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Melhoramento e Manejo de
Pastagens Naturais no
Planalto Catarinense
1
Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina S.A. – Epagri
Rodovia Admar Gonzaga, 1.347, Itacorubi, Caixa Postal 502
88034-901 Florianópolis, SC, Brasil
Fone: (48) 239-5500, fax: (48) 239-5597
Internet: www.epagri.rct-sc.br
E-mail: epagri@epagri.rct-sc.br
Referência bibliográfica
ISBN 85-85014-49-0
2
APRESENTAÇÃO
3
visto que a maior parte das nascentes que abastecem as regiões mais
baixas tem origem nos campos de altitude. Entretanto, temos consciência
de que a conservação desse ecossistema será possível no momento em
que os produtores tenham na pecuária a rentabilidade financeira que
justifique a sua permanência na atividade.
Este livro, fruto do trabalho de pesquisadores e extensionistas da
Epagri, que estamos colocando à disposição da sociedade catarinense e,
de maneira particular, da comunidade técnica comprometida com o
melhoramento das pastagens naturais, tem por objetivo apresentar
alternativas que contribuirão para a elevação dos índices de produtividade
da atividade pecuária e conseqüente preservação do ecossistema.
Trata-se de uma obra única no Brasil, que reúne diversas práticas, muitas
delas desenvolvidas e/ou adaptadas durante vários anos, em unidades
experimentais e também em propriedades particulares cooperadoras.
Algumas das práticas aqui apresentadas poderão fazer com que se
ultrapassem facilmente os índices atuais de rendimento animal, podendo
atingir valores acima de 500kg de peso vivo por hectare por ano, já
obtidos em propriedades assistidas pelos técnicos da Epagri.
Pelo acompanhamento do desenvolvimento e validação das
tecnologias aqui expostas e discutidas, parabenizamos a equipe envolvida
na sua realização. A Epagri coloca à disposição dos catarinenses este
livro, que contribuirá, certamente, para alcançar o equilíbrio entre os
fatores econômicos, sociais, ambientais e culturais, exigido em qualquer
atividade produtiva.
A Diretoria Executiva
4
PREFÁCIO
5
compactado, como a língua-de-vaca e o capim-pêlo-de-porco. O segundo
fator mencionado, mas não menos importante, o manejo, é fundamental
e inclusive pode compensar em parte os danos da excessiva mobilização
do solo. É com manejo correto que as pastagens serão utilizadas no
momento certo e com intensidade correta, sem super nem subpastoreio,
fazendo com que se desenvolva um sistema radicular vigoroso e
abundante, que garantirá pastagem produtiva e persistente e ainda
exercerá benéficos efeitos sobre o solo, melhorando-o progressivamente
em todas as suas características.
É bem provável que nada do que foi dito até aqui seja novidade,
porém, o assunto foi retomado por ser importante e para ajudar a
compreensão deste prefácio.
As pastagens de inverno são conhecidas e utilizadas por alguns
produtores em Santa Catarina desde o início do século passado. A
Epagri/Estação Experimental de Lages tem um bom acervo de trabalhos
no assunto desde o tempo do seu primeiro diretor, Charles Vincent,
passando pela época de posto de fomento e pelo profícuo período de
pesquisa da Empasc. Mas na Região Serrana foi só a partir de 1996, com
os trabalhos de Ulisses de Arruda Córdova, Nelson Eduardo Prestes e
Osvaldo Vieira dos Santos, que elas começaram a ser importantes para
os produtores e cada vez mais utilizadas. A capacidade de trabalho e a
habilidade para trabalhar com agricultores e dirigentes políticos destes
três pesquisadores, sem dúvida, foram determinantes para que a história
das pastagens de inverno e da própria pecuária do Planalto Catarinense
tomasse outro rumo. Mas com certeza a proposta por eles trabalhada foi
bem diferente, ou seja, pastagem de inverno, mas dentro de uma filosofia
diferente, melhoramento de campo nativo. E as diferenças são muitas:
primeiramente o campo nativo é devidamente valorizado, ele não será
substituído, mas sim enriquecido com espécies de estação fria; o solo
será corrigido e adubado de forma parcimoniosa e a pastagem agora
melhorada será cuidadosamente manejada. Manter o campo nativo tem
um significado difícil de expressar. Esses campos são obra da natureza
por um período estimado de 30 milhões de anos. Representam, portanto,
uns dos ecossistemas mais antigos do planeta, contêm uma biodiversidade
que recém-começa a ser estudada. Esse manto da natureza permite que
nessas regiões as águas sejam protegidas e extravasem em ricos
mananciais. A agradável paisagem que aí se formou traduz tudo isto,
mostrando harmonia e tranqüilidade. Além desses aspectos, que
normalmente não são valorizados porque dizem que “não dão dinheiro e
não enchem barriga”, os campos nativos são a base da pecuária, pois
produzem o alimento mais barato que o pecuarista do mundo inteiro pode
6
dispor, que é a pastagem nativa.
Com o campo nativo mantido o solo não será mobilizado, portanto,
a sua estrutura física será preservada. Isto aliado ao manejo correto
evitará a compactação, além dos outros inúmeros benefícios que uma
boa estrutura física determina ao solo. Assim, a persistência da pastagem
será facilitada.
Outro aspecto a ser mencionado é a elevação do pH e o aumento
na fertilidade do solo aliado ao correto manejo, imprescindíveis para a
implantação das forrageiras exóticas e determinam melhoria substancial
no próprio campo nativo, não apenas na produção mas, também, e
principalmente, na composição botânica. Vários são os exemplos de
trabalhos em que já no segundo ano houve aumento substancial de
espécies nativas de inverno.
Para manter o campo nativo não há mobilização do solo ou ela é
muito reduzida. A correção e a adubação têm que ser superficiais e,
portanto, em quantidades também reduzidas. Tem-se assim uma
importante diminuição dos custos.
Esta é uma proposta ecologicamente correta, com baixos custos,
ao alcance de todos os produtores indistintamente e que poderá determinar
a manutenção do que ainda resta de campo nativo, com um impacto de
grande significado na pecuária de corte e de leite de Santa Catarina. Os
resultados estão com os produtores. Obter 600 a 1.000kg de peso vivo/
ha/ano em campo nativo melhorado com persistência já de quatro a cinco
anos dispensa qualquer comentário.
Este é o tema do qual trata o presente livro, com muita propriedade
e profundidade. É um documento da maior importância, pelo conhecimento
nele contido, mas também historicamente, porque registra a possibilidade
de transformar a pecuária de Santa Cararina, fazendo-a gerar grande
riqueza, produzindo alimentos limpos em um ambiente ecologicamente
preservado. Pequenos produtores em unidades de 15 a 30ha estão
sendo beneficiários desta proposta, portanto, também tem este importante
significado, a possibilidade de manter o homem no campo com dignidade.
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AGRADECIMENTOS
Os autores
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REVISORES
Os autores
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PRINCIPAIS ABREVIATURAS, SIGLAS E
SÍMBOLOS UTILIZADOS
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IGPM – Índice Geral de Preços de Mercado
Ilust. – ilustrado(a)
Instituto Cepa/SC – Instituto de Planejamento e Economia Agrícola de
Santa Catarina
K – potássio
kg – quilograma
L – litro
m – metro
Mercosul – Mercado Comum do Cone Sul
Mg – magnésio
Mn – manganês
Mo – molibdênio
M.O. – matéria orgânica
N – nitrogênio
NDT – nutrientes digestíveis totais
N o – número
O – oxigênio
Op. cit. – na obra citada
Out. – outono
p. – página
P – fósforo
PB – proteína bruta
PC – Planalto Catarinense
p.e. – por exemplo
pH – potencial hidrogeniônico
PR – Paraná
Prim. – Primavera
PV – peso vivo
Rolas – Rede Oficial dos Laboratórios de Análises de Solo e de Tecido
Vegetal dos Estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina
RS – Rio Grande do Sul
S – enxofre
SBZ – Sociedade Brasileira de Zootecnia
SC – Santa Catarina
s.d. – sem data
SFS e SFT – superfosfato simples e superfosfato triplo
SP – São Paulo
Sudesul – Superintendência do Desenvolvimento do Sul
t – tonelada
UA – unidade animal
Uepae – Unidade de Execução de Pesquisa de Âmbito Estadual
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UTM – Projeção Universal Transversa de Mercator
UFRGS – Universidade Federal do Rio Grande do Sul
UFSC – Universidade Federal de Santa Catarina
UFSM – Universidade Federal de Santa Maria
USP – Universidade de São Paulo
U.O. – unidade de observação
v. – volume
Ver. – verão
Zn – zinco
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CONCEITOS FUNDAMENTAIS
1
HESS, A.A. Ecologia e produção agrícola. Florianópolis: Acaresc, 1980. 126p.
2
TOLEDO, V. M. La racionalidad ecológica de la producion campesina. In: Agroecologia
e desarrolo, Santiago, Chile, v.5, n.6, p.28-35, dez. 1994.
3
FAO/INCRA. Diretrizes de política agrária e desenvolvimento sustentável. Brasília,
1994. 24p. (Versão Resumida do Relatório Final do Projeto UBT/BRA/036).
17
• Campo natural ou campo nativo: São as áreas onde predominam
espécies de pequeno porte ou subarbustivas, especialmente gramíneas
e leguminosas. Ocupam com maior freqüência os locais menos úmidos e
abertos, como topo de coxilhas e encostas, sujeitas à ação do vento e a
maior insolação. As expressões natural e nativo serão utilizadas como
sinônimos.
4
FONTANELI, R.S. Melhoramento de pastagem natural: introdução, ceifa, queima,
diferimento e adubação. 1986. 189p. Dissertação (Mestrado em Agronomia),
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre.
18
SUMÁRIO
Pág.
LISTA DE FIGURAS.......................................................................... 23
19
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20
Pág.
21
22
LISTA DE FIGURAS
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23
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24
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25
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26
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28
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Figura 59. Estado corporal de vacas suplementadas com sal
proteinado e com diagnóstico de gestação positivo no
período de outono/inverno em campo nativo diferido. 263
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LISTA DE TABELAS
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33
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Tabela 33. Rendimento animal médio dos períodos de 11 anos
(1957-68) e de 7 anos (1961-68) do efeito residual da
adubação fosfatada ..................................................... 124
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Pág.
Tabela 43. Esquema de diferimento com um rebanho, quatro
potreiros e três períodos de pastoreio ....................... 182
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Melhoramento e Manejo de
Pastagens Naturais no
Planalto Catarinense
1.1 Introdução
1
Eng. agr., M.Sc, Epagri/Estação Experimental de Lages, C.P. 181, 88502-970,
Lages, SC, fone/fax: (49) 224-4400, e-mail: ulisses@epagri.rct-sc.br.
2
"A alimentação dos animais no inverno é feita praticamente às custas de sua própria
carne. Em função da baixa qualidade do pasto nesse período, o animal não
consegue retirar a quantidade mínima de alimentos. Por um princípio de perpetuação
da vida, utiliza suas próprias reservas, acumuladas no período de primavera e verão.
O que é um alimento muito caro” (Fonseca, 1969, p.5).
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florestamento planejado e tecnicamente conduzido, talvez seja essa a
única possibilidade de desenvolvimento da agropecuária no Planalto
Catarinense, pois a implantação de lavouras sofre restrições de ordem
climática, topográfica, afloramento de rochas e fertilidade do solo em mais
de 70% da área total.
A substituição completa de uma vegetação estável – como os
campos naturais – por culturas ou pastagens exóticas talvez não apresente
vantagens a longo prazo. Segundo o professor Aino Jacques da UFRGS,
citando dados da Emater-RS, esse processo ocorreu com intensidade no
RS e, atualmente, para cada tonelada de grão produzido, há uma perda
anual de 10t de solo por erosão. Em algumas dessas regiões estão se
formando desertos. A recuperação de tais áreas degradadas somente é
possível a longo prazo e a custos inexeqüíveis na atual conjuntura.
A grande dificuldade para preservação dos campos do Planalto
Catarinense é o argumento de que sua baixa produtividade não se
justifica técnica, social e economicamente, ficando, os produtores, sujeitos
a diversos tipos de pressão para substituir a pecuária extensiva por
atividades mais “rentáveis” (Figura 1). Na tentativa de superar esta
situação, diversas alternativas vêm sendo testadas. Nelas, incluem-se
práticas que não consideram as vocações do agroecossistema, nem a
cultura do povo local. Normalmente, resultam em insucesso e contribuem
para aumentar a descrença no potencial dos campos naturais. Infelizmente,
os investimentos na vocação histórica do povo serrano – a pecuária
bovina – são escassos, carentes de planejamento e de ação integrada
das instituições.
Outro problema visível é o de que princípios fundamentais de
mercado e de produção sustentável não estão sendo explorados. Um
deles é a valorização da qualidade biológica dos produtos agrícolas. As
condições de clima favorecem a produção de carne bovina e ovina com
pouco ou até nenhum uso de agrotóxico. A qualidade dessa carne
produzida em campo nativo é considerada excelente por empresas
frigoríficas, o que poderá tornar-se fator determinante para centros
consumidores mais exigentes.
Fator também importante é o balanço energético positivo da
bovinocultura extensiva realizada em campos naturais. Dados conhecidos
internacionalmente e citados por Vincenzi (1994) mostram que se gasta
0,5 caloria para cada caloria produzida na forma de alimento humano,
contra 5 e 20 calorias utilizadas para cada unidade gerada em pastagens
cultivadas e confinamentos, respectivamente. Atividades energeticamente
deficitárias terão de ser repensadas brevemente, pois estão comprometidas
sob o aspecto da sustentabilidade.
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Figura 1. Em função da baixa produtividade no sistema extensivo, os
campos naturais da Serra Catarinense estão sendo substituídos por
outras culturas
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se torne mais fácil planejar melhor, definindo prioridades e estabelecendo
políticas que venham a trazer benefícios perenes para o Planalto
Catarinense e, por extensão, a toda sociedade.
Este livro, evidentemente, é apenas uma contribuição, à qual é
mister que se somem diversos outros trabalhos, através de uma articulação
organizada de instituições, públicas e privadas, ligadas à agropecuária
catarinense. Enquanto se preparava sua edição, uma certeza foi
manifestada pelos diversos autores pesquisados, pelos técnicos e
produtores contactados, que vivem nos campos naturais e os conhecem:
a sua destruição será um prejuízo irrecuperável sob a ótica da
biodiversidade e da sustentabilidade.
3
Área estável durante um evento geotectônico.
4
No intervalo entre esses períodos está o Carbonífero, que marca o surgimento dos
lençóis carboníferos do litoral de Santa Catarina.
40
A origem da escarpa e do Terceiro Planalto ou da Zona de
Capeamento Basáltico-Arenítico, ou ainda, do Planalto das Araucárias,
assim como da parte oriental do grande planalto, são os derrames de
lavas, que começaram entre o fim da era mesozóica e o começo da
terciária. Excetua-se a área em torno de Lages, cuja origem é um acidente
tectônico provocado pela intrusão de um domo5 alcalino, atualmente
erodido, que expõe faixas concêntricas de rochas paleozóicas de origem
sedimentar (Moreira & Lima, 1977; Peluso Junior, 1991).
5
Elevação do terreno por intrusão, resultando em dobras de comprimento e largura
quase idênticos, cujas camadas mostram direção periclinalmente variável e
mergulhos aproximadamente idênticos. Em seção transversal horizontal, apresenta
forma circular ou elíptica.
6
Vegetais com órgãos reprodutivos bem evidentes.
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(propagação rápida da espécie, em períodos favoráveis de curta duração),
entre outras (Lindman, 1906; Maack, 1991).
Leite & Klein (1990) citam outros fatores que servem como indicativos
das flutuações climáticas:
• laterização das rochas e/ou dos solos, processos característicos
das regiões submetidas à alternância de estações chuvosas e secas;
• plantas providas de xilopódios 7 (gêneros Bacharis, Croton, Psidium,
Eriosema, Mimosa), órgão subterrâneo perene que permite às plantas
resistirem a períodos climáticos desfavoráveis, armazenando água e
nutrientes;
• ocorrência de encraves de vegetação típica de uma determinada
região em outra, caracteristicamente diferente, o que sugere uma dinâmica
sucessional da vegetação causada por mudanças climáticas;
• plantas com casca corticosa [peroba (Aspidosperma australe),
cambará (Gochnatia polymorpha), cedro (Cedrela fissilis), ipê (Tabebuia
spp.)], também adaptadas para se desenvolverem em clima seco.
Outro aspecto que corrobora a afirmação de que o Sul do Brasil já
possuiu clima seco e frio é a existência de vários gêneros encontrados nos
campos naturais, que contêm espécies de valor forrageiro em condições
de estepe e/ou mesmo desérticas em outras regiões do mundo, bastante
especializadas para se utilizar de teores de umidade limitados no am-
biente. Entre os principais estão: Stipa, Eragrostis, Panicum, Botriochloa
e Andropogon (Hitchcock, 1935 e Harlan, 1956; citado por Rocha, 1991).
Segundo Leite & Klein (1990), a tropicalização do clima (mudança
de mais frio/seco para mais quente/úmido) demonstra processar-se das
baixas para as elevadas latitudes e altitudes e da costa para o interior do
continente, dinamizando os processos naturais de substituição da flora de
origem australásica pela de origem tropical. Os mesmos autores concluíram
que a Floresta de Araucária, mais homogênea que a atual, estendia-se
no passado, por altitudes bem mais baixas do que atualmente, sob a forma
de capões e matas-de-galeria. E estes foram os pontos de partida para
a grande conquista do espaço campestre, acompanhando a evolução do
clima para quente e úmido.
Embora o regime pluviométrico fosse baixo no período frio/seco,
7
Tubérculo lenhoso e gemífero de muitas plantas subarbustivas dos campos.
Originam-se do hipocótilo ou da raiz primária, raramente englobando parte do caule;
armazena água, carboidratos e minerais; durante a época seca persiste no solo e,
ao voltarem as chuvas, rebrota, refazendo a parte aérea. É um órgão perene, que
permite às plantas resistirem a condições ambientais inclementes.
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era de regular distribuição anual, razão pela qual se encontram espécies
típicas de cerrados, como pau-de-bugre (Lithraea brasiliensis), branquilho
(Sebastiana ilotzchiana), cambará (Gochnatia polymorpha Less.) e aroeira
vermelha (Schinus lentscifolius). As eras áridas eram resultantes diretas
da continentalidade e baixa altitude reinantes (Rambo, 1953).
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queimas freqüentes pelos criadores de gado, feitas com o propósito de
limpá-los durante a seca para estimular as brotações herbáceas na épo-
ca da chuva”.
Teorias pedológicas: diversos autores fazem referência à provável
influência do solo na formação de campos e cerrados. Alvim (1954), que
coordenou o estudo, concluiu que a formação das vegetações citadas
anteriormente está controlada pela composição do solo mais do que por
qualquer outro fator.
Das três teorias, a que se refere às queimadas não apresenta
qualquer sustentação para a formação dos campos sul-brasileiros e
talvez somente possa ser analisada para a origem dos cerrados, mesmo
assim com várias restrições. De acordo com Maack (1981), “o aspecto
fitogeográfico e a extensão dos campos dos cerrados (...) não podem ser
explicados por modificações locais atribuídas às queimadas”. Alvim
(1954) também a questiona, indagando por que as áreas queimadas
nunca foram utilizadas pela agricultura e por que não se encontram
campos e cerrados nas zonas mais populosas e mais exploradas
economicamente, onde o fogo também foi constantemente utilizado como
sistema comum de limpeza.
Alvim (1954), citado por Leite & Klein (1990), que defendem a
Teoria Pedológica, admite que o clima desempenha papel importante
sobre a vegetação e a própria formação do solo e Rambo (1953), ferrenho
defensor da Teoria Climática, diz que o predomínio dos campos na Serra
do Sudeste no RS é devido ao fator edáfico. Portanto, é lógico aceitar que
o clima e o solo são os parâmetros mais importantes na formação dos
campos e da vegetação do Sul do Brasil; a importância maior ou menor
de cada fator8 depende das condições locais, pois, segundo Schreiner
(1991), citado por Moraes et al. (1995), “embora a fertilidade do solo não
condicione [isoladamente] a formação de campos, influencia na sua
fisionomia e riqueza da pastagem”.
Segundo Rambo (1953), houve desdobramento de espécies novas
no planalto sul-brasileiro, tanto dos focos campestres, como da vegetação
de montanhas, por evolução adaptativa, de outras já existentes. No
8
Segundo o professor Luiz Fernando Ferreira de Quadros (comunicação pessoal/
eletrônica) da UFSM, Santa Maria, RS “A relevância de um outro fator depende da
escala temporal e espacial considerada. No longo prazo (ecologicamente falando),
o clima tem maior influência. A médio e curto prazo, o solo pode interagir com este
e com os distúrbios para definir o tipo de vegetação. Quanto à escala espacial, o clima
atua no nível de paisagem, enquanto o solo pode influir sobre manchas de
vegetação, que, se forem suficientemente representativas, poderão configurar uma
fisionomia específica”.
44
entanto, o foco austral-antártico nada produziu de novo na área em
análise. “São tudo quanto se salvou, do lado atlântico do continente”.
A explicação mais provável para o surgimento das matas pluviais e
similares é a ocorrência de uma ruptura na costa sul-brasileira com o
desabamento da ponte intercontinental e o subseqüente levantamento
da borda de ruptura, até atingir a altitude de hoje, embora num processo
muito lento (Rambo, 1953). Dessa forma, por condensação, a umidade
marítima atingiu as bordas, propiciando as condições de umidade
necessárias para o surgimento de banhados turfosos e matinhas
nebulares. Lentamente, as precipitações foram se intensificando (à
medida que a vegetação pluvial também se ampliava) até alcançar os
índices pluviométricos atuais. Simultaneamente, a flora das montanhas,
com elementos remanescentes de troncos austral-antártico-andinos (como
Araucária angustifolia) e a selva pluvial vinda ao longo do Rio Paraná
foram invadindo os campos, principalmente pelos vales dos rios que se
iam formando [id., Maack (1981) e Klein (1960) citados por Leite & Klein,
1990], até a situação presente, época da colonização, quando houve a
intervenção humana .
9
"Em ecologia chama-se clímax ao tipo de vegetação que resultou da ação do meio
ambiente e com ele se encontra em equilíbrio. O processo de um clímax dura
normalmente centenas de milhões de anos” (Schreiner, 1991). Para Vivan (1993),
o clímax é um equilíbrio dinâmico da interação clima/solo/vegetação e, dentro de um
ecossistema específico, é a forma mais eficiente de aproveitamento dos recursos
naturais.
45
e pela intervenção do homem, principalmente neste século. Maack
(1981) atribui ao uso do fogo, nos últimos dois séculos, a contenção no
avanço das matas e capões sobre os campos da Região Sul
do Brasil.
Conforme Schreiner (1991), “causa estranheza o fato de relvados
e matas freqüentemente se encontrarem lado a lado na paisagem, sem
a presença de faixas de transição”. Para justificar, levanta a seguinte
hipótese:
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remanescentes da flora típica de clima seco (bugre, aroeira vermelha,
cambará) povoaram o planalto aberto (Figura 3).
Figura 2. Área de campo sendo invadida por florestas a partir dos locais
de maior umidade e protegidos de ventos
47
Os campos estão geralmente associados a extensas planuras ou a
elevadas altitudes, sujeitos aos fortes impactos das correntes aéreas. A
falta de anteparo (acidentes geográficos), cortinas de árvores e outros
obstáculos permitem que o vento assole a região determinando o
ressecamento da superfície, com sérios prejuízos à vegetação” (não
campestre) (Leite & Klein, 1990).
12
Ação do homem sobre a vegetação natural, com modificações da composição
botânica.
13
Além da Araucaria angustitifolia, os seguintes gêneros são representantes típicos
dessa flora: Podocarpus sp., Drimys sp., Acaena sp., Fuchsia sp., Gunnera sp. e
Griselinia sp.
48
sugerindo a ocorrência de um clima morno e mais seco, e que ocorre uma
lenta invasão de espécies florestais em substituição às campestres.
Segundo Leite & Klein (1990), na história da utilização dos campos
do Sul do Brasil ocorreram três fases de antropização, que assim podem
ser resumidas:
Primeira: primitiva, incipiente, caracterizada por fisionomia mais
natural, na qual a vegetação se apresentava rústica e bem desenvolvida,
com uma flora bem mais complexa, dominando gregarismos de espécies
lignificadas, pouco ou nada palatáveis e da qual há poucos remanescentes.
A alteração dos campos operou-se paulatinamente, com a multiplicação
dos rebanhos e difusão das queimadas para eliminação da palha seca e
aproveitamento do rebrote.
Segunda: é marcada pela intensificação do manejo e melhoramento
dos pastos, objetivando aumentar a sua lotação, que estava declinando
em função do aumento do rebanho por demanda de carne para consumo.
A partir desta fase, intensificam-se as técnicas e os procedimentos
visando ao aumento da capacidade de suporte, através da implantação
de pastagem cultivada, principalmente de inverno, com utilização de
espécies exóticas, como azevém anual, aveias, trevos, capim-lanudo,
entre outras forrageiras.
Terceira: é a fase representada pelas últimas décadas, em que
grande parte dos campos naturais localizados mais a oeste do Planalto
Catarinense foi transformada em lavouras, com o advento da chamada
modernização da agricultura. As principais culturas implantadas foram
trigo, soja, milho, arroz, alho, maçã e florestamento (principalmente na
Região Serrana).
1.3.1 Introdução
14
Eng. agr., Ph.D., Epagri/GTP, C.P. 502, 88034-901 Florianópolis, SC, fone: (48)
239-5500, e-mail: nevio@epagri.rct-sc.br.
15
Eng. agr., Epagri/Ciram – Mapeamento, C.P. 502, 88034-901 Florianópolis, SC,
fone: (48) 239-5500, e-mail: yara@epagri.rct-sc.br.
49
como Unidade de Planejamento Regional 3 – UPR 3. Graças às
características edafoclimáticas dominantes nessa região, a criação de
ruminantes tem sido a principal atividade econômica desde o início da sua
colonização. Tal atividade pode ser desenvolvida sem causar impactos
negativos significativos ao ambiente, se forem observadas as
peculiaridades de cada local. Neste sentido, este item visa a subsidiar
tecnicamente o ordenamento do espaço territorial e encontrar alternativas
para a utilização dos recursos sem danificar o ambiente. Baseando-se
nas sugestões do Zoneamento Agroecológico e Socioeconômico do
Estado de Santa Catarina – ZA – (Thomé et al. (1999) –, pretende-se
possibilitar a análise das limitações e das potencialidades edafoclimáticas;
a identificação do potencial das terras, para promover ações e políticas
necessárias e corretivas no uso dos recursos naturais; apoiar o
desenvolvimento e a implantação de uma política de conservação e
manejo de solos e contribuir para a avaliação do uso atual das terras e das
possibilidades de expansão de culturas climaticamente adaptadas.
Procedeu-se a um levantamento de dados dos aspectos físicos e
bioclimáticos, de maneira a estabelecer uma caracterização edafoclimática
com base nos estudos de Epagri (2003). O ZA definiu zonas agroecológicas
a partir de combinações de vegetação, geomorfologia e características
climáticas, conforme Proposta de Diferenciação Climática para o Estado
de Santa Catarina (Braga & Gheller, 1999). Os parâmetros particulares
usados na definição são centrados nas exigências climáticas e edáficas
das culturas e nos sistemas de manejo em que estas se desenvolvem.
Cada zona agroecológica tem uma combinação similar de limitações e
potencialidades para o uso das terras e serve como ponto de referência
das recomendações delineadas para melhorar a situação existente do
uso das terras, seja incrementando a produção, seja limitando a degradação
dos recursos naturais.
50
489.000 529.000 569.000 609.000 649.000
6.950.000
6.910.000
6.910.000
Metros
6.870.000
6.870.000
0 10 20 40 Elaboração: Epagri/Ciram/Geoprocessamento
Km Fonte: Epagri (2003)
Projeção: UTM
6.830.000
6.830.000
Sistemas de coordenadas métricas
Municípios Representatividade
Zona agroecológica envolvidos da área
(n o) (%)
2C 1 00,07
3A 9 31,89
4A 11 55,18
5 6 12,86
Total - 100,00
51
Tabela 2. Limites climáticos das zonas agroecológicas do Planalto Sul Catarinense
2C Cfa(1) 17,9 a 25,8 a 12,9 a 1.430 a 108 a 77,2 a 5,0 a 300 a 884 a 2.117 a
19,8 27,5 14,0 2.020 150 82,1 12,0 437 1.653 2.395
3A Cfb(2) 15,8 a 22,3 a 10,8 a 1.460 a 129 a 76,3 a 12,0 a 437 a 1.653 a 2.137 a
52
17,9 25,8 12,9 1.820 144 77,7 22,0 642 2.231 2.373
4A Cfb 13,8 a 19,4 a 9,2 a 1.360 a 123 a 79,9 a 20,0 a 642 a 2.231 a 1.829 a
15,8 22,3 10,8 1.600 140 83,4 29,0 847 2.808 2.083
5 Cfb 11,4 a 16,9 a 7,6 a 1.450 a 135 80,5 29,0 a 847 a 2.808 a 1.824
13,8 19,4 9,2 1.650 36,0 1.120 3.578
(1)
Clima subtropical constantemente úmido, sem estação seca, com verão quente.
(2)
Clima subtropical constatemente úmido, sem estação seca, com verão fresco.
Fonte: Braga & Ghellre (1999).
A partir da caracterização do Planalto Sul Catarinense em zonas
agroecológicas, é possível fazer as seguintes recomendações, visando
ao melhoramento de pastagens naturais e naturalizadas16.
Nas zonas agroecológicas 2C, 3A e 4A, os meses mais indicados
para introdução de espécies em campo nativo são junho, julho e agosto
ou no outono. Entretanto, nos meses de março, abril e maio é muito
comum a ocorrência de déficit hídrico, evento climático conhecido
regionalmente como “veranico”. Assim, as espécies implantadas durante
esse período podem não se estabelecer.
Na zona agroecológica 5, as épocas mais indicadas são o outono,
com a mesma restrição apresentada para as zonas 2C, 3A e 4A e a partir
da segunda quinzena de agosto, prorrogando-se até o fim de setembro.
