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Resumo
A Província Gemológica Brasileira é dividida em quatro subprovíncias, das quais
são extraídos cerca de 100 tipos diferentes de gemas, destacando-se pela produção de
turmalina, topázio, variedades de quartzo (ágata, ametista e citrino) e esmeralda. Além
disso, o Brasil é um dos únicos produtores de topázio imperial e de “turmalina Paraíba”
e produz em pequena escala diamante, rubi e safira. A produção brasileira de gemas é,
em geral, realizada por garimpeiros e por poucas empresas de mineração, levando a um
reduzido controle oficial do Estado sobre a produção e comercialização de gemas. Outro
fator que contribui para esta informalidade é a elevada carga tributária que alcança 53%
do valor de venda de jóias e 25% nas vendas de gemas brutas ou lapidadas no mercado
interno. Apesar da forte dispersão geográfica, a produção de gemas no Brasil concentra-
se nos estados de Minas Gerais, Bahia, Rio Grande do Sul, Mato Grosso e Goiás. O
Estado de Minas Gerais é o maior produtor e exportador de gemas do País, sendo
responsável por 74% da produção oficial, dentre as quais, o topázio imperial, berilos,
turmalinas, espodumênios e brasilianitas. O Estado da Bahia produz, principalmente,
esmeralda, ametista e água marinha, sendo o segundo maior produtor de gemas coradas
brutas, perdendo apenas para o Rio Grande do Sul, um dos mais importantes produtores
mundiais de duas delas: a ágata e a ametista. O Estado de Mato Grosso produz em
pequena escala, granada, topázio, zircão, diopsídio, variedades de quartzo e turmalinas.
Em Goiás, destaca-se a produção de esmeraldas e também de granada, topázio, quartzo
(citrino e ametista) e turmalina. O diamante bruto também merece menção em Goiás e
Mato Grosso, onde é produzido desde o início do século XX por garimpeiros. Hoje em
dia, as melhores perspectivas para a produção de diamante nesses estados vêm da lavra
de kimberlitos. Dentre a diversidade de gemas produzidas, algumas se impõem
mundialmente pela originalidade e propriedades gemológicas como a “turmalina
Paraíba” e a opala nobre do Piauí.
1. Introdução
Segundo o Anuário de Comércio Exterior (2006), em 2005, o Brasil foi o primeiro
país no ranking mundial de tipos e quantidade de gemas, com destaque para turmalina,
topázio e quartzo (ágata, ametista e citrino) e, ocupou o segundo lugar entre os países
exportadores de esmeralda. O Brasil é um dos únicos produtores de topázio imperial e
de “turmalina Paraíba” e produz em pequena escala diamante, rubi e safira.
O Instituto Brasileiro de Gemas e Metais Preciosos – IBGM (2005a) estima que
em 2005, o Brasil foi responsável pela produção de 1/3 do volume de gemas no mundo,
excetuando-se o diamante, o rubi e a safira, que tem baixa produção no país.
No Brasil são extraídos cerca de 100 tipos diferentes de gemas e a produção é
realizada por milhares de garimpeiros e por poucas empresas de mineração, levando a
um reduzido controle oficial do Estado sobre a produção e comercialização de gemas.
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A produção oficial brasileira de gemas em 2005 foi, segundo o Departamento
Nacional de Produção Mineral – DNPM (2006), de apenas 47 milhões de dólares
(Tabela 1), sendo 36 milhões de dólares de diamantes e 11 milhões das outras gemas,
enquanto que as exportações oficiais atingiram a cifra de 135 milhões de dólares
(Tabela 2). Por outro lado, as exportações de gemas em 2005, segundo o Anuário de
Comércio Exterior (2006) foram de 168 milhões de dólares, enquanto que, segundo os
dados do IBGM (2005a), foram de 129,9 milhões de dólares. Nota-se, portanto, que as
exportações oficiais de gemas em 2005 foram, pelo menos, 2,7 vezes maior que a
produção total oficial, demonstrando que é, praticamente, impossível calcular a
produção real de gemas no Brasil, refletindo o elevado nível de informalidade e de
contrabando no segmento. Esta informalidade deve-se, em parte, a alta carga tributária
que atinge as vendas de gemas e jóias no mercado interno, uma vez que em 2004
(IBGM, 2005a), o Brasil era o recordista mundial de tributação nesse setor, com carga
tributária total de 53% (sobre o valor da produção), mais de três vezes superior a média
mundial, estimada em 15%. Ressalta-se que o valor da tributação no Brasil é muito
maior que a carga tributária da Itália (20%), Espanha (16%) e Estados Unidos (7%).
