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ISBN 85-85014-49-0

Melhoramento e Manejo de
Pastagens Naturais no
Planalto Catarinense

Ulisses de Arruda Córdova


Nelson Eduardo Prestes
Osvaldo Vieira dos Santos
Vilmar Francisco Zardo

EMPRESA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA E EXTENSÃO


RURAL DE SANTA CATARINA S.A.
FLORIANÓPOLIS
2004

1
Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina S.A. – Epagri
Rodovia Admar Gonzaga, 1.347, Itacorubi, Caixa Postal 502
88034-901 Florianópolis, SC, Brasil
Fone: (48) 239-5500, fax: (48) 239-5597
Internet: www.epagri.rct-sc.br
E-mail: epagri@epagri.rct-sc.br

Editado pela Gerência de Marketing e Comunicação – GMC/Epagri

Primeira edição: novembro de 2004


Tiragem: 1.000 exemplares
Impressão: Coan Indústria Gráfica Ltda.

É permitida a reprodução parcial deste trabalho desde que citada a fonte.

Referência bibliográfica

CÓRDOVA, U. de A.; PRESTES, N.E.; SANTOS, O.V. dos;


ZARDO, V.F. Melhoramento e manejo de pastagens natu-
rais no planalto catarinense. Florianópolis, 2004. 274p.

Pastagem natural; Melhoramento vegetal; Manejo de pasta-


gem; Campo natural.

ISBN 85-85014-49-0

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APRESENTAÇÃO

A Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa


Catarina S.A. – Epagri – atua em todas as atividades agropecuárias
exercidas no território catarinense. Desde as belas praias, ao longo da
orla marítima, passando pela Serra do Mar coberta pela Mata Atlântica,
até extensas áreas agricultáveis ao oeste e ao norte, de variadas culturas.
Existe, porém, um ecossistema natural que ainda recobre cerca de
14% da área estadual que, até então, não vem recebendo a devida
atenção por parte das políticas públicas dirigidas.
A história da ocupação e exploração da terra pelo homem tem
mostrado que o custo da recuperação de ambientes degradados é
infinitamente maior, e sem garantia de êxito, do que o custo da preservação
de ecossistemas naturais. E quando os custos de recuperação são
inevitáveis, geralmente as vantagens são de poucos e o ônus de toda a
sociedade.
Referimo-nos às pastagens naturais catarinenses, que formam um
ecossistema único no mundo, pois os campos nativos de altitude
restringem-se ao Sul do Brasil. Essa paisagem, que molda principalmente
o Planalto Serrano Catarinense, tem inestimável importância
socioeconômica, por várias e notáveis características. Os campos nativos
são responsáveis pela base alimentar dos rebanhos que produzem
proteína animal de alto valor biológico, o que lhes confere extraordinária
relevância na dieta alimentar da população. Esses privilégios são possíveis
em função do ambiente natural, ainda preservado, e dos sistemas
criatórios praticados.
Outro valor que pode ser referido é a variabilidade genética da flora
original, de cujo potencial forrageiro muito pouco ainda se sabe, além do
medicinal e terapêutico, que podem estar contidos em uma infinidade de
espécies ainda desconhecidas.
O momento é oportuno para ressaltar que, mantida a qualidade
ambiental do Planalto Catarinense, também serão maiores as garantias
de que grande parte do Estado poderá dispor de água de boa qualidade,

3
visto que a maior parte das nascentes que abastecem as regiões mais
baixas tem origem nos campos de altitude. Entretanto, temos consciência
de que a conservação desse ecossistema será possível no momento em
que os produtores tenham na pecuária a rentabilidade financeira que
justifique a sua permanência na atividade.
Este livro, fruto do trabalho de pesquisadores e extensionistas da
Epagri, que estamos colocando à disposição da sociedade catarinense e,
de maneira particular, da comunidade técnica comprometida com o
melhoramento das pastagens naturais, tem por objetivo apresentar
alternativas que contribuirão para a elevação dos índices de produtividade
da atividade pecuária e conseqüente preservação do ecossistema.
Trata-se de uma obra única no Brasil, que reúne diversas práticas, muitas
delas desenvolvidas e/ou adaptadas durante vários anos, em unidades
experimentais e também em propriedades particulares cooperadoras.
Algumas das práticas aqui apresentadas poderão fazer com que se
ultrapassem facilmente os índices atuais de rendimento animal, podendo
atingir valores acima de 500kg de peso vivo por hectare por ano, já
obtidos em propriedades assistidas pelos técnicos da Epagri.
Pelo acompanhamento do desenvolvimento e validação das
tecnologias aqui expostas e discutidas, parabenizamos a equipe envolvida
na sua realização. A Epagri coloca à disposição dos catarinenses este
livro, que contribuirá, certamente, para alcançar o equilíbrio entre os
fatores econômicos, sociais, ambientais e culturais, exigido em qualquer
atividade produtiva.

A Diretoria Executiva

4
PREFÁCIO

As pastagens cultivadas de inverno sempre representaram para o


Sul do Brasil um recurso de inestimável valor de alimentação para os
rebanhos. Produzem em uma época crítica e com altos teores dos
principais nutrientes importantes tanto para gado de corte como de leite.
Além disso, constituem-se no alimento de menor custo quando comparado
com as alternativas convencionais para superar o outono/inverno, quais
sejam a silagem, o feno, as capineiras, os farelos e a ração balanceada.
No entanto, é mínima a área de pastagem cultivada de inverno no Sul do
Brasil e, principalmente, em Santa Catarina. As razões para não aumentar
o uso dessas pastagens são de diferentes ordens, desde investimento
insuficiente em pesquisa e extensão, falta de crédito e outros. Entretanto,
creio que a falta de persistência das referidas pastagens é um fator de
grande importância que limitou a sua difusão. Isto porque, apesar de
serem o alimento de menor custo para o inverno, têm custo de implantação
elevado, principalmente no Planalto de Santa Catarina, onde os
desembolsos com corretivos e adubação são expressivos. Estima-se que
a implantação (pelo sistema convencional) de pastagem cultivada
perene de inverno na região mencionada tenha um custo médio de
R$ 2.000,00/ha; isto representa um alto investimento para os produtores,
que em geral estão descapitalizados, porém, se houver uma perspectiva
de persistência de dez anos, por exemplo, o investimento torna-se
atrativo, pois representará uma amortização de R$ 200,00/ha/ano, e
sabe-se que as pastagens podem permanecer produtivas por muito mais
tempo. O que tem ocorrido é que estas pastagens não duram mais do que
três anos, decepcionando os investidores. A falta de espécies, variedades
ou cultivares de forrageiras adaptadas à região e a baixa fertilidade do
solo são fatores que afetam a persistência das pastagens perenes de
inverno. A mobilização excessiva do solo para a implantação e o manejo
deficiente são os principais responsáveis pela reduzida persistência das
mesmas. Primeiro, por desestruturar o solo e levá-lo a paulatina
compactação após o início do pastoreio, o que faz desaparecerem as
espécies implantadas e surgirem plantas que têm adaptação ao solo

5
compactado, como a língua-de-vaca e o capim-pêlo-de-porco. O segundo
fator mencionado, mas não menos importante, o manejo, é fundamental
e inclusive pode compensar em parte os danos da excessiva mobilização
do solo. É com manejo correto que as pastagens serão utilizadas no
momento certo e com intensidade correta, sem super nem subpastoreio,
fazendo com que se desenvolva um sistema radicular vigoroso e
abundante, que garantirá pastagem produtiva e persistente e ainda
exercerá benéficos efeitos sobre o solo, melhorando-o progressivamente
em todas as suas características.
É bem provável que nada do que foi dito até aqui seja novidade,
porém, o assunto foi retomado por ser importante e para ajudar a
compreensão deste prefácio.
As pastagens de inverno são conhecidas e utilizadas por alguns
produtores em Santa Catarina desde o início do século passado. A
Epagri/Estação Experimental de Lages tem um bom acervo de trabalhos
no assunto desde o tempo do seu primeiro diretor, Charles Vincent,
passando pela época de posto de fomento e pelo profícuo período de
pesquisa da Empasc. Mas na Região Serrana foi só a partir de 1996, com
os trabalhos de Ulisses de Arruda Córdova, Nelson Eduardo Prestes e
Osvaldo Vieira dos Santos, que elas começaram a ser importantes para
os produtores e cada vez mais utilizadas. A capacidade de trabalho e a
habilidade para trabalhar com agricultores e dirigentes políticos destes
três pesquisadores, sem dúvida, foram determinantes para que a história
das pastagens de inverno e da própria pecuária do Planalto Catarinense
tomasse outro rumo. Mas com certeza a proposta por eles trabalhada foi
bem diferente, ou seja, pastagem de inverno, mas dentro de uma filosofia
diferente, melhoramento de campo nativo. E as diferenças são muitas:
primeiramente o campo nativo é devidamente valorizado, ele não será
substituído, mas sim enriquecido com espécies de estação fria; o solo
será corrigido e adubado de forma parcimoniosa e a pastagem agora
melhorada será cuidadosamente manejada. Manter o campo nativo tem
um significado difícil de expressar. Esses campos são obra da natureza
por um período estimado de 30 milhões de anos. Representam, portanto,
uns dos ecossistemas mais antigos do planeta, contêm uma biodiversidade
que recém-começa a ser estudada. Esse manto da natureza permite que
nessas regiões as águas sejam protegidas e extravasem em ricos
mananciais. A agradável paisagem que aí se formou traduz tudo isto,
mostrando harmonia e tranqüilidade. Além desses aspectos, que
normalmente não são valorizados porque dizem que “não dão dinheiro e
não enchem barriga”, os campos nativos são a base da pecuária, pois
produzem o alimento mais barato que o pecuarista do mundo inteiro pode

6
dispor, que é a pastagem nativa.
Com o campo nativo mantido o solo não será mobilizado, portanto,
a sua estrutura física será preservada. Isto aliado ao manejo correto
evitará a compactação, além dos outros inúmeros benefícios que uma
boa estrutura física determina ao solo. Assim, a persistência da pastagem
será facilitada.
Outro aspecto a ser mencionado é a elevação do pH e o aumento
na fertilidade do solo aliado ao correto manejo, imprescindíveis para a
implantação das forrageiras exóticas e determinam melhoria substancial
no próprio campo nativo, não apenas na produção mas, também, e
principalmente, na composição botânica. Vários são os exemplos de
trabalhos em que já no segundo ano houve aumento substancial de
espécies nativas de inverno.
Para manter o campo nativo não há mobilização do solo ou ela é
muito reduzida. A correção e a adubação têm que ser superficiais e,
portanto, em quantidades também reduzidas. Tem-se assim uma
importante diminuição dos custos.
Esta é uma proposta ecologicamente correta, com baixos custos,
ao alcance de todos os produtores indistintamente e que poderá determinar
a manutenção do que ainda resta de campo nativo, com um impacto de
grande significado na pecuária de corte e de leite de Santa Catarina. Os
resultados estão com os produtores. Obter 600 a 1.000kg de peso vivo/
ha/ano em campo nativo melhorado com persistência já de quatro a cinco
anos dispensa qualquer comentário.
Este é o tema do qual trata o presente livro, com muita propriedade
e profundidade. É um documento da maior importância, pelo conhecimento
nele contido, mas também historicamente, porque registra a possibilidade
de transformar a pecuária de Santa Cararina, fazendo-a gerar grande
riqueza, produzindo alimentos limpos em um ambiente ecologicamente
preservado. Pequenos produtores em unidades de 15 a 30ha estão
sendo beneficiários desta proposta, portanto, também tem este importante
significado, a possibilidade de manter o homem no campo com dignidade.

Mário Luiz Vincenzi


Professor Titular do Departamento de Zootecnia
Centro de Ciências Agrárias – CCA
Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC

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8
AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem a todas as pessoas que de alguma maneira


contribuíram para a elaboração do livro Melhoramento e Manejo de
Pastagens Naturais no Planalto Catarinense, especialmente aos
pesquisadores e extensionistas da Epagri, comprometidos e empenhados
em preservar esse agroecossistema que, apesar de explorado muito além
de suas potencialidades, é a forma de utilização dos recursos naturais
mais presente e sustentável nas propriedades rurais da Região Serrana.
Agradecemos ainda a diversos produtores pioneiros que acreditaram
nessa tecnologia e implantaram áreas demonstrativas, possibilitando,
dessa forma, a sua expansão. Igualmente, à Federação da Agricultura de
Santa Catarina – Faesc – e à Associação dos Municípios da Região
Serrana – Amures – que, de forma permanente, têm apoiado o
desenvolvimento e a difusão do melhoramento de campo nativo,
especialmente ao doutor Nelton Rogério de Souza e ao senhor Áureo
Ramos de Souza, dois incansáveis entusiastas dessa prática.
O sucesso do Programa de Melhoramento de Campo Nativo na
Região Serrana, além das pessoas e instituições já citadas, deve-se à
colaboração de alguns renomados professores universitários, que, muitas
vezes, participaram de eventos regionais, trazendo conhecimento e
experiência acumulada ao longo de décadas; dentre eles, é justo citar
Mário Luiz Vincenzi e José Antônio Ribas Ribeiro, da UFSC
(Florianópolis); Aino Victor Ávila Jacques e Carlos Nabinger, da
UFRGS (Porto Alegre), Fernando Luiz Ferreira de Quadros da UFSM
(Santa Maria), e o extensiosista Luiz Gonzaga Pereira Messias, da
Emater-RS (São Francisco de Paula).

Os autores

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REVISORES

A tecnologia de melhoramento de pastagens naturais é


reconhecidamente bem mais complexa do que outros tipos de cultivos de
forrageiras, devido a diversos fatores bióticos e abióticos que atuam
simultaneamente. Assim, o propósito de lançar um livro que reúne as
principais informações sobre o assunto foi sobretudo um ato de coragem
de nossa parte. Uma das razões que nos levaram a tomar a iniciativa foi
a certeza de que poderíamos contar, como revisores, com a colaboração
de renomados profissionais que atuam nessa área. Assim, agradecemos
profundamente às seguintes pessoas que se empenharam nessa árdua
tarefa:
1 Os campos naturais de Santa Catarina: eng. agr., Dr., Fernando
Luiz Ferreira de Quadros (professor da Universidade Federal de Santa
Maria – UFSM –, Santa Maria, RS).
2 Introdução de espécies em campos naturais: eng. agr.,
Ph.D., Aino Victor Ávila Jacques (professor da Universidade Federal do
Rio Grande do Sul – UFRGS –, Porto Alegre, RS) e Mário Luiz Vincenzi
(professor da Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC –,
Florianópolis, SC).
3 Manejo de pastagens naturais: eng. agr., Dr., Carlos Nabinger
(professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS –,
Porto Alegre, RS).
4 Custos de implantação do melhoramento de campo nativo:
eng. agr., M.Sc., Flávio José Simioni (professor da Universidade do
Planalto Catarinense – Uniplac -–, Lages, SC).
5 Suplementação proteinada de inverno: eng. agr., M.Sc.,
Edson Azambuja Gomes de Freitas (gerente de Agricultura e Pesca da
Secretaria de Desenvolvimento Regional de Lages, Lages, SC); méd.
vet., M.Sc., Cláudio Eduardo Neves Semmelmann (professor do
Centro Agroveterinário da Universidade do Estado de Santa Catarina –
Udesc –, Lages, SC) e eng. agr., M.Sc. Jorge Homero Dufloh (pesquisador
da Epagri/Estação Experimental de Urussanga, Urussanga, SC).

Os autores

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PRINCIPAIS ABREVIATURAS, SIGLAS E
SÍMBOLOS UTILIZADOS

Acaresc – Associação de Crédito e Assistência Rural de Santa Catarina


Al – alumínio
Amures – Associação dos Municípios da Região Serrana
Ca – cálcio
Cab. – cabeças
Cap. – capítulo
Cidasc – Companhia Integrada de Desenvolvimento Agrícola de Santa
Catarina
Ciram – Centro Integrado de Informações de Recursos Ambientais de
Santa Catarina
CNPq – Conselho Nacional de Pesquisa
cv. – cultivar
d – dia
Ed. – editora
EEL – Estação Experimental de Lages
Embrapa – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
Empasc – Empresa Catarinense de Pesquisa Agropecuária
Epagri – Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de SC
et al. – e outros
Faesc – Federação da Agricultura do Estado de Santa Catarina
FAO – Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura
Farsul – Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul
Fatma – Fundação do Meio Ambiente
Federacite – Federação dos Clubes de Integração e Trocas de
Experiências
FGV – Fundação Getúlio Vargas
Funai – Fundação Nacional do Índio
GTZ – Sociedade Alemã de Cooperação Técnica
ha – hectare
HBR – Herbário Barbosa Rodrigues (sediado em Itajaí, SC)
Ibid – Ibidem = na mesma obra
id – ídem, do mesmo autor

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IGPM – Índice Geral de Preços de Mercado
Ilust. – ilustrado(a)
Instituto Cepa/SC – Instituto de Planejamento e Economia Agrícola de
Santa Catarina
K – potássio
kg – quilograma
L – litro
m – metro
Mercosul – Mercado Comum do Cone Sul
Mg – magnésio
Mn – manganês
Mo – molibdênio
M.O. – matéria orgânica
N – nitrogênio
NDT – nutrientes digestíveis totais
N o – número
O – oxigênio
Op. cit. – na obra citada
Out. – outono
p. – página
P – fósforo
PB – proteína bruta
PC – Planalto Catarinense
p.e. – por exemplo
pH – potencial hidrogeniônico
PR – Paraná
Prim. – Primavera
PV – peso vivo
Rolas – Rede Oficial dos Laboratórios de Análises de Solo e de Tecido
Vegetal dos Estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina
RS – Rio Grande do Sul
S – enxofre
SBZ – Sociedade Brasileira de Zootecnia
SC – Santa Catarina
s.d. – sem data
SFS e SFT – superfosfato simples e superfosfato triplo
SP – São Paulo
Sudesul – Superintendência do Desenvolvimento do Sul
t – tonelada
UA – unidade animal
Uepae – Unidade de Execução de Pesquisa de Âmbito Estadual

14
UTM – Projeção Universal Transversa de Mercator
UFRGS – Universidade Federal do Rio Grande do Sul
UFSC – Universidade Federal de Santa Catarina
UFSM – Universidade Federal de Santa Maria
USP – Universidade de São Paulo
U.O. – unidade de observação
v. – volume
Ver. – verão
Zn – zinco

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CONCEITOS FUNDAMENTAIS

Alguns conceitos importantes são utilizados com freqüência. Sua


compreensão é indispensável para o entendimento do presente livro.
Dessa forma, apresentamos o significado destas expressões-chave,
esclarecendo o sentido com que são empregadas.

• Ecossistema: “Qualquer unidade natural que inclua todos os


organismos de uma determinada área, interagindo com o seu meio físico,
de forma tal a originar um fluxo de energia, definindo claramente uma
estrutura trófica, uma diversidade biótica e um ciclo de matéria dentro do
sistema” (Odum, citado por Hess, 19801).

• Agroecossistema: Ambiente no qual “os organismos naturais


sofrem a intervenção do homem que regula o seu desempenho, em
função do valor econômico de algumas de suas populações” (Toledo,
19942).

• Agricultura sustentável: “É o manejo e conservação dos


recursos naturais e institucionais, de tal maneira a assegurar a satisfação
das necessidades humanas de forma continuada para as gerações
presentes e futuras. Conserva o solo, a água e os recursos genéticos
animais e vegetais; não degrada o meio ambiente; é tecnicamente
apropriada, economicamente viável e socialmente aceitável” (FAO/Incra,
19943).

• Biodiversidade: É a variabilidade genética existente em


determinado ecossistema ou agroecossistema, presente em todos os
organismos vivos.

1
HESS, A.A. Ecologia e produção agrícola. Florianópolis: Acaresc, 1980. 126p.
2
TOLEDO, V. M. La racionalidad ecológica de la producion campesina. In: Agroecologia
e desarrolo, Santiago, Chile, v.5, n.6, p.28-35, dez. 1994.
3
FAO/INCRA. Diretrizes de política agrária e desenvolvimento sustentável. Brasília,
1994. 24p. (Versão Resumida do Relatório Final do Projeto UBT/BRA/036).

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• Campo natural ou campo nativo: São as áreas onde predominam
espécies de pequeno porte ou subarbustivas, especialmente gramíneas
e leguminosas. Ocupam com maior freqüência os locais menos úmidos e
abertos, como topo de coxilhas e encostas, sujeitas à ação do vento e a
maior insolação. As expressões natural e nativo serão utilizadas como
sinônimos.

• Campo naturalizado: Áreas com predominância de forrageiras


nativas ou adventícias adaptadas ao ambiente, introduzidas ou de
ocorrência espontânea, onde a vegetação clímax não era campo natural
e sim outra forma de floresta. Ex.: pastagem de missioneira, capim
amoroso, quicuio, Paspalum sp., Desmodium sp., etc., em locais onde
predominavam matas.

• Melhoramento de campo nativo: São construções, estruturas


e práticas empregadas no manejo do campo nativo com o objetivo de
maximizar a produtividade do sistema pelo provimento dos melhores
recursos disponíveis” (Booysen, 1978; citado por Fontaneli, 19864).

4
FONTANELI, R.S. Melhoramento de pastagem natural: introdução, ceifa, queima,
diferimento e adubação. 1986. 189p. Dissertação (Mestrado em Agronomia),
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre.

18
SUMÁRIO

Pág.

LISTA DE FIGURAS.......................................................................... 23

LISTA DE TABELAS ......................................................................... 31

1 As pastagens naturais de Santa Catarina .................................. 37


1.1 Introdução ................................................................................. 37
1.2 Origem e ecologia histórica da flora ........................................ 40
1.3 Potencial edafoclimático do Planalto Sul Catarinense para a
produção de ruminantes .......................................................... 49
1.3.1 Introdução .............................................................................. 49
1.3.2 Caracterização climática do Planalto Sul Catarinense ......... 50
1.3.3 Solos e aptidão de uso das terras ........................................ 54
1.3.3.1 Argissolos e alissolos ......................................................... 56
1.3.3.2 Cambissolos........................................................................ 57
1.3.3.3 Gleissolos............................................................................ 58
1.3.4 Aptidão de uso das terras do Planalto Sul Catarinense para
pastagens ............................................................................... 59
1.3.5 Considerações finais ............................................................. 63
1.4 Características gerais ............................................................... 63
1.5 Associações vegetais herbáceas ............................................. 71
1.6 Área ocupada............................................................................ 78
1.7 Importância ecológica e econômica ......................................... 83
1.8 Produtividade e indicadores técnicos ...................................... 89
1.9 Literatura citada ........................................................................ 98

2 Introdução de espécies em campos naturais.............................. 107


2.1 Princípios fundamentais ........................................................... 110
2.2 Época ........................................................................................ 111
2.3 Adequação das condições químicas do solo ........................... 114
2.3.1 Fundamentos da correção da acidez e da fertilização superficial 115

19
Pág.

2.3.2 Correção da acidez do solo ................................................... 118


2.3.3 Adubação ............................................................................... 122
2.4 Espécies .................................................................................... 130
2.5 Densidade de semeadura ....................................................... 136
2.6 Inoculação e peletização .......................................................... 137
2.7 Tratamento prévio da área ....................................................... 140
2.7.1 Pastejo intenso ...................................................................... 140
2.7.2 Queima ................................................................................... 143
2.7.3 Herbicidas .............................................................................. 144
2.8 Métodos ..................................................................................... 146
2.8.1 Sobressemeadura sem cultivo mecânico.............................. 146
2.8.2 Preparo superficial com grade .............................................. 150
2.8.3 Renovadora de pastagens .................................................... 153
2.9 Manutenção e incremento das espécies introduzidas............. 156
2.10 Literatura citada ...................................................................... 162

3 Manejo das pastagens naturais e melhoradas ........................... 175


3.1 Diferimento ................................................................................ 177
3.2 Pastoreio rotativo ...................................................................... 186
3.3 Subdivisão de invernadas e adequação da lotação ............... 195
3.4 Correção da acidez e fertilização ............................................. 200
3.5 Limpeza de campos e controle de plantas indicadoras .......... 205
3.6 Queimada .................................................................................. 214
3.7 Literatura citada ........................................................................ 221

4 Custos de implantação do melhoramento de pastagens naturais 229


4.1 Introdução ................................................................................. 229
4.2 Estrutura de propriedades e sistemas de produção predomi-
nantes no Planalto Sul Catarinense ........................................ 229
4.2.1 A natureza dos custos ........................................................... 232
4.3 Comportamento dos preços pagos e recebidos pelos produtores
rurais ......................................................................................... 237
4.4 Razões para se investir na produtividade da pecuária ........... 241
4.5 Custos da introdução de espécies cultivadas no campo nativo 243
4.6 Conclusões................................................................................ 251
4.7 Literatura citada ........................................................................ 252

5 Suplementação proteinada de inverno ....................................... 255


5.1 Introdução ................................................................................. 255

20
Pág.

5.2 O campo nativo e suas deficiências no outono/inverno.......... 256


5.3 A digestão dos bovinos............................................................. 259
5.4 Consumo voluntário de forragem ............................................. 260
5.5 A suplementação protéica ........................................................ 261
5.6 A importância do diferimento de campo ................................... 271
5.7 Literatura citada ........................................................................ 272

21
22
LISTA DE FIGURAS

Pág.

Figura 1. Em função da baixa produtividade no sistema extensivo,


os campos naturais da Serra Catarinense estão sendo
substituídos por outras culturas..................................... 39

Figura 2. Área de campo sendo invadida por florestas a partir dos


locais de maior umidade e protegidos de ventos.......... 47

Figura 3. Mata de araucária se alastrando em direção aos campos


a partir do vale do Rio Caveiras (divisa dos municípios de
Lages e Painel)............................................................... 47

Figura 4. Zonas agroecológicas do Planalto Sul Catarinense ..... 51

Figura 5. Mapa das classes de solos ocorrentes no Planalto Sul


Catarinense .................................................................... 55

Figura 6. Mapa da aptidão de uso das terras ocorrentes no


Planalto Sul Catarinense ................................................ 57

Figura 7. Mapa de aptidão de uso das terras ocorrentes no


Planalto Sul Catarinense para pastagens ..................... 60

Figura 8. (A) Adesmia latifolia (leguminosa) e (B) Bromus aulecticus


[gramínea, (C) detalhe da inflorescência]; espécies
nativas perenes de inverno que estão sendo melhoradas
pela Epagri/Estação Experimental de Lages ................. 65

Figura 9. Zoneamento dos campos naturais do Planalto Cata-


rinense ............................................................................ 67

Figura 10. Campo palha fina .......................................................... 68

23
Pág.

Figura 11. Campo palha fina com mata ......................................... 69

Figura 12. A composição florística dos campos naturais depende


de muitos fatores, como profundidade de solo, fertilidade,
relevo, umidade e sistema de manejo ......................... 73

Figura 13. Os campos naturais e naturalizados ocupam em torno


de 2 milhões de hectares em Santa Catarina.............. 82

Figura 14. A cobertura vegetal dos campos naturais há milhões de


anos protege o solo, evitando erosão e a degradação
ambiental ....................................................................... 84

Figura 15. Desempenho de novilhos em campo nativo (media de


dois anos) lotação de 0,5 cab./ha na Estação
Experimental de Vacaria, RS........................................ 92

Figura 16. Ganhos de pesos médios mensais de dois lotes de


novilhos (A e B) em campo nativo tipo palha fina. Local:
Coxilha Rica – Lages. Média de três anos: 1994, 1995
e 1996 ........................................................................... 93

Figura 17. Mesmo no sistema convencional, os indicadores técnicos


da pecuária no Planalto Serrano são bem superiores
aos considerados oficiais ............................................. 96

Figura 18. Espécies do gênero Adesmia se manifestam com maior


vigor em áreas de melhoramento, pela redução da
acidez do solo e elevação da fertilidade ...................... 109

Figura 19. Condição de pastagem naturalizada de pensacola


(Paspalum notatum FL. variedade saurae Parodi cultivar
Pensacola) no início de julho de 1996, após ocorrerem
as primeiras geadas ..................................................... 112

24
Pág.

Figura 20. O déficit hídrico outonal compromete o melhoramento,


tanto no ano de implantação como nos anos seguintes 113

Figura 21. Distribuição superficial de calcário na quantidade de


um terço da recomendação oficial ............................... 119

Figura 22. Detalhes do “dregs”: (A) aspecto do produto, (B)


aplicação e sua (C) distribuição sobre o campo ......... 122

Figura 23. O azevém inicia sua participação na produção de


forragem a partir do segundo ano ............................... 134

Figura 24. Etapas da sobressemeadura, na seguinte ordem: (A)


sementes de leguminosas inoculadas e peletizadas,
(B) misturadas homogeneamente com as sementes de
gramíneas e com o adubo, sendo (C) a mistura
distribuída a lanço ........................................................ 138

Figura 25. Roçadeira em operação, com regulagem rente ao solo 141

Figura 26. Em condições de pedregosidade e afloramento de


rocha, a introdução de espécies é possível sem o
cultivo mecânico............................................................ 149

Figura 27. A sobressemeadura aérea foi utilizada em três


propriedades do Planalto Catarinense ........................ 150

Figura 28. A gradagem superficial promove pouca mobilização do


solo e mantém a vegetação original ............................ 151

Figura 29. Melhorar o contato da semente com o solo é fundamental


para um bom estabelecimento das espécies introduzidas 152

Figura 30. O uso da renovadora de pastagem somente é possível


em áreas mecanizáveis ................................................ 154

25
Pág.

Figura 31. O diferimento permite o florescimento e a conseqüente


ressemeadura natural das espécies introduzidas....... 159

Figura 32. As áreas de melhoramento podem ser expandidas pelo


manejo da bosta, desde que atendidas as exigências
de correção da acidez e fertilidade do solo................. 161

Figura 33. Manejo estacional das pastagens melhoradas. Períodos


de pastejo, diferimento, época de limpeza, e adubações.
Os limites entre as práticas culturais são flexíveis,
segundo as condições predominantes ........................ 161

Figura 34. Animais retornando a uma pastagem natural melhorada,


diferida para ressemeadura natural. Município de Bom
Retiro, SC, propriedade de Gustavo Wiggers e Wilson
Kauling........................................................................... 179

Figura 35. Pastagem natural diferida no final da primavera por 73


dias (9/12/1997 a 21/2/1998). Município de Capão Alto,
propriedade de Elias Daniel Silva Santos.................... 185

Figura 36. Rebanho leiteiro, manejado através de pastoreio


rotativo com o objetivo de maximizar a produção por
hectare .......................................................................... 191

Figura 37. (A) Área subdividida com cerca elétrica em piquetes


com aproximadamente 1ha e corredor central para
manejo através de pastoreio rotativo. (B) Detalhe da
cerca. Lages, propriedade de José Assis Branco....... 192

Figura 38. Subdivisão de invernadas utilizando cerca eletrificada


com dois fios para contenção de gado de cria............ 199

Figura 39. Diferimento de área de mata através da subdivisão


para utilização no período de outono-inverno............. 199

26
Pág.

Figura 40. Adesmia latifolia, leguminosa perene de inverno


presente em diversas áreas de pastagem nativa
melhorada ..................................................................... 202

Figura 41. Produções de matéria seca (MS) e proteína bruta (PB)


de pastagem nativa de Ponta Grossa, não adubada e
adubada (kg/ha) com 120 de N, 120 de P2O5 e 90 de K2O 203

Figura 42. Área roçada no mês de janeiro no município de Bom


Retiro para controle de plantas indicadoras ................ 212

Figura 43. Algumas das principais plantas indicadoras que ocorrem


no Planalto Catarinense: (A) carqueja; (B) samambaia;
(C) caraguatá e (D) vassouras .................................... 214

Figura 44. Queimada em agosto, com a justificativa de eliminar o


excesso de forragem produzida na primavera e verão e
que não foi consumido pelo gado ................................ 216

Figura 45. Queimar áreas de forma alternada, uma das alternativas


para reduzir os danos dessa prática sobre o solo e a
vegetação................................................ ................... 220

Figura 46. Preços médios anuais da carne bovina (carcaça), no


período de 1990 a 2002 ............................................... 238

Figura 47. Preços médios anuais do leite pago aos produtores no


período de 1990 a 2002 ............................................... 238

Figura 48. Relação de troca entre os preços médios anuais


recebidos pela carcaça bovina (R$/kg) e os preços
médios pagos pelo arame farpado (rolo 500m) em
Santa Catarina no período de 1990 a 2002 ................ 239

Figura 49. Relação de troca entre os preços médios anuais


recebidos pelo leite in natura na propriedade (R$/L) e

27
Pág.

os preços médios pagos pelo adubo mineral fórmula


05-20-10 (R$/kg) em Santa Catarina, no período de
1990 a 2002.................................................................. 240

Figura 50. (A) Área de pastagem nativa melhorado implantada na


propriedade dos produtores Gustavo Wiggers e Vilson
Kauling; (B) utilizando grade ........................................ 246

Figura 51. Área implantada em Urupema, na propriedade de José


Andrade de Arruda (foto) utilizando sobressemeadura
manual em áreas com declividade e afloramento de
rochas............................................................................ 248

Figura 52. (A) Área de melhoramento de campo nativo implantada


totalmente através de processo mecanizado, inclusive
(B) a introdução de espécies com renovadora de
pastagens. Propriedade: Oswaldo Parizotto, Lages, SC 249

Figura 53. Campo nativo, recurso forrageiro natural e produtivo 255

Figura 54. Curva de crescimento e qualidade (%PB, %NDT) do


campo nativo ao longo do ano.................................... 256

Figura 55. Ganho médio de peso e escores corporais de vacas de


cria em campo nativo, sem suplementação no período
hibernal.......................................................................... 258

Figura 56. (A) Área de campo nativo submetido a queima de final


de inverno onde os animais permanecem em “pastejo”.
(B) Além da queimada, a permanência dos animais
consumindo os rebrotes, sobrecarrega e empobrece
as pastagens naturais .................................................. 258

Figura 57. Influência da qualidade da forragem na exigência de


forragem e consumo real .......................................... 261

Figura 58. Campo nativo no período hibernal, onde é percebida a


grande quantidade de forragem acumulada, porém de
baixa qualidade nutricional ........................................... 262

28
Pág.
Figura 59. Estado corporal de vacas suplementadas com sal
proteinado e com diagnóstico de gestação positivo no
período de outono/inverno em campo nativo diferido. 263

Figura 60. Ganho médio de peso (GMD) e escores corporais de


vacas de cria em campo nativo, com suplementação no
período hibernal............................................................ 267

Figura 61. Resultado esperado com a suplementação: vacas com


melhores escores corporais, produzindo mais terneiros 268

Figura 62. Planta de cocho móvel, coberto, para sal – Modelo


Epagri ............................................................................ 270

29
30
LISTA DE TABELAS

Pág.

Tabela 1. Ocorrência e representatividade das zonas agroeco-


lógicas no Planalto Sul Catarinense ............................. 51

Tabela 2 . Limites das zonas agroecológicas do Planalto Sul


Catarinense ................................................................... 52

Tabela 3. Representatividade de cada zona agroecológica no


Planalto Sul Catarinense ............................................... 54

Tabela 4. Solos do Planalto Sul Catarinense, número de municípios


onde ocorrem, área e porcentagem ............................. 56

Tabela 5. Ocorrência dos diversos tipos de solos no Planalto Sul


Catarinense ................................................................... 58

Tabela 6. Classes de solo e limitações de uso para o cultivo ou


melhoramento de pastagens no Planalto Sul Catarinense 60

Tabela 7. Potencialidade das terras do Planalto Sul Catarinense


quanto às aptidões de uso para pastagens ................. 61

Tabela 8. Espécies de gramíneas e leguminosas nativas com


potencial forrageiro ....................................................... 64

Tabela 9. Gêneros principais da família Poaceae (= Gramineae)


ocorrentes nos campos do Planalto Sul de Santa Catarina 72

Tabela 10. Principais tribos e gêneros da família Fabaceae no


Planalto Sul de Santa Catarina ................................... 72

31
Pág.

Tabela 11. Ocorrência de gramíneas em diferentes gradientes de


relevo em área de campo palha fina, região da Coxilha
Rica – Lages, SC ......................................................... 75

Tabela 12. Ocorrência de espécies de acordo com freqüência e


gradiente topográfico em áreas de campo palha fina
com mata da região de Urupema, SC ......................... 76

Tabela 13. Ocorrência de espécies mais comuns em áreas de


campo palha grossa, de acordo com a freqüência
média............................................................................ 77

Tabela 14. Análise de proteína bruta (PB) e digestibilidade in vitro


(DIVMO) e concentração de fósforo (P) e cálcio (Ca) de
algumas espécies de gramíneas e leguminosas mais
freqüentes em campo natural do tipo palha fina........ 78

Tabela 15. Avaliação quantitativa estimada da cobertura vegetal e


as principais formações fitoecológicas de Santa Catarina 80

Tabela 16. Principais recursos forrageiros de SC, segundo diversas


fontes............................................................................ 81

Tabela 17. Perda de solo por erosão em três anos ..................... 84

Tabela 18. Uso da terra na Mesorregião Serrana de SC (Campos


de Lages + Campos de Curitibanos) e as mudanças
ocorridas desde 1970 .................................................. 86

Tabela 19. Participação das microrregiões e municípios que


possuem campos naturais nos rebanhos bovinos, ovinos
e eqüinos em SC.......................................................... 87

Tabela 20. Estrutura das propriedades na Microrregião Campos


de Lages ...................................................................... 88

Tabela 21. Situação do Rebanho Bovino em SC e Microrregiões


do Planalto Catarinense e os respectivos índices de
desfrute ........................................................................ 93

32
Pág.

Tabela 22. Desfrute da bovinocultura catarinense no período de


2000 a 2002 ................................................................. 94

Tabela 23. Desfrute e taxa de natalidade estimados para SC


segundo diversas fontes bibliográficas....................... 96

Tabela 24. Desfrute, taxa de natalidade e produção de leite de


produtores beneficiários do Projeto de Gestão Agrícola
em SC ........................................................................... 97

Tabela 25. Efeitos da subdivisão, semeadura em cobertura,


adubação superficial e da carga animal em Te Awa,
Nova Zelândia. Período de 1948 a 1963 .................... 108

Tabela 26. Efeito da época de semeadura e estabelecimento de


trevo branco em Mt Burke e Otago Central, Nova
Zelândia........................................................................ 114

Tabela 27. Eficiência da utilização de nutrientes em solos lavrados


e em pastagens perenes ............................................. 115

Tabela 28. Reserva de nutrientes conforme a profundidade do


solo ............................................................................... 116

Tabela 29. Quantidade de nutrientes assimiláveis após cinco anos


de aplicação de 80 a 160kg/ha de P2O 5 e 160 a 320kg/
ha de K 2O, de acordo com a profundidade ................. 116

Tabela 30. Massa de raízes em função da profundidade e da


concentração de P 2O5 e K2 O ....................................... 117

Tabela 31. Rendimento total de MS da pastagem, incluindo todos


os componentes. Período 1970-73............................. 121

Tabela 32. Efeito da aplicação superficial de doses crescentes de


calcário sobre o rendimento de MS e PB em campo
nativo sobressemeado com trevo subterrâneo e azevém
anual – Guaíba, RS (UFRGS) ..................................... 121

33
Pág.
Tabela 33. Rendimento animal médio dos períodos de 11 anos
(1957-68) e de 7 anos (1961-68) do efeito residual da
adubação fosfatada ..................................................... 124

Tabela 34. Composição de pastagens consorciadas, após sete


anos de aplicação de NPK. Rottegen, Alemanha....... 128

Tabela 35. Resposta do crescimento de trevos, semeados em


cobertura, ao enxofre, fósforo e molibdênio. Canterbury,
Nova Zelândia. Resultados expressos em uma escala
numérica de zero a 20 pontos..................................... 129

Tabela 36. Espécies e densidades de semeadura para o


melhoramento de pastagens naturais ........................ 137

Tabela 37. Efeito do pastejo intenso (PI) e do pastejo pouco


freqüente (PPF) sobre a germinação e persistência,
após 16 meses, de azevém anual, dátilo e trevo branco,
em uma pastagem densa de “browntop” (Agrostis
tenuis), na Nova Zelândia ............................................ 141

Tabela 38. Resultados obtidos com melhoramento de campo nativo


utilizando diversos métodos de implantação no Planalto
Catarinense.................................................................. 142

Tabela 39. Estabelecimento do melhoramento, aos 21 e 120 dias


após sobressemeadura............................................... 144

Tabela 40. Rendimento médio de matéria seca (MS) de pastagem


natural (PN) melhorada com trevo branco (TB), em dois
métodos de cultivo. Média de quatro anos, Bagé, RS 147

Tabela 41. Produção anual e total de MS nos diferentes sistemas


de implantação de pastagens: cultivo convencional
(CC), renovadora “Grasslands” (RG), renovadora
“Brillion” (RB) e sobressemeadura manual a lanço (SL).
Bagé, RS ...................................................................... 148

Tabela 42. Implicações dos principais métodos de implantação de


pastagens..................................................................... 155

34
Pág.
Tabela 43. Esquema de diferimento com um rebanho, quatro
potreiros e três períodos de pastoreio ....................... 182

Tabela 44. Modelo de diferimento com três rebanhos, quatro


potreiros e pastoreio contínuo .................................... 182

Tabela 45. Efeito do diferimento de pastagem natural sobre os


ganhos estacionais de bovinos em Vacaria, RS ....... 184

Tabela 46. Forragem acumulada em função da época de diferimento


e de reutilização ........................................................... 186

Tabela 47. Efeito de distintas lotações e métodos de pastoreio na


produção de carne de cordeiro .................................. 190

Tabela 48. Acréscimo no período de descanso em função do


número de subdivisões ................................................ 196

Tabela 49. Influência da lotação no Estado da pastagem e no


crescimento de borregos durante a primavera .......... 198

Tabela 50. Efeito da adubação fosfatada e do controle mecânico


de plantas não-forrageiras na produção do campo
nativo na Estação Experimental de São Gabriel. Período
de 11/8/1950 a 8/4/1951 (241 dias) ........................... 201

Tabela 51. Aumento de peso vivo (PV) por vaca, porcentagem de


marcação, peso dos terneiros ao desmame e produção
de carne/ha/ano em resposta a lotações variadas e
aplicação de P. Corrientes, Argentina ........................ 204

Tabela 52. Plantas indicadoras de determinadas situações de solo


e alternativas de controle ............................................ 213

Tabela 53. Rendimento de matéria seca da forragem verde (MSFV),


de uma pastagem natural. André da Rocha, RS ........ 217

Tabela 54. Exemplo de um sistema de produção de bovinos de


corte na Região do Planalto Sul Catarinense............. 235

35
Pág.

Tabela 55. Resultados econômicos do sistema de bovinos de corte


na Região do Planalto Sul Catarinense, valores em R$
referentes a 2001 ........................................................ 235

Tabela 56. Custo de implantação de uma unidade de 2,40ha de


melhoramento de campo nativo em Bom Retiro, SC em
1996. Proprietários: Gustavo Wiggers e Wilson Kauling 243

Tabela 57. Custo de implantação de uma unidade de 11,5ha de


melhoramento de campo nativo em Urupema, SC em
1998. Proprietário: José Andrade de Arruda.............. 244

Tabela 58. Custo de implantação de uma unidade de 29ha de


melhoramento de campo nativo em Lages, SC em
2001. Proprietário: Osvaldo Parizotto ......................... 245

Tabela 59. Rendimento obtido na área de campo nativo melhorado


(segundo ano). Propriedade de José Andrade Arruda –
Urupema, SC em 2000 ................................................ 250

Tabela 60. Qualidade nutricional média de amostras de campo


nativo coletadas nas diferentes épocas do ano, deter-
minadas por análise bromatológica no Laboratório de
Nutrição Animal da Epagri/Estação Experimental de
Lages............................................................................ 257

Tabela 61. Necessidades nutricionais de vacas de raças de corte


de cria em diferentes estádios fisiológicos e a ingestão
estimada de proteína bruta em vacas de cria (UA),
levando em consideração a qualidade do campo nativo
nas diferentes estações do ano.................................. 264

Tabela 62. Componentes e concentrações do Sal Bock® ............ 266

Tabela 63. Ingestão estimada de proteína bruta em vacas de cria,


levando em consideração a qualidade do campo nativo
nas diferentes estações do ano, com a suplementação
protéica......................................................................... 267

36
Melhoramento e Manejo de
Pastagens Naturais no
Planalto Catarinense

1 As pastagens naturais de Santa Catarina


Ulisses de Arruda Córdova1

1.1 Introdução

Os dados disponíveis mais correntemente usados dão conta que


Santa Catarina possui aproximadamente 2 milhões e 600 mil hectares
ocupados com pastagens. Desses, pelo menos 50% são campos naturais
utilizados com pecuária bovina extensiva. Sua produtividade é muito baixa
e por isso estão ameaçados de serem substituídos por lavouras (onde a
topografia e a pedregosidade o permitirem) e/ou por florestamento. Por
outro lado, nessa área ocorrem diversas espécies ou ecotipos endêmicos,
a maioria praticamente desconhecida, mas com potencial de ser utilizada
em programas de melhoramento genético ou, quiçá, para fins medicinais.
Alternativas de uso desses campos têm sido propostas em vários
trabalhos empíricos ou de pesquisa. Mas, poucos produtores as adotaram.
Nos últimos anos, porém, o melhoramento do campo nativo está se
consolidando como uma das opções para viabilização econômica e
preservação desse agroecossistema, através da superação do principal
entrave para o desenvolvimento da pecuária na região, que é o déficit
alimentar dos rebanhos nos períodos críticos, quando ocorrem
aproximadamente quatro meses de autofagia2. Com exceção do

1
Eng. agr., M.Sc, Epagri/Estação Experimental de Lages, C.P. 181, 88502-970,
Lages, SC, fone/fax: (49) 224-4400, e-mail: ulisses@epagri.rct-sc.br.
2
"A alimentação dos animais no inverno é feita praticamente às custas de sua própria
carne. Em função da baixa qualidade do pasto nesse período, o animal não
consegue retirar a quantidade mínima de alimentos. Por um princípio de perpetuação
da vida, utiliza suas próprias reservas, acumuladas no período de primavera e verão.
O que é um alimento muito caro” (Fonseca, 1969, p.5).

37
florestamento planejado e tecnicamente conduzido, talvez seja essa a
única possibilidade de desenvolvimento da agropecuária no Planalto
Catarinense, pois a implantação de lavouras sofre restrições de ordem
climática, topográfica, afloramento de rochas e fertilidade do solo em mais
de 70% da área total.
A substituição completa de uma vegetação estável – como os
campos naturais – por culturas ou pastagens exóticas talvez não apresente
vantagens a longo prazo. Segundo o professor Aino Jacques da UFRGS,
citando dados da Emater-RS, esse processo ocorreu com intensidade no
RS e, atualmente, para cada tonelada de grão produzido, há uma perda
anual de 10t de solo por erosão. Em algumas dessas regiões estão se
formando desertos. A recuperação de tais áreas degradadas somente é
possível a longo prazo e a custos inexeqüíveis na atual conjuntura.
A grande dificuldade para preservação dos campos do Planalto
Catarinense é o argumento de que sua baixa produtividade não se
justifica técnica, social e economicamente, ficando, os produtores, sujeitos
a diversos tipos de pressão para substituir a pecuária extensiva por
atividades mais “rentáveis” (Figura 1). Na tentativa de superar esta
situação, diversas alternativas vêm sendo testadas. Nelas, incluem-se
práticas que não consideram as vocações do agroecossistema, nem a
cultura do povo local. Normalmente, resultam em insucesso e contribuem
para aumentar a descrença no potencial dos campos naturais. Infelizmente,
os investimentos na vocação histórica do povo serrano – a pecuária
bovina – são escassos, carentes de planejamento e de ação integrada
das instituições.
Outro problema visível é o de que princípios fundamentais de
mercado e de produção sustentável não estão sendo explorados. Um
deles é a valorização da qualidade biológica dos produtos agrícolas. As
condições de clima favorecem a produção de carne bovina e ovina com
pouco ou até nenhum uso de agrotóxico. A qualidade dessa carne
produzida em campo nativo é considerada excelente por empresas
frigoríficas, o que poderá tornar-se fator determinante para centros
consumidores mais exigentes.
Fator também importante é o balanço energético positivo da
bovinocultura extensiva realizada em campos naturais. Dados conhecidos
internacionalmente e citados por Vincenzi (1994) mostram que se gasta
0,5 caloria para cada caloria produzida na forma de alimento humano,
contra 5 e 20 calorias utilizadas para cada unidade gerada em pastagens
cultivadas e confinamentos, respectivamente. Atividades energeticamente
deficitárias terão de ser repensadas brevemente, pois estão comprometidas
sob o aspecto da sustentabilidade.

38
Figura 1. Em função da baixa produtividade no sistema extensivo, os
campos naturais da Serra Catarinense estão sendo substituídos por
outras culturas

Os campos naturais são muito pouco estudados e as informações


são escassas em SC. Sabe-se muito mais por analogia de estudos
realizados no RS (principalmente) e PR, do que por trabalhos in loco.
Desta forma, este agroecossistema é pouco valorizado.
A pesquisa e a extensão rural realizadas por empresas vinculadas
à Secretaria da Agricultura e Política Rural impulsionaram diversas
atividades agropecuárias de SC. No entanto, não conseguiram resolver
os principais problemas dos produtores de pecuária de corte extensiva
praticada nos campos naturais. O nível de adoção das práticas é baixo.
O enfoque empregado na condução desses trabalhos precisa ser revisto.
Modelos participativos e interdisciplinares provavelmente resultem em
maior eficiência.
Enfim, o resgate da importância do agroecossistema campos naturais
e a caracterização de suas potencialidades não são importantes apenas
para a economia da Região Serrana ou Santa Catarina, que poderá ter
a sua bovinocultura revitalizada, mas para a humanidade, se for possível
proteger esse agroecossistema, que poderá contar com informações
confiáveis que levem à interpretação correta da realidade. E assim, talvez,

39
se torne mais fácil planejar melhor, definindo prioridades e estabelecendo
políticas que venham a trazer benefícios perenes para o Planalto
Catarinense e, por extensão, a toda sociedade.
Este livro, evidentemente, é apenas uma contribuição, à qual é
mister que se somem diversos outros trabalhos, através de uma articulação
organizada de instituições, públicas e privadas, ligadas à agropecuária
catarinense. Enquanto se preparava sua edição, uma certeza foi
manifestada pelos diversos autores pesquisados, pelos técnicos e
produtores contactados, que vivem nos campos naturais e os conhecem:
a sua destruição será um prejuízo irrecuperável sob a ótica da
biodiversidade e da sustentabilidade.

1.2 Origem e ecologia histórica da flora

Para a compreensão da origem e ecologia histórica da flora dos


campos naturais do Sul do Brasil, faz-se necessário, preliminarmente,
conhecer a formação geológica, sintetizada a seguir, com ênfase na
Bacia do Paraná (Kaul, 1990).
• Período Arqueano (3 a 2,6 bilhões de anos): início através da
formação de rochas de alto grau metamórfico a partir do Cráton3 de Luiz
Alves, no atual nordeste de SC.
• Período Proterozóico: formação do restante dos terrenos que
compõem o Craton de Luiz Alves e origem do Cráton do Rio da Prata.
Nesse período, surgiram e desenvolveram-se os demais terrenos pré-
-cambrianos, através de vários processos geodinâmicos (sedimentação,
vulcanismos, dobramentos, metaformismos regionais, etc.).
• Período Siluriano Inferior ao Permiano Superior4: implantação
da Bacia do Paraná, através de extensas e espessas seqüências de
sedimentos essencialmente finos (siltitos, folhelhos argilosos, arenitos
quatzosos com intercalações de calcários), predominantes em ambiente
marinho de água rasa.
• Era Mesozóica: no começo do Triássico, o ambiente deposicional
fixa-se como continental, inicialmente fluvial e, posteriormente, eólico. No
limite com o Jurássico, surgiram os colossais derrames vulcânicos da
Bacia do Paraná (Formação Serra Geral).
• Período Quaternário: início de fase de estabilidade da crosta
continental e fixação de sedimentos nas costas litorâneas.

3
Área estável durante um evento geotectônico.
4
No intervalo entre esses períodos está o Carbonífero, que marca o surgimento dos
lençóis carboníferos do litoral de Santa Catarina.

40
A origem da escarpa e do Terceiro Planalto ou da Zona de
Capeamento Basáltico-Arenítico, ou ainda, do Planalto das Araucárias,
assim como da parte oriental do grande planalto, são os derrames de
lavas, que começaram entre o fim da era mesozóica e o começo da
terciária. Excetua-se a área em torno de Lages, cuja origem é um acidente
tectônico provocado pela intrusão de um domo5 alcalino, atualmente
erodido, que expõe faixas concêntricas de rochas paleozóicas de origem
sedimentar (Moreira & Lima, 1977; Peluso Junior, 1991).

Existem inúmeras evidências de que a superfície atual ainda é a original


dos derrames. Como os mesmos se alastraram sobre uma área de mais
de um milhão de quilômetros quadrados, toda a vida porventura existente
deve ter sido destruída. A camada de solo existente provém da
decomposição das rochas metamórficas ao longo de milhares de anos
(Rambo, 1953).

Segundo diversos autores, a vegetação campestre é a primeira


cobertura de fanerógamos6 que revestiu o solo originado dos derrames
no Sul do Brasil, sendo portanto, de formação mais antiga do que a selva
pluvial (Rambo, 1953; Maack, 1981; Alonso, 1977 e Leite & Klein, 1990).
Uma prova desse argumento é que, independentemente dos tipos de
rochas, os campos cobrem as regiões altas sul-brasileiras, seja em solos
de decomposição de granito do complexo cristalino (Primeiro Planalto –
PR), seja em terrenos dos arenitos e folhelhos devonianos, como os
depósitos glaciais do carbonífero (Segundo Planalto – PR e norte de SC)
e, igualmente, sobre os solos do derrame de basalto (Terceiro Planalto –
SC e RS e, do domo de Lages), conforme Maack (1949), citado por Rambo
(1953).
Igualmente restam poucas dúvidas de que essa vegetação seja
resultante de um longo período de clima frio e seco, como demonstram
caracteres xerófitos ou subxerófitos presentes em diversas espécies, tais
como pilosidade pronunciada na face inferior (adaptação à economia de
água, por diminuir o aquecimento das folhas e retardar a evapo-
transpiração), folhas coriáceas e/ou reduzidas (diminuição da
transpiração), abundância de óleos essenciais, flores grandes e coloridas

5
Elevação do terreno por intrusão, resultando em dobras de comprimento e largura
quase idênticos, cujas camadas mostram direção periclinalmente variável e
mergulhos aproximadamente idênticos. Em seção transversal horizontal, apresenta
forma circular ou elíptica.
6
Vegetais com órgãos reprodutivos bem evidentes.

41
(propagação rápida da espécie, em períodos favoráveis de curta duração),
entre outras (Lindman, 1906; Maack, 1991).
Leite & Klein (1990) citam outros fatores que servem como indicativos
das flutuações climáticas:
• laterização das rochas e/ou dos solos, processos característicos
das regiões submetidas à alternância de estações chuvosas e secas;
• plantas providas de xilopódios 7 (gêneros Bacharis, Croton, Psidium,
Eriosema, Mimosa), órgão subterrâneo perene que permite às plantas
resistirem a períodos climáticos desfavoráveis, armazenando água e
nutrientes;
• ocorrência de encraves de vegetação típica de uma determinada
região em outra, caracteristicamente diferente, o que sugere uma dinâmica
sucessional da vegetação causada por mudanças climáticas;
• plantas com casca corticosa [peroba (Aspidosperma australe),
cambará (Gochnatia polymorpha), cedro (Cedrela fissilis), ipê (Tabebuia
spp.)], também adaptadas para se desenvolverem em clima seco.
Outro aspecto que corrobora a afirmação de que o Sul do Brasil já
possuiu clima seco e frio é a existência de vários gêneros encontrados nos
campos naturais, que contêm espécies de valor forrageiro em condições
de estepe e/ou mesmo desérticas em outras regiões do mundo, bastante
especializadas para se utilizar de teores de umidade limitados no am-
biente. Entre os principais estão: Stipa, Eragrostis, Panicum, Botriochloa
e Andropogon (Hitchcock, 1935 e Harlan, 1956; citado por Rocha, 1991).
Segundo Leite & Klein (1990), a tropicalização do clima (mudança
de mais frio/seco para mais quente/úmido) demonstra processar-se das
baixas para as elevadas latitudes e altitudes e da costa para o interior do
continente, dinamizando os processos naturais de substituição da flora de
origem australásica pela de origem tropical. Os mesmos autores concluíram
que a Floresta de Araucária, mais homogênea que a atual, estendia-se
no passado, por altitudes bem mais baixas do que atualmente, sob a forma
de capões e matas-de-galeria. E estes foram os pontos de partida para
a grande conquista do espaço campestre, acompanhando a evolução do
clima para quente e úmido.
Embora o regime pluviométrico fosse baixo no período frio/seco,

7
Tubérculo lenhoso e gemífero de muitas plantas subarbustivas dos campos.
Originam-se do hipocótilo ou da raiz primária, raramente englobando parte do caule;
armazena água, carboidratos e minerais; durante a época seca persiste no solo e,
ao voltarem as chuvas, rebrota, refazendo a parte aérea. É um órgão perene, que
permite às plantas resistirem a condições ambientais inclementes.

42
era de regular distribuição anual, razão pela qual se encontram espécies
típicas de cerrados, como pau-de-bugre (Lithraea brasiliensis), branquilho
(Sebastiana ilotzchiana), cambará (Gochnatia polymorpha Less.) e aroeira
vermelha (Schinus lentscifolius). As eras áridas eram resultantes diretas
da continentalidade e baixa altitude reinantes (Rambo, 1953).

As informações geológicas assinalam um caráter policíclico para as


mudanças e flutuações climáticas onde fases mais secas/[frias]
alternaram-se com fases mais úmidas/[quentes]. Os períodos mais frios
devem ter correspondido à retração das áreas úmidas com a expansão
da vegetação aberta [campos, cerrados] e acompanhados do abaixamento
do nível do mar. Os maiores avanços da floresta devem ter coincidido com
a vigência das fases mais quentes e relacionados com o nível oceânico
mais elevado (Bigarella et al., 1975).

