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FUNDAMENTOS DA INTERPRETAÇÃO BÍBLICA

CENTRO DE ESTUDOS PRESBITERIANO

A ESTRUTURA DA
NARRATIVA BÍBLICA
Rev. João França

15 DE SETEMBRO DE 2022
AJUDE-NOS: (75)983112148 – PIX [CELULAR]
RUA JOÃO CAMPOS – CENTRO – RIACHÃO DO JACUÍPE - BA
Sumario

INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 2

I – O FLUXO NARRATIVO E SUA IMPORTÂNCIA HERMENÊUTUCA .......... 3

1 – Fluxo da narrativa graficamente exposto................................................................ 3

2. O fluxo da narrativa esboçado .................................................................................. 4

II – OS ELEMENTOS E ESTRUTURA DA NARRATIVA BÍBLICA .................... 5

1. O Cenário (situação) .............................................................................................. 5

2. O Enredo ................................................................................................................ 7

3. O Ponto de Vista .................................................................................................... 8

3 – A Caracterização..................................................................................................... 8

4. Ambiente ................................................................................................................ 10

5. O Diálogo ............................................................................................................... 10

6. Leitwort, ou Organização das Palavras .................................................................. 10

7. Estrutura ................................................................................................................ 11

Referências .................................................................................................................... 12
A ESTRUTURA DA NARRATIVA BÍBLICA

Rev. João França.*

INTRODUÇÃO:

Nestes estudos já se observou a importância da narrativa bíblica para o processo


interpretativo das Escrituras Sagradas. Observou-se que a narrativa é gênero preferido
do texto bíblico.

No presente estudo será considerado o uso das estruturas da narrativa como


tendo um padrão homilético-hermenêutico para se entender a mensagem da Palavra de
Deus. Walter C. Kaiser Jr nos lembra que:

Uma vez que tanto o Antigo quanto o Novo Testamento são amplamente
escritos em forma de história, a narrativa é a essência da revelação bíblica. O
longo corpus narrativo de ambos os testamentos forma o coração da história e
da mensagem da Bíblia. Isso torna a compreensão narrativa essencial para
todos os intérpretes da Bíblia.1

Visto que o gênero narrativo é o mais importante no Cânon das Escrituras


Sagradas é necessário compreendê-lo melhor compreendo sua estrutura e
desenvolvimento no padrão bíblico de escrita. É necessário compreender o fluxo da
narrativa para entender melhor o texto sagrado.

Deve-se ressaltar que a narrativa tem a uma estrutura dinâmica que flui
naturalmente do texto sagrado formando assim uma estrutura hermenêutica-homilática.
Isso ajuda-nos a perceber melhor o sentido do texto sagrado; e, para se ensinar com
clareza este gênero “é necessário compreender como as narrativas são compostas e
como funcionam”.2 A estrutura narrativa está fincada em eventos históricos Greidanus
lembra isso:

*
O autor é Ministro da Palavra e dos Sacramentos na Igreja Presbiteriana do Brasil. Atualmente é pastor
na Igreja Presbiteriana de Riachão do Jacuípe – BA. Foi professor de Línguas Bíblicas (Hebraico e
Grego) no Seminário Presbiteriano Fundamentalista do Brasil – SPFB (Recife), também foi professor de
Hermenêutica, filosofia e Exegese de Atos no Seminário Presbiteriano Fundamentalista do Brasil (Patos –
PB), também foi professor de Filosofia e Ética na Faculdade Regional de Riachão do Jacuípe – BA.;
Atualmente é professor de Antigo Testamento no Instituto Teológico Reformado do Brasil (ITRB –
Petrolina) e professor de Hermenêutica no Seminário Presbiteriano Fundamentalista do Brasil – SPFB
(Rondônia). É também professor de Exegese do Antigo Testamento no Instituto Teológico Reformado do
Brasil-Angola (ITRBA).
1
KAISER JR, Walter C. Narrative. In: D. Brent Sandy and Ronald L. Giese, Jr.(editors). Cracking Old
Testament codes: a guide to interpreting Old Testament literary forms. Nashville, Tennessee 1995, p.69.
2
KAISER JR, Walter C. Pregando e ensinando a partir do Antigo Testamento – Um Guia para a
Igreja. Rio de Janeiro: Ed. CPAD, 2009, p.76.
A mensagem de todos os gêneros de literatura depende, de uma forma ou de
outra, da realidade de eventos históricos específicos proclamados na Bíblia.
Não é por acaso que a narrativa histórica é o gênero de literatura bíblica mais
abundante (encontrada na maioria das narrativa hebraicas, nos evangelhos,
em Atos e até certo ponto nos profetas, nos Salmos e nas epístolas). 3

