insisto: outros órgãos do sistema nervoso estão envolvidos, bem como o sis-
tema endócrino e o resto do organismo, até o intestino, por exemplo, que é cheio
de neurônios). O trabalho é difícil, porque o cérebro é extremamente complexo.
Mas se acabará descobrindo, mesmo que leve muitas dezenas de anos. Não se po-
dem fazer simplificações apressadas, nem para o lado do dualismo nem para o
lado do monismo, como quer o behaviorismo. O dualismo, tanto o de substância
(alma) quanto o de propriedades (epifenômeno), parece não ser a explicação cor-
reta, mas o monismo ainda tem dificuldades. É uma questão de tempo. Minha im-
pressão é que, realmente, a consciência é um fenômeno orgânico, como a respira-
ção e a digestão, só que extremamente mais complexo. É interessante ler as obras
do António Damásio (O Mistério da Consciência, O Sentimento de Sí e O Livro da
Consciência), do casal Churchland (Matéria e Consciência, The Computational
Brain, The Mind-Brain Continuum), do Steven Pinker (Como a Mente Funciona e

68
PERGUNTE.ME
Do que é feito o Pensamento), do John Searle (A Redescoberta da Mente), do
Thomas Nagel (Visão a Partir de Lugar Nenhum e Como é ser um Morcego?), Da-
vid Chalmers (The Conscious Mind, Philosophy of Mind) e do Steven Rose (O Cé-
rebro do Século XXI), dentre outros. Pela Wikipedia (em inglês) se pode compilar
uma extensa apostila sobre o tema.
146. Qual a necessidade do Universo ter "surgido" e não simplesmente ter
sempre existido? (Cosmologia)
Não é necessário que tenha surgido. Pode perfeitamente ter sempre existido.
Nenhum argumento lógico nem ontológico é capaz de proibir isto, nem o propa-
lado "argumento Kalam" que é uma falácia. Todavia, os dados observacionais in-
dicam que deve ter havido um início, se se extrapolar no sentido negativo do
tempo o processo de expansão cósmica do espaço. Pode-se aventar (como o quer
Mário Novello, meu orientador de tese de cosmologia no mestrado) que o conte-
údo primevo seja oriundo (e não tenha surgido) de uma contração anterior. As
equações assim o permitem, mas não há indícios observacionais que possam con-
firmar que, de fato, assim o foi. A cosmologia das branas ainda é hipotética, nada
havendo que a confirme. Assim, em termos do que é verificável, ficamos com o
fato de que houve um início da atual sequência de tempos, no qual o espaço co-
meçou a se expandir juntamente com seu conteúdo. Antes disso não havia tempo,
pois tempo é algo que decorre das alterações do estado do Universo. E como exis-
tir é estar presente no tempo, não se pode dizer que existia algo. Tudo o que exis-
te só passou a existir quando o tempo começou a correr. Isso é uma questão de
interpretação e é controverso. Pode ser que algo exista sem que o tempo passe,
mas não é possível se proceder a uma verificação fática disto, pois, sem que o
tempo passe, nada é capaz de detectar a existência de coisa alguma. Desde que
você iniciou a leitura deste texto o tempo pode ter interrompido sua passagem, e
retomado depois, milhões de vezes, sem que se pudesse perceber.
147. Gostaria de compartilhar de seu ponto de vista sobre os campos mórfi-
cos de informação de Sheldrake. Comente por favor. (Pseudociência)
Ainda não conheço nenhuma comprovação da existência de campos morfo-
genéticos, segundo a proposta de Sheldrake, tanto em seres vivos quanto em ina-
nimados. O que vejo é que, a partir de um campo indiferenciado primordial, todos
os constituintes do Universo se formaram e passaram a formar sistemas mais
complexos de uma forma aleatória, todavia moldados pelas interações a que estão
sujeitos. A presença do conteúdo também molda a curvatura e a torção do espa-
ço-tempo, propiciando as aglomerações que deram azo à formação de galáxias,
estrelas e planetas. Nestes, em particular na Terra (e possivelmente só nela) o es-
friamento permitiu a ação de outras interações mais complexas, como as pontes
de hidrogênio e as forças de Van der Waals, que permitem a formação de molécu-
las complexas até o grau de auto-replicação que originou a vida e toda sua evolu-
ção. Sinceramente não estou convencido de que os experimentos com ratos que

69
Ernesto von Rückert

aprendem a sair de labirintos em uma cidade comprovam que este aprendizado


foi transmitido por algum campo morfogenético a outros noutro lugar. Ou dos
macacos que lavavam as batatas.
148. Li um texto, um dia destes, que relacionava a teoria da dupla fenda com
a possível existência de passados duplicados. Investigando o experi-
mento não encontrei nenhuma evidencia plausível de tal afirmação.
Algo a dizer? (Pseudociência)
Concordo com você. Há muito de fantasia em certas explicações propostas
até por cientistas de renome. Inventam um argumento que, se admitido, levaria
ao resultado de certo fenômeno. Mas há inúmeras hipóteses que podem levar à
mesma conclusão. A questão é verificar qual delas (ou nenhuma ainda), de fato é
a que está presente na ocorrência.
149. Qual sua visão sobre as novas religiões tidas como futuristas, por
exemplo a Magia do Caos, que une Ciência com uma ritualística religio-
sa. Já teve algum contato com o trabalho de Peter Carrol e Anton Wil-
son? (Esoterismo)
Ainda não me inteirei disso, mas posso adiantar que qualquer pretensão de
dar respaldo científico a qualquer religião está fadada ao fracasso, pois a Ciência
não dá suporte a crenças em nada que não seja estritamente natural. Religiões
sempre consideram que seja possível contrariar o comportamento da natureza
por meio de intervenções mágicas de poderes superiores à natureza. Isto não
existe!
150. Se você tivesse outro nome e tivesse se formado em outras áreas pro-
fissionais, você seria outra pessoa? Qual é seu lugar neste mundo? (Me-
tafísica, Psicologia, Pessoal)
O que eu sou envolve minha biologia, isto é, meus genes, que são uma carac-
terística nata, e também tudo o que eu adquiri em minha vivência, interagindo
com o ambiente. Isto ficou gravado em minha memória e, ao longo do tempo, jun-
tamente com minha genética, foi responsável por moldar minha personalidade e
meu caráter, ou seja, meu temperamento, minhas convicções, meu estilo, minhas
preferências, assim como minhas lembranças, meus conhecimentos e habilidades,
em função do que eu estudei, de onde eu vivi, de quem eu conheci, com quem me
casei e de todas as escolhas que fiz a cada momento da vida. Isso tudo faz com
que eu seja o eu que eu sou. De fato, se eu, desde o nascimento, tivesse sido criado
por outra família, em outro lugar, com outras vivências, tendo outro nome, estu-
dado outras coisas, casado com outra pessoa, mesmo que biologicamente fosse o
mesmo organismo, seria outra pessoa. Mesmo com o mesmo nome, se, em cada
momento, eu tivesse feito outras escolhas, meu eu de hoje não seria mais o mes-
mo. Meu lugar no mundo, isto é, quem eu sou, depende disso tudo. Sou um ser
humano masculino, brasileiro, nascido em 1949 no Rio de Janeiro, criado em Bar-

70
PERGUNTE.ME
bacena, morando em Viçosa há 35 anos, graduado em Matemática, mestre em Fí-
sica, professor universitário aposentado, separado e casado pela segunda vez,
com dois filhos e quatro enteados (dois homens (um filho e um enteado) e quatro
mulheres(uma filha e três enteadas)), atual vice-diretor do Colégio Anglo de Viço-
sa. Uma pessoa que gosta de estudar, ler, escrever, cantar, pintar, conversar, na-
morar, passear. Que não gosta de esportes, de ver televisão, de política, de negó-
cios. Que adora Ciências, Filosofia e Artes. Um intelectual, livre-pensador, ex-
católico, ateu, anarquista, feminista e libertário. Tudo isto e muitas outras carac-
terísticas são o que eu sou e poderia ser outra coisa, dependendo da história da
minha vida. Atribuí a mim mesmo a missão de levar ao mundo o conhecimento,
por isso me orgulho de ser um professor que já deu vinte mil aulas de Física e Ma-
temática, sempre sob um prisma filosófico e que hoje, em palestras e pela inter-
net, discute temas variados sempre procurando esclarecer e acabar com a igno-
rância, sem ganhar nada com isto, ao contrário, tendo despesa, inclusive com mui-
tos livros e revistas que pretendo reunir em uma biblioteca a ser disponibilizada
ao povo em uma ONG que vou fundar. Mas eu poderia ter sido algo completamen-
te diferente e isto poderia depender do detalhe de uma única escolha ou fato da
vida, como não ter aceito o convite para trabalhar em Viçosa, ou não ter passado
no primeiro vestibular que fiz.
151. Há como provar que nós e tudo ao nosso redor, na verdade, não existe?
(Metafísica, Psicologia)
Não, da mesma forma que não há como provar que existe. Esta é a questão
da Matrix, denominada solipsismo. Será que existe um mundo exterior objetivo
fora da minha mente? Será que existe a minha mente? Não há como garantir que
existe, nem que não existe. Pode ser que a realidade seja apenas uma espécie de
sonho. Mas há fortes indícios de que, de fato, existe um mundo objetivo exterior à
nossa mente. Por exemplo, se só existisse a nossa mente, porque morreríamos, ou
ficaríamos doentes, ou nos aconteceria qualquer coisa ruim? Porque aprendería-
mos algo desconhecido antes? Teríamos que saber tudo, desde o nascimento, pois
seríamos como deus, já que todo o Universo seria um produto imaginário de nos-
sa mente. Por que haveria proibições morais contrárias a nossos desejos? Por que
precisaríamos de uma linguagem? Porque ao revisitarmos um lugar ele continua
como era antes? Há outras razões que podem nos convencer de que o mundo ex-
terior, de fato, existe.
152. Não vejo o Argumento Kalam como falácia. Para mim, falácia é dizer
que o Universo é eterno. Uma água está congelada e nunca se solidifi-
cou, mas sempre foi assim. Não há sentido. Do mesmo modo com a exis-
tência do tempo. Já sabemos que tudo é finito. (Cosmologia)
Como sabemos que tudo é finito? Aliás, não é! Porque uma água não pode
sempre ter sido gelada? A água surgiu primeiro como vapor, aqui na Terra e em
qualquer lugar do Universo, pois no início só havia gás. O Universo não é eterno

71
Ernesto von Rückert

porque se verifica, por observações, que não é. Mas nada obsta a que fosse, nem
lógica, nem ontológica, nem epistemologicamente falando. Só fenomenologica-
mente. A falácia do Kalam é considerar que um passado eterno seria impossível
porque não haveria tempo de se atingir o dia de hoje desde o início dos tempos.
Ora, num passado eterno não existe início dos tempos, de modo que a qualquer
momento do tempo sempre se teria passado um tempo infinito para trás, sem iní-
cio nenhum. Ou seja, o momento atual pode estar em qualquer posição no eixo
dos tempos.
153. Acredito eu que o senso de bondade seja uma lei moral dentro de nós.
Sabemos que há esta dicotomia entre bem e mal, mesmo que seja rela-
tivo. Isto já é uma lei moral em nós. (Ética)
Você está dizendo que, independentemente de se saber o que seja bom ou o
que seja mal, temos, digamos, o instinto de preferir o que seja bom. Mas é claro!
Só que isto não é lei moral nenhuma. Isto é o sistema de recompensa do cérebro e
não é exclusivo do ser humano. Qualquer animal e até os vegetais vão escolher
aquilo que lhe dê maior retorno em termos de satisfação biológica, isto é, para
nós, prazer. Lei moral não é escolher o que é bom para se sentir, mas o que é bom
para se fazer, mesmo que tal ação não seja a mais agradável para si mesmo. Isto é
adquirido por uma educação. Não é inato saber que não se deve fazer algo que
nos agrada porque prejudica aos outros. Tem que ser ensinado ou concluído por
vivência. Não existe essa "lei moral" a priori em ninguém.
154. O que você acha sobre as condições financeiras, humanas e estruturais
que a UFV oferece no que tange à produção e fomento de pesquisas e
estudos científicos? (Ciência)
Na UFV, como em todas as universidades, o fomento à pesquisa é feito pelos
organismos específicos, como o CNPq, a Fapemig e outros, inclusive empresas
particulares. O próprio MEC não financia pesquisas, apesar de ser esta uma das
funções das universidades. Está certo! Ele tem que cuidar principalmente da edu-
cação básica. As universidades já consomem muito do orçamento do MEC e preci-
sam se virar para conseguir recursos por conta própria, vendendo consultorias e
pesquisas. E isso a UFV faz com boa competência, por meio da FUNARBE, do Bio-
Agro e outros núcleos de pesquisa. O aspecto humano da UFV para a pesquisa é
muito bom, bem como as estruturas, nos campos em que ela é referência, como as
Ciências Agrárias, mas mesmo em outros. Certamente que há campos em que sua
atuação é incipiente na pesquisa, mas isto é normal. Nenhuma universidade do
mundo é excelente em todas as áreas. Isto não implica que tais áreas não devam
ser exploradas, quer no ensino, quer na pesquisa. A UFV é jovem. Não tem nem
um século. Além do mais está no interior, num país em desenvolvimento e num
estado que não é o mais rico do país. Apesar disso tem se sobressaído nos ran-
kings nacionais. Acho que está indo bem, numa escala que inclui os conceitos de
ótimo, muito bem, bem, razoável, ruim, muito ruim e péssimo.

72
PERGUNTE.ME
155. Você tem orgulho de morar em Viçosa, ao considerar as discrepâncias
existentes entre a cidade a Universidade, que, diga-se de passagem, é
um Universo à parte? (Pessoal, Sociologia)
Sim, gosto daqui. O que não significa que aprovo tudo. O problema da cidade
é que a Universidade drena a mão de obra mais qualificada, deixando para os em-
preendimentos privados a sobra. Além disso, a população flutuante, que é de uns
20%, não conta no censo para a distribuição das cotas dos tributos estaduais e
federais. Mas está sempre aí, sendo renovada e consumindo os recursos e a infra-
estrutura do município. A solução é um maior empenho da iniciativa privada na
criação de atividades econômicas independentes da Universidade. A própria Uni-
versidade estimula isso, mas ainda de forma pouco agressiva. São Carlos, no esta-
do de São Paulo é um exemplo nesse sentido, com muitas empresas incubadas pe-
las universidades de lá. Muitos criticam o crescimento da Universidade sem se
preocupar com a capacidade da cidade em acompanhar. Mas acho que tem que
ser assim mesmo, justamente para forçar a cidade a reagir e acompanhar com su-
as próprias iniciativas. E isso vai acontecendo, mesmo que com atraso.
156. Cuide-se amigo! Não se estresse. Precisamos de você! (Pessoal)
Apesar de ateu, estou ficando cada vez mais zen, isto é, cheguei à conclusão
que não devo me apoquentar com coisa alguma e ficar na minha. Isto não significa
que não continue a missão que a mim mesmo me atribuí, de tentar mudar o mun-
do pela luz do conhecimento. Mas não me importo se não for tendo sucesso. Não
tenho ambições materiais e não mais acalento sonhos irrealizáveis, como conhe-
cer a Europa, pois sei que nunca terei dinheiro para isto. O que me compraz é a
busca da sabedoria e o afeto dos que me são caros. Certamente isto inclui viver
um grande amor, que, para minha felicidade, é o que mais importa na vida. Nada
mais. Só a falta de amor é capaz de me tirar a paz.
157. Como você encara o Natal? Fenômeno? Movimento religioso? Momento
para reunir familiares? Gostaria que comentasse. (Comportamento)
Natal surgiu como uma festa religiosa e agora é uma data comercial. Mas é
uma oportunidade para congraçamento familiar que deve ser aproveitada. Deplo-
ro apenas o consumismo desenfreado e o acesso de solidariedade pontual, rele-
gada ao esquecimento no resto do ano. Veja o que escrevi a respeito em meu blog:
A ÁRVORE DE NATAL
A época do Natal enseja uma série de reflexões sobre o significado da exis-
tência do homem. O Cristianismo coloca em Deus essa razão, sendo nossa vida
justificada pela glória e louvor que propiciarmos àquele que nos criou tão somen-
te para esse fim. Com o pecado original a humanidade desconciliou-se com Deus,
que, em represália, expulsou-a do paraíso, condenando-a a envergonhar-se do
próprio corpo, a ganhar o pão com o suor do rosto, a padecer as dores do parto e

73
Ernesto von Rückert

a envelhecer e morrer, ocasião em que a alma, separando-se do corpo, passaria a


vagar em um limbo, apartada da beatitude da contemplação de Deus. A miseri-
córdia de Deus, contudo, sendo maior que sua ira, incapaz de ser aplacada pelos
sacrifícios propiciatórios dos cordeiros imolados, concedeu à humanidade a
chance de redimir-se do pecado original e, com isto, poder contemplar a face de
Deus na glória celeste e, posteriormente, na consumação dos séculos, tendo sua
alma novamente unida ao corpo, poder ascender ao paraíso para gozar em pleni-
tude a vida eterna. Tal oportunidade se daria com um sacrifício infinito, que seria
a imolação do próprio Deus a si mesmo.
Cristo foi a pessoa de Deus que se fundiu indissoluvelmente a um homem,
tornando-se o único ser híbrido a possuir corpo, alma e divindade, de tal modo
que sua imolação, como um cordeiro sacrificatório, fosse capaz de aplacar a ira de
Deus pelo pecado original e possibilitar a redenção do gênero humano, conce-
dendo a todo aquele que aceitar Cristo como salvador, a possibilidade de alcançar
a glória celeste. A ressurreição do homem Jesus (a parte divina, certamente, não
morreu) é a prova da vitória sobre o pecado, do qual a morte é uma das conse-
qüências. A condição para a salvação é colocada, pois, na fé, e, para algumas con-
fissões, como o catolicismo romano, também na vida piedosa e nas boas obras.
O Natal cristão é, pois, a celebração do nascimento daquele que trouxe à hu-
manidade a possibilidade de redimir-se do pecado. Sem Cristo a humanidade
perderia eternamente a capacidade de retornar ao paraíso para o qual fora cria-
da. Essa é a exegese que faço do que conheço da doutrina cristã.
Para quem não seja cristão o Natal não teria significado algum, especialmen-
te para os ateus, como eu. Não é assim, contudo, que vejo as coisas. Num contexto
puramente humanista, Jesus foi simplesmente um homem que pregou uma nova
visão religiosa, em que Deus não é mais uma entidade vingativa a se temer e nem
tampouco o cioso guardião de um particular povo escolhido, mas o pai amoroso
de todo o Universo e, em decorrência, de todos os povos. É possível que Jesus es-
tivesse imbuído de sua divindade, porém, creio eu, este atributo foi-lhe aplicado
pelos seguidores. Assim, o Cristianismo, em seus primórdios, firmou-se como
uma religião do perdão, da paz, da concórdia, da fraternidade, da tolerância. Nisto
reside a grandeza do Cristo, que se eleva ao lado de outros líderes congêneres,
como Buddha ou Ghandi. Os desdobramentos históricos levaram o Cristianismo a
atitudes intolerantes e belicosas, como ocorreu por ocasião das cruzadas e da in-
quisição. Mas isso não faz parte da mensagem primordial de seu fundador.
Nos dias atuais presenciamos dolorosos conflitos travados a pretextos reli-
giosos, envolvendo judeus, muçulmanos, cristãos, hinduístas e outros, em várias
partes do mundo. Se a mensagem humanista fundamental do Cristianismo pudes-
se ser seguida em todo o mundo, independente de que religião se professe (ou
que não se professe) teríamos como alcançar a paz e a harmonia que nos propici-
ariam um mundo melhor em que as crianças poderiam crescer e tornarem-se

74
PERGUNTE.ME
adultos felizes e realizados plenamente em sua humanidade. Por isso acho válida
a comemoração do Natal de Cristo em toda a Terra.
Que essas disposições sejam levadas por todos em todas as suas atividades.
Nas relações internacionais, na política, nos negócios, nas profissões, no trato so-
cial, no ambiente familiar, entre pais e filhos e no íntimo dos casais. Que o egoís-
mo seja banido e que nossas ações se pautem pela maximização da felicidade pa-
ra o maior número de seres e não pelo lucro ou pelas vantagens pessoais. Lem-
bro-me de meu falecido pai, rotariano atuante, que me passou a Filosofia da “Pro-
va Quádrupla” como guia para tomada de decisões em qualquer circunstância. No
que for que se faça, pergunte-se: É a verdade? É justo para todos? Criará boa von-
tade e melhores amizades? Será benéfico para todos? Se usarmos algo como isto
na conduta pessoal, certamente estaremos contribuindo para um mundo melhor.
E, se pensarmos que, numa visão de mundo que exclua a existência de Deus, não
há razão nem finalidade para nada, inclusive para nossa vida, mas que sentimos
uma necessidade interior de que tudo tenha um propósito (o que não garante que
tenha), então, se colocarmos para nós mesmos que nossa vida terá sentido se, por
causa dela, o mundo venha a se tornar melhor e mais pessoas fiquem felizes, po-
demos aceitar a mensagem humana de Cristo como um farol guia a nortear nossa
vida.
Chego, finalmente, ao título deste artigo: “A Árvore de Natal”. Que símbolo
melhor representaria tudo isso que não ela. Como um abrigo da inclemência do
Sol, uma proteção para a fúria da atmosfera e um refúgio contra a gana dos pre-
dadores, a árvore também simboliza a generosidade da natureza ao nos propiciar
o fruto, a madeira e, até, a medicina contra todos os males. E a árvore quer dizer o
abraço fraternal entre todos, de todas as origens, credos, raças, gêneros, condi-
ções sociais. Especialmente a Árvore de Natal, com sua forma pontiaguda, apon-
tando para cima, como a nos dizer que não é para a esquerda e nem para a direita
que devemos seguir, mas para cima, para o que é mais elevado, para o progresso,
com a colaboração e o trabalho conjunto, não com disputas e guerras. Nesse sím-
bolo eu posso congregar toda a humanidade, transcendendo o espírito do Natal
ao próprio Cristianismo, ao conscientizarmos de que somos membros de uma
mesma espécie, habitando um mesmo planeta e que temos que nos unir para que
possamos ser partícipes dessa maravilhosa e incrível realidade que é a existência
e a evolução da vida, fato possivelmente singular, cuja preciosidade não podemos
deitar a perder por questiúnculas religiosas ou econômicas.
Que esta ocasião, portanto, possa ser para você, leitor, um momento de re-
flexão sobre a razão e o propósito que você deve encontrar dentro de si mesmo
para estar aqui. Imaginando-se em seu momento final você poderá sopesar o que
de fato é importante na vida e verá que, não será o dinheiro, o poder ou a fama
adquirida que lhe serão valiosos. Você certamente só se arrependerá do perdão
não concedido e do amor não espalhado, do abraço reprimido, da gentileza es-

75
Ernesto von Rückert

quecida, da palavra não dita. Mas é tempo ainda de mudar tudo isso e levar a vida
de alma lavada e leve, na certeza de que se está vivendo de modo a dar sentido à
própria vida.
158. Como você vê a espiritualidade na Índia? Pessoas 'iluminadas' como Sai
Baba, que diz materializar ovos de ouro e tem mais de 20 milhões de
seguidores pelo mundo. Como explicar esse fenômeno? As pessoas es-
tão desesperadas para acreditar em algo. Faz sentido? (Religião, Socio-
logia, Comportamento, Espiritualidade)
Sathya Sai Baba, para mim, é um caso de impostura pura e simples, como
muitos outros. Basava Premanand o desmascarou de forma inequívoca. De fato,
as pessoas querem crer que mágica seja possível, mas não é. É frustrante limitar-
se apenas às possibilidades naturais e sociais, mas é só o que se tem. Milagres não
existem, nem superheróis. É preciso um trabalho constante, extenso e intenso pa-
ra levar ao povo as noções do valor do ceticismo e do racionalismo e da validade
do fisicalismo, bem como da inexistência do sobrenatural. O mais importante é
mostrar que não se pode contar com nada, exceto o próprio esforço e a solidarie-
dade e a compaixão dos outros seres humanos, que precisam conscientizar-se de
que a felicidade pessoal decorre da felicidade coletiva e, com isto, abdicar de todo
egoísmo, toda ganância, toda cobiça, toda avareza e toda malvadeza, para cons-
truir um mundo justo, harmônico e fraterno. Todavia há, de fato, mestres espiri-
tuais de valor na Índia, como o próprio Gautama Buddha, Chaitanya Mahaprabhu,
Mahatma Ghandi, Jiddu Krishnamurti. Osho Rajneesh tinha mensagens interes-
santes, todavia não compatíveis com sua vida pessoal desregrada.
Considero que a espiritualidade do povo indiano tem aspectos positivos e
negativos. Positivo por ressaltar o desprendimento, a solidariedade e a compai-
xão ao invés do pragmatismo e do espírito competitivo dos chineses e america-
nos. Negativo por estimular uma atitude de passividade e crença em soluções so-
brenaturais.
É interessante ler o apanhado da Wikipedia:
http://pt.Wikipedia.org/wiki/Guru.
159. A essência precede a existência? (Metafísica)
Essência de alguma coisa é o conjunto de qualidades que fazem com que
aquilo seja o que é e não outra coisa. É como se fosse uma definição, isto é, uma
correspondência entre algo em si e o nome que se dá para aquilo. Certamente al-
go só é o que é, em si mesmo, se existir, caso contrário, trata-se meramente de um
conceito, isto é, uma idéia, não necessariamente correspondente a algo real. Exis-
tir é estar presente real e objetivamente no mundo exterior às mentes. Depen-
dendo de como se concebe o conceito de essência, pode-se falar de essência de
um conceito, que, então, precederia sua existência. Assim é a concepção da Filoso-

76
PERGUNTE.ME
fia escolástica (aristotélico-tomista). O existencialismo, contudo, considera que
essência é um atributo de seres que, de fato, existem e não meramente de entida-
des hipotéticas. Para se ver que Filosofia é muito uma questão gramatical de se-
mântica. Inclusive posso dizer que algo puramente conceitual existe no mundo
das idéias. Então é preciso considerar várias categorias de realidade: objetivas e
subjetivas. Isto também não é simples, pois há idéias que são compartilhadas por
várias mentes e, assim, passam a ter uma espécie de objetividade. Chamaríamos
de "realidade concreta" (mesmo que não se refira a algo sólido) àquela que existi-
ria mesmo que não existisse mente nenhuma. Complicado, não?
160. O homem é a medida de todas as coisas? (Filosofia)
Sim e não. Em verdade o conjunto de todas as coisas, o Universo, não dá a
mínima para o homem, que é um mero acidente. Assim quase tudo existe por si
mesmo, independentemente do homem. Mas, como somos humanos, para nós, o
significado de tudo o que sabemos que existe se dá enquanto tem uma relação
conosco. Isto é o que se está entendendo por "medida", ou seja, um valor da coisa
em relação aos interesses e propósitos humanos. Há muita coisa que só existe
porque foi criada pelo homem. O que não podemos é considerar que o homem se-
ja o ser mais importante do Universo, porque não sabemos se existem ou não ou-
tros seres inteligentes em outros lugares, ou mesmo se haverá aqui na Terra, em
tempos futuros. Para nós, contudo, só importa o que tem alguma relação conosco.
161. Vaidade é um defeito ou uma virtude? (Comportamento)
Aspirar e se comprazer em ser admirado por qualidades que verdadeira-
mente se possua é legítimo. Vaidade é encenar possuir qualidades que, de fato,
não se possui, para angariar admiração. Isto é um grave defeito de caráter. A vir-
tude está na modéstia e na assertividade, isto é, em não fingir nem ser o que não
se é, nem deixar de ser o que se é. Sem se gabar, sem pernosticismo e sem sober-
ba, mas de forma serena, tranquila a afirmativa. Humildade, isto é, fazer-se inferi-
or ao que se é, também não é virtude. O que pode ocorrer é alguém supor que
possua qualidades inexistentes. Isto já é falta de percepção, isto é, de inteligência.
Exibir-se gratuitamente, vangloriando-se de suas qualidades, mesmo verdadeiras,
é algo de extremo mau gosto, constituindo um defeito. Quando se é realmente, is-
so é percebido sem que se precise se exibir. Inclusive porque faz parte do bom
caráter a benevolência em não humilhar nem desprezar ninguém, mesmo que
possa merecer. Ironia, deboche e sarcasmo são sinais de egocentrismo e de falta
de educação. Assim, a vaidade não é virtude, de forma alguma, nem tampouco a
humildade. A virtude está na assertividade, que consiste, justamente, em se afir-
mar sem se gabar nem humilhar, mas também sem faltar à verdade, sempre de
modo cortês. Mas é importante que não se infle o ego por estar sendo virtuoso em
agir desta forma, pois isso corrói o espírito por dentro. A paz interior está em ser
virtuoso de forma natural, ou seja, que a virtude flua sem esforço e sem que a
pessoa possa gabar-se perante si mesma, mesmo que ninguém saiba, o quão vir-

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Ernesto von Rückert

tuoso se é. Então, já não se é mais.


162. Qual sexo você mais gosta? (Pessoal, Sexualidade)
Para uma relação amorosa o único sexo que eu gosto é o feminino. Mas não
acho que seja errado alguém sentir atração erótica por outra pessoa do mesmo
sexo. Só que eu não sinto. Para uma relação de amizade o sexo é indiferente. Te-
nho amizades sinceras e fortes com homens e mulheres. Não acho que não se
possa ser amigo de uma mulher sem pretender cortejá-la.
163. O ultimo cristão morreu na cruz? (Religião)
Considero que Jesus Cristo foi um dos raros verdadeiros cristãos. A seu lado
vejo apenas Francisco de Assis e, talvez, uns poucos mais. Não se é cristão quando
se está apegado aos valores mundanos, como riqueza e prestígio. Ninguém é cris-
tão se não procurar ser santo. Alguns pagãos foram mais cristãos do que muitos
batizados, como Epicteto e Hipatia. Ou Buddha e Lao Tsé (ou Tzu). Mas o Cristia-
nismo é uma ilusão, pelo menos em sua teologia, já que supõe a existência de
Deus e a divindade do Cristo. Em sua mensagem ética, contudo, tem grande valor,
ao contrário do que disse Nietzsche. Infelizmente, Saulo de Tarso deturpou-o
completamente. Agostinho de Hipona e o Imperador Constantino acabaram com
ele ao construírem uma doutrina e uma instituição sobre as palavras de Jesus. Ti-
rando o aspecto sobrenatural, a mensagem de Cristo é bem anarquista. Mas sal-
vação é uma grande balela. Salvar de quê? A exegese que faço do núcleo da dou-
trina cristã, que é a redenção, mostra uma concepção de mundo extremamente
mesquinha. Como pode ser tão cruel um Deus que não se contenta com um sacri-
fício propiciatório menor do que a imolação de seu próprio filho para aplacar sua
ira pelo pecado? Porque não deu o exemplo do perdão sem condições nenhumas?
164. Devemos ter medo da morte ou a morte tem que nos temer? (Compor-
tamento)
Nenhum dos dois. A morte faz parte da vida. Uma vez que não há céu nem in-
ferno, morrer é o fim de tudo, sem alma nenhuma a sobreviver. Não há nada a se
temer. Morrer é como dormir para não acordar mais. Apaga tudo. Por outro lado,
a morte é uma ocorrência e não uma entidade. Logo não pode temer coisa ne-
nhuma.
165. O que é o mundo das idéias? (Metafísica)
É a realidade dos pensamentos que são formados nas mentes. Ao se comuni-
carem entre si, as mentes passam umas às outras os conceitos que formularam.
Ao se tornar uma propriedade comum a um conjunto de mentes, um conceito ad-
quire uma espécie de objetividade, e passa a existir fora das mentes, podendo ser
evocado e mencionado por qualquer mente de modo inteligível para as outras.
Mas deixa de existir no momento em que nenhuma mente tenha a sua concepção.
Este mundo não é um mundo que tenha existência própria, independente de toda

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PERGUNTE.ME
e qualquer mente, como é o mundo das realidades objetivas concretas (não signi-
ficando sólidas, mas existente por si mesmas, independentemente de qualquer
mente). A concepção de "Maia", que é revelada no mito da caverna de Platão, não
pode prevalecer. Não é verdade que o mundo físico seja uma imagem do mundo
das idéias. Pelo contrário, as idéias é que são uma imagem do mundo físico, for-
madas pelas mentes que, inclusive, por meio da imaginação, podem conceber até
entidades inexistentes concretamente, como é o caso de Deus, que, mesmo con-
cebido como espírito, poderia ter uma existência concreta na acepção de existir
por si mesmo e não apenas como uma idéia.
166. Podemos alcançar a felicidade através da dor e do sofrimento? (Com-
portamento)
Só num caso patológico. Felicidade é justamente o estado mental de se sentir
satisfeito com a vida, alegre, em paz, sem medos, temores, apreensões e receios,
sem estar experimentando dor, desprazer, angústias e tristezas de qualquer espé-
cie, estando tendo a sensação de realização, de dever cumprido, de não dever coi-
sa alguma. Pode ser que alguém se compraza em sofrer e sentir dor e daí possa
fruir alguma satisfação e ser feliz. Para mim isto é doentio. Felicidade é prazer,
alegria, satisfação numa permanência contínua ao longo da vida, pelo menos na
maior parte. Todavia, em alguns casos, uma pessoa pode aceitar o sofrimento, se
ele for condição para a consecução de um bem maior, mesmo que não para si
mesma. Saber que esse sacrifício pessoal está sendo motivo de aumento da felici-
dade de quem se ama ou, até, da humanidade em geral, pode ser uma recompensa
compensadora e, assim, levar à felicidade.
167. Quem veio primeiro, o pólipo ou a medusa e porque? (Evolução)
As medusas são larvas de pólipos, de modo que surgiram juntos, a partir de
seu ancestral. A pergunta é semelhante à que questiona se o ovo precede a gali-
nha ou vice versa. Depende de que ovo se fala. Se se entender por "ovo de gali-
nha" aquele do qual a galinha nasce, ele precede a galinha e foi botado por uma
pré-galinha. Se se entender por "ovo de galinha" aquele que a galinha bota, a gali-
nha precede o ovo, mas nasceu de um ovo de uma pré-galinha. Na verdade, possi-
velmente a evolução da galinha se deu de forma gradativa, de modo que, a cada
geração há uma alteração até que, ao longo de muitas gerações, a espécie não é
mais a mesma. Também é possível a mudança abrupta em que uma pré-galinha
botou um ovo mutante do qual nasceu uma galinha. A questão, puramente con-
vencional, é saber se esse é um “ovo de galinha” ou um “ovo de pré-galinha”.
168. Qual sua metodologia para considerar algo uma boa obra de arte – se,
claro, você aceitar que é possível determinar uma boa obra e uma
ruim? Coloque, mesmo que de maneira lacônica, o que entende por ar-
te. (Arte, Estética, Pessoal)
Para mim há boas e más obras de arte sim. E o critério é a fruição do prazer

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Ernesto von Rückert

estético em sua contemplação. Tal prazer não é só sensorial, mas também intelec-
tual. Assim pode-se passar a apreciar, com prazer, uma obra antes não apreciada,
no momento em que se passa a compreender o seu significado. Isto se dá, por
exemplo, com "Guernica" de Picasso. Apreciar a arte requer mergulhar em seu
significado, em sua história, em sua gestação, em seu contexto, na análise de sua
técnica, além, certamente, na fruição puramente sensorial de sua aparência.
Iniciei-me como cientista, mas desde cedo percebi que não se pode fazer ci-
ência sem filosofar. E filosofar é debruçar-se, principalmente, mas não só, sobre a
vida. A vida, contudo, só tem sentido se viver for a eterna busca de um significado
que leve à felicidade de se estar vivo. Tal significado é dado principalmente pela
arte. A arte, como expressão livre do espírito criativo do homem é sua maior rea-
lização, pois que não está comprometida com nenhuma utilidade, sendo, portan-
to, aquilo que o homem faz por puro deleite, mesmo que possa usufruir retorno
por ela. Mas quem faz arte só pelo retorno financeiro, não está fazendo arte. As-
sim comecei com o desenho e a pintura, depois a música, inclusive o canto, o en-
saio, a crônica e, por fim a poesia. Meu ciclo se fechou e eu concebo todas as artes
num único arcabouço, em que os diferentes sentidos se expressam por variados
meios. Sempre há música e poesia na pintura, como há imagens na música, músi-
ca na poesia e assim por diante. Chico Buarque compunha a letra e a música num
único ato criativo. Essa é a minha concepção que, inclusive, vai mais longe. Vejo
uma imensidão de música, poesia e beleza plástica na construção da ciência, es-
pecialmente na que me dedico, a Cosmologia, na qual me debruço sobre a origem,
estrutura e evolução do Universo. E a Filosofia, então, nem se fala. Da mesma ma-
neira, eu faço arte filosofando e coloco nela toda a ciência de que sou senhor. As-
sim é a série de "Paisagens Cósmicas" que pintei (picasaweb.google.com
/wolfedler/PaisagensCosmicas ) ou os poemas que escrevi e podem ser lidos em
meu scribd (procurar por "Poesia"): http://www.scribd.com/wolfedler
169. O bem ultimo é a felicidade? (Ética)
O bem último é o próprio bem. Buscando-o, a felicidade virá de lambuja. Mas
o que é o bem? A palavra tem muitos significados. Como advérbio representa o
modo ou a intensidade com que uma ação seja feita, isto é, de modo hábil, seguro,
preciso, dedicado, amoroso, melhor, mais intenso. Como substantivo, economi-
camente trata-se de algo que seja valioso para algum propósito, que alguém pos-
sua ou que tenha utilidade. A acepção que nos interessa é a filosófica, isto é, o va-
lor de algo que seja bom. E que qualidade é esta de ser bom? Algo é bom quando
propicia prazer, felicidade, alegria, satisfação, consolação, promova a justiça, seja
magnânimo, generoso, cortês, cordial, amável, gentil, desprendido, altruísta. En-
tão, fazer o bem é agir de forma a que o resultado da ação seja justo, benéfico, ge-
neroso.
O caráter ético de uma ação se prende ao quanto ela promove de bem, isto é,
se é capaz de maximizar o bem, em todas as suas características, para o maior

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PERGUNTE.ME
número de seres, não só humanos. Isso é algo que, a princípio, pode, inclusive, ser
computado numericamente, por meio de um funcional. Além disso, a eticidade de
uma ação se prende a que possa ser erigida como norma universal e que seja algo
que seu autor deseje que seja feito a ele mesmo.
A moral, como disciplina normativa do comportamento de forma a que seja
ético, tem que amoldar-se a estas prescrições, mas nem sempre o faz, havendo
ações morais que não são éticas e vice-versa.
Em sua conduta na vida, a pessoa age objetivando alcançar algum bem, que,
normalmente, é condição para se alcançar outro bem maior até que se chegue a
um bem máximo que não seja condição para nenhum acima dele. Trabalha-se pa-
ra ganhar dinheiro, para comprar bens, que propiciem conforto e prazer, condi-
ções para que se seja feliz. Mas não se é feliz para nada além disso. Desta forma,
parece que a felicidade seja o bem supremo, pois não é condição para se obter
nada além. Se se conseguir ser feliz sem nada do que se considera necessário para
isso, não se precisa obter, como dinheiro ou trabalho, por exemplo. Mas a felici-
dade pode ser um estado permanente, sem que seja preciso nenhuma condição
prévia, desde que se aja sempre se esquecendo dela e praticando o bem. Tendo
sempre o bem como objetivo de toda ação, nenhuma perturbação poderá turvar a
existência e a felicidade será obtida mesmo na pobreza, na doença ou em qual-
quer adversidade. Daí ser o bem o bem supremo.
170. O importante é a questão ou a resposta? (Dialética, Epistemologia)
Ambas, pois se formula uma questão para se achar a resposta. O mais impor-
tante, contudo, é formular adequadamente a questão. Só nisto já está uma parte
da resposta. Muitas questões são formuladas de forma inadequada, de modo que
conduzem à busca da resposta em campos em que ela não se encontra. Formular
adequadamente uma questão é perceber a que categoria de problemas a questão
pertence e escolher as palavras corretas para dirigir a busca. Ou abrir o leque pa-
ra várias possibilidades, não fechando as alternativas. Então a própria busca da
resposta já é uma viagem pelo conhecimento, que pode trazer mais luz à questão,
mesmo que não se ache a resposta. Aliás, praticamente não se tem uma resposta
definitiva para nada. A Ciência não é um depositório de conhecimentos acabados,
mas um processo de busca de conhecimentos, sempre provisórios. Esse é o gran-
de mérito da Ciência frente aos mitos e às religiões, que consideram possuir as
respostas verdadeiras e definitivas. Isso não existe e talvez nunca exista. Mas o
que melhor se pode ter é o conhecimento científico. A Filosofia precisa transfor-
mar-se em uma disciplina que também use critérios científicos em sua busca da
verdade, da mesma forma que as protociências, como psicologia, sociologia, eco-
nomia, que ainda tateiam em suas "escolas de pensamento" sem estabelecer o
"corte epistemológico" que a Ciência possui, isto é, cada novo conhecimento não
só amplia, mas desbanca o anterior, que fica como, no máximo, um caso particular
em certas circunstâncias, mas nunca admitindo alternativas excludentes simulta-

81
Ernesto von Rückert

neamente consideradas por facções da comunidade. Quanto às pseudociências


nem se fala.
Em resumo, tanto a questão quanto a resposta são importantes, mas a for-
mulação correta da questão é mais importante.
171. É um tolo aquele que teme o inevitável? (Comportamento)
Não diria que seja, pois o temor faz parte da prudência, que é uma das maio-
res virtudes. Mesmo sabendo que algo seja inevitável, sendo danoso, o temor de
sua ocorrência fará que se tomem providências para que seus efeitos sejam ate-
nuados. Isso é sabedoria. Mas a prudência precisa ser acompanhada de coragem e
bravura, para enfrentar os reveses e as vicissitudes com nobreza, galhardia e re-
sultado. Tolo é o que não sente medo do perigo. Frouxo é o que se deixa levar pelo
medo e não enfrenta o perigo.
172. Lendo seu blog, pude perceber que você foi criado em uma família cató-
lica. Como foi a experiência de revelar seu ateísmo a seus familiares e
amigos? Houve rejeição ou acusações por parte deles? Gostaria que
comentasse. (Pessoal)
Isso foi um processo gradativo, pois, na juventude, eu fora católico, sendo
meus estudos e reflexões que me levaram, primeiro, a uma crença deísta, depois,
ao agnosticismo e, finalmente, ao ateísmo cético (não dogmático). Nesse caminho,
contudo, eu preservei os valores éticos que cultivava quando religioso, pois eles
não são, de fato, religiosos. Meu ideal de santidade se transformou em um ideal
humanista de virtude. Isso fez ver a meus familiares que minha opção não era por
uma atitude luxuriosa, preguiçosa ou volúvel, mas sim uma ruptura de cosmovi-
são racional e bem estabelecida, pelo que pude continuar a merecer o respeito e
admiração que sempre tive por minhas posturas e atitudes. Ainda mais que meus
pais, mesmo não sendo ateus, eram intelectuais e compreendiam minha busca pe-
la verdade.
173. Quais os valores da Filosofia cética para os jovens de hoje? (Ceticismo,
Epistemologia)
Há dois tipos de ceticismo: o filosófico e o metodológico. O primeiro diz que
nunca se pode obter o conhecimento e o segundo que se deve duvidar sempre do
conhecimento que se obteve. A distinção é sutil, mas o segundo admite que se
possa aproximar cada vez mais de um conhecimento verdadeiro, deixando em
aberto a possibilidade de que se esteja errado. Assim caminha a Ciência e este é o
seu valor. Trata-se de uma conduta epistemológica de extrema validade e utilida-
de. O conhecimento é um modelamento da realidade, isto é, uma explicação dos
"comos", "porquês" e "para quês", em termos de linguagens, tanto textuais, quan-
to pictóricas e simbólicas. Mas é um construto intelectual humano. A realidade
existe e funciona por si mesma, seja explicada ou não. Entendê-la é construir mo-

82
PERGUNTE.ME
delos explicativos. Nesse afã, não se pode ser dogmático, de modo nenhum. Nada
garante que qualquer explicação seja definitiva e completa. Sempre é provisória.
Mas pode e deve ser aceita como tal, enquanto tudo o que puder ser inferido a
partir dela estiver de acordo com a própria realidade. Assim é que se mandam
naves ao espaço, curam-se doenças, constroem-se prédios e tudo o mais. É impor-
tantíssimo que a juventude assimile essa noção do provisório, não só para os co-
nhecimentos que lhes são passados pelas gerações anteriores, mas, aí é que vem a
questão, para as próprias noções e valores que ela está construindo, que, um dia,
serão também antiquados. Além disso, o ceticismo é um ótimo antídoto para os
fundamentalismos religiosos e ideológicos, de todos os tipos e matizes. Ser cético
é achar que o conhecimento é possível, mas nunca garantido. Todavia, é tudo o
que se tem, pois os dogmas e os mitos não são nem um pouco confiáveis.
174. Qual é o fundamento ou objetivo principal da felicidade para os hele-
nos? (Comportamento)
Depende: para o povo ou para os filósofos? Há grande diferença, pois os filó-
sofos pautam sua vida por ideais, enquanto o povo é pragmático. Para o povo, fe-
licidade é o gozo de prazeres e a ausência de incômodos, de qualquer ordem. As-
sim se leva a vida sem atribulações e com alegria. Isto é bom? Claro que sim! Mas
pode levar a um vazio interior quando se reflete sobre o significado da vida que
se leva. Aí entram as religiões e a Filosofia. Pelas primeiras o significado se dá no
cumprimento da vontade da(s) divindade(s). E isto pode ser explorado pela elite
dominante, em conluio com a classe sacerdotal, para manter o povo dócil a seus
propósitos, desde que não sejam escandalosamente massacrantes. Já a segunda
coloca o significado da vida no bem e na virtude, como fim e condição para a
construção de um mundo harmônico, justo e fraterno entre todos os seres. Isto
não tem nada a ver com divindades, mesmo que não as exclua.
175. Parece que a Filosofia mais praticada hoje é a epicurista e a hedonista.
Por que? (Comportamento)
Uma vez que se derrubem as barreiras religiosas que obrigam a prática de
virtudes para que se possa conquistar a bem-aventurança eterna, isto é, quando
não se crê mais em Deus e nem na existência de uma alma imortal, o mais fácil é
se passar para o niilismo, que considera que, sem Deus, tudo é permitido. Sendo a
mente apenas uma função orgânica (como, de fato, é) o organismo é governado
pelo sistema de recompensa do cérebro: Bom é o que dá prazer e evita a dor. Daí
a busca de prazeres, sem remorsos nem culpas, que é o hedonismo. A sociedade
atual, na prática, não se importa mais com a danação eterna e com a salvação da
alma, sendo, para efeitos práticos, ateísta, mesmo que não declaradamente. Mas
isto traz um vazio de significado para a vida. Parece que a mente, pela evolução,
estruturou-se de forma a só estar inteiramente satisfeita quando acha que o con-
junto das ações que constituem a vida tem um propósito maior que só o prazer e
a fuga da dor. Isto é biológico e constatável. As religiões devem ter surgido, além

83
Ernesto von Rückert

de outras razões, para atender a isso. Mas isso pode ser atendido sem elas e não
depende da existência de Deus. O epicurismo não é um hedonismo radical. Ele
considera que o objetivo da vida é ser feliz, mas ser feliz não é ter todos os dese-
jos satisfeitos, no nível puramente sensorial. Para o epicurismo a felicidade se dá
por uma vida virtuosa e dedicada à prática do bem. Note que, para os gregos, a
virtude não é nada doloroso nem entristecedor, como Paulo de Tarso acabou in-
cutindo no pensamento cristão de considerar virtude como renúncia à felicidade
e à alegria. Virtude é fazer o bem, isto é, proporcionar a todos e a si mesmo ale-
gria e satisfação, sem provocar dor, prejuízo, mal estar, sofrimento, tristeza ou
qualquer mal a ninguém. É ter consciência do efeito de seus atos e fazê-los de
forma a maximizar a felicidade do maior número de seres. De certa forma, o epi-
curismo é uma síntese dialética do hedonismo com o estoicismo, aparentemente
contraditórios. No meu entender é assim que se deve pautar a vida, de forma a
buscar o bem, agindo com ética. Assim se obtém, de lambuja, a felicidade.
176. Qual a diferença entre teoria e hipótese? Uma teoria é uma hipótese
confirmada? (Epistemologia, Lógica)
Sim, é isso! Hipótese é uma proposta de explicação para algum fenômeno na-
tural ou social. Várias hipóteses podem ser aventadas. Então são submetidas a
testes de falseabilidade, para que sejam confirmadas ou não. Normalmente isso se
faz testando os corolários da hipótese em confronto com a realidade. Quando con-
firmada, a hipótese se torna uma teoria, isto é, um modelo de explicação da reali-
dade. Mas novos fatos, ainda não considerados, podem vir a derrubar uma teoria.
Então é preciso formular novas hipóteses, que levem em conta tais fatos e que se
reduzam à teoria anterior nos limites de sua validade, para dar conta de uma ex-
plicação mais ampla ou profunda. Testadas as hipóteses, a confirmada passa a ser
a nova teoria. Nas Ciências bem estabelecidas, como a Física, a Química e a Biolo-
gia, isso se configura em um "corte epistemológico", isto é, a nova teoria substitui
a anterior. Nas pré-ciências admitem-se a existência simultânea de teorias confli-
tantes, que constituem as "escolas de pensamento", que são intrinsecamente coe-
rentes, mas contrárias entre si. Isto se dá porque ainda não se encontrou algum
teste que permita decidir entre as propostas. É o que ocorre na Psicologia, Socio-
logia e Economia, por exemplo.
177. Quais momentos e lugares em que se deve vivenciar a felicidade estói-
ca hoje em dia? (Comportamento)
Quando se sacrifica um desejo ou um prazer em prol de um bem mais amplo
para todos. Quando se é altruísta e não egoísta. Quando se reparte o que se possui
para mitigar a carência de outros. Sempre que se dá de si sem pensar em si, o que
aparentemente seria uma infelicidade se transforma em felicidade por se estar
fazendo o bem. O egoísmo, numa primeira abordagem, parece levar à felicidade,
mas, pelo contrário, deixa a pessoa amarga, cínica, desamada e, portanto, infeliz.
Quem não tem apego e é desprendido, generoso, solidário acaba sendo mais feliz.

84
PERGUNTE.ME
Desde que isto seja sincero e não meramente um golpe de marketing.
178. Explique a afirmação de Epicuro: "todas as pessoas buscam a felicida-
de, mas em lugares errados". (Comportamento)
É porque a buscam na riqueza, no poder, nas honrarias. Lá ela não está. Só se
encontra a felicidade quando se desiste de buscá-la e se dedica a viver para fazer
o bem, sem querer recompensa. Então ela virá e a vida será venturosa, alegre e
feliz. Não se pode, também, perseguir a virtude para garantir a salvação eterna.
Esta é uma barganha egoísta. Não há eternidade nenhuma. A morte é o fim de tu-
do. Quem for cruel e egoísta, mas for esperto para não se dar mal, ficará assim
mesmo. Só não desfrutará de paz e felicidade. Como a vida é única, não se pode
desperdiçar o precioso tempo com valores equivocados.
179. Que são os valores filosóficos cínico, cético, estóico e hedonista? (Com-
portamento)
O cinismo, filosoficamente, é o desapego dos bens materiais. O ceticismo ab-
soluto é a crença na impossibilidade do conhecimento, enquanto o metodológico
é a postura de se duvidar para buscar a melhor explicação, considerada sempre
provisória. Estoicismo é postura impassível perante as adversidades. Hedonismo
é considerar o prazer como o bem supremo, enquanto eudemonismo é considerar
a felicidade como o bem supremo, entendida como a libertação do sofrimento pe-
la serenidade e moderação. O epicurismo é uma compromisso entre o hedonismo
e o eudemonismo. Em minha opinião é possível e desejável construir-se uma sín-
tese polialética dessas concepções e fazer dela uma diretriz de conduta para a vi-
da. Descarto apenas o ceticismo absoluto e o hedonismo devasso, mas não o pra-
zer saudável. Muitas religiões pregam uma conduta de privações e sofrimentos
como forma de se purificar e se aperfeiçoar para merecer a salvação eterna. Isto é
ridículo! Mesmo que haja Deus, nada indica que seja melhor o sofrimento do que
a alegria e a felicidade, mesmo para a salvação eterna.
180. Por qual motivo você acredita que Deus não exista? Acha que a religião
influencia as pessoas a acreditarem em coisas infundadas e místicas?
(Ateísmo)
À medida que a Ciência progride, cada vez mais se encontram explicações
naturais para os fenômenos, dispensando qualquer apelo a interveniências ex-
trínsecas à natureza. Isto induz a considerar que o que não tem explicação natural
é só porque ainda não foi achada. Assim se coloca, em especial, a evolução cósmi-
ca e a biológica, inclusive a biogênese a partir da matéria inanimada.
A existência do mal coloca em cheque as propriedades simultâneas de onipo-
tência e santidade divinas. O livre arbítrio é incompatível com a onisciência divi-
na. Quanto à alma imortal, inúmeros experimentos neurológicos mostram o cará-
ter orgânico da vida psíquica, descartando sua necessidade. Não estou nem falan-

85
Ernesto von Rückert

do sobre as inúmeras contradições e disparates das ditas "escrituras sagradas"


das diversas religiões, pois elas não têm nada a ver com a existência ou não de
Deus, nem de que atributos ele possua. Quanto à fé, é evidente que não é capaz de
garantir a veracidade de nada que se proponha a crer. As ditas "provas" da exis-
tência de Deus (as cinco vias de Tomás de Aquino) são todas falaciosas, como se
pode facilmente verificar (posso mostrar isso depois, uma por uma). Em suma,
não se pode provar que Deus exista e os indícios são, na maioria, em sentido con-
trário.
É claro que a existência de Deus preencheria muitos anseios humanos, inclu-
sive meus. Mas isto não garante nada. Assim, mesmo não conseguindo provar que
Deus não exista, opto por considerar que assim o seja, rendendo-me às maiores
plausibilidades.
Uma vez liberta da opressão da fé em Deus e na imortalidade da alma, a pes-
soa sente um grande alívio, mas uma grande responsabilidade, pois vê que o pre-
valecimento do bem e a erradicação do mal está nas mãos das próprias pessoas,
sem ter com quem contar, exceto umas com as outras.
Milagres, poder da oração e coisas do tipo, são, infelizmente, puras balelas.
Melhor confiar na medicina.
O ateísmo, contudo, não pode ser confundido com o niilismo, que considera
que, sem Deus, tudo é permitido. Nada disso. É preciso se manter a ética como
condição para a construção de uma sociedade justa, harmônica e fraterna para
garantir a paz e a felicidade de todas as pessoas. Assim, mesmo sem Deus, há que
se coibir o crime e a disseminação do mal e de qualquer vilania, para o bem cole-
tivo de todos.
Uma decorrência quase automática do ateísmo é o anarquismo, mas isto é
história para outra pergunta.
181. É verdade que "Só temos duas certezas na vida: a morte e o especial do
Roberto Carlos no final do ano"? (Filosofia)
Não temos certeza nenhuma. Roberto Carlos pode morrer a qualquer mo-
mento e não fazer o especial. Nossa morte é quase certa, mas, rigorosamente, não
garantida. Quem sabe algum extraterrestre nos abduza e nos torne eternos? Brin-
cadeiras à parte, a morte pode mesmo ser evitada, talvez não para nós, mas para
o futuro é uma possibilidade viável. Quanto a todo o resto das possíveis afirmati-
vas, certeza é algo extremamente difícil de ter, mormente em relação a eventos
futuros.
182. Cristo não veio à Terra para fundar um Estado, como fez o Catolicismo.
Creio que os países mais pacíficos são aqueles que respeitam a todos,
crentes e céticos. Mas não vejo que o grau de pacificidade esteja relaci-
onado com a descrença em Deus. É a índole de cada um. (Ateísmo)

86
PERGUNTE.ME
A questão é que tanto a pacificidade quanto a descrença em Deus se origi-
nam da prosperidade e do consequente nível de educação, especialmente científi-
ca e filosófica. Quanto à questão de índole, é notável como a elevação do nível
educacional do indivíduo, mesmo que inserido em um contexto de índole belico-
sa, machista, fundamentalista, racista ou que tipo de preconceito for, faz com que,
em geral, a pessoa se torne mais tolerante, mais cordata, menos fundamentalista,
mais cética e mais propensa a aceitar a possibilidade da inexistência de Deus.
183. Em nenhum momento Deus utilizou a violência para espalhar a fé. Cris-
to disse: “Ide e pregai a toda criatura até os confins da Terra”, e não
“Ide e matai toda criatura até os confins da Terra”, como o islamismo
faz. (Religião)
Concordo que Jesus Cristo tenha sido um pacifista, mas não a religião que
fundaram em nome dele. Quanto ao judaísmo, o número de vezes em que, na Bí-
blia, Deus incita seus líderes a matar é de perder de vista, contradizendo seu
quinto mandamento. No Corão, nem se fala. As pragas do Egito, a conquista de
Canaã, as cruzadas, a inquisição, o jihad e coisas assim, são páginas funestas da
história das três religiões monoteístas abrahãmicas.
184. Não é incrível que a crença no Deus Judaico-Cristão já dure seis mil
anos, mesmo em meio ao politeísmo que houve, que, aliás, teve muitas
de suas lendas tiradas do Deus judaico, como a tradição adâmica. (Reli-
gião)
O Judaismo não tem seis mil anos, mas, no máximo, três mil e quinhentos, se
se supor que a Torá foi escrita por Moisés. Mas o que se sabe é que não, mas por
rabinos no cativeiro da Babilônia, há dois mil e seiscentos anos. O Jainismo e o
Hinduísmo são, pelo menos, dois mil anos mais antigos do que o Judaísmo e tam-
bém estão presentes no mundo atual.
185. É impossível que a mediunidade seja um transe psíquico, se o médium
revela verdades de uma pessoa que ele nunca viu na vida. (Religião)
Só acredito em mediunidade se isto me for demonstrado em um experimen-
to controlado. O mesmo com possessão demoníaca e outros fenômenos que tais.
Considerar que sejam transes psíquicos não é falácia nenhuma, mas a única alter-
nativa plausível, se se exclui uma representação teatral apenas.
186. O que seria necessário pra você acreditar que Deus existe? (Religião,
Pessoal)
Isto não é uma questão de acreditar e sim de saber. Acreditar não tem signi-
ficado nenhum. Muitas pessoas acreditam e já acreditaram piamente em vários
tipos de divindade, desde as egípcias às hinduístas, passando pela mitologia gre-
co-romana, sem que tal crença pudesse garantir que elas existissem. Eu mesmo
gostaria imensamente que existisse Deus, especialmente para punir o mal, já que

87
Ernesto von Rückert

premiar o bem, para mim, não é preciso, uma vez que fazer o bem eu considero
que seja a conduta padrão, não merecedora de nenhum elogio. Também gostaria
de viver eternamente. No tempo em que acreditava em Deus eu ficava ansioso pa-
ra morrer logo, pois assim poderia ter papos eternos com Deus e aprender tudo
sobre todas as coisas. No entanto, infelizmente, nada há que garanta que exista
algum ser que se enquadre no conceito de Deus. Se existir, então tal ser (que não
precisaria ser uma pessoa) faz questão de se ocultar ao conhecimento. Para que
eu pudesse admitir a existência dessa entidade, que não se evidencia, seria preci-
so que eu encontrasse alguma ocorrência que só pudesse ser explicada pela in-
terveniência de algum agente extrínseco ao Universo, sem possibilidade nenhuma
de poder admitir explicação natural. Até hoje não tenho notícia de nada disso.
Todas as ditas "provas" da existência de Deus são falaciosas.
187. Qual o nosso lugar na perspectiva cósmica da vida? (Filosofia)
Tanto nós, como qualquer tipo de vida, em qualquer tempo e lugar, para
mim, cosmicamente falando, trata-se de um acidente, isto é, apareceu por acaso e
poderia não ter surgido.
188. Você não gostaria de ter feito um Doutorado ou PHD? (Pessoal)
Sim, e, inclusive até me apliquei, em 1984, para seleção na USP de São Carlos,
em Cosmologia e na UNICAMP, em Epistemologia. Enquanto aguardava a respos-
ta, contudo, fui convidado pelo Reitor para assumir o então Conselho de Gradua-
ção, hoje Pró-Reitoria de Ensino. Sopesando os prós e contras, adiei meu douto-
rado e assumi o cargo. Fiquei, então, no fim da fila de saída do Departamento de
Física. Ao terminar o mandato, assumi a Coordenação do Curso de Física e, de-
pois, a Chefia do Departamento de Física, a Assessoria Interna da Reitoria e a Che-
fia de Gabinete do Reitor. No fim disso tudo, já tinha tempo para me aposentar
(30 anos de magistério federal) e, àquela época, em 1996, a pressão para isto era
grande, a vista das mudanças da legislação para aposentadoria. Então desisti do
doutorado e me aposentei. Fui convidado para assumir a Vice-direção do Colégio
Anglo e lá estou até hoje.
189. O que é Ciência? Qual a sua origem? (Ciência)
Uma ciência, em particular, é um corpo sistematizado de conhecimentos ga-
rantidos a respeito de algum aspecto da realidade. Isso pressupõe um meio de ga-
rantir a validade deles e uma estrutura teórica de suporte a sua organização, in-
clusive para circunscrever o aspecto considerado. Genericamente, é o conjunto de
todos esses conhecimentos, sobre qualquer assunto. Outros conhecimentos não
sistematizados são ditos vulgares ou comuns e, mesmo que sistematizados, mas
não garantidos, são mitológicos ou pseudocientíficos. Há também conhecimentos
em processo de sistematização e validação, constituindo-se nas pré-ciências. Mui-
tos conhecimentos não científicos são, contudo, verdadeiros e úteis para a vida
apesar da falta de confiabilidade.

88
PERGUNTE.ME
A origem da Ciência está na Filosofia Grega, pois os conhecimentos de outros
povos anteriores ou de então eram eminentemente práticos. Ao longo da Antigui-
dade e da Idade Média, a Ciência esteve embutida na Filosofia. Somente no século
XIV é que se começou, muito incipientemente, a desenvolver um corpo destacado
da Filosofia. Até o Renascimento, contudo, não se poderia dizer que havia Ciência.
Copérnico, Kepler, Galileu, Descartes, Newton foram os pioneiros.
190. Qual é a metodologia da Ciência? (Epistemologia)
Dado um fenômeno, natural ou não, cabe à Ciência explicá-lo, isto é mostrar
como se dá, porque se dá e para que se dá. Isto é feito por um modelo representa-
tivo da realidade em termos de conceitos e com o uso de símbolos linguísticos,
tanto textuais, como pictóricos e matemáticos. Convertendo a realidade em sím-
bolos, há que se buscar as relações causais e os desenvolvimentos havidos. Para
tal são formuladas hipóteses explicativas. Na formulação das hipóteses faz-se uso
de raciocínio dedutivo e indutivo. O primeiro se alicerça em conhecimentos já es-
tabelecidos dos, quais, pela lógica (ou matemática) se buscam consequências. O
segundo parte da experimentação e da observação do comportamento da reali-
dade, generalizando-os para todas as situações semelhantes por meio do modelo
descritivo. Mas é preciso proceder a testes de validação do modelo. Isto é feito de
duas formas. Primeiro, a partir do modelo, geralmente induzido, deduzem-se con-
sequências e se montam experimentos ou observações para ver se a realidade se
comporta como o modelo prevê. Segundo, buscam-se ocorrências que só poderi-
am se dar se o modelo fosse verdadeiro e se procedem aos testes. Isto é, algum
modo de se poder testar se o modelo é falso. Este critério é dito de "falseabilida-
de". Ele é a única maneira de se garantir a validade de um raciocínio indutivo. En-
quanto não se achar uma ocorrência que contradiga o modelo, ele é considerado
válido.
Se alguma proposição explicativa não possuir um modo de se testar se é fal-
sa, ela não é considerada científica.
191. Na Ciência existe certeza? (Ciência, Epistemologia)
Não existe certeza na Ciência. Esta é uma de suas maiores qualidades. Todo
conhecimento científico é provisório e jamais se poderá ter garantia de que ele
seja definitivo. O conhecimento mitológico e religioso é dogmático, isto é, não
admite contestação dentro de seu próprio corpo. A Ciência sim. Sempre que no-
vos fatos discordarem dos modelos explicativos, estes precisam ser reformulados
para dar conta de explicar esses fatos.
192. Os cientistas também têm fé, quando exercem seus trabalhos? (Ciência)
Um cientista pode ter qualquer fé, mas, ao exercer seu trabalho tem que fa-
zê-lo de forma honesta, mesmo que chegue a conclusões que contrariem sua fé.
Senão não é cientista. Ele não pode procurar só fenômenos que corroborem sua fé

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Ernesto von Rückert

e descartar os que contrariem. Aliás, deve mesmo é procurar tudo que possa der-
rubar sua fé, para ficar mais firme nela ainda, ou abandoná-la. Não se pode, con-
tudo, confundir fé com crença. Não há como se evitar muitas crenças, como a da
existência do mundo objetivo fora da nossa mente. Esta, inclusive, é o pilar que
sustenta toda a Ciência. Mas crenças são proposições aceitas como verdade sem
comprovação, de modo provisório e em face de sua grande plausibilidade, mas
inteiramente abandonadas frente a contrafações da realidade. Não é o caso da fé,
que, além de não ter indícios de validade, não admite ser abandonada sem uma
ruptura com seu corpo doutrinário. Por isso considero que qualquer fé não é re-
comendável para um cientista. Crença ele pode ter, mas precisa estar disposto a
abandoná-la.
193. Viver é preciso? (Comportamento)
Claro que não, mas, se já se está vivo, e isto é algo tão precioso e singular, é
uma grande idiotice não aproveitar desta chance para fruir o máximo da existên-
cia, pois isso é tudo o que se tem. Nada de vida eterna. Mas isso não significa he-
donismo desenfreado e busca frenética por prazeres dissolutos. O epicurismo é
um hedonismo que considera a felicidade o supremo bem, mas que ela só se atin-
ge com a moderação, a simplicidade e a virtude. Viver plenamente é fazer o bem
plenamente e assim poder ter o maior proveito da existência. Se se fizer uma sín-
tese polialética entre epicurismo, eudemonismo, hedonismo, estoicismo, cinismo
(o filosófico, de Diógenes), ceticismo (o metodológico), ateísmo (o cético) e anar-
quismo (o pacifista), ter-se-á a pessoa humana completa e integral. O verdadeiro
"übermensch", não aquele do Nietzsche, pois não acho que a "vontade de potên-
cia" seja algo nobre e desejável. Viver assertivamente, sem prepotência nem hu-
mildade é o ideal. Não quero falar de Nietzsche agora, pois dele discordo e com
ele concordo nisso ou naquilo. O mesmo se dá em relação a Freud, Marx, Jesus ou
Buddha.
194. Qual a sua opinião sobre o LHC (acelerador de partículas)? (Física,
Quântica, Sociologia, Educação)
Certamente que é um formidável equipamento que possibilitará examinar
muitas questões colocadas pelas teorias de partículas. Considero, contudo, que a
humanidade ainda tem muitos problemas para resolver que poderiam merecer
todo o dinheiro que lá foi aplicado. Saber se existe o bóson de Higgs, por enquan-
to, não é essencial e poderia ser deixado para o futuro. Sou um físico teórico e
acho importante conhecer a natureza profunda do Universo e de seu conteúdo.
Mas acho que não é preciso tanta pressa e nem se justifica tanto dinheiro gasto
nisso enquanto muitos morrem de fome, de doenças e das guerras idiotas. O
mesmo digo dos grandes telescópios e das missões espaciais. Há muita vaidade
no meio científico e muitos só querem saber de viagens de graça para apresentar
trabalhos que não são realmente relevantes. Os verdadeiros gênios da Ciência
publicam poucos trabalhos, mas de grande relevância. A maioria publica só para

90
PERGUNTE.ME
fazer número e melhorar o currículo. Melhor seria que lecionassem também, para
acabar mais depressa com o analfabetismo científico das multidões. Poderiam
formar bons professores nas licenciaturas, sempre relegadas ao ostracismo dian-
te dos bacharelados, como patinhos feios das boas universidades. Assim só as pi-
ores acabam formando professores do Ensino Básico, sem bons conhecimentos e
sem aquele deslumbramento e entusiasmo pela Ciência que cativa os alunos e
lhes colocam conceitos sólidos para toda a vida e não apenas ensinam macetes
para o vestibular.
195. Gosta de Marcelo Gleiser? Já leu algum livro dele? Se já, qual indica?
(Ciência, Educação)
Gosto do Marcelo Gleiser sim e tenho todos os livros dele, já tendo lido a
maioria. Todavia preciso dizer que ele não é muito rigoroso nos conceitos e, às
vezes, diz alguma besteira. Isto não o desmerece como divulgador científico, mas
é preciso que a pessoa, a partir dele, busque outras fontes complementares, para
ter outros pontos de vista. O mesmo se dá com o Stephen Hawking. É perigoso se
ater a um único autor. Uma boa fonte de consulta é a Wikipedia, mas em inglês. Se
quer ter uma ordem de prioridade de leitura dos livros do Gleiser, eu indico a se-
guinte:
A Dança do Universo
Criação Imperfeita
Cartas a um Jovem Cientista
Poeira das Estrelas
Entendendo Darwin
Mundos Invisíveis
O Fim da Terra e do Céu
Retalhos Cósmicos
Micro Macro
Micro Macro2
A Harmonia do Mundo
196. Qual o critério da evolução? E qual é o objetivo máximo dela? (Evolu-
ção)
A evolução não tem objetivo nenhum. Seu critério é o da seleção do orga-
nismo mais apto ao ambiente no lugar e no momento. Isso inclui o ambiente in-
terno, dos parasitas, principalmente. Ao se reproduzir, sexualmente ou não, um
organismo pode produzir transcrições imperfeitas dos genes por vários motivos,
o que se chama "mutação". Elas são aleatórias e não seguem nenhuma programa-
ção. Podem ocorrer em porções não gênicas do DNA ou em genes. Quando isto se
dá, a maioria impede o nascimento do ser. Se não for o caso, o descendente diferi-
rá dos pais em algum aspecto, que poderá vir a ser prejudicial ou favorável ao
melhor sucesso adaptativo ao ambiente e, portanto, favorecerá o prolongamento
da vida e a geração de maior prole. Com o tempo esses mutantes serão os predo-

91
Ernesto von Rückert

minantes. Normalmente uma mutação, seguida de seleção, não caracteriza outra


espécie, mas evoluções sequenciais, ao longo de gerações, podem vir a constituir
em nova espécie. Às vezes, uma só mutação pode definir outra espécie. Evolução
não significa progresso, mas apenas mudança que melhor se adapta ao local e ao
momento. Todos os seres hoje existentes na Terra são igualmente evoluídos, pois
estão bem adaptados a seus ambientes atuais. Assim o homem não é mais evoluí-
do do que uma formiga ou uma bactéria. Só é diferente. E nem é o mais bem adap-
tado, além de, é claro, não ser o ápice da evolução, pois ela prosseguirá, além dele,
para vários outros, do mesmo modo que muitas outras espécies também evolui-
rão, no futuro. Isto tudo se dá de forma inteiramente imprevisível e não planeja-
da, sem nenhum objetivo nem razão de ser nenhuma. A própria existência da vida
e do Universo não possuem razão nem propósito.
197. Seria ainda idiotice escolher não viver se os dias se desenrolam como
uma carga sob os ombros, decepção após decepção, estando comple-
tamente isentos de esperança? (Comportamento, Aconselhamento)
Sim, seria uma grande idiotice. Sempre se pode tomar uma decisão e mudar
completamente a vida, sem precisar se suicidar. Se não se consegue, nem com
uma drástica e escandalosa ruptura, mudar as condições de vida, pode-se aban-
donar tudo e começar nova vida do zero, como mendigo mesmo. Se se tem garra e
confiança no próprio “taco”, além de disposição para o trabalho, vai-se vencer.
Esperança não é uma virtude, confiança sim. Esperança é supor que algo vai acon-
tecer e resolver os problemas. Não vai! Confiança é a crença de que a própria pes-
soa resolverá seus problemas, por seu esforço e atitudes. Deus não ajuda, mas ou-
tras pessoas podem ajudar, se souberem o que se passa. Suicídio é um recurso
muito extremo.
198. O melhor livro para deixar os cristãos enojadas de sua religião seria a
Bíblia, lida de forma crítica. Concorda? (Religião)
Certamente. Todavia, como roteiro escrito por quem já fez isto, recomendo,
antes de tudo, uma visita ao site:
http://www.bibliadocetico.net.
Recomendo, também, os livros:
Bart D. Ehrman - O problema com Deus,
Bart D. Ehrman - O que Jesus disse? O que Jesus não disse?
Bart D. Ehrman – Quem Jesus foi, quem Jesus não foi?
Colocando o texto "contradições da bíblia" no Google, se achará muitos sites
a respeito, inclusive que contestam que sejam contradições.
Certamente que é bom para cristãos, não cristãos, agnósticos e ateus que leiam a
Bíblia de capa a capa, do mesmo modo que o Corão e os livros de Allan Kardec. É
interessante conhecer, também, os Vedas, especialmente o Bhagavad Gita (parte
do Mahabharata) e os, sobre doutrina hinduísta, bem como o Vinaya Pitaka, oSut-

92
PERGUNTE.ME
ta Pitaka e o Abhidharma Pitaka, sobre a Filosofia do budismo. O Zoroastrismo é
outra religião que vale a pena conhecer por sua influência sobre as religiões
abrahãmicas. Sua doutrina encontra-se nos Avestas. Tais livros podem ser encon-
trados para serem baixados, gratuitamente, na internet.
Todavia nenhum dos textos dessas religiões é tão terrível quanto a Bíblia.
Nem o Corão.
199. A evolução não busca ficar cada vez mais complexa? (Evolução)
Não, de forma alguma. Evolução é só mudança, não necessariamente para
uma complexidade maior. O que acontece é que, geralmente a mudança se dá por
acréscimo de funcionalidades e sistemas, mantendo o que se tinha antes, então
aumentando a complexidade. Mas isto não é necessário para se ter evolução. Pode
haver redução de complexidade. Por outro lado, em geral, complexidade repre-
senta maior leque de possibilidades, geralmente refletindo em melhor adaptação
e, portanto, seleção. É importante frisar que a evolução não "busca" nada. Nem
precisa acontecer. Acontece por acaso. O acaso é o fator nas mutações, mas não na
seleção, que se dá em função de algo pré-existente, que é o ambiente externo e
interno ao organismo. Todavia, pode-se dizer que sua configuração se deu por
uma conjunção sucessiva de inúmeros acasos. O acaso não determina nada, mas é
capaz de qualquer coisa.
200. Se a evolução não tem objetivo, por que os seres vivos têm instinto de
sobrevivência? Aonde ela quer chegar? (Evolução)
Uma coisa não tem nada a ver com a outra. Cada ser vivo surgiu pela evolu-
ção de um anterior que o produziu sem que objetivasse fazê-lo. Por isso digo que
a "evolução" não tem objetivo. Todavia, todos os seres vivos, desde que surgiram
as moléculas replicantes, só permanecem como uma espécie se conseguirem vi-
ver até a idade reprodutiva. Assim, o fato de procurarem sobreviver é fator de su-
cesso para a existência da espécie e isto fará que sejam selecionados indivíduos
com mais chance de sobrevivência, garantindo a existência da espécie. Caso con-
trário não haverá a espécie e a evolução de que falamos é a das espécies e não dos
indivíduos. A seleção, pois, mesmo não tendo esse objetivo, pois não há razão te-
leológica (não confundir com teológica) na Biologia, privilegia quem consegue
sobreviver até a idade reprodutiva (aliás, isso é que é a seleção natural). A evolu-
ção não quer chegar a lugar nenhum. Simplesmente vai acontecendo e não se sa-
be em que vai dar. Isso é o que se verifica na evolução de cepas de microorganis-
mos, observada diuturnamente nos microscópios.
201. O natural é descendente de algo que não é natural, nos termos atuais?
Como a vida surgiu a partir de algo não vivo? (Evolução)
Sim. Os seres vivos atuais descendem de outros seres vivos até o primeiro,
que surgiu da matéria não viva. Pode ser que isso esteja acontecendo hoje em dia

93
Ernesto von Rückert

nas fumarolas submarinas. Para tal são necessárias condições especiais, não en-
contradas na superfície da Terra atualmente, mas sim nos primórdios do planeta.
Isto é, não há geração espontânea dos seres vivos hoje existentes. Mas houve dos
primeiros. A Teoria da Evolução não trata disso, que é estudado pelas hipóteses
sobre a origem da vida. Ainda não há uma teoria fechada a respeito, havendo al-
gumas hipóteses abiogenéticas, como a de Oparin-Haldane, Cairns-Smith,
Wächtershäuser, Gilbert, e outras, modernamente mais aceitas.
O surgimento da vida é um evento extremamente singular. Para sua ocor-
rência, muitos fatores astronômicos, geológicos, físicos e químicos precisam coin-
cidir de estar ajustados. Os fatos de o Sol ser uma estrela que irradia principal-
mente na parte visível do espectro eletromagnético (pouca luz ultravioleta e raios
X, mas não zero), de que a Terra se situa dentro da faixa de habitabilidade de dis-
tância ao Sol (não muito quente nem muito fria), de ter uma dimensão compatível
com sua estrutura metálica, de ter a inclinação adequada do eixo capaz de produ-
zir estações, de ter o período de rotação que permita a existência de dias e noites
de duração adequada, a presença da Lua para causar marés e tectônica de placas
(que, inclusive, são responsáveis pelo surgimento de oceanos e continentes), de
haver elementos biogenéticos disponíveis, como o carbono, oxigênio, hidrogênio,
nitrogênio, enxofre e fósforo, de possuir uma pressão atmosférica nem grande
nem pequena, de possuir um campo gravitacional nem grande nem pequeno, de
ter passado por estágios de temperatura adequada à formação dos compostos bá-
sicos da vida (água, gás carbônico, metano e amônia, além dos gases hidrogênio e
nitrogênio – o oxigênio surgiu depois da vida) e muitos outros são condicionantes
necessários ao surgimento da vida.
Para um apanhado mais extenso, veja-se este artigo:
http://pt.Wikipedia.org/wiki/Origem_da_vida.
202. Se evoluir é estar mais bem adaptado ao ambiente, podemos dizer sim
que estamos mais evoluídos que vários animais, pois com a ajuda da
nossa tecnologia podemos viver em praticamente qualquer lugar da fa-
ce da Terra. (Evolução)
Realmente somos capazes dessa proeza, mas não só nós. Há inúmeras bacté-
rias, liquens, insetos, fungos e outros seres que também vivem em variadas con-
dições. Se o critério de mais evoluído for o número de espécies ancestrais de cada
uma das atuais, as bactérias ganham de longe, pois a todo dia surgem novas espé-
cies a partir das que estão aí e todas elas, hoje, têm uma ancestralidade imensa-
mente mais numerosa do que nós.
203. Qual é a coisa para a qual você é realmente ruim? (Pessoal)
Futebol, Esportes, Comércio, Negócios, Relações Públicas, Política, Finanças,
Economia, Agropecuária, Medicina. Só me daria bem nas Ciências, nas Artes e na
Filosofia. Sou um intelectual eminentemente teórico. Não nenhum espírito práti-

94
PERGUNTE.ME
co. Além disso, sou muito “preto no branco”, isto é, não tenho o “Jogo de Cintura”
que certas atividades requerem.
204. O que você comeu no café da manhã de hoje? (Pessoal)
Iogurte natural desnatado, granola e banana. É o que geralmente como, vari-
ando a fruta. Também tomo chá com leite, torradas ou biscoitos e queijo. Como
sou diabético, não uso açúcar, apesar de adorar doces (por isso fiquei diabético).
205. A Física Quântica apóia o ceticismo? O ser humano é agnóstico por na-
tureza, mas mesmo sendo eu um fortiano, receio pelas falácias que
perduram até hoje. (Epistemologia, Quântica)
Ceticismo é uma postura metodológica científica geral, para qualquer Ciên-
cia. Toda teoria é provisória. Sempre é preciso ficar testando se não aparece al-
gum fato que a contradiga. Metodicamente cientistas refazem experimentos e
elaboram novos para tentar derrubar as teorias. Procuram consequências teóri-
cas que possam ser testadas experimentalmente para confirmar ou não a teoria.
Isto é ceticismo. Faz parte do método científico e é um dos maiores valores da Ci-
ência. A Física Quântica contém várias teorias, cada qual ainda válida em seu do-
mínio de aplicabilidade: Mecânica Quântica não Relativística, Mecânica Quântica
Relativística, Eletrodinâmica Quântica, Ótica Quântica, Teoria da Matéria Conden-
sada, Teoria Quântica de Campos, Cromodinâmica Quântica, Teoria da Grande
Unificação, Teorias Supersimétricas e outras. Algumas ainda estão sob a forma de
hipóteses, como a Teoria Quântica do Laço Gravitacional, a Teoria das Supercor-
das, a Teoria das P-branas e a Teoria M, entre outras.
Não acho que o ser humano seja agnóstico por natureza. Pelo contrário, pa-
rece haver uma tendência natural para a crença em divindades e elementais. Isto
só pode ser eliminado por uma educação científica que mostre o valor do ceticis-
mo. A concepção fortiana é um exemplo dessa tendência. Realmente todos os fe-
nômenos não usuais que se pode apreciar podem ter uma explicação puramente
natural. Isto também vale para as ocorrências de avistamentos de supostos seres
e naves extraterrestres.
206. O maior problema que enfrento nos debates sobre a existência divina,
tentando argumentar epistemologicamente, é a convicção absoluta que
muitos teístas têm. O que fazer? (Dialética)
Sim, apesar da pretensão de serem científicos, como o William Craig, partem
do pressuposto da existência de Deus e, então, buscam prová-la, sem êxito, con-
tudo. Penso que o grande problema para que aceitem partir da hipótese da não
existência de Deus e, então, tentar prová-la, como deve ser feito, já que ela não é
evidente, é o medo de ir para o inferno agindo assim, se as doutrinas em que crê-
em forem verdadeiras. A mudança da crença para a descrença é uma ruptura ra-
dical da cosmovisão que possuem e traz grande angústia enquanto não se resolve.

95
Ernesto von Rückert

O que se pode fazer é apresentar argumentos convincentes e esperar que façam


efeito, sem pressionar nem ofender, respeitando toda crença, mesmo equivocada,
pois tratam-se de pessoas a quem se deve consideração, exceto no caso dos que
se locupletam com a fé alheia.
207. Teria algum palpite para o "principio da gênese"? Andei pensando em
algo cíclico ultimamente, ou em um Universo que sempre existiu. Apos-
to que o complexo provém do simples, digamos assim. (Cosmologia)
Para mim o Universo (espaço, tempo e conteúdo) surgiu no Big Bang sem ser
proveniente de nada antecedente, sem causa, sem razão, sem propósito e sem
planejamento. Não há como provar isto, contudo. Poderia ser cíclico, mas também
não se tem dados para provar. O complexo vem do simples mesmo. A ordem loca-
lizada se dá à custa de uma desordem global maior.
208. A visão e a audição asseguram aos homens alguma verdade? (Episte-
mologia, Lógica)
Nenhum sentido é capaz de garantir que o que se percebe seja o que aquilo
é, em si mesmo. Em verdade, isso é algo sem definição precisa e, até, impossível
de se saber. Tudo o que se tem de informação do mundo é o que os sentidos apre-
endem e o que a razão conclui. Por exemplo, posso dizer que estou vendo uma bo-
la à minha frente, que ela é vermelha, que é esférica, que está a dois metros de
mim, que tem 20 centímetros de diâmetro, que é de borracha, cheia de ar e assim
por diante. Mas posso dizer que se trata de um conglomerado de quarks e léptons
de certa forma dispostos que é capaz de absorver parte dos fótons que sobre ele
incide e devolver outra parte que excita os cones de minha retina de uma forma
que meu cérebro percebe como a cor vermelha e assim por diante. Qual dessas
descrições é a realidade em si mesma? Ambas! Depende do nível epistemológico
que se está considerando. Defina água! Dizer que é H2O é só uma parte do concei-
to. A textura, o frescor, o som do borbulho, os reflexos, as sensações que sua con-
templação transmite, e muito mais, fazem parte do entendimento do que seja
água.
Além disso, existem as ilusões de percepção, pois ela não se deve só ao que
os sentidos captam, mas, principalmente, à interpretação que o cérebro faz, em
razão de todas as vivências anteriores e dos conceitos que se tem. Quem acredita
em fantasmas os vê em qualquer sombra e qualquer ruído. Objetividade, isto é,
descrição independente do sujeito, é algo difícil de ter. O máximo que se pode
chegar perto é quando se tem uma concordância entre impressões subjetivas.
209. Qual é a coisa para a qual você é realmente bom? (Pessoal)
Academicamente: Física e Matemática. A partir daí, em ordem decrescente,
acho que sou razoavelmente bom em Português, Filosofia, Cosmologia, Estatísti-
ca, Desenho, Pintura, Informática, Música, Religião, Didática, Retórica, Dialética,

96
PERGUNTE.ME
Biologia e História. Também tenho algum conhecimento de Geografia, Astrono-
mia, Geologia, Psicologia, Engenharia, Arquitetura, Cinema e Química. Não enten-
do quase nada de Direito, Medicina, Administração, Economia, Negócios, Dança e
Esportes. Quanto a idiomas, tenho um bom conhecimento de Inglês, mais ou me-
nos de Francês e um pouco de Italiano e Espanhol. Apesar de minha ancestralida-
de austríaca, não sei alemão.
Também escrevo bem ensaios, crônicas e poesias e pinto quadros. Canto no
estilo lírico, toco um pouco de piano e componho música para piano, em nível de
bagatelas.
Quanto a conhecimentos práticos, dou conta de serviços de eletricidade, hi-
dráulica, marcenaria e um pouco de jardinagem. Mas não sei cozinhar, costurar
nem tricotar.
Por outro lado, sou péssimo para negócios, comércio, empreendimentos,
agropecuária, finanças, política, relações públicas e tudo o que for ligado a dinhei-
ro, que é algo que, absolutamente, não sei ganhar, pois gosto mais de trabalhar de
graça.
210. Se você concorda com Sócrates que os sentidos nos confundem e não
nos garantem a verdade, como então quer aferir a existência ou não do
sobrenatural por meio deles? (Epistemologia)
Os sentidos não nos garantem a verdade, mas a razão também não. A busca
da verdade, contudo, mesmo que conduzida pela razão, só pode ser conferida pela
constatação empírica, isto é, sensorial, devidamente interpretada pela razão. Isto
não é garantia, mas é o máximo que se tem. A razão sozinha pode levar a absur-
dos, como o caso da “Caverna de Platão”. O conhecimento se faz por aproxima-
ções da verdade, conduzidas por um diálogo entre a razão e os sentidos. Nunca,
porém, se pode dizer que se possui, absolutamente, a verdade.
O sobrenatural não é evidente nem percebido diretamente pelos sentidos.
Nem pelo critério de objetividade como subjetividades concordantes. Assim, a hi-
pótese apriorística é de que não exista. Isto não significa que não exista, mas que
só se possa garantir sua existência por comprovações indiretas, com base em ra-
ciocínios que se fundamentem em evidências sensoriais devidamente comprova-
das pelo cotejo entre vários sujeitos e depuradas por uma analise criteriosa de
possíveis ilusões sensoriais. É preciso buscar alguma ocorrência cuja explicação
só possa ser feita considerando a existência do sobrenatural e, então, fazer o teste
de sua validade. Não me consta que exista nenhum caso desse tipo. Toda e qual-
quer ocorrência pode ser atribuída a fatos naturais, quando não são fraudes des-
caradas. Mesmo que não se tenha uma explicação cabal, não se tem caso nenhum
que exclua a possibilidade de explicação natural ainda não achada, isto é, que só
admita explicação sobrenatural. Se houver, quero ter conhecimento, para me in-
teirar dos relatos dos experimentos realizados e contestar sua explicação sobre-

97
Ernesto von Rückert

natural. Note-se que explicações fantásticas requerem comprovações fantásticas.


Quando digo que os sentidos podem enganar, digo que isto se dá para cada pes-
soa. No cotejo de várias e na depuração criteriosa das possíveis ilusões, pode-se
tirar uma validação da veritabilidade por evidência.
211. É possível o espaço-tempo se retrair? Algo que seria como o inverso do
Big Bang? (Cosmologia)
Sim, é possível, claro. Do mesmo modo que há uma expansão, pode haver
uma contração. São soluções da Equação de Einstein para o Universo. Só não pode
ser estacionário, exceto se houver outros ingredientes, como o surgimento uni-
forme e constante de conteúdo substancial (matéria, radiação e campos), ou a
presença de outro campo encurvador da geometria, além da gravitação, como se-
ria o caso da, impropriamente denominada, "Energia Escura". Uma das soluções
da Equação de Einstein, sem energia escura, é a de um Universo que oscila em ci-
clos entre um Big Bang e um Big Crunsh. Isto depende dos valores da velocidade
da expansão e da densidade de massa-energia, que provoca o freiamento. Recen-
tes medidas, contudo, indicam que a expansão não terá limite.
212. Tem quem aposte na teoria das cordas, associando-a com o principio
da gênese. Você é humanista secular? (Cosmologia, Pessoal)
Tenho reservas em relação à teoria das cordas, das branas e a teoria M. Acho
que o Universo é mesmo único e não existe unificação das interações com a gravi-
tação, que é só um efeito da curvatura e torção do espaço-tempo, não sendo inte-
ração. Posso estar enganado, contudo.
Considero-me, sim, um livre pensador humanista secular. Porém sou arredio
a qualquer rotulação, pois posso discordar de alguma característica desta ou da-
quela posição. Tendo isso em vista, posso dizer que, além disso, sou cético, ateís-
ta, anarquista, empirista, fisicalista (antigamente chamado de materialista), cínico
(no sentido grego primitivo), estóico-epicurista (dialeticamente sintetizado), po-
liamorista. Tenho uma proposta filosófica que posso chamar de "Filosofia Cientí-
fica" em que os temas filosóficos seriam tratados por métodos científicos.
213. Por que a maioria das pessoas responde "sei lá"? (Comportamento)
Porque têm preguiça mental de pensar a resposta e porque não são continu-
amente observadoras da realidade e nem estudiosas, para terem uma bagagem de
conhecimentos teóricos e vivenciais a fim de dar uma resposta adequada. Ou en-
tão, se souberem, porque não querem se comprometer e assumir posturas condi-
zentes com suas concepções, para que isto não seja motivo de incômodos ou pre-
juízos. Em suma, são ignorantes, mentecaptas, inseguras ou pusilânimes.
214. Suicídio é a solução? (Comportamento)
Pode ser, num caso extremíssimo. Para uma pessoa filosófica, que viva uma

98
PERGUNTE.ME
síntese polialética estoico-epicuro-cínico-hedonista-eudemonista, é sempre pos-
sível libertar-se de tudo e começar do zero, mesmo que se esteja preso ou doente.
Se se atinge um estágio de iluminação e paz, nada pode perturbar, nem a pobreza,
nem o desprezo. Todavia há situações de extrema dor, sem possibilidade de re-
versão, que podem levar a concluir-se pelo suicídio como solução preferível, e,
então, que se o faça. Mas, repito, só depois de uma profunda ponderação e estudo
de outras possibilidades. Pois a morte é irreversível e um suicídio eficaz leva à
morte. O que é abjeto é a "tentativa de suicídio" propositalmente levada a cabo
para ser ineficaz, a fim de provocar piedade e compaixão. Se se pretende suicidar,
que se o faça bem feito. Contudo não recomendo, mesmo em casos de gravíssimos
estados de falência econômica, afetiva ou existencial. É preferível ser preso ou
abandonado pelos entes queridos e amigos. Nestes casos ainda é possível reer-
guer-se das cinzas e começar nova vida do zero.
215. Por que se diz que a expansão não terá limite? O Universo é finito e a
energia contida nele também. E se ele se expandir muito, ficará com a
energia tão dispersa que se estagnará, não? (Cosmologia)
Não se sabe se o Universo é finito ou infinito. Provavelmente seja infinito,
segundo os dados mais recentes. Se assim o for, sua energia pode ser infinita, a
não ser que seja nula, o que é uma possibilidade, uma vez que a energia gravitaci-
onal é negativa e a energia das massas de repouso, bem como a cinética e positi-
va. De qualquer modo, realmente, se a expansão for indefinida, haverá um mo-
mento em que todos os sistemas estarão em seu nível mais baixo de energia e a
entropia global terá atingido seu máximo valor. A partir daí nenhuma alteração
do estado do Universo poderá ocorrer e o tempo deixará de passar. Isto é a "Mor-
te Térmica" do Universo, que seria atingida assintoticamente num prazo de al-
guns trilhões de anos. Veja este artigo e seus links:
http://en.Wikipedia.org/wiki/Ultimate_fate_of_the_universe
216. Como surgiu a vida? Poderia me explicar a abiogênese? Ainda não en-
tendi como ela ocorreu. (Evolução)
Ainda não se tem uma explicação cabal sobre a origem inorgânica da vida,
mas há proposições plausíveis. Note-se que isto não tem nada a ver com a Teoria
da Evolução, que considera a evolução de uma espécie já existente para outra. O
surgimento do primeiro ser vivo é objeto de muitas conjecturas. Primeiramente é
preciso considerar que as condições ambientais têm que ser extremamente favo-
ráveis, como o eram na Terra primitiva, mas não o são mais hoje, exceto, possi-
velmente, nas fumarolas submarinas. O esfriamento da Terra a partir da massa
ígnea primordial deu azo à formação de moléculas inorgânicas essenciais para a
vida, como a água, o monóxido e o dióxido de carbono, a amônia, o metano e ou-
tras. A presença desses compostos na água sujeita a descargas elétricas atmosfé-
ricas leva à produção de aminoácidos, lipídeos, açúcares, bases nitrogenadas e

99
Ernesto von Rückert

outros compostos orgânicos a partir dessas moléculas inorgânicas. Segundo a hi-


pótese de Oparin-Haldane, glóbulos de lipídeos em suspensão na água criam uma
membrana isoladora que permite a ocorrência interna de combinações químicas
que podem ficar preservadas. Nesse estágio já pode ocorrer a seleção natural.
Dois fenômenos surgem então, metabolismo e replicação. Metabolismo é geração
de energia, replicação e a formação de outro glóbulo com as mesmas estruturas.
Para isto tem que haver um meio de transmitir a informação.
Segundo a Wikipedia, em ambiente aquoso, compostos orgânicos teriam so-
frido reações que iam levando a níveis crescentes de complexidade molecular,
eventualmente formando agregados , ou . Esses coacervados seriam aptos a se
"alimentar" rudimentarmente de outros compostos orgânicos presentes no ambi-
ente, de forma similar a um metabolismo primitivo. Os coacervados não eram
ainda organismos vivos, mas ao se formarem em enormes quantidades, e se cho-
carem no meio aquoso durante um tempo muito longo, eventualmente atingiriam
um nível de organização que desse a propriedade de replicação. Surgiria aí uma
forma de vida extremamente primitiva.
Os oceanos primordiais funcionariam como um imenso laboratório químico,
alimentado por energia solar. Na atmosfera, os gases e a radiação ultravioleta ori-
ginariam compostos orgânicos, e no mar se formaria, então, uma sopa quente de
enormes quantidades de monômeros e polímeros. Grupos deles adquiririam
membranas lipídicas, e desenvolvimentos posteriores eventualmente levariam às
primeiras células vivas.
217. Agradeço sua resposta sobre Arte. Talvez eu esteja sendo redundante,
mas meu problema é relativo ao macaco e à universalização. São dúvi-
das de um diletante. No que concerne ao macaco, o processo criador. E
no que é referente a universalização, à apreciação? (Arte)
Esta é a questão dos dois pontos de vista da arte: do produtor e do aprecia-
dor. Note que arte é um produto artificial e não algo engendrado espontaneamen-
te pela natureza. Do ponto de vista do produtor, isto é, do artista, é preciso haver
a intenção artística ao elaborar a obra de arte, o que não acontece com o quadro
pintado pelo macaco, que, por este ponto de vista, não é arte. Contudo, do ponto
de vista do apreciador, arte é algo produzido artificialmente que provoque um
prazer estético em sua apreciação, isto é, que produza sentimentos de admiração
e de agrado na contemplação. Este agrado pode ser sensorial ou intelectual. Neste
caso a obra do macaco pode ser artística. Todavia uma paisagem natural, por
mais bela e agradável que seja, não é artística, pois não é um produto artificial.
Assim também, um objeto puramente utilitário, como um automóvel, mesmo que
produzido sem intenção artística, pode constituir-se em uma obra de arte. É claro
que um objeto utilitário também pode ter tido uma intenção artística em sua ela-
boração. Mas a arte, em si mesma, não tem intenção utilitária nem tampouco a de
comunicar alguma mensagem ideológica ou ética, mesmo que assim o faça, mas

100
PERGUNTE.ME
este não é o seu caráter estético. Uma obra que comunique uma mensagem eti-
camente negativa pode ser esteticamente positiva.
218. Físico e não-físico. Eis uma dicotomia fisicalista. No não-físico estão os
conceitos (abstrações da mente) para explicar as coisas. Mas a "reali-
dade concreta", que você comentou, é um playground teológico: mente
nenhuma ou mente inteligente (Deus)? (Metafísica)
A questão das categorias de realidades não é simples. Denomino "Realidade
Concreta" à dos seres que têm existência independente de mentes que os conce-
bam. Note que "concreto" não está significando material, mas independente de
qualquer mente, ou seja, em si mesmo. Isto supõe que exista um mundo objetivo
fora das mentes, o que não pode ser provado, mas pode ser aceito, pela grande
plausibilidade. Nesta categoria encontram-se os seres: naturais ou físicos, tanto
vivos quanto inanimados, e os sobrenaturais, se existirem, o que não considero.
Mas não se incluem entidades puramente conceituais, cuja existência só se encon-
tra nas mentes que as concebam, mesmo que haja um consenso entre mentes com
relação a seu conceito, uma vez que elas não existiriam se não houver pelo menos
uma mente a concebê-las.
A categoria das idéias é outra realidade. Trata-se de entidades concebidas
pelas mentes, podendo ou não ter existência objetiva na realidade concreta. Inclui
também, além de entes, valores, ações, juízos, qualidades, modos, sentimentos,
emoções, normas, leis e outras abstrações, como números, figuras geométricas,
notas musicais, cores e assim por diante. Uma idéia só existe em um sujeito pen-
sante.
Se uma idéia for compartilhada, com o mesmo significado, por uma coletivi-
dade de mentes, ela adquire uma objetividade não concreta, constituindo-se em
outras categorias de realidades, como as axiológicas (dos valores, como bondade,
beleza, preço etc.), as abstrações puras, como os números, figuras geométricas,
notas musicais, elementos químicos e outras generalizações, como matéria, radia-
ção, campo de força, sociedade, países, nações, leis, normas...
A noção mais genérica possível é a de "algo", que abrange tudo o que possa
ser concebido. Já "ente" é algo que possa ter uma realidade substancial ou institu-
cional, isto é, que seja feito de algum constituinte, material ou não, ou ainda al-
guma espécie de estrutura ou organização coletiva. “Ser”, no meu entendimento, é
o ente que, de fato, existe concretamente no mundo físico ou sobrenatural. Valo-
res, ações, juízos, qualidades, modos, sentimentos, emoções, normas não são en-
tes. Coisa é um ente substancial desprovido de mente e objeto é um ser substan-
cial com extensão espacial. Uma coisa pode não existir, mas um objeto sempre
existe.
Quanto à mente, trata-se de uma ocorrência advinda do funcionamento do
sistema nervoso, especialmente do cérebro, mas também do sistema endócrino,

101
Ernesto von Rückert

dos órgãos dos sentidos, das vísceras e de todo o organismo. Dentre os atributos
da mente podem-se citar a memória, a inteligência, a associação, o raciocínio, as
emoções, os sentimentos, a imaginação, a volição, a consciência, o juízo e outros.
O indivíduo vivo possuidor de uma mente também terá características idiossin-
cráticas associadas à mente, como senciência, percepção e temperamento, confi-
gurando-se em um sujeito. Se, além disto, ele tiver consciência, personalidade e
caráter, tratar-se-á de uma pessoa. Toda mente é propriedade exclusiva de um
sujeito ou uma pessoa, que são indivíduos, mas nem todo indivíduo é um sujeito e
nem todo sujeito é uma pessoa. Não existe mente coletiva transsubjetiva, isto é,
compartilhada por vários sujeitos ou pessoas. Tampouco nenhum tipo de “cons-
ciência cósmica”. Se houver Deus e se tratar de uma pessoa, terá uma mente que
lhe será própria e exclusiva.
A concepção de que a realidade concreta seja uma projeção da realidade das
idéias de alguma mente, ou da mente divina não procede. As idéias é que são ge-
radas pelas impressões que os seres reais causam na mente. A partir delas pode a
mente gestar novas concepções, por associação, não correspondentes a nada do
mundo exterior. Assim a objetividade de alguma idéia é um produto da comuni-
cação entre mentes, por meio de linguagens. Mas elas não têm existência por si
mesmas.
219. Universo infinito? Mas se ele tá em expansão, como pode ser infinito?
(cosmologia)
Claro que pode! A expansão cósmica não significa um aumento do tamanho
do Universo e sim um inchamento do espaço, isto é, da separação entre pontos,
sem que eles se movam. Isto não fará com que o Universo seja maior do que infi-
nito. Se ele já o é, continuará a sê-lo, pois qualquer múltiplo de infinito continua
sendo infinito.
220. Pra você que se diz ateu, quem você acha que inventou o doritos? (Ate-
ísmo, Cosmologia)
O fato de que haja algum agente para inventar qualquer artefato não implica
que seja necessário um agente para criar o Universo, pois este é natural e não ar-
tificial. Coisas naturais podem surgir sem terem sido criadas, mas as artificiais
precisam de um elaborador. Uma diferença é que as coisas naturais são formadas
por deposição (as inorgânicas) ou crescimento de dentro para fora (as orgânicas).
As artificiais são "montadas" por um agente construtor e planejador. Coisas natu-
rais surgem sem projeto, sem propósito, sem motivo e sem causa. No caso, o Uni-
verso, que foi a primeira coisa a surgir, sem ter do que provir. Não há impedimen-
to lógico, nem ontológico, nem epistemológico e nem fenomenológico para que
assim aconteça. Mas pode ser que tenha havido um agente extrínseco criador, só
que isto não é necessário. Todavia, isto traz uma série de problemas. Se o Univer-
so é o conjunto de tudo, então este agente seria parte dele. Como poderia criar a

102
PERGUNTE.ME
si mesmo? Uma alternativa é que o Universo sempre existiu e Deus é o próprio
Universo. Para que, então, considerar Deus?
221. Para que valores de t a função f(x)=-3x²-2x+(t-4) não admite raízes re-
ais? (Matemática)
Se o discriminante (-2)² - 4(-3)(t-4) for negativo, isto é, 4 + 12t - 48 < 0, ou
seja, 12t < 44, isto é, t < 11/3.
222. O custo C para produzir x unidades de certo produto é dado por C = x² –
80 x + 300. Qual será a quantidade de unidades produzidas para que o
custo seja mínimo? Qual será o valor mínimo do custo? (Matemática)
Derivando-se em relação a x, tem-se C'(x) = 2x - 80. Igualando-se a zero, tem-
se x = 40 (ponto mínimo, pois a segunda derivada, C''(x) = 2 é positiva). Logo o
custo mínimo se dá com a produção de 40 unidades.
223. O lucro de uma loja pela venda diária de x peças é dado por
L(x)=100(10-x)(x-4). O lucro máximo, por dia, é obtido com a venda de
quantas peças? (Matemática)
Derivando em relação a x, tem-se L'(x) = 100(10 - x) - 100(x - 4). Igualando a
zero tem-se: (10 - x) = (x - 4), cuja solução é 7, que é o ponto extremante (máxi-
mo, pois a segunda derivada, L''(x) = -200 é negativa). Levando na função original
obtém-se L(7) = 900. O lucro máximo, de 900, se obterá com a venda de 7 peças.
224. A vida humana vale mais do que a vida dos outros seres vivos? (Filoso-
fia)
Sim. Mas isto não significa que a vida dos outros seres vivos não tenha valor,
mas apenas que, no caso em que se seja obrigado a escolher, escolhe-se a humana.
225. Você já leu a obra "O mundo de Sofia"? Se sim, qual sua opinião sobre
as idéias e os assuntos discutidos no livro? (Filosofia)
Comprei o livro, mas ainda não li. Mas sei qual o seu conteúdo e considero
que filosofar seja uma das coisas mais importantes da vida, só abaixo de amar e,
inclusive, acima de sobreviver.
226. Quais os seus autores favoritos? (Literatura)
Dostoievski, Dickens, Shakespeare, Hemingway, Machado, Eça, Tolstoy, Vic-
tor Hugo, Balzac, Somerset Maugham, Tolkien, Conan Doyle, Agatha Christie, Asi-
mov, Frank Herbert, Doris Lessing, Ursula Le Guin, Arthur Clarke, Carl Sagan.
227. Para que valores reais de m, a função f(x)= 2x²+5x+m+3 admite duas
raízes reais e distintas? (Matemática)
Menores do que um oitavo.