Quadros (2001) cita dados de Behling (1995) que, através de um


levantamento de dados paleopolínicos, considerou as mudanças de clima
desde 14 mil anos atrás no Planalto Catarinense. Afirma:

Observa-se uma dominância de um clima frio e seco, durante os primeiros


quatro mil anos, que permitiu uma ampla expansão da vegetação de
campos. Os últimos dez mil anos caracterizam-se por uma alternância
entre ambiente frio e seco para um aumento gradual da temperatura e
umidade. Essa última condição favoreceu a expansão da floresta, desde
seus refúgios até as áreas anteriormente ocupadas pela vegetação
campestre.

Quanto à origem dos campos, alguns autores demonstram diver-


gência em seus trabalhos. Leite & Klein (1990) citam estudos de Alvim
(1954), que apresenta três teorias sobre o tema, sintetizadas a seguir.
Teoria climática: apresentada por Warming (s.d.), considera as
secas prolongadas, portanto, clima, como o fator ecológico mais importante
para a formação dos campos. A base principal de sustentação desta
teoria é a característica xeromórfica de muitas das espécies predominantes
nos campos, que levaram a considerar essa vegetação como xerofítica ou
subxerofítica. Emberger (s.d.), citado por Araújo (1967), defende esta
mesma posição ao afirmar que “a vegetação é o reflexo fiel do clima e o
regime das chuvas é que decide preliminarmente sobre o tipo de vegetação:
campo ou floresta”.
Teoria biótica ou das queimadas: defendida através de
Rawitscher (s.d.) e associados da Faculdade de Filosofia da USP, para os
quais os campos “seriam um produto do homem e resultariam das

43
queimas freqüentes pelos criadores de gado, feitas com o propósito de
limpá-los durante a seca para estimular as brotações herbáceas na épo-
ca da chuva”.
Teorias pedológicas: diversos autores fazem referência à provável
influência do solo na formação de campos e cerrados. Alvim (1954), que
coordenou o estudo, concluiu que a formação das vegetações citadas
anteriormente está controlada pela composição do solo mais do que por
qualquer outro fator.
Das três teorias, a que se refere às queimadas não apresenta
qualquer sustentação para a formação dos campos sul-brasileiros e
talvez somente possa ser analisada para a origem dos cerrados, mesmo
assim com várias restrições. De acordo com Maack (1981), “o aspecto
fitogeográfico e a extensão dos campos dos cerrados (...) não podem ser
explicados por modificações locais atribuídas às queimadas”. Alvim
(1954) também a questiona, indagando por que as áreas queimadas
nunca foram utilizadas pela agricultura e por que não se encontram
campos e cerrados nas zonas mais populosas e mais exploradas
economicamente, onde o fogo também foi constantemente utilizado como
sistema comum de limpeza.
Alvim (1954), citado por Leite & Klein (1990), que defendem a
Teoria Pedológica, admite que o clima desempenha papel importante
sobre a vegetação e a própria formação do solo e Rambo (1953), ferrenho
defensor da Teoria Climática, diz que o predomínio dos campos na Serra
do Sudeste no RS é devido ao fator edáfico. Portanto, é lógico aceitar que
o clima e o solo são os parâmetros mais importantes na formação dos
campos e da vegetação do Sul do Brasil; a importância maior ou menor
de cada fator8 depende das condições locais, pois, segundo Schreiner
(1991), citado por Moraes et al. (1995), “embora a fertilidade do solo não
condicione [isoladamente] a formação de campos, influencia na sua
fisionomia e riqueza da pastagem”.
Segundo Rambo (1953), houve desdobramento de espécies novas
no planalto sul-brasileiro, tanto dos focos campestres, como da vegetação
de montanhas, por evolução adaptativa, de outras já existentes. No

8
Segundo o professor Luiz Fernando Ferreira de Quadros (comunicação pessoal/
eletrônica) da UFSM, Santa Maria, RS “A relevância de um outro fator depende da
escala temporal e espacial considerada. No longo prazo (ecologicamente falando),
o clima tem maior influência. A médio e curto prazo, o solo pode interagir com este
e com os distúrbios para definir o tipo de vegetação. Quanto à escala espacial, o clima
atua no nível de paisagem, enquanto o solo pode influir sobre manchas de
vegetação, que, se forem suficientemente representativas, poderão configurar uma
fisionomia específica”.

44
entanto, o foco austral-antártico nada produziu de novo na área em
análise. “São tudo quanto se salvou, do lado atlântico do continente”.
A explicação mais provável para o surgimento das matas pluviais e
similares é a ocorrência de uma ruptura na costa sul-brasileira com o
desabamento da ponte intercontinental e o subseqüente levantamento
da borda de ruptura, até atingir a altitude de hoje, embora num processo
muito lento (Rambo, 1953). Dessa forma, por condensação, a umidade
marítima atingiu as bordas, propiciando as condições de umidade
necessárias para o surgimento de banhados turfosos e matinhas
nebulares. Lentamente, as precipitações foram se intensificando (à
medida que a vegetação pluvial também se ampliava) até alcançar os
índices pluviométricos atuais. Simultaneamente, a flora das montanhas,
com elementos remanescentes de troncos austral-antártico-andinos (como
Araucária angustifolia) e a selva pluvial vinda ao longo do Rio Paraná
foram invadindo os campos, principalmente pelos vales dos rios que se
iam formando [id., Maack (1981) e Klein (1960) citados por Leite & Klein,
1990], até a situação presente, época da colonização, quando houve a
intervenção humana .

Os campos desenvolvem-se onde apenas existe a umidade superficial


e, as matas, onde há umidade profunda, como, por exemplo, as matas de
galeria à beira dos rios e os planaltos cobertos de campos” (Shimpe
(s.d.); citado por Araújo, 1967).

Portanto, os campos naturais eram a vegetação clímax9, sem


intervenção humana, expressa através de singulares formas de
desenvolvimento de troncos e folhas, assim como pelos tipos de raízes
que, para aproveitarem a água subterrânea, penetravam até grandes
profundidades (Maack, 1981). Segundo Lindman (1906), os campos do
Sul do Brasil vegetam num clima e ambiente de floresta (moderadamente
quente e úmido). No entanto, esse mesmo autor indaga por que, se tanto
o clima como os solos de muitas regiões são favoráveis à floresta, as
matas cessam bruscamente os seus limites? A resposta mais provável é
que as áreas de campos não foram ocupadas pelas matas por falta de
tempo, devido à lentidão do desenvolvimento das comunidades arbóreas

9
"Em ecologia chama-se clímax ao tipo de vegetação que resultou da ação do meio
ambiente e com ele se encontra em equilíbrio. O processo de um clímax dura
normalmente centenas de milhões de anos” (Schreiner, 1991). Para Vivan (1993),
o clímax é um equilíbrio dinâmico da interação clima/solo/vegetação e, dentro de um
ecossistema específico, é a forma mais eficiente de aproveitamento dos recursos
naturais.

45
e pela intervenção do homem, principalmente neste século. Maack
(1981) atribui ao uso do fogo, nos últimos dois séculos, a contenção no
avanço das matas e capões sobre os campos da Região Sul
do Brasil.
Conforme Schreiner (1991), “causa estranheza o fato de relvados
e matas freqüentemente se encontrarem lado a lado na paisagem, sem
a presença de faixas de transição”. Para justificar, levanta a seguinte
hipótese:

Pode ser conseqüência da maior ou menor aproximação do lençol


d’água; quando se aproxima da superfície, ou nas margens dos rios,
predominam os bosques; quando se afasta, predominam os campos. De
qualquer forma, os campos (...) estão em equilíbrio instável com o meio,
(...) uma vez que com sua lavração, por alguns anos apenas, eles
poderiam desaparecer, dando lugar a carrascais de valor discutível” (id.,
p.110/111).

Para Klein (1960), não apenas os campos estavam em equilíbrio


instável com o meio, como a própria Mata de Araucária já encontrava
dificuldade de permanência em muitos locais de ambiente úmido e mais
quente, ocorrendo, de forma lenta, processos sucessionais de espécies.

Os campos são invadidos por associações arbustivas e arbóreas bastante


características, formando assim o início de uma série que tende para as
associações mais evoluídas da Formação de Araucária, que, porém, por
sua vez, também são substituídas pelas associações da mata pluvial, que
melhor corresponde ao ciclo climático atual (Figura 2) (id).

O naturalista Charles Darwin não encontrou uma explicação


satisfatória para a ausência de árvores no pampa do RS, embora tenha
atribuído causas geológicas ao afirmar que “para o revestimento desta
vasta superfície10 não foram criadas árvores, apenas plantas pequenas
e herbáceas” (Lindman, 1974).
A predominância, porém, de campos em regiões altas e/ou planas
(inclusive nas proximidades da faixa litorânea) é devida ao alto índice de
evapotranspiração resultante, principalmente, da intensidade e freqüência
dos ventos. Por essa razão, a mata pluvial11 alastrou-se através dos locais
úmidos e dos vales dos rios, enquanto a vegetação campestre e alguns

Pampa sul-riograndense na fronteira com o Uruguai.


10

"As árvores funcionam como bombas, buscando água no subsolo, ao tempo em


11

que reduzem a evaporação superficial, pelo sombreamento e minimização da ação


eólica” (Leite & Klein, 1990).

46
remanescentes da flora típica de clima seco (bugre, aroeira vermelha,
cambará) povoaram o planalto aberto (Figura 3).

Figura 2. Área de campo sendo invadida por florestas a partir dos locais
de maior umidade e protegidos de ventos

Figura 3. Mata de araucária se alastrando em direção aos campos a partir


do vale do Rio Caveiras (divisa dos municípios de Lages e Painel)

47
Os campos estão geralmente associados a extensas planuras ou a
elevadas altitudes, sujeitos aos fortes impactos das correntes aéreas. A
falta de anteparo (acidentes geográficos), cortinas de árvores e outros
obstáculos permitem que o vento assole a região determinando o
ressecamento da superfície, com sérios prejuízos à vegetação” (não
campestre) (Leite & Klein, 1990).

Os mesmos autores levantam a hipótese de que, em áreas onde a


antropização12 não foi total, está ainda ocorrendo a coalescência (junção)
das matas-de-galeria e capões de matas, numa pioneira ocupação de um
espaço campestre mais restrito. Estas áreas localizam-se nos campos de
Lages e Curitibanos.
Quanto à idade geológica da vegetação do Sul do Brasil, Rambo
(1953) afirma que o foco campestre e o insular estão colocados na
primeira metade do terciário; o das matinhas nebulares e montanhas, na
segunda; os outros são seguramente quaternários (matas pluviais), à
exceção do andino-austral-antártico (Araucaria angustifolia), cujos restos
pertencem ao fim do mesozóico e nada têm a ver com a vegetação
campestre (quanto à origem). São duas floras parciais que os
acontecimentos geológicos puseram em contato, sem que tivessem nada
em comum na sua origem espacial.
No entanto, apesar de o pinheiro brasileiro ser geologicamente bem
mais antigo (princípios do Triássico) do que a vegetação de campos, a
sua presença no espaço físico da região meridional do Brasil é mais
recente. A maneira pela qual remanescentes da antiga flora austral-an-
dino-antártica13 alcançaram a Região Sul do Brasil não está suficiente-
mente explicada, porém, o mais provável é a existência até o fim do
mesozóico de uma ligação terrestre do atual litoral sul-brasileiro com a
Antártida e – através dela – com a Austrália e a Nova Zelândia (Rambo,
1953). Este fato também explicaria a presença de vários troncos de
espécies, comuns nessas regiões.
Silva (2002) sustenta, com base em estudos páleo-ambientais, que
a distribuição da A. angustifolia estendeu-se em direção ao norte durante
a última glaciação. O registro fóssil mais antigo disponível vem da Bacia
Amazônica, no Planalto Central. Afirma ainda que a araucária foi sendo
substituída pelas florestas mesófilas semidecíduas há 8.500 anos,

12
Ação do homem sobre a vegetação natural, com modificações da composição
botânica.
13
Além da Araucaria angustitifolia, os seguintes gêneros são representantes típicos
dessa flora: Podocarpus sp., Drimys sp., Acaena sp., Fuchsia sp., Gunnera sp. e
Griselinia sp.

48
sugerindo a ocorrência de um clima morno e mais seco, e que ocorre uma
lenta invasão de espécies florestais em substituição às campestres.
Segundo Leite & Klein (1990), na história da utilização dos campos
do Sul do Brasil ocorreram três fases de antropização, que assim podem
ser resumidas:
Primeira: primitiva, incipiente, caracterizada por fisionomia mais
natural, na qual a vegetação se apresentava rústica e bem desenvolvida,
com uma flora bem mais complexa, dominando gregarismos de espécies
lignificadas, pouco ou nada palatáveis e da qual há poucos remanescentes.
A alteração dos campos operou-se paulatinamente, com a multiplicação
dos rebanhos e difusão das queimadas para eliminação da palha seca e
aproveitamento do rebrote.
Segunda: é marcada pela intensificação do manejo e melhoramento
dos pastos, objetivando aumentar a sua lotação, que estava declinando
em função do aumento do rebanho por demanda de carne para consumo.
A partir desta fase, intensificam-se as técnicas e os procedimentos
visando ao aumento da capacidade de suporte, através da implantação
de pastagem cultivada, principalmente de inverno, com utilização de
espécies exóticas, como azevém anual, aveias, trevos, capim-lanudo,
entre outras forrageiras.
Terceira: é a fase representada pelas últimas décadas, em que
grande parte dos campos naturais localizados mais a oeste do Planalto
Catarinense foi transformada em lavouras, com o advento da chamada
modernização da agricultura. As principais culturas implantadas foram
trigo, soja, milho, arroz, alho, maçã e florestamento (principalmente na
Região Serrana).

1.3 Potencial edafoclimático do Planalto Sul Catarinense


para a produção de ruminantes

Névio João Nuernberg14


Yara Chanin15

1.3.1 Introdução

O Planalto Sul Catarinense é a região correspondente aos municípios


que compõem a Amures, também denominada e utilizada pela Epagri

14
Eng. agr., Ph.D., Epagri/GTP, C.P. 502, 88034-901 Florianópolis, SC, fone: (48)
239-5500, e-mail: nevio@epagri.rct-sc.br.
15
Eng. agr., Epagri/Ciram – Mapeamento, C.P. 502, 88034-901 Florianópolis, SC,
fone: (48) 239-5500, e-mail: yara@epagri.rct-sc.br.

49
como Unidade de Planejamento Regional 3 – UPR 3. Graças às
características edafoclimáticas dominantes nessa região, a criação de
ruminantes tem sido a principal atividade econômica desde o início da sua
colonização. Tal atividade pode ser desenvolvida sem causar impactos
negativos significativos ao ambiente, se forem observadas as
peculiaridades de cada local. Neste sentido, este item visa a subsidiar
tecnicamente o ordenamento do espaço territorial e encontrar alternativas
para a utilização dos recursos sem danificar o ambiente. Baseando-se
nas sugestões do Zoneamento Agroecológico e Socioeconômico do
Estado de Santa Catarina – ZA – (Thomé et al. (1999) –, pretende-se
possibilitar a análise das limitações e das potencialidades edafoclimáticas;
a identificação do potencial das terras, para promover ações e políticas
necessárias e corretivas no uso dos recursos naturais; apoiar o
desenvolvimento e a implantação de uma política de conservação e
manejo de solos e contribuir para a avaliação do uso atual das terras e das
possibilidades de expansão de culturas climaticamente adaptadas.
Procedeu-se a um levantamento de dados dos aspectos físicos e
bioclimáticos, de maneira a estabelecer uma caracterização edafoclimática
com base nos estudos de Epagri (2003). O ZA definiu zonas agroecológicas
a partir de combinações de vegetação, geomorfologia e características
climáticas, conforme Proposta de Diferenciação Climática para o Estado
de Santa Catarina (Braga & Gheller, 1999). Os parâmetros particulares
usados na definição são centrados nas exigências climáticas e edáficas
das culturas e nos sistemas de manejo em que estas se desenvolvem.
Cada zona agroecológica tem uma combinação similar de limitações e
potencialidades para o uso das terras e serve como ponto de referência
das recomendações delineadas para melhorar a situação existente do
uso das terras, seja incrementando a produção, seja limitando a degradação
dos recursos naturais.

1.3.2 Caracterização climática do Planalto Sul Catarinense

Segundo Thomé et al. (1999) e Epagri (2003), o Planalto Sul


contempla quatro zonas agroecológicas, representadas na Figura 4 e
ordenadas na Tabela 1.
Os limites dos parâmetros climáticos (normais anuais de
temperaturas médias, máximas e mínimas, precipitação pluviométrica,
dias de chuva, umidade relativa do ar, número de geadas, horas de frio
e insolação) para cada zona agroecológica do Planalto Sul são
apresentados na Tabela 2. A abrangência dessas zonas agroecológicas,
por município, da Região da Amures está sintetizada na Tabela 3.

50
489.000 529.000 569.000 609.000 649.000

Regiões Agroecológicas - UPR 3


6.950.000

6.950.000
6.910.000

6.910.000
Metros
6.870.000

6.870.000
0 10 20 40 Elaboração: Epagri/Ciram/Geoprocessamento
Km Fonte: Epagri (2003)
Projeção: UTM
6.830.000

6.830.000
Sistemas de coordenadas métricas

489.000 529.000 569.000 609.000 649.000


Metros
Fonte: Epagri (2003).

Figura 4. Zonas agroecológicas do Planalto Sul Catarinense

Tabela 1. Ocorrência e representatividade das zonas agroecológicas no


Planalto Sul Catarinense

Municípios Representatividade
Zona agroecológica envolvidos da área
(n o) (%)

2C 1 00,07
3A 9 31,89
4A 11 55,18
5 6 12,86
Total - 100,00

51
Tabela 2. Limites climáticos das zonas agroecológicas do Planalto Sul Catarinense

Temperatura Chuva Frio


Umid.
Geada (abril a outubro) Insolação
Zona Clima Relat.
(no )
(%) (h)
Média Máx. Mín. <7,2oC <13oC
mm dias
(oC) (oC) (oC) (h) (h)

2C Cfa(1) 17,9 a 25,8 a 12,9 a 1.430 a 108 a 77,2 a 5,0 a 300 a 884 a 2.117 a
19,8 27,5 14,0 2.020 150 82,1 12,0 437 1.653 2.395
3A Cfb(2) 15,8 a 22,3 a 10,8 a 1.460 a 129 a 76,3 a 12,0 a 437 a 1.653 a 2.137 a

52
17,9 25,8 12,9 1.820 144 77,7 22,0 642 2.231 2.373
4A Cfb 13,8 a 19,4 a 9,2 a 1.360 a 123 a 79,9 a 20,0 a 642 a 2.231 a 1.829 a
15,8 22,3 10,8 1.600 140 83,4 29,0 847 2.808 2.083
5 Cfb 11,4 a 16,9 a 7,6 a 1.450 a 135 80,5 29,0 a 847 a 2.808 a 1.824
13,8 19,4 9,2 1.650 36,0 1.120 3.578

(1)
Clima subtropical constantemente úmido, sem estação seca, com verão quente.
(2)
Clima subtropical constatemente úmido, sem estação seca, com verão fresco.
Fonte: Braga & Ghellre (1999).
A partir da caracterização do Planalto Sul Catarinense em zonas
agroecológicas, é possível fazer as seguintes recomendações, visando
ao melhoramento de pastagens naturais e naturalizadas16.
Nas zonas agroecológicas 2C, 3A e 4A, os meses mais indicados
para introdução de espécies em campo nativo são junho, julho e agosto
ou no outono. Entretanto, nos meses de março, abril e maio é muito
comum a ocorrência de déficit hídrico, evento climático conhecido
regionalmente como “veranico”. Assim, as espécies implantadas durante
esse período podem não se estabelecer.
Na zona agroecológica 5, as épocas mais indicadas são o outono,
com a mesma restrição apresentada para as zonas 2C, 3A e 4A e a partir
da segunda quinzena de agosto, prorrogando-se até o fim de setembro.
Retardando a implantação, consegue-se diminuir os riscos de morte das
plântulas recém-emergidas com as temperaturas extremamente baixas –
que ocorrem com muita freqüência de maio a julho. Nessa zona
agroecológica é prudente optar-se por gramíneas mais resistentes ao
frio, como o centeio, o capim lanudo e a aveia branca, ou forrageiras
perenes como a festuca e o dátilo em áreas de melhor fertilidade (que não
apresenta bom desempenho em regiões de temperaturas mais elevadas).
Evitar principalmente o plantio de aveia preta ou azevém procedentes de
regiões quentes.
Nas zonas agroecológicas 2C e 3A é comum a ocorrência de
pastagens naturalizadas, formadas principalmente pela grama missioneira
e jesuíta. Além de optar pelos meses de junho e julho para introdução de
outras espécies cultivadas, é importante diminuir intensamente a
competição da vegetação existente com alguma prática mecânica. Além
disso, deve-se utilizar a dose integral de fósforo recomendada e evitar
totalmente a aplicação de fertilizantes que contenham nitrogênio em sua
formulação para permitir o estabelecimento das leguminosas.
Na zona agroecológica 5 praticamente não há crescimento das
pastagens nos meses de junho e julho, com exceção de anos atípicos,
com ocorrência de temperaturas mais elevadas. Dessa forma, é
recomendável o diferimento das pastagens melhoradas que tenham na
composição botânica espécies resistentes ao frio, como o capim lanudo,
o centeio, a aveia branca, a festuca e o dátilo, em março e abril. Assim se
formará uma reserva de forragem para a época mais crítica. Porém, nessa
zona agroecológica, as temperaturas dos meses de primavera e verão
são altamente favoráveis ao desenvolvimento dos trevos. Por esta razão,

Segundo os pesquisadores Ulisses de Arruda Córdova, Nelson Eduardo Prestes


16

e José Lino Rosa da Epagri/Estação Experimental de Lages.

53
deve-se ter maior cuidado na formação da composição do consórcio
forrageiro, para não permitir o predomínio excessivo das leguminosas,
principalmente em áreas que tenham sido utilizadas para o cultivo de
batata ou outras olerícolas, nas quais o efeito residual dos adubos é alto.
Tendo esses cuidados, é possível prevenir e até mesmo evitar o timpanismo.
Nos microclimas das zonas 2C e 3A, onde raramente ocorrem
geadas, podem-se utilizar gramíneas adaptadas a temperaturas mais
altas, como a missioneira gigante (Axonopus catarinensis Valls), as
estrelas africanas (Cynodon sp.), a hemártria (Hemarthria altissima Poir)
e a pensacola (Paspalum notatum Flügge variedade saurae Parodi),
consorciadas com trevos e cornichão.

Tabela 3. Representatividade de cada zona agroecológica no Planalto


Sul Catarinense

Zona agroecológica
Município
2C 3A 4A 5
.............% da área do município.............
Anita Garibaldi 2 98 0 0
Bocaina do Sul 0 0 100 0
Bom Jardim da Serra 0 0 40 60
Bom Retiro 0 9 82 9
Campo Belo do Sul 0 72 28 0
Capão Alto 0 0 100 0
Cerro Negro 0 100 0 0
Correia Pinto 0 100 0 0
Lages 0 0 100 0
Otacílio Costa 0 100 0 0
Painel 0 0 100 0
Palmeira 0 100 0 0
Ponte Alta 0 100 0 0
Rio Rufino 0 0 83 17
São Joaquim 0 0 70 30
São José do Cerrito 0 100 0 0
Urubici 0 0 33 67
Urupema 0 0 67 33
Fonte: Epagri (2003).

1.3.3 Solos e aptidão de uso das terras

Para a caracterização dos solos ocorrentes no Planalto, utilizou-se


o Levantamento de Reconhecimento de Alta Intensidade dos Solos de

54
Santa Catarina realizado pela Embrapa (1999), na escala 1:250.000
(www.mapserver.cnps.embrapa.br/website/pub/Santa_Catarina/
viewer.htm).
Os solos ocorrentes no Planalto Sul são originários de rochas
sedimentares e de efusivas. Os solos derivados do sedimento arenito
Botucatu ocorrem seguindo uma estreita faixa que contorna a escarpa da
Serra Geral. Os solos argilosos de origem sedimentar relacionam-se,
principalmente, com os argilitos e folhelhos síltico-argilosos; os de textura
média estão relacionados com siltitos, folhelhos síltico-arenosos e arenitos
muito finos; os de textura arenosa relacionam-se com arenitos mais
grosseiros. Por outro lado, solos rasos ou pouco profundos normalmente
estão relacionados com rochas bem estratificadas, como é o caso dos
xistos e dos folhelhos várvicos. Os mais comuns são os Argissolos e os
Cambissolos, ambos de textura média. As rochas efusivas básicas são
responsáveis pela formação de extensas áreas de solos argilosos,
arroxeados, avermelhados ou brunados, com altos teores de Fe203 (óxido
de ferro).
O mapa publicado pela Embrapa foi recortado pela equipe de
geoprocessamento da Epagri para representar somente a UPR 3 (Figura
5). Para maiores detalhes, os interessados encontram as descrições
completas das unidades de mapeamento ocorrentes no Planalto Sul nos
Anexos III, IV e V de Epagri (2003). As ordens dos solos e suas
representatividades de ocorrência estão apresentadas na Tabela 4.

475.00 0 515.0 00 55 5.000 595.00 0 635. 000 675.0 00

Mapa de sol os - UPR 3


6. 980.00 0
6.9 80.000
6.940.0 00

6.940 .000
M etros
6 .900.0 00

6.900. 000

Á gua
Ur bano
Nitosso ol s
Neo ssolos
A rgisso ol s
6.860 .000

6.8 60.000

L atossolos
G el isso ol s
Cam bissolos
Elaboração: Epagri/Ciram/Geoprocessament o
0 10 20 40 Fonte: adapt ado de Embrapa (2001)
Km
Projeção: UTM
Sis temas de c oordenadas métricas
47 5.000 515.00 0 555 .000 59 5.000 635.00 0 67 5.000
M etros

Fonte: Epagri (2003).

Figura 5. Mapa das classes de solos ocorrentes no Planalto Sul Catarinense

55
Tabela 4. Solos do Planalto Sul Catarinense, número de municípios onde
ocorrem, área e porcentagem

Municípios Área
Solo envolvidos
(no) ha %

Argissolos e Alissolos 1 482 0,03


Cambissolos 17 748.560 46,60
Gleissolos 3 161 0,10
Neossolos Litólicos 16 697.327 43,40
Nitossolos 10 138.902 8,70
Latossolos 2 5.884 0,40
Outros (área urbana e alagada) 19 14.619 0,77
Total - 1.605.934 100,00

Fonte: Epagri (2003).

1.3.3.1 Argissolos e Alissolos

Os Argissolos e os Alissolos ocorrem somente no município de Bom


Retiro, com uma representatividade de apenas 0,03% da área total do
Planalto Sul; por esta razão, estão agrupados. Contudo, os Argissolos
compreendem solos constiuídos por material mineral, que têm como
características diferenciais argila de atividade baixa e horizonte B textural
(Bt), imediatamente abaixo de qualquer tipo de horizonte superficial,
exceto o hístico (alta concentração de matéria orgânica), enquanto que
os Alissolos são solos minerais e têm como características diferenciais
argila de atividade > 20cmolc/kg de argila, baixa saturação por bases, alto
conteúdo de alumínio extraível (Al3+ > 4cmolc/kg de solo), conjugado com
saturação por alumínio > 50% e/ou saturação por bases < 50%. Podem
apresentar horizonte A moderado, proeminente ou húmico e/ou horizonte
E sobrejacente a um horizonte B textural ou B nítico (reluzente).
No Planalto Sul foram incluídas, nas Ordens Argissolos e Alissolos,
as unidades de mapeamento anteriormente denominadas Podzólicos
Vermelho-Escuros e os Podzólicos Vermelho-Amarelos e os Podzólicos
Bruno-Acinzentados (Figura 5). Estes solos, em função de variação na
textura, no gradiente textural B/A, no relevo, apresentam aptidão dominante
classificada como 3e (17), segundo Uberti et al. (1992) (Figura 6).

Uberti et al. (1992) usaram os seguintes fatores limitantes para definir as classes
17

de aptidão de uso: d = declividade; e = erosão; f = fertilidade; h = excesso de umidade;


p = pedregosidade; pr = profundidade.

56
503. 000 543. 000 583.000 623. 000 663. 000
6.980. 000

6. 980.000
Mapa de Aptidão
de U s o das Terras - UP R 3
6. 940.000

6.940. 000
M et ros
6.900. 000

6.900.000
6.860.000

6.860. 000
E laboraç ão: Epagri/C iram /Geoproc essamento
0 10 20 40 Fonte: A daptado de Embrapa (2001)
Km
P rojeção: UTM
S ist emas de coordenadas m ét ri cas

503. 000 543.000 583.000 623. 000 663. 000


Metros

Fonte: Epagri (2003).

Figura 6. Mapa da aptidão de uso das terras ocorrentes no Planalto Sul


Catarinense

1.3.3.2 Cambissolos

São solos constituídos por material mineral; apresentam horizonte


A ou horizonte hístico com espessura inferior a 40cm, seguido de
horizonte B incipiente e que satisfaça os demais requisitos especificados
pelo sistema de classificação quanto à sua ocorrência e constituição.
Esses solos ocorrem tanto em relevo plano a relevo montanhoso, apesar
de predominarem os cambissolos em relevo forte-ondulado, ondulado e
suave-ondulado, determinando como classe de aptidão dominante a
2eprf, segundo Uberti et al. (1992) (Figura 6). Pelo sistema atual foram
incluídos na Ordem Cambissolo as unidades de mapeamento
anteriormente também denominadas Cambissolos. A ocorrência de
unidades de mapeamento em que predomina este solo, por município, é
observada na Tabela 5 (Figura 5).

57
Os Cambissolos constituem a classe de solos dominantes no
Planalto, ocupando cerca de 46% da sua área total (Tabela 1). Estes
solos apresentam forte limitação ao uso para culturas anuais quando em
relevo acidentado, com pedregosidade excessiva e/ou por necessitarem
de altas quantidades de corretivos da acidez para a produção de colheitas
satisfatórias.

1.3.3.3 Gleissolos

São solos constituídos por material mineral com horizonte glei


imediatamente abaixo de horizonte A, ou de horizonte hístico com menos
de 40cm de espessura, ou horizonte glei começando dentro de 50cm da
superfície do solo. Anteriormente, estes solos eram denominados Solos
Glei Húmico e Glei Pouco Húmico.
Em condições naturais, estes solos apresentam condições mínimas
de utilização, não só pela deficiência química e teores elevados de
alumínio trocável, como também, e principalmente, pelas restrições
impostas pelo excesso de água no solo, impedindo ou limitando o uso de
máquinas e implementos agrícolas, sendo classificados como classe
3hpr, segundo Uberti et al. (1992) (Figura 6). São solos nos quais a cultura
de vimeiros é desenvolvida e, se convenientemente drenados, podem ser
usados para outras culturas, inclusive pastagens, necessitando, contudo,
do emprego de corretivos e fertilizantes.
A ocorrência de unidades de mapeamento em que predomina este
solo, por município, é observada na Tabela 5 (Figura 5). Considerando-
-se a escala de levantamento dos solos de 1:250.000, muitas áreas
ocupadas por essa classe não são identificadas, ou não o são por
ocorrerem em associação com outras unidades de mapeamento.

Tabela 5. Ocorrência dos diversos tipos de solos no Planalto Sul


Catarinense

Tipos de solos
Município
Argis- Cambis- Gleis- Neossolos Nitos- Latos-
solos solos solos Litólicos solos solos

.........................................% da área.............................................

Anita Garibaldi - 66,7 - 23,9 7,2 -


Bocaina do Sul - 56,8 - 42,7 0,4 -
(continua)

58
Tabela 5 (continuação)

Tipos de solos
Município
Argis- Cambis- Gleis- Neossolos Nitos- Latos-
solos solos solos Litólicos solos solos

.........................................% da área.............................................

Bom Jardim da Serra - 12,8 - 86,1 - -


Bom Retiro 0,03 50,2 - 49,4 - -
Campo Belo do Sul - 20,8 - 20,9 57,5 -
Capão Alto - 47,1 - 42,2 9,8 -
Cerro Negro - 67,4 - 18,3 13,0 -
Correia Pinto - 86,8 0,8 - 3,5 < 0,1
Lages - 63,2 - 26,2 9,0 -
Otacílio Costa - 88,9 - 11,1 1,7 -
Painel - 16,2 - 81,7 - -
Palmeira - 98,8 1,2 - - -
Ponte Alta - 64,2 0,4 25,1 - 10,3
Rio Rufino - 20,2 - 79,8 - -
São Joaquim - 19,7 - 78,3 - -
São José do Cerrito - 64,9 - 0,4 32,8 -
Urubici - 9,4 - 90,4 - -
Urupema - 35,6 - 60,3 3,4 -

Fonte: Epagri (2003).

1.3.4 Aptidão de uso das terras do Planalto Sul Catarinense para


pastagens

Baseando-se nos princípios e conceitos de aptidão agrícola das


terras, propostos por Uberti et al. (1992) e do mapa de aptidão das terras
elaborado pela Epagri (2003) (Figura 6), estabeleceram-se classes
específicas para o cultivo ou uso com pastagens. Com esses critérios e
com o intuito de identificar a potencialidade dos solos do Planalto Sul
Catarinense para a produção de ruminantes, propõem-se as classes
apresentadas na Tabela 6 e representadas na Figura 7. Nessa avaliação,
foram consideradas apenas as unidades de solo, independentemente do
uso e da cobertura vegetal atuais.
De acordo com estes critérios, propõem-se as definições que
seguem para cada uma das classes definidas.

59
Tabela 6. Classes de solo e limitações de uso para o cultivo ou melhoramento
de pastagens no Planalto Sul Catarinense

Classe de Fator Tipo de pastagem


Notação Aptidão
aptidão(1) limitante(1) recomendada

1Ab 1 Não apresenta Boa Espécies anuais


2Ab 2 Fertilidade Boa Espécies anuais
2Ar 2 Declividade ou erosão Restrita Espécies anuais
3Pb 3 Erosão, pedregosidade e
drenagem Boa Espécies perenes
4Pr 4 Declividade, erosão e
pedregosidade Restrita Espécies perenes
PP 5 Preservação permanente - -

Fonte: Uberti et al. (1992).


(1)

463.000 513.000 563.000 613.000

Mapa de Aptidão
6.970.000

6.970.000
para P ast agem - U PR 3
6.920.000

6.920.000
Metr os

Pastag em
Classe
Anu al Pe rene
1 Ab Boa Bo a
2 Ab Boa Bo a
6.870.000

2 Ar Re strita Bo a
6.870.000

3 Pb - Bo a
4 Pr - Rest rita
PP - -
Ur bano - -
Rios - - Elabor ação: Ep agri /Cir am/ Geopr ocessa mento
F onte: Ep agri/I BGE
0 10 20 40 Projeç ão: UT M
Km Sistema s de co orde nada s mé tricas
463.000 513.000 563.000 613.000 663.000
Metros

Fonte: Epagri (2003).

Figura 7. Mapa da aptidão de uso das terras ocorrentes no Planalto Sul


Catarinense para pastagens

Classe 1Ab: boa para pastagens anuais climaticamente adaptadas

Esta classe apresenta nenhuma ou muito pequena limitação de uso


e/ou riscos de degradação ambiental. Permite qualquer tipo de utilização,
desde que sejam efetuadas práticas simples de conservação do solo e

60
correções da acidez e da fertilidade com base na análise de solo do local
e nas necessidades da pastagem de interesse econômico a ser implantada.
Os solos dessa classe são normalmente cultivados com lavouras anuais
para grãos e representam uma percentagem muito pequena sobre a área
total (Tabela 7) (Figura 7). Nessas áreas podem ser implementados, sem
restrição, sistemas integrados de produção das lavouras com a pecuária.
Se vegetadas com campo nativo, o seu melhoramento pode ser realizado
utilizando-se métodos mecânicos como grade ou renovadora de pastagens
ou mesmo pela sobressemeadura manual, desde que realizados os
tratamentos prévios necessários.

Classe 2Ab: boa para pastagens anuais climaticamente adaptadas

Esta classe apresenta pequenas limitações de uso e/ou riscos de


degradação. Sua principal limitação é a baixa fertilidade dos solos.
Permite qualquer tipo de utilização, inclusive pastagens anuais ou perenes,
sejam estas implantadas por sistema convencional ou cultivos reduzidos,
desde que sejam efetuadas práticas simples de conservação do solo,
correção da acidez e da fertilidade, conforme interpretação da análise do
solo e das necessidades da pastagem utilizada. Os solos dessa classe
também são cultivados normalmente com lavouras anuais para grãos;
também representam uma percentagem pequena sobre a área total do
Planalto Sul (Tabela 7) (Figura 7). Nessas áreas também podem ser
implementados, sem restrições, sistemas integrados de produção de
lavouras com a pecuária. Se vegetadas com campo nativo, o melhoramento
pode ser efetuado sem restrições quanto à mecanização.

Tabela 7. Potencialidade das terras do Planalto Sul Catarinense quanto


às aptidões de uso para pastagens
Área
Classe
ha %
1Ab 5.858 0,4
2Ab 134.673 8,4
2Ar 525.837 32,7
3Pb 100.078 6,2
4Pr 492.161 30,6
PP 347.328 21,6
Total 1.605.934 100,0

Fonte: Epagri (2003).

61
Classe 2Ar: restrita para pastagens anuais (boa para pastagens
perenes) climaticamente adaptadas

Esta classe apresenta limitações moderadas para sua utilização


com cultivos anuais e/ou com riscos moderados de degradação ambiental.
Suas principais limitações são a declividade, suscetibilidade à erosão,
profundidade efetiva e fertilidade. As terras dessa classe podem ser
usadas com cultivos de pastagens anuais, desde que implantadas as
práticas de manejo do solo recomendadas. A área de abrangência dessa
classe é bastante expressiva na região (Tabela 7) (Figura 7). Os solos
dessa classe também são cultivados normalmente com lavouras anuais
para grãos. Nessas áreas, recomendam-se os sistemas integrados de
produção das lavouras com a pecuária para manter o solo encoberto
durante o ano todo. Se cobertas com campo nativo, o melhoramento das
áreas com maior declividade somente é possível com processos manuais
para distribuição dos insumos, além da necessidade do pastejo intenso
para aumentar o contato das sementes com o solo pelo pisoteio, permitindo,
assim, o estabelecimento mais efetivo das espécies introduzidas.

Classe 3Pb: boa para pastagens perenes climaticamente


adaptadas

Esta classe apresenta alto risco de degradação ou limitações fortes


para utilização com cultivos anuais, e mesmo com pastagens. Suas
principais limitações são a declividade, a suscetibilidade à erosão, a
profundidade efetiva e a fertilidade. Apesar de pouco representativa
(Tabela 7) (Figura 7), esta classe tem potencial para cultivo de pastagens
perenes com manejo adequado dos rebanhos. A introdução de forrageiras
cultivadas perenes é possível desde que corrigida a fertilidade do solo.
Também é necessário distribuir manualmente os insumos, assim como o
pastejo intensivo para rebaixar a pastagem original e compactar as
sementes pela ação do pisoteio.

Classe 4Pr: restrita para pastagens perenes climaticamente


adaptadas

Esta classe apresenta riscos de degradação e/ou limitações


permanentes severas. Os solos enquadrados nesta classe, se origi-
nalmente são cobertos com campos naturais, é conveniente mantê-los ou
melhorá-los com a introdução de espécies, corretivos da acidez do solo

62
e fertilizantes sem, contudo, mobilizar o solo. O estabelecimento de
espécies cultivadas somente perenes é possível de forma manual e com
a utilização de animais para pastejo prévio e pisoteio após a semeadura.
A área coberta por esta classe é bastante representativa no Planalto Sul
(Tabela 7) (Figura 7).

Classe PP: Preservação permanente

Esta classe é considerada imprópria para qualquer tipo de cultivo,


inclusive o de florestas de utilização econômica. É considerada área de
preservação permanente, recomendando-se o reflorestamento
(preferencialmente com espécies nativas) apenas em áreas já descobertas
e com fins exclusivamente conservacionistas. Estão incluídas nesta
classe as áreas urbanas e dos cursos dos rios (Figura 7).

1.3.5 Considerações finais

O uso indevido das terras cobertas com campos naturais ou


naturalizados vem causando danos irreversíveis ao ambiente em muitas
áreas do Planalto Sul Catarinense. De outro lado, a pecuária (carne, leite
e lã) não tem recebido a mesma atenção que a agricultura e o florestamento
com espécies exóticas, tanto por parte dos criadores de gado quanto dos
órgãos governamentais. Nos últimos anos, a atividade leiteira, outrora
forte no Planalto Sul, tem sido reduzida nessa região, enquanto que no
Oeste ela tem se expandido. A erradicação da febre aftosa no Estado tem
valorizado a carne catarinense tanto no mercado nacional quanto
internacional, trazendo maiores incentivos e investimentos no setor. A
produção de carne à base de pastagens naturais ou melhoradas é uma
oportunidade única de agregação de valor ao produto. Na região, a
pecuária não encontra concorrência com a agricultura de grãos, pois as
condições edáficas não são muito favoráveis a estas últimas. Seus únicos
concorrentes potenciais, pelo espaço geográfico físico, são a fruticultura
e o florestamento, existindo, ainda, a alternativa de sistemas silvo-pas-
toris.
Desta forma, o que limita a expansão da pecuária no Planalto
Catarinense não são as suas características edáficas, mas fatores de
mercado e de políticas de desenvolvimento.

1.4 Características gerais

Os principais núcleos de campos em Santa Catarina estão localizados


nas regiões de planalto (sul e norte) e meio-oeste, especialmente nos

63
municípios de Lages, São Joaquim, Bom Jardim da Serra, Capão Alto,
Painel, Bom Retiro, Campos Novos, Curitibanos, Matos Costa, Água
Doce, Abelardo Luz, Campo Erê, Irani, Caçador, Mafra e Campo Alegre.
Em todos os demais municípios do Planalto Catarinense existem áreas de
campos naturais, embora com composição florística e fisionômica
diferentes.
Apesar de já terem sido descritas e identificadas centenas de
forrageiras nativas, pouco se sabe de sua distribuição geográfica, valor
forrageiro, hábitos e ciclo de vida. No entanto, Barreto & Boldrini (1990),
citados por Moraes et al. (1995), relacionaram as de maior potencial
forrageiro para uso atual ou que podem entrar em programas de
melhoramento possibilitando cruzamentos (Tabela 8 e Figura 8).

Tabela 8. Espécies de gramíneas e leguminosas nativas com potencial


forrageiro

Gramínea Habitat Leguminosa Habitat

Bromus brachyantera Bm Adesmia araujoi S


Bromus auleticus M/U A. bicolor M/U
Coelorhachis selloana U A. latifolia U/M
Leersia hexandra A A. tristis M/U
Paspalum conspersun A Aeschynomene elegans M
P. dilatatum U A. falcata S/M
P. guenoarum M Desmodium adscendens U/M
P. yurgensii Bm D. barbatum U
P. modestum S/M D. incanum S/M
P. notatum U D. uncinatum Bm
P. plicatulum U Lathyrus sp. S/M
P. pumilum U Macroptilium spp. M/S
P. jesuiticum U Rhynchosia diversifolia S
Piptochaetium spp. U/M/S Trifolium riograndense M
Schizachyrium imberbe M Vicia spp. M
S. tenerum M Vigna spp. U
Setaria vaginata M Zornia spp. S/M/U
Stipa spp. M/S Tephrosia M/S

Nota: A = Alagado; Bm = Beira do mato; U = Úmido; M = Médio; S = Seco.


Fonte: Barreto & Boldrini (1990) citado por Moraes et al. (1995).

64
A

Figura 8. (A) Adesmia latifolia (leguminosa) e (B) Bromus aulecticus


[gramínea, (C) detalhe da inflorescência]; espécies nativas perenes de
inverno que estão sendo melhoradas pela Epagri/Estação Experimental
de Lages

A classificação e a caracterização das formações campestres são


dificultadas pelo grande número de espécies e, muitas vezes,
representadas por diferentes ecotipos regionais, segundo Paim (1983),
citado por Moraes et al. (1995), além do agravante da instabilidade,
provocada por processos contínuos de sucessão, em função de fatores
bióticos (Nabinger, 1980) e abióticos (solo e clima). Segundo Araújo
(1967), “cada região possui um clímax para onde tendem (evolução
progressiva) ou se afastam (evolução regressiva) as sucessões vegetais”.
A vegetação de um campo não é um aglomerado ao acaso, mas
uma coletividade natural de plantas com caracteres florísticos definidos
e cujas espécies constitutivas têm exigências vitais e ecológicas análogas.
Assim, devem-se considerar não apenas as espécies, mas as associações
que a constituem (Araújo, 1967).
Embora os campos naturais se tenham constituído na primeira
cobertura vegetal da rocha básica no Sul do Brasil, estudos e informações
de naturalistas como Lindman e Rambo (já citados) e Saint’hilaire (1974)
descreveram-nos:

65
como macegosos e até as vezes arbustivos, constituídos de espécies de
gramíneas cespitosas de porte alto (...), formando atualmente uma
vegetação disclímax, sob influência direta principalmente dos animais
que, quando não bem equilibrada, poderá degradar essa vegetação ao
ponto de surgirem graves problemas de erosão em alguns solos
(Mohrdieck, 1993).

Castilhos (1993) tem a mesma opinião, ao afirmar que “o campo


pastejado se constitui numa comunidade disclímax, uma vez que a
condição clímax é composta por campos macegosos e arbustivos, onde
predominam gramíneas cespitosas de porte alto”.

Ecologicamente essas formações poderiam estar caracterizadas em


clímax quando ainda mantidas em grandes extensões numa lotação tão
baixa que pouco efeito tinha sobre a vegetação. Esta era constituída
predominantemente de poucas espécies que caracterizavam grande
áreas, como, por exemplo, o capim caninha na Depressão Central [do
RS], a barba-de-bode (Aristida jubata) no Planalto, bem como capim
forquilha (Paspalum notatum) na Campanha do RS” [Nabinger, 1980,
citado por Moraes et al. (1995)].

Dessa forma, a composição florística hoje encontrada nos campos


naturais, além de ser resultado das condições edafoclimáticas e suas
oscilações, também é conseqüência da ação do homem, através do
pastoreio, do uso do fogo, da subdivisão (propriedades e invernadas)
(Pereira, 1993; Mohrdiek, 1993 e Leite & Klein, 1990) e da influência da
atividade agrícola em algumas áreas. Este manejo propiciou o aumento
da participação na composição botânica de espécies de porte baixo,
rizomatosas ou estoloníferas, normalmente de melhor valor forrageiro.

É tão importante o fator gado em uma pastagem, que se esta for bem
dividida e lotada, transforma-se em pastos baixos e tenros (disclímax),
mas, se abandonada durante alguns anos, dá-se a “regressão”, isto é, a
restauração da flora primitiva com o retorno dos pastos altos e duros
(clímax) (Araújo, 1967).

As formações campestres do Sul do Brasil podem ser “englobadas


em duas classificações principais, que são parte do que Burkart (1975)
denominou de “Campos do Brasil Central” e “Campos Sul-Brasileiro-Uru-
guaios” (Valls, 1986)”, conforme Moraes (1995). De uma maneira genérica,
os campos do PR, SC e metade norte do RS, enquadram-se na primeira
categoria, tendo na sua composição florística gramíneas mais grosseiras
e cespitosas, com predominância dos gêneros Aristida, Andropogon,

66
Schyzachyrium, Elyonuros e Trachypogon (op. cit.). A segunda categoria
ocupa a metade mais meridional do RS e o Uruguai, onde espécies de
Axonopus, Coelorhachis, Paspalum, Leersia e Luziola assumem papel de
maior importância.
Mais especificamente para o Planalto Catarinense, Gomes et al.
(1989) fizeram o zoneamento das pastagens naturais a partir de estudos
fisionômicos e propuseram a seguinte classificação (Figura 9):

5 1º50’ 49º10 ’
26 º10’

an á
Pa r
Matos Costa

4 8
Caçador
2

Ca mp os Novo s Curi tib anos


10
11

Rio 1 5
G ra Lages
nd 9
e do 12
S ul
13
3
S ão
7
6
Joaquim

28º4 0’

Figura 9. Zoneamento dos campos naturais do Planalto Catarinense

• Campo palha grossa18: campo limpo, com predomínio de capim


caninha (Andropogon lateralis). Relevo suave-ondulado a ondulado, com
solo de origem sedimentar. Áreas 1 e 2.
• Campo palha fina (Figura 10): domínio de capim mimoso
(Schizachyrium tenerum), com freqüência secundária de outras espécies
do gênero de Schizachyrium, Aristida (barba-de-bode), Stipa (capim
flechilha19), Axonopus siccus, grama tapete (A. affinis) e grama forquilha

18
As expressões “palha grossa” e “palha fina” dão denominações regionais para os
respectivos tipo de campo.
19
O capim flechilha mais conhecido na Região Serrana é a Stipa melanosperma,
também chamada flechilha negra.

67
(Paspalum notatum). Caracteriza-se por apresentar campo limpo, relevo
de suave-ondulado a ondulado, solos oriundos de rochas intermediárias
e rochas basálticas, raso com afloramento. Áreas 3, 4 e 5.

Figura 10. Campo palha fina

• Campo misto de capim caninha e capim mimoso: campo limpo,


caracterizado por dois estratos de vegetação, com capim caninha,
macega mansa (Sorghastrum spp.) e carqueja (Bacharis trimera) no
extrato superior e capim mimoso, grama baixa (Paspalum pumilum),
grama forquilha, capim cabelo-de-porco (Piptochaetium montevidensis)
e babosinha (Adesmia punctata) no estrato nferior. As espécies dominantes,
capim caninha e capim mimoso, apresentam alternância entre si. Relevo
ondulado a forte-ondulado com afloramento de rochas. Área 6.
• Campo misto de capim caninha e grama baixa: campo limpo,
caracterizado por dois estratos de vegetação com amplo domínio de
capim caninha no estrato superior e de grama baixa no inferior. Relevo
ondulado, solos rasos com afloramento de rocha. Área 7.
• Campo misto de capim mimoso e grama baixa: campo limpo
com predominância da primeira espécie. Área 8.
• Campo palha fina tendendo a gramado: predomínio de capim
mimoso, sucedido por grama forquilha, com grande ocorrência de carqueja,
vassoura e capões de guamirim do campo (Myrcia bombycina). Em
função da semelhança de relevo, espécies comuns e proximidade com
áreas de campo palha fina, é provável que o tipo de campo esteja em um
estágio sucessional em função da maior atividade agropecuária nas
regiões de ocorrência, com muitas pastagens alteradas, predominado a

68
grama forquilha. Solos oriundos de rochas intermediárias (Área 9) e
basálticas (Área 10). Relevo ondulado.
• Campo misto de grama forquilha e barba-de-bode: área
intensamente cultivada (solo e topografia favoráveis) e pastoreada,
apresentando campos baixos, formados com domínio de grama forquilha
e touceiras de capim barba-de-bode. Nos barrancos aparecem indivíduos
de capim mimoso, demonstrando uma alteração fisionômica acentuada
em função dos fatores acima mencionados: solos profundos de origem
basáltica, relevo ondulado. Área 11.
• Campo sujo: predomínio de espécies de carqueja e vassoura,
ocorrendo a grama forquilha no estrato inferior. Área de vegetação
original, provavelmente de mata que foi eliminada para cultivo de
subsistência por alguns anos, seguida por uma utilização secundária
como pastagem. Alterações no uso da área favorecem o desenvolvimento
de vassoural (Bacharis sp.) no estrato superior. Relevo ondulado a
fortemente ondulado, solos profundos de origem basáltica. Área 12.
• Campo palha fina com mata (Figura 11): campo de capim
mimoso, ocorrente em área de topografia acidentada, com floresta de
araucária. Campo sujo, com as seguintes espécies: capim mimoso e
outras espécies do mesmo gênero, grama baixa, grama forquilha, grama
tapete, capim cabelo-de-porco, trevo serrano ou riograndense (Trifolium
riograndensis), babosinhas (Adesmia araujoi, A. ciliata, A. punctata), car-
queja, vassoural e cravo-do-campo (Trichocline catharinensis). Área 13.

Figura 11. Campo palha fina com mata

69
Destaca-se que o zoneamento realizado por Gomes et al. (1988)
refere-se apenas ao Planalto Catarinense, não estando, portanto, incluídas
as pastagens naturais localizadas no norte e mais a oeste de SC e na
região de Alfredo Wagner.
Quanto à composição botânica dos campos naturais do Sul do
Brasil, diversos autores (Boldrini, 1997) afirmam estar composta de
aproximadamente 150 espécies de leguminosas e 400 de gramíneas.
Boldrini (2002) afirma: “Com base na literatura existente e no
conhecimento de pesquisadores que atuam no bioma campos, acredita-
-se que existam aproximadamente 3 mil espermatófitas (plantas que
produzem sementes) campestres no Sul do Brasil”.
Segundo Duncan & Jarman (1993) citado por Moraes et al. (1995),
espécies de gramíneas e leguminosas, em conjunto com famílias que
incluem exemplares campestres também numerosos, como as compostas,
ciperáceas e outras, ter-se-á um número em termos de biodiversidade
que ultrapassa o total de espécies vegetais encontradas nas florestas
tropicais úmidas. “Esta riqueza florística traz um fato pouco comum ao
registrado no restante do mundo, que é a associação de espécies C4, de
crescimento estival, com espécies C3, de crescimento hibernal” (ibid.).
Pois, segundo Whyte (1974), citado por Rocha (1991), “todas as gramíneas
encontradas em áreas abertas, nas baixas latitudes, são do tipo C4;
espécies do tipo C3 se encontram em ambientes sombrios ou em altitudes
mais elevadas”.
Apenas no Planalto Catarinense já foram encontradas aproxi-
madamente 380 espécies, das quais 80 são de leguminosas (Brandenburg,
1995).
Ainda segundo Moraes et al. (1995), “as pastagens naturais da
Região Sul apresentam uma grande diversidade estrutural, com
predominância de gramíneas e baixa participação de leguminosas”. Estes
mesmos autores também destacam a grande oscilação nos níveis de
produtividade, tanto no tempo, como no espaço, assim caracterizados:

No tempo, as variações de produtividade são determinadas pela


evolução estacional do clima. Entretanto, a resposta de uma comunidade
vegetal é determinada, essencialmente, pela coexistência de dois grupos
de espécies adaptadas aos climas subtropicais (metabolismo C3 ou C4).
A dominância relativa destas espécies (...) é que determina a capacidade
de crescimento ao longo das diferentes estações do ano, definindo o
equilíbrio da produção anual de forragem.
No espaço, a produtividade forrageira está extremamente relacionada
às características físicas e químicas do solo (...), como também do relevo.
Estes fatores edáficos determinam grandes variações na composição

70
botânica e substanciais diferenças de produtividade em função da
dominância de certas espécies.

1.5 Associações vegetais herbáceas

Brigitte Brandenburg20

A composição e agrupamentos da flora dos campos do Planalto


Serrano está altamente relacionada a aspectos edáficos, climáticos,
topográficos e antrópicos, especialmente no que se refere a lotação e
manejo. O Zoneamento das Pastagens Naturais do Planalto Serrano
proporcionou o conhecimento e estabelecimento das limitações geográ-
ficas das variações nos agrupamentos das espécies predominantes.
Foram identificados, através do uso de imagens de radar corroboradas
por expedições a campo, nove tipos fisiográficos de pastagens naturais
(Gomes et al., 1990).
Os estudos da flora da região foram iniciados por Raulino Reitz e
Miguel Klein, ambos renomados cientistas do Herbário Barbosa Rodriguez,
localizado em Itajaí, SC, os quais percorreram, nas décadas de 50 e 60,
todo o Planalto Catarinense em viagens de coleta de espécies, o que
resultou em trabalho de referência para os estudos taxonômicos no
Estado. Os resultados quanto às tribos e os gêneros predominantes
foram obtidos através de levantamentos locais de composição florística,
iniciados por Nuernberg (1980), especialmente no município de Lages e
municípios vizinhos (Tabela 9).
Foram coletadas, através da Epagri/Estação Experimental de Lages,
aproximadamente 85 espécies de leguminosas de diferentes gêneros
estivais e hibernais (Tabela 10).
A partir do zoneamento citado anteriormente, iniciaram-se trabalhos
de levantamento de flora por tipo de campo, sendo que nos campos palha
grossa e palha fina foram complementares a trabalhos de curvas de
produção e taxas de crescimento, além de outras avaliações. Em unidades
de observação nos campos palha fina com mata e palha fina de Bom
Retiro foram feitos levantamentos exploratórios, assim como também no
campo palha fina de Água Doce, campo misto de Mafra, campo palha fina
tendendo a gramado em Anita Garibaldi e Curitibanos. Em todos os
levantamentos foi utilizado o método do ponto, acompanhado de coletas
de solo.

20
Eng. agr., M.Sc., Rua Conselheiro Pedreira, 1.300, 89239-300 Joinville, SC, fone:
(47) 424-0577, e-mail: b.brand@zaz.com.br.

71
Tabela 9. Gêneros principais da família Poaceae (= Gramineae) ocorrentes
nos campos do Planalto Sul de Santa Catarina

Tribos Gêneros Estivais Gêneros Hibernais

Andropogon, Agenium,
Schizachyrium, Paspalum, Agrostis, Aristida,
Poeae Axonopus, Panicum, Briza, Bromus,
Paniceae Trachypogon, Gymnopogon, Calamagrostis,
Andropogoneae Chloris, Eryanthus, Ichnanthus, Danthonia, Eragrostis,
Coelorhachis, Setaria, Sorghastrum, Melica, Piptochaetium,
Pseudochinolaena, Digitaria, Poa, Stipa, Sporobolus
Cynodon, Eleusine

Fonte: Nuernberg (1980).

