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EXERCÍCIOS – TEXTUALIDADE E INTERTEXTUALIDADE

Exercícios:
Texto para as questões 1, 2, 3, 4, 5, 6 e 7.
Os desastres de Sofia
Qualquer que tivesse sido o seu trabalho anterior, ele o abandonara, mudara de
profissão e passara pesadamente a ensinar no curso primário: era tudo o que sabíamos
dele.
O professor era gordo, grande e silencioso, de ombros contraídos. Em vez de nó
na garganta, tinha ombros contraídos. Usava paletó curto demais, óculos sem aro, com
um fio de ouro encimando o nariz grosso e romano. E eu era atraída por ele. Não amor,
mas atraída pelo seu silêncio e pela controlada impaciência que ele tinha em nos ensinar
e que, ofendida, eu adivinhara. Passei a me comportar mal na sala. Falava muito alto,
mexia com os colegas, interrompia a lição com piadinhas, até que ele dizia, vermelho:
– Cale-se ou expulso a senhora da sala.
Ferida, triunfante, eu respondia em desafio: pode me mandar!
Ele não mandava, senão estaria me obedecendo. Mas eu o exasperava tanto que
se tornara doloroso para mim ser o objeto do ódio daquele homem que, de certo modo,
eu amava. Não o amava como a mulher que eu seria um dia; amava-o como uma criança
que tenta desastradamente proteger um adulto, com a cólera de quem ainda não foi
covarde e vê um homem forte de ombros tão curvos. (LISPECTOR, Clarice. “Os
desastres de Sofia.” In: _______. A legião estrangeira. São Paulo: Ática, 1977. p. 11).

1. Na linha 4, o narrador afirma que o professor tinha “ombros contraídos”. Essa


característica, fora do contexto em que está inserida, pode sugerir várias interpretações,
como, por exemplo: que o professor era velhinho; que era frágil fisicamente; que era
corcunda; que era acovardado e submisso às pressões sociais. Mas levando em conta o
contexto, apenas uma dessas possibilidades contém uma interpretação adequada.
Indique qual é essa possibilidade e, com mais duas passagens do texto, justifique sua
escolha.

R: A interpretação de que ele era acovardado e submisso às pressões sociais é a


correta.
“Qualquer que tivesse sido o seu trabalho anterior, ele o abandonara, mudara de
profissão e passara pesadamente a ensinar no curso primário [...]”, este trecho
demonstra que, ao mudar de profissão, o professor cedeu a uma pressão social.
“[...] com a cólera de quem ainda não foi covarde e vê um homem forte de ombros
tão curvos.”, este trecho indica que o personagem poderia ser considerado um
covarde.

2. Há várias passagens do texto em que o narrador dá a entender que o professor era


uma pessoa que tomava atitudes contrárias à sua vontade ou tinha características que
não combinavam entre si. Cite duas passagens do texto que comprovem essa afirmação.

R: “[...] – Cale-se ou expulso a senhora da sala. Ferida, triunfante, eu respondia


em desafio: pode me mandar! Ele não mandava, senão estaria me obedecendo.
[...]”. Este trecho indica claramente uma negação a sua vontade.
“Qualquer que tivesse sido o seu trabalho anterior, ele o abandonara, mudara de
profissão e passara pesadamente a ensinar no curso primário [...]”.
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Neste trecho, o advérbio pesadamente indica uma dificuldade do professor ao


exercer sua profissão.

3. Segundo o texto, os sentimentos da aluna pelo professor eram ambíguos, isto é, eram
sentimentos que se contrariavam.
a) Cite uma passagem em que se manifesta essa contradição.

R: [...] Mas eu o exasperava tanto que se tornara doloroso para mim ser o objeto
do ódio daquele homem que, de certo modo, eu amava. [...]”.

b) Qual o motivo dessa ambiguidade?

R: Devido ao amor do professor, a aluna começou a comportar-se mal na sala,


fazendo com que ele a odiasse. A ambiguidade se dá, pois ao ter um
comportamento ruim para receber atenção do professor, isto causou nela
sentimentos contrários: amor e dor.

