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Questionário – Direito Administrativo I – 2005.

Professora: Arícia Fernandes – Monitora: Cláudia

1ª Questão
a) Relacione os princípios da Separação de Poderes e da Legalidade com
o surgimento do Direito Administrativo (cenário europeu). Em seguida,
explique de que maneira o Conselho de Estado Francês insere-se nesse
contexto.

RESPOSTA:

 Antigo Regime, Estado Autoritário, poder centralizado nas mãos do


Governante. “The king can do no wrong”.
 O Princípio da Separação dos Poderes e o Princípio da Legalidade
surgem como instrumentos de racionalização do poder; e como
forma de submeter o governante ao primado da lei, além de
organizar a burocracia estatal. Noção Garantística.
 Essa é a descrição clássica da gênese do Direito Administrativo: O
executivo operaria dentro dos limites traçados pelo Legislativo, sob a
vigilância do Judiciário.
 Contudo, na prática,a evolução do Direito Adm como ramo científico,
com características próprias, o surgimento de um regime jurídico
administrativo – público é oriundo da construção jurisprudencial do
Conselho de Estado Francês, e não das leis como previsto
originalmente.
 Além disso, ao se conformar por um modelo dual de jurisdição, a
França acabou por contradizer os postulados clássicos de legalidade
e separação de poderes, previstos como fundação do Direito
Administrativo. Isso porque, as causas administrativas originavam
demandas em uma jurisdição contenciosa administrativa interna ao
Poder Executivo, logo, não se estava sob a vigilância do Poder
Judiciário, mas sim sob a ingerência do próprio Poder Executivo, que
passava a ser juiz de si mesmo.

b) Diferencie duas acepções do princípio da Legalidade, presentes no Art.


5°, II e no Art. 37, caput, da Constituição Federal.

RESPOSTA:

Legalidade - art. 5°, II: Princípio da igualdade, autonomia da vontade, aspecto


negativo, ”posso fazer tudo, a não ser o que está limitado pela lei”. LEI É
SINÔNIMO DE LIMITE. Noção adequada para o indivíduo, que rege a sua
própria vida. Homem é um fim em si mesmo.

Legalidade Art. 37, caput: também denominada “legalidade estrita”: Voltada


para o ente público, a Administração Pública. Lei atuará a fim de legitimar o ato
estatal. Evidencia um aspecto positivo. Como o administrador público gerencia
coisa alheia, res pública, há necessidade de maior cautela, que se projeta na
necessidade de previsão legal para o atuar da Administração. LEI É
SINÔNIMO DE LEGITIMAÇÃO. Estado é veículo de promoção do bem estar do
ser humano.

2ª Questão
Preocupada com o bem-estar da população feminina do Estado do Rio de
Janeiro, a Governadora Rosinha Garotinho trouxe ao seu gabinete a seguinte
proposta: montar uma cadeia de lojas denominada Rosinha Modas, a fim de
que o Estado pudesse fornecer aos administrados, como serviço público, a
venda de roupas mais baratas e ao mesmo tempo elegantes, por valores mais
baixos. Para tanto, inclusive, montaria uma nova secretaria, a Secretaria da
Moda, que possuiria autonomia gerencial e financeira para exercer tal
atividade. Como Procurador (a) do Estado, dotado(a) de notório conhecimento
jurídico, qual seria a sua posição diante de tal proposta? (Resposta
fundamentada).

RESPOSTAS: Três pontos a serem discutidos


 Princípio da Impessoalidade: não pode utilizar nomes pessoais que
identifique um suposto serviço público à pessoa do governante.
 Princípio da Subsidiariedade: o Poder Público deve deixar ao setor
privado, atividades que são inerentes ao mesmo. Se a iniciativa privada
é capaz de prestar determinado serviço ou produzir determinados bens
adequadamente, sem com isso criar situação desfavorável ao cidadão,
deve o Estado se abster de adentrar naquela atividade. O Pd Púb atua
de forma subsidiária naquilo que a sociedade civil por ela mesma pode
realizar.
 Não poderia criar secretaria, com características de uma entidade da
Adm Indireta. Se tal ação da Governadora fosse válida (não é ), deveria
adequar-se as regras ou da Administração Direta ou da Adm Indireta,
não poderia misturar suas características.