103
Ernesto von Rückert

O discriminante, 25 – 8(m + 3) tem que ser positivo, donde o resultado.


228. A alegria é para os espíritos nobres e sábios, pois é algo muito refinado
para qualquer alma medíocre? (Comportamento)
Não é bem assim... Qualquer pessoa pode experimentar alegria e sua inten-
sidade não está correlacionada com seu refinamento. Felicidade não é privilégio
de pessoas instruídas, nem sequer inteligentes. Mas é algo que deve ser assegura-
do a todos. Quem for inteligente e instruído tem uma grande responsabilidade,
pois é esclarecido e consegue ver quem se aproveita da ingenuidade alheia para
se locupletar, reduzindo a felicidade global do mundo. Esses não podem passar
impunes e a sociedade tem que coibi-los de agir assim, por ação dos esclarecidos.
Espíritos nobres e sábios só o serão quando se despirem de toda vaidade e pre-
sunção. Então, poderão, de fato, gozar de alegrias refinadas, especialmente as que
advêm da prática do bem e da virtude, que não é nada aborrecido, como uma vi-
são distorcida faz crer. Ser virtuoso é uma imensa alegria, porque, mais do que
todas, a suprema virtude é amar, e amar e ser amado é a maior fonte de alegria
possível. Todavia o prazer refinado não exclui as alegrias prosaicas que se pode
compartilhar com o povo inculto, muitas vezes mais autêntico, sincero e generoso
do que muita gente erudita.
229. Luan Santana ou suicídio? (Comportamento, Pessoal, Música)
Terrível dilema! Ainda bem que se tem sempre a opção de desligar o som ou
a TV, ou, ainda, ir para outro lugar.
230. O que é mais importante: o ato de questionamento constante ou a in-
quietude em pensamentos? (Comportamento)
Inquietude de pensamentos não é algo a ser cultivado, mas uma situação
inevitável de certas mentes. O ideal é atingir um estado de paz interior, de modo a
poder considerar todos os pensamentos com tranquilidade. Questionar, sim, é
uma atitude a ser cultivada, não necessariamente para se contrapor, mas para so-
pesar tudo, num ceticismo metódico extremamente salutar. Nada deve ser aceito
por argumento de autoridade, de tradição ou de maioria. Se se concluir que é cer-
to ou bom, concorda-se, caso contrário, luta-se contra, mesmo que em prejuízo
pessoal. Isto é integridade e caráter.
231. Em sua opinião, qual o caminho mais propício para um aluno recém
concluinte do Ensino Médio público, que apresentar defasagem em dis-
ciplinas da área de exatas? E como se é possível suprimi-las, se ele não
tem condições socioeconômicas? (Educação)
Isto é um grande problema, pois as exatas são sequenciais, cada coisa de-
pendendo do conhecimento anterior. Os cursinhos não ensinam nada, só dão ma-
cetes para passar no vestibular, mas depois, não se sabe nada, para a vida e a pro-
fissão. Mesmo assim, no caso, o interessante é fazer um cursinho (existem gratui-

104
PERGUNTE.ME
tos), para saber o assunto a ser estudado, e pegar livros em bibliotecas para se
aprofundar. Mas tem que renunciar a sono, baladas, TV, namoro e muita coisa.
Não tem outro jeito. Para quem não trabalhe, recomendo dez a doze horas de es-
tudo por dia, incluindo as horas de aula. Mas é importante saber que, na aula, não
se aprende, apenas se entende, se se prestar muita atenção e não sair da aula sem
ter entendido tudo. Pergunte quanto quiser e não ligue para a chacota dos cole-
gas. Aprende-se é estudando em casa, o assunto da aula, NO MESMO DIA, antes de
dormir. No sono, então, o cérebro transfere o conteúdo da memória de curta du-
ração, no hipocampo, para a de longa, no córtex, já que foi algo reforçado. Mas se
não estudar NO MESMO DIA, o cérebro não faz a transferência e fica tudo perdido.
232. Acredita em vida fora da Terra? E vida inteligente? Acredita que eles já
tiveram intenso contato com a humanidade na Antiguidade? Acredita
que podem ser verídicos relatos modernos de contato? (Biologia, As-
tronomia)
Sim, acho possível haver vida fora da Terra, principalmente primitiva, como
bactérias. Vida superior, eucariota e metazoária já é bem mais difícil, mas pode
haver. Inteligente... Se houver, será muito rara. No máximo uns três planetas por
galáxia, acho eu. Quanto aos contatos, considero extremamente improváveis em
qualquer tempo, passado ou futuro. Para mim os relatos de OVNIS e de contatos,
ou são fraudes ou são enganos e ilusões. Nenhum indício é suficientemente escla-
recedor para garantir.
233. Se não conseguimos provar o metafísico ou o imaterial e atemporal,
por nossas limitações de pensamento e nossos conceitos de um deus
ideal material, devemos deixar de crer? Acho que não. (Ateísmo)
Para mim, crer, ou seja, admitir como verdade proposições não comprova-
das, só se admite quando os indícios de plausibilidade forem fortíssimos e, mes-
mo assim, sempre de modo provisório. O fato de não se conseguir provar a exis-
tência do sobrenatural, além de que ele não é uma evidência, indica claramente
que não deve existir. Ter fé é um despropósito. Não afirmo categoricamente que
não existe o sobrenatural, nem deuses, nem espíritos, mas considero que seja
muito provável que não.
234. Quando temos a crença naquele que diz: “Amem seus inimigos, retri-
bua o mal com o bem”, não vemos como um mundo sem Deus seria ca-
paz de praticar tais coisas. Por que recusar um Deus que se torna ho-
mem, para salvar-nos? (Religião, Ateísmo)
É claro que o comportamento altruísta é possível sem a noção de Deus. Até
animais o exibem. Quanto a essa história da encarnação e da redenção, isto é o
mais completo atestado da perversidade do Deus judaico-cristão. Para que exigir
o sacrifício de seu filho (aliás, ele mesmo) para perdoar o pecado original? Porque
simplesmente não perdoá-lo?

105
Ernesto von Rückert

235. Presumindo que você seja ateu, qual o argumento mais forte e claro em
favor do ateísmo? (Ateísmo)
A existência do mal.
236. Já assistiu o documentário Zeitgeist Addendum? Se sim, qual sua opini-
ão? (Anarquismo)
Sim. Concordo com muita coisa dita ali. Outras há que se verificar. Gosto da
idéia.
237. Que sugestões você dá para o Brasil e o resto dos países resolverem os
problemas que têm se tornado comuns, como a disseminação de dro-
gas, o terrorismo e a construção de armas nucleares? (Sociologia, Edu-
cação)
Educação, educação, educação... Mas não este modelo frouxo e permissivo. E
também nada de autoritarismo e prepotência. Educação assertiva e filosófica.
Educação para a vida e não para o vestibular. Educação ética, tolerante, abrangen-
te, universalista, cooperativa e não competitiva, responsável, consequente, exi-
gente, diligente. Educação da inteligência, da vontade, da sensibilidade e do cará-
ter. Informação, conhecimento, habilidades, competências, formação, erudição,
cordialidade, civilidade, solidariedade. É isso... Os problemas serão resolvidos em
poucas gerações (alguns séculos), se se começar agora.
238. Poderia dissertar sobre Metafísica? (Metafísica)
Isto é assunto para um livro inteiro, ou, pelo menos, para um ensaio de vá-
rias páginas. Procure nos meus blogs, nas caixas de busca, o que já falei a respeito.
Acesse pelo meu site: www.ruckert.pro.br
239. Esse "no máximo 3 vidas inteligentes" diferentes por galáxia você che-
gou através da equação de Drake? Porque ela é muito imprecisa! (Cos-
mologia, Evolução)
Veja o livro: "Sós no Universo" de Ward e Brownlee
240. Poderia apenas deixar um excerto de como você concebe a Metafísica?
(Metafísica)
Metafísica é a disciplina que trata dos conceitos concernentes a uma realida-
de não natural, isto é, puramente abstrata, especialmente quanto à categorização
de tudo o que possa ser concebido, dos conceitos genéricos e das relações que o
que eles representam guardam entre si. Certamente que isto não tem nada a ver
com entidades sobrenaturais, mas pode, até, levá-las em consideração. Dentro da
Metafísica, a Ontologia cuida dos conceitos, como o de "algo", "coisa", "ente",
"ser", "objeto", "valor", "existência", "essência", "atributo", "fenômeno", "ocorrên-
cia", "evento", "tempo", "espaço", "matéria", "substância", "acidente", "realidade",

106
PERGUNTE.ME
"concreto", "abstrato", "necessidade", "suficiência", "contingência". "causa", "con-
dição", "efeito" e outros que tais. De certa forma faz uma ligação entre a Filosofia
e a Linguística, em particular a Semântica. Já a Metafísica propriamente investiga
as relações entre o que esses conceitos representam na realidade em si, por
exemplo, qual a essência de alguma coisa, se algum ente existe ou não, em que ca-
tegoria algo se enquadra, quais as condições de causalidade para dado evento. Em
suma, trata de juízos a serem feitos, e, como tal, faz uma relação entre a Filosofia e
a gramática, pois os juízos são, normalmente, expressos por proposições verbais.
Com o uso da lógica e da epistemologia, podem-se tirar inferências de juízos me-
tafísicos que se constituirão em outros juízos metafísicos. A Fenomenologia tam-
bém acode a Metafísica na verificação fatual da validade de algum juízo, como por
exemplo: "Todo evento é um efeito".
241. O filosofar é natural ao homem? (Filosofia)
Sim e não, dependendo como se interpreta o ato de filosofar. Intuitivamente,
filosofar é refletir sobre o mundo e si mesmo, formulando questões e buscando as
respostas. Isto é natural ao homem e foi o que deu origem aos mitos. Pelo que se
tem notícia, o ser humano, por enquanto, é o único animal com estrutura mental
suficientemente sofisticada para tais elucubrações. De uma forma mais elaborada,
contudo, filosofar é um questionamento articulado, inserido em algum sistema de
conhecimentos, que faz uso de alguma metodologia de busca da resposta. Isto,
sem deixar de ser próprio do homem, já não é algo espontâneo, mas aprendido. É
o modo de filosofar dos filósofos, cientistas e pensadores, a partir do qual se cons-
truiu o edifício da Ciência e da Filosofia, isto é, dos saberes epistêmicos, ou verifi-
cados.
242. O que é conhecimento? (Epistemologia)
Conhecimento é a tradução de fatos e coisas da realidade em relações con-
ceituais. Pode ser obtido de uma forma vulgar, por uma apreensão direta dos sen-
tidos e a formação de juízos empíricos em que, muitas vezes, se faz apelo à inter-
veniência de entidades extra-naturais, personificantes de alguma força da nature-
za. Ou então será um corpo de assertivas correlacionadas e sistematizadas, devi-
damente verificadas por meio de uma metodologia estabelecida, que possa vali-
dá-los empírica ou racionalmente. Neste caso tem-se o conhecimento científico ou
filosófico, dependendo do método de validação.
243. Sou formado em Matemática, mas não trabalho na área. Estou no se-
gundo semestre de Ciências Sociais (por gostar de Filosofia e afins). O
problema é que os professores do curso estão tão empenhados na des-
construção pós-moderna que eu não sei o que fazer. (Educação, Socio-
logia, Anarquismo)
Talvez fosse melhor você fazer o curso de Filosofia propriamente dito. Esta
questão do pós-modernismo não existe. O modernismo, para a classe média da

107
Ernesto von Rückert

sociedade ocidental, no aspecto socio-econômico-cultural, caracteriza-se pela


democracia, o libertarismo, o mercado livre, o livre-pensamento, o individualis-
mo, a globalização. Mas ainda existem nações, propriedade, dinheiro, religiões,
família. Em muitos países há governos tirânicos. As liberdades fundamentais, os
direitos humanos e a igualdade de gêneros, raças, credos e outras ainda não são
coisa obedecida no mundo todo. Nos dias atuais, na sociedade ocidental e na clas-
se média, vivenciamos uma exacerbação da modernidade, que poderia se chamar
hiper-modernidade, com um crescimento da licenciosidade. Mas nada disso é
pós-modernismo. O anarquismo é que é o pós-modernismo, pois é uma ruptura
total com os paradigmas estabelecidos para a sociedade. Trata-se de um comuni-
tarismo individualista, sem fronteiras, propriedade, dinheiro, governo, religião e
família, mas com muita responsabilidade, solidariedade, diligência, altruísmo. Isto
ainda não existe, mas poderá acontecer - e acredito que acontecerá - mas só daqui
a algumas centenas de anos.
Se você não for mudar de curso, meu conselho é que siga o curso estudando
minimamente só para obter notas e aprofunde-se em estudos filosóficos autodi-
daticamente. Se for mudar para Filosofia, é importante saber que, mesmo lá, há
um grande problema entre os professores que é o de pretenderem formar um
"entendido em Filosofia", mas não um filósofo. O único remédio é meter a cara em
outros livros e não se contentar só com o que a faculdade passa nas aulas. Senão
vai ser uma mediocridade que dá gosto. Se discordar dos professores, nas provas,
primeiro responda o que eles querem que você diga e depois retruque, argumen-
tando porque não concorda com eles. Mas leve sempre as discussões de modo
cordial, para não criar inimizades. Nem seja irônico, sarcástico, debochado ou
prepotente. Mas não seja humilde. Seja assertivo!
244. Você escreve de maneira clara e não vulgar. Qualidades necessárias a
quem deseja comunicar alguma informação. Já pensou em escrever li-
vros de divulgação de temas científicos e filosóficos, ou sobre a apreci-
ação 'estética' na Ciência para leigos ou entendidos? (Pessoal)
Sim. Este é um grande interesse meu. Já estou escrevendo uma "Física para
Filósofos". Estou no quinto capítulo de um total de onze. Também estou compi-
lando as postagens do meu blog www.ruckert.pro.br/blog (quase 4.500, que
montam umas 2.500 páginas) em uma série temática de ensaios, sobre cosmolo-
gia, ateísmo, neuropsicologia, Filosofia e outros temas. Cada livro deve ter cerca
de 300 páginas, para não ficar muito caro e nem afastar leitores. O que me falta é
tempo, pois trabalho umas sessenta horas por semana. Preciso também cortar o
meu tempo dedicado à internet para isso. Pelo menos não vejo televisão e durmo
pouco. Miro-me no Marcelo Gleiser. Um novo projeto, que talvez saia antes des-
ses, é a publicação destas respostas aqui do Formspring, devidamente revisadas.
Outro é publicar meus poemas, o que já providenciei e pode ser visto em
http://pt.scribd.com/doc/70683693/Poesia e adquirido em http:// clubedeauto-

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PERGUNTE.ME
res.com.br/book/120294--Poesia.
245. Poderia falar alguma coisa sobre o Materialismo Filosófico, principal-
mente sobre o que você não concorda? (Filosofia, Sociologia)
Materialismo é uma concepção ultrapassada. Prefiro o Fisicalismo, que é a
concepção de que a realidade substancial objetiva, isto é, independente das men-
tes e possuindo conteúdo, é puramente natural ou física. Em outras palavras, tudo
é feito de matéria, radiação e campos, que são os constituintes substanciais do
Universo (mas não de energia, que não é um constituinte e sim um atributo de-
les), e se estrutura e evolve no espaço e no tempo, que são seus constituintes ge-
ométricos (entendendo como a geometria física do espaço-tempo e não puramen-
te matemática), além das estruturas, das ocorrências e de sua dinâmica. Isto sig-
nifica que não existem entidades sobrenaturais, como alma, espíritos, deuses, an-
jos, demônios, gênios e assim por diante. O Fisicalismo implica no Ateísmo, mas o
Ateísmo não implica no Fisicalismo, pois pode admitir espíritos, mas não deuses.
Isto não exclui as abstrações, os conceitos, as idéias, os valores, as normas e as en-
tidades institucionais, como pessoas jurídicas. Só que entende que estas não exis-
tem por si mesmas, mas apenas como concepções de mentes, que podem lhe dar
objetividade por meio de um consenso entre mentes, mas que não existiriam se
não houvesse mente alguma. Assim as próprias mentes não possuem um caráter
dualista (corpo e alma), mas são uma ocorrência, advinda da estrutura e do funci-
onamento do organismo, especialmente do cérebro. É importante frisar que a
abolição do sobrenatural não acarreta no niilismo moral, que é a concepção de
que, sem nenhum deus, não há como se estabelecer parâmetros éticos e tudo se-
ria permitido. A ética advém da convivência social das pessoas e estabelece pa-
drões de comportamento que visam propiciar uma vida social vantajosa para to-
dos, em termos da realização pessoal, sem prejuízo ao outro.
O Materialismo seria a concepção de que a realidade é puramente material,
mas existe conteúdo substancial natural não material no Universo, que são os
campos e a radiação.
O que eu não concordo é com a extensão marxista da concepção fisicalista
aos domínios lógico e histórico. Considerar que a única força motora da sociedade
seja a produção é um erro do Marxismo. A superestrutura da sociedade possui
uma dinâmica própria capaz de gerar concepções não advindas da economia. Re-
duzir todos os conflitos a relações econômicas não é verdadeiro.
Quanto à dialética materialista, significando que as relações lógicas provem
da realidade física, em parte é verdade, pois a lógica é uma formulação psicológi-
ca e o funcionamento da mente é natural. Mas, uma vez estabelecidas as idéias e
conceitos a mente pode formular relações não correspondentes à realidade natu-
ral, como é o caso de algumas geometrias. Além do mais, a tríade tese-antítese-
síntese, não é o único modo de funcionamento nem da natureza, nem da socieda-

109
Ernesto von Rückert

de, nem do pensamento.


246. Para ser científico um conhecimento deve ser capaz de fazer previsão?
(Ciência, Epistemologia)
Não necessariamente. O conhecimento é científico se ele passou pelos testes
de verificação de sua validade, especialmente de falseabilidade, isto é, se sua ne-
gação foi verificada ,de forma lógica ou empírica, ser falsa. Há conhecimentos ci-
entíficos que não levam a prever nada, sendo apenas descritivos, especialmente
nas Ciências Sociais.
247. Capitalismo, Socialismo Científico ou Socialismo Utópico? Qual você
prefere e por quê? (Política, Economia, Anarquismo)
Nenhum dos três. Sou anarquista, o que se aproxima do Socialismo Utópico,
mas vai além. O problema do Socialismo é que ele ainda supõe a existência do di-
nheiro e do estado, mesmo que a propriedade seja coletivizada. Além disso, o es-
tágio intermediário da ditadura do proletariado não se justifica, como não se jus-
tifica ditadura nenhuma. Nem as revoluções cruentas. Quanto ao Capitalismo, se
levado ao extremo, isto é, inteiramente pulverizado, de forma que toda pessoa se-
ja capitalista e ninguém seja empregado (mas todos são trabalhadores, só que não
assalariados, mas sócios das empresas em que trabalham), e se conseguir promo-
ver a distribuição equitativa da renda, ele se converterá espontaneamente em
anarquismo e este é o caminho que vejo para chegar lá. O problema do Socialismo
é ser planejado, centralizado, controlado. Assim ele se torna uma tirania dos
mandatários. A sociedade tem que ser libertária econômica e politicamente. O
crescimento de mercados comuns, como o europeu, fatalmente levará à abolição
das fronteiras e a governos globais, que, também, quando tudo estiver funcionan-
do perfeitamente sem o governo, deixarão de existir por falta de necessidade. Por
enquanto acho que o capitalismo é preferível, porque possibilita mais o enrique-
cimento da população e é menos controlado. Mas os governos ainda precisarão
exercer algum controle para conter os abusos. Para isso é preciso democracia e
democracia efetiva, ou seja, representantes legítimos do povo com força para con-
ter os arroubos dos detentores do capital, até que ele se dilua por todo o povo.
Democracia também supõe um judiciário isento, atuante e forte. Tudo isso o povo
pode obter votando conscientemente. Chegar lá é um processo bem demorado, da
ordem de centenas de anos, mas é possível.
248. O que você entende por felicidade? (Comportamento)
Felicidade é um estado de satisfação de viver na maior parte do tempo. Isto
é, estar alegre, desfrutar prazer, sentir-se benquisto, amado, admirado, reconhe-
cido, respeitado. Orgulhar-se dos próprios feitos, considerar que sua vida tem um
sentido e que ele está sendo realizado. Não sentir dores físicas nem morais, nem
tristezas ou sofrimentos. Não sofrer prejuízos, humilhações, perseguições, difa-
mações, injustiças. Ou, quando acontecerem, enfrentar com firmeza e serenidade.

110
PERGUNTE.ME
Estar sendo amado, gozar de paz, entusiasmar-se pela vida, ser otimista. Para isto
há que se ter um comportamento honesto, benevolente, generoso, justo, toleran-
te, pacificador, altruísta, diligente, frugal, moderado, em suma, virtuoso. O egoísta,
avarento, belicoso, cruel, desonesto, preguiçoso ou devasso não consegue ser fe-
liz. Felicidade é fruir o prazer de viver praticando o bem. Isto inclui, também, a
bravura e a fortaleza para enfrentar e erradicar o mal, a injustiça, a corrupção, a
iniquidade de modo geral, sem esmorecer. Viver de forma assertiva e sobranceira,
sem soberba, pernosticismo, vaidade ou gabolice. É claro que se pode passar por
momentos de sofrimento face às ocorrências desagradáveis da vida. Mas a pessoa
feliz aceita, suporta, assimila e transpõe esses reveses de forma construtiva, sain-
do-se revigorada e pronta para outros enfrentamentos, pois é uma lutadora de
fibra. Felicidade é algo que pode ser conquistado pessoalmente, pois depende
mais das atitudes frente à vida do que das ocorrências em si. É preciso uma "edu-
cação para a felicidade", e isso é um dos papéis da Filosofia. Por outro lado, a so-
ciedade precisa garantir a felicidade de seus membros e isto é, em verdade, o
mais importante quesito a ser considerado pela política. Pois a felicidade, mesmo
não sendo o bem mais elevado possível, é aquele que não é condição para a ob-
tenção de nenhum outro, os demais sim, é que são condições para se ter felicida-
de, como educação, saúde, prosperidade, paz. O supremo bem, contudo, é o pró-
prio bem, para o qual se pode, até, sacrificar a felicidade.
249. Também sou anarquista. Mas considero o mundo atual muito contur-
bado para o anarquismo. Seria possível? Você acha o anarquismo utó-
pico? (Anarquismo)
Se se entender por utópico algo irrealizável, o anarquismo não é utópico.
Mas o mundo atual tem que ser muito modificado para aceitar o anarquismo. Isto
pode ser conseguido em longo prazo, de várias centenas de anos. Para isto é pre-
ciso promover uma educação anarquista. Estou para escrever um opúsculo sobre
este tema. Quem tem esse ideal deve lutar por ele, mesmo sabendo que só vai ser
realizado daqui a séculos. Como? Difundindo seu conhecimento e realizando
ações anarquistas, como trabalhar de graça uma parte do tempo, distribuindo
seus bens para empreendimentos comunitários não vinculados a nenhuma orga-
nização, fazendo tudo por fora dos controles burocráticos do governo, incenti-
vando iniciativas particulares para resolver problemas coletivos, sem buscar aju-
da do governo e sem envolver dinheiro. Educar a juventude para a colaboração e
não a competição, promover a tolerância entre religiões, raças ou outras caracte-
rísticas distintivas, até que essas diferenças não signifiquem mais nada. Eleger
políticos comprometidos com a aprovação de leis que promovam a distribuição
maior da renda, como a participação societária dos empregados nas empresas e
outras do tipo. Também vale criar comunidades anarquistas de consumo e vivên-
cia coletiva, em grupos da ordem de umas vinte pessoas numa mesma casa gran-
de, promovendo uma enorme economia de recursos, se todos compartilharem de
tudo e fizerem a maior parte dos trabalhos. Chegará um momento em que o anar-

111
Ernesto von Rückert

quismo aflorará espontaneamente e o dinheiro e o governo deixarão de existir


por falta de necessidade.
250. Você já leu "A Essência da Realidade" ("Fabric of Reality"), de David
Deutsch? Caso tenha lido, quais suas impressões? Se não tiver lido, su-
giro que o faça. Recomendo entusiasticamente o livro, não dou maiores
detalhes por causa do limite de caracteres. (Física, Quântica)
Já comprei o livro (em inglês) e está em minha fila de leitura, pois sempre es-
tou lendo uns quatro livros de cada vez, com a média de um por semana. Mas ain-
da tem uma meia dúzia na frente.
251. Um bom livro, dez bons filmes ou cem boas músicas? (Pessoal)
Um bom livro!
252. Quais são suas opiniões a respeito do budismo? (Religião)
Tenho grande admiração pela Filosofia de vida budista. Mas não acho que
existe nada de metempsicose e carma, nem acho que a vida seja sofrimento cau-
sado pelo desejo a ser aplacado. Não vejo que seja interessante a negação do "eu"
nem a busca do vazio pela meditação, como algo positivo. No entanto, aprecio o
"Caminho Óctuplo" como uma boa norma de conduta para uma vida pessoal e so-
cial gratificante, justa, harmônica e fraterna como desejo que seja. As noções de
compaixão, bondade, serenidade, colaboração, compartilhamento e auxílio do
budismo são extremamente válidas. Aprecio muito os pronunciamentos do Dalai
Lama em seus vários livros, de um modo geral.
253. Darth Vader era EMO ou a versão gótica de Hitler? (comportamento)
A versão gótica de Hitler, sem dúvida. Hitler é que era EMO.
254. "Eleger políticos comprometidos com a aprovação de leis que promo-
vam a distribuição maior da renda" Aproveitando o gancho desta sua
afirmação: Em quem você votará para presidente? (Política)
Votarei na Marina Silva para presidente, apesar dela ser crente e criacionis-
ta. Meu receio está em que assuntos que atinjam seu credo religioso possam in-
fluenciar suas decisões: pesquisa científica, posicionamentos que esbarrem na
ética dita cristã, como células-tronco, pesquisas genéticas e doações de órgãos,
por exemplo. Este é o senão que vejo nela. De qualquer modo, prefiro um crente
honesto do que um ateu que não o seja. Para mim, Dilma e Serra não são confiá-
veis pelos compromissos assumidos com quem os apóia e, mesmo, pelo que vejo
de sua conduta política. É claro que podem até ser competentes, mas isto é uma
segunda condição. A primeira, inescapável, é a honestidade e o compromisso com
um governo fundamentalmente ético, antes de tudo. Quanto aos tópicos que men-
cionei, isto é mais da alçada do legislativo, apesar de poder haver o veto presi-
dencial, que, inclusive, pode ser derrubado. Mas, nos outros aspectos, o programa

112
PERGUNTE.ME
da Marina é muito melhor e, o que é mais importante, Marina inspira a confiança
de que, de fato, o cumprirá. Sinceramente, já votei no Lula e no PT em muitas elei-
ções, mas estou inteiramente decepcionado com esse partido. O mesmo se dá com
o PSDB. Aquele idealismo do tempo do MDB esvaiu-se completamente. E coisa
que eu abomino é pragmatismo. Marina não é o presidente ideal, mas é preferível,
especialmente porque também é mulher, mestiça de negra e de origem pobre.
Mas não é ignorante como o Lula. É claro que um homem branco e rico poderia
ser um bom presidente. Depende de sua ideologia e conduta. No contexto desta
eleição, voto em Marina. Jamais faço uso do “voto útil”.
255. Quando você conhece, adquire um saber. Ao expressar este saber ver-
balmente, coerentemente ou mesmo experimentá-lo, levará o seu in-
terlocutor a ressignificar esse conhecimento. Porque o que um conhece
e sabe, não será o mesmo do outro? (Epistemologia)
Exato! Porque o conhecimento é uma interpretação e, portanto, vinculada a
tudo o que já se assimilou a respeito do mundo. Cada pessoa possui um conjunto
de vivências que lhe faz interpretar tudo o que se lhe é apresentado de forma in-
teiramente particular. É claro que existe um mar de consensos a respeito de mui-
ta coisa, mas sempre há detalhes específicos diferentes para cada um. A visão de
mundo (weltanschauung) da pessoa lhe faz perceber, entender e compreender
cada coisa e cada fato à sua própria maneira. O que se pretende com a construção
de um conhecimento objetivo é, justamente, isolar os pontos em comum desses
particulares entendimentos, para se dizer que aquilo é o que se considera o co-
nhecimento a respeito do assunto. Mas é bom, também, ressaltar os vieses mais
importantes. Em algumas áreas, eles se constituem em verdadeiras "escolas de
pensamento", até mesmo antagônicas, como se dá em economia, sociologia, psico-
logia, Filosofia, história. Em outras há, geralmente, um consenso na comunidade,
como em matemática, física, química, astronomia, geologia e, mesmo, biologia.
Nestas, quando novos fatos provocam uma revisão dos modelos descritivos, ocor-
re um "corte epistemológico", pelo qual o novo paradigma substitui o anterior,
sem haver coexistência de interpretações conflitantes.
256. Você pode garantir que Deus não existe? (Ateísmo)
Poderíamos afirmar a inexistência de Deus se pudéssemos provar tal fato. A
crença em sua inexistência, como na existência, não garante nem uma nem outra.
Também poderíamos afirmar a existência de Deus se isto estivesse provado. Não
se conseguiu, até hoje, provar que exista algum deus, mas também não se conse-
guiu provar que não exista. Isto é: Deus não é falseável. Nada exige um deus para
ser explicado, mas também não proíbe. O conceito é fugidio. O que se pode dizer é
que não há nada que justifique que exista, logo é mais sensato supor que não exis-
ta. A fé na inexistência de Deus é tão dogmática quanto a fé na sua existência. As-
sim eu considero que não existe e tomo isto como hipótese válida para tudo, co-
mo também considero que existe um mundo objetivo fora da minha mente sem

113
Ernesto von Rückert

que possa provar que existe.


257. O que faria para erradicar a fome da África? (Economia)
Reduziria pelo menos pela metade todos os investimentos militares no
mundo e carrearia este recurso para a produção de alimentos em todos os países,
a serem enviados para a África, sob um rígido controle da ONU. Parte desse di-
nheiro, contudo, seria paralelamente investido na capacitação educacional e tec-
nológica dos povos africanos para que venham a se libertar dessa ajuda e possam
prosperar por conta própria. É claro que, juntamente, com a erradicação da cor-
rupção em todas as instâncias envolvidas.
258. Qual é o propósito da vida do ser humano, caso exista algum? (Filoso-
fia, Pessoal)
Não há propósito para nada que exista no Universo, nem o próprio, nem a
vida, nem a vida humana, de um ponto de vista extrínseco. No entanto, como se-
res que adquirimos consciência, queremos encontrar um significado, uma razão
de ser, um propósito para nossa vida, para que não nos sintamos aniquilados pela
arrasadora verdade, de que não importa nada para o Universo que existamos ou
não. Assim, é válido e salutar, somática e psiquicamente, que busquemos uma ra-
zão para nossa vida. Isto tem que ser feito individualmente. Cada um que ache o
motivo para dar valor a sua própria vida, em algo a que possa se dedicar com em-
penho e que lhe traga recompensa, em termos de satisfação por sua realização.
Melhor que seja uma coisa nobre e elevada e não algo mesquinho e egoísta, pois
não trará o conforto pretendido. Para mim, coloquei como razão de vida, e por
isso tenho lutado, deixar este mundo melhor por ter eu vivido, no sentido de levar
ao maior número de pessoas, em minhas atividades profissionais e pessoais, a luz
do conhecimento, da Arte, da Ciência e da Filosofia, para que possam ter esclare-
cimento suficiente para pautar suas vidas com sabedoria e se realizarem pesso-
almente. Isto é o que me move e me realiza. Dentre tudo o que posso fazer a res-
peito, além do magistério a que me dedico, está, justamente, participar dessas
comunidades da internet, nas quais exponho minhas concepções, que considero
verdadeiras, até que me convençam de estar errado, e proveitosas para a vida de
todos.
259. http://www.youtube.com/watch?v=vuhzbykvMDo A atitude covarde
do entrevistador neste vídeo só não é pior que a voz dele. Parabéns por
seus argumentos! (Pessoal, Ateísmo)
Obrigado. Veja também minha réplica:
http://www.youtube.com/watch?v=UuNhRaTQ8zM
260. É possível elevar a própria inteligência até que ponto? (Psicologia,
Educação)

114
PERGUNTE.ME
Bastante, como se sabe hoje. Inteligência é parcialmente inata, parcialmente
adquirida. Depende da formação de conexões sinápticas, que se dão por estímulos
intersensoriais e desafios motores, sensores e cognitivos. Para melhorá-la é pre-
ciso seguir a "Lei do Maior Esforço", isto é, complicar tudo, fazer sempre diferente
e de caso pensado, não adquirir hábitos, não ter preguiça, usar sentidos incomuns
para reconhecimento, usar músculos incomuns para movimentos, aprender sem-
pre algo novo, desafiar o raciocínio. É como o treinamento de um atleta olímpico,
só que mental, mas envolve o corpo todo. Pensar diferente, sentir diferente, fazer
diferente, sempre mudando. Não sei exatamente o quanto este treinamento au-
menta percentualmente o QI. Inclusive porque o QI não é o único indicativo da
inteligência. Professores precisam ser treinados, nas licenciaturas, nas aulas de
didática, a estimular o aumento da inteligência dos alunos. Isto só se faz com de-
safios, com projetos inteligente de ensino-aprendizagem, que sejam interdiscipli-
nares, multissensoriais, psicomotores. É preciso por os alunos para dar aulas,
construir modelos e aparelhos, sair à rua etc. Uma aprendizagem bem dinâmica.
Esquecer o que cai no Enem e no Vestibular. Esquecer de macetes. Isto é besteira.
Passa no vestibular quem sabe mesmo. Quem é capaz de ensinar o que sabe. De-
ve-se ensinar o aluno a ensinar, desde cedo. Só é burro quem quer ou quem não
sabe que pode deixar de sê-lo. E os professores têm que saber como desemburrar
os alunos.
261. Veja isto: http://blogdasciam.blog.uol.com.br/. Particularmente, dis-
cordo do Capozzoli. Acho que a discussão sobre a idéia de Deus é im-
portante e passível de opiniões tanto científicas quanto religiosas. E
você, o que acha do texto dele? (Cosmologia, Ateísmo, Ciência)
A idéia de que o surgimento do Universo dispensa a interveniência de algum
Deus não é uma discussão sem sentido, pelo contrário, este tema é de capital im-
portância quer para cientistas, filósofos e intelectuais, quer para o público em ge-
ral. Um dos papéis do cientista é, justamente, contribuir para esclarecer a ques-
tão, de forma acessível. Abordar questão de tal magnitude faz parte do arcabouço
da Ciência sim! Para tal é preciso conhecimento vasto, eclético e profundo, bem
como capacidade de traduzi-lo em linguagem compreensível. Isso Hawking e
Dawkins têm feito com sucesso em seus livros. A Ciência não existe para diminuir
o sofrimento humano, mas para explicar o mundo. As aplicações práticas são um
subproduto. A Ciência veio da curiosidade e do espanto e não da necessidade, esta
mãe da técnica, que só depois se valeu da Ciência. O relato inteligível que a Ciên-
cia faz tem relação a ver com a existência ou não de Deus sim, e as conversas daí
advindas têm uma finalidade válida e útil.
Os escritos de Schrödinger, como os de Einstein, Bohm, Penrose e outros ci-
entistas que abordaram uma temática transcendental não se validam pela contri-
buição deles à Ciência. Muitos cometeram grandes equívocos, como Fritjof Kapra,
Amit Goswami e Deepak Chopra. Hawking, Sagan e Dawkins, por seguirem linhas

115
Ernesto von Rückert

opostas àqueles, não devem ser considerados menores por isto, e não o são em
outros aspectos. A "mania de grandeza" de Dawkins não é menor que a de Eins-
tein. A consideração de que a Ciência e a Filosofia sejam as únicas capazes de dar
respostas satisfatórias às questões básicas não é nenhum "fundamentalismo cien-
tífico", pois não é dogmática, e sim fruto de um sensato ceticismo. Deixar de acre-
ditar em Deus não leva a crer em "qualquer besteira", como disse com infelicida-
de Chesterton, pelo contrário, leva a descrer de outras besteiras também. E a dis-
cussão sobre esse tema, quando travada entre mentes brilhantes, como Dawkins
e Craig, por exemplo, é muito inteligente.
262. O que você pensa a respeito da obra de Fiodor Dostoievski? (Literatu-
ra)
Uma das melhores análises psicológicas das motivações humanas e dos con-
flitos pessoais e sociais. Tudo tratado com genial competência literária. Muitos
escritores são melhores filósofos do que os filósofos e Dostoievski é um deles, tal-
vez o maior. Além de ser capaz de transitar entre o suspense, o lírico, o cômico e o
épico sem problema nenhum. Poucos filósofos foram tão literatos quanto ele foi
filósofo. Concedo este galardão a Platão, Hume, Nietzsche e Russell, que até ga-
nhou o prêmio Nobel de literatura. E, na literatura, só Shakespeare ombreou a
Dostoievski.
263. Como se pode saber se uma teoria é falseável? É simples ou é mais
complicado do que aparenta? A descrição de algo pode ser falseável?
Tipo Antropologia? (Epistemologia)
Não é simples. Ao se construir uma hipótese explicativa de um fenômeno,
muitos experimentos são feitos, capazes de induzir uma proposta de lei científica.
Mas ela só pode ser aceita como verdadeira se se puder encontrar algum teste
que possa produzir um "diagnóstico diferencial", ou seja, que só possa ser expli-
cado pela aceitação de tal lei, isto é, algum particular aspecto que, se não se verifi-
car de fato, numa ocorrência real, invalide a hipótese proposta. Se isto não for
possível, a hipótese não é falseável. Isto não significa que seja errada, mas que
não pode ser aceita como verdade científica. Muitos discordam dessa exigência,
mas a maior parte da comunidade científica a aceita. Uma hipótese que passe por
um teste desse tipo fica aceita como a "teoria" explicativa do fenômeno, até que
surja algum fato que a contradiga, quando nova hipótese precisa ser proposta pa-
ra dar conta da explicação do fato e, então, ser testada. Caso aprovada, passa a
substituir a anterior, no que se chama de "corte epistemológico", pelo qual, a cada
momento, apenas uma teoria é considerada como "a explicação". Em casos em
que isso não se dá, convive-se com hipóteses alternativas simultâneas, às vezes
até contradizentes. Isso acontece em algumas ciências ainda não bem estabeleci-
das como tal, como a Psicologia, a Sociologia, a Economia, a História e outras. Nes-
te caso são formadas as "Escolas de Pensamento", uma vez que essas explicações
podem ser consideradas apenas "opiniões". São "doxas" e não "epistemes".

116
PERGUNTE.ME
Descrições não são explicações, na acepção crua da palavra. Contudo, em An-
tropologia, História, Geografia, e outras ciências, grande parte do conhecimento
(talvez a maior) seja descritiva e não explicativa. Mas é possível se cogitar da ve-
racidade ou não da descrição e, inclusive, haver descrições alternativas, uma vez
que são feitas, muitas vezes, com base em indícios, e não em evidências. Daí ser
possível, em princípio, elaborar algum "teste de falseabilidade" que pudesse indi-
car a escolha da descrição correta, em face de algum aspecto que só uma desse
conta de estar de acordo. Nem sempre isto é possível, daí se haver, também, a
formação de escolas de opinião.
264. O que você toma por Justiça? (Ética)
Justiça é a ação de conceder a cada um o que se lhe é devido, o que ele mere-
ce, o que é dele mesmo, desde que legitimamente obtido. É não punir quem não
merece, não roubar nem furtar, não enganar. Também não é justo premiar sem
merecimento, privilegiar alguém, conceder benesses diferenciadamente, mesmo
que quem não a tenha recebido também não seja merecedor. Porque justiça tam-
bém é equidade, entendida como tratar a todos de acordo com seu merecimento e
não igualmente. Assim, uma política salarial justa não pode igualar competentes e
incompetentes, diligentes e preguiçosos, dedicados e relapsos.
A justiça apenas, porém, não é suficiente para se construir uma sociedade
ideal. Além da justiça é preciso que haja benevolência e generosidade, isto é, que
se vá além do que é devido e se conceda mais, mesmo não merecidamente, mas
pela necessidade de cada um, promovendo a redistribuição de renda. Todavia isto
tem que ser feito de modo a não incentivar o acomodamento e a preguiça, portan-
to não pode ser institucional nem permanente, mas ocasional.
265. Como você acha que seria um mundo ateu? (Ateísmo, Anarquismo)
O mundo descrito pela canção "Imagine" de John Lennon:
Imagine que não há paraíso
É fácil se você tentar
Nenhum inferno abaixo de nós
Acima de nós apenas o céu
Imagine todas as pessoas
Vivendo para o hoje
Imagine não existir países
Não é difícil de fazê-lo
Nada pelo que matar ou morrer
E nenhuma religião também
Imagine todas as pessoas
Vivendo a vida em paz
Você pode dizer
Que eu sou um sonhador

117
Ernesto von Rückert

Mas eu não sou o único


Espero que um dia
você se junte a nós
E o mundo, então, será como um só
Imagine não existir posses
Me pergunto se você consegue
Sem necessidade de ganância ou fome
Uma irmandade de homens
Imagine todas as pessoas
Compartilhando todo o mundo
Você pode dizer
Que eu sou um sonhador
Mas eu não sou o único
Espero que um dia
Você se juntará a nós
E o mundo, então, será como um só.
266. Como você definiria arte? (Arte, Estética))
Em sua verdadeira concepção, arte é o prodígio de insuflar vida a uma ima-
gem, um som, um texto ou um movimento. Em si, eles são apenas comunicações
visuais, auditivas ou cinestésicas, mas, pela arte, transformam-se em objetos de
comoção estética, emoção, prazer. Transcendem sua realidade física e se conver-
tem em um bem de valor cultural, testemunho de um ato criativo do artista em
externar o que lhe vem de dentro, o modo como interpreta o mundo, eivado de
suas vivências e de sua cosmovisão, bem como de sua perícia e de seu trabalho,
além, é claro, de seu sentimento e sua inteligência. O artista, assim, é como se fos-
se um deus, capaz de vivificar uma tela, um mármore, um violino ou o movimento
de seu próprio corpo numa entidade etérea e incorpórea, plasmada de beleza e
luz.
Na acepção mais básica possível, arte é o fazer e seu produto, englobando aí
o artesanato, a engenharia, a indústria e as belas-artes. Em oposição, ciência é o
conhecer, o saber, também englobando aí, nesta acepção básica, saberes empíri-
cos e mitológicos. Numa acepção mais restrita, a arte (neste caso, as belas-artes) é
um fazer enquanto comprometido com levar à fruição de um prazer sensorial e
intelectual, advindo de alguma qualidade do produto, denominada estética, que
leve a isto, não importando outras qualidades que possa ter, de caráter utilitário
ou outros. Assim, a arte é inútil.
Acho que a arte, como criação, é um construto intelectual do homem em que
ele usa sua sensibilidade, inteligência, vontade, habilidades, técnica adquirida e
talento nato para fazer uma representação do mundo real ou imaginário, alme-
jando levar ao apreciador uma sensação de prazer no ato de percebê-la, consis-
tente em uma emoção advinda da interpretação feita pela inteligência do que a

118
PERGUNTE.ME
sensibilidade comunica.
Esse caráter estético pode ser considerado do ponto de vista do autor ou do
apreciador. Um quadro pintado por um macaco pode não ser arte na intenção do
autor, mas pode o ser na apreensão do apreciador. Do ponto de vista do autor a
arte tem a intenção de provocar tal prazer. Notem-se três coisas: A arte não tem
compromisso com mensagem alguma, exceto a estética. O prazer estético não tem
nada a ver com beleza, o conceito de belo é outro. O feio pode ser arte. Finalmen-
te, como qualquer ação humana, a arte não pode se furtar a ter um valor ético,
que pode deliberadamente ser descartado, mas não deixa de estar presente.
Minha opinião é de que a arte não tem utilidade. Não é esse o seu propósito.
Mas justamente para as inutilidades, o supérfluo, é que faz sentido se lutar pela
vida. O necessário à sobrevivência é mínimo. O que distingue o homem é almejar
o inútil e se comprazer nisto. Trabalha-se para, afinal, se conseguir ser feliz e se é
feliz quando se desfruta da vida com prazer. A arte dá esse prazer. A arte não pre-
cisa levar mensagem alguma para ser arte. Basta, do ponto de vista do apreciador,
dar prazer em ser contemplada. Do ponto de vista do criador, certamente, a arte
não é mero externar de sentimentos e emoções. É, principalmente, um produto da
inteligência, do trabalho, da vontade. O quadro feito pelo macaco não é uma obra
de arte porque não foi produzido intencionalmente para tal. Mas pode ser apreci-
ado como tal, se levar a quem o vê uma sensação de prazer estético. É claro que
eu estou descartando a atitude imbecil de fingir que gosta ou entende de arte pa-
ra dar a impressão de ser intelectual.
Dizer que a arte é inútil envolve uma ambiguidade proposital. A questão é o
conceito de "útil". No sentido pragmático, do que é necessário para a sobrevivên-
cia, a arte não tem utilidade. Mas ela se presta a promover o bem estar e a elevar
o nível de felicidade. Quanto ao caráter formativo, no sentido de passar uma men-
sagem transestética, de valor ético ou ideológico, a arte se presta muito bem para
tal, mas este não é o seu compromisso. Uma obra de arte conserva o seu valor es-
tético mesmo que seja comprometida com nada ou que o seja com valores equi-
vocados. Mas, é claro, a ética perpassa todo o fazer humano e, logo, não há como
escapar. Mas a arte não precisa ter um compromisso, digamos, pedagógico. Toda-
via pode tê-lo e mais do que tudo, presta-se admiravelmente para tal. Assim é a
minha arte: enquanto provoca a comoção estética, instiga a mente a questionar o
significado da existência.
Essa questão das inutilidades, da arte e de muita coisa nas ciências, na ver-
dade é a mola mestra do progresso, não só técnico e material, mas, principalmen-
te, cultural. Vejam minha especialidade em Física: Cosmologia. Serve para quê?
Para o mesmo que servem a poesia, a música, as belas artes: para elevar a mente,
expressar o sentimento de deslumbramento frente ao Universo e, principalmente,
em relação ao prodígio que somos nós mesmos. Não tem nenhum valor prático e
nem precisa ter. É para o inútil que a humanidade aplica tanto esforço em produ-

119
Ernesto von Rückert

zir além do necessário para a mera sobrevivência. É nas inutilidades que se com-
praz o homem e alcança a felicidade de gozar um prazer inteiramente descom-
promissado.
Quanto à questão do belo e da relação entre o belo e a arte é preciso, antes
de tudo, ver que são conceitos disjuntos. A noção de beleza tem a ver com a per-
cepção do mundo por um ser senciente e consciente. A arte tem a ver com certa
produção de um ser inteligente. Um ninho de passarinho não é uma obra de arte.
Assim alguma coisa é bela se provoca no observador sentimentos prazerosos ao
percebê-la. Pode ser algo inteiramente natural ou um produto intencionalmente
feito para provocar este tipo de emoção, dita estética. Assim concebida, a beleza
de uma obra de arte não é necessariamente superior à beleza da natureza. Mas
também não é necessariamente inferior. Depende de que obra de arte se está
apreciando.
Uma característica importante da arte é que o artista tem que ser livre. A ar-
te por encomenda só tem valor quando quem a encomenda deixa o artista livre.
Mozart e Haydn compunham sob encomenda, mas Mozart, especialmente, fazia o
que queria. Isto porque Mozart era um gênio e Haydn um grandioso talento. Já
Beethoven rebelou-se completamente das encomendas. É claro que, mesmo sen-
do livre, a arte pode não ser boa, mas se não for livre é certo que não será boa.
Note que disse boa, e não bela. O belo, na arte, não é necessariamente belo, na
acepção corriqueira da palavra. A beleza da arte não é a beleza do que ela retrata.
O artista pode passar ao apreciador algo feio como recurso de comunicação do
que pretende externar com sua arte. Mas, fazendo-o com valor artístico, esse feio
é belo.
Artista é isso: quem é capaz de expressar o sentimento em algo palpável, que
outrem possa contemplar e captar. Mas arte não é só emoção e sentimento: é re-
flexão sobre como colocar o que se pretende, é inteligência, é trabalho, é vontade.
São as idas e vindas, as decisões e indecisões. É o cansaço em cima da obra, até
que se chegue ao que se concebeu. E, finalmente, o júbilo do parto, a contempla-
ção da própria criação, aquela satisfação interna de ser um criador e não apenas
uma criatura. Dá vontade de reter tudo consigo. Mas não se pode esquecer-se de
ganhar a vida. E vender também é uma arte. A arte só vale se for para o outro, pa-
ra o povo, para disseminar a beleza e, principalmente revelar uma postura de
quem acredita na vida e nos valores maiores da humanidade. Assim sendo, rejubi-
le-se o artista, pois é colega de Deus (supondo que exista).
267. A medicina moderna é uma ciência? (Ciência)
Em parte ciência, em parte arte, no sentido mais amplo da palavra, pois a
medicina não apenas busca conhecer a estrutura e o funcionamento do corpo
humano, incluindo os problemas estruturais e de funcionamento, como também
desenvolver e aplicar métodos de cura clínica e cirúrgica para tais problemas. Os

120
PERGUNTE.ME
dois aspectos estão intimamente relacionados, podendo o médico ser um enge-
nheiro biológico ou um cientista, pesquisador da cura de doenças, com a colabo-
ração de químicos, físicos e outros cientistas.
268. O que você acha do pós-modernismo, movimento que prega que a his-
toricidade é o fator determinante para os juízos de verdade, ou seja,
que a ciência não tem a supremacia dos juízos sobre o que correto?
(Sociologia, História)
Não concordo. O que a ciência busca é exatamente fugir da historicidade e is-
to é o que deve ser feito. O que se precisa é justamente evitar que juízos a respeito
da realidade dependam o máximo possível da conjuntura presente, sempre que
possível. É claro que não se consegue escapar inteiramente, pois sempre se traba-
lha com os conhecimentos que se tem, no momento. Mas é preciso se libertar de
pontos de vista ideológicos, religiosos, políticos, raciais, culturais. É mister se
buscar a completa isenção o máximo possível. Isto é difícil, mas é assim que con-
sidero que precisa ser. É claro que não se consegue nem se pretende obter o co-
nhecimento final: ele é sempre provisório e precisa ser revisto a todo o momento.
Mas é o melhor que se tem. Verdade é uma adequação entre o discurso e a reali-
dade. Mas a realidade em si mesma é desconhecida. O que se tem é a sua percep-
ção pelas mentes, que precisam buscar o máximo consenso entre as descrições
que fazem, isto é, buscar as palavras cujo sentido seja aceito pela maioria e esta-
belecer as relações que elas guardam entre si, pela correspondência entre os con-
ceitos e o que pretendem representar. O que a Ciência busca é a máxima objetivi-
dade possível. Os mitos são descrições em termos de conceitos inventados, im-
possíveis de se verificar. Os conceitos da Ciência, por outro lado, são estabeleci-
dos de forma a poderem ser verificados, contestados e substituídos, caso sejam
inadequados.
269. O que você pensa a respeito da união civil entre parceiros do mesmo
sexo? (Relacionamento)
Tão normal quanto entre parceiros de sexo oposto. Esta questão da homos-
sexualidade, heterossexualidade, bissexualidade ou assexualidade é de origem
genética, havendo pessoas que sentem atração física por outra do mesmo (13%),
do oposto (82%), de ambos (4%) ou de nenhum (1%) sexo. Isto é normal e apre-
senta uma proporção fixa nas várias etnias e culturas. A diferença está apenas na
aceitação social. Considero que o amor tem que ser realizado de que forma for.
Quanto mais amor entre as pessoas, melhor o mundo fica. Não se pode restringir
a quem se deve ou não se deve amar. E se o amor deve ser realizado, então todas
as implicações jurídicas dele decorrentes têm que ser estabelecidas da mesma
forma. Considero, inclusive, a possibilidade da pluralidade amorosa simultânea,
isto é, a poligamia, tanto poliginia quanto poliandria ou qualquer combinação
possível. Isto, em absoluto, não tem nada a ver com devassidão ou libertinagem.
Nada disso. Estou falando de relacionamentos sérios e compromissados, com

121
Ernesto von Rückert

mais de outra pessoa do mesmo ou do sexo oposto. Envolvendo amor, carinho,


cuidado, respeito, responsabilidade. De forma adulta, consequente e, até mesmo,
legalizada.
270. O que é o amor? Vale tudo para viver um grande amor? (Relacionamn-
to, Comportamento)
Nada é mais importante do que o amor. Trata-se de algo engendrado pela
natureza, ao longo da evolução, para garantir a sobrevivência da espécie. Enquan-
to o egoísmo pode ser eficaz para a sobrevivência do indivíduo, é o amor que ga-
rante a perenidade da espécie. O sexo foi uma estratégia da natureza para garan-
tir a variabilidade genética e possibilitar múltiplas escolhas na seleção natural.
Seria possível, por partenogênese, a existência de espécies apenas com o sexo fe-
minino, que é o essencial, sendo o masculino meramente acessório. O surgimento
do sexo, desde os mais primitivos seres vivos, contudo, revelou-se a opção mais
eficaz. Eros é, pois, a pulsão mais poderosa, pela qual os indivíduos até mesmo
dão a vida.
A sobrevivência da espécie também exige o cuidado com a prole e a proteção
da fêmea, atitudes que se sublimaram na componente platônica do amor. Assim o
amor evoluiu para um comportamento não só sexual, mas também de carinho. A
necessidade de proteger o grupo privilegiou aqueles que possuíssem fortes laços
de cooperação interpessoal, que é sublimada na amizade.
Duas forças coexistem nas espécies animais: a de competição, egoísta e beli-
cosa, que deseja o poder sobre o outro a ser subjugado e a de cooperação, que se
expressa no amor, na compaixão, no altruísmo. A primeira tem suas raízes pro-
fundas na necessidade de aplacar a fome fisiológica de alimento e a segunda no
impulso de preservação da espécie. Sendo o homem uma espécie altamente evo-
luída, que atingiu um estágio de consciência psíquica elevada e desenvolveu a cul-
tura, essas forças primitivas da natureza foram canalizadas para as expressões
refinadas da arte, do engenho e da ciência. São elas que movem o poeta, o guer-
reiro, o cientista, o sacerdote, o empresário, enfim, todo homem e toda mulher a
fazer o que quer que seja na vida.
Em seu livro “O Gene Egoísta”, Richard Dawkins diz que nossos organismos
nada mais são do que instrumentos criados pelas moléculas replicantes para per-
petuarem-se. Assim os dois instintos primários, da existência e da procriação, for-
jaram-se na natureza para atender a este imperativo básico do gene: replicar-se.
Esta pulsão pode estar contida na própria estrutura subatômica da matéria, de
um ponto de vista reducionista. Deste modo, talvez a própria estrutura íntima do
Universo seja naturalmente estabelecida para culminar na vida, lembrando as
idéias de Teillard de Chardin. Isto não significa que haja um projeto inteligente.
Trata-se apenas de como as coisas são por si mesmas, sem razão nem propósito.
Mas… não sei. Há que se investigar e discutir.

122
PERGUNTE.ME
Pelo que se pode concluir, o sexo é, pois, um componente essencial da vida e
um dos mais relevantes fatores de felicidade. Uma vez preenchidas as condições
mínimas de sobrevivência: ar, água, alimento, abrigo (incluindo vestuário) e se-
gurança, a pessoa busca sua felicidade. Dentre os muitos fatores que levam à feli-
cidade, não resta dúvida que o mais relevante é a sensação de ser amado. Mas, pa-
ra quem já seja sexualmente maduro, não é apenas o amor maternal, paternal e
fraternal que contam. Há uma carência do amor erótico. Este é o objetivo busca-
do. Como nisto há uma reciprocidade, há que se amar para ser amado. Tal fato é
tão válido que, mesmo sem correspondência, o ato de amar é fonte de felicidade,
mesclada com uma doce tristeza.
Quando o amor é correspondido e se realiza eroticamente, atinge-se um êx-
tase talvez só comparável aos arroubos místicos. Por maior que seja a pulsão fisi-
ológica para o sexo, da qual, por sublimação surgiu o amor, sua realização disso-
ciada do amor não proporciona nem uma mísera fração da beatitude que o sexo
com amor é capaz de conceder. Porque, aí, o sexo não é só fruição, mas, princi-
palmente, doação. Excluído o egoísmo do sexo, incrivelmente, ele propicia um
prazer maior ainda. É procurando dar o máximo prazer que se desfruta dele em
plenitude. E, para isto, há que se buscar conhecer o parceiro completamente, em
corpo e em espírito. Tudo está envolvido. Pudores têm que ser esquecidos. Uma
pitada de molecagem sempre é bem-vinda. Mas, no meu entendimento, sem afli-
gir dor e nem constrangimento algum. Só o prazer dos murmúrios, dos perfumes
e dos odores, dos toques suaves e dos vigorosos, de todos os recursos disponíveis,
sem reservas e sem remorsos. Sem pressa. Esquecido do mundo. Isto é o amor e
os orientais são sábios em cultuá-lo, de modo até sagrado. Como diz Chico Buar-
que na “Valsinha”, como não seria melhor o mundo se o amor fosse o prato do dia
de todos.
Amor é um sentir, um pensar, um desejar, um querer e um agir, isto é, uma
emoção, um sentimento, um apetite, uma volição e uma ação. Esse complexo de
fatos psíquicos caracteriza o amor em todos os planos, piedade, compaixão, soli-
dariedade, afeição, amizade, amor platônico, erotismo. Amor filial, maternal, pa-
ternal, fraternal, conjugal, idealista. A intensidade e a seqüência em que eles apa-
recem podem variar. O amor sempre emociona, enternece, enleva e envolve um
desejo de zelo, cuidado e proteção da coisa amada, bem como um anseio de reci-
procidade. Mas o amor só se realiza quando é expresso em vontade e esta vonta-
de em ação. Não basta sentir e desejar para amar, é preciso querer, demonstrar e
provar. O amor envolve dedicação e renúncia, paciência e perseverança, trabalho
e recompensa, alegria e tristeza, euforia e depressão. É algo envolvente e inebri-
ante. O amor não é possessivo, ciumento, exclusivista, castrador, sufocante. Pelo
contrário, o amor é libertário e altruísta. Não me refiro apenas ao amor erótico,
mas a todas as modalidades, inclusive as formas idealistas de amor à verdade,
justiça, sabedoria, humanidade e natureza. O amor não pode ser cerceado em sua
intensidade e abrangência. Ele não possui limites. Quanto mais intensamente se

123
Ernesto von Rückert

ama e a mais coisas e pessoas, mais capacidade se tem de amar. E quanto mais se
ama, mais se realiza e maior é a felicidade, mesmo que nem sempre ele seja cor-
respondido.
Estou com aqueles que consideram o ciúme uma manifestação de puro e
simples egoísmo. Sentir ciúme é pretender que o ser amado seja propriedade sua.
Isso não é amor. Sou ateu, mas nunca vi melhor descrição do que é o amor do que
o que disse o apóstolo Paulo no capítulo 13 de sua primeira carta aos Coríntios:
“Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, se não tivesse
amor, seria como o bronze que soa, ou como o címbalo que retine.
Mesmo que eu tivesse o dom da profecia, e conhecesse todos os mistérios e
toda a ciência; mesmo que tivesse toda a fé, a ponto de transportar montanhas, se
não tivesse amor, não seria nada.
Ainda que distribuísse todos os meus bens para sustento dos pobres, e ainda
que entregasse o meu corpo para ser queimado, se não tivesse amor, de nada va-
leria.
O amor é paciente, o amor é bondoso. Não tem inveja. O amor não é orgulho-
so. Não é arrogante.
Nem escandaloso. Não busca seus próprios interesses, não se irrita, não
guarda rancor.
Não se alegra com a injustiça, mas se rejubila com a verdade.
Tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.”
O amor é completamente gratuito. Não exige nada em troca, nem reciproci-
dade nem exclusividade. E se compraz com a felicidade do amado em qualquer
circunstância. Ciúme é egoísmo, não amor. Não há posse no amor. E a felicidade é
maior pelo amor que se dá e não pelo que se recebe. Mas é ótimo ser amado, sem
dúvida. O que não se pode é exigir amor de ninguém e nem que o amado não pos-
sa também amar a outrem. Aquele que ama, inclusive, dispõe-se a compartilhar o
ser amado. É preciso reverter inteiramente esta noção de propriedade no amor.
Isso é sinal de imaturidade. Ama-se e confia-se no amado. O ciumento preocupa-
se mais é com a perda de sua imagem, caso venha a ser traído. Mas não há traição
se o compartilhamento é consentido. Nada disso haveria se a sociedade admitisse,
tranquilamente, a pluralidade simultânea do amor.
Assim compreendido, pode-se concluir que, realmente, viver um grande
amor vale o sacrifício de outros projetos, como carreira e enriquecimento. Estas
coisas têm menos valor. Mas é importante que a pessoa esteja consciente que o
investimento em um grande amor não tem retorno garantido. Que se saiba que
tudo pode der errado e nem por isso se arrependa do que se fez. E não se pode
amar pensando no que se vai ganhar com isto. Ama-se e pronto! Gratuitamente e

124
PERGUNTE.ME
sem remorsos. Quem assim pauta sua vida, não só pelo amor a pessoas, mas pelo
amor à humanidade e a causas nobres e idealistas, nunca se verá acabrunhado
com os dissabores, pois sua mente paira sobranceira sobre as picuinhas da vida,
até mesmo sobre as necessidades básicas e se porta como o bemaventurado que
se esquece de si mesmo e vive para a vida e para o bem de todos e de tudo.
271. Descobriram elétrons com massa negativa! Como a gravidade age em
corpos de massa negativa? (Física, Quântica, Relatividade)
Este artigo saiu na Physical Review Letters, mas eu não sou assinante. É pre-
ciso entender que, em Física da Matéria Condensada e na do Estado Sólido, exis-
tem interpretações de fenômenos que se dão "como se" o elétron tivesse massa
negativa, mas não que ele realmente a tenha. Preciso ler o artigo para interpretar.
Na Relatividade Geral e nas teorias de campo não é prevista a existência de massa
negativa. Os tachions, por exemplo, são partículas hipotéticas de massa imaginá-
ria, mas não negativa. Tachions, todavia, não existem.
272. O que acha da proposta de Auguste Comte sobre os três estados? (Soci-
ologia)
A proposta de Comte é a "Lei dos três Estágios": Religioso, metafísico e posi-
tivo. Considera ele que cada pessoa, bem como a humanidade como um todo, pas-
sa por esses estágios em sua evolução. Não vejo que isso seja verdade. Uma pes-
soa que tenha sido criada em ambiente completamente ateísta jamais passará por
estágio religioso nenhum. Se passar, será posteriormente, caso venha a tomar co-
nhecimento de alguma religião. O estágio metafísico também, normalmente, é
posterior ao positivo, sendo alcançado só se a pessoa tiver pendores filosóficos.
Entendendo-se o estágio positivo como científico, como considera Comte, este
também só acontecerá em pessoas com um grau razoável de instrução formal. A
maioria das pessoas, mentalmente, se coloca em um estágio positivo, mas não ci-
entífico. E como, em nossa sociedade, quase todo mundo é educado em alguma
religião, nunca abandona as crenças religiosas, mesmo agindo positivamente, ex-
ceto se se tornar um ateu. Com a humanidade, do mesmo modo, o fato de hoje
termos explicações científicas para quase tudo, bem como aplicações tecnológicas
da Ciência em abundância, nada disso tirou a crença religiosa da maioria das pes-
soas que, por outro lado, não têm concepções metafísicas nenhuma sobre a reali-
dade. Metafísica é coisa para filósofos e cientistas filosóficos. O povo não é metafí-
sico, em absoluto. Em suma, Comte propõe um modelo inteiramente dissociado
do que, de fato, acontece.
273. Em que área do saber humano você se considera um ignorante? (Pes-
soal)
Muitas: Direito, Economia, Propaganda, Jornalismo, Turismo, Moda, Admi-
nistração, Negócios, Finanças, Contabilidade, Esportes, Militarismo, Agronomia,
Pecuária, Medicina, Enfermagem, Veterinária e várias outras, especialmente as de

125
Ernesto von Rückert

caráter prático.
274. O que você gosta de escutar em termos de música? Cite uns nomes aí,
umas músicas, ou excertos. Gostaria de ver se tem algo diferente do
que eu escuto. (Música, Pessoal)
Escuto muito música clássica. Umas três horas por dia. Inclusive produzo e
apresento um programa semanal de música clássica na Rádio FM da Universidade
Federal de Viçosa (www.rtv.ufv.br). Também gosto de jazz, blues, MPB, easy mu-
sic, música francesa, italiana, ópera, musicais, samba, tango, bossa-nova e algum
rock, como Beatles ou bandas, como Nightwish, Era, Epica e, até, música caipira
de raiz.
275. Você acredita que pessoas que crêem em Deus são mais ignorantes e
incapazes do que as que não crêem? (Ateísmo)
Claro que não! Crentes podem ser pessoas muito inteligentes e capazes, até
mesmo eruditas, e muitos o são. Apenas não obtiveram um esclarecimento amplo
e profundo do tema, porque não estudaram e não refletiram sobre a questão. Ou o
fizeram e optaram pela crença, agora de forma embasada. Contudo, considero que
o estudo isento e sem pré-concepções sobre a existência de Deus, levará à conclu-
são de que ele não existe, como eu mesmo me convenci, justamente a termo de
muito estudo e reflexão. Há, porém, os que concluíram que Deus não existe, mas
continuam a dizer que existe por uma conveniência social ou, até, econômica. Es-
ses são vis e abjetos.
276. Se o Universo surgiu do nada, você admite que 0 + 0 = 1 ? (Cosmologia)
Não tem nada a ver uma coisa com a outra. Matemática é uma lógica simbó-
lica, enquanto o surgimento do Universo não é um fato lógico e sim fenomenoló-
gico. Surgir sem ter do que provir também não significa provir “do nada”. E isto
não é mero jogo de palavras, como querem alguns. Surgir “do nada” seria ser en-
gendrado por uma evolução provinda do nada. Mas nada é algo que não existe,
portanto não pode gerar coisa alguma. A equação 0 + 0 = 1 está querendo dizer
que você reúne conjuntos vazios e forma um conjunto com conteúdo. O surgimen-
to do Universo não é isso. É o surgimento sem ter do que provir, isto é “de nada” e
não provindo “do nada”. Isto é essencialmente diferente e é uma possibilidade,
enquanto surgir “do nada” não é. Matematicamente você poderia equacionar isto
como: “ = 1”, sem nada do lado esquerdo, nem o zero. Isto é, se o sinal de igual re-
presenta o início do Universo, então antes não há coisa alguma, nem “o nada”. E
depois existe tudo.
277. Em sua visão, seria possível difundir às massas o ateísmo, ou, ao me-
nos, a idéia de respeito às pessoas que optam por essa posição filosófi-
ca? (Ateísmo, Educação, Comportamento)
Claro! Para tal é preciso que se eduque filosoficamente o povo. E isto é papel

126
PERGUNTE.ME
da escola. Filosofia tem que ser dada desde os últimos dois anos do Ensino Fun-
damental (8º e 9º). E todo mundo tem que ter, pelo menos, o Ensino Fundamen-
tal. De preferência também o médio, inclusive lavradores, lixeiros, faxineiros, aju-
dantes de pedreiro, empregadas domésticas (que, aliás, nem deviam existir). E
todos têm que filosofar, isto é, questionar tudo o que existe: Deus, religião, pátria,
família, propriedade, dinheiro, tradições, sociedade, política, governo, capitalis-
mo, comunismo, educação, saúde, habitação, segurança, criminalidade, cultura,
trabalho, lazer, relacionamentos, enfim... tudo. Questionar, contudo, não significa,
necessariamente, contestar, mas sim criticar, ver se tem valor ou não, propor me-
lhorias ou alternativas, em suma, entender as razões, as causas, os propósitos, o
funcionamento de tudo. E, aí, fazer sua opção de vida. Então será possível se con-
siderar a possibilidade da inexistência de Deus.
278. O que dizer sobre Paulo Coelho? (Literatura)
Um escritor superficial, de grande apelo popular por abordar temas que as
pessoas gostariam que fossem verdade, como poderes mágicos. Vende ilusões
numa embalagem vistosa. Literariamente deixa a desejar, isto é, sua escrita não é
arte. É como Sidney Sheldon e Harold Robbins. Mas ganha dinheiro. Só já li "O Di-
ário de um Mago" e desisti. Talvez leia alguns outros para firmar meu juízo a seu
respeito ou modificar.
279. Porque você acha mais sensato dizer que não existe um Deus, se não
existem provas de sua inexistência? (Ateísmo)
É claro que esta é a opção, quando não se há provas nem contra nem a favor,
mas também não há evidências. Se Deus não é evidente, há que se provar que
exista, caso contrário, a hipótese a ser considerada é a de que não exista. Além
disto, há muitos indícios de sua inexistência, como a existência do mal, o não
atendimento de preces, o sucesso dos pecadores, o infortúnio dos justos, a inexis-
tência de milagres, a existência de múltiplas religiões, as imperfeições da nature-
za, a existência de doenças e inúmeros outros fatos. E mais: a suposição de sua
existência provoca grandes problemas filosóficos a respeito de sua relação com o
Universo. Isto sem falar da concepção cristã do Deus tri-pessoal, do qual Jesus
Cristo seria a encarnação da segunda pessoa. Esta questão da redenção é muito
mais complicada de se aceitar do que a criação. Nem menciono a crença na divin-
dade da eucaristia, de tão inconcebível que é.
280. Já leu a Bíblia? (Pessoal, Religião)
Não completamente, mas muitos textos, especialmente os evangelhos, o apo-
calipse, algumas epístolas, o ato dos apóstolos, o gênesis, muitos salmos, o êxodo
e capítulos de outros livros.
281. O que acha de Dan Brown? (Literatura)
Excelente escritor. Bom para urdir tramas instigantes. Além do mais, escreve

127
Ernesto von Rückert

bem. Bem melhor que o Jô Soares. Como Tolkien. O que não se pode é considerar
que o que ele escreve seja verdade e não ficção.
282. Qual a sua opinião a respeito da família? (Sociologia)
Uma instituição limitadora das possibilidades de realização humana, por se
restringir a um círculo reduzido de pessoas. Estou falando da família mononucle-
ar (pai, mãe e filhos). Considero que o núcleo da sociedade deva ser mais amplo,
se quiser ainda denominado família, mas com maior abrangência de pessoas, isto
é, não só irmãos e irmãs com seus cônjuges, filhos, primos, sobrinhos, netos e os
cônjuges destes, mas também abrindo a possibilidade de pluralidade de cônjuges
para cada pessoa, inclusive com intercruzamentos entre os membros. Isso forma
um grupo muito mais coeso e capaz de propiciar apoio mútuo, além de conjugar
esforços para a subsistência e para a realização pessoal de todos.
283. O que você diria a respeito do fim do mundo em 2012? (Esoterismo)
Baboseira completa! Sem o mínimo fundamento. Tudo com base em fatos
mitológicos inteiramente desprovidos de qualquer justificativa plausível. 2012 é
o término do 13º baktun que são ciclos de 394 anos do Calendário Maia. Isto se-
ria, para eles, o fim da quarta fase da criação. Mas nada diz que seria o fim do
mundo. Além do mais, o que vem a ser “fim do mundo”? Pode ser a extinção da
humanidade apenas, o fim da toda a vida na Terra, a aniquilação do planeta ou do
Sistema Solar, a cessação da passagem do tempo ou a aniquilação do Universo in-
teiro, desaparecendo tudo e restando nada. A qual desses “fins de mundo” 2012
se reporta? E mais: porque supor que o que os Maias disseram a respeito seria
verdade?
284. Por que ainda vale apena ser professor? (Educação, Pessoal)
Porque é a melhor maneira de conseguir influenciar as gerações que deterão
as rédeas do mundo futuro, para que elas possam transformar este mundo num
lugar realmente bom, aprazível, justo, próspero, igualitário, harmônico, fraterno.
Professor é quem mais pode ser capaz de provocar as mudanças de mentalidade
necessárias para isto. Ser professor é uma das maiores realizações de uma pes-
soa, depois de ser pai e mãe. Porque o professor é o pai e a mãe das mentes. Isso é
notável e é um motivo pelo qual se vale viver a vida, mesmo que não se fique rico
e se tenha que trabalhar muito. É muito mais gratificante do que ser um médico,
um sacerdote ou um empresário, do meu ponto de vista. Fui professor a vida toda
e ainda o sou, mesmo não dando mais aulas e tenho muito orgulho de minha pro-
fissão. Estou já na terceira idade e não tenho bens nem fortuna, nenhuma propri-
edade, nenhuma poupança. Só tenho minha biblioteca, que doarei ao povo. Mas
tenho a satisfação imensa de ter vivido minha vida em prol da educação, dado
mais de vinte mil aulas, para mais de três mil alunos do Ensino Médio e do Supe-
rior. Veja minha avaliação na Universidade em:

128
PERGUNTE.ME
http://www.ruckert.pro.br/texts/avaliacao_ernesto.pdf.
285. Anarquista? Você acredita que a sociedade conseguiria viver bem em
libertinagem e sem leis? Como? (Anarquismo)
Anarquismo não é libertinagem de modo nenhum. Anarquismo é uma socie-
dade livre, mas altamente organizada, ordeira, responsável e trabalhadora, que
faz tudo o que precisa ser feito com disciplina porque considera que assim é que
deve ser, sem ser preciso coação de nenhuma espécie para tal. Por isso é que o
anarquismo não pode ser implantado. Tem que ser alcançado por vontade da
própria sociedade, por um processo educativo ao longo de muitos séculos. E não
pode haver um país anarquista. Tem que ser o mundo todo. Um mundo, não só
sem leis, nem governo, dinheiro, propriedade, fronteiras, prisões, exércitos, polí-
cia, mas pacífico, trabalhador, solidário, cooperador, honesto, idôneo, generoso,
enfim, virtuoso, mas de forma livre, sem pressão nem punição. E isto porque to-
dos concluirão que assim é que é melhor para o bem de todo mundo, para a ma-
ximização da felicidade. Como se poderá chegar lá? Só por um meio: educação!
Educação para o altruísmo, com o fim de todo o egoísmo, para a diligência, com a
extirpação da preguiça, para a generosidade, com a abolição da cobiça e da ga-
nância. Isso é possível e eu tenho confiança de que será atingido em menos de mil
anos.
286. Pode explicar melhor o que fala quando diz que o surgimento do Uni-
verso é um fato fenomenológico e não lógico? (Cosmologia)
Fenomenológico significa que é um acontecimento, um fenômeno da nature-
za, cuja ocorrência se dá por si mesma, independente de qualquer explicação. Ló-
gico é algo que se conclui que tem que ser por algum tipo de raciocínio. Não há
raciocínio que permite chegar a uma conclusão a respeito do modo como surgiu o
Universo. Só se pode induzir por uma extrapolação dos fenômenos que se obser-
va. Em outras palavras: não é lógico que o surgimento do Universo tenha se dado
sem que fosse proveniente de algo, mas é o que ocorreu, pois se o Universo é o
conjunto de tudo e sua expansão mostra que houve um momento em que ele ini-
ciou, então pode-se inferir que antes disso não havia coisa alguma, pois, se hou-
vesse, já existiria o Universo. Então ele surgiu sem que proviesse de algo prece-
dente. Isto é uma conclusão fenomenológica, que não se pode demonstrar a partir
das leis que se sabe que descrevem o comportamento da natureza. Mas, antes do
início do Universo, não havia natureza e, logo, leis que descrevessem o seu com-
portamento. Então não se pode tirar conclusão lógica nenhuma a respeito. Dizer
que ele foi criado por algum ente extrínseco a ele, contraria sua própria definição
como o conjunto de tudo, isto é, não existe coisa alguma que não pertença ao Uni-
verso. Se Deus criou o Universo, ele não faz parte dele, mas, por definição, teria
que fazer. Então, se Deus existe, sempre existiu, algum Deus o criou ou surgiu do
nada. Então o Universo teria sempre existido. Porque não supor que o Universo
surgiu sem ter de que provir?

129
Ernesto von Rückert

287. Que ideais você acredita que devem ser adotados e preservados para
construir uma sociedade mais harmoniosa e saudável no futuro? (Soci-
ologia, Comportamento)
Cada ser humano precisa ter o ideal de ser virtuoso, isto é, de fazer o bem. Só
assim se construirá uma sociedade ideal, porque constituída de seres ideais. Isto é
um problema de educação. É preciso educar para praticar o bem, sem pensar em
recompensa. Nem a salvação eterna. O bem tem que ser praticado pelo seu valor
intrínseco e não porque traz alguma vantagem. Quando todo mundo só pensar em
fazer o bem para todo mundo não haverá mais crimes e se poderá construir uma
sociedade ideal que, para mim, é a anarquista.
288. Até aonde você acredita que o nome próprio tenha importância para a
preservação da identidade de um indivíduo? (Psicologia)
Acho que não tem importância. Qualquer que seja o nome a pessoa é o que
ela é, independentemente dele. Exceto, talvez, no caso de nomes que possam cau-
sar constrangimento. Neste caso, muda-se, e pronto. É claro que, qualquer que se-
ja ele, precisa ser mantido para que se faça a identificação da pessoa com o seu
nome e, assim, a fama da pessoa, para o bem ou para o mal, ficará associada ao
nome. Mas ele pode ser qualquer um. Não acho que o nome seja capaz de influen-
ciar o comportamento da pessoa por ser este ou aquele. Mas isto é uma opinião. O
fato precisa ser objeto de alguma pesquisa ampla, da qual não tenho conhecimen-
to.
289. O anarquismo é bem interessante, mas acho que seria mais interessan-
te se o mundo inteiro estivesse sob as mesmas leis. Afinal o homem
tende a ser mau e fazer o mal a seu semelhante. Logo o ideal de liber-
dade poderia se tornar libertinagem. (Anarquismo)
O homem não tende a ser mau nem bom. Ele tem capacidade para ser um ou
outro. Evitar que se faça a opção pelo mal é uma questão social e de educação. É
preciso ver que ser mau não é um comportamento que leve à felicidade, que é o
bem maior que se almeja. A sociedade tem muito mais pessoas boas do que más.
As boas precisam ser mais atuantes e fazerem com que todo comportamento ma-
lévolo seja prejudicial a quem o tenha. Colocar o mundo todo sob leis únicas não é
boa idéia, porque existem muitas diferenças culturais. O ideal é não ter lei ne-
nhuma e as pessoas agirem da forma correta por conta própria. E depois, quem
definiria quais leis seriam as adequadas? Nem sempre a opinião da maioria é a
correta. E quem poderia se arvorar em ser o dono da verdade?
290. "É preciso educar para praticar o bem, sem pensar em recompensa.
Nem a salvação eterna". O Cristianismo não acredita na salvação por
meio da pratica do bem. Só por meio da fé em Deus é que somos salvos.
(Religião)

130
PERGUNTE.ME
Esta é a versão calvinista do Cristianismo, que não é a única e nem pode ser
considerada correta em relação a outras. Depois, esse negócio de salvação é mui-
to esquisito. Ser salvo de quê? Porque uma pessoa que não tenha fé em Deus, mas
seja boa, seria condenada? Condenada a quê? Ao inferno? O que é isso? Além dis-
so, a salvação ou a condenação pressupõe que haja uma alma imortal que sobre-
vive à morte do corpo. Mas o que é isso? De que se conclui que existe tal coisa?
Pecado original é outra coisa complicada. Quem cometeu tal pecado se não se po-
de saber a partir de qual indivíduo se estabeleceu a espécie humana? A lenda de
Adão e Eva certamente não pode ser levada a sério. Mas, sem ela, onde fica o sig-
nificado do pecado original? E se não existiu pecado original, qual o sentido da
redenção? Mesmo que houvesse um sentido, como é cruel um Deus que exige o
sacrifício de seu próprio filho para aplacar sua ira pelo pecado da humanidade. Se
ele, de fato, é bom, porque não perdoou apenas, como prega que se deve fazer? De
fato, de todas as religiões, o Cristianismo é a mais implausível. O Espiritismo é
mais coerente. Ou mesmo o Budismo, o Hinduísmo e o Islamismo.
291. O homem tem capacidade de ser o que quiser, mas na maioria das ve-
zes se torna mau, quando se depara com um mundo de pessoas egoís-
tas, injustas, orgulhosas e nada humildes. (Ética, Educação)
Não é verdade que o homem se torna mau na maioria das vezes. Pelo contrá-
rio. Há mais pessoas boas do que más. A questão é que, geralmente, as pessoas
boas são menos afirmativas, enquanto as más se impõem. Um aspecto da educa-
ção, que é deixado de lado nas escolas, é a educação do caráter e, nisso, há que se
cultivar a assertividade, que é o comportamento de se afirmar sem passividade,
mas sem prepotência. Isto tem que ser treinado como uma habilidade em aulas.
Nosso sistema educacional é muito falho por centrar-se quase exclusivamente no
acúmulo de informações e conhecimentos, mas não no desenvolvimento de habi-
lidades e na formação de padrões de conduta. É preciso que os bons não dêem
chance, com firmeza, aos maus, de realizarem suas maldades. A educação é capaz
de eliminar o egoísmo. Mas isso é trabalho para um processo educativo longo, ao
longo de muitas gerações (alguns séculos).
292. Quem se aventura a ser bondoso e amoroso em um mundo onde é lou-
vável ser mau, acaba sendo taxado de bobo. Nós somos muito imperfei-
tos para vivermos sem alguma instituição que reprima a nossa vontade
de destruir nosso semelhante. (Ética, Sociologia, Comportamento)
Uma pessoa boa só é taxada de bobo se for humilde e submissa. Pode-se ser
bom e praticar o bem de forma altiva e serena, sem se inferiorizar e sem ceder às
pressões dos maus para agir como eles querem. Para tal tem-se que ser também
corajoso, destemido, forte, valente, diligente. Essas são as virtudes de uma pessoa
de valor, que as alia à generosidade, solidariedade, compaixão, tolerância, bonda-
de, justiça, honestidade, sinceridade e todas as virtudes relativas ao amor e à ver-
dade. Ter vontade de destruir o semelhante não é normal e sim uma patologia a

131
Ernesto von Rückert

ser corrigida pela sociedade, não tolerando tal conduta.


293. Como explicar a existência de algo improvável, mas que se possa sentir,
por exemplo, o amor? Em um mundo como o nosso, muitos poderiam
dizer que ele não existe, uma vez que não podemos vê-lo ou provar sua
existência. (Comportamento)
É claro que se pode experimentar o amor! Amor é algo que muita gente vive
com intensidade. Por ele pessoas se sacrificam e não se importam com isto, pelo
contrário, até ficam satisfeitas. Isto é comum. O testemunho e a vivência de mui-
tos atestam que o amor existe sim. Não só o que seja visível existe. O ar existe.
Pensamentos existem. Sentimentos existem. Valores existem. Mas Deus não exis-
te. Nem alma.
294. "Em primeiro lugar o Caos existiu e, daí, espontaneamente, Gaia, a mãe
natureza". Mitologia Grega, Hesíodo, século 7 AC. Em outras mitologias,
a causa primária do Universo também é aleatória. O mito cristão surgiu
para sufocar outras crenças, já que as repudia? (Religião, Cosmologia)
O mito da criação adotado pelo Judaísmo, Cristianismo e Islamismo não é
cristão e nem judaico, mas foi assimilado a partir das culturas mesopotâmicas,
como também o greco-romano. Neles há coincidências e discrepâncias. Este é um
assunto interessante, mas que ainda não tive oportunidade de me aprofundar, pa-
ra saber em que momento e lugar começaram a divergir. De qualquer modo, to-
dos eles provêm de tradições orais pré-históricas e não possuem base cientifica
nenhuma, não precisando ser levados em consideração para a elucidação da ori-
gem do Universo.
295. Qual é a sua opinião a respeito da música de Tchaikovsky? (Música)
Gosto muito, apesar da crítica negativa de muitos, ao compará-lo com Mus-
sorgsky e os alemães, como Brahms. Certamente que Brahms e Beethoven estão
num patamar mais elevado, em termos de arte musical. Mas Tchaikovsky é muito
bom. É um mestre na arte de produzir efeitos grandiloquentes, humorísticos,
marciais, patéticos, lúgubres, sentimentais, eufóricos, melancólicos. Em suma, é
um compositor das emoções. E domina seu métier com maestria, especialmente
em orquestração. Que ele não seja um fiel seguidor das estruturas, como a forma
sonata, não depõe contra ele, pois Liszt também não era. Gosto de suas seis sinfo-
nias, do Manfredo, dos três concertos para piano e do de violino, das aberturas
bem como da música de câmara. Já dos balés, nem tanto. Quanto às óperas, ainda
não as ouvi.
296. Professor, você acha que o Cristianismo está em decadência? Se sim,
qual a estimativa de duração que você daria pra ele? (Religião)
Não sei. Por um lado parece que a sociedade está cada vez mais vivendo sem
se importar com religião, especialmente o ocidente cristão. Por outro lado, em

132
PERGUNTE.ME
certos grupos, há um recrudescimento do fundamentalismo, mesmo cristão. Mas
parece que são grupos isolados e minoritários. O grosso da população segue uma
religiosidade superficial, baseada mais em rituais do que em convicções doutriná-
rias. Assim é que quase todos os casais católicos usam pílula anticoncepcional,
apesar da condenação papal. E o sexo antes do casamento é corriqueiro. Muita
gente se diz católica não praticante: não vai à missa nem se confessa. Para mim,
não são católicos. Essa liberalização é irreversível, segundo penso, e, fatalmente,
levará ao esvaziamento do Cristianismo, especialmente do Catolicismo. Quase não
se tem mais pessoas dispostas a serem padres e freiras. Mas isto é um processo
lento e ainda dou para o Cristianismo alguns séculos de existência.
297. Considerando-se um homem que não possua senso do bem e do mal,
você o consideraria um homem mau se ele tomasse atitudes que fos-
sem consideradas antiéticas, embora ele não tenha prejudicado a vida
de outro ser de forma direta e intencional? (Ética)
Se isso existir, o que não acho que aconteça, exceto em patologias, de fato es-
sa pessoa não é má, pois a maldade, do ponto de vista do executor, só acontece
quando há a intenção livre e consciente de causar prejuízo, sofrimento, dor, tris-
teza, infelicidade em quem seja objeto dela. Daí não lhe poder ser imputada cul-
pabilidade. A questão é saber se a pessoa realmente é portadora dessa anomia, o
que requer uma análise psicológica difícil.
298. É claro que se pode experimentar Deus! Amor é algo que muita gente
vive com intensidade. Por ele pessoas se sacrificam... O testemunho e a
vivência de muitos atestam que Deus existe sim. Você não acha? (Reli-
gião)
Não. São fatos diferentes. Amor não é uma entidade e sim um sentimento as-
sociado a uma vontade. Se a pessoa sente amor e decide amar, então ele está exis-
tindo nela. Se uma pessoa tem a convicção de que Deus existe e tem a sensação
interior de sua existência, isto não garante que, de fato, ele exista, pois não se tra-
ta da concepção e da percepção de sua existência e sim de sua existência, objeti-
vamente falando. Podem-se ter convicções sobre a existência de muitas coisas e
várias pessoas as têm, sem que elas, de fato, existam, como é o caso da crença em
elementais. Pessoas podem agir em função de suas crenças, mesmo que não cor-
respondam a verdades, como se assim o fossem e pautarem suas vidas por essas
crenças estando completamente enganadas. Por exemplo, os cristão, judeus e mu-
çulmanos não crêem na reencarnação, mas os espíritas, hinduístas e budistas sim.
Estes vivem em função dessa crença e os cristãos até zombam dela. Há comprova-
ções cabais de que seja falsa? Da mesma forma os cristãos crêem no juízo particu-
lar e na salvação ou danação após a morte, da alma imortal da pessoa. Pode-se
provar que isto seja a verdade? Crer não é garantia de verdade para nada. Nem a
vivência de acordo com a crença. Senão tanto seria verdade que a alma se reen-
carna quanto que não, pois há quem creia numa e noutra coisa. Como podem ha-

133
Ernesto von Rückert

ver duas verdades que se contradizem?


299. O que você pensa sobre o determinismo? (Física, Metafísica)
Uma concepção completamente equivocada, que consiste em considerar que
causas idênticas provocam efeitos idênticos, nas mesmas circunstâncias. Tal con-
cepção, assim como a de que todo evento seja efeito de alguma causa, provém de
um raciocínio induzido a partir da observação das ocorrências nas escalas de
tempo e dimensões acessíveis à percepção dos sentidos humanos. Com o advento
da Física do mundo submicroscópico, atômico e nuclear, tais noções se revelaram
inexistentes no comportamento da natureza, nesse nível. Assim não apenas cau-
sas idênticas provocam efeitos diferentes, nas mesmas circunstâncias, como tam-
bém há eventos que não são efeitos de causa alguma. Mesmas causas levam a uma
gama de efeitos, cada qual com a sua probabilidade de ocorrência, havendo ocor-
rências que se dão sem causa, como o decaimento radioativo, a emissão de fótons
e o surgimento de pares de partícula e antipartícula. No mundo macroscópico, os
eventos são resultantes de um número muito grande de microeventos (como os
macroestados de um sistema correspondem a um grande número de microesta-
dos possíveis). Uma abordagem estatística leva a uma probabilidade tão concen-
trada em relação a uma dada consequência macroscópica, que se pode, na prática,
falar em termos de determinismo. Mas o importante é que, fundamentalmente, o
determinismo e a causalidade não são necessidades, mas apenas uma consequên-
cia estatística de eventos elementares indeterminísticos e, até, incausados.
300. O aquecimento global é decorrente de causas antrópicas ou naturais?
Se naturais, gostaria que explicasse. (Geociências)
Tanto umas quanto outras, mas com imensa preponderância das causas na-
turais. De fato, o aquecimento que ora se verifica é um componente de curto perí-
odo de uma série temporal de variações de temperatura, com períodos superpos-
tos de várias magnitudes. Numa escala de tempo mais ampla, o planeta está em
processo de atingimento de uma nova era glacial, dentro de uns dois ou três mil
anos, sendo o aquecimento atual apenas a subida de um dente de serra em uma
linha de tendência ao resfriamento global. Isto não significa que não se tenham
que tomar medidas para evitar este aquecimento, mesmo que seja de curto perí-
odo (algumas décadas ou poucos séculos), pois a grande população do mundo
atual certamente, no total, será muito mais sensível às variações na temperatura
do que já o fora no passado. As causas naturais se ligam, principalmente, aos ci-
clos das manchas solares e das variações dos parâmetros da órbita terrestre, co-
nhecidos como "Ciclos de Milankovitch". São eles a excentricidade da órbita, sua
obliquidade, as precessões do periélio e dos equinócios, e a potência radiante do
Sol.
Veja este artigo e suas referências:
http://en.Wikipedia.org/wiki/Milankovitch_cycles.

134
PERGUNTE.ME
301. Da mesma forma que o amor existe e não é provado, apenas sentido,
Deus também existe, já que muitas pessoas sentem Deus. Tanto a expe-
riência amorosa quanto a de contato com Deus provocam alterações
visíveis na atividade cerebral. Deus não existe? (Religião)
O que você quer dizer ao afirmar que a existência do amor não é provada? É
claro que é, pois é uma evidência o fato de senti-lo. Como já disse em outra res-
posta aqui, com Deus é diferente, pois sentir amor já é confirmar sua existência, já
que ele é um sentimento. Sentir Deus não confirma sua existência, pois Deus não
é um sentimento e sim uma entidade objetiva, que, se existir, isto não depende de
se crer ou sentir. O fato de sentir Deus provocar alterações mentais não significa
nada quanto a confirmar sua existência. Quem acredita em assombração também
sofre alterações mentais quando supõe que esteja perante uma, o que não garante
que existam.
302. O que você acha das maravilhosas lesmas marinhas, e da bela diversi-
dade de cores que elas apresentam? (Biologia)
Maravilhosas! Realmente magníficas. Uma beleza! Vejam isto:
http://www.google.com.br/images?q=lesmas+marinhas&um=1&ie=UTF-
8&source=univ&ei=202TTN2gJoL_8AbAz6SMDA&sa=X&oi=image_result_group&
ct=title&resnum=4&ved=0CCwQsAQwAw&biw=1600&bih=710
303. Religiões que pregam que devemos ser bons para que possamos alcan-
çar o reino dos céus, são ridículas. Não podemos fazer o bem esperando
algo em troca. (Religião)
É isso aí. Assim penso. O bem é um valor em si mesmo e tem que ser buscado
sem se condicionar a recompensa nenhuma, sequer a salvação eterna. Porque o
bem, a verdade, a justiça são condições para a existência harmônica, pacífica e
fraterna da coletividade das pessoas humanas. Condicionar a bondade a qualquer
recompensa é uma atitude mesquinha e egoísta. Apesar do egoísmo, aparente-
mente, ser um fator favorável à sobrevivência individual, na verdade, conside-
rando que todos nós somos membros de uma sociedade e só seremos beneficia-
dos se a sociedade como um todo assim o for, vê-se que o egoísmo obra no senti-
do de prejudicar a coletividade e, em decorrência, a cada um de seus membros.
Somente o desprendimento e o espírito de colaboração e solidariedade, ao invés
da competição e da fruição de vantagens é que pode levar ao aumento do bem es-
tar e da felicidade coletivas.
304. Deus é uma entidade subjetiva ou objetiva? (Religião)
Subjetiva. Mas quem crê em sua existência considera que seja objetiva. Como
subjetiva trata-se de um conceito, que só existe nas mentes. Não se questiona a
existência do conceito de Deus, mas sim do ente objetiva e substancialmente con-
siderado, fora das mentes. É isto que os ateus, como eu, consideram que não exis-

135
Ernesto von Rückert

te.
305. Viva o anarquismo! Poderia me dar alguns "discursos do método" para
por a anarquia em pratica na sociedade atual? Sei que é uma utopia,
mas e daí? (Anarquismo)
O anarquismo pode ser gradualmente implantado se as pessoas se dispuse-
rem a dedicar parte do seu tempo a trabalhar de graça em benefício da coletivi-
dade. Se se dispuserem a compartilhar seus bens, abdicando da propriedade. Se
tomarem a iniciativa de resolver os problemas da cidade por sua conta, sem ape-
lar para o poder público. Por exemplo, catar o lixo, varrer as ruas, consertar os
canos, roçar os matos. Quanto menos se envolver o governo em tudo, melhor. Fa-
zer as coisas de forma espontânea, sem institucionalizar, sem criar sociedades,
ongs e nada disso. Só reunir as pessoas e trabalhar, procurando conseguir tudo
sem o uso do dinheiro, por doações e serviço voluntário, sem registro, sem conta-
bilidade, sem pagar imposto. Isto é anarquismo, ou seja, fazer tudo de forma efici-
ente e eficaz sem organização formal. Ninguém é dono de nada. Todo mundo tra-
balha, uns pelos outros, ajudando-se mutuamente. Ninguém ganha nada com isso.
Ninguém é preguiçoso, ninguém cobiça nada. Ninguém quer pagamento e nem se
importa de trabalhar mais do que o outro ou que outros sejam mais beneficiados
do que ele. “De cada qual, segundo sua capacidade; a cada qual, segundo suas ne-
cessidades”.
306. Duvidar de tudo ou crer em tudo, são duas soluções igualmente cômo-
das, que dispensam, ambas, de refletir. (Ceticismo)
Acho que duvidar metodicamente não dispensa refletir, pelo contrário. Ao
duvidar e não aceitar qualquer assertiva como verdadeira sem conferir, aí é que
se vai refletir sobre a validade ou não do que se está dizendo. Crer, sem duvidar é
que dispensa refletir. Pode-se até crer em algo sem provas, mas apenas depois de
se refletir sobre os indícios de plausibilidade daquilo que é proposto para crer.
Para mim o ceticismo é a condição básica para filosofar.
307. Bertrand Russell disse que não se poderia ser feliz sobre a infelicidade
dos outros, mas que seria preciso tolerar a felicidade dos outros. O que
acha? (Comportamento)
Bertrand Russell é meu guru. Mas não é o caso de se "tolerar" a felicidade do
próximo e sim de desejá-la tão intensamente quanto a nossa. Isso é que é ser
aquilo que muitas religiões chamam de "santo". O ideal de uma vida. Viver para
que o mundo se torne mais justo, mais harmônico, mais fraterno, mais feliz, não
para uns, mas para todos. Não em nome da glória de nenhum deus, mas em nome
da própria humanidade, da própria natureza, da própria vida, do próprio Univer-
so. Não para garantir a salvação eterna, mas para conquistar a própria paz, ale-
gria, realização, felicidade e recompensa por se viver a vida plena e significativa-
mente.

136
PERGUNTE.ME
308. Você considera a religião importante para o homem? (Religião)
Não. Pelo contrário, atrapalha. Infelizmente a história levou o homem a criar
religiões. Trata-se de um fenômeno antropológico que, primeiro, surgiu do desejo
de encontrar explicações para o, então, inexplicável. Daí o surgimento dos mitos.
Então eles foram apropriados por um grupo de espertos que os transformaram,
em conjunto com os detentores do poder político, em instituições que pretendem
regular e controlar a vida do povo em proveito dos mandatários e sacerdotes de
todo tipo. Com isto podou-se o espírito crítico e a possibilidade do povo gerir seu
próprio destino. Por ser contra isto é que Sócrates foi morto. A Filosofia é que de-
veria ter sido a mestra dos povos, como o queria desde o início Pitágoras. Se as
religiões não tivessem sido inventadas e o homem se pautasse pela Filosofia o
mundo hoje seria muito mais pacífico, fraterno, solidário e benéfico para todas as
pessoas. Religião, ao contrário do que este nome significa, contribui para separar
pessoas em grupos de crentes em diferentes doutrinas, que se tornam inimigos
uns dos outros. Não vejo o dia em que as religiões possam ser extintas e as pesso-
as passarem a fazer o bem por seu próprio valor, independentemente de se pre-
tender obter algum tipo de salvação, não sei de quê. Aí a humanidade se tornará
uma única família.
309. Para você a vida tem algum sentido? Se sim, como é possível não rela-
cioná-lo a Deus? (Comportamento, Religião)
Extrinsecamente, não. O sentido, a razão e o propósito da vida é a própria
vida. A vida existe para se manter, propagar-se. Surgiu por acaso, sem motivo ne-
nhum. Mas é uma raridade preciosíssima. Por isto precisamos preservá-la a todo
custo. Não só a de cada um, nem só a da nossa espécie, mas de toda a natureza.
Crimes, guerras e devastações promovidas pela humanidade são o cúmulo da ig-
norância e da burrice. Preservar a vida é despir-se do egoísmo, pessoal, de classe,
de raça, de gênero, de nacionalidade, de espécie e se abrir altruisticamente para a
doação ao outro, seja ele nosso amigo ou não, seja da nossa raça ou não, da nossa
classe ou não, do nosso sexo ou não, da nossa espécie ou não. Este é o significado
que é preciso dar à nossa vida. Viver para que, por causa de nossa vida, o mundo
se torne um lugar melhor para todos os seres, humanos ou não. Sabendo que esta
vida é única: não há nada após a morte. Portanto o tempo urge.
Isto não tem nada a ver com deus nenhum. Não se precisa considerar que
exista ou não Deus para dar significado à vida. Se existir Deus, isto não muda em
nada o significado a se dar à vida. Se não existir, que é o que eu penso, também
continua a mesma coisa.
310. O que você toma por moral? (Ética)
Moral é ética são coisas correlatas, mas diferentes. E nenhuma delas tem ori-
gem nas religiões. Pelo contrário, foram as religiões que se apossaram da moral
(mas não da ética) como parte do ferramental para controle de seu rebanho. A

137
Ernesto von Rückert

moral existe em toda sociedade, mesmo as primitivas, e consiste em um corpo de


prescrições comportamentais a serem cumpridas pela pessoa, para que seu con-
vívio com os demais seja aceito dentro do que se tornou costume para aquele
grupamento, naquele tempo, lugar e estrato social. A moral é, pois, uma disciplina
prática normativa e relativa ao contexto. O que é moral para certa sociedade, em
certa época, pode não ser noutra época ou noutra sociedade.
Já a ética é filosófica. A ética discute a razão das ações humanas e procura
achar justificativas para sua aprovação ou condenação com base nos critérios de
certo e errado, bom ou mau, justo ou injusto, honesto ou desonesto, verdadeiro
ou falso, virtuoso ou viciado e outros do tipo. Busca, portando, independente dos
costumes, definir os critérios para que algo seja ou não certo, bom, justo, honesto,
verdadeiro ou virtuoso. E busca, também, definir que escolha seria a certa, entre
essas possibilidades. É importante frisar que a eticidade de uma ação se prende à
sua intenção e não à sua execução e só pode ser imputada se a ação foi realizada
de forma livre e desimpedida de qualquer coação. Três critérios sobressaem den-
tre os que já foram levantados para a eticidade: o primeiro refere-se à caracterís-
tica daquela ação promover a maximização da felicidade para o maior número de
seres ou ao contrário; o segundo se liga ao fato da ação poder ou não ser erigida
como norma universal a ser prescrita para todo mundo e o terceiro se a ação se-
ria uma que o autor gostaria de ser alvo ou não. Outros critérios, de menor valor,
se prendem à utilidade e à lucratividade, por exemplo, que, em minha opinião,
deveriam ser rejeitados.
311. Refleti bastante e, com as informações de que disponho, cheguei à con-
clusão que admiro o trabalho que você vem realizado, mesmo com difi-
culdades e decepções. Acredito que o caso do vídeo do Ensino Médio
deve ter sido uma frustração. Agradeço sua ajuda no esclarecimento de
minhas questões. (Pessoal, Comportamento)
Obrigado. Esta é uma missão que a mim mesmo me impus na vida. Esclare-
cer a todos para que reflitam e decidam com conhecimento de causa. Principal-
mente, difundir o “livre-pensamento” e o “ceticismo”, como posturas essenciais
para a condução da vida. Libertar as pessoas dos jugos dogmáticos religiosos,
ideológicos, políticos ou o que sejam. Que cada um seja ele mesmo e não cristão,
muçulmano, hinduísta, budista, judeu, capitalista, comunista ou o que seja. Con-
testar todo argumento de autoridade. Ninguém é dono da verdade: nem Jesus,
nem Marx, nem Maomé, nem Einstein, seja quem for, nem eu.
312. Hitler, de forma antagônica a Nietzsche, em termos de crença, deriva-se
de um personagem até oposto. Pois Nietzsche arrebenta a Filosofia com
o martelo e afirma não existirem verdades absolutas. Já Hitler diz que,
em nome de sua religião, havia uma e a fez. (Filosofia)
No meu entendimento a "vontade de poder" segundo Nietzsche, é um prin-

138
PERGUNTE.ME
cípio vital, que ele até considera de toda a natureza, mesmo inanimada, que leva o
ser a querer poder, no sentido de "ser capaz" de agir e não necessariamente de
"dominar". Hitler interpretou neste último sentido e fez da Filosofia de Nietzsche
um sustentáculo de seu projeto de dominação. Da mesma forma ele identificou o
"übermensch" com a raça ariana, algo que Nietzsche jamais pretendeu. O über-
mensch é uma superação individual a ser obtida por qualquer pessoa, de qual-
quer raça. Trata-se de uma concepção ideal da transcendência em relação ao ho-
mem comum para um ser inteiramente livre e poderoso, sábio e virtuoso, liberto
de todas as amarras de religiões e códigos morais ultrapassados, que se realiza
plenamente na vida, conquistando sua felicidade pela realização plena de suas
capacidades sem restrições.
313. Qual é sua opinião a respeito da obra de Johann Wolfgang von Goethe?
(Literatura, Ciência)
Como poeta e literato, um gênio, apesar de eu não apreciar o romantismo
exacerbado do "Sturm und Drang", exemplificado no Werther. Ao tratar de Ciên-
cia, em sua "teoria das cores", contudo, Goethe equivoca-se em muitas coisas,
construindo uma proposta baseada em suas opiniões e não em explicações cientí-
ficas devidamente confirmadas.
314. Você saberia me indicar um livro que trate de Matemática de forma
clara e objetiva? (Matemática, Educação)
Depende do seu objetivo: Se for um livro em nível médio para preparar-se
para um vestibular, recomendo os volumes únicos do Chico Nery ou do Iezzi-
Dolce. Se for para você se inteirar de Matemática em geral, como uma pessoa que
não lida com Matemática, recomendo "O que é a Matemática", de Courant& Rob-
bins. Se for para você entender de Matemática a fundo, recomendo "A Course of
Higher Mathematics" de Vladimir Ivanovich Smirnov, em cinco volumes, traduzi-
do do Russo para o Inglês pela Pergamon, também disponível em francês pela
Mir. Ambas coleções estão esgotadas mas podem ser achadas em sebos ou consul-
tadas em bibliotecas. Em minha opinião é a melhor obra sobre Matemática dispo-
nível.
315. Universos que não possuem qualquer forma de vida ou entidade capaz
de percebê-los ou teorizar sobre eles não existem? Se sim, seríamos
nós quem daríamos sentido ao Universo de existir, pois ele seria como
um belo quadro não exposto? (Cosmologia)
Considero que só existe um Universo: este em que estamos. Mas ele poderia
não conter nenhuma forma de vida. Nem por isso deixaria de existir. O fato de não
ser percebido por mente alguma não impede a existência de modo nenhum. Além
disso, a nossa existência não confere significado ao Universo, exceto para nós
mesmos. Ele, em si, não se importa nem um pouco com a nossa existência. Enten-
dendo por significado ou sentido o motivo, a razão e o propósito para qualquer

139
Ernesto von Rückert

coisa, o Universo não tem sentido nenhum, tampouco a nossa existência.


