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Tamar

Hadassa
Uma história de amor que tem Jesus no centro

Nara Silva
Para Aquele que me ensinou a amar.
O único pelo qual todo coração deve pulsar.
Para Jesus, o Cristo.
Uma oração

Pai, Você mais do que ninguém sabe o que está acontecendo na vida de cada
um que está lendo. Precisamos da Sua ajuda para enxergar a beleza do amor,
este que temos acesso somente porque o Senhor conquistou isso por nós.

Peço que possamos compreender a essência do amor: a entrega. Mas,


principalmente, peço que o Senhor seja o centro das nossas vidas. Que o
Senhor tenha o nosso coração por completo, que nada e nem ninguém jamais
roube o Seu lugar em nossas vidas.

Pai, peço que nossos olhos Te enxerguem na beleza do amor, e que a nossa
esperança seja reacendida, uma vez que Você está no centro.
Tamar
Hadassa
Tamar Hadassa. O nome de uma jovem de beleza singular, que era
percebida por toda a região em que ela morava. Filha do governador de
Santê, sua família era respeitada e admirada. Pastora dos rebanhos de seu
pai, Tamar tinha longos cabelos castanhos. Os habitantes de Santê
costumavam dizer que os olhos de Tamar, ainda que escuros, revelavam um
açude cristalino.

Sua beleza se destacava onde ela colocava a planta de seus pés. Sua doçura e
gentileza eram evidentes a todos. Ser filha do governador parecia não fazer
diferença alguma para ela, pois a todos tratava com muito amor.

Enquanto pastoreava os rebanhos de seu pai, nos campos altos de Santê, ao


som da harpa e de cânticos, louvava ao Senhor. Seus dias eram cheios de
música e, ao som dos pássaros, ela encontrava a paz que vinha do próprio
Deus. Dia após dia, em cada pôr-do-Sol, Tamar se apaixonava pela natureza
e pelo Criador.

Seus pensamentos nos pastos de Santê, enquanto pastoreava os rebanhos


de seu pai, eram divididos entre louvores a Deus e a ideia, pequena, de
explorar novos campos no futuro. Tamar vivia uma vida tranquila, nada lhe
faltava.
A Coluna
Certo dia, no entanto, enquanto estava nos campos de Santê, viu de longe
uma Coluna. Ela era diferente de tudo o que havia visto antes. Uma Coluna
de nuvem, promovendo uma refrescante sombra. Tamar se aproximou com
o rebanho de seu pai para ver de perto.

Ao mesmo tempo em que temia, sentia uma imensa paz interior, a mesma
que paz que a invadia quando ela entoava suas canções a Deus. Ela lembrou-
se das histórias contadas por seu pai e, quando ela chegou para ver de perto,
viu rapidamente algo semelhante a dois olhos como chamas de fogo. “Não
pode ser o que eu estou pensando, pode?”, pensava. Até que, da Coluna de
nuvem, uma voz falou a ela:

— Siga-me.

Ela soube na hora do que se tratava. As histórias que ouvia a tempo agora
eram reais para ela.

— Eu irei. Deixe-me despedir de meus pais, e O seguirei para onde for - disse
Tamar.

— Vá - disse a Coluna - mas volte.

Tamar voltou para casa correndo e contou aos seus pais o que lhe havia
acontecido. Cheios de temor e com lágrimas nos olhos, entenderam que
Deus havia chamado sua filha para algo maior do que os dois haviam
planejado. Sua mãe lhe preparou provisão para um longo período de
viagem. Seu pai lhe deu uma boa parte de seu rebanho, com ovelhas e
carneiros, além de um camelo para que ela pudesse andar.

Tamar se despediu de seus pais e de Santê, e logo foi de encontro à Coluna


que a havia encontrado. Chegando por lá com todas as provisões que seus
pais haviam lhe dado, a Coluna começou a se mover, e ela seguiu.
A Caminhada
Tamar nunca havia ido para aquela direção. Estava insegura, mas ao mesmo
tempo sabia que nada de mal iria lhe acontecer. Mesmo sendo uma moça a
caminhar sozinha deserto afora, confiava no caminho que a Coluna estava
trilhando. À noite, a Coluna de nuvem se transformou em fogo, e a manteve
aquecida durante toda a madrugada no deserto. Com uma cópia das
Escrituras nos papiros que seu pai lhe deu, naquele momento ela começou a
se aprofundar naquilo que seus pais a haviam ensinado quando mais nova.

