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Nós fomos feitos para estar com Deus. Deus andou com Adão e Eva no jardim do Éden, ele
guiou o seu povo, Israel, pelo deserto e habitou entre eles por onde quer que fossem em sua
peregrinação. Habitou entre seu povo no tabernáculo e posteriormente no templo. O
tabernáculo terrestre, o templo de Israel e todos os seus móveis e utensílios serviram para
manifestar, a Israel, a presença de Deus, através de símbolos, tipos e sombras. Eles
apontavam para o dia em que Deus – que é um espírito soberano, trino, transcendente,
infinito, eterno, imutável, autoexistente, autossuficiente, onisciente, onipotente, onipresente
e cheio de misericórdia, amor e verdade – condescendeu-nos habitar conosco, entre nós e
em nós. Essa verdade está contida no nome Emanuel, um dos nomes mais belos e
reconfortantes que Deus nos revela sobre si mesmo. Isaías profetizou a Israel: “eis que a
virgem conceberá e dará à luz um filho e lhe chamará Emanuel” (Is 7.14). O Verbo Eterno,
o Filho de Deus, tornou-se carne e habitou entre nós. Deus está conosco e nunca nos deixará
nem nos abandonará.
O tabernáculo e o templo revelavam não apenas que Deus viria na carne para habitar
conosco, mas também que, por seu Espírito, faria de seu povo o templo em quem ele
habitaria para sempre. Somos agora o templo de Deus pela obra regeneradora, interior e
purificadora do Espírito Santo. Paulo escreve que em Cristo “todo o edifício, bem ajustado,
cresce para santuário dedicado ao Senhor” (Ef 2.21). O Espírito nos transformou em uma
habitação santa para o nosso santo Senhor. Somos a casa de Deus, composta de membros
de todas as tribos e nações, edificada sobre o fundamento dos apóstolos e profetas, tendo
Cristo como a principal pedra angular. Pedro, para quem o grande templo de Jerusalém
era uma visão familiar, diz: “Vós também, como pedras vivas, sois edificados casa espiritual
e sacerdócio santo, para oferecer sacrifícios espirituais agradáveis a Deus por Jesus Cristo”
(1Pe 2.5).
Deus não tinha a obrigação de habitar conosco, e nem possui a necessidade inerente de
habitar entre os homens, mas por causa do seu amor soberano e para a sua própria glória,
ele decidiu habitar conosco e em nós. É seu prazer que “o seu tabernáculo seja entre os
homens” (Ap 21. 3), para que possamos conhecê-lo, amá-lo, desfrutá-lo e glorificá-lo diante
de sua face, agora e para sempre.
O Tabernáculo: A Casa de Deus
Quando a nuvem de Deus se moveu do cume do Monte Sinai para o tabernáculo recém
construído, cobrindo a casa de Deus e enchendo-a com Sua glória (Êx 40.34), atingiu-se um
ápice no relacionamento de Deus com a humanidade. Nesta cena majestosa, o livro do
Êxodo termina com uma resolução, ainda que temporária e intermediária, da história do
exílio da humanidade do Éden narrada em Gênesis 3. Além disso, o tabernáculo cheio de
glória também prefigurava a solução definitiva por parte de Deus, àquela expulsão,
solução que viria pela pessoa e obra de Jesus Cristo.
Ao considerarmos o significado do tabernáculo (e depois do templo) nas Escrituras, será útil
manter dois pontos em mente. Primeiro, o tabernáculo era a casa de Deus, o lugar de sua
morada. Cortinas azuis, púrpura e com fios carmesim, uso abundante de ouro puro e um
véu dividindo suas duas salas definiam o tabernáculo como o palácio do mais sagrado rei.
Segundo, o tabernáculo era também o caminho para Deus, os rituais de sacrifício
proporcionavam a expiação e a purificação necessárias para habitar com Deus. Uma visão
geral simplificada do sistema sacrificial apresenta o caminho para Deus como envolvendo
um movimento triplo na presença de Deus, uma “jornada” traçada através da ordem ritual
de três sacrifícios primários. A adoração frequentemente começava com a oferta de
purificação, com sua ênfase no sangue, ressaltando a necessidade de expiação pela
humanidade, isto é, ser perdoado e purificado por Deus. Então seguia-se todo o holocausto
que, com sua ênfase em queimar o animal inteiro à parte de sua pele, simbolizava uma
vida de total consagração a Deus. A liturgia terminaria com uma oferta de paz na qual o
adorador banqueteava-se com uma refeição sagrada, juntamente com a família e amigos,
na presença de Deus. A expiação, então, como a jornada do sacrifício ensina, leva à
santificação, e a santificação produz comunhão jubilosa com Deus.
