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Não Diga Sim Quando

Quer Dizer Não


Aprenda a se impor e veja como toda a sua vida
mudará;
Herbert Fensterheim. e Jean Baer
Você diz SIM a quase tudo o que lhe pedem? Ê capaz de
discutir com o seu cônjuge, mas não com o seu chefe? Sofre
de síndromes do tipo de “a sorte me persegue” e “não tenho
cara de fazer isso”? Vacila em fazer valer os seus direitos
junto à família e aos amigos... ou em fazer novas amizades...
ou em afirmar-se sexualmente?
Se estas perguntas podem aplicar-se ao seu. caso, sem
dúvida lhe será de grande ajuda a nova técnica da
Aprendizagem Assertiva (AA). Já ajudou a muitos pacientes
que aprenderam o método do dr. Herbert Fensterheim,
praticando-o em sua clínica para terapia da conduta, no
Hospital de Nova York.
A AA, área, importante na terapia da conduta, indaga;
“Que podemos fazer para que você mude agora?" em vez de
“Por que você ê assim?” Sua premissa principal é de que se
as pessoas aprenderam esquemas de conduta que as fazem
sentir-se infelizes, inibidas ou temerosas, podem também
esquecê-los para sempre.
Graças a este livro você conhecerá a diferença entre a
asserção e a agressão, junto com as técnicas especiais de AA,
que o ajudarão a defender os seus direitos, a expressar os
seus sentimentos, a enfrentar o desprezo dos demais (ou o
que sente para consigo mesmo), a reduzir os temores e a
atingir os seus objetivos profissionais. O livro contém
exercícios práticos especiais de AA para melhorar as
relações matrimoniais, para tranquilizar-se no trabalho, para
fazer frente a situações problemáticas e para vencer o
impulso de comer em excesso... para citar só alguns
exemplos.
Este livro, resultado de trinta anos de trabalho, pode
melhorar a vida de todo homem ou mulher que o leia.
Nota do Autor
O material apresentado no presente livro resulta de trinta
anos de atividade científica e clínica, dos quais os vinte
primeiros foram dedicados à abordagem psicanalítica
tradicional e os restantes, devotados à terapia do
comportamento. Existem tantos professores, colegas,
estudantes (e pacientes) nessas duas áreas, que eu não
poderia apresentar uma lista de todos eles para significar-
lhes meu reconhecimento.
Estimaria expressar minha gratidão ao Dr. Richard N.
Kohl, professor de psiquiatria da Faculdade de Medicina da
Universidade de Cornell, e diretor médico da Clínica
Psiquiátrica Payne Whitney, do Hospital de Nova York, por
haver estimulado e facilitado a criação do meu Programa de
Terapia do Comportamento na referida clínica.
Sou também muito reconhecido à Dra. Helen. S. Kaplan,
professora associada da clínica psiquiátrica da Faculdade de
Medicina da Universidade de Cornell e chefe do Programa
de Terapia e Educação Sexual da Clínica Payne Whitney, não
só por suas ideias criadoras na área do comportamento
sexual e pelo estímulo profissional que me proporcionou ao
reavaliar minhas abordagens no tratamento de meus
pacientes, mas também por muitos anos de amizade que me
testemunhou. O falecido Dr. Gregory Razran, ex-presidente
do Departamento de Psicologia do Queens College deu-me
uma ajuda toda especial, orientando-me no sentido de minha
melhor compreensão dos princípios de Pavlov e de uma
adaptação ao campo do tratamento psicoterápico. Ele e sua
esposa também me proporcionaram um retiro na Flórida,
onde Jean e eu começamos a escrever este livro.
Conforme observei na presente obra, o Treinamento da
Autoafirmação não é um conceito simplista, baseado em
técnicas que se assemelhariam a meros truques mecânicos.
O TA, se for executado de maneira adequada, envolve
considerações de ordem neurofisiológica. o relacionamento
do indivíduo com as demais pessoas, num contexto social, e a
organização psicológica desse indivíduo. Meu pensamento
nesse setor foi influenciado por Andrew Salter, o psicólogo
nova-iorquino geralmente considerado o pai da moderna
terapia do comportamento, cuja obra, altamente original
nesse campo, conquistou o reconhecimento nacional e
internacional.
Estimaria também expressar meus agradecimentos
especiais ao Dr. Arnold Lazarus, professor de psicologia da
Escola dc Pós-Graduação de Psicologia Aplicada e
Profissional da Universidade de Rutgers; ao Dr. Richard B.
Stuart, professor do Departamento de Psiquiatria da
Universidade da Columbia Britânica e presidente da
Associação para o Progresso da Terapia do Comportamento;
e ao Dr. Joseph Wolpe, chefe da Unidade de Terapia do
Comportamento do Departamento de Psiquitria da Escola de
Medicina da Universidade de Temple. Com a leitura de suas
obras publicadas e através de minha correspondência e
francas discussões com essas pessoas, recebi valiosa
contribuição para meu desenvolvimento profissional no setor
do Treinamento de Autoafirmação.
Meus cordiais agradecimentos são estendidos a Eleanor
Rawson, nossa editora na David McKay Co., pelo seu
carinhoso interesse e preocupação por todas as palavras
contidas em meu manuscrito.
Acima de tudo, gostaria de exprimir meu apreço à minha
mulher, coautora deste livro, cujas perguntas desafiadoras e
valiosas, e a insistência ao dizer-me “Não me venha com
teorias — conte-me como as pessoas poderão pô-las em
prática” obrigaram-me a tornar claros muitos aspectos do
meu próprio pensamento. Ela foi de fato uma colaboradora
total deste livro.
Herbert Fensterheim, Ph.D.
Introdução.
“Comigo Deu Certo. Pode Dar Certo
Com Você”

JEAN BAER
Quando me casei, já na avançada idade dos 40 anos, todo
mundo comentou; “Que mulher de sorte você é!”
Eu era mesmo de sorte. Tinha me casado com um homem
elegante, sexy, sincero, atencioso, e vagamente parecido com
Yul Brynner. Naquele tempo, isso é que eu achava
importante. Mas não sabia como realmente era uma mulher
de sorte. Meu marido, o Dr. Herbert Fensterheim, psicólogo
clínico, é um especialista na terapia do comportamento, da
qual uma das mais importantes modalidades é o Treinamento
da Autoafirmação (TA).
Para a maioria das pessoas eu deveria dar a impressão de
ser a última das criaturas a necessitar de qualquer forma de
TA. E eu fazia por estar à altura dessa fama. Em minha vida
profissional, a cada minuto tinha de enfrentar dificuldades e
lidar com problemas que exigiam soluções imediatas. A
maior parte de meus conhecidos não sabia que eu passei
dezoito anos no mesmo emprego, esperando ser despedida
todos, os dias. Além disso, jamais sonhei em viver mudando
de patrão. Onde iria encontrar outro emprego? Assim é que
eu pensava. Quem haveria de me querer? Que seria eu sem
meu maravilhoso trabalho? Minha resposta a mim mesma
era a seguinte; “Não seria nada.” Essa era minha reação,
negativa, apesar de ter sido várias vezes premiada, ao longo
de todos esses anos, por minha eficiência.
Na vida particular, eu também era uma pessoa tímida. E
gostava de ser tímida porque todos os meus amigos me
procuravam em seus momentos de aflição; “Você é aquela
mulher que chega na casa da gente com uma canja de
galinha."
Assim é que eles me definiam, mesmo no tempo de minha
mãe. Eu fazia exatamente isso. Quando eles ficavam em casa,
gripados, lá ia eu para suas cabeceiras, com uma canjinha
feita por mim. Mas quando eu caía doente, ninguém vinha
me visitar. Nunca me passou pela cabeça essa exigência.
Além do mais, quando uma pessoa me pedia alguma coisa,
fazer compras, por exemplo, ou dar um jantar em minha casa
para que uma amiga solteira pudesse ter onde levar um
“conhecido novo”, minha resposta era sempre um “sim”. Eu
vivia a pregar mentiras inocentes e de última hora, porque
não conseguia cumprir as promessas de autoafirmação que
fazia a mim mesma.
Dois anos depois do meu casamento tudo mudou. Um belo
dia, numa praia da Córsega, desatei num pranto corto se
fosse uma heroína de Tchekhov. Herbert me perguntou:
“Posso fazer alguma coisa por você?” Então minha caixa de
Pandora, abarrotada de problemas, abriu-se violentamente.
Eu falei sobre todos os meus medos: “Há um novo regime lá
no escritório. Vou ser a primeira pessoa que eles vão pôr na
rua.”... “Estou há dóis anos fazendo pesquisas para meu livro
sobre Paris de 1900, mas se eu não deixar você e não for
morar em Paris durante um ano, não conseguirei escrever
esse livro. De qualquer maneira, o tema é difícil demais para
mim.”... “Minha família vive implicando comigo”... “Às vezes ;
até você implica comigo.” ‘ .
Herbert ouviu aquela torrente de palavras, e em seguida,
com o mesmo jeitão calmo que ele tem (disso eu tenho
certeza) diante de seus pacientes meio perturbados, disse-
me isto: “Você parece uma pessoa afirmativa, mas perdeu o
controle das coisas. Você parou de pensar a respeito de onde
quer chegar, e está confundindo uma porção de metas. Você
confunde ser estimada com ser respeitada. Perdeu de vista
as metas intermediárias. Ou você atinge sua derradeira meta
ou atira para o lado tudo quanto já fez. Vamos estabelecer
um certo número de metas. O que você pretende fazer de
sua vida?”
Eu respondi: “Quero mudar de trabalho, escrever outro
livro e ter um pouco de paz. Estou cansada de ser alvo de
deboches.” Herbert me aconselhou o seguinte: “Você se
deixou ficar nesse emprego, nunca se afirmou nele, e tudo
quanto conseguiu foi trabalho. Que tal correr um risco? Com
o novo regime você talvez seja despedida, a menos que
pense em alguma coisa imediata a fazer. O que você poderia
fazer?” Logo após nossa volta para os Estados Unidos, enviei
uma carta ao meu chefe, dizendo, em linhas gerais, como
minhas aptidões poderiam ser aproveitadas num cargo
diferente. Fui promovida e obtive um aumento de ordenado.
Além disso, fui uma das cinco pessoas do “velho regime” que
sobreviveram.
Quanto ao meu livro francês, Herbert deu uma afirmação
à qual me apego sempre que me sinto deprimida. Ele disse o
seguinte: “Talvez você não possa escrever esse livro agora,
mas poderá ser ele uma meta a alcançar a longo prazo.
Desenvolva o livro. É possível que você venha finalmente a
escrevê-lo. Mas há outras etapas que poderão ser cumpridas
antes disso.- Não se trata de optar pelo livro francês ou
nada.” Comecei imediatamente a escrever um trabalho, de
caráter não-histórico e fora do campo da ficção, que poderia
ser feito em Nova York, e acabou sendo meu livro A Segunda
Esposa.
Quanto aos amigos e à família, Herbert tinha a me dizer o
seguinte: “Você está de tal modo dominada por essa
necessidade de ser estimada, que sacrifica seu respeito
próprio. Pelo menos você poderia aprender a lidar com as
humilhações de uma forma que lhe faça respeitar a si
mesma. Quando os amigos ou a família a criticam você se
limita a ficar sentida e calada no seu canto, o que significa
uma silenciosa aquiescência de sua parte, e faz com que você
sinta ódio de si própria. Uma simples afirmação sua, como
por exemplo: ‘Eu não gostei do que você disse’, mudará por
completo as coisas. E talvez você chegue a aprender a dar o
troco a. essas pessoas, criticando-as também. Elas deixarão
de fazer o que fazem.” De repente eu percebi que poderia
ser uma versão de maria vai-com-as-outras, mas não
precisava continuar sendo desse jeito.
Em consequência dos conselhos de meu marido, em
apenas dois anos aconteceu o seguinte:
Mudei de emprego, passando a ter outro cargo muito mais
interessante e estimulante, na mesma firma, e tive um
aumento de 25% em meu ordenado; recentemente, outro
“novo regime” veio suplantar- o primeiro; meu departamento
foi extinto, por motivos de economia, e eu fui de fato
despedida. Terei me sentido um zero à esquerda?
Absolutamente! Acolhi de bom grado a oportunidade de
tentar viver como freelancer. Além disso, transcorridas seis
semanas eu já tinha reunido um número de trabalhos que me
haviam encomendado e cuja remuneração era superior ao
meu ordenado de um ano. Comentei com meu marido: “Todo
mundo está me fazendo propostas. Eu pensava que, se
ficasse sem emprego, seria uma anônima.” Sua resposta foi a
seguinte: “Você era a única pessoa que pensava dessa
maneira.”
Aprendi a reagir aos “amigos” que me humilhavam com
observações desse tipo: “Qualquer pessoa poderia escrever
os livros que você escreve. Basta sentar numa cadeira e
escrever. Só isso.” Eu progredi, a ponto de não replicar mais
assim: “Como você pode falar desse jeito comigo?”, passando
a dizer, de maneira positiva: “Você está com inveja?”
E também aprendi a dizer “não” a solicitações absurdas.
Quando minha madrasta me pede (eu sou a única de suas
filhas e sobrinhas que trabalha o dia inteiro) que tome conta
de seu cachorro, eu não digo que “sim” para depois ficar
sofrendo durante três meses enquanto ela passa férias na
Califórnia. Digo-lhe o seguinte: “Eu gostaria de fazer isso
pela senhora, mas não posso.” Então ouço o comentário dela:
“É. De fato é melhor que meu Brownie fique num canil.”
Posso dizer simplesmente ao meu marido: “Isso eu não
vou fazer.”
Agora já sei que é melhor falar com franqueza do que ficar
calada. E tenho uma série de metas e submetas a alcançar.
Dentro de cinco anos, escreverei meu livro francês.
Por causa da “preleção” de meu marido, naquele dia, na
praia da Córsega, e do Treinamento da Autoafirmação a que
me submeti à partir de então, toda a minha vida mudou.
Passei de um estado de perturbação obsessiva para o da
ação eficiente. Sei para onde vou. E tudo isso porque aprendi
que o segredo de alguém ser feliz, livre das neuroses, se
resume numa pequena palavra: afirmação.
Comigo deu certo.
Pode dar certo com você.
Neste livro nós lhe diremos como agir.
Capítulo 1.
Você Poderá Aprender A Ser
Normal, A Não Ser Neurótico

Os seres humanos aspiram a ter uma vida digna e


realizada. Mas viver deixa cicatrizes que afastam as pessoas
dessas metas. A sociedade as ensina a agir de maneira
incompatível com esses propósitos.
Por esse motivo é que muita gente não sabe a força que
tem, ou então aprendeu a comportar-se de maneira inferior
porque acredita ser inferior. Tantas pessoas acham
impossível exprimir sentimentos como a cólera e a ternura!
Às vezes nem mesmo têm experiência dessas emoções.
Submetem-se aos desejos alheios, mantendo seus próprios
anseios trancafiados dentro de si mesmas. E porque não têm
controle sobre suas vidas, tornam-se cada vez mais
inseguras. Aceitam esse estado: não se afirmam.
Na linguagem psicológica, diz-se que essas criaturas
possuem Personalidades Inibidoras. Arranjam mil razões
para não agir, e dez mil para evitar qualquer relacionamento
íntimo. Dotadas de precária autossuficiência, vivem suas
vidas de acordo com as normas e os caprichos do próximo.
Não sabem o que são, o que sentem, o que querem.
Em contraste com esse tipo de pessoas, as que possuem
Personalidades Estimuladoras não têm medo dos próprios
sentimentos. Não mostram receio da intimidade e não
temem as lutas: agem movidas por suas próprias forças.
Quem possui uma personalidade estimuladora sabe quem é e
sabe o que quer. Ê uma pessoa afirmativa. Muitas vezes, uma
vítima da falta de afirmação não reconhece' que isso
constitui um problema emocional. Por passividade ou temor
justifica essa falta de afirmação com desculpas desse tipo:
“Se eu falar com franqueza com meu marido, ele vai ficar
furioso comigo.”... “Se eu me recusar a fazer isso, ela não vai
mais gostar de mim.”... “Meu chefe vai me despedir se eu
pedir um aumento de ordenado.”... “Por que vou me
preocupar em tentar? Vou falhar na certa!” Essas criaturas
sofrem, sem dúvida, as graves e tristes consequências de sua
falta de afirmação; suas personalidades não se desenvolvem;
não têm êxito na vida; seu relacionamento com as outras
pessoas não progride; sentem angústia mental e apresentam
sintomas psicossomáticos que vão desde a enxaqueca até a
úlcera do estômago e à impotência.
As pessoas aprendem esse comportamento e padecem por causa de suas
infortunadas consequências. E mesmo que isso seja o padrão neurótico de
uma vida inteira, pode ser desaprendido.

O indivíduo poderá encontrar as soluções de seus


problemas através de nova técnica científica conhecida por
Treinamento da Autoafirmação, através do qual, modificando
seus atos, ele modificará suas atitudes e seus sentimentos a
respeito de si mesmo. O Treinamento da Autoafirmação, que
chamaremos TA de agora em diante, tem como premissa o
seguinte: uma pessoa aprendeu formas insatisfatórias de
comportamento, que lhe tornaram uma criatura infeliz,
inibida, que tem medo da rejeição, do relacionamento íntimo,
e não sabe fazer-se valer diante dos outros. O TA visa a
ensinar-lhe de maneira direta a arte da comunicação mais
profunda com as' outras pessoas, a abordagem ativa das
situações da vida, o autodomínio. Do mesmo modo que um
indivíduo aprendeu (ou foi ensinado) a ser neurótico, poderá
aprender a ser normal.

A Terapia Do Comportamento E O
Treinamento Da Autoafirmação

Há mais de um século vêm os cientistas realizando


milhares de experiências ao estudar as formas do
comportamento. No decurso dessas experiências,
aprenderam que o comportamento é regido por leis, isto é,
obedece a determinadas normas. Eles adquiriram o
conhecimento de que, em certas ocasiões, os
comportamentos podem ser modificados, e também que as
leis que regulam essas modificações do comportamento
podem ter aplicações práticas no campo dos problemas
humanos.
Há cerca de vinte e cinco anos, esse conhecimento foi pela
primeira vez aplicado no tratamento clínico, com a
introdução da terapia do comportamento, uma técnica nova
e radical, com base na seguinte premissa: aquilo que uma
pessoa faz, influencia o que ela é e o que sente a respeito de
si mesma. Modificando os sintomas do comportamento
neurótico, o indivíduo se modifica.
Antes de surgir a Terapia do Comportamento, (que
denominaremos TC de agora em diante), o comportamento
em si mesmo' possuía reduzida importância na terapêutica.
Até cerca de vinte anos passados, todos os métodos de
tratamento eram baseados nas teorias de Freud, sendo
admitida a ideia de que os indivíduos são essencialmente
indefesos até adquirirem o conhecimento dos conflitos,
impulsos e fantasias que residem no inconsciente, como
também dos traumas da infância, que isso geraram. Os
terapeutas orientados pela psicanálise afirmam que tudo
aquilo que uma pessoa é, em seu inconsciente, influencia o
que ela faz. Seu comportamento simplesmente consiste no
reflexo desse inconsciente.
A TC inverteu essa posição tradicional. Enquanto a
psicanálise indaga: “Por que um indivíduo é assim?” A TC
pergunta: “Que podemos fazer para modificar esse indivíduo,
agora!” A TC considera os problemas de um indivíduo tal
qual existem no presente, identifica os comportamentos
específicos que devem ser modificados para que sejam
resolvidas as dificuldades desse indivíduo, e procura
sistematicamente modificar tais comportamentos, apoiando-
se principalmente, embora não o faça de maneira exclusiva,
nos métodos derivados da psicologia da aprendizagem e do
condicionamento e, também, centrando sua análise nos
comportamentos observáveis, que possam ser quantificados,
medidos, e não nos processos, impulsos ou conflitos
inconscientes. Se uma desejada modificação não se verifica,
o terapeuta do comportamento presume que ele estará
fazendo algo de errado: reavalia e revê sua abordagem até
obter os resultados pretendidos.
A TC não entra em conflito frontal com Freud, Jung ou
Horney, mas afirma que o passado é irrelevante quando se
trata de modificar um indivíduo, e assevera que esse
indivíduo não terá necessidade de manter-se passivamente
inerme diante do inconsciente cósmico.
Julga a TC que se alguém houver adquirido uma série de
fobias, em determinadas situações (quer impessoais, como
viajar de avião, ou interpessoais, a exemplo do medo da
rejeição).
poderá esse indivíduo modificar seu comportamento de
sorte a ser capaz de reagir sem sentir medo. A TC declara
que uma pessoa pode se libertar de hábitos indesejáveis
como, por exemplo, comer demais ou pensar de maneira
obsessiva em humilhações, e substituir esses hábitos por
outros, desejáveis. Afirma a TC que um indivíduo pode se
livrar das tensões, suplantando esse estado por outro, de
tranquilidade.
No presente livro iremos tratar de todos esses
comportamentos, mas será atribuído especial relevo à
capacidade de relacionamento do indivíduo com as outras
pessoas e com o mundo que o cerca. A essa área da Terapia
do Comportamento denominamos Treinamento da
Autoafirmação.

A Personalidade Afirmativa

Segundo o Third International Dictionary, de Webster, o


verbo “autoafirmar-se” (assert) significa: “declarar ou
afirmar (algo) de maneira positiva, direta, vigorosa.”
Em termos de terapêutica essa definição proporciona
apenas uma explicação limitada. O indivíduo
verdadeiramente afirmativo possui quatro características:
sente-se livre para se revelar; através de palavras e atos ele afirma:
“Eu sou isto. Isto é o que eu sinto, penso e quero”;
é capaz de comunicar-se com as outras pessoas em qualquer nível,
sejam estranhos, amigos, ou membros de sua família, e essa
comunicação é sempre aberta, direta, sincera e apropriada;
possui uma orientação ativa diante da vida, buscando aquilo que
quer e, em contraste com as pessoas passivas, que ficam à espera de
que as coisas aconteçam, procura fazer com que elas aconteçam;
age de um modo que ele próprio respeita; tem consciência de que
nem sempre poderá triunfar, mas aceita suas limitações; sempre se
esforça, no entanto, por fazer uma segura tentativa para vencer, de
sorte que conserva o respeito a si mesmo se vencer, perder ou
“empatar”.

O comportamento afirmativo é, na realidade, a meta de


todos os terapeutas. Quando alcançada, culmina num
sentimento de dinamismo e proporciona ao indivíduo uma
existência mais empolgante, porque ele terá um
relacionamento mais íntimo e mais profundo com as outras
pessoas.
A autoafirmação tornou-se um problema nacional
devido>- a uma série de fatores ambientais e
condicionadores que levam as pessoas a um estado de
confusão. Os pais e os professores, os membros do clero e os
homens de empresa conspiraram, inconscientemente, no
sentido de criar uma nação de tímidos. Nos primeiros anos
de vida da criança, muitos pais a censuram quando ela
decide fazer-se valer e, desse modo, impedem que a criança
afirme seu próprio eu. Os professores dão prêmios aos
alunos que não criticam o sistema educacional, e tratam
com. severidade aqueles que ao mesmo se opõem. Quase
sempre a Igreja incentiva a ideia de humildade e de
sacrifício, em vez de apoiar as pessoas que fazer valer seu
eu. Muitos empregados aprendem desde cedo em suas
carreiras profissionais que se usarem de franqueza em suas
palavras não terão aumentos de ordenado nem promoções,
podendo até mesmo perder os empregos. Essa atitude,
assumida nos locais de trabalho, transfere-se para o lar e
para a vida social.
Por outro lado, as pessoas aprendem ser aceitável, e
muitas vezes até necessário, passar os outros para trás para
que possam progredir. Como afirmou Leo Durocher, “os
bonzinhos sempre chegam por último”. Se levarmos a sério
essa herança cultural que nos confunde, quase todas nossas
ações e interações hão de tornar-se marcadas pela incerteza.
A aprendizagem inadequada poderá interferir e prejudicar
a autoafirmação adequada. O indivíduo torna-se
condicionado a ter certos medos. Poderão ser temores de
caráter social, como o de não ser estimado, o de ser
rejeitado, ou temores de natureza interna, a exemplo do
medo da angústia, o da expressão da cólera ou o de
manifestar sentimentos de ternura. Quando um indivíduo
receia certas situações, tende a evitar as circunstâncias que
as produzem, assim inibindo seu comportamento de
autoafirmação e colocando sua própria vida além do controle
dele mesmo. Uma jovem de dezesseis anos, por exemplo, que
sofra temporariamente de acne, não arranja pares para
dançar nos bailes da escola secundária. Aos dezessete anos,
com a pele livre de espinhas, matricula-se numa escola
superior, mas o sofrimento por haver tomado tanto chá de
cadeira irá afetar-lhe toda a existência. Afasta-se de qualquer
convívio mais íntimo, receando que algo de semelhante ao
passado possa novamente ocorrer.
Muitas pessoas têm uma noção errônea a respeito da
autoafirmação e a confundem com agressividade. Dizem de
si para si que “a agressividade é sempre uma coisa errada.”
Não distinguem entre ser estimadas e ser respeitadas.
Confundem a diferença entre ser egoísta, no mau sentido, e
egoísta no bom sentido (o bom egoísmo levou Walt Whitman
a escrever; “Eu canto o Indivíduo, a pessoa simples e
diferente das outras.”)
Certos indivíduos carecem de autoafirmação porque não
adquiriram essa capacidade através da experiência e da
prática. Suplantados por outras pessoas que não possuem
mais talento do que eles, permanecem no mesmo emprego
durante anos a fio porque não sabem como obter promoção.
Há criaturas que não conseguem reagir aos insultos e às
humilhações, isso porque ignoram algumas das reações que
repelem esse comportamento (apresentarei essas respostas
no Capítulo TV). E há pessoas que dizem “sim” a todas as
solicitações que lhes façam, embora não queiram assim
proceder, mas o fazem porque não aprenderam a arte de
dizer “não”.
No TA, o terapeuta age como um professor, visando a
ajudar seus pacientes a compreenderem o que existe de
errado em seus estilos de vida, e como poderão modificá-los.
O TA atribui relevo a dois fatores:
a identificação dos comportamentos que precisam ser modificados,
seja o medo do relacionamento íntimo ou a falta de habilitações
necessárias ao desempenho do trabalho;
o planejamento, com a colaboração dos pacientes, de um programa
sistemático que se proponha a alcançar os resultados que eles
desejam obter em suas vidas.

Fundamentos Teóricos Do Treinamento Da


Autoafirmação

Para serem compreendidas as bases teóricas do


Treinamento da Autoafirmação é necessário adquirir uma
noção da teoria da aprendizagem, proposta por Ivan Pavlov.
Nos Estados Unidos, esse fisiologista russo é mais
conhecido por suas experiências, realizadas no início do
século, com um cão, carne e uma campainha. Ele
demonstrou que o comportamento do cão (nesse caso, a
salivação), causada em presença de certo estímulo (o
alimento), poderia ser induzido por um outro estímulo (o
toque da campainha) se esse segundo estímulo fosse
associado à presença do alimento (carne em pó). Por fim,
bastava o toque da campainha para provocar a salivação do.
animal. O novo reflexo, aprendido, denomina-se reflexo
condicionado. Essa famosa experiência deu à maioria das
pessoas uma falsa impressão a respeito da psicologia
pavloviana, de sorte que julgam Ser ela apenas uma limitada
aplicação mecânica de certos fatos aos conceitos do
comportamento humano.
Na realidade, Pavlov propôs-se a determinar as
características do sistema nervoso que possibilitam aos
animais e ao homem comportar-se de maneira adaptativa
diante de novas condições do meio.
Pavlov descobriu, em suas formulações biológicas, que o
sistema nervoso possui dois aspectos:
1. uma parte do sistema nervoso é herdada.

O processo de evolução levou o sistema nervoso a ser


estruturado de tal maneira que certos estímulos determinam
respostas específicas. Desse modo, ante o estímulo da
presença do alimento, o cão reage com a salivação porque
através de um longuíssimo período de evolução isso tornou-
se parte integrante de seu sistema nervoso. A mesma coisa
ocorre quando a pupila se dilata ou se contrai sob a ação da
luz.
O sistema nervoso do homem contém igualmente certas
características que lhe influenciam a personalidade, e a isso
os psicólogos denominam “temperamento”: trata-se de um
conjunto de forças biológicas que afetam a sensibilidade aos
estímulos, determinam o nível geral da energia, como
também a tendência a certos estados de espírito, a exemplo
da depressão ou da agressividade. Esse temperamento
herdado faz com que certas pessoas reajam de maneira mais
rápida e mais intensa do que outras. Mas o fato de serem as
características temperamentais parte integrante do sistema
nervoso não significa que não possam ser afetadas e
modificadas pelas experiências da vida.
2. um indivíduo tem de viver em ativo relacionamento com seu meio, e
reagir às mudanças que ocorram no mundo exterior, fazendo-o
através de modificações em seu sistema nervoso.

Quando uma situação se modifica ele aprende a modificar-


se. Isso é o que Pavlov entende por reflexo condicionado.
Nas descobertas de Pavlov assumem grande relevo seus
conceitos de forças excitadoras e forças inibidoras, e da
interação entre ambas.
A excitação é um processo cerebral que acentua a atividade do
indivíduo e facilita a formação de novas respostas condicionadas.
A inibição é um processo amortecedor que reduz essa atividade e
também a nova aprendizagem.

Desde a época de Pavlov, três teóricos, Andrew Salter, o


Dr. Joseph Wolpe e o Dr. Arnold Lazarus, elaboraram vários
conceitos relativos ao Treinamento da Autoafirmação, que
decorrem, de maneira direta ou indireta, da perspectiva
pavloviana.
Andrew Salter, eminente psicólogo de Nova York,
fundador da moderna terapia do comportamento, vale-se dos
conceitos pavlovianos de excitação e inibição como base para
o tratamento de perturbações nervosas. Quando
predominam as forças excitadoras, o indivíduo é orientado
para a ação, e se revela emocionalmente livre. Enfrenta a
vida em pé de igualdade com as situações com que se
deparar. A dominação das forças inibidoras gera indivíduos
perplexos e bloqueados, que sofrem do que se poderia
denominar “constipação emocional”. Tais pessoas revelam
possuir precária autossuficiência e vivem a fazer aquilo que
não querem fazer. A saúde psicológica exige um adequado
equilíbrio, no cérebro, entre os processos excitadores e os
processos inibidores. Segundo Andrew Salter, os neuróticos
sempre sofrem de excesso de inibições.
A terapêutica contribui para criar e fortalecer os
processos excitadores, estabelecendo um novo equilíbrio,
podendo tais processos predominar no funcionamento do
cérebro. Isso é alcançado levando-se o paciente a agir
deliberadamente de maneira excitadora. Suas ações
aumentam o grau de excitação no córtex cerebral até que
ocorra um novo e espontâneo equilíbrio entre a excitação e a
inibição, e esse novo comportamento se torne parte
integrante e “natural” do indivíduo. Desse modo, existe de
início uma modificação do comportamento que altera por sua
vez a biologia do cérebro; esta influencia a seu turno a
psicologia e a personalidade inteiras do paciente. Salter
descreve o indivíduo dotado de personalidade excitadora
como sendo “direto”. “Esse indivíduo reage de maneira
objetiva diante do meio... Toma decisões rápidas e gosta de
assumir responsabilidades. Acima de tudo, o indivíduo que
possui uma personalidade excitadora não sofre de angústias.
É verdadeiramente feliz.”
O Dr. Joseph Wolpe. professor de psiquiatria e diretor da
Unidade de Terapia do Comportamento da Escola de
Medicina da Universidade de Temple, em Filadélfia, define o
comportamento afirmativo como “a expressão adequada de
qualquer emoção, exceto a angústia, diante de outra pessoa”.
Em
razão da existência de temores interpessoais, um
indivíduo poderá ser incapaz de reclamar o mau serviço de
um restaurante, contradizer amigos de quem discorde,
levantar-se e sair de uma reunião que se tiver tornado
enfadonha, punir um subordinado, como também dar
expressão ao afeto, ao apreço ou ao louvor. O propósito do
Dr. Wolpe consiste em reduzir as angústias e os temores
interpessoais que não permitem ao indivíduo fazer essas
coisas. Ele aplica, em sua clínica, o “princípio da inibição
recíproca”, que se tornou uma das pedras angulares da
terapia do comportamento. Esse princípio afirma que “se
uma resposta inibidora da angústia puder ser levada a
ocorrer na presença de estímulos que despertem angústia,
isso debilitará o vínculo existente entre esses estímulos e a
angústia”.
Assim, na terapia do TA o Dr. Wolpe ensina seus pacientes
a reagir diante de situações sociais como a cólera, a afeição
ou qualquer outro sentimento que iniba ou neutralize a
angústia. Nas sessões do TA, o Dr. Wolpe faz com que os
pacientes simulem situações desencadeadoras de tensões, e
assim procede com o emprego do chamado psicodrama. Em
seguida, os pacientes são treinados a exprimir emoções que
não sejam a angústia, durante essas dramatizações. Cada vez
que um paciente “representa” uma cena com êxito, está
debilitando o vínculo existente entre os estímulos sociais e a
resposta caracterizada pela angústia, até que esta
desapareça por completo. À medida que esse paciente
aprende a assim proceder, vai transferindo essa
aprendizagem para as situações da vida real, e seu
comportamento torna-se mais afirmativo.
Numa abordagem sociopsicológica, o Dr. Arnold Lazarus,
professor de psicologia e diretor do Programa de
Doutoramento em Psicologia Clínica, da Escola de Pós-
Graduação de Psicólogia Aplicada e Profissional, da
Universidade de Rutgers, acentua que “a liberdade
emocional” é o “reconhecimento e a expressão adequada de
todo e qualquer estado afetivo.” Sabendo o indivíduo que
aquilo que sente não é o- bastante, deverá exprimir seus
sentimentos e fazê-lo de maneira adequada. O
comportamento afirmativo emerge como esse aspecto da
“liberdade emocional” que diz respeito ao fato de o indivíduo
fazer-se valer. Isso envolve, de sua parte: (1) conhecer seus
direitos; (2) fazer alguma coisa a esse respeito; (3) proceder
dentro de uma estrutura de luta por sua liberdade
emocional.
A pessoa que não se faz valer, possui pouca liberdade,
sente mal-estar e, em sua ânsia por ser livre, poderá tornar-
se “má”, dominada por transportes emocionais inadequados.
No caso de pessoas desse tipo, o Treinamento da
Autoafirmação consiste em ensinar-lhes a conhecer seus
legítimos direitos, a saber fazer valer esses direitos e a
impedir sejam eles usurpados. Lazarus acredita igualmente
que o reconhecimento de seus direitos, de parte do
indivíduo, envolve o reconhecimento e o respeito dos direitos
alheios.
Qualquer que seja a teoria e o método terapêutico
empregados, o TA se baseia em duas premissas:
1. Tudo aquilo que um indivíduo fizer será fundamento de seu
autoconceito.
Quanto mais um indivíduo fizer valer seus direitos e agir
de um modo que ele próprio respeite, maior será sua
autoestima. Disso decorre minha equação básica;
autoafirmação = autoestima.

Na realidade, esta fórmula é o corolário de outra, proposta


por William James, que ofereceu a seguinte equação:

A formulação de William James contém duas partes. A


primeira diz respeito ao fato de o indivíduo fazer o que tem
de fazer para alcançar o êxito, e importa obter um trabalho e
a aquisição das habilidades sociais necessárias a esse
propósito. A parte relativa às pretensões concerne às metas
do indivíduo (em que consiste o campo no qual deseja ter
êxito), e implica opções e decisões, pois William James
percebeu que os indivíduos podem ter muitas metas
conflitantes, destituídas de realismo, e que uma dessas
metas só poderá ser alcançada à custa da eliminação de
outras. Ele aconselhou às pessoas que “buscam seu eu mais
verdadeiro, vigoroso e profundo, a passarem em revista essa
lista (de possíveis metas) escolhendo aquela na qual deverão
basear sua salvação.”
William James quis dizer, em essência, que um indivíduo
só poderá se realizar se aceitar certas limitações, e se sua
autoestima for equivalente ao grau em que tiver êxito em
suas realizações. Alguns teóricos desenvolveram a partir de
então esse ponto de vista, que constitui a pedra angular da
teoria psicanalítica proposta por Karen Horney.
O mundo tornou-se, porém, mais complexo e mais cínico
desde a época de William James. Devido a fatores que
escapam ao controle das pessoas, poderão elas agir de um
modo perfeitamente acertado e, mesmo assim, não obter
“sucesso”. No TA, a meta se desloca do produto final (o
sucesso) para o processo (como deverá o indivíduo agir em
seus esforços para alcançar o sucesso), e os comportamentos
que envolvem tais esforços constituem aqueles que
denominamos “afirmativos”. O próprio ato de escolha de uma
meta significa que uma pessoa dirá o seguinte: “Eu sou isto.
Isto é o que eu quero.” O ato de progredir em direção a
determinada meta exige uma orientação ativa, requer o
domínio das situações da vida e do eu. Metas de caráter mais
pessoal impõem ao indivíduo uma comunicação aberta com
as outras pessoas. O grau. em que ele se afirmar
determinará o nível de sua autoestima.
A diferença que existe entre a fórmula de William James e
minha equação do TA reside no grau de ênfase atribuído ao
sucesso real. A equação do TA significa que se o indivíduo
agir de maneira acertada, preservará sua autoestima. Poderá
malograr e sentir-se desapontado e frustrado. Mas o âmago
de seu autorrespeito não terá sido atingido. Esse conceito
pode ser tomado como critério definidor do comportamento
afirmativo. Se um indivíduo estiver em dúvida se
determinado ato seu foi ou não afirmativo, pergunte a si
mesmo se esse ato contribuiu para aumentar seu
autorrespeito, até mesmo de maneira discreta. Se isso tiver
ocorrido, o ato terá sido afirmativo. Do contrário, não o foi.
2. Os comportamentos não existem isoladamente, mas agem uns sobre
os outros, formando estruturas que se denominam organizações
psicológicas.

Em diferentes etapas de nossas vidas, os comportamentos


possuem diferentes graus de ímpeto.

A Organização Psicológica
A Infância
A criança tem nos pais a base de sua segurança. Quando
sua dependência em face dos pais é bem-sucedida, ela possui
a força e a segurança necessárias para reestruturar sua
organização psicológica e prosseguir rumo à adolescência.
Algumas crianças não o conseguem. Há pessoas que
preservam durante a vida inteira as metas e os hábitos da
infância, fazendo de todos os demais seres humanos seus
pais. E, de maneira por vezes óbvia, outras vezes sutil,
representam o papel da criança exigente. Essas tristes
criaturas buscam encontrar “o bom pai” na pessoa com
quem se casam ou num amigo, que as conforte em seus
momentos de aflição e lhes dedique aquele amor sem
reservas que a mãe proporciona a um filho pequenino.
Querem ser amadas pelo que são (não importa o que isso
represente) e não pelo que fazem. Essa imposição não
poderá ser satisfeita, e tais criaturas atravessam a vida
cheias de mágoas e desapontamentos.
A Adolescência
O adolescente estabelece um novo tipo de organização do
comportamento, cuja meta passa a ser a obtenção de
segurança junto a outros adolescentes, seus iguais, e não ao
lado dos pais. Sua segurança decorre do fato' de serem
partes integrantes de um grupo e de lograrem a aceitação e
a aprovação desse grupo. O fundamento de sua segurança
consiste em pertencer ao grupo. Um “adulto” que se
classificar nesse tipo jamais irá além da adolescência.
Continuará possuindo uma personalidade inibidora porque
nunca alcançou sua identidade própria fora do grupo, e
sempre haverá de preocupar-se com o que as outras pessoas
pensem a seu respeito, decidindo qual deve ser seu
comportamento segundo as ideias dessas pessoas, pois o
modo de pensar desfavorável das mesmas poderá culminar
na rejeição desse “adulto” pelo grupo.
A idade Adulta
Quando a adolescência chega ao seu termo, ocorre uma
mudança. O adulto não precisa do grupo para ter segurança.
Ao contrário, sua vida poderá girar em torno de um reduzido
número de pessoas, alguns amigos íntimos, uma amizade de
pessoa do sexo oposto. Essa base se estreita, finalmente, e a
segurança do indivíduo irá concentrar-se em determinada
pessoa. Nesse estágio da existência, desenvolvem-se
relacionamentos de caráter mais duradouro, podendo um
deles culminar no casamento. O íntimo relacionamento de
alguém com outro ser humano será uma fonte da descoberta
e expressão de sua verdadeira individualidade, quer no
âmbito desse mesmo relacionamento, quer no que diz
respeito à vida em geral. Alguns terapeutas consideram isso
o ponto culminante do desenvolvimento do ser humano.
O Indivíduo Completo.
Outros terapeutas acreditam ser necessária ainda outra
etapa organizacional, que importa em transferir a segurança
obtida junto a outro ser humano para a segurança no
autorrespeito. Isso vai encontrar suas raízes no seguinte
sentimento;
“Conheço minhas necessidades e meus valores, mas estarei sempre pronto
a isso examinar e modificar. Quero sentir profundamente, agir
vigorosamente, relacionar-me intimamente com outras pessoas e, não
obstante, preservar sempre o domínio de mim mesmo.”

Para atingir esse estado que caracteriza o indivíduo


completo, é necessário perceber que se a pessoa modificar
um comportamento, modificará toda uma série de
comportamentos a ele relacionados. Quando um indivíduo
aprende novas habilidades e modifica as próprias ações,
poderá modificar seus sentimentos e toda a estrutura de sua
organização psicológica. Dessa maneira é que o Treinamento
da Autoafirmação é capaz de criar um novo estilo de vida.
CASO
Aos trinta e sete anos de idade, Seth Elwyn, duas vezes
divorciado, engenheiro civil, declarou o seguinte quando veio
pela primeira vez ao meu consultório: “Ajude-me. Estou me
encontrando com uma mulher com quem gostaria de me
casar, mas tenho medo de fracassar novamente.” Seth era o
exemplo típico do homem incapaz de afirmar-se. Atingindo a
idade adulta num lar dominado por mulheres, que consistia
em sua mãe, de temperamento forte, cinco irmãs e um pai
“calmo e distante”, que não desempenhou “o menor papel
em minha vida” (disse ele), aprendera um padrão de
comportamento submisso. Já homem feito, raramente
solicitava alguma coisa para si próprio. No trabalho,
concordava cora qualquer exigência descabida que lhe
fizesse o chefe, e eram inúmeras^ essas exigências. Aos
vinte e dois anos, casou-se com “uma megera”. Seth
relembrou o seguinte; “Ela vivia me perseguindo e eu me
limitava a ir aguentando aquilo. Passados dois anos, minha
mulher abandonou o lar.” Quando Seth arranjou a segunda
mulher, também esta começou a explorá-lo sem piedade.
Além de trabalhar cinquenta horas por semana no escritório,
e dos serviços que levava para fazer em casa, Seth passava o
aspirador de pó em todos os aposentos da casa, fazia as
compras no armazém, embora a mulher dele não trabalhasse
fora. Ela também abandonou o lar, declarando o seguinte:
“Eu tentei provocar você para encontrar algum sinal de vida
em sua pessoa, mas não consegui. Não importa o que a gente
faça com você. Você nunca se irrita nem luta com ninguém!”
Esta última crítica era válida. Seth nunca aprendera a dar
expressão à própria cólera. Por causa disso, desenvolvera o
medo da cólera — isso acontece no caso de todos os temores
— que o levou a evitar esse tipo de comportamento. Sua
necessidade de evitar a cólera era tão imperiosa que nem
mesmo se permitia ter uma experiência subjetiva de
irritação. Em consequência, não lhe era possível reconhecer
as situações em que as pessoas o exploravam ou
humilhavam. Pelo fato de não identificar essas situações, era
incapaz de se afirmar. Assim, toda gente vivia a dar-lhe
trancos, perdendo o respeito por ele.
Depois de tratar de Seth em sessões individuais de
Treinamento da Autoafirmação, decidi experimentar com ele
a terapia de grupo, estabelecendo duas metas: (1) ensinar-
lhe a dar expressão à própria cólera; (2) ensinar-lhe a
identificar situações em que era explorado e humilhado, e
levá-lo a aprender a impor-se diante dessas situações. Nas
sessões semanais do grupo, Seth “representava” o papel do
homem encolerizado, em circunstâncias imaginárias, e
também em situações passadas e presentes de sua vida. Ao
aprender essa habilidade, seu medo da cólera diminuiu e ele
não precisou mais de inibir seus sentimentos de irritação.
Em todas as sessões do grupo, um membro do mesmo fazia a
Seth alguma solicitação pouco razoável, ou o humilhava com
palavras. Desse modo, Seth tinha a oportunidade de
aprender a lidar com tais situações e, à medida que as ia
aprendendo, sua nova capacidade de autoafirmação se
transferia à sua própria vida. Ele se afirmou com a namorada
e também diante do chefe e das irmãs.
Durante o tratamento Seth tornou a casar-se e, mais
tarde, contou-me, cheio de orgulho: “Nós tivemos uma briga
terrível, e eu fiquei danado da vida.” Transcorridas mais
algumas sessões, veio me declarar, triunfalmente: “Este meu
casamento é diferente. Dele eu sinto que sou um
participante.”
Em nossa última sessão, Seth apresentou dois problemas
específicos de autoafirmação, um deles envolvendo sua
esposa, o outro, seu chefe. O grupo queria trabalhar com o
primeiro, mas Seth, num tom de voz firme, anunciou: “Eu
estou mais interessado no problema do trabalho. Vamos
atacá-lo.”
Sua declaração foi tão natural e categórica que o grupo
prontamente concordou com ele. Quando eu comentei como
Seth fizera valer seu ponto de vista, houve um momento de
silêncio. Em seguida, todos os membros do grupo bateram
palmas, aplaudindo-o.
No tratamento analítico, esse tipo de pessoa desligada
geralmente faz lentos progressos. A psicanálise dá muita
ênfase às emoções. E se não houver emoções com que possa
trabalhar, as melhoras do paciente são demoradas. No caso
de Seth, teria sido fácil formular seus problemas em termos
de profundos estímulos sexuais decorrentes do fato de haver
crescido num lar cheio de mulheres e, talvez, em termos de
conflitos inconscientes a respeito de sua própria identidade
sexual. Eu senti, porém, que o problema seria remediar-lhe o
déficit do comportamento e ensinar-lhe como “sentir”, não
através de discussões verbalizadas, mas por meio de
treinamento e ação deliberados. Quando Seth de fato se
impôs diante de pequenas situações, sentiu-se uma pessoa
muito mais forte. Isso o levou a tomar consciência de que
toda vez que não se fizesse valer haveria de ficar deprimido e
vazio. A modificação de seus sentimentos seguiu-se à
mudança de seu comportamento.
No decurso de oito meses, o relacionamento de Seth com
as pessoas, a consciência de seus sentimentos e seu
autoconceito se modificaram. A partir de então, começou a
obter aumentos de ordenado e promoções, e tomou-se capaz
de- supervisionar o trabalho de outros colegas: Seu terceiro
casamento está dando certo. Seth ainda terá de progredir,
mas está realizando sua aprendizagem através de situações
da vida e não por meio de uma situação terapêutica.

A Espiral Neurótica
O comportamento inadequado de um individuo numa área
repercute em outras áreas de sua organização psicológica,
acarretando-lhe maior angústia ou depressão, e também
afetando sua confiança em face de outras situações. A esse
efeito de redemoinho denomino espiral neurótica. Por
exemplo: receando perder o emprego, uma pessoa adquire
todo um novo conjunto de dúvidas. E perguntará a si mesma:
“O que há de errado comigo?”... “Será que eu não valho
nada?”... “Eu nunca tenho sucesso”, concluirá. Tais
pensamentos a seu turno conduzem a comportamentos
inadequados, os quais tornam
por sua vez mais intensos os temores e dúvidas que levam
a formas de comportamento ainda mais inadequadas. A
pessoa não consegue sair dessa espiral.
Seguem-se alguns indícios de que um indivíduo poderá
estar descendo a espiral neurótica em matéria de
autoafirmação:
Vive sempre a apaziguar as outras pessoas porque receia ofendê-las;
permite que essas pessoas o manobrem, levando-o a situações que
não deseja;
não consegue expressar seus legítimos anseios;
sente que os direitos dos outros são mais importantes do que seus
próprios direitos;
magoa-se com facilidade diante do que as outras pessoas dizem e
fazem a tal ponto que vive permanentemente a se inibir;
sente-se frequentemente na fossa mas não sabe por quê;
sente-se isolado porque não possui nenhum relacionamento íntimo
com pessoa alguma no mundo;
sente-se inferior porque é inferior, limitando as próprias
experiências e não se utilizando de suas potencialidades.

Modificando seu comportamento, o que por sua vez


modificará suas ideias e sentimentos, poderá inverter essa
espiral. Fazendo as coisas de maneira diferente, irá sentir-se
mais adequado. Reduzirá seus ressentimentos, suas cóleras e
seus temores, e formará opinião mais favorável a respeito de
si mesmo. Isso foi o que aconteceu com Seth Elwyn, a alma
tímida que tivera duas esposas. Quando se tornou um ser
humano capaz de afirmar-se, começou a gostar de si próprio.
Em virtude de seus efeitos sobre outros comportamentos,
até mesmo a modificação de um comportamento
aparentemente trivial- pode desencadear a inversão da
espiral neurótica, dando origem a um impulso ascensional.
CASO
Um bem-sucedido analista de títulos e valores, que viajava
muito por causa do seu trabalho, ficava frequentemente
acordado a noite inteira, pensando de maneira obsessiva no
que lhe aconteceria se após uma conferência matinal, em
alguma cidade estranha, tivesse de almoçar com os colegas e
fosse obrigado a conversar com eles. Essa preocupação
afetava seu desempenho no trabalho. A terapia mostrou-lhe
que ele mal sabia o que significava um bate-papo, muito
menos em que consistia a arte de contar casos. Através do
Treinamento da Autoafirmação, ensinei-lhe a técnica de
contar casos. Do mesmo modo que estudava dados
estatísticos e relatórios a fim de preparar-se para uma
reunião, ele aprendeu a organizar um repertório de anedotas
para os encontros que se realizavam à hora do almoço.
Dispondo desses casos que poderia narrar, tornou-se
espontâneo em vez de ficar angustiado, e raramente teve
necessidade de utilizar-se deles. Deixou de sentir-se
deprimido e passou a dormir a noite inteira. “Minha mulher
diz que eu agora sou igual ao homem com quem ela se casou
há vinte anos”, declarou-me cheio de alegria.
CASO
Sally Jones vivia num estado de inquietação crônica,
sentindo que era sempre uma espécie de bode expiatório.
Um dia, voltou para o escritório depois de ter almoçado
sozinha (“as pessoas vivem implicando comigo, por isso é
mais fácil para mim ficar sozinha”), e o gerente começou a
esbravejar com ela; “Você deixou a Sala de Xerox numa
desordem horrível!” Acusou-a injustamente, mal orientado
por informações incorretas.
Sally começou a responder ao homem na defensiva,
dizendo o seguinte: “Eu não entrei na Sala de Xerox hoje”,
mas lembrou-se exatamente a tempo de seu TA. E declarou
ao chefe: “O senhor tem de me pedir desculpas.”
Espantado com essa mudança de atitude, o chefe indagou;
“Pedir desculpas por quê?”
Sally acrescentou com firmeza: “Por gritar comigo por
uma coisa que eu não fiz.”
Sally obteve suas desculpas e percebeu, tendo reagido de
um modo afirmativo diante de uma humilhação, que seria
capaz de fazer o mesmo em outras ocasiões. E assim
aconteceu. Em consequência disso, não apenas seu
relacionamento com os colegas de trabalho se modificou,
mas também Sally começou a almoçar com outras pessoas e
a fazer amigos. Uma simples resposta, conseguida depois de
seis meses de TA, permitiu que Sally começasse a sentir-se
bem consigo mesma.
O Treinamento da Autoafirmação não é simples nem
simplista, embora possa dar essa impressão aos não-
iniciados. Repito: modificar comportamentos que pareçam
ser triviais, poderá exercer um impacto total sobre o
relacionamento de um indivíduo com as outras pessoas e,
igualmente, sobre sua própria autoimagem.
O TA lida com comportamentos de variável complexidade,
que podem ser distribuídos em três níveis:
O primeiro nível diz respeito â comportamentos de natureza
elementar, como, por exemplo, encarar as pessoas ao falar com elas,
adotar uma postura corporal erecta, falar num tom de voz
suficientemente audível. Deficiências nessas áreas podem acarretar
consequências de profundo alcance. Se uma pessoa não encarar seu
interlocutor, verá que em breve terá perdido contato com ele. Sua
voz se tornará mais monótona e sua comunicação será dispersiva e
indireta. Esse interlocutor terá dificuldade em acompanhar-lhe o
pensamento, e ficará entediado ou até aborrecido. Embora pacientes
que apresentam essa dificuldade muitas vezes tenham inúmeros
problemas de auto- afirmação, o simples ato de ensinar-lhes: a
encarar seus interlocutores será capaz, por si só, de acarretar
modificações importantes.
O segundo nível envolve as habilidades fundamentais que
caracterizam a autoafirmação: a capacidade de dizer “não” quando a
pessoa quiser dizer “não”, e de dizer “sim”, quando quiser dizer
“sim”; a capacidade de solicitar favores, fazer pedidos, comunicar
sentimentos e ideias de maneira aberta e direta, reagir diante de
humilhações, manter o controle de situações como as referentes à
alimentação e aos bons hábitos de trabalho.
O terceiro nível diz respeito ao comportamento em interações mais
complexas com as outras pessoas: o comportamento adaptativo em
situações ligadas ao trabalho; a capacidade de formar e conservar
um círculo de amizades; a de estabelecer relacionamento íntimo
com as pessoas.

Quando um indivíduo modifica esses comportamentos


específicos, isso poderá transformar a maneira de as pessoas
reagirem diante dele, bem como modificar seus próprios
sentimentos acerca de si mesmo e de seu estilo de vida.
Antes de mudar de campo de trabalho e de passar à
prática da terapia do comportamento, fui psicoterapeuta
tradicional durante vinte e cinco anos. Por esse motivo,
compreendo por que muitas pessoas frequentemente acham
difícil ajustar-se à abordagem empírica da TC e de seus
programas de Treinamento da Autoafirmação. Essas pessoas
fazem perguntas pertinentes, que merecem respostas
pertinentes.
P. E essa coisa de ir até as raízes do problema que causa uma dificuldade
psicológica? Poderá um paciente ficar curado sem remontar de maneira
completa às suas experiências e traumas da primeira infância, e à questão
do id em confronto com o ego?

R. Ir “até as raízes” de um problema realmente modifica


as pessoas? Os dados científicos comprovam que certos
indivíduos melhoram com os métodos psicanalíticos, ao
passo que outros permanecem na mesma situação, e que
alguns de fato pioram com o tratamento analítico. Isso
ocorre mais ou menos em proporções iguais. Do ponto de
vista experimental, existem poucas evidências (ou, na melhor
das hipóteses, evidências de caráter duvidoso) de que
penetrar nos conflitos psíquicos íntimos modifica as pessoas.
Existem evidências experimentais cada vez de maior vulto de
que o fato de modificar diretamente o comportamento de um
indivíduo realmente modifica esse indivíduo e sua vida.
Isso não quer dizer que a psicanálise seja destituída de
validade. Antes de mais nada, a psicanálise é uma teoria
sobre a maneira em que se formam e evoluem as neuroses. A
Terapia do Comportamento quase não penetra nessa área,
julgando que muitos dos conceitos psicanalíticos têm pouca
relevância quando se trata de promover as desejadas
modificações do comportamento.
P. Se a pessoa se liberta de um sintoma, outro sintoma não irá desenvolver-
se?

R. A psicanálise afirma que isso acontece. No entanto,


cuidadosos dados experimentais, recolhidos por terapeutas
do comportamento, mostram que se um indivíduo se libertar
de um sintoma que o aflige, é provável que acabe por se
tornar uma pessoa mais feliz e mais saudável. Isso não quer
dizer que não terá mais problemas. A eliminação de um
problema poderá dar origem a uma série de outras
dificuldades porque a pessoa então terá a capacidade de
enfrentar desafios mais numerosos e variados. Imagine-se
um indivíduo que tenha tanto medo do sexo frágil a ponto de
nem mesmo conseguir propor a uma mulher que saia com
ele. Afaste-se esse medo até que esse indivíduo se encontre
com uma mulher, estabeleça um estreito relacionamento com
ela, e os dois acabem se casando. Ele estará diante de uma
nova situação, de uma nova série de problemas que jamais
teria enfrentado se tivesse ficado solteiro. Certa vez eu tratei
de um jovem que sofria de uma gagueira tão grave que
procurava evitar todo e qualquer convívio social. Quando
forçado a isso, metia-se num canto e permanecia calado.
Depois que eu o curei de sua gagueira, verifiquei que ele não
tinha nada a dizer. Tornou-se necessário, sem dúvida, que ele
fizesse um curso de TA. Algo de semelhante a isso não é uma
substituição de sintomas, mas o fato de que surgiu um novo
problema e que a vida de uma pessoa se tornou mais ampla.
P. Como poderá o Treinamento da Autoafirmação ser bom se é tão breve?

R. O TA não é breve. É um processo que se prolonga


durante toda a vida de uma pessoa. Sua única parte de curta
duração é aquela de caráter formal, que visa a levar o
paciente a superar seu problema inicial e a ensinar-lhe as
habilidades por meio das quais poderá prosseguir sozinho
seu treinamento.
Os primeiros resultados possivelmente se farão sentir com
razoável rapidez, mas significam apenas o começo de um
programa de autoafirmação. Quando um indivíduo começa a
-relacionar-se de maneira diferente com as outras pessoas,
estas também principiam a agir de maneira mais aberta, e
mais se aproximam desse indivíduo. Quando uma pessoa
aprende a impor-se, toda gente terá reações diferentes
diante dela. Como resultado, essa pessoa possuirá ideias
mais claras a respeito do que quer e de que necessita. Essas
modificações não se processam da noite para o dia. Um
indivíduo jamais atingirá um ponto em que possa dizer: “Já
cheguei lá.” Haverá sempre margem para seu crescimento.
Os obstáculos e dificuldades irão ocorrer e repetir-se, mas,
dispondo das habilidades que constituem a autoafirmação,
essa pessoa poderá geralmente resolver tais dificuldades ou,
pelo menos, ser capaz de enfrentá-las.
P. O TA não ensina as pessoas a serem manipuladoras?
R. O TA procura ensinar um indivíduo a controlar-se e a
não permitir que outras pessoas o manipulem.
P. Se o TA de fato modifica o estilo de vida de uma pessoa, poderá isso dar
origem a rompimentos? Arruinar um casamento? Levar a pessoa a perder
o emprego? Afastar amigos e parentes?

R. A resposta a essa pergunta é “sim”. Se um indivíduo


tiver um estilo de vida insatisfatório, e modificá-lo, romperá
com o status quo. Por exemplo: um homem poderá ter se
acostumado a viver com uma esposa destruidora, ou uma
mulher talvez esteja habituada a implicar com o marido.
Quando se modifica qualquer dessas situações, ocorrem
rupturas no campo do relacionamento interpessoal, o que
acarretará três possíveis consequências:
1. os dois parceiros acolhem bem a modificação;
2. o parceiro que não houver se submetido ao TA também se modifica,
cresce, e ambos desenvolvem um melhor estilo de vida;
3. um dos parceiros poderá não desejar ou ser incapaz de efetuar as
necessárias modificações. Diante dessa última consequência, é
possível que ocorram perturbações. Tenho visto situações em que o
TA levou à separação de casais e ao divórcio. Mas a questão é a
seguinte: o estado de coisas já era antes insatisfatório. A nova
atitude de autoafirmação poderá levar um indivíduo a conquistar
muitas vantagens, mas terá de pagar um preço por isso.
P. O TA e a psicanálise poderão trabalhar em conjunto?

R. O TA e a análise tradicional compartilham de metas


semelhantes, pelo fato de ambos desejarem que o paciente
seja um ser humano realizado. Mas os dois métodos são
muito diferentes um do outro quanto aos processos
terapêuticos que visam a alcançar essas metas.
O fato de o TA e a- análise poderem ou não ser aplicados
simultaneamente ao mesmo paciente, por dois terapeutas,
depende dos especialistas em causa, como também do
indivíduo que estiver sendo submetido ao tratamento. Com
determinado paciente, consegui valer-me da visão que ele
havia adquirido em seu tratamento tradicional,
estabelecendo metas e comportamentos que teriam de ser
modificados. O TA permitiu a esse paciente comunicar mais
livremente seus sentimentos, disso resultando que conseguiu
adquirir outra visão no campo de sua terapia tradicional. Há
casos, porém, em que o método tradicional e o do TA entram
em conflito. Quando se trata, por exemplo, de pacientes
obsessivos, acredito que já sejam excessivamente
introspectivos e prestem demasiada atenção ao que se passa
em seu íntimo. Por isso, procuro afastar esse
comportamento. No entanto, trata-se de um comportamento
imprescindível à aplicação da psicoterapia tradicional, e o
outro terapeuta os estimulará. Isso frequentemente cria uma
situação insustentável, e o paciente terá de abandonar uma
das formas de tratamento.
P. Poderá um indivíduo tornar-se excessivamente afirmativo?

R. A resposta a essa pergunta, formulada com frequência,


é “não”. Uma parte do conceito de autoafirmação importa
que o comportamento há de ser adequado. Se assim for, não
parecerá excessivamente afirmativo. O que ocorre muitas
vezes durante o TA é que aquelas almas anteriormente
tímidas passam dos limites e seu comportamento se torna
inadequado. No entanto, em breve reajustarão esse
comportamento.
O TA não informa à pessoa por que ela é o que é. Ensina
os indivíduos como viver de maneira criadora, numa
sociedade complexa, aprendendo por si mesmos as
habilidades necessárias para que sejam capazes de acolher e
enfrentar desafios.
Repita-se ainda uma vez: do mesmo modo que uma pessoa
tenha aprendido a ser neurótica, pode ensinar a si própria a
ser normal.
Capítulo 2.
Definição Das Dificuldades
Individuais De Autoafirmação

Quais são os vários tipos de dificuldades no campo da


auto- afirmação?
Como poderá uma pessoa identificar a diferença que
existe entre autoafirmação e agressividade?
Como poderão ser aplicados os princípios do Treinamento
da Autoafirmação ao comportamento de um indivíduo?
A exemplo de quase tudo na vida, o atributo da
autoafirmação não se enquadra em categorias rigorosamente
delimitadas. Possui muitos matizes, não se tratando de preto
ou branco, havendo vários tons na] paleta do artista. De
maneira essencial, porém, os indivíduos que apresentam
dificuldades de autoafirmação podem ser agrupados em sete
tipos básicos.
Tipos De Problemas De Autoafirmação

(1) As Almas Tímidas.


Permitem ser atiradas de um lado para outro, são
incapazes de usar de franqueza em suas palavras e se
mantêm num estado de passividade diante de quaisquer
situações. Se alguém lhes pisa nos calos, murmuram:
“Desculpe-me.’’ Essas pessoas poderão ser iguais a maria-
vai-com-as-outras, mas não representam um “zero” em
matéria de autoafirmação. Não importa qual seja o grau de
sua timidez e irresolução: sempre haverá um ponto a partir
do qual poderão começar a modificar-se.

(2) As Pessoas Que Têm Dificuldade Em


Comunicar-Se.
Desejo reiterar que a autoafirmação possui quatro
características em matéria de comportamento: franqueza,
positividade, sinceridade e capacidade de expressão
adequada. Um indivíduo poderá ser deficiente em qualquer
dessas áreas ou em todas três. Frequentemente, porém,
carece de autoafirmação em apenas uma delas.
A comunicação indireta. A pessoa tende a ser prolixa,
uma característica frequentemente associada à
superficialidade emocional, à ausência de desejos bem
definidos e à dificuldade de ter relacionamentos íntimos. Em
vez de perguntar ao marido: “Você se importa em ir buscar
duas costeletas de carneiro para o jantar? Você vai passar
bem em frente ao supermercado,” a mulher dirá o seguinte:
“Eu sei que hoje você vai cortar o cabelo. Por acaso você vai
passar pela Rua 38?” Essa mulher não faz um pedido direto.
O marido dela não sabe o que ela quer, e a mulher não obtém
o que deseja. A prática de fazer afirmações simples e diretas,
sem reservas ou complicações, muitas vezes poderá
modificar toda a estrutura do comportamento de um
indivíduo.
A comunicação insincera e pseudo-afirmativa. Uma
pessoa dá a impressão de ser franca e sincera. Diz o
seguinte: “É tão bom encontrar você! Tenho pensado em
você há uma porção de dias”. E assim fala quando não
poderia estar menos interessada na outra pessoa, que sabe
perfeitamente disso. Nesta classe se enquadram as frases
estereotipadas dos vendedores, que cumprimentam todo
mundo e, falam no prazer* que têm em ver as pessoas.
Também nelas se ajustam os políticos que distribuem beijos
às crianças. Outros indivíduos que pertencem a essa
categoria têm problemas quando entram em relacionamento
com alguém, e sentem uma insatisfação geral na vida.
(“Nada consegue mexer comigo!”) A comunicação
inadequada. Desconhecendo as realidades do
relacionamento social, certas pessoas dizem o que julgam ser
apropriado, mas o fazem no momento errado. Por exemplo:
um marido declara que teve um dia “terrível” no escritório.
Em resposta a isso, a mulher lhe atira em rosto uma lista das
coisas que ele tiver feito de errado. Poderá ser franca e
sincera, mas o jeito imaturo e ingênuo em que abre a boca e
fala geralmente conduz a inúmeras dificuldades
interpessoais, afastando as pessoas, em vez de aproximá-las.
Pelo fato de dizer coisas impróprias, no momento errado, um
indivíduo estará sujeito a ser explorado ou magoado. Essa
insensibilidade em relação ao próximo muitas vezes conduz a
um comportamento centrado no próprio eu, e a pessoa não
prestará atenção às necessidades dos colegas de trabalho,
aos amigos e à família.
(3) A Autoafirmação Dividida.
Uma pessoa poderá falhar em determinada área da
autoafirmação e ter êxito em outra. É possível que seja capaz
de exprimir abertamente seus sentimentos de ternura e, no
entanto, não saber demonstrar seus sentimentos de cólera,
ou vice-versa.
Um homem poderá ser o símbolo da passividade, no
escritório, e comportar-se como um tirano em sua própria
casa. Agir de maneira afirmativa no trabalho, nas relações
sociais e junto aos filhos e, no entanto, não saber afirmar-se
diante da própria esposa. Em seu cargo de executivo, Tom
Johnson, tomava importantes decisões o dia inteiro. À noite,
cuidava do jantar dos filhos, da mulher e do amante que ela
tivesse no momento. Após a refeição, lavava a louça e ficava
tomando conta das crianças enquanto a mulher e seu Romeu
iam badalar. Embora Tom tivesse racionalizado seu
comportamento, veio procurar-me para submeter-se a
algumas sessões de tratamento, mas achava que a
oportunidade de melhorar era por demais ameaçadora.
Quando tive notícias dele pela última vez, ainda estava
preparando o jantar e à espera de que sua mulher resolvesse
o problema, fugindo de casa.
O âmbito da autoafirmação '‘dividida pode ser muito
estreito. Um indivíduo será, por exemplo, afirmativo no
trabalho, exceto quanto a algum superior, um certo
subordinado ou, simplesmente, em relação a determinada
pessoa; ou então, é afirmativo em seu relacionamento com
pessoas isoladas, mas não quando se encontrar diante de um
grupo. Uma mulher poderá ser afirmativa com toda espécie
de gente, salvo com sua faxineira, que trabalha para ela uma
vez por semana. Alguns homens são capazes de afirmar-se
diante de qualquer ser humano, menos com suas sogras.
De modo geral, quanto mais estreita for a área de auto-
afirmação dividida de uma pessoa, mais fácil lhe será
modificar-se com o Treinamento da Autoafirmação.

(4) Pessoas Que Apresentam Deficiências De


Comportamento.
São incapazes de encarar seus interlocutores, bater um
papo, lidar com uma confrontação, iniciar uma conversa.
Essas habilidades em matéria de autoafirmação poderão ser
aprendidas.

(5) Pessoas Que Têm Bloqueios Específicos.


Sabem o que devem fazer, e possuem a capacidade de
assim proceder. Entretanto, o medo. de ser rejeitadas, o da
cólera, e também o de ser objeto de verdadeiros
interrogatórios, o das intimidades e das demonstrações de
ternura inibem tais pessoas, que deixam de executar as
ações apropriadas.
Pessoas que têm ideias errôneas. Não percebem a
diferença entre a agressividade e a autoafirmação. Sabem o
que deve ser feito e como ser feito, mas põem em dúvida o
direito de fazê-lo.
Pessoas que formam conceitos falsos sobre a
realidade social. Não compreendem que os tipos de
relacionamento entre os indivíduos são diferentes, conforme
as pessoas em causa. Julgam que um estranho deve ser
tratado como se fosse um amigo. Nunca lhes passa pela
cabeça tratar um estranho como estranho, e um amigo como
amigo. Por exemplo; um novo paciente meu anunciou-me o
seguinte; “Eu não confio em ninguém.” O estudo de seu caso
demonstrou que ele confiava em certas pessoas em matéria
de dinheiro, em outras quanto aos seus segredos, e ainda em
outras no que dizia respeito a conselhos sobre negócios. Sua
falsa concepção consistia em acreditar que não podendo
confiar em toda gente a propósito de tudo, não poderia
confiar em ninguém.
Pessoas que têm ideias errôneas sobre a realidade
psicológica. Preocupam-se com suas preocupações,
angustiam-se porque sofrem de angústia, não percebendo
'que as situações da vida real criam problemas diante dos
quais a angústia há de ser a reação apropriada. Um homem
veio procurar-me declarando estar diante de um grave
problema; seu pai morrera de repente pouco tempo antes, e
sua esposa havia sido submetida a uma operação que lhe
removera um tumor canceroso. Ele tinha acabado de perder
o emprego, e seu filho havia sido preso por estar envolvido
com drogas. Sentia-se deprimido por causa de tudo isso e
estava pensando que era neurótico. É natural que uma
pessoa fique angustiada quando leva esses golpes da vida.
Mas em vez de dizer; “Está certo. Eu estou na fossa, aflito
por causa de tudo isso”, é capaz de analisar a situação nos
seguintes termos; “Eu vivo me preocupando tanto que sou
um neurótico. É melhor eu começar a me preocupar com
minha neurose.” Por causa de sua inquietação acerca de uma
neurose subjacente, essa pessoa inibe a própria
espontaneidade. Num caso como o que acabei de citar,
geralmente é muito melhor procurar os amigos e os parentes
do que consultar um terapeuta.
Pessoas que não dão independência às outras. Julgam
que .se estiverem sendo razoáveis, todas as demais pessoas
deverão concordar com elas. Muitas vezes, porém, as outras
pessoas simplesmente não concordam com tais indivíduos
porque têm seus próprios sentimentos, necessidades e
problemas.
Pessoas que acham que se procederem, de maneira acertada deverão
triunfar sempre. Se isso não ocorrer, alguma coisa há de estar errada. A
realidade das coisas não é essa. Um empregado poderá pedir um aumento
de ordenado e merecê-lo, mas a situação econômica de sua firma talvez
não permita que haja aumentos de ordenados.

(6) Pessoas Que Têm Hábitos Que Interferem


Com Seu Comportamento.
Tendo aprendido a agir de maneira errada, poderão
defrontar-se com problemas quando se tratar de fazer o que
querem. A esses hábitos que interferem com o
comportamento de uma pessoa dei a denominação de
“síndrome da pasta de amendoim.” Costumo contar aos
meus pacientes que apresentem essa síndrome a história de
dois operários que estavam almoçando juntos. Um deles
abriu sua marmita e disse; “Outra vez sanduíche de pasta de
amendoim. Eu detesto sanduíche de pasta de amendoim.”
Seu companheiro comentou: “Por que você não pede a sua
mulher que não faça esses sanduíches para seu almoço?”
O outro respondeu: “Minha mulher? Eu mesmo preparo
meu almoço.”
Se um indivíduo sabe qual é um comportamento
indesejado, talvez possa simplesmente modificar tal
comportamento. Ou então, é possível que tenha consciência
do que se trata, mas nunca tenha pensado em modificar esse
comportamento. Fica comendo sanduíches de pasta de
amendoim.
CASO
Rick Shulman, que obteve recentemente o grau de doutor
em filosofia, veio me procurar, queixando-se de um problema
em sua carreira. Antes apreciava dar aulas numa faculdade,
mas tinha acabado de descobrir que seu trabalho era
monótono e depressivo. Nossas discussões revelaram que
essa mudança começara quando Rick estava trabalhando em
sua tese de doutoramento. Vivia tão ocupado, nessa época,
que deixou de preparar suas aulas e ficava dependendo de
observações que tirava da manga do paletó. Depois de
concluir sua tese, persistiu naquele hábito recém-adquirido,
isto é, o de dar aulas sem prepará-las. Isso é que estava lhe
causando aquela depressão e insatisfação. Jamais lhe havia
ocorrido fazer alguma coisa que corrigisse tal situação.
Contei a Rick a história do sanduíche de pasta de
amendoim. Ele admitiu que estava inteiramente a seu
alcance recomeçar a preparar as aulas. E assim fez. No meio
do seguinte período letivo, telefonou-me, dizendo que “o
prazer de ensinar tinha voltado.”

(7) Pessoas Que Têm Dificuldades De Se


Afirmar Junto Aos Próprios Filhos.
Os pais querem que os filhos cresçam e se tornem pessoas
adultas, afirmativas e que respeitem a si próprias. No
entanto, não percebem quais as diferentes habilidades, em
matéria de autoafirmação, necessárias a uma pessoa para
que se torne um ser humano independente. E também não
compreendem que as dificuldades de autoafirmação que eles
próprios apresentam irão influenciar seus filhos.
Um pai tem de ser o tipo adequado de modelo. Se um filho
o, observa agindo com respeito próprio, impondo-se,
comunicando-se de maneira sincera, ele aprenderá a
proceder da mesma maneira. Mas se um pai for a
reencarnação de maria-vai-com-as-outras, não importa que
palavras empregue com o filho, ou que instruções lhe dê. A
criança terá falta de autoafirmação. É preciso não esquecer
duas coisas: (1) um indivíduo poderá ser bastante afirmativo
mas ter dificuldades com os filhos porque deseja evitar os
mesmos tipos de discussões desagradáveis que ocorreram
entre ele e seus pais; (2) se esse indivíduo levar uma
existência plena e rica, será menos suscetível de viver
“através dos filhos” (de maneira vicarial), bem como lhes
permitirá liberdade de movimentos para que. encontrem seu
próprio estilo de vida.

A Auto-Afirmacão Em Contraste Com A


Agressividade

As dificuldades de autoafirmação conduzem a formas


inadequadas de comportamento. Se uma pessoa for
basicamente incapaz de afirmar-se, será demasiado fraca.
Não sabendo se impor, há de sentir-se magoada, angustiada,
e terá desprezo por si mesma. Suas ações e reações
deficientes geram também o desprezo que as outras pessoas
sentirão por ela.
Ao contrário, se um indivíduo portar-se de maneira
agressiva, será forte demais. Em consequência de várias
experiências que houver tido na vida, estará tão impregnado
de mágoas e de irritação, que um importante núcleo de sua
organização psicológica será centrado no propósito de ferir
as outras pessoas, às vezes por espírito de vingança, outras
vezes por causa da necessidade que sente de se defender.
Embora esse comportamento agressivo possa
temporariamente permitir que um indivíduo alcance suas
metas, na maioria dos casos ele conduz a uma comunicação
marcada de conflitos, entre ele e seus amigos, e provoca
também a agressão alheia, tendendo a tornar esse indivíduo
ainda mais agressivo. Esse circuito reverberador o manterá
preso à espiral neurótica.
Em contraste com isso, o comportamento afirmativo, em
sua forma adequada, nem sempre significa que serão
alcançadas as metas desejadas, mas esse comportamento
efetivamente permite que a pessoa se sinta bem consigo
mesma. Quando as coisas- não derem certo, ela poderá ficar
desapontada, mas não irá sentir-se descabidamente hostil.
Tomemos alguns exemplos de casos e vejamos quais
poderão ser as respostas adequadas, de caráter afirmativo.
CASO A: A professora chama a Sra. Block à escola e lhe
comunica, numa entrevista que mantém com ela, que seu
filho de 6 anos não presta atenção às aulas e se comporta de
maneira terrível. Tudo isso, diz ela, porque a Sra. Block não
educa o menino de um modo disciplinado.
CASO B: Jane está esperando sua vez na fila de uma loja
que está fazendo uma liquidação de meias. A balconista está
quase acabando de atender uma freguesa na frente de Jane
quando outra freguesa se aproxima e fura a fila. A balconista
pergunta; “Quem é a próxima?” A tal freguesa diz: “Sou eu.”
CASO C: Madge e Rose trabalham como secretárias num
escritório de corretores de seguros. Madge sai mais cedo do
trabalho para ir à consulta de seu psiquiatra. O escritório só
tem essas duas secretárias. Rose tem de atender ao telefone
e terminar os serviços do dia. Ela realmente não se importa
de ter de fazer esses trabalhos extras, mas acha que a
situação não é justa.
CASO D: Há um ano John pediu emprestados duzentos
dólares a Ken. Nessa ocasião, John estava cheio de dívidas,
sua mãe se achava doente e ele tinha perdido o emprego.
Agora sua mãe recuperou a saúde e ele ganha um bom
ordenado num cargo público. Ken quer receber seu dinheiro
de volta, pois pretende esquiar numa excursão, mas nada fez
por isso. A cada dia que passa fica mais ressentido com essa
situação.
CASO E: Phyllis, de dezenove anos, está frequentando
uma grande universidade no Centro-Oeste e pretende passar
o Natal em casa, em Filadélfia. A mãe dela sabe que Phyllis
está vivendo com um rapaz, seu colega de escola. No começo
de dezembro, Phyllis dá a entender, num telefonema, que
quer dormir com o namorado no quarto dela. Havendo dois
irmãos pequenos em casa, a mãe de Phyllis se opõe
fortemente a essa ideia. Esses exemplos são típicos de
situações que exigem respostas autoafirmativas. Como se
deveria lidar com esses casos?
CASO A: O da Sra. Block e da professora que tem queixas
dela.
Resposta não-afirmativa. A Sra. Block diz o seguinte: “É verdade. A
senhora tem razão. Ele precisa mesmo de mais disciplina em casa.
Mande-me um recado sempre que o menino se portar mal. Vou
proibir que ele veja televisão à noite.” Naquela mesma noite, a Sra.
Block desliga o aparelho de televisão, esbraveja com Ted, não toma
conhecimento da tentativa que o menino faz para dar-lhe
explicações, e manda que ele vá para cama sem jantar. E a Sra.
Block fica acordada a noite inteira. Nessas circunstâncias, Ted
aprendeu também que suas necessidades e seus sentimentos não
têm a menor importância. Sente-se um menino “mau”, ou então
acha que este mundo é muito injusto. Em qualquer caso, está sendo
ensinado a ser uma criatura indefesa.
Resposta agressiva. A Sra. Block diz o seguinte: “A senhora
simplesmente não compreende meu filho. Segundo ouvi dizer, acho
que a senhora é uma péssima professora. Vou conversar com a
diretora sobre o assunto e conseguir que meu Ted seja transferido
de turma.” Com isso Ted aprende que não tem voz ativa a respeito
das coisas que lhe acontecem, de suas necessidades e de seus
sentimentos. Tudo isso é irrelevante. E começa a achar que vive
num mundo irracional.
Resposta afirmativa. A Sra. Block declara o seguinte: “Vou conversar
com Ted sobre o assunto. Na semana que vem virei procurar a
senhora, trazendo-lhe algumas sugestões.” Naquela mesma noite ela
teve uma longa conversa com o menino (ela e o marido) e ambos
descobriram que um colega de classe de Ted vivia implicando cora
ele. Em consequência disso, o menino sentia-se inquieto e
perturbado. A Sra. Block volta à escola, relata isso à professora e
conversa com ela a respeito do que possa ser feito. Graças à ação
afirmativa de sua mãe, Ted aprendeu que aquilo que sente e pensa é
importante para as outras pessoas e poderá influenciar os
acontecimentos. E também ganhou a experiência de uma
comunicação instrutiva com os pais, aprendendo o modelo de uma
abordagem construtiva de um problema, proporcionado por sua
mãe.

CASO B: O de Jane que está na fila das meias.


Resposta não-afirmativa. Jane não diz nada, espera sua vez e decide
nunca mais entrar “naquela loja”.
Resposta agressiva. Jane censura a mulher que furou a fila e a
balconista.
Resposta afirmativa. Jane declara apenas o seguinte: “Perdão, agora
é minha vez.” E diz à balconista que quer umas meias-calças pretas,
tamanho pequeno.

CASO C: O de Rose que fica aborrecida porque Madge sai


cedo.
Resposta não-afirmativa. Não querendo interferir no problema do
horário do tratamento psiquiátrico de Madge, Rose fica calada, sua
tensão aumenta, e decide que deve procurar outro emprego.
Resposta agressiva. Rose briga com Madge e lhe diz coisas assim:
“Eu estou cansada de fazer seu serviço”... “Este escritório não é
mais um lugar agradável porque você está se aproveitando de
mim”... “É melhor você desistir de ir ao médico, senão eu vou me
queixar de você ao chefe.”
Resposta afirmativa. Rose discute o problema com Madge, dizendo o
seguinte: “Nós temos um problema a resolver. Que poderemos
fazer?” As duas conversam a respeito de possíveis soluções para o
caso, como, por exemplo, Madge chegar mais cedo ao trabalho e
antecipar os serviços que tiver de fazer, ou então procurar trocar o
horário da análise para a noite.
CASO D: O de Ken, que emprestou duzentos dólares a
John.
Resposta não-afirmativa. Todas as vezes que Ken se encontra com
John fala de maneira vaga a respeito de coisas que custam dinheiro.
Espera que John entenda suas indiretas.
Resposta agressiva. Ken censura John, empregando palavras
irônicas como estas: “Como você tem coragem de estar de roupa
nova quando me deve duzentos dólares há um ano?”
Resposta afirmativa. Ken diz o seguinte: “Eu gostaria que você me
pagasse o dinheiro que está me devendo.” E os dois discutem como
esse dinheiro poderá ser pago. “Se você não puder me pagar tudo
de uma vez, por que não me dá dez dólares por semana?”

CASO E: O da estudante da faculdade que deseja que seu


namorado durma com ela em sua própria cama.
Resposta não-afirmativa. A mãe de Phyllis permite que ela e seu
namorado durmam no mesmo quarto, mas/ se porta de maneira
hostil com o rapaz durante todo o tempo de sua visita, e estraga o
Natal de toda a família.
Resposta agressiva. A mãe de Phydis começa a telefonar para e:a,
chamando-a na faculdade, e dizendo que ela é uma “prostituta”. E
faz-lhe a seguinte ameaça: “Você não se atreva a trazer esse rapaz
aqui.”
Resposta afirmativa. A mãe de Phyllis lhe diz o seguinte: “O que
você fizer fora de casa é por sua conta. Mas eu tenho meus direitos
em minha própria casa. Se você quiser convidar o rapaz para vir
aqui, ele poderá dormir com seu irmão mais moço.”

As situações acima devem dar uma ideia a respeito do que


são respostas afirmativas adequadas. Agora irei
proporcionar ao leitor a descrição de dois “encontros”
interpessoais, para os quais* ele dará sua resposta. Incluem-
se entre os que foram utilizados por Michel Herson, Richard
M. Eisler e Peter M. Miller num teste de comportamento
afirmativo, aplicado no Centro de Administração de
Veteranos, de Jackson, no Estado do Mississipi.
(1) Você leva seu carro a um posto para que ele seja
lubrificado e também para troca de óleo. O mecânico lhe diz
que o carro estará pronto dentro de uma hora. Quando você
volta ao posto, verifica que os homens fizeram uma revisão
geral no carro, além da lubrificação e da troca de óleo. O
caixa do posto lhe declara o seguinte: “O Sr. nos deve
duzentos e quinze dólares. Vai pagar agora ou quer que
debite essa despesa em sua conta?” O que você diria ao
caixa?
(2) Você está almoçando com um amigo. Ele subitamente
lhe pergunta se você poderá emprestar-lhe trinta dólares até
que ele receba seu pagamento, na próxima semana. Você
tem essa quantia, mas está planejando gastá-la em outra
coisa. O amigo insiste: “Por favor, me empreste esse
dinheiro. Eu lhe pagarei na semana que vem.” O que você
diria?
Comparando as possíveis respostas dadas diante dessas
situações com o que uma pessoa terá feito em situações
semelhantes da vida real, deverá ser percebido que o
princípio cardeal é o seguinte: um indivíduo não poderá ser
excessivamente afirmativo. O exagero em matéria de
afirmação muitas vezes é pura agressividade e constitui uma
reação inadequada.

Direitos Da Pessoa

Como observei no Capítulo I, o Dr. ArnoM Lazarus, da


Universidade de Rutgers, julga que certas pessoas se
preocupam de maneira tão aflitiva com uma arbitrária gama
de coisas “certas” e “erradas” que se permitem apenas uma
liberdade de movimentos tão reduzida a ponto de viverem
confinados a uma prisão emocional ou metidos, por assim
dizer, dentro de uma verdadeira cápsula.
Nas figuras acima, o indivíduo emocionalmente livre
considera o território limitado pelos polos AD e GH como seu
próprio terreno psicológico, ou seu espaço vital. É capaz de
mover-se para qualquer parte, dentro desses limites, sem
sentir que tenha ultrapassado seu território ou invadido o
território emocional de outra pessoa. Se alguém penetrar em
seu território sem ser convidado, ele se levantará em defesa
de seus direitos, sem o menor constrangimento, e dirá a esse
transgressor que se afaste.
O indivíduo encapsulado sente-se a contragosto ou
amedrontado e muito inseguro, toda vez que se aventura
além dos pontos B, C, E ou F. Geralmente acha que não tem
direito a qualquer território situado além de sua estreita
área, no interior dessa cápsula.
Um indivíduo deve saber quais são seus direitos e fazê-los
valer. Se assim não proceder, outras pessoas irão definir qual
o papel desse indivíduo e ele deixará de ser uma pessoa de
direito próprio. Seu espaço vital se reduzirá, perderá sua
liberdade de movimentos, e irá tomar-se um indivíduo
“encapsulado”, que terá de pagar o preço disso através de
um comportamento neurótico.
Muitas pessoas apresentam essa dificuldade porque lhes
falta uma noção clara a respeito de seus próprios direitos, ou
possuem ideias incorretas a esse respeito. Outras se
defrontam com problemas porque não sabem fazer valer
seus direitos. Julgo que seria útil a esses dois, tipos de
pessoas se eu fizesse uma lista de algumas perguntas acerca
de direitos que surgem em minha clínica. São as seguintes:
Tenho o direito de responder cora franqueza quando me perguntam se eu
gosto de alguma coisa e eu não gosto dessa coisa?
Tenho o direito de dizer à minha mulher que ela engordou muito e que isso
me desagrada?
Tenho o direito de dizer ao meu chefe que não quero fazer serviços
extraordinários fora das horas do expediente?
Tenho o direito de sair de casa para trabalhar durante uma parte do dia e
deixar meus filhos num centro que cuida de crianças durante algumas horas
diárias?
Tenho o direito de não querer emprestar meus novos tacos de golfe a um
amigo?
Tenho o direito de não querer receber em minha casa um amigo de meu
marido, de quem eu não gosto?
Tenho o direito de “estragar” a mim mesmo com mimos?
Tenho o direito de fazer valer meus direitos?

