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DISTRIBUIÇÃO DE OCORRÊNCIA DE DANOS E PATOLOGIAS EM FACHADAS DE


BRASÍLIA – ESTUDO DE CASO

Conference Paper · April 2014

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4 authors, including:

Elton Bauer Vanda A G Zanoni


University of Brasília University of Brasília
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DISTRIBUIÇÃO DE OCORRÊNCIA DE DANOS E PATOLOGIAS EM FACHADAS
DE BRASÍLIA – ESTUDO DE CASO
1* 1 1 1
Maria de Nazaré B. da Silva , Elton Bauer , Eliane K. Castro e Vanda A. G. Zanoni

1: Programa de Pós-graduação em Estruturas e Construção Civil – Universidade de Brasília


Campus Universitário Darcy Ribeiro – SG12 – Asa Norte – Brasília-DF – Brasil - CEP 70 910-900
nazabsilva@gmail.com, elbauerlem@gmail.com, kraus@unb.br e vandaz@terra.com.br

Palavras-chave: Fachadas, Manifestações patológicas, Durabilidade

Resumo. Este estudo aborda o levantamento e a identificação de manifestações patológicas que


ocorrem com maior frequência em sistemas de revestimentos cerâmicos de fachadas. O
levatamento dos danos foi realizado em 28.416,00 m² de fachada de edifícios de Brasília. A
metodologia compreende uma vistoria preliminar, com registro fotográfico e inspeção detalhada
dos elementos da fachada, além do mapeamento de danos. As manifestações patológicas que
ocorrem nas fachadas com revestimentos cerâmicos dependem de diversos fatores, dentre os
quais a incompatibilidade entre as camadas que compõem esse sistema (placas cerâmicas,
rejunte, argamassa colante e argamassa de emboço). Este estudo ressalta a importância do
desenvolvimento de ferramentas metodológicas de inspeção, identificação, registro, mapeamento
e distribuição de danos, de maneira a compreender os mecanismos de origem das manifestações
patológicas e seus efeitos na durabilidade das fachadas dos edifícios. os resultados identificaram
os descolamentos de placas cerâmicas, as fissuras, as falhas de rejunte, as eflorescências e as
falhas de vedações como as manifestações patológicas que ocorrem com maior frequência nas
fachadas de Brasília. Os resultados ainda confirmaram que os descolamentos de placas
cerâmicas ocorrem com elevada frequência na maioria dos casos analisados, tanto nos edificios
com idade até 10 anos como nos edifícios com mais de 10 anos, ressaltando a necessidade de
maiores investigações no sentido de prevenir a ocorrência dessas patologias e promover o
melhor desempenho desse sistema de revestimento.
Maria N. B. Silva, Elton Baue, Eliane K. Castro, Vanda A. G. Zanoni

1. INTRODUÇÃO
Os danos que ocorrem nas fachadas com revestimentos cerâmicos dependem de diversos fatores,
dentre os quais a incompatibilidade entre as camadas que compõem esse sistema (placas cerâmicas,
rejunte, argamassa colante e argamassa de emboço). As manifestações patológicas mais frequentes
em sistemas de revestimento cerâmico de fachadas são descolamento e desplacamento de placas
cerâmicas, falhas de vedação das juntas de assentamento, fissuração e deterioração das juntas de
movimentação [1].
O objetivo deste artigo é apresentar os resultados do estudo realizado em 28.416,00 m² de fachada
para levantamento, identificação e mapeamento das manifestações patológicas que ocorrem com
maior frequência em sistemas de revestimentos cerâmicos de fachadas de edifícios da cidade de
Brasília, capital do Brasil. Os resultados são apresentados para edifícios de até 10 anos, ediíficios
com mais de 10 anos e de acordo com as regiões de ocorrência de falhas na fachada.
Para compreender melhor os mecanismos de origem das manifestações patológicas e seus efeitos
na durabilidade das fachadas dos edifícios é necessário avançar no desenvolvimento de ferramentas
metodológicas de inspeção, identificação, registro, mapeamento e distribuição de danos.
A tipificação das fachadas e dos seus danos contribui decisivamente para o diagnóstico dos
problemas patológicos, considerando que colaboram melhor no entendimento dos mecanismos de
deterioração.

