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Não Diga Sim Quando Quer
Não Diga Sim Quando Quer
JEAN BAER
Quando me casei, já na avançada idade dos 40 anos, todo
mundo comentou; “Que mulher de sorte você é!”
Eu era mesmo de sorte. Tinha me casado com um homem
elegante, sexy, sincero, atencioso, e vagamente parecido com
Yul Brynner. Naquele tempo, isso é que eu achava
importante. Mas não sabia como realmente era uma mulher
de sorte. Meu marido, o Dr. Herbert Fensterheim, psicólogo
clínico, é um especialista na terapia do comportamento, da
qual uma das mais importantes modalidades é o Treinamento
da Autoafirmação (TA).
Para a maioria das pessoas eu deveria dar a impressão de
ser a última das criaturas a necessitar de qualquer forma de
TA. E eu fazia por estar à altura dessa fama. Em minha vida
profissional, a cada minuto tinha de enfrentar dificuldades e
lidar com problemas que exigiam soluções imediatas. A
maior parte de meus conhecidos não sabia que eu passei
dezoito anos no mesmo emprego, esperando ser despedida
todos, os dias. Além disso, jamais sonhei em viver mudando
de patrão. Onde iria encontrar outro emprego? Assim é que
eu pensava. Quem haveria de me querer? Que seria eu sem
meu maravilhoso trabalho? Minha resposta a mim mesma
era a seguinte; “Não seria nada.” Essa era minha reação,
negativa, apesar de ter sido várias vezes premiada, ao longo
de todos esses anos, por minha eficiência.
Na vida particular, eu também era uma pessoa tímida. E
gostava de ser tímida porque todos os meus amigos me
procuravam em seus momentos de aflição; “Você é aquela
mulher que chega na casa da gente com uma canja de
galinha."
Assim é que eles me definiam, mesmo no tempo de minha
mãe. Eu fazia exatamente isso. Quando eles ficavam em casa,
gripados, lá ia eu para suas cabeceiras, com uma canjinha
feita por mim. Mas quando eu caía doente, ninguém vinha
me visitar. Nunca me passou pela cabeça essa exigência.
Além do mais, quando uma pessoa me pedia alguma coisa,
fazer compras, por exemplo, ou dar um jantar em minha casa
para que uma amiga solteira pudesse ter onde levar um
“conhecido novo”, minha resposta era sempre um “sim”. Eu
vivia a pregar mentiras inocentes e de última hora, porque
não conseguia cumprir as promessas de autoafirmação que
fazia a mim mesma.
Dois anos depois do meu casamento tudo mudou. Um belo
dia, numa praia da Córsega, desatei num pranto corto se
fosse uma heroína de Tchekhov. Herbert me perguntou:
“Posso fazer alguma coisa por você?” Então minha caixa de
Pandora, abarrotada de problemas, abriu-se violentamente.
Eu falei sobre todos os meus medos: “Há um novo regime lá
no escritório. Vou ser a primeira pessoa que eles vão pôr na
rua.”... “Estou há dóis anos fazendo pesquisas para meu livro
sobre Paris de 1900, mas se eu não deixar você e não for
morar em Paris durante um ano, não conseguirei escrever
esse livro. De qualquer maneira, o tema é difícil demais para
mim.”... “Minha família vive implicando comigo”... “Às vezes ;
até você implica comigo.” ‘ .
Herbert ouviu aquela torrente de palavras, e em seguida,
com o mesmo jeitão calmo que ele tem (disso eu tenho
certeza) diante de seus pacientes meio perturbados, disse-
me isto: “Você parece uma pessoa afirmativa, mas perdeu o
controle das coisas. Você parou de pensar a respeito de onde
quer chegar, e está confundindo uma porção de metas. Você
confunde ser estimada com ser respeitada. Perdeu de vista
as metas intermediárias. Ou você atinge sua derradeira meta
ou atira para o lado tudo quanto já fez. Vamos estabelecer
um certo número de metas. O que você pretende fazer de
sua vida?”
Eu respondi: “Quero mudar de trabalho, escrever outro
livro e ter um pouco de paz. Estou cansada de ser alvo de
deboches.” Herbert me aconselhou o seguinte: “Você se
deixou ficar nesse emprego, nunca se afirmou nele, e tudo
quanto conseguiu foi trabalho. Que tal correr um risco? Com
o novo regime você talvez seja despedida, a menos que
pense em alguma coisa imediata a fazer. O que você poderia
fazer?” Logo após nossa volta para os Estados Unidos, enviei
uma carta ao meu chefe, dizendo, em linhas gerais, como
minhas aptidões poderiam ser aproveitadas num cargo
diferente. Fui promovida e obtive um aumento de ordenado.
Além disso, fui uma das cinco pessoas do “velho regime” que
sobreviveram.
Quanto ao meu livro francês, Herbert deu uma afirmação
à qual me apego sempre que me sinto deprimida. Ele disse o
seguinte: “Talvez você não possa escrever esse livro agora,
mas poderá ser ele uma meta a alcançar a longo prazo.
Desenvolva o livro. É possível que você venha finalmente a
escrevê-lo. Mas há outras etapas que poderão ser cumpridas
antes disso.- Não se trata de optar pelo livro francês ou
nada.” Comecei imediatamente a escrever um trabalho, de
caráter não-histórico e fora do campo da ficção, que poderia
ser feito em Nova York, e acabou sendo meu livro A Segunda
Esposa.
Quanto aos amigos e à família, Herbert tinha a me dizer o
seguinte: “Você está de tal modo dominada por essa
necessidade de ser estimada, que sacrifica seu respeito
próprio. Pelo menos você poderia aprender a lidar com as
humilhações de uma forma que lhe faça respeitar a si
mesma. Quando os amigos ou a família a criticam você se
limita a ficar sentida e calada no seu canto, o que significa
uma silenciosa aquiescência de sua parte, e faz com que você
sinta ódio de si própria. Uma simples afirmação sua, como
por exemplo: ‘Eu não gostei do que você disse’, mudará por
completo as coisas. E talvez você chegue a aprender a dar o
troco a. essas pessoas, criticando-as também. Elas deixarão
de fazer o que fazem.” De repente eu percebi que poderia
ser uma versão de maria vai-com-as-outras, mas não
precisava continuar sendo desse jeito.
Em consequência dos conselhos de meu marido, em
apenas dois anos aconteceu o seguinte:
Mudei de emprego, passando a ter outro cargo muito mais
interessante e estimulante, na mesma firma, e tive um
aumento de 25% em meu ordenado; recentemente, outro
“novo regime” veio suplantar- o primeiro; meu departamento
foi extinto, por motivos de economia, e eu fui de fato
despedida. Terei me sentido um zero à esquerda?
Absolutamente! Acolhi de bom grado a oportunidade de
tentar viver como freelancer. Além disso, transcorridas seis
semanas eu já tinha reunido um número de trabalhos que me
haviam encomendado e cuja remuneração era superior ao
meu ordenado de um ano. Comentei com meu marido: “Todo
mundo está me fazendo propostas. Eu pensava que, se
ficasse sem emprego, seria uma anônima.” Sua resposta foi a
seguinte: “Você era a única pessoa que pensava dessa
maneira.”