Retardando a implantação, consegue-se diminuir os riscos de morte das
plântulas recém-emergidas com as temperaturas extremamente baixas –
que ocorrem com muita freqüência de maio a julho. Nessa zona
agroecológica é prudente optar-se por gramíneas mais resistentes ao
frio, como o centeio, o capim lanudo e a aveia branca, ou forrageiras
perenes como a festuca e o dátilo em áreas de melhor fertilidade (que não
apresenta bom desempenho em regiões de temperaturas mais elevadas).
Evitar principalmente o plantio de aveia preta ou azevém procedentes de
regiões quentes.
Nas zonas agroecológicas 2C e 3A é comum a ocorrência de
pastagens naturalizadas, formadas principalmente pela grama missioneira
e jesuíta. Além de optar pelos meses de junho e julho para introdução de
outras espécies cultivadas, é importante diminuir intensamente a
competição da vegetação existente com alguma prática mecânica. Além
disso, deve-se utilizar a dose integral de fósforo recomendada e evitar
totalmente a aplicação de fertilizantes que contenham nitrogênio em sua
formulação para permitir o estabelecimento das leguminosas.
Na zona agroecológica 5 praticamente não há crescimento das
pastagens nos meses de junho e julho, com exceção de anos atípicos,
com ocorrência de temperaturas mais elevadas. Dessa forma, é
recomendável o diferimento das pastagens melhoradas que tenham na
composição botânica espécies resistentes ao frio, como o capim lanudo,
o centeio, a aveia branca, a festuca e o dátilo, em março e abril. Assim se
formará uma reserva de forragem para a época mais crítica. Porém, nessa
zona agroecológica, as temperaturas dos meses de primavera e verão
são altamente favoráveis ao desenvolvimento dos trevos. Por esta razão,
53
deve-se ter maior cuidado na formação da composição do consórcio
forrageiro, para não permitir o predomínio excessivo das leguminosas,
principalmente em áreas que tenham sido utilizadas para o cultivo de
batata ou outras olerícolas, nas quais o efeito residual dos adubos é alto.
Tendo esses cuidados, é possível prevenir e até mesmo evitar o timpanismo.
Nos microclimas das zonas 2C e 3A, onde raramente ocorrem
geadas, podem-se utilizar gramíneas adaptadas a temperaturas mais
altas, como a missioneira gigante (Axonopus catarinensis Valls), as
estrelas africanas (Cynodon sp.), a hemártria (Hemarthria altissima Poir)
e a pensacola (Paspalum notatum Flügge variedade saurae Parodi),
consorciadas com trevos e cornichão.
Zona agroecológica
Município
2C 3A 4A 5
.............% da área do município.............
Anita Garibaldi 2 98 0 0
Bocaina do Sul 0 0 100 0
Bom Jardim da Serra 0 0 40 60
Bom Retiro 0 9 82 9
Campo Belo do Sul 0 72 28 0
Capão Alto 0 0 100 0
Cerro Negro 0 100 0 0
Correia Pinto 0 100 0 0
Lages 0 0 100 0
Otacílio Costa 0 100 0 0
Painel 0 0 100 0
Palmeira 0 100 0 0
Ponte Alta 0 100 0 0
Rio Rufino 0 0 83 17
São Joaquim 0 0 70 30
São José do Cerrito 0 100 0 0
Urubici 0 0 33 67
Urupema 0 0 67 33
Fonte: Epagri (2003).
54
Santa Catarina realizado pela Embrapa (1999), na escala 1:250.000
(www.mapserver.cnps.embrapa.br/website/pub/Santa_Catarina/
viewer.htm).
Os solos ocorrentes no Planalto Sul são originários de rochas
sedimentares e de efusivas. Os solos derivados do sedimento arenito
Botucatu ocorrem seguindo uma estreita faixa que contorna a escarpa da
Serra Geral. Os solos argilosos de origem sedimentar relacionam-se,
principalmente, com os argilitos e folhelhos síltico-argilosos; os de textura
média estão relacionados com siltitos, folhelhos síltico-arenosos e arenitos
muito finos; os de textura arenosa relacionam-se com arenitos mais
grosseiros. Por outro lado, solos rasos ou pouco profundos normalmente
estão relacionados com rochas bem estratificadas, como é o caso dos
xistos e dos folhelhos várvicos. Os mais comuns são os Argissolos e os
Cambissolos, ambos de textura média. As rochas efusivas básicas são
responsáveis pela formação de extensas áreas de solos argilosos,
arroxeados, avermelhados ou brunados, com altos teores de Fe203 (óxido
de ferro).
O mapa publicado pela Embrapa foi recortado pela equipe de
geoprocessamento da Epagri para representar somente a UPR 3 (Figura
5). Para maiores detalhes, os interessados encontram as descrições
completas das unidades de mapeamento ocorrentes no Planalto Sul nos
Anexos III, IV e V de Epagri (2003). As ordens dos solos e suas
representatividades de ocorrência estão apresentadas na Tabela 4.
6.940 .000
M etros
6 .900.0 00
6.900. 000
Á gua
Ur bano
Nitosso ol s
Neo ssolos
A rgisso ol s
6.860 .000
6.8 60.000
L atossolos
G el isso ol s
Cam bissolos
Elaboração: Epagri/Ciram/Geoprocessament o
0 10 20 40 Fonte: adapt ado de Embrapa (2001)
Km
Projeção: UTM
Sis temas de c oordenadas métricas
47 5.000 515.00 0 555 .000 59 5.000 635.00 0 67 5.000
M etros
55
Tabela 4. Solos do Planalto Sul Catarinense, número de municípios onde
ocorrem, área e porcentagem
Municípios Área
Solo envolvidos
(no) ha %
Uberti et al. (1992) usaram os seguintes fatores limitantes para definir as classes
17
56
503. 000 543. 000 583.000 623. 000 663. 000
6.980. 000
6. 980.000
Mapa de Aptidão
de U s o das Terras - UP R 3
6. 940.000
6.940. 000
M et ros
6.900. 000
6.900.000
6.860.000
6.860. 000
E laboraç ão: Epagri/C iram /Geoproc essamento
0 10 20 40 Fonte: A daptado de Embrapa (2001)
Km
P rojeção: UTM
S ist emas de coordenadas m ét ri cas
1.3.3.2 Cambissolos
57
Os Cambissolos constituem a classe de solos dominantes no
Planalto, ocupando cerca de 46% da sua área total (Tabela 1). Estes
solos apresentam forte limitação ao uso para culturas anuais quando em
relevo acidentado, com pedregosidade excessiva e/ou por necessitarem
de altas quantidades de corretivos da acidez para a produção de colheitas
satisfatórias.
1.3.3.3 Gleissolos
Tipos de solos
Município
Argis- Cambis- Gleis- Neossolos Nitos- Latos-
solos solos solos Litólicos solos solos
.........................................% da área.............................................
58
Tabela 5 (continuação)
Tipos de solos
Município
Argis- Cambis- Gleis- Neossolos Nitos- Latos-
solos solos solos Litólicos solos solos
.........................................% da área.............................................
59
Tabela 6. Classes de solo e limitações de uso para o cultivo ou melhoramento
de pastagens no Planalto Sul Catarinense
Mapa de Aptidão
6.970.000
6.970.000
para P ast agem - U PR 3
6.920.000
6.920.000
Metr os
Pastag em
Classe
Anu al Pe rene
1 Ab Boa Bo a
2 Ab Boa Bo a
6.870.000
2 Ar Re strita Bo a
6.870.000
3 Pb - Bo a
4 Pr - Rest rita
PP - -
Ur bano - -
Rios - - Elabor ação: Ep agri /Cir am/ Geopr ocessa mento
F onte: Ep agri/I BGE
0 10 20 40 Projeç ão: UT M
Km Sistema s de co orde nada s mé tricas
463.000 513.000 563.000 613.000 663.000
Metros
60
correções da acidez e da fertilidade com base na análise de solo do local
e nas necessidades da pastagem de interesse econômico a ser implantada.
Os solos dessa classe são normalmente cultivados com lavouras anuais
para grãos e representam uma percentagem muito pequena sobre a área
total (Tabela 7) (Figura 7). Nessas áreas podem ser implementados, sem
restrição, sistemas integrados de produção das lavouras com a pecuária.
Se vegetadas com campo nativo, o seu melhoramento pode ser realizado
utilizando-se métodos mecânicos como grade ou renovadora de pastagens
ou mesmo pela sobressemeadura manual, desde que realizados os
tratamentos prévios necessários.
61
Classe 2Ar: restrita para pastagens anuais (boa para pastagens
perenes) climaticamente adaptadas
62
e fertilizantes sem, contudo, mobilizar o solo. O estabelecimento de
espécies cultivadas somente perenes é possível de forma manual e com
a utilização de animais para pastejo prévio e pisoteio após a semeadura.
A área coberta por esta classe é bastante representativa no Planalto Sul
(Tabela 7) (Figura 7).
63
municípios de Lages, São Joaquim, Bom Jardim da Serra, Capão Alto,
Painel, Bom Retiro, Campos Novos, Curitibanos, Matos Costa, Água
Doce, Abelardo Luz, Campo Erê, Irani, Caçador, Mafra e Campo Alegre.
Em todos os demais municípios do Planalto Catarinense existem áreas de
campos naturais, embora com composição florística e fisionômica
diferentes.
Apesar de já terem sido descritas e identificadas centenas de
forrageiras nativas, pouco se sabe de sua distribuição geográfica, valor
forrageiro, hábitos e ciclo de vida. No entanto, Barreto & Boldrini (1990),
citados por Moraes et al. (1995), relacionaram as de maior potencial
forrageiro para uso atual ou que podem entrar em programas de
melhoramento possibilitando cruzamentos (Tabela 8 e Figura 8).
64
A
65
como macegosos e até as vezes arbustivos, constituídos de espécies de
gramíneas cespitosas de porte alto (...), formando atualmente uma
vegetação disclímax, sob influência direta principalmente dos animais
que, quando não bem equilibrada, poderá degradar essa vegetação ao
ponto de surgirem graves problemas de erosão em alguns solos
(Mohrdieck, 1993).
É tão importante o fator gado em uma pastagem, que se esta for bem
dividida e lotada, transforma-se em pastos baixos e tenros (disclímax),
mas, se abandonada durante alguns anos, dá-se a “regressão”, isto é, a
restauração da flora primitiva com o retorno dos pastos altos e duros
(clímax) (Araújo, 1967).
66
Schyzachyrium, Elyonuros e Trachypogon (op. cit.). A segunda categoria
ocupa a metade mais meridional do RS e o Uruguai, onde espécies de
Axonopus, Coelorhachis, Paspalum, Leersia e Luziola assumem papel de
maior importância.
Mais especificamente para o Planalto Catarinense, Gomes et al.
(1989) fizeram o zoneamento das pastagens naturais a partir de estudos
fisionômicos e propuseram a seguinte classificação (Figura 9):
5 1º50’ 49º10 ’
26 º10’
an á
Pa r
Matos Costa
4 8
Caçador
2
Rio 1 5
G ra Lages
nd 9
e do 12
S ul
13
3
S ão
7
6
Joaquim
28º4 0’
18
As expressões “palha grossa” e “palha fina” dão denominações regionais para os
respectivos tipo de campo.
19
O capim flechilha mais conhecido na Região Serrana é a Stipa melanosperma,
também chamada flechilha negra.
67
(Paspalum notatum). Caracteriza-se por apresentar campo limpo, relevo
de suave-ondulado a ondulado, solos oriundos de rochas intermediárias
e rochas basálticas, raso com afloramento. Áreas 3, 4 e 5.
68
grama forquilha. Solos oriundos de rochas intermediárias (Área 9) e
basálticas (Área 10). Relevo ondulado.
• Campo misto de grama forquilha e barba-de-bode: área
intensamente cultivada (solo e topografia favoráveis) e pastoreada,
apresentando campos baixos, formados com domínio de grama forquilha
e touceiras de capim barba-de-bode. Nos barrancos aparecem indivíduos
de capim mimoso, demonstrando uma alteração fisionômica acentuada
em função dos fatores acima mencionados: solos profundos de origem
basáltica, relevo ondulado. Área 11.
• Campo sujo: predomínio de espécies de carqueja e vassoura,
ocorrendo a grama forquilha no estrato inferior. Área de vegetação
original, provavelmente de mata que foi eliminada para cultivo de
subsistência por alguns anos, seguida por uma utilização secundária
como pastagem. Alterações no uso da área favorecem o desenvolvimento
de vassoural (Bacharis sp.) no estrato superior. Relevo ondulado a
fortemente ondulado, solos profundos de origem basáltica. Área 12.
• Campo palha fina com mata (Figura 11): campo de capim
mimoso, ocorrente em área de topografia acidentada, com floresta de
araucária. Campo sujo, com as seguintes espécies: capim mimoso e
outras espécies do mesmo gênero, grama baixa, grama forquilha, grama
tapete, capim cabelo-de-porco, trevo serrano ou riograndense (Trifolium
riograndensis), babosinhas (Adesmia araujoi, A. ciliata, A. punctata), car-
queja, vassoural e cravo-do-campo (Trichocline catharinensis). Área 13.
69
Destaca-se que o zoneamento realizado por Gomes et al. (1988)
refere-se apenas ao Planalto Catarinense, não estando, portanto, incluídas
as pastagens naturais localizadas no norte e mais a oeste de SC e na
região de Alfredo Wagner.
Quanto à composição botânica dos campos naturais do Sul do
Brasil, diversos autores (Boldrini, 1997) afirmam estar composta de
aproximadamente 150 espécies de leguminosas e 400 de gramíneas.
Boldrini (2002) afirma: “Com base na literatura existente e no
conhecimento de pesquisadores que atuam no bioma campos, acredita-
-se que existam aproximadamente 3 mil espermatófitas (plantas que
produzem sementes) campestres no Sul do Brasil”.
Segundo Duncan & Jarman (1993) citado por Moraes et al. (1995),
espécies de gramíneas e leguminosas, em conjunto com famílias que
incluem exemplares campestres também numerosos, como as compostas,
ciperáceas e outras, ter-se-á um número em termos de biodiversidade
que ultrapassa o total de espécies vegetais encontradas nas florestas
tropicais úmidas. “Esta riqueza florística traz um fato pouco comum ao
registrado no restante do mundo, que é a associação de espécies C4, de
crescimento estival, com espécies C3, de crescimento hibernal” (ibid.).
Pois, segundo Whyte (1974), citado por Rocha (1991), “todas as gramíneas
encontradas em áreas abertas, nas baixas latitudes, são do tipo C4;
espécies do tipo C3 se encontram em ambientes sombrios ou em altitudes
mais elevadas”.
Apenas no Planalto Catarinense já foram encontradas aproxi-
madamente 380 espécies, das quais 80 são de leguminosas (Brandenburg,
1995).
Ainda segundo Moraes et al. (1995), “as pastagens naturais da
Região Sul apresentam uma grande diversidade estrutural, com
predominância de gramíneas e baixa participação de leguminosas”. Estes
mesmos autores também destacam a grande oscilação nos níveis de
produtividade, tanto no tempo, como no espaço, assim caracterizados:
70
botânica e substanciais diferenças de produtividade em função da
dominância de certas espécies.
Brigitte Brandenburg20
20
Eng. agr., M.Sc., Rua Conselheiro Pedreira, 1.300, 89239-300 Joinville, SC, fone:
(47) 424-0577, e-mail: b.brand@zaz.com.br.
71
Tabela 9. Gêneros principais da família Poaceae (= Gramineae) ocorrentes
nos campos do Planalto Sul de Santa Catarina
Andropogon, Agenium,
Schizachyrium, Paspalum, Agrostis, Aristida,
Poeae Axonopus, Panicum, Briza, Bromus,
Paniceae Trachypogon, Gymnopogon, Calamagrostis,
Andropogoneae Chloris, Eryanthus, Ichnanthus, Danthonia, Eragrostis,
Coelorhachis, Setaria, Sorghastrum, Melica, Piptochaetium,
Pseudochinolaena, Digitaria, Poa, Stipa, Sporobolus
Cynodon, Eleusine
Tribos Gêneros
Adesmieae Adesmia
Desmodieae Desmodium
Aeschynomeneae Aeschynomene, Poiretia, Stylosanthes, Zornia
Crotalarieae Crotalaria
Genisteae Lupinus
Phaseoleae Calopogonium, Collaea, Eriosema, Galactia,
Macroptilium, Rhinchosia
Trifolieae Vigna, Medicago(1), Melilotus(1), Trifolium
Vicieae Lathyrus, Vicia
Indigofereae Indigofera,
Tephrosieae Tephrosia
Gêneros introduzidos.
(1)
72
dos primeiros, além do clima em determinadas estações, principalmente
a precipitação e a temperatura.
73
nos quais se verifica o predomínio de Andropogon lateralis e Paspalum
maculosum, igualmente espécies dependentes de elevado grau de
umidade. Nessas áreas, o Andropogon lateralis não forma touceiras,
possivelmente devido à competição exercida por P. maculosum e fatores
ainda desconhecidos.
Quanto à ocorrência de Trifolium riograndense, esta espécie de
vigorosos estolões e pequenas folhas é altamente dependente do manejo
da pastagem e da lotação. Ocorre geralmente nos topos, local de
descanso e observação dos animais, sempre mais pastejados, com alta
freqüência de espécies estoloníferas e rizomatosas. A competição exercida
pelo acúmulo de matéria seca de gramíneas é um impedimento à difusão
desta leguminosa, muito rústica. Em uma pastagem de campo palha fina
onde se observou a ocorrência elevada de T. riograndense, além de
outras leguminosas, a análise do solo coletado revelou pH baixo (4,1),
níveis de fósforo elevados para a região (7 a 9ppm) e níveis de alumínio
de 5 a 7ppm. Observa-se que, apesar da elevada concentração de
alumínio, o fósforo isoladamente pode ter influido na alta freqüência e
difusão desta leguminosa na área.
Com relação às queimadas, aplicadas normalmente em agosto, na
época de intenso crescimento vegetativo de Adesmia araujoi, A. tristis e
Trifolium riograndense, a A. araujoi é a mais afetada, devido aos locais
onde ocorre, as encostas. Dependendo da intensidade da queima, a A.
tristis é bastante afetada, apesar dos locais preferenciais já citados. A sua
sobrevivência depende da exposição de suas coroas à ação do fogo.
Próximo de açudes, estas coroas se elevam devido à variação do nível da
água. Observou-se, através de marcação, que plantas afetadas pela
queima em diferentes locais nas baixadas sobrevivem e voltam a rebrotar.
No entanto, acredita-se que o tempo necessário para recuperação em um
período de clima mais quente e seco na primavera limite o vigor e a
intensidade de florescimento que ocorre de dezembro a fevereiro. O
Trifolium riograndense é pouco danificado pela queima devido aos locais
de estabelecimento já citados acima. Quando atingido por queimadas,
rebrota rapidamente, caso a freqüência de precipitação não imponha
limitações. Outra espécie de inverno, Lathyrus crassipes, talvez esteja
sendo eliminada dos campos naturais devido às queimadas. Esta espécie
inicia seu ciclo vegetativo na época das queimadas, e, como espécie
anual, a sua multiplicação fica impossibilitada pela morte definitiva das
plantas. Este aspecto pode ocorrer com outras espécies nativas anuais
cujo ciclo coincida com essa prática.
As leguminosas de verão dos gêneros Eriosema, Galactia,
Aeschynomene, Desmodium, Macroptylium, Rhinchosia, Crotalaria,
74
Stylosanthes e Tephrosia iniciam crescimento intenso na primavera. As
espécies de florescimento mais precoces são Macroptylium e Tephrosia.
O Desmodium ocorre quase que exclusivamente em campo palha grossa,
onde a Eriosema também ocorre com mais freqüência. Galactia, Rhinchosia,
Crotalaria, Stylosanthes e Aeschynomene, aparentemente, ocorrem nos
diversos tipos de campo de forma dispersa e com baixa freqüência (1%
a 3%) quando comparado às gramíneas. Várias dessas espécies não
atraem o consumo animal. São necessários trabalhos de fenologia e
ecologia para definir níveis de componentes antiqualitativos e fatores
relacionados ao consumo animal. A baixa freqüência relacionada à baixa
fertilidade e manejo são os desafios para a sobrevivência e maior difusão
dessas espécies em campos naturais.
Gramíneas de inverno como as do gênero Bromus, Briza, Poa,
Calamagrostis e Agrostis têm seu desenvolvimento influenciado pelo
acúmulo de matéria seca acumulada de verão, competição por luminosidade
e falta de estímulo ao perfilhamento, em função de inacessibilidade ao
pastejo, pelo abafamento. Submetidas às queimadas, as plantas iniciam
rapidamente a diferenciação floral, em função da exposição a altas
temperaturas, resultando em plantas de poucas folhas em processo
avançado de desenvolvimento vegetativo.
No Tabela 11 são colocados alguns dados de ocorrência de gramí-
neas mais comuns no campo palha fina, associados a aspectos do relevo.
Schizachyrium tenerum
Andropogon ternatus
Schizachyrium tenerum Schizachyrium tenerum Trachypogon montufari
Piptochaetium Paspalum maculosum Paspalum plicatulum
montevidensis Axonopus siccus Schizachyrium
Axonopus compressus Trachypogon montufari microstachyum
Paspalum plicatulum Andropogon selloanus Ichnanthus procurrens
Paspalum notatum Ichnanthus procurrens Axonopus siccus
Eragrostis polytricha Aristida flaccida Piptochaetium
Eragrostis polytricha montevidensis
Andropogon selloanus
Paspalum notatum
Eragrostis polytricha
75
Observou-se neste tipo de campo, na Coxilha Rica, que áreas em
topos com solos rasos, ou seja, em torno de 40cm de profundidade,
apresentam predomínio de Schyzachyrium tenerum, Ichnanthus procurrens
e Eragrostis polytricha, Paspalum maculosum, Axonopus siccus e
Trachypogon montufari. Por outro lado, topos com camada de solo com
mais de 1m de profundidade apresentam vegetação com dominância de
Axonopus compressus, seguido de S. tenerum, Paspalum montevidensis,
P. plicatulum, P. notatum, P. barretoi e Panicum sabulorum. Em encostas
íngremes, escarpadas e com afloramentos de rocha, predominam
Schizachyrium tenerum e Axonopus siccus. No campo palha fina, na
região de Água Doce, onde o relevo de uma forma geral é ondulado ou
suave-ondulado, a composição da vegetação é similar ao da região de
Lages, como também suas características químicas. O que se diferencia
é a freqüência mais alta de leguminosas, especialmente de Adesmia
tristis. Além disso, a densidade da vegetação é aparentemente maior, e
sobre ela o relevo suave pode exercer maior influência. No entanto, são
observações que necessitam de estudos mais detalhados.
Na região de Urupema, com aproximadamente 1.200 a 1.400m de
altitude, as pastagens apresentam grandes variações em suas
composições. No entanto, uma área avaliada (Tabela 12) apresenta
característica de pastagem natural com seus grandes afloramentos
rochosos em forma de cone.
76
A dominância de Paspalum barretoi nos topos sobre as demais é
acentuada, o que se observa em todas as regiões de maior altitude.
Paspalum maculosum também domina sobre S. tenerum nas encostas e
baixadas. Eragrostis polytricha ocorre com boa freqüência em encostas
e baixadas. Esta espécie, amplamente distribuída em todos os gradientes
topográficos, altitudes e tipos de campo, chama a atenção pela resistência
de suas plantas às geadas e à seleção pelos animais neste período.
O campo palha grossa, caracterizado pelo desenvolvimento de
Andropogon lateralis em grandes touceiras, com abundância de colmos
alongados e forragem muito fibrosa na fase de maturação, apresenta um
estrato herbáceo (Tabela 13) com plantas prostradas como Paspalum
notatum, Axonopus compressus, Axonopus affinis e Paspalum plicatulum.
Destaca-se pela freqüência de diversos gêneros e espécies de
leguminosas, com desenvolvimento mais vigoroso em relação ao campo
palha fina. Entre os gêneros mais comuns de leguminosas, estão
Desmodium, Eriosema e Aeschynomene.
Espécies
77
período de seca juntamente com altas temperaturas. Eragrostis polytricha,
apesar do estágio florescimento, neste período ainda apresenta valores
bons de digestibilidade. A espécie deve ter a qualidade avaliada em
períodos anteriores, e da mesma forma P. montevidensis. Paspalum
compressifolium destacava-se pelo fato de os animais a procurarem com
freqüência nas baixadas, onde formava diversas manchas. Observam-se
valores altos de Ca e digestibilidade para o período de coleta. As
avaliações preliminares de qualidade indicam que devem ser associadas
às coletas variáveis como queima, temperatura e precipitação, e
observações da preferência animal, independente do aspecto eventual-
mente grosseiro das espécies.
..........................%..........................
78
mesmas. Leite & Klein (1990) utilizam a expressão savana21 para referir-
-se a campos naturais e não fazem nenhuma menção a pastagens
naturalizadas.
De acordo com Klein (1980), as pastagens artificiais22 (naturalizadas)
representam aproximadamente 30% das áreas utilizadas para lavouras
no Vale do Itajaí (Tcacenco & Pillar, 1988 estimaram em 25%, incluindo
o Litoral Norte). Se no resto do Estado ocorrer o mesmo, e não deve haver
uma variação significativa, como em 1994 havia 2.125.158ha (IBGE,
1996b) de lavouras das principais culturas, e as lavouras temporárias em
descanso tenham se mantido no mesmo patamar de 1985, ou seja,
324.988ha (Censo Agropecuário, 1985), as pastagens naturalizadas de
Santa Catarina ocupam uma área aproximada de 735 mil hectares.
A Fundação do Meio Ambiente – Fatma –, após quatro anos de
estudos, divulgou, em meados de 1996, “A avaliação quantitativa dos
remanescentes da cobertura vegetal de Santa Catarina, considerando as
diferentes formações fitoecológicas23”. Por essa avaliação, a área atual
dos campos naturais atinge 1.324.705ha o que corresponde a 13,89% da
área total do Estado (Tabela 15).
21
Segundo Ferreira (1995) (Dicionário Aurélio), savana “são planícies tropicais de
longa estação seca, com vegetação caracterizada” por dois estratos: um estrato
baixo, dominado por gramíneas, com subarbustos de folhas grandes e duras e outro
formado por árvores de porte baixo, retorcidas e afastadas entre si, de cascas
grossas e fendidas. Para Marchiori (2002), “savanas são vegetações típicas de
países tropicais, cujo clima é marcado pela vigência de uma estação seca”.
Complementa que essa denominação se mostra inadequada em regiões de
predominância de gramíneas baixas na vegetação e da vigência de clima Cfb. Da
mesma forma, não concorda com o termo estepe, que se vincula a ambientes de
escassa umidade, resultando numa vegetação rala, em que a maioria das plantas
exige adaptações xerófitas.
22
Segundo o autor, estas pastagens passaram a ocupar áreas de planícies após o
abandono devido à “exaustão dos solos (...) e aquelas contíguas as habitações
(principalmente de encostas), uma vez que aí se encontram os terrenos mais
empobrecidos. São utilizadas essencialmente espécies nativas de SC”, com
predominância dos gêneros Axonopus sp. e Paspalum sp.
23
"A quantificação dos remanescentes da cobertura vegetal de SC foi obtida com a
aplicação de técnicas de geoprocessamento apoiadas pelo Sistema Geográfico de
Informações desenvolvido pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais
– Inpe –, permitindo a digitalização das cartas temáticas, superposição de análise
quantitativa de resultados”. Preliminarmente, foram realizados estudos comparativos
entre o mapa fitogeográfico de SC (Klein, 1978) e o mapa da vegetação, elaborado
pelo Projeto Ramdam-Brasil/IBGE – 1986, que utiliza o novo sistema ecológico de
classificação da vegetação brasileira” (Fatma, 1996).
79
Tabela 15. Avaliação quantitativa estimada da cobertura vegetal e as
principais formações fitoecológicas de Santa Catarina
80
337.655ha foram substituídos por florestamento ou lavouras, conforme
cálculos realizados a partir de dados de Ritter & Sorrenson (1985) e dos
Censo Agropecuário (1970, 1979, 1983 e 1997). As principais alterações
ocorreram – e estão ocorrendo de forma intensa – nos Campos de Lages
(florestamento, fruticultura, bataticultura e grãos), nos Campos de
Curitibanos (florestamento, alho e grãos) e nas proximidades de Abelardo
Luz e Campo Erê (grãos), localizados no Oeste.
Com a finalidade de comparar as informações citadas anteriormente
– sintetizadas na Tabela 16 – com as existentes nos municípios, foi
realizado por Córdova (1997) um levantamento nos escritórios locais e
regionais da Epagri e secretarias municipais de agricultura, que consistia
em preencher um formulário pré-elaborado. As principais conclusões
desse cotejamento são:
.................................................ha........................................................
(1)
As informações referem-se ao Censo Agropecuário (1997); as pastagens naturalizadas
estão incluídas em naturais e as anuais em perenes, como pastagens cultivadas.
(2)
Informações obtidas do relatório anual do Instituto Cepa 85/86 e Acaresc (s.d.). Também as
pastagens naturalizadas estão somadas às nativas. As capineiras foram incluídas em pastagens
perenes cultivadas.
(3)
As duas fontes consideraram, embora em épocas bem distintas, que a superfície forrageira
atinge 28% da área total de SC.
(4)
Esse levantamento não se refere à área total dos campos naturais de SC.
(5)
O total de campos naturalizados foi obtido a partir da informação do autor de que
aproximadamente 30% da área desmatada em SC está ocupada por esse tipo de vegetação.
(6)
Informações obtidas junto aos escritórios regionais e locais da Epagri em SC, sem distinção
entre naturais e naturalizadas.
81
• A superfície forrageira encontrada em SC está em torno de 28%,
confirmando as informações de Grumann et al. (1977) e Moser et al.
(1994).
• As áreas de campos naturais e de naturalizados levantados
alcançam 2.047.219ha, aproximando-se da citação de Vincenzi (1994)
(Figura 13).