2. METODOLOGIA DE INVESTIGAÇÃO
A metodologia adotada neste trabalho vem sendo desenvolvida e aplicada pelo Laboratório de Ensaio
de Materiais da Universidade de Brasília – LEM/UnB e fundamenta-se, basicamente, em cinco fases:
investigação documental, investigação de campo, ensaios, mapeamentos de danos da fachada e
diagnóstico [1].
A fase de investigação documental permite o levantamento e obtenção de informações preliminares
quanto às características arquitetônicas, identificação da sua tipologia, orientação das fachadas, nível
de exposição às intempéries, sistema estrutural, sistema construtivo, especificações e projeto do
sistema de revestimento de fachada. Permite, também, identificar a idade, o tipo de uso, o histórico
de intervenções anteriores e ainda a existência e frequência das manutenções e reparos.
A fase de investigação de campo consiste em realizar inspeções visuais detalhadas por meio de
vistorias in loco, com registro fotográfico amplo de todas as fachadas do edifício e específico das
regiões deterioradas e do elemento em foco. Para identificação das manifestações patológicas no
edifício utiliza-se como recurso a inspeção visual, apoiada no uso de instrumentos como binóculos,
câmera fotográfica e técnicas de rapel para percução, observação visual ou coleta de amostras da
superfície em altura. A importância da realização do levantamento fotográfico é dar suporte e
esclarecimento de possíveis dúvidas durante a análise e interpretação dos danos observados.
A inspeção deve ser capaz de identificar falhas e danos visíveis existentes no sistema de
revestimento de fachada, tais como regiões de descolamentos, fissuras, eflorescências, falhas
construtivas, infiltrações; determinar se os fenômenos estão estabilizados ou não; decidir se há riscos
imediatos e medidas urgentes a serem tomadas; identificar se o meio ambiente é danoso ao edifício e
ainda prever os locais onde há necessidade de se examinar com maior rigor. Quando necessário,
faz-se uso de inspeções localizadas. Nesses casos específicos, além dos levantamentos da extensão
dos danos, identificam-se as camadas constituintes e as espessuras.
Na fase de ensaios in loco são realizados ensaios de aderência à tração (pull-out), por exemplo, para
auxiliar na identificação da estabilidade mecânica da fachada. São realizados ainda ensaios
laboratoriais para caracterização dos materiais, tais como os ensaios de absorção e gretamento das
peças cerâmicas, para auxiliar no entendimento do mecanismo de ocorrência das patologias.
Na fase de mapeamento são registrados os danos visíveis em um croqui obtido a partir de um

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Maria N. B. Silva, Elton Baue, Eliane K. Castro, Vanda A. G. Zanoni

desenho esquemático da área em questão. O mapeamento da fachada deve apresentar as regiões


críticas e os problemas identificados em todo o pano de fachada tendo em vista a programação de
inspeções localizadas para melhor análise, caso haja necessidade.
Para o tratamento dos dados obtidos a partir dos mapeamentos realizados pelo LEM, são
estabelecidos oito diferentes regiões de análise: (1) próximo ao nível do solo (caso haja contato com
mesmo), (2) sobre paredes contínuas, (3) próximo às aberturas (janelas, portas, elementos vazados,
etc.), (4) no topo (platibanda, abaixo de cornijas, rufos e beirais), (5) em sacadas ou varandas, (6) nos
cantos e extremidades, (7) em torno das juntas de movimento, (8) nas transições entre pavimentos.
Como exemplo, a figura 1 mostra o mapeamento das manifestações patológicas em uma fachada. A
figura 2 apresenta o total de danos distribuídos proporcionalmente para cada região de fachada. A
representação esquemática das regiões de incidência em uma fachada foi adaptada por Antunes [2],
baseada nos trabalhos de Gaspar e Brito [3], conforme mostram a figuras 3 e 4, respectivamente.

Figura 1. Mapeamento das Figura 2. Representação dos resultados das


manifestações patológicas de uma manifestações patológicas em uma fachada por região de
fachada (sem escala) [2]. incidência [2].