Aprendi a reagir aos “amigos” que me humilhavam com
observações desse tipo: “Qualquer pessoa poderia escrever
os livros que você escreve. Basta sentar numa cadeira e
escrever. Só isso.” Eu progredi, a ponto de não replicar mais
assim: “Como você pode falar desse jeito comigo?”, passando
a dizer, de maneira positiva: “Você está com inveja?”
E também aprendi a dizer “não” a solicitações absurdas.
Quando minha madrasta me pede (eu sou a única de suas
filhas e sobrinhas que trabalha o dia inteiro) que tome conta
de seu cachorro, eu não digo que “sim” para depois ficar
sofrendo durante três meses enquanto ela passa férias na
Califórnia. Digo-lhe o seguinte: “Eu gostaria de fazer isso
pela senhora, mas não posso.” Então ouço o comentário dela:
“É. De fato é melhor que meu Brownie fique num canil.”
Posso dizer simplesmente ao meu marido: “Isso eu não
vou fazer.”
Agora já sei que é melhor falar com franqueza do que ficar
calada. E tenho uma série de metas e submetas a alcançar.
Dentro de cinco anos, escreverei meu livro francês.
Por causa da “preleção” de meu marido, naquele dia, na
praia da Córsega, e do Treinamento da Autoafirmação a que
me submeti à partir de então, toda a minha vida mudou.
Passei de um estado de perturbação obsessiva para o da
ação eficiente. Sei para onde vou. E tudo isso porque aprendi
que o segredo de alguém ser feliz, livre das neuroses, se
resume numa pequena palavra: afirmação.
Comigo deu certo.
Pode dar certo com você.
Neste livro nós lhe diremos como agir.
Capítulo 1.
Você Poderá Aprender A Ser
Normal, A Não Ser Neurótico
A Terapia Do Comportamento E O
Treinamento Da Autoafirmação
A Personalidade Afirmativa
A Organização Psicológica
A Infância
A criança tem nos pais a base de sua segurança. Quando
sua dependência em face dos pais é bem-sucedida, ela possui
a força e a segurança necessárias para reestruturar sua
organização psicológica e prosseguir rumo à adolescência.
Algumas crianças não o conseguem. Há pessoas que
preservam durante a vida inteira as metas e os hábitos da
infância, fazendo de todos os demais seres humanos seus
pais. E, de maneira por vezes óbvia, outras vezes sutil,
representam o papel da criança exigente. Essas tristes
criaturas buscam encontrar “o bom pai” na pessoa com
quem se casam ou num amigo, que as conforte em seus
momentos de aflição e lhes dedique aquele amor sem
reservas que a mãe proporciona a um filho pequenino.
Querem ser amadas pelo que são (não importa o que isso
represente) e não pelo que fazem. Essa imposição não
poderá ser satisfeita, e tais criaturas atravessam a vida
cheias de mágoas e desapontamentos.
A Adolescência
O adolescente estabelece um novo tipo de organização do
comportamento, cuja meta passa a ser a obtenção de
segurança junto a outros adolescentes, seus iguais, e não ao
lado dos pais. Sua segurança decorre do fato' de serem
partes integrantes de um grupo e de lograrem a aceitação e
a aprovação desse grupo. O fundamento de sua segurança
consiste em pertencer ao grupo. Um “adulto” que se
classificar nesse tipo jamais irá além da adolescência.
Continuará possuindo uma personalidade inibidora porque
nunca alcançou sua identidade própria fora do grupo, e
sempre haverá de preocupar-se com o que as outras pessoas
pensem a seu respeito, decidindo qual deve ser seu
comportamento segundo as ideias dessas pessoas, pois o
modo de pensar desfavorável das mesmas poderá culminar
na rejeição desse “adulto” pelo grupo.
A idade Adulta
Quando a adolescência chega ao seu termo, ocorre uma
mudança. O adulto não precisa do grupo para ter segurança.
Ao contrário, sua vida poderá girar em torno de um reduzido
número de pessoas, alguns amigos íntimos, uma amizade de
pessoa do sexo oposto. Essa base se estreita, finalmente, e a
segurança do indivíduo irá concentrar-se em determinada
pessoa. Nesse estágio da existência, desenvolvem-se
relacionamentos de caráter mais duradouro, podendo um
deles culminar no casamento. O íntimo relacionamento de
alguém com outro ser humano será uma fonte da descoberta
e expressão de sua verdadeira individualidade, quer no
âmbito desse mesmo relacionamento, quer no que diz
respeito à vida em geral. Alguns terapeutas consideram isso
o ponto culminante do desenvolvimento do ser humano.
O Indivíduo Completo.
Outros terapeutas acreditam ser necessária ainda outra
etapa organizacional, que importa em transferir a segurança
obtida junto a outro ser humano para a segurança no
autorrespeito. Isso vai encontrar suas raízes no seguinte
sentimento;
“Conheço minhas necessidades e meus valores, mas estarei sempre pronto
a isso examinar e modificar. Quero sentir profundamente, agir
vigorosamente, relacionar-me intimamente com outras pessoas e, não
obstante, preservar sempre o domínio de mim mesmo.”
A Espiral Neurótica
O comportamento inadequado de um individuo numa área
repercute em outras áreas de sua organização psicológica,
acarretando-lhe maior angústia ou depressão, e também
afetando sua confiança em face de outras situações. A esse
efeito de redemoinho denomino espiral neurótica. Por
exemplo: receando perder o emprego, uma pessoa adquire
todo um novo conjunto de dúvidas. E perguntará a si mesma:
“O que há de errado comigo?”... “Será que eu não valho
nada?”... “Eu nunca tenho sucesso”, concluirá. Tais
pensamentos a seu turno conduzem a comportamentos
inadequados, os quais tornam
por sua vez mais intensos os temores e dúvidas que levam
a formas de comportamento ainda mais inadequadas. A
pessoa não consegue sair dessa espiral.
Seguem-se alguns indícios de que um indivíduo poderá
estar descendo a espiral neurótica em matéria de
autoafirmação:
Vive sempre a apaziguar as outras pessoas porque receia ofendê-las;
permite que essas pessoas o manobrem, levando-o a situações que
não deseja;
não consegue expressar seus legítimos anseios;
sente que os direitos dos outros são mais importantes do que seus
próprios direitos;
magoa-se com facilidade diante do que as outras pessoas dizem e
fazem a tal ponto que vive permanentemente a se inibir;
sente-se frequentemente na fossa mas não sabe por quê;
sente-se isolado porque não possui nenhum relacionamento íntimo
com pessoa alguma no mundo;
sente-se inferior porque é inferior, limitando as próprias
experiências e não se utilizando de suas potencialidades.
Direitos Da Pessoa
Inventário De Tensões
Finalidade: Identificar as coisas que o levam a sentir-se
tenso, temeroso ou perturbado de qualquer outra maneira.
