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5 ERROS

COMUNS
NAS PREGAÇÕES EXPOSITIVAS

EWERTON B. TOKASHIKI

CONGREGAÇÃO PRESBITERIANA
ALIANÇA REFORMADA
©CPAR
Congregação Presbiteriana
Aliança Reformada

Sermão pregado no dia


13 de setembro de 2020

Rua Guiana, 2904, Embratel


Porto Velho-RO CEP: 76.820-749
www.ipbcpar.com

Escritor por:
Ewerton Barcelos Tokashiki

A publicação deste material pela CPAR foi devidamente autorizado pelo


referido autor e pode ser usado em outras publicações desde que seja
preservado o seu conteúdo original e seja citada a fonte de sua autoria. 

Introdução
uando estamos no exercício do ministério pastoral
corremos o risco de errar por pensarmos que
sabemos o suficiente sobre pregação. A rotina
tende a criar manias ruins, quando não
prejudiciais. Tudo ocorre quando maus hábitos se
desenvolvem por esquecermos das comuns advertências dos
manuais de homilética. Tive a ideia de escrever algo, após ler
um breve artigo, que pudesse auxiliar meus irmãos
envolvidos na tarefa da pregação expositiva.1

Isso não significa que estou livre dos erros que advirto
aqui, mas percebendo as minhas falhas é que levanto o
alarde do constante perigo a todos. Aprendi homilética em
1994, quando fiz o curso básico de teologia. O conselho da
igreja atendendo ao meu pedido de treinamento para o
ministério, enviou-me para estudar num instituto bíblico. Ali
aprendi o método de pregação temática. Confesso que ele é
fácil e cômodo, mas exige mais imaginação do que fidelidade
exegética. Este é o seu maior perigo.

Não estou com isso afirmando que quem prega


usando o método temático não seja fiel, ou que não se
esmera na apresentação da verdade bíblica. Entretanto,
sabemos que este método propicia, pela sua facilidade, mais
arranjos frasais, do que extração da ideia exegética do texto.
Durante os meus estudos no Seminário Presbiteriano JMC
conheci o método expositivo.

1 Recorro a algumas úteis instruções e advertências de Warren Wiersbe & David Wiersbe, The
elements of preaching (Wheaton, Tyndale House, 1988).
Entretanto, a prática dominical somente veio cerca de
dois anos após ingressar efetivamente no pastorado. E desde
que decidi pregar expositivamente dedico-me a ler sobre o
assunto, ou atentamente a aprender com pregadores mais
experientes sobre a prática da exposição.

Sempre que possível, dentro dos meus limites, exerço


uma autocrítica, e confesso que essa avaliação não é das
melhores. Mas, graças à Deus, minha esposa e filhos ajudam-
me a melhorar como pregador, examinando-me em todos os
aspectos. A minha companheira tece proveitosas críticas
para as minhas pregações, e essas observações têm-me
auxiliado no melhoramento do preparo e entrega dos
sermões.

Há excelentes pregadores, metodologicamente


falando, mas mesmo os melhores estão sujeitos a falhas. É
proveitoso observar como pregam, desde a sua compostura
diante dos seus ouvintes, passando pela argumentação e
análise do texto, o modo quando extraem os princípios e
aplicam demonstrando a sua praticidade, e indo até a
conclusão, sem fugir do texto bíblico. A exposição tem a
aplicação distribuída em todo o sermão, em diferentes
momentos, com proporção, conveniência e preocupação
pastoral.

Apesar de tanto tempo pregando, ainda me considero


um expositor em aprendizado. Por vezes, desço do púlpito
numa sensação de fracasso e incompetência, e sou
convencido de que expor as Escrituras é uma tarefa
grandiosa demais para mim.

Aqui estão da percepção que tive das minhas falhas,


das críticas da minha esposa e de alguns irmãos que
pastoreei, e da observação de pregadores que ouvi nos
últimos vinte anos, compartilho alguns erros comuns que
precisam, tanto quanto possível, serem evitados para que
não afetem negativamente a beleza, a riqueza e a fidelidade
da exposição bíblica.
ERRO 1: IGNORE A
ESTRUTURA
HOMILÉTICA.
á pregadores que pensam que o sermão
expositivo é apenas seguir a análise verso a verso
do texto bíblico. E, talvez, por isso, eles
abandonam a estrutura homilética, como se
fosse algo dispensável, ou um empecilho ao seu sermão.

Mas, quem disse que pregação expositiva não


necessita de estrutura homilética? Quem sugeriu que a
exposição sequenciada do texto não exige o esforço do
pregador de colocar esboçado didaticamente o seu sermão?
Você não pode ignorar que o autor usou a lógica,
proposições, e um raciocínio inspirado em sua
argumentação.