82
Em função da importância da determinação da área com superfície
forrageira para SC, visando a ações de planejamento e políticas futuras
para a produção animal, estudos mais detalhados são necessários.
83
Figura 14. A cobertura vegetal dos campos naturais há milhões de anos
protege o solo, evitando a erosão e a degradação ambiental
84
essa atividade está sendo implantada em escala crescente nas pastagens
de Lages, as mais extensas de Santa Catarina. Esta situação está
retratada na Tabela 18, na qual se pode observar que num espaço de
apenas 15 anos, 27,7% dos campos naturais da Mesorregião Serrana
foram transformados em lavouras e florestamento. Nessa área geográfica,
no período de 1970 a 1995, foram florestados 127.527ha. E como os
dados trabalhados pertencem ao Censo Agropecuário de 1995-1996,
certamente esse percentual (27,7%) é bem mais expressivo, devido à
intensificação, nos últimos anos, do florestamento, da expansão de alho
(Curitibanos), de cereais (Campos Novos, Lages, Campo Belo e arredores),
de maçã e batata (São Joaquim, Bom Jardim e Urupema), entre outros
cultivos menos expressivos. Embora a fruticultura não se tenha consolidado
nos Campos de Curitibanos, principalmente junto aos pequenos
agricultores, essas áreas não voltaram a ser usadas como campos. “O
ecossistema pastagens naturais, que precisa ser preservado a qualquer
custo, está sujeito a pressões sociais e econômicas que nem sempre
respeitam a ecologia.(...) Assim, precisamos torná-lo mais produtivo, sob
pena de ser atropelado por um tipo de exploração inconseqüente”
(Jacques, 1993).
Conforme o IBGE (1997), em 1995 51,8% das terras na Região da
Amures estavam ocupadas por pastagens naturais, perfazendo um total
de 738.244ha. Dados de Ritter & Sorrenson (1985) registram que no
início da década de 80 esse percentual era de 64%. A única maneira de
frear essa substituição dos campos naturais é aumentando a sua
produtividade, tornando-os economicamente viáveis e sua utilização
socialmente mais justa. Mas este objetivo somente será alcançado com a
geração e difusão de novas tecnologias, que devem considerar a
biodiversidade genética existente, que está sendo reduzida pelas atividades
silvo-agrícolas mencionadas.
Segundo Nabinger (2002), a substituição do agroecossistema
campos naturais por outras atividades no Sul do Brasil nos últimos 40
anos alcança uma taxa de 130 mil hectares por ano, o que corresponde
ao desaparecimento de 5,2 milhões de hectares de pastagens naturais,
razão pela qual “É urgente incrementar ações multidisciplinares para a
melhor compreensão dos mecanismos que governam o seu funcionamento,
como forma de gerar mais subsídios para justificar e garantir sua
preservação”.
Os campos naturais do Planalto Catarinense, apesar da expansão
da bovinocultura em outras regiões do Estado, ainda continuam sendo a
principal alternativa para esta atividade em Santa Catarina e o mais
importante recurso forrageiro de que se dispõe.
85
Tabela 18. Uso da terra na Mesorregião Serrana de SC (Campos de Lages + Campos de Curitibanos) e as
mudanças ocorridas desde 1970
Culturas Florestas
Situação e Campos
Ano
mudanças de 1970 a 1995 naturais
Perene Anual Nativa Exótica
...............................................ha................................................
86
1975 1.071.920 2.687 129.666 448.089 90.366
1980 1.019.879 6.608 182.964 425.879 131.269
1985 973.343 8.017 191.649 417.128 156.727
1995 900.590 11.331 168.110 393.750 180.047
Fonte: Ritter & Sorrenson (1985) e Censo Agropecuário (1970, 1979, 1983 e 1997).
O único que dispensa sementes, fertilizantes e economiza mão-de-obra,
combustível, máquinas e instalações e, muito pouco depende das
condições climáticas, pois a despeito do inverno de todos os anos, bois
e vacas de descarte são abatidos durante a estação quente e a cada
primavera o ciclo da pecuária reinicia com o nascimento de novos animais
(Gomes da Rocha, 1993).
............................cab...........................
Matos Costa, Água Doce, Caçador, Irani, Campo Erê, Abelardo Luz e Campo
(1)
Alegre.
Fonte: Censo Agropecuário (1997) adaptado.
87
É necessário esclarecer que em todas as microrregiões e municípios
onde há ocorrência de campos naturais, também há presença de campos
naturalizados, mesmo que em proporção menor. Portanto, na manutenção
dos rebanhos relacionados na Tabela 19, há participação de pastagens
naturalizadas, como de forrageiras cultivadas, principalmente anuais de
inverno.
Ao contrário do que normalmente se supõe, na Região Serrana há
um grande número de propriedades pequenas. Destas, 68% possuem
até 50ha, embora possuam apenas 8% do total da área; 81% possuem até
100ha, acumulando 22,5% da área. A estratificação completa encontra-
se na Tabela 20.
88
quanto à sua representatividade para toda a região. Deve-se considerar
que em muitas propriedades o rebanho possui aptidão para corte e
apenas em alguns meses das estações quentes o excesso da produção
de leite24 (de algumas matrizes) é comercializado, principalmente sob
a forma de queijo serrano, aproveitando-se o pico de qualidade da
pastagem nativa. Estes sistemas devem ser enquadrados como “de gado
de corte”, pois, todo o manejo, seleção, cruzamentos e comercialização
estão voltados a tal finalidade.
A diversidade de espécies e a variabilidade dos recursos genéticos
dos campos naturais, desde que estudados e bem aproveitados, poderão
ser fundamentais para a pecuária do Sul do Brasil, viabilizando-a
definitivamente. Em diversos países se cultivam forrageiras nativas do
cone sul da América. “É chocante que em outros países se cultivam
Paspalum dilatatum, P. notatum, P. urvillei, Axonopus compressus, Bromus
unioloides, Cortaderia selloana e outras forrageiras que aqui (Uruguai)
não se cultivam’’ (Rosengurt et al., 1970, citado por Vincenzi, 1987).
Segundo Vincenzi (1987), o desenvolvimento da pecuária
fudamentada em pastagens nativas é uma alternativa muito mais
interessante para a produção animal no Brasil, pois se trata “de um
caminho menos dependente de insumos e tecnologia importada e é uma
forma de preservar um patrimônio nacional, cuja riqueza ainda está para
ser avaliada”.
Assim, talvez, mais importante que a contribuição atual dos campos
naturais para a economia de Santa Catarina é a possibilidade concreta de
essas áreas virem a ser mais bem utilizadas, através de técnicas
sustentáveis, que resultem em evolução da renda e da qualidade de vida
do produtor.
24
Normalmente, apenas algumas matrizes (as mais leiteiras) são ordenhadas
(esgotadas), uma vez por dia, até o bezerro “vencer” o leite.
89
estagnados há décadas, principalmente quando comparados ao avanço
da suinocultura e avicultura, não anima os poderes públicos a investirem
no setor. Mas esse não é um problema específico de SC. O pesquisador
Afonso Simões Corrêa, da Embrapa-CNPGC, já em 1986 chamava a
atenção para a questão, em nível nacional, e lembra que se não tivesse
ocorrido uma evolução dos indicadores técnicos, o rebanho brasileiro não
poderia crescer, em média, 3% ao ano, como indicam os Censos
Agropecuários realizados entre 1940 e 1980 25.
cabeças.
90
• Pessoas que conhecem bem a situação “a campo”, especialmente
no Planalto Catarinense, afirmam desconhecer (com algumas exceções)
criadores que, por exemplo, abatam aos 48 meses, entourem apenas aos
três anos e tenham índices de natalidade de 50%.
• Algumas propriedades que usam sistema de registro alcançam
indicadores mais altos, embora, normalmente, sejam as mais tecnificadas
e bem administradas.
• Mesmo pequenas propriedades que enfrentam dificuldades de
escala, de falta de capital e que utilizam um padrão mínimo de tecnologia,
alcançam esses índices considerados como média catarinense.
• Informações obtidas junto a produtores pelo Programa de Gestão
Agrícola desenvolvido pela Epagri revelam indicadores bem superiores
aos considerados “oficiais”.
Um indicador que é baixo, mas sobre o qual não há muita divergência,
é a produtividade dos campos naturais, que se situa entre 40 e 50kg de
peso vivo por hectare por ano (PV/ha/ano). No entanto, este valor
representa o balanço anual obtido pelo sistema tradicional, ou seja, a
diferença entre o que os animais ganham na primavera-verão (pois as
espécies forrageiras dos campos naturais do Sul do Brasil são
predominantemente de crescimento estival) e a perda no outono-inverno,
como demonstram as Figuras 15 e 16.
A maior polêmica é quanto ao verdadeiro desfrute26. Na tentativa de
aproximar esse índice da realidade, pelos dados do Censo Agropecuário
(1997) chegou-se à conclusão que é de aproximadamente 19,3% para SC
e 19,1% para o Planalto Catarinense (Tabela 21). Registra-se que esses
dados são relativos, pois consideram o número de cabeças e não estão
convertidos para unidades de peso vivo (carcaça ou UA). Porém, como os
animais vendidos e abatidos normalmente são adultos (para consumo de
carne), portanto mais pesados que a média do rebanho, a transformação
tenderia a elevar os índices de desfrute estimados.
Outra maneira de estimar o desfrute é através da produção interna
de carne bovina no Estado. Conforme a Síntese Anual da Agricultura de
Santa Catarina (2002), em 2002 foi de 124 mil toneladas, ou o equivalente
a 537.200 cabeças; como o rebanho em 2002 era de 3.085.814 (Anualpec,
2002), chega-se a uma taxa de extração de 17,4%. Se considerarmos que
nesse ano foram abatidos para consumo nas propriedades animais no
mesmo índice de 1995, ou seja, 5,1%, o que representa 157.110 animais,
26
Entendendo como desfrute a taxa de extração (animais vendidos + consumidos)
incorporada do crescimento vegetativo do rebanho.
91
o desfrute alcança 22,5%27. Portanto, um indicador superior àquele
encontrado a partir dos dados do Censo Agropecuário de 1995-1996.
1.200
1.000
800
600
400
Ganho diário /g
200
-200
-400
-600
-800
-1.000
Set. Out. Nov. Dez. Jan Fev. Mar. Abr. Maio Jun. Jul. Ago.
92
30
25
20
15
kg/animal
10
5
0
-5
-10
-15
Lote A Lote B Média A+B
Fonte: Souza, A.P.; Ramos, C.I.; Belatto, V.; Dalagnol, C.A. (dados não
publicados).
Figura 16. Ganhos de pesos médios mensais de dois lotes de novilhos
(A e B) em campo nativo tipo palha fina. Local: Coxilha Rica – Lages. Média
de três anos: 1994, 1995 e 1996
Total
Microrregião e
Santa Catarina
Efetivo Vendidos Abatidos Desfrute
(cab.) (cab.) (cab.) (%)
93
Com base nos dados do Anuário Estatístico da Produção Animal de
2003 (Anualpec, 2003), que cita a taxa geral de abate de SC, e da
publicação Números da Agropecuária Catarinense (2003), é possível
calcular o desfrute do Estado para os últimos três anos (2000 a 2002),
que, em média, resulta em 18,6% (Tabela 22).
Abate animais
Taxa geral Desfrute
Ano Rebanho importados
de abate (%)
(%)
No %
do Sul.
94
Sobre a natalidade, os dados divulgados pelo Anualpec (2003)
permitem calculá-la utilizando-se as seguintes informações sobre o
efetivo do rebanho: vacas e novilhas de dois a três anos existentes em
2001, 975.141 e 195.858, respectivamente. Como no ano seguinte havia
804.472 terneiros(as) até um ano, obtém-se uma taxa de natalidade de
68%. Porém, o Anualpec (2003) informa que 36,5% do rebanho catarinense
é de aptidão leiteira; como as novilhas com essa aptidão são cobertas com
menos de dois anos, o que representa mais 132.967 fêmeas entouradas
ou inseminadas, a taxa de natalidade fica ajustada para 61,7%.
Os dados da campanha contra a febre aftosa, desenvolvida pela
Cidasc, também permitem estimar a taxa de natalidade, principalmente
em função de sua grande representatividade (obtidos de forma direta
junto a aproximadamente 180 mil produtores). O relatório final da
Campanha de Abril de 1996 indica a existência de 507.184 terneiros(as)
e de 1.087.210 fêmeas com mais de dois anos de idade. Considerando
que nas últimas etapas o rebanho se tem mantido estável e com proporção
semelhante de matrizes, ainda que o descarte seja de 22,6%, a taxa de
natalidade fica em 60,3%.
Os dados referentes ao desfrute e à taxa de natalidade, estimados
ou calculados a partir das fontes citadas, encontram-se resumidos na
Tabela 23 e Figura 17. Destaca-se a uniformidade dos valores encontrados,
pois a diferença entre o menor e o maior indicador encontrado foi de
23,6% para o desfrute e de 9% para a taxa de natalidade.
Sobre a atividade leiteira, como não há distinção nítida entre os
rebanhos das diversas aptidões, estão incluídos dados de gado misto ou
mesmo de corte29 na produtividade média da produção leiteira. O que não
ocorre com outros países que mantêm maior controle sobre seus rebanhos.
Dessa forma, é muito difícil estimar a produção dos rebanhos selecionados
para esta finalidade, pois as informações disponíveis consideram
simplesmente a produção total de leite em função do número de vacas
ordenhadas.
Segundo o Instituto Cepa/SC (1996), em 1993 a produtividade foi
de 1.168kg/vaca/ano, sendo ordenhadas 629.709 vacas; como em 1995
havia 628.184 terneiros(as) (Anualpec, 1996) e como no referido período
não deve ter ocorrido alteração significativa no rebanho30, o número de
vacas de cria existentes também deve ter-se mantido estável. Conclui-se
que praticamente todas as matrizes em lactação foram ordenhadas e
entraram na estatística, incluindo aquelas de aptidão para corte.
29
Em todo o Planalto Catarinense é comum vacas de corte serem ordenhadas no
período da manhã, durante os meses de primavera-verão.
30
De 1993 a 1995, o efetivo de bovinos passou de 3.016.752 para 3.054.444.
95
Tabela 23. Desfrute e taxa de natalidade estimados para SC segundo
diversas fontes bibliográficas
Desfrute Natalidade
Índice calculado pelo Instiuto Cepa/SC, a partir dos Censos Agropecuários de 1980
(2)
e 1985.
96
O Projeto de Gestão Agrícola desenvolvido pela Epagri obteve
informações em 600 propriedades rurais em todas as regiões de SC. Os
principais índices técnicos registrados estão expressos de forma resumida
na Tabela 24. Mais uma vez mostram dados muito diferentes daqueles
divulgados como “oficiais”. Trata-se de um número pequeno de
propriedades (aproximadamente 0,3% do total do Estado), embora o
Projeto tenha como uma de suas premissas básicas trabalhar com
propriedades típicas de cada atividade. Deve-se considerar, ainda, que
os beneficiários recebem assistência permanente e participaram de
treinamento profissionalizante em administração rural e sobre as principais
atividades formadoras da renda da propriedade. Isto certamente tem
grande influência para o alcance de tais índices, principalmente por que
os resultados se referem à média das 25% melhores propriedades em
desempenho, considerando lucro por hectare nos diversos sistemas
analisados.
Os índices da Tabela 24 certamente estão acima da média do
rebanho catarinense, mas são importantes por dois motivos: primeiro, por
demonstrarem bem o potencial da bovinocultura de SC, quando os
produtores recebem assistência técnica e capacitação; segundo,
evidenciam a importância de se trabalhar com dados adequados às
atividades, pois a simples separação em bovinos misto e de leite muda
completamente a significância dos valores de produtividade. Informações
sobre produção leiteira, sem considerar a aptidão dos rebanhos, tem uma
validade questionável para planejamento e formação de políticas para o
setor.
(1)
O desfrute foi calculado “dividindo-se o crescimento vegetativo do rebanho em kg
pelo peso em kg no início do período, multiplicado por 100. Crescimento vegetativo
do rebanho = kg vendidos - kg comprados + kg final - kg inicial + kg de autoconsumo”
(Epagri, 1996).
(2)
Alguns dados que apresentavam desfrute superior a 30% e taxa de natalidade
superior a 90% foram desconsiderados para bovinos misto e de corte.
Fonte: Adaptado da Epagri (1997).
97
Quanto à idade de cobertura e de abate, na maioria das
propriedades se situa no intervalo de 24 a 30 e de 30 a 42 meses,
respectivamente, embora não haja informações estatísticas que confirmem
estes patamares, pois propriedades que utilizam pastagem cultivada ou
melhorada obtêm índices bem melhores, principalmente quanto à idade
de terminação, que não ultrapassa 24 meses.
Em função dos dados apresentados, os principais indicadores
técnicos da bovinocultura de SC, se ajustados para os seguintes valores,
deverão expressar de maneira mais fiel a realidade:
• Desfrute: 18,6% a 19,3%.
• Taxa de natalidade: 60% a 62%.
• Idade de entoure: 24 a 30 meses.
• Idade de abate: 30 a 42 meses.
• Produção de leite (kg/vaca/ano): embora não se disponha de
dados com maior precisão para o Estado de SC, tendo como base os indi-
cadores do Projeto Gestão Agrícola executado pela Epagri, estima-se:
– Aptidão mista: 1.500.
– Aptidão leite: 3.415.
Apesar da evolução ocorrida nas últimas décadas, continuam
sendo indicadores baixos, necessitando ser incrementados rapidamente
para que a bovinocultura catarinense se torne sustentável.
98
8. ARAÚJO, A.A. Melhoramento das pastagens. 2.ed. Porto Alegre: Ed.
Sulina, 1967. 259p.
99
17. CENSO AGROPECUÁRIO 1975: Santa Catarina Rio de Janeiro:
IBGE, 1979.
100
28. FONSECA, J.C.S. Pecuária de corte, possibilidade de melhoramento.
Lages: Acaresc, 1969. 14p. (Mimeografado).
32. GRUMANN, A.; BUFFON,R. L.; SANTA CATARINA, W.; KIEHN, O.L.;
ZAGUINI, R.A. Diagnóstico da bovinocultura catarinense. Florianópolis:
Aesc/Acaresc/UFSC, 1977. 203p.
101
40. KLEIN, R.M. Mapa fitogeográfico do Estado de Santa Catarina. Itajaí,
SC: Sudesul/Fatma/HBR, 1978. 24p.
42. LEITE, P.F.; KLEIN, R.M. Vegetação. In: IBGE. Diretoria de Geociências.
Geografia do Brasil: região Sul. Rio de Janeiro, 1990. p.113-150.
49. MOREIRA, A.A.N.; LIMA, G.R. Relevo. In: IBGE. Geografia do Brasil:
Região Sul. Rio de Janeiro, 1977. p.1-34.
102
51. NABINGER, C. Técnicas de melhoramento de pastagens naturais no
Rio Grande do Sul. In: SEMINÁRIO SOBRE PASTAGENS “DE QUE
PASTAGENS PRECISAMOS”, 1980, Porto Alegre, RS. Anais... Porto
Alegre: Farsul, 1980. p.28-58.
103
60. RITTER, W.; SORRENSON, W.J. Produção de bovinos no planalto
de Santa Catarina, Brasil; situação atual e perspectivas. Eschborn,
Alemanha: GTZ/Empasc, 1985. 172p.
104
70. UBERTI, A.A.A.; BACIC, I.L.Z.; PANICHI, J.A.V.; LAUS NETO, J.A.;
MOSER, J.M.; PUNDEK, M.; CARRIÃO, S.L. Metodologia para
classificação da aptidão de uso das terras do Estado de Santa
Catarina. Florianópolis: Epagri, 1992. 19p.
105
106
2 Introdução de espécies em campos naturais
Nelson Eduardo Prestes31
Ulisses de Arruda Córdova32
31
Eng. agr., M.Sc., Epagri/Estação Experimental de Lages, C.P. 181, 88502-970
Lages, SC, fone/fax: (49) 224-4400, e-mail: prestes@epagri.rct-sc.br.
32
Eng. agr., M.Sc., Epagri/Estação Experimental de Lages, e-mail: ulisses@epagri.rct-
sc.br.
107
principalmente leguminosas, que necessitam da adição de corretivos e
fertilizantes, juntamente com a subdivisão, o pastejo rotativo e o diferi-
mento, que permitiram dobrar a capacidade de suporte da propriedade.
Composição da pastagem
....................%.....................
Azevém perene 4 28
“Browntop” (Agrostis tenuis) 23 16
Total de gramíneas 63 70
Trevo branco 4 19
Total de trevos 6 28
“Catsear” (Hypochaeeris radicata) 16 0
Total de invasoras 20 1
Solo desnudo 11 0
Produção de forragem
Lotação
108
• O ganho médio diário (GMD) e a produção de leite por vaca têm
mostrado uma relação positiva com a proporção de leguminosas na
pastagem, tanto temperadas como tropicais.
• Alto teor de PB das leguminosas, que se mantém ao longo do ano,
apresenta uma vantagem considerável sobre uma pastagem somente de
gramíneas, cujo teor de PB é mais difícil de manter, a menos que a
adubação nitrogenada seja freqüente e acompanhada de ajustes na
pressão de pastejo (PP).
Ainda, segundo Jacques (1995), nas áreas melhoradas houve o
surgimento e aumento de espécies forrageiras de melhor qualidade,
como pega-pega (Desmodium incanum e D. triarticulatum), grama forquilha
da folha larga (Paspalum notatum var. latiflorum), trevo riograndense
(Trifolium riograndense), trevo campestre (Trifolium campestre), cevadilha
vacariana (Bromus auleticus), cabelo-de-porco (Piptochaetium
montevidense), Paspalum paniculatum L., Paspalum dilatatum Poir., entre
outras, como mostra a Figura 18. Esta verificação está de acordo com Pott
(1974), que, em trabalho realizado na Estação Experimental Agronômica
– EEA – da UFRGS, constatou que o aumento da fertilidade, além do
ocorrido em André da Rocha, também provocou o desaparecimento da
maioria das andropogoneas e de todas as espécies do gênero Aristida,
grupos de espécies consideradas de pouco valor forrageiro.
109
É importante frisar que, no primeiro ano após a implantação, o
rendimento de uma pastagem melhorada com a introdução de espécies
exóticas, através de sobressemeadura ou cultivo mínimo, certamente
não é comparável ao obtido com o preparo convencional. No entanto, a
partir do segundo ano, a produtividade aumenta (Barreto et al., 1978;
Nabinger, 1980; Jacques, 1993; Vincenzi, 1994) e ao longo dos anos pode
superar a dos cultivos convencionais. Possui ainda a vantagem de o custo
por unidade de MS produzida ser menor (Carámbula, 1994), visto que o
custo de implantação do melhoramento é de aproximadamente um terço
em relação ao dos cultivos convencionais (Jacques, 1993).
110
• A definição de um manejo anterior e posterior para a área que
receberá semeadura superficial é muito importante, pois se correlaciona
com o método de semeadura que será empregado.
• A germinação dependerá, além da umidade, do contato da
semente com o solo, que também está na dependência do manejo da área
e do método a ser empregado.
O fator inicialmente mais decisivo é a condição do microambiente na
superfície do solo, à qual as sementes ficam expostas após a distribuição,
principalmente disponibilidade de água, umidade e ventos dessecantes
(White, 1981; Vincenzi, 1994). Para se conseguir um bom estabelecimento
das espécies a serem introduzidas, é necessário um período úmido e com
temperaturas adequadas para a germinação. Portanto, as melhores
condições ocorrem quando a superfície do solo está freqüentemente
úmida. Isso requer períodos chuvosos e evaporação baixa. Serenos
fortes e neblinas intensas contribuem para o êxito dessa prática.
Em áreas extensivas, a viabilidade de manejar ou aumentar o
suprimento de água no solo é bastante remota. Porém, é possível
melhorar a eficácia de utilização de água disponível no solo da seguinte
forma (McWilliam & Dowling, 1970; citados por Vincenzi, 1974):
– Aumento no contato efetivo entre a semente e o solo.
– Utilização de revestimento absorvente na semente, como a
inoculação e a peletização.
– Manutenção de cobertura vegetal para atuar como uma camada
protetora, reduzindo as perdas de água por evapotranspiração e
proporcionando condições mais favoráveis de umidade no ambiente
próximo à semente.
A necessidade de reduzir a competição exercida pela flora nativa
não significa que esta deva ser eliminada. Ao contrário, um dos princípios
mais importantes do melhoramento sustentável dos campos naturais é a
preservação das forrageiras nativas, em função do potencial econômico,
ecológico e genético que representam.
2.2 Época
111
(Vincenzi, 1994). Em experimento conduzido na Epagri/Estação
Experimental de Lages – EEL –, Ritter & Sorrenson (1985) relatam que a
sobressemeadura foi realizada no mês de julho, exatamente para atender
às razões expostas anteriormente (Figura 19).
112
Rufino, que possuem maior precipitação e umidade relativa superior
devido à proximidade com a Serra Geral. Nesses municípios, devido às
baixas temperaturas do solo no inverno, a germinação das sementes é
vagarosa e o crescimento das espécies é extremamente lento no início,
com risco de as plântulas serem crestadas e até levadas à morte por
temperaturas abaixo do tolerável. Estes fatos foram verificados com o
cultivo tradicional de alfafa, durante o inverno, em Urupema. Nestas
condições, a melhor alternativa é que a semeadura seja feita no final do
inverno, quando as temperaturas começam a se elevar.
113
Tabela 26. Efeito da época de semeadura sobre o estabelecimento de
trevo branco em Mt Burke e Otago Central, Nova Zelândia
Julho 33
Agosto 38
Setembro 10
Outubro 5
Novembro 3
114
Rhizobium (Vincenzi, 1994), que promoverão a fixação de nitrogênio e a
liberação de cátions importantes para a própria associação desses
microrganismos com as leguminosas.
Países como o Uruguai e a Nova Zelândia têm aplicado a tecnologia
de melhoramento de pastagens naturais com sucesso, conseguindo
melhorar extensas áreas. Na Nova Zelândia, o melhoramento foi realizado
em 4,5 milhões de hectares, principalmente em regiões montanhosas,
com aplicação de calcário, adubos e sementes, com o uso do avião.
..................................%....................................
Nitrogenados 50 a 70 até 100
Fosfatados 15 a 35 30 a 45
Potássicos 25 a 50 55 a 85
115
Tabela 28. Reservas de nutrientes conforme a profundidade do solo
Profundidade P2 O5 K 2O
(cm)
....................mg....................
0a5 9,5 27,8
5 a 10 6,1 20,7
10 a 15 4,1 11,5
15 a 20 3,5 12,0
P2O5 K20
Profundidade
(cm)
Sem Com Sem Com
...............................kg/ha..................................
0a3 27 166 41 166
3a6 9 19 20 48
6a9 6 9 19 23
9 a 12 4 6 17 18
12 a 15 4 4 17 16
15 a 18 3 4 16 15
18 a 21 2 3 15 14
116
Tabela 30. Massa de raízes em função da profundidade e da concentração
de P2 O5 e K2 O
• A densa massa radicular, ativa durante quase todo o ano, faz com
que a lixiviação de nutrientes seja, em geral, menor que nos solos
lavrados.
• O bom crescimento das pastagens não depende, em princípio, de
uma grande elevação do pH, já que se desenvolvem em solos de
moderados a acentuadamente ácidos.
São muitos os argumentos e trabalhos de pesquisa, apresentados
por Klapp (1977), que justificam a aplicação de corretivos e fertilizantes
em cobertura. Entre estes, os resultados de dois se destacam: o de
Schimitt (1934), que somente encontrou aumento sensível de nutrientes
até 10cm de profundidade, após 24 anos de ensaios com fertilização; o
de Van Lieshout (1959), confirmou a absorção muito pequena, através
das raízes, de P radioativo colocado até 30cm de profundidade, e a
absorção máxima nos 3cm superficiais. Conclui-se então, que as reservas
de nutrientes nas camadas mais profundas não oferecem qualquer
atrativo às raízes, para que penetrem mais profundamente.
Os resultados apresentados por Klapp (1977), logicamente, foram
obtidos em condições muito diferentes do Planalto Catarinense, tanto nas
relações edafoclimáticas, como na composição florística das pastagens.
O importante é salientar que a dinâmica da fertilidade em áreas ocupadas
com forrageiras permanentes não é a mesma de culturas anuais,
implantadas através do preparo convencional. Portanto, se os princípios
de cultivo são diferentes, é aceitável que as recomendações também
sejam outras.
Os estudos apresentados anulam o principal argumento para a
não-aplicação de calcário e fósforo em superfície, que é a pequena
mobilidade no solo. Além disso, as raízes das plantas, os microrganismos
e a fauna existentes no solo são importantes na movimentação dos
nutrientes.
117
A aplicação de corretivos e fertilizantes afeta freqüentemente a
composição botânica das pastagens e isso pode ocorrer indiretamente
sobre o crescimento das plantas, a competição entre elas e a pressão de
pastejo ou diretamente sobre sua nutrição e longevidade (Jones & Mott,
1980; citado por Favoretto, 1993). As alterações na composição florística,
em função de adubações, ocorrem tanto mais rápida e claramente quanto
mais a fertilização corrigir as deficiências gerais, ou de alguns nutrientes
com grande carência; estimular ou inibir certas espécies ou grupos de
plantas ou, ainda, se a utilização de determinado fertilizante favorecer ou
não a seleção entre plantas (Klapp,1977). O potássio e o fósforo, em
geral, elevam a participação das leguminosas. O nitrogênio favorece as
gramíneas, em detrimento das leguminosas, embora seja essencial para
maior produção de MS (Barreto et al., 1978; Nabinger, 1980). Em Bagé,
RS, também foi observado o aparecimento de espécies de melhor valor
forrageiro, como o Paspalum dilatatum Poir. e o Trifolium polymorphum
Poir., após sete anos da última adubação do campo nativo (Barcellos et
al., 1987). Como estas transformações ocorrem de forma lenta, faz-se
necessário manter as condições de fertilidade e manejo para alcançar
melhorias na condição da pastagem (Berreta & Levratto, 1990).
