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Anais do I Seminário Formação de Professores e Ensino de Língua Inglesa

Vol. 1, 2011 – ISSN: 2236-2061 18 a 20 de abril de 2011, São Cristóvão/SE


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A TEORIA DE KRASHEN E A AQUISIÇÃO DA SEGUNDA LÍNGUA

Daniel Ribeiro de Lima (SEED/SE)

INTRODUÇÃO

As pesquisas no campo da linguística aplicada, assim como das teorias de


aquisição de segunda língua (doravante L2) têm avançado ao longo das últimas décadas.
Diversas teorias têm como objetivo principal o estudo crítico de como se dá a
sistematização do processo de aquisição de uma ou várias segundas línguas. Stephen
Krashen, especialista em estudos de aquisição e desenvolvimento da linguagem, é um
linguista cujas teorias ainda são estudadas, repensadas, criticadas e discutidas em
seminários e palestras no que concerne ao processo de aquisição e aprendizagem de
uma L2.
A teoria de Krashen consiste de cinco hipóteses básicas nas quais ele define o
processamento da aquisição e da aprendizagem de uma segunda língua: A hipótese da
aquisição e a aprendizagem de uma L2; a hipótese do monitor; a hipótese da ordem
natural; a hipótese do input e a hipótese do filtro afetivo.
Este trabalho tem como objetivo a reflexão das cinco hipóteses propostas por
Krashen, bem como discutir pontos divergentes que permeiam suas referidas teorias.

1. AQUISIÇÃO E APRENDIZAGEM

Segundo Stephen Krashen (1985, p.1 apud FIGUEIREDO, 1995, p.49), “existem
dois independentes de se desenvolver habilidades em segundas línguas”: seja com o
processo de aquisição da mesma seja com a aprendizagem.
O processo de aquisição de uma L2 é referido como sendo aquele que se
assemelha ao de um aprendiz que está em contato com outra cultura e língua e estando
geograficamente na região onde a língua é falada como língua nativa (doravante L1). A
língua, portanto, é adquirida e absorvida de maneira inconsciente, sem a adoção de
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regras explícitas de uso do idioma e como se estivesse adquirindo sua L1. Segundo
Krashen, “somente a língua adquirida é disponível para a comunicação espontânea, pois
saber as regras de uma língua não faculta necessariamente seu uso.” (apud
FIGUEIREDO, 1995, p.49)
Já o processo de aprendizagem é considerado um processo guiado e orientado,
assemelhando-se a um aprendiz em uma sala de aula aprendendo o uso formal de um
idioma. É caracterizado pelo uso consciente da língua, apoiado pelo aprendizado de
regras e estruturas acerca do funcionamento do idioma.
Em outras palavras a aquisição está para ‘usar’ a língua assim como a
aprendizagem está para ‘saber’ as regras funcionais da língua.
McLaughlin (1987 apud MENEZES, 2011) critica essa hipótese argumentando
que “esses construtos se definem em termos de consciência e inconsciência, o que não
pode ser verificado empiricamente”. Critica também que “o conhecimento aprendido e
automatizado possa se transformar em aquisição.” (ibidem)

2. A HIPÓTESE DO MONITOR

A hipótese do monitor proposta por Krashen está intrinsecamente ligada à noção


de aprendizagem. Essa teoria afirma que as regras aprendidas conscientemente têm
função de monitoramento, ou seja, a sistema estrutural de uma língua serve de apoio
quando cometemos erros, ou quando focamos na correção dos erros cometidos nas
sequências comunicativas internalizadas pelo processo de aquisição.
Segundo Figueiredo (1995 p. 51), “a hipótese do monitor afirma que a
aprendizagem não tem efeito sobre a aquisição não ser pelo fato de servir como um
fiscal, um monitor da produção linguística do indivíduo.”
Krashen (1982 apud FIGUEIREDO, 1995, p.51) “postula que o monitor só é
posto em prática, se três condições forem cumpridas: tempo, foco na forma e
conhecimento das regras.”
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1. Tempo: O falante necessita de tempo para pensar nas regras e usá-las de modo
coerente. Porém, o fator tempo muitas vezes não é fator preponderante, pois em
situações de atos comunicativos, o falante raramente tem tempo para pensar no
uso das regras. Nesse caso específico, a função de monitor parece estar mais
evidente na escrita do que na oralidade.
2. Foco na forma: O falante deve, além de usar o tempo de forma coerente para a
análise das regras, deve também enfocar na forma ou correção.
3. Conhecimento das regras: Saber os componentes estruturais que permeiam um
idioma é de fundamental importância para o exercício do monitor.