316. Se o Universo se expandise a uma velocidade super-luminal, poder-se-
ia dizer que ele fosse infinito? (Cosmologia)
É preciso entender que a velocidade de expansão de uma parte do Universo
em relação a outra não significa movimento relativo, não estando, portanto, sujei-
ta às restrições da Teoria da Relatividade. Trata-se da taxa de variação do espaço
em relação ao tempo e não da taxa de variação da posição de algo no espaço em
relação ao tempo. Assim ela pode ser supraluminal. Este fato, contudo, não impli-
ca na infinitude do Universo. Considerando a constante de Hubble como
71km/s.Mpc, pode-se inferir que a recessão se torna luminal à distância de 4.225
Mpc, isto é, 13,7 bilhões de anos-luz, distância denominada "raio de Hubble", pois
o que estiver fora dele não poderá ser observado. Mas este valor supõe que a
constante de Hubble tenha permanecido constante todo o tempo, o que não é fa-
to. Quer o Universo seja finito ou infinito, pode haver conteúdo externo a esse
raio de Hubble. A finitude ou não do Universo está ligada à relação entre os pa-
râmetros de densidade e dasaceleração da expansão. Tais parâmetros são defini-
dos convenientemente na literatura especializada e a comparação entre eles
permite decidir se o Universo é finito ou infinito. Dados atuais indicam que seja
infinito.
317. Faço uma extensão do Gato de Schrödinger: Até que alguém perceba o
Universo, ele estará em todos os estados possíveis, inclusive o de ine-
xistência? (Cosmologia, Quântica)
Esta questão precisa ser bem compreendida. Observador, em quântica, não é
um ser consciente, mas apenas um sistema que receba dados sobre o estado de
outro sistema. Todo sistema é um subsistema do Universo. No momento em que
parte do Universo comunicar a outra parte do Universo dados sobre seu estado
ela indicará alguma das possibilidades, o que se chama "colapso". Para o Universo
como um todo, não há outro sistema a que comunicar algum dado. O que se pode
dizer é que qualquer subsistema é capaz de ser informado sobre o estado do resto
do Universo, fora ele. Assim a inexistência como um possível estado, só pode ser
entendida como a inexistência do resto do Universo, exceto o observador, que se-
ria todo o Universo, se o resto não existisse. Isto é, realmente, uma possibilidade.
Se não tivéssemos contato algum com o resto do Universo não poderíamos saber
que existe. No entanto temos esta informação. Não havendo seres conscientes,
mesmo assim, os subconjuntos do Universo podem perfeitamente trocar dados
entre si, não implicando que, necessariamente, a falta de um observador consci-
ente implique em que o estado do Universo seja o de inexistência.
318. Não entendo o conceito de Universo infinito. Se ele teve um começo fi-
nito e se expande a uma velocidade finita, demoraria um tempo infinito
pra ele atingir um tamanho infinito, não? (Cosmologia)

140
PERGUNTE.ME
Se o Universo é infinito, ele sempre o foi, desde que começou. Apenas que, no
momento inicial, a densidade era imensamente grande (mas não infinita). Mas ele
se estendia infinitamente e assim continua todo o tempo. O que muda é o fator de
escala das distâncias, isto é, o tamanho do espaço entre dois pontos fixos. Mas o
espaço estende-se infinitamente. A massa de um Universo infinito sempre é infi-
nita. O tamanho, mesmo que aumente, continua sendo infinito. O “Universo Ob-
servável”, isto é, a porção que podemos (teoricamente) ver, pois houve tempo da
luz chegar até nós desde que ele começou, é que é finito e, no Big Bang, se concen-
trava num volume quase nulo. É neste Universo que observamos a expansão do
espaço, bem como de sua fronteira, pois, passando o tempo, mais de longe pode
vir a luz que nos alcança.
319. Por que você não acredita na teoria do Multiverso? A teoria mais acei-
tável hoje em dia não é que o nosso Universo surgiu do atemporal nada
quântico? E se este é infinito e o Universo surgiu dele, por que não sur-
giriam outros Universos de lá? (Cosmologia)
O que é "nada quântico"? O que eu conheço é o "vácuo quântico", que é um
estado em que o espaço está preenchido por um campo indiferenciado que, por
alguma flutuação, pode dar azo ao surgimento de pares de partícula e antipartícu-
la. Mas há um campo e este campo possui energia, que se transformará na massa
das partículas que emergirão. Nada é a ausência de tudo, inclusive do espaço va-
zio. Não é possível se dar o surgimento de coisa alguma a partir do nada, inclusive
porque nada não é nenhuma entidade nem o estado de alguma coisa. Nada é a au-
sência de qualquer coisa: tempo, espaço, matéria, campo e radiação. Não sendo
coisa alguma não possui atributo nenhum, como energia, massa, carga, extensão,
duração ou o que seja. O Universo não surgiu “do nada” e sim surgiu “de nada”,
isto é, sem que tivesse do que ser proveniente, o que é outra coisa e não um mero
jogo de palavras. Surgir do nada implicaria a existência de um "nada", o que não
há. Nada não é algo. O surgimento do Universo não é descrito por nenhuma lei fí-
sica atualmente vigente, porque elas descrevem o comportamento do que existe.
A passagem da inexistência para a existência, quando relativa à totalidade do que
existe, é um evento único, pois, existindo algo, isto já passa a ter um funcionamen-
to que pode ser descrito por leis. Nesse evento poderiam ter-se dado inúmeras
possibilidades, pois não havendo nada, tudo é permitido, não havendo proibição
alguma. Mas, uma vez que surgiu o que há, as outras possibilidades ficaram per-
didas. Outros Universos significam outras possibilidades, mas não que elas te-
nham sido realizadas. Esses Universos são hipotéticos. Por definição, Universo é o
conjunto de tudo o que existe, portanto não podem existir outros Universos, pois
o que quer que seja que exista, pertence ao Universo. O que se pode ter são partes
disjuntas do Universo, isto é, incomunicáveis. Essas partes poderiam funcionar de
forma descrita por leis diferentes das que vigoram em nossa parte, sem que isto
implicasse em problema nenhum, pois nenhum sistema pertenceria em parte a
uma dessas partes disjuntas e, em parte a outra. Mas isto é uma conjectura im-

141
Ernesto von Rückert

possível de ser verificada, pois, por definição nada do que haja numa delas teria a
menor influência em outra. Como não há indício nenhum da existência desta situ-
ação, a hipótese mais aceitável é considerar que isto não existe, como se faz a res-
peito da existência de Deus.
320. Deixe-me ver se entendi: o espaço-tempo do Universo é infinito, mas
sua matéria não. É isso? (Cosmologia)
Não. Se o Universo for infinito, como parece que o seja, seu conteúdo, tanto
de matéria quando de radiação e campos, também o é, preenchendo o espaço ili-
mitadamente e existindo para sempre.
321. Você acredita na assertiva que, se não fossem os padrões morais de da-
da sociedade, com relação aos valores apregoados na Bíblia ou no puro
preconceito, a grande maioria das pessoas seriam bissexuais? (Com-
portamento, Relacionamento)
Não creio. A porcentagem de pessoas com atração simultânea pelos dois se-
xos já apurada está em torno de 4%, enquanto a de homossexuais em 13% e a de
assexuais em 1%, deixando 82% para a orientação heterossexual. As frações das
pessoas que têm comportamento não heterossexual, contudo, é menor, por causa
das pressões sociais. Não havendo tais pressões, pode se dar um aumento das fra-
ções não hetero, mas acredito que de pouca monta.
322. Qual a diferença entre consciência mítica e religiosa? (Religião)
A consciência mítica se transforma em religiosa quando se dá uma instituci-
onalização dos mitos em um sistema doutrinário das crenças, acompanhado de
uma organização hierárquica de profissionais da crença, de forma que, em torno
da crença, se ergue um verdadeiro empreendimento sócio-cultural que é uma re-
ligião. Os mitos não possuem este grau de sistematização e organização.
323. Quando o combustível das estrelas acabar, não haverá luz. Um Univer-
so de tamanho infinito sem nenhuma luz. O infinito de escuridão. Se
meu ateísmo acabar por me levar ao inferno, imagino que seja algo as-
sim. (Cosmologia)
Toda a luz já emitida continuará a permear o Universo, cada vez em menores
frequências, mas não se extinguirá. Para cada bárion de matéria no Universo,
existem um bilhão de fótons e eles continuarão por aí "per omnia secula seculo-
rum".
324. Você acha possível que a força do pensamento positivo seja capaz de
transformar nosso mundo para melhor? (Esoterismo, Sociologia)
Se por "força do pensamento positivo" está se falando de alguma influência
paranormal do pensamento sobre os acontecimentos, certamente que não, pois
isso não existe. Por outro lado, se muitas pessoas passarem a conceber o mundo

142
PERGUNTE.ME
de um modo não competitivo, mas cooperativo, não egoísta, mas altruísta, não
ganancioso, mas desprendido, então passarão a agir em conformidade com seu
pensamento e a convencer outros a pensarem do mesmo modo e, então, trans-
formarão o mundo.
325. Não concordo com a base informacional que você utilizou na resposta a
respeito da bissexualidade. Por que então em sociedades como a Grécia
antiga, a maioria da população praticava esta forma de relacionamen-
to? Não seria por causa da cultura deles? (Comportamento, Relaciona-
mento)
Os dados que indiquei estão disponíveis na internet para todos e têm por ba-
se pesquisas realizadas por sexólogos. Certamente que o fato de se viver em uma
sociedade em que o desvio da heterossexualidade não é tido como aceitável, in-
fluencia a pessoa a não assumir uma condição assim, prejudicando a pesquisa. No
entanto, não se tem outros dados disponíveis. Outras culturas, especialmente dos
aborígenes polinésios, em que a sexualidade não é reprimida nem regulamentada,
não apresentam níveis elevados de bissexualidade. A notícia que temos da bisse-
xualidade grega se refere apenas aos homens da classe dos eupátridas. Mas ela
não se dava entre homens adultos, mas sim entre homens e adolescentes, o que se
chamava “pederastia”. Não se sabe se os metecos (estrangeiros) e os hilotas (ser-
vos) também eram assim. Quanto às mulheres, sabe-se que havia o lesbianismo.
Veja isto:
http://jfreirecosta.sites.uol.com.br/artigos/artigos_html/gregos.html

326. A massa e energia do Universo não podem ser infinitas, pois ambas
surgiram, de um estado inicial com densidade finita. De onde o Cosmo
vai tirar matéria pra preencher sua infinitude? (Cosmologia)
Claro que pode! O fato de que o estado inicial tenha densidade finita não diz
nada sobre a massa total, que será infinita se a extensão do espaço for infinita. A
razão de duas grandezas que têm limite infinito não precisa ter limite infinito. A
declividade de uma reta é constante mesmo quando se considera pontos infini-
tamente afastados da origem. Quanto à questão sobre de onde vem a massa e a
energia, ela não tem resposta, nem se a massa e energia forem finitas. Não vem de
nada! Isto é que é o surgimento do Universo. Antes não há coisa alguma e, de re-
pente, há tudo, pois desde que o Universo surgiu seu conteúdo completo já existe
integralmente e continua a ser o mesmo. Mas na passagem da inexistência para a
existência não há conservação de coisa alguma: nem massa, nem energia, nem
carga, nem spin, nem número bariônico, nem número leptônico ou qualquer
grandeza descritiva que, atualmente, seja conservada. Essas conservações só se
dão uma vez que exista algo. Não existindo não há conservação de grandeza ne-
nhuma.

143
Ernesto von Rückert

327. O modo como se ensina a Ciência, desestimula os jovens a aprender?


(Ciência, Educação)
Nos anos iniciais do Ensino Fundamental não. Ali o ensino é estimulante e
desperta a curiosidade e o desejo de saber. Ao passar para os anos finais e para o
Ensino Médio, o deslumbramento científico começa a se dissolver. A razão é que
se passa a estudar para tirar nota e para passar no vestibular e não para saber.
Quando lecionei na Escola Preparatória da Aeronáutica, de 1968 a 1975, em Bar-
bacena, o ensino médio visava à aquisição de conhecimentos e habilidades impor-
tantes para a vida, sem preocupação com o que caísse ou não no vestibular. Então
conseguíamos despertar o gosto pelo conhecimento e o prazer em descobrir co-
mo o mundo funciona nos laboratórios a que se dedicavam duas aulas toda sema-
na. E todo mundo trabalhava diretamente com os equipamentos, em kits para ca-
da dois alunos. Além disso, tínhamos a bateria completa de filmes do PSSC (Physi-
cal Science Study Committee), que, mesmo rodados na década de 50, em celulóide
de 16mm e preto e branco, eram magníficos.
Realmente esse ensino massacrante de macetes para o vestibular ou para o
ENEM e a insistência em tópicos meramente tecnicistas, para que rendam muitas
questões, não leva à compreensão do âmago da natureza e da sociedade que as
ciências e as humanidades devem conceder ao egresso do Ensino Básico. Não se
deve pensar em encaminhar o estudante para as áreas de exatas, biológicas ou
humanas, nesse nível. É preciso dar uma visão ampla, global e abrangente de todo
o cabedal do conhecimento humano, para fazer uma pessoa culta e apta a com-
preender o mundo natural e social em que se insere, independentemente da área
profissional a que vá se dedicar. Um advogado tem que saber Matemática e Física,
um médico, História e Geografia, um engenheiro, Biologia e Literatura, no nível do
Ensino Médio, naturalmente. O vestibular não deve ser para ver se alguém é apto
para esta ou aquela área, mas se domina a totalidade dos conteúdos e habilidades
previstas para o nível médio.
Especialmente nas ciências naturais, é preciso que o estudante ponha a mão
na massa e faça trabalhos experimentais, pesquisas de campo, estudos "in loco"
do que se esteja abordando. Que redescubra, nos experimentos, as leis que des-
crevem o comportamento físico, químico, geológico e biológico da natureza. Que
seja capaz de induzi-las e deduzir seus corolários. Que saiba expressar em equa-
ções, gráficos, imagens e textos o que aprendeu, comunicando de modo que ou-
tros possam assimilar o conhecimento pelo que está dito. Aprender ensinando é o
melhor método. Que cada tema a ser abordado o seja em um projeto completo,
envolvendo grupos de alunos e professores de múltiplas disciplinas em trabalho
conjunto de gestação e parto do conhecimento e na aquisição de habilidades que
os apliquem na solução de problemas reais.
Isso também deve ser feito nas Ciências Humanas e nas disciplinas não cien-
tíficas, muito especialmente na Filosofia, que não pode ser descurada por ser a

144
PERGUNTE.ME
que unifica todo o saber e lhe confere perspectiva e sentido. Outras habilidades
precisam ser desenvolvidas de forma, até mesmo, lúdica, como o domínio de idi-
omas estrangeiros, das técnicas de informática e, até mesmo, de eletrotécnica,
mecânica, marcenaria, eletrônica, culinária, corte e costura, música, artes plásti-
cas, dança, teatro. Tudo isso em um regime de estudos integrados, em tempo in-
tegral, tanto pelos rapazes quanto pelas moças.
Infelizmente estamos longe desse ideal. Mas algo pode ser feito e depende,
principalmente, da disposição dos professores em abraçar um tipo assim de pro-
jeto e arcar com todos os esforços para concretizá-lo, dando muito “murro em
ponta de faca”, “caçando muita sarna para se coçar” e “inventando muita moda”
para se cansar. E, certamente, pelos diretores e coordenadores.
328. "O Universo não surgiu do nada e sim surgiu sem que tivesse do que ser
proveniente, o que é outra coisa". Poderia explicar como isso é possí-
vel, ou mesmo faz sentido? (Cosmologia)
É claro que é possível, pois ele está aí e não existe desde sempre, o que se
pode concluir das observações (mas não do argumento Kalam). Até mesmo as
cosmogonias que atribuem a Deus a criação do Universo, consideram que ele cri-
ou tudo o que existe sem ter do que extrair tal conteúdo. Como isto ocorreu não
se sabe e talvez nunca se saiba. Mas isto não significa que, por não se saber, se
conclua que tenha sido obra de Deus. Que faz sentido, é claro que sim. Não faria se
o surgimento do Universo estivesse coberto pelas leis de conservação que vigo-
ram atualmente. Mas essas leis também surgiram com o Universo e, se o surgi-
mento tivesse se dado de outra forma, poderiam ser outras. O Universo não "obe-
dece" às leis da natureza. Pelo contrário, elas "descrevem" o comportamento do
Universo. Não havendo Universo, não há lei a descrever seu comportamento. As-
sim nada impede que surja tudo sem que seja proveniente de nada. Aliás, o sur-
gimento de tudo sem provir de nada é a única coisa que faz sentido a respeito do
início do Universo.
329. Professor, o que acha da criogenia? Vale a pena gastar dinheiro com is-
to quando morrer? Você acha que a Ciência conseguirá reanimar teci-
dos humanos mortos conservados no futuro? Acha que seria bom viver
de novo? (Ciência, Comportamento)
Certamente que seria bom viver de novo, ou viver indefinidamente, pois as-
sim se teria tempo para aprender muita coisa e conhecer mais ainda. É claro, só
se for com saúde. Não posso dizer se será possível, no futuro, reviver as pessoas
que foram congeladas, mas acho que há a possibilidade, sem garantia. No entanto,
não considero válido o investimento financeiro neste projeto para alguns privile-
giados. Se se está fazendo um experimento, que se arregimentem cobaias, sem
cobrar nada. Eu me candidataria.
330. Os cosmólogos já chegaram num consenso sobre o que é a luz? E o éter,

145
Ernesto von Rückert

o que seria, no sentido científico? (Física, Ótica)


Claro que se sabe o que é luz, mas isto não é assunto da Cosmologia e sim da
Física. Luz é uma onda eletromagnética dentro de uma faixa de comprimentos de
onda entre 380 e 780 nanômetros, perceptíveis pelo olho humano. A luz, como
todas as ondas eletromagnéticas, é quantizada em fótons, que são "pacotes de
onda", sem massa, mas com energia e momentum, além de spin. O fóton é a sua
própria antipartícula, o que lhe coloca em posição privilegiada. Fótons, como to-
dos os bósons (partículas de spin inteiro que obedecem à estatística de Bose-
Einstein), podem ser criados e aniquilados à vontade, não possuindo conservação
de número. Sistemas físicos ao saltarem entre seus níveis de energia relacionados
com a interação eletromagnética, o fazem com a emissão e absorção de fótons. Da
mesma forma a aniquilação de uma partícula com sua antipartícula se dá com a
emissão de fótons. Os fótons da radiação de fundo do Universo, na faixa de micro-
ondas, provieram da aniquilação da matéria com a antimatéria, existindo na ra-
zão de um bilhão deles para cada bárion de matéria que sobrou dessa aniquila-
ção. O éter, meio proposto para ser o propagador da luz, na verdade não existe. A
luz e todas as ondas eletromagnéticas (raios cósmicos, raios gama, raios X, ultra-
violeta, infravermelho, microondas e ondas de rádio) se propagam no vácuo, sem
necessidade de meio de propagação. Os próprios campos elétricos e magnéticos
oscilantes se autopropelem. A luz só existe propagando-se com a velocidade da
luz, que é a mesma para qualquer referencial. Veja este artigo:
http://en.Wikipedia.org/wiki/Light.
331. E quando nós encontramos um presidiário que, de dentro da sua cela,
diz que não tem mais ninguém no mundo, apenas Jesus? Nesse caso a
religião não seria um recurso saudável e insubstituível que ajuda a su-
perar os problemas, apesar de não ser verdadeira? (Religião, Espiritua-
lidade)
De jeito nenhum! A espiritualidade filosófica é um recurso imensamente me-
lhor para consolar do que qualquer religião. Nem Jesus, nem Maomé, nem Bu-
ddha, nem Krishna, nem Lao Tsé, nem Allan Kardec, por suas mensagens relativas
a qualquer realidade sobrenatural, podem dar à pessoa o consolo que a medita-
ção puramente filosófica é capaz. Para se valer disto a pessoa tem que possuir
uma boa bagagem filosófica e isto deveria ser objeto de um aprendizado amplo e
profundo na escola, num nível de prioridade superior ao do conhecimento cientí-
fico e humanista em geral. Porque a Filosofia é a mestra da vida, é a disciplina que
se debruça sobre a realidade para refletir sobre ela e tirar lições de vida e sabe-
doria. Dentre essas está a superação dos infortúnios, a sobranceria perante a mi-
séria, a doença, a desgraça e, até, a morte. Assimilando as lições dos grandes filó-
sofos, até mesmo dos líderes religiosos, considerados como filósofos e não como
representantes de divindade nenhuma, a pessoa pode colocar-se num estado es-
piritual de desapego dos valores mundanos e amor à virtude que lhe dá a certeza

146
PERGUNTE.ME
de seu valor intrínseco e o conforto de sempre estar do lado do bem e da verdade,
pelo que nada teme, sequer o sofrimento. Não é preciso se valer de nenhuma
crença na sobrevivência de alguma pretensa alma imortal, nem da esperança de
uma eterna bem aventurança paradisíaca. A vida bem vivida é galardão bastante
e suficiente para a glória e a paz interior de uma pessoa virtuosa. É interessante
conhecer a mensagem de Krishna, Epicteto, Seneca, Marco Aurélio, Lao Tsé, Só-
crates, Buddha, Jesus (o homem), Kabir, Hakim Sanai, Comte-Sponville e outros
sábios espiritualistas. Mas é preciso entender que espiritualidade não tem nada a
ver com a existência de espíritos como entidades sutis sobrenaturais. Considero
que espiritualidade é um conceito desvinculado de crenças e religiões. Trata-se
de um conceito filosófico, entendido como atitude de vida. É aquela atitude de se
priorizar os valores mais elevados e nobres da humanidade, como bondade, soli-
dariedade, cordialidade, gentileza, altruísmo, compaixão, abnegação, diligência,
nobreza de caráter, justiça, honestidade, lealdade, sinceridade, coragem e bravura
na defesa do bem, da virtude e de todos os valores mencionados, bem como a be-
leza, o conhecimento, a prudência, a sabedoria e tudo que seja edificante, enle-
vante e capaz de fomentar a paz, a harmonia, a alegria e a felicidade de todos os
seres. Trata-se de uma disposição de viver virtuosamente e em prol do outro, da
coletividade, da humanidade e de toda a natureza, despido de todo e qualquer
egoísmo, orgulho, soberba, inveja, avareza, maledicência, vaidade, ambição, mes-
quinhez, desonestidade, prepotência, enfim, de todos os vícios. É um desejo de
fazer prevalecer o bem, a virtude, o conhecimento e a sabedoria sobre o mal, a ig-
norância e o vício.
Isso é independente de qualquer crença em Deus e na existência de espíritos
e de uma alma imortal, como bem mostra o filósofo André Comte-Sponville.
Um criminoso que esteja cumprindo pena pode encontrar conforto na medi-
tação filosófica, desde que tenha se arrependido de seus atos e se tornado uma
pessoa de bem, em seu foro íntimo. Se não se arrependeu e continua com propósi-
tos malévolos, então é bom mesmo que não tenha consolo nenhum.
332. Você confia na Wikipedia? (Informação)
Sim, especialmente em inglês e quando os artigos possuem uma extensa lista
de referências, que eu sempre confiro. Além de trazer hiperlinks cruzados para
conceitos correlatos, de modo que se pode fazer um cotejo, os artigos em inglês
costumam ser umas vinte vezes mais extensos do que em português. Para assegu-
rar um melhor entendimento costumo consultar o tópico em português, inglês,
francês, espanhol e italiano, línguas que sou capaz de ler. Já montei várias aposti-
las de artigos correlatos sobre certos temas, que me dão um verdadeiro compên-
dio sobre o assunto. Por exemplo, montei apostilas com base na Wikipedia sobre
neurociências, interpretações da mecânica quântica, cosmologia, eclipses, música
clássica (vários volumes), epistemologia, lógica, metafísica, ateísmo, história da
arte, teoria da evolução e muitos outros temas do meu interesse.

147
Ernesto von Rückert

333. Quero um dia estudar etnoastronomia e arqueoastronomia, se puder. O


que devo fazer? Procurar pela Física (Educação, Aconselhamento)
Você deve fazer Astronomia, que é uma pós-graduação da Física. Mas precisa
também estudar Biologia, especialmente Evolução e Paleontologia, além de An-
tropologia, Pré-História e Arqueologia. Não precisa fazer todos os cursos, mas sim
disciplinas avulsas. Para tal precisa se matricular em uma Universidade que tenha
tudo isso. Recomendo a USP de São Paulo. Veja no IAG, como fazer Astronomia e
como cursar essas disciplinas de outros cursos. Vai demorar mais tempo, mas
vale a pena. Quem se dedica ao estudo formal de ciências exatas tem mais facili-
dade de acompanhar disciplinas de ciências humanas de forma avulsa do que o
contrário.
334. Em que difere o conceito de éter do conceito da "matéria escura" do
Cosmo? (Cosmologia)
Matéria escura é matéria que não emite luz. O espaço é preenchido por gás,
poeira, planetas, asteróides, buracos negros, anãs marrons, anãs negras, estrelas
de nêutrons e outros objetos invisíveis. Ao que parece, contudo, a maior parte da
matéria escura é composta de partículas subatômicas exóticas, como áxions e
neutralinos, além de neutrinos e prótons e elétrons livres. Cerca de 23% do con-
teúdo de matéria-energia do Universo é matéria escura, 5% é matéria luminosa e
72% é a dita "energia-escura", cujo nome não é apropriado, já que energia não é
uma entidade e sim um atributo de entidades. Trata-se de algum campo que pro-
move uma espécie de repulsão, responsável pela aceleração da expansão do Uni-
verso, em sentido oposto à gravitação, que a desaceleraria. Tanto uma quanto a
outra não têm nada a ver com "éter", pois este, se houvesse, seria um meio sutil,
não massivo e nem energético. Éter, simplesmente, não existe.
335. O que faz alguém ser bom em Matemática? (Matemática, Educação,
Comportamento)
Normalmente uma grande fascinação por ela. Quem acha Matemática uma
"boa temática" e adora cálculos, raciocínio lógico, figuras geométricas e todos os
assuntos que são tratados pela Matemática, normalmente se dedicará com prazer
ao seu estudo e ficará afiado nisso. A primeira condição para ser competente em
qualquer assunto é gostar dele, mas gostar prá valer. Isso significa, em Matemáti-
ca, que a pessoa estuda muito além do que é exigido na escola e tira um grande
prazer em ficar resolvendo problemas matemáticos, ao invés de fazer outra coisa,
como ver televisão ou jogar futebol, por exemplo. Gostando se acha fácil e tudo
vira um círculo vicioso: acha fácil porque gosta e gosta porque acha fácil, que nem
tostines. Mas isso tem que vir desde a mais tenra infância. É difícil começar a gos-
tar de Matemática se não se gostou desde criança. É nos primeiros anos do fun-
damental que se define esse gosto. Talvez seja uma propensão nata, como para
música. O fato é que quem acha Matemática fácil e fica bom mesmo nela, adora

148
PERGUNTE.ME
Matemática. Quem sente dificuldade não gosta e quem não gosta não consegue
ficar bom.
336. "O Universo não surgiu do nada e sim surgiu sem que tivesse do que ser
proveniente, o que é outra coisa". Esta é uma colocação sua, da qual
não discordo, até por que não a entendi bem. Expressei-me mal na per-
gunta anterior. Na realidade, gostaria de entender como pode ser isto.
(Cosmologia)
Você quer saber como pode algo surgir sem provir de algo precedente. Não
se sabe como, mas se não se admitir isso não há como explicar a origem de tudo.
Se se disser que foi por obra de Deus, isso não é explicação, pois então se teria
que dizer de que modo Deus fez surgir tudo, sem que houvesse nada antes. Com
Deus ou sem Deus o conteúdo do Universo apareceu sem provir de conteúdo ne-
nhum que lhe precedesse. Se houvesse um conteúdo anterior, então já haveria
Universo e seria preciso explicar o surgimento desse conteúdo anterior. Uma al-
ternativa é considerar que tudo sempre existiu. Não há nenhum impedimento ló-
gico nem ontológico para tal. O fato de ter havido um surgimento é inferido a par-
tir de uma extrapolação para o passado da expansão cósmica observada. Há teo-
rias que consideram que o conteúdo que iniciou a expansão proveio da contração
final de um conteúdo prévio, de forma que o Universo se expandiria e contrairia
em ciclos. Como os dados observacionais indicam que o Universo se expandirá
indefinidamente, não é de se supor que haja ciclos e, portanto, a expansão come-
çou no Big Bang e não tinha nada antes (nem "antes").
Explicarei de novo a diferença entre "surgir do nada" e "surgir sem ter do
que provir", isto é, “de nada”. No primeiro caso, admite-se que exista algo, o "na-
da", uma entidade sem conteúdo, nem tempo nem espaço, da qual tudo teria pro-
vido. No segundo caso não se considera a existência de entidade nenhuma, nem
algum "nada" e, então, o que existe surgiu sem provir de coisa alguma. Não é pos-
sível existir algo que não tenha conteúdo nem espaço nem tempo e, se existisse,
disso não se poderia provir coisa alguma, pois provir é uma transformação. O
surgimento do Universo não é uma transformação, nem de nada em algo. Trans-
formações supõem a existência de uma situação anterior e uma posterior. Antes
que existisse tempo não havia situações e nem algum momento que possa ser
chamado de "anterior".
337. Qual é a coisa mais generosa que você já fez? (Pessoal)
Vendi tudo o que tinha e dei o dinheiro para a família. Hoje não tenho nada
em meu nome e vivo só do salário do mês, que, aliás, nem dá para as despesas. Em
minha vida toda sempre gastei todo o meu dinheiro com a família e nunca fiz
poupança nenhuma. A única coisa em que gastei meu dinheiro, além de comida e
outras despesas domésticas, foi em minha biblioteca, que doarei ao povo. Nada
deixo de herança em termos materiais.

149
Ernesto von Rückert

338. "Uma pessoa em busca da verdade." Por favor, defina qual a verdade
que procura. (Pessoal)
Se eu a procuro, ainda não sei qual é. O que procuro é qual descrição do Uni-
verso está de acordo com o que ele realmente é, em si mesmo. Isto inclui saber se
há uma razão e um propósito, como surgiu e como se estrutura e evolve, não só o
Universo, mas também a vida e, especialmente, a vida inteligente. Provisoriamen-
te tenho minhas respostas, mas sem garantias de que sejam a verdade, por isso
não deixo de buscá-la. Penso que, talvez, seja impossível alcançá-la no prazo de
minha vida, mas isto é um projeto que vai além de mim mesmo. No meu "Credo"
coloquei o que considero como minhas verdades provisórias. Mas algumas eu te-
nho como definitivas, por exemplo, a atitude de ser um livre-pensador cético e
minha crença na existência de um mundo objetivo, exterior a minha mente. Quan-
to à existência de Deus e de espíritos, acho que não existem, mas admito que pos-
sa estar enganado. Contudo acho muito difícil me convencer desse engano. Da
mesma forma, minhas convicções éticas são muito fortes e demover-me delas não
será fácil. O mesmo acontece com minhas convicções anarquistas, projeto de so-
ciedade que almejo para a humanidade e sonho que será alcançado em menos de
mil anos.
Veja meu credo em:
http://wolfedler.blogspot.com/2008/11/meu-credo.html.
339. Scientific American é revista científica ou de divulgação científica? (Ci-
ência)
Divulgação científica, sem dúvida. Aliás, uma das melhores.
340. A dieta vegetariana tem algum fundamento científico? O que acha dela?
E seu apelo emocional? (Comportamento, Saúde)
Em parte sim, mas não inteiramente. De fato, carne em excesso não faz bem.
Mas o homem é um animal biologicamente onívoro e tem enzimas para digerir
carne, o que não acontece com os animais verdadeiramente herbívoros. Inclusive
não sintetiza todos os aminoácidos necessários para a formação de todas suas
proteínas e precisa de vitamina B12, só encontrada em alimentos de origem ani-
mal. Um vegetarianismo extremo (veganismo) não faz bem à saúde. Leite é um
alimento inadequado para mamíferos adultos, então há que se comer carne ou
ovo. Quanto ao aspecto do sentimento de pena dos animais que se abate para co-
mer, é preciso ver que assim é a natureza. Não se pode impedir que alguns co-
mam os outros, senão muitas espécies predadoras serão extintas. Já que temos
consciência, o que se pode e se deve fazer é tratar e abater os animais sem cruel-
dade.
341. Você acredita que vale a pena viver um amor escondido? (Relaciona-
mento, Aconselhamento)

150
PERGUNTE.ME
Escondido? Não acho que valha a pena. Porque não ser aberto para todo
mundo saber? Acho que, quando se ama alguém, o bom é que isto seja divulgado e
todo mundo saiba. Se você tem um companheiro(a), namorado(a), esposo(a),
amante ou o que seja e se apaixona por outro(a), no meu entender não se pode
manter o romance em segredo. É preciso que se diga isto para o(a) companhei-
ro(a), porque enganar alguém é algo vil e torpe, não se podendo admitir de forma
alguma. Então há duas possibilidades: ou ele(a) admite ter o seu amor comparti-
lhado com outro(a) e vocês vivem um "menage a trois", inteiramente consentido
por todos os envolvidos ou vocês interrompem o relacionamento e você fica só
com o novo. Se você não quer isto, então renuncie ao novo. Se você acha que, só
de contar o caso, seu companheiro(a) romperá com você e você não quer que isso
aconteça, não conte e não vá adiante com essa paixão. Para mim, contudo, não há
problema nenhum em se manter relacionamentos plurívocos, todos envolvendo
amor sincero e intenso, com relacionamento carnal e todos os demais compro-
missos que isto envolve, como dedicação, companheirismo, amizade, cuidado re-
cíproco e apoio emocional, doméstico e financeiro. É claro que você tem que ad-
mitir que seu(ua) companheiro(a) também possa viver outros relacionamentos
em paralelo. Isso deveria ser permitido pela legislação com todas as implicações
legais envolvidas nos relacionamentos monogâmicos entre pessoas de sexos
opostos ou do mesmo. Isso é uma extensão do conceito de família para uma célula
bem mais ampla e flexível, não perdendo as características de núcleo social res-
ponsável pela manutenção das necessidades cotidianas da vida e pelo apoio recí-
proco de seus membros. Assim é que considero que devam ser as células de uma
sociedade inteiramente anarquista, como almejo que a humanidade venha a se
tornar.
Mas se o seu amor é escondido da própria pessoa amada, então você está vi-
vendo um amor platônico, e isso não é bom, inclusive para a saúde. Você tem duas
opções: ou se declara a essa pessoa e vê o que vai acontecer ou procura outra
pessoa, mesmo, a princípio, não a amando tanto. Quando se encontra alguém que
nos ama, acabamos amando esse alguém também. Isso não significa que você vai
deixar de amar aquela primeira, e isso tem que ficar claro para a segunda. Mas,
quando se tem um amor realizado efetivamente, outro amor, só platônico, pode
ser suportado.
342. Willian Lane Craig diz que os ateus apresentam argumentos contra a
existência de Deus, mas não apresentam boas evidências para se ado-
tar a posição ateísta. O que acha? (Ateísmo)
Craig está inteiramente enganado. Ao atacar a fé, qualquer fé, não só a cristã,
o ateísta propõe algo muito melhor para substituí-la: a razão. Só a razão, assesso-
rada pela dúvida metódica e pela investigação empírica, é capaz de alcançar a
verdade, jamais a fé. A fé não pode ser critério de verdade nenhuma, pois existem
fés sinceras em coisas inteiramente distintas que, certamente, não podem ser to-

151
Ernesto von Rückert

das verdadeiras, pois a verdade é única. É preciso, pois, um critério extrínseco à fé


para decidir qual a verdadeira, ou se nenhuma o é. Ora, então porque não adotar
logo esse critério e deixar de lado toda e qualquer fé? Só isso já é um excelente
motivo para abandonar qualquer fé. Além disso, não há nenhuma evidência ou
comprovação de que exista algo a que se possa chamar Deus, segundo o conceito
que se tem de tal tipo de entidade. Isso não significa que não exista, mas mostra
que não se deve supor que exista, até se ter alguma prova de que exista, já que
não é evidente. O ônus da prova está em provar a existência e não a inexistência,
justamente pela falta de evidência da existência. Não é preciso evidência da ine-
xistência se não há evidência da existência, nem é preciso provar a inexistência.
Os indícios da inexistência, porém, são enormes. Se o conceito de Deus inclui o
fato de ser onipotente, onisciente, onipresente e benevolente, então como expli-
car a existência do mal? Só se ele não for benevolente ou não for onipotente. Mas
neste caso, seria Deus? Ou, então, se for malévolo.
Se Deus é um ser perfeitíssimo, porque criou um Universo tão cheio de im-
perfeições, como doenças, por exemplo? Só se for um incompetente. Mas, então,
seria Deus? Se é onisciente, porque não atende as orações das próprias pessoas
que crêem nele? A fração de orações que são atendidas é tão ridícula que é intei-
ramente indistinguível das ocorrências aleatórias. Não há como considerar que
algum Deus vele pelo bem das pessoas. Desgraças acometem a qualquer um, seja
justo ou injusto, bondoso ou malvado. Da mesma forma que vantagens.
343. Quem é você de verdade? (Pessoal)
Nascido no Rio de Janeiro em 1949, filho de Fernando von Rückert (carioca)
e Lygia Barbosa von Rückert (gaúcha), fui criado e estudei em Barbacena, Minas e
vim para Viçosa em 1976. Sendo meu avô paterno austríaco, minha avó paterna
portuguesa, meu avô materno baiano, minha avó materna gaúcha e eu criado em
Minas Gerais, tenho em mim uma pluralidade muitas vezes conflitante de modos
de viver, que assimilei com proveito.
Matemático (UNIPAC/UFV), Físico e Cosmologista (CBPF), Professor Univer-
sitário Aposentado (Física Quântica, Relatividade, Eletromagnetismo, Mecânica
Clássica, Métodos Matemáticos). Ex-Professor da EAFB, EPCAR, UNIPAC, UFSJ,
UFJF e UFV (Barbacena, São João del Rei, Juiz de Fora e Viçosa, Minas Gerais).
Fundador do Curso de Física, Ex-Chefe do Departamento de Física, Ex-
Coordenador do Curso de Física, Ex-Pró-Reitor de Graduação e Ex-Chefe de Gabi-
nete do Reitor da Universidade Federal de Viçosa (UFV). Atualmente sou Vice-
Diretor de uma Escola de Nível Médio (Anglo-Viçosa).
Professor, ensaísta, poeta, pintor, compositor, cantor, programador. Membro
da Academia de Letras de Viçosa (Minas). Ex-Vice-Presidente da “Associação dos
Amigos da Orquestra de Câmara de Viçosa”.
Casado (Fátima, 1957 – 2ª vez)
Filhos (Érika,1978 – Dimitri,1981)

152
PERGUNTE.ME
Genro e Nora (Kerly.1977, Marido da Érika e Daiane,1983, mulher do Dimi-
tri)
Enteados (Adla,1980 – Amanda,1982 – Márcio,1984 – Mayra,1986)
Netos (Aléxia,1997 – filha de Érika – Miguel, 2009, filho do Márcio)
Sem rótulos: Um livre pensador, cético, racionalista, ateu, humanista, estói-
co, epicurista, anarquista, poliamorista. Alguém que crê e luta pelo prevalecimen-
to do bem, pela maximização da felicidade do maior número de seres e pela dis-
seminação da beleza em todos os aspectos da vida. Ex-católico, atualmente sem
religião.L
Atividades: Amar, filosofar, lecionar, pintar, escrever (poemas, ensaios), can-
tar, compor música, ouvir música clássica, caminhar, viajar, estudar (ciência),
pesquisar, ler, conversar, ensinar, fazer programas no computador, navegar na
internet.
Meu trabalho é meu lazer. Minha vida é a procura do entendimento do Uni-
verso, da verdade real sobre todas as coisas. Nesse caminho eu aprecio a maravi-
lha do mundo, a beleza da arte e da ciência, o prazer do amor, faço tudo o que
posso para ajudar as pessoas de todas as maneiras e denuncio e procuro anular
toda e qualquer falcatrua e malvadeza de que tomo conhecimento.
No trabalho sou uma pessoa competente, responsável, entusiasmada e sem-
pre disposta a ajudar, mas sou obstinado e teimoso. Considero que sempre estou
certo porque, quando convencido de que não, mudo de opinião. Mas não sou fácil
de convencer. Por ter certeza de minha competência, emano autoconfiança e en-
caro as tarefas como se não houvesse amanhã. Sou capaz de encampar o mais di-
fícil dos projetos, na medida em que ele for suficientemente desafiante, tirando-
me da rotina. Considero ter uma personalidade brilhante e um caráter ilibado o
que me faz atuar como um farol, se bem que alguns colegas possam alimentar cer-
ta animosidade pela minha extravagância e aparente presunção. Sou completa-
mente avesso a qualquer modismo, estereótipo ou bajulação.
Sou prestativo e amigável, sempre propenso à conciliação e infenso à compe-
tição. Gosto de ensinar o trabalho aos outros e me alegro com seu progresso. Evi-
dentemente não participo de intrigas e fofocas e jamais puxo o tapete de quem
quer que seja, mesmo se me for inimigo. Felizmente não tenho conhecimento de
ter nenhum inimigo.
Tenho tendência a exagerar em me incumbir de mais do que possa aguentar,
o que normalmente resulta em prazos perdidos e uma atitude de adiamento, não
por ser preguiçoso ou enrolador, mas porque meu entusiasmo e perfeccionismo,
às vezes, me exaure a energia. Minha aparente indiferença é enganosa – eu real-
mente me importo com o que faço, apenas mantenho uma atitude tranqüila, que
me permite continuar sorrindo, mesmo quando já perdi tempo demais com algu-
ma coisa ou perceba que a dificuldade é quase intransponível.
Só porque sou flexível e calmo, isso não significa que não diga exatamente
como me sinto – o que dá certo para mim e o que não dá. Não sou capaz de cum-
prir ordens cegamente – preciso entender a razão, o objetivo e o processo envol-

153
Ernesto von Rückert

vido em qualquer tarefa. O que me faz sentir motivado são os novos e desafiantes
projetos, mas, questionar minhas intenções é o modo mais rápido de me aborre-
cer. Não sou capaz de cometer fraudes ou trabalhar em qualquer projeto desones-
to. Isto me faria denunciar imediatamente o caso.
Tenho a tendência a não me importar com o tempo, o custo ou o esforço
despendido para fazer qualquer coisa. Assim posso dizer que não sou eficiente,
mas sou muito eficaz, já que viso sempre a excelência do resultado, a qualquer
custo. Sou uma pessoa nem um pouco prática, vendo as coisas sempre pelo aspec-
to teórico. Filosofo muito sobre a razão de todas as coisas, questionando as cau-
sas e as finalidades do que quer que seja num contexto mais abrangente do que o
interesse imediato da empresa ou instituição.
Sou uma pessoa de extrema confiança e honestíssimo em tudo o que faço.
Por isso não sou bom para negócios porque tenho muito escrúpulo em não causar
prejuízo a ninguém, exceto a mim mesmo. Não sou capaz de tirar proveito da in-
ferioridade do outro e nem sequer de levar alguma vantagem indevida. Considero
a transparência um requisito essencial em tudo, portanto não acho correta a ocul-
tação de nada, mesmo que redunde em prejuízo.
Como chefe ou patrão, sou compreensivo, mas quero dedicação e competên-
cia. Dou todas as condições para o trabalho e espero que seja feito no capricho.
Sempre estou disposto a perdoar, mas quem me for desleal ou se aproveitar de
minha condescendência para não cumprir o combinado, não conte mais comigo
como empregador.
Outro aspecto de minha personalidade que quero ressaltar é que sou uma
pessoa jovial e alegre, gosto de cantar e até fazer brincadeiras, do tipo instigante,
cuja compreensão requeira certo grau de inteligência, sem nunca, contudo, fazer
troça de ninguém. Nunca faço uso de sarcasmo nem de ironia. Não lanço indiretas.
O que tenho que dizer o faço de forma direta e explícita. Mas me magôo e me en-
tristeço quando questionam minhas intenções ou me imputam alguma culpa in-
devida. Se cometo algum erro ou falha, reconheço de pronto e me empenho em
sanar suas consequências, custe-me o que for.
Que defeitos eu me atribuiria? Primeiro: sou gordo e não estou conseguindo
emagrecer. Porque gosto muito de doce. Tenho que parar, pois estou ficando dia-
bético e já tive dois infartos. Em 2002 consegui emagrecer 35 quilos, chegando a
85. De lá para cá ganhei de volta 25. Outra coisa: tenho grande dificuldade em di-
zer não e recusar a atender os muitos favores que sempre me pedem. Isto me so-
brecarrega bastante. Assumo responsabilidades demais, participando de diretoria
de várias associações, sempre com inúmeras incumbências, pois dou conta e faço
tudo muito bem feito. Preciso reservar mais tempo para mim mesmo.
Em família não sou muito participativo do ambiente, pois não vejo televisão,
que é onde todos se reúnem. Acabo solitário com minhas leituras, meus estudos,
minhas escrevinhações, minhas navegações na internet, pintando minhas telas e
ouvindo música clássica (umas três horas por dia, enquanto faço estas outras coi-
sas). Também gosto muito de trabalhos manuais com madeira e conserto tudo em

154
PERGUNTE.ME
minha casa.
Outros defeitos que tenho são ser perdulário, muito teórico, sentimental, es-
quecido, avoado, molóide, guloso e procrastinador.
Você pode achar meu currículo em:
http://www.ruckert.pro.br/blog/?page_id=6 .
344. E quando o relacionamento envolve dogmas de uma sociedade, como o
preconceito sexual, como expô-lo? (Relacionamento, Aconselhamento)
Se tais dogmas são contrários à felicidade e se o relacionamento não provoca
mal nenhum aos envolvidos, então é preciso enfrentar os ditos "dogmas da socie-
dade", contrariando-os de modo firme e assertivo, fazendo que todos vejam como
estão errados em atender a tais dogmas. Talvez isto traga inconvenientes sociais,
mas se não se enfrentá-los com altivez não se é digno de ser chamado de humano.
345. Você acredita que a natureza humana é capaz de se adaptar a um sis-
tema socialista utópico? Ou realmente isso é uma ficção que inventa-
ram e não se enquadra no perfil do homem médio? (Anarquismo)
Claro que pode! Todo homem tem condição de ser bom ou mal. Depende de
como será educado. A sociedade tem que fazer com que ser bom seja melhor do
que ser mau. Vou além do socialismo utópico: sou anarquista. E o anarquismo só
poderá ocorrer em uma sociedade de pessoas virtuosas, sem preguiça nem cobi-
ça. Isso é possível sim, mas ao longo de um tempo bem grande, da ordem de cen-
tenas de anos, desde que um trabalho educativo seja feito persistentemente nesse
tempo todo. E que quem tenha esse ideal se disponha a lutar por ele, com o sacri-
fício de seus interesses pessoais, com desprendimento, com paciência e com per-
severança, sabendo que o fruto desse trabalho só será colhido dentro de dezenas
de gerações.
346. Preciso de uma dica sobre metodologia de pesquisa. Sou um leigo em
Cosmologia. Daí, vejo em um livro dizendo que foi provado pelo cálculo
um fato X sobre o Cosmo. Como sou leigo, os cálculos são muito avan-
çados pra mim. Como me certificarei? (Cosmologia, Aconselhamento)
Esse é um grande problema. Entender de Cosmologia requer bastante co-
nhecimento de Física e Matemática. Por isso é uma pós-graduação da Física. Mas,
mesmo tendo conhecimento em nível do Ensino Médio, é possível entender pelos
livros de divulgação que muitos cientistas escrevem. Recomendo os do Marcelo
Gleiser, Stephen Hawking, Steven Weinberg, Simon Sing, Brian Greene. Na Wiki-
pedia, em inglês, também é possível achar muita coisa.
Veja o artigo: http://en.Wikipedia.org/wiki/Physical_cosmology, bem como
os links nele mencionados.
347. Porque você resolveu ser físico? (Pessoal)

155
Ernesto von Rückert

Sou licenciado (UNIPAC) e especialista (UFV) em Matemática e mestre em


Física (CBPF - Cosmologia). Na verdade, como não tenho doutorado, não posso
dizer que sou físico, mas, apenas professor de Física. Lecionei por vinte anos no
Ensino Médio e vinte anos no Ensino Superior, tendo dado quase vinte mil horas
de aula (doze mil no médio e oito mil no superior). No Ensino Médio, fui professor
da Escola Preparatória de Cadetes do Ar, da Escola Agrotécnica Federal e do Colé-
gio de Aplicação da UNIPAC, em Barbacena, além do Colégio Anglo, em Viçosa,
onde ainda trabalho como Vice-Diretor. No Ensino Superior fui professor da UNI-
PAC, onde estudei, em Barbacena, da Universidade Federal de São João del Rei, da
Universidade Federal de Juiz de Fora e da Universidade Federal de Viçosa. Nesses
estabelecimentos lecionei Matemática e Física para o Ensino Médio e Física Geral
I, II, III e IV, Mecânica Clássica, Eletromagnetismo, Ótica, Termodinâmica, Física
Quântica, Física Estatística, Relatividade Geral e Métodos Matemáticos da Física
para os cursos de Física e engenharias, no Ensino Superior. Na Pós-Graduação le-
cionei Métodos Matemáticos da Física. Muitos me perguntam por que não fui ser
engenheiro.
Na juventude considerei a possibilidade de ser engenheiro mecânico ou ar-
quiteto, resolvendo, afinal, fazer Matemática, pois em Barbacena não tinha Física
e meu pai não podia me sustentar em Belo Horizonte, onde eu queria fazer Física.
A razão principal de minha escolha foi o caráter mais filosófico da Física, já que,
desde cedo, eu passei a me interessar por Filosofia e por querer entender em pro-
fundidade como é o Universo.
Durante o tempo em que fui professor do Curso de Física da UFV (cuja co-
missão de implantação do bacharelado eu presidi), por oito vezes (jul/83, jul/84,
dez/84, jan/86, dez/87, jan/88, jan/89 e out/89) fui o professor homenageado
dos formandos e por cinco vezes (mas/90, abr/92, jan/94, fev/95 e dez/97) pro-
feri a "Aula da Saudade" da turma de formandos. Em todas essas aulas eu discorri
sobre o que é ser um físico e porque eu escolhi minha profissão. Quero, agora,
apresentar tais considerações.
Como físico, a pessoa pode ser um bom ou até ótimo matemático, químico ou
engenheiro, um bom filósofo ou biólogo, um bom escritor, músico, pintor e muitas
outras coisas. Porém, dificilmente um filósofo, um biólogo, um escritor, um músi-
co, um pintor ou o que seja será um bom físico. Talvez um matemático, um quími-
co ou um engenheiro o possa ser, mas, de modo geral, o físico é que tem as condi-
ções mais abrangentes de conhecimento e habilidades para atuar em vários cam-
pos do saber. É o que consigo perceber e, por isso, tornei-me físico, pois nunca me
contentei em dominar apenas algum aspecto restrito do saber. Esse polimatismo
e esta curiosidade avassaladora sempre foram minha marca registrada. Além do
mais, a Física é a mais fundamental de todas as ciências, a que trata dos aspectos
mais profundos da natureza.
De acordo com a concepção reducionista da realidade, tudo é físico. Nesse

156
PERGUNTE.ME
sentido a Química é a Física da camada de valência dos átomos, a Biologia é a
Química dos organismos vivos, a Psicologia é a Biologia do sistema nervoso, a So-
ciologia é a Psicologia dos agrupamentos humanos e assim por diante. Isto é, tudo
se reduz, no fim das contas, a fenômenos físicos. É preciso, contudo, não se ter a
visão simplificada de um reducionismo "linear" que diz que o todo é a "soma" das
partes. O reducionismo, numa concepção mais abrangente, considera que o todo
advém de suas partes, não como uma simples soma, mas como uma função não
linear que, além da soma, admite termos cruzados (produtos de contribuições),
termos de ordem superior (potências de contribuições), além de retroalimenta-
ções (contribuições de resultados). Assim ele pode abarcar, inclusive, as concep-
ções holistas, que consideram que os estratos mais elevados da realidade (psíqui-
co e social, por exemplo) possuem características próprias não advindas dos es-
tratos mais profundos (biológico e físico). A não linearidade permite reduzir todo
estrato superior aos inferiores.
No aspecto filosófico, realmente, não é possível a alguém entender bem de
Filosofia sem entender de Física, especialmente Física Quântica e Relatividade.
Isso porque a realidade, em sua mais profunda concepção, é Física e a Física é
sempre quântica e relativista. Essa é a concepção naturalista ou fisicalista, que
exclui da realidade qualquer entidade dita sobrenatural. Em resumo: só existe a
natureza. Entender tal coisa requer um grande conhecimento dos mecanismos de
funcionamento do mundo, que só a Física é capaz de fornecer. Bertrand Russell,
grande filósofo, dizia que, como matemático, poderia ser um excelente filósofo,
mas, como filósofo, jamais seria sequer um bom matemático. E ele ganhou o Prê-
mio Nobel de Literatura. Como se vê, era um polímata. Por isso é que estou escre-
vendo um livro que intitulei "Física para Filósofos" para que os filósofos sem for-
mação em ciências exatas (o que considero lastimável, como também a falta de
formação biológica) possam familiarizar-se com os conceitos e fatos da Física. O
filósofo, por definição, tem que ser um polímata, pois Filosofia é a Ciência das Ci-
ências, além de abarcar todo o vasto campo de conhecimentos humanos. Filosofia,
diferentemente do que se pensa, não pertence às "Ciências Humanas", mas trans-
cende a todas.
Assim, o professor de Física precisa inculcar em seus alunos esse caráter
unificador da Física e fazê-los ficar deslumbrados com a maravilha que é a natu-
reza, tal qual descrita pela Física. É preciso lecionar Física filosofando. Isso é mais
importante do que abordar as inúmeras aplicações práticas e tecnológicas da Fí-
sica que, todavia, não devem ser esquecidas, apenas não priorizadas. Por isso é
fundamental que o Ensino Médio veja, pelo menos, um semestre de Física Moder-
na, mesmo que não caia nos vestibulares, pois é essa Física, que se desenvolveu a
partir de 1900, que contempla as explicações sobre a natureza da realidade. Além
de ser o fundamento da moderna engenharia eletrônica, essencial para a informá-
tica e as telecomunicações. Ser professor de Física é, pois, uma das mais gratifi-
cantes atividades que se possa desenvolver, no sentido de levantar os véus da ig-

157
Ernesto von Rückert

norância que obliteram a visão correta da estrutura do mundo para a grande par-
te das pessoas.
Além do ensino, as atividades de pesquisa e extensão, em Física, também são
fonte de grande satisfação e motivo de imensa sensação de realização de vida. Fa-
zer extensão em Física é, principalmente, fazer divulgação científica. É proferir
palestras e redigir textos de divulgação de conhecimentos físicos em livros, revis-
tas e na internet. É levar a toda a população as noções fundamentais da Física que
lhe façam entender o significado do mundo, de uma forma inteiramente dissocia-
da de qualquer participação de pretensas entidades sobrenaturais. É, pois, uma
atividade libertadora, já que induz, necessariamente, ao livre-pensamento, ao ce-
ticismo metodológico, ao questionamento das explicações religiosas. Uma vez que
tal modo de operar mentalmente seja estabelecido nas pessoas, elas o aplicarão a
todos os outros aspectos da vida, com resultados significativamente proveitosos.
Assim a Física se torna em uma forma de mudar a "cosmovisão" das pessoas, com
implicações até na ética, na política e nos relacionamentos pessoais. Posso dizer,
com segurança, que todo o meu posicionamento ético a respeito de tudo na vida
se fundamenta em minhas profundas convicções fisicalistas. A Física, como todas
as ciências, de modo diverso do mundo dos negócios, por exemplo, sempre se
pauta pela extrema honestidade de conduta, pois o maior valor que se busca é,
exatamente, a verdade, e não a vantagem ou o lucro.
Finalmente, quero abordar a atividade de pesquisador, que acabei abando-
nando logo após meu mestrado, por ter me enveredado na administração acadê-
mica, que, aliás, não foi tanto por gosto, mas porque me propiciaria condições me-
lhores de prover minha família. Jamais, contudo, me afastei do magistério. Pes-
quisar em Física, descobrir os meandros mais profundos do comportamento da
natureza é algo só comparável aos arroubos místicos ou ao prazer do artista em
parir sua obra. Um cientista, especialmente um físico, é como um compositor, um
poeta, um escultor. O que ele faz ao desvendar o Universo macro ou microscopi-
camente é uma obra de arte. Saber, ainda mais, que assim agindo torna-se um
benfeitor da humanidade, lhe propicia uma gratificação maior ainda. Por isso
sempre recomendei a todos os alunos do Curso de Física que fizessem licenciatu-
ra e bacharelado, para que pudessem, ao mesmo tempo, iniciarem-se na profissão
de professor e prosseguirem no mestrado e no doutorado para serem cientistas.
Pois é importante que todo cientista também seja um professor e, para um pro-
fessor, didática e pedagogia são essenciais, qualquer que seja o nível.
Para concluir, quero dizer que um professor ou um cientista dificilmente fi-
cará rico em sua atividade. Pode ganhar bem e viver confortavelmente, mas quem
quiser ser rico que seja empresário, mas honesto, é claro. Políticos podem ficar
ricos se não forem honestos, pois seus salários também não são de ricos. Médicos,
engenheiros e advogados também podem enriquecer honestamente, mas nem to-
dos o conseguirão. Os professores e cientistas que não se tornarem também em-

158
PERGUNTE.ME
presários não enriquecerão. Todavia riqueza não é garantia de realização pessoal
e felicidade, mesmo que possa possibilitá-las mais facilmente. Por mim, ter parti-
cipado da formação de alguns milhares de jovens que foram meus alunos é uma
realização inigualável. Como se pode ver em minha avaliação docente
(http://www.ruckert.pro.br/blog/?page_id=2379), posso me considerar um bom
professor, mas não fiz fortuna alguma e só deixo de herança minha mensagem e
meu exemplo (http://www.ruckert.pro.br/blog/?p=131).
348. Tenho uma dúvida sobre qual curso prestar. Gosto de Geopolítica, Filo-
sofia e História. Quero prestar vestibular em Viçosa pra não ficar longe
dos pais. Pensei em Comunicação Social, mas não sei ao certo o que eu
quero. Pode me ajudar? (Educação, Aconselhamento)
Em Viçosa não tem Filosofia. Mas tem História, Geografia e Comunicação So-
cial. Se você tem pendores mais acadêmicos e quer ser professor e pesquisador,
faça História ou Geografia, pegando algumas disciplinas extras de Economia. Já
Comunicação Social é para quem quer uma profissão mais voltada para o merca-
do jornalístico comercial. As primeiras são mais teóricas e a última mais prática.
Depende do seu gosto. Eu sou um teórico.
349. Por que decidiu ser anarquista? Como se deu o processo de mudança
de pensamento? (Pessoal, Anarquismo)
Isso vem desde a infância. Meu pai e o pai dele tinham idéias anarquistas.
Meu pai era professor de História e Geografia e me fez gostar muito dessas maté-
rias, que sempre foram as que eu tirava as melhores notas, em geral, 100%. Tam-
bém comecei a gostar de Filosofia desde garoto, com uns 11 anos. Daí, fui conclu-
indo, pelo que estudava, como seria bom um mundo anarquista e, desde então,
adotei essa postura. Não me lembro de ter pensado de modo diferente. Meus pais
eram extremamente libertários, assim como toda a família deles, em nada tradici-
onalistas, mesmo que tivessem um estilo até aristocrático, mas as idéias eram
muito avançadas. Meu avô veio da Áustria para o Brasil para não ser condenado,
talvez até a morte, por defender a libertação da Hungria e da Tchecoslováquia do
Império Austríaco.
350. O que você pensa sobre os punks, que saem por aí vandalizando e
agindo de forma libertina, se dizendo anarquistas? (Comportamento,
Anarquismo)
O conceito de anarquismo que eles consideram é completamente equivoca-
do. Anarquismo significa inexistência de governo e não desorganização nem de-
sordem, muito menos libertinagem e devassidão, como muitos entendem. Pelo
contrário, significa uma sociedade tão elevadamente civilizada que a ordem, a
produtividade, a responsabilidade, a dedicação, a conduta exemplar, o entrosa-
mento, tudo isso é algo a que todos aderem e seguem por iniciativa própria, sem
necessidade de nenhuma forma de coação. Essa confusão é muito desfavorável ao

159
Ernesto von Rückert

movimento anarquista, por isso considero importante um esclarecimento popu-


lar sobre a temática, o que tenho procurado fazer. É o que também acontece com
o conceito de epicurismo, que muitos entendem como a opção pelo gozo desen-
freado dos prazeres e não é nada disso. A proposta de Epicuro é justamente de
que a felicidade seja encontrada na moderação e na fruição da prática da virtude.
Tenho grande desprezo por pessoas cuja conduta seja, de qualquer forma,
egoísta e prejudicial ao bem comum. Em tudo o que se faça há que se buscar a
maximização da felicidade para o maior número de seres. Isto é o objetivo do
anarquismo e do epicurismo. Uma síntese dialética do epicurismo com o estoi-
cismo, no meu entender é a postura pessoal ideal.
351. Eu não gostaria de ser professora. Quero ser uma jornalista, sabe como
é, escrever para um jornal, formar opiniões, falar em público. Gosto
dessas coisas. Dizem que não é preciso diploma pra exercer o cargo de
jornalismo. Isso é verdade? (Educação, Aconselhamento)
Realmente, apesar do desejo em contrário dos jornalistas diplomados, a lei
não exige diploma de jornalista para exercer a profissão. No meu entendimento,
isso é correto e deveria ser aplicado a todas as profissões. Na verdade, o exercício
de qualquer profissão de nível superior não deve ser restringido a quem possua o
diploma, mas sim a quem prove sua capacidade, em um exame aplicado pelo or-
ganismo controlador do exercício da profissão. Para mim isso deveria valer até
para médicos, engenheiros e advogados. Se você aprender tudo sozinho e passar
no exame, que tem que ser extremamente rigoroso, então você tem que ter o di-
reito de exercer tal profissão. É claro que o fato de ter feito o curso e obtido o di-
ploma é algo que, sobremaneira, propicia o conhecimento e as habilidades neces-
sárias. Mas é preciso ver que pessoas se formam nas mais diversas profissões
tendo que comprovar o conhecimento de apenas 60% dos conteúdos considera-
dos indispensáveis ao exercício profissional, que é a nota mínima de aprovação
da maioria das universidades e faculdades. Já pensou que absurdo! Para mim a
faculdade deve dar o conhecimento e o órgão controlador, o direito do exercício,
que poderá ser concedido sem o diploma a quem provar que sabe o conteúdo e
domina as habilidades necessárias para tal exercício, mesmo sem ter feito o curso
específico.
352. Que trecho de música descreveria sua vida? (Pessoal, Música)
"Os Prelúdios" de Franz Liszt. Neste poema sinfônico Liszt descreve a vida
de uma pessoa, com base no poema de Alphonse de Lamartine, literalmente tra-
duzido assim:
“O que é a vida senão uma série de prelúdios àquela canção misteriosa, cuja
primeira nota é dada pela morte? O amor é a aurora encantada de todo coração.
Entretanto, haverá um mortal sobre cujas alegrias e felicidade não se desencadeie
uma tempestade, desfazendo com seu hálito gelado as ilusões fantasiosas e destru-

160
PERGUNTE.ME
indo o seu altar? Que alma, assim tão cruelmente ferida, não tenta, às vezes, dissi-
par as reminiscências de tais tormentas na solidão da vida bucólica? E, entretanto,
não parece o homem capaz de tolerar o lânguido descanso no seio da Natureza. Ao
soar o clarim, ele se precipita para junto de seus camaradas, não importa qual seja
a causa pela qual o chamam às armas. Lança-se ao mais encarniçado da luta e, em
meio à batalha, recupera a confiança em si mesmo e nas suas forças".
Esse é o terceiro e mais famoso dos treze compostos por Liszt, o inventor do
gênero. Foi composto em Weimar, cem anos antes de eu nascer.
O esquema engendrado pelo compositor distingue sete episódios musicais,
alicerçados nas sete principais idéias do texto de Lamartine. O primeiro episódio
— cujo sombrio tema é dado pelas cordas — simboliza a canção misteriosa. O se-
gundo, fortíssimo — com acentos heróicos a cargo dos trombones, tuba, fagotes,
violoncelos e contrabaixos, sustentados por arpeggi staccati de violinos e violas
— refere-se ao homem mortal. O terceiro relaciona-se com a felicidade no amor,
destacando o quarteto de trompas, cordas e harpa. O quarto, identificado com as
tempestades da vida, é um allegro ma non troppo, calcado quase inteiramente em
cromatismos e acordes de sétima diminuta. O quinto episódio, allegro pastorale,
com destaques para o oboé, trompa e clarineta, insinua o retiro bucólico. O sexto,
reapresentando os motivos da felicidade no amor e do retiro bucólico, de maneira
belicosa, simboliza o combate como voluntário. Finalmente, o sétimo episódio,
antecedido por triunfante coda, é uma repetição majestosa do homem mortal,
através de toda a força da orquestra, num encerramento que parece definir a vi-
tória do homem em sua derradeira batalha.
353. Qual é a maior diferença entre amor e paixão? (Psicologia, Relaciona-
mento)
A paixão é avassaladora e envolve todo o ser, enquanto o amor é firme, mas
sereno. A paixão é irracional e o amor, mesmo sendo um sentimento intenso, é
lúcido. A paixão é egoísta e o amor é altruísta. A paixão quer possuir o ser amado
e o amor o liberta. A paixão é uma doença, mesmo sendo algo extasiante. O amor
é o maior bem que se pode possuir na vida: é fonte de felicidade, bem estar e saú-
de. É o que dá significado à vida. Quando a paixão nos acomete, temos que nos
abandonar a ela, senão a vida perde o sentido. Para continuar a ter sentido é pre-
ciso que a paixão se transforme em amor, até que nova paixão sobrevenha. Mas
novas paixões não sufocam antigos amores. A paixão é sempre unívoca, isto é,
voltada para uma só pessoa, mas o amor pode ser plurívoco, isto é, pode-se amar
a várias pessoas com a mesma intensidade, desejo e dedicação.
354. Se pudesse mudar algo no mundo, o que mudaria? (Pessoal, Sociologia)
Erradicaria o egoísmo, para mim, a fonte de todos os males.
355. O que você pensa sobre a obra de Johann Sebastian Bach? (Música)

161
Ernesto von Rückert

Admirável! O supra-sumo da ordem e da lógica dentro da música, sem preju-


ízo de uma fantástica inspiração, de uma prodigiosa melodia e da mais rica har-
monia. Dentro do estilo barroco, Bach é o cume, mas é um epígono. Em relação a
toda a música clássica ocidental está no panteão dos gênios, ao lado de Beetho-
ven, Mozart, Wagner e Brahms. Meu preferido, contudo é Brahms.
356. Obrigado pelas respostas cristalinas. Queria tirar mais uma dúvida: é
verdade que, se algo concreto, como um foguete, por exemplo, percor-
resse a velocidade da luz, ele todo se transformaria em energia pura?
(Relatividade)
Energia pura não é nada em que algo possa se transformar. Não existe
"energia pura". Energia é um atributo de sistemas físicos, compostos por matéria,
radiação ou campos. O sistema pode possuir ou não energia, mas nunca "é" ener-
gia. O que acontece é que seria requerida uma quantidade infinita de energia para
acelerar qualquer sistema material até a velocidade da luz, logo isso nunca vai
acontecer. A única coisa que tem a velocidade da luz é a luz e as demais ondas ele-
tromagnéticas, constituídas de fótons, que não têm massa. Aliás, eles só existem à
velocidade da luz. Algo material que se aproximasse da velocidade da luz conti-
nuaria a ser exatamente como é, em relação a si mesmo. Em relação a um obser-
vador externo parado, ele se comprimiria cada vez mais na direção do movimento
e o tempo observado a passar para ele seria cada vez menor, isto é, enquanto o
observador vivesse, digamos um ano, seriam decorridas apenas horas ou minutos
no objeto em movimento.
357. Você é a favor do aborto? (Pessoal, Comportamento)
Acho que fazer um aborto deve ser a coisa mais triste que pode acontecer a
uma mulher. É preciso que a sociedade acolha crianças indesejadas de modo a
permitir que toda gravidez seja completada. Numa sociedade anarquista isso não
seria problema nenhum, pois toda criança é filha de todo adulto, não existindo
famílias. E o amor seria livre e compartilhado entre todas as pessoas.
Na estrutura atual da sociedade há situações em que levar avante uma gra-
videz pode ser pior. Então admito o aborto, desde que feito bem no início da ges-
tação. Há que se estudar até quando e isso depende de se entender quando é que
o feto se torna uma pessoa em virtude de seu desenvolvimento neurológico. É
preferível aceitar-se legalmente essa possibilidade do que existir uma indústria
clandestina de abortos, extremamente perigosos para a vida das mulheres que o
fazem.
Imputo esta problemática, isto é, haver casos em que alguma mulher seja co-
locada na situação de preferir o aborto, ao comportamento irresponsável de ho-
mens que satisfazem seu desejo sexual sem pensar nas consequências de seu ato.
Para mim, gerar uma pessoa é algo de extrema responsabilidade, que não pode
ser tratado levianamente como se fosse beber uma cerveja. Todo homem que se

162
PERGUNTE.ME
relacione sexualmente com uma mulher, em que circunstância for, tem que estar
ciente de que, daquela relação, pode nascer uma criança e que esta criança é uma
responsabilidade dele para o resto da vida. A lei precisa ser muito rigorosa nesse
sentido, especialmente hoje, em que o exame de paternidade é praticamente de-
terminante, sem erro. Isto fará com que os cuidados para que se evite uma gravi-
dez indesejada sejam redobrados, o que também contribuirá para a prevenção
das doenças sexualmente transmissíveis, especialmente a SIDA (AIDS). Por outro
lado, o estado teria que ter uma política de apoio a gestantes com gravidez inde-
sejada, para permitir que ela seja levada a termo e a criança já adotada, ao nascer,
por alguma família.
Em último caso, o aborto, desde que nos primórdios da gestação. Note que
minha opinião não tem nenhuma relação com qualquer preceito religioso, mas
apenas com o respeito pela vida, que é um privilégio preciosíssimo por sua ex-
trema raridade no Universo.
358. A natureza respeita a lógica? (Lógica, Ciência)
Não. Lógica é um construto intelectual humano. Mesmo que tal construção
seja feita de forma a apresentar aderência aos fenômenos naturais, isto não é
sempre atendido, pois a realidade é muito mais complexa do que os modelamen-
tos teóricos que dela são feitos. Assim, por exemplo, a lógica dicotômica clássica
não é verificada por uma extensa gama de fenômenos. Mesmo lógicas policotômi-
cas e difusas, bem como multidimensionais, probabilísticas e modais, não conse-
guem atender a todas as possibilidades apresentadas pela realidade em seus
inúmeros aspectos. A mecânica quântica e a teoria da relatividade, por exemplo,
apresentam problemas na descrição do mundo do muito pequeno e do muito
grande, bem com das altas velocidades e altas energias, cujas ocorrências pare-
cem desafiar os mais bem elaborados modelos teóricos. Assim é o caso do fenô-
meno do emaranhamento quântico. Fenômenos sociais e econômicos complexos,
que, do ponto de vista reducionista, são naturais, também resistem a enquadra-
mentos teóricos, exatamente porque estes são lógicos. A psicologia, com todos os
esforços para reduzi-la à neurologia, que considero que seja o caminho correto,
ainda apresenta sérios problemas, tanto que é uma disciplina dominada por esco-
las conflitantes de pensamento.
De fato, não há imposição nenhuma para que a natureza deva obedecer à ló-
gica. Pelo contrário, a lógica é que precisa ser estabelecida de forma a contemplar
o comportamento da natureza, pois esta atua por sua conta, sem dar importância
alguma para os esforços humanos em compreendê-la.
359. A quadratura do círculo ser impossível porque pi não é raiz de nenhum
polinômio é o mesmo que não se saber a raiz quadrada de pi? (Mate-
mática)
Não ser raiz de nenhum polinômio de coeficientes racionais, que é o que ca-

163
Ernesto von Rückert

racteriza um número complexo como transcendente, como é o caso do número pi,


não tem nada a ver com não se saber a sua raiz quadrada. A palavra "raiz" está
sendo usada com dois significados distintos. Raiz de uma função é o valor de seu
argumento que possui imagem igual a zero. Raiz quadrada, cúbica ou de qualquer
índice é o número que elevado à potência do índice da raiz, fornece seu radican-
do. São conceitos distintos para a mesma palavra, em Matemática (além dos signi-
ficados botânico, odontológico e outros). O que se entende por quadrar uma figu-
ra é achar, por construção geométrica, usando só régua (sem escala) e compasso,
em um número finito de passos, um quadrado que possua a mesma área que ela,
isto é, determinar o seu lado. Como a área de um quadrado vale o seu lado eleva-
do a dois e como a área de um círculo vale pi vezes o seu raio elevado a dois, en-
tão o lado do quadrado de igual área do que um círculo vale o seu raio multiplica-
do pela raiz quadrada de pi. Esse valor não é algébrico porque pi é transcendente.
Não sendo raiz de nenhum polinômio, que é uma função com um número finito de
termos e potências inteiras do argumento, multiplicadas por coeficientes racio-
nais, não se pode obter esse resultado em um número finito de construções com
régua e compasso, sendo o problema, pois, insolúvel. Mas isso se deve a que raiz
de pi seja transcendente e ela o é porque pi é transcendente. Raiz da raiz de dois,
por exemplo, mesmo sendo irracional, não é transcendente.
360. O que acha da Filosofia de Berkeley? (Filosofia)
Um completo despautério. Seu imaterialismo e a noção de que ser é ser per-
cebido, para mim, não coadunam com a realidade. Apesar de, realmente, só ter-
mos conhecimento daquilo que percebemos, o consenso entre as percepções de
várias pessoas nos permite inferir sobre a realidade do mundo objetivo, fora das
mentes, que é a origem das percepções. O remendo que Berkeley fez ao conside-
rar que a existência do mundo se deve à percepção de Deus, não resolve. Conside-
ro que tudo o que a mente pode conceber tem origem na realidade exterior, que
lhe precede, não havendo nenhuma espécie de "mundo das idéias", platônico.
361. O que tem a dizer da Lei de Talião? (Comportamento, Sociologia)
Completamente desprovida de razão. Uma total incitação à desarmonia e à
aniquilação da paz e da concórdia. Uma atitude egoísta e mesquinha, reveladora
de um caráter malsão e uma índole vingativa e perversa. A promoção da boa con-
vivência social, de forma justa, harmônica e fraterna, requer que o mal seja puni-
do, mas não com a própria maldade. Punições e castigos têm que ser uma atitude
educativa e não vingativa. Quem retalia o mal com o mal é tão malvado quanto
quem o pratica. É preciso mostrar que o mal é prejudicial ao malvado de forma
pedagógica, para que se emende e não para que volte a se vingar em uma sequên-
cia de retaliações interminável.
362. Quando um ser humano deixa de se ver como tal, assumindo uma ano-
mia que o desconecta relativamente de sua identidade e de seu ego, o

164
PERGUNTE.ME
que você acredita que possa ser feito como prevenção e solução desse
problema, além da procura de ajuda médica? (Psicologia, Saúde, Filoso-
fia)
Tais tipos de problema, isto é, de inadequação à vida, precisam ser atacados
de três frentes: médica, psicológica e filosófica. A abordagem médica permite
identificar distúrbios orgânicos, de ordem psíquica, que têm que ser tratados por
medicamentos. Mas não só. Uma abordagem psicológica é importante para identi-
ficar a origem da anomia ou outra afecção psíquica. A conscientização do proble-
ma é um grande passo para sua solução. A abordagem filosófica faz ver à pessoa o
modo correto de se encarar a vida, seu significado e a visão do mundo mais plena
de sabedoria que se deve ter. Há uma quarta abordagem, que prefiro evitar, que é
a religiosa. Nesta se faz ver à pessoa que ela deve conformar-se com sua vida por
ser um desígnio de Deus e que, assim o fazendo, tem garantida sua salvação eter-
na. Isso é uma enganação, mesmo que possa surtir efeito. Não se pode mentir pa-
ra a pessoa. Não há nada disso. A Filosofia fornece consolação muito mais eficaz,
sem mentira nenhuma. Suportar as vicissitudes da vida é algo que se precisa fazer
porque o significado da vida é muito mais elevado do que a maior parte dos dis-
sabores. A vida é um bem preciosíssimo e deve ser preservada e cultivada de
forma a que tenhamos a consciência de que estamos dela fazendo uso em provei-
to do bem geral. Todavia, nos casos extremos, o recurso ao suicídio não deve ser
descartado. Mas, veja bem: é um recurso extremo, que só deve ser tomado após se
terem esgotado todas as demais possibilidades, como também no caso da eutaná-
sia.
363. Einstein virou mesmo ateu? (Ateísmo)
Em relação ao tipo de divindade pessoal que as religiões abrahãmicas con-
cebem, sim. Einstein reconhecia uma transcendência na própria ordem do Uni-
verso e, nesse sentido, seu Deus era como o de Espinoza. O fato de possuir um pa-
drão de moralidade científica e social elevado (mas não pessoal, como sua vida
familiar atesta) não se vincula a nenhuma prescrição religiosa, mas humanista.
364. "Leite é um alimento inadequado para mamíferos adultos". Boa parte
dos nutricionistas defendem a abolição do consumo do leite. Mas se
formos analisar todos os benefícios, ele torna-se indispensável. O que
te leva a acreditar nesse argumento? (Nutrição, Saúde)
O leite não é indispensável de forma alguma. Todos os nutrientes que ele é
capaz de fornecer podem ser encontrados em outros alimentos. Por outro lado a
lecitina é muitas vezes um fator alergênico e as caseínas do leite são de difícil di-
gestão. As proteínas séricas provocam micro sangramentos intestinais e alergias.
O leite de vaca, para bebês, pode provocar anemia, por seu baixo teor de ferro. Os
aminoácidos sulfurados do leite acidificam o organismo que, para alcalinizar-se
tira cálcio dos ossos em volume maior do que é reposto. Os hormônios de cresci-

165
Ernesto von Rückert

mento, do leite de vaca, destinados ao bezerro, provocam obesidade em adultos e


propensão a vários tipos de câncer. A presença de hormônios sexuais antecipa a
menarca em meninas. Também pode ser fator de desencadeamento de diabetes
infantil e enfraquecimento imunológico. Em suma, os benefícios que o leite pode
dar, em muito são suplantados por seus malefícios. Para um apanhado melhor do
assunto e referências bibliográficas recomendo a leitura do artigo "Leite: alimen-
to necessário ou mau hábito?" no numero 14 da revista "Vegetarianos", de no-
vembro de 2007.
Outros alimentos cujo consumo deve ser evitado, bem reduzido, senão abo-
lido, são o açúcar, o sal, a farinha de trigo refinada, o café, o ovo, a carne vermelha
e as gorduras saturadas, como a animal e a vegetal hidrogenada. Mas a manteiga é
preferível à margarina. O ideal é por azeite de oliva extra-virgem no pão, que tem
que ser integral. Farinha e açúcar refinados, nunca! Edulcorantes artificiais tam-
bém não são bons. O melhor é beber água pura, vinho seco, cerveja, chá (sem açú-
car nem adoçante) e, ao invés de suco, comer a fruta. Ao invés do pão, torrada de
pão integral com azeite ou ricota (pouca). Suco de frutas bem maduras não re-
quer açúcar nem adoçante.
365. Porque você está decepcionado com o PT? (Política)
Porque nos vendeu, nos tempos em que era oposição, a ilusão de ser um par-
tido ético e comprometido com o bem do povo. Votei muitas vezes em seus can-
didatos por crer que assim o era. Ao assumir o poder, suas lideranças mostraram
que são tão corruptas quanto as dos demais partidos. Não é possível que o presi-
dente Lula não soubesse de tantas falcatruas. Deveria ter dado um basta logo no
início e demitido a corja toda, sem possibilidade de retorno à vida pública, não
pela lei, mas pela decência. Ele não fez nada disso. Pelo contrário, como o Ratzin-
ger em relação aos padres pedófilos, ficou minorizando a situação. Muitos conhe-
cidos meus, petistas ardorosos, ficam desculpando Lula ou dizendo que o mensa-
lão foi uma calúnia. Mesmo levando em conta que a mídia é contra o PT, não é
possível que tudo tenha sido inventado pela oposição sem que o PT não tenha fei-
to uma ofensiva arrasadora para desmentir. Quem cala consente. Tenho ideais
esquerdistas, mas prefiro um direitista honesto a um esquerdista corrupto. Ne-
nhuma ideologia está acima da ética e os fins, de forma alguma, justificam os mei-
os. Há coisas que o bandido faz que o mocinho não pode fazer.
366. Como o mal deveria ser punido então? (Ética)
Pela privação da liberdade acompanhada de um serviço comunitário com-
pulsório e um tanto quanto cansativo. A prisão não pode ser degradante, em ter-
mos de vivência humana, mas não pode ser confortável. Tem que ser incômoda e
indesejável, para se caracterizar como uma punição, mas não humilhante, para
não se caracterizar como vingança. O aspecto pedagógico estará no próprio servi-
ço comunitário, em que o presidiário poderá concluir pela necessidade de que a

166
PERGUNTE.ME
sociedade seja solidária, cooperativa e compassiva para com todos, especialmente
os menos afortunados, pois isso é que poderá levar a um mundo justo, harmônico
e fraterno, em que as pessoas possam ser verdadeiramente felizes. É preciso fazer
ver que o crime não compensa. As punições não podem ser muito leves e preci-
sam ser aplicadas mesmo para adolescentes, de forma gradativa, em função da
idade, da gravidade do ato, da reincidência e outros fatores a se estudar. A impu-
nidade é uma porta aberta para a criminalidade, mas as penalidades desumanas,
como se vê nos presídios brasileiros, incita mais ainda à criminalidade. O proble-
ma de se atacar de frente essa questão é que nossos legisladores e magistrados,
muitos deles, deveriam estar cumprindo pena por sua atuação corrupta e crimi-
nosa. Outro aspecto importantíssimo a ser trabalhado com os detentos é a mu-
dança de sua “cosmovisão”. Em uma reportagem sobre assassinos, a revista VEJA
mostrou como eles são frios em considerar o assassinato um ato admissível e, até,
necessário, em certos casos. Mudar essa concepção é trabalho para filósofos clíni-
cos, que, ao invés de capelães religiosos, mas ao lado de psicólogos, deveriam fa-
zer parte do corpo de funcionários de todo presídio. Não digo que o trabalho dos
religiosos não surta efeito, mas o faz por meio de uma enganação, que é a salva-
ção eterna como prêmio da virtude, Isso não existe, pois a morte encerra total-
mente a vida. Só a Filosofia é capaz de fazer ver que o bem precisa prevalecer,
sem que para isto se tenha recompensa nenhuma.
367. Existe lógica no mundo? (Lógica, Sociologia, Educação)
Se você se refere à natureza, essa resposta já dei.
Se você se refere ao mundo social e da cultura, esse também não tem lógica.
As ocorrências sociais são impulsionadas pelos desejos e pelas vontades das pes-
soas, que se focam na satisfação de suas pulsões mais primitivas de aplacar a fo-
me fisiológica, de perpetuar a espécie e de se sentir objeto de admiração, esti-
ma,afeto e amor. Nisso se enquadra a vaidade e o desejo de poder, até mesmo de
dominação. Assim, na busca da realização dos desejos, a pessoa articula influên-
cias e realiza feitos inconfessáveis. Nada disso é lógico, mas pode ser eficaz. Es-
tendendo as ações individuais à sociedade como um todo, pode-se ver que o que
move as massas não são considerações racionais e lógicas, mas os apetites coleti-
vos, muitas vezes fomentados artificialmente por pessoas com uma capacidade
excepcional de liderança, objetivando a consecução de suas metas pessoais de
poder. Somente se liberta dessa cadeia quem persegue uma iluminação superior,
que consiste na superação da vaidade e dos desejos de reconhecimento, admira-
ção, afeto, poder e outros do tipo. Trata-se do filósofo, que busca a sabedoria. Pa-
ra isso não é preciso se ter erudição e nenhuma formação acadêmica especial.
Basta que a pessoa tenha uma inclinação para refletir e ponderar sobre tudo o
que faz na vida. Cultivar tais atitudes deve ser o maior objetivo da educação, que,
infelizmente, só se preocupa com a transmissão de informações e conhecimentos
que caem no vestibular.

167
Ernesto von Rückert

368. O que você pensa a respeito daquela teoria da atração, sobre o pensa-
mento positivo que pode modificar o nosso mundo? Quando mentali-
zamos algo positivo com muita ênfase todo os dias, um dia poderá se
realizar? (Esoterismo)
Isso é pura bobeira. Não existe "Lei da Atração" e nem "Pensamento Positi-
vo". Você pode pensar o que quiser que isso não tem influência direta nenhuma
nas ocorrências do mundo. A única influência é que o pensamento positivo pode
criar disposições mentais que lhe assegurem um entusiasmo e uma dedicação
maiores para trabalhar a fim de conseguir o que deseja. Mas é o trabalho que vai
conseguir. São as ações e não os pensamentos que fazem algo ocorrer. Os pensa-
mentos apenas podem favorecer a que as ações ocorram. Pensamento não é
transmitido, a não ser pela comunicação externa: oral, escrita ou gestual. Pensa-
mento não tem poder para fazer força sobre nada, para transmitir nenhuma
energia. Nada disso! Tudo o que se diz a respeito, e muito dinheiro se ganha di-
zendo isso, é pura enganação.
369. Integral do arco cujo seno é x/4 (Matemática)
De acordo com o Manual de Fórmulas e Tabelas Matemáticas do Murray R.
Spiegel (Coleção Schaum) da McGraw-Hill, o valor é:
x arcsen(x/4) + (16 - x²)^(1/2)
370. Você já utilizou a técnica de meditação? O que você. pensa a respeito?
(Pessoal, Comportamento)
Na juventude eu praticava meditação ocidental, isto é, do tipo usado pelos
monges beneditinos. Ela consiste em fixar a mente, por um período mínimo de
meia hora, em um tema e esgotar tudo o que seja possível pensar a respeito dele.
A meditação oriental, praticada pelos budistas, pelo contrário, consiste em procu-
rar esvaziar a mente de qualquer pensamento, de forma a quase perder a consci-
ência de si mesmo. Nunca me dediquei a este tipo de meditação, mas até gostaria
de experimentar. Sinceramente, não vejo que isso seja algo proveitoso. Atualmen-
te prefiro me dedicar a algum estudo ou, o que é melhor ainda, a escrever sobre
algum tema. Isto acicata minha inteligência e a faz desdobrar-se para dar conta da
tarefa.
371. Você acha que o pudor em relação à nudez seja uma coisa natural do
ser humano ou algo artificial? (Comportamento)
Artificial. Senão os índios não se sentiriam à vontade estando nus. A princí-
pio as vestimentas surgiram como uma necessidade de abrigar-se do frio. Em al-
gum momento isso passou a se relacionar com o sentimento de pudor. Não sei
precisar quando nem onde, mas imagino que se relacione com o estabelecimento
da exclusividade sexual das mulheres a seus maridos, fato ligado à questão da he-
rança, para que homens não tenham que sustentar nem deixar herança para fi-

168
PERGUNTE.ME
lhos de outros pais. Mulheres nuas poderiam provocar desejo em outros homens
e isso poderia acabar em sexo e gestações. Homens nus também pressupõe uma
conduta sexual livre, contrária ao estabelecimento de relacionamentos familiares
rígidos, exigidos para uma estrutura social patriarcal. Em uma sociedade anar-
quista, não existindo propriedade, dinheiro nem herança, não se faz necessária
uma estrutura familiar engessada, podendo todo adulto relacionar-se sexualmen-
te com vários parceiros simultâneos sem problema. Nesse contexto também se
perde a necessidade de se exigir a cobertura do corpo, a não ser para se proteger
do frio, ou por questões estéticas e higiênicas.
372. Quando começa a vida? Quando um ser passa a existir como humano?
Na fecundação do óvulo? Quando adquire sistema nervoso? Quando
nasce de fato? (Biologia, Ética)
A vida tem prosseguimento ininterrupto dos indivíduos para seus gametas e
destes para o novo indivíduo. Toda vida hoje existente, em qualquer ser, é um
prolongamento de vidas que lhe precederam desde que surgiu o primeiro ser vi-
vo. Há um fio condutor que é passado adiante por todo indivíduo biológico que
produza prole, em qualquer dos reinos. A questão a se investigar é a partir de que
momento, no desenvolvimento embrionário, aquele aglomerado de células vivas
passa a ser considerado um novo ser ou ainda pode ser tido como uma massa de
tecido sem identidade. De fato, desde que tenha havido a fecundação, o ovo fe-
cundado já é um novo indivíduo, distinto de seus pais. Mas esse indivíduo ainda
não é um espécime de sua espécie, enquanto não possuir um sistema coordenado
de controle de todo o organismo. Isto se dá com o estabelecimento do sistema
nervoso, quando se pode dizer que, o já denominado feto, começou a desenvolver
o cérebro. Quanto à definição do momento do nascimento, ainda considero que
seja quando o feto se liberta da nutrição placentária e passa a depender de si
mesmo para sobreviver, que é o que ocorre no parto, momento em que se rompe
o cordão umbilical e se inicia a respiração pulmonar. No caso de ovíparos, é
quando se rompe a casca e o animal passa a respirar por seus pulmões ou brân-
quias. Todavia, mesmo antes do nascimento, o feto pode ser considerado uma
pessoa, inclusive para efeito de imputação de crime se se provocar a sua morte.
Essa questão é muito importante para se definir a partir de que época da gestação
um aborto não pode mais ser considerado um procedimento médico com relação
ao corpo da mãe e passe a ser um ato de retirada da vida de uma pessoa, o feto.
Isso precisa ser muito bem estudado por grupo interdisciplinar de pessoas. No
meu entendimento, contudo, o limite está no momento em que o embrião se
transforma em feto.
373. O que você acha do anarcoilegalismo, isto é, de atos regicidas e ilegais
para se atingir o anarquismo? (Anarquismo)
Sou completamente contrário a tal tipo de coisa, porque são crimes. O anar-
quismo tem que ser atingido de uma forma ética, pois a ética é um dos seus sus-

169
Ernesto von Rückert

tentáculos. Não se pode revidar nenhuma atitude criminosa com outras atitudes
criminosas. O mocinho não pode fazer tudo o que o bandido faz. Assassinatos, se-
questros e roubos não se pode admitir. Os fins não justificam os meios. É legitimo
se lutar em defesa dos oprimidos, mas não oprimindo o opressor, porque assim
se está sendo tão criminoso quanto ele. Há que se ter ânimo, coragem, destemor,
valentia, bravura e todas essas virtudes, mas não crueldade, maldade, ódio, nada
disso. Agir sempre dentro da correção e da retidão, com firmeza, mas bondade. Só
assim se poderá atingir os ideais de construir uma sociedade justa, harmônica,
diligente, operosa, próspera, fraterna e feliz.
374. A hipótese dos Universos Fecundos de Smolin é apenas infalseável, e
por isso, não científica? Ou existe alguma incoerência nela, tornando-a
impossível? (Cosmologia)
Não tem incoerência. A questão é que não há como ser verificada. Isso acon-
tece com muitas hipóteses cosmológicas, como a de muitos mundos de Everett. Já
a hipótese do estado estacionário, de Hoyle, pode ser verificada e o foi, sendo des-
cartada. A cosmologia de branas ainda não apresentou um fato observacional ca-
paz de poder verificá-la.
375. O que você acredita que tornaria possível à humanidade atingir um sis-
tema anarquista? Como você acredita que deveria ser a estrutura soci-
oeconômica de tal sociedade? (Anarquismo)
Confio plenamente de que o anarquismo seja a tendência futura da humani-
dade e que será atingido, espontaneamente, em alguns séculos. Mas isso poderá
ser abreviado para poucos séculos por um trabalho educativo. Não se pode falar
de "estrutura" de uma sociedade anarquista, pois ela não a possui. Todavia algu-
mas características precisam existir para que assim seja considerada. Em primei-
ro lugar, na sociedade anarquista não há governo instituído. Os empreendimentos
são geridos por comissões "ad hoc" formadas para fins específicos e dissolvidas
uma vez atingido seu objetivo. Outra característica é de que não haja fronteiras
nacionais, isto é, todo o mundo tem que ser anarquista. Não se pode ter alguns
países anarquistas e outros não, pois os anarquistas não têm governante nem
embaixadores. Além disso, no anarquismo não existe dinheiro, propriedade, pa-
trões, empregados, maridos, esposas. A economia é apenas de bens, mas não há
escambo também. Tudo o que é produzido é distribuído para todos, de graça.
Trabalha-se de graça. Ninguém é rico nem pobre. Ninguém possui nada. Tudo é
de todos (inclusive os maridos e mulheres). Tudo é coletivo: alojamentos, refeitó-
rios, dormitórios, vestuários, lavanderias, creches, escolas, garagens, centros de
lazer, bibliotecas, teatros, cinemas, quadras de esportes, bares, hospitais, clínicas
etc. Todos trabalham, uns pelos outros, sem preguiça e nem cobiça. Não há crime
nem prisão, nem polícia, nem exército, nem juízes, nem advogados, nem contado-
res, nem bancários, Chamo isso de "comunitarismo". Mas a sociedade pode ser, e
certamente será, altamente sofisticada, técnica e culturalmente. Todos adultos

170
PERGUNTE.ME
teriam curso superior. As tarefas indesejadas seriam feitas por rodízio entre to-
dos, como a coleta do lixo e os serviços de limpeza em geral. Tudo é público, nada
é privado. Nada é imposto, mas o grupo desenvolve um modo de impedir as pes-
soas de se aproveitarem umas das outras e ficarem à toa. O mercado apontará os
tipos de serviço que estão com alta demanda e as pessoas se dedicarão a eles para
garantir o suprimento suficiente de todos os bens. O anarquismo é como um soci-
alismo sem governo e nem planejamento. Por outro lado é como se fosse um capi-
talismo pulverizado, em que todos são patrões e ninguém é empregado. Mas sem
dinheiro. Não é de direita nem de esquerda, nem para baixo, nem para trás: é para
frente e para cima.
376. Feições da dádiva vital (Comportamento)
Vejamos se consigo destrinchar as "Feições da dádiva vital" apresentadas
por meu amigo virtual Jean Victor.
Comecemos com "vital". É o que tem vida. Mas o que é a vida? Em biologia há
o conceito de vida como um fenômeno autopoiético. Mas eu considero que vida
pode não ser biológica, como a de um robô. Em que caso ele poderia ser conside-
rado um ser vivo? Em primeiro lugar, um ser vivo "funciona", isto é, move-se
(mesmo que só internamente), transforma energia, interage com o ambiente, per-
cebendo-o, reagindo e agindo sobre ele. Mas muitos sistemas inanimados e arte-
fatos podem fazer isto sem que sejam "vivos". Para mim o que caracteriza a vida é
a "iniciativa". O ser vivo age por sua própria iniciativa e não apenas ao ser co-
mandado externamente. Um robô que assim o faça pode ser considerado vivo. O
fato de poder crescer e se reproduzir não é necessário para ser chamado de vivo.
Quanto à "dádiva" é interessante observar que todos os seres vivos atual-
mente existentes, mesmo que sejam robôs, possuem a sua vida por uma dádiva de
outro ser vivo que lhe antecedeu. Nos seres biológicos há um fio condutor da vida
que passa de cada indivíduo a seus gametas e destes para o novo ser que geram.
No caso das bactérias, elas são eternas. Cada bactéria existente é a mesma que foi
se dividindo. Os vírus recebem sua vida de outro, cujo DNA ou RNA provocou a
agregação protéica dentro de uma célula para "construir" o novo vírus. A vida se-
gue um fluxo ininterrupto, desde o primeiro ser vivo que surgiu. E este, como re-
cebeu a "dádiva da vida"? Para alguns, foi a interveniência de um ser extrínseco
ao Universo, com poder para provocar o surgimento da primeira vida por sua ini-
ciativa. Isso significa que, por essa concepção, o primeiro ser vivo não foi o pri-
meiro, pois o que o criou já teria vida em si, mesmo não sendo biológico. Eu, po-
rém, penso que não houve nada disso. A vida surgiu, espontaneamente, a partir
sistemas inanimados, no momento em que surgiram condições químicas que pos-
sibilitaram sua auto metabolização, regulação e replicação. Quando esse sistema
passou a gerir-se a si próprio, tornou-se o primeiro ser vivo e, a partir daí, a se-
quência se iniciou, dando origem a ramificações que levaram a todas as espécies
hoje existentes. A dádiva da vida é, pois, um presente da natureza em razão do

171
Ernesto von Rückert

comportamento das interações entre os constituintes da matéria que possibilita-


ram esse tipo de coisa. Podemos dizer, assim, que temos uma dívida de gratidão
para com a natureza, pois que somos parte do Universo e só existimos em função
dele. Isso nos dá uma grande responsabilidade, por termos a consciência desse
fato, para com a preservação desse dom tão raro e precioso, possivelmente en-
contrado em menos de três lugares em cada galáxia, cada uma com centenas de
bilhões ou trilhões de planetas.
Finalmente falemos das "feições". Trata-se do modo como encaramos essa
dádiva e como levamos nossa vida. Sendo uma espécie dotada de senciência e
consciência, buscamos um sentido para nossa existência. Por que e para quê exis-
timos? De um ponto de vista externo, por motivo nenhum. Não há razão e nem
finalidade extrínsecas para a vida. A vida se justifica por si mesma. Ela existe para
preservar-se. Temos, pois, que crescermos, vivermos e multiplicarmos. Essa pul-
são primitiva, enraizada nas profundezas de nosso ser, eclode em uma manifesta-
ção que é, para todos os efeitos, a razão e o propósito da vida: o amor. Sim, é o
amor que viabiliza nossa sobrevivência como indivíduo e como espécie. O amor é
a sublimação do sexo e do cuidado com a prole. O amor é que nos une a nossos
parceiros para gerar novas vidas. O amor é que nos faz cuidar uns dos outros para
que possamos sobreviver e nos reproduzir. Sem o amor nos aniquilaríamos mu-
tuamente. Toda a sociedade, seja como for constituída, só prevalece em função do
amor. E o que é o amor?
Amor é um sentir, um pensar, um desejar, um querer e um agir, isto é, uma
emoção, um sentimento, um apetite, uma volição e uma ação. Esse complexo de
fatos psíquicos caracteriza o amor em todos os planos, piedade, compaixão, soli-
dariedade, afeição, amizade, amor platônico, erotismo. Amor filial, maternal, pa-
ternal, fraternal, conjugal, idealista. A intensidade e a seqüência em que eles apa-
recem podem variar. O amor sempre emociona, enternece, enleva e envolve um
desejo de zelo, cuidado e proteção da coisa amada, bem como um anseio de reci-
procidade. Mas o amor só se realiza quando é expresso em vontade e esta vonta-
de em ação. Não basta sentir e desejar para amar, é preciso querer, demonstrar e
provar. O amor envolve dedicação e renúncia, paciência e perseverança, trabalho
e recompensa, alegria e tristeza, euforia e depressão. É algo envolvente e inebri-
ante. O amor não é possessivo, ciumento, exclusivista, castrador, sufocante. Pelo
contrário, o amor é libertário e altruísta. Não me refiro apenas ao amor erótico,
mas a todas as modalidades, inclusive as formas idealistas de amor à verdade,
justiça, sabedoria, humanidade e natureza. O amor não pode ser cerceado em sua
intensidade e abrangência. Ele não possui limites. Quanto mais intensamente se
ama e a mais coisas e pessoas, mais capacidade se tem de amar. E quanto mais se
ama, mais se realiza e maior é a felicidade, mesmo que nem sempre ele seja cor-
respondido.
Assim, a feição que devemos dar à dádiva vital que recebemos da natureza é

172
PERGUNTE.ME
viver a vida com amor, pelo amor e para o amor.
Mais considerações sobre o amor podem ser achadas no artigo:
http://wolfedler.blogspot.com/2010/09/o-que-e-o-amor-vale-tudo-para-
viver-um.html.
377. Penso estudar Filosofia na USP, mas temo que o único caminho a seguir
seja lecionar, atividade para a qual não tenho muito talento. Você acha
que há outros caminhos? Agradam-me também História, Astronomia,
Física, Engenharia da Computação e Artes. (Educação, Aconselhamen-
to)
Fazendo bacharelado em Filosofia e depois mestrado e doutorado, você po-
derá ser um pesquisador de uma Universidade (um filósofo) que também terá
que dar algumas aulas na Universidade e orientar teses de pós-graduação. Se você
for ser historiador, físico ou astrônomo é a mesma coisa, nas respectivas áreas.
Para ser professor do Ensino Médio ou do Fundamental você terá que cursar
também a licenciatura, que acrescenta as cadeiras pedagógicas, que, em minha
opinião, também são necessárias para um professor do Ensino Superior, mas não
são exigidas. Engenharia já é outro tipo de atividade, mais ligada à produção do
que à pesquisa. Quanto às artes, tem as artes plásticas, a arquitetura, a música, o
teatro, a dança, o cinema e a literatura. Para todas existem cursos específicos. Só a
literatura não tem curso para formar escritor ou poeta. Fazendo letras você se
torna professor de línguas e de literatura, tradutor ou crítico literário, mas não
escritor ou poeta. Isto você terá que desenvolver por sua conta. É uma pena.
378. O que você acha do socialismo como meio de se alcançar o comunismo,
que é parecido ou idêntico ao anarquismo? (Anarquismo, Política)
Não considero que o socialismo seja um bom meio de se atingir o anarquis-
mo porque o socialismo é planejado e controlado por um governo forte. É mais
fácil se atingir o anarquismo a partir de uma democracia liberal capitalista, pro-
movendo cada vez mais a ampliação das liberdades e a distribuição do capital,
fracionando-o o máximo, de modo a transformar todo empregado em sócio de sua
empresa e diluir a participação de grandes acionistas. Assim ninguém pode ser
dito "dono" da firma. Além disso, privatizando-se todos os serviços a participação
do estado se limitará a legislar, controlar e fiscalizar a iniciativa privada. Outra
medida é a progressiva comunitarização e cooperativização dos empreendimen-
tos, num nível sempre crescente e de forma a prescindir da interveniência gover-
namental para o atendimento das necessidades da sociedade. A progressão des-
sas atitudes levará à abolição dos governos por falta de necessidade. Assim tam-
bém ocorrerá com o dinheiro e a propriedade. Medidas de coletivização da pro-
priedade, de forma espontânea e desejada, transformarão a propriedade em algo
tão compartilhado que acabará por se perder a identificação de quem seja o dono,
até que a noção de propriedade não seja mais necessária. Quanto ao dinheiro, se

173
Ernesto von Rückert

cada um se dedicar, cada vez mais, a trabalhar de graça, em prol do bem comum,
produzindo uns para os outros, ele também deixará de existir por falta de neces-
sidade. Isso é um processo de longa duração, da ordem de várias centenas de
anos. Mas não pode ser imposto. Tem que surgir naturalmente, e essa é a tendên-
cia. A diferença que vejo entre o comunismo e o anarquismo é uma questão de
existir um governo controlador ou não, no caso do anarquismo. Outra coisa im-
portante no anarquismo é a ausência de fronteiras e de nações soberanas. Todo o
mundo se transforma em uma única sociedade ácrata. Nem a social-democracia
caminha na direção do anarquismo, pois supõe um estado forte para bancar a as-
sistência social. E isso requer altos impostos, que só podem acontecer com a exis-
tência de dinheiro e de corporações. No anarquismo elas devem se diluir e se
transformar em empreendimentos populares, sem dono.
379. Aprecio muito estas palavras: (Comportamento)
"Não acredite em qualquer coisa simplesmente porque você escutou. Não
acredite em qualquer coisa simplesmente porque foi dito e fofocado por muitos.
Não acredite em qualquer coisa simplesmente porque foi encontrado escrito em
seus livros religiosos. Não acredite em qualquer coisa meramente na autoridade
de seus professores e anciãos. Não acredite em tradições porque elas foram pas-
sadas abaixo por gerações. Mas após observação e análise, quando você descobre
que qualquer coisa concorda com a razão e é condutivo ao bem e benefício de um
e todos, então aceite e viva para isso." (Sidharta Gautama, o Buddha)
380. Se log de x menos dois na base 3 subtraído do log de dezesseis x mais
um na base nove é igual a menos um, qual é o único valor possível de x?
(Matemática)
log3(x – 2) – log9(16x + 1) = –1
log3(x – 2) – log3(16x + 1)/log39 = –1
log3(x – 2) – log3(16x + 1)/2 = –1
log3(x – 2) – log3√(16x + 1) = –1
log3((x – 2)/√(16x + 1)) = –1
(x – 2)/√(16x + 1) = 3-1 = 1/3
3x – 6 = √(16x + 1)
(3x – 6)² = 16x + 1
9x² – 36x + 36 = 16x + 1
9x² – 52x + 35 = 0
x = (52 ± √(2704 – 1260))/18