Sua caminhada era perfeita. Ela não sabia para onde estava indo, mas
desfrutava cada segundo ao lado da Coluna. Montando e desmontando sua
tenda, quando a Coluna parava, ela parava, Quando a Coluna seguia, ela
seguia.

Seu rebanho, no entanto, começou a desejar por um campo para se


estabelecer. Quando a preocupação tomou o coração de Tamar, da Coluna
saiu o alimento para o seu rebanho, e assim foi enquanto ela caminhava. Sua
primeira tempestade no deserto trouxe temor, mas, ao seu redor, a Coluna a
protegeu.

Certo dia, quase dois anos depois de sair, enquanto caminhava com seu
rebanho, avistou de longe à direita de seu caminho, um campo belíssimo,
que lhe despertou a atenção no mesmo instante.

Seu coração acelerou e ela logo pensou em ir para lá. No entanto, quando
olhou melhor, reparou que haviam alguns animais naquele campo, e ela
então concluiu que ele já estava ocupado. Tamar seguiu viagem, mas aquele
campo nunca mais saiu de seus pensamentos.

Pouco tempo depois, as provisões de Tamar chegaram ao fim. Ela chegou a


cogitar pegar algum animal de seu rebanho para se alimentar, mas ela
amava o seu rebanho. Cada ovelha e cada carneiro tinham um lugar especial
em seu coração. Assim, a Coluna começou a trazer para ela pão diretamente
do céu. “Como meus antepassados”, ela pensou. E nunca mais sentiu fome.
A Queda
No entanto, seu rebanho começou a querer se alimentar de pastos verdes.
Antes seus animais pareciam bem, agora pareciam famintos, sedentos,
clamando por um campo. Tamar andou algum tempo e avistou um campo
verde, de longe. Não era o mesmo campo que havia visto da primeira vez,
era diferente. Esse campo também estava ocupado, mas, preocupada em
satisfazer seu rebanho, correu com ele para lá.

Tamar não se deu conta que a Coluna estava parada. Ela não deveria ter se
movido. Quando chegou ao campo, seu rebanho começou a se alimentar
dele. Algo estava errado, o coração de Tamar não estava em paz, mas ali ela
permaneceu.

Pouco tempo depois, o campo onde Tamar e seu rebanho estavam se abriu e
se transformou em um vale profundo e sombrio. Uma imensa tempestade
sobreveio e ela caiu, juntamente com todo o seu rebanho.

Quando a terra abriu e, com ela, engoliu Tamar e seu rebanho, ela bateu a
cabeça e ficou desacordada enquanto a tempestade caía sobre ela. Quando a
chuva passou, ela acordou. Tamar estava muito machucada e não conseguiu
levantar, mas ao seu lado pôde ver todos os corpos dos animais de seu
rebanho.

Enquanto chorava e sentia imensas dores por conta de sua queda, pensava
como aquilo havia acontecido. “Se eu tivesse ficado com a Coluna, nada
disso teria acontecido”, ela pensava. Tamar chorava amargamente e clamou
em alta voz, no fundo daquele sombrio vale:

— Senhor, salva-me!

Naquele momento, o local se encheu de luz, e a Coluna estava ao lado.


Enquanto chorava, a Coluna a retirou do vale e cuidou de todas as suas
feridas. Junto com ela, a Coluna retirou os únicos sobreviventes do rebanho
de Tamar: uma ovelha e um carneiro, que estavam igualmente feridos.
Depois de ter seus machucados tratados, Tamar olhou para os dois animais
que com ela se encontravam. Estavam tão machucados que ela pensou que
não fossem sobreviver. Mas a Coluna também cuidou das feridas do seu
rebanho, pois ela não tinha forças.

