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Análise dos Parâmetros de Usinagem no Acabamento Superficial de Polímeros

Analysis of Machining Parameters Effects on Polymers Surface Quality


Análise dos Parâmetros de Usinagem no Acabamento Superficial de Polímeros

Analysis of Machining Parameters Effects on Polymers Surface Quality

Autores:

Eduardo Luis Schneider


Afiliação: UFRGS - Universidade Federal do Rio Grande do Sul - Escola de
Engenharia
Titulação: Mestre em Engenharia de Materiais

André Canal Marques


Afiliação: UFRGS - Universidade Federal do Rio Grande do Sul - Escola de
Engenharia
Titulação: Designer de Produto.

Roberto R. Faller
Afiliação: UFRGS - Universidade Federal do Rio Grande do Sul - Escola de
Engenharia
Titulação: Engenheiro de Produção Mecânica.

Liciane Sabadin Bertol


Afiliação: UFRGS - Universidade Federal do Rio Grande do Sul - Escola de
Engenharia
Titulação: Engenheira de Materiais.

Wilson Kindlein Júnior


Afiliação: UFRGS - Universidade Federal do Rio Grande do Sul - Escola de
Engenharia
Titulação: Pós-Doutor em Design Industrial.

ENDEREÇO

Av. Osvaldo Aranha, 99/604 - Centro


CEP 90035-190
Porto Alegre/RS
ndsm@ufrgs.br

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Resumo

Neste estudo analisou-se a influência das velocidades de avanço e de rotação da


ferramenta de corte na temperatura e no acabamento de superfícies usinadas via
CNC dos polímeros termoplásticos poliamida tipo 66 e poliuretano. Para tanto,
utilizaram-se medidas de Rugosidade Média Aritmética (Ra) e também análises
termográficas. Os resultados das análises mostram que a deformação viscosa,
provocada por temperaturas na zona de corte acima da Tg dos polímeros exerce um
papel decisivo na qualidade do acabamento superficial destes materiais, sendo que
as melhores condições verificadas foram para altas velocidades de avanço e baixas
rotações.

Palavras-chave

Materiais poliméricos, parâmetros de usinagem, engenharia.


Abstract
This work presents a study on the machining by CNC of thermoplastic polymers
polyamide type 66 and polyurethane with the main objective was to verify the
advance and rotation speeds of the cutting tool influence in the temperature and the
finishing of machining surfaces. To do it, they had been measured of Rougness
Arithmetic mean (Ra) and thermographics analyses. The results of the analyses
show that the viscose deformation, provoked by temperatures in the zone of cut
above of the Tg of the materials, exerts a decisive role in the superficial finishing
quality of these polymers, being that best verified conditions had been for high speed
of advance and decreases rotations.

Key Words
Polymer materials, machining parameters, engineering.
INTRODUÇÃO

Durante o desenvolvimento de novos produtos o material do protótipo é

escolhido com base em pré-requisitos de projeto, porém, na prática, o modelamento

em CAD (Computer Aided Design) nem sempre está embasado em dados técnicos.

Após a execução de um protótipo muitas vezes faz-se necessário realizar alterações

nos parâmetros de usinagem visando um melhor acabamento superficial. Para a

confecção de um brinquedo intitulado “Jogo para crianças deficientes visuais”

(Figura 1), premiado pela Abiplast em 2005, foram projetados e usinados via CNC

dois protótipos em diferentes polímeros, Nylon (PA) e Poliuretano (PU), onde

evidenciou-se a grande influência dos parâmetros de usinagem, como a velocidade

de avanço e de rotação, na qualidade do acabamento superfícial i.

Figura 1: Modelo CAD do brinquedo: “Jogo para crianças deficientes visuais. Em A,

o Alfabeto Braille de um dos lados do jogo. Em B, Sistema Numérico Braille do outro

lado.

A usinagem de polímeros tem sido crescentemente utilizada e tem se tornado

necessária quando a quantidade de peças ou produtos a serem produzidos não

justificam o custo de usinagem com ferramenta para moldes ou extrusão por matriz,

ou quando é necessário um produto com alta exatidão dimensional, como por

exemplo, lentes poliméricas ii.


Durante o processo de usinagem é gerado calor por deformação do cavaco e

atrito com a ferramenta. Na usinagem de polímeros, devido a suas baixas

condutividades térmicas (quando comparadas com as dos metais), a maior parte do

calor tem que ser removida pela ferramenta e isso causa um aumento na

temperatura da zona de corte a qual influencia o processo de duas maneiras:

aumentando o desgaste da ferramenta e prejudicando a qualidade da superfície

usinada iii. O acréscimo na velocidade de rotação gera um calor que aumenta a

temperatura na zona do corte, aumentando também a mobilidade das moléculas de

longo alcance do material, reduzindo assim o limite de resistência à tração ou o

esforço de tensão cisalhante iv.