174
PERGUNTE.ME
x = (52 ± √1444)/18
x = (52 ± 38)/18 = (26 ± 19)/9
x = 5 ou x = 7/9.
381. Que técnicas autodidatas você usa? (Educação, Pessoal)
Pegar vários livros sobre o tema e estudar tudo a fundo, fazendo resumos
como se fosse escrever uma apostila sobre o assunto. Vivo sempre comprando
livros e lendo. Leio a média de um por semana e já tenho quase uns seis mil, pois
compro uns dois por semana e isso já faz quase 50 anos. Além disso, compro re-
vistas sobre Filosofia e Ciências que vou lendo todo dia (por isso é que não tenho
poupança nem bens). Leio umas quatro horas por dia. Em compensação não vejo
televisão (só documentários no Discovery, no NatGeo, no History, no Futura e no
Educação, quando minha mulher me chama) e durmo pouco, só umas cinco horas
por dia. Também busco referências na internet, especialmente na Wikipedia em
inglês e nos links nela citados. Costumo imprimir tudo o que acho na internet a
respeito de um tema em uma espécie de apostila, que encaderno para estudar
melhor. Tenho feito isto com Cosmologia, Astronomia, Neurociências, Psicologia,
Ética, Metafísica, Epistemologia, Lógica, Física Quântica, Relatividade, Música
Clássica, História, Evolução, Pintura e outros assuntos do meu interesse, pois ado-
ro estudar. Para aprender também gosto de participar de debates em comunida-
des do Orkut (no Facebook é ruim), escrever em meu blog e neste Formspring.
382. Nos últimos dias tenho me interessado por Física Quântica. No entanto
fico com algumas dúvidas no que tange à sua aplicabilidade, por conse-
quência, eu pergunto: é necessário algum conhecimento extra para
compreender Quântica? (Física, Quântica)
É preciso saber, antes de tudo, Física. De preferência no nível em que é ensi-
nada nas disciplinas básicas dos cursos de Engenharia e Ciências Exatas, por
exemplo, nos livros do Halliday-Resnick, Sears-Zemansky, Tipler-Mosca, McKel-
vey-Grotch, Eisberg-Lerner, Knight, Alonso-Finn, Berkeley, Nussenzveig e outros
que tais. Mas não precisa fazer o Curso de Física. Os volumes quatro desses livros
sempre apresentam capítulos de Física Quântica em um nível introdutório, em
termos de ensino superior.
Se seu conhecimento de Física for só no nível do Ensino Médio, é possível
pegar uma obra mais elementar de Física Quântica. Recomendo dar uma olhada
em derivadas e integrais, mas isso é fácil.
Eis alguma bibliografia desse tipo:
Tipler - Física Moderna,
Oldenberg& Holladay - Introdução à Física Atômica e Nuclear,
Acosta, Cowan& Graham - Curso de Física Moderna,
Beiser - Conceitos de Física Moderna,

175
Ernesto von Rückert

Eisberg& Halliday - Física Quântica,


Para uma abordagem meramente conceitual, indico os livros:
Frank Close - A Cebola Cósmica,
Salam, Heisenberg& Dirac - A Unificação das Forças Fundamentias,
Yoav Ben-Dov - Convite à Física,
Richard Feynman - Física em 12 Lições
Antônio Pires - Evolução das Idéias da Física,
Richard Morris - Uma Breve História do Infinito.
Você também pode buscar na Wikipedia artigos sobre o assunto e montar
uma apostila. Recomendo (infelizmente em português os artigos são menos com-
pletos):
http://en.Wikipedia.org/wiki/Introduction_to_quantum_mechanics,
http://en.Wikipedia.org/wiki/Quantum_mechanics,
http://en.Wikipedia.org/wiki/Elementary_particle,
http://en.Wikipedia.org/wiki/Quark,
http://en.Wikipedia.org/wiki/Quantum_field_theory.
Examine, também, os links contidos nesses artigos.
383. Se você me der um quarto do dinheiro que possui, ficarei com uma
quantia igual ao triplo do que lhe restará. Mas se lhe der 8 reais de meu
dinheiro, ficaremos com quantias iguais. Quanto dinheiro cada um de
nós possui? (Matemática)
Possuo 32 reais e você 16 reais.
Seja x o que você possui e y o que eu possuo.
y + x/4 = 3 ( x – x/4) = 9x/4
y = 8x/4 = 2x
x + 8 = y – 8 = 2x - 8
16 = x
y = 2 × 16 = 32
384. Ainda tenho esperança que a sociedade mude, mas a cada dia fico mais
surpresa e vejo que é uma situação irreversível, mas que pode ser
amenizada. Qual solução você ver para os homossexuais? (Comporta-
mento, Sociologia)
Homossexuais não são um problema que precise ter solução. Problema são
os que lhes descriminam. É preciso apenas que todos respeitem as orientações
sexuais dos outros e permitam que as vivam em paz. Problema é o "bulling", é a
intolerância em relação às orientações sexuais, à cor da pele, à filiação religiosa,
ao gênero, à nacionalidade, à língua, à cultura ou ao modo de ser (como em rela-

176
PERGUNTE.ME
ção aos "nerds"). As únicas coisas que não podem ser toleradas são a intolerância
ou comportamentos que sejam danosos a outros seres, humanos ou não. Mas es-
ses comportamentos podem ser revertidos sim. É uma questão de educação e de
uma legislação rigorosa que, de fato, puna tais intolerâncias. Mas também é preci-
so ver que há um reverso que não pode ser aceito. Se um negro usar uma camise-
ta escrita "orgulho negro" e alguém protestar é chamado de intolerante. Mas se
um branco usar uma camiseta escrita "orgulho branco" o intolerante é ele. Isso
não pode ser, pois se está usando critérios diferentes nos dois casos. Se negros
podem se orgulhar de o sê-lo, e eu acho que podem mesmo, brancos também o
podem. O que não podem, nem brancos nem negros, é sob este pretexto, praticar
atos de violência uns contra os outros. Assim pode-se ter o "orgulho gay", bem
como o "orgulho hetero". Quem quiser, pode ser feminista ou machista. Mas não
pode oprimir o sexo oposto: nem os homens às mulheres nem as mulheres aos
homens. Todos os direitos dos homens têm que ser direitos das mulheres, mas
todos os direitos das mulheres têm que ser direitos dos homens. Todos os deve-
res das mulheres têm que ser deveres dos homens, mas todos os deveres dos ho-
mens têm que ser deveres das mulheres. Sem apelação. Todas as ocupações na
economia e na sociedade devem ser exercidas, metade por homens, metade por
mulheres, sem exceção. Não existe nada que seja exclusividade masculina e nem
exclusividade feminina, exceto a gestação, a parição e o aleitamento natural. Da
mesma forma, não se pode restringir alguém a exercer alguma profissão por sua
orientação sexual e pelo gênero. Militares devem poder ser tanto homens quanto
mulheres, heteros, homo, bi ou assexuais. Bem... o melhor seria não haver militar
de espécie alguma, se o mundo não tivesse fronteiras.
385. A função utilizada para se calcular, aproximadamente, a área da super-
fície corporal de uma pessoa é S(P)=(11/100)*P^(2/3), sendo P o peso
da pessoa. Qual o peso de uma pessoa cujo área é 2,97m²? (Matemáti-
ca)
140,3 kg.
S = (11/100)*P^(2/3)
P^(2/3) = 100S/11
P = (100S/11)^(3/2) = (100×2,97/11)^(3/2)
P = (297/11)^(3/2) = 27^(3/2) = 3^(9/2) = (√3)^9 = 1,732^9 = 140,3
386. Que achas de Olavo de Carvalho? (Filosofia)
Uma pessoa completamente iludida em suas crenças e inteiramente equivo-
cada por elas em seus argumentos. Defende posições completamente obtusas, es-
drúxulas, preconceituosas, mesquinhas e retrógradas. Sua submissão ao catoli-
cismo tradicionalista parece obliterar sua razão, de modo que ele aparenta ser
uma pessoa de baixa inteligência, o que não é. Ele não deixa sua mente ser areja-

177
Ernesto von Rückert

da pelo ar puro do livre pensamento e do ceticismo metodológico. Acho que ele


pretende ser um tipo como o Craig, sem a competência e o brilho dele. Tenho pe-
na de tipos como ele, para mim, uma lástima.
387. Eu acredito em Deus. Não acredito totalmente na Bíblia e não frequen-
to igreja por duvidar. Gosto de mantras, porém não acredito no budis-
mo, mesmo simpatizando com algumas coisas. As pessoas até me des-
criminam por minha falta de religião. Como você vê isto? (Religião)
Ótimo sinal. Prossiga e aprofunde-se no estudo da sua religião, das outras re-
ligiões e dos argumentos ateístas. Estude também história das religiões, cosmolo-
gia e evolução das espécies. Você tem boas chances de se tornar um ateu. Quanto
às pessoas, não se importe. Seja você mesmo, doa a quem doer, até a você próprio.
Mas muna-se de argumentos para contestá-las. Quando você se libertar da crença
em Deus, sentirá um grande alívio e uma leveza ímpar.
388. Que achas do Francis Collins? (Ciência, Religião, Evolução)
Tenho seu livro mais ainda não li. Apesar de sua opinião de que a Ciência não
contradiz a fé, discordo. Pelo menos em relação ao Cristianismo, não há como
conciliar a teoria da evolução com a redenção de Cristo, pois esta só tem signifi-
cado se se considerar o pecado original de Adão e Eva como um fato e, pela evolu-
ção, não houve nenhum Adão e nenhuma Eva. E a evolução não é uma hipótese,
mas uma teoria confirmada. A biogênese a partir da matéria inanimada, apesar de
ainda não ser uma teoria confirmada, é uma hipótese altamente plausível, dispen-
sando a interveniência de Deus. As explicações propostas para a origem do Uni-
verso também não precisam considerar a hipótese da interveniência divina. A Ci-
ência, pois, se não garante a inexistência de Deus, não requer a sua suposição pa-
ra coisa alguma.
Michael Behe e Stephen Jay Gould também se equivocam, o primeiro ao des-
cartar a evolução e o segundo ao admitir a coexistência entre a ciência e a reli-
gião. A evolução é um fato e não há como conciliar ciência e religião por seus pró-
prios princípios. A ciência busca a verdade sem saber qual ela é e a religião prega
sua suposta verdade pré-concebida.
389. Até agora não conhecia esse argumento de que, pela posição da lua e
sua velocidade de afastamento se poderia inferir uma idade para esse
corpo, incompatível com a evolução. O que me diz? (Evolução))
Li o artigo e já tinha conhecimento daqueles argumentos. Todavia os argu-
mentos para a idade de 4,5 bilhões de anos também são conclusivos. É preciso fa-
zer mais estudos para compatibilizar os dados. Por outro lado, o fato da Terra ou
a Lua não terem 4,5 bilhões de anos não é uma prova de que a evolução não ocor-
reu, mas apenas de que é preciso rever as datações e não a teoria. Os métodos ra-
dioativos de datação, conjugados com dados geológicos de sedimentação, apre-

178
PERGUNTE.ME
sentam valores correlatos de datas paleontológicas. Ainda não li os artigos origi-
nais sobre a questão do afastamento da Lua e os artigos em refutação a eles. Vou
ver se acho a literatura a respeito.
390. O que faria se fosse do sexo oposto por um dia? (Pessoal, Relaciona-
mento)
Isto seria muito interessante, assim penso. Como homens e amantes, não
somos capazes de ter o sentimento feminino de amar e ser amada. Então, não sa-
bemos dar a quem amamos o amor da forma que possa alcançar, em plenitude,
seus anseios. Se pudéssemos, por um dia, experimentar sermos femininos, pode-
ríamos saber como amar uma mulher e como ela nos ama. Assim estaríamos con-
tribuindo para o aumento da felicidade, pelo menos de dois seres, mas, certamen-
te, de todo o mundo, pois a maior fonte de felicidade é o amor e quanto mais pes-
soas felizes houver, mais felizes serão todas as pessoas. A felicidade é contagiante,
como uma infecção.
391. Voltaria no tempo para mudar algo em sua vida? (Pessoal)
Nossa vida é o resultado de um acúmulo de decisões, em muitos momentos
em que fizemos uma escolha e deixamos de lado inúmeras outras possibilidades.
Escolhas de outros também interferem em nossas vidas, da mesma forma que
ocorrências meramente casuais. Assim, somos o que somos agora, não exclusiva-
mente por nossas decisões, mas por toda uma trama de ocorrências interatuan-
tes. Pensamos que a mudança de alguma escolha, em algum momento, se alterada
pudesse ser, traria a nossas vidas algo que percebemos estar faltando. Isto não é
garantido. A trama da vida é tão complexa que uma alteração apenas não é de-
terminante para o resultado. É claro que ele seria outro, mas nunca se pode saber
se melhor. Estou certo de que, em cada momento, fiz a melhor escolha que pode-
ria ter feito então, com base em tudo o que tinha conhecimento. Se eu voltasse
àquele momento, certamente a faria de novo. Todavia não posso deixar de dizer
que lamento não ter feito meu doutorado, mesmo sabendo que não é certo de que
isto resultaria em uma vida melhor para mim hoje. Nunca pautei minhas decisões
por vantagem econômica, mas sempre pela maximização dos benefícios a todos
os que fossem ligados a mim, especialmente minha família. Acho que agi da forma
correta e, talvez por isso, não tenha acumulado riqueza alguma. Isto não me aba-
te, mas eu gostaria de poder ter feito todos os que amo e amei mais felizes.
392. Como vencer uma paixão sem sentido? (Relacionamento, Aconselha-
mento)
Para mim uma paixão tem sempre um sentido. Se nos apaixonamos é porque
algo na outra pessoa tangeu as fibras mais profundas no nosso ser. Então, porque
vencê-la e não se entregar a ela? Paixão é para ser vivida, com plenitude e inten-
sidade. Não importa que não seja para se construir o resto da vida com a pessoa.
Mesmo que seja só enquanto durar, é para ser vivida. Se já se tem outro compro-

179
Ernesto von Rückert

misso é preciso que se abra para a possibilidade de relacionamentos múltiplos, é


claro, sem trair o primeiro compromisso, que precisa estar a par do segundo. Se,
contudo, o primeiro compromisso não for aberto a relacionamentos múltiplos e
se não se deseja romper com ele, então a paixão não pode ser realizada de forma
carnal. Mas pode ser vivida de modo platônico, o que não é tão gratificante, mas
também pode ser bom. Negar a si mesmo a paixão é que é ruim, até para a saúde.
Quando ela arrefecer, transformar-se-á em um doce amor não realizado. Mas não
precisa suicidar, como o Werther, de Goethe. É possível se conviver com o amor
platônico. Contudo, é bom ter um amor efetivo também. O que não se pode é viver
sem amor. E amor nunca foi algo necessariamente exclusivo. Pode-se perfeita-
mente amar e amar profunda e lealmente a mais de uma pessoa ao mesmo tempo.
Todavia, se a nova paixão se revelar algo avassalador, que se rompa com todo o
resto e se entregue inteiramente a ela, sem se preocupar com as consequencias,
especialmente as econômicas. Não estou sendo sensato no que digo, mas acho
que ser sensato pode levar a se jogar os maiores valores da vida fora por causa de
coisas como a prosperidade. Sou um louco, mas prefiro ser um pobre afetivamen-
te realizado de que um rico que amarga a tristeza da falta de amor em seu cora-
ção. Quem for prudente ou sensato, não siga os meus conselhos.
393. Que livros ou documentários você me indica para o estudo de Métodos
Matemáticos, Cosmologia e Física Geral? (Educação, Física)
Isso é trabalho para se dedicar fazendo um Curso de Física e um mestrado e
doutorado em Cosmologia. Métodos Matemáticos da Física requer que se saiba,
antes, tudo sobre cálculo diferencial e integral, de uma e várias variáveis, além de
equações diferenciais ordinárias e álgebra linear. Só depois é que se pode come-
çar a estudar Métodos. Cosmologia requer conhecimento de Mecânica Clássica
(newtoniana, lagrangeana e hamiltoniana), Eletromagnetismo, Termodinâmica,
Ótica, Física Quântica, Mecânica Quântica, Física Estatística e Teoria da Relativi-
dade, tanto Especial quanto Geral . Isto só se estuda depois de se estudar Física
Geral e Experimental, que são quatro semestres. Não é um empreendimento im-
possível de se fazer autodaticamente, mas é bem puxado. Recomendo os livros
(dentre outros):
Cálculo Diferencial e Integral: Leithold (2 vols)
Álgebra Linear: Steinbruch& Winterle
Física Geral: Knight (4 vols)
Mecânica: Symon
Eletromagnetismo: Reitz& Milford
Termodinâmica: Zemansky*
Ótica: Jenkins& White*
Física Quântica: Eisberg& Halliday
Mecânica Quântica: Cohen-Tannoudji* (2 vols)
Relatividade: Ohanian* (Gravitation and Spacetime)

180
PERGUNTE.ME
Métodos Matemáticos: Arfken*
Cosmologia: Weinberg*
Os livros marcados com * não existem em português, os mencionados são
em inglês.
Na Wikipedia (em inglês) é possível se fazer um bom apanhado de artigos
sobre esses assuntos, mas são resumidos.
394. O crescimento dum grupo obedece à N(T) = 300*3^KT, sendo N(T) o
total de pessoas em "T"(horas). A produção começa em T=0. Sabe-se
que, após 6 h, há um total de 900 pessoas. Qual o valor de "K" e o total
de pessoas 18 h após o início da produção? (Matemática)
K = 1/6 e N(18) = 8.100.
N = 300 × 3^(KT)
900 = 300 × 3^(6K) ⇒ 3 = 3^(6K) ⇒ 6K = 1 ⇒ K = 1/6
N = 300 × 3^(18/6) = 300 × 3^3 = 300 × 27 = 8.100
395. Por que a Umbanda é tão discriminada? (Religião)
Em minha opinião, porque tem origem negra e não é proveniente de uma ci-
vilização propriamente dita, como o são o Cristianismo, o Judaísmo, o Islamismo,
o Budismo e o Hinduísmo. A Umbanda e o Candomblé são religiões ainda míticas,
sem uma institucionalização, sem templos faustosos, como catedrais, sinagogas,
mesquitas, pagodes e outros templos monumentais. Também não possuem escri-
turas sagradas memoráveis, nem teólogos com vasta produção bibliográfica, nem
uma hierarquia eclesiástica bem estabelecida, nem poder econômico. Assim são
tidas como curiosidades e excrescências na estrutura religiosa. Isto também acon-
tece, um pouco, com o espiritismo kardecista.
Outra coisa que me esqueci de dizer é que as práticas litúrgicas da Umbanda
e do Candomblé são um tanto quanto primitivas e rústicas, sem a sutileza, a sa-
cralidade, o caráter hierático e enlevado das missas e dos ritos budistas, muçul-
manos, judaicos e hinduístas. Não provocam um sentimento de mistério, de un-
ção, de santidade, de elevação espiritual, como nessas outras religiões. Dão a im-
pressão de serem manifestações tribais africanas, semelhantes às práticas religio-
sas indígenas, eivadas de primitivismo animista. Em geral, as pessoas criadas no
seio das civilizações, possuem reservas em relação às práticas das culturas mais
primitivas e menos elaboradas. Certamente que não vêem que suas refinadas
crenças não diferem conceitualmente das crenças primitivas que rejeitam. De um
ponto de vista puramente antropológico e filosófico, no fundo, são a mesma coisa.
396. Já leu algo de Marx, Engels e Lenin? Se sim, o que achou? Segue uma de
Engels sobre o uso da autoridade: http://bit.ly/hAKZuW. Se puder co-

181
Ernesto von Rückert

mentá-la, seria ótimo. (Política)


Não concordo com Engels. Considero que o objetivo final do anarquismo se-
ja, de fato, a abolição da autoridade. Mas isto não seria o resultado de nenhuma
revolução, como penso que deva ser atingido o anarquismo, mas sim de uma pro-
gressiva conscientização das pessoas, que devem entender que a realização de
projetos sociais de qualquer ordem precisa ter uma coordenação, escolhida por
consenso e atuante a cada momento ou circunstância. Note que a ação de coorde-
nar não é autoritária, pois não possui nenhum recurso de coação a quem a ela não
se submeta. É a conscientização que fará com que as pessoas coordenadas cum-
pram as determinações dos coordenadores. Isto é algo muito difícil de se obter.
Por isto é que digo que o anarquismo é uma situação ideal, de extrema educação e
senso de ordem, dever, diligência e dedicação, só alcançada ao fim de vários sécu-
los de educação. Mas não pode ser por meio de revolução nenhuma, pois, nesse
caso, pessoas ainda mandarão umas nas outras, só ocorrendo a substituição de
quem seja a autoridade. O socialismo e o comunismo ainda são regimes que pres-
supõe governo e autoridade, não sendo, pois, anarquistas. Acho que não são boa
coisa e que o anarquismo será atingido não pela via socialista, mas, ao contrário,
por uma exacerbação do liberalismo capitalista até que toda pessoa seja patrão e
ninguém seja empregado de ninguém, nem do governo, mesmo que seja operário.
A abolição do dinheiro e da propriedade também precisam vir de forma tal que
eles deixarão de existir por absoluta falta de necessidade.
397. A Ciência é a única forma segura de se buscar e encontrar verdades?
(Ciência, Epistemologia)
Não. A Ciência é uma das formas de se buscar a verdade. Mas ela também
pode ser buscada pela Filosofia e, até mesmo, pelo senso comum. A Ciência, con-
tudo, por sua metodologia, tem condições melhores de fazer a veritação de suas
assertivas ou, pelo menos, de que sejam o mais próximo possível da verdade, que
nada mais é do que a adequação entre a realidade e o que se diz a respeito dela.
Onde não se pode pretender encontrar a verdade é nos mitos, que são explicações
da realidade em termos fantasiosos, provindos de tradições ancestrais, transmiti-
das oralmente até que tenham sido corporificadas em textos, considerados sa-
grados pelas religiões. Tais explicações, em sua origem, não têm nenhum com-
promisso em serem verdadeiras. Tratam-se de lendas e fábulas, inventadas para
dar conta de explicar o que era considerado inexplicável. Não é por serem antigas
nem por serem transmitidas por pessoas de autoridade que elas devem ser con-
sideradas verdadeiras, o que pode até ser, se passarem pelo crivo de uma verifi-
cação rigorosa e cética de sua validade.
398. As pesquisas de satisfação prejudicam a prática da democracia nas
eleições? Que reformas políticas imediatas deveriam ocorrer, em sua
opinião? (Política)

182
PERGUNTE.ME
Não, desde que sejam honestas. O problema é sua manipulação interesseira.
São precisos mecanismos de controle dessas pesquisas e o melhor é a existência
de vários institutos, ligados às múltiplas tendências políticas. Considero que seja
importante que os partidos políticos tenham uma definição ideológica e progra-
mática bem clara e que seja exigido de todos os candidatos o alinhamento ao pro-
grama partidário, sob pena de perda de mandato ou de cassação da candidatura.
Essa questão da ficha limpa é essencial. Além disso, todo político que tenha sido
condenado judicialmente deveria ter seus direitos políticos cassados por toda a
vida (a não ser que um novo julgamento o absolva). Sou a favor do voto distrital
misto e do regime parlamentarista. Também acho que o Senado poderia ser extin-
to. Não gosto da existência de medidas provisórias. Seria preciso, também, au-
mentar as exigências para a formação de partidos, pois os temos em demasia.
Considero que uns cinco, no máximo oito, dariam para cobrir todo o espectro de
possibilidades políticas. Não concordo com a existência de coligações partidárias.
Cada candidato teria que ser exclusivamente do seu partido. Nem concordo com o
coeficiente eleitoral. Seriam eleitos os candidatos pelo número de votos individu-
ais obtidos, sem que seus votos pudessem eleger outros candidatos. Considero
que deveria ser exigido um exame de suficiência em conhecimentos, incluindo po-
líticos, para que uma candidatura pudesse ser aceita, tipo um exame de motorista.
Para ser político seria preciso ter uma espécie de carteira de habilitação política.
E, finalmente, acho que deveria ser permitido a existência de candidato sem par-
tido.
399. O que pensas da obra de William Shakespeare? (Literatura)
Um dos maiores escritores de todos os tempos, ao lado de Dostoievski, Dan-
te, Cervantes, Tolstoy, Flaubert, Homero, Goethe, Molière, Dickens. Um fino anali-
sador da alma humana e suas paixões, bem como da sociedade e suas mazelas. E
um excepcional cultor da língua, que domina com maestria e elegância.
400. Você acha que a beleza física é algo essencial em uma mulher? (Pesso-
al)
Claro que não é essencial, mas é um dos fatores que a tornam cativante e de-
sejável. Todavia pode ser sobrepujado por outros, como a simpatia, a vivacidade,
a inteligência, o porte, a elegância, a cultura, a educação, a bondade e, até mesmo,
a sensualidade, que não é diretamente correlacionada com a beleza.
401. Qual o significado de Allegro, Andante e Presto ? (Música)
São andamentos de uma composição musical, isto é, o quão rapidamente as
notas devem ser tocadas. Nas partituras o tempo de execução das notas é dado
pelas figuras, que, na sequência seguinte, cada uma dura metade do tempo da an-
terior:
breve - semibreve - mínima - semínima - colcheia - semicolcheia - fusa - semifusa.

183
Ernesto von Rückert

Tomando como referência a semínima, os andamentos contemplam a se-


guinte tabela de execuções da semínima por minuto (entre parêntesis), fazendo-
se as correspondências para as outras figuras:
Gravissimo(<40) - Extremamente lento
Grave(40) - Muito vagarosamente e solene
Larghissimo(40-60) - Muito largo e severo
Largo(40-60) - Largo e severo
Larghetto(60-66) - Mais suave e ligeiro que o Largo
Lento(60-66) - Lento
Adágio(66-76) - Vagarosamente, de expressão terna e patética
Adagietto(66-76) - Vagarosamente, pouco mais rápido que Adagio
Andante(76-108) - Velocidade do andar humano, amável e elegante
Andantino(84-112) - Mais ligeiro que o Andante, agradável e compassado
Moderato(108-120) - Moderadamente (nem rápido, nem lento)
Allegretto(112-120) - Nem tão ligeiro como o Allegro; também chamado de
Allegro ma non troppo
Allegro(120-168) - Ligeiro e alegre
Vivace(152-168) - Rápido e vivo
Vivacissimo(168-180) - Mais rápido e vivo que o Vivace; também chamado
de molto vivace
Presto(168-200) - Veloz e animado
Prestissimo(200-208) - Muito rapidamente, com toda a velocidade e preste-
za
402. Você vai votar em quem no segundo turno? O PV parece que vai apoiar
o Serra. Já a Marina... (Política)
Ainda não decidi, pois não queria nenhum dos dois. Minha decisão não de-
penderá de quem seja apoiado pelo PV ou pela Marina. Não sou alinhado com
partido ou pessoa nenhuma. Vou analisar qual deles deverá ser preferível, para o
bem do povo brasileiro. Pesará muito a idoneidade, a ideologia, a história de vida,
a competência, a capacidade, os interesses que defende e o programa de governo.
Não pesará quem ou que partido apóia o candidato ou candidata, se ele ou ela tem
maioria no congresso, que ministros vai escolher, que pessoas vai nomear ou se a
coligação fez mais ou menos governadores. Vou pensar bem e, quando decidir,
comunicarei na internet.
403. Não há fatos eternos e nem verdades absolutas? (Ceticismo)
Fatos que já ocorreram não se pode mais alterar, logo são eternos, na memó-
ria, enquanto existir o tempo. Fatos continuados, que prosseguem para o futuro,
não podem ser garantidamente eternos, pois mudanças sempre podem ocorrer,
nada garantido a perenidade de coisa alguma. Além do mais, nem a eternidade é
algo garantido, pois pode ser que o tempo também termine no futuro, cessando

184
PERGUNTE.ME
de passar e, logo, nada perduraria eternamente, pois isto significaria que perma-
neceria por um tempo indefinido, mas isto não se daria se o tempo se encerrasse.
Verdade, sendo a adequação entre a realidade e o que se diz a respeito dela,
deixará de ser verdade quando a realidade se modificar. Nada garante que a rea-
lidade permaneça imutável, assim, as verdades podem deixar de o ser.
Por outro lado, teoricamente toda verdade seria absoluta, mas, nem sempre
se tem a garantia de que o que se considera como verdade, de fato o seja. Mesmo
que a realidade não se modifique, nossa informação sobre ela pode ser alterada,
em razão de novos dados ou novas interpretações. Assim a verdade muda, não
porque a realidade mudou, mas porque o que se pensava que fosse a realidade já
não é mais. Desta forma, não há como se ter verdades absolutas, em hipótese ne-
nhuma.
Isto não nos leva, contudo, ao ceticismo pirrônico, que é a concepção filosófi-
ca de que o conhecimento da verdade seja uma impossibilidade total. O correto é
se trabalhar como o ceticismo metodológico, que considera que é possível saber a
verdade a respeito de alguma coisa, mas muito difícil de ter a garantia de que se a
possua. Então, usa-se a dúvida metódica, para se aplicar os mais exaustivos testes
de verificação da veracidade de qualquer assertiva, e se toma o resultado obtido
como verdade, sempre considerando que seja provisória e passível de correções
em razão de novas informações.
404. Os fins justificam os meios ou, os meios são feitos para conquistar um
fim? (Ética, Política)
Os fins jamais podem justificar os meios, que, de fato, são usados para se
conquistar um fim. Mas precisam se adequar a critérios éticos em relação às con-
sequências e efeitos colaterais que podem produzir nas pessoas e na natureza.
Em circunstâncias excepcionais, é possível se admitir o uso de um meio que cause
algum dano, dor, prejuízo, sofrimento, tristeza ou outro mal, se o fim almejado se-
ja um bem compensador de grande monta, para os próprios alvos desses males.
Como, por exemplo, suportar a dor de um tratamento dentário ou de uma cirur-
gia. O problema é que muitos infligem males a outros, justificando-os pelo bem
que advirá para si. Isso é intolerável.
405. Como você vê a lei que obriga todas as escolas a adotar música como
disciplina? Acho que a escola mais necessitada é a pública. Se o ensino
básico já é precário, como será em relação à música? Vai ser um pro-
cesso lento? (Educação, Música)
Quando eu estudei, em escola pública, nos anos 50 e 60, música era obriga-
tória, bem como artes, desenho, trabalhos manuais e outros assuntos, como fran-
cês e latim. Nós aprendíamos tudo, com menos aulas por semana. Acho perfeita-
mente viável e desejável que a juventude tenha conhecimentos e desenvolva ha-

185
Ernesto von Rückert

bilidades nas artes, tanto quanto nas ciências e nas humanidades. E também em
coisas práticas, como culinária, costura, mecânica, eletrotécnica, eletrônica, digi-
tação, informática, marcenaria, edificações e coisas assim. O ideal seria a escola de
tempo integral. O ensino só é precário porque não se tem a vontade política de se
investir PESADAMENTE na educação. Estou dizendo muito mesmo. Construir es-
colas de horário integral para toda a população e melhorar o salário dos profes-
sores de forma que a profissão se torne atrativa. Estou falando de salários de cin-
co mil reais para um professor primário em tempo integral. Em compensação, ve-
readores não precisam ter salário e muitas obras faraônicas, como o Centro Ad-
ministrativo do Governo de Minas, em Confins, nem precisariam ser feitas. É claro
que, se se conter o desvio de verbas com superfaturamentos e outras do tipo,
muito dinheiro vai sobrar para a educação, que teria que receber, DE FATO, um
quarto dos recursos arrecadados por todos os impostos, a serem geridos com
probidade, eficiência e eficácia. Sou a favor da música obrigatória sim e de muitas
medidas que faça da educação a primeiríssima prioridade dos governos. Acima da
Saúde, da Habitação, do Emprego, da Segurança, de tudo. Com educação, tudo o
mais vem por acréscimo.
406. Se toda causa tem um efeito, todo ser humano existe porque pensa ou
pensa porque existe? (Metafísica)
Dizer que toda causa tem um efeito é uma tautologia, pois é a própria defini-
ção de causa, como aquilo que provoca um efeito e de efeito, como evento que
possui causa. Causa e efeito são propriedades de eventos e ações e não de seres.
Inclusive nem todo evento é efeito de alguma causa e uma causa não determina
sempre o mesmo efeito. O fato de existir não é efeito do fato de pensar, de modo
nenhum. Mas, para pensar, é preciso existir, mesmo que se possa existir sem se
pensar. Não há pensamento puro. Pensamento é uma ocorrência que se dá em um
cérebro em funcionamento, de um animal vivo. Vegetais e minerais não pensam,
nem animais mortos. Aliás, nem todo animal. Possivelmente o pensamento só
ocorre quando o nível de complexidade do sistema nervoso permita a existência
da consciência no animal. Mas isto é uma conjectura que faço. É preciso investi-
gar.
407. O que você anda fazendo? (Pessoal)
Estou batalhando com minhas planilhas de cálculo de notas dos alunos do
meu colégio e outras, cujos programas eu desenvolvo. Em informática me espe-
cializei em programação aplicada a planilhas de cálculo e em computação algébri-
ca (Derive, Mathematica, Maple, Maxima, Xcas). Também gosto de trabalhar com
imagens vetoriais (CorelDraw), bitmaps (Photo Shop) e sequenciadores de som
MIDI (Encore, Finale, Sibelius). Gosto de criar logotipos e cartazes de propagando.
Já dei cursos sobre essas coisas e até fiz apostilas, mas estão desatualizadas, pois
foi há mais de dez anos. Naquele tempo eu também fazia páginas da internet em
HTML, mas hoje já estou por fora de CMS, Flash, XHTML, PHP, Java, ASP e o que

186
PERGUNTE.ME
está se usando. Outra coisa que tenho feito é editoração de livros para publicação,
incluindo capas, índices, ficha catalográfica e o que for necessário. Por incrível
que pareça, ainda acho tempo para a pintura de telas, a leitura de livros e revistas,
o estudo de temas que me interessam (cosmologia, física de partículas, relativi-
dade, astronomia, metafísica, ética, epistemologia, lógica, estética, matemática,
psicologia, neurociências, evolução, música, pintura), a escrita de livros (estou
redigindo quatro em paralelo, inclusive este, um sobre física para filósofos, outro
de ensaios filosóficos e mais um de poesias) e a participação em comunidades da
internet, como Orkut, no qual participo de várias comunidades de debate, Face-
book e este Formspring. Também escrevo em meus dois blogs e produzo e apre-
sento um programa semanal de rádio de duas horas de música clássica comenta-
da. Ainda faço parte da Orquestra de Câmara de Viçosa, da Academia de Letras de
Viçosa e da Associação dos Professores da UFV, em seu Conselho Fiscal. Sem es-
quecer que sou marido e pai de família. Como arranjo tempo? Não vejo televisão e
durmo pouco. Só não me sobra tempo para ganhar dinheiro, pois quase tudo o
que faço, faço-o de graça.
408. Há tempos não trabalho com um Java ou coisa do tipo. Gostaria de ser
analista de sistemas, de preferência de um banco, o do Brasil. O que
acha? Fiz meu blog todinho em xml, com toques de php e muita orien-
tação ao objeto. Preciso estudar “mesmo”. (Informática, Internet)
Não gosto muito das aplicações administrativas da informática, especial-
mente as financeiras. Detesto mexer com dinheiro, mesmo em cálculos. Por isto é
que gosto de trabalhar de graça. Gosto mais de aplicações científicas e da estatís-
tica aplicada a fenômenos naturais ou sociais, mas não econômicos. Tenho certa
birra de economia, mas é só uma coisa idiossincrática. Não tenho reservas filosó-
ficas contra a economia. Só que não gosto do assunto, muito menos se for a parte
monetária. Gosto de analisar dados meteorológicos, astronômicos, biológicos, ge-
ológicos e até geográficos, não econômicos. Gosto de aplicar funções especiais,
funções de Bessel, polinômios de Legendre, transformadas de Fourier e coisas do
tipo. Isto também se aplica à análise harmônica de sons, por exemplo, para trans-
formar um som wave em uma sequência midi. Acho isto muito interessante, como
um programa para extrair a voz de uma música e deixar só os instrumentos. Re-
solver equações diferenciais para desenhar perfis de pás de turbinas, dentes de
engrenagens, hélice de navios ou bocais de foguetes. Ou calcular órbitas de satéli-
tes e trajetórias de foguetes. Isso tudo é muito interessante. O importante, em
programação, é entender profundamente dos fundamentos teóricos da linguagem
que se usa e não apenas de suas variáveis, seus comandos e sua sintaxe, da forma
de uma “receita de bolo”. Tem que compreender de onde vem cada coisa e sua
tradução em algoritmos e nas linguagens de baixo nível. Senão não se é capaz de
criar nada, mas apenas reproduzir o que já se sabe, o que não tem graça nenhu-
ma.

187
Ernesto von Rückert

409. Mandaria um “foda-se” para a humanidade? (Sociologia)


De jeito nenhum! A humanidade é, para mim, a coisa mais preciosa de que
dispomos, pois é a vida coletiva de todos nós e a vida é um bem inestimável. As-
sim como somos ciosos de nossa saúde e bem estar, também temos que o ser da
saúde e bem estar coletivos de todos nós, humanos. Não há como realizar-se nes-
ta vida à revelia ou mesmo, em detrimento do resto dos seres humanos. O bem e a
felicidade de cada um são umbilicalmente ligados ao bem e à felicidade de todos.
Não vivemos para nosso proveito a qualquer custo, mas apenas quando ele ad-
vém da melhoria da condição de vida global. É nisso que podemos colocar um
significado para nossas vidas, já que não há um significado extrínseco para elas.
Vivamos para que, por nossa causa, o mundo se torne melhor, mais justo, mais
acolhedor, mais harmônico, mais fraterno e seja fonte de maior felicidade para
todos os seres, mesmo não humanos. Isso dá significado à vida e permite que en-
frentemos os reveses e as vicissitudes com galhardia e possamos ser pessoas res-
peitadas, honradas, reconhecidas e amadas. É isto que faz de cada pessoa um
exemplo, um marco, um farol a luzir para conduzir os outros pela luz do conheci-
mento, da verdade, da justiça e, principalmente, da bondade, pois ser bom é mais
do que ser justo ou sábio, uma vez que o bom e sempre justo, mas o justo pode
não ser bom e sábio é o que reconhece isso.
410. Fique ciente que o seu Formspring é o melhor de todos que eu já entrei
na internet. Parabéns pelo brilhantismo! (Pessoal)
Obrigado, caríssimo. Fico contente em ler esse depoimento, pois considero
que não posso me furtar de usar esses instrumentos para difundir a luz do conhe-
cimento nesse bosque tenebroso em que nos inserimos atualmente. Saber que is-
so está tendo resultado e sendo reconhecido, para mim, é uma grande alegria. Sei,
então, que o significado que coloco em minha vida de educador antes de tudo, es-
tá sendo preenchido. Um abraço.
411. Por que coisas fáceis e inúteis atraem mais do que estudar e pesquisar
(Comportamento)
Porque grande parte das pessoas é preguiçosa. Esse é o grande mal, só supe-
rado pelo egoísmo. Acomodar-se com a mediocridade, porque descortinar uma
visão altaneira requer o trabalho de escalar a montanha, é o prato do dia das mul-
tidões. Há uma aversão generalizada a tudo que seja difícil, complicado, trabalho-
so, demorado para se aprender ou apenas apreciar. Com isso, está-se perdendo o
melhor da arte, da ciência e da cultura, por um padrão terra a terra, medíocre e,
realmente, feio. Lutar contra essa tendência é um esforço ingente e, muitas vezes,
infrutífero. Mas não há como esmorecer, se se pretende ainda deixar para a hu-
manidade um legado de progresso, de beleza e de saber.
412. Não havia olhado por esse lado, logo eu, o mais emburrado em relação
à economia. Dá-me uma força sobre que carreira seguir. Pode dar pal-

188
PERGUNTE.ME
pites, observações, críticas etc. Pode partir para qualquer profissão,
até moda. (Aconselhamento)
Cada pessoa deve fazer suas escolhas em função daquilo para que tenha
pendor, aptidão e, até mesmo, curtição e paixão. É um erro pautar a escolha de
profissão, que se tornará um aspecto de extrema relevância para toda a vida, em
razão do retorno financeiro que ela pode dar, porque, se você não estiver realiza-
do em sua profissão viverá infeliz e a riqueza não é compensação suficiente para a
infelicidade. Eu sempre quis e gostei de ser professor, mas poderia ser um cientis-
ta (físico, biólogo, antropólogo, historiador ou geólogo), um filósofo, um músico,
um pintor, um escritor, um poeta, talvez um engenheiro. Mas nunca um médico,
um advogado, um economista, um empresário, um fazendeiro, um publicitário.
Sou um teórico, um intelectual. Não gosto de coisas práticas. Mas, cada um é do
seu jeito. Sempre disse que, sendo professor de Física e Matemática, eu tenho
condições de me sair bem nas áreas humanas e biológicas, mas a recíproca nem
sempre é verdadeira. Como tenho interesse em muitos assuntos diferentes, inclu-
sive religião, sinto-me mais confortável por ter estudado Física e Matemática. Há
pessoas, contudo, que não sentem a fascinação que eu sinto pelas ciências exatas
e pelo conhecimento teórico em geral. Veja se você tem pendor para negócios, en-
tão faça administração. Quem sabe gosta de artes, jornalismo, publicidade, tea-
tro... Ou medicina, direito. O importante é que você seja um vibrador com a sua
profissão. Que adore trabalhar com o assunto que escolheu. Então você até pode
ficar rico com ela.
413. Você poderia discorrer sobre efeitos distintos de uma mesma causa?
(Metafísica, Física)
O exemplo mais notável é a difração de elétrons, em que um feixe de elétrons
passa por um orifício e provoca um padrão de interferência no anteparo. Este pa-
drão é formado pela incidência de elétrons que passam pelo mesmo orifício, nas
mesmas condições e se dirigem a locais diferentes. Em Física quântica, aliás, não
existe o determinismo. O estado de um sistema é dado por probabilidades e qual-
quer situação, dentro do espectro de possibilidades, pode ser obtida quando se
provoca o sistema a exibir seu estado. Isto é um fato fundamental da natureza,
expresso magnificamente pelo Princípio da Incerteza de Heisenberg. O aparente
determinismo dos fenômenos macroscópicos é uma decorrência da lei dos gran-
des números, quando um sistema é formado por um número muito grande de
partículas, o que já ocorre, até, com um vírus. O caráter probabilístico da natureza
é, inclusive, o fundamento da possibilidade de se tomar decisões, isto é, do livre
arbítrio. Se a natureza fosse determinista, como o entendia Laplace, o estado atual
de tudo no mundo seria o resultado de um estado anterior e das leis dinâmicas do
movimento, não havendo possibilidade nenhuma de escolhas. Isto não é o que
ocorre. Até na vida cotidiana de pessoas, estímulos idênticos podem levar a res-
postas diferentes, senão a psicologia, a sociologia e a economia seriam ciências

189
Ernesto von Rückert

exatas. E não é por desconhecimento de fatores, como o pretendia David Bohm


com sua teoria das "Variáveis Ocultas", que se revelou incorreta. É uma situação
intrínseca da natureza.
414. A educação atual serve, em sua maioria, aos anseios burgueses? (Edu-
cação, Sociologia)
Sim, mas não inteiramente. Quais seriam esses anseios? O que a burguesia
quer, bem como o proletariado que almeja tornar-se burguesia, é que a educação
lhe dê condições de prosperidade. Esta é a característica básica da concepção
burguesa de vida. A finalidade da vida é ter dinheiro para satisfazer o desejo do
supérfluo, enquanto o proletariado almeja o necessário para a sobrevivência. A
educação, pelo menos no Brasil, em tese, prepara profissionais. Todo curso supe-
rior é um curso para uma profissão e o Ensino Básico, quando não é profissionali-
zante, é preparatório para o Ensino Superior. Só que isso não se faz bem feito. A
educação brasileira ainda padece de um ranço aristocrático, isto é, uma educação
para quem já é rico e não precisa de profissão nenhuma para ganhar dinheiro,
pois é herdeiro de grandes fortunas e será um proprietário de terras, um indus-
trial, um empresário de serviços ou um capitalista. O que essa pessoa quer da
educação (pelo menos seus pais) é um lustro social, para não aparecer como ig-
norante ou burro. Ou mesmo para saber administrar seu patrimônio. Esse tipo de
educação não serve para quem quer, de fato, se valer do trabalho para enriquecer,
como os burgueses, ou para sobreviver, como os proletários. Até que se estabele-
ça o anarquismo, povo, burguesia e elites existirão. O objetivo de um estado com-
prometido com o bem estar social é minimizar as diferenças entre esses segmen-
tos e abrir oportunidades de ascensão econômica e, em decorrência, social. A
educação é um dos mais importantes fatores para tal. Ela só cumprirá esse papel
se, de fato, consistir em um instrumento de aquisição de conhecimentos, habili-
dades e competência capazes de qualificar a pessoa a ter sucesso profissional no
mercado de trabalho. Tanto para o povo quanto para a burguesia. Para a burgue-
sia, precariamente, os cursos superiores formam profissionais, mas a competên-
cia média é sofrível. Para o povo seria preciso uma grande expansão do ensino
básico profissionalizante, que, no Brasil, é muito pouco extenso e desenvolvido,
levando muitas pessoas a fazer cursos superiores medíocres, que não lhes forne-
cem colocação adequada no mercado pertinente, ao mesmo tempo, não lhes qua-
lifica para uma profissão de nível médio, deixando-as em ocupações que nem se-
quer requerem o nível médio. Como sempre digo, o importante é que os governos
invistam, PESADAMENTE, em educação, não só para isto, mas para transformar
as pessoas em cidadãos conscientes e críticos.
415. O que é a atual burguesia? (Sociologia)
Os profissionais liberais, pequenos empresários, professores universitários,
funcionários públicos de médio escalão para cima, gerentes, supervisores, peque-
nos investidores ou proprietários. Eu diria que o grupo cuja renda familiar men-

190
PERGUNTE.ME
sal bruta se situe na casa de poucas dezenas de milhares de reais (de cinco a cin-
quenta mil reais). Isso também depende da história familiar. Quem provém de
uma família tradicionalmente burguesa, mesmo que tenha se empobrecido, soci-
almente ainda conserva seu "status". Por outro lado, quem se enriqueceu recen-
temente, em geral, não será aceito no meio social burguês, mesmo sendo até mais
rico. Isso é uma questão mais social do que econômica. Tem a ver com o nível de
educação. Não estou dizendo de escolaridade, mas de cultura mesmo. Do tipo de
roupa que veste, do tipo de mobília que tem em casa, do tipo de comida que come,
do modo de falar e de se portar. Da "finesse", eu diria. Ricos, realmente, já têm um
padrão de hábitos de consumo muito mais dispendiosos, casas suntuosas, hábitos
perdulários, gastos exorbitantes. Há que se distinguir, contudo, riqueza de aristo-
cracia, que também tem origem econômica, mas hoje é mais cultural. Um aristo-
crata já é uma pessoa que pode não ser mais tão rica, mas herdou propriedades
de grande valor, não só monetário, mas, principalmente, até mesmo, histórico. É
alguém que tem uma árvore genealógica com ancestrais pertencentes à nobreza
de algum país ou a famílias tradicionalmente ricas, senhores de terras, industriais
ou políticos influentes há muitas gerações. Possuem, em geral, uma cultura e uma
erudição superiores, um modo de ser e viver refinados. São, inclusive, avessos ao
convívio com os "nouveau-riches", como certos artistas de cinema, estrelas da
música popular ou desportistas famosos. Estes, por sua vez, adoram a companhia
de aristocratas autênticos, o que parece validar seu "status" social. No meu en-
tendimento, tudo isso não passa de vaidade e vaidade é uma coisa muito mesqui-
nha, vulgar e idiota. O valor de uma pessoa não está em sua fortuna, em sua cultu-
ra, em seu poder, em sua fama ou em seu sucesso, mas em seu caráter, em sua
personalidade, em sua sabedoria.
416. O problema é que tenho aptidão para muitas áreas, algumas até anta-
gônicas. Já fiz tanta coisa... É difícil escolher, optar. (Aconselhamento)
Você pode se dedicar profissionalmente a uma coisa e, como diletante, ama-
dor ou por hobby, a outras. É preferível escolher profissionalmente a que seja
mais difícil.
417. Sentir ou pensar? (Psicologia)
Não há como pensar sem sentir nem sentir sem pensar. Ambos os fatos psí-
quicos ocorrem conjuntamente. Pensamentos e sentimentos (que são emoções
conscientizadas) são processos mentais que usam os mesmos recursos do cére-
bro, apenas diferindo na intensidade do sentir ou do pensar, um sobre o outro.
Não existe doutor Spock na humanidade e nem nos outros animais que pensam e
sentem. A neurologia já provou isto sobejamente e o António Damásio tem um
livro, "O Erro de Descartes" sobre o assunto. Outro, até mais interesante é “O Cé-
rebro Emocional”, de Joseph LeDoux. A questão que se pode colocar é sobre o
processo de decisão, se deve ser tomado racional ou emocionalmente. Acontece
que, mesmo que se queira ser racional, inconscientemente o cérebro provê argu-

191
Ernesto von Rückert

mentos racionais para as decisões que já tomou emocionalmente, também de


forma inconsciente. O caráter emocional é muito mais forte que o racional. São os
afetos que governam nossa vida. O que a razão pode é fazer com que nos afeiçoe-
mos àquilo que racionalmente tomamos como o melhor. Mas não é fácil, se estiver
envolvido, especialmente, afetos a pessoas. Mas não só a pessoas. Temos também
afetos por idéias. A fé religiosa, por exemplo, é um afeto por uma crença irracio-
nal. E isso é muito difícil de ser removido. Ela, inclusive, busca racionalizar essa
crença, como o fizeram São Tomás de Aquino e outros teólogos, e, mesmo hoje, o
faz um Willian Craig, aliás, com brilhantismo. Ou um Olavo de Carvalho, sem bri-
lhantismo. Por mais que queiramos ser racionais, nosso cérebro é emocional em
sua raiz. Considero uma pessoa racional aquela que, nos momentos serenos, pois
no calor de uma discussão não há como, reflete sobre suas idéias, convicções e
posições e busca convencer-se daquelas que tenham um embasamento lógico, pa-
ra que possa sobre elas depositar seus afetos e, então, nos momentos acalorados
defendê-las com conhecimento de causa.
418. O inferno sempre são “os outros"? (Comportamento)
De fato, os outros costumam ser um estorvo para nossa vida, em muitas cir-
cunstâncias. Parodiando Vinícius, posso dizer "Se todos fossem iguais a mim...,
que maravilha viver". Mas não são, e com isto temos que nos acostumar. Aliás, pa-
ra falar a verdade, seria tedioso não houvesse diferenças entre as pessoas. Temos
que saber encarar de forma tolerante e produtiva esta realidade, unindo os esfor-
ços para superar divergências na construção de um mundo aprazível para todos.
419. O desprezo de tudo que a humanidade preza como "bom", mas não
passa de superficialidades... Nietzsche disse isso no prefacio do Anti-
Cristo. Concorda? (Comportamento)
Acho desprezo uma palavra muito forte para tudo que for apenas superficia-
lidade na humanidade. Desprezo é preciso se ter para com atitudes verdadeira-
mente malévolas, egoístas, vis, criminosas. Estas têm que ser combatidas com
energia e bravura. Vaidades, mau gosto, presunção e outras que tais devem ser
sobranceiramente ignoradas. Por outro lado, ignorância e burrice devem ser ca-
ridosamente remediadas, levando às pessoas a luz do conhecimento e o vigor da
inteligência, se for possível.
420. O que separa o Antigo do Novo Testamento? (Religião)
Jesus Cristo. A partir dele a mensagem é outra. A Bíblia deixa de ser a escri-
tura sagrada dos judeus e passa a ser de todo o mundo. A principal diferença de
concepção é esta. Deus não é mais o Jeová ou o Iavé do povo judeu, mas o Deus do
Universo, especialmente de toda a humanidade. Outras diferenças se referem à
maior importância dada às atitudes do que aos ritos. Note-se que Jesus não era
cristão, mas um judeu. O que ele pretendia era uma reforma dentro do judaísmo,
valorizando a fé e as atitudes. Como o que se deu com Francisco de Assis. Paulo de

192
PERGUNTE.ME
Tarso e Lutero, ao contrário, concebiam um cisma, como o judaísmo e com o cato-
licismo, em cada caso. Todavia Jesus ainda se aferrava aos mitos do pecado origi-
nal e da redenção. Acho que, de fato, ele mesmo se considerava o Messias e até
pode ser que achava que era Deus. Há controvérsias, contudo. Quando ele se refe-
ria a Deus como "meu pai", poderia estar considerando isto como significando
que Deus é o pai de todos os seres e não que ele próprio fosse Deus também. Pen-
so que Buddha, 600 anos antes de Jesus, fez uma reforma no Hinduísmo muito
mais radical do que a de Jesus no Judaísmo, porque não mudou a postura do ho-
mem perante a divindade, mas excluiu a divindade das considerações espirituais.
Mas ainda manteve a crença em espíritos. Seria pedir demais a Jesus que fizesse
tal coisa, isto é, que fundasse uma religião da humanidade, da paz e da concórdia,
excluindo Deus das considerações.
421. Vivemos em um culto a ignorância? (Comportamento, Educação)
Não creio que chegue a tanto, mas que a ignorância seja o resultado de um
culto à preguiça. Não se deseja a ignorância, mas é só ela que se obtém se não se
dispõe a fazer nenhum esforço. Enquanto não se insuflar na juventude o desejo de
superar a ignorância pelo esforço, sem preguiça, estaremos condenados a uma
regressão cultural e tecnológica de graves consequências. Isso, paradoxalmente, é
o resultado da própria tecnologia que, facilitando a vida (veja-se o controle remo-
to), tirou das pessoas a disposição de trabalhar para conseguir benefícios, pois
esses lhes foram dados de mão beijada. Fico preocupado com o que vai ocorrer
quando os últimos representantes da geração que ainda tem conhecimento e dis-
posição para trabalhar vierem a falecer. Quem conduzirá a humanidade para o
progresso? Possivelmente ainda haverá alguns, mas, então, eles serão detentores
de tanto poder que isso é extremamente preocupante. Será que as elites inteligen-
tes serão déspotas esclarecidos? Ou escravizarão as massas a seus desígnios? Isto
tem que ser alertado para que inteligência e conhecimentos sejam bens unifor-
memente distribuídos para permitir a sustentação da democracia, pois burro e
ignorante não tem discernimento para ir contra as manobras dos espertos. E é
preciso que a educação prime por formar pessoas inteligentes, informadas, habi-
lidosas, competentes, cultas e, principalmente, de caráter. Não basta investir PE-
SADAMENTE em educação. É preciso educar de forma correta, em todos os aspec-
tos que mencionei.
422. As pessoas ao redor do mundo contam diversas experiências sobrena-
turais. Elas não mentem sobre isso. Amigos imaginários acabam na in-
fância, mas e Deus, que continua após serem adultas, até mesmo para
físicos e toda sorte de cientistas? (Religião)
Não mentir não significa estar dizendo a verdade, mas apenas estar dizendo
o que se acha que seja verdade. Isso é uma "verdade subjetiva". Objetivamente a
verdade é a adequação entre o que se diz e a realidade e não entre o que se diz e o
que se pensa. Acredito na sinceridade dos testemunhos das pessoas que têm ex-

193
Ernesto von Rückert

periências espirituais consideradas por elas como sobrenaturais, mas considero


que estão equivocadas em sua interpretação. A própria mente pode engendrar,
como se fossem alucinações, essas sensações internas de uma origem sobrenatu-
ral dos pensamentos e sentimentos urdidos pelo inconsciente, que é responsável
por 90% ou mais do processamento mental. Mas a mente é só uma ocorrência ad-
vinda da estrutura e do funcionamento do organismo, especialmente (mas não
só) do cérebro. O fato de cientistas crerem em Deus não prova que ele exista, da
mesma forma que o fato de cientistas não crerem em Deus (e são maioria) não
prova que ele não exista. Aliás, não há prova nenhuma, nem da existência nem da
inexistência de Deus. O que há são indícios, em minha opinião, mais fortes no sen-
tido da inexistência.
423. Religião, do latim "re-ligare", significa exatamente "religar"... No caso,
religar-se com Deus ou com o Cosmos pode significar exatamente a
mesma coisa, dependendo da concepção de cada um? (Religião)
Religar-se com Deus só será equivalente a religar-se com o Cosmos para o
panteísmo, que identifica Deus com o Cosmos. Na concepção do que seja Deus,
uma entidade com poder de intervir por um ato voluntário sobre o Universo à re-
velia de suas leis naturais, não vejo como o Universo possa ser identificado com
Deus, pois ele não desobedece suas próprias leis, além de não possuir uma mente
capaz de pensar e decidir voluntariamente sobre coisa alguma. Nossa identifica-
ção como o Cosmos não tem nada a ver com nenhuma divindade, mas sim com o
fato de que somos feitos dos mesmos prótons e elétrons que se formaram após o
Big Bang, que as interações que fazem nosso organismo funcionar são as mesmas
que dão surgimento a galáxias, estrelas e planetas e que põe isso tudo a se mover.
Assim, a espiritualidade é algo que surge em nossa mente porque essa mente é
uma ocorrência orgânica e, como tal, funciona em termos das leis fundamentais
da natureza. Essa comunhão é perceber que nossos átomos, bilhões de anos de-
pois de nossa morte, ainda estarão no Universo e farão parte de novas estrelas
que surgirão a partir da explosão deste Sistema Solar. Somos feitos de poeira de
estrelas. Mais especificamente, cada um de nós é um elo da cadeia vital que une o
primeiro ser vivo a todos os que existem hoje e que existirão em qualquer tempo,
pois nossa vida é continuada pela união de nossos gametas aos de outro ser que
levará a fazer surgir um novo ser que propagará esta linha condutora da vida en-
quanto ela existir. E isso é algo tão extremamente singular que não podemos tra-
tar com indiferença e desdém como o fazem aqueles que, a este ou aquele pretex-
to, consideram válida a destruição de inúmeras vidas, humanas ou outras. A pre-
ciosidade da vida, comparada com nossa insignificância neste "Pálido Ponto Azul"
é a maior mensagem que Sagan nos deixou, pela qual lhe reverenciamos a memó-
ria.
424. A existência supera a essência? (Metafísica)
Sim, porque o fundamental para um ser é existir. A essência de um ser é

194
PERGUNTE.ME
aquilo que o faz ser o que é e não outra coisa. Entidades inexistentes podem ter
sua essência perfeitamente definida, mas não serão seres reais. A essência não é
uma condição e sim uma propriedade, uma característica, dita essencial porque
se deixar de ser como é, o ser em questão não é mais aquele. Atributos, isto é, ca-
racterísticas acidentais, não fazem o ser deixar de ser o que é. Existir ou não, não
é uma característica, nem essencial nem acidental. É uma condição de estado, isto
é, como aquele ente se encontra em relação à realidade substancial, que é a reali-
dade objetiva no mundo, independente de mentes que a concebam. Um ser é algo
que existe, de fato, no mundo objetivo, fora das mentes. Idéias e conceitos são
abstrações que só existem dentro das mentes. Pode-se conceber um ente e se di-
zer qual a sua essência, sem que ele exista de fato, fora das mentes. Tal ente só
será um ser, real, se existir fora das mentes. Assim é a existência e não a essência
que confere realidade ao ser. Um ser cuja essência seja existir é uma impossibili-
dade ontológica, pois existir não é nenhuma propriedade que possa caracterizar
um ser. Outra coisa é que um ser, sendo o que existe, não possui uma essência
imutável. Isto é, o ser não é aquilo que ele "é", mas o que "está sendo" no momen-
to, já que, a cada momento, ele já não é mais o mesmo. Todavia há uma "continui-
dade histórica", isto é, mesmo sem ser idêntico a si mesmo ao longo do tempo ele
mantém a essência de ser aquele ser, porque sua existência teve continuidade
com as modificações.
425. Por que todo mundo faz as mesmas coisas que todo mundo faz para
agradar? (Comportamento)
Porque não tem personalidade suficientemente forte e bem estabelecida, ou
seja, não tem convicções seguras o suficiente para se afirmar como é, único e dife-
rente, mesmo que, em alguns aspectos haja coincidência com os outros. Quem as-
sim o é não precisa da aprovação de ninguém para se afirmar. Não é uma pessoa
que precise mendigar afeto para ter segurança emocional. Essa pessoa se ama e
se basta. Isso não significa que rejeite o afeto, o respeito, a consideração e a admi-
ração, mas que não depende disso, podendo passar sem tais coisas sem se entre-
gar a nenhum desespero, mantendo a serenidade, mesmo que não a felicidade.
Isto é o estoicismo, que não contradiz o epicurismo, podendo a pessoa construir
uma síntese dialética dessas concepções. Às pessoas que fazem tudo como os ou-
tros, falta uma boa dose de Filosofia em sua educação. Não digo necessariamente
o estudo formal, mas concepções, posturas e atitudes que a família deve inculcar
na criança em sua criação.
426. O que você costuma ouvir, no que concerne a música popular, seja ela
brasileira ou internacional? (Música, Pessoal)
Bossa Nova, Samba da velha guarda, música americana, francesa, italiana.
Estou falando de Frank Sinatra, Nat King Cole, Charles Azsnavour, Chico Buarque,
Tom Jobim, Lamartine Babo. Também gosto de tangos, música mexicana, espa-
nhola. Geralmente dos anos 40, 50 e 60. Mas gosto também de rock tradicional

195
Ernesto von Rückert

(Beetles, Elvis Presley) e, até, de conjuntos atuais tipo Nightwish, Era, Epica, ou
cantoras como Nana Mouskuri. Não gosto de música sertaneja (exceto algumas
caipiras de raiz), Axé e a maioria do que faz sucesso atualmente. Mas escuto Ma-
donna, Michael Jackson (às vezes). O que gosto mesmo é de música clássica.
427. Para dizer "tenho uma evidência da existência de algo ",é preciso ter
obtido prova da existência deste algo, ou basta um indício que fortaleça
a hipótese da existência deste algo? (Epistemologia)
Indício, evidência e prova são conceitos distintos. O Indício é uma suspeita
com um embasamento maior, em face da constatação de fatos que, indiretamente,
indicam a veracidade da assertiva em questão, mas não a garantem. Evidência é
uma constatação direta de fatos que mostram a veracidade da assertiva. Prova é
uma conclusão, por raciocínio lógico, a partir de evidências indiretas, da veraci-
dade da assertiva, mesmo sem evidência direta. Se a assertiva é sobre a existência
de algo, Os indícios indicam a maior probabilidade de que, de fato, exista, mas não
confirmam. As provas confirmam a existência de forma indireta, sem evidências,
mas conclusivamente. Uma evidência comprova por observação sensorial direta a
veracidade da existência. Note-se que a expressão "é evidente" é completamente
diferente da expressão "é lógico". O que é evidente não é lógico, o que é lógico não
é evidente. Evidente é o "está na cara". Não precisa provar. Lógico é o que se con-
clui, sem "estar na cara", por raciocínio.
428. Existir é esquecer-se que se existe? (Metafísica, Comportamento)
Esta é uma concepção oriental, cara aos budistas. Não concordo. Pelo contrá-
rio, existir é estar plenamente consciente de tal fato e usar todas as potencialida-
des de que se dispõe para fazer a existência significativa para si mesmo e para o
resto do mundo. É saber que isto é um privilégio raríssimo e investir em sua pre-
servação, cuidando da saúde corporal, mental e social, pois somos umbilicalmen-
te ligados uns aos outros. Isso implica não só em bons modos no trato pessoal e
social, mas também em valentia na luta pela construção de um mundo melhor e
pela erradicação de toda vilania. Para isso não se pode esquecer que se existe.
429. Como foi seu dia? Como você está? E os projetos? E a musica? Queria
ver suas composições! No seu caso, devem ser prelúdios, mas deve ha-
ver alguma serenata no meio dos papeis. (Pessoal)
Estou aproveitando que meu colégio emendou o feriado na segunda feira e
estou arrumando meu gabinete. Meus projetos estão, assim, estacionados, por
enquanto. Você pode achar minhas músicas em:
http://www.ruckert.pro.br/musics/divertimento.mid;
http://www.ruckert.pro.br/musics/preludio.mid;
http://www.ruckert.pro.br/musics/romance.mid;
http://www.ruckert.pro.br/musics/valsa.mid.

196
PERGUNTE.ME
430. Você já fumou? Poderia falar sobre o tabaco? (Pessoal, Saúde)
Nunca fumei. Quando, adolescente, fui experimentar, achei tão ruim que
nunca mais tentei. E olhe que meus pais fumavam e minha mãe morreu de enfi-
sema pulmonar por causa do fumo. Meu pai morreu de infarto e o fumo é um dos
fatores de risco. Acompanhei a agonia de minha mãe e, assim, sou um ferrenho
combatente pela extinção do fumo. Trata-se de uma condenação à morte de toda
uma população. Acho que se deve parar de fabricar cigarro, cachimbo e charuto
no mundo inteiro. Que as fábricas se dediquem a outras coisas. Isso poderia ser
alcançado em apenas dez anos, primeiro taxando o cigarro até que ficasse muito
caro mesmo. Acabando com todo financiamento à indústria do cigarro e ao plan-
tio do fumo, bem como a toda pesquisa sobre fumo. Incentivando as indústrias a
mudarem de ramo para não demitir os trabalhadores, até que todas se fechassem.
Proibir a importação e punir rigorosamente o contrabando, mas não com multas
e sim com muitos anos de prisão. Publicidade: zero! O tabaco precisa ser elimina-
do da face da Terra, pelo menos por uns 50 milhões de anos, que é o tempo que
penso que a humanidade ainda vai existir.
431. Você acredita que é possível um ser pessoal ser livre? Caso acredite, o
que toma por liberdade? (Comportamento)
Sim, é claro. Liberdade não é se poder fazer tudo o que for fisicamente possí-
vel, mas tudo o que não tolha a liberdade de outros e não prejudique ninguém.
Não se tem a liberdade de matar, roubar, caluniar, difamar, enganar, prejudicar
ou fazer outros atos que causem dor, sofrimento, prejuízo ou mesmo incômodo a
outrem. Mas se tem a liberdade de escolher onde morar, para aonde ir, em que
trabalhar, em quem votar, que religião se afiliar (ou a nenhuma), qual orientação
sexual assumir. A liberdade de emitir opiniões a respeito do que for. Mas não se
pode agir segundo as opiniões que prejudiquem outras pessoas. Liberdade de se
ter tantas mulheres ou maridos se queira. Até liberdade de se andar nu ou vestido
eu acho que deve haver, sendo isso algo que todos devam respeitar com naturali-
dade.
432. Em consultas mediúnicas são reveladas coisas que jamais se contou pa-
ra ninguém. Não minto sobre isso, e creio que não seja alucinação mi-
nha. Na possessão, línguas estranhas são faladas. Como explicar? (Eso-
terismo)
Não acredito nisso. Só posso aceitar se eu constatar pessoalmente evidências
diretas (não indícios nem provas indiretas). Mesmo assim, posso considerar que
sejam perturbações mentais. O experimento tem que ser feito em um ambiente
neutro e controlado por experimentadores capazes e céticos (mas honestos e dis-
postos a admitir o fato, se verificado). Para mim, os fenômenos mediúnicos ou são
fraudes ou são impressões equivocadas.
433. O que faria Paulo, ferrenho perseguidor dos cristãos, mudar de vida to-

197
Ernesto von Rückert

talmente, se aliar aos cristãos e sofrer o que fosse por isso, se não fosse
por uma experiência real? (Religião)
Pode ser que ele tenha tido uma alucinação que lhe pareceu uma ocorrência
real e que o tenha impressionado muito fortemente, de modo que ele mudou sua
vida e, a partir daí, fez disso sua ideologia, pela qual até deu a vida. Impressões
podem parecer extremamente reais.
434. O que dizer das chamadas "assombrações"? Estamos numa boa quando
começamos a ter experiências nada agradáveis, até de objetos irem pa-
ra os ares. Quero deixar claro que isso foi experiência pessoal. Não
minto e nem invento tais coisas. (Esoterismo)
Acredito em sua sinceridade, mas não mentir não é o mesmo que falar a ver-
dade. Não mentir é falar o que se pensa que seja verdade. A verdade é objetiva,
não depende do que se pensa que ela seja. Para mim, essas experiências são im-
pressões, tipo alucinações, isto é, sonhos acordados. Nos sonhos vemos coisas
como se fossem reais, e escutamos sons. Eventos naturais podem provocar ocor-
rências que nossa percepção toma como tendo origem sobrenatural, sem que o
sejam. Para mim, até segunda ordem, sobrenatural não existe. Já se mostrou que a
visão de fantasmas pode ser provocada por ondas estacionárias de infra-sons,
que excitam as células sensoras da retina e, até, de sensores fotográficos, fazendo
aparecer manchas brancas. Esses infra-sons são produzidos por vento encanado
ou outras vibrações de frequência muito baixa (menos de 20Hz) de objetos em
movimento oscilatório, como ventiladores de sistemas de ar condicionado. A fre-
qüência de ressonância da cavidade ocular humana é de 18Hz. Uma onda sonora
nessa freqüência provoca ondas estacionárias no humor vítreo, que comprime a
retina, criando a sensação da visão de manchas, que o cérebro interpreta como
fantasmas. O infra-som também provoca ressonância dentro do pulmão e na caixa
torácica, provocando sensações de desconforto e calafrios. Vejam este artigo:
http://www.ceticismoaberto.com/paranormal/2083/o-fantasma-na-
mquina. (errado assim mesmo)
435. Creio que a evidência de Deus é clara para quem tenha o coração aber-
to a ele, mas tal evidência pode ser vaga para quem está na defensiva. O
que mostra o livre arbítrio que Deus deu ao homem para crer ou não.
Desculpe-me, mas nada me convence do contrario. (Religião)
De jeito nenhum. Evidência é um fato objetivo que não depende de disposi-
ção mental nenhuma do observador. Além disso, precisa ser testificada por vários
observadores, para se garantir não ser fraude. E também tem que ser cuidadosa-
mente examinada para que não se incorra em alguma ilusão dos sentidos. Não
conheço nenhuma evidência da existência de Deus. O que existem são comprova-
ções, presumidamente lógicas por seus propositores, mas que não resistem a uma
análise criteriosa, revelando-se falácias. A única base para a crença na existência

198
PERGUNTE.ME
de Deus é a fé, isto é, uma crença sem base em evidências, provas e indícios, aceita
por um ato voluntário em função do afeto que se deposita em tal crença. Mas a fé
não é garantia de veracidade daquilo em que ela faz acreditar.
436. Felizmente foi por pouco tempo e agora, graças a Deus, eles não me in-
comodam mais. Acerca da evidência, não creio que a coisas sobrenatu-
rais se aplicam a mesma lógica que às naturais. Não creio que todas as
pessoas que tenham tido experiências assim sejam alucinadas. (Reli-
gião)
Como eu já disse, sou mais incrédulo do que São Tomé, pois, mesmo vendo,
duvido de minha visão. Só posso aceitar a existência de espíritos se eu realmente
presenciar tais manifestações. Não estou dizendo que as pessoas sejam alucina-
das, mas sim que tenha sofrido alucinações, o que é outra coisa. Podem também
estarem sob efeito hipnótico. Realmente sou muito cético mesmo a respeito da
existência de espíritos. Contudo, posso mudar minha opinião se evidências in-
questionáveis me convencerem.
437. Quais matérias deveriam ser adicionadas e trabalhadas com mais ênfa-
se nas escolas, além da Filosofia, e o que você acha que deveria estimu-
lar as pessoas à busca do conhecimento, em detrimento do culto a pre-
guiça? (Educação)
Filosofia (metafísica, epistemologia, lógica, ética, estética - incluindo sociolo-
gia e psicologia), Ciências (matemática, física, química, biologia, geologia, astro-
nomia, economia, história, geografia), idiomas (linguística, português, inglês, es-
panhol, francês, alemão, italiano, latim, grego - pelo menos duas estrangeiras), ar-
tes (música, pintura, escultura, teatro, dança, poesia - pelo menos duas), cultura
geral (direito, administração, literatura, cinema, música, artes), atualidades, habi-
lidades práticas (culinária, costura, marcenaria, mecânica, hidráulica, constru-
ções, eletrotécnica, eletrônica, computação, jardinagem, horticultura, direção de
veículos, primeiros socorros) e esportes (mas não desportos, além da ginástica
cotidiana).
Tudo isto pode muito bem ser visto nos doze anos da educação básica se se
tiver uma escola em tempo integral (dez horas por dia, incluindo o almoço), com
redução das horas de aulas e aumento das horas de estudo e treinamento. Para
isso tem que se abolir conteúdos desnecessários dos programas e evitar a repeti-
ção de conteúdos em várias séries. O ideal é não haver nem série, nem aula, nem
sala de aula. A aprendizagem se daria por projetos feitos em equipe. A escola só
teria bibliotecas, laboratórios, salas de computadores, oficinas, horta, teatro, qua-
dras, piscina. Os professores, todos em dedicação exclusiva, ficariam à disposição
dos alunos o tempo todo. O currículo seria estruturado em projetos, com pré-
requisitos, uns dos outros, interdisciplinares, a serem desenvolvidos por peque-
nas equipes em tempo integral, na base de um ou dois por semana, a serem apre-

199
Ernesto von Rückert

sentado a um júri de professores, que aprovaria ou não, com rigor. Se não, tem
que fazer de novo. As equipes podem ter estudantes de diferentes níveis e idades.
Não há nota nem série. A conclusão dos estudos é feita pelo cumprimento dos
projetos previstos, além de outros facultativos que se queira fazer. Isso é um mo-
delo proposto pela "Escola da Ponte" em Portugal, extremamente interessante e
válido, que vem tendo sucesso como modelo experimental há 28 anos. Vejam o
sítio da escola:
http://www.escoladaponte.com.pt/
438. O que fazemos em vida ecoa pela eternidade? (Comportamento)
Se isto se entender como uma eternidade da pessoa, cuja consciência sobre-
viveria à morte de seu organismo, certamente que não, pois não ocorre tal sobre-
vivência. Se se entender como uma repercussão de nossos atos da sociedade e no
ambiente, pode ser que sim ou não, dependendo do que tenhamos feito. Se bem
que eternidade é muito forte. Pode-se influenciar a humanidade por um bom
tempo, mas tenho quase certeza de que nenhum dos grandes vultos da humani-
dade atualmente reverenciados será lembrado daqui a um milhão de anos. As in-
fluências ambientais de nossos atos, sobre a natureza, propagar-se-ão ao longo do
tempo, vindo a intervir fisicamente em ocorrências futuras, até mesmo longín-
quas, mas de uma forma cada vez mais diluída pelo aumento de entropia, até que
não seja perceptível.
439. O que acha da legalização da maconha? (Comportamento, Saúde)
Menos pior que o tabaco, mas, realmente, acho uma temeridade. Não que eu
seja contra, por princípio, mas que acho que as consequências para a saúde física
e psíquica não compensam. Talvez, com restrições ao volume periódico de con-
sumo, seja viável. Aliás, isso também devia acontecer com o álcool, que, global-
mente, traz mais prejuízos que as drogas, se não considerarmos os crimes do nar-
cotráfico, mas apenas as consequências fisiológicas de seus usos, levando em con-
ta a extensão de seus usuários e a frequência de seu uso.
440. Vou respeitar seu ceticismo. Mas, que fique claro que as cicatrizes que
tenho são extremamente reais e que eu não estava em hipnose e nem
sou esquizofrênico. Convido-o a, sem racionalizar a fé, ir de peito aber-
to procurar Deus. (Religião)
Sofrer alguma alucinação não significa ser esquizofrênico. Isto pode aconte-
cer com pessoas mentalmente sãs em situações de estresse psíquico ou por algu-
ma questão somática mesmo, até intoxicação alimentar. Já fui católico praticante
e tinha uma fé muito grande. Todavia meus estudos e reflexões me levaram a
abandoná-la. Posso voltar a considerar que Deus exista, mas não pela fé, que con-
sidero inteiramente despropositada, e sim pelo convencimento em função de evi-
dências ou comprovações. Abandonar a razão e abraçar a fé, sem os menores in-

200
PERGUNTE.ME
dícios de sua validade, é um completo despropósito. Inclusive, porque, nesse caso,
a que modalidade de fé eu deveria me abandonar?
441. Por que você não se considera um cientificista? (Pessoal, Ciência)
Iniciei minha carreira de cientista em meu mestrado em Física Teórica, em
1979, e ainda, por certo tempo, prossegui minhas pesquisas orientando estudan-
tes de iniciação científica do Bacharelado em Física da UFV, na área de Relativi-
dade Geral, Teoria de Campos e Cosmologia. Todavia, ao aceitar, em 1983, parti-
cipar da administração da Universidade, nos cargos de Chefe do Departamento de
Física, depois Coordenador do Curso de Física, Pró-Reitor de Graduação, Assessor
do Reitor e Chefe de Gabinete do Reitor, acabei desistindo de fazer o Doutorado e
interrompi minha atividade de pesquisa, ficando, porém, com o ensino no bacha-
relado, além da administração. Em 1996, aposentei-me da Universidade e passei
para a docência e a administração do Ensino Básico, em uma escola particular,
não mais pesquisando em Física. Porém, continuo me atualizando e estudando,
especialmente interpretações da Mecânica Quântica, Teoria de Campos e Cosmo-
logia, apenas por meu interesse pessoal. Passei, contudo, a me dedicar mais a es-
tudar Filosofia, Biologia, a pintar quadros, à música (canto, composição e história)
e a escrever, especialmente em meus blogs e, agora, também neste Formspring. Já
tenho quase duas mil páginas de ensaios filosóficos e já estou no quinto capítulo
de um livro de onze, intitulado "Física para Filósofos". Só que meu trabalho me
consome de 50 a 60 horas por semana, daí o tempo para isso ser pouco, apesar de
eu não ver televisão e dormir pouco.
Acho que me enganei na pergunta e respondi por que não me considero um
cientista e não um cientificista. Um cientificista é aquele que considera que so-
mente a Ciência é capaz de alcançar a verdade a respeito do mundo e da vida. Não
penso assim. A verdade, sempre ressalvando que nunca se pode ter certeza de
que se a possua, pode ser alcançada pela Filosofia e pelo senso comum, em muitos
casos. O senso comum é a forma de se descrever a realidade em termos dos co-
nhecimentos adquiridos pela vivência cotidiana, sem nenhum estudo. A Filosofia
é um modo de inquirir a realidade pela razão, isto é, por raciocínios calcados nas
apreensões sensoriais, devidamente codificadas pelos conceitos que se cons-
troem para descrevê-las, bem como pelas informações oferecidas pela Ciência.
Mas a Filosofia não se vale do método científico de validação de suas conclusões e
assertivas, o que considero uma falha. Estes dois caminhos podem e realmente
fornecem proposições aceitáveis para a realidade. Todavia, se a Ciência, a respei-
to do mesmo assunto, apresentar proposição conflitante ou apenas diferente das
propostas pela Filosofia ou pelo Senso Comum, estas têm que ser abandonadas
em favor da científica, pois a Ciência possui recursos de conferência da veracida-
de de suas proposições que a Filosofia e o Senso Comum não dispõem. A tendên-
cia, segundo penso, é por uma cada vez maior cientificização da Filosofia. Contu-
do, certamente, ainda haverá certas áreas que a Ciência não conseguiu abordar.

201
Ernesto von Rückert

Nelas não há como não aceitar as verdades propostas pela Filosofia ou pelo Senso
Comum, descartando este quando a Filosofia apresentar sua formulação.
442. O que é ser ateu pra você? (Ateísmo)
Ser ateu, ou ateísta, é considerar que não existem divindades nem espíritos
de espécie alguma, que toda a realidade substancial é puramente Física, isto é, fei-
ta de campo, matéria e radiação. A realidade objetiva, além do seu conteúdo subs-
tancial, comporta as estruturas desses conteúdos, bem como suas dinâmicas, isto
é, seu funcionamento. Tais estruturas e tais dinâmicas se dão no espaço e no tem-
po, que não são entidades apriorísticas, mas decorrentes da existência do conteú-
do do Universo e de sua evolução. Tudo isto surgiu de forma espontânea e incau-
sada, sem necessidade ou propósito algum, especialmente sem a interveniência
de nenhuma entidade supranatural, que seria Deus. Além disso, tudo o que existe
são abstrações, isto é, idéias e conceitos, que só ocorrem em mentes que os con-
cebam, mas não existem objetivamente no mundo exterior às mentes. Ser ateu é
também considerar que a mente é uma ocorrência do organismo biológico vivo,
em função da estrutura e do funcionamento do sistema nervoso, não tendo natu-
reza espiritual e não sobrevivendo à morte do organismo. Tais considerações não
são meramente uma crença gratuita, como a fé religiosa, mas uma crença emba-
sada em fortes indícios, mesmo que não comprovada por evidências nem por
conclusões lógicas inescapáveis, como, aliás, também se dá com a consideração da
existência de Deus.
443. O que é ser cético pra você? (Ceticismo, Epistemologia)
Ser cético, não é considerar que o conhecimento seja inatingível, como o di-
zia Pirro, mas sim que não se pode ter certeza de que se o possua. É considerar
que a verdade, que é a adequação entre a realidade e o que se diz a respeito dela,
não seja algo inalcançável, mas que seja muito difícil se saber que a tenha alcan-
çado. Assim, duvidando-se metodicamente, envidam-se os maiores esforços para
se obter as máximas garantias para a veracidade das assertivas, sempre conside-
rando que isso seja algo provisório e sujeito a revisão, face novas informações ou
interpretações. O ceticismo é, pois, a ferramenta básica do cientista, do filósofo e
do investigador do que quer que seja. Isso não significa que se deva desprezar
qualquer crença, pois é preciso se ter algum ponto de apoio para a construção do
edifício do conhecimento. Mas que toda crença, que são assertivas não compro-
vadas nem evidentes, seja suportada por grandes indícios e que sempre se esteja
disposto a abandoná-la ou reformulá-la em razão de novos fatos ou considera-
ções.
Transcreverei aqui o que escrevi em meu blog nos artigos:
O valor do Ceticismo
(http://wolfedler.blogspot.com/2008/08/o-valor-do-ceticismo.html)

202
PERGUNTE.ME
O ceticismo é uma premissa para a Filosofia. Quem filosofa é sempre cético.
Não há como refletir-se racionalmente sobre a realidade, dogmaticamente preso
a alguma concepção inflexível. Antes de tudo, ao se examinar qualquer coisa, há
que se ter duas posturas. A primeira é a de que a verdade seja o valor supremo a
ser buscado. A segunda é que se tem que estar disposto a renunciar a suas con-
vicções face à verdade. Mas há uma terceira: Que nunca se sabe quando se está de
posse da verdade. Isto é o ceticismo. Não a negação da possibilidade de se alcan-
çar a verdade, mas a postura metodológica de sempre duvidar de que a tenha al-
cançado. Como agir então? Aceitando, provisoriamente, a melhor explicação como
a que mais provavelmente se aproxima da verdade, até novos conhecimentos. E
que melhor explicação é essa? Aquela que passa pela mais exigente bateria de tes-
tes, comprovações e verificações estando, até então, vencedora de todas as con-
testações. Assim progride o conhecimento.
Uma crença, pelo contrário, fundamenta-se na opinião revelada de alguém a
quem se atribui autoridade para isso, aceita sem contestação. A crença não admi-
te ser refutada dentro da sua área de aceitação. Quem ousar tal coisa perde a
identidade de crente naquela crença. Por isso nenhuma crença pode ser critério
de verdade. Um critério de verdade é um procedimento metódico de refutação de
uma assertiva, que permanece como verdade enquanto não conseguir ser refuta-
da. Assim considera o cético. Mas ele tem suas crenças e crê no valor do ceticismo,
por exemplo. Mas essa não é uma crença elevada a um status de dogma. O próprio
cético é cético em relação ao seu ceticismo. Ele o adota como ferramenta de traba-
lho, enquanto produz resultados confiáveis. E até o momento tem sido assim.
Considero o ceticismo uma salutar postura metodológica de abordagem da
realidade. Não a vertente pirrônica, que considera inatingível qualquer conheci-
mento. Isso não caracteriza o verdadeiro cético. É uma atitude mais própria de
uma pessoa dogmática em sua crença num ceticismo mal interpretado. Pelo con-
trário, o verdadeiro ceticismo rejeita qualquer postura dogmática e qualquer
crença não fundamentada. Do que se trata, então? Em primeiro lugar, o ceticismo
metodológico considera que a realidade é passível de apreensão e proposições
verdadeiras podem ser feitas sobre ela. Todavia reconhece não haver garantia “a
priori” da veracidade de qualquer afirmativa sobre a realidade (entendida como o
que a coisa em si mesma seja). Assim, coloca a dúvida como um mecanismo de
busca da verdade, no sentido em que incita à procura de mais evidências e com-
provações que façam aproximar-se cada vez mais da verdade. Isso não exclui
crenças, desde que tenham fundamento. Por exemplo, eu creio na validade do mé-
todo científico, porque ele conduz a resultados confirmados. No momento em que
sua aplicação conduzir a proposições falsas, deixo de crer. Mas não creio nas pa-
lavras das escrituras sagradas de nenhuma religião, só porque são sagradas. Nem
nos Vedas, nem no Talmude, nem na Bíblia, nem no Corão, nem em Allan Kardec.
Mas creio em valores pregados por Buddha e por Cristo, no que eles se revelam
sábios, prudentes e úteis para uma vida mais valiosa, elevada e feliz. Mesmo não

203
Ernesto von Rückert

crendo em mediunidade, tenho grande respeito e admiração pela figura de Chico


Xavier, por exemplo, visto a sabedoria das palavras que ele proferiu em quase tu-
do o que escreveu (para mim de sua própria lavra). Quanto a terem sido ditadas
por espíritos, não digo peremptoriamente que não, mas só aceito com base em
evidências palpáveis.
Do mesmo modo que a credulidade ingênua é objeto de zombaria por parte
das pessoas mais sensatas, um ceticismo sem medidas realmente provoca des-
dém. Mas a incredulidade completa não é a marca do ceticismo. Não há como le-
var nada adiante sem que se tenha alguma crença. A começar pela existência do
mundo exterior, pois não há prova cabal de que a única realidade não seja o con-
teúdo interno da minha mente. O ceticismo não é uma doutrina, mas sim, uma
ferramenta de trabalho. A apreensão da realidade e a construção do saber não
dispensam a intuição e a proposição de hipóteses levantadas pela imaginação.
Todavia elas só serão incorporadas ao arcabouço do conhecimento científico se
passarem pelo crivo do teste e da comprovação experimental ou observacional,
nem que seja de suas conseqüências logicamente deduzidas.
Quanto ao cientificismo (ou um empirismo exclusivista) trata-se também de
uma postura tão dogmática quanto um racionalismo irredutível. Não existem juí-
zos sintéticos “a priori” e nem tudo provém exclusivamente dos sentidos. A meta-
física existe (mas não tem nada de sobrenatural). Em suma, isso é o ceticismo,
uma postura metodológica sensata e prudente. Nada de crenças infundadas, nada
de dogmas. Mas também nada de dúvida universal. É fácil ver que a afirmação
“duvido de tudo” é incoerente, pois, então se deveria duvidar de que se duvida.
Alguma postura é sempre preciso se aceitar sem prova (como axioma) para dar
partida ao trabalho de construção do conhecimento. Mas isso é diferente de uma
“fé” religiosa, porque é sempre questionável, no sentido em que seria abandona-
da, se deixar de ser proveitosa.
A afirmativa “se eu penso, então eu existo” não implica em “se eu não penso,
então eu não existo”, mas sim em “se eu não existo, então eu não penso” (modus
tollens). Para mim o fulcro disso tudo tem a ver com a rejeição do conceito de
“Matrix”. A primeira certeza, a da própria existência, pode ser tirada, sem dúvida
alguma, da constatação do ser pensante de que ele pensa. Pode-se duvidar da
existência do mundo exterior (solipsismo), mas não da própria existência, por-
que, em se duvidando está se pensando, logo, existe o pensador. A partir dessa
base, pode ser construído todo um arcabouço de uma compreensão da cognição e
da realidade, mesclando o empirismo com o racionalismo. Sobre o que se pensa?
Sobre o que os sentidos comunicam à mente. E com essas impressões, a estrutura
da mente constrói argumentos, raciocínios, conclusões, que passam a ser o ponto
de partida para novos raciocínios, com a juntada de novas percepções sensoriais.
E assim vai sendo construída a visão do mundo que cada um tem. Mas a pedra
angular é o aceite da própria existência.

204
PERGUNTE.ME
Pode-se concluir que o mundo exterior existe realmente, mesmo que se du-
vide disso, e a dúvida metódica é um poderoso instrumento de pesquisa. Mas não
a consideração apriorística de que nada pode ser conhecido. Por isso o ceticismo
de Descartes é diferente do de Pirro e consiste na base da ciência moderna. Ser
“cartesiano” é duvidar racionalmente das percepções e aplicar judiciosamente a
razão para construir o edifício do conhecimento. Quando se diz “certeza”, isto já
significa que é absoluta. Tenho para mim (e isso é que é filosofar, ou seja, estudar,
analisar, refletir e concluir por si mesmo, e não ficar citando opiniões alheias -
que podem ser estudadas, só para que se forme a própria) que não há como se ter
certeza de coisa alguma, exceto o “cogito, ergo sum” com que Descartes principia
seu ceticismo metodológico, ao considerar pelo menos uma certeza, a da existên-
cia de sua própria consciência. Toda a realidade exterior pode ser uma ilusão,
mesmo que eu considere que não seja. A plausibilidade de que o mundo seja real
é bem forte, de modo que o aceito e, a partir daí, construo minha visão e meu mo-
do de interagir, sem, contudo, estar garantido. Para mim, este é o único modo de
se proceder, salvo melhor juízo.
A verdade
(http://wolfedler.blogspot.com/2010/03/verdade.html)
Como conhecer a verdade?
Ninguém pode pretender ser o conhecedor da verdade em relação a qual-
quer coisa. Não que a verdade seja inatingível. A verdade é a adequação entre a
realidade em si mesma e o que se afirma a respeito dela. A verdade não é uma
propriedade dos entes e sim das proposições. É, pois, uma propriedade lógica e
não ontológica. Assim não existe uma coisa denominada "verdade", mas apenas
um atributo das proposições (e dos juízos a que elas se referem) que lhes atribui
a qualidade de estarem de acordo com a realidade em si. O conhecimento se dá
por construção de assertivas a respeito do mundo (científicas ou não). Serão ver-
dadeiras? Como sabê-lo? E se a verdade é uma adequação à realidade, o que é a
realidade? Essas questões levam a supor que não se pode saber certamente que
se está dizendo a verdade a respeito de algo e, logo, que o conhecimento nunca é
definitivo. Mas não se suspende o juízo. A verdade pode ser aproximada cada vez
mais, sempre que se proponha metodologicamente a testá-la com todos os recur-
sos de que se disponha. E a concordância a respeito confere, sempre provisoria-
mente, o status de verdadeira a uma proposição. Que a qualquer momento pode
ser derrubado por uma única evidência contrária.
Surgem dois problemas: O que é a realidade em si? Como saber se algum juí-
zo sobre a realidade está de acordo com ela? A segunda questão se reporta aos
critérios de verdade. Como estes são proposições por sua vez, há que se conferir
se são verdadeiras, o que só pode ser aferido por outro critério. Isto leva a uma
regressão infinita de critérios, que é o fundamento do ceticismo pirrônico, ao

205
Ernesto von Rückert

afirmar ser impossível ter-se o conhecimento da verdade sobre o que quer que
seja. Como isso também é uma proposição, não se pode, pelo ceticismo, dizer que
é verdadeira. Assim o ceticismo filosófico contém uma contradição intrínseca que,
de pronto, lhe descarta como posição epistemológica válida. Há, pois, que se ad-
mitir, axiomaticamente, algum ponto de partida como critério de verdade e fazer
uso dele na forma de uma crença, isto é, de uma proposição aceita sem compro-
vação como verdadeira. Este é o critério da evidência, constatada pelos órgãos
sensoriais. Mas essa não é, simplesmente, uma evidência primária, pois os senti-
dos fornecem ilusões. A ciência possui muitos meios de testar cruzadamente o
caráter de evidência. Algumas proposições, não evidentes por si mesmas, podem
ter sua veracidade verificada por comprovação lógica com argumentos que, em
última análise, se reportam a evidências sensoriais. Mas, de qualquer modo, é sa-
lutar se adotar um ceticismo metodológico, de forma que a certeza, dita absoluta,
fica em suspenso indefinidamente, mas a veracidade é aceita provisoriamente, até
que alguma nova evidência venha a derrubá-la. Essa é a posição mais sensata.
A realidade
A primeira das questões levantadas diz respeito ao que venha a ser a reali-
dade em si. Existe uma realidade exterior à mente perscrutante ou tudo não passa
de uma imagem mental, sendo a única realidade a minha própria mente? Pode
ser, e isso consiste no solipsismo. Todavia, a coincidência de descrições sobre o
mundo exterior por várias mentes (se é que existem outras mentes) leva a uma
tomada de atitude, sugerida pelo bom senso, de que o mundo exterior existe. Mas
isso é uma crença. Não uma fé inabalável e irremovível, mas uma crença sensata,
que a qualquer momento pode ser abandonada, caso argumentos poderosos ve-
nham derrubá-la. Essa questão da realidade merece um tópico à parte e só a es-
tou levantando por sua ingerência na questão da verdade. Assim, eu creio que
existe uma realidade exterior independente de mim, que continua a existir mes-
mo que não haja mente nenhuma no Universo. Mas, como existem mentes, e eu
tenho uma (quem é esse eu que é dono da minha mente é outra questão interes-
sante para um tópico), ela procura compreender a realidade e emite juízos sobre
ela, expresso por proposições, uma vez de que disponho de uma linguagem (os
juízos existem mesmo sem uma linguagem que os expresse). Então é válida a
questão de saber se as proposições expressam a verdade ou não. O critério de
verdade que mencionei é o de valor objetivo, independente do particular sujeito
que afirma o juízo. Mas há outra questão concernente à verdade que é o seu cará-
ter subjetivo.
Verdade subjetiva
Como a percepção do mundo comunicada pelos sentidos não é necessaria-
mente fiel, é possível que um sujeito afirme algo sobre a realidade exterior que,
de acordo com sua percepção, seja uma descrição fiel da realidade, mas que, se-
gundo outros perceptores (que, inclusive, podem ser instrumentos inconscientes,

206
PERGUNTE.ME
como gravadores, câmaras ou filmadoras), não. Esse sujeito tem, para si mesmo,
que diz a verdade, mesmo que, objetivamente, não o esteja. Então ele não mente.
Essa é uma questão jurídica primordial. Só se pode imputar culpa de faltar com a
verdade se houver desacordo deliberado entre a percepção mental da realidade e
o que o sujeito afirma sobre ela. Isso é a mentira. Pode estar-se falando a verdade,
de acordo com a própria percepção, sem que o que se afirme seja verdadeiro, ob-
jetivamente falando. A verdade, por isso, não pode ser aferida por testemunho
verbal, não somente por esse fato (da falha dos sentidos), mas porque o ser hu-
mano tem a capacidade de, deliberadamente, mentir. A única solução é o desen-
volvimento de dispositivos confiáveis que analisem as funções mentais no mo-
mento em que se afirme algo, para verificar se se está mentindo ou não. Tais dis-
positivos não existem, por enquanto. Então há que se valer de provas objetivas
para se apurar juridicamente a verdade, sem o apelo a testemunhos. Para isso a
ciência forense, pelo menos nos países mais avançados, dispõe de muitos instru-
mentos.
444. O que é ser epicurista pra você? (Comportamento)
Ser epicurista é considerar que o objetivo da vida é alcançar a felicidade. E
que a felicidade consiste em evitar as dores. Isto não significa uma busca desen-
freada de prazeres, pois esses, muitas vezes, vêm acompanhados de dores. A feli-
cidade envolve prazer, mas um prazer sereno e comedido, especialmente aquele
advindo da amizade, do amor, da contemplação da natureza, da arte, da beleza e,
especialmente, da prática do bem. Assim considerado, o epicurismo se diferencia
do hedonismo e não fica conflitante com o estoicismo. Aliás, o ideal é uma síntese
dialética entre o epicurismo e o estoicismo, que seria o eudemonismo.
445. O que é ser estóico pra você? (Comportamento)
Ser estóico é não se perturbar com a dor, o sofrimento, a tristeza e os dissa-
bores e vicissitudes que a vida pode propiciar. É ter serenidade na aceitação des-
sas ocorrências, não significando que não se aja no sentido de combatê-las ou
contorná-las, mas sim que não se deprima com o insucesso dessa empreita. O es-
tóico não é um derrotado e infeliz. Pelo contrário é aquele que preserva a felici-
dade nas dificuldades da vida e mantém-se assertivo, sem humilhar-se, mas sem
soberba ou jactância. Nada o abala e ele enfrenta tudo com sobranceria e galhar-
dia. Isto não o impede de também ser um epicurista ou eudemonista, mas não um
hedonista.
446. Por que a Matemática e a Filosofia são tão relacionadas? Os maiores fi-
lósofos da história foram também os maiores matemáticos. (Filosofia,
Matemática)
A Matemática é a maior aplicação da lógica, que é a arte de bem raciocinar.
Um filósofo é, antes de tudo, um pensador, e, como tal, precisa saber raciocinar.
Sabendo bem Matemática ele saberá articular argumentos para raciocinar em to-

207
Ernesto von Rückert

das as áreas. É preciso entender que Filosofia não é uma das ciências humanas,
como se pensa. É uma meta-ciência, estando além das ciências e dos demais sabe-
res humanos, mesmo não científicos. O filósofo, pois, precisa ser um polímata, isto
é, uma pessoa erudita em várias áreas. Dentre elas, destaca-se a Matemática, co-
mo disciplina valiosíssima para dar ao filósofo o traquejo mental necessário para
seu trabalho. Mas ele precisa, também, conhecer, pelo menos, Física e Biologia,
pois essas ciências são fundamentais para o entendimento do mundo. Não estou
falando da física elementar do Ensino Médio, mas de uma física mais avançada,
incluindo quântica e relatividade e de uma biologia mais aprofundada, incluindo
bioquímica, biologia molecular, genética e evolução. É claro que um filósofo tem
que ser um conhecedor de artes, especialmente de literatura, uma vez que muitos
grandes escritores desenvolveram excelente Filosofia em suas obras. Realmente,
o ofício de filósofo é o que exige maior dedicação ao estudo e, principalmente, à
reflexão e ao pensamento. O filósofo precisa dedicar algumas horas do seu dia
simplesmente para pensar. Não adianta ler, ler e ler, se não se pensar sobre tudo
o que leu e, principalmente, sobre o que se observa diretamente da vida. O filóso-
fo precisa interagir com o mundo e com as pessoas, sempre perscrutando o que
está acontecendo. Para pensar é interessante ter-se a mão papel para anotar os
raciocínios e as conclusões, para depois examiná-las e criticá-las. Finalmente o
filósofo tem que ser um bom escritor, dominar seu idioma com maestria para sa-
ber comunicar o que desenvolve, sendo versado também nas artes da retórica e
da dialética. É claro que vale a pena saber alemão, francês, grego e latim, sem es-
quecer o inglês, mas isso é uma necessidade para qualquer um. Quem quiser ser
filósofo tem que abandonar a preguiça e desistir de ficar rico, pois não terá tempo
para isso. Inclusive porque não há como ser filósofo sem pretender ser sábio, ou
seja, virtuoso, e isso é incompatível com ambições de riquezas. Não que um filóso-
fo não possa ser rico, mas tem que ter o desprendimento suficiente para não se
importar em ficar pobre, como o tivera Seneca.
447. Se o tempo e o espaço surgiram no Big-Bang, então TUDO surgiu lá.
Como dizer que surgiram outros Universos fora do Big Bang? (Cosmo-
logia)
Tempo, espaço, campo, matéria, radiação, estruturas, ocorrências e leis que
as descrevem (e, alguns dizem, informação também), que são os constituintes do
Universo, apareceram com seu surgimento, pois ele é o conjunto de tudo isso. Tal
surgimento, segundo se sabe, deu-se no evento denominado, impropriamente, de
Big Bang. Se houver outros Universos, esse Big Bang foi o surgimento DESTE Uni-
verso. Outros Universos poderiam ter surgido em outros Big Bangs, de outra for-
ma ou sempre terem existido. Nesse conceito, Universo não é o conjunto de TUDO
o que existe, mas sim de tudo que está conectado conosco, mesmo que, no mo-
mento, seja observacionalmente inacessível. O que se pode acessar, pelo menos
em princípio, é o Universo OBSERVÁVEL. O resto está alhures, pois a luz não teve
tempo de chegar até nós desde que o Universo surgiu, mas esse alhures pertence

208
PERGUNTE.ME
ao nosso Universo, pois poderá vir a ser acessado no futuro. Dizer que são outros
Universos significa dizer que seus conteúdos, incluindo espaço e tempo, são dis-
juntos, isto é, os outros espaços e os outros tempos, bem como os conteúdos subs-
tanciais, que podem ser outras coisas que não campos, matéria e radiação, não
têm ligação nenhuma com os nossos, não sendo acessíveis de forma nenhuma e
em momento algum. Não há como saber se, de fato, existem. Sou de opinião que
não existem, uma vez que não há como se verificar ou comprovar que existam. O
conjunto desses Universos seria um Multiverso, este sim, o conjunto de tudo. Mas
isso não é um sistema físico, pois nem sequer funcionaria de acordo com as leis
que descrevem o funcionamento do nosso Universo, que, em minha opinião, é o
único.
448. Por que tudo existe, ao invés de nada? Só o fato de tudo existir já não é
um bom argumento a favor da existência de um criador? (Metafísica,
Cosmologia)
Não existe razão nem motivo para existir algo ao invés de nada. Poderia per-
feitamente não existir coisa alguma e nunca vir a existir, como pode ocorrer o co-
lapso de tudo que existe, voltando não existir coisa alguma. O surgimento do que
existe foi um evento fortuito, isto é, incausado e todo o conteúdo existente, não é
proveniente de coisa alguma que já existisse. Surgiu sem provir de algo anterior.
Isso é diferente de dizer que surgiu do nada, pois dizer isso significa dizer que ha-
via algo, o nada, do qual surgiu o que existe. Não havia algo nenhum. Nada não é
coisa alguma. Não se pode surgir do nada, mas pode-se surgir sem que haja do
que ser proveniente. Isto são afirmações ontológica e fenomenologicamente dis-
tintas e não um mero jogo de palavras. Nada não é uma entidade, mas sim a noção
da inexistência de qualquer coisa. Note que isto não exclui a possibilidade de ter
havido um criador, isto é, um ser extrínseco ao Universo que provocou seu sur-
gimento. Mesmo assim este surgimento se deu sem provir de nada (e não, pro-
vindo do nada). A não ser que o criador tenha feito surgir tudo do conteúdo de si
mesmo. Isso, contudo, é fenomenologicamente complicado, uma vez que o criador
não pertence ao Universo. A não ser que pertença, então, se fez o Universo de si
mesmo, o Universo é o criador de si mesmo. Tais concepções são difíceis de com-
provar e levam a incoerências. Contudo, da mesma forma, o surgimento do Uni-
verso sem ter do que provir, não implica que tenha que ter havido um criador, is-
to é, um agente causador de tal evento.
449. Se TUDO (incluo outros Universos e dimensões, caso existam) veio a
existir, deve ter uma causa incausada, imaterial, atemporal e muito
poderosa. Seja lá o que for essa causa! O que acha? (Cosmologia)
Não precisa ter causa nenhuma. Essa questão de causa e efeito precisa ser
bem entendida. Causalidade é uma relação entre eventos, isto é, ocorrências,
acontecimentos, que se dão com entidades. Não é uma propriedade das entidades
ou seres e sim do que ocorre a eles. Se alguma ocorrência provocar outra ocor-

209
Ernesto von Rückert

rência, então a primeira é dita causa da segunda e a segunda é dita efeito da pri-
meira. Mas nem todo evento tem que ser um efeito. A suposição de que todo
evento seja efeito de alguma causa é uma indução tirada da observação de inúme-
ras ocorrências no nível dos fenômenos acessíveis à percepção direta do homem.
No mundo subatômico, contudo, há miríades de eventos que não possuem causa.
Por exemplo, a desintegração radioativa, o surgimento de pares de partícula e an-
tipartícula, a emissão de radiação por sistemas excitados e outros. Todos esses
eventos se dão quando o sistema preenche certas condições que os possibilitem,
mas nada há que os determine, que é o conceito de causa. Um átomo pode ficar
indefinidamente excitado e não emitir luz, como pode, a qualquer momento, for-
tuitamente, emiti-la. A única informação que se tem é sobre a probabilidade dessa
emissão. O mesmo se dá com o decaimento radioativo. O surgimento de pares é
mais fortuito ainda, pois nem a probabilidade se conhece. No caso de eventos ma-
croscópicos, envolvendo um número imenso de eventos microscópicos, cada qual
com a sua probabilidade, pela lei dos grandes números da estatística, a probabili-
dade fica tão concentrada que se apresenta como uma determinação, levando à
noção de causalidade e determinismo do mundo macroscópico. Mesmo assim não
é impossível que, por exemplo, o ar do escritório em que me encontro, de repente,
se concentre todo na extremidade oposta à que me encontro e eu morra por falta
de ar. Como todo raciocínio indutivo não é garantido e existem casos em que
eventos não são efeitos de causa alguma, então o princípio de que todo evento se-
ja um efeito não é válido. O “Princípio da Causalidade”, em verdade, estabelece
que, se um evento for um efeito, então sua causa o precede, isto é, não pode haver
causalidade retrocessa. O futuro não pode causar nada no passado. Isso derruba
as explicações teleológicas. Portanto se não é obrigatório haver causa, porque o
surgimento do Universo teria que ter tido alguma causa? Se não se detecta, se tu-
do surgiu sem que nada houvesse antes (nem “antes”), porque inventar uma enti-
dade extrínseca ao Universo para criá-lo? Pode-se perfeitamente supor que tenha
surgido espontaneamente e isso é o mais plausível. É claro que, se houve uma
causa, e não havia tempo, nem espaço nem Universo, essa causa teria que ser
produzida por alguma entidade que não estivesse imersa no espaço nem no tem-
po, nem que fosse constituída do conteúdo substancial do Universo. Note-se que
tal entidade não seria, ela mesma a causa, mas o agente provocador da causa, pois
causa não é atributo de seres, mas de ocorrências.
Mais ainda, na relação entre causa e efeito, quando há, nada diz que a causa
tenha que ser maior ou mais poderosa do que o efeito, mas apenas que provoque
a sua ocorrência.
Outra coisa que não existe é o determinismo, isto é, uma mesma causa, nem
sempre produz o mesmo efeito, quando há. Isso é um dos pilares da Físi-
caQuântica, magistralmente expresso pelo “Principio da Incerteza”. E o Universo
funciona com base nas leis físicas, e toda a física é quântica.

