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GEMAS DO BRASIL

Barreto, Sandra de Brito1 & Bittar, Sheila Maria Bretãs 2


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Departamento de Geologia – Universidade Federal de Pernambuco. Av. Acadêmico Hélio Ramos S/Nº. Cidade Universitária.
CEP: 50.740-530, Recife (PE), Brasil. Telefone: (81) 21268240 Fax: (81) 21268234 . bsandra@ufpe.br
2 Universidade Federal Rural de Pernambuco, Departamento de Agronomia, Área de Solos. Av. Dom Manoel de Medeiros, s/n Dois
Irmãos. CEP52171-900 - Recife, PE – Brasil . Telefone: (81) 33206238 Fax: (81) 33206220 schulze@depa.ufrpe.br

Resumo
A Província Gemológica Brasileira é dividida em quatro subprovíncias, das quais
são extraídos cerca de 100 tipos diferentes de gemas, destacando-se pela produção de
turmalina, topázio, variedades de quartzo (ágata, ametista e citrino) e esmeralda. Além
disso, o Brasil é um dos únicos produtores de topázio imperial e de “turmalina Paraíba”
e produz em pequena escala diamante, rubi e safira. A produção brasileira de gemas é,
em geral, realizada por garimpeiros e por poucas empresas de mineração, levando a um
reduzido controle oficial do Estado sobre a produção e comercialização de gemas. Outro
fator que contribui para esta informalidade é a elevada carga tributária que alcança 53%
do valor de venda de jóias e 25% nas vendas de gemas brutas ou lapidadas no mercado
interno. Apesar da forte dispersão geográfica, a produção de gemas no Brasil concentra-
se nos estados de Minas Gerais, Bahia, Rio Grande do Sul, Mato Grosso e Goiás. O
Estado de Minas Gerais é o maior produtor e exportador de gemas do País, sendo
responsável por 74% da produção oficial, dentre as quais, o topázio imperial, berilos,
turmalinas, espodumênios e brasilianitas. O Estado da Bahia produz, principalmente,
esmeralda, ametista e água marinha, sendo o segundo maior produtor de gemas coradas
brutas, perdendo apenas para o Rio Grande do Sul, um dos mais importantes produtores
mundiais de duas delas: a ágata e a ametista. O Estado de Mato Grosso produz em
pequena escala, granada, topázio, zircão, diopsídio, variedades de quartzo e turmalinas.
Em Goiás, destaca-se a produção de esmeraldas e também de granada, topázio, quartzo
(citrino e ametista) e turmalina. O diamante bruto também merece menção em Goiás e
Mato Grosso, onde é produzido desde o início do século XX por garimpeiros. Hoje em
dia, as melhores perspectivas para a produção de diamante nesses estados vêm da lavra
de kimberlitos. Dentre a diversidade de gemas produzidas, algumas se impõem
mundialmente pela originalidade e propriedades gemológicas como a “turmalina
Paraíba” e a opala nobre do Piauí.

Palavras chave: gemas, provincia gemológica, produção de gemas, Brasil

1. Introdução
Segundo o Anuário de Comércio Exterior (2006), em 2005, o Brasil foi o primeiro
país no ranking mundial de tipos e quantidade de gemas, com destaque para turmalina,
topázio e quartzo (ágata, ametista e citrino) e, ocupou o segundo lugar entre os países
exportadores de esmeralda. O Brasil é um dos únicos produtores de topázio imperial e
de “turmalina Paraíba” e produz em pequena escala diamante, rubi e safira.
O Instituto Brasileiro de Gemas e Metais Preciosos – IBGM (2005a) estima que
em 2005, o Brasil foi responsável pela produção de 1/3 do volume de gemas no mundo,
excetuando-se o diamante, o rubi e a safira, que tem baixa produção no país.
No Brasil são extraídos cerca de 100 tipos diferentes de gemas e a produção é
realizada por milhares de garimpeiros e por poucas empresas de mineração, levando a
um reduzido controle oficial do Estado sobre a produção e comercialização de gemas.