4. Na linha 11, o professor diz: “– Cale-se ou expulso a senhora da sala”. Perante essa
explosão, a aluna tem dupla reação. Procure explicar:
a) Por que ela se sentiu ferida?

R: Porque ao buscar a atenção do professor, teve como retorno uma reação


negativa dele.

b) Por que ela se sentiu triunfante?

R: Porque, apesar da reação negativa, conseguiu que o professor a notasse.

5. No final do texto, a menina diz que amava o professor “com a cólera de quem “ainda
não foi covarde.” Explique o significado de “ainda” nesse contexto.

R: Indica que, até aquele momento, a garota não havia sido covarde, já que era
uma criança.

6. Segundo o texto, em que consistia a covardia do professor?

R: A covardia do professor consistia em não exercer a profissão da forma que


tinha vontade.
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7. Inferir algo pode ser entendido como o processo de raciocínio segundo o qual se
conclui alguma coisa a partir de outra já conhecida. A letra de música transcrita a seguir
deve servir como referência para você responder às perguntas logo abaixo dela.
Domingo no parque
O rei da brincadeira – ê José Juliana seu sonho, uma ilusão
O rei da confusão – ê João Juliana e o amigo João
Um trabalhava na feira – ê José O espinho da rosa feriu José
Outro na construção – ê João E o sorvete gelou seu coração
A semana passada O sorvete e a rosa – ê José
No fim da semana A rosa e o sorvete – ê José
João resolveu não brigar Ô dançando no peito – ê José
No domingo de tarde Do José brincalhão – ê José
Saiu apressado Juliana girando, oi girando
E não foi pra Ribeira jogar O sorvete é morango – é vermelho
Capoeira, não foi pra lá E a rosa é vermelha – é vermelha
Pra Ribeira, foi namorar Oi girando, girando – olha a faca
O José como sempre no fim da semana Olha o sangue na mão – ê José
Guardou a barraca e sumiu Juliana no chão – ê José
Foi fazer no domingo um passeio no Outro corpo caído – ê José
parque Seu amigo João – ê José
Lá perto da boca do rio Amanhã não tem feira – ê José
Foi no parque que ele avistou Não tem mais construção – ê João
Juliana, foi que ele viu Não tem mais brincadeira – ê José
Foi que ele viu Não tem mais confusão – ê João.
Juliana na roda com João (Gilberto Gil)
Uma rosa e um sorvete na mão

a) O que é possível inferir com relação à morte de João e Juliana?

R: Que José matou ambos por ciúmes do relacionamento de João e Juliana.

b) Qual é a importância do sorvete e da rosa para a construção da inferência


mencionada?

R: A rosa se refere ao espinho que machucou José e o sorvete ao coração de José


que congelou ao ver João e Juliana juntos.

c) É possível inferir que José matou Juliana e João porque foi traído? Por quê?

R: Não, somente é possível inferir que o assassinato foi feito devido a frustração de
seus sonhos.
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8. A língua não é simples cópia do mundo real, mas interpretação segundo certo ponto
de vista. É o que vem demonstrado na questão a seguir, extraída do vestibular da
Unicamp (2003).
Uma das últimas edições do Jornal Visão de Barão Geraldo trazia em sua
seção “Sorria” esta anedota:
No meio de uma visita de rotina, o presidente daquela enorme empresa chega ao
setor de produção e pergunta ao encarregado:
–- Quantos funcionários trabalham neste setor?
Depois de pensar por alguns segundos, o encarregado responde:
– Mais ou menos a metade!
a) Explique o que quis perguntar o presidente da empresa.

R: O presidente quis saber quantos funcionários estavam contratados naquele


setor em específico

b) Explique o que respondeu o encarregado.

R: O encarregado respondeu que apenas metade dos funcionários que lá


trabalhavam exerciam sua função corretamente.

c) Um dos sentidos de trabalhar é “estar empregado”. Supondo que o encarregado


entendesse a fala do presidente da empresa nesse sentido e quisesse dar uma resposta
correta, que resposta teria que dar?