Tabela 10. Principais tribos e gêneros da família Fabaceae no Planalto


Sul de Santa Catarina

Tribos Gêneros

Adesmieae Adesmia
Desmodieae Desmodium
Aeschynomeneae Aeschynomene, Poiretia, Stylosanthes, Zornia
Crotalarieae Crotalaria
Genisteae Lupinus
Phaseoleae Calopogonium, Collaea, Eriosema, Galactia,
Macroptilium, Rhinchosia
Trifolieae Vigna, Medicago(1), Melilotus(1), Trifolium
Vicieae Lathyrus, Vicia
Indigofereae Indigofera,
Tephrosieae Tephrosia

Gêneros introduzidos.
(1)

Fonte: Brandenburg (2001).

Fatores como retenção de umidade, tipo de solo, declividade e


gradientes topográficos, profundidade de solo e queimadas exercem
grande influência na predominância e/ou competição entre espécies e
associações (Figura 12). O grau de influência da lotação, sistema de
pastejo e comportamento animal na composição florística é dependente

72
dos primeiros, além do clima em determinadas estações, principalmente
a precipitação e a temperatura.

Figura 12. A composição florística dos campos naturais depende de


muitos fatores, como profundidade de solo, fertilidade, relevo, umidade e
sistema de manejo

A presença e o desenvolvimento de leguminosas de inverno, como


Adesmia araujoi, Adesmia tristis e Trifolium riograndense, que ocorrem
em áreas pastejadas nos campos palha fina e palha grossa, apresentam
particularidades no que se refere a umidade, declividade e competição.
A Adesmia araujoi ocorre em locais secos em encostas e topos, embora
sua ocorrência seja bem mais limitada em relação à Adesmia tristis. É mais
comum a sua presença em meio a rochas nos topos, provavelmente uma
proteção à base da planta e sua sobrevivência. Locais altos também são
pouco afetados pelas queimadas em função da baixa disponibilidade de
matéria seca combustível. Por outro lado, a Adesmia tristis ocorre
geralmente em baixadas, especialmente às margens de açudes ou locais
sujeitos a encharcamento, na base de encostas com alto grau de
escorrimento de água. No campo palha grossa, cujo tipo de solo retém
mais umidade, a freqüência desta espécie é, comparativamente, mais
elevada. Isto também se observa nos campos mistos de Bom Jardim da
Serra, que, apesar da declividade, apresentam solo bastante úmido, e

73
nos quais se verifica o predomínio de Andropogon lateralis e Paspalum
maculosum, igualmente espécies dependentes de elevado grau de
umidade. Nessas áreas, o Andropogon lateralis não forma touceiras,
possivelmente devido à competição exercida por P. maculosum e fatores
ainda desconhecidos.
Quanto à ocorrência de Trifolium riograndense, esta espécie de
vigorosos estolões e pequenas folhas é altamente dependente do manejo
da pastagem e da lotação. Ocorre geralmente nos topos, local de
descanso e observação dos animais, sempre mais pastejados, com alta
freqüência de espécies estoloníferas e rizomatosas. A competição exercida
pelo acúmulo de matéria seca de gramíneas é um impedimento à difusão
desta leguminosa, muito rústica. Em uma pastagem de campo palha fina
onde se observou a ocorrência elevada de T. riograndense, além de
outras leguminosas, a análise do solo coletado revelou pH baixo (4,1),
níveis de fósforo elevados para a região (7 a 9ppm) e níveis de alumínio
de 5 a 7ppm. Observa-se que, apesar da elevada concentração de
alumínio, o fósforo isoladamente pode ter influido na alta freqüência e
difusão desta leguminosa na área.
Com relação às queimadas, aplicadas normalmente em agosto, na
época de intenso crescimento vegetativo de Adesmia araujoi, A. tristis e
Trifolium riograndense, a A. araujoi é a mais afetada, devido aos locais
onde ocorre, as encostas. Dependendo da intensidade da queima, a A.
tristis é bastante afetada, apesar dos locais preferenciais já citados. A sua
sobrevivência depende da exposição de suas coroas à ação do fogo.
Próximo de açudes, estas coroas se elevam devido à variação do nível da
água. Observou-se, através de marcação, que plantas afetadas pela
queima em diferentes locais nas baixadas sobrevivem e voltam a rebrotar.
No entanto, acredita-se que o tempo necessário para recuperação em um
período de clima mais quente e seco na primavera limite o vigor e a
intensidade de florescimento que ocorre de dezembro a fevereiro. O
Trifolium riograndense é pouco danificado pela queima devido aos locais
de estabelecimento já citados acima. Quando atingido por queimadas,
rebrota rapidamente, caso a freqüência de precipitação não imponha
limitações. Outra espécie de inverno, Lathyrus crassipes, talvez esteja
sendo eliminada dos campos naturais devido às queimadas. Esta espécie
inicia seu ciclo vegetativo na época das queimadas, e, como espécie
anual, a sua multiplicação fica impossibilitada pela morte definitiva das
plantas. Este aspecto pode ocorrer com outras espécies nativas anuais
cujo ciclo coincida com essa prática.
As leguminosas de verão dos gêneros Eriosema, Galactia,
Aeschynomene, Desmodium, Macroptylium, Rhinchosia, Crotalaria,

74
Stylosanthes e Tephrosia iniciam crescimento intenso na primavera. As
espécies de florescimento mais precoces são Macroptylium e Tephrosia.
O Desmodium ocorre quase que exclusivamente em campo palha grossa,
onde a Eriosema também ocorre com mais freqüência. Galactia, Rhinchosia,
Crotalaria, Stylosanthes e Aeschynomene, aparentemente, ocorrem nos
diversos tipos de campo de forma dispersa e com baixa freqüência (1%
a 3%) quando comparado às gramíneas. Várias dessas espécies não
atraem o consumo animal. São necessários trabalhos de fenologia e
ecologia para definir níveis de componentes antiqualitativos e fatores
relacionados ao consumo animal. A baixa freqüência relacionada à baixa
fertilidade e manejo são os desafios para a sobrevivência e maior difusão
dessas espécies em campos naturais.
Gramíneas de inverno como as do gênero Bromus, Briza, Poa,
Calamagrostis e Agrostis têm seu desenvolvimento influenciado pelo
acúmulo de matéria seca acumulada de verão, competição por luminosidade
e falta de estímulo ao perfilhamento, em função de inacessibilidade ao
pastejo, pelo abafamento. Submetidas às queimadas, as plantas iniciam
rapidamente a diferenciação floral, em função da exposição a altas
temperaturas, resultando em plantas de poucas folhas em processo
avançado de desenvolvimento vegetativo.
No Tabela 11 são colocados alguns dados de ocorrência de gramí-
neas mais comuns no campo palha fina, associados a aspectos do relevo.

Tabela 11. Ocorrência de gramíneas em diferentes gradientes de relevo


em área de campo palha fina, região da Coxilha Rica – Lages, SC

Topo Encosta Baixada

Schizachyrium tenerum
Andropogon ternatus
Schizachyrium tenerum Schizachyrium tenerum Trachypogon montufari
Piptochaetium Paspalum maculosum Paspalum plicatulum
montevidensis Axonopus siccus Schizachyrium
Axonopus compressus Trachypogon montufari microstachyum
Paspalum plicatulum Andropogon selloanus Ichnanthus procurrens
Paspalum notatum Ichnanthus procurrens Axonopus siccus
Eragrostis polytricha Aristida flaccida Piptochaetium
Eragrostis polytricha montevidensis
Andropogon selloanus
Paspalum notatum
Eragrostis polytricha

Fonte: Brandenburg (2001).

75
Observou-se neste tipo de campo, na Coxilha Rica, que áreas em
topos com solos rasos, ou seja, em torno de 40cm de profundidade,
apresentam predomínio de Schyzachyrium tenerum, Ichnanthus procurrens
e Eragrostis polytricha, Paspalum maculosum, Axonopus siccus e
Trachypogon montufari. Por outro lado, topos com camada de solo com
mais de 1m de profundidade apresentam vegetação com dominância de
Axonopus compressus, seguido de S. tenerum, Paspalum montevidensis,
P. plicatulum, P. notatum, P. barretoi e Panicum sabulorum. Em encostas
íngremes, escarpadas e com afloramentos de rocha, predominam
Schizachyrium tenerum e Axonopus siccus. No campo palha fina, na
região de Água Doce, onde o relevo de uma forma geral é ondulado ou
suave-ondulado, a composição da vegetação é similar ao da região de
Lages, como também suas características químicas. O que se diferencia
é a freqüência mais alta de leguminosas, especialmente de Adesmia
tristis. Além disso, a densidade da vegetação é aparentemente maior, e
sobre ela o relevo suave pode exercer maior influência. No entanto, são
observações que necessitam de estudos mais detalhados.
Na região de Urupema, com aproximadamente 1.200 a 1.400m de
altitude, as pastagens apresentam grandes variações em suas
composições. No entanto, uma área avaliada (Tabela 12) apresenta
característica de pastagem natural com seus grandes afloramentos
rochosos em forma de cone.

Tabela 12. Ocorrência de espécies de acordo com freqüência e gradiente


topográfico em áreas de campo palha fina com mata da região de
Urupema, SC

Topo Encosta Baixada

Paspalum barretoi Paspalum maculosum Paspalum maculosum


Schizachyrium tenerum Piptochaetium Schyzachyrium tenerum
Piptochaetium montevidensis Axonopus siccus
montevidensis Schyzachyrium tenerum Piptochaetium
Paspalum maculosum Eragrostis polytricha montevidensis
Eragrostis polytricha Paspalum plicatulum Schizachyrium
Paspalum plicatulum Paspalum nicorae microstachyum
Andropogon selloanus Andropogon ternatus Schizachyrium spicatum
Trachypogon montufari

Fonte: Brandenburg (2001).

76
A dominância de Paspalum barretoi nos topos sobre as demais é
acentuada, o que se observa em todas as regiões de maior altitude.
Paspalum maculosum também domina sobre S. tenerum nas encostas e
baixadas. Eragrostis polytricha ocorre com boa freqüência em encostas
e baixadas. Esta espécie, amplamente distribuída em todos os gradientes
topográficos, altitudes e tipos de campo, chama a atenção pela resistência
de suas plantas às geadas e à seleção pelos animais neste período.
O campo palha grossa, caracterizado pelo desenvolvimento de
Andropogon lateralis em grandes touceiras, com abundância de colmos
alongados e forragem muito fibrosa na fase de maturação, apresenta um
estrato herbáceo (Tabela 13) com plantas prostradas como Paspalum
notatum, Axonopus compressus, Axonopus affinis e Paspalum plicatulum.
Destaca-se pela freqüência de diversos gêneros e espécies de
leguminosas, com desenvolvimento mais vigoroso em relação ao campo
palha fina. Entre os gêneros mais comuns de leguminosas, estão
Desmodium, Eriosema e Aeschynomene.

Tabela 13. Ocorrência de espécies mais comuns em áreas de campo


palha grossa, de acordo com freqüência média

Espécies

Andropogon lateralis Paspalum maculosum


Paspalum plicatulum Paspalum guenoarum
Schizachyrium tenerum Eragrostis polytricha
Piptochaetium montevidensis Aristida megapotamica
Paspalum notatum Aristida laevis

Fonte: Brandenburg (2001).

A qualidade das espécies que compõem os campos naturais é


influenciada por aspectos de adaptação ao ambiente, ao manejo do fogo,
ao sistema de pastejo e às condições climáticas. Em avaliações
complementares a experimento de curvas de produção, foram analisadas
algumas espécies quanto ao seu valor nutritivo em área de campo natural.
Os resultados estão relacionados na Tabela 14.
Observam-se, através da Tabela 14, valores razoavelmente bons
em relação à proteína bruta e à digestibilidade in vitro em S. tenerum e P.
maculosum. No entanto, o decréscimo desses valores verifica-se a partir
de dezembro, associado ao período em que historicamente ocorre um

77
período de seca juntamente com altas temperaturas. Eragrostis polytricha,
apesar do estágio florescimento, neste período ainda apresenta valores
bons de digestibilidade. A espécie deve ter a qualidade avaliada em
períodos anteriores, e da mesma forma P. montevidensis. Paspalum
compressifolium destacava-se pelo fato de os animais a procurarem com
freqüência nas baixadas, onde formava diversas manchas. Observam-se
valores altos de Ca e digestibilidade para o período de coleta. As
avaliações preliminares de qualidade indicam que devem ser associadas
às coletas variáveis como queima, temperatura e precipitação, e
observações da preferência animal, independente do aspecto eventual-
mente grosseiro das espécies.

Tabela 14. Análise de proteína bruta (PB) e digestibilidade in vitro


(DIVMO) e concentração de fósforo (P) e cálcio (Ca) de algumas espécies
de gramíneas e leguminosas mais freqüentes em campo natural do tipo
palha fina

Espécie Período/situação PB DIVMO P Ca

..........................%..........................

Schizachyrium tenerum Novembro/encosta 14,2 63,3 0,22 0,24


S. tenerum Novembro/baixada 12,2 72,2 0,24 0,24
S. tenerum Março/encosta 5,4 52,6 0,09 0,24
Paspalum maculosum Outubro/encosta 12,5 70,8 0,21 0,25
Paspalum maculosum Outubro/baixada 13,6 66,7 0,20 0,24
Piptochaetium
montevidensis Novembro/topo 12,7 48,8 0,15 0,16
Eragrostis polytricha Outubro/baixada 11,4 67,1 0,21 0,29
Paspalum
compressifolium Março/baixada 6,3 61,0 0,09 0,36
Paspalum barretoi Janeiro/topo 11,0 60,4 - -

Fonte: Brandenburg (2001).

1.6 Área ocupada

A falta de estudos mais aprofundados e as constantes alterações


pela intervenção humana têm provocado divergências nos dados da
superfície forrageira de SC, especialmente no que diz respeito aos
campos naturais e naturalizados. Nem mesmo as denominações são as

78
mesmas. Leite & Klein (1990) utilizam a expressão savana21 para referir-
-se a campos naturais e não fazem nenhuma menção a pastagens
naturalizadas.
De acordo com Klein (1980), as pastagens artificiais22 (naturalizadas)
representam aproximadamente 30% das áreas utilizadas para lavouras
no Vale do Itajaí (Tcacenco & Pillar, 1988 estimaram em 25%, incluindo
o Litoral Norte). Se no resto do Estado ocorrer o mesmo, e não deve haver
uma variação significativa, como em 1994 havia 2.125.158ha (IBGE,
1996b) de lavouras das principais culturas, e as lavouras temporárias em
descanso tenham se mantido no mesmo patamar de 1985, ou seja,
324.988ha (Censo Agropecuário, 1985), as pastagens naturalizadas de
Santa Catarina ocupam uma área aproximada de 735 mil hectares.
A Fundação do Meio Ambiente – Fatma –, após quatro anos de
estudos, divulgou, em meados de 1996, “A avaliação quantitativa dos
remanescentes da cobertura vegetal de Santa Catarina, considerando as
diferentes formações fitoecológicas23”. Por essa avaliação, a área atual
dos campos naturais atinge 1.324.705ha o que corresponde a 13,89% da
área total do Estado (Tabela 15).

21
Segundo Ferreira (1995) (Dicionário Aurélio), savana “são planícies tropicais de
longa estação seca, com vegetação caracterizada” por dois estratos: um estrato
baixo, dominado por gramíneas, com subarbustos de folhas grandes e duras e outro
formado por árvores de porte baixo, retorcidas e afastadas entre si, de cascas
grossas e fendidas. Para Marchiori (2002), “savanas são vegetações típicas de
países tropicais, cujo clima é marcado pela vigência de uma estação seca”.
Complementa que essa denominação se mostra inadequada em regiões de
predominância de gramíneas baixas na vegetação e da vigência de clima Cfb. Da
mesma forma, não concorda com o termo estepe, que se vincula a ambientes de
escassa umidade, resultando numa vegetação rala, em que a maioria das plantas
exige adaptações xerófitas.
22
Segundo o autor, estas pastagens passaram a ocupar áreas de planícies após o
abandono devido à “exaustão dos solos (...) e aquelas contíguas as habitações
(principalmente de encostas), uma vez que aí se encontram os terrenos mais
empobrecidos. São utilizadas essencialmente espécies nativas de SC”, com
predominância dos gêneros Axonopus sp. e Paspalum sp.
23
"A quantificação dos remanescentes da cobertura vegetal de SC foi obtida com a
aplicação de técnicas de geoprocessamento apoiadas pelo Sistema Geográfico de
Informações desenvolvido pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais
– Inpe –, permitindo a digitalização das cartas temáticas, superposição de análise
quantitativa de resultados”. Preliminarmente, foram realizados estudos comparativos
entre o mapa fitogeográfico de SC (Klein, 1978) e o mapa da vegetação, elaborado
pelo Projeto Ramdam-Brasil/IBGE – 1986, que utiliza o novo sistema ecológico de
classificação da vegetação brasileira” (Fatma, 1996).

79
Tabela 15. Avaliação quantitativa estimada da cobertura vegetal e as
principais formações fitoecológicas de Santa Catarina

Classes Área original de SC Área remanescente


de vege-
tação ha % ha % área SC % da área
original

Campos 1.324.705 13,90 1.324.705 13,90 100,00


Classe 2 3.015.822 31,64 1.323.440 13,88 43,88
Classe 3 4.115.726 43,18 1.099.660 11,54 26,72
Classe 4 830.610 8,71 131.720 1,38 15,86
Classe 5 189.123 1,98 32.570 0,34 17,22
Classe 6 55.844 0,59 - - -
Total 9.531.830 100,00 3.912.090 40,95 -

Nota: Classe 2 = Floresta Ombrófila Densa (Mata Atlântica e Nebular); Classe


3 = Floresta Ombrófila Mista (Araucária e Faxinais); Classe 4 = Floresta
Estacional Decidual (Tropical da Bacia do rio Uruguai); Classe 5 = Formações
pioneiras não-florestais (mangues, restingas e dunas) e Classe 6 = águas
interiores e lagoas.
Fonte: Fatma (1996).

Esse estudo da Fatma, provavelmente, é o mais completo para


avaliar quantitativamente a cobertura vegetal de SC. No caso dos campos
naturais, houve a preocupação de subtrair “os bosques e capões da mata
de pinheiros individualizados no mapeamento da cobertura vegetal de
SC” (id.) e não foram incluídas as pastagens naturalizadas. O valor
encontrado (1.324.705ha), na verdade, aproxima-se daquele obtido por
Gomes et al. (1990), que foi de 1.019.500ha (Figura 11) em levantamento
realizado “nos Campos de Lages, Campos de Curitibanos, parte norte da
colonial do Rio do Peixe (Água Doce) e oeste do Planalto de Canoinhas
(Matos Costa), situados entre os paralelos 26o10' e 28 o40' de latitude sul
e os meridianos de 49o 10' e 51o50' de longitude oeste’’. Portanto, não
foram incluídas áreas ao norte (Mafra, Campo Alegre), a oeste (Campo
Erê, Abelardo Luz) e a região de Alfredo Wagner.
No entanto, o estudo da Fatma é falho quando afirma que 100% da
área de campos naturais está intacta quanto ao tipo de cobertura vegetal,
pois nos Campos de Lages e Curitibanos, no período de 1970 a 1995,

80
337.655ha foram substituídos por florestamento ou lavouras, conforme
cálculos realizados a partir de dados de Ritter & Sorrenson (1985) e dos
Censo Agropecuário (1970, 1979, 1983 e 1997). As principais alterações
ocorreram – e estão ocorrendo de forma intensa – nos Campos de Lages
(florestamento, fruticultura, bataticultura e grãos), nos Campos de
Curitibanos (florestamento, alho e grãos) e nas proximidades de Abelardo
Luz e Campo Erê (grãos), localizados no Oeste.
Com a finalidade de comparar as informações citadas anteriormente
– sintetizadas na Tabela 16 – com as existentes nos municípios, foi
realizado por Córdova (1997) um levantamento nos escritórios locais e
regionais da Epagri e secretarias municipais de agricultura, que consistia
em preencher um formulário pré-elaborado. As principais conclusões
desse cotejamento são:

Tabela 16. Principais recursos forrageiros de SC, segundo diversas


fontes

Campos Pastagem cultivada Super-


Fonte Silagem fície
bibliográfica Naturali- (geral) forra-
Naturais Perene Anual
zados geira

.................................................ha........................................................

IBGE (1997)(1) 1.778.795 - 560.115 - - 2.460.669


Vincenzi (1994)(2) 2.000.000 - 337.648 130.352 2.000 2.470.000
Grumann (1977)(3) - - - - - 2.687.580
Moser et al. (1994)(3) - - - - - 2.687.580
Gomes et al. (1988)(4) 1.019.500 - - - - -
Klein (1980)(5) - 735.000 - - - -
Fatma (1995) 1.324.705 - - - - -
Epagri (1996)(6) 2.047.219 - 311.836 322.363 17.681 2.699.099

(1)
As informações referem-se ao Censo Agropecuário (1997); as pastagens naturalizadas
estão incluídas em naturais e as anuais em perenes, como pastagens cultivadas.
(2)
Informações obtidas do relatório anual do Instituto Cepa 85/86 e Acaresc (s.d.). Também as
pastagens naturalizadas estão somadas às nativas. As capineiras foram incluídas em pastagens
perenes cultivadas.
(3)
As duas fontes consideraram, embora em épocas bem distintas, que a superfície forrageira
atinge 28% da área total de SC.
(4)
Esse levantamento não se refere à área total dos campos naturais de SC.
(5)
O total de campos naturalizados foi obtido a partir da informação do autor de que
aproximadamente 30% da área desmatada em SC está ocupada por esse tipo de vegetação.
(6)
Informações obtidas junto aos escritórios regionais e locais da Epagri em SC, sem distinção
entre naturais e naturalizadas.

81
• A superfície forrageira encontrada em SC está em torno de 28%,
confirmando as informações de Grumann et al. (1977) e Moser et al.
(1994).
• As áreas de campos naturais e de naturalizados levantados
alcançam 2.047.219ha, aproximando-se da citação de Vincenzi (1994)
(Figura 13).

Figura 13. Os campos naturais e naturalizados ocupam em torno de 2


milhões de hectares em Santa Catarina

• Deduzindo 1.324.705ha apenas de campos naturais (Fatma,


1996), da informação anterior, encontram-se 722.514ha de pastagens
naturalizadas, o que também se aproxima muito da estimativa de Klein
(1980).
• A área de pastagem perene cultivada citada por Vincenzi (1994)
e a encontrada igualmente são semelhantes. No entanto, a área com
forrageira anual obtida é 147% superior. Este fato, certamente, se deve
à atualização dos dados, que apontam para o crescimento dessa prática
em SC nos últimos anos.
• A área destinada para produção de silagem é de 17.323ha, maior
que qualquer estimativa encontrada na literatura (mesmo com muitos
municípios não dispondo, na época, dessa informação, principalmente
nas regiões de Lages, Itajaí, Florianópolis e Joinville).

82
Em função da importância da determinação da área com superfície
forrageira para SC, visando a ações de planejamento e políticas futuras
para a produção animal, estudos mais detalhados são necessários.

1.7 Importância ecológica e econômica

A pastagem natural (...) é o maior legado da natureza à pecuária (...) e sua


preservação e melhoramento, mais do que uma necessidade de ordem
técnica e econômica, é um dever de todos, pela preservação de um
patrimônio genético de valor inestimável.
Nabinger (1980)

Existe uma grande biodiversidade de espécies presentes nas


formações de campos naturais do Sul do Brasil. Segundo Moraes et. al.
(1995), “são poucas as regiões no mundo que apresentam uma diversidade
de espécies campestres como as encontradas no subtrópico brasileiro”.
Diversos estudiosos reconhecem a importância das pastagens naturais,
como também admitem que ainda muito pouco se sabe a respeito, apesar
do empenho de diversos agrostologistas, principalmente sul-rio-
grandenses. “Devido à importância das pastagens naturais (...),
acreditamos necessária e imediata a intensificação dos estudos destas
pastagens, principalmente sob um enfoque ecológico a fim de
preservarmos e mesmo melhorarmos sua produtividade” (Mohrdieck,
1993).
Uma das funções mais importantes das pastagens permanentes e
dos campos naturais é a proteção que oferece aos solos (Figura 14),
principalmente aqueles declivosos, podendo, inclusive, recuperar as
características físicas de áreas muito degradadas (Klapp, 1977; Voisin,
1974; Primavesi, 1982; Vincenzi, 1987). Na região de Alegrete, RS,
formou-se o Deserto de São João do Sul, após a substituição da pastagem
natural por culturas anuais e o manejo inadequado do solo.
Primavesi (1982) menciona dados de Batey (1973), referentes a
trabalho realizado no RS, que compara a proteção oferecida pelos
campos naturais ao solo com outros tipos de cobertura, mas, principalmente,
com o preparo convencional (Tabela 17). A conclusão é que a pastagem
nativa equivale a uma camada de 5cm de palha picada e oferece proteção
contra a erosão do solo, em função do amortecimento do impacto das
gotas da água da chuva, da maior infiltração e menor escorrimento
superficial.

83
Figura 14. A cobertura vegetal dos campos naturais há milhões de anos
protege o solo, evitando a erosão e a degradação ambiental

Tabela 17. Perda de solo por erosão em três anos

Tipo de cobertura Perda de solo


(t/ha)

Solo arado sem vegetação 350,0


Campo nativo 3,3
Camada de 5cm de palha picada 3,0

Fonte: Adaptado de Batey (1973) citado por Primavesi (1982).

Moraes et al. (1995) citam preocupação de Pott (1989) com relação


à invasão da agricultura em áreas de excelentes pastagens naturais no
RS, “que podem estar causando uma irreversível erosão genética de
espécies endêmicas, muitas com grande potencial forrageiro”.
O mesmo fato também está ocorrendo no Planalto Catarinense,
onde grande parte dos campos nativos está sendo substituída por
lavouras e florestamento, principalmente de Pinus spp. Nos últimos anos,

84
essa atividade está sendo implantada em escala crescente nas pastagens
de Lages, as mais extensas de Santa Catarina. Esta situação está
retratada na Tabela 18, na qual se pode observar que num espaço de
apenas 15 anos, 27,7% dos campos naturais da Mesorregião Serrana
foram transformados em lavouras e florestamento. Nessa área geográfica,
no período de 1970 a 1995, foram florestados 127.527ha. E como os
dados trabalhados pertencem ao Censo Agropecuário de 1995-1996,
certamente esse percentual (27,7%) é bem mais expressivo, devido à
intensificação, nos últimos anos, do florestamento, da expansão de alho
(Curitibanos), de cereais (Campos Novos, Lages, Campo Belo e arredores),
de maçã e batata (São Joaquim, Bom Jardim e Urupema), entre outros
cultivos menos expressivos. Embora a fruticultura não se tenha consolidado
nos Campos de Curitibanos, principalmente junto aos pequenos
agricultores, essas áreas não voltaram a ser usadas como campos. “O
ecossistema pastagens naturais, que precisa ser preservado a qualquer
custo, está sujeito a pressões sociais e econômicas que nem sempre
respeitam a ecologia.(...) Assim, precisamos torná-lo mais produtivo, sob
pena de ser atropelado por um tipo de exploração inconseqüente”
(Jacques, 1993).
Conforme o IBGE (1997), em 1995 51,8% das terras na Região da
Amures estavam ocupadas por pastagens naturais, perfazendo um total
de 738.244ha. Dados de Ritter & Sorrenson (1985) registram que no
início da década de 80 esse percentual era de 64%. A única maneira de
frear essa substituição dos campos naturais é aumentando a sua
produtividade, tornando-os economicamente viáveis e sua utilização
socialmente mais justa. Mas este objetivo somente será alcançado com a
geração e difusão de novas tecnologias, que devem considerar a
biodiversidade genética existente, que está sendo reduzida pelas atividades
silvo-agrícolas mencionadas.
Segundo Nabinger (2002), a substituição do agroecossistema
campos naturais por outras atividades no Sul do Brasil nos últimos 40
anos alcança uma taxa de 130 mil hectares por ano, o que corresponde
ao desaparecimento de 5,2 milhões de hectares de pastagens naturais,
razão pela qual “É urgente incrementar ações multidisciplinares para a
melhor compreensão dos mecanismos que governam o seu funcionamento,
como forma de gerar mais subsídios para justificar e garantir sua
preservação”.
Os campos naturais do Planalto Catarinense, apesar da expansão
da bovinocultura em outras regiões do Estado, ainda continuam sendo a
principal alternativa para esta atividade em Santa Catarina e o mais
importante recurso forrageiro de que se dispõe.

85
Tabela 18. Uso da terra na Mesorregião Serrana de SC (Campos de Lages + Campos de Curitibanos) e as
mudanças ocorridas desde 1970

Culturas Florestas
Situação e Campos
Ano
mudanças de 1970 a 1995 naturais
Perene Anual Nativa Exótica

...............................................ha................................................

Situação 1970 1.238.245 3.354 121.314 468.868 52.520

86
1975 1.071.920 2.687 129.666 448.089 90.366
1980 1.019.879 6.608 182.964 425.879 131.269
1985 973.343 8.017 191.649 417.128 156.727
1995 900.590 11.331 168.110 393.750 180.047

Mudança de 1970 a 1995 -337.655 +7.977 +46.796 -75.118 +127.527


-27,27% +137,83% +38,57% -16,02% +142,82%

Fonte: Ritter & Sorrenson (1985) e Censo Agropecuário (1970, 1979, 1983 e 1997).
O único que dispensa sementes, fertilizantes e economiza mão-de-obra,
combustível, máquinas e instalações e, muito pouco depende das
condições climáticas, pois a despeito do inverno de todos os anos, bois
e vacas de descarte são abatidos durante a estação quente e a cada
primavera o ciclo da pecuária reinicia com o nascimento de novos animais
(Gomes da Rocha, 1993).

Esta característica singular, de produzir indefinidamente com uso


mínimo de insumos (linha veterinária, sal comum e mineral), resulta numa
baixa produtividade, mas que pode e deve ser melhorada, mantendo os
campos naturais como cobertura vegetal, protegendo o solo e os recursos
genéticos.
Apesar da baixa produtividade, a pecuária é uma das atividades
socioeconômicas mais importantes do Planalto Catarinense, que
compreende as microrregiões de Lages, Curitibanos e Canoinhas, as
quais, juntamente com alguns municípios que possuem áreas significativas
de campos naturais (Klein, 1978), como Matos Costa, Água Doce,
Caçador, Irani, Campo Erê, Abelardo Luz e Campo Alegre, respondem por
34,38%, 54,66% e 42,56%, dos rebanhos bovinos, ovinos e eqüinos,
respectivamente, como demonstra a Tabela 19.

Tabela 19. Participação das microrregiões e municípios que possuem


campos naturais nos rebanhos bovinos, ovinos e eqüinos em SC

Descrição Bovinos Ovinos Eqüinos

............................cab...........................

Microrregião de Lages 499.022 65.720 26.843


Microrregião de Curitibanos 181.030 18.580 5.902
Microregião de Canoinhas 183.145 21.743 24.624
Outros municípios 154.655 14.891 8.795
Total campos naturais(1) 1.017.852 124.834 66.164
Total Santa Catarina 2.960.343 228.343 155.456

Campos Naturais 34,38% 54,66% 42,56%

Matos Costa, Água Doce, Caçador, Irani, Campo Erê, Abelardo Luz e Campo
(1)

Alegre.
Fonte: Censo Agropecuário (1997) adaptado.

87
É necessário esclarecer que em todas as microrregiões e municípios
onde há ocorrência de campos naturais, também há presença de campos
naturalizados, mesmo que em proporção menor. Portanto, na manutenção
dos rebanhos relacionados na Tabela 19, há participação de pastagens
naturalizadas, como de forrageiras cultivadas, principalmente anuais de
inverno.
Ao contrário do que normalmente se supõe, na Região Serrana há
um grande número de propriedades pequenas. Destas, 68% possuem
até 50ha, embora possuam apenas 8% do total da área; 81% possuem até
100ha, acumulando 22,5% da área. A estratificação completa encontra-
se na Tabela 20.

Tabela 20. Estrutura das propriedades na Microrregião Campos de


Lages

Tamanho das Propriedades Área


propriedades
(ha) No % % acumulado ha % % acumulado

Até 10 4.425 28 28 21.157 1,5 1,5


10 a 20 2.704 17 45 37.723 3 4,5
20 a 50 3.608 23 68 113.844 8 12,5
50 a 100 2.113 13 81 145.500 10 22,5
100 a 200 1.413 9 90 191.166 13,5 36
200 a 500 1.026 7 97 313.008 22 58
500 a 1.000 399 2 99 271.401 19 77
1.000 a 2.000 129 1 100 167.209 12 89
2.000 a 5.000 32 - - 88.843 7 96
5.000 a 10.000 6 - - 39.638 3 99
+ 10.000 1 - - 16.847 1 100
Total 15.856 100 1.406.336 100 -

Fonte: IBGE (1983), citado por Ritter & Sorrenson (1985).

Informações de Recknagel (1982), citadas por Ritter & Sorrenson


(1985), consideram que a maior parte das propriedades possui sistemas
mistos (corte e leite) e apenas 16% das propriedades pesquisadas
(a maioria do estrato > 200ha) tinham exclusivamente gado de corte. No
entanto, estes dados devem ser mais bem analisados, pois há dúvidas

88
quanto à sua representatividade para toda a região. Deve-se considerar
que em muitas propriedades o rebanho possui aptidão para corte e
apenas em alguns meses das estações quentes o excesso da produção
de leite24 (de algumas matrizes) é comercializado, principalmente sob
a forma de queijo serrano, aproveitando-se o pico de qualidade da
pastagem nativa. Estes sistemas devem ser enquadrados como “de gado
de corte”, pois, todo o manejo, seleção, cruzamentos e comercialização
estão voltados a tal finalidade.
A diversidade de espécies e a variabilidade dos recursos genéticos
dos campos naturais, desde que estudados e bem aproveitados, poderão
ser fundamentais para a pecuária do Sul do Brasil, viabilizando-a
definitivamente. Em diversos países se cultivam forrageiras nativas do
cone sul da América. “É chocante que em outros países se cultivam
Paspalum dilatatum, P. notatum, P. urvillei, Axonopus compressus, Bromus
unioloides, Cortaderia selloana e outras forrageiras que aqui (Uruguai)
não se cultivam’’ (Rosengurt et al., 1970, citado por Vincenzi, 1987).
Segundo Vincenzi (1987), o desenvolvimento da pecuária
fudamentada em pastagens nativas é uma alternativa muito mais
interessante para a produção animal no Brasil, pois se trata “de um
caminho menos dependente de insumos e tecnologia importada e é uma
forma de preservar um patrimônio nacional, cuja riqueza ainda está para
ser avaliada”.
Assim, talvez, mais importante que a contribuição atual dos campos
naturais para a economia de Santa Catarina é a possibilidade concreta de
essas áreas virem a ser mais bem utilizadas, através de técnicas
sustentáveis, que resultem em evolução da renda e da qualidade de vida
do produtor.

1.8 Produtividade e indicadores técnicos

A grande dificuldade, quanto a dados estatísticos sobre a pecuária


catarinense, é o fato de que há mais de oito anos não se tem informação
oficial de recenseamento. Dessa forma, utilizam-se dados pouco
consistentes, sem investigação mais apurada e que levam a conclusões
distanciadas da realidade. Isso denigre, não apenas a bovinocultura do
Estado, mas a imagem dos produtores e os próprios profissionais,
especialmente extensionistas e pesquisadores, que atuam na área.
Certamente a informação de que os indicadores de produtividade estão

24
Normalmente, apenas algumas matrizes (as mais leiteiras) são ordenhadas
(esgotadas), uma vez por dia, até o bezerro “vencer” o leite.

89
estagnados há décadas, principalmente quando comparados ao avanço
da suinocultura e avicultura, não anima os poderes públicos a investirem
no setor. Mas esse não é um problema específico de SC. O pesquisador
Afonso Simões Corrêa, da Embrapa-CNPGC, já em 1986 chamava a
atenção para a questão, em nível nacional, e lembra que se não tivesse
ocorrido uma evolução dos indicadores técnicos, o rebanho brasileiro não
poderia crescer, em média, 3% ao ano, como indicam os Censos
Agropecuários realizados entre 1940 e 1980 25.

Não resta dúvida que a produtividade do rebanho brasileiro é baixa, mas


há exagero em se admitir que essa produtividade seja (...) a mesma de
30 ou 40 anos atrás. Afinal, ao longo desse tempo, o País evoluiu em todos
os setores, diversificou e desenvolveu sua economia e melhorou
consideravelmente a infra-estrutura de apoio à produção. Introduziram-se
raças de melhor desempenho e novas forrageiras, aumentou-se
expressivamente a proporção de pastagens cultivadas; desenvolveu-se
a pesquisa agropecuária e a indústria de insumos, ampliando os meios
de controle de doenças que provocam perdas no rebanho (...) Dado o
caráter extensivo da exploração, pouco se conhece sobre a realidade da
nossa pecuária de corte, suas perdas e índices reais de produção
(Corrêa, 1986).

O objetivo deste item é discutir os principais indicadores, a partir de


informações trabalhadas ainda do Censo Agropecuário de 1995-1996 e
outras fontes; com a aproximação da situação real, planejar melhor esse
importante setor da economia catarinense e, apesar das dificuldades
inegáveis – já mencionadas – também registrar o progresso técnico que
está ocorrendo.
Os dados referentes à bovinocultura de SC, normalmente utilizados
por instituições públicas e privadas de ensino, extensão e pesquisa, são,
resumidamente, os seguintes: idade de abate, 42 a 48 meses; desfrute,
11% a 12%; natalidade, 50%; mortalidade, 4%; rendimento carcaça, 45%
a 50%; idade de cobertura, 36 meses e produção de leite, aproximadamente
1.250kg/vaca/ano. Sobre esses números, várias contestações podem
ser feitas, a partir dos seguintes fatos:
• Freqüentemente, revistas e publicações voltadas para a
agropecuária, trazem indicadores superiores aos citados.
• Técnicos com experiência em pecuária também divergem de tais
indicadores.

Nesse período, o rebanho brasileiro passou de 34.392.000 para 118.086.000


25

cabeças.

90
• Pessoas que conhecem bem a situação “a campo”, especialmente
no Planalto Catarinense, afirmam desconhecer (com algumas exceções)
criadores que, por exemplo, abatam aos 48 meses, entourem apenas aos
três anos e tenham índices de natalidade de 50%.
• Algumas propriedades que usam sistema de registro alcançam
indicadores mais altos, embora, normalmente, sejam as mais tecnificadas
e bem administradas.
• Mesmo pequenas propriedades que enfrentam dificuldades de
escala, de falta de capital e que utilizam um padrão mínimo de tecnologia,
alcançam esses índices considerados como média catarinense.
• Informações obtidas junto a produtores pelo Programa de Gestão
Agrícola desenvolvido pela Epagri revelam indicadores bem superiores
aos considerados “oficiais”.
Um indicador que é baixo, mas sobre o qual não há muita divergência,
é a produtividade dos campos naturais, que se situa entre 40 e 50kg de
peso vivo por hectare por ano (PV/ha/ano). No entanto, este valor
representa o balanço anual obtido pelo sistema tradicional, ou seja, a
diferença entre o que os animais ganham na primavera-verão (pois as
espécies forrageiras dos campos naturais do Sul do Brasil são
predominantemente de crescimento estival) e a perda no outono-inverno,
como demonstram as Figuras 15 e 16.
A maior polêmica é quanto ao verdadeiro desfrute26. Na tentativa de
aproximar esse índice da realidade, pelos dados do Censo Agropecuário
(1997) chegou-se à conclusão que é de aproximadamente 19,3% para SC
e 19,1% para o Planalto Catarinense (Tabela 21). Registra-se que esses
dados são relativos, pois consideram o número de cabeças e não estão
convertidos para unidades de peso vivo (carcaça ou UA). Porém, como os
animais vendidos e abatidos normalmente são adultos (para consumo de
carne), portanto mais pesados que a média do rebanho, a transformação
tenderia a elevar os índices de desfrute estimados.
Outra maneira de estimar o desfrute é através da produção interna
de carne bovina no Estado. Conforme a Síntese Anual da Agricultura de
Santa Catarina (2002), em 2002 foi de 124 mil toneladas, ou o equivalente
a 537.200 cabeças; como o rebanho em 2002 era de 3.085.814 (Anualpec,
2002), chega-se a uma taxa de extração de 17,4%. Se considerarmos que
nesse ano foram abatidos para consumo nas propriedades animais no
mesmo índice de 1995, ou seja, 5,1%, o que representa 157.110 animais,

26
Entendendo como desfrute a taxa de extração (animais vendidos + consumidos)
incorporada do crescimento vegetativo do rebanho.

91
o desfrute alcança 22,5%27. Portanto, um indicador superior àquele
encontrado a partir dos dados do Censo Agropecuário de 1995-1996.

1.200

1.000

800

600

400
Ganho diário /g

200

-200

-400

-600

-800

-1.000
Set. Out. Nov. Dez. Jan Fev. Mar. Abr. Maio Jun. Jul. Ago.

Primavera Verão Outono Verão

Ganho/ha/ano em.......................................................... 79,4


Perda/ha/ano em g........................................................ 49,1
Saldo/ha/ano em kg ...................................................... 30,3

Fonte: Secretaria de Agricultura do RS citado por Borges de Medeiros, s.d.,


citado por Córdova et al. 1997, adaptado.

Figura 15. Desempenho de novilhos em campo nativo (média de dois


anos) lotação de 0,5 cab./ha na Estação Experimental de Vacaria, RS

Sistema de cálculo: [(537.200 + 157.100/ 3.085.814) x 100] = 22,5%.


27

92
30
25
20
15
kg/animal

10
5
0
-5
-10
-15
Lote A Lote B Média A+B
Fonte: Souza, A.P.; Ramos, C.I.; Belatto, V.; Dalagnol, C.A. (dados não
publicados).
Figura 16. Ganhos de pesos médios mensais de dois lotes de novilhos
(A e B) em campo nativo tipo palha fina. Local: Coxilha Rica – Lages. Média
de três anos: 1994, 1995 e 1996

Tabela 21. Situação do rebanho bovino em SC e Microrregiões do


Planalto Catarinense e os respectivos índices de desfrute

Total
Microrregião e
Santa Catarina
Efetivo Vendidos Abatidos Desfrute
(cab.) (cab.) (cab.) (%)

Campos de Lages 477.609 90.315 7.713 20,5


Campos Curitibanos 193.606 31.709 3.088 18,0
Planalto Canoinhas 178.194 23.080 6.415 16,5
Planalto Catarinense(1)
849.409 145.104 17.216 19,1
Santa Catarina 3.097.351 441.671 157.110 19,3

Média das três microrregiões anteriores.


(1)

Fonte: Censo Agropecuário (1997), com exceção da taxa de desfrute com


que foram calculadas.

93
Com base nos dados do Anuário Estatístico da Produção Animal de
2003 (Anualpec, 2003), que cita a taxa geral de abate de SC, e da
publicação Números da Agropecuária Catarinense (2003), é possível
calcular o desfrute do Estado para os últimos três anos (2000 a 2002),
que, em média, resulta em 18,6% (Tabela 22).

Tabela 22. Desfrute da bovinocultura catarinense no período de 2000 a


2002

Abate animais
Taxa geral Desfrute
Ano Rebanho importados
de abate (%)
(%)
No %

2000 2.959.504 26,6 214.285 7,2 19,4


2001 3.030.019 26,4 261.905 8,6 17,8
2002 3.085.814 27,1 261.905 8,5 18,6
Média - 26,7 246.032 8,1 18,6

Fonte: Anualpec (2003) e Números da Agropecuária Catarinense (2003).

Informações obtidas junto a seis Planos de Regiões Administrativas 28


da Epagri por Córdova (1997), que abrangiam em 1996 43% e 44,6% da
área e dos municípios de SC, respectivamente, após serem trabalhadas,
apontam uma taxa de extração média de 18,2%, calculada em função do
número de cabeças abatidas, com exceção de Campos Novos, caso em
que o dado básico era produção de carne.
O crescimento do desfrute em SC e no Brasil foi detectado desde
1987, embora a ascensão tenha iniciado ainda antes. Esta evolução é
explicada por ganho de produtividade (Anualpec, 1996). Segundo Fonseca
(1969), o aumento da taxa de natalidade e diminuição da idade de abate
são as razões principais da ampliação de tal índice. E isso, certamente,
ocorreu em Santa Catarina.
Referente à taxa de natalidade, o Instituto Cepa/SC (1996) apresenta
dados calculados a partir de informações dos Censos Agropecuários de
1980 e 1985, em que os valores são de 62% e 64,9%, respectivamente.
Portanto, média de 63,4%.

Florianópolis, Urussanga, São Miguel do Oeste, Campos Novos, Canoinhas e Rio


28

do Sul.

94
Sobre a natalidade, os dados divulgados pelo Anualpec (2003)
permitem calculá-la utilizando-se as seguintes informações sobre o
efetivo do rebanho: vacas e novilhas de dois a três anos existentes em
2001, 975.141 e 195.858, respectivamente. Como no ano seguinte havia
804.472 terneiros(as) até um ano, obtém-se uma taxa de natalidade de
68%. Porém, o Anualpec (2003) informa que 36,5% do rebanho catarinense
é de aptidão leiteira; como as novilhas com essa aptidão são cobertas com
menos de dois anos, o que representa mais 132.967 fêmeas entouradas
ou inseminadas, a taxa de natalidade fica ajustada para 61,7%.
Os dados da campanha contra a febre aftosa, desenvolvida pela
Cidasc, também permitem estimar a taxa de natalidade, principalmente
em função de sua grande representatividade (obtidos de forma direta
junto a aproximadamente 180 mil produtores). O relatório final da
Campanha de Abril de 1996 indica a existência de 507.184 terneiros(as)
e de 1.087.210 fêmeas com mais de dois anos de idade. Considerando
que nas últimas etapas o rebanho se tem mantido estável e com proporção
semelhante de matrizes, ainda que o descarte seja de 22,6%, a taxa de
natalidade fica em 60,3%.
Os dados referentes ao desfrute e à taxa de natalidade, estimados
ou calculados a partir das fontes citadas, encontram-se resumidos na
Tabela 23 e Figura 17. Destaca-se a uniformidade dos valores encontrados,
pois a diferença entre o menor e o maior indicador encontrado foi de
23,6% para o desfrute e de 9% para a taxa de natalidade.
Sobre a atividade leiteira, como não há distinção nítida entre os
rebanhos das diversas aptidões, estão incluídos dados de gado misto ou
mesmo de corte29 na produtividade média da produção leiteira. O que não
ocorre com outros países que mantêm maior controle sobre seus rebanhos.
Dessa forma, é muito difícil estimar a produção dos rebanhos selecionados
para esta finalidade, pois as informações disponíveis consideram
simplesmente a produção total de leite em função do número de vacas
ordenhadas.
Segundo o Instituto Cepa/SC (1996), em 1993 a produtividade foi
de 1.168kg/vaca/ano, sendo ordenhadas 629.709 vacas; como em 1995
havia 628.184 terneiros(as) (Anualpec, 1996) e como no referido período
não deve ter ocorrido alteração significativa no rebanho30, o número de
vacas de cria existentes também deve ter-se mantido estável. Conclui-se
que praticamente todas as matrizes em lactação foram ordenhadas e
entraram na estatística, incluindo aquelas de aptidão para corte.
29
Em todo o Planalto Catarinense é comum vacas de corte serem ordenhadas no
período da manhã, durante os meses de primavera-verão.
30
De 1993 a 1995, o efetivo de bovinos passou de 3.016.752 para 3.054.444.

95
Tabela 23. Desfrute e taxa de natalidade estimados para SC segundo
diversas fontes bibliográficas

Desfrute Natalidade

Fonte das Índice Taxa


Fonte das informações
informações
trabalhadas % Relativo trabalhadas % Relativo

Cordova (1997)(1) 18,2 100,0 Censo Agrop. (1997) 58,0 100


Anualpec (2002) 18,6 102,2 Cidasc (1996) 60,3 104
Censo Agrop. (1997) 19,3 106,0 Anualpec (2002, 2003) 61,7 106
Síntese (2002) 22,5 123,6 Instituto Cepa/SC (1996)(2) 63,4 109
Média 19,6 - Média 60,8 -

Informações adaptadas de planos regionais da Epagri (1996) (taxa de extração).


(1)

Índice calculado pelo Instiuto Cepa/SC, a partir dos Censos Agropecuários de 1980
(2)

e 1985.

Figura 17. Mesmo no sistema convencional, os indicadores técnicos da


pecuária no Planalto Serrano são bem superiores aos considerados
oficiais

96
O Projeto de Gestão Agrícola desenvolvido pela Epagri obteve
informações em 600 propriedades rurais em todas as regiões de SC. Os
principais índices técnicos registrados estão expressos de forma resumida
na Tabela 24. Mais uma vez mostram dados muito diferentes daqueles
divulgados como “oficiais”. Trata-se de um número pequeno de
propriedades (aproximadamente 0,3% do total do Estado), embora o
Projeto tenha como uma de suas premissas básicas trabalhar com
propriedades típicas de cada atividade. Deve-se considerar, ainda, que
os beneficiários recebem assistência permanente e participaram de
treinamento profissionalizante em administração rural e sobre as principais
atividades formadoras da renda da propriedade. Isto certamente tem
grande influência para o alcance de tais índices, principalmente por que
os resultados se referem à média das 25% melhores propriedades em
desempenho, considerando lucro por hectare nos diversos sistemas
analisados.
Os índices da Tabela 24 certamente estão acima da média do
rebanho catarinense, mas são importantes por dois motivos: primeiro, por
demonstrarem bem o potencial da bovinocultura de SC, quando os
produtores recebem assistência técnica e capacitação; segundo,
evidenciam a importância de se trabalhar com dados adequados às
atividades, pois a simples separação em bovinos misto e de leite muda
completamente a significância dos valores de produtividade. Informações
sobre produção leiteira, sem considerar a aptidão dos rebanhos, tem uma
validade questionável para planejamento e formação de políticas para o
setor.

Tabela 24. Desfrute(1), taxa de natalidade e produção de leite de produtores


beneficiários do Projeto de Gestão Agrícola em SC
Aptidão zootécnica Desfrute(2) Taxa de natalidade Leite
do rebanho (%) (%) (kg/vaca/ano)

Bovinos misto 25,27 70,4 1.528,0


Bovinos de leite 25,21 86,5 3.415,0
Bovinos de corte - 68,0 -

(1)
O desfrute foi calculado “dividindo-se o crescimento vegetativo do rebanho em kg
pelo peso em kg no início do período, multiplicado por 100. Crescimento vegetativo
do rebanho = kg vendidos - kg comprados + kg final - kg inicial + kg de autoconsumo”
(Epagri, 1996).
(2)
Alguns dados que apresentavam desfrute superior a 30% e taxa de natalidade
superior a 90% foram desconsiderados para bovinos misto e de corte.
Fonte: Adaptado da Epagri (1997).

97
Quanto à idade de cobertura e de abate, na maioria das
propriedades se situa no intervalo de 24 a 30 e de 30 a 42 meses,
respectivamente, embora não haja informações estatísticas que confirmem
estes patamares, pois propriedades que utilizam pastagem cultivada ou
melhorada obtêm índices bem melhores, principalmente quanto à idade
de terminação, que não ultrapassa 24 meses.
Em função dos dados apresentados, os principais indicadores
técnicos da bovinocultura de SC, se ajustados para os seguintes valores,
deverão expressar de maneira mais fiel a realidade:
• Desfrute: 18,6% a 19,3%.
• Taxa de natalidade: 60% a 62%.
• Idade de entoure: 24 a 30 meses.
• Idade de abate: 30 a 42 meses.
• Produção de leite (kg/vaca/ano): embora não se disponha de
dados com maior precisão para o Estado de SC, tendo como base os indi-
cadores do Projeto Gestão Agrícola executado pela Epagri, estima-se:
– Aptidão mista: 1.500.
– Aptidão leite: 3.415.
Apesar da evolução ocorrida nas últimas décadas, continuam
sendo indicadores baixos, necessitando ser incrementados rapidamente
para que a bovinocultura catarinense se torne sustentável.

1.9 Literatura citada

1. ALONSO, M.T.A. Vegetação. In: IBGE. Geografia do Brasil: Região


Sul. Rio de Janeiro, 1977. p.81-108.

2. ANUALPEC – 1996. São Paulo: FNP Consultoria & Comércio, 1996.

3. ANUALPEC – 2002. São Paulo: FNP Consultoria & Comércio, 2002.

4. ANUALPEC – 2003. São Paulo: FNP Consultoria & Comércio, 2003.

5. ANUÁRIO ESTATÍSTICO – 1984. Brasília: Ministério da Agricultura,


1985. 156p.

6. ANUÁRIO ESTATÍSTICO – 1985. Brasília: Ministério da Agricultura,


1986. 168p.

7. ANUÁRIO ESTATÍSTICO – 1986. Brasília: Ministério da Agricultura,


1987.

98
8. ARAÚJO, A.A. Melhoramento das pastagens. 2.ed. Porto Alegre: Ed.
Sulina, 1967. 259p.

9. BIGARELLA, J.J.; LIMA, D.A.; RIEHS, P.J. Considerações a respeito


das mudanças paleoambientais na distribuição de algumas espécies
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O QUATERNÁRIO, 1975, Curitiba. Anais... Rio de Janeiro: Academia
Brasileira de Ciências, 1975. p.411-464 (Suplemento da Academia
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10. BOLDRINI, I.I. Campos do Rio Grande do Sul: caracterização e


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o Estado de Santa Catarina. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE
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16. CENSO AGROPECUÁRIO 1970: Santa Catarina Rio de Janeiro:


IBGE, 1970.

99
17. CENSO AGROPECUÁRIO 1975: Santa Catarina Rio de Janeiro:
IBGE, 1979.

18. CENSO AGROPECUÁRIO 1980: Santa Catarina Rio de Janeiro:


IBGE, 1983.

19. CENSO AGROPECUÁRIO 1995-1996: Santa Catarina Rio de Janeiro:


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extinção. 1997. 214f. Dissertação (Mestrado em Agroecossistemas).
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25. EPAGRI. Manual de referências de administração rural – 1993/94 e


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26. EPAGRI. Estudos básicos regionais de Santa Catarina. Florianópolis:


Epagri, 2003. CD-ROM.

27. FATMA. Avaliação quantitativa dos remanescentes cobertura de


Santa Catarina por formação. Florianópolis, 1996. 3p. (Relatório
Interno do Laboratório de Geoprocessamento).

100
28. FONSECA, J.C.S. Pecuária de corte, possibilidade de melhoramento.
Lages: Acaresc, 1969. 14p. (Mimeografado).

29. GOMES, K.E.; QUADROS, F.L.P.; VIDOR, M.A.; DALL’AGNOL, M.;


RIBEIRO, A.M.L. Zoneamento das pastagens naturais do Planalto
Catarinense. In: REUNIÃO DO GRUPO TÉCNICO REGIONAL DO
CONE SUL EM MELHORAMENTO E UTILIZAÇÃO DOS RECURSOS
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31. GRAMÁTICO, A.A. Maior rebanho do mundo, quer ser o melhor.


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32. GRUMANN, A.; BUFFON,R. L.; SANTA CATARINA, W.; KIEHN, O.L.;
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33. IBGE. Pesquisa Agrícola Municipal: 1993-1994. Florianópolis, 1995-


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38. KLAPP, E. Prados e pastagens. 5.ed. Lisboa: Fundação Caloustre


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101
40. KLEIN, R.M. Mapa fitogeográfico do Estado de Santa Catarina. Itajaí,
SC: Sudesul/Fatma/HBR, 1978. 24p.

41. KLEIN, R.M. Ecologia da flora e vegetação do Vale do Itajaí. Sellowia


– Anais Botânicos do Herbário “Barbosa Rodrigues”, Itajaí, SC, v.32.
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44. LINDMAN, C.A.M.; FERRI, M.G. A vegetação do Rio Grande do Sul.


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Janeiro:, J. Olympio; Curitiba, Secretaria da Cultura e do Esporte do
Paraná, 1981. 450p.

46. MARCHIORI, J.N.C. Considerações terminológicas sobre os campos


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47. MOHRDIECK, K.H. Formações campestres do Rio Grande do Sul. In:


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48. MORAES, A.; MARASCHIN, G.E.; NABINGER, C. Pastagens nos


ecossistemas de clima tropical: pesquisas para o desenvolvimento
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50. MOSER, J.M.; GAMA, A.M.R.C.; JUSTUS, A.R.M. Aptidão agrícola,


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Catarina. Florianópolis: IBGE/SAA-SC, 1994. 42p. (Documento de
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102
51. NABINGER, C. Técnicas de melhoramento de pastagens naturais no
Rio Grande do Sul. In: SEMINÁRIO SOBRE PASTAGENS “DE QUE
PASTAGENS PRECISAMOS”, 1980, Porto Alegre, RS. Anais... Porto
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59. RAMBO, B. História da flora do planalto riograndense. Anais Botânicos


do Herbário “Barbosa Rodrigues”, Itajaí, SC, v.5, n.5, p.185-232,
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103
60. RITTER, W.; SORRENSON, W.J. Produção de bovinos no planalto
de Santa Catarina, Brasil; situação atual e perspectivas. Eschborn,
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61. ROCHA, G.L. Ecossistemas de pastagens: aspectos dinâmicos.


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62. SAINT-HILAIRE, A. de. Viagem ao Rio Grande do Sul, 1820-1821.


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63. SANTA CATARINA. Gabinete de Planejamento e Coordenação Geral.


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64. SANTA CATARINA. Secretaria de Estado do Planejamento e da


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Associação dos Municípios da Região Serrana. Lages, SC, 1993.
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65. SCHREINER, J.G. Características e rentabilidade da criação nos


campos naturais do Paraná. In: CURSO DE ATUALIZAÇÃO EM
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L.M. de S.; CARNEIRO, J.M.T. (Ed.). Biodiversidade, conservação e
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67. SÍNTESE ANUAL DA AGRICULTURA DE SANTA CATARINA 2001-


2002. Florianópolis: Instituto Cepa/SC, 2002. 204p.

68. TCACENCO, F.A.; PILLAR, V.P. Produção e qualidade de pastagens


nativas do Litoral Norte e Vale do Itajaí, SC, com diferentes idades e
crescimento. Florianópolis: Empasc, 1988. 5p. (Empasc. Pesquisa
em andamento, 82).