MENEZES (2011) afirma que

A hipótese do monitor reforça que nossa habilidade em produzir enunciados


em outra língua é fruto de um conhecimento inconsciente e que o
conhecimento consciente tem como função o monitoramento. Esse
conhecimento consciente serve para editar, ou seja, fazer correções no output
antes das produções escritas ou orais. Esse foco na forma visa à precisão
gramatical.

McLaughlin (1987 apud MENEZES, 2011) “critica o conceito de monitor. Sobre


o monitor, ele afirma não ser possível testar a sua existência. Ele argumenta que todo
mundo usa regras de uso da língua e que não é possível distinguir se a fonte das mesmas
é consciente ou inconsciente.”

3. A HIPÓTESE DA ORDEM NATURAL

Krashen afirma que adquirimos as regras de uma língua em uma maneira


previsível e que a ordem de aquisição da L1 é a mesma da sequência adquirida na L2.
(Krashen, 1982 p.13 apud FIGUEIREDO, 1995, p.49). Em contrapartida, a ordem de
aquisição de morfemas da L2 não é a mesma para a L1. (ibidem)
Segundo estudos direcionados por Krashen, a ordem de aquisição dos morfemas
para a aquisição de L2 em estudos com diversos aprendizes com diferentes L1 consiste
em: plural –s; -ing; the/a; possessive –s; 3rd person –s. (apud COOK, 1993, p.29). O
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linguista observa que a ordem natural independe da ordem na qual as regra são
aprendidas em salas de aula. (apud LIGHTBOWN e SPADA, 1999 p.39)

4. A HIPÓTESE DO INPUT

É sabido que, ao adquirir uma língua, o falante passa por momentos de interação
com outros falantes, e são nessas situações que o indivíduo se depara com elementos
lingüísticos ditos até então ‘desconhecidos’ pelo falante. ‘Input’ consiste em dados
lingüísticos de recebemos nos momentos da atividade conversacional inconsciente.
Krashen (apud LIGHTBOWN e SPADA, 1999, p.39) afirma que “a única forma de
adquirirmos uma língua é a partir da exposição a inputs compreensíveis.” (tradução
nossa). Se alguém recebe um input , para haver aquisição o mesmo deve receber dados
que sejam considerados input + 1, ou seja, que estejam além do nível de competência do
falante.
Se o grau de competência for ‘i’, o input deve carregar dados que estejam acima
do conhecimento atual (i) do falante. “Para que a aquisição se processe, é necessário que
o input esteja um pouco além do estágio em que se encontra o indivíduo em fase de
aquisição.” (Krashen, 1985, apud Figueiredo, 1995, p.50)
Para Krashen (apud FIGUEIREDO, 1995, P.50) “a hipótese do input afirma que
primeiro se adquire o significado, e, como resultado, se adquire a estrutura. O indivíduo
que está adquirindo uma língua não está preocupado com a forma, mas com o uso.”
(apud Figueiredo 1995, p. 50)
McLaughlin (1987 apud MENEZES, 2011) afirma que

Krashen também não define o input compreensível. Dizer que input


compreensível é aquilo que é significativo e entendido pelo ouvinte é uma
definição tautológica e, ainda, se existe o nível i+1, podemos hipotetizar que
existem também outros níveis.
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5. A HIPÓTESE DO FILTRO AFETIVO