Primeira Etapa: Fazer uma lista, em seu caderno de
apontamentos do TA, dos seguintes estímulos, sejam coisas
ou experiências:
1. Gente que fala muito alto
2. Falar em público
3. Pessoas que parecem loucas
4. Pessoas implicantes
5. Fracassos
6. Pessoas estranhas
7. Sentir-se encolerizado
8. Pessoas que exercem autoridade
9. Sentir ternura
10. Pessoas de aspecto rude
11. Ser observado no trabalho
12. Receber elogios
13. Ser criticado
14. Pessoas irritadas
15. Passar despercebido
16. Parecer tolo
17. Não ser estimado
18. Cometer erros
19. Intervalos de silêncio numa conversação
Um Programa De Metas
Situações Impessoais
(1) No decurso de- uma semana, entre em duas lojas e
peça que lhe troquem um dólar. Não compre coisa alguma.
Na segunda semana, peça que lhe troquem cinco dólares; e
na terceira, peça que lhe arranjem troco para dez dólares.
Entre somente em lojas em que seja desconhecido. Lembre-
se de que não é preciso conseguir o troco. Se o dono da loja
trocar seu dinheiro, agradeça-lhe por isso. Se ele não trocar
o dinheiro, diga, polidamente: “De qualquer, maneira,
obrigado.”
(2) Varie a técnica' de “solicitação”. Dirija-se a uma banca
de jornais onde não o conheçam, tire da carteira uma nota de
cinco dólares e peça um jornal de quinze centavos. Faça isso
duas vezes na primeira semana. Na segunda semana,
experimente pedir troco para dez dólares. Faça sua
solicitação de maneira natural. . Não peça desculpas por
isso. A questão é a seguinte: praticar esse exercício. Lembre-
se de que não está forçando o jornaleiro ou o dono da loja a
fazer o que quer que seja. Ele terá o direito de dizer “não” ao
seu pedido. Indaguei a muitos proprietários se ficam
aborrecidos pelo fato de pessoas entrarem em suas lojas e
pedir-lhes que troquem dinheiro. Em 90% dos casos, a
resposta desses donos de lojas foi a seguinte: “Se eles
entram na loja, talvez comprem alguma coisa.”
(3) Entre numa lanchonete onde não o conheçam. Não
fique parado as balconistas tiverem assoberbadas de
trabalho, e diga; “Pode me arranjar um copo de água?” Se
você for atendido, beba sua água e agradeça. Se não for,
diga; “Obrigado, de qualquer maneira” e saia da lanchonete.
(4) Entre em três lojas. Experimente, em cada uma delas,
uma roupa qualquer; um paletó, um casaco, um vestido, mas
não compre coisa alguma. Isso lhe dará a liberdade de dizer
“não”. Se encontrar algum artigo que realmente deseje
comprar, volte à loja mais tarde.
(5) Faça três pessoas pararem na rua e lhes pergunte que
caminho deverá tomar para ir a um lugar qualquer.
(6) Entre numa loja e peça um artigo que não esteja
exposto nas vitrinas.
(7) Compre algum artigo numa loja com a intenção
deliberada de devolvê-lo sem pedir desculpas ou dar
explicações. Diga simplesmente o seguinte à vendedora;
“Desejo devolver isto.” O propósito dessa tarefa consiste em
ser capaz de devolver coisas que tiver comprado, e não o de
praticar a maneira de pedir desculpas.
Ao executar essas tarefas, observe o seguinte:
Estabeleça um prazo limite para sua execução.
Informe seu marido (sua mulher, ou um amigo) a res peito
da tarefa, para que haja alguém a quem possa contar o que
fizer.
Se você não cumprir uma tarefa durante duas semanas
consecutivas, estabeleça a presunção de que essa tarefa iria
provocar-lhe excessiva angústia, e a substitua por outra.
Repita a mesma tarefa várias vezes. Isso lhe
proporcionará o sentimento de que está exercendo um
controle sobre si mesmo.
Na execução dessas tarefas de comportamento, as
pessoas quase sempre reagem da mesma maneira. Sentem-
se mais angustiadas antes de iniciar uma tarefa. No
momento em que a executam, experimentam certa tensão.
Se não obtiverem o tal troco, ou o copo de água, geralmente
sentem que lhes aconteceu a pior coisa deste mundo. Mas
dirão, de si para si: “Eu sou capaz de fazer isso outra vez.”
Quando completam alguma tarefa com êxito, sentem-se bem
consigo mesmas e acham que começaram a trilhar a estrada
da autoafirmação.
Integração Social
(1) Pratique a expressão de seus sentimentos. Busque
encontrar oportunidades de elogiar uma garçonete, um
balconista, um colega de trabalho. Conte o número de vezes
que assim proceder durante uma semana, e duplique o
número de comportamentos desse tipo na semana seguinte.
(2) Procure, igualmente, oportunidade de expressar seu
desagrado ou aborrecimento a uma garçonete, um balconista
ou um colega de trabalho. Quando houver um motivo para
isso, você poderá dizer a uma garçonete: “Esta sopa está
fria. Você se importa de me trazer outra mais quente, por
favor?” Ou então: “Eu pedi um rosbife bem passado, e este
está cru. Faça o favor de me trazer o que eu pedi.” Ao
balconista da loja, poderá ser dito o seguinte: “Perdão, agora
é minha vez.” Ou então: “Você sabe que não está sendo
delicado comigo.” Quanto a um colega de trabalho, suas
palavras poderão ser, por exemplo: “Você se importa de
desligar seu rádio? Está atrapalhando meu trabalho.”
Em matéria de exercícios de autoafirmação que visem a
formas de expressão de cólera, de caráter mais radical,
telefone para o Departamento de Limpeza Pública ou para
alguma outra repartição do serviço público de sua cidade.
Fale com o funcionário mais graduado que puder encontrar
e, de maneira adequada, dê expressão aos seus sentimentos
de irritação ante o fato de não haver sido feita a coleta do
lixo de sua casa há uma semana. Ou então, queixe-se de
qualquer outra coisa que o tenha aborrecido. Isso produz os
melhores efeitos imediatamente antes do dia marcado para a
realização de eleições.
(3) Se você mora num edifício de apartamentos, dê “Bom
dia” e “Boa noite” aos outros moradores.
(4) Dê “Bom dia” às pessoas em seu local de trabalho. Não
espere que retribuam sua saudação. Qualquer resposta que
lhe derem será uma espécie de bônus.
(5) Faça um comentário qualquer à pessoa que estiver ao
seu lado numa lanchonete, numa parada de ônibus, ou na fila
de um cinema, como, por exemplo: “Hoje está fazendo um
dia bonito, não é mesmo?”... “Dizem que este filme é bom.”...
“Será que o ônibus vai' chegar?”... Não espere receber
qualquer resposta. Essa tarefa serve para torná-lo mais
descontraído no plano social.