Em suma, o relacionamento de Israel com Deus foi preservado e cultivado pelo ritual
sacrifical do tabernáculo, possibilitando que o Criador do céu e da terra habitasse com seu
povo em comunhão. Para entender a profundidade e a maravilha de tal propósito,
refletiremos sobre o significado do tabernáculo primeiro dentro do propósito de Deus para
a criação e depois representando o coração da aliança de Deus com o Seu povo – um
propósito assumido e cumprido por Jesus Cristo.
A Criação e o Tabernáculo
Provavelmente a ideia principal a respeito do papel e propósito do tabernáculo comece
com a compreensão de que, originalmente, o próprio cosmos foi criado para ser a casa de
Deus e onde a humanidade desfrutaria de comunhão com ele. Somente quando aquela
casa foi contaminada pelo pecado e pela morte é que uma casa secundária e provisória, o
tabernáculo, se tornou necessária. Seria portanto, esperada uma medida de
correspondência entre o tabernáculo e a criação, e é precisamente esse o caso.
O relato da criação de Gênesis 1.1-2.3 retrata Deus como um construtor que faz uma casa
de três andares (céu, terra e mares) em seis dias e, depois de concluída, passa a residir nela
desfrutando do descanso do sábado. De fato, em toda a Escritura, o cosmos é
frequentemente retratado como a casa de Deus, seu santuário ou templo. O salmista diz,
por exemplo, que Deus estende os céus como uma cortina e põe nas águas o vigamento de
sua morada (Sl 104. 2-3; cf. Is 40. 22). Os intérpretes antigos e contemporâneos também
notaram paralelos significativos entre os relatos da criação e os do tabernáculo no
Pentateuco, incluindo a linguagem de bênção e santificação usada para descrever sua
conclusão.
Também, enquanto a criação é relatada em sete parágrafos (por sete dias), culminando
no sábado, há, similarmente, sete discursos divinos contando as instruções para o
tabernáculo, (capítulos 25 a 31 de Êxodo), o sétimo discurso culminando com a legislação do
sábado refere-se diretamente ao sábado de Deus em Gênesis 2. 1-3 (ver Êxodo 31.12-8). O
“Espírito de Deus” permite a construção tanto da casa de Deus como o cosmos (Gn 1. 2)
como da casa de Deus como tabernáculo (Êx 31. 1-5).
Além disso, embora se percam nas traduções, o relato da criação usa a terminologia do
tabernáculo, particularmente no relato do quarto dia descrito em Gênesis 1: 14-19. A palavra
hebraica para “luzes”, referindo-se ao sol e à lua, planetas e estrelas, é a mesma palavra
para as “lâmpadas” que em outras partes do Pentateuco sempre se referem às lâmpadas
do candelabro do tabernáculo. Da mesma forma, a palavra hebraica usada para
“estações”, para as quais as luzes ou lâmpadas funcionam como marcadores, é um termo
que no Pentateuco se torna sinônimo de festas de Israel ou festivais de culto.
Essas características, juntamente com o dia de sábado que conclui o relato, servem para
retratar o cosmos como um grande templo no qual a humanidade tem o privilégio
sacerdotal de se aproximar de Deus em adoração e comunhão – juntamente com toda a
criação, incluindo o sol, a lua e as estrelas – servindo como uma convocação para a
adoração. O cosmos como a casa de três andares, formados pelo céu terra e mares, é
espelhado na estrutura tríplice do tabernáculo, com o Santo dos Santos correspondendo à
sala celestial do trono de Deus. O propósito da criação, então, é que Deus e a humanidade
habitem na casa de Deus em comunhão. Assim Como o “fim principal” da humanidade, a
comunhão do dia do Senhor com Deus é realçada, já que o sétimo dia é o único que foi, em
todo o livro de Gênesis, santificado por Deus (Gn2. 3).