118
O calcário, além da correção da acidez do solo, também fornece
nutrientes para as forrageiras, notadamente cálcio e magnésio, quando
for de origem dolomítica. É mais recomendável que a sua distribuição se
faça em doses pequenas, ao longo de vários anos, do que em uma única
dose, evitando-se assim os efeitos prejudiciais da imobilização de outros
nutrientes importantes (Klapp, 1977). Em um outro estudo, este mesmo
autor demonstra a importância do calcário para aumentar a participação
de plantas forrageiras de alto valor em pastagens permanentes. Após
cinco anos de calagens regulares, observou-se uma mudança completa
nos componentes da pastagem. Os trevos e as gramíneas de melhor
qualidade aumentaram as suas participações para 28,7% da produção de
MS, e desapareceram completamente as espécies de menor valor
forrageiro.
Considerando que as recomendações se referem a uma camada de
20cm de profundidade, Jacques (1993) e Vincenzi (1994) sugerem a
redução da aplicação de calcário para um terço e para um quarto da
recomendação oficial, respectivamente (Figura 21). Alguns trabalhos de
pesquisa (Gomes, 1973; Macedo et al., 1987a) têm demonstrado a
viabilidade de implantação de leguminosas em pastagens naturais com
doses de calcário dentro dos limites estabelecidos pelos autores
anteriormente citados.
119
No município de Bagé, RS, Macedo et al. (1987a) verificaram o
efeito de diferentes doses de calcário aplicados em cobertura, no
estabelecimento inicial, produção e persistência do trevo branco e do
cornichão, implantados sobre campo nativo e submetidos a pastejo. Os
tratamentos utilizados encontram-se na Tabela 31. Para a introdução, foi
utilizada renovadora de pastagens tipo “Brillion”. Os resultados obtidos
permitiram aos autores concluir que: os métodos de aplicação de calcário
e os diferentes níveis empregados não apresentaram diferenças de
produção entre si, mas foram superiores, em produção, à testemunha; o
calcário proporcionou aumentos superiores a 100% na produção de MS
das leguminosas introduzidas, na média de quatro anos; os tratamentos
corrigidos apresentaram, na sua composição botânica, maior porcentagem
de leguminosas e azevém. Quando se avaliaram níveis e métodos de
aplicação de calcário em campo nativo, Ben et al. (1996) obtiveram, em
Passo Fundo, RS, maior produção, em valor absoluto, de MS da mistura
trevo-cornichão com a dose de um quarto de SMP na superfície do solo,
do que quando se incorporou na dose de meio SMP a 10cm de profun-
didade, e 1 SMP nas profundidades de 10 e 20cm. Tanto a dose integral
quanto as suas reduções foram estabelecidas em função da necessidade
de calcário recomendada pelo método SMP para elevar o pH até 6.
Com a aplicação de calcário e a introdução de leguminosas, foi
possível aumentar a produção de MS da pastagem natural em
aproximadamente 45%, em média (Lobato,1972; Gomes, 1973). O trabalho
do último autor apresentou pequena diferença na produção entre a
dosagem de 2 e 4t/ha de calcário aplicado superficialmente (Tabela 32).
As produções de MS das diferentes misturas foram crescentes de acordo
com os aumentos dos níveis de calcário até 2t/ha, quando os incrementos
foram menores.
Na região fisiográfica dos Campos de Cima da Serra do RS, em São
José dos Ausentes, ou seja, em uma condição muito similar à do Planalto
Catarinense, Jacques & Nabinger (2003) implantaram trevo branco, trevo
vermelho e azevém por sobressemeadura na pastagem nativa, em solo
extremamente ácido, com a necessidade de calcário podendo chegar a
29,7t/ha. Entretanto, apenas 3t/ha de calcário de excelente qualidade,
com PRNT de 104%, possibilitaram o estabelecimento destas espécies.
Para os solos com alto poder tampão e alto teor de matéria
orgânica, como os que existem na região do Planalto Catarinense,
Almeida et al. (1999) sugerem uma recomendação alternativa de calcário.
Segundo os autores, seria suficiente elevar o pH desses solos para 5,2
em vez de 5,5 ou 6,0. Com isso haveria uma economia média de
1,4 e 3,1t/ha, podendo atingir até 3,0 e 7,0t/ha nos solos com maior
120
necessidade de calcário, respectivamente. No ensaio conduzido, a
elevação do pH para 5,2 diminuiu o Al trocável de 4,24 para 0,7cmolc/kg
e a saturação com Al na CTC de 52% para 8%, enquanto aumentou os
teores de Ca + Mg de 3,6 para 8,4cmolc/kg.
Diversos autores recomendam a aplicação do calcário antecedendo
em alguns meses a sobressemeadura das espécies de leguminosas, que
pode variar de três a cinco meses (Nabinger, 1980; Vincenzi, 1994;
Jacques, 1995; Jacques & Nabinger, 2003).
Rendimento Rendimento
Tratamentos
total relativo
(t/ha) (t/ha) (%)
Níveis 1 o ano
2o ano
de calcário MS total
(t/ha) MS PB MS
......................................kg/ha........................................
0 1.978 280 4.483 6.461
1 2.448 390 5.052 7.500
2 2.827 430 5.550 8.377
4 3.139 542 5.789 8.928
121
O “dregs” é outra opção de corretivo que, atualmente, está à
disposição dos produtores. Este resíduo da indústria de celulose e papel
apresenta elevados teores de óxidos de cálcio, com alto poder de
neutralização (Figura 22). A sua viabilidade na introdução de trevo
branco, trevo vermelho, cornichão, alfafa e festuca foi avaliada em campo
nativo tipo “palha grossa”, no qual predomina o Andropogon lateralis.
Como resultados, obteve-se que a contribuição das leguminosas
introduzidas foi de 25% da produção total de forragem, quando se utilizou
o calcário na quantidade de um terço da recomendação oficial, enquanto
que na média dos tratamentos com “dregs”, que foram de 1,5; 3 e 6t/ha,
esta participação foi de 45% da produção total de forragem. Portanto,
este produto propicia condições de solo adequadas para a implantação
de leguminosas por sobressemeadura (Rech et al., 1998).
A C
2.3.3 Adubação
122
1977; Barreto et al., 1978; Carrau, 1980; Macedo, 1980; White, 1981;
Ritter & Sorrenson, 1985; Barcellos et. al., 1987; Macedo et al. 1987b;
Vidor, 1986; Mas et al., 1994; Ramos, 1998; Prestes & Jacques, 2002).
Na utilização de leguminosas, deve-se destacar que se trata de
espécies com exigências particulares de fósforo. Então, para se alcançar
uma boa implantação, é imprescindível o fornecimento deste nutriente em
quantidades adequadas (Carámbula et al., 1994). Em melhoramento de
pastagens naturais, estas apresentam exigências de fósforo superiores
àquelas já existentes na condição original, adaptadas de alguma forma
aos baixos níveis do nutriente que caracterizam os solos em seu estado
natural (Mas, 1992). É um nutriente com pouca mobilidade no solo, não
só por sua firme ligação a substâncias minerais e orgânicas, como
também devido à sua freqüente fixação, tanto em condições muito ácidas,
como neutro-alcalinas. Outra particularidade é a lentidão de seu efeito em
camadas mais profundas do solo. Desta forma, o aproveitamento nos
primeiros anos é pequeno, ocorrendo uma evolução gradativa com as
adubações anuais (Klapp, 1977).
Em Bagé, RS, durante 11 anos, avaliou-se a influência da adubação
fosfatada e de seu efeito residual sobre o rendimento da pastagem
natural, comparando-se os sistemas de pastejo contínuo e rotativo
(Tabela 33). As adubações anuais foram realizadas da seguinte maneira:
em 1956, 300kg/ha de hiperfosfato; em 1957, 600kg/ha de hiperfosfato;
em 1958, não houve adubação; em 1959, 300kg/ha de superfosfato triplo
(SFT) e em 1960, 175kg/ha de superfosfato simples (SFS). Estas
adubações equivalem a 334,5kg/ha de P2O 5 no período considerado.
Barcellos et al. (1987) concluíram que a aplicação de P aumentou
consideravelmente o ganho de peso vivo (PV) por unidade de área; o
efeito residual do adubo foi efetivo, já que sete anos após a última
aplicação os rendimentos em PV se mantiveram; as diferenças em ganho
de PV, em favor do pastejo rotativo, foram moderadas; também houve
mudança na composição botânica da pastagem, com o aparecimento de
espécies de melhor qualidade, como Paspalum dilatatum Poir (capim
melador) e Trifolium polymorphum Poir. Na mesma unidade de pesquisa
foi desenvolvido um ensaio que comparou fontes (Fosfato de Patos,
Fosfato de Araxá, Fosfato de Gafsa e SFT) e níveis (0, 50, 100 e 150kg
de P2 05/ha) de fósforo e sistemas de introdução de trevo branco, em
cobertura e com gradagem superficial. Como resultado, obteve-se que a
produção de MS foi equivalente em ambos os tratamentos, independente
da fonte de P. Entretanto, os níveis de P afetaram de forma progressiva
a freqüência de trevo na pastagem, sendo que a fonte de P mais eficiente
foi o SFT (Macedo et al., 1987b).
123
Tabela 33. Rendimento animal médio dos períodos de 11 anos (1957-68)
e de 7 anos (1961-68) do efeito residual da adubação fosfatada
.............................kgPV/ha/ano..................................
124
em 143%, que teve reflexo em 41% a mais na produção de carne; a
adubação permitiu aumentar em 84% a carga com vaquilhonas, mantendo
os ganhos de peso; o efeito residual da aplicação de P foi bastante bom,
com a eficiência na utilização do P atingindo 2kg de carne/kg de P2 05
aplicado; a presença de leguminosas de estação fria foi sempre maior nos
potreiros que receberam fósforo (Pizzio et al., 1994).
Os corretivos da acidez do solo e o fósforo são insumos
indispensáveis para o estabelecimento de leguminosas em campos
naturais, tanto em relação à produção de MS, quanto à longevidade do
melhoramento. Assim, as doses e as estratégias da adubação fosfatada
são aspectos decisivos para atingir altas produções e para a persistência
das espécies introduzidas (Mas et al., 1994). Infelizmente, para as
condições do Planalto Catarinense ainda não foi possível realizar-se
experimentação para determinar qual a melhor fonte de P, e em que
quantidade, a ser utilizada por ocasião da implantação e nas adubações
de manutenção subseqüentes. Esta questão, apesar de já investigada
por vários pesquisadores em diversas situações edafoclimáticas, ainda
não pode ser considerada definitiva. Na revisão de literatura realizada por
Macedo et al. (1987b), são relatados trabalhos como o de Jackson (1966),
que destaca a importância tanto da resposta imediata, como a do efeito
residual da fonte de P a ser escolhida. Esse mesmo autor comenta que,
na região ocidental da Austrália, o SFS apresenta resultados superiores
ao fosfato de rocha no ano de sua aplicação. O SFT foi a fonte mais
eficiente para a implantação e estabelecimento de misturas forrageiras
em pastagem natural no Uruguai. Entretanto, com o passar dos anos,
também foi possível obter-se o mesmo rendimento com hiperfosfato e
escórias básicas. Assim, a opção de escolha da fonte de fósforo poderá
levar em conta o aspecto econômico (Reynaert & Castro, 1968). Também
é relatado ensaio de Gardner et al. (1969), que obtiveram resultado, em
parte, diferente do anterior. Neste, o hiperfosfato foi a fonte de P que
proporcionou o maior rendimento de MS da pastagem natural em avaliação,
com destaque para a produção do trevo carretilha. Na Argentina, confirmou-
-se esse mesmo efeito quando se introduziu também o trevo carretilha no
campo natural. O hiperfosfato proporcionou a melhor implantação,
produção e persistência do trevo, em comparação ao SFT (Inta, 1978).
Apesar dos resultados obtidos no passado, a preocupação em
obter respostas mais claras a respeito de qual a fonte mais indicada para
a implantação de pastagens, seja através de cultivo convencional ou
reduzido, ainda permanece. Em Passo Fundo, RS, em estudo mais
recente, avaliaram-se, de maio de 1994 a dezembro de 1997, doses de
calcário (1 SMP e dois terços de SMP), duas fontes de P (SFT e fosfato
125
natural “Carolina do Norte”) e dois métodos de cultivo (mínimo e
convencional). As espécies forrageiras utilizadas foram aveia preta, trevo
vermelho e cornichão. Os maiores rendimentos de MS ocorreram quando
se utilizou o SFT superficialmente, sendo que o fosfato natural destacou-
-se apenas quando incorporado (Fão et al., 1998).
Os trabalhos apresentados demonstram o quanto é indispensável
a adubação fosfatada em pastagens que contenham, em suas misturas,
leguminosas, tanto no estabelecimento como para a persistência destas.
Entretanto, como já foi mencionado, estudos regionalizados ainda são
necessários para melhor responder a estas questões. Desde 1996,
quando se começou a trabalhar com mais ênfase em melhoramento de
pastagens naturais no Planalto Catarinense, várias observações puderam
ser feitas em unidades implantadas em propriedades rurais, no entanto,
sem o rigor do método científico. Mesmo assim, foi possível constatar que,
apesar de os fosfatos naturais serem uma opção mais econômica, a sua
reatividade mais lenta faz com que não sejam os mais indicados para a
implantação do melhoramento. Também para Vincenzi (1987), quando
estes fertilizantes encontram ambiente ótimo para a solubilização do P
devido à acidez elevada dos solos, e mesmo considerando o aspecto
econômico favorável, não devem ser usados como fonte exclusiva de P
como forma de garantir a implantação do melhoramento. Ao longo desses
anos, tem-se observado que o mais recomendável é o fracionamento da
necessidade de P em 50% com fosfato natural e o restante com fórmulas
mais solúveis. Caso os fosfatos naturais existentes no comércio, no
momento da implantação, não sejam economicamente atrativos, devem-
-se usar os mais solúveis como fonte exclusiva.
Na condição de cerrado, no Centro-Oeste brasileiro, a adubação
fosfatada também tem efeito sobre a produção de Brachiaria decumbens
Stent. O SFS aplicado com freqüência anual, durante cinco anos, e
superficialmente, proporcionou rendimento de MS superior ao produzido
quando se incorporou essa mesma fonte, na mesma quantidade e antes
do plantio (Sanzonowicz & Goedert, 1984). A capacidade das plantas
forrageiras de se nutrirem com P aplicado em superfície também foi
constatada por Gillingham et al. (1980). Estes autores concluíram que
90% do P absorvido por pastagens provém da camada dos primeiros 7cm
do solo, com a maior parte da extração ocorrendo até os 3cm de
profundidade, sendo impossível que ocorra absorção apreciável abaixo
de 30cm.
Sempre que possível, a opção pelo SFS é mais vantajosa do que o
SFT, por possuir maior concentração de CaO e enxofre. Segundo a
Sociedade Brasileira de Ciência do Solo (1995), estes teores são: SFS =
126
18% a 20% de Ca e 10% a 12% de S; SFT = 12% a 14% de Ca. Quanto
à quantidade de P2 05 a ser utilizada, devem-se considerar sempre os
resultados da análise de solo, com as devidas correções para aplicação
superficial.
Em 1996, na implantação das primeiras áreas de melhoramento no
Planalto Catarinense, utilizou-se a dosagem integral, para P e K,
recomendada pela Sociedade Brasileira de Ciência do Solo (1995). A
partir de 1997, passou-se a usar apenas 50% desta recomendação, por
tratar-se de cultivo superficial. Desde então, não foi possível observar
prejuízos quanto à implantação, estabelecimento, rendimento de forragem
e persistência destas pastagens melhoradas. A vida útil do melhoramento
não é única e exclusivamente dependente da adubação inicial, e sim de
outras práticas de manejo, como também das fertilizações anuais. Assim,
será discutida com mais propriedade em momento mais oportuno.
A possibilidade em reduzir-se pela metade a necessidade de
adubação inicial implica, diretamente, a redução dos custos de implantação,
o que contribui em muito para facilitar a adoção dessa tecnologia por parte
dos produtores. Além disso, adubações pesadas em superfície podem
contaminar mais facilmente os mananciais hídricos por lavagem durante
as chuvas, principalmente se ocorrerem logo após a aplicação.
Com relação à adubação nitrogenada, tem-se que considerar que
esse nutriente proporciona maior participação de gramíneas, em detrimen-
to das leguminosas, quando em misturas forrageiras, por aumentar a
competitividade daquelas, que passam a utilizar com mais eficiência luz,
água e nutrientes (Nabinger, 1980). As leguminosas têm papel importante
para aportar economicamente o nitrogênio (N) no ecossistema e, dessa
forma, alcançar expressivas produções de forragem de boa qualidade.
Porém, é imprescindível suprir inicialmente o mínimo de fertilizante
fosfatado necessário para que uma população adequada de leguminosas
forneça nível apropriado de N ao campo natural (Carámbula, 1992).
Alguns trevos podem fixar o equivalente a 200kg de N/ha/ano, ou até mais,
desde que as sementes tenham sido devidamente inoculadas e peletizadas
(Jacques, 1993). Em algumas situações, o uso de baixas doses de N
favorece o crescimento das leguminosas, até que estas tenham nodulado
e, a partir de então, apoiar a implantação das gramíneas (Carámbula,
1997).
Vários trabalhos de pesquisa, realizados ao logo dos anos, têm
comprovado este comportamento em misturas de gramíneas com
leguminosas, independentemente da forma de implantação, frente à
adubação nitrogenada. Em ensaios realizados na Alemanha por Schulze
(1956) e Shulze & Mues (1961), segundo Klapp (1971), a aplicação de N,
127
mesmo combinado com P e K, reduziu drasticamente a participação de
leguminosas dos gêneros Vicia e Lathyrus (Tabela 34), favorecendo a
participação das gramíneas. A redução das leguminosas, que foi de
20,3%, corresponde aproximadamente ao aumento de 22,5% na
participação das gramíneas (Tabela 34).
..................................%.................................
Gramíneas 52,5 46,3 68,8
Leguminosas 14,9 30,7 10,4
Outras espécies 32,6 23,0 20,8
Fonte: Schulze (1956) e Shulze & Mues (1961), citados por Klapp (1977).
128
Nos solos do Planalto Catarinense, os níveis de K não são tão
críticos quantos os de P. Mesmo com a reconhecida importância do K para
a nutrição vegetal, dispõe-se de pouca informação sobre este nutriente
em pastagens permanentes e, menos ainda, referente à introdução de
espécies por sobressemeadura ou cultivo mínimo em campos naturais.
Porém, é possível afirmar que seu adequado suprimento também se faz
necessário. Em ensaios conduzidos em casa de vegetação, avaliou-se o
efeito da combinação de nutrientes sobre o crescimento, o rendimento de
MS e a eficiência da nodulação do trevo subterrâneo (Trifolium
subterraneum L. cultivar Woogenellup), do lótus “El Rincón” (Lotus
subbiflorus Lag, cultivar El Rincón) e do trevo persa (Trifolium resupinatum
L. cultivar Kiambro). Os melhores resultados para as variáveis estudadas,
em todos os ensaios, foram obtidos quando se aplicaram P e K combinados.
Convém salientar que, com 135kg de N/ha, não ocorreu nodulação do
trevo subterrâneo (Krolow et al., 2001a; 2001b; Krolow et al., 2001c). Na
Região Centro-Sul da província de Corrientes, na Argentina, a combinação
de N, P e K também proporcionou efeito positivo no rendimento de MS da
pastagem natural, com um incremento de 95% em relação à testemunha
(Pallarés & Pizzio, 1994). O relato destes trabalhos experimentais
demonstra a necessidade de suprimento de K, juntamente com a demanda
de P, enfatizando-se que ambos são imprescindíveis.
O enxofre (S) e o molibdênio (Mo) também são nutrientes essenciais
para o estabelecimento de leguminosas, principalmente quando
combinados com o P, pois disso resulta uma interação de potenciação
entre todos esses elementos (Tabela 35).
Tratamento Test. Mo P S P Mo S Mo SP S Mo P
Pontuação 1 0 7 3 9 3 12 17
Fonte: Walker et al. 1955; Lobb, 1958 e Ludecke, 1960, citados por White (1981).
129
em função de que, durante o período experimental de dois anos, as
condições climáticas foram muito adversas para o desenvolvimento da
pastagem.
A fertilização de pastagens naturais, juntamente com a
sobressemeadura de espécies, é uma prática técnica e economicamente
viável, além de preservar recursos genéticos extremamente valiosos, que
são as forrageiras nativas (Nabinger, 1980).
2.4 Espécies
130
podem ser consideradas como a principal forma de introduzir este
nutriente no ecossistema (Carámbula, 1997), beneficiando, desta maneira,
a si próprias, assim como as gramíneas associadas. São muitas as razões
que justificam a presença das leguminosas em pastagens perenes,
principalmente consorciadas com gramíneas, em sistemas de produção
animal (Klapp, 1977; Vincenzi, 1974, 1994; Barreto et al.,1978; Ritter &
Sorrenson, 1985; Maraschin, 1985; Jacques,1993, 2001; Vidor et al.,
1997; Carámbula, 1997). Além das já apresentadas, destacam-se ainda
por apresentarem alto valor nutritivo, principalmente em proteínas e
minerais, como Ca e P; sua presença na composição da pastagem
determina maior consumo de fibras e proteína bruta (PB). Como têm
pequena participação na composição florística dos campos naturais,
maior é a justificativa de sua utilização para melhorar estas pastagens.
São vários os ensaios experimentais que comprovam a qualidade e a
capacidade produtiva das leguminosas. Evans (1970) demonstrou o
aumento progressivo no rendimento animal de 290, 336 e 545kg PV/ha/
ano, de acordo com a crescente participação das leguminosas na
pastagem de 13%, 20% e 35%, respectivamente. A introdução de trevo
vesiculoso ‘Yuchi’, na densidade de 6kg/ha, equivaleu a 90kg/ha de N e
resultou em cerca de 500kg PV/ha/ano (Scholl et al., 1976).
De maneira geral, as principais espécies de leguminosas utilizadas
para introdução em campos naturais de altitude, nas regiões de clima Cfb
do Sul do Brasil são:
Trevo branco (Trifolium repens L.): destaca-se tanto por seus
altos rendimentos de forragem, como pelo elevado valor nutritivo. É uma
planta glabra, rasteira e estolonífera. Cresce rente ao solo, expandindo-
-se através de vigorosos estolões (Vidor et al., 1997). Apesar de ser uma
espécie perene de estação fria, dependendo das condições do verão,
pode comportar-se como anual, bienal ou de vida curta. O vigor inicial é
baixo e o estabelecimento é lento. Apresenta grande potencial de fixação
de N. Em função de sua morfologia, admite pastejo freqüente e intenso
(Carámbula, 1997). É a espécie mais persistente, de excelente qualidade,
de boa distribuição da produção durante o ano todo. Com boas condições
de umidade, fertilidade e manejo adequado para ressemeadura, persiste
por muitos anos (Jacques, 1993).
Trevo vermelho (Trifolium pratense L.): espécie bienal e, em
certas condições, perene de estação fria. Admite pastejos intensos, mas
pouco freqüentes (Carámbula, 1997). Forrageira de alta produtividade e
alto valor nutritivo, semelhante ao da alfafa, apresenta plantas eretas e
pilosas. Adapta-se melhor onde dispõe de umidade durante todo o ciclo
de crescimento (Vidor et al., 1997). Além de muito produtivo, apresenta
131
crescimento inicial rápido, o que é desejável para a introdução em
pastagem natural. Consegue competir com o campo nativo no outono
(Jacques, 1993).
Cornichão (Lotus corniculatus L.): espécie perene de estação fria.
Apresenta média exigência de fertilidade do solo, baixa tolerância ao
sombreamento, encharcamento e seca. No entanto, tem boa resistência
às geadas (Vidor et al., 1997). Não é muito exigente em níveis de P. Admite
pastejos freqüentes, mas pouco intensos. Beneficia-se com o pastejo
rotativo (Carámbula, 1997). Apresenta maior exigência em práticas de
manejo para persistir (Formoso, 1993). O estabelecimento é relativamente
lento. Produz bem no fim do inverno e primavera. Possui a vantagem de
não provocar timpanismo e oferece forragem de boa qualidade (Jacques,
1993). A cultivar São Gabriel é a única disponível no mercado de
sementes. Como é de florescimento tardio (Poli & Carmona, 1966),
necessita de um período maior de diferimento até a formação das
sementes, quando em consórcio com os trevos, branco e vermelho. Este
descanso deve ser atendido para a sua manutenção na pastagem, visto
que é altamente dependente da ressemeadura natural para persistir
(Araújo & Jacques, 1974).
Trevo subterrâneo (Trifolium subterraneum L.): espécie anual de
estação fria. Apresenta a capacidade de enterrar a semente, que é de
extrema importância em se tratando de ciclo anual, pois isso renovará o
estande (Vidor et al., 1997). Estes mesmos autores afirmam que, por
possuir sementes grandes, se estabelece em solos com más condições
de preparo, como no caso da introdução em campo nativo. Não tem
exigências especiais de manejo. Adapta-se a pastejos intensos e não
provoca timpanismo (Carámbula, 1997). Deve ser preferido para os solos
mais leves. A expansão em seu uso tem sido limitada pela maior produção
apresentada pelos outros trevos (Jacques, 2001).
A Epagri/EEL tem trabalhado na seleção de leguminosas nativas
para aproveitamento em programas de melhoramento das pastagens
naturais. Diversos gêneros apresentam potencial para esse objetivo.
Entre eles destacam-se espécies do gênero Adesmia, que se têm mostrado
alta-mente promissoras. A intensificação dessa linha de pesquisa, incluindo
também as gramíneas, certamente será de grande utilidade para o
desenvolvimento sustentável da pecuária em Santa Catarina. Constituem-
-se em materiais adaptados às condições originais, através de seleção
natural, ocorrida em milhares de anos.
As gramíneas de estação fria, de maneira geral, não têm
apresentado o mesmo êxito que as leguminosas nos primeiros anos do
melhoramento. É maior a garantia no estabelecimento e persistência
132
daquelas após alguns anos usando-se somente leguminosas. O aumento
no suprimento de N, fixado simbioticamente ao solo, e a elevação da
fertilidade, promovida pelas adubações anuais de manutenção, são
condições que favorecem a participação das gramíneas na pastagem ao
longo dos anos. Autores como White (1981), Risso (1994) e Carámbula
(1997) também fazem referência à necessidade de se construir uma
condição de fertilidade para melhor aproveitar o potencial produtivo e
qualitativo das gramíneas. Em quase todas as situações, as gramíneas
introduzidas são mais produtivas que as espécies nativas, principalmente
durante os meses de outono-inverno. Alcançadas as condições
preconizadas, as gramíneas complementam a composição botânica com
as leguminosas, equilibrando melhor a dieta animal, em termos de fibra e
proteína.
São duas as condições que devem ser consideradas quando da
introdução de gramíneas na pastagem natural: no mesmo momento que
as leguminosas, quando a fertilidade do solo não é tão favorável, mas a
competição com a vegetação original é praticamente inexistente; e
posterior à introdução das leguminosas, quando a fertilidade é melhor,
porém a competição da flora existente é mais intensa (White, 1981;
Langer, 1990).
Com as gramíneas anuais de estação fria é que se tem obtido maior
sucesso no melhoramento de pastagens naturais, visto que as perenes
apresentam estabelecimento muito lento (Jacques, 2001). Apesar de as
aveias (Avena sativa L.) serem citadas por diversos autores como
apropriadas para o melhoramento do campo nativo, não se têm mostrado
desta forma nas introduções por sobressemeadura realizadas no Planalto
Catarinense. Acredita-se que a dificuldade no estabelecimento se deva
ao fato de apresentarem sementes grandes, o que implica a necessidade
de cobrimento e maior contato com o solo. Esta prática, na maior parte das
vezes, não é possível em cultivos reduzidos. Neste caso, a utilização de
renovadoras de pastagens torna-se fundamental para a implantação e o
estabelecimento das aveias. Outro aspecto a destacar é a resistência a
baixas temperaturas dos materiais atualmente existentes no comércio.
Em avaliações na EEL, e mesmo nos cultivos em propriedades, as
cultivares de aveia branca têm-se mostrado muito mais tolerantes a
geadas rigorosas do que os materiais de aveia preta (Rosa, pesquisa em
andamento, não publicado). O professor Mário Vincenzi, em comunicado
pessoal, relata que tem obtido bons resultados com a sobressemeadura
da aveia preta, tanto no Litoral quanto no Oeste Catarinense, quando a
compactação das sementes é efetuada pelo pisoteio dos animais.
Pelo mesmo motivo, o centeio (Secale cerealle L.) também pode
133
ser utilizado, desde que sejam seguidos os mesmos cuidados da aveia.
Trata-se de uma espécie anual, com taxa de crescimento inicial elevada,
que concentra a produção no outono e início do inverno (Vidor et al.,
1997).
O azevém (Lolium multiflorum L), também de ciclo anual, tem-se
mostrado como a espécie mais apropriada, mesmo que a sua contribuição
forrageira no ano de implantação seja bastante reduzida. Possui alta
capacidade na produção de sementes e elevada capacidade de
ressemeadura natural. Estas características, juntamente com a elevação
gradual da fertilidade do solo, têm feito com que a partir do segundo ano
a sua contribuição aumente de forma expressiva, como mostra a Figura
23. Outros atributos, como a sua capacidade de perfilhamento, que lhe
confere maior tolerância ao pastejo, excelente rebrote, além de alto valor
nutritivo e alta palatabilidade, são relatados por Vidor et al. (1997) e
Carámbula (1997).
134
O seu uso no melhoramento das pastagens naturais justifica-se por sua
rusticidade quanto à exigência em fertilidade e pH do solo, como também
por sua alta capacidade de ressemeadura natural. Esta característica faz
com que se torne espontâneo na pastagem ao longo dos anos (Pupo,
1985; Vidor et al., 1997).
O dátilo, ou capim dos pomares (Dactylis glomerata L.), é uma
gramínea perene de estação fria, bastante tolerante a geadas. Mesmo em
anos em que materiais de aveia preta não têm suportado a intensidade
e a freqüência das geadas, o dátilo tem-se mantido verde. Além disso,
apresenta menor exigência em fertilidade que outras gramíneas perenes.
Produz grande quantidade de sementes, com alta capacidade de
ressemeadura. Entretanto, não admite pastejos intensos e freqüentes.
