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Fairchild & Boggiani 2004
Fairchild & Boggiani 2004
#'' {
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A VIDA PRIAAITIVA:
DO CRIPTOZól(O(PRÉ-(AMBRIANO) AO INÍCIO DO FANEROZól(O
Thomas R. Fairchild
Pauta Cesar Boggiani
Imagine a história da vida na Terra como um O Criptozóico é dividido em três éons de longa
la?óerg.Da mesma forma que quase todo o üróe?gfica fora duração, um essencialmente virtual, quase sem registro
de nossavista debaixo da superfície dos mares, 85%oda físico, o Hadeano(de 4,56 a 4,0 bilhões de anos),e os
história da vida está escondida, quase imperceptível, no outros dois palpáveis, reais, o Arqueano (4,0 - 2,5 bi-
vasto registro do tempo geológico mais remoto. Os lhões de anos) e o Proterozóico(2,5 - 0,544 bilhões de
ícones mais populares da Paleontologia os trilobitas, anos)(figura 14.1).
dinossauros e tigres.dente-de-sabre - representam ape' O Hadeano deriva seu nome de HazZK,o inferno
nas.a ponta do frfóe/g dessa história. uma fase iniciada
da mitologia grega, um nome muito apropriada para a
espetacularmente há meros 544 milhões de anos com a
violenta fase inicial da Terra, quando o planeta foi in-
primeira irradiação de invertebrados com conchas e ca-
tensamente bombardeado por meteoritos e a crostaso-
rapaças Essa fase corresponde a apenas os 15 %omais freu igualmente vigorosa geração e retrabalhamento
recentes do tempo geológico, mas foi responsável por (peixeira e/zz#f,2000). Desse éon, o único registro físi-
quase todo o registro paleontológico de organismos co que sobrou foram apenas alguns cristais de zircão de
macroscópicos e complexos, os fósseis que saltam à vis- rochas datadas em 4,1 a 4,4 bilhões de anoserodidos e
ta do paleontólogo no campo. Por este motivo, dá-se o depositados na forma de grãos de areia em rochas
nome,muito apropriado,de éon Fanerozóico,de conglomeráticas arqueanas.
PJzz/menor,
"visível", e zaoí, "vida". a esse intervalo do
A história da vida cíiptozóica, portanto, só é do-
tempo geológico.
cumentada no registro fóssil nos éonsArqueano e
Os quatro bilhões de anos da história da Terra an- Proterozóico
teriores ao Fanerozóico compreendem o Pré-Cambriano,
o tempo antes do primeiro período do Fanerozóico, um
termo consagradopelo uso. Do ponto de vista O registro paleontológicodo
paleontológico, porém, adotaremos neste capítulo um (l:riptozóico
nome informal masque realmente exprime melhor o ca-
ráter microscópico e simples das formas de vida predomi- Os registíos fósseisdo Criptozóicoe do
nantes desse vasto intervalo de tempo: o Criptozóico, de Fanerozóico exibem diferenças significativas,que re-
c7JP/oí, "escondido", e Boas, "vida" (figura 14. 1). fletem a dominânciade organismosprocarióticosmi-
222 Paleontologia
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C Atdabaniano
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Fanerozóico Paleozóico E Tommotiano
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0 N-D-
-- 544 Ma --
8 Ediacariano
à::
z.g Varanger
Ê (610-590Ma)
Neoproterozóico
Proterozóico - 650 Ma
Pré-Cambriano
----- 1.000Ma
ou
Mesoproterozóico
Paleoproterozóico
Arqueano
-- 4.060 Ma"
Hadeano
C
f'Ü#na /4./ Subdivisão do temfbJÕrjl-cambrianootVrbtozóico utilizada neste capítulo. Ma = milhões de anos.' N-D =
Andar Ncmakit-Daldyniano. ++ Idade d#tiáiite entre o Arqügano e o Hadcano, por convenção, é tomada como a das mais antigas
rochasconhecidas,anualmente, gnaissescom 4.060 Ma do norte do Canadá. Os termos Ediacariano e Varangerforam propostos
para subdividir o Neoproterozóico 111em períodos menores, geohistoricamente significativos, o Varanger com referência à última
glaciaçãoprotcrozóicã (Península Varangcr,Norucga) c o Ediacariano com referência às mais antigas evidências de animais
macroscópicos(Colinas de E diacara, Austrália).
croscópicos, no primeiro, e a predominância dos como ler um livro no qual a maioria das páginas e ilus-
eucarióticos macroscópicos no segundo (tabela 14.1). A trações, menos no último capítulo, já foi arrancadaou
representatividade desses registros tambérD difere, uma danificada.