Figura 3. Representação esquemática Figura 4. Representação esquemática das regiões de


da fachada [3]. incidência em uma fachada [2]

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Maria N. B. Silva,
Silva Elton Baue, Eliane K. Castro, Vanda A. G. Zanoni

Na fase de diagnostico todas as informações obtidas são usadas para estabelecer o mecanismo
específico de desenvolvimento do padrão de degradação observado. Então, são identificadas as
causas, a intensidade do fenômeno de degradação e também a estabilidade mecânica e a segurança
da fachada.

3. APRESENTAÇÃO E ANALISE
ANALI DOS RESULTADOS
A amostra analisada (figuras 5 e 6) consiste em um conjunto de 89 unidades de análise (prumadas e
2 2
empenas), cuja área média é de 318,00 m , perfazendo um total de 28.416,00 m de área analisada
de fachada.

Figura 5. Fachada em revetimento cerâmico de um dos edífícios analisados


(data de construção: 2002) [4].

Figura 6. Fachada em revetimento cerâmico de um dos edífícios analisados


(data de construção: 1972) [5].

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Maria N. B. Silva,
Silva Elton Baue, Eliane K. Castro, Vanda A. G. Zanoni

Os edifícios analisados estão localizados na cidade de Brasília (latitude


(latitude 15°52 Sul, longitude 47°52
Oeste e altitude 1.061 m). Caracterizada pelo clima Tropical de Altitude, de acordo com a
classificação de Köppen, a cidade possui duas estações distintas: quente-úmida
quente úmida (outubro a abril) e
quente-seca (maio a setembro).
O sistema construtivo dos edifícios analisados é em estrutura de concreto armado e fechamento em
alvenaria de vedação com blocos cerâmicos. O sistema de revestimento cerâmico constitue-se
constitue de
placas cerâmicas assentadas
das com argamassa
a colante sobre emboço.
A quantificação geral das manifestações patológicas incidentes nos edifícios
edifício analisados é
apresentada na figura 7. As figuras 8, 9 e 10 ilustram algumas das manifestações patológicas
encontradas nas inspeções realizadas.

Ocorrência de Manifestações Patológicas nas


Fachadas

0% 1% Desc. de Cerâmica

17%
Falha de Rejunte
8%
Fissuração

74%
Eflorescência

Falha de Vedação

Figura 7. Percentual de ocorrência de manifestações patológicas nas fachadas,


fachadas na cidade de Brasília.

A figura 7 apresenta o total de ocorrências encontradas na amostra analisada, distribuído


percentualmente nos tipos de manifestações patológicas identificados. Observa-se
Observa que o
descolamento de placa cerâmica nas fachadas é o tipo de dano mais encontrado (74%) seguido
seguid de
fissuração (17%) e falhas de rejunte (8%).

Figura 8. Falha de rejunte. Figura 9. Fissura e Figura 10. Falha de vedação na


eflorescência na região da região da abertura.
sacada.

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Maria N. B. Silva, Elton Baue, Eliane K. Castro, Vanda A. G. Zanoni