Para maximizar seu potencial produtivo, requer pastejo rotativo (Ball et al.,
1991; Carámbula, 1997).
Outra opção pode ser a cevadilha, ou aveia louca (Bromus
catharticus Vahl), espécie anual de estação fria. Apresenta os mesmos
requerimentos que as aveias, porém com maior tolerância a geadas.
Como opção futura ter-se-á a cevadilha serrana (Bromus auleticus Trin.),
que se encontra em fase final de avaliação na EEL. Trata-se de uma
gramínea nativa, perene e de estação fria. O material a ser lançado é fruto
de longo trabalho de seleção e melhoramento. Tem produzido excelentes
resultados quantitativos e qualitativos em cultivos convencionais (Dalagnol,
2000; Rosa, 2000).
A festuca (Festuca arundinacea Schreb.), gramínea perene de
estação fria, apresenta boa produção outonal (Flaresso et al., 1997), com
rebrote rápido no final do inverno. Exige manejo cauteloso no ano de
estabelecimento, e durante o verão, nos anos seguintes. Posteriormente
ao estabelecimento, que é bastante lento, admite pastejos intensos e
freqüentes. Tolera a baixa fertilidade, mas responde muito bem a
adubações (Ball et al., 1991; Vidor et al., 1997; Carámbula, 1997). Além
dos materiais tradicionais, atualmente também existe à disposição dos
produtores a cultivar Epagri 312-Lages, desenvolvida na EEL, em vários
anos de seleção e melhoramento.
A introdução de misturas forrageiras, seja de leguminosas ou
destas associadas a gramíneas, tem por finalidade, além de elevar a
produção e a qualidade da pastagem, permitir uma melhor cobertura de
forrageamento ao longo do ano. Desta forma, a pastagem se manterá em
um patamar mais elevado de produção. Com a introdução de gramíneas
e leguminosas de estação fria em pastagem natural, Fontaneli & Jacques
(1991) obtiveram um aumento na disponibilidade de MS e PB, ocorrendo
também uma melhor distribuição da produção anual de forragem.
135
Entretanto, como cada planta forrageira possui particularidades quanto
a sua fisiologia e manejo, o uso de consorciações com mais de três a
quatro espécies fica muito dificultado devido à complexidade do manejo
exigido. Como conseqüência, haverá, invariavelmente, o comprometimento
em produção e persistência de uma ou outra espécie, visto que o manejo
adotado, por mais zeloso que seja, dificilmente conseguirá atender, de
maneira uniforme, às necessidades de todo o material forrageiro envolvido.
O aspecto econômico também deve ser considerado, pois haverá a
elevação do custo de implantação do melhoramento, vinculada ao aumento
do número de espécies utilizadas e o custo das sementes.
136
Tabela 36. Espécies e densidades de semeadura para o melhoramento
de pastagens naturais
Cultivo Introdução em
convencional campo natural
Forrageira
Estreme Consorciado Isolada Mistura(1)
................................kg/ha...................................
Azevém anual 25 15 40 20
Aveia preta 80 a 100 60 a 70 150 60 a 80
Aveia branca 120 80 150 40 a 60
Centeio 90 60 140 80 a 100
Capim lanudo 10 8 15 12
C. pomares/dátilo 30 20 40 a 50 25
Festuca 15 10 25 15
Trevo branco 2a3 2 3a5 2a3
Trevo vermelho 8 6 12 7a9
Cornichão 10 6 15 6a8
Trevo subterrâneo 8 6 12 6a8
Trevo encarnado 15 12 25 15
137
por um pó secante. O material utilizado para isso pode ser o calcário
finamente moído ou os fosfatos naturais. Entretanto, o carbonato de
cálcio (CaCO3) é o produto que melhor resultado tem apresentado, tanto
no manuseio como na posterior distribuição. O CaCO3 forma uma camada
protetora mais firme e consistente, não se soltando quando em atrito com
outros materiais. Esta característica é de fundamental importância, visto
que, geralmente, as sementes são distribuídas juntamente com os
fertilizantes (Figura 24).
A B
138
que comprometem a sobrevivência do rizóbio como a presença de Al
trocável e Mn em níveis tóxicos, além do baixo pH dos solos. Para superar
tais dificuldades, Brose (em comunicado pessoal) defende como estratégia
importante a busca constante de bactérias do gênero Rhizobium e de
leguminosas mais tolerantes às condições impostas, para que os
produtores possam dispor de inoculantes cada vez mais eficientes.
As vantagens da peletização relatadas por White (1981) e Carámbula
(1997) são: maior sobrevivência das bactérias, em função de materiais
alcalinos como o calcário e o CaCO3, quando o cultivo ocorre em solos
ácidos; redução dos efeitos nocivos dos fertilizantes ácidos sobre o
inóculo; maior sobrevivência do inóculo durante a armazenagem e no
solo, por reduzir os efeitos da dessecação, afetada pela luminosidade e
temperaturas elevadas; rapidez de germinação, pelo aporte de umidade
para a semente, por ser o revestimento higroscópico.
A peletização é, reconhecidamente, uma prática simples, eficiente
e de baixo custo. Conforme o trabalho de Scholl et al. (1976), já mencio-
nado anteriormente, o trevo vesiculoso inoculado produziu o mesmo
efeito que 90kg N/ha sobre o rendimento animal. Isto equivale à economia
de 200kg de uréia/ha, além de diversas outras vantagens. No entanto, a
peletização exige alguns cuidados (White, 1981; Brose, 1989; Vincenzi,
1994; Carámbula, 1997):
• Utilizar sempre o Rhizobium específico.
• A semeadura deve ocorrer logo após a peletização. O armazena-
mento da semente, já preparada, é possível, desde que em local apropriado,
úmido e com temperatura amena, e que não ultrapasse um período de 48
horas.
• Evitar o contato da semente inoculada e peletizada com fertilizantes
muito ácidos.
• Depois de peletizada, a semente aumenta o peso e o volume de
50% a 80%, o que deve ser considerado ao se determinar a densidade
de semeadura.
• A fertilização com nutrientes, essenciais à simbiose, como Mo, Fe
e B, contribuem para a eficiência da ação bacteriana.
• Verificar sempre a qualidade do inoculante.
• Observar sempre as condições de armazenamento, tanto no
comércio quanto na propriedade, pois o inoculante deve ser mantido em
geladeira.
A Epagri/EEL dispõe de laboratório que produz e distribui, mediante
encomenda, inoculante para a grande maioria das leguminosas forragei-
ras.
139
2.7 Tratamento prévio da área
140
de maneira uniforme, se faz necessária a passagem complementar de
uma roçadeira. No Planalto Catarinense, onde a pedregosidade e o
afloramento de rocha são muito comuns e a mecanização é dificultada ou
impossível, o pastejo intenso tem sido uma opção muito eficiente. Exemplo
disso são as áreas de melhoramento implantadas nas propriedades de
José Salvador de Liz e de Sílvio e Osmar Zabot, nos municípios de Painel
e São Joaquim, respectivamente. Nos dois locais, a implantação e o
estabelecimento foram bem-sucedidos (Tabela 38). Como demonstra
esta tabela, a introdução de espécies tem sido possível por diversos
métodos de implantação, desde que realizadas algumas práticas
indispensáveis, como um bom preparo prévio da área, correção da acidez
do solo com antecedência, fertilização fosfatada no momento de plantio,
inoculação das leguminosas e diferimento da pastagem após o plantio.
Germinação Persistência
Espécie
PI PPF PI PPF
.....................................%........................................
Azevém anual 7 3 27 17
Dátilo 15 12 10 8
Trevo branco 21 16 26 17
Fonte: Cullen (1969), citado por White (1981).
141
Tabela 38. Resultados obtidos com melhoramento de campo nativo utilizando diversos métodos de implantação
no Planalto Catarinense
Rendimento
Ganho
Peso Peso (kg PV/ha) Método
Área An. Ganho médio
Produtor/município o inicial final Dias de
(ha) (n ) (kg/an.) diário
(kg) (kg) Período Projeção implantação
(kg/an./dia)
avaliação anual
José Salvador de Liz /Painel 10,0 4 3 122,63 146,44 5 5 23,81 0,433 102,40 670,0 Grade,
sobresse-
meadura
e pisoteio
José A. de Arruda /Urupema 11,5 3 2 197,00 391,00 293 194,00 0,662 540,00 672,0 Queima,
sobresse-
142
meadura
e pisoteio
Irmãos Zabot /São Joaquim 11,0 1 2 335,00 363,75 2 2 28,75 1,300 31,00 520,0 Grade,
sobresse-
meadura
e pisoteio
Clodoaldo Andrade/Urupema 40,0 8 5 175,00 360,00 220 185,00 0,841 393,12 652,2 PC,
renovadora
e sobresse-
meadura
2.7.2 Queima
143
Em todas a situações em que o fogo pode ser utilizado como
ferramenta para o melhoramento, também se deve considerar que a
remoção total da vegetação existente favorece o surgimento de espécies
indesejáveis, pelo fato de, por um determinado período, não haver
competição alguma entre essas espécies. O efeito positivo do uso da
queima como tratamento prévio foi comprovado por Medero (1958), no
Uruguai, e relatado por Carámbula (1977). Neste trabalho comparou-se
o pastejo intenso e a queima. Na Tabela 39 é possível verificar que,
apesar de a germinação ocorrer de maneira similar nos dois tratamentos,
morreram menos plantas quando se usou o fogo. Diante desse resultado,
concluiu-se que a queima não só permitiu um melhor contato entre
semente e solo, mas também proporcionou um melhor estabelecimento
ao eliminar a competição. Infelizmente, no relato do segundo autor não
consta a espécie ou a mistura que compuseram o melhoramento da
pastagem natural, nem registro sobre a composição botânica e a
porcentagem de plantas indesejáveis; mesmo assim, quantificou-se o
potencial dessa prática como tratamento prévio.
2.7.3 Herbicidas
144
em nenhum momento houve a necessidade de aplicação desses
agrotóxicos.
A Estação Meteorológica de Lages, que atua desde 1926 junto à
Epagri/EEL, tem registrado a média de 17,4 geadas/ano em uma série
histórica de 48 anos. Em alguns anos, como o de 2000, este evento
climático ocorreu 36 vezes. Nesta mesma série histórica, também consta
a média de 0,7 geada no mês de abril, fato que em 1995 e 1997 se repetiu
por cinco vezes. É comum a ocorrência de temperaturas negativas ao
nível do relvado nos meses de outubro e novembro, com médias de 0,4
a 0,1 geada, respectivamente. Assim como as geadas que ocorrem no
cedo favorecem pela redução da competição, as tardias prejudicam por
oferecer risco ao estabelecimento do melhoramento. Conforme foi dito
anteriormente, estas observações foram, e são, feitas em Lages, que não
faz parte da porção mais fria da região fisiográfica compreendida pelo
Planalto Serrano Catarinense.
Diante disso, espera-se demonstrar que o uso de herbicidas, ou
“geada química”, como vulgarmente esta prática é conhecida, para
reduzir e até mesmo eliminar a competição da vegetação original, não é
necessária. Para reforçar os argumentos expostos, é possível afirmar
que, mesmo quando se pretende implantar o melhoramento mais no
cedo, como nos meses de março, abril e maio, seu uso também é
injustificável pelo déficit hídrico outonal que comumente ocorre nessa
região. Assim, é mais econômico e garantido aguardar pelas primeiras
geadas e que se normalize o regime de chuvas, para alcançar o melhor
estabelecimento das espécies introduzidas.
No Uruguai, avaliando tratamentos prévios para a introdução de
trevo branco, cornichão e azevém Carriquiry et al. (1998) obtiveram os
melhores resultados quando se promoveu o rebaixamento do campo a 5
e 2,5cm da altura do resíduo. Somente o azevém foi beneficiado com a
aplicação de glifosato ou de paraquat, ambos na dosagem de 2,5L/ha.
Risso (1994) relata que não houve diferença entre a aplicação de
glifosato e o rebaixamento da pastagem natural à altura de 5cm, para a
introdução de trevo vermelho, trevo subterrâneo e trevo carretilha. Da
mesma forma, também no Uruguai não foram verificadas diferenças entre
os diversos métodos avaliados: cultivo convencional, gradagem superficial,
gradagem superficial cruzada, glifosato a 6L/ha, sobressemeadura e
sobressemeadura mais superfosfato triplo, por um período de cinco anos
(Bemhaja & Berreta, 1994). Alguns anos antes, Bermúdez (1992), também
no Uruguai, avaliou praticamente os mesmos tratamentos prévios para a
sobressemeadura de trevo branco, cornichão e azevém. Neste caso, foi
utilizado somente o “Round-Up” na dosagem de 2,5L/ha. Como efeito
145
principal para o uso desse herbicida, o autor verificou que houve
substituição das espécies nativas perenes de estação quente, e produtivas,
por espécies anuais de estação fria, de baixa produção, além de haver um
incremento na produção de plantas indesejáveis de pequeno porte.
Resultados semelhantes foram obtidos por Quadros et al. (2000) em
ensaios conduzidos simultaneamente em Alegrete e Bagé, RS. Através
de levantamentos botânicos, esses autores verificaram que a composição
florística foi marcadamente influenciada pelos tratamentos que utilizaram
glifosato. As espécies de maior contribuição, como o capim-caninha
(Andropogon lateralis), a grama-forquilha (Paspalum notatum), o capim
melador (Paspalum dilatatum) e o Paspalum plicatulum quase
desapareceram, sendo substituídas por espécies indesejáveis como
Chaptalia nutans e Apium spp., entre outras.
A aplicação de glifosato antes da sobressemeadura de trevo
branco, cornichão “El Rincón” e azevém não teve efeito estatístico no
rendimento animal, ou seja, ganho médio diário e ganho por área, em
comparação ao tratamento que não recebeu esse herbicida, nas condições
de Bagé, RS (Rizo et al., 2000; Sorgatto et al., 2001; Araldi et al., 2002).
Na Nova Zelândia, especificamente para os campos montanhosos,
a utilização de herbicidas apenas se justifica quando da introdução de
gramíneas e alfafa, visto que os trevos se estabelecem bem na vegetação
nativa (White, 1981). Para Carámbula (1997), essa afirmativa se aplica
não somente para àquela situação, mas a todas regiões temperadas,
desde que atendidas as necessidades adequadas de fósforo.
2.8 Métodos
146
existente não oferecer competição de forma prejudicial por nutrientes,
água e luz.
As principais vantagens da sobressemeadura são a rapidez e a
economicidade de sua aplicação em grandes superfícies, permitindo
aproveitar ao máximo os momentos em que se apresentam condições
ambientais favoráveis (Carámbula, 1997). Este autor faz algumas
recomendações para sua utilização: usá-lo em áreas com pedregosidade
e quando a vegetação não for muito densa; eliminar ao máximo a
competição exercida pela flora natural; aproveitar condições adequadas
de umidade para permitir a germinação e penetração da radícula no solo.
Após a germinação, as plântulas não são muito vigorosas, pois demoram
para desenvolver-se e, dessa forma, estão mais expostas a fatores
adversos. Assim, as espécies anuais com maior vigor se comportam
melhor.
Em Bagé, RS, não foi verificada diferença entre a sobressemeadura
e o cultivo superficial com grade, para a introdução de trevo branco
(Macedo et al., 1987b). Os resultados deste estudo podem ser visualizados
na Tabela 40.
Rendimento Rendimento
Método de cultivo
de MS relativo
...................kg/ha......................
PN 1.622 b 100
PN + TB – sobressemeadura 2.533 a 156
PN + TB – gradagem superficial 2.579 a 159
147
vermelho e cornichão. Neste trabalho, Brasil et al. (1987a) avaliaram, por
um período de quatro anos, o efeito do método de implantação de
pastagem sobre a produção de MS. Os sistemas de cultivo avaliados
foram o convencional, com renovadora de pastagem tipo “Grasslands”,
com renovadora tipo “Brillion” e sobressemeadura manual a lanço. O
cultivo convencional foi superior aos demais, em produção de MS,
somente no primeiro ano. Nos três anos seguintes, todos os cultivos
reduzidos foram superiores ao convencional, mas não diferiram
estatisticamente entre si (Tabela 41). No final de quatro anos, o sistema
por sobressemeadura foi o que apresentou maior produção acumulada
de MS. O cultivo convencional, além de produzir menos, foi o que teve
maior custo de implantação.
Sistemas de cultivo
Ano
CC RG RB SL
......................................kg/ha......................................
Primeiro 5.609 1.827 2.014 2.687
Segundo 6.083 8.513 8.968 8.117
Terceiro 3.559 6.246 6.830 6.873
Quarto 3.895 5.923 5.863 6.671
Total 19.146 22.509 23.675 24.348
Fonte: Brasil et al. (1987a).
148
Figura 26. Em condições de pedregosidade e afloramento de rocha, a
introdução de espécies é possível sem o cultivo mecânico
149
elevada e o período de permanência prolongado, a parcagem, como é
conhecida esta prática, que tem por finalidade aumentar a concentração
de dejetos (como esterco e urina), também pode ser utilizada (Araújo,
1976; Jacques, 2001; Vincenzi, 2001). Certas advertências devem ser
feitas com relação ao uso da parcagem: as áreas deverão possuir abrigo
para o gado, com o objetivo de evitar ou reduzir o estresse causado pela
adversidade do clima; em épocas de restrição alimentar, essa prática
pode causar a perda de peso dos animais. Assim, a escolha da categoria
animal assume grande importância para esta prática.
150
naturais (Vincenzi, 1974; Carámbula, 1977; Barreto et al. 1978; Nabinger,
1980; Maraschin, 1985; Macedo, 1987b; Fontaneli & Jacques, 1991;
Jacques, 1993; Jacques, 2001; Jacques & Nabinger, 2003). Este método
pode ser utilizado após o tratamento prévio da área com pastejo intenso,
queima ou roçada. Quando as condições de solo e relevo permitem, a
gradagem superficial possibilita, de maneira geral, uma boa implantação
de todas as espécies, por garantir uma maior penetração de água, uma
certa mobilização do solo e maior atividade microbiana. Estes fatores,
juntamente com uma boa cobertura das sementes, levam a um rápido
estabelecimento (Carámbula, 1977). O preparo superficial com grade,
como mostra a Figura 28, resulta em um mínimo de mobilização do solo,
facilita o contato da semente e preserva a quase totalidade da pastagem
nativa. A utilização desse implemento após a distribuição do calcário evita
a perda por escorrimento e promove um maior contato do corretivo com
o solo. Com a gradagem respeitando-se as curvas de nível do terreno, os
sulcos funcionarão como microterraços, aumentando a infiltração de
água (Jacques, 2001). Os tratoristas deverão ser muito bem orientados
quanto à regulagem de abertura da grade e à velocidade da operação,
para não cometerem excessos. No entanto, esta prática limita-se a áreas
que permitam um mínimo de mecanização, no que se refere a declividade,
afloramento de rochas e pedregosidade (Prestes, 2001).
151
O ordenamento das operações pode ser o seguinte: utilização da
área com altas lotações para concentrar dejetos e aumentar a fertilidade;
aplicação do calcário, quatro a cinco meses antes da semeadura, com
posterior gradagem superficial; realizar a semeadura e a adubação,
seguida ou não de outra gradagem; passar um rolo compactador ou
utilizar parcagem.
Em Bom Retiro, SC, nas propriedades de Gustavo Wiggers e
Bertolino Hemkemaier, e em Lages, na propriedade de José de Assis
Andrade Branco, foram implantadas as primeiras unidades de
melhoramento de campo natural em 1996. Em ambas, utilizou-se a
gradagem superficial após a calagem, que ocorreu em dezembro de 1995
e em janeiro e julho de 1996, respectivamente. Anteriormente à
sobressemeadura e à adubação, efetuadas em abril e julho de 1996, em
uma única operação com o uso de plantadeira a lanço, também se efetuou
à gradagem superficial. Após a distribuição das sementes, passou-se rolo
compactador nas três áreas. Estas unidades ainda continuam servindo
como demonstrativas da tecnologia para vários eventos e visitações.
A compactação das sementes é outro fator de fundamental
importância para proporcionar uma melhor implantação, a partir da rápida
absorção de água e conseqüente germinação. Esta operação pode ser
realizada com implemento próprio, como rolo compactador (Figura 29),
mas também com outros. Uma pequena árvore ou até mesmo um tronco,
desde que seja o mais redondo possível, para não arrastar as sementes,
assim como o pisoteio, levando-se em conta a condição de umidade do
solo, para evitar a sua compactação, são opções plenamente viáveis para
se promover o estabelecimento desejado. Até mesmo a ocorrência de
chuva intensa, logo após a sobressemeadura, cumpre com o mesmo
objetivo (Prestes, 2001).
Figura 29.
Melhorar o
contato da
semente com o
solo é
fundamental
para um bom
estabelecimento
das espécies
introduzidas
152
2.8.3 Renovadora de pastagens
153
Figura 30. O uso de renovadora de pastagem somente é possível em
áreas mecanizáveis
154
pastagem; as plântulas se desenvolveram melhor com a utilização da
renovadora, em função da presença do fertilizante próximo à semente, e
com a grade. No entanto, segundo Vincenzi (2001), a vantagem dos
métodos que abrem o solo ocorre apenas no ano da implantação. A partir
do segundo ano, após a ressemeadura natural das espécies introduzidas,
os rendimentos tendem a ser similares.
Em Esmeralda, RS, município localizado na região serrana,
extensionistas implantaram, com sucesso, várias unidades de observação
(UOs) de melhoramento do campo nativo, com trevo branco, cornichão,
azevém e aveia preta. Quanto aos métodos de implantação, para as
leguminosas não houve diferença acentuada entre a utilização de grade,
a lanço e renovadora de pastagens. Para as gramíneas, o estabelecimento
a lanço foi menor, o que pode ser explicado pela dificuldade que as
sementes têm para um bom contato com o solo. É importante registrar que
estas UOs foram implantadas no início de julho (Mota, 1996).
As principais diferenças entre semeadura sem cultivo mecânico,
com preparo superficial do solo e cultivo convencional, foram sintetizados
por Pearson & Ison (1994) e acrescidas de algumas informações para as
condições do Planalto Catarinense (Tabela 42).
155
Tabela 42 (continuação)
156
Persistência é a manutenção de um estande de plantas suficiente
para cumprir com as exigências e expectativas do sistema de produção
(Garcia, 1992). É resultado da ação de diversos fatores, como: clima,
solo, cultivares, moléstias, pragas, manejo, competição, etc. As
leguminosas têm geralmente uma menor amplitude de adaptação e
menor tolerância ao estresse ambiental e de pastejo que as gramíneas,
exigindo, portanto, melhor manejo para persistir e permanecer produtivas
(Buxton, 1989, citado por Garcia, 1992).
A implantação do melhoramento realizada no final da estação fria
favorece a competição do campo nativo. Com a temperatura em elevação,
as pastagens naturais iniciam sua estação de crescimento, concorrendo
em maior grau com as plantas introduzidas, ainda muito jovens. Esta
competição é amplamente desfavorável, visto que a vegetação nativa, há
muito adaptada às condições originais, tem, a partir deste momento,
condições mais favoráveis de pH e de fertilidade do solo. Quando isto
acontecer, o recomendável é efetuar o pastejo com animais jovens, ou
mais leves, que irão consumir primeiramente a vegetação nativa, que se
encontra em fase inicial de brotação. Desta forma, será diminuída a
competição por água, luz e nutrientes. É importante que nunca se utilize
o melhoramento com ovinos ou eqüinos no período de estabelecimento,
que se estende da sobressemeadura até o diferimento para a
ressemeadura natural. Estas espécies animais têm por hábito o pastejo
seletivo e o rebaixamento excessivo da pastagem, comprometendo
demasiadamente as reservas e os pontos de crescimento das plantas
introduzidas. Também conseguem arrancar, pelo ato do bocado, aquelas
plantas que ainda não apresentam o sistema radicular muito desenvolvido.
Dependendo da intensidade de uso por parte destes animais, pode haver
uma acentuada redução do estande das espécies introduzidas.
A capacidade de produzir sementes é uma das características mais
desejáveis em plantas forrageiras, principalmente tratando-se de espécies
perenes que dependem desta característica para persistir ao longo dos
anos. Assim, o manejo deve ser orientado no sentido de permitir que, em
determinados períodos do ano, elas concluam os processos de
florescimento e frutificação, formando um bom estoque de sementes no
solo, e assim continuarem produtivas por muito tempo. O desaparecimento
de leguminosas como resultado de manejos incorretos é muito comum,
pois, na prática, o manejo do pastejo realiza-se mais em função dos
animais que das exigências da pastagem (Garcia, 1992).
Um manejo durante a primavera, que permita uma adequada
formação de sementes e assegure a ressemeadura tanto de leguminosas
anuais quanto de perenes, assim como as utilizações moderadas durante
157
o verão são práticas muito importantes para a persistência da pastagem
melhorada (Tothill, 1981; Carriquiry, 1992).
Em um ensaio, no qual, entre outros aspectos, foi determinada a
quantidade de sementes depositadas sobre o solo por ressemeadura
natural, Flaresso & Saibro (1992) obtiveram os maiores rendimentos
(65,8 e 50,2kg/ha) quando os cortes foram feitos no maior intervalo (nove
semanas), à altura de 5 e 10cm, respectivamente. Esta condição provocou
as maiores freqüências de plantas de cornichão na área, 64,7% e 63,7%,
respectivamente. Entretanto, Olmos (1994) obteve quantidades bem
inferiores de sementes de cornichão depositadas sobre o solo, quando
comparou três sistemas de cultivo mínimo: com escarificador, com grade
e com grade mais escarificador. As quantidades encontradas foram de 3;
5 e 2kg/ha, respectivamente. Estas quantidades refletiram-se em uma
redução do estande no outono seguinte. Também um pequeno banco de
sementes no solo foi encontrado por Prestes (1995), avaliando períodos
de diferimento, como forma de melhorar a capacidade de persistência do
cornichão. No referido ensaio, encontrou-se 0,31, 0,94 e 1,56kg/ha de
sementes no solo, para os períodos de sem diferimento, 28 e 56 dias de
descanso, respectivamente. A manifestação do banco de sementes
encontrado refletiu-se sobre o estande final da avaliação, que foi de 26,
50 e 51 plantas de cornichão por metro quadrado, para a mesma ordem
dos tratamentos, respectivamente (Prestes & Jacques, 2002), ficando
evidente que períodos maiores de descanso proporcionam a maturação
de uma maior quantidade de sementes e, por conseqüência, um maior
número de plantas desta espécie. Neste mesmo ensaio, obteve-se efeito
positivo e significativo da adubação de final de verão para a produção de
MS, para o banco de sementes e para o estande final do cornichão,
independentemente dos tratamentos de diferimento aplicados.
Nas condições de Bagé, RS, o cornichão São Gabriel, em cultivo
convencional, apresentou uma produção de 1.847kg de MS/ha no primeiro
ano. Nos dois anos seguintes, estas produções atingiram valores de
4.825 e 7.367kg/ha de MS, respectivamente. Como foi realizada apenas
uma única semeadura no início do experimento, pode-se atribuir, em
parte, esta elevação dos rendimentos verificados a partir do segundo ano
à ressemeadura natural (Brasil et al., 1987b). Portanto, a população de
plântulas presentes no outono em anos sucessivos à instalação pode ser
usada como medida do sucesso do melhoramento (Carámbula et al.,
1994).
158
O descanso estratégico ou diferimento por um período que pode
variar de 40 a 60 dias, durante os meses de dezembro e janeiro, permite
a formação de sementes e assegura a ressemeadura natural tanto das
leguminosas anuais quanto das perenes (Figura 31). Também as
utilizações moderadas durante o verão e a manutenção do resíduo de
pastejo a uma altura de 7 a 10cm são práticas essenciais para a
persistência da pastagem melhorada. Neste caso específico, a persistência
das espécies introduzidas é fundamentalmente dependente do manejo e
também da ressemeadura natural, como no caso do cornichão e do trevo
vermelho. Também é importante a manutenção da fertilidade, nas
quantidades de 100 a 150kg/ha de adubo, aplicado no início da primavera
ou final do verão, ao longo dos anos, para todas as espécies, tornando-
-se mais efetiva em condições adequadas de luminosidade, temperatura
e umidade, que favoreçam a germinação das sementes e assegurem a
sobrevivência das plantas jovens.
159
Apesar de a ressemeadura natural ter efeito direto sobre a
manutenção e aumento do estande das espécies introduzidas, o diferimento
pode ser dispensado, desde que analisada a relação custo/benefício
para esta medida. O motivo para isso é bastante simples. No período em
que a pastagem deve estar em descanso, para permitir a formação das
sementes, encontra-se também em seu estádio de maior produção de
forragem. Assim, o rendimento em ganho de peso obtido pelos animais em
pastejo nesse mesmo período pode compensar a aquisição e reintrodução
de sementes no próximo outono-inverno.
Quando se optar pela permissão ao florescimento e maturação das
sementes, o diferimento, da área total do melhoramento, somente se faz
necessário no ano de implantação. Nos anos seguintes, com essa mesma
área estando dividida e adotando-se o pastejo rotativo, um ou outro
piquete estará em descanso na época mais indicada para a ressemeadura
natural. Outra vantagem da ressemeadura natural é o surgimento de
plantas selecionadas ao ambiente da propriedade em que estão sendo
introduzidas. No caso do trevo branco, por exemplo, esta seleção é muito
rápida. Carámbula (1977) acrescenta que no fim do verão, antes da
germinação das sementes provenientes da ressemeadura natural das
espécies introduzidas no ano anterior, é necessário o uso do pastejo
intenso para eliminar a competição da flora estival, que deve ser mantida
sempre baixa neste período; em seguida, recomenda-se proceder à
aplicação de P em cobertura, para favorecer o desenvolvimento das
leguminosas. Após o pastejo intenso, a roçadeira pode ser utilizada para
o controle de plantas indesejáveis, como forma de prevenir o surgimento
de focos de degradação da pastagem.