210
PERGUNTE.ME
450. Se TUDO sempre existiu, estamos diante de algo chamado ETERNIDA-
DE. Algo tão misterioso, assombroso, inexplicável e improvável como
um criador para os ateus. Admitir a eternidade é ir contra o racional,
contra a lógica, não acha? (Cosmologia)
Absolutamente, não! A eternidade não tem nada de ilógico e é perfeitamente
possível, fenomenologicamente falando. Também não tem nenhum impedimento
metafísico ou ontológico. O que acontece é que as observações mostram que hou-
ve um momento inicial para o fluxo do tempo em que estamos inseridos. Mas po-
deria não ter havido. Do mesmo modo que o espaço pode ser finito ou infinito,
sem problema nenhum. A questão é saber como é, e isso depende de dados ob-
servacionais. No momento os dados indicam que o Universo é espacialmente infi-
nito e temporalmente eterno para o futuro, mas tendo tido um zero dos tempos
no passado. Note que também poderia ser finito no tempo para o futuro, isto é,
haver um último momento do tempo, além do qual ele não existiria mais.
O que é o espaço e o que é o tempo? Espaço é a “cabência”, isto é, a capacida-
de de caber. O espaço surge com o surgimento de um conteúdo para preenchê-lo.
Não existe vazio no Universo, isto é, espaço sem conteúdo. Só existe vácuo, ou se-
ja, espaço sem matéria, mas sempre preenchido por campo ou radiação. Já o con-
ceito de nada significa ausência de tudo, até de vazio. E o tempo é uma sucessão
de alterações no estado do Universo, sendo estado a condição em que seu conte-
údo “está”, tanto em termos de estruturação espacial quanto em termos dinâmi-
cos, de mudanças e de tendências a mudanças. Se não houver mudança nenhuma
o tempo não passa, e isso poderá vir a ocorrer na chamada “morte térmica” do
Universo, situação em que ele todo atingirá a máxima entropia e o mínimo nível
de energia (a energia, juntamente com a massa, é conservada, mas seu nível pode
variar, isto é, sua distribuição entre os componentes).
Nesse sentido é preciso entender a existência de um componente não subs-
tancial e não estático do Universo, que são os fatos, os eventos, as ocorrências, os
acontecimento, os fenômenos. O Universo não é só feito de coisas, mas do que se
dá com elas. Um ser não é algo que seja definido pelo que “é”, mas pelo que “está
sendo”, a cada momento, não perdendo sua identidade nas modificações que so-
fre, uma vez que preserve sua “continuidade histórica”.
Assim o fluxo do tempo pode ser entendido como um desenrolar de varia-
ções no estado do Universo, com uma flecha apontando para o futuro, flecha esta
estabelecida por duas considerações: a causalidade e a entropia. Quando se tem
uma situação cuja obtenção seja um evento provocado por outro, diz-se que o
primeiro sucede ao segundo no tempo, sendo, pois, o tempo, uma sucessão de
momentos. A entropia global também pode indicar a sentido da flecha do tempo,
pois a entropia de um sistema isolado nunca diminui, e, se aumentar, o estado de
maior entropia é posterior ao de menor.

211
Ernesto von Rückert

Pode-se, pois, considerar uma sucessão de estados, cada qual provocando o


próximo e essa sucessão pode ser imaginada tanto propagando-se indefinidamen-
te para o futuro, quando sendo proveniente de uma sucessão de infinitos estados
para o passado, o que significa uma eternidade pretérita, isto é, que não tenha
nenhum momento inicial. Não estou dizendo que não tenha tido, mas sim que po-
de-se admitir, sem contrariar nenhuma lei descritiva do comportamento da natu-
reza, que não tenha tido.
O chamado “argumento Kalam” diz que isso seria impossível, pois, se o mo-
mento inicial dos tempos estivesse infinitamente deslocado para o passado, então
não teria havido tempo para se chegar até o momento presente, que não existiria.
Como ele existe (estamos aqui e agora), então não é possível que o início dos
tempos esteja infinitamente afastado no passado. Isso está perfeitamente correto.
A questão é que um tempo infinito para o passado não significa uma origem infi-
nitamente deslocada para o passado, mas a ausência de uma origem unilateral.
Ou seja, o eixo dos tempos não seria uma semi-reta, mas uma reta, estendendo-se
infinitamente nos dois sentidos. Então a origem pode ficar em qualquer posição,
inclusive agora. O fato de o eixo dos tempos ser uma semi-reta não é por uma im-
possibilidade lógica ou fenomenológica, mas por uma constatação fatual, com ba-
se nas observações.
451. Conte-me sobre a probabilidade de associar a teoria das cordas com o
principio da gênese. (Cosmologia)
Em verdade, a teoria que inclui uma explicação para gênese do Universo é a
das Branas, que é uma extensão da Teoria das Supercordas e que, por sua vez, se
estende mais ainda na Teoria M. Mas isso não é uma questão de probabilidade e
sim de comprovação, por meio de testes tipo diagnóstico diferencial, isto é, e pre-
ciso encontrar fatos que só a teoria prevê e explica e, então, por meio de observa-
ções, comprová-los ou não. Tais teorias, por enquanto, não se encontram num es-
tágio passível de testes observacionais que as elejam como as definitivas. Tenho o
sentimento pessoal de que a unificação supersimétrica das demais interações
com a gravitação é algo que não será obtido, pois acho que a gravitação não é uma
interação, mas apenas uma manifestação da curvatura, da torção e do cisalha-
mento do espaço-tempo. Assim, a Cosmologia de Branas, pode ser algo fadado ao
insucesso. Mas posso estar errado: é só um sentimento meu. Não acho que uma
"Teoria de Tudo" seja algo viável e nem acho que a natureza possua o grau de si-
metria que muitos físicos teóricos querem que tenha. Nesse sentido tenho o
mesmo pensamento do Marcelo Gleiser, exposto em seu livro "Criação Imperfei-
ta". E isso eu já penso desde os anos 70, muito antes do Gleiser começar a facul-
dade.
452. Não sei se já lhe perguntaram isso aqui, mas você concorda que uma
política mais eficaz a respeito da questão do aborto seria por meio de
programas de acesso a métodos contraceptivos e educação, em vez de

212
PERGUNTE.ME
discutir a criminalização? (Comportamento, Ética, Sociologia)
Essa política é sumamente necessária, não importa o que pensem as religi-
ões. E mais, uma política forte e abrangente de adoção de crianças geradas por
mães que não tenham condições de criá-las, por penúria ou pouca idade, com
apoio garantido e seguro de que possam levar suas gestações a termo. É preciso
deixar de encarar os fatos sexuais como tabu e discuti-los abertamente nas esco-
las e com os pais, incluindo aí uma educação afetiva e, até mesmo, ensinar a con-
quistar, a namorar e a transar de forma gratificante e sem egoísmo. Nisso também
se colocaria a responsabilidade de se poder, com o sexo, gerar uma vida, para que
se tenha cuidado, até mesmo com doenças sexualmente transmissíveis. O ponto
principal é considerar o sexo como uma atividade boa e desejável para ser feita
pelos jovens, mesmo sem compromisso de relacionamento durável, de forma a
que ninguém precise estar afoito para fazer sexo de forma indiscriminada, po-
dendo fazê-lo com os amigos e amigas de forma consciente e tranquila e, princi-
palmente, sem ansiedade e com a aprovação dos pais e mestres. Assim se poderá
encarar a prevenção como um planejamento, que as mães ensinem às filhas e os
pais aos filhos. Sem distinguir nenhuma menina ou menino como "galinha" ou
"garanhão", uma vez que TODOS e TODAS, são "de família" e o fato de fazer ou
não fazer sexo não seja nem depreciativo nem valorizado, mas apenas uma opção
tão comum como praticar um esporte, dançar ou se filiar a uma religião ou não.
Passar a considerar o sexo um componente normal das conversas, sem risinhos,
como se fala sobre qualquer coisa, como comida, por exemplo, fará com que ele
passe a ser tido um item da vida a ser encarado com seriedade e às claras, não al-
go furtivo, que ocorre sem planejamento da hora e do local, o que, fatalmente, le-
va à falta de prevenção.
No entanto, isso tudo não exclui a necessidade de se discutir a descriminali-
zação do aborto, que ainda poderia ter situações em que seja aceito. Há que se de-
finir bem o momento da gestação em que se considera que o embrião ou feto pas-
se a ser uma pessoa, caso em que o aborto induzido, sem que seja por necessida-
de médica, seria criminoso. Assim fazendo, se evitaria a ocorrência de abortos
clandestinos, tão perigosos para a vida das mães, especialmente mais pobres. Mas
isso não significa, também, uma abertura total para a permissão do aborto por
mero capricho, em qualquer estágio da gravidez. E não vá se dizer que homem
não tem que dar palpite em coisa de mulher. Tem tanto quanto mulher em coisa
de homem: todo o direito.
453. Como responderia ao argumento cosmológico? (Religião, Ateísmo)
Já escrevi muita coisa a respeito disto em meus blogs e aqui transcrevo. Veja,
por exemplo:
O argumento Kalam, proposto por Avicena (Kalam é um tipo de seminário
muçulmano), baseia-se na prova do motor primo de Aristóteles para a existência

213
Ernesto von Rückert

de Deus, acrescentando uma justificativa para a premissa de que a sequência de


causas não pode ser infinita, pois isto levaria um tempo infinito e neste caso, des-
de o primeiro evento, não se teria passado tempo suficiente para estarmos aqui e
estamos. Por absurdo, não seria possível que o tempo se estendesse infinitamente
para o passado, havendo assim um início. O erro está em supor um primeiro
evento, infinitamente afastado para o passado. Tempo infinito não é isso. É não
haver primeiro evento nenhum. Então pode-se por o zero dos tempos em qual-
quer momento, por exemplo, agora.
Outra falha no argumento cosmológico da existência de Deus é de que tudo
tem que ter uma causa. Não tem, mesmo para seres contingentes. Tomás de
Aquino, no artigo 3º da questão 2 da primeira parte da Summa Teologica
(http://www.newadvent.org/summa/1002.htm) dá cinco provas da existência de
Deus. A primeira (motor primo) e a segunda (causa primeira) usam o argumento
Kalam e essa premissa, admitida como axioma, o que não é.
Mesmo que se considere a necessidade de uma causa primeira e um motor
primo, não há evidência nenhuma de que tal coisa possa ser identificada com a
entidade que se entende pelo conceito de Deus.
E, finalmente, resta a questão: qual então a causa de Deus? Se Deus pode ser
uma exceção, não ter causa e ser eterno, porque não o próprio Universo?
A teoria aristotélico-tomista de ato e potência é a visão escolástica da meta-
física, mas não significa que as coisas, de fato, sejam assim. Não é verdade que tu-
do que se transforme já seja aquilo que vá ser, em potência. Muitas coisas são
formadas por agregados de outras que, isoladamente, não têm nada a ver com o
que resultará de sua combinação. Dizer que um pedaço de mármore já seja uma
escultura em potência é uma rematada bobagem.
Outra coisa: realmente não há garantia nenhuma que todo evento tenha que
ter uma causa. Isso provém de um indução a partir da observação das ocorrências
cotidianas. Mesmo que nunca se tenha observado um evento que não tenha causa,
não se pode dizer que todo evento tenha causa. De fato, existem miríades de
eventos que não têm causa, como o decaimento de um elétron excitado em um
átomo ou o decaimento radioativo. O “Princípio da Causalidade” é um mero pre-
conceito.
Não existe ser algum que seja necessário. Tudo poderia não existir. Só existe
por acaso. Essa contingência não implica que não possa surgir sem causa. Isto é
uma afirmação gratuita.
Por outro lado, o que impede que o Universo tenha sempre existido? Não
considero que assim o seja, mas não vejo nenhum impedimento. A conclusão se
tirará da análise dos dados observados, que ainda não são suficientes para tal.
O ser não pode provir do não ser, mas pode simplesmente surgir sem provir

214
PERGUNTE.ME
de coisa alguma. Porque não?
É claro que a inteligência pode provir da não inteligência. A inteligência é al-
go que emerge do sistema nervoso a partir de certo grau de complexidade. Nada
requer que seja projetada e construída por outra inteligência. De onde se tira esta
afirmação?
É claro que a ordem pode vir do caos. Nem a Segunda Lei da Termodinâmica
proíbe, desde que uma redução localizada de entropia seja compensada pelo au-
mento em outros lugares.
O acaso é capaz de qualquer coisa sem restrição alguma. E a inteligência não
é um atributo da matéria e sim de específicas estruturas e dinâmicas, que, em
funcionamento, a provocam.
Porque conceder a Deus privilégios de ser eterno, incausado, ato puro, poder
absoluto? Se não se tem sentido indagar da causa da existência de Deus, porque
indagá-lo do Universo?
Porque só algo espiritual pode ser eterno?
E afinal, o que é algo espiritual?
Como pode um espírito interagir com entidades físicas (matéria, campo, ra-
diação)?
Se um espírito não é físico, não tem tamanho, nem massa, nem energia, nem
localização, pois não está no tempo e nem no espaço. Como algo físico pode ser
influenciado por um espírito?
Como um espírito poderia ver, ouvir, e ter outras sensações se elas são
transmitidas por meios físicos, como a luz, o som, as moléculas odoríferas etc.? Se
ele não tem sensores que interceptem esses veículos transmissores, como tem
percepções?
Outra argumentação:
Há um argumento para a existência de Deus, denominado ARGUMENTO
COSMOLÓGICO. O teólogo protestante William Lane Craig apresentou esse argu-
mento como segue:
1. Tudo que começa a existir tem uma causa para sua existência.
2. O Universo começou a existir.
3. Um infinito real não pode existir.
4. Um regresso temporal infinito de eventos é um infinito real.
5. Portanto, um regresso temporal infinito de eventos não pode existir.
6. Uma coleção formada por sucessivas adições não pode ser realmente infinita.
7. A série temporal de eventos passados é uma coleção formada por sucessivas
adições.

215
Ernesto von Rückert

8. Portanto, uma série temporal de eventos passados não pode ser realmente in-
finita.
9. Portanto, o universo tem uma causa para a sua existência.
Mostrarei a falsidade deste argumento, como expresso acima:
1. FALSO – Não é verdade que tudo o que comece a existir tenha uma causa
para sua existência. Causa é uma propriedade de eventos e não de seres. O que
pode ter causa é o evento da passagem da inexistência para a existência de um ser
e não o próprio ser. Mesmo isso não precisa ter causa. A concepção de que todos
os eventos sejam efeitos de causas se origina da observação diuturna dos eventos
que ocorrem dentro da escala de tempos e dimensões acessíveis à percepção hu-
mana. Tal conclusão é um raciocínio indutivo, isto é, que obtém uma assertiva ge-
ral com base na confirmação de muitas assertivas particulares do mesmo tipo.
Todo raciocínio indutivo pode ser derrubado por um único contra exemplo. A
possibilidade de observação de eventos em nível atômico e subatômico da maté-
ria mostrou que existem muitos que são fortuitos, isto é, que ocorrem sem que
nada os desencadeie. Certamente que sua ocorrência depende do preenchimento
de condições que os possibilitem. Mas condição não é causa, pois causa é o que
determina. Nessa categoria estão o decaimento radioativo de núcleos e a emissão
de radiação por átomos e moléculas excitados. A excitação é condição e não causa
da emissão. Esta se dá fortuitamente, sem nada que a desencadeie. A única infor-
mação que se tem é da probabilidade de decaimento para um nível mais baixo de
energia, ao fim de certo tempo. O mesmo se dá com a radioatividade. Logo, a con-
dição necessária para a conclusão por indução não prevalece e, portanto, não é
verdade que todo evento seja um efeito, isto é, que possua causa. Argumenta-se
que a causa seria oculta. Pode ser que se venha a descobrir alguma, mas o impor-
tante é que não há necessidade lógica nenhuma de que seja preciso haver uma
causa. Que fique bem claro que a existência de causa é uma conclusão “a posterio-
ri”, não sendo obrigatória. Há que se investigar cada caso.
2. CORRETO – O fato de que o Universo tenha começado a existir é fenome-
nológico, isto é, pode ser que sim ou que não, a resposta dependendo de uma ave-
riguação factual. Não há razão lógica nem ontológica para que seja preciso que
tenha havido um começo. Os indícios observacionais cosmológicos apontam no
sentido de que, de fato, tenha havido um momento inicial para o Universo. Como
o Universo é o conjuto de tudo, dos seres e dos eventos e, inclusive, do espaço e
do tempo, em seu começo também se deu o começo do tempo. Antes não havia
decurso de tempo e, a rigor, nem houve nenhum “antes”.
3. FALSO – Um infinito real, isto é, existente no mundo exterior às mentes,
pode existir sim. Infinito é um conceito que se reporta a algo que possua uma
grandeza maior do que qualquer valor que se possa conceber. Não se trata de um
valor numérico a ser atribuído a algum atributo de um sistema, como sua exten-
são, seu volume, sua massa, sua energia ou sua duração temporal, mas a afirma-

216
PERGUNTE.ME
ção de que nenhum valor numérico seja capaz de representar a grandeza desse
atributo. Assim, infinito é um conceito quantitativo e não qualitativo. Existem in-
finitos de ordens diferentes, como o infinito enumerável dos números naturais,
que representam grandezas quantificadas de forma quantizada ou o infinito con-
tínuo dos números reais, que representam grandezas quantificadas de forma con-
tínua e não quantizada (não confundir o conceito de “número real” com o concei-
to de “realidade” – um número real é uma abstração, isto é, ele não tem realidade
fora das mentes, mas uma grandeza que ele represente sim). Carga e energia são
quantizadas, enquanto tempo e espaço parecem que não, mas há propostas sobre
a existência de quantum de tempo e de espaço. Quer num caso quer no outro, na-
da há que obste a possibilidade de que espaço e tempo sejam infinitos, isto é, que
se estendam indefinidamente, de modo que nenhum valor inteiro ou real (na
acepção matemática e não ontológica) seja capaz de representar a amplitude de
sua extensão.
4. CORRETO – Seja o tempo contínuo ou discreto (quantizado), sua extensão
infinita, quer nos dois sentidos ou em um apenas, isto é, tenha ele tido um come-
ço, mas não venha a ter um fim, tenha um fim, mas não tenha tido começo ou nem
tenha tido começo nem venha a ter fim, significa um intervalo aberto de extensão
infinita e isto é real (ontologicamente falando, isto é, existente fora das mentes).
Isso significa que, de fato, no mundo exterior às mentes e não apenas como uma
idéia, não haveria número nenhum, nem inteiro nem real, por maior que fosse,
capaz de quantificar a extensão da duração total do tempo.
5. FALSO – É claro que pode existir uma regressão temporal infinita, tanto
para o passado quanto para o futuro, pois o tempo é uma entidade quantificável,
seja quantizável ou não. Isso significa que se pode associar ao tempo, de forma
biunívoca, um intervalo de números reais ou inteiros (no caso de ser quantizado),
com origem (zero) arbitrariamente posicionada. Como foi dito no item 3, nada
obsta a existência de grandezas infinitas no mundo real, sejam inteiras ou contí-
nuas.
6. FALSO – É perfeitamente possível existir, isto é, ser real ontologicamente
falando, conjuntos de infinitos elementos. O Universo pode ser infinito, e as ob-
servações cosmológicas mostram que parece que, de fato, é. Assim o sendo, tanto
a extensão quanto a totalidade de seu conteúdo, em termos de quantidade de par-
tículas fermiônicas e bosônicas (matéria e radiação) e de campos não quantiza-
dos, seria infinita, e isso seria algo real, cujo valor poderia ser construído por adi-
ções sucessivas, por exemplo, pelo acúmulo em cascas esféricas concêntricas a
partir do centro da Terra, adicionando-se os conteúdos de cada uma. Como o Uni-
verso se estenderia indefinidamente, não haveria nenhum número, por maior que
fosse, que expressaria o total desse conteúdo. Mas isso pode ser perfeitamente
admissível como existente, e pode ser que seja assim mesmo. Inclusive, é o mais
provável que seja.

217
Ernesto von Rückert

7. DEPENDE – Se se considerar que estas adições sejam feitas a partir de um


momento inicial infinitamente deslocado para o passado isto é FALSO, pois dizer
que o tempo se estende infinitamente para o passado não é dizer que houve um
momento inicial infinitamente afastado e sim que não houve momento inicial ne-
nhum. Se tivesse havido um momento inicial infinitamente afastado, o presente
não poderia existir, pois nunca se teria um decurso de tempo suficiente para se
chegar a ele, desde esse início, isto é, o presente estaria infinitamente distante do
início e ainda não teria chegado. Como o presente existe, tal início infinitamente
distante não pode existir. Este é o chamado “argumento Kalam” das escolas teoló-
gicas muçulmanas, usado por Tomás de Aquino para provar a existência de Deus.
Todavia, considerar o tempo infinito significa considerar que não houve momen-
to inicial nenhum. O tempo sempre teria existido. Qualquer momento que se con-
ceba teria um anterior. Então, o presente pode ser a origem dessa sequência, cu-
jos momentos passados são adicionados no sentido negativo, sem limite, esten-
dendo ao infinito para trás, do mesmo modo que se pode conceber tranquilamen-
te que o tempo possa estender ao infinito para frente, no futuro. Neste caso é
CORRETO dizer que a série dos tempos possa ser construída por adições sucessi-
vas.
8. FALSO – Uma série temporal de eventos para o passado pode ser infinita
sim, como foi mostrado no quesito 7, desde que entendida como construída de
frente para trás, a partir de hoje.
9. FALSO – Como o quesito 8 é falso, pelo argumento apresentado, segue que
o 9 também o seja. Entretanto, mesmo que o 8 fosse verdadeiro, daí não seguiria
o 9, pois o impedimento de que o tempo sempre tenha existido apenas implica em
que tenha havido um momento inicial, antes do qual não havia tempo e nem nada.
Mas, como mostrado na refutação do quesito 1, não é preciso causa para que algo
passe de inexistência para a existência. Além disso, mesmo que o Universo tenha
começado e que este começo tenha tido uma causa, nada há que garanta que tal
causa seja a interveniência de uma entidade com as características que lhe identi-
fiquem com o conceito que se tem do que seja um Deus.
Em resumo, a dita “prova cosmológica” da existência de Deus não prova ab-
solutamente nada sobre ela.
Também participei de debates no Orkut sobre o tema:
Passo a postar minha participação em um debate no Orkut sobre o “Argu-
mento Cosmológico” para a existência de Deus, travado com o estudioso teológico
criacionista protestante Vinícius Pinheiro, de Volta Redonda. O texto em itálico é
do Vinícius. O debate pode ser visto na página:
http://www.Orkut
Colocação do Argumento:

218
PERGUNTE.ME
1) O Princípio da Causalidade:
Tudo que tem princípio de existência tem uma causa além de si desde que o
nada não existe e, portanto, não pode causar, além de ser impossível existir antes de
si mesmo para causar a sua própria existência.
Em resumo, vir à existência implica em vir de uma causa em vez de puramente
nada. O que gera alguma coisa é necessariamente uma causa dotada da proprieda-
de ontológica de causar. Portanto, é totalmente diferente do nada absoluto. Além
disso, vir de uma causa implica em vir de outro ser além de si mesmo desde que é
impossível existir antes de seu próprio princípio para se causar.
2) Contra a eternidade da criação:
Em primeiro lugar, quanto maior for a escala maior é o grau de aproximação
do todo, de modo que apenas a escala cronológica máxima equivale à totalidade do
tempo. Se unicamente a escala cronológica máxima é igual à totalidade do tempo,
conclui-se que é igual à duração de tempo limitada pelo presente, de maneira que a
escala máxima de tempo e o tempo em si são igualmente finitos.
Em segundo lugar, se as partes espaço-temporais do universo fossem eternas o
presente estaria eternamente longe de ocorrer pois uma quantidade infinita de
eventos teria de antecedê-lo. Na verdade, qualquer evento específico estaria infini-
tamente longe de acontecer desde que haveria sempre uma quantidade infinita de
eventos anteriores para percorrer.
Logo as partes espaço-temporais do universo tiveram princípio.
3) A Causa Primeira é ilimitada e transcendente:
Logo as partes espaço-temporais do universo tiveram uma causa. Desde que
elas são finitas, mutáveis e temporais, conclui-se que a Causa Primeira transcende
estas partes sendo infinita, imutável e atemporal. Desde que a Causa está além da
criação, logo está além de suas limitações.
Em segundo lugar, outra Causa espaço-temporal também teria tido princípio
de existência, e assim por diante em regressão infinita, a menos que se admita uma
Causa Primeira que estabeleça a existência da criação. Sem um ser auto-existente a
realidade espaço-temporal nunca viria a existir.
Conclui-se que a Causa Primeira é transcendente e ilimitada.
4) A Causa Primeira é única:
A Causa Primeira é ilimitada ,e portanto única, pois duas ou mais causas se li-
mitariam mutuamente. A existência de muitas causas implica que elas se limitariam
reciprocamente no tempo e no espaço.
Em resumo, a Causa transcende este universo de espaço-tempo, unificando as

219
Ernesto von Rückert

unidades finitas e consecutivas em uma só unidade infinita e atemporal. Ou seja, se-


gundo a perspectiva imanente e fragmentária da criação há muitas unidades de es-
paço e tempo. Por outro lado, segundo a perspectiva transcendente e absoluta da
Causa há apenas uma unidade imutável e atemporal.
Logo há uma só Causa Primeira.
5) A Causa Primeira é pessoal:
A Causa Primeira é pessoal. Se ela fosse impessoal teria então de co-existir
eternamente com seu efeito, pois dada a existência da Causa Primeira a existência
do efeito viria de forma automática.
Em resumo, uma Causa impessoal e eterna não teria o poder de escolha para
mudar seu rumo de ação, de maneira que ela teria produzido algum efeito desde
sempre. Uma Causa impessoal e eterna teria gerado o seu efeito de forma automáti-
ca durante o curso de sua existência, de modo que a criação nunca teria tido um
princípio.
Conclui-se que a Causa do princípio da criação tem de ser pessoal.
Contestações ao argumento cosmológico:
Tudo que tem princípio de existência tem uma causa além de si desde que o
nada não existe e portanto não pode causar, além de ser impossível existir antes de
si mesmo para causar a sua própria existência.
Possuir causa é propriedade de eventos e não de seres. Eventos são ocorrên-
cias, acontecimentos que se dão com os seres. Entende-se por causa a ação que
determina a ocorrência do evento e por condição a situação que a possibilita. A
passagem de um ser da inexistência para a existência é um evento que pode ou
não ter causa. O princípio da causalidade afirma que todo evento possua uma
causa, isto é, seja um efeito. Isto se concluiu a partir da observação de eventos,
dentro das escalas de espaço e tempo acessíveis à percepção humana. Trata-se,
pois, de um raciocínio indutivo. Toda conclusão obtida por indução não é garanti-
da, sendo derrubada por um único contra-exemplo.
O advento da Física Quântica e de meios de observação de eventos atômicos
e nucleares revelou a existência de miríades de eventos fortuitos, isto é, incausa-
dos. Dentre eles, dois se destacam: a emissão de radiação por sistemas excitados,
como a luz por um átomo, e o decaimento radioativo de um núcleo. A excitação,
isto é, estar-se em um nível de energia superior ao fundamental, é uma condição e
não causa da emissão de fótons. Um sistema excitado pode assim permanecer in-
definidamente ou decair para um nível mais baixo de energia, com a emissão do
fóton, a qualquer momento, sem nada que lhe determine tal ocorrência. O que se
sabe é apenas sua probabilidade. O mesmo se dá com o decaimento radioativo.
Portanto, não é verdade que todo evento seja um efeito, podendo ser fortui-

220
PERGUNTE.ME
to. Assim, o surgimento do Universo não obrigatoriamente tem que possuir uma
causa, podendo ter sido também, incausado. Mas pode ter tido, mesmo sem que
seja preciso. Resta investigar se teve.
Certamente que “nada” não é algo que exista, mas tão somente a palavra que
indica a inexistência do que quer que seja, incluindo matéria, radiação, campo,
espaço (mesmo vazio), tempo, regras, espíritos, deuses e tudo o mais. Sendo o
Universo o conjunto de tudo o que existe, antes que ele existisse, nada havia, nem
“antes”. Pode ser, contudo, que o Universo sempre tenha existido. As observações
cosmológicas parecem indicar que não é este o caso, tendo o Universo tido um
começo, no qual o tempo também se iniciou. Mas isso não significa que um Uni-
verso eterno para o passado seja vedado, como argumentarei mais tarde. É claro,
pois, que a causa da existência do Universo não pode ter sido uma ação feita por
“nada”. Isso não significa, contudo, que o surgimento do Universo não possa ter se
dado sem causa nenhuma e sem que seu conteúdo fosse proveniente de algo an-
tecedente. Aliás, a consideração de que o Universo tenha sido “criado” por alguma
entidade extrínseca a ele, também considera que seu conteúdo não tenha sido
proveniente de coisa alguma previamente existente.
A argumentação de que isso fere as leis de conservação não procede, pois es-
tas não existiam antes do surgimento do Universo. Elas se aplicam apenas a algo
que exista. A criação divina do Universo também as viola.
Em suma, não há nenhuma razão, nem ontológica nem fenomenológica, que
impeça o Universo de ter surgido sem causa alguma e sem que fosse proveniente
de algo previamente existente.
Em resumo, vir à existência implica em vir de uma causa em vez de puramente
nada. O que gera alguma coisa é necessariamente uma causa dotada da proprieda-
de ontológica de causar. Portanto, é totalmente diferente do nada absoluto. Além
disso, vir de uma causa implica em vir de outro ser além de si mesmo desde que é
impossível existir antes de seu próprio princípio para se causar.
Vir à existência absolutamente não implica em necessariamente vir de uma
causa nem em ser gerado por um ser capaz de provocar o evento de surgir. Tal
evento pode perfeitamente se dar de forma fortuita. Não há razão nenhuma que
diga que todo evento tenha causa, por mais eventos que sejam efeitos existam. Tal
obrigatoriedade não é lógica, nem ontológica, nem fenomenológica. Trata-se de
um preconceito. Pode ser até que o surgimento do Universo tenha tido uma cau-
sa, mas não que obrigatoriamente tenha que ter tido. Isto precisa ficar bem claro.
A existência de uma causa é uma questão de investigação. Logo, surgir sem causa
não significa “surgir do nada”, isto é, ser proveniente do nada. Nada não um ser,
nem um ente (ser é o ente que existe, ente é algo que possa existir fora das men-
tes que o concebam).
É claro que todo evento que seja efeito de uma causa tem que possuir algum

221
Ernesto von Rückert

ser que desencadeie essa causa. Se o surgimento do Universo tiver tido uma causa
(se é que ele tenha surgido e não sempre existido), então haveria algum ser que
provocara seu surgimento. Todavia o surgimento do Universo não precisa ter tido
causa.
Finitude do tempo
Em primeiro lugar, quanto maior for a escala maior é o grau de aproximação
do todo, de modo que apenas a escala cronológica máxima equivale à totalidade do
tempo. Se unicamente a escala cronológica máxima é igual à totalidade do tempo,
conclui-se que é igual à duração de tempo limitada pelo presente, de maneira que a
escala máxima de tempo e o tempo em si são igualmente finitos.
A conclusão não segue das premissas dessa argumentação. Primeiro porque
não existe totalidade do tempo como algo apriorístico. Só pode haver uma totali-
dade do tempo, desde o seu início até o presente, se tiver havido um início (o que
considero que seja verdade). Mas isso não é uma necessidade ontológica. É perfei-
tamente aceitável que o tempo não tenha tido um início. Se teve ou não, isso é ob-
jeto de uma verificação fática, isto é, trata-se de uma assertiva de cunho fenome-
nológico e não lógico nem ontológico. A duração do tempo pode perfeitamente
ser infinita, tanto para o passado quanto para o futuro, da mesma forma que pode
ser finita em ambos os sentidos, ou seja, o tempo pode ter tido um início e pode
ter um fim, além do qual não mais passará. O tempo não é uma entidade absoluta
e isolada, mas advinda das variações no estado global do Universo. Se o Universo
se tornar inteiramente estático, o que pode vir a acontecer quando atingir sua
máxima entropia e seu mínimo nível de energia, não mais haverá decurso de
tempo. Da mesma forma que não existe espaço vazio. Todo espaço, que é a capa-
cidade de caber algo, só existe se preenchido por algum conteúdo, mesmo que se-
ja o vácuo, que não é vazio, pois possui campos e pode estar preenchido por radi-
ação. O vácuo só não tem matéria. A conclusão de que o tempo seja finito não vem
de nenhum argumento filosófico, mas sim da análise dos dados observacionais
sobre o Universo, especialmente da constatação de sua expansão.
Argumento Kalam
Em segundo lugar, se as partes espaço-temporais do universo fossem eternas, o
presente estaria eternamente longe de ocorrer pois uma quantidade infinita de
eventos teria de antecedê-lo. Na verdade, qualquer evento específico estaria infini-
tamente longe de acontecer, desde que haveria sempre uma quantidade infinita de
eventos anteriores para percorrer.
Isso é o que se chama de “argumento Kalam” (Kalam são escolas teológicas
muçulmanas). Tal argumento não procede. Ele seria válido se um tempo infinito
significasse que o tempo teria tido um início infinitamente deslocado para o pas-
sado. Então é certo que o presente não existiria, pois nunca se decorreria tempo
suficiente para se chegar desde essa origem até hoje. Mas, dizer que o tempo seria

222
PERGUNTE.ME
infinito para o passado não é isso. É dizer que o tempo nunca teve início, sempre
passou. Então não há uma origem dos tempos no passado. A origem pode ser co-
locada em qualquer instante, por exemplo, agora. Momentos anteriores são nega-
tivos e posteriores positivos. A série de momentos negativos se estenderia infini-
tamente para o passado e a de positivos também poderia se estender infinitamen-
te para o futuro (ou não). Isso não impede a existência do presente.
No entanto, apesar de não haver necessidade lógica, ontológica nem feno-
menológica de que o tempo tenha que ter tido um início, as evidências observaci-
onais mostram que, de fato, ele o teve.
Falta de causa
Logo as partes espaço-temporais do universo tiveram uma causa. Desde que
elas são finitas, mutáveis e temporais, conclui-se que a Causa Primeira transcende
essas partes sendo infinita, imutável e atemporal. Desde que a Causa está além da
criação, logo está além de suas limitações.
De jeito nenhum! O fato de ter havido uma origem dos tempos em que houve
o surgimento do Universo não implica que tenha que ter tido uma causa, pelo que
já argumentei antes e voltarei a considerar na tréplica. A alternativa não é “ou te-
ve causa ou sempre existiu”, da qual se concluiria que, como não existiu desde
sempre, então teve causa. O surgimento não precisa ter causa.
Por outro lado, mesmo tendo tido um início, o Universo pode ser espacial-
mente infinito, já tendo surgido assim. Aliás, essa é a possibilidade mais plausível,
face os dados observacionais disponíveis. Que o Universo seja mutável e temporal
também não é uma característica essencial, mas uma circunstância atual. O Uni-
verso pode atingir um estado de imutabilidade a atemporalidade. O importante é
que o Universo é contingente, isto é, sua existência não é necessária, ou seja, po-
deria não existir. Isso é um fato.
Ser contingente, contudo, não implica em que tenha que ter tido uma causa
para existir, apenas que poderia não ter surgido. Note que, até agora, eu não disse
que o Universo não tenha tido uma causa, mas que não é preciso que tenha tido.
De fato, considero que não teve, mas ainda não cheguei a esse ponto. Se sua pas-
sagem para a existência teve uma causa, certamente o agente desta causa seria
uma entidade extrínseca ao Universo e, portanto, atemporal, pois o tempo é um
constituinte do Universo. Mas o que significa dizer que tal agente seria infinito, se
infinito é uma extensão ilimitada e não havia espaço para algo se estender? E co-
mo dizer que esse agente é imutável, se causar o surgimento do Universo é uma
ação e, portanto, uma mudança de comportamento? Fosse imutável tal agente,
seria incapaz de fazer qualquer ação.
Universoauto existente
Em segundo lugar, outra causa espaço-temporal também teria tido princípio

223
Ernesto von Rückert

de existência, e assim por diante em regressão infinita, a menos que se admita uma
Causa Primeira que estabeleça a existência da criação. Sem um ser auto-existente a
realidade espaço-temporal nunca viria a existir.
É claro que, se todos os eventos experimentados pelo Universo tiverem uma
causa, ou o Universo sempre existiu, pois as causas precedem temporalmente
seus efeitos, ou houve um primeiro evento cuja causa fosse extrínseca ao Univer-
so, evento esse que seria, justamente, o seu surgimento, neste caso chamado de
“criação”. Como já argumentei, é perfeitamente possível que o Universo tenha
sempre existido, então a sequência pretérita de causas seria infinita. Além disso,
não é preciso que eventos sejam efeitos, isto é, que possuam causa, especialmente
esse evento singular do surgimento do Universo.
Admitir um ser extrínseco ao Universo como agente da causa que lhe deu
surgimento (o ato criador) apenas transfere o problema. Se tudo que começa a
existir tem que ter uma causa, ou sempre existiu, esse agente incausado sempre
existiu. Mas “sempre” implica decurso de tempo ilimitado e, sem Universo, não há
tempo. Logo esse agente estaria fora do tempo. Como tempo é mudança, este
agente seria imutável e, portanto, incapaz de qualquer ato, como criar o Universo.
Ou então há que se pesquisar a causa da existência desse agente e isso também
levaria a uma regressão infinita. Então porque não admitir que o próprio Univer-
so sempre existiu ou seu surgimento não tenha tido causa? Isto é, porque o pró-
prio Universo não seria auto existente?
Unicidade
A Causa Primeira é ilimitada ,e portanto única, pois duas ou mais causas se li-
mitariam mutuamente. A existência de muitas causas implica que elas se limitariam
reciprocamente no tempo e no espaço. Em resumo, a Causa transcende este Univer-
so de espaço-tempo, unificando as unidades finitas e consecutivas em uma só unida-
de infinita e atemporal. Ou seja, segundo a perspectiva imanente e fragmentária da
criação há muitas unidades de espaço e tempo. Por outro lado, segundo a perspecti-
va transcendente e absoluta da causa há apenas uma unidade imutável e atempo-
ral.
O pretenso autor da causa primeira seria ilimitado em que? Ao que parece
em seu poder. É o que se chama onipotência. Mas poder significa capacidade de
agir sem restrições e agir significa mudar, o que é contraditório com a intempora-
lidade, que seria inevitável se tal agente fosse extrínseco ao Universo, como pre-
cisaria ser para criá-lo. Daí uma grande razão para desconsiderar a existência de
tal agente.
A questão da imanência e da transcendência deixa de ter razão de ser ao se
considerar a falta de necessidade de causa para o surgimento do Universo. Acabei
de mostrar que um agente extrínseco ao Universo (transcendente) é contraditó-
rio. Um agente causal do surgimento do Universo que seja parte dele mesmo

224
PERGUNTE.ME
(imanência) é uma impossibilidade, pois um ser não consegue ser agente causal
de seu próprio surgimento, uma vez que toda causa tem que anteceder a seu efei-
to. As únicas alternativas são a existência desde sempre ou o surgimento incausa-
do.
Não há, portanto, que se discutir se a causa é única ou não, mesmo que, de
fato, se houver, tenha que ser única.
Pessoalidade
A Causa Primeira é pessoal. Se ela fosse impessoal teria então de coexistir
eternamente com seu efeito, pois dada a existência da Causa Primeira a existência
do efeito viria de forma automática. Em resumo, uma causa impessoal e eterna não
teria o poder de escolha para mudar seu rumo de ação, de maneira que ela teria
produzido algum efeito desde sempre. Uma causa impessoal e eterna teria gerado o
seu efeito de forma automática durante o curso de sua existência, de modo que a
criação nunca teria tido um princípio. Conclui-se que a causa do princípio da cria-
ção tem de ser pessoal.
O que significa ser pessoal? Significa que o ser em questão é uma “pessoa”,
isto é, tem uma mente provida de sensibilidade, inteligência, vontade e consciên-
cia. Note que tudo isso são processos, ocorrências. Logo implicam em mudanças e,
portanto, tempo. Não é possível existir mente fora do tempo. Se não houver de-
curso de tempo não existe processo de nenhum tipo, nem pensamento, nem emo-
ção, nada que caracterize uma mente e, logo, uma pessoa.
Isso significa que, para que a criação do Universo tenha sido um ato volitivo
de um agente inteligente, este teria que tomá-lo em um dado momento, portanto
seria um ser existente no tempo e, então, pertencente ao Universo que estaria cri-
ando, o que é contraditório.
Por outro lado, se não fosse pessoal, porque isso implicaria em que, necessa-
riamente, precisaria causar o efeito de criar o Universo? Neste caso o Universo
não seria contingente, isto é, necessariamente teria que existir. Agentes causais,
mesmo impessoais, podem ou não provocar os efeitos que causam. Isto é o inde-
terminismo, uma das mais importantes e consequentes decorrências da desco-
berta do comportamento quântico.
Mesmo que o surgimento do Universo tivesse tido uma causa, o que, no ar-
gumento cosmológico, permite identificar essa causa com a noção de Deus que é
concebida pelas religiões, especialmente no que diz respeito ao caráter de prove-
dor e de juiz? Nada! No máximo esse argumento poderia provar a existência do
deus dos deístas. Mesmo assim não o faz, pois sua premissa maior não é verda-
deira.
Importante observação

225
Ernesto von Rückert

Antes de prosseguir quero deixar claro que o que está sendo discutido não é
a existência ou a inexistência de Deus, mas sim se o argumento cosmológico (ou
da causa primeira) é capaz de provar ou não a existência de Deus. Eu poderia
acreditar que Deus existisse que, mesmo assim, continuaria a defender a tese de
que o argumento cosmológico não a prova, mesmo que ele existisse. Seria inte-
ressante haver outros tópicos sobre os outros quatro argumentos tomistas para a
existência de Deus, que são o do motor primo, do ser necessário, do ser perfeitís-
simo e da inteligência ordenadora. Depois se poderia travar um debate sobre a
existência de Deus propriamente.
Eventos incausados
Existem eventos IMPREVISÍVEIS, não incausados. O fato de não podermos pre-
ver um evento só significa que não podemos controlar suas causas, não que as cau-
sas inexistem. Tratam-se de eventos cujas causas não podemos detectar, mas isso
não significa que as causas inexistam. Você tem de provar que as causas inexistem,
pois o ônus da prova é teu. Premissa equivocada, conclusão equivocada.
Pode ser que se venha a detectar alguma causa para o decaimento radioativo
e para a emissão de fótons por sistemas excitados. No entanto, nada impõe que
seja preciso que haja uma causa, uma vez que não fora detectada. Friso que a con-
clusão de que todo evento seja o efeito de uma causa foi tirada por indução, já que
os eventos macroscópicos, no nível da percepção humana direta, assim o são. Ob-
servados que sejam eventos a que não se consegue achar a causa, o raciocínio fa-
lha, não se podendo garantir mais a necessidade de causa. Outrossim, não há ne-
nhuma outra razão, a não ser a observação, que implique a necessidade de causa.
Portanto não se pode dizer que exista um “Princípio de Causalidade” dessa forma
estatuído. O único princípio que se pode estatuir sobre causa e efeito é que aquela
tem que preceder a este no tempo. Aliás, esse é um dos critérios para se determi-
nar o sentido da flecha do tempo. Isso é tão bem assentado na Física que os mode-
los cosmológicos que contemplam a possibilidade de viagens ao passado, o fazem
por meio de uma curva tipo tempo fechada que, localmente, isto é, na vizinhança
espaço-temporal de cada evento, sempre se vai ao futuro, chegando ao passado
ao fim do percurso cíclico. Isto é, a volta ao passado é global, e não local. O indiví-
duo que faz a viagem vai envelhecendo até encontrar ele mesmo mais novo no
passado. Ele não volta localmente para o passado. Isto é que é explorado nos fil-
mes da série “De volta para o futuro”.
Dizer que não existem eventos incausados é um preconceito sem fundamen-
to em nada que garanta sua validade.
Ônus da prova
Não é preciso provar que não existem causas, pelo contrário. A existência de
causa não é uma necessidade, como já mostrei. Assim, sua existência é que tem
que ser verificada, em cada caso. Se não se detecta nenhuma, a suposição básica é

226
PERGUNTE.ME
que não exista, o que seria mudado uma vez que se a identifique. Note-se que uma
correlação altamente positiva entre eventos associados e temporalmente sequen-
ciados não implica, necessariamente, em relação causal, podendo mesmo ambos
ser decorrência de uma causa comum. Também precisa ficar bem claro que cau-
salidade e determinismo são conceitos diferentes. O fato de um evento ser causa
do outro não significa que ele determine a sua ocorrência, mas que, se ocorrer, foi
por causa do primeiro. Gravidez é causada por relações sexuais, mas nem toda
relação sexual provoca gravidez. Inversamente, se um evento determina a ocor-
rência de outro, não é sempre que a ocorrência deste último seja causada pelo
primeiro. A chuva molha a terra, mas a terra pode ser molhada por outra ocor-
rência, como uma irrigação.
Nada significa inexistência da matéria. Você mesmo contestou sua conclusão.
Se a lei de conservação só se aplica enquanto o universo existe, logo a criação do
universo por Deus não a viola.
Nada não é apenas inexistência de matéria. Nada é a inexistência de qual-
quer coisa: matéria, campos, radiação, espaço, tempo, ocorrências, leis naturais, o
que for. Certamente que inclui a inexistência dos atributos dessas entidades, co-
mo extensão, posição, forma, duração, massa, energia, carga elétrica, movimento
etc. Inexistência de matéria chama-se vácuo, que pode conter campos e radiação.
Inexistência de qualquer conteúdo substancial chama-se vazio. No vazio ainda se
tem espaço, isto é, capacidade de caber algo. Não havendo nada também não se
tem a possibilidade da caber o que seja, isto é, não tem espaço, nem vazio. Nada
não é uma entidade, portanto não existe, pois tudo o que existe é algo. Nada é só
uma palavra representativa de uma idéia, a idéia da inexistência de qualquer coi-
sa.
Certamente que a criação do Universo por Deus não viola as leis de conser-
vação se entendermos que elas não valem se não houver Universo. Mas se consi-
derarmos que o surgimento do Universo sem ter sido criado e sem ser provenien-
te de coisa alguma não pode ocorrer porque viola as leis de conservação, então
sua criação por um agente extrínseco, sem que nada houvesse antes, também vio-
laria. É isso que eu quis dizer e me expressei mal.
Totalidade do tempo
Pelo contrário, existe uma totalidade de tempo porque existe uma extremidade
cronológica no presente.Ou seja, o tempo é limitado pelo presente e por isso é to-
talmente plausível a referência à totalidade do tempo. É impossível ao tempo ser
infinito no passado, pois então nenhum evento poderia ser alcançado, desde que ha-
veria sempre uma quantidade infinita de eventos anteriores para percorrer. A en-
tropia de um sistema isolado sempre aumenta. Isso significa que em escala univer-
sal existe um sistema cronológico absoluto. Eu diria que tanto a Filosofia quanto a
ciência concluem pelo princípio do Universo.

227
Ernesto von Rückert

O fato do tempo ser limitado pelo presente não implica que ele seja totalizá-
vel, ou seja, que exista um número que o meça em toda a sua extensão. Tanto uma
reta quanto uma semi-reta são infinitas, logo, não possuem um comprimento
mensurável. O tempo também pode ser infinito mesmo sendo limitado em apenas
um de seus extremos. Só será mensurável se for limitado nos dois extremos. Já
mostrei que é possível o tempo ser infinito para o passado, pois isto não significa
que ele iniciou em um momento infinitamente distante, mas sim que nunca inici-
ou.
A segunda lei da Termodinâmica não diz que a entropia sempre aumenta,
mas sim que nunca diminui. Pode ficar constante. Isso significa que o tempo pode
parar de passar se considerarmos o sistema do Universo como um todo (que é
isolado, por definição). Mas o que eu quero dizer com o fato do tempo não ser ab-
soluto é que ele não existe por si mesmo, mas apenas em decorrência das ocor-
rências do Universo, isto é, das mudanças irreversíveis de estado, que aumentam
a entropia. Se o Universo permanecer em equilíbrio o tempo para de passar. E is-
so pode acontecer. Além do mais, o tempo é relativo ao observador. Inclusive a
constatação de simultaneidade entre eventos.
Concluindo
As últimas afirmações do Vinícius sobre a necessidade de causa já foram re-
futadas.
Resumindo, o principal argumento para derrubar a prova cosmológica é o de
que não há necessidade de causa, contrariando sua premissa maior.
Outra premissa falsa é a de que não seria possível que o Universo tenha
sempre existido.
O argumento diz que, como isso não é possível, então o Universo teve que
começar e, como tudo que começa tem que ter causa, não havendo Universo antes
do seu começo, a causa seria Deus.
Mesmo que as duas premissas fossem verdadeiras, nada indica que a causa
fosse Deus.
Aguardo, pois, que Vinícius argumente que razões indicam que causa seja al-
go necessário para a ocorrência de todo e qualquer evento. O ônus da prova, re-
almente, é dele.
Não é a Filosofia que conclui por ter o Universo um início, mas sim a Ciência.
Pela Filosofia o Universo poderia perfeitamente ter sempre existido. As observa-
ções cosmológicas (e, portanto, fenomenológicas) é que permitem inferir que
houve um momento inicial do tempo. Mas nem a Filosofia nem a Ciência permi-
tem concluir que o surgimento do Universo tenha sido por obra de Deus, inde-
pendentemente de se considerar que ele exista ou não. Pode ser que ele exista e

228
PERGUNTE.ME
que tenha criado o Universo. Mas não há prova alguma de que assim tenha sido.
Tal consideração é um puro ato de fé, como já o mostrara Guilherme de Ockham,
que, aliás, tinha essa fé.
Argumento Kalam
O argumento em nenhum lugar presume um início infinitamente deslocado
para o passado. Ele só presume que a totalidade infinita dos eventos até o presente
não pode ter sido percorrida. Mesmo contando a partir de números negativos, con-
clui-se que a totalidade infinita de eventos, desde o passado até o presente, não po-
deria ter sido percorrida.
Claro que presume. Não fora assim não teria significado nenhum considerar
que uma totalidade infinita de eventos não poderia ter ocorrido até hoje. Isso só
tem significado se se considerar um momento inicial dos tempos infinitamente
deslocado para o passado. Se se considerar que o tempo não teve momento inici-
al, sua origem pode ser colocada em qualquer instante e não há impossibilidade
de que o presente exista, pois a extensão do tempo seria uma infinidade sem co-
meço. Não existe um percurso através dos momentos que tenha começado e que
não teve possibilidade de alcançar o presente. Não estou dizendo que isto seja o
que, de fato, ocorreu, mas apenas que pode perfeitamente ser o que se teria dado.
Surgimento incausado
O surgimento não precisa ter causa. Por que não?
Porque algo precisa ter causa? Essa é a questão primordial desta discussão.
Na contestação de uma próxima assertiva do Vinícius mostrarei que não existe
nenhum “Princípio Causal”. Portanto não é preciso que o surgimento do Universo
tenha tido uma causa. Mas pode ser que tenha tido. Neste caso é preciso que se
investigue se teve ou não e se demonstre que sim, caso tenha tido. Isso, absolu-
tamente, não está demonstrado. A pergunta que tem que ser feita é: O surgimento
do Universo teve uma causa? Qual?
A minha abordagem demonstra que o universo é cronologicamente finito.
As observações cosmológicas realmente mostram que o Universo é cronolo-
gicamente finito para o passado. Mas não o argumento Kalam, como já mostrei.
Exato. Porém, é verdade que se o universo estivesse em estado imutável e
atemporal ele jamais voltaria a ser temporal. Ou seja, o tempo existe desde o princí-
pio do universo e só será extinto em um futuro distante.
É perfeitamente possível que o conteúdo do Universo não tenha surgido em
seu início, mas já estivesse presente de forma estática, sem que houvesse passa-
gem de tempo e, por alguma flutuação aleatória, tenha iniciado a expandir-se
dando início ao tempo. No caso de sua morte térmica futura, as condições de en-
tropia máxima e nível de energia mínima não permitiriam novo início da conta-

229
Ernesto von Rückert

gem do tempo. Mas o surgimento de algum novo Universo não é impossível.


Eternidade sempre presente
É cronologicamente infinito, desde que é eterno.
Considerando que Deus tenha criado o Universo e que já existia antes dele,
sendo eterno, está se considerando que o tempo já existia antes que o Universo
existisse, pois ser eterno é existir ao longo de uma extensão infinita do tempo. Is-
to, inclusive, significa que o tempo não teve início, senão, como Deus poderia ser
eterno? É preciso entender que tempo não é uma entidade apriorística (bem co-
mo espaço) como julgava Newton, ao longo da qual os eventos se processam.
Tempo é algo cuja existência advém justamente das alterações do estado global
do Universo, isto é, do que existe. Espaço só existe se houver um conteúdo para
preenchê-lo e tempo se esse conteúdo evolui. Isso significa que se o tempo não
for eterno, não há um tempo infinito e Deus não pode ser eterno, a não ser que
tempo seja algo extrínseco ao Universo, isto é, sobrenatural, o que não é o caso.
Do ponto de vista transcendente da causa todos os atos estão situados em um
eterno presente.
O que poderia significar “eterno presente”? Pelo que depreendo é a situação
em que todos os momentos do passado e do futuro de qualquer observador sejam
levados a um único momento presente para alguém. Isso é o que acontece com
um fóton, para o qual o tempo não passa. Mas o fóton não é eterno. Para observa-
dores externos ele surge em um momento e pode ser aniquilado em outro. Para si
mesmo está sempre no presente. Seria Deus a luz? A questão é: como algo assim
possa ser uma pessoa, ter sensibilidade, inteligência, vontade, poder e ação sobre
o mundo estando sempre no presente? Qualquer ação, envolva ou não causa e
efeito, é uma modificação do estado que implica em uma situação anterior e uma
posterior, e, logo, em decurso de tempo.
Igualmente, como dizer que algo seja eterno se o tempo para ele não passa?
Inviabilidade da transcendência de Deus
Em primeiro lugar, de acordo com a perspectiva transcendente e atemporal de
Deus todos os eventos estão situados em um estado não-diferenciado, ou seja, estão
situados em um estado de eterno presente. Em resumo, a criação está em última
análise inserida em um estado cronológico imutável.
Isso é um completo não-senso. Não pode haver “eterno presente”, pois eter-
no significa existente ao longo de um tempo infinito e, portanto, constituído de
momentos que se movem do futuro para o passado, passando por um presente, a
cada momento diferente, sem limites. Na verdade os momentos futuros ainda não
existem, mas são apenas expectativas que se tornam reais no presente e passam a
ser registros no passado. Isto é, o passado não é uma realidade, mas apenas a

230
PERGUNTE.ME
constatação, por registros, de que houve momentos em que tais ocorrências fo-
ram presente. Mas o importante, para se considerar a linha do tempo, é que o
presente é móvel, isto é, não é sempre o mesmo, pois as ocorrências que se dão, a
cada momento, são outras. Aliás, se assim não fora, não haveria decurso de tem-
po. Portanto, “eterno presente”, no sentido de que em todos os momentos tudo
fica igual, implica em que não se passe tempo nenhum, não havendo, pois, eterni-
dade.
O surgimento e a evolução do Universo absolutamente não podem ser, do
ponto de vista de nenhum observador, um estado cronológico imutável, senão
não aconteceria nada.
Se houver Deus, e se ele for eterno, então ele tem que estar dentro do tempo
e isto significa que ele tem que fazer parte do Universo, que, portanto, seria eter-
no e não criado por nada fora dele. O que, aliás, não existe. O que se poderia admi-
tir é que Deus fosse alguma estrutura de campo total do Universo que tivesse en-
gendrado uma transformação em si mesma, de forma a dar azo ao surgimento das
estruturas atuais que, dessa forma, seriam partes do próprio Deus. Isto é pante-
ísmo e não teísmo. Note-se, contudo, que esse Deus não é transcendente. Não há
provas disso também.
Sem causa primeira
Em segundo lugar, sem uma Causa Primeira as causas secundárias nunca viri-
am a existir desde que, sem uma causa original, a série inteira estaria sem uma cau-
sa. Isso porque as causas secundárias são apenas transmissoras da causalidade,
sendo que somente a Causa Primeira é produtora.
Esse argumento perde a razão de ser se não se requer a necessidade de cau-
sa para os eventos, especialmente de uma causa primeira de todos eles. É claro
que todo encadeamento causal é produzido por uma causa primeira. Após o sur-
gimento do Universo inúmeros eventos deram início a encadeamentos causais
que se estendem até hoje, sem que tenha havido um único que lhes fosse o inicia-
dor geral. Ao longo do tempo, inclusive no presente, novas causas primeiras estão
sempre desencadeando encadeamentos causais cujas interconexões produzem a
evolução cosmológica e produziram tudo o que existe como é, inclusive a vida, a
inteligência e a consciência de que somos possuidores.
Em terceiro lugar, o universo PODERIA ser autoexistente, caso não houvesse
evidência de seu princípio.
Mesmo com evidências de seu princípio, como é o caso, o Universo pode per-
feitamente ser auto-existente, entendendo isso como ter surgido sem ser causado
por nada fora dele. Mas não que ele seja a causa de si mesmo. Simplesmente que
não tenha causa nenhuma. Volto a frisar que esta é toda a questão: causa não é
uma necessidade!

231
Ernesto von Rückert

Reação da criação
A Causa Primeira não precisa de uma causa.
Claro que não! A questão é que não é preciso haver uma única causa primei-
ra de tudo e nem é preciso que existam causas para tudo.
Eu já demonstrei que agir não implica em mudar, pois a perspectiva transcen-
dente de Deus unifica todos os eventos ocorridos no tempo em um estado de eterno
presente.
De jeito nenhum! Agir significa em mudar sim! Agir é proceder a uma altera-
ção, e logo em uma mudança, senão não houve ação nenhuma. Se a ação não foi
espontânea, isto é, incausada, então ela teve um agente, sobre o qual a ação pro-
voca uma reação que será uma mudança no estado do agente. É o caso da criação
do Universo por Deus, logo, ao criar o Universo, Deus mudou, não podendo, pois,
existir em um eterno presente e, logo, não ser transcendente ao Universo.
A questão é que existem muitas razões para se considerar que Deus é algo
que não existe e, portanto, que o Universo não foi criado por entidade nenhuma.
Não só esta prova cosmológica, mas nenhuma das outras consegue provar que
Deus existe (como, aliás, não se tem prova de que não exista). Os indícios de sua
inexistência, contudo, são muito mais fortes do que os de sua existência. Mas isso
seria objeto de outro tópico.
O ser transcendente tem de ser também imanente senão estaria espacialmente
limitado, posto que não seria onipresente. O ser imanente pode também ser trans-
cendente, por estar presente no universo e ao mesmo tempo ultrapassá-lo infinita-
mente.
Ser Deus transcendente e também imanente significa que o Universo é uma
parte dele, mas não a totalidade. Isso muda o conceito do que seja Universo. Se
por Universo se entende o conjunto de tudo o que existe, então Deus, se existir,
faz parte dele. Chamemos então de Universo o conjunto de tudo, exceto Deus. E se
o Universo é uma parte de Deus, então é possível que ele tenha surgido por uma
ação de Deus em um dado momento, que transformou parte de si no Universo.
Mas isso nada mais é do que supor o Universo eterno e que, em algum momento,
parte dele sofreu uma transformação, iniciando a expansão e convertendo-se em
matéria, campos e radiação que são o conteúdo atual. Todavia, isso não tem nada
a ver com necessidade de uma causa para esse surgimento, muito menos de que
Deus seja uma entidade pessoal, nem que seja provedor, juiz, justo e bondoso.
Em suma, dessa forma é plausível se admitir a existência de Deus, mas o
conceito de Deus passa a ser, também, completamente diferente. Deus, pelo con-
ceito que as religiões lhe têm, não fica provado que existe pelo argumento cosmo-
lógico.

232
PERGUNTE.ME
Criador impessoal
Um pensamento eterno e oniabrangente é plenamente viável. Logo é plausível
um criador pessoal.
Se Deus for uma pessoa pensante ele não pode existir fora do tempo. Aliás,
se assim o for não será eterno, como já mostrei. Existir um ser eterno com mente
é possível, desde que o Universo nunca acabe. Esse ser pode até ser um robô, isto
é, não biológico e, portanto, imortal. Robôs com mente e consciência podem vir a
ser construídos. Mesmo uma mente não biológica, estruturada a partir de campos
seria possível. Seria isso um espírito? Mas seria natural e não sobrenatural. So-
brenatural é um conceito que não possui realidade. Tudo é natural, mesmo Deus,
se existir, na concepção que mencionei na postagem anterior. Mas nunca será
uma entidade que viva um presente permanente.
Já demonstrei que os atos temporais da perspectiva da criação são um eterno
presente da perspectiva de Deus.
Não demonstrou não!
Se fosse impessoal não teria liberdade de escolha para mudar de estado. Logo,
sendo uma causa, produziria desde sempre o Universo.
É claro que não sendo pessoa não tem escolhas. Mas isto não implica que se-
ja necessária a produção do Universo. Por quê? O surgimento do Universo, como
já mostrei, foi uma ocorrência fortuita, que poderia não ter havido, exista ou não
Deus, seja ele ou não uma pessoa. Igualmente, se, de fato, teve uma causa, causa
esta inevitável, então há que se considerar que o Universo não é mesmo contin-
gente, isto é, que sua existência é uma necessidade.
Indeterminismo
O indeterminismo é infalseável de qualquer causa concebível, sendo cientifi-
camente falso.
Claro que não! Há muitas experiências que comprovam o indeterminismo da
natureza. Nem é preciso apelar para a Física Quântica. Causas, mesmo quando
ocorrem, não são sempre determinantes. Como disse, gravidez é causada pelo se-
xo, mas sexo nem sempre determina gravidez. Experimentos quânticos, como a
difração de elétrons, mostram que não há como se determinar, pelas condições
iniciais, qual sua posição após atravessar um anteparo. Existem inúmeros expe-
rimentos que confirmam a incausalidade. É um fato extremamente bem estabele-
cido na ciência, perfeitamente falseável, contudo comprovado.
Este raciocínio está incorreto, pois supervaloriza a exceção em detrimento da
regra. Em casos de dúvida, a lei geral tem o benefício da dúvida.
Que regra? De que todo evento seja efeito de uma causa? Esta regra não exis-

233
Ernesto von Rückert

te! Já mostrei isto sobejamente.


Errado, pelo motivo citado acima.
Certo! Pelos motivos já apresentados.
Princípio ontológico???
O Princípio da Causalidade é um princípio ontológico, independente da ques-
tão epistemológica. A base do princípio é auto evidente, a saber, que inexistência
não produz existência.
O que significa ser ontológico? Significa que se refere à categorização da rea-
lidade em sua apreensão pelo intelecto. Conceitos e definições não precisam de
explicação, mas sim de aceitação pela coletividade dos que os usam, uma vez que
delimitam a extensão de sua aplicabilidade. Princípios, contudo, sendo assertivas
a respeito das relações entre aquilo que os conceitos expressam, têm que ser va-
lidados epistemologicamente sim, mesmo que sejam ontológicos. O dito “Princí-
pio da Causalidade” não é auto evidente de forma nenhuma. Ou seja, não é um “ju-
izo analítico”, na acepção de Kant. Nada no conceito de “evento” inclui o fato de
ser uma ocorrência causada, como se dá no conceito de “efeito”. Dizer que todo
evento seja um efeito já é um juizo a ser validado pela lógica ou pela evidência.
Tal proposição ou seria deduzida de um princípio mais geral válido, o que não
existe, ou induzida a partir da observação. Até o advento da Física Quântica não
se tinha notícia de eventos que não fossem efeitos. No nível atômico e subatômico
eles se mostram, o que invalida a indução. Note que uma conclusão induzida não
é necessária, mas sempre provisória. Assim, tal “Princípio”, jamais poderia ser es-
tabelecido, mesmo que não houvesse nenhum contra-exemplo.
Por outro lado, não se disse em momento algum, que uma inexistência tenha
produzido uma existência, ou seja, que o Universo tenha surgido “do nada”. O que
se disse é que ele surgiu sem ter sido proveniente de coisa alguma e sem que este
surgimento fosse causado por algum agente. Isso é diferente. A criação do Univer-
so por Deus é que teria sido a partir de nada, a não ser no caso de que o Universo
seja parte do próprio Deus.
Segunda Lei da Termodinâmica
A segunda lei afirma que em um sistema isolado a entropia sempre aumenta.
Que é isso? Só aumenta nos processos irreversíveis. Consulte estas referên-
cias:
Halliday, Resnick & Wilker. Fundamentos da Física, v. 2, 7ª ed. Rio de Janeiro,
Livros Técnicos e Científicos, 2006. p.249.
Sears, Zemansky, Yooung & Freedman. Física II, 10ª ed. São Paulo, Pearson, 2003.
p.222.
Sears & Salinger. Termodinâmica, Teoria Cinética e Termodinâmica Estatística, 3ª

234
PERGUNTE.ME
ed. Rio de Janeiro, Guanabara Dois, 1979. p. 123.
Zemansky. Heat and Thermodynamics, 5th., ed. Mc. Graw-Hill Kogakusha, Tokyo,
1968. p.234.
NENHUMA das referências que você citou afirma que a entropia de um sistema
isolado pode diminuir.
Eu não disse, em momento algum, que a entropia de um sistema isolado ve-
nha a diminuir com o tempo. O que eu disse é que ela não necessariamente au-
menta, o que é muito diferente. Ela pode ficar constante e isso é o que acontece
quando as transformações são reversíveis. Quando elas forem irreversíveis, a en-
tropia aumenta. Se o sistema não for isolado ela pode até diminuir, que é o que
possibilita a formação de galáxias, estrelas, planetas, bem como o surgimento da
vida a partir da matéria inanimada, de forma espontânea. Essa redução localizada
da entropia, à custa de um aumento maior na vizinhança, é possibilitada pelas in-
terações cumulativas como a gravidade e as forças de Van der Waals ou as pontes
de hidrogênio, mas não pela interação eletromagnética, por exemplo. Quando
uma flutuação aleatória de densidade em uma nuvem de gás no espaço sideral
provoca uma concentração localizada, a gravidade tende a aumentar essa concen-
tração cada vez mais, rarefazendo a vizinhança. Com a aproximação, diminui a
energia potencial gravitacional e aumenta a energia cinética, aumentando a tem-
peratura, até que se iniciem reações nucleares que provoquem uma pressão de
radiação que impeça a continuidade da concentração. Temos aí o surgimento de
uma estrela. O mesmo se dá com as galáxias.
454. O que você pensa das ciências humanas? Crê que elas são mesmo ciên-
cias? Por quê? (Ciência, Epistemologia)
Sim, são ciências, no sentido em que são um corpo sistematizado de conhe-
cimentos, mesmo que nem sempre se possa aplicar a seus conteúdos o critério de
falseabilidade de Popper. Aliás, esse critério é apenas um dos indicadores do ca-
ráter científico do conhecimento. Se houver a possibilidade de sua aplicação e o
resultado der negativo, então o conhecimento não é científico. Tal é o caso da As-
trologia e do Espiritismo, por exemplo. Há casos, contudo, em que o critério nem
consegue ser aplicado, como, por exemplo, em psicologia introspectiva. Isso não
significa que se deva rejeitar o campo de conhecimento como científico. Se o co-
nhecimento tiver sido gerado de uma forma objetiva, livre de opiniões, calcado
em verificações fáticas, mesmo que não possa ser experimentalmente falseado,
pode ser considerado científico, de forma provisória. O inconveniente é a possibi-
lidade da coexistência de teorias paralelas conflitantes, até que se tenha algum
teste diferencial que permita decidir entre elas. Por isso é que o estatuto científi-
co da sociologia, antropologia, psicologia, economia, história, por exemplo, são
inferiores ao da física, astronomia, química, biologia, geologia, por exemplo. Mas
isto não chega a deixá-las à margem do conjunto das ciências.

235
Ernesto von Rückert

455. Você tem algum palpite para o princípio da gênese? (Biologia)


Considero que o surgimento da vida deu-se a partir de aminoácidos produ-
zidos por descargas elétricas em mares primitivos que foram aprisionados por
glóbulos de gordura, criando uma membrana isoladora, dentro da qual puderam
se formar proteínas e elas iniciaram algum metabolismo, mesmo antes de terem
surgido as moléculas replicadoras. Quando estas surgiram foi possível àquele sis-
tema reproduzir-se, e assim começou a vida, da qual todos os seres hoje existen-
tes são descendentes, pois aquelas condições não existem mais, exceto, talvez, nas
fumarolas submarinas. Assim a vida, hoje, só é proveniente de outra vida, haven-
do um fio condutor de vida ligando cada ser a seus gametas e estes ao novo ser
que geram. Mas, originalmente, a vida surgiu da matéria inanimada, nesse pro-
cesso de abiogênese, segundo um modelo do tipo Oparin-Haldane.
456. De onde vem a fé em divindades? Por que e como o ser humano come-
çou a acreditar em divindades? Por que seres divinos e não outra coi-
sa? Isso merece uma explicação, não acha? (Religião)
Sim, mas é simples. A observação das ocorrências da vida cotidiana fez ver
ao homem primitivo que todas as ações eram provocadas por agentes identificá-
veis, pessoas ou animais. Assim, ações das quais não se conseguia identificar o au-
tor passaram a ser atribuídas a entidades invisíveis, os elementais, como duen-
des, gênios, elfos e coisas desse tipo. Ações de grande porte, como tempestades,
raios, erupções vulcânicas, terremotos, avalanches, certamente que deveriam ser
produzidas por entidades muito poderosas, então chamadas de deuses. Eles tam-
bém seriam responsáveis pelas ocorrências da natureza, como a germinação das
plantas, o nascer e o por do Sol, e tudo o que não se via que fosse feito por alguém
imediatamente identificável. Como ocorriam coisas boas e más, os deuses foram
tidos como caprichosos, tendo que ser paparicados para propiciarem coisas boas
e desistirem de fazer as más. Isso é algo intuitivo para uma mente primitiva, não
no sentido de ter menos capacidade do que a nossa, pois o sapiens sapiens já ti-
nha toda a nossa capacidade, mas não o nosso volume de informações, adquiridas
ao longo da história, transmitidas e enriquecidas de geração a geração. Primitivas
no sentido da ignorância científica, como muitas pessoas hoje ainda o são, apesar
de terem o mesmo grau de inteligência de quem seja instruído. Com o passar do
tempo e o início da história, devido à comunicação entre os diversos agrupamen-
tos humanos, foram se cristalizando os mitos ancestrais e, em alguns casos, se di-
recionaram para a concepção de uma divindade principal, que depois passou, en-
tre os judeus e outros povos, a ser considerada única. O interessante é que tais
divindades eram tidas como particulares de cada grupamento. A noção de um
Deus só para todo o mundo é posterior. Não há nada transcendental na concepção
da existência de deuses. Trata-se de uma inferência quase óbvia, para quem não
conheça as causas naturais dos fenômenos.
Quanto à existência da alma, isso também é uma intuição muito fácil de se

236
PERGUNTE.ME
compreender, uma vez que parece que o pensamento se dá numa instância incor-
pórea, diferentemente de uma dor, uma coceira, o frio, o calor. Já os sentimentos
parecem acontecer no coração, que é o órgão que mais responde às emoções e um
sentimento é uma emoção conscientizada. A consciência do "eu" também parece
residir fora do corpo. Somente estudos neurológicos bem recentes é que come-
çam a localizar no cérebro a sede do pensamento, dos sentimentos e da consciên-
cia. Como isso parecia estar fora do corpo, inventou-se a noção de alma, como a
sede da consciência, do pensamento e dos sentimentos. E se ela não era o corpo,
não precisava morrer quando o corpo morria. Daí a considerar sua sobrevivência
fora do corpo, como um "espírito", que seria feito de alguma espécie de "matéria
sutil". Muito fácil, também, supor que esse espírito pudesse voltar a se incorporar
ao corpo de alguma pessoa em gestação e se torna a alma dela. Isso é uma coisa
tão intuitiva, que surgiu de forma análoga em grupamentos humanos diversos.
Possivelmente, as formas mais primitivas desses conceitos vieram com o homem
da África, antes que se dispersassem pela Ásia e Europa e depois pela América e a
Oceania. Todavia, nada há nesses fatos que possa ser considerado como provas da
existência da alma e de Deus. Nos dias atuais, pessoas do meio rural, principal-
mente, acreditam na existência de muitos elementais, o que não prova que exis-
tam. Da mesma forma há culturas elaboradas e sofisticadas, como gregos e roma-
nos e, ainda hoje, indianos, que são politeístas. Isso não garante que os deuses em
que eles crêem existam. Da mesma forma a crença das religiões abrahãmicas em
seu deus único não é prova de que exista.
457. Se a moral é relativa, tudo é permitido? (Ética)
De jeito nenhum! Acontece que a moral é relativa, mas a ética não. São con-
ceitos distintos. Moral é uma disciplina normativa, que prescreve o que pode e
não pode ser feito em função dos costumes de certo estrato social de algum gru-
pamento humano em um dado lugar e momento. Pode, pois, variar, mas não é in-
dividualmente relativizada, mas sim coletivamente. Não há moral pessoal, isto é,
o que é certo e errado na moral o é para a sociedade, independentemente do que
cada pessoa considere. A ética, por sua vez, é uma disciplina filosófica, que busca
as razões que devem nortear a moral. Assim, procura definir o bem e o mal, o cer-
to e o errado, o justo e o injusto, o bom e o mau, de uma forma absoluta, isto é, in-
dependente do lugar, da época, do estrato social, da cultura e, mesmo, da espécie
cuja ação esteja sendo objeto de sua consideração. O caráter ético não se aplica a
seres e sim a ações feitas por seres lúcidos, capazes, conscientes e livres. Dentre
os critérios éticos para considerar uma ação como certa ou boa, pode-se elencar
três principais: que ela promova a maximização da felicidade para o maior núme-
ro de seres, que possa ser erigida como norma universal a ser cumprida e que se-
ja o que se deseja para si mesmo. Assim, matar e roubar não podem ser eticamen-
te permitidos, pois não podem ser erigidos como ações a serem universalmente
prescritas, não promovem a maximização da felicidade para o maior número de
pessoas e não são o que uma pessoa deseje que seja feito a ela mesma. Se todos se

237
Ernesto von Rückert

matarem a humanidade se extinguirá, se todos forem ladrões, que vai produzir


algo para ser roubado? Quem ficaria feliz por ser morto ou roubado ou quem de-
sejaria ser morto ou roubado?
458. Feliz dia dos professores! É incrível ter alguém como você para tirar
nossas dúvidas! Minha pergunta: "para qualificar um ato como sendo
absolutamente errado é necessário pressupor um legislador absoluto"?
(Ética)
Obrigado pelos votos e pelo comentário. Realmente, depois de um ser hu-
mano, a primeira coisa que sou é um professor. Que também estuda, pesquisa, fi-
losofa, escreve, canta, pinta e ama.
Apesar da ética procurar estabelecer as noções de certo e errado de forma
absoluta, isto é, independente das circunstâncias históricas, sociais e geográficas,
isso não é obtido de forma definitiva, como também ocorre com a questão epis-
temológica da procura da verdade. Mesmo assim, sempre se pode considerar que
há um meio de se aferir o caráter ético de uma ação, seja ela aceita ou não pelos
costumes do grupo e estrato social envolvido naquele momento e lugar. Ou seja, o
caráter ético não se prende às prescrições morais, mas estas sim, devem, mas
nem sempre o fazem, seguir as orientações da ética.
Tais considerações não pressupõem nenhum legislador absoluto. São produ-
zidas por reflexões puramente humanas, considerando que a vida em sociedade
deve ser de tal modo estruturada que propicie prosperidade, bem estar e felici-
dade para seus componentes como um todo e não apenas para alguns. Errado é,
pois, um ato que se insurge contra tais metas, que provoque dor, prejuízo, sofri-
mento, tristeza, incômodo de uma forma global, mesmo que seja bom para al-
guém ou um grupo em particular. Um ato que não possa ser erigido em norma a
ser prescrita para todo mundo sem incorrer em graves prejuízos globais. Um ato
que a pessoa não desejaria ser por ele atingida. Isso não tem nada a ver com al-
gum legislador, de nenhuma espécie. Leis e normas não são prescrições éticas,
apesar de também terem que obedecer a critérios éticos, mas sim prescrições
práticas, para a condução da vida social. Algumas podem se referir a punições por
desobediência a normas morais, que, teoricamente, devem seguir a ética. Mas o
legislador não é absoluto.
459. Você aceitaria debater com Willian Lane Craig? Mesmo sabendo que ele
é um dos melhores, ou talvez o melhor no que se refere a debates sobre
a existência de Deus? Mesmo sabendo que nomes como Atkins, Cros-
san, Wolpert, Hitchens e muitos outros se deram mal? (Ateísmo, Pesso-
al)
Tranquilamente. Só que não tenho um domínio do inglês falado tão bom.
Mas estou redigindo um texto de refutação aos argumentos de Craig em seu deba-
te com o Austin Dacey, que publicarei em meu blog. Mas, como estou super atola-

238
PERGUNTE.ME
do de trabalho, isso ainda demora. Nesse fim de semana não vai dar, pois passarei
trabalhando em casa. Talvez no feriadão de finados.
460. Qual a sua definição para "intelectualóide"? (Comportamento, Pessoal)
A própria palavra já diz: uma pessoa que se passa por intelectual sem, de fa-
to, o ser. Considero que intelectual não é apenas uma pessoa que domine vastos
conhecimentos. Um médico, um engenheiro, um empresário podem dominar vas-
tos conhecimentos sem serem intelectuais. O intelectual é aquele que tem conhe-
cimentos mais teóricos e consegue correlacionar o saber de sua área específica
com as demais áreas do conhecimento humano.
O passo seguinte é ser um erudito, isto é, que domina seu campo de saber em
profundidade e abrangência superlativas. Já o filósofo se caracteriza principal-
mente por ser uma pessoa que reflete e questiona. Normalmente ele deve ter co-
nhecimento de Filosofia e História da Filosofia, e, portanto, ser um intelectual,
mas não necessariamente. Alguém pode ser um filósofo sem que seja intelectual e
nem todo intelectual será um filósofo. Uma característica do filósofo é seu amor e
sua busca pelo saber e, mais que o saber, pela sabedoria.
Erudição e sabedoria são, certamente, conceitos bem distintos, como já está
mais que provado. Antes de tudo devemos distinguir inteligência de conhecimen-
to. Conhecimento é acúmulo de informação, certamente correlacionada e sistema-
tizada. Inteligência é habilidade em aplicar o conhecimento na solução de pro-
blemas, práticos ou teóricos. A inteligência é o “hardware” e o conhecimento é o
“software”. A pessoa pode ser inteligente e ignorante ao mesmo tempo. Erudita é
uma pessoa inteligente e de muito conhecimento, sendo, assim, capaz de argu-
mentar, articular o pensamento, persuadir, expor uma idéia, desenvolver um ra-
ciocínio, sempre com grande embasamento. Mas o erudito pode não ser sábio.
Sábio é aquele que usa o conhecimento que tem (que pode ser muito ou pouco) e
a inteligência, de modo proveitoso e adequado, isto é, de modo a acarretar a ma-
ximização da felicidade do maior número de pessoas, de modo a, em tudo, ser jus-
to, equitativo e respeitoso do direito alheio (inclusive dos seres irracionais e ina-
nimados) e, principalmente, agir sempre colocando a bondade como primeira
prioridade. Sim, porque ser bom é mais valioso do que ser justo e honesto, pois o
justo e o honesto podem ser frios e calculistas, mas o bom é sempre justo e hones-
to, e, portanto, sábio. Se o sábio for também erudito então termos a pessoa huma-
na com as melhores qualidades que se pode encontrar, pois ela será também mo-
desta e virtuosa em todos os outros aspectos. É o ideal do filósofo da Grécia antiga
ou do “santo” dos primeiros cristãos. Isso não significa que seja casmurro. Certa-
mente o verdadeiro sábio é alegre e jovial.
Existem dois conceitos de filósofo. Um amplo e um restrito. Segundo o am-
plo, filósofo é todo aquele que se debruça sobre a realidade para refletir, questio-
nando e buscando respostas (mesmo que não as ache). Assim, não se requer ne-

239
Ernesto von Rückert

nhum tipo formal de estudo para ser-se filósofo, na concepção ampla. Na concep-
ção restrita, um filósofo é um profissional, com diploma universitário, mestrado e
doutorado na área, detentor de um amplo e profundo conhecimento de tudo o
que trata a Filosofia e do que disseram os grandes filósofos, aliado à habilidade
de, ele próprio, fazer uso das ferramentas de raciocínio para construir sua visão
da realidade, com a devida competência retórica e pedagógica para expô-la didá-
tica e convincentemente ao público. Considero-me um filósofo no sentido amplo.
Tenho uma história familiar inteiramente intelectual. Meu pai, o pai dele e o
pai do pai dele eram professores, respectivamente de Geografia e História, Lín-
guas Eslavas e Química. Meu pai no Ensino Médio, Meu bisavô e avô, na Universi-
dade, em Viena e eu lecionei Física e Matemática em Universidades e no Ensino
Médio (vejam meu currículo em meu blog: www.ruckert.pro.br/blog). Meu avô,
partidário da libertação da Hungria e da Tchecoslováquia do Império Austríaco,
emigrou para o Brasil em 1906, por intercessão do pai dele, que era professor do
Arquiduque Francisco Ferdinando, para não ser preso. Aqui ele, que não era la-
vrador em uma colônia de imigrantes agrícolas, acabou como professor no Mos-
teiro de São Bento no Rio. Ele falava oito línguas: Alemão, Tcheco, Russo, Inglês,
Francês, Italiano, Espanhol e Português.
Por parte de minha mãe não era diferente, pois o pai dela, Almirante médico,
era primo de Ruy Barbosa, meus tios foram intelectuais, um deles médico do
exército, pesquisador da cura da tuberculose no Sanatório de Itatiaia. Todos meus
tios e primos são professores, advogados, médicos, engenheiros, militares ou fun-
cionários públicos e sempre tiveram bibliotecas. O pai da mãe do meu pai foi adi-
do comercial de Portugal no consulado de Belo Horizonte e tinha uma grande bi-
blioteca. Em minha família não há empresários e nem ruralistas. Assim, posso di-
zer que meu pendor para os livros é, realmente, hereditário. Meu espírito inquiri-
dor, questionador, libertário e anarquista, mesmo que contido em um vaso polido
por um comportamento e um estilo refinado e aristocrático, me foram passados
por meu pai e minha mãe, que os possuíam em grau elevado e que sempre me
descortinaram horizontes amplos de possibilidades de um mundo harmônico,
fraterno, tolerante, livre e igualitário, mas responsável, ético, solidário, educado,
honesto, disciplinado, bem como gentil e alegre. Meus pais foram meus heróis por
tudo o que fizeram. No jardim principal de Barbacena há uma placa em homena-
gem ao trabalho social de minha mãe.
Considero que todo aquele que goza do privilégio de possuir uma facilidade
de entendimento intelectual, ou alguma sensibilidade artística ou qualquer dom
especial que o destaque, sem que tenha feito nada para merecer isso, tem a obri-
gação de colocar seu dom a serviço de todos, para o aumento do bem estar, do
conhecimento, da sabedoria e da felicidade da humanidade. Esse é o significado
de sua vida. Quem tem o dom da música e da palavra, cumpre sua missão de fazer
o mundo melhor por suas ações, independentemente do que isso possa lhe trazer

240
PERGUNTE.ME
de recompensa. Da mesma forma os empresários. Eles têm uma delegação coleti-
va implícita de trabalhar para o bem da coletividade.
O mais interessante é que nenhum mérito pode me ser atribuído por ser eu
quem sou, pois tudo me foi concedido naturalmente, sem que eu tivesse que me
esforçar para obter o conhecimento, a sensibilidade ou a inteligência que atribu-
em a mim. Mesmo o caráter me foi presenteado. Assim, valor algum se pode dar a
tudo que faço, pois o faço por deleite e sem esforço. Esse é um mistério que Calvi-
no explicava em termos dos eleitos. Mas eu admiro quem adquire seus méritos
por esforço.
461. Feliz dia dos professores! Você é absurdamente inteligente e tem uma
habilidade notável de transferir conhecimentos. Queria que todos os
professores fossem como você. (Pessoal)
Obrigado. Fico feliz em ler isso e, principalmente, em reconhecer que meu
trabalho de disseminação de conhecimentos e valores, não só em sala de aula,
mas pela internet, em meus blogs, nas comunidades de que participo e, agora,
neste Formspring, tem tido repercussão e sido motivo de conscientização de mui-
tas pessoas para a necessidade de refletirem livremente sobre tudo o que lhes é
impingido pelo sistema educacional, pela imprensa, pelas tradições familiares e
pelas instituições, como as religiões. E que, assim conscientizados, pugnem pela
construção de um mundo melhor, esclarecido, mais justo, tolerante, harmônico e
fraterno. Quanto ao papel do professor, vejo que ele é, principalmente, não o de
um transmissor de conhecimentos, se bem que isso também faça parte, mas de
um incitador da busca de conhecimentos pelo próprio educando, um incentivador
da curiosidade e do entusiasmo pelo saber, um abridor de horizontes, um desen-
volvedor de habilidades de raciocínio, de pesquisa e de aplicações do saber para a
vida e, mais do que tudo, um formador do senso crítico, do livre pensamento, da
personalidade e do caráter.
462. Qual o melhor livro sobre evolução que você leu? (Evolução)
Para uma abordagem técnica o melhor, em minha opinião, é "Análise Evolu-
tiva", de Freeman& Herron.
Também recomendo "Evolução", de Mark Ridley.
Como divulgação científica, elenco:
"O que é Evolução", de Ernst Mayr.
"A longa marcha dos grilos canibais", de Fernando Reinach,
"Lance de Dados" e "A montanha de moluscos de Leonardo da Vinci", de
Stephen Jay Gould.
"O gene egoísta", "A escalada do monte improvável", "O relojoeiro cego", "O

241
Ernesto von Rückert

maior espetáculo da Terra" e "A grande história da evolução", de Richard Daw-


kins.
"À Beira d'Água" de Carl Zimmer.
Para saber dos argumentos contrários, cito:
"A Caixa Preta de Darwin", de Michael Behe.
Sobre outra abordagem da evolução:
"Evolução em Quatro Dimensões", de Jablonska e Lamb.
Sobre consequências da Teoria da Evolução:
"Darwin e os Grandes Enigmas da Vida", de Stephen Jay Gould.
"O Espectro de Darwin" de Michael Rose.
463. O que é informação para você (o senhor)? (Informática, Pessoal)
Chame-me por "você". Aprendi com meu pai, que aprendeu com o dele e en-
sinei a meus filhos que ninguém é superior nem inferior a ninguém na vida. Assim
não chamo ninguém de senhor e nem gosto de ser chamado assim. Só de você ou
“tu”, como meu pai dizia, pois sua mãe era portuguesa e o pai um anarquista aus-
tríaco, apesar de ser da nobreza, que falava o português de Portugal. Isso não é
desrespeito, pelo contrário, é a máxima consideração, ao colocar o interlocutor no
mesmo nível seu, seja quem for. A mesma consideração e respeito que eu tenho
para com a maior autoridade eu tenho para com o mais humilde serviçal e chamo
todos de “você”, sem nenhuma falta de educação.
Informação, para mim, são dados interpretados num contexto que lhes dê
significância. Por exemplo, os fótons que atingem a retina são dados, que, inter-
pretados pelo cérebro, passam a informação sobre uma imagem que está sendo
vista. A informação só existe quando alguma mente a captura em uma percepção,
que é uma interpretação de sensações fornecidas pelos órgãos sensoriais. Dados
são sinais a serem processados por um interpretador, de acordo com algum algo-
rítmo decodificador que lhes confere uma significância. Por exemplo, as marcas
refletoras e absorvedoras de luz que se dispõem sobre a superfície de um Com-
pact Disk são dados, que só passarão a informação sobre a música ali gravada se
forem lidas por um feixe de raio laser ao longo de uma espiral de passo determi-
nado e com uma velocidade específica, processadas por um modem, que conver-
terá cada grupo específico de sinais (bits) em um valor de intensidade de onda
sonora a cada intervalo definido de tempo, para construir uma sequência modu-
lada de pulsos elétricos que, no circuito eletrônico e no alto-falante, se transfor-
mará na informação da música gravada, isto é, o som.
464. O que seriam para você, matérias desnecessárias nas escolas? (Educa-
ção)

242
PERGUNTE.ME
Não matérias, mas conteúdos das matérias. No ensino básico (fundamental e
médio), aqueles eminentemente técnicos, que só seriam usados por profissionais
da área. Muitos, como associação de resistores, equilíbrio de barras, só para citar
os de minha área, a Física, são colocados porque caem nos vestibulares e caem
porque é fácil se arranjar muitas questões sobre eles. Isso também ocorre em to-
das as matérias. Em seu lugar se poderiam abordar conhecimentos mais funda-
mentais para a compreensão do mundo, como, ainda na Física, momento angular,
hidrodinâmica, lei de Gauss, lei de Ampère, ondas eletromagnéticas, física quânti-
ca, relatividade, cosmologia, ou, na Matemática, derivadas e integrais. Ou, ainda,
mais habilidades úteis para a vida de todo mundo, qualquer que seja sua profis-
são, como horticultura, mecânica, eletrotécnica, eletrônica, hidráulica, edificações,
marcenaria, além das artes plásticas, música, oratória (retórica), dialética, lógica,
educação moral, educação sexual e afetiva, boas maneiras etc. Não se vê história
do oriente, religiões do mundo e outros temas importantes. É preciso se mudar a
concepção do Ensino Básico e tirar dele o caráter de treinamento para resolver
questões e problemas, passando para uma compreensão e uma reflexão sobre o
legado científico, técnico, artístico e cultural da humanidade numa perspectiva
crítica, ao mesmo tempo em que se priorize as aplicações e o desenvolvimento de
habilidades úteis para a vida. Isso precisa acontecer em uma escola de tempo in-
tegral, como pretendiam ser os CIEPS e os CAICS.
465. O que lhe faz pensar que a humanidade durará 50 milhões de anos?
(Evolução)
Um modelamento matemático da extinção das espécies (Newman& Palmer -
Modeling Extintiction) prevê uma média de 10 milhões de anos para a duração de
cada uma, até serem extintas. Mas há uma distribuição com algumas durando
centenas de milhões de anos. A humana, no meu entendimento, por ter um domí-
nio sobre as condições de sobrevivência (medicina) e alta adaptabilidade às vari-
ações ambientais, certamente estará acima da média. Mesmo considerando a hi-
pótese de uma destruição cataclísmica, por meteorito ou guerra mundial, haverá
sobreviventes que recomeçarão a marcha da civilização, que, inclusive, poderá vir
a ser interrompida inúmeras vezes, retornando tudo ao começo. Fatalmente, con-
tudo, haverá um momento em que as novas espécies trans-humanas que surgirão
levarão vantagem competitiva com a nossa, que se extinguirá, como ocorreu com
os Neandertais e outros hominídeos.
466. O que acha da legalização da prostituição? (Sociologia)
Considero que prostituição, quer masculina, quer feminina, seja uma coisa
que não deveria existir numa sociedade em que o sexo fosse algo completamente
livre, sem restrição nenhuma, podendo ser praticado pela juventude com aquies-
cência dos pais e por casais com outros parceiros, com aquiescência recíproca.
Tudo isso de uma forma segura, com envolvimento afetivo e com respeito mútuo,
mas sem nenhuma conotação econômica. Inclusive no matrimônio. Isto é, ne-

243
Ernesto von Rückert

nhum casamento poderia ser realizado como meio de vida para um dos cônjuges.
Trata-se de uma espécie de prostituição velada. Todo adulto capaz tem que pro-
ver-se a si próprio, sem depender de nenhuma união conjugal para tal. Considero,
também, que possa ser inteiramente aceitável as uniões plurívocas, isto é, a poli-
ginia e a poliandria, com todas as implicações legais decorrentes. O mesmo penso
das uniões entre parceiros do mesmo sexo. Quanto aos filhos, naturais ou adota-
dos, sempre se identificará o adulto que será considerado seu pai ou mãe, numa
concepção alargada de família, não necessariamente mononuclear biparental. Is-
so já acontece, mais ou menos, com os casais que se separam e constituem novas
uniões, em relação aos filhos dos diversos casamentos. Só que tal situação passa-
ria a existir não apenas sequencialmente, mas também concomitantemente. Não
se trata de libertinagem nem de devassidão, mas de um fato inteiramente normal,
dentro de um compromisso de fidelidade não exclusivista, com envolvimento
amoroso plural e sem nenhum ciúme.
Isso posto, afirmo que a prostituição poderia, sim, ser uma atividade legal,
com todas as implicações que disso decorrem pela legislação trabalhista, tanto
para homens quanto para mulheres, até que a liberalização total da sociedade fa-
ça com que tal prática se extinga naturalmente. Acontece que, com a hipócrita re-
pressão social do sexo atualmente existente, que admite casos extraconjugais,
desde que não abertamente expostos em público, bem como pela dificuldade de
encontrar parceiros ou parceiras para o sexo, face às implicações extrassexuais
geralmente envolvidas nos relacionamentos consentidos, muitas pessoas se vêm
privadas do sexo, até mesmo por sua falta pessoal de atrativos capazes de provo-
car o desejo no sexo oposto. Neste caso, apenas a prostituição, masculina ou fe-
minina, lhes propiciará a possibilidade de fazer sexo. Tal fato, além de outros, faz
com que, mesmo que não seja legalizada, a prostituição continuará a existir por
um bom tempo. Só que, sem a legalização, os prostitutos e as prostitutas ficam a
descoberto de toda proteção legal, além de serem alvo de chantagem por parte do
aparelhamento policial, por exemplo.
A legalização da prostituição, inclusive, facilitará a extinção da cafetinagem e
do tráfico de escravos e escravas para fins sexuais. Em minha opinião, seria uma
grande vantagem social.
As manifestações religiosas contra isso não devem ser levadas em conside-
ração, pois o Brasil é um país laico e, em grande parte das vezes, as religiões se
colocam exatamente contra medidas que beneficiam a sociedade, em nome de
princípios obsoletos e insustentáveis na conjuntura social e científica atual.
467. O Brasil pode ser um país laico, mas quando a vontade de pelo menos
170 milhões de pessoas (numero de religiosos no Brasil no ano 2000) é
proclamada, chega-se a conclusão de que a maioria crê que o bem mú-
tuo é a não legalização da prostituição. (Sociologia)

244
PERGUNTE.ME
Eu diria que 170 milhões de brasileiros declaram no censo que possuem
uma religião, mas, de fato, uma pequena fração desse número realmente vive in-
tegralmente sua religião. Para mim, ser afiliado a uma religião é ter um compro-
misso de viver segundo seus preceitos, isto é, ser santo, ou, pelo menos, envidar o
maior de seus esforços nesse sentido. Se assim não for a pessoa não é religiosa,
mas apenas finge ser. Muitos cristãos não seguem as prescrições de Jesus, por
exemplo, não dão tudo o que possuem aos pobres para segui-lo. Até sacerdotes
não cumprem seus votos de pobreza e castidade. Serviços religiosos têm que ser
inteiramente gratuitos. Os templos têm que viver de doações voluntárias em bens
e não em dinheiro. Religião não pode mexer com dinheiro. Há cristãos que falam
mentiras, são desonestos e cometem vários pecados. Se isso for algo esporádico e
se a pessoa tiver um contrito arrependimento e se emendar, aceita-se como um
sinal da fraqueza humana. Mas muitos agem assim rotineiramente, sem emendar-
se e nem querer emendar-se. Como podem dizer que possuem religião nos cen-
sos? Estão mentindo. Muitos dos que dizer ser contra a legalização da prostitui-
ção fazem uso dos seus serviços. Então sua moralidade é falsa. Como pretender se
valer de prostitutas, mas não reconhecer que elas são seres humanos merecedo-
res dos mesmos direitos que todos os outros? Parecem que não conhecem a Bí-
blia, por exemplo, o capítulo oito do Evangelho de João. Tenho muito desprezo
por pessoas desse tipo, que jactam uma moralidade que não praticam. Gostaria
que existisse mesmo o inferno para que lá eles padecessem por esse pecado mai-
or do que o das prostitutas.
468. Carpe Diem ou Memento Mori? (Comportamento)
Aproveite o dia e a noite e goze a vida sem pensar que vai morrer. Só precisa
pensar que vai morrer a pessoa que acha que tem uma alma imortal que pode ir
para o céu ou para o inferno em função do que fizer na vida. Não vai para lugar
nenhum. Alma não existe. Com a morte a pessoa acaba inteiramente, para sem-
pre.
Isso, contudo, não significa um niilismo nem um hedonismo desenfreado. A
inexistência de Deus e de alma imortal não exime a pessoa de agir eticamente em
tudo o que faça, isto é, de modo a não causar prejuízo e dor a ninguém. O ideal é a
síntese dialética eudemonista entre o epicurismo e o estoicismo. Curtir a vida pa-
ra ser feliz praticando a virtude e fazendo o bem. Com moderação, os prazeres do
amor, da alimentação, da amizade, das artes, da convivência e todos os que hou-
verem, serão fruídos com maior alegria e satisfação, sem efeitos dolorosos colate-
rais. É preciso pensar na vida e não na morte. Isto inclui cuidar da saúde física e
mental e dar significado à própria vida, vivendo-a de tal forma que, por causa de-
la, o mundo se torne um lugar melhor para todos.
469. Palavras são signos para representar objetos ou objetivos, ou uma
classificação de fatos do ser humano? (Linguística, Lógica)

245
Ernesto von Rückert

As palavras são signos que representam idéias. As idéias, por sua vez, são
imagens mentais, pictóricas, auditivas, cinestésicas, olfativas, gustativas e de to-
das as ordens passiveis de percepção. Imagens de seres, de suas qualidades, de
ações no mundo e de suas modalidades, bem como de abstrações construídas pe-
la própria mente, a partir do que ela apreende do mundo pelos sentidos. Também
imagens de sentimentos, que são conscientizados a partir de emoções vivencia-
das organicamente. As idéias não precisam de palavras para existir. É possível se
articular o pensamento e o raciocínio a partir de imagens puras e isto é o que
acontece na maior parte do tempo. A associação delas a palavras, contudo, dá à
mente um poder de funcionamento extremamente potencializado. Especialmente
na construção de abstrações, como os esquemas modelares representativos da
realidade, que são as teorias científicas e outros modelamentos das estruturas e
da evolução e da dinâmica dos fatos de qualquer ordem, naturais, pessoais, soci-
ais, econômicos ou mesmo puramente abstratos, como os matemáticos. A exis-
tência da linguagem possibilita esse tipo de coisa que seria, de fato, impossível
sem ela. Mas linguagem não é só aquela das línguas faladas e de sua escrita, mas
todos os conjuntos de símbolos, como os matemáticos, musicais, os sinais de
trânsito, munidos de sua gramática (morfologia e sintaxe), capazes de represen-
tar e transmitir as idéias e sua dinâmica de uma forma inteligível, isto é, provida
de um dicionário de associação dos significantes aos significados, que seja aceito
por uma comunidade de usuários daquela linguagem. Muitos consideram que a
lógica seja apenas uma propriedade arbitrária das linguagens, isto é, das proposi-
ções. Considero, contudo, que a lógica já existe nos próprios juízos formulados
pelas idéias, mesmo sem representação simbólica. A Matemática, por exemplo, é
um espelho de uma ordem estrutural imanente na natureza. Por isso é que se po-
de, matematicamente, deduzir consequências de leis Físicas que são, de fato, ob-
servadas na natureza.
Veja o livro “Where Mathematics como From”, de George Lakoff& Rafael
Núñez.
470. Também concordo que a moralidade de muitos que se proclamam cris-
tãos é falsa. Mas a veracidade de uma posição é independente do cará-
ter dos seus crentes. Fora disso é falácia e “ad hominem”. Como bom
cristão que sou e não anarquista, sou contra a legalização da prostitui-
ção. (Sociologia)
Concordo que má conduta de crentes e de sacerdotes não depõe contra o va-
lor de uma doutrina religiosa, se ela condena aquela conduta. E como cristão que
você é, está certo em não admitir a legalização da prostituição, porque a doutrina
cristã considera pecaminoso o sexo fora do matrimônio e mesmo o sexo dentro
do matrimônio se ele não for o sacramento cristão. Certamente você, como eu,
jamais fizemos uso da prostituição. Mas, como não sou cristão, discordo desse as-
pecto de sua doutrina e acho que sexo pode ser feito fora do matrimônio sim,

246
PERGUNTE.ME
mesmo que nunca eu o tenha feito enquanto casado e nem agora em que, não
sendo casado, vivo uma união estável e fiel com minha mulher. O que não admito,
em hipótese nenhuma, é a traição, isto é, fazer sexo fora da união conjugal, sem o
conhecimento e o consentimento do cônjuge. Não havendo união conjugal, o sexo
pode ser feito livremente entre qualquer par, até do mesmo sexo, desde que,
também, com consideração pela outra pessoa, que não seja usada como objeto,
mas num envolvimento que inclua afeto e carinho. Mesmo que seja com um pros-
tituto ou uma prostituta, que não é uma situação que considero desejável, mas
que admito pelos motivos que já explanei.
471. Deixe uma mensagem para os nazistas. (Comportamento, Política)
Larguem disso! Não há razão nenhuma que justifique privilegiar qualquer
grupamento humano em detrimento de outro. Tampouco para supor que uma
pretensa superioridade seja motivo para dominar o mundo. A Filosofia nazista é
fruto de um exacerbado sentimento de soberba, prepotência, orgulho, egoísmo e
mesquinhez, além de desdém pela sorte do outro. É o oposto das virtudes que ca-
racterizam uma pessoa como nobre, valorosa, magnânima, sábia, justa, equânime,
bondosa. É a valorização de comportamentos vis e abjetos. Não tem nada a ver
com o “übermensh” de Nietzsche nem com sua "vontade de potência", concepções
que foram assimiladas erroneamente pelos nazistas alemães.
472. Em relação ao capítulo oito de João, a real intenção de Jesus com a
adúltera foi mostrar que nem o sem pecado a julgaria, mas que ela, pe-
la graça partisse livre para fazer o correto. "Vai e não peques mais".
Pois como bem falou Jesus, "o meu fardo é leve". (Religião)
Sou um grande admirador de Jesus como pessoa humana e procuro seguir
muitos de seus ensinamentos, como doar todos os meus bens aos outros, mesmo
considerando seu grande equívoco em supor-se Deus, se é que ele supunha mes-
mo. Mas discordo de vários pontos. Não considero, como Nietzsche considerava,
que sua proposta seja para a construção de um homem fraco, derrotado e servil.
Pelo contrário, para sustentar as virtudes da honradez, da justiça, da honestidade,
da solidariedade, da compaixão, da temperança, da prudência e todas aquelas que
fazem um ser humano sábio e valoroso, há que se ter muita coragem, destemor,
valentia, bravura para, justamente, contrapor-se aos egoístas, mesquinhos, prepo-
tentes, cruéis, insensíveis, que querem impor sua vontade à revelia do bem estar
geral. O verdadeiro santo é um guerreiro, não para dominar os outros e escravizá-
los, mas para libertá-los do jugo dos senhores da injustiça. O próprio "jihad" mu-
çulmano, em princípio, não é uma guerra contra os infiéis, mas contra o pecado.
Todavia a noção de pecado como atitudes e comportamentos contrários à vonta-
de divina não pode prevalecer, mesmo que haja Deus, pois não se sabe que von-
tade é essa. As ditas "escrituras sagradas" não são absolutamente sagradas, mas
uma coletânea de textos de autores diversos que se diziam portadores da palavra
de Deus, ou, até mesmo, criam nisso, o que não tem o mínimo fundamento. Peca-

247
Ernesto von Rückert

do, para mim, é uma conduta antiética, isto é, que despreza o outro em função da
satisfação própria. Muito do que algumas doutrinas religiosas dizem ser pecado,
absolutamente não o é, como o caso do sexo fora do casamento ou a homossexua-
lidade. Mas o que mais condeno no Cristianismo é a crueldade de Deus em se sen-
tir aplacado em sua ira pelo sacrifício atroz de seu próprio filho. É um completo
disparate. Aliás, acho esquisitíssimo esse negócio de Jesus ser Deus e ter sido cru-
cificado como expiação a Deus Pai, ou seja, a si mesmo, já que o Pai, o Filho e o
Espírito Santo são o mesmo Deus. Mas... como dizem os cristãos, isto é um misté-
rio, aliás dois: o da Santíssima Trindade e o da Redenção. Para mim, Deus, em sua
revelação, deveria ter deixado isto tudo bem explicadinho.
473. Olá professor! Parabéns atrasado pelo seu dia. Você já ouviu falar em
ateus sobrenaturalistas? (Ateísmo)
Obrigado. Nunca ouvi falar de ateus sobrenaturalistas. Se estou entendendo,
são pessoas que acham que não existem deuses mas que exista uma realidade so-
brenatural, isto é, espíritos. Normalmente o ateísmo é associado à descrença na
existência de espíritos também, como é o meu caso. Gostaria de conhecer os ar-
gumentos que essas pessoas possuem para considerar a existência de espíritos.
Tal é o caso dos budistas, penso eu. Mas eles não têm uma comprovação da exis-
tência de espíritos, apenas crêem, como crêem na metempsicose.
474. Como você explicaria o desastre chileno entre 1973 e 1989, quando
tentou-se implantar um sistema totalmente descentralizado e libertá-
rio e que não alcançou as devidas expectativas? (Política, Anarquismo)
O regime de Pinochet pretendia ser libertário e descentralizado, mas, de fato,
era autoritário e centralista. Além do mais, foi um regime imposto pela força. O
verdadeiro regime libertário só existe se surgir de forma espontânea, como um
desejo simultâneo do povo e do empresariado, implantado pela via democrática,
isto é, pela eleição de um parlamento e um governo comprometidos com medidas
descentralizadoras e libertárias e que as aplique de forma gradual, mas firme e
segura, até que se atinjam condições de se prescindir do dinheiro, da propriedade
e do governo. Isso é um processo muito lento, muito lento mesmo, da ordem de
centenas de anos. Principalmente porque só tem sentido se for adotado em todo o
mundo. Não há como se ter um país anarquista. Anarquismo só existe como con-
dição global. O caminho para o anarquismo não é o socialismo nem o comunismo,
mesmo que o anarquismo seja comunitarista. O caminho é o liberalismo extre-
mado, a descentralização total e o capitalismo tão pulverizado que toda pessoa se
torne patrão e não haja mais empregado nenhum. Isso só pode ser gradual e tem
que ser levado adiante paralelamente a um programa educativo que leve, tam-
bém, a que todos os adultos tenham, pelo menos, o nível médio de educação for-
mal, que sejam politicamente conscientes e cultos. Que se invista no aprimora-
mento da inteligência como meta da educação, além da transmissão de conheci-
mentos e da aquisição de habilidades. Sem falar na formação do caráter. Neste

248
PERGUNTE.ME
projeto também é preciso conscientizar o empresariado de que a meta da socie-
dade é comum tanto para o povo quanto para a elite detentora do dinheiro e do
poder. Tal meta é um mundo justo, próspero, harmônico, fraterno e pacífico para
todos e não só para alguns. Todos que eu digo, são todas as pessoas, de todos os
países, de todas as raças, de todas as religiões, ricos e pobres. Todos irmanados,
uns cooperando com os outros e abdicando de parte de sua riqueza para o bem
comum. Construindo uma riqueza coletiva e não individualizada. Certamente, de
forma sustentável, isto é, preservando a qualidade do ambiente. É perfeitamente
possível se construir um mundo só de ricos. Isso mesmo, em que TODOS sejam
ricos, pelo menos num nível de renda mensal de, digamos, cinco mil dólares per
capita, bem uniformemente distribuída, em que a máxima renda não passe do
quíntuplo e a mínima da quinta parte disso.
475. Se aproveitamos a vida por causa da morte, caso fôssemos imortais, vi-
veríamos um tédio sem fim? (Comportamento, Pessoal)
Para mim, não, de jeito nenhum. O que eu gostaria de fazer na vida, nem em
algumas dezenas de milhares de anos eu conseguiria. Queria ler estudar a fundo
todos os livros que já foram escritos, assistir a todos os filmes que já foram roda-
dos, escutar todas as músicas que já foram compostas, ver todas as obras de arte
que já foram produzidas, visitar todos os lugares deste planeta, cada metro qua-
drado e todos os níveis de profundidade dos oceanos, além de todos os planetas e
astros de todas as galáxias. Estudar todos os cursos de todos os assuntos que
existem para ser conhecidos. Conversar com todas as pessoas que existem. Na-
morar todas as mulheres. Escrever milhões de livros e de poemas, compor mi-
lhões de canções, pintar milhões de quadros. Enfim, não consigo vislumbrar o mí-
nimo tédio numa vida eterna. Aliás, quando eu acreditava em Deus e na imortali-
dade da alma, meu sonho era, justamente, poder dispor da eternidade para fazer
tudo isso, além de poder bater papos eternos com o criador para saber tudo a
respeito de cada átomo do Universo e de todos os conjuntos de átomos do Uni-
verso, isto é, de todos os seres.
476. Porque você demora para responder umas perguntas e responde logo a
outras? (Pessoal)
Porque eu não tenho muito tempo e porque umas eu já sei o que dizer e ou-
tras eu tenho que estudar para responder. Outras ainda eu apago por julgar in-
convenientes. Este é um direito meu. Minha intenção é responder a todas, mas o
ritmo em que surgem é mais rápido do que o que eu consigo responder. Todavia
não deixo de responder nenhuma por medo de enfrentar questionamentos, dis-
cordâncias ou por desagradar a uns ou a outros. Tenho minha visão de mundo
bem construída e convicções firmes sobre o que acredito, sem temer nenhuma
represália. Isso não significa que não possa mudar meu pensamento, caso con-
vencido seja por argumentos bem consistentes. Mas não pelo temor de ir para a
cadeia, levar uma surra ou ser morto, por exemplo.