(6) Conte ao seu marido (ou à sua esposa), ou a algum
amigo íntimo, qualquer' coisa de pessoal sobre você mesmo e
que nunca tenha contado a ninguém.
(7) Estabeleça a norma de realizar uma tarefa por se-,
mana, que gostaria de cumprir, mas tem adiado. Poderá ser:
escrever para uma tia, dar um jantar em sua casa, ou,
simplesmente, telefonar para um companheiro de quarto, na
faculdade, para saber como ele vai passando. Escolha uma
tarefa que envolva outra pessoa.
Nos capítulos subsequentes, apresentarei outras tarefas
de comportamento. Aquelas que já foram descritas lhe
permitirão, porém, iniciar seu plano individual de
treinamento. Leia novamente o Inventário de Autoafirmação,
no Capítulo II, e torne a praticar as situações específicas em
que verificou ter deficiência de autoafirmação. Procure,
então, encontrar oportunidades de lidar com seus problemas
de autoafirmação.
Certas pessoas me perguntam o seguinte; “Essas tarefas
não serão contrárias à ética, não se constituirão de práticas
que manipulam outras pessoas?” É óbvio que não existe nada
de errado em cumprimentar um vizinho ou conversar com
um estranho, numa fila. No caso de alguns exercícios,
entretanto, o indivíduo terá de fazer solicitações como, por
exemplo, pedir que lhe troquem dinheiro. Mas lembre-se de
que assim como a outra pessoa tem pleno direito de dizer
“não”, qualquer uma terá também o direito de fazer um
pedido. É interessante observar que a tarefa de pedir um
copo de água é a que desperta mais comentários. Trata-se de
comentários bastante expressivos, ou seja, o fato de alguém
questionar que seja apropriado pedir um copo de água ou
sentir-se a contragosto quanto a isso.
Creio que a tarefa mais suscetível de ser posta em dúvida
é aquela em que a pessoa entra numa loja sem a menor
intenção de comprar o que quer que seja, ou com o propósito
de devolver uni artigo que adquirir. Embora ninguém tenha o
direito de assim proceder, permanece passível de dúvida o
fato de ser ou não ético agir dessa maneira. Seria fácil
racionalizar que na execução dessas tarefas as pessoas
muitas vezes descobrirão artigos que poderão devolver e,
posteriormente, comprar. Todavia, isso vale simplesmente
como racionalização. Eu próprio não estou seguro a respeito
do aspecto ético dessa situação. Por conseguinte, insisto com
meus pacientes e leitores para que façam seu julgamento a
respeito do assunto, analisem suas necessidades e baseiem
suas ações no que eles, e não eu, concluírem ser um direito
seu.
“Eu gostei do que você fez”... “Eu não gostei do que você fez.”
Seg
Ter
Qua
Qui
sex
sab
Dom
Total
Ensaios De Comportamento
2...
Segunda Etapa: Ser específico ao referir-se às coisas que
gostaria que seu esposo (ou esposa) fizesse com mais
frequência. A lista de uma esposa poderá incluir, por
exemplo; “Diga a mim o que você gosta em minha cozinha”,
e não “Pare de falar sobre o que você não gosta em minha
cozinha”. Ou então; “Diga-me quando eu estiver com um
vestido que você gosta.” A relação de um marido poderá
conter o seguinte: “Seja carinhosa quando eu chegar em
casa cansado.” “Elogie-me quando eu fizer algum serviço de
casa, mesmo que eu o faça mal feito.”
Terceira Etapa: A mulher dá ao marido uma cópia de sua
lista e lhe explica o que quer dizer em referência a cada
item. O marido passa à mulher sua lista e lhe dá as
necessárias explicações. Os itens desejados deverão ser
coisas que o esposo (ou esposa) possa razoavelmente esperar
fazer, e não coisas impossíveis. (Quaisquer divergências
deverão ser discutidas. A essa altura, se um dos cônjuges
tiver firme certeza de que não poderá fazer uma
determinada coisa, deverá substituí-la por um
comportamento mais aceitável.
Quarta Etapa: Cada cônjuge deverá guardar uma cópia da
lista que der ao outro. Todas as vezes que executar um dos
comportamentos desejáveis, fará uma marca diante do item
correspondente da lista. Ou então, fará uma gráfico. Desse
modo, cada um dos cônjuges contará quantas vezes executar
o comportamento desejado.
Quinta Etapa: Numa hora preestabelecida (por exemplo,
todas as noites, antes do jantar ou antes de ir deitar-se), cada
um informará sua contagem ao outro, sendo discutido cada
episódio e também como ambos se sentem a esse respeito.
Assim, cada qual contribuirá para dar forma ao
comportamento do outro.
Segue-se um pequeno diálogo da vida real entre um
marido e sua mulher, no qual conversam sobre a descrição
feita por ela de gestos afetuosos, do tipo de comportamento
que desejaria fosse mais frequente de parte do marido.
Marido: “Você não contou aquela hora em que estava
perto da porta da frente e eu fiz festa no braço.”
Mulher: “Eu, não. Aquilo me pareceu muito mecânico, sem
demonstrar o menor afeto. Você deu a impressão de estar
muito apressado.”
Marido: “E aquela vez, na copa? E quando eu apertei sua
mão, ajudando você a sair do carro? Eu realmente estava me
sentindo muito afetuoso. Isso não deu certo?”
Mulher: “Quer saber de uma coisa? Você tem razão. Eu
simplesmente não estava prestando muita atenção. Foi uma
coisa que eu digo que gosto. E quando você fez aquilo, eu
não prestei atenção. Vou ficar mais atenta, de agora em
diante.”
Procedendo dessa maneira, cada membro do casal
aprende não só a agradar o outro como também se toma
mais sensível aos esforços por agradar feitos por ambos.
Contratos De Comportamentos No
Casamento
Os contratos tornam eficientes as boas intenções. Uma
pessoa evita situações nas quais a outra diria o seguinte: “Eu
estou cumprindo minha parte, mas ele (ou ela) não me dá
coisa alguma em troca. Quem suporta toda a carga nos
ombros sou eu. E isso não é justo.” Embora possa dar a
impressão de parecer uma fórmula um tanto fria c de caráter
profissional para ser empregado num relacionamento íntimo,
um contrato poderá realmente aumentar o calor desse
relacionamento e seu tom de franqueza.
São as seguintes as normas para a elaboração de um
contrato matrimonial com vistas a produzir modificações do
comportamento.
O contrato envolve ambos os cônjuges. Cada um deles
terá suas responsabilidades e receberá as desejadas
recompensas ao cumpri-las. As responsabilidades de cada
um relacionam- se diretamente com ó outro e as
recompensas provém igualmente dele (ou dela), também de
maneira direta. Cada qual obterá do outro alguma coisa que
deseja, em vez de pôr em prática os tipos de reforços que
consistem em evitar a aversão ou realizar uma fuga.
O contrato deve ser aceitável para ambas as partes. Cada
cônjuge deve estar disposto a aceitar responsabilidades
específicas, em troca de recompensas específicas.
