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1. INTRODUÇÃO
Os danos que ocorrem nas fachadas com revestimentos cerâmicos dependem de diversos fatores,
dentre os quais a incompatibilidade entre as camadas que compõem esse sistema (placas cerâmicas,
rejunte, argamassa colante e argamassa de emboço). As manifestações patológicas mais frequentes
em sistemas de revestimento cerâmico de fachadas são descolamento e desplacamento de placas
cerâmicas, falhas de vedação das juntas de assentamento, fissuração e deterioração das juntas de
movimentação [1].
O objetivo deste artigo é apresentar os resultados do estudo realizado em 28.416,00 m² de fachada
para levantamento, identificação e mapeamento das manifestações patológicas que ocorrem com
maior frequência em sistemas de revestimentos cerâmicos de fachadas de edifícios da cidade de
Brasília, capital do Brasil. Os resultados são apresentados para edifícios de até 10 anos, ediíficios
com mais de 10 anos e de acordo com as regiões de ocorrência de falhas na fachada.
Para compreender melhor os mecanismos de origem das manifestações patológicas e seus efeitos
na durabilidade das fachadas dos edifícios é necessário avançar no desenvolvimento de ferramentas
metodológicas de inspeção, identificação, registro, mapeamento e distribuição de danos.
A tipificação das fachadas e dos seus danos contribui decisivamente para o diagnóstico dos
problemas patológicos, considerando que colaboram melhor no entendimento dos mecanismos de
deterioração.
2. METODOLOGIA DE INVESTIGAÇÃO
A metodologia adotada neste trabalho vem sendo desenvolvida e aplicada pelo Laboratório de Ensaio
de Materiais da Universidade de Brasília – LEM/UnB e fundamenta-se, basicamente, em cinco fases:
investigação documental, investigação de campo, ensaios, mapeamentos de danos da fachada e
diagnóstico [1].
A fase de investigação documental permite o levantamento e obtenção de informações preliminares
quanto às características arquitetônicas, identificação da sua tipologia, orientação das fachadas, nível
de exposição às intempéries, sistema estrutural, sistema construtivo, especificações e projeto do
sistema de revestimento de fachada. Permite, também, identificar a idade, o tipo de uso, o histórico
de intervenções anteriores e ainda a existência e frequência das manutenções e reparos.
A fase de investigação de campo consiste em realizar inspeções visuais detalhadas por meio de
vistorias in loco, com registro fotográfico amplo de todas as fachadas do edifício e específico das
regiões deterioradas e do elemento em foco. Para identificação das manifestações patológicas no
edifício utiliza-se como recurso a inspeção visual, apoiada no uso de instrumentos como binóculos,
câmera fotográfica e técnicas de rapel para percução, observação visual ou coleta de amostras da
superfície em altura. A importância da realização do levantamento fotográfico é dar suporte e
esclarecimento de possíveis dúvidas durante a análise e interpretação dos danos observados.
A inspeção deve ser capaz de identificar falhas e danos visíveis existentes no sistema de
revestimento de fachada, tais como regiões de descolamentos, fissuras, eflorescências, falhas
construtivas, infiltrações; determinar se os fenômenos estão estabilizados ou não; decidir se há riscos
imediatos e medidas urgentes a serem tomadas; identificar se o meio ambiente é danoso ao edifício e
ainda prever os locais onde há necessidade de se examinar com maior rigor. Quando necessário,
faz-se uso de inspeções localizadas. Nesses casos específicos, além dos levantamentos da extensão
dos danos, identificam-se as camadas constituintes e as espessuras.
Na fase de ensaios in loco são realizados ensaios de aderência à tração (pull-out), por exemplo, para
auxiliar na identificação da estabilidade mecânica da fachada. São realizados ainda ensaios
laboratoriais para caracterização dos materiais, tais como os ensaios de absorção e gretamento das
peças cerâmicas, para auxiliar no entendimento do mecanismo de ocorrência das patologias.