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A produção oficial brasileira de gemas em 2005 foi, segundo o Departamento
Nacional de Produção Mineral – DNPM (2006), de apenas 47 milhões de dólares
(Tabela 1), sendo 36 milhões de dólares de diamantes e 11 milhões das outras gemas,
enquanto que as exportações oficiais atingiram a cifra de 135 milhões de dólares
(Tabela 2). Por outro lado, as exportações de gemas em 2005, segundo o Anuário de
Comércio Exterior (2006) foram de 168 milhões de dólares, enquanto que, segundo os
dados do IBGM (2005a), foram de 129,9 milhões de dólares. Nota-se, portanto, que as
exportações oficiais de gemas em 2005 foram, pelo menos, 2,7 vezes maior que a
produção total oficial, demonstrando que é, praticamente, impossível calcular a
produção real de gemas no Brasil, refletindo o elevado nível de informalidade e de
contrabando no segmento. Esta informalidade deve-se, em parte, a alta carga tributária
que atinge as vendas de gemas e jóias no mercado interno, uma vez que em 2004
(IBGM, 2005a), o Brasil era o recordista mundial de tributação nesse setor, com carga
tributária total de 53% (sobre o valor da produção), mais de três vezes superior a média
mundial, estimada em 15%. Ressalta-se que o valor da tributação no Brasil é muito
maior que a carga tributária da Itália (20%), Espanha (16%) e Estados Unidos (7%).
Segundo a Agência Brasileira de Promoção de Exportação e Investimentos -
APEX/IBGM (2008), a carga tributária atual permanece em 53% sobre o valor da
venda, na atual comercialização de jóias e de aproximadamente 25% nas vendas de
gemas brutas ou lapidadas em todo território nacional. Já, a carga tributária para as
gemas e as jóias brasileiras exportadas varia entre 7 e 10%.
A produção de gemas no Brasil tem forte dispersão geográfica (Figura 1),
concentrando-se, porém, nos estados de Minas Gerais, Mato Grosso, Goiás, Rio Grande
do Sul e Bahia (Tabela 1). Esses cinco estados respondem por 97% da produção oficial
de gemas (DNPM, 2006). O IBGM (2005a) estima que da produção nacional de gemas,
em 2004, aproximadamente 80% foi exportado.
Em 2005, os principais destinos das exportações de gemas coradas (DNPM,
2006), em termos de valores, foram os Estados Unidos (25,8%), Hong Kong (16,4%),
Alemanha (9,3%), Taiwan (8,9%), Índia (7,1 %), China (5,9%), Japão (4,9%) e
Tailândia (4,5%), enquanto que as exportações oficiais de diamantes brutos foram de
280 mil quilates, gerando uma receita de 19 milhões de dólares (DNPM, 2007).
A Cadeia Produtiva de Gemas no Brasil compreende a extração (do garimpo até a
mineração), a industrialização (lapidação, joalheria, folheados, bijuterias e artefatos de
pedras), a comercialização e a exportação. Em 2006, essa cadeia produtiva era
constituída por cerca de 15.000 empresas, onde 93% era micro e pequenas empresas,
que geraram 350 mil empregos diretos, sendo 120 mil no garimpo e na mineração, 40
mil empregos na indústria de jóias e produtos afins, e 190 mil nas vendas e varejo.
Em 2005, o Governo Brasileiro, através do Ministério de Desenvolvimento da
Indústria e Comércio Exterior e do Ministério das Minas e Energia, criou o Fórum de
Competitividade da Cadeia Produtiva de Gemas, Jóias e Afins, no qual foram
identificados os Arranjos Produtivos Locais de Gemas - APL Gemas, com a finalidade
de apoiar e gerenciar os pequenos mineradores, as indústrias e o comércio.

2. Ocorrências de Gemas no Brasil


A distribuição geográfica das ocorrências de gemas no Brasil, aliada a imensa
extensão territorial, permite caracterizar o país como uma grande província gemológica.
Limaverde (1980) dividiu esta província em quatro sub-províncias (Figura 2):
- Sub-província Nordeste: subdividida em duas áreas: a meridional, abrangendo o
distrito mineiro da Bahia (esmeraldas, ametista, citrino, quartzo hialino, entre outras) e a
setentrional que abrange as mineralizações pegmatíticas do Planalto da Borborema e do

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Estado do Ceará (dentre as quais; elbaítas, águas-marinhas, granadas e morganitas). Na
porção setentrional localiza-se também o singular depósito de opala nobre de Pedro II,
no Piauí, encaixado em arenitos da Bacia Sedimentar do Maranhão.
- Sub-província Central: abrange áreas dos estados de Goiás, Mato Grosso e Pará,
caracterizadas, principalmente, pelas ocorrências de esmeraldas e diamantes, possuindo
também gemas associadas a pegmatitos e veios com ametista;
- Sub-província Sul: subdividida nas porções meridional, que abrange áreas dos estados
do Rio Grande do Sul e Santa Catarina, onde predominam jazidas e ocorrências de
ametistas, citrinos e ágatas ligadas a basaltos; e setentrional, que ocupa parte do Mato
Grosso do Sul (ametista), Paraná (diamante) e São Paulo (minerais de pegmatitos);
- Sub-província Leste: abrange, principalmente, os estados de Minas Gerais e Espírito
Santo, e uma pequena área, do Estado do Rio de Janeiro, caracterizada, principalmente,
pela presença de gemas ligadas a (i) pegmatitos e veios hidrotermais, (ii) depósitos
secundários associados a aluviões, coluvios e paleoaluviões plio-pleistocênicos e (iii)
áreas de concentrações de diamante.

3. Principais Estados Brasileiros Produtores de Gemas

3.1 - Minas Gerais


O Estado de Minas Gerais é o maior produtor e exportador de gemas do País,
sendo responsável por 74% da produção oficial de gemas coradas e diamantes (Tabela
1) e de 92% das exportações. Em 2000, contava com cerca de 100 empresas de extração
de gemas, mais de 300 empresas de lapidação, cerca de 200 indústrias de joalheria e
ourivesaria, com uma rede de, aproximadamente, 13 mil empresas de varejo e de 600
empresas de comércio atacadista, sendo o conjunto responsável pela geração de mais de
150 mil empregos diretos (Castañeda et al., 2001).
Os principais distritos gemológicos de Minas Gerais (Figura 3) produzem berilo
(esmeralda, água-marinha, heliodoro, goshenita e morganita), turmalinas da série
schorlita-elbaíta, topázio (azul, incolor e imperial), crisoberilo (crisoberilo, olho-de-gato
e alexandrita) e quartzo (ametista, citrino, morion e fumê).
A maioria dessas gemas está relacionada, principalmente, a rochas graníticas e
pegmatitos associados, e a depósitos hidrotermais cortando seqüências quartzíticas.
Uma raridade é a ocorrência de topázio imperial, nos produtos de alteração de mármore
do Quadrilátero Ferrífero, na região de Ouro Preto.
Outras gemas encontradas em Minas Gerais, são: espodumênio (kunzita e
hiddenita), granada, euclásio, fenaquita, titanita, escapolita, brasilianita, petalita,
ambligonita e herderita, além de diamante e coríndon de baixa qualidade.