Segundo a Agência Brasileira de Promoção de Exportação e Investimentos -
APEX/IBGM (2008), a carga tributária atual permanece em 53% sobre o valor da
venda, na atual comercialização de jóias e de aproximadamente 25% nas vendas de
gemas brutas ou lapidadas em todo território nacional. Já, a carga tributária para as
gemas e as jóias brasileiras exportadas varia entre 7 e 10%.
A produção de gemas no Brasil tem forte dispersão geográfica (Figura 1),
concentrando-se, porém, nos estados de Minas Gerais, Mato Grosso, Goiás, Rio Grande
do Sul e Bahia (Tabela 1). Esses cinco estados respondem por 97% da produção oficial
de gemas (DNPM, 2006). O IBGM (2005a) estima que da produção nacional de gemas,
em 2004, aproximadamente 80% foi exportado.
Em 2005, os principais destinos das exportações de gemas coradas (DNPM,
2006), em termos de valores, foram os Estados Unidos (25,8%), Hong Kong (16,4%),
Alemanha (9,3%), Taiwan (8,9%), Índia (7,1 %), China (5,9%), Japão (4,9%) e
Tailândia (4,5%), enquanto que as exportações oficiais de diamantes brutos foram de
280 mil quilates, gerando uma receita de 19 milhões de dólares (DNPM, 2007).
A Cadeia Produtiva de Gemas no Brasil compreende a extração (do garimpo até a
mineração), a industrialização (lapidação, joalheria, folheados, bijuterias e artefatos de
pedras), a comercialização e a exportação. Em 2006, essa cadeia produtiva era
constituída por cerca de 15.000 empresas, onde 93% era micro e pequenas empresas,
que geraram 350 mil empregos diretos, sendo 120 mil no garimpo e na mineração, 40
mil empregos na indústria de jóias e produtos afins, e 190 mil nas vendas e varejo.
Em 2005, o Governo Brasileiro, através do Ministério de Desenvolvimento da
Indústria e Comércio Exterior e do Ministério das Minas e Energia, criou o Fórum de
Competitividade da Cadeia Produtiva de Gemas, Jóias e Afins, no qual foram
identificados os Arranjos Produtivos Locais de Gemas - APL Gemas, com a finalidade
de apoiar e gerenciar os pequenos mineradores, as indústrias e o comércio.
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Estado do Ceará (dentre as quais; elbaítas, águas-marinhas, granadas e morganitas). Na
porção setentrional localiza-se também o singular depósito de opala nobre de Pedro II,
no Piauí, encaixado em arenitos da Bacia Sedimentar do Maranhão.
- Sub-província Central: abrange áreas dos estados de Goiás, Mato Grosso e Pará,
caracterizadas, principalmente, pelas ocorrências de esmeraldas e diamantes, possuindo
também gemas associadas a pegmatitos e veios com ametista;
- Sub-província Sul: subdividida nas porções meridional, que abrange áreas dos estados
do Rio Grande do Sul e Santa Catarina, onde predominam jazidas e ocorrências de
ametistas, citrinos e ágatas ligadas a basaltos; e setentrional, que ocupa parte do Mato
Grosso do Sul (ametista), Paraná (diamante) e São Paulo (minerais de pegmatitos);
- Sub-província Leste: abrange, principalmente, os estados de Minas Gerais e Espírito
Santo, e uma pequena área, do Estado do Rio de Janeiro, caracterizada, principalmente,
pela presença de gemas ligadas a (i) pegmatitos e veios hidrotermais, (ii) depósitos
secundários associados a aluviões, coluvios e paleoaluviões plio-pleistocênicos e (iii)
áreas de concentrações de diamante.
3.2 – Bahia
O Estado da Bahia é o segundo maior produtor de gemas coradas brutas do Brasil,
só sendo superado pelo Rio Grande do Sul (Tabela 1).
Couto (2000) catalogou, neste estado, a presença de 700 ocorrências e/ou jazidas
de gemas (Figura 4), destacando-se: ametista, diamante, água marinha e malaquita. As
pricipais gemas produzidas na Bahia nas últimas décadas são: esmeralda, ametista e
água marinha, porém, dumortierita, o quartzo (róseo, citrino e cristal de rocha),
corindon e sodalita, merecem destaque, apesar das baixas produções e produtividades.