Os dois casos que vêm a seguir giram em torno do


princípio do direito de autoafirmação.
CASO
Ralph teve de amputar um braço e foi hospitalizado para
ser submetido a um tratamento de reabilitação física.
Tornou-se extremamente agitado a ponto de não conseguir
dormir, sendo necessário administrar-lhe um tranquilizante.
Duas semanas antes havia feito uns testes especiais de
diagnóstico, por causa de uma dor que sentia na região
lombar e não tinha sido informado a respeito dos resultados
desses lestes. Fazia 14 dias que isso o vinha preocupando.
Quando conversamos, Ralph me revelou que julgava não ter
o direito de perguntar a qualquer dos médicos qual tinha
sido o resultado dos testes. E disse o seguinte, num tom de
tristeza: “Eles vivem tão ocupados cora tantos pacientes.
Como haveriam de preocupar-se comigo?” Durante nossa
discussão do assunto, Ralph chegou a concordar que se
tratava de seu próprio corpo e que ele decerto tinha o direito
de conhecer o resultado dos testes. Praticamos várias
maneiras de abordar o médico e, quando Ralph se dirigiu a
ele, falou exatamente como havíamos ensaiado. O médico lhe
assegurou que se tratava simplesmente de uma dor
muscular, e ficou espantado que ninguém houvesse
informado Ralph a respeito do resultado dos testes. Desse
modo, fazendo valer seus direitos, Ralph obteve a informação
de que necessitava para aplacar sua angústia.
CASO
Margaret Jones, uma dona-de-casa atormentada, de trinta
anos, mãe de três filhos, veio me procurar por causa de um
problema seu. Disse-me o seguinte: “Minha vida está
degringolando.” Pelo fato de fazer todos os serviços de casa e
cuidar dos filhos, das seis da manhã até a meia-noite, vivia
sempre cansada e tensa, sentindo-se cada vez mais
deprimida. Começara a ter uma série de sintomas de
hipocondria. Todas essas consequências decorriam do fato
de não reconhecer que tivesse quaisquer direitos dentro de
sua própria casa, nem os de ler um jornal, tocar piano ou
repousar quando estivesse cansada.
Nós examinamos, uma por uma, as situações triviais do
seu dia-a-dia. Ela perguntou-me: “Eu tenho o direito de me
sentar e ler meu jornal durante dez minutos pela manhã?”...
“Eu tenho o direito de tocar piano por prazer?”... “Eu tenho o
direito de pedir ao meu marido que me diga a que horas vai
chegar em casa para jantar?” Discutimos o que ela achava
serem seus direitos, e o que poderia dizer e fazer (de
maneira tranquila, mas firme): “Mamãe agora está lendo,
mas vai ficar com você dentro de alguns minutos.” E
praticamos em meu consultório como Margaret iria dizer
isso. Em seguida eu lhe sugeri que experimentasse fazer
exatamente o mesmo em casa. Desse modo, passo a passo,
Margaret aprendeu a fazer valer seus direitos. Dentro em
pouco, tempo deixou de se preocupar com doenças horríveis.
Sua sensação de fadiga diminuiu e ela começou a apreciar
mais as coisas.
Respostas a perguntas sobre o direito de afirmar-se
devem sempre basear-se em situações individuais, nas
pessoas em causa e nas possíveis consequências do exercício
desse direito. Mas qualquer pessoa sempre tem cinco
direitos fundamentais:
1. O de fazer tudo que não prejudique a terceiros.
2. O de preservar a própria dignidade, através da auto- afirmação adequada,
ainda que isso possa magoar alguém, desde que o motivo da pessoa seja de
caráter afirmativo e não de natureza agressiva.
3. O de fazer alguma solicitação a outra pessoa, desde que esteja entendido
que essa pessoa tem o direito de dizer “não”.
4. Ê necessário compreender que há certos casos-limítrofes nas situações
interpessoais, quando os direitos de um indivíduo não se apresentam de
maneira clara. Mas esse indivíduo tem sempre o direito de discutir o
problema com a outra pessoa que estiver em causa, e de esclarecer a
questão.
5. O direito de exercer os próprios direitos.

A Definição Exata Das Dificuldades


Individuais

Ao determinar seus problemas em matéria de


autoafirmação, o indivíduo deverá avaliar quais são seus
problemas específicos nesse campo e quais os receios que
não lhe permitem alcançar um estado que se caracterize por
comportamentos afirmativos.

Inventário No Campo Da Autoafirmação


Finalidade: Chamar a atenção da pessoa a respeito das
áreas onde se situam seus problemas específicos, de sorte
que o presente livro se torne mais significativo para essa
pessoa.
Primeira Etapa: Adquirir um caderno de apontamentos
para uso no Treinamento da Autoafirmação, que será
empregado neste exercício e nos subsequentes.
Segunda Etapa: Nesse caderno de apontamentos (ou
numa folha de papel), fazer uma lista das perguntas que vêm
a seguir (algumas são minhas, outras foram adaptadas dos
trabalhos dos Drs. Lazarus, Spencer A. Rathus, psicólogo do
Hospital Samaritano de Troy, Estado de Nova York, e Joseph
Wolpe, da Escola de Medicina da Universidade de Temple).
Terceira Etapa: Responder cada pergunta, colocando
“Sim” ou “Não” no espaço a isso reservado. Para o efeito de
tornar as respostas um tanto mais precisas, poderão ser
empregadas as palavras sempre, frequentemente, às vezes,
nunca.
Quarta Etapa: Assinalar com um círculo as respostas que
indiquem existir uma dificuldade de autoafirmação. Em
seguida, a pessoa verá se é capaz de escrever uma frase ou
uma série de frases. relacionadas com as respostas
assinaladas por esses círculos, explicando, com o emprego
de suas próprias palavras, seus problemas de autoafirmação.
Se a resposta que uma pessoa houver dado à pergunta 7,
por exemplo, revelar que ela está insatisfeita com sua vida
social, poderá escrever o seguinte: “Eu não tenho vida social
porque não gosto de me aproximar de ninguém e ninguém se
aproxima de mim.” Ou então, se sua resposta à pergunta 22
mostrar que tem dificuldades de autoafirmação com
subordinados, poderá declarar o seguinte: “Eu tenho
/dificuldade em dar ordens ao meu assistente porque receio
que ele não goste disso.”
Eis as perguntas:
1. Você faz compras de que realmente não tem necessidade porque
acha difícil dizer “não” a um vendedor?
2. Hesita em devolver alguma mercadoria a uma loja, ainda que
existam boas razões para assim proceder?
3. É capaz de pedir a uma pessoa que fique quieta se ela estiver
conversando em voz alta durante um filme, uma peça de teatro ou
um concerto?
4. Consegue iniciar uma conversação com algum estranho?
5. Tem dificuldade em manter uma conversação em reuniões sociais?
6. As pessoas se portam como se achassem você cacete?
7. Está satisfeito com sua vida social?
8. É capaz de recusar um pedido pouco razoável feito por um amigo?
9. É capaz de solicitar favores ou fazer pedidos aos amigos?
10. Consegue criticar um amigo?
11. É capaz de elogiar um amigo?
12. Sabe o que dizer quando alguém o elogia?
13. Existe alguém com quem você possa comunicar seus sentimentos
íntimos?
14. Prefere refrear suas emoções em vez de fazer uma cena?
15. Está satisfeito com seus hábitos de trabalho?
16. Tende a ser explorado ou empurrado pelas pessoas?
17. É capaz de ser aberto e franco ao expressar seus sentimentos de
ternura ou de cólera aos homens?
18. Ê capaz de ser aberto e franco ao expressar seus sentimentos de
ternura ou de cólera às mulheres?
19. Acha difícil fazer ou aceitar convites para sair com outra pessoa?
20. É espontâneo durante o prelúdio amoroso e as relações sexuais?
21. Está satisfeita com os progressos obtidos em sua carreira?
22. Tem dificuldade em repreender um subordinado?
23. É (ou seria) um bom modelo de autoafirmação para seu próprio
filho?

Inventário De Tensões
Finalidade: Identificar as coisas que o levam a sentir-se
tenso, temeroso ou perturbado de qualquer outra maneira.
Primeira Etapa: Fazer uma lista, em seu caderno de
apontamentos do TA, dos seguintes estímulos, sejam coisas
ou experiências:
1. Gente que fala muito alto
2. Falar em público
3. Pessoas que parecem loucas
4. Pessoas implicantes
5. Fracassos
6. Pessoas estranhas
7. Sentir-se encolerizado
8. Pessoas que exercem autoridade
9. Sentir ternura
10. Pessoas de aspecto rude
11. Ser observado no trabalho
12. Receber elogios
13. Ser criticado
14. Pessoas irritadas
15. Passar despercebido
16. Parecer tolo
17. Não ser estimado
18. Cometer erros
19. Intervalos de silêncio numa conversação

Segunda Etapa: Acrescentar a essa lista quaisquer


outros estímulos que lhe causam perturbação emocional.
Terceira Etapa: Indicar o grau em que cada um desses
itens lhe provoca tensões. Empregue a seguinte escala:
Nenhuma
Alguma
Forte
Muito forte

Escrever suas respostas diante de cada item e, ao fazê-lo,


mostrar como se sente atualmente, e não como reagiu há
algum tempo atrás, ou como julga deveriam ser seus
sentimentos.
Depois de ter concluído a leitura deste livro e, segundo
esperamos, haver aplicado algumas das técnicas do TA às
suas situações na vida real. voltar atrás e fazer novamente o
Inventário da Autoafirmação e o Inventário de Tensões.

Fixaçao De Metas Individuais No Campo Da


Autoafirmação

Além de utilizar os inventários e aplicá-los às suas


próprias situações, o que já leu até essa altura, as etapas que
se seguem também o ajudarão a iniciar seu próprio TA.
(1) Verificar se de fato apreendeu o conceito de auto-
afirmação. As situações contidas nos testes anteriormente
apresentadas no presente capítulo deverão ser úteis.
Observei igualmente que as pessoas tirarão proveito da
leitura do livro de Andrew Salter, Conditioned Reflex
Therapy, e de minha obra, Help Without Psychoanalysis.
(2) Reconhecer suas racionalizações, quando seu
comportamento não for afirmativo, como de fato o são. Elas
geralmente se enquadram em três categorias:
a. As pessoas se atêm, a título de desculpa para não se afirmar, em eventos
que possuem pouca probabilidade de ocorrer. Por exemplo: um indivíduo
permite que alguém ocupe a vaga onde estaciona seu carro, empregando a
seguinte racionalização: “Se eu insistir em ocupar esta vaga, aquele sujeito
vai retalhar meus pneus.” Ninguém poderá garantir que isso não aconteça,
mas será pouco provável. Uma pessoa não deverá basear suas ações em
acontecimentos que “talvez” possam ocorrer.
b. As pessoas se fixam em eventos que apresentam uma probabilidade maior
de ocorrer, mas lhes acrescentam uma significação, afirmando o seguinte:
“Seria horrível se isso acontecesse!” Por exemplo: um indivíduo sente que
se insistir em seus direitos junto a um amigo, ele irá ficar furioso.
Acrescenta, então, que tal hipótese será terrível e arrasadora.
c. As pessoas racionalizam pretextos para sua falta de autoafirmação, que não
têm a menor validade, e assim procedem com grande imaginação criadora.
Os campeões da racionalização poderão, aos setenta anos de idade, passar
em revista sua existência e verificar que tudo quanto possuem se resume
em motivos imaginários por não terem levado uma vida melhor.

(3) Examinar áreas em que tem problemas de


autoafirmação. Trata-se de situações impessoais, sociais ou
pessoais? Seus problemas surgem no trabalho, na escola, no
lar? Ocorrem com maior frequência com certos tipos de
indivíduos (criaturas arrogantes, chefes, pessoas do sexo
oposto) do que com outros? Esses problemas se apresentam'
unicamente com relação a determinadas pessoas (cônjuge,
amigo, colega)?
(4) Verificar o que receia; rejeição, cólera, ternura.
Formular para si mesmo o pior que possa acontecer e, em
seguida, examinar essa eventualidade e suas consequências,
procedendo da maneira mais objetiva possível.
(5) Investigar em que áreas gerais do seu comportamento
surgem as dificuldades e, em seguida, procurar definir essas
dificuldades em termos de comportamentos seus,
rigorosamente específicos e concretos. Essas áreas gerais
poderão ser as seguintes: o indivíduo sente que vive sendo
explorado, e seu comportamento específico poderá ser não
dizer “não” quando quiser dizer “não”; ou então, não possui
qualquer relacionamento íntimo com outras pessoas, e seu
comportamento específico poderá ser a dificuldade da
expressão mais franca de suas emoções.
Ao formular esses comportamentos específicos, o
individuo' deverá começar do ponto em que hoje se encontra.
Aprender ou praticar, a título de primeiro comportamento,
algo que possa razoavelmente esperar dominar num período
de tempo relativamente breve. Em seguida, passar à
segunda etapa. Se a primeira etapa apresentar alguma
dificuldade, isso significa que sua escolha consistiu em
alguma coisa de demasiado difícil. Procurar cumprir uma
tarefa mais simples, dentro da mesma área ou de outra área
que a ela se relacione. Prosseguir, enfrentando a área mais
difícil.
Qualquer que seja o problema individual, existem certos
princípios básicos que se aplicam às pessoas que desejam ser
afirmativas.
Revelar o mais possível seu verdadeiro eu, de maneira
adequada à situação e ao relacionamento pessoal em causa.
Procurar exprimir todos os seus sentimentos, sejam eles
de cólera ou de ternura.
Proceder de maneira que acentue sua autoestima e seu
autorrespeito.
Examinar seu comportamento e determinar as áreas do
mesmo em que estimaria tornar-se mais afirmativo. Prestar
atenção ao que possa fazer de maneira diferente, e não ficar
pensando como o mundo poderia ser diferente.
Não confundir agressividade com autoafirmação. A
agressividade implica a prática de atos contra outras
pessoas. A autoafirmação consiste em impor-se de maneira
adequada.
Perceber que uma pessoa poderá não ser afirmativa em
determinada área, como o trabalho, e afirmativa em outra, o
casamento, por exemplo. Aplicar a uma outra área as
técnicas que utilizar com êxito num determinado setor.
Praticar o hábito da franqueza quando falar sobre
assuntos triviais. Se uma pessoa for capaz de dizer a uma
mulher, num supermercado, “A senhora tem de ir para o fim
da fila”, poderá dizer (ao marido, ou à esposa): “Não. Isso eu
não quero fazer.”
Não confundir o comportamento loquaz, que visa a
manipular as pessoas, com a verdadeira autoafirmação. A
meta do TA consiste em tornar mais profunda a experiência e
a expressão das qualidades humanas de uma pessoa, e não
visa a transformá-la num artista consumado.
É sempre possível a uma pessoa encontrar mil razões para
não fazer as coisas de sorte que, com o passar do tempo, terá
grande capacidade para criar uma existência vazia. Desde o
momento em que os atos de um indivíduo se modificam,
muitas vezes seus sentimentos também se modificarão.
Compreender que a autoafirmação não é algo de estático.
À medida que uma pessoa se modifica, as situações da vida
também se modificam, e ela se defrontará com novos
desafios e terá necessidade de novas habilidades.
Capítulo 3.
O Laboratório De Autoafirmação

O processo educativo, que visa à autoafirmação, pode ser


comparado à aprendizagem de uma língua estrangeira. A
princípio a pessoa se propõe a dominar palavras, expressões
e regras fundamentais. De repente torna-se capaz de se
comunicar, utilizando o vocabulário de uma criança.
Prossegue em sua aprendizagem até adquirir fluência nesse
idioma estrangeiro. Dominando a nova habilidade, terá a
liberdade de ser mais criadora com o emprego desse idioma,
que se tornou para ela uma segunda língua.
A linguagem da autoafirmação exige o conhecimento do
assunto de que a mesma se constitui, a prática de seus
princípios, e sua aplicação diária a situações da vida real.
Muitas pessoas encontram dificuldade em autoafirmar-se,
não por causa de quaisquer antigos traumas há muito tempo
esquecidos, mas pelo fato de (1) terem sempre evitado
situações que exigem a autoafirmação, ou (2) nunca haverem
aprendido a autoafirmar-se.
No caso desses noviços, os terapeutas do comportamento
que se especializaram no treinamento da autoafirmação
elaboraram um programa de exercícios específicos. Esses
exercícios incluem o seguinte: como estabelecer um
programa individual de metas e submetas; “tarefas” de
comportamento (um indivíduo que tem medo de marcar um
encontro com uma mulher poderá receber a tarefa de dirigir-
se a um bar para pessoas solteiras e conversar com duas
garotas); diálogos que exigem a expressão de sentimentos,
para aqueles que têm dificuldades em matéria de
comunicação; um guia que oriente a maneira de recusar
solicitações descabidas; e ensaios de comportamento
(psicodramas que versem sobre situações problemáticas).

Um Programa De Metas

Por ignorância ou receio, muitas pessoas não estabelecem


planos de ação para suas próprias vidas. Conforme afirmou o
falecido Abraham H. Maslow, presidente do Departamento
de Psicologia da Universidade de Brandeis;
“Pensemos na vida como um processo de escolhas, uma após outra. A cada
momento existe uma opção entre progredir ou regredir. Poderá haver um
movimento voltado para a defesa, a segurança, o temor; mas, no reverso
da medalha, haverá uma escolha vinculada ao crescimento. Para fazer
esta escolha, em vez de optar pelo temor — isso ocorre dezenas de vezes
a cada dia — será preciso que a pessoa se mova no sentido de se realizar.”

Quando um indivíduo não planeja uma direção na vida,


estará fazendo uma opção: a de não escolher coisa alguma.
Isso acarretará consequências melancólicas, por vezes
tristes.
Todas as pessoas terão de estabelecer suas metas para
que possam ser afirmativas.
As metas orientam. Em sua ausência, um indivíduo não terá
qualquer propósito na vida.
As metas motivam. Quando os animais submetidos a um teste
correm através de um labirinto, quanto mais se aproximam de sua
meta mais se apressam em direção à mesma. Quando uma pessoa
empreende uma viagem, torna-se cada vez mais impaciente ao se
aproximar de seu destino. Se um indivíduo estabelecer uma meta, ao
se aproximar dela terá maior motivação para ser bem-sucedido.
As metas reforçam a autoestima. A realização de meta revigora o
desejo de atingir outras metas. Em consequência, o indivíduo
adquire um sentimento de dinamismo na vida e também um sentido
mais elevado do seu próprio mérito.

Como Estabelecer As Metas


(1) Estabelecer metas a serem alcançadas a longo prazo.
Pergunte a si próprio: “Que espécie de vida eu quero ter?
Como gostaria que fosse minha vida daqui há dez anos?”
Leve em consideração sua vida familiar c social, seus alvos
no campo profissional, seus interesses fora do trabalho. Não
ponha de lado suas fantasias. Muitas vezes essas fantasias
são capazes de pôr uma pessoa em contato com aquilo que
ela realmente deseja.
(2) Instituir uma série de submetas. Se você escolher uma
meta muito remota, desprovida de quaisquer submetas, não
perceberá os progressos que realizar e ficará tomado de
desânimo. Havendo essas submetas, você não só observará
seus progressos como também o fato de alcançar cada uma
delas irá proporcionar-lhe o sentimento de que algo foi
realizado.
CASO
Arthur M. trabalhara como engenheiro, ocupando um
cargo administrativo de nível médio, durante cerca de vinte e
cinco anos. Seu trabalho era considerado brilhante, quando
ele o realizava, mas, nos últimos tempos, estava trabalhando
cada vez menos. Arthur me expôs seu problema nos
seguintes termos: “Vivo num estado de permanente
depressão.”
Essa depressão era de fato a consequência de sua
dificuldade em estabelecer submetas em seu trabalho, e
aceitar as limitações que isso impõe.
Arthur estabelecia uma meta irreal para todos os projetos
que iniciava, baseada em sua imaginação, que exigiria vinte
anos para ser atingida e pela qual iria receber o Prêmio
Nobel. Não resta dúvida que não poderia consegui-lo nos
três ou quatro meses de que dispunha para a execução de
cada projeto. Em consequência, sentia-se tão abatido que
não tinha condições para fazer coisa alguma ou, quando o
conseguia, seus trabalhos situavam-se tão aquém de suas
metas remotas que ele se mostrava descontente com o que
havia feito.
Arthur realmente aspirava a realizar uma importante
formulação teórica em seu campo de atividade. Eu lhe
mostrei que isso seria meta válida para ser alcançada a longo
prazo, ao passo que cada projeto que elaborasse poderia ser
uma etapa nessa direção. Ele está atualmente realizando
certos trabalhos preliminares. Quando tiver cumprido um
número suficiente de etapas com vistas à sua meta, que será
atingida talvez no prazo de dez anos, estará, então, à altura
de concluir um projeto científico importante.
Cheguei à conclusão de que seu tratamento terminara
quando, certo dia, Arthur entrou em meu consultório e
declarou que havia justamente concluído um projeto sem a
menor dificuldade. Descreveu-me, cheio de entusiasmo, os
resultados de suas pesquisas, e exclamou: “Era uma meta
para dois anos, e eu a alcancei em apenas quatro meses.”
(1) Figurar uma autoimagem idealizada.
Pergunte a si próprio o seguinte: “Que tipo de pessoa eu
gostaria de ser?”
Na opinião da Dra. Dorothy J. Susskind, professora
associada de psicologia educacional do Hunter College, da
Universidade da Cidade de Nova York, “as metas significam
a criação de uma identidade mais positiva e de uma
autoestima de caráter mais acentuado.”
Fechar os olhos e imaginar seu eu idealizado, dotado das
características e dos atributos que gostaria de possuir.
Sentar-se numa cadeira e escrever a descrição do tipo de
pessoa que desejaria ser. Faça-o de maneira concreta. Inclua
como gostaria de se vestir, os assuntos sobre os quais
estimaria conversar, e se prefere ser introvertido ou
extrovertido.
Desenvolver o assunto. Faça uma lista das características
do tipo de pessoa que gostaria de ser. Classifique essas
características em ordem de importância, de sorte que possa
saber onde terão de ser realizados seus ajustamentos para
melhor. Prossiga, escrevendo então as características mais
salientes do seu eu idealizado até dispor de oito a dez
atributos dessa natureza.
Examinar sua autoimagem idealizada. Leia a lista
completa de atributos da mesma. Acha que atualmente
possui algumas dessas características? Você é uma pessoa
“equilibrada”, tem “curiosidade intelectual”, é “popular”? Se
houver grande discrepância entre sua atual personalidade e
aquela que estimaria ter, que poderá ser feito de sua parte a
fim de desenvolver essas características desejadas? Talvez
lhe seja impossível converter algumas delas em realidade.
Uma pessoa poderá sonhar em tornar-se um famoso artista,
sem possuir o menor talento para isso. No entanto, se em sua
autoimagem idealizada você se vir uma pessoa informada,
consciente das coisas, isso consiste em algo que todos nós
podemos conseguir.
Vejamos um exemplo. Quando Betty Madden, mulher de
trinta e três anos, muito atraente, veio ao meu consultório,
declarou o seguinte: “Estou me sentindo muito deprimida.
Tenho apenas o curso secundário, e meu marido é um
profissional liberab Todos os nossos amigos possuem
diplomas universitários. Eu não sei conversar sobre os
assuntos que eles conversam. Sempre me sinto inferior a
eles.” A insegurança intelectual de Betty a transformara
numa esposa insegura e num tipo de mãe superprotetora
(sentia-se “em. segurança” ao lado dos três filhos pequenos
e, por esse motivo, procurava sua companhia em vez de
buscar a de pessoas adultas).
Durante nossas primeiras sessões, percebi que os
problemas de Bettv decorriam do fato de que ela não tinha o
hábito de ler. Embora tivesse, no passado, tocado bem
violino, no momento não possuía qualquer interesse de
ordem cultural, ou outro qualquer, capaz de exercitar-lhe a
mente. Estabelecemos um programa de comum acordo, com
as seguintes metas: Betty deveria ser uma pessoa
“informada”, através da leitura, e teria de tirar partido de
seus pendores artísticos, que nunca haviam sido
desenvolvidos.
(a) Betty matriculou-se num curso livre de inglês, cuja
principal ênfase consistia no enriquecimento do vocabulário,
oferecido por uma faculdade que ficava perto de sua casa. A
incapacidade que tinha de entender palavras fundamentais
era uma das principais razões que não lhe permitiam ler.
Como complemento ao curso, atribuí a Betty duas tarefas
diárias:
Ler dois colunistas da imprensa e procurar no dicionário
os significados das palavras que não entendesse, escrevendo
suas definições. Deveria ler cada colunista duas vezes, ou
três, se necessário, até compreender perfeitamente o
conteúdo do que haviam escrito.
Tomar seu gravador e, com suas próprias palavras,
descrever o que significava cada escrito. Em seguida,
deveria repetir isso, começando com as palavras “concordo”
ou “discordo”, e explicando porque assim acontecia.
Finalmente, teria de ouvir sua própria voz e verificar como
suas palavras lhe soavam aos ouvidos.
(b) Betty recomeçou a tocar violino, mas nisso falhou,
declarando-me, sinceramente: “É uma coisa muito difícil por
causa das crianças.” Substituiu essa atividade pela audição
de discos. Todas as manhãs, enquanto passava o aspirador
de pó na casa, ouvia um disco de música clássica, o mesmo
disco, durante seis manhãs consecutivas. Enquanto cumpria
essa campanha de aperfeiçoamento musical, mantinha-se
atenta aos anúncios de consertos nos quais seriam
executadas as peças que havia estudado. Além disso,
frequentou um curso de arte, de treze semanas, ministrado
numa escola secundária do seu bairro.
Seus estudos foram proveitosos. Por sua própria iniciativa,
começou a ler as revistas Time e Newsweek. Declarou-me
que havia “principiado a ler livros”. Quando pegava um livro
que se revelava difícil demais para ela, dizia: “complicado
demais para mim”, e tomava outro livro.
Transcorridos seis meses de tratamento, visando a essa
meta de instruir-se, Betty tornou-se uma mulher muito mais
satisfeita consigo mesma, pois estava começando a
compreender muitos e variados assuntos. Um belo dia,
declarou-me o seguinte: “No fim de semana, nós discutimos
política com alguns amigos que não estavam corretamente
informados sobre os fatos. Então, eu discretamente lhes
mostrei que estavam equivocados, e todos quatro, entre eles
meu marido, acabaram por concordar que eu tinha razão.
Imagine eu conversando com todos aqueles diplomados por
cursos superiores!”
(4) Conhecer as próprias limitações. Tome como sua meta
a realização de suas capacidades essenciais. Não estabeleça
metas que não possa alcançar. Muitas pessoas escolhem
essas metas impossíveis e acabam nada fazendo, tornando-se
perdidas porque suas metas estão além do seu alcance. Curt
Goldstein, famoso neuropsiquiatra já falecido, afirmou que
somente através do reconhecimento de suas reais limitações
uma pessoa poderá se realizar. Escreveu o seguinte: “Uma
pessoa é saudável quando existe um estado de adequação
entre suas aspirações e suas capacidades.”
Para compreender suas limitações, um indivíduo deverá
perceber o seguinte:
Não poderá ser tudo ao mesmo tempo. A época do
Renascimento pertence ao passado. As pessoas deverão
estabelecer uma escala de prioridade e poderão ver-se
compelidas a abandonar completamente certas metas.
A limitação das metas deverá ser aceita em junção do
talento e da idade. Aos cinquenta anos, uma pessoa poderá
aprender piano para ter prazer com isso, mas, por maior que
seja sua aptidão, terá começando tarde demais para fazer
carreira de concertista. Se um indivíduo tiver falta de
coordenação motora, é evidente que não poderá ser um
campeão de tênis, mas será capaz de aprender a jogar tênis
como divertimento.
As pessoas mais idosas terão de ser mais transigentes e
aceitar um maior número de limitações. Todavia, poderão
ainda estabelecer suas metas. Uma viúva, que fora a esposa
dedicada de um advogado durante trinta e cinco anos, veio
ao meu consultório e se queixou do seguinte: “Sou um zero à
esquerda, aos sessenta anos.” Antes do casamento, porém,
concluíra um mestrado em psicologia e exercera uma série
de cargos no campo da assistência social. Levando em
consideração esses seus antecedentes, estabelecemos para
ela a seguinte meta; ser consultora em assuntos
matrimoniais. Aos sessenta e um anos de idade, essa viúva
iniciou um programa de treinamento, de dois anos.
Atualmente, está concluindo o primeiro ano de seu curso. A
disciplina acadêmica ajudou-a a controlar suas preocupações
de caráter obsessivo, e está “adorando frequentar
novamente uma escola”.
(5) Ã medida que uma pessoa se definir novamente,
através de suas ações e de seu estilo de vida, suas metas a
serem alcançadas a longo prazo poderão mudar. Nada existe
de imutável numa meta a longo prazo. Poderá ocorrer uma
mudança gradativa, sem que uma pessoa dela se aperceba.
Em outros casos, isso se torna uma decisão deliberada e
causadora de angústia. Haverá uma situação de perigo: (a)
quando um indivíduo não houver estabelecido uma meta a
longo prazo e, por esse motivo, não ter consciência do
movimento que se processa através de sua vida; e (b) quando
continua a viver de conformidade com uma meta a longo
prazo que não é mais desejada nem adequada.
CASO
Apesar de seu êxito na profissão de advogado, David
Nathanson, homem solteiro e de elevado padrão de vida,
“sentia- se insatisfeito com sua existência”, isso aos vinte e
nove anos de idade. Declarou-me o seguinte: “Eu sei e sinto
dentro de mim que devo escrever um grande romance.
Entrei para a advocacia apenas por insistência de meu pai.”
Elaboramos juntos duas etapas que, segundo
esperávamos, culminariam na meta de David, isto é, escrever
um romance. Para adquirir o treinamento, David matriculou-
se num curso- de técnica de escrever romances, na Nova
Escola de Pesquisas Sociais, de Nova York. Decidiu
igualmente dedicar duas noites, nos fins de semana e todos
os sábados e domingos, ao trabalho de escrever um livro. Ao
cabo de um ano e meio. David abandonou seu projeto sem
tristeza, concluindo que seria, na melhor das hipóteses, um
escriba vulgar, e que a vida de escritor era demasiado
solitária para ele. Investigando por si mesmo seu íntimo,
como complemento de nossas sessões, chegou a
compreender que apreciava certos aspectos da profissão- de
advogado: o contato com os clientes, as conferências com os
colegas, a troca de ideias nos julgamentos perante os
tribunais.
Por tudo isso David modificou suas metas. Conversou com
seus sócios a propósito de ser-lhe atribuído maior número de
atividades jurídicas do tipo que desejava exercer. Como esses
sócios não puderam (ou não quiseram) assim proceder,
mudando a situação de David, ele transferiu-se para outra
firma de advogados. Atualmente sente-se feliz porque
através de sua atitude afirmativa ficou conhecendo melhor a
si mesmo, passou a ter consciência de suas limitações e
começou a viver uma vida mais satisfatória.
Tarefas De Comportamento

Recentemente, dois homens, ambos com menos de trinta e


cinco anos, entraram num bar para solteiros na Terceira
Avenida, em Nova York. O bar estava apinhado. Depois de
pedir o que queriam beber, olharam em derredor, passando
mentalmente em revista as pessoas que se encontravam ali
em busca de suas “presas”. O mais audacioso dos dois
começou a conversar com uma bonita garçonete. Ela, por
sua vez, apresentou uma amiga ao companheiro dele.
Na realidade, aqueles dois homens tinham ido até o Clube
Wyler por indicação de seu terapeuta. Este, na última sessão
em grupo de que haviam participado, os instruíra da
seguinte maneira: “Vocês dois, que têm dificuldade em
conversar com moças e convidá-las para sair, terão esta
tarefa para a próxima semana: ir a um bar para solteiros e
conversar pelo menos com uma jovem. Se hesitarem em ir
sozinhos, poderão ir juntos.”
O sistema dos “companheiros” constitui apenas uma das
técnicas empregadas na atribuição de tarefas de
comportamento, um método do TA utilizado no tratamento
de pacientes que apresentam problemas específicos de
autoafirmação. Os terapeutas valem-se de diversos meios,
mas sempre visando a uma dupla finalidade: (1) permitir que
um paciente ponha em prática, em situações da vida real, o
que houver aprendido nas sessões de tratamento. Por vezes
um paciente terá de começar por modalidade de
comportamento muito simples. À medida que pratica esses
comportamentos desejáveis, diminuem seus temores. (2) As
tarefas, seja devolver um bife queimado num restaurante ou
recusar-se a pagar um pequeno acréscimo feito a uma conta,
servem de testes de seu tratamento. Se o paciente for capaz
de assim proceder, estará em condições de aprender a fazer
outras coisas que antes julgava impossíveis.
Seguem-se algumas das tarefas que verifique! serem úteis
a muitas pessoas. Algumas envolvem situações impessoais,
ao passo quê outras são de caráter mais pessoal. Poderão
parecer enfadonhas e destituídas de maior importância para
quem as desconhece. Todavia, tais situações, aparentemente
sem consequências, funcionam como as iniciadoras da
autoafirmação.
Por fim, o indivíduo poderá instituir suas, próprias tarefas.
Pra- ticando-as, elas reduzirão alguns de seus temores e,
concomitantemente, terá ele maior liberdade de movimentos
nas situações reais da vida, isso dependendo do grau de
autoafirmação que possuir ao iniciar essas tarefas.
Escolha na relação abaixo as tarefas que lhe permitam
progredir em direção às suas metas individuais. Lembre-se
de que dois princípios deverão ser sempre aplicados:
Prestar a maior atenção às coisas triviais. Os incidentes
que uma pessoa tende a não levar em consideração é que
são. importantes no TA. Você será capaz de pedir que lhe
troquem dinheiro, numa loja, sem comprar alguma coisa? É
capaz de dizer “não”, sem constrangimento, a um pedinte
que o abordar na rua?
Começar por aquilo que possa razoavelmente fazer agora,
e progredir com a execução de tarefas mais difíceis.

Situações Impessoais
(1) No decurso de- uma semana, entre em duas lojas e
peça que lhe troquem um dólar. Não compre coisa alguma.
Na segunda semana, peça que lhe troquem cinco dólares; e
na terceira, peça que lhe arranjem troco para dez dólares.
Entre somente em lojas em que seja desconhecido. Lembre-
se de que não é preciso conseguir o troco. Se o dono da loja
trocar seu dinheiro, agradeça-lhe por isso. Se ele não trocar
o dinheiro, diga, polidamente: “De qualquer, maneira,
obrigado.”
(2) Varie a técnica' de “solicitação”. Dirija-se a uma banca
de jornais onde não o conheçam, tire da carteira uma nota de
cinco dólares e peça um jornal de quinze centavos. Faça isso
duas vezes na primeira semana. Na segunda semana,
experimente pedir troco para dez dólares. Faça sua
solicitação de maneira natural. . Não peça desculpas por
isso. A questão é a seguinte: praticar esse exercício. Lembre-
se de que não está forçando o jornaleiro ou o dono da loja a
fazer o que quer que seja. Ele terá o direito de dizer “não” ao
seu pedido. Indaguei a muitos proprietários se ficam
aborrecidos pelo fato de pessoas entrarem em suas lojas e
pedir-lhes que troquem dinheiro. Em 90% dos casos, a
resposta desses donos de lojas foi a seguinte: “Se eles
entram na loja, talvez comprem alguma coisa.”
(3) Entre numa lanchonete onde não o conheçam. Não
fique parado as balconistas tiverem assoberbadas de
trabalho, e diga; “Pode me arranjar um copo de água?” Se
você for atendido, beba sua água e agradeça. Se não for,
diga; “Obrigado, de qualquer maneira” e saia da lanchonete.
(4) Entre em três lojas. Experimente, em cada uma delas,
uma roupa qualquer; um paletó, um casaco, um vestido, mas
não compre coisa alguma. Isso lhe dará a liberdade de dizer
“não”. Se encontrar algum artigo que realmente deseje
comprar, volte à loja mais tarde.
(5) Faça três pessoas pararem na rua e lhes pergunte que
caminho deverá tomar para ir a um lugar qualquer.
(6) Entre numa loja e peça um artigo que não esteja
exposto nas vitrinas.
(7) Compre algum artigo numa loja com a intenção
deliberada de devolvê-lo sem pedir desculpas ou dar
explicações. Diga simplesmente o seguinte à vendedora;
“Desejo devolver isto.” O propósito dessa tarefa consiste em
ser capaz de devolver coisas que tiver comprado, e não o de
praticar a maneira de pedir desculpas.
Ao executar essas tarefas, observe o seguinte:
Estabeleça um prazo limite para sua execução.
Informe seu marido (sua mulher, ou um amigo) a res peito
da tarefa, para que haja alguém a quem possa contar o que
fizer.
Se você não cumprir uma tarefa durante duas semanas
consecutivas, estabeleça a presunção de que essa tarefa iria
provocar-lhe excessiva angústia, e a substitua por outra.
Repita a mesma tarefa várias vezes. Isso lhe
proporcionará o sentimento de que está exercendo um
controle sobre si mesmo.
Na execução dessas tarefas de comportamento, as
pessoas quase sempre reagem da mesma maneira. Sentem-
se mais angustiadas antes de iniciar uma tarefa. No
momento em que a executam, experimentam certa tensão.
Se não obtiverem o tal troco, ou o copo de água, geralmente
sentem que lhes aconteceu a pior coisa deste mundo. Mas
dirão, de si para si: “Eu sou capaz de fazer isso outra vez.”
Quando completam alguma tarefa com êxito, sentem-se bem
consigo mesmas e acham que começaram a trilhar a estrada
da autoafirmação.

Integração Social
(1) Pratique a expressão de seus sentimentos. Busque
encontrar oportunidades de elogiar uma garçonete, um
balconista, um colega de trabalho. Conte o número de vezes
que assim proceder durante uma semana, e duplique o
número de comportamentos desse tipo na semana seguinte.
(2) Procure, igualmente, oportunidade de expressar seu
desagrado ou aborrecimento a uma garçonete, um balconista
ou um colega de trabalho. Quando houver um motivo para
isso, você poderá dizer a uma garçonete: “Esta sopa está
fria. Você se importa de me trazer outra mais quente, por
favor?” Ou então: “Eu pedi um rosbife bem passado, e este
está cru. Faça o favor de me trazer o que eu pedi.” Ao
balconista da loja, poderá ser dito o seguinte: “Perdão, agora
é minha vez.” Ou então: “Você sabe que não está sendo
delicado comigo.” Quanto a um colega de trabalho, suas
palavras poderão ser, por exemplo: “Você se importa de
desligar seu rádio? Está atrapalhando meu trabalho.”
Em matéria de exercícios de autoafirmação que visem a
formas de expressão de cólera, de caráter mais radical,
telefone para o Departamento de Limpeza Pública ou para
alguma outra repartição do serviço público de sua cidade.
Fale com o funcionário mais graduado que puder encontrar
e, de maneira adequada, dê expressão aos seus sentimentos
de irritação ante o fato de não haver sido feita a coleta do
lixo de sua casa há uma semana. Ou então, queixe-se de
qualquer outra coisa que o tenha aborrecido. Isso produz os
melhores efeitos imediatamente antes do dia marcado para a
realização de eleições.
(3) Se você mora num edifício de apartamentos, dê “Bom
dia” e “Boa noite” aos outros moradores.
(4) Dê “Bom dia” às pessoas em seu local de trabalho. Não
espere que retribuam sua saudação. Qualquer resposta que
lhe derem será uma espécie de bônus.
(5) Faça um comentário qualquer à pessoa que estiver ao
seu lado numa lanchonete, numa parada de ônibus, ou na fila
de um cinema, como, por exemplo: “Hoje está fazendo um
dia bonito, não é mesmo?”... “Dizem que este filme é bom.”...
“Será que o ônibus vai' chegar?”... Não espere receber
qualquer resposta. Essa tarefa serve para torná-lo mais
descontraído no plano social.
(6) Conte ao seu marido (ou à sua esposa), ou a algum
amigo íntimo, qualquer' coisa de pessoal sobre você mesmo e
que nunca tenha contado a ninguém.
(7) Estabeleça a norma de realizar uma tarefa por se-,
mana, que gostaria de cumprir, mas tem adiado. Poderá ser:
escrever para uma tia, dar um jantar em sua casa, ou,
simplesmente, telefonar para um companheiro de quarto, na
faculdade, para saber como ele vai passando. Escolha uma
tarefa que envolva outra pessoa.
Nos capítulos subsequentes, apresentarei outras tarefas
de comportamento. Aquelas que já foram descritas lhe
permitirão, porém, iniciar seu plano individual de
treinamento. Leia novamente o Inventário de Autoafirmação,
no Capítulo II, e torne a praticar as situações específicas em
que verificou ter deficiência de autoafirmação. Procure,
então, encontrar oportunidades de lidar com seus problemas
de autoafirmação.
Certas pessoas me perguntam o seguinte; “Essas tarefas
não serão contrárias à ética, não se constituirão de práticas
que manipulam outras pessoas?” É óbvio que não existe nada
de errado em cumprimentar um vizinho ou conversar com
um estranho, numa fila. No caso de alguns exercícios,
entretanto, o indivíduo terá de fazer solicitações como, por
exemplo, pedir que lhe troquem dinheiro. Mas lembre-se de
que assim como a outra pessoa tem pleno direito de dizer
“não”, qualquer uma terá também o direito de fazer um
pedido. É interessante observar que a tarefa de pedir um
copo de água é a que desperta mais comentários. Trata-se de
comentários bastante expressivos, ou seja, o fato de alguém
questionar que seja apropriado pedir um copo de água ou
sentir-se a contragosto quanto a isso.
Creio que a tarefa mais suscetível de ser posta em dúvida
é aquela em que a pessoa entra numa loja sem a menor
intenção de comprar o que quer que seja, ou com o propósito
de devolver uni artigo que adquirir. Embora ninguém tenha o
direito de assim proceder, permanece passível de dúvida o
fato de ser ou não ético agir dessa maneira. Seria fácil
racionalizar que na execução dessas tarefas as pessoas
muitas vezes descobrirão artigos que poderão devolver e,
posteriormente, comprar. Todavia, isso vale simplesmente
como racionalização. Eu próprio não estou seguro a respeito
do aspecto ético dessa situação. Por conseguinte, insisto com
meus pacientes e leitores para que façam seu julgamento a
respeito do assunto, analisem suas necessidades e baseiem
suas ações no que eles, e não eu, concluírem ser um direito
seu.

Conversação De Conteúdo Afetivo

Certas pessoas falam a respeito do que pensam, e não


sobre o que sentem. Outras são incapazes de dizer o que
sentem, no momento em que o sentem. Algumas pessoas,
tristes criaturas, não conseguem exprimir qualquer emoção.
Outras, ainda, não têm certeza a respeito do que de fato
sentem.
A incapacidade de exprimir sentimentos na ocasião em
que eles ocorrem acarreta consequências de caráter
devastador.
Quem sofre dessa incapacidade perde, em seu íntimo, o
contato com os próprios sentimentos e se torna, assim, a eles
insensível. Havendo perdido o controle sobre um relevante
aspecto de suas relações interpessoais, um indivíduo desse
tipo torna-se cada vez mais ressentido e angustiado. Sua
autoestima se reduz, e aumenta sua insatisfação consigo
mesmo e com as outras pessoas.
Quando se defronta com essas pessoas, o indivíduo limita
o grau de intimidade que poderia alcançar. Coloca nos
ombros dos amigos um terrível fardo, e o mesmo acontece
em relação à sua família. Todos terão necessidade de
“adivinhar” seus pensamentos e descobrir o que esse
indivíduo estará sentindo. Não tendo jamais revelado seu
verdadeiro eu, nunca há de sentir-se realmente à vontade
diante de outras pessoas.
Conforme observou E. E. Cummings:
Como o sentimento é primordial, quem prestar
atenção à sintaxe das coisas jamais beijará de
verdade.
O Treinamento da Autoafirmação na experiência e
expressão espontânea dos sentimentos. O TA considera os
sentimentos não como simples emoções isoladas, mas como
parte integrante de um indivíduo, que deverá somar-se a
todas as outras partes do seu eu. Ensinando comportamentos
específicos, o TA se propõe a fundir pensamentos, ações e
sentimentos, para que constituam uma só unidade, como os
sentidos do paladar e do olfato formam um todo.
A ênfase atribuída aos sentimentos não constitui
característica exclusiva do TA. A maior parte das várias
modalidades de psicoterapia acentua exatamente esse
aspecto e se propõe a aumentar a sensibilidade do paciente
às suas próprias emoções. A franca expressão dos
sentimentos igualmente não se limita ao campo do TA.
Certas formas de psicoterapia, com vistas à liberação da
cólera ou de sofrimentos inconscientes, centram suas
atividades em torno da expressão desinibida e livre das
emoções.
Ao contrário de muitas formas de terapia, o TA assume,
porém, a seguinte posição:
A experiência das emoções não basta por si mesma; o
indivíduo deve ser capaz de comunicar a outras pessoas
aquilo que sentir, no momento exato em que isso ocorrer e,
ainda, fazê-lo de maneira direta, franca e apropriada. Assim
procedendo, torna-se mais cheio de ânimo, mais sensível e
mais consciente de suas próprias emoções, como também
mais aberto em relação aos sentimentos alheios.
A expressão e comunicação dos sentimentos não se reduz
à simples escolha de palavras: apela para toda, a
personalidade e envolve o tom e a modulação da voz, os
gestos, o jogo fisionômico, a postura corporal. O TA dá a esse
tipo de comportamento o nome de “conversação de conteúdo
afetivo” (feeling talk), expressão criada por Andrew Salter e
que constitui a essência desse comportamento, objeto dos
ensinamentos do TA. À medida que uma pessoa apreende o
conceito de que deve sentir e experimentar suas emoções, ao
adquirir o domínio dos comportamentos que isso exige,
torna-se mais capaz de expressar espontaneamente o que
sente, em todas as situações da vida real.
A Abordagem Das Emoções Segundo A
Teoria Do Comportamento
Certos indivíduos possuem apenas uma ligeira deficiência
em matéria de expressão de seus sentimentos. Têm emoções
no plano subjetivo e as exteriorizam, mas não o fazem de
maneira suficiente. Em consequência disso, essas emoções
desempenham, em suas vidas, um papel parcial e não de
caráter pleno.
No caso de pessoas desse tipo, o TA modifica-lhes o
comportamento, acentuando aquilo que nelas já existe. Os
terapeutas muitas vezes conseguem bons resultados
simplesmente mediante instruções ministradas aos
pacientes, como, por exemplo; “Acrescente um pouco mais
de emoção à sua voz”... “Tenha mais vivacidade ao falar”...
“Gesticule um pouco mais”... “Diga as coisas de maneira
mais direta”... “Deixe que sua fisionomia revele o que está
sentindo.” Seguindo essas singelas diretivas, as pessoas a
princípio sentem-se irreais e pouco naturais. À medida,
porém, que forem descobrindo seus próprios e
característicos estilos de expressão, e que essa nova maneira
de comunicação se tornar mais habitual, muitas vezes dirão
que possuem emoções subjetivas mais ricas, maior
espontaneidade na expressão de seus sentimentos, bem
como irão ocorrer muitas mudanças em suas atitudes para
consigo mesmas e em matéria de interação com outras
pessoas.
CASO
Jay Wilkins, um jovem executivo, veio procurar-me porque
tinha medo de falar em público. Investigando seu caso, ficou
demonstrado que ele apresentava uma dificuldade muito
mais profunda: carecia da capacidade emocional em seu
relacionamento íntimo com as pessoas. Uma observação
superficial indicava que parecia dar-se bem com seus colegas
de trabalho, mas seu relacionamento com eles raramente
resultava na formação de amizades íntimas. Vivia com uma
jovem havia dois anos, mas quando lhe perguntei o que
verdadeiramente sentia por ela, respondeu-me o seguinte:
“Não tenho certeza se realmente gosto dessa moça.”
Jay não se deixava prender de maneira satisfatória aos
próprios sentimentos. Dava expressão às suas emoções, mas
não o fazia de maneira suficientemente intensa. Através de
minhas instruções, da prática de modelos de comportamento
e do emprego da técnica do psicodrama, durante nossas
sessões, consegui que Jay aumentasse a intensidade e a
vivacidade da expressão de suas emoções. Em vez de limitar-
se a dizer à sua secretária: “Bom trabalho”, passou a fazer-
lhe o seguinte comentário: “Você realmente fez um bom
trabalho. Eu estou muito grato a você.” De repente, uma
nova situação de maior cordialidade passou a existir entre
ambos. Ao discutir algum projeto com seu chefe, Jay
começou deliberadamente a acentuar seu entusiasmo com o
emprego de gestos e expressões fisionômicas. A reação do
chefe foi a seguinte; “Você está entusiasmado com isso, o
que muito me agrada.” Essa deliberada ênfase de suas
emoções junto à secretária e ao chefe fez com que Jay
enxergasse com muito mais clareza seus sentimentos em
relação à namorada. Percebeu que a estava “explorando” e
não se sentia bem com isso.
Jay manteve com essa moça sua primeira conversação
franca, e admitiu o seguinte: “Escute uma coisa. Eu agora
estou começando de fato a ter vida. Eu estou vendo que não
existe grande afinidade entre nós dois. Eu quero bem a você,
mas isso não chega a ser amor. Eu estou me aproveitando de
você.” A jovem lhe respondeu: “Eu te amo, mas sinto que
alguma coisa está faltando. Fico satisfeita por você ter
tornado isso bem claro.” Os dois se separaram. Passados três
meses depois de haver concluído seu tratamento, Jay se
apaixonou pela primeira vez na vida.
Infelizmente, no caso de muitas pessoas uma abordagem
desse tipo é muito difícil e avançada demais. Inseguras
quanto às próprias emoções, não compreendem o que
significa basicamente um sentimento e sua expressão. No
TA, essas pessoas deficientes, no plano afetivos são
abordadas através da ênfase atribuída ao conteúdo de suas
comunicações. Concentrando-se nesse conteúdo, tais
pessoas experimentam o seguinte:
Tornam-se mais conscientes de que estão procurando expressar suas
emoções;
consideram as emoções que estejam procurando exprimir e, desse
modo, aprendem a ser mais sensíveis nessa área;
permitem que, em certa medida; a outra pessoa cm causa saiba que
tipo de emoção estejam procurando exprimir;
à medida que um indivíduo se torna mais capaz de exprimir
diretamente aquilo que sente, muitas vezes irá espontaneamente
desenvolver outros aspectos na conversação de conteúdo afetivo
(voz, postura, expressão fisionômica e corporal).

Numa primeira etapa desse processo educativo, tenho


frequentemente verificado ser necessário ensinar o que a
conversação de conteúdo afetivo não é. Muitas pessoas
julgam exprimir suas emoções quando, na realidade, não o
fazem. Poderão também ter uma noção errônea do que na
realidade seja dar expressão a um sentimento.
Essas pessoas se concentram em dizer o que pensam. Em
muitas ocasiões, é importante que um indivíduo diga o que
pensa, mas isso não deverá ser confundido com uma pessoa
dizer espontaneamente o que sente. O ato de pensar muitas
vezes interfere com a expressão das emoções. Desde que a
pessoa empregue as palavras “Eu penso”, não estará
sentindo.
Tais pessoas falam principalmente a respeito de fatos.
Afirmações de natureza fatual nada revelam a respeito de
quem as faz — o que essa pessoa pensa ou sente. Ainda que
o fato em questão lhe diga respeito, ela estará falando sobre
si mesma como se fosse uma coisa, e não um ser humano.
As pessoas desse tipo dizem o que pensam deveriam
sentir, ou aquilo que a outras pessoas esperam que elas
sintam. Nesse caso, ocultam sua identidade cora tal
procedimento. Tornam- se um espelho do mundo que as
cerca, ou do que julgam ser esse mundo.
Essas pessoas acreditam exprimir seus sentimentos mais
íntimos quando têm explosões de cólera ou de hostilidade.
Essa perda de controle geralmente é consequência da falta
de uma verdadeira expressão das emoções. Certos
indivíduos, porém, pensam erroneamente que a conversação
de conteúdo emocional deve chegar a extremos. E como
ninguém realmente deseja agir dessa maneira, essa falsa
concepção os leva a retrair- se, assustados, evitando
qualquer expressão de suas emoções.
Tais pessoas substituem seus sentimentos por
racionalizações. Não sabendo como exprimir-se, dizem a si
mesmas: “Eu vou magoá-lo”, “Ele não vai gostar de mim se
eu lhe disser o que sinto”, e ainda, simplesmente, “Isso não
tem importância.” Não se trata de emoções, mas de
desculpas. É preciso reconhecer essa situação como tal.
A verdadeira conversação de conteúdo afetivo é
comunicação contínua e apropriada do ser emocional de uma
pessoa, em permanente mudança. Quando alguém se vale do
conteúdo de sua comunicação para melhorar a conversação
de cunho afetivo, o que esse indivíduo disser deverá possuir
as seguintes características:
Ser específico, dirigido a uma pessoa específica ou a um
objeto ou ato específico: “Eu gosto do seu pregador de
cabelo.”... “Eu quero ir ver o filme do Rivoli.”... “Eu tenho
desprezo pelo Deputado Fulano e tudo que ele representa.”
“Eu admirei o jeito com que você falou francamente com a
Sra. Jones.”
Suas palavras acentuam o deliberado emprego do “Eu”,
seguido de um verbo que denota emoção: “Eu gosto disso”...
“Eu estou sentindo um grande mal-estar pelo que fiz a você
sem a menor intenção”... “Eu gostaria muito de ter um
encontro com aquele rapaz que eu nem conheço. Ele parece
tão legal”... “Eu quero fazer isto”... “Querida, eu te amo.”
Ser simples. Muitas pessoas começam a qualificar suas
afirmações, acrescentando-lhes adjetivos e dando tantas
explicações inúteis, que seus interlocutores acabam sem
saber o que elas sentem. E nem elas próprias o sabem. A
seguinte frase, por exemplo: “Eu gostei da maneira que você
falou na reunião”, é um elogio claro e conciso. Muitas
pessoas não sabem ser assim tão claras. Dizem algo de
parecido com isto: “Quando você falou na reunião, eu reparei
que muita gente estava prestando a maior atenção às suas
palavras. Algumas pessoas pareciam estar concordando com
você. Mas Joe Blow estava com uma cara engraçada! Mas,
levando tudo em consideração, eu acho que você disse o que
tinha de dizer.” Ante uma afirmação dessa natureza, nem a
pessoa que fala nem a que a ouve sabe se a primeira gostou
da maneira com que esta última falou durante a reunião.
Ser sincero. Quando alguém exprime suas emoções de
maneira insincera, continua praticando a arte de ocultá-las,
fazendo com que sua máscara emocional se torne mais
poderosa, agindo como J. Alfred Prufroek, personagem de T.
S. Eliot, quando sentiu a necessidade de “preparar a máscara
da face para ir ao encontro de outras faces”.
Ser apropriado. Muitas pessoas que apresentam
dificuldades em exprimir suas emoções, julgam que isso é a
mesma coisa do que a perda do próprio controle. Só
conseguem conceber a expressão mais extremada de seus
sentimentos. Nós nos preocupamos, no TA, com a expressão
adequada das emoções, querendo com isso significar não
apenas os sentimentos que um indivíduo exprime, mas
também o modo em que deseja assim proceder. Eis um
critério simples: se você vir alguém exprimindo uma emoção
em situação análoga è sua e da maneira em que você tiver
planejado exprimir sua emoção, ou de fato o fez, que acharia
nisso que lhe parecesse peculiar ou estranho?
A conversação de conteúdo afetivo poderá ser utilizada
para exprimir quase todas as emoções: desprazer, prazer,
amor, ódio, aprovação, desaprovação, crítica, recriminação,
respeito. Na esfera do TA, a meta consiste, sem dúvida, no
emprego de exercícios de conversação de conteúdo afetivo
até que eles se tomem parte integrante e natural da pessoa.
Certos indivíduos julgam que essa prescrição possui um
caráter muito generalizado. No caso de pacientes desse tipo,
posso oferecer-lhes um exercício especial.

Exercício De Laboratório: Conversação De


Conteúdo Afetivo
Finalidade: acentuar deliberadamente a expressão dos
sentimentos através do uso de frases de conteúdo emocional.
Primeira Etapa: Planejar o emprego dos três pares de
frases que vêm a seguir, com a maior frequência possível:
“Eu gostei do que você disse”... “Eu não gostei do que você disse.”

“Eu gostei do que você fez”... “Eu não gostei do que você fez.”

“Eu quero que você”... “Eu não quero que você...”

O verbo dá ênfase a uma emoção, assegurando a


comunicação direta de uma pessoa com outra. Empregando
a palavra “eu” a pessoa se comunica. Esta afirmação, por
exemplo: “Eu gostei da maneira que você datilografou aquela
carta” é muito mais pessoal do que o seguinte elogio:
“Aquela carta foi bem datilografada.” Limitando o número de
frases a três pares, torna-se mais fácil cumprir a tarefa,
sendo mais provável sua execução.
Segunda Etapa: Fazer um quadro no caderno de
apontamentos do TA, reservando espaço para cada dia da
semana. No fim de cada dia, contar o número de vezes em
que houver sido empregada alguma das seis frases de
conteúdo afetivo (ou assinalar isso numa ficha, no decorrer
do dia). Terminada a semana, verificar o total dessas frases.
Fazer esse exercício durante três semanas consecutivas. O
quadro deverá apresentar o seguinte aspecto:
Emprego das Seis Frases de Conteúdo Afetivo

Dia Primeira Segunda Terceira


Semana Semana Semana

Seg      

Ter      

Qua      

Qui      
sex      

sab      

Dom      

Total      

Terceira Etapa: Controle e uso das seis frases durante a


primeira -semana. Em seguida, aumente deliberadamente o
número de vezes que você as diz durante a segunda semana.
Estabeleça uma meta que julga ser possível atingir. Caso
você empregue as frases apenas uma ou duas vezes durante
a primeira semana, uma meta secundária para usá-las uma
vez ao dia geralmente resulta positiva. Caso as tenha usado
duas ou três vezes ao dia poderá, provavelmente, dobrá-las.
Continue tentando aumentar o número de vezes a cada dia
até conseguir alcançar a sua meta. Mantenha esta
frequência durante a semana seguinte. Depois estabeleça
uma nova meta.
Talvez estas frases possam lhe parecer difíceis demais.
Neste caso, substitua-as por outras duas. Muitos pacientes
parecem julgar “Concordo...” “Não estou de acordo...” um
tanto ou quanto mais fácil. Tão logo possa dizer a sua frase
com facilidade, volte a experimentar as minhas.
Quarta Etapa: Após a segunda semana desse exercício, a
pessoa deverá analisar seu emprego das frases de conteúdo
afetivo, estudando aquelas em que houver encontrado
dificuldade e em que circunstâncias isso ocorreu.
Um indivíduo poderá achar difícil dizer “Eu quero”... É
possível que veja nessas frases uma exigência, uma pressão
exercida contra as pessoas, o que irá fazê-las ficar
ressentidas. Há, porém, uma diferença entre exigir e
solicitar. Se alguém disser a outra pessoa “Eu quero” e esta
disser “não”, e esse indivíduo ficar desapontado, mas não se
sentir irritado ou deprimido, tudo não terá sido mais do que
uma simples solicitação. Esse indivíduo terá reconhecido que
a outra pessoa era livre de recusar seu pedido. Todavia, se
alguém pronunciar a frase “Eu quero”, receber um “não” da
outra pessoa e ficar irritado ou deprimido por causa disso,
terá feito uma exigência a essa pessoa e não lhe terá
reconhecido a liberdade de recusar essa exigência. À medida
que um indivíduo for adquirindo consciência dessa diferença
entre exigir e solicitar, o for percebendo que as outras
pessoas têm direito de afirmar •seus próprios sentimentos e
necessidades, achará maior facilidade em empregar frases
do tipo “Eu quero.”
Algumas pessoas não julgam difícil dizer “Não gosto...”
Contudo, não conseguem dizer “Gosto...”
CASO
Chris Perkins, contador, homem de trinta e três anos de
idade, não tinha a menor dificuldade em dizer à mulher o
que não gostava em relação a ela. Todavia, quando
pronunciava uma simples frase, como, por exemplo, “Eu
gosto de seu vestido novo”, a angústia de Chris aumentava
uns 30%. Havia de certo modo adquirido a noção peculiar de
que “a parcela irritada” dele mesmo era sua “parcela real”, e
que estaria sendo hipócrita quando desse expressão a
qualquer sentimento de ternura.
Chris nunca aprendera a exprimir emoções ligadas à
ternura. Quando começou a praticar os exercícios de
conversação de conteúdo afetivo, esses sentimentos de
ternura não tardaram em tornar-se parte integrante dele
próprio. Chris também se julgara um “homem irritado”.
Agora percebe que é igualmente capaz de ser afetuoso, e
isso influenciou toda a sua organização psicológica. De
repente descobriu que gostava de dizer “Eu gosto...”
Depois que uma pessoa começa a exprimir suas emoções
com certa consistência, deverá passar a outros aspectos da
conversação de conteúdo afetivo.
Deverá transmitir suas mensagens no campo emocional
por meio de sua expressão fisionômica e corporal. Muitos
indivíduos possuem fisionomias inexpressivas e mantêm seus
cor- por imóveis. Ou então, exteriorizam formas impróprias
de expressão. Por exemplo: um homem que sussurra “Eu te
amo, querida”, mas conserva o próprio corpo rígido, não
comunica ao máximo sua emoção.
Cumpre observar o seguinte:
O tom da voz. Um tom de voz firme, confiante, na altura adequada,
caracteriza o comportamento afirmativo.
O fato de encarar o interlocutor. É preciso encarar a pessoa com
quem se estiver falando.
A expressão corporal. É acertado imitar os franceses, que
gesticulam muito quando falam.
Expressão fisionômica. A expressão fisionômica deve ser adequada
ao que a pessoa estiver sentindo e dizendo. Não se deve sorrir
quando se estiver criticando alguém ou demonstrando irritação a
essa pessoa. Do mesmo modo, não se deve assumir um aspecto
hostil ou carrancudo quando se estiver elogiando alguém ou lhe
demonstrando afeto. Os sentimentos íntimos devem ser expressos
sem máscaras.

Assim como acontece no caso de tarefas de


comportamento, ensaios de comportamento e outros
exercícios apresentados neste livro, certas pessoas poderão
considerar artificial a prática da conversação de conteúdo
afetivo. Ela de fato não é natural. Por esse motivo é que se
rotula de exercícios.
Mas de que modo, porém, poderão os exercícios de
conversação de conteúdo afetivo conduzir à expressão mais
espontânea e livre das emoções?
A expressão das emoções estimula e revigora os
processos, de excitação do cérebro e, desse modo, a
personalidade do indivíduo torna-se mais excitadora.
A expressão das emoções por si mesma inibe os centros
do cérebro geradores de angústia e, assim, o indivíduo sente-
se menos angustiado. E quanto menos angústia sentir, mais
será capaz de experimentar e exprimir suas emoções.
Através da prática da conversação de conteúdo afetivo,
uma nova habilidade será aprendida: a de dar expressão às
emoções. Quando uma pessoa adquire competência nisso,
não terá mais necessidade do tal quadro que lhe induzirá a
dizer: “Eu gosto...“... “Eu não gosto...”. Terá criado seu
próprio estilo.
Isso poderá afetar as vidas de seus filhos. O emprego da
prática da conversação de conteúdo afetivo servirá de
modelo para eles, de sorte que poderão crescer e se tornar
pessoas adultas capazes de se afirmar, sabendo exprimir
livremente suas emoções. Graças ao modelo proporcionado
pelos pais, seus filhos estarão melhor habilitados a
compartilhar com eles seus sentimentos mútuos. Isso poderá
afetar o estilo de vida de uma pessoa.
CASO
Milt Weiner, casado, com trinta e três anos de idade,
vendedor de modas, jamais havendo se sentido muito
chegado a qualquer pessoa, tinha necessidade de manter
três amantes ao mesmo tempo. Quando começou a praticar
os exercícios de conversação de conteúdo afetivo, e o fez
com muita aplicação (empregando aquelas frases com todas
as freguesas)' começou a perceber como havia tornado sua
própria vida hipócrita. A solução que encontrou foi a
seguinte: abandonou as amantes e deixou a atividade de
vendedor de modas porque isso estimulava sua “tendência à
hipocrisia”. Com a ajuda da esposa, ingressou numa escola
de pós-graduação e tornou-se psicólogo.
Isso poderá afetar o relacionamento de uma pessoa
consigo mesma e alguém que lhe for muito íntimo. Quando
Chris Perkins (caso relatado na página 79) deixou de se
considerar “lima pessoa irritada”, seu autoconceito mudou
completamente. Emergindo o aspecto afetuoso de sua
personalidade, isso aumentou de maneira acentuada sua
intimidade com a esposa, e atingiu o auge certa noite,
quando estavam tendo relações sexuais. Pela primeira vez
em seus três anos de casado, ou em toda sua vida, Chris
empregou a maior de todas as frases da conversação de
conteúdo afetivo: “Querida, eu te amo.”

Como Dizer “Não”

Judy teme ser rejeitada pelos homens. Quando um homem


— quase sem exceção — lhe sugere irem para. a cama, ela
imediatamente concorda com isso.
Em seu trabalho. Tom aceita passivamente executar todas
as tarefas que os colegas rejeitam. Quando o chefe lhe diz,
por exemplo: “Tom, você poderá cuidar disso?” ele o faz,
embora o serviço pouco tenha a ver com os encargos de sua
área profissional.
Anne está ressentida com o marido. Embora muitas vezes
não concorde com o que ele queira, acha que ser uma esposa
significa fazer tudo quanto o marido quiser.
Judy, Tom e Anne são de idades, sexos, aparência, situação
econômica e interesses diferentes, mas possuem um traço
em comum: nunca aprenderam a dizer “não”.
Em nossa sociedade, toda gente vive a fazer solicitações e
exigências às outras pessoas. Um indivíduo deve saber
impor-se através do simples processo de dizer “não”. Se uma
pessoa não for capaz de articular essa singela palavra de três
letras, quando quiser assim fazer, começará a perder o
controle de sua própria vida.
Isso não significa dizer “não” a tudo. A pessoa dirá “sim”,
quando quiser dar uma resposta afirmativa. Se lhe possa ser
inconveniente fazer um favor a um amigo, ou participar de
algum acontecimento de sua comunidade, não haverá nada
demais em dizer “sim”, desde que considere o assunto
suficientemente importante para que sofra um desconforto
por cau.sa do amigo, ou de determinada atividade. Dizer
“sim” será errado quando a pessoa quiser dizer “não”, sendo
do seu mais vivo interesse assim proceder. Mas, em vez
disso, acaba dizendo um débil: “Está bem. Eu farei.”
A incapacidade de dizer “não” acarreta várias
consequências.
Leva à prática de atos que fazem com que a pessoa perca
o respeito por si mesma. Em minha experiência clínica,
cheguei à conclusão de que uma não desejada promiscuidade
sexual praticada por jovens solteiras decorre de sua
incapacidade de dizer “não”. Racionalizam seu
comportamento, afirmando o seguinte: “Ele não vai me pedir
isso outra vez se eu lhe disser “não”.’’ Ou então, pensam
assim: “Isso é que tenho de fazer para ser popular.” Indo
para a cama com um homem quando não querem assim
proceder, ficam com ódio de si mesmas.
CASO
Por indicação de um colega a quem também envio
pacientes, eu estava tratando de Alice, jovem assistente de
um produtor de televisão, de vinte e sete anos, e de Fred,
redator de uma agência de publicidade, de trinta anos. Alice
viera consultar-me por causa de seus problemas de mau
humor, depressão, falta de autoestima e comportamento
sexual promíscuo, coisa que não desejava fazer. Fred sentia-
se angustiado na presença das mulheres. Além do medo de
ser impotente, julgava que todas as jovens com quem saísse
esperavam que ele as levasse para a cama logo na primeira
noite. Ele receava sugerir isso, mas achava que se não o
fizesse “elas o desprezariam.”
Durante seu' tratamento, Alice e Fred se conheceram na
casa de um amigo meu, pessoa que os tinha encaminhado a
mim. Saíram juntos. Em nossas subsequentes sessões, cada
qual descreveu esse primeiro encontro com palavras muito
diferentes.
Alice disse o seguinte: “O Sr. compreende. Eles são todos
iguais. No fim da noite, ele esperava que eu o convidasse
para um drinque. Antes que eu tomasse conhecimento do
que estava acontecendo, ele começou a insistir para que eu
fosse para a cama. Não ligou a menor importância a mim. Só
estava interessado em seu próprio prazer. Eu concordei com
ele e, desde esse dia, tenho estado numa das minhas crises
de melancolia.”
Fred narrou o seguinte: “Elas são todas iguais. Saí com
ela. Passamos uma noite agradável. Ela esperava que eu
fosse ao seu apartamento' e lhe ‘mandasse”' brasa’. Eu
realmente não queria fazer isso, e me senti tenso, sem saber
se ia ou não fazer o que ela queria. Mas aquela mulher me
obrigou a fazer o que eu não queria fazer. E se eu não fosse
para a cama com ela, tenho certeza de que iria espalhar que
eu era homossexual. Eu forcei minha natureza. E fiz a coisa.
Mas não tive o menor prazer. E agora me sinto ainda mais
relutante em convidar uma garota para sair comigo.”
Com a permissão de ambos, reuni Alice e Fred para
discutirmos o problema, e lhes mostrei como tudo teria sido
diferente se cada qual tivesse sido capaz de dizer “não”.
Tempos depois os dois saíram juntos várias vezes, praticando
dizer “não” a respeito de toda espécie de coisas, entre elas a
questão de irem para a cama. Acabaram se afastando um do
outro, ambos dotados de maior capacidade de dizer “não”
quando queriam assim proceder.
Afasta uma pessoa daquilo que realmente quer fazer. O
indivíduo se torna tão sobrecarregado a fazer o que não
deseja, a ponto de não lhe sobrar tempo nem energia para
fazer o que for mais importante.
Permitir que outras pessoas o explorem sem parar leva o
indivíduo a ficar cheio de ressentimentos. Às vezes, ao cabo
de anos da prática dessa rotina de dizer “sim”, ele perderá a
calma, explodindo de maneira inapropriada. Se uma pessoa
passa a vida inteira sendo um pau mandado, com grande
inconveniência para si mesma e servindo de joguete para a
família, poderá acontecer que alguém lhe faça um pedido
trivial, e então explodirá. Isso não será uma consequência do
incidente mais próximo, mas o resultado de centenas de
acontecimentos. O indivíduo que sempre diz “sim” não
percebo que esse comportamento seu muitas vezes gera falta
de respeito de parte das outras pessoas.
Durante cerca de trinta anos, minha esposa, por mais
descabido que fosse qualquer pedido de sua amiga Cathy,
sempre lhe dizia o seguinte: “Sim, eu faço”. Aquilo era uma
coisa que lhe ficara de seu seus tempos de aluna da escola
primária. Um belo dia, durante um almoço só para mulheres,
Jean fez seu primeiro pedido a Cathy, em toda a sua vida. A
resposta de Cathy foi a seguinte: “Eu sinto muito, mas ando
muito ocupada.” Naquele restaurante cheio de gente, Jean
perdeu a calma e começou a lembrar à amiga o que havia
feito por ela durante anos. Cathy olhou para Jean cheia de
admiração e lhe disse: “Você mudou tanto! Que alívio para
mim ver você assim desse jeito, em vez de ser aquela mártir,
sempre se sacrificando!” Através de todos aqueles anos, Jean
'havia imaginado que Cathy a considerava a mais querida
das amigas, ao passo que Cathy de fato sempre tivera
desprezo por ela.
Gera falta de comunicação entre um indivíduo e as outras
pessoas. Conforme observei na parte deste livro referente à
conversação de conteúdo afetivo, as pessoas não poderão
entender-se se não houver entre elas uma comunicação
franca. Quando alguém diz “sim” quando quiser dizer “não”,
isso não constitui um predicado que significa suavidade ou
esclarecimento: é insinceridade. Tratei de certa paciente que
havia sido criada de tal maneira que pensava ser um dever
da esposa ceder sempre aos desejos do marido. Ela queixou-
se a mim que seu marido, Alex, todas as tardes de domingo
lhe perguntava o seguinte: “Você não gostaria de ir a um
cinema?” Ela não sabia dizer “não” e (por causa disso, lá iam
os dois ao cinema do bairro. Incentivada por mim, um belo
dia ela falou com franqueza: “Não, eu não gosto de ir ao
cinema nas tardes de domingo.” Com grande surpresa para
minha paciente, Alex olhou para ela com uma expressão de
alívio e lhe disse: “Mas por que não me falou isso antes? Por
que você não me disse que detestava ir ao cinema aos
domingos? Eu pensei que você gostasse disso.”
A técnica de dizer não “é tão sensata que toda gente,
quando pensa nela, logo declara: Sim. Sem dúvida.” No
entanto, os terapeutas não prestaram atenção nisso como
sendo um importante comportamento científico até serem
realizados os trabalhos de uma brilhante equipe de
pesquisadores da Universidade de Wisconsin, que fizeram
luz a respeito do problema. Esse grupo, liderado por Richard
M. McFall, definiu a capacidade de dizer “não” e
experimentou vários métodos de treinamento no propósito
de determinar qual deles sena o mais eficiente.
Qualquer pessoa é capaz de aprender a dizer “não”. Para
iniciar um programa individual de treinamento, basta fazer
os exercícios que vêm a seguir, baseados nos que foram
propostos pela equipe de Wisconsin.

Exercício De Laboratório: Como Dizer “Não”


Finalidade: Tornar mais fácil para um indivíduo dizer
“não” quando assim quiser, e contribuir para a criação de um
estilo próprio de dar respostas negativas.
Primeira Etapa: Tomar cada situação constante da lista
abaixo e pensar numa resposta para a mesma. Ou, o que é
preferível, escrever essa resposta a fim de não iludir a si
próprio. Presumir, no caso de cada exemplo, que quer dizer
“não”, que é apropriado assim proceder, e que existe apenas
um problema: serei capaz de fazê-lo?
Primeira situação: Um colega de trabalho lhe pede
emprestadas umas moedas para as colocar na máquina de
café do escritório. Ele faz sempre isso e nunca o reembolsa.
O colega lhe diz o seguinte: “Não tenho nenhuma moeda.
Você poderá me emprestar vinte centavos para eu pôr na
máquina?” Como você diria “não”?
Segunda situação: Um amigo lhe havia pedido que o-
acompanhasse “dentro de alguns dias” para que o ajudasse a
escolher um novo conjunto de som, de alta-fidelidade. Você
havia concordado com isso. Num sábado, pela manhã,
quando você já tinha planejado pôr em dia uns afazeres
domésticos, esse amigo lhe telefona e diz o seguinte: “Você
prometeu me ajudar a escolher aquele conjunto de alta-
fidelidade. Poderá ser hoje de manhã?” Você de fato quer
arrumar suas estantes de livros. Como diria “não” a esse
amigo?
Terceira situação: Você tem trabalhado na comissão de
planejamento de uma organização de seu bairro, num projeto
de levantamento de fundos. Já dedicou a isso mais tempo do
que qualquer outra pessoa. O presidente da comissão lhe faz
mais um pedido: “Jean você é uma trabalhadora tão
excepcional! Posso contar com você para recolher os
ingressos da reunião?”' Como você diria “não”?
Segunda Etapa: Depois de haver dito “não” à sua maneira,
em face das situações acima descritas, leia os modelos de
instrução que vêm a seguir e compare suas respostas com as
desses modelos. Lembre-se de que as respostas que tiver
dado não terão de ser exatamente iguais às dos modelos,
mas devem ser obedecidos seus princípios, que são estes:
brevidade, clareza, firmeza e sinceridade.
Primeira situação: a do colega de trabalho e da máquina
de fazer café.
Modelo: “Não. Eu sinto muito, mas você já está me
devendo uma porção de cafés. “Não. Você nunca me paga o
dinheiro que eu lhe empresto.”
Nota: as respostas são breves e precisas, começando por
um “não”, de sorte que nada é ambíguo nem exige longas
explicações.
Segunda situação: a do conjunto de alta-fidelidade.
Modelo: “Não. Hoje eu não posso. Que tal no próximo
sábado?”
“Eu irei com você, mas hoje não. Sinto muito”.
Nota: as respostas reconhecem que você assumiu um
compromisso, mas também exprimem a má escolha da
ocasião.
Terceira situação: a da organização e da trabalhadora
excepcional.
Modelo: “Não. O senhor deveria confiar essa tarefa a
alguém que ainda não deu sua contribuição.”
“Não. Eu já fiz mais do que minha parte do trabalho.”
Nota: Em cada caso, a resposta é sincera, direta e firme.
Terceira Etapa: A prática de dizer “não”. Pense em vários
pedidos descabidos que lhe têm sido feitos, ou que lhe
poderiam ser feitos. Imagine que cada uma dessas
solicitações foi de fato feita a você e imagine, também, que
estará dizendo “não” de maneira firme, breve e sem entrar
em explicações longas demais. Essa tarefa poderá tornar-se
mais eficiente ainda se cada pedido for gravado em fita.
Ouça a gravação, trave o aparelho e dê sua resposta em voz
alta. Pratique cada resposta várias vezes.
Não se esqueça da maneira de dizer “não” apresentada
nos modelos:
“Não. Eu não posso fazer isso. Programei outra coisa para
a mesma hora.”... “Não. Eu não estou com vontade de fazer
isso hoje. Prefiro fazer outra coisa’’...
Quarta Etapa: Como etapa final, procure encontrar
ocasiões de dizer “não” em situações da vida real. Durante
sua fase de treinamento, diga “não” sempre que estiver em
dúvida.
Em meu consultório, emprego um recurso para ensinar
meus pacientes a dizerem “não”. Deixando sempre bem claro
que se trata de um teste, digo o seguinte a um paciente
pouco afirmativo: “É importante para mim fazer chegar este
envelope às mãos de outro paciente. Você se importaria de
entregá-lo a esse paciente? Sei que não é seu caminho.”
Embora meus pacientes saibam que se trata de uma
situação simulada, muitos acham extremamente difícil dizer
“não”. Alguns dizem “sim” ao meu pedido.
CASO
Quando Mark Butler, de trinta e cinco anos, redator de
textos, livrou-se de minha descabida solicitação de entregar
o tal envelope, dizendo: “Não. Isso eu não posso fazer. Mas
se é assim tão importante, por que o senhor não telefona
para um serviço de entregas?” Isso representou uma
mudança radical, em seu padrão de falta de afirmação, que
já durava por toda sua vida. Embora possuísse grande
originalidade em seu trabalho, a passividade de Mark lhe
havia afetado a carreira profissional e também seu
casamento.
Uma semana depois de me haver dito esse “não”, certo
empresário lhe telefonou pedindo-lhe que redigisse um texto
sobre a especulação. Anteriormente, Mark teria dito “sim” a
essa solicitação. Dessa vez ele não' disse um “não”
categórico, me fez a seguinte sugestão: “Eu não posso
redigir um texto de cem páginas. Não quero correr esse
risco. Mas farei um esquema de uma página, e mais duas sob
a forma de diálogo. O senhor poderá tomar sua decisão com
base nisso.
Não só Mark conseguiu a tarefa de redigir o texto, coma
também sua nova capacidade de dizer “não” melhorou seu
relacionamento na vida de casado. Graças a nossas sessões
de Treinamento da Autoafirmação, passou a ver claro suas
responsabilidades e seus direitos para com a esposa. Sentiu-
se triunfante com esse novo tipo de comportamento, mas
também sua recém-conquistada capacidade de
autoafirmação perturbou sua esposa, Ela tinha vindo ao meu
consultório para submeter-se a várias sessões de
treinamento. Seu comentário foi o seguinte: “Eu sempre quis
que ele fosse mais afirmativo, mas só quando eu queria que
ele assim procedesse.”

Ensaios De Comportamento

Antes de dar uma entrevista coletiva à imprensa, o


Presidente dos Estados Unidos se reúne com seu secretário
de imprensa e seus principais assessores políticos. Esses
auxiliares lhe fazem perguntas sobre todos os assuntos,
desde os referentes ao orçamento do país até os relativos aos
negócios estrangeiros e à política internacional. Fazem as
mesmas perguntas que esperam sejam formuladas ao
Presidente pelos jornalistas durante a entrevista coletiva.
Através desse ensaio 'geral, o Presidente formula e pratica
suas respostas a perguntas difíceis que possam lhe ser
dirigidas e, desse modo, terá um melhor desempenho ao
confrontar-se com os homens de imprensa.
É sabido que os presidentes Truman, Kennedy, Johnson,
Nixon e Ford, iodos eles, por vezes, se valeram dessa
estratégia. Talvez esses chefes de Estado não tenham se
apercebido disso, mas empregaram a técnica do ensaio do
comportamento, uma das mais eficientes no campo do
Treinamento da Autoafirmação.
Originariamente denominado “psicodrama do
comportamento” e, muitas vezes referido como
“dramatização”, o ensaio do comportamento é um método no
qual os pacientes que apresentam deficiências ou inibições
em seu comportamento social ou interpessoal recebem
treinamento direto para que adquiram um comportamento
mais eficiente e alternativo, a- través de procedimentos como
o ensaio de respostas, a utilização de modelos e o
recebimento de instruções do terapeuta.
Quando empregamos o ensaio do comportamento no
Treinamento da Autoafirmação, procuramos corrigir
“deficiências em matéria de respostas”. Não tendo o
paciente jamais aprendido a empregar respostas afirmativas,
agirá de maneira não-afirmativa. Trabalhamos em três
etapas: (1) ensinar ao paciente quais são as respostas; (2)
fazê-lo praticar essas respostas; (3) levá-lo a aplicar essas
respostas a situações da vida real. A finalidade das duas
primeiras etapas consiste, naturalmente, em acelerar o
emprego das respostas a situações da vida real.
A “dramatização” apresenta a vantagem de simular a
realidade de maneira controlada, sem apresentar os riscos
dessa realidade. Permite a experimentação, de sorte que o
paciente possa encontrar a resposta afirmativa que melhor
lhe convenha e, em seguida, praticar repetidamente essa
resposta até sentir-se à vontade com a mesma, e ela se tome
parte integrante dele próprio. Segundo as experiências
realizadas pelo Dr. Philip H. Friedman, da Escola de
Medicina da Universidade de Temple, até mesmo de oito a
dez minutos de prática de dramatização poderão produzir
importante modificação numa situação específica, e essa
modificação é de caráter duradouro.
Como o terapeuta efetivamente se utiliza do ensaio do
comportamento no Treinamento da Autoafirmação?
(1) Ele define os comportamentos que deverão ser
treinados. Esses comportamentos se distribuem desde como
pedir um aumento de ordenado ou arranjar uma garota num
bar de solteiros até o problema de a pessoa saber se impor
de maneira apropriada a um amigo, ao chefe, a um colega ou
a algum vendedor, e a aquisição de habilidades de caráter
social específico, como a de contar casos. O paciente deve
resumir para o terapeuta todos os detalhes do problema
específico, de modo tal que este possa fazer as vezes da
outra pessoa envolvida. Em seguida, o terapeuta cria uma
situação, de uma maneira mais simplificada, que se parece
com as circunstâncias da vida do paciente. Depois, o
paciente e o terapeuta interpretam a situação.
(2) Após a conclusão da “cena”, o terapeuta instrui o
paciente, indicando quais foram os bons e os maus aspectos
de seu desempenho. E também informa o paciente em causa
como poderá ele melhorar determinadas ações e exprimir-se
de maneira mais eficiente. O terapeuta dirá, por exemplo, o
seguinte: “Seja mais direto”, “empregue a técnica da
conversação de conteúdo afetivo”, “fale com sinceridade”,
“endireite os ombros e não dê a impressão de estar tão
apático e sem energia.” O paciente e o terapeuta elaboram
juntos certas frases que o primeiro poderá dizer.
No Instituto de Terapia do Comportamento de Nova York,
por exemplo, os Drs. Steven Fishman e Barry Lubetkin
trataram de uma estudante de medicina, de vinte e três anos,
acanhada e passiva. Seu problema era o seguinte: ficava
aterrorizada quando tinha de examinar algum paciente.
Durante as sessões, dramatizamos tudo exceto o que
realmente estivesse relacionado com pacientes
hospitalizados. Eu ' representei o papel de vários tipos de
pacientes, desde mulheres idosas e ranzinzas até homens de
meia idade e de mau gênio. Conhecendo a insegurança da
jovem, resultante de sua falta de experiência, fiz-lhe
perguntas como estás: “Quando vai chegar o verdadeiro
médico?” Ensinei-lhe a encarar os pacientes, a controlar a
própria voz (ela falava sussurrando, como Jackie Kennedy), a
melhorar suas maneiras à cabeceira dos pacientes. E o mais
importante de tudo, mostrei-lhe a não enfrentar uma
situação como quem já estivesse derrotada. Ela costumava
começar as sessões de ensaio do comportamento com esta
frase inadequada: “Eu estou aqui como estudante.” Pouco a
pouco ganhou confiança em si mesma e conseguiu aplicar
em seu trabalho no hospital o que havia aprendido em nossas
sessões de prática.
(3) Após o ensino e as instruções do terapeuta, o paciente
repete a cena, geralmente revelando algum progresso. O
terapeuta reforça um melhor desempenho através de
afirmações a exemplo desta: “Muito bem. Desta vez você
falou de maneira mais direta.” O terapeuta poderá, em
seguida, dar maiores instruções ao paciente.
(4) No propósito de ajudar o paciente a alcançar sua meta
de autoafirmação, o terapeuta poderá oferecer o modelo do
comportamento desejado. Nessa técnica, o terapeuta e o
paciente invertem seus papéis. O primeiro passa a
representar o papel do paciente problemático, ao passo que
o segundo desempenha o da outra pessoa. Dessa maneira, o
terapeuta faz uma demonstração das ações que houverem
sido discutidas. O terapeuta não só indica o que o paciente
deverá fazer como também chama a atenção dele sobre
aquilo que fez, como terapeuta. Diz o seguinte: “Você
observou como eu permaneci de pé”, ou que “falando
daquela maneira, eu fui mais polido mas me impus?”
Em seguida, ambos voltam a representar seus papéis de
origem. O paciente desempenha novamente seu papel e
procura imitar o modelo proposto pelo terapeuta. O
resultado disso deverá ser um melhor desempenho do
paciente, que o terapeuta reforça, elogiando-o. Cumpre não
esquecer a meta da terapia: o paciente deverá encontrar seu
próprio estilo e não ser uma cópia de carbono do terapeuta.
(5) O primeiro ensaio do comportamento poderá revelar
que o problema proposto pelo paciente é difícil, causando
nele demasiada angústia e lhe impondo exigências que ainda
não possa satisfazer. Ou então, talvez se torne evidente que o
paciente, embora seja capaz de dominar a situação em
causa, no laboratório, não seja capaz de transferi-la para
uma situação da vida real.
Quando ocorrem casos dessa natureza, adotamos uma
abordagem hierárquica, partindo de situações ou
comportamentos que o paciente possa facilmente pôr em
prática, e progredimos, passando a níveis cada vez mais
difíceis. Tais níveis poderão dizer respeito a pessoas, tarefas
ou 'intensidade do comportamento.
Pessoas. Presumir que o problema geral consiste em
“repreender alguém” e que existe *uma situação
particularmente difícil em referência a uma sogra.
Inicialmente o paciente poderá ensaiar a cena de censurar
um amigo a quem não receia. Em seguida, representará
outra cena com um colega de trabalho, que poderá se revelar
um pouco mais difícil. Assim, etapa por etapa, finalmente
chegaremos ao dilema da sogra.
Adaptaremos, sem dúvida, cada nível ao paciente em
causa. O que um considerar difícil fazer, outro poderá achar
muito fácil.
Tarefas. Por vezes é mais fácil fazer determinadas coisas
com certas pessoas do que com outras. Isso implica num
segundo tipo de hierarquia. Um paciente talvez ache
relativamente fácil criticar a sogra por haver ela dado aos
seus filhos um número, excessivo de balas. Mas poderá
julgar mais difícil recriminar a sogra se ela tiver perturbado
sua esposa. Talvez seja até mesmo incapaz de censurá-la por
causa das ardilosas insinuações que vive fazendo em torno
dele. Num caso desse tipo, praticamos os psicodramas
obedecendo a essa ordem hierárquica.
Intensidade. Empregamos igualmente o critério
hierárquico na abordagem paulatina de emoções específicas.
Dessa maneira, quando um paciente experimentar
dificuldade em dar expressão à cólera, nós o levamos a
manifestar sua irritação a partir de um resmungo como, por
exemplo: “Eu não gostei disso.” Finalmente, atingirá ele um
ponto no qual poderá dramatizar um acesso espontâneo e
vigoroso de cólera.
(6) O paciente pratica o comportamento que deseja
executar, fazendo-o repetidamente no consultório, assim
aumentando as probabilidades de que possa enfrentar esse
comportamento em situações da vida real.
Isso poderá ser feito com muitos tipos de comportamento,
com crianças e, também, com adultos. O Dr. Martin
Gittelman, chefe do Serviço de Pediatria do Departamento de
Saúde Mental Queens-Nassau, do H.I.P., empregou a técnica
do ensaio do comportamento com Ralph, um menino de treze
anos de idade, cujos acessos de mau gênio se haviam
tornado tão violentos a ponto de ter sido expulso de uma
escola e estar na iminência de ser afastado de outra. O Dr.
Gittelman representou com Ralph várias situações, e fez com
que ele ensaiasse o comportamento de reagir de maneira
calma e controlada, em vez de o fazer com os punhos
cerrados, cheio de cólera, empregando respostas malcriadas
e desferindo murros. Ao cabo de quatro sessões em que foi
utilizada a técnica do ensaio do comportamento, Ralph
informou que suas reações estavam muito melhoradas, na
escola e também em casa. Declarou que embora ainda
ficasse furioso, era capaz de controlar seus atos. O
acompanhamento do caso, realizado nove meses depois,
demonstrou que Ralph não havia tido outras crises de
comportamento agressivo.
(7) A chamada retroalimentação constitui a etapa final dos
ensaios do comportamento. A partir das informações
prestadas pelo paciente acerca de seus êxitos totais,
parciais, e de seus insucessos na vida, o terapeuta ficará
ciente da necessidade de um novo treinamento, ou verificará
que existem outros problemas. O terapeuta frequentemente
soluciona um problema e passa a outras áreas. Ou então o
tratamento poderá terminar, mantendo-se o paciente em
contato telefónico com o médico durante certo período de
tempo.