249
Ernesto von Rückert

477. O que aconteceria se uma cratera com aproximadamente 300 m de di-


âmetro fosse aberta no meio do oceano, com profundidade suficiente
para chegar ao manto terrestre? (Geociências)
A espessura da crosta no fundo dos oceanos é bem pequena, da ordem de
5 km a 10 km, enquanto a continental vai de 30 km a 50 km. Uma cratera subma-
rina que fendesse a crosta e expusesse o manto provocaria uma troca de calor,
com aquecimento da água e resfriamento do manto, criando uma película de cros-
ta. Para se ter uma idéia, 300 m de diâmetro seriam 70 mil m² de área. A diferen-
ça de temperatura entre a água e o manto logo abaixo (descontinuidade Moho) é
de apenas 100°C, provocando um fluxo de calor de um milhão de calorias por se-
gundo, mas isso é pouco e causaria um aquecimento de apenas 60°C na água, que
logo se dispersaria pelo oceano. Se essa cratera fosse provocada pela queda de
um meteorito, a dissipação de energia cinética do meteorito provocaria um aque-
cimento muito maior, Digamos que o meteorito tivesse uma tonelada e viesse a
100 km/s. Sua energia cinética seria de 4,5E11 J, ou seja dez trilhões de calorias, o
que daria para ferver um milhão de toneladas de água, equivalente ao volume de
um cubo de 100 m de aresta.
478. O que faz a vida valer a pena? (Comportamento)
Primeiro que não é nenhuma pena. A vida é maravilhosa, mesmo com suas
vicissitudes e percalços. Para alguém que esteja passando por graves problemas
de doença, penúria extrema, aprisionado ou escravizado, a vida pode ser, sim,
uma pena e, em alguns casos, pode não valer, sendo preferível o suicídio, que
acho que é algo que se pode levar em consideração. Mas só em casos extremos.
Normalmente viver é extasiante, embriagador, extremamente precioso e único.
Sentir que se respira, que o coração bate, que se enxerga, se ouve, se sente os
odores, os sabores, os toques, o frio, o calor, a sede, a fome, o desejo. Que se pen-
sa, que se sente, que se ama e é amado. Tudo isso é fantástico e nos dá um senti-
mento de poder, de vigor, de alegria de satisfação, de realização. Sim, pois a razão
e o propósito da vida é a própria vida. Vivê-la intensamente e em plenitude,
fruindo tudo a que se tem direito é o que lhe dá sentido e significado. Mas não me
refiro a um hedonismo desenfreado e egoísta. Sou um estóico-epicurista. Consi-
dero que a felicidade é a maior recompensa, mas não o objetivo e sim uma retri-
buição por se viver virtuosamente, gozando os prazeres com moderação, sem
efeitos colaterais dolorosos e, principalmente, fazendo o bem, que é o que nos dá
mais satisfação e alegria em ver que nossa vida é importante para que o mundo se
torne melhor. Assim a vida tem valor, mesmo sem pena, e gostaríamos que ela se
prolongasse por dezenas de milhares de anos, para que pudéssemos contribuir
mais ainda para a felicidade global que incluirá, em consequência, a nossa pró-
pria.
479. Eu queria dispor de mais linhas para conversarmos sobre o sacrifício
do próprio Deus. Pois creio que na catequese e nas Escolas Bíblicas

250
PERGUNTE.ME
Dominicais, esse assunto tenha sido tratado com um pouco de superfi-
cialidade. Mas hoje, com estudo, consigo entender a morte de Deus na
cruz. (Religião)
Você pode mandar o texto que quiser para meu e-mail: ernesto
von@yahoo.com.br que eu publicarei no meu blog e lá poderemos desenvolver
uma discussão. Ou então, filie-se à minha comunidade Wolf Edler, no Orkut, e crie
um tópico para discutir o que desejar.
480. No nível atômico, ilustramos prótons, nêutrons e elétrons como boli-
nhas. Isto é meramente didático ou as partículas subatômicas têm essa
forma? Elas têm alguma forma definida, de fato? (Física, Quântica)
É meramente didático. A forma das partículas não é definida. Quando livres
de interações com outras, são aproximadamente esféricas, devido às interações
internas, mas não tem uma fronteira rígida. As partículas são quantizações de
campos que têm uma distribuição espacial de densidade, que se atenua exponen-
cialmente de forma assintótica. Quando em interações com outras, a distribuição
espacial da intensidade de seu campo pode tomar variáveis formatos, como se dá
com os elétrons ligados aos átomos que se distribuem espacialmente nos orbitais.
Dizer que são quantizações é dizer que seu campo possui uma individualidade,
caracterizada por certas grandezas que medem atributos que ficam indissoluvel-
mente ligados a ela, como sua carga, massa, spin e outros números quânticos que
a caracterizam, como se fosse uma carteira de identidade. Quando se encontra
uma região do espaço em que esses valores estão presentes, diz-se que ali há a
partícula por eles caracterizada.
481. Vamos supor, por um momento, que fosse possível transferir a consci-
ência humana para uma máquina. A máquina é avançada a ponto de ter
sensores que proporcionem uma imitação do nosso sistema sensorial.
Você gostaria de experimentar isso? (Neurociências)
Sim, é claro. Acho que isso vai acontecer, mas ainda demora. A tendência é o
surgimento de seres mistos, os cyborgs e, depois, andróides completamente arti-
ficiais, mas com mente e consciência, além de autoprovimento de energia, de mo-
do a poderem ser considerados artefatos vivos e, mesmo, pessoas. Só que imor-
tais. As pesquisas do Nicolélis vão nesse sentido, apesar de ainda muito incipien-
tes.
482. Você acredita que algum dia será possível à Ciência desacelerar bastan-
te ou até mesmo suspender o ritmo de envelhecimento do ser humano?
(Biologia, Saúde)
Sim. O envelhecimento e a morte são uma espécie de doença dos organismos
vivos. Essa doença surgiu como uma vantagem adaptativa da evolução, nos euca-
riotas metazoários e nos vegetais e fungos. Bactérias são eternas. O ser humano,

251
Ernesto von Rückert

com o desenvolvimento da Ciência, pode intervir na natureza e mudar o fluxo na-


tural da evolução, impedindo os fatores que levam ao envelhecimento e à morte,
como a deteriorização dos telêmeros.
483. É preciso ter fé para ser ateu? Achar que tudo veio do nada... (Ateísmo)
Claro que não. O ateísmo é justamente a ausência da fé, entendida como uma
crença não apoiada por indício nenhum de sua veracidade. Achar que tudo tenha
surgido sem que tenha sido proveniente de algo já existente, todavia, não é uma
característica do ateísmo. O teísmo também considera que Deus criou o Universo
sem que houvesse algo de onde tirar seu conteúdo. Isso não significa vir do nada,
pois nada não é algo de que se possa provir algo. O panteísmo considera que o
conteúdo do Universo é o próprio Deus e o deísmo, neste aspecto, acompanha o
teísmo, só que não acha que Deus seja providente, apenas criador. A única alter-
nativa para que o Universo não tenha surgido sem provir de coisa alguma é que
sempre tenha existido, o que é uma possibilidade que não contraria nenhum pre-
ceito lógico, ontológico ou fenomenológico. O panteísmo considera assim, mas o
ateísmo não rejeita essa possibilidade. Os dados observacionais, contudo, indicam
que houve um início para a existência do Universo. A diferença entre as concep-
ções ateístas e as demais é que o ateísmo considera que este surgimento (dito,
impropriamente, "do nada", mas, corretamente, “de nada”) tenha sido fortuito,
isto é, incausado, enquanto nas concepções teísta e deísta esse surgimento ("de
nada", insisto) teria sido causado pela interveniência de um agente extrínseco ao
Universo, que é o suposto Deus. Considerar essa possibilidade, sim, é que requer
fé, pois não há indício nenhum de que tal fato tenha se dado. O surgimento incau-
sado é, pois, a hipótese nula, isto é, a que se considera válida, se não se provar o
contrário. Ela não precisa ser provada, pois, não havendo evidência nenhuma da
existência de Deus, isso só pode ser aceito se for comprovado por algum raciocí-
nio baseado em fatos evidentes, o que não se conseguiu fazer até o momento. As-
sim, a ausência de fé implica, necessariamente, na concepção ateísta.
484. O ternário brilha em cada canto do Universo - E a mônada é seu princí-
pio. (Esoterismo)
É o que consta no oráculo de Zarathustra, segundo os princípios pitagóricos,
abraçados pela maçonaria, pela cabala e pela ordem Rosacruz. Eu, todavia, cético
e materialista, não acredito nas prescrições esotéricas. Primeiro, porque acho que
restringir conhecimentos importantes para o bem estar de todo mundo, como
eles crêem que seja, apenas a iniciados é algo até, eu diria, imoral. É preciso que
todo conhecimento seja dado a público. Por isso não tenho simpatias pelo esote-
rismo. Sou a favor do exoterismo, que é característico da Ciência. Segundo, que
esses conhecimentos não passam por um critério de validação rigoroso, isento e
aberto, configurando-se mais em crenças pseudocientíficas do que epistemes,
como ocorre com a astrologia, a numerologia e outras que tais. Terceiro, porque
não vejo como justificar a existência de qualquer tipo de entidade espiritual e di-

252
PERGUNTE.ME
vina. Essa questão do número três é apenas uma questão matemática e geométri-
ca, não tendo nenhuma implicação metafísica, como o pensavam Pitágoras e Ke-
pler, por exemplo. Ciências ocultas não são ciências, mas mitos. Que o número um
seja a base da aritmética e esta a base da álgebra e da análise é um fato matemáti-
co, que, inclusive, possibilita todo o cálculo numérico e as operações dos compu-
tadores. Mas que isso tenha um significado metafísico, não tem não.
485. Muitos cientistas crêem em uma realidade transnatural. A Física Quân-
tica faz a ponte com uma consciência cósmica. É perigoso abrir esses
conhecimentos para as massas. Eles devem permanecer herméticos. O
que acha? (Esoterismo)
O hermetismo é um perigo muito grande porque nunca se sabe se os deten-
tores desse conhecimento são as pessoas que, realmente, possuam o discerni-
mento para bem usá-lo. É preferível que o conhecimento sempre seja dado a pú-
blico e que a sociedade, como um todo, articule mecanismos de controle do seu
uso. Não acho que cientistas, filósofos, políticos, juristas, sacerdotes ou militares
tenham mais competência para saber o que é bom ou ruim para todos do que a
população como um todo. Se as massas podem ser manipuladas, que se esclare-
çam as massas. Nada como a democracia, total e abrangente, em todos os aspec-
tos. Inclusive considero que privacidade não seja algo a que se precise manter.
Não vejo mal nenhum, pelo contrário, vejo um bem, no fato de todo mundo saber
tudo a respeito de todo mundo. De minha parte, sou um livro aberto.
Quanto à relação entre a Física Quântica e a consciência, apesar da opinião
de cientistas renomados, como Schrödinger, Bohm e Penrose e toda a turma da
Gnose de Princeton, considero um grande equívoco de interpretação. Primeiro
que o observador de um sistema físico não precisa ser um ser dotado de consci-
ência, mas qualquer outro sistema que troque informação com o primeiro. O que
ocorre é que, quando dois subsistemas do Universo interagem com uma troca de
informação, isso altera seus estados para um estado que seja auto-estado da ob-
servável que tenha sido passada como um autovalor na informação. Não tem nada
a ver com consciência. Consciência é uma função da complexidade de certas es-
truturas e de sua dinâmica, como o sistema nervoso humano, também passível de
ser encontrada em outros sistemas, mesmo artificiais, que venham a ser produzi-
dos. Mas não é nada imanente ao Universo como um todo. Quanto ao princípio
antrópico, ele é inteiramente insustentável. A sintonia fina das constantes da na-
tureza, que permitem a existência do Universo e da vida, são uma mera coinci-
dência. Se não fossem como são, simplesmente não existiríamos e, talvez, nem o
Universo tal qual é, ou nada, absolutamente. Não há justificativa para supor que
tais valores tenham sido ajustados por alguma inteligência exatamente para per-
mitir que existíssemos. É coincidência, como quase tudo ao longo da evolução
cósmica e biológica.
486. Quais os maiores dilemas do atheos, amigo? Seria pôr deus em plano

253
Ernesto von Rückert

quântico ou metafísico? Será que ele sobrevive lá? (Ateísmo)


Deus é um conceito metafísico. Mas não é uma realidade sobrenatural. Isso
não existe. Nem a Física Quântica tem nada a ver com Metafísica ou Sobrenatural
(que são conceitos distintos). São interpretações equivocadas muito comuns pelo
trabalho de pessoas como Deepak Chopra, Fritjof Capra, Amit Goswami, Rhonda
Byrne e outros que tais. Tudo baboseira!
487. UNIVERSO OSCILANTE. Seria tão mais fácil para a militância ateísta se
uma teoria encantadora como esta fosse comprovada. Espero ver isso
acontecer antes de morrer. Alguns estudos apontam que esse modelo é
impossível. O que acha disso? (Cosmologia)
Essa é uma possibilidade, defendida, inclusive, por meu orientador de mes-
trado, Mário Novello. Todavia não há indícios observacionais que a sustentem,
como também as concepções de Multiversos ou da origem branâmica (do choque
de branas - não confundir com bramânica) do Universo. No momento a única in-
formação que se tem é sobre o momento em que tudo o que existe começou a se
expandir. Sobre como surgiu ou se já existia são conjecturas.
488. Queria agradecer-lhe por manter este espaço pra educar as pessoas.
Você pode me explicar qual foi o retorno do investimento na corrida
espacial para a humanidade? (Sociologia, Economia)
Mostrar que é possível viajar para fora da Terra. Além disso, grande parte do
desenvolvimento tecnológico se deve às pesquisas para a corrida espacial, como
nas telecomunicações, sondagens meteorológicas, astronomia orbital, computa-
ção, ciência de materiais, aeronáutica, medicina, engenharias e muito mais. Abso-
lutamente não foi em vão, mesmo que esteja em ritmo morno, mas o fundamental
já se sabe. Agora é aperfeiçoar, para possibilitar viagens espaciais corriqueiras e
exploração interplanetária. Sem esquecer, é claro, de resolver os problemas da
Terra primeiro. Mas isso pode seguir em paralelo.
489. O que é ser panteísta? (Religião)
Considerar que Deus seja uma entidade imanente ao Universo, isto é, essen-
cialmente unido a ele, ou seja, que todo o Universo seja parte de Deus, ou ele in-
teiro. Assim o Universo teria uma mente, provida de sensibilidade, inteligência,
vontade, memória, personalidade, consciência e todos os demais atributos psíqui-
cos de uma mente, além da faculdade e do poder de agir sobre si mesmo em fun-
ção se seus planos, desejos e vontade. Como somos parte do Universo, também
seríamos parte de Deus e comungaríamos de sua consciência cósmica. Na concep-
ção panteísta, o Universo não foi criado por Deus, pois é ele mesmo e sempre
existiu.
490. E o que é ser pandeísta para você? (Religião)

254
PERGUNTE.ME
O pandeísmo pretende conciliar um Universo que foi criado por um Deus e
começou a existir num dado momento com o fato de Deus ser o próprio Universo.
Assim, pelo pandeísmo, Deus existia como entidade extrínseca ao Universo e o
criou como uma transformação de si mesmo em tudo o que existe. Pelo panteís-
mo o Universo sempre existiu, sempre foi Deus e Deus não é nada além do Uni-
verso. Outro conceito é o de panenteísmo, pelo qual o Universo é e sempre foi
parte de Deus, mas este é mais do que o Universo, ambos tendo existência eterna
para o passado e para o futuro.
491. O ser humano vive para desejar ou tirar a dor para o prazer ocorrer?
(Comportamento)
O ser humano não vive para desejar. O desejo faz parte da vida, mas não é o
seu objetivo. Da mesma forma, evitar a dor é algo que se deve procurar, sem dú-
vida. Mas também não pode ser colocado como o objetivo da vida. Tanto um como
o outro são metas muito pobres para que sejam erigidas como a razão de se viver.
A vida não tem um propósito extrínseco a si mesma. A finalidade da vida é, sim-
plesmente, viver. Contudo, para que nossa mente possa estar aquietada, sentimos
necessidade de dar um significado à vida. E o maior que se possa dar é vivê-la de
forma a transformá-la em motivo de melhoria do mundo para todos os seres. Vi-
ver virtuosamente, para fazer o bem é o melhor modo de se conquistar a felicida-
de e sentir-se realizado em viver. O acúmulo de riquezas e a satisfação egoísta de
todos os prazeres não são capazes de dar à mente a paz e a gratificação de uma
vida dedicada à promoção do bem e à erradicação do mal. Nesse caminho pode-se
e deve-se fruir dos prazeres e evitar a dor, desde que isso não seja feito em de-
trimento da felicidade dos outros, exceto em casos particularíssimos e pontuais.
Como norma geral o egoísmo não leva à felicidade. A busca da felicidade, inclusi-
ve, se for colocada como meta de vida, não será atingida. Atinge-se a felicidade
quando se esquece de procurá-la e vive-se para fazer o bem, mesmo que isto pos-
sa trazer alguma dor.
492. Você concorda com o pensamento religioso de que cobiçar o bem
alheio seja o berço do mal e da ignorância? (Religião)
A fonte de todo o mal é o egoísmo. Inveja, cobiça, preguiça, ira, gula, luxúria,
vaidade, soberba, avareza, orgulho, mentira, desonestidade, crueldade e todo tipo
de males e vícios têm origem no egoísmo. As virtudes, por sua vez, provém do al-
truísmo, que é o amor ao outro e ao mundo. Quanto à ignorância, em si mesma
não é uma maldade, mas pode ser o resultado da preguiça, quando não for da
burrice, que também não é uma maldade, no sentido que não pode ser imputada à
pessoa como a execução de uma deliberação livre.
493. Uma causa e seu respectivo efeito podem ocorrer simultaneamente?
(Metafísica, Física)
Não. O efeito sempre é posterior à sua causa. Isso é que é o "Princípio da

255
Ernesto von Rückert

Causalidade" e não, como se pensa que "Todo evento seja efeito de uma causa".
Inclusive um dos critérios de determinação do sentido do fluxo do tempo é esse
princípio, além do princípio da não diminuição da entropia em sistemas isolados.
Causalidade é uma relação entre eventos e não entre seres, como se pensa. Mas
não é obrigatório que todo evento provenha de outro que lhe cause. Pode ser for-
tuito, isto é, sem causa, como, aliás, o é a maior parte deles, em um nível subatô-
mico de ocorrências. Todavia, macroscopicamente falando, a causalidade parece
presidir a todos os eventos. No caso de interação Física entre sistemas, descritas
pela "Lei da Ação e da Reação", em que a ação seria a causa da reação, ambas ini-
ciam e se encerram ao mesmo tempo, do ponto de vista macroscópico, isto é, na
Física Clássica. De um ponto de vista microscópico, ou seja, quântico, a reação é
posterior à ação, não havendo ação instantânea à distância, mas sim uma trans-
missão por um mensageiro que é o bóson intermediário propagador da interação.
Esse bóson nada mais é do que a quantização do campo oriunda de uma pertur-
bação que o tirou da condição estática. A propagação dessa perturbação é uma
“onda” de campo, cujas quantizações são as partículas transmissoras da intera-
ção. Uma interação de contato, por exemplo, que na Física Clássica é descrita pe-
las forças normal e de atrito, de fato, é uma interação elétrica entre os átomos su-
perficiais dos corpos em contato, mediada pela troca de fótons.
494. A questão abortista deveria ser colocada em plebiscito? (Política, Ética,
Saúde)
Eu prefiro que não, como também no caso do desarmamento. Basta que seja
discutida no âmbito do Congresso Nacional. Os plebiscitos são levados em um
clima passional que prejudica a análise serena e imparcial dos prós e contras.
Mesmo que os congressistas também decidam com base em pressões de várias
origens, é de se esperar que tenham mais esclarecimento e discernimento que a
média do povo.
495. "A fonte de todo o mal é o egoísmo". Mas se não cobiçássemos coisas
alheias, não teríamos economia, compra e venda de capital e, em de-
terminados aspectos, esporte e cultura em todas suas formas. Em su-
ma, a sociedade colapsaria. Logo você é socialista, não? (Ética, Sociolo-
gia, Economia)
O que eu não gosto nos esportes e jogos é, justamente, competição. Prefiro os
que não envolvam isto, como alpinismo. Detesto, especialmente, esportes que
usem bola. Discordo totalmente de que a falta de cobiça seria prejudicial à socie-
dade. Pelo contrário, uma sociedade em que todos sejam generosos e desprendi-
dos seria muito mais satisfatória para todos. Não sou socialista nem comunista,
pois essas concepções supõem a existência do estado e de governos. Sou anar-
quista. Considero que todos teriam que trabalhar de graça uns pelos outros, sem
que existisse dinheiro e nem propriedade. Tudo seria de todos e ninguém seria
dono de nada. Colaboração e não competição é que levará a humanidade a um es-

256
PERGUNTE.ME
tado de segurança, paz, harmonia, tolerância e fraternidade que possibilitarão o
bem estar, a alegria e a felicidade de todas as pessoas. Um mundo sem governos,
sem fronteiras e sem religiões. Tudo comunitário e compartilhado, inclusive as
esposas e os maridos. Economia se teria sim, mas uma economia não monetarista,
de geração e distribuição de bens. Estou falando de uma sociedade ultrassofisti-
cada tanto técnica quanto culturalmente. Essa sociedade ácrata é a tendência es-
pontânea de evolução da humanidade e, sem que se tomem medidas para que se-
ja atingida em menos tempo, percebo que será alcançada em poucos milhares de
anos. Se se envidar esforços positivos para tal, poderemos chegar lá em algumas
centenas de anos apenas. Já discuti, em outras respostas neste Formspring, como
isso poderia ser feito. Em meus blogs também se poderá achar o que penso digi-
tando "anarquismo" na caixa de busca. Se você acha que sou um lunático utopista,
acertou. Mas são os loucos que fazem diferença para mudar o mundo. Os normais
não contribuem com nada, exceto com a manutenção do que está aí e o provimen-
to de sua própria vida, sem significância. Quanto ao capital, é justamente o tipo de
coisa que se deve acabar. Não pelo comunismo nem pelo socialismo, mas por sua
extrema pulverização até que ninguém seja empregado de ninguém e todos sejam
capitalistas. Então o capital se tornará algo desnecessário, em termos monetários.
Só persistirão o trabalho e os recursos naturais, compartilhados por toda a hu-
manidade, sem donos.
496. Por que os presidenciáveis discutem tanto o aborto? A legalização ou
não do aborto cabe aos parlamentares, não é? Até mesmo o veto do
presidente pode ser derrubado pelo Congresso Nacional! (Política)
Isso é só uma questão eleitoral, cada um querendo tirar do outro o voto dos
religiosos, que são contra a legalização da possibilidade do aborto em qualquer
circunstância. Já falei sobre isso em outra resposta neste sítio. Pena que ele não
tenha um mecanismo interno de busca. Mas eu deixo uma cópia de tudo que pos-
to aqui em meu blog wolfedler.blogspot.com, onde há caixa de busca.
497. O que é o nada? (Cosmologia, Física, Metafísica)
Vou transcrever o que originalmente escrevi para o verbete da Wikipedia (o
verbete já foi completado por outros colaboradores):
Fisicamente é preciso distinguir três coisas: o vácuo, o vazio e o nada. O vá-
cuo é um espaço não preenchido por qualquer matéria, nem sólida, nem líquida,
nem gasosa, nem plasma, nem mesmo a matéria escura. Mas pode conter campos:
campo elétrico, campo magnético, campo gravitacional, luz, ondas de rádio, raios
X, ou outros tipos de radiação bem como outros campos e a impropriamente de-
nominada energia escura. Pode também estar sendo atravessado pelas partículas
não materiais mediadoras das interações. O vácuo possui energia e suas flutua-
ções quânticas podem dar origem à produção de pares de partícula e antipartícu-
la.

257
Ernesto von Rückert

O vazio seria um espaço em que não houvesse nem matéria, nem campo nem
radiação. Mas no vazio haveria ainda o espaço, isto é, a capacidade de caber algo,
sem que houvesse. No Universo não existe vazio, pois todo o espaço, mesmo que
não contenha matéria, é preenchido por campo gravitacional, outros campos e
pela radiação que o atravessa, de qualquer espécie.
Não havendo nada não existe nem o espaço, isto é, não há coisa nenhuma
nem um lugar vazio para caber algo. O conceito de nada inclui também a inexis-
tência das leis físicas que alguma coisa existente obedeceria, dentre elas a con-
servação da energia, o aumento da entropia e a própria passagem do tempo. Sen-
do o espaço o conjunto dos lugares, isto é, das possibilidades de localização, sua
inexistência implica na impossibilidade de conter qualquer coisa. Ou seja, não se
pode estar no nada. O nada é, pois, um não-lugar.
Nada não é algo que exista e nem que possa existir, isto é, não é um ente. É
só um conceito, linguisticamente representado pela palavra “nada”. É uma abstra-
ção. Não se pode dizer que tudo surgiu “do nada”, mas que tudo surgiu “de nada”.
498. O que você acha da conceituação de energia de Lupasco? (Física)
Lupasco comete um grande equívoco em sua conceituação de energia. Ener-
gia não tem constituintes. Trata-se de um atributo de sistemas físicos que os pos-
sibilita a agir sobre sua vizinhança. Tal atributo possui uma grandeza associada,
também denominada energia, que não é vetorial e sim escalar, sendo relativa e de
calibre, isto é, seu valor depende do referencial e da escolha arbitrária do zero.
Pode ser cinética, quando atributo dos movimentos, ou potencial, quando atribu-
to das interações. Apresenta-se nas modalidades mecânica, elétrica, térmica, ra-
diante, nuclear e outras, dependendo da estrutura e das interações existentes nos
sistemas considerados. Energia não é uma entidade e não existe por si mesma,
mas apenas como atributo de entidades. Não é um constituinte substancial do
Universo, que são apenas os campos, a matéria e a radiação, constituintes esses
que podem (ou não) possuir energia, mas não "ser" e nem "transformar-se" em
energia. A aniquilação da matéria com a antimatéria não as transforma em ener-
gia, mas sim em radiação, que carreia a energia que estava nas massas de repouso
do sistema aniquilado.
Não há distinção entre matéria física e biológica. Esta também é física, sendo
a vida o resultado da estrutura e do funcionamento de certos sistemas que os
possibilita a ter iniciativa própria em suas alterações, e não apenas a responder a
estímulos do ambiente. O psiquismo, por sua vez, não é independente do biológi-
co, mas também uma ocorrência advinda de certas características estruturais e
dinâmicas de alguns sistemas, como o sistema nervoso humano. A mente é uma
ocorrência. Não é uma entidade distinta e nem um epifenômeno. É só um fenô-
meno. E a consciência é uma ocorrência mental, como a percepção, a memória, o
raciocínio, a emoção, o sentimento e outros. A mente e todos os fatos a ela associ-

258
PERGUNTE.ME
ados não existem sem seu substrato biológico em funcionamento, isto é, vivo. A
morte do organismo acarreta a morte da mente, da consciência e de todas as me-
mórias. A não ser que se desenvolva algum procedimento de transferência de
consciência e memórias entre cérebros, possivelmente, até, artificiais.
499. Por que existe esta evolução que direciona a existência e aonde ela nos
leva? Há um propósito por trás disto? Que propósito é este? Um acaso
apenas que está constituindo toda a teia da existência? (Evolução)
Sim, apenas o acaso. Não há força por traz de nada. Não há nada que dê im-
pulso à vontade de viver, ao gene egoísta que quer se perpetuar. A evolução existe
sem motivo nenhum. Aliás, ela não direciona nada. Evolução não tem meta ne-
nhuma. Não visa o progresso. Evolução é só mudança que se adapta melhor às
condições ambientais internas e externas ao organismo. Existe um desejo huma-
no de encontrar razão e propósito para a vida e o Universo. Eu mesmo gostaria
que existisse. Queria que houvesse Deus, que pudesse punir a maldade, que me
levasse para o céu quando eu morresse, que atendesse minhas preces. Tais dese-
jos não significam, absolutamente, que exista Deus, alma imortal, motivo ou fina-
lidade para o mundo. Se houvesse, isso seria patente, uma evidência direta, mas
não há evidência nenhuma de tais suposições.
500. O materialismo clássico, que assimila o Universo a uma máquina, pede
um relojoeiro! Quem é ele? (Cosmologia)
Sobre essa questão do relojoeiro, há controvérsias. Todo artefato pressupõe
um construtor, mas não os seres naturais. A dinâmica da natureza não segue ne-
nhum plano, não tem nenhum objetivo e não requer nenhum arquiteto nem cons-
trutor. A natureza se faz a si mesma de forma aleatória. A seleção natural, no caso
biológico, se encarrega de preservar quem tiver sucesso adaptativo. A evolução,
tanto cósmica quanto biológica, ocorre de forma inteiramente casual e imprevisí-
vel. Tanto é que o que é produzido não possui nenhum compromisso com perfei-
ção, eficiência e eficácia. A maior parte dos produtos da evolução é destruída. Só
sobrevive o que, por acaso, dá certo. O acaso é o senhor do Universo. O fato de
existirmos é o produto final de uma série extensíssima de coincidências. Por isto
é tão precioso, pois, pelas probabilidades, jamais existiríamos, como tudo o mais.
Mas é preciso entender o que significa probabilidade. Ganhar na Mega-Sena tem
uma probabilidade de um em 46.656.000.000. Isso significa que, se se jogar duas
vezes por semana, a esperança Matemática é de que se ganhe após 449 milhões
de anos. Mas, quase toda semana alguém ganha. Pode-se calcular a probabilidade
de átomos se reunirem ao acaso e formarem aminoácidos, depois de aminoácidos
formarem proteínas, de bases nucléicas formarem nucleotídeos e estes ácidos nu-
cléicos, de proteínas formarem organelas e estas células, de células se organiza-
rem em tecidos, estes em órgãos e estes em organismos. Tudo isto gradativamen-
te em um processo evolutivo. Essa probabilidade será extremamente pequena
(mais imensamente maior do que a probabilidade de todos os meus átomos se

259
Ernesto von Rückert

reunirem, por acaso, em meu corpo, exatamente em sua estrutura). Isso não signi-
fica, em absoluto, que não possa ocorrer. Se estamos aqui, é porque ocorreu.
A crença no poder da Ciência em explicar e controlar o mundo é muito dife-
rente da fé no sobrenatural, pois é embasada em uma imensa quantidade de indí-
cios que a suportam, em face de seu sucesso. Certamente que há muito mais a se
saber do que o que se sabe, mas isso não significa que se deva atribuir a interve-
niências extrínsecas ao Universo ou a alguma consciência cósmica a explicação
para as estruturas e ocorrências do mundo. A Ciência é extremamente jovem. Es-
peremos, pelo menos, algumas dezenas de milhares de anos.
501. Como podemos garantir a neutralidade da pesquisa científica se todas
as editoras de artigos de pesquisa estão na mão das grandes corpora-
ções? (Ciência, Sociologia)
Isso é um fato, mas justamente porque existe é que devemos pugnar pela
democracia e elegermos representantes que se comprometam a criar mecanis-
mos públicos de controle da ação das corporações. Nisso se enquadra o projeto de
anarquismo ateísta que defendo. Até que se chegue lá, a solução está na democra-
cia e na educação, para conscientizar o povo, tirando-o da ignorância, de forma a
que possa votar em candidatos comprometidos com a verdade acima de tudo.
Candidatos que pelejem para derrotar a corrupção e o poder das corporações,
que sobrepuja o dos governos. Isso não é impossível, mas é uma longa, estafante e
tenebrosa luta. Não se pode esmorecer, mas não se pode, também, apelar para re-
gimes totalitários porque, então, se substituirá a tirania das corporações pela ti-
rania dos líderes ideológicos, como aconteceu na Rússia, na China, em Cuba, no
Camboja, na Coréia do Norte e nos outros países comunistas. Ou nas ditaduras de
direita, como o nazismo, o fascismo, o franquismo, o salazarismo, o pinocheísmo,
o regime militar brasileiro, o argentino etc. O mal deles não é ser de direita nem
de esquerda, mas em serem totalitários e tirânicos.
502. Qual a diferença entre ética e moral? (Ética)
Moral é ética são coonceitos correlatos, mas diferentes. E nenhum deles tem
origem nas religiões. Pelo contrário, foram as religiões que se apossaram da mo-
ral (mas não da ética) como parte do ferramental para controle de seu rebanho. A
moral existe em toda sociedade, mesmo as primitivas, e consiste em um corpo de
prescrições comportamentais a serem cumpridas pela pessoa, para que seu con-
vívio com os demais seja aceito dentro do que se tornou costume para aquele
grupamento, naquele tempo e lugar. A moral é, pois, uma disciplina prática nor-
mativa e relativa ao contexto. O que é moral para certa sociedade, em certa época,
pode não ser noutra época ou noutra sociedade. Já a ética é filosófica. A ética dis-
cute a razão das ações humanas e procura achar justificativas para sua aprovação
ou condenação com base nos critérios de certo e errado, bom ou mau, justo ou
injusto, honesto ou desonesto, verdadeiro ou falso, virtuoso ou viciado e outros

260
PERGUNTE.ME
do tipo. Busca, portando, independente dos costumes, definir os critérios para
que algo seja ou não certo, bom, justo, honesto, verdadeiro ou virtuoso. E busca,
também, definir que escolha seria a certa, dentre essas possibilidades. É impor-
tante frisar que a eticidade de uma ação se prende à sua intenção e não à sua exe-
cução e só pode ser imputada se a ação foi realizada de forma livre e desimpedida
de qualquer coação. Três critérios sobressaem dentre os que já foram levantados
para a eticidade: o primeiro refere-se à característica daquela ação promover a
maximização da felicidade para o maior número de seres ou ao contrário; o se-
gundo se liga ao fato da ação poder ou não ser erigida como norma universal a ser
prescrita para todo mundo e o terceiro se a ação seria uma que o autor gostaria
de ser alvo ou não. Outros critérios, de menor valor, se prendem à utilidade e à
lucratividade, por exemplo, que, em minha opinião, deveriam ser rejeitados.
Há certa razão quando se diz que o temor de Deus (isto é, o medo de inferno)
é um fator importante na determinação de uma conduta em observância aos pre-
ceitos morais. Ainda mais que, de um modo geral, a maioria dos preceitos morais
de fundamentação religiosa são éticos. Assim, o ideal de santidade, que é precei-
tuado não só pelo Cristianismo, mas pelo Islamismo, o Hinduísmo, o Budismo e o
Judaísmo (só para citar as mais importantes) se, de fato, fosse seguido por todos
os fiéis, levaria certamente a um mundo mais fraterno, tolerante, solidário e com-
passivo. Parte da escalada de criminalidade, hoje observada no Brasil e no mun-
do, deve-se à perda desse temor do inferno (em outras palavras a um ateísmo na
prática). No entanto, duas questões emergem: As lideranças políticas e econômi-
cas sempre cooptaram os líderes religiosos a incutirem nos fiéis que a consecução
de seus desígnios ambiciosos de poder e riqueza deveria ser tomada como missão
a ser cumprida pelos fiéis em atendimento à vontade do deus do local e do mo-
mento (cruzadas, inquisição, jihad, indulgências etc.). Poucos se insurgiram con-
tra tais práticas (tipo um São Francisco de Assis ou Martinho Lutero), mas a in-
surgência foi momentânea. Depois, seus próprios seguidores acabaram vassalos
da plutotiranocracia. A hierarquia eclesiástica católica sempre explorou os fiéis
para o enriquecimento e poder pessoal. Padres como Jean-Marie Baptiste Vian-
ney, o “Cura d’Ars” são a exceção. E mesmo Lutero, sei lá… A outra questão é sim-
ples: Será ético impingir uma conduta moral com base em uma mentira? (o casti-
go do inferno). Será que não é possível uma educação ateísta ética? Uma educação
em que a virtude e o bem sejam erigidos como valores desejáveis por si mesmos e
não por vantagem nenhuma a ser fruída ou por castigo nenhum a ser evitado? Se-
rá que a sociedade não pode, ela mesma, concluir que a honestidade e a solidarie-
dade são mais valiosas do que o crime e o egoísmo? Não porque seja mais vanta-
joso, mas porque não é possível erigir a prática do mal como norma? Não importa
se a pessoa considere que a existência de Deus seja uma verdade ou uma mentira,
a ética se aplica da mesma forma. O que afirmo é que as noções de bem e de mal,
de certo e de errado, de justo e de injusto, de verdadeiro ou falso, de honesto ou
desonesto, enfim desse tipo de dicotomia que é característico da ética, não são
noções religiosas. Elas existem quer se considere que Deus exista ou não. E a ética
261
Ernesto von Rückert

deve nortear a moral a prescrever os comportamentos adequados de modo intei-


ramente dissociado de qualquer prêmio ou castigo na vida eterna. Isso é que eu
considero importante. Para mim não há virtude em se fazer o bem para se ganhar
o céu ou não precisar se reencarnar mais e nem deixar de fazer o mal para não ir
para o inferno ou para não se reencarnar outra vez. O bem vale por si mesmo. A
recompensa da virtude é a paz da consciência. Esses valores são impregnados na
mente, quem sabe, por algum gene, mas a razão é capaz de mostrar que se o mal
fosse erigido como norma de conduta a ser recomendada e praticada generaliza-
damente, não haveria condição para nenhuma pessoa alcançar paz e felicidade. A
sensibilidade também repudia toda crueldade e todo mal e infelicidade que se
possa causar. E a felicidade é o bem que não é condição para obtenção de nenhum
outro acima dele. Dinheiro, saúde, paz, educação e outros que tais, se desejam pa-
ra poder ser feliz. Mas se se é feliz sem dinheiro, para que serve ele? Qualquer um
que paute sua vida pelo bem estará tranqüilo e nada temerá, nem mesmo a exis-
tência de Deus. Uma conduta hedonista pode e deve ser perseguida, desde que de
modo não egoísta. Eu diria que a virtude está na síntese dialética do epicurismo
com o estoicismo. Creia-se ou não em Deus.
503. O que acha do preconceito religioso? (Comportamento, Sociologia)
Inteiramente descabido e sem nenhuma justificativa. Uma expressão de
mesquinhez e de falta de espírito religioso, inclusive. Sabe-se que, em todas as re-
ligiões, existem fiéis sinceros e piedosos, que buscam a santidade em suas vidas
pela observância dos preceitos de sua religião. Essas pessoas estão plenamente
convencidas da veracidade das proposições de sua fé, considerando-as um balu-
arte inatacável de sua cosmovisão. Trata-se de pessoas honradas, podendo ser
cultas e inteligentes ou não. Ora, tais pessoas, nas diversas religiões, concebem
realidades inteiramente diferentes para as entidades espirituais em que acredi-
tam e para a relação que elas têm com o mundo e com as pessoas. Se a fé fosse um
critério válido de verdade, teríamos a existência simultânea de verdades confli-
tantes, o que é impossível. Então algumas delas têm que estar erradas, possivel-
mente, até mesmo, todas. A decisão a respeito só poderia vir de considerações ex-
teriores a todas as crenças religiosas. Mas não há nenhuma evidência e nenhuma
comprovação que seja capaz de eleger esta ou aquela doutrina religiosa como a
verdadeira, com exclusão das demais. Logo, mesmo que a pessoa mantenha sua
fé, é preciso que todos entendam que ela não é garantia de que tudo aquilo em
que se acredita seja verdade. Portanto, pode ser que a sua religião não seja a ver-
dadeira e sim outra, ou nenhuma. Os líderes religiosos, que possuem um maior
esclarecimento e, certamente, estudaram o questão das religiões de modo amplo
e profundo, precisam mostrar a seus fiéis que não há motivo para intolerância
com relação a nenhuma outra religião, a não ser que ela tenha práticas condená-
veis, como sacrifício de criancinhas, por exemplo. O verdadeiro espírito religioso,
qualquer que seja a religião, é um espírito de conciliação e tolerância. De amor ao
próximo, de generosidade, de compaixão. Nunca de belicosidade, nem mesmo de

262
PERGUNTE.ME
desdém. Respeitar as crenças e opiniões distintas das nossas é a atitude correta
de qualquer pessoa que pense em viver em sociedade de forma harmônica e pací-
fica.
O que acontece é que a intolerância religiosa, geralmente, está vinculada a
questões raciais, territoriais, econômicas e culturais, Assim, a pretexto de defen-
der a fé verdadeira contra os infiéis, os lideres religiosos incitam ao fanatismo,
pois é um modo eficaz de se obter fidelidade e dedicação total ao esforço de guer-
ra contra grupamentos diferentes com fitos de dominação política, cultural e eco-
nômica. Nada mais deprimente e desabonador da condição humana.
504. Há algum mal em ser excêntrico? (Comportamento)
Absolutamente nenhum! Desde que a excentricidade não cause malefício a
ninguém, cada um pode ter o estilo de ser que desejar. É preciso que todos te-
nham uma compreensão disso e tolerem comportamentos destoantes da norma-
lidade como um direito. Alguns comportamentos ainda podem ser objeto de res-
trição, mesmo que não prejudiquem a ninguém, como andar nu ou defecar, urinar
e fazer sexo em público. No entanto, comer em público não é condenável. Falta de
respeito, intolerância e preconceito não são excentricidades permissíveis para
uma convivência social tranquila. Ser chato também não. Fora isso, cada um pode
ser do jeito que quiser.
505. Sendo o homem uma criação divina, seria esta criação algo perfeito? O
que é o ser humano? O que é o ser humano em relação a outros eventos
da natureza? Sendo ele racional em sua natureza, isto resulta na condi-
ção de interferir em outras naturezas? (Biologia)
O homem não é uma criação divina simplesmente porque Deus não existe.
Nem o homem nem nenhum outro ser do Universo são perfeitos, como também o
Universo inteiro. O ser humano é um animal como outros, com duas particulari-
dades. A primeira é que nós somos humanos, por isso, essa espécie é, para nós, a
mais importante. A segunda é que a espécie humana, no momento e aqui na Ter-
ra, destaca-se por sua excepcional inteligência e nível de consciência em relação
às demais. Outras já houve com nível semelhante, mas extinguiram-se. Novas po-
derão surgir e mesmo haver em outros planetas, mas não se sabe. O caráter raci-
onal, isto é, possuir a capacidade de raciocinar, não é exclusivo da espécie huma-
na, mas ela o possui em grau extremamente diferenciado das demais. Como todo
organismo vivo, interferimos na natureza como partícipes dela. Nossa racionali-
dade faz com que esta interferência possa ser muito mais abrangente e profunda
do que a de outras espécies. No entanto, não podemos nos esquecer que a pre-
sença de oxigênio na atmosfera, sem o que não existiríamos, foi obra das cia-
nobactérias e suas precursoras há uns 2,5 bilhões de anos atrás e isso pode ser
considerado a maior interferência de qualquer ser vivo no ambiente. Um comen-
tário: a natureza é única neste planeta. Não existem "outras naturezas", nessa

263
Ernesto von Rückert

acepção semântica da palavra, aqui na Terra. Em outros planetas pode-se falar de


outra natureza ou quando a palavra é usada com o sentido de modo de ser ou
conjunto de características de algo.
506. A Ciência e a moral são contraditórias? (Ética, Ciência)
De jeito nenhum. Tratam de categorias distintas de saberes. A Ciência é uma
disciplina cognitiva, isto é, ocupa-se de conhecimentos, enquanto a moral é uma
disciplina axiológica, ou seja, ocupa-se de valores, mais especificamente da pres-
crição de normas de conduta para as ações humanas. Nesse sentido não podem
ser contraditórias, pois seus objetos estão em categorias incomparáveis. Um co-
nhecimento não é passível de valorização moral, mas apenas suas aplicações. Da
mesma forma os preceitos morais não são passíveis de apreciação científica e sim
ética, que é uma disciplina filosófica e Filosofia não é Ciência, mesmo que possa se
valer de métodos científicos de validação de suas assertivas.
507. Que homem de bom-senso pode considerar o acaso um ser inteligente?
(Cosmologia, Metafísica)
O acaso não é um ser, mas um tipo de processo, isto é de forma de realização
de ocorrências, fenômenos ou eventos. Diz-se que um evento é fortuito ou aleató-
rio (ao acaso) se sua ocorrência não se dá por determinação (causação) de ne-
nhum outro evento. Isto é, de forma espontânea e imprevisível, portanto não pla-
nejada. Há duas categorias de eventos aleatórios. A primeira é a dos eventos bási-
cos experimentados pelas entidades fundamentais da natureza, que são as partí-
culas elementares, como os decaimentos, interações, absorções ou emissões. O
indeterminismo e a aleatoriedade são intrínsecos a tais fenômenos. Nos conglo-
merados de muitas partículas, que formam os blocos de matéria, o efeito cumula-
tivo leva a uma concentração da distribuição de probabilidades (tipo uma função
delta de Dirac) que leva ao determinismo observado nos eventos macroscópicos.
No entanto, estes também, quando dependentes de uma multiplicidade grande de
fatores incontroláveis, tornam-se aleatórios, como o lançamento de dados, que é
um segundo tipo de aleatoriedade. Os eventos aleatórios e os eventos incausados
não são produtos da interveniência de nenhum agente inteligente. Note que a au-
sência de causa determinante não exclui a necessidade da existência de condições
que possibilitem a ocorrência do evento, mas não o determinam, que é o que se
chama de causa. Além disso, o que estou considerando como evento é a ocorrên-
cia, por exemplo, de um particular resultado do lance de dados e não do lance de
dados, que, certamente, vai requerer um agente causal. Mas o resultado é casual.
No caso da aleatoriedade intrínseca, a própria ocorrência, e não apenas o seu re-
sultado, é casual, e não, causal.
Sobre a aleatoriedade do surgimento do Universo, pode-se considerar que
tal fato foi uma ocorrência do tipo básico, experimentado pelas partículas ele-
mentares, uma vez que o conteúdo que começou a expandir-se no Big Bang pode

264
PERGUNTE.ME
ser considerado uma única partícula com massa correspondente ao conteúdo to-
tal de massa e energia existente no Universo. Naquele momento a cosmologia e a
Física de partículas (teoria quântica de campos) teriam que ser um modelo único
do comportamento da natureza, ainda não desenvolvido. Certamente que não foi
algo feito por nenhum agente inteligente.
508. Quem é, afinal, Wof Edler? (Pessoal)
Meu nome é Ernesto von Rückert. Nasci no Rio de Janeiro em 1949 e me cri-
ei em Barbacena, Minas. Radiquei-me em Viçosa, Minas, em 1976. Sou matemáti-
co (UNIPAC/UFV), físico e cosmologista (CBPF). Professor universitário aposen-
tado (Física Geral, Métodos Matemáticos, Mecânica Clássica, Eletromagnetismo,
Ótica, Física Quântica, Física Estatística, Relatividade Geral). Ex-Professor da
EAFB, EPCAR, UNIPAC, UFSJ, UFJF e UFV (Barbacena, São João del Rei, Juiz de Fo-
ra e Viçosa). Fundador do Curso de Física, ex-chefe do Departamento de Física,
ex-coordenador do Curso de Física, ex-pró-reitor de Graduação, ex-assessor e ex-
chefe de gabinete do reitor da Universidade Federal de Viçosa, (UFV). Atual Vice-
diretor do Colégio Anglo de Viçosa. Ensaísta, poeta, pintor, compositor, cantor,
programador. Membro da Academia de Letras de Viçosa e da Orquestra de Câma-
ra de Viçosa. Casado (Fátima - 2ª vez), com filhos: Érika-1978, Dimitri-1981 e en-
teados: Adla-1980, Amanda-1982, Márcio-1984, Mayra-1986. Livre pensador, cé-
tico, racionalista, humanista, estóico, epicurista, anarquista, ateísta. Atividades:
amar, conversar, ler, internetar, cantar, estudar, ensinar, pesquisar, filosofar, es-
crever, poetar, pintar, compor, programar. Além do meu trabalho no Anglo, em
que me ocupo com as questões táticas e informacionais do processo pedagógico,
o que me consome umas 60 horas semanais, produzo e apresento um programa
de duas horas por semana de música clássica, leio e estudo a média de um livro
por semana, pinto uns quatro ou cinco quadros por ano, estou redigindo três li-
vros, escrevo em meus blogs, participo de comunidades de discussão na internet
e respondo estas questões aqui no Formspring. O tempo que acho para isto eu ob-
tenho dormindo pouco, não vendo televisão, nem conversando fiado.
509. Qual é o segredo do sucesso no aprendizado? (Educação)
Curiosidade. Querer saber tudo a respeito de tudo. E isso tem que acontecer
desde a tenra infância. Não se contentar apenas com o que o professor ensina. Ir
além, tanto em profundidade, quanto em abrangência e detalhamento. Ler muitos
livros sobre todos os assuntos. Não se preocupar com as notas, mas em saber, sa-
ber muita coisa. E querer saber pelo prazer de saber e não por obrigação. Aquele
que se esforça por estudar a contragosto não vai ter sucesso. Isso tem que ser cul-
tivado pelo estímulo dos cuidadores antes de se entrar para a escola, desde que se
nasce. Desafios para desenvolver a inteligência, pois a inteligência vale muito
mais do que o esforço para estudar. Mas inteligência se adquire, a qualquer mo-
mento da vida. Basta querer e se dispor a conquistá-la. E como fazer dieta para
emagrecer, ou treinar para ser atleta. Uma luta constante e custosa, mas compen-

265
Ernesto von Rückert

sadora.
510. Por que seu pseudônimo é Wolf Edler? (Pessoal)
Esse pseudônimo, que significa algo como "Lorde Lobo", eu fiz em homena-
gem a meu avô Wolfgang Anton Ferdinand Ernest Ginzel Edler von Rückert que
veio da Áustria para o Brasil em 1906, como imigrante, para não ser preso e pos-
sivelmente condenado à morte, como anarquista que era e envolvido com grupos
de defensores da libertação da Hungria e da Tchecoslováquia do Império Austría-
co. Ele havia nascido em Praga, que, à época, pertencia à Áustria. Mas sua família
era de Viena. Como o pai dele era da nobreza, conseguiu que ele saísse como emi-
grante, tendo vindo para uma colônia em Sete Lagoas, Minas. Ele não sabia nada
de agricultura, pois era professor de Russo e Tcheco na Academia Teresiana, em
Viena. Além do Alemão, sua língua natal, ele falava Inglês, Francês, Italiano, Espa-
nhol e Português (de Portugal). No Brasil ele conheceu minha avó, que era filha
do adido comercial do Consulado Português em Belo Horizonte e se casaram. De-
pois ele foi professor de Inglês no Mosteiro de São Bento, no Rio de Janeiro, onde
também era Guarda Livros (contador). O pai dele era professor de Química na
Universidade de Viena, onde chegou a lecionar para o Arquiduque Franz Ferdi-
nand. Meu pai era professor de História e Geografia, além de ser contador tam-
bém. Minha família é toda de professores, militares, médicos, engenheiros, advo-
gados e funcionários públicos, tanto por parte de meu pai, quanto de minha mãe,
cujo pai era Almirante Médico da Marinha de Guerra do Brasil e primo de Ruy
Barbosa. Ninguém é nem foi empresário ou fazendeiro.
511. Como tirar notas altas no ENEM, quais são as matérias mais comenta-
das, o que eu devo estudar idealmente para o ENEM 2010? (Educação)
Este é o problema. O ENEM é um exame cujo desempenho depende essenci-
almente do desempenho da história da vida acadêmica da pessoa. Isto é, quem, ao
longo da vida escolar, sempre foi uma pessoa de bom desempenho e que apren-
deu muita coisa, não para tirar notas nas provas, mas para saber de fato, essa
pessoa tem ótimas chances de obter um bom escore no ENEM. Porque o caráter
interdisciplinar e focado mais em raciocínio do que em conhecimentos memori-
zados, privilegia quem aprimorou sua inteligência e não apenas colecionou in-
formações. Faltando apenas duas semanas para o ENEM eu digo que não há nada
mais que possa ser feito. Sugiro que você compre, nas bancas de jornal, as revis-
tas sobre o ENEM do "Guia do Estudante", da Editora Abril (tem sobre vários as-
suntos, até um simulado) e faça as questões para se auto-avaliar. Nas que você
errar, pesquise as respostas na internet, mas, em geral, a resposta não é uma in-
formação, mas o resultado de um raciocínio. Então, reúna amigos e discuta com
eles, ou peça o auxílio de professores.
512. Em que situações é moralmente válido matar? (Ética)
Moralmente é considerado válido matar em variadas situações, conforme a

266
PERGUNTE.ME
moral de cada época, lugar e estrato social. Eticamente, contudo, só é válido ma-
tar em legítima defesa, pessoal ou coletiva, ou seja, nas guerras, desde que na
condição de defender a nação e não de atacar. Note-se que a validade ética ou não
de se matar não necessariamente coincide com a validade jurídica do mesmo ato.
Pena de morte é algo eticamente inadmissível, mas pode o ser juridicamente. Vin-
gança, latrocínio, bem como guerra de conquista, também não podem ser admiti-
dos eticamente. Estou falando em assassinato intencional e não de uma morte
acidentalmente provocada. Se a intenção do assassinato for a própria morte, ele é
chamado de homicídio. Legítima defesa da honra é algo que não existe. A legítima
defesa só se aplica quando é uma defesa da vida, mesmo que de outrem. Todavia
o assassinato preventivo, para evitar de ser assassinado por alguém, não se cons-
titui em legítima defesa, não sendo eticamente admissível, nem juridicamente.
Não se pode imputar o caráter ético de erro a quem cometa um assassinado sob
coação forte, isto é, ameaçado de morte imediata se não o fizer. Todavia, o com-
portamento “heróico” consiste em morrer para não matar, nesses casos.
513. A verdade, o limite e a perfeição, seriam inalcançáveis? (Filosofia)
Teoricamente seria possível existir algo perfeito ou uma proposição que
coincidisse exatamente com a realidade objetiva do que afirma. Todavia, na práti-
ca, é muito difícil obter-se tais situações e, mais ainda, saber-se que isto seja o que
ocorre. Como saber se algo é perfeito se nunca se pode conhecer todas as situa-
ções em que aquilo pudesse ser colocado à prova? E como saber se uma proposi-
ção a respeito do que for exprime a verdade se não se consegue ter acesso com-
pleto a todas as informações a respeito?
Assim, podemos dizer que a perfeição e a verdade são metas a serem perse-
guidas e atingidas assintoticamente, sem nunca se poder saber se já se a tenham
alcançado.
514. Qual a relação e a diferença entre a epistemologia e a metafísica? (Epis-
temologia, Metafísica, Filosofia)
Epistemologia é a disciplina que estuda a validade do conhecimento e Meta-
física a que categoriza e estuda as relações entre os elementos de todo tipo de re-
alidade. Assim existe uma epistemologia da Metafísica e uma metafísica da Epis-
temologia. A primeira critica se certo conhecimento metafísico é válido ou não e a
segunda a que categoria de realidade pertence o conhecimento e que relação ele
tem com as demais categorias. Por categoria da realidade entende-se o tipo a que
se reportam seus elementos, isto é, se são entes puramente abstratos ou concei-
tuais, inexistindo fora de uma mente que os conceba, se existem objetivamente no
mundo, fora de qualquer mente, se são apenas significantes, se são seres objeti-
vamente existentes ou meras entidades conceituais, se são entes, valores, ações,
fazeres, eventos, estruturas estáticas ou dinâmicas, normas, sensações ou senti-
mentos e assim por diante. A Ontologia é a parte da Metafísica que conceitua to-

267
Ernesto von Rückert

das essas categorias enquanto a Metafísica, propriamente dita, pesquisa que rela-
ção os elementos conceituados pela Ontologia guardam entre si no mundo ou
dentro da mente. Já a Epistemologia busca saber como obter um conhecimento,
como construir modelos mentais descritivos da realidade, como classificar os di-
ferentes tipos de conhecimento: vulgar, científico, filosófico etc. Como classificar
as Ciências. Estabelecer critérios que possam validar o conhecimento e esse tipo
de assunto.
515. O que você pensa a respeito da lógica espírita relacionada à reencarna-
ção? (Esoterismo)
Não é lógica. É uma opinião de Allan Kardec, fundamentada em crenças me-
tempsicóticas da Índia e em suas próprias reflexões. Pelo que sei, não há evidên-
cia nenhuma da veracidade dessa suposição, nem tampouco da existência de es-
píritos, mesmo que não se reencarnem. Ele considera que esta é uma explicação
lógica para a existência do mal, como uma provação para a purificação dos espíri-
tos. Isso não é lógico, de modo nenhum. É uma hipótese que pode dar conta da
explicação, mas não há nenhuma indicação que, de fato, seja isto. Há outras expli-
cações para tudo o que o Espiritismo afirma, puramente naturais, sem supor a
existência de espíritos e de deuses, além das que o Cristianismo, o Islamismo e o
Judaísmo fornecem, considerando a existência de espíritos e um Deus, mas sem
considerar a reencarnação. A decisão por qual delas seja a verdadeira, em termos
fáticos e objetivos, não se tem, até o momento. Fica por conta da suposição de
quem crê ou não. De minha parte, não vejo indício nenhum de que existam espíri-
tos, quanto mais de que se reencarnem. Assim prefiro adotar o ateísmo cético,
que considera, sem ter certeza, que não existem nem espíritos nem deuses.
516. O orgulho gera a incredulidade? (Ateísmo)
Não, absolutamente. A incredulidade provém do espírito inquiridor e cético.
Do livre pensamento, que não se alinha com nenhuma proposta dogmática. Não
tem nada a ver com orgulho, mesmo que alguns incréus possam ser orgulhosos.
Eu, por exemplo, gostaria muito que houvesse um Deus e que eu tivesse uma alma
imortal e, até, torço para que alguém possa me convencer que isso existe, de for-
ma cabal e insofismável. Mas não vejo como aceitar tal idéia, em face de tudo o
que conheço a respeito do assunto e do tanto que já refleti sobre isso. Infelizmen-
te é a verdade. Estou, todavia, inteiramente aberto a mudar de pensamento, logo
que convencido e, inclusive, me abro a qualquer pessoa que pretenda fazê-lo. Até
hoje, depois que me tornei ateu, ninguém conseguiu, especialmente o Willian La-
ne Craig, que só diz sofismas e falácias. O orgulho pode gerar incredulidade sim,
como também credulidade, mas elas não são sinceras e fundamentais, como o são
para a pessoa que as possui por convicção interior profunda. No caso de serem
geradas pelo orgulho, são apenas uma aparência exterior, de um interior que, de
fato, só pensa em sua projeção pessoal a fim de auferir egoísticas vantagens. O or-
gulho e a vaidade são a prole dileta do egoísmo. O verdadeiro crente e o verdadei-

268
PERGUNTE.ME
ro descrente são assertivos em suas concepções, não se jactam delas, mas as
afirmam com serenidade e firmeza, estando, contudo, sempre dispostos a revê-
las, pois sabem que o valor supremo é a verdade e não as vantagens.
517. O que você pensa do satanismo moderno (de LaVey) e dos cultos de
adoração a entidades de trevas? (Esoterismo)
Completos despropósitos, além de ridículas práticas litúrgicas. Crer em de-
mônios, anjos ou quaisquer elementais é uma ilusão tão grande ou maior do que
crer em Deus e em almas. Agravado pelo fato de que, pelo menos, a crença em
Deus é acompanhada de propósitos elevados de comportamentos benéficos e
bondosos, enquanto os satanistas e similares buscam favores egoísticos em troca
de uma servidão humilhante. Entidades das trevas não existem e quem as adora,
de fato, está obliterado por grave distúrbio psíquico.
518. O que pensa dos cultos de feitiçaria e da feitiçaria em si? (Esoterismo)
O mesmo que penso do satanismo, já respondido. Baboseira pura e simples,
pois não existe mágica e os feiticeiros se propõem a produzir fenômenos à revelia
das leis da natureza, em seu benefício ou de quem os requer. Isso é tão inócuo
quanto as orações ou promessas dos religiosos.
519. Dizem que os seres humanos não chegam a usar 10% do cérebro. Como
sabemos se usamos ou não que porcentagem do cérebro? É possível
usar 100% ou isto é apenas um mito? (Neurociências)
Isso é pura boataria. Usamos o nosso cérebro todo. Não existem endereços
de memória vazios no cérebro. Cada nova memória cria as conexões neuronais
necessárias para se fixar. E isso tem uma limitação, apesar de dificilmente alguém
chegar a atingi-la em vida. O cérebro, contudo, faz uma limpeza periódica de me-
mórias menos significativas, abrindo espaço para a formação de novas. Isso vale
para memórias episódicas, conceituais, semânticas, sensoriais, emocionais e me-
mórias operacionais, isto é, para habilidades que se adquirem. É importante saber
que uma memória não é exclusivamente localizada em um ponto do cérebro, en-
volvendo associações de várias localizações, como se fosse um holograma.
520. O que você pensa da Maçonaria e das sociedades secretas e esotéricas?
(Esoterismo)
Tenho grande reserva em relação a qualquer tipo de conhecimento que só
seja revelado a um pequeno grupo de “iniciados”, que partilhariam algo “secreto”,
como ocorre na Maçonaria, na ordem Rosacruz, com os Gnósticos, Logosóficos,
Antroposóficos e coisas assim. Para mim, todo conhecimento tem que ser público
e disseminado para o maior número possível de pessoas. Se é um conhecimento
verdadeiro e útil para a vida, que seja ensinado nas escolas de modo franco e
aberto. Inclusive para se submeter a toda sorte de contestação e, se realmente
verdadeiro, se mostre vencedor de todas as contendas e passe a ser a base padrão

269
Ernesto von Rückert

da Ciência a ser reproduzida nos compêndios como verdade universal. Assim é a


Ciência, que não se furta a ser divulgada e criticada. Conhecimentos mediúnicos,
esotéricos, cabalísticos e outros que tais, se fossem de fato verdade, deveriam ser
o padrão escolar mundial, não importa qual a religião predominante no lugar.
Todo conhecimento que se furta a ser universalizado e criticado, no meu enten-
dimento, peca liminarmente por presunção dogmática. E de dogmas eu estou fu-
gindo. Que tudo seja revelado às claras e exposto ao crivo da crítica mais obstina-
da para que possa emergir vitorioso em sua veracidade, pelo menos provisória.
Concordo que há dois critérios de verdade: a evidência e a prova. (antes há
que se dizer o que se entende por “verdade”: trata-se da adequação entre a reali-
dade e o que se diz a respeito dela – portanto verdadeiro ou falso são atributos
lógicos e epistemológicos, e não ontológicos). A simples coerência intrínseca não
prova, mas a incoerência derruba. Outro critério de validade é o de falseabilidade.
Uma teoria tem que ser passível de refutação. Certas doutrinas, como o Espiritis-
mo, são completas e fechadas em si mesmas, sendo autoconsistentes. Mas não se
pode dizer que sejam verdadeiras, porque não se pode testá-las. O problema com
as sociedades secretas, como a Rosacruz e a Maçonaria é exatamente o fato de se-
rem secretas. Se dizem possuir a verdade, então, que a mostrem às claras para
todos, de modo a poderem ser refutadas. As religiões pelo menos são abertas. Por
outro lado, nenhuma “crença” pode ser critério de verdade, senão haveria tantas
verdades quantas crenças e a verdade, por definição, tem que ser única. (digo a
verdade objetiva – é possível considerar-se uma verdade subjetiva que seria a
adequação entre a percepção da realidade por parte de uma pessoa e suas afir-
mações. Assim uma pessoa pode não estar mentindo e não estar dizendo a verda-
de, objetivamente falando). Então, só se obtém a verdade ou por evidência factual
objetivamente comprovada por qualquer pessoa, ou, melhor, ainda, por sensores
impessoais (foto, gravação etc.), mesmo assim, cercada de todos os cuidados para
evitarem-se fraudes. Ou por comprovação lógica (dedução, como um teorema), aí
também cercada de todos os cuidados para se evitar sofismas.
O esoterismo, em oposição ao exoterismo, é a noção de que algumas verda-
des só podem ser reveladas aos iniciados de alguma comunidade. Normalmente
esse conhecimento se liga à existência de entidades supranaturais que governari-
am o mundo, que seria, assim, a encenação de uma peça por elas dirigida. Faço
duas objeções: Se o conhecimento é vantajoso, deve ser divulgado para todos e
jamais permanecer restrito a quem quer que seja. A segunda é que diferentes ní-
veis das sociedades secretas apresentam diferentes visões da realidade. Os cris-
tãos tradicionais (Opus Dei, TFP) vêem em tudo uma obra do demônio para desa-
creditar a fé. De acordo com Plínio Correa de Oliveira, os “Protocolos dos Sábios
do Sião” estão corretos e a Franco-Maçonaria é uma fachada para o movimento
sionista que visa destruir o Cristianismo. Em minha concepção materialista (eu,
que já militei na TFP), nada disso procede, e todos estão enganados. A religião é
um produto do homem. O verdadeiro saber e o conhecimento não residem em

270
PERGUNTE.ME
nada esotérico, mas naquilo que a razão humana gradativamente traz à luz. No
entanto, estou sempre aberto a mudar de opinião. Mas preciso ser convencido
com provas ou evidências bem irrefutáveis. Gostaria que esses conhecimentos
esotéricos fossem divulgados e abertos para que qualquer um pudesse checá-los.
De outro modo a impressão que tenho é que se trata de algo sem consistência,
que não pode vir à luz porque seria contestado por argumentos convincentes.
Não consigo conceber essa ordem supranatural que existiria “por trás” do mundo
sensível, acessível apenas aos iniciados. Coisas como mediunidade e outras que
tais, porque só são percebidas por alguns? Se existem mesmo espíritos e se há
comunicação com eles, porque todos não o conseguem? Acho tudo isso muito es-
tranho e gostaria mesmo de ter acesso a comprovações cabais dessas coisas. Por
ora prefiro ficar com minha postura de absolutamente não “crer” em coisa algu-
ma. Ou sei ou não sei e se sei é porque possuo evidências ou provas objetivas e
cabais, transparentes e abertas a todos.
521. Você é a favor dos métodos de avaliação do Exame Nacional do Ensino
Médio? (Educação)
Sim, com restrições. Acho que se deveriam acabar com todos os vestibulares
e deixar apenas o ENEM como avaliador da qualificação para o ingresso em qual-
quer curso, de qualquer instituição de ensino superior. Mas prefiro o ENEM como
era antes, sem compartimentalização por matérias. Um conjunto de questões in-
teiramente interdisciplinares para aferir conhecimentos e habilidades que se
prevê que sejam aprendidos no Ensino Básico. Só que aquele ENEM estava muito
elementar. Que as questões sejam mais calcadas em raciocínio do que em infor-
mações acho extremamente válido, mas é preciso, também, que sejam verificados
conhecimentos de informações. Assim sendo, haverá uma forte pressão para que
as escolas de nível básico (fundamental e médio) se adaptem ao novo modelo, as-
sim como os cursinhos pré-vestibulares deixem de passar macetes e dicas e se
concentrem em fazer as pessoas "saberem" de fato, no aspecto conceitual, inter-
pretativo e operacional, os conteúdos avaliados e, principalmente, que se dedi-
quem a aprimorar a inteligência dos estudantes.
522. A Psicanálise é uma ciência mesmo? Ou é malandragem? (Psicologia)
Ciência mesmo, não é. Mas não chega a ser malandragem. Trata-se de uma
"protociência", isto é, de um conhecimento com pretensões de se tornar ciência.
Mas não é uma "pseudociência", pois suas assertivas são passíveis de verificação.
O problema é que ainda existe, na Psicanálise e na Psicologia em geral, o fenôme-
no das "escolas de pensamento" que as impede de serem verdadeiras ciências.
Nesse contexto vigoram, simultaneamente, modelos explicativos divergentes da
realidade psíquica, sem a existência do "corte epistemológico" característico das
ciências bem estabelecidas, como a Física, a Química, a Biologia, a Astronomia, a
Geologia e outras. Este problema também acontece com a Economia, a Antropo-
logia, a Sociologia e similares. Pelo corte epistemológico, um modelo explicativo

271
Ernesto von Rückert

sobre dado aspecto da realidade permanece univocamente adotado por toda a


comunidade concernente (afora poucas contestações), até que novos fatos levem
a uma reformulação, mas esta se torna aceita por toda a comunidade, em substi-
tuição à anterior. Nas protociências a comunidade fica dividida entre defensores
de diferentes modelos ao mesmo tempo. Isso enfraquece o estatuto científico da
ciência em questão. Nas ciências bem estabelecidas, novos modelos ficam "na ber-
linda", enquanto pesquisadores buscam estabelecê-lo de forma cabal, quando, en-
tão, toda a comunidade passa a adotá-lo, em substituição ao anterior, ou, então,
são descartados.
523. A morte é a certeza do que o nada nos espera. Você acredita que tam-
bém seja a nadificação de nossos projetos? A morte retira totalmente o
sentido da vida? (Comportamento)
Claro que não. Mesmo considerando que não existe Deus, nem alma imortal,
nem céu, nem inferno e que a morte seja a cessação completa da consciência, a
vida continua a ter sentido. Primeiramente o sentido da vida é sua própria perpe-
tuação. Vivemos para que a vida continue a existir e para que sejamos um elo da
corrente vital que começou com o primeiro ser vivo e passa por nós, prolongan-
do-se até não se sabe quando e onde. Assim, gerar uma prole é algo altamente
significativo, por nos colocar nessa corrente, mesmo que ela tenha surgido sem
razão externa nenhuma e não tenha propósito nenhum fora de si mesma. O ser
humano, contudo, por ser possuidor de uma mente desenvolvida e consciente
(mas não exclusivamente ele), busca um sentido para sua existência. O ateísmo
não exclui esse sentido, nem exclui a necessidade de uma ética, como o niilismo o
faz. O sentido, cada um precisa achar o seu: um projeto de vida, pelo qual se dese-
je lutar e cuja consecução seja motivo de imensa satisfação e orgulho. Mas é pre-
ciso que os projetos de vida, para que se encontre um significado para ela, não se-
jam egoístas. De minha parte coloquei esse projeto na educação, na Filosofia, na
ciência, na cultura e na arte. Em levar ao máximo número de pessoas, por minha
profissão e minhas ações sociais, a luz do conhecimento científico e filosófico, do
ceticismo metódico, do livre pensamento, de uma postura ética, do desenvolvi-
mento de habilidades intelectivas de reflexão e raciocínio, da luta pela implanta-
ção de um mundo justo, harmônico e fraterno, para todos os seres, a fim de que o
bem e a felicidade se espalhem pelo mundo, atingindo todas as pessoas e a natu-
reza. Mas também levar a beleza da arte, especialmente da música, da poesia e da
pintura, às quais me dedico, para propiciar alegria e prazer de viver ao maior
número de pessoas. Outra coisa importante é articular seu projeto de vida de
forma que ele continue depois de sua morte. Para tal há que se engajar nele o
maior número de outras pessoas, de sorte que ele não seja personalista, mas algo
coletivamente construído. Morrer com a satisfação de ter deixado o mundo me-
lhor porque vivemos é extremamente gratificante, mesmo que, morrendo, jamais
se saberá nada a respeito de qualquer coisa. Assim procedendo, “dando de si an-
tes de pensar em si”, esquecendo de buscar a prosperidade e a felicidade para que

272
PERGUNTE.ME
o mundo se beneficie de sua vida, sem esperar retorno sequer com a salvação
eterna, então se encontrará a paz de espírito e a felicidade, que não é condição
para a obtenção de nada além dela. Mas a felicidade não é alcançada por quem a
busca, mas por quem se esquece dela e busca o bem e a virtude.
524. Ciência Noética seria uma Pseudociência? (Ciência)
Não. A Noética é uma protociência, como a própria Psicologia, a Sociologia, a
Economia, a Antropologia e outras. O problema com a Noética é que alguns estu-
diosos querem incorporar a ela práticas esotéricas e místicas, que deveriam ser
estudadas cientificamente por ela. Falta aos pesquisadores noéticos uma visão
metodológica cética, que, em nada, prejudica suas propostas. Muitos, contudo,
partem de pressupostos já formados e se dedicam à busca de embasamento cien-
tífico para sustentá-los. Assim procedendo não fazem Ciência. A concepção holís-
tica, por exemplo, nada mais é do que um "reducionismo não linear", para o qual
o todo não é a "soma" das partes, mas admite também contribuições de ordem
superior, termos cruzados e retroalimentações. Em verdade seria importante que
seus pesquisadores, que apregoam características quânticas ao fenômeno da
consciência, realmente entendessem de quântica, especialmente de Teoria de
Campos, da construção de Lagrangeanas e da dedução e solução das equações de
campo delas derivadas. Essa é uma visão holística que muitos não são capazes de
assimilar, ou seja, de que as ciências humanas, biológicas e exatas fazem parte de
um todo que os humanistas precisam dominar. Quero dizer que os filósofos, so-
ciólogos, psicólogos e noéticos precisam entender bem de Matemática, Física e
Biologia também. Senão ficam falando besteira.
525. Lévi-Strauss, afirmou ter identificado um sistema metafísico avançado
entre os índios brasileiros Bororos. É possível classificar como Metafí-
sica compreensões sobre a realidade de povos indígenas? (Metafísica,
Sociologia)
Claro que sim. Metafísica não é, necessariamente, uma disciplina acadêmica,
apesar de também o ser. É uma compreensão das realidades não físicas, isto é,
abstratas, mas não necessariamente sobrenaturais. Essa compreensão envolve
dois aspectos: o conceitual e o relacional, ou seja, o que vêm a ser as realidades
abstratas e como elas se relacionam entre si e com o mundo físico. São noções
metafísicas, por exemplo, as de forma, substância (não química), ordem, estrutu-
ra, norma, causação, ente, ser, essência, atributo, aparência, existência, realidade,
categoria, idéia, conceito, abstração, quantidade, qualidade e outras do tipo. Uma
cultura não possuidora de escrita e de uma ciência formal pode, perfeitamente,
ser possuidora desses conceitos, transmitidos oralmente.
526. Se você tivesse que escolher entre pena de morte ou prisão perpétua,
qual seria sua opção? (Pessoal)
Prisão perpétua, certamente. Sou completamente contra a pena de morte,

273
Ernesto von Rückert

inclusive para mim mesmo. Numa prisão perpétua eu poderia dedicar o resto de
minha vida a pensar, o que ninguém pode me impedir de fazer. E só isto já seria
uma preciosidade, que a morte não me permitiria desfrutar. A não ser que a pri-
são fosse um suplício contínuo de torturas físicas e mentais. A restrição da liber-
dade de ir e vir, de falar, de ter contato humano não impediria de pensar. Talvez
até me fosse permitido escrever. Muitos literatos e filósofos escreveram obras no-
táveis na prisão.
527. Por que a maioria das pessoas tem aversão à Filosofia? (Filosofia)
Porque têm preguiça mental. Não gostam de pensar, refletir, raciocinar,
questionar, detectar problemas, formular questões, imaginar soluções. Porque
isso lhes incomoda, lhes faz ver a mediocridade de suas vidas baseadas só em
sensações e nas atividades comezinhas indispensáveis a sua manutenção. Nos
momentos ociosos, só querem saber da fruição de prazeres sensoriais, físicos ou
mentais, mas que não consumam esforço de pensamento. Tais pessoas não con-
testam nada, não contribuem em nada para o progresso da humanidade. São ego-
ístas e mesquinhas, mas, principalmente, são burras. Pessoas inteligentes podem
ser egoistas e mesquinhas, mas pensam e usam suas mentes para seus propósitos
egoístas de dominação e vantagens pessoais. Essas até filosofam e, certamente,
têm consciência de sua condição e da falta de ética de seus atos. Mas optam por
eles deliberadamente. A sociedade precisa impedir que tenham sucesso. Para isso
o povo tem que ser questionador e, logo, pensar. Quem abdica de pensar está ab-
dicando, também, de sua integridade, de sua liberdade e de sua honra. A educação
formal precisa incentivar a juventude a pensar, a ler, a filosofar, a criticar, a pro-
por soluções e, principalmente, formar o seu caráter. Isso é mais importante do
que acumular conhecimentos para passar no vestibular.
528. Li em algum lugar que tudo começou com o Big Bang, que na verdade
teria sido uma grande expansão e estamos vivendo dentro desta ex-
pansão. O que me leva a perguntar: o que existe fora dessa expansão?
(Cosmologia)
Absolutamente nada. Tudo o que existe está dentro do Universo, cujo espaço
está em expansão. Não existe lado de fora do Universo. Além do Universo não há
sequer espaço vazio. Todo o espaço existente é preenchido pelo conteúdo do Uni-
verso, isto é, por campos, radiação e matéria, nesta ordem de abundância decres-
cente. Pode haver lugares sem matéria, denominados vácuos, mas não vazios, isto
é, lugares sem conteúdo nenhum. Sempre haverá campos e radiação preenchendo
todo o Universo. Pode ser que o Universo seja finito ou infinito. Se for infinito, é
claro que não existe nada além dele, pois se estende ilimitadamente e sempre foi
assim, desde que surgiu. Se for finito, é limitado em volume, mas não tem frontei-
ra, pois, então, curvará o espaço, fechando-o sobre si mesmo. Isto significaria que,
movendo-se sempre para frente, não se encontrará nunca uma parede, mas se
acabará voltando-se ao ponto de onde se saiu, vindo por trás. É claro que, en-

274
PERGUNTE.ME
quanto isso, a expansão continuaria. Os mais recentes dados observacionais indi-
cam que o Universo seja infinito e que se expandirá para sempre. É preciso en-
tender que essa expansão não é um movimento das galáxias através do espaço,
mas o próprio aumento do espaço entre elas, sem que saiam do lugar.
529. O que fazer para amenizar a dor do amor? (Aconselhamento)
A dor do amor não é do amor que se sente e sim da perda do amor do ama-
do. Essa perda dói porque, de forma equivocada, consideramo-nos donos do amor
de quem amamos. Mas o verdadeiro amor quer o amado livre e não exige retorno.
Ama-se e pronto. E o amor não é exclusivista. Abra seu coração para a possibili-
dade de novos amores, sem deixar de amar os antigos. Quanto mais se amar me-
lhor. Não estou falando da frivolidade de ficar (que também pode ser considerada
válida), mas de amor profundo e sincero. Aquele amor que quer o bem do amado,
mesmo que esse bem não seja nos amar. O amor altruísta e sem ciúme, que é o
verdadeiro amor e não o amor ao fato de ser amado. Não se esforce por esquecer
o velho amor e nem nutra sentimentos negativos para com quem deixou de te
amar. Apenas se abra para um novo amor e guarde as lembranças ternas e alegres
dos velhos amores. E que seu novo amor possa entender que os velhos amores
são recordações queridas, que não se pode apagar da vida.
530. Quem não se graduou ainda aos trinta anos de idade, estaria com uma
possível e sonhada carreira acadêmica perdida? (Educação)
Não, apenas prejudicada em termos de tempo que resta para fazer pesquisa
até morrer, porque o verdadeiro cientista nunca se aposenta. A idade tem vanta-
gens e desvantagens. A juventude é mais ousada e a maturidade mais prudente.
Mas tem mais experiência de vida e de lidar com os relacionamentos humanos,
que é um fator importantíssimo em qualquer carreira. Porque a Ciência, além da
busca do conhecimento, é uma atividade social humana, repleta de vaidades. Ex-
periência ajuda muito a transitar nesse ambiente, por dar mais tato e segurança.
E, certamente, um maior cabedal de conhecimentos gerais, de grande importân-
cia, ao lado do científico. Normalmente, quem inicia um doutorado mais velho já
tem um domínio melhor do inglês, por exemplo. Já sabe se expressar melhor, para
escrever artigos, já tem mais disciplina para estudar. Tudo isso pode compensar
uma menor energia e uma mente mais aberta a rever posições bem estabelecidas,
que a Ciência nos obriga a aceitar.
531. O fato do Universo estar para sempre em expansão não implica na exis-
tência de um espaço onde o Universo ainda não chegou com sua expan-
são? (Cosmologia)
Não, absolutamente. Essa é a noção mais errônea que se tem. A de que a ex-
pansão do Universo é uma expansão de seu conteúdo para um espaço vazio que
seria infinito e sem nada, para aonde as coisas que estão em expansão se dirigem.
Não é isso. O Universo é todo repleto de conteúdo, não há vazio em lugar nenhum.

275
Ernesto von Rückert

Pode haver só vácuo, mas não vazio. Não existe "além do Universo". Mesmo que
se conceba a existência de outros Universos, cada um deles teria o seu espaço e o
seu tempo, juntamente com o seu conteúdo e esses elementos seriam inteiramen-
te disjuntos e incomunicáveis entre eles. Não tem como haver um espaço entre
eles, separando-os. Não se pode saber se existem outros Universos e eu suponho
que não, mesmo que teorias considerem que possam existir. O mesmo acontece
com os "buracos brancos" e os "túneis de minhoca (pontes de Einstein-Rosen)",
que ligariam os "portais", tão decantados na ficção científica. A expansão do Uni-
verso é um "inchamento" do próprio espaço. Isto é, um metro hoje é maior que
um metro ontem. Mas isso só é percebido quando se comparam as distâncias en-
tre coisas que são vistas agora e há tempos atrás, como as galáxias distantes. O
desvio observado de suas linhas espectrais para a extremidade vermelha do es-
pectro pode ter três interpretações. Ou elas de fato estão se movendo, ou sua ex-
cessiva gravidade está encurtando as ondas de luz, ou o espaço está inchando, à
medida que a luz trafega por ele. O movimento próprio das galáxias é descartado
porque não obedeceria a Lei de Hubble. O desvio gravitacional exigiria massas
muito maiores que as observadas nas galáxias. O inchamento do espaço tanto
obedeceria a lei de Hubble quanto é previsto nas equações da Relatividade Geral
para a dinâmica da Geometria.
532. Quando católico, pretendia chegar a ser papa? (Pessoal)
Não. Nem sequer padre. Sempre quis ser pai e formar uma família. Quando
criança, disse a um padre, amigo do meu pai, que eu queria ser santo. Ele me disse
para ser padre. Então eu lhe perguntei: mas não posso ser um santo sendo um
pai? Meu pai sempre foi um modelo de homem íntegro e bondoso para mim e eu o
adorava e imitava em tudo, até na caligrafia. Até hoje sinto a perda dele, há 30
anos. Queria ser um filósofo, além de um cientista e achava que a doutrina católi-
ca continha a verdade. Fui seduzido pela TFP e me filiei a ela aos 15 anos. Mas,
como sempre mergulhava fundo no que fazia, estudei muito a doutrina católica,
enquanto estudava física, cosmologia, história, biologia. Eu era um super-nerd
(antigamente chamado de CDF ou Caxias) que, no ensino fundamental (antigo gi-
nasial), já estudava em livros de nível superior e nunca me contentava só com o
que o professor ensinava. Na aula, enquanto ele estava explicando algo que eu já
entendera logo, ia avançando no livro e, em casa, estudava nos que meu pai tinha
na biblioteca dele, especialmente história e geografia, de que ele era professor. E
sempre adorei ficar pensando. Pensava muito mesmo e ainda penso, o tempo to-
do, meus pensamentos filosóficos. Meus estudos e minhas reflexões é que me le-
varam a concluir pelo total despropósito da fé, qualquer que seja, especialmente
na história da redenção de Jesus Cristo e na da criação de Adão e Eva. Note-se que
a primeira perde todo o significado se não se admitir a segunda. Aos 19 anos,
rompi com a TFP e com o catolicismo, mas ainda era deísta. Mais tarde me tornei
agnóstico e, finalmente, ateu, da modalidade cética. Esta é uma evolução coerente.
Outro aspecto que jamais me faria desejar ser Papa são minhas convicções anar-

276
PERGUNTE.ME
quistas. Essas eu aprendi de meu pai desde criança. Ele era um homem extrema-
mente igualitário, sem o mínimo autoritarismo, mas, mesmo assim, eu e minhas
irmãs lhe atendiam as determinações, sempre feitas com firmeza, mas carinho, de
modo assertivo. Nunca nos bateu nem elevou a voz. Ele nos ensinou que pessoa
alguma é superior ou inferior a qualquer outra e, portanto, ninguém merece ser
chamado de senhor, só "você" ou "tu", como ele dizia, pois sua mãe era portugue-
sa e o pai austríaco, mas falava português de Portugal. Apesar do meu pensamen-
to anarquista, herdei de meu pai (e de minha mãe), um modo de ser sofisticado e
até aristocrático, não só de falar, mas de me comportar com refinamento. Parece
incoerência, mas eu sou assim. De meus tempos de católico, preservo meu gosto
pela música sacra (devo dizer que fui um católico no tempo da missa em latim,
que eu entendia, pois seguia pelo missal bilíngue), especialmente o canto gregori-
ano, Bach, Haendel, Haydn e Mozart. Também admiro e sigo as lições morais de
Jesus, mesmo achando que ele não é Deus nenhum. Comparo-as com as de Epicte-
to e Seneca. Mas não aprecio muito as Epístolas Paulinas, exceto alguns capítulos,
nem o Apocalipse, que, para mim, é o cúmulo da ficção fantástica. Quanto ao Ve-
lho Testamento, fora a poesia dos Salmos e do erotismo do Cântico dos Cânticos,
sobra pouco aproveitável na Bíblia, que, de fato, é um livro terrível, sangrento e
perigoso, especialmente para as mentes dos jovens em formação.
533. Qual a diferença entre um nutrimento artificial e o natural? Por exem-
plo, entre um copo de leite e uma pílula de cálcio? (Saúde, Nutrição)
O nutrimento natural já contém os nutrientes na dose necessária para o or-
ganismo e é acompanhado do que é preciso para sua digestão e absorção. Mas o
leite, por exemplo, não é um bom nutrimento para adultos. Só para lactantes e,
mesmo assim, o da própria mãe. O cálcio pode ser obtido de vegetais escuros, do
tomate e outros alimentos. Uma dieta equilibrada, normalmente, dispensa qual-
quer suplemento artificial. Todavia, nos casos de patologias detectadas, os suple-
mentos artificiais podem ser indicados, sempre sob orientação médica.
534. O que é amor? (Relacionamento, Psicologia)
Veja parte do que escrevi sobre o amor em meus blogs:
Podem-se considerar vários tipos de amor:
“Philia” é o amor da mente, isto é, a amizade e o afeto que se tem por outra
pessoa do mesmo sexo ou do oposto, de uma forma racional, ligada a uma reci-
procidade.
“Eros” é o amor sensual, vinculado ao desejo carnal, mas não apenas ele,
pois envolve um sentimento também. É o amor dos casais. O amor erótico pode
estar sendo realizado sexualmente ou apenas na forma de sentimento e desejo,
quando se denomina “platônico”.
“Agape” é o amor do coração, ou da alma, sem conotação erótica, mas com

277
Ernesto von Rückert

maior envolvimento da que a simples amizade ou afeição. Trata-se do amor em


que se quer o bem da pessoa amada de forma altruísta, mesmo sem retorno, mas
com um desejo de reciprocidade.
“Pathos” é o amor apaixonado, emocional e obsessivo, expresso por um de-
sejo irrefreável do contato com o ser amado e de grande tristeza em sua ausência.
Evidentemente que se pode ter qualquer combinação desses quatro no sen-
timento que se tem por alguém.
“Charitas” é o amor por compaixão que se pode ter por alguém também de
forma altruísta, mas sem envolver um desejo de reciprocidade e ligado a uma
ação de servir, sem conotação sensual.
Sem dúvida o amor platônico existe e não é incomum. É o amor cantado pe-
los trovadores medievais de um cavaleiro por sua dama, como o Dante por sua
Beatriz ou de Don Quijote por Dulcinea. O amante platônico nutre o desejo de que
seu amor se torne realizado carnalmente, mas não deixa de amar se esse aspecto
não for realizado.
Amor com amor se paga.
Amor é coisa mais maravilhosa e é a razão e o propósito da nossa existência.
Mas amor tem que ser uma coisa livre, franca, aberta, sem limites, sem barreiras,
sem restrições, completo, alegre, sem posse, sem ciúme, declarado, sem cobrança,
sem inibição, mesmo que seja algo que a sociedade não admita por que é mesqui-
nha, invejosa, egoísta. É preciso realizar o amor que se tenha, seja ele qual for e
por quem for, mas abertamente, publicamente, com toda a intensidade e amplitu-
de, dê no que dê. Assim, mesmo que ele acabe ou continue sem poder ser realiza-
do, nunca a pessoa se arrependerá, porque, enquanto durou, foi vida muito vivida
e fortaleceu, construiu sua personalidade e sua história. Mesmo que a pessoa a
quem se ame venha a desapontar, não se deve apagar a memória do que se viveu
enquanto isso foi doce e confortante. No amor, tudo é permitido, menos desamar.
E não é preciso que o amor seja único e exclusivo. Pode ser múltiplo e tão intenso
em cada realização quanto em todas as outras. Só não pode ser oculto, falso, es-
condido nem pretexto para outras finalidades inconfessáveis, como status social
ou riqueza material ou ato de piedade. Amor apenas com amor se paga, assim
como sexo apenas com sexo se paga. Não se paga sexo com amor e nem amor com
sexo. Muito menos com outras coisas. Mas pode-se, e isto é muito bom, unir amor
e sexo, como também pode-se ter um deles sem o outro e, mesmo assim, se sentir
realizado.
Sexo, para o ser humano, é uma INTERAÇÃO, isto é, uma ação mútua entre
pessoas, que têm que ser respeitadas em sua qualidade de “pessoa”. Logo, cada
um precisa dar para receber. Dar atenção, dar carinho, dar prazer, ter paciência,
ser cuidadoso, ter interesse no prazer do outro, suscitar esse prazer, enfim… en-

278
PERGUNTE.ME
tregar-se sem reservas um ao outro. Só assim cada um será plenamente gratifica-
do. Machismo é o comportamento mais idiota. O machista age pensando em sua
reputação entre os amigos e não na qualidade de seu relacionamento. É um egoís-
ta que nem sabe o quanto está perdendo de qualidade do sexo que se faz quando
a relação é de igual para igual. Sem falar que o bom sexo, para os dois parceiros,
reflete em todos os outros aspectos da convivência, fortalece a união, vigora o or-
ganismo, rejuvenesce, protege o coração e é melhor do que qualquer prozac ou
diazepam para curar a depressão, a tensão, a ansiedade e a angústia. Mas só
quando feito de forma compartilhada. Sexo não pode ser retribuído por nada a
não ser o próprio sexo. Se se faz sexo em troca de dinheiro, segurança, status ou
qualquer outra paga ou vantagem não está se fazendo sexo, mas alugando o cor-
po. Quem concedeu o prazer do sexo, mesmo sem envolvimento amoroso, tem
por pagamento o próprio prazer sexual que fruiu nesse intercâmbio. O homem ou
a mulher que se casa por interesse econômico ou outro que não a fruição da com-
panhia recíproca, incluindo o sexo, está se vendendo ou se alugando. É uma pes-
soa vil e desprezível, pois seu corpo é você mesmo e você não é uma mercadoria
comercial, mas uma pessoa na plenitude de sua integridade, que não se vende e
nem se aluga. Isso seria escravidão.
Sexo, amor, fidelidade e exclusividade.
Amor não é algo que se faça e sim que se sinta. Tanto homens quanto mulhe-
res são capazes de amar e amam. Sexo se pratica ou faz, tanto por homens quanto
por mulheres, uns com os outros ou entre si. Sexo pode ser feito com ou sem
amor e amor pode incluir ou não sexo. Todas as possibilidades são válidas e não
há predileção por nenhuma delas por parte de um ou outro gênero. Sem dúvida, o
melhor é amar de forma a incluir o sexo. O que não é bom é fazer sexo por outro
motivo que não seja amor ou apenas o sexo em si mesmo, como por interesse fi-
nanceiro. Sexo não se vende nem se compra, se compartilha. E amor, esse não é
possível se comprar nem se vender de forma alguma. Só existe como doação.
Há uma correlação entre inteligência e caráter, salvo as exceções minoritá-
rias. A questão da traição não é o fato de se ter relacionamento amoroso com vá-
rias pessoas, mas de se agir assim enganando o parceiro que pensa que seja ex-
clusivo. A pluralidade amorosa não se configura em comportamento antiético ne-
nhum, desde que consentida por todos os envolvidos. Quem desejar relacionar-se
com mais de um parceiro, então entre em acordo com todos eles. Logicamente
que deverá aceitar que seus parceiros também tenham outros parceiros. Exclusi-
vidade e fidelidade não significam a mesma coisa. Fidelidade é uma questão de
honrar a confiança. Ser infiel é, portanto, um ato de extrema vilania, que caracte-
riza a pessoa como mau-caráter. Não ser exclusivo é outra coisa, que não tem
problema, desde que não se traia a confiança, só agindo assim com o consenti-
mento dos envolvidos.
O que eu disse é que maior inteligência normalmente também está associada

279
Ernesto von Rückert

a uma maior retidão de caráter e que, portanto, pessoas mais inteligentes são fi-
éis, pois a infidelidade é uma falha de caráter. Mas não necessariamente são pes-
soas que consideram necessária a exclusividade no relacionamento amoroso,
desde que seja consensual, o que não significa infidelidade. O amor romântico ex-
clusivista e ciumento é uma modalidade perniciosa, por ser causa de sofrimento,
uma vez que é normal amar-se a mais de uma pessoa simultaneamente, tanto
homens quanto mulheres. O fato de se cercear essa possibilidade por uma ques-
tão de caráter (que, aliás, é o que tem que ser feito, se não houver uma permissão
por todos os envolvidos), pode acarretar grande perturbação psicológica, até
mesmo depressão, ou, pelo menos, angústia. Uma sociedade livre deve permitir
tranquilamente a pluralidade amorosa, de forma franca e aberta, com todas as
implicações legais e econômicas daí decorrentes. A monogamia não é necessária e
nem melhor do que a poliginia e poliandria (em conjunto denominadas de poli-
gamia). O que não se pode é admitir uma sem a outra. Isso, porém, não significa
que uma pessoa tenha que ser polígama e nem que polígamos sejam mais inteli-
gentes que monógamos, do mesmo modo que ateus não são necessariamente
mais inteligentes do que crédulos. Apesar de ser considerada imoral, a poligamia
não fere, em absoluto, a ética e, portanto, a moral deve ser modificada para consi-
derar esta possibilidade. Ciúme e exigência de exclusividade não é sinal de amor e
sim de egoísmo.
Amar, amar, amar, amar e amar.
Esta vida, a de cada um de nós, é uma preciosidade inimaginável. Precisamos
respeitar, tolerar, ajudar e amar cada um a todo o outro, pois não se pode desper-
diçar um dom tão raro com picuinhas, desamores, invejas, cobiças e toda e qual-
quer exalação de egoísmo, ganância, injustiça ou malqueirança. Nada vale a pena,
a não ser amar, amar, amar e amar. Amar o belo e o feio, o preto e o branco, o
gordo e o magro, a mulher e o homem, o burro e o inteligente, o culto e o ignoran-
te, o velho e a criança, o pai e o filho, o avô e o neto, o católico, o protestante, o es-
pírita, o muçulmano, o budista, o hinduísta e o ateu, o capitalista e o comunista, o
padre e o soldado, a freira e a prostituta, o justo e o ladrão. Mas odiar e combater
até que sejam extintas da face da Terra toda injustiça, desonestidade, intolerân-
cia, crueldade e todo o mal. Só assim seremos dignos do privilégio de existirmos.
Digitando a palavra "amor" na caixa de busca destes blogs você encontrará
outras postagens sobre o assunto:
www.ruckert.pro.br/blog
wolfedler.blogspot.com
535. Eventos sem causa no mundo quântico não poderiam significar apenas
que ainda não foram descobertas suas causas? (Metafísica, Física,
Quântica)

280
PERGUNTE.ME
Pode ser que sim e que um dia elas sejam achadas. A questão principal é que
não há argumento nenhum que exija a necessidade de que todo evento tenha que
ter causa. Mesmo que inúmeros a possuam, isso não garante que todos a tenham
que possuir. Porque tal exigência não é lógica e sim uma indução e nenhuma in-
dução é garantida. Por outro lado, situações em que sistemas que exibem eventos
incausados tenham sido preparados da mesma forma, comportam-se de modo
inteiramente fortuito, mostrando que não há nada que determine a ocorrência
considerada, como o decaimento radioativo, a emissão de radiação ou a produção
de pares. Isso é uma forte indicação de que não há nada a ser descoberto que seja
a causa do evento. Note-se que, para que eles ocorram, há condições a serem pre-
enchidas, mas condições não são causas. Condições possibilitam, causas determi-
nam.
536. Por que o Socialismo não funciona? (Política, Economia, Sociologia)
Porque é imposto e controlado pelo estado. Não é espontâneo. Não reflete
um desejo pessoal de todo mundo. A sociedade, por enquanto, é naturalmente ca-
pitalista. Isso não é um fato da natureza humana, pois no homem coexistem o de-
sejo de competição e de colaboração, mas um processo histórico que pode ser re-
vertido por um novo condicionamento, por meio da educação formal e informal.
Nas culturas primitivas o sucesso de cada um acabou sendo devido à sua maior
capacidade de vencer a concorrência. Então o espírito de competição prevaleceu.
O capitalismo se fundamenta no espírito de competição e de superação do adver-
sário e ele é, por ora, o que as pessoas espontaneamente fazem. Pretender contra-
riar esta tendência por imposição não é eficaz, pois o povo minará, por ações sub-
reptícias, o controle governamental. Além disso, os detentores desse controle
exercerão uma tirania, bem como fomentarão a corrupção, para que vendam suas
conivências a fraudes. O verdadeiro socialismo ácrata, ou o anarquismo, só pode-
rá vingar quando isso for um desejo de todos, isto é, quando todos quiserem cola-
borar uns com os outros, ao invés de competir. Isto é muito mais eficaz, para a so-
ciedade como um todo e para a maioria, individualmente, mesmo que alguns se-
jam menos aquinhoados.
537. O que você acha da tentativa de regulamentar a "profissão" de astrólo-
go, proposta pelo PL 6748/02? (Esoterismo)
Um absurdo, pois isto seria legitimar uma fraude, um engodo. É como legali-
zar a profissão de ladrão. Faz-se necessário um programa governamental de es-
clarecimento da população sobre a total enganação que são a astrologia, numero-
logia, cartomancia e outras práticas similares pseudocientíficas. Isso deveria ser
objeto de esclarecimento à juventude nas escolas e ao povo em geral pela im-
prensa falada, escrita, radiodifundida, televisada e cibernética. O problema é que
se precisaria falar também do engodo que são as preces e promessas que as pes-
soas fazem a santos e divindades das religiões estabelecidas.