O Deserto
Após um longo tempo de restauração, quando as feridas de Tamar e de seu
rebanho estavam praticamente curadas, a Coluna tornou a se mover.

Dessa vez, não para uma direção de campos, mas para um imenso e vazio
deserto.

No caminho de antes, ainda que vazio, era possível ver alguns campos.

Agora, Tamar não via mais nada.

Ela e seu rebanho estavam se alimentando diariamente do que a Coluna os


fornecia, e assim sobreviveram.

Pão e água do céu eram a sua provisão.

A Coluna os refrescavam de dia, como nuvem, e os aqueciam à noite, como


fogo.

Tamar olhava continuamente para o remanescente do seu rebanho com


esperança de que um dia ele pudesse voltar a crescer e prosperar.

Ela voltou a se mover conforme a Coluna se movia.

Não fazia ideia de onde estava indo, mas sabia que estava segura.
O Primeiro Campo e
os Outros Campos
Após muito tempo, de longe, Tamar pode avistar o primeiro campo por
onde havia passado, antes de cair no vale. O primeiro campo que tocou seu
coração, mas agora ele estava diferente, não havia rebanho ou sinal algum
de que estava ocupado. O campo que ela sonhou em ir um dia estava
desocupado.

Tamar quis ir lá imediatamente. Era o pasto mais verde que havia


encontrado em muito tempo. Mas algo a impediu. A Coluna de nuvem
estava indo para outra direção, totalmente contrária àquele campo. A crise
foi certeira. Ela ansiou levar seu humilde rebanho para lá, mas seu
direcionamento foi outro. Dessa vez, Tamar obedeceu. Enquanto se afastava
para a direção contrária, viu o campo mais belo que conhecera se
distanciando aos poucos, até que o perdeu de vista.

Em sua caminhada ela pode ver novamente muitos outros campos. Certo
dia, a Coluna se moveu para bem perto de um campo e ali parou. Tamar
entrou e seus dois animais começaram a se alimentar daquele campo. “Será
que devo permanecer aqui?”, ela pensava. Seu coração estava com aquele
primeiro campo, mas seu rebanho parecia bem ali.

Algum tempo depois, ela começou a se acostumar com a ideia de morar ali.
No entanto, a Coluna tinha outros planos. Quando ela estava começando a
se afeiçoar por aquele campo, a Coluna se moveu para longe dali
imediatamente, e Tamar voltou ao deserto.

Sobrevivendo com o pão que caía do céu, dúvidas permeavam seu coração
enquanto caminhava todos os dias. No meio da jornada, a primeira cria das
ovelhas nasceu. A esperança de ver seu rebanho prosperar tornou a
aumentar.
De Volta ao Primeiro
e Amado Campo
Tamar se acostumou a caminhar sem saber para onde ia. Deixava a Coluna
guiar seus passos. Certo tempo depois, de muito longe, Tamar tornou a ver
o mesmo campo. Seu coração nunca o esqueceu por completo.

Ele estava diferente agora. Mais verde do nunca e totalmente desocupado. A


maciez da grama era vista a quilômetros e, agora, era possível ver um riacho
regando toda a plantação. Parecia que ele gritava para que o rebanho de
Tamar fosse para lá.

Dessa vez, a Coluna não se moveu para outro lugar. Ela permaneceu parada,
a pouca distância do campo que fez os olhos de Tamar brilharem pela
primeira vez. Enquanto ela queria correr para lá, a Coluna permaneceu
imóvel.

Tamar montou seu acampamento ao redor da Coluna, à distância do campo,


mas ela conseguia ver, todos os dias, o sonhado pasto para seu rebanho. Seu
acampamento estava fixo, à distância, mas, por dias, ela ia até a porta do
campo para vê-lo. Ela ia sozinha, seu rebanho estava aos cuidados da
Coluna.

A cada dia que passava, mais Tamar se encantava por ele. Seus pastos
pareciam mais verdes, seu riacho era cristalino. Parecia clamar para que
Tamar fosse para lá. “Por que eu e meu rebanho não podemos vir para cá?”,
pensava.