3.2 – Bahia
O Estado da Bahia é o segundo maior produtor de gemas coradas brutas do Brasil,
só sendo superado pelo Rio Grande do Sul (Tabela 1).
Couto (2000) catalogou, neste estado, a presença de 700 ocorrências e/ou jazidas
de gemas (Figura 4), destacando-se: ametista, diamante, água marinha e malaquita. As
pricipais gemas produzidas na Bahia nas últimas décadas são: esmeralda, ametista e
água marinha, porém, dumortierita, o quartzo (róseo, citrino e cristal de rocha),
corindon e sodalita, merecem destaque, apesar das baixas produções e produtividades.
Outras gemas da Bahia, com alguma potencialidade, são: alexandrita, amazonita,
apatita, crisoberilo, fluorita, jaspe, quartzo rutilado, turmalina e turquesa.
No século XIX, o diamante foi largamente lavrado por garimpeiros na região da
Chapa da Diamantina (Lençóis, Andaraí, Palmeiras e Mucugê), ao longo dos aluviões

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da bacia do Rio Paraguaçu. Estas lavras foram interditadas, em 1996, devido a uma ação
conjunta de órgãos governamentais, visando à preservação ambiental do Parque
Nacional da Chapada da Diamantina. Atualmente, a produção de diamantes na Bahia é
residual e sem significação econômica.
Apesar da boa produção de gemas brutas a indústria de lapidação e de artefatos de
pedras na Bahia ainda é rudimentar, concentrando-se na cidade de Salvador e em
algumas regiões produtoras, como Campo Formoso. Como conseqüência a maioria das
gemas produzidas é exportada para outros estados ou para o exterior. Também é em
Salvador que se concentra no Estado a venda de pedras e jóias, com cerca de 350 pontos
de vendas (IBGM, 2005).
Couto (2000) agrupou os depósitos baianos de gemas em: (1) depósitos
secundários de idade cenozóica, onde as gemas (água marinha, ametista, corindon,
diamante, esmeralda, malaquita, quartzo róseo e turquesa) estão alojadas em aluviões,
paleoaluviões, colúvios e elúvios; (2) depósitos de idade arqueana, representadas
principalmente pelas jazidas de corindon, relacionadas ao metamorfismo regional sobre
sedimentos argilosos aluminosos, gerador do xisto mineralizado; e (3) jazidas
associadas à pegmatitos e veios de quartzo hidrotermais de idade proterozóica,
principalmente constituídas por água marinha, mas também com crisoberilo, topázio,
morganita, andaluzita, zircão, quartzo, amazonita, fluorita e turmalina.

3.3 - Rio Grande do Sul


O Estado do Rio Grande do Sul é o maior produtor brasileiro de pedras coradas
em bruto e um dos mais importantes produtores mundiais de duas delas: a ágata e a
ametista. Além disso, exporta o citrino, que resulta do aquecimento da ametista,
provocando a oxidação do ferro e a conseqüente mudança de cor.
No Mapa Gemológico do Rio Grande do Sul (Branco & Gil, 2002a) estão
cadastrados 329 depósitos de gemas, incluindo desde simples indícios até minas e
garimpos em atividade, e 32 jazidas que produzem minerais para coleção (Figura 5).
A ágata e a ametista totalizam mais de 95% do valor da produção gemológica do
Rio Grande do Sul, sendo também produzidos, em pequena escala, cristal de rocha,
citrino, madeira fóssil (xilólito), calcedônia, serpentinito e jaspe. Entre os minerais para
coleção, além da ametista, ágata e cristal de rocha, há a produção de calcita em geodos,
alguns dos quais atingem até 120kg, de selenita e de minerais do grupo das zeólitas
(heulandita, escolecita e estilbita).
As principais áreas de exploração de ágata e de ametista localizam-se em terrenos
de idade Cretácea e estão associadas aos extensos derrames basálticos da Bacia do
Paraná. Em geral, estas gemas ocorrem como geodos ovóides, de tamanhos variados, no
interior de basaltos alterados. Existem registros de drusas e geodos que atingiram até
3.000kg e 3m de comprimento, sendo freqüentes as peças de 200 a 300kg (Branco &
Gil, 2002a). Concentrações de geodos são também encontradas em aluviões e eluviões
cenozóicos resultantes da desagregação dos basaltos.
No Mapa Gemológico do Estado do Rio Grande do Sul estão assinalados três
pólos gemológicos produtores (Figura 5): (1) o primeiro, situado na fronteira do Rio
Grande do Sul com Santa Catarina, onde estão às maiores jazidas de ametista
(Lamachia, 2006) localizadas na região do Alto Uruguai, com 350 garimpos, que se
concentram, principalmente, nos municípios Ametista do Sul, Planalto, Irai e Frederico
Westphalen. Este pólo é o maior produtor de ametista do mundo; (2) o segundo,
posicionado no centro do Estado, em torno do município de Salto do Jacuí, é
responsável por 80 a 90% da produção gaúcha de ágata. Nesse município, nas margens
do rio Jacuí estão localizadas as maiores jazidas do mundo de ágata de qualidade

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superior (Lamachia, 2006); e (3) o terceiro pólo, localizado na divisa do Rio Grande do
Sul com o Uruguai, em torno do município de Quaraí, composto por inúmeras
ocorrências de ametista e ágata, porém com produção relativamente pequena em
comparação aos demais pólos.
Segundo o IBGM (2005), o Rio Grande do Sul tem um parque industrial de
lapidação e de joalheria que, em 2004, era integrado por mais de 600 empresas de
pequeno porte, que foram responsáveis por 20% das exportações brasileiras de gemas e
jóias, equivalendo a 47 milhões de dólares.
O município de Soledade é o principal centro de comercialização do Rio Grande
do Sul e, nessa região, a Universidade de Passo Fundo e o Serviço Nacional de
Aprendizagem Industrial – SENAI, apóiam tecnicamente 120 microempresas do setor.
Dois outros centros importantes de lapidação estão localizados em Lajeado, onde
existem 250 micro e pequenas indústrias, e em Guaporé com 120 micro, pequena e
média empresas que beneficiam, principalmente, a ágata e a ametista.