R: Caso entendesse a fala do presidente da forma correta, o encarregado deveria


responder o número de pessoas empregadas pelo setor.

9. Leia o texto que segue:


Perigo!
Árvore ameaça cair em praça do Jardim Independência.
Um perigo iminente ameaça a segurança dos moradores da rua Lúcia Tonon
Martins, no Jardim Independência. Uma árvore, com cerca de 35 metros de altura, que
fica na Praça Conselheiro da Luz, ameaça cair a qualquer momento. Ela foi atingida,
no final de novembro do ano passado, por um raio e, desde este dia, apodreceu e
morreu.
A árvore, de grande porte, é do tipo Cambuí e está muito próxima à rede de
iluminação pública e das residências. “O perigo são as crianças que brincam no
local”, diz Sérgio Marcatti, presidente da Associação do Bairro. (VIEIRA, Juliana.
Jornal Integração, 16 a 31 de agosto de 1996)
a) O que pretendia afirmar o presidente da associação?

R: O presidente da associação procurava afirmar que as crianças estão em risco


pelo perigo iminente da queda da árvore.
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b) O que afirma ele, literalmente?

R: Literalmente ele afirma que o perigo são as crianças que brincam perto da
árvore.

c) Nas placas com os dizeres:


CUIDADO ESCOLA!
Podemos encontrar o mesmo tipo de ambiguidade que havia na declaração de Sérgio
Marcatti. O que torna divertida a leitura da placa? (Nota: para responder, leve em conta
as seguintes acepções do termo “perigo”, constantes no Novo Dicionário da Língua
Portuguesa, de Aurélio Buarque de Holanda Ferreira. Perigo – 1- Circunstância que
prenuncia um mal para alguém ou para alguma coisa. 2 – Aquilo que provoca tal
circunstância; risco. 3 – Estado ou situação que inspira cuidado; gravidade).

R: A diversão está em que as placas transmitem a ideia de que as escolas são


perigosas, enquanto a mensagem que gostariam que fosse passada é para tomar
cuidado com os alunos da escola que ali transitam.

10. Observe um trecho do Hino Nacional Brasileiro (o texto atual do Hino Nacional foi
escrito pelo poeta Osório Duque Estrada em 1909 e oficializado em 1922). Você
reconhece alguma relação intertextual nele? Explique.
Hino Nacional Brasileiro
Do que a terra mais garrida
Teus risonhos, lindos campos têm mais flores;
“Nossos bosques têm mais vida”
“Nossa vida”, no teu seio, “mais amores”.

11. Leia os dois textos que seguem: o primeiro é de Joaquim Manuel de Macedo,
escritor romântico (século XIX); o segundo, de Manuel Bandeira, poeta contemporâneo
(século XX).
I. Mulher, Irmã, escuta-me: não ames,
Quando a teus pés um homem terno e curvo
Jurar amor, chorar pranto de sangue,
Não creias não, mulher: ele te engana!
As lágrimas são galas da mentira
E o juramento manto da perfídia.

II. Teresa, se algum sujeito bancar o sentimental em cima de você


E te jurar uma paixão do tamanho de um bonde
Se ele chorar
Se ele se ajoelhar
Se ele se rasgar todo
Não acredita não, Teresa
É lágrima de cinema
É tapeação
Mentira
CAI FORA.
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Questão: Analise a intertextualidade presente no texto de Manuel Bandeira quanto ao


tipo e ao objetivo.

R: É uma intertextualidade implícita de forma e conteúdo, possuindo o objetivo de


reafirmar o sentido do texto citado, isto é, uma Parafrase.