Outras gemas da Bahia, com alguma potencialidade, são: alexandrita, amazonita,
apatita, crisoberilo, fluorita, jaspe, quartzo rutilado, turmalina e turquesa.
No século XIX, o diamante foi largamente lavrado por garimpeiros na região da
Chapa da Diamantina (Lençóis, Andaraí, Palmeiras e Mucugê), ao longo dos aluviões
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da bacia do Rio Paraguaçu. Estas lavras foram interditadas, em 1996, devido a uma ação
conjunta de órgãos governamentais, visando à preservação ambiental do Parque
Nacional da Chapada da Diamantina. Atualmente, a produção de diamantes na Bahia é
residual e sem significação econômica.
Apesar da boa produção de gemas brutas a indústria de lapidação e de artefatos de
pedras na Bahia ainda é rudimentar, concentrando-se na cidade de Salvador e em
algumas regiões produtoras, como Campo Formoso. Como conseqüência a maioria das
gemas produzidas é exportada para outros estados ou para o exterior. Também é em
Salvador que se concentra no Estado a venda de pedras e jóias, com cerca de 350 pontos
de vendas (IBGM, 2005).
Couto (2000) agrupou os depósitos baianos de gemas em: (1) depósitos
secundários de idade cenozóica, onde as gemas (água marinha, ametista, corindon,
diamante, esmeralda, malaquita, quartzo róseo e turquesa) estão alojadas em aluviões,
paleoaluviões, colúvios e elúvios; (2) depósitos de idade arqueana, representadas
principalmente pelas jazidas de corindon, relacionadas ao metamorfismo regional sobre
sedimentos argilosos aluminosos, gerador do xisto mineralizado; e (3) jazidas
associadas à pegmatitos e veios de quartzo hidrotermais de idade proterozóica,
principalmente constituídas por água marinha, mas também com crisoberilo, topázio,
morganita, andaluzita, zircão, quartzo, amazonita, fluorita e turmalina.
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superior (Lamachia, 2006); e (3) o terceiro pólo, localizado na divisa do Rio Grande do
Sul com o Uruguai, em torno do município de Quaraí, composto por inúmeras
ocorrências de ametista e ágata, porém com produção relativamente pequena em
comparação aos demais pólos.
Segundo o IBGM (2005), o Rio Grande do Sul tem um parque industrial de
lapidação e de joalheria que, em 2004, era integrado por mais de 600 empresas de
pequeno porte, que foram responsáveis por 20% das exportações brasileiras de gemas e
jóias, equivalendo a 47 milhões de dólares.
O município de Soledade é o principal centro de comercialização do Rio Grande
do Sul e, nessa região, a Universidade de Passo Fundo e o Serviço Nacional de
Aprendizagem Industrial – SENAI, apóiam tecnicamente 120 microempresas do setor.
Dois outros centros importantes de lapidação estão localizados em Lajeado, onde
existem 250 micro e pequenas indústrias, e em Guaporé com 120 micro, pequena e
média empresas que beneficiam, principalmente, a ágata e a ametista.
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produção real nesses estados, não pode ser calculada com um mínimo de confiabilidade,
já que alguns especialistas afirmam que 98% da produção de diamantes saem
ilegalmente do país, não constando dos registros oficiais do DNPM.
4. Estudo de Casos
O Brasil produz uma grande diversidade de gemas. Algumas delas se destacam
pela originalidade, pela história ou pelo volume de produção, mesmo a nível
internacional. Entre as gemas que se impõem pela originalidade, o topázio imperial de
Minas Gerais e a “turmalina Paraíba” são as mais importantes, destacando-se ainda a
opala nobre de Pedro II, no Piauí. A gema de maior valor histórico no Brasil é, sem
dúvida, o diamante, uma vez que o país foi o maior produtor do mundo durante quase
150 anos, até o ano de 1866. Atualmente, a indústria brasileira de diamante em
comparação com a indústria mundial é pouco significativa. Tanto é que em 2006, os
diamantes brasileiros representaram, segundo o DNPM (2007), respectivamente, 0,11%,
0,003% e 0,02% da produção, importação e exportação mundial desta gema. Dentre as
gemas coradas brasileiras que se destacam, internacionalmente, pelo volume da
produção e qualidades, as mais importantes são: esmeralda, água-marinha, ametista e
ágata.