3.4 - Goiás e Mato Grosso


O Estado de Mato Grosso produz, em pequena escala, granada, zircão, diopsídio,
quartzo (ametista, cristal de rocha, morion, róseo e ágata) e turmalina.
O Estado de Goiás tem como principal gema as esmeraldas, com ocorrências
localizadas na região norte, próximo ao município de Campos Verdes, sendo também
um pequeno produtor de granada, topázio, quartzo (citrino e ametista) e turmalina.
O depósito de esmeraldas de Campos Verdes, localizado na “Reserva Garimpeira
de Santa Terezinha de Goiás”, foi descoberto em 1981 e produziu oficialmente até o ano
de 2000, 534,11 ton de esmeraldas (AGIM, 2002). O auge da produção deu-se em 1988,
quando foram extraídos 24,79 ton de esmeraldas brutas, vendidas por 9 milhões de
dólares. Desde então, a qualidade das esmeraldas caiu significativamente. Em 2000,
apesar dos garimpeiros extraírem 25 ton de esmeraldas, o valor bruto da produção foi de
apenas 898 mil dólares.
As esmeraldas de Campos Verdes se concentram em talco xistos e em biotita
xistos, encaixados em carbonato-clorita-quartzo xistos, que constituem uma seqüência
de metavulcânicas básicas précambriana, afetada por metamorfismo do fácies xisto
verde e, por um processo posterior de alteração hidrotermal que possibilitou a formação
de veios e filões de quartzo e de pegmatitos, mineralizados em berilos e esmeraldas.
O diamante também merece destaque nos estados e Goiás e Mato Grosso. A
produção de diamante bruto, nesses dois estados, começou no início do século XX. Em
Goiás ela se desenvolveu, principalmente, com os trabalhos de garimpagem nos
aluviões do Rio Parnaíba. Em Mato Grosso, a principal área de produção situou-se nos
garimpos localizados no município de Poxoréu. Ao que tudo indica, as principais
reservas de diamante da região estão localizadas na reserva indígena Roosevelt, entre os
estados de Mato Grosso e Rondônia, onde são proibidas atividades mineiras pelo
Governo Brasileiro.
Atualmente, as maiores perspectivas para a produção de diamante, em Goiás e
Mato Grosso, decorrem de kimberlitos. A Diagen International Resource Corporation
está lavrando um kimberlito alterado em Juína (NW de Mato Grosso). Existem centenas
de corpos kimberlíticos potencialmente mineralizados, já descobertos em Mato Grosso,
Minas Gerais e Rondônia
Em relação ao resto do Brasil, Goiás e Mato Grosso, só têm dados estatísticos
significativos quanto à produção de diamante (Tabela 1). Segundo o DNPM (2006), em
2005, o valor oficial da produção de diamante beneficiado, foi de 4,4 milhões de dólares
em Mato Grosso e de, aproximadamente, 2,5 milhões de dólares em Goiás. Entretanto, a

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produção real nesses estados, não pode ser calculada com um mínimo de confiabilidade,
já que alguns especialistas afirmam que 98% da produção de diamantes saem
ilegalmente do país, não constando dos registros oficiais do DNPM.

4. Estudo de Casos
O Brasil produz uma grande diversidade de gemas. Algumas delas se destacam
pela originalidade, pela história ou pelo volume de produção, mesmo a nível
internacional. Entre as gemas que se impõem pela originalidade, o topázio imperial de
Minas Gerais e a “turmalina Paraíba” são as mais importantes, destacando-se ainda a
opala nobre de Pedro II, no Piauí. A gema de maior valor histórico no Brasil é, sem
dúvida, o diamante, uma vez que o país foi o maior produtor do mundo durante quase
150 anos, até o ano de 1866. Atualmente, a indústria brasileira de diamante em
comparação com a indústria mundial é pouco significativa. Tanto é que em 2006, os
diamantes brasileiros representaram, segundo o DNPM (2007), respectivamente, 0,11%,
0,003% e 0,02% da produção, importação e exportação mundial desta gema. Dentre as
gemas coradas brasileiras que se destacam, internacionalmente, pelo volume da
produção e qualidades, as mais importantes são: esmeralda, água-marinha, ametista e
ágata.
Neste trabalho é impossível detalhar todas essas gemas e, por isso, serão descritas
a seguir apenas algumas delas.