Reconstituição De Uma Sessão Do


Treinamento De Ensaio De Comportamento
CASO
O Dr. Norman Jones, eminente pesquisador no campo da
patologia, veio procurar-me por causa de dois grandes
problemas seus, ambos resultantes de sua situação de
isolamento: (1) participava de poucas discussões de caráter
profissional porque lhe faltava o contato com outros
pesquisadores que estivessem em seu nível; (2) hão
conseguia que fosse reconhecido seu valor profissional, tal
como receber convites para participar de grupos de estudos.
Seria lógico que ele pudesse romper esse isolamento em
reuniões de caráter profissional. No entanto, quando
Norman participava de alguma conferência, prestava
atenção aos trabalhos apresentados que o interessassem,
mas não dirigia a palavra a nenhum dos conferencistas, após
suas palestras. Quando eu lhe perguntei por que não o fazia,
respondeu o seguinte: “Se a pessoa estivesse sozinha, eu não
gostaria de interromper seus pensamentos; e se estivesse em
companhia de alguém, eu não desejaria interromper sua
conversação.”
Verifiquei também que um dos recursos empregados pelo
Dr. Norman para manter seu isolamento era o fato de que, ao
participar de uma conversação, ele parava de falar
abruptamente. Através de nossas discussões, concluímos que
sua deficiência em matéria de comportamento dizia respeito
à conversação: como iniciá-la, como a ela associar-se, e como
mantê-la. Decidimos empregar a técnica do ensaio do
comportamento como método de tratamento. Estabelecemos
a seguinte meta: Norman deveria adquirir um
comportamento melhor e mais sociável nas reuniões com os
colegas de profissão, de que participasse num futuro
próximo.
O seguinte diálogo entre o paciente e o terapeuta
reconstitui quase palavra por palavra minha sessão de ensaio
do comportamento com Norman Jones. Poderá servir de
modelo a quem se decidir a empregar esse método.
Terapeuta: “Eu serei o Dr. Smith. Estamos numa reunião,
aguardando a chegada. de um elevador. Sua meta será
iniciar uma conversação comigo e falar sobre assuntos de
caráter profissional. Vamos ver como faria isso. Façamos de
conta que a porta do meu armário é a porta do elevador, e
que estamos de pé, junto a essa porta. Procure iniciar a
conversação.”
Dr. Jones (após um período de silêncio e de emitir uns
ruídos e fazer uns movimentos nervosos). “O Sr. chamou o
elevador?”
Terapeuta (no papel do Dr. Smith): “Chamei. Espero que
ele chegue depressa.”
Período de silêncio, pois o Dr. Jones continua a se mover
de um jeito inquieto.
Terapeuta (num aparte, fora do seu papel): “Lembre-se de
que o senhor quer começar a conversar comigo sobre
assunto de natureza profissional.”
Dr. Jones (num resmungo): “Bom trabalho, o apresentado
hoje de manhã.” (afasta um pouco o corpo.)
Terapeuta (no papel do Dr. Smith): “Muito obrigado. Fico
satisfeito que o senhor o tenha apreciado. Acha que meu
plano foi bem estruturado? (A pergunta visa a dar apoio ao
esforço do paciente e, ao mesmo tempo, facilitar-lhe uma
resposta).
Dr. Jones (fora do seu papel): “Olhe, eu nunca seria capaz
de conversar com o Dr. Smith. Dizem que ele é sarcástico e,
certa vez, escreveu uma resenha desfavorável sobre um de
meus trabalhos. Eu ficaria assustado demais e não poderia
dizer uma palavra.”
Terapeuta: “Agrada-me que o senhor me tenha afirmado
isso (reforçando sua comunicação direta com o paciente). O
Dr. Smith poderá ser difícil demais para nós começarmos por
ele. Quem o senhor julga que poderíamos utilizar em
primeiro lugar?” (estabelecendo uma hierarquia).
Dr. Jones: “Todos eles são difíceis demais (Pausa). Que tal
Brown? Eu nunca conversei com ele, mas me parece um bom
sujeito. Além disso, nós trocamos umas cartas, certa vez, a
respeito de um plano de pesquisa. Eu acho que Brown seria
o mais fácil de todos.”
Terapeuta: “Ótimo. Eu serei Brown. Estamos esperando o
elevador, e o senhor começa a conversação. A propósito. Da
última vez o senhor ficou olhando para o chão. Procure me
encarar quando conversar comigo. E fale mais alto.” (dando
instruções.)
Dr. Jones (representando seu papel). “Dr. Brown, quero lhe
dizer quanto apreciei seu trabalho de hoje de manhã.”
Terapeuta (no papel do Dr. Brown): “Ora essa, muito
obrigado. Será que o senhor achou meu plano experimental
bem estruturado?”
Dr. Jones (pausa e mais movimentos nervosos): “Sim,
Muito bem. Otimamente.”
Terapeuta (no papel do Dr.. Brown): “E aquela parte sobre
a troca de íons? O Sr. acha que eu tratei do assunto direito?”
Dr. Jones (resmungando): “Otimamente. Muito bem
mesmo.”
Terapeuta (aparte, fora do seu papel): “Deve haver um
modo melhor de o senhor dizer isso. Será capaz de pensar
em alguma outra coisa?”
(Longa pausa)
Terapeuta (aparte, fora do seu papel): “Vamos fazer uma
pausa de um minuto para pensar. O senhor começou melhor.
Falou mais alto e olhou para mim. Depois o senhor falhou.
Que aconteceu?”
Dr. Jones: “Eu não sabia o que dizer. Tive medo de dizer
alguma coisa errada e que pudesse feri-lo.”
Terapeuta. “A primeira parte é verdadeira. O senhor não
sabia o que dizer. Quando aprender isso, seus receios
desaparecerão. O problema foi a maneira como o senhor
iniciou a conversação. O senhor pode fazer coisa melhor.”
Dr. Jones: “Eu disse que tinha gostado do trabalho dele. As
pessoas apreciam ouvir elogios.”
Terapeuta: “Isso é verdade. Mas o senhor foi muito vago,
A melhor maneira de começar seria dizer alguma coisa que
despertasse o interesse dele e lhe captasse a atenção
(instruções). Provoque o homem. Ele deverá ficar sabendo
que o senhor tem a dizer alguma coisa que vale a pena.”
Dr. Jones: “Eu poderia lembrá-lo de nossa
correspondência. Na época ele parecia muito interessado”
Terapeuta: “Ótimo. Comece apresentando-se a ele Em
seguida, acrescente alguma coisa que lhe desperte a
atenção. Vamos tentar novamente, dessa maneira.”
Dr. Jones: “Eu não tenho certeza se teria ânimo para fazer
isso, até mesmo numa dramatização.”
Terapeuta: “Ouça. O senhor vai fazer o papel de Brown e
eu vou representar seu papel. A propósito, eu também não
serei perfeito, mas é possível que possa lhe dar uma ideia.”
{apresentando um modelo.)
Assim eu prossegui, treinando e proporcionando um
modelo ao comportamento do Dr. Norman Jones. Dentro de
pouco tempo ele foi capaz de se aproximar de mim (fazendo
o papel de Brown), estender-me a mão e dizer: “Dr. Brown,
meu nome é Norman Jones. Nós nos-correspondemos a
propósito daquele seu projeto de isótopos radioativos. Isso
foi há alguns anos. O senhor ainda continua trabalhando
nele?” Modelamos e ensaiamos também o comportamento de
Norman com o outro colega e praticamos situações em que
Norman tomava parte em conversações. Não tivemos tempo
de voltar ao difícil Dr. Smith. Então Norman foi à tal reunião.
Durante o primeiro dia dos encontros e a metade da
conferência, Norman continuou a portar-se como um
indivíduo isolado. Então aconteceu-lhe avistar o Dr. Brown,
que se encontrava sozinho, não como em nossa prática
acerca do elevador, mais diante da sala de reuniões. Norman
passou mentalmente em revista suas palavras, encheu-se de
coragem e dirigiu-se a Brown, de mão estendida. Logo que
disse seu nome, Brown o interrompeu, acrescentando: “Eu
estava esperando encontrá-lo. Desejo informar o senhor a
respeito do estado atual daquele meu projeto sobre isótopos
radioativos. E tenho umas perguntas a lhe fazer sobre seu
último trabalho. Por que não vamos até minha sala,
conversar um pouco?”
Norman passou os dois dias que se sucederam
participando de estimulantes conversações sobre assuntos
de caráter profissional. Quando o formidável Dr. Smith veio
juntar-se ao grupo. Norman não conseguiu falar durante
algum tempo, mas logo se envolveu nas discussões técnicas.
Passado um ano, seu treinamento em matéria de ensaios
do comportamento produziram resultados inesperados. Foi
convidado para apresentar um trabalho numa conferência
internacional de química, na Suíça, com todas as suas
despesas pagas. E o presidente dessa conferência foi o Dr.
Brown!
Graças ao método de ensaio do comportamento, um
paciente poderá resolver vários problemas, alguns simples,
outros de natureza complexa; tomar suas atitudes claras e
mudar o curso dos fatos. Por vezes, uma completa
modificação do es- tilo de vida de uma pessoa resulta do
domínio de atos simples e específicos.
CASO
Wanda Midston era casada com um homem que bebia
muito e isso tornava sua vida um verdadeiro inferno. Ela
sabia qual seria sua solução para o caso e tinha estabelecido
um plano de ação: abandonar o marido e obter emprego em
outra cidade, onde tinha família, que tomaria conta de seus
dois filhos enquanto estivesse trabalhando e procurando
reconstruir sua vida social. O emprego estava à sua
disposição. A família mostrava-se disposta a cuidar das
crianças. Mas, durante dois anos, Wanda não tomou
qualquer iniciativa para realizar aquela mudança, que tanto
desejava.
Sua explicação para essa inércia era muito simples:
receava pedir aos seus supervisores as cartas de
recomendação de que necessitava para solicitar formalmente
o novo emprego. Passamos partes de várias sessões do TA
em grupo, estabelecemos modelos e ensaiamos formas de
comportamento relativos ao pedido dessas cartas de
recomendação. Após o treinamento, Wanda conseguiu fazer
seu pedido das cartas na vida real, sendo-lhe assegurado
pelos seus supervisores que lhe dariam boas referências.
Resolvido esse problema, ela começou a fazer planos
definitivos para realizar uma completa mudança em seu
estilo de vida.
Uma pessoa poderá praticar a técnica do ensaio do
comportamento mesmo sem participar de sessões com seu
terapeuta sobre a mesma.
Obter um parceiro. Representando o papel da outra
pessoa, esse parceiro poderá ajudar um indivíduo a
estabelecer um modelo de comportamento e avaliar seu
desempenho, como também servir para a troca de papéis
com essa pessoa. Ainda que o modelo não seja perfeito ou
conforme seu estilo, poderá uma pessoa aprender seu
método de expressar-se. O parceiro poderá ser útil, imitando
o que a pessoa fizer e acentuando suas características em
matéria de falta de afirmação. Se um indivíduo falar em voz
muito baixa, por exemplo, ou fizer gestos nervosos, o
parceiro poderá isso reproduzir. Deverá ele também prestar
atenção àquilo que a pessoa fizer bem em seus ensaios de
comportamento. Fará comentários de caráter específico,
como o seguinte: “ótimo. Desta vez sua voz foi muito mais
firme.” Ou então, dizer: “Esta maneira de lidar com a
situação foi melhor.”
Quanto aos problemas pessoais e sociais, um amigo íntimo
ou o cônjuge, será um bom parceiro. Tratando-se de um
amigo, a pessoa terá duas opções: (1) escolher como
parceiro um amigo que possua um bom comportamento
afirmativo na área em que ela irá realizar seus ensaios de
comportamento; ou então (2) eleger um amigo que apresente
problemas semelhantes ao seu. Digamos que se trate de uma
pessoa que fica acanhada quando se defronta a outras do
sexo oposto. Deverá, nesse caso, escolher um amigo que
tenha confiança em si mesmo e seja ativado, ou, então, um
amigo que também seja tímido. Em princípio, sugiro a
escolha do amigo com que a pessoa se sentir mais à vontade.
Mesmo que o problema de autoafirmação envolva o seu
marido ou sua mulher representá-lo diretamente com ele ou
com ela poderá ser extremamente útil. A troca de papéis,
onde o marido e a mulher, trocam suas identidades, pode ser
especialmente benéfica.
Em situações relativas ao trabalho, um colega
frequentemente aprovará como bom parceiro. Conheço um
vendedor que nunca visita qualquer cliente importante sem
antes ensaiar as dificuldades que possam surgir, e o faz com
a ajuda de outro vendedor que conheça o possível cliente. Do
mesmo modo, muitos executivos de empresas ensaiam
situações potencialmente difíceis antes de participar de
conferências importantes.
Definir as áreas onde houver deficiências em matéria de
comportamento em que a pessoa pretenda se modificar,
realizar dramatizações e proceder uma autoavaliação.
Simplesmente representar uma situação repetidas vezes
geralmente não conduz às desejadas mudanças. É necessário
determinar os comportamentos específicos que se deseja
modificar (exprimir emoções, impor-se no trabalho, fazer-se
valer diante de um cônjuge, conversar sobre assuntos triviais
em sociedade) e. em seguida, realizar uma avaliação dos
ensaios do comportamento no propósito de verificar se
efetivamente estarão sendo conseguidas as desejadas
mudanças.

Exercidos De Laboratório Sobre Ensaios De


Comportamento
Finalidade: Empregar a técnica da dramatização para o
efeito* de estabelecer modelos de comportamento e sua
prática, relativos a situações problemáticas.
Para avaliar o comportamento de uma pessoa em matéria
de dramatizações e, desse modo, contribuir para sua
modificação, os terapeutas dividem esse tipo de
comportamento em duas partes: uma relativa ao seu
conteúdo, e que diz respeito àquilo que a pessoa exprime, e
outra referente ao seu “modo de expressão”, a maneira em
que a pessoa exprime esse conteúdo. Muitas vezes um modo
de expressão não-afirmativo é capaz de anular um bom
conteúdo.
Embora um indivíduo esteja procurando modificar
determinado problema específico, poderá encontrar
dificuldade em julgar seu desempenho num ensaio de
comportamento. Por esse motivo, ofereço uma sugestão em
matéria de critérios de avaliação desse desempenho, e
também uma escala para seu julgamento (as duas coisas
foram adaptadas de experiências conduzidas pelo Dr. Philip
H. Friedman, da Escola de Medicina da Universidade de
Temple, e pelos Drs. Michel Herson, Richard M. Eisler e
Peter M. Miller, da Universidade do Mississipi).
Primeira Etapa: Tomar duas páginas do caderno de
apontamentos do Treinamento da Autoafirmação e, no alto
de cada uma, escrever o cabeçalho; Problema De Ensaio De
Comportamento. Deve ser o problema que houver sido
escolhido para a dramatização do ensaio de comportamento
da pessoa como, por exemplo, pedir aumento de ordenado,
dizer à esposa que não irá jantar todas as sextas-feiras na
casa da mãe dela etc.
Segunda Etapa: Traçar três linhas verticais ao longo de
cada página, assim obtendo quatro colunas. Na primeira
coluna da primeira página, escrever a palavra CONTEÚDO,
nas outras três colunas, nesta ordem, escrever: Primeiro
Ensaio, Segundo Ensaio, Terceiro Ensaio.
Obedecer ao mesmo critério de divisão quanto à página
dois, mas escrever, na primeira coluna: Modo De Expressão.
Terceira Etapa: Abaixo da palavra Conteúdo a pessoa fará
seu autojulgamento, formulando as seguintes perguntas:
A. Enfrentei o verdadeiro problema?
B. Minha solução liquida com o problema?
C. Comuniquei o que desejava comunicar?
D. Evitei ser condescendente?
E. Solicitei de maneira clara um novo comportamento da outra,
pessoa?

Quarta Etapa: Abaixo das palavras Modo De Expressão, a


pessoa fará seu autojulgamento, formulando as seguintes
perguntas:
A. Minha voz foi suficientemente alta e firme?
B. Falei demais, expliquei excessivamente as coisas, comportei-me
como se estivesse pedindo desculpas, confundi as coisas?
Alternativa: Fui direto ao ponto em questão?
C. Falei o suficiente para que a outra pessoa pudesse ter entendido o
que eu disse?
D. Minha voz, minha expressão fisionômica e meus gestos
comunicaram o que eu estava sentindo?

Quinta Etapa: Em seguida a cada ensaio de


comportamento, a pessoa fará seu autojulgamento de acordo
com a seguinte escala: a forma de comunicação desejada foi:
(1) nula; (2) deficiente; (3) razoável; (4) boa; (5) muito boa;
(6) perfeita.
Os progressos que a pessoa realizar serão indicados pelo
aumento do valor numérico dos julgamentos. Deverá tentar
progredir de 1 a 5.
Sexta Etapa: Ao serem praticados os ensaios de
comportamento, deverão ser obedecidas as seguintes regras
fundamentais:
(a) As cenas que serão dramatizadas devem ser
especificas e simples. O excesso de complicações não adianta
coisa alguma.
(b) Utilizar cenas da vida real. Poderão ser
acontecimentos que tenham ocorrido recentemente (como,
por exemplo, uma situação em que alguém tenha humilhado
a pessoa, interferido no que ela queria fazer, ou então,
acontecimentos que ocorrerão no futuro, como pedir um
favor a um amigo, ou comparecer a uma entrevista para
obter um emprego.
(c) Dar ao parceiro instruções específicas a respeito do
papel da pessoa que ele representa e, em seguida,
dramatizar a cena de um a cinco minutos. Nessa
dramatização, a pessoa e seu parceiro deverão esforçar-se
para desempenhar seus papéis com realismo.
(d) Começar a partir de uma situação relativamente fácil e
progredir até serem alcançadas situações mais difíceis,
empregado o critério hierárquico que descrevi
anteriormente, neste capítulo. Quando a pessoa achar que
dominou uma situação, e a escala numérica de julgamento
assim indicar, deverá ela progredir, tomando a situação
seguinte (na escala hierárquica), e continuar avançando até
estar à altura de atacar a situação mais difícil de todas. O
critério hierárquico só deverá ser empregado quando a
pessoa verificar, que determinada cena se revela
perturbadora e demasiado difícil para que possa ser
resolvida no início das dramatizações, ou quando julgar que
lhe seria excessivamente difícil transferir essa cena para a
vida real.
(e) Procurar adquirir consciência dos estímulos que
causam dificuldades (cenhos franzidos, tom de voz,
determinado contexto da conversação) com vistas a
incorporá-los às cenas. Se a pessoa assim proceder, poderá
aprender a modificar suas respostas diante de tais estímulos.
Sétima Etapa: Se a pessoa não conseguir obter um
parceiro, faça de um gravador seu parceiro. Essa técnica não
possui a interação e a flexibilidade que poderão ser
conseguidas com a ajuda de um parceiro real. Ainda assim,
permitirá praticar respostas específicas diante de situações
também específicas.
Oitava Etapa: Prosseguir nas dramatizações, avaliá-las e
discuti-las até que o comportamento da pessoa seja
modelado de forma que a satisfaça. Será empregada a escala
de julgamento para que possa ser obtida a certeza de não
estar a pessoa retrocedendo. Em seguida, deverá ser
praticada a dramatização de outras situações.
Nona Etapa: Trata-se da mais importante de todas. A
pessoa deverá procurar encontrar situações da vida real nas
quais possa aplicar o que houver aprendido.
Capítulo 4.
Como Formar Um Círculo De
Relações Sociais

“Eu vivo muito isolado”... “Eu não tenho amigos”... “Eu


não sei arranjar novos amigos”... “Eu tenho sempre novos,
conhecidos, mas nunca consigo tornar-me amigo íntimo
dessas pessoas.”
Pacientes acabrunhados e deprimidos dizem-me coisas
as^ sim todos os dias. Muitas vezes atribuem a algum
acontecimento o fato de não terem vida social, um
acontecimento profundamente sepultado em seu
inconsciente, e que teria ocorrido antes de sua ida para a
escola. Talvez isso seja verdadeiro; mas, no caso desses
pacientes, o sofrimento causado por sentirem que lhes é
vedado participarem da vida é por mim assim encarado; a
solução não consiste em evocar reminiscência do passado
dos pacientes, mas em prestar-lhes a necessária ajuda para
que consigam formar, no presente, um círculo de relações.
O isolamento total satisfaz apenas raros indivíduos. Todo
mundo necessita de diversos tipos de relacionamentos com
outras pessoas. Contudo, o tipo exato de relacionamento
social melhor para cada pessoa depende bastante das
próprias exigências e metas. O que é melhor para você pode
não funcionar com outro indivíduo.

Círculo Satisfatório De Relações Sociais

Quaisquer que sejam seus diferentes aspectos específicos,


todos os círculos de relações sociais tendem a possuir certas
características em comum:
Um círculo de relações constitui uma base de segurança.
O indivíduo sente que pertence a um grupo. Os membros
desse grupo o conhecem e aceitam. Sabe que virão visitá-lo
quando cair doente, e percebe o que pode e não pode
esperar dessas pessoas: mandar-lhe flores, dar-lhe um
telefonema e desaparecerem quando ele estiver
restabelecido.
O círculo de pessoas que um indivíduo conhece inclui
vários tipos de relacionamento, desde os superficiais até os
mais íntimos. Haverá um amigo com quem ele gosta de ir
pescar, mas com quem jamais conversa sobre assuntos de
trabalho, e vice-versa. Existirá outro amigo com quem
gostaria de se encontrar duas vezes por ano, e um terceiro
que compartilha de seus problemas e sentimentos duas vezes
por semana. É de esperar-se que o círculo de relações sociais
de um indivíduo inclua duas ou três pessoas com quem possa
compartilhar o que existir nele de mais íntimo.
O círculo de relações de um indivíduo deve ser adequado
às suas necessidades específicas. Se um indivíduo tiver um
temperamento extrovertido, poderá necessitar de um círculo
de relações permanentemente ' ativo, composto de grande
número de pessoas. Esse indivíduo haveria de sentir-se cheio
de tédio junto a um reduzido número de amigos, passando
essas noites tranquilas que satisfazem às pessoas
introvertidas. Mas é preciso ter cuidado para não
estereotipar as coisas. A criatura mais extrovertida terá,
ainda assim, necessidade de momentos de paz ao lado de
seus amigos íntimos. E a que for mais introvertida poderá
apreciar muito comparecer a uma festa de gala, de vez em
quando.
O círculo de relações sociais de uma pessoa está em
permanente mudança porque, através da vida, essa pessoa
se modifica. e as demais também se modificam. E até os
próprios relacionamentos igualmente se transformam.
Alguém que uma pessoa conheça no trabalho poder tornar-se
seu amigo íntimo, ou um terrível cacete, que terá de ser
evitado. Um indivíduo poderá perder o interesse por
pescarias ou em jogar boliche, tomando-se um aficionado do
bridge. Poder ficar mais rico ou mais pobre, mudar de
profissão, casar-se, divorciar-se ou enviuvar, ter filhos, ir
morar em outra cidade, ou passar por outras mudanças que
são comuns na vida de toda gente. Cada uma dessas coisas
poderá significar diferentes necessidades e oportunidades, e
a pessoa terá de reajustar seu círculo de relações sociais

Círculo Insatisfatório De Relações Sociais

As pessoas que possuem um círculo insatisfatório de


relações sociais se classificam em cinco categorias:
(1) Os indivíduos solitários, homens ou mulheres que
vivem em isolamento. Talvez tenham família, mas o contato
com os pais, irmãos ou primos será esporádico, superficial ou
marcado por conflitos. Esses indivíduos solitários conversam
com os colegas de trabalho, com donos de lojas, balconistas,
mas além desse tipo de gente não haverá, literalmente, mais
ninguém. Quanto mais tempo tais indivíduos persistirem em
levar esse padrão de vida, mais irão perdendo a sociabilidade
que antes acaso possuíam, e evitarão todo e qualquer
contato com as pessoas.
(2) Os indivíduos que não possuem um círculo de relações,
mas convivem com outras pessoas {geralmente de maneira
esporádica). Como exemplo dessa categoria poderá ser
tomado o homem solteiro que inicia intenso relacionamento
com uma mulher, e o mantém durante certo período; ou a
mulher solitária que estabelecesse um relacionamento
semelhante com algum homem. Essa espécie de
relacionamento não dá certo. Cada participante impõe ao
outro, exigências que não podem ser atendidas. Às vezes,
trata-se de uns indivíduos solitários que têm um único amigo.
Ainda nesse caso, tais amizades servem apenas para
perpetuar o isolamento de que sofre cada um. Em casos
iguais a esse, quando um dos dois amigos possui seu próprio
círculo de relações sociais, o outro haverá de sentir-se
excluído desse círculo. Nunca poderá associar-se ao círculo
de relações do amigo, e quando sua amizade por ele
terminar, voltará ao seu ponto de partida.
(3) O casal isolado. Trata-se do caso de marido e mulher
que vivem apartados do resto do mundo. Cada cônjuge terá
de satisfazer a todas as necessidades do outro.
Evidentemente, como é impossível manter essa situação
durante uma apreciável extensão de tempo, ela gera tensões
e ressentimentos que resultam, muitas vezes, em casamentos
cheios de problemas.
(4) Indivíduos que se abrigam por detrás de uma
barricada, sendo incapazes de dividir sua intimidade com
outras pessoas. Em seu livro, Behavior Therapy and Beyond,
o Dr. Arnold Lazarus, da Universidade de Rutgers, oferece
uma excelente representação visual desse nível de
comunicação, no qual o indivíduo que fica por detrás de sua
barricada é capaz de relacionamentos de caráter superficial,
E-D-C, embora jamais permita que qualquer pessoa penetre
em sua zona A. E assim, nunca chega a ter um
relacionamento íntimo com quem quer que seja.

O nível E, o mais externo, representa as situações sociais


de caráter mais superficial, nas quais um indivíduo poderá
dizer, por exemplo; “Meu nome é”... “Bolo de chocolate é
minha sobremesa predileta”... “Eu gostei daquele filme de
ontem, na televisão.”
O nível A, o mais interno de todos, denota aquilo de mais
pessoal que um indivíduo possa dizer sobre si mesmo, seus
sentimentos profundos, as ideias que o tornam vulnerável
perante outras pessoas.
Os níveis B-D constituem uma série de níveis de
comunicação nos quais não tanto o conteúdo do que o
indivíduo disser será importante, mas a significação que isso
possua para o mesmo indivíduo. O nível D de uma pessoa
poderá ser o nível B de outra. Os pacientes, entretanto,
raramente têm dificuldade em classificar suas próprias
comunicações no nível adequado.
Nos círculos concêntricos à esquerda da página, o círculo
A, de área relativamente pequena, mostra que o nível
pessoal de um indivíduo está em proporção com seus demais
níveis de comunicação.
Na segunda série de círculos concêntricos, a do meio da
página, o círculo A expandiu-se e ergueu uma parede maciça
em seu derredor, o que significa tratar-se de um indivíduo
que possui reduzido número de coisas que possa
compartilhar com outras pessoas, sendo, assim, incapaz de
dividir seus pensamentos e sentimentos até mesmo no caso
de um íntimo relacionamento com alguém.
A terceira série de círculos concêntricos representa o
desenvolvimento máximo do tipo .de personalidade que se
coloca por detrás de uma barricada. Esse “muro” se tomou
mais espesso e mais forte, e o indivíduo apresenta grande
dificuldade em comunicar o que quer que seja de ordem
pessoal, ou que possua significação para ele próprio. Não
importa qual sua “fachada”: esse indivíduo só poderá
estabelecer relacionamentos de natureza superficial com as
outras pessoas e, muitas vezes, não tem consciência de seus
próprios desejos, pensamentos e emoções.
(5) O indivíduo indiferenciado é o exato oposto a isso, não
possuindo paredes que lhe enclausurem as emoções, como
também lhe falta a compreensão dos níveis de
relacionamento e dos vários graus de privacidade impostos
pelas diversas situações. Em contraste com aqueles que se
fecham por detrás de uma barricada, esse indivíduo poderá
possuir um número infinito de contatos humanos, sem
qualquer intimidade. O indivíduo indiferenciado afasta as
demais pessoas, não permite que um relacionamento tenha
oportunidade de se desenvolver, sente que todos o repelem
quando não correspondem a suas revelações de caráter
pessoal, feitas durante um primeiro encontro, e vive
permanentemente magoado. Se um indivíduo comunica suas
emoções mais íntimas a estranhos, alguns desses estranhos
irão utilizar-se delas em detrimento desse indivíduo.
CASO
Susan Armstrong, de vinte e sete anos de idade,
professora de inglês numa escola secundária pública, é filha
de um ilustre psicanalista que segue a escola de Freud. Foi
criada ouvindo falar em inveja do pênis, em impulsos
inconscientes e em complexo de Édipo. Ela própria fora
analisada várias vezes, com interrupções, desde a idade dos
sete anos. Tinha poucos novos amigos, só saía com rapazes
esporadicamente, nunca conseguindo estabelecer qualquer
relacionamento prolongado com um homem.
Ressentida e magoada por causa de um incidente trivial
ocorrido em sua escola, quando ouviu um colega comentar a
seu respeito: “Lá vem de novo o Dr. Freud, com todo aquele
palavrório”, Susan percebeu que as pessoas a evitavam.
Decidiu dar oportunidade a um tratamento de caráter não-
psicanalítico, e veio me procurar.
Em nossa discussão do problema, verificamos que seu
conceito de conversação era compreendido nos níveis A-E,
Valia-se de todas as situações sociais como ensejos para
investigar seus mais íntimos sentimentos e também os das
outras pessoas. Desse modo, não permitia que um
relacionamento com alguém pudesse nascer e desenvolver-
se.
Explicando a Susan que tudo quanto fosse apropriado em
relação aos amigos íntimos era inapropriado quando se
tratasse de pessoas que tivesse acabado de conhecer, ou que
conhecesse apenas ligeiramente, dei-lhe uma tarefa para seu
próximo encontro com algum desconhecido: deveria limitar-
se aos níveis D e E, de caráter superficial. Ela procurou
assim proceder, mas, antes do final da noite, havia caído em
sua rotina de analisar-se e analisar seu companheiro. Dessa
vez, porém, percebeu o que estava fazendo. Meu tratamento
de Susan consistiu em fazê-la conversar nos níveis C-D-E.
Isto foi difícil porque discussões sobre o id e o ego estavam
de tal modo arraigadas em Susan que ela não compreendia
as funções de um mero bate-papo.
Afinal, Susan foi a uma festa e se conservou afastada dos
níveis A-B, mas voltou para casa sentindo o seguinte: “Eu
não disse nada de importante.” E me declarou: “Seu
tratamento está me orientando na direção errada.”
No entanto, alguns dias depois um amigo seu, do nível C,
lhe disse isto: “A nova terapia deve estar agindo. Você foi
encantadora naquela festa. Eu nunca tinha visto você assim.”
Dominada a técnica, Susan fez rápidos progressos.
Tornando-se acostumada aos níveis de comunicação mais
externos, começou a atribuir maior valor aos seus
sentimentos íntimos. Teve um prolongado relacionamento
com um homem e, quando isso não deu certo, aceitou o fato
de haver rompido com seu namorado e ficou muito triste por
causa disso. Um belo dia, Susan me informou que tinha
arranjado um novo amigo e que havia realmente
estabelecido com ele uma forma adequada de comunicação.
E afirmou o seguinte: “O senhor quer saber de uma coisa,
doutor? O senhor é realmente uma pessoa de nível A em
minha vida.”
É preciso não esquecer o critério que define um
apropriado círculo de relações sociais: não se trata do
número de pessoas de que o mesmo se constitua, mas do tipo
dessas pessoas e da variedade dos relacionamentos com as
mesmas. Não basta que um indivíduo tenha muitos
conhecidos e pouca intimidade com todos eles. E talvez seja
insatisfatório que uma pessoa tenha um ou dois
relacionamentos íntimos, mas não possua uma série
“graduada” de amigos.
Um círculo de relações sociais pode ser constituído de
tipos de pessoas impróprias: cacetes, sérias demais,
destituídas de senso de humor, exageradamente frívolas, de
sorte que um indivíduo nunca poderá com elas conversar
coisa alguma de caráter profundo. Talvez verifique que seu
círculo de relações não inclua ninguém com quem possa
compartilhar as coisas que sejam importantes para ele. Ou
então poderá descobrir estar se tornando exatamente igual
às pessoas que formam seu círculo de relações.
Por que um indivíduo estabelece um círculo impróprio de
relações, ou não possui relações de espécie alguma?
Esse indivíduo não compreende quais são os fatos de que
se compõe a vida social. Não percebe a finalidade de vários
costumes e rituais que se propõem a quebrar o gelo no
convívio humano. Várias pessoas me procuram, queixando-se
de ter uma vida social limitada. Chegamos, então, ao âmago
da questão: essas pessoas não agem como têm de agir
quando travam novos conhecimentos. Um problema
essencial é o seguinte: não entendem a função social do bate-
papo, e o criticam, afirmando: “É .superficial”... “É uma
perda de tempo”... “É muito impessoal.” Eu lhes explico que
o bate^-papo serve ao propósito de a pessoa estender suas
antenas, por assim dizer, ou sondar o ambiente. É
empregado como base para a exploração de interesses
comuns. Procuro inculcar em meus pacientes a ideia de que
nem todas as pessoas que encontram são interessantes, mas
que poderão trocar ideias até mesmo com os tolos.
O indivíduo tem uma noção errônea do que é ativo e do
que é passivo. Julga que as coisas simplesmente acontecem.
Isso não é exato. As pessoas não “aparecem” na vida da
gente, do mesmo modo que um cavaleiro não surge de
repente, diante de nós, montado num cavalo branco como a
neve. Dar recepções em casa, ser boa companhia num
encontro, ser um bom anfitrião, tudo isso exige uma soma de
habilidades especiais que têm de ser aprendidas.
Mort, por exemplo, rebento mimado de uma família rica,
tinha talento artístico e tornou-se um bem-sucedido
desenhista de modas, mas permaneceu sempre uma pessoa
passiva, especialmente junto às mulheres. Era capaz de
convidar uma garota para saírem juntos, mas nunca
planejava coisa alguma para os dois fazerem. Por isso, esses
encontros nunca tinham uma finalidade e eram sempre
enfadonhos. Graças ao Treinamento da Autoafirmação,
começou a planejar seus encontros, adquirindo ingressos
para um balé, reservando mesa para uma ceia após o
espetáculo, e sua passividade começou a diminuir. Deixou de
sentir angústia em relação a esses encontros e se tornou
muito mais ativo no planejamento de várias coisas, como
suas férias, por exemplo. Rompendo com esse padrão de
passividade, tornou-se capaz de aproximar-se mais das
mulheres.
Os indivíduos têm uma série de medos no campo social.
Receiam, por exemplo, que as outras pessoas os achem tolos
e, por isso, evitam conversar. Têm medo de parecer meio
insensatos e, por causa disso, não dizem nada que seja
“diferente” ou tenha cunho individual. Assim, sua conversa
se torna pesada e convencional. Muitas vezes ficam
entediados com eles próprios. Temem ser rejeitados. Tendem
a “grudar” nas pessoas que conhecem e em cuja companhia
sentem-se relativamente seguros. Logo em seguida,
queixam-se de estar na fossa. Têm medo de estabelecer
intimidade com as pessoas. Tudo quando falam se mantém
ao nível do bate-papo superficial. Não aprofundam as novas
relações que fazem, nem permitem que se forme qualquer
relacionamento entre eles e outras pessoas.
Seus temores lhes parecem lógicos quando os exprime a si
mesmos. Sim, de fato um indivíduo poderá ser rejeitado se
tomar alguma iniciativa no plano da sociabilidade. A solução
do problema consiste em fazer com que o elemento
irracional se torne claro, sendo acrescentado ao pensamento.
Um indivíduo acha por exemplo, o seguinte: “Se eu tirar
aquela garota para dançar ela poderá me dizer “não”. Em
seguida, acrescenta este elemento irracional: “Todo mundo
vai me desprezar.” Atribuindo relevo, na mente, a esse
elemento irracional, a pessoa se torna consciente de que o
mesmo é irracional.
Segue-se uma lista de mais alguns temores irracionais que
se aplicam à questão das relações sociais. Adaptei-os dos que
o Dr. Albert Elis relacionou num trabalho seu sobre “Terapia
Racional-Emotiva.”
É irracional sentir um indivíduo que:
Deve ser estimado e aprovado virtualmente por todas as pessoas
que sejam importantes em sua vida.
Deve ser plenamente competente, adequado e realizado sob todos
os possíveis aspectos para que se possa considerar uma pessoa de
valor.

A vida é horrível e catastrófica quando as coisas não


acontecem da maneira que ele estimaria que acontecessem.
Possui reduzida capacidade de controlar suas dificuldades,
ou não tem a menor capacidade de assim proceder.
Seu passado há de determinar seu atual comportamento
e, pelo fato de alguma coisa lhe haver fortemente afetado a
vida, deverá influir indefinidamente sobre ela.

O Círculo De Relações Sociais Afirmativo

Que poderá ser feito para que um indivíduo vença seus


temores, e para que possua um círculo de relações, se não o
tiver, ou melhorar aquele que já possuir? Segue-se um guia
que poderá orientar as pessoas no sentido de desenvolver
um círculo de relações sociais de caráter afirmativo.
O indivíduo deverá começar do ponto em que se encontra.
Ainda que seja extremamente solitário, geralmente terá pelo
menos dois conhecidos. Deve começar a expandir seu círculo
de relações aumentando o contato com esses conhecidos.
Poderá simplesmente telefonar-lhes para indagar como vão
passando, ou então, combinar irem a um cinema, sair para
fazer compras ou assistir a um jogo de futebol. Em suma:
usar mais aquilo que já existir.
Se uma pessoa tiver um círculo de relações realmente
limitado, poderá racionalizar a situação, dizendo o seguinte;
“Eu não gostaria de telefonar para ele (ou ela).” Nas etapas
iniciais do Treinamento da Autoafirmação, não deverá ser
levado em consideração esse aspecto de “gostar” ou “não
gostar” de alguma coisa. O indivíduo fará o que precisa ser
feito a fim de aumentar o número de seus amigos. É de
esperar que, crescendo sua confiança em si mesmo,
aumentará igualmente seu prazer em fazer as coisas. Na fase
inicial do treinamento, entretanto, o fator prazer não possui
importância primordial. Basta que a pessoa se concentre em
fazer amigos.
A partir desse começo, ela ir progredindo, etapa por
etapa, rumo à meta que desejar atingir. Ficará atenta aos
acontecimentos especiais, como, por exemplo, uma festa em
seu escritório, uma conferência, o que quer que seja, desde
que possa travar conhecimento com as pessoas que deseja
incluir em seu círculo de relações. Muitas vezes meus
pacientes me dizem o seguinte; “Compareci a centenas de
palestras e nunca aconteceu coisa alguma.” No caso de
certos indivíduos que apresentam dificuldades em matéria de
autoafirmação, o simples fato de comparecer a essas
palestras poderá representar um passo à frente. No caso de
outras pessoas, isso talvez seja mera repetição do que já
tiverem anteriormente feito. Se essa segunda situação
aplicar-se a um indivíduo, ele deverá começar a fazer as
coisas de maneira diferente. Se houver assistido a um grande
número de palestras e nunca tiver conversado com pessoa
alguma, deverá estabelecer como princípio trocar algumas
palavras com alguém, durante ou após uma palestra a que
comparecer. Finalmente, participará de uma conversação
prolongada. Se esse indivíduo houver frequentemente
tomado parte em encontros de trabalho e nunca tiver, após
isso, tomado alguma iniciativa para fazer uma nova amizade,
modificará esse critério de sociabilidade, estabelecendo a
norma de entrar em contato com algum novo conhecido
dentro de uma semana após uma reunião dessa natureza. As
pessoas gostam de ser apreciadas tanto quanto esse
indivíduo também isso estima.
Muitas vezes eu me utilizo de pequenos grupos de TA para
estabelecer essas tarefas sistemáticas. São grupos formados
de três ou quatro pessoas que estão procurando atingir
determinada meta de autoafirmação, durante quatro sessões
de treinamento. Um desses grupos, por exemplo, era
constituído de quatro homens solteiros, cujas idades
variavam de trinta e cinco a quarenta e um anos. Nenhum
deles possuía um círculo de relações. Todos apresentavam
dificuldades em sair com moças e, muitas vezes, passavam
seus fins de semana sozinhos. Não tinham amigos íntimos. A
meta comum dos membros desse grupo, que estavam
seguindo um programa de treinamento de um mês, na base
de uma sessão por semana, foi a seguinte: estabelecer um
conjunto de comportamentos que conduzisse a um maior
número de contatos sociais e, finalmente, tornar-se parte
integrante de um grupo. Darei uma ideia do plano de
trabalho, especialmente quanto a Bruce.
Primeira Sessão: Elaboramos uma lista de tarefas para
cada paciente. As tarefas de Bruce para a semana que viria a
seguir abrangiam: almoçar em companhia de duas pessoas,
telefonar para duas pessoas — um homem e uma mulher,
apenas para bater um papo com elas, e ir a um museu de seu
bairro onde deveria puxar conversa com duas pessoas.
Segunda Sessão: Bruce informou ter tido grande sucesso
em tudo, principalmente nos telefonemas (durante o período
de quatro semanas ele deu mais do que os dois telefonemas
que constituíam sua tarefa, e desses telefonemas resultaram
dois convites para jantar e um para ir a uma festa). Sua
tarefa seguinte foi esta: visitar novamente o museu de arte e
conversar com duas jovens. Isso visava a ajudar Bruce a
conhecer moças que compartilhassem de seus interesses em
matéria de arte e música. Bruce precisou de um certo
incentivo para cumprir essa tarefa e, por isso, realizamos um
ensaio de comportamento a respeito da mesma, na sessão do
grupo.
Terceira Sessão: Bruce nos disse que tinha conversado
com duas moças, mas declarou haver pronunciado apenas
duas frases dignas de mérito. Sua tarefa para a semana
subsequente foi esta: manter no museu uma conversação
longa com uma mulher e convidá-la para tomar um café.
Realizamos igualmente um ensaio de comportamento com o
auxílio de outro membro do grupo, que deveria executar a
mesma tarefa.
Quarta Sessão: A atitude de Bruce se modificara
completamente. Anteriormente só havia chegado a conhecer
pessoas de maneira superficial. Se, porém, não pertenciam
ao seu meio mais chegado, não realizava a menor tentativa
para novamente entrar em contato com elas. Já agora pode
informar ao grupo o seguinte: através de encontros em
almoços e de telefonemas, estava fazendo amigos. Além
disso, havia marcado um encontro com uma jovem para irem
juntos ao teatro. Tratava-se dá moça com quem havia tomado
um café. Passado algum tempo, depois de terminado o
programa de treinamento. Bruce me telefonou informando
que ia se casar com essa jovem.
Nessa abordagem, que visa a expandir por etapas um
círculo de relações, as pessoas deverão dirigir-se ao lugar
onde houver ação, no qual existam pessoas que possam
conhecer: bares para solteiros, estações de veraneio, salas
de aula, etc. Os indivíduos que apresentam problemas de
autoafirmação — desejo, nesta altura, estabelecer um
princípio com referência aos bares para solteiros — muitas
vezes neles encontram dificuldades porque (1) esses bares
criam situações competitivas e (2), muitas vezes, não
satisfazem. Permitem apenas contatos esporádicos e
raramente se desenvolve um relacionamento entre duas
pessoas. Os bares para solteiros e os clubes deverão
constituir somente um aspecto menor das atividades quando
se tiver em mente estabelecer um círculo de relações.
A melhor maneira de aumentar a sociabilidade consiste
em valer-se a pessoa de seus interesses especiais. Quando
participa de alguma coisa de que gosta, estará em melhores
condições, era matéria de sociabilidade. Deverá aproveitar-
se de algum interesse que seja para ela importante, como
observar pássaros, conversar sobre política, camping,
equitação, tênis, e empenhar-se ativamente numa dessas
áreas. Isso será geral- mente mais satisfatório do que ir a um
bar para solteiros, porque a pessoa irá encontrar outras que
possuam os mesmos interesses e com as quais mais
facilmente poderá ampliar seu círculo de relações.
Quase todos os livros de conselhos psicológicos fazem a
mesma sugestão que acabei de dar: “Sair em campo e fazer
alguma coisa.”... “Utilizar seus interesses especiais.”...
“Telefonar para as pessoas.” No entanto, ao proporcionar
essa orientação, com vistas à ampliação do círculo de
relações de um indivíduo, partimos da presunção de que ele
saiba como fazê-lo, que irá assim proceder e que, à medida
que suas habilidades se tornarem mais aperfeiçoadas, sua
angústia diminuirá. Se o indivíduo agir de maneira positiva,
presumimos que receberá um reforço positivo para sua
atividade (talvez receba convites e faça novos amigos) e isso
reduzirá sua angústia.
Todavia, isso nem sempre é verdadeiro. Uma pessoa
poderá simplesmente evitar a ação e, desse modo, sua
angústia não poderá ser eliminada. Ou então, talvez realize
os atos necessários, mas acompanhados de tamanha
angústia que um sentimento negativo se tornará associado a
esses atos, tornando sua prática futuramente mais difícil.
No caso de indivíduos desse tipo, o Treinamento da Auto-
Afirmação se utiliza de exercícios de laboratório
denominados de reforço dissimulado, desenvolvidos pelo Dr.
Joseph R. Cautela, professor de psicologia do Boston College,
ex-presidente da Associação Americana para o Progresso da
Terapia do Comportamento.
Essa técnica se utiliza do apelo à imaginação para que
sejam reduzidos os temores. O princípio que fundamenta o
propósito de incrementar um comportamento consiste em
atribuir uma recompensa a esse comportamento que se
pretende incrementar, ou seja, gratificá-lo. Na técnica do
reforço dissimulado, toma-se o comportamento que se deseja
acentuar, imagina-se uma ação que realize esse
comportamento, reforça- se a prática dessa ação com o apelo
à imaginação. As coisas funcionam da seguinte maneira:

Exercício De Laboratório: Comportamento


Dissimulado
Finalidade: Reduzir a angústia causada por situações
sociais.
Primeira Etapa: Tomar o comportamento específico que o
indivíduo receia executar. Poderá ser, por exemplo, tirar uma
moça para dançar, puxar conversa com um estranho, dizer
“não” a um pedido descabido. O paciente deverá concentrar-
se no ato, e não em seus temores.
Segunda Etapa: Dividir o ato em pequenas partes. Por
exemplo: um indivíduo deseja tirar uma moça para dançar:
a. Estando em sua casa, pensa calmamente; “Vou telefonar para Jill,
agora.”
b. Dirige-se ao telefone de maneira descontraída e senta-se.
c. Estende a mão para pegar o telefone, de maneira calma e
descontraída.
d. Disca o número, conservando-se calmo e descontraído.
e. Espera tranquilamente o sinal de chamada.
f. Ouve Jill dizer “Alô” e observa que ainda permanece calmo e
descontraído.
g. Diz “Alô” e propõe-lhe um encontro. Mantém-se calmo e
descontraído.

É aconselhável escrever num pedaço de papel as diversas


partes desse ato.
Terceira Etapa: Escolher um reforço. Poderá ser utilizada
qualquer coisa que evoque um sentimento de prazer. Não é
necessário que seja algo ligado ao ato que a pessoa estiver
procurando reforçar. Será, por exemplo, o indivíduo imaginar
que está nadando no Lago Como, tomando sorvete de
morango, ganhando o Prêmio Nobel. Um paciente meu se
utilizava de sua música predileta, O Duplo Concerto de
Brahms. Outro evocava a emoção de estar esquiando. O que
serve para um indivíduo necessariamente não irá servir para
outro. Um reforço será bom desde que proporcione uma boa
emoção.
Quarta Etapa: Ler o primeiro item da lista e representá-lo
na imaginação. Quando a imagem estiver nítida e clara,
dizer, mentalmente; “reforce” e evocar a imagem de reforço.
Fazer isso dez vezes e passar ao item subsequente. Praticar
esse exercício todos os dias até ser capaz de executar o
comportamento numa situação da vida real, com um mínimo
de angústia. Se uma pessoa assim proceder dez vezes por
dia, durante os sete dias da semana, isso lhe proporcionará
setenta experiências condicionadoras semanais, ou trezentas
por mês. Talvez sejam necessárias centenas de experiências
desse tipo para que o condicionamento se torne operante.
Não deverá ser esperada qualquer solução mágica, e a
pessoa não dever ficar desencorajada.
Quinta Etapa-, Sempre que se apresentar uma
oportunidade, a pessoa deverá realizar o ato, etapa por
etapa, exatamente como houver feito em imaginação. Numa
situação da vida real, um indivíduo poderá até mesmo valer-
se de sua imagem de reforço (por exemplo: está num baile e
vê uma jovem. Encaminha-se para ela, de maneira
descontraída, exatamente como faz em imaginação. Assim
procedendo, dirá mentalmente “reforce” passando a evocar
sua imagem de reforço).
Sexta Etapa: Quando a pessoa verificar que essa técnica
lhe terá diminuído a angústia em relação a determinado
comportamento, escolherá outro e repetirá o processo.
O indivíduo deverá deixar de aplicar a si próprio uma
lavagem cerebral, ou seja, ficar pensando que é um fracasso
em matéria de sociabilidade. Certas pessoas vivem
cultivando pensamentos de auto-humilhação. Alguns desses
pensamentos dizem respeito ao presente: “Eu não valho
nada”... “Eu não tenho capacidade de me relacionar com as
pessoas”... “Eu não consigo fazer nada.” Se um indivíduo
enquadrar-se nessa categoria, não tomará conhecimento de
qualquer coisa boa que faça. Se alguém lhe fizer um elogio,
ele sentirá que “enganou essa pessoa” porque julga,
necessário preservar essa imagem desprezível que faz de si
próprio. Isso eu denomino a síndrome de Groucho Marx,
porque num de seus filmes Groucho declarou que não
entraria para um clube que o tivesse “aceito como sócio”.
Outros pensamentos obsessivos dizem respeito ao futuro:
“Se eu for a uma baile, acabarei tomando chá de cadeira”...
“Se eu a tirar para dançar ela dirá não”... “Se eu sair com
ela, isso só acontecerá uma vez porque ela ficará caceteada.”
Esse tino de pensamento gera profecias que sempre se
cumprem em relação às suas vítimas. Se uma pessoa ficar
profetizando: “Eu vou ser um fracasso nessa festa”... “Eu não
acabarei meu trabalho a tempo” — correrá o risco de
começar a agir de tal maneira que isso acarretará o
cumprimento da profecia.
O TA oferece dois métodos para que um individuo deixe de
humilhar a si mesmo.
(1) Se uma pessoa sofrer da síndrome de Groucho Marx,
deve começar a estabelecer o hábito" a isso oposto: lembrar-
se das boas coisas que tiver feito. Organizará, todas as
noites, uma lista de três coisas que houver feito durante o
dia e que a levaram a sentir-se satisfeita consigo mesma. Os
indivíduos que apresentem esse sintoma de forma grave, por
vezes encontram dificuldade em assim proceder porque são
muito insensíveis a qualquer coisa que façam bem feito. Será
necessário apelar novamente para o seguinte princípio:
“Prestar atenção às coisas triviais.” Quando um paciente me
declara, por exemplo: “Hoje eii não fiz nada de bom”, eu
comento: “Pense bem. Você não terá sido bondoso com
alguém menos afortunado? Não terá praticado uma boa
ação?”
(2) Empregar a técnica de fazer parar o pensamento.
Nessa técnica, utilizada no TA, partimos da premissa básica
de que um indivíduo mantém um mau hábito porque o
reforça. Na maioria dos casos, não sabemos em que consiste
esse reforço. Limitamo-nos a presumir que ele existe e que
temos em mira removê-lo. Se um comportamento jamais for
reforçado, os pensamentos de humilhação desaparecem. A
técnica de fazer parar o pensamento se relaciona com a
autoafirmação pelo fato de permitir à pessoa exprimir seus
verdadeiros sentimentos, libertando-se assim, para tentar
fazer algo da novo em sua vida.
Exercício De Laboratório: A Técnica De Fazer
Parar O Pensamento
Finalidade: Aliviar as obsessões no campo da
sociabilidade.
Primeira Etapa: Sentar-se numa cadeira confortável.
Lembrar-se de um dos pensamentos que deseja controlar.
Poderá ser ele a angústia relacionada a algum futuro
acontecimento, ou o temor de conhecer alguém. Se for toda
uma série de pensamentos, deverá ser tomado qualquer um
deles. Logo que o pensamento se formar na mente, a pessoa
dirá em voz alta: “Pare!” e, em seguida, dirá de si para si:
“Calma”, relaxando deliberadamente os músculos num
período de cinco a dez segundos. A meta dessa prática é a
seguinte: obter pelo menos uma interrupção momentânea do
pensamento que o indivíduo estiver tentando controlar. Se
essa. interrupção não for conseguida, deverá ser repetido o
exercício e pronunciada a palavra “Pare!” durante mais
tempo e num tom de voz mais alto. Quando um indivíduo for
capaz de repetir isso duas vezes, conseguindo pelo menos
obter essa momentânea interrupção de seu pensamento, irá
adiante, realizando a etapa subsequente. Isso opera como
um meio de aquisição de controle.
Segunda Etapa: Fazer o exercício da mesma maneira, mas
dizer “Pare!” mentalmente, em vez de pronunciar essa
palavra em voz alta. Se a pessoa encontrar dificuldade em
conseguir uma momentânea interrupção de seu pensamento,
poderá praticar da seguinte maneira: retroceder, bradando
“Pare!” no íntimo, ou batendo no pulso com uma tira de
borracha enquanto estiver pronunciando essa palavra.
Ao ser aplicada a técnica de fazer parar o pensamento,
duas regras fundamentais são as seguintes: fazer parar o
pensamento logo que o mesmo ocorra e todas as vezes que
ocorrer. O indivíduo sabe quais são os pensamentos que
deseja controlar. Logo que tomar consciência de um desses
pensamentos, deverá cumprir a rotina: “Pare”, “Calma” e
relaxar os músculos. A pessoa deseja obter essa interrupção
do pensamento. Se o mesmo reocorrer dentro de dois
segundos, dois minutos ou duas horas, logo que ela tomar
consciência de seu retorno, repetirá o procedimento
descrito. Insisto em dizer logo que o pensamento reocorrer,
porque (1) se o indivíduo permitir que esse pensamento
tenha a oportunidade de firmar-se, será difícil controlá-lo; e
(2) um determinado tipo de reforço manterá o hábito da
auto-humilhação. Ê necessário que o indivíduo consiga essa
interrupção momentânea do pensamento até que o reforço
entre em ação.
Afirmo também que o procedimento recomendado deverá
ser seguido todas as vezes que o pensamento em questão
reocorrer porque (1) a pessoa quer estabelecer um hábito
inverso ao seu, ou seja, o de não ter pensamentos de auto-
humilhação, a isso seguindo-se um relaxamento muscular.
Como acontece com a formação de qualquer novo hábito,
precisa tentar praticar esse hábito a cada oportunidade que
se apresente e, por esse motivo, deve executar esse exercício
de fazer parar o pensamento até que a sequência “Pare”,
“Calma” e relaxamento muscular se torne automática: (2) na
ausência de reforço de um comportamento, sua frequência
se reduz e esse comportamento acaba por desaparecer. Se
uma pessoa utilizar-se às vezes da técnica de fazer parar um
pensamento e, outras vezes, assim não proceder, ficará
situado no que denominamos plano intermitente de reforço
ao acaso. Isso tornará um hábito ainda mais arraigado e de
mais difícil extirpação. O método de fazer parar o
pensamento não poderá ser empregado sem que exista forte
empenho em praticá-lo. Deverá ser adotado sempre ou não
ser utilizado nunca.
CASO
Peter, jovem e brilhante professor assistente de História,
tinha medo das mulheres. Um de seus fortes temores era
simplesmente o de telefonar para uma jovem e marcar um
encontro com ela. Na véspera de um desses telefonemas,
Peter ficava obcecado com pensamentos como este: “Ela vai
dizer que não”, ou então, “Por que uma loura tão bonita
haveria de querer alguma coisa comigo?” No momento em
que realmente dava o telefonema, estava tão angustiado que
não sabia lidar com a situação e, inevitavelmente, levava um
contra. Ensinei-lhe a técnica de fazer parar o pensamento.
Utilizando-a em todas as oportunidades em que lhe ocorria
um desses pensamentos de auto-humilhação acerca dum
próximo telefonema, Peter impedia que sua angústia
aumentasse e conseguia fazer seu convite à moça, com
segurança. Começou a receber uma série de “sim” e sua
angústia a respeito de fazer convites a moças diminuiu.
Como os pensamentos de auto-humilhação interferem
junto às verdadeiras emoções, o emprego da técnica de fazer
parar um desses pensamentos pode afetar não apenas o
círculo de relações de um indivíduo mas também seu
relacionamento com todas as pessoas, até mesmo as mais
íntimas. À medida que conseguir manter esses pensamentos
sob controles, frequentemente suas emoções mais finas e
requintadas serão capazes de emergir.
CASO
Jane era uma criatura muito obsessiva. Vivendo sempre a
cultivar pensamentos de auto-humilhação, transformava seus
erros mais triviais (como, por exemplo, deixar que os ovos
quentes ficassem duros demais, ou jogar mal uma carta
numa partida de bridge em provas de como “era uma pessoa
horrível”. Isso a levou a um estado de permanente angústia,
depressão, e a um relacionamento perturbado com as outras
pessoas.
Aplicando a técnica de fazer parar o pensamento,
começamos a manter sob controle a obsessão de Jane. Certa
noite, porém, ela entrou em meu consultório com esses
pensamentos novamente nela instalados em grau máximo,
isso desencadeado por uma verdadeira catástrofe que
desabara sobre um de seus filhos. O rapaz, que contava
quatorze anos © queria ser jogador profissional de futebol,
era portador de um recente diagnóstico de sofrer de um
amolecimento dos ossos, que o obrigaria a permanecer
afastado de todo e qualquer esporte durante quatro anos.
Ouvindo isso, Jane começou a ficar obcecada com o seguinte
pensamento: “O que eu fiz de errado?”... “Ele irá culpar-me
por causa disso?” Esqueceu- se completamente de empregar
a técnica de fazer parar o pensamento.
Nós começamos da estaca zero, na técnica de fazer parar
o seu modo de pensar, com: o propósito de obter o controle
de seus pensamentos centrados em si mesma e evocadores
de um sentimento de culpa de sua parte. À medida que essa
técnica começou a produzir efeitos, emergiram em Jane
pensamentos de preocupação e ternura, e ela tornou-se
capaz de ficar triste por causa do que acontecera com o filho,
e demonstrar sua empatia diante dos sentimentos dele, que
havia sofrido aquela perda. Passou a ser mãe, em vez de
autoflagelar-se.
Ao ser empregada a técnica de fazer parar o pensamento,
cumpre lembrar os seguintes pontos:
Se o indivíduo tiver constantes pensamentos de auto-
humilhação, terá de valer-se da. palavra “Pare!” como se
fosse uma metralhadora, durante os primeiros dias de seus
exercícios. Um de meus pacientes a empregou 432 vezes em
24 horas. Ao cabo de uma semana, esse número havia
baixado a 20 vezes por dia. Transcorridas duas semanas,
caíra a zero. É preciso cerrar os dentes e atacar a técnica de
dizer “Pare”!
De início, exatamente aqueles pensamentos que um
indivíduo estiver procurando controlar poderão dar a
impressão d© ocorrer com maior frequência e com mais
forte intensidade. Isso se denomina a “curva operante de
extinção” a qual, a princípio, é uma curva ascendente.
Quando, porém, toma-se descendente, isso ocorrerá com
grande rapidez.
Em caso de dúvida, a pessoa deverá utilizar sempre a
técnica de fazer parar o pensamento. Poderá perder tanto
tempo ao decidir se se trata ou não de um dos pensamentos
que deseja controlar, que o pensamento obsessivo se insinua.
A pessoa não terá nem tido tempo de procurar fazê-lo parar.
Os pensamentos que um indivíduo possa julgar que esteja
mantendo sob controle poderão reocorrer diante de três
condições: (1) quando ele estiver tenso por algum motivo; (2)
quando sentir-se fatigado; (3) quando estiver doente. Se tais
pensamentos reocorrerem, a pessoa deverá saber que
chegou o momento de insistir no emprego da 'técnica da
fazer parar o pensamento, e impedir, desse modo, que esses
pensamentos voltem a instalar-se em sua mente.
Melhorar a qualidade da conversação. No
Treinamento da Autoafirmação, dedicamos muito tempo à
educação para a sociabilidade, se o paciente for acanhado
para conversar com outras pessoas. Eis algumas sugestões
nesse particular:
(1) Desenvolver n técnica do bate-papo, uma habilidade
que tem de ser aprendida, como é o caso do bridge ou do
xadrez. Um bate-papo poderá ser superficial, mas serve para
ampliar-se um círculo de relações. No bate-papo é necessário
prestar atenção aos seguintes aspectos.
(a) Limitar a revelação do próprio eu. Dizer às outras
pessoas coisas a respeito de si mesmo, de caráter pessoal,
mas não demasiadamente pessoal. Empregar o pronome
“eu” para conversar sobre a peça que houver assistido na
semana anterior. ou falar a respeito de sua mais recente
atribuição, no trabalho, mas não entrar em pormenores a
respeito de seu esgotamento nervoso. Quando um indivíduo
trava conhecimento com alguém, deve manter a conversação
no nível E, superficial, descendo de vez em quando aos níveis
D e C.
(b) Induzir outra pessoa a revelar alguma coisa sobre si
mesma. Por exemplo: narrar alguma aventura que lhe houver
ocorrido durante uma viagem. Geralmente seu interlocutor
ficará estimulado a contar algo que tenha acontecido com
ele. Isso poderá exigir apenas uma simples pergunta: “Você
já esteve lá?” Ou até mesmo uma pausa na conversação.
(c) Quando a outra pessoa estimular um indivíduo para
que revele alguma coisa sobre ele próprio, esse estímulo
deverá ser aceito. Ele reagirá utilizando-se de sua
experiência.
Se achar a conversação enfadonha, ou que a outra pessoa
pareça meio impaciente, mudará de assunto.
(d) Adquirir a técnica de encerrar uma conversação de
maneira adequada, e afastar-se, indo reunir-se a outro grupo.
É difícil deixar uma pessoa sozinha. Por isso, deverão ser
empregadas frases básicas, como esta, por exemplo: “Vamos
nos reunir àquele grupo”, ou então “estou ouvindo aquelas
pessoas falarem sobre o conselho escolar. Eu gostaria de
saber o que se tem a dizer sobre isso”. Ou ainda, “É melhor
eu ir dizer algumas palavras à dona da casa”. Numa situação
extrema, poderá ser dito o seguinte: “Eu estou precisando de
mais gelo para meu drinque.”
(2) Aprender como iniciar uma conversação. Se uma
pessoa não for capaz disso, poderá ficar tão angustiada nas
reuniões sociais, que as evitará. E se a elas comparecer,
talvez acabe não conversando com ninguém. Frases como
estas servem para quebrar o gelo: “Eu estou gostando muito
de seu vestido. Posso saber onde você o comprou?”... “Você é
sócio deste clube?” Pratique duas ou três frases para tornar-
se capaz de utilizá-las.
CASO
Quando John, recém-formado por uma faculdade, veio
procurar-me no consultório, tinha receio de ficar isolado e
também de conversar com outras pessoas. Durante toda sua
permanência na faculdade, só tivera dois encontros com
moças, e haviam sido arranjados por seu companheiro de
quarto, que era o único amigo seu. Quando me procurou,
John receava parar uma pessoa na rua e pedir-lhe alguma
informação a respeito de que direção deveria tomar para ir a
um determinado lugar. E apresentava um problema ainda
mais difícil: havia aceito um emprego fora do país,
declarando-me o se- seguinte: “Eu não conheço ninguém na
firma. Vou morrer de solidão.”
Comecei imediatamente a instruir John a aplicar a técnica
de iniciar uma conversação. Durante o período de seu
tratamento, ele foi convidado para assistir ao casamento de
seu antigo companheiro de quarto, que seria realizado numa
outra cidade. John só conhecia os noivos. Ensaiei com ele a
maneira de iniciar uma conversação nesse casamento.
Levantei-me, no consultório, e lhe disse o seguinte: “Faça
de conta que você está no casamento. Eu aqui estou, e você
está aí. Aproxime-se de mim e comece a conversar comigo.”
John declarou o seguinte: “Eu não posso fazer isso.
Eu acrescentei: “Fique aí de pé e diga para você mesmo;
‘Será que eu vou ficar pregado aqui, como um bobo, ou devo
procurar conversar com aquele homem?’ Diga isso em voz
alta.”
John pronunciou essa frase em voz alta.
Então eu lhe perguntei; “O que você responderia a isso?”
John replicou: “Eu quero começar a conversar com o
homem.”
Então eu acrescentei: “Ótimo. Vire-se em minha direção.
Aproxime-se de mim.” Ele assim fez.
Eu acrescentei o seguinte: “Diga alguma coisa. Qualquer
coisa.” John permaneceu calado.
Eu lhe disse, então: “Olhe para mim. Você está vendo
alguma coisa em mim, algo que eu esteja usando e que lhe
agrade?”
John olhou para mim com o rabo dos olhos e declarou:
“Não.”
“Você gosta de minha gravata?” eu indaguei.
“Para falar a verdade não gosto’’, respondeu John. “Mas
gosto de seu alfinete de gravata.”
“Diga isso a mim”, eu insisti.
“Eu gosto de seu alfinete de gravata”, repetiu John.
Eu lhe demonstrei minha satisfação diante desse passo à
frente que ele tinha dado, e exclamei: “Muito bem!”,
acrescentando; “Encare-me quando você disser isso. John
repetiu a frase e, dessa vez, encarou-me, falou mais alto e
num tom de voz mais confiante.
Eu lhe respondi, contando-lhe um pequeno caso sobre as
circunstâncias em que eu tinha comprado o alfinete, de
gravata, e nós prosseguimos facilmente nossa troca de
ideias. Ensaiamos isso várias vezes. Naquele fim de semana,
lá se foi John, de avião, para assistir ao tal casamento.
Quando me avistei com ele, na tarde de segunda-feira,
declarou-me o seguinte: “Tudo aconteceu exatamente como
nós havíamos praticado. Eu estava de pé, sozinho, e um
outro homem, também sozinho, estava parado perto de mim.
Eu disse de mim para mim: ‘Será que eu prefiro ficar aqui
como um bobo ou conversar com esse homem? Vou tentar
conversar com ele. Eu estava tão nervoso que nem reparei se
ele estaria ou não usando um alfinete de gravata. Mas disse
o seguinte: ‘Eu gosto do seu alfinete de gravata.’ E me
lembrei de encarar o homem. Exatamente como o senhor fez,
ele começou a me contar uma história sobre o alfinete de
gravata. Antes que eu me apercebesse, nós estávamos
conversando e outras pessoas vieram reunir-se a nós dois.
Um grupo veio também juntar- se a nós, e eu fiquei
conhecendo uma garota muito bonita. Ela vai me ver em
Roma.”
Foi assim que John aprendeu a iniciar uma conversação.
Empregando a mesma técnica, qualquer pessoa poderá isso
conseguir.
(3) Aprender como associar-se a uma conversação. Em vez
de iniciar uma conversação, uma pessoa poderá querer,
frequentemente, reunir-Se a um grupo no qual outras
pessoas estejam conversando sobre determinado assunto.
Seu objetivo deve ser o seguinte: fazer alguma afirmação que
desperte a atenção dos outros para sua pessoa, através da
qual os demais membros do grupo a considerem como
participante do mesmo e do que estiverem conversando. A
pessoa deverá fazer isso, estendendo-se sobre algum
comentário que tenha sido feito, oferecendo alguma
experiência pessoal que houver' tido, quando assim proceder.
Deverá evitar a armadilha de indagar qual o assunto que seja
objeto da conversação das outras pessoas. Embora isso às
vezes possa dar certo e a pergunta possa ser extremamente
apropriada, é mais provável que venha a ser considerada
uma intromissão de parte do recém-chegado e, geralmente,
não o tornará um participante do grupo. Ele permanecerá na
periferia do mesmo. Depois de conseguir participar do
grupo, a pessoa poderá entrar no assunto dá conversação e
ir até onde esse assunto a levar.
Demos um exemplo; Patty, uma jovem assistente social,
obedecia ao princípio de só “travar conhecimento com
pessoas pelas quais tivesse verdadeiro interesse” e de
“dirigir-se aonde houvesse ação”. Passava seus fins de
semana, durante o inverno, em lugares onde se praticava o
esporte de esquiar. No. entanto, certa noite ficou sentada
num canto, sozinha, porque, segundo confessou, “não sabia
reunir-se a grupos que já estivessem conversando”. Como a
maior parte da conversa girava em torno de lugares onde se
esquiva, diferentes lugares, eu ajudei Patty a recriar diversos
casos, retirados de sua própria experiência. Em seguida,
discutimos várias maneiras de integrar isso numa
conversação real. Se alguém se referisse a Aspen ou a
Zermatt, ela poderia dizer; “Lá me aconteceu uma coisa fora
do comum.” Depois prosseguiria, contando sua história. Se
as outras pessoas estivessem falando sobre algum outro
lugar, ela poderia entrar na conversa, dizendo isto: “Eu tive
uma experiência parecida, em Aspen.”
Logo no seguinte fim de semana, Patty, como sempre
girando em torno de um grupo, em sua periferia, teve
oportunidade de pôr à prova aquela técnica. Alguém havia
acabado de contar um caso sobre a prática de esqui em
Chamonix, e Patty entrou quase automaticamente na
conversa, declarando-me o seguinte: “Quando eu contei
minha história, o grupo se voltou “fisicamente” para mim,
movendo-se para que eu dele participasse. Quando acabei de
falar, um homem me fez uma pergunta sobre Aspen e, daí em
diante, eu comecei a fazer parte do grupo.”
A partir desse começo, Patty participou cada vez mais do
grupo, nos fins de semana, fazendo novos amigos e
ampliando seu círculo de relações.
(4) Aprender a sustentar e orientar uma conversação.
Seguem-se algumas sugestões a esse respeito:
(a) Tomar cuidado com o terceiro grau da comunicação.
Não ficar inquirindo as pessoas, fazendo-lhes perguntas uma
atrás da outra. O princípio em causa é o seguinte; o indivíduo
deverá revelar alguma coisa sobre si mesmo e, em seguida,
fazer sua pergunta. Por exemplo: em vez de indagar: “Você
gosta de Londres?” experimentar dizer o seguinte; “Eu
nunca estive em Londres. Você acha que eu gostaria de
Londres?”
(b) Estar preparado. Ter na mente coisas para dizer, ideias
que deseje discutir. A maioria das pessoas encontra
dificuldade em sustentar uma conversação porque permite
que ela morra e haja pausas de silêncio. Não sabendo o que
dizer, tornam-se angustiadas e, em breve, interrompem a
conversação ou esta cessa por si mesma. Uma valiosa ponte
que ajuda a manter a conversação é a seguinte frase; “Não
sei por que, mas isso me faz lembrar...” e a pessoa vai em
frente até onde quiser chegar.
(c) Se a conversação tomar um rumo que seja enfadonho,
ou se uma pessoa não for capaz de mantê-la. deverá
deliberadamente mudar para um tema em que possa sentir-
se mais à vontade.
(d) Tornar-se interessante. Isso significa contar casos de
maneira interessante. As pessoas geralmente acham que se
tiverem antes pensado muito numa história. que ela não será
espontânea quando a narrarem. Talvez isso seja verdade,
mas essa história será melhor do que se for improvisada.
Uma boa história não exige grande dramaticidade nem há de
pertencer à linha do humorismo de alta classe. A pessoa de
fato deseja tomar uma experiência da qual tiver participado
e narrá-la de maneira interessante, engraçada ou
informativa.
Eu tive um paciente que era atuário. Quando lhe
perguntei, pela primeira vez: “O que faz um atuário?”, ele me
falou sobre algo muito vago e cacete a respeito de números e
tarifas de seguros. Depois que o instruí no sentido de
“inventar” um caso sobre algum projeto específico no qual
tivesse trabalhado, ele se tornou muito mais interessante.
Contou-me que certo funcionário de uma cidade do sudoeste
lhe tinha enviado seu plano de pensões para os servidores
públicos dessa cidade, perguntando-lhe qual seria o custo
desse plano durante determinado período de anos se a
cidade elevasse em 20% os proventos das pensões. Meu
paciente foi obrigado a calcular a expectativa de vida de
várias pessoas em causa e cuidar de diversos outros
problemas intricados. Nós trabalhamos juntos no propósito
de transformar tudo isso numa história que tivesse sentido e
pudesse ser narrada em dois minutos. Tudo pode ser
transformado num caso digno de ser contado, desde que a
pessoa tenha alguma coisa a dizer. A simples técnica não
basta: é preciso haver algo a comunicar.
Aprender a lidar com palavras que humilham.
Quando alguém entra em relacionamento com outras
pessoas, estará sujeito a ouvir palavras que humilham, quer
essas pessoas assim procedam deliberadamente, quer o
façam de maneira inadvertida. Acontece que todos nós temos
nossas limitações e, a certa altura, até mesmo uma pessoa
dotada de grande sensibilidade não entenderá alguma coisa
e dirá palavras que não têm cabimento dentro de
determinada situação. É necessário saber lidar com
humilhações, quando isso ocorre. Quem for incapaz de
enfrentar essas humilhações, acabará se tornando um bode
expiatório. Os amigos não respeitam um indivíduo dessa
espécie, se ele não se fizer respeitar.
No TA, atribuímos dois significados à palavra humilhar:
(1) fazer uma crítica injustificada; (2) fazer uma crítica
justificada, porém expressa de maneira exagerada ou
imprópria. O critério para se definir se alguma coisa
constitui uma humilhação infligida a alguém não consiste
simplesmente no seguinte: o indivíduo sente que se trata de
uma humilhação? Não se deve ficar pensando se a
humilhação foi ou não justificada. Se um indivíduo achar que
alguém o tenha humilhado com palavras, deve reagir a isso
como se fosse, realmente, uma humilhação.
Guia Do Principiante Em Matéria De
Humilhações
(1) Se achar que alguém o tenha humilhado com uma
observação, um indivíduo deverá dar-lhe uma resposta. Porá
de lado racionalizações como esta; “Eu não desejo criar
confusões.” Cumpre observar o seguinte princípio: não ter
receio de magoar um inocente. Em outras palavras, a pessoa
poderá não ter tido a intenção de fazer de seu comentário
uma humilhação e, por esse motivo, estará inocente. Não
terá percebido o alcance do que houver dito. No entanto, se
um indivíduo achar que essa pessoa o humilhou, deverá
invariavelmente dar-lhe uma resposta, seja essa pessoa
inocente ou não.
(2) Parar para pensar. As pessoas que dizem as primeiras
palavras que lhes vêm à mente são essencialmente passivas.
A resposta que um indivíduo der não precisa ser articulada
numa fração de segundo. Quando alguém der uma resposta
deliberada, terá tomado uma posição ativa. Deverá fazer
uma pequena pausa e pensar numa resposta eficiente.
(3) Na maioria das situações, a primeira frase de uma
resposta não deve começar com as palavras “eu” ou
“porque”. O emprego de uma dessas duas palavras poderá
dar a impressão de que o indivíduo está se desculpando, ou
se colocando na defensiva. Isso talvez acarrete outras
humilhações, ou a uma altercação fora de propósito.
Seguem-se alguns exemplos de comentários de caráter
humilhante, acompanhados de respostas “erradas” e
“certas”. As respostas “certas” visam a colocar a outra
pessoa em posição defensiva. Em vez de dar explicações, o
indivíduo fará com que essa pessoa as dê. Cumpre lembrar
que o critério de uma resposta é o seguinte: fazer com que o
indivíduo se sinta melhor consigo mesmo. As respostas
“certas” a seguir apresentadas constituem mera
exemplificação das regras a serem seguidas. Talvez não se
apliquem à situação particular de um indivíduo. Ele terá de
experimentar várias respostas e verificar quais aquelas que o
levam a sentir-se melhor consigo mesmo.
Primeira Situação: Um amigo diz o seguinte: “Aquela
garota com quem você saiu ontem à noite era feia mesmo.
Você está perdendo o bom gosto?”
Resposta certa: “Você ainda é tão imaturo que julga as
mulheres por essas superficialidades?”
Resposta errada: “Você acha que ficou mal para mim sair
com ela?”
Segunda Situação: Um colega de trabalho lhe diz o
seguinte:
“Você tornou a fazer a mesma coisa. Arquivou errado p
Relatório Lesham.”
Resposta errada: “Eu nem pus as mãos nesse arquivo.
Nunca o vi.”
Resposta certa: “Você tirou uma conclusão errada. Por
que não verifica as coisas primeiro?”
(4) Não cair na armadilha de pedir outra pessoa que
explique melhor o que há de errado com você. Se um
indivíduo fizer perguntas como esta: “O que há de errado
nisso?” estará de fato pedindo à outra pessoa que lhe dê
outro murro na cara.
(5) Aprender algumas frases feitas que possam ser
empregadas quase automaticamente, como, por exemplo:
“Por que você está tão zangado?...” “Você quis me
humilhar?”... “Como você hoje está de mau humor!”
(6) Diante de certos comentários depreciativos, quando se
trata de alguém com quem o indivíduo tenha um
relacionamento íntimo, ele poderá empregar as palavras
“eu” e “porque”, em sua resposta. Assim procederá porque ^
sua intenção não será a de contra-atacar, mas a de
aprofundar seu relacionamento com a outra pessoa.
Primeira Situação: Um rapaz de dezessete anos, que está
na última série da escola secundária, leva para casa um
boletim de suas notas, tendo obtido média 95. Depois de
examinar o boletim, o pai dele indaga: “Por que motivo você
não tira notas mais altas? Desse jeito, como você poderá
entrar em Yale?”
Resposta errada: “Eu me esforcei o máximo que pude.”
Resposta certa: “Pai, eu estou sentido porque você não
reconhece que eu obtive um A, direto.”
Segunda Situação: Uma esposa se esforça a valer para
preparar uma refeição caprichada, mas o marido dela lhe diz
o seguinte.: “É uma pena que a comida não tenha saído
direito. Quando você vai aprender a cozinhar?”.
Resposta errada: “Eu levei quatro horas para preparar
esse cozido.”
Resposta certa: “Estou aborrecida pelo que você me disse,
porque eu trabalhei tanto para preparar um jantar
apetitoso!”
Essas normas se destinam a principiante. Quando um
indivíduo chegar a ter maior criatividade em sua
autoexpressão, poderá transgredi-las. A título de exemplo,
cito a famosa tirada de John Wilkes, um inglês muito
espirituoso. Quando Lorde Sandwich afirmou que Wilkes
morreria de varíola ou no cadafalso, este lhe respondeu o
seguinte: “Isso depende, milorde, de eu abraçar sua amante
ou seus princípios.” Aprender a modificar um círculo de
relações quando a vida mudar. Até esta altura eu enfatizei o
problema que consiste em dar ajuda àqueles que não
possuam um adequado círculo de relações. Muitas pessoas,
entretanto, que já têm um apropriado círculo de relações,
verificam ser necessário realizar um grande reajustamento
nesse particular, em consequência de sua nova situação na
vida.
Se um indivíduo começou a namorar firme aos dezessete
anos, casou-se aos dezoito e enviuvou aos trinta e sete anos
de idade, poderá descobrir, então, que não sabe como portar-
se quando tem um encontro com uma mulher.
Há situações em que as habilidades de uma pessoa
poderão ter existido, mas se tornaram embotadas por falta
de prática. Um homem de meia-idade, divorciado pouco
tempo antes, ganhando 50.000 dólares por ano como
advogado de uma grande empresa, declarou-me o seguinte;
“Já me esqueci do que devo fazer quando me encontro com
uma mulher. Não devo fazer nada, devo beijar essa mulher,
ou tentar levá-la para a cama?”
Um homem poderá perder a esposa, ou estar divorciado
dela, encontrando-se na situação que o escritor Morton Hunt
denominou, O Mundo dos Ex-Casados. Ou talvez ele aceite
algum emprego numa cidade estranha, na qual não tenha
amigos e possua poucos conhecidos. Em tais circunstâncias,
poderá verificar que sua sociabilidade será deficiente e será
tomado de receios que anteriormente nunca lhe tenham
passado pela mente.
CASO
Um casal de meia-idade mudou-se para outra cidade. Os
dois não conheciam ninguém, e o trabalho do marido
obrigava-o a passar, um mês, três semanas ausente de casa.
Presa entre quatro paredes, por causa de seus três filhos
pequenos, a esposa sentiu-se muito isolada e entrou numa
crise de depressão. Vivia repetindo o seguinte: “Nós nos
mudamos para cá porque o clima daqui é quente, e eu
poderia jogar tênis, mas agora não tenho com quem fazer
isso.” Um domingo, saturado com a melancolia da mulher, o
marido lhe disse: “Pegue um livro e vamos até as quadras de
tênis da cidade.” Lá se foram eles, e passaram três horas
olhando outras pessoas jogarem duplas. Durante esse.
tempo, o marido tomou nota das pessoas que tinham um jogo
equivalente ao dele e de sua esposa. Em seguida, aproximou-
se delas, dizendo-lhes: “Parece que vocês jogam mais ou
menos igual a nós dois. Acham que poderíamos jogar juntos
de vez em quando?” Imediatamente um casal marcou duas
partidas de tênis para o próximo fim de semana, e a esposa
arranjou três jogos para ela própria, durante a semana.
Essas partidas de tênis levaram à formação de um círculo de
relações.
Qualquer que seja a situação de um indivíduo, se ele tiver
de reformula seu círculo de relações, poderá empregar as
normas anteriormente esboçadas. Cumpre não esquecer o
seguinte;
deverá começar no ponto em que estiver;
progredir por etapas em direção às suas metas;
realizar experiências constantes com seu círculo de relações e
continuar fazendo progressos.

Ação No Sentido De Adquirir


Relacionamentos De Caráter Íntimo
Um paciente meu me fez esta* pergunta: “É ótimo realizar
um contato inicial com as pessoas através de um bate-papo.
Mas como progredir no sentido de chegar a ter um
relacionamento íntimo com essas pessoas? Eu não quero ser
esse tipo de indivíduo que vive contando casos divertidos.”
Para que uma pessoa progrida no sentido de um
relacionamento mais íntimo com alguém, deverá ter presente
os oito aspectos seguintes:
(1) praticar a técnica do acompanhamento. É impossível a
uma pessoa ter um relacionamento com alguém se o vir
apenas uma vez por mês.
(2) Perceber que o fato de simplesmente se encontrar uma
pessoa com alguém não resultará automaticamente num
relacionamento íntimo. É preciso que o indivíduo faça um
esforço deliberado para mostrar como é capaz de
compartilhar coro as ideias e sentimentos dessa pessoa como
deseja isso fazer-
(3) Evitar a armadilha de progredir depressa demais. No
que diz respeito aos citados círculos concêntricos, uma
pessoa não há de querer saltar do nível E ao nível A, sem
investigar os níveis D-C-B. Muitos indivíduos cometem esse
erro, especialmente os solteiros, os que não têm um
adequado círculo de relações, ou os que possuem um círculo
de relações de caráter esporádico.
Até mesmo num primeiro encontro esses indivíduos
tendem a consolidar a pessoa a quem tiverem acabado de
conhecer como uma esposa em potencial. Perdem de vista a
finalidade de qualquer primeiro encontro, que é
proporcionar prazer e permitir uma troca mútua e preliminar
de ideias e sentimentos, de sorte que as pessoas fiquem
sabendo que desejam conhecer-se melhor. Sem de fato
conhecer as outras pessoas, tais indivíduos ficam geralmente
desapontados com seus primeiros encontros, julgam de
maneira severa a quem estiver em sua companhia e não lhes
proporcionam horas agradáveis.
Nos relacionamentos que progridem depressa demais,
atingindo um grau extremo de intimidade, quem assim
procede espera da outra pessoa mais do que a situação lhe
possa permitir e, muitas vezes, sente-se magoado. Além
disso, não proporciona a esse tipo de relacionamento a
oportunidade de desenvolver-se.
(4) Ao progredir de um relacionamento de caráter
superficial para outro de tipo intermediário, um indivíduo
poderá e deverá escolher mais cuidadosamente as pessoas
com quem irá relacionar, se No início, ele poderá não dispor
dessa escolha. Se partir de uma situação de isolamento, irá
associar-se às pessoas que estiverem ao seu alcance. Depois
de haver estabelecido um determinado círculo de relações,
poderá escolher entre as alternativas que se oferecem. Uma
pessoa gostaria de tomar-se amiga íntima de Jane ou
continuar vendo nela uma simples conhecida? Uma jovem
estimaria sair numa determinada noite com A ou com B? Já
não se trata de uma situação em que a pessoa deverá fazer
alguma coisa para formar seu círculo de relações, mas como
proceder para tomá-lo melhor. Agora essa pessoa se
encontra em condições de fazer suas escolhas.
(5) À medida que o círculo de relações de um indivíduo se
desenvolve, ele deverá seguir aquilo que lhe indicarem seus
sentimentos espontâneos. “Eu gosto dele... dela, deles,
delas.” “Eu gostaria de vê-lo, vê-la, vê-los, vê-las.” Não
deverá permitir que seus pensamentos interfiram com seus
sentimentos. Muitos pacientes me perguntam o seguinte;
“Eu sou neurótico por gostar dela?”... “A Sra. Jones me
achará intrometida se eu tomar uma firme iniciativa?” O
individuo deverá aceitar seus sentimentos espontâneos e agir
de acordo com esses sentimentos. Até mesmo esta afirmação
direta; “Eu gosto de você. Eu gostaria de vê-lo (ou vê-la)
novamente” poderá ser apropriada, desde que a outra pessoa
admita que um indivíduo tem liberdade de falar nesses
termos.
Um indivíduo poderá aprender sozinho a se comunicar
num nível cada vez maior de intimidade. Como sempre,
recomendo o emprego reiterado da técnica da conversação
de conteúdo afetivo, e também insisto que a pessoa deverá
revelar o que ela é.