É nesta compreensão que se faz necessário estudar a narrativa e sua estrutura


literária como fonte para o processo hermenêutico-homilético.

I – O FLUXO NARRATIVO E SUA IMPORTÂNCIA HERMENÊUTUCA.

Quando se estuda a narrativa bíblica é necessário compreender como ela se


processa para uma compreensão adequada. Deve-se sempre trazer a mente que a Bíblia
“hebraica é geralmente lida, com muita justiça, como história sagrada[...]”4

1 – Fluxo da narrativa graficamente exposto:

A narrativa ela flui através de uma série de fatores que compõe o texto sagrado.
Greidanus apresenta de forma gráfica o fluxo da narrativa5.

Quando observa-se o gráfico acima sabe-se que a narrativa possui um fluxo bem
definido. Temos um cenário geralmente inia-se de forma pacífica, depois surge um
elemento motivador para a geração de um conflito e durante o desenvolvimento da
narrativa levanta mais complicações, depois, de tudo, parece que o conflito inicial tende
a diminuir-se a ponto de ter uma resolução concluindo assim o enredo da história. Este é
o padrão comum que se encontra em textos narrativos históricos ou em prosa bíblica;
visto, que ele ajuda a visualizar o todo da história narrativa.

3
GREIDANUS, Sidney. O Pregador Contemporâneo e o Texto Antigo. São Paulo: Ed. Cultura
Cristã,2006, p.43.
4
ALTER, Robert. A Arte da Narrativa Bíblica. São Paulo: Ed. Companhia das Letras, 2007, p.44.
5
GREIDANUS, Sidney. O Pregador Contemporâneo e o Texto Antigo. São Paulo: Ed. Cultura
Cristã,2006, p.246.
2. O fluxo da narrativa esboçado:

Também esse fluxo pode ser demonstrado no formato de esboço homilético que
torna-se o paradigma para ajudar na elaboração de um sermão ou aula bíblica sobre um
texto narrativo:

I. Exposição

A. Circunstâncias Gerais

B. Personagens principais

C. Eventos que criam relacionamentos.

II. Complicações

A. Problemas nos relacionamentos.

B. Eventos relacionados que criaram a crise.

III. Resolução

IV. Desenvolvimento

A. Relaxamento das tensões

B. Eventos reconciliados.

Todo aquele que tenciona trabalhar com a estrutura da narrativa bíblica deve ser
consciente de que os textos narrativos, por mais que sejam extensos muitos deles foram
estruturados de forma temática seguindo em muito o esquema apresentado acima. Isto
porque há nos textos narrativos seletividade, simultaneidade, e assim a teologia do autor
bíblico fica configurada dentro destes recursos.

Compreender como funcionam estruturalmente os textos narrativos ajuda ao


intérprete a apresentar o texto bíblico dentro do seu devido contexto histórico-
contextual tornando-se mais eficaz na transmissão da Palavra de Deus. Esse fluxo, seja
ele demonstrado de forma gráfica ou esboçada, devem ser observados como “blocos de
narrativas que abordam as principais etapas dentro do guarda-chuva da história bíblica
inteira”6

6
WRIGHT, Christopher. J. H. Como Pregar e Ensinar com base no Antigo Testamento. São Paulo:
Ed. Mundo Cristão, 2018, p.79.
II – OS ELEMENTOS E ESTRUTURA DA NARRATIVA BÍBLICA.