Ao negociar o contrato, nenhuma das duas partes terá
quaisquer “direitos". Tudo poderá ser objeto de negociações.
Assim, serão facilitadas quaisquer alterações desse contrato,
em vez de as pessoas permanecerem num impasse.
Os comportamentos que serão objeto do contrato deverão
ser específicos, positivos, passíveis de ser observados e
contados. Não serão incluídos comportamentos, como, por
exemplo, o de “melhorar o casamento”. Serão efetivamente
levados em consideração comportamentos como “o número
de vezes em que ele me disse coisas amáveis”, ou “o tempo
que ele dedica a mim nos fins de semana”. Embora nem
sempre seja possível obter comportamentos suscetíveis de
ser contados, deve-se procurar isso conseguir. Cumpre evitar
comportamentos que não possam ser observados, como
pensamentos ou sentimentos. A modificação desses
pensamentos ou sentimentos será uma consequência da
modificação de ações observáveis. À medida que um dos
cônjuges aumentar suas comunicações no plano afetivo
(comunicações observáveis), ambos começarão a sentir-se
mais amorosos e mais íntimos. É necessário acentuar sempre
os comportamentos que se deseja incrementar, e não aqueles
que se pretenda reduzir.
O contrato deverá ser redigido detalhadamente, de sorte
que fiquem bem definidas as responsabilidades e
recompensas de cada parte. Isso evitará confusões futuras
acerca do acordo original. Deve o contrato ser guardado em
lugar de fácil acesso para cada parte. Sempre que isso for
possível, é conveniente acompanhar o curso dos
comportamentos que se pretende alcançar, fazendo-o com o
emprego de gráficos, quadros, pontos ou fichas.
Cada parte deverá avaliar o comportamento da outra.
Devem ser previamente estabelecidos prazos para decidir
a respeito da prorrogação do contrato ou realizar
negociações sobre o mesmo.
CASO
O casamento de Mary e Bob era desses que davam a
impressão de que tudo andava errado e nada estava certo.
Quando vieram ao meu consultório pela primeira vez, ambos
estavam tão sucumbidos com as coisas “erradas”, a ponto de
tomar-se quase impossível escolher metas específicas a fim
de tentar uma mudança dessa situação. Durante nossa
discussão do seu caso, entretanto, um tema se repetiu
constantemente. Mary sentia que seu lar não lhe pertencia.
Bob achava que aquele lar não era dele.
Era a seguinte a queixa de Mary: “Eu sou muito amiga de
minha mãe e quero convidá-la para jantar conosco aos
domingos. Quando faço isso, Bob sai de casa ou se porta de
um jeito tão horrível, que todos nós nos sentimos naquela
situação! Por isso eu não convido mais minha mãe para
jantar em nossa casa. Mas como minha casa poderá ser
minha se eu nem posso convidar minha mãe para jantar
comigo?”
A reclamação de Bob era esta: “Mary é tão bagunceira
que eu vivo num estado de permanente desconforto, muito
inconveniente para mim. Não consigo tomar um banho de
chuveiro sem ter que tirar uma quantidade de peças íntimas
de mulher, penduradas no tubo da cortina do boxe. Muitas
vezes não há jeito de eu encontrar uma cadeira onde possa
me sentar, porque todas as cadeiras estão cheias de livros
dela, de papéis e embrulhos dela. Como aquela casa há de
ser minha se ela não dá a menor consideração às minhas
necessidades e ao meu conforto?”
Diante dessas queixas, nós estabelecemos determinados
comportamentos desejados. Bob queria que Mary tivesse
mais ordem. Mary queria receber a visita de sua mãe e,
quando isso acontecesse, Bob teria que se comportar de
maneira civilizada.
Responsabilidades e recompensas de Mary: Ela teria de
ser mais ordeira, na opinião de Bob. Nós pormenorizamos a
desejada ordem mediante a escolha de quatro
comportamentos específicos: a pia do banheiro não deveria
viver salpicada ou besuntada de produtos de maquilagem;
Mary teria que pendurar suas roupas lavadas na área e não
no banheiro; seus livros, papéis e embrulhos seriam
empilhados em ordem, na sala de estar ou guardados nos
armários embutidos, em gavetas ou arcas, de sorte que Bob
não os visse.
Cada dia em que Mary executasse esses tipos de
comportamento de forma satisfatória para Bob ganharia um
ponto para cada comportamento. Assim, poderia fazer até
quatro pontos num dia, ou um máximo de vinte e oito por
semana. Mary não poderia discutir a avaliação de Bob, mas
pedir-lhe que explicasse as razões de seu julgamento e lhe
dissesse como poderia ela fazer maior número de pontos.
Quando Mary completasse sessenta e quatro pontos, embora
isso levasse muito tempo, poderia convidar sua mãe para
jantar, e Bob deveria portar-se da maneira gentil que teria
com um convidado dele próprio.
Responsabilidades e prêmios de Bob: Sua recompensa
seria, sem dúvida, Mary tornar-se mais ordeira. E suas
responsabilidades seriam as seguintes: comportar-se de
maneira civilizada quando a mãe de Mary viesse visitá-los.
Se ele assim não procedesse, a juízo de Mary, ela ganharia
mais dez pontos e, desse modo, apressaria a subsequente
visita de sua mãe.
Foi para nós difícil definir o comportamento, específico
que se denominaria “civilizado”, e isso nos levou a um debate
entre Bob e Mary a respeito de como poderia ele satisfazê-la
durante a visita de sua mãe.
Durante as duas primeiras semanas do contrato, Mary fez
apenas quinze pontos. Isso a levou a perceber como era
inconsiderada em matéria do conforto de Bob. Pela primeira
vez em vários anos começou a prestar atenção às
necessidades do marido dentro de casa, e a fazer outras
coisas que não estavam incluídas no contrato (como, por
exemplo, usar um bonito negligé no café da manhã, em vez
de enfiar um roupão rasgado).
À medida que Mary foi acumulando pontos e que se
aproximou o dia da visita de sua mãe, Bob foi ficando cada
vez mais preocupado com seu comportamento “civilizado”.
Começou a discutir a respeito de coisas desagradáveis que
havia feito no passado e, também, acerca de vários atos de
sociabilidade que poderia praticar para agradar a mulher.
Esses debates se ampliaram espontaneamente,
transformando-se em conversas a respeito de como cada
qual se sentia em relação aos próprios pais. Finalmente,
como se sentiam um diante do outro Passado pouco tempo,
recomeçou a haver franqueza e calor no relacionamento
deles em seu casamento.
Mary e Bob mantiveram esse contrato durante três
jantares de domingos e, em seguida, estabeleceram outro
contrato. A essa altura, porém, aquele contrato mecânico e
impes- soai sobre “ordem” levara a uma comunicação de
melhor nível entre os dois, e também a um sentimento
otimista de que haviam atingido um ponto em que as coisas
iriam mudar, em seu casamento.