Exercício De Laboratório: Sobre A


Autorrevelação
Finalidade: Ajudar um indivíduo a narrar casos de
natureza muito pessoal.
Primeira Etapa: Tomar uma experiência, emocional
ocorrida em cada dez anos de vida e narrá-la em voz alta a si
próprio, ou gravá-la numa fita magnética. As experiências
podem ser alegres, tristes ou possuírem imensa significação
para esse indivíduo (como, por exemplo, ter fugido de casa
aos seis anos de idade). Trabalhar com uma dessas
experiências de cada vez.
Segunda Etapa: Narrar cada uma dessas experiências a
alguém com quem a pessoa esteja se esforçando por tomar-
se mais íntima: o esposo (esposa), algum amigo muito
chegado, ou algum conhecido que deseje transformar em
amigo.
Terceira Etapa: Narrar o trauma mais forte por que
passou na vida. Narrar essas experiências levará um
indivíduo a começar a trilhar o caminho do relacionamento
íntimo, pois estimulará as outras pessoas a comunicar-lhe
suas próprias experiências significativas. Assim, esse
relacionamento se tomará mais profundo e esse indivíduo
passará a ser mais espontâneo.
(6) Aprender que à medida que a intimidade progride, irão
modificar-se as normas relativas à formação de um círculo de
relações. Quando um indivíduo conhece melhor determinada
pessoa, seu comportamento terá maior flexibilidade. Não se
trata de indagar se, mas sim, como compartilhar com essa
pessoa seus sentimentos de maneira mais direta e franca. O
indivíduo deverá aprender a abordar francamente algum
mal-
entendido, e também estar disposto a discutir e lutar a
respeito de coisas que possuam caráter pessoal.
Compartilhará mais com essa pessoa em matéria de
sentimentos porque ficará sabendo cada vez melhor o que
compartilhar. Certas normas adquirem maior importância,
como, por exemplo, a necessidade de reagir a comentários
depreciativos, porque se isso não for feito tais comentários
irão tornar-se habituais.
(7) Ã medida que um relacionamento se torna mais
pessoal junto a alguém, poderá predominar no indivíduo o
temor de ser franco. Ele saberá o que quer fazer e onde
pretende chegar, mas teme caminhar nessa direção. Desse
modo, irá sentir, se inibido, impedindo que se desenvolva sua
intimidade com essa pessoa.
Que poderá fazer diante desses receios?
Concentrar-se nas ações. Fazer aquilo que tiver vontade
de fazer, ou dizer o que quiser dizer, não atribuindo relevo
aos sentimentos de temor gerados por essas ações.
Empregar a técnica do reforço dissimulado ou o método do
ensaio do comportamento. Em seguida, agir numa situação
de sua vida real. O temor prévio poderá ser muito pior do
que aquilo que realmente acontecer.
CASO
Tive um paciente de vinte e tantos anos de idade, que ©ra
contador. Em sua adolescência. Pete, esse era seu nome.
havia sido condenado pelo furto de um automóvel, e
mandado para um reformatório. Isso constituiu uma
humilhação para sua família, de classe média, e Pete vivia
aterrorizado, imaginando que alguém fosse descobrir seu
passado. Sempre que a conversação girava em torno de
crimes ou de questões de ética social. Pete se sentia muito a
contragosto e pensava o seguinte: “Se essas pessoas
soubessem, não haveriam de querer nada comigo.”
Durante seu tratamento, refletimos sobre como Pete
poderia contar às pessoas tudo acerca de seu passado.
Imaginamos que ele poderia dizer o seguinte: “Você sabe
como os rapazes se envolvem em toda espécie de coisas.
Certa vez eu fiz uma de oue ainda me envergonho.” Depois
dessa entrada. Pete narraria o que lhe havia acontecido. De
modo geral, as pessoas aceitaram isso e continuaram amigas
dele. Pete deixou de viver achando que tinha algo a esconder.
(8) Compreender que à medida que for estabelecendo seu
círculo de relações, um indivíduo não terá de gostar de todas
as pessoas que conhecer. Poderá simplesmente rejeitar
certas pessoas situadas em áreas periféricas de sua vida.
Outras pessoas, a ele impostas em sua vida social, como os
parentes afins, os antigos colegas do marido, no Exército (se
fosse o caso), poderão ser aceitas, mas uma esposa, nesse
caso, não será obrigada a dar-lhes uma importância
imerecida.
Se examinar a situação de um ângulo diferente e agir
também de maneira diferente, uma pessoa poderá até
estabelecer relacionamentos íntimos que não existiam
anteriormente. Foi o que fez Frank Cousins em relação à
própria mãe. Ele a detestava, dizendo-me o seguinte: “Ela
simplesmente me trata como se eu ainda tivesse seis anos de
idade. Ela me critica, censura minha maneira de criar meus
filhos, a escolha que fiz de uma esposa. Vive passando os
dedos sobre os móveis à procura de pó. Tem uma verdadeira
fixação em matéria de pó. Eu a detesto.”
Frank e eu dramatizamos várias situações que poderiam
surgir durante a próxima visita de sua mãe a Nova York. Ele
insistiu que nada poderia ser feito quanto à atitude crítica de
sua mãe. Eu lhe ensinei diversas técnicas de reagir aos
comentários humilhantes dela (por exemplo: quando se
queixasse do pó, ele deveria experimentar dizer o Seguinte:
“Sim, mamãe. Há poeira embaixo do piano, mas você está
ficando com o rosto todo vermelho. O que diria o Dr. Jones
sobre sua pressão?”) Mas não fiquei apenas nisso.
Recomendei a Frank que verificasse melhor os detalhes da
vida de sua mãe e permitisse que ela compartilhasse dos
sentimentos de felicidade que experimentava junto à esposa
e aos filhos.
A mãe de Frank veio fazer-lhe sua visita anual de quatro
dias. Dessa vez, Frank começou a comunicar-se com ela na
área que a perturbava: sua pressão arterial. Em seguida,
principiou a falar sobre as coisas de que ela gostava (seu
trabalho na comunidade) e trouxe à baila sua feliz
experiência pessoal como marido e pai. Durante todo esse
tempo, relevou as limitações dela, conversou sobre assuntos
que ela pudesse tratar e, pela primeira vez, os dois se
comunicaram.
Frank contou-me seu sucesso, empregando as seguintes
palavras: “Foi a melhor visita de minha mãe que já tivemos.
Eu consegui realmente conversar com ela, e acho que iremos
ser amigos. O senhor compreende, ela não mencionou uma
só vez a palavra pó.”
 
 
Capítulo 5.
O Relacionamento Íntimo

Aos vinte e nove anos de idade, Susan nunca havia sido


íntima de ninguém. Seu pai bebia muito e sua mãe vivia a
esbravejar. Por isso, desde menina nunca levava amigos à
sua casa (“Se eles descobrissem como eram meus pais, iriam
me desprezar e me rejeitar. Assim, eu tinha de ocultar qual
era a verdadeira situação”). Susan aprendeu, portanto, a ter
receio de expressar seus sentimentos e a ocultar as coisas
que. lhe diziam respeito. Na adolescência, idade em que a
maior parte das pessoas aprende a compartilhar entre si
suas ideias e emoções, ela raramente se permitiu essa
experiência. Quando chegou à juventude, apaixonou-se por
homens com os quais seria impossível manter um
relacionamento íntimo. Por exemplo; um padre católico.
Susan acabou se casando, mas até mesmo na intimidade
conjugal ela sentia necessidade de dissimular seus
verdadeiros pensamentos e sentimentos. Desesperada, veio
me procurar.
Guardadas as devidas diferenças, existem milhares de
Susans; em versões masculinas e femininas, em todo nosso
território. Muitos maridos e mulheres não conseguem ter um
relacionamento íntimo entre si, no casamento, porque se
escondem por detrás de uma cortina de ferro, ocultando o
próprio eu, não revelando sua verdadeira identidade e seus
reais sentimentos. E mais ainda, de maneira não
exclusivamente óbvia, mas às vezes sutil, tornam difícil para
seus companheiros (ou companheiras) serem francos,
mostrando-se perturbados quando dizem as coisas
abertamente. E combatem essa franqueza por meio de
indiretas e de palavras que magoam, ou então, simplesmente
se afastam dessas situações de franqueza, fechando-se
dentro de uma verdadeira concha. Tudo isso dá origem à
espiral de falsidade que envolve o casal e se torna cada vez
maior.
Muitas vezes, como no caso de Susan, as pessoas não se
abrem porque nunca aprenderam como assim proceder.
Essas mesmas criaturas são frequentemente capazes de
formar um círculo de relações de caráter mais impessoal,
que lhes proporciona companhia, estímulos e lhes permite
compartilhar com outros seres humanos suas ideias e
sentimentos. A meta de um círculo de relações, entretanto, é
o relacionamento íntimo.
Existem muitas formas de relacionamento íntimo. Uma
pessoa poderá ser íntima de uma criança, dos pais, de
parentes afins e consanguíneos, de amigos, mas o
relacionamento entre marido e mulher possui características
que o distinguem de qualquer outro. A amizade tem sido
definida como “intimidade compartilhada”, ao passo que
casamento será um “íntimo compartilhar.” A amizade é
extensiva, e o casamento é intensivo. É um relacionamento
entre duas pessoas adultas, no qual existe o componente
sexo. É um compromisso que se presume deve ser de caráter
permanente pelo fato de duas pessoas construírem uma vida
em comum, de sorte que aquilo que afeta uma delas há de
afetar a outra. O crescente número de divórcio vem provar,
entretanto, que um número cada vez menor de casais
alcança ou preserva esse “íntimo compartilhar.”
No relacionamento íntimo ideal, um ser humano
estabelece com outro uma comunhão, na qual os sentimentos
ocupam o primeiro lugar, não podendo ser separados o dar e
o receber. Ao satisfazer as necessidades dessa outra criatura
como se fossem suas próprias necessidades, a pessoa
satisfaz suas próprias necessidades. No entanto ela
permanece aquilo que é, como indivíduo. Assim, marido e
mulher são levados a fruir experiências mais profundas e
mais ricas. E nessa fusão de ambos, a individualidade de
cada um se torna mais vigorosa.
O amor é capaz de gerar o desejo de intimidade, ou surgir
de uma experiência de intimidade. Mas o anseio de possuir
essa intimidade, acentuado pelo amor, não significa,
necessariamente, que esse relacionamento íntimo se torne
real.
Nas situações marcadas pelo amor, na escolha de um
marido, de uma esposa ou de um amante, no modo em que
uma pessoa se relaciona com outra, muitas vezes ela busca a
realização de expectativas de caráter mágico, procura
alcançar a satisfação de necessidades infantis não atendidas
e, compulsivamente, repete situações de conflito em seu
empenho inconsciente de dominar tais necessidades.
A nova abordagem da terapia do comportamento afirma
que uma pessoa consegue alcançar um relacionamento
íntimo com outra porque aprende a alcançar essa intimidade.
O Treinamento da Autoafirmação oferece aos pacientes um
meio de dominarem as habilidades necessárias para isso, daí
resultando que seus sentimentos de amor emergem à medida
que chegam mais próximos dessa intimidade.
No tratamento de problemas do casamento, o TA enfatiza
uma abordagem ativa que visa a permitir seja essa
intimidade alcançada.
O terapeuta procede da seguinte maneira:
(1) Começa por ajudar o esposo {ou esposa) a identificar
os comportamentos específicos que terão de ser modificados
para aperfeiçoar o casamento.
(2) Auxilia cada cônjuge a modificar sistematicamente os
comportamentos que quiser modificar, como também a
adquirir os comportamentos que queira adquirir.
(3) Ensina o casal que as modificações ocorridas com um
dos cônjuges constituem pré-condição para as modificações
que irão ocorrer com o outro. É importante que- o casal
compreenda estar provavelmente mantendo
comportamentos perturbadores, que executa mediante a
ação de permanentes reforços. Proporcionando ou mantendo
reforços de comportamentos específicos, cada cônjuge
exerce controle sobre o outro. “Minha esposa deveria ser
diferente”, diz um deles. Em vez disso, o TA ensina ao
indivíduo que ele deve aprender a indagar a si próprio o
seguinte: “Que estarei fazendo para reforçar exatamente o
comportamento que desejo seja eliminado?”
(4) Ajuda cada membro do casal a desenvolver canais de
comunicação verbal e não-verbal. Na falta de uma boa
comunicação, surgem e tomam corpo incompreensões sobre
o estilo de vida, os hábitos, as decisões e os sentimentos de
ambos. Cada cônjuge deverá ser capaz de perceber o que
estiver se passando na mente do outro.
(5) Auxilia o casal a estabelecer metas que possam ser
atingidas a curto prazo. Isso proporciona um sentimento de
dinamismo e de realização. É mais fácil trabalhar no campo
da “comunicação de sentimentos” do que realizar a vaga
tarefa de melhorar um casamento. No TA, o casal não tarda a
perceber que até mesmo as mudanças mais triviais começam
a modificar seu relacionamento. A abordagem ativa é
incentivada não só durante as sessões do tratamento, mas na
atribuição de “deveres para casa”, que se utilizam de várias
técnicas do TA, desde a conversação de conteúdo afetivo até
os ensaios do comportamento.
Alguns leitores poderão indagar, como fazem certos
pacientes meus: “Mas isso não é tão trivial? Tudo deve ser
espontâneo.” Os gregos antigos, entretanto, sempre
souberam que a verdadeira espontaneidade resulta da
autodisciplina e do domínio de certas habilidades. Se uma
pessoa nunca houver estudado os problemas de dois adultos,
no íntimo relacionamento do matrimônio, não terá dominado
as necessárias habilidades que isso requer. Aprendam-se
essas habilidades e a espontaneidade irá surgir e
desenvolver-se.

Um Plano De Comportamento Com Vistas À


Maior Eficiência Do Casamento

Cada cônjuge deverá adquirir o hábito de prestar maior


atenção aos comportamentos que deseja acentuar no outro.
Muitos casais não compreendem que todo e qualquer
comportamento possui três possíveis consequências, que
irão acentuá-lo ou mantê-lo.
(1) Um indivíduo faz alguma coisa cujas consequências
serão agradáveis ou desagradáveis. Um marido, por
exemplo, dá flores à mulher e ela o agradece com um beijo.
®Isso se denomina reforço positivo.
(2) Um indivíduo faz alguma coisa cuja consequência
consiste em eliminar algo que esteja indo mal. A mulher
implica com o marido, por exemplo, e este, então, esbraveja
com ela. Em resultado desses gritos, ela deixa de implicar
com ele e, da próxima vez que acaso o fizer, esse marido será
levado a esbravejar mais ainda. Isso constitui uma fuga
baseada na aversão.
(3) Um indivíduo receia que alguma coisa aconteça e em
consequência não acontece.
Evitar a aversão como também adotar os métodos de fuga
poderão levar a certos tipos de comportamento
aparentemente desejáveis. Dizer, por exemplo, alguma coisa
agradável. Através de qualquer desses meios, a força que
mantém o casamento começa a tomar-se basicamente a de
preservar a ocorrência de coisas más, em vez de um cônjuge
ir buscar o prazer junto ao outro e procurar proporcionar-lhe
prazer.
Ao estabelecer comportamentos de substituição, uma
pessoa deverá saber quais as coisas que faz seu esposo (ou
sua esposa) e que não lhe agradam, e aquelas que ele (ou
ela) estimaria fossem modificadas.

Exercício De Laboratório: Comportamentos


No Casamento
Finalidade: Selecionar comportamentos específicos que
deverão ser modificados.
Primeira Etapa: A pessoa deverá avaliar seus
comportamentos no casamento preenchendo o quadro que
vem a seguir, reproduzido do livro Marital Pre-Counseling
Inventory, de Richard B. e Freida Stuart. O marido e a
mulher deverão fazê-lo e transcrever suas respostas em seus
cadernos de apontamentos do Treinamento da
Autoafirmação.
A. Organizar uma relação de dez coisas que seu esposo
(ou sua esposa) faz e que lhe agradam:
B. Organizar uma relação de três coisas que estimaria que
seu esposo (ou esposa) fizesse mais frequentemente. As
respostas a essa pergunta e ã seguinte devem ser positivas e
especificas. Escrever, por exemplo; “Durante o jantar,
perguntar como eu passei o dia” (positivo e específico), em
vez de dizer: “Fiquei menos preocupado com você mesmo
durante todo o tempo em que estamos juntos (negativo e
vago).”
Quantas vezes isso terá sido feito nos últimos sete dias?
Que importância tem para a pessoa cada uma dessas
coisas?
1... Foi feita .... vezes nos últimos 7 dias.
Você a considera:
muito importante
importante
pouco importante

2... Foi feita .... vezes nos últimos 7 dias.


Você a considera:
muito importante
importante
pouco importante

3... Foi feita .... vezes nos últimos 7 dias.


Você a considera:
muito importante
importante
pouco importante.

C. Organizar uma lista de três coisas que seu esposo (ou


esposa) gostaria que você fizesse mais frequentemente. Ser
positivo e específico. Quantas vezes essas coisas terão sido
feitas nos últimos 7 dias?
Mais ou menos quantas vezes seu esposo (ou sua esposa)
lhe pediu que fizesse essas coisas nos últimos 7 dias?
1... Eu o fiz .... vezes nos últimos 7 dias.
Meu esposo (ou esposa) me pediu que o fizesse ... vezes nos últimos
7 dias.

2...
Segunda Etapa: Ser específico ao referir-se às coisas que
gostaria que seu esposo (ou esposa) fizesse com mais
frequência. A lista de uma esposa poderá incluir, por
exemplo; “Diga a mim o que você gosta em minha cozinha”,
e não “Pare de falar sobre o que você não gosta em minha
cozinha”. Ou então; “Diga-me quando eu estiver com um
vestido que você gosta.” A relação de um marido poderá
conter o seguinte: “Seja carinhosa quando eu chegar em
casa cansado.” “Elogie-me quando eu fizer algum serviço de
casa, mesmo que eu o faça mal feito.”
Terceira Etapa: A mulher dá ao marido uma cópia de sua
lista e lhe explica o que quer dizer em referência a cada
item. O marido passa à mulher sua lista e lhe dá as
necessárias explicações. Os itens desejados deverão ser
coisas que o esposo (ou esposa) possa razoavelmente esperar
fazer, e não coisas impossíveis. (Quaisquer divergências
deverão ser discutidas. A essa altura, se um dos cônjuges
tiver firme certeza de que não poderá fazer uma
determinada coisa, deverá substituí-la por um
comportamento mais aceitável.
Quarta Etapa: Cada cônjuge deverá guardar uma cópia da
lista que der ao outro. Todas as vezes que executar um dos
comportamentos desejáveis, fará uma marca diante do item
correspondente da lista. Ou então, fará uma gráfico. Desse
modo, cada um dos cônjuges contará quantas vezes executar
o comportamento desejado.
Quinta Etapa: Numa hora preestabelecida (por exemplo,
todas as noites, antes do jantar ou antes de ir deitar-se), cada
um informará sua contagem ao outro, sendo discutido cada
episódio e também como ambos se sentem a esse respeito.
Assim, cada qual contribuirá para dar forma ao
comportamento do outro.
Segue-se um pequeno diálogo da vida real entre um
marido e sua mulher, no qual conversam sobre a descrição
feita por ela de gestos afetuosos, do tipo de comportamento
que desejaria fosse mais frequente de parte do marido.
Marido: “Você não contou aquela hora em que estava
perto da porta da frente e eu fiz festa no braço.”
Mulher: “Eu, não. Aquilo me pareceu muito mecânico, sem
demonstrar o menor afeto. Você deu a impressão de estar
muito apressado.”
Marido: “E aquela vez, na copa? E quando eu apertei sua
mão, ajudando você a sair do carro? Eu realmente estava me
sentindo muito afetuoso. Isso não deu certo?”
Mulher: “Quer saber de uma coisa? Você tem razão. Eu
simplesmente não estava prestando muita atenção. Foi uma
coisa que eu digo que gosto. E quando você fez aquilo, eu
não prestei atenção. Vou ficar mais atenta, de agora em
diante.”
Procedendo dessa maneira, cada membro do casal
aprende não só a agradar o outro como também se toma
mais sensível aos esforços por agradar feitos por ambos.

Contratos De Comportamentos No
Casamento
Os contratos tornam eficientes as boas intenções. Uma
pessoa evita situações nas quais a outra diria o seguinte: “Eu
estou cumprindo minha parte, mas ele (ou ela) não me dá
coisa alguma em troca. Quem suporta toda a carga nos
ombros sou eu. E isso não é justo.” Embora possa dar a
impressão de parecer uma fórmula um tanto fria c de caráter
profissional para ser empregado num relacionamento íntimo,
um contrato poderá realmente aumentar o calor desse
relacionamento e seu tom de franqueza.
São as seguintes as normas para a elaboração de um
contrato matrimonial com vistas a produzir modificações do
comportamento.
O contrato envolve ambos os cônjuges. Cada um deles
terá suas responsabilidades e receberá as desejadas
recompensas ao cumpri-las. As responsabilidades de cada
um relacionam- se diretamente com ó outro e as
recompensas provém igualmente dele (ou dela), também de
maneira direta. Cada qual obterá do outro alguma coisa que
deseja, em vez de pôr em prática os tipos de reforços que
consistem em evitar a aversão ou realizar uma fuga.
O contrato deve ser aceitável para ambas as partes. Cada
cônjuge deve estar disposto a aceitar responsabilidades
específicas, em troca de recompensas específicas.
Ao negociar o contrato, nenhuma das duas partes terá
quaisquer “direitos". Tudo poderá ser objeto de negociações.
Assim, serão facilitadas quaisquer alterações desse contrato,
em vez de as pessoas permanecerem num impasse.
Os comportamentos que serão objeto do contrato deverão
ser específicos, positivos, passíveis de ser observados e
contados. Não serão incluídos comportamentos, como, por
exemplo, o de “melhorar o casamento”. Serão efetivamente
levados em consideração comportamentos como “o número
de vezes em que ele me disse coisas amáveis”, ou “o tempo
que ele dedica a mim nos fins de semana”. Embora nem
sempre seja possível obter comportamentos suscetíveis de
ser contados, deve-se procurar isso conseguir. Cumpre evitar
comportamentos que não possam ser observados, como
pensamentos ou sentimentos. A modificação desses
pensamentos ou sentimentos será uma consequência da
modificação de ações observáveis. À medida que um dos
cônjuges aumentar suas comunicações no plano afetivo
(comunicações observáveis), ambos começarão a sentir-se
mais amorosos e mais íntimos. É necessário acentuar sempre
os comportamentos que se deseja incrementar, e não aqueles
que se pretenda reduzir.
O contrato deverá ser redigido detalhadamente, de sorte
que fiquem bem definidas as responsabilidades e
recompensas de cada parte. Isso evitará confusões futuras
acerca do acordo original. Deve o contrato ser guardado em
lugar de fácil acesso para cada parte. Sempre que isso for
possível, é conveniente acompanhar o curso dos
comportamentos que se pretende alcançar, fazendo-o com o
emprego de gráficos, quadros, pontos ou fichas.
Cada parte deverá avaliar o comportamento da outra.
Devem ser previamente estabelecidos prazos para decidir
a respeito da prorrogação do contrato ou realizar
negociações sobre o mesmo.
CASO
O casamento de Mary e Bob era desses que davam a
impressão de que tudo andava errado e nada estava certo.
Quando vieram ao meu consultório pela primeira vez, ambos
estavam tão sucumbidos com as coisas “erradas”, a ponto de
tomar-se quase impossível escolher metas específicas a fim
de tentar uma mudança dessa situação. Durante nossa
discussão do seu caso, entretanto, um tema se repetiu
constantemente. Mary sentia que seu lar não lhe pertencia.
Bob achava que aquele lar não era dele.
Era a seguinte a queixa de Mary: “Eu sou muito amiga de
minha mãe e quero convidá-la para jantar conosco aos
domingos. Quando faço isso, Bob sai de casa ou se porta de
um jeito tão horrível, que todos nós nos sentimos naquela
situação! Por isso eu não convido mais minha mãe para
jantar em nossa casa. Mas como minha casa poderá ser
minha se eu nem posso convidar minha mãe para jantar
comigo?”
A reclamação de Bob era esta: “Mary é tão bagunceira
que eu vivo num estado de permanente desconforto, muito
inconveniente para mim. Não consigo tomar um banho de
chuveiro sem ter que tirar uma quantidade de peças íntimas
de mulher, penduradas no tubo da cortina do boxe. Muitas
vezes não há jeito de eu encontrar uma cadeira onde possa
me sentar, porque todas as cadeiras estão cheias de livros
dela, de papéis e embrulhos dela. Como aquela casa há de
ser minha se ela não dá a menor consideração às minhas
necessidades e ao meu conforto?”
Diante dessas queixas, nós estabelecemos determinados
comportamentos desejados. Bob queria que Mary tivesse
mais ordem. Mary queria receber a visita de sua mãe e,
quando isso acontecesse, Bob teria que se comportar de
maneira civilizada.
Responsabilidades e recompensas de Mary: Ela teria de
ser mais ordeira, na opinião de Bob. Nós pormenorizamos a
desejada ordem mediante a escolha de quatro
comportamentos específicos: a pia do banheiro não deveria
viver salpicada ou besuntada de produtos de maquilagem;
Mary teria que pendurar suas roupas lavadas na área e não
no banheiro; seus livros, papéis e embrulhos seriam
empilhados em ordem, na sala de estar ou guardados nos
armários embutidos, em gavetas ou arcas, de sorte que Bob
não os visse.
Cada dia em que Mary executasse esses tipos de
comportamento de forma satisfatória para Bob ganharia um
ponto para cada comportamento. Assim, poderia fazer até
quatro pontos num dia, ou um máximo de vinte e oito por
semana. Mary não poderia discutir a avaliação de Bob, mas
pedir-lhe que explicasse as razões de seu julgamento e lhe
dissesse como poderia ela fazer maior número de pontos.
Quando Mary completasse sessenta e quatro pontos, embora
isso levasse muito tempo, poderia convidar sua mãe para
jantar, e Bob deveria portar-se da maneira gentil que teria
com um convidado dele próprio.
Responsabilidades e prêmios de Bob: Sua recompensa
seria, sem dúvida, Mary tornar-se mais ordeira. E suas
responsabilidades seriam as seguintes: comportar-se de
maneira civilizada quando a mãe de Mary viesse visitá-los.
Se ele assim não procedesse, a juízo de Mary, ela ganharia
mais dez pontos e, desse modo, apressaria a subsequente
visita de sua mãe.
Foi para nós difícil definir o comportamento, específico
que se denominaria “civilizado”, e isso nos levou a um debate
entre Bob e Mary a respeito de como poderia ele satisfazê-la
durante a visita de sua mãe.
Durante as duas primeiras semanas do contrato, Mary fez
apenas quinze pontos. Isso a levou a perceber como era
inconsiderada em matéria do conforto de Bob. Pela primeira
vez em vários anos começou a prestar atenção às
necessidades do marido dentro de casa, e a fazer outras
coisas que não estavam incluídas no contrato (como, por
exemplo, usar um bonito negligé no café da manhã, em vez
de enfiar um roupão rasgado).
À medida que Mary foi acumulando pontos e que se
aproximou o dia da visita de sua mãe, Bob foi ficando cada
vez mais preocupado com seu comportamento “civilizado”.
Começou a discutir a respeito de coisas desagradáveis que
havia feito no passado e, também, acerca de vários atos de
sociabilidade que poderia praticar para agradar a mulher.
Esses debates se ampliaram espontaneamente,
transformando-se em conversas a respeito de como cada
qual se sentia em relação aos próprios pais. Finalmente,
como se sentiam um diante do outro Passado pouco tempo,
recomeçou a haver franqueza e calor no relacionamento
deles em seu casamento.
Mary e Bob mantiveram esse contrato durante três
jantares de domingos e, em seguida, estabeleceram outro
contrato. A essa altura, porém, aquele contrato mecânico e
impes- soai sobre “ordem” levara a uma comunicação de
melhor nível entre os dois, e também a um sentimento
otimista de que haviam atingido um ponto em que as coisas
iriam mudar, em seu casamento.
Nem sempre os contratos nos casamentos têm de versar
sobre coisas relativamente tão simples como jantares de
domingos em companhia da sogra. Richard B. Stuaxt, ex-
professor de serviço social da Universidade de Michigan,
atualmente professor do Departamento de Psiquiatria da
Universidade da Colúmbia Britânica, empregou o sistema de
contratos com fichas que eram dadas a título de prêmios,
junto a quatro casais que estavam fazendo esforços
desesperados para salvar seus casamentos. Em cada caso, as
esposas relacionaram como seu primeiro desejo que os
maridos conversassem mais com elas. E cada marido queria
receber maiores provas de afeição “física”
O Dr. Stuart estabeleceu o sistema de troca entre
“conversação” e “sexo”. Cada vez que o marido conversasse
com a mulher de maneira por ela julgada satisfatória,
receberia uma ficha. Poderia trocar essas fichas por
demonstrações físicas de afetos' ou por “sexo”, pagando três
fichas por beijos ou “carícias discretas”, cinco fichas por
“carícias intensas”, e quinze por um ato sexual. Não resta
dúvida que isso é mecânico. Mas o número de conversações
e atos sexuais aumentaram muito depois do início do
tratamento, e as coisas prosseguiram assim através de vinte
e quatro e quarenta e oito semanas de períodos de
acompanhamento. O divórcio foi evitado nos quatro casos.
Aprender a comunicar-se. Usar uma máscara é prática
eficiente em certos casos, no ambiente de trabalho, ou ainda
em situações sociais que não sejam complexas (como
coquetéis). Mas não dá certo quando se trata do
relacionamento íntimo. Uma pessoa que estiver usando
máscara, não poderá comunicar-se de maneira íntima.
Uma boa comunicação constitui o núcleo de um
casamento feliz. Se uma pessoa deixar de exprimir seus
sentimentos de maneira franca, diminui esse compartilhar de
intimidade, no casal! Surgem as incompreensões. Quando as
coisas não estiverem indo bem, a boa comunicação
proporciona um fator corretivo à situação. Sem isso,
pequenas situações irritantes avultam e se transformam em
grandes problemas. A insatisfação não se reduz e poderá
assumir. um aspecto destruidor.
Finalmente, a ausência de franqueza faz com que duas
pessoas se tomem verdadeiros estranhos uma para a outra,
pessoas que prometeram diante do altar “amar, honrar e
querer” uma à outra até a morte. Seu relacionamento cessa
de crescer. O casal estará, então, diante da seguinte opção:
um casamento morto ou o divórcio.
Seguem-se algumas sugestões em matéria de
comunicação, capazes de evitar que essa opção tenha de ser
feita.
Falar sobre coisas triviais porque a maior parte dos
problemas do casamento dizem respeito a coisas simples.
Desse modo, a pessoa (1) impede a formação de certos
hábitos que, no correr do tempo, poderão transformar-se em
grandes áreas problemáticas; (2) começará a estabelecer um
padrão geral de franqueza no casamento; (3) resolverá as
dificuldades de maneira satisfatória ou insatisfatória para
ambos os cônjuges. Seguem-se dois exemplos:
Primeiro exemplo: Ruth não gostava da irmã do marido.
De modo especial, ficava aborrecida com o fato de sair com o
marido e com “aquela mulher” e o marido dela, todas as
sextas-feiras à noite, e também porque fingia estar gostando
daquilo. Afinal Ruth resolveu usar de franqueza, e disse ao
marido: “Eu estou cansada desse nosso grupo de quatro, nas
noites de sextas-feiras. Eu não gosto de sua irmã. Nunca tive
amizade a ela.” Mark revidou, fazendo à mulher a seguinte,
acusação: “Quando nós vamos à casa de Seus pais, você fica
conversando com sua irmã e não me dá a menor atenção.”
Os dois brigaram, mas a atmosfera se desanuviou. Agora
Ruth conversa com Mark quando os dois vão visitar a família
dela, e o quarteto das noites de sextas-feiras foi reduzido a
um por mês. Ruth declarou o seguinte: “Eu estava
procurando agradá-lo e, por isso, reprimia minhas próprias
ideias e me sentia arrasada. Desde que eu lhe falei
positivamente sobre sua irmã, nosso casamento vai indo
muito melhor.”
Segundo Exemplo: Como acontece com muitas esposas de
profissionais liberais ou de executivos, Louise sentia-se
isolada e contrariada porque o novo trabalho de seu marido o
prendia no escritório das 9 horas da manhã até às 11 da
noite. Quando lhe apareceu uma úlcera, ela decidiu levar ao
conhecimento de Mike (assim se chamava meu marido) como
era infeliz. Mike respondeu às suas lamentações com as
seguintes palavras: “Escute uma coisa. Trata-se do meu
trabalho. Se eu tiver um emprego onde fique das 9 horas da
manhã às 5 da tarde, receberei um pagamento por esse
trabalho das 9 às 5.” E indagou, carinhosamente: “O que eu
posso fazer para melhorar essa situação?” Os dois estudaram
uma solução para o caso. Mike procuraria chegar em casa às
9 horas da noite, telefonaria para a mulher uma hora antes
daquela em que pretenderia sair do escritório, isso para que
a mulher não estragasse o assado. E nunca trabalharia até
tarde às sextas-feiras. Das segundas às quintas-feiras, Louise
iria encontrar alguma atividade para ela própria, à noite.
Em ambos os casos, o fato de as pessoas falarem com
franqueza evitou que uma situação difícil se transformasse
numa tempestade.
Quando uma pessoa estiver aprendendo a comunicar-se,
deverá seguir esta orientação: não se traía jamais de ser
franco, mas de como e quando falar com franqueza. Falar de
maneira franca não é ser agressivo: é ser afirmativo. A
pessoa deve imaginar como dizer alguma coisa à outra
(esposo ou esposa) de sorte a melhorar a comunicação entre
ambos sem causar mágoa. Um marido, por exemplo, adora a
própria mãe, mas esta, como “sogra”, terá feito alguma coisa
à mulher dele, que a deixou muito tensa. Uma boa técnica
seria, no caso dela, dizer o seguinte: “Nós estamos com um
problema. Sua mãe me fez isso assim, assim. Eu fiquei
aborrecida com ela.” Desse modo, a esposa não terá
agredido a mãe do marido, mas apresentou a situação como
um problema mútuo, sendo de esperar que tenha aguardado
uma ocasião em que ele estivesse calmo e descontraído, e
não exausto.

Exercícios De Laboratório: Sobre


Comunicação
Finalidade: Promover intimidade e não afastamento entre
as pessoas, através da comunicação adequada.
Primeira Etapa: Escrever o que quiser dizer. Ler seu
escrito várias vezes e melhorar “a maneira” de dizer a coisa.
Certificar-se de que vai falar sobre aquilo que deseja falar.
Segunda Etapa: Gravar suas palavras numa fita
magnética e ouvir sua própria voz. Fazer as modificações no
texto, que julgar necessárias. Observar o aspecto afetivo de
sua comunicação e a altura de sua voz. Fazer isso repetidas
vezes, até ficar satisfeito com o texto.
Terceira Etapa: Estabelecer com antecedência um
momento especial para “pronunciar seu discurso”. Escolher
esse momento criteriosamente. Se se tratar de uma esposa,
não deverá ela aproveitar o intervalo entre os dois tempos do
jogo de cartas. E se for o caso de um marido, não começará a
falar antes do jantar, quando “ela” estiver muito atarefada
diante do fogão. Não resta dúvida de que poderá ocorrer
algum imprevisto que torne mais acertado adiar o
“discurso”, mas isso raramente acontece. Se a pessoa
observar que continuam surgindo coisas inesperadas e ficar
sempre adiando sua “confrontação” com a outra, pense que
há de estar ansiosa demais. Continuar praticando sua “fala”
ou experimentar executar a Quarta Etapa, que vem a seguir.
Quarta Etapa: A angústia paralisadora poderá estar
sendo causada pelo fato de prever as respostas que o outro
(a) irá lhe dar. Nesse caso, proceda da seguinte maneira:
Fazer uma lista dessas várias possíveis respostas.
Gravá-las numa fita magnética. Travar o gravador e
imaginar o que poderia dizer. Em seguida, gravar suas
palavras e prosseguir, fazendo o mesmo em relação às
demais respostas, até que tenha dado sua réplica a cada
uma.
Começar a ouvir a fita desde o princípio. Ouvir sua reação
à primeira resposta dele (ou dela). Pensar como poderia
melhorar sua réplica. Suas palavras comunicam aquilo que
quer dizer? Como poderia ser dada uma expressão melhor ao
seu pensamento? O tom de sua voz comunica as emoções
apropriadas?
Imaginar pôr em prática essa nova maneira de dizer, e
fazê-lo do jeito mais vivido possível. Em seguida, dar
retrocesso à fita e ouvir outra vez as possíveis respostas de
seu companheiro (ou companheira). Dessa vez, gravar suas
réplicas na fita.
Se a pessoa continuar insatisfeita com qualquer de suas
réplicas, deverá fazer uma terceira tentativa, dando outras
réplicas.
Tornar a decidir a respeito do momento de “pronunciar
seu discurso” e fazê-lo.
Quinta Etapa: Se a pessoa ainda não puder falar com seu
companheiro (ou companheira), o que quiser dizer terá de
recorrer a algum outro método. Poderá declarar o seguinte:
“Escute. Há uma coisa importante que eu sinto que quero
dizer a você. Mas estou muito angustiada para fazer isso de
maneira direta. Por isso escrevi tudo (ou gravei numa fita).'
Quero que você leia isto (ou ouça esta gravação). Depois eu
gostaria de conversar com você sobre o assunto.”
Essa maneira de proceder parece muito mecânica. E de
fato é, mas também representa um meio comprovado de as
pessoas começarem a se comunicar.
Certificar-se de que sua mensagem chegou ao seu destino.
Às vezes uma pessoa poderá pensar que está enviando uma
mensagem a outra e estará recebendo uma mensagem
diferente.
CASO
Tom e Wendy, com trinta e quatro e trinta e um anos de
idade, respectivamente, estão casados há seis anos e têm um
filho de quatro. Vieram procurar-me por causa de suas
dificuldades em matéria de sexo. Na realidade, seu problema
era de comunicação.
Essas dificuldades no campo do sexo apresentavam ura
certo padrão característico. Em seu estilo bastante
impessoal. Tom começava a tomar iniciativas para fazer
amor. Sentindo falta de ternura e afeto, Wendy ficava
ressentida com isso e se retraía emocionalmente diante de
tal situação, embora prosseguisse no ato sexual. Em face
desse retraimento. Tom reagia, sentindo-se insatisfeito e
frustrado. Muitas vezes mostrava irritação durante o coito.
Isso fazia com que Wendy fi- cas.se ainda mais ressentida e
se retraísse cada vez mais. No período que precedera
imediatamente sua vinda ao meu consultório, Tom, furioso
com a degringolada de suas relações sexuais no casamento,
começara a ter um “caso” com sua secretária. Mudou-se
para o apartamento dela, lá permanecendo seis semanas, até
que se decidiu, conforme suas próprias palavras, “a voltar
para casa e dar uma nova oportunidade ao meu casamento”.
Feita a devida avaliação do caso, apresentei aos dois um
plano que enfatizava terem de trabalhar no campo da
comunicação e da autoafirmação. Quando lhes pedi que me
trouxessem problemas específicos, Wendy me relatou um
incidente que tinha ocorrido semanas antes daquela
separação de um mês e meio.
A versão de Wendy foi a seguinte: “Durante várias noites,
uma atrás da outra. Tom engoliu o jantar muito depressa,
declarando que tinha de voltar ao trabalho. Até mesmo
enquanto jantavam, ele se mostrou desinteressado em minha
conversa e não tomou o menor conhecimento de minhas
objeções quanto ao fato de trabalhar todas as noites até
tarde. Eu fiquei cada vez mais ressentida. Uma vez Tom
voltou para casa depois da meia-noite. Acordou-me e, sem
dizer uma palavra, começou a fazer amor. Eu me senti
extremamente hostil- a isso. Quando terminamos, ele teve
um acesso de irritação comigo.”
Esta foi a versão de Tom: “Eu vinha trabalhando num
projeto muito importante, uma questão de vida ou de morte
para minha firma. O prazo para a conclusão do projeto
estava se aproximando e eu tive de trabalhar para valer. Eu
me senti debaixo de uma grande pressão. Tinha necessidade
do conforto e do apoio de Wendy. O que ela me deu foi
mostrar-se desligada de mim. Na tal noite, eu cheguei em
casa exausto e com o moral abatido. Minha iniciativa em
matéria de sexo não foi feita, dessa vez, por motivos
puramente sexuais: eu queria um contato carinhoso com ela.
Em vez disso, Wendy mostrou-se mais distante do que nunca,
exatamente quando eu mais precisava dela. Isso me fez ficar
furioso e eu perdi a cabeça.”
Quando perguntei a Tom por que ele não tinha contado
tudo isso a Wendy, ele me respondeu o seguinte: “Ela devia
saber.” Quando indaguei a Wendy por que ela não havia
perguntado a ele se alguma coisa não estava indo bem, ela
declarou isto: “Nunca me ocorreu fazer essa pergunta.”
Diante de tais revelações, tornou-se evidente para eles
que estavam falhando em matéria de comunicação. Entre os
métodos que empregamos para melhorar essa comunicação
incluíram-se exercícios de conversação de conteúdo afetivo
(descritos no Capítulo II), que se revelaram particularmente
valiosos em relação ao sexo. A discussão entre Tom e Wendy
sobre aquilo de que gostavam e não gostavam cm seus atos
de amor resultou numa satisfação sexual maior para ambos.
Empregamos também a técnica de “troca de papéis”, a que
deram o nome de “brincar de quatro cantos”. Quando um
dos dois sentia que sua mensagem não estava chegando ao
destino que desejava, exclamava: “Trocar!” Wendy passava,
então, a desempenhar o papel de Tom, e ele representava o
dela. Cada qual procurava enviar a mensagem que achava
que o outro estava enviando. Em seguida, eles se corrigiam.
Desse modo, foram evitadas incompreensões e os dois
aprenderam a tornar- se mais sensíveis um ao outro.
Com o passar do tempo, sentiram menor necessidade de
fazer esse exercício, mas utilizavam-se dele sempre que se
deparavam com alguma dificuldade especial. O tratamento
formal do TA se prolongou por quatro meses em seu caso. Ao
cabo de um ano de acompanhamento. Tom e Wendy me
declararam o seguinte: “Nossa intimidade está aumentando
e o sexo é melhor do que nunca.”
Ê preciso não esquecer que a comunicação não é
necessariamente verbal.
Devem ser elaborados projetos específicos e que digam as
coisas sem palavras, como, por exemplo, jantares íntimos,
cartas carinhosas, pequenos presentes bem escolhidos. Isso
constitui ser franco sem o emprego de palavras. A
comunicação de melhor qualidade associa os atos às
palavras. É necessário que um marido abrace a mulher, mas
também lhe diga que gosta muito dela. E a esposa deverá
beijar o marido, mas também dizer-lhe que o ama. As
pessoas apreciam ouvir e experimentar as coisas.
Aprender a brigar, mas brigar com lealdade.
Em seu livro, The Intímate Enemy, George R. Bach,
fundador e diretor do Instituto de Psicoterapia de Grupo de
Beverly Mills, na Califórnia, escrito em colaboração com
Péter Wyden, declarou o seguinte: “Os conflitos verbais entre
pessoas íntimas não são apenas aceitáveis, especialmente
entre marido e mulher, mas também construtivos e muito
desejáveis. Os casais que brigam permanecem unidos, desde
que saibam brigar da maneira adequada. “Num
relacionamento íntimo, a expressão da cólera é tão
importante como a expressão da ternura. Um casamento no
qual não haja pelo menos uma briga de vez em quando,
torna-se uma união onde não existe intimidade.
Quando estiver aprendendo a brigar, uma pessoa quer
realizar três coisas: compreender as metas de suas brigas e
alcançar essas metas; exprimir suas emoções através dessas
brigas; e controlar as brigas que possuam caráter destruidor.
Compreender e alcançar as metas das brigas. Um
indivíduo poderá sentir-se confuso a respeito das metas de
suas brigas. Julga que a pessoa com quem brigará é um
inimigo e, diante de qualquer inimigo, o indivíduo se propõe
a derrotá-lo ou destruí-lo. Essa atitude será acertada na
esfera dos relacionamentos de caráter superficial, quando
uma pessoa* é antagonista de outra e se dispõe a demolir
essa criatura. Isso não ocorre, porém, no caso de um
relacionamento íntimo. Quando se trata dessa espécie de
relacionamento, ninguém luta para triunfar, mas para clarear
a atmosfera, encontrar alguma solução, compartilhar de
emoções com a outra pessoa, adquirirem ambas um maior
entendimento e, desse modo, as duas partes são vencedoras.
Para isso conseguir, é necessário proceder de certa maneira:
Estabelecer normas básicas. Trazer à baila áreas
sensíveis só poderá magoar uma pessoa. É preciso deixar
isso bem claro, afirmando-se o seguinte: “Não aludir às
minhas dificuldades em matéria de sexo quando nós
brigarmos”, ou então, “Não me comparar com meus pais;
diga o que quiser sobre meus erros, mas me trate como
indivíduo.” Quando a outra pessoa for além dos limites que
tiverem sido estabelecidos, seu parceiro (ou parceira) terá o
direito de exclamar: “Isso não vale”, e a outra pessoa terá de
parar. Se ela achar que esse limite não está certo, discutirá o
assunto com o parceiro (ou parceira) ou até mesmo poderá
haver uma briga entre ambos. Mas durante uma dessas
brigas, a pessoa deverá ser capaz de brigar com inteira
liberdade, sem recear sua destruição emocional.
O núcleo de uma briga deve ser aquilo que uma pessoa
acha que a outra fez, e não o tipo de ser humano que acha
que ela é. Não podem dar certo os tipos de briga em que são
atiradas diatribes como estas: “Você é homossexual
latente”... “Você tem fixação em seu pai.” Mesmo que uma
pessoa ache que tem razão para dizer uma coisa dessas, o
que poderá fazer a outra?
Resolverá seu complexo de Édipo naquele instante ou no
dia seguinte? Esses erros em matéria de brigas só poderão
conduzir a frustrações, perturbações e a um afastamento
cada vez maior entre as pessoas. Isso não quer dizer que um
marido nunca deve chamar a mulher de “peste”, ou que uma
mulher não possa dizer que seu marido é “um filhinho da
mamãe”. É válido para um marido chamar a mulher de
“peste” quando estiver dando expressão aos seus
sentimentos, e quiser dizer, de fato, “Eu sou louco por você,
sua diaba”. Não será válido assim proceder — quando um
marido pronunciar essas palavras como um ultimato — que
signifique o seguinte: “Nós não vamos dar certo se você não
modificar sua essência como pessoa.”
As brigas devem ser travadas de igual para igual. Cartas
pessoas brigam melhor do que outras. Impõem-se
verbalmente com maior facilidade, gritam mais alto ou
pensam com maior rapidez, conservando os pés na terra.
Como não se trata de alguém vencer, mas sim de um
indivíduo tornar-se mais íntimo de outro, a diferença entre os
dois parceiros de uma briga deverá ser reduzida ao mínimo.
Um modo de assim proceder consiste no seguinte:
estabelecer como norma que a parte mais fraca poderá
começar uma briga à hora que quiser, ao passo que a mais
forte deverá dar à outra um aviso prévio, ou só poderá iniciar
uma briga quando a mais fraca sentir-se suficientemente
forte.
Não encurralar o adversário. Esse tipo de vitória gera o
desespero e desperta junto a essa outra pessoa o espírito de
vingança, não conduzindo a uma intimidade maior entre as
duas.
Conversar depois sobre as brigas do mesmo modo que se
conversa sobre a vida sexual. Terão sido marcados os pontos
de maneira limpa? Isso terá aumentado o sentimento de
confiança entre os dois participantes de uma briga? Essa
briga foi franca e direta? Cada pessoa dirá o que gostou e o
que não apreciou na briga.
Aprender a exprimir as emoções através das brigas.
Certas criaturas simplesmente nunca aprenderam a
manifestar a cólera. No caso de tais pessoas, eu sugiro que
empreguem deliberadamente palavras da conversação
negativa. As pessoas desse tipo são verdadeiros adeptos de
dizerem coisas como, por exemplo, “Eu gostei do que você
disse”, ou seja, pronunciar palavras amáveis, quando de fato
estão pensando o seguinte; “Eu gostaria de dizer que você
deveria cair morta pelo que acabou de falar.” Esse estilo
bloqueia as emoções. Um indivíduo deverá começar
declarando isto: “Eu não gostei do que você fez”, e ver o que
acontecerá. Outras técnicas para aqueles que têm medo de
brigas consiste em simulá-las. Poderão tomar qualquer
assunto relativamente trivial e “representar” como se
estivessem na realidade brigando por causa desse assunto. A
princípio, quem assim proceder poderá sentir-se artificial,
mas quando se descontrair, passará a agir de maneira mais
espontânea, brigando de verdade
Aprender a controlar as brigas descontroladas.
Existem muitos tipos de brigas descontroladas: brigas sem
um propósito e que se repetem constantemente e nunca
levam a coisa alguma... as erupções nas quais uma das
partes se limita a expelir vapor, e que raramente dizem
respeito a um problema entre marido e mulher.. .as brigas
sobre coisas erradas, quando uma pessoa começa a brigar
acerca de um assunto qualquer, mas nunca questiona um
verdadeiro problema... as brigas sem limites em que, pelo
fato de uma das partes trazer à tona todas as suas mágoas e
queixas, não consegue se comunicar sobre o que quer que
seja.
Quando uma pessoa houver adquirido consciência do mau
hábito, essencialmente passivo, de brigar de maneira
descontrolada, poderá adotar uma abordagem muito mais
ativa.
Preparar-se para uma briga. A pessoa deverá pensar,
antecipadamente, o que espera ganhar com uma briga. Quer
levar o companheiro (ou companheira) a compreender o que
estiver sentindo? Deseja simplesmente desabafar? Se a
pessoa escolher esta meta: “Vou humilhá-lo (humilhá-la) do
jeito em que ele (ela) me humilhou”, será melhor fazer uma
pausa, avaliar as coisas e verificar se é exatamente isso o
que está querendo. É útil fazer a si própria as seguintes
perguntas fundamentais:
Devo ou não realmente brigar por causa disso?
Poderei tolerar a tensão que essa briga irá causar?
Estou preparada para ser sincera?
Deixar de brigar ao acaso. Marque uma hora com seu
companheiro (a) para a briga. Diga-lhe qual será o assunto
da briga. Experimente dizer alguma coisa como isto: “Eu
estou furioso pela maneira com que você se portou na festa,
ontem à noite, e preciso desabafar. Que tal fazer isso hoje,
depois do jantar?” Não escolha uma hora pouco antes de
alguma importante conferência, nem quando ambos tiverem
bebido um número excessivo de uísques com soda, mas não
deixe que sua irritação fique fervendo durante mais de vinte
e quatro horas. Esse limite de tempo impede que seus
sentimentos se debilitem. E quando uma pessoa sabe que irá
desabafar dentro em breve, ir sentir-se menos frustrada.
Limitar-se ao assunto da briga. Se a pessoa quiser brigar
sobre uma extravagância, e a outra trouxer à baila “aquele
seu horrível tio Oto”, ou disser, por exemplo, “Você ronca
alto demais”, essa pessoa terá o direito de mandar a outra
ca- lar a boca. E esta última, desafiada, terá de provar que o
assunto que houver invocado é relevante para a essência da
briga ou, então, deixá-lo de lado.
Lembre-se de que uma briga não precisa ter um fim nem
uma solução derradeira. Faz parte de uma permanente troca
de emoções e de compreensão, num relacionamento que se
vai tornando cada vez mais íntimo. Do mesmo modo que
duas pessoas trocam expressões de ternura, trocam
manifestações de cólera e, dessa maneira, seu
relacionamento se aperfeiçoa.
Comunicar-se para melhorar a maneira com que se sente
em sua própria casa e nela tomar decisões.
Uma pessoa por vezes achará que seu companheiro (a)
não dá a contribuição que lhe compete. Julgando que toma
um número excessivo de decisões, elas passam a constituir-
lhe um encargo e não um vínculo entre essa pessoa e a
outra. Ou então, poderá ressentir-se porque seu
companheiro (a) toma todas as decisões. Muitos maridos
acham que suas esposas resolvem tudo sobre as escolas dos
filhos, a vida social do casal, a igreja que devem frequentar,
deixando-lhes unicamente as decisões sobre como ganhar
dinheiro, jamais a respeito da maneira de gastar esse
dinheiro.
A comunicação poderá ajudar uma pessoa a compreender
que percentagem de decisões gostaria de tomar em assuntos
de família. E ainda, contribuir para que possa saber se é
exata sua percepção das coisas, que modificações poderá
fazer e que áreas são mais importantes.

Exercícios De Laboratório: Sobre Tomada De


Decisões
Finalidade: Aperfeiçoar o processo de tomada de decisões
através da comunicação.
Primeira Etapa: Traçar duas linhas verticais numa página
do caderno do TA. Colocar os seguintes cabeçalhos no alto
das três colunas: área de tomada de decisões, percentagem
atual na tomada de decisões, percentagem que eu gostaria
de ter.
Abaixo do cabeçalho: área de tomada de decisões
relacionar os seguintes itens:
responsabilidades domésticas
atividades profissionais
comunicação
independência pessoal
administração das finanças
interação com os parentes afins
atividades religiosas

Acrescentar outros itens em que houver dificuldades.


Segunda Etapa: Cada membro do casal deverá preencher
o formulário separadamente.
Terceira Etapa: Comparar as avaliações. É de se esperar
que haja divergência de opiniões. Tais divergências servirão
de ponto de partida para debates.
Quarta Etapa: A pessoa escolherá uma área na qual a
outra estiver de acordo com ela, em termos gerais, a respeito
da situação atual e daquilo que cada uma deseja. Cada qual
discutirá o que possa constituir um avanço no sentido da
área desejada. A pessoa deverá ter certeza de haver
escolhido primeiro uma área em que encontrará maiores
probabilidades de êxito. À medida que começar a progredir
nessa área, passará a outra onde houver, após a primeira
área, maiores probabilidades de êxito.

Sinais De Perigo

Ao trabalhar com vistas a ser alcançado um


relacionamento íntimo, a pessoa deverá prevenir-se contra
quatro coisas:
(1) Não afirmar, com o dedo em riste: “ele deve”, “ela
deve” (fazer isso ou aquilo), ou dizer, “a culpa é dele”, “a
culpa é dela”. Muitas pessoas que me consultam sobre
problemas do casamento se tornaram peritos em analisar
seus companheiros. Mas quando eu pergunto a um paciente
simplesmente o seguinte: “O que você poderia ter feito de
maneira diferente?”, tudo quanto dele obtenho como
resposta é um olhar inexpressivo. As pessoas desse tipo não
compreendem, muitas vezes, que criam circunstâncias as
quais mantêm exatamente o comportamento de que se
queixam. Um cônjuge não poderá modificar-se enquanto o
outro também não o fizer.
CASO
Marge, vendedora de uma grande firma de computadores,
e Frank, seu marido, amavam-se muito mas não conseguiam
viver juntos. Casados há sete anos, moravam, há quatro,
cada qual em seu apartamento. Uma das razões desse fato
era a seguinte: viviam sempre a discordar um do outro. E
quando isso acontecia, cada um procurava defender seu
ponto de vista, pretendendo provar que o outro estava
errado. Ambos se orgulhavam muito desse comportamento e
me declararam o seguinte: “Estamos buscando a verdade.”
Na realidade, punham de lado tudo quanto dissesse respeito
à interação de sentimentos que desejavam continuasse a
existir entre eles.
Certo dia, Marge e Frank estavam fazendo compras
juntos, num supermercado. Frank viu uma lata de azeitonas
e a colocou no carrinho de compras. Chegando à caixa,
perguntou à mulher quanto custava aquilo. Marge
respondeu-lhe: “Cinquenta e nove centavos.” Frank deu-lhe o
dinheiro e ela o pôs na bolsa. Isto arrasou Frank. “Eu vivo
dando a ela uma coisa e outra. Ela nunca me dá nada”,
pensou ele. E explodiu, dizendo: “Você nunca deveria ter
aceito esse dinheiro!”
Marge disse o seguinte: “Foi uma coisa tão sem
importância. Nunca me passou pela cabeça que ele poderia
pagar as azeitonas. Eu simplesmente peguei aquele dinheiro
distraída.”
Quando discutiram essa situação em meu consultório cada
qual se transformou num advogado, apegando-se
repetidamente a todos os detalhes do assunto, apenas para
provar que sua versão era a correta.
Sugeri-lhes o seguinte: “Vejam uma coisa. Se vocês
tivessem manifestado sentimentos de ternura, poderiam ter
modificado toda a situação.” Diante de minhas palavras,
nenhum dos dois soube me dizer em que consistiria essa
diferença.
Propus que praticassem a técnica da conversação de
conteúdo afetivo. A partir do momento em que Marge pôs o
dinheiro na bolsa, Frank poderia ter-se voltado para ela e lhe
dito o seguinte: “Eu estou magoado e irritado porque você
aceitou esses meus cinquenta e nove centavos. Não é que o
dinheiro signifique tanto para mim, mas isso exprimiu sua
atitude.”
Frank concordou que aquilo era o que realmente havia
sentido. Marge admitiu que se ele tivesse dito essas palavras
ela o teria compreendido.
Em seguida, perguntei a Marge o que poderia ela ter feito
no sentido de fazer com que Frank se sentisse melhor a
respeito do incidente. Ela voltou a ser uma advogada,
declarando-me: “Nada. Ele deveria ter falado comigo dessa
maneira.”
Então eu me voltei para Marge e comentei: “Veja uma
coisa. Frank acabou de dizer que você o magoou. Torne a
pensar no assunto. O que você poderia ter dito ou feito
diante dessa situação?”
Ela me respondeu com as seguintes palavras: “Eu poderia
ter passado o braço na cintura dele e lhe dado um beijo no
rosto. Bem na fila da caixa!”
A fisionomia de Frank se iluminou, e ele declarou: “Isso
teria feito tudo ficar certo.”
Assim, quando o casal superou a atitude de litigiantes e a
necessidade de cada qual provar que tinha razão, ambos
conseguiram comunicar-se livremente no plano emocional,
as coisas para eles melhoraram, progredindo no sentido de
uma intimidade maior entre um e outro.
(2) Abdicar da própria identidade por vezes sem ter
consciência de que assim procedeu. É preciso tomar cuidado
com o casal que emprega constantemente o pronome “nós” e
nunca o pronome “eu”. Os dois estão se sufocando
mortalmente. Se uma pessoa mantém um relacionamento
íntimo com outra, as duas compartilham de todos os
pormenores de suas vidas. Esse compartilhar permanente e
essa íntima proximidade física impõem a necessidade de
haver um certo grau de privacidade afetiva. Cada membro do
casal tem direito de possuir seu próprio eu.
(3) Um dos membros do casal poderá avançar,
apoderando-se do território do outro, não lhe permitindo
liberdade. Nesse caso, um deles não reconhece ao outro o
direito ao seu próprio território e nele frequentemente
penetra, movido pela ideia errônea de que “é bom
compartilhar de tudo". Um dos dois torna-se interessado em
observar pássaros; o outro se apressa em comprar um
binóculo e um manual de campo. Um fica encantado pelo
Renascimento Italiano; o outro começa a ler Berenson de
ponta a ponta. Tive um caso no qual uma viúva de meia-
idade casou-se com um viúvo que tinha dois filhos adultos.
Esse casamento quase acabou em divórcio porque ela
decidiu que era “mãe das crianças”. Foi necessário um bom
número de sessões para que minha paciente compreendesse
que o relacionamento entre o marido dela e os filhos era
território dele.
É bom compartilhar das coisas, no casamento, mas não de
maneira total. Cada membro do casal tem necessidade de
possuir seu próprio território. Essa comunhão permanente,
na qual uma pessoa “encarna” na outra, transforma-se em
servidão.
(4) A área de independência pode tornar-se ameaçadora
ou criar uma distância entre os cônjuges. Isso impõe certos
limites ao que ficou expresso no item (3), acima. Num
relacionamento íntimo, não poderá haver inteira liberdade
na escolha de territórios. Tudo quanto fizer um dos membros
do casal poderá influenciar esse relacionamento, tornar o
outro angustiado ou inseguro, e ameaçar o destino de ambos.
O território privado que for escolhido deverá levar em
consideração esses efeitos.
CASO
John e Roger, que são homossexuais, viviam juntos há
doze anos. Consideravam-se “casados” e achavam que seu
relacionamento era de caráter permanente. Durante esses
anos, cada qual havia tido grande experiência sexual fora de
casa, com homens e mulheres. John era aproximadamente
dez anos mais velho do que Roger, estando quase nos
meados dos quarenta, e começava a sentir-se extremamente
inseguro. Declarou-me o seguinte: “Se eu perder o Roger,
tenho medo de acabar uma velha tia, na mais completa
solidão.”
John receava, basicamente, que Roger se envolvesse num
relacionamento sério com algum homem mais moço.
Começou a ficar muito perturbado com os “casos
extraconjugais” de Roger, e isso criou um estado de tensão e
de ruptura no relacionamento entre ambos. Começaram a
brigar. A solução proposta por John foi a seguinte: os dois
deveriam deixar de ter relações sexuais fora de casa. Roger
recusou-se a aceitar essa ideia, declarando: “Nós não temos
feito isso desde que nos conhecemos? Por que haveríamos de
mudar, agora?”
Finalmente chegamos a uma solução de transigência:
Roger só teria relações fora de casa com mulheres. John
sabia que Roger não o abandonaria por uma mulher e, assim,
não se sentiu mais ameaçado. A solução não satisfez
inteiramente a Roger, mas ele a aceitou por causa de seu
relacionamento com John.
A verdadeira intimidade profunda de alguém com outro
ser humano é difícil de ser compreendida por aqueles que
não a tiverem experimentado. É um processo de crescimento
que pode levar anos. Uma pessoa que o consegue sabe o que
Mark Twain quis dizer quando escreveu o seguinte:
“O amor parece o mais rápido de tudo aquilo que cresce, mas é o mais
lento. Nenhum homem e nenhuma mulher sabe em que consiste o perfeito
amor senão depois de estar casado durante um quarto de século.”
Capítulo 6.
Abordagem Positiva Do Problema
Do Sexo

Na união sexual de natureza ideal, um homem e uma


mulher compartilham de ternura, excitação e amor, tendo
por meta a libertação completa de todas as inibições e um
mergulho total em seus sentimentos. Seus corpos se fundem
de tal sorte que as duas pessoas se tornam uma unidade.
Erich Fromm escreveu o seguinte: “O amor erótico começa
quando dois seres, separados, acabam formando um só todo,
único.”
A verdadeira intimidade não significa: eu a excito e, em
troca, ela me excita, ou seja, uma troca- de favores entre um
homem e uma mulher. Para uma pessoa conseguir a essência
do ardor de outra, terá de se dar, sobretudo, para que essa
outra obtenha prazer. Em vez de portar-se como um
espectador que não esteja envolvido na situação, compartilha
das emoções da outra pessoa como se fossem suas.
Embora a capacidade de reagir normalmente em matéria
de sexo seja inata no caso de quase todos os seres humanos,
muitas circunstâncias podem bloquear esse desempenho
final cm seu relacionamento íntimo. Certas pessoas julgam
que o sexo é algo de “pecaminoso”... “sujo”... “pervertido”.
Isso acontece porque os pais, os professores, a igreja e a
sociedade lhes instilaram essas ideias durante seus anos de
formação. Outros indivíduos aprenderam a relacionar o ato
sexual a temores, angústias e ideias de que “não conseguirão
fazer aquilo”, Outros, ainda, comportam-se passivamente em
matéria de melhorar seu comportamento sexual não sabem
que poderão alcançar um melhor desempenho no leito
conjugal.
Todas essas razões, entretanto, resumem-se no seguinte:
essas pessoas não aprenderam como ter um orgasmo.
Aprenderam como não tê-lo. O que se houver aprendido
nessa área poderá ser desaprendido. Esse princípio constitui
a base fundamental da nova terapêutica em matéria de sexo.
O fracasso sexual não resulta unicamente de disfunções
mas também de causas mais comuns como, por exemplo, a
reduzida frequência das relações sexuais, a ausência de
variedade nessas relações, e a falta de liberdade nas
mesmas. Os especialistas estimam que problemas sexuais de
vários tipos afetam mais da metade dos casais, nos Estados
Unidos. O malogro em matéria de sexo, entretanto,
representa mais do que o fracasso de seu mecanismo
biológico. Ele repercute através de todo o relacionamento
entre duas pessoas, inibindo sua intimidade e gerando o
distanciamento entre elas. O simples alívio de um problema
sexual poderá exercer profundo efeito sobre um casamento,
tornando o relacionamento do casal mais maduro, confiante
e íntimo.

Bases Para A Mudança

A aceitação passiva de uma situação sexual insatisfatória é


característica das pessoas que não são afirmativas. Estarão
enganando a si mesmas se não investigarem e
experimentarem técnicas que aprovaram com outras pessoas
e que poderão tornar-lhes a atividade sexual mais
satisfatória. Por que sofrer sem necessidade? O Treinamento
da Autoafirmação na esfera da sexualidade possui uma
tríplice meta:
(1) Proporcionar informações sobre o sexo.
Para atingir o orgasmo a pessoa tem de afastar-se da
realidade, tem de entregar-se. Infelizmente, a falta de
conhecimentos, ou a posse de informações incorretas ou
superadas a respeito do sexo muitas vezes conduz à prática
de atos inibidores, impedindo a espontaneidade e a
expressão das emoções.
(2) Desenvolver uma orientação ativa a respeito do sexo
através de metas a serem atingidas.
Embora seja fácil afirmar-se que a derradeira meta a ser
alcançada na esfera sexual, num relacionamento íntimo,
consista no mais profundo intercâmbio de emoções, esse
conceito poderá parecer bastante abstrato. As pessoas
buscam essa felicidade. No caso da maior parte dos seres
humanos, outras metas acham-se presentes, de maneira
temporária ou permanente. E como o sexo constitui um meio
de obter-se prazer, a alegria e o gozo poderão ser uma meta
primordial. Em momentos de tensão, o sexo poderá tomar-se
uma fonte de conforto. Em outras ocasiões, poderá ser
atribuído relevo à concepção. Entretanto, poderão
infelizmente desenvolver-se ou existir metas infortunadas. O
sexo é suscetível de tornar-se, por exemplo, uma obrigação
ou um hábito de caráter ritualístico e, desse modo, perder
sua espontaneidade.
Isso poderá ser modificado.
Assumir uma atitude correta significa examinar e avaliar
as próprias relações sexuais. Em seguida, a pessoa deverá
investigar em que áreas poderá ser feita alguma coisa no
sentido do aperfeiçoamento das mesmas. Terá de proceder
de maneira sistemática, sempre agindo em cooperação com
seu parceiro (ou parceira). Através da ação, irá desenvolver-
se um sentimento de dinamismo e domínio, na busca da mais
perfeita e absoluta intimidade.
Contribuir para que a pessoa aprenda a se comunicar.
Muitos indivíduos que demonstram abertamente suas
emoções no campo dos relacionamentos de caráter
superficial, retraem- se quando se trata de dar o passo
definitivo em matéria de uma total franqueza na esfera do
sexo, em situações pertencentes a um tipo de
relacionamento íntimo. Como o sexo envolve compartilhar
intensamente daquilo que é muito pessoal, esses indivíduos
temem tornar-se vulneráveis. Todavia, através, do TA,
poderão aprender a comunicar-se nesse nível íntimo e, no
decurso desse processo de aprendizagem, terão
possibilidade de chegar a uma intimidade de novo tipo com
seu parceiro (ou parceira).

Os Conhecimentos Em Matéria Sexual


Do mesmo modo que uma pessoa tem necessidade de
possuir uma correta noção do papel do chamado bate-papo
ao formar um círculo de relações, bem como da importância
de ser imparcial em suas “brigas”, na esfera do seu
relacionamento com outra pessoa, deverá igualmente possuir
conhecimento em matéria de sexo para conseguir sua plena
realização na campo sexual. Duas dificuldades comumente se
apresentam;
(1) Certas pessoas não possuem conhecimentos na esfera
sexual. Em alguns casos, homens e mulheres têm ideias
rígidas a respeito do que é permitido e normal no campo do
sexo. Pessoas de alto nível educacional, que estão informadas
a respeito de todas as possibilidades na esfera sexual, são
ingênuas e inexperientes acerca das técnicas necessárias à
prática do sexo. Frequentemente nem se apercebem de que
seus conhecimentos nesse particular são limitados.
(2) Outras pessoas não fazem a menor ideia de que novos
dados científicos e clínicos modificaram completamente
nossos conhecimentos em matéria de sexo. Os trabalhos de
Kinsey e, posteriormente, os de Masters e Johnson, abriram
novos caminhos às pesquisas científicas nessa área tão
delicada.
Com a divulgação desses novos dados, muitos conceitos
sobre o mecanismo e a fisiologia do sexo foram revistos.
Costumava-se distinguir entre o orgasmo clitorídico e o
vaginal. Masters e Johnson demonstraram que não existem
dois tipos de orgasmo feminino. Na mulher, todos os
orgasmos têm origem no clitóris. A ausência do orgasmo
vaginal não é devida a conflitos inconscientes referidos por
Freud (como a inveja do pênis), mas pode resultar do simples
medo de não atingir o orgasmo durante o coito, ou ser um
problema de ordem mecânica, como ocorre sempre que a
mulher não tiver tido suficiente tempo para excitar-se antes
do coito. O que parece tornar diferentes o orgasmo vaginal e
o clitorídico decorre de fatores emocionais e da significação
que os mesmos' possuem para a mulher.
Os conceitos sobre a masturbação também se
modificaram. Não faz muitos anos, a masturbação era
considerada “neurótica” e causadora de doenças, que se
estendiam desde o câncer até as moléstias mentais. Mais
recentemente, a masturbação passou a ser considerada
aceitável. Entretanto, como sua natureza não era
compreendida, as pessoas experimentavam um sentimento
de culpa e tornavam-se deprimidas quando a praticavam.
Hoje em dia, é reconhecido que a masturbação constitui uma
boa -prática e, segundo a mais moderna teoria sobre a
sexualidade, ensinar um indivíduo a masturbar- se muitas
vezes se revela a primeira etapa no sentido de seu melhor
desempenho sexual. Inúmeros casais sentem prazer e
consideram excitante masturbar-se juntos.
Seguem-se algumas das perguntas mais comumente feitas
a respeito de sexo, que responderei com base nas atuais
concepções nesse campo em rápida mudança. Espero, com
essas respostas, proporcionar novos conhecimentos, capazes
de remover inibições porventura existentes.
Primeira Pergunta: “Que é sexo normal? Quais os limites das atividades
sexuais permitidas num relacionamento íntimo?

As atividades específicas poderão estender-se desde o


sexo oral ou anal até o fato de o casal ter relações sexuais na
sala de estar, no chão da mesma, e a troca de palavras
“sujas”, mas impregnadas de ternura. Como poderá uma
pessoa entregar-se aos seus impulsos se estiver temerosa de
fazer algo de anormal, ou preocupar-se quando seu parceiro
(ou parceira) fizer alguma coisa que considera “errada”? Tal
preocupação é compreensível. Mesmo hoje em dia, muitos
teóricos de alta reputação, e também inúmeras clínicas
famosas nesse campo do comportamento humano, ainda
acreditam que o único sexo “normal” é aquele que culmina
na “união heterossexual genital” (isto é, o coito convencional
entre duas pessoas de sexos opostos). Segundo essa opinião,
qualquer outra modalidade de sexo indica a existência de
imaturidade ou conflito, ou então que alguma coisa se
desviou no psiquismo dos participantes do ato sexual. Muitas
pessoas veem com suspeição o “jogo* amoroso” que precede
o coito, considerando-o, pelo menos parcialmente, uma
regressão ao nível da sexualidade infantil, em que não existe
uma válvula específica para a realização das atividades
sexuais.
É difícil isolar os dados científicos em que se fundamenta
esse estreito ponto de vista. Estudos sobre outros mamíferos
e sociedades humanas diferentes da nossa revelam existir
uma larga variedade de comportamentos sexuais aceitáveis.
Quase tudo que é anatomicamente possível ter
provavelmente sido aceito como normal em algum lugar e
em determinada época.
Os teóricos contemporâneos da sexologia assumem, de
modo geral, a posição de que praticamente tudo é normal
entre adultos, desde que haja mútuo consentimento e seja
aceitável para ambos. Quanto mais a pessoa puder se dar em
suas ações, mais será capaz de entregar-se no campo
emocional.
Isso não significa a inexistência de comportamentos
anormais entre adultos que o pratiquem por consenso
recíproco. Quer dizer que a etiqueta “normal” não é imposta
em virtude do conteúdo de um ato, em outras palavras, pelo
fato de ser esse ato aquilo que o indivíduo quer praticar ou
realmente pratica. O sexo oral, o sexo anal, os fetiches não
são normais nem anormais em si mesmos. O grau de
normalidade de um ato sexual se relaciona com a liberdade
de escolha de quem o excita. Quando esse ato situar-se
acima do controle de um indivíduo, torna-se compulsivo, é
esse indivíduo não terá liberdade de escolha. Nesse caso, o
ato será anormal.
O sexo é normal quando;
for praticado porque um indivíduo assim quer, seja visando à sua
própria satisfação, seja buscando proporcionar prazer à outra
pessoa;
a pessoa sentir-se livre de jazer outra coisa qualquer, se o desejar.

Sendo seguidos esses princípios básicos, uma pessoa


poderá despreocupar-se a respeito de ser “anormal”. Poderá
ir adiante, entregar-se às suas emoções e ser fiel a si mesma.
Segunda pergunta: Que significa exatamente o mútuo
consentimento dos dois participantes de um ato sexual?
Como se poderá saber se ele existe?
O mútuo consentimento entre esses dois participantes
significa que ambos possuem suficiente conhecimento de
seus próprios desejos para que possam tomar uma decisão a
esse respeito, ou seja, se querem dizer “sim” ou “não” em
face de uma situação, sem que haja qualquer coerção ou
restrição.
Uma pessoa saberá se a outra consente em praticar
determinado ato comunicando-se com ela, discutindo a
questão e falando francamente sobre a situação ligada ao
sexo. Quando uma pessoa procura ler o pensamento *da
outra e reage de maneira errada, disso resultará uma
inibição.
Perguntar significa solicitar. E uma pessoa tem o direito
de dizer “não” a qualquer solicitação que lhe seja feita. Um
marido deseja, por exemplo, praticar o sexo oral, mas a
esposa isso não quer. Ela realmente não aprecia essa prática
e deve recusá-la. É muito preferível dizer “não” do que forçar
a si própria a fazer alguma coisa que não deseja fazer. Mas
não gostar de alguma coisa não significa jamais fazê-la. Uma
pessoa poderá dispor-se a realizar algo que a desagrada
simplesmente no propósito de proporcionar prazer à outra e
demonstrar-lhe seu amor. Mas o fará por sua livre escolha,
não por haver sido a isso forçada. É preciso também que
essa pessoa esteja certa de que o que .sente é
verdadeiramente desagrado, e não simplesmente ansiedade,
ou o que sua mãe lhe houver dito “ser errado”.
Terceira pergunta: Uma pessoa encarece que deve haver liberdade no
comportamento sexual. Mas, em suas fantasias, vive muito longe disso.
Receia que se de fato entregar-se às suas emoções, suas fantasias irão
dela apoderar-se, e ela será uma criatura pervertida. Haverá grandes
probabilidades de assim acontecer?

Se a prática sexual for sempre a mesma, isso indicará a


existência de um problema, quer uma atitude passiva em
matéria de sexo, quer a presença de uma angústia inibitória.
As emoções, na esfera sexual, adquirem maior
espontaneidade e se tomam mais profunda através da
liberdade de ação, e as fantasias constituem um meio de isso
alcançar. Essas fantasias poderão indicar fontes potenciais
de satisfação sexual que um indivíduo não experimentou,
mas que deveria experimentar. Compartilhar disso com outra
pessoa, no ato sexual, poderá resultar em maior estímulo
físico e em crescente intimidade para ambos.
Essas verdades acerca das fantasias sexuais poderão
revelar-se valiosas.
As fantasias sexuais não refletem necessariamente a ação
de profundas forças inconscientes. Muitas são meros hábitos
que uma pessoa tenha aprendido a cultivar. Algumas dessas
fantasias comprovam que um indivíduo pode adquiri-las de
maneira bastante acidental, do mesmo modo em que
acumula várias formas de aprendizagem, também de modo
acidental, em outros setores da vida.
Há uma diferença entre fantasia e ação. Exatamente pelo
fato de um indivíduo alimentar a fantasia sexual de estar
com outra pessoa e não com seu parceiro (ou parceira) não
significa que, na realidade, gostaria de ter relações sexuais
com essa outra pessoa. O fato de nutrir uma fantasia
homossexual não implica que um indivíduo seja
homossexual, nem que esteja ansioso por praticar uma
atividade homossexual. Geralmente isso significa apenas que
o indivíduo teve essa fantasia e que a mesma nele provocou
excitação: Nada mais do que isso.
As fantasias sexuais poderão causar dificuldades se
assumirem o domínio de uma pessoa, tornando-se a única
maneira em que possa obter satisfação sexual, ou se essas
fantasias interferirem no relacionamento entre essa pessoa e
seu parceiro (ou parceira), criando entre ambas um
afastamento. Se isso acontecer, a pessoa deverá concentrar
sua atenção na outra quando atingir aquela etapa das
relações sexuais na qual o clímax se torna inevitável. Dessa
maneira poderá associar sua excitação sexual à outra pessoa
e, por fim, pôr de lado sua fantasia como fonte de excitação.
Logo que conseguir assim proceder de maneira consistente,
deverá iniciar o processo de interrupção da fantasia mais
precocemente, durante as relações sexuais. A princípio
poderá conseguir concentrar sua atenção na outra pessoa
apenas durante alguns segundos antes de sentir necessidade
de voltar à sua fantasia. Mas deverá apegar-se a essa
atenção e procurar fazer com que sua duração seja mais
prolongada.
Quarta Pergunta: E a propósito dos “verdadeiros problemas sexuais"?
Quando, por exemplo, o homem não consegue ter ereção, ou ejacula
depressa demais? Ou no caso de uma mulher não conseguir chegar ao
orgasmo, ou quando sua vagina se contrair, impedindo que o homem
possa nela introduzir o pênis e, se o conseguir, isso se tornará doloroso
para ele?

Tais situações constituem as mais comuns disfunções


sexuais. Existem variações entre elas, além de haver muitas
outras situações. O pensamento atual quanto às causas das
disfunções sexuais é o seguinte:
(1) A “resposta” sexual é uma reação natural aos
estímulos sexuais. Advém espontaneamente e não pode ser
forçada.
(2) Se uma pessoa sentir-se angustiada, essa angústia
interfere junto aos estímulos sexuais, impedindo-lhes a ação.
Em consequência disso, não poderá ocorrer uma resposta
sexutJ natural.
(3) A angústia mais comum é o medo de uma disfunção
sexual. A mulher se preocupa se irá ou não ter um orgasmo;
o homem se inquieta se terá ou não uma ereção. Essas
angústias tornam-se profecias que se cumprem por si
mesmas. Por esse motivo, da próxima vez que essas pessoas
tiverem relações sexuais irão preocupar-se mais ainda,
tornando a situação temida ainda mais provável. E assim,
forma-se a espiral neurótica.
(4) A angústia da pessoa que não consegue “participar” do
ato sexual começa a contribuir para que se forme a espiral
neurótica e também para que seja assegurada a
permanência do problema. Considerem-se, a título de
exemplo, as possíveis relações de uma mulher diante do
marido que apresente um problema de impotência:
(a) suas frustrações irão causar-lhe irritação com o
marido, ou até mesmo cólera em relação a ele. Ela o
desprezará;
(b) começará a duvidar de si mesma como mulher. Isso
poderá levá-la a ter um caso extraconjugal, o que significará
não apenas uma busca de satisfação sexual, mas também o
desejo de tranquilizar-se acerca de sua feminilidade;
(c) poderá evitar todo e qualquer contato sexual e, até
mesmo, qualquer expressão de afeto. Isso irá produzir um
estado de permanente tensão entre ela e o marido e,
igualmente, a certeza de que não resolverão suas
dificuldades cm matéria sexual; e
(d) em consequência de seu estado de tensão, ela poderá
vir a ter uma disfunção sexual.
O indivíduo que tem uma disfunção sexual experimenta
forte sentimento de culpa e também de inadequação. Mas o
parceiro que permanece “alheio” durante um ato sexual, dele
não “participando”, contribui também para que surjam
angústias e conflitos que perturbam o relacionamento sexual
do casal.
(5) A premissa fundamental da terapêutica sexual
recentemente criada (decorre dos trabalhos de Masters e
Johnson) consiste em reduzir a angústia e aumentar a
receptividade aos estímulos sexuais. Para isso conseguir, os
terapeutas desenvolveram algumas técnicas bastante
complexas. Quem desejar maiores informações a esse
respeito deverá ler o livro de Wil- liam H. Masters e Virginia
E. Johnson, Human Sexual Inadequacy, e a obra de Helen S.
Kaplan, The New Sex Therapy.
(6) Inúmeras novas abordagens terapêuticas se baseiam
em exercícios de caráter bastante técnico e, por isso, dão a
impressão de ser muito mecanicistas e impessoais. A
verdade é exatamente o oposto a isso. Embora os exercícios
possam ser mecânicos, o tratamento sempre enfatiza a
comunicação e o intercâmbio entre o casal. Se tratados com
mútuo respeito e amor, a comunicação e o entendimento
acerca dos problemas sexuais poderão resolver muitas
dificuldades. Seguem-se alguns aspectos básicos,
relacionados às disfunções sexuais:
(a) A pessoa deverá submeter-se sempre a um exame
médico antes de chegar a qualquer conclusão. Quase toda
gente tem 'muita, pressa em atribuir causas psicológicas aos
problemas sexuais. Certas condições de caráter médico
podem acarretar essas disfunções.
(b) Deve-se conversar sobre o problema. É preciso que a
pessoa tenha certeza de que realmente o conhece. Muitos
casais julgam que um problema sexual existente entre eles é
determinada coisa quando, na realidade, trata-se de outra,
inteiramente diferente. Um estudante recém-casado veio
procurar-me porque apresentava o problema da ejaculação
prematura, embora conseguisse manter o pênis em ereção
no interior da vagina de sua mulher durante até meia hora,
sem ejacular. Maiores investigações sobre o caso revelaram
que sua esposa era levemente frígida. Pelo fato de não
conseguir conter-se bastante para que ela chegasse ao
orgasmo, ambos punham a culpa nele, marido, quando, na
realidade, este se portava de maneira muito adequada.
Acabei tratando da frigidez de sua esposa, e o problema foi
resolvido.
(c) Cumpre não esquecer que o princípio geral consiste
em procurar modificar uma disfunção, reduzir a angústia
existente e aumentar os estímulos sexuais. Deve-se atribuir
pouca atenção ao aspecto sexual que causa o problema, e
desenvolver o prazer ligado a outros aspectos do sexo.
Se o problema for, por exemplo, de impotência do homem,
ele terá receio de que seu pênis não tenha uma ereção
suficiente que lhe permita introduzi-lo na vagina da mulher.
Durante um período de várias semanas, o casal poderá
praticar o “jogo de excitação” da maneira mais agradável e
impregnada de ternura que for possível, sem tentai' a
realização do ato sexual. Quando a mulher não atingir o
orgasmo, deverá ser empregado o mesmo método, ficando
entendido que não serão feitas quaisquer tentativas no
sentido de levá-la a esse orgasmo. A preocupação expressa
através das palavras “Eu vou ter um orgasmo?” está
subjacente à sua angústia. Dessa maneira, a angústia será
afastada e os estímulos sexuais serão aumentados em outras
áreas.
(d) É necessário prestar atenção às condições em que o
ato sexual é coroado de êxito (hora, lugar, luzes acesas ou
apagadas durante o coito) e valer-se dessas condições.
CASO
Um homem de quarenta anos veio ao meu consultório,
apresentando um problema de impotência. No entanto,
quando ele e a mulher se acariciavam, estando ambos
vestidos, ele conseguia ter uma ereção perfeita. Martin (esse
era seu nome) atribuía isso a dois fatores: a pressão de suas
roupas sobre a área genital e o fato de saber que não era
dele esperado realizar um ato sexual. Sua mulher havia
percebido que ele era capaz de ter uma ereção nessas
condições, mas nenhum dos dois sabia como aproveitar-se
desse fato para ajudar a resolver seu problema sexual.
Atribuí-lhes a seguinte tarefa: “Pensem como poderão
utilizar-se dessa situação.” Na sessão seguinte, vieram
ambos com um plano, que deu certo. O marido ficava
inteiramente vestido, de sapatos, enfiado em seu terno azul-
marinho. A mulher pretendia ficar nua, mas o marido achou
que isso seria uma pressão sobre ele. Assim, chegaram a um
acordo: ela poria um vestido, mas não usaria roupa íntima.
Eles sentariam numa cadeira e começariam a acariciar-se;
quando Martin tivesse uma ereção completa e ela estivesse
“pronta”, abriria a braguilha dele, permitindo a saída do
pênis de suas calças, e sentar-se-ia em seu colo, de rosto
voltado para ele. Dessa maneira, deram o primeiro passo no
sentido de resolver sua disfunção.
Em referência a algumas ideias capazes de tornar o jogo
amoroso mais excitante, recomendo a leitura do livro de S. G.
Tuffill, Sexual Stimulation.
(e) O casal deverá examinar as satisfações e as
insatisfações que se manifestarem em outras áreas de seu
relacionamento. O sexo não existe no vácuo e, muitas vezes,
os problemas sexuais poderão ser agravados por causa de
ressentimentos não expressos acerca de outras coisas.
(f) O casal poderá tomar a decisão de procurar a ajuda de
um profissional. Não é necessário prever um longo, sofrido e
infinito tratamento, de resultados duvidosos. No caso das
disfunções sexuais, os novos métodos terapêuticos são
relativamente breves e, muitas vezes, bastante eficazes. Se o
casal não estiver informado a respeito dos tratamentos
existentes, deverá consultar o médico da família.
Quinta pergunta: Como o novo conceito do papel da
mulher afeta as relações sexuais?
Hoje é outro o papel da mulher em matéria de sexo. A
noção de que ela seria um receptáculo da busca de
satisfação sexual, do homem é coisa do passado, bem como
não se considera mais “errado” que ela tome iniciativas e
participe ativamente do ato sexual. A mulher tem direitos e
responsabilidades que decorrem de sua igualdade em face
do homem e, desse modo, adquiriu a responsabilidade por
sua própria satisfação sexual.
Muitas mulheres jovens, entretanto, ainda atribuem
passivamente aos seus companheiros o encargo de elas
próprias encontrarem satisfação sexual. Para que sejam
conseguidas relações sexuais satisfatórias, a mulher deverá
instruir seu parceiro qual a melhor maneira em que poderá
ele satisfazê-la. Isso significa dizer-lhe o seguinte: “Eu gosto
disso”, ou “Seja mais moderado”, ou o que quiser comunicar,
numa troca de emoções e de ideias, tomando a mão do
companheiro e mostrando-lhe o que, onde e como quer que
alguma coisa seja feita. Assumir responsabilidades, de parte
da mulher, significa também que deverá agir de sorte a
aumentar seu prazer, como por exemplo, mover a pélvis de
molde a elevar ao máximo os estímulos sexuais.
Deverá também assumir a responsabilidade de
proporcionar satisfação ao seu companheiro. Há de querer
aprender como consegui-lo melhor, fazendo-lhe perguntas
sempre que não souber alguma coisa, e ouvindo-o quando ele
isso lhe explicar. Deverá desenvolver sua sensibilidade em
relação ao companheiro e às Suas emoções, para que ele
obtenha melhor desempenho sexual e ambos consigam
atingir um grau de maior intimidade.
Essa igualdade sexual alcançada entre o homem e a
mulher veio criar certos problemas. Evidencias cada vez
mais copiosas demonstram que o reconhecimento do direito
que tem a mulher de realizar-se no plano sexual vem sendo
julgado pelos homens como uma exigência e uma pressão
femininas. Isso gera um sentimento de angústia nos homens,
durante o ato sexual, que poderá levar a uma disfunção.
Relatórios a esse respeito indicam que o índice de
impotência dos homens jovens está aumentando. As
mulheres deverão contribuir para afastar esse sentimento de
angústia através de uma atitude de compreensão e melhor
comunicação com seus companheiros,

A Orientação Ativa

Ao contrário das técnicas que procuram descobrir medos


profundos e inconscientes, capazes de afetar a libido, o
método do Treinamento da Autoafirmação se utiliza de
gráficos, testes, tarefas, e se vale de uma abordagem
gradativa em face dos problemas que se apresentarem,
visando a melhorar a prática sexual. Em consequência disso,
quando um paciente me procura e fica informado de qual
será seu tratamento, a princípio se rebela contra o
“mecanicismo”. Diz o seguinte; “Eu quero fazer amor quando
tiver vontade. Todo esse sistema que o senhor me propõe é
artificial e despersonalizado. Tira a espontaneidade do sexo.”
Pacientes desse tipo não percebem qual o problema em
causa. A meta do tratamento é, sem dúvida, a prática sexual
espontânea e livre. No entanto, se uma pessoa apresentar
dificuldades em matéria de sexo, isso significa já ter
aprendido métodos insatisfatórios nesse campo. O
Treinamento da Auto- Afirmação procura simplesmente
estabelecer novos hábitos que sejam capazes de
proporcionar prazer. Firmados esses hábitos, uma pessoa
poderá abandonar o registro das coisas e também os
exercícios, e sua espontaneidade voltará a existir, ou um
novo estilo será iniciado em matéria de sexo.
Um indivíduo gostaria de ter relações sexuais mais
frequentes? Acha que seu parceiro (ou parceira) possui
aptidão física na esfera do sexo, mas sempre permanece
desligado e deixa de se envolver quando faz amor?
Estimaria uma pessoa que a outra fosse mais ativa no jogo
amoroso que precede o coito?
Adotando uma abordagem ativa acerca de como melhorar
sua vida sexual, a pessoa deverá determinar em que ponto se
encontra e onde deseja chegar. Em seguida, dará os
necessários passos com vistas a alcançar essa meta. Esse
processo envolve basicamente as três etapas seguintes:
(1) Determinar o, comportamento sexual que se deseja
modificar. Essa definição difere das demais que têm sido
discutidas no presente livro porque se acham envolvidas
duas pessoas. É importante que ambas vejam o problema da
mesma maneira e estabeleçam um objetivo que seja
mutuamente aceitável. Se uma pessoa falar, por exemplo,
sobre a frequência das relações sexuais, essa conversa
franca com o outro membro do casal dará expressão a
muitos sentimentos que nutre a respeito do sexo, desse
companheiro (ou companheira) e de seus próprios anseios. O
calor e a ternura entre ambos irão tornar-se mais intensos.
(2) É necessário organizar um plano sistemático de
modificação do comportamento. Cumpre definir os
comportamentos em causa de maneira muito específica,
preferivelmente de tal sorte que possam ser contados ou
medidos. Para ilustrar esse método na esfera sexual, serão
oferecidos programas de exercícios de laboratório sobre
tomada de decisões no que se refere ao sexo, à satisfação
sexual e à frequência das relações sexuais. É preciso não
esquecer que as pessoas desejam obter uma série de êxitos e
que desejam progred.ir no sentido de atingir uma meta a
longo prazo. Assim, as metas que forem estabelecidas para
cada etapa deverão ser razoavelmente possíveis.
(3) Pôr o plano em execução. O controle das atividades
que forem praticadas constitui um meio eficiente de observar
a ocorrência de mudanças. Como acontece ¡.om qualquer
novo hábito, esses novos comportamentos poderão,
inicialmente, parecer artificiais e forçados. Finalmente,
porém, irão tomar-se parte integrante da pessoa. Ela os
modificará para que se adaptem ao seu estilo individual e
prosseguirá, praticando a nova etapa. Se não conseguir obter
ou manter o desejado sucesso, deverá presumir que existe
algo de errado em seu programa: ou a etapa praticada foi
difícil demais, ou a pessoa e seu parceiro (ou parceira) não
estavam verdadeiramente de acordo em relação à meta
estabelecida ou ao procedimento empregado. É necessário
isso discutir e reformular o programa inicial.