O destacamento que ocorre nos sistemas de revestimento cerâmico em fachada é uma patologia que
se inicia com o descolamento das placas cerâmicas com a argamassa colante ou com o substrato e
se propaga ao longo do tempo, podendo acarretar uma situação de risco que é o desplacamento
(queda de placas cerâmicas).
O descolamento das placas cerâmicas é uma falha que antecede o desplacamento. Ao ser percutida,
a placa cerâmica apresenta som cavo (oco) indicando a deficiência das ligações entre as camadas
que constituem o sistema de revestimento. O descolamento também é identificado quando se
observa o afastamento físico (estufamento) da camada de acabamento (placas cerâmicas e rejuntes).
A perda de aderência da placa cerâmica com a argamassa colante ou com o substrato ocorre quando
as tensões surgidas no sistema de revestimento ultrapassam a capacidade de aderência das ligações
entre as camadas. A perda da aderência ocorre ao longo do tempo e, não necessariamente, com
queda imediata de placas cerâmicas. Inicialmente, a ruptura na interface entre camadas forma
bolsões que se propagam tornando o sistema de revestimento estruturalmente instável [1] [6].
O aparecimento de fissuras se dá, principalmente: a) na envoltória de aberturas decorrente da
acentuada concentração de tensões, junto aos vértices das janelas e portas, principalmente pela
ausência ou ineficiência de vergas e/ou contra-vergas; b) acompanhando os elementos estruturais
decorrente de deformação devido às flechas excessivas em vigamentos e lajes ou pela deficiência de
ancoragem principalmente na região pilar/alvenaria; c) em parede contínua, devido aos movimentos
diferenciais por razões estruturais ou higrotérmicas; d) oriundas de retração por secagem da
argamassa logo após a execução; d) provocada pelo excesso de finos, elevada relação água/cimento
ou finura do cimento; d) nos andares superiores, típica de solicitação térmica [7] [8].
As juntas de assentamento das placas cerâmicas devidamente dimensionadas e preenchidas com
argamassa de rejunte são os componentes responsáveis pela estanqueidade do revestimento
cerâmico, por absorver as variações dimensionais entre placas cerâmicas e pela capacidade de
absorver deformações. As juntas entre placas cerâmicas tem a função de reduzir o módulo de
deformação do pano de revestimento e, desta forma, aumentar a capacidade deste em absorver
deformações vindas das variações térmicas e higroscópicas e das deformações da base [9].
Falhas no rejunte (soltura, fissuras ou desgaste) com perda de estanqueidade da junta,
envelhecimento do material com perda da capacidade de deformação, alteração de cor e presença de
fungos estão entre as principais manifestações que mostram a ocorrência da deterioração das juntas
de assentamento.
As tensões térmicas causadas pela insolação danificam ou causam completa remoção (expulsão) do
rejunte entre as peças cerâmicas, podendo agravar as situações de infiltração de água na fachada e,
principalmente, permitir que se incremente um processo de destacamento do revestimento cerâmico
[1]. Os rejuntes a base de cimento possuem boa durabilidade, desde que bem executados. Mas,
normalmente, como recebem adição de resina orgânica são suscetíveis ao envelhecimento causado
pela radiação solar [9].
A deterioração das juntas pode iniciar logo após a sua execução, através de procedimentos
inadequados de limpeza, ataques de agentes atmosféricos agressivos e solicitações mecânicas. O
envelhecimento das juntas agrava-se com a presença de chuvas ácidas, micro-organismos ou
aparecimento de fissuras [10].
As eflorescências são depósitos cristalinos de cor esbranquiçada que se solidificam, em contato com
o ar. A água utilizada na construção ou vinda de infiltrações transporta os sais solúveis (presentes
nas placas cerâmicas, nos componentes na alvenaria, nas argamassas de emboço, de fixação ou de
rejuntamento) pelos poros dos componentes de revestimento (placas cerâmicas e rejuntes) para a
superfície do revestimento [6] [10].
Uma simples lavagem da superfície do revestimento geralmente já é suficiente para a eliminação dos
depósitos na superfície, mas eles podem voltar a ocorrer considerando a permanência das condições
que a causam. A presença de sais solúveis, água e porosidade do componente de revestimento são
condições necessárias para a manifestação [10]. A deficiência na limpeza de fachada é uma falha

6
Maria N. B. Silva,
Silva Elton Baue, Eliane K. Castro, Vanda A. G. Zanoni

observada na rotina de manutenção dos edifícios.


As falhas de vedação referem-sese à ausência ou deterioração do material de rejunte ou selante no
entorno das aberturas (portas, janelas ou elementos vazados). vazados) A ausência de juntas de
dessolidarização entre o revestimento cerâmico e a esquadria aumenta as tensões nesta região.
A fissuração em torno das esquadrias resulta da possível ausência ou incorreto dimensionamento
dimension
e disposição das vergas e contravergas.
contravergas O impacto causado pelo manuseio das esquadrias
também é um fator que afeta a integridade dos componentes de vedação, nesta região. A
ausência ou deficiência de peitoril nas janelas facilita a retenção de umidade,
umidade, percolação da água
e deposição de poluentes. As falhas de vedação no entorno das esquadrias ocasionam ocasiona
infiltrações e aceleram a degradação tanto da fachada como dos ambientes internos.
in
A figura 11 apresenta os totais de danos por região de fachada. Os principais danos estão localizados
nas paredes contínuas (29%), nas aberturas (19%), nos cantos e extremidades (17%), na
transição entre pavimentos (15%),%), nas sacadas (12%) e no topo dos edifícioss (5%).