vez que as rochascriptozóicas, bem mais antigas.esti- As páginas preservadasdessahistória revelam.
veram muito mais sujeitas à erosão, ao metamorõsmo e entretanto, que a vida surgiu há maisde 3.5 bilhões de
ao soterramento do que as faneíozóicas, mais recentes anos, representada inicialmente apenas por procariotos
(figura 14.1). Ler o registro paleontológico é, portanto, (bactérias, cianobactérias e arquebactérias), evidencia-
A VidaPrimitiva: do Criptozóico(Pré- Cambriano) ao início do Fanerozóico 223
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Modo evolutivo: foco da /e/nncelular: metabolismo, desenvolvimento
pressão seletiva bioquímica. morfológico, tecidos e
órgãos, biomineralização.
rnulticelularidade, comunicação e
dos por estromatólitos, microfósseis e quimiofósseis na sõesespiraladas milimétricas lembrando uma mola acha-
Africa do Sul e no oeste da Austrália. tada (G/]Pzz#z'a,possivelmente uma alga) e, pouco de
Embora quimiofósseis australianos demonstrem pois, na fobia de microfósseis orgânicos(acritarcas)gran-
a possível presença de eucariotos há 2,6 bilhões de anos, des demais para serem procariotos.
evidências físicas desse grupo só aparecem a partir de Mas a vida continuava predominantemente mi-
Z,l bilhões de anos, na forma de impressões e compres- croscópica e dominada pelos procariotos por mais de
Pateontotogia
um bilhão de anos.Então, entre 1,2e 1,0bilhão de anos mas destas têm sido contestadas. Recentemente, por
atrás, surgem os primeiros eucariotos sexuados, a julgar exemplo, alguns microfósseiscom 3,5 bilhões de anos
pelo aparecimentode microfósseis com paredesespes' foram reinterpretados como estruturas não biológicas,
sas,ornamentaçãoe/ou diâmetros relativamente gran originadas por processos hidrotermais. Terceiro, mesmo
des e de microfósseis(no Canadá) virtualmente idênti- assim, o saldo das evidências mostra que os procariotos
cqàs algasvermelhas, todos evidentemente mais com- já estavam bem estabelecidos e envolvidos em
plexos do que procariotos conhecidos e os supostos ecossistemas bentõnicos fotoautotróficos (r.g., os
microfósseis eucarióticos mais antigos. estromatólitos) há três e meio bilhões de anos.
Apesar da presença precoce do macrofóssil Isto significa que em termos dos grandesestági-
Gfypa /a, há 2,1 bilhões de anos, o registro os da história da vida, resumidos na tabela 14.3(Knoll &
paleontológico só começa a se tornar visível em larga Bambach, 2000), a vida pode ter se originado e passado
escala,isto é, macroscópica(.
com o aparecimentode rapidamente pelo estágio 1, de "promovida" (tabela 14.3),
moldes, contra-moldes, icnâk6sseis e raras conchas dos diferenciando-se amplamente no nível procariótico (es
primeiros animais multicelulares milimétricos a tágio 11).Não deve ter levado mais do que 500 milhões
decimétricos, discutidos mais adiante, nas poucasdeze- de anos,ou menos,se a gravitade Groenlândiafor de
nas de milhões que antecederam a irradiação cambriana origem biológica. Isto porque dificilmente qualquer
deinvertebradosconchíferos. forma de vida hadeana teria sobrevivido osterríveis im-
Assim. a maior parte do registro paleontológico pactos de meteoritos, que só acabaramdcpois de 4.0
bilhões de anosatrás.
do Criptozóico é caracterizada por estromatólitos,
microfósseis e quimiofósseis relacionados a organismos
procarióticos, principalmente cianobactérias. Organis-
mos eucarióticos também são representados, antes de l
A vida se diversifica: aparecem
bilhão de anos atrás, por raros quimiofósseis, compres- oseucariotos
sões/impressões milimétricas e microfósseis, e, no
Neoproterozóico, por fósseis em maior abundância, va- Os procariotos são organismos microscópicos e
riedade, complexidade e tamanho(tabela 14.2). morfologicamente muito simples, desprovidos de
organelas internas e de núcleo diferenciado. Reprodu-
zem-se assexuadamente, o que explica o extremo
Os fósseis mais antigos e seu conservadorismomorfológico evidenciado por seu
registro fóssil (Schopf, 1995). Muitos microfósseis
significado evolutivo
procarióticos de até 2 bilhões de anos atrás são
Há quem argumente que as relaçõesentre morfologicamente indistinguívdis dos de procariotos
isótopos de C em grafita preservada em rochas modernos. O grupo apresenta metabolismo extrema-
metassedimentares com pelo menos 3,8 bilhões de anos mente diversificado e grande resistência a extremos
de idaúÉ''iklilha Akilia. no sudoesteda Groenlândia, ambientais de temperatura, salinidade, pH e radiação.