4.1 Topázio Imperial de Minas Gerais


As principais ocorrências de topázio imperial de Minas Gerais localizam-se em
uma área de 200km2 em torno da Cidade de Ouro Preto (Figura 6), onde duas
mineradoras são responsáveis pela quase totalidades da produção desta gema: a
Mineração Vermelhão, que lavra a Mina de Saramenha, e a Topázio Imperial
Mineração, Comércio e Indústria Ltda., que trabalha a mina Capão do Lana. Os demais
depósitos são trabalhados em regime de garimpagem, mas têm pequenas produções.
Nas jazidas primárias, o topázio imperial ocorre, principalmente, em veios
caulinizados descontínuos, de espessura centimétrica, fortemente intemperizados,
encaixados em rochas carbonáticas (filitos carbonáticos, dolomitos e mármores
impuros), intensamente decompostas, de coloração castanha escura e textura argilosa,
geologicamente posicionadas no Super Grupo Minas, de idade précambriana. Como as
rochas encaixantes e os veios mineralizados em topázio estão fortemente decompostos,
a lavra se dá a céu aberto e, nas minas principais, ela é feita por meio de desmonte
hidráulico, seguido pela coleta do material desmontado com auxílio de escavadeiras do
tipo drag line, lavagem, peneiramento, jigagem e, por último, faz-se a catação manual
dos cristais numa correia transportadora. Já nas áreas de garimpo, o desmonte do
material alterado é feito manualmente e o minério recuperado é peneirado e lavado
cuidadosamente, recuperando-se o topázio imperial por catação manual (Fotos 1a e 1b).
Na Mina do Capão do Lana, retira-se cerca de 400m3 de material alterado a cada
dia de trabalho, com duas drag lines. De cada 100m3 desse material argiloso, tem-se
1m3 de rocha inalterada e minerais livres, de onde são extraídos 1 kg de topázio. De
todo este topázio beneficiado, somente cerca de 1% (10g) constitui-se em mineral-
gema.
O topázio ocorre como cristais prismáticos, sendo raros os exemplares
biterminados. Normalmente, tais cristais aparecem sob a forma de agregados e
fragmentos, predominando os tipos idiomórficos constituídos de dois prismas rômbicos
verticais terminados por uma bipirâmide rômbica. As dimensões variam desde alguns
milímetros até 20cm, aproximadamente, dominando a faixa em torno de 1 a 4cm. A cor,

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uma das propriedades mais notáveis dessa gema, varia de amarelo-dourado a vermelho-
conhaque, apresentando matizes intermediários entre esses dois tipos. Análises químicas
de topázios coloridos obtidas a partir de microssonda eletrônica indicaram ser o Cr3+,
V3+ e Fe3+ os prováveis cromóforos deste mineral.
As inclusões cristalinas, estudadas principalmente por difração de raios X e pelo
microscópio eletrônico de varredura, são representadas por carbonatos, topázio,
hematita, ilmenita, mica, rutilo, quartzo, tremolita, euclásio, cloritóide e apatita. Elas
aparecem em número bem menor do que as inclusões fluidas, que são bem mais
freqüentes e abundantes. Essas inclusões fluidas foram estudadas por vários métodos
(platina de aquecimento/resfriamento, espectroscopia de infravermelho e espectroscopia
micro Raman), que permitiram a identificação de suas composições, densidades,
salinidades e condições de T e P de aprisionamento. Na Tabela 3 estão relacionados os
dados de temperatura e de pressão encontrados em diferentes jazidas da região. Esses
dados indicam que a gênese do topázio imperial da região de Ouro Preto está
relacionada a processos hidrotermais e que os fluidos têm origem metamórfica, sendo
resultantes de prováveis reações de decarbonatização e desidratação das rochas
regionais, durante algum episódio tectono-termal recorrente - Gandini (1994).

4.2 Esmeraldas da Bahia


A primeira notícia de esmeraldas no Estado da Bahia data de meados de 1963, no
município de Pindobaçu, que veio a constituir o garimpo de Carnaíba. Vinte anos depois
foi descoberto o garimpo de Socotó, situado no município de Campo Formoso, que nos
primeiros cinco anos ultrapassou o de Carnaíba quanto ao valor de produção. Essas duas
áreas de garimpos distam, entre si, aproximadamente 50 km, e estão correlacionadas
geneticamente.
A área em torno do garimpo de Carnaíba forma um anticlinal que tem no núcleo o
embasamento composto por gnaisses e migmatitos arqueanos, que estão circundados
por ortoquartzitos do Grupo Jacobina, contendo intercalações concordantes de
serpentinitos associados com flogopita-biotita-talco xistos, que gradam para
flogopititos. Cortando esta seqüência ocorrem granitos e pegmatitos paleoproterozóicos,
responsáveis pelo metamorfismo/metassomatismo das rochas básicas e ultrabásicas,
geradoras das esmeraldas (Figura 7). Parte das esmeraldas desta região aparece em
filões de quartzo e/ou de pegmatitos encaixados nos serpentinitos. Existem dois tipos
principais de filões: um relacionado às fraturas cortando os serpentinitos e/ou os xistos,
e o outro associado aos veios de contato entre os serpentinitos e os quartzitos. Esses
filões são chamados pelos garimpeiros de “frincha” e “veio de esteira”,
respectivamente. A maior parte da esmeralda, entretanto, se distribui e concentra nos
flogopita xistos situados no interior dos serpentinitos.
As reservas de esmeralda de Carnaíba foram estimadas em 2.040 ton (Santana &
Moreira, 1980). Entretanto, a Companhia Bahiana de Pesquisa Mineral – CBPM aponta
com base nos dados históricos dos garimpos, uma produtividade média de 1,11kg de
esmeralda (gemológica e não gemológica) por tonelada de biotita xisto lavrada e estima,
com base nesta relação, à existência de reservas da ordem de 7 mil toneladas de
esmeraldas gemológicas e de 13,4 mil toneladas de esmeraldas não gemológicas.
No garimpo de Socotó, as gemas localizam-se em enclaves de rochas ultrabásicas
em granitos intrusivos responsáveis pelo metassomatismo gerador das esmeraldas
(Figura 8). Esses xenólitos são compostos, basicamente, por serpentinitos, anfibolitos e
biotita xistos.
A lavra nesses dois garimpos, em geral, é subterrânea sendo escavados shafts e
bancadas verticais, até alcançarem os flogopititos, os serpentinitos, os xistos ou os veios

