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e o escravizado esqúecido
Morreu em 28 de agosto de 2018, aos 91 anos, o folclorista
Paixão Côrtes, certamente a figura mais forte e representativa do
Movimento Tradicionalista Gaúcho, do qual foi destacado fundador,
no distante ano de 1947. Era homem singularmente simpático e
afável, que deixou lastro indelével na cultura rio-grandense.
Pátria do latifúndio
Paixão Côrtes nasceu em Santana do Livramento, na
fronteira com o Uruguai, região dominada fortemente pelo
latifúndio pastoril, no passado e ainda hoje. Santana do Livramento
é o segundo maior município sulino e o que mais perdeu população
na última década, devido à falta de trabalho para sua rarefeita
população.
Pequena propriedade
A imigração colonial-camponesa alemã [1824], italiana
[1875], polonesa, etc., criaram dinâmica que ensejou – fenômeno
único no país – o deslocamento do poder da oligarquia agrária,
quando da República, em 15 de novembro de 1889, por bloco
político-social de viés pró-capitalista, modernizante e autoritário.
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O poder político se deslocou da Campanha-Fronteira, na
metade sul, para sobretudo a Depressão Central e a Serra, na
metade norte, regiões que já superavam economicamente o
Meridião nos anos finais do Império. Esse movimento, que
singularizou por décadas o RS, foi dirigido pelos republicanos
positivistas e seus principais líderes: Júlio de Castilho, Borges de
Medeiros, Flores da Cunha e Getúlio Vargas.
Hegemonia industrialista
Em 1937, o golpe do Estado Novo liquidou o federalismo
nacional; fechou os partidos políticos, entre elas o Libertador, dos
latifundiários sulinos; impulsionou fortemente o industrialismo, no
Rio de Janeiro e São Paulo. Apesar de promover forte transferência
de renda do campo para a indústria, Vargas jamais atacou o
latifúndio, uma das razões da crise do padrão de
“desenvolvimentismo burguês assentado nos capitais e mercados
internos” por ele impulsionado.
Civilização e Barbárie
Nas suas origens, desconhecendo a história rio-grandense, o
tradicionalismo sulino empreendeu invenção de tradição
apologética e conservadora, fortemente apoiada em ideologia
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cultural platina congênere, anterior e de maior riqueza, devido ao
dinamismo superior – econômico, social e político – da economia e
sociedade pastoril uruguaia e, sobretudo, argentina.
Limpeza étnica
A transposição das elucubrações ideológicas pastoris
platinas ao Rio Grande do Sul exigiu uma violenta maior no relativo
ao nosso passado. Ao contrario da Banda Oriental, de Santa Fé, de
Corrientes, de Entre Ríos, etc., a economia pastoril sulina não se
apoiou sobremaneira no peão, mas principalmente em
trabalhadores escravizados – os “cativos campeiros”.
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engenheiro-agrônomo, nas vestes de fazendeiro travestido em
gaúcho.