Na fase de mapeamento são registrados os danos visíveis em um croqui obtido a partir de um
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Maria N. B. Silva, Elton Baue, Eliane K. Castro, Vanda A. G. Zanoni
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Maria N. B. Silva,
Silva Elton Baue, Eliane K. Castro, Vanda A. G. Zanoni
Na fase de diagnostico todas as informações obtidas são usadas para estabelecer o mecanismo
específico de desenvolvimento do padrão de degradação observado. Então, são identificadas as
causas, a intensidade do fenômeno de degradação e também a estabilidade mecânica e a segurança
da fachada.
3. APRESENTAÇÃO E ANALISE
ANALI DOS RESULTADOS
A amostra analisada (figuras 5 e 6) consiste em um conjunto de 89 unidades de análise (prumadas e
2 2
empenas), cuja área média é de 318,00 m , perfazendo um total de 28.416,00 m de área analisada
de fachada.
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Maria N. B. Silva,
Silva Elton Baue, Eliane K. Castro, Vanda A. G. Zanoni
0% 1% Desc. de Cerâmica
17%
Falha de Rejunte
8%
Fissuração
74%
Eflorescência
Falha de Vedação
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Maria N. B. Silva, Elton Baue, Eliane K. Castro, Vanda A. G. Zanoni
O destacamento que ocorre nos sistemas de revestimento cerâmico em fachada é uma patologia que
se inicia com o descolamento das placas cerâmicas com a argamassa colante ou com o substrato e
se propaga ao longo do tempo, podendo acarretar uma situação de risco que é o desplacamento
(queda de placas cerâmicas).
O descolamento das placas cerâmicas é uma falha que antecede o desplacamento. Ao ser percutida,
a placa cerâmica apresenta som cavo (oco) indicando a deficiência das ligações entre as camadas
que constituem o sistema de revestimento. O descolamento também é identificado quando se
observa o afastamento físico (estufamento) da camada de acabamento (placas cerâmicas e rejuntes).
A perda de aderência da placa cerâmica com a argamassa colante ou com o substrato ocorre quando
as tensões surgidas no sistema de revestimento ultrapassam a capacidade de aderência das ligações
entre as camadas. A perda da aderência ocorre ao longo do tempo e, não necessariamente, com
queda imediata de placas cerâmicas. Inicialmente, a ruptura na interface entre camadas forma
bolsões que se propagam tornando o sistema de revestimento estruturalmente instável [1] [6].
O aparecimento de fissuras se dá, principalmente: a) na envoltória de aberturas decorrente da
acentuada concentração de tensões, junto aos vértices das janelas e portas, principalmente pela
ausência ou ineficiência de vergas e/ou contra-vergas; b) acompanhando os elementos estruturais
decorrente de deformação devido às flechas excessivas em vigamentos e lajes ou pela deficiência de
ancoragem principalmente na região pilar/alvenaria; c) em parede contínua, devido aos movimentos
diferenciais por razões estruturais ou higrotérmicas; d) oriundas de retração por secagem da
argamassa logo após a execução; d) provocada pelo excesso de finos, elevada relação água/cimento
ou finura do cimento; d) nos andares superiores, típica de solicitação térmica [7] [8].
As juntas de assentamento das placas cerâmicas devidamente dimensionadas e preenchidas com
argamassa de rejunte são os componentes responsáveis pela estanqueidade do revestimento
cerâmico, por absorver as variações dimensionais entre placas cerâmicas e pela capacidade de
absorver deformações. As juntas entre placas cerâmicas tem a função de reduzir o módulo de
deformação do pano de revestimento e, desta forma, aumentar a capacidade deste em absorver
deformações vindas das variações térmicas e higroscópicas e das deformações da base [9].
Falhas no rejunte (soltura, fissuras ou desgaste) com perda de estanqueidade da junta,
envelhecimento do material com perda da capacidade de deformação, alteração de cor e presença de
fungos estão entre as principais manifestações que mostram a ocorrência da deterioração das juntas
de assentamento.