indiq(efgj2resença de organismos fotossintetizadores Por isso, até hoje sãoos organismosque predominam
no iníêi6'do Arqueano. Existem controvérsias em rela- em ambientes anóxicos, hipersalinos, hiperácidos e de
ção a essainterpretação em função do metamorfismo altas temperaturas, uma capacidadeaparentemente
que essematerial carbonoso sofreu. Desta forma, os fós- herdada da época de sua origem e diversificação sob as
seis mais antigos aceitas atualmente pela comunidade severas condições paleoambientais do início do
científica são os estromatólitos, quimiofósseise Arqueano.
microfósseis datados em 3,5 bilhões de anos do oeste da Por outro lado, os processosmetabólicosdos
Austrália e sul da Africa, mencionados acima e na tabela eucariotos, tais como respiração e fotossíntese, são indi-
14.2 vidualizados em organelas intracelulares especializadas.
O problema dos fósseis mais antigos do mundo A reprodução sexuada, amplamente desenvolvida nos
merece algumas observações. Primeiro, o registro fós eucariotos, lhes confere grande variedade genética e,
sil do Arqueano é, de fato, muito rarefeito, êom a grande consequentemente, morfologia distinta e complexa,
maioria das ocorrências datando do final desseéon(en- bem diferente dos procaíiotos. Seu sucessoevolutivo,
tre 3,0 e 2,5 bilhões de anos). Segundo, existem poucas medidopela velocidadede suasadaptações
e inova-
ocorrências mais antigas que 3,0 bilhões de anos, e algu- ções,tem um preço alto, a extinção, pagopor todas as
A VidaPrimitiva: do Criptozóico (Pré-Cambriano)ao início do Fanerozóico 225
Tabela 14.2 Categorias de fósseis mais comuns no Criptozóico. * interpretação não necessariamente
consensual.
N4oldes,
Impressões da forma externa de organismos Medusóides :lommbeLla wmeri,
contramoldes
multicelulares, principalmente de metazoários NW do Canadá Grupo Corumbá,
em rochas
primitivos. 600 Ma MS, c. 550 Ma
siliciclásticas
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227
posterior/dorso-ventral dente os fósseis ediacarianos, é Além de grandes, alguns dos organismos mais
aparente que poucos desses animais rastejavam ou se comuns na fauna. D/réi sabia, por exemplo, também
deslocavam ativamente sobre o fundo do mar. Boa parte eram extremamente finos, com poucosmilímetros de
dos animaisexibiam a simetria radial ou concêntrica espessura, uma morfologia que favoreceria a absorção
típica de organismos passivos de hábitos flutuantes na de oxigênio, alimentos ou até mesmo luz pelos teci-
coluna de água ("medusóides") ou sésseis no fundo. dos (figuras 14.2 e 14.3). Aliás, Adolf Seilacher (Yale
Uma parcela considerável apresenta nítida University) e Mark McMenamin(Holyhoke College)
compartimentalização e organização muito semelhante já argumentaram que os organismos ediacarianos pos-
àscolónias frondosas de cnidários penatuláceos(figuras suíam simbiontes autotróficos que teriam fornecido
14.2 e 14.3). lcnofósseis comprovam a presença de muitos dos seus nutrientes (e oxigênio) a partir da
escavadores rasos associados à fauna. fotossíntese, como nos corais hermatípicos modernos.
Não está muito claro como os seres ediacarianos Martin Glaessner, o australiano que primeiramen-
se alimentavam, pois é controvertido se esses organis- te percebeu a importância evolutiva dessafauna, acre
mospossuíam boca, ânus, trato digestivo ou sistemacir- ditava que praticamente todas as formas pudessem ser
culatório. Apenas uma espécie que se alimentava das classificadas em filou modernos,lprincipalmente dentro
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/'Üzínu /4.2 Reconstituição de animais representativos da fauna de Ediacara (Neoproterozóico tGmunal. Austrália). Obser-
var as formas que lembram frondcs (A). Os medusóides (Ed/arara, D; Rugaro ;/n, G). A forma discóidc cóm simetria trirradial
(7hónnüldy#n, F). A forma vermiforme segmcntada(Z)Ir#/#so#ü,B) e as formas com possível desenvolvimento antcro-posterior
(JP/l@i#a,C; Pawz?#rad#a,E) (Baseadaem Margulis, 1982).
