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UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO

HISTÓRIA DA FILOSOFIA ANTIGA


DEPARTAMENTO DE FILOSOFIA

DOCENTE: ALEXANDRE JORDÃO BAPTISTA


DISCENTE: NICOLE PRADO BEZERRA.

RESUMO DOS LIVROS VI E VII DE “A REPÚBLICA”

SÃO LUÍS
2021
LIVRO VI
Dando continuidade ao diálogo da ideia do governo do rei filósofo da cidade ideal
do livro V, Sócrates aprofunda seus argumentos, onde define o verdadeiro
filósofo como uma pessoa que ama o conhecimento, que revela a natureza das
verdades eternas. O filósofo está absorvido dos prazeres da alma e deve ter uma
natureza gentil, sociável e harmoniosa. Adimanto então o interrompe afirmando
que o filósofo após ter passado sua juventude estudando, se tornaria alguém
excêntrico, se julgando melhor e mais sábio do que os outros, se tornando um
ser inútil para a cidade ideal:
"[...]Mas que os factos mostram que todos quantos se dedicam à filosofia, para
se cultivarem, quando eram novos, e não abandonaram, mas persistiram mais
tempo nesse estudo, na maior parte dos casos se tornam bastante excêntricos,
para não dizer perversos, e aqueles que parecem mais equilibrados, mesmo
assim se ressentem dessa aplicação que tanto elogias, tornando-se uns inúteis
para a cidade"
Sócrates responde Adimanto com a metáfora do capitão de um navio (o
"armador") que tem péssimos sentidos. Problemas de audição, visão deficiente
e falta de habilidade para navegar no mar. E todos os marinheiros discutem
sobre quem deve ser o capitão, embora não saibam nada sobre navegação. No
lugar das habilidades, eles usam a força e truques para fazer com que o armador
os escolha como capitão. Quem tem sucesso em persuadir o armador a escolhê-
lo é chamado de "Marinheiros", "Pilotos" e "Peritos". Esses marinheiros não tem
ideia de que existe uma embarcação de navegação ou qualquer conhecimento
para dominar a fim de dirigir os navios. Dessa forma Sócrates mostra que o
verdadeiro capitão, aquele que conhece o navio e o sabe dirigir, seria chamado
de "inútil":
"Quando se originam tais acontecimentos nos navios, não te parece que o
verdadeiro piloto será realmente apodado de nefelibata, palrador, inútil, pelos
navegantes de embarcações assim aparelhadas?"
Após essa comparação defendendo a verdadeira filosofia, Sócrates retorna à
noção de que o rei filósofo na cidade ideal deve se dedicar à descoberta e
contemplação do bem supremo. Em que tal atividade só é alcançável por meio
da dialética. O filósofo se envolverá com a verdade, beleza e temperança
absoluta, tendo a capacidade de diferenciar opiniões de suas cópias humanas.
Na analogia do sol, Sócrates define a bondade comparando a maneira como o
sol se apresenta ao mundo visível pela visão à maneira como a bondade ilumina
as coisas inteligíveis. Assim como o sol permite que a visão compreenda as
coisas visíveis, a bondade absoluta permite que a inteligência diferencie a
verdade. Os sentidos comuns não poderiam compreender a "verdadeira
realidade". Sócrates segue essa analogia com outra, a linha dividida. Sócrates
pede que Gláucon imagine uma linha reta cortada em duas partes desiguais;
ambas as divisões são então cortadas em duas partes. As duas partes originais,
diz Sócrates, representam o mundo visível e o mundo inteligível. A porção menor
da primeira parte representa as opiniões imaginativas. A mais longa dessa parte
representa a crença a respeito das coisas visíveis. A porção menor da segunda
parte representa algumas ideias ou conhecimentos. A mais longa significa ideias
ou formas puras:
"Na parte anterior, a alma servindo-se, como se fossem imagens dos objetos que
então eram imitados, é forçada a investigar a partir de hipóteses, sem poder
caminhar para o princípio, mas para a conclusão; ao passo que, na outra parte,
a que conduz ao princípio absoluto, parte da hipótese, e, dispensando as
imagens que havia no outro, faz caminho só com o auxílio das ideias"
A linha dividida apresenta uma hierarquia em termos de verdade: Opinião, fé,
entendimento e inteligência. E é nesse último que ocorre a contemplação, onde
é obtido o conhecimento verdadeiro.

LIVRO VII
Tendo apresentado a analogia do sol e a analogia da linha dividida, no livro VII
Sócrates apresenta a alegoria da caverna. Sócrates ainda está tentando
esclarecer os níveis do intelecto, os dois níveis de crença e os dois níveis de
conhecimento. Para essa alegoria, Sócrates propõe que se imagine uma
caverna onde um grupo de prisioneiros foi confinado desde seu nascimento. Eles
estavam presos por correntes de costas para a entrada, de forma que não
podiam sequer movimentar suas cabeças. Não possuíam nenhum conhecimento
do mundo externo e entre os prisioneiros e a entrada da caverna, existia uma
fogueira. Os prisioneiros da caverna nunca viram outra coisa a não ser as
sombras projetadas na parede, de forma que tomaram as sombras como sua
realidade. Denominavam e classificavam essas sombras acreditando estarem
vendo entidades reais; mas por algum motivo um dos prisioneiros é liberto das
suas correntes, e vendo que há mais do que as paredes, desesperado, tenta sair
da caverna, mas a saída não é fácil, ele se machuca, tropeça e a claridade que
vem de fora cega seus olhos. E depois de muitas tentativas, finalmente consegue
sair da caverna e aos poucos seus olhos vão se adaptando à luz. Ele começa a
perceber a forma das coisas, depois as cores, objetos e seus olhos se
acostumam completamente quando finalmente consegue olhar para o sol; nesse
momento percebe que o mundo é imensamente maior e mais belo do que a
caverna que esteve preso a vida inteira. Ele então decide voltar para avisar seus
companheiros que ainda estavam presos; ao chegar lá, diz aos companheiros
que existe um outro mundo muito melhor e belo lá fora e que mesmo sendo difícil
alcançá-lo, é muito melhor que a caverna. Os prisioneiros, porém, por estarem
tão acostumados com aquela falsa realidade não acreditam no homem que se
libertou, eles pedem para que ele vá embora, mas ele não aceita pois o mundo
é muito bonito e grande para ficarem presos ali sem nunca saber a verdade, e
ao passo que continuasse tentando poderia vir a ser morto pelos prisioneiros.
Para a alegoria, a caverna corresponde ao reino da crença; o mundo externo
corresponde ao conhecimento. O sol representa o formulário de bondade em si.
Seus velhos companheiros não acreditaram em suas experiências porque
sempre estiveram presos em seu mundo, a caverna. Assim, Sócrates mostra
que é preciso libertar os prisioneiros de sua caverna: deve-se dar aos guardiões
a experiência da educação para que se tornem os reis filósofos da cidade ideal,
porque poderão conhecer as formas e, por fim, o bem em si. Mas não basta que
o prisioneiro, libertado, agora possua conhecimento. Ele deve ser devolvido à
caverna para esclarecer seus antigos companheiros sobre o conhecimento que
ele agora percebe. Gláucon se opõe e argumenta que o retorno do prisioneiro à
caverna o deixaria infeliz. Seria muito trabalhoso conduzir seus companheiros à
luz de uma espécie de nova aurora do conhecimento. Sócrates então lembra
mais uma vez que a função dos governantes não é fazer-se feliz; sua felicidade
deve ser realizada na felicidade de cada cidadão da cidade ideal.

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