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ANTROPOLOGIA

DO ESPAÇO

Arq. Ir. Jeyd gomes - pddm


SAGRADO

A etimologia dos termos gregos que designam o sacro nas culturas


antigas do Ocidente sugere a ideia de separação. As derivações desse
designam o que pertence ou o que foi consagrado a um deus, ou ainda o
que se separa, o que é intocável e inviolável.
“Com efeito, é provável
que tenha sido antes do
nomadismo – e mais SAGRADO
exatamante a errância –
que deu a vida à
arquitetura, ao fazer com
que surgisse a
necessidade da
construção simbólica da
paisagem. Tudo isso
começou antes mesmo
do nascimento do próprio
conceito de nomadismo e
ocorreu durante as
errâncias continentais
dos primeiros homens do
paleolítico.” Imagem: Menir em Champagne-sur-Oise - França
(CARERI, 2016) Dispinível em <http://vtm.e15.cz/menhiry-nicili-jiz-nasi-predkove>
Para entender mais em
profundidade o sagrado como
experiência humana, Mircea
Eliade apresenta o termo
hierofania que por sua própria
etimologia indica a
manifestação do sagrado. A
hierofania (manifestação) está
presente nas religiões, das
mais elementares às mais
elaboradas. Pode apresentar a
manifestação do sagrado num
objeto qualquer, uma pedra,
uma árvore, até chegar àquela
que é considerada a hierofania
suprema: A encarnação de
Jesus Cristo. Para quem tem
uma experiência religiosa, toda
a natureza está predisposta a Imagem: Coluna de Fogo
se revelar sacralidade, até o Dispinível em <https://osmisteriosdedeus.com/2015/10/31/conheca-o-seu-deus-parte-2/>
cosmos, na sua totalidade,
pode revelar-se como tal.
(ELIADE, 1965)
ESPAÇO SAGRADO
ESPAÇO PROFANO
A compreensão do profano nasce a partir da experiência do sagrado,
comportando-se como de uma oposição à ele. A partir do momento
que se separa algo como sagrado se estabelece o que não o é, o
profano. O lugar sagrado é heterogênio, é organizado de forma
qualitativa, enquanto que o espaço profano é homogêneo, sem
distinção.

No espaço sagrado essa diferenciação acontece de forma mais clara,


pois essa diferenciação qualitativa revela um ponto fixo, um “centro”,
que serve simbolicamente como orientação. Conhecemos bem a
experiência de Moisés relatada em Êxodo 3,5 : “Não te aproximes
daqui, disse o Senhor a Moisés; tira a sandália de teus pés, porque o
lugar onde te encontras é uma terra santa”

Imagem: Ilustração Sarça Ardente


(ELIADE, 1965)
Fonte: https://br.depositphotos.com/29424295/stock-
photo-burning-bush.html
TEMPLO – MORADA DOS
DEUSES

O judaísmo herdou uma concepção palioriental


do templo como cópia de um arquétipo celeste.
“O projeto arquitetônico do templo é a obra dos
deuses, e por consequência, encontra-se muito
perto dos deuses, no céu.”
(ELIADE, 1965)
“Far-me-ão um santuário e habitarei no meio
deles.
Construireis o tabernáculo e todo o seu
Imagem: cidade de Nínive mobiliário exatamente segundo o modelo que
IIlustração do site Archaeology Illustrated
vou mostrar-vos". Ex25, 8-9
ARQUITETURA SACRA
“A arquitetura sacra não faz mais, portanto do
que retomar e desenvolver o simbolismo
cosmológico já presente na estrutura das
habitações primitivas. A habitação humana por
sua vez foi a precedida cronologicamente pelo
“lugar santo” provisório, pelo espaço
provisoriamente consagrado e cosmizado.”
Isso é o mesmo que dizer que todos os
símbolos e rituais concernentes aos templos, às
cidades e às casas, derivam, em última
Imagem: Tipo de altar pré-cristão
Fonte: GATTI, Vincenzo. 2001 instância, da experiência primária do sagrado.”
(ELIADE, 1965)
SAGRADO

“Toda festa religiosa, todo Tempo Litúrgico,


representa a reatualização de um evento
sagrado que teve lugar num passado mítico
primordial tornado presente .”
Foto: Jorge Custódio
(ELIADE, 1965)
Fonte: revista de Liturgia 227 – out
TENDA DA REUNIÃO
A tenda, também chamada “Tenda da
Reunião” era símbolo da presença de
Iahweh, junto com seu povo, nômade,
errante.