Nas narrativas do Éden (Gn 2. 4–4.16), as imagens do tabernáculo se desenvolvem
ricamente com o jardim do Éden retratado como o Santo dos Santos original. A exuberância
do Éden é capturada na plenitude da vida associada ao tabernáculo, incluindo o
candelabro, uma árvore estilizada que alguns compararam à árvore da vida do Éden (a
visão do templo de Ezequiel inclui também um rio da vida em Ez 47.1-12). A presença do
Senhor no Éden, descrita como “andar”, é apresentada similarmente ao tabernáculo (Gn 3.
8; Lev. 26. 11-12). Além disso, a descrição da obra de Adão no jardim, melhor traduzido como
“adorar e obedecer” (Gn 2.15), é usado em outros lugares para descrever exclusivamente a
obra dos levitas no tabernáculo (Nm 3. 7-8). Até mesmo a linguagem para a vestimenta
que Deus fez para Adão e a mulher reaparece mais tarde, nas roupas com as quais Moisés
veste os sacerdotes (Gn 3.21; Lev 8.13).
Possivelmente, mais explicitamente, o jardim do Éden fosse orientado para o leste, e após a
expulsão de Adão e Eva, querubins – criaturas com aparência intimidadora – foram
posicionados para guardar a entrada do jardim (Gn 3.24), características que no mundo
antigo comumente marcavam a entrada de um santuário. O único lugar, no Pentateuco,
além de Gênesis, onde os querubins aparecem novamente é em conexão com as cortinas e
o propiciatório do tabernáculo (Êx 25. 18-21; 26. 1; 26. 31), que também era orientado para
o leste (Êx 27. 9-18; Nm. 3:38).
O ponto principal desses paralelos é que a estrutura do tabernáculo (incluindo móveis, o
sacerdócio, sacrifícios, calendários e rituais), como um presente de Deus, deveria recapturar
o ideal de Deus para a criação, reafirmando sua intenção de habitar com a humanidade.
O movimento da nuvem de glória sobre o tabernáculo em Êxodo 40.34, portanto,
representou uma nova criação cheia da glória de Deus, com Arão e sua linhagem servindo
ao papel de um novo Adão nessa “criação”. Teologicamente, então, dizer que o cosmo era
o tabernáculo original de Deus, é entender que o tabernáculo foi criado para refletir a
criação, que o Santo dos Santos representou o jardim do Éden, e que o sacerdócio atuava
como uma humanidade renovada. Em outras palavras, o sistema do tabernáculo era como
um “globo de neve”, um microcosmo dentro do cosmos, um modelo cerimonial da criação
completo com sua humanidade exclusiva, onde os sacerdotes deveriam ser saudáveis e
fisicamente perfeitos (Lv 21. 17-23) e abster-se de lamentar e de guardar luto (Lv10. 6; 21:1–
3), por exemplo, fazia parte da função do sacerdote retratar como seria a vida da
humanidade com Deus no Éden.
A analogia entre o tabernáculo e a criação leva a três observações importantes. Primeiro,
os rituais encontram seu significado em relação à criação e, particularmente, nas primeiras
narrativas do Gênesis. No Dia da Expiação, especialmente, encontramos a história da
expulsão da humanidade do Éden invertida: como uma figura de Adão, o sumo sacerdote
viajaria para o oeste através da entrada vigiada por querubins no jardim do Éden, isto é,
através do véu bordado com querubins até ao santo dos santos levando o sangue da
expiação. Neste santo dia de outono, os pecados do povo de Deus eram evidentemente
removidos “quanto dista o oriente do ocidente” (Sl 103.12), quando o bode expiatório era
levado para longe do Leste, o próprio tabernáculo, como morada de Deus e modelo do
cosmos, era purificado ritualmente da impureza dos pecados de Israel.
Segundo, a analogia entre o tabernáculo e a criação também deixa claro que o drama de
rituais como o Dia da Expiação, que purificava somente o modelo do cosmos, precisaria
ocorrer no cenário da própria criação, em prol da casa original de Deus, o cosmos. Isso é
parte da mensagem do livro de Hebreus, cujo autor transforma o escândalo de Jesus não
ter uma linhagem levítica, excluindo-o do ministério sacerdotal, em uma necessidade lógica:
Se Jesus fosse um levita, seus sacrifícios e ministério teriam sido limitado ao modelo do cosmos
(isto é, o templo). Jesus, no entanto, realizou o verdadeiro Dia da Expiação ao entrar, não
no modelo do paraíso celestial (o Santo dos Santos), mas na realidade, de fato, ele entrou
no “próprio céu”, e isto não com o sangue de touros e cabras que representaram a vida da
humanidade, mas com o seu próprio sangue (Hb 9. 11-15; 23-28).
