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Eni P Orlandi
Introdução
Por que “em perspectiva”? Porque ao responder à solicitação da Verli, para que
duas formas de situar este assunto. Uma delas é a de que, por uma perspectiva que
parece casual, traduzimos como último livro aquele que, na realidade, é o primeiro, do
ponto de vista de uma obra que representa a fundação da Análise de Discurso por M.
Pêcheux. Sua tese de doutorado. Mas isto dependeu de certas condições, e não é tão
casual assim. Pêcheux, quando o conheci, havia dito que eu devia ler o Vérités de La
Palice. Até aquele momento (anos 80), eu trabalhava em análise de Discurso apoiada
nas leituras do AAD69 e alguns artigos dele e de membros de sua equipe. Talvez por
bem antes do AAD69. Isso já dá uma perspectiva da relação com a obra de Pêcheux. A
outra forma de situar essa questão, a da perspectiva, é a que toca a conjuntura mesma da
produção deste livro AAD69 e a que nos encontramos hoje. Nesse sentido eu poderia
dizer que o que vou comentar aponta para leituras de M. Pêcheux, em conjunturas
automação do modelo nos anos 60 e o que podemos pensar hoje desse modo de
homem; Mina]
que foi produzida a AAD69, vou ler a orelha do livro que traduzimos e fazer alguns
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tradução desse livro. XX (leitura das orelhas). Vale a pena também referir a um excerto
ciências do comportamento.
pela sua natureza, para muitos outros trabalhos, também feitos por ele, posteriormente,
Análise de Discurso da linha francesa. Um texto fundador, uma obra que se diz, como
linguagem que traz em si a marca dos campos metafóricos, eleitos pelo autor: a
domínios do conhecimento. Plataforma para muitas questões novas e análises que, com
a teoria proposta por Pêcheux, mais abrem do que se fecham em respostas acabadas. O
constituído (um novo objeto de ciência), o discurso, definido como efeito de sentidos
entre locutores - este seu livro expõe largamente a análise automática do discurso, e
a frente da cena são questões que concernem a formalização dos modelos e a capacidade
por Pêcheux, de uma análise automática do discurso, propicia uma escrita formal, no
busca de uma escrita que não analisa relações de palavras (da linguística histórico-
comparada, como no século XIX), nem produz indicadores sintagmáticos (da sintaxe
gerativa, como no século XX), mas vai além, porque trata de um objeto de outra
toca, naquela conjuntura, o limite do impossível. É este impossível que conduz esta obra
para além de seu tempo imediato. A informatização do modelo, que é uma posição de
análise, ao lidarem, esta sua obra expõe. Como diz o autor, em relação à linguística, o
discursivo - que é a segunda parte de seu livro - não é uma teoria da língua, mas
procedimentos de análise, com suas notações e seus grafos. Com isso, ele dava início a
um amplo programa de análise que está, então, apenas em seus inícios 1. Está fundada a
Análise de Discurso.
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Não vou me estender sobre esta questão, mas, certamente, hoje, a questão da automatização e toda
esta mobilização das máquinas e modelos, alcança um patamar que, na época, era fruto de ousadia
explorar. Não podemos pensar nesse seu esboço de um programa bem mais largo, sem considerar as
condições de produção de sua proposta de automatização da análise de discurso, que se dá nos anos
1960. O que fica posto é que, nos anos 1960, neste seu livro fundador, ele teoriza e propõe princípios
metodológicos que sustentam, com a automatização, uma análise de um objeto cuja natureza e
caracterização irrompe como totalmente novo e inexplorado.
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tanto quanto à língua como ao sujeito. Nesta sua obra fundadora, a Semântica do óbvio
objetiva sustentar uma análise automática do discurso. Esse seu trabalho, mantendo-se
crítico à análise linguística, reforça ainda mais o que são os princípios que vai
estabelecendo para a teoria do discurso, em que a descrição que ele apresenta e a sua
organização em grafos (com pilhas, com redes e não árvores, etc) constituem um
Penso que ler hoje o AAD/69, no quadro da história das ideias discursivas (E.
Nessa tradução, o texto integral nos expõe tanto o domínio dos conceitos, das
concepções que transitam entre língua, linguagem e ideologia, como também nos leva à
filiação ao materialismo.
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ORLANDI, E. P. “Ética, ciência, ideologia e interpretação”, apresentação na 32ª reunião da ANPOLL,
Cáceres, Unemat, 2017, publicado in Ciências da Linguagem e a(s) voz(es) e o)s) silenciamento(s) de
vulneráveis: reflexão e práxis – Homenagem ao prof. Luiz Antonio Marcuschi, Campinas: Pontes, 2018.
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objeto. As outras partes do livro nos trazem os grafos e anexos que são fundamentais
que seja a automatização. Estas partes do livro nos dão os traços da tomada de decisão
de Pêcheux que é, sem dúvida, a projeção de uma ruptura e a proposta de seu programa
dos passos de análise que realiza, para produzir uma análise não submetida nem à
análise linguística, nem à pragmática, nem à teoria dos atos de linguagem, nem aos
Bachelard (1968)3, que refere às “novas formas do pensamento científico que vêm
ao refletir sobre a relação entre razão e experimento. Ele nos conta que o físico
Michelson morreu sem encontrar as condições que teriam, segundo ele, confirmado sua
experiência (relativa à detecção do éter). E nos diz que outros físicos sutilmente
decidiram que esta experiência, negativa no sistema de Newton, era positiva no sistema
afirma a filosofia do “porque não”? Pois bem, a ruptura produzida por Pêcheux, como
seu objeto novo, exigem também do método uma mudança de terreno, que ele realiza.
linguagem e da ideologia. Para que signifique, cientificamente, não se trata, neste caso,
para que se compreenda a direção que o autor aponta, para o que é e para o que poderá
vir a ser a análise de discurso que ele funda. Como no próprio dizer de Pêcheux, o idiota
olha o dedo quando se aponta a lua. E por que não? Com esta obra - pela forma que
então. Resta afirmar que a análise da relação da linguagem com a exterioridade, com a
ciência. Este livro, lido em sua íntegra, nos propicia tocar as bases desse movimento.
Para terminar, pondo mais uma vez esta obra em perspectiva, trago a referência a