O diferimento também pode ser usado para a expansão das áreas
melhoradas, ou melhorar o estande das já implantadas, visto que os
trevos e o cornichão têm capacidade de passar pelo sistema digestivo dos
animais e germinar na bosta, como mostra a Figura 32. Os animais,
consumindo flores que contêm um grande número de sementes maduras,
acabam por distribuí-las através das bostas. Então, após o consumo da
forragem nessas condições, os animais permanecem onde estão, ou são
levados para outras áreas previamente corrigidas e adubadas,
conseguindo-se, desta forma, reduzir em muito os custos de implantação.
Carámbula (1997) apresenta, de forma esquemática, como proceder
o manejo do melhoramento ao longo do ano para alcançar altas pro-
duções e persistência, como mostra a Figura 33.
160
Figura 32. As áreas de melhoramento podem ser expandidas pelo manejo
da bosta, desde que atendidas as exigências de correção da acidez e
fertilidade
Limpeza
do solo
Pastejo co ntrolado
Adubação para ressemeadura
Regener ação natur al
natural
Pastejo
m uito
co ntrolado Diferim ento Pastejo norm al
----------- -----------
J F M A M J J A S O N D
161
2.10 Literatura citada
2. ALMEIDA, E.X. de; ROSA, J.L.; MIRANDA, M.; VIEIRA, S.A.; GISLON, I.;
HILLESHEIM, A.; LAJUS, C.A.; DALAGNOL, G.L.; FLARESSCO, J.A.;
DUFLOTH, J.H. Forrageiras avaliadas em Santa Catarina. In: EPAGRI.
Avaliação de cultivares para o estado de Santa Catarina 2002/2003.
Florianópolis, 2002. p.78-91. (Epagri. Boletim Técnico, 119).
162
9. BARRETO, I.L.; VINCENZI, M.L.; NABINGER, C. Melhoramento e
renovação de pastagens. In: SIMPOSIO SOBRE MANEJO DE
PASTAGENS, 5., 1978, Piracicaba, SP. Anais... Piracicaba, SP: Esalq,
1978. p.28-63.
163
16. BRASIL, N.E.T.; GONÇALVES, J.O.N.; MACEDO, W.S.L.de; COSTA,
N.L.da. Produtividade de algumas forrageiras de inverno. EMBRAPA.
Centro Nacional de Pesquisa de Ovinos. Coletânea das pesquisas
forrageiras. Bagé, RS, 1987b. v.1, p.410-413.
164
tación de mejoramientos extensivos. In: REUNION DEL GRUPO
TECNICO REGIONAL DEL CONO SUR EM MEJORAMIENTO Y
UTILIZACION DE LOS RECURSOS FORRAJEROS DEL AREA
TROPICAL Y SUBTROPICAL: GRUPO CAMPOS, 14., 1994, Termas
de Arapey, Salto, Uruguay. Anales…Montevideo: INIA, 1998. p.39-44.
30. EVANS, T.R. Some factors affecting beef production from subtropical
pastures in the coastal lowlands of southeast Queensland. In:
INTERNATIONAL GRASSLAND CONGRESS, 11., 1970, Surfers
Paradise. Proceedings…Surfers Paradise: [s.n.], 1970. p.803-807.
165
32. FAVORETTO, V. Adaptação de plantas forrageiras ao pastejo. In:
SIMPÓSIO SOBRE ECOSSISTEMA DE PASTAGENS, 2., 1993,
Jaboticabal, SP. Anais... Jaboticabal: Funep, 1993. p.130-165.
166
41. JACQUES, A.V.A. Sitio do pinheirinho – uma pequena experiência de
30 anos: Relatório - dia de campo. André da Rocha, RS, 1995. 9p.
45. KROLOW, R.H.; MISTURA, C.; COELHO, R.W.; SIEWERDT, L.; ZONTA,
É.P. Efeito da adubação no crescimento e eficiência da nodulação do
trevo subterrâneo. In: REUNIÃO ANUAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA
DE ZOOTECNIA, 38., 2001, Piracicaba, SP. Anais... Piracicaba, SP:
SBZ, 2001a. CD-ROM.
46. KROOW, R.H.; MISTURA, C.; COELHO, R.W.; SIEWERDT, L.; ZONTA,
É.P. Desempenho agronômico do lotus El Rincón em função da
combinação de nutrientes. In: REUNIÃO ANUAL DA SOCIEDADE
BRASILEIRA DE ZOOTECNIA, 38., 2001, Piracicaba, SP. Anais...
Piracicaba, SP: SBZ, 2001b. CD-ROM.
167
temperadas com leguminosa quando implantadas em pastagem
natural submetida a preparo superficial do solo sob o efeito de quatro
doses de calcário e dois métodos de semeadura. 1972. 109f.
Dissertação (Mestrado) – Faculdade de Agronomia, Universidade
Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS.
168
mejoramientos extensivos en dos suelos de la región Este Del país.
In: VAZ MARTINS, D.; CARÁMBULA, M.; INDARTE, E. (Eds.) Pasturas
y producción animal en áreas de ganadería extensiva. Montevideo:
INIA, 1994. p.83-90. (INIA. Serie Técnica, 13).
169
Aumentos de la productividad con técnicas de manejo del campo
natural en la provincia de Corrientes. In: PUIGNAU, J.P. (Ed.) Utilización
y manejo de pastizales .Montevideo: IICA-PROCISUR, 1994. p.185-
189. (Diálogo – IICA-PROCISUR, 40).
170
CONE SUL – ZONA CAMPOS, 18., 2000, Guarapuava, PR.
Anais...Guarapuava, PR: CPAF/FAPA, 2000. p.146-147.
171
pastagens. In: SIMPÓSIO SOBRE MANEJO DA PASTAGEM, 7., 1984,
Piracicaba, SP. Anais...Piracicaba,SP: Fealq, 1985. p.235-237.
172
86. VINCENZI, M.L. Estabelecimento de leguminosas tropicais,
consorciadas ou não com capim de Rhodes, introduzidas em pastagem
natural com preparo superficial de solo. 1974. 166f. Dissertação
(Mestrado em Fitotecnia) – Faculdade de Agronomia, Universidade
Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS.
173
174
3 Manejo de pastagens naturais e melhoradas
Ulisses de Arruda Córdova33
Nelson Eduardo Prestes34
33
Eng. agr., M.Sc., Epagri/Estação Experimental de Lages, C.P. 181, 88502-970
Lages, SC, fone/fax: (49) 224-4400, e-mail: ulisses@epagri.rct-sc.br.
34
Eng. agr., M. Sc., Epagri/Estação Experimental de Lages, e-mail: prestes@epagri.rct-
sc.br.
175
composição botânica da pastagem e até mudanças genéticas dentro das
populações (Favoretto, 1993).
176
subutilização é o principal aspecto limitante; seu impacto é minimizado
pela integração de classes de rebanho (bovinos/ovinos) e, sendo possível,
através da conservação do excedente por fenação e silagem.
5o – Ser flexível no manejo das pastagens. Um excelente
manejo do pastoreio sempre é uma conciliação (densidade de pastagem
versus intensidade de pastejo). Identificar o objetivo principal do manejo
para a época específica, pastagens e animais e desenvolver uma
abordagem que satisfaça este objetivo sem prejudicar outros componentes
que limitariam a produção (rotação excessivamente longa). O manejo
deve retificar o fator mais limitante da produção em curso.
Para Carámbula (1997), em qualquer estabelecimento, a produção
animal está estritamente relacionada com a quantidade e qualidade de
forragem disponível durante a época invernal. Qualquer estratégia que
permita enfrentar esta situação mediante o aumento do número de dias
de pastoreio, prolongando uma oferta de forragem durante o inverno,
incrementará sensivelmente a rentabilidade do produtor.
Conforme Damé (1995), “a utilização dos campos naturais significa
uma possibilidade de minimização de impactos ambientais e da
dependência tecnológica, econômica e política de nações mais
desenvolvidas”. Afirma ainda que vem se fazendo um uso predatório
desse importante recurso e que “muito pouco conhecimento existe sobre
o solo, fauna e sua flora”. E justamente esse conhecimento reduzido é a
origem das dificuldades para se manejar melhor os campos naturais e as
pastagens melhoradas, pois não há uma quantidade suficiente de
informações básicas que auxiliem na recomendação de técnicas mais
sustentáveis e que venham a ser adotadas pelos produtores. As principais
serão discutidas neste item.
3.1 Diferimento
35
Como sinônimos de diferimento (que é o termo mais usual) são encontrados
pastoreio protelado ou estacional; popularmente, no Brasil Central, é usado o termo
“vedar” um potreiro ou uma invernada.
177
Consiste em protelar o pastoreio até que haja terminado a maturação das
sementes das espécies desejáveis. Finda a disseminação, a pastagem
é novamente ocupada pelos animais até a estação de crescimento
seguinte, quando são retirados para permitir a germinação e o
estabelecimento de novas plantas, garantindo a renovação e o
adensamento do estande [que, segundo Nabinger (1980), é função direta
da quantidade de sementes produzidas anualmente].
178
pois, na primavera-verão, os animais permanecem o maior tempo na
parte queimada, sobrando, na parcela não queimada, praticamente toda
a massa produzida nessas estações. O problema é que a lotação não é
ajustada e há um excesso de pasto na área “diferida”.
179
condições ambientais são favoráveis, cita-se “adequar a lotação em
função da flutuação estacional das pastagens naturais”; melhorar a
“condição da pastagem, favorecendo o aumento da contribuição de
espécies desejáveis na composição botânica” (id.); reproduzir plantas,
estabelecer novas plantas ou recuperar o vigor das já existentes,
especialmente das espécies mais importantes (Heady, 1975, citado por
Primo, 1993). Conforme Vincenzi (1994), o diferimento “é uma forma
prática do produtor selecionar forrageiras mais adaptadas às condições
predominantes na sua propriedade”. Andrade (1948), citado por Araújo
(1967), destaca também como vantagem do diferimento o enraizamento
mais profundo e a ramificação das espécies forrageiras, além da maior
oportunidade de competição com as plantas invasoras.
Segundo Primo (1993), os efeitos do diferimento podem ser
avaliados sobre o solo, a vegetação e a produção animal. Quanto ao solo,
Nabinger (1980) afirma que o pastoreio intenso, por muitos anos
seguidos, “conduz à compactação, favorecendo a erosão, devido à baixa
velocidade de infiltração da água, ocasionando escorrimento super-
ficial”, o que resulta em “menor desenvolvimento de raízes e conse-
qüentemente menor crescimento da parte aérea, além de aumentar a
suscetibilidade das plantas à seca”. O diferimento pode diminuir a
compactação, pois
180
no Uruguai, com diferimento em pastagens extensivas melhoradas levaram
às seguintes conclusões (Carámbula, 1997):
• O diferimento deve ser iniciado no fim do verão e início de outono,
já que à medida que se posterga o seu começo, os rendimentos acumulados
são cada vez menores, pois o maior potencial do melhoramento se
materializa antes que se registrem os dias curtos e as temperaturas
baixas.
• Quanto mais tarde se inicia o período de acumulação, menor será
a quantidade de matéria seca disponível para a época de escassez
forrageira.
• É importante iniciar o diferimento depois da utilização da pastagem,
de realizadas as roçadas de limpeza e a adubação anual.
Segundo Sampson (1951), citado por Moojen (1991), “o diferimento
tem efeitos benéficos mais evidentes na recuperação de pastagens
sobrepastejadas do que em pastagens em condições altamente produtivas”.
O tempo de evolução para uma melhor condição é bastante variável,
estando as diferenças “relacionadas a solos, clima, competição de
espécies e estoque de sementes disponível”.
As variações na freqüência das espécies, em função da época de
diferimento, são justificadas pela diferente fenologia das plantas que
compõem as pastagens. Dessa forma, diferindo em estações do ano
distintas, o conjunto das forrageiras beneficiadas não será o mesmo
(Rosito, 1993). Assim, quando o objetivo é promover espécies de distintos
ciclos, o diferimento em rotação é a melhor alternativa (Anderson, 1967;
citado por Primo, 1993). As Tabelas 43 e 44 são exemplos de esquemas
de diferimento em rotação que podem ser adotados onde o número de
invernadas (ou potreiros), de categorias animais e o período de pastoreio
podem ser adequados a cada propriedade. Embora ambos proponham
períodos muito longos, que variam de oito a 12 meses de diferimento, é
evidente que podem ser reduzidos, de acordo com os fatores citados
acima.
Na Tabela 43 o autor sugere usar a queima “para eliminar o
crescimento excessivo da vegetação grossseira e/ou de invasoras
arbustivas. O fogo seria usado em situações que impedem a utilização de
roçadeira”.
Para favorecer a renovação da pastagem com permanência das
melhores espécies, utilizando o diferimento, é necessário, logicamente,
conhecer os períodos de florescimento dessas espécies. Primo (1993)
adverte que em algumas comunidades vegetais esta prática não deve ser
empregada em determinadas épocas:
181
Em áreas grandemente infestadas por capim-annoni 2 (Eragrostis plana
Ness), seria desastroso fazer diferimento de primavera-verão, pois
intensificaria a disseminação dessa terrível praga. Em certas formações
campestres, onde predomina o capim-caninha (Andropogon lateralis
Ness), o uso de diferimento em época inadequada, resultará em oferta
aos animais de forragem de menor qualidade e com baixo consumo.
Primeiro P P P
Segundo P P P
Terceiro P P P
Quarto P P P
Nota: J/A = janeiro a abril; M/A = maio a agosto; S/D = setembro a dezembro;
P = pastoreado.
Fonte: Anderson (1967), citado por Primo (1993).
Nota: Q = queima.
R = roçada.
Fonte: Anderson (1967), citado por Primo (1993).
182
Outra prática de manejo que pode ser utilizada através de diferimento
é o banco de proteínas36 (Amaral & Oliveira, 1985; Jacques, 1995). São
áreas estabelecidas com leguminosas produtivas, diferidas em períodos
favoráveis de produção para uso através de pastoreio controlado, nas
épocas mais críticas (inverno). O controle do consumo é feito com o
acesso dos animais aos piquetes apenas algumas horas por dia37. O
banco de proteínas justifica-se pelo fato de a presença diária de N ser
essencial ao funcionamento normal da microflora do rúmen. Níveis
inferiores a 1% de N afetam o seu desenvolvimento, com conseqüente
decréscimo da digestibilidade, velocidade de passagem e consumo de
alimento. Tal decorrência determina não só a eficiência de proteína, mas
também de energia (Amaral & Oliveira, 1985).
O diferimento constitui uma prática adequada para aumentar a
produção dos campos naturais e das pastagens melhoradas, pela
possibilidade do ajuste da lotação em função da flutuação estacional da
produção. O trabalho realizado pela Estação Experimental de Vacaria,
RS, na década de 50, demonstra esse potencial (Grossman & Mohrdieck,
1955):
Uma área de 10ha, suportando uma lotação de oito animais, foi dividida
em dois potreiros iguais. Durante a estação quente os animais foram
concentrados numa das partes de 5ha o que representa 1,6 animais/ha,
em comparação com a lotação usual de 0,5 cab./ha. O outro potreiro foi
diferido e ceifado duas vezes durante o ano, com o feno produzido sendo
oferecido aos animais nos meses de inverno, quando eles passaram a
pastorear toda a área de 10ha (portanto, lotação de 0,8cab./ha).
36
O professor Mário Vincenzi, da UFSC, prefere o termo legumineira.
37
Na propriedade do professor Aino Jacques (André da Rocha, RS), os animais têm
acesso ao banco de proteínas durante 30 minutos diários, num sistema diferido-
-rotativo.
38
Os animais tiveram livre acesso às medas de feno durante os três meses de
inverno, de junho a agosto.
183
pelo tratamento usual perderam 88kg; c) as médias anuais de ganho por
cabeça foram semelhantes em ambos os sistemas, mas o ganho de peso
por hectare alcançou 72% a mais no pastoreio diferido com suplementação
de feno e d) “o uso de lotações mais pesadas durante o período de
crescimento intenso na estação quente e o diferimento de certas áreas
para a reserva de pasto ou para fenação constituem-se em técnicas
aconselháveis para suprir os períodos de escassez”.
Ganho de peso
Sistema Lotação
e época cab./ha
kg/cab./dia kg/cab. kg/ha
184
sugerem meados de primavera e início do outono. Com estes procedi-
mentos de manejo, se estaria favorecendo os dois grandes grupos de
espécies: as de produção hibernal e as de produção estival.
185
diferimento, segundo Stoddart & Smith (1943), citado por Primo (1993),
é a oferta de uma dieta de menor qualidade. Destacam ainda, que em
vegetações que se tornam muito grosseiras após a maturação, a opção
por essa técnica não é recomendável.
...................................MS/ha.......................................
39
Alguns: contínuo, Pastoreio Racional Voisin (PRV), pastoreio em estaca, rotacionado,
diferido, misto, alternado, seletivo, superpastejo, pesado, subpastoreio, zero,
racionado, rotativo racional, pasto-hora, etc.
186
Embora existam diversas realizações práticas e variantes nos sistemas
de pastoreio, elas podem resumir-se a uma opção entre os dois verdadeiros
métodos ou alternativas, que são o pastoreio contínuo e o pastoreio
rotacional. No primeiro os animais têm acesso livre à área da pastagem
que os suporta por períodos longos, em geral toda a estação de pastoreio
ou mesmo o ano inteiro, enquanto que no segundo a área da pastagem
é subdividida e as parcelas resultantes pastadas seqüen-cialmente40, em
ciclos de pastoreio que se repetem, e nos quais há um período de repouso
dado pela diferença entre o número de dias do ciclo e o número de dias
de pastoreio numa parcela.
40
O princípio da seqüência não é totalmente válido para o PRV (que deve ser
conduzido com flexibilidade), pois o produtor deve “atender às exigências do pasto
e da vaca” e assim se o potreiro não se encontra em condições adequadas para o
pastoreio, deve ser “saltado” e posteriormente voltar ao mesmo a tempo de atender
às exigências citadas (Voisin, 1974). Pinheiro Machado (1971), complementa que
“é indispensável permitir à pastagem o tempo ótimo de repouso, para que ocorram
as produções máximas”.
41
Paralelamente a esta discussão, Moreira (1995) apresenta a posição de vários
autores, com base em resultados de ensaios que “mostram que é a variação da
intensidade de pastoreio (e não o método em si) que determina as maiores
diferenças nas produções por animal, por hectare e até nas características das
pastagens”.
42
Segundo Cammon (1978), citado por Cosgrove (1992), as variações da resposta
animal aos tipos de pastoreio devem-se: a) à rigidez dos desenhos experimentais
que ignoram os aspectos fisiológicos do crescimento das forrageiras; b) à curta
duração de alguns experimentos, que não permitem obter resposta da pastagem
ao método de pastoreio; c) ao fato de não considerar o crescimento presente e futuro
das pastagens e suas relações com os requerimentos animais; d) à não-manutenção
das pastagens em condições fisiológicas similares, o que influi sobre a comparação
e e) à perda de eficiência de colheita frente ao incremento da duração da rotação e
da variação dos intervalos de descanso.
187
semelhante ao afirmar que “não há uma receita única que possa ser
considerada válida para todas as situações”. A regra mais simples,
acrescenta, a ser aplicada em condições temperadas e úmidas consiste
em assegurar que: a) as práticas de manejo sejam flexíveis e b) se
mantenha uma cobertura contínua de folha verde durante todo o ano.
A pressão de pastoreio, a intensidade e a freqüência da desfoliação
são essencialmente ditadas pelo tipo de condução (controle) do sistema
de pastoreio adotado (contínuo ou rotativo). “Mais do que a produtividade
do sistema, está em causa a estrutura da vegetação, a adaptação das
espécies vegetais e o comportamento animal” (Holmes, 1989; Penning et
al., 1994, citados por Moreira, 1995). Segundo Chapmam (1992), um
requerimento importante nas forrageiras é que tenham um alto grau de
plasticidade fenotípica43 e, portanto, possuam capacidade de tolerar
variações na desfoliação em função do manejo.
Primavesi (1982a) lembra que “a forma mais primitiva de um
pastoreio rotativo é a migração dos rebanhos nos pastos da comunidade,
dirigido por um pastor (...), que leva o gado a um determinado campo, e
quando este foi pastado, o leva adiante”. Este sistema ainda é praticado
no Norte da Alemanha e no Círculo Ártico, pelos lapões, e na região dos
Alpes, onde o pastoreio é sazonalmente regionalizado. A mesma autora
não tem dúvidas sobre o melhor método de pastoreio e afirma que:
188
• Divisão da área de pastagem em parcelas.
• Estabelecimento de intervalos de repouso após o pastoreio pelo gado,
durante o tempo necessário para o pasto voltar a apresentar um
desenvolvimento satisfatório, portanto a uma duração variável conforme
a época do ano.
• Distribuição dos animais na pastagem, em grupos da mesma idade e
de acordo com o tipo de aproveitamento.
189
Tabela 47. Efeito de distintas lotações e métodos de pastoreio na
produção de carne de cordeiro
Lotação
Pastoreio rotativo Pastoreio contínuo
(n o)
................................kg/ha....................................
190
(1997) cita como vantagens do pastoreio contínuo o fato de não se
necessitar de um controle rígido da pastagem e a formação de pastagens
mais densas e resistentes ao pisoteio.
191
A
Figura 37. (A) Área subdividida com cerca eletrtificada em piquetes com
aproximadamente 1ha e corredor central para manejo através de pastoreio
rotativo. (B) Detalhe da cerca. Lages, propriedade de José Assis Branco
192
inverno”. Carámbula (1977) também afirma que a freqüência de turnos de
pastoreio não deve ser fixa:
193
• A utilidade final de todo sistema de pastoreio é o rendimento em
produto animal e não o rendimento de matéria seca da pastagem.
• Para que as vantagens do sistema rotativo se manifestem, é
imprescindível trabalhar com lotações altas.
• O êxito do pastoreio rotativo depende de se evitar situações
extremas de crescimento e de desfolhação. Os resíduos não devem ser
inferiores a 7,5cm, para evitar rebrotes muito demorados.
• O pastoreio rotativo permite manter um melhor equilíbrio entre as
espécies componentes do melhoramento e um controle mais eficiente das
invasoras, em função da alta carga instantânea que implica baixa
seletividade e beneficia a habilidade competitiva das plantas introduzidas;
• A maior carga animal no pastoreio rotativo favorece uma melhor
distribuição das fezes e da urina, o que permite uma reciclagem mais
rápida do nitrogênio, assim como um controle mais efetivo de enfermidades
e parasitoses.
• O requisito mais importante para conduzir o manejo de uma
pastagem através do pastoreio rotativo é haver grande flexibilidade. Não
existem regras fixas, mas conceitos fundamentais que se devem aplicar
de acordo com as circunstâncias vigentes.
• No fim do outono e no inverno não se obtêm maiores vantagens
com períodos de descanso superiores a 60 dias.
• Nenhum sistema de pastoreio pode compensar a incapacidade do
produtor de oferecer níveis adequados de forragem, nem a falta de
habilidade e destreza para as utilizar de maneira eficiente.
Praticamente em todas as propriedades que implantaram
melhoramento de campo nativo nos últimos anos na Região Serrana,
aproximadamente 860, o manejo das pastagens tem sido feito através do
sistema rotativo, com piquetes que variam de 1 a 3ha. O período de
descanso adotado é de 35 a 40 dias no outono e inverno e de
aproximadamente 20 dias na primavera e verão. Esse período, logicamente,
é influenciado de forma direta pelo manejo, fertilidade do solo, pelas
práticas culturais (adubação, roçada, etc.), pelo regime hídrico, pela
composição botânica, entre outros fatores.
Esta recomendação é semelhante à preconizada no Programa
Regional de Melhoramento de Campo Nativo da Microrregião Homogênea
dos Campos de Cima, da Serra do RS, ou seja, tempo de descanso de
aproximadamente 30 dias e tamanho dos piquetes variando de 1 a 2ha.
Os animais normalmente entram na pastagem quando ela atinge 15 a
25cm e são retirados quando ocorre o rebaixamento para aproximadamente
6cm (Messias & Ries, 2002).
194
3.3 Subdivisão de invernadas e adequação da lotação
Uma das alternativas para diminuir o alto investimento inicial com cercas fixas é
44
195
ou locais de acesso mais difícil) e superpastoreio (locais mais planos,
topos de morros, coxilhas). No primeiro caso, a pastagem torna-se
grosseira e de má qualidade nutritiva; no segundo, ocorre quase sempre
a dominância de plantas indicadoras.
Pastoreio contínuo 1 0 -
20 2 20 20
10 4 30 10
5 8 35 5
2,5 16 37,5 2,5
2 20 38 0,5
Fonte: Adaptado de Gardner & Alvim (1985), citados por Alvim (1990).
196
Diversos autores (Araújo, 1949; Sheath et al., s.d.; Carámbula,
1977; White, 1981; entre outros) destacam a necessidade dos animais
de consumirem a maior quantidade possível de forragem disponível à
medida que cresce, especialmente na primavera, para que permaneça
palatável e com alto valor nutritivo por mais tempo. O objetivo principal
deve ser minimizar o excesso através da maximização do consumo total
(Sheath et al., s.d.). O pastoreio leve pode levar a uma alta densidade da
pastagem e aumentar as perdas por morte e declínio; se não for
consumido pelo gado, este material acaba se decompondo (Miligan et al.,
s.d.).
Segundo Nicol & Nicoll (s.d.), para uma mesma disponibilidade de
forragem, o gado cresce muito mais rápido na primavera do que nas
demais estações, pelos seguintes motivos: a) potencial mais alto para
ganho de peso após um inverno de baixo ganho (ou de perda de peso),
pois o gado que tem aumento de peso compensatório ingere 20% a mais
do que os animais bem alimentados previamente; b) maior valor nutritivo
das espécies na primavera e c) maior consumo em razão da estrutura de
pastagem. Os mesmos autores advertem que,
197
Tabela 49. Influência da lotação no Estado da pastagem e no crescimento
de borregos durante a primavera
27 3 1,5 208
20 6 2,2 275
22 9 3,3 250
19 12 4,1 263
Uma lotação alta é a filosofia mais aceita para produção animal. Mas não
se deve esquecer que muitos animais bem alimentados melhoram o
estado da pastagem, porém, muitos animais mal alimentados a deterioram
(...). É fundamental compreender que a eficiência de produção não se
mede simplesmente com cargas altas, porque o que o produtor vende não
são nem cabeças, nem patas, mas quilos de lã, leite e/ou carne (id.).
198
Figura 38. Subdivisão de invernadas utilizando cerca eletrificada com dois
fios para contenção de gado de cria
199
3.4 Correção da acidez e fertilização
45
‘‘Os fundamentos da fertilização e correção em cobertura’’ para introdução de
espécies apresentados no item II são válidos quando da utilização de tais práticas
isoladas.
46
Quatro meses depois, foi feito um reforço equivalente a 175kg/ha da mesma
fórmula, em função de forte escorrimento provocado por chuvas após a primeira
adubação.
200
diferiu significativamente da introdução em cobertura (nas mesmas
condições de fertilização) de trevo vermelho cultivar kenland e de trevo
branco ‘guaíba S1’, sendo apenas superado pelo trevo vesiculoso
‘yuchi’.
201
Figura 40. Adesmia latifolia, leguminosa perene de inverno presente em
diversas áreas de pastagem nativa melhorada
47
Como foi discutido nos itens 2.3.3 Adubação, 2.5 Densidade de semeadura e 2.6
Inoculação e peletização, o N pode ser obtido através de leguminosas quando da
introdução de espécies; no entanto, nesse caso, trata-se somente de fertilização,
justificando-se sua aplicação.
202
em ganho de PV, como em aumento de lotação e modificação favorável
da flora, além de se ter detectado, após sete anos da última aplicação de
P, um grande efeito residual.
Schreiner (1991) afirma que, em parte, a baixa produtividade dos
campos naturais se deve às deficiências de fertilidade do solo e levanta
a possibilidade de aumentar sua rentabilidade através da adubação, além
de minimizar a paralisação do crescimento das forrageiras no inverno.
Para dar suporte a esta hipótese, apresenta dois trabalhos de pesquisas
realizados na Fazenda Modelo de Ponta Grossa, PR.
O primeiro, teve por objetivo “apurar os efeitos de níveis de
adubação NPK sobre a produção e o valor nutritivo das pastagens nativas
daquela região”. A adubação testada (kg/ha) foi a seguinte: 120 de N, 120
de P2 O5 e 90 de K2O. As produções, nos diferentes tratamentos, foram
avaliadas de acordo com a estação do ano, através de cortes. Tanto a
disponibilidade de MS, como de PB, foram aproximadamente 100%
maiores nos terrenos adubados, em relação àqueles com a fertilidade
natural da região (Figura 41).
123 123
123 123
123
123 123
123 123
123Adubação
123
123 123
123 123
2.000
123
123 123
123 123
123 Não adubação
123
123 123
123 123
123
123
123 123
123 123
123
123
123 123
123 123
123
123 123 123
Matéria seca (kg/ha)
123
123 123
123 123
123 150
123 123 123 123
Proteína bruta (kg/ha)
123
123 123
123 123
123 123 123
123
123
123 123
123 123
123 123
123 123
123 123
123
123 123
123 123
123 123
123 123
123 123
123
1.000 123
123 123
123 123
123 123
123 123
123 123
123
100
123
123 123
123 123
123 123
123 123
123 123
123
123
123 123
123 123
123 123
123 123
123 123
123
123
123 123
123 123
123 123
123 123
123 123
123
123
123 123
123 1234
1234 123
123 123
123 123
123 123
123 50
123
123 123
123 1234
1234 123
123 123
123 123
123 123
123
123
123 123
123 1234
1234 123
123 123
123 123
123 123 123
123 123 1234 123 123 123 123
123
123
123
123 123 1234
1234 123
123 123 123 123 123
Ver. Out. Inv. Prim. Ver. Out. Inv. Prim.
203
Com o objetivo de medir o efeito da fertilização com P numa
pastagem natural de Corrientes (Argentina), sobre a produção de um
rodeio de cria, com diferentes cargas animais, Pizzio et al. (1994)
aplicaram 30kg de P2 05 /ha/ano durante o período de 24/10/73 a 16/2/79.