Ajustamento Do Processo De Tomada De


Decisões Em Matéria De Sexo
Tom e Beth Jones vieram recentemente consultar-me por
causa de um problema sexual. Um casamento que começara
feliz havia-se tornado muito confuso ao cabo de cinco anos. O
problema básico dos dois era o seguinte: cada qual achava
que o outro tomava todas as decisões a respeito de tudo em
matéria de sexo, desde onde e quando ter relações sexuais
até o momento de terminar o coito. Ambos sentiam-se
coagidos, mas nunca haviam discutido seus sentimentos.
Beth declarou- me o seguinte: “Eu não consigo falar sobre
sexo.” E Tom se pronunciou como se fosse um eco de Beth.
Solicitei-lhes que preenchessem um questionário acerca
da responsabilidade sexual no casamento, elaborado nos
moldes do que foi concebido por Richard e Freida Stuart em
seu livro Marital Pre-Counseling Inventory. Quando Beth e
Tom confrontaram suas respostas comigo, a primeira reação
deles foi de incredulidade. Beth disse a Tom: “Você não pode
pensar que eu decido quando nós devemos ter relações
sexuais. Você sempre toma as decisões sobre isso.” Tom
declarou o seguinte: “Você não pode achar que eu tomo as
decisões sobre quando vamos ter relações sexuais.” Ambos
fizeram comentários semelhantes, do tipo “Você não pode
pensar isso”, “Isso é o que eu acho a respeito de todas as
suas respostas às perguntas do questionário”. Em seguida,
transformaram-se em verdadeiros litigiantes, cada qual
procurando provar que estava certo. Eu fiz-lhes parar de
assim proceder. De repente, perceberam o lado humorístico
de suas respostas, desataram a rir e voltaram para casa
resolvidos a modificar seus sentimentos, começando por
modificar seus atos. Neste caso, o principal problema era a
falta de comunicação. Definido esse problema, o casal
conseguiu facilmente realizar um programa de ação
corretiva.

Exercício Sexual De Laboratório I


Finalidade: Determinar o grau de satisfação com as atuais
tomadas de decisões no casamento.
Primeira Etapa: Tomar o caderno de apontamentos do TA,
ou uma folha de papel, e organizar o seguinte quadro:
Decisões toma das sobre
Quem as tomou
Quem gostaria que as tivesse tomado
Diferença

A. Quando ter relações sexuais


B. Quem toma a iniciativa
C. Onde ter relações sexuais
D. Em que ambiente
E. Quem inicia o coito
F. Quem decide o jogo amoroso
G. Quem decide a posição nas relações sexuais
H. Término do coito
Segunda Etapa: Na coluna Quem Toma a Decisão, indicar
quem o faz (em sua opinião) a respeito de cada parte do ato
sexual. Indique-o empregando a seguinte escala:
1. Sempre o homem
2. Quase sempre o homem
3. O homem mais do que a mulher
4. Os dois, mais ou menos igualmente
5. A mulher mais do que o homem
6. Quase sempre a mulher
7. Sempre a mulher
Terceira Etapa: Na coluna seguinte, empregando a mesma
escala, registrar quem gostaria que tomasse a decisão.
Quarta Etapa: Se os números divergirem, subtrair o
menor do maior e registrar a diferença na coluna três. Isto
dará «ma indicação quanto ao processo de tomada de
decisões em matéria de sexo. Por exemplo: se o item A —
Quando ter relações sexuais receber um 5 (a mulher mais do
que o homem) na segunda e na terceira colunas, a pessoa
estará satisfeita com essa situação. Mas o item B — Quem
toma a iniciativa poderá receber o número 7 (sempre a
mulher) na segunda coluna, e o número 4 (os dois, mais ou
menos igualmente), significando que a pessoa gostaria de
tomar essa decisão. Assim, se se tratar de uma mulher, ela
acha que sempre toma a iniciativa e se sentirá insatisfeita
porque gostaria que essa tomada de decisão fosse
compartilhada em pé de igualdade pelo homem.
O importante não é quem toma as decisões, mas o grau de
satisfação que a pessoa sentir nesse particular.
Quinta Etapa: Do mesmo modo cm que foi preenchido
esse quadro por um dos membros do casal, o outro deverá
preencher um quadro igual, fazendo-o independentemente.
Um dos cônjuges não deverá ter acesso à classificação do
outro enquanto ambos não houverem acabado de preencher
seus quadros.
Sexta Etapa: Os dois quadros serão comparados. Deverão
ser discutidas as discrepâncias se forem elas de dois ou mais
pontos. Havendo diferenças nas classificações, nenhum dos
membros do casal deverá procurar provar que a sua é a
melhor, mas sim, admitir que seu parceiro (ou parceira)
possui uma base razoável que justifique sua maneira de
haver assinalado os pontos. Cada qual se esforçará por
compreender qual será essa maneira.
Se os quadros revelarem apenas pequenas discrepâncias,
poderão ser iniciadas as necessárias ações.
UM CASO SIMPLES
Rita e Leonard viviam juntos, formando um jovem par,
moravam numa água-furtada no bairro de Soho. Não iam
muito bem em matéria de sexo. O questionário sobre a
tomada de decisões revelou que ambos achavam que
Leonard sempre as tomava (2), e que queria tomá-las mais
do que sua mulher (3).
Ambos concordaram que deveriam ter mais. atividade
sexual. Tinham relações ou praticavam o jogo amoroso em
média três vezes por semana. A tarefa que lhes atribuí foi
esta; no mês que iria suceder-se, Rita deveria tomar a
iniciativa todas as vezes que os dois praticassem o jogo
amoroso, quer estivesse ou não disposta a isso, e que se
esforçaria por assim proceder três vezes por semana. Isso foi
difícil para Rita porque tinha a mesma atitude que sua mãe,
pu seja, a de que “era errado para uma mulher assumir um
papel ativo em matéria de sexo”. Por causa disso, nunca
tinha aprendido a fazê-lo. Leonard assumiu o papel de
instrutor e ela. desempenhou o de tomar a iniciativa,
aprendendo como ser sexy. Passou a iniciar o jogo amoroso,
colocando os braços em torno do marido e dizendo “agora”.
Transcorridas quatro semanas, Rita havia aprendido
razoavelmente bem essa técnica, a ponto de poder
suspender seu tratamento. Nessa altura, era capaz de iniciar
a atividade sexual de maneira bastante frequente,
satisfazendo a si própria e a Leonard.
Uma pessoa poderá verificar que existe acentuada
diferença entre ela e seu parceiro (ou parceira) quanto a
uma ou mais decisões em matéria de sexo. Nesse caso,
primeiro terá de trabalhar em áreas onde as discrepâncias
sejam menores, passando, mais tarde, a outras áreas nas
quais sejam maiores.

Melhorar A Qualidade Do Relacionamento


Sexual
No exercício de laboratório que vem a seguir, a pessoa irá
determinar que aspectos de sua atividade sexual precisam
ser melhorados. Aprenderá como certas técnicas de
discussão franca podem contribuir para um mais perfeito
relacionamento sexual.

Exercício Sexual De Laboratório Ii


Finalidade: Avaliar o grau de satisfação sexual de um
indivíduo.
Trata-se de um meio simples de analisar as reações
sexuais.
Primeira Etapa: Tomar o caderno de apontamentos do
Treinamento da Autoafirmação, ou uma folha de papel, e
identificar da seguinte maneira os diferentes aspectos e
fases do relacionamento sexual:
A. Prelúcldio do jogo amoroso.
B. O jogo amoroso.
C. O coito.
D. A fase após o coito.
E. Expressão dos sentimentos do parceiro (ou parceira).
F. Expressão dos próprios sentimentos.
G. A frequência do jogo amoroso.
H. A duração do jogo amoroso.
I. A frequência das relações sexuais.
J. A duração das relações sexuais.
Segunda Etapa: Revelar o grau de satisfação de cada ato
sexual, colocando o número apropriado diante de cada letra.
Esses números representam o grau de satisfação sexual que
a pessoa houver habitualmente experimentado durante um
passado recente.
0. Péssima
1. Má
2. Insuficiente
3. Boa
4. Grande
5. Ótima
Ao atribuir valores a si mesma, nesse teste, adaptado de
outro semelhante elaborado por Richard B. Stuart, a pessoa
deverá ter cuidado com o “efeito de halo”, coisa comum em
avaliações desse tipo. Existem duas modalidades de “efeito
de halo”: o indivíduo tem uma impressão global de sua
satisfação sexual e atribui essa impressão a cada item do
teste. Ou então permite que seus sentimentos quanto a
determinado item transbordem, por assim dizer, e penetrem
em outros itens. Uma mulher, por exemplo, sente que o coito
foi “péssimo” e permite que isso lhe influa no julgamento
sobre o jogo amoroso, ao passo que, na realidade, poderá ter
achado que este foi “bom” (3). É necessário procurar
considerar separadamente cada aspecto da atividade sexual.
Terceira Etapa: Registrar no caderno de apontamento do
TA três coisas que poderão ser feitas para proporcionar
maior satisfação sexual ao companheiro (ou companheira).
Em seguida, organizar uma lista de três coisas que seu
companheiro (ou companheira) poderá fazer para dar-lhe
maior satisfação sexual. Os itens, dessa lista deverão ser:
Específicos: Não escrever coisa desse tipo: “Deve ser mais
amoroso.” Cumpre declarar os comportamentos que indicam
o que é entendido por ser amoroso.
Positivos: Não escrever coisas assim: “Ele não deve sair da
cama tão depressa depois de termos acabado nossas
relações sexuais.” Declarar o que deverá ser feito: “Ele deve
ficar junto de mim mais tempo depois de termos acabado
nossas relações sexuais.”
Quarta Etapa: Os dois membros do casal deverão cumprir
essas tarefas independentemente e, em seguida, comparar
as respostas do questionário. Às vezes o simples
reconhecimento de um problema específico poderá resultar
numa discussão espontânea, capaz de acarretar mudanças
de comportamento. Assim, a situação do casal melhora,
aumentando sua satisfação sexual e sua intimidade.
Quinta Etapa: Poderá ser necessário dar estrutura a essas
discussões. Embora seja fácil dizer-se, por exemplo, “Fale
sobre seus problemas sexuais”, as pessoas encontram
dificuldade em seguir esse conselho porque o sexo é um
assunto de caráter emocional, dotado de alta carga afetiva.
Há indivíduos que são incapazes de discutir sobre o sexo de
maneira construtiva, ao passo que outros não conseguem
falar sobre esse assunto de maneira alguma.
Cumpre estabelecer uma série de três discussões
programadas, de vinte minutos cada uma. Nessas
discussões, é necessário obedecer a três normas
fundamentais: não trazer o passado à tona, quer se trate de
alguma coisa que tenha acontecido na noite anterior ou
ocorrido há dez anos, a menos que essa experiência seja
ilustrativa de um comportamento desejado; não fazer
referência àquilo que se deseja que a outra pessoa deixe de
fazer; dar realce a comportamentos específicos que se deseja
incrementar. Maneira errada de proceder será, por exemplo,
dizer o seguinte: “Não me morda com tanta força.” Maneira
certa de falar: “Morda mais de leve.”
O questionário deverá ser utilizado como base para
discussões. (Estou presumindo que a pessoa tenha
dificuldade em falar sobre sexo e precise de um programa
dividido em etapas.) Cada discussão não deverá prolongar-se
por mais de vinte minutos, devendo ser previamente
decidido quem falará em primeiro lugar. Cada qual disporá
de dez minutos e deve ser esse tempo marcado a relógio,
usando-se um despertador. Quando a campainha do
despertar tocar, a pessoa deverá parar de falar, mesmo que
esteja no meio de alguma frase importante. A finalidade
disso é impedir que o debate se torne dispersivo na primeira
etapa do treinamento das discussões sobre o sexo. As
discussões poderão durar até menos do que os vinte minutos
estabelecidos.
Primeira discussão. A pessoa descreve um mínimo de três
ações (um máximo de seis) que a outra poderá executar para
melhorar a experiência sexual daquela que houver falado.
Durante essa conversação inicial, a parte que toca à outra
pessoa consiste simplesmente em compreender o que for
desejado que faça. Poderá fazer perguntas ou afirmações,
mas apenas no propósito de esclarecer as coisas. Quando a
primeira pessoa houver acabado de falar, ou a campainha do
despertador tocar, a segunda tomará a palavra e descreverá
as ações que deseja sejam praticadas pela outra.
Segunda discussão. A primeira pessoa revela seus
sentimentos e ideias acerca das necessidades da segunda.
Um simples “Está bem” não serve. Ela deverá dizer o que
pensa sobre cada desejo de mudança de seu comportamento,
expresso pela segunda pessoa.
Poderá manifestar-se a respeito de suas fantasias, se isso
lhe convier. Nessa altura, a segunda pessoa não deverá
apresentar argumentos. Sua meta há de ser a seguinte:
compreender o que sente a primeira pessoa. Em seguida, a
segunda pessoa revelará o que pensa sobre os desejos
manifestados pela primeira. Poderá dizer o seguinte: “É
evidente que você quer mais sexo oral durante o jogo
amoroso. Mas eu me sinto muito tenso com isso. Nem mesmo
tenho certeza de que gosto disso. Não sei se posso dar a você
o que você quer, nesse terreno. Mas também disse que
gostaria de ter relações sexuais com maior frequência,
ficando você por cima de mim. Eu gosto disso.”
Terceira discussão. Nessa altura, o casal deverá ter
estabelecido um certo grau de comunicação e adquirido
conhecimento e compreensão das necessidades e desejos de
cada um. Nessa discussão, os dois planejam um tipo de ação
poderá haver um completo acordo entre eles. Se isso não
acontecer, discutirão os vários aspectos da questão e
poderão estabelecer um contrato sexual.

Outras Etapas Da Comunicação Ativa


A etapa que virá a seguir deverá incentivar uma
orientação positiva. Coisa alguma é igual a zero. Até mesmo
quando um casal obtém satisfação em permanecer
simplesmente deitado, tranquilamente abraçado, isso já
constitui um ponto de partida. Qual será a etapa seguinte,
que possa ser cumprida e leve à direção certa? Ê necessário
pensar; “Que poderei fazer?” em vez de imaginar, por
exemplo: “Como tudo está horrível!” É preciso, ainda, ater-se
ao que for específico.
As discussões sobre o sexo devem limitar-se aos
comportamentos das pessoas e não à essência das mesmas.
Muitos caem na armadilha de censurar as pessoas e não seus
atos. Alfinetadas como esta: “Você não é muito mulher”...
“Você não é homem” deixam a pessoa magoada e sem saber
o que fazer, ou então ficará cada vez mais indiferente. Mas
uma afirmação deste tipo: “Você parece preocupado demais
com o sexo” poderá conduzir à pergunta construtiva: “O que
cada um de nós poderá fazer para que eu me preocupe
menos?”
A pessoa deve dizer o que gosta. A simples frase “Eu gosto
do que você está fazendo”, pronunciada durante o jogo
amoroso, poderá ser uma comunicação muito valiosa. Uma
pessoa dirá à outra que coisas específicas ela poderá fazer
para excitá-la, o que realmente tiver sido feito, ou o que
gostaria de experimentar. Se houver desacordos, deverão ser
discutidos pelo casal.
Coloque as coisas que a incomodam às claras. A frase
ocasional “Estamos com um problema”, ou “Sinto muito pelo
que aconteceu na noite passada”, não conclui nada. Mais
uma vez, discuta as particularidades.
Quando um dos parceiros do ato sexual simula um
orgasmo e o outro acreditar nessa simulação, ocorrerá um
verdadeiro bloqueio na comunicação de ambos. Muitas vezes
a mulher se porta como se tivesse chegado ao orgasmo e
engana o homem. Isso o levará a pensar que está agindo de
maneira certa e, em consequência, o relacionamento sexual
entre os dois não melhora. O homem também poderá simular
o orgasmo. Terá de fato tido uma ejaculação, mas sem
experimentar a sensação do orgasmo. Num relacionamento
íntimo, a falta de franqueza sempre impede que um casal
resolva suas dificuldades sexuais.
Se uma pessoa tiver uma longa história de dificuldades
sexuais, deverá fazer com que a outra pessoa disso
compartilhe. Suas revelações poderão, no mínimo, aliviar as
dúvidas dessa pessoa a respeito de sua própria sexualidade
e, desse modo, remover as tensões da situação em causa.
Isso irá também contribuir para a determinação da etapa
seguinte.
É preciso prestar atenção ao que possa ser feito de
maneira diferente. Indagar, por exemplo, o seguinte; “O que
eu poderei fazer para tornar nossas relações sexuais mais
excitantes para ele (ou ela) para mim mesmo (ou mim
mesma)? É importante não cair na armadilha de dizer isto:
“Ele deveria ser diferente”, ou “Ela deveria resolver sua
incapacidade de se amarrar,” Tais acusações não poderão
levar a atos construtivos;
Cumpre praticar o método de dar instruções não-verbais.
Mostrar como fazer alguma coisa poderá valer mais do que
mil palavras. A maior parte dos homens, por exemplo, não
sabe estimular o clitóris de uma mulher. Tendem a titilar a
extremidade do clitóris, ao passo que a maior parte das
mulheres preferem que o mesmo seja manipulado
lateralmente. A mulher deverá guiar a mão de seu parceiro,
movê-la da maneira que lhe proporcione prazer, mostrando
onde deverá ser colocada, que grau de pressão há de ser
exercido, o que ela mais gosta. Em seguida, acrescentará
sugestões verbais, dizendo, por exemplo, “mais de leve”,
“com mais força”, “mais depressa”, “mais devagar”, à
medida que ele repetir os movimentos desejados.

O Aumento Da Frequência Das Relações


Sexuais
Inúmeras pessoas desejam modificar muitos
comportamentos sexuais, especialmente o que diz respeito à
frequência das relações sexuais. Quando um casal concorda
em tentar uma mudança em relação ao problema, isso é
valioso, embora haja alguma divergência acerca da
derradeira meta a ser alcançada.
Com que frequência uma pessoa tem relações sexuais?
Com que frequência gostaria de tê-las?

Para isso determinar, é preciso definir o que essa pessoa


entende por sexo, sendo feita a distinção entre relações
sexuais e jogo amoroso, sem que culmine num ato de amor.
Essa distinção é fundamental. Muita gente julga que todo'
e qualquer jogo amoroso deverá terminar em relações
sexuais, OU no mínimo em orgasmo. Desse modo, se por
qualquer razão as pessoas desse tipo às vezes não são
capazes de completar um ato sexual ou ter um orgasmo,
evitam a prática do jogo' amoroso. Assim, privam-se, a si
mesmas e aos seus parceiros (ou parceiras) de uma
experiência potencialmente capaz de- proporcionar um
prazer satisfatório. A insistência em ter relações sexuais
poderá de fato interferir com a frequência das mesmas.
Para aumentar a frequência das relações sexuais, uma
pessoa deverá antes de mais nada verificar com que
frequência efetivamente as tem. Num terreno tão delicado
como o- do sexo, torna-se fácil distorcer o que realmente
acontece. Ê necessário conferir os fatos.

Exercício Sexual De Laboratório III


Finalidade: Registrar os fatos de sorte que se possa saber,
num relance de olhos, quando tiverem ocorrido diferentes
modalidades de atividade sexual, quais foram e com que
frequência ocorreram no decurso de uma semana Primeira
Etapa: Comprar um calendário de bom tamanho, de
preferência desses que cada dia do mês vem impresso num-
compartimento. Esses compartimentos ajudam a obter mais
clareza quanto às anotações que forem feitas. O calendário
deverá ter suficiente espaço para as anotações e possuir
margens bem largas. As margens à direita serão utilizadas
para o registro dos totais relativos a cada semana.
Segunda Etapa: Utilizar o seguinte código no registro dos
comportamentos sexuais que houverem de fato ocorrido:
J. significa jogo amoroso.
O. significa jogo amoroso, havendo um dos parceiros
chegado a ter um orgasmo.
R. significa relações sexuais ocorridas no dia em questão.
Presume-se terem sido precedidas de jogo amoroso.
Terceira Etapa: No dia em que houver ocorrido um
comportamento sexual, deverá ser inscrito o símbolo
apropriado no alto da margem direita do compartimento
referente a esse dia. Se houver mais de uma atividade sexual
nesse dia, um segundo símbolo deverá ser inscrito abaixo do
primeiro.
Quarta Etapa: No fim da semana, registrar os totais
relativos a cada comportamento, fazendo-o na margem do
calendário. Para ser obtido um bom exemplo do
comportamento sexual, o registro deverá ser feito durante
quatro semanas.
Durante a primeira semana, por exemplo, Mark e Mary
tiveram relações sexuais e praticaram o jogo amoroso duas
vezes, no último caso sem chegar ao orgasmo uma vez, isso
para um total de três experiências sexuais. Na segunda
semana, tiveram igualmente três experiências sexuais, uma
de cada tipo. Na terceira semana, houve quatro contatos
sexuais: o jogo amoroso, por duas vezes, sem haver orgasmo;
o jogo amoroso, acompanhado de orgasmo; ato sexual
completo (relações sexuais), uma vez. Nessa semana, Mark e
Mary tiveram duas experiências sexuais num sábado.
Perguntei-lhes o seguinte: “Como vocês explicam as
experiências sexuais do sábado?” Isso os levou a dar uma
explanação específica de uma coisa que ambos sabiam o que
era, embora nunca a houvessem verbalizado. Nas manhãs de
sábados, o filho do casal, de doze anos de idade, e a filha, de
dez, saíam de casa cedo para ir a um clube. Por isso, o casal
não tinha “obrigações inadiáveis”, após a saída dos filhos e,
frequentemente, fazia amor. Nunca haviam plenamente se
apercebido com que frequência isso ocorria nem quais eram
suas implicações. Mary sentia-se mais à vontade ao ter
relações sexuais quando os filhos não estavam em casa, e
Mark sentia um desejo sexual mais intenso nas manhãs de
sábados, quando estava mais descontraído e repousado.
O próprio reconhecimento desses sentimentos levou a
uma mudança. Mary e Mark começaram a sair da cidade, de
vez em quando, durante os fins de semana, fazendo-o sem a
companhia dos filhos. O fato de ambos saberem qual o
motivo dessas miniférias veio tornar mais forte sua excitação
sexual. Mary declarou-me o seguinte: “Isso faz com que eu
me sinta deliciosamente pervertida.”
Organizando e mantendo em dia um quadro, a pessoa
começa a ter uma noção mais clara daquilo que deseja
modificar.
Ao decidir sobre a frequência das relações sexuais, uma
pessoa poderá esbarrar em certos obstáculos de natureza
psicológica. Talvez faça estas perguntas, como acontece com
meus pacientes:
“Que é frequência normal?” Todos nós fomos educados no
sentido de cultivar certas dúvidas sobre nossa adequação
sexual, tais como ter medo dos desvios do comportamento
sexual, e ser acima ou abaixo do “normal” frequentemente
emerge como verdadeira ameaça. A frequência normal
depende da saúde física de uma pessoa, de sua idade, dos
sentimentos que tem para com seu parceiro (ou parceira), do
tipo de relacionamento que 'existe entre ambos, e de
inúmeras outras variáveis. Não se pode determinar o que é
normal. Por esse motivo, é preferível pôr de lado essa
questão de normalidade e fazer-se o que se quiser.
“Como hei de saber com que frequência desejo praticar
um ato sexual? Em minhas fantasias existem sempre
relações sexuais, constantemente, e eu sei que sou capaz
disso.” Nesse ponto é que o fato de ser mantido um registro
vincula a pessoa à realidade. Na semana passada, por
exemplo, uma pessoa teve relações sexuais quatro vezes.
Gostaria de manter-se nesse nível ou aumentá-lo? Deverá
essa pessoa fazer uma experiência e verificar o que
realmente a satisfaz. Não poderá de fato sabê-lo enquanto
isso não for determinado através da ação.
“Qual a importância de decidir o que uma pessoa quer?
Meu parceiro (ou parceira) não acaba junto comigo.” Como
acontece com muitos outros aspectos de um relacionamento
íntimo, as necessidades e os desejos de cada membro do
casal poderão diferir. Uma pessoa poderá não conseguir o
que quer, mas deverá se lembrar de que a discussão franca é
preferível à aceitação passiva do que lhe for insatisfatório.
“Como poderá uma pessoa sair da situação em que tenha
sexo de menos e chegar a obter mais sexo?” Uma das
técnicas empregadas pelo TA é a seguinte: o método das
aproximações sucessivas, que importa no estabelecimento de
datas para manter relações sexuais e a manutenção de um
registro das mesmas.
CASO
Roy, de trinta e cinco anos de idade, e Peggy, de trinta e
um, eram casados há seis anos e não tinham filhos (nem
queriam tê-los nessa altura), mas desejavam aumentar a
frequência de suas relações sexuais. Suas dificuldades
sexuais tornaram-se críticas quando Peggy descobriu que
Roy havia tido vários breves “casos” com outras mulheres.
Ele alegou que isso tinha acontecido porque se sentia
sempre frustrado. “Peggy e eu raramente temos relações
sexuais”, disse-me ele. Peggy queixou-se de que Roy vivia a
assediá-la em matéria de sexo.
Nessa época, estávamos lidando com outros problemas no
tratamento do casal, mas decidimos enfrentar a questão da
frequência de suas relações sexuais, utilizando o método do
calendário, que seria empregado durante quatro semanas.
Os registros neles lançados mostraram que nas duas
primeiras semanas Roy e Peggy tiveram relações sexuais
uma vez por semana, e que, durante as duas semanas
subsequentes, as tiveram duas vezes e praticaram o jogo
amoroso uma vez, culminando em orgasmo no caso de Roy
(Peggy o fez ter um orgasmo, manualmente). Eles não
conseguiram chegar a um acordo sobre a meta a alcançar
em matéria de frequência dos atos sexuais. Ele queria que
fossem praticados quatro vezes por semana, e uma vez por
semana era mais do que suficiente para Peggy.
Empregamos o método das aproximações sucessivas,
estabelecendo datas para a prática do sexo. Em cada semana
eles deveriam ter pelo menos uma data para isso, e mais de
uma, se ambos assim quisessem. Cada data teria de ser
marcada com vinte e quatro horas de antecedência, e o
momento seria escolhido arbitrariamente. Não seria
estabelecida uma data quando ele, por exemplo, soubesse
que teria de trabalhar horas extraordinárias e que chegaria
tarde em casa. A meta dessas datas não era a de o casal ter
relações sexuais, mas praticar o jogo amoroso, fazer carícias
e conversar de maneira íntima sobre sexo. Eles
estabeleceram um contrato acerca de suas relações sexuais,
que se tornou necessário porque Peggy achava estar sendo
sexualmente explorada, e diante do fato de Roy realmente
explorar a mulher nessa questão de sexo. A meta combinada
foi a seguinte: quanto a Roy, estimular Peggy para que ela
desejasse ter relações sexuais. Foram estas as cláusulas do
contrato.
Não deveria haver qualquer tentativa no sentido de o
casal ter relações sexuais, a menos que Peggy dissesse em
voz alta: “Eu quero você.” Se ela não desejasse manter
relações sexuais com o marido, teria de apresentar suas
razões para isso. Deveria, porém, na hora do café da manhã,
no dia seguinte, dizer a Roy quais seriam duas coisas
específicas que ele poderia ter feito, ou as ter feito de
maneira mais intensa, e que talvez a tivessem levado a
querer ter relações sexuais. Peggy não deveria dizer uma
palavra sobre qualquer coisa que ele tivesse feito de errado.
Se não houvesse relações sexuais, mas o casal praticasse
o jogo amoroso, Peggy deveria fazer com que Roy tivesse um
orgasmo (se ele isso desejasse) uma vez sim outra vez não, e
Peggy usaria a técnica manual ou oral. A finalidade de
estabelecer-se o critério de “uma vez sim, outra não” era a
de fazer com que ambos começassem a modificar a noção
que tinham de que a prática do jogo amoroso deveria sempre
culminar no orgasmo. Estabeleceu-se uma exceção a essa
regra: em qualquer hora não programada, se Roy quisesse
muito ter um orgasmo, isso seria permitido.
Em consequência desse exercício, duas coisas
aconteceram: Roy tornou-se mais sensível às necessidades
sexuais de Peggy e deixou de explorá-la, ao passo que Peggy
começou a sentir-se menos explorada, impôs seus direitos
em matéria de sexo em vez de retrair-se nesse campo, e
começou a sentir um enorme prazer em excitar Roy. Ambos
passaram a respeitar- se mais e sua intimidade tornou-se
mais intensa.
Ao cabo de dois meses, embora os dois ainda tivessem
muitos problemas a resolver, Roy havia abandonado suas
exigências notumas, ao passo que a atividade sexual do casal
começou a ocorrer espontaneamente e com tal frequência
que nem o marido nem a mulher sentiram mais necessidade
de estabelecer datas para isso.
Quando uma pessoa empregar esse método aproximativo
para aumentar a frequência de suas relações sexuais, deverá
lembrar-se sempre de sua meta: obter uma série de êxitos.
Cumpre estabelecer previamente as datas para as
relações sexuais a um nível ligeiramente superior à atual
frequência das atividades sexuais.
O número dessas datas será aumentado através de
pequenas etapas. Não deverá ser estabelecido um número
excessivo de datas para depois verificar-se que não poderão
ser cumpridas. Esse número poderá ser reduzido, e
acrescida mais uma data em cada período de três semanas.
A meta a ser alcançada em cada etapa será o contato
sexual e não, necessariamente, manter relações sexuais.
Será utilizado o método do calendário, anteriormente
descrito, para que possa ser mantido um registro dos fatos.
Quando a desejada frequência das relações sexuais for
alcançada, será mantido o critério de programação e registro
das atividades sexuais durante várias semanas.
Se a pessoa começar a regredir, deverá novamente
estabelecer o programa das datas.

Conversação De Conteúdo Sexual


Na comunicação de caráter íntimo, as palavras deverão
possuir um efetivo que vá além da mera instrução ou do puro
louvor. São excitantes por si mesmas e poderão aumentar o
•compartilhar das emoções.
Poderão ser empregadas de três maneiras específicas
para melhorar a vida sexual;
(1) Palavras que permitem o compartilhar de sentimentos
de ternura, como estas, tão fundamentais: “Eu te amo.”
(2) Palavras que visam a excitar. Vão desde aquelas tão
simples, como “ótimo”, “maravilhoso”, até as que chamam
atenção para movimentos corporais, como “Eu estou
trêmulo”... “Olhe como você me faz ficar tão rijo”... ou então
dar expressão a sentimentos, como estas: “Eu vou explodir”.
.. “Você me põe louco.”
Certas palavras poderão ser excitantes por si mesmas.
Palavras como “meu órgão”, ou “a menina”, ou frases que as
contenham, são suscetíveis de intensificar a experiência
sexual. Poderá ser excitante empregar tais palavras para
pedir alguma coisa ou descrever o que estiver sendo feito.
Por exemplo “Ponha ele em sua boca”, ou “eu sinto que ele
está tão grande dentro de mim” poderão acrescentar uma
nova dimensão à vida sexual.
Se uma pessoa fizer objeção ao emprego dessas palavras e
expressões, poderá substituí-las por outras de que goste.
Certos indivíduos ficam excitados quando se atribuem nomes
às diferentes partes da anatomia sexual, e quando são
tratadas como pessoas amigas. “Alô, Johnny”, diz a mulher,
referindo-se ao pênis do marido. “Muito prazer em tornar a
vê-lo. Deixe-me dar um beijo em você.” Essas pessoas criam
uma linguagem própria, o emprego da linguagem de
conotação sexual consegue mais do que simplesmente
aumentar a excitação de uma pessoa. Esse tipo de
conversação entre marido e mulher os isola do resto do
mundo e faz com que se tornem mais íntimos.
Praticar ou compartilhar das emoções após sua
experiência. É importante conversar sobre as experiências
sexuais e relembrá-las, do mesmo modo em outras atividades
são compartilhadas. Deve-se também conversar sobre as
maneiras em que se possa experimentar fazer amor. A
simples afirmação como esta: “Eu tenho ouvido falar muito
em vibradores... gostaria de experimentar isso um dia
desses” poderá conduzir à exploração de uma nova área de
atividade sexual. As fantasias do casal devem também ser
compartilhadas. Daí poderá resultar maior intimidade e
novas fontes de prazer.
Se uma pessoa não tiver fantasias de natureza sexual,
deverá aprender a criá-las. Será estabelecido um
determinado dia para isso. Em seguida, a pessoa as tornará
mais prolongadas e mais excitantes (fantasias que são
populares: fazer amor num bordel de Paris, trabalhar como
prostituta, ter um harém, usar roupas sensuais, ser dono de
uma potência excepcional). A princípio, as fantasias de uma
pessoa poderão ser inexpressivas, mas é provável que
acabem por tornar-se o produto de forte imaginação e passar
a ser espontâneas.
Se uma pessoa sentir angústia ao revelar suas fantasias ao
seu parceiro (ou parceira), e este parecer tenso ao ouvi-las,
deverão essas fantasias ser narradas por etapas. O indivíduo
poderá começar por dar as linhas gerais de suas fantasias e,
pouco a pouco, revelar maiores detalhes a seu respeito.
Quando sentir-se mais à vontade, será capaz de comunicá-las
de maneira completa.
CASO
Uma mulher veio procurar-me, queixando-se de frigidez
parcial. Não conseguia atingir o orgasmo durante as relações
sexuais. Narrou-me sua fantasia predileta, quando se
masturbava. Era a seguinte: transformava-se numa jovem
polinésia, que se entregava a toda a tripulação de um navio.
Julgava minha paciente que se apelasse para essa fantasia
quando tivesse relações sexuais, seria capaz de chegar ao
orgasmo. Sentia, no entanto, que seria uma “deslealdade ao
marido” assim proceder.
Por insistência de minha parte, contou-lhe sua fantasia
sobre a Ilha dos Mares do Sul. Com surpresa para ela, o
marido a incentivou a valer-se dessa fantasia durante suas
relações sexuais, o que a fez atingir o orgasmo. Além disso, o
marido acrescentou certos aspectos mais aperfeiçoados à
situação, como por exemplo, começou a conversar com a
mulher, durante o ato sexual, como se fosse um dos membros
da tripulação do navio. Absorvido nessa dramatização,
continuou a empregá-la até mesmo muito tempo depois de a
mulher não ter mais necessidade de tal fantasia para ter um
orgasmo.
Modificando um comportamento sexual, a pessoa poderá
modificar sua própria vida e, desse modo, ser mais feliz, o
mesmo acontecendo com sua personalidade. A exemplo
dessa mulher, cada indivíduo poderá também adotar uma
abordagem ativa em matéria de sexo. Se uma pessoa não
puder pôr em prática todas as ideias relativas ao TA que
pro^ pus neste capítulo, experimente uma delas e, depois,
outra. Isso poderá modificar-lhe a vida. Mas, à medida que
agir no sentido de alcançar a meta de uma intimidade mais
profunda com seu parceiro (ou parceira), é preciso lembrar o
seguinte; o maior afrodisíaco que existe é o amor.
Capítulo 7.
Autoafirmação Através Do
Autodomínio

Na Odisséia, Homero relata como Ulisses, após ter


vencido a Batalha de Tróia, içou vela rumo à pátria,
acompanhado de sua tripulação. A rota até Ítaca o obrigaria
a passar pela Ilha das Sereias, onde viviam aquelas criaturas
sem coração, metade mulher e metade pássaro, que atraíam
os marujos à praia com sua música encantatória, no
propósito de devorá-los. Advertido por Circe a respeito de
seu possível destino, Ulisses decidiu pregar um logro à morte
quase certa que o aguardava. Mandou tapar com cera os
ouvidos de todos os seus tripulantes, deixando os seus
próprios ouvidos limpos para que somente ele pudesse ouvir
o canto das sereias quando o navio se aproximasse da ilha.
Tomou, porém, a precaução de ordenar aos marinheiros que
o amarrassem firmemente a um mastro. Assim, Ulisses
conseguiu conduzir seu navio além das mortíferas sereias e
salvar a própria vida e também a de todos os seus homens.
Ulisses realizou essa façanha que nos conta a mitologia,
através de duas ações que o jargão psicológico denomina
remoção do estímulo e prevenção da resposta. Quando uma
pessoa que estiver fazendo um regime conserva os alimentos
fora do alcance de seus olhos, pratica a remoção do estímulo.
Quando tranca a porta do refrigerador a cadeado, de sorte
que não possa alcançar os alimentos, exerce a prevenção da
resposta.
Um indivíduo pode modificar, controlar e transformar seu
próprio comportamento. Valendo-se de uma série de
técnicas, proporcionará a si mesmo contingências
(probabilidade de ocorrência das coisas), atividades,
recompensas e até mesmo punições, a fim de que seu
comportamento se torne aquilo que quer que ele seja.
Comportamentos indesejados podem ser substituídos por
outros, desejados. Uma pessoa poderá libertar-se até de um
mau hábito que seja uma característica individual de toda a
sua vida.
Ao modificar seu comportamento, um indivíduo torna-se
verdadeiramente afirmativo. Conseguir o domínio sobre o
próprio eu, o que muitas vezes é denominado autodomínio,
constitui parte importante da autoafirmação.
Quando alguém pratica um ato que lhe proporciona
respeito a si mesmo, sua autoestima aumenta. Isso significa
o seguinte; posto em forma de equação:
Um comportamento desejado = autossatisfação
= autoestima.
Inversamente, quando um indivíduo adia a realização de
alguma coisa, come em excesso ou executa qualquer ato que
o leva a perder o respeito próprio, essa autoestima diminui.
No Capítulo 1 discuti a fórmula: autoafirmação = a
autoestima. Os comportamentos autorreguladores devem ser
considerados parte da autoafirmação. Efetivamente, para
que uma pessoa possa ser verdadeiramente afirmativa há de
possuir o domínio de si mesma.
É difícil saber como agir diante de expressões vagas como
“domínio de si mesmo”, “força de vontade”. No entanto, se
analisarmos essas expressões, iremos descobrir que tudo
quanto realmente implicam se resume numa série de hábitos
específicos e que poderão dizer respeito a qualquer coisa,
desde os alimentos que uma pessoa ingere até a maneira
insatisfatória cm que trabalha. A chave da questão consiste,
com muita frequência, em identificar o hábito específico que
se deseja modificar. Conhecido esse hábito, a pessoa será
capaz de modificá-lo dizendo simplesmente a si mesma que
assim deve proceder. Mas efetuar a modificação de certos
maus hábitos poderá revelar-se muito mais difícil e exigir um
complexo programa de treinamento. É necessário perceber
que alterar até mesmo um mau hábito trivial (como arrumar
as roupas em seu lugar antes de ir para a cama, em vez de
atirá-las em cima de uma cadeira) confere ao indivíduo um
sentimento agradável de domínio sobre ele próprio.
B. F. Skinner, Professor Emérito de Psicologia da
Universidade de Harvard, talvez o mais influente psicólogo
vivo norte-americano, escreveu o seguinte:
“Pouco ajuda dizer a uma pessoa que utilize sua força de vontade, ou seu
autodomínio. Ela não saberá o que fazer. Considerando os componentes
específicos de que se constitui aquilo que denominamos autodomínio
teremos efetivamente a vantagem prática de saber que medidas tomar no
esforço com vistas a modificá-los.”
Por Que Uma Pessoa Não Possui
Autodomínio

Modificar o relacionamento para consigo mesmo é tão


importante para um indivíduo como modificar seu
relacionamento em face de outras pessoas, tornando-o
melhor.
Certos indivíduos não atribuem importância a muitos de
seus comportamentos. Não se preocupam com o estado das
gavetas de suas mesas de trabalho, nem se têm oito quilos de
excesso de peso, ou desperdiçam suas horas de lazer. Mas o
domínio de seus próprios hábitos tem grande significação
para uma pessoa. Seus maus hábitos poderá a gerar tal
angústia, que irá influenciar seu estado de espírito, seus
sentimentos para consigo mesmo, seu estilo de vida.
Por que um indivíduo não haverá simplesmente de trocar
maus hábitos por bons hábitos, tomando a decisão de assim
proceder?
As pessoas falham nesse particular porque nunca
aprenderam a habilidade de modificar-se. Não poderão fazer
aquilo que não sabem. E essa falta de conhecimento do
assunto será suscetível de impedir que tentem assim agir.
Muitas vezes racionalizam sua incapacidade de modificar-se,
julgando que os comportamentos indesejados lhes satisfaz
alguma necessidade inconsciente.
As pessoas falham nesse terreno porque são passivas. Não
gostam de um determinado comportamento seu, mas não
procuram modificá-lo. Essa inação acentua o sentimento de
que nada poderá ser feito.
As pessoas falham nesse setor porque não apreenderam o
conceito de força de vontade. A expressão “use sua força de
vontade” significa que cada indivíduo possui um certo
domínio sobre seus atos, se exercitar esse domínio. Mas
existe nessa expressão um defeito: ela não informa o que se
há de fazer. A força de vontade poderá servir como ponto
central da auto- modificação somente se uma pessoa fizer da
ação um corolário dessas palavras.
CASO
Frank Edwards, um executivo de quarenta anos de idade,
que exerce um cargo administrativo de nível médio, veio
procurar-me, queixando-se do problema de “viver adiando as
coisas”. Seu trabalho era brilhante, mas só o entregava
meses depois cie vencido o prazo devido. Em consequência
disso, vinha sempre sendo preterido em suas promoções e
sentia-se permanentemente tenso e deprimido.
Durante mais de vinte anos, Frank havia tentado vários
tipos de tratamento, no propósito de superar esse problema.
Seis meses de terapia do comportamento foram-lhe mais
valiosos do que a psicanálise e a hipnose.
Durante uma sessão, quando Frank estava falando sobre a
tensão que sentia porque um certo relatório deveria ser
entregue em determinado prazo, que já se esgotara, voltei-
me para ele e lhe indague! o seguinte: “Escute uma coisa.
Você é perfeitamente capaz de terminar esse relatório.
Decida-se a fazer isso. Use sua força de vontade.”
Então explique! a Frank que seus conceitos sobre a vida
eram errados. Ele alimentava a ideia de que sem a
ocorrência de um novo comportamento de sua parte, o
comportamento certo haveria de emergir. Julgava que
poderia preservar uma atitude essencialmente passiva e,
mesmo assim, de algum modo executar seus trabalhos
dentro do prazo devido. “Força de vontade”, eu defini,
“significa que isso é um problema seu, e não está vinculado a
qualquer circunstância exterior ou força interior. Você terá
de fazer com que as coisas aconteçam, nesse caso, terminar
o relatório que deverá ser entregue dentro de três semanas.”
Frank ficou espantado e declarou-me o seguinte: “Com
mais de vinte anos de tratamento, nunca pessoa alguma me
disse que eu usasse minha força de vontade. Poderei tentar.”
A expressão “força de vontade” orientou Frank no sentido de
assumir o controle de sua própria vida, ou seja, no caso em
questão, entregar seu relatório no prazo marcado. Não lhe
foi fácil concluir esse relatório, mas de fato ele o concluiu. A
nova compreensão do significado da expressão “força de
vontade”, de parte de Frank, e a ação que executou por
causa disso, revelaram-se no momento em que a terapia
começou a surtir efeito junto a ele.

A Teoria Da Modificação Do Comportamento

Para que se possa compreender e acrescentar o “como” à


força de vontade, torna-se necessário ter uma noção clara
dos trabalhos de B. F. Skinner.
Ao passo que Pavlov se interessou por processos que se
verificam dentro da pessoa (tais como mudanças no sistema
nervoso), Skinner dá ênfase ao relacionamento de natureza
fundamental que ocorre entre a pessoa e o meio ambiente.
Um indivíduo emite um comportamento. Esse
comportamento opera no meio ambiente, o mundo que o
circunda. Em outras palavras, o comportamento acarreta
consequências e, na opinião de Skinner, o comportamento é
“afeiçoado e mantido pelas suas consequências”. Tais
consequências, que Skinner denomina “reforços”, é que
determinam a probabilidade de um ser humano repetir seu
comportamento. Essas consequências, eventos que ocorrem
imediatamente após o indivíduo executar determinado ato,
afetam o comportamento de três maneiras:
(1) Reforço. A consequência torna o comportamento
mais forte e mais apto a ser novamente praticado. Isso
acontece sob duas condições:
(a) A consequência poderá ser a de que algo é
acrescentado à situação. Isso se denomina reforço positivo.
Geralmente uma recompensa é considerada sinônimo de
reforço positivo. Poderá assumir a forma de coisas materiais,
como o dinheiro, os presentes, os alimentos. Uma
recompensa poderá consistir num reforço social, como o
louvor, a atenção, o afeto, o amor. Ou então poderá ser o
próprio sentimento íntimo de alegria ou satisfação.
Muitas pessoas interpretam erroneamente a noção de
reforço positivo e julgam que terá ele de ser algo de bom.
Nem todos os reforços positivos são necessariamente
recompensas. A consequência do comportamento de um
homem poderá ser sua esposa esbravejar com ele, ou ele
próprio sentir-se angustiado. Se tais consequências
fortalecerem e revigorarem o comportamento que as tiver
imediatamente precedido, deverão ser- consideradas
reforços positivos. Foram acrescentadas à situação.
Quando um indivíduo modifica seu comportamento em
matéria de autodomínio, isso se torna um aspecto relevante.
Se ele quiser modificar um hábito específico, há de
identificar os reforços positivos que mantenham o
comportamento indesejado, e removê-los. Procurando
identificar esses reforços, não deverá se limitar àqueles que
sejam agradáveis ou gratificantes. Quaisquer consequências
que decorram do comportamento poderão prover os
reforços. Se o indivíduo afastá-lo, debilitará o
comportamento em causa.
Qualquer reação que experimente a mãe diante do
comportamento de um filho, quer assuma a forma de atenção
compreensiva ou de protesto em altas vozes diante desse
comportamento, poderá proporcionar um reforço positivo. Às
vezes os reforços assumem forma extremamente sutil. Um
paciente meu tinha o hábito compulsivo de gastar demais em
restaurantes. Tivemos dificuldade em identificar que
reforços mantinham esse comportamento indesejado. Disso
decorre o princípio para a identificação dos reforços de
comportamentos in- desejados: se um comportamento,
tomado como meta, reduzir-se quando o indivíduo deixar de
acrescentar uma consequência particular a determinada
situação, essa consequência será, então, o reforço do
referido comportamento.
(b) A consequência poderá consistir em ser algo subtraído
à situação. Isso se denomina reforço negativo. As pessoas
julgam erroneamente que um reforço negativo é um mau
evento, que se confundiria com uma punição. Segundo
Skinner, reforço negativo é aquilo que é subtraído, algo que é
afastado de uma situação e, desse modo, aumenta ou
mantém um comportamento.
Se uma pessoa, por exemplo, se atrasa em seu trabalho no
escritório e seu supervisor a censura, quando essa pessoa
puser o trabalho em dia, esse supervisor deixará de criticá-
la. A consequência de o indivíduo pôr seu trabalho em dia é a
subtração das palavras do supervisor; “O que há com você?”
O reforço negativo mantém ou incrementa o melhor
comportamento desse indivíduo no trabalho. A consequência
desagradável foi afastada.
Os reforços negativos mantêm grande parte dos
comportamentos de autodomínio. Entretanto, como acontece
no caso de qualquer reforço, poderão operar em dois
sentidos: bom e mau. Consideremos o exemplo de dois
homens que detestam pagar suas contas. Ambos sentem-se
fortemente pressionados pelo imenso número de contas a
pagar, e acham tal sentimento muito desagradável.
Um deles poderá digerir-se à sua mesa de trabalho e
emitir cheques em favor do Departamento de Rendas
Internas, em nome de grandes firmas, remetendo-lhes esses
cheques. Um ato dessa natureza afasta aquele sentimento de
pressão. No futuro, esse indivíduo estará mais apto a pagar
suas contas. O referido sentimento desagradável foi
subtraído. O homem experimentará um sentimento
agradável em consequência do ato do pagamento de suas
contas, o qual irá revigorar ainda mais seu hábito de assim
proceder, aumentará sua autoestima.
o outro indivíduo poderá começar a assistir a um
programa de televisão para fugir da situação de pagar suas
contas. Isso também afastará o sentimento de pressão já
mencionado, mas também irá manter o mau hábito de adiar
as coisas. Se ele realmente apreciar o programa de televisão,
seu comportamento de procrastinação irá tornar-se ainda
mais forte, passando a ser equivalente a um sentimento de
satisfação. Mas esse homem irá sentir-se mais infeliz consigo
mesmo por causa dessa procrastinação, e sua autoestima
diminuirá.
(2) Extinção. Ocorre quando um comportamento não tem
consequências, debilita-se e acaba por desaparecer do
repertório dos comportamentos de um indivíduo. Se uma
pessoa conta uma anedota e ninguém acha graça nela ou
reage de maneira indiferente à mesma, será menos provável
que essa pessoa torne a contar tal anedota.
A inexistência de qualquer reforço constitui a única
maneira de extinguir-se determinado comportamento. Se um
indivíduo tiver um mau hábito e puder identificar e remover
os reforços desse hábito, seu comportamento cessará, nesse
particular. Ao ser utilizada a técnica da extinção, conhecida
pelo nome de afastamento dos reforços, quatro coisas
deverão ser levadas em consideração:
(a) O primeiro resultado do emprego dessa técnica poderá
ser um aumento real do comportamento que se deseja
extinguir. Isso é frequentemente seguido por um acentuado
declínio desse comportamento. Cumpre simplesmente não
esquecer que a extinção de um comportamento exige tempo.
(b) Se um indivíduo empregar a técnica de extinção de um
comportamento, seu mau hábito jamais deverá ser reforçado.
Se for permitida até mesmo a rara ocorrência de um reforço,
isso tornará mais difícil a extinção do comportamento. Até
mesmo um único reforço poderá possuir forte efeito.
(c) Depois de extinto, um comportamento poderá
reocorrer se forem modificadas as contingências do reforço.
Se uma pessoa houver se libertado de um mau hábito e o
mesmo começar a reocorrer, deverá procurar modificar as
consequências desse hábito. Provavelmente verificará que
terá restabelecido antigos reforços, ou criado outros.
(d) Às vezes um indivíduo extingue hábitos desejados
mediante o afastamento inadvertido de certos reforços.
Restabelecidos os reforços de origem, poderá reaparecer o
hábito desejado.
CASO
“Antigamente eu era muito capaz de fazer economia, mas,
de repente, não consigo mais poupar nada.” Assim me falou
Marty Wilden, numa de nossas sessões de tratamento.
Investiguei que reforços haviam anteriormente mantido esse
comportamento “econômico” de Marty. Ele me contou que,
durante muitos anos, todas as sextas-feiras ia ao banco que
ficava perto de seu escritório, à hora do almoço, nele
depositando certa quantia. As caixas eram geralmente moças
bonitas, que sorriam para ele e diziam-lhe um caloroso
“Muito obrigada”. Às vezes até flertavam com ele.
Posteriormente Marty aceitou um novo emprego num
local que ficava a cinco quilômetros desse banco. Começou a
fazer seus depósitos bancários pelo Correio. Mas, de repente
parou de economizar. Para restabelecer os reforços e
restaurar o comportamento desejado, que havia sido extinto,
o de fazer alguma economia semanalmente, sugeri a Marty
que transferisse sua conta para um banco perto de seu
escritório. As caixas desse banco eram bonitas, educadas e
gostavam de flertar. Marty agora faz seu passeio ao meio-dia,
todas as sextas-feiras, e poupa seu dinheiro.
(3) Punição: A eliminação do comportamento. Isso ocorre
sob condições diretamente opostas a um reforço. Trata-se de
um reforço positivo, que é removido da situação, ou de uma
consequência desagradável à mesma acrescentada
imediatamente após a prática do comportamento. Em outras
palavras, algo de agradável ou de desagradável deixa de
ocorrer.
A punição não extingue o comportamento não desejado
(somente o afastamento do reforço poderá isso fazer), mas
simplesmente o elimina. Afastada a punição, o
comportamento tende a reocorrer. Em consequência, a
punição se revela um meio bastante ineficiente de modificar
hábitos. Se for utilizada, e o comportamento indesejado
começar a reocorrer, a pessoa terá de valer-se da punição
para novamente eliminá-lo. Será necessário que aplique a si
própria uma série constante de outras punições.
Em determinadas circunstâncias, a punição poderá
revelar-se extremamente eficiente: a eliminação de um
hábito permitirá o desenvolvimento de outro hábito
alternativo. O indivíduo pune o comportamento não-
desejado, substitui esse comportamento pelo outro hábito, e
o revigora.
CASO
Um residente em psiquiatria que eu estava tratando,
sentiu-se perturbado porque notou estar aumentando de
peso. Chuck analisou seu próprio comportamento e limitou o
problema ao seu desejo compulsivo de comer sobremesas,
Infelizmente, Chuck nunca conseguiu reforçar seu
comportamento de não comer sobremesas, porque jamais o
executou. Decidiu utilizar-se da punição, suprimindo os
doces de elevado teor calórico.
Chuck fez uma lista das organizações e entidades que
realmente abominava (como a Ku Klux Klan) e redigiu uma
série de cartas e também preencheu uma série de cheques
de vinte e cinco dólares cada um, explicando que sua
contribuição visava a “ajudar” a manter a boa causa.
Entregou as cartas e os cheques a outro residente,
acompanhados das seguintes instruções: “Eu lhe telefonarei
todas as manhãs para informá-lo de que não comi nenhuma
sobremesa na véspera, à noite. Se eu não lhe telefonar, você
deverá presumir que eu “escorreguei”. Nesse caso, ponha no
Correio a primeira carta. Proceda sempre dessa maneira.”
Como detestava essas organizações, Chuck conseguiu
controlar seu comportamento durante duas semanas. Mas
um belo dia comeu duas porções de torta de maçã ao jantar,
não deu seu telefonema matinal ao amigo, e este
imediatamente enviou a primeira carta de Chuck, contendo
sua contribuição à Ku Klux Klan.
“A coisa deu certo,” disse-me Chuck. “Por causa daquela
carta à Ku Klux Klan, meu nome foi posto na lista das
pessoas que recebem correspondência de toda uma série de
organizações de “ódio”. Hoje em dia, cada vez que eu ponho
os olhos numa sobremesa, penso também nessa terrível lista
de correspondência de “ódio”.
Cumpre lembrar que a única maneira de incrementar um
comportamento é reforçá-lo. E o único modo de libertar-se de
um comportamento é extingui-lo. A punição possui apenas
um emprego limitado.

Falta De Controle Dos Reforços


Há uma situação especial em matéria de comportamento
na qual o indivíduo não possui o menor controle sobre seus
reforços. Por exemplo: uma criança cuja mãe é pouco
razoável nunca saberá se seu comportamento será reforçado,
posto de lado ou punido. Não existe qualquer relação entre o
que essa criança faz e as consequências que a isso se
sucedem. Outro exemplo poderá ser o de um empregado que
tiver um patrão imprevisível. Um excelente trabalho seu
receberá elogios, num determinado dia, e não merecerá a
menor atenção do chefe, no dia seguinte. Nessa situação, e
em outras semelhantes, as vítimas aprenderão a sentir-se
desorientadas a respeito do que lhes acontece. Não dispõem
de controle sobre seus reforços. Alguns teóricos afirmam que
essa desorientação “aprendida” constitui o maior fator das
depressões.
É bem interessante observar que isso se ajusta a uma das
teorias psicanalíticas propostas pelo Dr. Edward Bibring. Ele
situa como núcleo central das depressões a consciência que
possui o ego de que é impotente e inerme, e isso faz
remontar aos traumas da primeira infância. Quer seja tal
situação devida ou não a esses traumas da primeira infância,
o indivíduo que não é capaz de autoafirmação tende
efetivamente a ser impotente e inerme, daí lhe sobrevindo a
depressão. Quando esse indivíduo se torna afirmativo,
adquire uma “competência aprendida”, e isso o liberta de
seu estado depressivo.

Estímulos Discriminativos
Imaginemos que um indivíduo mantém um pombo dentro
de uma caixa. Se ele acender uma luz vermelha, o pombo
fará pressão sobre uma barra e receberá alimento. Se ele
acender uma luz branca e o pombo pressionar essa barra,
não receberá alimento algum. Se o indivíduo deixar acesa a
luz branca, o pombo receberá alimento somente se descrever
um círculo. Assim, o pombo aprende a discriminar entre as
duas situações. Ficará sabendo que ao acender-se a luz
branca só obterá o alimento se descrever um círculo. As
diferentes respostas à luz se denominam discriminação. As
luzes são estímulos discriminativos. Constituem o sinal do
comportamento que será reforçado.
Grande parte das vidas dos adultos está sob a influência
de estímulos discriminativos. Constituem sinais de que seus
comportamentos terão consequências: serão reforçados ou
punidos. Assim, os indivíduos aprendem a comportar-se de
maneiras diferentes, em diferentes situações. Aprendem uma
série de estímulos discriminativos que lhes dirão, por
exemplo, que ao soltarem uns brados durante um jogo de
bola, receberão determinado reforço, como o de se sentirem
parte integrante da multidão, ou fazerem com que uma
pessoa sentada ao seu lado inicie com eles uma conversação
cordial. Da mesma maneira, esses indivíduos terão absorvido
uma série de estímulos discriminativos que constituem sinais
de que se. gritarem em voz alta, no interior de uma igreja,
são punidos com olhares fuzilantes, de desaprovação, ou com
ordens como “Fique quieto”. Assim, as pessoas gritam
durante um jogo de bola e permanecem silenciosas dentro de
uma igreja.
Um indivíduo terá problemas se houver aprendido o SD
errado (sigla proposta por Skinner para denotar os estímulos
discriminativos) para um seu comportamento. Se uma pessoa
equiparar a visão de uma iguaria, um bolo na vitrina de uma
pastelaria ou uma travessa de batatas fritas à mesa, a um SD
para ingerir um alimento, provavelmente terá excesso de
peso, enfrentará problemas em matéria de dieta e dirá a si
própria que não tem força de vontade.
Estímulos discriminativos inapropriados poderão dominar
a vida de um indivíduo. Uma situação de trabalho ou de
estudo poderá conter SDs que constituam o sinal de que
conversar com os amigos fará com que uma pessoa se sinta
bem. Assim, ela irá conversar com os amigos, um
comportamento incompatível com o trabalho e o estudo.
Dentro em breve, essa pessoa irá censurar-se por ser
preguiçosa, procrastinadora e ter outros maus hábitos em
matéria de trabalho. A diferença’ não reside no
comportamento da pessoa em questão, nem nos reforços,
mas nas sugestões ante as quais ela reage. Para estabelecer
seu autodomínio, terá de modificar os estímulos
discriminativos.
Observe-se que não me referi a conflitos emocionais
inconscientes nem a impulsos instintivos. Skinner não se
preocupa com isso. Assevera que compreender a interação
entre o indivíduo e o meio ambiente é o bastante para se
modificar seu comportamento. Mostra que a ciência não
progrediu enquanto os cientistas anteriores a Galileu
procuravam imaginar o que ocorria no interior de uma pedra
que caía sob a ação da gravidade. A ciência só avançou
quando Galileu tomou em consideração apenas as forças
externas que operavam sobre a pedra e, desse modo,
determinavam que todos os objetos que caem, qualquer que
seja sua massa, o fazem à mesma velocidade.
A partir dos anos trinta, Skinner formulou as bases da
ciência do comportamento, baseada na relação entre a
frequência de um comportamento e suas consequências.
Descobriu, finalmente, que .sendo controlados os reforços,
seria até mesmo possível ensinar-se aos pombos a prática de
atos tão complicados como jogar pingue-pongue.
Skinner se preocupa com o comportamento que “opera
sobre o meio para produzir efeitos”, e denomina esse
comportamento como “comportamento operante”. Quando o
comportamento operante dos pombos atendeu às exigências
de Skinner, ele os reforçou positivamente, proporcionando-
lhes alimento. Controlou esse comportamento, estabelecendo
“contingências de reforço”, circunstâncias nas quais um
aspecto particular de um comportamento desejado é
reforçado ou gratificado para o efeito de assegurar-se que
ele se repetirá. É interessante observar que é mais humano
treinar animais, crianças e adultos mediante recompensas
atribuídas a comportamentos desejados do que através da
punição infligida a comportamentos indesejados. Além disso,
trata-se de um procedimento mais eficiente.
Assim, Skinner comprovou que o comportamento pode ser
modificado de maneira previsível, puramente através do
controle das consequências exteriores desse comportamento
e sem qualquer referência ao que se passa no íntimo do
indivíduo. Ele e outros especialistas demonstraram que o
comportamento humano poderá ser moldado da mesma
maneira previsível. Os partidários de Skinner asseveram que
todo e qualquer comportamento está sujeito a essas
consequências.
Seus opositores afirmam que “as pessoas não são
pombos”. Acreditam que a abordagem de Skinner é limitada
e não leva em consideração os comportamentos que são
exclusivos dos seres humanos, particularmente as áreas que
envolvem o pensar (tão influenciado pela capacidade
humana de valer-se da linguagem) e a conação (termo
psicológico que concerne aos impulsos, desejos, volições e
esforços marcados por algum propósito).
Esteja Skinner certo ou errado com respeito a todos os
comportamentos, é possível aplicar-se com segurança suas
técnicas de reforços, extinção ou punição para aperfeiçoar os
hábitos individuais de autodomínio. Se uma pessoa não gosta
da maneira com que se comporta, não se deverá censurar
por falta de força de vontade, carência de autodisciplina ou
de energia. Terá de considerar que isso consiste em hábitos.
Decidindo que mudanças deseja realizar, cumpre à pessoa
deliberadamente iniciar um programa que as torne efetivas.
Capítulo 8.
Um Guia Para A Codificação Dos
Hábitos

Como poderá o individuo criar novos e melhores hábitos e


romper com velhos e maus hábitos?
Poderá uma pessoa chegar à hora marcada para um
encontro quando sempre, durante toda sua vida, tem
chegado uma hora atrasada para tudo?
Será capaz de aprender a seguir um regime alimentar
com êxito quando seu passado revela permanentes
insucessos em matéria de resistência diante dos alimentos?
Os seres humanos têm muitos tipos de hábitos. Alguns
deles são de caráter pessoal, como a falta de ordem, o
impulso incontrolado de roer as unhas e a incapacidade de
concentrar-se. Outros são de natureza social. Estes últimos
incluem o de ser sarcástico, o de portar-se como palhaço ou,
até mesmo, a incapacidade de lembrar-se dos nomes das
pessoas.
Para assegurar a modificação de um hábito, qualquer que
seja ele, a pessoa terá de cumprir as seis etapas seguintes;

Identificar O Hábito Que Se Deseja Modificar

Esse procedimento essencial abrange também a


identificação das condições em que ocorre o comportamento
em causa (falta de capacidade de estudar, negligência, por
exemplo). Modificadas essas condições, o indivíduo assume
uma posição de controle e, desse modo, modificará seu
comportamento na direção desejada.
(1) Cumpre identificar os comportamentos que envolvem o
hábito indesejado. Se o indivíduo não conhecer precisamente
os comportamentos que deseja modificar, terá dificuldade em
isso conseguir. Norma a ser adotada: expressar esses
comportamentos de sorte que possam ser contados ou
medidos.
David Martin, por exemplo, um rapaz de vinte e nove anos
de idade, veio procurar-me porque tinha o hábito de ser
negligente, descuidado. Sua falta de ordem chegara a um
ponto em que jamais convidava os amigos para ir ao seu
apartamento e abominava ele próprio esse apartamento.
David queria tornar se um “rapaz ordeiro e asseado” mas ser
tal coisa consiste em muitos comportamentos. Solicitei a
David que registrasse, durante uma semana, seus
comportamentos específicos. Seguem-se alguns deles, que
observou:
Não fazia a cama antes de sair de casa.
Deixava pratos sujos, da véspera, na mesa da sala de
jantar.
Espalhava suas meias, camisas e também seus papéis, de
qualquer jeito, dentro das gavetas, de sorte que nunca
conseguia localizar com facilidade coisa alguma.
Deixava a pia do banheiro besuntada de creme de barbear
e de pasta de dentes.
Depois de ficar consciente de quais os exatos
comportamentos em questão, David conseguiu traçar um
rumo. para sua ação, visando a um tipo de comportamento
que conduzisse à formação de hábitos de ordem. A seguinte
técnica é valiosa: andar sempre com um caderno de notas à
mão, durante uma semana e, cada vez que deparar com
algum hábito pertencente à modalidade que deseja
modificar, registrar isso no caderno.
É preciso não esquecer que é mais fácil aprender a fazer a
própria cama antes de sair de casa do que tomar-se uma
“pessoa ordeira”.
(2) Medir o comportamento que houver sido identificado
para verificar a frequência com que o mesmo ocorre antes de
planejar o programa com vistas a modificá-lo. Essa fase
“anterior” informará o indivíduo a respeito do ponto de
partida de seu programa e lhe permitirá ulteriormente
verificar os progressos que realizar. Há várias maneiras de
“contar” um comportamento. Verificar a frequência com que
ele ocorre, o ritmo em que ocorre num determinado intervalo
de tempo, e a duração desse comportamento.
(3) Estudar a cadeia do comportamento. Um indivíduo
poderá não ser capaz de controlar o ato final, mas esse ato
não constitui obra de mero acaso. É geralmente precedido
por uma série de outros atos. Talvez possa uma pessoa
modificar um hábito à meia altura da cadeia em que ele se
insere, antes que comece a adquirir ímpeto.
CASO
Quando vi pela primeira vez Stan Block, ele me revelou
ser um jogador compulsivo. Havia tentado tudo, desde a
terapia dos Jogadores Anônimos, num esforço por dominar
seu vício de jogar nas corridas de cavalos.
Os hábitos de Stan obedeciam a um determinado padrão.
Todas as manhãs, quando se vestia, prometia a si mesmo:
“Hoje eu não vou apostar em patas de cavalos.” Terminado o
café da manhã, repetia à mulher essa deliberação. A caminho
do escritório ou, nos fins de semana, quando tomava café,
passava os olhos nos jornais, chegando, afinal, à sessão de
esportes. Lia o noticiário sobre corridas de cavalos e
começava a pensar em vários possíveis ganhadores, placês
ou animais que poderiam fazer for fait. Nele crescia um
sentimento de compulsão até que, momentos antes da hora
do início dos páreos, perdia o autodomínio. Empregando
todos os centavos em que pudesse deitar a mão, fazia sua
aposta.
Eu fiquei pensando se não seria mais fácil intervir antes,
na cadeia de hábitos de Stan, e não naquele ato final — o de
fazer a aposta. Por esse motivo, perguntei a Stan se ele não
poderia deixar de ler o jornal da manhã. Ele assim fez e
deixou de jogar. E os agiotas desapareceram de sua vida. A
Sra. Block, insatisfeita, telefonava regularmente para mim,
dizendo o seguinte: “Mas, Doutor, Stan ainda não
compreende por que jogava. Ele não possui uma perfeita
visão do problema.” Achava que se não houvesse essa
perfeita visão do problema, ele iria reaparecer. Acompanhei
esse caso durante três anos. Stan não jogou mais uma única
vez. Agora lê o Wall Street Joumal todas as manhãs, o qual
não tem uma página de esportes.

Fazer Um Contrato De Intenção No Sentido


De Que Se Deseja Modificar Determinado
Comportamento

Firmar o contrato consigo mesmo ou com outra pessoa.


(1) Esse contrato de intenção deve ser rigorosamente
específico. Se um indivíduo afirmar, por exemplo: “Eu vou
estudar mais”, isso será muito vago. Como poderá realmente
contar ou medir tal coisa? É melhor dizer a si mesmo o
seguinte: “Eu vou estudar duas horas por dia.” E poderá
acrescentar que irá contar o número de dias em que estudar
essas horas. Até mesmo afirmar, simplesmente, “Eu chegarei
à hora no trabalho” será demasiado impreciso. Chegar
apenas dois minutos atrasado será chegar à hora no
trabalho? E que dizer de chegar dez minutos atrasado a ele?
E se a pessoa se atrasar e seu supervisor não reparar nisso?
É muito preferível que um individuo afirme algo de
específico como, por exemplo, “Eu chegarei todas as manhãs
ao escritório o mais tardar ás nove horas.” Mesmo as
palavras “eu chegarei” poderão não ser claras. Isso
significará a hora em que a pessoa chegar ao hall de entrada
do edifício em que trabalha... marcar o cartão de ponto...
sentar-se à sua mesa?
O que se acaba de afirmar acentua a necessidade de
serem definidos os vários comportamentos que envolvem o
fato de “não procrastinar”, ou seja, não adiar a realização
das coisas, “ser mais ordeiro”, “vestir-se melhor”,
“aproveitar melhor o próprio tempo.”
Uma declaração específica de intenções, entretanto, torna
fácil para um indivíduo iludir-se a si próprio acreditando,
com isso, haver cumprido seu compromisso. O Dr. Alien
Marlatt, da Universidade de Washington, e o Dr. Burt E.
Kaplan, da Universidade da Flórida do Sul verificaram ser
isso verdadeiro quando estudaram o cumprimento das
chamadas resoluções de Ano-Novo. Quanto mais vaga uma
resolução, mais será suscetível de ser declarada decisão
cumprida. É mais fácil acreditar uma pessoa que está “mais
afinada com o mundo” do que crer que perdeu cinco quilos
quando a balança lhe mostrar que só perdeu três. É
necessário que a pessoa registre por escrito, num pedaço de
papel, qual a sua intenção, de sorte a não poder modificá-la
inadvertidamente.
(2) Deverá uma pessoa comunicar a outra qual é sua
intenção, mostrando-lhe, de preferência, o que houver
escrito. Essa segunda pessoa há de estar em posição de
poder controlar o comportamento da primeira. Se um
indivíduo quiser modificar seu comportamento no escritório
onde trabalha, revelará a um colega aquilo que deseja
modificar, e não a um amigo com quem costuma jogar
boliche nas noites de terças-feiras. Mas se o caso for de jogo
de boliche, comunicará sua intenção de modificar algum
comportamento a alguém com quem jogue boliche, e não
com aquele homem tão simpático que trabalha na sala dos
mimeógrafos. É preciso ser específico: ninguém poderá
saber se uma pessoa “parou de ter maus pensamentos”. Será
apenas capaz de observar que essa pessoa concluiu
determinada tarefa no prazo devido.
Cabe uma palavra de cautela: um amigo não deverá
reforçar qualquer intenção de uma pessoa fazendo-lhe
elogios pelo fato de ter ela essa intenção. Nem essa pessoa
há de elogiar-se por ter uma boa intenção. Não se chegará,
porém, ao extremo oposto de imaginar que um indivíduo irá
expressar sua intenção a alguém que a desaprove, pois isso
tomará mais difícil para ele próprio estabelecer futuras
intenções.
(3) A pessoa deverá estabelecer como intenção algo que
possa ser realizado num futuro próximo. Uma promessa feita
no Dia de Natal, por exemplo, que afirme, “Eu nunca mais
ficarei embriagado numa festa de Natal em meu escritório”
não constitui um contrato funcional, porque o ensejo de
cumpri-lo situa-se em futuro muito remoto.
(4) O indivíduo estabelecerá como meta obter uma série
de sucessos. Deverá escolher um comportamento em cuja
execução tenha grandes probabilidades de êxito, e
“trabalhar” com esse comportamento. O sucesso tornará
mais fácil agir na área de outros comportamentos, como
também simplificará o processo de estabelecer novas
intenções como base de projetos com vistas a modificar os
próprios hábitos. Uma pessoa, por exemplo, vive adiando
fazer os serviços domésticos. Será irrealista dizer a si mesma
o seguinte: “Eu preciso de todo o dia de sábado para fazer
esses serviços de casa.” Estabelecerá uma série de metas: (a)
trabalhar nos serviços domésticos durante uma hora, nas
manhãs de sábados; (b) quando esse hábito estiver firmado,
a meta seguinte deverá ser trabalhar duas horas nos serviços
de casa, nas manhãs de sábados; (c) em seguida, a meta será
trabalhar duas horas pela manhã e outras duas à tarde, nos
sábados. Esse padrão será mantido até que a pessoa atinja
seus objetivos.
Examinar A Situação E Verificar Se A Ação
Indesejada Pode Ser De Execução Mais
Difícil E Se A Acão Desejada Poderá Ser De
Realização Mais Fácil

(1) O indivíduo deverá controlar os estímulos que


desencadeiam um comportamento indesejado. Foi o que fez
Ulisses quando colocou cera nos ouvidos dos tripulantes de
seu barco para que não pudessem ouvir o canto das sereias:
tornou o estímulo ineficiente.
Muitas vezes as condições físicas da área em que o
indivíduo opera lhe enviam mensagens erradas.
(a) Se uma pessoa não dispuser, de suficiente espaço em
seu armário ou em suas gavetas, essa situação material
poderá ser-lhe um estímulo de que manter suas roupas e
seus objetos em ordem constitui um problema, e seu
comportamento ordeiro não será reforçado. Assim, essa
pessoa terá menos probabilidades de arrumar o próprio
armário e pôr suas gavetas em ordem.
(b) Se um jovem estiver tentando estudar física enquanto
seu irmão estiver assistindo a um programa de televisão,
poderá receber o estímulo discriminativo que lhe dirá que
ele também teria prazer em assistir ao mesmo programa de
TV (reforço positivo), ou que se assistisse a esse programa,
eliminaria a pressão de aprender a Lei de Boyle (reforço
negativo). Assim, para de estudar física e vai plantar-se
diante do aparelho de televisão.
É necessário ordenar o meio, de sorte a eliminar estímulos
ao comportamento indesejado e fortalecer os estímulos ao
comportamento desejado. Aumentar o espaço no armário e
nas gavetas, por exemplo, poderá iniciar a emissão de
estímulos discriminativos, no sentido de que o
comportamento ordeiro será mais fácil de . ser executado. Se
uma pessoa fizer seus deveres de casa sozinha, sem ter
diante de si um aparelho de televisão, afastará o indesejável
estímulo desse aparelho. Os estímulos discriminativos
voltados para o estudo irão tornar-se dominantes.
(2) O indivíduo deverá eliminar uma resposta não-
desejada. Muitas vezes ele não conseguirá controlar um
estímulo. Todavia, dando uma nova ordenação ao meio,
poderá impedir que ocorra a resposta indesejada. Um
escritor, por exemplo, que tinha o mau hábito de telefonar
aos amigos em vez de trabalhar, encontrou a seguinte
solução: todas as manhãs, ele próprio passava um cadeado
no disco do telefone e entregava a chave desse cadeado à
mulher. Abria o cadeado às duas horas da tarde, quando
geralmente terminava aquela restrição imposta ao seu dia.
Finalmente, não teve mais necessidade do cadeado e da
chave, sentindo-se orgulhoso de seu “melhor autodomínio”.
(3) A pessoa poderá suprimir o comportamento
indesejado, utilizando-se da autopunição. Repito que a
punição geralmente não é uma técnica eficiente quando se
tratar de modificar comportamentos. É muito melhor isso
conseguir através do emprego de reforços ou mediante o
afastamento desses reforços. Às vezes, porém, um
comportamento desejado nunca se torna real, ou o indivíduo
não consegue reforçá-lo porque algum mau hábito é muito
arraigado, ou ele não logra descobrir quais os reforços que
mantêm esse hábito. Assim não consegue extingui-lo. Em tais
circunstâncias, o método da punição poderá revelar-se útil.
Esse método poderá ser igualmente valioso quando um
indivíduo tem necessidade de uma imediata modificação de
seu comportamento. Talvez um hábito indesejado possa
culminar na perda de seu emprego, se ele não o modificar
sem perda de tempo. Nesse caso, a técnica da punição
poderá ser a única possível.. Cumpre lembrar que uma
punição terá de ser forte e administrada logo após a
execução do comportamento indesejado.
CASO
Por sua falta de polidez com os fregueses, Alan Wood
havia perdido três empregos e achava que estava prestes a
ser despedido de seu novo cargo, o de vendedor de uma loja
de departamentos. Precisando pagar uma hipoteca vencida,
teria de controlar imediatamente esse mau hábito.
Por esse motivo, elaborei para ele uma técnica de punição.
Disse a Alan que fosse a uma loja de novidades e comprasse
um pequeno objeto que parecia ser um isqueiro, mas na
realidade, quando comprimido, dava à pessoa um choque
elétrico bastante forte. Era usado para pregar peças, mas eu
tinha em mente outro propósito: Alan teria sempre esse
objeto num dos bolsos do paletó. Cada vez que tivesse
consciência de haver dito a algum cliente qualquer coisa que
ele próprio pudesse considerar indelicada, enfiaria a mão no
bolso, apertaria o tal aparelho e aplicaria um choque elétrico
em si mesmo. Ao cabo de alguns dias, Alan percebeu que
havia ocorrido uma modificação em seu comportamento. E
transcorridos mais dias, começou a receber de seu
supervisor e de colegas de trabalho reforços para essa
modificação, que vieram revigorar seu comportamento
polido. Os clientes também o ajudaram a reforçar esse
comportamento desejado. Depois de cerca de uma semana,
Alan raramente teve de usar o aparelho de dar choques, mas
o conservou no bolso do paletó durante algum tempo.
“Sabendo que ele aí está, me impede de ser malcriado”,
comentou Alan.
(4) A pessoa deverá modelar o comportamento desejado.
Se um indivíduo tiver algum problema que decorra imediata-
mente do comportamento que desejar ter, há de começar no
ponto em que se encontrar e modificar pouco a pouco esse
comportamento no sentido da meta que houver estabelecido.
Por vezes a técnica de “aquecimento” o consegue. Um
redator tinha o problema de começar a trabalhar. Decidiu,
como exercício de “aquecimento”, arquivar o texto que
tivesse redigido no dia anterior. Ficou tão interessado em ler
o que havia escrito na véspera e também em pensar como
poderia melhorar seu próximo rascunho, que conseguiu
facilmente iniciar seu trabalho daquele dia.
Um aluno poderá achar mais fácil começar a estudar
matemática do que história, ou vice-versa. Um executivo
talvez tenha maior facilidade em começar seu dia de trabalho
por uma conferência ou um ditado em vez de organizar um
relatório de fim de ano. porque os estímulos sociais daquelas
situações lhe serão proporcionados.
Uma advertência: a pessoa deverá ater-se a cada etapa
até ser capaz de prosseguir, atacando a etapa seguinte. Mas
se permanecer por um tempo excessivo numa etapa
preliminar, poderá sentir-se presa a essa etapa.

Verificar Que Consequências Do


Comportamento Indesejado O Reforçam.
Devem Ser Procuradas As Consequências
Imediatas Do Ato (Que Nao Têm De Ser
Necessariamente Agradáveis).