A VidaPHmitiva: do Criptozóico(Pré- Cambdano) ao início do Fapglglglçt 229
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C)vatoscutum Cyclomedusa Tribrachidium Albumares
:$ Estrutura em
gomos(detalhe)
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[)/ck/néon/a Organismos fusiformes
/'Üzlnn /4.3 Interpretação de AdolfSeilacher (1989) dos animais da fauna de Ediacara como "vendozoários", ou Vendobionta,
uma experiência evolutiva scm relação aos metazoários, caracterizada por uma estrutura em gomos, parecidos com ascâmarasde
um colchão de ar (detalhe em E). Observar na fileira superior os organismos dc organização radial, inclusive formas trirradiais
(7hÓracú/d;#m, Á/»#ma/w) sem equivalência na biomaanual;na fileira do meio, os organismosde crescimento bipolar; e na fileira
inferior, os organismosde crescimento unipolar, com aspecto de "frondes". As escalasrepresentam l cm.
dos Cnidaria e Annelida. Por outro lado, o russo Mikhail Adolf Seilacher vai mais longe e chama atenção à
Fedonkin cita diferenças na simetria de muitos dos peculiar segmentaçãoe formato de quasetodos os ele
metazoáriosantigos, inclusive dentre os primeiros ani- mentes da fauna de Ediacara, desde Dlc#/magia até asco-
mais com conchas, por exemplo a estranha simetria lónias em forma de frondes. Esse renomado pesquisador
trirradial de Znónncgid/m (figuras 14.2 e 14.3), como postula que a maioria dos elementos da fauna de Ediacaía
evidência de que muitos desses organismos represen- possivelmente nem eram metazoáriosmasum reino àpar-
tam becosevolutivos que não deixaram descendentes. te, a Vendobionta, totalmente extinto(figura 14.3).
230 Paleontologia
Quem tem razão, afinal? Pesquisadores ingleses esponjas, anelídeos e outros grupos ainda viventes, bem
já acharam fósseis parecidos com as frondes coloniais da como membros de outras linhagens desconhecidas atu-
fauna de Ediacara em rochas cambrianas, mas muitos aumente (Mehdes, 1988; Cowen, 2000) (figura 14.4). Os
dos supostos medusóides e organismos de simetria maiores fósseis esqueléticos nessa época eram de es-
trirradial parecemrealmente ter sido exclusivosdessa ponjas com formato de cones. os arqueociatídeos, extin-
faseinicial na evolução animal. A fauna de Ediacara,em tos ainda no Cambriano, os primeiros animais a forma-
última análise,reflete uma biomaextinta, desprovidade rem bioconstruções recifais. A importância desta segun-
predadores de porte mas repleta de experiências da irradiação evolutiva dos metazoários é bem evidente
evolutivas. Foi a primeira tentativíjjpor parte de animais na Sibéria, onde mais de 30 espéciesde SSFse 70 espé-
megascópico. cies de arqueociatídeosaparecemna base do
logrou relativo êxito. Tommotiano. Calcula-se que o andartodo durou entre
três a seis milhões de anos apenas.
O andar seguinte, o Atdabaniano. se destaca pela
O surgimento do esqueleto: as expansão,pela primeira vez, de fósseisde animais
faunas tommotiana e de Burgess esqueléticos relativamente grandes,se comparados aos
do andar anterior. Os trilobitas, o fóssil-ícone do
Embora os fósseis de Ediacara, sempre restritos a Cambriano, só se tornam evidentes nesseandar,embora
litologias siliciclásticas, não apresentem elementos icnofósseis parecidos com suas pistas ocorram no
esqueléticos mineralizados, pesquisasrecentes têm re- Tommotiano. Junto com os uilobitas, os braquiópodes
velado uma diversidade inesperada de fósseis calcários. também se tornaram importantes.
pelo menos localmente, em fácies carbonáticas No início do Cambriano, aocontrário do período
penecontemporâneasà fauna de Ediacara em Namíbia. Ediacaíiano, os mares eram ocupados por animais
Assim, apenas ao final do Criptozóico é que surgiu o es-
planctõnicos flutuantes e animais bentânicos sésseis
queleto, através da aquisição da capacidade do organis-
(braquiópodes, arqueociatídeos) e vágeis, (trilobitas,
mo gerarpartes durasmineralizadas(biomineralização).