As principais conclusões foram: a) os potreiros fertilizados apresentaram
de 140% a 290% mais de pasto com carga de 0,50 e 0,65 vacas/ha/ano,
respectivamente; b) a fertilização fosfórica resultou na maior presença de
leguminosas e aumentou o conteúdo de P em 51% na pastagem; c) a
produção de carne nos potreiros fertilizados foi de 159kg/ha/ano e de 116
naqueles sem fertilização (Tabela 51). Registra-se que estes são
resultados obtidos em condições de fertilidade superiores às encontradas
em SC, portanto, não devem ser simplesmente transferidos, sem uma
análise criteriosa, para nossas condições.
Tratamento
Aumento Marcação Desmame Prod. carne
(kg/vaca/ano) (%) (kg) (kg/ha/ano)
Vaca/ha Fertilização
204
razoáveis e para não se anular o efeito positivo que a adubação produz
durante o período de primavera-verão. Conclui-se que a adubação, por
si só, não será capaz de promover a elevação da rentabilidade na
pecuária em campo natural. Poderá, no entanto, contribuir apreciavelmente
para sua melhoria, desde que combinada com procedimentos que
assegurem a normal alimentação do gado durante a fase de outono-in-
verno. Tais procedimentos podem ser a introdução de espécies, a
implantação de pastagens cultivadas, o manejo de pastagens, o
armazenamento de forragem na forma de silagem ou de fenação, assim
como o diferimento de pastagens.
205
caracterizam por estruturas que acumulam reservas que são produzidas
durante o crescimento e são utilizadas por ocasião de cada rebrote (Mas
et al., 1994); B. trimera (carqueja) é perene, subarbustiva, ereta, glabra,
caule lenhoso e tri-alado em toda sua extensão, com 50 a 80cm de altura
(Lorenzi, 1991). Apresenta sistema radicular superficial, sendo que de
suas raízes mais grossas brotam novas plantas. O rebrote na primavera
tem origem a partir de órgãos subterrâneos, como, gemas localizadas em
talos lignificados (Berretta, 1994).
No agroecossistema constituído por pastagem, a presença de
algumas plantas invasoras pode proporcionar ou condicionar uma série
de fatores ecológicos, alguns desfavoráveis aos interesses humanos,
tornando-os alvos de controle e recebendo o conceito de “plantas
daninhas” (Pitelli, 1989), no caso de pastagens naturais, onde se cons-
tituem em componentes da vegetação original, recebem a denominação
de “plantas indesejáveis” (Gonçalves et al., 1989).
Como plantas indesejáveis são consideradas todas aquelas
espécies que normalmente não fazem parte da dieta do animal em
pastejo, mas ocupam lugar na vegetação e influem de alguma forma no
comportamento e manejo do gado (Formoso, 1994). Dependendo do tipo
fisionômico da pastagem natural e do manejo adotado, podem participar
da composição botânica em maior ou menor grau. Além de não servirem
de alimento para o gado, competem com as espécies de melhor valor
forrageiro por água, luz, nutrientes e espaço. Como, de maneira geral,
são rejeitadas pelos animais, são favorecidas pelo pastejo seletivo,
tornando-se excelentes competidoras (Pitelli, 1989).
Assim, a ocorrência de espécies indesejáveis como carqueja, mio-
-mio, vassouras em geral, alecrim-do-campo, caraguatá, entre outras, é
devida ao manejo inadequado da pastagem e às condições climáticas
(Castilhos, 1993). A predominância destas, tanto de forma isolada como
associada, promove a redução da superfície forrageira e dificulta o
acesso dos animais ao pasto, levando assim aos conseqüentes prejuízos
do ponto de vista produtivo (Mas et al., 1994).
A adoção de práticas de manejo e limpeza da pastagem, portanto,
contribui para o desenvolvimento de espécies mais produtivas e de bom
valor forrageiro (Castilhos, 1993), dando condições, para que a
manutenção de uma pastagem densa e competitiva reduza os riscos de
colonização por parte das plantas indesejáveis (Formoso, 1994). Como
exemplo, há registros de que a presença de E. horridum (caraguatá)
causou uma redução média da produção forrageira em torno de 43%
quando a cobertura desta planta era de aproximadamente 40% a 70%
206
(Montefiori & Vola, 1990).
Segundo Primavesi (1982a e b), “as plantas invasoras48 são ecotipos
perfeitamente adaptados às condições de solo e de clima (...). São o
resultado de algum fator favorável do meio ambiente ao seu
desenvolvimento”. Entre os fatores que contribuem para seu aparecimento
em pastagens naturais, onde, no clímax, eles não predominavam, estão:
a) condições químicas e físicas do solo (alguns exemplos: ricos em
alumínio favorecem a samambaia; mal-drenados, o Andropogon sp.,
compactados, as malvas e guanxumas); b) práticas de manejo (de solo,
gado e pastagem), especialmente pastoreio permanente (que permite a
colheita seletiva das espécies e a ocorrência, concomitantemente, de sub
e superpastoreio) e c) queimada, que adapta determinadas espécies ao
fogo (barba-de-bode e andropogoneáceas). A mesma autora registra
algumas recomendações para dificultar o surgimento de plantas
indesejáveis:
48
Algumas, consideradas invasoras, quando ingeridas pelo gado, podem se tornar
tóxicas, como a samambaia e o mio-mio (Baccharis coridifolia).
207
• Mecânico: através de roçadas, remove a parte seca e improdutiva
das plantas, proporcionando um rejuvenescimento da pastagem e controle
de plantas residentes.
• Químico: devido à grande diversidade de plantas que ocorrem
nas pastagem nativa e ao efeito tóxico dos herbicidas, há uma grande
dificuldade de utilizar o tratamento químico. [Além disso, White (1981)
acrescenta que, como os herbicidas não corrigem as causas originais do
aparecimento das espécies indesejáveis, é pouco provável que as
controlem a longo prazo].
• Biológico: o pastoreio intenso com bovinos ou ovinos, dependendo
da arquitetura e da resistência da planta ao casco animal, pode contribuir
para controlar certas espécies.
• Fogo: o uso do fogo é muito polêmico; seu efeito depende de
muitos fatores. Controla eficazmente algumas, mas favorece a germinação
de outras plantas indesejáveis (ver próximo item 3.6 Queimada).
Na maioria dos casos, o controle através do manejo, baseado na
ecologia da “invasora” em questão, é o método mais econômico. Os
fatores mais importantes para o produtor exercer esse controle são
(id.).
• Estabelecimento de uma pastagem densa e vigorosa através
da semeadura e fertilização em superfície, aumentando a competição
com as plantas indesejáveis.
• Manejo com lotações adequadas para controle por pisoteio e
desfolhação.
Para o manejo integrado de plantas indesejáveis, é de fundamental
importância que se conheçam sua forma de crescimento populacional e
os fatores ecológicos que afetam a sua disseminação e persistência.
Estes conhecimentos são fundamentais porque orientam a eleição da
modalidade de controle e a época de sua aplicação, de modo que os
efeitos sejam efetivos, pouco onerosos e provoquem o mínimo impacto
ambiental decorrente da medida de controle empregada (Pitelli, 1989).
Neste sentido, Castilhos (1993) observou que para o controle da carqueja
existe interação entre métodos de limpeza (como: ceifa, queima e
pastejo) e a época de sua aplicação; os melhores resultados obtêm-se
quando aplicados na primavera. No caso do caraguatá, a queima
favorece o aumento de sua freqüência pelo fato de ocorrer abertura da
comunidade vegetal, oportunizando a sua disseminação e seu desen-
volvimento.
A interação entre métodos de controle e época de aplicação não
somente existe para tratamentos mecânicos e culturais, como também no
caso de controle químico, e mesmo na associação dos diversos métodos
208
disponíveis. Assim, em trabalho realizado no Uruguai, Carámbula et al.
(1995) concluíram que o controle mais eficiente do caraguatá foi obtido
quando se realizou roçada no outono (abril), com aplicação de 2,4 – D +
picloram na primavera (outubro). Entretanto, Giménez & Rios (1994),
também no Uruguai, não obtiveram resultados satisfatórios avaliando
vários herbicidas, em diferentes dosagens, para o controle do caraguatá
e da carqueja, verificando apenas retardamento no desenvolvimento das
plantas daquela espécie e havendo necessidade de determinar a melhor
época para seu controle químico.
Com o objetivo de promover o desgaste das reservas localizadas
nos rizomas do caraguatá e, desta forma, reduzir sua capacidade de
rebrote, Mas et al. (1994) observaram que roçadas realizadas em março,
independentemente do número de cortes subseqüentes, dois ou quatro,
foram mais efetivas para o seu controle, reduzindo a área coberta por esta
planta, que era de 60% a 70% para menos de 20%.
Castilhos (1984) desenvolveu ensaio em Eldorado do Sul, RS (E.E.
Agronômica da UFRGS), durante aproximadamente 30 meses.
209
Catarinense é o caraguatá, devido à agressividade e por impedir o
pastoreio por causa dos espinhos nas bordas das folhas. Carámbula et.
al (s.d.) realizaram diversos experimentos no Uruguai, visando ao controle
do caraguatá. As principais conclusões são estas:
• A queima e o pastoreio normal não resultaram em controle efetivo.
• A roçada da planta (e não apenas do pendão floral) em abril em
dois anos sucessivos reduziu em 36% a área coberta por caraguatá e se
mostrou o tratamento mais eficiente sem utilizar herbicida.
• O corte da planta ou do pendão floral na primavera, embora evite
a disseminação de semente, não reduz a participação do caraguatá na
composição botânica.
• A queima a médio prazo exerce um efeito benéfico para o
caraguatá, devido à diminuição da competição e à elevação momentânea
da fertilidade do solo.
• A aplicação somente de herbicidas pode ser parcialmente
proveitosa, mas não controla o caraguatá, pois as plantas se recuperam
posteriormente sem problemas.
• O melhor tratamento foi um corte no outono (abril) e a aplicação
de herbicida na primavera (outubro), ou um corte no outono e a aplicação
de herbicida em abril.
Gonzaga (1998) destaca “que o fogo pode ser de boa ajuda em
áreas densas de caraguatá, pois eliminará folhas velhas e promoverá
rebrotes novos que serão consumidos pelos animais, bem como facilitará
outro tipo de trabalho de limpeza”. Este mesmo autor recomenda o
controle da carqueja através de um corte após a brotação de outono 49,
pois assim “não haverá ou serão muito baixos os níveis de reservas
existentes nas plantas para promoção do novo crescimento na primavera”.
Salienta que no inverno a carqueja se encontra em período de descanso;
se for roçada nesta estação, rebrotará na primavera a partir de reservas
acumuladas nas raízes. O mesmo ocorre se a prática for executada antes
do rebrote de outono.
Conforme Pereira (1993), um dos maiores problemas dos campos
nativos é a instalação de vegetação grosseira, ocupando o lugar das
forrageiras. Isto ocorre pela falta de concorrência e pelo fato de as
primeiras não serem consumidas pelos animais. Recomenda a limpeza
através da roçadeira,
os frios de inverno. Esse crescimento se prolonga até o verão, quando começa seu
período de repouso e frutificação, para apresentar novo rebrote no outono”.
210
como forma de melhorar, tanto a qualidade como a quantidade de pasto
produzido e de aumentar sua capacidade de suporte. Tal prática, com a
justificativa de ser muito onerosa, é pouco usada, mas, quando executada
em épocas oportunas, com manejo e lotação adequados, torna-se, sem
dúvida, a forma menos dispendiosa de se “comprar” campo. Mantém-se
a área, aumenta-se o gado (id.).
211
É difícil calcular o que foi incorporado em termos de matéria orgânica, pelo
fato de não usarmos a prática das queimadas, preservando as dejeções
e o material morto (palha) que se deposita na superfície do solo. Uma
avaliação muito simples: recolhemos o material roçado – constituído de
espécies grosseiras e indesejáveis, como macegas, vassouras e
caraguatás. Se considerarmos uma produção de 500g de MS/m2 (...),
teríamos 5.000kg de MS/ha como produção ou disponibilidade das
referidas espécies. A análise química de tal amostra revelou 0,67% de N
na MS. Este valor multiplicado por 5.000kg de MS dá 33,5kg de equivalente
N, o que significa aproximadamente um saco e meio de uréia. Este tipo
de dado já seria suficiente para justificar o uso da roçadeira. Pois, apressa
a decomposição da matéria orgânica que será incorporada ao solo.
Figura 42. Área roçada no mês de janeiro no município de Bom Retiro para
controle de plantas indicadoras
212
“Cada solo pode ser reconhecido pela vegetação (...) que ali se instalou.
Cada região possui suas plantas ecologicamente adaptadas” (Primavesi,
1979). A Tabela 52 e a Figura 43 apresentam as principais plantas
indicadoras que ocorrem no Planalto Catarinense e algumas medidas
para controlá-las.
213
A C
B D
Figura 43. Algumas das principais plantas indicadoras que ocorrem no
Planalto Catarinense: (A) carqueja; (B) samambaia; (C) caraguatá e (D)
vassouras
3.6 Queimada
O fogo, em si, não é bom nem mau, mas apenas um instrumento à nossa
disposição (...). Seu abuso é sempre pernicioso e seu impacto sobre a
natureza sempre profundo. Tudo depende da perspectiva do homem que,
sendo maior que o fogo, pode dominá-lo e colocá-lo a seu serviço. T.S.
Filgueira, citado por Evangelista et al. (1993).
214
tempos. O homem atual tem aumentado drástica e perigosamente o
número e a freqüência dessas queimadas (Guidon & Delibrias, 1986).
215
substituição através do melhoramento, não se pretende discuti-la com a
intensidade que o assunto desperta. Apenas serão levantados alguns
aspectos relevantes e de interesse para a compreensão do presente
livro.
O uso tradicional do fogo tem a finalidade principal de eliminar o
excesso de material, produzido na estação quente anterior e não consumido
pelos animais; por isso é empregado no final do inverno, para apressar
o rebrote (Figura 44). Como já foi mencionado, também é uma opção para
eliminar plantas indesejáveis. Segundo Damé (1995), a queima
216
facilmente por sementes) e tipo de solo (os declivosos facilitam a erosão).
Neiva (1993) afirma que os efeitos da queimada não podem ser analisados
isoladamente, sem levar em conta o fator solo, principalmente quanto à
sua permeabilidade, pois, sendo baixa (como cambissolos), “tende
apresentar menor disponibilidade de forragem”.
Quanto à resistência ao fogo, Pupo (1979) agrupa os vegetais em
dois grupos:
• De pequena resistência: espécies arbustivas, lenhosas, de
colmos lignificados, cuja extremidade superior do ponto de crescimento
se encontra longe do solo.
• De grande resistência: espécies herbáceas, de colmos não
lignificados, rasteiros, muitas vezes subterrâneos, cujos pontos de
crescimento se encontram rente ao solo e, freqüentemente, apresentam
elevado número de gemas sob o solo, como é o caso de gramíneas. As
sementes caem ao solo e resistem bem às queimadas.
O professor Aino Victor Ávila Jacques e seus colaboradores na
UFRGS desenvolveram uma série de trabalhos sobre queima – incluindo
várias dissertações de mestrado. As principais conclusões, após vários
anos de ensaios, são (Tabela 53):
• As áreas queimadas produziram menos que as não queimadas
(roçadas ou melhoradas).
• A grama forquilha demorou quatro meses para rebrotar e atingir
nível semelhante ao das áreas não queimados.
• O caraguatá, principal espécie indesejável na região (Depressão
Central do RS), aumentou sua freqüência nos potreiros queimados.
• O “cabelo de porco” (Piptochaetium sp., espécie nativa de inverno)
diminui sua disponibilidade de forragem nas áreas não queimadas.
• Houve alta porcentagem (em média 40%, mas chegando até a 70%
logo após a queimada) de solo descoberto sujeito à erosão, nos piquetes
queimados.
217
Já foram citados no subitem 1.2 alguns naturalistas que descreveram
– no século passado e início deste – os campos naturais do Sul do Brasil
como “macegosos e arbustivos”, quando no clímax, e atualmente, em
disclímax, pela intensificação do pastoreio, subdivisão e o emprego do
próprio fogo, apresentam potencial maior para a produção zootécnica,
através de espécies de porte mais rasteiro e de melhor qualidade
nutricional. Este fato não necessariamente diverge dos estudos do
professor Aino Jacques, mas confirma as observações de Castilhos
(1993) e Damé (1995), de que a resposta à queimada depende de muitos
fatores que atuam sobre o agroecossistema.
A literatura sobre pastagens está repleta de trabalhos que mostram
os efeitos do uso do fogo, com muitas informações divergentes. Aliás, a
única unanimidade sobre o assunto parece ser a existência de informações
contraditórias em praticamente todos os parâmetros possíveis de serem
dimensionados, como produção de MS, PB, desempenho animal, efeitos
sobre a qualidade da pastagem, matéria orgânica, ciclagem de nutrientes,
umidade do solo, organismos do solo, entre outros (Evangelista et al.,
1993). Schreiner (1991) faz a seguinte observação sobre esse aspecto:
50
Segundo Oliveira (1988), citando dados da FAO (1984), os efeitos da queimada
com essa finalidade têm curta duração, pois logo os animais voltam a contaminar
a área onde o fogo passou, em virtude da rápida brotação que ocorre e que disputam
para comer.
51
Da mesma forma, também estimula a germinação de plantas não-forrageiras e
indesejáveis na pastagem.
218
Desvantagens:
• Aumenta perdas pela erosão, principalmente em terrenos
declivosos.
• Reduz a infiltração de água no solo.
• Destrói grande parte da matéria orgânica existente no solo 52.
• Elimina muitos insetos, que são inimigos naturais de pragas53.
• Diminui a população de microorganismos úteis54.
• Predispõe o surgimento de condições físicas desfavoráveis.
Sobre esta polêmica, envolvendo benefícios e prejuízos provocados
pelo fogo, a engenheira agrônoma Brigitte Brandenburg, quando atuava
como pesquisadora na Epagri/EEL fez a seguinte análise:
52
Esta é uma das questões mais polêmicas sobre o uso do fogo. Coutinho (1994)
argumenta “que os solos mais ricos em MO vão perdê-la em maior proporção, uma
vez que este material também é combustível; naqueles pobres em MO, a sua
combustão é dificultada pela maior compactação que geralmente apresentam,
reduzindo o acesso ao ar carburante”. Castilhos (1984) afirma que o teor de MO tanto
pode diminuir ou aumentar “devido a variações de época de uso do fogo e das
condições no momento em que é utilizada”. Evangelista et al. (1993) citam vários
resultados de diversos autores em que a MO aumentou após o uso do fogo.
53
Damé (1995) conclui que, nas condições de seu experimento e com o modelo de
análise adotado, o fogo não apresentou efeitos significativos sobre colêmbolas e
ácaros do solo. Eller & Santos (1994) chegaram a um resultado mais surpreendente
ainda, pois num campo nativo submetido a queima “observou-se aumento da
população para todas as classes (Arachnida, Insecta e Collembola) após a queimada,
havendo redução apenas nos himnópteros (ordem da classe Insecta)”.
54
A intensidade do fogo (temperatura, duração e freqüência), a diminuição da acidez
e a liberação de nutrientes afetam a população de algas, fungos, actinomicetos e
bactérias. Alguns fungos proliferam menos em função da elevação do pH e “tendem
a aumentar o número de bactérias que fixam N (Azobacter e Clostridium), aumentando
a nitrificação e diminuiindo a amonificação” (Evangelista et al, 1995).
219
Das relações mencionadas acima, fica claro que as vantagens são
todas para a vegetação forrageira, enquanto as desvantagens atingem
principalmente o solo, o que, de certa forma, é bem mais grave, pela
simples razão de que a pastagem somente existirá se o substrato, que é
o solo, oferecer condições adequadas. Se todas as afirmações descritas
são verdadeiras, a longo prazo a queimada não encontrará defensores,
nem mesmo em manejo de pastagens nativas.
220
3.7 Literatura citada
221
11. CARÁMBULA, M., AYALA, W., BERMÚDEZ, R.; COSSIQUISY, E.
Control de cardilla. INIA Trienta y Tres. Uruguay, 1995. 9p.
222
19. EUCLIDES FILHO, K. Restrospectiva e desafios da produção de
ruminantes no Brasil. In: REUNIÃO ANUAL DA SOCIEDADE
BRASILEIRA DE ZOOTECNIA, 36. 1999, Porto Alegre, RS. Anais...
Porto Alegre: SBZ, 1999. p.15-48.
223
27. GONZAGA, S.S.; JACQUES, A.V. A. Avaliação de pastagem natural
sob diferentes intensidades de pastoreio com introdução de trevo,
ceifa e queima. Pesquisa Agropecuária Brasileira, Brasília, v.25,
n.11, p.1529, 1529-1535, nov.1990.
224
36. LORENZI, H. Plantas daninhas do Brasil: terrestres, aquáticas,
parasitas, tóxicas e medicinais. 2.ed. Nova Odessa, SP: Lorenzi,
1991. 408p.
225
44. NABINGER, C. Técnicas de melhoramento de pastagens naturais
no Rio Grande do Sul. In: SEMINÁRIO SOBRE PASTAGENS – “DE
QUE PASTAGENS PRECISAMOS”, 1980, Porto Alegre. Anais... Porto
Alegre: Farsul, 1980. p.28-58.
46. NICOL, A. M.; NICOLL, G.B. Pastagens para gado de corte. Canterbury,
Lincoln University, Nova Zelândia, s.d. 18p. (Cópia de impressora,
traduzida).
52. PINHEIRO MACHADO, L.C. Pasto racional voisin. São Paulo: Banco
União Comercial S.A. 1971. 28 p. (Palestra proferida no auditório do
Banco União Comercial S.A.).
226
53. PITELLI, R.A. Ecologia de plantas invasoras em pastagens. In:
SIMPÓSIO SOBRE ECOSSISTEMA DE PASTAGENS, Jaboticabal,
1989. Anais... Jaboticabal, SP: Funep, 1989. p.69-86.
227
63. SCHREINER, J.G. Características e rentabilidade da criação nos
campos naturais do Paraná. In: CURSO DE ATUALIZAÇÃO EM
PASTAGENS, 1991, Cascavel, PR. Anais... Cascavel: OCEPAR,
1991. p.109-140.
65. SHEATH, G.W., HAY, R.J.M.; GILES, K.H. Manejo das pastagens
para o pastoreio de animais. Palmerston North, Nova Zelândia, s.d.
16p. (Cópia de impressora, traduzida).
228
4 Custos de implantação do melhoramento de
pastagens naturais
Osvaldo Vieira dos Santos55
4.1 Introdução
229
uso do solo para a pecuária de corte, os autores classificam as fazendas
em três tipos:
• Fazendas especializadas em gado de corte criado em campo
nativo, com uma pequena área de pastagem anual de inverno, o chamado
“hospital”. Neste tipo de sistema o fazendeiro possui seu rebanho e
engorda seus próprios novilhos.
• Fazendas com gado de corte com utilização de pastagem anual de
inverno em sucessão a culturas comerciais de verão. Neste caso, o
proprietário compra normalmente bezerros para a engorda.
• Fazendas especializadas em culturas (lavouras) que utilizam
pastagem de inverno em sucessão às culturas de verão. Este tipo de
fazendeiro compra animais adultos para engordá-los no inverno e
comercializá-los na primavera.
Em relação aos sistemas de leite, Ritter & Sorrenson (1985)
classificaram os sistemas produtivos em especializados, com produção
em pastagens nativas e uma pequena área com milho para produção de
grãos em sucessão à área de azevém; sistemas especializados em leite
com grande área cultivada com pastagens permanentes ou anual, onde
o milho é utilizado para produção de silagem e, em alguns casos, para
grãos; propriedades mistas, combinando a produção de leite e de carne,
com predominância de uma ordenha diária e produção eventual de
silagem.
Ainda em relação aos sistemas de leite existentes na Região do
Planalto Sul Catarinense, Pinheiro et al. (1992) os classificaram em três
tipos:
Tipo 1 – são produtores familiares que possuem pequenas áreas
de terras, limitadas à mecanização, cultivadas com as culturas do milho e
do feijão. O rebanho leiteiro é de baixo potencial produtivo, com
predominância de raças mestiças e manejo alimentar, sanitário e
reprodutivo deficiente.
Tipo 2 – caracteriza-se por médios produtores. Estes associam à
atividade leiteira a produção de milho e feijão para o abastecimento
interno da propriedade. Há predominância da raça de gado holandês e
contam com um melhor padrão alimentar, higiênico e sanitário do rebanho.
Tipo 3 – caracteriza-se por grandes produtores de leite,
especializados; o leite é a principal atividade destes estabelecimentos,
cujo padrão tecnológico se diferencia em muito dos primeiros siste-
mas.
Em qualquer uma dessas situações, existe uma estrutura de
propriedade bem definida, constituída por uma gleba de terras, por
instalações de manejo do gado (galpão, brete, mangueira e balança em
230
alguns casos), além de cercas de arame farpado, taipas de pedra e
construções destinadas a moradia, tanto do proprietário, quanto dos seus
empregados.
Em sua grande maioria, utilizam mão-de-obra familiar, podendo
ocorrer contratos de mão-de-obra ocasional em determinados períodos
do ano, complementando a demanda do sistema. Nas propriedades
maiores, há predomínio de empregados contratados formalmente, sujeitos
às condições da legislação trabalhista.
Este conjunto de bens imóveis, juntamente com os animais, forma
o capital imobilizado dos proprietários, o qual, acrescido da mão-de-obra
disponível, constitui a base produtiva para determinado sistema de
produção. Portanto, a estrutura de produção representa o estoque de
capital utilizado na produção, sobre o qual há um determinado custo.
Em outro grupo de contas, tem-se o capital de giro do produtor,
representado basicamente pelos recursos monetários disponíveis em
espécie, pelas reservas de poupança, pelo estoque de produtos e
insumos e de animais disponíveis para venda, bem como por capitais
realizáveis a curto prazo, utilizados no custeio das atividades explo-
radas.
Observa-se uma desproporção entre o estoque de capital imobi-
lizado e a quantidade de recursos disponíveis para investimento. Neste
sentido, as áreas de terras ao longo do tempo foram consideradas muito
mais como reserva de valor do que meio produção. Decorre dessa
afirmação que é comum encontrar produtores com áreas consideráveis
de terras, praticando uma pecuária meramente extrativa, já que os
investimentos em benfeitoras (cercas, instalações de manejo e
melhoramento de pastagens) são praticamente inexistentes. Tal situação
conduz a uma condição de baixa produtividade e, conseqüentemente,
baixa rentabilidade do sistema.
Estes sistemas, classificados como criação extensiva, utilizam poucos
insumos adquiridos, seja para o tratamento de endo e ectoparasitos, para
mineralização do rebanho ou para a introdução de novas espécies
forrageiras. Em decorrência disso, apresentam baixos custos de
desembolso, porém são de baixa produtividade, a exemplo da produção
de 50kg de PV/ha/ano (Ritter & Sorrenson, 1985). Naturalmente, essa
produtividade é um resultado muito baixo em relação ao potencial
existente na região, demonstrando que os recursos vegetais, animais e
de solos não têm sido manejados adequadamente. Como conseqüência
deste mau manejo, a geração de renda também é muito baixa, mas pode
ser melhorada.
231
4.2.1 A natureza dos custos
232
resposta esperada e, por conseqüência, o retorno é pequeno, conduzindo
a um círculo vicioso de empobrecimento.
Em sistemas produtivos extensivos, com utilização de baixos níveis
tecnológicos, os gastos em insumos são relativamente reduzidos,
caracterizando sistemas de baixo desembolso ou de baixos custos;
entretanto, conduzem a produtividades também baixas. Considerando
que os custos fixos são dados e independem do volume de produção
obtido, ao contrário do que se pensa, os custos unitários se tornam
extremamente altos. Adicionalmente, os produtos gerados sob condições
de baixo padrão tecnológico certamente se apresentam pouco atrativos
no mercado, pressionando por preços de comercialização também mais
baixos, conduzindo a uma menor rentabilidade.
Quando se considera a soma dos custos, obtém-se o custo total
(CT), que é o resultado dos custos fixos mais os custos variáveis. Logo,
para cada produto e para cada produtor haverá um certo custo. Pode-se
afirmar, ainda, que não existe um custo de produção padrão. Cada
produtor individualmente, dependendo do que ele faz e de como faz, tem
um nível de custo para determinado produto.
Sob a ótica da geração de renda em estabelecimentos
agropecuários, considera-se a renda bruta (RB) gerada na propriedade
rural. A renda bruta é resultante da multiplicação da quantidade de
produto obtida pelo preço recebido no mercado. Certamente existam
vários fatores que afetam a renda bruta, entre eles a quantidade produzida,
a qualidade do produto, os preços de comercialização, a época de
comercialização, o grau de diferenciação, entre outros. Logo, o nível de
renda gerada por cada produtor depende do conjunto de fatores que
estejam sendo utilizados, do padrão tecnológico em uso, das condições
climáticas, do comportamento dos preços no mercado e da habilidade
gerencial do administrador.
A dotação de um conjunto considerável de fatores de produção não
necessariamente corresponde a um maior volume de renda gerada. Há
uma relação direta entre a geração da renda e a intensidade de uso dos
fatores de produção. Assim, atividades altamente intensivas em capital de
giro e de baixa intensidade em capital fixo podem gerar um volume de
renda muitas vezes superior ao daquelas que se utilizam de elevado nível
de capital fixo e de baixo nível de capital variável.
Algumas relações simples permitem obter informações importantes
para o gerenciamento da atividade agrícola e pecuária. Por exemplo,
quando se subtraem os custos variáveis da renda bruta, obtém-se a
margem bruta (MB). A margem bruta não é o lucro do produtor, mas é o
que lhe sobra em valores monetários.
233
A margem bruta nada mais é do que uma operação simples de
receita menos despesas. Porém, constitui um indicador de extrema
utilidade para o produtor. Permite a obtenção de vários indicadores
econômicos e de produtividade, como, por exemplo, margem bruta por
hectare (MB/ha), margem bruta por vaca (MB/vaca), por litro de leite
(MB/L de leite) ou por quilo (MB/kg) de carne produzido. Tais indicadores
podem ser calculados em condições de estabelecimentos agropecuários,
servindo de instrumento para o produtor gerenciar suas atividades e
tomar decisões.