69. THOMÉ, V.M.R.; ZAMPIERI, S.; BRAGA,H.J.; PANDOLFO, C.; SILVA


JUNIOR, V.P.; BACIC, I.Z.; LAUS NETO, J.; SOLDATELLI, D.; GEBLER,
E.F.; DALLE ORE, J. de; SUSKI, P.P. Zoneamento agroecológico e
socioeconômico do Estado de Santa Catarina. Florianópolis: Epagri,
1999. CD-ROM.

104
70. UBERTI, A.A.A.; BACIC, I.L.Z.; PANICHI, J.A.V.; LAUS NETO, J.A.;
MOSER, J.M.; PUNDEK, M.; CARRIÃO, S.L. Metodologia para
classificação da aptidão de uso das terras do Estado de Santa
Catarina. Florianópolis: Epagri, 1992. 19p.

71. VINCENZI, M.L. Pastagens nativas. In: CURSO DE ATUALIZAÇÃO EM


BOVINOCULTURA DE LEITE, 1., 1987, Rio do Sul, SC. Primeiro curso
de atualização em bovinocultura de leite. Rio do Sul: Aeasc, 1987.
p.37-59.

72. VINCENZI, M.L. Reflexões sobre o uso das pastagens cultivadas de


inverno em Santa Catarina. Florianópolis, 1994. 109p. (Monografia
apresentada ao concurso para professor titular do Departamento de
Zootecnia, UFSC/CCA).

73. VIVAN, J.L. Pomar ou floresta: princípios para manejo de


agroecossistemas. Rio de Janeiro: AS-PTA, 1993. 96p. (Cadernos de
Tecnologia Alternativa).

74. VOISIN, A. Produtividade do pasto. São Paulo: Mestre Jou, 1974.


520p.

105
106
2 Introdução de espécies em campos naturais
Nelson Eduardo Prestes31
Ulisses de Arruda Córdova32

O objetivo da introdução de espécies de estação fria em pastagens


nativas é atenuar a flutuação estacional da oferta de alimentos, para
reduzir ou até eliminar os prejuízos provocados durante o período outono-
-inverno. É uma técnica muito pouco difundida no Planalto Catarinense,
apesar de existirem inúmeros trabalhos de pesquisa em condições
semelhantes no Rio Grande do Sul, Uruguai, Argentina, Estados Unidos,
Austrália e Nova Zelândia, que confirmam a viabilidade e mesmo a sua
recomendação (Suckling, 1964, citado por White, 1981; Lobato, 1972;
Gomes, 1973; Scholl et al., 1976; Castilhos & Jacques, 1984; Vidor, 1986;
Fontaneli & Jacques, 1991). Ensaios experimentais e estudos desses
autores, além de outros, comprovaram o aumento na produção de
matéria seca (MS), a melhor distribuição dessa produção ao longo do ano
e a melhoria da qualidade nutricional das pastagens melhoradas,
principalmente quanto ao teor de proteína bruta (PB) e à digestibilidade.
Um dos programas de melhoramento de pastagens naturais de maior
relevância, por sua dimensão de abrangência territorial, com 4,5 milhões
de hectares, foi o realizado nas áreas montanhosas da Nova Zelândia
(Tabela 25). Nos países em que esta tecnologia foi adotada em grande
escala, como os citados anteriormente, houve grandes avanços na
produção animal. Atualmente, estão entre os mais competitivos do mundo
e livres da dependência externa de insumos caros (Ritter & Sorrenson,
1985).
A introdução de espécies, como alternativa para melhorar a
produtividade dos campos naturais, reveste-se de importância por diversas
razões: manutenção da estrutura física do solo, preservação das espécies
nativas e baixos custos (Barreto et al., 1978). Através de observações
práticas em sua propriedade, Jacques (1995), em André da Rocha, RS,
constatou melhoria acentuada na fertilidade do solo, pelo aumento dos
níveis de matéria orgânica (MO), fósforo (P), potássio (K), cálcio (Ca),
magnésio (Mg) e diminuição da acidez, com a neutralização do alumínio
tóxico. Esta mudança certamente é resultado da introdução de espécies,

31
Eng. agr., M.Sc., Epagri/Estação Experimental de Lages, C.P. 181, 88502-970
Lages, SC, fone/fax: (49) 224-4400, e-mail: prestes@epagri.rct-sc.br.
32
Eng. agr., M.Sc., Epagri/Estação Experimental de Lages, e-mail: ulisses@epagri.rct-
sc.br.

107
principalmente leguminosas, que necessitam da adição de corretivos e
fertilizantes, juntamente com a subdivisão, o pastejo rotativo e o diferi-
mento, que permitiram dobrar a capacidade de suporte da propriedade.

Tabela 25. Efeitos da subdivisão, semeadura em cobertura, adubação


superficial e da carga animal em Te Awa, Nova Zelândia. Período de 1948
a 1963

Composição da pastagem

Descrição 1948 1963

....................%.....................

Azevém perene 4 28
“Browntop” (Agrostis tenuis) 23 16
Total de gramíneas 63 70
Trevo branco 4 19
Total de trevos 6 28
“Catsear” (Hypochaeeris radicata) 16 0
Total de invasoras 20 1
Solo desnudo 11 0

Produção de forragem

MS (kg/ha/ano) 7.870 13.440


PB (% na MS) 12 21
PB (kg/ha) 920 2.840

Lotação

Ovelhas/ha 3,75 13,75

Fonte: Suckling (1964), citado por White (1981).

A bibliografia está repleta de resultados positivos do uso de


leguminosas em pastagens. Maraschin (1985) aponta como vantagens
dessa prática:
• Pastagens ricas em leguminosas oferecem alto rendimento por
animal no crescimento, engorda, reprodução e produção de lã.

108
• O ganho médio diário (GMD) e a produção de leite por vaca têm
mostrado uma relação positiva com a proporção de leguminosas na
pastagem, tanto temperadas como tropicais.
• Alto teor de PB das leguminosas, que se mantém ao longo do ano,
apresenta uma vantagem considerável sobre uma pastagem somente de
gramíneas, cujo teor de PB é mais difícil de manter, a menos que a
adubação nitrogenada seja freqüente e acompanhada de ajustes na
pressão de pastejo (PP).
Ainda, segundo Jacques (1995), nas áreas melhoradas houve o
surgimento e aumento de espécies forrageiras de melhor qualidade,
como pega-pega (Desmodium incanum e D. triarticulatum), grama forquilha
da folha larga (Paspalum notatum var. latiflorum), trevo riograndense
(Trifolium riograndense), trevo campestre (Trifolium campestre), cevadilha
vacariana (Bromus auleticus), cabelo-de-porco (Piptochaetium
montevidense), Paspalum paniculatum L., Paspalum dilatatum Poir., entre
outras, como mostra a Figura 18. Esta verificação está de acordo com Pott
(1974), que, em trabalho realizado na Estação Experimental Agronômica
– EEA – da UFRGS, constatou que o aumento da fertilidade, além do
ocorrido em André da Rocha, também provocou o desaparecimento da
maioria das andropogoneas e de todas as espécies do gênero Aristida,
grupos de espécies consideradas de pouco valor forrageiro.

Figura 18. Espécies do gênero Adesmia se manifestam com maior vigor


em áreas de melhoramento, pela redução da acidez do solo e elevação
da fertilidade

109
É importante frisar que, no primeiro ano após a implantação, o
rendimento de uma pastagem melhorada com a introdução de espécies
exóticas, através de sobressemeadura ou cultivo mínimo, certamente
não é comparável ao obtido com o preparo convencional. No entanto, a
partir do segundo ano, a produtividade aumenta (Barreto et al., 1978;
Nabinger, 1980; Jacques, 1993; Vincenzi, 1994) e ao longo dos anos pode
superar a dos cultivos convencionais. Possui ainda a vantagem de o custo
por unidade de MS produzida ser menor (Carámbula, 1994), visto que o
custo de implantação do melhoramento é de aproximadamente um terço
em relação ao dos cultivos convencionais (Jacques, 1993).

2.1 Princípios fundamentais

Existem inúmeros trabalhos de pesquisa com introdução de espécies


em campos naturais no Sul do Brasil. No entanto, poucos experimentos
avaliaram os fatores mais determinantes para o êxito dessa prática e a
melhor época para realizá-la. Entre os aspectos a serem considerados
estão: características físico-químicas do solo, clima, tipo de cobertura
vegetal existente, relevo, drenagem, condições de umidade na superfície
do solo, correção da acidez e das deficiências nutricionais, contato da
semente com o solo e manejo adequado, anterior e posterior à implantação
das espécies (Nabinger, 1980; Macedo, 1980; White, 1981; Vincenzi,
1994).
O estabelecimento de forrageiras por semeadura superficial é
muito mais complexo do que a implantação de pastagens cultivadas
através de métodos convencionais, pois as condições ambientais para a
germinação e o estabelecimento das forrageiras diferem radicalmente.
Dessa forma, para que o melhoramento ocorra com sucesso e sem
desperdício de recursos, alguns princípios essenciais devem ser
considerados (Barreto et al., 1978; Nabinger, 1980; Macedo, 1980;
Vincenzi, 1994):
• O estabelecimento dependerá da capacidade das espécies
introduzidas em competir com a vegetação existente por água, luz e
nutrientes. Portanto, é fundamental diminuir a competição entre elas.
• A disponibilidade de água no solo e as condições de umidade no
microambiente acima da superfície da relva exercem controle dominante
sobre a germinação e o estabelecimento de sementes expostas em
condições de sobressemeadura.
• As características físico-químicas do solo e a topografia do terreno
devem ser bem analisadas, pois são condicionantes para a definição da
técnica e do método a ser utilizado.

110
• A definição de um manejo anterior e posterior para a área que
receberá semeadura superficial é muito importante, pois se correlaciona
com o método de semeadura que será empregado.
• A germinação dependerá, além da umidade, do contato da
semente com o solo, que também está na dependência do manejo da área
e do método a ser empregado.
O fator inicialmente mais decisivo é a condição do microambiente na
superfície do solo, à qual as sementes ficam expostas após a distribuição,
principalmente disponibilidade de água, umidade e ventos dessecantes
(White, 1981; Vincenzi, 1994). Para se conseguir um bom estabelecimento
das espécies a serem introduzidas, é necessário um período úmido e com
temperaturas adequadas para a germinação. Portanto, as melhores
condições ocorrem quando a superfície do solo está freqüentemente
úmida. Isso requer períodos chuvosos e evaporação baixa. Serenos
fortes e neblinas intensas contribuem para o êxito dessa prática.
Em áreas extensivas, a viabilidade de manejar ou aumentar o
suprimento de água no solo é bastante remota. Porém, é possível
melhorar a eficácia de utilização de água disponível no solo da seguinte
forma (McWilliam & Dowling, 1970; citados por Vincenzi, 1974):
– Aumento no contato efetivo entre a semente e o solo.
– Utilização de revestimento absorvente na semente, como a
inoculação e a peletização.
– Manutenção de cobertura vegetal para atuar como uma camada
protetora, reduzindo as perdas de água por evapotranspiração e
proporcionando condições mais favoráveis de umidade no ambiente
próximo à semente.
A necessidade de reduzir a competição exercida pela flora nativa
não significa que esta deva ser eliminada. Ao contrário, um dos princípios
mais importantes do melhoramento sustentável dos campos naturais é a
preservação das forrageiras nativas, em função do potencial econômico,
ecológico e genético que representam.

2.2 Época

Muitos dos fatores já citados, como a competição da vegetação


nativa e a umidade do solo, entre outros, podem ser atendidos através da
escolha da época correta para realização da sobressemeadura. A partir
do final do outono, as condições de umidade do solo tornam-se mais
seguras, pois diminui a evapotranspiração e o balanço hídrico é mais
favorável. Neste período, a vegetação nativa está com o crescimento
paralisado, o que significa menor concorrência por luz e nutrientes

111
(Vincenzi, 1994). Em experimento conduzido na Epagri/Estação
Experimental de Lages – EEL –, Ritter & Sorrenson (1985) relatam que a
sobressemeadura foi realizada no mês de julho, exatamente para atender
às razões expostas anteriormente (Figura 19).

Figura 19. Condição de pastagem naturalizada de pensacola (Paspalum


notatum FL. variedade saurae Parodi cultivar Pensacola) no início de julho
de 1996, após ocorrerem as primeiras geadas

Nabinger (1980) e Jacques (1993) sugerem o outono como o


período mais indicado. Porém, a média de ocorrência de geadas em
Lages, em uma série histórica de 48 anos, é de 0,7 e 3,1 para os meses
de abril e maio, respectivamente. Diante disso, a competição com as
espécies nativas se reduzirá somente a partir de junho, com exceção de
anos atípicos. Outra indicação de que o outono não é a melhor época para
a semeadura em cobertura, no Planalto Catarinense, é que nessa
estação freqüentemente ocorrem períodos secos (Figura 20), com o
menor índice pluviométrico (Althoff, 1981). Mesmo assim, não existe uma
única época para toda essa região. As recomendações devem ser
diferenciadas para as regiões mais altas e frias, como São Joaquim,
Urupema, Bom Jardim, Painel e algumas localidades de Urubici e Rio

112
Rufino, que possuem maior precipitação e umidade relativa superior
devido à proximidade com a Serra Geral. Nesses municípios, devido às
baixas temperaturas do solo no inverno, a germinação das sementes é
vagarosa e o crescimento das espécies é extremamente lento no início,
com risco de as plântulas serem crestadas e até levadas à morte por
temperaturas abaixo do tolerável. Estes fatos foram verificados com o
cultivo tradicional de alfafa, durante o inverno, em Urupema. Nestas
condições, a melhor alternativa é que a semeadura seja feita no final do
inverno, quando as temperaturas começam a se elevar.

Figura 20. O déficit hídrico outonal compromete o melhoramento, tanto no


ano de implantação como nos anos seguintes

Na Ilha Sul da Nova Zelândia, cujas condições edafoclimáticas são


semelhantes às do Planalto Catarinense (Ritter & Sorrenson, 1985), foi
conduzido um ensaio que revelou o inverno e o início da primavera como
as melhores épocas para semear trevo branco em cobertura (Tabela 26).
Alguns trabalhos práticos realizados em propriedades rurais por Vincenzi
(1994) e sua equipe no Oeste Catarinense, litoral e Alto Vale do Itajaí
mostraram que a sobressemeadura com trevos em campos naturalizados
foi muito mais eficaz no mês de julho, do que quando efetuada no início
do outono, em março.

113
Tabela 26. Efeito da época de semeadura sobre o estabelecimento de
trevo branco em Mt Burke e Otago Central, Nova Zelândia

Época de sobressemeadura Plantas/m2 após 30dias


(no)

Julho 33
Agosto 38
Setembro 10
Outubro 5
Novembro 3

Fonte: Ludecke et al. (1969), citado por White (1981).

Conforme as razões expostas, a seguinte recomendação configura-


-se como a mais adequada para a sobressemeadura de espécies de
estação fria em campos naturais e naturalizados, considerando como
condição indispensável e antecedente a ocorrência de chuvas regulares:
• Locais com altitude superior a 1.100m: sobressemeadura no mês
de agosto.
• Altitude inferior a 1.100m: sobressemeadura da segunda quinzena
de junho à primeira quinzena de julho, após a eliminação da competição
das espécies nativas.
Unidades demonstrativas implantadas em propriedades rurais do
Planalto Catarinense comprovam, ao longo de vários anos, a recomendação
proposta. No entanto, em regiões de grande altitude, ainda são necessários
trabalhos de validação mais apurados.

2.3 Adequação das condições químicas do solo

A correção das deficiências nutricionais do solo para a introdução


de espécies exóticas em pastagens naturais por sobressemeadura,
cultivo mínimo ou com a utilização de renovadora de pastagens é
condição indispensável (Lobato & Barreto, 1973; Barreto et al., 1978;
Castro, 1981; Brasil et al., 1987a; Macedo, 1987b; Mas,1992; Jacques,
1993; Risso,1994). O êxito está condicionado a essa prática, que tem por
objetivo diminuir a acidez do solo, elevar a disponibilidade de nutrientes
essenciais como fósforo, cálcio, potássio e magnésio, neutralizar elementos
tóxicos como alumínio, manganês e ferro, além de criar condições
favoráveis para o processo de simbiose com as bactérias do gênero

114
Rhizobium (Vincenzi, 1994), que promoverão a fixação de nitrogênio e a
liberação de cátions importantes para a própria associação desses
microrganismos com as leguminosas.
Países como o Uruguai e a Nova Zelândia têm aplicado a tecnologia
de melhoramento de pastagens naturais com sucesso, conseguindo
melhorar extensas áreas. Na Nova Zelândia, o melhoramento foi realizado
em 4,5 milhões de hectares, principalmente em regiões montanhosas,
com aplicação de calcário, adubos e sementes, com o uso do avião.

2.3.1 Fundamentos da correção da acidez e da fertilização


superficial

Klapp (1977) relata diversos trabalhos, próprios e de outros autores,


que permitem entender as razões da eficiência da aplicação superficial de
calcário e fertilizantes em pastagens perenes, destacando-se que:
• A utilização dos nutrientes em pastagens é, em geral, melhor do
que nos solos cultivados convencionalmente (Tabela 27).

Tabela 27. Eficiência da utilização de nutrientes em solos lavrados e


em pastagens perenes

Tipo de adubo Solos lavrados Pastagens perenes

..................................%....................................
Nitrogenados 50 a 70 até 100
Fosfatados 15 a 35 30 a 45
Potássicos 25 a 50 55 a 85

Fonte: Wagner (1921); Ahr/Mayr, Raum (1927 e 1932) e Konig (1950),


citados por Klapp (1977).

• As reservas de nutrientes assimiláveis pelas plantas decrescem


tão rapidamente com a profundidade como o volume de raízes (Tabela
28).
• O efeito em profundidade das aplicações dos fertilizantes é,
geralmente, pequeno. Mesmo após longos anos de atuação, o efeito das
adubações abundantes raramente atinge mais de 10 a 12cm (Tabela 29).

115
Tabela 28. Reservas de nutrientes conforme a profundidade do solo

Profundidade P2 O5 K 2O
(cm)

....................mg....................
0a5 9,5 27,8
5 a 10 6,1 20,7
10 a 15 4,1 11,5
15 a 20 3,5 12,0

Fonte: Klapp (1944), citado por Klapp (1977).

Tabela 29. Quantidade de nutrientes assimiláveis após cinco anos de


aplicação de 80 a 160kg/ha P2O 5 e 160 a 320kg/ha de K2 O, de acordo com
a profundidade

P2O5 K20
Profundidade
(cm)
Sem Com Sem Com

...............................kg/ha..................................
0a3 27 166 41 166
3a6 9 19 20 48
6a9 6 9 19 23
9 a 12 4 6 17 18
12 a 15 4 4 17 16
15 a 18 3 4 16 15
18 a 21 2 3 15 14

Fonte: Wiedemeyer (s.d.), citado por Klapp (1977).

• A fertilização em profundidade coloca os nutrientes num nível em


que é muito pequena a penetração das raízes. Isso ocorre mesmo quando
a camada abaixo de 5 a 10cm é tão rica em nutrientes quanto a que está
em cima (Tabela 30).
• A pequena profundidade da penetração das raízes não significa
pouca extração de nutrientes e torna-se desfavorável apenas em regiões
secas.

116
Tabela 30. Massa de raízes em função da profundidade e da concentração
de P2 O5 e K2 O

Profundidade P205 K2 0 Massa total de raízes


(cm) (mg) (mg) (%)

0a5 12,3 49,1 92


5 a 15 12,5 44,2 8
15 a 20 11,4 39,5 Vestígios

Fonte: Klapp (1944) citado por Klapp (1977).

• A densa massa radicular, ativa durante quase todo o ano, faz com
que a lixiviação de nutrientes seja, em geral, menor que nos solos
lavrados.
• O bom crescimento das pastagens não depende, em princípio, de
uma grande elevação do pH, já que se desenvolvem em solos de
moderados a acentuadamente ácidos.
São muitos os argumentos e trabalhos de pesquisa, apresentados
por Klapp (1977), que justificam a aplicação de corretivos e fertilizantes
em cobertura. Entre estes, os resultados de dois se destacam: o de
Schimitt (1934), que somente encontrou aumento sensível de nutrientes
até 10cm de profundidade, após 24 anos de ensaios com fertilização; o
de Van Lieshout (1959), confirmou a absorção muito pequena, através
das raízes, de P radioativo colocado até 30cm de profundidade, e a
absorção máxima nos 3cm superficiais. Conclui-se então, que as reservas
de nutrientes nas camadas mais profundas não oferecem qualquer
atrativo às raízes, para que penetrem mais profundamente.
Os resultados apresentados por Klapp (1977), logicamente, foram
obtidos em condições muito diferentes do Planalto Catarinense, tanto nas
relações edafoclimáticas, como na composição florística das pastagens.
O importante é salientar que a dinâmica da fertilidade em áreas ocupadas
com forrageiras permanentes não é a mesma de culturas anuais,
implantadas através do preparo convencional. Portanto, se os princípios
de cultivo são diferentes, é aceitável que as recomendações também
sejam outras.
Os estudos apresentados anulam o principal argumento para a
não-aplicação de calcário e fósforo em superfície, que é a pequena
mobilidade no solo. Além disso, as raízes das plantas, os microrganismos
e a fauna existentes no solo são importantes na movimentação dos
nutrientes.

117
A aplicação de corretivos e fertilizantes afeta freqüentemente a
composição botânica das pastagens e isso pode ocorrer indiretamente
sobre o crescimento das plantas, a competição entre elas e a pressão de
pastejo ou diretamente sobre sua nutrição e longevidade (Jones & Mott,
1980; citado por Favoretto, 1993). As alterações na composição florística,
em função de adubações, ocorrem tanto mais rápida e claramente quanto
mais a fertilização corrigir as deficiências gerais, ou de alguns nutrientes
com grande carência; estimular ou inibir certas espécies ou grupos de
plantas ou, ainda, se a utilização de determinado fertilizante favorecer ou
não a seleção entre plantas (Klapp,1977). O potássio e o fósforo, em
geral, elevam a participação das leguminosas. O nitrogênio favorece as
gramíneas, em detrimento das leguminosas, embora seja essencial para
maior produção de MS (Barreto et al., 1978; Nabinger, 1980). Em Bagé,
RS, também foi observado o aparecimento de espécies de melhor valor
forrageiro, como o Paspalum dilatatum Poir. e o Trifolium polymorphum
Poir., após sete anos da última adubação do campo nativo (Barcellos et
al., 1987). Como estas transformações ocorrem de forma lenta, faz-se
necessário manter as condições de fertilidade e manejo para alcançar
melhorias na condição da pastagem (Berreta & Levratto, 1990).

2.3.2 Correção da acidez do solo

O melhoramento de pastagens naturais, pela introdução de


espécies, consiste, primeiramente, em corrigir a acidez e as deficiências
nutricionais do solo. As leguminosas e gramíneas, de maneira geral,
cultivadas nestas áreas, têm maiores exigências nutricionais que as
espécies nativas, que são mais adaptadas às condições locais e, assim,
possibilitam maior resposta aos fertilizantes.
Para a introdução de forrageiras de estação fria, principalmente
leguminosas, por sobressemeadura em campos naturais, a aplicação de
calcário e fósforo é a condição principal em termos de alteração na
fertilidade original do solo (Barreto et al., 1978; Carrau, 1980; Nabinger,
1980; Ritter & Sorrenson, 1985; Jacques, 1993; Vincenzi, 1994).
Em trabalho realizado na Epagri/EEL, a utilização isolada de calcário
e do superfosfato triplo (SFT) não permitiu o estabelecimento de trevos
sobre a pastagem natural. A sobressemeadura somente se efetivou
quando o calcário foi aplicado conjuntamente com o SFT ou quando se
usou o hiperfosfato, que contém alto teor de cálcio (Ritter & Sorrenson,
1985), ficando demonstrada a importância da combinação de corretivos
da acidez com adubos fosfatados.

118
O calcário, além da correção da acidez do solo, também fornece
nutrientes para as forrageiras, notadamente cálcio e magnésio, quando
for de origem dolomítica. É mais recomendável que a sua distribuição se
faça em doses pequenas, ao longo de vários anos, do que em uma única
dose, evitando-se assim os efeitos prejudiciais da imobilização de outros
nutrientes importantes (Klapp, 1977). Em um outro estudo, este mesmo
autor demonstra a importância do calcário para aumentar a participação
de plantas forrageiras de alto valor em pastagens permanentes. Após
cinco anos de calagens regulares, observou-se uma mudança completa
nos componentes da pastagem. Os trevos e as gramíneas de melhor
qualidade aumentaram as suas participações para 28,7% da produção de
MS, e desapareceram completamente as espécies de menor valor
forrageiro.
Considerando que as recomendações se referem a uma camada de
20cm de profundidade, Jacques (1993) e Vincenzi (1994) sugerem a
redução da aplicação de calcário para um terço e para um quarto da
recomendação oficial, respectivamente (Figura 21). Alguns trabalhos de
pesquisa (Gomes, 1973; Macedo et al., 1987a) têm demonstrado a
viabilidade de implantação de leguminosas em pastagens naturais com
doses de calcário dentro dos limites estabelecidos pelos autores
anteriormente citados.

Figura 21. Distribuição superficial de calcário na quantidade de um terço


da recomendação oficial

119
No município de Bagé, RS, Macedo et al. (1987a) verificaram o
efeito de diferentes doses de calcário aplicados em cobertura, no
estabelecimento inicial, produção e persistência do trevo branco e do
cornichão, implantados sobre campo nativo e submetidos a pastejo. Os
tratamentos utilizados encontram-se na Tabela 31. Para a introdução, foi
utilizada renovadora de pastagens tipo “Brillion”. Os resultados obtidos
permitiram aos autores concluir que: os métodos de aplicação de calcário
e os diferentes níveis empregados não apresentaram diferenças de
produção entre si, mas foram superiores, em produção, à testemunha; o
calcário proporcionou aumentos superiores a 100% na produção de MS
das leguminosas introduzidas, na média de quatro anos; os tratamentos
corrigidos apresentaram, na sua composição botânica, maior porcentagem
de leguminosas e azevém. Quando se avaliaram níveis e métodos de
aplicação de calcário em campo nativo, Ben et al. (1996) obtiveram, em
Passo Fundo, RS, maior produção, em valor absoluto, de MS da mistura
trevo-cornichão com a dose de um quarto de SMP na superfície do solo,
do que quando se incorporou na dose de meio SMP a 10cm de profun-
didade, e 1 SMP nas profundidades de 10 e 20cm. Tanto a dose integral
quanto as suas reduções foram estabelecidas em função da necessidade
de calcário recomendada pelo método SMP para elevar o pH até 6.
Com a aplicação de calcário e a introdução de leguminosas, foi
possível aumentar a produção de MS da pastagem natural em
aproximadamente 45%, em média (Lobato,1972; Gomes, 1973). O trabalho
do último autor apresentou pequena diferença na produção entre a
dosagem de 2 e 4t/ha de calcário aplicado superficialmente (Tabela 32).
As produções de MS das diferentes misturas foram crescentes de acordo
com os aumentos dos níveis de calcário até 2t/ha, quando os incrementos
foram menores.
Na região fisiográfica dos Campos de Cima da Serra do RS, em São
José dos Ausentes, ou seja, em uma condição muito similar à do Planalto
Catarinense, Jacques & Nabinger (2003) implantaram trevo branco, trevo
vermelho e azevém por sobressemeadura na pastagem nativa, em solo
extremamente ácido, com a necessidade de calcário podendo chegar a
29,7t/ha. Entretanto, apenas 3t/ha de calcário de excelente qualidade,
com PRNT de 104%, possibilitaram o estabelecimento destas espécies.
Para os solos com alto poder tampão e alto teor de matéria
orgânica, como os que existem na região do Planalto Catarinense,
Almeida et al. (1999) sugerem uma recomendação alternativa de calcário.
Segundo os autores, seria suficiente elevar o pH desses solos para 5,2
em vez de 5,5 ou 6,0. Com isso haveria uma economia média de
1,4 e 3,1t/ha, podendo atingir até 3,0 e 7,0t/ha nos solos com maior

120
necessidade de calcário, respectivamente. No ensaio conduzido, a
elevação do pH para 5,2 diminuiu o Al trocável de 4,24 para 0,7cmolc/kg
e a saturação com Al na CTC de 52% para 8%, enquanto aumentou os
teores de Ca + Mg de 3,6 para 8,4cmolc/kg.
Diversos autores recomendam a aplicação do calcário antecedendo
em alguns meses a sobressemeadura das espécies de leguminosas, que
pode variar de três a cinco meses (Nabinger, 1980; Vincenzi, 1994;
Jacques, 1995; Jacques & Nabinger, 2003).

Tabela 31. Rendimento total de MS da pastagem, incluindo todos os


componentes. Período 1970-73

Rendimento Rendimento
Tratamentos
total relativo
(t/ha) (t/ha) (%)

Calcário incorporado 4,50 32,745 a 130


Calcário em cobertura 4,50 32,725 a 130
Calcário em cobertura 2,25 30,272 a 121
Sem calcário 25,010 b 100

Nota: Rendimentos seguidos de letras diferentes numa mesma coluna


indicam diferenças significativas ao nível de P < 0,05 (Teste de Duncan).
Fonte: Macedo et al. (1987a).

Tabela 32. Efeito da aplicação superficial de doses crescentes de calcário


sobre o rendimento de MS e PB em campo nativo sobressemeado com
trevo subterrâneo e azevém anual – Guaíba, RS (UFRGS)

Níveis 1 o ano
2o ano
de calcário MS total
(t/ha) MS PB MS

......................................kg/ha........................................
0 1.978 280 4.483 6.461
1 2.448 390 5.052 7.500
2 2.827 430 5.550 8.377
4 3.139 542 5.789 8.928

Fonte: Gomes (1973).

121
O “dregs” é outra opção de corretivo que, atualmente, está à
disposição dos produtores. Este resíduo da indústria de celulose e papel
apresenta elevados teores de óxidos de cálcio, com alto poder de
neutralização (Figura 22). A sua viabilidade na introdução de trevo
branco, trevo vermelho, cornichão, alfafa e festuca foi avaliada em campo
nativo tipo “palha grossa”, no qual predomina o Andropogon lateralis.
Como resultados, obteve-se que a contribuição das leguminosas
introduzidas foi de 25% da produção total de forragem, quando se utilizou
o calcário na quantidade de um terço da recomendação oficial, enquanto
que na média dos tratamentos com “dregs”, que foram de 1,5; 3 e 6t/ha,
esta participação foi de 45% da produção total de forragem. Portanto,
este produto propicia condições de solo adequadas para a implantação
de leguminosas por sobressemeadura (Rech et al., 1998).

A C

Figura 22. Detalhes do ‘‘dregs’’: (A) aspecto do produto, (B) aplicação e


sua (C) distribuição sobre o campo

2.3.3 Adubação

Diversos trabalhos têm confirmado a importância da adubação


fosfatada para introdução de espécies, principalmente leguminosas, em
climas subtropicais (Paladines, 1965 citado por Nabinger, 1980; Klapp

122
1977; Barreto et al., 1978; Carrau, 1980; Macedo, 1980; White, 1981;
Ritter & Sorrenson, 1985; Barcellos et. al., 1987; Macedo et al. 1987b;
Vidor, 1986; Mas et al., 1994; Ramos, 1998; Prestes & Jacques, 2002).
Na utilização de leguminosas, deve-se destacar que se trata de
espécies com exigências particulares de fósforo. Então, para se alcançar
uma boa implantação, é imprescindível o fornecimento deste nutriente em
quantidades adequadas (Carámbula et al., 1994). Em melhoramento de
pastagens naturais, estas apresentam exigências de fósforo superiores
àquelas já existentes na condição original, adaptadas de alguma forma
aos baixos níveis do nutriente que caracterizam os solos em seu estado
natural (Mas, 1992). É um nutriente com pouca mobilidade no solo, não
só por sua firme ligação a substâncias minerais e orgânicas, como
também devido à sua freqüente fixação, tanto em condições muito ácidas,
como neutro-alcalinas. Outra particularidade é a lentidão de seu efeito em
camadas mais profundas do solo. Desta forma, o aproveitamento nos
primeiros anos é pequeno, ocorrendo uma evolução gradativa com as
adubações anuais (Klapp, 1977).
Em Bagé, RS, durante 11 anos, avaliou-se a influência da adubação
fosfatada e de seu efeito residual sobre o rendimento da pastagem
natural, comparando-se os sistemas de pastejo contínuo e rotativo
(Tabela 33). As adubações anuais foram realizadas da seguinte maneira:
em 1956, 300kg/ha de hiperfosfato; em 1957, 600kg/ha de hiperfosfato;
em 1958, não houve adubação; em 1959, 300kg/ha de superfosfato triplo
(SFT) e em 1960, 175kg/ha de superfosfato simples (SFS). Estas
adubações equivalem a 334,5kg/ha de P2O 5 no período considerado.
Barcellos et al. (1987) concluíram que a aplicação de P aumentou
consideravelmente o ganho de peso vivo (PV) por unidade de área; o
efeito residual do adubo foi efetivo, já que sete anos após a última
aplicação os rendimentos em PV se mantiveram; as diferenças em ganho
de PV, em favor do pastejo rotativo, foram moderadas; também houve
mudança na composição botânica da pastagem, com o aparecimento de
espécies de melhor qualidade, como Paspalum dilatatum Poir (capim
melador) e Trifolium polymorphum Poir. Na mesma unidade de pesquisa
foi desenvolvido um ensaio que comparou fontes (Fosfato de Patos,
Fosfato de Araxá, Fosfato de Gafsa e SFT) e níveis (0, 50, 100 e 150kg
de P2 05/ha) de fósforo e sistemas de introdução de trevo branco, em
cobertura e com gradagem superficial. Como resultado, obteve-se que a
produção de MS foi equivalente em ambos os tratamentos, independente
da fonte de P. Entretanto, os níveis de P afetaram de forma progressiva
a freqüência de trevo na pastagem, sendo que a fonte de P mais eficiente
foi o SFT (Macedo et al., 1987b).

123
Tabela 33. Rendimento animal médio dos períodos de 11 anos (1957-68)
e de 7 anos (1961-68) do efeito residual da adubação fosfatada

Tratamentos Período total – 11 anos Efeito residual – 7 anos

Ganho PV Relativo Ganho PV Relativo

.............................kgPV/ha/ano..................................

Pastejo contínuo – sem adubo 92,0 100,0 97,5 100,0


Pastejo contínuo – com adubo 159,7 173,5 185,4 190,1
Pastejo rotativo – sem adubo 106,2 115,5 115,5 118,4
Pastejo rotativo – com adubo 174,4 189,7 211,1 216,4

Fonte: Barcellos et. al. (1987).

No Uruguai, comparou-se, na Estação Experimental “La Estanzuela”,


a pastagem natural, sem e com aplicação de 60kg/ha/ano de P 205. Após
três anos, a lotação passou de 0,69 para 1,16 cab./ha; a produção de NDT
aumentou de 17% para 60%; o teor de P na pastagem elevou-se de
0,15% para 0,22%; o teor de PB aumentou de 10,37% para 13,13%; as
leguminosas passaram de 5% para 49% na participação da composição
botânica, respectivamente (Paladines et al.,1965; citados por Nabinger,
1980).
No Planalto Serrano Catarinense, mais precisamente na Epagri/
EEL, avaliou-se a introdução, em pastagem natural, de trevo branco,
trevo vermelho, cornichão e lótus maku (Lotus uliginosus Schk.).
Compararam-se dois níveis de adubação fosfatada, 50 e 125kg de
P2 05 /ha, na forma de SFT; duas lotações, baixa e alta, em duas exposições
solares, seco/ensolarado e úmido/sombreado. Neste experimento, foram
obtidos os seguintes resultados: não houve diferença acentuada na
produção de MS entre os níveis de fosfatos aplicados; as gramíneas
nativas tiveram uma produção alta, em função das melhorias das condições
químicas do solo; a dose mais alta de fosfato na base favoreceu
especificamente os trevos, enquanto que o cornichão e o maku
produziram,aproximadamente, o mesmo em ambas as doses; o cornichão
produziu mais do que as demais leguminosas, no lado seco/ensolarado
(Ritter & Sorrenson, 1985). Durante seis anos, em Corrientes, Argentina,
a fertilização com 156kg de P 205/ha, em 1980, 1982 e 1984, sobre
pastagem natural sobressemeada com trevo carretilha (Medicago
polymorpha) e com vaquilhonas em pastejo, proporcionou os seguintes
resultados: os potreiros adubados apresentaram produção de MS superior

124
em 143%, que teve reflexo em 41% a mais na produção de carne; a
adubação permitiu aumentar em 84% a carga com vaquilhonas, mantendo
os ganhos de peso; o efeito residual da aplicação de P foi bastante bom,
com a eficiência na utilização do P atingindo 2kg de carne/kg de P2 05
aplicado; a presença de leguminosas de estação fria foi sempre maior nos
potreiros que receberam fósforo (Pizzio et al., 1994).
Os corretivos da acidez do solo e o fósforo são insumos
indispensáveis para o estabelecimento de leguminosas em campos
naturais, tanto em relação à produção de MS, quanto à longevidade do
melhoramento. Assim, as doses e as estratégias da adubação fosfatada
são aspectos decisivos para atingir altas produções e para a persistência
das espécies introduzidas (Mas et al., 1994). Infelizmente, para as
condições do Planalto Catarinense ainda não foi possível realizar-se
experimentação para determinar qual a melhor fonte de P, e em que
quantidade, a ser utilizada por ocasião da implantação e nas adubações
de manutenção subseqüentes. Esta questão, apesar de já investigada
por vários pesquisadores em diversas situações edafoclimáticas, ainda
não pode ser considerada definitiva. Na revisão de literatura realizada por
Macedo et al. (1987b), são relatados trabalhos como o de Jackson (1966),
que destaca a importância tanto da resposta imediata, como a do efeito
residual da fonte de P a ser escolhida. Esse mesmo autor comenta que,
na região ocidental da Austrália, o SFS apresenta resultados superiores
ao fosfato de rocha no ano de sua aplicação. O SFT foi a fonte mais
eficiente para a implantação e estabelecimento de misturas forrageiras
em pastagem natural no Uruguai. Entretanto, com o passar dos anos,
também foi possível obter-se o mesmo rendimento com hiperfosfato e
escórias básicas. Assim, a opção de escolha da fonte de fósforo poderá
levar em conta o aspecto econômico (Reynaert & Castro, 1968). Também
é relatado ensaio de Gardner et al. (1969), que obtiveram resultado, em
parte, diferente do anterior. Neste, o hiperfosfato foi a fonte de P que
proporcionou o maior rendimento de MS da pastagem natural em avaliação,
com destaque para a produção do trevo carretilha. Na Argentina, confirmou-
-se esse mesmo efeito quando se introduziu também o trevo carretilha no
campo natural. O hiperfosfato proporcionou a melhor implantação,
produção e persistência do trevo, em comparação ao SFT (Inta, 1978).
Apesar dos resultados obtidos no passado, a preocupação em
obter respostas mais claras a respeito de qual a fonte mais indicada para
a implantação de pastagens, seja através de cultivo convencional ou
reduzido, ainda permanece. Em Passo Fundo, RS, em estudo mais
recente, avaliaram-se, de maio de 1994 a dezembro de 1997, doses de
calcário (1 SMP e dois terços de SMP), duas fontes de P (SFT e fosfato

125
natural “Carolina do Norte”) e dois métodos de cultivo (mínimo e
convencional). As espécies forrageiras utilizadas foram aveia preta, trevo
vermelho e cornichão. Os maiores rendimentos de MS ocorreram quando
se utilizou o SFT superficialmente, sendo que o fosfato natural destacou-
-se apenas quando incorporado (Fão et al., 1998).
Os trabalhos apresentados demonstram o quanto é indispensável
a adubação fosfatada em pastagens que contenham, em suas misturas,
leguminosas, tanto no estabelecimento como para a persistência destas.
Entretanto, como já foi mencionado, estudos regionalizados ainda são
necessários para melhor responder a estas questões. Desde 1996,
quando se começou a trabalhar com mais ênfase em melhoramento de
pastagens naturais no Planalto Catarinense, várias observações puderam
ser feitas em unidades implantadas em propriedades rurais, no entanto,
sem o rigor do método científico. Mesmo assim, foi possível constatar que,
apesar de os fosfatos naturais serem uma opção mais econômica, a sua
reatividade mais lenta faz com que não sejam os mais indicados para a
implantação do melhoramento. Também para Vincenzi (1987), quando
estes fertilizantes encontram ambiente ótimo para a solubilização do P
devido à acidez elevada dos solos, e mesmo considerando o aspecto
econômico favorável, não devem ser usados como fonte exclusiva de P
como forma de garantir a implantação do melhoramento. Ao longo desses
anos, tem-se observado que o mais recomendável é o fracionamento da
necessidade de P em 50% com fosfato natural e o restante com fórmulas
mais solúveis. Caso os fosfatos naturais existentes no comércio, no
momento da implantação, não sejam economicamente atrativos, devem-
-se usar os mais solúveis como fonte exclusiva.
Na condição de cerrado, no Centro-Oeste brasileiro, a adubação
fosfatada também tem efeito sobre a produção de Brachiaria decumbens
Stent. O SFS aplicado com freqüência anual, durante cinco anos, e
superficialmente, proporcionou rendimento de MS superior ao produzido
quando se incorporou essa mesma fonte, na mesma quantidade e antes
do plantio (Sanzonowicz & Goedert, 1984). A capacidade das plantas
forrageiras de se nutrirem com P aplicado em superfície também foi
constatada por Gillingham et al. (1980). Estes autores concluíram que
90% do P absorvido por pastagens provém da camada dos primeiros 7cm
do solo, com a maior parte da extração ocorrendo até os 3cm de
profundidade, sendo impossível que ocorra absorção apreciável abaixo
de 30cm.
Sempre que possível, a opção pelo SFS é mais vantajosa do que o
SFT, por possuir maior concentração de CaO e enxofre. Segundo a
Sociedade Brasileira de Ciência do Solo (1995), estes teores são: SFS =

126
18% a 20% de Ca e 10% a 12% de S; SFT = 12% a 14% de Ca. Quanto
à quantidade de P2 05 a ser utilizada, devem-se considerar sempre os
resultados da análise de solo, com as devidas correções para aplicação
superficial.
Em 1996, na implantação das primeiras áreas de melhoramento no
Planalto Catarinense, utilizou-se a dosagem integral, para P e K,
recomendada pela Sociedade Brasileira de Ciência do Solo (1995). A
partir de 1997, passou-se a usar apenas 50% desta recomendação, por
tratar-se de cultivo superficial. Desde então, não foi possível observar
prejuízos quanto à implantação, estabelecimento, rendimento de forragem
e persistência destas pastagens melhoradas. A vida útil do melhoramento
não é única e exclusivamente dependente da adubação inicial, e sim de
outras práticas de manejo, como também das fertilizações anuais. Assim,
será discutida com mais propriedade em momento mais oportuno.
A possibilidade em reduzir-se pela metade a necessidade de
adubação inicial implica, diretamente, a redução dos custos de implantação,
o que contribui em muito para facilitar a adoção dessa tecnologia por parte
dos produtores. Além disso, adubações pesadas em superfície podem
contaminar mais facilmente os mananciais hídricos por lavagem durante
as chuvas, principalmente se ocorrerem logo após a aplicação.
Com relação à adubação nitrogenada, tem-se que considerar que
esse nutriente proporciona maior participação de gramíneas, em detrimen-
to das leguminosas, quando em misturas forrageiras, por aumentar a
competitividade daquelas, que passam a utilizar com mais eficiência luz,
água e nutrientes (Nabinger, 1980). As leguminosas têm papel importante
para aportar economicamente o nitrogênio (N) no ecossistema e, dessa
forma, alcançar expressivas produções de forragem de boa qualidade.
Porém, é imprescindível suprir inicialmente o mínimo de fertilizante
fosfatado necessário para que uma população adequada de leguminosas
forneça nível apropriado de N ao campo natural (Carámbula, 1992).
Alguns trevos podem fixar o equivalente a 200kg de N/ha/ano, ou até mais,
desde que as sementes tenham sido devidamente inoculadas e peletizadas
(Jacques, 1993). Em algumas situações, o uso de baixas doses de N
favorece o crescimento das leguminosas, até que estas tenham nodulado
e, a partir de então, apoiar a implantação das gramíneas (Carámbula,
1997).
Vários trabalhos de pesquisa, realizados ao logo dos anos, têm
comprovado este comportamento em misturas de gramíneas com
leguminosas, independentemente da forma de implantação, frente à
adubação nitrogenada. Em ensaios realizados na Alemanha por Schulze
(1956) e Shulze & Mues (1961), segundo Klapp (1971), a aplicação de N,

127
mesmo combinado com P e K, reduziu drasticamente a participação de
leguminosas dos gêneros Vicia e Lathyrus (Tabela 34), favorecendo a
participação das gramíneas. A redução das leguminosas, que foi de
20,3%, corresponde aproximadamente ao aumento de 22,5% na
participação das gramíneas (Tabela 34).

Tabela 34. Composição de pastagens consorciadas, após sete anos de


aplicação de NPK. Rottegen, Alemanha

Fertilização Testemunha PK NPK

..................................%.................................
Gramíneas 52,5 46,3 68,8
Leguminosas 14,9 30,7 10,4
Outras espécies 32,6 23,0 20,8
Fonte: Schulze (1956) e Shulze & Mues (1961), citados por Klapp (1977).

Para a avaliação do rendimento animal em novilhos, no município


de Eldorado do Sul, RS, por um período de dois anos, Scholl et al. (1976)
utilizaram duas fontes de N para o melhoramento do campo natural com
aveia (Avena sativa L.) cultivar Coronado. A introdução de trevo vesiculoso
(Trifolium vesiculosum Savi) cultivar Yuchi, na densidade de 6kg/ha, e
aplicação de 90kg de N/ha, na forma de uréia, foram as fontes comparadas
distintamente. Como resultado, os tratamentos que envolveram alguma
fonte de N proporcionaram o mesmo rendimento animal, ficando o
tratamento testemunha, no qual não houve nenhuma forma de
melhoramento, com o menor desempenho. Os ganhos médios de dois
anos foram de 467, 468 e 90,5kg PV/ha, para os tratamentos com
introdução de trevo vesiculoso, com aplicação de uréia, e o testemunha,
respectivamente. Assim, foi possível concluir que a introdução da
leguminosa substituiu de forma eficiente a adubação nitrogenada, além
de ser economicamente mais vantajosa.
Mais recentemente, no Uruguai, comparou-se a produção de
forragem de campo natural adubado com N e campo natural
sobressemeado com cornichão, ou trevo branco, ou com estas duas
espécies conjuntamente. As produções de MS foram equivalentes entre
os tratamentos com introdução de leguminosas e os fertilizados com
120kg de N/ha (Bemhaja et al., 1994).

128
Nos solos do Planalto Catarinense, os níveis de K não são tão
críticos quantos os de P. Mesmo com a reconhecida importância do K para
a nutrição vegetal, dispõe-se de pouca informação sobre este nutriente
em pastagens permanentes e, menos ainda, referente à introdução de
espécies por sobressemeadura ou cultivo mínimo em campos naturais.
Porém, é possível afirmar que seu adequado suprimento também se faz
necessário. Em ensaios conduzidos em casa de vegetação, avaliou-se o
efeito da combinação de nutrientes sobre o crescimento, o rendimento de
MS e a eficiência da nodulação do trevo subterrâneo (Trifolium
subterraneum L. cultivar Woogenellup), do lótus “El Rincón” (Lotus
subbiflorus Lag, cultivar El Rincón) e do trevo persa (Trifolium resupinatum
L. cultivar Kiambro). Os melhores resultados para as variáveis estudadas,
em todos os ensaios, foram obtidos quando se aplicaram P e K combinados.
Convém salientar que, com 135kg de N/ha, não ocorreu nodulação do
trevo subterrâneo (Krolow et al., 2001a; 2001b; Krolow et al., 2001c). Na
Região Centro-Sul da província de Corrientes, na Argentina, a combinação
de N, P e K também proporcionou efeito positivo no rendimento de MS da
pastagem natural, com um incremento de 95% em relação à testemunha
(Pallarés & Pizzio, 1994). O relato destes trabalhos experimentais
demonstra a necessidade de suprimento de K, juntamente com a demanda
de P, enfatizando-se que ambos são imprescindíveis.
O enxofre (S) e o molibdênio (Mo) também são nutrientes essenciais
para o estabelecimento de leguminosas, principalmente quando
combinados com o P, pois disso resulta uma interação de potenciação
entre todos esses elementos (Tabela 35).

Tabela 35. Resposta do crescimento de trevos, semeados em cobertura,


ao enxofre, fósforo e molibdênio. Canterbury, Nova Zelândia. Resultados
expressos em uma escala numérica de zero a 20 pontos

Tratamento Test. Mo P S P Mo S Mo SP S Mo P

Pontuação 1 0 7 3 9 3 12 17

Fonte: Walker et al. 1955; Lobb, 1958 e Ludecke, 1960, citados por White (1981).

Na sobressemeadura de trevo branco em pastagem natural, Morón


& Risso (2001) observaram efeito significativo do S para a produção desta
espécie somente no segundo ano, não sendo possível verificar efeito do
Mo e do boro (B). Porém, os autores alertam para os resultados obtidos,

129
em função de que, durante o período experimental de dois anos, as
condições climáticas foram muito adversas para o desenvolvimento da
pastagem.
A fertilização de pastagens naturais, juntamente com a
sobressemeadura de espécies, é uma prática técnica e economicamente
viável, além de preservar recursos genéticos extremamente valiosos, que
são as forrageiras nativas (Nabinger, 1980).

2.4 Espécies

A introdução de espécies cultivadas em pastagens naturais, através


de sobressemeadura ou cultivo reduzido, difere totalmente da implantação
de pastagem no sistema convencional, principalmente quanto à adequação
das condições químicas do solo, à competição das espécies residentes,
à falta de ambiente adequado para germinação e pela não-mobilização
do solo.
Nos cultivos superficiais, a semente se encontra em um meio hostil,
com características limitantes que devem ser consideradas para que haja
uma boa implantação, tais como: solo compactado, mineralização limitada
de nutrientes, limitada retenção de água, contato semente-solo deficiente
e competição exercida pela vegetação original (Bermúdez, 1992).
As espécies utilizadas em melhoramento de pastagens naturais e
naturalizadas precisam possuir características próprias, que lhes permitam
superar essas condições adversas. Portanto, devem ser escolhidas de
acordo com critérios que levem em conta o clima, a topografia, a fertilidade
da área, o manejo da pastagem, entre outros.
A escolha das espécies deve considerar: a capacidade da semente
de balancear o consumo de água com a perda por evapotranspiração; a
capacidade da raiz penetrar no solo após a germinação; a velocidade de
crescimento durante o desenvolvimento inicial da planta; o poder de
competição da espécie semeada com a vegetação existente; a persistên-
cia por ressemeadura natural; a alta tolerância ao pastejo e pisoteio; e o
longo período de produção (Barreto et al., 1978). Além destas
características, Carámbula (1997) acrescenta os seguintes atributos que
estas espécies devem possuir: tolerância à acidez do solo; tolerância a
níveis baixos de fertilidade e eficiência na utilização do P.
As leguminosas forrageiras são importantes em qualquer sistema
de produção que utilize pastagens como base de produção (Vidor et al.,
1997). Também são as mais eficientes para a introdução em pastagens
naturais (Barreto et al., 1978). Pelo fato de estas pastagens apresentarem
como característica marcante a deficiência crônica de N, as leguminosas

130
podem ser consideradas como a principal forma de introduzir este
nutriente no ecossistema (Carámbula, 1997), beneficiando, desta maneira,
a si próprias, assim como as gramíneas associadas. São muitas as razões
que justificam a presença das leguminosas em pastagens perenes,
principalmente consorciadas com gramíneas, em sistemas de produção
animal (Klapp, 1977; Vincenzi, 1974, 1994; Barreto et al.,1978; Ritter &
Sorrenson, 1985; Maraschin, 1985; Jacques,1993, 2001; Vidor et al.,
1997; Carámbula, 1997). Além das já apresentadas, destacam-se ainda
por apresentarem alto valor nutritivo, principalmente em proteínas e
minerais, como Ca e P; sua presença na composição da pastagem
determina maior consumo de fibras e proteína bruta (PB). Como têm
pequena participação na composição florística dos campos naturais,
maior é a justificativa de sua utilização para melhorar estas pastagens.
São vários os ensaios experimentais que comprovam a qualidade e a
capacidade produtiva das leguminosas. Evans (1970) demonstrou o
aumento progressivo no rendimento animal de 290, 336 e 545kg PV/ha/
ano, de acordo com a crescente participação das leguminosas na
pastagem de 13%, 20% e 35%, respectivamente. A introdução de trevo
vesiculoso ‘Yuchi’, na densidade de 6kg/ha, equivaleu a 90kg/ha de N e
resultou em cerca de 500kg PV/ha/ano (Scholl et al., 1976).
De maneira geral, as principais espécies de leguminosas utilizadas
para introdução em campos naturais de altitude, nas regiões de clima Cfb
do Sul do Brasil são:
Trevo branco (Trifolium repens L.): destaca-se tanto por seus
altos rendimentos de forragem, como pelo elevado valor nutritivo. É uma
planta glabra, rasteira e estolonífera. Cresce rente ao solo, expandindo-
-se através de vigorosos estolões (Vidor et al., 1997). Apesar de ser uma
espécie perene de estação fria, dependendo das condições do verão,
pode comportar-se como anual, bienal ou de vida curta. O vigor inicial é
baixo e o estabelecimento é lento. Apresenta grande potencial de fixação
de N. Em função de sua morfologia, admite pastejo freqüente e intenso
(Carámbula, 1997). É a espécie mais persistente, de excelente qualidade,
de boa distribuição da produção durante o ano todo. Com boas condições
de umidade, fertilidade e manejo adequado para ressemeadura, persiste
por muitos anos (Jacques, 1993).
Trevo vermelho (Trifolium pratense L.): espécie bienal e, em
certas condições, perene de estação fria. Admite pastejos intensos, mas
pouco freqüentes (Carámbula, 1997). Forrageira de alta produtividade e
alto valor nutritivo, semelhante ao da alfafa, apresenta plantas eretas e
pilosas. Adapta-se melhor onde dispõe de umidade durante todo o ciclo
de crescimento (Vidor et al., 1997). Além de muito produtivo, apresenta

131
crescimento inicial rápido, o que é desejável para a introdução em
pastagem natural. Consegue competir com o campo nativo no outono
(Jacques, 1993).
Cornichão (Lotus corniculatus L.): espécie perene de estação fria.
Apresenta média exigência de fertilidade do solo, baixa tolerância ao
sombreamento, encharcamento e seca. No entanto, tem boa resistência
às geadas (Vidor et al., 1997). Não é muito exigente em níveis de P. Admite
pastejos freqüentes, mas pouco intensos. Beneficia-se com o pastejo
rotativo (Carámbula, 1997). Apresenta maior exigência em práticas de
manejo para persistir (Formoso, 1993). O estabelecimento é relativamente
lento. Produz bem no fim do inverno e primavera. Possui a vantagem de
não provocar timpanismo e oferece forragem de boa qualidade (Jacques,
1993). A cultivar São Gabriel é a única disponível no mercado de
sementes. Como é de florescimento tardio (Poli & Carmona, 1966),
necessita de um período maior de diferimento até a formação das
sementes, quando em consórcio com os trevos, branco e vermelho. Este
descanso deve ser atendido para a sua manutenção na pastagem, visto
que é altamente dependente da ressemeadura natural para persistir
(Araújo & Jacques, 1974).
Trevo subterrâneo (Trifolium subterraneum L.): espécie anual de
estação fria. Apresenta a capacidade de enterrar a semente, que é de
extrema importância em se tratando de ciclo anual, pois isso renovará o
estande (Vidor et al., 1997). Estes mesmos autores afirmam que, por
possuir sementes grandes, se estabelece em solos com más condições
de preparo, como no caso da introdução em campo nativo. Não tem
exigências especiais de manejo. Adapta-se a pastejos intensos e não
provoca timpanismo (Carámbula, 1997). Deve ser preferido para os solos
mais leves. A expansão em seu uso tem sido limitada pela maior produção
apresentada pelos outros trevos (Jacques, 2001).
A Epagri/EEL tem trabalhado na seleção de leguminosas nativas
para aproveitamento em programas de melhoramento das pastagens
naturais. Diversos gêneros apresentam potencial para esse objetivo.
Entre eles destacam-se espécies do gênero Adesmia, que se têm mostrado
alta-mente promissoras. A intensificação dessa linha de pesquisa, incluindo
também as gramíneas, certamente será de grande utilidade para o
desenvolvimento sustentável da pecuária em Santa Catarina. Constituem-
-se em materiais adaptados às condições originais, através de seleção
natural, ocorrida em milhares de anos.
As gramíneas de estação fria, de maneira geral, não têm
apresentado o mesmo êxito que as leguminosas nos primeiros anos do
melhoramento. É maior a garantia no estabelecimento e persistência

132
daquelas após alguns anos usando-se somente leguminosas. O aumento
no suprimento de N, fixado simbioticamente ao solo, e a elevação da
fertilidade, promovida pelas adubações anuais de manutenção, são
condições que favorecem a participação das gramíneas na pastagem ao
longo dos anos. Autores como White (1981), Risso (1994) e Carámbula
(1997) também fazem referência à necessidade de se construir uma
condição de fertilidade para melhor aproveitar o potencial produtivo e
qualitativo das gramíneas. Em quase todas as situações, as gramíneas
introduzidas são mais produtivas que as espécies nativas, principalmente
durante os meses de outono-inverno. Alcançadas as condições
preconizadas, as gramíneas complementam a composição botânica com
as leguminosas, equilibrando melhor a dieta animal, em termos de fibra e
proteína.
São duas as condições que devem ser consideradas quando da
introdução de gramíneas na pastagem natural: no mesmo momento que
as leguminosas, quando a fertilidade do solo não é tão favorável, mas a
competição com a vegetação original é praticamente inexistente; e
posterior à introdução das leguminosas, quando a fertilidade é melhor,
porém a competição da flora existente é mais intensa (White, 1981;
Langer, 1990).
Com as gramíneas anuais de estação fria é que se tem obtido maior
sucesso no melhoramento de pastagens naturais, visto que as perenes
apresentam estabelecimento muito lento (Jacques, 2001). Apesar de as
aveias (Avena sativa L.) serem citadas por diversos autores como
apropriadas para o melhoramento do campo nativo, não se têm mostrado
desta forma nas introduções por sobressemeadura realizadas no Planalto
Catarinense. Acredita-se que a dificuldade no estabelecimento se deva
ao fato de apresentarem sementes grandes, o que implica a necessidade
de cobrimento e maior contato com o solo. Esta prática, na maior parte das
vezes, não é possível em cultivos reduzidos. Neste caso, a utilização de
renovadoras de pastagens torna-se fundamental para a implantação e o
estabelecimento das aveias. Outro aspecto a destacar é a resistência a
baixas temperaturas dos materiais atualmente existentes no comércio.
Em avaliações na EEL, e mesmo nos cultivos em propriedades, as
cultivares de aveia branca têm-se mostrado muito mais tolerantes a
geadas rigorosas do que os materiais de aveia preta (Rosa, pesquisa em
andamento, não publicado). O professor Mário Vincenzi, em comunicado
pessoal, relata que tem obtido bons resultados com a sobressemeadura
da aveia preta, tanto no Litoral quanto no Oeste Catarinense, quando a
compactação das sementes é efetuada pelo pisoteio dos animais.
Pelo mesmo motivo, o centeio (Secale cerealle L.) também pode

133
ser utilizado, desde que sejam seguidos os mesmos cuidados da aveia.
Trata-se de uma espécie anual, com taxa de crescimento inicial elevada,
que concentra a produção no outono e início do inverno (Vidor et al.,
1997).
O azevém (Lolium multiflorum L), também de ciclo anual, tem-se
mostrado como a espécie mais apropriada, mesmo que a sua contribuição
forrageira no ano de implantação seja bastante reduzida. Possui alta
capacidade na produção de sementes e elevada capacidade de
ressemeadura natural. Estas características, juntamente com a elevação
gradual da fertilidade do solo, têm feito com que a partir do segundo ano
a sua contribuição aumente de forma expressiva, como mostra a Figura
23. Outros atributos, como a sua capacidade de perfilhamento, que lhe
confere maior tolerância ao pastejo, excelente rebrote, além de alto valor
nutritivo e alta palatabilidade, são relatados por Vidor et al. (1997) e
Carámbula (1997).