12. Chico Buarque faz intertextualidade com vários provérbios. Classifique tais
intertextualidades quanto ao tipo e ao objetivo.
Provérbios populares Canção de Chico Buarque
Bom Conselho
Ouça um bom conselho
Que eu lhe dou de graça
Inútil dormir que a dor não
passa
Espere sentado
Ou você se cansa
Está provado, quem espera
“Uma boa noite de sono nunca alcança
combate os males” Venha, meu amigo
“Quem espera sempre Deixe esse regaço
alcança” Brinque com meu fogo
“Faça o que eu digo, não faça Venha se queimar
o que eu faço" Faça como eu digo
“Pense, antes de agir” Faça como eu faço
“Devagar se vai longe” Aja duas vezes antes de
“Quem semeia vento, colhe pensar
tempestade” Corro atrás do tempo
Vim de não sei onde
Devagar é que não se vai
longe
Eu semeio vento na minha
cidade
Vou pra rua e bebo a
tempestade
(Chico Buarque, 1972)

R: Todas as intertextualidades são implícitas e de conteúdo, buscando inverter o


sentido dos textos citados, sendo assim paródias.

13. Observe os trechos que seguem:


I. Quando nasci, um anjo torto
Desses que vivem na sombra
Disse: Vai Carlos! Ser “gauche” na vida. (Carlos Drummond de Andrade)
(Gauche = esquerda, torto)

II. Quando nasci veio um anjo safado


O chato dum querubim
E decretou que eu tava predestinado
A ser errado assim
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Já de saída a minha estrada entortou


Mas vou até o fim. (Chico Buarque)

Questão: Chico Buarque estabelece intertextualidade com Carlos Drummond de


Andrade. Classifique tal intertextualidade quanto ao tipo e ao objetivo.

R: É uma intertextualidade implícita de forma e conteúdo, tendo o objetivo de


reafirmar o sentido do texto citado, sendo assim uma paráfrase.

14. Classifique a intertextualidade (tipo e objetivo) presente na manchete da matéria


publicada na Revista Veja São Paulo, em 3 de fevereiro de 2010, págs. 22 e 23. (analise
o trecho sublinhado)
Ele diz que vai botar ordem na casa.
Ex-aluno e diretor da Faculdade de Direito, o professor João Grandino
Rodas assume a reitoria da USP disposto a acabar com “o frequente embate de
pessoas e o uso corriqueiro da violência.”.

R: É uma intertextualidade explícita de conteúdo, com o objetivo de reafirmar o


sentido do texto citado, sendo assim uma paráfrase.

15. O quadro que segue tem como título “Mona Lisa” e foi pintado por Leonardo da
Vinci.

Mona Lisa, Leonardo da Vinci. Óleo sobre tela, 1503.


Observe, agora, a intertextualidade feita a partir dele e classifique cada caso
quanto ao tipo e ao objetivo.
a)
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Mona Lisa, de Marcel Duchamp, 1919.

R: É uma intertextualidade explícita de forma e conteúdo, busca reafirmar o


sentido da primeira obra, sendo assim uma paráfrase.

b)

 
Mona Lisa, Fernando Botero, 1978.

R: É uma intertextualidade implícita de forma e conteúdo, invertendo o sentido da


obra original, sendo assim uma paródia.

16. Leia o poema abaixo, de Carlos Drummond de Andrade.


Quadrilha
João amava Teresa que amava Raimundo
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
que não amava ninguém.
João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento,
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes
que não tinha entrado na história

Em 1975, Chico Buarque e Paulo Pontes fizeram uma peça de teatro chamada "Gota
d'água". Uma das músicas, que mais tarde seria gravada para o disco da Bibi Ferreira,
chamava-se "Flor da Idade" e claramente trazia um diálogo com Drummond em um
trecho. Classifique a intertextualidade feita quanto ao tipo e ao objetivo.
Flor da idade (trecho)
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Carlos amava Dora que amava Lia que amava Léa que amava Paulo
Que amava Juca que amava Dora que amava Carlos que amava Dora
Que amava Rita que amava Dito que amava Rita que amava Dito que amava Rita que
amava
Carlos amava Dora que amava Pedro que amava tanto que amava
a filha que amava Carlos que amava Dora que amava toda a quadrilha

R: É uma intertextualidade implícita de forma e conteúdo, buscando reafirmar o


sentido do texto citado, sendo assim uma paráfrase.