Neste trabalho é impossível detalhar todas essas gemas e, por isso, serão descritas
a seguir apenas algumas delas.
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uma das propriedades mais notáveis dessa gema, varia de amarelo-dourado a vermelho-
conhaque, apresentando matizes intermediários entre esses dois tipos. Análises químicas
de topázios coloridos obtidas a partir de microssonda eletrônica indicaram ser o Cr3+,
V3+ e Fe3+ os prováveis cromóforos deste mineral.
As inclusões cristalinas, estudadas principalmente por difração de raios X e pelo
microscópio eletrônico de varredura, são representadas por carbonatos, topázio,
hematita, ilmenita, mica, rutilo, quartzo, tremolita, euclásio, cloritóide e apatita. Elas
aparecem em número bem menor do que as inclusões fluidas, que são bem mais
freqüentes e abundantes. Essas inclusões fluidas foram estudadas por vários métodos
(platina de aquecimento/resfriamento, espectroscopia de infravermelho e espectroscopia
micro Raman), que permitiram a identificação de suas composições, densidades,
salinidades e condições de T e P de aprisionamento. Na Tabela 3 estão relacionados os
dados de temperatura e de pressão encontrados em diferentes jazidas da região. Esses
dados indicam que a gênese do topázio imperial da região de Ouro Preto está
relacionada a processos hidrotermais e que os fluidos têm origem metamórfica, sendo
resultantes de prováveis reações de decarbonatização e desidratação das rochas
regionais, durante algum episódio tectono-termal recorrente - Gandini (1994).
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potencialmente mineralizados. A partir daí, são abertas galerias de níveis de onde são
extraídos os cristais maiores de berilo e esmeralda, sendo o resto mandando para a
superfície, onde é lavado cuidadosamente, recuperando-se as gemas por catação.
Schwarz (1987) estudando microscopicamente as esmeraldas da região de
Carnaíba e Socotó, observou que, nos exemplares de Carnaíba, as inclusões estão
caracterizadas pela presença de flocos (estrelas; Foto 2a), sinais de crescimento e a
presença de poucas inclusões minerais, dentre as quais, apenas as de micas são
significativas, além de tubos de crescimento e inclusões bifásicas. As esmeraldas de
Socotó, por sua vez, apresentam uma variedade extraordinária de tubos de crescimento.
São caracterizadas por fenômenos de crescimento, marcados por diferentes tipos de
zoneamento de cor (Foto 2b). As inclusões de micas e a freqüência de inclusões de
outros minerais (hematita e flocos de goethita/limonita) (Foto 2c), além de inclusões
bifásicas, diferem das descritas nas esmeraldas de Carnaíba. As inclusões minerais mais
interessantes do ponto de vista gemológico, nos exemplares de Socotó, são os cristais
bem desenvolvidos de esmeralda.
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inicialmente, foi efetuada por galerias longitudinais abertas acima do contato do
diabásio sem alteração, que servia de piso. O material argiloso recuperado na abertura
da galeria era lavado e a opala recuperada por catação manual. Este processo de lavra
ainda ocorre, mas a explotação passou a ser feita, principa1mente, a céu aberto,
retirando o arenito com auxílio de tratores e retro-escavadeiras, até atingir o nível
potencialmente mineralizado, constituído pelo arenito duro ou pelos níveis de argila
esmectíticas. Ao atingir o arenito duro, o trator com auxílio de escarificadores quebra
cuidadosamente o minério, expondo suas fraturas e possibilitando a recuperação
manua1 das gemas localizadas nas diáclases e veios. Nas zonas com argilas, a remoção
é feita vagarosamente e as pedras são, recuperadas por catação ou por lavagem da
argila. Outras jazidas importantes de opala nobre deste tipo são as de Roça, Mamoeiro e
Pajeú, situadas de 5 a 7km a SW de Pedro II.
As opalas do tipo (3), que ocorrem associadas à cobertura estéril sobre a faixa
mineralizada no topo dos corpos de diabásio, tiveram muitas de suas lavras fechadas por
parte do Ministério Público, pois a cobertura atingiu 60m de espessura, provocando
danos ambientais e situações de risco para a prática mineira.
As opalas de Pedro II apresentam dureza elevada e alta resistência às mudanças de
temperatura como conseqüência do baixo conteúdo de água presente na sua
composição: em tomo de 5,7%, enquanto que, mundialmente as opalas nobres
apresentam de 6 a 10% (Lamachia, 2006).
