Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Ressignificando Os Anjos Tocheiros A Partir Das Experiências Educativas No Museu de Arte Sacra Do Pará - Daniele Nogueira
Ressignificando Os Anjos Tocheiros A Partir Das Experiências Educativas No Museu de Arte Sacra Do Pará - Daniele Nogueira
BELÉM
2018
DANIELE SUELEM RODRIGUES
NOGUEIRA
BELÉM
2018
DANIELE SUELEM RODRIGUES
NOGUEIRA
Banca examinadora
_______________________________________
Prof. Simone de Oliveira Moura
Orientadora – Universidade da Amazônia
_______________________________________
Prof. Renata de Fátima da Costa Maués
Universidade da Amazônia
________________________________________
Prof. Zenaide Pereira Paiva
SIM/SECULT
BELÉM-PA
2018
Dedico este trabalho a quem me
ensinou a acreditar nas flores no
chão vencendo o canhão.
AGRADECIMENTOS
Uma visita a um museu não precisa ser entediante, e de forma alguma é simples,
pelo contrário, envolve além do que os olhos de visitantes podem ver, e do que o
tempo da visita permite contar. Tempos encontram-se e cabe ao educador museal
mediar esta reunião, provocando o interesse e semeando o conhecimento. Neste
trabalho, será analisada a utilização do conceito de objeto gerador na experiência de
mediação dos Anjos Tocheiros do Museu de Arte Sacra do Pará por meio da
experiência como estagiária da Coordenação de Educação e Extensão do Sistema
Integrado de Museus. A partir de uma abordagem qualitativa, utilizará os métodos:
bibliográfico, documental e de relato de experiências. Utilizando como baseos
autores, Gohn (2005), Barbosa (2005), Ramos (2004) e o Caderno da Política
Nacional de Educação Museal (2018).
1 INTRODUÇÃO....................................................................................................12
2 EDUCAÇÃO FORMAL, NÃO FORMAL E A EDUCAÇÃO
MUSEAL................................................................................................................16
3 OS ANJOS TOCHEIROS DO MUSEU DE ARTE SACRA DO PARÁ
(MAS/PA)...............................................................................................................21
4 SIGNIFICAÇÕES DO ESPAÇO E OBJETO......................................................28
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................37
REFERÊNCIAS......................................................................................................39
12
1 INTRODUÇÃO
Quando criança, meu maior desejo era “descobrir”, por essa razão eu
passava horas vendo tv ou lendo. Meus desenhos e séries preferidos
costumavam ter relação com mistérios desvendados, e meu maior passatempo
era entender assuntos que eram novos para mim, o que na maioria das vezes,
acontecia por meio de uma enciclopédia velha que meu pai comprou quando eu
tinha cinco anos. Aos seis, logo que aprendi a ler, não a largava, além de ler
qualquer coisa que encontrasse pela frente.
Aos oito anos decidi que seria arqueóloga, isso depois de ver um filme
sobre o Egito antigo. Aliás, daquela enciclopédia velha que eu já havia lido e
relido muitas vezes, o assunto de história sempre foi meu favorito, eu achava
história uma temática fantástica. E aquele mesmo ano, 2003, foi um ano com
muitas descobertas.
Com o passar do tempo meu gosto não desapareceu. Descobri sozinha
novos livros, novos idiomas, novas culturas; todos já existiam mas para mim o
ato de encontrar algo novo para conhecer, era sempre muito empolgante.
No entanto, na adolescência, sendo apenas uma aluna mediana, com a
avalanche de conteúdo e métodos tradicionais em sala de aula, não sentia
minha curiosidade sendo sanada ou incentivada dentro do sistema escolar.
Infelizmente, ela acabou sendo suprimida, meu gosto perdeu um pouco de seu
sabor.
Foi no nono ano, do ensino fundamental, com a entrada de uma
disciplina nova na grade escolar que esse quadro mudou. Com Estudos
Amazônicos, simples, porém, fascinante para mim, aprendi com o Prof. Jeferson
Rafael, fatos e detalhes da história do Pará que eu nunca tinha ouvido falar.