Cada vez que ela voltava ao seu acampamento, a angústia e as lágrimas


permeavam o seu interior. Mas o fogo da Coluna aquecia meu coração e
consolava suas lágrimas. “Espere só um pouco mais” eram as palavras que a
Coluna enchia seu coração.
De Volta ao Deserto
Tamar era intrépida, ousada e determinada. Mas, infelizmente, às vezes era
muito independente. No seu coração, ela decidiu que aquele campo era o
destino do seu rebanho. Ela só esqueceu que a Coluna a conhece melhor que
ela mesma.

Quando seu coração estava decidido, a Coluna voltou a se mover. Para o


desespero de Tamar, de novo em uma direção contrária ao campo que já
tinha o seu amor.

A essa altura, o seu rebanho havia se multiplicado mais. Para ela já era o
suficiente. Era hora de se estabilizar no tão sonhado pasto. Mas eis que
estavam todos de volta ao deserto.

As lágrimas de saudade de um campo que nem lhe pertencia eram


constantes. Até que um dia, a Coluna de fogo disse a Tamar:

— Quem te sustentou durante todo esse tempo depois da sua queda no vale
foi aquele campo ou fui Eu?

Os olhos de Tamar tornaram a encontrar o fogo ardente e ela entendeu onde


seu coração deveria estar. Não faria o menor sentido estar naquele campo se
a Coluna não estivesse com ela. Foi então que Tamar entendeu porque a
Coluna a havia levado ao deserto: precisavam conversar sobre amor.

Tamar tomou a decisão de amá-La mais do que toda e qualquer coisa,


inclusive mais do que o campo que havia encontrado. Decidiu fazer da
Coluna o centro do seu coração todos os dias. Ainda que, no fundo, Tamar
quisesse ir de encontro ao campo que amava, ela escolheu não amar nada
mais do que a Coluna.
Tamar voltou a cantar, dias e noites, entoando cânticos no deserto. A Coluna
pareceu se mover de novo, dessa vez, bem devagar, de forma quase
imperceptível. Para ela já não fez diferença.

As coisas finalmente estavam ficando no devido lugar. Seu coração


pertencia totalmente à Coluna. Ela estava no centro.

O Campo do Amor
Seu rebanho estava maior, não do tamanho que desejava, mas maior do que
quando saiu. Tamar não reparou que estavam se movendo. Até que ela o
avistou de longe. O mesmo campo que tinha o seu coração. O medo, a
confusão e a culpa a encheram. Ela não queria amar este campo mais do que
ama a Coluna.

A Coluna parou de novo. Dessa vez, a alguns metros de distância do campo,


que ela descobriu que continuava tendo o seu apreço. Tamar começou a se
perguntar se era ela quem tinha se movido de volta para lá, e, por
misericórdia, a Coluna a acompanhou.

Tamar não queria perder seus olhos da Coluna de novo. Mas ela sabia que
seu coração queria levar seu rebanho para lá ainda.

Tamar montou seu acampamento de costas para o campo, onde seus olhos
estavam fixos na Coluna.

Alguns dias depois, o campo pareceu estar sofrendo um ataque. Alguns


animais selvagens entraram e quiseram destruí-lo. Tamar não podia fazer
nada. Ela se desesperou e implorou para que a Coluna fosse ao seu resgate,
era o que estava ao seu alcance.

Ela fechou os olhos e, quando viu, todos pareciam ter ido embora. Ainda que
preocupada, ela sabia que a Coluna o manteria seguro.
Tempos se passaram e algumas borboletas começaram a visitar Tamar.
Quando ela olhou, viu que elas vinham de um canteiro de flores que agora
também estava presente no campo, na entrada e em vários lugares.

Tamar foi até lá para ver de perto. Não entrou, por mais que quisesse. Mas
as flores da entrada estavam ao seu alcance. Tamar não achou que fosse
possível, mas se apaixonou ainda mais por aquele lugar.

Ela voltou correndo para a Coluna de fogo à noite e derramou todas as


lágrimas que pode. Como ela queria não desejar levar seus rebanhos para o
campo. Como ela queria permanecer com seu coração com olhos fixos para
a Coluna. Ela queria que Ele fosse seu primeiro pensamento pelas manhãs.