Figura 23. O azevém inicia sua participação na produção de forragem a


partir do segundo ano

O capim lanudo (Holcus lanatus L.), apesar de citado por


Carámbula (1997) como de ciclo bienal, nas condições climáticas do
Planalto Catarinense tem comportamento de planta anual de estação fria.

134
O seu uso no melhoramento das pastagens naturais justifica-se por sua
rusticidade quanto à exigência em fertilidade e pH do solo, como também
por sua alta capacidade de ressemeadura natural. Esta característica faz
com que se torne espontâneo na pastagem ao longo dos anos (Pupo,
1985; Vidor et al., 1997).
O dátilo, ou capim dos pomares (Dactylis glomerata L.), é uma
gramínea perene de estação fria, bastante tolerante a geadas. Mesmo em
anos em que materiais de aveia preta não têm suportado a intensidade
e a freqüência das geadas, o dátilo tem-se mantido verde. Além disso,
apresenta menor exigência em fertilidade que outras gramíneas perenes.
Produz grande quantidade de sementes, com alta capacidade de
ressemeadura. Entretanto, não admite pastejos intensos e freqüentes.
Para maximizar seu potencial produtivo, requer pastejo rotativo (Ball et al.,
1991; Carámbula, 1997).
Outra opção pode ser a cevadilha, ou aveia louca (Bromus
catharticus Vahl), espécie anual de estação fria. Apresenta os mesmos
requerimentos que as aveias, porém com maior tolerância a geadas.
Como opção futura ter-se-á a cevadilha serrana (Bromus auleticus Trin.),
que se encontra em fase final de avaliação na EEL. Trata-se de uma
gramínea nativa, perene e de estação fria. O material a ser lançado é fruto
de longo trabalho de seleção e melhoramento. Tem produzido excelentes
resultados quantitativos e qualitativos em cultivos convencionais (Dalagnol,
2000; Rosa, 2000).
A festuca (Festuca arundinacea Schreb.), gramínea perene de
estação fria, apresenta boa produção outonal (Flaresso et al., 1997), com
rebrote rápido no final do inverno. Exige manejo cauteloso no ano de
estabelecimento, e durante o verão, nos anos seguintes. Posteriormente
ao estabelecimento, que é bastante lento, admite pastejos intensos e
freqüentes. Tolera a baixa fertilidade, mas responde muito bem a
adubações (Ball et al., 1991; Vidor et al., 1997; Carámbula, 1997). Além
dos materiais tradicionais, atualmente também existe à disposição dos
produtores a cultivar Epagri 312-Lages, desenvolvida na EEL, em vários
anos de seleção e melhoramento.
A introdução de misturas forrageiras, seja de leguminosas ou
destas associadas a gramíneas, tem por finalidade, além de elevar a
produção e a qualidade da pastagem, permitir uma melhor cobertura de
forrageamento ao longo do ano. Desta forma, a pastagem se manterá em
um patamar mais elevado de produção. Com a introdução de gramíneas
e leguminosas de estação fria em pastagem natural, Fontaneli & Jacques
(1991) obtiveram um aumento na disponibilidade de MS e PB, ocorrendo
também uma melhor distribuição da produção anual de forragem.

135
Entretanto, como cada planta forrageira possui particularidades quanto
a sua fisiologia e manejo, o uso de consorciações com mais de três a
quatro espécies fica muito dificultado devido à complexidade do manejo
exigido. Como conseqüência, haverá, invariavelmente, o comprometimento
em produção e persistência de uma ou outra espécie, visto que o manejo
adotado, por mais zeloso que seja, dificilmente conseguirá atender, de
maneira uniforme, às necessidades de todo o material forrageiro envolvido.
O aspecto econômico também deve ser considerado, pois haverá a
elevação do custo de implantação do melhoramento, vinculada ao aumento
do número de espécies utilizadas e o custo das sementes.

2.5 Densidade de semeadura

As condições de ambiente para a germinação e o estabelecimento


das espécies introduzidas na flora nativa residente diferem totalmente da
implantação de pastagens com preparo convencional. Além do menor
contato com o solo, é inevitável a competição da nova plântula com a
vegetação estabelecida. Assim, as densidades de semeadura devem ser
ajustadas, levando-se em conta as diferenças que ocorrem de maneira
distinta nos cultivos reduzidos e no cultivo convencional (Carámbula,
1997). Diante disso, e para que o estande não fique muito reduzido,
deve-se aumentar em uma e meia a duas vezes a quantidade de
sementes recomendada para os cultivos convencionais (Fontaneli &
Jacques, 1991; Jacques, 1993, 2001). A adequação da densidade de
semeadura depende de fatores como fertilidade e umidade do solo,
competição exercida pela vegetação existente, espécie utilizada, cultivar
e qualidade da semente. Quanto mais desfavoráveis, maior deverá ser a
quantidade de semente. A partir de recomendações de Müller (1971),
Silva (1980) e Almeida et al. (2002), elaborou-se a Tabela 36, que poderá
ser utilizada como referência para determinar a densidade de semeadura,
tanto para melhoramento de campo natural, como para cultivos
convencionais. A mistura a que se faz referência na Tabela 36 é para duas
espécies; quando se tratar de consorciação envolvendo um maior número,
a quantidade de semente de cada espécie deve ser reduzida, conforme
as condições locais. Para Carámbula (1997), quando se utilizam consórcios
forrageiros, as densidades de semeadura deverão ser reduzidas no
mínimo em 25% a 35% para cada espécie usada, dependendo da
complexidade da mistura.

136
Tabela 36. Espécies e densidades de semeadura para o melhoramento
de pastagens naturais
Cultivo Introdução em
convencional campo natural
Forrageira
Estreme Consorciado Isolada Mistura(1)

................................kg/ha...................................
Azevém anual 25 15 40 20
Aveia preta 80 a 100 60 a 70 150 60 a 80
Aveia branca 120 80 150 40 a 60
Centeio 90 60 140 80 a 100
Capim lanudo 10 8 15 12
C. pomares/dátilo 30 20 40 a 50 25
Festuca 15 10 25 15
Trevo branco 2a3 2 3a5 2a3
Trevo vermelho 8 6 12 7a9
Cornichão 10 6 15 6a8
Trevo subterrâneo 8 6 12 6a8
Trevo encarnado 15 12 25 15

Quantidade de sementes recomendada para duas espécies.


(1)

2.6 Inoculação e peletização

As leguminosas, além da qualidade como forrageiras, representadas


por muitas espécies, desempenham papel fundamental na fixação de N
atmosférico, em associação simbiótica com bactérias do gênero Rhizobium.
O N fixado no nódulo torna-se disponível, não apenas para a leguminosa
hospedeira, como para as outras plantas presentes na pastagem,
principalmente gramíneas. Como resultado, obtém-se forragem de melhor
qualidade pelo aumento do teor de proteína, da digestibilidade e do
consumo, além de maior rendimento de MS e evolução da fertilidade do
solo.
A relação de benefício mútuo que existe entre a leguminosa e o
rizóbio se processa de maneira mais eficiente através da inoculação, e
principalmente da peletização, por tratar-se basicamente de sementes
miúdas. A peletização consiste no recobrimento da semente, já inoculada,

137
por um pó secante. O material utilizado para isso pode ser o calcário
finamente moído ou os fosfatos naturais. Entretanto, o carbonato de
cálcio (CaCO3) é o produto que melhor resultado tem apresentado, tanto
no manuseio como na posterior distribuição. O CaCO3 forma uma camada
protetora mais firme e consistente, não se soltando quando em atrito com
outros materiais. Esta característica é de fundamental importância, visto
que, geralmente, as sementes são distribuídas juntamente com os
fertilizantes (Figura 24).

A B

Figura 24. Etapas da sobressemeadura, na seguinte ordem: (A) sementes


de leguminosas inoculadas e peletizadas, (B) misturadas
homogeneamente com as sementes de gramíneas e com o adubo, sendo
(C) a mistura distribuída a lanço

No Planalto Catarinense é imprescindível inocular qualquer


leguminosa, mesmo que a área já venha sendo cultivada com outra
forrageira do mesmo grupo. Esta recomendação torna-se elementar
devido à ausência de leguminosas cultivadas e à reduzida ocorrência de
espécies nativas na pastagem natural (Brose, 1989). Este mesmo autor
argumenta que, mesmo existindo bactérias nativas no solo que consigam
infectar as leguminosas, estas são menos eficientes do que as usadas
nos inoculantes comerciais. Além da situação descrita, existem fatores

138
que comprometem a sobrevivência do rizóbio como a presença de Al
trocável e Mn em níveis tóxicos, além do baixo pH dos solos. Para superar
tais dificuldades, Brose (em comunicado pessoal) defende como estratégia
importante a busca constante de bactérias do gênero Rhizobium e de
leguminosas mais tolerantes às condições impostas, para que os
produtores possam dispor de inoculantes cada vez mais eficientes.
As vantagens da peletização relatadas por White (1981) e Carámbula
(1997) são: maior sobrevivência das bactérias, em função de materiais
alcalinos como o calcário e o CaCO3, quando o cultivo ocorre em solos
ácidos; redução dos efeitos nocivos dos fertilizantes ácidos sobre o
inóculo; maior sobrevivência do inóculo durante a armazenagem e no
solo, por reduzir os efeitos da dessecação, afetada pela luminosidade e
temperaturas elevadas; rapidez de germinação, pelo aporte de umidade
para a semente, por ser o revestimento higroscópico.
A peletização é, reconhecidamente, uma prática simples, eficiente
e de baixo custo. Conforme o trabalho de Scholl et al. (1976), já mencio-
nado anteriormente, o trevo vesiculoso inoculado produziu o mesmo
efeito que 90kg N/ha sobre o rendimento animal. Isto equivale à economia
de 200kg de uréia/ha, além de diversas outras vantagens. No entanto, a
peletização exige alguns cuidados (White, 1981; Brose, 1989; Vincenzi,
1994; Carámbula, 1997):
• Utilizar sempre o Rhizobium específico.
• A semeadura deve ocorrer logo após a peletização. O armazena-
mento da semente, já preparada, é possível, desde que em local apropriado,
úmido e com temperatura amena, e que não ultrapasse um período de 48
horas.
• Evitar o contato da semente inoculada e peletizada com fertilizantes
muito ácidos.
• Depois de peletizada, a semente aumenta o peso e o volume de
50% a 80%, o que deve ser considerado ao se determinar a densidade
de semeadura.
• A fertilização com nutrientes, essenciais à simbiose, como Mo, Fe
e B, contribuem para a eficiência da ação bacteriana.
• Verificar sempre a qualidade do inoculante.
• Observar sempre as condições de armazenamento, tanto no
comércio quanto na propriedade, pois o inoculante deve ser mantido em
geladeira.
A Epagri/EEL dispõe de laboratório que produz e distribui, mediante
encomenda, inoculante para a grande maioria das leguminosas forragei-
ras.

139
2.7 Tratamento prévio da área

Os principais obstáculos a serem superados para a obtenção de


êxito com a introdução de espécies em pastagens naturais são: falta de
um bom contato entre a semente e o solo, que resulta em redução do
estabelecimento; solo compactado, que dificulta a penetração das raízes;
mineralização limitada de nutrientes e/ou alta necessidade de correção,
que afetam o crescimento inicial; baixo armazenamento de água no solo,
com o estabelecimento dependendo de forma direta das chuvas; presença
de microrganismos que podem afetar a nodulação das leguminosas, e a
competição imediata por parte da vegetação existente (Carámbula, 1977;
Barreto et al., 1978; Nabinger, 1980; White, 1981; Bermúdez, 1992;
Carámbula, 1997; Vincenzi, 2001).
A redução da competição exercida pela vegetação natural é
condição primordial para aumentar as possibilidades de uma boa
implantação e conseqüente estabelecimento e persistência. Os métodos
mais utilizados para isso são o pastejo intenso, a roçada, a queima e o uso
de herbicidas.

2.7.1 Pastejo intenso

O rebaixamento da vegetação campestre original, para promover a


redução da competição imposta às espécies introduzidas, pode ser feito
através do pastejo intenso ou da roçada (Figura 25).
O pastejo, como tratamento prévio, oferece a vantagem do
aproveitamento da forragem disponível por parte dos animais. É
recomendado quando a vegetação original se apresenta densa, com boa
oferta de forragem. Desta maneira, os animais não perderão peso
durante o período de permanência, o qual pode se estender desde antes
até depois da introdução das espécies. Para intensificar e uniformizar o
rebaixamento, recomenda-se o uso de diferentes espécies animais.
Inicialmente com bovinos e, posteriormente, ovinos, visto que a partir de
determinada altura de pastejo a forragem ofertada não é mais acessível
aos primeiros (Carámbula, 1997). O pastejo com lotação elevada, e
conseqüente pisoteio, depois de efetuada a semeadura, além da redução
da competição, também promove um melhor contato das sementes com
o solo. Em pastagens muito adensadas, quando as sementes encontram
dificuldade para atingir a superfície do solo, o consumo intenso da
pastagem também se justifica, como mostra a Tabela 37.
Outra vantagem apresentada por este método é que, pela remoção
da forragem, as operações posteriores com máquinas e implementos
agrícolas são facilitadas. Entretanto, quando a pastagem apresenta
áreas com vegetação fibrosa e de baixa qualidade e o pastejo não ocorre

140
de maneira uniforme, se faz necessária a passagem complementar de
uma roçadeira. No Planalto Catarinense, onde a pedregosidade e o
afloramento de rocha são muito comuns e a mecanização é dificultada ou
impossível, o pastejo intenso tem sido uma opção muito eficiente. Exemplo
disso são as áreas de melhoramento implantadas nas propriedades de
José Salvador de Liz e de Sílvio e Osmar Zabot, nos municípios de Painel
e São Joaquim, respectivamente. Nos dois locais, a implantação e o
estabelecimento foram bem-sucedidos (Tabela 38). Como demonstra
esta tabela, a introdução de espécies tem sido possível por diversos
métodos de implantação, desde que realizadas algumas práticas
indispensáveis, como um bom preparo prévio da área, correção da acidez
do solo com antecedência, fertilização fosfatada no momento de plantio,
inoculação das leguminosas e diferimento da pastagem após o plantio.

Figura 25. Roçadeira


em operação, com
regulagem rente ao
solo

Tabela 37. Efeito do pastejo intenso (PI) e do pastejo pouco freqüente


(PPF) sobre a germinação e persistência, após 16 meses, de azevém
anual, dátilo e trevo branco, em uma pastagem densa de ‘‘browntop’’
(Agrostis tenuis), na Nova Zelândia

Germinação Persistência
Espécie
PI PPF PI PPF

.....................................%........................................
Azevém anual 7 3 27 17
Dátilo 15 12 10 8
Trevo branco 21 16 26 17
Fonte: Cullen (1969), citado por White (1981).

141
Tabela 38. Resultados obtidos com melhoramento de campo nativo utilizando diversos métodos de implantação
no Planalto Catarinense

Rendimento
Ganho
Peso Peso (kg PV/ha) Método
Área An. Ganho médio
Produtor/município o inicial final Dias de
(ha) (n ) (kg/an.) diário
(kg) (kg) Período Projeção implantação
(kg/an./dia)
avaliação anual

José Salvador de Liz /Painel 10,0 4 3 122,63 146,44 5 5 23,81 0,433 102,40 670,0 Grade,
sobresse-
meadura
e pisoteio
José A. de Arruda /Urupema 11,5 3 2 197,00 391,00 293 194,00 0,662 540,00 672,0 Queima,
sobresse-

142
meadura
e pisoteio
Irmãos Zabot /São Joaquim 11,0 1 2 335,00 363,75 2 2 28,75 1,300 31,00 520,0 Grade,
sobresse-
meadura
e pisoteio
Clodoaldo Andrade/Urupema 40,0 8 5 175,00 360,00 220 185,00 0,841 393,12 652,2 PC,
renovadora
e sobresse-
meadura

Nota: An. = animal.


PV = peso vivo.
PC = preparo convencional.
Em São José dos Ausentes, RS, Jacques & Nabinger (2003)
obtiveram excelentes resultados com a introdução de trevo vermelho,
trevo branco e azevém, utilizando previamente o pastejo intenso da área,
que, no momento, encontrava-se com boa disponibilidade de forragem,
predominantemente de capim caninha (Andropogon lateralis Nees). Foi
alta a carga animal utilizada, sendo que por períodos relativamente
curtos. Recomendam também que, para não prejudicar os animais, o
pastejo seja feito à noite, liberando os animais para outras áreas durante
o dia. Estes mesmos autores afirmam que o pastejo intenso é, sem dúvida,
a melhor forma para reduzir a competição da vegetação estabelecida.

2.7.2 Queima

O uso do fogo para permitir o estabelecimento de espécies, sem


competição, e ainda a cinza como leito e cobertura para a semente,
podem apresentar bons resultados, desde que se observe em que
situações o seu uso é preferencial. Poderá ser justificado em condições
muito especiais, como em pastagens de porte mais alto ou onde a
vegetação se apresente mais grosseira e o rebaixamento por outros
métodos, seja bastante dificultado ou até mesmo impossibilitado. Da
mesma forma, poderá ser recomendável para áreas com afloramento de
rocha e pedregosidade. Em áreas declivosas, chuvas intensas anteriores
à fixação das sementes ao solo provocarão seu arraste, juntamente com
os fertilizantes, por não existir obstáculo, no caso vegetação, que impeça
a descida para as partes mais baixas do terreno. O uso de renovadora de
pastagem, quando possível, fica muito facilitado pela remoção total da
vegetação, pois não haverá material para provocar o empastamento
deste tipo de máquina.
Independente das condições de relevo, solo e vegetação, o
diferimento prévio da área faz com que a simples sobressemeadura seja
facilitada. O acúmulo de material combustível dará origem a uma grande
quantidade de cinzas, que, após a sobressemeadura, formarão a cobertura
das sementes. Para garantir que isto aconteça de forma mais adequada,
é importante que a distribuição das sementes ocorra logo após a queima,
antes que a cinza se compacte. Entretanto, sempre se deve levar em
conta que a queima representa perdas da matéria orgânica lábil e de
nutrientes, além de promover alterações nas condições físicas do solo.
Quando em terrenos declivosos, as cinzas, em geral, são arrastadas após
chuvas fortes para as áreas mais baixas que, no Planalto Serrano
Catarinense e nos Campos de Cima da Serra, RS, são predominantes.
Assim, as cinzas acabam nos riachos e rios, alterando suas condições
ambientais.

143
Em todas a situações em que o fogo pode ser utilizado como
ferramenta para o melhoramento, também se deve considerar que a
remoção total da vegetação existente favorece o surgimento de espécies
indesejáveis, pelo fato de, por um determinado período, não haver
competição alguma entre essas espécies. O efeito positivo do uso da
queima como tratamento prévio foi comprovado por Medero (1958), no
Uruguai, e relatado por Carámbula (1977). Neste trabalho comparou-se
o pastejo intenso e a queima. Na Tabela 39 é possível verificar que,
apesar de a germinação ocorrer de maneira similar nos dois tratamentos,
morreram menos plantas quando se usou o fogo. Diante desse resultado,
concluiu-se que a queima não só permitiu um melhor contato entre
semente e solo, mas também proporcionou um melhor estabelecimento
ao eliminar a competição. Infelizmente, no relato do segundo autor não
consta a espécie ou a mistura que compuseram o melhoramento da
pastagem natural, nem registro sobre a composição botânica e a
porcentagem de plantas indesejáveis; mesmo assim, quantificou-se o
potencial dessa prática como tratamento prévio.

Tabela 39. Estabelecimento do melhoramento, aos 21 e 120 dias após a


sobressemeadura

Pastejo intenso Queima


Dias
Plantas Valor relativo Plantas Valor relativo
(n o) (%) (n o) (%)

21 2.262 100 2.211 97,7


120 248 100 394 158,9

Fonte: Medero et al. (1958), citado por Carámbula (1977), adaptado.

2.7.3 Herbicidas

Quanto aos herbicidas, não restam dúvidas quanto à sua eficiência


para eliminar a competição da flora existente; no entanto, são conhecidos
os efeitos nocivos de sua utilização, como o impacto sobre agentes
bióticos, o efeito residual sobre bovinos, plantas forrageiras e nodulação
de leguminosas. Além disso, não é necessária nem desejável a eliminação
de todas as espécies nativas, mesmo porque, desde que se iniciaram as
implantações de melhoramento de campo nativo no Planalto Catarinense,

144
em nenhum momento houve a necessidade de aplicação desses
agrotóxicos.
A Estação Meteorológica de Lages, que atua desde 1926 junto à
Epagri/EEL, tem registrado a média de 17,4 geadas/ano em uma série
histórica de 48 anos. Em alguns anos, como o de 2000, este evento
climático ocorreu 36 vezes. Nesta mesma série histórica, também consta
a média de 0,7 geada no mês de abril, fato que em 1995 e 1997 se repetiu
por cinco vezes. É comum a ocorrência de temperaturas negativas ao
nível do relvado nos meses de outubro e novembro, com médias de 0,4
a 0,1 geada, respectivamente. Assim como as geadas que ocorrem no
cedo favorecem pela redução da competição, as tardias prejudicam por
oferecer risco ao estabelecimento do melhoramento. Conforme foi dito
anteriormente, estas observações foram, e são, feitas em Lages, que não
faz parte da porção mais fria da região fisiográfica compreendida pelo
Planalto Serrano Catarinense.
Diante disso, espera-se demonstrar que o uso de herbicidas, ou
“geada química”, como vulgarmente esta prática é conhecida, para
reduzir e até mesmo eliminar a competição da vegetação original, não é
necessária. Para reforçar os argumentos expostos, é possível afirmar
que, mesmo quando se pretende implantar o melhoramento mais no
cedo, como nos meses de março, abril e maio, seu uso também é
injustificável pelo déficit hídrico outonal que comumente ocorre nessa
região. Assim, é mais econômico e garantido aguardar pelas primeiras
geadas e que se normalize o regime de chuvas, para alcançar o melhor
estabelecimento das espécies introduzidas.
No Uruguai, avaliando tratamentos prévios para a introdução de
trevo branco, cornichão e azevém Carriquiry et al. (1998) obtiveram os
melhores resultados quando se promoveu o rebaixamento do campo a 5
e 2,5cm da altura do resíduo. Somente o azevém foi beneficiado com a
aplicação de glifosato ou de paraquat, ambos na dosagem de 2,5L/ha.
Risso (1994) relata que não houve diferença entre a aplicação de
glifosato e o rebaixamento da pastagem natural à altura de 5cm, para a
introdução de trevo vermelho, trevo subterrâneo e trevo carretilha. Da
mesma forma, também no Uruguai não foram verificadas diferenças entre
os diversos métodos avaliados: cultivo convencional, gradagem superficial,
gradagem superficial cruzada, glifosato a 6L/ha, sobressemeadura e
sobressemeadura mais superfosfato triplo, por um período de cinco anos
(Bemhaja & Berreta, 1994). Alguns anos antes, Bermúdez (1992), também
no Uruguai, avaliou praticamente os mesmos tratamentos prévios para a
sobressemeadura de trevo branco, cornichão e azevém. Neste caso, foi
utilizado somente o “Round-Up” na dosagem de 2,5L/ha. Como efeito

145
principal para o uso desse herbicida, o autor verificou que houve
substituição das espécies nativas perenes de estação quente, e produtivas,
por espécies anuais de estação fria, de baixa produção, além de haver um
incremento na produção de plantas indesejáveis de pequeno porte.
Resultados semelhantes foram obtidos por Quadros et al. (2000) em
ensaios conduzidos simultaneamente em Alegrete e Bagé, RS. Através
de levantamentos botânicos, esses autores verificaram que a composição
florística foi marcadamente influenciada pelos tratamentos que utilizaram
glifosato. As espécies de maior contribuição, como o capim-caninha
(Andropogon lateralis), a grama-forquilha (Paspalum notatum), o capim
melador (Paspalum dilatatum) e o Paspalum plicatulum quase
desapareceram, sendo substituídas por espécies indesejáveis como
Chaptalia nutans e Apium spp., entre outras.
A aplicação de glifosato antes da sobressemeadura de trevo
branco, cornichão “El Rincón” e azevém não teve efeito estatístico no
rendimento animal, ou seja, ganho médio diário e ganho por área, em
comparação ao tratamento que não recebeu esse herbicida, nas condições
de Bagé, RS (Rizo et al., 2000; Sorgatto et al., 2001; Araldi et al., 2002).
Na Nova Zelândia, especificamente para os campos montanhosos,
a utilização de herbicidas apenas se justifica quando da introdução de
gramíneas e alfafa, visto que os trevos se estabelecem bem na vegetação
nativa (White, 1981). Para Carámbula (1997), essa afirmativa se aplica
não somente para àquela situação, mas a todas regiões temperadas,
desde que atendidas as necessidades adequadas de fósforo.

2.8 Métodos

A introdução de espécies cultivadas em pastagens naturais tem


sido possível através de vários métodos. A determinação da melhor e
mais adequada forma depende de fatores como clima, tipo de cobertura
vegetal existente, relevo, pedregosidade, afloramento de rochas e
propriedades físico-químicas do solo.

2.8.1 Sobressemeadura sem cultivo mecânico

Este método pode ser aplicado quando o tratamento prévio da área


for realizado através de queima, pastejo intenso/pisoteio, roçada e em
casos que não há necessidade de tratamento prévio, em função de a flora

146
existente não oferecer competição de forma prejudicial por nutrientes,
água e luz.
As principais vantagens da sobressemeadura são a rapidez e a
economicidade de sua aplicação em grandes superfícies, permitindo
aproveitar ao máximo os momentos em que se apresentam condições
ambientais favoráveis (Carámbula, 1997). Este autor faz algumas
recomendações para sua utilização: usá-lo em áreas com pedregosidade
e quando a vegetação não for muito densa; eliminar ao máximo a
competição exercida pela flora natural; aproveitar condições adequadas
de umidade para permitir a germinação e penetração da radícula no solo.
Após a germinação, as plântulas não são muito vigorosas, pois demoram
para desenvolver-se e, dessa forma, estão mais expostas a fatores
adversos. Assim, as espécies anuais com maior vigor se comportam
melhor.
Em Bagé, RS, não foi verificada diferença entre a sobressemeadura
e o cultivo superficial com grade, para a introdução de trevo branco
(Macedo et al., 1987b). Os resultados deste estudo podem ser visualizados
na Tabela 40.

Tabela 40. Rendimento médio de matéria seca (MS) de pastagem natural


(PN) melhorada com trevo branco (TB), em dois métodos de cultivo. Média
de quatro anos, Bagé, RS

Rendimento Rendimento
Método de cultivo
de MS relativo

...................kg/ha......................
PN 1.622 b 100
PN + TB – sobressemeadura 2.533 a 156
PN + TB – gradagem superficial 2.579 a 159

Nota: Médias seguidas pela mesma letra, na coluna, não diferem


significativamente pelo teste de Duncan: P > 0,05.
Fonte: Macedo et al. (1987b).

Na mesma unidade de pesquisa em que foi conduzido o ensaio


anterior, também não se obtiveram diferenças estatísticas entre os
sistemas de cultivo reduzido, quando se implantou trevo branco, trevo

147
vermelho e cornichão. Neste trabalho, Brasil et al. (1987a) avaliaram, por
um período de quatro anos, o efeito do método de implantação de
pastagem sobre a produção de MS. Os sistemas de cultivo avaliados
foram o convencional, com renovadora de pastagem tipo “Grasslands”,
com renovadora tipo “Brillion” e sobressemeadura manual a lanço. O
cultivo convencional foi superior aos demais, em produção de MS,
somente no primeiro ano. Nos três anos seguintes, todos os cultivos
reduzidos foram superiores ao convencional, mas não diferiram
estatisticamente entre si (Tabela 41). No final de quatro anos, o sistema
por sobressemeadura foi o que apresentou maior produção acumulada
de MS. O cultivo convencional, além de produzir menos, foi o que teve
maior custo de implantação.

Tabela 41. Produção anual e total de MS nos diferentes sistemas de


implantação de pastagens: cultivo convencional (CC), renovadora
“Grasslands” (RG), renovadora “Brillion” (RB) e sobressemeadura manual
a lanço (SL). Bagé, RS

Sistemas de cultivo
Ano
CC RG RB SL

......................................kg/ha......................................
Primeiro 5.609 1.827 2.014 2.687
Segundo 6.083 8.513 8.968 8.117
Terceiro 3.559 6.246 6.830 6.873
Quarto 3.895 5.923 5.863 6.671
Total 19.146 22.509 23.675 24.348
Fonte: Brasil et al. (1987a).

Apesar de a simples sobressemeadura poder ser empregada


também em condições favoráveis, a sua aplicação principal se dá em
áreas de relevo acidentado e em locais onde existe pedregosidade
(Figura 26). Este método, além de preservar por completo a estrutura do
solo, também permite que a área possa ser utilizada até o momento de sua
realização, evitando, assim, atrasos que normalmente acontecem em
cultivos convencionais (White, 1981; Carámbula, 1997). Entretanto,
mesmo com algum atraso no estabelecimento do melhoramento, existem
vantagens que justificam este método.

148
Figura 26. Em condições de pedregosidade e afloramento de rocha, a
introdução de espécies é possível sem o cultivo mecânico

A Nova Zelândia é um exemplo típico de país que utilizou com muita


eficiência a sobressemeadura em áreas montanhosas, tendo melhorado
aproximadamente 4,5 milhões de hectares não-aráveis através da
aplicação de sementes e fertilizantes por via aérea. Em menos de duas
décadas, ocorreu um grande avanço na qualidade das pastagens, com
aumento acentuado de trevo branco e de azevém perene. No Planalto
Catarinense, no ano de 2000, testou-se com sucesso a sobressemeadura
por avião, para melhorar 32ha em três propriedades, nos municípios de
Lages e Painel. Entretanto, para as condições locais, os altos custos
operacionais e a inexistência de campos de pouso próximos às áreas a
serem melhoradas inviabilizam a utilização deste método em larga escala
(Figura 27).
Outra possibilidade para a introdução de espécies por
sobressemeadura é o uso de animais, como ferramenta para a redução
da competição e promoção de maior contato das sementes com o solo. O
pastejo promoverá o rebaixamento da pastagem original; antes que seja
consumida toda a forragem, efetua-se a sobressemeadura. Como haverá
ainda uma sobra de alimento, o pisoteio dos animais fará com que haja um
maior contato das sementes com o solo. Quando a carga animal for

149
elevada e o período de permanência prolongado, a parcagem, como é
conhecida esta prática, que tem por finalidade aumentar a concentração
de dejetos (como esterco e urina), também pode ser utilizada (Araújo,
1976; Jacques, 2001; Vincenzi, 2001). Certas advertências devem ser
feitas com relação ao uso da parcagem: as áreas deverão possuir abrigo
para o gado, com o objetivo de evitar ou reduzir o estresse causado pela
adversidade do clima; em épocas de restrição alimentar, essa prática
pode causar a perda de peso dos animais. Assim, a escolha da categoria
animal assume grande importância para esta prática.

Figura 27. A sobressemeadura aérea foi utilizada em três propriedades


do Planalto Catarinense

Considerar sempre que, para a sobressemeadura ter sucesso, as


exigências em correção da acidez do solo e em fertilidade devem estar
atendidas.

2.8.2 Preparo superficial com grade

Existem muitas referências certificando a eficiência do preparo do


solo com gradagem superficial para introduzir espécies em campos

150
naturais (Vincenzi, 1974; Carámbula, 1977; Barreto et al. 1978; Nabinger,
1980; Maraschin, 1985; Macedo, 1987b; Fontaneli & Jacques, 1991;
Jacques, 1993; Jacques, 2001; Jacques & Nabinger, 2003). Este método
pode ser utilizado após o tratamento prévio da área com pastejo intenso,
queima ou roçada. Quando as condições de solo e relevo permitem, a
gradagem superficial possibilita, de maneira geral, uma boa implantação
de todas as espécies, por garantir uma maior penetração de água, uma
certa mobilização do solo e maior atividade microbiana. Estes fatores,
juntamente com uma boa cobertura das sementes, levam a um rápido
estabelecimento (Carámbula, 1977). O preparo superficial com grade,
como mostra a Figura 28, resulta em um mínimo de mobilização do solo,
facilita o contato da semente e preserva a quase totalidade da pastagem
nativa. A utilização desse implemento após a distribuição do calcário evita
a perda por escorrimento e promove um maior contato do corretivo com
o solo. Com a gradagem respeitando-se as curvas de nível do terreno, os
sulcos funcionarão como microterraços, aumentando a infiltração de
água (Jacques, 2001). Os tratoristas deverão ser muito bem orientados
quanto à regulagem de abertura da grade e à velocidade da operação,
para não cometerem excessos. No entanto, esta prática limita-se a áreas
que permitam um mínimo de mecanização, no que se refere a declividade,
afloramento de rochas e pedregosidade (Prestes, 2001).

Figura 28. A gradagem superficial promove pouca mobilização do solo e


mantém a vegetação original

151
O ordenamento das operações pode ser o seguinte: utilização da
área com altas lotações para concentrar dejetos e aumentar a fertilidade;
aplicação do calcário, quatro a cinco meses antes da semeadura, com
posterior gradagem superficial; realizar a semeadura e a adubação,
seguida ou não de outra gradagem; passar um rolo compactador ou
utilizar parcagem.
Em Bom Retiro, SC, nas propriedades de Gustavo Wiggers e
Bertolino Hemkemaier, e em Lages, na propriedade de José de Assis
Andrade Branco, foram implantadas as primeiras unidades de
melhoramento de campo natural em 1996. Em ambas, utilizou-se a
gradagem superficial após a calagem, que ocorreu em dezembro de 1995
e em janeiro e julho de 1996, respectivamente. Anteriormente à
sobressemeadura e à adubação, efetuadas em abril e julho de 1996, em
uma única operação com o uso de plantadeira a lanço, também se efetuou
à gradagem superficial. Após a distribuição das sementes, passou-se rolo
compactador nas três áreas. Estas unidades ainda continuam servindo
como demonstrativas da tecnologia para vários eventos e visitações.
A compactação das sementes é outro fator de fundamental
importância para proporcionar uma melhor implantação, a partir da rápida
absorção de água e conseqüente germinação. Esta operação pode ser
realizada com implemento próprio, como rolo compactador (Figura 29),
mas também com outros. Uma pequena árvore ou até mesmo um tronco,
desde que seja o mais redondo possível, para não arrastar as sementes,
assim como o pisoteio, levando-se em conta a condição de umidade do
solo, para evitar a sua compactação, são opções plenamente viáveis para
se promover o estabelecimento desejado. Até mesmo a ocorrência de
chuva intensa, logo após a sobressemeadura, cumpre com o mesmo
objetivo (Prestes, 2001).

Figura 29.
Melhorar o
contato da
semente com o
solo é
fundamental
para um bom
estabelecimento
das espécies
introduzidas

152
2.8.3 Renovadora de pastagens

Nas últimas décadas, surgiu uma série de renovadoras de


pastagens. Apenas algumas prosperaram, quer por condições técnicas
de fabricação, quer por condições econômicas do produtor. O fato é que
atualmente se dispõe de máquinas que realizam o trabalho com
confiabilidade (Maraschin, 1985). As máquinas utilizadas para semeadura
direta devem realizar várias tarefas como: abrir uma pequena faixa de
solo, ao longo do sulco; abrir o sulco; introduzir a semente com uma
densidade controlada de semeadura; colocar a semente em contato com
o solo; cobrir a semente e compactar cada faixa da semeadura cultivada.
Entretanto, esta prática e o êxito de todas essas operações são muito
variáveis (Pearson & Ison, 1994). A manutenção da flora nativa ao longo
da borda do sulco preserva a umidade na sua área de influência, porém,
ao mesmo tempo, favorece a competição das espécies introduzidas
(Maraschin, 1985). Levando-se em conta os aspectos de funcionamento
e seus efeitos, pode-se afirmar que estes equipamentos efetuam um
trabalho bem melhor, com a vantagem de depositar o adubo em linha, o
que favorece especificamente as espécies introduzidas (Jacques, 2001).
São diversas as vantagens da semeadura em linhas (Figura 30)
realizada pelas renovadoras, podendo-se destacar que: o P solúvel
promove rápido crescimento inicial da espécie introduzida, o que permite
menor densidade de semeadura; a adubação localizada não beneficia
tanto as plantas indesejáveis; menor contato do adubo com o solo reduz
a imobilização do P; as espécies introduzidas podem suportar situações
adversas em melhores condições, pois tiveram oportunidade de maior
desenvolvimento inicial (Maraschin, 1985). Como atributos favoráveis,
pode-se citar também a manutenção da estrutura física do solo; constitui-
-se em uma operação barata, quando comparada com o preparo
convencional; além de rápida, a área pode ser aproveitada até o momento
da semeadura (White, 1981).
Uma das possibilidades de aproveitamento da renovadora de
pastagens é a complementação da produção de espécies estivais,
através da introdução de forrageiras de estação fria no outono (Barreto
& School, 1972; citados por Nabinger, 1980). Os autores citados obtiveram,
em três anos, ganho de peso médio de aproximadamente 190, 187, 207,
171 e 199kg PV/ha durante o inverno e a primavera, em 115 dias de
pastejo, com aveia implantada sobre capim-bermuda, capim-pangola,
capim-de-rhodes, setaria e pensacola, respectivamente. É importante
destacar que o aumento de peso vivo foi obtido justamente em uma época
em que os animais perdem peso em pastagem natural.

153
Figura 30. O uso de renovadora de pastagem somente é possível em
áreas mecanizáveis

O uso da renovadora de pastagens apresenta alguns problemas.


O de maior importância, citado por diversos autores, é a competição
oferecida pelas espécies já existentes. Carámbula (1997) adverte para o
fato de que estas máquinas não são apropriadas para solos mal dre-
nados, pois o excesso de água no sulco provoca uma sensível diminuição
na porcentagem de estabelecimento e crescimento das espécies. No
entanto, o maior empecilho para utilização dessa técnica no Planalto
Catarinense é o mesmo do preparo superficial com grade, ou seja, a maior
parte das áreas de pastagens nativas apresentam relevo acidentado e
com afloramento de rochas, o que impede qualquer tentativa de
mecanização.
Quando se avaliou a eficiência de diferentes métodos de implantação
de espécies forrageiras sobre pastagem natural no Uruguai, obtiveram-
-se os seguintes resultados: grade de discos e passagem posterior de
rolo compactador, 100% de eficiência; apenas grade de disco, com 80%;
e semeadura em cobertura, com 34%. A renovadora de pastagens
apresentou resultados pouco satisfatórios em função da competição
exercida pela vegetação natural (Termezana & Carámbula,1971, citados
por Carámbula, 1977). Outras conclusões foram extraídas dessa avaliação:
as maiores porcentagens de estabelecimento foram alcançadas, em
ordem decrescente, com grade, sobressemeadura e renovadora de

154
pastagem; as plântulas se desenvolveram melhor com a utilização da
renovadora, em função da presença do fertilizante próximo à semente, e
com a grade. No entanto, segundo Vincenzi (2001), a vantagem dos
métodos que abrem o solo ocorre apenas no ano da implantação. A partir
do segundo ano, após a ressemeadura natural das espécies introduzidas,
os rendimentos tendem a ser similares.
Em Esmeralda, RS, município localizado na região serrana,
extensionistas implantaram, com sucesso, várias unidades de observação
(UOs) de melhoramento do campo nativo, com trevo branco, cornichão,
azevém e aveia preta. Quanto aos métodos de implantação, para as
leguminosas não houve diferença acentuada entre a utilização de grade,
a lanço e renovadora de pastagens. Para as gramíneas, o estabelecimento
a lanço foi menor, o que pode ser explicado pela dificuldade que as
sementes têm para um bom contato com o solo. É importante registrar que
estas UOs foram implantadas no início de julho (Mota, 1996).
As principais diferenças entre semeadura sem cultivo mecânico,
com preparo superficial do solo e cultivo convencional, foram sintetizados
por Pearson & Ison (1994) e acrescidas de algumas informações para as
condições do Planalto Catarinense (Tabela 42).

Tabela 42. Implicações dos principais métodos de implantação de


pastagens

Sem cultivo Cultivo Cultivo


Características
mecânico reduzido convencional

Risco de erosão Baixo Mínimo Alto


Consumo combustível Baixo Baixo a médio Alto
Custo de mão-de-obra Baixo Médio Alto
Necessidade de Poucos (manual, Grade ou Arados,
implementos máquina renovadora cultivadores, grades,
a lanço ou avião) de pastagens semeadoras, etc.
Manejo da cobertura Apenas rebaixada Idem Incorporada
superficial existente com pastejo ou queima
Competição radicular Alta, porém depende Alta (reduzida pela Baixa ou inexistente
com as novas da cobertura existente utilização de
espécies herbicidas)
Competição por luz Variável, dependendo Idem Baixo, com bom
do manejo controle de plantas
indesejáveis
Contato semente com Pouco contato, com Variável, dependendo Bom
o solo perdas de sementes da intensidade do
cultivo
(Continua)

155
Tabela 42 (continuação)

Sem cultivo Cultivo Cultivo


Características
mecânico reduzido convencional

Controle de plantas Depende de práticas Idem (podendo ser Eficiente


indesejáveis de manejo utilizado herbicidas)
Profundidade de Sem controle Depende da Possível controlar
semeadura máquina, umidade
do solo, etc.
Tempo para utilização Até um ano No ano da Idem
semeadura (três a (40 a 50 dias)
quatro meses)
Problemas na Nenhum, melhora a Idem Pode ocorrer, mas
estrutura do solo longo prazo tem a opção de usar
subsolador
Umidade do solo para Crítica, escolha da Menos crítica, Não constitui
introdução espécies época adequada variável com a fator crítico
pode atenuar cobertura morta
Temperatura do solo Sementes ficam Risco pode ser Depende do tipo
pós e pré-introdução expostas a condições reduzido, com o tipode solo e da
extremas de cultivo e a época
profundidade
do plantio
Colocação de Na superfície, sem Passível de controle: Pode ser
corretivos e controle lado ou embaixo da controlado, depende
fertilizantes semente do implemento
Relevo do terreno Influem, mas não Impossibilitam: Idem, cultivo
e pedregosidade impedem o uso áreas reduzido
declivosas e
afloramento

Fonte: Pearson & Ison (1994), adaptado.

2.9 Manutenção e incremento das espécies introduzidas

A maioria dos princípios e das práticas que serão discutidas no item


3 “Manejo de pastagens naturais”, são igualmente aplicáveis às melhoradas
com introdução de espécies. Dessa forma, a preocupação é apresentar
nesse item o manejo diferenciado e necessário para manter e incrementar
tais áreas, de forma que o retorno do investimento realizado se torne mais
seguro. Na implantação de pastagens perenes, além dos aspectos
produtivos e qualitativos, deve-se dar igual importância às suas condições
de persistência. Esta observância é que permitirá utilizar estas áreas por
vários anos, diluindo, desta forma, os custos de implantação ao longo do
tempo.

156
Persistência é a manutenção de um estande de plantas suficiente
para cumprir com as exigências e expectativas do sistema de produção
(Garcia, 1992). É resultado da ação de diversos fatores, como: clima,
solo, cultivares, moléstias, pragas, manejo, competição, etc. As
leguminosas têm geralmente uma menor amplitude de adaptação e
menor tolerância ao estresse ambiental e de pastejo que as gramíneas,
exigindo, portanto, melhor manejo para persistir e permanecer produtivas
(Buxton, 1989, citado por Garcia, 1992).
A implantação do melhoramento realizada no final da estação fria
favorece a competição do campo nativo. Com a temperatura em elevação,
as pastagens naturais iniciam sua estação de crescimento, concorrendo
em maior grau com as plantas introduzidas, ainda muito jovens. Esta
competição é amplamente desfavorável, visto que a vegetação nativa, há
muito adaptada às condições originais, tem, a partir deste momento,
condições mais favoráveis de pH e de fertilidade do solo. Quando isto
acontecer, o recomendável é efetuar o pastejo com animais jovens, ou
mais leves, que irão consumir primeiramente a vegetação nativa, que se
encontra em fase inicial de brotação. Desta forma, será diminuída a
competição por água, luz e nutrientes. É importante que nunca se utilize
o melhoramento com ovinos ou eqüinos no período de estabelecimento,
que se estende da sobressemeadura até o diferimento para a
ressemeadura natural. Estas espécies animais têm por hábito o pastejo
seletivo e o rebaixamento excessivo da pastagem, comprometendo
demasiadamente as reservas e os pontos de crescimento das plantas
introduzidas. Também conseguem arrancar, pelo ato do bocado, aquelas
plantas que ainda não apresentam o sistema radicular muito desenvolvido.
Dependendo da intensidade de uso por parte destes animais, pode haver
uma acentuada redução do estande das espécies introduzidas.
A capacidade de produzir sementes é uma das características mais
desejáveis em plantas forrageiras, principalmente tratando-se de espécies
perenes que dependem desta característica para persistir ao longo dos
anos. Assim, o manejo deve ser orientado no sentido de permitir que, em
determinados períodos do ano, elas concluam os processos de
florescimento e frutificação, formando um bom estoque de sementes no
solo, e assim continuarem produtivas por muito tempo. O desaparecimento
de leguminosas como resultado de manejos incorretos é muito comum,
pois, na prática, o manejo do pastejo realiza-se mais em função dos
animais que das exigências da pastagem (Garcia, 1992).
Um manejo durante a primavera, que permita uma adequada
formação de sementes e assegure a ressemeadura tanto de leguminosas
anuais quanto de perenes, assim como as utilizações moderadas durante

157
o verão são práticas muito importantes para a persistência da pastagem
melhorada (Tothill, 1981; Carriquiry, 1992).
Em um ensaio, no qual, entre outros aspectos, foi determinada a
quantidade de sementes depositadas sobre o solo por ressemeadura
natural, Flaresso & Saibro (1992) obtiveram os maiores rendimentos
(65,8 e 50,2kg/ha) quando os cortes foram feitos no maior intervalo (nove
semanas), à altura de 5 e 10cm, respectivamente. Esta condição provocou
as maiores freqüências de plantas de cornichão na área, 64,7% e 63,7%,
respectivamente. Entretanto, Olmos (1994) obteve quantidades bem
inferiores de sementes de cornichão depositadas sobre o solo, quando
comparou três sistemas de cultivo mínimo: com escarificador, com grade
e com grade mais escarificador. As quantidades encontradas foram de 3;
5 e 2kg/ha, respectivamente. Estas quantidades refletiram-se em uma
redução do estande no outono seguinte. Também um pequeno banco de
sementes no solo foi encontrado por Prestes (1995), avaliando períodos
de diferimento, como forma de melhorar a capacidade de persistência do
cornichão. No referido ensaio, encontrou-se 0,31, 0,94 e 1,56kg/ha de
sementes no solo, para os períodos de sem diferimento, 28 e 56 dias de
descanso, respectivamente. A manifestação do banco de sementes
encontrado refletiu-se sobre o estande final da avaliação, que foi de 26,
50 e 51 plantas de cornichão por metro quadrado, para a mesma ordem
dos tratamentos, respectivamente (Prestes & Jacques, 2002), ficando
evidente que períodos maiores de descanso proporcionam a maturação
de uma maior quantidade de sementes e, por conseqüência, um maior
número de plantas desta espécie. Neste mesmo ensaio, obteve-se efeito
positivo e significativo da adubação de final de verão para a produção de
MS, para o banco de sementes e para o estande final do cornichão,
independentemente dos tratamentos de diferimento aplicados.
Nas condições de Bagé, RS, o cornichão São Gabriel, em cultivo
convencional, apresentou uma produção de 1.847kg de MS/ha no primeiro
ano. Nos dois anos seguintes, estas produções atingiram valores de
4.825 e 7.367kg/ha de MS, respectivamente. Como foi realizada apenas
uma única semeadura no início do experimento, pode-se atribuir, em
parte, esta elevação dos rendimentos verificados a partir do segundo ano
à ressemeadura natural (Brasil et al., 1987b). Portanto, a população de
plântulas presentes no outono em anos sucessivos à instalação pode ser
usada como medida do sucesso do melhoramento (Carámbula et al.,
1994).

158
O descanso estratégico ou diferimento por um período que pode
variar de 40 a 60 dias, durante os meses de dezembro e janeiro, permite
a formação de sementes e assegura a ressemeadura natural tanto das
leguminosas anuais quanto das perenes (Figura 31). Também as
utilizações moderadas durante o verão e a manutenção do resíduo de
pastejo a uma altura de 7 a 10cm são práticas essenciais para a
persistência da pastagem melhorada. Neste caso específico, a persistência
das espécies introduzidas é fundamentalmente dependente do manejo e
também da ressemeadura natural, como no caso do cornichão e do trevo
vermelho. Também é importante a manutenção da fertilidade, nas
quantidades de 100 a 150kg/ha de adubo, aplicado no início da primavera
ou final do verão, ao longo dos anos, para todas as espécies, tornando-
-se mais efetiva em condições adequadas de luminosidade, temperatura
e umidade, que favoreçam a germinação das sementes e assegurem a
sobrevivência das plantas jovens.

Figura 31. O diferimento permite o florescimento e a conseqüente


ressemeadura natural das espécies introduzidas

159
Apesar de a ressemeadura natural ter efeito direto sobre a
manutenção e aumento do estande das espécies introduzidas, o diferimento
pode ser dispensado, desde que analisada a relação custo/benefício
para esta medida. O motivo para isso é bastante simples. No período em
que a pastagem deve estar em descanso, para permitir a formação das
sementes, encontra-se também em seu estádio de maior produção de
forragem. Assim, o rendimento em ganho de peso obtido pelos animais em
pastejo nesse mesmo período pode compensar a aquisição e reintrodução
de sementes no próximo outono-inverno.
Quando se optar pela permissão ao florescimento e maturação das
sementes, o diferimento, da área total do melhoramento, somente se faz
necessário no ano de implantação. Nos anos seguintes, com essa mesma
área estando dividida e adotando-se o pastejo rotativo, um ou outro
piquete estará em descanso na época mais indicada para a ressemeadura
natural. Outra vantagem da ressemeadura natural é o surgimento de
plantas selecionadas ao ambiente da propriedade em que estão sendo
introduzidas. No caso do trevo branco, por exemplo, esta seleção é muito
rápida. Carámbula (1977) acrescenta que no fim do verão, antes da
germinação das sementes provenientes da ressemeadura natural das
espécies introduzidas no ano anterior, é necessário o uso do pastejo
intenso para eliminar a competição da flora estival, que deve ser mantida
sempre baixa neste período; em seguida, recomenda-se proceder à
aplicação de P em cobertura, para favorecer o desenvolvimento das
leguminosas. Após o pastejo intenso, a roçadeira pode ser utilizada para
o controle de plantas indesejáveis, como forma de prevenir o surgimento
de focos de degradação da pastagem.
O diferimento também pode ser usado para a expansão das áreas
melhoradas, ou melhorar o estande das já implantadas, visto que os
trevos e o cornichão têm capacidade de passar pelo sistema digestivo dos
animais e germinar na bosta, como mostra a Figura 32. Os animais,
consumindo flores que contêm um grande número de sementes maduras,
acabam por distribuí-las através das bostas. Então, após o consumo da
forragem nessas condições, os animais permanecem onde estão, ou são
levados para outras áreas previamente corrigidas e adubadas,
conseguindo-se, desta forma, reduzir em muito os custos de implantação.
Carámbula (1997) apresenta, de forma esquemática, como proceder
o manejo do melhoramento ao longo do ano para alcançar altas pro-
duções e persistência, como mostra a Figura 33.

160
Figura 32. As áreas de melhoramento podem ser expandidas pelo manejo
da bosta, desde que atendidas as exigências de correção da acidez e
fertilidade
Limpeza
do solo
Pastejo co ntrolado
Adubação para ressemeadura
Regener ação natur al
natural
Pastejo
m uito
co ntrolado Diferim ento Pastejo norm al

----------- -----------
J F M A M J J A S O N D

V erão Outono Inverno Primavera

Legenda: ____ Pastejo norma l ---- ---- Pa stejo controlado

Fonte: Carámbula (1997).


Figura 33. Manejo estacional das pastagens melhoradas. Períodos de
pastejo, diferimento, época de limpeza, e adubações. Os limites entre as
práticas culturais são flexíveis, segundo as condições predominantes

161
2.10 Literatura citada

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consorciadas ou não com capim de Rhodes, introduzidas em pastagem
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173
174
3 Manejo de pastagens naturais e melhoradas
Ulisses de Arruda Córdova33
Nelson Eduardo Prestes34

Além da introdução de espécies, diversas práticas de manejo


podem melhorar sensivelmente a produção dos campos naturais do
Planalto Catarinense. O aumento da produção está relacionado a uma
“ação constante de fatores bióticos, que condicionam a vegetação num
grau de equilíbrio que propicie a permanência das melhores espécies”
(Nabinger, 1980). Para Schreiner (1991) “o manejo de uma pastagem
pode ser definido como a difícil arte de conciliar o máximo de crescimento
da vegetação com o máximo de sua utilização por parte dos animais”. Para
Alvim (1990), “o manejo das pastagens tem como objetivo maximizar o
lucro do produtor, evitar riscos, estresses desnecessários sobre o animal
e manter o equilíbrio do ecossistema”.

O manejo das pastagens requer que se acumule, se transfira e se faça


rotatividade para os períodos de escassez; é a conciliação entre a
alimentação sem restrição e a manutenção da qualidade das pastagens
durante o período de excedentes. (...) A produção animal sustentada
depende da manutenção satisfatória da composição, densidade e
produção das espécies de pastos (Sheath et al., s.d.).

Para Euclides Filho (1999), o manejo adequado das pastagens


constitui um dos elementos fundamentais para incrementar os níveis de
produtividade. Estudos sobre fisiologia das forrageiras e suas relações
com o manejo são de importância fundamental para o entendimento dos
níveis de produção das pastagens e, conseqüentemente, para o
estabelecimento de sistemas mais produtivos e eficazes.
A recomposição das forrageiras, após o corte, é feita a partir da
mobilização de reservas que a planta acumula principalmente nas raízes
e na parte aérea (Schreiner, 1991). Plantas componentes de pastagens
podem sobreviver ou morrer. Aquelas que sobrevivem ao pastoreio
respondem por mudanças na forma ou na função. A curto prazo, ocorrem
mudanças fenotípicas. Mas após longos períodos ocorrem alterações na

33
Eng. agr., M.Sc., Epagri/Estação Experimental de Lages, C.P. 181, 88502-970
Lages, SC, fone/fax: (49) 224-4400, e-mail: ulisses@epagri.rct-sc.br.
34
Eng. agr., M. Sc., Epagri/Estação Experimental de Lages, e-mail: prestes@epagri.rct-
sc.br.

175
composição botânica da pastagem e até mudanças genéticas dentro das
populações (Favoretto, 1993).

A desfolhação, que é usualmente parcial em plantas de pastagens, induz


a mudanças compensatórias no funcionamento de vários órgãos da
planta. Essas incluem (...) redistribuição de assimilados, especialmente
carboidratos, dentro da planta, estímulo à produção de hormônios que
promovem e controlam o desenvolvimento de meristemas, crescimento
reduzido de raízes e redução na fixação de N em raízes de leguminosas.
Esses ajustamentos fisiológicos contribuem para a recuperação da
planta e início de novo crescimento (id).