Terceiro, quando Deus introduzir os novos céus e a nova terra, tendo a criação sido limpa
pela obra expiatória de Cristo e renovada pelo fogo do Espírito Santo, não haverá mais
necessidade de um templo – pois o povo de Deus habitará com Deus na própria casa de
Deus que será a nova criação. O tabernáculo e o templo eram provisórios para a era entre
a criação e a nova criação.
A aliança e o templo
Para entender o significado do tabernáculo na história, é necessário olhar – através da
Escritura – para fora da criação e do tempo, para uma determinada vontade de Deus,
uma vontade revelada na promessa da aliança repetida com frequência: “Andarei entre
vó e serei o vosso Deus, e vós sereis o meu povo”. Esse sentido triplo é recorrente, no todo ou
em parte, por toda a Escritura, como o coração da aliança, o objetivo da criação e da
redenção. De fato, o tabernáculo repleto de glória no final do livro de Êxodo já havia sido
antecipado justamente por tais declarações da promessa da aliança: “E me farão um
santuário, para que eu possa habitar no meio deles.” (Êx 25. 8) e “E habitarei no meio dos
filhos de Israel e serei o seu Deus. E saberão que eu sou o Senhor, seu Deus, que os tirou da
terra do Egito, para habitar no meio deles; eu sou o Senhor, seu Deus.” (29. 45 – 46). Mais
tarde os profetas usariam o templo como um símbolo para esse relacionamento de aliança,
declarando que Deus realmente redimiria e santificaria seu povo e moraria com ele (ver,
por exemplo, Ezequiel 36. 26 – 27). Na aliança davídica, o papel do templo no plano de
redenção de Deus eleva-se à proeminência singular.
Depois que Deus escolheu o Monte Sião como sua morada permanente, Davi expressou seu
desejo de estabelecer uma casa permanente para Deus, isto é, construir um templo para
ele (2Sam 7). Embora Davi tenha sido declarado incapaz de construir o templo devido ao
seu derramamento de muito sangue, essa proibição foi dada dentro do contexto de suas
guerras de conquista (1Rs 5. 3; 1Cr 22. 8; 28. 3). Uma vez que a transição da habitação móvel
de Deus para o templo permanente pretendia transmitir a ideia de estabilidade, era mais
apropriado que o filho e herdeiro de Davi, Salomão, cujo reinado refletia a estabilidade da
sucessão dinâmica (em vez da conquista), construísse o templo. Mais profundamente, a
resposta do Senhor a Davi sugere que, em última análise, um filho diferente de Salomão
estava em mente, bem como uma casa diferente do edifício de Salomão. A língua hebraica
usa o mesmo termo tanto para “casa” como para “lar” (no sentido de um agregado
familiar), então os intérpretes deveriam avaliar o contexto para discernir qual ideia se deve
transmitir.
Em 2Samuel 7. 1 – 7, Davi anseia construir uma casa para Deus. A resposta de Deus a Davi,
no entanto, muda o significado do termo de “casa” para “lar”: o Senhor “fará de você um
“lar” (v.11), como em uma casa real ou dinastia. Então Deus prometeu que o filho de Davi
seria aquele que construiria “uma casa ao o meu nome” (v.13). A questão intrigante aqui é
como o termo deve ser usado neste versículo: como “casa” ou “lar”? Dada a recente
transformação do termo, por parte do Senhor, de uma “casa de pedra” para uma “casa de
filhos”, sem mencionar suas relativamente indiferentes observações em relação à primeira
(vv. 5-7), haveria um certo anticlímax na conclusão da história se consideramos que o filho
de Davi construiria meramente uma casa de pedra.
Em vez disso, o rico jogo de palavras permite o cumprimento inicial, no templo de Salomão
(1Rs 8), como um evento que apontou para uma realidade mais maravilhosa: Jesus Cristo,
o Filho de Davi, que edificaria a igreja como um templo de pedras vivas. uma casa como a
morada de Deus pelo Seu Espírito (Ef 2.19-22). O Novo Testamento retrata a salvação como
homens sendo trazidos para a casa de Deus, tornando-se em filhos de Deus, sendo-lhe dado
o nascimento celestial pelo seu Espírito (Jo 1.12-13; 3. 3-8; 1Jo 3.1). O povo de Deus é a sua casa
e o seu lar.