Oliveira (1998) classificou as opalas de Pedro II, levando em consideração a
tonalidade da massa (potch), a distribuição das cores e a qualidade. Quanto à tonalidade
da massa, os principais tipos encontrados são: white opal, que tem o fundo leitoso e é a
mais frequente; black opal, que tem massa preta e é extremamente rara; gray opal, cujas
tonalidades da massa são variações do cinza; e a semi-black opal, com a cor cinza
escura no fundo. Quanto ao jogo de cores, os tipos mais freqüentes em Pedro II, são:
rolling flash, que apresenta mudanças freqüentes e constantes de cores, como num
balanço de ondas; broad flash, quando uma simples onda cruza rapidamente a pedra;
exploding flash, quando as cores são penetrantes; mackerel sky, quando aparecem a
formação de cores delgadas e paralelas nebulosas; flame ou flash-of-fire, onde as linhas,
predominantemente vermelhas e laranjas, emprestam a aparência oscilante através da
pedra; arlequim, que é um modelo estático, onde as cores formam mosaicos que não se
movem; padrão floral, outro modelo estático, que formam flores coloridas com muitas
pétalas; e o pinfire, quando as flores coloridas são diminutas como cabeças de pregos.
Em relação à qualidade, as opalas são classificadas em nobre, extra, forte, média, fraca e
muito fraca ou refugo.
Ações governamentais efetivas nesta região iniciaram-se nos idos de 1990 com o
Projeto Pedras Preciosas Piauí/Maranhão, desenvolvido pela CPRM, culminando na
elaboração do Mapa Gemológico do Estado do Piauí em 1998 (Figura 9).
Concomitantemente, a atuação do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas
Empresas – SEBRAE, estimulou a implantação de indústrias de lapidação, joalheria e
artesanato mineral. Em 2005, foi implantado o “Arranjo Produtivo Local (APL) da
Opala” visando organizar esta cadeia produtiva e apoiar a Cooperativa dos Garimpeiros
de Pedro II e a Associação de Joalheiros e Lapidários de Pedro II.
Segundo o IBGM (2006), em Pedro II, no ano de 2005, existia cerca de 200
garimpeiros trabalhando, a maioria, para empresas multinacionais que operavam na
região. Além disso, o município possuía um pequeno pólo produtor de jóias de prata
com opala, tendo 16 microempresas, com aproximadamente 6 empregados cada uma.
Oliveira (1998) estima que 80% da produção de Pedro II foi exportada ou
comercializada na forma bruta em outros estados brasileiros.
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4.6 As Turmalinas da Paraíba e do Rio Grande do Norte
As “turmalinas Paraíba” possuem esta denominação por terem sido descobertas,
em 1988, em pegmatitos da Mina Batalha, localizados no município de São José da
Batalha, Estado da Paraíba. Posteriormente, já nos anos 90, foram encontradas
turmalinas semelhantes nos pegmatitos Quintos e Capoeiras, localizados no município
de Parelhas, Rio Grande do Norte.
Os pegmatitos Batalha e Quintos, de idade Pré-Cambriana, estão encaixados em
quartzitos à muscovita da Formação Equador, enquanto que o pegmatito Capoeiras
encontra-se encaixado em metaconglomerados da Formação Seridó, de mesma idade
(Figura 10).
As “turmalinas Paraíba” caracterizam-se por uma cor muito particular, recebendo
designações populares como: verde turquesa elétrico, verde neon e azul pavão. Por sua
beleza, peculiares tonalidades de verde e azul, alto brilho e limitada produção, estas
gemas de qualidade média, atingiram altos preços no mercado nacional (U$ 1.000,00/ct
a 1.500,00/ct) e internacional (U$ 2.500,00/ct a 5.000,00/ct), chegando a valores no
mercado internacional de até U$ 20.000,00/ct para gemas boas. As turmalinas de cor
lilás também têm importância econômica.