Nem sempre os contratos nos casamentos têm de versar
sobre coisas relativamente tão simples como jantares de
domingos em companhia da sogra. Richard B. Stuaxt, ex-
professor de serviço social da Universidade de Michigan,
atualmente professor do Departamento de Psiquiatria da
Universidade da Colúmbia Britânica, empregou o sistema de
contratos com fichas que eram dadas a título de prêmios,
junto a quatro casais que estavam fazendo esforços
desesperados para salvar seus casamentos. Em cada caso, as
esposas relacionaram como seu primeiro desejo que os
maridos conversassem mais com elas. E cada marido queria
receber maiores provas de afeição “física”
O Dr. Stuart estabeleceu o sistema de troca entre
“conversação” e “sexo”. Cada vez que o marido conversasse
com a mulher de maneira por ela julgada satisfatória,
receberia uma ficha. Poderia trocar essas fichas por
demonstrações físicas de afetos' ou por “sexo”, pagando três
fichas por beijos ou “carícias discretas”, cinco fichas por
“carícias intensas”, e quinze por um ato sexual. Não resta
dúvida que isso é mecânico. Mas o número de conversações
e atos sexuais aumentaram muito depois do início do
tratamento, e as coisas prosseguiram assim através de vinte
e quatro e quarenta e oito semanas de períodos de
acompanhamento. O divórcio foi evitado nos quatro casos.
Aprender a comunicar-se. Usar uma máscara é prática
eficiente em certos casos, no ambiente de trabalho, ou ainda
em situações sociais que não sejam complexas (como
coquetéis). Mas não dá certo quando se trata do
relacionamento íntimo. Uma pessoa que estiver usando
máscara, não poderá comunicar-se de maneira íntima.
Uma boa comunicação constitui o núcleo de um
casamento feliz. Se uma pessoa deixar de exprimir seus
sentimentos de maneira franca, diminui esse compartilhar de
intimidade, no casal! Surgem as incompreensões. Quando as
coisas não estiverem indo bem, a boa comunicação
proporciona um fator corretivo à situação. Sem isso,
pequenas situações irritantes avultam e se transformam em
grandes problemas. A insatisfação não se reduz e poderá
assumir. um aspecto destruidor.
Finalmente, a ausência de franqueza faz com que duas
pessoas se tomem verdadeiros estranhos uma para a outra,
pessoas que prometeram diante do altar “amar, honrar e
querer” uma à outra até a morte. Seu relacionamento cessa
de crescer. O casal estará, então, diante da seguinte opção:
um casamento morto ou o divórcio.
Seguem-se algumas sugestões em matéria de
comunicação, capazes de evitar que essa opção tenha de ser
feita.
Falar sobre coisas triviais porque a maior parte dos
problemas do casamento dizem respeito a coisas simples.
Desse modo, a pessoa (1) impede a formação de certos
hábitos que, no correr do tempo, poderão transformar-se em
grandes áreas problemáticas; (2) começará a estabelecer um
padrão geral de franqueza no casamento; (3) resolverá as
dificuldades de maneira satisfatória ou insatisfatória para
ambos os cônjuges. Seguem-se dois exemplos:
Primeiro exemplo: Ruth não gostava da irmã do marido.
De modo especial, ficava aborrecida com o fato de sair com o
marido e com “aquela mulher” e o marido dela, todas as
sextas-feiras à noite, e também porque fingia estar gostando
daquilo. Afinal Ruth resolveu usar de franqueza, e disse ao
marido: “Eu estou cansada desse nosso grupo de quatro, nas
noites de sextas-feiras. Eu não gosto de sua irmã. Nunca tive
amizade a ela.” Mark revidou, fazendo à mulher a seguinte,
acusação: “Quando nós vamos à casa de Seus pais, você fica
conversando com sua irmã e não me dá a menor atenção.”
Os dois brigaram, mas a atmosfera se desanuviou. Agora
Ruth conversa com Mark quando os dois vão visitar a família
dela, e o quarteto das noites de sextas-feiras foi reduzido a
um por mês. Ruth declarou o seguinte: “Eu estava
procurando agradá-lo e, por isso, reprimia minhas próprias
ideias e me sentia arrasada. Desde que eu lhe falei
positivamente sobre sua irmã, nosso casamento vai indo
muito melhor.”
Segundo Exemplo: Como acontece com muitas esposas de
profissionais liberais ou de executivos, Louise sentia-se
isolada e contrariada porque o novo trabalho de seu marido o
prendia no escritório das 9 horas da manhã até às 11 da
noite. Quando lhe apareceu uma úlcera, ela decidiu levar ao
conhecimento de Mike (assim se chamava meu marido) como
era infeliz. Mike respondeu às suas lamentações com as
seguintes palavras: “Escute uma coisa. Trata-se do meu
trabalho. Se eu tiver um emprego onde fique das 9 horas da
manhã às 5 da tarde, receberei um pagamento por esse
trabalho das 9 às 5.” E indagou, carinhosamente: “O que eu
posso fazer para melhorar essa situação?” Os dois estudaram
uma solução para o caso. Mike procuraria chegar em casa às
9 horas da noite, telefonaria para a mulher uma hora antes
daquela em que pretenderia sair do escritório, isso para que
a mulher não estragasse o assado. E nunca trabalharia até
tarde às sextas-feiras. Das segundas às quintas-feiras, Louise
iria encontrar alguma atividade para ela própria, à noite.
Em ambos os casos, o fato de as pessoas falarem com
franqueza evitou que uma situação difícil se transformasse
numa tempestade.
Quando uma pessoa estiver aprendendo a comunicar-se,
deverá seguir esta orientação: não se traía jamais de ser
franco, mas de como e quando falar com franqueza. Falar de
maneira franca não é ser agressivo: é ser afirmativo. A
pessoa deve imaginar como dizer alguma coisa à outra
(esposo ou esposa) de sorte a melhorar a comunicação entre
ambos sem causar mágoa. Um marido, por exemplo, adora a
própria mãe, mas esta, como “sogra”, terá feito alguma coisa
à mulher dele, que a deixou muito tensa. Uma boa técnica
seria, no caso dela, dizer o seguinte: “Nós estamos com um
problema. Sua mãe me fez isso assim, assim. Eu fiquei
aborrecida com ela.” Desse modo, a esposa não terá
agredido a mãe do marido, mas apresentou a situação como
um problema mútuo, sendo de esperar que tenha aguardado
uma ocasião em que ele estivesse calmo e descontraído, e
não exausto.
Sinais De Perigo
A Orientação Ativa
Estímulos Discriminativos
Imaginemos que um indivíduo mantém um pombo dentro
de uma caixa. Se ele acender uma luz vermelha, o pombo
fará pressão sobre uma barra e receberá alimento. Se ele
acender uma luz branca e o pombo pressionar essa barra,
não receberá alimento algum. Se o indivíduo deixar acesa a
luz branca, o pombo receberá alimento somente se descrever
um círculo. Assim, o pombo aprende a discriminar entre as
duas situações. Ficará sabendo que ao acender-se a luz
branca só obterá o alimento se descrever um círculo. As
diferentes respostas à luz se denominam discriminação. As
luzes são estímulos discriminativos. Constituem o sinal do
comportamento que será reforçado.