Uma questão muito importante, e que deve ser considerada na
análise dos resultados de estabelecimentos agropecuários, especialmente
de atividades que se utilizam de área de terras, está associada à
mensuração da área efetivamente utilizada por determinada atividade
agrícola ou pecuária. Mais especificamente, refere-se à necessidade de
se considerar tão somente as áreas utilizadas com culturas anuais, com
pastagens, ou com culturas permanentes. Há, portanto, a necessidade de
se excluir, para efeito de análise, as áreas ocupadas pelas benfeitorias,
áreas de preservação permanente e de reserva legal, já que não irão
contribuir diretamente na geração da renda da propriedade.
Tal procedimento deve ser realizado a fim de que se obtenha uma
maior aproximação das áreas efetivamente utilizadas, ou, de forma mais
específica, mensurada a superfície agrícola útil (SAU), que passa a ser o
parâmetro de análise da rentabilidade para diversos indicadores, tais
como: MB/ha, CF/ha, CV/ha, RBT/ha, etc.
No caso da pecuária, a não-aferição das áreas efetivamente
ocupadas com pastagens pode conduzir a erros grosseiros de
interpretação da produtividade animal, quando considerado quilos de
peso vivo produzidos por hectare, ou litros de leite por hectare.
Tomemos por exemplo uma propriedade localizada no município de
Painel, SC que possui uma área total de 610ha (Tabela 54). Excluídas as
áreas com benfeitorias, instalações, áreas de reflorestamento, banhados
e áreas inaproveitáveis, obteve-se uma área efetivamente utilizada de
456,40ha (74,80%) da área total. Deve-se considerar, ainda, que em
condições de elevada pedregosidade e de declividade, tais índices
podem ser mais baixos. De acordo com a tabela, a área efetiva de
pastagens é de 440ha. É em relação a esta área que deve ser analisada
a produtividade da bovinocultura de corte.
Considerando-se o sistema de produção ilustrado na Tabela 54,
apresentam-se a seguir os principais indicadores até aqui descritos (CF,
CV, RB e MB), (Tabela 55). Nota-se que o sistema apresentou uma boa
234
receita monetária no período analisado, R$ 60.758,80, o que corresponde
a uma receita bruta mensal de R$ 5.063,00. Como é um sistema de
criação extensiva e adota poucas práticas intensivas de produção, os
custos variáveis são relativamente baixos, correspondendo a R$ 3,79 mil,
o que equivale a um desembolso anual de R$ 8,62/ha.
TRCP
Indicador RBT CVT MBT CFT Lucro ROA RMOF (%)
Nota: RBT = renda bruta total; CVT = custo variável total; MBT = margem bruta total; CFT = custo
fixo total; ROA = renda da operação agrícola; RMOF = retorno da mão-de-obra familiar; TRCP
= taxa de remuneração do capital próprio.
Fonte: Epagri (2002).
235
equipamentos, acrescidos dos juros sobre o capital próprio, incluindo a
terra, remunerados à taxa de 6% ao ano.
O lucro (L) é o resultado contábil da diferença entre a RBT e os CT
(CF + CV). Em termos gerais, podem ocorrer três situações: L = CT; L <
CT e L > CT. Quando o valor de L é igual ao valor dos custos totais, tem-
-se uma situação de lucro econômico normal, ou seja, há uma remuneração
de todos os fatores produtivos. Logo, estão sendo remunerados o capital
mobiliário, o maquinário, a terra e a mão-de-obra disponível na propriedade.
Neste caso, diz-se que o estabelecimento em análise está numa situação
estável. Numa posição em que o valor de L é maior que o somatório dos
custos totais, tem-se uma situação de lucro supra-normal, ou seja, a
rentabilidade da atividade, ou do estabelecimento, permite gerar receitas
superiores ao total dos custos. É uma situação desejável e promissora. Ao
contrário, quando L é menor que os CT, visualiza-se prejuízo econômico.
Neste caso, não há estabilidade e o sistema deverá ser revisto. De acordo
com estudos realizados pela Epagri, a grande maioria dos
estabelecimentos agropecuários passam por essa situação. Diante de
um contínuo processo de descapitalização e de queda no nível dos
preços, tais estabelecimentos não apresentam estabilidade econômica
de longo prazo, requerendo, portanto, intervenção administrativa.
Ainda em relação à Tabela 55, analisam-se mais três conceitos
básicos. O conceito de renda da operação agrícola (ROA), que é o
resultado da diferença da renda bruta total em relação aos custos reais 56,
ou seja, em relação aos gastos efetivos na manutenção da atividade
agrícola ou pecuária. Este conceito se aproxima em muito do raciocínio
dos produtores, já que se deduzem do total das receitas apuradas apenas
as despesas efetivas. Para o exemplo descrito na Tabela 55, o valor da
ROA corresponde a R$ 57.032,17, que, aos olhos do produtor, é um
excelente resultado. O retorno da mão-de-obra familiar (RMOF) é o
resultado algébrico da diferença entre a ROA e o custo de oportunidade
do capital próprio, calculado na base de 6% ao ano, dividido pelo número
de unidades de trabalho familiares existentes (UTHs), considerando-se
13 salários mínimos regionais para cada UTH. No exemplo apresentado
na Tabela 55, corresponde a R$ 316,22.
De forma semelhante, a taxa de remuneração do capital próprio
(TRCP) é calculada com base na ROA, subtraindo-se o custo de
oportunidade da mão-de-obra familiar, dividindo-se o resultado pelo
236
capital próprio médio, expressa em porcentagem (Soldatelli et al., 1993).
Para o exemplo da Tabela 55, corresponde a uma taxa de 6,33% ao ano,
após terem sidos cobertos os custos diretos e os custos indiretos da
propriedade.
237
Fonte: Epagri (2003) – Valores em R$ atualizados pelo IGP-di/FGV. Base dez.
2002 = 100.
0,70
6,00
0,60
5,00
0,50
4,00
0,40
R$/kg
R$/L
3,00
0,30
2,00
0,20
1,00
0,10
0,00
0,00 1990 1991
1990 1991
238
Fonte: Epagri (2003) - Valores em R$ corrigidos monetariamente pelo IGP- di/
FGV. Base dez 2002 = 100.
0,06 00
0,05 00
distintas:
0,04 00 • No início dos anos 90, houve uma relação favorável à pecuária de
corte, que permitiu adquirir perto de 0,06 unidade de rolo de arame
0,03 00
farpado por quilo de carcaça.
0,02 00 • Após esse período, a relação de troca passou a declinar, atingindo
o menor valor da série em 1996, próximo a 0,03 unidade de rolo de arame.
0,01 00 • Após 1996, houve uma recuperação dos preços da carcaça
bovina frente aos preços do arame farpado, tendo atingido o índice
0,00 00
próximo
199 0 19 91a 0,05
1 992 em3 2001,
199 1994 com
199 5 tendência
1 996 1997 de 1999
19 98 queda200 0em 2002.
20 01 2002
Anos
Raciocínio semelhante pode ser desenvolvido para o leite in natura,
comparativamente a uma fórmula comercial de adubo químico (05-20-
10), por exemplo, ilustrada na Figura 49. Nota-se que a média se situa ao
redor de 0,015kg de adubo adquirido com 1L de leite na propriedade.
Entre os anos de 1993 e 1995, esta relação se tornou mais favorável ao
produtor, elevando-se para próximo de 0,02kg de adubo/L de leite.
Entretanto, a partir de 1996, declinou continuamente, evidenciando
dessa forma, perda de competitividade pelos produtores. É Importante
considerar, ainda que o preço do leite tenha reagido positivamente aos
239
produtores, principalmente de 2000 em diante, que não foi o bastante
para equilibrar a relação de troca ainda desfavorável aos produtores.
Deduz-se que os preços do adubo aumentaram mais que
proporcionalmente aos preços do leite.
0,005
Outro aspecto a ser considerado é o processo de modernização
tecnológica. À medida que se intensifica o uso de fatores de produção
0,000
mais modernos, aumenta a quantidade de produtos produzidos, ampliando- 1990
-se conseqüentemente, a oferta de produtos no mercado. Uma maior
oferta de produtos tende a pressionar por uma redução nos preços de
mercado, pressionando também por queda nos preços da matéria-prima.
A redução dos preços recebidos pelos produtores implica igualmente
a redução da renda gerada nos estabelecimentos agropecuários,
demandando novos processos produtivos, ou de processos mais intensivos
em capital, que resultam em aumento da produtividade. Considerando-se
que o mercado de fatores não é perfeito, uma maior demanda por insumos
modernos implica elevação dos preços dos insumos, conforme ilustram os
240
gráficos, reduzindo as margens de comercialização dos produtores
rurais.
241
média das áreas de pastagens melhoradas foi de 357kg de PV/ha/ano; o
menor valor obtido foi de 208 e o maior, de 629kg de PV/ha/ano. Tal
resultado contrasta fortemente com a média regional considerada, que é
de 50kg de PV/ha/ano.
Também em relação aos resultados de Andrade (2001) e
considerando-se os preços médios de mercado para comercialização do
boi gordo, pode-se estimar uma variação da renda bruta de R$ 98,00 para
R$ 643,00/ha/ano, comparativamente aos sistemas tradicionais e ao
sistema conduzido em pastagem nativa melhorada.
Além da produtividade da pastagem e o valor da renda bruta
gerada, é interessante observar o retorno obtido pelo criador, já que a
introdução de espécies e o melhoramento da fertilidade natural do solo,
com vista ao melhoramento da pastagem nativa, implicam elevação dos
custos variáveis. Ainda de acordo com o trabalho de Andrade (2001),
constatou-se que nas propriedades tradicionais o custo variável médio
foi de R$ 39,20/ha, enquanto nas pastagens melhoradas elevou-se para
R$ 132,36/ha, à primeira vista, trata-se de de uma elevação dos custos
da propriedade.
Considerando-se a diferença entre a renda bruta gerada e os
custos variáveis, obtêm-se valores de R$ 427,72 e R$ 33,60, que
correspondem à margem bruta obtida entre os sistemas melhorados e os
tradicionais, respectivamente. Tal resultado é, portanto, 12,72 vezes
superior ao obtido em criações extensivas.
Adicionalmente, os resultados também são positivos e demonstraram
taxas superiores para os indicadores técnicos, tais como elevação da taxa
de natalidade, redução da taxa de mortalidade, elevação da lotação,
redução da idade de abate e redução do período de entoure.
Portanto, a implantação das práticas de melhoramento da pastagem
nativa não se dão isoladamente. Formam um conjunto de fatores que
impulsionam a adoção e a incorporação de progresso técnico na exploração
pecuária, permitindo aumentar a competitividade da atividade, em curto
espaço de tempo, sem maiores riscos.
O investimento no solo, seja pela melhoria da fertilidade, seja na
diversidade de plantas forrageiras, não implica grandes investimentos de
natureza fixa, a exemplo das benfeitorias e instalações; tampouco requer
investimentos em maquinário, já que os serviços podem ser terceirizados.
Além disso, permitirá, em breve espaço de tempo, a racionalização da
mão-de-obra disponível na propriedade, contribuindo, dessa forma, para
a minimização dos custos fixos da propriedade, melhorar o fluxo monetário,
além de elevar o nível de renda do produtor, seu bem-estar e o de sua
família, e valorizar a propriedade.
242
4.5 Custos da introdução de espécies cultivadas no campo
nativo
Serviços
Sementes
Fertilizantes e corretivos
(1)
Valores atualizados para maio/2003, com base nos preços de mercado, praça de Lages. Custo
da hora máquina calculado pelo Instituto Cepa/SC (Maio/03), considerando-se a utilização de
trator e implementos do proprietário do estabelecimento.
(2)
Cotação do dólar oficial de venda em 30 de maio de 2003 = R$ 2,9656.
Nota: h/tr = hora-trator; d/h = dia/homem; sc = saco de 50kg e t = tonelada.
Fonte: Santos (2001) – Dados atualizados.
243
Tabela 57. Custo de implantação de uma unidade de 11,5ha de
melhoramento de campo nativo em Urupema, SC em 1998(1). Proprietário:
José Andrade de Arruda
Serviços
Sementes
Fertilizantes e corretivos
(1) Valores atualizados em maio/2003, com base nos preços de mercado, praça de Lages, SC. Custo
da hora máquina calculado pelo Instituto Cepa (Maio/03), considerando-se a utilização de trator
e implementos do proprietário do estabelecimento.
(2)
Cotação do dólar oficial de venda em 30 de maio de 2003 = R$ 2,9656.
(3)
Arad com 32% P2O5 .
Nota: h/tr – hora-trator; d/h = dia/homem; sc = saco de 50kg; t = tonelada.
Fonte: Santos (2001) – Dados atualizados.
244
Tabela 58. Custo de implantação de uma unidade de 29ha de
melhoramento de campo nativo em Lages, SC em 2001(1). Proprietário:
Osvaldo Santos Parizotto
Serviços
Sementes
Fertilizantes e corretivos
(1)
Valores atualizados em maio/2003, com base nos preços de mercado, praça de Lages, SC. Custo da hora
máquina calculado pelo Instituto Cepa/SC (Maio/03), considerando-se a utilização de trator e implementos do
proprietário do estabelecimento.
Cotação do dólar oficial de venda em 30 de maio de 2003 = R$ 2,9656.
(2)
245
A primeira é caracterizada por uma área de 2,4ha, implantada em
1996 no município de Bom Retiro, utilizando-se o método de implantação
mecânica com grade convencional e semeadura a lanço com máquina de
semear e adubar tipo “giro” (Figura 50). A segunda área (Tabela 57)
refere-se a uma área de 11,5ha, implantada em 1998 no município de
Urupema, utilizando-se sobressemeadura manual. A terceira unidade de
estudo foi implantada em Lages, no ano de 2001, totalizando 29ha,
utilizando-se renovadora de pastagens (Tabela 58).
De acordo com a Tabela 57, o custo de implantação do melhoramento
do campo nativo em Bom Retiro foi de R$ 796,75/ha (US$ 268,66). Deve-
-se notar que este custo está associado a uma demanda maior de
adubação, de correção e da quantidade de sementes. Esta foi uma das
áreas pioneiras no melhoramento do campo nativo na Região do Planalto
Sul Catarinense. Foi implantada considerando-se a recomendação de
adubação total, de acordo com as normas do sistema Rolas, com
implicação na elevação dos custos. Ressalte-se, ainda, que as condições
naturais do campo nativo em Bom Retiro se caracterizam pela
predominância de pH do solo extremamente baixo. Além disso, utilizaram-
-se práticas mecânicas na implantação, o que também contribuiu para a
elevação dos custos.
246
Diante de tais condições, observa-se na Tabela 57 que os custos
com corretivos e adubos correspondem a mais de 50% do custo total. Em
segundo lugar, vêm os custos das sementes, que somam 24% do custo
total, enquanto os custos dos serviços de máquinas, implementos e de
mão-de-obra não atingem 20% do montante gasto.
Por outro lado, ainda que os custos de implantação por hectare
atinjam, a preços de hoje, valores ao redor de R$ 800,00/ha, este valor
equivale a um boi com PV de 470kg. Portanto, esta analogia pode ser
feita, ou seja: cada hectare de pastagem nativa melhorada equivale a um
boi de 470kg de PV.
Quando considerado o custo da terra, verifica-se que na época de
implantação desta unidade de melhoramento do campo nativo (1996) o
custo do melhoramento da pastagem correspondia praticamente ao valor
da terra. Decorridos aproximadamente sete anos da implantação, observa-
-se que tal valor equivale a aproximadamente um terço do valor da terra,
ou seja, houve uma valorização das terras57, assim como uma melhora
considerável no preço do boi, tornando-se o melhoramento do campo
nativo mais atrativo aos olhos do produtor.
Na Tabela 57 são apresentados os custos de uma unidade de
melhoramento de campo nativo em que se utiliza sobressemeadura
manual. Apesar de se ter considerado todos os custos decorrentes da
implantação da unidade, mesmo os que se referem a melhorias de infra-
-estrutura, como é o caso da drenagem, verifica-se uma redução sensível
nos custos de implantação desta unidade (Figura 51). A parcela dos
serviços corresponde a pouco mais de 17% do custo total.
Por outro lado, os custos com adubos, corretivos e sementes, que
representam a maior fatia dos custos totais de implantação, atingiram
50,72% para os fertilizantes e corretivos e 31,89% para sementes. Mesmo
assim, o custo total desta unidade é sensivelmente mais baixo do que a
anterior, correspondendo a aproximadamente 56% do custo de implantação
da área de Bom Retiro, totalizando R$ 453,49 ou (US$ 152,92).
Na Tabela 58 são apresentados os dados da implantação do
melhoramento do campo nativo numa área de 29ha, localizada às
margens da BR 282, no município de Lages, SC, na localidade de Índios.
Esta unidade incorpora pelo menos três aspectos distintos das unidades
anteriores.
O processo de valorização das terras ocorreu de forma geral, considerando-se não
57
247
Figura 51. Área implantada em Urupema, na propriedade de José
Andrade de Arruda (foto) utilizando sobressemeadura manual em áreas
com declividade e afloramento de rochas
248
A
249
Tabela 59. Rendimento obtido na área de campo nativo melhorado
(segundo ano). Propriedade de José Andrade de Arruda – Urupema, SC
em 2000(1)
Novilhos no 32
Período de utilização dias 293
Peso médio inicial kg 197
Peso médio final kg 391
Ganho médio/cabeça kg 194
Ganho médio diário kg/dia 0,662
Rendimento no período kg/ha 540
Rendimento anual kg/ha 672,0
250
4.6 Conclusões
251
preservação da biodiversidade existente, do incremento na produção
animal e do desenvolvimento sustentável da Região Serrana de Santa
Catarina.
252
RURAL, 2., 1992, Concórdia, SC. Anais... Florianópolis: Epagri, 1993.
375p.
253
254
5 Suplementação proteinada de inverno
Vilmar Francisco Zardo60
5.1 Introdução
255
5.2 O campo nativo e suas deficiências no outono/inverno
100
90
80
70
60
%
50
40
30
20
10
0
Jan. Fev. M
256
crescimento do campo nativo (Figura 54), com valores superiores na
primavera/verão e baixos durante o outono/inverno. Este comportamento
imprime variações no rendimento animal, tanto nos ganhos de peso como
também na fertilidade do rebanho.
Tabela 60. Qualidade nutricional média de amostras de campo nativo
coletadas nas diferentes épocas do ano, determinadas por análise
bromatológica no Laboratório de Nutrição Animal da Epagri/Estação
Experimental de Lages
.......................................%.......................................
164
Inverno 7,8 34,9 31,8 0,30 0,11
203
Outono 7,6 37,4 34,5 0,21 0,14
145
Primavera 9,3 46,7 42,8 0,29 0,16
162
Verão 8,1 45,4 42,2 0,22 0,11
Fonte: Freitas (1994).
257
peso/ha no período de primavera/verão de 79,4kg e perdas no período
de outono/inverno de 49kg/ha, com um saldo de 30,4kg/ha/ano.
3
kg/d - pontos
0
1/ 1 1/3 1/4 1/5 1/ 6 1/ 7 1/8 1/ 10 1/ 11 1/12
-1
-2
Mês
A B
258
5.3 A digestão dos bovinos
259
deficiente em certos constituintes químicos, particularmente nos que são
essenciais para a população de microrganismos do rúmen. A exigência de
proteína degradada no rúmen da maioria dos alimentos para a síntese de
microrganismos é calculada em 8,4g por mega joule de energia
metabolizável consumida (g/MJ de EM). Se a concentração de proteína
degradada no rúmen da forragem for insuficiente para suprir esta
quantidade, o consumo do alimento irá diminuir (Csiro, 1990). O consumo
em dietas baixas em proteína pode ser bastante influenciado pela
eficiência da manipulação microbiana.
260
Fonte: Adaptado de Pratt (1996) citado por Prates et al. (1999).
261
pela dieta. Existem ainda outros fatores que contribuem para manter uma
alta taxa de crescimento da população microbiana no retículo-rúmen,
como a presença de aminoácidos específicos ou ácidos orgânicos
(Petersen, 1987). De fato, esta é uma das razões por que a suplementação
exclusiva com nitrogênio não-protéico (NNP) (caso da uréia, que fornece
única e exclusivamente nitrogênio) não satisfaz totalmente as demandas
protéicas de um animal. Estes conceitos básicos de nutrição servem para
mostrar que é extremamente importante manter um equilíbrio no ambiente
ruminal em uma determinada demanda de crescimento do bovino em
pastejo. O ponto de equilíbrio deve ser a principal meta da suplementação,
com a preocupação de maximizar, dentro do possível, a eficiência do uso
da pastagem.
Assim, à medida que a maioria das forrageiras nativas completa seu
ciclo vegetativo, no final de verão e início de outono, o seu valor nutricional
baixa e o consumo de forragem diminui sensivelmente; conseqüentemente
a microflora ruminal perde qualidade e quantidade, iniciando as perdas de
peso dos animais e determinando a sobra e o acúmulo de forragem, que
no manejo tradicional, é queimada no final do inverno para “favorecer o
rebrote primaveril” (Figuras 58 e 59).
O aumento do desempenho animal em pastagens pela adição de
suplementos protéicos é creditado, principalmente, ao aumento da ingestão
de forragem. Se esta tiver um teor de PB inferior a 7%, o nitrogênio
suplementar fornecido aos microrganismos ruminais aumenta a síntese
protéica e a taxa de digestão, sendo importante a quantidade de proteína
não degradada no rúmen (McCollum & Horn,1989).
262
Figura 59. Estado corporal de vacas suplementadas com sal proteinado
e com diagnóstico de gestação positivo no período de outono/inverno em
campo nativo diferido
263
da pastagem. A suplementação protéica (sal proteinado) e a utilização de
suplementos múltiplos podem fornecer os minerais necessários aos
animais; também fornecem um nível mínimo exigido de proteína, que os
animais não conseguem obter das pastagens naturais no período de
outono/inverno. Em níveis adequados, a proteína presente no sal favorece
o nitrogênio para o desenvolvimento dos microrganismos do rúmen,
possibilitando o consumo da pastagem de baixa qualidade, porém, em
quantidade considerável. A pastagem seca, ao ser consumida, além de
alimentar os animais, elimina a necessidade de queima do campo.
Ingestão/dia, Ingestão/dia em
necessidades pastejo de campo
Estádio nutricionais nativo em função da
fisiológico/ para mantença qualidade
época do ano
Saldo
MS ND PB PB MS NDT PB PB
PB
(kg) (%) (%) (kg) (kg) (%) (%) (kg)
(kg)
1o 1/4 lactação/
primavera 9,2 57,5 9,9 0,91 9,9 42,9 9,3 0,92 +0,01
1/3 médio gestação/
outono 8,2 48,6 7,0 0,57 6,7 35,2 7,6 0,51 -0,06
1/3 final gestação/
inverno 8,9 53,6 7,9 0,70 5,4 31,1 7,7 0,42 -0,28
264
não-protéico, (NNP), existente na uréia. Entretanto, para que isso ocorra,
é necessário que exista na dieta uma quantidade adequada de
carboidratos solúveis (energia). Quanto mais uniforme a liberação de
amônia (hidrólise do NNP) e de carbono (digestão dos carboidratos),
maior a eficiência de síntese microbiana e, conseqüentemente, o
desempenho animal.
Não havendo uma disponibilidade adequada de carboidratos no
momento da liberação da amônia no rúmen, esta amônia não será
incorporada à massa microbiana, sendo então, absorvida do rúmen para
dentro da corrente sangüínea e, posteriormente, eliminada pela urina.
Este processo metabólico é indesejável, pois requer uso de energia que
poderia, de outra forma, ser utilizada para a produção.
Um outro aspecto é que, se a liberação de amônia no rúmen
ultrapassar a capacidade de metabolização do animal (acima de 75mg/
100ml de líquido ruminal), haverá problemas de intoxicação, que poderão
levar o animal à morte (Boin,1984). Portanto, a participação do NNP na
dieta é função do nível energético da mesma.
A forma mais simples e prática de suplementar NNP para animais em
pastejo é através da mistura mineral, considerando-se que, após corrigida
a deficiência protéica, fósforo e outros minerais são necessários para
manter as funções metabólicas normais.
O nível de NNP pode alcançar até 50% da mistura mineral. Entretanto,
normalmente o consumo dessa mistura acaba sendo muito baixo, devido
à baixa palatabilidade do NNP ou à aglutinação e empedramento da
mistura no cocho.
Por essa razão surgiu o sal protéico que, além do NNP e mistura
mineral na sua composição, inclui um farelo protéico. Este ingrediente,
além de adicionar fontes extra de nutrientes (proteína e energia), funciona
também como palatabilizante.
O objetivo fundamental do uso do sal protéico é suprir a deficiência
de nitrogênio das bactérias ruminais. Isto ocorrendo, haverá um aumento
no consumo da pastagem e, conseqüentemente, maior ingestão de
nutrientes, revertendo uma situação de perda para mantença de
peso.
Para as condições do Planalto Sul Catarinense, o suplemento
protéico (Sal Bock®) levou em consideração as necessidades da categoria
(vacas de cria e seu estádio fisiológico), como também as deficiências do
campo nativo no período de maior carência, o inverno (Tabela 61). Os
trabalhos de Ritter e Sorrenson (1985) indicaram, além disso, quais os
elementos minerais e qual a concentração necessária para a composição
do produto final (Tabela 62).
265
Tabela 62. Componentes e concentrações do Sal Bock®
Concentração
Componente
(%)
266
Tabela 63. Ingestão estimada de proteína bruta em vacas de cria, levando
em consideração a qualidade do campo nativo nas diferentes estações do
ano, com a suplementação protéica
Ingestão
Estação PB NDT PB sal PB PB total
de MS
do ano (%) (%) (kg) (kg) (kg)
(kg)
5
4
GMD/Escores
3
2
1
0
1/1 1/2 1/3 1/4 1/5 1/6 1/7 1/8 1/9 1/10 1/11 1/12
-1
-2
Meses
GMD kg/Na/dia Escores (1 a 5)
267
Os resultados mostraram que a suplementação com Sal Bock® , com
um consumo diário de 250g/UA, foi eficiente para manter os escores
corporais acima da nota 3 (escala de 1 a 5) durante todo o período,
proporcionando condições para que as vacas iniciem a época de
acasalamento, novembro, em pleno vigor físico, com taxas de natalidade
ao redor de 75% (Figura 61). Outro aspecto positivo na utilização do Sal
Bock ® foi o aumento da lotação média anual dos 0,35 a 0,50 para
0,65UA/ha, já que as lotações de verão podem ser mantidas.
268
Por outro lado, quando se deseja algum ganho, pode-se atuar com
as chamadas “misturas múltiplas”, que são suplementos balanceados
para atender a uma determinada demanda de ganho de PV durante todo
o ano. Portanto, atendem a múltiplas deficiências nutricionais do animal
em pastejo, isto é, proteína, energia e minerais.
Dessa forma, o seu uso está sempre associado com ganhos de
peso, mas, dependendo da quantidade fornecida, pode ocorrer uma
substituição da pastagem pelo suplemento. Este é um fator indesejável,
pois aumenta muito o custo do ganho do peso. A substituição ocorre
porque as bactérias ruminais atacam primeiramente as fontes mais
solúveis de alimentos (caso do amido que existe nos grãos) em detrimento
de componentes menos digeríveis, como a fibra das pastagens.
Um consumo de suplemento equivalente até 0,3% do PV é totalmente
adicionado ao da pastagem. De 0,3% a 1% do PV, para cada 500g
fornecido do suplemento, ocorre uma redução no consumo da pastagem
de aproximadamente 300g (ambos base MS). O desempenho animal a ser
alcançado depende da disponibilidade e qualidade da forragem e,
principalmente, do econômico (Thiago & Gill, 1990)
Finalmente, como recomendações para uma melhor utilização do
sal proteinado pode-se sugerir:
• controle parasitológico estratégico dos animais;
• diferimento do campo nativo como forma de reservar MS para o
período de utilização;
• escolha criteriosa da categoria animal a utilizar, se necessário;
• fornecimento em cochos cobertos como forma de evitar o acúmulo
de água (Figura 62);
• fornecimento ininterrupto do produto durante o período;
• período de adaptação para animais que não estão sendo minera-
lizados;
• monogástricos não devem consumir;
• controle semanal do consumo do produto;
• pesagem dos animais no início e no final do período;
• análise econômica.
269
Téc. agr. Cláudio L. da Silveira
Méd. vet. Vilmar F. Zardo
Figura 62. Planta de cocho móvel, coberto, para sal – Modelo Epagri
270
5.6 A importância do diferimento de campo
271
veda-se uma determinada área de dezembro até março para utilização no
outono/inverno, com suplementação protéica, devendo ser dimensionada
de acordo com a(as) categoria(as) que a utilizará(ão), a carga animal e
o tempo de utilização. Como ainda não há indicações experimentais a
respeito da carga animal que o campo nativo suporta para este propósito,
é recomendável utilizar a faixa ótima de uso da forragem, e que situa entre
13,5 e 11,5kg de MS para cada 100kg de PV animal ou a recomendação
de que campos nativos denominados “campos de cima da serra”
suportam uma lotação máxima de 120 a 170kg de PV/ha (Jaques et
al.,1997).
272
8. JACQUES, A.V.A.; IRIBARREM, C.B.; MARASCHIN, G.E.; LOBATO,
J.F.P.; GONÇALVES, J.O.N. Indicadores de carga animal produtiva
para o Rio Grande do Sul. In: ÍNDICES de lotação pecuária para o Rio
Grande do Sul. Porto Alegre: Comissão de Assuntos Fundiários/
Farsul, 1997. 56p.
16. REARTE, D.H. Beef cattle production and meat quality on grazing
system in temperate regions. In: WORLD CONFERENCE ON ANIMAL
PRODUCTION, 8. 1998, South Corea, Proceedings..., South Corea,
1998. p.80-91.
273
18. SATTER, L.D.; SLYTER, L.L. Effect of ammonia concentration on
rumen microbial protein production in vitro. British Journal of Nutrition,
Cambridge, v.32, n.2, p.199-205, 1974.
20. VAN SOEST, P.J. Nutritional ecology of the ruminant. 2.ed. New York:
Cornell University Press, 1994. 476p.
274