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A Constituição Federal de 1988 disciplinou no seu artigo 98, caput e inciso que "a
União, no Distrito Federal e nos Territórios, e os Estados criarão: Juizados Especiais,
providos por juizes togados, ou togados e leigos, competentes para a conciliação, o
julgamento e a execução de ... infrações penais de menor potencial ofensivo, mediante
os procedimentos oral e sumaríssimo, permitidos, nas hipóteses previstas em lei, a
transação e o julgamento de recursos por turmas de juízes de primeiro grau" razão pela
qual foi editada e promulgada a Lei Federal nº 9.099, de 26 de setembro de 1.995 e
que entrou em vigência após vacatio legis de sessenta dias.
Assim é, na verdade, certo ainda que estabelece o seu campo de abrangência ante a
natureza da infração de menor potencialidade ofensiva, onde se fazem presentes dois
componentes: o primeiro, positivo, quando estabelece a duração da pena até um ano -
art. 61 - e, o segundo, negativo, quando exclui os casos em que a lei preveja
procedimento especial, contido na parte final do mesmo artigo.
A criminalidade tem sido uma constante a partir do início dos tempos, eis que o delito
acompanha o homem desde sua existência como conseqüência inevitável da vida em
sociedade e da circunstância normativa da espécie, nascendo desse fato a "essencial
relatividade de la noción crimen en el tiempo y en el espacio", como nos ensina o Prof.
Uruguaio MIGUEL LANGON CUÑARRO, reportando-se a HEUYER, G, (Cfr.
Criminologia Historia Y Doctrinas, Ediciones Jurídicas Amalio M. Fernandez,
Montevideo, p.13).
O eminente Professor assevera que qualquer que seja o sistema que se adote para o
estudo desta ciência autônoma que é a Criminologia, "implica necessariamente el
conocimiento del desarrollo histórico da la misma, a través del cual resulta una especie
de presentación general de la materia y sua problemas, ya sea por el conocimiento de
las grandes concepciones que rivalizaren em ardua polémica de escuelas, como de los
maestros, ya clásicos, que formaron la disciplina cientificamente, así como del
pensamiento criminológico diferenciado por áreas geográficas y sistemas politicos" (ob.
cit. p. 12-13).
O Professor MIGUEL LANGON CUÑARRO nos informa que no Código de Leis mais
antigo conhecido, promulgado pelo REI SUMERIO UR-NAMMU no ano 2.050 ANTES
DE CRISTO- AC "encontram-se constâncias de que a férrea lei de Talião havia cedido
lugar a uma jurisdição mais humana segundo a qual multas e indenizações substituíam
os castigos e penas corporais".
Por seu turno, KRAMER, S.N., in "La Historia Empieza en Sumer, Aymá S.A.,
Barcelona 1.961", assevera que "la tableta de arcilla nº 3191 de la colección de Nippur
del Museo de Antigüidades Orientales de Estambul, por él descifrada em 1952, de 10
cm. por 20, contentiva de ocho columnas (cuatro en el anverso y cuatro en el reverso),
de 45 compartimentos minúsculos cubiertos de caracteres sumarios cada una, encierra
el texto 'jurídico' más antigo descubierto. De las tres leyes descifradas claramente,
mencionamos una: SI UN HOMBRE A UN HOMBRE, COM UN ARMA, LOS HUESOS
HA ROTO, UNA MINA DE PLATA DEBERÁ PAGAR" (LA MINA VALIA 60 CICLOS O
SEA UNA LIBRA).
Demonstra essa breve história que nada se criou de novo, mas simplesmente se
renovou o princípio fundamental da transformação da pena corporal, e a restrição da
liberdade é uma pena corporal, dentro de uma nova sistemática procedimental, mas
cuja essência é a mesmíssima DEL REY SUMERIO UR-NAMMU: a transformação da
pena corporal em pecúnia.
E, mais:
Sem querer traçar paralelos entre Criminologia e Direito, mas partindo dos princípios de
que a "Criminologia pretende conhecer a realidade para explicá-la" e de que "se
aproxima do fenômeno delitivo sem prejuízos, sem mediações, procurando obter uma
informação direta deste último" e "como é a realidade - a realidade em si mesma, tal e
como se apresenta -, para explicá-la cientificamente e compreender o problema do
crime" (Cfr. GARCIA-PABLOS DE MOLINA, ob. cit. P. 26), constata-se a preocupação
sempre evolutiva e marcante da realidade social e o retorno a uma fenomenologia
histórica através das chamadas Leis Especiais, tais como a Lei n.º 4.898, de 1965, que
trata do Abuso de Autoridade, da Lei n.º 8.072, de 1.990 que trata dos Crimes
Hediondos, da Lei n.º 7.6561, de 1945, que trata das Falências e seus crimes, o
Decreto Lei n.º 201, de 1967, que trata da Responsabilidade dos Prefeitos e
Vereadores, e em especial a Lei n.º 7.492, de 1986, relativa aos Crimes contra o
Sistema Tributário, onde os conceitos para decretação da prisão preventiva estão
condicionados a magnitude da lesão, artigo 30, sem fiança ainda que haja
primariedade - art. 31 - além de possibilitar a multa em décuplo - art. 33 - onde se
verificam que os critérios valorativos e tipificadores estão, ainda que indiretamente,
condicionados às condições sociais e profissionais do indivíduo na vida em sociedade.
Com efeito, louvando-se na história nos ensina o Prof. Miguel Langon Cuñarro que
vigia no CÓDIGO DE HAMMURABI - 1.700 AC - que ele conceitua como mais do que
um código porque o entende como "una colección de decisiones de equidade del rey
encargado de establecer la justicia, distribuidos en 250 articulos de lei, en 46 columnas
que contienem cerca de 3.600 líneas de textos, y los cuales, además de la ley talional
propria de la época, y las composiciones que obligam al hombre libre una moral más
elevada que la del esclavo y la del mushkino (ciudadano de humilde condición colocado
entre las otras dos categorias), cuyas infraciones a la ley, en ocasiones, son penas mas
duramente que las del pobre. DELAPORTE, L, Mesapotamia:Las civilizaciones
babilónicas y asíria, Cervantes, Barcelona, MCLXX V, pág. 51, 81, 111" (cfr. ob. cit.,
nota 11, pág. 14), o que nos leva a certeza de que a valoração, conceituação ou
tipificação criminal está condicionada ao pensamento da sociedade em determinado
momento, e de que, também hoje, a atribuição da pena está condicionada à condição
social, obrigando a uma moral mais elevada quanto seja a posição social, comercial ou
financeira do cidadão.