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Índice
A dimens
Abordagem subjetivista às
ciências sociais
Nesta
Nominalismo
rápida esquematização das diversas posturas ontológicas,
epistemológicas, humanas e metodológicas que caracterizam as abordagens em
ciências sociais, procuramos ilustrar duas perspectivas amplas e de certa forma
polarizadas. A FIGURA 1 procura retratar estas posturas de forma mais rigorosa
em termos do que se convencionou chamar aqui da dimensão subjetiva-objetiva.
Nela são identificados os quatro conjuntos de pressupostos relevantes para a
Anti-positivismo
compreensão das ciências sociais, cada um dos quais sendo caracterizado pelo E
rótulo descritivo sob o qual tem sido objeto de debate na filosofia social. A seguir,
faremos uma revisão dos quatro debates de forma breve, porém sistemática.
Voluntarismo
5
Tabela 2.1
Duas teorias sobre a sociedade: ordem e conflito
A visão de ordem ou visão a visão de conflito ou
Integrativa enfatiza coerção enfatiza
Estabilidade Mudança
Integração Conflito
Coordenação funcional Desintegração
Consenso Coerção
Tabela 2.2
A dimensão da regulação-mudança radical
Preocupações da sociologia Preocupações da sociologia
da regulação da mudança radical
o status quo mudança radical
ordem social conflito estrutural
consenso modos de dominação
integração e coesão social contradição
solidariedade emancipação
satisfação das necessidades privação
realidade potencialidade
Notas:
Consenso: concordância voluntária e espontânea
Satisfação das necessidades: usado para referir-se à ênfase na satisfação das
necessidades do individuo ou do sistema. A sociologia da regulação pressupõe
que diversas características da sociedade podem ser explicadas em função
destas necessidades. Pressupõem, ainda, que é possível identificar e
satisfazer as necessidades humanas no contexto do sistema social existente e
que a sociedade reflete estas necessidades. O conceito de privação, de outro
lado, está enraizado na noção de que o sistema social impede a realização dos
desejos, a privação em si sendo decorrente do status quo. O sistema social,
portanto, não satisfaz as necessidades, destruindo a possibilidade de
realização. Está enraizado, em ultima análise, na noção de que a sociedade é
o resultado de privações e não de ganhos.
3.Duas dimensões: quatro paradigmas
possível analisar tais abordagens à luz de duas dimensões chaves, cada qual
subsumindo, por sua vez, uma serie de temas correlatos. Sugerimos que os
pressupostos sobre a natureza das ciências sociais podem ser pensados em
termos da dimensão subjetivo/objetivo, e os pressupostos sobre a natureza das
ciências sociais em termos da dimensão regulação/mudança radical. Neste
capitulo, pretendemos discutir as inter-relações entre estas duas dimensões, e
desenvolver um esquema coerente para a análise das teorias sociais.
Já apontamos para o fato de que o debate sociológico, desde o fim da
década de sessenta, tendeu a ignorar a distinção entre estas duas dimensões
e mais especificamente, focalizar a dimensão subjetivo/objetivo, ignorando a
dimensão regulação/mudança radical. É interessante observar que este
privilegiamento ocorreu tanto nas correntes sociológicas com a questão da
regulação quanto nas associadas à questão da mudança radical. O debate
objetividade/subjetividade foi, portanto, conduzido independentemente da
dimensão social de ambos os campos.
Na sociologia da regulação o debate centrou-se entre a sociologia
interpretativa e o funcionalismo. Na esteira do livro de Berger e Luckman
(1966) sobre a sociologia do conhecimento, do trabalho de Garfinkel (1967)
sobre etnometodologia e do renascimento do interesse pela fenomelogia, os
pressupostos ontológicos e epistemológicos da perspectiva funcionalista
ficaram cada vez mais sujeitos ao questionamento. Este debate tem levado a
uma polarização crescente entre estas duas escolas de pensamento.
Na sociologia da mudança radical, de forma semelhante, ocorreu também
uma divisão entre os teóricos que subscreviam a visões objetivas ou subjetivas
da sociedade. Em vários sentidos, o debate teve como precursor a publicação
do livro de Louis Althusser “Por Marx”, na França, em 1966, e na Grã Bretanha,
em 1969. Este livro introduziu a noção de uma “ruptura epistemológica” na obra
de Marx polarizando os teóricos marxistas em dois campos distintos: os que
enfatizam os aspectos subjetivos do marxismo (por exemplo, Lukacs e a
Escola de Frankfurt) e os que advogam uma visão mais objetivista, entre eles
os seguidores do estruturalismo althusseriano.
Observou-se, assim, no contexto das sociologias da mudança radical, de
meados ao fim dos anos sessenta, uma mudança de ênfase. O debate entre as
duas sociologias, característico do inicio da década, cedeu lugar a um dialogo
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FIGURA 3.1
Sociologia da mudança radical
Humanismo Estruturalismo
radical radical
Subjetivo Objetivo
Interpretativo Funcionalismo
Sociologia da regulação
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FIGURA 3.2
Sociologia da mudança radical
Teoria Marxista
Subjetivo Objetivo
Idealismo
Alemão
Sociologia da Positivismo
Regulação Sociológico
FIGURA 3.3
Os quatro paradigmas sociológicos
Sociologia da mudança radical
Anarquismo
Marxismo
Teoria social
Existencialismo contemporêneo
Russa
S mediterrâneo
o
Teoria crítica
l
i
p
Subjetivo Teoria do conflito Objetivo
c
i
s Teoria
Fenomenologia Hermeneutica
m integrativa
o
Teoria dos
Objetivismo
sistemas
Sociologia Interacionismo e
fenomenológica Teoria da ação
Sociologia da regulação
FIGURA 3.4
As principais correntes de análise organizacional
Sociologia da mudança radical
Sociologia da regulação
literatura e nas artes. Fora deste domínio, entretanto, teve impacto limitado até
ser revitalizado, no fim de 1890 e começo do século atual por influencia dos
movimentos neo-idealistas. Autores como Dilthey, Husserl e Shultz
contribuíram para estabelecê-lo como quadro de referencia para a análise
social, embora comprometidos em diferentes graus com a problemática
subjacente do idealismo alemão.
As Figuras 3.3 e 3.4 ilustram a forma como este paradigma vem se
desenvolvendo no que se refere a teoria social e organizacional. Aliás, uma vez
que tem sido poucas as tentativas de enfocar conceitos e situações
organizacionais a partir desta perspectiva, o paradigma gerou poucas teorias
organizacionais propriamente ditas. E, como se verá em capítulos seguintes,
há boas razoes para isto. Afinal, as premissas do paradigma interpretativo
questionam a existência concreta das organizações. Face a este
questionamento, tem importância fundamental para o estudo das organizações
pois questiona os pressupostos ontológicos subjacentes as abordagens
funcionalistas na sociologia em geral e no estudo das organizações em
particular.