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potencialmente mineralizados. A partir daí, são abertas galerias de níveis de onde são
extraídos os cristais maiores de berilo e esmeralda, sendo o resto mandando para a
superfície, onde é lavado cuidadosamente, recuperando-se as gemas por catação.
Schwarz (1987) estudando microscopicamente as esmeraldas da região de
Carnaíba e Socotó, observou que, nos exemplares de Carnaíba, as inclusões estão
caracterizadas pela presença de flocos (estrelas; Foto 2a), sinais de crescimento e a
presença de poucas inclusões minerais, dentre as quais, apenas as de micas são
significativas, além de tubos de crescimento e inclusões bifásicas. As esmeraldas de
Socotó, por sua vez, apresentam uma variedade extraordinária de tubos de crescimento.
São caracterizadas por fenômenos de crescimento, marcados por diferentes tipos de
zoneamento de cor (Foto 2b). As inclusões de micas e a freqüência de inclusões de
outros minerais (hematita e flocos de goethita/limonita) (Foto 2c), além de inclusões
bifásicas, diferem das descritas nas esmeraldas de Carnaíba. As inclusões minerais mais
interessantes do ponto de vista gemológico, nos exemplares de Socotó, são os cristais
bem desenvolvidos de esmeralda.

4.5 Opalas Nobres do Piauí


O Brasil é o segundo maior produtor mundial de opala nobre e esta gema aparece
em mais de 30 ocorrências situadas no município de Pedro II, porção NE do Estado do
Piauí (Figura 9), nas proximidades da borda leste da Bacia Sedimentar do Maranhão.
A faixa explorada para a produção de opala nobre fica localizada em uma região
constituída, essencialmente, por arenitos subhorizontais da Formação Cabeças de idade
Paleozóica, intercalado e/ou cortado por sills e diques de diabásio e basalto triássicos.
As opalas ocorrem de três maneiras (Oliveira, 1998): (1) em aluviões e colúvios,
resultantes da desagregação da rocha matriz; (2) em veios, preenchendo fraturas no
diabásio e no arenito, principalmente, em torno do contato entre estas rochas; e (3)
próximo ao contato superior dos sills de diabásio com o arenito, que forma um nível
mineralizado, ora constituído por um material argiloso resultante da alteração da mistura
diabásio/arenito, ora formado por arenitos fortemente silicificados, e, ora, aparece como
um siltito muito fraturado, onde se desenvolve a calcedônia e a opala, que gradam, na
base a folhelhos microbrechados com manifestações opalinas nas fraturas.
As opalas do tipo (1) são encontradas em aluviões de vários rios da região,
principalmente, no Rio Corrente e nos afluentes do Rio dos Matos. Neste tipo de
depósito os principais garimpos são o de Pirapora e de Barra, localizados,
respectivamente, a 500m e a 1.000m, ao sul da cidade de Pedro II. A extração de opala
aluvionar é realizada por garimpeiros que abrem poços com 3 a 4m, de comprimento
por 1,5 a 2m de largura e retiram a camada argilosa estéril. Ao atingir os diferentes
níveis de cascalho, os seixos arredondados de arenito e de diabásio/basalto também são
excluídos e a argila e a areia do cimento são lavadas cuidadosamente, recuperando-se
por catação manual a opala existente. Nos depósitos coluvionares, são retiradas as
coberturas estéreis e as argilas de alteração são beneficiadas e as opalas recuperadas por
lavagem cuidadosa. Em 2000, foi descoberto um novo depósito coluvionar, cujo
garimpo, denominado Chã do Lambedor, chegou a agregar 100 operários. Essas opalas
têm cor básica branca, com jogo de cores laranja esverdeado, laranja avermelhado e
multicoloridos, principalmente nos padrões: flashfire e broad flashfire e pinfire (Gomes
& Costa, 2001).
As opalas do tipo (2), do contato superior do diabásio com o arenito Cabeças são,
sem dúvida, as ocorrências mais importantes de Pedro II, e representaram mais de 95%
de toda a opala nobre comercializada na região. A mina Boi Morto, descoberta nos idos
de 1940, é, ainda hoje, a principal jazida do município. A lavra em Boi Morto,

