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Desenhos litográficos botânicos:

Flora Brasiliensis
(1840-1906)
Editada por Carl Friedrich Philipp von Martius, Wilhelm Eichler de Agosto, e Ignatz
Urban entre 1840 e 1906.
Ana Beatriz Andrade 18100079
Beatriz Porto 18200077
Cecília Kohara 18200048
Laura Trigo 18200023

AT6BAV

Seminário de avaliação
bimestral da disciplina
Gravura: Processos
Planográficos e de Permeação
ministrada pela Profº. Drª.
Katia Salvany
Breve histórico da Flora Brasiliensis
A Viagem de Spix e Martius pelo Brasil
● O botânico Carl Friedrich Philipp von Martius (1794-1868) e o zoólogo Johann Baptiste von
Spix (1781-1826) vêm para o Brasil com a Missão Austríaca-Alemã em 1817.

● Em 1818, após estudarem o Rio de Janeiro - acompanhados pelo pintor Thomas Ender
(1793-1875) -, seguiram viagem para São Paulo, Bahia e Minas Gerais.

● Coletaram artefatos na Ilha de Marajó no Pará. Viajaram pelo Rio Amazonas, se separando.
Spix seguiu viagem pelo Rio Negro e Martius pelo Solimões em 1819.

● Viajam para Belém e em abril de 1820 retornam para a Europa.

● Coletaram 6.500 espécies de plantas e quase 3.500 de animais, entre mamíferos, aves,
anfíbios, peixes, insetos, aracnídeos e crustáceos.
Gegend von Botafogo
Thomas Ender
1817 -18
Aquarela sobre Lápis
25.00 cm x 40.20 cm
Publicação anteriores a Flora Brasiliensis
● Spix e Martius, em Munique, começaram os preparativos para a publicação dos relatos da
viagem ao Brasil. Com a morte de Spix em 1926, Martius produziu os últimos dois volumes de
Reise in Brasilien.
● Nova Genera et Species Plantaram, três volumes entre 1823 e 1832 e Ícones Selectae
Plantarum Cryptogamicarum Brasiliensium, descrevendo as Criptógamas em um volume
em 1827.
● Martius se interessou profundamente pelas palmeiras que tinha visto durante a viagem ao
Brasil e esse interesse resultou na Historia Naturalis Palmarum, publicada em três volumes
entre 1823 e 1853.
Livistona humilis
Carl Friedrich Philipp von Martius e Ferdinand Bauer
1823-31
Litografia colorida à mão
Publicação da Flora Brasiliensis
● Martius foi encorajado pelo príncipe Metternich a iniciar a publicação em escala muito maior e
bem mais ambiciosa de uma Flora do Brasil.
● O projeto recebeu apoio financeiro do imperador Ferdinando I da Áustria, do rei Ludovico I da
Baviera e do imperador Dom Pedro II do Brasil.
● Foi iniciado em 1839, primeiro com Stephan L. Endlicher como co-editor e posteriormente
também com Eduard Fenzl, dada a magnitude da tarefa enfrentada, com cerca de 60
autores.
● Com a morte de Martius, o projeto continuou com August W. Eichler e depois, Ignatz Urban
como editores. O último fascículo foi publicado em abril de 1906.
● As pranchas editadas para a publicação da obra são, em grande maioria, em linhas pretas e
utilizam-se de soluções gráficas para volume e tonalidade.
Vol. XI, Part I, Fasc. 82
Prancha 90 Publicado
em 01-Dez-1879
“A Flora brasiliensis, na sua forma final, consiste de 15 volumes
subdivididos em 40 partes originalmente publicados na forma de
140 fascículos individuais. Descreve um total de 22.767 espécies, das
quais 19.629 são nativas e 5.689 foram descritas como novas na obra.
O texto contém 20.733 "páginas" que, na realidade, são colunas (duas
em cada página), e as 3.811 pranchas ilustram 6.246 espécies. [...]
Muitas dessas pranchas foram adaptadas dos desenhos e pinturas
de Thomas Ender, o artista que acompanhou Spix e Martius
durante o primeiro ano da viagem[...]” (George J. Shepherd,
Unicamp)
As ilustrações botânicas
Iluminuras
“As imagens das plantas eram
pintadas manualmente com
aquarela ou guache, chamadas
de iluminuras. A qualidade da
pintura estava diretamente
ligada à capacidade do
iluminador e poderia ser bem
dispendioso, dependendo da
sua habilidade.” (SILVA, 2014)
Historia Plantarum
Pedânio Dioscórides
Giovannino de Grassi
1395-1400
295 folios : parchment
433 x 285 millimeters
Xilogravura e
Calcogravura
Herbarum vivae eicone de Otto Brunfels,
ilustrado por Hans Weiditz.
Essa obra marca a ruptura com as
iluminuras e adota a xilogravura como
técnica de reprodução de imagens,
retomando a observação naturalista das
plantas e descartando as cópias.
Maior acesso a população analfabeta e
semianalfabeta, podiam acompanhar os
livros através das imagens.
A gravura em metal também era utilizada,
mas oferecia menos vantagem aos Herbarum vivae eicones
Otto Brunfels
impressores que a xilogravura, tanto em Michael Herr
questões técnicas, quanto financeiras. Hans Weiditz
1532-1536
Litogravura
“A litografia é amplamente adotada
pelos impressores por ser mais
econômica em relação às outras
técnicas, como o reaproveitando da
matriz para novas produções o que
não ocorria com a xilografia e
calcografia.” (SILVA, 2014)