Recorra a esta estrutura inspirada e faça o seu esboço


homilético. Segue abaixo uma sugestiva estrutura simples de
expor o texto bíblico:

I. Expondo
I.1. O contexto histórico
I.2. O problema/necessidade que afetava os leitores
I.3. A preocupação do autor
II. Extraindo
II.1. As expressões chaves: como algumas frases clareiam a
ênfase do autor.
II.2. A análise etimológica das palavras [sem citar detalhes
técnicos gramaticais]
III. Argumentando
III.1. Afirmando resumidamente a ideia do autor
III.2. Mantendo a sequência lógica do argumento do autor [o
que ele segue declarando antes e depois]
III.3. Indique como Cristo está presente no texto
III.4. Traduzindo as ideias por meio de ilustrações
IV. Aplicando
É óbvio que este não é o único modelo de se estruturar
um sermão. Inclusive Joseph Pipa Jr explica que os
puritanos [especialmente os não-anglicanos], geralmente,
seguindo a “forma antiga” expunham de modo mais direto e
simples o texto bíblico.2

2 Joseph Pipa Jr., “A pregação puritana” in: Peter Lillback, org., O Calvinismo na Prática –
uma introdução à herança reformada e presbiteriana (São Paulo, Editora Cultura Cristã, 2011), pp.
102-104.
ERRO 2: FALHE EM
VINCULAR O TEXTO AO
EVANGELHO
nfelizmente é possível expor o texto bíblico e esvaziá-lo
do evangelho. Não é preciso ser inteligente pra cometer
esse pecado. Pelo contrário, qualquer pregador corre
esse risco em todo sermão. Confesso que já cometi esse
pecado, e tenho vergonha disso ...

Há pregadores que confundem moralismo com


pregação. Este é um perigo comum a todos. Denunciar o
erro, apresentar as suas consequências, e como é odioso, é
algo que faz parte do evangelho, todavia, é possível fazê-lo
por mero moralismo e convenção social. Se a pregação não
explica como o pecado ofende a Deus, não esclarece no que
desobedece ao decálogo, não exige desprezo pelo pecado,
omitindo um autoexame sincero diante da santidade de
Deus, não ordena o arrependimento e contrição, nem
encaminha para uma confissão e abandono do pecado,
confiando no suficiente perdão de Cristo, é possível que este
sermão apenas fabrique remorso diante das consequências
do prejuízo do pecado.

A abordagem hermenêutica exemplarista tende ao


moralismo. Obviamente a ocorrência deste desacerto é mais
comum em sermões que se baseiam textos narrativos. Além
do erro de isolar o personagem e o evento da estrutura da
história da redenção, o pregador focaliza [quase]
arbitrariamente nos detalhes morais da narrativa, apontando
os casos de “faça” e “não faça” a partir dos pecados ou dos
acertos dos personagens.

Também há quem apresente autoajuda como se fosse


evangelho. Engana-se quem pensa que esta falha só ocorre
entre pregadores de confissão positiva. Horrível ainda é
quando o pregador sugere aos seus ouvintes: “diga ao irmão
que está ao lado ...”.
Sinceramente a última vez que isso ocorreu, minha
esposa me agarrou pelo braço para que suportasse todo o
“sermão”, e não saísse antes do término do culto. Naquele
dia percebi que minha tolerância tem limite muito definido.
Mas o que também é estranho nalguns sermões é a
incapacidade do expositor de apresentar o vínculo do texto
com a mensagem do evangelho. Talvez esta falha revele a sua
incompreensão da teologia bíblica, isto é, o pregador precisa
ter em sua mente “todo o desígnio de Deus”.

Ele precisa ter com clareza a história da redenção, a


teologia do pacto, o tema unificador e suas correlações com
os momentos históricos e como estes eventos apontam para
o Redentor. Toda a Escritura possuí a mensagem do
evangelho! Falhar em apresentar como Deus graciosamente
redime o seu povo por meio do Redentor, estabelecendo uma
aliança, e dominando sobre o seu reino, é muito mais do que
empobrecer o sermão, é falhar em apresentar o evangelho.
Remediando este problema, recomendo a leitura:

1. Sidney Greidanus, O pregador contemporâneo e o texto


antigo (São Paulo, Editora Cultura
Cristã).
2. Sidney Greidanus, Pregando Cristo a partir do Antigo
Testamento (São Paulo, Editora Cultura
Cristã).
3. Bryan Chapell, Pregação Cristocêntrica (São Paulo,
Editora Cultura Cristã).
ERRO 3: FAÇA
EXCESSIVOS
COMENTÁRIOS
TÉCNICOS DA EXEGESE.
ra comum ouvir os professores advertindo aos
alunos, durante os meus dias de seminarista, no
momento da crítica do sermão de prova: “não leve
as panelas para o púlpito!” A ideia era repreender
o aluno de apresentar os detalhes técnicos gramaticais,
minúcias exegéticas que mais delongavam o sermão e,
consequentemente, tornavam a pregação cansativa,
ocasionando a dispersão da atenção dos ouvintes.

Mesmo de pastores experientes é comum ouvir


citações sem finalidade esclarecedora das expressões das
línguas originais. Acho que não é um erro homilético citá-las,
mas tenha a absoluta certeza de que é necessário fazê-lo. O
sermão não é uma aula de gramática onde se explica a
etimologia, a morfologia e a sintaxe do texto. Não cometa o
pecado de entediar os seus ouvintes com detalhes técnicos
desnecessários, e pior, sem o objetivo de revigorar o seu
argumento.