Na Mina Batalha ocorrem seis corpos pegmatíticos, tabulares, paralelos ou
subparalelos entre si, com espessura variando de 20cm a 4m e profundidade de
explotação nas banquetas (em 1998), de 6 a 25m (Foto 3a). São pegmatitos homogêneos
intensamente caulinizados, com direção geral 120º a 130ºAz, com mergulhos de 54º a
75º para NE, discordantes do mergulho da foliação da encaixante. Petrograficamente,
estes pegmatitos são constituídos de quartzo (róseo, hialino, leitoso e morion),
moscovita, lepidolita, turmalinas das variedades shorlitas e elbaítas (verde, verde-
turquesa, azul, róseo e lilás), caulim e columbita/tantalita. Os cristais de turmalinas
elbaítas ocorrem fraturados e muitas vezes substituídos por lepidolita e/ou caulim. Eles
aparecem dentro da massa caulínica e a presença de pequenos bolsões de quartzo
morion associados a esta massa fina de caulim e lepidolita, servem de controle para a
mineralização das gemas elbaítas (Foto 3b).
Em 1993, a produção da Mina Batalha foi, parcialmente, paralisada. Porém, o alto
preço desta gema no mercado, justificou a abertura de uma nova mina situada na mesma
crista quartzítica da Mina Batalha, e iniciada a exploração por garimpeiros nos aluviões
do riacho que corta a área das minas.
Os pegmatitos Capoeiras e Quintos são heterogêneos (Johnston Jr., 1945) e
enriquecidos em elementos raros (Černý, 1991). O pegmatito Capoeiras tem uma
estruturação interna zonada, que não é facilmente identificada no pegmatito Quintos,
cujo zoneamento é mascarado por intensos processos de substituição (albitização e
lepidolitização). Estes pegmatitos são constituídos, essencialmente, por quartzo (leitoso
a hialino, morion e róseo), albita/clevelandita, K-feldspato pertítico, muscovita, biotita,
lepidolita, turmalina negra (série schorlita-dravita), turmalina elbaíta, berilo (leitoso e
morganita), espodumênio, gahnita, cookeíta, apatita, autunita, além de uma mineralogia
acessória diversificada (Soares, 2004).
As mineralizações de elbaítas, em cores verde, azul e vermelho, aparecem
principalmente no contato dos grandes cristais de feldspato albita/clevelandita (Zona 3)
com o quartzo do núcleo, ocorrendo em cristais que chegam a até 60cm de
comprimento, dispostos quase perpendicularmente ao contato (Foto 4). Existem
também, turmalinas dentro na massa quartzo-feldspática. Os cristais de turmalina,
freqüentemente, são zonados e muitos deles estão substituídos total ou parcialmente por
lepidolita, caulim e illita (Barreto,1999).
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As elbaítas verde-turquesa, “turmalinas Paraíba”, caracterizam-se por apresentar
elevados teores de cobre (0,65% a 1,77% wt de CuO) e manganês (0,35% a 2,46% wt
de MnO), sendo estes os elementos cromóforos das elbaítas. Os espectros de absorção
as diferenciam das demais elbaítas verdes destas ocorrências, por apresentarem no
visível apenas a banda principal a 700-718nm e no quase infravermelho a banda a 930-
940nm, relacionadas a transições do tipo “spin allowed” 5T2 → 5E nos íons Cu2+
situados nos octaedros Y (Barreto, 1999).
5. Conclusões
O Brasil produz uma grande diversidade de gemas, situando-se no ranking
mundial como o país com mais variedade e quantidade de gemas produzidas, com
destaque para turmalinas, topázios, opalas, quartzo (ágata, ametista e citrino), esmeralda
e, em pequena escala, diamante, rubi e safira. Apesar da grande dispersão geográfica, os
estados de Minas Gerais, Mato Grosso, Goiás, Rio Grande do Sul e Bahia, respondem
por 97% da produção oficial de gemas.
A produção de gemas no País é realizada por milhares de garimpeiros e por
poucas empresas de mineração, o que associada a alta carga tributária aplicada ao setor
promovem a informalidade e refletem no contrabando de gemas para o exterior, e,
conseqüentemente, na discrepância entre os dados oficiais de produção e
comercialização de gemas.
O Governo Brasileiro tem mantido esforços no sentido de reverter este quadro,
visando melhor gerenciar o setor de gemas através de ações como a criação de o Fórum
de Competitividade da Cadeia Produtiva de Gemas, Jóias e Afins, no qual foram
identificados os Arranjos Produtivos Locais de Gemas - APL Gemas, com a finalidade
de apoiar e gerenciar os pequenos mineradores, as indústrias e comércio.
*Apresenta-se em anexo uma prancha com fotos ilustrativas das seguintes gemas: topázio
imperial, esmeralda Carnaíba, opala nobre e “turmalina Paraíba”.
Referências Bibliográficas
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Agradecimentos
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