Neste momento este estudo se ocupa de tratar das características que definem e
estruturam a narrativa bíblica. Estes elementos ou características são importantes para
que se possa determinar a estrutura hermenêutica e homilética do texto bíblico que é
foco do estudo bíblico-exegético-kerigmático. (exegese e pregação). Walter C. Kaiser
Jr, sumariza os elementos componentes na narrativa bíblica:

Os elementos principais no conjunto de mecanismos literários na narrativa


incluem: (1) situação, (2) enredo, (3) ponto de vista, (4) caracterização, (5)
ambiente, (6) diálogo, (7) Letwort ou organização das palavras, (8) estrutura,
(9) elementos literários de estilo e retórica empregados.7

1. O Cenário (situação).

Fokkelman declara que a na narrativa bíblica o cenário é “quase a unidade mais


importante”8, no texto bíblico o tipo de narração que predomina é a “narração cênica”,
onde a ação na narrativa é “fragmentada numa sequência de cenas” onde a atenção da
audiência é atraída para cada ação e acontecimentos particulares.9

Kaiser lembra que cada “situação representa algo que aconteceu em


determinado lugar ou em determinada ocasião. Neste aspecto, então, a situação funciona
praticamente como um parágrafo, na escrita em prosa formal, geralmente uma ideia
principal para cada cena.”10 Isso implica em dizer que o modo “cênico da maior parte
das narrativas hebraicas salienta a importância da compreensão do tema da cena
(fotograma) no contexto da narrativa como um todo (assim como, a narrativa precisa ser
compreendida no contexto de todo o livro)”11

Para determinar as cenas que compõe o cenário ou a mudança dele encontram-se


nas “pausas temporais entre cenas” as quais ocorrem de “três maneiras: lacundas entre
os acontecimentos subsequentes, mudanças para as ações simultâneas e regressão para
os acontecimentos antecedentes” quando de fato se observa essas mudanças, os
intérpretes “são capazes de identificar várias cenas das narrativas do Antigo

7
KAISER JR, Walter C. Pregando e Ensinando a partir do Antigo Testamento – Um Guia para a
Igreja. Rio de Janeiro: Ed. CPAD, 2009, p.76.
8
FOKKELMAN, J.P. Narrative Art in Genesis: Specimens of Stylistic and structural Analysis,
Amsterdam: Ed. Van Gorcum,1975, p.9
9
GREIDANUS, Sidney. O Pregador Contemporâneo e o Texto Antigo. São Paulo: Ed. Cultura Cristã,
2006, p.241.
10
KAISER JR, Walter C. Pregando e Ensinando a partir do Antigo Testamento – Um Guia para a
Igreja. Rio de Janeiro: Ed. CPAD, 2009, p.77
11
GREIDANUS, Sidney. O Pregador Contemporâneo e o Texto Antigo. São Paulo: Ed. Cultura Cristã,
2006, p.242.
Testamento.”12 É bom que se diga que cada cena geralmente é “composta de dois ou
mais personagens. Nos casos onde aparece um grupo em uma cena, este grupo funciona
como um dos personagens”13, o grande diferencial da narrativa bíblica, segundo
Greidanus, é “a presença difundida de Deus” mesmo em narrativas onde o nome dele
não aparece, mas isto indica que todo o cenário irá, “sem dúvida, revelar a presença de
Deus”.14 Isto quer dizer que a presença divina é sempre sugerida “pelo ponto de vista do
narrador”15

Quando se considera o aspecto hermenêutico e homilético de um texto


narrativo, sempre observando as cenas, consegue-se o fluxo narrativo em forma de
tópicos expositivos, por exemplo no texto de 1º Samuel 3.1-4.1ª:

I – Dias anteriores (v.1): “Naqueles dias, a palavra do Senhor era mui rara”.