Espero que a motivação deste ato falho não seja o


orgulho, porque ele estraga qualquer coisa. Por isso, cair na
tentação do pecado do pedantismo é perder a aprovação de
Deus. Você provavelmente ganhará a atenção, e até a
admiração de algumas pessoas, mas essa será a sua única
recompensa. Se o seu sermão é uma peça de retórica, e
exibição de seu talento, a glória de Cristo será substituída por
ídolos produzidos em seu coração.
ERRO 4: PREGUE
DESCOMPROMETIDO
COM OS SEUS OUVINTES.
á pregadores que dão a impressão de que são
como aqueles icebergs. A sua exposição é
marcada por uma perceptiva indiferença, parece
que estão falando aos bancos e às paredes,
porque evitam até mesmo olhar aos seus ouvintes. É como
alguém que joga uma pedra ao acaso, e se acertar alguém,
essa não era a intenção. Isso é horrível!

O pregador deve preparar o seu sermão preocupado


com as necessidades, urgências e inquietações de seus
ouvintes. Um sermão que não tem a intenção de falar
diretamente aos seus ouvintes perdeu a sua essência. Se a
única reação que ele produz é que os ouvintes pensem em
quem deveria estar ali para ouvi-lo, porque a mensagem não
os tocou, mas seria um ótimo recado aos que faltaram, então,
está comprovado que o pregador fracassou em sua tarefa.

O pregador assassina o seu sermão quando ele não sai


de seu compromisso de alimentar o rebanho. O sermão que
fielmente apresenta o ensino da Escritura provocará reação
em seus ouvintes. Mas a pregação não pode entediar,
levando as pessoas a sentirem-se insensíveis com a
indiferença latente do pregador. Creio que é por isso que o
Catecismo Maior de Westminster questiona Pergunta 159.

Como a Palavra de Deus deve ser pregada por


aqueles que para isto são chamados?

R: Aqueles que são chamados a trabalhar no ministério da


palavra devem pregar a sã doutrina, diligentemente, em
tempo e fora de tempo, claramente, não em palavras
persuasivas de humana sabedoria, mas em demonstração
do Espírito de Deus; sabiamente, adaptando-se às
necessidades e às capacidades dos ouvintes; zelosamente,
com amor fervoroso para com Deus e para com as almas de
seu povo; sinceramente, tendo por alvo a glória de Deus e
procurando converter, edificar e salvar as almas.

O modo mais eficaz de alcançar os ouvidos de seu


auditório é falando-lhes ao coração. O pregador deve ter a
mais sincera intenção de comunicar aos que o ouvem.
ERRO 5: NÃO FAÇA
APLICAÇÃO PRÁTICA.
aplicação na estrutura homilética é a verdade sendo
conectada com as experiências dos ouvintes. É
inútil apenas dizer a uma pessoa que está se
afogando que ela deve nadar! Há a necessidade
de ensiná-la antes, ou de socorrê-la durante o afogamento.
Mas se você deseja não errar, sugiro algumas opções de como
aplicar o seu sermão:

1. Comece com a aplicação do autor aos primeiros leitores


2. Instrua a doutrina presente no texto
3. Identifique os mandamentos do Decálogo transgredidos
4. Direcione o arrependimento do pecado denunciado
5. Apresente a promessa de conforto no evangelho da graça
6. Conselhos pastorais do cotidiano dos ouvintes
7. Console sempre confiando nos méritos de Cristo
8. Denuncie os erros imorais do presente século
9. Refute os desvios doutrinários
10. Exija as obrigações exigidas no texto bíblico
11. Evidenciando provas/frutos [atos positivos] de
obediência
12. Promova a beleza da glória de Deus.

A doxologia não é apenas aquele último ato do culto


solene. Todo o sermão é manifestação do poder de Deus,
narrando a história dos poderosos feitos de Deus, onde a
soberana graça se manifesta na providência e redenção, por
meio de Cristo e sob sua autoridade, de modo que
iluminados pelo Espírito, a mensagem mova os ouvintes a
adorar a Deus. A pregação tem o objetivo de conduzir o
crente a cumprir o objetivo de sua existência: glorificar a
Deus e gozá-Lo para sempre.
Lembre-se que a aplicação não precisa ser apenas
uma parte final do seu sermão. Você pode fazê-lo no
desenvolvimento de toda a pregação. Na verdade, você pode
apresentar a prática e aplicabilidade de cada verdade
abordada no texto.
AUTOR
Rev. Ewerton B. Tokashiki é ministro
presbiteriano pastoreando a Primeira
Igreja Presbiteriana do Brasil em
Teófilo Otoni, em Minas Gerais.
Bacharel em teologia pelo Seminário
Presbiteriano José Manoel da
Conceição e pela Universidade Luterana
do Brasil. É mestrando em teologia e
história pelo Centro Presbiteriano de
Pós Graduação Andrew Jumper - da
Universidade Presbiteriana Mackenzie. Lecionou teologia
sistemática no Seminário Presbiteriano Brasil Central -
Extensão Rondônia e no departamento de teologia história
da Faculdade Metodista de Porto Velho da Universidade
Metodista de SP.

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