O Filtro afetivo é considerado um bloqueio mental que impede os indivíduos de


utilizarem totalmente o input adquirido compreensível que eles recebem para a
aquisição da língua (Krashen, 1985, p.3 apud FIGUEIREDO 1995, p.52). Vários fatores
favorecem esse bloqueio, dentre eles os de ordem psicológica como: desmotivação, falta
de autoconfiança, insegurança, dentre outros.
O filtro será alto se o falante estiver ansioso, desmotivado ou com outros
sintomas que interfiram negativamente no recebimento de inputs durante o processo de
aquisição. Krashen (apud FIGUEIREDO, 1995 p. 52) afirma que

indivíduos com atitudes positivas em relação à L2 terão mais facilidades de


adquiri-la, pois apresentarão um filtro afetivo mais baixo e,
consequentemente, tenderão a buscar uma maior quantidade de input
compreensível.

McLaughlin (1987 apud MENEZES, 2011) critica a hipótese do filtro afetivo


avaliando como imprecisa e confusa a definição de filtro afetivo. Outra crítica postulada
por Jonhson (2004, apud MENEZES, 2011) é a ausência de discussão sobre o ambiente
externo ao aprendiz no que diz respeito ao filtro afetivo, ficando o aprendiz como o
único responsável pela ansiedade, falta de motivação e confiança.

CONCLUSÃO

O temo conclusão parece não ser tão apropriado no que se refere às pesquisas
acerca de tópicos de linguística aplicada e ensino e aprendizagem de línguas
estrangeiras. Toda e qualquer teoria é passível de análise, interpretação e experimentos,
dando margem a estudos posteriores e até mesmo críticas. Portanto, pesquisas recentes e
posteriores concernentes aos estudos iniciados por Stephen Krashen são passíveis de
serem postas em discussão.
Na área de ensino de línguas, os educadores podem basear sua metodologia nos
estudos de Krashen.
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Este estudo pode nos mostrar a relação que existe entre os processos de
aquisição de uma língua e o aprendizado da mesma, observando até que ponto é
necessário o ensinamento das regras e como ensiná-las. Em consonância, cabe aos
mestres a busca de estratégias de ensino da segunda língua, levando em consideração
que as estratégias utilizadas com crianças nem sempre são iguais às empregadas com
adultos.
Com a hipótese do monitor, percebemos quanto é fundamental a motivação para
que os alunos utilizem o monitor, dando-lhes a oportunidade de autocorreção.
Coma a hipótese do input, vimos que, para um aprendiz adquirir uma dada
língua, é necessário que ele tenha um nível de competência linguística de i + 1. Daí a
importância de seguir um planejamento de ensino no qual conste o aprendizado de
estruturas graduais, promovendo assim o uso da língua de forma inconsciente.
Finalmente, com a hipótese do filtro afetivo, vimos a importância da motivação
em sala de aula, para a diminuição do filtro afetivo, favorecendo a aprendizado e a
aquisição, assim como prover a absorção de novos inputs em um ambiente favorável.
Observa-se, assim, que a motivação é um dos fatores primordiais para a execução, em
sala, de todas as hipóteses de Krashen explicadas anteriormente.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

COOK, Vivian. Linguistics and Second Language Acquisition. London:


Macmillan,1993

FIGUEIREDO, Francisco José Quaresma de. Aquisição e Aprendizagem de Segunda


Língua. In: Revista Signótica 7, Goiânia: Ed.da UFG, Jan – Dez, 1995.

JOHNSON, M. A philosophy of second language acquisition. New York: Yale


University Press, 2004

KRASHEN, Stephen. The Input Hypothesis. issues and implications. Harlow:


Longman, 1985.

LIGHTBOWN, P; SPADA, N. How Languages are Learned. 2.ed. Oxford: OUP,


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MCLAUGHLIN, B. Theories of second language learning. London: Edward Arnold,


1987.

MENEZES, Vera. Modelo monitor, hipótese do input ou da compreensão. In:


www.veramenezes.com/monitor.pdf (accessed in 7/4/2011)

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