Danos por Região nas Fachadas

Paredes contínuas
5%
Aberturas

15% 29% Sacadas


3%
17% Cantos e extremidades
19%
12% Juntas

Transição entre pavimentos

Topo

Figura 11. Percentual de ocorrência de manifestações patológicas por região de fachada, na


cidade de Brasília.

Os danos nas regiões de paredes contínuas são decorrentes das tensões que são impostas aos
sistemas de vedação vertical, incluídos os sistemas de revestimento. Devido a ausência ou
deficiência de
e juntas de movimento horizontais e verticais, os sistemas de revestimento ficam
sujeitos às suas próprias tensões, oriundos do comportamento diferenciado das camadas que
compõem o revestimento, somadas às tensões transferidas pelas deformações
deformaçõ da estrutura de
concreto armado, das alvenarias
alvenaria e das variações higrotérmicas que atuam nos diversos
elementos e componentes dos sistemas.
sistemas As restrições impostas à livre movimentação de cada
camada levam à fissuração, aos descolamentos, às falhas de rejunte.
Por se tratarem de panos extensos revestidos com placas cerâmicas, exigem-se
exige cuidados
rigorosos durante o processo de execução, na especificação dos componentes e das camadas de
revestimento e na determinação das juntas de assentamento e movimento,, a fim de garantir a
aderência necessária para que não hajam descolamentos e nem fissuração.
Os impactos mecânicos nas regiões de encontro entre as esquadrias e o revestimento,
revestimento também estão
entre as causas da deterioração
rioração [11].
[11
Os danos nas regiões de cantos e extremidades são resultados do comportamento do sistema de
revestimento que sofre movimentações por dilatação ou retração, decorrente das variação

7
Maria N. B. Silva, Elton Baue, Eliane K. Castro, Vanda A. G. Zanoni

térmica e/ou de umidade. As falta de juntas de dessolidarização no encontro dos panos de