II – Uma noite (vs. 2-14)

III – A manhã seguinte (vs.15-18)

IV – Dias seguintes (vs.19-4.1ª)16

Quando se observa a estrutura acima mencionada de forma esboçada obtém-se


uma estrutura homilética que surge de cada cena na narrativa, tal estrutura facilita a
compreensão hermenêutica do texto; e, também facilita a sua transmissão através do
ensino e pregação.

Conforme já foi estudado que a mudança de ambiente estrutura a mudança de


cena de forma homilética também, por exemplo, veja-se 1º Reis 17:

I – O Palácio (v.1)
II – O ribeiro de Querite (vs.2-7)
III – A porta da cidade de Sarepta (vs. 8-16)

IV – Na casa da viúva de Sarapta (vs.17-24)17

12
PRATT, JR. Richard. Ele nos deu Histórias. São Paulo: Ed. Cultura Cristã, 2004, p.185.
13
KAISER JR, Walter C. Pregando e Ensinando a partir do Antigo Testamento – Um Guia para a
Igreja. Rio de Janeiro: Ed. CPAD, 2009, p.76.
14
GREIDANUS, Sidney. O Pregador Contemporâneo e o Texto Antigo. São Paulo: Ed. Cultura Cristã,
2006, p.242.
15
KAISER JR, Walter C. Pregando e Ensinando a partir do Antigo Testamento – Um Guia para a
Igreja. Rio de Janeiro: Ed. CPAD, 2009, p.76.
16
Ibid,p.78.
17
Idem
2. O Enredo:

O fluxo da narrativa é chamado de enredo, e a razão disso é que cada narrativa


deve possuir “começo, meio e fim”. Isso nós chamamos de enredo o qual acompanha o
movimento da história à medida que ela desenvolve-se; todo enredo deve se mover em
direção a um clímax e para algum tipo de resolução.

O que faz o enredo? Ele se inter-relaciona com “os eventos narrados”18 e o


motivador dele sempre será o conflito que faz com que a narrativa siga seu fluxo. Um
exemplo pode ser encontrado em Gênesis 12.10-20 nestes versículos podemos observar
um enredo que oferece fluxo dinâmico à narrativa19:

Nesta narrativa percebe-se com clareza o fluxo da narrativa mediante o enredo,


Richard Pratt, Jr apresenta a estrutura chamando a atenção para o seguinte paradigma do
“movimento de viagem / cativeiro / intervenção / libertação”.20 Quando se considera o
texto como um todo se nota que texto está sendo usado para fundamentar a libertação do
povo do Cativeiro Egípcio sob a liderança de Moisés.

O paralelo entre a história do patriarca com a história da nação é gritante no


texto. Jacó desce para o Egito por causa da fome; com o passar do tempo os
descendentes de Jacó são presos pelo Faraó na época; Deus deixa clara que o povo dele
é abençoado, enquanto os egípcios são amaldiçoados, o povo é liberto pelo faraó e a
nação deixa o Egito com riquezas.21

O enredo é fundamental para a dinâmica da narrativa bíblica, pois, coloca todo o


texto para fluir, movimentar-se. A estrutura da narrativa ajuda aos intérpretes a captar
melhor a intenção autoral ao escrever um determinado texto se valendo deste gênero
bíblico que é a narrativa.
18
GREIDANUS, Sidney. O Pregador Contemporâneo e o Texto Antigo. São Paulo: Ed. Cultura Cristã,
2006, p.247
19
PRATT, JR. Richard. Ele nos deu Histórias. São Paulo: Ed. Cultura Cristã, 2004, p.124
20
Ibid, p. 125.
21
Ibid, p.126
3. O Ponto de Vista.