Abrigava a arca (caixa de madeira


revestida de ouro) com as duas tábuas da
lei em seu interior.
Imagem: Reprodução da Tenda da Reunião
Fonte: http://www.genesisviagem.com.br/package/peregrinacoes-religiosas-6/
A ‘Tenda era o lugar onde Moisés falava
‘face a face’ com Deus e onde os que
quisessem podiam consultar a Deus desde
que fizessem parte do povo eleito.

A presença divina junto ao povo eleito.


Diferente dos templos pagãos, era sinal da
presença de Deus no seu povo, mediante a
sua palavra e sua glória.
(FRADE, 2017)
TEMPLO DE SALOMÃO
O primeiro lugar fixo, é uma construção
simples, que deriva do modelo da tenda da
reunião. Construída por volta de 967 e 961
a.C, tinha 3 partes: Vestíbulo, sala do culto e
Santo dos santos, local onde repousava a
arca da aliança.

(FRADE, 2017)

Imagem: Ilustração do Templo de Salomão


Fonte: http://2emedu-hautrhin.over-blog.com/article-les-tresors-perdus-de-salomon-
documentaire-121888246.html
TEMPLO – MORADA DOS
DEUSES
O templo judeu não é um modelo
direto para o lugar de culto cristão,
porém traz a relação de ‘presença
divina’. Antes da construção de
qualquer templo, a ‘presença’
estava relacionada ao povo eleito.

Durante a missão de Jesus é


visível a forma simbólica do templo
como expressão máxima da
presença divina.

Jesus profere a superação deste


por um novo templo espiritual.

(FRADE, 2017) Imagem: Ilustração da tenda e do acampamento


Fonte: https://www.gospelprime.com.br/a-nuvem-de-gloria/
O LUGAR
As primeiras habitações humanas tiveram a função
de abrigar das intempéries da natureza, ser
proteção contra animais ou inimigos. Esses
ambientes eram construções simples: cavidades
naturais na terra ou tendas feitas de peles sobre
estruturas de madeira. Esta é uma das funções do
espaço, mas não a única, nem a principal. Para o
homem primitivo já havia distinção das porções do
território; ele cria o que chamamos Lugar, espaço
habitado, modificado e imbuído de significados. Por
exemplo, o espaço destinado à partilha dos
alimentos é diferente daquele destinado à caça, e o
lugar do cultivo de alimentos não é o mesmo do
abrigo para o descanso (cf. BENÉVOLO,1993, Imagem: Ilustração de assentamento humano no período Neolítico
Fonte: https://m.megacurioso.com.br/historia-e-geografia/102210-o-periodo-neolitico-e-o-
p.14). Esta compreensão é atual e serve inclusive
surgimento-das-cidades-mais-antigas-do-mundo.htm
para construções religiosas. O Lugar, não é
construído apenas de paredes, nem de materiais,
mas é sobretudo o vazio, aquilo que está
circundado pela matéria.
1-Liberdade de estilos artísticos, atendendo à cultura e à
sensibilidade própria dos povos.(SC 123)

FINALIDADE E
2-Aptidão para uma liturgia comunitária: Funcionais tanto para a
celebração das ações litúrgicas como para obter a participação
ativa dos fieis.(SC 124)

FUNÇÕES DO 3-Simplicidade e autenticidade. A ornamentação deve visar mais

TEMPLO CRISTÃO
a simplicidade que a pompa (IGMR279; SC 124)

4-Aptidão para uma liturgia comunitária, que permita a


participação do povo (SC 27)

5-Capacidade simbólica: Os edifícios sagrados e objetos


destinados ao culto devem ser dignos e belos, sinais das
realidades divinas (IGMR 253; SC 122-124)
BIBLIOGRAFIA

■ CARERI, Francesco. Walkscapes, O CAMINHAR COMO PRÁTICA ESTÉTICA. Barcelona:


Gustavo Gilli, 2016
■ ELIADE, Mircea. O Sagrado e o Profano.1ª edição. São Paulo: Martins Fontes,1995
■ FRADE, Gabriel. Arquitetura Sagrada no Brasil: Sua evolução até as vésperas do Concílio
Vaticano II. São Paulo: Edições Loyola, 2007
■ GATTI, Vincenzo. Liturgia e Arte: Il Luoghi della Celebrazione. Bologna. It. Editora EDB -
Centro Editoriale Dehoniano, 2001
■ RICHTER, Klemens. Espaços de igrejas e imagens de Igreja. O Significado do espaço
litúrgico para uma comunidade viva. Coimbra. Gráfica de Coimbra, 1998
■ ZEVI, Bruno. Saber ver a arquitetura. Tradução: Maria Isabel Gaspar e Gaëtan Martins de
Oliveira. 5ª edição. São Paulo: Martins Fontes, 1996.

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