revestimento cria restrições à livre movimentação, gerando a tensões que causam os danos
nestas regiões.
As juntas verticais de movimentação estrutural foram consideradas como uma região de extremidade
entre prumadas. A deterioração dessas juntas foi constante em todos os edifícios que as continham,
decorrente especialmente da falta de manutenção, ação de intempéries, obstrução da mesma pelo
uso de material rígido no seu preenchimento, execução equivocada, não respeitando as definições de
projeto, como geometria (largura e profundidade), preparação da superfície de contato ou, até
mesmo, especificação incorreta do tipo de selante. As falhas na aplicação do selante, procedimentos
inadequados de limpeza, ataques de agentes atmosféricos agressivos e/ou solicitações mecânicas
por movimentações não previstas comprometem o desempenho do sistema de revestimento
acelerando a deterioração por envelhecimento, visto que permite o acesso de água. Verificou-se a
ausência de procedimentos de inspeção e troca dos rejuntes, após o período de garantia.
Os danos localizados na região de transição entre os pavimentos podem ser atribuídos à
ausência ou deficiência das juntas de movimento. Em muitos edifícios essas juntas de movimento
na região de transição entre pavimentos não foram encontradas. Esta região, normalmente é a
região de interface da alvenaria com as vigas da estrutura. A alvenaria em contato com as vigas,
e a resposta diferenciada que cada material tem às solicitações que lhe são impostas gera danos
na interface. As deformações estruturais do edifício geram tensões na alvenaria que, quando não
são completamente absorvidas, podem ser transferidas ao sistema de revestimento. Por
ausência ou deficiência das juntas de movimento, o sistema de revestimento comporta-se como
uma estrutura rígida e monolítica e havendo solicitações superiores ao que o sistema é capaz de
suportar, não resiste às tensões impostas pela deformação estrutural, surgindo fissurações e
destacamentos (descolamento seguido de desplacamento).
A sacada é um elemento arquitetônico bastante usado nos edifícios residenciais em Brasília. Nos
edifícios comerciais, mesmo quando não há o uso de sacada, a arquitetura utiliza-se de lajes em
balanço para que a linha de pilares estruturais mantenha-se recuada da face do edifício. Nestes
casos, configurando-se como balanços, as sacadas ou as lajes-tipo projetadas, geralmente
possuem uma viga invertida na borda, sobre a qual se assenta uma mureta ou parede de
alvenaria (guarda corpo em alvenaria ou parede de vedação). As deformações dessas estruturas
em balanço provocam o destacamento da alvenaria criando uma fissura horizontal na sua vista e
uma fissura inclinada na face lateral. Essas fissuras são típicas de alvenaria (elemento rígido)
assentadas sobre elementos estruturais em balanço (figura 9).
Quando as manifestações patológicas são analisadas de acordo com a idade do edifício, as
figuras 12 e 13 mostram claramente a evolução dos danos em decorrência da degradação da
fachada.
A figura 12 mostra os danos em edifícios com até 10 anos de idade de construção, apresentando
como principais ocorrências os descolamentos de cerâmica (53%) seguidos das fissurações
(37%) e das falhas de vedação (8%).
Quando analisados os edifícios com mais de 10 anos, a figura 13 mostra que os descolamentos
das placas cerâmicas constituem-se a principal manifestação patológica (83%).
Comparando a incidência de danos nos edificios das duas amostras de diferentes idades,
verifica-se que a incidência de descolamento é o dano mais predominante em ambas as
amostras e cresce ao longo da vida útil do edifício (passando de 53% para 83%). A incidência de
falhas de rejuntes mantem a mesma proporção, enquanto a incidência de fissuração nos edifícios
mais velhos é proporcionalmente menor que nos edificios mais novos.
As dilatações e contrações por absorção de água e variações térmicas que geram esforços nos
sistemas de revestimento, assim como as infiltrações de água pelas fissuras e por deficiência de
estanqueidade das juntas contribui com o aumento da incidência do descolamento, mostrando
que este é o principal dano atuante na degradação do sistema de revestimento ao longo do seu

8
Maria N. B. Silva,
Silva Elton Baue, Eliane K. Castro, Vanda A. G. Zanoni

envelhecimento.

Ocorrência de Manifestações Patológicas nas


Fachadas até 10 Anos

1% 1%
Desc. de Cerâmica

37% Falha de Rejunte


53%
Fissuração

8%
Eflorescência

Falha de Vedação

Figura 12. Percentual de ocorrência de manifestações patológicas nas fachadas, com idade de
construção até 10 anos, na cidade de Brasília.

Ocorrência de Manifestações Patológicas nas


Fachadas acima de 10 Anos

0% 2%
Desc. de Cerâmica
7%
8%

Falha de Rejunte

Fissuração
83%
Eflorescência

Falha de Vedação

Figura 13. Percentual de ocorrência de manifestações patológicas nas fachadas,com idade de


construção acima de 10 anos, na cidade de Brasília.

4. CONCLUSÕES
A ocorrência patológica nunca é atribuída a uma única causa, geralmente é resultante da
combinação de vários fatores e pode ser sucedida por uma sobreposição de efeitos que se
acumulam até que se manifeste um dano maior. Neste sentido, são
o apresentadas as seguintes
conclusões:
- Entre as principais manifestações
ma patológicas em sistemas de revestimento constatou-
se o descolamento de placas cerâmicas seguido pela fissuração e falhas de rejunte.

9
Maria N. B. Silva, Elton Baue, Eliane K. Castro, Vanda A. G. Zanoni

- As regiões mais atingidas pela manifestação dos danos são as áreas de paredes
contínuas, região das aberturas, cantos e extremidades, transição entre pavimentos e
sacadas. Pela idade do edificio, verifica-se uma evolução da incidência dos
descolamentos mostrando a influência desta patologia na degradação do edificio.
- Os resultados confirmaram que os descolamentos de placas cerâmicas ocorrem com
elevada frequência na maioria dos casos analisados, ressaltando a necessidade de
maiores investigações no sentido de prevenir a ocorrência dessas patologias e promover
o melhor desempenho desse sistema de revestimento.