8
inicialmente, foi efetuada por galerias longitudinais abertas acima do contato do
diabásio sem alteração, que servia de piso. O material argiloso recuperado na abertura
da galeria era lavado e a opala recuperada por catação manual. Este processo de lavra
ainda ocorre, mas a explotação passou a ser feita, principa1mente, a céu aberto,
retirando o arenito com auxílio de tratores e retro-escavadeiras, até atingir o nível
potencialmente mineralizado, constituído pelo arenito duro ou pelos níveis de argila
esmectíticas. Ao atingir o arenito duro, o trator com auxílio de escarificadores quebra
cuidadosamente o minério, expondo suas fraturas e possibilitando a recuperação
manua1 das gemas localizadas nas diáclases e veios. Nas zonas com argilas, a remoção
é feita vagarosamente e as pedras são, recuperadas por catação ou por lavagem da
argila. Outras jazidas importantes de opala nobre deste tipo são as de Roça, Mamoeiro e
Pajeú, situadas de 5 a 7km a SW de Pedro II.
As opalas do tipo (3), que ocorrem associadas à cobertura estéril sobre a faixa
mineralizada no topo dos corpos de diabásio, tiveram muitas de suas lavras fechadas por
parte do Ministério Público, pois a cobertura atingiu 60m de espessura, provocando
danos ambientais e situações de risco para a prática mineira.
As opalas de Pedro II apresentam dureza elevada e alta resistência às mudanças de
temperatura como conseqüência do baixo conteúdo de água presente na sua
composição: em tomo de 5,7%, enquanto que, mundialmente as opalas nobres
apresentam de 6 a 10% (Lamachia, 2006).
Oliveira (1998) classificou as opalas de Pedro II, levando em consideração a
tonalidade da massa (potch), a distribuição das cores e a qualidade. Quanto à tonalidade
da massa, os principais tipos encontrados são: white opal, que tem o fundo leitoso e é a
mais frequente; black opal, que tem massa preta e é extremamente rara; gray opal, cujas
tonalidades da massa são variações do cinza; e a semi-black opal, com a cor cinza
escura no fundo. Quanto ao jogo de cores, os tipos mais freqüentes em Pedro II, são:
rolling flash, que apresenta mudanças freqüentes e constantes de cores, como num
balanço de ondas; broad flash, quando uma simples onda cruza rapidamente a pedra;
exploding flash, quando as cores são penetrantes; mackerel sky, quando aparecem a
formação de cores delgadas e paralelas nebulosas; flame ou flash-of-fire, onde as linhas,
predominantemente vermelhas e laranjas, emprestam a aparência oscilante através da
pedra; arlequim, que é um modelo estático, onde as cores formam mosaicos que não se
movem; padrão floral, outro modelo estático, que formam flores coloridas com muitas
pétalas; e o pinfire, quando as flores coloridas são diminutas como cabeças de pregos.
Em relação à qualidade, as opalas são classificadas em nobre, extra, forte, média, fraca e
muito fraca ou refugo.
Ações governamentais efetivas nesta região iniciaram-se nos idos de 1990 com o
Projeto Pedras Preciosas Piauí/Maranhão, desenvolvido pela CPRM, culminando na
elaboração do Mapa Gemológico do Estado do Piauí em 1998 (Figura 9).
Concomitantemente, a atuação do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas
Empresas – SEBRAE, estimulou a implantação de indústrias de lapidação, joalheria e
artesanato mineral. Em 2005, foi implantado o “Arranjo Produtivo Local (APL) da
Opala” visando organizar esta cadeia produtiva e apoiar a Cooperativa dos Garimpeiros
de Pedro II e a Associação de Joalheiros e Lapidários de Pedro II.
Segundo o IBGM (2006), em Pedro II, no ano de 2005, existia cerca de 200
garimpeiros trabalhando, a maioria, para empresas multinacionais que operavam na
região. Além disso, o município possuía um pequeno pólo produtor de jóias de prata
com opala, tendo 16 microempresas, com aproximadamente 6 empregados cada uma.
Oliveira (1998) estima que 80% da produção de Pedro II foi exportada ou
comercializada na forma bruta em outros estados brasileiros.

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4.6 As Turmalinas da Paraíba e do Rio Grande do Norte
As “turmalinas Paraíba” possuem esta denominação por terem sido descobertas,
em 1988, em pegmatitos da Mina Batalha, localizados no município de São José da
Batalha, Estado da Paraíba. Posteriormente, já nos anos 90, foram encontradas
turmalinas semelhantes nos pegmatitos Quintos e Capoeiras, localizados no município
de Parelhas, Rio Grande do Norte.
Os pegmatitos Batalha e Quintos, de idade Pré-Cambriana, estão encaixados em
quartzitos à muscovita da Formação Equador, enquanto que o pegmatito Capoeiras
encontra-se encaixado em metaconglomerados da Formação Seridó, de mesma idade
(Figura 10).
As “turmalinas Paraíba” caracterizam-se por uma cor muito particular, recebendo
designações populares como: verde turquesa elétrico, verde neon e azul pavão. Por sua
beleza, peculiares tonalidades de verde e azul, alto brilho e limitada produção, estas
gemas de qualidade média, atingiram altos preços no mercado nacional (U$ 1.000,00/ct
a 1.500,00/ct) e internacional (U$ 2.500,00/ct a 5.000,00/ct), chegando a valores no
mercado internacional de até U$ 20.000,00/ct para gemas boas. As turmalinas de cor
lilás também têm importância econômica.
Na Mina Batalha ocorrem seis corpos pegmatíticos, tabulares, paralelos ou
subparalelos entre si, com espessura variando de 20cm a 4m e profundidade de
explotação nas banquetas (em 1998), de 6 a 25m (Foto 3a). São pegmatitos homogêneos
intensamente caulinizados, com direção geral 120º a 130ºAz, com mergulhos de 54º a
75º para NE, discordantes do mergulho da foliação da encaixante. Petrograficamente,
estes pegmatitos são constituídos de quartzo (róseo, hialino, leitoso e morion),
moscovita, lepidolita, turmalinas das variedades shorlitas e elbaítas (verde, verde-
turquesa, azul, róseo e lilás), caulim e columbita/tantalita. Os cristais de turmalinas
elbaítas ocorrem fraturados e muitas vezes substituídos por lepidolita e/ou caulim. Eles
aparecem dentro da massa caulínica e a presença de pequenos bolsões de quartzo
morion associados a esta massa fina de caulim e lepidolita, servem de controle para a
mineralização das gemas elbaítas (Foto 3b).
Em 1993, a produção da Mina Batalha foi, parcialmente, paralisada. Porém, o alto
preço desta gema no mercado, justificou a abertura de uma nova mina situada na mesma
crista quartzítica da Mina Batalha, e iniciada a exploração por garimpeiros nos aluviões
do riacho que corta a área das minas.
Os pegmatitos Capoeiras e Quintos são heterogêneos (Johnston Jr., 1945) e
enriquecidos em elementos raros (Černý, 1991). O pegmatito Capoeiras tem uma
estruturação interna zonada, que não é facilmente identificada no pegmatito Quintos,
cujo zoneamento é mascarado por intensos processos de substituição (albitização e
lepidolitização). Estes pegmatitos são constituídos, essencialmente, por quartzo (leitoso
a hialino, morion e róseo), albita/clevelandita, K-feldspato pertítico, muscovita, biotita,
lepidolita, turmalina negra (série schorlita-dravita), turmalina elbaíta, berilo (leitoso e
morganita), espodumênio, gahnita, cookeíta, apatita, autunita, além de uma mineralogia
acessória diversificada (Soares, 2004).
As mineralizações de elbaítas, em cores verde, azul e vermelho, aparecem
principalmente no contato dos grandes cristais de feldspato albita/clevelandita (Zona 3)
com o quartzo do núcleo, ocorrendo em cristais que chegam a até 60cm de
comprimento, dispostos quase perpendicularmente ao contato (Foto 4). Existem
também, turmalinas dentro na massa quartzo-feldspática. Os cristais de turmalina,
freqüentemente, são zonados e muitos deles estão substituídos total ou parcialmente por
lepidolita, caulim e illita (Barreto,1999).