3ª Questão
a)Comente a juridicidade, à luz dos princípios da Administração Pública, das
seguintes cláusulas de edital de concurso para delegado da Polícia Federal: (I)
os candidatos devem ser do sexo masculino; (II) os candidatos devem ter no
mínimo, 1,60 metros de altura; (III)os candidatos devem comprovar bons
antecedentes, que serão analisados em procedimento sigilos de investigação
social, cujo veredito não será motivado por escrito.

Resposta:

(i) Princípio da Impessoalidade;


(ii) // + Princípio da Razoabilidade: as medidas tomadas pela
Administração devem ser coerentes com a finalidade a ser
alcançada. Não é razoável este critério.
(iii) Princípio da Publicidade + Princípio da Moralidade: pode estar se
valendo da violação do princípio da publicidade para atingir fins
escusos.

Obs: resposta básica. Outros princípios podem ser suscitados.


b)Em se verificando ilegalidades/antijuridicidades na atuação acima descrita,
de que forma a Administração Pública poderia atuar para fazer cessar os seus
efeitos?

 Princípio da Autotutela: A Administração tem poder para rever seus atos


por critério de legalidade e mérito administrativo.

c)Caso, você, administrado, interessado com a boa gestão da coisa pública,


queira impugnar tal edital, pela via judicial, qual seria a ação processual
cabível, reconhecendo-se nessa situação, violação ao princípio da moralidade
administrativa?

Ação Popular – Art 5°, inciso LXXIII, CF

4ª Questão
a)Quais as funções exercidas por uma Agência Reguladora?

 Atividade Executiva Típica – exercício do poder de polícia


 Composição de Conflitos
 Poder Normativo -Regulação

b)Quais são as principais teorias justificadoras do seu Poder Normativo?

 Delegação Inominada
 Deslegalização
 Regulamentos de Execução

c) Qual mecanismo utilizado, no âmbito das Agências, para prevenir a


captura de dirigentes pela iniciativa privada? Indique os dispositivos
legais pertinentes.
 Quarentena – Exs: art. 14, da Lei 9478/97 e Art. 9, da Lei
9427/96.

d) Quais aspectos diferenciam o regime jurídico dos dirigentes das agências do


regime dos agentes públicos previsto pela CF/88?
 Controle prévio pelo Senado federal, pela Sabatina,
art, 52, III, f)
 Mandato descoincidente com o do Presidente da
República.
 Livre nomeação, sem livre exoneração. Não pode
exonerar. Estabilidade Provisória.