Grande parte das vidas dos adultos está sob a influência
de estímulos discriminativos. Constituem sinais de que seus
comportamentos terão consequências: serão reforçados ou
punidos. Assim, os indivíduos aprendem a comportar-se de
maneiras diferentes, em diferentes situações. Aprendem uma
série de estímulos discriminativos que lhes dirão, por
exemplo, que ao soltarem uns brados durante um jogo de
bola, receberão determinado reforço, como o de se sentirem
parte integrante da multidão, ou fazerem com que uma
pessoa sentada ao seu lado inicie com eles uma conversação
cordial. Da mesma maneira, esses indivíduos terão absorvido
uma série de estímulos discriminativos que constituem sinais
de que se. gritarem em voz alta, no interior de uma igreja,
são punidos com olhares fuzilantes, de desaprovação, ou com
ordens como “Fique quieto”. Assim, as pessoas gritam
durante um jogo de bola e permanecem silenciosas dentro de
uma igreja.
Um indivíduo terá problemas se houver aprendido o SD
errado (sigla proposta por Skinner para denotar os estímulos
discriminativos) para um seu comportamento. Se uma pessoa
equiparar a visão de uma iguaria, um bolo na vitrina de uma
pastelaria ou uma travessa de batatas fritas à mesa, a um SD
para ingerir um alimento, provavelmente terá excesso de
peso, enfrentará problemas em matéria de dieta e dirá a si
própria que não tem força de vontade.
Estímulos discriminativos inapropriados poderão dominar
a vida de um indivíduo. Uma situação de trabalho ou de
estudo poderá conter SDs que constituam o sinal de que
conversar com os amigos fará com que uma pessoa se sinta
bem. Assim, ela irá conversar com os amigos, um
comportamento incompatível com o trabalho e o estudo.
Dentro em breve, essa pessoa irá censurar-se por ser
preguiçosa, procrastinadora e ter outros maus hábitos em
matéria de trabalho. A diferença’ não reside no
comportamento da pessoa em questão, nem nos reforços,
mas nas sugestões ante as quais ela reage. Para estabelecer
seu autodomínio, terá de modificar os estímulos
discriminativos.
Observe-se que não me referi a conflitos emocionais
inconscientes nem a impulsos instintivos. Skinner não se
preocupa com isso. Assevera que compreender a interação
entre o indivíduo e o meio ambiente é o bastante para se
modificar seu comportamento. Mostra que a ciência não
progrediu enquanto os cientistas anteriores a Galileu
procuravam imaginar o que ocorria no interior de uma pedra
que caía sob a ação da gravidade. A ciência só avançou
quando Galileu tomou em consideração apenas as forças
externas que operavam sobre a pedra e, desse modo,
determinavam que todos os objetos que caem, qualquer que
seja sua massa, o fazem à mesma velocidade.
A partir dos anos trinta, Skinner formulou as bases da
ciência do comportamento, baseada na relação entre a
frequência de um comportamento e suas consequências.
Descobriu, finalmente, que .sendo controlados os reforços,
seria até mesmo possível ensinar-se aos pombos a prática de
atos tão complicados como jogar pingue-pongue.
Skinner se preocupa com o comportamento que “opera
sobre o meio para produzir efeitos”, e denomina esse
comportamento como “comportamento operante”. Quando o
comportamento operante dos pombos atendeu às exigências
de Skinner, ele os reforçou positivamente, proporcionando-
lhes alimento. Controlou esse comportamento, estabelecendo
“contingências de reforço”, circunstâncias nas quais um
aspecto particular de um comportamento desejado é
reforçado ou gratificado para o efeito de assegurar-se que
ele se repetirá. É interessante observar que é mais humano
treinar animais, crianças e adultos mediante recompensas
atribuídas a comportamentos desejados do que através da
punição infligida a comportamentos indesejados. Além disso,
trata-se de um procedimento mais eficiente.
Assim, Skinner comprovou que o comportamento pode ser
modificado de maneira previsível, puramente através do
controle das consequências exteriores desse comportamento
e sem qualquer referência ao que se passa no íntimo do
indivíduo. Ele e outros especialistas demonstraram que o
comportamento humano poderá ser moldado da mesma
maneira previsível. Os partidários de Skinner asseveram que
todo e qualquer comportamento está sujeito a essas
consequências.
Seus opositores afirmam que “as pessoas não são
pombos”. Acreditam que a abordagem de Skinner é limitada
e não leva em consideração os comportamentos que são
exclusivos dos seres humanos, particularmente as áreas que
envolvem o pensar (tão influenciado pela capacidade
humana de valer-se da linguagem) e a conação (termo
psicológico que concerne aos impulsos, desejos, volições e
esforços marcados por algum propósito).
Esteja Skinner certo ou errado com respeito a todos os
comportamentos, é possível aplicar-se com segurança suas
técnicas de reforços, extinção ou punição para aperfeiçoar os
hábitos individuais de autodomínio. Se uma pessoa não gosta
da maneira com que se comporta, não se deverá censurar
por falta de força de vontade, carência de autodisciplina ou
de energia. Terá de considerar que isso consiste em hábitos.
Decidindo que mudanças deseja realizar, cumpre à pessoa
deliberadamente iniciar um programa que as torne efetivas.
Capítulo 8.
Um Guia Para A Codificação Dos
Hábitos
O Homossexual
Como poderá saber um indivíduo que deve esforçar-se por
deixar de ser homossexual?
Apesar da nova liberdade sexual, esse indivíduo talvez
tenha de tomar uma decisão. Será ele na verdade “normal”
e, por alguma razão, haver sido levado ao estilo de vida
homossexual? Ou então, será realmente um homossexual e
seu problema consistirá em aprender a enfrentar as pressões
da sociedade?
Há muitos tipos de homossexuais. Os que forem bem
ajustados, sejam eles exclusivamente homossexuais ou
bissexuais, terão encontrado um estilo de vida que os fazem
sentir-se felizes e realizados. Muitos homossexuais apenas
têm de enfrentar os problemas de como ganhar sua
subsistência, pagar seus impostos e o preço que lhes; é
imposto pelo fato de viverem num mundo conturbado.
Encontraram seu caminho.
Outros homossexuais apresentam problemas psicológicos:
(1) Homens (emprego a palavra “homem” porque um
maior número de homossexuais do sexo masculino busca
ajuda terapêutica e eu próprio conheço muito poucas
mulheres homossexuais que procuraram se tratar pelo fato
de o serem) que são basicamente normais, mas receiam
possam ser homossexuais. Criam fantasias sobre relações
sexuais com homens. Às vezes sentem-se atraídos por algum
homem que veem na rua, ou até mesmo se excitam ao olhar
para uma foto masculina no encarte de alguma revista.