Usualmente nos processos de usinagem, alguns parâmetros, como a

profundidade de corte, a velocidade de avanço e a rotação, podem ser variados de

forma independente dentro dos limites das máquinas utilizadas. Esses parâmetros

têm uma grande importância industrial, pois eles são diretamente proporcionais ao

tempo de produção e conseqüentemente ao custo do produto. Para obter uma boa

qualidade superficial recomenda-se selecionar os parâmetros de usinagem de modo

que a temperatura da zona de corte não ultrapasse a temperatura de transição vítrea

(Tg) do polímero e que os cavacos não entrem no regime visco-plástico v.

Neste trabalho se verificou a influência das velocidades de avanço e de rotação da

ferramenta de corte na temperatura e no acabamento de superfícies usinadas. Para

tanto, utilizaram-se medidas de Rugosidade Média Aritmética (Ra) e também

análises termográficas.
1. MATERIAIS E MÉTODOS

Os materiais utilizados nesse trabalho foram o Nylon tipo 66 (com Tg entre 54

e 66 °C) e o Poliuretano (Tg entre 120 e 160°C). Para a preparação das amostras

foram utilizadas as seguintes geometrias.

Para a preparação das amostras para os testes de usinagem, foi utilizado um

programa CAD para modelamento da geometria (Figura 2). A idéia do formato

escolhido foi facilitar a fixação das peças e aproveitar ao máximo o material.

Figura 2: Modelo CAD dos corpos de prova.

Um programa CAM foi utilizado para criar as estratégias de usinagem para

padronização dos corpos de prova, bem como a usinagem das superfícies das

amostras (Figura 3 A). Com o mesmo programa foi possível realizar a simulação da

usinagem para verificação de possíveis colisões (Figura 3 B).

A B

Figura 3: Em A, o modelo CAM, e em B, a simulação.


Para a realização da usinagem foram utilizados os seguintes parâmetros:

Rotação (R) de 10.000 e 20.000 rpm e Velocidade de avanço (Va) de 500, 1500 e

3000 mm⁄min, diâmetro da ferramenta de 3 mm e profundidade de corte (P) de 1

mm. A Tabela 1 lista os parâmetros de velocidade de rotação e avanço utilizados

nas usinagem dos polímeros avaliados.

Tabela 1: Velocidades de rotação e de avanço utilizadas na usinagem dos materiais.

Ensaio Rotação (rpm) Avanço (mm⁄min)

1 10.000 3.000

2 10.000 1.500

3 10.000 500

4 20.000 3.000

5 20.000 1.500

6 20.000 500

A análise termográfica foi realizada com um Termógrafo Thermoteknix Visir

102, posicionado em frente a fresadora com enquadramento direcionado na zona de

corte das amostras (Figura 4) e utilizando uma emissividade de 0,90 para os dois

materiais.

A
Figura 4: Termógrafo utilizado para as medidas das temperaturas durante os ensaios

de usinagem em A e amostra de poliuretano sendo usinada em B.

As medidas de rugosidade das amostras foram realizadas de acordo com as

normas: NBR ISO 4287, ISO 3274, ISO 11562 e ISO 4288, utilizando um

rugosímetro Mitutoyo Surftest 401.

2. RESULTADOS E DISCUSSÃO

A Tabela 2 mostra as temperaturas máximas em ºC registradas nas

termografias das amostras de Nylon e do Poliuretano.

Tabela 2: Temperaturas máximas em ºC registradas nas termografias dos materiais

analisados.

Ensaio Nylon Poliuretano


1 70,9 95,6
2 80,7 98,7
3 95,5 99,5
4 79,8 109,8
5 86,2 122,5
6 108,2 137,5
Conforme os valores listados na Tabela 2, observa-se que o PU tende a

aquecer mais na zona de corte da ferramenta, o que está de acordo com sua

condutividade térmica que um pouco menor que a do PA.

As Figuras 5 e 6 mostram as termografias para o Nylon e para o Poliuretano.

Figura 5: Termografias da usinagem do Nylon utilizando os parâmetros de acordo

com a Tabela 1.

As escalas das termografias foram escolhidas de modo a visualizar melhor as

partes mais quentes. Para o Nylon (Figura 5) a escala foi de 25 a 100 ºC, enquanto

que para o Poliuretano, a escala foi de 25 a 150 ºC.


Figura 6: Termografias da usinagem do Poliuretano utilizando os parâmetros de

acordo com a Tabela 1.

Velocidade de Rotação: 10.000 rpm Velocidade de Rotação: 20.000 rpm

150 150

140 140

130 130
Temperatura (º

Temperatura (º

120 120

110 110 Nylon


100 100 Poliuretano

90 90
80 80

70 70
60 60
0 1000 2000 3000 4000 0 1000 2000 3000 4000
Velocidade de Avanço (mm/min) Velocidade de Avanço (mm/min)
Figura 7: Influência da velocidade de avanço na temperatura da zona de corte para

as diferentes velocidades de rotação.

Conforme pode-se observar na Figura 8, ambos materiais tendem a diminuir a

temperatura na zona de corte com o aumento na velocidade de avanço. Observa-se

que esse comportamento é mais pronunciado para as faixas de temperatura onde os

polímeros estão acima de suas Tgs, onde ocorre deformação viscosa.