As tensões térmicas causadas pela insolação danificam ou causam completa remoção (expulsão) do
rejunte entre as peças cerâmicas, podendo agravar as situações de infiltração de água na fachada e,
principalmente, permitir que se incremente um processo de destacamento do revestimento cerâmico
[1]. Os rejuntes a base de cimento possuem boa durabilidade, desde que bem executados. Mas,
normalmente, como recebem adição de resina orgânica são suscetíveis ao envelhecimento causado
pela radiação solar [9].
A deterioração das juntas pode iniciar logo após a sua execução, através de procedimentos
inadequados de limpeza, ataques de agentes atmosféricos agressivos e solicitações mecânicas. O
envelhecimento das juntas agrava-se com a presença de chuvas ácidas, micro-organismos ou
aparecimento de fissuras [10].
As eflorescências são depósitos cristalinos de cor esbranquiçada que se solidificam, em contato com
o ar. A água utilizada na construção ou vinda de infiltrações transporta os sais solúveis (presentes
nas placas cerâmicas, nos componentes na alvenaria, nas argamassas de emboço, de fixação ou de
rejuntamento) pelos poros dos componentes de revestimento (placas cerâmicas e rejuntes) para a
superfície do revestimento [6] [10].
Uma simples lavagem da superfície do revestimento geralmente já é suficiente para a eliminação dos
depósitos na superfície, mas eles podem voltar a ocorrer considerando a permanência das condições
que a causam. A presença de sais solúveis, água e porosidade do componente de revestimento são
condições necessárias para a manifestação [10]. A deficiência na limpeza de fachada é uma falha
6
Maria N. B. Silva,
Silva Elton Baue, Eliane K. Castro, Vanda A. G. Zanoni
Paredes contínuas
5%
Aberturas
Topo
Os danos nas regiões de paredes contínuas são decorrentes das tensões que são impostas aos
sistemas de vedação vertical, incluídos os sistemas de revestimento. Devido a ausência ou
deficiência de
e juntas de movimento horizontais e verticais, os sistemas de revestimento ficam
sujeitos às suas próprias tensões, oriundos do comportamento diferenciado das camadas que
compõem o revestimento, somadas às tensões transferidas pelas deformações
deformaçõ da estrutura de
concreto armado, das alvenarias
alvenaria e das variações higrotérmicas que atuam nos diversos
elementos e componentes dos sistemas.
sistemas As restrições impostas à livre movimentação de cada
camada levam à fissuração, aos descolamentos, às falhas de rejunte.
Por se tratarem de panos extensos revestidos com placas cerâmicas, exigem-se
exige cuidados
rigorosos durante o processo de execução, na especificação dos componentes e das camadas de
revestimento e na determinação das juntas de assentamento e movimento,, a fim de garantir a
aderência necessária para que não hajam descolamentos e nem fissuração.
Os impactos mecânicos nas regiões de encontro entre as esquadrias e o revestimento,
revestimento também estão
entre as causas da deterioração
rioração [11].
[11
Os danos nas regiões de cantos e extremidades são resultados do comportamento do sistema de
revestimento que sofre movimentações por dilatação ou retração, decorrente das variação
7
Maria N. B. Silva, Elton Baue, Eliane K. Castro, Vanda A. G. Zanoni
8
Maria N. B. Silva,
Silva Elton Baue, Eliane K. Castro, Vanda A. G. Zanoni
envelhecimento.
1% 1%
Desc. de Cerâmica
8%
Eflorescência
Falha de Vedação
Figura 12. Percentual de ocorrência de manifestações patológicas nas fachadas, com idade de
construção até 10 anos, na cidade de Brasília.
0% 2%
Desc. de Cerâmica
7%
8%
Falha de Rejunte
Fissuração
83%
Eflorescência
Falha de Vedação
4. CONCLUSÕES
A ocorrência patológica nunca é atribuída a uma única causa, geralmente é resultante da
combinação de vários fatores e pode ser sucedida por uma sobreposição de efeitos que se
acumulam até que se manifeste um dano maior. Neste sentido, são
o apresentadas as seguintes
conclusões:
- Entre as principais manifestações
ma patológicas em sistemas de revestimento constatou-
se o descolamento de placas cerâmicas seguido pela fissuração e falhas de rejunte.