5. AGRADECIMENTOS
- LABORATÓRIO DE ENSAIO DE MATERIAIS - LEM/CDT/UnB – pela disponibilização do
acervo técnico e pelo apoio às atividades de pesquisa desenvolvidas
- CNPq – pelo apoio na forma de auxílio à pesquisa e bolsas de pesquisa.
- CAPES – pelo apoio na forma de concessão de bolsas de pesquisa.

REFERÊNCIAS
[1] E. Bauer, E. Kraus, e G.R. Antunes, “Patologias mais correntes nas fachadas de edifícios em
Brasília”, in: 3º. Congresso Português de Argamassas de Construção - APFAC, Lisboa,
Portugal, 2010.
[2] G. R. Antunes, “Estudo de Manifestações Patológicas em Revestimentos de Fachada em
Brasília –Sistematização da Incidência de Casos”, Dissertação (Mestrado), Programa de Pós-
graduação em Estruturas e Construção Civil, Universidade de Brasília. Brasília, 2010.
[3] P. Gaspar; e J. Brito, “Mapping Defect Sensitivity in External Mortar Renders”, Journal of
Construction and Building Materials, Vol. 19(8), 2005, pp. 571-578.
[4 E. Bauer, E. K. Castro, F. E. Leal, M. Aliverti, “Avaliação das infiltrações e do revestimento de
fachada do edifício”, Relatório Técnico no.10090300-c. Laboratório de Ensaio de Materiais -
LEM. Programa de Pós-Graduação em Estruturas e Construção Civi,. Departamento de
Engenharia Civil e Ambiental – FT, Brasília, DF, Brasil, 2010.
[5] E. Bauer, N. M. B. Mota, e E. K. Castro, “Avaliação das infiltrações na fachada do edifício”.
Relatório Técnico no. 06050020-a, Laboratório de Ensaio de Materiais – LEM, Programa de
Pós-Graduação em Estruturas e Construção Civi, Departamento de Engenharia Civil e
Ambiental - FT. Brasília, DF, Brasil, 2006.
[6] E. Bauer, E. K. Castro, e C. H. Pereira, “Avaliação das fachadas e áreas comuns: diagnóstico
das patologias identificadas”, Relatório Técnico no.06090072-c, Laboratório de Ensaio de
Materiais – LEM, Programa de Pós-Graduação em Estruturas e Construção Civil.
Departamento de Engenharia Civil e Ambiental – FT, Brasília, DF, Brasil, 2012.
[7] F. G. S. Silva, “Proposta de Metodologias Experimentais Auxiliares à Especificação e Controle
das Propriedades Físico-mecânicas dos Revestimentos em Argamassa”, Dissertação
(Mestrado), Departamento de Engenharia Civil e Ambiental, Universidade de Brasília, Brasil,
2006.
[8] C. H. Pereira, “Contribuição ao estudo da fissuração, da retração e do mecanismo de
descolamento de revestimentos à base de argamassa”, Tese (Doutorado), Departamento de
Engenharia Civil e Ambiental, Universidade de Brasília, Brasília, Brasil, 2007.
[9] E. F. Campante e L. L. M. Baia, “Projeto e execução de revestimento cerâmico”, São Paulo, O
Nome da Rosa, 2003.

10
Maria N. B. Silva, Elton Baue, Eliane K. Castro, Vanda A. G. Zanoni

[10] Associação Brasileira de Cimento Portland (ABCP), “Revestimento cerâmico em fachadas -


estudo das causas das patologias”, Relatório da pesquisa. Programa de Melhoria da
Comunidade da Construção. Comunidade da Construção, Fortaleza, 2004.
[11] A. G. Saraiva, “Contribuição ao estudo de tensões de natureza térmica em sistemas de
revestimento cerâmico de fachada”, Tese (Doutorado), Universidade de Brasília, Brasília,
Brasil,1998.

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