Na estrutura e análise da narrativa é necessário observar o ponto de vista do


narrador. Walter C. Kaiser, Jr lembra que às vezes, “o narrador cede esta posição
privilegiada e permite que um dos personagens da narrativa explique o objetivo da
história”, pois, isto se “refere à perspectiva sob a qual a história é contada” 22, citando
Bar-Efrat, Greidanus informa que o narrador “é uma parte integrante da narrativa, um
dos seus componentes estruturais – e até mesmo o mais importante.”23 Um dos
elementos bem distintivos presentes no ponto de vista que revela o narrador na história
bíblica é a sua Onisciência conforme se percebe nas narrativas de 2º Samuel 10-20

Ele [nosso narrador] entra dentro dos compartimentos mais secretos, ele ouve
a conversa íntima entre Amon e Jonadabe, ele testemunha Amon subjugando
à resitente Tamar e ele está consciente de que o Velho Davi não ‘conheceu’ a
bela Abisague. De tempos em tempos ele informa o ouvinte, por meio de
entendimentos diretamente interiores, sobre pensamentos, sentimentos e
intenções de personagens...
A mais notável evidência da onisciência do narrador deve ser encontrada no
que ele nos diz acerca de Deus, seu julgamento (“porém isto que Davi fizera
foi mal aos olhos do Senhor”), seus sentimentos (“e o Senhor o amou”) e
suas intenções (“Pois ordenara o Senhor que fosse dissipado o bom conselho
de Aitofel, para que o mal sobreviesse contra Absalão”)(2ºSamuel 11.27;
12.24; 17.14)24

3 – A Caracterização.

Uma das marcas significativas da narrativa bíblica é a caracterização que é feita


de ambientes, mas especialmente dos personagens; pois, a essência do ensino da
narrativa ou seu eixo principal pode ser encontrado no modo como a narrativa faz uso
dos personagens.25

O fluxo narrativo vem dos personagens em suas palavras e em seus atos; por
isso, não se deve tratar os personagens de forma isolada dos eventos circundantes da
narrativa bíblica. Richard Pratt, Jr lembra que “os personagens desempenham um papel

22
KAISER JR, Walter C. Pregando e Ensinando a partir do Antigo Testamento – Um Guia para a
Igreja. Rio de Janeiro: Ed. CPAD, 2009, p.79
23
GREIDANUS, Sidney. O Pregador Contemporâneo e o Texto Antigo. São Paulo: Ed. Cultura Cristã,
2006, p.248
24
BAR-EFRAT, Shimon. Literary Modes and Methods in the Biblical Narrative in View of 2 Samuel 10-
20 e 1 Reis 1-2. Immanuel 8 (1978),pp.19-31.
25
KAISER JR, Walter C. Pregando e Ensinando a partir do Antigo Testamento – Um Guia para a
Igreja. Rio de Janeiro: Ed. CPAD, 2009, p.81
central nas histórias do Antigo Testamento. A relação inclui Deus, criaturas
sobrenaturais e seres humanos”.26

Existem quatro formas diferentes como a caracterização funciona e pode ser


percebida nas narrativas bíblicas:

1. Através dos atos dos personagens e suas interações com os demais


personagens;
2. Através das palavras do personagem;
3. Através das palavras dos outros personagens a respeito de um
personagem específico, e
4. Através de comentários específicos do narrador a respeito de um
personagem27

Um dos elementos fundamentais da caracterização é a descrição do personagem.


As “narrativas hebraicas não descrevem seus personagens com muitos detalhes.”28 Que
pistas ajudam a perceber na narrativa a caracterização que é feita, pelo narrador, dos
personagens? O Primeiro deles é certamente a questão da aparência e posição social.
Os escritores bíblicos chamam a atenção principalmente para as qualidades interiores,
procurando focalizar-se nos “motivos, nas atitudes [e] natureza moral dos personagens”,
por isso, encontra-se informações e características tais como informando que “Golias
tinha seis côvados e um palmo (mais de três metros) de Altura (1º Samuel 17.4); Saul
“desde os ombros para cima sobressaia a todo o povo” (1º Samuel 9.2b); Esaú era todo
“ruivo” e “todo revestido de pelo” (Gênesis 25.25)29.