Segundo Zuñiga (1985), além da redução da área foliar, o pastoreio


altera a fisiologia interna da planta, o desenvolvimento dos perfilhos, das
folhas e raízes, assim como provoca modificações no microclima das
plantas, introduzindo fatores como o pisoteio, o retorno dos excrementos
e a dispersão de sementes. A disponibilidade de forragem, a qualidade,
a estrutura da vegetação e a composição florística e morfológica são os
fatores que mais condicionam a ingestão de pasto pelos animais (Moreira,
1995).
Sheath et al. (s.d.), com base na grande experiência neozolandadesa
no aproveitamento intensivo de pastagens montanhosas, enumeraram e
descreveram os cinco princípios fundamentais de manejo:
1o – Equilibrar o melhor possível a produção com a demanda.
Identificar as deficiências da pastagem e os períodos de alta exigência
nutricional e tentar transferir o consumo para esses períodos, através do
uso de rotações longas. Identificar as classes prioritárias do rebanho e,
na seqüência do pastoreio, dar-lhes preferência.
2 o – Formar uma pastagem de composição desejável. O
manejo das pastagens deve favorecer a manifestação de todo o potencial
da pastagem permitido pelas condições de clima e de fertilidade do solo.
Deve-se evitar o pastoreio excessivo durante as épocas de secas e o
subpastoreio durante os períodos de excedentes.
3o – Assegurar uma pastagem densa e de cobertura foliar
ativa. Evitar as situações de massa extrema, altas e baixas. Coberturas
de densidades baixas reduzirão as taxas de crescimento do pasto. Isso é
mais notado durante o final da primavera a do verão.
4o – Manter a qualidade nutricional do pasto. Assegurar que a
massa foliar seja tão alta quanto o clima e outros fatores o permitam. A

176
subutilização é o principal aspecto limitante; seu impacto é minimizado
pela integração de classes de rebanho (bovinos/ovinos) e, sendo possível,
através da conservação do excedente por fenação e silagem.
5o – Ser flexível no manejo das pastagens. Um excelente
manejo do pastoreio sempre é uma conciliação (densidade de pastagem
versus intensidade de pastejo). Identificar o objetivo principal do manejo
para a época específica, pastagens e animais e desenvolver uma
abordagem que satisfaça este objetivo sem prejudicar outros componentes
que limitariam a produção (rotação excessivamente longa). O manejo
deve retificar o fator mais limitante da produção em curso.
Para Carámbula (1997), em qualquer estabelecimento, a produção
animal está estritamente relacionada com a quantidade e qualidade de
forragem disponível durante a época invernal. Qualquer estratégia que
permita enfrentar esta situação mediante o aumento do número de dias
de pastoreio, prolongando uma oferta de forragem durante o inverno,
incrementará sensivelmente a rentabilidade do produtor.
Conforme Damé (1995), “a utilização dos campos naturais significa
uma possibilidade de minimização de impactos ambientais e da
dependência tecnológica, econômica e política de nações mais
desenvolvidas”. Afirma ainda que vem se fazendo um uso predatório
desse importante recurso e que “muito pouco conhecimento existe sobre
o solo, fauna e sua flora”. E justamente esse conhecimento reduzido é a
origem das dificuldades para se manejar melhor os campos naturais e as
pastagens melhoradas, pois não há uma quantidade suficiente de
informações básicas que auxiliem na recomendação de técnicas mais
sustentáveis e que venham a ser adotadas pelos produtores. As principais
serão discutidas neste item.

3.1 Diferimento

As definições de diferimento35 registradas na literatura são muito


semelhantes, embora se encontrem poucos ensaios ou artigos técnicos
que analisem essa técnica na literatura sobre alimentação animal no
Brasil. O conceito emitido por Araújo (1967) é o encontrado com mais
freqüência em trabalhos envolvendo manejo de pastagens:

35
Como sinônimos de diferimento (que é o termo mais usual) são encontrados
pastoreio protelado ou estacional; popularmente, no Brasil Central, é usado o termo
“vedar” um potreiro ou uma invernada.

177
Consiste em protelar o pastoreio até que haja terminado a maturação das
sementes das espécies desejáveis. Finda a disseminação, a pastagem
é novamente ocupada pelos animais até a estação de crescimento
seguinte, quando são retirados para permitir a germinação e o
estabelecimento de novas plantas, garantindo a renovação e o
adensamento do estande [que, segundo Nabinger (1980), é função direta
da quantidade de sementes produzidas anualmente].

A ressemeadura natural torna-se mais importante onde não é


possível a introdução de sementes através de máquinas, em função da
declividade e do afloramento de rochas. Um enfoque mais abrangente e
que explora melhor a finalidade do diferimento é o apresentado por Alvim
(1990):

É um tipo específico de pastoreio rotativo, no qual os animais são retirados


da pastagem antes do término do período de maior crescimento das
plantas. Esse descanso permite acumular alimentação no campo, para
ser pastejada no período de escassez de forragem para o animal, além
de garantir a preservação da espécie que constitui a pastagem, através
da ressemeadura natural (Figura 34).

Segundo Jacques & Nabinger (2002),

o diferimento é uma prática muito utilizada em todo o mundo. Consiste em


excluir (vedar) do pastejo uma determinada área, por um certo período,
aproveitando o acúmulo de forragem produzida em época favorável para
ser utilizado mais tarde numa época de escassez de alimentos para os
animais. É uma maneira de lidar com a sazonalidade de pastos, que
também ocorre em qualquer parte do mundo. É praticamente de custo
zero e muito simples de ser utilizada.

Um bom manejo de pastagens e animais se consegue quando em


certas épocas do ano é possível acumular forragem em pé e se difere para
sua posterior utilização. Dessa maneira um manejo bem sucedido das
pastagens envolve necessariamente a possibilidade de propiciar-lhes
descansos oportunos, com o objetivo de aproveitar melhor o crescimento
produzido em épocas favoráveis (Carámbula, 1997).
No Planalto Catarinense, alguns produtores costumam utilizar o
diferimento quando reservam as invernadas ou potreiros de terrenos
mais abrigados para utilização no inverno, concentrando o rebanho nas
invernadas mais descampadas. Muitos, porém, o utilizam de maneira
parcial, mesmo que inconscientemente, quando queimam de forma
alternada metade da área num ano e a outra metade no ano seguinte,

178
pois, na primavera-verão, os animais permanecem o maior tempo na
parte queimada, sobrando, na parcela não queimada, praticamente toda
a massa produzida nessas estações. O problema é que a lotação não é
ajustada e há um excesso de pasto na área “diferida”.

Figura 34. Animais retornando a uma pastagem natural melhorada,


diferida para ressemeadura natural. Município de Bom Retiro, SC,
propriedade de Gustavo Wiggers e Wilson Kauling

O período de duração do diferimento afeta a quantidade e a


qualidade de forragem acumulada. Assim, é necessário dispor de espécies
que, além de oferecerem bons rendimentos, mantenham valor nutritivo
satisfatório e palatabilidade até o momento da utilização (Primo, 1993).
Isto implica que as áreas a serem diferidas tenham, na sua composição
botânica, forrageiras que atendam a tais características, evitando aquelas
invernadas ou potreiros em que predominam espécies mais grosseiras,
as quais, após a maturação, não serão consumidas.
Como objetivos importantes do diferimento, além de permitir a
ressemeadura e do armazenamento in situ de forragem, quando as

179
condições ambientais são favoráveis, cita-se “adequar a lotação em
função da flutuação estacional das pastagens naturais”; melhorar a
“condição da pastagem, favorecendo o aumento da contribuição de
espécies desejáveis na composição botânica” (id.); reproduzir plantas,
estabelecer novas plantas ou recuperar o vigor das já existentes,
especialmente das espécies mais importantes (Heady, 1975, citado por
Primo, 1993). Conforme Vincenzi (1994), o diferimento “é uma forma
prática do produtor selecionar forrageiras mais adaptadas às condições
predominantes na sua propriedade”. Andrade (1948), citado por Araújo
(1967), destaca também como vantagem do diferimento o enraizamento
mais profundo e a ramificação das espécies forrageiras, além da maior
oportunidade de competição com as plantas invasoras.
Segundo Primo (1993), os efeitos do diferimento podem ser
avaliados sobre o solo, a vegetação e a produção animal. Quanto ao solo,
Nabinger (1980) afirma que o pastoreio intenso, por muitos anos
seguidos, “conduz à compactação, favorecendo a erosão, devido à baixa
velocidade de infiltração da água, ocasionando escorrimento super-
ficial”, o que resulta em “menor desenvolvimento de raízes e conse-
qüentemente menor crescimento da parte aérea, além de aumentar a
suscetibilidade das plantas à seca”. O diferimento pode diminuir a
compactação, pois

o descanso da pastagem determinará um acúmulo de matéria orgânica


e desenvolvimento de raízes, o que provoca a melhora da estrutura do
solo. A acumulação de matéria seca na superfície do solo é especialmente
útil para reduzir a compactação pelo pisoteio e chuva, assim como evitar
o escorrimento superficial e a evaporação rápida, mantendo o solo mais
úmido (id).

A época de diferimento tem influência direta na composição botâ-


nica da pastagem. Moojen (1991), estudando “o potencial produtivo de
uma pastagem nativa submetida a pressões de pastejo, épocas de
diferimento e níveis de adubação” em Eldorado do Sul, RS, verificou a
maior freqüência de ocorrência das seguintes espécies, de acordo com
as estações do ano:
• Outono: Eryngium ciliatum, Paspalum paucifolium e Sporobulus
indicus.
• Inverno-primavera: Eryngium ciliatum, Briza spp., Piptochaetium
spp. e Setária geniculata.
• Verão: Desmodium incanum; Piptochaetium spp. e Setária
geniculata.
Estudos realizados pelo pesquisador e professor Milton Carámbula

180
no Uruguai, com diferimento em pastagens extensivas melhoradas levaram
às seguintes conclusões (Carámbula, 1997):
• O diferimento deve ser iniciado no fim do verão e início de outono,
já que à medida que se posterga o seu começo, os rendimentos acumulados
são cada vez menores, pois o maior potencial do melhoramento se
materializa antes que se registrem os dias curtos e as temperaturas
baixas.
• Quanto mais tarde se inicia o período de acumulação, menor será
a quantidade de matéria seca disponível para a época de escassez
forrageira.
• É importante iniciar o diferimento depois da utilização da pastagem,
de realizadas as roçadas de limpeza e a adubação anual.
Segundo Sampson (1951), citado por Moojen (1991), “o diferimento
tem efeitos benéficos mais evidentes na recuperação de pastagens
sobrepastejadas do que em pastagens em condições altamente produtivas”.
O tempo de evolução para uma melhor condição é bastante variável,
estando as diferenças “relacionadas a solos, clima, competição de
espécies e estoque de sementes disponível”.
As variações na freqüência das espécies, em função da época de
diferimento, são justificadas pela diferente fenologia das plantas que
compõem as pastagens. Dessa forma, diferindo em estações do ano
distintas, o conjunto das forrageiras beneficiadas não será o mesmo
(Rosito, 1993). Assim, quando o objetivo é promover espécies de distintos
ciclos, o diferimento em rotação é a melhor alternativa (Anderson, 1967;
citado por Primo, 1993). As Tabelas 43 e 44 são exemplos de esquemas
de diferimento em rotação que podem ser adotados onde o número de
invernadas (ou potreiros), de categorias animais e o período de pastoreio
podem ser adequados a cada propriedade. Embora ambos proponham
períodos muito longos, que variam de oito a 12 meses de diferimento, é
evidente que podem ser reduzidos, de acordo com os fatores citados
acima.
Na Tabela 43 o autor sugere usar a queima “para eliminar o
crescimento excessivo da vegetação grossseira e/ou de invasoras
arbustivas. O fogo seria usado em situações que impedem a utilização de
roçadeira”.
Para favorecer a renovação da pastagem com permanência das
melhores espécies, utilizando o diferimento, é necessário, logicamente,
conhecer os períodos de florescimento dessas espécies. Primo (1993)
adverte que em algumas comunidades vegetais esta prática não deve ser
empregada em determinadas épocas:

181
Em áreas grandemente infestadas por capim-annoni 2 (Eragrostis plana
Ness), seria desastroso fazer diferimento de primavera-verão, pois
intensificaria a disseminação dessa terrível praga. Em certas formações
campestres, onde predomina o capim-caninha (Andropogon lateralis
Ness), o uso de diferimento em época inadequada, resultará em oferta
aos animais de forragem de menor qualidade e com baixo consumo.

Tabela 43. Esquema de diferimento com um rebanho, quatro potreiros e


três períodos de pastoreio

Ano 1 Ano 2 Ano 3 Ano 4


Potreiros/
invernadas
J/A M/A S/D J/A M/A S/D J/A M/A S/D J/A M/A S/D

Primeiro P P P

Segundo P P P

Terceiro P P P

Quarto P P P

Nota: J/A = janeiro a abril; M/A = maio a agosto; S/D = setembro a dezembro;
P = pastoreado.
Fonte: Anderson (1967), citado por Primo (1993).

Figura 44. Modelo de diferimento com três rebanhos, quatro potreiros e


pastoreio contínuo
Potreiros/
Ano 1 Ano 2 Ano 3 Ano 4
invernadas

Primeiro Diferido - Q/R Gado geral Novilhas Bois


Segundo Gado geral Novilhas Bois Diferido - Q/R
Terceiro Novilhas Bois Diferido - Q/R Gado geral
Quarto Bois Diferido - Q/R Gado geral Novilhas

Nota: Q = queima.
R = roçada.
Fonte: Anderson (1967), citado por Primo (1993).

182
Outra prática de manejo que pode ser utilizada através de diferimento
é o banco de proteínas36 (Amaral & Oliveira, 1985; Jacques, 1995). São
áreas estabelecidas com leguminosas produtivas, diferidas em períodos
favoráveis de produção para uso através de pastoreio controlado, nas
épocas mais críticas (inverno). O controle do consumo é feito com o
acesso dos animais aos piquetes apenas algumas horas por dia37. O
banco de proteínas justifica-se pelo fato de a presença diária de N ser
essencial ao funcionamento normal da microflora do rúmen. Níveis
inferiores a 1% de N afetam o seu desenvolvimento, com conseqüente
decréscimo da digestibilidade, velocidade de passagem e consumo de
alimento. Tal decorrência determina não só a eficiência de proteína, mas
também de energia (Amaral & Oliveira, 1985).
O diferimento constitui uma prática adequada para aumentar a
produção dos campos naturais e das pastagens melhoradas, pela
possibilidade do ajuste da lotação em função da flutuação estacional da
produção. O trabalho realizado pela Estação Experimental de Vacaria,
RS, na década de 50, demonstra esse potencial (Grossman & Mohrdieck,
1955):

Uma área de 10ha, suportando uma lotação de oito animais, foi dividida
em dois potreiros iguais. Durante a estação quente os animais foram
concentrados numa das partes de 5ha o que representa 1,6 animais/ha,
em comparação com a lotação usual de 0,5 cab./ha. O outro potreiro foi
diferido e ceifado duas vezes durante o ano, com o feno produzido sendo
oferecido aos animais nos meses de inverno, quando eles passaram a
pastorear toda a área de 10ha (portanto, lotação de 0,8cab./ha).

As conclusões do experimento, importantes para o manejo do


campo nativo são estas (Tabela 45): a) no verão, mesmo com rendimentos
baixos por cabeça (indicando carga muito alta), o ganho de peso por
hectare foi 13,81% superior, se considerarmos toda a área envolvida
(10ha) no sistema diferido ou mais que o dobro (132%) quando considerado
apenas o potreiro sob pastoreio; b) os animais que receberam feno38 do
diferimento durante o inverno perderam, em média, 19kg, enquanto que

36
O professor Mário Vincenzi, da UFSC, prefere o termo legumineira.
37
Na propriedade do professor Aino Jacques (André da Rocha, RS), os animais têm
acesso ao banco de proteínas durante 30 minutos diários, num sistema diferido-
-rotativo.
38
Os animais tiveram livre acesso às medas de feno durante os três meses de
inverno, de junho a agosto.

183
pelo tratamento usual perderam 88kg; c) as médias anuais de ganho por
cabeça foram semelhantes em ambos os sistemas, mas o ganho de peso
por hectare alcançou 72% a mais no pastoreio diferido com suplementação
de feno e d) “o uso de lotações mais pesadas durante o período de
crescimento intenso na estação quente e o diferimento de certas áreas
para a reserva de pasto ou para fenação constituem-se em técnicas
aconselháveis para suprir os períodos de escassez”.

Tabela 45. Efeito do diferimento de pastagem natural sobre os ganhos


estacionais de bovinos em Vacaria, RS

Ganho de peso
Sistema Lotação
e época cab./ha
kg/cab./dia kg/cab. kg/ha

Verão (210 dias de pastoreio)


Diferido 1,6 0,538 113 90,4 (180,8)(1)
Normal(1) 0,5 0,744 156 78,0

Inverno (90 dias de pastoreio)


Diferido 0,8 - 0,211 -19 - 15,2
Normal 0,5 - 0,977 -88 - 44,0

Total do período (300 dias de pastoreio)


Diferido 1,6 a 0,8 0,313 94 75,2 (165,6)(1)
Normal 0,5 0,227 68 34,0

Ganho obtido na área utilizada com pastoreio.


(1)

Fonte: Grossman & Mohrdieck (1955). Estação Experimental de Vacaria


(adaptado).

Segundo Vincenzi (1994), o momento de diferir irá depender de


vários fatores, como: época de florescimento das (principais) espécies
forrageiras e época de necessidade de utilização da pastagem. Para os
campos naturais, sugere o final da primavera, quando estão em franca
produção (Figura 35). Para Paim & Boldrini (1993), que defendem no uso
dos campos naturais a necessidade de conciliação entre produção animal
e aspectos ecológicos, visando à preservação e ao desenvolvimento de
todo o ecossistema e pela diversidade de espécies, o diferimento deve
obedecer a épocas apropriadas para permitir a ressemeadura natural e

184
sugerem meados de primavera e início do outono. Com estes procedi-
mentos de manejo, se estaria favorecendo os dois grandes grupos de
espécies: as de produção hibernal e as de produção estival.

Figura 35. Pastagem natural diferida no final da primavera por 73 dias


(9/12/1997 a 21/2/1998). Município de Capão Alto, propriedade de Elias
Daniel Silva Santos

Para o Planalto Catarinense, em experimento realizado em campo


tipo palha grossa, Macedo et al. (1997) obtiveram o melhor resultado
quando o diferimento ocorreu em janeiro e a reutilização em julho, devido
à maior quantidade de nutrientes digestíveis totais acumulados neste mês
(Tabela 46).
Para se dispor de forragem diferida durante o inverno, são
necessárias espécies que, além de oferecerem bons rendimentos,
mantenham a qualidade e a palatabilidade até o momento da utilização,
pois o manejo do rebanho deve ser conduzido de tal forma a não afetar
os animais no outono. Não se trata de antecipar a época de crise de
alimentação para essa estação. Assim, é necessário contar também com
boas pastagens que permitam concentrar o gado desde o início do
diferimento (Carámbula, 1977).
A complementação do período de diferimento com as fertilizações,
especialmente quando se utiliza nitrogênio, é uma alternativa para
equilibrar a quantidade com a qualidade (teor de proteína), de acordo
com as necessidades dos animais (id.). A principal desvantagem do

185
diferimento, segundo Stoddart & Smith (1943), citado por Primo (1993),
é a oferta de uma dieta de menor qualidade. Destacam ainda, que em
vegetações que se tornam muito grosseiras após a maturação, a opção
por essa técnica não é recomendável.

Tabela 46. Forragem acumulada em função da época de diferimento e de


reutilização

Época Época de reutilização


de Média
diferimento Maio Junho Julho(1) Agosto

...................................MS/ha.......................................

Janeiro 925 1.038 1.318 1.327 1.152a


Fevereiro 660 774 1015 1043 873 b
Março 535 578 797 844 689 c
Abril 414 453 683 752 576 d
Média 634c 711 b 953a 991a 822

Mês com maior acumulação de nutrientes digestíveis totais (43,97%).


(1)

Fonte: Macedo et al. (1997).

A eficiência do diferimento dependerá amplamente das condições


ambientais, em especial das climáticas durante o outono; a quantidade de
forragem acumulada será tanto maior quanto mais favorável forem os
registros de chuvas e temperaturas (Carámbula, 1997).

3.2 Pastoreio rotativo

Na literatura agronômica existe uma grande diversidade de tipos de


pastoreio registrados39, muitos com pequenas variações, diferindo mais
pela nomenclatura do que pelo método em si ou “do ponto de vista da
produção animal” (Cosgrove, 1992). Holmes (1989), citado por Moreira
(1995), faz uma interessante análise sobre esse aspecto:

39
Alguns: contínuo, Pastoreio Racional Voisin (PRV), pastoreio em estaca, rotacionado,
diferido, misto, alternado, seletivo, superpastejo, pesado, subpastoreio, zero,
racionado, rotativo racional, pasto-hora, etc.

186
Embora existam diversas realizações práticas e variantes nos sistemas
de pastoreio, elas podem resumir-se a uma opção entre os dois verdadeiros
métodos ou alternativas, que são o pastoreio contínuo e o pastoreio
rotacional. No primeiro os animais têm acesso livre à área da pastagem
que os suporta por períodos longos, em geral toda a estação de pastoreio
ou mesmo o ano inteiro, enquanto que no segundo a área da pastagem
é subdividida e as parcelas resultantes pastadas seqüen-cialmente40, em
ciclos de pastoreio que se repetem, e nos quais há um período de repouso
dado pela diferença entre o número de dias do ciclo e o número de dias
de pastoreio numa parcela.

Apesar das vantagens do método de pastoreio rotativo sobre o


contínuo convencional, que, sabiamente, o professor André Voisin
justificou, de uma forma simples, mas definitiva, ao afirmar “que atende
melhor às exigências do pasto e da vaca”, existem ainda muitas divergências
entre os dois sistemas quanto à alternativa mais eficiente para a utilização
das pastagens41. Segundo Cosgrove (1992), “não surpreendem essas
controvérsias devido à vasta variedade de clima, de espécies forrageiras
e animais em questão. Se somarmos, ainda, as distintas técnicas
experimentais42 e as interações com carga animal, é quase impossível que
um método predomine sobre o outro”. Chapman (1992) expressa posição

40
O princípio da seqüência não é totalmente válido para o PRV (que deve ser
conduzido com flexibilidade), pois o produtor deve “atender às exigências do pasto
e da vaca” e assim se o potreiro não se encontra em condições adequadas para o
pastoreio, deve ser “saltado” e posteriormente voltar ao mesmo a tempo de atender
às exigências citadas (Voisin, 1974). Pinheiro Machado (1971), complementa que
“é indispensável permitir à pastagem o tempo ótimo de repouso, para que ocorram
as produções máximas”.
41
Paralelamente a esta discussão, Moreira (1995) apresenta a posição de vários
autores, com base em resultados de ensaios que “mostram que é a variação da
intensidade de pastoreio (e não o método em si) que determina as maiores
diferenças nas produções por animal, por hectare e até nas características das
pastagens”.
42
Segundo Cammon (1978), citado por Cosgrove (1992), as variações da resposta
animal aos tipos de pastoreio devem-se: a) à rigidez dos desenhos experimentais
que ignoram os aspectos fisiológicos do crescimento das forrageiras; b) à curta
duração de alguns experimentos, que não permitem obter resposta da pastagem
ao método de pastoreio; c) ao fato de não considerar o crescimento presente e futuro
das pastagens e suas relações com os requerimentos animais; d) à não-manutenção
das pastagens em condições fisiológicas similares, o que influi sobre a comparação
e e) à perda de eficiência de colheita frente ao incremento da duração da rotação e
da variação dos intervalos de descanso.

187
semelhante ao afirmar que “não há uma receita única que possa ser
considerada válida para todas as situações”. A regra mais simples,
acrescenta, a ser aplicada em condições temperadas e úmidas consiste
em assegurar que: a) as práticas de manejo sejam flexíveis e b) se
mantenha uma cobertura contínua de folha verde durante todo o ano.
A pressão de pastoreio, a intensidade e a freqüência da desfoliação
são essencialmente ditadas pelo tipo de condução (controle) do sistema
de pastoreio adotado (contínuo ou rotativo). “Mais do que a produtividade
do sistema, está em causa a estrutura da vegetação, a adaptação das
espécies vegetais e o comportamento animal” (Holmes, 1989; Penning et
al., 1994, citados por Moreira, 1995). Segundo Chapmam (1992), um
requerimento importante nas forrageiras é que tenham um alto grau de
plasticidade fenotípica43 e, portanto, possuam capacidade de tolerar
variações na desfoliação em função do manejo.
Primavesi (1982a) lembra que “a forma mais primitiva de um
pastoreio rotativo é a migração dos rebanhos nos pastos da comunidade,
dirigido por um pastor (...), que leva o gado a um determinado campo, e
quando este foi pastado, o leva adiante”. Este sistema ainda é praticado
no Norte da Alemanha e no Círculo Ártico, pelos lapões, e na região dos
Alpes, onde o pastoreio é sazonalmente regionalizado. A mesma autora
não tem dúvidas sobre o melhor método de pastoreio e afirma que:

desde os tempos pré-históricos, em que o homem se dedicou à criação


dos animais domésticos, ele sabe que o pastoreio permanente de uma
área é prejudicial. As manadas de elefantes, antílopes e búfalos, bem
como todos os animais herbívoros, migram de um lugar para outro para
poupar suas pastagens, evitar um superpastoreio e deixá-las recuperar-
-se (id.).

Segundo Klapp (1977), o pastoreio rotativo não é um método


recente na produção animal. Ele cita que Smith (1956) encontrou
referências na literatura inglesa datada de 1598 sobre o mesmo, mas
provavelmente já muito antes disso se fazia pastoreio com o auxílio de um
cão pastor ou recorrendo a estacas a que se prendia o gado. No seu
histórico, o professor Klapp indica que Thaer (1837) descrevera os
pontos principais do pastoreio rotativo, justificando-os detalhadamente e
que autores mais antigos já tinham feito sugestões parecidas com o
mesmo propósito. Entre essas, estavam:

A plasticidade fenotípica se refere à capacidade das plantas de alterar sua


43

morfologia em resposta às alterações do meio (Chapmam, 1992).

188
• Divisão da área de pastagem em parcelas.
• Estabelecimento de intervalos de repouso após o pastoreio pelo gado,
durante o tempo necessário para o pasto voltar a apresentar um
desenvolvimento satisfatório, portanto a uma duração variável conforme
a época do ano.
• Distribuição dos animais na pastagem, em grupos da mesma idade e
de acordo com o tipo de aproveitamento.

Ainda segundo o professor Klapp, “o principal objetivo do pastoreio


rotativo é assegurar a alimentação completa a um rebanho que se
mantém praticamente constante ao longo de todo o período de vegetação”.
Complementa que a manutenção do nível regular de qualidade, a distribui-
ção econômica da forragem para o melhor aproveitamento e a conservação
de uma elevada capacidade de crescimento fazem parte das finalidades
do pastoreio rotativo. Como vantagens fundamentais desse sistema,
relaciona:

• Obrigar a um consumo rápido e regular da forrageira por parte dos


animais, para evitar a seleção e o envelhecimento da pastagem.
• Utilizar a pastagem num estado favorável de desenvolvimento, tanto para
o gado (quanto a palatabilidade e nutrição) como para as plantas.
• Permitir à cobertura forrageira períodos de descanso e de recuperação
suficientes.
• Proporcionar uma melhor adaptação das áreas de pastagem disponíveis
para a intensidade de crescimento das espécies, variável com as diferentes
épocas do ano.

Araújo (1967) acrescenta que o pastoreio rotativo normalmente


resulta no aumento da lotação, embora a faixa percentual não esteja
determinada. Segundo Carámbula (1977), as vantagens desse sistema
tornam-se mais evidentes com lotações elevadas, pois a produtividade é
menos afetada, como demonstra a Tabela 47, em relação ao pastoreio
contínuo. Cita informações de Campbell (1960) e Pigden & Greenshiedls
(1960), segundo os quais, em muitos casos, o pastoreio rotativo não
apresenta rendimentos maiores de forragem verde em relação ao contínuo,
mas menor quantidade de material morto e maior produção de energia
digestível.

O pastoreio rotativo permite manter um melhor equilíbrio entre as espécies


componentes da pastagem e um controle mais eficiente de invasoras (...).
Implica em baixa seletividade e um apoio à habilidade competitiva das
plantas forrageiras (...). Favorece também uma melhor distribuição das
fezes e urina, assim como um controle mais efetivo de enfermidades e
parasitos (Carámbula, 1997).

189
Tabela 47. Efeito de distintas lotações e métodos de pastoreio na
produção de carne de cordeiro
Lotação
Pastoreio rotativo Pastoreio contínuo
(n o)
................................kg/ha....................................

12,4 287 314


14,8 393 400
16,1 444 364
17,3 430 333
18,5 442 241

Fonte: Adaptado de Kissock (1966) por Carámbula (1977).

Como no pastoreio rotativo os animais selecionam menos a forragem,


a produtividade individual é menor. Porém, por aumentar a eficiência de
colheita do rebanho, a produtividade total é maior. No entanto, em épocas
que o crescimento da pastagem nativa está paralisado, a manutenção de
uma pressão de pastoreio alta é muito difícil, pois nesse caso haveria
perda geral de peso e as vantagens pela adoção do sistema seriam
menores.
O pastoreio rotativo é considerado uma boa alternativa para
manejar pastagens de palha grossa, já que, ao evitar a seleção da
forragem pelo gado, também favorece as espécies tenras e de melhor
valor nutritivo (Carámbula, 1977).
Moreira (1995), com base em evidências experimentais de
pesquisadores, menciona outros aspectos favoráveis ao pastoreio rotativo:
a) maior eficiência fotossintética da vegetação; b) maior competição pela
luz; c) persistência de plantas de porte ereto; e d) melhor distribuição dos
nutrientes das dejeções, que considera o principal problema da reciclagem
dos nutrientes em pastoreio. Da mesma forma, este autor apresenta as
vantagens relativas do pastoreio contínuo: a) maior simplicidade e custos
menores; b) em pastagens temperadas, curva de produção anual mais
regular e, portanto, mais próxima das necessidades do efetivo animal; e
c) maior estabilidade da dieta, adequada aos animais com maior exigência,
como vacas em lactação (Figura 36) (Pearson & Ison, 1994). Carámbula

190
(1997) cita como vantagens do pastoreio contínuo o fato de não se
necessitar de um controle rígido da pastagem e a formação de pastagens
mais densas e resistentes ao pisoteio.

Figura 36. Rebanho leiteiro, manejado através de pastoreio rotativo com


o objetivo de maximizar a produção por hectare

Segundo Carámbula (1977), o êxito que se obtém em qualquer


sistema de pastoreio depende de muitos fatores, mas, especialmente,
das espécies que constituem a pastagem, da manutenção das perdas de
matéria seca (por morte e decomposição) a um mínimo e altos ganhos por
fotossíntese. Assegura que a principal finalidade do pastoreio rotativo é
utilizar a pastagem no momento em que ela alcança um equilíbrio
adequado entre um alto rendimento de matéria seca e um máximo valor
nutritivo.
O pastoreio rotativo depende para sua aplicação, evidentemente,
de um número mínimo de subdivisões nas propriedades, permitindo as
mudanças freqüentes das áreas a pastorear e dos períodos de descanso
necessários. Isto representa custos com instalações (inclusive
bebedouros), aramados e outras benfeitorias (Figura 37). Segundo Heim
(1949), citado por Voisin (1974), “quanto mais cercas existirem, menos o
criador dependerá das condições atmosféricas e da velocidade do
rebrote”.

191
A

Figura 37. (A) Área subdividida com cerca eletrtificada em piquetes com
aproximadamente 1ha e corredor central para manejo através de pastoreio
rotativo. (B) Detalhe da cerca. Lages, propriedade de José Assis Branco

Os sistemas de pastoreio não têm recebido a atenção dos


pesquisadores no Brasil e são raros os ensaios existentes, dificultando a
análise de seu impacto na produção animal em nossas condições. Araújo
(1967) sugere 30 a 45 dias como tempo mínimo de repouso (ou descanso),
que seria o período necessário para o rebrote do pasto. Em trabalho
experimental conduzido por Prestes (1995) em uma pastagem nativa
melhorada com introdução de cornichão e fertilização, o intervalo entre
cortes de 28 dias aumentou em 70%, 8% e 36% a produção acumulada
de MS do cornichão, as forrageiras nativas e a forragem total,
respectivamente, em comparação com o tratamento sem diferimento
(corte a cada 14 dias). A duplicação do intervalo de corte (56 dias)
aumentou levemente (3%) a produção do cornichão, mas diminuiu a
produção das forrageiras nativas (21%) e da forragem total (6,6%).
Segundo Fonseca (1969), o tempo de descanso da pastagem varia
com as estações do ano, a fertilidade do solo, as adubações e o manejo
e indica 28 a 30 dias no verão, “podendo ser o dobro ou maior ainda no

192
inverno”. Carámbula (1977) também afirma que a freqüência de turnos de
pastoreio não deve ser fixa:

Os dias de pastoreio ou de descanso não podem ser definidos de forma


concisa e variam de acordo com as condições ambientais e com a
estação do ano. Enquanto na primavera os rebrotes são mais rápidos,
requerem períodos de descanso mais curtos e menos potreiros. No
inverno, pelo crescimento menor da forragem, os períodos de descanso
e o número de potreiros exigidos são maiores.

No entanto, em regiões onde os índices de crescimento das


pastagens excedem às exigências de forragens pelos animais na primavera
(caso típico do Planalto Catarinense), o pastoreio contínuo nessa estação
permite um controle geral melhor do crescimento reprodutivo das
pastagens pela desfoliação freqüente, pois muitas espécies passam da
fase vegetativa à reprodutiva num período de dez a 14 dias, o que resulta
na queda da qualidade das pastagens no verão e no outono. Portanto, os
tempos de descanso indicados acima não são adequados para a primavera.
Outra solução que pode ser adotada pelos produtores do Planalto
Catarinense é a utilização de períodos de rotação muito rápido apenas na
primavera, entre 14 e 20 dias, que resultam em freqüência de desfoliação
similar ao pastoreio contínuo (Chapman, 1992), com todas as vantagens
anteriormente citadas.
Para evitar o problema do florescimento precoce das espécies
forrageiras com a imediata perda de qualidade na primavera e estações
seguintes, na Nova Zelândia se aceita que um regime de manejo que
combina pastoreio rotativo no inverno e contínuo na primavera é a melhor
opção para solucionar essas limitações. Este mesmo procedimento pode
ser introduzido em áreas de campo nativo melhorado, embora o ideal,
antes dessa recomendação, seja conhecer adequadamente a fenologia
e a morfogênese das principais espécies nos campos naturais de SC.
Em experimento conduzido por Barcellos et al. (1987) em Bagé, RS,
que compararam o pastoreio contínuo e rotativo (com e sem adubo), o
tempo de descanso empregado no rotativo foi de 14 dias. Concluíram que
houve uma diferença pequena em termos de ganho de peso vivo a favor
do pastoreio rotativo. Deve-se registrar que o tempo de repouso utilizado
é muito pequeno, o que pode ter prejudicado o resultado do ensaio.
O pesquisador e professor universitário uruguaio Milton Carámbula,
em sua obra “Pasturas Naturales Mejoradas” (1997), faz uma ampla
abordagem sobre os diversos sistemas de pastoreio. A seguir, estão
citadas algumas observações importantes que constam da referida obra:

193
• A utilidade final de todo sistema de pastoreio é o rendimento em
produto animal e não o rendimento de matéria seca da pastagem.
• Para que as vantagens do sistema rotativo se manifestem, é
imprescindível trabalhar com lotações altas.
• O êxito do pastoreio rotativo depende de se evitar situações
extremas de crescimento e de desfolhação. Os resíduos não devem ser
inferiores a 7,5cm, para evitar rebrotes muito demorados.
• O pastoreio rotativo permite manter um melhor equilíbrio entre as
espécies componentes do melhoramento e um controle mais eficiente das
invasoras, em função da alta carga instantânea que implica baixa
seletividade e beneficia a habilidade competitiva das plantas introduzidas;
• A maior carga animal no pastoreio rotativo favorece uma melhor
distribuição das fezes e da urina, o que permite uma reciclagem mais
rápida do nitrogênio, assim como um controle mais efetivo de enfermidades
e parasitoses.
• O requisito mais importante para conduzir o manejo de uma
pastagem através do pastoreio rotativo é haver grande flexibilidade. Não
existem regras fixas, mas conceitos fundamentais que se devem aplicar
de acordo com as circunstâncias vigentes.
• No fim do outono e no inverno não se obtêm maiores vantagens
com períodos de descanso superiores a 60 dias.
• Nenhum sistema de pastoreio pode compensar a incapacidade do
produtor de oferecer níveis adequados de forragem, nem a falta de
habilidade e destreza para as utilizar de maneira eficiente.
Praticamente em todas as propriedades que implantaram
melhoramento de campo nativo nos últimos anos na Região Serrana,
aproximadamente 860, o manejo das pastagens tem sido feito através do
sistema rotativo, com piquetes que variam de 1 a 3ha. O período de
descanso adotado é de 35 a 40 dias no outono e inverno e de
aproximadamente 20 dias na primavera e verão. Esse período, logicamente,
é influenciado de forma direta pelo manejo, fertilidade do solo, pelas
práticas culturais (adubação, roçada, etc.), pelo regime hídrico, pela
composição botânica, entre outros fatores.
Esta recomendação é semelhante à preconizada no Programa
Regional de Melhoramento de Campo Nativo da Microrregião Homogênea
dos Campos de Cima, da Serra do RS, ou seja, tempo de descanso de
aproximadamente 30 dias e tamanho dos piquetes variando de 1 a 2ha.
Os animais normalmente entram na pastagem quando ela atinge 15 a
25cm e são retirados quando ocorre o rebaixamento para aproximadamente
6cm (Messias & Ries, 2002).

194
3.3 Subdivisão de invernadas e adequação da lotação

Uma das alternativas para elevar a produtividade das pastagens


naturais seria de que o pastoreio rotativo se tornasse uma prática comum
no Planalto Catarinense, como se disse anteriormente. No entanto, esta
é uma realidade distante e difícil de ser concretizada em função da baixa
rentabilidade do setor pecuário, da escassez de recursos e da
descapitalização dos criadores. Dessa forma, o presente item será
discutido como possibilidade concreta do melhoramento do manejo do
campo nativo através de “um número mínimo de unidades que permitam
ao menos uma melhor ordenação das categorias animais e uma utilização
adequada da forragem disponível” (Nabinger, 1980).
A subdivisão incorpora muitas das vantagens do pastoreio rotativo
e do diferimento de pastagem, principalmente a menor oportunidade de
seleção pelos animais e melhor aproveitamento dos excessos de forragem
na primavera-verão. O aspecto fundamental é que tais sistemas de
manejo mais eficientes somente podem ser adotados com um número
mínimo de subdivisões. Também permite rendimento mais alto da pastagem
nativa, mesmo com pastoreio contínuo, pela adequação correta da carga
animal.
Segundo Nabinger (1980), a subdivisão dependerá do tipo de
exploração a que se dedica a propriedade e também de seu tamanho. Os
critérios a consider são a vegetação existente na propriedade, a topografia,
as espécies, categorias animais e seus hábitos. ‘‘Para um estabelecimento
que tenha cria, recria e invernagem, são necessários, no mínimo, 20
potreiros. Seu tamanho dependerá da extensão superficial da
propriedade”.
Para Alvim (1990), deve-se determinar com certa precisão o número
de subdivisões necessárias, de maneira que o investimento não seja
antieconômico para o produtor44. Afirma que em pastoreio rotativo – com
o tempo de utilização fixo –, o acréscimo no período de descanso diminui
acentuadamente, em função do aumento do número de subdivisões
(Tabela 48).
A lotação adotada pela maioria dos produtores do Planalto
Catarinense está em torno de 0,3 a 0,4 cab./ha. Isto significa utilizar
menos da metade da capacidade de suporte das pastagens nativas
durante a primavera-verão. O resultado é a ocorrência, na mesma
invernada ou potreiro, de subpastoreio (áreas de encostas, vales de rios

Uma das alternativas para diminuir o alto investimento inicial com cercas fixas é
44

a adoção de cercas eletrificadas.

195
ou locais de acesso mais difícil) e superpastoreio (locais mais planos,
topos de morros, coxilhas). No primeiro caso, a pastagem torna-se
grosseira e de má qualidade nutritiva; no segundo, ocorre quase sempre
a dominância de plantas indicadoras.

Tabela 48. Acréscimo no período de descanso em função do número de


subdivisões

Utilização Piquetes Descanso Acréscimo


(dias) (n o) (dias) (dias)

Pastoreio contínuo 1 0 -
20 2 20 20
10 4 30 10
5 8 35 5
2,5 16 37,5 2,5
2 20 38 0,5

Fonte: Adaptado de Gardner & Alvim (1985), citados por Alvim (1990).

Quando a produção de forragem excede a demanda, os animais tendem


a concentrar a sua atividade de pastoreio em determinadas áreas na
pastagem e ignoram outras. Nessas circunstâncias, as chances de
desfolhação são provavelmente maiores para perfilhos previamente
desfolhados, de tal forma que um mosaico de áreas pastejadas e não
pastejadas estabelece-se na pastagem. Assim, observa-se uma variabi-
lidade no tamanho dos perfilhos, podendo ocorrer muito rapidamente o
desenvolvimento de inflorescências nas áreas não consumidas pelos
animais [com a conseqüente perda de qualidade nutritiva da forragem]
(Favoretto, 1993).

São freqüentes as informações de que o aumento do número de cabeças


destrói a pastagem e os campos ficam inçados. É evidente que isso
acontece. No entanto, se as invernadas fossem subdivididas e os animais
não comessem o rebrote dos pastos, bem como dessem ao mesmo um
descanso mínimo, para que pudesse crescer e armazenar novas reservas
em suas raízes, o aumento da lotação, dentro de critérios lógicos não
destruiria as pastagens. Muito pelo contrário, as beneficiária (Fonseca,
1969).

196
Diversos autores (Araújo, 1949; Sheath et al., s.d.; Carámbula,
1977; White, 1981; entre outros) destacam a necessidade dos animais
de consumirem a maior quantidade possível de forragem disponível à
medida que cresce, especialmente na primavera, para que permaneça
palatável e com alto valor nutritivo por mais tempo. O objetivo principal
deve ser minimizar o excesso através da maximização do consumo total
(Sheath et al., s.d.). O pastoreio leve pode levar a uma alta densidade da
pastagem e aumentar as perdas por morte e declínio; se não for
consumido pelo gado, este material acaba se decompondo (Miligan et al.,
s.d.).
Segundo Nicol & Nicoll (s.d.), para uma mesma disponibilidade de
forragem, o gado cresce muito mais rápido na primavera do que nas
demais estações, pelos seguintes motivos: a) potencial mais alto para
ganho de peso após um inverno de baixo ganho (ou de perda de peso),
pois o gado que tem aumento de peso compensatório ingere 20% a mais
do que os animais bem alimentados previamente; b) maior valor nutritivo
das espécies na primavera e c) maior consumo em razão da estrutura de
pastagem. Os mesmos autores advertem que,

em contraste, mesmo uma oferta de pasto alta (8 a 10kg MS/100kg PV/d)


ou uma massa pós-pastoreio alta (3.000kg MS/ha) não manterá um
ganho de peso elevado durante verão/outono, mas resultará, em muita
matéria morta na pastagem (30% a 40%) ... Assim, pode ser feito um certo
controle da pastagem durante o verão, para que se tenha um crescimento
de alta qualidade no outono (id.).

Moreira (1995) tem exatamente a mesma posição, ao afirmar que


menores pressões de pastoreio “só melhoram as produções individuais
até certo valor, já que grande altura ou quantidade de pastagem significa
um decréscimo do seu valor nutritivo que repercute negativamente no
crescimento” (Tabela 49).
À medida que aumenta a carga, o ganho de peso dos animais
decresce em função da menor seletividade da pastagem e de uma menor
disponibilidade de matéria seca. No entanto, a produção por hectare é
maior até um determinado nível ótimo, quando há redução do consumo
individual, mas elevação do consumo total. Acima desse nível ótimo,
praticamente toda a forragem produzida é utilizada para as necessidades
de manutenção dos animais e atinge um determinado momento em que
tanto a produção por animal quanto por área se torna nula. Assim, a
forragem será colhida de forma muito eficiente e utilizada de maneira
deficiente, afetando a performance produtiva (Carámbula, 1977).

197
Tabela 49. Influência da lotação no Estado da pastagem e no crescimento
de borregos durante a primavera

Pressão Altura da Índice área Crescimento


pastoreio pastagem
foliar – IAF (g/dia)
(ovelhas/ha) (cm)

27 3 1,5 208
20 6 2,2 275
22 9 3,3 250
19 12 4,1 263

Fonte: Penning et al. (1991) (adaptado), citados por Moreira (1995).

Uma lotação alta é a filosofia mais aceita para produção animal. Mas não
se deve esquecer que muitos animais bem alimentados melhoram o
estado da pastagem, porém, muitos animais mal alimentados a deterioram
(...). É fundamental compreender que a eficiência de produção não se
mede simplesmente com cargas altas, porque o que o produtor vende não
são nem cabeças, nem patas, mas quilos de lã, leite e/ou carne (id.).

Ao optar entre ganho de peso por área e menor desempenho


animal através do aumento da lotação, o produtor deve considerar a
finalidade de sua criação, pois há casos em que se justifica manter uma
carga relativamente alta, como produção de lã, leite ou terneiros. Porém,
quando o objetivo é acabar animais para o abate, é necessário alcançar
um grau de terminação adequado, não se justificando uma alta
produtividade através de baixos rendimentos individuais. Neste caso, o
rendimento máximo por área deve levar em conta o comportamento
individual exigido pelo mercado (Hildreth & Riewe, 1963; Raymond, 1964;
citados por Carámbula, 1977).
O fundamental é utilizar lotações ótimas para que se obtenham ao
mesmo tempo alto rendimento de forragem, bom desempenho animal,
equilíbrio entre as espécies e conservação (até mesmo incremento) da
fertilidade do solo. Para o caso do Planalto Catarinense, onde as
invernadas são ainda muito extensas, isto somente poderá ser alcançado
com subdivisões, talvez com tamanho máximo de 50ha, utilizando inclusive
cerca eletrificada (Figura 38). Diversos produtores aliaram subdivisão
com pastoreio rotativo e/ou diferido e mantêm lotações em torno de
0,9cab./ha.

198
Figura 38. Subdivisão de invernadas utilizando cerca eletrificada com dois
fios para contenção de gado de cria

Pode-se afirmar, com margem de segurança, que com a subdivisão


de invernadas (aproveitando, inclusive, as áreas de matas, Figura 39), a
suplementação com sal proteinado, o pastoreio rotativo (ou contínuo
controlado) e o diferimento é possível aumentar em muito a produtividade
das pastagens naturais no Planalto Catarinense, mesmo sem introduzir
espécies ou qualquer alternativa de alimentação no inverno, com a
vantagem de que, ao adequar a lotação, evitam-se as sobras excessivas
e se elimina a necessidade da queima.

Figura 39. Diferimento de área de mata através da subdivisão para


utilização no período de outono-inverno

199
3.4 Correção da acidez e fertilização

São poucas as informações que tratam de forma isolada da correção


da acidez e da adubação em pastagens naturais, pois seu melhoramento
sempre inclui introdução de espécies precedida da elevação do nível de
fertilidade. Entretanto, a pesquisa tem mostrado alguns resultados positivos
de tratamentos de correção e fertilização nesse agroecossitema45, mesmo
assim,

as respostas a serem obtidas são extremamente variáveis com a


composição botânica, com as características do solo, particularidades
climáticas, tipos de fertilizantes a ser usado, métodos de incorporação,
além naturalmente, das múltiplas interações com o manejo pré e pós-
-adubação, diferentes categorias animais, entre outros fatores (Nabinger
1980).

As informações básicas disponíveis não permitem recomendar e


predizer com segurança os efeitos da adubação no que se refere a
participação das espécies na composição florística, variações na
quantidade (inclusive estacionais) e qualidade da pastagem. Dessa
forma, o custo-benefício é difícil de ser avaliado, principalmente porque
devem levar em conta “a preservação de recursos genéticos extremamente
valiosos que são as nossas espécies nativas” (id.).
Na Estação Experimental de São Gabriel, no início da década de 50,
foram testadas a aplicação de 300kg de hiperfosfato com 27% de P2 O5
com a limpeza mecânica de plantas indesejáveis e a combinação desses
dois tratamentos para melhoramento da pastagem natural. Durante oito
meses, as parcelas com as práticas conjuntas receberam uma lotação
aproximadamente 43% maior que as demais. No encerramento do ensaio,
a adubação aumentou 25,5% o ganho de PV/ha e a ação simultânea dos
dois tratamentos elevou em 96% a produção animal (Tabela 50).
Segundo Vidor (1986), a aplicação por hectare de 350kg46 da
fórmula comercial 08-28-21 e de 2,8t de calcário dolomítico (PRNT igual
a 100) aumentou a disponibilidade de MS do campo nativo em
aproximadamente 23%, comparado com o tratamento testemunha. Não

45
‘‘Os fundamentos da fertilização e correção em cobertura’’ para introdução de
espécies apresentados no item II são válidos quando da utilização de tais práticas
isoladas.
46
Quatro meses depois, foi feito um reforço equivalente a 175kg/ha da mesma
fórmula, em função de forte escorrimento provocado por chuvas após a primeira
adubação.

200
diferiu significativamente da introdução em cobertura (nas mesmas
condições de fertilização) de trevo vermelho cultivar kenland e de trevo
branco ‘guaíba S1’, sendo apenas superado pelo trevo vesiculoso
‘yuchi’.

Tabela 50. Efeito da adubação fosfatada e do controle mecânico de


plantas não-forrageiras na produção do campo nativo na Estação
Experimental de São Gabriel. Período de 11/8/1950 a 8/4/1951 (241 dias)

Tratamento Peso médio Lotação Ganho por Ganho


inicial cabeça PV/ha
aplicado (cab./ha)
(kg) (kg) (kg)

Testemunha 201 0,77 66 51


Adubado 214 0,77 83 64
Limpo 170 0,77 87 67
Limpeza-adubação 182 1,1 90 100

Fonte: Grossman & Mohrdieck (1955).

Em trabalho de tese desenvolvido por Moojen (1991), obteve-se


como efeito da adubação da pastagem nativa: redução do solo descoberto;
menor participação de gramíneas de baixo valor nutritivo, de plantas
indesejáveis e de material morto na composição botânica, enquanto
algumas espécies de gramíneas (Axonopus affinis, Paspalum notatum,
Coelorhachys selloana e Sporobulus indicus) e Desmodium incanum
(leguminosa) de melhor qualidade aumentaram a sua freqüência. Quanto
ao D. incanum, outros pesquisadores constataram a resposta à adubação,
principalmente fostatada (Gomes et al., 1999, e Pallares et al., 1996). Este
último autor informa que esta espécie teve um incremento de
aproximadamente 150kg/MS/ano como resposta à dosagem de 210kg/ha
de P2 O5 subdivididos em quatro aplicações anuais, juntamente com a
sobressemeadura de cornichão, trevo branco e trevo vermelho.
A maior participação de leguminosas na composição botânica em
áreas de pastagens melhoradas que receberam calcário e adubação
fostatada, e melhor manejo, tem sido observada com freqüência em
diversas propriedades do Planalto Catarinense, principalmente o
surgimento de Adesmia latifololia (Figura 40).
Pallares et al. (1996), em revisão bibliográfica sobre o assunto,
citam alguns trabalhos nos quais a pastagem nativa respondeu à
adubação:

201
Figura 40. Adesmia latifolia, leguminosa perene de inverno presente em
diversas áreas de pastagem nativa melhorada

• Mufarrege et al. (1972), em Corrientes (Argentina), obtiveram 22


e 8,7kg de MS/kg de N e P2O5 aplicados, respectivamente. “Enquanto o N
teve resposta linear, o P foi do tipo linear e cúbica, com estabilização entre
40 e 80kg/ha de P2O 5. A interação entre N e P foi significativa, indicando
que com doses moderadas de P, as gramíneas começaram a utilizar
eficientemente o N47, embora tenha ocorrido redução da presença de
leguminosas nos tratamentos com N. Porém, a presença de leguminosas
nativas aumentou de 8,2% para 21,8%, com nível de 20kg/ha de P2O5 (na
ausência de N).”
• Perin (1990), em Eldorado do Sul, RS, observou, em pastagem
melhorada, uma alta freqüência de leguminosas na primavera (19,7%) e
no verão (14,8%). As espécies com maior participação foram Desmodium
incanum, Trifolium dubium, Macroptilium prostratum, Cassia repens e
Desmanthus depressus.
O trabalho conduzido por Barcellos et al. (1980) estudou o efeito da
adubação fosfatada sobre pastagem nativa expresso em produção animal.
Os resultados mostraram um grande efeito da fertilização, indepen-
dentemente do sistema de pastoreio utilizado (rotativo ou contínuo), tanto

47
Como foi discutido nos itens 2.3.3 Adubação, 2.5 Densidade de semeadura e 2.6
Inoculação e peletização, o N pode ser obtido através de leguminosas quando da
introdução de espécies; no entanto, nesse caso, trata-se somente de fertilização,
justificando-se sua aplicação.

202
em ganho de PV, como em aumento de lotação e modificação favorável
da flora, além de se ter detectado, após sete anos da última aplicação de
P, um grande efeito residual.
Schreiner (1991) afirma que, em parte, a baixa produtividade dos
campos naturais se deve às deficiências de fertilidade do solo e levanta
a possibilidade de aumentar sua rentabilidade através da adubação, além
de minimizar a paralisação do crescimento das forrageiras no inverno.
Para dar suporte a esta hipótese, apresenta dois trabalhos de pesquisas
realizados na Fazenda Modelo de Ponta Grossa, PR.
O primeiro, teve por objetivo “apurar os efeitos de níveis de
adubação NPK sobre a produção e o valor nutritivo das pastagens nativas
daquela região”. A adubação testada (kg/ha) foi a seguinte: 120 de N, 120
de P2 O5 e 90 de K2O. As produções, nos diferentes tratamentos, foram
avaliadas de acordo com a estação do ano, através de cortes. Tanto a
disponibilidade de MS, como de PB, foram aproximadamente 100%
maiores nos terrenos adubados, em relação àqueles com a fertilidade
natural da região (Figura 41).

123 123
123 123
123
123 123
123 123
123Adubação
123
123 123
123 123
2.000
123
123 123
123 123
123 Não adubação
123
123 123
123 123
123
123
123 123
123 123
123
123
123 123
123 123
123
123 123 123
Matéria seca (kg/ha)

123
123 123
123 123
123 150
123 123 123 123
Proteína bruta (kg/ha)

123
123 123
123 123
123 123 123
123
123
123 123
123 123
123 123
123 123
123 123
123
123 123
123 123
123 123
123 123
123 123
123
1.000 123
123 123
123 123
123 123
123 123
123 123
123
100
123
123 123
123 123
123 123
123 123
123 123
123
123
123 123
123 123
123 123
123 123
123 123
123
123
123 123
123 123
123 123
123 123
123 123
123
123
123 123
123 1234
1234 123
123 123
123 123
123 123
123 50
123
123 123
123 1234
1234 123
123 123
123 123
123 123
123
123
123 123
123 1234
1234 123
123 123
123 123
123 123 123
123 123 1234 123 123 123 123
123
123
123
123 123 1234
1234 123
123 123 123 123 123
Ver. Out. Inv. Prim. Ver. Out. Inv. Prim.

Fonte: Picanço (s.d.), citado por Schreiner (1991).

Figura 41. Produções de matéria seca (MS) e proteína bruta (PB) de


pastagem nativa de Ponta Grossa, não adubada e adubada (kg/ha) com
120 de N,120 de P2O5 e 90 de K2 O

203
Com o objetivo de medir o efeito da fertilização com P numa
pastagem natural de Corrientes (Argentina), sobre a produção de um
rodeio de cria, com diferentes cargas animais, Pizzio et al. (1994)
aplicaram 30kg de P2 05 /ha/ano durante o período de 24/10/73 a 16/2/79.
As principais conclusões foram: a) os potreiros fertilizados apresentaram
de 140% a 290% mais de pasto com carga de 0,50 e 0,65 vacas/ha/ano,
respectivamente; b) a fertilização fosfórica resultou na maior presença de
leguminosas e aumentou o conteúdo de P em 51% na pastagem; c) a
produção de carne nos potreiros fertilizados foi de 159kg/ha/ano e de 116
naqueles sem fertilização (Tabela 51). Registra-se que estes são
resultados obtidos em condições de fertilidade superiores às encontradas
em SC, portanto, não devem ser simplesmente transferidos, sem uma
análise criteriosa, para nossas condições.

Tabela 51. Aumento de peso vivo (PV) por vaca, porcentagem de


marcação, peso dos terneiros ao desmame e produção de carne/ha/ano
em resposta a lotações variadas e aplicação de P. Corrientes, Argentina

Tratamento
Aumento Marcação Desmame Prod. carne
(kg/vaca/ano) (%) (kg) (kg/ha/ano)
Vaca/ha Fertilização

0,35 Não 89,0 92,0 220,0 88,0


0,50 Não 74,0 89,3 219,0 119,0
0,65 Não 49,0 92,0 198,0 141,0
Média - 70,7 91,1 212,3 116,0

0,50 P 106,0 88,0 223,0 123,0


0,65 P 104,0 93,3 212,0 151,0
0,80 P 112,0 94,6 216,0 203,0
Média - 107,3 92,0 217,0 159,0

Fonte: Pizzio et al. (1994).

No Planalto Serrano, a grande dificuldade em aumentar a


produtividade dos campos naturais através de adubação é a baixa
freqüência de espécies hibernais, aliada ao fato de que a taxa de
crescimento das forrageiras “se reduz rapidamente abaixo de 10ºC,
apresentando ainda algum crescimento aos 5ºC”; isto resulta numa
produção de MS muito pequena (Whiteman, 1980; citado por Ritter &
Sorrenson, 1985). Dessa forma, seria necessário multiplicar algumas
vezes a produção de forragem no inverno para se obter rendimentos

204
razoáveis e para não se anular o efeito positivo que a adubação produz
durante o período de primavera-verão. Conclui-se que a adubação, por
si só, não será capaz de promover a elevação da rentabilidade na
pecuária em campo natural. Poderá, no entanto, contribuir apreciavelmente
para sua melhoria, desde que combinada com procedimentos que
assegurem a normal alimentação do gado durante a fase de outono-in-
verno. Tais procedimentos podem ser a introdução de espécies, a
implantação de pastagens cultivadas, o manejo de pastagens, o
armazenamento de forragem na forma de silagem ou de fenação, assim
como o diferimento de pastagens.