Depois de uma noite de lágrimas, a alegria da manhã revelou a ela:

— O campo alimentará os seus rebanhos, mas não você. O seu alimento


diário continuará vindo de Mim.

Tamar se levantou e não estava mais triste. Seguiu sua vida, ela confiou no
que lhe foi dito.

Dias depois, o vento trouxe a Tamar uma das flores do campo. Ela olhou
para trás e o campo estava ainda mais belo. Árvores frutíferas e lindos
pássaros agora faziam parte daquele lugar. Ela foi para a entrada para
apreciar o quão incrível aquele campo estava.

Mas algo estava diferente. Por mais que ela estivesse de frente com o
campo, seu coração estava com a Coluna. Depois de ir lá, só pensava em
voltar e contar para a Coluna sobre tudo o que estava acontecendo de novo
por lá.

Algo mudou. Ela queria levar seu rebanho para lá, mas seu coração ardia em
desejo pela Coluna. Nada lhe era mais importante do que Ela. Os Olhos de
Pedras Preciosas a olhavam com amor por meio da Coluna de fogo todas as
noites, e ali ela quis permanecer.
Onde está a Coluna?
Tempos depois, a Coluna se moveu. Dessa vez, para mais perto do campo.
Ainda estava a alguns metros de sua entrada, mas estava mais perto.

Tamar começou a se perguntar se aquilo que fora sonhado lhe seria


presenteado. Seu rebanho estava maior. “Será que agora poderíamos ir para
lá?”, pensava.

Até que um dia Tamar acordou e se desesperou. A Coluna havia sumido. Seu
rebanho estava lá, o campo estava a alguns metros de distância, o alimento
que a Coluna lhe provia também estava lá, mas “onde Ela estava?”, Tamar
perguntava.

Ela visitou o campo em alguns momentos, as coisas iam bem por lá. Parecia
estar quase pronto para lhe receber. Mas onde a Coluna estava? Tamar se
desesperou muito quando, no segundo dia, Ela não voltou.

A crise tomou conta. “Por que demorei tanto tempo para perceber que Ela
havia ido, talvez por estar indo demais ao campo?”, ela pensava.

O medo voltou a tomar conta de Tamar. “Não é possível que caí no mesmo
erro novamente. Como pude tirar os olhos dEla?”, pensava.

No entanto, Tamar se lembrou do que a Coluna a havia prometido: “Estarei


com você até a consumação dos séculos”. No seu coração, Tamar teve a
convicção de que Ela estava ali, ainda que não A visse ou que não A sentisse.
A Coluna estava ensinando Tamar a se mover por fé.

Tamar entendeu que é sobre o que ela sabe, não sobre o que ela vê. A Coluna
estava ali, mesmo que não A visse.

Era sobre como ela se comportaria quando não estivesse sentindo mais.
Sobre o que ela faria se não estivesse mais vendo. Era sobre a fé em Quem a
Coluna é.
Outros Campos?
No outro dia, quando Tamar acordou, se deparou com outros três campos
novos à distância, um pouco mais à frente do seu amado campo. Eles
chamavam um pouco de atenção dela. Nunca os havia notado antes.

Ela foi mais à frente para ver como eram. Estavam também desocupados.
Tinham suas particularidades, suas belezas, seus canteiros e seus riachos.

Um deles, o que estava mais perto do seu campo amado, possuía uma beleza
extraordinária. E os pássaros que lá estavam se aproximaram para cantar
perto dela.

O som era simplesmente encantador e, por um instante, a mente dela


pensou “se acontecer de eu não poder ir para o meu campo, posso vir para
um desses”.

Na hora, seu coração a exortou: “Nunca, jamais, em hipótese alguma volte a


pensar nisso”.

Tamar lembrou-se do amor que tem pelo primeiro campo, que conheceu
antes mesmo da queda no vale.

A crise entrou em seu coração. “Será que o que sinto por aquele campo é
genuíno? Será que é verdadeiro? Por que cogitei isso?”, pensava.

Como Tamar desejou que a Coluna estivesse ao seu lado para lhe ajudar a
enxergar isso claramente. “Espere, Ela está aqui”, pensou.