Mesmo o Hino do Estado, que tivemos que decorar para uma apresentação de
trabalho, foi de longe um dos acontecimentos mais marcantes da minha vida
escolar, dada a importância da redescoberta do eu, sendo o estopim para a
exploração que começaria a fazer sobre o assunto a partir daquele momento.
Alguns anos depois, após muito desvendar, eu percebi que gostaria de
compartilhar aqueles conhecimentos. Eu já sabia como era bom saber, e como
era satisfatório passar adiante os aprendizados que eu havia adquirido. E foi
assim que numa atividade da disciplina de Sociologia da Educação, na
13
À vista disso, este trabalho tem como objetivo geral: analisar a utilização
do conceito de objeto gerador na experiência de mediação do acervo do
MAS/Pa a partir do estudo dos Anjos tocheiros presentes no espaço expositivo.
Para isto, será necessário: compreender a educação museal como parte
da educação não-formal e a metodologia do objeto gerador como capaz de
interligar público, saberes e instituição museológica; estudar as peças dos Anjos
tocheiros e seu contexto de produção, assim como o decorrer da história do
próprio objeto; identificar os Anjos tocheiros dentro do discurso museológico da
exposição em que estão inseridos e suas ressignificações a partir das
15
mediações ao público.
Para tanto, este trabalho terá uma abordagem qualitativa, utilizando os
métodos: bibliográfico, documental e de relato de experiências. Realizando uma
análise indutiva, que segundo Lakatos e Marconi (1986, p.47), realiza-se em
três fases, a primeira etapa é a observação dos fatos, na segunda será feita a
comparação entre as evidências, com a finalidade de conseguir descobrir a
relação entre eles. E após isto, na terceira e última fase, será feita a
generalização, para chegar a uma conclusão de acordo com o estudo realizado.
Levando em consideração que,
A escola é o primeiro círculo que a criança pertence que está fora do seu
primeiro mundo, o seio familiar. Agora, enfrentando novos desafios do saber,
conhecendo visões diferentes do núcleo familiar, aprendendo a socializar mais
amplamente e a perceber o mundo, são inseridos em um contexto rigoroso e
complexo, algumas vezes não levando em consideração as primeiras
experiências, superlativando os novos aprendizados.
A escola se torna um universo novo a ser descoberto com regras bem
rigidas.Seguido, por vezes, de um método tradicional de ensino, as salas de
aulas tem seus regimentos: carteiras, mesas, quadro de escrever, livros didáticos,
o silêncio exigido e atenção total ao “mestre do saber”: o professor.
Esta forma de ensinar é chamada de Educação formal, “tem objetivos
claros e específicos e é representada principalmente pelas escolas e
universidades” (GADOTTI, 2005, p.2.). Conforme apresenta Moacir Gadotti, a
educação formal é pautada em um conjunto de regras, que guia as diretrizes do
ensino formal. Sempre bastante métodico, para Biesdorf,
aquele mesmo objeto que fez parte de momentos decisivos para a história da
nossa sociedade, está presente na nossa vida como parte da construção do
presente e tem suas funções repetidas ou modernizadas em um novo utensílio.
“Assim, a criança cria relações cognitivas com o seu passado e seu presente,
interagindo ao mesmo tempo com o museu, a escola, a casa e a cidade”
(RAMOS, 2004, p. 40).
Para fortalecer esse trabalho de reflexão por parte dos educadores
museais, apesar dos museus terem sido consolidados com a participação da
educação desde a Revolução Francesa, o quadro da educação museal no Brasil
é recente. Implementadas em 1927, as ações educativas davam assistência ao
ensino no Museu Nacional, colaborando com o aprendizado e com o currículo
escolar (IBRAM, 2018, p. 13).
Segundo o Caderno da Política Nacional da Educação Museal (PNEM),
em julho de 1956, pela primeira vez foi pautado em um Congresso Nacional de
Museus, promovido pelo Conselho Internacional de Museus brasileiros (ICOM-Br),
o tópico da educação nos espaços museológicos. Mas a consolidação do tema só
aconteceu em 1958, no Seminário Regional Latino-Americano da Unesco, no
Distrito Federal, no qual foi elaborado um documento apresentando a questão dos
profissionais de museus e educação no âmbito da museologia. Este marco
repercurtiu por muito tempo, resultando em publicações e pesquisas sobre a área.