3.5 Limpeza de campos e controle de plantas indicadoras

A alteração das comunidades vegetais existentes no ecossistema


campos naturais, no sentido de favorecer as espécies com maior valor
forrageiro, objetivando a elevação de sua capacidade produtiva, pode
incluir também como prática de melhoramento a limpeza da pastagem
(Castilhos, 1993).
No RS já foram identificadas 400 espécies de gramíneas e 150 de
leguminosas nas pastagens nativas (Boldrini, 1997). Muitas dessas
forrageiras encontram-se no Planalto Catarinense. Logicamente, existem
outras plantas de variadas famílias nessa mesma composição botânica.
Diversas delas são consideradas indicadoras ou indesejáveis sob o
aspecto de produção de forragem; entre as principais, estão (Castilhos,
1993): carqueja (Baccharis trimera (Less.) DC e outras), caraguatá
(Eryngium horridum Malme), vassoura branca ou assapeixe-branco
(Vernonia chamaedrys Less), alecrim do campo (Vernonia nudiflora
Less), barba-de-bode (Aristida sp.) e macega estaladeira (Erianthus
angustifolius Ness). Mais algumas, citadas por Araújo (1967), que ocorrem
com freqüência em nossos campos naturais, podem ser acrescentadas:
espinho-de-carneiro (Acanthospermum hispidum DC), guanxuma (Sida
rhombifolia L), maria-mole (Senecio brasiliensis Less), samambaia
(Pteridium aquilinum (L.) Kuhn) e cravo-do-campo (Tricrochline sp.),
entre outras.
Como características morfofisiológicas de duas espécies indese-
jáveis que ocorrem com muita freqüência nos campos naturais, tem-se
que: E. horridum (caraguatá) é uma planta perene, herbácea, ereta e não
ramificada, medindo de 90 a 180cm. As folhas basais são dispostas em
forma de roseta, são lineares, agudas e com as margens espinhentas. A
sua reprodução é por sementes e através de rizomas (Lorenzi, 1991). Os
rizomas, além de serem responsáveis pela reprodução, também se

205
caracterizam por estruturas que acumulam reservas que são produzidas
durante o crescimento e são utilizadas por ocasião de cada rebrote (Mas
et al., 1994); B. trimera (carqueja) é perene, subarbustiva, ereta, glabra,
caule lenhoso e tri-alado em toda sua extensão, com 50 a 80cm de altura
(Lorenzi, 1991). Apresenta sistema radicular superficial, sendo que de
suas raízes mais grossas brotam novas plantas. O rebrote na primavera
tem origem a partir de órgãos subterrâneos, como, gemas localizadas em
talos lignificados (Berretta, 1994).
No agroecossistema constituído por pastagem, a presença de
algumas plantas invasoras pode proporcionar ou condicionar uma série
de fatores ecológicos, alguns desfavoráveis aos interesses humanos,
tornando-os alvos de controle e recebendo o conceito de “plantas
daninhas” (Pitelli, 1989), no caso de pastagens naturais, onde se cons-
tituem em componentes da vegetação original, recebem a denominação
de “plantas indesejáveis” (Gonçalves et al., 1989).
Como plantas indesejáveis são consideradas todas aquelas
espécies que normalmente não fazem parte da dieta do animal em
pastejo, mas ocupam lugar na vegetação e influem de alguma forma no
comportamento e manejo do gado (Formoso, 1994). Dependendo do tipo
fisionômico da pastagem natural e do manejo adotado, podem participar
da composição botânica em maior ou menor grau. Além de não servirem
de alimento para o gado, competem com as espécies de melhor valor
forrageiro por água, luz, nutrientes e espaço. Como, de maneira geral,
são rejeitadas pelos animais, são favorecidas pelo pastejo seletivo,
tornando-se excelentes competidoras (Pitelli, 1989).
Assim, a ocorrência de espécies indesejáveis como carqueja, mio-
-mio, vassouras em geral, alecrim-do-campo, caraguatá, entre outras, é
devida ao manejo inadequado da pastagem e às condições climáticas
(Castilhos, 1993). A predominância destas, tanto de forma isolada como
associada, promove a redução da superfície forrageira e dificulta o
acesso dos animais ao pasto, levando assim aos conseqüentes prejuízos
do ponto de vista produtivo (Mas et al., 1994).
A adoção de práticas de manejo e limpeza da pastagem, portanto,
contribui para o desenvolvimento de espécies mais produtivas e de bom
valor forrageiro (Castilhos, 1993), dando condições, para que a
manutenção de uma pastagem densa e competitiva reduza os riscos de
colonização por parte das plantas indesejáveis (Formoso, 1994). Como
exemplo, há registros de que a presença de E. horridum (caraguatá)
causou uma redução média da produção forrageira em torno de 43%
quando a cobertura desta planta era de aproximadamente 40% a 70%

206
(Montefiori & Vola, 1990).
Segundo Primavesi (1982a e b), “as plantas invasoras48 são ecotipos
perfeitamente adaptados às condições de solo e de clima (...). São o
resultado de algum fator favorável do meio ambiente ao seu
desenvolvimento”. Entre os fatores que contribuem para seu aparecimento
em pastagens naturais, onde, no clímax, eles não predominavam, estão:
a) condições químicas e físicas do solo (alguns exemplos: ricos em
alumínio favorecem a samambaia; mal-drenados, o Andropogon sp.,
compactados, as malvas e guanxumas); b) práticas de manejo (de solo,
gado e pastagem), especialmente pastoreio permanente (que permite a
colheita seletiva das espécies e a ocorrência, concomitantemente, de sub
e superpastoreio) e c) queimada, que adapta determinadas espécies ao
fogo (barba-de-bode e andropogoneáceas). A mesma autora registra
algumas recomendações para dificultar o surgimento de plantas
indesejáveis:

• Impedir a ocorrência de manchas desnudas no solo. A densidade da


cobertura vegetal depende das condições físico-químicas do solo, da
adaptação das espécies e do manejo do gado.
• Manejo rotativo das pastagens, obrigando o gado a comer todas as
forrageiras, não poupando as plantas de menor qualidade.
• Impedir a compactação excessiva do solo (através do controle adequado
da carga animal).
• Manter a diversidade de espécies, para aumentar a competição com as
“invasoras”.
• Correção de deficiências nutricionais do solo (evitando excesso de
elementos tóxicos e deficiência de essenciais).

Nas recomendações de Primavesi (1982a e b), pode-se acrescentar


a implantação do melhoramento do campo nativo, que, além de elevar a
produtividade, dispensa a necessidade de queimadas.
O controle de plantas indesejáveis é uma prática que pode melhorar
muito a produtividade das pastagens naturais, em função da diminuição
da competição por luz, água e nutrientes com as espécies mais produtivas
e de melhor valor forrageiro. Quanto menor a fertilidade do solo, maior o
efeito dessa concorrência, em função da adaptação e da capacidade de
propagação das “invasoras”. Segundo Castilhos (1993), os métodos de
limpeza que podem ser empregados são:

48
Algumas, consideradas invasoras, quando ingeridas pelo gado, podem se tornar
tóxicas, como a samambaia e o mio-mio (Baccharis coridifolia).

207
• Mecânico: através de roçadas, remove a parte seca e improdutiva
das plantas, proporcionando um rejuvenescimento da pastagem e controle
de plantas residentes.
• Químico: devido à grande diversidade de plantas que ocorrem
nas pastagem nativa e ao efeito tóxico dos herbicidas, há uma grande
dificuldade de utilizar o tratamento químico. [Além disso, White (1981)
acrescenta que, como os herbicidas não corrigem as causas originais do
aparecimento das espécies indesejáveis, é pouco provável que as
controlem a longo prazo].
• Biológico: o pastoreio intenso com bovinos ou ovinos, dependendo
da arquitetura e da resistência da planta ao casco animal, pode contribuir
para controlar certas espécies.
• Fogo: o uso do fogo é muito polêmico; seu efeito depende de
muitos fatores. Controla eficazmente algumas, mas favorece a germinação
de outras plantas indesejáveis (ver próximo item 3.6 Queimada).
Na maioria dos casos, o controle através do manejo, baseado na
ecologia da “invasora” em questão, é o método mais econômico. Os
fatores mais importantes para o produtor exercer esse controle são
(id.).
• Estabelecimento de uma pastagem densa e vigorosa através
da semeadura e fertilização em superfície, aumentando a competição
com as plantas indesejáveis.
• Manejo com lotações adequadas para controle por pisoteio e
desfolhação.
Para o manejo integrado de plantas indesejáveis, é de fundamental
importância que se conheçam sua forma de crescimento populacional e
os fatores ecológicos que afetam a sua disseminação e persistência.
Estes conhecimentos são fundamentais porque orientam a eleição da
modalidade de controle e a época de sua aplicação, de modo que os
efeitos sejam efetivos, pouco onerosos e provoquem o mínimo impacto
ambiental decorrente da medida de controle empregada (Pitelli, 1989).
Neste sentido, Castilhos (1993) observou que para o controle da carqueja
existe interação entre métodos de limpeza (como: ceifa, queima e
pastejo) e a época de sua aplicação; os melhores resultados obtêm-se
quando aplicados na primavera. No caso do caraguatá, a queima
favorece o aumento de sua freqüência pelo fato de ocorrer abertura da
comunidade vegetal, oportunizando a sua disseminação e seu desen-
volvimento.
A interação entre métodos de controle e época de aplicação não
somente existe para tratamentos mecânicos e culturais, como também no
caso de controle químico, e mesmo na associação dos diversos métodos

208
disponíveis. Assim, em trabalho realizado no Uruguai, Carámbula et al.
(1995) concluíram que o controle mais eficiente do caraguatá foi obtido
quando se realizou roçada no outono (abril), com aplicação de 2,4 – D +
picloram na primavera (outubro). Entretanto, Giménez & Rios (1994),
também no Uruguai, não obtiveram resultados satisfatórios avaliando
vários herbicidas, em diferentes dosagens, para o controle do caraguatá
e da carqueja, verificando apenas retardamento no desenvolvimento das
plantas daquela espécie e havendo necessidade de determinar a melhor
época para seu controle químico.
Com o objetivo de promover o desgaste das reservas localizadas
nos rizomas do caraguatá e, desta forma, reduzir sua capacidade de
rebrote, Mas et al. (1994) observaram que roçadas realizadas em março,
independentemente do número de cortes subseqüentes, dois ou quatro,
foram mais efetivas para o seu controle, reduzindo a área coberta por esta
planta, que era de 60% a 70% para menos de 20%.
Castilhos (1984) desenvolveu ensaio em Eldorado do Sul, RS (E.E.
Agronômica da UFRGS), durante aproximadamente 30 meses.

Com o objetivo de observar o efeito de diferentes práticas de limpeza, com


e sem adubação, no controle de algumas das principais plantas
indesejáveis, bem como o favorecimento ou não de espécies de bom valor
forrageiro. Os tratamentos foram efetuados no outono ou na primavera e
constaram de: queima, ceifa e pastoreio (...) Como adubação foram
aplicados 250kg/ha da fórmula 08-28-21. Para a ceifa foi utilizada uma
roçadeira rotativa de lâminas horizontais.

Os principais resultados do experimento foram: a) o caraguatá


apresentou uma tendência de aumento no tratamento com queima;
b) macega estaladeira, capim cola-de-sorro e carqueja foram mais bem
controladas com ceifa e adubação; c) o capim barba-de-bode embora
considerada uma planta adaptada ao fogo, foi mais bem controlada com
queima com adubo (provavelmente em função de o fertilizante ter
beneficiado outras plantas e estas terem aumentado a concorrência com
essa indicadora; d) ao contrário do que aconteceu com as demais
espécies, os tratamentos aplicados no outono controlaram melhor o
alecrim-do-campo, sendo mais eficiente o pastejo com adubo; e) entre as
espécies de valor forrageiro [grama forquilha e pega-pega (Desmodium
incanum)], a queima e a ceifa com adubo, aplicadas na primavera,
favoreceram a participação na pastagem; f) observou-se uma redução do
material morto através da queima sem adubo e, conseqüentemente, um
aumento do percentual de solo descoberto.
A planta indicadora que mais preocupa os produtores do Planalto

209
Catarinense é o caraguatá, devido à agressividade e por impedir o
pastoreio por causa dos espinhos nas bordas das folhas. Carámbula et.
al (s.d.) realizaram diversos experimentos no Uruguai, visando ao controle
do caraguatá. As principais conclusões são estas:
• A queima e o pastoreio normal não resultaram em controle efetivo.
• A roçada da planta (e não apenas do pendão floral) em abril em
dois anos sucessivos reduziu em 36% a área coberta por caraguatá e se
mostrou o tratamento mais eficiente sem utilizar herbicida.
• O corte da planta ou do pendão floral na primavera, embora evite
a disseminação de semente, não reduz a participação do caraguatá na
composição botânica.
• A queima a médio prazo exerce um efeito benéfico para o
caraguatá, devido à diminuição da competição e à elevação momentânea
da fertilidade do solo.
• A aplicação somente de herbicidas pode ser parcialmente
proveitosa, mas não controla o caraguatá, pois as plantas se recuperam
posteriormente sem problemas.
• O melhor tratamento foi um corte no outono (abril) e a aplicação
de herbicida na primavera (outubro), ou um corte no outono e a aplicação
de herbicida em abril.
Gonzaga (1998) destaca “que o fogo pode ser de boa ajuda em
áreas densas de caraguatá, pois eliminará folhas velhas e promoverá
rebrotes novos que serão consumidos pelos animais, bem como facilitará
outro tipo de trabalho de limpeza”. Este mesmo autor recomenda o
controle da carqueja através de um corte após a brotação de outono 49,
pois assim “não haverá ou serão muito baixos os níveis de reservas
existentes nas plantas para promoção do novo crescimento na primavera”.
Salienta que no inverno a carqueja se encontra em período de descanso;
se for roçada nesta estação, rebrotará na primavera a partir de reservas
acumuladas nas raízes. O mesmo ocorre se a prática for executada antes
do rebrote de outono.
Conforme Pereira (1993), um dos maiores problemas dos campos
nativos é a instalação de vegetação grosseira, ocupando o lugar das
forrageiras. Isto ocorre pela falta de concorrência e pelo fato de as
primeiras não serem consumidas pelos animais. Recomenda a limpeza
através da roçadeira,

Segundo o autor, a carqueja “cresce vigorosamente na primavera, após cessarem


49

os frios de inverno. Esse crescimento se prolonga até o verão, quando começa seu
período de repouso e frutificação, para apresentar novo rebrote no outono”.

210
como forma de melhorar, tanto a qualidade como a quantidade de pasto
produzido e de aumentar sua capacidade de suporte. Tal prática, com a
justificativa de ser muito onerosa, é pouco usada, mas, quando executada
em épocas oportunas, com manejo e lotação adequados, torna-se, sem
dúvida, a forma menos dispendiosa de se “comprar” campo. Mantém-se
a área, aumenta-se o gado (id.).

Normalmente existem duas situações que necessitam de intervenção


do produtor diretamente sobre a vegetação de campos: quando há
excesso de sobras fibrosas de pasto que os animais não consomem e a
alta freqüência de plantas indesejáveis. As principais recomendações
para utilização de roçadas em campos naturais são (id.):
• A época mais indicada é a plena floração dos inços, pois, nesse
estádio, o rebrote será dificultado (pela menor disponibilidade de
substâncias de reservas); como as sementes não estão fisiologicamente
maduras, não germinarão. O excesso de forragem fibrosa deve ser
eliminado na primavera.
• A altura de corte rente ao solo e com lâminas bem afiadas produz
melhor resultado.
• As áreas roçadas nunca devem ser queimadas, mesmo quando os
restos dificultam o rebrote, pois contribuem para o aumento da fertilidade
do solo.
Segundo o mesmo autor, “o trabalho da roçadeira (para eliminação
do excesso de pastagem) pode ser substituído pelo dente do próprio
animal”, através do aumento da lotação dos campos sem inços, nos
períodos de maior crescimento, impedindo que se tornem altos e fibrosos.
Esta alternativa pode ser empregada simultaneamente com a limpeza de
outras áreas (Figura 42).

Em janeiro-fevereiro, podemos aumentar a lotação dos campos que


estão livres de plantas indesejáveis para que o excesso do pasto seja
consumido, enquanto os campos inçados estejam sendo roçados e
aliviados de pastoreio. Esse procedimento faz com que, no rebrote, o inço
tenha a concorrência do campo nativo que não está sendo pastoreado.
Dessa forma, teremos, no outono, uma reserva de campo recém brotado,
não fibroso, com condições de suprir a falta de crescimento, ocasionado
pela diminuição da temperatura e da insolação (Pereira, 1993).

Jacques (1995) também recomenda o início de fevereiro para


realizar a roçada da pastagem excedente, que considera uma prática
altamente vantajosa, justificando-a através da seguinte experiência
própria:

211
É difícil calcular o que foi incorporado em termos de matéria orgânica, pelo
fato de não usarmos a prática das queimadas, preservando as dejeções
e o material morto (palha) que se deposita na superfície do solo. Uma
avaliação muito simples: recolhemos o material roçado – constituído de
espécies grosseiras e indesejáveis, como macegas, vassouras e
caraguatás. Se considerarmos uma produção de 500g de MS/m2 (...),
teríamos 5.000kg de MS/ha como produção ou disponibilidade das
referidas espécies. A análise química de tal amostra revelou 0,67% de N
na MS. Este valor multiplicado por 5.000kg de MS dá 33,5kg de equivalente
N, o que significa aproximadamente um saco e meio de uréia. Este tipo
de dado já seria suficiente para justificar o uso da roçadeira. Pois, apressa
a decomposição da matéria orgânica que será incorporada ao solo.

Figura 42. Área roçada no mês de janeiro no município de Bom Retiro para
controle de plantas indicadoras

As principais limitações para uso da limpeza mecanizada nos


campos naturais do Planalto Catarinense são as mesmas que impedem
ou dificultam diversas outras práticas: topografia acidentada e afloramento
de rochas na maior parte da área. A limpeza manual é possível, porém,
torna-se onerosa e inviável em grandes extensões. Assim, o manejo do
gado e da pastagem se torna a principal alternativa para estas condições.
As chamadas plantas “invasoras” sempre se identificam com alguma
propriedade do solo e, portanto, são igualmente “plantas indicadoras”.

212
“Cada solo pode ser reconhecido pela vegetação (...) que ali se instalou.
Cada região possui suas plantas ecologicamente adaptadas” (Primavesi,
1979). A Tabela 52 e a Figura 43 apresentam as principais plantas
indicadoras que ocorrem no Planalto Catarinense e algumas medidas
para controlá-las.

Tabela 52. Plantas indicadoras de determinadas situações de solo e


alternativas de controle
Principais medidas de
Nome vulgar Condição de solo
controle
e científico indicada pela espécie
recomendadas

Barba-de-bode Solo freqüentemente Pisoteio intenso,


(Aristida pallens) queimado, pouco permeável, correção da acidez,
pobre em P, Ca, K e MO fertilização

Caraguatá Presença de húmus ácido, Arranque, roçada, correção


(Eryngium horridum) locais que recebem pouco da acidez e pisoteio
pisoteio intenso

Carqueja Solos adensados, com Arranque ou ceifa (em


(Baccharis spp.) estagnação de água periódica jan./fev.; evitar essa
e pobres em Mo prática na primavera)

Guanxuma Áreas compactadas nas Arranque, roçada e recu-


(Sida rhombifolia) camadas inferiores, mas peração das condições
ricas em P físicas do solo

Maria mole Áreas úmidas na primavera, Correção do teor de K,


(Senecio brasiliensis) falta de K e adensamento descompactação ou corte
profundo na floração

Samambaia Alto teor de Al; plantas grandes Correção do solo e cortes


(Pteridium aquilinum) (solo rico), pequenas variados
(solo pobre)

Língua-de-vaca Solos pesados e Arranque e recuperação


(Rumex sp.) compactados; férteis, mas das condições físicas
com aeração deficiente do solo

Tiririca Solos adensados, ácidos, Arranque, drenagem e


(Cyperus spp.) temporariamente úmidos, mal correção da acidez com
arejados e com carência de Mg calcário dolomítico

Cravo-do-campo Áreas com superpastoreio Ceifa (jan./fev.),


(Tricrocline sp.) intenso e pisoteio em adequação da lotação
excesso e pastoreio rotativo
Fonte: Adaptado de Primavesi (1979, 1982a e b), Araújo (1967), Lorenzi et al. (1986),
Vivan (1993) e Pinheiro Machado (1997, comunicação pessoal).

213
A C

B D
Figura 43. Algumas das principais plantas indicadoras que ocorrem no
Planalto Catarinense: (A) carqueja; (B) samambaia; (C) caraguatá e (D)
vassouras

3.6 Queimada

O fogo, em si, não é bom nem mau, mas apenas um instrumento à nossa
disposição (...). Seu abuso é sempre pernicioso e seu impacto sobre a
natureza sempre profundo. Tudo depende da perspectiva do homem que,
sendo maior que o fogo, pode dominá-lo e colocá-lo a seu serviço. T.S.
Filgueira, citado por Evangelista et al. (1993).

Apesar de a literatura mencionar a existência de queimadas naturais,


provocadas por vulcanismo, descargas eletromagnéticas, combustão
espontânea, atrito entre rochas e atrito de madeira contra madeira, a
quase totalidade dos incêndios na vegetação é provocada pelo homem;
as demais causas são raras ou de efeitos localizados (Coutinho, 1994).

Mesmo antes dos europeus chegarem à América, os índios já tinham


esse hábito, seja para caçar, guerrear ou abrir clareiras. O homem
primitivo, presente no Brasil há pelo menos 32 mil anos, já manipulava
o fogo e provavelmente provocava queimadas na vegetação daqueles

214
tempos. O homem atual tem aumentado drástica e perigosamente o
número e a freqüência dessas queimadas (Guidon & Delibrias, 1986).

A queimada sempre foi uma das práticas mais discutidas no manejo


dos ecossistemas brasileiros e, especificamente, de campos naturais.
Esta polêmica é rotineira, em função de repetir-se anualmente. Não
restam dúvidas de que a melhor alternativa para eliminá-la é estimular a
sua substituição pelo melhoramento das pastagens nativas. Pouco impacto
produz a organização de verdadeiras cruzadas contra o uso do fogo e os
produtores que o utilizam, enquanto técnicas mais racionais não chegarem
ao seu conhecimento, nem eles dispuserem de recursos para adotá-las,
pois eles acreditam ser a queimada uma necessidade dentro do atual
sistema de produção.

A paralisação da prática da queima, pura e simplesmente, no sistema de


pastejo contínuo, provavelmente não resolverá a questão da produção,
podendo causar mais impactos negativos do que positivos. É necessário
entender que a suspensão da queima de pastagens está ligada,
necessariamente, a outro tipo de manejo, que proporcione incrementos
de produção favoráveis ao produtor, pois é dele que depende essa
decisão (Brandenburg, 1996).

Portanto, a queimada somente deixará de ser praticada quando os


produtores adotarem outras técnicas de manejo, como introdução de
espécies, uso de sal proteinado no outono-inverno, diferimento, pastoreio
rotativo, subdivisão de áreas, fertilização, limpeza e controle de plantas
indesejáveis, entre outras. Messias & Ries (2002) defendem essa mesma
posição ao justificarem o Programa Regional de Melhoramento de Campo
Nativo da Microrregião Homogênea dos Campos de Cima da Serra, que
abrange cinco municípios do nordeste do RS (agroecossistema muito
semelhante ao existente no Planalto Sul de SC), ao afirmarem que essa
tecnologia “coloca-se também como alternativa à prática do fogo,
tradicionalmente utilizado para tentar resolver os problemas de baixa
produção e produtividade”.
É evidente que não há necessidade – nem é possível para a maioria
– que todas sejam realizadas conjuntamente, nem mesmo na área total do
estabelecimento. O processo deve ser consciente, permanente e gradativo,
de acordo com as condições da propriedade e do produtor.
Assim, pelo fato de a queimada não ser uma alternativa para au-
mentar a eficiência produtiva dos campos naturais e a proposta é a sua

215
substituição através do melhoramento, não se pretende discuti-la com a
intensidade que o assunto desperta. Apenas serão levantados alguns
aspectos relevantes e de interesse para a compreensão do presente
livro.
O uso tradicional do fogo tem a finalidade principal de eliminar o
excesso de material, produzido na estação quente anterior e não consumido
pelos animais; por isso é empregado no final do inverno, para apressar
o rebrote (Figura 44). Como já foi mencionado, também é uma opção para
eliminar plantas indesejáveis. Segundo Damé (1995), a queima

apresenta efeitos complexos, específicos e desconhecidos nos


ecossistemas e é, além disso, influenciada pela quantidade de material
para a combustão, pela época da queima, condições ambientais durante
o ano, manejo do pastoreio antes e depois do fogo, composição florística
da pastagem, espécies de animais pastadores, entre outros fatores.

Figura 44. Queimada em agosto, com a justificativa de eliminar o excesso


de forragem produzida na primavera e verão e que não foi consumida pelo
gado

Castilhos (1993) acrescenta outros aspectos que influenciam a


intensidade do fogo, como períodos de freqüência, resistência de
determinadas plantas ao fogo (rizomatosas e aquelas que se restabelecem

216
facilmente por sementes) e tipo de solo (os declivosos facilitam a erosão).
Neiva (1993) afirma que os efeitos da queimada não podem ser analisados
isoladamente, sem levar em conta o fator solo, principalmente quanto à
sua permeabilidade, pois, sendo baixa (como cambissolos), “tende
apresentar menor disponibilidade de forragem”.
Quanto à resistência ao fogo, Pupo (1979) agrupa os vegetais em
dois grupos:
• De pequena resistência: espécies arbustivas, lenhosas, de
colmos lignificados, cuja extremidade superior do ponto de crescimento
se encontra longe do solo.
• De grande resistência: espécies herbáceas, de colmos não
lignificados, rasteiros, muitas vezes subterrâneos, cujos pontos de
crescimento se encontram rente ao solo e, freqüentemente, apresentam
elevado número de gemas sob o solo, como é o caso de gramíneas. As
sementes caem ao solo e resistem bem às queimadas.
O professor Aino Victor Ávila Jacques e seus colaboradores na
UFRGS desenvolveram uma série de trabalhos sobre queima – incluindo
várias dissertações de mestrado. As principais conclusões, após vários
anos de ensaios, são (Tabela 53):
• As áreas queimadas produziram menos que as não queimadas
(roçadas ou melhoradas).
• A grama forquilha demorou quatro meses para rebrotar e atingir
nível semelhante ao das áreas não queimados.
• O caraguatá, principal espécie indesejável na região (Depressão
Central do RS), aumentou sua freqüência nos potreiros queimados.
• O “cabelo de porco” (Piptochaetium sp., espécie nativa de inverno)
diminui sua disponibilidade de forragem nas áreas não queimadas.
• Houve alta porcentagem (em média 40%, mas chegando até a 70%
logo após a queimada) de solo descoberto sujeito à erosão, nos piquetes
queimados.

Tabela 53. Rendimento de matéria seca da forragem verde (MSFV), de


uma pastagem natural. André da Rocha, RS
MSFV Valor relativo
Tratamento
(kg/ha/ano) (%)

Sem queima e sem roçada – 32 anos 9.555 100


Campo nativo melhorado – 14 anos 9.537 99,8 (-0,20)
Campo nativo melhorado – 7 anos 9.148 95,7 (-4,30)
Sem queima (32 anos) e com roçada anual 7.049 73,8 (-26,2)
Queima bienal – mais de cem anos 3.665 38,4 (-61,6)

Fonte: Heringer & Jacques (2002) (adaptado).

217
Já foram citados no subitem 1.2 alguns naturalistas que descreveram
– no século passado e início deste – os campos naturais do Sul do Brasil
como “macegosos e arbustivos”, quando no clímax, e atualmente, em
disclímax, pela intensificação do pastoreio, subdivisão e o emprego do
próprio fogo, apresentam potencial maior para a produção zootécnica,
através de espécies de porte mais rasteiro e de melhor qualidade
nutricional. Este fato não necessariamente diverge dos estudos do
professor Aino Jacques, mas confirma as observações de Castilhos
(1993) e Damé (1995), de que a resposta à queimada depende de muitos
fatores que atuam sobre o agroecossistema.
A literatura sobre pastagens está repleta de trabalhos que mostram
os efeitos do uso do fogo, com muitas informações divergentes. Aliás, a
única unanimidade sobre o assunto parece ser a existência de informações
contraditórias em praticamente todos os parâmetros possíveis de serem
dimensionados, como produção de MS, PB, desempenho animal, efeitos
sobre a qualidade da pastagem, matéria orgânica, ciclagem de nutrientes,
umidade do solo, organismos do solo, entre outros (Evangelista et al.,
1993). Schreiner (1991) faz a seguinte observação sobre esse aspecto:

Muitos ensaios experimentais, em que se compararam as produções de


pastagens queimadas e não queimadas, confirmam as vantagens
alegadas pelos defensores do fogo, enquanto as desvantagens nem
sempre são confirmadas experimentalmente. Isso pode ser devido a que
estudos sobre esse assunto sejam cumpridos em curto prazo, quando
não haveria tempo para constatá-las.

Pupo (1979) e Schreiner (1991) relacionam as vantagens e


desvantagens do fogo em pastagens, citando trabalhos de diversos
autores:
Vantagens:
• Remove o capim velho rejeitado pelo gado.
• Estimula a brotação nova, tenra e de melhor qualidade.
• Elimina endo e ectoparasitas50.
• Controla (algumas) plantas indesejáveis.
• Estimula a germinação de forrageiras 51.
• As cinzas contêm nutrientes que são aproveitados pela vegetação
que rebrota.

50
Segundo Oliveira (1988), citando dados da FAO (1984), os efeitos da queimada
com essa finalidade têm curta duração, pois logo os animais voltam a contaminar
a área onde o fogo passou, em virtude da rápida brotação que ocorre e que disputam
para comer.
51
Da mesma forma, também estimula a germinação de plantas não-forrageiras e
indesejáveis na pastagem.

218
Desvantagens:
• Aumenta perdas pela erosão, principalmente em terrenos
declivosos.
• Reduz a infiltração de água no solo.
• Destrói grande parte da matéria orgânica existente no solo 52.
• Elimina muitos insetos, que são inimigos naturais de pragas53.
• Diminui a população de microorganismos úteis54.
• Predispõe o surgimento de condições físicas desfavoráveis.
Sobre esta polêmica, envolvendo benefícios e prejuízos provocados
pelo fogo, a engenheira agrônoma Brigitte Brandenburg, quando atuava
como pesquisadora na Epagri/EEL fez a seguinte análise:

O fogo estimula a produção de sementes e a germinação da maioria das


espécies presentes, desejáveis ou não, do ponto de vista forrageiro. A
crença de que (...) destrói a camada de matéria orgânica, reduz a fertilidade
e estimula a dominância de espécies de baixo valor forrageiro não
apresenta comprovação consistente, com resultados controvertidos de
uma região para outra. O fogo não melhora a fertilidade, apenas estabelece
um equilíbrio entre a sua elevação após a queima, e o retorno a níveis
baixos, anteriores à queima, alguns meses após, o que caracteriza um
ciclo fechado.
Os efeitos nocivos da queimada nunca agem isoladamente. Outros
fatores, como períodos de seca após o fogo, sobrepastejo e pisoteio
concentrados nas áreas recém-queimadas, declividade e intensidade do
fogo, comportamento animal e dominância de espécies indesejáveis (...),
agem conjuntamente” (Brandenburg, 1996).

52
Esta é uma das questões mais polêmicas sobre o uso do fogo. Coutinho (1994)
argumenta “que os solos mais ricos em MO vão perdê-la em maior proporção, uma
vez que este material também é combustível; naqueles pobres em MO, a sua
combustão é dificultada pela maior compactação que geralmente apresentam,
reduzindo o acesso ao ar carburante”. Castilhos (1984) afirma que o teor de MO tanto
pode diminuir ou aumentar “devido a variações de época de uso do fogo e das
condições no momento em que é utilizada”. Evangelista et al. (1993) citam vários
resultados de diversos autores em que a MO aumentou após o uso do fogo.
53
Damé (1995) conclui que, nas condições de seu experimento e com o modelo de
análise adotado, o fogo não apresentou efeitos significativos sobre colêmbolas e
ácaros do solo. Eller & Santos (1994) chegaram a um resultado mais surpreendente
ainda, pois num campo nativo submetido a queima “observou-se aumento da
população para todas as classes (Arachnida, Insecta e Collembola) após a queimada,
havendo redução apenas nos himnópteros (ordem da classe Insecta)”.
54
A intensidade do fogo (temperatura, duração e freqüência), a diminuição da acidez
e a liberação de nutrientes afetam a população de algas, fungos, actinomicetos e
bactérias. Alguns fungos proliferam menos em função da elevação do pH e “tendem
a aumentar o número de bactérias que fixam N (Azobacter e Clostridium), aumentando
a nitrificação e diminuiindo a amonificação” (Evangelista et al, 1995).

219
Das relações mencionadas acima, fica claro que as vantagens são
todas para a vegetação forrageira, enquanto as desvantagens atingem
principalmente o solo, o que, de certa forma, é bem mais grave, pela
simples razão de que a pastagem somente existirá se o substrato, que é
o solo, oferecer condições adequadas. Se todas as afirmações descritas
são verdadeiras, a longo prazo a queimada não encontrará defensores,
nem mesmo em manejo de pastagens nativas.

A conseqüência mais importante é que o fogo tende a expor a superfície


do solo. E como o manejo da superfície do solo é um ponto central para
o monitoramento dos componentes fundamentais (sucessão vegetal,
ciclo hidrológico, ciclagem de nutrientes e do fluxo energético) do
ecossistema, deve-se ter sempre em mente esta peculiaridade. O efeito
da queimada sobre cada um desses componentes depende do ambiente
ser estável ou instável (Sevory, 1988).

No entanto, em algumas ocasiões, mesmo técnicos que contestam


o uso do fogo, admitem sua utilização para a introdução de espécies em
cobertura, nesse caso, considerada a última queimada e como única
alternativa para limpeza de campos macegosos (Gonzaga & Jacques,
1990). Para estes casos, Pupo (1979) faz as seguintes recomendações:
a) alternar as áreas queimadas, se possível não repetir a queima antes
de três anos na mesma invernada ou potreiro (Figura 45); b) “efetuar a
queimada uns dois dias após uma chuva razoável, para proteção das
raízes e demais partes da planta próximo ao solo”; c) queimar nas últimas
horas do dia, para que a queda da temperatura e o sereno, auxiliem no
controle das chamas; d) “colocar fogo na direção do vento, para que, a
queima seja rápida e os efeitos menores”.

Figura 45. Queimar


áreas de forma
alternada, uma das
alternativas para
reduzir os danos
dessa prática sobre
o solo e a vegetação

220
3.7 Literatura citada

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apresentada ao concurso para professor titular do Departamento de
Zootecnia, UFSC/CCA).

68. VIDOR, M.A. Comportamento de uma pastagem natural


sobressemeada com leguminosas de estação fria e avaliada sob
condições de corte e pastejo. 1986. 133f. Dissertação (Mestrado em
Agronomia), Faculdade de Agronomia, Universidade Federal do Rio
Grande do Sul, Porto Alegre., RS.

69. VIVAN, J.L. Pomar ou floresta: princípios para manejo de


agroecossistemas. Rio de Janeiro: AS-PTA, 1993. 96p. (Cadernos de
Tecnologia Alternativa).

70. VOISIN, A. Produtividade do pasto. São Paulo: Mestre Jou,1974.


520p.

71. WHITE, J.G.H. Mejoramiento de pasturas montañosas. In: LANGER,


R.H.M., Las pasturas e sus plantas. Montevideo: Agropecuaria
Hemisferio, 1981. p.309-349.

72. ZUÑIGA, M.C.P. A complexa tarefa de manejar pastagens. Informe


Agropecuário. Belo Horizonte. v.11, n.132, p.19-21, dez. 1985.

228
4 Custos de implantação do melhoramento de
pastagens naturais
Osvaldo Vieira dos Santos55

4.1 Introdução

Pretende-se, neste item, contribuir com informações de natureza


técnica e econômica para a tomada de decisões em relação ao
melhoramento do campo nativo. Busca-se, num primeiro momento,
apresentar as características básicas dos sistemas produtivos que ocorrem
na região de estudo, bem como abordar alguns conceitos utilizados na
mensuração de resultados econômicos, tais como o cálculo da renda
bruta, dos custos fixos e variáveis e das taxas de retorno sobre o capital
utilizado, servindo de base para a análise dos custos de implantação do
melhoramento de pastagens naturais.
Este item está estruturado em cinco partes. A primeira focaliza os
aspectos inerentes aos sistemas de produção e a natureza dos custos. Na
segunda parte, aborda-se o comportamento dos preços médios da
bovinocultura de corte e de leite, relacionados aos preços pagos pelos
produtores para alguns insumos selecionados. Na terceira, fazem-se
algumas considerações sobre a necessidade de se investir na
produtividade da pecuária no Planalto Sul Catarinense. Tais considerações
estão associadas aos custos de implantação dos principais métodos
recomendados para o melhoramento do campo nativo, descritos na
quarta parte do trabalho. Por fim, a quinta parte trata das principais
conclusões deste item.

4.2 Estrutura de propriedades e sistemas de produção


predominantes no Planalto Sul Catarinense

Não existem estudos mais aprofundados com respeito aos diversos


sistemas produtivos predominantes na região. De modo geral, os sistemas
produtivos de pecuária na região do Planalto Sul Catarinense se
caracterizam por sistemas diversificados, predominando a criação de
bovinos de corte, de leite e de ovinos, associados à produção de culturas
anuais (Ritter & Sorrenson,1985). Mais especificamente em relação ao

Eng. agr., M.Sc. Epagri/Estação Experimental de Lages, C.P. 181, 88502-970


55

Lages, SC; fone: (49) 224-4400, e-mail: osvaldo@epagri.rct-sc.br.

229
uso do solo para a pecuária de corte, os autores classificam as fazendas
em três tipos:
• Fazendas especializadas em gado de corte criado em campo
nativo, com uma pequena área de pastagem anual de inverno, o chamado
“hospital”. Neste tipo de sistema o fazendeiro possui seu rebanho e
engorda seus próprios novilhos.
• Fazendas com gado de corte com utilização de pastagem anual de
inverno em sucessão a culturas comerciais de verão. Neste caso, o
proprietário compra normalmente bezerros para a engorda.
• Fazendas especializadas em culturas (lavouras) que utilizam
pastagem de inverno em sucessão às culturas de verão. Este tipo de
fazendeiro compra animais adultos para engordá-los no inverno e
comercializá-los na primavera.
Em relação aos sistemas de leite, Ritter & Sorrenson (1985)
classificaram os sistemas produtivos em especializados, com produção
em pastagens nativas e uma pequena área com milho para produção de
grãos em sucessão à área de azevém; sistemas especializados em leite
com grande área cultivada com pastagens permanentes ou anual, onde
o milho é utilizado para produção de silagem e, em alguns casos, para
grãos; propriedades mistas, combinando a produção de leite e de carne,
com predominância de uma ordenha diária e produção eventual de
silagem.
Ainda em relação aos sistemas de leite existentes na Região do
Planalto Sul Catarinense, Pinheiro et al. (1992) os classificaram em três
tipos:
Tipo 1 – são produtores familiares que possuem pequenas áreas
de terras, limitadas à mecanização, cultivadas com as culturas do milho e
do feijão. O rebanho leiteiro é de baixo potencial produtivo, com
predominância de raças mestiças e manejo alimentar, sanitário e
reprodutivo deficiente.
Tipo 2 – caracteriza-se por médios produtores. Estes associam à
atividade leiteira a produção de milho e feijão para o abastecimento
interno da propriedade. Há predominância da raça de gado holandês e
contam com um melhor padrão alimentar, higiênico e sanitário do rebanho.
Tipo 3 – caracteriza-se por grandes produtores de leite,
especializados; o leite é a principal atividade destes estabelecimentos,
cujo padrão tecnológico se diferencia em muito dos primeiros siste-
mas.
Em qualquer uma dessas situações, existe uma estrutura de
propriedade bem definida, constituída por uma gleba de terras, por
instalações de manejo do gado (galpão, brete, mangueira e balança em

230
alguns casos), além de cercas de arame farpado, taipas de pedra e
construções destinadas a moradia, tanto do proprietário, quanto dos seus
empregados.
Em sua grande maioria, utilizam mão-de-obra familiar, podendo
ocorrer contratos de mão-de-obra ocasional em determinados períodos
do ano, complementando a demanda do sistema. Nas propriedades
maiores, há predomínio de empregados contratados formalmente, sujeitos
às condições da legislação trabalhista.
Este conjunto de bens imóveis, juntamente com os animais, forma
o capital imobilizado dos proprietários, o qual, acrescido da mão-de-obra
disponível, constitui a base produtiva para determinado sistema de
produção. Portanto, a estrutura de produção representa o estoque de
capital utilizado na produção, sobre o qual há um determinado custo.
Em outro grupo de contas, tem-se o capital de giro do produtor,
representado basicamente pelos recursos monetários disponíveis em
espécie, pelas reservas de poupança, pelo estoque de produtos e
insumos e de animais disponíveis para venda, bem como por capitais
realizáveis a curto prazo, utilizados no custeio das atividades explo-
radas.
Observa-se uma desproporção entre o estoque de capital imobi-
lizado e a quantidade de recursos disponíveis para investimento. Neste
sentido, as áreas de terras ao longo do tempo foram consideradas muito
mais como reserva de valor do que meio produção. Decorre dessa
afirmação que é comum encontrar produtores com áreas consideráveis
de terras, praticando uma pecuária meramente extrativa, já que os
investimentos em benfeitoras (cercas, instalações de manejo e
melhoramento de pastagens) são praticamente inexistentes. Tal situação
conduz a uma condição de baixa produtividade e, conseqüentemente,
baixa rentabilidade do sistema.
Estes sistemas, classificados como criação extensiva, utilizam poucos
insumos adquiridos, seja para o tratamento de endo e ectoparasitos, para
mineralização do rebanho ou para a introdução de novas espécies
forrageiras. Em decorrência disso, apresentam baixos custos de
desembolso, porém são de baixa produtividade, a exemplo da produção
de 50kg de PV/ha/ano (Ritter & Sorrenson, 1985). Naturalmente, essa
produtividade é um resultado muito baixo em relação ao potencial
existente na região, demonstrando que os recursos vegetais, animais e
de solos não têm sido manejados adequadamente. Como conseqüência
deste mau manejo, a geração de renda também é muito baixa, mas pode
ser melhorada.

231
4.2.1 A natureza dos custos

Normalmente, os proprietários rurais não se importam com o custo


do patrimônio imobilizado, considerando-o como nulo, uma vez que o
conjunto de bens imóveis já está pago. Desta forma, atribuem ao capital
somente os custos de reparos, manutenção e conservação de benfeitorias,
de cercas, máquinas e equipamentos. É certo, naturalmente, que há um
contínuo processo de descapitalização dos produtores e criadores, em
razão dos custos inerentes à estrutura da propriedade, os quais não
raramente passam despercebidos pelos detentores do capital.
Tais custos são caracterizados como custos estruturais, geralmente
denominados de custos fixos (CF) da propriedade; correspondem aos
custos de depreciação advindos da idade do bem, do desgaste físico ou
da obsolescência tecnológica. Além desses, podem-se considerar ainda
os custos inerentes à mão-de-obra familiar e os juros sobre o capital
empatado, convencionalmente chamado de custo de oportunidade
(Pindyck & Rubinfeld, 1994).
Numa análise de curto prazo, os custos fixos da propriedade são
estáticos, ou seja, eles estão presentes, independentemente da quantidade
produzida. Assim, os custos fixos independem da tomada de decisão do
administrador do capital. Entretanto, são extremamente importantes na
determinação do custo unitário de cada produto gerado na agricultura, já
que, quanto maior o capital utilizado, maior a parcela dos custos fixos
sobre cada unidade de produto produzida.
Com relação aos custos variáveis (CV), a análise se torna um pouco
diferente. São custos imputados diretamente às atividades. Assim, os
custos variáveis se modificam de acordo com a tomada de decisão
gerencial. Pode-se afirmar, ainda, que os custos variáveis mudam quando
o nível de produção se altera no período de tempo analisado (Soldatelli
et al.1993). Portanto, os custos variáveis estão associados diretamente
ao padrão tecnológico utilizado e também à escala de produção.
Desse modo, os custos variáveis caracterizam-se por todos os
custos que o produtor tem, sem a devida certeza do seu retorno, por
exemplo: gastos com sementes, adubos, uréia, agrotóxicos, medicamentos
e mão-de-obra ocasional. São, na maioria, desembolsos financeiros.
O nível de desembolso em custos variáveis está ainda intimamente
ligado ao padrão de tecnologia empregada e à expectativa de retorno do
capital investido na atividade, bem como ao grau de risco oferecido pela
atividade. Assim, os custos variáveis se traduzem no capital de giro
necessário para implementar determinada atividade. Se os recursos são
escassos, o grau de tecnologia utilizado é baixo, a atividade não dá a

232
resposta esperada e, por conseqüência, o retorno é pequeno, conduzindo
a um círculo vicioso de empobrecimento.
Em sistemas produtivos extensivos, com utilização de baixos níveis
tecnológicos, os gastos em insumos são relativamente reduzidos,
caracterizando sistemas de baixo desembolso ou de baixos custos;
entretanto, conduzem a produtividades também baixas. Considerando
que os custos fixos são dados e independem do volume de produção
obtido, ao contrário do que se pensa, os custos unitários se tornam
extremamente altos. Adicionalmente, os produtos gerados sob condições
de baixo padrão tecnológico certamente se apresentam pouco atrativos
no mercado, pressionando por preços de comercialização também mais
baixos, conduzindo a uma menor rentabilidade.
Quando se considera a soma dos custos, obtém-se o custo total
(CT), que é o resultado dos custos fixos mais os custos variáveis. Logo,
para cada produto e para cada produtor haverá um certo custo. Pode-se
afirmar, ainda, que não existe um custo de produção padrão. Cada
produtor individualmente, dependendo do que ele faz e de como faz, tem
um nível de custo para determinado produto.
Sob a ótica da geração de renda em estabelecimentos
agropecuários, considera-se a renda bruta (RB) gerada na propriedade
rural. A renda bruta é resultante da multiplicação da quantidade de
produto obtida pelo preço recebido no mercado. Certamente existam
vários fatores que afetam a renda bruta, entre eles a quantidade produzida,
a qualidade do produto, os preços de comercialização, a época de
comercialização, o grau de diferenciação, entre outros. Logo, o nível de
renda gerada por cada produtor depende do conjunto de fatores que
estejam sendo utilizados, do padrão tecnológico em uso, das condições
climáticas, do comportamento dos preços no mercado e da habilidade
gerencial do administrador.
A dotação de um conjunto considerável de fatores de produção não
necessariamente corresponde a um maior volume de renda gerada. Há
uma relação direta entre a geração da renda e a intensidade de uso dos
fatores de produção. Assim, atividades altamente intensivas em capital de
giro e de baixa intensidade em capital fixo podem gerar um volume de
renda muitas vezes superior ao daquelas que se utilizam de elevado nível
de capital fixo e de baixo nível de capital variável.
Algumas relações simples permitem obter informações importantes
para o gerenciamento da atividade agrícola e pecuária. Por exemplo,
quando se subtraem os custos variáveis da renda bruta, obtém-se a
margem bruta (MB). A margem bruta não é o lucro do produtor, mas é o
que lhe sobra em valores monetários.

233
A margem bruta nada mais é do que uma operação simples de
receita menos despesas. Porém, constitui um indicador de extrema
utilidade para o produtor. Permite a obtenção de vários indicadores
econômicos e de produtividade, como, por exemplo, margem bruta por
hectare (MB/ha), margem bruta por vaca (MB/vaca), por litro de leite
(MB/L de leite) ou por quilo (MB/kg) de carne produzido. Tais indicadores
podem ser calculados em condições de estabelecimentos agropecuários,
servindo de instrumento para o produtor gerenciar suas atividades e
tomar decisões.
Uma questão muito importante, e que deve ser considerada na
análise dos resultados de estabelecimentos agropecuários, especialmente
de atividades que se utilizam de área de terras, está associada à
mensuração da área efetivamente utilizada por determinada atividade
agrícola ou pecuária. Mais especificamente, refere-se à necessidade de
se considerar tão somente as áreas utilizadas com culturas anuais, com
pastagens, ou com culturas permanentes. Há, portanto, a necessidade de
se excluir, para efeito de análise, as áreas ocupadas pelas benfeitorias,
áreas de preservação permanente e de reserva legal, já que não irão
contribuir diretamente na geração da renda da propriedade.
Tal procedimento deve ser realizado a fim de que se obtenha uma
maior aproximação das áreas efetivamente utilizadas, ou, de forma mais
específica, mensurada a superfície agrícola útil (SAU), que passa a ser o
parâmetro de análise da rentabilidade para diversos indicadores, tais
como: MB/ha, CF/ha, CV/ha, RBT/ha, etc.
No caso da pecuária, a não-aferição das áreas efetivamente
ocupadas com pastagens pode conduzir a erros grosseiros de
interpretação da produtividade animal, quando considerado quilos de
peso vivo produzidos por hectare, ou litros de leite por hectare.
Tomemos por exemplo uma propriedade localizada no município de
Painel, SC que possui uma área total de 610ha (Tabela 54). Excluídas as
áreas com benfeitorias, instalações, áreas de reflorestamento, banhados
e áreas inaproveitáveis, obteve-se uma área efetivamente utilizada de
456,40ha (74,80%) da área total. Deve-se considerar, ainda, que em
condições de elevada pedregosidade e de declividade, tais índices
podem ser mais baixos. De acordo com a tabela, a área efetiva de
pastagens é de 440ha. É em relação a esta área que deve ser analisada
a produtividade da bovinocultura de corte.
Considerando-se o sistema de produção ilustrado na Tabela 54,
apresentam-se a seguir os principais indicadores até aqui descritos (CF,
CV, RB e MB), (Tabela 55). Nota-se que o sistema apresentou uma boa

234
receita monetária no período analisado, R$ 60.758,80, o que corresponde
a uma receita bruta mensal de R$ 5.063,00. Como é um sistema de
criação extensiva e adota poucas práticas intensivas de produção, os
custos variáveis são relativamente baixos, correspondendo a R$ 3,79 mil,
o que equivale a um desembolso anual de R$ 8,62/ha.

Tabela 54. Exemplo de um sistema de produção de bovinos de corte na


Região do Planalto Sul Catarinense

Especificação Área Índice relativo


(ha) (%)

Área total da propriedade 610,00 -


Superfície agrícola útil (SAU) 456,40 100,00
• Pastagem perene de inverno 10,00 2,20
• Pastagem nativa 430,00 94,29
• Reflorestamento 16,00 3,51

Fonte: Epagri (2002).

Tabela 55. Resultados econômicos do sistema de bovinos de corte na


Região do Planalto Sul Catarinense, valores em R$ referentes a 2001

TRCP
Indicador RBT CVT MBT CFT Lucro ROA RMOF (%)

Valor 60.758,80 3.796,46 56.962,34 54.403,60 2.558,74 57.032,17 316,22 6,33

Nota: RBT = renda bruta total; CVT = custo variável total; MBT = margem bruta total; CFT = custo
fixo total; ROA = renda da operação agrícola; RMOF = retorno da mão-de-obra familiar; TRCP
= taxa de remuneração do capital próprio.
Fonte: Epagri (2002).

Quando se aplicam os custos inerentes à estrutura da propriedade


(custos fixos), o resultado contábil (lucro) ainda se mostra positivo, porém,
com valor relativamente baixo, ao redor de R$ 2.500,00, conforme a
Tabela 55. Os custos fixos, neste caso, estão correspondendo a todos os
custos inerentes à depreciação de máquinas, de benfeitorias e de

235
equipamentos, acrescidos dos juros sobre o capital próprio, incluindo a
terra, remunerados à taxa de 6% ao ano.
O lucro (L) é o resultado contábil da diferença entre a RBT e os CT
(CF + CV). Em termos gerais, podem ocorrer três situações: L = CT; L <
CT e L > CT. Quando o valor de L é igual ao valor dos custos totais, tem-
-se uma situação de lucro econômico normal, ou seja, há uma remuneração
de todos os fatores produtivos. Logo, estão sendo remunerados o capital
mobiliário, o maquinário, a terra e a mão-de-obra disponível na propriedade.
Neste caso, diz-se que o estabelecimento em análise está numa situação
estável. Numa posição em que o valor de L é maior que o somatório dos
custos totais, tem-se uma situação de lucro supra-normal, ou seja, a
rentabilidade da atividade, ou do estabelecimento, permite gerar receitas
superiores ao total dos custos. É uma situação desejável e promissora. Ao
contrário, quando L é menor que os CT, visualiza-se prejuízo econômico.
Neste caso, não há estabilidade e o sistema deverá ser revisto. De acordo
com estudos realizados pela Epagri, a grande maioria dos
estabelecimentos agropecuários passam por essa situação. Diante de
um contínuo processo de descapitalização e de queda no nível dos
preços, tais estabelecimentos não apresentam estabilidade econômica
de longo prazo, requerendo, portanto, intervenção administrativa.
Ainda em relação à Tabela 55, analisam-se mais três conceitos
básicos. O conceito de renda da operação agrícola (ROA), que é o
resultado da diferença da renda bruta total em relação aos custos reais 56,
ou seja, em relação aos gastos efetivos na manutenção da atividade
agrícola ou pecuária. Este conceito se aproxima em muito do raciocínio
dos produtores, já que se deduzem do total das receitas apuradas apenas
as despesas efetivas. Para o exemplo descrito na Tabela 55, o valor da
ROA corresponde a R$ 57.032,17, que, aos olhos do produtor, é um
excelente resultado. O retorno da mão-de-obra familiar (RMOF) é o
resultado algébrico da diferença entre a ROA e o custo de oportunidade
do capital próprio, calculado na base de 6% ao ano, dividido pelo número
de unidades de trabalho familiares existentes (UTHs), considerando-se
13 salários mínimos regionais para cada UTH. No exemplo apresentado
na Tabela 55, corresponde a R$ 316,22.
De forma semelhante, a taxa de remuneração do capital próprio
(TRCP) é calculada com base na ROA, subtraindo-se o custo de
oportunidade da mão-de-obra familiar, dividindo-se o resultado pelo

São todos os custos da empresa agrícola, incluindo a depreciação, com exceção


56

da remuneração da mão-de-obra familiar, dos juros sobre o capital próprio e das


cessões internas (Soldatelli et al. 1993, p.87).

236
capital próprio médio, expressa em porcentagem (Soldatelli et al., 1993).
Para o exemplo da Tabela 55, corresponde a uma taxa de 6,33% ao ano,
após terem sidos cobertos os custos diretos e os custos indiretos da
propriedade.

4.3 Comportamento dos preços pagos e recebidos pelos


produtores rurais

As profundas alterações ocorridas na economia brasileira no período


após o Plano Real, principalmente a redução dos processos inflacionários,
induziu os setores produtivos a uma nova dinâmica na geração de bens
e serviços. Não obstante as modificações no comportamento interno da
economia brasileira, aceleraram as relações entre os blocos comerciais,
em particular o Mercado Comum do Sul – Mercosul – e Comunidade
Econômica Européia – CEE –, criando espaços para sua intensificação.
Tais transformações implicam necessariamente mudanças nos
modos tradicionais de produzir, já que passam a exigir a adequação a
novos padrões de qualidade e a introduzir medidas protecionistas,
caracterizadas por barreiras sanitárias, por tarifas e medidas regulatórias,
implicando ajustes nas cadeias de produção.
Decorrente desse contexto de modificações estruturais na economia
brasileira, no qual se criaram novas oportunidades de mercado, permitindo
a entrada de produtos externos no mercado interno e por um intenso
processo de lançamento de novos produtos pelas empresas para atender
às novas demandas de mercado, verifica-se um contínuo processo de
aumento no preço dos insumos de natureza industrial, uma contínua
queda nos preços reais dos produtos de origem agropecuária.
Tal situação pode ser visualizada nas Figuras 46 e 47, considerando-
-se os preços em valores reais médios da carcaça bovina e do leite
recebidos pelos produtores, calculados com base numa série de 12 anos.
De modo geral, as duas séries se apresentam com preços
declinantes ao longo do período, com as maiores quedas ao redor do ano
de 1996. Após esse ano há uma recuperação gradual dos preços, com
uma tendência de melhora mais acentuada para a carne em relação ao
leite. Observa-se, ainda, que o leite apresentou melhora de preço no ano
de 2000, aproximando-se de R$ 0,40/L, enquanto a carne apresentou o
melhor preço recebido pelos pecuaristas em 2001.
A análise torna-se ainda mais significativa quando se relaciona o
preço recebido pelos produtores aos preços dos insumos utilizados.
Consideraram-se, neste caso, as relações de troca entre os preços da
carcaça bovina, frente aos preços do arame farpado (Figura 48).

237
Fonte: Epagri (2003) – Valores em R$ atualizados pelo IGP-di/FGV. Base dez.
2002 = 100.

Figura 46. Preços médios anuais da carne bovina (carcaça),no período


de 1990 a 2002

0,70
6,00
0,60
5,00
0,50
4,00
0,40

R$/kg
R$/L
3,00
0,30
2,00
0,20
1,00
0,10
0,00
0,00 1990 1991
1990 1991

Fonte: Epagri (2003) – Valores em R$ atualizados pelo IGP-di/FGV. Base dez.


2002 = 100.