anelídeos) tanto da epifauna como da infauna. Aparen
[)esde que os animais se tornaram macroscópi- temente, ainda não haviam vorazes predadores de gran-
cos,o surgimento do esqueleto talvez tenha sido o even- de porte nem nadadores ativos (Cowen, 2000).
to mais importante da sua evolução. Em pouco tempo a
Nossa percepção da história evolutiva seguinte
seleçãonatural e a evolução trataram de criar esqueletos
continuaria relativamente simplesse nãotivesse ocorrido
de inúmeros tipos(ando, exoesqueleto), funções(supor-
uma fortuita descoberta paleontológica no início do sé-
[e, âncora para músculos, proteção, aquisição de alimen-
culo 20.
to), arranjos (conchas. espículas, escleritos, cones), com-
posiçãoquímica(carbonato, sílica, fosfato, quitina) e mo- Em 1909, Charles Walcott do Smithsonian
dos de origem(superficialmente ou dentro de tecidos). Institution encontrou rico acervo de animais de corpo
mole em folhelhos do Mesocambriano(com cerca de
A expansão em escala global de seres capazes de
515 milhões de anos de idade) em Burgess País nas
produzir esqueletostornou o registro fossilífero maisrico
e marcouo início de novo éon: o Fanerozóico,embora, Montanhas RochosasCanadenses.Este conjunto de fós-
formalmente, a base do éon (e da era Paleozóica e do seis, conhecido como a fauna Burgess, é composto pe
los animais mais estranhose díspares de que se tem
período Cambriano), seja definida pela primeira ocor-
conhecimento (figura 14.5). Estudos recentes dessa fauna
rência do icnofóssil 7}rP#cúm#s.pedem. Mas as evidênci-
as dessa expansão passaram despercebidas por muito colocam em dúvida a concepção evolutiva tradicional
tempo por causado tamanho diminuto, geralmente cm que poucas formas simples de vida evoluem para
milimétrico e submilimétrico, dos restos dos primeiros um número cada vez maior de espéciesmais compõe
xas.A enorme variedade exibida pelosfósseisBurgess
seres com esqueleto, conhecidos como, ".rma// .í,ée/z/a/
ymii#" (JXFs), ou seja, "pequenos fósseis esqueléticos' (125 géneros entre animais e algas)demonstra que, ao
As subdivisões banaisdo Eocambriano, em or- contrário do que se pensava, a fase inicial da evolução
animal também se caracterizou por uma abundância de
dem, os andares Nemakit-[)aldyniano e Tommotiano
espécies, das quais apenas algumas possuem descen
(figura 14. 1), são caracterizadas em grande parte por mi-
núsculos cones, tubos. conchas, espículas e diversos ou- dentes anuaispor motivos cantode seleçãonatural como.
muitas vezes, do acaso (Gould, 1990).
tros escleritos, representando moluscos, braquiópodes,
&'('.\.b
l
/
A Vida Primitiva: do Criptozóico(Pré-Cambdang) ao início do Fonerozóico 231
Imm
Sunnaginia 0.5mm
D Fomitche1la
0.5mm
Anabarites
Hyolithellus Tommotia
Fikwxa /4.4 Fósseis representativos da fauna tommotiana ( "fma/7s,ér/eM//aiii&" ou JIFs). (A) Jzr#/zaZl#ü, placa fosfática de
um molusco (?). (B) A aóaà/ex, esqueleto (calcário?),possivelmente de celcnterado. (C) JI/Ja/ízür##í,tubo fosfático de um animal
vcrmiforme. (D) romã/clf//a, objeto fosfático lembrando dente (conodontopodo?). (E) Zomba/ía, esclerito fosfático de molusco
ou animal vermiforme (modificado de Rozanov, 1986).
Por causa desta rápida diversificação, os fósseis cia fóssil de vida animal macroscópica.E, por fim, num
do Neoproterozóico terminal e Eocambriano, tanto os piscar de olhos geológico, de pouco mais de 50 milhões
elementos esqueléticos e icnofósseis como os de anos, aparecem três faunas notavelmente diferentes
microfósseis, têm permitido estabelecer um zoneamento Ediacara, Tommotiana e Burgess. [)epois disso, 500
bioestratigránico desta parte crítica do registro geológi- milhões de anos de irradiaçõese extinções, triunfos e
co. No Neopraterozóico terminal, onde o registro fóssil tragédias mas sem que ocorrese o surgimento de ne-
é mais escassoe menos diversificada, esquemas nhum fila ou formato anatómico básico novo, além dos
\
roído do Éanerozóíco 233