A caracterização dos personagens no texto sagrado é importante quando


consideramos o assassinato de Eglon conforme registrado em Juízes 3.12-30; nesta
narrativa do narrador chama a atenção do leitor a dois personagens principais que são
Eúde e Eglom; ele o faz de forma bem distinta: Eúde o narrador chama-o de
“libertador” e Eglom apenas o chama de “rei dos moabitas”. Em um segundo momento
da narrativa o narrador ridiculariza Eglom ao fazer menção a sua obesidade mórbida
(v.22). No final da narrativa o autor caracterizou Eglom como “um tolo completo.”30

A caracterização é recurso que conduz a uma compreensão mais clara da palavra


de Deus. Porque faz com que o leitor enxergue através da escrita narrativa.

26
PRATT, JR. Richard. Ele nos deu Histórias. São Paulo: Ed. Cultura Cristã, 2004, p.164.
27
KAISER JR, Walter C. Pregando e Ensinando a partir do Antigo Testamento – Um Guia para a
Igreja. Rio de Janeiro: Ed. CPAD, 2009, p.81
28
GREIDANUS, Sidney. O Pregador Contemporâneo e o Texto Antigo. São Paulo: Ed. Cultura Cristã,
2006, p.242.
29
PRATT, JR. Richard. Ele nos deu Histórias. São Paulo: Ed. Cultura Cristã, 2004, p.165.
30
Ibid, p.167.
4. Ambiente.

Outro elemento importante na narrativa bíblica é a estruturação do ambiente;


pois, é de capital importância situar o enredo e os personagens “no mundo de tempo e
espaço em que habitam”.31 Isso oferece um pano de fundo mais latente para a
compreensão da mensagem bíblica.

5. O Diálogo.

Kaiser lembra que o “diálogo é uma parte tão importante que frequentemente é
possível de encontrar, nas palavras de um dos principais personagens da narrativa, o
ponto de vista de toda a passagem”32 As vezes a narrativa é suspensa se concentra no
diálogo revelando a sua proeminência no processo narrativo. Um exemplo clássico
pode-se ser encontrado em Rute 1.9 quando Noemi declara: “O Senhor vos dê que sejais
felizes, cada uma em casa com seu marido!”. Esta declaração define um estágio no
enredo desta narrativa: Rute encontrará uma casa em Israel?33

6. Leitwort, ou Organização das Palavras.

Na narrativa bíblica por vezes se usará a mesma palavra ou mesmo um padrão


de palavras semelhantes. Tanto em som como em formas em cenas significativas na
história bíblica; este recurso geralmente é usado para enfatizar a unidade temática de
uma pericope ou mesmo para oferecer uma ideia central para a história. Um exemplo
que pode ser encontrado está em Gênesis 22, nesta narrativa encontra-se uma tripla
repetição de “o teu filho, teu único filho” (Gênesis 22.2,12,16) esta é uma forma de
enfatizar que Isaque é um personagem muito importante na história.

Outro exemplo que pode-se observar é 2º Samuel 7, no qual há um promessa


divina de que haveria de edificar uma dinastia davídica no lugar de Davi fazer uma
morada para Deus – o fato curioso na passagem em tela está no uso da palavra “casa”
que pode ser traduzida por “família” ou até mesmo “descendente”. O uso de palavra e
sua repetição intencional na narrativa aponte para uma organização singular das
narrativas visando provocar a atenção do leitor para compreender adequadamente o
ensino da história.