Figura 47. Preços médios anuais do leite pagos aos produtores no


período de 1990 a 2002

238
Fonte: Epagri (2003) - Valores em R$ corrigidos monetariamente pelo IGP- di/
FGV. Base dez 2002 = 100.

Figura 48. Relação de troca entre os preços médios anuais recebidos


pela carcaça bovina (R$/kg) e os preços médios pagos pelo arame
farpado (rolo 500m) em Santa Catarina: no período de 1990 a 2002

0,06 00

A análise da Figura 48 permite identificar pelo menos três situações


Relaçã o - a rame farpado : car caça

0,05 00
distintas:
0,04 00 • No início dos anos 90, houve uma relação favorável à pecuária de
corte, que permitiu adquirir perto de 0,06 unidade de rolo de arame
0,03 00
farpado por quilo de carcaça.
0,02 00 • Após esse período, a relação de troca passou a declinar, atingindo
o menor valor da série em 1996, próximo a 0,03 unidade de rolo de arame.
0,01 00 • Após 1996, houve uma recuperação dos preços da carcaça
bovina frente aos preços do arame farpado, tendo atingido o índice
0,00 00
próximo
199 0 19 91a 0,05
1 992 em3 2001,
199 1994 com
199 5 tendência
1 996 1997 de 1999
19 98 queda200 0em 2002.
20 01 2002
Anos
Raciocínio semelhante pode ser desenvolvido para o leite in natura,
comparativamente a uma fórmula comercial de adubo químico (05-20-
10), por exemplo, ilustrada na Figura 49. Nota-se que a média se situa ao
redor de 0,015kg de adubo adquirido com 1L de leite na propriedade.
Entre os anos de 1993 e 1995, esta relação se tornou mais favorável ao
produtor, elevando-se para próximo de 0,02kg de adubo/L de leite.
Entretanto, a partir de 1996, declinou continuamente, evidenciando
dessa forma, perda de competitividade pelos produtores. É Importante
considerar, ainda que o preço do leite tenha reagido positivamente aos

239
produtores, principalmente de 2000 em diante, que não foi o bastante
para equilibrar a relação de troca ainda desfavorável aos produtores.
Deduz-se que os preços do adubo aumentaram mais que
proporcionalmente aos preços do leite.

Fonte: Epagri (2003) – Valores em R$, corrigidos monetariamente pelo 0,025


IGP- di. Base dez. 2002 = 100.

Relaçãoo - kg adubo : L leite


0,020
Figura 49. Relação de troca entre os preços médios anuais recebidos
pelo leite in natura na propriedade (R$/L) e os preços médios pagos pelo
0,015
adubo mineral fórmula 05-20-10 (R$/kg) em Santa Catarina, no período
de 1990 a 2002 0,010

0,005
Outro aspecto a ser considerado é o processo de modernização
tecnológica. À medida que se intensifica o uso de fatores de produção
0,000
mais modernos, aumenta a quantidade de produtos produzidos, ampliando- 1990
-se conseqüentemente, a oferta de produtos no mercado. Uma maior
oferta de produtos tende a pressionar por uma redução nos preços de
mercado, pressionando também por queda nos preços da matéria-prima.
A redução dos preços recebidos pelos produtores implica igualmente
a redução da renda gerada nos estabelecimentos agropecuários,
demandando novos processos produtivos, ou de processos mais intensivos
em capital, que resultam em aumento da produtividade. Considerando-se
que o mercado de fatores não é perfeito, uma maior demanda por insumos
modernos implica elevação dos preços dos insumos, conforme ilustram os

240
gráficos, reduzindo as margens de comercialização dos produtores
rurais.

4.4 Razões para se investir na produtividade da pecuária

Estudos de Ritter & Sorrenson (1985) constataram que a produção


da pecuária de corte do Planalto Sul Catarinense apresentava
produtividade média de 50kg de PV/ha, produzidos anualmente em
condições de campo nativo e criação extensiva. De modo semelhante, o
Censo Agropecuário (1997) aponta para produtividades da atividade
leiteira ao redor de 1.700L de leite/vaca/ano. Em ambos os casos, são
produtividades extremamente baixas, comparadas ao potencial existente
para produção na região.
Entre as razões apresentadas para ocorrência desses baixos
níveis de produtividade, nos diversos sistemas produtivos existentes,
destacam-se a utilização de sistemas criatórios mal dimensionados e
conduzidos com base na tradição e em experiências passadas, geralmente
voltados para a produção pecuária de ciclo completo, sem maior
padronização racial e exploração de animais em áreas restritas.
Adicionalmente, devem-se considerar a produção sazonal das
pastagens nativas, conduzindo a uma nutrição desequilibrada, a ocorrência
de endo e ectoparasitos sem o devido controle e as condições físicas
adversas, impostas pelo clima, pela topografia desfavorável, pela
pedregosidade e a baixa fertilidade natural dos solos. Seguramente, tais
restrições podem ser amenizadas e suprir com maior eficiência as
demandas nutricionais das pastagens e da criação quando implementadas
práticas de melhoramento das pastagens nativas capazes de assegurar
uma maior oferta de volumoso, de qualidade nutricional superior, em
períodos de maior demanda.
Pelos trabalhos realizados por Jacques (1997) nos Campos de
Cima da Serra do Rio Grande do Sul; constatou-se ganho médio de 583g
por dia, correspondendo à produção de 150kg de PV/ha num período de
257 dias, em pastagens nativas melhoradas com trevo branco e trevo
vermelho, mesmo no inverno e em condições de estiagem. Tal resultado
é pelo menos três vezes maior que a produtividade obtida por Ritter &
Sorrenson (1985).
Procurando mensurar a produtividade das pastagens nativas
melhoradas, Andrade (2001) comparou a produtividade obtida em 15
propriedades de gado de corte na Região Serrana de SC que aderiram
à tecnologia de melhoramento de campo nativo, recomendada pela
Epagri. Entre os principais resultados, constatou que a produtividade

241
média das áreas de pastagens melhoradas foi de 357kg de PV/ha/ano; o
menor valor obtido foi de 208 e o maior, de 629kg de PV/ha/ano. Tal
resultado contrasta fortemente com a média regional considerada, que é
de 50kg de PV/ha/ano.
Também em relação aos resultados de Andrade (2001) e
considerando-se os preços médios de mercado para comercialização do
boi gordo, pode-se estimar uma variação da renda bruta de R$ 98,00 para
R$ 643,00/ha/ano, comparativamente aos sistemas tradicionais e ao
sistema conduzido em pastagem nativa melhorada.
Além da produtividade da pastagem e o valor da renda bruta
gerada, é interessante observar o retorno obtido pelo criador, já que a
introdução de espécies e o melhoramento da fertilidade natural do solo,
com vista ao melhoramento da pastagem nativa, implicam elevação dos
custos variáveis. Ainda de acordo com o trabalho de Andrade (2001),
constatou-se que nas propriedades tradicionais o custo variável médio
foi de R$ 39,20/ha, enquanto nas pastagens melhoradas elevou-se para
R$ 132,36/ha, à primeira vista, trata-se de de uma elevação dos custos
da propriedade.
Considerando-se a diferença entre a renda bruta gerada e os
custos variáveis, obtêm-se valores de R$ 427,72 e R$ 33,60, que
correspondem à margem bruta obtida entre os sistemas melhorados e os
tradicionais, respectivamente. Tal resultado é, portanto, 12,72 vezes
superior ao obtido em criações extensivas.
Adicionalmente, os resultados também são positivos e demonstraram
taxas superiores para os indicadores técnicos, tais como elevação da taxa
de natalidade, redução da taxa de mortalidade, elevação da lotação,
redução da idade de abate e redução do período de entoure.
Portanto, a implantação das práticas de melhoramento da pastagem
nativa não se dão isoladamente. Formam um conjunto de fatores que
impulsionam a adoção e a incorporação de progresso técnico na exploração
pecuária, permitindo aumentar a competitividade da atividade, em curto
espaço de tempo, sem maiores riscos.
O investimento no solo, seja pela melhoria da fertilidade, seja na
diversidade de plantas forrageiras, não implica grandes investimentos de
natureza fixa, a exemplo das benfeitorias e instalações; tampouco requer
investimentos em maquinário, já que os serviços podem ser terceirizados.
Além disso, permitirá, em breve espaço de tempo, a racionalização da
mão-de-obra disponível na propriedade, contribuindo, dessa forma, para
a minimização dos custos fixos da propriedade, melhorar o fluxo monetário,
além de elevar o nível de renda do produtor, seu bem-estar e o de sua
família, e valorizar a propriedade.

242
4.5 Custos da introdução de espécies cultivadas no campo
nativo

A seguir, as Tabelas 56, 57 e 58 apresentam a estrutura de custos


(variáveis) para implementação de três unidades de melhoramento de
campo nativo, situadas em Bom Retiro, Urupema e Lages.

Tabela 56. Custo de implantação de uma unidade de 2,40ha de


melhoramento de campo nativo em Bom Retiro, SC em 1996(1). Proprietários:
Gustavo Wiggers e Wilson Kauling

Quanti- Quant. Valor Valor Custo Custo


Especificação Unidade dade total unitário total
(ha) (R$) (R$) (R$) (R$/ha) (US$/ha(2)

Serviços

Roçada h/tr 2,00 4,80 29,43 141,26 58,86 19,85


Distribuição do calcário d/h 0,50 1,20 18,00 21,60 9,00 3,03
Gradagem superficial h/tr 2,00 4,80 29,43 141,26 58,86 19,85
Sobressemeadura com
grade h/tr 0,50 1,20 29,43 35,32 14,72 4,96
Passagem de rolo h/tr 0,50 1,20 29,43 35,32 14,72 4,96
Subtotal 156,15 52,65
Custo dos serviços/ha (%) 19,60 19,60

Sementes

Trevo branco kg 2,00 4,8 15,00 72,00 30,00 10,12


Trevo vermelho kg 7,00 16,80 13,00 218,40 91,00 30,69
Cornichão kg 5,00 12,00 8,00 96,00 40,00 13,49
Azevém kg 20,00 48,00 1,53 73,44 30,60 10,32
Subtotal 191,60 64,61
Custo sementes/ha (%) 24,05 24,05

Fertilizantes e corretivos

Superfosfato triplo sc 5,00 12,00 41,00 492,00 205,00 69,13


Cloreto de K2O sc 2,00 4,80 36,00 172,80 72,00 24,28
Calcário t 4,00 9,60 43,00 412,80 172,00 58,00
Subtotal 449,00 151,40
Custo fertilizantes e
corretivos/ha (%) 56,35 56,35
Custo da implantação
da pastagem melhorada 796,75 268,66

(1)
Valores atualizados para maio/2003, com base nos preços de mercado, praça de Lages. Custo
da hora máquina calculado pelo Instituto Cepa/SC (Maio/03), considerando-se a utilização de
trator e implementos do proprietário do estabelecimento.
(2)
Cotação do dólar oficial de venda em 30 de maio de 2003 = R$ 2,9656.
Nota: h/tr = hora-trator; d/h = dia/homem; sc = saco de 50kg e t = tonelada.
Fonte: Santos (2001) – Dados atualizados.

243
Tabela 57. Custo de implantação de uma unidade de 11,5ha de
melhoramento de campo nativo em Urupema, SC em 1998(1). Proprietário:
José Andrade de Arruda

Quanti- Quant. Valor Valor Custo Custo


Especificação Unidade dade total unitário total
(ha) (R$) (R$) (R$) (R$/ha) (US$/ha)(2)

Serviços

Roçada d/h 1,74 20,00 18,00 360,00 31,30 10,56


Drenagem h/máq. 0,26 3,00 34,00 102,00 8,87 2,99
Diaristas (cercas) d/h 1,48 17,00 18,00 306,00 26,61 8,97
Bueiros d/h 0,22 2,60 18,00 46,80 4,07 1,37
Óleo diesel L 5,21 60,00 1,54 92,40 8,03 2,71
Subtotal 907,20 78,89 26,60
Custo dos serviços/ha (%) 17,40 17,40

Sementes

Trevo branco kg 2,00 23,00 15,00 345,00 30,00 10,12


Trevo vermelho kg 4,00 46,00 13,00 598,00 52,00 17,53
Cornichão kg 4,00 46,00 8,00 368,00 32,00 10,79
Azevém kg 20,00 230,00 1,53 351,90 30,60 10,32
Subtotal 1.662,90 144,60 48,76
Custo de sementes/ha (%) 31,89 31,89

Fertilizantes e corretivos

Fosfato natural(3) kg 400,00 4.600,00 0,36 1.656,00 144,00 48,56


Calcário t 2,00 23,00 43,00 989,00 86,00 29,00
Subtotal 2.645,00 230,00 77,56
Custo de fertilizantes e
corretivos/ha (%) 50,72 50,72
Custo de implantação da
pastagem melhorada 5.215,10 453,49 152,92

(1) Valores atualizados em maio/2003, com base nos preços de mercado, praça de Lages, SC. Custo
da hora máquina calculado pelo Instituto Cepa (Maio/03), considerando-se a utilização de trator
e implementos do proprietário do estabelecimento.
(2)
Cotação do dólar oficial de venda em 30 de maio de 2003 = R$ 2,9656.
(3)
Arad com 32% P2O5 .
Nota: h/tr – hora-trator; d/h = dia/homem; sc = saco de 50kg; t = tonelada.
Fonte: Santos (2001) – Dados atualizados.

244
Tabela 58. Custo de implantação de uma unidade de 29ha de
melhoramento de campo nativo em Lages, SC em 2001(1). Proprietário:
Osvaldo Santos Parizotto

Quanti- Quant. Valor Valor Custo Custo


Especificação Unidade dade total unitário total
(ha) (R$) (R$) (R$) (R$/ha) (US$/ha) (2)

Serviços

Roçada h/tr 0,50 29,00 29,43 853,47 29,43 9,92


Serviços de trator h/tr 0,50 15,00 29,43 441,45 15,22 5,13
Sobressemeadura h/tr 1,75 51,00 29,43 1.500,93 51,76 17,45
Mão-de-obra d/h 0,45 13,00 18,00 234,00 8,07 2,72
Subtotal 3.029,85 104,48 35,23
Custo dos serviços/ha (%) 14,43 14,43

Sementes

Trevo branco kg 2,00 58,00 15,00 870,00 30,00 10,12


Trevo vermelho kg 4,00 116,00 13,00 1.508,00 52,00 17,53
Cornichão kg 4,00 116,00 8,00 928,00 32,00 10,79
Azevém kg 30,00 870,00 1,53 1.331,10 45,90 15,48
Subtotal 4.637,10 159,90 53,92
Custo de sementes/ha (%) 22,08 22,08

Fertilizantes e corretivos

Superfosfato triplo kg 250,00 3.675,00 0,82 3.013,50 103,91 35,04


Adubo (03-30-15) kg 250,00 3.675,00 0,74 2.719,50 93,78 31,62
Calcário t 4,60 133,40 43,00 5.736,20 197,80 66,70
Serv. distribuição R$/t 14,00 64,40 29,00 1.867,60 64,40 21,72
Subtotal 13.336,8 459,89 155,07
Custo de fertilizantes e
corretivos/ha (%) 63,50 63,50
Custo da implantação da
pastagem melhorada 21.003,75 724,27 244,22

(1)
Valores atualizados em maio/2003, com base nos preços de mercado, praça de Lages, SC. Custo da hora
máquina calculado pelo Instituto Cepa/SC (Maio/03), considerando-se a utilização de trator e implementos do
proprietário do estabelecimento.
Cotação do dólar oficial de venda em 30 de maio de 2003 = R$ 2,9656.
(2)

Nota: h/tr = hora-trator; d/h = dia/homem; sc = saco de 50kg; t = tonelada.


Fonte: Santos (2001) – Dados atualizados.

245
A primeira é caracterizada por uma área de 2,4ha, implantada em
1996 no município de Bom Retiro, utilizando-se o método de implantação
mecânica com grade convencional e semeadura a lanço com máquina de
semear e adubar tipo “giro” (Figura 50). A segunda área (Tabela 57)
refere-se a uma área de 11,5ha, implantada em 1998 no município de
Urupema, utilizando-se sobressemeadura manual. A terceira unidade de
estudo foi implantada em Lages, no ano de 2001, totalizando 29ha,
utilizando-se renovadora de pastagens (Tabela 58).
De acordo com a Tabela 57, o custo de implantação do melhoramento
do campo nativo em Bom Retiro foi de R$ 796,75/ha (US$ 268,66). Deve-
-se notar que este custo está associado a uma demanda maior de
adubação, de correção e da quantidade de sementes. Esta foi uma das
áreas pioneiras no melhoramento do campo nativo na Região do Planalto
Sul Catarinense. Foi implantada considerando-se a recomendação de
adubação total, de acordo com as normas do sistema Rolas, com
implicação na elevação dos custos. Ressalte-se, ainda, que as condições
naturais do campo nativo em Bom Retiro se caracterizam pela
predominância de pH do solo extremamente baixo. Além disso, utilizaram-
-se práticas mecânicas na implantação, o que também contribuiu para a
elevação dos custos.

Figura 50. (A) Área de pastagem nativa melhorada implantada na


propriedade dos produtores Gustavo Wiggers e Vilson Kauling; (B) com
utilização de grade

246
Diante de tais condições, observa-se na Tabela 57 que os custos
com corretivos e adubos correspondem a mais de 50% do custo total. Em
segundo lugar, vêm os custos das sementes, que somam 24% do custo
total, enquanto os custos dos serviços de máquinas, implementos e de
mão-de-obra não atingem 20% do montante gasto.
Por outro lado, ainda que os custos de implantação por hectare
atinjam, a preços de hoje, valores ao redor de R$ 800,00/ha, este valor
equivale a um boi com PV de 470kg. Portanto, esta analogia pode ser
feita, ou seja: cada hectare de pastagem nativa melhorada equivale a um
boi de 470kg de PV.
Quando considerado o custo da terra, verifica-se que na época de
implantação desta unidade de melhoramento do campo nativo (1996) o
custo do melhoramento da pastagem correspondia praticamente ao valor
da terra. Decorridos aproximadamente sete anos da implantação, observa-
-se que tal valor equivale a aproximadamente um terço do valor da terra,
ou seja, houve uma valorização das terras57, assim como uma melhora
considerável no preço do boi, tornando-se o melhoramento do campo
nativo mais atrativo aos olhos do produtor.
Na Tabela 57 são apresentados os custos de uma unidade de
melhoramento de campo nativo em que se utiliza sobressemeadura
manual. Apesar de se ter considerado todos os custos decorrentes da
implantação da unidade, mesmo os que se referem a melhorias de infra-
-estrutura, como é o caso da drenagem, verifica-se uma redução sensível
nos custos de implantação desta unidade (Figura 51). A parcela dos
serviços corresponde a pouco mais de 17% do custo total.
Por outro lado, os custos com adubos, corretivos e sementes, que
representam a maior fatia dos custos totais de implantação, atingiram
50,72% para os fertilizantes e corretivos e 31,89% para sementes. Mesmo
assim, o custo total desta unidade é sensivelmente mais baixo do que a
anterior, correspondendo a aproximadamente 56% do custo de implantação
da área de Bom Retiro, totalizando R$ 453,49 ou (US$ 152,92).
Na Tabela 58 são apresentados os dados da implantação do
melhoramento do campo nativo numa área de 29ha, localizada às
margens da BR 282, no município de Lages, SC, na localidade de Índios.
Esta unidade incorpora pelo menos três aspectos distintos das unidades
anteriores.
O processo de valorização das terras ocorreu de forma geral, considerando-se não
57

somente a Região Serrana, mas todo o Estado. Existe um conjunto de variáveis


associadas a políticas de governo implementadas, a uma maior demanda por áreas
para reflorestamentos, bem como de indenizações de áreas atingidas por barragens,
entre outros fatores, que pressionaram por uma elevação dos preços das terras.

247
Figura 51. Área implantada em Urupema, na propriedade de José
Andrade de Arruda (foto) utilizando sobressemeadura manual em áreas
com declividade e afloramento de rochas

Primeiramente, deve-se ressaltar que as condições de fertilidade


natural dos solos da região de Índios, em Lages, são bastante baixas,
requerendo a utilização de doses mais elevadas de calcário e de adubação
corretiva. O segundo ponto está associado às condições físicas dos
solos, que permitiram a mecanização em 100% da área melhorada,
possibilitando que a prática de espalhar o calcário tenha sido realizada
através de caçambas diretamente no campo nativo, evitando-se maior
utilização de trator, mão-de-obra e equipamento. O terceiro aspecto está
relacionado à utilização de semeadeira/adubadeira de plantio direto
(Fundiferro), que permitiu introduzir sementes e adubo em linha em uma
única operação (Figura 52).
Sem dúvida, em tais condições, a prática da introdução de espécies
exóticas em campo nativo se torna de realização extremamente fácil, com
alta produtividade e racionalização dos fatores produtivos.
Por outro lado, nestas condições também se elevam os custos de
implantação. Isto pode ser observado na Tabela 58, em que o custo dos
adubos e corretivos ultrapassou a casa dos 63,5%, a mecanização atingiu
14,5% e o custo das sementes ficou ao redor de 22%.

248
A

Figura 52. (A) Área de melhoramento da pastagem nativa implantada


totalmente através de processo mecanizado, inclusive (B) a introdução de
espécies com renovadora de pastagens. Propriedade: Osvaldo Santos
Parizotto, Lages, SC

A análise das tabelas anteriormente citadas indica que não se


podem generalizar a prática e o custo de implantação do melhoramento
do campo nativo, já que as condições de implantação e os meios utilizados
são diversos. Note-se, entretanto, que os valores variaram de R$ 453,00
a R$ 797,00/ha, o que corresponde, a preços de hoje58, a 252kg e 442kg
de PV/ha de pastagem melhorada.
Certamente, a falta de recursos próprios ou de financiamento
dificulta a implantação de tal prática de forma mais intensiva. Entretanto,
há que se considerar que o investimento apresenta retorno do capital
investido no curto prazo, diferentemente dos investimentos em benfeitorias
e instalações, que apresentam retorno em escala e somente no longo
prazo. Tal afirmação pode ser ilustrada pelos dados da Tabela 59, na qual
são apresentados os resultados obtidos no segundo ano após a implantação
do melhoramento do campo nativo na propriedade do senhor José
Andrade Arruda, município de Urupema, SC, considerando-se a engorda
de um lote de 32 novilhos.

Considerando-se o preço do boi gordo a R$ 1,80/kg de PV.


58

249
Tabela 59. Rendimento obtido na área de campo nativo melhorado
(segundo ano). Propriedade de José Andrade de Arruda – Urupema, SC
em 2000(1)

Especificação Unidade Resultado

Novilhos no 32
Período de utilização dias 293
Peso médio inicial kg 197
Peso médio final kg 391
Ganho médio/cabeça kg 194
Ganho médio diário kg/dia 0,662
Rendimento no período kg/ha 540
Rendimento anual kg/ha 672,0

Valores em R$ atualizados para maio/2003.


(1)

Fonte: Epagri/Amures/Faesc-Senar. Dia de campo, Urupema, SC (2000).

Os animais deste lote foram introduzidos na pastagem em 26/6/99


e permaneceram até 11/4/00, perfazendo um total de 293 dias em
pastoreio contínuo, ocupando uma área de 11,50ha, que corresponde à
área de pastagem melhorada descrita na Tabela 57, obtendo-se o ganho
de peso total de 6.208kg, que, a preços de hoje, corresponde a uma
receita bruta de R$ 11.174,00, ou R$ 971,68/ha.
Tomando-se ainda como referência o custo de implantação descrito
na Tabela 57, tem-se que a RB gerada foi suficiente para cobrir os custos
iniciais de implantação da pastagem, e ainda sobrou o equivalente59 a R$
1,14, ou seja, cada R$ investido no melhoramento do campo nativo se
pagou e gerou mais R$ 1,14. De outra forma, o investimento realizado na
implantação de 1ha de campo nativo melhorado no município de Urupema
permitiu, no segundo ano, seu pagamento integral e garantiu uma sobra
equivalente à implementação de mais 1,14ha em áreas novas.
A análise de tais informações confirma ser plena e economicamente
viável a prática do melhoramento das pastagens nativas, pela introdução
de adubo e de sementes, permitindo melhorar a qualidade das forragens
produzidas, assegurando maior rendimento na produção animal e,
conseqüentemente, maior renda nos estabelecimentos de pecuária.

Renda Bruta = R$ 971,65. Custo de implantação = R$ 453,49, tem-se uma Margem


59

Bruta de R$ 518,16. Fazendo MB/CV, tem-se R$ 518,16/453,49 = 1,14.

250
4.6 Conclusões

A prática do melhoramento das pastagens nativas na Região do


Planalto Sul Catarinense se constitui no método mais seguro e racional
para aumentar a disponibilidade forrageira dos campos naturais. Consiste
numa prática simples e acessível a todos os produtores rurais,
independentemente das condições em que se encontrem e também
independe das condições físicas de seus imóveis.
Pode ser implantada de forma mecânica ou manual, transpondo
aspectos historicamente considerados como limitantes, tais como a baixa
fertilidade natural dos solos, a declividade acentuada e a alta pedregosidade
presente. Tais limitações são facilmente superadas, desde que se aceite
que é possível transformar o meio e se apropriar de inúmeras vantagens
que os campos naturais do Planalto Sul oferecem, sem, entretanto,
agredi-lo, pelo contrário, melhorá-lo.
Os custos financeiros estão presentes, já que serão utilizados
insumos externos à propriedade, mas plenamente disponíveis no mercado
e ao alcance dos produtores, bastando a tomada de decisão e a
disposição de se converter um animal adulto em cada hectare de campo
nativo que se deseja melhorar. Certamente este será o caminho mais
curto para aumentar racionalmente a produtividade das pastagens da
região citada, com incremento direto na renda dos estabelecimentos
rurais e melhora considerável nos resultados técnicos e econômicos da
atividade.
Certamente não haverá, no curto prazo, outra alternativa capaz de
aumentar a produtividade da pecuária da região da Serra Catarinense,
senão o investimento na melhoria da oferta e da qualidade das forrageiras
através do melhoramento do campo nativo, permitindo a produção de
proteína animal, de alto valor nutritivo, de forma ecologicamente correta.
Além disso, permite o retorno de parte do capital investido já no
primeiro ano e mais que 100% do investimento no segundo ano,
constituindo-se em retorno de curtíssimo prazo, com aumento da margem
bruta e uma melhora considerável no fluxo de caixa da propriedade.
Diante de tais constatações, pode-se afirmar que a prática do melhoramento
do campo nativo cumpre os requisitos de ser economicamente viável e
socialmente desejável, bem como permite desenvolver uma pecuária
competitiva, servindo de elemento propulsor do desenvolvimento
econômico e social da Região Serrana.
Constitui-se, ainda, numa grande frente de trabalho que deverá
contagiar técnicos e produtores, de instituições públicas ou privadas,
chamando-os à responsabilidade do que deverão fazer em prol da

251
preservação da biodiversidade existente, do incremento na produção
animal e do desenvolvimento sustentável da Região Serrana de Santa
Catarina.

4.7 Literatura citada

1. ANDRADE, A.S.B. de. Os efeitos da técnica de melhoramento de


campo nativo na pecuária de corte na região da Amures. Lages:
Uniplac, 2001. 39p. (Monografia de conclusão de curso – Economia).

2. CENSO AGROPECUÁRIO 1995-1996: Santa Catarina. Rio de Janeiro:


IBGE, n.21, 1997.

3. EPAGRI. Projeto melhoria de sistemas produtivos da agricultura familiar


de Santa Catarina. Florianópolis, 2002. Dados não publicados.

4. EPAGRI. Sistema multiagri. Florianópolis, 2003. Dados extraídos de


software.

5. JACQUES, A.V.A. Relatório do “dia de campo” do Cite no 100 (Morro da


Vigia), Sítio do Pinheirinho. 05/07/97, André da Rocha, RS, 1997.

6. PINHEIRO, S. L. G. et al. Diagnóstico e acompanhamento de sistemas


agropecuários: o caso da bacia leiteira de Lages, Santa Catarina. In:
SEMANA DE ATUALIZAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO RURAL, 1., 1991,
Lages, SC. Anais... Florianópolis: Epagri, 1992, p.177-202.

7. PINDYCK, R.; RUBINFELD, D.L. Microeconomia, São Paulo: Makron,


1994. 968p.

8. SANTOS, O.V. dos. Análise econômica e custos de implantação de


pastagens nativas melhoradas. In: CORDOVA, U de A.; PRESTES,
N.E.; SANTOS, O.V. dos. (Coord.) Práticas para aumentar a eficiência
dos campos naturais do planalto catarinense. Lages: Epagri, 2001.
p.31-41. (Apostila do 2. Curso sobre Melhoramento de Campo Nativo
para Técnicos, realizado em Lages, SC, 2001).

9. SOLDATELLI, D.; HOLZ, E.; TREVISAN, I.; ECHEVERRIA, L.C.R.;


SANTOS, O.V. dos.; NADAL, R. de; PINHEIRO, S.L.G. Glossário de
termos de administração rural. In: SEMINÁRIO DE ADMINISTRAÇÃO

252
RURAL, 2., 1992, Concórdia, SC. Anais... Florianópolis: Epagri, 1993.
375p.

10. RITTER, W.; SORRENSON, W.J. Produção de bovinos no Planalto


de Santa Catarina, Brasil: Situação atual e perspectivas. Eschborn:
GTZ; Florianópolis: Empasc, 1985, 172p.

253
254
5 Suplementação proteinada de inverno
Vilmar Francisco Zardo60

5.1 Introdução

O campo nativo possui espécies forrageiras que produzem grandes


quantidades de matéria seca digestível por área, se adequadamente
tratadas e corretamente manejadas. O principal objetivo de todo bom
sistema de produção em pastejo de campo nativo é fornecer aos bovinos
quantidade e qualidade de forragem de acordo com as necessidades das
categorias, para maximizar os ganhos das épocas favoráveis e minimizar
as perdas das desfavoráveis.
Consonância entre a curva de fornecimento de forragem e as
exigências nutricionais do rebanho deve ser feita. Em vista disso, no
período de outono e, principalmente, no inverno, a suplementação
alimentar dos animais e técnicas que aumentam a disponibilidade da
forragem devem ser utilizadas como forma de manter ou melhorar os
ganhos obtidos nos períodos de primavera/verão. As melhorias na
produtividade e eficiência dos sistemas de produção têm na alimentação
animal seu principal componente. Por isso, as forrageiras nativas,
graciosamente ofertadas pela natureza, são a principal fonte de nutrientes
do rebanho, e o sistema produtivo baseado nelas tem potencial de boa
rentabilidade, naturalmente sustentável. Ajustando as necessidades
nutricionais das categorias animais com suplementação adequada e
econômica, evidentemente o sistema produtivo se viabiliza (Figura 53).

Figura 53. Campo nativo, recurso forrageiro natural e produtivo

Méd. vet., M.Sc. Epagri/Estação Experimental de Lages, 181, 88502-970, Lages,


60

SC, fone (49) 224-4400, e-mail: zardo@epagri.rct-sc.br.

255
5.2 O campo nativo e suas deficiências no outono/inverno

Base da alimentação do rebanho bovino, as pastagens naturais


abrangem uma área de 1.324.705ha, representando cerca de 60% do
total da superfície forrageira estadual. A produção estimada do campo
nativo no Planalto Catarinense está situada entre 4.000 e 4.500kg MS/ha/
ano, com a maior taxa de crescimento no período de verão (Figura 54).
Além das variações de temperatura e fotoperíodo, a estacionalidade de
crescimento das forragens, determinada principalmente pela composição
botânica onde predominam as espécies de estação quente, não permite
uma produção uniforme durante o ano. As taxas de crescimento (kg de
MS/ha/dia) são maiores nos meses de verão, intermediárias nos meses
de primavera e outono, e muito baixas nos meses de inverno. Além das
variações nas taxas de crescimento da planta, existem alterações nas
características morfológicas da pastagem. Durante a estação de cresci-
mento, há acúmulo de material morto associado à senescência natural da
planta forrageira, o que é acelerado no período de outono/inverno pela
ocorrência de geadas.

100
90
80
70
60

%
50
40
30
20
10
0
Jan. Fev. M

Figura 54. Curva de crescimento e qualidade (%PB, %NDT) do campo


nativo ao longo do ano

Paralelamente às variações no crescimento, a qualidade dessas


forrageiras, em ternos nutricionais (Tabela 60), também varia com as
épocas do ano; este fato, conseqüentemente, determina as quantidades
ingeridas pelos bovinos. A qualidade, em termos de nutrientes digestíveis
totais (NDT) e proteína bruta (PB), praticamente acompanha a curva de

256
crescimento do campo nativo (Figura 54), com valores superiores na
primavera/verão e baixos durante o outono/inverno. Este comportamento
imprime variações no rendimento animal, tanto nos ganhos de peso como
também na fertilidade do rebanho.
Tabela 60. Qualidade nutricional média de amostras de campo nativo
coletadas nas diferentes épocas do ano, determinadas por análise
bromatológica no Laboratório de Nutrição Animal da Epagri/Estação
Experimental de Lages

No de amostras/ PB DIVMO NDT Ca P


período

.......................................%.......................................
164
Inverno 7,8 34,9 31,8 0,30 0,11
203
Outono 7,6 37,4 34,5 0,21 0,14
145
Primavera 9,3 46,7 42,8 0,29 0,16
162
Verão 8,1 45,4 42,2 0,22 0,11
Fonte: Freitas (1994).

As perdas de peso dos animais normalmente se iniciam em meados


de março e se estendem até outubro (Figura 55), com recuperação
somente no verão seguinte, criando um ciclo vicioso, no qual os animais
demoram de quatro a cinco anos para atingir o peso adequado para o
abate, encarecendo o custo de produção e praticamente inviabilizando a
atividade nos dias atuais de mercado competitivo. Os rebanhos submetidos
a um manejo dissociado das potencialidades do campo nativo e das
necessidades nutricionais das categorias apresentam intervalo médio
entre partos superior a 700 dias e taxa de natalidade ao redor de 50%
(Ritter & Sorrenson,1985). Tais índices refletem não somente a baixa
condição nutricional (fator principal), mas também problemas de parasi-
tismo, doenças e manejo. Levantamentos efetuados junto a pecuaristas
da região encontraram rendimentos médios de somente 35kg de ganho/
ha/ano (Ávila, 1995). Em avaliações conduzidas na Estação Experi-
mental de Vacaria, Grossman & Mohrdieck (1955) verificaram ganhos de

257
peso/ha no período de primavera/verão de 79,4kg e perdas no período
de outono/inverno de 49kg/ha, com um saldo de 30,4kg/ha/ano.

3
kg/d - pontos

0
1/ 1 1/3 1/4 1/5 1/ 6 1/ 7 1/8 1/ 10 1/ 11 1/12

-1

-2

Mês

GMD kg/Na/ di a Esco res (1 a 5)"

Figura 55. Ganho médio de peso e escores corporais de vacas de cria em


campo nativo, sem suplementação no período hibernal
Os pecuaristas utilizam, tradicionalmente o pastejo contínuo como
manejo e lotam seus campos com aproximadamente 0,4 cab./ha/ano.
Esta lotação é estabelecida em função do período de menor disponibilidade
de forragem (outono/inverno). As sobras do período de verão são
submetidas geralmente a queimadas anuais ou bianuais, no final de
inverno. Esta condição certamente compromete a qualidade da pastagem
natural, pois nesse período há uma quantidade de espécies de estação
fria que se encontram em estágio reprodutivo, comprometendo seu
restabelecimento, além de prejudicar a microbiologia do solo (Figura 56).

A B

Figura 56. (A) Área de campo nativo submetido a queima de final de


inverno onde os animais permanecem em “pastejo”. (B) Além da queimada,
a permanência dos animais consumindo os rebrotes, sobrecarrega e
empobrece as pastagens naturais

258
5.3 A digestão dos bovinos

A característica principal dos ruminantes, em termos digestivos, é


seu potencial para converter alimentos fibrosos em proteína de alto valor,
que não podem ser adequadamente processados pelo sistema digestivo
dos não-ruminantes. Isto só é possível por que a digestão fermentativa
(no rúmen) precede a digestão enzimática (intestinos), permitindo, desta
forma, a utilização de alimentos ricos em fibra, tais como as pastagens.
As pastagens nas dietas dos ruminantes têm como função prover
energia, embora forneçam também proteína, minerais, vitaminas e fibra.
Constituem, portanto, a forma mais barata de alimentar os ruminantes.
Do ponto de vista da nutrição, a produção de ruminantes em pastejo
é o resultado da interação dinâmica entre as exigências nutricionais dos
animais, as exigências do meio ruminal e o fornecimento de nutrientes
pelas pastagens. Qualquer programa de alimentação de ruminante deve
estar baseado no reconhecimento das exigências nutricionais dos
microrganismos ruminais e do animal propriamente dito. Neste sentido, o
rúmen funciona como uma câmara de fermentação, na qual são encontradas
bactérias, protozoários e fungos que degradam as forragens gerando
nitrogênio, energia e outros nutrientes.
A síntese de células microbianas no rúmen é um processo complexo
que depende de fatores como:
• disponibilidade e/ou concentração de precursores para a formação
do protoplasma microbiano no líquido ruminal (aminoácidos, peptídeos,
enxofre, amônia e minerais);
• exigências de mantença e da taxa de regeneração dos micror-
ganismos;
• interações entre os componentes da flora microbiana.
Portanto, para aumentar a eficiência de utilização da energia
contida nas pastagens é necessário otimizar o ambiente ruminal,
maximizando a síntese de células microbianas, aumentando a energia
metabolizável e diminuindo a produção de metano e calor.
Para Prates et al. (1999), a síntese de proteína microbiana é
dependente do suprimento tanto de proteína quanto de energia. A
proteína pode ser suprida na forma de amônia, aminoácidos ou peptídeos,
e a energia, na forma de matéria orgânica fermentável. Assim, as
exigências por nutrientes em ruminantes podem ser consideradas em
dois níveis: de população microbiana no retículo-rúmen e de metabolismo
intermediário.
A otimização da produção microbiana exige utilização ótima do
nitrogênio. O consumo de forragem pode decrescer se a dieta for

259
deficiente em certos constituintes químicos, particularmente nos que são
essenciais para a população de microrganismos do rúmen. A exigência de
proteína degradada no rúmen da maioria dos alimentos para a síntese de
microrganismos é calculada em 8,4g por mega joule de energia
metabolizável consumida (g/MJ de EM). Se a concentração de proteína
degradada no rúmen da forragem for insuficiente para suprir esta
quantidade, o consumo do alimento irá diminuir (Csiro, 1990). O consumo
em dietas baixas em proteína pode ser bastante influenciado pela
eficiência da manipulação microbiana.

5.4 Consumo voluntário de forragem

O consumo voluntário animal de matéria seca (MS) da forragem


depende, inicialmente, da disponibilidade de forragem; porém, quando
esta não é limitante, a qualidade da forragem (digestibilidade) é o fator
que determina a quantidade ingerida de MS (Rearte, 1998). Em forrageiras
com baixa taxa de digestão, o que limita o consumo é a capacidade física
do rúmen. Já em forrageiras com taxa de digestão alta, a liberação de
nutrientes no rúmen é o fator limitante (Thiago & Gill, 1990). Segundo
Prates et al. (1999), o amadurecimento da pastagem determina queda no
teor de proteína bruta (PB) com aumento no teor de lignina, levando a uma
queda na digestibilidade da MS, diminuindo a taxa de passagem do
alimento e, conseqüentemente, a uma queda na ingestão. Estes fatos
podem ser observados nas condições dos campos naturais do Planalto
Catarinense. Quando no final de verão (fevereiro/março) as espécies
forrageiras estão em pleno estádio de florescimento, há um
amadurecimento natural e, conseqüentemente, uma queda na qualidade
da forragem (Tabela 60), assim determinando uma menor ingestão
dessas forrageiras e uma sobra de aproximadamente 40% a 50% da
produção total do campo nativo.
Na Figura 57, Prates et al. (1999) explica esta situação, em que a
queda da qualidade em termos de digestibilidade da forragem levaria
teoricamente a um consumo dobrado para compensar a perda de
nutrientes; porém, o consumo real determinado pela lignificação, a queda
de PB e o aumento da taxa de passagem fazem com que a ingestão seja
subtraída, com queda do aporte de nutrientes, determinando o fraco
desempenho animal nos períodos desfavoráveis.

260
Fonte: Adaptado de Pratt (1996) citado por Prates et al. (1999).

Figura 57. Influência da qualidade da forragem na exigência de forragem


e consumo real

5.5 A suplementação protéica

O objetivo da suplementação é equilibrar as deficiências das


forragens do campo nativo deixadas pela curva sazonal de crescimento
das pastagens e, principalmente, da queda da qualidade em termos de PB
2 e NDT, que já se iniciam no final do verão. Também é de importância
fundamental considerar a afirmação de Lusby & Gill (1996), segundo os
kg de MS

1 quais o princípio básico na suplementação a pasto é evitar o efeito


substitutivo (pasto pelo suplemento), promover aumento da ingestão e da
digestibilidade da forragem. Este efeito é plenamente atingido em dietas
0 forrageiras deficientes em PB, suplementadas com alimentos ricos em
Alta
proteína. Alta os nutrientes,
De todos Baixa é o S1
Baixa o nitrogênio mais limitante, e,
qualidade qualidadeo de qualidade
conseqüentemente, qualidade
maior prioridade para a suplementação. O
exigência de consumo
nitrogênio presente real exigência
na dieta de consumo
do animal realé vital para manter o
em pastejo
forragem forragem
crescimento normal das bactérias ruminais; a estabilidade dessa população
de bactérias no rúmen afeta diretamente a digestibilidade e o consumo
(Egan & Doyle, 1985). O grupo das bactérias celulolíticas é que confere
aos bovinos a capacidade de sobreviverem em dietas exclusivas com
forragens. Entretanto, essas bactérias são sensíveis à ausência de
nitrogênio (níveis de amônia no líquido ruminal não deveriam estar abaixo
de 5mg/100ml de líquido ruminal, de acordo com Satter & Slyter, 1974) ou
alterações no pH ruminal (pH abaixo de 6,1 pode limitar seriamente seu
crescimento, de acordo com Orskov, 1982), ambos afetados diretamente

261
pela dieta. Existem ainda outros fatores que contribuem para manter uma
alta taxa de crescimento da população microbiana no retículo-rúmen,
como a presença de aminoácidos específicos ou ácidos orgânicos
(Petersen, 1987). De fato, esta é uma das razões por que a suplementação
exclusiva com nitrogênio não-protéico (NNP) (caso da uréia, que fornece
única e exclusivamente nitrogênio) não satisfaz totalmente as demandas
protéicas de um animal. Estes conceitos básicos de nutrição servem para
mostrar que é extremamente importante manter um equilíbrio no ambiente
ruminal em uma determinada demanda de crescimento do bovino em
pastejo. O ponto de equilíbrio deve ser a principal meta da suplementação,
com a preocupação de maximizar, dentro do possível, a eficiência do uso
da pastagem.
Assim, à medida que a maioria das forrageiras nativas completa seu
ciclo vegetativo, no final de verão e início de outono, o seu valor nutricional
baixa e o consumo de forragem diminui sensivelmente; conseqüentemente
a microflora ruminal perde qualidade e quantidade, iniciando as perdas de
peso dos animais e determinando a sobra e o acúmulo de forragem, que
no manejo tradicional, é queimada no final do inverno para “favorecer o
rebrote primaveril” (Figuras 58 e 59).
O aumento do desempenho animal em pastagens pela adição de
suplementos protéicos é creditado, principalmente, ao aumento da ingestão
de forragem. Se esta tiver um teor de PB inferior a 7%, o nitrogênio
suplementar fornecido aos microrganismos ruminais aumenta a síntese
protéica e a taxa de digestão, sendo importante a quantidade de proteína
não degradada no rúmen (McCollum & Horn,1989).

Figura 58. Campo nativo no período hibernal, onde é percebida a grande


quantidade de forragem acumulada, porém de baixa qualidade nutricional

262
Figura 59. Estado corporal de vacas suplementadas com sal proteinado
e com diagnóstico de gestação positivo no período de outono/inverno em
campo nativo diferido

Vacas de cria (categoria mais abundante no campo nativo) no terço


médio de gestação, período que coincide com o outono nos campos
naturais, necessitam ingerir diariamente 570g de PB/dia para a mantença
de peso (Tabela 61). Se levada em conta a qualidade da forragem nesta
estação do ano, verifica-se que a ingestão de PB fornecida exclusivamente
pelo campo nativo se situa ao redor de 511g diariamente (Tabela 61),
determinando, conseqüentemente, os primeiros déficits nutricionais. Tal
fato é agravado com o início do inverno e com a entrada das fêmeas no
terço final de gestação, quando a necessidade de ingestão de PB
aumenta para 703g diárias e a forragem é capaz de fornecer somente
418g (Tabela 61).
O ajuste nutricional entre a curva de oferta das pastagens e a curva
de demanda dos bovinos em pastejo é uma necessidade para se alcançar
maior eficiência dos sistemas. Este ajuste em períodos deficientes pode
ser feito com suplementação alimentar (no cocho ou banco de proteína);
entretanto, sua incorporação a estes sistemas depende de uma relação
custo/benefício favorável.
Dessa forma, pode-se dizer que para o outono/inverno, quando os
teores de PB das pastagens estão abaixo de 7% (base na MS), o primeiro
objetivo da suplementação seria atender à demanda das bactérias
ruminais por nitrogênio. Estas bactérias, fortalecidas, serão capazes de
extrair energia da pastagem ingerida pelo animal, através do processo de
fermentação.
Esta situação é alcançada usando de fontes protéicas de alta
degradabilidade no rúmen, tais como a mistura uréia + sulfato de amônia
(85% e 15%, respectivamente). A resposta animal esperada é de mantença
ou leve ganho de PV (até 200g/an./dia), dependendo da disponibilidade

263
da pastagem. A suplementação protéica (sal proteinado) e a utilização de
suplementos múltiplos podem fornecer os minerais necessários aos
animais; também fornecem um nível mínimo exigido de proteína, que os
animais não conseguem obter das pastagens naturais no período de
outono/inverno. Em níveis adequados, a proteína presente no sal favorece
o nitrogênio para o desenvolvimento dos microrganismos do rúmen,
possibilitando o consumo da pastagem de baixa qualidade, porém, em
quantidade considerável. A pastagem seca, ao ser consumida, além de
alimentar os animais, elimina a necessidade de queima do campo.

Tabela 61. Necessidades nutricionais de vacas de raças de corte de cria


em diferentes estádios fisiológicos e ingestão estimada de proteína bruta
em vacas de cria (UA), levando em consideração a qualidade do campo
nativo nas diferentes estações do ano

Ingestão/dia, Ingestão/dia em
necessidades pastejo de campo
Estádio nutricionais nativo em função da
fisiológico/ para mantença qualidade
época do ano
Saldo
MS ND PB PB MS NDT PB PB
PB
(kg) (%) (%) (kg) (kg) (%) (%) (kg)
(kg)

1o 1/4 lactação/
primavera 9,2 57,5 9,9 0,91 9,9 42,9 9,3 0,92 +0,01
1/3 médio gestação/
outono 8,2 48,6 7,0 0,57 6,7 35,2 7,6 0,51 -0,06
1/3 final gestação/
inverno 8,9 53,6 7,9 0,70 5,4 31,1 7,7 0,42 -0,28

Nota: UA = unidade animal; MS = massa seca; NDT = nutrientes digestíveis totais;


PB = proteína bruta.
Fonte: Adaptado de NRC (1996).

O suplemento protéico, conhecido como “sal proteinado”, tem na


sua composição o sal comum que pode participar de 10% a 30% (base
matéria fresca) e serve para manter o consumo entre 600 e 300g/an./dia.
(Thiago & Gill, 1990).
Do ponto de vista prático, os bovinos possuem a capacidade de
usar tanto proteínas naturais (farelos, forragens, etc.) como o nitrogênio

264
não-protéico, (NNP), existente na uréia. Entretanto, para que isso ocorra,
é necessário que exista na dieta uma quantidade adequada de
carboidratos solúveis (energia). Quanto mais uniforme a liberação de
amônia (hidrólise do NNP) e de carbono (digestão dos carboidratos),
maior a eficiência de síntese microbiana e, conseqüentemente, o
desempenho animal.
Não havendo uma disponibilidade adequada de carboidratos no
momento da liberação da amônia no rúmen, esta amônia não será
incorporada à massa microbiana, sendo então, absorvida do rúmen para
dentro da corrente sangüínea e, posteriormente, eliminada pela urina.
Este processo metabólico é indesejável, pois requer uso de energia que
poderia, de outra forma, ser utilizada para a produção.
Um outro aspecto é que, se a liberação de amônia no rúmen
ultrapassar a capacidade de metabolização do animal (acima de 75mg/
100ml de líquido ruminal), haverá problemas de intoxicação, que poderão
levar o animal à morte (Boin,1984). Portanto, a participação do NNP na
dieta é função do nível energético da mesma.
A forma mais simples e prática de suplementar NNP para animais em
pastejo é através da mistura mineral, considerando-se que, após corrigida
a deficiência protéica, fósforo e outros minerais são necessários para
manter as funções metabólicas normais.
O nível de NNP pode alcançar até 50% da mistura mineral. Entretanto,
normalmente o consumo dessa mistura acaba sendo muito baixo, devido
à baixa palatabilidade do NNP ou à aglutinação e empedramento da
mistura no cocho.
Por essa razão surgiu o sal protéico que, além do NNP e mistura
mineral na sua composição, inclui um farelo protéico. Este ingrediente,
além de adicionar fontes extra de nutrientes (proteína e energia), funciona
também como palatabilizante.
O objetivo fundamental do uso do sal protéico é suprir a deficiência
de nitrogênio das bactérias ruminais. Isto ocorrendo, haverá um aumento
no consumo da pastagem e, conseqüentemente, maior ingestão de
nutrientes, revertendo uma situação de perda para mantença de
peso.
Para as condições do Planalto Sul Catarinense, o suplemento
protéico (Sal Bock®) levou em consideração as necessidades da categoria
(vacas de cria e seu estádio fisiológico), como também as deficiências do
campo nativo no período de maior carência, o inverno (Tabela 61). Os
trabalhos de Ritter e Sorrenson (1985) indicaram, além disso, quais os
elementos minerais e qual a concentração necessária para a composição
do produto final (Tabela 62).

265
Tabela 62. Componentes e concentrações do Sal Bock®

Concentração
Componente
(%)

Calcário dolomítico 08,2972


Fosfato bicálcico 13,0000
Óxido de zinco 00,3000
Selenito de sódio 00,0028
Sulfato de cobalto 00,0200
Sulfato de cobre 00,1800
Cloreto de sódio 30,0000
Enxofre ventilado 01,2000
Farelo de soja 05,0000
Milho 30,0000
Uréia 12,0000
Veículo (q.s.p.) 100,0000

Fonte: Epagri. Estação Experimental de Lages/Laboratório de Nutrição Animal,


(1996). Dados não publicados.

A suplementação supre o déficit de PB, como teorizado na Tabela


63, atingindo a necessidade de mantença das vacas em final de gestação
no período de inverno e um pequeno superávit no outono.
Para que os 114g de PB sejam ingeridos diariamente pelos animais,
são necessários aproximadamente 300g de sal proteinado, garantindo o
limite de ingestão pela concentração de cloreto de sódio da fórmula
(Tabela 62).
Pelas avaliações, o Sal Bock  fornecido no período de outono/
inverno proporcionou a mantença de peso e o estado corporal das vacas
(Figura 60) pelo aumento do consumo voluntário, mesmo que de pasto
seco, e da digestibilidade das forrageiras, complementando as deficiên-
cias minerais e, conseqüentemente, melhorando o desempenho
reprodutivo.

266
Tabela 63. Ingestão estimada de proteína bruta em vacas de cria, levando
em consideração a qualidade do campo nativo nas diferentes estações do
ano, com a suplementação protéica

Ingestão
Estação PB NDT PB sal PB PB total
de MS
do ano (%) (%) (kg) (kg) (kg)
(kg)

Inverno 7,75 31,01 0,114 7,65 0,592 0,706


Primavera 9,34 42,90 9,90 0,924
Verão 8,00 42,92 9,90 0,792
Outono 7,58 35,20 0,114 7,65 0,579 0,693

Nota: PB = proteína bruta; NDT = nutrientes digestíveis totais; MS = massa


seca.
Fonte: Adaptado de NRC (1996).

5
4
GMD/Escores

3
2
1
0
1/1 1/2 1/3 1/4 1/5 1/6 1/7 1/8 1/9 1/10 1/11 1/12
-1
-2
Meses
GMD kg/Na/dia Escores (1 a 5)

Figura 60. Ganho médio de peso (GMD) e escores corporais de vacas de


cria em campo nativo, com suplementação no período hibernal

Paralelamente ao desempenho animal pelo aumento do pastoreio


no campo nativo nesse período, a quantidade de pastagem seca no final
do inverno é bastante reduzida, o que certamente elimina a necessidade
de queima.

267
Os resultados mostraram que a suplementação com Sal Bock® , com
um consumo diário de 250g/UA, foi eficiente para manter os escores
corporais acima da nota 3 (escala de 1 a 5) durante todo o período,
proporcionando condições para que as vacas iniciem a época de
acasalamento, novembro, em pleno vigor físico, com taxas de natalidade
ao redor de 75% (Figura 61). Outro aspecto positivo na utilização do Sal
Bock ® foi o aumento da lotação média anual dos 0,35 a 0,50 para
0,65UA/ha, já que as lotações de verão podem ser mantidas.

Figura 61. Resultado esperado com a suplementação: vacas com melhores


escores corporais, produzindo mais terneiros

268
Por outro lado, quando se deseja algum ganho, pode-se atuar com
as chamadas “misturas múltiplas”, que são suplementos balanceados
para atender a uma determinada demanda de ganho de PV durante todo
o ano. Portanto, atendem a múltiplas deficiências nutricionais do animal
em pastejo, isto é, proteína, energia e minerais.
Dessa forma, o seu uso está sempre associado com ganhos de
peso, mas, dependendo da quantidade fornecida, pode ocorrer uma
substituição da pastagem pelo suplemento. Este é um fator indesejável,
pois aumenta muito o custo do ganho do peso. A substituição ocorre
porque as bactérias ruminais atacam primeiramente as fontes mais
solúveis de alimentos (caso do amido que existe nos grãos) em detrimento
de componentes menos digeríveis, como a fibra das pastagens.
Um consumo de suplemento equivalente até 0,3% do PV é totalmente
adicionado ao da pastagem. De 0,3% a 1% do PV, para cada 500g
fornecido do suplemento, ocorre uma redução no consumo da pastagem
de aproximadamente 300g (ambos base MS). O desempenho animal a ser
alcançado depende da disponibilidade e qualidade da forragem e,
principalmente, do econômico (Thiago & Gill, 1990)
Finalmente, como recomendações para uma melhor utilização do
sal proteinado pode-se sugerir:
• controle parasitológico estratégico dos animais;
• diferimento do campo nativo como forma de reservar MS para o
período de utilização;
• escolha criteriosa da categoria animal a utilizar, se necessário;
• fornecimento em cochos cobertos como forma de evitar o acúmulo
de água (Figura 62);
• fornecimento ininterrupto do produto durante o período;
• período de adaptação para animais que não estão sendo minera-
lizados;
• monogástricos não devem consumir;
• controle semanal do consumo do produto;
• pesagem dos animais no início e no final do período;
• análise econômica.

269
Téc. agr. Cláudio L. da Silveira
Méd. vet. Vilmar F. Zardo

Figura 62. Planta de cocho móvel, coberto, para sal – Modelo Epagri

270
5.6 A importância do diferimento de campo

O método de utilização da pastagem e o nível de oferta de forragem


são excelentes ferramentas de manejo, muito pouco usadas e entendidas
nas condições de produção. Na realidade, o método de pastejo e o nível
de oferta têm um papel fundamental no controle do crescimento e da
qualidade da pastagem, bem como no controle do consumo e na
produtividade do rebanho. Com o conhecimento de como utilizar estas
ferramentas de manejo, o produtor pode potencializar a exploração da
flora nativa e incrementar a produção através da suplementação das
necessidades dos bovinos nos períodos de deficiência do campo nativo.
A suplementação pressupõe a associação entre a ingestão diária
do suplemento com a ingestão de forrageiras, mesmo que de baixa
qualidade, porém, em quantidade suficiente, promovendo, desta maneira,
a ingestão de nutrientes que satisfazem, no mínimo, as necessidades de
mantença dos pesos adquiridos pelos ganhos dos animais no período de
primavera/verão. Nas condições do manejo tradicional do Planalto
Catarinense, em que a carga anual média está situada ao redor
0,4UA/ha (capacidade de suporte do campo nativo no inverno),
naturalmente há um acúmulo em torno de 2.000 a 2.500kg de MS/ha no
final de verão, devido ao subpastejo promovido pelas baixas lotações. No
entanto, com a utilização de suplementação hibernal e/ou lotações
maiores no verão; o acúmulo de forragem será menor, sendo então
necessário adotar outras práticas que forneçam aos animais forragem em
quantidade na época certa.
A primeira delas é a subdivisão das invernadas, a qual permite que
se adote outra tecnologia de fundamental importância, que é o diferimento.
Num conceito clássico, Araújo (1976) define diferimento como a
prática que consiste em protelar o pastoreio de um determinado potreiro,
até que haja terminado a maturação das sementes, garantindo a renovação
e o adensamento das pastagens. Num conceito mais adequado ao
propósito, Primo (1993) define o pastejo diferido como a manutenção in
situ da forragem produzida quando as condições ambientais são favoráveis
para o crescimento e seu posterior aproveitamento em épocas de penúria
forrageira.
Como o propósito é acumular forragem para o inverno, devemos
levar em consideração conhecimentos a respeito da curva de crescimento
e qualidade do campo nativo (Figura 54). Neste sentido, o período de
verão se constitui naquele em que ocorrem as maiores taxas de crescimento
e na época mais adequada, uma vez que a utilização do material
forrageiro acumulado se dará já a partir do início de outono. Portanto,

271
veda-se uma determinada área de dezembro até março para utilização no
outono/inverno, com suplementação protéica, devendo ser dimensionada
de acordo com a(as) categoria(as) que a utilizará(ão), a carga animal e
o tempo de utilização. Como ainda não há indicações experimentais a
respeito da carga animal que o campo nativo suporta para este propósito,
é recomendável utilizar a faixa ótima de uso da forragem, e que situa entre
13,5 e 11,5kg de MS para cada 100kg de PV animal ou a recomendação
de que campos nativos denominados “campos de cima da serra”
suportam uma lotação máxima de 120 a 170kg de PV/ha (Jaques et
al.,1997).

5.7 Literatura citada

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