Quaisquer que sejam tais consequências, deve ser


presumido que constituem reforços a esse comportamento.
O indivíduo tem que levar em consideração as
consequências imediatas de seu comportamento. Uma
pessoa que esteja fazendo um regime queixa-se das
consequências de comer demais. Não quer usar roupas
tamanho 50, e sim outras, tamanho 42. Sabendo disso, por
que motivo, então essas desagradáveis consequências não
reprimem sua imensa ingestão de calorias? Não o fazem
porque ela sente tão grande prazer, ou tamanho alívio de
tensões quando devora uma travessa de almôndegas com
espaguete, que se esquece do resultado final disso: a
gordura.
Sabemos teoricamente o seguinte:
Um comportamento seguido de um reforço (positivo ou
negativo) conduz a um incremento desse comportamento.
Um comportamento seguido de uma punição leva a uma
diminuição desse comportamento.
Que acontece quando determinado comportamento é
imediatamente seguido de uma consequência reforçadora e,
após isso, de uma punição? O comportamento será mantido
ou, até mesmo, incrementado. O que importa é a
consequência que vem imediatamente após o ato. Outras
consequências não contam. Um ébrio compulsivo, por
exemplo, faz descer pela goela abaixo uma série de doses de
uísque. Sente-se menos tenso, em paz consigo mesmo, cheio
de ânimo. Posteriormente, passa terrivelmente mal. A
segunda consequência é inoperante. Ele continuará a beber
porque a primeira consequência o levou a sentir-se bem.
(1) Um indivíduo poderá ter de modificar o
comportamento das pessoas que o rodeiam para evitar as
consequências que mantêm ou incrementam um hábito
indesejado. Teodora Ayllon e Jack Michael, dois eminentes
experimentadores no campo dos operantes, relataram o caso
de Lucille, uma paciente hospitalizada, deficiente mental,
cujas visitas ao centro de enfermagem do hospital onde
estava internada, visitas constantes, interferiam com o
trabalho das enfermeiras. Durante dois anos, Lucille viveu
importunando essas enfermeiras que manifestavam à moça
seu aborrecimento por causa disso. Quando tal procedimento
provou não dar resultado, as enfermeiras tomaram a
seguinte atitude, dizendo: “Ela é tola demais para entender
as coisas.” Terapeutas do comportamento começaram a lidar
com o caso e decidiram que o comportamento das
enfermeiras teria de ser modificado. Eles as instruíram a não
dar atenção a Lucille quando esta viesse visitá-las, não
tomando conhecimento de sua presença. Assim fizeram as
enfermeiras. Durante os dois anos precedentes, Lucille fizera
em média dezesseis visitas por dia ao centro de enfermagem.
Quando as enfermeiras deixaram de reforçar seu
comportamento, não mais prestando atenção a ele, as visitas
da moça baixaram a duas por dia.
Encontramos um exemplo muito conhecido na vida
quotidiana, familiar a todas as pessoas que tenham tentado
fazer um regime alimentar. Quando sucumbem à tentação de
ingerir algum alimento de elevado teor calórico, toda gente
lhes faz a seguinte observação: “Você não devia comer isso.”
Ou então lhes dizem o seguinte: “O que aconteceu com seu
regime?” Essas pessoas, dando atenção ao hábito que tem
um indivíduo, de quebrar seu regime, estão reforçando o
hábito em questão. Mas quando o indivíduo se mantém firme
e segue seu regime, as outras pessoas geralmente não
tomam conhecimento disso, assim afastando um reforço ao
comportamento de manter seu regime, de parte desse
indivíduo e,. assim, tendem a favorecer a diminuição desse
comportamento. Os reforços que essas pessoas
proporcionam às que fazem algum regime alimentar são
exatamente o contrário do que as últimas necessitam para
que se mantenham firmes em seus regimes.
(2) A pessoa deverá remover os reforços que estiverem
mantendo o comportamento indesejado. É necessário
identificar as consequências que imediatamente se seguem
ao ato indesejado, afastando-as da situação ou tornando-as
ineficientes. Privado desse reforço, o comportamento
diminuirá e acabará desaparecendo.
CASO
Uma universitária de vinte e um anos veio procurar-me
por causa de um problema que tinha; o de viver puxando os
próprios cabelos (hábito indesejado muito comum entre
pessoas de ambos os sexos). Quando estava estudando. Dina
puxava os cabelos de sua bela cabeleira loura. O padrão do
comportamento de Dina era o seguinte: tomava dois ou três
fios do cabelo e os enrolava bem apertado em tomo da ponta
da unha do dedo indicador, de sorte que a pressão era
exercida pelos bordos da unha. Contou-rne que “gostava de
sentir aquela pressão”. Por esse motivo, decidimos remover
o. sentimento de prazer proporcionado por essa pressão, o
qual estava proporcionando o reforço. Instruí Dina para que
colocasse uma atadura em redor do dedo indicador a fim de
que não pudesse experimentar aquela sensação agradável de
prazer. Ao cabo de algumas semanas, durante as quais andou
com o dedo envolto na atadura, conseguiu controlar seu
hábito.
(b) Se não afastar o reforço, a pessoa poderá ser capaz de
dominá-lo, acrescentando uma consequência ao seu
comportamento, que seja mais importante do que a anterior,
de tal sorte que esta perde o controle que antes possuía.
CASO
Um homem que era pianista de um nightclub veio me
procurar porque tinha o problema de roer as unhas. Isso o
preocupava porque suas mãos feias, estavam sempre à vista
de todos. Sugeri que procurasse um farmacêutico de sua
confiança e adquirisse algum remédio que pudesse aplicar
nas unhas e tornasse menos agradável a experiência de roê-
las. Há certos preparados que têm um forte sabor,
positivamente ruim, quando colocados nas unhas. Várias
semanas depois, ele me telefonou dizendo o seguinte:
“Minhas unhas começaram a crescer.” Transcorridos seis
meses, informou-me que não precisava mais do remédio e
que tudo estava sob controle.
(c) A pessoa deverá usar a imaginação a fim de controlar
os reforços. Na técnica da sensibilização dissimulada,
desenvolvida por Joseph R. Cautela, professor de psicologia
do Boston College e ex-presidente da Associação para o
Progresso da Terapia do Comportamento, imagina-se uma
cena extremamente desagradável (como sentir-se doente,
estar sendo mordido por um cão danado, estarem uns ratos
correndo sobre seu corpo). Em seguida, quando a pessoa
começar a executar um comportamento indesejado
imaginará essa cena. A cena deverá ser a mais vivida
possível e a pessoa persistirá em imaginá-la até fazer cessar
aquilo que não deseja fazer. Logo que isso acontecer, passa
imediatamente a imaginar uma cena agradável, algo que seja
o extremo oposto da outra cena que lhe houver causado
aversão. O paciente executa no consultório do terapeuta não
só o ato desejado como também a cena desagradável, em sua
imaginação. Em seguida, vai adiante, praticando esse
método em situações da vida real. Embora as cenas
imaginadas sejam desagradáveis não só para o terapeuta
mas também para o paciente, revelam-se extremamente
valiosas como técnica para provocar a desejada modificação
do comportamento.

Estabelecer O Hábito Desejado

Para essa finalidade, torna-se necessário que a pessoa


possua perfeito conhecimento daquilo que deseja
precisamente se torne seu comportamento, como também
deverá dispor de um sistema de reforços que operem nesse
sentido.
Ainda que esses reforços constituam algo de lógico e que
os amigos da pessoa possam julgar que se trate de uma
maravilhosa recompensa, talvez não possuam para ela tal
função. Um indivíduo que deteste os dias muito frios e
também qualquer tipo de esporte, não há de considerar uma
recompensa algum prometido fim de semana em Aspen.
Torna-se necessário escolher reforços que o convenham.
(1) Ao serem escolhidos reforços positivos, cumpre
considerar suas três modalidades:
(a) Reforços de natureza social. Conforme observei, os
amigos de um indivíduo poderão estimular seus progressos
com sorrisos, atenções, demonstrações de interesse, elogios.
(b) Reforços que proporcionam prazer. Poderá tratar-se de
alguma coisa que a pessoa deseja vivamente, como um
vestido novo, uma noite na cidade, uma pescaria. Ou então,
alguma coisa que aprecia. Um Martini, por exemplo,
saboreado à hora do almoço, ou a leitura empolgante de um
romance policial.
(c) Reforços que consistam em algo que a pessoa revela a
tendência de fazer muitas vezes, como escovar os cabelos,
fazer sua maquilagem ou olhar vitrinas de lojas. Se um
indivíduo puder pensar num reforço dessa natureza, deverá
observar o que faz reiteradamente e se utilizar disso como
recompensa. Essa lei do comportamento denomina-se
“Princípio de Premack” (do nome do Dr. David Premack, que
o formulou). O Dr. Premack demonstrou que aquilo que o
indivíduo faz com mais; frequência, numa situação livre,
pode ser por ele utilizado como reforço. Para incrementar
um comportamento raramente executado, a pessoa deverá
executar esse comportamento e, imediatamente, fazê-lo
seguir de outro que lhe seja frequente. Um indivíduo, por
exemplo, sempre ouve o noticiário matutino transmitido pelo
rádio. Logo que começar a fazer seus exercícios, deverá ligar
o rádio e ouvir esse noticiário.
(2) Devem ser empregados reforços positivos:
(a) Os reforços não poderão advir antes que a pessoa
execute o comportamento desejado. Assim, se um indivíduo
tiver o mau hábito de chegar sempre atrasado ao trabalho,
só tomará seu café quando estiver completamente vestido e
pronto a partir para o escritório, às oito horas.
Minha mulher, Jean, afirma que essa técnica, mesmo
tendo ela um emprego de tempo integral, lhe permitiu
escrever quatro livros. Quando se levanta às seis horas da
manhã, diariamente, para trabalhar em algum livro,
gratifica-se com um Bloody Mary e um bife tártaro no almoço
dos sábados. Se conseguir também levantar-se às seis horas
num sábado, vai almoçar num restaurante. Mas se não sair
da cama a essa hora, não terá seu Bloody Mary nem seu bife
tártaro, e não almoçará num restaurante.
Muito antes de Skinner, Benjamin Franklin aplicou
acertadamente esse princípio do reforço contingencia.
Quando era presidente da Sociedade Americana de Filosofia,
aconselhou ao capelão dessa sociedade, “um zeloso ministro
presbiteriano”, a maneira de como conseguir que um maior
número de membros da mesma chegasse à hora marcada
para suas reuniões a fim de antes fazer suas orações. Como
cada um desses membros recebia sua porção diária de rum
(quatro onças), Frankiin sugeriu ao Capelão Beatty o
seguinte: “Se o senhor distribuir o rum somente após as
orações terá todos eles ao seu redor.” Beatty seguiu a
sugestão de Franklin e “nunca as orações foram
frequentadas por tanta gente e tão pontualmente”. O
comentário de Franklin foi este; “Julguei esse método
preferível às punições infligidas por certas leis militares pela
falta de frequência aos serviços religiosos.”
(b) Não deverá ser esquecido que o comportamento que
precede imediatamente' o reforço é aquele que tende a
aumentar. Se um indivíduo espera demais para reforçar um
bom comportamento seu, outros comportamentos
irrelevantes se intrometerão. Esses comportamentos é que
irão ser reforçados, e não aquele que a pessoa deseja
incrementar. Não resta dúvida de que o indivíduo não terá de
receber a recompensa concreta no exato momento em que
executar uma ação desejada. Um símbolo, uma marca
qualquer, ou, simplesmente, a tomada de consciência de que
obteve o reforço é igualmente eficaz. Jean sabe que se
gratificará com um Bloody Mary no sábado desde que se
levante às seis horas da manhã durante toda a semana.
(c) A pessoa deverá manter o controle de suas ações.
Registrar os atos praticados poderá constituir um reforço.
Isso poderá ser feito com o emprego de gráficos, quadros, ou
qualquer outro tipo de registro que seja eficiente. Deverão
ser contados quantas vezes esses atos sejam praticados em
cada dia. Se se tratar, por exemplo, de um ato que a pessoa
realize apenas uma vez por dia, como ir para o trabalho às
nove horas da manhã, um quadro muito simples poderá ser
organizado.
O próprio autorregistro é suscetível de modificar o
comportamento de um indivíduo. Um marcador de pontos de
golfe talvez seja um meio simples de assim proceder. Se uma
pessoa tiver o hábito de devanear quando estiver
trabalhando, cada vez que der consigo mesma a olhar pela
janela, ou perceber que esteja absorta em alguma fantasia ao
passo que sua atenção deveria estar voltada para o trabalho,
registrará isso no marcador de pontos. No fim do dia, o total
será transferido para um gráfico ou quadro, que deverá ser
mantido num local bem visível. Esse gráfico geralmente será
a melhor solução, porque a pessoa poderá perceber, num
relance de olhos, o que estiver ocorrendo. Não deverá ficar
surpreendida se as mudanças de seu comportamento
começarem a verificar-se imediatamente após haver iniciado
esse autorregistro.
Observei que o autorregistro é recurso muito eficaz no
caso de vendedores, corretores e outros homens de negócios
que têm de dar muitos telefonemas para desenvolver suas
atividades. Muitos não cumprem essa tarefa. Por isso
sentem-se deprimidos, insatisfeitos consigo mesmos,
preocupados com a queda de suas comissões e com a
possibilidade de perderem o emprego. Geralmente não
sabem quantos telefonemas dão por dia. Quando um
paciente que tinha esse problema veio ao meu consultório,
eu lhe mandei comprar um caderno de notas. Cada vez que
desse um telefonema, deveria anotá-lo nesse caderno,
reservando uma folha do mesmo para cada dia de trabalho e
somando, no fim do dia, os telefonemas que houvesse dado.
Esse simples autorregistro muitas vezes permite que o
paciente passe a ter um desempenho que o satisfaça.
(d) A pessoa poderá dar a si própria uma recompensa por
executar determinado comportamento. Isso representa a
utilização da técnica de reforço dissimulado, criada por
Joseph R. Cautela, que aplique! às situações sociais, no
Capítulo 4. A pessoa toma o comportamento que deseja
incrementar, imagina estar executando esse comportamento,
e reforça o desempenho do mesmo com apelo à imaginação.
Poderá igualmente aplicar esse método quanto aos seus
hábitos. Cumpre lembrar o seguinte: pensar no
comportamento que deseja executar; imaginar estar
executando esse comportamento; em seguida, dizer de si
para si “reforço”, e começar a imaginar algo que seja uma
recompensa.
A pessoa deverá assim proceder seguidamente,
empregando um conjunto de dez reforços. Assim, atribuirá
um reforço positivo ao ato real que deseja executar, Ê
preciso não esquecer que isso poderá ser feito centenas de
vezes.
Um terceiranista de certa faculdade havia criado um
bloqueio que o impedia de redigir seu trabalho de fim de
semestre, que deveria versar sobre o teatro irlandês. Obteve
grande sucesso com o emprego dessa técnica. A cena que
imaginou foi a seguinte, quanto às várias etapas que seu
trabalho exigia: seu reforço imaginário foi o de estar
beijando a namorada!
(e) A pessoa deverá fazer com que as recompensas sejam
cada vez mais difíceis de ser conquistadas. Os padrões terão
de ser cada vez mais elevados. Inicialmente, por exemplo, o
indivíduo dará a si próprio uma recompensa cada vez que
chegar pontualmente ao trabalho. Em seguida, para merecer
essa recompensa, deverá chegar ao escritório pontualmente
durante três dias consecutivos... depois, durante uma
semana seguida, duas semanas sucessivas. Logo que uma
pessoa houver conquistado três recompensas, elas deverão
tornar-se mais difíceis de ser alcançadas. Um modo de assim
proceder é o seguinte: estabelecer um sistema de pontos. A
execução de cada ato que represente o comportamento
desejado dará à pessoa um determinado número de pontos.
Mas será preciso que ela reúna uma série de pontos para
que se gratifique com uma recompensa. Outra maneira de
proceder será o emprego de reforços intermitentes,
aplicados ao acaso. Em determinadas ocasiões, a pessoa terá
sua recompensa, ao passo que em outras vezes não a
receberá. Isso poderá ser decidido, por exemplo, utilizando-
se a pessoa do recurso de “tirar cara ou coroa”. Ainda uma
terceira maneira de agir será o emprego do sistema de
aperfeiçoamento ou modelagem do comportamento. A
pessoa reforçará aproximações cada vez mais perfeitas do
comportamento desejado. Inicialmente, atribuirá a si mesma
uma recompensa se chegar apenas vinte e cinco minutos
atrasada ao trabalho. Em seguida, se o fizer com quinze
minutos de atraso e, após, será gratificada quando esse
atraso for apenas de cinco minutos. Repita-se, mais uma vez,
que o importante é não permanecer durante demasiado
tempo numa etapa preliminar do comportamento desejado.
(f) A pessoa deverá ter consciência de que o fato de estar
fazendo alguma coisa em seu próprio benefício poderá
constituir um reforço muito poderoso.
Tratei de um jovem advogado, muito bem-sucedido em sua
profissão. O problema que ele apresentava era o seguinte:
não conseguia economizar dinheiro. Estabelecemos um
complexo programa de treinamento, com vistas a
incrementar seu comportamento em matéria de poupança,
empregando reforços como, por exemplo, a aprovação de sua
secretária, um programa de autorregistro de seu
comportamento, e o aumento de sua conta bancária.
Finalmente, Ken (este era seu nome) sentiu haver dominado
suas extravagâncias, tendo criado o desejado hábito de
poupança. Nessa altura,' disse-me o seguinte: “O senhor
quer saber de uma coisa? O melhor reforço não foi nada
disso que estabelecemos: foi o fato de que cada vez que vou
ao meu banco tenho orgulho de mim mesmo. Sei que estou
controlando minha própria vida.”
Capítulo 9.
Ausência De Reforços = Depressão

Certas pessoas sofrem de um estado de depressão crônica


porque não possuem reforços em suas vidas.
Essa situação geralmente resulta de três condições;
(1) Poderão ter criado um estilo de vida que não permita
grande ocorrência de reforços. Sua repressão poderá
constituir uma reação muito natural diante de um modo de
viver marcado pelo desânimo. Conheço muitas pessoas que
exercem empregos que detestam, têm poucos amigos ou
contatos sociais e não conhecem um só tipo de interesse ou
hobby. Solitárias e sem amizades, ficam noite após noite e
todos os fins de semana plantadas em casa, assistindo!
programas de televisão que as enchem de tédio. E odeiam a
si mesmas. Algumas delas não tiraram férias durante anos a
fio. Racionalizam a própria inatividade, afirmando coisas
assim: “Eu não tenho vontade de ir a parte alguma”, ou
então, “Eu não quero fazer nada”. É natural que um
indivíduo não veia qualquer finalidade para sua lúgubre
existência quando não gosta do trabalho que faz, de sua vida
social, dos amigos, de seu estilo de vida ou de si mesmo, e
que nada faz para modificar qualquer dessas situações. Por
causa de sua existência enfadonha, que não possui o menor
sentido, esse indivíduo cria um estado de coisas em que nada
de bom poderá acontecer.
(2) Talvez tenham possuído reforços positivos em sua vida
e os perderam. Certas conjunturas afastam os reforços
positivos ou as fontes potenciais dos mesmos. Um marido
morre, deixando a mulher cheia de profunda tristeza. Aos
cinquenta e cinco anos de idade, um executivo que
envelheceu perde o emprego ao qual dedicou “todo o seu ser
durante trinta e três anos”. Uma pessoa idosa se aposenta
sem estar preparada para isso, e se vê diante de uma
existência sem qualquer sentido. Um filho único se casa e se
muda para uma cidade que fica a cinco mil quilômetros de
seu antigo lar. Uma mãe, cheia de trabalho durante anos
dedicados a um filho, passa a dispor de seu tempo e enche as
horas com pensamentos depressivos. Uma parte do corpo de
uma pessoa pode ser amputada, um membro ou um seio, ou
poderá ela ter perdido algo de mais efêmero, como a
juventude.
Muitos teóricos afirmam que a significação do reforço
perdido produz a depressão, uma síndrome vazia. Isso quer
dizer, no caso de mãe, que ela não é mais necessária. Para o
homem que houver sido despedido, a perda do emprego é
sinónimo de sua inadequação profissional. A desfiguração do
corpo de uma pessoa significa que “nenhum homem (ou
nenhuma mulher) há de querê-la”. A morte de um ente
querido significa a perda de uma afeição e, possivelmente, a
solidão.
Embora a interpretação óbvia de tudo isso seja expressa
na palavra “significação”, isso nem sempre é necessário para
gerar uma depressão. A ausência da oportunidade de obter
reforços poderá causar uma reação depressiva ainda que não
esteja em causa qualquer “significação”. Desejo comentar o
que senti no dia em que conquistei meu grau de doutor em
filosofia (Ph.D.)
Após longos anos dedicados a cursos, estudos e exames,
defrontei-me com uma comissão de professores para dar o
último passo de um prolongado processo: a defesa de minha
tese. Ao cabo de duas horas de interrogatório, o presidente
da banca examinadora olhou para mim, sorriu, e declarou o
seguinte: “Meus parabéns, doutor.” Minha reação por haver
afinal conquistado o doutorado foi cair numa depressão
absoluta, que durou vários dias. A razão disso foi a seguinte:
uma fonte de reforços de toda uma existência — notas
obtidas, aprovação dos professores, aceitação de trabalhos
no final de cada semestre — não existia mais. Reação
semelhante muitas vezes tem um indivíduo quando dá baixa
das Forças Armadas. Volta para casa e fica deprimido,
privado daqueles familiares potenciais de reforços da vida de
quartel, daquelas obrigações preestabelecidas, da presença
das pessoas em posição de autoridade que o cercavam.
(3) A pessoa faz a própria vida girar em torno de reforços
negativos. Já expliquei que ocorre um reforço negativo toda
vez que alguma coisa, geralmente desagradável, é subtraída
de uma situação, ou deixa de acontecer. Esse tipo de reforço
torna-se dominante, e a pessoa estabelece uma meta:
impedir que a situação piore, minimizar os prejuízos, em vez
de conseguir ganhos. Seus reforços não lhe advêm do fato de
não lhe acontecerem boas coisas, mas da circunstância de
impedir que as coisas ruins se tornem piores*. Infelizmente,
essa situação em que nada se ganha e nada se perde
constitui a base infortunada de muitos casamentos. Na
melhor das hipóteses, a pessoa nada perde, mas estabelece
uma situação em que as coisas agradáveis não podem
acontecer. Nessa conjuntura em que nada ganha, a pessoa
julga que a maneira de evitar perdas consiste em agir cada
vez menos. E começa a sentir-se apática e imotivada.
Quer a ausência de reforços positivos decorra do modo de
viver de um indivíduo, quer resulte de uma mudança em sua
situação na vida, ou ainda, seja a consequência da
predominância de reforços negativos, esse indivíduo, se
quiser obter reforços positivos, terá de buscar,
deliberadamente, novas fontes de prazer, coisas que lhe
proporcionem uma visão positiva do mundo que o cerca, e
não uma visão negativa desse mundo, de si mesmo, do
futuro. Terá de fazer algo que constitua fontes de satisfação.
O velho ditado acerca da mulher que se sentia deprimida,
saiu de casa e comprou uni chapéu novo possui grande
mérito teórico.
Diante de uma pessoa deprimida é fácil fazer uma
sugestão dessas, que lhe será difícil pôr em prática. Uma das
características da depressão é a incapacidade de agir. Meus
pacientes repetidamente me declaram o seguinte: “Não
consigo pensar em nada de satisfatório que eu possa fazer. E
mesmo que o fizesse, qual seria o valor disso? Eu não teria
prazer em fazer qualquer coisa. Ainda assim eu me sentiria
deprimido.”
No entanto, como acontece na maioria dos programas de
Treinamento da Autoafirmação, é possível a cada indivíduo
encontrar um ponto de partida. Ainda que ele não seja capaz
de uma ação externa, em sua busca de reforços, poderá estar
à altura de o fazer em sua fantasia.

Exercício De Laboratório Para A Depressão I


Finalidade-, Proporcionar ao indivíduo um reforço
positivo, através da fantasia, como primeira etapa com vistas
a aliviar sua depressão.
Primeira Etapa: Fazer uma lista de coisas que darão a
esse indivíduo um sentimento de satisfação se ele as
imaginar. Investigar sistematicamente as seguintes áreas:
alimentação, bebidas, hobbies, distrações, esportes, sexo,
trabalho, convívio social, viagens, ou quaisquer outras que
venham à mente da pessoa. Ela estará procurando atos
específicos que lhe produzam até mesmo um mínimo
sentimento de prazer. Esses atos poderão ser simples como
tomar um sorvete de chocolate, desses de casquinha, ouvir
música clássica ou ler um livro de mistério. Ou então, talvez
sejam muito mais complexos: fazer com que outras pessoas
busquem sua companhia, ter um relacionamento amoroso
com alguém. Ao escolher seu ato, a pessoa não deverá
limitar-se à realidade. Deverá procurar experimentar coisa
que lhe possa proporcionar um sentimento de prazer, como a
ideia de ganhar o Prêmio Nobel, por exemplo. Não importa o
grau em que se sinta na fossa ou “horrível”. Quase todas as
criaturas humanas são capazes de encontrar alguma coisa
que lhes cause pelo menos um mínimo de prazer.
Segunda Etapa: Escolher um ato (ou vários) que houver
selecionado e que possua um teor de prazer relativamente
elevado (poderá ter sido selecionado um ato que proporcione
apenas um prazer muito reduzido). A pessoa deverá
imaginar-se executando esse ato e procurará apreender
qualquer sentimento agradável que obtenha com essa
fantasia. Praticar a fantasia várias vezes. Procurar, cada vez
que isso fizer, tomar a imagem mais nítida e pormenorizada,
e captar os sentimentos agradáveis que possam daí emergir.
Repetir esse procedimento em cada ato imaginado.
Terceira Etapa: Fazer exercícios diários. A pessoa estará
tentando proporcionar a si mesma os reforços positivos que
não consegue obter através de uma atividade real. Essa
meta, no campo do TA, é a seguinte: aliviar a depressão de
uma pessoa em grau suficiente, de sorte que possa realizar
alguma ação na vida real, em vez de isso fazer em
imaginação.
Um indivíduo poderá iniciar a cura de sua depressão
adotando uma abordagem mais ativa do que o apelo aos
reforços da fantasia. Nesse caso, sua meta será estabelecer o
hábito de fazer maior número de coisas que lhe possam
proporcionar algum prazer. Deverá obedecer às normas
relativas à formação de novos hábitos.

Exercício De Laboratório Para A Depressão Ii


Finalidade: Proporcionar ao indivíduo um plano para
aumentar sua atividade, de sorte que acabe por encontrar
novas fontes de reforços positivos.
Primeira Etapa: A pessoa deverá organizar uma lista de
atividades específicas que possuam algum potencial em
matéria de reforços. Essas atividades poderão estender-se
desde ir a um museu e fazer compras numa loja de
departamentos até telefonar a um amigo, jantar num
restaurante ou fazer uma pescaria. A atividade deverá
consistir em alguma coisa que a pessoa possa fazer e que
não tenha feito durante os últimos seis meses. Se estiver
extremamente deprimida, poderá essa ação ser tão simples
como dar um passeio a pé num parque, durante meia hora.
Segunda Etapa: Escrever num pedaço de papel o dia e a
hora em que irá executar a ação. Insisto nesse ponto de
modo especial. Não deverão ser feitas exceções nesse
particular.
Terceira Etapa: Executar inicialmente pelo menos uma
ação por semana. Com o passar do tempo, executar um
maior número de ações. A pessoa deverá manter um registro
de seu comportamento, organizando um quadro no qual
anotará cada vez que a ação for praticada.
Quarta Etapa: Cumpre não esquecer que o exercício está
sendo praticado com vistas a aumentar a atividade da
pessoa. A finalidade dessa tarefa não é a obtenção de prazer.
No entanto, para que seja finalmente alcançada a meta
desejada, a do reforço positivo, a pessoa prestará atenção a
qualquer reação agradável que ocorrer, ainda que seja muito
ligeira. Por conseguinte, após completar cada tarefa, será
por ela registrado o mais alto grau de prazer que houver
experimentado enquanto estiver executando determinado
ato. Para essa finalidade, empregará uma escala numérica na
qual o zero (0) representa a ausência de qualquer sentimento
de prazer, e 100 significa um completo êxtase. Isso servirá
para despertar, junto à pessoa, a consciência dos
sentimentos agradáveis que houver aprendido a ignorar. E
também introduz no processo uma orientação ativa. A pessoa
aprenderá a assumir responsabilidade pelo seu prazer, em
vez de exigir que o mesmo surja simplesmente de sua ação.
Não tenho a pretensão de que esses planos sejam fáceis
de ser seguidos. Sei que as dificuldades aumentarão
conforme o grau de severidade de uma depressão. Os planos
em questão destinam-se a lidar com depressões leves. No
entanto, em minha prática profissional tenho visto que a
execução desses exercícios de caráter simples é valiosa no
caso de todos os tipos de depressão, contribuindo para que
as pessoas reconquistem o animo de viver.
Desejo acentuar mais um aspecto a ser considerado: um
individuo poderá dispor de inúmeros reforços em sua vida,
mas se terá tornado a eles insensível, e poderá sentir-se
deprimido. Uma jovem solteira, por exemplo, poderá ficar a
tal ponto concentrada em pensar no fato de não ter um
marido, que não perceberá o que de fato possui: uma boa
aparência e muitos amigos de ambos os sexos. Ou então
tome-se o caso de um homem que houver perdido a esposa.
Conta trinta e cinco anos de idade e atravessa um período de
dor e luto. Muito depois da morte da mulher, ainda concentra
sua vida nessa saudosa perda e não toma conhecimento da
amizade e do interesse que outras pessoas têm por ele, nem
das coisas que lhe restam. Sua perda é real. Exatamente
como também é real o fato de que existem para ele muitas
coisas agradáveis. Se fechar a porta a essas coisas
agradáveis, sua depressão (não sua tristeza) começará a
desenvolver-se.
Se um indivíduo não se aperceber de que os prazeres
realmente existem em sua vida, os reforços que lhe poderão
advir consistirão no reconhecimento de que estará
começando a controlar sua depressão.
CASO
Tack Phelan. eminente biologista australiano, com
quarenta anos de idade, tinha uma esposa encantadora, três
filhos bem ajustados, e suas pesquisas eram consideradas
brilhantes. Mudou-se de sua pátria para a Zona das
Caraíbas, depois transferiu-se para Londres e, finalmente,
para Nova York, obtendo, a cada mudança, melhores
oportunidades de realizar suas pesquisas. Todas essas boas
coisas não exerceram, porém, qualquer efeito sobre o que
Jack denominava seu “crescente desencanto com a vida”.
Quando veio me procurar, seus trabalhos haviam sido
afetados por esse sentimento de estar na fossa. Não
conseguia reunir o último grão de energia de que
necessitava para atingir o brilhante nível que, no passado,
caracterizara suas pesquisas. Tinha deixado de encontrar
prazer no sexo, e estava começando a evitar a companhia
das pessoas. Almoçava sozinho com uma frequência cada vez
maior.
Tentei a princípio adotar com ele a técnica da fantasia. Em
meu consultório, ele era capaz de experimentar sentimentos
agradáveis em imaginação, mas isso não afetou seu estado
depressivo na vida real. Após esse malogro, estabeleci para
ele um programa que consistia na execução de tarefas que
havia apreciado anteriormente, e de fazer também coisas
novas, que nunca havia tentado. Mas seu desalento
aumentou. Finalmente, comecei a fazê-lo registrar seus
próprios atos. Deveria manter um gráfico que indicasse o
grau em que se sentiria deprimido a cada dia. Transcorridas
algumas semanas, essa atividade interessou a mentalidade
de cientista de Jack. Ele verificou que poderia
deliberadamente começar a reduzir o nível de sua depressão,
num ritmo lento, porém firme. Disse-me o seguinte: “Quando
tomei consciência do meu sentimento de desânimo, de algum
modo convoque! alguma forma de energia e isso fez com que
eu me sentisse com vida durante um breve período de
tempo.”
O que aconteceu, acredito, foi o fato de Jack haver caído
no mau hábito da depressão e de se ter tornado cada vez
mais passivo diante dele, permitindo que essa depressão o
dominasse. Em vez de fazer alguma coisa, buscou refúgio
nos medicamentos, na leitura de trabalhos psicanalíticos e na
procura de uma série infinita de terapeutas. Viajando de um
país para outro, muitas vezes encontrou terapeutas antes de
encontrar uma casa para morar. A técnica de registrar ele
próprio suas ações, o que constitui um método muito eficaz
para efetuar a modificação de hábitos, permitiu-lhe assumir
um papel mais ativo na vida e estabelecer o hábito oposto, o
de sentir-se animoso e interessado nas coisas.
Transcorridas dez semanas, o problema de Jack havia
desaparecido e ele suspendeu seu tratamento. Mais ou
menos um ano depois disso, telefonou para mim e declarou
que às vezes sente de fato aquele desânimo, mas consegue
controlá-lo com o emprego do método de registro de suas
ações.
Capítulo 10.
Como Emagrecer E Conservar-Se
Magro

Ao passo que milhões de infortunados seres humanos, no


mundo inteiro, sofrem por causa de problemas de
desnutrição é fome, a principal doença da nutrição neste país
é a obesidade. Fazer regime alimentar tomou-se o mais
popular dos esportes praticados dentro de quatro paredes.
Dolorosos dados estatísticos nos revelam, entretanto, que
menos de 10% dos milhões de norte-americanos que fazem
regime todos os anos se mantêm no peso a que conseguiram
chegar. Qualquer método de emagrecimento que sigam pode
torná-los temporariamente mais magros, mas não se
conservam assim.
As pessoas que fazem regimes possuem, em média, um
determinado padrão. Suas roupas ficam-lhes apertadas; os
amigos e o marido (ou a mulher) os criticam, dizendo-lhes o
seguinte: •‘Você está gordo demais!” A pessoa sente que está
gorda e pouco atraente. Preocupada com isso, começa a
fazer um regime violento que irá durar, provavelmente, de
sessenta a noventa dias. Perde peso. No entanto, seis meses
depois, terá recuperado tudo quanto perdeu. Isso acontece
porque não modificou seus hábitos essenciais em matéria de
alimentação. Para conseguir uma redução permanente de
peso a pessoa terá de modificar seus hábitos alimentares c o
tipo de exercícios que faz, isso para o resto da vida e não
apenas durante um breve período.
O comportamento das pessoas é deficiente no que toca ao
controle do próprio peso, e isso acontece por três razões
principais:
(1) Quem tem excesso de peso vive muito sob o controle
de estímulos externos (como ver e sentir o cheiro dos
alimentos). Se houver o que comer junto a um indivíduo
desse tipo, ele logo o come. A disponibilidade de qualquer
coisa comestível, e não a fome, desencadeia o ato de comer.
Ver, numa revista, um anuncio de dar água na boca, o
despacha numa incursão ao refrigerador. Muitos estímulos
indiretos igualmente se tomam sinais para o comer.
Associando a alimentação ao ato de assistir á televisão, esse
indivíduo fica beliscando amendoins quando vê o noticiário
da noite ou lê alguma coisa.
(2) A certa altura da vida, as pessoas desse tipo terão
aprendido um comportamento precário em matéria de
alimentação. O hábito de comer demais tornou-se para elas
um estilo de viver, que mantêm porque o apreciam. Privadas
desse hábito, sentem-se inseguras porque ele lhes
proporciona um alívio temporário de sentimentos como a
angústia, a cólera ou a depressão. Alguns desses indivíduos
comem para evitar o stress. Pelo fato de terem excesso de
peso, conseguem evitar determinadas circunstâncias que
provocam tensões, como a aproximação do sexo oposto.
(3) Certas pessoas têm excesso de peso por causa de seus
hábitos deficientes em matéria de exercício. Talvez não
comam demais, mas não queimam o que comem. Às vezes
sua limitada atividade os leva a maior ingestão de alimentos.
A abordagem do Treinamento da Autoafirmação no que se
refere ao controle de peso ajuda as pessoas a adquirir
autodomínio nessas três áreas. Não irão seguir uma dieta
drástica. Um rigoroso regime alimentar visa a modificar o
peso de um indivíduo e não a modificar seu comportamento.
Estabelecer um novo hábito em caráter permanente exige
tempo, e a perda extrema e rápida de peso raramente poderá
ser mantida por um prazo suficientemente longo para que
seja alcançada uma modificação do comportamento. Em
consequência, a meta de uma pessoa deverá ser a de perder
em média de meio a um quilo por semana, e conseguir uma
mudança a longo prazo de seus hábitos alimentares.
Para assim proceder, deverão ser aplicados os princípios
do autodomínio. A pessoa procurará verificar que estímulos
desencadeiam o indesejado hábito de comer, e eliminá-los.
Definirá seu comportamento específico no campo da
alimentação e dos exercícios físicos que deseja modificar.
Eliminará os reforços que estiverem mantendo sua
indesejada ingestão excessiva de alimentos, e os substituirá
por reforços que irão aumentar o desejado comportamento
alimentar, ou os reforçará, caso já existam.
Experiencias rigorosamente controladas, de modo
especial as que foram realizadas na Universidade de
Michigan, na Universidade de Colúmbia e na Faculdade de
Medicina da Universidade de Pensilvânia comprovaram o
êxito dessa abordagem. Segundo o Dr. Albert J. Stunkard, ex-
chefe do Departamento de Psiquiatria da Universidade de
Pensilvânia, atualmente presidente do Departamento de
Psiquiatria da Escola de Medicina da Universidade de
Stanford, e especialista em obesidade, a aplicação da terapia
do comportamento a pacientes obesos “constitui o primeiro
progresso significativo ocorrido no decurso de muitos anos...
os antigos programas de redução de peso apenas impunham
às pessoas que os padecessem e suportassem; este
tratamento lhes proporciona a oportunidade de se esforçar e
obter sucesso”.

A Modificação Dos Hábitos Alimentares: Um


Programa De Cinco Pontos

Primeiro Ponto: A pessoa deverá identificar seus hábitos


alimentares. Não poderá modificar esses hábitos se não
souber quais são eles. Deverá manter um diário, durante
uma semana, que abrangerá o seguinte: quem, que, quando,
por que e onde, no tocante à ingestão de alimentos. O diário
será feito da seguinte maneira: em seu caderno de
apontamentos do Treinamento da Autoafirmação a pessoa
reservará uma página para cada dia da semana e, nessas
páginas, traçará colunas com estes cabeçalhos:
Horas cm que se alimentou
Que quantidade ingeriu
Alimentos que ingeriu
Onde o fez
Com quem comeu ou se o fez desacompanhado
Como se sentiu quando comeu.

Se um indivíduo mantiver esse registro, será muito


consciente do que realmente comeu, bem como dos
estímulos ambientais e psicológicos associados à sua
ingestão de alimentos. Uma dona-de-casa, de trinta anos de
idade, informou-me que após duas semanas desse
autorregistro, percebeu pela primeira vez que a cólera lhe
estimulava a vontade de comer. Depois que ficou sabendo
disso, sempre que se sentia irritada saía da cozinha e
escrevia num pedaço de papel como estava se sentindo. Isso
lhe diminuía a irritação e frustrava o ato de comer. Outra
mulher tinha uma irmã infeliz e deprimida, que sempre lhe
telefonava à hora do almoço para repetir-lhe suas
preocupações. Essa mulher, depois de haver percebido o que
estava ocorrendo, pediu à irmã que lhe desse aquele
telefonema diário depois do jantar.
Segundo Ponto: O indivíduo deverá controlar seus
estímulos. As pessoas que têm peso normal comem quando
sentem fome e não apenas porque algum alimento esteja
diante delas. Graças a várias experiências de laboratório, é
sabido que as pessoas que têm excesso de peso comem sem
parar: na mesa de trabalho, nos bares, nas ruas, diante de
um aparelho de TV, no quarto de dormir antes de ferrar no
sono, e assim por diante.
Como o ato de comer ocorre em muitas e diferentes
condições, inúmeros e variados estímulos tornam-se
associados a esse ato. Tais estímulos serão discriminativos
(estímulos que constituem um sinal de consequências) e
significam o seguinte: “Vá em frente. Coma!” O aparelho de
TV poderá proporcionar o sinal para isso, o mesmo podendo
acontecer com o fato de a pessoa sentar-se à sua mesa de
trabalho, ler, andar de automóvel ou simplesmente
encontrar-se em seu quarto de dormir.
Resistir a todos esses apelos exigiria uma força de vontade
sobre-humana. Será muito fácil enfraquecer os sinais
emitidos por esses estímulos. O primeiro passo nesse sentido
consiste em reduzir o número de estímulos que a pessoa
associa ao ato de comer. Isso não lhe exigirá que deixe de
comer, mas a levará a controlar onde e quando come.
(1) Em sua própria casa, a pessoa poderá comer tudo
quanto quiser e a qualquer hora, mas deverá fazê-lo sempre
no mesmo lugar. Se escolher a sala de jantar para isso,
jamais irá comer na sala de estar, no quarto de dormir ou
diante da pia da cozinha.
Quando estiver comendo, não poderá executar qualquer
outro ato. Não poderá ler, costurar sua colcha de retalhos,
ver televisão. Se estiver vendo um programa interessante e
sentir uma vontade irresistível de comer um biscoito de
chocolate, desligará a televisão, irá apanhar o biscoito e o
comerá na sala de jantar. Quando tiver acabado de fazer isso,
poderá tornar a ligar a televisão.
CASO
Quando Jane Jones veio me procurar, confessou-me o
seguinte: “Eu sou viciada em comer chocolate.” Solteira, com
quase trinta anos de idade, Jane Jones achava que seu
excesso de peso — dez quilos — prejudicava seu
relacionamento com os homens.
Declarou-me: “Eu me acho gorda e insegura. Não consigo
ser eu mesma, por isso afasto os homens.” E assim me falou
com tristeza no olhar. Jane comia normalmente nas horas das
refeições e só de vez em quando tomava um coquetel. Mas
sua paixão pelo chocolate fazia com que aqueles 10 quilos
permanecessem. Saía do escritório todas as tardes, às três
horas, ía até uma banca de jornais e comprava de seis a oito
barras de chocolate. Antes de terminar o trabalho, dava
conta de todas elas. Às vezes fazia uma segunda incursão à
banca de jornais, comprava mais chocolate, colocando-o na
bolsa para comê-lo no ônibus.
Quando eu lhe sugeri uma ligeira redução inicial da
quantidade de chocolate que comia, ela insistiu, dizendo o
seguinte: “Não consigo fazer isso. Tenho que comer todo
esse chocolate.”
Era óbvio que inúmeros estímulos davam a Jane este sinal:
“Coma uma barra de chocolate” Minha meta consistiu em
reduzir tais estímulos. Estabeleci um programa para Jane.
Ela poderia comer quantas barras de chocolate quisesse,
mas apenas sob três condições: (1) compraria uma única
barra de cada vez; (2) só poderia comê-la num lugar
apropriado para se comer: (3) cada vez que comesse uma
barra de chocolate, deveria tomar nota disso.
A firma onde Jane trabalhava tinha uma cantina para o
pessoal e nela havia uma máquina de vender balas e
chocolate. Sempre que Jane sentisse forte desejo de comer
uma barra de chocolate, teria de ir até a cantina, que estava
sempre aninhada (não ir à banca de jornal), comprar uma
única barra de chocolate, sentar-se a uma mesa, fazer uma
anotação em sua ficha de registro e comer o chocolate. Se
ficasse com muita vontade de comer outra barra de
chocolate, teria de voltar à cantina e repetir todo esse
processo. Se ficasse muito desejosa de comer chocolate
quando estivesse dentro de um ônibus, teria de saltar do
ônibus, descobrir uma cantina, entrar nela, comprar sua
barra de chocolate, sentar-se a uma mesa, fazer a tal
anotação em sua ficha e devorar o chocolate.
Como Jane realmente queria acabar aquele seu hábito,
cooperou plenamente comigo. O fato de saber que poderia
comer um número ilimitado de barras de chocolate lhe
afastou o temor de sofrer uma privação. Foram necessários
quase dois meses para que Jane se tornasse consciente de
que estava comendo um número muito menor de barras de
chocolate. Em seguida, percebeu que quando se encontrava
no escritório ou dentro de um ônibus raramente recebia
aquele sinal de “Coma!” Começou a ir com muito menos
frequência à cantina. Reduzindo os estímulos, estabelecemos
o controle dos mesmos sobre aquele “vicio” de Jane.
Passaram-se meses até desaparecer essa dependência de
minha paciente. Se reocorresse, Jane saberia como lidar com
a situação. Se não tivesse sido capaz de manter-se fiel ao seu
plano de controle dos estímulos, eu teria sido obrigado a
empregar uma abordagem da situação por etapas,
eliminando apenas um estímulo de cada vez, o que teria
exigido muito mais tempo.
(3) Deverá ser evitada a compra de alimentos de elevado
teor calórico. As prateleiras dos supermercados estão
abarrotadas de muitos artigos proibidos e apetecíveis, que
possuem grande índice de carboidratos e açúcar. A pessoa
deverá fazer suas compras de acordo com uma lista que
houver feito, e levar ao supermercado apenas o dinheiro
suficiente para adquirir os alimentos de que realmente
necessita. Dessa maneira, evitará comprar coisas especiais
como café, balas e massas. Se um determinado bolo de
chocolate constituir a “desgraça” dessa pessoa, jamais
deverá comprá-lo. Seu marido e seus filhos estarão dispostos
a passar sem ele por causa do regime da dona da casa. Eia
lhes dará outra coisa qualquer que não a seduza tanto.
(4) A pessoa deverá fazer suas compras de alimentos após
haver tomado uma refeição completa. O Dr. Richard E.
Stuart. professor da Universidade da Colúmbia Britânica e
autor do livro Slim Chance in a Fat World, estudou o
comportamento de mulheres obesas e verificou que aquelas
que faziam compras depois do jantar adquiriam 20% menos
artigos do que as que faziam compras antes dessa refeição.
(5) Usar pratos menores. A pessoa deverá fazer com que
sua porção de alimentos pareça maior do que realmente é. A
mesma quantidade de um alimento parece ser maior num
prato de salada do que num prato raso. O prato principal de
uma refeição deve ser comido num prato de salada. A
experiência comprovou que os indivíduos que têm excesso de
peso declaram encontrar mais satisfação com esse prato
menor, ainda que eles próprios tenham medido quantidades
iguais de alimentos e as colocado nos dois pratos, o grande e
o pequeno.
Quem gosta muito de biscoitos não deverá levar a lata de
biscoitos para a mesa. Leve dois ou três biscoitos, ponha-os
num prato e coma-os à mesa. Três biscoitos dentro de um
prato dão a impressão de ser mais do que os mesmos três
que foram retirados de uma lata. A pessoa irá sentir-se mais
satis* feita com um menor número de biscoitos se os comer
tirando-os de um prato e não de uma lata.
(6) Não deverão ser servidos condimentos ou molhos de
elevado teor calórico às refeições. O princípio em causa é o
seguinte: esse estímulo é mantido ausente da situação. Se os
filhos da dona da casa, por exemplo, quiserem xarope de
bordo em suas panquecas, eles próprios deverão ir buscá-lo.
(7) A pessoa deverá tornar os alimentos apetitosos, tendo
a melhor aparência possível. Um rabanete com suas folhas
crespas fica mais bonito e pode ser tentador. Deverá ser
usado um serviço de mesa especial, uma louça decorativa e
sobre eles colocar os pratos e os cristais mais belos.
Terceiro Ponto: Modificar o comportamento em matéria
de alimentação. A pessoa há de querer desenvolver técnicas
especiais que a ajudem a adquirir o controle sobre o ato de
comer.
(1) Redução do ritmo da ingestão dos alimentos.
(a) Levar à boca, de cada vez, apenas uma pequena
porção de alimento e descansar o garfo enquanto o saborear.
(b) Quando estiver comendo, contar cada vez que levar
uma porção de alimento à boca. Depois da terceira garfada,
colocar a faca e o garfo sobre a mesa enquanto mastigar e
engolir o alimento que tiver na boca.
(c) A certa altura, durante a refeição, parar
completamente de comer, fazendo uma pausa de um ou dois
minutos. Ou então, descansar o talher durante uns cinco
segundos, marcados a relógio, isso várias vezes durante a
refeição. Um paciente meu reduziu o seu ritmo de comer
usando pauzinhos desses que os chineses usam.
(d) Se a pessoa verificar que ainda está comendo mais
depressa do que as outras, poderá ser a última a sentar-se à
mesa e a primeira a levantar-se dela. Terá de procurar
manter-se afastada dos alimentos.
(2) Deverá sempre ser deixado no prato um pouco de
alimentos ainda que seja apenas uma garfada. Essa técnica
começa a romper com o mau hábito que a pessoa possa ter, o
de comer simplesmente porque a comida se encontra diante
dela. A meta a ser atingida é a seguinte: a pessoa comerá
quando estiver com fome e não o fará quando sentir-se
saciada.
(3) Cumpre dificultar o mais possível a ingestão de
alimentos de elevado teor calórico. O Dr. Stanley Schacter,
da Universidade de Colômbia, provou que as pessoas obesas
são menos dispostas a despender energia para obter o
alimento do que aquelas que não o são. Numa das
experiências feitas pelo Dr. Schacter, apenas uma em doze
pessoas obesas comia amêndoas quando era preciso tirar-
lhes as cascas.
Essa teoria deve ser aplicada ao comportamento
alimentar. Se uma pessoa gosta de pão, deverá sempre torrá-
lo. E quando torrar o pão, preparar apenas uma fatia de cada
vez, e tornar a pôr o pão no refrigerador antes de comer sua
fatia.
Quando comer alimentos que engordam, a pessoa fará de
sorte que exijam grandes preparativos. Se quiser comer um
bolo, por exemplo, deverá fazê-lo desde o princípio, não se
utilizando de uma mistura comprada pronta. Romper com
um hábito de comer representa um dividendo. Se a pessoa
tiver de despender energia, poderá deixar de comer o que
isso exigir.
(4) É preciso controlar as refeições ligeiras (beliscar entre
as refeições). Agindo sobre um comportamento específico,
embora isso possa parecer trivial, o indivíduo adquire
controle sobre o que come entre as refeições.
(a) Pôr de lado uma parte do alimento de uma refeição,
para beliscá-lo mais tarde. Guardar o pedaço de pão de que
dispuser no café da manhã, para comê-lo no cafezinho que
tomar às dez horas.
(b) Instituir comportamentos incompatíveis com o comer.
Se uma pessoa se regala com um bolinho inglês ou com um
pastel dinamarquês às 10 horas da manhã, escolha essa hora
para lavar a cabeça ou escrever uma carta. Se trabalhar,
marque essa hora para ter um compromisso fora do
escritório.
(c) Colocar num prato o que comer numa refeição ligeira.
tal procede quanto ao jantar. Isso aumenta o esforço exigido
para “beliscar” alguma coisa entre as refeições e ajuda a
estabelecer o controle sobre os estímulos que levam a isso.
(d) Ter à mão alguns alimentos de baixo valor calórico,
como cenouras cruas, aipo, rabanetes e pepinos, para comê-
los entre uma refeição e outra. Esses alimentos deverão
estar prontos para ser ingeridos: as cenouras cortadas em
pequenas tiras, o aipo cortado em talos, e pepino em fatias.
Tudo deverá estar ao alcance da pessoa.
(5) Investigar quais os pontos fracos em matéria alimentar
e modificá-los. Muitas donas-de-casa aumentam de peso
porque comem os restos deixados nos pratos por seus filhos.
Se uma pessoa assim proceder, deverá jogar esses restos de
comida diretamente na lata de lixo. Se um criança quiser um
biscoito e sua mãe também comer outro toda vez que a
criança assim fizer, deverá ela deixar que o filho coma seu
biscoito sozinho.
A pessoa investigará que comportamentos terá de
modificar. Muitos deles hão de parecer triviais. Mas o
controle de coisas triviais em matéria de alimentação
estimula a adoção de uma abordagem ativa e específica
quando se trata de regimes alimentares.
(6) Manter um registro dos atos praticados. A meta da
modificação de hábitos alimentares consiste, naturalmente,
em reduzir a ingestão de alimentos. O Dr. Jean Mayer,
professor de nutrição da Escola de Saúde Pública de
Harvard, afirma o seguinte: “Uma pessoa poderá engordar
se comer apenas 1% a mais do que necessita, fazendo-o
diariamente.” Aquela fatia de pão e manteiga extra, pela
manhã, poderá significar um acréscimo de cinco quilos de
peso num ano.
Deve ser razoável a meta relativa ao número de calorias
que uma pessoa desejar ingerir por dia. Muitas vezes não c
possível visar diretamente a essa meta, que talvez terá de ser
atingida por etapas. Se uma pessoa consumir 3.800 calorias
diárias, por exemplo, e sua meta seja ingerir 1.200, talvez
tenha de progredir através de uma série de submetas,
reduzindo sua ingestão de calorias a 2.500 por dia, depois a
1.600 e, final mente, chegar a ingerir apenas 1.200 calorias
num dia. Cumpre, não esquecer que o objetivo almejado é
uma série de sucessos.
(a) Manter um registro diário da ingestão de calorias.
Todas as vezes que a pessoa comer algum alimento, avaliará
o número de calorias nele contido. Deverá calcular o total
relativo a cada dia, registrando-o em sua ficha. Assim, saberá
a qualquer hora do dia em que altura estará em relação à
sua meta. No fim do dia, esse total de calorias ingeridas será
registrado num gráfico que será colocado em lugar visível.
(b) Conferir o próprio peso. Esse programa de modificação
do comportamento visa a uma perda média de peso que vai
de meio a um quilo por semana. Transcorridas algumas
semanas, se a balança não mostrar ter havido perda de peso,
isso provará que a pessoa terá estabelecido o grau, de
ingestão de calorias em nível excessivamente elevado, e
deverá reduzi-lo, ou então estará subestimando o número de
calorias dos alimentos que estiver comendo. Isso deverá ser
verificado e feitos os necessários ajustamentos.
(7) Tomar certas medidas com vistas a controlar os
sentimentos de desprazer que levam a comer demais. Um
indesejado comportamento em matéria de alimentação
poderá ser mantido por uma pessoa porque julga que assim
procedendo reduzirá determinadas reações emocionais. As
notas que tomar sob o cabeçalho que diz “Como se sente
quando come”, registradas em seu caderno de apontamentos
do TA, deverão revelar o que se aplica a essa pessoa.
Seguem-se sugestões que visam ao controle dos referidos
sentimentos de desprazer.
(a) Privação. É necessário fazer sempre três refeições por
dia, regulares e planejadas. As pessoas que comem em
excesso frequentemente deixam de tomar o café da manhã,
almoçam pouco mas se empanturram à noite porque estarão
morrendo de fome e julgam haver conquistado o direito a um
jantar que começa com sopa e termina com nozes. E ainda
fazem uma “boquinha” à meia-noite. Quase sempre isso
implica na ingestão de um número de calorias muito maior
do que se tais pessoas tivessem planejado sua alimentação
para o dia inteiro.
(b) Isolamento, tédio ou depressão. Quando um indivíduo
é tomado de sentimentos dessa natureza e dominado pelo
impulso incontido de fazer uma incursão ao refrigerador,
deverá manter sempre à mão um programa de atividades
que possa facilmente começar a executar. Organizará uma
lista de amigos a quem poderá telefonar, uma relação de
serviços domésticos a executar. Minha mulher costuma
cuidar de suas roupas. Um paciente meu mantinha na
cozinha um tapete afegã que estava tecendo e que já estava
pelo meio, mantendo-o pendurado num gancho para panelas.
Outro paciente meu tinha como passatempo cultivar plantas
dentro de casa. As atividades poderão ser de caráter social,
vocacional, ou meros passatempos tradicionais, mas não
deverão ter qualquer relação com alimentos.
(c) Cólera. A pessoa poderá tentar bater num travesseiro
em vez de comer. Ou melhor ainda, se isso lhe for possível,
tomar medidas de caráter afirmativo sobre aquilo que
desencadeia sua reação de cólera.
(d) Fadiga. As pessoas fatigadas julgam que irão adquirir
energia se tomarem algum alimento. Para manter sob
controle a ingestão de alimentos, deverão possuir controle
sobre o próprio sono. É necessário dormirem o suficiente
para que possam se sentir bem.
Talvez pareça estranho discutir a questão do sono e dos
passatempos num programa de controle de peso, mas a
experiência clínica demonstra que muitos homens e
mulheres que comem em excesso, se tiverem bons hábitos de
vida, poderão mais facilmente modificar o papel que os
alimentos nela desempenham.
Quarto Ponto: Cumpre modificar o comportamento em
matéria de exercícios. As pessoas têm ideias estranhas a
respeito desse assunto. Muitas julgam que deverão cumprir
um imenso programa de andar a pé, correr, levantar pesos,
fazer exercícios em barras, ou algo semelhante, a fim de
queimar um suficiente número de calorias, para que os
exercícios que fizerem lhes possa trazer qualquer benefício.
E terão que fazer tudo isso simultaneamente. Raciocinam da
seguinte maneira: “Se são necessárias quatorze horas de
marcha para que uma pessoa perca meio quilo, quatorze
horas são demais.” No entanto, se uma pessoa andar a pé
razoavelmente depressa durante uma hora por dia, poderá
perder meio quilo em duas semanas. Num ano, isso
significará uma redução de peso da ordem de doze quilos e
meio.
As pessoas presumem também que os exercícios
aumentam o apetite, o que não corresponde à verdade.
Certos estudos demonstraram que não sendo permitido aos
ratos fazerem exercício, eles comem mais e engordam. Se
lhes for proporcionado um meio de se exercitarem, comem
menos e mantêm seu peso normal. Isso também se aplica aos
seres humanos. Em seu livro The Thin Book by a Formerly
Fat Psychiatrist, o Dr. Theodore Rubin declara o seguinte:
“Experimentei comigo e com pacientes meus, e o índice de
perda de peso aumenta em cerca de 10% com a prática de
exercícios.”
É preciso que os exercícios se tornem um hábito.
(1) A pessoa deverá verificar que exercícios está
atualmente fazendo e aumentá-los para que sejam
equivalentes a 500 calorias por dia.
(2) Os exercícios se enquadram em três categorias: leves,
moderados e pesados.
Os exercícios leves queimam 4 calorias por minuto. A essa
categoria pertencem a dança lenta, a jardinagem, o golfe, o
pingue-pongue, a marcha à velocidade de 4 quilômetros por
hora.
Os exercícios moderados queimam até 7 calorias por
minuto e incluem a dança rápida, a jardinagem que exige
esforço, a natação, o tênis individual, a marcha à velocidade
de 6 quilômetros por hora.
Os exercícios pesados podem queimar até 10 calorias por
minuto e compreendem subir ou descer escadas, a ginástica
calistênica vigorosa, o ciclismo à velocidade de 20
quilômetros por hora, a. corrida sem sair do lugar, o
frescobol, o pular corda. Lembre-se que 3.500 calorias
equivalem a meio quilo de peso.
Antes de uma pessoa acrescentar ao seu programa
exercícios que equivalham a 500 calorias extras por dia,
deverá saber qual o seu atual ritmo.
(a) Deverá ser mantida uma ficha para cada dia da
semana, ou usadas páginas do caderno que a pessoa tiver
para anotar os dados relativos ao Treinamento da
Autoafirmação. Cada ficha será dividida em três partes:
exercícios leves, moderados e pesados. Cada vez que a
pessoa estimar que realizou 15 minutos de cada tipo de
exercício (não precisarão ser contínuos), fará uma marca na
parte apropriada da ficha. Cada marca sob a rubrica de
“exercícios leves” equivale a 60 calorias (15 minutos,
multiplicados por quatro calorias por minuto). Sob a rubrica
de “exercício moderados”, cada marca será igual a 105
calorias (15 minutos, multiplicados por 7 calorias), ao passo
que sob a rubrica “exercício pesados”, uma marca vale 150
calorias por 15 minutos de exercício (15 minutos,
multiplicados por 10 calorias).
Segunda-Feira:
Exercícios Leves (marca=60 cal)
Exercícios Moderados (marca=105 cal)
Exercícios Pesados (marca=150 cal)

(b) Numa página à parte do caderno de apontamentos do


TA será registrado o total de calorias que a pessoa houver
queimado num dia, com a prática dos exercícios.
(c) Esses registros serão arquivados durante duas
semanas para que a pessoa verifique qual seu padrão de
exercícios. Em seguida, serão acrescentados outros
exercícios.
(2) Deverão ser eliminados os estímulos à inatividade. A
pessoa guardará seu carro na garagem em vez de mantê-lo
estacionado na calçada. Assim, poderá andar dois
quarteirões até a casa de um amigo, em vez de ir até lá
dirigindo o carro.
(3) Os estímulos à atividade deverão ser revigorados. A
pessoa poderá começar a praticar um novo esporte, e
informar-se sobre cursos de ginástica, inscrevendo-se num
deles. Assumir com os amigos o compromisso de fazer essas
coisas, o que a ajudará a iniciar e prosseguir um programa
de exercícios. Uma palavra de advertência: a pessoa deverá
escolher exercícios que goste de praticar. E lembrar-se do
seguinte: quer ter sucesso com isso.
Quinto Ponto: Instituir um sistema de reforços positivos.
Em outras palavras, a pessoa deverá atribuir recompensas a
si própria.
Em primeiro lugar, cumpre definir claramente o
comportamento que deseja reforçar. Poderá ser ele a
diminuição do número de calorias que um individuo houver
assimilado durante a alimentação de um dia. Ou então,
reduzir o número de calorias mediante uma hora de
exercícios. Talvez se trate da prática de um entre vários atos
específicos, como, por exemplo, deixar um pouco de comida
no prato. Uma pessoa poderá também querer reforçar essas
metas especificamente estabelecidas quanto à perda de
peso.
Qualquer desses comportamentos será reforçado com o
emprego do método que descrevi no Capítulo VIII. Deverão
ser escolhidas recompensas que sejam eficazes. Seguem-se
algumas medidas de cautela:
(1) Cumpre repetir que não devem ser utilizados
alimentos a título de recompensas.
(2) A pessoa deverá valer-se da ajuda da família com vistas
a obter reforços, informando-a quais são os vários
comportamentos que estiver executando, como. por exemplo,
comer sempre no mesmo lugar, fazer mais exercícios. Dará à
família as seguintes instruções:
(a) Quando não executar o comportamento indesejado, a
esposa, um filho (ou um amigo) deverá fazer comentários
sobre isso, estimular a pessoa, proporcionar-lhe um reforço
social. Quando executar esse comportamento, as demais não
deverão tomar o menor conhecimento disso, não fazendo
qualquer demonstração de que observaram essa falha.
(b) Se uma pessoa morar sozinha e não tiver alguém que
registre seu comportamento, deverá assinalar num quadro
os dados sobre a ingestão de alimentos e sobre os exercícios
que praticar, mostrar regularmente esse quadro a um amigo.
Esse amigo lhe reforçará o comportamento como acontece
com o que se descreveu acima.
(c) Se a pessoa for casada, deverá obter o auxílio do
esposo (ou esposa), mas é necessário que fique de sobreaviso
porque o outro cônjuge poderá não estar motivado para
ajudá-la a perder peso. Na Universidade de Michigan, por
exemplo, o Dr. Richard B. Stuart realizou entrevistas com
cinquenta homens que desejavam que suas mulheres
perdessem peso. Apenas vinte e sete, porém, estavam
dispostos a colaborar no programa de perda de peso de suas
esposas, receando consequências que poderiam recair sobre
eles próprios, como, por exemplo, comer menos a fim de
compartilhar do regime de suas mulheres. Temiam, ainda,
perder uma posição vantajosa quando tivessem de discutir
com elas, e receavam também o divórcio e uma possível
infidelidade de parte de suas esposas.
(3) Não deverá a pessoa esquecer-se do seguinte
princípio: deseja tornar os reforços de seu comportamento
cada vez mais difíceis de ser conquistados. Um indivíduo
prometeu a si mesmo que se caminhasse 5 quilômetros por
dia até o local de trabalho, poderia telefonar para Bob e
combinar com ele um jogo de pôquer para a noite de sexta-
feira. Ao cabo de algum tempo, esse mesmo indivíduo teria
de caminhar 5 quilômetros durante três dias consecutivos
para conquistar sua recompensa.
(4) Poderá ser experimentado o sistema de fichas ou
pontos, como técnica de reforço. A pessoa ganhará três
pontos, por exemplo, se mantiver seu regime alimentar
durante três dias seguidos, e dez, se cumprir seu regime
durante uma semana. Terá necessidade de obter diferentes
números de pontos para obter diferentes reforços: 25 pontos
lhe darão uma tarde no cinema; 1.500 pontos, uma viagem
de fim de semana.
CASO
Por mais que se esforçasse. Lucille Grandell, uma
corretora muito bem-sucedida, de vinte e oito anos de idade,
não conseguia ser fiel a seu regime alimentar, isso a
preocupava muito. “Eu sou bem-sucedida cm tudo que faço,
e fico preocupada porque não consigo controlar esse aspecto
de minha vida”, assim comentou. Decidida a obter esse
controle, Lucille dispôs-se a utilizar seu refúgio de fim de
semana como reforço (era o lugar onde renovava suas
energias).
Sua ingestão diária de alimentos representava, em média,
3.800 calorias. A meta que estabeleceu foi a seguinte: ingerir
1.200 calorias por dia. Instituímos um sistema de pontos que
a ajudasse a atingir essa meta através de várias etapas. Se
ingerisse menos de 3.500 calorias por dia ganharia 1 ponto.
Se ingerisse menos de 3.000 calorias por dia, teria direito a 2
pontos. Para passar um fim de semana em sua casa colonial,
teria de fazer 8 pontos durante a semana. Lucille achou que
poderia isso conseguir. Estabelecemos um total de pontos de
tal sorte que ela teria de ingerir, pelo menos uma vez por
semana, um número de calorias inferior a 3.000 para que
pudesse ir para seu retiro no campo, naquela semana.
Combinamos também o seguinte: se ela falhasse seu regime
um dia, poderia compensar essa perda se conquistasse dois
pontos no dia imediato.
Lucille fez seus 8 pontos na primeira semana e nós
imediatamente baixamos o número de calorias permitido de
3.300 para 2.800 para que ela tivesse direito àqueles pontos.
Foram necessários cinco meses desse tipo de modelagem do
comportamento para que Lucille atingisse sua meta de
ingerir 1.200 calorias. Nessa altura, sentiu que estava
controlando sua ingestão de alimentos. Manteve o plano de
reforço, baseado em pontos, durante mais três meses, e
ainda o emprega quando começa a fraquejar em seu regime.
(5) Empregar reforços de caráter criativo.
(a) A pessoa deverá colocar vinte e cinco centavos em seu
cofre cada dia que obedecer a contagem de calorias que
houver estabelecido. A recompensa que der a si mesma
deverá ser alguma coisa que realmente queira possuir.
(b) Poderá “dar seus quilos a uma criança”. Reservar um
dólar cada vez que perder meio quilo e doar esse dinheiro a
uma instituição de assistência social meritória, como a
UNICEF. Abater um dólar, dos que houver juntado, cada vez
que aumentar um quilo. Isso fará com que sinta um certo
mal-estar por tomar dinheiro de crianças que estão passando
fome.
(c) Arranjar um “colega” que também tenha excesso de
peso. Cada dia que um dos dois não cumprir seu regime,
porá um dólar num cofre. Aquele que for o vencedor no fim
de um mês, ficará com todo o dinheiro.
(d) Dramatizar os êxitos alcançados. A pessoa deverá ter
espírito criador. Uma mulher comprou dois imensos sacos de
plástico. Sempre que perdia meio quilo, punha meio quilo de
farinha em seu “saco de peso perdido”. Quando ganhava
meio quilo, punha meio quilo de farinha no “saco do peso
ganho”. Olhar para o “saco do peso ganho” tornou-se para
ela tão detestável que se manteve firme em seu programa de
emagrecimento.
(e) Há ocasiões em que a própria vida proporciona os
necessários reforços.
CASO
Mary Paparella, com 90 quilos, tinha um excesso de 30
quilos de peso. Embora não se preocupasse muito com esses
quilos a mais, seu marido vivia aborrecido por causa disso.
Recusava-se a ser visto com ela em público. Não a
acompanhou a parte alguma durante cinco anos, nem mesmo
à igreja, na véspera do Natal.
Instituímos para Mary um programa de controle de peso,
tendo por objetivo fazer com que sua família lhe
proporcionasse reforços sempre que ela mantivesse sua
contagem de calorias dentro dos limites estabelecidos. O Sr.
Paparella recusou-se a cooperar com o regime de Mary, mas
seus filhos a ajudaram com elogios como o seguinte:
“Mamãe, você está maravilhosa. Deixou a metade do
espaguete no prato.
Mary manteve-se fiel ao seu regime. Ao cabo de seis
meses, tinha chegado a pesar 80 quilos, e o marido começou
espontaneamente a sair com ela. Nessa altura, porém, Mary
perdeu sua motivação para baixar de peso, e começou
novamente a engordar. O marido, sem qualquer
recomendação de minha parte, declarou-lhe o seguinte:
“Você está ganhando peso outra vez. Eu não sairei mais com
você.” Mary reconquistou seu controle e tornou a baixar aos
80 quilos. Atualmente, todas as vezes que começa a ganhar
peso, o marido dela deixa de fazer vida social em sua
companhia. Embora o Sr. Paparella tenha dado apenas um
mínimo de colaboração ao nosso- programa, e Mary nunca
tenha chegado a pesar 60 quilos, ele fez exatamente o que
deveria ter feito para proporcionar à mulher um reforço.
A mudança dos hábitos alimentares permite a uma pessoa
emagrecer e permanecer magra.
O controle dos hábitos alimentares também poderá fazer
com que uma pessoa se sinta melhor consigo mesma.
Modificando sua maneira de alimentar-se, ela fará mais do
que perder peso. Irá libertar-se de sua irritação, da vergonha
de ser gorda, do desgosto de não estimar a si mesma. Uma
paciente minha declarou-me o seguinte: “Durante toda a
minha vida eu ganhei peso, perdi peso e tornei a ganhar
peso. Agora eu mantenho meu peso sob controle e me sinto
contente comigo mesma.”
Capítulo 11.
O Problema Dos Desvios Sexuais

Temendo que a revelação de sua homossexualidade


resultasse não só na perda do emprego mas também no
desprezo dos pais, John guarda seu segredo. Vive
atormentado por um perpetuo pesadelo: se o patrão lhe
disser que ele é fresco?
Chris obtém excitação sexual com suas fantasias sobre
sapatos. Quando vai para a cama com a namorada, sente-se
distante, alienado e inseguro a respeito de sua
masculinidade. Aquelas fantasias sobre sapatos se insinuam
entre os dois.
Bill é um travesti. Casado há dez anos, feliz, é um bom pai,
mas sente grande prazer em exibir-se com um vestido de
noite, preto, que pertence à sua esposa. Fica desfilando pelo
apartamento. Sua mulher, horrorizada, suplica-lhe: “Se você
me ama, por que faz essa coisa horrível?” Deverá Bill deixar
de ser um travesti para salvar o próprio casamento?
John, Chris e Bill, embora tenham idades diferentes,
convicções políticas também diferentes, e gostos e estilos de
vida próprios a cada um, possuem determinado atributo em
comum. Têm um desvio sexual. Temem o ridículo, a
humilhação, a perda da amizade dos companheiros, dos
colegas de trabalho c da família. Seu temor chega a tal ponto
que perderam a capacidade de decidir o que querem fazer
quanto ao seu comportamento. Em vez de indagar a si
mesmos: “O que irá me fazer mais feliz?” Ficam a imaginar:
“Ser ou não ser?”... “Dizer ou não dizer?... “Mudar ou não
mudar?”

Novas Ideias Sobre Os Desvios Sexuais

Que é um desvio sexual? Segundo a definição corrente,


um desviado sexual é o indivíduo cuja vida sexual tem por
finalidade executar uma atividade diferente da união genital
com pessoa do sexo oposto. A categoria inclui dois tipos
principais:
(1) os homossexuais, cuja meta, em suas relações sexuais,
vi.sa aos membros do seu próprio sexo; e (2) outros
desviados cujos interesses sexuais se orientam
principalmente no sentido de objetos ou atos sexuais
geralmente não associados ao coito, ou ainda ao coito
praticado em condições bizarras, como é o caso da necrofilia,
da pedofilia, do fetichismo, do voyeurismo, do uso de roupas
do sexo oposto (hábito dos chamados travestis) e do
masoquismo.
A atitude de outros tipos de sociedades. Durante séculos,
sociedades diferentes da nossa aceitaram livremente essas
formas de vida sexual. Os konogas, da península do Alasca,
por exemplo, criam alguns de seus filhos do sexo masculino,
a partir da infância, para que exerçam o papel de mulheres.
Esses rapazes aprendem as artes femininas e tornam-se
hábeis no cumprimento de todas as obrigações que
competem a esposas. Os chukees siberianos, que vivem na
península nordeste da Ásia, consideram o homem que
assume o papel da mulher como um poderoso shaman
(sacerdote que eles acreditam possuir poderes
sobrenaturais). Um shaman usa roupas femininas, assume
maneirismos femininos e poderá tornar-se a “esposa” de
outro homem. O casal mantém relações sexuais, nelas
desempenhando sempre o shaman o papel da mulher. Além
de sua “esposa” shaman, o marido geralmente tem outra
mulher com quem pratica o coito heterossexual.
Os homens solteiros kerebis, da Nova Guiné, geralmente
praticam a sodomia, e os mais velhos iniciam os meninos no
coito anal durante os ritos da puberdade. Entre os arundas,
da Austrália, as mulheres excitam mutuamente seus clitóris.
Na África, as mulheres nbumdu e namu usam um pênis
artificial com que se masturbam umas às outras.
Novas Atitudes. Embora os povos de muitos países tenham
praticado comportamentos sexuais desviados, isso durante
centenas de anos, somente há pouco tempo é que se
modificaram,, no mundo ocidental, os valores profissionais e
sociais no sentido de ser aceita a ideia de qualquer ato
sexual, desde que seja praticado entre adultos e que haja seu
mútuo consentimento (isso exclui a pedofilia e o
exibicionismo) é permissível. Em 1973, a Associação
Psiquiátrica Americana declarou que a homossexualidade
não é uma doença mental. E um porta-voz dessa entidade
afirmou que “o homossexualismo não é normal nem
anormal”.
Os problemas básicos. Embora muitas pessoas tenham
preservado o conceito herdado da Era Vitoriana, segundo o
qual o único sexo “normal” consiste na união heterossexual
praticada em determinada posição, outras pessoas
abandonaram tal ideia. No caso dos desviados sexuais, os
problemas poderão ser encarados de duas maneiras: (1)
desviado não possui controle sobre seu comportamento e o
pratica de maneira compulsiva, não tendo liberdade de
decidir se deseja realizar o ato em questão; (2) o desviado
não consegue aceitar seu próprio comportamento.
Como poderá um desviado sexual saber o que quer? Nesse
campo, as pressões sociais, até mesmo as de uma sociedade
em mudança, continuam sendo tão fortes que o individuo
muitas vezes reage ante as imposições da sociedade, e não
conforme .seus próprios desejos e necessidades. Numa
palestra pronunciada na Associação para o Progresso da
Terapia do Comportamento, Charles Silverstein, diretor do
Instituto de Identidade Humana, de Nova York, levantou a
seguinte questão; se um homossexual procura um terapeuta
e lhe pede para transformar-se em heterossexual, o
terapeuta não poderá presumir que isso constitua a
verdadeira meta desse paciente. Para que o homossexual
possa fazer uma escolha honesta, o terapeuta terá,
preliminarmente. de afastar as tensões e temores criados
pela sociedade.
Metas da terapia com desviados sexuais. Muitos
desviados; sexuais que buscam obter ajuda psicológica
mostram-se tão perturbados e tão temerosos de que o mundo
irá ridicularizá-los, que geralmente só pensam em
libertar-.se em caráter permanente de seu comportamento.
Essa não é a única opção existente.
Para saber o que realmente quer fazer, um desviado
sexual deverá observar quatro coisas:
(1) Se pratica seu comportamento de maneira compulsiva,
terá de obter de maneira deliberada o controle desse
comportamento. Quando sentir que obteve esse controle,
seus sentimentos poderão definir-se e ele será capaz de agir
movido por sua livre escolha, e não por efeito de uma
compulsão.
(2) Será necessário que o desviado sexual desenvolva
deliberadamente comportamentos alternativos em matéria
de sexo para que possa decidir que tipo de comportamento
lhe proporciona maior satisfação.
(3) Se decidir que deseja conservar seu comportamento
desviado, terá de aprender a sentir-se à vontade com esse
comportamento. e a agir de maneira afirmativa. Se optar, por
exemplo, pelo estilo de vida homossexual, poderá decidir-se
a sair de dentro de sua casca e permitir que o mundo saiba
que esse é seu estilo de vida.
(4) Se resolver que não deseja manter seu comportamento
desviado, deverá eliminá-lo e estabelecer uma forma de
comportamento que melhor o satisfaça.
Isso decidido, irão desaparecer inúmeras confusões em
matéria de metas.

O Homossexual
Como poderá saber um indivíduo que deve esforçar-se por
deixar de ser homossexual?
Apesar da nova liberdade sexual, esse indivíduo talvez
tenha de tomar uma decisão. Será ele na verdade “normal”
e, por alguma razão, haver sido levado ao estilo de vida
homossexual? Ou então, será realmente um homossexual e
seu problema consistirá em aprender a enfrentar as pressões
da sociedade?
Há muitos tipos de homossexuais. Os que forem bem
ajustados, sejam eles exclusivamente homossexuais ou
bissexuais, terão encontrado um estilo de vida que os fazem
sentir-se felizes e realizados. Muitos homossexuais apenas
têm de enfrentar os problemas de como ganhar sua
subsistência, pagar seus impostos e o preço que lhes; é
imposto pelo fato de viverem num mundo conturbado.
Encontraram seu caminho.
Outros homossexuais apresentam problemas psicológicos:
(1) Homens (emprego a palavra “homem” porque um
maior número de homossexuais do sexo masculino busca
ajuda terapêutica e eu próprio conheço muito poucas
mulheres homossexuais que procuraram se tratar pelo fato
de o serem) que são basicamente normais, mas receiam
possam ser homossexuais. Criam fantasias sobre relações
sexuais com homens. Às vezes sentem-se atraídos por algum
homem que veem na rua, ou até mesmo se excitam ao olhar
para uma foto masculina no encarte de alguma revista.
Possivelmente, uma ou duas vezes terão tido relações
sexuais com homens! Para esse tipo de indivíduos, as
mulheres se terão tornado um estímulo carregado de
angústia, muitas vezes devido ao fato de carecerem eles de
autoafirmação ou recearem ser sexualmente incapazes.
Tendem a fugir das situações que lhes provocam angústia e
começam a alimentar fantasias sexuais, que os excitam,
voltadas para pessoas de seu próprio sexo. Os indivíduos
desse tipo, quando atingem a puberdade, pertencem a uma
categoria interessante. Só lhes crescem os pelos do púbis
mais ou menos aos dezesseis anos de idade. Na adolescência,
quando seus companheiros aprendem a se relacionar com o
sexo oposto, eles próprios aprendem a sentir-se
“inadequados”. Um estudo realizado sobre esse problema
mostra que ao chegarem aos trinta anos de idade defrontam-
se com dificuldades muito mais reais em matéria de
autoafirmação diante das mulheres.
(2) Homens que são basicamente normais mas cujas
angústias a respeito do sexo feminino são de tal modo graves
que forçam a si próprios a assumir um estilo de vida
homossexual. Trata-se de uma extensão altamente neurótica
do primeiro tipo, já descrito. Esses indivíduos apresentam
sintomas de depressão, angústia e desgosto em face de sua
situação no campo da homossexualidade. Trata-se de uma
conjuntura que pode ser comparada à de uma pessoa que
optou por permanecer num tipo errado de ocupação, como,
por exemplo, o extrovertido que fica das nove horas da
manhã às cinco da tarde trabalhando como estatístico,
isolado numa sala.
(3) Homens que são fundamentalmente homossexuais e se
veem obrigados a manter um estilo de vida heterossexual.
Em ambos os casos, existe grande confusão em matéria de
orientação sexual.
(4) Os homossexuais que não têm certeza do que são nem
do que querem. A que campo pertencem? Estarão
compreendidos nos dois campos, o da homossexualidade e o
da heterossexualidade? Reagirão segundo suas próprias
necessidades, ou assim procedem em consequência das
pressões da sociedade?
(5) Os homossexuais que gostam de seu estilo de vida mas
se ressentem porque vivem a ocultá-lo. Estimariam ser livres
e francos acerca de seus atos homossexuais, mas temem
possíveis humilhações que lhes seriam infligidas por um
mundo normal. Isso os leva a sentirem-se isolados e
alienados.