A certeza que a Coluna ainda estava com ela, ainda que não A visse, foi o que
ela precisava para prosseguir. Foi quando Tamar decidiu descobrir o que de
fato sentia por aquele campo.

Se era paixão ou se era amor.


O Tesouro
de Tamar
Hadassa
Uma coisa lhe era certa: ele não era como os outros campos. Sim, os outros
campos eram belos, mas aquele campo era mais do que beleza.

Dentro de Tamar, é o único campo que lhe arrancava sorrisos só de pensar.


Não, ele definitivamente não era qualquer campo.

Tamar começou a se lembrar das tantas vezes em que foi à sua entrada. O
brilho das pombas foi o que fez seu coração acelerar.

A música dos pássaros era eletrizante e, no centro daquele campo, era


possível ver um lugar reservado com cuidado para que a Coluna também
habitasse.

“O que amo naquele campo?”, pensou. “Tudo. Sua beleza, suas qualidades,
seus defeitos, seu processo de desenvolvimento, seu lugar reservado para a
Coluna, seus acertos, suas falhas, suas aprovações e suas reprovações.
Porque não é sobre o que o campo tem, é sobre quem ele é”.

“Esse campo me faz não querer olhar para mais nenhum outro. Me faz
querer perder o desejo de achar beleza em outros pastos. Me faz querer
perder a vontade de sequer cogitar ir para outro lugar com meu rebanho”,
Tamar refletia.

“Como sei que é genuíno?”, Tamar pensou. “Os outros campos podem ser
ocupados por outros rebanhos que não me fará diferença alguma. Mas só de
pensar em outro rebanho se aproximando deste campo, meu coração se
desespera.”
Tamar continuou: “Amor é uma escolha. Não sei quando escolhi amá-lo, mas
sei que escolhi, e aqui dentro estou disposta a permanecer com ele até o fim
da era. Meu rebanho se multiplicou, quero levá-lo para o campo amado. Mas
não vou me mover se a Coluna não o permitir. Eu sei que Ela está aqui, e Ela
sabe de tudo aqui dentro.”

“Agora é hora de amá-La ainda mais, e mais do tudo. Deixar o Seu fogo
consumir toda palha aqui dentro. Pois quando não houver mais campos e
rebanhos, Ela permanecerá. Olhos fixos na Eternidade. Haverá espaço para
o amor verdadeiro e bíblico se eu entender o Propósito Eterno, que é amar a
Jesus acima de todas as coisas”, concluiu Tamar.

A convicção de que a Coluna permanecia com Tamar independente de


qualquer coisa foi o que a sustentou até ali. Seu amor por aquele campo só
crescia. Junto com ele, a preocupação de estar fazendo aquilo que a Coluna
queria que ela fizesse.

Maturidade. Chegou o momento de ser experimentada para crescer de uma


vez por todas. Aprender a viver por aquilo que se sabe e não pelo que se
sente. Tamar sabia que a Coluna era o centro da sua vida. Mas em alguns
momentos sua alma se inquietava por querer ter o controle das coisas e
resolver tudo de uma vez. Mas ela entendeu que as coisas não são assim.

A História do Campo
Tamar levou seu rebanho e montou acampamento muito perto da entrada
de seu amado campo. Mas ela ainda não teve coragem de entrar. Ela tinha
tanto medo de ir sem a Coluna que precisava de ver Ela lá dentro para só
então entrar. Lá Tamar ficou, esperando um sinal da Coluna para poder
entrar.

Mas Tamar se lembrou de algo importante. O campo irá prover o alimento


para o seu rebanho, então todo o assunto que dizia respeito aos dois, a
Coluna iria tratar diretamente com ele.
Tamar começou a observar seu amado campo de perto. Ele também tinha a
sua história. Há muito tempo, antes da queda no vale, Tamar se lembra bem
de ter visto outro rebanho nele. Ela não sabia de quem eram, mas soube que,
logo depois que esse rebanho foi embora, o campo ficou devastado, sem
esperança e desacreditado de encontrar um rebanho para alimentar.