Figura 8: Em A, Rugosímetro utilizado. Em B, “zoom” na ponta do aparelho.

Tabela 3: Medidas de Rugosidade (Ra).

Ensaio
Material
1 2 3 4 5 6

Nylon 1,24 3,1 3,72 4 7,02 9,38

PU 12,94 5,98 5,02 6,48 5,3 13,58

Para o ensaio 1 o os parâmetros de ensaio provocaram no PU uma

rugosidade elevada comparável em escala ao do ensaio 6 do mesmo material porém

sem a ocorrência de deformação viscosa, onde a elevada rugosidade é devida a

temperatura de 137 ºC que é superior a Tg desse polímero. Para o PA, os valores


listados crescem devido ao aumento de temperatura provocado pela relação de

parâmetros utilizados que provocam a elevação da temperatura na zona de corte

que para todos os ensaios esteve acima de sua Tg.

A relação de parâmetros que proporcionou o melhor a menor rugosidade para

o PU foi a do ensaio 3, o que indica que para esse material, a combinação da

velocidade máxima de avanço de 3000 mm⁄min e mínima de rotação de 10000 rpm

não gera deformação viscosa e conseqüentemente garante um bom acabamento

superficial.

A maior velocidade de rotação provocou um aumento na temperatura da zona

de corte e, esse comportamento, foi mais pronunciado para as menores velocidades

de avanço (ensaios 5 e 6) onde a temperatura da zona de corte tanto do PA quanto

a do PU estiveram acima de suas Tgs, onde a mobilidade das moléculas de longo

alcance dos polímeros é facilitada.

CONCLUSÕES
Os ensaios de usinagem realizados para os polímeros Nylon tipo 66 e

poliuretano mostraram que ambos os materiais tendem a diminuir a temperatura na

zona de corte com o aumento na velocidade de avanço e com a diminuição da

velocidade de rotação. Observou-se que esse comportamento foi mais pronunciado

para as faixas de temperatura onde os polímeros estão acima de suas Tgs.

As condições ideais de usinagem que proporcionam os melhores

acabamentos superficiais devem ser baseadas nas propriedades dos polímeros tais

como temperatura de transição vítrea e mobilidade molecular. Para minimizar a

rugosidade da superfície os parâmetros de usinagem devem ser relacionados de

modo que não ocorra deformação viscosa.


A relação de parâmetros de usinagem que gerou o menor valor de rugosidade

e conseqüentemente o melhor acabamento superficial para o PA foi o ensaio 1. Os

ensaios 2, 3 e 4 também apresentaram valores baixos de rugosidade. Para o PU,

porém, a combinação de parâmetros dos ensaios 1 e 6 acabaram provocando uma

rugosidade elevada. Para esse material, portanto, a combinação de valores altos de

velocidade de avanço e baixos de rotação (ensaios 2 e 3) geraram um acabamento

superficial com menor rugosidade.

AGRADECIMENTOS
Este artigo foi realizado com o apoio do professor Dr. Arno Krenzinger, CNPq e

CAPES.

REFERÊNCIAS

i
MARQUES, A. C. ; FALLER, R. R. ; KINDLEIN JÚNIOR, W. . Design de

Jogos:desenvolvimento de um jogo (ensino/aprendizagem) do alfabeto Braille para

educação infantil . In: P&D Design 2006 - 7º Congresso Brasileiro de Pesquisa e

Desenvolvimento em Design, 2006, Curitiba, 2006.


ii
K.Q. Xiao, L.C. Zhang. The role of viscous deformation in the machining of

polymers. International Journal of Mechanical Sciences, v 44, p. 2317-2336, 2002.


iii
DONALDSON RR, PATTERSON SR. Design and construction of a large, vertical

axis diamond turning machine. Proceedings of the SPIE 1983;433:62–7.


iv
DeBra DB. Design of laminar fow restrictors for damping pneumatic vibration
isolators. CIRP Annals 1984;33: 351–61.
v
SALLES, J. l. C; CORRÊA, L. O; GONÇALVES, M. T. T. Effects of Machining
Parameters on Surface Quality of the Ultra High Molecular Weight Polyethylene
(UHMWPE). Revista Matéria, Rio de Janeiro, v.8, p. 1- 10, 2003.
THE USE OF DIFFERENT POLYMER AND THE INFLUENCE OF ITS THERMICAL

PROPERTIES IN THE MACHINING OF A GAME/TOY

ABSTRACT

This work presents a study on the machining by CNC of thermoplastic polymers

polyamide type 66 and polyurethane with the main objective was to verify the

advance and rotation speeds of the cutting tool influence in the temperature and the

finishing of machining surfaces. To do it, they had been measured of Rougness

Arithmetic mean (Ra) and thermographics analyses. The results of the analyses

show that the viscose deformation, provoked by temperatures in the zone of cut

above of the Tg of the materials, exerts a decisive role in the superficial finishing

quality of these polymers, being that best verified conditions had been for high speed

of advance and decreases rotations.

Keywords: Polymer materials, machining , Engineering.

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