9
Maria N. B. Silva, Elton Baue, Eliane K. Castro, Vanda A. G. Zanoni
- As regiões mais atingidas pela manifestação dos danos são as áreas de paredes
contínuas, região das aberturas, cantos e extremidades, transição entre pavimentos e
sacadas. Pela idade do edificio, verifica-se uma evolução da incidência dos
descolamentos mostrando a influência desta patologia na degradação do edificio.
- Os resultados confirmaram que os descolamentos de placas cerâmicas ocorrem com
elevada frequência na maioria dos casos analisados, ressaltando a necessidade de
maiores investigações no sentido de prevenir a ocorrência dessas patologias e promover
o melhor desempenho desse sistema de revestimento.
5. AGRADECIMENTOS
- LABORATÓRIO DE ENSAIO DE MATERIAIS - LEM/CDT/UnB – pela disponibilização do
acervo técnico e pelo apoio às atividades de pesquisa desenvolvidas
- CNPq – pelo apoio na forma de auxílio à pesquisa e bolsas de pesquisa.
- CAPES – pelo apoio na forma de concessão de bolsas de pesquisa.
REFERÊNCIAS
[1] E. Bauer, E. Kraus, e G.R. Antunes, “Patologias mais correntes nas fachadas de edifícios em
Brasília”, in: 3º. Congresso Português de Argamassas de Construção - APFAC, Lisboa,
Portugal, 2010.
[2] G. R. Antunes, “Estudo de Manifestações Patológicas em Revestimentos de Fachada em
Brasília –Sistematização da Incidência de Casos”, Dissertação (Mestrado), Programa de Pós-
graduação em Estruturas e Construção Civil, Universidade de Brasília. Brasília, 2010.
[3] P. Gaspar; e J. Brito, “Mapping Defect Sensitivity in External Mortar Renders”, Journal of
Construction and Building Materials, Vol. 19(8), 2005, pp. 571-578.
[4 E. Bauer, E. K. Castro, F. E. Leal, M. Aliverti, “Avaliação das infiltrações e do revestimento de
fachada do edifício”, Relatório Técnico no.10090300-c. Laboratório de Ensaio de Materiais -
LEM. Programa de Pós-Graduação em Estruturas e Construção Civi,. Departamento de
Engenharia Civil e Ambiental – FT, Brasília, DF, Brasil, 2010.
[5] E. Bauer, N. M. B. Mota, e E. K. Castro, “Avaliação das infiltrações na fachada do edifício”.
Relatório Técnico no. 06050020-a, Laboratório de Ensaio de Materiais – LEM, Programa de
Pós-Graduação em Estruturas e Construção Civi, Departamento de Engenharia Civil e
Ambiental - FT. Brasília, DF, Brasil, 2006.
[6] E. Bauer, E. K. Castro, e C. H. Pereira, “Avaliação das fachadas e áreas comuns: diagnóstico
das patologias identificadas”, Relatório Técnico no.06090072-c, Laboratório de Ensaio de
Materiais – LEM, Programa de Pós-Graduação em Estruturas e Construção Civil.
Departamento de Engenharia Civil e Ambiental – FT, Brasília, DF, Brasil, 2012.
[7] F. G. S. Silva, “Proposta de Metodologias Experimentais Auxiliares à Especificação e Controle
das Propriedades Físico-mecânicas dos Revestimentos em Argamassa”, Dissertação
(Mestrado), Departamento de Engenharia Civil e Ambiental, Universidade de Brasília, Brasil,
2006.
[8] C. H. Pereira, “Contribuição ao estudo da fissuração, da retração e do mecanismo de
descolamento de revestimentos à base de argamassa”, Tese (Doutorado), Departamento de
Engenharia Civil e Ambiental, Universidade de Brasília, Brasília, Brasil, 2007.
[9] E. F. Campante e L. L. M. Baia, “Projeto e execução de revestimento cerâmico”, São Paulo, O
Nome da Rosa, 2003.
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