Possivelmente, uma ou duas vezes terão tido relações
sexuais com homens! Para esse tipo de indivíduos, as
mulheres se terão tornado um estímulo carregado de
angústia, muitas vezes devido ao fato de carecerem eles de
autoafirmação ou recearem ser sexualmente incapazes.
Tendem a fugir das situações que lhes provocam angústia e
começam a alimentar fantasias sexuais, que os excitam,
voltadas para pessoas de seu próprio sexo. Os indivíduos
desse tipo, quando atingem a puberdade, pertencem a uma
categoria interessante. Só lhes crescem os pelos do púbis
mais ou menos aos dezesseis anos de idade. Na adolescência,
quando seus companheiros aprendem a se relacionar com o
sexo oposto, eles próprios aprendem a sentir-se
“inadequados”. Um estudo realizado sobre esse problema
mostra que ao chegarem aos trinta anos de idade defrontam-
se com dificuldades muito mais reais em matéria de
autoafirmação diante das mulheres.
(2) Homens que são basicamente normais mas cujas
angústias a respeito do sexo feminino são de tal modo graves
que forçam a si próprios a assumir um estilo de vida
homossexual. Trata-se de uma extensão altamente neurótica
do primeiro tipo, já descrito. Esses indivíduos apresentam
sintomas de depressão, angústia e desgosto em face de sua
situação no campo da homossexualidade. Trata-se de uma
conjuntura que pode ser comparada à de uma pessoa que
optou por permanecer num tipo errado de ocupação, como,
por exemplo, o extrovertido que fica das nove horas da
manhã às cinco da tarde trabalhando como estatístico,
isolado numa sala.
(3) Homens que são fundamentalmente homossexuais e se
veem obrigados a manter um estilo de vida heterossexual.
Em ambos os casos, existe grande confusão em matéria de
orientação sexual.
(4) Os homossexuais que não têm certeza do que são nem
do que querem. A que campo pertencem? Estarão
compreendidos nos dois campos, o da homossexualidade e o
da heterossexualidade? Reagirão segundo suas próprias
necessidades, ou assim procedem em consequência das
pressões da sociedade?
(5) Os homossexuais que gostam de seu estilo de vida mas
se ressentem porque vivem a ocultá-lo. Estimariam ser livres
e francos acerca de seus atos homossexuais, mas temem
possíveis humilhações que lhes seriam infligidas por um
mundo normal. Isso os leva a sentirem-se isolados e
alienados.
Variantes Heterossexuais
O Transexual
1. O Treinamento Da Autoafirmação No
Trabalho
Metas Neuróticas
(1) A necessidade que tem um indivíduo de julgar-se
imprescindível. Precisa sentir que é indispensável e, que se
abandonar seu posto tudo irá por água abaixo. Trata-se de
uma teoria que raramente corresponde à verdade. Muitas
vezes um indivíduo se considera extremamente leal ao seu
empregador. Mas estará sendo leal a si mesmo? Ou trabalha
demais como racionalização para não ser autoafirmativo e
feliz em outros setores de sua vida?
(2) A necessidade de ser estimado, em vez de ser
respeitado. Muitos indivíduos que não possuem
autoafirmação tornam-se por demais preocupados com o fato
de as outras pessoas gostarem ou não deles. Receiam que se
disserem “não” a algum pedido (não importa que o mesmo
seja muito descabido), se fizerem valer seus direitos, tiverem
êxito num projeto difícil, falarem com firmeza, as demais
pessoas não os estimarão. Isso de fato pode acontecer. Mas,
no trabalho, o respeito é mais importante do que a estima.
Um indivíduo que é respeitado obtém melhor tratamento em
seu trabalho. Uma afirmação como esta: “Ele é um bom
rapaz, mas é incapaz de assumir responsabilidades”, é uma
afirmação que revela estima, mas qualificada por um sinal de
falta de respeito.
(3) A necessidade de dominar situações impossíveis. Há
pessoas que raciocinam da seguinte maneira: se uma
situação no trabalho não culmina num resultado satisfatório,
há de ser por sua culpa. Terão de agarrar essa situação com
unhas e dentes até dominá-la. Para tais indivíduos,
abandonar uma situação dessas significa desertar. Em sua
atividade como decoradora de interiores, Mary Edwards
trabalhava com uma mulher mais idosa do que ela,' a qual
descreveu como sendo “uma bruxa, exigente, sem respeito
por mim, a explorada” (palavras suas). Mary tinha recebido
uma proposta para trabalhar com outra decoradora, que
parecia ser “uma boa pessoa”. Mas hesitou em aceitar esse
emprego, dizendo o seguinte: “A maneira de agir de minha
chefe em relação a mim deve ser culpa minha. Se eu aceitar
o novo emprego, estarei fugindo ao meu problema. Devo
ficar onde estou e fazer com que a Sra. Marks me respeite.
Além disso, ela sabe muito. Eu estou aprendendo um
bocado.” Na realidade, as duas chefes, a atual e a possível
futura, possuem a mesma fama e igual prestígio. Após
algumas sessões de tratamento em meu consultório, Mary
aceitou o novo emprego e ficou surpreendida com a mudança
do seu comportamento. Sua tensão desapareceu e ela
começou a gostar do seu trabalho. E admitiu também isto:
“Esta mulher sabe tanto quanto a Sra. Marks.”
(4) A necessidade de ser uma boa pessoa, de conquistar a
aprovação das demais. Os indivíduos que pertencem a esse
tipo confundem orientação no trabalho, na qual é atribuída
ênfase à boa execução do mesmo, com orientação do ego,
que consiste em uma pessoa utilizar-se do trabalho para
provar que tipo de pessoa é. Adotada esta última abordagem,
o indivíduo se torna mais vulnerável, mais sensível às
tensões e preocupações, afastando-se das realidades
objetivas do próprio trabalho.
(5) A necessidade de que o mundo se compadeça da
pessoa. Sem disso ter plena consciência, o indivíduo
estabelece condições de trabalho a tal ponto impossíveis de
serem satisfeitas, que todos dizem: “Coitado!” Assim, ele
obtém os reforços que deseja: compreensão e preocupação
de parte dos outros, mas não consegue dispor de reforços
que melhor serviriam aos seus interesses profissionais.
Os critérios de escolha de metas no trabalho hão de ser os
meios que se referem a outros atos de autoafirmação. A meta
que um indivíduo estabelecer o conduzirá ao ponto onde
deseja chegar em sua vida? Aumentará o sentimento de
respeito por ele mesmo?
Acima de tudo, é preciso enfrentar a realidade de que à
medida que se modifica na vida a situação de uma pessoa,
suas metas também poderão mudar.
Exercícios De Relaxamento
No Treinamento da Autoafirmação, empregamos
exercícios muito mais breves. A prática dos Exercícios de
Relaxamento Total exige vinte minutos; a dos Exercícios de
Relaxamento Intermediário, sete minutos. Esses exercícios
encontram-se no Apêndice da presente obra. Sua finalidade é
a seguinte: levar a pessoa a adquirir o domínio de suas
tensões no trabalho e em qualquer setor de sua vida.