Cristo e o templo
A transição da criação para a nova criação e do templo como casa para o templo como lar
está centrado na pessoa e obra do Senhor Jesus Cristo. No prólogo do evangelho de João,
lemos que o Filho se tornou carne e “habitou” entre nós, manifestando a sua glória (Jo 1.14,
tradução do autor). Através da encarnação, o Eterno Filho se torna um templo, sua
humanidade é a morada de Deus. Como templo, Jesus também é o caminho para Deus.
Seu auto sacrifício na cruz da agonia expia nossos pecados, cumprindo o ritual sacrificial do
antigo Israel. Muito apropriadamente, a crucificação de Cristo resultou em Deus rasgando
o véu do templo (Mc 15.38), através do véu da carne de Jesus, o “novo e vivo caminho” para
Deus foi aberto (Hb 10. 19-22).
Através de sua ressurreição e ascensão, Jesus levou a humanidade ao paraíso celestial,
primeiro, através de sua própria natureza humana, e depois pela nossa união com ele, por
meio do Espírito. Jesus é, de fato, a pedra que os construtores rejeitaram, mas a quem Deus
vindicou como a principal pedra angular de seu templo vivo (1Pe 2. 4–10; Sl.118. 22). Pelo
Espírito derramado, o povo de Deus, como pedras preciosas escolhidas, é levado à união
com Cristo para formar a casa e o lar de Deus. Maravilhosamente, a igreja, o povo de Deus
reunido para o culto comunitário, tornou-se o templo de Deus em quem habita o Espírito
de Deus (1Co 3.16). Inevitavelmente, então, o tema do templo nas Escrituras chega à
doutrina da união com Cristo.
Finalmente, o templo representa o propósito eterno e profundo de Deus em habitar em
comunhão com o seu povo na criação. A morte de Jesus Cristo demonstra a “profundidade”
divina de tal propósito e a união com Cristo a “altura” desse propósito, o amor que excede
todo entendimento (Ef 3.17-19). Através da lente da criação e da aliança, o tabernáculo
cheio de glória direciona os olhos da fé para a visão de João onde a igreja que desce do céu,
é descrita como uma cidade-templo, a nova Jerusalém (Ap 21). A mesma glória alerta os
ouvidos da fé para que ouçam a clara voz celestial dizendo: “Eis o tabernáculo de Deus com
os homens. Deus habitará com eles. Eles serão povos de Deus, e Deus mesmo estará com
eles” (Ap 21. 3). Dentro da casa de uma nova criação, o Senhor Deus Todo-Poderoso e o
Cordeiro serão o templo da igreja, e a igreja, o povo de Deus de todas as épocas e nações,
será o templo de Deus. Então conheceremos a plenitude da vida com Deus na casa de Deus.
O Tabernáculo: O altar da oferta queimada
O altar da oferta queimada era uma das características mais visíveis no pátio do
tabernáculo e, posteriormente, no templo de Jerusalém. Por estar posicionado entre a
entrada do pátio e o acesso que levava ao Santo Lugar do santuário, ninguém poderia
chegar à presença de Deus sem primeiro passar por esse altar de tamanho considerável. Sua
localização central é significativa, pois lembrava aos adoradores israelitas que o acesso a
Deus dependia da eficácia dos vários tipos de sacrifícios apresentados. Esses sacrifícios eram
essenciais para garantir que pessoas pecaminosas e contaminadas pudessem se aproximar,
com segurança, da presença santa de Deus.
Para compreender a função do altar localizado fora do santuário onde Deus habitava, é
útil observar que os rituais de expiação associados ao altar do tabernáculo e,
posteriormente, no templo se originaram no Monte Sinai, quando os israelitas entraram em
um relacionamento único de aliança com Deus.
Ao chegar ao Monte Sinai, os israelitas eram expressamente proibidos de subir a montanha
(Êx 19.12-13). O monte Sinai foi separado como sagrado, havia um limite demarcado em
torno dele para evitar que as pessoas subissem. Somente a Moisés foi permitido subir;
qualquer outra pessoa que tentasse fazer isso seria morta.