Um Guia Para Os Homossexuais


Finalidade: Ajudá-los a se decidirem sobre o que que
rem. Quando um indivíduo procura descobrir o que
realmente quer, sua primeira meta deverá ser a de ampliar
sua experiência sexual. Assim poderá encontrar-se em
melhores condições para tomar uma decisão. Para proceder
dessa maneira, deverá seguir as normas gerais estabelecidas
para o Treinamento da Autoafirmação. Cumpre decidir onde
quer chegar, e terá de alcançar sua meta por etapas. Para
executar um programa dessa natureza, procederá da
seguinte maneira:
(1) Não ter, de início, qualquer ideia preconcebida. Ao
procurar descobrir se prefere um estilo de vida homossexual,
heterossexual ou bissexual não deverá tomar qualquer
decisão antes de haver tentado ampliar seu campo de ideias
a esse respeito. Não há de começar estabelecendo por meta
tornar-se exclusivamente heterossexual.
(2) Terá de tornar-se consciente de que suas angústias
talvez mascarem prazeres reais que obtém nas relações
homossexuais. É necessário que não. ponha de lado as
satisfações que existem. Cumpre-lhe tomar consciência das
mesmas e não se esquecer do sumo prazer obtido no passado
quando alimentar fantasias a respeito de futuras' excitações.
Deverá considerar o que possui no presente e pensar
igualmente em suas angústias que lhe impedem de sentir
prazer com a própria homossexualidade, bem como no que
poderá fazer a fim de torná-la mais satisfatória.
(3) Terá de ampliar sua experiência sexual com o sexo
oposto. Isso é frequentemente mais fácil de aconselhar do
que de pôr em prática. Por vezes a intensa angústia
experimentada leva um indivíduo a evitar essa experiência.
Essa angústia poderá ser diretamente relacionada com o
sexo ou assumir a forma de uma ansiedade generalizada no
campo social. Torna-se necessário que a pessoa identifique
quais são suas principais angústias e procure reduzi-las.
(a) Se as fantasias sexuais de um indivíduo o perturbam,
terá ele de iniciar um programa com vistas a libertar-se
dessas fantasias. São elas geralmente precipitadas por
dificuldades de autoafirmação diante das mulheres. Muitas
vezes, os jovens perturbados por suas fantasias
homossexuais têm dificuldade em convidar moças para sair
em sua companhia, em manter conversação com elas, em ter
outros tipos de comportamento heterossexual. Até mesmo
após um programa de Treinamento da Autoafirmação,
durante o qual tais comportamentos se modificam, persistem
nesses indivíduos pensamentos de caráter homossexual
porque, nessa altura, esses pensamentos terão se tornado
um hábito. Ou então, suas fantasias são a tal ponto
perturbadoras que os impedem de desenvolver um adequado
comportamento autoafirmativo. Em ambos os casos, a
técnica da “parada do pensamento se revela eficiente para o
efeito de controlar tais fantasias. Foi o recurso que delineei
no Capitulo 4: logo e a cada vez que um indivíduo for
assaltado por um pensamento obsessivo que deseje
controlar, dirá “Pare!” de si para si e, em seguida, dirá
“Calma!” e relaxará os músculos.
(b) O individuo deverá iniciar um relacionamento
heterossexual. Se arranjar uma boa “professora”, sua
angústia em matéria de sexo poderá ser vencida.
CASO
Quando Charles Shur, de vinte e oito anos de idade,
diplomado por uma escola superior, tendo como profissão a
de programador de computadores, veio me procurar,
declarou-me o seguinte: “Sou homossexual, mas não quero
ser.” Durante anos havia saído com várias jovens mas, como
ele próprio se expressou, “eram como se fossem minhas
irmãs, e não esperavam que eu as abordasse”. Há vários
anos não tinha qualquer encontro com mulheres e nunca
mantivera relações sexuais com pessoa do sexo oposto.
Necessitava de uma válvula de escape para o sexo, mas não
desejava ter um amante homossexual em caráter
permanente. Uma ou duas vezes por semana. Charles se
dirigia a um bar de homossexuais, arranjava um
companheiro, ia ao apartamento dele (nunca ao seu próprio)
e tinha relações sexuais com esse homem. Jamais se
envolvera com a mesma pessoa duas vezes.
Charles não só nunca tinha ido para a cama com uma
mulher, como também jamais experimentara qualquer
fantasia sexual que girasse em torno de pessoa do sexo
feminino. O núcleo central de sua angústia era o sentimento
de que se tivesse um encontro com alguma jovem, ela
haveria de esperar ir para a cama com ele e Charles, então,
não seria capaz de “funcionar”. Não podia conceber um
encontro entre um homem e uma mulher em que não
houvesse a expectativa de relações sexuais, pelo menos na
segunda vez que se encontrassem.
Estabelecemos o seguinte: instruí Charles para que
procurasse uma meretriz que fosse uma espécie de
substituta de uma companheira normal. Ele assim procedeu.
Imaginei, então, um programa no qual ele registraria suas
atividades, programa esse constituído de várias etapas, com
vistas a reduzir suas tensões ligadas ao sexo.
Primeira Etapa: Charles deveria simplesmente sentar-se
ao lado de Jenny e conversar com ela sobre assuntos
relativos ao sexo. Isso ele fez por várias vezes até sentir-se à
vontade.
Segunda Etapa: Jenny deu-lhe uma série de lições sobre
a anatomia feminina. Foi uma espécie de professora. Charles
não a tocou. Não era esperada qualquer ação de sua parte»
Isso o aliviou um pouco de suas tensões.
Terceira Etapa: Obedecendo ao modelo proposto por
Masters e Johnson, Jenny massageou Charles, tomando
cuidado para não tocar em suas partes genitais. Quando ele
começou a sentir prazer com isso, ela passou a massagear
seus órgãos genitais, porém não com o propósito específico
de excitá-los textualmente. A princípio Charles não sentiu
qualquer sensação em seus órgãos genitais, mas em breve
começou a experimentar sensações agradáveis e, finalmente,
teve ereções.
Quarta Etapa: Jenny prosseguiu e o masturbou. Por fim,
os, dois tiveram relações sexuais. Durante todo esse período,
ela manteve a atitude de uma instrutora, na esperança de
manter cm baixo nível as tensões de Charles. Utilizou-se
igualmente de sua considerável experiência para ensinar-lhe
a ser um bom amante. A situação se prolongou durante
quase um ano. Ao cabo desse tempo, entretanto, Charles foi
capaz de “funcionar”.
Quinta Etapa: No decurso da segunda metade do ano,
iniciei com Charles o Treinamento da Autoafirmação para
que pudesse se encontrar com mulheres. Aprendeu a
conversar do jeito em que os homens o fazem com as
mulheres, e também a namorar. Em seguida, saiu com várias
moças, praticando, nesses encontros, as habilidades que
havia aprendido. Estabeleci como norma que não deveria
convidar as moças para terem com ele um segundo encontro.
Sexta Etapa: Charles passou a aceitar o segundo
encontro com moças, sendo-lhe permitido acariciá-las e
beijá-las. Sentiu-se bastante nervoso com isso, mas seu
nervosismo foi mitigado porque sabia que havíamos
estabelecido certos limites para suas iniciativas, os quais não
deveria ultrapassar. Em breve começou a ter prazer nesse
“jogo sexual”.
Após um ano de tratamento, durante o qual Charles veio
ao meu consultório uma vez por semana, conversou de vez
em quando com sua “professora” pelo telefone. Encheu-se de
coragem a dirigiu-se a um bar de solteiros. Transgredindo
minhas recomendações, levou para a cama uma atraente
loura. Tudo deu certo. Charles agora leva uma vida de rapaz
solteiro e nunca mais foi a bares de homossexuais.
(c) O indivíduo deverá procurar fazer tudo para que a
excitação sexual despertada por uma pessoa do seu ^sexo
seja transferida para outra, do sexo oposto. Assim procederá
tomando sua excitação sexual, como quer que surja, e
associando-a a um outro estímulo. Esse segundo estímulo
acabará por induzir excitação sexual. Cumpre lembrar que
para modificar o comportamento sexual de uma pessoa é
necessário existir um satisfatório comportamento alternativo
em seu repertório de comportamentos. Simplesmente
reprimir uma reação homossexual sem proporcionar uma
reação que lhe sirva de alternativa não dará resultado. A
homossexualidade reocorrerá. Há dois métodos que deram
resultados comprovados em matéria de modificação do
impacto dos estímulos junto aos homossexuais.
Sua redução gradativa. Isso exige a presença de um
terapeuta e não poderá ser feito pela própria pessoa. No
caso de um homossexual do sexo masculino, por exemplo, o
terapeuta projeta numa tela a imagem de um homem
atraente. O paciente experimenta uma excitação sexual. Em
seguida, o terapeuta vai pouco a pouco tornando menos
nítida a imagem desse homem, substituindo-a pela imagem
de uma mulher. Se a técnica for bem-sucedida, ao cabo de
um número relativamente reduzido de tentativas, o paciente
experimentará uma reação sexual diante da fotografia da
mulher. Das sessões de terapia essa reação se transfere para
o mundo exterior, e o paciente começa a achar as mulheres
sexualmente excitantes.
Reeducação do orgasmo. Poderá ser feito pela própria
pessoa. Muitas vezes a atração que um indivíduo tem por
outro do mesmo sexo é constantemente reforçada por sua
fantasias durante a masturbação. Em outras palavras, o
homossexual se masturba ao mesmo tempo que alimenta
fantasias homossexuais e, desse modo, mantém o prazer
permanentemente associado a essas fantasias. Ou então, alia
suas fantasias homossexuais a um reforço de consequências
positivas: o orgasmo. As fantasias sobre seres do mesmo
sexo poderão ser o único meio capaz de despertar num
indivíduo o desejo sexual. Nossa meta é a seguinte: modificar
essa situação de sorte que o estímulo despertado pelo sexo
oposto possa também desencadear o desejo sexual.
Em matéria de reeducação do orgasmo, cumpre .seguir as
seguintes etapas:
Primeira Etapa: Quando o orgasmo tornar-se inevitável,
durante a masturbação, o indivíduo deliberadamente
modifica sua fantasia visando a nela envolver pessoa do sexo
oposto, e não do seu próprio sexo. Deverá valer-se de alguém
que conheça, uma estrela de cinema ou uma cantora popular,
por exemplo. Se tiver dificuldade em evocar a imagem de
pessoa desse tipo, poderá ter diante de si a foto de uma
garota do Playboy. Procederá dessa maneira várias vezes.
Segunda Etapa: Quando a primeira etapa houver sido
suficientemente praticada, o indivíduo fará uma deliberada
série de mudanças no sentido de cultivar sua fantasia
heterossexual mais precocemente, enquanto se masturbar.
De início, talvez só consiga sustentar sua fantasia
heterossexual durante um período muito breve. No entanto,
à medida que persistir em sua prática, será capaz de
sustentar essa fantasia por um tempo cada vez maior.
Quando isso der bons resultados, o indivíduo deverá
conseguir alimentar fantasias exclusivamente heterossexuais
e ter seu desejo por elas despertado. A isso seguir-se-á um
incremento de suas reações sexuais diante de pessoas do
sexo oposto, em situações da vida real.
(d) O indivíduo terá de aprender a autoafirmar-se na
presença de pessoas do sexo oposto. Isso poderá remover a
dificuldade que houver causado a indesejada
homossexualidade. Foi certamente o que ocorreu no caso de
Polly Wright, quando tratamos de sua dificuldade de
autoafirmação, que fora o principal motivo de minha
paciente evitar os homens. Conseguimos vencer essa
dificuldade.
CASO
Polly não era capaz de dizer “não” aos homens. Seu medo
à promiscuidade a levara à homossexualidade. Durante o
tempo em que cursou um faculdade, saiu com muitos
rapazes e, a cada encontro com eles, acabava “indo para a
cama”. Certo dia ouviu uns rapazes se referirem a ela como
“mulher fácil”. Isso a perturbou tanto que começou a evitar
os homens. Não queria ser uma “mulher fácil”. Sua solução
foi a seguinte: não ter homens de espécie^ alguma. Quando
estava no último ano da faculdade, tornou-se muito amiga de
outra estudante e, novamente, acabou indo para a cama.
Teve sua primeira experiência de lesbianismo por sua
própria escolha. Buscando desesperadamente encontrar
afeto e ternura, Polly isso encontrou através de um
relacionamento sexual com outra mulher.
Depois de formada, Polly mudou-se para Manhattan, fez-se
amiga de outra mulher e, em breve, tornaram-se amantes e
passaram a viver juntas. Mas Polly sentia-se infeliz.
Declarou-me o seguinte; “Eu de fato tenho amor a Sally. Mas
o que realmente quero c o amor de um homem que me ame
também.”
Estabeleci para ela um programa. Em primeiro lugar,
treinei-a nos exercícios de dizer “não” (ver o Capítulo 3). Em
meu consultório, vali-me do método dos ensaios do
comportamento, visando a situações que pudessem surgir na
vida real. Polly era bonita como um modelo profissional e não
tinha dificuldade em conhecer homens pois trabalhava como
contadora executiva numa agência de publicidade. Por isso
insisti com ela para que arranjasse um homem com quem
saísse de vez em quando, mas a instruí no sentido de
recusar-lhe até o beijo de boa-noite. Pouco a pouco Polly
conseguiu ter encontros com homens sem que neles
houvesse promiscuidade sexual. O momento mais difícil
ocorreu a partir do ponto em que a vida heterossexual de
Polly se tornou tão exigente que teria de romper com Sally. A
decisão de assim proceder foi penosa para ambas, mas Polly
sentiu o seguinte: “Eu preciso fazer isso para chegar onde
quero.” Finalmente, Polly acabou se casando e me declarou:
“Agora eu me sinto feliz, mas não estou arrependida dos
meus dias de homossexual.”
À medida que adquiriu maior domínio sobre si mesma,
através do TA, Polly tornou-se capaz de estabelecer um estilo
de vida por sua própria escolha e não imposto pela
necessidade de evitar angústia.
(4) O indivíduo terá de aprender a autoafirmar-se quanto
ao seu estilo de vida homossexual. Sua dificuldade poderá
não residir no sexo oposto, mas situar-se em problemas de
autoafirmação quanto ao seu papel de homossexual. Por um
lado, o homossexual teme revelar sua maneira de viver. E
também carrega permanentemente o fardo de viver
ocultando as coisas e sentindo-se um hipócrita. As demais
pessoas vivem dando piadas e contando anedotas sobre
homossexuais em sua presença, e empregam termos
pejorativos a esse respeito. O homossexual vive num
permanente estado de tensão.
Uma razão para essa dificuldade em matéria de
autoafirmação é a seguinte: o homossexual possui ideias
errôneas a respeito do que seja o problema de sair de seu
esconderijo. Julga que a alternativa a isso há de ser subir em
cima de um telhado e proclamar aos quatro ventos: “Eu sou
pederasta! Eu sou pederasta!” A questão não é essa. O
problema de abandonar esse esconderijo resultará, muito
mais frequentemente, de uma situação específica que
geralmente envolve algum amigo íntimo ou um parente.
Guia De Autoafirmação Para Os
Homossexuais
(a) O indivíduo deverá esperar pelo pior e tomar sua
decisão baseado nisso. Cumpre decidir cada situação de per
si. Deverá esse indivíduo contar tudo aos pais... a um colega
de trabalho... a algum amigo íntimo? Em cada caso, terá de
decidir se prefere viver às ocultas ou arriscar ser rejeitado.
Sua decisão será tomada com base nisso.
Um homem é homossexual e tem um amigo íntimo, por
exemplo, que é normal em matéria de sexo. Deverá ser
franco com ele? Deverá fazer a si próprio a seguinte
pergunta: Será melhor para mim continuar ocultando minha
situação, ou correr o risco de ser rejeitado? Por vezes essa
rejeição ocorrerá. Ou então, a natureza da amizade desse
homem com o amigo se modificará. Frequentemente, porém,
o amigo reagirá assim: “Eu sempre suspeitei disso.” Hoje em
dia, em virtude das novas condições sociais e da crescente
liberdade sexual dominante, muito poucas pessoas se
importarão que alguém seja ou não pederasta. No entanto,
sempre haverá risco para um homem confessar que é
homossexual.
Muitas vezes poderá surgir um problema especial quando
um homossexual revela aos pais sua condição, especialmente
quando o faz à sua mãe. Todavia, o impacto do movimento de
liberação dos homossexuais permite que um número cada
vez maior deles, especialmente entre os jovens, declare aos
pais qual o seu modo de viver. É frequente advir uma
intimidade maior entre as mães e os filhos, após a
perturbação inicial que elas sentem.
(b) Um homem deverá compreender que a revelação de
sua homossexualidade no trabalho poderá resultar na perda
de seu emprego. O patrão talvez não o demita de maneira
direta, mas achará alguma desculpa para assim proceder.
(c) Deverá compreender que a revelação de sua
homossexualidade no trabalho poderá não ter a menor
importância. Diante da situação, muitos patrões realmente
não lhe atribuem a menor importância. Um homossexual que
ocupava um cargo de executivo em certo escritório de
corretores muito cheio de formalismos, estava à procura de
um novo secretário. Um sócio de categoria, dessa firma, foi
inicialmente envolvido no problema do contrato desse
secretário. Entre os vários candidatos ao cargo, o executivo
escolheu um jovem ligeiramente efeminado. Depois de
conhecer o rapaz, o tal sócio declarou ao executivo o
seguinte; “Nós não podemos admitir o rapaz. Nossa política
é contrária à admissão de homossexuais na empresa.” O
executivo protestou, declarando: “Então é melhor o senhor
pensar se deseja ou não que eu continue na firma. Eu sou
homossexual.” Seguiu-se uma longa pausa, após a qual o
sócio disse, calmamente: “Bem, se você acha que o rapaz é
capaz de executar o trabalho, contrate o homem.” Nunca
mais foi pronunciada uma só palavra a respeito do assunto.
(d) O indivíduo deve saber que se sair de seu esconderijo
isso poderá ajudá-lo a enfrentar os momentos de depressão
dos dias feriados. Muitos homossexuais abandonam seus
refúgios, nas grandes cidades, durante os feriados, para
visitar os pais que moram em lugares distantes. Aí sentem
necessidade de ocultar sua situação. Sentem falta do calor
humano, do afeto e do sexo de seus amantes. Os que
conseguem revelar aos pais a própria homossexualidade,
poderão fazer-se acompanhar de seus amantes.
(e) O indivíduo não deverá revelar seu “segredo” a uma
pessoa com a qual tenha um relacionamento superficial, se a
revelação de sua homossexualidade causar mal-estar a essa
pessoa. Isso é o que acontece mais frequentemente em
situações ligadas ao trabalho. Peter Fairmont, por exemplo,
que é homossexual, trabalha num cargo de certa categoria,
no qual tem de receber compradores e executivos de outras
empresas. Peter ressente-se com isso, assim raciocinando:
“Se eu fosse casado, levaria minha mulher aos jantares a que
compareço. Por que não posso levar Phil? O princípio, nesse
caso, é o seguinte: Não fazer demonstrações de natureza
pessoal que possam levar as outras pessoas a sentirem mal-
estar. Nas relações de caráter superficial (jantares de
negócios, em companhia de pessoa»; relativamente
estranhas, certamente pertencem a essa categoria), um
homossexual ou qualquer outro individuo não deverá
deliberadamente praticar qualquer ação que possa causar
embaraço ou provocar tensão a terceiros.
(f) Depois de tomada a decisão de sair de seu esconderijo,
o problema que vem a seguir consiste em como comunicar
isso à pessoa a quem o indivíduo quiser fazê-lo. Tudo
dependerá desse indivíduo, da outra pessoa em causa, do
tipo de relacionamento que ele tiver com essa pessoa, e da
situação que existir. A melhor maneira de responder à
pergunta — “Como proceder?” é esta: discutir o problema,
ensaiá-lo com algum amigo que já saiba que o individuo é
homossexual. Em seguida, revelar o “segredo” na
oportunidade a isso apropriada.
Como lidar com humilhações em matéria de
homossexualidade?
Existe apenas uma única norma nesse particular: agir com
firmeza. Muitas pessoas pensam erroneamente que um
homossexual é uma criatura passiva, indefesa, fraca. Se, o
homossexual agir com firmeza, isso será tão diferente da
noção estereotipada, tão inesperado, que uma pessoa que o
humilhar não saberá o que dizer. O homossexual poderá
mostrar sua irritação e agredir a outra pessoa, repelindo-a
com alguma pergunta ou mostrando-se excepcionalmente
firme. Basta que se recorde da técnica fundamental de reagir
a palavras de humilhação. Nunca deverá empregar o
pronome “eu” nem “porque” na primeira frase de sua
resposta. Isso será excessivamente defensivo. Se for o caso
de um homem, por exemplo, e um amigo seu o humilhar,
perguntando-lhe: Como vai você, Mary?” Que poderá esse
homem responder a isso? Talvez se sentirá bem se dizer:
“Por que você está tão preocupado?” Está se sentindo
ameaçado?”
A maior parte das pessoas não faz comentários desse tipo,
embora muitos homossexuais receiem que o façam. Se um
homossexual tiver dificuldades em matéria de autoafirmação,
temendo ouvir palavras que o humilhem a respeito de sua
homossexualidade, deverá ensaiar algumas respostas com
algum amigo, até sentir que ao ocorrer uma situação dessas,
se tal acontecer, será capaz de portar-se a altura da mesma.
Isso diminuirá sua angústia.
Travar conhecimento com pessoas.
Um homossexual trava conhecimento com as pessoas da
mesma maneira em que o fazem indivíduos normais: em
festas, no trabalho, nas estações de férias, nos bares, nos
clubes. Não será necessário que um homossexual aceite
outro como amigo pelo simples fato de ser essa pessoa
também homossexual.
Dizer “não” a solicitações em matéria de sexo.
Um indivíduo entra num bar de homossexuais, por
exemplo, e um homem muito agressivo se aproxima de sua
mesa, começa a conversar com ele e, finalmente, lhe sugere:
“Vamos até meu apartamento.” O indivíduo não deseja fazer
isso. Sente muito maior atração por outros homens que se
encontram no bar. Mas não tem a firmeza de dizer “não”.
Racionaliza a situação, dizendo de si para si: “Não quero
magoar os sentimentos desse homem.” E vai ao apartamento
dele onde terá uma experiência insatisfatória, perdendo o
respeito a si próprio porque terá feito alguma coisa contra
sua vontade. A prática de dizer “não” com o emprego de
algumas frases- simples, como, “Eu realmente estou
gostando de conversar com você, mas não quero ir ao seu
apartamento”, ou então, “Eu sinto muito, mas estou
comprometido” (exatamente a maneira de dizer “não” dos
exercícios do Capítulo III), poderá ajudar a resolver a
passividade de um indivíduo desse tipo.
Um homossexual não deverá se esquecer de que tem o
direito de viver sua vida como quiser. Deve se colocar na
posição de exercer esse direito e agir de conformidade com o
mesmo. Mas cumpre saber que, nos dias de hoje, a sociedade
não concorda plenamente com isso.

Variantes Heterossexuais

Ao contrário da homossexualidade, que inclui muitos


comportamentos complexos, os variantes heterossexuais
(emprego este termo e não a palavra desvio porque esta
palavra possui uma conotação pejorativa) se caracterizam
porque o comportamento dos indivíduos é geralmente
restrito a uma única área, relativamente limitada, sendo raro
afetar a totalidade do seu estilo de vida. Por esse motivo, o
variante heterossexual pode apresentar poucos problemas
graves em matéria de conservar seu emprego, relacionar-se
com outras pessoas e, até mesmo, conseguir ter uma vida
familiar feliz.
Há duas exceções quanto ao que acabou de ser afirmado.
A primeira ocorre quando o comportamento do variante não
se limita a atos realizados unicamente por ele, mas também
impostos a outras pessoas. Um homem que publicamente
exibe os próprios órgãos genitais impõe seu comportamento
ao próximo. Um indivíduo que envolve crianças em suas
atividades sexuais faz uma imposição semelhante à primeira
porque uma criança não está em condições de dar seu
consentimento para isso de maneira esclarecida. Esse tipo de
comportamento variante poderá levar um indivíduo a
praticá-lo, com isso causando graves perturbações às
pessoas que o rodeiam e à lei, pois a sociedade, com inteira
justiça, age no sentido de proteger as demais pessoas, contra
os atos desse indivíduo.
Em segundo lugar, ainda que restrito a algo que se realize
em caráter privado e entre adultos que o consintam, muitas
vezes o comportamento heterossexual variante cria
problemas para quem o pratica. Com muita frequência, um
individuo que pratica um comportamento sexual variante
julga existir em sua pessoa algo de “errado”, “anormal”" ou
“monstruoso”, acreditando ser objeto do desprezo e do
ridículo se isso for descoberto.
Existe atualmente um número imenso de variantes em
matéria de comportamento sexual, quase sempre
identificados em função dos atos que são praticados.
Os fetichistas são indivíduos que sentem atração sexual
por objetos, tais como sapatos, casacos de peles,
travesseiros, ou então se excitam diante de partes não-
erógenas do corpo, como os pés. Isso constitui seu principal
interesse no campo sexual. Masturbam-se na presença de
tais objetos ou partes do corpo, ou mantêm ‘relações sexuais
com pessoas do sexo oposto, alimentando fantasias sobre os
mesmos objetos e partes do corpo durante o ato sexual.
Os travestis usam roupas do sexo oposto. Poderá tratar-se
de uma peça de roupa, ou então se vestirão dos pés à cabeça
como mulheres, usando até mesmo maquilagem, joias,
soutiens acolchoados, cintas, vestidos, sapatos de salto alto.
Muitas vezes saem à rua parecendo mulheres. Esse
comportamento não se limita aos momentos de atividades
sexual. Geralmente os hábitos dos travestis estão associados
a fantasias masoquistas, quase sempre envolvendo ser
subjugados por uma mulher dominadora. Exceto quanto a
esses comportamentos, a grande maioria dos travestis, sob
todos os demais aspectos, são inteiramente normais, ou seja,
homens heterossexuais.
Os exibicionistas põem à mostra seus órgãos genitais em
público. Quando assim procedem, geralmente tem ereção, o
que acham extremamente excitante. Poderão masturbar-se
ao mesmo tempo que assim procedem.
Os voyeurs excitam-se assistindo à prática de atos sexuais.
São indivíduos que olham pelas janelas ou espiam através de
buracos das fechaduras. Muitas vezes usam binóculos para
observar os vizinhos. Quando assim fazem, isso lhes provoca
forte estado de excitação sexual. Muitas vezes chegam ao
orgasmo. Frequentemente se masturbam diante do que
veem.
Os pedófílos assediam crianças. Poderão perseguir
meninos e meninas de tenra idade, buscando ter com eles
relações sexuais. Às vezes são homossexuais.
Os sadomasoquistas excitam-se sexualmente ao infligir ou
sentir dor física. Às vezes empregam chicotes, espancam
seus parceiros ou se utilizam de qualquer modalidade de
uma série de engenhosos aparelhos, concebidos
precisamente com essa finalidade, ou destinados a fazer com
que o parceiro sexual caminhe com um peso amarrado nos
braços, usando um apertado colete forrado de lixa, ou
qualquer outra substância similar irritante.
Isso constitui apenas alguns exemplos de uma série
aparentemente ilimitada e que poderá incluir quase tudo,
desde a bestialidade (as relações sexuais com animais.
Segundo nos ensina o folclore, as ovelhas constituem o tipo
dominante na lista de animais mais procurados para fins
sexuais, embora os porcos, os pôneis e as aves também
sejam populares entre os animais para isso preferidos. O
importante parece ser a disponibilidade' desses animais) até
a necrofilia (as relações sexuais com cadáveres). Quase tudo
que a anatomia humana é capaz de permitir já foi feito em
algum lugar e em alguma época.
Exceto quando causar prejuízos a terceiros, tais
comportamentos não são necessariamente patológicos. Em
seu livro, Sexual Stimulation, o Dr. S. G. Tuffill nos fala a
respeito da maior confiabilidade e sensibilidade que existem
entre parceiros sexuais que se utilizam do material associado
ao sadomasoquismo, como pelourinhos, correntes, grilhões e
luvas sem dedos. Também se refere esse autor a respeito do
calor humano, da intimidade que se pode desenvolver pelo
fato de duas pessoas compartilharem de um fetiche ou da
prática do travestismo. Uma mulher assim escreveu a
respeito do marido, dizendo: “Devo declarar que ele fica uma
mulher bem atraente quando usa maquilagem. E ele gosta
muito disso. Eu também o aprecio.” Is.so não significa que
comportamentos desse tipo nunca sejam de caráter
neurótico. Se um tipo único de comportamento for a maneira
exclusiva de um indivíduo obter satisfação sexual, nesse caso
ele será provavelmente neurótico, como também o será se o
comportamento em causa for de natureza compulsiva e
incontrolável.
A psicanálise invariavelmente considera patológicos esses
comportamentos. São várias as teorias psicanalíticas a
respeito do que os causa, mas quase todas giram em torno
da situação edipiana e geralmente interpretam os diversos
comportamentos sexuais variantes como maneiras de
enfrentar uma inconsciente angústia de castração.
Um fetichista, por exemplo, vê que as mulheres não têm
pênis e isso interpreta como significando haverem sido
castradas. Assim raciocinam: “Se isso acontece com uma
mulher, poderá também acontecer comigo. Eu poderei ser
castrado.” A solução para eles é a seguinte: para se
tranquilizarem de que as mulheres não foram de fato
castradas, tomam um objeto, como um sapato, por exemplo
e, em seu pensamento inconsciente, transformam esse objeto
num pênis de mulher. Seu pensamento se processa deste
modo: “Se as mulheres têm pênis, não foram castradas e,
nesse caso, eu não preciso me preocupar em ser castrado.” E
ao mesmo tempo, desde que o objeto em questão simboliza
os órgãos genitais de uma mulher, eles o acham sexualmente
excitante.
Se as complicadas teorias psicanalíticas concebidas para
explicar o fetichismo são certas ou erradas, o fato é que o
tratamento analítico dos comportamentos variantes
geralmente fracassa. J. R. Ewalt e D. L. Farnsworth, em seu
Textbook of Psychiattry recomendam a psicanálise nesses
casos, mas declaram que o tratamento analítico “será longo,
difícil e, muitas vezes, não obterá êxito”. O exame de toda a
literatura psicanalítica encontrou apenas três relatórios de
tratamento do fetichismo coroado de êxito.
A técnica da terapia do comportamento tem sido
notavelmente bem-sucedida no tratamento das variantes
sexuais. Os terapeutas do comportamento mostram-se pouco
interessados em elaborar teorias sobre a gênese e a
manutenção dos comportamentos heterossexuais variantes.
Em vez disso, ao tratá-los os terapeutas assumem a posição
(como no caso da homossexualidade) que qualquer ato
praticado entre adultos e com seu mútuo consentimento é
aceitável. O voyeurismo, a pedofilia e o exibicionismo criam
problemas de ordem especial porque não envolvem adultos
que consintam nessas formas de comportamento.
Nossa preocupação consiste em colocar o comportamento
variante sob o controle do indivíduo que o pratica, de sorte
que possa executar ou não seus atos sexuais por sua livre
escolha. Abordados em termos de autocontrole, muitos
desses comportamentos poderão ser rapidamente
submetidos ao controle de quem os pratica, desde que a
pessoa encontre motivação para assim proceder. Em minha
experiência, quase todos os pacientes de que tratei, exibindo
comportamentos heterossexuais variantes de caráter
compulsiva desejam modificá-los, com exceção dos travestis.
Para estabelecer o autocontrole de seu comportamento
variante, o indivíduo deverá certificar-se de que existe para
ele outra válvula sexual além desse comportamento. Se se
tratar de um fetichista que não tenha relações sexuais com
mulheres e que se excite sexualmente masturbando-se diante
de sapatos, deverá ele, antes de procurar pôr um fim ao seu
fetichismo, estabelecer relações sociais e, se possível,
sexuais, com pessoas do sexo feminino. Se esse indivíduo já
contar, em seu repertório, este último comportamento
sexual, o mesmo já existe e, portanto, não terá de esforçar-se
por obtê-lo. Qualquer que seja seu comportamento variante,
deverá firmar o comportamento que deseja conseguir,
fazendo-o em outras áreas e, desse modo, dispor de
liberdade para fazer uma escolha.
Poderá empregar três possíveis métodos com vistas a
controlar seu comportamento variante:
(1) Utilizar a técnica da parada do pensamento. Traía-se
de um método que descrevi no Capítulo IV e que mencionei
anteriormente no presente capítulo. Verifiquei ser
extremamente eficiente no treinamento das pessoas que
desejam adquirir o domínio de seu comportamento variante.
Para que seja empregado de maneira satisfatória, o paciente
terá de possuir autodisciplina e ser animado do firme
propósito de modificar seu comportamento, Quando esse
método é bem-sucedido, o paciente geralmente poderá
conseguir o controle de seu comportamento variante apenas
com cinco sessões de tratamento, ou ainda menos, embora o
acompanhamento que faço de casos dessa natureza revele
que esse comportamento é suscetível de reocorrer. Mesmo
assim, o paciente disporá de um método que empregará por
sua própria iniciativa.
Q estudo da cadeia do comportamento dos pacientes
desse tipo revela que habitualmente existe um ponto no qual
um forte. impulso, uma fantasia ou um ato desencadeia o
comportamento variante. Nesse ponto é que se deverá
intervir. Cada vez que o paciente se tornar consciente de que
se apresenta esse comportamento específico, ele o
interromperá, dizendo de si para si, com firmeza, “Pare!” e,
em seguida, “Calma!”, e relaxará momentaneamente os
músculos.
Haverá ocasiões em que um paciente terá de dizer “Pare!”
literalmente centenas de vezes durante os primeiros dias em
que empregar a técnica de fazer parar o pensamento.
Tratei de um exibicionista de trinta anos de idade que
exibiu os próprios órgãos genitais pela última vez há dez
anos. Entretanto. vivia permanentemente sentindo forte
impulso de assim proceder e ficava aterrorizado ao pensar
que pudesse fazê-lo e enfrentar, por causa disso, a ruína de
seu casamento e uma possível prisão. Durante os primeiros
dias de seu tratamento, teve que dizer “Pare!” quatrocentas
vezes num só dia. Ao fim da primeira semana de tratamento,
esse número se reduziu a vinte, e, ao encerrar-se a semana
subsequente, baixara a zero. Transcorrido um mês,
defrontou-se com uma situação que o deixou estressado e
aquele forte impulso tornou a surgir. Todavia, com o
emprego da técnica de fazer parar o pensamento conseguiu
controlar seu impulso em vinte e quatro horas. Há dois anos
que não sente o menor impulso de praticar o exibicionismo.
Em muitos casos, as fantasias desencadeiam os
comportamentos variantes. Um travesti, por exemplo, fica
em casa, assistindo à televisão. Começa a pensar em vestir-
se de mulher e a fantasiar o que é submisso a uma mulher. A
fantasia se desenvolve e, dentro de pouco tempo, ele se
dirige à mala fechada à chave onde guarda suas roupas
femininas: veste umas calcinhas de náilon, enfia uma
combinação e um bonito vestido, tudo isso completado por
um casaco de peles. E sai pelas ruas, assemelhando-se à
ideia que ele próprio faz de um modelo da revista Vogue. A
maioria das pessoas não tem a menor dificuldade em
identificar a fantasia que lhes deflagra a reação sexual
variante. Eu declaro ao paciente que apresenta um
comportamento sexual variante que imediatamente, e todas
as vezes em que tomar consciência de estar dominado por
essa fantasia, terá ele de dizer “Pare!” e relaxar os músculos.
Rompendo a essa altura a cadeia de seu comportamento, na
maioria das vezes ele sem demora controlará a natureza
compulsiva de seu comportamento variante.
Há indivíduos, porém, que não têm fantasias. Veem-se
diante da situação ou do objeto que os excita, e sua primeira
tomada de consciência é o sentimento de que estão
excitados. Um travesti, por exemplo, poderá estar
caminhando por uma rua, ver uma loja de lingerie e,
subitamente, descobrir que está fortemente excitado ao
olhar para as vitrinas dessa loja. Nesse caso, terá de dizer
“Pare!” ao primeiro sinal de que está excitado, antes de
correr para casa no propósito de vestir-se de mulher. O
importante é que diga “Pare!” no momento certo. Esse
momento terá de ser escolhido cuidadosamente. Será ele, de
modo geral, situado no inicio de uma fantasia, mas poderá
também constituir uma reação que seja impulsionada por
algum estímulo.
CASO
Quando Roger Kane, de vinte e cinco anos de idade,
recém- casado, embora, não fosse feliz, veio me procurar,
declarou de maneira sucinta que seu problema era o
seguinte: “Tenho um fetiche em matéria de ventres.” Sempre
que Roger via a curva de um ventre, no corpo de um homem,
uma mulher ou uma criança, sentia-se fortemente excitado
sexualmente. Esse fetiche era particularmente pernicioso no
caso de Roger porque havia precisamente terminado seu
estágio de residência como médico. Dedicando grande parte
de seu tempo à sala de emergência de um hospital e também
fazendo exames médicos de rotina, passa a maior parte de
seus dias e noites em estado de permanente excitação por
causa de ventres. Isso interferia no seu casamento porque
Roger interpretava essa reação pondo em dúvida a própria
masculinidade. E interferia igualmente na sua formação
médica. Ele me perguntou o seguinte: “Como poderá um
médico comportar-se de maneira adequada em sua profissão
quando vive dominado por um permanente estado de
excitação sexual?”
Ensinei a Roger a técnica de fazer parar o pensamento.
Cada vez que se sentisse excitado ao ver um ventre, deveria
firmemente ordenar a si mesmo, “Pare!” e, deliberadamente,
relaxar os músculos. Houve, aparentemente, algo de errado
em minhas instruções, porque na sessão seguinte Roger
declarou não haver obtido o menor progresso. O fato é que
se utilizara da técnica de fazer parar o pensamento no
momento inoportuno. Cada vez que reparava estar olhando
para um ventre, dizia de si para si, “Pare!” e voltava os olhos
para outra direção, desviando-se desse ventre. Isso lhe havia
causado duas dificuldades: estava treinando a não olhar para
ventres, o que representava uma impossibilidade no seu
caso, o de um médico. E também isso não dava à sensação de
excitação sexual uma oportunidade para extinguir-se. A ideia
seria olhar para ventres e não sentir-se sexualmente
excitado, ou eliminar a sensação excitante antes que pudesse
ser reforçada.
Recomendei a Roger o seguinte: “Não diga Tare!’ quando
vir um ventre. Aguarde até sentir que está sexualmente
excitado. Trata-se de fazer parar a excitação e não de deixar
de olhar para ventres.” Transcorridas duas semanas, Roger
conseguiu controlar seu, fetiche.
(2) Sensibilização dissimulada. Apresentei as linhas gerais
desse método no qual o paciente associa o ato indesejado
com alguma coisa, apelando para sua imaginação. Fi-lo no
Capítulo VII. Essa técnica é importante quando se trata de
obter o controle dos comportamentos variantes.
Quando um travesti veste roupas femininas ou um
exibicionista expõe em público suas partes íntimas, sente-se
sexualmente excitado. Essa forte reação sexual mantém e
reforça seu comportamento variante. Ele não consegue
afastar essas sensações, mas será capaz de dominá-las.
A finalidade da sensibilização dissimulada consiste em
introduzir na situação em causa um conjunto de sensações
tão desagradáveis que levam à modificação do ato,
transformando-o de ato prazeroso em ato de punição. Com
apelo à imaginação durante as sessões terapêuticas,
treinamos os pacientes a associar algo de repugnante (como
o fato de seu corpo estar sendo percorrido por aranhas) com
o ato indesejado. Ê necessário repetir centenas de vezes
essas associações desagradáveis para que uma sensação de
desprazer passe a recobrir e torne ineficaz uma agradável
reação sexual, eliminando o comportamento variante. O
cliente terá de revestir-se de paciência, empregar
continuamente a técnica de apelo à imaginação e ajudar essa
técnica através da prática do comportamento sexual que
deseja realizar.
(3) A terapia da aversão. Ao passo que a sensibilização
dissimulada se enquadra na categoria da terapêutica da
aversão, a maior parte das pessoas julga que a aversão
envolve alguma forma de punição física. O indivíduo pune
reiteradamente seu comportamento indesejado até que o
mesmo se tome tão inextricavelmente vinculado na mente
desse indivíduo com a punição, que ele passará a evitar esse
comportamento. O método mais comumente empregado
atualmente é o farádico, no qual o terapeuta aplica um
choque doloroso em alguma parte do corpo do paciente,
sendo esse choque associado ao seu comportamento
indesejado. A técnica pode ser utilizada quando o paciente
estiver praticando esse comportamento (por exemplo, será
aplicada uma série de choques a um travesti no momento em
que ele estiver vestindo roupas femininas, quando estiver
cultivando fantasias a respeito desse ato, ou ainda, em
conjunção com fotografias de caráter excitante, capazes de
desencadear o comportamento em causa).
O condicionamento com o emprego da aversão tem sido
também usado para reorientar homossexuais que desejam
tornar-se heterossexuais. Em determinado tipo de terapia, o
homossexual do sexo masculino é ligado a um aparelho de
aplicação de choques, sendo-lhe mostrados diapositivos de
homens nus que se alternam com diapositivos de mulheres,
também despidas. Quando são exibidos os diapositivos com
figuras de homens, o paciente recebe um choque até
comprimir um botão que fará surgir um diapositivo contendo
uma figura de mulher. Isso o livrará do choque. Se o paciente
trocar os diapositivos de maneira suficientemente rápida
poderá até mesmo evitar esses choques.
Embora os pesquisadores asseverem que geralmente
obtêm bons resultados com a terapia da aversão, trata-se de
um método que se situa entre o:> mais dramatizados e
superestimados pelos técnicos em terapia do
comportamento. Eu isso afirmo não só pelo aspecto que se
assemelha aos métodos do “Grande Irmão” em matéria do
controle do pensamento, que caracterizam essa técnica,
como também porque, na realidade, seu emprego é
extremamente restrito.
A técnica da punição é de natureza precária no campo da
modificação do comportamento. A técnica baseada nas
recompensas é muito mais eficiente.
A terapia da aversão tende a reprimir um comportamento,
o qual é suscetível a recorrer a menos que outro tipo de
tratamento seja administrado como reforço à terapia dos
choques.
Os teóricos começaram recentemente a discutir se o
aspecto de aversão contido no tratamento é o fator que
provoca a transformação da homossexualidade em
heterossexualidade, ou se isso resulta de algum outro
elemento contido nesse tratamento.
A maior parte dos terapeutas sente-se constrangida em
aplicar essa técnica, não apreciando a ideia de causar uma
dor física aos seus pacientes.
O emprego da terapia da aversão é realmente limitado a
condições nas quais o terapeuta tem necessidade de obter
uma rápida modificação do comportamento de um paciente a
fim de ser evitada alguma consequência realmente grave,
como, por exemplo, quando se trata de um exibicionista ou
pedófilo, ou no .caso de o próprio comportamento variante
impossibilitar a aquisição de outro comportamento
alternativo. Um indivíduo poderá, por exemplo, estar a tal
ponto compulsivamente levado a masturbar-se diante de
sapatos, que isso poderá impedir o desenvolvimento da
forma alternativa de satisfação que prefere ter.
Na terapia da aversão e no tratamento dos desvios sexuais
em geral, estabeleço como meta do tratamento a eliminação
do comportamento variante. Busco afastar seu caráter
compulsivo de sorte que seja controlado pelo paciente e que
ele disponha de liberdade para agir como lhe aprouver.
Verifique! igualmente que, de posse da técnica de fazer parar
o pensamento, do Treinamento da Autoafirmação e do
desenvolvimento e criação de formas alternativas de
comportamento, não há necessidade de ser aplicada a
terapia da aversão. Na Unidade de Terapia do
Comportamento que fundei na Clínica Psiquiátrica Payne
Whitney, do Hospital de Nova York, estabelecemos a diretriz
de não empregar a técnica da aversão no tratamento dos
pacientes.

O Transexual

Qualquer modificação de um comportamento acarreta


modificações dramáticas em outros aspectos da
personalidade. Se um travesti deixa de usar
compulsivamente trajes femininos, experimentará muitas
outras modificações positivas em sua personalidade.
Eliminada essa compulsão, isso lhe diminuirá a angústia, lhe
permitirá agir com maior liberdade na expressão de
sentimentos e lhe dará maior autoestima. Se um
homossexual deixar seu esconderijo e revelar publicamente
seu estilo de vida, poderá sentir-se aliviado de um tremendo
fardo e, desse modo, estabelecerá uma vida social melhor,
desempenhará mais a contento suas obrigações no trabalho
e na esfera de suas relações íntimas.
Para o efeito de produzir uma necessária modificação no
comportamento de um indivíduo, toma-se imprescindível
considerar vários comportamentos seus e tratá-los cada um
de per si. Essas sucessivas modificações de comportamento
poderão resultar numa completa mudança do estilo de vida
de uma pessoa.
Um transexual difere de um homossexual. Um
homossexual do sexo masculino sabe que é um homem, e sua
opção em matéria de sexo consiste em buscar contato com
outro homem.
Uma mulher que for homossexual também sabe que é
mulher. Alguns homossexuais poderão, em maior ou menor
grau, identificar-se com membros do sexo oposto. Todavia, os
transexuais (seu número é estimado em dez mil, nos Estados
Unidos) levam essa identificação ao extremo. Nascidos com a
anatomia de determinado sexo, padecem por causa de sua
total identificação com o sexo oposto, durante toda sua
existência. O transexual do sexo masculino acredita que é
uma mulher encerrada num corpo de homem. E a mulher
transexual julga ser um homem aprisionado no corpo de uma
mulher.
Até bem pouco tempo, a cirurgia sexual consistia na única
solução possível no caso dessas pessoas sofredoras e mesmo
desesperadas. Os transexuais têm se mostrado incapazes de
reagir aos métodos tradicionais de tratamento, o que levou
os teóricos a começar a especular se essa condição
infortunada acaso não seria determinada por algum fator
existente na estrutura do cérebro.
Com o emprego dos métodos da terapia do
comportamento, entretanto, têm ocorrido casos de
modificação da identidade dos transexuais. Um desses casos
foi tratado por uma equipe de médicos chefiadas pelo Dr.
David H. Barlow, do Departamento de Psiquiatria do Centro
Médico da Universidade do Mississippi.
CASO
O paciente, um rapaz de dezessete anos de idade, era o
terceiro filho de um casal, e o caçula de seus seis filhos,
todos do sexo masculino. Tanto quanto conseguia recordar-
se, o paciente se julgava uma menina (a filha que sua mãe
havia querido ter). Aos seis anos de idade, passou a usar
roupas femininas. Começou também a interessar-se pela
culinária e por trabalhos de agulha e bordados. Seu irmão
mais velho caçoava dele porque o menino não apreciava a
prática de atividades “masculinas”, como as caçadas, por
exemplo. O paciente lembrava-se de ter sentido forte atração
por um amigo, colega do primeiro ano da escola que
frequentava. Em suas fantasias sexuais, que começaram a se
desenvolver quando contava doze anos, imaginava ser uma
mulher e tinha relações sexuais com um homem. Na escola
secundária, seus companheiros de classe o ridicularizavam
por causa de seu comportamento extremamente efeminado.
Certa vez tentou o suicídio. Quando começou a tratar-se,
estava frequentando uma escola de secretariado, na qual era
o único rapaz de sua turma. Então, manifestou o desejo de
mudar de sexo.
Como era muito jovem, não seria possível submeter-se à
cirurgia sexual. Concordou em iniciar um programa de
tratamento que teria por finalidade modificar sua
identificação sexual, sob o fundamento de que esse
tratamento poderia fazê-lo sentir-se mais satisfeito consigo
mesmo. Mais tarde seria realizada a cirurgia sexual.
O programa de tratamento obedeceu à seguinte
orientação.
Primeira Etapa: O terapeuta empregou a técnica de
fazer gradativamente desaparecer as emoções (fading) e os
choques elétricos, procurando aumentar o desejo
heterossexual do paciente e reduzir suas respostas em face
de fantasias transexuais e estímulos masculinos. Essas duas
técnicas não deram resultado
Segunda Etapa: Os terapeutas decidiram modificar o
comportamento motor do paciente — seu comportamento
efeminado: maneira de sentar-se, de ficar de pé, de andar,
transformando-os em comportamentos masculinos. Através
da técnica de modelagem da imagem do paciente, gravada
em videotape, ele aprendeu a sentar-se como homem, com
um dos tornozelos apoiado no joelho da outra perna, em vez
de fazê-lo como mulher, que geralmente se senta mantendo
juntas as pernas cruzadas, com um dos joelhos sobre o outro.
Esse método deu resultado, e o paciente informou que em
virtude de seu novo comportamento as pessoas não o
encaravam mais nem o ridicularizavam.
Terceira Etapa: O paciente aprendeu como portar-se em
sociedade. Ensaiou várias cenas com os terapeutas, a
exemplo de como conversar com os colegas de estudo
durante os intervalos das aulas, como discutir a respeito de
futebol com rapazes, em reuniões só para homens, como
convidar uma jovem para sair com ele a ir ao cinema em sua
companhia, e como ter encontros com essa jovem. Os
terapeutas modelavam o comportamento correto até que o
paciente conseguia executá-lo de maneira apropriada.
Quarta Etapa: Os terapeutas reeducaram o timbre agudo
da voz do paciente e suas inflexões femininas. Pouco depois
de concluída essa fase, o paciente parecia um rapaz e agia
como tal, mas ainda se sentia como se fosse uma moça,
alimentava fantasias de ser uma jovem, na esfera social e
sexual e ainda persistia em mudar de sexo.
Quinta Etapa: Em suas fantasias mais intensas e mais
frequentes, o paciente imaginava ter um corpo de mulher e
manter relações sexuais com um homem. Os terapeutas
Iniciaram uma tentativa com vistas a desenvolver no
paciente uma fantasia que competisse com a primeira, e na
qual ele teria relações sexuais com uma mulher. Nesse
procedimento, o paciente escolheu quatro fotografias de um
modelo da revista Playboy, que lhe pareceram menos
“repugnantes”, e os terapeutas lhe solicitaram que
fantasiasse estar tendo relações sexuais com essa mulher
das fotografias. Se fosse capaz de sustentar sua fantasia
durante um período de tempo especificado, uma segunda
foto, que o paciente havia anteriormente escolhido como lhe
sendo muito agradável (nesse ca.so, tratava-se de uma
fotografia de alimentos e de animais), era-lhe mostrada. Isso
indicaria que sua tentativa havia sido cumprida com êxito, e
os terapeutas cumulavam o paciente de elogios. Finalmente,
os terapeutas lhe solicitaram que fantasiasse estar tendo
relações sexuais com jovens que conhecia. Concluída essa
fase do tratamento, o paciente já se comportava como
homem e tinha sentimentos e ideias de homem. Mas, não
obstante suas fantasias em relação a mulheres, elas lhe
despertavam débil desejo sexual. Em outras palavras,
poderia ser então descrito como homossexual.
Sexta Etapa: Em seguida, os terapeutas procuraram
desenvolver no paciente desejos heterossexuais, empregando
a técnica dos diapositivos, a dos choques elétricos e a da
sensibilização dissimulada. Aumentaram no paciente seu
desejo sexual por mulheres.
Ao cabo de um ano, o paciente informou que se sentia à
vontade e descontraído na maior parte das situações sociais
e que gostaria de ter encontros com mulheres e manter com
elas relações sexuais. Cinco meses depois, informou haver
tido um orgasmo e uma ejaculação pela primeira vez em sua
vida, ao fantasiar que estava praticando o coito com uma
jovem enquanto se masturbava. Nove meses após. haver o
tratamento sido concluído, o paciente não mais confundia
sua identidade em matéria de sexo, ia bem na escola e
começara a ter encontros com moças. Transcorrido um ano,
tinha arranjado uma namorada firme. A cirurgia sexual
estava afastada de suas cogitações, o tratamento do
comportamento variante nem sempre se encerra com tanto
sucesso. Por vezes uma situação social é capaz de deitar por
terra todo o trabalho do terapeuta.
Eu próprio tratei de Sal de Falcone, por exemplo, um
homem casado, de trinta e oito anos de idade, pai de três
filhos. Ele apresentava problemas como ser “paquerador”,
mostrar-se hipócrita, ter medo de pessoas que ocupassem
posições de autoridade, e ser um voyeur. Sal esforçou-se
muito durante seu tratamento e fez tantos progressos que se
decidiu a manter uma conversa franca com a mulher a
respeito do que havia ocorrido nesse tratamento, referindo-
se também a suas futuras esperanças. Assim fez, mas
durante essa conversa franca ficou sabendo que a mulher
havia tido casos fora do casamento, por vários anos e de
maneira muito mais desenvolta do que ele próprio. A
promiscuidade a que se entregara a fizera objeto de falatório
da vizinhança, tendo ele sido motivo de risota de toda gente.
Sal seria, talvez, a única pessoa que havia ignorado tudo
isso.
No dia seguinte de sua conversa com a mulher. Sal me
telefonou, dizendo-me: “Eu não preciso mais do senhor.
Preciso de um padre!”
Capítulo 12.
A Autoafirmação No Trabalho

Você se levanta todas as manhãs das segundas-feiras


sentindo que não consegue tolerar a ideia de ir para o
trabalho?
Vive permanentemente com um medo pânico de perder o
emprego?
Executa tarefas que deveriam ser feitas por subordinados?
Embora o rendimento de seu trabalho e seu desempenho
no mesmo sejam classificados como de alto nível, você está
sempre sendo preterido em matéria de promoções e
aumentos de ordenado?
Você teme o sucesso?
Qualquer que seja seu status econômico, empregado
subalterno, indivíduo cujos rendimentos se situam na faixa
de nível médio, ou pessoa que ocupa o topo da escala de
rendimentos, se der uma resposta afirmativa a qualquer das
perguntas acima, estará se revelando um indivíduo
deficiente era matéria de autoafirmação num importante
setor da vida; seu trabalho. Essa falta de autoafirmação
afetará não só o vulto do cheque que leva para casa no fim
de cada mês, mas também a maneira como se sente em
relação a si próprio.
Entre todas as provas que demonstram a capacidade de
um indivíduo e o faz ser afirmativo, o modo como se
comporta em relação ao amor e ao trabalho constitui a mais
expressiva de todas.
Para que uma pessoa possa ser afirmativa nessas duas
áreas, deverá possuir uma orientação ativa e também
estabelecer metas que promovam sua autoestima. Todavia,
se no íntimo relacionamento da esfera amorosa a meta há de
ser a franqueza, a comunicação, o compartilhar com uma
outra pessoa de todas as suas emoções, vindo em primeiro
lugar os sentimentos do indivíduo, no trabalho, entretanto,
toda a ênfase em matéria de autoafirmação será o oposto a
isso. Agir vem em primeiro lugar e sentir fica em segundo
plano. A meta de uma pessoa, no trabalho, consiste em
realizar-se. E por esse motivo o relacionamento com as
demais pessoas, no trabalho tende a ser superficial e não
possui caráter íntimo. O tom dos sentimentos que um
indivíduo exprime no trabalho pertencerá mais à esfera de
ser adequada e não à franca.
Ao buscar atingir suas metas no trabalho, um indivíduo
conserva sua qualidade de indivíduo, que se relaciona com os
outros indivíduos, mas permanece um ser à parte. O próprio
trabalho torna-se uma extensão da pessoa, revelando alguma
coisa dessa pessoa, sua rapidez na execução de tarefas e a
maneira com que enfrenta os problemas afetos ao seu cargo.
Quanto mais afirmativo for um indivíduo, maior soma de
satisfação obterá no trabalho. Quando a estrutura desse
trabalho ou os bloqueios da pessoa isso impedirem, advirá
para ela a insatisfação, os ressentimentos e sua alienação
diante do trabalho.
(1) Cumpre ser adotada uma orientação ativa. A pessoa
terá de refletir a respeito de suas metas no trabalho,
ponderar que passos deverá dar com vistas a alcançá-las e
como, assim procedendo, lhe será possível empregar seus
talentos da maneira mais ampla possível.
(2) É necessária a posse da capacidade para realizar o
trabalho. As interferências e os bloqueios por vezes ocorrem
no trabalho porque o indivíduo não dominou as habilidades
de que necessita para seu tipo particular de atividade. Além
disso, poderá ter ele problemas de autodomínio. Talvez se
ressinta de maus hábitos de trabalho, não possua disciplina e
não tenha capacidade de concentrar-se.
(3) É imprescindível que as angústias e os temores sejam
controlados. As reações emocionais inapropriadas interferem
com o desempenho do trabalho. As tensões em geral podem
causar a fadiga, a irritabilidade e maus critérios do
julgamento. O medo a uma situação específica no trabalho é
suscetível de fazer com que uma tarefa, indispensável à
execução de seu trabalho, seja evitada pelo indivíduo e
impedirá que ele atinja sua meta nesse setor.
(4) É preciso haver um bom relacionamento com os
colegas de trabalho. Lillian Roberts, ilustre consultora em
assuntos de pessoal, certa vez afirmou o seguinte: “A maioria
dos indivíduos é despedida porque não consegue viver bem
com o próximo.” A pessoa deverá ser capaz de relacionar-se
com seus pares, seus subordinados e seus superiores; será
necessário que saiba fazer pedidos e solicitar favores e
também dizer “não" quando isso se tornar indispensável Há
de saber, igualmente, lidar com palavras que pretendam
depreciá-la.
(5) Deve ser aprendida a arte de agir diplomaticamente
dentro do sistema. Isso exige o conhecimento da comunidade
em que um indivíduo trabalha, bem como deverá ele possuir
as habilidades específicas que lhe permitam trabalhar dentro
dessa comunidade^ através dessa comunidade ou em
oposição a ela, com vistas a atingir suas metas pessoais.

Os Tipos Que Carecem De Autoafirmação No


Trabalho. Desde Os Que Ficam Sempre No
Mesmo Lugar Até Aqueles Que São
Explorados

Existem inúmeras personalidades dentro da organização


de um escritório, indivíduos sentados lado a lado em suas
mesas de trabalho. Uns são cheios de vivacidade, outros são
quietos, ao passo que outros, ainda, são eficientes ou
ineficientes, preguiçosos ou muito trabalhadores. Um grupo
de pessoas possui um traço em comum, ou seja, a falta de
autoafirmação. Os indivíduos que não possuem
autoafirmação se dividem, a meu ver, em seis categorias
básicas.
(1) Os que ficam sempre quietos em seu lugar. Tais
indivíduos são trabalhadores, estimados e respeitados por
todos, mas nada alcançam em matéria de trabalho. Não
obtêm promoções, recebem poucos aumentos de ordenado,
são incumbidos de executar cada vez maior soma de
trabalhos, mas não lhes é atribuída qualquer nova
responsabilidade. Ficam sempre plantados no mesmo lugar.
Aspiram a subir ou, pelo menos, deslocar-se para os lados.
Ficam aguardando que alguém faça com que isso aconteça.
Às vezes dão expressão aos seus desejos, mas o fazem de
maneira tão tímida que a mensagem que transmitem não
alcança pessoa alguma ou é facilmente posta de lado.
Frequentemente permanecem nessa situação estática
porque são afirmativas no que interessa à empresa em que
trabalham, mas não o são para com eles mesmos. Não
refletiram a respeito de suas metas em matéria de trabalho,
tampouco acerca do passo imediato que deveriam dar.
(2) Os que permanecem à retaguarda. Executam excelente
trabalho, mas não sabem que isso acontece. Outras pessoas
se valem do mérito de seus atos. Ficam sempre na condição
de subalternos, jamais chegam a ser chefes. Seu problema é
o seguinte: possuem potencialidades e ambições para se
tornarem chefes, mas, pelo fato de serem tão carentes de
autoafirmação, nunca aprenderam como chamar a atenção
dos outros para aquilo que realizam. Seus chefes e colegas
de trabalho surripiam suas ideias. E eles permitem que assim
procedam e ficam ressentidos por causa disso.
(3) Os piores inimigos. São os indivíduos que substituem a
autoafirmação pela agressividade. Trabalham bem, mas
perturbam todo o pessoal do escritório; criam confusões,
discordam de todos de maneira hostil e desagradável. As
outras pessoas não apreciam suas maneiras a tal ponto que
nem prestam atenção ao que dizem, embora suas ideias
sejam excelentes.
(4) Os que "sempre permanecem na condição de damas de
honra. Como não se mobilizaram para trabalhar de maneira
adequada, não realizam suas potencialidades. Apresentam o
problema de falta de autodomínio do próprio
comportamento. É possível que adiem a execução de suas
tarefas ou as concluam com atraso. Possivelmente ficam
sonhando acordados o dia inteiro. Quando, afinal, metem
mãos à obra, o trabalho que realizam é de primeira ordem.
Todavia, seus maus hábitos de trabalho impedem que
obtenham promoções. As outras pessoas têm consciência de
seu valor e ficam a indagar por que tais indivíduos não se
realizam. A princípio, seus superiores ficam desapontados
com eles, mas, com o passar do tempo, não esperam mais de
sua parte um desempenho máximo e, muitas vezes, irritam-
se porque sua falta de disciplina lhes cria problemas. Os
indivíduos desse tipo receiam ser despedidos e, muitas
vezes, isso acontece.
(5) Os que vivem se queixando. O problema de tais
indivíduos é sua passividade. Vivem permanentemente
atormentados com as exigências que o trabalho lhes impõe,
com o ambiente do escritório, com a maneira com que as
outras pessoas lhes falam ou agem em relação a eles.
Todavia, como nunca cogitam do que poderiam fazer diante
de tais situações, sentem o seguinte: “Eles deveriam fazer
alguma coisa.” Mas não discutem a situação, nem
apresentam sugestões às pessoas certas. Em vez disso,
mostram-se aborrecidos e ficam a resmungar em locais onde
seus murmúrios não poderão resultar em qualquer mudança
de situação.
(6) Os explorados. Sorriem amavelmente e dizem “sim” a
tudo que lhes é solicitado. Não só vivem sobrecarregados de
trabalho como também, com frequência, abdicam de seu
próprio tempo e raramente ouvem um “muito obrigado”. Não
aprenderam a dizer “não” a pedidos desarrazoados, nem
mesmo a declarar: “Olhe. É impossível para mim executar
todo esse trabalho hoje. Que devemos fazer a esse respeito?”
Os resultados de uma atitude dessa natureza são crises de
pranto ou de cólera, no escritório, muitas vezes estados de
depressão ou de irritabilidade em casa e, finalmente, uma
compulsiva troca de empregos.
A maioria das pessoas têm consciência da importância
econômica de seus empregos. Sabem que a maneira de
ganhar o pão de cada dia determina onde e como vivem, que
escolas seus filhos frequentam, que roupas compram, que
renda lhes permite adquirir um apartamento em condomínio,
quando chegar o dia de sua aposentadoria.
No entanto, essa consciência não as leva a dar um único
passo à frente. Não refletem sobre o papel que exerce seu
emprego em suas vidas, nem avaliam o que dar a esse
emprego ou dele obter. Em consequência disso, não
conseguem aquilo que realmente desejam e sentem-se
insatisfeitos com o que lhes chega às mãos.
Um emprego, dependendo de fatores como o
temperamento de um indivíduo, sua idade, suas atitudes
aprendidas em relação ao trabalho, como também das
oportunidades de trabalho existentes, das metas que o
indivíduo estabelecer para sua vida em geral, significa coisas
diferentes conforme as pessoas. A decisão acerca do tipo de
trabalho que uma pessoa deseja obter e conservar, e o modo
como quer comportar-se e desempenhar suas atividades
nesse trabalho são coisas que somente cada indivíduo poderá
decidir. Quando deixa de tomar essa decisão, tal atitude
conduz a consequências infortunadas como a frustração, o
tédio, a infelicidade. Tendo em vista que o trabalho constitui
importante aspecto da vida de uma pessoa, tais
consequências poderão afetar todos os aspectos de sua
existência.
Qualquer decisão que uma pessoa tome sobre a
importância do trabalho em sua vida, quer tenha um
emprego na linha de montagem de uma fábrica de
automóveis, seja intermediário de uma firma de porte médio,
ou tenha uma renda superior a cem mil dólares anuais como
chefe de uma indústria, a auto- afirmação possui importância
vital em qualquer modalidade de trabalho. Vem a seguir um
guia que consiste em sete pontos e se propõe a ajudar as
pessoas a adquirirem essa autoafirmação.

1. O Treinamento Da Autoafirmação No
Trabalho

A pessoa deverá refletir sobre sua meta no trabalho.


Quando eu comecei a sair com a mulher que iria tornar-se
minha esposa, logo observei que ela possuía um grande
senso de responsabilidade para realizar importantes projetos
em seu trabalho, além de uma reputação fora do comum em
seu campo profissional. No entanto, ganhava o ordenado de
secretária executiva de uma empresa de porte médio. Não
consegui entender a discrepância que havia entre a
capacidade de Jean, seu desempenho no trabalho e a falta de
reconhecimento de tudo isso em termos de status e
remuneração.
Quando a conheci melhor, fiquei sabendo qual a razão
disso. Jean era muito afirmativa no trabalho. Em matéria de
planejamento, ela tinha duas metas: (a) fazer o que fosse “o
melhor possível” para a revista onde exercia seu cargo de
executiva; (b) fazer com que o chefe a apreciasse muito.
Quanto a ela própria, era pouco afirmativa, nunca levando
em conta suas necessidades pessoais e jamais indagando a si
mesma: “Onde quero chegar em minha vida?”... “O que eu
pretendo obter com este emprego?” O resultado de tudo isso
foi o seguinte: permanecia plantada no mesmo lugar e ficou
no mesmo emprego durante anos, jamais recebendo a
remuneração ou obtendo as promoções que julgava merecer
de pleno direito. Finalmente, quando começou a pensar em
termos de finanças e de prestígio para si própria, assim
procedeu fora de seu emprego. Pôs-se a escrever livros, que
lhe exigiram grande dispêndio de tempo e energia, mas
continuou em seu exigente posto na revista Seventeen. Suas
metas, nessa revista, haviam-se tornado um hábito. Não era
capaz de abandonar sua posição estática.
O caso de Jean é bastante típico. Muitas pessoas carecem
de autoafirmação porque não formularam suas metas.
Existem muitas possíveis metas e submetas.

Metas Baseadas Na Realidade


(1) Um emprego é simplesmente o lugar onde uma pessoa
ganha seu sustento. Ela tolera as tarefas que executa das 9
horas da manhã às 5 da tarde para que possa receber um
pagamento no fim do mês a fim de saldar suas contas.
Trabalha durante horas extras para receber uma
remuneração extra, mas quer se reservar o direito de optar
por esse trabalho extra ou não, em qualquer ocasião
específica. Se gosta de seu trabalho, poderá vivê-lo, por
assim dizer. Seu autorrespeito decorre do fato de estar
trabalhando, e não do tipo de atividades que executa. Sua
satisfação pessoal deriva de outras fontes. Sua meta consiste
em fazer o que for preciso no trabalho e que o mesmo
interfira o menos possível no campo de suas atividades fora
desse trabalho, aquelas que realmente a interessam. Mas
uma pessoa poderá deixar-se envolver em duas situações que
irão perturbá-la:
(a) Não encontrar satisfação pessoal em outro lugar. Pete
Sterns estava inteiramente desinteressado pelo seu trabalho
de rotina e de baixo nível, numa repartição pública, mas
apreciava a segurança que possuía e a pensão que iria
futuramente receber. No entanto, achava seu trabalho
depressivo e que isso impregnara tudo mais em sua vida.
“Estou deprimido. Tenho quarenta e três anos e não sinto o
menor gosto de viver”, disse-me ele na primeira sessão de
seu tratamento. Pete julgava que a solução seria- deixar o
emprego que lhe causava aquele marasmo, mas tinha
consciência de. que seria impraticável pôr de lado seus
direitos de antiguidade e de obter uma futura pensão.
Trabalhamos juntos e eu procurei fazê-lo ver que sua opção
não consistiria em largar o emprego ou nele permanecer,
mas encarar esse emprego em sua exata perspectiva. Aquele
cargo desinteressante lhe proporcionava dinheiro e
segurança, não só a ele próprio mas também à mulher e aos
seus três filhos. E só o ocupava durante trinta e três horas
por semana. O que Pete teria de fazer era empregar sua
capacidade criadora e planejar alguma atividade de caráter
não-vocacional para suas horas de lazer. Isso ele se revelou
capaz de fazer.
(b) Um trabalho de rotina domina a vida do indivíduo.
Muitas vezes os poetas, pintores e prosadores têm de
consumir seus dias ganhando dinheiro que lhes assegure a
liberdade de fazerem aquilo de que realmente gostam. O
compositor Charles Ives passou trinta e dois anos
trabalhando no ramo de seguros. Surge um problema
quando o emprego de caráter secundário adquire demasiada
importância e exige da pessoa um devotamente excessivo do
seu tempo. Quando John Brown, por exemplo, veio me
procurar para tratar-se, havia perdido de vista suas metas.
Tivera um bom início de carreira como pianista, mas
precisou ganhar dinheiro para viver. Tornou-se, então,
professor de piano. Antes de tomar consciência de que isso
estava acontecendo, viu-se ocupado durante todas as horas
com seus alunos, dispondo de pouco tempo para tocar piano.
Chegou até mesmo a ser obrigado a cancelar um recital
porque não estava preparado para ele. Havia-se afastado,
sem o perceber, da meta que desejava atingir, a de ser um
concertista, ocupando-se com outra meta a que não aspirava,
a de ser professor de piano. Nossa solução para seu caso foi
a seguinte: reservaria um razoável número de horas ao
ensino de piano e a isso denominaria estar “trabalhando para
obter uma bolsa de estudos”. Nessas circunstâncias,
conseguiu voltar à sua meta original. A propósito, John nunca
havia pensado nisso até sua primeira visita ao meu
consultório. Limitou-se, então, a dizer-me. “Estou
deprimido.”
(2) A pessoa quer ganhar o máximo de dinheiro que lhe
for possível. Tendo em vista alcançar essa meta, sacrificará
seus prazeres, lazeres e o convívio social. Aceito esse tipo de
pressão, fará tudo que for preciso para obter rendimentos
elevados. Ao contrário dos indivíduos que se enquadram na
primeira categoria, para os quais o emprego é coisa de
caráter secundário, neste caso ele assume uma importância
primordial. O que importa não é o tipo de trabalho a
executar mas a oportunidade de ganhar dinheiro com isso.
Muitas pessoas que estabelecem essa meta tendem a
esquecer-se de tal fato e se desviam da própria rota.
(3) A aspiração consiste em glória, status e prestígio.
Nesse caso, as pessoas aceitam de bom grado as
responsabilidades necessárias à obtenção desses altos
títulos. Todavia, cumpre não se esquecerem de que quanto
mais alto um indivíduo sobe, ficará cada vez mais numa
posição de vanguarda e estará situado no centro dos
acontecimentos, sendo mais numerosas as pessoas que irão
procurar solapá-lo, e maiores as tensões que terá de
enfrentar.
(4) É desejado que o trabalho seja compensador em
termos dos interesses e capacidades da pessoa. Muitos
indivíduos jamais conseguem alcançar essa meta porque
começaram a trabalhar num setor errado e nunca revelam
possuir a energia que lhes permita abandoná-lo. Isso às
vezes é inevitável. Ninguém poderá saber o que implica um
determinado emprego enquanto não exercê-lo. Baseando
suas ideias em estereótipos e informações falsas, uma pessoa
poderá fazer uma ideia errônea a respeito do que irá ser seu
trabalho. Albert Szent-Gyõrgyi, laureado com o Prêmio
Nobel, assim se manifestou em seu livro The Crazy Ape:
“Sempre que um jovem vem me procurar declarando que
deseja se dedicar à pesquisa porque pretende contribuir
para minorar o sofrimento da humanidade, eu o aconselho a
entrar para uma instituição de caridade. A pesquisa tem
necessidade de pessoas egoístas, fascinadas por problemas
“inúteis”, dispostas a tudo sacrificar, inclusive a própria vida,
pela solução de um problema.” Nem sempre um indivíduo
será capaz de deixar de começar num campo errado. Mas
quando descobrir que assim procedeu, de verá mudar de
campo antes que seja tarde demais para isso.
(5) O que é pretendido é o desenvolvimento da
personalidade e o sentimento de que se está progredindo na
vida com um emprego. Muitas vezes isso implica um
permanente desafio e um elevado teor de angústia.
(6) A aspiração consiste em dar uma contribuição à
sociedade, realizar trabalhos que sejam significativos. Nesse
caso, o indivíduo anseia por tornar' este mundo um lugar
melhor para as pessoas que nele vivem. Quer ajudar os
menos favorecidos, cumprir um. dever cívico, trabalhando
para o governo, ou então transformar a sociedade, opondo-se
a esse governo. No caso de tais indivíduos, a principal força
que os motiva no trabalho decorre do fato de que põem em
prática algum princípio.
As metas acima descritas são apenas algumas das que são
possíveis. Certas metas são incompatíveis entre si. De modo
geral, um indivíduo não poderá ganhar muito dinheiro e ter
uma absoluta segurança no trabalho. Outras metas poderão
ser associadas. Determinada sua meta principal, a pessoa
refletirá acerca do que constituir sua mais importante
motivação no trabalho.

Metas Neuróticas
(1) A necessidade que tem um indivíduo de julgar-se
imprescindível. Precisa sentir que é indispensável e, que se
abandonar seu posto tudo irá por água abaixo. Trata-se de
uma teoria que raramente corresponde à verdade. Muitas
vezes um indivíduo se considera extremamente leal ao seu
empregador. Mas estará sendo leal a si mesmo? Ou trabalha
demais como racionalização para não ser autoafirmativo e
feliz em outros setores de sua vida?
(2) A necessidade de ser estimado, em vez de ser
respeitado. Muitos indivíduos que não possuem
autoafirmação tornam-se por demais preocupados com o fato
de as outras pessoas gostarem ou não deles. Receiam que se
disserem “não” a algum pedido (não importa que o mesmo
seja muito descabido), se fizerem valer seus direitos, tiverem
êxito num projeto difícil, falarem com firmeza, as demais
pessoas não os estimarão. Isso de fato pode acontecer. Mas,
no trabalho, o respeito é mais importante do que a estima.
Um indivíduo que é respeitado obtém melhor tratamento em
seu trabalho. Uma afirmação como esta: “Ele é um bom
rapaz, mas é incapaz de assumir responsabilidades”, é uma
afirmação que revela estima, mas qualificada por um sinal de
falta de respeito.
(3) A necessidade de dominar situações impossíveis. Há
pessoas que raciocinam da seguinte maneira: se uma
situação no trabalho não culmina num resultado satisfatório,
há de ser por sua culpa. Terão de agarrar essa situação com
unhas e dentes até dominá-la. Para tais indivíduos,
abandonar uma situação dessas significa desertar. Em sua
atividade como decoradora de interiores, Mary Edwards
trabalhava com uma mulher mais idosa do que ela,' a qual
descreveu como sendo “uma bruxa, exigente, sem respeito
por mim, a explorada” (palavras suas). Mary tinha recebido
uma proposta para trabalhar com outra decoradora, que
parecia ser “uma boa pessoa”. Mas hesitou em aceitar esse
emprego, dizendo o seguinte: “A maneira de agir de minha
chefe em relação a mim deve ser culpa minha. Se eu aceitar
o novo emprego, estarei fugindo ao meu problema. Devo
ficar onde estou e fazer com que a Sra. Marks me respeite.
Além disso, ela sabe muito. Eu estou aprendendo um
bocado.” Na realidade, as duas chefes, a atual e a possível
futura, possuem a mesma fama e igual prestígio. Após
algumas sessões de tratamento em meu consultório, Mary
aceitou o novo emprego e ficou surpreendida com a mudança
do seu comportamento. Sua tensão desapareceu e ela
começou a gostar do seu trabalho. E admitiu também isto:
“Esta mulher sabe tanto quanto a Sra. Marks.”
(4) A necessidade de ser uma boa pessoa, de conquistar a
aprovação das demais. Os indivíduos que pertencem a esse
tipo confundem orientação no trabalho, na qual é atribuída
ênfase à boa execução do mesmo, com orientação do ego,
que consiste em uma pessoa utilizar-se do trabalho para
provar que tipo de pessoa é. Adotada esta última abordagem,
o indivíduo se torna mais vulnerável, mais sensível às
tensões e preocupações, afastando-se das realidades
objetivas do próprio trabalho.
(5) A necessidade de que o mundo se compadeça da
pessoa. Sem disso ter plena consciência, o indivíduo
estabelece condições de trabalho a tal ponto impossíveis de
serem satisfeitas, que todos dizem: “Coitado!” Assim, ele
obtém os reforços que deseja: compreensão e preocupação
de parte dos outros, mas não consegue dispor de reforços
que melhor serviriam aos seus interesses profissionais.
Os critérios de escolha de metas no trabalho hão de ser os
meios que se referem a outros atos de autoafirmação. A meta
que um indivíduo estabelecer o conduzirá ao ponto onde
deseja chegar em sua vida? Aumentará o sentimento de
respeito por ele mesmo?
Acima de tudo, é preciso enfrentar a realidade de que à
medida que se modifica na vida a situação de uma pessoa,
suas metas também poderão mudar.

2. Adotar Uma Abordagem Ativa A Fim De


Ser Obtido O Emprego Acertado

Não basta conhecer as metas de um determinado


emprego. O indivíduo há de querer alcançá-las. Vamos
presumir que, tendo refletido a respeito de suas metas, ele
se decida a procurar outro emprego. Poderá assim proceder
de duas maneiras: Adotar uma abordagem passiva, ler a
seção de anúncios classificados dos jornais e enviar seu
currículo ao anunciante que lhe agradar, ficando à espera de
sua resposta. Ou, então, poderá dirigir-se às agências de
empregos e submeter-se às várias entrevistas que estas lhe
arranjarem. Dessa maneira, talvez obtenha um emprego
maravilhoso e de alto nível, mas haverá poucas
probabilidades de tal acontecer.
Adotar uma abordagem ativa, na qual os anúncios da
seção de “Precisa-se de um empregado” e as agências de
empregos representam apenas duas entre inúmeras técnicas
possíveis.
(1) Planejar uma estratégia global. O indivíduo deverá
aprender a arte de procurar um emprego e a de redigir um
currículo. Existem vários bons livros sobre essa matéria. Eu,
pessoalmente, gosto muito do livro de Austin Marshall, How
to Get a Better Job.
(2) Reunir as necessárias informações. Valer-se de uma
biblioteca pública, ou das bibliotecas das associações
profissionais para verificar quais as empresas onde possam
existir empregos disponíveis. Conversar com os amigos e
com os amigos dos amigos, que disponham de informações e
as possam dar.
(3) Descobrir onde realmente existem empregos
disponíveis. Além de ler os anúncios da seção “Precisa-se de
um empregado” e de percorrer as agências de empregos, é
indispensável não esquecer as associações e organizações
profissionais e os centros de empregos administrados pelos
diretórios das escolas superiores ou pelos clubes de ex-
alunos. Podem servir de fontes de informações.
(4) Dominar a arte de sair-se bem numa entrevista. Se
uma pessoa achar que tem dificuldade em responder certas
perguntas, como, por exemplo: “Como você imagina estar
trabalhando daqui a 25 anos?”, ou então, “Você está
desempregado há seis meses. Por que encontrou tanta
dificuldade em encontrar outro emprego?” Por que você
deixou seu último emprego?” Nesse caso, deverá a pessoa
praticar suas respostas antes de se apresentar à entrevista.
Poderá utilizar-se de um gravador, ouvir as respostas que
gravar e procurar melhorá-las. As informações que assim
obtiver a ajudarão a melhorar suas respostas durante uma
entrevista.
(5) Abordar de maneira direta e afirmativa possíveis
empregadores. O indivíduo deverá descobrir a pessoa certa e
o lugar onde gostaria de trabalhar, e procurar marcar uma
hora para falar com essa pessoa. Se algum amigo nisso o
ajudar, será uma medida valiosa. Mas o indivíduo não tem
necessidade disso. Poderá fazer tudo por si mesmo. Essa
técnica se revela particularmente eficiente quando se tratar
de pessoas de mais de quarenta anos. Vamos dar um
exemplo: uma mulher que trabalhava no departamento de
relações públicas de uma importante companhia de aviação
foi despedida quando essa empresa passou por um revés.
Durante oito meses viveu alternadamente uma busca febril
de empregos e crises de depressão. Afinal, fez a si mesma a
seguinte pergunta: “O que realmente eu quero fazer?” E
respondeu isto: “Quero trabalhar no setor de relações
públicas de uma importante fábrica de automóveis.” Alguns
meses antes, por ocasião de umas férias que havia passado
no México, tinha travado conhecimento com um executivo da
General Motors, que lhe dera seu cartão. Em vez de
escrever-lhe, Grace seguiu de avião até Detroit, telefonou-lhe
às 9 horas da manhã e encontrou-se com ele às 11. O homem
deu-lhe uma apresentação para um seu colega de escritório,
em Nova York. A coisa levou alguns meses, mas Grace hoje
está trabalhando para a General Motors. Já contava mais de
quarenta e cinco anos quando obteve seu emprego nessa
companhia.
A abordagem ativa poderá permitir que uma pessoa
obtenha um emprego melhor. E o que ainda é mais
importante, essa técnica fará com que ela se sinta mais
satisfeita com seu autodomínio. Terá respeito a si mesma.

3. A Pessoa Devera Verificar Se Possui As


Habilitações Que Lhe Permitam Conservar
Seu Emprego Atual

Quando uma pessoa se inicia num emprego, raramente


saberá tudo aquilo que deveria saber, ou então, poderá
possuir as habilitações necessárias aos aspectos principais
desse emprego, mas não ter as que exijam outros setores
subsidiários do mesmo. A aquisição de qualquer técnica que
for indispensável elevará o moral de uma pessoa e melhorará
a qualidade de seu desempenho no trabalho. Isso eliminará a
angústia que poderia sentir quando tivesse de fazer alguma
coisa e percebesse não ser capaz de assim proceder,
executando-a bem. E ainda, evitará o estado de tensão que
experimentaria acerca das consequências disso, quer a
crítica do seu chefe, quer a perda de um cliente.
Por vezes a falta de habilitações de uma pessoa a leva a-
evitar determinado comportamento. Pelo fato de ser incapaz
de executar esse comportamento, a pessoa adiará sua
execução e irá sentir-se envergonhada por causa disso.
CASO
Walters Myron, com trinta e cinco anos de idade, gostava
do seu emprego de assistente do departamento de pessoal de
uma grande empresa. Era de modo geral consciencioso, mas
sempre deixava a desejar quanto à tarefa de examinar os
vales dos empregados relativos às suas despesas de viagens.
Seu superior ficava furioso com ele por causa disso.
Discutindo o problema com Myron, fiquei sabendo que não
era seguro em cálculos elementares. Na escola primária e na
secundária, ^ a matemática havia sido a matéria em que era
mais fraco. Recomendei-lhe que comprasse um caderno de
exercícios de aritmética de escola primária e dedicasse meia
hora por dia à prática de adições, multiplicações e divisões
simples. Ambos ficamos espantados ao verificar que Myron
nunca havia decorado a tabuada de multiplicar. Depois que
se sentiu seguro em cálculos, deixou de evitar a verificação
das tais despesas de viagens. Tendo resolvido seu problema
nessa área trivial mais importante, sua autoestima cresceu e
ele obteve um aumento de ordenado.
(1) Aprender as habilidades que ajudam um indivíduo a
ascender a cargos mais elevados, se essa for sua meta. Essas
habilidades deverão ser adquiridas no trabalho, através de
leituras, do hábito de estudar sem professor ou do método de
fazer cursos especiais. A pessoa deverá adquirir tais
habilitações e comunicar às outras pessoas que possui esses
novos conhecimentos, o que lhe aumentará as probabilidades
de obter uma promoção.
(2) Adotar uma orientação ativa no ambiente de trabalho
com vistas a torná-lo o melhor possível. A pessoa não deverá
ter receio de pedir que lhe deem uma cadeira de espaldar
reto ou uma nova máquina de escrever. Se outros colegas
viverem entrando em sua sala de trabalho, deverá manter
sua porta fechada e nela colocar um aviso: é favor não
perturbar. Um paciente meu queixou-se de viver
constantemente distraído em seu escritório. A simples
providência de desviar sua mesa de trabalho, num ângulo de
45 graus, eliminou suas fontes de distração de ordem visual
e o tornou menos sensível aos ruídos.
(3) Empregar a técnica do autodomínio quanto aos maus
hábitos que interfiram no trabalho, tais como atrasos,
adiamento da solução das coisas e incapacidade de
concentrar-se. Nos capítulos 7 e 8 descrevi
pormenorizadamente as técnicas de aquisição do
autodomínio. Irei repetir o seguinte. O indivíduo deverá:
(a) Identificar o hábito que deseja modificar.
(b) Elaborar um programa específico com vistas à
modificação desse comportamento.
(c) Firmar o propósito de fazer alguma coisa que possa ser
razoavelmente executada dentro de um breve período de
tempo. Visar a uma série de êxitos.
(d) Examinar a situação existente a fim de verificar .se é
possível tornar os atos indesejados mais difíceis de serem
cumpridos, e os atos desejados mais fáceis de serem
executados.
(e) Estabelecer o hábito desejado. São úteis os reforços
positivos, sob a forma de elogios feitos por amigos, ou
recompensas atribuídas a si próprio.
(f) Manter um registro de seu desempenho. Organizar uns
quadros. Sem tomar consciência de estar executando mais
frequentemente o comportamento desejado, e menos
frequentemente o que for indesejado, a pessoa irá sentir-se
encorajada.
4. Aprender A Dominar A Angústia No
Trabalho

A tensão constante, numa situação de trabalho, acarreta


inúmeras consequências. Poderá levar uma pessoa a
encontrar dificuldade em concentrar-se, de sorte que tomará
decisões erradas, e seus critérios de julgamentos ficarão
prejudicados, levando-a a ser instável e supersensível diante
de pequenas coisas que poderão causar-lhe aborrecimentos
de maneira excepcional. Assim, isso interferirá na produção
dessa pessoa e no seu relacionamento com os colegas de
trabalho, os chefes e os subordinados. Os estados de tensão
consomem energia e são suscetíveis de levar a extrema
fadiga no fim de um dia de trabalho. Poderão causar insônia,
produzir mal-estar físico e dar origens a doenças decorrentes
de baixa resistência orgânica, e ainda contribuir para que
surjam desordem de natureza somática, com elevada pressão
arterial e úlceras gástricas.
Tais estados de tensão possuem ainda maior significação
para suas vítimas. Não sendo capazes de controlar esses
estados, um indivíduo sente-se inerme e se julga de maneira
menos favorável. Muitas vezes evita situações de stress,
como pronunciar-se e dar sua opinião durante reuniões, ou
solicitar que lhe sejam atribuídas tarefas mais difíceis e
capazes de provocar tensões. Assim, limita o próprio
trabalho e reduz suas oportunidades de progresso. Ou então,
impõe exigências pouco razoáveis às outras pessoas. Cresce
o sentimento de sua própria impotência.
Certas pessoas possuem a capacidade de descontrair-se,
mas jamais pensam em fazê-lo por causa de sua passividade.
Eu lhes diria o seguinte: Quando sentirem que começa a
desenvolver-se um estado de tensão, procurem relaxar-se, ou
digam de si para «i, de hora em hora: “Relaxe”. Em seguida,
tratem de descontrair-se. Essas pessoas, passando a praticar
uma orientação ativa, poderão dominar o problema dos
estados de tensão.
No caso da maior parte das pessoas, isso não é fácil. Na
década de trinta, o Dr. Edmund Jacobson, um médico de
Chicago, demonstrou que do mesmo modo que um
individuo aprende a dirigir um automóvel ou a brandir uma
raqueta de tênis, será capaz de adquirir a capacidade de
apelar para uma técnica de relaxamento que poderá
funcionar na fração de segundo necessária para acender-se
um cigarro. Todavia, o método do Dr. Jacobson, como ele
próprio teve o cuidado de afirmar, não se constitui de
exercícios, mas de tomar consciência das tensões de sorte
que o individuo possa “desligá-las”. A prática desse método
exige de cinquenta a duzentas sessões de tratamento e uma
hora de prática diária.

Exercícios De Relaxamento
No Treinamento da Autoafirmação, empregamos
exercícios muito mais breves. A prática dos Exercícios de
Relaxamento Total exige vinte minutos; a dos Exercícios de
Relaxamento Intermediário, sete minutos. Esses exercícios
encontram-se no Apêndice da presente obra. Sua finalidade é
a seguinte: levar a pessoa a adquirir o domínio de suas
tensões no trabalho e em qualquer setor de sua vida.

Exercício De Relaxamento Praticado No


Laboratório
Antes de iniciar a prática dos Exercícios de Relaxamento
Total, o indivíduo deverá executar certas atividades e ter
consciência das mesmas.
Primeira Etapa: Avaliar o nível de tensão com o emprego
de uma escala SUD (acrônimo da expressão Subjective Units
of Perturbation). 0 - 100
Zero significa que a pessoa se sente completamente
descontraída, não apresentando a menor tensão. 100, no
extremo oposto da escala, significa que o indivíduo se acha
num estado de tensão máxima, absoluta, o nível mais tenso
em que possa imaginar-se. No presente momento, o leitor
não poderá encontrar-se em qualquer desses extremos. O
próprio ato de ter este livro nas mãos determina uma certa
tensão muscular, de sorte que ele não poderá estar situado
no nível 0. E se estivesse no nível 1(K), seria incapaz de
concentrar-se suficientemente para ler estas instruções. Os
Exercícios visam a permitir que uma pessoa se aproxime do
nível zero, após havê-los praticado.
Segunda Etapa: A pessoa é solicitada a imaginar uma
“cena agradável”, como, por exemplo, estar numa praia ou a
caminhar através de um campo. Ê preciso tornar essa
imagem neutra (neutra no sentido de não haver nela
elementos potencialmente perturbadores).
Se um indivíduo encontrar dificuldade em imaginar uma
cena agradável, poderá simplesmente pensar na palavra
“calma”. A meta desse exercício é a seguinte: permitir que a
pessoa se condicione de sorte que toda vez que pensar na
cena agradável automaticamente se descontrairá. A cena
será o estímulo que desencadeia uma resposta. Quando a
pessoa houver adquirido perfeito treinamento nesse
particular, o ato de pensar em sua cena ou na palavra
“calma” será o bastante para nela produzir um certo grau de
distensão.
Terceira Etapa: O exercício será utilizado pelo indivíduo
para que ele verifique o que ocorre com sua tensão quando
ele se descontrai. Os Exercícios de Relaxamento Total
consistem em três partes. Inicialmente, o indivíduo contrai
grandes grupos de músculos. Permitindo que a tensão
muscular se produza, ele se tornará mais consciente a
respeito do ponto em que sente essa tensão, e o que de fato
sente. A tensão deverá ser mantida durante
aproximadamente uns sete segundos, antes de romper-se.
Com essa ruptura, o indivíduo experimenta o alívio dessa
tensão. Em seguida, ele observa as diversas zonas de seu
corpo. Finalmente, imagina a cena agradável ou pensa na
palavra “calma” e relaxa cada parte do corpo de maneira
sistemática.
Quarta Etapa: No início do tratamento, a pessoa deverá
executar os Exercícios de Relaxamento Total uma vez por
dia, ou mais, se sentir necessidade disso. Todavia, deixar de
praticar esses exercícios por um dia não significará nenhuma
catástrofe. Esses exercícios não constituem um ritual. Foram
concebidos para servir de fonte de relaxamento e não de um
estímulo à compulsão ou a uma pressão qualquer mais
acentuada. A prática dos exercícios deverá prosseguir até
que um estado de tensão se aproxime do nível zero de
maneira consistente, cada vez que a pessoa os executar. Em
seguida, deverá ela fazer os Exercícios Intermediários, em
dias alternados. Quando isso provar ser eficaz, a prática
desses exercícios poderá ser reduzida a duas ou três vezes
por semana, sendo os Exercícios de Relaxamento Total então
executados uma vez por semana. Quando a pessoa
finalmente sentir-se capaz de controlar suas tensões, fará
quaisquer exercícios apenas quando sentir necessidade
disso.
Quinta Etapa: Quando executar os exercícios, fazendo-o
de memória ou com o auxílio de uma fita gravada, a pessoa
deverá estar sozinha. Se houver mais alguém em casa,
fechará a porta do aposento onde se encontrar. Deverá
desligar o telefone, retirando-o do gancho. A pessoa se
deitará numa cama confortável, ou no chão, e diminuirá a
intensidade da luz do ambiente. Se tiver um cachorro, ele
ficará em outro aposento. Não deverá ser interrompida
durante o tempo necessário à execução dos exercícios.
Se um indivíduo não conseguir relaxar os músculos com a
prática desses exercícios, deverá fazer ginástica calistênica
antes de executá-los. Essa ginástica facilitará o relaxamento
muscular, e a pessoa passará a relacionar sua sensação de
descontraimento ao seu treino de relaxamento. Finalmente,
estará em condições de abandonar a ginástica calistênica e
iniciar diretamente os exercícios.
Se a pessoa adormecer enquanto estiver praticando seus
exercícios, a finalidade dos mesmos será frustrada. Sua meta
consiste em permitir que a pessoa exerça o controle da
situação em que estiver. Embora possa valer-se desses
exercícios para combater a insônia, terá de permanecer
acordada até havê-los completado.
Sexta Etapa: A pessoa manterá um registro do seu
relaxamento muscular, anotando-o em seu caderno de
apontamentos do TA. Deverá utilizar a escala SUD. Cada vez
que completar o exercício, registrará nessa escala o nível
que houver atingido. Durante certo período de tempo,
poderá reduzir seu nível de SUD, e os resultados de seu
desempenho lhe servirão de estímulo.
Os dois primeiros exercícios apresentados no Apêndice
destinam-se ao treinamento. Nas situações reais da vida,
como no escritório, o período de exercícios poderá ser muito
mais reduzido.

Exercício Prático De Relaxamento


Finalidade: Permitir que o treinamento do relaxamento
muscular seja executado no trabalho e em outras situações.
Primeira Etapa: Inspirar profundamente pela boca.
Prender a respiração.
Segunda Etapa: Dizer de si para si, quatro vezes,
“Prendei a respiração”, marcando o tempo de sorte que a
respiração possa ser contida durante aproximadamente uns
sete segundos. Usar o ponteiro de segundos de um relógio
até conseguir o ritmo certo.
Terceira Etapa: Expirar lentamente.
Quarta Etapa: Durante a expiração, pensar na cena
agradável e relaxar deliberadamente os músculos.
Uma pessoa poderá executar esse exercício em sua mesa
de trabalho, ou até mesmo numa sala de conferências, de
modo que ninguém o perceba. Eu próprio o pratiquei quando
estava participando de um programa ao vivo na televisão.
Os exercícios de relaxamento são muito valiosos, de modo
especial em três situações que afetam o desempenho da
pessoa em seu trabalho.
Insônia. Ninguém poderá ter um desempenho de
primeira ordem no trabalho se tiver passado a noite da
véspera a rolar na cama, contando carneirinhos, ou se tiver
se sentindo quase histérico por não haver conseguido dormir.
Várias experiências comprovam que o treinamento do
relaxamento muscular é eficaz no caso de vítimas de insônia.
Deverá ser seguido este procedimento muito simples: ao
preparar-se para dormir, a pessoa executará os Exercícios de
Relaxamento Total. Após tê-los concluído, imaginará sua
cena agradável. Não se permitirá ficar sonhando acordada.
Mas se isso acontecer, fará com que a cena agradável volte a
dominar-lhe a mente, ou pensará na palavra “calma”. Se
sentir que alguma parte do próprio corpo estiver se tornando
tensa, deverá deliberadamente relaxá-la. Se for mantido esse
estado de relaxamento muscular, tudo leva a esperar que a
pessoa adormeça.
Tensões de natureza geral, no trabalho. Uma tensão
generalizada que se mantiver durante todo um dia de
trabalho prejudicará os critérios de julgamento de um
indivíduo e o levará a sentir-se fatigado. Com a prática do
treinamento do relaxamento muscular, começará a
experimentar uma sensação de controle. De hora em hora
(ou de meia em meia hora) deverá relaxar os músculos
deliberadamente, valendo-se do breve Exercício Prático de
Relaxamento Muscular. Isso lhe exigirá apenas alguns
segundos e poderá ser feito à mesa de trabalho, num
restaurante, num almoço de negócios em companhia de
algum cliente, ou ainda quando estiver caminhando ao longo
de um corredor, dirigindo-se a uma reunião com seu chefe.
Viagens de avião. As viagens de avião hoje constituem um
requisito indispensável no caso de inúmeros empregos.
Todavia, conheço muitas pessoas que deixam de lado certos
empregos que poderiam ter porque esses empregos exigem
que façam viagens de avião. O relaxamento muscular poderá
ser útil a fim de que seja dominado esse medo tão comum.
A pessoa deverá fazer os exercícios em decúbito dorsal até
atingir um bom nível de relaxamento muscular.
Os exercícios serão adaptados para que a pessoa possa
praticá-los sentada até que experimente uma sensação de
controle.
A pessoa simulará que se encontra a bordo de um avião.
Arranjará uma cadeira que se assemelhe à poltrona de um
avião e imaginará estar realmente nele viajando. Enquanto
executar os exercícios, deverá contrair ritmicamente os
músculos. Muitos indivíduos ficam inibidos ao fazerem em
público os estiramentos e caretas que exige uma parte do
exercício. Durante uma semana antes de uma viagem de
avião, essa contração muscular não deverá ser ostensiva.
No avião, a pessoa executará o Exercício de Relaxamento
Total logo que possa se acomodar em seu lugar. Durante o
voo, se começar a sentir-se tensa, repetirá esse exercício.