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As elbaítas verde-turquesa, “turmalinas Paraíba”, caracterizam-se por apresentar
elevados teores de cobre (0,65% a 1,77% wt de CuO) e manganês (0,35% a 2,46% wt
de MnO), sendo estes os elementos cromóforos das elbaítas. Os espectros de absorção
as diferenciam das demais elbaítas verdes destas ocorrências, por apresentarem no
visível apenas a banda principal a 700-718nm e no quase infravermelho a banda a 930-
940nm, relacionadas a transições do tipo “spin allowed” 5T2 → 5E nos íons Cu2+
situados nos octaedros Y (Barreto, 1999).

5. Conclusões
O Brasil produz uma grande diversidade de gemas, situando-se no ranking
mundial como o país com mais variedade e quantidade de gemas produzidas, com
destaque para turmalinas, topázios, opalas, quartzo (ágata, ametista e citrino), esmeralda
e, em pequena escala, diamante, rubi e safira. Apesar da grande dispersão geográfica, os
estados de Minas Gerais, Mato Grosso, Goiás, Rio Grande do Sul e Bahia, respondem
por 97% da produção oficial de gemas.
A produção de gemas no País é realizada por milhares de garimpeiros e por
poucas empresas de mineração, o que associada a alta carga tributária aplicada ao setor
promovem a informalidade e refletem no contrabando de gemas para o exterior, e,
conseqüentemente, na discrepância entre os dados oficiais de produção e
comercialização de gemas.
O Governo Brasileiro tem mantido esforços no sentido de reverter este quadro,
visando melhor gerenciar o setor de gemas através de ações como a criação de o Fórum
de Competitividade da Cadeia Produtiva de Gemas, Jóias e Afins, no qual foram
identificados os Arranjos Produtivos Locais de Gemas - APL Gemas, com a finalidade
de apoiar e gerenciar os pequenos mineradores, as indústrias e comércio.

*Apresenta-se em anexo uma prancha com fotos ilustrativas das seguintes gemas: topázio
imperial, esmeralda Carnaíba, opala nobre e “turmalina Paraíba”.

Referências Bibliográficas
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Schwarz, D. Esmeraldas – Inclusões em Gemas. Ouro Preto. Imprensa Universitária da UFOP.
1987. 439p. Il.

Agradecimentos

Os autores agradecem a todos os que contribuíram para a elaboração deste texto,


especialmente:
Ao Dr. Antonio Luciano Gandini do Departamento de Geologia da Universidade
Federal de Ouro Preto pela cessão do texto e ilustrações que serviram de base ao tema
topázio imperial.
Ao Dr. Júlio Cesar Mendes do Departamento de Geologia da Universidade Federal de
Ouro Preto pelas informações sobre o estado de Minas Gerais.
Ao Dr. Ricardo Jorge Lobo Maranhão pela contribuição no tema economia mineral e
revisão de textos.
Aos graduandos do curso de Geologia da UFPE Rômulo Leonardo de Souza e
Marcondes Assis Menezes da Silva pelo apoio na elaboração das ilustrações.
À Secretaria do Estado de Indústria, Comércio, Minas e Energia do Estado do
Mato Grosso na pessoa do Dr. Manoel Antonio Rodrigues Palma e da assessora
técnica Sra. Josemara Campelo Giglio – pelo envio das informações sobre este estado.
À Secretaria de Estado de Desenvolvimento, Ciência e Tecnologia do Governo do
Estado do Pará pelo apoio no envio de informações.
Ao Dr. Adeilson Alves Wanderley da Companhia de Recursos Minerais – CPRM pela
colaboração em mapas e informações diversas.
Ao Sr. Gevilácio A. C. de Moura pela colaboração no envio de fotos e informações
verbais sobre as esmeraldas de Carnaíba e Socotó – Bahia.

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