Isso mudou, no entanto, depois que Deus fez um pacto (ou tratado de amizade) com o
povo. Quando todo o povo afirmou seu compromisso de obedecer ao pacto da aliança,
cujas condições são descritas nos dez mandamentos (Êx 20. 2 -17) e no Livro da Aliança (Êx
20. 22-23.33) – representantes dos israelitas puderam atravessar os limites do monte e subir,
com Moisés, parte do caminho para o monte Sinai. Ao fazê-lo, eles experimentaram uma
visão extraordinária de Deus (Êx 24. 9-11). Ainda que a visão deles fosse limitada, eles
testemunharam que “sob seus pés havia uma pavimentação de pedra de safira, que se
parecia com o céu na sua claridade” (v.10). Eles não apenas viram algo do esplendor
majestoso de Deus, mas celebraram seu novo relacionamento de aliança com ele
banqueteando-se na montanha (v.11).
É importante ressaltar que antes que os representantes do povo pudessem subir a
montanha para adorar ao Senhor “de longe”, no Monte Sinai, eles tinham que oferecer
sacrifícios em um altar de pedra recém-construído no sopé da montanha (v. 4-5). Neste
altar, os israelitas apresentaram a Deus dois tipos distintos de sacrifício: holocaustos e ofertas
pacíficas. Interessante notar que essa é a primeira menção, na Bíblia, de ofertas pacíficas.
Logo após esse evento inicial onde foi selada a aliança, os israelitas construíram o
tabernáculo, uma tenda muito ornamentada projetada para ser tanto uma morada para
Deus como uma “tenda de reunião” onde as pessoas poderiam se aproximar de Deus. Para
facilitar esta última função, certos israelitas foram santificados como sacerdotes.
Surpreendentemente, o processo pelo qual eles foram consagrados se assemelha ao que
aconteceu quando a aliança foi ratificada no Monte Sinai. Mais uma vez, foram
apresentadas a Deus, ofertas queimadas e ofertas pacíficas (29.15-34).
O ritual para tornar os sacerdotes santos assume um significado adicional quando
percebemos que, para os israelitas, o tabernáculo era, entre outras coisas, uma miniatura
do Monte Sinai. As três partes do complexo do tabernáculo representavam diferentes partes
da montanha. O Lugar Santíssimo pode ser comparado ao topo da montanha; o lugar
santo comparado à encosta da montanha e o pátio com seu altar de bronze representava
o sopé da montanha. Assim como os representantes do povo tinham que ser consagrados
através de sacrifícios em um altar antes de subir ao Monte Sinai, os sacerdotes tinham que
ser consagrados antes de entrar no Lugar Santo.
Com base no que é dito em Êxodo 29 sobre a consagração dos sacerdotes levíticos, as ofertas
queimadas e pacíficas alcançavam uma série de resultados. Aqueles que ofereceram os
sacrifícios foram resgatados do poder da morte; o animal funcionava como um substituto,
tomando o castigo que deveria vir sobre os sacerdotes. Quando eram cobertos com sangue
retirado do sacrifício, eram limpos da contaminação do pecado. O sangue do altar era
então borrifado sobre os sacerdotes para santificá-los. Finalmente, tendo sido consagrados,
os adoradores deviam comer a carne consagrada do sacrifício.
Após a consagração inicial, os sacerdotes ainda deveriam apresentar a cada dia dois
holocaustos, um de manhã e outro ao pôr do sol (29. 38-43). Esses sacrifícios diários, que
reproduziam o que aconteceu quando a aliança foi selada, permitiam que os sacerdotes se
aproximassem de Deus.
A ratificação da aliança no Monte Sinai foi uma ocasião única, mas fornece uma ilustração
importante do que deve acontecer para permitir que as pessoas cheguem com segurança
à presença de Deus. O altar do holocausto enfatiza a necessidade de expiação sacrificial e
consagração, porém, no Antigo Testamento, sacrifícios de animais apenas figuravam o
templo celestial, e esses sacrifícios precisavam ser repetidos diariamente. A morte sacrificial
de Jesus é um sacrifício perfeito, de uma vez por todas. Na cruz, Jesus Cristo resgata, purifica
e santifica aqueles que confiam somente nele pela fé. Somente aqueles que foram
santificados por Cristo podem aproximar-se de Deus sem medo.
O Tabernáculo: A bacia de bronze