Ela soube então que a mesma Coluna que a tinha tirado do vale foi ao
encontro do campo. Ela o restaurou, o transformou, encheu de vida, árvores
frutíferas, flores e riachos belíssimos.

Tamar havia passado por ele nesse processo, quando a Coluna a levou ao
deserto pela primeira vez. Hoje, seu amado campo é belo, majestoso e
amável. Ainda mais apaixonante do que a primeira vez que o viu.

A história com o campo estava sendo escrita. Muitas vezes, Tamar olhava e
seus portões estavam abertos para receber seu rebanho. Outras vezes, os
portões se fechavam. Ela não conseguia identificar ao certo o que vinha da
parte daquele campo. Ela sabia que o amava profundamente, poderia o
campo amá-la?

“Saberia eu o que é amor? O que é receber amor? Já recebi isso alguma vez
na vida? Temo que todas essas respostas são negativas", Tamar
continuamente pensava.

O Plantio em Conjunto
Dias se passaram e Tamar iniciou um plantio, bem perto da entrada do
campo. A Coluna dentro dela a levava a investir tempo e recursos para o
cultivo, ainda que Ela continuasse provendo o seu alimento.

Sua horta estava belíssima, já via alguns frutos por lá, mas ela sabia que
poderia mais. Foi então que Tamar pediu ao campo para que lhe cedesse um
pouco de água de seus riachos para molhar sua horta.
Tamar criou um caminho do riacho lá dentro até a horta que havia criado do
lado de fora. Seu rebanho permaneceu do lado de fora, ainda era alimentado
pela Coluna, não podia deixar com que ele entrasse sem o sinal de positivo.

A horta começou a prosperar, e Tamar se alegrou em ver o que estava


construindo junto com o campo, ainda que não tivesse levado seu rebanho
para lá.

O Sacrifício
Tamar sempre soube controlar muito bem sua vida, mas as coisas não eram
mais assim. Ela havia aprendido a confiar e a obedecer a Coluna. Carregando
todos os ensinamentos de seus pais, aprendeu a esperar da Coluna a sua
provisão.

Um dia à noite, Tamar se arrumou e esperava passar um bom tempo com


seu campo. Tudo estava ajeitado. Seu rebanho estava imenso, as flores, os
pássaros, as árvores… tudo à sua volta parecia colaborar para que seu
rebanho finalmente fosse levado para o campo.

Então, a Coluna tornou a aparecer de forma física. Dessa vez, perto da


entrada do campo. No momento em que A viu, Tamar soube do que se
tratava. A culpa encheu o seu coração. De novo, ela havia amado o campo
mais do que a Coluna. Ela não teve palavras. Então, a Coluna disse a ela:

— Faça um altar, pegue todo o seu rebanho e sacrifique-o a Mim.

O coração de Tamar se desfaleceu. Não era simplesmente deixar seu amado


campo, era entregar todo o seu rebanho em sacrifício. O medo de Tamar não
era porque não queria, mas porque achava que não conseguiria.

Tamar sabia que tudo o que a Coluna falava era para o seu bem, e ela ansiava
desesperadamente em obedecer. Ela só não sabia como fazer. Tamar sabia
que a Coluna era poderosa o suficiente para ressuscitar todo o seu rebanho
depois, mas ela precisava matá-lo.
Construiu um altar na frente do campo, que de longe observava sem
entender. Uma por uma, sacrificou todas as suas ovelhas e carneiros. Com
lágrimas nos olhos, entendeu que Deus a havia posto à prova.

Ela não lhe negou seu único rebanho. Não lhe negou nada. Internamente, a
culpa tomava seu coração. Junto com ela, a esperança de ver ressuscitado
tudo aquilo que Deus a havia lhe pedido.

Era hora de se reposicionar. A Coluna queria levá-la para lugares incríveis,


que ela nunca havia visto antes. Para isso, ela precisava esquecer seu
rebanho e seu amado campo.

Quando terminou, olhou para o campo e para a horta que haviam


construído. Sem rebanho, Tamar começou a cultivar as terras em volta. Em
alguns dias, a Coluna a levava para longe, para cultivar a terra em outros
lugares, mas depois Tamar voltava, para cuidar da horta que havia
construído.