Florae Fluminensis
José Mariano da Conceição Vellozzo
1825 - 1831
Impressão colorida
Gravuras Iluminadas: A aplicação das cores
era feita manualmente sobre a gravura.

A passagem das impressões preto e branco


para as coloridas é dividida em alguns
momentos: preto e branco, linha cor,
volume cor e “pintura com gabarito
impresso” - Nova genera ac species
plantarum, E. Poeppig (1835 - 1845) e
Plantarum Brasileae, Pohl (1827-1831)

Nova genera ac species plantarum


Eduard Friedrich Poeppig
1835 - 1845
Representação botânica pela litografia
Linha Impressa
A linha vem com a função de
delimitar a imagem em sua
forma, ou seja, a linha é a
composição em preto e branco
do limite da forma.

Nos desenhos litográficos


botânicos coloridos, as linhas
são bem finas, apenas para
guiar a pintura.
Volume
A composição de linhas
menores intercaladas e de
texturas dão a sensação de
profundidade para o
observador.

Embora não tenha o enfoque


na coloração, ainda é possível
perceber a forma e a dimensão
da representação da imagem.

Exemplos de Litogravuras Botânicas com o enfoque no uso de linhas para compor volume
Linha e Cor
A cor na litogravura não tem
variação tonal.

A aplicação da cor é feita após


a impressão, sobre a imagem
impressa.

Apenas pelas cores se


diferencia o caule, a flor, a
folha, etc.

Litogravura botânica colorida a mão.


Volume e Cor
Mesmo sendo aplicada por
cima da impressão, a cor ainda
é sujeita à linha, e portanto, o
volume ainda prevalece sobre
a cor, causando o resultado
mais próximo ao real.

Novamente a cor juntamente


com o volume causa a
separação dos planos.
Detalhe do uso da cor juntamente com a composição de volume na
Litogravura botânica.
Produção das pranchas da Flora
Brasiliensis
O Brasil exótico

“Parte dos desenhos e pinturas utilizados por Martius como originais para suas
litografias foi proveniente de álbuns de viagens que visavam o público europeu, muito
interessado em locais exóticos, repletos de singularidades naturais, sociais, étnicas e
políticas, entre eles, o Brasil. Através da pintura, a beleza do local era desvendada, e o
cientista naturalista revelava as particularidades de um "novo mundo" possuidor de um
verdadeiro tesouro botânico e zoológico.” (Heitor de Assis Júnior, Unicamp)
Primeiro ateliê
litográfico
“Entre os ateliês litográficos, o
primeiro foi montado pelo
litógrafo Johann Jacob
Steinmann, que publicou em
1836 seu Souvenirs do Rio de
Janeiro. Martius deve ter
entrado em contato com esta
publicação e utilizou-se da
imagem como modelo para a
prancha XLIV” (Heitor de Assis
Júnior, Unicamp)

