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ÁFRICA
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22.out.2021 às 15h55
EDIÇÃO IMPRESSA
(https://www1.folha.uol.com.br/fsp/fac-simile/2021/10/23/)
negros.shtml),
a americana Saidiya Hartman tentava fazer também uma escavação
muito pessoal das próprias raízes. Se buscava alguma sensação de
pertencimento, encontrou algo bem diferente. "Nunca me senti tão só em toda
a minha vida", confidencia a um amigo a certa altura do livro "Perder a Mãe".
Não era esse o plano, mas a obra acabou construída em primeira pessoa e
repleta de relatos íntimos sobre sua história familiar. Ganhou ar de romance,
mas não se engane, é um ensaio acadêmico robusto, que acresceu à pesquisa a
necessidade consciente de ter sua autora como uma espécie de personagem.
"Perder a Mãe" sai pela Bazar do Tempo, que também vai publicar "Vênus em
Dois Atos" e "Cenas de Sujeição" em coedição com a Crocodilo. A Fósforo, que
já editou o ensaio "O Fim da Supremacia Branca"
(https://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2021/06/web-du-bois-evidencia-que-a-literatura-negra-sempre-foi-proficua.shtml),
prepara seu premiado "Vidas Rebeldes, Belos Experimentos" para o ano que
vem.
A escritora americana Saidiya Hartman, que publica seu 'Perder a Mãe' no Brasil pela Bazar do
Tempo
- Divulgação
Não é preciso avançar muito na leitura para reparar na sua distinção estilística
(https://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2021/09/arjan-martins-reinventa-o-modo-de-representar-pessoas-negras-nas-artes-
plasticas.shtml),
que se emancipa da objetividade acadêmica em prol de um tipo
diferente de produção de pensamento —nascido da criatividade e da
frustração.
Gana ergueu para atrair afro-americanos em busca de suas raízes, algo que no
argumento da autora só servia para calar o passado.
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"Ou seja, o mesmo país que não quer lidar com o legado da escravidão no seu
próprio território faz isso no país dos outros, modelando os termos da história
do colonialismo."
A pesquisadora lembra que o Juneteenth, data que celebra o fim da escravidão,
se tornou oficialmente um feriado americano
(https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2021/06/pela-1a-vez-eua-celebram-feriado-nacional-que-marca-fim-da-escravidao-no-
O tom ecoa uma desilusão que toma conta de boa parte de "Perder a Mãe",
escrito em 2006 e imbuído da sensação de que a janela para mudança
significativa já tinha se fechado (https://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2021/06/negros-nao-sao-vistos-
como-humanos-mas-objetos-diz-autor-de-afropessimismo.shtml).
"Nos anos 1960 ainda era possível acreditar que o passado podia ser esquecido,
pois parecia que o futuro, finalmente, havia chegado", diz um trecho do livro.
"Enquanto na minha época a impressão do racismo e do colonialismo parecia
quase indestrutível."
livros.shtml).
Quis sublinhar os limites desses projetos. Mas no meu último capítulo,
particularmente, penso os novos termos da nossa imaginação de liberdade."
Vale contar um caso pessoal da escritora para ilustrar o movimento que ela
propõe.
Nascida há 60 anos como Valarie Hartman, durante a faculdade ela mudou seu
nome para Saidiya —a pronúncia é "sadia", com o "i" alongado—, adotando uma
palavra de origem suaíli para contornar os impulsos europeizantes de sua mãe.
Mais tarde percebeu que o novo nome também era "uma ficção de alguém que
jamais seria —uma garota sem a mácula da escravidão e a decepção como
herança".
A história de Hartman se afina a sua teoria de que é preciso construir uma
identidade que não busque ignorar a chaga do escravismo nem retornar para
um idílio anterior à violência colonizadora —mas que nasça a partir da perda
fundamental produzida pela escravidão.
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