5. Adquirir O Controle De Uma Angústia


Específica Que O Indivíduo Houver
Aprendido A Associar A Determinada Tarefa
De Seu Emprego

Além das tensões de natureza geral que uma pessoa possa


sentir em seu trabalho, poderá temer determinadas
situações claramente definidas. Um indivíduo poderá ser um
redator muito experiente, mas sentir-se nervoso ao redigir
um texto sobre a alimentação. Outro será capaz de vender
qualquer coisa a qualquer pessoa, mas ficará tenso quando
se tratar de dar o primeiro telefonema para marcar um
encontro com alguém. O terapeuta do comportamento dá. o
nome de fobias a esses comportamentos específicos. A
palavra fobia denota não apenas temores mas também
quaisquer reações inadequadas de caráter perturbador,
como experimentar uma tensão fora do comum, sentir-se
deprimido ou irritado diante de_ uma situação específica. No
ambiente de trabalho, medos dessa natureza poderão fazer
com que o desempenho de uma pessoa seja insatisfatório, e
levá-la até a perder o emprego. Muitas vezes chegam a
impedir que ela exerça qualquer tipo de trabalho.

A Dessensibilização Sistemática Das Fobias


No combate às fobias, os terapeutas empregam a' técnica
de dessensibilização sistemática. Sabemos que um
determinado indivíduo associa certo estímulo (o espaço
fechado de um elevador, a contração dos músculos do
estômago, a crítica de um superior hierárquico) a uma
reação perturbadora. Terá aprendido a reagir dessa maneira.
Se puder receber esse estímulo que lhe provoca a angústia,
isso por várias vezes, sem sentir-se perturbado, a reação
condicionada da angústia terá sido substituída por outra
reação que não seja uma fobia. O temor da pessoa deverá
desaparecer.
A técnica da dessensibilização sistemática promove a
divisão gradativa (ou dissociação gradativa) dos temores que
geram uma resposta carregada de angústia. A teoria que
fundamenta essa técnica é a de que o relaxamento muscular
inibirá a resposta, porque um estado de relaxamento é
incompatível com um sentimento de angústia. O estímulo
acaba perdendo sua capacidade de provocar angústia. (Isso
constitui o “princípio da inibição recíproca” do Dr. Joseph
Wolpe, que comentei no Capítulo-I desta obra.) Os pais
costumam assim proceder em relação aos filhos pequenos,
sem que se apercebam disso. Quando uma criança de três
anos de idade tem medo do mar, sua mãe a levará pela mão
até a beira das ondas, pondo-a no colo quando uma dessas
ondas se aproximar. Depois que a criança sentir-se à
vontade, sua mãe a encorajará a meter um pé dentro da
água. Em seguida, a enfiar a perna na água até o tornozelo.
Finalmente, a caminhar com os pés mergulhados na água.
Assim, pouco a pouco a criança acabará dominando seu
medo.
Observe-se que a mãe parte de uma situação na qual a
criança sente relativamente pouca angústia. Vai se
aproximando do âmago da angústia da criança, fazendo-o
por etapas (esse âmago provavelmente será mergulhar na
água). Através de cada etapa, a mãe ajuda a criança a
dominar sua angústia. Essa abordagem, conforme
anteriormente foi comentado, denomina-se “formação de
uma hierarquia”.
Em sua prática de consultório, o terapeuta emprega a
técnica da dessensibilização também de maneira
hierárquica. Cria, com o paciente, cenas que contenham
variáveis graus de angústia na área de sua fobia. Se um
indivíduo exercer, por exemplo, uma profissão na qual tenha
medo de falar em público, a hierarquia poderá ser a
seguinte: falar para cinco pessoas... dez... vinte... trinta, num
pequeno auditório. Em seguida, dirigir a palavra a mil
pessoas, num grande salão. Então, a partir de uma cena que
contenha o nível de angústia mais baixo, o terapeuta levará o
paciente a empregar sua imaginação. Se ele sentir que sua
perturbação aumenta enquanto estiver imaginando essa
cena que encerra o grau mais baixo de angústia, o terapeuta
prontamente o instruirá no sentimento de relaxar os
músculos. Reiteradamente o terapeuta^ fará com que o
paciente imagine cada cena até que o mesmo seja capaz de
fazê-lo sem sentir qualquer perturbação. Feito isso, o
paciente passará à segunda etapa da hierarquia.
Assim, o terapeuta treina o paciente a associar a ausência
de qualquer perturbação à situação que anteriormente lhe
despertava angústia ou temor. Geralmente esse sentimento
de menor perturbação .se transferirá às situações da vida
real em que o paciente se encontrar.
Como esse procedimento^ é de caráter bastante técnico,
se não for executado corretamente acarretará o perigo de
agravar-se uma fobia. Não poderá ser praticado sem a ajuda
do terapeuta. Poderá um indivíduo adaptar essa técnica às
situações problemáticas que tiver na vida real.

A Dessensibilização “In Vivo”


Na dessensibilização sistemática, praticada no consultório
do terapeuta, o paciente imagina os estímulos que lhe
desencadeiam o estado de tensão. Mas poderá igualmente
dessensibilizar-se em situação da vida real. O princípio será
o mesmo: o indivíduo quer obter uma reação capaz de inibir
a angústia que sentir na presença de estímulos que a
despertam. Em linguagem menos técnica, se um indivíduo
puder de fato atravessar situações que lhe causem medo e se
conservar descontraído, acabará deixando de se atemorizar
diante de tais situações. Esse método é conhecido pela
denominação de dessensibilização sistemática in vivo. Poderá
ser de grande valia nas situações do trabalho.
(1) A pessoa terá de estabelecer uma hierarquia. Deverá
preliminarmente identificar um ponto de partida, tomando
uma situação que lhe produza angústia e encontrar um
estágio no qual essa angústia seja mínima e não cause uma
elevação superior a dois pontos na escala SUD. Às vezes
torna-se difícil identificar uma série de situações da vida real
que se adaptem ao procedimento da autodessensibilização.
De modo geral, as pessoas acham que isso é mais simples,
como “as fobias relacionadas a coisas”, como o medo das
alturas, dos elevadores ou dos trens, todos capazes de
exercer grande influência sobre os empregos que uma
pessoa assumir ou que possa ocupar. Considere-se, por
exemplo, o medo das alturas. O indivíduo deverá determinar
o referido ponto de partida. Poderá olhar do alto da janela do
quinto andar de um edifício, da janela de um primeiro andar,
ou mesmo ficar de pé no primeiro degrau de uma escada de
pedreiro. Sua etapa inicial será uma situação na qual
experimente apenas leve perturbação.
Em seguida, deverá determinar os estímulos que lhe
produzem a angústia. Poderá ter medo de uma janela que
estiver aberta, e sentir ainda mais forte medo se debruçar-se
nessa janela e olhar para baixo. Empregando esses
estímulos, estabelecerá uma série de situações que abordem
seu medo das alturas de maneira hierárquica.
Tratei de uma jovem secretária de um advogado, que
tinha medo de subir além do terceiro andar de qualquer
edifício. Como a maior parte dos escritórios de advocacia de
Manhattan estão localizados em arranha-céus, Kathy se viu,
afinal, obrigada a ter um emprego de vendedora numa
boutique num andar térreo. Quando começou seu tratamento
comigo, passou três semanas subindo de elevador até
terceiros andares e praticando o relaxamento de sua tensão.
Acabou por sentir-se bem € prosseguiu, subindo até quatro
andares. Continuou subindo cada vez mais e, agora, tem um
emprego num escritório de advocacia localizado num
trigésimo segundo andar.
(2) Não será preciso estabelecer todas as etapas da
hierarquia antes de ser iniciado o programa in vivo. Durante
o processo de autodessensibilização, uma pessoa poderá
verificar que reage, em situações da vida real, de maneira
diversa da 4ue houver imaginado originariamente. Nesse
caso, poderá ser obrigada a rever a hierarquia que tiver
estabelecido. Procurará, então, tomar outras três ou quatro
situações mais avançadas.
(3) O treinamento em três métodos de descontração
muscular. A pessoa deverá possuir excelente controle do
Exercício Prático de Relaxamento Muscular.
(4) As situações deverão ser consideradas uma de cada
vez, e praticadas. Antes de pôr de parte uma situação, a
pessoa deverá repeti-la seguidamente até sentir-se
inteiramente à vontade diante do que terá sido antes uma
situação geradora de angústia. Quando sentir-se
completamente descontraída, prosseguirá exercitando-se na
etapa seguinte da hierarquia.
CASO
Um paciente que estava procurando obter um emprego
sentia imensa angústia durante as entrevistas a que tinha de
comparecer. Sua solução in vivo foi a seguinte; ir a
entrevistas sabendo que, através das mesmas, positivamente
não poderia obter um emprego. Durante essas entrevistas,
praticava o relaxamento muscular. E porque sabia que não
estaria em causa a obtenção de qualquer emprego, o nível de
angústia que sentia era relativamente baixo. Seu
relaxamento muscular revelou-se eficaz. Esse procedimento
lhe reduziu acentuadamente o sentimento de angústia
durante as subsequentes entrevistas nas quais visou a obter
um emprego que realmente desejava arranjar.
CASO
Uma advogada tinha grande dificuldade em ditar à sua
secretária. Escrevia à mão todas as suas cartas antes de
passá-las à secretária porque receava que, se as ditasse,
pudesse dizer alguma “tolice” e ela iria desprezá-la.
Ao discutir com Kay sobre seu caso, fiquei sabendo que
experimentava muito menor receio quando se tratava de
cartas de rotina do que quando tinha de ditar os complicados
memorandos que circulariam no escritório. Agrupamos seu
medo de ditar em cinco categorias. Assim, empregando a
técnica da dessensibilização in vivo, Kay começou por ditar
cartas que pertenciam à classe da correspondência de rotina
e, ao fazê-lo, executou o Exercício Prático de Relaxamento
Muscular. Pouca a pouco foi progredindo na hierarquia
estabelecida. Quando se tratava de memorandos internos do
escritório, verificou ter necessidade de tomar
cuidadosamente algumas notas prévias, antes de começar a
ditá-los. E aprendeu também a dizer à sua secretária: “Isto é
apenas um rascunho. É melhor que eu o leia antes de você
bater o texto definitivo.”
A vida em si mesma nem sempre coopera a esse ponto
quando se trata de proporcionar oportunidades à prática da
dessensibilização. Às vezes a pessoa terá de simular a
existência de um problema, empregando a técnica do
psicodrama. Para que se apresentem estímulos capazes de
causar-lhe uma perturbação, terá necessidade da ajuda de
um amigo. Cumpre não esquecer o seguinte: cada vez que
esse amigo lhe proporcionar um estímulo e a pessoa tiver
uma reação diante dele, ainda que apenas levemente
perturbadora, deverá concentrar-se no relaxamento
muscular. O amigo deverá repetir o estímulo até que a
pessoa não experimente a menor tensão. Em seguida, irá
adiante, cumprindo a etapa seguinte da hierarquia.
Vamos presumir que se trate de pedir um aumento de
ordenado. John Jones receia que se isso fizer seu chefe o
despedirá. Empregará esta frase: “Sr. Smith. Eu gostaria de
conversar com o senhor sobre um aumento do meu
ordenado. Acho que o mereço.” Dramatizando o papel do
patrão de John, seu amigo Brow poderá responder-lhe da
seguinte maneira hierárquica:
“Bem, eu vou pensar no assunto.”
“Eu não tenho assim tanta certeza a esse respeito.
Continue se esforçando e nós voltaremos a tratar do assunto
daqui a três meses.”
“Nada de aumento para você. Na realidade seu
desempenho no trabalho tem piorado e eu estou pensando
em despedi-lo.”
“Aumento de ordenado? Você está despedido!”
Essas respostas constituem meros exemplos. As frases
reais terão de ser feitas “sob medida”, conforme as angústias
que a pessoa experimentar. Não terão de ser baseadas em
probabilidades reais. No exemplo dado. Jones sabe que
haverá poucas probabilidades de ser despedido. Seu medo,
que não possui qualquer fundamento racional, o impede de
pedir um merecido aumento de ordenado. O emprego da
frase “Você está despedido!” no final na escala hierárquica,
contribui para eliminar esse medo. A cena, ao ser
dramatizada, deverá ser a mais real possível. O amigo
repetirá cada uma das frases que servem de estímulos até
que a pessoa não sinta a menor perturbação diante delas.
(5) Empregar a técnica da dessensibilização no tratamento
do medo de sintomas. Por vezes um indivíduo realmente
teme os próprios sintomas da angústia. Sabe que certas
situações o levam a tremer, enrubescer, sentir-se tonto ou ter
aquele aperto no estômago. E sabe que tais sintomas irão
desencadear-lhe um sentimento de angústia secundária. A
questão consiste em a pessoa ensinar a si mesma a frustrar
esse ataque. Se puder isso conseguir, recobrará a confiança
em si mesma, seu temor diminuirá e ela será capaz de, por
exemplo, pronunciar aquele discurso, dirigir a palavra numa
determinada reunião ou participar de certa conferência.
Quando uma pessoa sentir que está começando, a ficar
nervosa durante uma reunião, deverá apelar para o
Exercício' Prático de Relaxamento Muscular. Isso lhe exigirá
apenas alguns segundos e unicamente uma parcela de sua
atenção. Não> irá interferir em seu desempenho. Se um
indivíduo puder reduzir levemente a própria angústia, seu
sentimento de pânico' desaparecerá.
Ao sentir que seu nervosismo começa a instalar-se, a
pessoa executará vários atos de ordem física e mental, num
esforço para controlar esse nervosismo. Moverá os braços,
arrumará seus papéis, olhará pela janela, imaginará que o
presidente da sessão está caminhando pela sala, pensará no
marlin que houver pescado no verão anterior. Deverá
observar nas modificações em sua ansiedade que cada um
desses atos produz. Ao proceder dessa maneira, terá
introduzido uma série de “tarefas” orientadas que irão
contrabalançar sua angústia. Nesse caso, estará
experimentando quais são suas reações causadoras- de
angústia.

6. O Domínio Da Arte De Manter Um Bom


Relacionamento Com As Pessoas No
Trabalho

O tipo de trabalho que uma pessoa executa e sua


capacidade de realizá-lo representam apenas uma parte de
seu perfil profissional. Uma parcela fundamental de seu êxito
ou de seu fracasso no trabalho, além de sua satisfação
pessoal no mesmo, dependem do relacionamento que
mantiver com as demais pessoas.
São necessárias as mesmas habilidades que exigem as
situações sociais, como a capacidade de fazer solicitações,
pedir favores, dizer “não”, exprimir de maneira adequada
sentimentos positivos e negativos. No entanto, as metas da
autoafirmação no trabalho são diferentes das relativas às
situações sociais. Um indivíduo deseja manter com as demais
pessoas um relacionamento agradável para que o trabalho
seja executado. Não estará buscando um relacionamento
profundo com ninguém, nas situações ligadas ao ambiente
do seu trabalho. Esse relacionamento íntimo poderá
desenvolver-se, mas sairá então dos limites da área do
trabalho. A meta de uma pessoa, no trabalho, é a seguinte:
facilitar a consecução daquele a que se propõe nesse
trabalho. As complicações surgem porque a maior parte das
situações ligadas ao trabalho incluem uma estrutura
hierárquica, havendo subordinados, iguais e superiores. Os
critérios de comportamento apropriados a cada caso são
diferentes.
Muitas pessoas não compreendem o que significa
autoafirmação no trabalho, deixando de perceber a diferença
entre autoafirmação e agressividade. A autoafirmação não
quer dizer colocar o escritório em polvorosa ou dar um
murro no nariz de algum colega. Envolve a comunicação
sincera,' no momento certo, para que sejam alcançadas as
metas de trabalho mútuas.

7. Guia Da Autoafirmação No Trabalho


(1) Facilitar as pessoas para que possam fazer o que se
deseja que façam. Ao pedir um aumento de ordenado, por
exemplo, um empregado deverá fazer tudo quanto lhe for
possível para simplificar a situação de parte do seu patrão a
fim de que ele possa dizer “sim” ao seu pedido.
(a) O empregado deverá apresentar ao chefe as razões por
que merece um aumento de ordenado, e não agir de sorte
que este último fique a buscar essas razões. Uma mulher que
era vice-presidente de um banco, por exemplo, suspeitava de
que seu ordenado era inferior ao que era pago aos outros
vice-presidentes do sexo masculino. Durante anos tolerou
essa injustiça. Finalmente, já desesperada, reuniu seus
títulos, encheu-se de coragem e foi conversar com o chefe.
Disse-lhe que era responsável pela administração de 25
milhões de dólares de empréstimos, ao passo que seus
colegas homens, todos. eles reunidos, lidavam apenas com
10 milhões de dólares. Tudo quanto disse o patrão foi
exclamar: “Meu Deus!” Pouco tempo depois, ela obteve um
grande aumento de ordenado.
(b) A pessoa deve ter certeza de que está a par das
diretrizes do escritório em matéria de aumento de ordenados
(são geralmente revistas quando é elaborado o orçamento
para cada ano). Se solicitar um aumento de ordenado
quando isso não for devido, estará investindo contra a
barreira dos procedimentos operacionais padronizados.
(c) Fazer os “deveres de casa”. Se um indivíduo não puder
reunir coragem e dar o necessário passo com vistas a ser
mais bem pago, deverá experimentar o método do
psicodrama com algum amigo ou com o cônjuge, se for o
caso.
CASO
Wendy Hilton havia aprendido o que significava o TA, num
dos meus grupos. Seu marido Bob, advogado, começara a
trabalhar no departamento jurídico de uma grande empresa
uns seis meses antes, estava se achando mal pago, e ainda
mais, eram-lhe confiados todos os trabalhos de rotina, de
sorte que seu trabalho se tornara enfadonho e não oferecia
qualquer desafio à sua capacidade. O casal decidiu que Bob
deveria conversar com seu chefe, e que a hora em que
deveria enfrentá-lo seria o momento em que ele fazia sua
pergunta diária às pessoas: “Como vão as coisas?”
Wendy instruiu Bob na técnica do psicodrama. Fez o papel
do patrão. Decidiram qual seriam as palavras iniciais de Bob:
“Estou muito satisfeito porque o senhor me fez essa
pergunta. Trabalho aqui há seis meses e gostaria de discutir
com o senhor a respeito de dois assuntos.” O casal também
estudou como Bob poderia responder ao patrão se ele
reagisse ao seu pedido de aumento de ordenado da seguinte
maneira: “Nós só levamos em consideração pedidos de
aumentos de ordenado depois de um empregado estar
trabalhando conosco durante um ano.” Se isso ocorresse, os
dois decidiram que Bob pediria ao chefe que avaliasse seu
trabalho para que pudesse melhorá-lo e ter certeza de que
iria obter seu aumento de ordenado ao cabo de um ano de
serviço.
O que aconteceu na realidade foi apenas ligeiramente
diferente do psicodrama. Bob aproveitou sua oportunidade
para declarar isto: “Há uns assuntos que eu estimaria
discutir com o senhor”. Não conseguiu o aumento de
ordenado, mas o chefe admitiu o seguinte: “Sei que você é
mal pago, e venho lutando com os outros membros do
escalão superior em favor de um aumento dos ordenados do
pessoal. Isso que você me disse me dará mais argumentos.
Estou satisfeito que você tenha se referido a isso.” O chefe
não havia reparado que Bob executava um trabalho tão
enfadonho. Imediatamente lhe atribuiu vários encargos que
representavam um desafio à sua capacidade, e providenciou
no sentido de que Bob participasse, naquela tarde, de uma
conferência particularmente interessante sobre matéria
jurídica.
 

(2) É preciso falar com franqueza quando se trata de


elogiar as pessoas, impedir que façam comentários
depreciativos, mesmo que o indivíduo esteja certo ou errado,
e para que possa proteger seu cargo. Tais situações
geralmente envolvem a conversação de conteúdo afetivo, a
necessidade de dizer “não”, e o indivíduo deverá praticar
falar consigo mesmo. Isso ocorre em face de quatro
circunstâncias:
(a) Na qualidade de superior hierárquico, uma pessoa
deve proporcionar informações que reforcem o empregado.
Um empregado há de querer saber o que seus superiores
pensam a respeito do seu desempenho no trabalho. Um
superior poderá fazer elogios' ou críticas construtivas aos
seus empregados, mas deverá permitir que eles saibam de
maneira positiva o que pensa a esse respeito. Um superior
não deverá ficar repisando o que um empregado fizer de
errado, mas dizer-lhe de que maneira poderá executar
melhor. Tratei do vice-presidente de uma firma de
engenharia, homem de cinquenta anos de idade, que
encontrava grande dificuldade em falar francamente com as
pessoas. Eu o instruí quanto ao emprego da técnica da
conversação de conteúdo afetivo. Durante várias semanas,
ensaiamos como poderiam ser suas reações durante suas
conferências semanais de grupo, ocasião em que seus
subordinados apresentavam ideias que seriam debatidas. Em
seguida. Tom (esse era o nome do meu paciente), pôs em
prática seus ensaios terapêuticos. E assim me informou: “Foi
a conferência mais estimulante que eu já tive.” Ele havia nela
dado expressão a suas imediatas reações emocionais,
dizendo: “Gosto disso”, ou “Não gosto dessa ideia”, quando
algum subordinado apresentava alguma sugestão. Tudo isso
permitiu uma estimulante discussão entre os membros do
grupo. Tom admitiu o seguinte: “Agora percebo o que eu
fazia antes. Não reagia quando alguém apresentava uma
ideia. Em vez disso, passava ao tópico seguinte da agenda.
Dessa vez, tendo imediatamente proporcionado um reforço
às pessoas, todo o grupo se envolveu nos debates.” A partir
dessa etapa, prosseguimos em nosso trabalho, analisando o
comportamento de Tom com seus pares, na firma, e também
com seus superiores. Ele tornou-se mais franco,
desaparecendo seu medo de demonstrar as próprias
emoções.
(b) As pessoas precisam defender seus pontos de vista.
Quando lidam com outros seres humanos, estes, deliberada
ou inadvertidamente, fazem coisas que as afetam no trabalho
e em sua situação dentro de uma empresa. Quando um
indivíduo dá expressão ao seu modo de sentir, impede que as
pessoas o depreciem ou humilhem.
Se alguém, por exemplo, se aproveita das ideias de uma
pessoa, delas se apropriando, essa pessoa tem o direito de
declarar o seguinte: “Eu não gostei do que você fez. Você
sabe muito bem que aquela ideia que apresentou na reunião
de hoje de manhã é minha. Espero que isso não aconteça
novamente.” Se uma pessoa deixar de tomar conhecimento
de um comportamento dessa natureza, irá estimular a outra
para que continue a proceder dessa maneira.
Se um indivíduo der expressão ao que sente e pensa, isso
não quer dizer que irá pôr cobro à apropriação de suas
ideias. Mas as demais pessoas provavelmente pensarão duas
vezes, antes de tornar a proceder desse modo.
Um indivíduo deverá sempre dizer o que sente diante de
um criador de casos que porventura exista em seu escritório.
Poderá declarar o seguinte: “Eu fiquei aborrecido quando
você surripiou meu exemplar do The Times..." “Eu fiquei
muito aborrecido quando você almoçou em minha mesa de
trabalho e a deixou coberta de migalhas de comida”... “Você
tem estado fazendo fofocas a meu respeito, e isso me
desagrada.” Tudo isso há de ser expressão com tato, mas a
pessoa deverá ter certeza de se haver comunicado. Isso irá
impor certos limites ao criador de casos, e ele ficará sabendo
que a pessoa está informada a respeito do que ocorre. Se
essa pessoa nunca disser a menor palavra diante de tais
situações, a outra continuará a furtar-lhe The Times, a
almoçar em sua mesa de trabalho e a espalhar inverdades 'a
seu respeito.
(c) Mesmo sendo um subordinado, um indivíduo poderá
dizer “não” a um superior. Poderá sentir-se um tanto
perturbado ao dizer “não” a um chefe que dispõe de poderes
sobro sua escala de férias, suas promoções, seus aumentos
de ordenado. Há pessoas em posições de comando que não
gostam de ouvir a palavra “não”, mas na maior parte os
patrões são seres humanos e reagirão de maneira apropriada
quando uma pessoa exprimir sua negativa em termos. Essa
reação negativa deverá incluir as razões em que se
fundamenta. Numa situação social, se um amigo disser a
alguém: “Vamos fazer isso assim, assim?” será
rigorosamente apropriado responder “Não”. Eu não estou
com vontade de fazer isso.” Numa situação de trabalho, a
resposta que uma pessoa der há de estar principalmente
relacionada com os aspectos fatuais da questão em causa, e
não com sua maneira de pensar ou de agir a esse respeito.
Imaginemos que um supervisor diga o seguinte a uma
pessoa: “Eu gostaria que hoje você fizesse um serão para
acabar aquele trabalho.” A pessoa poderá empregar três
tipos de respostas negativas, conforme sua situação
individual:
“Eu sinto muito, mas não posso. Tenho um encontro que
foi marcado há muito tempo para hoje à noite.”
“Não. Quando eu vim trabalhar aqui, eu lhe disse que
sempre abriria mão de minha hora de almoço, mas que
precisaria pegar o trem das 5:57.”
“Não. Essa ideia não é nada boa. Eu terei importante
conferência amanhã, as 9 horas, e preciso estar cem por
cento. Não me sentirei em boa forma se chegar em casa à
meia-noite.” Ao dizer “não”, nem sempre uma pessoa
conseguirá que seu ponto de vista seja aceito, mas o assunto
torna-se aberto à discussão e às negociações. Quer a pessoa
vença a parada, a perca ou a situação termine num empate,
o fato de ter usado de franqueza fará com que se sinta
melhor consigo mesma. Isso também se aplica aos chefes. Se
um chefe tiver dificuldade em dizer “não” às pessoas que
trabalharem com ele, essa falta de autoafirmação afetará não
apenas seu trabalho como também seu respeito próprio.
(d) Se um indivíduo trabalhar por sua própria conta,
deverá falar francamente quando se tratar da remuneração
dos serviços que prestar. Em relação a mercadorias, saberá
quanto as mesmas lhe custaram; acrescentará determinada
quantia à conta de despesas gerais e estabelecerá
previamente seu lucro. Mas a prestação de serviços
representa o tempo e as habilitações de um indivíduo. Ele
saberá, objetivamente, qual seria uma razoável remuneração
a ser cobrada. Mas então é que se insinuam dúvidas em sua
mente: “Eu realmente valho isso?”... “E se eu perder o
cliente?”... “E se o cliente disser que meus serviços não
valem isso. Será uma ideia sua a meu respeito, um
menosprezo à minha experiência profissional?” Alimentando
tais pensamentos de autocondenação, muitas pessoas pedem
por seus serviços uma remuneração menor e se ressentem
por causa disso. Um desenhista industrial disse-me o
seguinte: “Eu passo fome e vivo ansioso. Peço uma
remuneração mais baixa pelos meus serviços e saio
perdendo no plano financeiro e no plano emocional.”
Verifique! ser esse um problema bastante comum entre os
psicoterapeutas que se iniciam em sua prática profissional.
Por vezes esse problema surge no caso de terapeutas que já
possuem boa clientela.
Um problema dessa natureza poderá ameaçar a atividade
profissional de uma pessoa. Todavia, poderá ela a maioria
das vezes superá-lo se adotar uma prática singela. Em
primeiro lugar, estabelecerá seus honorários. Se não tiver
certeza a respeito de quanto deva cobrar por seu trabalho,
consultará alguém cujo julgamento possa acatar. Em
seguida, praticará dizer em voz alta: “Meus honorários para
esse serviço são tantos dólares.” “Deverá gravar essas
palavras numa fita magnética, de sorte que sua esposa, um
companheiro de quarto ou um amigo possam ouvi-las. Em
seguida, repetirá a mesma coisa numa situação de sua vida
profissional. O cliente poderá aceitar isso. E se não
concordar com o que a pessoa pedir, ela poderá tomar outra
decisão e indagar a si própria: “Estarei disposta a trabalhar
por uma remuneração menor neste caso particular?” Se
tomar uma decisão deliberada depois de haver falado de
maneira franca, terá todas as probabilidades de não ficar
ressentida diante da situação.
(3) Definir quais os comportamentos problemáticos
existentes no campo das relações interpessoais, no trabalho,
e agir deliberadamente com vistas a modificá-los. A pessoa
deverá procurar identificar os sentimentos de angústia
vinculados a esses comportamentos a fim de reduzi-los, ou
então modificar realmente seu padrão de comportamento.
(a) A situação em que um chefe tiver de despedir um
empregado. Ninguém aprecia isso, mas há ocasiões em que
tem de ser feito. Se um chefe ficar perturbado pelo fato de
haver permitido que um empregado ineficiente tenha
chegado a esse ponto, deverá realizar sua própria
dessensibilização. Determinará a natureza dos estímulos que
poderão tê-lo levado a sentir-se tenso e, em seguida,
dramatizar essa situação com a ajuda de alguém. Tais
situações geralmente se enquadram em duas categorias:
A pessoa sente-se tensa ao dizer: “Você está despedido.”
Sente-se tensa a respeito da possível reação que poderá ter o
indivíduo a quem esteja despedindo.
Se se tratar da primeira hipótese, o chefe poderá
estabelecer uma hierarquia quando tiver de falar. Por
exemplo:
“Jones, procure trabalhar melhor.”
“Jones, as coisas vão mal, e nós podemos ter de despedi-
lo.”
“Você não está correspondendo no trabalho. Nós temos
que despedi-lo.”
“Seu trabalho é péssimo. Você. está despedido.”
A pessoa poderá não ter a intenção de empregar as
palavras: “Você está despedido”. Mas se prosseguir no
processo de dessensibilização até esse ponto, será mais fácil
para ela dizer: “Nós temos que despedi-lo”.
Se uma pessoa sentir-se inquieta a respeito do que um
empregado possa dizer ou fazer, o que geralmente será uma
reação irritada ou lacrimosa, eis um exemplo de determinada
hierarquia em matéria de irritação, na qual serão
dramatizadas respostas às seguintes declarações:
“Está certo. Eu sinto não ter trabalhado a contento
(Abatimento).
“O senhor não está sendo justo comigo” (Enfado).
“O senhor está simplesmente me usando para encobrir
sua própria 'incapacidade” (Irritação).
“O senhor que vá para o inferno. O senhor é que não
presta para nada” (Explosão de cólera).
Se um chefe tiver receio que o empregado se debulhe em
lágrimas, que alegue seu estado de pobreza, deverá
dramatizar respostas para o seguinte:
“Eu lamento que as coisas não tenham dado certo.”
“A ocasião é muito ruim para o senhor me despedir. Eu
preciso do dinheiro que ganho e está difícil arranjar um
emprego.”
“O senhor não sabia, mas meu filho está muito doente.
Isso significa que eu não poderei dar-lhe o tratamento
médico de que precisa.”
Ou então, uma expressão de histeria absoluta: “Esta foi
minha última oportunidade. Agora eu não sei o que vou fazer.
Eu acho que não valho nada.”
O indivíduo deverá relaxar deliberadamente os músculos
ao dramatizar qualquer situação que se aplique ao seu caso
até ser capaz de realizar as várias etapas da hierarquia, uma
por uma', sem experimentar qualquer sentimento de
angústia. Depois de cumpridas todas as etapas, deverá agir
em situações de sua vida real.
(b) Há casos diante nos quais um indivíduo sabe o que
quer fazer, mas não sabe como agir de modo que ele próprio
considere digno de respeito. As mulheres, principalmente,
desejam fazer valer seus pontos de vista, mas têm sido muito
submetidas a um verdadeiro processo de lavagem cerebral e
poderão pensar que se fizerem alguma exigência, solicitarem
um aumento de ordenado ou se empenharem em obter uma
promoção, isso será uma atitude “masculina” ou
“castradora”.

Exercício De Laboratório Para Mulheres


Se uma mulher souber o que quer, mas não souber como
obter o que quer sem criticar a si mesma, injustamente,
deverá praticar a técnica da “Autoimagem Idealizada”,
elaborada pela Dra. Dorothy J. Susskind, do Hunter College.
Deverá imaginar o tipo ideal de mulher que estimaria ser
em seu trabalho. Quais as características dessa mulher?
Como agiria essa mulher ideal numa situação que estará
preocupando “nossa amiga”? Que diria ela? Que faria e como
se portaria ao agir? .
A pessoa deverá mentalmente dramatizar a situação
algumas vezes (a isso se dá a denominação de modelagem
dissimulada). Procederá desse modo até ser capaz de agir
também em situações da vida real. Conheço mulheres que
praticaram a técnica da modelagem dissimulada centenas de
vezes até serem capazes de fazê-lo em situações da vida real,
e assim procederam.
A pessoa deverá agir da mesma maneira que elas.
A técnica da Autoimagem Idealizada ajudará uma mulher
a escolher os comportamentos reais que deseja executar. E a
modelagem dissimulada desses comportamentos será valiosa
quando se apresentar a ocasião para que Sejam de fato
executados.
(c) É necessário praticar antecipadamente a situação
problemática. A pessoa deverá preparar-se. Não há de
esperar que caia do céu algum anjo que venha ajudá-la na
hora exata em que precisar de auxílio. Será empregada a
técnica do ensaio do comportamento. A competência na
prática de um comportamento é muitas vezes capaz de
reduzir um sentimento de angústia.
Lorna Elman, por exemplo, assistente social, sentia-se
terrivelmente angustiada quando apresentava seus casos na
reunião semanal do órgão. Seu principal medo era o
seguinte: que diría se lhe fizessem alguma pergunta a
respeito de um cliente e ela não fosse capaz de responder?
Eu instruí Lorna no sentido de agir da seguinte maneira:
quando preparasse um caso que deveria apresentar, faria
também uma lista de todas as possíveis perguntas que
pudessem surgir e praticasse as respostas que poderia dar a
essas perguntas. Lorna cumpriu esses “deveres de casa”,
com isso obtendo um duplo resultado:
(1) pelo fato de pensar de maneira mais precisa em seu
caso, passou a redigir melhores relatórios sobre eles; (2)
adquiriu confiança de que poderia responder a qualquer
pergunta que um dos membros do escritório lhe formulasse.
Isso não queria dizer que ela deveria ter uma resposta
correta para cada pergunta; não queria dizer, tampouco, que
ela seria capaz de dar uma resposta adequada, sob o ponto
de vista profissional. Na verdade, tendo conseguido reduzir a
sua ansiedade, Lorna começou a gostar de relatar os casos.
(d) Uma pessoa não poderá preparar-se com antecedência
para tudo. Deverá ser capaz de portar-se de maneira
criadora, manter os pés firmemente plantados na terra e
comunicar suas ideias de maneira a serem apreendidas pelas
outras pessoas. Essa capacidade se revela particularmente
importante nas grandes reuniões e conferências das
empresas, mas também é relevante no caso de grupos
informais, até mesmo no convívio entre dois seres humanos.
Uma pessoa pode ser autodidata nesse particular.

Exercício De Laboratório Sobre O


Pensamento E Sua Comunicação
Finalidade: Ajudar os indivíduos a desenvolver e
comunicar ideias criadoras.
Em sua tese de doutoramento na Universidade de
Colúmbia, o Dr. Michael Brown, ex-ator profissional,
elaborou um método para o treinamento das pessoas no
campo da comunicação criadora, tão necessário no mundo
dos negócios quando so trata de conferências, negociações,
apresentação de casos. Os exercícios que vêm a seguir,
adaptados do sistema do Dr. Brown, visam a ajudar as
pessoas a pensar melhor, conservando os pés na terra, bem
como expor um caso de maneira interessante. Emprego
esses exercícios aos grupos que praticam o Treinamento da
Autoafirmação, mas qualquer pessoa poderá executá-los com
a colaboração de um amigo ou a utilização de fitas gravadas.
Primeira Etapa. Escolher um tema e falar sobre ele
durante um minuto, da maneira mais interessante possível.
Segunda Etapa: Escolher dois tipos de temas: (1) um
assunto relacionado com a própria vida da pessoa. Falar
durante um minuto, por exemplo, informando que tipo de
papel usa em seu escritório, declarando que é o melhor que
existe no mercado, ou então narrar como, depois de muitos
insucessos, resolveu o problema da falta de papel em sua
empresa. Aspecto fundamental da exposição: discutir algo de
caráter fatual, e fazê-lo de maneira interessante. (2) Expor,
de maneira criadora, algum tópico inteiramente destituído de
qualquer sentido. Narrar, por exemplo, por que acredita que
um adulto,, comedor de crocodilos, pode ser um perfeito
animal de estimação dentro de uma casa, ou porque acredita
que o show de Johnny Garson é o “melhor programa
educativo da televisão”. Ou então, explicar como as árvores
de sapatos receberam essa denominação. O valor de tais
exercícios, na terapia, decorre do fato^ de que caem
repentinamente sobre o paciente, que será treinado a pensar
de maneira rápida e criadora, mantendo os pés firmemente
plantados no chão, conforme terá de proceder em muitas
situações que ocorrem no mundo dos negócios.
Terceira Etapa: Depois de apresentar o caso durante um
minuto, a pessoa avaliará seu conteúdo e também a maneira
em que sua exposição terá sido feita. Poderia ter sido
narrada de maneira mais imaginativa A pessoa permaneceu
confiante durante o tempo em que falou?
Quando aplico esse exercício, defronto-me com certas
dificuldades muito comuns. Se um indivíduo não personalizar
seu caso, empregando o pronome, “eu”, será monótono. Se
narrar sua história de maneira demasiado abstrata, e não
especificamente, deixará de prender a atenção das pessoas.
De início, o narrador não deverá ater-se a muitos detalhes,
pois se o- fizer, jamais chegará a tratar verdadeiramente do
assunto a que $e propuser.
Quarta Etapa: Depois de avaliar o caso que houver
narrado; o indivíduo repetirá sua exposição, procurando ser
ainda mais criativo. Eu conheço um grupo de executivos que
empregam' esse exercício para se “aquecerem” antes de
qualquer reunião- importante das empresas de que fazem
parte.
(4) Cumpre levar em conta que as outras pessoas também
possuem sua maneira de sentir. Todas as reações dos colegas
de trabalho de uma pessoa não giram em torno dela. Esses
colegas são independentes e possuem suas próprias ideias,
têm seus próprios sentimentos e problemas. Um colega
poderá reagir de maneira irritada em relação a determinada
pessoa por estar com dor de cabeça, haver tido uma briga
com â mulher ou andar preocupado com seu emprego.
Simplesmente pelo fato de uma pessoa estar voltada para
sua tarefa, num dado momento, isso não significa que outra
também o esteja.
Certa manhã, por exemplo, um dos chefes de Jean lhe
telefonou, intempestivamente, dando-lhe uma ordem para
que fizesse algo que ela considerou antiprofissional e
descabido. Desesperada e querendo censurar seu editor ou
abandonar o emprego, Jean me procurou em busca de um
conselho. Eu lhe disse o seguinte: “Aguarde um pouco. Talvez
ele estivesse perturbado por algum motivo.” Naquela mesma
tarde, o patrão de Jean pediu-lhe desculpas, declarando-lhe:
“Quando eu telefonei para você, tinha acabado de_ saber que
minha sobrinha predileta estava à morte, com câncer.
Esqueça o que eu lhe pedi que fizesse e, por favor, me
desculpe.”
8. Negociar Com O Sistema

Possuir as devidas habilidades em matéria de


comportamento é indispensável, mas não é bastante. Um
indivíduo deverá saber onde e quando há de aplicar essas
habilidades. Isso significa conhecer o sistema do mundo de
negócios em geral, e também a situação do emprego que
ocupar. Terá de aprender a estar em dia com as mudanças
que ocorreram em sua empresa e saber se as mesmas lhe
constituem uma ameaça ou lhe oferecem alguma
oportunidade. Se uma pessoa for ambiciosa deverá trabalhar
num setor no qual seus serviços apareçam. Os cientistas a
isso denominam encontrar um problema de primeira ordem.
James D. Watson, do Double Helix, sabia que se descobrisse
a estrutura da molécula do DNA ganharia o Prêmio Nobel.
Se um empregado quiser subir em sua empresa, não deverá
permanecer num canto onde permaneça invisível. Terá de
compreender a importância dos contatos sociais fora dessa
empresa e, graças a essa interação com as pessoas,
identificar quem são elas, o que fazem, e quando e onde o
fazem. Terá de absorver as diretrizes, atitudes e preconceitos
da empresa em que trabalhar. Esse conhecimento do sistema
de sua empresa lhe permitirá tomar as decisões que quiser
tomar.
(1) A pessoa não deverá esquecer sua meta no trabalho.
Pelo simples fato de surgir uma oportunidade, isso não quer
dizer que terá de aproveitá-la. Essa oportunidade talvez de
fato afaste a pessoa de sua meta. Ou então, poderá levá-la a
ver sob um ângulo diferente sua própria situação.
CASO
Eu estava tratando de Dick Harris, um médico de cor que
tinha dificuldade de afirmar-se em seus relacionamentos de
caráter íntimo. Durante seu tratamento, foi-lhe oferecido o
cargo de chefe do departamento de pediatria de uma
prestigiosa faculdade de medicina. O Dr. Harris mostrava-se
indeciso, não sabendo se iria ou não aceitar esse cargo.
Fizemos duas coisas no propósito de ajudá-lo a tomar sua
decisão. Levei-o a pensar como estimaria fosse, sua vida
profissional dentro de cinco anos. Além, disso, solicitei-lhe
que descrevesse as obrigações do chefe do departamento de
pediatria e, em seguida, imaginasse estar exercendo essas
obrigações. Tornou-se evidente a discrepância entre o que
ele queria e aquilo que iria obter. Na qualidade de chefe de
um departamento, estaria envolvido em atividades
administrativas e não nos trabalhos clínicos e nas pesquisas
que desejava fazer. Decidiu, então, que a oportunidade que a
ele se apresentava o afastaria de suas metas.
Na semana seguinte, quando o Dr. Harris chegou ao meu
consultório, informou-me haver aceito o cargo. Declarou o
seguinte: “Eu não tinha considerado um aspecto da questão.
Aquela faculdade de medicina nunca havia tido um chefe de
departamento de cor negra, e seria importante estabelecer o
precedente. Por causa desse princípio, estou disposto a
sacrificar minhas metas pessoais.” Nesse caso, agiu movido
por uma opção deliberada e foi suficientemente afirmativo
para reconsiderar suas metas.
(2) A pessoa deverá saber lidar com os preconceitos que
encontrar diante de si. Por vezes poderá discuti-los, mas,
outras vezes, será obrigada a lutar contra eles. Isso se aplica
de modo especial às mulheres que trabalham no mundo dos
negócios, porque, apesar de toda a libertação feminina,
muitos homens ainda consideram difícil respeitar a
autoridade de uma mulher que ocupa uma posição de chefia,
ao passo que outros julgam que ganhar mais dinheiro é um
privilégio dos homens.
CASO
Peggy Berke entrou em competição com um colega de sua
empresa para obter determinado cargo. Saiu ’vitoriosa e seu
antigo igual, agora seu subordinado, começou a criar-lhe
uma situação difícil. Entregava seus trabalhos com atraso e
Peggy principiou a ter dificuldades em seu cargo. Sabia que
teria de enfrentar aquele homem, mas estava preocupada
com seus próprios receios. Declarou-me o seguinte: “Basta
que eu o tenha derrotado. Por que terei de consumar sua
castração e dele retirar o que lhe resta de sua virilidade?”
Nós figuramos sua situação com o emprego da técnica do
psicodrama. Peggy adquiriu autocontrole e, finalmente, teve
oportunidade de pôr as cartas na mesa. Começou dizendo o
seguinte ao tal subordinado: “Nós estamos diante de um
problema”, e expôs a situação, perguntando-lhe o seguinte:
“Que poderemos fazer?” Assim procedeu, sentindo-se na
posição de chefe e sabendo que se o trabalho de seu
subordinado não melhorasse, ela teria a autoconfiança
necessária para despedi-lo. Após a discussão do problema,
houve muito maior cordialidade de parte desse subordinado,
e Peggy firmou sua posição.
(3) A pessoa deverá saber quando deixar um emprego. Por
vezes um sistema é demasiado inflexível e não possui as
virtualidades que permitam a uma pessoa alcançar suas
metas. Uma mulher, que havia anteriormente, sido secretária
executiva, ensinava datilografia a uma colega que ocupava
um cargo inferior ao dela. Achava seu trabalho opressivo
mas apreciava o fato de que ele não incluía as obrigações de
uma secretária. Quando foi tratar-se com o Dr. Íris Fodor, de
Nova York, refletiu demoradamente sobre o que poderia
fazer em matéria de suas preferências. A solução que
encontrou foi a seguinte: obteve um emprego numa escola
notuma de subúrbio na qual havia professores de ambos os
sexos, percebendo um ordenado muito mais elevado.
Há ocasiões em que o sistema não satisfaz a uma pessoa
porque suas metas ou sua situação de trabalho se
modificaram. Duas vezes em minha própria vida defrontei-
me com esse problema. Da primeira vez, isso ocorreu há
muitos anos, quando eu exercia um cargo de tempo integral
num hospital e tinha uma pequena clientela de consultório,
às noites. As rotinas do hospital eram tão desestimulantes
que começaram a afetar meu trabalho. Um belo dia, eu
estava lendo um relatório muito ruim sobre as condições
psicológicas de um paciente, quando deparei com minha
própria assinatura ao pé da página. Pensei ò seguinte:
“Como eu me permiti fazer uma coisa tão ruim?” Percebi que
teria de deixar meu emprego. Decidi correr o risco de
trabalhar o dia inteiro junto à minha clientela particular,
embora fosse casado com minha primeira mulher, nós
tivéssemos um filho pequeno e. ela estivesse esperando
outro. Ao cabo de dois meses, tendo deixado o hospital, havia
equilibrado meus rendimentos e já estava ganhando o
mesmo que anteriormente.
A segunda oportunidade apresentou-se a mim
recentemente, quando tinha cinquenta anos de idade,
pertencia ao corpo docente de uma faculdade de medicina,
tinha me divorciado e casado novamente, e estava cheio de
compromissos financeiros. Inesperadamente, houve uma
série de mudanças administrativas tia faculdade e quase
todos os colegas que eu respeitava a deixaram. Não restou
um único que pudesse inspirar-me, e os burocratas
começaram a prejudicar meu trabalho. Eu sabia que teria de
abandonar meu cargo. Por essa época, minha reputação
profissional era excelente, e quando comecei a procurar um
emprego de tempo parcial como docente, encontrei um
apreciável número de oportunidades. Quase todos esses
cargos eram bem remunerados, mas iriam me afastar de
minha principal motivação em matéria de desenvolvimento
profissional. Optei por um deles, embora isso importasse
numa grande redução em meus rendimentos. Mas pelas
oportunidades que oferecia ao meu progresso na profissão,
meu renome cresceu e também c número de meus clientes.
Desejo acentuar que experimentei então grande receio e
senti forte angústia ao realizar essas duas opções, em
diferentes épocas de minha vida. As duas situações que
escolhi poderiam não dar certo, mas eu tive sorte; tudo
correu bem.
Terei eu tido sorte? No meu caso, as soluções foram boas.
Mas seriam favoráveis se se tratasse de outra pessoa? Eu
sabia qual era minha meta: a oportunidade do meu
desenvolvimento profissional. Mas se uma pessoa tiver por
meta sua segurança, decisões iguais às que tomei não seriam
acertadas.
Quando um indivíduo toma uma decisão, no mundo dos
negócios, há de ser sempre necessário que faça a si próprio
duas indagações em matéria de autoafirmação:
Onde quero chegar?
Que terei de fazer para aí chegar?
Capítulo 13
O Grupo

Segue-se a história de um grupo que se submeteu ao


Treinamento da Autoafirmação. Esse grupo se reuniu em
minha sala de estar durante o último inverno, por dez
semanas consecutivas, realizando sessões de hora e meia.
Dos oito membros do grupo, cujas idades variavam dos
vinte e cinco aos sessenta anos, distribuindo-se suas
ocupações desde a de bombeiro hidráulico até a de médico
pediatra, cinco haviam anteriormente feito tratamento
psicanalítico. Esse tratamento dera muito bom resultado no
caso de um deles, um resultado relativamente bom quanto a
outro, não muito bom resultado em relação a dois outros
membros do grupo, e um resultado que foi classificado entre
“ruim e péssimo”, no caso do último participante do grupo,
isso segundo suas próprias palavras.
Transcorridas dez semanas de TA, cada integrante do
grupo havia de algum modo modificado sua própria vida.
Para alguns deles, essas mudanças foram de caráter
fundamental.
Os membros do grupo eram os seguintes:
Tess A., pediatra, magra, tensa, de quarenta e poucos
anos. Apesar de seu tratamento analítico ter sido bem-
sucedido, sentia que lhe restava um problema a resolver. Era
incapaz de dizer “não” às mães de seus pacientes, à
secretária, ao marido. Por causa disso, vivia a assumir novos
encargos para os quais não dispunha de tempo e que não
desejava assumir.
Rose W., diretora de uma instituição de assistência social,
de sessenta anos de idade. Apresentou seu problema como
sendo limitado à própria situação no trabalho. “Eu não tenho
dificuldade em conversar com as pessoas individualmente,
mas os grupos de pessoas me aterrorizam. Quando sou
obrigada a fazer uma palestra, começo a tremer, e meu
trabalho exige que eu fale muito em público.”
Dorothy M., uma atriz que há vinte anos desempenhara
papéis de coadjuvante numa série de espetáculos na
Broadway, mas que havia abandonado o teatro para casar-se
e ter filhos. Agora, aos quarenta anos de idade, tendo os
filhos internados em escolas, vivia ansiosa por voltar ao
palco. Mas havia perdido a confiança em si mesma como
atriz, no transcurso dessas duas décadas. Declarou-me o
seguinte: “Todos já terão se esquecido de mim. Perdi a boa
aparência que tinha, e as pessoas com certeza irão me
rejeitar. Estou convencida de que não poderei mais subir
num palco.”
Jill J., casado, com vinte e cinco anos de idade, secretário
executivo, sentia-se insatisfeito por não ter amigo e queria
criar um círculo de relações.
Willie R., de trinta e cinco anos de idade, bombeiro
hidráulico, queria tratar-se porque sua mulher, que era
professora, insistira com ele para assim proceder. Fazia tudo
que ela queria. No trabalho, comportava-se de maneira
muito afirmativa quando o caso era de vazamento de algum
cano ou entupimento de pias de cozinha. Em casa porém,
jamais tomava qualquer iniciativa. Sua mulher queria que ele
fosse um homem de ação. E Willie também isso desejava,
mas não sabia o que fazer nesse sentido.
Lyle S., de trinta e poucos anos de idade, programador de
computadores, viera me procurar, em princípio por causa de
dificuldades no casamento e problemas de ordem sexual. O
que afligia Lyle era sua agressividade. Era um homem alto,
magro, de aparência calma. Quando usava de franqueza ao
falar, sua linguagem era constituída de expressões ásperas,
sarcásticas, impregnadas de mau humor. Era incapaz de
exprimir a cólera de maneira apropriada. E tinha, ainda, o
problema de não saber comunicar seus sentimentos de afeto
à mulher, a quem na realidade muito amava.
Ernie K., o motorista de praça, de trinta anos (o que havia
passado de mal a pior com a terapia analítica). A exemplo de
Lyle, Ernie também se comportava de maneira agressiva
com as pessoas. Vivia “furioso com o tráfego de Manhattan”,
e concluíra que a polícia era constituída de um bando de
“demônios a persegui-lo”, e estava sempre a brigar com os
passageiros. Além disso, Ernie padecia de uma tensão
tremenda. Isso tudo veio à tona durante a primeira sessão do
grupo. Embora Ernie encarasse os outros sete membros do
grupo quando falava com eles, fazia-o de tal maneira que a
todos hostilizava. Solteiro, Ernie morava num quarto
mobiliado. Os contatos que tinha, com os passageiros de seu
carro eram, virtualmente, seu único convívio social.
Frank B., de quarenta e dois anos, contador de uma
grande firma, achava que deveria ter progredido mais em
seu trabalho. O problema dele era o seguinte: era
homossexual. Acreditava que se falasse com franqueza sobre
qualquer assunto, no trabalho, seus colegas iriam desprezá-
lo.
Durante a primeira sessão, fiz com que os membros do
grupo ficassem se conhecendo e solicitei a cada um que
estabelecesse suas metas individuais. Cuidei, ainda, de
estabelecer junto ao grupo uma atitude orientada para a
execução de suas tarefas. Nas sessões subsequentes, utilizei-
me de várias técnicas do Treinamento da Autoafirmação,
nelas incluindo desde os exercícios de relaxamento muscular
até o psicodrama.
Quanto ao caso de Ernie, por exemplo, eu tinha duas
metas: (1) reduzir suas tensões, tendo ele de praticar, no
grupo, a técnica de descontrair-se e, em seguida, transferi-la
para as situações da vida real, quando estivesse dirigindo
seu carro e transportando seus passageiros; (2) modelar esse
comportamento, de sorte que pudesse manter uma
conversação em termos educados, num tom de voz normal,
sem fazer ameaças de violências às pessoas. Ensinei-lhe
também como lidar com palavras depreciativas que lhe
fossem dirigidas. Empregamos com Ernie muitas vezes a
técnica do psicodrama, o mesmo fazendo nos casos de Rose,
Willie, Tess e Lyle. Quanto a Jill e Dorothy, utilizei-me da
técnica de execução de tarefas de comportamento. Dei a Jill
exercícios que constavam de saudar os vizinhos com um
“Alô!”, nos elevadores, e ter encontros com outros casais.
Instruí Dorothy no sentido "de renovar seus contatos no meio
teatral.
A interação do grupo revelou-se de imensa ajuda. Frank,
por exemplo, receava que os outros membros do grupo
descobrissem que ele era homossexual e o rejeitassem. Tinha
um receio especial da reação de Ernie. Por esse motivo, tive
que tratar de Frank individualmente e proporcionar-lhe a
prática de dramatizar as palavras de franqueza que iria
empregar junto ao grupo. Eu desempenhei o papel de Ernie.
Na terceira reunião do grupo, Frank falou sobre sua
homossexualidade e os demais membros aceitaram-na como
se sempre houvessem sabido disso. Perguntei a Ernie o
seguinte: Como você se sente a respeito disso?” Ele me
respondeu simplesmente: “É um problema de Frank”. Tal
resposta deu a Frank confiança para ser franco no trabalho,
dar opiniões durante as reuniões de que participava, lidar
com seus superiores e conversar com os colegas.
Segue-se um relatório muito sumário a respeito do que
ocorreu com cada participante do grupo, ao cabo de dez
semanas.
Utilizando-se das minhas fitas gravadas e dos exercícios
executados pelo grupo, além de sua prática em situações da
vida real junto às mães e à sua secretária, Tess havia
aprendido a dizer “não”. Também começara a dizer “não” a
qualquer pedido de seu marido exigente. Isso consumou a
decisão de Tess no sentido de acabar com seu casamento.
Declarou-me o seguinte: “Não sei se isso será bom ou mau,
mas é uma coisa que tem de ser feita.”
Rose descobriu que seus problemas em matéria de lidar
com as pessoas não se limitavam ao seu emprego. Sua
recém- adquirida franqueza e sua capacidade de comunicar
as próprias ideias e os próprios sentimentos afetara-lhe o
casamento. Comunicou-nos o seguinte: “Meu marido me
disse estas palavras: “Você mudou mais em dez semanas do
que durante nossos vinte e cinco anos de casados”. No caso
de Rose, o momento em que se iniciou sua transformação
situou-se por volta da metade das dez sessões. Na quarta
sessão, solicitei a cada membro do grupo que viesse
preparado, na sessão seguinte, para narrar uma história, em
dois minutos, sobre alguma experiência emocional que
tivesse tido antes dos vinte anos de idade. O valor de narrar
essas histórias seria o de aumentar a capacidade de
franqueza de cada um. Rose nos contou uma história
emocionante. Um menino, muito mais velho do que ela, que
era uma criança — era ele um vizinho a quem adorava —
morreu num acidente de caça. Embora tivesse narrada sua
história muito bem. Rose confessou haver ficado
nervosíssima com isso. Eu lhe pedi, então, que preparasse
outra história para a sessão seguinte. Quando entrou em
meu consultório, tinha um jeito tão aterrorizado que eu lhe
disse, imperiosamente: “Relaxe”. Ela o conseguiu. Mais
tarde, declarou-me o seguinte: “Foi naquele momento que
começou minha mudança. De então em diante, consegui
controlar minha angústia.
O jovem Jill começara a relacionar-se com um grupo de
pessoas e estabelecera sólidas bases para a formação de um
círculo de conhecidos e amigos. Uma das pessoas com quem
fizera amizade era Rose.
Dorothy estava encantada. Por volta da décima sessão do
grupo, havia tornado a criar um círculo de relações no meio
teatral e estava começando a ser considerada para uma
futura participação numa peça na Broadway. Na sessão
inicial, dera uma longa lista de razões pelas quais não seria
lembrada para representar qualquer papel no palco, por isso
“nem deveria se candidatar a uma coisa dessas”. Na última
sessão, ao descrever um recente teste a que se havia
submetido, declarou com firmeza; “Esse papel é meu.”
Lyle parecia estar no bom caminho. Através de um
prolongado trabalho, com a aplicação da técnica do
psicodrama, aprendera a dar expressão aos seus sentimentos
de irritação de uma forma franca, mas sem arrebatamento
de humor. Agora Lyle usava uma linguagem afirmativa, e não
se mostrava agressivo. Havia também aprendido a
demonstrar seus sentimentos de afeto. Tocou para o grupo
uma fita gravada por sua mulher, na qual ela se referia à
modificação do comportamento do marido em relação a ela.
Willie teve apenas um sucesso parcial com o tratamento.
Havia assumido maiores responsabilidades quando se
tratava de tomar decisões na qualidade de homem casado.
Por exemplo: tinha planejado as próximas férias dele e de
sua mulher. Também estava executando mais coisas por sua
iniciativa própria, como jogar hockey com os amigos. Ainda
lhe restava um longo caminho a percorrer, sendo-lhe
indicado prosseguir no TA.
Frank contara a um colega de trabalho (que conhecia há
quinze anos) que era homossexual. Esse colega lhe
respondeu exatamente como o haviam feito os outros
membros do grupo. “Todo mundo sabe disso e não liga”. No
fim do tratamento, Frank havia conseguido uma promoção
em seu trabalho, mas, transcorridos seis meses, transferira-
se para um cargo melhor, em' outra firma.
Ernie sentia-se muito mais calmo, tendo deixado de brigar
com os passageiros de seu táxi. E quase conseguira dobrar
as gorjetas que recebia. Todavia, seu tratamento não estava
terminado. Por causa de suas maneiras grosseiras, nunca
havia conseguido estabelecer um círculo de relações. Por
isso, eu o coloquei em outro grupo de TA, cuja meta era criar
um círculo de conhecidos e amigos.
Ao concluir este meu livro, estimaria considerar as duas
perguntas mais frequentes que me são feitas, uma de ordem
prática e outra de cunho pessoal.
P. Como encontrar um terapeuta do comportamento que
possa fazer o Treinamento da Autoafirmação?
R. Para isso conseguir, recomendo dois procedimentos:
(1) Se a pessoa quiser obter uma lista dos terapeutas do
comportamento, poderá escrever e solicitar a relação dos
Membros Clínicos da Terapia do Comportamento é da
Sociedade de Pesquisas, aos cuidados da Eastern
Pennsylvania Psychiatric Institute, 3300, Henry Avenue,
Philadelphia, Pennsylvania 19129.
(2) Escrever à Association for the Advancement of.
Behavior Therapy, 475 Park Avenue South, New York, New
York 10016, solicitando uma lista dos membros que residem
em sua área. Essa organização não recomenda terapeutas.
Todavia, seus membros estão profissionalmente interessados
na terapia do comportamento e devem conhecer um
terapeuta que resida ejn sua área. ^
P. O senhor julga que aplicando tanto Treinamento da
Autoafirmação isso o fez tornar-se mais afirmativo?
R. Sim. Eu me vejo sempre a fazer todas as coisas que
ensino aos meus pacientes. Nas situações sociais e no
trabalho, eu me estimulo a falar de maneira franca. Ao
conversar com meus pacientes acerca de suas metas,
reavalio minhas próprias metas. Desse modo, modifiquei
minha especialização profissional, arranjei outra esposa e
mudei todo meu estilo de vida.
Comigo deu certo. Poderá dar certo com outras pessoas.
 
 
 
Apêndice

Exercício De Relaxamento Total


O texto que vem a seguir é a reprodução de uma fita
gravada durante uma sessão de relaxamento muscular. Uma
cópia dessa fita entregue a cada paciente a fim de que a
levasse para casa. Os leitores que desejarem gravar o texto,
no propósito de utilizá-lo, deverão solicitar que seja lido por
uma pessoa cuja voz, quando isso for necessário, assuma um
tom capaz de agir como calmante. Os trechos que se referem
ao fato de os músculos se acharem tensos serão lidos
energicamente. Os que visam ao relaxamento muscular
serão lidos em cadência lenta, tranquilizadora e quase
musical, e que possuam um certo atributo capaz de exercer
ação hipnótica.
Deite-se. Fique de olhos fechados. Mantenha os braços
esticados ao longo do corpo. Sinta-se bem, em posição
confortável. Se pensamentos espúrios lhe vierem à mente,
diga de si para si “Pare!” Afaste esses pensamentos e
concentre-se no que estiver fazendo.
A primeira coisa a fazer será concentrar os músculos da
parte inferior do corpo. Volte os pés para dentro, com os
dedos se tocando e os calcanhares ligeiramente afastados
um do outro. Agora dobre ps dedos dos pés com firmeza,
flexione os pés para baixo — agora para cima — isso contrai
os músculos situados ao longo das canelas e da barriga das
pernas — simultaneamente, contraia as coxas e também os
músculos das nádegas e os localizados ao redor do ânus —
não de maneira tão intensa que os possa retesar, sendo
suficientemente contraídos para ser sentida sua tensão.
Estude essa tensão, estude essa tensão — tenso, tenso, tenso
(pausa de cinco segundos).
Agora relaxe — sinta que a tensão está diminuindo —
concentre-se no relaxamento dos músculos dos dedos dos
pés — relaxe os músculos das pernas — relaxe os músculos
das coxas — relaxe os músculos das nádegas e os situados ao
redor do ânus — agora concentre-se em cada parte do corpo
que eu for mencionando — dedos dos pés relaxados, pernas
relaxadas, coxas relaxadas — músculos das nádegas
relaxados — a tensão desapareceu completamente. (Pausa de
dez segundos).
Agora contraia os músculos do abdômen — faça com que
os músculos do abdômen fiquem tão tensos como se uma
criança fosse arremessar uma bola de futebol de encontro ao
seu estômago — faça com que esses músculos fiquem bem
tensos. Estude essa tensão — sinta onde ela se localiza.
Mantenha os músculos do abdômen assim tensos durante
dez segundos — mantenha a tensão — músculos, tensos,
tensos, tensos, tensos.
Agora relaxe — Relaxe os músculos do abdômen —
Afrouxe os músculos — Procure relaxar os músculos
profundamente situados em seu abdômen. Os músculos dos
intestinos — Afrouxe esse músculos. Você está cada vez mais
relaxado. {Pausa de dez segundos).
Agora os músculos das costas — Arqueie as costas —
arqueie a parte superior das costas até sentir que a tensão
esteja se formando — Procure localizar essa tensão —
Existem duas longas colunas de músculos ao longo de sua
espinha dorsal — Você poderá sentir a tensão aí localizada —
Onde ela estiver, procure sentir essa tensão — Suas costas
estão tensas — tensas — tensas.
Agora relaxe — Relaxe os músculos das costas — Afrouxe
esses músculos — Deixe que a tensão vá diminuindo — Você
está sentindo suas costas flácidas e pesadas — Deixe que
elas fiquem assim — Cada vez mais e mais relaxadas. (Pausa
de dez segundos).
Agora os músculos do peito — Respire profundamente e
prenda a respiração — Fique prendendo a respiração —
Cinco segundos — Repare que quando você prende a
respiração começa a formar-se a tensão — Estude a tensão
dos músculos de seu peito — Estude onde ela se localiza —
Dez segundos — Continue prendendo a respiração —
Identifique essa tensão — Quinze segundos — Agora solte a
respiração lentamente, o mais lentamente que puder —
Lentamente — Agora respire de maneira natural e
confortável, como se estivesse dormindo profundamente —
(Pausa) — Continue relaxando os músculos do peito —
Afrouxe os músculos — Deixe que a tensão vá
desaparecendo. (Pausa de dez segundos.)
Agora concentre-se em cada parte do corpo que eu
mencionar — abdômen relaxado — Costas relaxadas — Peito
relaxado — Toda a tensão desapareceu (Pausa).
Agora os músculos dos dedos, dos braços e dos ombros —
Feche com firmeza os punhos de cada mão — Mantenha os
cotovelos rígidos e retos — Os cotovelos vão ficar rígidos e
retos como pedras — Levante os braços até formarem um
ângulo de quarenta e cinco graus — O ângulo formado pelos
seus braços ficará a meia distância da cama e da vertical —
Agora sinta a tensão — Estude a tensão — Estude a tensão
de seus dedos — de seus antebraços — de seus braços e
ombros — Mantenha essa tensão durante dez segundos —
Mantenha a tensão — Tenso — tenso.
Agora relaxe — dedos abertos — braços abaixados ao
longo do corpo — Relaxe — Relaxe os músculos dos dedos —
Deixe que eles se afrouxem — Relaxe os músculos dos braços
— Deixe que eles se afrouxem — Agora relaxe os músculos
dos ombros-— Deixe que eles se afrouxem — (Pausa) —
Dedos relaxados — braços relaxados — ombros relaxados —
Deixe que seus braços fiquem lassos e pesados — Deixe que
eles se afrouxem — (Pausa de dez segundos).
Agora os músculos que ficam entre as omoplatas e os
músculos do pescoço -— Leve os ombros para trás até que
suas omoplatas quase se toquem — Simultaneamente,
arqueie o pescoço até que seu queixo fique apontando para o
teto — Essas zonas são muito sensíveis à tensão nervosa — A
maioria das pessoas sentem aí suas tensão — Sinta a tensão
— Não tão forte a ponto de sentir dor — Estude a tensão —
Deixe que a tensão se forme.
Agora relaxe — Relaxe os músculos situados entre suas
omoplatas — Deixe que a tensão vá desaparecendo — Relaxe
os músculos do pescoço — Afrouxe esses músculos — Agora
os músculos do pescoço estão sustentando sua cabeça — Sua
cabeça está caída, de maneira lassa, sobre o travesseiro —
Toda a tensão vai diminuindo — Sinta que ela vai
desaparecendo — (Pausa de dez segundos).
Agora os músculos da parte superior do rosto — Faça uma
careta com a parte superior do rosto — Feche os olhos,
apertando-os — Franza o nariz — Franza as sobrancelhas —
Observe onde está sentindo a tensão — Estude a tensão —
Observe que você está sentindo tensa a testa, a região entre
as sobrancelhas e a parte do rosto que fica abaixo dos
olhos...
Agora relaxe — deixe que toda a tensão desapareça —
Concentre-se em relaxar os músculos da testa — Deixe que
eles se afrouxem — Relaxe as pálpebras — No momento em
que elas se relaxam, você observa que está sentindo as
pálpebras pesadas — Elas fazem com que você se sinta
sonolento, mas você não irá dormir — Deverá ficar bem
acordado — Relaxe os músculos da ponte do nariz — Deixe
que eles se afrouxem — Relaxe os músculos da face —
Lembre-se do lugar onde eles estiveram tensos — Deixe que
eles se afrouxem — {Pausa de dez segundos).
Agora os músculos dos maxilares e a língua — Cerre
fortemente seus molares, cerre uns contra os outros até seus
maxilares ficarem tensos — Sinta essa tensão nas têmporas,
junto às orelhas — Onde sentir a tensão, estude essa tensão.
— Comprima a língua de encontro aos dentes dianteiros
inferiores — Seus maxilares estão tensos — Sua língua está
rígida — Estude a tensão — Procure saber que tensão é essa
— Aprenda a sentir a tensão — Mantenha a tensão,
mantenha a tensão.
Agora relaxe — Relaxe os músculos dos maxilares — Deixe
que eles fiquem frouxos — Relaxe a língua — Seus dentes
deverão- ficar levemente separados — Seu maxilar está
pendente, lasso — Cada vez mais relaxado — {Pausa de dez
segundos).
Agora os músculos que ficam em torno da parte inferior
da face — Faça com que os músculos em torno dá boca e do
queixo fiquem tensos — A melhor maneira de fazê-lo é dar
um esgar de riso — Um grande esgar de riso, uma careta —-
Repuxe os lábios para que seus dentes fiquem à mostra, os
dentes superiores e os inferiores — Repuxe bem os cantos da
boca, para trás e para baixo — Sinta a tensão nos lábios, ao
redor da boca, no queixo — Deixe que a tensão se forme —
sinta a tensão — estude a tensão — Tenso — tenso — tenso.
Agora relaxe — Relaxe os músculos em torno da boca e do
queixo — Deixe que se afrouxem — Faça com que toda a
tensão desapareça -— {Pausa de dez segundos). Agora
procure relaxar os músculos da garganta — relaxe a parte
mole da garganta por onde você engole — Relaxe os
músculos de suas cordas vocais — Procure retirar daí toda a
tensão — {Pausa de dez segundos). Isto é o final da primeira
parte do exercício. — Fique de olhos fechados. Você ainda
está relaxando.
Agora a segunda parte. Pergunte a você mesmo: existe
alguma tensão em minhas pernas, minhas coxas, minhas
nádegas? Se existir, deixe que ela desapareça — Procure
fazer com que toda a tensão desapareça — Cada vez mais
relaxado — (Pausa de dez segundos). Em seguida, pergunte a
você mesmo: existe alguma tensão em meu abdômen, em
minhas costas? Se existir, deixe que essa tensão desapareça
— Respire de maneira fácil e confortável, como faz quando
está dormindo profundamente — Toda a tensão desapareceu
— {Pausa de dez segundos)
Agora pergunte a você mesmo: Existe alguma tensão em
meus dedos, em meus braços ou em meus ombros? Se
houver, deixe que a tensão desapareça. Seus ombros e
braços ficaram lassos e pesados — {Pausa de dez segundos).
Agora pergunte a você mesmo: existe alguma tensão em
minhas omoplatas ou meu pescoço? Se existir, deixe que ela
desapareça — Sua cabeça está repousada no travesseiro —
{Pausa). Agora pergunte a você mesmo: existe alguma
tensão em minha face, em meus maxilares, ou em minha
garganta? Se existir, deixe que ela desapareça — Toda a
tensão desapareceu — Continue deixando que ela
desapareça {Pausa).
Agora a terceira parte do exercício. Imagine sua cena
agradável, a cena que discutimos antes, ou se você tiver
alguma dificuldade com ela, imagine a palavra “Calma” —
Imagine um quadro bem claro, não apenas a visão, desse
quadro, mas os sons, os cheiros e aquilo que você sente — Se
sua mente se desviar, faça sempre com que ela volte a
concentrar-se na cena agradável. E, enquanto figurar na
mente esse quadro, concentre-se em relaxar os músculos dos
dedos dos pés. Afrouxe-os — {Pausa) — Relaxe os músculos
das coxas — Afrouxe-os — (Pausa) — Relaxe os músculos das
nádegas — Afrouxe-os {Pausa) — Continue imaginando sua
cena agradável — Se outros pensamentos lhe vierem à
mente, diga para você mesmo “Pare!” Afaste esses
pensamentos — Concentre-se nos músculos do abdômen —
Afrouxe-os. Relaxe — (Pausa) — Relaxe os músculos das
costas (Pausa) — Relaxe os músculos do peito — Respire
livremente e com .conforto — Continue imaginando sua cena
agradável — (Pausa) — Relaxe os músculos dos dedos —
Afrouxe-os — (Pausa) — Relaxe os antebraços — (Pausa)
Relaxe os músculos das omoplatas — Afrouxe-os — (Pausa) —
Continue imaginando a cena agradável — Relaxe os
músculos da testa — Afrouxe-os — Relaxe os músculos do
pescoço — Afrouxe-os (Pausa) — Continue imaginando a
cena agradável — Relaxe os músculos da testa — Afrouxe-os
— (Pausa) — Relaxe as pálpebras — (Pausa) — Relaxe os
músculos da ponta do nariz — Afrouxe-os — (Pausa) —
Relaxe os músculos dos maxilares — Relaxe a língua —
Relaxe os músculos em torno da boca e do queixo — Afrouxe-
os — (Pausa) Relaxe os músculos da garganta — Toda a
tensão desapareceu — Você se sente inteiramente lasso e
pesado — Agora continue imaginando a cena agradável —
Calmo e relaxado — (Pausa de dez segundos) — Agora eu
vou contar de três a um. Quando eu disser um, você se
sentará e abrirá os olhos. Estará alerta e, bem acordado e
muito' reconfortado — Três — dois — um.

Exercício De Relaxamento Parcial


Este toma menos treze minutos do que o Exercício de
Relaxamento Total. Ao invés de retesar cada parte do seu
corpo separadamente, você o faz imediatamente e de uma
maneira geral. Mantenha a tensão durante uns sete
segundos, mais ou menos, e em seguida relaxe. Próxima
etapa: inspire profundamente, mantenha a respiração
durante uns vinte segundos e, em seguida, vá se relaxando
vagarosamente. Isto permite que o dióxido de carbono
contido no seu sangue aumente. Finalmente, você imagina
uma cena que lhe seja agradável ou pensa na palavra
“Acalme-se” e relaxe o seu corpo como sucede no Exercício
de Relaxamento Total.
Deite-se. Procure uma posição confortável. Braços ao lado
do corpo. Dedos abertos. Olhos fechados. Durante o decorrer
destes exercícios, ao notar que pensamentos perdidos lhe
vêm à mente, diga para si mesmo “Pare!”, afaste-os e
concentre-se no que está fazendo.
Primeira parte do exercício; retese todo o corpo de uma só
vez. Mas não de uma maneira tal que se sinta tenso, mas sim
o bastante para que possa sentir a tensão se formando. Sua
tarefa é estudar a tensão, é vir a saber quando se sente
tenso.
Una os dedos dos pés, calcanhares ligeiramente afastados,
e movimente os dedos para baixo. Isto retesa os músculos dá
sua perna. Retese as coxas — retese as nádegas — retese o
abdômen. Levante os braços, punhos fechados, cotovelos
enrijecidos. Aperte bem os olhos para que fiquem bem
fechados — cerre os dentes — mantendo o rosto todo
retesado, erga o pescoço, mantendo o queixo na direção do
teto. Mantenha-se assim. Mantenha essa posição durante uns
sete segundos. Permita que ela exploda. Volte a colocar os
braços ao lado do corpo, queixo para baixo. Concentre-se na
sensação da tensão decrescente (cerca de dez segundos).
Agora, verifique os músculos das pernas e coxas. Alguma
tensão? Leve alguns segundos e deixe que relaxem. {Pausa
de uns cinco segundos). Relaxe a musculatura do abdômen e
das costas. {Pausa de cinco segundos). Músculos dos dedos e
dos braços, sinta-se agradavelmente pesados {pausa de
cinco segundos), os músculos de sua face e queixo, relaxe-os
{cinco segundos).
Agora, inspire profundamente pela boca e prenda a
respiração. Mantenha-a presa. (Pausa de quinze a vinte
segundos). Então, vagarosamente, vá soltando o ar contido
nos pulmões {pausa) e, finalmente, respire lenta e
agradavelmente como costuma acontecer durante um sono
profundo.
E, a partir daqui, pense na sua agradável cena (retorne ao
início do exercício) para finalizar o exercício.
A Colaboração Que Produziu Este
Livro

Dr. Herbert Fensterheim, o consagrado autor de Não Diga


Sim Quando Quer Dizer Não, cursou seu mestrado em
psicologia na Universidade de Colúmbia e tirou sua pós-
graduação na Universidade de Nova York. Passou vinte anos
de sua vida como um terapeuta analiticamente orientado,
antes de se tornar um dos primeiros médicos envolvidos com
a terapia do comportamento. Além de clinicar,
particularmente em Manhattan, é um Clinicai Associate
Professor of Psychology in Psychiatry, na Faculdade de
Medicina da Universidade de Cornell e Chefe em Tratamento
e Estudo do Comportamento na Clínica Payne Whitney, do
Hospital de Nova York. Lecionou psicologia em níveis de
currículo universitário, extensão universitária e pós-
graduação em universidades de > renome e em faculdades
de medicina. Além de tudo isto, escreveu cerca de cem
artigos profissionais, co-editou dois livros profissionais sobre
a terapia do comportamento e é o autor de Help Without
Phychoanalysis. Reconhecido como um conhecedor no
Treinamento da Autoafirmação, Dr. Fensterheim pronunciou
diversas conferências para comunidades profissionais
durante congressos de organizações, tais como: American
Psychological Association e American Group Psychotherapy
Association, preparando, desta maneira, outros terapeutas
para aprenderem a sua técnica e ensiná-la a seus pacientes.
Jean Baer, colaboradora do Dr. Fensterheim (sua mulher
na vida particular), tem escrito intensamente a respdto dos
problemas contemporâneos. Seus livros anteriores são:
Follow Me! The Single Girl Goes To Town e The Second Wife.
E uma assídua colaboradora da The Christian Science
Monitor, bem como das mais importantes revistas femininas.
Já trabalhou para a Mutual Broadcasting Company, a U.S.
Information
Agency e, durante muitos anos, foi editora c diretora para
os projetos especiais da revista Seventeen.
A essência e a maioria dos detalhes dos casos
apresentados nestas páginas são autênticas. Contudo, o
material foi intensivamente condensado para poupar o tempo
do leitor. Nomes e ocorrências foram disfarçados com muito
cuidado para proteger a privacidade dos pacientes.
 
Sumário

INTRODUÇÃO. “COMIGO DEU CERTO. PODE DAR CERTO COM VOCÊ”


CAPÍTULO 1. VOCÊ PODERÁ APRENDER A SER NORMAL, A NÃO SER
NEURÓTICO
A TERAPIA DO COMPORTAMENTO E O TREINAMENTO DA AUTOAFIRMAÇÃO
A PERSONALIDADE AFIRMATIVA
FUNDAMENTOS TEÓRICOS DO TREINAMENTO DA AUTOAFIRMAÇÃO
A Organização Psicológica
A Espiral Neurótica
CAPÍTULO 2. DEFINIÇÃO DAS DIFICULDADES INDIVIDUAIS DE
AUTOAFIRMAÇÃO
TIPOS DE PROBLEMAS DE AUTOAFIRMAÇÃO
(1) As Almas Tímidas.
(2) As Pessoas Que Têm Dificuldade Em Comunicar-Se.
(3) A Autoafirmação Dividida.
(4) Pessoas Que Apresentam Deficiências De Comportamento.
(5) Pessoas Que Têm Bloqueios Específicos.
(6) Pessoas Que Têm Hábitos Que Interferem Com Seu Comportamento.
(7) Pessoas Que Têm Dificuldades De Se Afirmar Junto Aos Próprios Filhos.
A AUTO-AFIRMACÃO EM CONTRASTE COM A AGRESSIVIDADE
DIREITOS DA PESSOA
A DEFINIÇÃO EXATA DAS DIFICULDADES INDIVIDUAIS
Inventário No Campo Da Autoafirmação
Inventário De Tensões
FIXAÇAO DE METAS INDIVIDUAIS NO CAMPO DA AUTOAFIRMAÇÃO
CAPÍTULO 3. O LABORATÓRIO DE AUTOAFIRMAÇÃO
UM PROGRAMA DE METAS
Como Estabelecer As Metas
TAREFAS DE COMPORTAMENTO
Situações Impessoais
Integração Social
CONVERSAÇÃO DE CONTEÚDO AFETIVO
A Abordagem Das Emoções Segundo A Teoria Do Comportamento
Exercício De Laboratório: Conversação De Conteúdo Afetivo
COMO DIZER “NÃO”
Exercício De Laboratório: Como Dizer “Não”
ENSAIOS DE COMPORTAMENTO
Reconstituição De Uma Sessão Do Treinamento De Ensaio De Comportamento
Exercidos De Laboratório Sobre Ensaios De Comportamento
CAPÍTULO 4. COMO FORMAR UM CÍRCULO DE RELAÇÕES SOCIAIS
CÍRCULO SATISFATÓRIO DE RELAÇÕES SOCIAIS
CÍRCULO INSATISFATÓRIO DE RELAÇÕES SOCIAIS
O CÍRCULO DE RELAÇÕES SOCIAIS AFIRMATIVO
Exercício De Laboratório: Comportamento Dissimulado
Exercício De Laboratório: A Técnica De Fazer Parar O Pensamento
Guia Do Principiante Em Matéria De Humilhações
AÇÃO NO SENTIDO DE ADQUIRIR RELACIONAMENTOS DE CARÁTER ÍNTIMO
Exercício De Laboratório: Sobre A Autorrevelação
CAPÍTULO 5. O RELACIONAMENTO ÍNTIMO
UM PLANO DE COMPORTAMENTO COM VISTAS À MAIOR EFICIÊNCIA DO CASAMENTO
Exercício De Laboratório: Comportamentos No Casamento
Contratos De Comportamentos No Casamento
Exercícios De Laboratório: Sobre Comunicação
Exercícios De Laboratório: Sobre Tomada De Decisões
SINAIS DE PERIGO
CAPÍTULO 6. ABORDAGEM POSITIVA DO PROBLEMA DO SEXO
BASES PARA A MUDANÇA
Os Conhecimentos Em Matéria Sexual
A ORIENTAÇÃO ATIVA
Ajustamento Do Processo De Tomada De Decisões Em Matéria De Sexo
Exercício Sexual De Laboratório I
Melhorar A Qualidade Do Relacionamento Sexual
Exercício Sexual De Laboratório Ii
Outras Etapas Da Comunicação Ativa
O Aumento Da Frequência Das Relações Sexuais
Exercício Sexual De Laboratório III
Conversação De Conteúdo Sexual
CAPÍTULO 7. AUTOAFIRMAÇÃO ATRAVÉS DO AUTODOMÍNIO
POR QUE UMA PESSOA NÃO POSSUI AUTODOMÍNIO
A TEORIA DA MODIFICAÇÃO DO COMPORTAMENTO
Falta De Controle Dos Reforços
Estímulos Discriminativos
CAPÍTULO 8. UM GUIA PARA A CODIFICAÇÃO DOS HÁBITOS
IDENTIFICAR O HÁBITO QUE SE DESEJA MODIFICAR
FAZER UM CONTRATO DE INTENÇÃO NO SENTIDO DE QUE SE DESEJA MODIFICAR DETERMINADO
COMPORTAMENTO
EXAMINAR A SITUAÇÃO E VERIFICAR SE A AÇÃO INDESEJADA PODE SER DE EXECUÇÃO MAIS DIFÍCIL
E SE A ACÃO DESEJADA PODERÁ SER DE REALIZAÇÃO MAIS FÁCIL
VERIFICAR QUE CONSEQUÊNCIAS DO COMPORTAMENTO INDESEJADO O REFORÇAM. DEVEM SER
PROCURADAS AS CONSEQUÊNCIAS IMEDIATAS DO ATO (QUE NAO TÊM DE SER NECESSARIAMENTE
AGRADÁVEIS).
ESTABELECER O HÁBITO DESEJADO
CAPÍTULO 9. AUSÊNCIA DE REFORÇOS = DEPRESSÃO
Exercício De Laboratório Para A Depressão I
Exercício De Laboratório Para A Depressão Ii
CAPÍTULO 10. COMO EMAGRECER E CONSERVAR-SE MAGRO
A MODIFICAÇÃO DOS HÁBITOS ALIMENTARES: UM PROGRAMA DE CINCO PONTOS
CAPÍTULO 11. O PROBLEMA DOS DESVIOS SEXUAIS
NOVAS IDEIAS SOBRE OS DESVIOS SEXUAIS
O HOMOSSEXUAL
Um Guia Para Os Homossexuais
Guia De Autoafirmação Para Os Homossexuais
VARIANTES HETEROSSEXUAIS
O TRANSEXUAL
CAPÍTULO 12. A AUTOAFIRMAÇÃO NO TRABALHO
OS TIPOS QUE CARECEM DE AUTOAFIRMAÇÃO NO TRABALHO. DESDE OS QUE FICAM SEMPRE NO
MESMO LUGAR ATÉ AQUELES QUE SÃO EXPLORADOS
1. O TREINAMENTO DA AUTOAFIRMAÇÃO NO TRABALHO
Metas Baseadas Na Realidade
Metas Neuróticas
2. ADOTAR UMA ABORDAGEM ATIVA A FIM DE SER OBTIDO O EMPREGO ACERTADO
3. A PESSOA DEVERA VERIFICAR SE POSSUI AS HABILITAÇÕES QUE LHE PERMITAM CONSERVAR SEU
EMPREGO ATUAL
4. APRENDER A DOMINAR A ANGÚSTIA NO TRABALHO
Exercícios De Relaxamento
Exercício De Relaxamento Praticado No Laboratório
Exercício Prático De Relaxamento
5. ADQUIRIR O CONTROLE DE UMA ANGÚSTIA ESPECÍFICA QUE O INDIVÍDUO HOUVER APRENDIDO A
ASSOCIAR A DETERMINADA TAREFA DE SEU EMPREGO
A Dessensibilização Sistemática Das Fobias
A Dessensibilização “In Vivo”
6. O DOMÍNIO DA ARTE DE MANTER UM BOM RELACIONAMENTO COM AS PESSOAS NO TRABALHO
7. GUIA DA AUTOAFIRMAÇÃO NO TRABALHO
Exercício De Laboratório Para Mulheres
Exercício De Laboratório Sobre O Pensamento E Sua Comunicação
8. NEGOCIAR COM O SISTEMA
CAPÍTULO 13 O GRUPO
APÊNDICE
Exercício De Relaxamento Total
Exercício De Relaxamento Parcial
A COLABORAÇÃO QUE PRODUZIU ESTE LIVRO
SUMÁRIO

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