e)Conceitue Recurso Hierárquico Impróprio, e indique a sua aplicabilidade no


sistema das agências reguladoras.
É espécie de controle administrativo: possibilidade de controle sobre as
decisões administrativas das autarquias (sempre dependente de previsão legal
expressa). O instrumento fundamental de controle da Adm. Direta sobre as
autarquias é a previsão do recurso hierárquico impróprio. A possibilidade
de a lei prever que das decisões finais das autarquias caibam recurso
administrativo para o chefe do Executivo ou para o Ministério (isso no âmbito
federal, no âmbito estadual seria para o secretário de estado).
A autarquia é supervisionada por este órgão da Adm. Direta, mas em
tese, se não houver previsão expressa, suas decisões são finais no âmbito
administrativo. Uma das formas desse exercício de controle ou tutela é a
possibilidade da lei prever o recurso hierárquico da decisão final proferida pela
autarquia à Adm. Direta, o nome que se dá a este recurso é recurso hierárquico
impróprio.
Por que impróprio?
Em comparação com o recurso existente dentro da Adm. Direta. O
recurso da decisão de uma comissão de 1ª instância adm. para o secretário de
estado é chamado recurso hierárquico próprio, porque existe relação de
hierarquia. Ex: comissão de avaliação de um terreno p/ desapropriação e o
secretário de estado de urbanismo.
Contudo, não existe tecnicamente hierarquia entre as entidades da
Adm. Indireta e os órgãos da Adm Direta. Mas a lei pode, excepcionalmente,
prever o recurso de uma decisão final do presidente de uma autarquia para o
Ministro de Estado. Por não existir hierarquia, o recurso chama-se recurso
hierárquico impróprio, por assimilação ao recurso hierárquico existente dentro
da Adm. Direta.
Repetindo:
A regra na Adm. Direta na relação entre os órgãos de cúpula (chefe do
executivo, ministros, secretários) é a hierarquia. A própria instituição por lei de
atribuições, salvo casos de competência privativa, pressupõe que as decisões
de inferior hierárquico sejam passíveis de revisão pelos superiores. O
instrumento que propicia esta revisão por provocação da parte interessada é
chamado de recurso administrativo hierárquico.
Excepcionalmente, na relação entre Adm. Indireta e Adm. Direta, na
qual não existe hierarquia, a lei pode estabelecer uma fórmula parecida, que
também é um recurso adm., instrumento pelo qual a parte interessada vai
submeter à decisão proferida pela autarquia à revisão. No entanto, como não
existe hierarquia, a existência do recurso não decorre do sistema, e sim de
previsão legal expressa, e o nome do recurso é recurso hierárquico impróprio,
pois só existe relação de coordenação prevista na lei, a qual é quebrada pela
exceção do recurso hierárquico impróprio.
Da decisão final das agências reguladoras não cabe recurso para o
chefe do Executivo ou p/ o Ministério. Esta é uma segunda característica do
regime especial ao qual estão submetidas. Além do mandato, das decisões
finais das agências, no âmbito administrativo, não cabe recurso hierárquico
impróprio. Evidentemente, isto dá às agências um grau ainda maior de
autonomia. (trecho da aula do ano de jan/2004 – Prof Gustavo Binenbojm)

5ª Questão
Diferencie Fundações Privadas, Fundações Públicas de Direito Privado e
Fundações Públicas de Direito Público.

A fundação privada é uma dotação patrimonial “personalizada”, pré-ordenada


pelo seu instituidor a um fim. A Fundação Pública tem apenas a circunstância
de ter sido criada (instituída) pelo poder público para atingir um fim público,
que se encontre dentro da esfera de competências do poder público que a
instituiu. A fundação pública segue os requisitos previstos pelo art. 37 , inciso
XIX, como entidade da Adm Indireta.

Diferenças entre a 1) Fundação Pública de DTO PÚBLICO e 2)fundação


Pública de DTO PRIVADO: a primeira (1)é regida pelo regime jurídico de
direito público, e em muito se assemelha às autarquias. Seria uma autarquia
de base fundacional, como a UERJ. Já a segunda (2), seria uma entidade
regida pelo regime jurídico de direito privado. Ela será oriunda de uma lei que
autorizará a sua criação, mas na prática, ela somente surgirá com a forma de
direito privado, ou seja, pelo registro de seus atos constitutivos, do ato de
registro de sua instituição no Registro Civil de Pessoas Jurídicas, da mesma
forma como uma fundação privada.

Contudo, Impt: Novo Código Civil não vai se aplicar as fundações públicas,
sejam elas de dto privado ou público. Por ex. Não há fiscalização do MP sobre
as mesmas. As fundações públicas, instituídas pelo Pd Público, são geridas
por dirigentes indicados pelo ente central, estão submetidas a controle político,
adm e financeiro, e controle externo (Tribunal de Contas). Logo, não há
necessidade, nem autorização legal para a fiscalização do MP, constante,
como existe com relação às fundações privadas.

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