Johann Steinmann. Plantação de Café, c. 1836; água-tinta, 110 x 165 mm. Coleção João
Moreira Garcez, São Paulo.
Os Artistas da Flora Brasiliensis
● Os desenhos das pranchas litográficas brasiliense são os registros feitos por artistas como
Thomas Ender, Benjamin Mary, Johan Jacob e o fotográfo George Leuzinger.

● A produção das litogravuras é de feito de vários artistas em conjunto.

● O processo exige o autor, desenhista, gravador, editor, dentre outros, e por isso possibilita um
trabalho de várias mãos.

● Os artistas buscavam a representação científica, com o intuito de desmistificar a natureza


brasileira para o público europeu.
Thomas Ender. Estrada entre
Jacareí e Aldeia da Escada, c.
1817; lápis e sépia, 200 x 308
mm. Gabinete de Gravuras da
Academia de Belas-Artes, Viena.
A floresta primitiva que
sombreia a estrada
entre Jacareí e a aldeia
da Escada na Província
de São Paulo. Prancha
VIII
Benjamin Mary. Brodbaum, s.d.;
aquarela e lápis, 194 x 318 mm.
Bayerische staatsbibliothek,
Munique.
Artocarpus integrifólia
(jaqueira), de cuja
sombra vês a baía e a
cidade de S. Sebastião
do Rio de Janeiro.
Litografia, 1847.
[MARTIUS, 1840-1906]
Prancha XXXI
A Fotografia e
Litogravura
A fotografia, uma técnica ainda
muito recente na produção das
pranchas, foi utilizada como
meio de captação de imagens
da flora pelo fotógrafo Georges
Leuzinger.

A sua produção litográfica


buscava muito mais a
biodiversidade como um todo,
tendo um retrato da paisagem,
do que detalhes sobre a flora. Título: Floresta que sombreia as encostas das montanhas da Serra dos Órgãos, na
Província do Rio de Janeiro
https://www.brasilianaiconografica.art.br/obras/19156/silva-montium-serra-dos-orgaos-declivia-obumbrans-in-prov-rio-de-janeiro
George Leuzinger:
Serra dos Órgãos, s.d.
papel albume, preto e
branco ; 19,3 x 24,5 cm
TÍTULO
Silva Primaeva, Radicubus ac Funibus Obsepta,
prope Jacaratiba, in Prov. Sebastianopolitana
PARTE DE
Publicação: Flora Brasiliensis (Carl Friedrich
Philipp von Martius)
AUTOR
Benjamin Mary
LOCAL DE PRODUÇÃO
Europa - Alemanha - Munique
DATA DE PUBLICAÇÃO
1840
TÉCNICA
litografia sobre papel
TÍTULO

Serra Ouro-Branco dans la province de Minas Geraës

AUTOR

Johann Moritz Rugendas

GRAVADOR

Louis P. Alphonse Bichebois

CASA IMPRESSORA

Engelmann

LOCAL DE PRODUÇÃO

Europa - França - Ilha de França - Paris

DATA DE PUBLICAÇÃO

entre 1827 e 1835

TÉCNICA

litografia sobre papel


TÍTULO

Silva Montium Serra dos Orgâos Declivia Obumbrans in Prov. Rio de


Janeiro

PARTE DE

Flora Brasiliensis - Volume I, parte I

DESENHISTA

Carl Friedrich Philipp von Martius

GRAVADOR

Friedrich Hohe

A PARTIR DE

Georges Leuzinger

EDITOR

Carl Friedrich Philipp von Martius

August Wilheim Eichler

DATA DE PUBLICAÇÃO

c.1869

TÉCNICA

Litografia a duas cores (preto e sépia) sobre papel


Cycadaceae Zamie
Bataceae Batis
Flora Brasiliensis x Viagens Filosóficas
Viagem Filosófica