31
KAISER JR, Walter C. Pregando e Ensinando a partir do Antigo Testamento – Um Guia para a
Igreja. Rio de Janeiro: Ed. CPAD, 2009, p.83
32
Ibid, p.84
33
GREIDANUS, Sidney. O Pregador Contemporâneo e o Texto Antigo. São Paulo: Ed. Cultura Cristã,
2006, p.245.
7. Estrutura.

As narrativas bíblicas estão sempre interligadas e o arranjo na estrutura sempre é


intencional. “Desta maneira, não somente a unidade da história se torna aparente, mas
também os seus temas, ênfases e seu enredo são revelados”. Vale-se ressaltar que o
ponto mais natural na estrutura da narrativa “é o clímax da história”. É o seu desenlace
ou clímax, que “normalmente serve também como o foco da história”.34 A história de
José alcança seu ponto crucial ou clímax quando ele mesmo se revela aos seus irmãos.

Também estruturalmente lidamos com a chamada estrutura quiástica que ajuda


ao leitor-intérprete a compreender melhor o fluxo narrativo e sua mensagem central.

A estrutura quiástica pode ser definida pelo uso da repetição de temas na ordem
invertida no fluxo da narrativa. Como usá-la para elaborar a sua estrutura homilética?
Primeiro deve-se de fato ler toda a passagem na qual tenciona ensinar; e assim,
observando se as ideias dos segmentos repetem-se, aquele segmento que não repetir-se
este deve ser tomado como o centro da narrativa (sempre indicado por um X) e
consequentemente o tema da mensagem.

O Pacto de Deus com Abraão


Gênesis 17:1-25

A A idade de Abraão (1a)


B O SENHOR aparece a Abrão (1b)
C A Primeira fala divina (1b-2)
D Abraão cai sobre o seu rosto (3)
E A segunda fala divina
(Abraão tem o nome mudado,reis procederão dele; 4-8)
X A terceira fala divina (O Pacto da Circuncisão ; 9-14)
E' A quarta fala divina
(O nome da Sara é mudado, reis procederão dele; 15-16)
D' Abraão cai sobre o seu rosto (17-18)
C' A quinta fala divina (19-21)
B' Deus "sobe" diante de Abraão (22)
A' A idade de Abraão (24-25)

34
KAISER JR, Walter C. Pregando e Ensinando a partir do Antigo Testamento – Um Guia para a
Igreja. Rio de Janeiro: Ed. CPAD, 2009, p.87.
Referências:

1. ALTER, Robert. A Arte da Narrativa Bíblica. São Paulo: Ed. Companhia das
Letras, 2007, p.44.
2. BAR-EFRAT, Shimon. Literary Modes and Methods in the Biblical Narrative in
View of 2 Samuel 10-20 e 1 Reis 1-2. Immanuel 8 (1978),pp.19-31.
3. FOKKELMAN, J.P. Narrative Art in Genesis: Specimens of Stylistic and
structural Analysis, Amsterdam: Ed. Van Gorcum,1975, p.9
4. GREIDANUS, Sidney. O Pregador Contemporâneo e o Texto Antigo. São
Paulo: Ed. Cultura Cristã, 2006, p.245.
5. KAISER JR, Walter C. Narrative. In: D. Brent Sandy and Ronald L. Giese,
Jr.(editors). Cracking Old Testament codes: a guide to interpreting Old
Testament literary forms. Nashville, Tennessee 1995, p.69.
6. KAISER JR, Walter C. Pregando e Ensinando a partir do Antigo Testamento
– Um Guia para a Igreja. Rio de Janeiro: Ed. CPAD, 2009, p.87.
7. PRATT, JR. Richard. Ele nos deu Histórias. São Paulo: Ed. Cultura Cristã,
2004, p.165.
8. WRIGHT, Christopher. J. H. Como Pregar e Ensinar com base no Antigo
Testamento. São Paulo: Ed. Mundo Cristão, 2018, p.79.

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