Todos os dias ela via o seu amado campo, e continuava o amando


profundamente. Ela não tinha mais rebanho para levar até lá, mas nem um
segundo deixou de amá-lo. Se limitavam a cultivar juntos, se viam todos os
dias, mas Tamar não tinha um rebanho para levar até lá. A Coluna estava
com ela, e para Ela Tamar se voltava sempre que seu coração apertava. E
assim ela viveu.

Esperança?
Nove meses depois, enquanto Tamar cultivava a terra em um lugar distante,
ouviu um balido em um monte. Quando se aproximou, viu uma ovelha que
estava para dar a luz. Não havia sinal de rebanho ou de lugar algum de onde
essa ovelha poderia ter vindo.

Tamar se ajoelhou e, pouco tempo depois, trouxe ao mundo um pequeno


cordeiro macho. Cuidou dos dois com carinho por um tempo, esperando
que seus donos fossem aparecer em busca de ambos.
Após algumas semanas, Tamar precisava voltar ao seu acampamento, perto
de sua horta, em frente ao campo.

Levou consigo a ovelha e o pequeno cordeiro. Tamar evitava pensar no que


poderia estar acontecendo, para não se machucar. Quando estava a cerca de
um quilômetro, ela parou e viu seu amado campo, junto com tudo o que
havia construído. Tamar aprendeu a apreciar a companhia do campo sem a
necessidade de levar um rebanho para lá.

De onde estava, Tamar poderia ver outros campos. Igualmente belos, com
suas qualidades e particularidades, e todos eles com belíssimas flores. Ela
conseguiu ver todos esses campos, e também o campo que outrora ansiava
levar seu rebanho. Ela entendeu que era o momento de escolher. Mas Tamar
já sabia exatamente o que fazer.

Primeiro Pensamento
Tamar se sentou e, com o pequeno cordeiro em seu colo, disse à Coluna, que
estava bem à sua frente.

— Entendi. Bom, aprendi a viver bem com Você, e Você também sabe que
nada mais me importa. Quero ir para onde Você for, quero que a minha
escolha seja a Sua, e clamo para que essa escolha jamais me tire de Você. Me
distraí fazendo tantas coisas que quase perdi o rumo do caminho. Me distraí
pensando em ter mais que quase esqueci que tenho tudo em Ti. Me distraí
cantando outra canção que quase perdi a essência da adoração. Me distraí
amando um outro alguém, quase perdi meu coração. Mas Te ouvi dizendo
que me queria por completo. Seus olhos me encontraram e eu me entreguei
por inteiro. Considero como perda tudo nessa vida. Se for para Te ganhar,
eu me entrego e não resisto. Todos os dias, toma o Teu lugar e faz morada
no meu coração. Queime com Tuas brasas vivas todos os meus outros
amores que competem com Você. Faço o que for preciso para Te ter dentro
de mim. Seja o centro do meu ser. Seja o primeiro pensamento da minha
manhã. Em silêncio esperei até esse momento. Te seguirei para onde Você
quiser.
Então, a Coluna fez soprar uma brisa suave, fazendo os dentes-de-leão se
soltarem e envolverem Tamar Hadassa. Uma música nova ela cantou a
Deus, e prometeu nunca cantar para outro como ela canta para Ele. “Não
vou se Você não for, não fico sem Você aqui. Me diz para onde devo ir”, ela
orou.

Naquele momento, a brisa que a Coluna fez soprar fez as sementes de


dente-de-leão irem em direção a um dos campos que ela estava vendo. “Pai,
me traga certeza de que este é o campo onde esse rebanho irá crescer,
prosperar e ali nos estabeleceremos junto com Você.

Após dizer essas palavras, a Coluna tornou a soprar uma brisa. De um dos
campos, o mesmo onde as sementes de dente-de-leão haviam ido, o vento
fez sair uma flor amarela e a trouxe a Tamar Hadassa. Ela sorriu e lhe disse:
“Você sempre supera todas as minhas expectativas”. Então, seguiu em
direção ao campo que Deus lhe havia mostrado.

Fim.

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