● Expedição empreendida pela coroa portuguesa

● Iniciada em 1783 em Belém do Pará e retornaram a Belém em 1792

Percorreram no total 40.000 km, suficiente para dar a volta ao mundo

● Apesar do pioneirismo, a empreitada não teve o esperado impacto na comunidade acadêmica


da época
Identificação entre desenhos
● A Flora brasiliensis possui 3811 litografias

● Não é possível ainda uma atribuição autoral precisa do lote de desenhos

● Muitas ilustrações de Joaquim José Codina feitas na Viagem Filosófica se


assemelham com ilustrações encontradas na Flora brasiliensis
Questões autorais
● Período de realização da Viagem Filosófica ocorreu num período em que as
questões autorais não estavam fixadas

● Predominância das trocas de informação por meios escritos e visuais sem


preocupação em definir os autores

● Desenhistas da Viagem Filosófica usaram modelos de representação através dos


materiais teóricos disponíveis
“Swartzia sericea”.
“Swartzia sericea”-
Flora brasiliensis.
Joaquim José
Codina. Viagem
Filosófica.
“Cassia sylvestris”- “Cassia sylvestris”-.
Joaquim José Flora brasiliensis
Codina. Viagem
Filosófica
“Cochlospermum” “Cochlospermea
- Joaquim José codinae”. Flora
Codina. Viagem brasiliensis.
Filosófica.
ASSIS JUNIOR, Heitor de. Relações de von Martius com imagens naturalisticas e artisticas do seculo XIX. 2004. 203p. Dissertação
(mestrado) - Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Filosofia e Ciencias Humanas, Campinas, SP. Disponível em:
<http://www.repositorio.unicamp.br/handle/REPOSIP/279497>

BIODIVERSITY Library. Disponível em: https://www.biodiversitylibrary.org/creator/6928#/titles. Acesso em: 06 de mar. 2021

BALIANA, Francielly e FERNANDES, Leonardo. ‘VIAGEM FILOSÓFICA’ DO SÉCULO XVIII ILUSTRA DESAFIO HISTÓRICO DE DIVULGAR
CIÊNCIA NO BRASIL. Disponível em
<https://www.comciencia.br/viagem-filosofica-do-seculo-xviii-ilustra-desafio-historico-de-divulgar-ciencia-no-brasil/>. Acesso em 07
de Mar. 2021.

GEGEND von Botafogo [Bairro de Botafogo]. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural,
2021. Disponível em: <http://enciclopedia.itaucultural.org.br/obra59509/gegend-von-botafogo-bairro-de-botafogo>. Acesso em: 06
de Mar. 2021. Verbete da Enciclopédia.

Maximiliana Regia. In: Google Arts. Disponível em:


https://artsandculture.google.com/asset/livistona-humilis-carl-friedrich-philipp-von-martius/HgENJNaIthCXQQ. Acesso em: 06 de
Mar. 2021.

MONTEIRO, Juliana Gines Bortoletto. DESENHOS BOTÂNICO DA VIAGEM FILOSÓFICA X FLORA BRASILIENSIS: IDENTIFICAÇÃO DE
MODELOS DE REPRESENTAÇÃO. Disponível em <http://florabrasiliensis.cria.org.br/info?vffb>. Acesso em 06 de Mar. 2021.

SILVA, Regiane Caire. A tradição dos manuscritos na imagem impressa botânica no séc. XIX, disponível em pdf no Anais Eletrônicos
do 14º Seminário Nacional de História da Ciência e da Tecnologia /SNHCT, Belo Horizonte, Campus Pampulha da Universidade
Federal de Minas Gerais – UFMG 08 a 11 de outubro de 2014 | ISBN: 978-85-62707-62-9

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