281
Ernesto von Rückert

538. Nosso cérebro tem falhas? Isso depende de alimentação? A alimentação


vegetariana é uma fonte boa para o corpo? Que nutrientes realmente o
cérebro precisa para seu bom funcionamento? (Neurociências)
Claro que tem falhas, como todo o nosso organismo e, de resto toda a natu-
reza. Perfeição é o que não existe no Universo. O bom funcionamento do cérebro,
além do fator genético, depende, como todo o organismo, de hábitos saudáveis de
vida, o que inclui uma alimentação equilibrada, atividades físicas e estímulo men-
tal. Não conheço trabalhos que revelem a superioridade de dietas vegetarianas ou
veganas para o bom funcionamento do cérebro. O certo é que o excesso de carnes,
especialmente vermelhas e gordurosas, é prejudicial à circulação sanguínea, o
que atrapalha o funcionamento do cérebro, que é um órgão muito ávido de san-
gue. É sabido que a dieta onívora, com a inclusão de carne, foi um dos fatores de-
terminantes para a acelerada evolução dos pré-hominídeos ao homo sapiens.
Dentre os principais nutrientes consumidos pelo cérebro estão a glicose, proveni-
ente de amidos e açúcares. Os neurotransmissores são hormônios, aminoácidos,
peptídeos, aminas e outras moléculas fornecidas por alimentos protéicos. Para a
aprendizagem e a memória os mais importantes são a acetilcolina e o glutamato,
encontrados principalmente na carne. Isto significa que uma dieta vegetariana
talvez não seja a melhor para a cognição.
539. Porque os budistas são tão felizes? Pensava que era uma questão parti-
cular, mas as próprias estatísticas de pesquisa do Google revelam que
grande parte das buscas sobre o budismo estão ligada a palavra chave
felicidade. (Religião, Comportamento)
Porque se desligam dos desejos. Não que não desejem nada, mas que não se
importam em tê-los frustrados, uma vez que não vêem importância em suas rea-
lizações. Não só de coisas materiais, mas, inclusive de relacionamentos. Também
não ficam magoados com ofensas, indiferenças, desprezo, humilhações, injustiças,
ingratidões e nem reclamam de doenças, prejuízos, desgostos e infelicidades em
geral, porque colocam seu coração na paz interior da ataraxia estóica. Desligam-
se de si mesmos e não consideram que o seu "eu" seja a coisa mais importante.
Deixam que ele se dilua no Universo. Não buscam a prosperidade como condição
para a felicidade e, nem mesmo, a própria felicidade, mas sim fazer o bem pelo
principio da compaixão para com todos os seres (não só humanos). Assim, sem
buscá-la, dando de si sem pensar em si, acabam encontrando-a. É uma belíssima
Filosofia de vida, da qual apenas discordo da parte referente à metempsicose.
540. Você é a favor ou contra o casamento entre pessoas do mesmo sexo?
(Relacionamento)
A favor da possibilidade. Porque amor não se mede e nem se reprime. Quan-
to mais pessoas se amarem, melhor. E, se se amam, porque isto não pode ser lega-
lizado?

282
PERGUNTE.ME
541. Já ouviu falar em algo chamado NADA JOCAXIANO? Se já, o que acha?
(Cosmologia, Metafísica)
Sim. O nada jocaxiano é simplesmente nada, pois não havendo nada também
não há lei nenhuma que se aplique, pois as leis da natureza se aplicam a algo que
exista. Assim nada é proibido e tudo é permitido, pois não há leis de conservação
a serem cumpridas. Pode-se, pois, haver o surgimento do que quer que seja sem
que haja nada do que seja proveniente e nem que haja algum evento que seja cau-
sador desse surgimento. Depois que já existe algo, então este algo preenche um
espaço e evolve no tempo, surgindo as leis físicas que descrevem seu comporta-
mento.
542. Qual a diferença entre conhecimento e sabedoria? (Filosofia)
Conhecimento é informação sobre coisas, fatos, processos, incluindo saberes
sobre habilidades técnicas. O conhecimento pode ser vulgar, humanístico ou cien-
tífico. O primeiro é aquele que a pessoa adquire por sua vivência, muitas vezes
sem justificativa, mas reconhecidamente útil e verdadeiro para uma dada comu-
nidade humana em algum tempo, local e estrato social. Conhecimento humanísti-
co e científico é informação, devidamente categorizada, consolidada, correlacio-
nada, contextualizada, justificada, embasada, explicitada, organizada e memori-
zada de forma a poder ser expressa com lógica, coerência, coesão, clareza, conci-
são e estilo. Sabedoria, por outro lado é uma arte e uma virtude, que consiste fa-
zer bom uso do conhecimento, com proveito, de forma a promover a justiça e o
bem estar para o maior número de seres. Principalmente é a capacidade de esco-
lha, numa decisão, de forma a atender a esses requisitos. Devemos distinguir inte-
ligência de conhecimento. Conhecimento é acúmulo de informação, certamente
correlacionada e sistematizada. Inteligência é habilidade em aplicar o conheci-
mento na solução de problemas, práticos ou teóricos. A inteligência é o “hardwa-
re” e o conhecimento é o “software”. A pessoa pode ser inteligente e ignorante ao
mesmo tempo.
Outro conceito envolvido é o de intelectual. Considero que intelectual não
seja apenas uma pessoa que domine vastos conhecimentos. Um médico, um en-
genheiro, um empresário podem dominar vastos conhecimentos sem serem inte-
lectuais. O intelectual é aquele que tem conhecimentos mais teóricos e consegue
correlacionar o saber de sua área específica com as demais áreas do conhecimen-
to humano. O passo seguinte é ser um erudito, isto é, que domina seu campo de
saber em profundidade e abrangência superlativas. Já o filósofo se caracteriza
principalmente por ser uma pessoa que reflete e questiona. Normalmente ele de-
ve ter conhecimento de Filosofia e História da Filosofia, e, portanto, ser um inte-
lectual, mas não necessariamente. Alguém pode ser um filósofo sem que seja inte-
lectual e nem todo intelectual será um filósofo. Uma característica do filósofo é
seu amor e sua busca pelo saber e, mais que o saber, pela sabedoria. Erudição e
sabedoria são, certamente, conceitos bem distintos, como já está mais que prova-

283
Ernesto von Rückert

do. Existem dois conceitos de filósofo. Um amplo e um restrito. Segundo o amplo,


filósofo é todo aquele que se debruça sobre a realidade para refletir, questionan-
do e buscando respostas (mesmo que não as ache). Assim, não se requer nenhum
tipo formal de estudo para ser-se filósofo, na concepção ampla. Na concepção res-
trita, um filósofo é um profissional, com diploma universitário, mestrado e douto-
rado na área, detentor de um amplo e profundo conhecimento de tudo o que trata
a Filosofia e do que disseram os grandes filósofos, aliado à habilidade de, ele pró-
prio, fazer uso das ferramentas de raciocínio para construir sua visão da realida-
de, com a devida competência retórica e pedagógica para expô-la didática e con-
vincentemente ao público. Considero-me um filósofo no sentido amplo.
Erudito é uma pessoa inteligente e de muito conhecimento, sendo, assim, ca-
paz de argumentar, articular o pensamento, persuadir, expor uma idéia, desen-
volver um raciocínio, sempre com grande embasamento. Mas o erudito pode não
ser sábio. Sábio é aquele que usa o conhecimento que tem (que pode ser muito ou
pouco) e a inteligência, de modo proveitoso e adequado, isto é, de modo a acarre-
tar a maximização da felicidade do maior número de pessoas, de modo a, em tu-
do, ser justo, equitativo e respeitoso do direito alheio (inclusive dos seres irracio-
nais e inanimados) e principalmente, age sempre colocando a bondade como
primeira prioridade. Sim, porque ser bom é mais valioso do que ser justo e hones-
to, pois o justo e o honesto podem ser frios e calculistas, mas o bom é sempre jus-
to e honesto, e, portanto, sábio. Se o sábio for também erudito então termos a
pessoa humana com as melhores qualidades que se pode encontrar, pois ela será
também modesta e virtuosa em todos os outros aspectos. É o ideal do filósofo da
Grécia antiga ou do “santo” dos primeiros cristãos. Isso não significa que seja
casmurro. Certamente o verdadeiro sábio é alegre e jovial.
A erudição não atrapalha o pensamento de modo algum. Pelo contrário, des-
de que se entenda erudição de um modo que não seja estéril. Embeber-se de co-
nhecimento é um fator que, para quem tenha suficiente talento, estimula a criati-
vidade e a inovação. Não é verdade que a erudição crie amarras. Conhecer as múl-
tiplas facetas da realidade abre os horizontes e espanca os preconceitos. Dá uma
visão abrangente da multiplicidade das possibilidades a respeito de tudo e impe-
de o fechamento em estruturas amarradas e inflexíveis. Por isso acho importan-
tíssimo o ensino da Filosofia no nível médio, para abrir a mente da juventude e
criar um espírito de crítica e reflexão sobre o mundo, sem adesão incondicional
aos modismos de ocasião e nem aferramento a tradições irremovíveis. É falsa a
noção de que o erudito ou o intelectual não seja uma pessoa de mente arejada e
aberta a novidades ou ao inusitado. Mas certamente é uma pessoa ponderada que
cotejará o novo com o que já existe e filtrará o que é válido do que seja mera vai-
dade. Assim estará agindo com sabedoria.
Muitos filósofos foram polímatas, destacando-se Aristóteles. Mas isto não é
necessário para ser filósofo, apesar de recomendável. Polímata é o que entende

284
PERGUNTE.ME
de muitos assuntos (artes, ciências, ofícios, negócios etc.) em profundidade e não
apenas razoavelmente. Isso todo filósofo tem que entender, pois Filosofia abarca
a totalidade dos conhecimentos e fazeres humanos, discutindo-os e sistematizan-
do-os. Um filósofo, além de conhecer Filosofia e sua história, tem que ter bons co-
nhecimentos das ciências naturais (no tempo de Newton conhecidas como “Filo-
sofia Natural”), especialmente Física e Biologia, das ciências sociais (Sociologia,
História, Geografia, Economia…), das artes, da Política e de todas as atividades
humanas, além de saber escrever muito bem e dominar alguns idiomas, especi-
almente grego e alemão, e, é claro, saber Matemática. Sem esses conhecimentos o
filósofo não consegue ter uma apreensão completa da realidade em todos os seus
matizes, a respeito do que é seu mister debruçar-se para refletir e formular ques-
tões, para as quais deve propor respostas. Estou falando do filósofo profissional.
Mas não precisa ser um matemático, nem físico, biólogo, historiador, músico, poe-
ta, pintor, médico, engenheiro, político ou o que seja a respeito de que venha a fi-
losofar. Mas tem que filosofar e não apenas entender de Filosofia, como parece
que os cursos de Filosofia no Brasil pretendem passar a seus alunos. São concei-
tos distintos que podem ou não coexistir na mesma pessoa. E, é claro, Filosofia
não é Ciência e seus métodos são distintos. O polimatismo, por outro lado, não se
restringe apenas a conhecimentos, mas também a habilidades, como as artísticas,
inventivas etc. Uma distinção interessante é entre polímatas ou filósofos ativos e
passivos. Um cientista não é digno desse nome se não for ativo, ou seja, se não
produzir novos conhecimentos. Em minhas aulas de Física para engenheiros eu
sempre dizia que o verdadeiro engenheiro é o inventor, e não aquele que apenas
faz o que já está estabelecido. Em todas as atividades, só se trabalha de forma gra-
tificante quando se procura mudar o mundo para melhor, naquilo que se faz.
543. As escolas que só ensinam para o vestibular estão fadadas ao fracasso,
intelectualmente falando? (Educação)
Sim, completa e redondamente. Este é um equívoco colossal. Não se estuda
para o vestibular nem para as provas. Estuda-se para aprender e aprende-se para
a vida, Isto é que precisa ser colocado na cabeça dos alunos, seus pais, os profes-
sores, coordenadores e diretores de colégios, mas, principalmente, na cabeça dos
planejadores dos Ministério da Educação, das Secretarias Estaduais e daqueles
que, nas Universidades, coordenam os meios de acesso. Essa mania de valorizar
só o que cai no vestibular vai criar uma geração de brasileiros sem cultura geral,
burros e ignorantes, facilmente manobráveis pelos grupos econômicos podero-
sos, por políticos e empresários velhacos (mas inteligentes), o que levará nosso
país à subserviência tecnológica e cultural. É preciso abrir os olhos, abandonar a
preguiça e enfrentar o desafio de construir novas gerações bem preparadas para
substituir a que atualmente ainda tem gente culta e competente em muitas áreas.
Quando esses morrerem ... O problema maior é a fobia de toda dificuldade. Dia
após dia os conteúdos e habilidades transmitidos se tornam menos relevantes,
pois os relevantes são difíceis, complicados, trabalhosos e demorados para

285
Ernesto von Rückert

aprender. Mas é por serem assim que são ferramentas eficientes e eficazes para
promover o progresso e o bem estar de todos. Abandonar a complexidade é re-
troceder para o tempo das cavernas.
544. A religião é tão prejudicial para os humanos quanto os grilos são para
as plantações. Mas experimente tirar os grilos de uma região e você
causará um desequilíbrio no ecossistema. Minha pergunta é: A religião
é um mal necessário? (Religião)
Não: é um mal completamente desnecessário. Essa analogia do grilo não ser-
ve. Tudo o que uma religião faz de bom, e faz, pode ser feito sem ela, ou pelo enga-
jamento em programas de assistência social, pelas consolações da Filosofia, pela
educação e pela sociedade, que tem que impedir todo comportamento anti-ético,
e não apenas criminoso. Em compensação, a religião faz um grande mal, que é
iludir as pessoas com a fé em entidades e numa vida eterna inexistentes, em uma
justiça divina que não se dará, na esperança em milagres e no atendimento de
orações que nunca ocorrerão. Com isso as pessoas transferem para a divindade
uma responsabilidade que é delas mesmas: promover a erradicação do mal e so-
correr os aflitos com os recursos da ciência, da medicina, da generosidade e da
compaixão. Outro engodo é a suposição de que se pode pecar que, depois, se ar-
rependendo, ganha-se a salvação. Ou, pior ainda: que Deus tenha seus escolhidos,
ou que a fé seja suficiente para a salvação. Salvação de que? Sabendo que a morte
é o fim de tudo e que a vida é uma preciosidade ímpar, todos agirão para que esta
vida seja plena de significado e satisfação pessoal, o que não se dá com o hedo-
nismo desenfreado, mas com a síntese dialética do epicurismo com o estoicismo,
que coloca em fazer o bem a razão da felicidade.
545. O que acha de pessoas que não têm a capacidade de entender o óbvio?
Seriam burras, desatentas, ignorantes, em dúvida? Tem um cara fazen-
do perguntas aleatórias para os contatos dele. Eu costumo apagar um
monte. Acho que ele te pegou. (Comportamento)
Realmente. Também descarto muitas, mas outras eu respondo. Quanto à in-
capacidade de compreender o óbvio, se é óbvio mesmo, só se pode atribuir à bur-
rice. Se não se compreende algo por falta de conhecimento ou por que se tem dú-
vida, então aquilo não é obvio, pois requer reflexão para ser interpretado. Óbvio é
o que "está na cara". Só não vê quem é burro ou obliterado mentalmente. Muitas
pessoas, não por burrice, mas por aporrinhação, propõem perguntas idiotas neste
Formspring. Na internet são chamados de “trolls”.
546. O que você acha que está faltando na suposta democracia dos cidadãos
do Brasil? (Política, Educação)
Educação. Uma democracia só é plena se todos têm consciência do que ocor-
re na política, na economia e na sociedade para votar certo. E isso só se adquire
com educação formal, que faça todos os cidadãos serem capazes de ler, ouvir rá-

286
PERGUNTE.ME
dio, assistir televisão e acessar a internet compreendendo tudo o que é dito, em
seus verdadeiros contextos. Para tal, tem-se que ter um bom vocabulário, uma
capacidade de análise lógica e um volume de informações e conhecimentos sobre
atualidades, história, economia, matemática, ciências, pelo menos de quem com-
pletou o Ensino Fundamental com bom rendimento. Isso tem que ser garantido
pelo Estado para toda a população, e ainda não o é. O analfabetismo cultural e
cognitivo tem uma extensão imensa em nosso país. É preciso ler muito e assistir
documentários científicos, históricos e geográficos como uma atividade contínua
nas escolas, que têm que ser de tempo integral. Além do mais, as escolas precisam
propiciar aos alunos uma atualização cotidiana pela leitura de jornais, revistas e
assistência de noticiários radiofônicos, televisivos e cibernéticos, que, geralmen-
te, eles não fazem em casa. Isso tem que ser para todos os estratos sociais, pois
até a juventude rica não se liga em estar por dentro da conjuntura nacional e
mundial. Só assim nossa democracia será plena. Mas estamos caminhando, e o fa-
to de ainda não sermos assim não pode ser pretexto para que algum segmento
pretensamente iluminado se arvore em guardião da verdade e pretenda cercear a
democracia. É preciso ir tentando, sempre democraticamente. Nada justifica con-
trariar a vontade popular, por mais errada que se suponha que seja. O que é pre-
ciso é levar o povo a não errar. Cada um pode fazer a sua parte, não pelo modo
coronelista de impor a opção política que se deseja ao povo, mas esclarecendo o
povo, sem mentir, ensinando-o a ler e a ser crítico, dando bolsas de estudo pesso-
ais a pessoas pobres nos cursinhos e nas faculdades, por exemplo, como tenho
feito. Isso é tão ou mais importante do que ajudar com alimentos e roupas. Outra
ajuda é doar livros para as escolas públicas ou dar aulas de graça do que se sabe.
Por exemplo, artesanato, para que o povo tenha a sua renda informal e melhore
sua condição de vida. São essas medidas informais e fora de qualquer contexto
governamental e institucional, sem nenhum intuito de fazer marketing, é que,
num volume avassalador, poderão mudar a condição do povo brasileiro. Empre-
sários precisam encampar isso, sem se preocupar no quanto de desconto do Im-
posto de Renda vão ter.
547. Professor, o que dizer sobre a notícia sobre uma família que pulou do
terceiro andar para fugir do diabo? (Religião)
Isso é um dos males irreparáveis que as religiões promovem. Pessoas sensa-
tas, céticas e ateístas, jamais seriam levadas a tal histeria. O ateísmo é uma postu-
ra razoável, ponderada, sensata, prudente, solidária, tolerante e, principalmente,
verdadeira.
548. É muito preocupante ver tantos políticos com orientação religiosa con-
servadora no poder. Nessas eleições, a bancada evangélica cresceu. Di-
reitos humanos podem ficar em segundo plano. Você acha que esse pa-
ís pode deixar de ser laico num futuro próximo? (Política, Religião)
Não acredito. Numa democracia tem que existir a liberdade de crença, mas o

287
Ernesto von Rückert

estado é laico. Essa é uma das cláusulas pétreas da Constituição, conforme o seu
artigo 60, estando contida no artigo 5º, que é o que elenca os direitos e garantias
constitucionais. Tais cláusulas só podem ser mudadas com uma Assembléia Cons-
tituinte que elabore uma nova Constituição. Mesmo que isso venha a ocorrer, a
retirada da laicidade do estado é tão radical quanto a restauração da monarquia,
por exemplo. É claro que pode haver uma revolução que implante uma ditadura
teocrática no Brasil, mas isso é extremamente improvável.
549. Qual é sua opinião sobre a Projeciologia? (Esoterismo)
Algo completamente impossível. Relatos a respeito ou são fraudes ou aluci-
nações. Experiência fora do corpo, bilocação, clarividência, déjà-vu, experiência
de quase-morte, precognição, retrocognição, telepatia e outros fenômenos para
psíquicos são ilusões ou fraudes. Não existe consciência e nem mente fora do
substrato anatomo-fisiológico que as suportem, isto é, o cérebro, seus anexos (ce-
rebelo, bulbo, medula, hipocampo, amígdala etc.), o sistema endócrino, os órgãos
dos sentidos, enfim, todo o organismo. Mente é uma ocorrência que se dá em ra-
zão da complexa estrutura e dinâmica disso tudo. Consciência, autoconsciência,
memória, sensação, percepção, raciocínio, emoção, sentimento, desejo, volição,
ação, julgamento e todos os demais fatos psíquicos são produzidos por ocorrên-
cias neurológicas que, em seu fundamento, são físico-químicas, como as demais
ocorrências vitais da biologia. Não existe alma e nem espíritos de espécie alguma.
550. O que você pode falar de Carl Sagan? (Ciência)
Um dos meus ídolos. Notável cientista e divulgador da Ciência. Excelente es-
critor e um formidável argumentador ateísta. Suas obras não só descrevem quão
maravilhosa é a natureza, quão pequenos somos nós perante o cosmos, mas tam-
bém como é preciosa a nossa vida e como não podemos desperdiçá-la com picui-
nhas como guerras, conflitos religiosos, raciais e outros. Como devemos nos unir,
irmanados a todos os demais seres humanos e com a natureza em nosso endereço
comum que é este planeta maravilhoso, tão singular e raro que poucos outros
semelhantes devem existir no Universo (uns três por galáxia, talvez). E como de-
vemos erradicar todas as superstições e crendices infundadas por uma grande
campanha de educação científica, que espanque todo obscurantismo religioso e
faça vir à luz a grandeza do conhecimento, do livre pensamento, da tolerância, da
fraternidade, da cooperação, para tornar este mundo um lugar aprazível e har-
mônico, onde todos possam alcançar a prosperidade e a felicidade, sem excluídos
de espécie alguma.
551. O que acha de pessoas que acham que tudo que foge do que elas acham
certo, está absurdamente errado? (Comportamento)
Ridículas em sua prepotência, presunção e imodéstia. Considero que sempre
tenho razão no que digo, pois jamais diria algo de que não esteja plenamente con-
vencido. Mas estou sempre aberto a mudar meu modo de pensar, dando o braço a

288
PERGUNTE.ME
torcer, logo que convencido de meu equívoco.
552. Com que tipo de coisa você se mobiliza? (Pessoal)
Com o esclarecimento, em levar conhecimento onde reinam as trevas da ig-
norância. Em abrir as mentes para o ar puro do livre pensamento, libertando-as
de dogmatismos de qualquer ordem, inclusive políticos, ideológicos, religiosos e
classistas. Fazer todo mundo pensar, refletir, contestar e agir para mudar o mun-
do, saindo de sua mesmice, de sua vida preguiçosa e modorrenta. Abandonar seu
egoísmo, sua cobiça, sua ganância, sua venalidade para abraçar o altruísmo, o
desprendimento, o comportamento ético, justo, honesto e, mais que tudo, bondo-
so, generoso, colaborativo, solidário, compassivo. Mas não frouxo nem vacilante
no combate ao mal, à tirania, à desonestidade e a toda vilania. Como? Pela educa-
ção, pelo exemplo, pela palavra, pelas ações positivas, mesmo em prejuízo pesso-
al. Sempre denunciando as maracutaias, a corrupção. Perigoso? Sim! Mas que va-
lor pode ter a vida de alguém que se vergue ao poder dos malfeitores só para so-
brevier. Melhor ser morto.
553. O que te atrai em alguém? (Pessoal)
Caráter, personalidade, bondade, modéstia, sabedoria, sinceridade, inteli-
gência, vivacidade, ousadia, firmeza, assertividade, independência, diligência,
energia, fortaleza, alegria, compreensão, tolerância, graça, charme, beleza, educa-
ção, cultura, sensualidade e comunhão com meus ideais, minha cosmovisão e meu
projeto de vida.
554. O que é inaceitável em alguém? (Pessoal)
Pernosticismo, vulgaridade, mesquinhez, ganância, soberba, feiúra, desele-
gância, malvadeza, crueldade, desonestidade, falsidade, ignorância, burrice, cafo-
nice, embriaguês, fumo, avareza, cobiça, chatice, presunção, gabolice.
555. O que se poderia fazer para tentar impedir a implantação de uma dita-
dura teocrática no Brasil? (Política, Religião)
Não creio que isso possa acontecer. Para evitar, contudo, votar em candida-
tos comprometidos com a laicidade do estado, isto é, não alinhados a corrente re-
ligiosa nenhuma, mesmo que, particularmente, professem a religião que preferi-
rem. Votar, também, em candidatos declaradamente ateus, ou, pelo menos, per-
tencentes a correntes religiosas minoritárias.
556. Porque o tempo caminha sempre no sentido positivo? Existe a possibi-
lidade de ocorrência de um tempo em sentido contrário em nosso Uni-
verso? (Cosmologia)
Não. Isso é uma propriedade inerente ao tempo. Mesmo as soluções da rela-
tividade geral que contemplam a possibilidade de um retorno ao passado, ele é
feito indo-se localmente para o futuro ao longo de uma curva tipo tempo fechada,

289
Ernesto von Rückert

que retorne ao momento inicial, vindo pelo passado. O sentido da flecha do tempo
é dado pela causalidade e pela entropia. Quando dois eventos são ligados por uma
relação causal, a causa precede o efeito. Se não o forem, o mais provável é o pos-
terior (maior entropia). Não se sabe por que, apenas verifica-se que é assim. Isso
é um comportamento essencial da natureza. Em Física Quântica se explicam cer-
tos fenômenos pela presença de "partículas virtuais" que se moveriam para o
passado. Todavia elas não são detectadas. O que acontece é que as flutuações de
energia dos sistemas, devido ao princípio da incerteza, estão correlacionadas com
a incerteza da determinação do tempo, isto é, do instante de ocorrência do even-
to, que, então, pode fazer parecer que um evento anteceda a sua causa.
557. Porque, quando esquentamos algo em um aparelho de microondas, ele
perde o calor mais rapidamente do que quando esquentado em fogão?
(Física, Termologia)
Não sei se isso é verdade e, se o for, possivelmente é porque não se deixou a
comida no microondas tempo suficiente para que tenha atingido a mesma tempe-
ratura que no fogão. Esse tempo é menor no microondas mas, muitas vezes, as
pessoas deixam um tempo insuficiente e a temperatura não atinge o mesmo va-
lor. No microondas, toda a massa aquece-se, pois a microonda penetra o corpo
com mais facilidade, agitando diretamente as moléculas. No forno o calor é
transmitido da superfície para o interior do corpo, por condução.
558. Se não houvesse liberdade, de forma alguma poderia se encontrar a lei
moral. (Ética)
Sim, a imputação do caráter moral ou imoral de uma ação só pode ser feita
se a ação for livre. Por coação uma ação não tem valor moral.
559. Jesus Cristo realmente existiu, ou é apenas mais uma "lenda"? (Reli-
gião)
Há controvérsias. Não há garantias de sua existência nem de sua inexistên-
cia. Pessoalmente suponho que tenha existido. Mas muito do que se atribui a ele,
porém, é lenda, especialmente sua condição divina, seus milagres e sua ressurrei-
ção.
560. Devemos agir de tal modo que o motivo que nos levou a agir possa tor-
nar-se lei universal? (Ética)
Sim, essa é a condição dee um dos critérios éticos de validação moral de uma
ação. Outros são de que a ação promova a maximização da felicidade para o maior
número de seres e de que seja algo que desejemos ser objeto dela. Ser conforme a
vontade de Deus é algo difícil de se aferir, pois, como saber que vontade seria es-
sa, caso se constate que Deus, de fato, exista, o que é bem duvidoso. Diferentes re-
ligiões e mesmo, dentro delas, diferentes correntes, tem concepções distintas so-
bre o que seja a vontade de Deus. Qual é a correta?

290
PERGUNTE.ME
561. Por que as pessoas têm tanta ignorância e repulsa à teoria evolutiva,
mesmo ela sendo uma das mais comprovadas, coerentes, simples e fá-
ceis de se entender da História da Ciência? (Evolução)
Porque gostam de se sentir especiais e a evolução mostra que somos ani-
mais, em qualquer aspecto, diferentes de nossos ancestrais apenas em grau e não
qualitativamente. Em suma, o que a evolução diz não é que descendemos de ma-
cacos, mas sim que "somos" macacos. Há quem não suporte admitir isso, por vai-
dade. Considera que fomos criados por Deus à sua imagem e semelhança, quando,
pelo contrário, Deus é que é um conceito concebido à imagem e semelhança do
homem. Em verdade, a Teoria da Evolução desmascara a história bíblica e corâ-
mica, mostrando que tudo aquilo não passa de lendas mitológicas. O mesmo se dá
com a Cosmologia moderna e as Neurociências, que prescindem das noções de
Deus e de alma para explicar o surgimento do Universo e o funcionamento da
mente. As teorias de abiogênese, ainda não seguramente estabelecidas, também
mostram que a vida surge da matéria inanimada por processos naturais, sem in-
terveniência divina. Note-se que a evolução não é uma teoria biogenética, mas
sim da transformação de uma espécie viva, previamente existente, em outra.
562. De onde posso baixar suas composições? (Música)
No blog do meu site: www.ruckert.pro.br/blog . Procure na coluna da direita,
mais abaixo, tanto em som MIDI, como nas partituras Encore.
563. Em quem você vai votar no segundo turno? (Política)
Votarei em branco, pois não quero nem a Dilma nem o Serra na presidência.
Um deles vai ser eleito, mas sem a minha colaboração. Tenho sérias restrições a
ambos. Todos se envolveram com episódios de corrupção, não têm propostas cla-
ras e estão fazendo uma campanha de difamação mútua extremamente depri-
mente. A Dilma é populista e marionete do Lula. O Serra é um lacaio do empresa-
riado e das corporações internacionais. Votei na Marina porque, de fato, dentre os
candidatos, era ela que eu queria na presidência. Preferiria, contudo, o Cristovam
Buarque.
564. Porque a meta de emagrecer é tão difícil para uma pessoa obesa?
(Comportamento, Saúde, Nutrição)
Porque, quando se engorda, são formadas células adiposas de lipídios.
Quando se emagrece, elas não são destruídas, mas apenas diminuem de tamanho.
Todavia, como representam um mecanismo de reserva do organismo para perío-
dos de escassez de alimentos, havendo muitas e estando reduzidas, elas emitem
sinais químicos para o cérebro, para que a pessoa sinta fome. Isso pode ser con-
tornado de três maneiras: ou se fica com a fome sem comer, mas há que se ter
uma força de vontade hercúlea, ou não se come porque não há disponibilidade de
alimento, ou se ingere drogas que bloqueiem a sensação de fome. Esse último re-

291
Ernesto von Rückert

curso não pode ser usado indiscriminadamente, por seus efeitos colaterais. Real-
mente não se consegue emagrecer sem passar fome e, se você tem dinheiro para
comprar comida, é muito difícil suportar a fome por meses a fio, cotidianamente.
Os exercícios aceleram o emagrecimento por consumirem os lipídios armazena-
dos no metabolismo de liberação de energia. Mas não adianta fazer exercícios e
depois comer para repor a perda de energia. Tem que ficar com a perda, senão
não emagrece. Aí a fome aumente mais. Outra vantagem dos exercícios é que, na
fome, o organismo consome-se a si mesmo, não apenas as células adiposas, mas
todas, inclusive as musculares. O exercício, exigindo dos músculos, preserva suas
células, fazendo o corpo perder só na gordura. O mesmo se dá com as vísceras,
inclusive o cérebro. É preciso exercitar o cérebro para não perder massa cerebral
nos regimes de emagrecimento. Outro fator importante é a preservação da elasti-
cidade da pele. Isso pode ser feito com a ingestão de colágeno durante o regime,
encontrado em gelatinas (no caso, dietéticas). Não é saudável adotar-se regimes
restritos a uma só classe de alimentos. Todos têm que estar presentes, nas quan-
tidades recomendadas por um nutricionista. Fibras são essenciais, para o bom
funcionamento do trato digestivo. Alguns alimentos podem ser totalmente aboli-
dos, como o açúcar, a farinha branca, gorduras animais e as vegetais que sejam
saturadas, sal em excesso, laticínios e ovos. Não se precisa fazer uso de nenhum
alimento especial. Um bom regime é um regime econômico, baseado em produtos
naturais e frescos, como frutas, legumes, verduras (especialmente as verde-
escuras), cereais integrais, leguminosas, carnes brancas, sem gorduras, azeite vir-
gem e vinho tinto seco. É melhor comer as frutas e tomar água do que fazer sucos,
bem como tomar chá (sem açúcar nem adoçante) em vez de café e refrigerantes,
mesmo dietéticos. Não se deve abster-se totalmente das carnes, mas nada de gor-
duras e frituras. Trigo, aveia e cevada também não são bons. É preferível arroz
integral ou sorgo, que não contêm glúten. Passas de diversas frutas e nozes varia-
das são muito interessantes fontes de minerais e carboidratos naturais. Peixe é
ótimo (mas não frito), especialmente de mares frios, pelo seu conteúdo de ômega
3, fluidificante do sangue, redutor do colesterol e dos triglicerídeos. Outra coisa,
para não se sentir muita fome, é comer mais amiúde, num intervalo máximo de
três horas, mas em porções mais reduzidas, ingeridas devagar. Beber muita água,
entre as refeições, também ajuda.
565. Fale-me sobre terremotos e vulcões. (Geociências)
São consequências da tectônica de placas, um fenômeno típico de nosso pla-
neta. A crosta é formada por placas que flutuam sobre o magma e são deslocadas
por correntes convectivas, provindas das profundezas do magma, tanto em razão
de aquecimentos diferenciados quanto devido às marés de magma, provocadas
pelas atrações gravitacionais do Sol e, principalmente, da Lua. Tais movimentos
produzem rachaduras e frestas, pelas quais o magma extravasa, nos vulcões. Os
terremotos são acomodações repentinas, que liberam as tensões originárias dos
atritos entre placas adjacentes, que se movem em sentidos opostos ou com velo-

292
PERGUNTE.ME
cidades diferentes, ou ainda dos movimentos de encavalamento de uma placa so-
bre a outra. Essa dinâmica geológica foi e continua sendo um fator importantís-
simo na evolução biológica, não apenas por trazer água para a atmosfera e, desta,
para os oceanos, mas também gás carbônico, essencial para o efeito estufa, condi-
ção imprescindível para a manutenção noturna da temperatura da atmosfera, de
modo a propiciar a vida. Antes da formação da crosta a atmosfera só tinha gás
carbônico, metano e vapor d'água. O esfriamento por radiação permitiu a forma-
ção da crosta e a precipitação do vapor, formando os oceanos. A vida primitiva,
por três bilhões de anos exclusivamente formadas por bactérias cianofíceas anae-
róbicas e autotróficas, capturou o gás carbônico e produziu oxigênio, permitindo
o surgimento de bactérias aeróbicas e heterotróficas e, depois, dos protozoários,
animais, vegetais e fungos. Vegetais aumentaram a captura de gás carbônico, au-
mentando o esfriamento chegando até a primeira "Terra da bola de neve" há uns
2,25 bilhões de anos, quando o planeta todo ficou recoberto de gelo durante mi-
lhões de anos. Sem a tectônica de placas, isto seria irreversível. No entanto, por
várias vezes a Terra se congelou e descongelou, graças ao efeito estufa produzido
pelo gás carbônico dos vulcões.
566. Músculos ou cérebro? (Comportamento)
Cérebro, pois sem ele de nada valem os músculos. Mas músculos também
precisam ser cultivados, já que a saúde do organismo depende deles e sem um
organismo saudável, o cérebro não funciona bem. Todavia o que distingue a espé-
cie humana é sua elevada capacidade mental, que é uma função do cérebro. Ma-
lhar o cérebro é essencial para que sejamos verdadeiramente humanos. Cultivar a
inteligência e as outras faculdades mentais, incluindo a sensibilidade, a intuição, o
discernimento, as habilidades sensoriais e motoras, a personalidade e o caráter,
são os principais objetivos da educação e não, como se pensa erroneamente, a
memorização de um grande volume de informações. Não que isso não deva ser
contemplado, claro que tem que ser, mas que não seja a prioridade.
567. Você poderia explicar resumidamente a afirmação de Sartre, "O ho-
mem está condenado à liberdade"? (Filosofia)
Está condenado porque isto é inerente a sua estrutura psíquica. O homem é
naturalmente livre. Todo cerceamento a sua liberdade é uma violência. Aliás, as-
sim o são todos os animais, mas, no homem, isso toma uma dimensão superior,
porque, além dos instintos que o guiam para sobreviver e procriar, que são pode-
rosíssimos, o homem também é movido por ideais que extrapolam o conatus. As-
sim sua liberdade é a liberdade de pensar e expressar seu pensamento, de fazer e
de agir de acordo com seu desejo e sua consciência, desde que sua ação não tolha
a liberdade do outro. Isso é uma condenação porque não há como escapar dela,
não há como se fazer de zumbi. Todo homem privado de liberdade é acometido
de um estado patológico que não se alivia com nada, exceto a restauração da li-
berdade. Por isso é que relacionamentos possessivos que acontecem entre casais

293
Ernesto von Rückert

são fonte de depressão. Quem ama não prende o amado, mas deixa-o livre e não
exige nada em troca do seu amor, nem reciprocidade, nem exclusividade. A plena
realização de todos os homens só acontecerá quando a sociedade for integral-
mente libertária e isto não é outra coisa senão o anarquismo. Só numa sociedade
ácrata e, preferivelmente ateísta (mas não como determinação e sim como op-
ção), o homem poderá se desenvolver em plenitude, com responsabilidade e go-
zar da máxima felicidade possível. As religiões são um sério cerceamento à liber-
dade de pensamento e expressão. Note-se que liberdade plena não significa de-
sordem, libertinagem nem niilismo. A liberdade é responsável e não contempla a
possibilidade de ações cerceadoras da liberdade alheia, nem promotoras de dor,
sofrimento ou prejuízo. A ética preside a liberdade. O niilismo não é válido. A li-
berdade não é egoísta e sim altruísta. É como o amor: é benigna, não é invejosa,
não é leviana, não se ensoberbece, é decente, não busca os seus interesses, não se
irrita, não suspeita mal, não folga com a injustiça, mas com a verdade. Não pode-
mos escapar de ser livres a não ser que deixemos de ser humanos.
568. Que a mente não seja o cérebro eu concordo totalmente. Por isso ve-
mos tantas brigas entre psicólogos e psiquiatras. Mas qual tem pre-
ponderância? (Psicologia, Neurociência)
A mente é uma ocorrência advinda da estrutura e do funcionamento do cé-
rebro, do cerebelo, do bulbo, da medula, do hipocampo, da amígdala, de todo o
encéfalo, dos nervos, dos órgãos dos sentidos, do sistema endócrino, das vísceras,
dos músculos, enfim, de todo o organismo, com preponderância para o cérebro.
Não é uma ocorrência que se dê em alguma entidade extracorpórea, como seria a
alma e nem um epifenômeno, isto é, não tem nada que não se reduza à anatomia e
à fisiologia. Todos os processos psíquicos: sensação, percepção, memória, evoca-
ção, pensamento, intuição, julgamento, decisão, emoção, sentimento, raciocínio,
desejo, volição, ação, sonho, consciência, autoconsciência e outros são fenômenos
que se dão na complexa estrutura neural do sistema nervoso, em interação com o
resto do organismo. É preciso, contudo, entender que esse reducionismo não é
linear, isto é, não é, simplesmente, um processo advindo da combinação aditiva
de processos orgânicos superpostos. Ocorrem reforços, retroalimentações, com-
binações não aditivas, recalques, reflexos, enfim, é uma operação não linear. Tal
tipo de reducionismo contempla o que se denomina "holismo", que seria a exis-
tência, numa camada de nível mais alto de explicações, de fenômenos não redutí-
veis aos de camadas mais profundas. Isso não procede, pois a camada mais alta
não existe sem as mais baixas. Só que se tem que abandonar a linearidade. A men-
te é como um "operador não linear" em Matemática. Nessa analogia, há uma ca-
mada de fenômenos anatomo-fisiológicos do sistema nervoso e do organismo
que, combinados de uma forma extremamente complexa e não linear, produzem
uma ocorrência de nível superior que vem a ser mente. A mente é, pois, exata-
mente esse tipo de ocorrência. Não é uma entidade substancial, nem material
nem sobrenatural. É o funcionamento de uma estrutura. Isso pode ser considera-

294
PERGUNTE.ME
do uma entidade natural? Sim, como, por exemplo, estado é uma entidade social.
O cessamento do funcionamento da estrutura de suporte à mente a extingue in-
teiramente. Note que a mente não é a consciência. Pode-se interromper a consci-
ência, o que se dá no sono, nos desmaios, nas anestesias, no estado de coma (não
se sabe), sem aniquilar a mente. Mas a morte definitiva de seu substrato orgânico
lhe aniquila de forma irreversível. Como a mente não existe sem o cérebro, qual o
preponderante? O que significa ser preponderante? Se significa condição neces-
sária, o cérebro é preponderante. Se significa estatuto hierárquico, a mente é pre-
ponderante.
569. Há dez anos não estudo Matemática. Tenho 24 anos e pretendo fazer
um curso de programação, que contem disciplinas como cálculo dife-
rencial e integral; matemática discreta etc. Para uma mente já destrei-
nada é possível lidar com esses tópicos? Do que se tratam? (Educação)
Você precisa fazer um nivelamento de Matemática, recapitulando o conteúdo
de funções, análise combinatória, probabilidades, logaritmos, trigonometria, ma-
trizes, determinantes, equações lineares, polinômios, números complexos. Sem
esses conhecimentos fica difícil estudar cálculo diferencial e integral e matemáti-
ca discreta. O cálculo diferencial e integral estuda as variações das funções e a
matemática discreta a lógica embutida nos algoritmos de programação. São es-
senciais para o desenvolvimento de programas originais, justamente para enten-
der a arquitetura do hardware e dos programas controladores dele, de modo a
saber implementar comandos que produzam as saídas desejadas em função dos
dados de entrada. O ideal é também ter noções de eletrônica, mesmo que não se
vá ser um engenheiro de computação. Acho que há cursinhos de nível médio que
dão essas disciplinas avulsas, mas se você está por fora, tem que dedicar, pelo
menos, um semestre para tal. Vou ver depois se acho uma bibliografia boa para
isso.
570. Poderia falar sobre ex-ateus? (Ateísmo)
O mais famoso é o Francis Collins, do projeto Genoma. Outro é o Michael
Behe. Muitas pessoas não conseguem aceitar a ausência de razão e finalidade da
vida, como é o caso, se se considerar que se trata de um fenômeno surgido por
acaso, sem a interveniência de nenhuma inteligência planejadora e executora,
como considera o ateísmo que seja. Isso lhes traz um grande vazio e uma grande
inquietação. Sentem necessidade de considerar que foram criadas por uma razão
e com um propósito. Também não admitem que sua consciência se extinga intei-
ramente com a morte. Outra questão perturbadora no ateísmo é a inexistência de
qualquer prêmio ou punição para quem aja de forma correta ou incorreta, isto é,
os maus que se derem bem não serão punidos e os bons que tenham se dado mal
não serão recompensados. De fato, isso não é fácil de admitir e, eu mesmo, gosta-
ria que existisse um Deus para dar um significado exterior à vida e para promo-
ver uma justiça extraterrena. Todavia, por mais que eu busque, não encontro evi-

295
Ernesto von Rückert

dência nem prova indireta nenhuma de que meus anseios possam ser atendidos.
Ser ateu é ter um compromisso com a verdade e não com uma ilusão, por mais
que se a deseje ser verdadeira. Assim, alguns ateus passam a nutrir uma fé naqui-
lo que anseiam que seja verdade e abandonam seu ceticismo e seu racionalismo
pela doçura e paz dessa ilusão. Isso é, sem dúvida, um grande conforto. Mas é uma
mentira. É preciso fibra para aceitar a verdade da inexistência de Deus e dar um
significado pessoal à própria vida, pela busca do bem e erradicação do mal, sem
nenhuma recompensa e nenhum reconhecimento, exceto a paz interior de cons-
ciência.
571. O que acha do Movimento Zeitgeist? (Anarquismo)
Admiro muito. Penso que seja algo bem plausível e possível de ser estabele-
cido por um processo longo de educação e esclarecimento, mas não por nenhuma
revolução. Suas considerações sobre o dinheiro e o poder das corporações são
bem consistentes e prováveis. Gosto, inclusive, do projeto Vênus.
572. Qual a explicação que se pode dar aos movimentos "aleatórios" dos elé-
trons na Física Quântica? (Física, Quântica)
Todas as partículas materiais, as mensageiras das interações e a radiação, de
fato, são concentrações locais (quantizações) de algum aspecto de um campo
fundamental que pervade todo o Universo. Uma quantização é provida de atribu-
tos, configurados em grandezas, que lhe dá a caracterização daquilo que seja. Seu
comportamento, no caso das materiais (férmions) inclui, inclusive, o de serem in-
destrutíveis, exceto na interação com sua antipartícula. No caso das mensageiras
e da radiação (bósons), podem ser emitidas e absorvidas, com surgimento e ani-
quilação, momento em que extraem ou transmitem ao sistema que as absorveu
ou produziu, energia, momento linear, momento angular, carga e outros atributos
cujas grandezas associadas são conservadas. Como campos que são, não são pun-
tiformes, mas estendem-se no espaço. A interpretação de Mecânica Quântica que
advogo, proposta por Bunge, dá à função de onda o significado de um campo físi-
co, o campo da matéria. Nessa interpretação, a probabilidade de obtenção de um
valor de alguma grandeza observável significa que, ao se interagir para observar
(não necessariamente por uma consciência) o sistema revelará um dos autovalo-
res do operador correspondente à grandeza e se postará em um dos autoestados
desse autovalor (se houver degenerescência). Assim, a partícula não é puntifor-
me, mas distribuída no espaço. Sua localização, quando revelada, é simplesmente
o pico da distribuição espacial de seu campo. Enquanto não se interage com ela
para extrair a observação ela se postará em um estado misturado de todos os
possíveis autoestados de qualquer observável, o que significa não haver nenhum
pico na distribuição do campo, significando isto a aleatoriedade da posição ou dos
valores de outras observáveis, com energia, momento angular, momento linear
etc.

296
PERGUNTE.ME
573. Filosoficamente, Deus Existe? (Filosofia, Religião)
Não. As concepções filosóficas de Deus são a deísta e a panteísta. Ambas,
contudo, de fato, não são epistêmicas, mas doxas, ou seja, opiniões dos filósofos
que abraçam uma ou outra, como é o caso de Voltaire e Descartes (deístas) ou Es-
pinoza (panteísta). No caso dos teístas, como Pascal, trata-se de uma posição
apoiada exclusivamente na fé, que, de modo algum, é filosófica. As pretensas pro-
vas da existência de Deus, como as cinco vias de Tomás de Aquino, são falaciosas
e facilmente desmascaradas. Não há como um verdadeiro filósofo, livre pensador
e cético, como precisa ser, acolher nenhuma prova até hoje proposta para a exis-
tência de Deus. E como não se trata de uma evidência, forçoso se é admitir que
não exista, até prova em contrário. Mas, como Duns Scotus e William de Ockham,
mesmo admitindo isto, sua fé os levava a considerar a existência de Deus. Mas a fé
não é racional, pois consiste em admitir uma proposição como verdadeira sem
nenhum indício de sua veracidade.
574. Qual a melhor maneira, em sua opinião, de se estudar Matemática?
(Matemática, Educação)
Matemática é uma matéria que, a cada estágio, requer o conhecimento de
tudo o que já se viu anteriormente, desde o pré-primário. Assim, a grande dificul-
dade que alguns apresentam não é o assunto ora em estudo, mas a falta de base
anterior. Tem-se que estar afiado nas operações aritméticas com frações ordiná-
rias e decimais, incluindo os algoritmos da divisão e radiciação de números fraci-
onários, e na manipulação algébrica de expressões, com o uso das propriedades
associativa e distributiva, por exemplo. Outra coisa é o traquejo em trabalhar com
expoentes e radicais. Se isso for um problema para a pessoa, ela não avança no
resto. Existem livros para colocar isto em dia, mas não tenho seus nomes de me-
mória aqui e agora. Vou verificar e depois complemento a resposta. Isso resolvi-
do, considero que, na Matemática, como na Física, o mais importante é entender
muito bem a parte teórica e conceitual, para saber direitinho em que casos uma
fórmula se aplica e em que casos não se aplica. É preciso também saber operar
algebricamente, isto é, só com letras. Isso é um treino importantíssimo, mas não é
só. Antes de se pegar problemas numéricos tem-se que saber fazer demonstra-
ções. Isso é que treina o raciocínio para a Matemática. Depois pegam-se os pro-
blemas numéricos de aplicação. É interessante, contudo, fazer uns problemas
numéricos bem fáceis antes das demonstrações, só para se habituar com as fór-
mulas.
Assim fica a sequência de estudo:
Definições, conhecimento das fórmulas e teoremas, exercícios numéricos
simples, que usam uma fórmula de cada vez, demonstração dos teoremas e dedu-
ção das fórmulas dadas, problemas algébricos (só com letras), deduções e de-
monstrações inéditas (novas fórmulas, não apresentadas na teoria) e, finalmente,

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Ernesto von Rückert

problemas complexos de aplicação algébrica e numérica, que envolvem várias


fórmulas.
Para conseguir isso é preciso dedicação de tempo e esforço, com muita dis-
ciplina e sem se distrair. É melhor compartimentalizar o estudo em blocos que se
podem vencer em um dia. Estudar a teoria, isto é, os conceitos e as demonstra-
ções, bem como os exercícios imediatos pela manhã. Dar um intervalo para o sub-
consciente trabalhar e, à noite, mas NO MESMO DIA, antes de ir dormir, resolver
os problemas teóricos e de aplicação mais difíceis. Se não se fizer assim, o hipo-
campo não transfere o conhecimento da memória de curta duração para o córtex
cerebral e a pessoa não aprende. Tem-se que dedicar a isso pelo menos uma hora
de manhã, ou à tarde, e uma à noite. Essa hora da manhã ou da tarde pode ser a
aula, se se está fazendo um curso. É importante que não se saia de cada aula sem
ter-se entendido TUDO o que foi ensinado. Não se importe em perguntar ao pro-
fessor e nem de pagar mico. O importante é saber. Mas, lembre-se: na aula se EN-
TENDE, no estudo se APRENDE. Sem estudo fora da aula, TODO DIA, da matéria
vista no mesmo dia, não se aprende nada mesmo. Isso se aplica a qualquer maté-
ria que se esteja estudando. Para se aprender de fato, é preciso muita dedicação
com diligência e renúncia a despender muito tempo com lazer (televisão, inter-
net, baladas etc.). É como o preparo físico de um atleta. Força de vontade e ne-
nhuma preguiça.
575. Deus acima de qualquer Ciência. Concorda? (Ciência, Religião)
De forma nenhuma! A Ciência é o melhor caminho seguro para a verdade. Se
Deus existir, isso será uma verdade comprovada pela Ciência. Mas não há com-
provação nenhuma da existência de Deus. Fé é algo inteiramente despropositado,
pois consiste em acreditar em proposições sem fundamento em evidência ne-
nhuma e nem comprovação de nenhuma espécie. Se a fé pudesse ser erigida como
critério de verdade, haveria contradição intrínseca, pois há pessoas que têm fé
sincera em assertivas completamente distintas. Mas a verdade tem que ser única
e, logo, algumas das crenças têm que estar erradas, talvez, mesmo, todas. Como
decidir qual a certa? Só por critérios científicos, e eles não existem. Não se pode
garantir que Deus exista, como também que não exista. Mas, como sua existência
não é evidente, até que se possa provar que exista, supõe-se que não. A Ciência,
contudo, não tem todas as respostas, porque ainda não conseguiu obtê-las. Mas
tem o compromisso de buscá-las e de rever-se a si mesma sempre que novas pro-
vas ou evidências o exigirem. Esse é o grande valor da Ciência: seu compromisso,
antes de tudo, com a verdade, que busca incansavelmente. Mas sempre tendo o
saudável ceticismo de nunca estar certa de que a possua.
576. Quando alguém se posiciona contra os homossexuais sob o argumento
de que é contra Deus e está na Bíblia, como devo agir? (Comportamen-
to, Religião)

298
PERGUNTE.ME
Dizendo que estão completamente equivocados. Que, se Deus existir, como
se pode saber a opinião dele sobre o que seja? A Bíblia diz uma coisa, o Corão, ou-
tra, os Vedas, os Upanishades e os Pitakas, outras, o Zend Avesta e o Tao te Ching,
outras ainda. Qual dessas revelações é a verdadeira? Como saber? Se Deus é
amor, como poderia ser contra uma manifestação amorosa, mesmo que entre
pessoas do mesmo sexo? Ou como poderia ser contra alguém amar alguém, mes-
mo que já ame outro? As religiões, de modo geral, são muito prejudiciais à felici-
dade das pessoas.
577. Por que a maioria das crianças tem dificuldade em lidar com Matemá-
tica na escola? (Matemática, Educação)
Porque os professores metem medo. Ao invés de abordarem a Matemática
de forma lúdica e prazerosa, passam a noção de que serão punidos se não apren-
derem a tabuada etc. Assim crescem considerando que estudar Matemática é um
castigo e adquirem ojeriza por ela. Só os que são deslumbrados pelas maravilhas
da Matemática superam esse trauma. É muito importante que os professores do
curso primário e pré-primário (anos iniciais do Ensino Fundamental), tenham
formação adequada em Matemática e, especialmente, na didática da Matemática,
disciplina muitas vezes relegada a um segundo plano no currículo das licenciatu-
ras.
578. Você acha que se deve esperar mais interferência da religião na políti-
ca nos próximos anos, incluindo as próximas eleições? Ou será que isso
é só uma coisa desse momento? (Política)
Em absoluto. Isso é um golpe eleitoral. Nem Dilma nem Serra ligam muito
para religião. Não votarei em nenhum dos dois e um dos motivos é, justamente,
esse fingimento deles. Passada a eleição eles voltarão a ser o que eram antes des-
se ataque de religiosidade.
579. Qual livro você recomenda para uma leitura sobre Física e Química
Quântica para alguém que só tem uma vaga idéia sobre o assunto? (Fí-
sica, Quântica, Educação)
Entender Física Quântica requer saber Física Clássica. Os livros texto de Físi-
ca Geral para o ciclo básico dos cursos de Ciências exatas das Universidades, nos
volumes 4, sempre abordam a Física Quântica de forma introdutória. Recomendo
o Halliday, o Sears Zemansky, o Tipler, o Eisberg ou o Knight. Um mais elementar,
mas muito bom, é o Jay Orear, volume 3. Em nível de divulgação, para quem não é
da área das Ciências Exatas, recomendo Física em 12 Lições, do Feynman, Convite
à Física, do Ben-Dov, A Unificação das forças Fundamentais, do Salam, Heisenberg
e Dirac e A Cebola Cósmica, do Franck Close. Você também pode ser o meu texto:
http://www.ruckert.pro.br/blog/?page_id=1865.
580. Qual você acha que é o melhor curso de engenharia atualmente: Con-

299
Ernesto von Rückert

trole e automação, elétrica, eletrônica, mecânica, aeroespacial...? (Edu-


cação)
Depende do gosto do freguês. Nunca vejo pelo aspecto financeiro e sim pela
satisfação pessoal em trabalhar no assunto. Para mim, seria eletrônica ou aeroes-
pacial. Mas, para quem gosta da área de exatas eu recomendo mesmo fazer o ba-
charelado em Física e depois o mestrado e o doutorado, para ser um cientista,
sem esquecer a licenciatura, para ser, também, um bom professor, mesmo que da
pós-graduação. Não ganha muito dinheiro, mas é fascinante e dá chance de viajar
de graça pelo mundo todo, apresentando trabalhos.
581. Fiz a pergunta anterior, “Deus acima de qualquer Ciência?”, por causa
do debate do William Craig com o Peter Atkins (http://bit.ly/hav193) O
que acha das idéias do Dr Craig? (Ateísmo)
Estou estudando este debate para refutar o Craig em uma comunidade do
Orkut. Ele é um debatedor brilhante, com muita presença, boa retórica e, mesmo
charme. Mas seus argumentos não prevalecem e, então, ele usa de recursos erísti-
cos para deixar seus adversários acuados. Vou refutá-los com rigor, um a um. Mas
isso ainda demora, pois tenho pouco tempo disponível. Até o Natal eu solto.
582. Quem pode vetar o PNDH-3? A bancada evangélica pode fazer isso? (Po-
lítica)
O PNDH-3 é um excelente projeto de consolidação dos direitos humanos no
Brasil e os atuais 71 evangélicos, dentre os 513 deputados (13,8%), não conse-
guirão derrubá-lo. Há muita desinformação a respeito. O melhor é ler o texto na
íntegra:
http://portal.mj.gov.br/sedh/pndh3/pndh3.pdf.
583. A causa do colapso da ponte de Tacoma tem a ver apenas com resso-
nância mesmo, ou pode haver outros fatores relacionados? (Física)
A ressonância provocou a vibração, mas a ruptura se deu devido a uma falha
de projeto estrutural e à fadiga do material.
Leia estes artigos:
http://en.Wikipedia.org/wiki/Tacoma_Narrows_Bridge
http://en.Wikipedia.org/wiki/Tacoma_Narrows_Bridge_(1940)
584. Se cada ser humano enxerga e elabora o mundo de forma diferente um
do outro, qual seria a Verdade? (Comportamento, Epistemologia)
A pergunta "Qual é a verdade" é muito vaga. É preciso especificar a respeito
de que está se querendo saber a verdade. Verdade pode ser objetiva e subjetiva. A
verdade subjetiva é a adequação entre a realidade e a imagem mental que cada

300
PERGUNTE.ME
um tem dela. Fala mentira quem diz algo que não corresponda à imagem que esta
pessoa tem da realidade. Não estar mentindo, contudo, não significa que está se
dizendo a verdade. Verdade objetiva é a adequação entre a realidade e qualquer
proposição que se faça a respeito dela. É, pois, uma qualidade do discurso, isto é, é
lógica e epistemológica, e não ontológica. A aferição do valor veritativo de qual-
quer assertiva, contudo, não depende só da lógica. Quando uma proposição, que é
uma expressão linguística de um juízo, derivar de um raciocínio, em primeiro lu-
gar há que se verificar a validade lógica do raciocínio. Mas, todo raciocínio, em úl-
tima instância, se assenta em proposições atômicas, isto é, que não se deduzem de
nenhuma outra e cuja veracidade tem que ser verificada fenomenologicamente,
ou seja, empiricamente. Nesse ponto é que pode haver discordâncias entre sujei-
tos. Não é possível se ter uma objetividade absoluta. O que se considera objetivi-
dade é o consenso entre muitas subjetividades, especialmente quando elas são
proferidas por peritos, isto é, cuja aferição tenha sido cercada de todas as cautelas
e obtida com o instrumental mais rigoroso possível. Mesmo assim, não se pode
confiar plenamente, sendo o ceticismo metodológico a conduta recomendada.
Crenças podem ser admitidas, desde que sua plausibilidade possa ser aceita em
razão de fortes indícios que lhe recomendem. Então se tem o que se pode chamar
de "verdade". Mas ela não é uma "Verdade Absoluta". Isso é impossível de se ob-
ter. Tudo o que se considera como sendo verdade tem-se que fazê-lo provisoria-
mente e se estar disposto a reconsiderar seu valor veritativo, sempre que outros
fatos tragam nova luz sobre a interpretação da realidade que se está consideran-
do como verdadeira.
585. Você é a favor do casamento homossexual? (Comportamento, Relacio-
namento)
Sim, se o casal assim o desejar. Para mim o melhor é não haver casamento de
espécie alguma, mas não consigo ver objeção a qualquer tipo de união entre pes-
soas que se amem e queiram construir um núcleo familiar para amparo e auxílio
mútuo em todos os aspectos da vida. Nem contra serem do mesmo sexo nem con-
tra ser uma união plurívoca, isto é polígama, tanto para um sexo quanto para o
outro (poliginia e poliandria). O que não aceito é o casamento ligado a interesses
econômicos, isto é, arranjar marido ou arranjar mulher como meio de vida. Isso,
para mim, é pior do que a prostituição. Toda pessoa adulta tem que prover-se a si
mesma sem depender de marido ou de mulher para tal. Se quiserem se unir, que
o façam, mas cada qual sendo um sujeito livre e independente financeiramente.
586. Certos cristãos fundamentalistas estão dizendo, pela internet, que os
“Illuminatis” pretendem lançar uma bomba de hidrogênio para Júpiter,
a fim de explodir o planeta, que, sendo gasoso, viraria uma pequena es-
trela. Isso seria possível? (Astrofísica)
Não. Esta proposta foi a base do livro 2010 - Odisséia 2, do Arthur Clarke. O
monólito "Grande Irmão" gera uma reação em cadeia que transforma Júpiter em

301
Ernesto von Rückert

estrela. Acontece que Júpiter não tem a massa crítica para estabilizar a pressão da
radiação devida à fusão do hidrogênio no núcleo com a pressão gravitacional das
camadas externas, como acontece com as estrelas na sequência principal do dia-
grama Hertzsprung-Russell, onde nosso Sol se encontra. Aliás, seu núcleo nem
consegue atingir o limiar de temperatura requerida para a reação de fusão, que é
de dezenas de milhões de kelvins, mil vezes maior do que a temperatura do nú-
cleo de Júpiter. Claro que a explosão de uma bomba de hidrogênio produz tempe-
raturas dessa ordem, mas a maior bomba que se poderia produzir não desenvol-
veria energia em quantidade suficiente (apesar da alta temperatura) para trans-
formar Júpiter em estrela. A queda do cometa Shoemaker-Levy 9, em julho de
1994 desenvolveu energia maior e Júpiter não acendeu. Além do mais, não creio
que os Illuminatis tenham condições técnicas e nem financeiras para fazer isso.
Tem mais, Júpiter não é todo gasoso. Há um núcleo rochoso, rodeado por um
manto de hidrogênio metálico fundido, um oceano de hidrogênio molecular líqui-
do e a atmosfera. Todavia não há fronteira nítida entre a atmosfera e o oceano,
pois a pressão e a temperatura estão acima do ponto crítico. Isto é, Júpiter não
tem chão. Esta notícia deve ser um "hoax", como tantos que andam por aí.
587. Por que as pseudociências e a irracionalidade, como astrologia, criaci-
onismo, design inteligente, numerologia, alquimia, homeopatia e ou-
tras, são mais populares e tem mais espaço na mídia do que suas ver-
sões baseadas na ciência e na razão, como astronomia, biologia, ateís-
mo, matemática, química e medicina, respectivamente? (Esoterismo)
Porque as pessoas querem acreditar em mágica, em milagres, em soluções
fáceis para suas vicissitudes. Não querem aceitar que nada disso existe, que a úni-
ca solução está no trabalho, na colaboração entre as pessoas, nos recursos da ci-
ência e que há casos que não têm solução mesmo, por enquanto. Elas não têm es-
tofo suficiente para sustentar-se por suas próprias pernas, sem as muletas da fé e
das crendices. Não aguentam contemplar de frente a crua realidade da total ine-
xistência de razão e de propósito para o Universo e para a vida. Isso as deixa de-
sesperadas, sem chão. É preciso muita segurança no próprio valor e na capacida-
de de dar sentido, por si mesmo, à própria vida, porque este sentido requer dis-
posição, diligência, bravura, coragem, persistência, além de inteligência, estudo,
reflexão. Nada de preguiça, frouxidão, pusilanimidade, desânimo, cansaço. É dar
murro em ponta de faca e caçar sarna para se coçar a vida toda. É nadar contra a
correnteza sem poder descansar. Mas essa é uma luta altaneira: dedicar a vida a
espancar as trevas da ignorância em todos os grotões, alçando bem alto a candeia
do esclarecimento, do livre pensamento, do ceticismo, da verdadeira ciência, da
razão. Mas de forma honrada e caridosa, com amor, com gentileza, com ternura
pelo ignorante, do mesmo modo que a mensagem primitiva do cristianismo pre-
gava o repúdio ao pecado, mas o amor ao pecador. E, naturalmente, com conhe-
cimento, tenacidade, argúcia, dialética, retórica. Sem nunca humilhar, desdenhar
e debochar, mas respeitando e considerando. Exceto em relação aos pulhas, que

302
PERGUNTE.ME
usam a credulidade alheia para se locupletar. Esses têm que ser desmascarados e
denunciados a plena luz, como os verdadeiros demônios da humanidade, irmãos
dos escravocratas, dos traficantes, dos estelionatários, dos políticos e empresá-
rios corruptos, como também dos trabalhadores venais, preguiçosos e traiçoeiros.
588. Dos que se candidataram à presidência este ano, qual está mais bem
preparado? (Política)
Acho que o Serra é mais bem preparado, mas não é isso o que mais importa e
sim a proposta e o compromisso. Qual a "weltanschauung" política da pessoa. Não
se é de direita ou de esquerda, pois os dois são de esquerda. Proclamar-se de di-
reita no Brasil, hoje, é suicídio político. É o modo como pensa em obter os resul-
tados. Todo mundo diz que quer a mesma coisa, mas, cada um, por um caminho.
Outro problema são os antecedentes e a idoneidade do círculo de colaboradores.
Dizer que Dilma foi terrorista não depõe contra ela, pelo contrário. Naquela épo-
ca, terrorista era o governo militar. Os movimentos contrários eram heróicos,
mesmo que equivocados em seus métodos. Esse negócio de paparicar as igrejas é
nojento. Como se eles fossem religiosos mesmo... Só por isso eu não votaria em
nenhum dos dois, contrariando um princípio que mantive até então, de nunca vo-
tar em branco. Mas tenho outros motivos para não querer que nenhum deles seja
nosso presidente. Sei que um deles vai ser, mas não com a minha colaboração.
Queria o Cristovam Buarque, mas, como ele não foi candidato, optei pela Marina.
Não deu. Esses dois, não dá.
589. Até que ponto o voto nulo pode ser considerado omissão? (Política)
Até que não seja um ato de desobediência civil, imposto pela total impossibi-
lidade de aceitar, honestamente, qualquer um desses dois como presidentes do
Brasil. Concordo com vários itens das propostas de um e do outro e discordo de
outros. Numa pesquisa que a VEJA fez, antes do primeiro turno, meu candidato
era a Marina, por maior identificação com suas propostas de solução dos proble-
mas brasileiros. Votei nela (não por essa pesquisa) e não deu. Esses dois estão es-
culhambando com o processo eleitoral, cada um só dizendo por que não votar no
outro. E não querendo desagradar a ninguém, como se viu no caso do aborto. Ser-
ra, como tucano, fica em cima do muro mesmo. Mas a Dilma também virou tucana,
aliás, como foi todo o governo do Lula. Acho que ele fez certo agindo assim em
muitos casos. Ainda bem. Mas foi acanhado em outros. E, principalmente, não tra-
tou de forma exemplar a questão dos mensalões e outros vexames que ocorreram
debaixo do seu nariz. Não posso aceitar que ele não sabia. Se não sabia mesmo, foi
por incompetência. Se sabia, como penso, tinha que ter desmascarado tudo no
início e defenestrado com a gangue logo, logo. Ou então, se sabia que era tudo
mentira e um golpe da oposição, que defendesse seus colaboradores com firmeza
e pusesse tudo em pratos limpos, denunciando os verdadeiros responsáveis. No
entanto a história ficou muito mal contada. Perdi a confiança na cúpula do PT e
isso vai ser difícil de ser restaurado, pois não vejo nada sendo feito a respeito.

303
Ernesto von Rückert

590. Como você vê o feriado de Finados e do Dia das Bruxas? Vai ao cemité-
rio acender velas e dar flores para seus falecidos queridos ou acha isto
crendice popular desnecessária? (Comportamento, Pessoal)
Comemorações sem significado. Bruxas não existem e nem espíritos dos
mortos. Não vou ao cemitério. Meus pais já morreram e eu venero a sua memória
em minhas gratas lembranças e ao seguir as sábias lições de bondade, justiça, ho-
nestidade e virtude que eles me legaram. Não só no dia de finados, mas em todos
os dias. Sei que não existem mais, em lugar nenhum, nem no céu nem no inferno,
mas existem na lembrança dos seus filhos e das muitas pessoas que eles ajuda-
ram e a que deram um exemplo de vida digna e valorosa. São meus ídolos e sua
falta ainda me dói muito, tanto que me emociono ao escrever isto. Sigo seus pas-
sos e, por isso, não acumulo riquezas materiais, pois vivo só com o salário do mês
(que nem dá), não faço poupança e nem tenho propriedade nenhuma. Dou tudo
para os outros. Guardo suas fotos e seus pertences que herdei (livros, gravatas,
canetas, relógios, coisas assim), pois também não me deixaram bens de herança,
como não deixarei para meus filhos, exceto este poema que escrevi:
Minha Herança
Às vezes quedo absorto,
olhando longe o vazio,
pensando a vida passada,
lembrando os anos vividos.
Será que foi proveitosa?
Será que deixo saudade?
Será que parto sem mágoa?
Será que fui bem amado?
À minha posteridade,
filhos da carne e da lousa
e aos por amor adotados,
quero passar minha herança.
Na vida não fiz fortuna
nem deixo bens de valor,
nada que valha dinheiro,
nada que seja poupança.
Mas deixo meu horizonte.
A vista descortinada,
do mundo belo e fraterno,
dos homens em harmonia.
Deixo a fé no trabalho,
orgulho da coisa bem feita.

304
PERGUNTE.ME
Deixo a honra e a modéstia
de ter sido verdadeiro.
E a luta cotidiana,
contra toda hipocrisia,
A peleja altaneira
prá acabar a vilania.
E a ternura escondida
pela gente mais sofrida.
A raiva bem merecida,
da soberba presunçosa.
Derrotas acachapantes
frente ao vil e prepotente,
são folhas edificantes
de uma vida merecida.
Mas algo passo adiante
a toda a posteridade:
A flama da esperança
na tocha da humanidade.
Levem adiante sem medo
prá que essa luz poderosa
do bem, saber e justiça,
alto vá resplandecer.
E as trevas da ignorância,
os freios da iniqüidade
e a peste da malqueirança
não mais poder hão de ter.
Você pode ler outros poemas que escrevi em
http://pt.scribd.com/doc/70683693/Poesia
Pode, ainda, comprar meu livro “Poesia” em
http://clubedeautores.com.br/book/120294--Poesia
591. Você é a favor de um governo militar? (Política)
De jeito nenhum! Sou a favor da democracia e do governo civil. A corrupção
é um problema conjuntural e os problemas conjunturais não podem ser resolvi-
dos de forma estrutural. Ditaduras, e governos fortes, tanto de direita, quanto de
esquerda são maldições para qualquer povo. Ninguém pode se arvorar como do-
no da verdade ou salvador da Pátria. É pelo esforço de todos que se constrói uma
nação, até que a noção de nação possa ser dispensada, bem como a de governo e
de estado. Para a democracia se consolidar é preciso educação para o povo. Edu-

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Ernesto von Rückert

cação mesmo, para tirar todo mundo do analfabetismo político, científico, cultu-
ral, filosófico. Isso é a base da prosperidade, da justiça, da paz, do bem estar e da
felicidade. Democracia, com educação como prioridade máxima. Antes da saúde,
da segurança, da habitação, do salário. Não que se vá deixar isso tudo de lado,
mas como segunda prioridade. Sempre.
592. Já deu aulas na EPCAR. Gostou? (Educação)
Sim, por oito anos, de 1968 a 1975. Gostei muito. Uma escola organizadíssi-
ma, super exigente, eficientíssima e eficaz. Um padrão elevado de excelência, sem
contemporização. Quem não desse conta, caia fora. No meu tempo, o programa
era focado nos projetos do PSSC, SMSG, BSCS, CBAC, ESCP e outros americanos,
excelentes, com livro, livro do professor, laboratório (um kit para cada dois alu-
nos), filmes, aulas práticas toda semana, método da redescoberta, estudo dirigido
obrigatório, turmas de 30 alunos, oito aulas por dia. Educação Física todo dia. To-
do apoio ao aluno: alojamento, refeição, uniforme, livros, assistência médica e
odontológica total, tudo de graça, além do soldo e da contagem de tempo de ser-
viço. Mas a contrapartida era apertada. Extrema rigidez na disciplina. Tretou: ca-
deia! Isso mesmo: prisão por indisciplina em sala. Estava ouvindo radinho de pi-
lha na aula? Ele era quebrado com a botina do sargento na hora, sem apelação. O
pai não está satisfeito? Procura outro colégio. Não foi aprovado? desligado! Mas a
qualidade do ensino e o nível dos professores eram excelentes. Todos professores
de faculdade. Além do ensino acadêmico, aprendia-se datilografia, mecânica, hi-
dráulica, marcenaria, direção de veículos, eletrônica, eletrotécnica, aeronaves. In-
glês e Francês com fluência perfeita (aulas todo dia, só no idioma), Matemática,
Física, Química, Biologia, Geociências, Geografia, História, Filosofia, Sociologia,
Moral e Cívica, Português, Literatura, Redação, Desenho Geométrico, Desenho Ar-
tístico, Teatro, Canto, Instrução Militar. Muito puxado, mas o aluno saia com um
excelente preparo para a vida. E mais: não se preocupavam com o que ia cair no
vestibular e sim com o que seria necessário para a vida. Na Física, estudavam in-
dutância, corrente alternada, ondas eletromagnéticas, teoria de relatividade, físi-
ca quântica, física atômica, física nuclear, conservação do momento angular, física
estatística. Em compensação não estudavam estática, termometria, calorimetria,
associação de resistores, associação de capacitores e essas coisa mais técnicas.
593. Acho que seria uma boa idéia incluir uma matéria que ensinasse meto-
dologia científica no ensino médio. Você concorda? Que sugestões você
daria a respeito do funcionamento dessa matéria? (Educação)
Não precisa ser uma matéria. Os programas das disciplinas científicas deve-
riam incluir projetos de pesquisa (não inédita) e os professores ensinariam como
fazer e apresentar. É melhor assim. No meu colégio temos isso e, bianualmente, é
feita uma semana de apresentação de trabalhos, igual a um congresso científico,
com painéis e experimentos. Não é uma "Feira de Ciências". Os alunos têm que
fazer um projeto orientado para propor e testar uma hipótese sobre o que esco-

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PERGUNTE.ME
lherem. Isso é julgado por uma comissão e vale nota. Também temos uma semana
para apresentação de poesias e obras literárias escritas por eles, bem como de
músicas compostas e executadas por eles, além dos torneios esportivos, peças de
teatro que apresentam e obras de artes plásticas que fazem.
594. Você acredita em vida extraterrestre e que seja possível que eles te-
nham nos visitado? (Biologia)
Creio que é possível que exista vida extraterrestre, especialmente procariota
(bactérias). Vida eucariota e pluricelular é mais difícil. Inteligente, mais ainda.
Mas acho que pode haver uns três planetas por galáxia com vida inteligente. Co-
mo o Universo é muito vasto, dificilmente esses seres conseguiriam se comunicar,
vivendo cada um na sua, ou até colonizando a vizinhança. Não acho que nenhum
extraterrestre já nos tenha visitado. As histórias que se contam, ou são equívocos
de interpretação das visões ou são fraudulentas mesmo.
595. Porque há perguntas que você não responde? (Pessoal)
Já disse isso. Primeiro: pouco tempo. Assim escolho as que já sei a resposta
de pronto. As que eu preciso estudar para responder, deixo para depois. As in-
convenientes eu apago (há várias). O fluxo de chegada é maior do que o de saída.
Assim tenho que abrir um ladrão. Além do meu trabalho, que me consome 60 ho-
ras por semana, estou escrevendo três livros, lendo uns cinco ao mesmo tempo,
tenho incumbências domésticas e participo de outras comunidades da internet,
além de escrever dois blogs. Também produzo e apresento um programa semanal
de música clássica, de duas horas, na rádio FM da Universidade Federal de Viçosa
- . Mesmo dormindo só cinco horas por noite e não vendo televisão nunca, o tem-
po é curto.
596. Como se libertar das amarras apregoadas pela sociedade? (Comporta-
mento)
Tendo uma personalidade muito forte, que não se importa com a opinião dos
outros, que faz o que acha certo, apesar de ser criticado, que não liga em ser alvo
de chacotas, desprezo ou apenas desaprovação. Tem que ser muito seguro de si
mesmo. Ter confiança de que está com a razão e estar disposto a perder tudo por
isso, até ir para a cadeia ou ser morto. Não ligar para a riqueza nem para a glória,
nem para honrarias. Não ser vaidoso. Ser teimoso, mas educado. Não transigir, a
não ser que convencido por argumentos. Dizer tudo o que pensa sem ofender
ninguém, mas com clareza e firmeza. Não se omitir e nem fraquejar por medo de
perder o emprego. Estar disposto a viver na pobreza por defender suas idéias. Ser
estóico e assertivo, isto é, virtuoso em todos os sentidos. Mas não ser metido a
besta, não ser seboso, gabola, pernóstico, irônico, sarcástico, debochado. É claro
que pode e deve ser bem humorado, alegre, cordial, gentil, até glamoroso, sem
bancar o gostosão e nem o atrevido. Ser sincero, franco, mas não rude, muito me-
nos boçal. E, finalmente, ser inteligente, muito bem informado, culto mesmo. Para

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Ernesto von Rückert

ter argumentos para defender seu ponto de vista e saber usá-los com boa dialéti-
ca e retórica. Jamais se vender, seja porque for.
597. Em quem você votou no segundo turno? (Política)
Votei em branco, mas torço para que tudo dê certo e a Dilma consiga gover-
nar para o bem do povo e não dos políticos e empresários gananciosos que fazem
da coisa pública um meio de se locupletarem à custa do dinheiro público. Que te-
nha coragem de desancar toda corja de safados que aparecer, inclusive no seu
quintal e não fazer como seu mentor Lula, que encobriu a safadeza ou foi incom-
petente para não ver o que ocorria. Antes da eficiência, a ética, sem apelação.
"Rouba, mas faz", é prá ir para a cadeia sem sursis. E quando se cassarem os direi-
tos políticos, que seja para toda a vida, além da prisão sem regalias, no meio de
uma cela com 100 marginais da pesada. Crime de colarinho branco é mil vezes
pior do que assassinato. Um político que desvia uma verba e, por causa disto,
muitos assentados têm suas crianças morrendo de diarréia por desnutrição é um
assassino em massa, um "Serial Killer". Para esse tipo de gente eu queria que o
inferno existisse mesmo.
598. Você acha que se devia ensinar religião nas escolas? (Educação, Reli-
gião)
Sim, mas sob um prisma antropológico. Não privilegiando nenhuma delas,
mas expondo suas doutrinas, seus mistérios, sua abrangência mundial, sua funda-
ção e sua história, seus profetas e líderes, suas práticas litúrgicas e suas festivida-
des, sua concepção de Deus, da criação do Universo, do surgimento da vida, da
existência da alma, da vida após a morte, suas escrituras sagradas, os conflitos em
que se envolve e tudo o mais. De uma maneira crítica e filosófica, abordando,
também as noções filosóficas e teológicas (das diversas religiões) de fé, Deus, es-
pírito, pecado, salvação e tudo o mais que diga respeito. Pelo menos é preciso es-
tudar as religiões egípcia antiga, as mitologias grega e romana, as religiões sumé-
rias, babilônicas, assírias, o zoroastrismo, o hinduísmo, o taoísmo, o siquismo, o
jainismo, o confucionismo, o judaísmo, o Cristianismo em todas as suas vertentes,
o islamismo, o budismo, o espiritismo, a umbanda, o candomblé, o deísmo, o pan-
teísmo, o pandeísmo, o panenteísmo, o agnosticismo e o ateísmo, além dos mitos
ancestrais e das crenças animistas. Mostrar, também, as contradições de cada
uma, as práticas maléficas, os fatos históricos desabonadores e tudo de ruim que
cada uma também apresenta, juntamente com tudo de bom. Tudo isso de forma
imparcial, para que todos conheçam e respeitem todas as crenças (e descrenças)
e possam escolher, com conhecimento de causa, a qual delas deseja se filiar, ou a
nenhuma.
599. O que está faltando para você entrar para um movimento e começar a
ajudar a contribuir com seu conhecimento, tal como o Movimento
Zeitgeist? Se sim ou não, justifique por favor. (Pessoal)

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PERGUNTE.ME
Não me filio a movimento nem partido político nenhum, porque sou um livre
pensador e, se eu me filiasse, por coerência, teria que defender o ideário completo
de tal movimento ou partido. E isso eu não faço. Concordo com muita coisa e dis-
cordo de outras. Essas eu combato e me pronuncio contra. Da mesma forma que,
se na política, uma proposta do partido adversário fosse benéfica para o povo, eu
a defenderia, me pronunciaria a favor e nela votaria, mesmo contra a determina-
ção do partido. Não sou obediente e, até mesmo, considero obediência algo inad-
missível, no meu pensamento anarquista, até na criação de meus filhos. A ordem
não pode ser imposta e sim brotar do consenso. Ninguém manda em ninguém.
Cada um faz aquilo que quer, mas enfrenta todas as consequências. Nada de chefe
nem patrão. Já fui convidado a participar do Rotary, da Maçonaria e me recusei
por isso. Acabo sendo combatido por todas as facções, por discordar do que con-
sidero errado em todos os lados. Não defendo os erros dos meus amigos e defen-
do os acertos de meus inimigos, se bem que não me consta que tenha inimigos.
Ajudo todo mundo, independentemente da facção. Se fosse vereador, por exem-
plo, iria pautar minhas decisões sobre as prioridades orçamentárias em função
das necessidades e não de quem tenha sido meu eleitor. Se meus adversários fos-
sem mais necessitados, eu os beneficiaria, em detrimento de meus eleitores. Por
isso nunca seria eleito, inclusive porque deixaria isso claro em minha campanha.
Nenhum partido me acolheria, pois se houvesse alguma maracutaia em suas filei-
ras, eu denunciaria. Prefiro atuar como franco atirador.
600. Revoltas e alegrias à parte, acredito que essa deva ser um momento de
reflexão. Que o ápice da manifestação democrática neste país, sirva pa-
ra que possamos pensar o devir e qual será nossa postura diante disto
tudo. (Política)
Nem Dilma nem Serra eram meus candidatos, mas só há uma postura a ser
tomada: o fortalecimento cada vez maior da democracia, acompanhado de uma
rígida disciplina ética e jurídica que realmente puna de forma exemplar e defini-
tiva todo político que incorra em qualquer caso de corrupção, com cassação dos
direitos políticos para o resto da vida e prisão comum naquelas celas com cem
marginais da pesada. E, principalmente, de um amplo e profundo programa de
educação do povo, para eliminar, no menor prazo possível, o analfabetismo, não
só gramatical, mas político, científico, artístico e filosófico. Sem que toda a popu-
lação adulta tenha, pelo menos, o Ensino Médio, não se progride em lugar ne-
nhum. Estou falando de todo mundo mesmo. Então me dizem: quem vai ser lixei-
ro, ajudante de pedreiro, empregada doméstica, peão da roça e coisas assim?
Quem? A classe média, e ganhando bem, pois então, todo mundo vai ter chance de
ser o que quiser na vida, daí, para trabalhar em serviços desagradáveis, só se for
muito mais bem pago do que os outros. Caso contrário, fica sem ser feito. Lixeiros,
peões e empregadas têm que ter casa própria, carro, computador, ir de férias para
a praia, ficar em hotel, ou seja, seu salário tem que ser, pelo menos, de uns três
mil por mês. Para mim o salário mínimo devia ser de três mil e o máximo de trin-

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ta mil, com uma média em dez mil, digamos. Para todo adulto, de qualquer gêne-
ro, raça, cor, religião, ideologia, estrato social, orientação sexual ou o que for.
Concordo com o Fernando Henrique de que quem tenha sido presidente por dois
mandatos não possa mais exercer nenhum cargo político. E sou a favor de muitas
alterações na legislação política, como a extinção da possibilidade de coligações e
do voto proporcional e a favor de alguma espécie de voto distrital ou por lista. E
sou, inclusive, a favor do parlamentarismo, com a extinção do Senado.
601. Você é tão egocêntrico quanto demonstra ser? (Pessoal)
Não vejo que seja egocêntrico, em absoluto. Sou sim, assertivo, isto é, afirmo
minhas convicções e opiniões de modo franco, direto e positivo, sem prepotência,
sem petulância, sem esnobismo. Sempre estou seguro de que tenho razão, pois,
logo que me convençam que não é assim, mudo meu modo de pensar, já que estou
sempre aberto a dar o braço a torcer. Pelo contrário, sou uma pessoa bem altruís-
ta, generosa, prestativa, solidária. Dizendo isso não considero que estou faltando
com a modéstia, pois, para mim, modesto é ser verdadeiro e não quem apresenta
uma humildade fingida. Conheço minhas qualidades e meus defeitos e os assumo
com franqueza. Tenho o defeito de ser perdulário, sentimental, esquecido, avoa-
do, molóide, guloso e procrastinador. Mas não sou nem um pouco preguiçoso,
avarento, invejoso, irado, egoísta ou soberbo. Quanto à vaidade, depende do as-
sunto. Tenho certa vaidade de meus conhecimentos, não nego. Mas não tenho
vaidade de minha aparência, de minha posição social, de minha reputação ou ou-
tras coisas. Egocêntrico é aquele que interpreta o mundo em termos de si mesmo.
O egocêntrico é ciumento e possessivo e vive em busca da aprovação de seu com-
portamento. Não sou nada disso. Não me importo, nem um pouco, com o que pen-
sem a meu respeito, nem se aprovam ou reprovam meus atos. Não tenho e nunca
tive ciúme nenhum de ninguém e sou uma pessoa totalmente desprendida de tu-
do. Você está completamente equivocado. Você precisa falar com as pessoas que
me conhecem pessoalmente.
602. Quero lhe dizer que, a cada dia, você me ajuda a me transformar em
uma pessoa melhor. (Pessoal)
Fico muito feliz em ler isso, pois é justamente o que me proponho a fazer
com meus escritos, especialmente pela internet, em meus blogs, nas comunidades
sociais e neste Formspring. Ao longo de minhas quatro décadas de magistério, em
que lecionei mais de doze mil aulas para o Ensino Médio e oito mil para o Superi-
or, para mais de cinco mil alunos, em quatro cidades (Barbacena, São João del Rei,
Juiz de Fora e Viçosa) sempre procurei, ao par de fazer os alunos aprenderem os
conhecimentos e habilidades específicas dos conteúdos de Física e Matemática
que ministrava, incutir em suas pessoas os valores éticos humanistas que defen-
do, uma visão de mundo livre-pensante e uma atitude cética na busca da verdade,
fatores que considero essenciais para o sucesso em encontrar um significado para
a vida e, daí, a realização e a felicidade, que são, em última análise, o que se busca

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PERGUNTE.ME
em tudo o que se faz. Nesses últimos nove anos que não mais estou lecionando,
passei a fazer uso da internet como meio de difusão do conhecimento científico,
filosófico, artístico e cultural, bem como de atitudes éticas e das concepções hu-
manistas, racionalistas, céticas, ateístas, anarquistas e poliamoristas que defendo
como as mais adequadas para a construção de um mundo melhor, mais igual, jus-
to, harmônico e fraterno para todos os seres, pelo cultivo da virtude, em especial
da bondade e da prática do bem, assim como da busca incessante da verdade. Ve-
já a avaliação que meus alunos fizeram de mim em (são quatro páginas):
http://www.ruckert.pro.br/texts/avaliacao_ernesto.pdf

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318
PERGUNTE.ME

GLOSSÁRIO
(em parte baseado na Wikipedia)

Abóboda Celeste – Superfície esférica imaginária, operações com os elementos de qualquer


centrada em um observador na superfície sistema numérico e suas propriedades.
da Terra, em que, aparentemente, situa-se Algo – Tudo o que possa existir ou ser concebido.
o limite do espaço exterior observável. Engloba entes, valores, ações, qualidades,
Absolutismo – Forma autocrática de monarquia, modos e todas as categorias.
em que o soberano concentra os poderes Alma – Entidade não física que se considera po-
executivo, legislativo e judiciário em sua der ser a sede da mente, especialmente da
pessoa. consciência. Seria imortal e de natureza es-
Absoluto – Diz–se de algo cuja existência não de- piritual. De alguma forma teria que se co-
penda de outrem ou de nada. Diz–se, tam- municar com o organismo para receber as
bém, de um juízo, cuja validade não depen- percepções e enviar os comandos motores.
da de nenhuma circunstância. Seria, também, a sede do princípio vital que
Abstração – Algo não existente no mundo natural, anima o organismo. Com a morte se des-
mas que seja apenas concebido por mentes. prenderia do corpo e teria uma espécie de
A concepção mental de algo. A operação vida própria, não biológica. Em algumas
mental de se conceber uma idéia sobre al- concepções poderia se reencarnar em ou-
go. tros corpos.
Ação – Operação que toma a iniciativa de proce- Ambiente – Conjunto de tudo o que seja externo a
der a uma alteração do estado de um sis- um dado sistema. Complemento dele em
tema. relação ao Universo.
Ad hominem – Argumento, em uma discussão, Amígdala – Órgão do Encéfalo, pertencente ao
baseado em características pessoais,reais Sistema Límbico, responsável pelo proces-
ou atribuídas, da pessoa com quem se dis- samento das emoções e da parte emocional
cute. da memória, especialmente no que se refe-
re à agressividade e à sexualidade.
Afeição – Amor moderado, geralmente sem dese-
jo sexual e sem o compartilhamento de in- Amizade – Sentimento de bem querer dissociado
teresses e atividades da amizade. de desejo sexual, no mais semelhante ao
amor.
Agnosticismo – Consideração de que não se pode
saber nada a respeito de algo, como a exis- Amor – Sentimento de querer bem a uma pessoa,
tência de Deus. caracterizado pela alegria da sua presença,
tristeza da sua ausência, desejo de compar-
Agressividade – Comportamento caracterizado tilhar carinho, desejo sexual, desejo de pro-
por ações ou palavras que provoquem da- teção, compartilhamento de interesses,
nos físicos ou morais a quem seja dirigida. companhia, atividades, empreendimentos
Ahura Mazda – Divindade benevolente do Zoroas- conjuntos, projetos de vida etc.
trismo. Criador, provedor e guia absoluto Amor Platônico – Amor não realizado no plano
do Universo. carnal.
Aleatoriedade – Característica de uma ocorrência Análise – Parte da Matemática que estuda a vari-
que diz que ela não se deu por motivo nem ação e o efeito cumulativo de funções.
causa nenhuma ou que seu resultado seja
imprevisível por não se conhecer os fatores Análise – Procedimento lógico de decompor um
que o determinem. juízo ou argumento em seus constituintes
elementares. De modo geral, processo de
Aleatório – Algo que ocorra sem ser determinado decompor um todo em suas partes, identi-
por nada, isto é, ao acaso. ficando-as.
Alegria – Estado mental de satisfação com o que Anarco–Comunismo – Comunismo anarquista,
ocorre com a pessoa no momento. isto é, situação em que não só os meios de
Álgebra – Parte da Matemática que cuida das produção sejam dos trabalhadores, mas

319
Ernesto von Rückert

também que toda a sociedade seja gerida com o propósito de propiciar prazer em
diretamente pelas pessoas, sem a existên- sua apreciação, mesmo que também possa
cia de estado e nem governo. ter outros objetivos, utilitários, por exem-
Anarquismo – Regime Político caracterizado pela plo. O produto dessa atividade.
ausência do estado e seu governo. Assertiva – ver Proposição.
Anisotropia – Situação em que as propriedades Assertividade – Atitude de afirmação pessoal sem
de um sistema físico variam com a direção prepotência, com modéstia e sem humilda-
espacial que se considera. de, vaidade, nem soberba, de forma franca,
Antimatéria – Matéria composta de antipartícu- direta e educada.
las, ao invés de partículas. Assexualidade – Situação em que não se tem de-
Antipartícula – Partícula cuja carga elétrica seja sejo sexual por ninguém nem do mesmo
oposta a da partícula correspondente, com nem do sexo oposto.
a mesma massa, spin e paridade. Astro – Corpo celeste. Dentre eles, estrelas, plane-
Antropologia – Ciência que estuda o surgimento, tas, satélites, nebulosas, galáxias e seus
a disseminação e evolução biológica e cul- aglomerados.
tural da espécie humana. Astrofísica – Ciência que estuda a composição, o
Antroposofia – Concepção criada por Rudolf Stei- surgimento, a estrutura, a dinâmica e a
ner, segundo a qual a realidade é essenci- evolução dos corpos celestes.
almente espiritual. Astrologia – Pseudociência que considera que a
Apatheia – Estado mental de ausência de paixão e posição dos astros determine as ocorrên-
de desejo. cias no mundo e na vida.
Aplicação – Relação que atribui a cada elemento Astronomia – Ciência que estuda a posição e o
de um conjunto um único elemento, do movimento dos astros, bem como a estru-
mesmo ou de outro conjunto, de acordo tura e distribuição de seus sistemas.
com regras preestabelecidas. Ataraxia – Estado mental de ausência de preocu-
Apriorismo – Condição de um juízo admitido co- pações de qualquer espécie.
mo verdadeiro de início, sem verificação. Ateísmo – Concepção de que não existam deuses,
Argumento – Expressão de um raciocínio que espíritos e entidades sobrenaturais de
produz um novo juízo, dito conclusão, a qualquer espécie.
partir de outros estabelecidos, ditos pre- Ateísmo Cético ou Fraco – Ateísmo que não acre-
missas. dita que existam deuses, mas não garante.
Arianos – Povo originário do Planalto Iraniano Ateísmo Dogmático ou Forte – Ateísmo que ga-
que colonizou o centro–norte da Índia e, rante que não existem deuses e nem espíri-
mais tarde, a Europa. tos.
Arimã – Senhor das trevas ou deus do mal no Zo- Autoconsciência – Função psíquica pela qual a
roastrismo. Senhor dos Devas. mente tem conhecimento de si mesma co-
Aritmética – Parte da Matemática que estuda as mo distinta do resto do mundo.
propriedades e operações dos números in- Autocracia – Regime Político em que o poder é
teiros e racionais. exercido por uma única pessoa, não esco-
Arjuna – General indiano que comandou o exérci- lhida democraticamente, de modo absolu-
to dos Pandavas contra os Kauravas no to, podendo ser na forma de monarquia ou
Mahabharata. Interlocutor de Krishna no república.
Bhagavad-Gita. Autopoiese – Situação em que um sistema toma a
Arqueoastronomia – Estudo antropológico dos iniciativa de funcionar, produzir–se e se
conhecimentos astronômicos dos povos an- suprir–se de energia por conta própria.
tigos. Autoritarismo – ver Autocracia.
Arte – Atividade que consiste na elaboração de Avatar – Encarnação de um deus em uma pessoa,
imagens, objetos, sons, movimentos, pala- no hinduísmo.
vras, encenações, edificações e o que seja

320
PERGUNTE.ME
Avesta – Escrituras persas do Zoroastrismo, da- ais formadas por um número par de
tadas de 1.500 AC, em forma de hinos ao quarks, como os mésons.
deus Ahura Mazda. Bóson de Higgs – Partícula que preencheria todo
Axiologia– Parte da Ética que estuda os valores, o Universo, constituindo um “Campo de
em especial o bem. Higgs” e cuja interação com as demais par-
Axônio – Apêndice principal caudal de um neurô- tículas lhes causaria a oposição à variação
nio que recebe os sinais provenientes dos do estado de movimento, medida pela
outros neurônios. Podem ser bem extensos, “massa inercial”.
da ordem de decímetros e, até, metros. Brahma – Primeira divindade da trindade hindu-
Baktun – Ciclo do Calendário Maia, correspon- ísta, ao lado de Vishnu e Shiva. Deus cria-
dente a 144.000 dias ou 20 K’atuns dor de cada ciclo do Universo.
Bárion – Partícula formada por três ou mais Brahman – O Deus impessoal, absoluto, imanente
quarks. São os prótons, nêutrons e hípe- e transcendente do Hinduísmo, do qual
rons. emana todo o Universo e toda consciência,
que, ao fim, voltam a ele, inclusive todos os
Behaviorismo – Corrente da Psicologia que des- outros deuses.
considera a existência da mente, enqua-
drando todo o psiquismo em fenômenos Brana – Superfície cósmica hipotética em um es-
comportamentais do corpo. paço multidimensional em que todas as
dimensões, menos duas, são mantidas
Beleza – Atributo de algo capaz de provocar pra- constantes.
zer em sua contemplação visual, auditiva
ou tátil. Buddah – Príncipe indiano, chamado Sidartha
Gautama, fundador do Budismo.
Bem – Algo que possa ser usado para suprir uma
necessidade ou um desejo. Budismo – Filosofia de vida pregada por Sidartha
Gautama, o Buddah, e seus seguidores.
Bem – Valor que atribui a qualidade de uma ação
ou algo ser capaz de provocar alegria, feli- Campo – Entidade da natureza de que tudo é feito
cidade, prazer, satisfação, lucro e esse tipo e que propaga as interações. Matéria e ra-
de sentimento. diação são quantizações de campo, sendo,
pois, campo, a única entidade substancial
Bhagavad-Gita (Sublime Canção) – Parte do básica do Universo.
Mahabharata que resume o núcleo do hin-
duísmo na forma de um diálogo entre Capitalismo – Sistema econômico em que os mei-
Krishna e Arjuna, seu cunhado e general os de produção de bens e prestação de ser-
ariano. viços são possuídos por pessoas ou grupos
que não necessariamente são os que traba-
Biologia – Ciência que estuda a vida e suas mani- lham para tal.
festações.
Característica – Propriedade de algo que lhe con-
Biota – Conjunto de seres vivos de um ecossiste- fere o aspecto de ser como é.
ma.
Carga – Propriedade de um sistema físico que lhe
Bissexualidade – Capacidade de sentir atração confere a capacidade de exercer e sofrer in-
sexual por pessoas de ambos os sexos. teração elétrica.
Bom – Qualidade do que produz lucro, provoca Carga Elementar – Carga exibida pelas partículas
alegria, felicidade, prazer, satisfação e esse subatômicas próton (positivo) e elé-
tipo de sentimento. tron(negativo) e que é a menor porção de
Bóson – Partícula elementar cujo spin seja um carga elétrica capaz de ser detectada expe-
número inteiro de constantes de Planck rimentalmente.
(divididas por dois pís), podendo existir Caseína – Tipo de proteína abundante no leite
sem limite de número no mesmo estado, que se coagula para a formação de queijos
capaz de ser produzida e aniquilada em in- e coalhadas.
terações, não obedecendo à conservação de
número. É o caso das partículas mensagei- Casual – ver Aleatório.
ras das interações e das partículas materi- Categoria – Modalidade do que existe ou possa

321
Ernesto von Rückert

existir. Engloba os entes ou entidades, os na contemplação de Deus.


seres, os objetos, as mentes, os valores, os Ciclo de Milankovitch – Variação periódica da
atributos ou qualidades, as ações, os mo- incidência da radiação solar na Terra que
dos, as relações, os eventos, os juízos, as provoca a ocorrência de eras glaciais. Está
formas, as extensões, as durações, as posi- relacionado com a precessão dos equinó-
ções, as localizações, as situações, as afec- cios, a excentricidade da órbita terrestre e
ções ou outras. a inclinação do eixo terrestre. Possui um
Catolicismo – Modalidade da religião cristã orga- período de 26 mil anos.
nizada sob a autoridade do Papa de Roma. Ciência – Modalidade de conhecimento sistemati-
Causa – Evento que determina a ocorrência de zada e verificada, de modo a propiciar mo-
outro, chamado “efeito”. delos descritivos da realidade, confiáveis e
Causal – Que tem uma relação de causa e efeito. capazes de predições.
Causalidade – Relação entre eventos que sejam Cinismo – Concepção de vida pela qual o supremo
um a causa do outro. bem seja o total desapego aos bens materi-
ais.
Célula – Unidade básica dos seres vivos, exceto
vírus, dentro da qual se processa todo o Circunstância – Situação em que algum evento
metabolismo responsável pela manutenção ocorra.
da vida. Há organismos de uma só célula ou Civilização – Estágio organizacional de um povo
de várias, como o ser humano, que possui em que se desenvolveu uma cultura elabo-
10 trilhões de células. Em organismos plu- rada, com arte, ciência, tecnologia, organi-
ricelulares as células se organizam em teci- zação social, fixação territorial, especial-
dos e estes em órgãos, com diferentes atri- mente com o estabelecimento de cidades.
buições. Coacervado – Aglomerado de moléculas protéicas
Célula eucariota – Célula mais desenvolvida, com isolado por algum tipo de membrana, pos-
núcleo celular distinto e a presença de mui- sivelmente lipídica que deve ter sido o pre-
tos tipos de organelas. Constitui alguns or- decessor da célula biológica.
ganismos unicelulares, como os protozoá- Coisa – Ente genérico. Algo que exista ou possa
rios e todos os pluricelulares. existir objetivamente, isto é não apenas
Célula procariota – Células primitivas, de orga- como idéia, abstração ou conceito.
nismos unicelulares, que não possuem nú- Colóide – Misturas de substâncias em que um dos
cleo nem diversas organelas, sendo bem componentes tem partículas de dimensões
menores. É o caso das bactérias. intermediárias entre as moléculas de uma
Cerebelo – Órgão do encéfalo responsável pela solução e as partículas de uma suspensão.
manutenção do equilíbrio e pelo controle Complemento – Conjunto de tudo o que não per-
do tônus muscular e dos movimentos vo- tença a um conjunto dado no conjunto total
luntários, bem como pela aprendizagem de todos os elementos da mesma categoria.
motora.
Composição – Aquilo de que é feita alguma coisa.
Cérebro – Principal órgão do encéfalo e do siste-
ma nervoso, responsável pela cognição, pe- Comprimento – Extensão de uma linha, medida
lo processamento das sensações, da per- pelo número de vezes que se pode dispor,
cepção, da memória, da consciência e pelo ao longo dela, de modo sequencial e justa-
controle geral do funcionamento do orga- posto, uma linha escolhida como unidade
nismo. de comprimento.
Ceticismo – Postura de se considerar que nunca Comunismo – Sistema político–econômico carac-
se tem certeza sobre a veracidade de algum terizado por estabelecer a extinção da pro-
conhecimento, mas apenas grande confian- priedade privada, que seria coletivizada, e
ça em face de todas as informações dispo- a posse dos meios de produção de bens e
níveis, devidamente verificadas. prestação de serviços pelas próprias pes-
soas que trabalham neles. Estabelece, tam-
Céu – Local em que as almas dos seres humanos bém, a extinção das classes sociais, com a
mortos em estado de graça permaneceriam transformação de todos em trabalhadores,

322
PERGUNTE.ME
mas não empregados. mesmo que o sistema passe por alguma
Comunitarismo – Organização da sociedade de transformação.
forma que a produção, a distribuição e o Constância – Fenômeno pelo qual certa grandeza
uso dos bens e serviços seja feita de modo permanece com valor invariável em um sis-
compartilhado pelos membros da coletivi- tema, à medida que passa o tempo.
dade. Constante de Boltzmann – Valor que relaciona a
Conceito – Significado de uma idéia. Expressão do densidade de energia de um sistema de
que algo venha a ser em termos de concei- partículas com a temperatura macroscopi-
tos já conhecidos. O conceito não é neces- camente observada dele.
sariamente preciso como a definição, mas Igual, no SI, a 1,3806503 × 10-23 jou-
tem que dar uma idéia que permita identi- les/kelvins.
ficar a coisa e distingui–la de outras. Constante de Planck – Valor que relaciona a ener-
Concepção – Modo de se considerar como algo gia de uma partícula com a frequência da
seja. onda associada a ela.
Condição – Conjunto de circunstâncias que possi- Igual, no SI, a 6,626068 × 10-34 jou-
bilitam a realização de um evento. les.segundos.
Configuração – Disposição estrutural espacial das Constante Gravitacional – Valor que relaciona a
partes de um sistema em relação às outras. intensidade da interação gravitacional en-
tre partículas com suas massas e seu afas-
Conhecimento – Conjunto de informações a res- tamento.
peito de algum aspecto da realidade. Inclui Igual, no SI, a 6,674287× 10-11 new-
o que seja, se existe, onde e quando, como tons.m²/kg²
é, como se dá, porque é como é e se dá co-
mo dá, que características possui, para que Contemplação – Atitude de observação exterior
existe, o que acarreta, como se produz e se ou interior em que a mente se detém em
controla, como se relaciona com o resto do considerar os aspectos do que observa, re-
que existe e outras informações. lacionando-os com o mundo e as vivências.
Conhecimento Científico – Conhecimento verifi- Contraditórias – Proposições que não podem ser
cado e sistematizado. ambas verdadeiras nem falsas.
Conhecimento Vulgar – Conhecimento não verifi- Contrárias – Proposições que não podem ser am-
cado nem sistematizado. bas verdadeiras mas podem ser ambas fal-
sas.
Conjectura de Poincaré – Afirmativa de que só
nas superfícies tridimensionais de topolo- Corão – Livro sagrado do Islamismo que teria
gia esférica qualquer caminho fechado po- sido ditado pelo Arcanjo Gabriel ao profeta
de ser reduzido a um ponto. Maomé.
Conjunto – Coleção do que quer que seja que pos- Corpo – Sistema físico material, extenso e limita-
sa ser listada ou identificada por alguma do.
propriedade comum que permita a sua in- Corpo – Sistema matemático constituído de um
clusão ou exclusão. Em particular pode não conjunto numérico munido de duas opera-
conter nada. ções, pelas quais, isoladamente, o sistema
Consciência – Função psíquica pela qual a mente seria um grupo abeliano e, conjuntamente,
tem conhecimento de algo que esteja pro- exibam a propriedade distributiva de uma
cessando, como uma percepção, um pen- em relação à outra.
samento, um raciocínio, uma emoção, um Corte Epistemológico – Situação em que a con-
sentimento, um comando etc. firmação da veracidade de um modelo teó-
Conscienciologia– Estudo supostamente científico rico explicativo da realidade exclui a vali-
da consciência. dade de explicações alternativas que não
sejam casos particulares ou não possam ser
Conservação – Propriedade exibida por algum reduzidas à explicação admitida como cer-
atributo de algo de tal forma que a grande- ta.
za que o mede em algum sistema permane-
ça com valor inalterado ao longo do tempo, Cosmogonia – Teoria sobre a origem do Universo.