1
“Carta Régia de Dom João V, Rei de Portugal, a João da Maia da Gama, Governador e Capitão
General do Estado do Maranhão e Grão-Pará, ordenando aos Prelados das Religiões para que
instruam os índios na língua portuguesa e que aprendam ofícios mecânicos. Lisboa Occidental, 12
de setembro de 1727. Rey. 1p. (Publicado nos Anais da BAT, T.2, D.191) ”
22
Figura 1 – Anjos Tocheiros durante obras de restauro da Igreja de Santo Alexandre, 1978.
23
2
Borla é um enfeite feito com fita, franja, bordados cuja base possui franjas dependuradas.
(BORLA, 2018).
3
“Vaso em forma de chifre, cheio de frutas e flores que simboliza a fertilidade, a riqueza e a
abundância”. Cibele, Dicionário de Símbolos. Disponível em
https://www.dicionariodesimbolos.com.br/cibele/. Acesso em 19 de dezembro de 2018.
24
Quando a Ordem Jesuíta foi expulsa pelo Rei Dom José dos reinos e
dominios de Portugal, promulgada pela lei de 3 de setembro de 1759, teve seus
bens confiscados e catalogados. No Catalógo do Inventário Jesuítico do Pará
feito em 1760, transcrito pelo Pe. Ilário Govoni SJ rememorando os 250 anos de
expulsão da Ordem, traz a informação que o lugar de uso dos Anjos tocheiros
após sua produção era a Capela Mor.
4
“Los ángeles visten como los soldados del virrey o del imperador porque ellos son los guardianes
custódios del Império (...) Anuncián, además, la naturaleza de la guerra a pelearse. Um angel es
ante todo um mensajero; um mensajero es un predicador. Así, el angel guerrero es la imagen in
divinis del misionero (...) Los misioneros al predicar, imitan la actividad de los ángeles...”.
(PINILLA, 1992 apud MARTINS, 2009, p. 384).
25
Figura 7 – Corredor lateral à Igreja de Santo Alexandre – Mediação sobre os Anjos Adoradores
32
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
do público.
Finalmente, pode-se concluir que ao serem alcançados os objetivos
de compreender a educação museal como peça da educação não-formal;
conhecer a importância do estudo das peças como elementos iconográficos
importantes para a o entendimento do funcionamento pretérito e atual do
espaço museológico, ao utilizar a ideia do objeto gerador na ação prática
educativa, conseguiu-se notar algumas das ressignificações do objeto que
apesar de ter sido criado com uma finalidade, após sua musealização
passou a ser passível de interpretações diferentes daquelas com o intuito
de que foi criado. Eventualmente, passando por análises e comparações a
temas atuais.
Apesar disto, ainda há um longo caminho a ser trilhado, pois além
dos preconceitos existentes para com os museus que até então, são tidos,
na maioria dos casos como espaços esvaziados de sentido para a maioria
dos visitantes, há a falta de formação dos próprios professores para saber
como utilizar da melhor forma os espaços, pois os mesmos, nem sempre
conhecem os espaços culturais da própria cidade. Como pude comprovar
em meu período de estágio, em que tive contato com muitos educadores
que buscavam fazer agendamento de visitas educativas, que no entanto,
não conheciam o espaço adequadamente.
Contudo, em minha experiência como mediadora, vi muitos visitantes,
adultos e crianças, deixando cansados o espaço, mas com a certeza de que
possuíam uma noção mais humanizada dos índios, antes escravos sem nomes,
agora artistas impressionantes capazes de criar impensáveis formas, ainda assim
quase não registrados nos livros de história. É notável perceber a distância entre
povos de tempos tão diferentes ser diminuída. Perpetuar memórias, unir pessoas
e dar a chance de cidadania a todas as pessoas por meio da cultura.
39
REFERÊNCIAS
GOVONI SJ, I. Inventário Jesuitíco do Pará ou seja os bens dos jesuítas no Grão
Pará confiscados 250 anos atrás. Belém. 2009.