323
Ernesto von Rückert

Cosmologia – Ciência que estuda a origem, a es- meio de representantes eleitos.


trutura e a evolução do Universo como um Dendrito – Apêndice filamentoso de um neurônio
todo. que leva o sinal nervoso para outros neu-
Cosmovisão – Modo de encarar o mundo e a vida rônios, existente em grande número em
por uma pessoa ou por uma concepção filo- cada neurônio.
sófica. Deontologia – Parte da Ética que estuda os deve-
Crátilo – Mestre de Platão, antes de Sócrates. Pre- res e as normas de conduta, isto é, a moral.
cursor do Ceticismo. Desejo – fato psicológico consistente no querer,
Criação – Ato de provocar o surgimento de algo. ou seja, ter vontade de que algo ocorra,
em particular, do Universo. sem, contudo, aplicar nenhum esforço no
Criacionismo – Concepção segundo a qual tudo o sentido de sua realização.
que existe foi individualmente criado dire- Deus – Entidade capaz de agir sobre a natureza à
tamente por Deus, incluindo cada espécie revelia de suas leis, inclusive criando–a,
de ser vivo. mantendo–a ou destruindo–a.
Criador – Ser ou o que seja que provoque o sur- Deva – Deus maligno do Zoroastrismo, que, sob o
gimento de algo. Em especial, o que tenha comando de Arimã, leva os homens ao mal
provocado o surgimento do Universo. e à devassidão.
Cristianismo – Crença e religião que considera Devassidão – Comportamento caracterizado por
que Jesus Cristo é uma encarnação de Deus, atitudes e ações não virtuosas, especial-
cuja morte permitiu à alma dos homens mente ligadas às práticas sexuais.
que morrem em estado de graça ascender Dia – Intervalo de tempo decorrido entre a passa-
ao céu. gem do Sol pelo meridiano zenital e uma
Criticismo – Corrente filosófica que considera que passagem imediatamente subsequente.
o conhecimento não seja apenas empírico Dialética – Arte de argumentar e convencer com
nem apenas racional, mas tanto um quanto base em raciocínios válidos.
o outro e que tem que ser submetido a uma
crítica de sua validade. Dialética – Na concepção de Hegel, trata-se do
processo lógico de obter uma síntese a par-
Cromodinâmica – Teoria quântica dos quarks, tir de uma tese e sua antítese. Na interpre-
partículas fermiônicas constitutivas dos tação marxista da História e da natureza, é
bárions que formam a matéria e dos glú- o modo pelo qual a evolução natural e his-
ons, partículas bosônicas responsáveis pela tórica se processa.
interação forte entre quarks.
Diálogo – Conversação amena entre pessoas.
Cronópio– Pessoa ingênua, cândida, otimista, ide-
alista, desordenada, sensível, altruísta, de- Dinâmica – Modo segundo o qual algum fenôme-
sapegada, solidária e pouco convencional. no se desenrola no tempo com relação às
Geralmente inteligente. Corresponde mais causas que o provoquem.
ou menos ao modelo INFJ das personalida- Direção – Propriedade comum ao conjunto de
des de Jung. todas as retas paralelas a uma dada reta,
Cultura – Complexo que inclui o conhecimento, as que representa sua orientação espacial.
crenças, a arte, a moral, a lei, os costumes e Discussão – Diálogo a respeito de dado tema, com
todos os outros hábitos e aptidões de um a defesa de opiniões diferentes a seu res-
povo. peito por parte dos participantes.
Definição – Expressão precisa do significado de Distância – medida da separação entre dois pon-
uma idéia em termos de outras já definidas. tos computada pelo comprimento de uma
Deísmo – Concepção segundo a qual o Universo linha geodésica cujos extremos neles se lo-
foi criado por um Deus, que, desde então, calize.
deixou–o à própria sorte, não o provendo Ditadura – Forma de Governo republicana auto-
nem intervindo em nada. crática em que o governante toma o poder
Democracia – Regime Político em que o poder é à revelia das normas institucionais.
exercido pelo povo, diretamente ou por Divindade – ver Deus.

324
PERGUNTE.ME
Djin – Um tipo de elemental da crença islâmica, Eletricidade – Denominação genérica ao conjunto
que é um espírito puro mas possuidor de de fenômenos em que participam as cargas
livre arbítrio, podendo fazer o mal ou o elétricas ou os campos elétricos.
bem e que interagiria com os seres huma- Eletrodinâmica – Ver Eletromagnetismo
nos.
Eletromagnetismo – Parte da Física que estuda a
DNA – Ácido Desoxirribonucléico – Molécula gi- interação entre cargas elétricas em repou-
gante em forma de dupla hélice, capaz de so ou em movimento.
replicar–se no meio celular, que contem as
unidades de codificação de proteínas, os Elétron – A mais leve das partículas elementares
genes. fermiônicas do grupo dos léptons que
compõe a eletrosfera dos átomos.
Doxa – Opinião. Juízo emitido sem fundamenta-
ção, aquilo que a pessoa “acha”. Elfo – Elemental da mitologia nórdica com caráter
de semi–deus.
Dualismo – Concepção pela qual a mente humana
é composta de uma parte física, o cérebro e Eliminativismo – Concepção filosófica e psicológi-
seus anexos e uma parte sobrenatural, a ca que abole a noção de mente, conside-
alma. rando os fatos psíquicos como puramente
fisiológicos.
Duende – Elemental mitológico genérico, do tipo
das fadas, geralmente verde e de orelhas Emaranhamento – Condição de um sistema pela
pontudas. qual duas ou mais de suas partes estejam
ligadas por uma condição tal que a altera-
Easy Music – Estilo de música popular melodiosa ção em alguma propriedade de uma delas
e orquestrada, semelhante a uma música altere instantaneamente o valor da propri-
clássica ligeira, porém com marcação rít- edade correlata na outra.
mica dançante e que também pode ser can-
tada. Emergência – Surgimento de um comportamento
em um estrato superior da realidade em
Economia – Ciência que estuda a produção e dis- função do comportamento dos estratos in-
tribuição de bens. feriores que o suportam.
Ecossistema – Conjunto formado por todas as Emoção – Ocorrência psicossomática caracteriza-
comunidades que vivem e interagem em da por alterações orgânicas como palpita-
determinada região e pelos fatores abióti- ção, sudorese, tremores, riso, pranto, mu-
cos que atuam sobre essas comunidades. dança na temperatura, paralisia muscular,
Edonismo – Concepção de vida pela qual o su- micção ou outras que se dêem sem o con-
premo bem seja o gozo dos prazeres, espe- trole voluntário da pessoa.
cialmente sensuais. Empírico – Condição de um conhecimento obtido
Efeito – Evento cuja ocorrência tenha sido causa- diretamente pelas informações dos órgãos
da por outro. sensoriais, sozinhos ou com o auxílio de
Ego – Controle pessoal sobre o comportamento. O instrumentos.
"ego" se forma desde a infância a partir da Empirismo – Concepção pela qual o conhecimen-
interação com o mundo, por meio de tenta- to do mundo se dá apenas pelas informa-
tivas e erros e das respostas em termos de ções fornecidas pelos órgãos sensoriais à
sucesso, insucesso, prazer ou dor. mente.
Elemental – Entidade sobrenatural não divina, Encéfalo – Parte do organismo animal que reúne
como anjos, silfos, demônios, gênios, djins, os principais órgãos do sistema nervoso,
elfos, gnomos, duentes e outros similares. responsáveis pelo controle do funciona-
Elemento – Cada um dos participantes de um mento do organismo.
conjunto, com ele admitindo uma relação Energia – Atributo dos sistemas físicos que lhes
de pertinência ou não. capacita a realizar algo, isto é, a produzir
Elemento – Espécie de substância química inca- alguma alteração no estado de si mesmo ou
paz de ser fracionada em outras substân- de outros sistemas que lhes estejam liga-
cias. dos.
Ente – Tudo o que substancialmente exista, possa

325
Ernesto von Rückert

existir ou se pense que exista por si mes- Espaço Euclideano – Espaço Geométrico em que
mo, isto é independentemente de mentes as geodésicas são retas.
que o concebam. Espaço Físico – Capacidade de caber algo. Conjun-
Entidade – Ver “Ente”. to dos lugares, isto é, das possibilidades de
Epicurismo – Concepção de vida pela qual o su- localização de algo.
premo bem seja a fruição tranquila dos Espaço Geométrico – Conjunto de todos os pon-
prazeres serenos, como o amor e a amiza- tos.
de, de modo frugal e temperado, sem exal- Espaço Riemanniano – Conjunto de pontos para
tações. os quais pode–se definir uma distância en-
Epifenômeno – Fenômeno que emerge de outro tre qualquer par deles que seja dada por
principal, mas não é fator causal para nada. uma forma bilinear das coordenadas dos
É como se fosse apenas um indicador da pontos.
ocorrência do fenômeno principal. Espaço–tempo – Entidade física conjunta que en-
Episteme – Conhecimento justificado e validado globa o espaço e o tempo.
por verificação evidencial direta ou por Espécie – Grupos de populações naturais que es-
comprovação lógica calcada em evidências tão ou têm o potencial de estar se intercru-
indiretas. zando, reprodutivamente isolados de ou-
Epistemologia – Parte da filosofia que cuida da tros grupos.
obtenção, validação, sistematização e clas- Espécie Humana – Espécie animal a que pertence
sificação do conhecimento. a humanidade atual (homo sapiens sapi-
Epistemológico – Característica de algo que se ens) e outras subespécies que já existiram
relacione ao conhecimento que se tem a ou possam vir a existir, como a homo sapi-
respeito dele. Uma consideração é episte- ens neandertaliensis.
mológica quando procura responder à Espectro Eletromagnético – Conjunto de possí-
questão “porque?” aquilo ocorre como se veis frequências da radiação eletromagné-
dá. tica, agrupadas, em ordem crescente de
Equinócio – Momento em que a Terra passa, em frequências nas ondas longas de rádio, on-
seu movimento orbital, pelos pontos de in- das curtas, micro–ondas, luz infravermelha,
tercessão do plano de sua órbita com o luz visível, luz ultravioleta, raios X, raios
plano do equador, o que propicia uma du- gama e raios cósmicos.
ração igual para o dia e para a noite. Espiritismo – Concepção segundo a qual as almas,
Erística – Técnica dialética que consiste em con- com a morte do organismo, retornariam à
vencer não pela lógica argumentativa, mas condição de espíritos e poderiam se unir ao
pelo uso de recursos intimidadores, trapa- corpo de algum outro ser que esteja nas-
ceadores ou escamoteadores da verdade. cendo. Ao longo das diversas vidas, em di-
Erotismo – Característica do que faça menção ou ferentes corpos, o espírito passaria por
evoque eventos sexuais. uma purificação que lhe permitiria, enfim,
deixar de reencarnar.
Erudição – Característica de uma pessoa ser pos-
suidora de conhecimentos amplos e pro- Espírito – Espécie de entidade de natureza so-
fundos a respeito de algum assunto, de brenatural, isto é, não física, quer material,
modo que possa argumentar consistente- radiante ou algum campo, que constituiria
mente sobre ele. a substância da alma, de Deus, dos anjos,
demônios, gênios ou outros elementais. O
Escolástica – Ver Tomismo. espírito seria real e não uma abstração e
Esoterismo – Concepção de que algum conheci- poderia interagir com entidades físicas,
mento deva ser restrito a um grupo de ini- como o corpo humano. Espíritos possuiri-
ciados, que o manterão em segredo. Diz–se, am consciência, memória, vontade, sensibi-
principalmente, de conhecimentos relati- lidade, inteligência, personalidade, tempe-
vos à influências transnaturais nos fenô- ramento, caráter e outros atributos psíqui-
menos naturais. cos. A existência de espíritos não é factu-
Espaço – Ver “Espaço Físico”. almente comprovada.

326
PERGUNTE.ME
Espiritualidade – Condição pessoal que represen- dez infinita que se revelou inexistente ex-
ta a identificação com valores e virtudes perimentalmente, fato que levou Einstein a
mais elevadas, como o altruísmo, a bonda- postular o seu “Princípio da Relatividade
de, o discernimento, a sabedoria, a inteli- Restrita”, segundo o qual a velocidade das
gência, a sensibilidade, o apreço pela beleza ondas eletromagnéticas, no vácuo, é inde-
e pela ordem, bem como a preocupação pendente do movimento, tanto da fonte
com o prevalecimento do bem e a erradica- quanto do observador e a mesma para to-
ção do mal. dos os referenciais.
Essência – Característica de algo pela qual ele seja Ética – Parte da Filosofia que cuida dos critérios
o que é, sem a qual ele seria outra coisa. de validação das ações humanas no sentido
Estado – Organização da sociedade humana que de serem corretas ou incorretas, boas ou
congrega uma população em certo territó- más, justas ou injustas, certas ou erradas.
rio, organizada em uma estrutura de go- Esses critérios devem nortear a Moral para
verno, com soberania interna perante o estabelecer as regras de comportamento
resto da humanidade. aceitáveis para a vida em sociedade.
Estado – Situação em que se encontra certo sis- Etnoastronomia – Estudo antropológico dos co-
tema, em termos de sua configuração e su- nhecimentos astronômicos dos diversos
as condições dinâmicas. povos.
Estado Federativo – Estado formado pela reunião Etnobiologia – Estudo científico da dinâmica de
de vários sub–estados com autonomia de relacionamentos entre pessoas e seus gru-
governo, mas com soberania internacional pos culturais, biota, e o meio ambiente,
única do conjunto. desde o passado distante até o presente
imediato.
Estado Unitário – Estado organizado na forma de
uma única entidade governamental. Eu – Instância mental que assume a consciência,
isto é que sabe das coisas. Aquele que é o
Estética – Parte da Filosofia que cuida da aprecia- "dono" da pessoa. O "Eu" é formado junto
ção do valor beleza dos seres, bem como do com o sistema nervoso na gestação e se
fazer humano intentado em provocar pra- nasce com ele.
zer em quem contemplar, ou perceber por
qualquer sentido, o produto desse fazer, Eudemonismo – Concepção de vida pela qual o
denominado arte. supremo bem seja a felicidade, que consiste
na condução virtuosa da vida, de modo se-
Estoicismo – Concepção de vida segundo a qual se reno, com especial ênfase na prática do
devam suportar com serenidade todas as bem.
adversidades e sofrimentos, abstendo–se
de paixões e desejos, bem como de preocu- Eudoxa – Proposição que representa um enunci-
pações. ado não verificado, justificado ou compro-
vado, mas que, até prova em contrário,
Estrela – Corpo celeste compacto, consistente de possa ser admitido como verdade a respei-
uma esfera de gás de tal dimensão que a to de algo por sua grande plausibilidade e
pressão e a temperatura de seu interior, indícios de veritabilidade.
pelo menos em alguma fase de sua evolu-
ção, seja capaz de produzir energia por re- Eupátrida – Habitante de Atenas que formava a
ações nucleares a ponto de conter a contra- aristocracia, isto é, os proprietários de ter-
ção gravitacional de suas partes, umas so- ras e escravos, que, a princípio, tinham a
bre as outras. Exceto quando tiverem esgo- prerrogativa de governar, até a instauração
tado totalmente suas fontes de energia, as da democracia.
estrelas são fontes de radiação em todas as Evento – Acontecimento, isto é, alteração no es-
faixas do espectro, especialmente de luz vi- tado de um sistema.
sível. Evidência – Constatação da veracidade de uma
Estrutura – Forma com que se configura espaci- proposição por verificação sensorial direta
almente um sistema. ou assistida por instrumentos.
Éter – Hipotético meio de propagação das ondas Evolução – Fenômeno observado nas populações
eletromagnéticas, de densidade zero e rigi- de seres vivos, pelo qual os indivíduos so-

327
Ernesto von Rückert

frem alterações genéticas fortuitas que lhes estuda a estrutura e composição dos cons-
mudam as características. Se essa mudança tituintes do Universo, seus movimentos e
for favorável ao maior sucesso adaptativo as interações que experimentam, formu-
ao ambiente, ela passará a ser preponde- lando modelos explicativos dos fenômenos
rante na população. Um acúmulo de mu- observados.
danças levará a que a população seja carac- Física (adj) – Característica de algo (ser ou even-
terizada como uma outra espécie biológica, to) que pertença ao mundo natural.
em relação à original.
Física Clássica – Parte da Física cujos modelos
Existência – Situação de algo que esteja presente explicativos dos fenômenos consideram
no mundo objetivo. apenas as baixas velocidades, em compara-
Exoterismo – Característica do conhecimento em ção com a da luz, dimensões macroscópicas
ser aberto ao acesso de qualquer um. e interações não muito fortes.
Falsidade – Inadequação entre um juízo ou pro- Física Quântica – Parte da Física cujos modelos
posição e a realidade em si mesma. explicativos consideram fenômenos num
Felicidade – Estado mental de fruição de paz, pra- nível de dimensões da ordem de poucos
zer, satisfação, serenidade, gozo, alegria e átomos ou menores.
tudo de bom. Fisicalismo – Concepção segundo a qual não exis-
Feminismo – Concepção de que as mulheres de- te realidade objetiva extrínseca à natureza,
vam ter os mesmos direitos dos homens e como o sobrenatural. Além da realidade fí-
os homens os mesmos deveres das mulhe- sica existem apenas os conceitos abstratos,
res. Movimento para se conseguir essa que não são entidades objetivas. Difere do
igualdade. materialismo por considerar, além da ma-
téria, a existência das demais categorias de
Femismo – Concepção de que as mulheres devam entidades físicas, como os campos e a radi-
ter privilégios em relação aos homens. Mo- ação, além do espaço, tempo, estruturas,
vimento para se estabelecer tais privilé- ocorrências e suas dinâmicas.
gios.
Forma de Estado – Modo segundo o qual o Estado
Fenomenológico – Característica de algo que se se estrutura administrativamente, como
relacione ao modo como se dá a sua ocor- uma única entidade (unitário) ou como um
rência. Uma consideração é fenomenológi- conjunto de entidades reunidas (federati-
ca quando procura responder à questão vo).
“como?” tal ocorrência se dá. Algo que se
explica pela ocorrência de eventos natu- Forma de Governo – Modo segundo o qual o go-
rais. verno de um Estado é exercido, podendo
ser por meio de um governante vitalício
Férmion – Partícula elementar cujo spin é um (monarquia), por revezamento de gover-
número semi–inteiro de constantes de nante(república) ou por um governante
Planck (dividida por dois pís). Obedecem o que usurpe o poder à revelia das normas
Princípio de Exclusão de Pauli e a estatísti- institucionais (ditadura).
ca de Fermi–Dirac. Envolve os léptons e os
quarks. Fortuito – Ver Aleatório.
Filosofia – Componente do saber humano que Fóton – Partícula representativa do “quantum” de
concerne ao estabelecimento dos significa- radiação eletromagnética, quando uma on-
dos, das razões, dos propósitos, da valida- da eletromagnética é absorvida ou emitida.
de, dos modos, das origens, da destinação, Fração – Número que representa certa quantida-
da classificação, do valor e do que mais seja de inteira de partições inteiras iguais da
procedente a respeito de tudo o que puder unidade. Quando menor que a unidade é di-
ser cogitado. Cuida também de como se ob- ta própria, caso contrário, imprópria. Por
ter tudo isso, o que é feito pela observação, extensão as frações também incluem os
experimentação, comparação, reflexão, ra- números inteiros.
ciocínio, para o que a própria Filosofia pro- Função – Relação matemática entre dois conjun-
vê a metodologia de trabalho. tos de forma que cada elemento do primei-
Física – Ciência fundamental da natureza, que ro seja relacionado a só um do segundo,

328
PERGUNTE.ME
mas um do segundo pode ser relacionado a Gnosticismo – Consideração de que se pode saber
mais de um do primeiro. tudo a respeito de algo.
Funcional – Função matemática em que os ele- Governo – Instituição encarregada de exercer o
mentos do conjunto de partida são, eles poder de controle do funcionamento de um
mesmos, funções e os do conjunto de che- estado.
gada são números. Gravidade – Ocorrência física que consiste na in-
Galáxia – Grande conglomerado de nebulosas, fluência que a massa e a energia de um sis-
estrelas, planetas, satélites e campos, uni- tema exerce sobre outros, de modo a alte-
dos pela gravidade recíproca e afastados de rar seu movimento ou deformá–lo. Classi-
outras concentrações de astros. camente e na Relatividade Restrita, a Gra-
Gene – Unidade de informação biológica transfe- vidade é considerada uma interação, cuja
rida entre as células de um mesmo indiví- intensidade é medida por uma força, à qual
duo ou entre indivíduos, como na reprodu- também se associa uma energia potencial.
ção. Os genes são corporificados em seg- Pela Relatividade Geral a Gravidade é ape-
mentos das moléculas de DNA e RNA e são nas uma manifestação da Inércia em espa-
os responsáveis pelas instruções biomole- ços com curvatura, provocada pelo conteú-
culares para a formação das estruturas de do de massa e energia que o preenche.
cada ser vivo, bem como do seu modo de Grupo – Sistema matemático constituído de um
funcionamento. conjunto numérico munido de uma opera-
Gênero – Expressão social do sexo. ção que goze das propriedades de fecha-
mento, associatividade, elemento neutro e
Gênio – ver Djin. elemento inverso.
Geociência – Ciência que estuda as características Grupo Abeliano – Grupo que possua a proprieda-
naturais do planeta Terra. de adicional de comutatividade em sua
Geodésica – Linha ao longo da qual se tem o me- operação.
nor caminho entre dois pontos. Uma geo- Hedonismo – Concepção de vida pala qual a frui-
désica não precisa manter a mesma dire- ção do prazer seja o bem supremo, que de-
ção. ve ser perseguida para a plena realização
Geografia – Ciência que estuda as características da pessoa.
do planeta Terra relacionadas com a vida Heterossexualidade – Orientação biopsicológica
humana. pela qual a pessoa sente atração sexual
Geologia – Parte das geociências que estuda a apenas por outra do sexo oposto.
composição, estrutura e evolução da crosta Hidrodinâmica – Parte da Física que estuda a di-
terrestre e suas camadas internas. nâmica dos fluidos, em especial da água.
Geometria – Parte da Matemática que estuda as Hilota – Servos gregos que eram propriedade do
figuras e as relações entre elas e entre suas Estado.
partes.
Hinduísmo – Conjunto de religiões de origem ari-
Gestalt – Corrente da Psicologia que considera ana na Índia, caracterizadas pela prolifera-
que a percepção e a interpretação mental ção de deuses e pela crença na reencarna-
do mundo é dominada pela forma do todo, ção.
que é mais do que a simples soma das par-
tes. Hiperlink – Conexão entre documentos ou partes
de um documento computacional digitali-
Glúon – Partícula bosônica não massiva, mensa- zado que se acessa diretamente por um cli-
geira da interação forte entre quarks. que do mouse.
Gnomo – Elemental do folclore escandinavo que Híperon – Bárion instável de massa maior do que
consiste em seres humanóides mágicos de o próton e o nêutron.
pequena estatura (alguns centímetros), ha-
bitantes das florestas e jardins e protetores Hipocampo – Órgão encefálico do Sistema Límbi-
da natureza. Os homens usam compridas co, semelhante a um cavalo marinho, do
barbas. tamanho de um dedo mínimo, existente em
par, situado na intercessão de uma reta que

329
Ernesto von Rückert

passa pelas orelhas com as que passam pe- ideias têm primazia sobre o mundo objeti-
los olhos, cuja função é registrar, tempora- vo, que seria uma representação delas. O
riamente, as percepções sensoriais do dia, a idealismo supõe a existência de uma reali-
serem transferidas para o córtex durante o dade espiritual, na qual as ideias estariam
sono. alojadas.
Hipótese – Proposição explicativa provisória de Ideia – Concepção mental a respeito de algo que
uma ocorrência que é proposta para ser exista ou possa existir.
testada. Caso confirmada, transforma–se Idiossincrasia – Característica especial própria e
em uma Lei científica. distintiva de um ser.
História – Ramo do conhecimento que estuda as Imanência – Propriedade de algo que faça parte
ocorrências havidas com os diferentes po- intrínseca do que se está referindo.
vos, culturas e nações ao longo do tempo,
com ênfase para os aspectos político, eco- Indício – Fato que indica alguma razão para a ex-
nômico, militar, social e cultural. plicação de algo. Que possa sustentar a ve-
racidade de uma assertiva, sem, contudo,
Holismo – Concepção ontológica e epistemológica ser capaz de comprová–la.
pela qual cada extrato da realidade possui
características próprias que não podem ser Infelicidade – Estado mental de privação, senti-
reduzidas apenas à contribuição dos estra- mento de intranquilidade, dor, sofrimento,
tos inferiores, mas que advém da ligação de tristeza, apreensão, medo e tudo de ruim.
todo sistema com o resto do Universo. Instituição – Organização social fixamente estabe-
Homem – Animal biologicamente classificado lecida para um determinado propósito.
como: Inteligência – Capacidade mental de solucionar
Domínio: Eukaryota de modo eficiente e eficaz qualquer tipo de
Reino: Animalia problema.
Filo: Chordata Intelligent Design – Concepção de que o Universo
Subfilo: Vertebrata tenha sido planejado por uma inteligência
Classe: Mammalia que o fizera surgir de acordo com esse pla-
Ordem: Primates no.
Subordem: Haplorrhini
Infraordem: Simiiformes Interação – Ação recíproca entre sistemas que
Parvordem: Catarrhini provoque alterações no estado de cada um.
Super-família: Hominoidea Interação Elétrica – Uma das interações funda-
Família: Hominidae mentais da natureza, Experimentada por
Gênero: Homo partículas subatômicas leptônicas, bariôni-
Espécie: Homo Sapiens cas e bosônicas que possuam o atributo
Subespécie: Homo Sapiens Sapiens denominado carga elétrica, podendo ser
Hominídeo – Espécime animal da família hominí- atrativa ou repulsiva.
dea da ordem dos primatas, consistente de Interação Forte – Interação atrativa experimen-
grandes macacos semelhantes ao homem, tada por partículas subatômicas, responsá-
como os gorilas, orangotangos, chimpanzés vel pela união de quarks a despeito de sua
e outras espécies pré–humanas já extintas, repulsão elétrica.
como os australopitecos, além do próprio Interação Fraca – Interação repulsiva experimen-
Homo Sapiens. tada por partículas subatômicas leptônicas
Homossexualidade – Atração sexual por outro e bariônicas responsável pela desintegra-
indivíduo da mesma espécie e mesmo sexo. ção radioativa com a emissão de léptons
Humildade – Atitude de quem não se considera por bárions, a despeito da atração elétrica.
superior a outrem e age com submissão e Intuição – Capacidade mental de propor solução
passividade, acatando as determinações de problemas sem o uso de raciocínio
alheias. consciente, advinda da atividade inconsci-
Id – Parte instintiva da mente. ente.

Idealismo – Concepção filosófica pela qual as Invariante – Grandeza ou relação entre grandezas

330
PERGUNTE.ME
que não se altera com a mudança do refe- de acordo com o que seja previsto em lei.
rencial em relação ao qual é medida. Legitimidade – Propriedade de alguma ação estar
Ironia – Expressão em que, em se afirmando algo, de acordo com o que seja ético.
se procura negá–lo, face a incongruência do Lei – Norma emanada pelo governo de um estado
que se expressa. para disciplinar a conduta social de seu po-
Islamismo – Religião monoteísta que segue os vo.
preceitos do profeta Maomé, consubstanci- Lépton – Partícula subatômica fermiônica, de
ados no Corão. carga inteira, sensível às interações fraca,
Isotropia – Fato de que as propriedades de um eletromagnética e gravitacional, mas não
sistema sejam as mesmas ao longo de qual- forte. Consiste nos elétrons, müons, táons,
quer direção que se considere. seus neutrinos e as antipartículas corres-
Jainismo – Religião indiana estruturada por pondentes.
Mahavira, contemporâneo de Buddah. Pre- Liberalismo – Sistema político–econômico capita-
ga os princípios da não violência, da since- lista baseado na defesa da liberdade indivi-
ridade, da honestidade, da castidade e do dual, nos campos econômico, político, reli-
desapego, preconizando uma vida de asce- gioso e intelectual, contra as ingerências e
tismo para limpar a alma. Como o Budismo, atitudes coercitivas do poder estatal. Seus
não concebe a noção de Deus, mas admite a principais conceitos incluem individualis-
samsara, ou metempsicose. mo metodológico e jurídico, liberdade de
Jihad – Luta islâmica da pessoa para conquistar a pensamento, liberdade religiosa, direitos
fé perfeita, bem como do Islã para difundir fundamentais, estado de direito, governo
a sua fé. limitado, ordem espontânea, propriedade
privada, e livre mercado.
Judaísmo – Religião monoteísta ancestral do povo
hebreu, da qual emergiu o Cristianismo. Libertarianismo – Filosofia política que tem como
Seu livro sagrado é o Velho Testamento da fundamento a defesa da liberdade indivi-
mesma Bíblia cristã, além do Talmude. Seus dual, da não–agressão, da propriedade pri-
principais líderes foram Abrahão e Moisés. vada e da supremacia do indivíduo. Esta fi-
losofia apoia: a total igualdade de direitos
Juízo – Afirmação ou negação que se faz de um civis entre pessoas do mesmo sexo, igual-
termo a respeito de outro. dade entre gêneros, a legalização do abor-
Juízo Analítico – Juízo necessário, contido nas to, pesquisa em células estaminais, legali-
próprias definições dos termos envolvidos. zação da maconha como o uso de outras
Juízo Sintético – Juízo advindo de uma verificação drogas (por ser o direito de liberdade de
fática da relação entre os termos. uso do consumidor), a legalização da euta-
násia e a presença de um Estado totalmen-
Juízo Sintético a Priori – Juízo não necessário mas te laico devido à liberdade religiosa. Por-
decorrente da estrutura intrínseca da men- tanto, o Libertarianismo apoia que os direi-
te. tos de liberdade de expressão, liberdade
K’atum – Ciclo do Calendário Maia, corresponden- mental (ou de expressão do pensamento),
te a 7.200 dias ou 20 Tuns. direitos fundamentais, liberdade religiosa e
Krishna – Avatar de Vishnu e, portanto de Brah- qualquer outra liberdade individual. Tam-
man. Personagem do Mahabharata. Uma bém é destacável a total "desburocratiza-
espécie de Jesus dos Hinduístas, que teria ção" estatal, a intervenção mínima do Esta-
vivido cerca de 32 séculos antes da era do, livre mercado e a redução de impostos.
cristã. O libertarianismo é um liberalismo mais
avançado ainda, tendendo ao anarquismo.
Laço Gravitacional – Teoria hipotética quântica
do Espaço–Tempo que se propõe a unificar Libertarismo – Ver “Libertarianismo”.
a Relatividade Geral com a Mecânica Quân- Língua – Linguagem construída pela atividade
tica, formando uma teoria unificada que in- vocal de algum animal consciente, como o
clua a gravitação. homem e outros.
Legalidade – Propriedade de alguma ação estar Linguagem – Forma de comunicação por meio de

331
Ernesto von Rückert

signos, inclusive suas regras sintáticas e Mal – Valor de alguma ação ou algo, por sua capa-
morfológicas. cidade em provocar dano, dor, prejuízo,
Linguística – Ciência que estuda a estrutura e tristeza, sofrimento, incômodo, desconforto
evolução das linguagens. e tudo de ruim que se possa conceber.
Linha – Conjunto de pontos contíguos que se dis- Marxismo – Proposta de atingimento do comu-
põem ao longo das posições que podem ser nismo por meio da implantação do socia-
ocupadas pelo deslocamento de um ponto. lismo, controlado por um governo ditatori-
al exercido por representantes dos traba-
Livre Arbítrio – Capacidade de fazer escolhas e lhadores, corporificados em um partido
tomar decisões livres a respeito de qual- único.
quer ação.
Masculinismo – Concepção de que os homens
Lógica – Disciplina que cuida da forma correta de devam ter os mesmos direitos das mulhe-
conduzir o raciocínio de modo a obter con- res e as mulheres os mesmos deveres dos
clusões válidas a partir de informações homens. Movimento para se conseguir essa
disponíveis. igualdade.
Lógico – Argumento feito ou conclusão obtida Massa – Denominação única para os vários con-
pela aplicação de regras válidas de raciocí- ceitos de massa, unificados pelo Princípio
nio. da Equivalência.
Logosofia – Escola desenvolvida pelo pensador e Massa de Repouso – Ver Massa Invariante.
educador humanista Carlos Bernardo Gon-
zález Pecotche, que busca oferecer ferra- Massa Gravitacional – Atributo de uma partícula
mentas de ordem conceitual e prática para que lhe capacita a exercer e sofrer intera-
obter o auto aperfeiçoamento, por meio de ção gravitacional. O valor da intensidade da
um processo de evolução consciente que interação é proporcional ao produto das
conduz ao conhecimento de si mesmo. massas das partículas envolvidas.
Lucro – Vantagem advinda da realização de um Massa Inercial – Atributo das partículas constitu-
trabalho ou da entrega de um bem a ou- tivas da matéria que mede a intensidade
trem. com que se opõem a ter o seu estado de
movimento alterado por interações. Pelo
Machismo – Concepção de que os homens devam Princípio da Equivalência é também a me-
ter privilégios em relação às mulheres. Mo- dida da capacidade de exercer e sofrer gra-
vimento para que tais privilégios sejam es- vitação. A Teoria Unificada das Interações
tabelecidos e mantidos. considera que o seu valor seja proveniente
Maçonaria – Sociedade esotérica de cunho filosó- da interação das partículas com uma partí-
fico/religioso interconfessional, de origem cula que preencheria todo o espaço, deno-
francesa, calcada em princípios do judaís- minada “Bóson de Higgs”.
mo. Ao longo da história abrigou muitos Massa Invariante – Valor da massa de um sistema
personagens importantes e teve influência em repouso em relação ao observador. É,
marcante em episódios como a Revolução simplesmente, a massa.
Francesa e a Independência dos Estados
Unidos. Massa Relativística – Antiga denominação do va-
lor da energia de um sistema dividida pelo
Macroestado – Estado global de um sistema, iden- quadrado da velocidade da luz, atualmente
tificado por suas propriedades capazes de em desuso.
serem mensuradas de forma global sobre o
sistema como um todo. Matazoário – Ser vivo composto de várias células
eucariotas.
Mahabharata – Escrito por Krishna Dvapayana
Vyasa no século VIII ou IX AC. Imenso poe- Matemática – Ramo do conhecimento concernen-
ma védico indiano que descreve guerras te ao estudo das relações entre as proprie-
entre clãs, contendo ensinamentos hinduís- dades quantitativas, posicionais, estrutu-
tas, especialmente em sua porção denomi- rais e variacionais de conjuntos do que
nada Bhagavad–Gita. Outra parte muito quer que seja, bem como da dedução lógica
bonita é a história de Damayanti. das consequências dessas propriedades.

332
PERGUNTE.ME
Matéria – Constituinte substancial do Universo e outros.
composto por partículas fermiônicas agru- Mentira – Juízo em desacordo com o que quem o
padas em átomos, que goza das proprieda- profere tenha por correspondente a pró-
des de extensão e inércia e possui o atribu- pria realidade.
to necessário de massa.
Méson – Partícula subatômica formada por dois
Matéria Condensada – Sistema físico material em quarks.
que os átomos, moléculas ou íons que o
compõe estão ligados de modo firme, man- Metafísica – Parte da Filosofia que cuida das rela-
tendo–se unidos nas alterações do estado ções entre as ocorrências que se dão com
do sistema em que esse aspecto permane- os seres.
ça. São os líquidos e os sólidos cristalinos e Meteco – Estrangeiros nas antigas cidades gregas.
amorfos. Metempsicose – Transmigração do espírito (al-
Material – Tipo de matéria de que um corpo seja ma) entre o corpo de um ser vivo que mor-
feito. ra para outro que esteja nascendo, mesmo
Materialismo – Concepção pela qual o mundo de outra espécie.
objetivo seja constituído apenas de maté- Microestado – Estado físico de um sistema carac-
ria, isto é, não existam espíritos, e que, por- terizado pelo conjunto de suas proprieda-
tanto, a mente seja apenas o resultado do des em nível atômico e molecular, como
funcionamento do cérebro. Atualmente tal posição, movimento, nível de energia e
concepção foi substituída pela noção de momento angular de cada um de seus cons-
“Fisicalismo”. tituintes. O número de microestados cor-
Matrix – Concepção pela qual o que consideramos respondentes a um dado macroestado do
como realidade seja uma representação sistema é o seu peso estatístico. A probabi-
virtual de um programa de computador. lidade do estado macroscópico é a razão
entre seu peso e o número de todos os mi-
Matriz – Entidade matemática constituída por um croestados possíveis. O logaritmo dessa
arranjo de números de qualquer espécie, probabilidade é a entropia do sistema.
ao longo de linhas e colunas, com o qual se
pode proceder a operações e ser usado co- Modéstia – Característica da pessoa que não exi-
mo domínio e imagem de relações e aplica- be suas qualidades.
ções. Por extensão uma matriz pode tam- Modo – Como se dá a realização de uma ocorrên-
bém possuir elementos dispostos ao longo cia.
de mais de duas dimensões, como linhas, Modus Ponens – Raciocínio pelo qual se conclui a
colunas e filas. Também se pode conceber afirmação do consequente pela afirmação
matrizes de matrizes. do antecedente de uma implicação.
Mau – Qualidade do que provoca dano, dor, preju- Modus Tollens – Raciocínio pelo qual se conclui a
ízo, tristeza, sofrimento, incômodo, descon- negação do antecedente pela negação do
forto e tudo de ruim que se possa conceber. consequente de uma implicação.
Mecânica – Parte da Física que estuda o movi- Molécula – Grupamento de átomos unidos por
mento, ligando–o às interações que o modi- ligações covalentes ou coordenovalentes.
ficam.
Molécula Replicante – Molécula capaz de, em um
Memória – Atividade mental de retenção e evoca- meio, produzir cópias de si mesma a partir
ção de percepções ou pensamentos. O pró- de átomos ou moléculas menores disponí-
prio registro delas. veis no meio. É o caso do RNA (ácido ribo-
Mente – Ocorrência de um organismo, no caso nucleico) e do DNA (ácido desoxirribonu-
biológico oriunda do funcionamento do sis- cleico). A existência de tais moléculas é es-
tema nervoso, especialmente do cérebro, sencial para haver vida como a conhece-
responsável pelo controle do funcionamen- mos.
to do organismo e por sua interação com o Momento Angular –Produto vetorial da posição
resto do mundo. Dentre seus atributos es- do centro de massa de um sistema por seu
tão a percepção, memória, raciocínio, emo- momento linear, em relação a um ponto.
ção, volição, consciência, auto–consciência Conhecido como “quantidade de movimen-

333
Ernesto von Rückert

to angular”, mede o total de movimento ro- Movimento – Alteração do estado de um sistema,


tacional do sistema, em termos do Impulso da condição de um ser ou mudança da po-
angular requerido para dar ou retirar essa sição espacial de algo.
rotação do sistema. Significa o quão difícil, Multiverso – Conjunto de vários Universos.
pela inércia, é tirar a rotação dele.
Mundo – Toda a realidade exterior à mente, inclu-
Momento Linear – Atributo de um sistema em indo o Universo Físico, a Sociedade e a Cul-
movimento que revela o quão difícil, pela tura.
inércia, é se tirar esse movimento dele.
Medido por uma grandeza calculada pelo Müon – Lépton mais pesado que o elétron, de pe-
produto da massa do sistema pela veloci- quena vida, decaindo no elétron. O tempo
dade de seu centro de massa. Conhecido de decaimento dos müons formados na alta
como “quantidade de movimento”, mede o atmosfera, medidos no referencial deles
total de movimento linear do sistema em mesmos e no da superfície foi uma das
termos do quanto de impulso é preciso pa- comprovações experimentais da Relativi-
ra dar ou retirar do sistema esse movimen- dade Restrita.
to. Grandeza conservada nos sistemas iso- Mutação – Alteração celular no momento de sua
lados. duplicação advinda de alterações nos gens,
Momentum – Ver “Momento Linear”. provocadas por radiação ou agentes quími-
cos. Pode ser induzida ou espontânea, mas,
Monarquia – Forma de Governo em que a chefia sempre, imprevisível. Devido a mutações
do estado é exercida por um mandatário nos gametas, a descendência de um indiví-
com mandato vitalício. Nas monarquias ab- duo pode ter aspectos diferentes. Esses as-
solutistas o monarca (rei ou imperador) pectos poderão ser inócuos ou relevantes
exerce também a chefia do governo com na relação do indivíduo com o ambiente. Se
poderes totais. Nas constitucionais ou par- forem favoráveis à sobrevivência do novo
lamentares o governo é exercido por re- indivíduo ou do seu grupo, serão transmi-
presentantes eleitos. tidas às novas gerações dele descendentes,
Monismo – Concepção pela qual a mente seja acarretando uma evolução.
apenas de uma natureza, natural ou sobre- Nação – Povo estabelecido com uma organização
natural. social e, geralmente, um governo.
Monogamia – Situação social em que o único mo- Nada – Ausência total de qualquer coisa: conteú-
do de relacionamento conjugal permitido do material, radiação, campos de força, es-
seja o de cada pessoa com um único cônju- paço vazio, transcurso de tempo e qualquer
ge. Tal condição também se estende aos re- tipo de estrutura, ocorrência lei física ou
lacionamentos amorosos não oficializados, regra de qualquer espécie. Nada não é uma
como os namoros. entidade, logo não pode ser precedido de
Moral – Conjunto de prescrições de comporta- artigo. Como tal “Nada” não é algo existen-
mentos e ações consideradas como permi- te, mas apenas a palavra designativa da au-
tidas pela sociedade em dado estrato social, sência de tudo. Portanto não existe e nem
grupamento, época e lugar. A moral deve se pode existir “o nada”, mas pode ser que não
basear na ética, mas nem sempre o faz. A exista “nada”.
moral é relativa ao contexto em que se dá, Nada jocaxiano – ver “Nada”
mas não é individualizada.
Neandertal – Espécie extinta do gênero Homo,
Morfogenético – Hipótético campo não físico que que viveu na Europa de 300 mil a 30 mil
guarda e transmite, à distância, a forma de anos atrás, tendo coexistido com a nossa.
uma sistema (molécula, cristal, célula), de
modo que a modificação em uma instância Nebulosa – Nuvem de gás intragaláctico de den-
seria transmitida a outra, sem contato ou sidade maior do que a média desse espaço.
interação física. Sua existência não é com- Muitas vezes luminosa por excitação ou re-
provada. flexão da luz de estrelas próximas. Podem
ser difusas ou planetárias, caso em que seu
Morte – Cessação do funcionamento de um orga- gás é proveniente da explosão de uma es-
nismo biológico como um todo. trela e fica em torno dela.

334
PERGUNTE.ME
Nerd – Pessoa especialmente dedicada ao estudo, cada pela unidade imaginária.
com grande interesse em conhecimentos e Número Imaginário – Número criado para com-
desenvolvimento de habilidades cognitivas pletar o resultado da operação de radicia-
e operacionais, geralmente desligada de ção, quando aplicada a números reais. Co-
atividades sociais. mo não há nenhum numero real que seja
Neurônio – Principal tipo de célula do sistema raiz de índice par de um número negativo,
nervoso, encarregada do processamento definiu–se número imaginário como aquele
neural dos sinais e de sua transmissão a que fosse esse resultado. Trata–se do pro-
outros neurônios. duto de um número real por uma unidade
Neutrino – Lepton sem carga elétrica que intera- imaginária – “i” – cujo quadrado seja (–1).
ge com outras partículas apenas por meio Número Inteiro – Elemento do sistema numérico
da interação gravitacional e da fraca. É cen- formado pelos números naturais acrescido
tenas de vezes mais leve que o elétron, a de seus simétricos negativos.
segunda partícula mais abundante do Uni- Número Irracional – Aquele cujo valor não pode
verso conhecido, depois do fóton e interage ser expresso por nenhuma fração.
com a matéria de forma extremamente dé-
bil. 65 bilhões de neutrinos atravessam ca- Número Natural – Elemento do sistema numérico
da centímetro quadrado da superfície da formado pelos números que representam a
Terra voltada para o Sol a cada segundo. contagem dos elementos de um conjunto
de elementos discretos, finito ou infinito,
Nêutron – Nucleon eletricamente neutro, consti- incluindo o vazio
tuído por um quark up e dois down.
Número Negativo – Número cujo valor represen-
Niilismo – Concepção pela qual nada tem signifi- ta o quanto tem que ser adicionado a ele
cado e não há razão para se ter nenhuma para que se obtenha o valor nulo (zero).
prescrição moral a reger a conduta huma-
na. Número Racional – Elemento do sistema numéri-
co formado pelos números inteiros e todas
Nirvana – Estado mental de total ausência de so- as frações positivas e negativas.
frimento e desejo.
Número Real – Número que representa o resulta-
Noética – Estudo pretensamente científico da es- do de uma medida de uma grandeza conti-
piritualidade e sua relação com o mundo fí- nuamente variável. Inclui todos os núme-
sico. ros racionais e os irracionais.
Norma – Prescrição, instrução a ser seguida na Numerologia – Pseudociência segundo a qual
execução de alguma ação, modo como deve números e operações matemáticas basea-
ser feito algo. das em caracteres, principalmente do no-
Nucleon – Partícula subatômica constituinte dos me, podem ser interpretados de forma a
núcleos: prótons e nêutrons. predizer ou modificar o futuro ou caraterís-
Número – Entidade abstrata representativa da ticas de personalidade.
propriedade comum a todos os conjuntos Objeto – Corpo que se possa, em tese, pegar.
que possam ser colocados em correspon- Ocorrência – Ver Evento.
dência biunívoca entre si, independente-
mente da natureza de seus elementos. Ontologia – Parte da Metafísica que se ocupa em
categorizar a realidade, isto é, dizer o que
Número "e" – Número irracional transcendente, cada coisa é.
dito de Euler. Base dos logaritmos neperia-
nos, aproximadamente igual a Ontológico – Característica de algo que se relaci-
2,718 281 828 459 045 235 360 287... one ao que ele seja em si mesmo, a que ca-
tegoria de realidade ele pertença. Uma con-
Número Complexo – Elemento do sistema numé- sideração é ontológica quando procura
rico formado por pares ordenados de nú- responder à questão “o que é?” que aquilo
meros reais. O primeiro elemento do par é seja.
a sua parte real e o segundo a sua parte
imaginária. Pode ser entendido como a so- Operação – Ação de produzir uma modificação
ma da parte real com a imaginária multipli- em um sistema de acordo com alguma re-
gra estabelecida.

335
Ernesto von Rückert

Operação Matemática – Relação entre elementos sua mãe sem a interveniência de nenhum
de dois conjuntos numéricos que produza pai.
um elemento de um terceiro conjunto de Partícula – Sistema físico indivisível e espacial-
uma forma estabelecida inequivocamente. mente pequeno em comparação ao tama-
Em particular esses conjuntos podem ser o nho da trajetória que vá percorrer, como a
mesmo. Terra em relação a sua órbita em torno do
Opus Dei – Organização internacional de leigos Sol.
católicos que pretende usar o trabalho co- Partícula elementar – A menor porção de matéria
mo forma de santificação. Considerada co- ou radiação possível. Pelo que se sabe até
mo uma espécie de “Maçonaria Cristã”. hoje, há dois grupos: férmions, formados
Organela – Sub-sistema celular delimitado por pelos léptons (elétrons, müos, taons e seus
membrana, encarregado de funções especí- neutrinos) e bárions (quarks); e bósons,
ficas. que são os fótons, os glúons e as transmis-
Organismo – Sistema complexo capaz de exibir a soras da interação fraca. A radiação é cons-
condição de vida. tituída de bósons e a matéria sempre tem
férmions, podendo também ter bósons. Pa-
Organização – Modo como se estrutura a configu- ra cada partícula existente há uma corres-
ração e o funcionamento de qualquer sis- pondente de antimatéria, que é igual mas
tema. com a carga oposta. Os bósons intermediá-
País – Território em que habita um ou mais po- rios das interações não possuem antipartí-
vos. cula, exceto o bóson W, da interação fraca,
Paixão – Sentimento amor intenso caracterizado que possui carga.
por absorção quase total dos pensamentos Pensamento – Atividade mental que consiste no
na pessoa, acompanhado de desejo de pos- processamento de percepções ou imagens
se e grande temor de perda. memorizadas, sejam pictóricas, auditivas,
Paleontologia – Ciência que estuda a vida passada cinestésicas, procedurais, emotivas ou de
do planeta. que tipo sejam, associando–as por meio de
ações, qualificando–as, modalizando as
Pandeísmo – Concepção de que o Universo seja ações, bem como produzindo novos regis-
uma emanação de Deus, mas que este tros como resultado do processo. O pensa-
transcenda a ela. mento pode ser um raciocínio, um senti-
Panenteísmo – Concepção de que o Universo seja mento, uma volição. Também pode ser
uma emanação de Deus, imanente a ele. consciente ou inconsciente.
Panteísmo – Concepção de que Deus seja o pró- Percepção – Interpretação mental de uma sensa-
prio Universo. ção no contexto das vivências pessoais e
Paridade – Propriedade de uma função pela qual das circunstâncias gerais do momento.
o valor da imagem permanece o mesmo Personalidade – Conjunto de características psí-
(paridade par), ou troca de sinal (paridade quicas distintivas de uma pessoa, como seu
ímpar) ao se trocar o sinal do elemento do temperamento, competências (inteligência,
domínio. Importante no contexto das fun- sensibilidade, criatividade), interesses, gos-
ções de onda descritivas do estado quânti- tos, motivações, posturas, atitudes, convic-
co de um sistema e característica conser- ções, auto–imagem.
vada em muitas interações físicas. Personalidade – Conjunto de características que
Parlamentarismo – Sistema de Governo pelo qual distinguem cada pessoa das outras pessoas,
o poder político é exercido por um gabinete isto é, seu "modo de ser", como seu tempe-
ministerial por delegação do parlamento, ramento, competências (inteligência, sen-
sem uma efetiva divisão dos poderes legis- sibilidade, criatividade), interesses, gostos,
lativo e executivo. A representação da na- motivações, posturas, atitudes, convicções,
ção é feita por um chefe de estado que pode auto–imagem. A personalidade se forma ao
ser um Presidente da República ou um Mo- longo da vida toda e vai se modificando à
narca. medida que se aprende. A personalidade é
Partenogênese – Geração de um novo ser vivo por composta de uma característica inata, que é

336
PERGUNTE.ME
o temperamento, bem como de aspectos Poliamor – Relacionamento amoroso múltiplo
adquiridos e moldados pela educação, co- entre mais de dois indivíduos.
mo o caráter. Poliandria – Relacionamento conjugal múltiplo
Pertinência – Ato de pertencer, isto é, de fazer entre uma mulher e vários homens.
parte de um conjunto, de ser um elemento Poligamia – Relacionamento conjugal múltiplo
dele. entre mais de dois indivíduos.
Pertinência – Qualidade de uma assertiva de se Poliginia – Relacionamento conjugal múltiplo
referir ao que se esteja em discussão. entre um homem e várias mulheres.
Pessoa – Indivíduo dotado de auto–consciência, Polimatismo – Erudição estendida a vários conte-
isto é da percepção da identidade de si údos distintos.
mesmo e de capacidade de pensamento
consciente. Normalmente um animal supe- Política – Arte e ciência de administrar a socieda-
rior. Em tese poderia ser também um indi- de, em especial um povo, um país, uma na-
víduo sobrenatural, caso exista. ção ou um estado.
Pi – Número irracional transcendente que ex- Ponto – Entidade geométrica primordial que pos-
pressa a razão da circunferência para o di- sui apenas localização, mas não dimensão.
âmetro de um círculo plano. Aproximada- Posição – Lugar em que algo se localize, especifi-
mente igual a cado por seu afastamento em relação a ob-
3,14159265358979323846264338327950 jetos conhecidamente posicionados.
2884… Positivismo – Corrente filosófica humanista que
Planeta – Corpo celestial que orbita uma estrela considera a observação e a experimentação
ou um remanescente de estrela, com massa como únicas fontes válidas do conhecimen-
suficiente para se tornar esférico pela sua to, descartando a busca das razões e con-
própria gravidade, mas não a ponto de cau- centrando–se na explicação do modo de
sar fusão termonuclear, e que tenha limpa- ocorrência dos fenômenos, sempre natu-
do de planetesimais a sua região vizinha rais.
(dominância orbital). Povo – Conjunto de pessoas que compartilham
Plano – Superfície sobre a qual é possível se des- características comuns, como idioma, cos-
locar sempre em linha reta,em qualquer di- tumes e cultura. Genericamente, as pessoas
reção. que habitam um país, ligadas por laços
Poder – Capacidade de fazer valer a vontade e econômicos.
obter a realização dos desejos. A fonte úl- Pragmatismo – Corrente filosófica que considera
tima do poder é a força. que a validade dos conceitos está na sua
Poder Executivo – A parte do governo encarrega- aplicabilidade prática.
da de executar as ações administrativas Prazer – Sensação que provoca satisfação mental
que promovem o funcionamento do estado. e corporal, isto é, estado de euforia e gozo.
Poder Judiciário – A parte do governo que zela Pré–História – Período da humanidade anterior à
pelo cumprimento das determinações go- invenção da escrita e do estabelecimento
vernamentais sobre o modo de agir em das cidades.
atendimento às disposições estabelecidas. Premissa – Uma das proposições em que se ba-
Poder Legislativo – A parte do governo que deli- seia um raciocínio.
bera sobre como e o que deve ser feito para Préon – Suposta partícula elementar constitutiva
conduzir o governo do estado, geralmente dos quarks, dos léptons e dos bósons.
por meio de leis.
Presidencialismo – Sistema de governo que prevê
Poder Moderador – A parte do governo que se a nítida separação entre os poderes legisla-
incumbe de promover a harmonia entre os tivo e executivo, sendo este exercido por
outros poderes, Nem sempre existe, acon- um presidente eleito independentemente
tecendo, normalmente nas monarquias da corrente majoritária do legislativo. O
constitucionais, em que o monarca o exer- presidente é tanto o chefe do governo
ce. quanto do estado.

337
Ernesto von Rückert

Procariota – Célula biológica desprovida de nú- procura explicar os fatos mentais a partir
cleo. da evolução biológica.
Processamento – Atividade de se produzir algu- Qualia – Característica mental de uma sensação
ma coisa. que lhe identifica.
Projecciologia – Pseudociência que estuda a pro- Qualidade – Característica de algo que lhe confira
jeção da consciência para fora do corpo. algum valor.
Proposição – Expressão linguística de um juízo, Quântica – Parte da Física que se ocupa com os
quer em linguagem verbal ou matemática. fenômenos que ocorrem com a matéria, a
Propriedade – Algo que pertença a alguém ou a radiação e os campos em nível microscópi-
algum grupo de pessoas ou instituição. co.
Propriedade – Característica de algo que o capaci- Quantidade de Movimento – Ver Momento Linear.
ta a ser capaz de alguma ação. Quark – Partícula elementar fermiônica constitu-
Protestantismo – Vertente do Cristianismo surgi- tiva das partículas formadoras dos átomos
da com o protesto de Martinho Lutero, no da matéria, como os bárions e mésons. Ex-
século XVII, na Alemanha, que se desligou perimenta as interações forte, eletromag-
da tutela do Papa de Roma e se organizou nética e gravitacional.
em várias confissões, conforme o aspecto Química – Ciência que estuda a composição da
doutrinário que aceitam ou rejeitam. matéria e os processos para se obter dife-
Protociência – Conhecimento com possibilidade rentes materiais.
de ser científico que ainda não logrou atin- Raciocínio – Processo mental de inferência de
gir um estágio de “corte epistemológico” uma conclusão a partir de dois ou mais juí-
pelo qual, a cada momento, apenas uma zos.
versão explicativa de cada fenômeno seja Racionalismo – Corrente filosófica que privilegia
aceita como verdadeira. É o caso da Psico- a razão em detrimento da experiência do
logia, Sociologia, História, Economia e ou- mundo sensível como via de acesso ao co-
tras, caracterizadas por possuírem “Escolas nhecimento. Considera a dedução como o
de Pensamento”. método superior de investigação filosófica.
Próton – Partícula subatômica constituinte dos O racionalismo é baseado nos princípios da
núcleos, formada por dois quarks ups e um busca da certeza e da demonstração, sus-
down, com uma carga positiva equivalente tentados por um conhecimento a priori, ou
à do elétron e massa de 1836 elétrons. seja, conhecimentos que não vêm da expe-
Provedor – Aquilo que mantenha a existência de riência e são elaborados somente pela ra-
algo. zão.
Pseudociência – Conhecimento pretensamente Radiação – Constituinte do Universo formado por
científico que, entretanto, não é capaz de campos elétricos e magnéticos vibrantes
passar por um teste de falseabilidade. É o auto–propelentes, que transporta energia,
caso da Astrologia, Numerologia, Homeo- quantidade de movimento linear e angular,
patia e similares. sem possuir massa de repouso. Em função
de sua frequência a radiação pode ser uma
Psicanálise – Concepção da Psicologia que intro- onda de rádio, micro–onda, luz infraverme-
duz as noções de id, ego e superego, bem lha, luz visível, luz ultravioleta e raios ga-
como de inconsciente, subconsciente e ma, à medida que a frequência aumenta.
consciente. Também é o método psicotera- Sua emissão e absorção pela matéria só se
pêutico baseado nessas noções pela consci- dá em pacotes quantizados, chamados fó-
entização do conteúdo inconsciente. tons.
Psicologia – Ciência que estuda o comportamento Raio Cósmico – Partícula elementar que viaja pelo
e os processos mentais dos seres vivos espaço com velocidade próxima à veloci-
providos de senciência. Também pode ser dade da luz.
um processo terapêutico de tratamento de
afecções comportamentais e mentais. Raio Gama – Radiação eletromagnética cuja fre-
quência seja maior do que dez quintilhões
Psicologia Evolutiva – Corrente da Psicologia que

338
PERGUNTE.ME
de Hertz, equivalente ao comprimento de movam entre si de qualquer modo, bem
onda de dez trilhonésimos de metro. como que estejam sob o efeito gravitacio-
Reação – Ação de um sistema (ou do ambiente) nal de massas e campos energéticos varia-
sobre um sistema em resposta a uma ação dos.
deste. Relatividade Restrita – Teoria que correlaciona os
Realidade – Conjunto de tudo o que existe, quer valores das grandezas físicas medidas por
perceptível pelos sentidos quer concluído observadores fixos em referenciais que se
por considerações científicas ou filosóficas. movam com velocidade constante entre si.
Realismo – Movimento artístico da segunda me- República – Forma de Governo em que o gover-
tade do século XIX que passou a considerar nante ocupa seu cargo em forma de reve-
a realidade e não a fantasia como o objeto zamento, por prazos estabelecidos. Nas re-
fundamental de uma obra de arte, seja mu- públicas democráticas o mandatário é esco-
sical, coreográfica, pictórica, literária, tea- lhido pelo povo ou por seus representan-
tral, escultórica, poética ou arquitetônica. tes.
Reducionismo – Concepção segundo a qual qual- Resultado – ver Efeito.
quer fenômeno pode ser explicado em ter- Reta – Linha traçada por um ponto que se desloca
mos de um conjunto de fenômenos num ní- sempre para frente, sem desvio lateral.
vel mais baixo da realidade. Assim a reali- RNA – Ácido Ribonucléico – Molécula gigante que
dade de nível mais baixo seria a física, aci- participa da transcrição de gens entre mo-
ma da qual vem a química, depois a bioló- léculas de DNA.
gica, a psicológica, a sociológica, a econô-
mica, a política. Dessa forma, em última Rosacruz – Fraternidade esotérica que se propõe
análise, todo fenômeno seria físico. O redu- auxiliar a evolução espiritual da humani-
cionismo é dito “linear”, quando se consi- dade. Tem relações com a alquimia, o gnos-
dera que o todo seja a soma das partes e ticismo, o ocultismo, o hermetismo, a caba-
“não linear” quando se considera que o to- la e ao neoplatonismo.
do provém das partes, mas não como a Samsara – Ver Metempsicose.
simples soma. Outra concepção reducionis- Sarcasmo – Escárnio ou zombaria, intimamente
ta é a que cada sistema do Universo não é ligado à ironia com intuito mordaz, quase
isolado do resto, de modo que ocorrências cruel, muitas vezes ferindo a sensibilidade
extrínsecas sempre interferem no sistema. da pessoa que o recebe.
Essa concepção, sendo não linear, abarca o
holismo. Satélite – Astro que se move em uma órbita ao
redor de outro.
Reencarnação – Transmigração da alma de um
corpo para outro da mesma espécie, após Satisfação – Estado mental de prazer advindo da
sua morte. Ver Metempsicose. realização de alguma ação ou da recepção
de alguma sensação.
Regime Político – Modo pelo qual a sociedade se
estabelece em termos do exercício do po- Senciência – Capacidade de ter sentimentos, co-
der político, podendo ser uma democracia, mo dor, prazer, alegria, tristeza, medo, an-
uma autocracia, ou uma anarquia. siedade, nojo e outras emoções.

Regra – Ver Norma. Sensação – Atividade mental consistente na aqui-


sição de informação do ambiente a partir
Relação – Associação entre um elemento de um de órgãos adrede disponíveis para tal.
conjunto e outro do mesmo ou de outro
conjunto, de acordo com regras preestabe- Sensibilidade – Aspecto da personalidade que
lecidas. Estabelecimento de vínculos entre exprime a intensidade de sentimento que
elementos de qualquer categoria. uma pessoa experimenta pela percepção de
algo ou pelo processamento cognitivo de
Relatividade Especial – Ver “Relatividade Restri- uma emoção. Capacidade mental de se
ta”. emocionar com a percepção de coisas e fa-
Relatividade Geral – Teoria que correlaciona os tos, bem como refinamento e apuração da
valores das grandezas físicas medidas por capacidade de percepção das sensações.
observadores fixos em referenciais que se

339
Ernesto von Rückert

Sentido – Cada uma das duas possibilidades de tas e zela pela preservação da natureza.
orientação do deslocamento de um ponto Sinapse – Ligação entre a ponta de um dendrito
sobre uma linha. de um neurônio e o axônio de outro. A si-
Sentido – Capacidade do organismo adquirir in- napse é um espaço no meio encefálico
formação do ambiente por meio de órgãos através do qual são transmitidas mensa-
específicos: Visão, audição, olfato, paladar, gens por meio da migração de moléculas
tato, sentido térmico, dor, fome, sede, cóce- neurotransmissoras oriundas do dendrito
gas, equilíbrio, posicionamento esquelético, para o axônio.
funcionamento visceral e muitos outros. Siquismo – Religião monoteísta indiana fundada
Sentimento – Pensamento consistente na raciona- pelo guru Nanak no século XV.
lização de uma emoção. Sistema – Sub conjunto do Universo perfeitamen-
Ser – Ente que, de fato, existe, objetivamente no te identificado, isto é, que sempre se possa
mundo. Apesar do substantivo “ser”ser a saber o que faz parte e o que não faz parte
mesma palavra que o verbo “ser”, que de- dele, mesmo que isso seja variável.
nota permanência, o ser não é imutável Sistema de Governo – Modo pelo qual o governo é
nem perene. Ele é o que está sendo a cada exercido, podendo ser parlamentarismo ou
momento. Mas, para ser o que é, é necessá- presidencialismo.
rio que sua essência permaneça.
Sistema Límbico – Parte do encéfalo responsável
Ser Humano – Ver Homem. pelo processamento das emoções, interfe-
Sérico – Concentração de algo contido no plasma rindo positiva ou negativamente no funcio-
sanguíneo. namento visceral e na regulamentação me-
Sexo – Característica biológica que permite aos tabólica de todo o organismo. Constitui–se
seres vivos se reproduzirem com mistura da amígdala, hipocampo, tálamo, hipotála-
de material genético de mais de um da mo, giro singulado, tronco cerebral, septo e
mesma espécie. outras áreas responsáveis por diversos
processos básicos do funcionamento do or-
Sexualidade – Comportamento dos seres sencien- ganismo.
tes voltado para sua reprodução sexual,
mesmo que não necessariamente a reali- Sistema Numérico – Conjunto de números ao qual
zem. se atribuem algumas operações que possu-
em propriedades bem definidas.
Shiva – Terceira divindade da trindade hinduísta,
responsável pela destruição do Universo, Situação – Ver Estado.
que, então, é recriado por Brahma e manti- Sobrenatural – Aquilo que não é natural e seria
do por Vishnu. capaz de interferir na natureza, como seri-
Si – Consciência de si mesmo que o "Eu" tem. O am os espíritos e as divindades.
"Si" se forma aos poucos, desde a vida fetal Socialismo – Sistema econômico em que os meios
até a adolescência, de forma mais acelerada de produção de bens e prestação de servi-
na primeira infância, quando o sistema ços são de propriedade do estado e contro-
nervoso vai conhecendo-se a si mesmo e lados pelo governo.
percebendo que se é distinto do resto do Sociedade – Conjunto de pessoas que convivem
mundo. A percepção dessa dicotomia entre interativamente para obter os bens e servi-
si mesmo e o resto é a auto-consciência, ou ços desejados para a vida.
o "Si".
Sociologia – Ciência que estuda o comportamento
Signo – Sinal pictórico ou fonético a que se atribui dos grupamentos humanos.
um valor para proceder comunicação lin-
guística. Um signo ou um conjunto deles Sofista – Filósofo versado em retórica, lógica e
deve ser significante de um significado real dialética, sem preocupação com a validade
que se pretende comunicar. ética, metafísica e epistemológica do que
discute.
Silfo – Elemental mitológico superior, de grande
beleza, que habita o ar, modela as nuvens e Solipsismo – Consideração de que a única reali-
os flocos de neve, inspira os poetas e artis- dade existente é a própria mente da pes-
soa, tudo o mais sendo um produto das ati-

340
PERGUNTE.ME
vidades mentais, como se fora uma aluci- uma linha, que pode se deformar enquanto
nação. se desloca.
Solução – Mistura em que as dimensões das par- Supersimetria – Hipotética teoria física de partí-
tículas componentes são todas de ordem culas elementares que considera que, para
molecular. cada bóson, existe um férmion correspon-
Spin – Propriedade de um sistema físico advinda dente, o conjunto separado por meia uni-
de seu momento angular (quantidade de dade de spin entre as partículas. Não se
movimento rotacional) intrínseco, isto é, tem confirmação da existência de muitas
relativo ao centro de massa. No caso quân- partículas previstas por essa hipótese.
tico, o spin não representa um giro cinemá- Superveniência – Surgimento de alguma proprie-
tico e seu valor é quantizado em termos da dade em um extrato superior da realidade
Constante de Planck. que não se reduza a uma emergência dos
Sturm und Drang – Movimento literário românti- extratos inferiores.
co alemão do final do século XVIII em opo- Supraluminal – Que possui velocidade maior do
sição ao iluminismo e ao classicismo fran- que a da luz, de 299 792,458 km/s.
ceses, com ênfase na emoção em vez da ra- Surgimento – Ato da passagem da inexistência
zão. Seus principais expoentes foram Go- para a existência.
ethe e Schiller.
Suspensão – Mistura em que a dimensão das par-
Subluminal – Que possui velocidade menor do tículas de um dos componentes é bem
que a da luz, de 299 792,458 km/s. grande, da ordem de um micrômetro, em
Substância – Aquilo de que algo seja feito. relação aos demais, da ordem molecular, is-
Substância Química – Espécie de material incapaz to é, um nanômetro.
de ser separado fisicamente em outros Tachions – Supostas partículas elementares capa-
constituintes. zes de se mover com velocidade maior do
Summa Teológica – Obra máxima de Tomás de que a da luz. Jamais encontradas.
Aquino, o principal filósofo da Idade Média, Tao – A totalidade do que existe. O caminho de
cujo pensamento se tornou oficial da Igreja aceitação do mundo como é, sem querer
Católica. modificar a própria natureza
Supercorda – Entidade física que se propõe seja o Tao te Ching – “Livro do Caminho da Virtude”
constituinte de todas as partículas subatô- supostamente ditado por LaoTsé ao guarda
micas elementares. Trata–se de um anel de da fronteira quando de sua saída definitiva
campo de matéria cujos modos e energias da China que resume, em 81 poemas, o en-
de vibração caracterizariam todas as partí- sinamento da filosofia taoísta.
culas com suas diversas características, Taoísmo – Religião tradicional chinesa baseada
como, carga, massa, spin, helicidade e ou- nos ensinamentos de LaoTsé e de Chuang
tras. Hipótese ainda não verificada. Tse, com a incorporação de práticas religi-
Superdotação – Condição mental de quem seja osas tradicionais da China.
possuidor de faculdades psíquicas muito Teísmo – Consideração de que Deus exista não
desenvolvidas, como percepção, memória, apenas como criador do Universo, mas
inteligência, sensibilidade, criatividade, vo- também como seu provedor continuado.
lição e outras que lhe capacitam a um de-
sempenho cognitivo, comportamental ex- Teleológico – Característica de algo que se relaci-
cepcionais e personalidade marcante. one à finalidade dele. Uma consideração é
teleológica quando procura respondera à
Superego – Censura do comportamento para questão “para que” aquilo existe.
adequá-lo ao convívio social. Enqunato o
"id" é o desejo, o "ego" e o querer e o "su- Telômero – Estruturas constituídas por fileiras
perego" é a decisão. repetitivas de proteínas e DNA não codifi-
cante que formam as extremidades dos
Superfície – Conjunto de pontos contíguos que se cromossomos. Sua principal função é man-
dispõem ao longo das posições que podem ter a estabilidade estrutural do cromosso-
ser ocupadas pelo deslocamento lateral de mo. O envelhecimento se dá pela deteriori-

341
Ernesto von Rückert

zação dos telômeros. Família e Propriedade. De inspiração cató-


Temperamento – Aspecto da personalidade liga- lica tradicionalista, fundada por Plínio Cor-
do às tendências comportamentais inatas. rêa de Oliveira em São Paulo, na década de
Segundo a classificação tradicional pode 60 do século XX.
ser sanguíneo, fleumático, colérico, melan- Tomismo – Escola filosófica que segue a orienta-
cólico e nervoso. ção de Tomás de Aquino, filósofo medieval
Tempo – Entidade física não substancial que ad- católico. Também conhecida como “Esco-
vém das alterações do estado global do lástica”.
Universo. A marcha do tempo de um ob- Topologia – Parte da Matemática que estuda as
servador em relação a outro pode não relações posicionais entre figuras e pontos.
coincidir em razão das velocidades e acele- Torque – Medida da intensidade da ação requeri-
rações relativas, bem como da curvatura do da para alterar o estado de rotação de um
espaço em que está cada um (campo gravi- sistema.
tacional).
Totalitarismo – Regime Político em que o governo
Tensor – Entidade matemática que, além de valor, é exercido por um grupo ou partido com
possui orientações espaciais múltiplas. O controle total sobre todas as atividades so-
nome provém da grandeza tensão, cujo va- ciais.
lor sobre a superfície de um corpo depende
tanto da orientação da superfície no ponto, Transcendência – Característica de algo que o
dada por uma perpendicular a ela, quanto eleva acima das necessidades prosaicas de
da direção que se considere a tensão sobre sobrevivência e o reveste de um significado
o ponto em questão. vinculado a valores superiores, como ver-
dade, bondade, beleza, justiça, sabedoria e
Teologia – Estudo de Deus e de suas atividades e similares.
propriedades a partir das pretensas “reve-
lações”, contidas nas escrituras sagradas de Tudo – Conjunto total do que existe, do qual nada
cada religião. seja excluído.
Teologia da Libertação – Concepção teológica Tun – Ciclo do Calendário Maia, correspondente a
segundo a qual Jesus Cristo é autor de uma 360 dias
proposta de libertação da humanidade não Übermensh – Ser humano ideal concebido por
apenas do poder de Satanás, mas da opres- Nietzsche, possuidor das virtudes elevadas
são social das classes dominantes em rela- de um nobre, como bravura, integridade,
ção às dominadas. coragem, iniciativa, inteligência e outras
Teoria – Modelamento explicativo de um conjun- que tais.
to correlato de fenômenos, devidamente Uniformidade – Característica de algo que per-
comprovada. manece imutável ao longo do espaço.
Teoria M – Hipótese que unifica as cinco diferen- Universo – Conjunto de tudo o que existe, existiu
tes teorias das cordas, com a Supersimetria e existirá em todos os possíveis lugares e
e a Supergravidade. Essa hipótese diz que momentos.
tudo, matéria e campo, é formado por Universo Fecundo – Teoria cosmológica que con-
membranas, e que o universo flui através sidera que o Universo vive um processo
de onze dimensões. Teríamos então três evolutivo do tipo que ocorre na Biologia.
dimensões espaciais (altura, largura, com-
primento), uma temporal (tempo) e sete Vácuo – Espaço não preenchido por matéria, mas
dimensões recurvadas, às quais são atribu- apenas por radiação e campos. Quando não
ídas outras propriedades, como massa e houver matéria, nem campo, nem radiação
carga elétrica. tem–se um espaço vazio, o que não é o caso
do vácuo.
Termodinâmica – Parte da Física que faz a ligação
entre a Termologia e a Mecânica. Validação – Verificação da validade de um racio-
cínio ou da eticidade de uma ação.
Termologia – Parte da Física que estuda a produ-
ção e transmissão do calor entre sistemas. Validade – Característica de uma ação de produ-
zir o que se pretende de modo eticamente
TFP – Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição,

342
PERGUNTE.ME
aceitável. Vício – Propensão para agir de forma a fazer pre-
Validade – Propriedade de um raciocínio de con- valecer o mal.
duzir a conclusões corretas a partir de suas Vida – Ocorrência de um sistema caracterizada
premissas. por sua iniciativa de prover–se de energia e
Valor – Categoria filosófica consistente em algo a atuar sobre o ambiente.
que se possa atribuir uma qualidade de me- Virtude – Propensão para agir de forma a fazer
lhor ou pior, por exemplo, beleza, bondade, prevalecer o bem.
preço. Vishnu – Segunda divindade da trindade hinduís-
Vazio – Espaço não preenchido por matéria, radi- ta, encarregado da manutenção do Univer-
ação, campo, estruturas ou ocorrências. so, entre uma criação, por Brahma e uma
Não existe vazio no Universo e nem fora destruição, por Shiva. Um de seus avatares
dele. (encarnações humanas) é Krishna.
Vedas – Livros sagrados do hinduísmo. Volição – Ação psíquica caracterizada pela toma-
Velocidade da Luz – Velocidade com que se pro- da de decisão em escolher uma dentre vá-
pagam as ondas eletromagnéticas no vá- rias alternativas apresentadas para a exe-
cuo. Aproximadamente igual a 299 792,458 cução de uma ação.
km/s. Vontade – Capacidade mental de exercer volição.
Verdade Absoluta – Adequação entre a realidade Weltanschauung – ver Cosmovisão.
e o que se diz a respeito dela. Zeitgeist – Espírito da época, espírito do tempo
Verdade Objetiva – Consenso entre muitas ver- ou sinal dos tempos. Zeitgeist significa, em
dades subjetivas tomado como verdade ab- suma, o conjunto do clima intelectual e cul-
soluta. tural do mundo, numa certa época, ou as
Verdade Subjetiva – Adequação entre o que uma características genéricas de um determina-
pessoa considera que seja a realidade e o do período de tempo.
que ela diz a respeito dela. Zend Avesta – Escritura sagrada do Zoroastrismo.
Veritação – Processo de aferição do caráter de Zênite – Ponto de interseção da abóboda celeste
verdade de uma proposição. com a vertical do local.
Vertical – Reta que dá a direção da gravidade efe- Zoroastrismo – Sistema religioso e filosófico sur-
tiva de um local, indicada pelo fio de pru- gido na Pérsia no século VI antes da era
mo. cristã.
Vetor – Ente geométrico que representa uma Zumbi – Animal que vive de modo inconsciente,
grandeza que, além do valor numérico, sem vontade própria, em geral, mas não
possui uma orientação espacial, com dire- necessariamente, atendendo comandos de
ção e sentido, como a velocidade e a força. outra mente.

343
Ernesto von Rückert

344
PERGUNTE.ME

ÍNDICE DE QUESTÕES POR ASSUNTO

Aconselhamento - 24, 25, 197, 333, Cosmologia - 1, 2, 6, 53, 59, 61, 63, 87,
341, 344, 346, 348, 351, 377, 392, 89, 91, 144, 146, 152, 207, 211,
412, 416, 529 212, 215, 219, 220, 239, 261, 276,
Anarquismo - 9, 236, 243, 247, 249, 286, 294, 315, 316, 317, 318, 319,
265, 285, 289, 305, 345, 349, 350, 320, 323, 326, 328, 334, 336, 346,
373, 375, 378, 474, 571 374, 447, 448, 449, 450, 451, 487,
497, 500, 507, 528, 531, 541, 556
Antropologia - 113
Dialética - 170, 206
Arte - 18, 35, 168, 217, 266
Economia - 19, 247, 257, 488, 495,
Astrofísica - 586
536
Astronomia - 232
Educação - 20, 26, 28, 29, 38, 69, 77,
Ateísmo - 5, 51, 105, 106, 107, 111, 78, 79, 82, 95, 139, 194, 195, 231,
112, 114, 116, 117, 121, 122, 128, 237, 243, 260, 277, 284, 291, 314,
130, 132, 135, 136, 137, 180, 182, 327, 333, 335, 348, 351, 367, 377,
220, 233, 234, 235, 256, 259, 261, 381, 393, 405, 414, 421, 437, 464,
265, 275, 277, 279, 342, 363, 442, 509, 511, 521, 530, 543, 546, 569,
453, 459, 473, 483, 486, 516, 570, 574, 577, 579, 580, 592, 593, 598
581
Epistemologia - 56, 81, 96, 142, 143,
Biologia - 23, 50, 56, 62, 232, 302, 372, 170, 173, 176, 190, 191, 205, 208,
455, 482, 505, 594 210, 242, 246, 255, 263, 397, 427,
Ceticismo - 173, 306, 403, 443 443, 454, 514, 584
Ciência - 16, 52, 142, 154, 189, 191, Esoterismo - 70, 149, 283, 324, 368,
192, 195, 246, 261, 267, 313, 327, 432, 434, 484, 485, 515, 517, 518,
329, 339, 358, 388, 397, 441, 454, 520, 537, 549, 587
501, 506, 524, 550, 575 Espiritualidade - 15, 55, 158, 331
Comportamento - 27, 29, 37, 43, 49, Esportes - 37
60, 73, 77, 84, 90, 109, 114, 130,
Estética - 168, 266
139, 157, 158, 161, 164, 166, 171,
174, 175, 177, 178, 179, 193, 197, Ética - 4, 7, 48, 88, 93, 94, 133, 139,
213, 214, 228, 229, 230, 248, 253, 153, 169, 264, 291, 292, 297, 310,
270, 277, 287, 292, 293, 307, 309, 366, 372, 404, 452, 457, 458, 494,
311, 321, 325, 329, 335, 340, 350, 495, 502, 506, 512, 558, 560
357, 361, 370, 371, 376, 379, 384, Evolução - 1, 110, 113, 167, 196, 199,
411, 418, 419, 421, 425, 428, 200, 201, 202, 217, 239, 388, 389,
431438 439 444 445 452 460 468 462, 465, 499, 561
471 475 478 491 503 504 523 539 Feminismo - 27
545 551 564 566 576 584 585 590
Filosofia - 25, 48, 54, 65, 73, 131, 160,
596
181, 187, 224, 225, 241, 245, 258,

345
Ernesto von Rückert

312, 360, 362, 386, 446, 513, 514, 475 476 508 510 526 532 552 553
527, 542, 567, 573 554 590 595 599 601 602
Física - 17, 21, 25, 57, 67, 85, 141, 194, Pintura - 76
250, 271, 299, 330, 382, 393, 413, Poesia - 43
480, 493, 497, 498, 535, 557, 572,
Política - 9, 10, 13, 19, 26, 28, 72, 75,
579, 583
80, 129, 247, 254, 365, 378, 396,
Geociências - 300, 477, 565 398, 402, 404, 471, 474, 494, 496,
Geometria - 11 536, 546, 548, 555, 563, 578, 582,
História - 22, 31, 54, 268 588, 589, 591, 597, 600
Informação - 332 Pseudociência - 147, 148
Informática - 408, 463 Psicologia - 18, 20, 23, 25, 30, 34, 44,
45, 47, 50, 58, 71, 145, 150, 151,
Inteligência - 42
260, 288, 353, 362, 417, 522, 534,
Internet - 140, 408 568
Linguística - 469 Quântica - 85, 194, 205, 250, 271, 317,
Literatura - 36, 226, 262, 278, 281, 382, 480, 535, 572, 579
313, 399 Relacionamento - 68, 269, 270, 321,
Lógica - 81, 96, 176, 208, 358, 367, 325, 341, 344, 353, 390, 392, 534,
469 540, 585
Matemática - 8, 12, 69, 221, 222, 223, Relatividade -, 67, 271, 356
227, 314, 335, 359, 369, 380, 383, Religião - 9, 32, 50, 64, 92, 93, 97, 98,
385, 394, 446, 574, 577 99, 100, 101, 102, 103, 104, 107,
Metafísica - 150, 151, 159, 165, 218, 108, 109, 115, 118, 119, 120, 121,
238, 240, 299, 406, 413, 424, 428, 123, 124, 125, 126, 127, 129, 131,
448, 493, 497, 507, 514, 525, 535, 132, 134, 138, 158, 163, 183, 184,
541 185, 186, 198, 234, 252, 280, 290,
Música - 33, 66, 229, 274, 295, 352, 294, 296, 298, 301, 303, 304, 308,
355, 401, 405, 426, 562 309, 322, 331, 387, 388, 395, 420,
422, 423, 433, 435, 436, 440 453
Neurociência - 8, 145, 481, 519, 538, 456 472 479 489 490 492 539 544
568 547 548 555 559 573 575 576 598
Nutrição - 364, 533, 564 Saúde - 3, 27, 340, 362, 364, 430, 439,
Ótica - 21, 330 482, 494, 533, 564
Pessoal - 3, 4, 14, 15, 24, 38, 39, 40, 41, Sexualidade - 39, 68, 162
46, 65, 72, 74, 75, 76, 77, 84, 86, Sociologia - 79, 83, 155, 158, 194, 237,
103, 107, 111, 130, 140, 150, 155, 243, 245, 268, 272, 282, 287, 292,
156, 162, 168, 172, 186, 188, 203, 324, 354, 361, 367, 384, 409, 414,
204, 209, 212, 229, 244, 251, 258, 415, 452, 466, 467, 470, 488, 495,
259, 273, 274, 280, 284, 311, 337, 501, 503, 525, 536
338, 343, 347, 349, 352, 354, 357,
370, 381, 390, 391, 400, 407, 410, Termologia - 17, 557
426, 429430 441 459 460 461 463

346
PERGUNTE.ME

ÍNDICE REMISSIVO (por página)


Acosta, Virgilio, 169 Ben-Dov, Yoav, 169, 297
Afeganistão, 49 Berkeley, 17, 157, 169
África, 7, 104, 232 Berkeley, George, 157
AIDS - Sídrome da Bessel, Friedrich Wilhelm, 181
Imunodeficiência Adquirida, Bhagavad Gita, 54, 82
156 Bíblia, 1, 11, 41, 43, 46, 47, 53,
Albânia, 53 54, 76, 82, 118, 134, 171, 187,
Alonso, Marcelo, 169 198, 240, 274, 296
Ampère, André-Marie, 238 Big Bang, 18, 20, 21, 56, 86, 88,
Anglo, 4, 59, 78, 145, 148, 261 133, 141, 189, 203, 260, 271
Antropologia, 44, 107, 140, 268, BioAgro - Instituto de
269 Biotecnologia Aplicada à
Antroposofia, 266 Agropecuária, 61
Aquino, Tomás de, 41, 51, 75, Biologia, 6, 7, 17, 19, 20, 21, 24,
186, 208, 213, 294 29, 32, 41, 43, 73, 83, 86, 95,
Arábia Saudita, 49 126, 136, 140, 149, 162, 195,
Arfken, George, 174 202, 231, 247, 259, 268, 270,
Aristóteles, 208, 281 282, 304, 305
Asimov, Isaac, 94 Bissexualidade, 112, 135
ASP - Active Server Page, 181 Boff, Leonardo, 3
Asperger, Hans, 16 Bohm, David Joseph, 106, 184,
Assexualidade, 112 249
Astronomia, 3, 29, 86, 95, 140, Bolívia, 49
166, 168, 268 Bose, Satyendra Nath, 138
Atkins, Peter, 233, 297 Bóson, 33, 138, 293
Avesta, 82 Bourgogne, 15
Bach, Johann Sebastien, 24, 154, Branas, 56, 57, 85, 88, 163, 250
155, 274 Brown, Daniel (Dan), 119
Balzac, Honoré de, 93 Brownlee, Donald, 21, 96
Barbacena, 43, 59, 136, 144, 145, BSCS - Biological Sciences
148, 149, 236, 261, 308 Curriculum Study, 304
Bárion, 134, 138 Buarque, Chico, 69, 114, 190,
Beatles, 117 288
Behe, Michael J., 51, 172, 237, Buarque, Cristovam, 301
293 Buddha, Gautama, 63, 65, 67, 80,
Beiser, Arthur, 169 138, 139, 167, 187, 198
Belo Horizonte, 14, 149, 235, 262 Budismo, 82, 102, 171, 279, 306
347
Ernesto von Rückert

Byrne, Rhonda, 249 Comte, Auguste, 116, 139


CAICS - Centros de Atendimento Comte-Sponville, André, 139
Integral à Criança, 238 Conan Doyle, Arthur, 93
Cairns-Smith, Graham, 83 Constantino, 67
Capozzoli, Ulisses, 106 Copérnico, Nicolau, 78
Capra, Fritjof, 249 Corão, Al, 41, 43, 46, 54, 76, 82,
Cardinal Transfinito, 4 198, 296
Cardoso, Fernando Henrique, Coréia, 49, 256
308 CorelDraw, 180
Carrol, Peter, 58 Cosmologia, 3, 1, 2, 13, 18, 20,
Castro, Fidel, 4, 46, 47 21, 24, 29, 33, 34, 41, 43, 56,
Castro, Raul, 4 57, 60, 69, 77, 85, 86, 88, 89,
Catolicismo, 76, 124 92, 96, 106, 110, 117, 120,
CBAC - Chemical Bond Approach 123, 131, 132, 133, 134, 135,
Committe, 304 137, 138, 140, 141, 148, 163,
CBPF - Centro Brasileiro de 168, 174, 195, 203, 204, 205,
Pesquisas Físicas, 145, 148, 207, 249, 253, 255, 260, 271,
261 272, 279, 287, 288
Cervantes Saavedra, Miguel de, Costa Pinto, Manuel da, 8
177 Courant, Richard, 131
Chalmers, David, 57 Cowan, Clyde L., 169
Chardin, Teillard de, 113 Craig, William Lane, 50, 51, 52,
Chauí, Marilena, 8 85, 106, 144, 171, 186, 210,
Chesterton, Gilbert Keith, 106 233, 234, 265, 297
Chopra, Deepak, 106, 249 Cristianismo, 3, 19, 34, 37, 38,
Christie, Agatha, 94 43, 46, 48, 62, 63, 64, 67, 122,
Churchland, Paul, 57 123, 124, 172, 175, 243, 257,
CIEPS - Centros Integrados de 264, 267, 306
Educação Pública, 238 Cristo, Jesus, 3, 12, 35, 37, 38, 39,
Clarke, Arthur, 94, 299 43, 45, 46, 47, 63, 64, 67, 76,
Close, Frank, 169, 297 80, 82, 118, 130, 138, 139,
CMS - Content Management 172, 186, 187, 198, 240, 242,
System, 181 243, 273, 274, 287
CNPq - Conselho Nacional de Crossan, John Dominic, 233
Desenvolvimento científico e Cuba, 4, 49, 256
Tecnológico, 61 Dacey, Austin, 234
Coelho, Paulo, 118 Damásio, António, 57, 186
Cohen-Tannoudji, Claude, 174 Dante - Durante degli Alighieri,
Collins, Francis, 171, 293 177, 275

348
PERGUNTE.ME

Darwin, Charles Robert, 81, 237 Ensino, 26, 32, 43, 77, 80, 95,
Dawkins, Richard, 49, 51, 106, 118, 120, 130, 136, 148, 150,
113, 237 166, 169, 184, 195, 202, 235,
Dembsky, William Albert, 51 238, 267, 268, 284, 296, 307,
Dennett, Daniel Clement, 51 308
Denton, Michael John, 51 EPCAR - Escola Preparatória de
Derive, 180 Cadetes do Ar, 145, 261, 303
Descartes, René, 78, 186, 199, Epica, 117, 190
294 Epicteto, 54, 67, 139, 274
Dickens, Charles, 93, 177 Epicuro, 2, 74, 152
Dilma Rousseff, 103, 288, 296, Era, 40, 117, 190
301, 306, 307 ESCP - Earth Science Curriculum
Dinamarca, 53 Project, 304
Dirac, Paul Maurice Adrien, 169, Espinoza - Baruch de Spinoza,
260, 297 158, 294
Dolce, Osvaldo, 131 Estônia, 53
Dostoievski, Fiodor, 47, 93, 106, Ética, 1, 2, 17, 33, 35, 52, 54, 60,
107, 177 69, 108, 122, 123, 124, 129,
EAFB - Escola Agrícola Federal 159, 162, 168, 179, 207, 232,
de Barbacena, 145, 261 233, 252, 256, 260, 263, 287
Eça de Queirós, 93 Europa, 7, 53, 62, 232
Economia, 5, 6, 28, 74, 84, 86, Everett III, Hugh, 163
100, 104, 107, 116, 152, 250, Fapemig, 61
252, 268, 269, 278, 282 Fermat, Pierre de, 15
Educação, 6, 8, 9, 13, 16, 29, 30, Férmion, 33, 293
42, 61, 66, 76, 85, 96, 101, 118, Feuerbach, Ludwig Andreas von,
120, 121, 122, 161, 170, 176, 53
177, 180, 184, 185, 188, 190, Feynman, Richard P., 8, 169, 297
194, 207, 237, 238, 244, 256, Fields, John Charles, 17
257, 258, 269, 271, 278, 283, Filosofia, 2, 3, 8, 12, 15, 17, 18,
284, 285, 286, 290, 293, 303, 20, 23, 24, 27, 29, 41, 43, 51,
307 59, 66, 69, 71, 72, 75, 77, 78,
Ehrman, Bart D., 82 84, 86, 88, 93, 97, 98, 99, 101,
Einstein, Albert, 2, 13, 16, 21, 35, 104, 105, 106, 118, 128, 130,
88, 106, 130, 138, 158, 272 136, 138, 149, 150, 152, 157,
Eisberg, Robert M., 169, 174, 297 158, 166, 168, 171, 176, 190,
Encore, 181, 288 193, 194, 195, 196, 202, 223,
ENEM, 31, 136, 262, 267 234, 235, 260, 263, 270, 280,
Engels, Friedrich, 175 281, 282, 283, 290, 294, 304

349
Ernesto von Rückert

Finale, 181 Gleiser, Marcelo, 80, 99, 148, 207


Finn, Edward J., 169 Globo, 9
Física, 2, 3, 5, 7, 8, 12, 19, 21, 24, Gnosticismo, 266
25, 29, 32, 33, 36, 41, 43, 54, Goethe, Johann Wolfgang von,
55, 59, 73, 77, 80, 84, 85, 86, 130, 173, 177
99, 102, 110, 116, 125, 136, Goswami, Amit, 106, 249
138, 140, 145, 148, 149, 150, Gould, Stephen Jay, 172, 237
151, 166, 168, 169, 174, 183, Grã-Bretanha, 53
195, 196, 202, 205, 215, 221, Graham, B. J., 169
228, 229, 235, 238, 246, 248, Grotch, Howard, 169
249, 251, 253, 254, 261, 268, Guernica, 69
270, 277, 282, 287, 293, 295, Haendel, Georg Friedrich, 24,
297, 298, 304, 308 274
Fitzgerald, Michael, 17 Hakim, 139
Flash, 181 Haldane, John Burdon
Flaubert, Gustave, 177 Sanderson, 83, 90, 231
Formspring, 3, 4, 53, 99, 168, Halliday, David, 168, 169, 174,
181, 182, 195, 236, 252, 261, 297
283, 308 Harris, Samuel, 51
Fóton, 13, 86, 125, 134, 138, 155, Hawking, Stephen, 80, 106, 148
215, 221, 225, 237, 252 Haydn, Franz Joseph, 24, 111,
Fourier, Jean Baptiste Joseph, 274
181 Heisenberg, Werner Karl, 169,
França, 7, 53 184, 297
Franz Ferdinand, Arquiduque da Hemingway, Ernest, 93
Áustria, 262 Herbert, Frank, 94
Freeman, Scott, 236 Herron, Jon C., 236
Freud, Sigmund, 80 Hertzsprung, 299
FUNARBE - Fundação Arthur Heterossexualidade, 112, 135
Bernardes, 61 Hewitt, Paul G., 8
Futebol, 12, 84 Higgs, Peter, 33, 80
Galilei, Galileu, 78 Hipatia de Alexandria, 67
Gauss, Johann Carl Friedrich, 238 Hipona, Agostinho de, 2, 35, 67
Geografia, 12, 32, 86, 107, 136, História, 7, 8, 10, 12, 18, 32, 41,
152, 235, 262, 282, 304 43, 86, 107, 112, 136, 140,
Geologia, 29, 86, 268 152, 166, 168, 169, 234, 235,
Ghandi, Mohandas Karamchand, 262, 280, 282, 288, 304
63, 65 History Channel, 26
Gilbert, Walter, 83

350
PERGUNTE.ME

Hitchens, Christopher Eric, 51, Kant, Immanuel, 31, 229


233 Kapra, Fritjof, 106
Hitler, Adolf, 18, 103, 130 Kardec, Allan, 41, 46, 82, 138,
Holanda, 53 198, 264
Holismo, 19, 269, 270, 292 Kasner, Edward, 13
Holladay, Wendell G., 169 Kelvin, Lord (William Thomson),
Homero, 177 299
Homossexualidade, 10, 112, 243 Kepler, Johannes, 78, 248
Hoyle, Fred, 163 Knight, Randall D., 169, 174, 297
HTML - HyperText Markup Krishna, 138
Language, 181 Krishnamurti, Jiddu, 65
Hubble, Edwin Powell, 28, 131, Lakoff, George, 242
132, 273 Lamb, Marion J., 237
Hume, David, 107 Lao Tsé, 67, 139
Iezzi, Gelson, 131 Law, Stephen, 8
Império Romano, 10 Le Guin, Ursula, 94
Índia, 65, 264 LeDoux, Joseph, 186
Ingersoll, Robert Green, 53 Lefebvre, Marcel, 41
Irã, 48, 49 Legendre, Adrien-Marie, 181
Irlanda, 49 Leithold, Louis, 174
Islã, 52 Lenin, Vladimir Ilyich, 175
Islamismo, 48, 122, 123, 175, Lerner, Lawrence S., 169
257, 264 Lessing, Doris, 94
Islândia, 53 Letônia, 53
Israel, 49 Lévi-Strauss, Claude, 270
Itatiaia, 235 Levy, David, 4, 299
Jablonska, Eva, 237 Lewis, Clive Staples, 51
Jacó-Vilela, Ana Maria, 8 Logosofia, 266
Jainismo, 76 Lupasco, Stéphane, 254
James, Ioan, 17 Lutero, Martin, 187, 257
Java, 181 Machado de Assis, Joaquim
Jenkins, Francis A., 174 Maria, 93
Jô Soares, 119 Maçonaria, 266, 267, 307
Judaísmo, 48, 77, 123, 175, 187, Mahabharata, 82
257, 264 Mahaprabhu, Chaitanya, 65
Justiça, 108 Maia, 68, 119
Kabir, 139 Maomé, 43, 46, 47, 130, 138
Kalam, 57, 60, 137, 206, 208, Maple, 180
209, 213, 217, 223, 224 Marco Aurélio, 139

351
Ernesto von Rückert

Marina Silva, 103, 178, 288, 301 Nietzsche, Friedrich Wilhelm, 18,
Martins, Roberto de Andrade, 25 19, 20, 67, 80, 107, 130, 186,
Marx, Karl, 80, 130, 175 242, 243
Matemática, 2, 3, 2, 3, 4, 6, 12, 24, Nightwish, 117, 190
26, 29, 31, 32, 36, 41, 55, 59, Noética, 269
86, 93, 94, 98, 117, 131, 136, Noruega, 53
140, 141, 148, 149, 156, 157, Novello, Mário, 57, 249
161, 167, 170, 171, 175, 183, Núñez, Rafael, 242
202, 235, 238, 242, 255, 270, Nussenzveig, H. Moysés, 169
282, 292, 294, 296, 304, 308 Ockham, Guilherme de, 223, 294
Mathematica, 180 Ohanian, Hans C., 174
Matrix, 26, 60, 199 Oldenberg, Otto, 169
Maxima, 180 Oliveira, Plínio Corrêa de, 4, 41,
Mayr, Ernest, 19, 237 43, 267
McKelvey, John P., 169 Onfray, Michel, 51
MEC - Ministério da Educação e Oparin, Alexander Ivanovich, 83,
Cultura, 61 90, 231
Mensa Internacional, 12, 14 Opus Dei, 41, 267
MIDI - Musical Instrument Orear, Jay, 297
Device Interface, 180, 288 Orkut Büyükkökten, 3, 4, 39, 54,
Milankovitch, Milutin, 126 168, 181, 213, 246, 297
Milford, Frederick J., 174 Palmer, Richard G., 239
MIT - Massachusetts Institute of Paquistão, 49
Technology, 17 Pascal, Blaise, 294
Mohorovicic, Andrija, 245 Penrose, Roger, 106, 249
Molière, Jean-Baptiste Poquelin, Photo Shop, 180
177 PHP - Hypertext Preprocessor,
Morris, Richard, 169 181
Mozart, Wolfgang Amadeus, 24, Physical Review Letters, 116
111, 155, 274 Piazzi, Pierluigi, 6
Muir, Helen, 17 Picasso, Pablo, 69
Nagel, Thomas, 57 Pinker, Steven, 57
Neandertal, 42, 239 Pires, Antônio, 169
Nery, Francisco, 131 Pitágoras, 25, 128, 248
Newman, Mark E. J., 238 Pitaka, 82
Newton, Isaac, 16, 55, 78, 225, Planck, Max, 55
282 Platão, 1, 68, 87, 107
Nicolélis, Miguel Angelo Laporta, PNDH - Programa Nacional de
247 Direitos Humanos, 297, 298

352
PERGUNTE.ME

Poincaré, Henri, 17 Rose, Steven, 57


Poliandria, 112, 239, 277, 299 Rotary Club, 30, 307
Poligamia, 112, 277 Rubik, Ernõ, 6
Poliginia, 112, 239, 277, 299 Rückert, Ernesto von, 6, 1, 4, 144,
Portugal, 194, 235, 237, 262, 273 261, 262
Poseidon, 48 Russell, Bertrand, 25, 107, 128,
Premanand, Basava, 65 150, 299
Princeton, 17, 249 Rússia, 53, 256
Princípio da Incerteza, 184 Ruy Barbosa de Oliveira, 235,
Projeciologia, 285 262
Psicanálise, 8, 20, 268 Sagan, Carl, 94, 106, 189, 285
Psicologia, 5, 6, 7, 8, 10, 11, 15, Sai Baba, Sathya, 65
16, 17, 20, 24, 26, 29, 57, 59, Salam, Mohammad Abdus, 169,
60, 74, 86, 105, 107, 121, 149, 297
154, 158, 168, 186, 268, 269, Sanai, 139
274, 291 Saramago, José, 11
PSSC - Physical Science Study Schopenhauer, Arthur, 27
Committe, 136, 304 Schrödinger, Erwin Rudolf Josef
Quarks, 56 Alexander, 106, 132, 249
Quijote, 275 Scientific American, 142
Química, 32, 73, 86, 149, 235, Scotus, John Duns, 294
262, 268, 297, 304 Searle, John, 57
Qunram, 47 Sears, Francis Weston, 168, 297
Rajneesh, Osho, 65 Seneca, Lucius Annaeus, 54, 139,
Reducionismo, 19, 149, 269, 291, 203, 274
292 Serra, José, 103, 178, 288, 296,
Reinach, Fernando, 237 300, 301, 307
Reitz, John R., 174 Sete Lagoas, 262
Relatividade, 21, 25, 36, 41, 55, Shakespeare, William, 93, 107,
56, 116, 131, 145, 149, 150, 177
155, 168, 174, 195, 261, 273 Sheldon, Sidney, 118
República Tcheca, 53 Sheldrake, Alfred Rupert, 58
Resnick, Robert, 25, 168 Shoemaker, Carolyn & Eugene M.
Ridley, Mark, 237 Shoemaker, 299
Robbins, Harold, 118 Sibelius, 181
Robbins, Herbert, 131 SIDA - Síndrome da
Roberto Carlos, 75, 76 Imunodeficiência Adquirida,
Rosacruz, 248, 266 156
Rose, Michael, 237

353
Ernesto von Rückert

Smirnov, Vladimir Ivanovich, Turquia, 49


131 UFV - Universidade Federal de
Smolin, Lee, 163 Viçosa, 3, 28, 61, 117, 145,
SMSG - School Mathematics 148, 149, 181, 195, 261, 305
Study Group, 304 UNIPAC - Universidade
Sociologia, 19, 30, 32, 61, 65, 74, Presidente Antônio Carlos,
80, 96, 98, 99, 107, 112, 116, 145, 148, 261
119, 121, 123, 134, 149, 154, Universo, 1, 3, 5, 13, 15, 20, 21,
157, 160, 170, 182, 184, 185, 28, 32, 33, 34, 38, 48, 56, 57,
207, 239, 240, 242, 250, 252, 58, 60, 61, 63, 66, 69, 77, 80,
256, 258, 268, 269, 270, 278, 81, 85, 86, 88, 89, 92, 96, 99,
282, 304 100, 104, 106, 110, 113, 117,
Sócrates, 46, 87, 128, 139 118, 119, 120, 123, 128, 131,
Somerset Maugham, William, 93 132, 133, 134, 135, 137, 138,
Spin, 135, 138, 247 140, 141, 142, 144, 145, 149,
Stanford, 17 151, 156, 158, 164, 172, 187,
Steinbruch, Alfredo, 174 188, 196, 201, 203, 204, 205,
Suécia, 53 206, 207, 209, 210, 211, 212,
Summa Teologica, 209 213, 215, 216, 217, 218, 219,
Supercordas, 56, 85, 207 220, 222, 223, 224, 225, 226,
Symon, Keith R., 174 227, 228, 229, 245, 247, 248,
Tachions, 116 249, 250, 253, 254, 255, 256,
Tacoma, 298 259, 260, 271, 272, 279, 285,
Talião, Lei de, 157 287, 288, 293, 300, 305, 306
Tarso, Saulo de, 67, 73, 187 Upanishades, 82, 296
Tchaikovsky, Pyotr Ilyich, 123, Vader, Darth, 102
124 Van Allen, James, 18
Teologia da Libertação, 3 Van der Waals, Johannes Diderik,
Terra, 21, 28, 30, 38, 46, 58, 60, 58, 230
63, 66, 76, 81, 83, 84, 89, 95, Vedas, 41, 46, 54, 82, 198, 296
119, 172, 191, 212, 237, 250, VEJA, 28, 160, 301
259, 277, 290 Venezuela, 49
TFP - Sociedade Brasileira de Vênus, 293
Defesa da Tradição, Família e Vianney, Jean-Marie Baptiste,
Propriedade, 40, 43, 267, 273 257
Tipler, Paul A., 169, 297 Viçosa, 7, 4, 59, 61, 144, 145,
Tolkien, John Ronald Reuel, 93, 148, 152, 181, 261, 308
119 Victor Hugo, 93
Tolstoy, Lev, 93, 177 Viena, 235, 262

354
PERGUNTE.ME

Viking, 10 Winterle, Paulo, 174


Voltaire, François-Marie Arouet, Wolpert, Lewis, 233
294 Xcas, 180
Wächtershäuser, Günter, 83 Zahar, Jorge, 8, 25
Ward, Peter, 21, 96 Zarathustra, 248
Weinberg, Steven, 148, 174 Zeitgeist, 96, 293, 306
White, Harvey E., 174 Zemansky, Mark W., 168, 174,
Wikipedia, 3, 17, 57, 65, 80, 84, 297
89, 90, 126, 138, 139, 140, Zeus, 48
148, 168, 169, 174, 253, 298 Zimmer, Carl, 237
Wilson, Anton, 58 Zoroastrismo, 82

355
Ernesto von Rückert

356

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