17. Leia os textos que seguem:


Texto 1
Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse Amor,
seria como o metal que soa ou como o sino que tine. E ainda que tivesse o dom da
profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e ainda que tivesse toda a
fé, de maneira tal que transportasse os montes, e não tivesse Amor, nada seria. E
ainda que distribuísse toda a minha fortuna para sustento dos pobres, e ainda que
entregasse o meu corpo para ser queimado, se não tivesse Amor, nada disso me
aproveitaria. O Amor é paciente, é benigno; o Amor não é invejoso, não trata com
leviandade, não se ensoberbece, não se porta com indecência, não busca os seus
interesses, não se irrita, não suspeita mal, não folga com a injustiça, mas folga com a
verdade. Tudo tolera, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. O Amor nunca falha.
Havendo profecias, serão aniquiladas; havendo línguas, cessarão; havendo ciência,
desaparecerá; porque, em parte conhecemos, e em parte profetizamos; mas quando
vier o que é perfeito, então o que o é em parte será aniquilado. Quando eu era
menino, falava como menino, sentia como menino, discorria como menino, mas,
logo que cheguei a ser homem, acabei com as coisas de menino. Porque agora vemos
por espelho em enigma, mas então veremos face a face; agora conheço em parte, mas
então conhecerei como também sou conhecido. Agora, pois, permanecem a fé, a
esperança e o amor, estes três; mas o maior destes é o Amor. (carta do apóstolo Paulo
à Igreja de Corinto, escrita em Éfeso, no século I d.C. Registrada na Bíblia em I
Coríntios 13)

Texto 2
Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente; É querer estar preso por vontade;
É um contentamento descontente; É servir a quem vence, o vencedor;
É dor que desatina sem doer; É ter com quem nos mata lealdade.

É um não querer mais que bem querer; Mas como causar pode seu favor
É solitário andar por entre a gente; Nos corações humanos amizade,
É nunca contentar-se de contente; se tão contrário a si é o mesmo Amor?
É cuidar que se ganha em se perder;
[Soneto 11 de Luiz Vaz de Camões (Rimas)- século XVI]     

Você consegue reconhecer as intertextualidades que Renato Russo faz na canção


abaixo? Localize-as e classifique-as.
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Monte Castelo
11

Ainda que eu falasse a língua dos homens


e falasse a língua dos anjos,
sem amor eu nada seria.
É só o amor, é só o amor
que conhece o que é verdade.
O amor é bom, não quer o mal
não sente inveja ou se envaidece.
Amor é fogo que arde sem se ver
é ferida que dói e não se sente
é um contentamento descontente
é dor que desatina sem doer.
Ainda que eu falasse a língua dos homens
e falasse a língua dos anjos,
sem amor eu nada seria.
É um não querer mais que bem-querer
é solitário andar por entre a gente
é um não contentar-se de contente
é cuidar que se ganha em se perder.
É um estar-se preso por vontade
é servir a quem vence, o vencedor;
é um ter com quem nos mata lealdade.
Tão contrário a si é o mesmo amor.
Estou acordado e todos dormem.
Agora vejo em parte
mas então veremos face a face.
É só o amor, é só o amor
que conhece o que é verdade.
Ainda que eu falasse a língua dos homens
e falasse a língua dos anjos,
sem amor eu nada seria

R: Na canção “Monte Castelo” de Renato Russo, podemos encontrar as seguintes


intertextualidades:
Primeira, segunda, quarta, sétima, oitava e nona estrofes: há intertextualidades
implícitas de conteúdo com o Texto 1, que reafirmam o conteúdo do texto, sendo
assim uma paráfrase.
Terceira, quinta e sexta estrofes: há intertextualidades implícitas de conteúdo com
o Texto 2, que reafirmam o conteúdo do texto, sendo assim uma paráfrase.

Texto para as questões 18, 19, 20, 21, 22, 23 e 24.


Sampa
Alguma coisa acontece no meu coração
Que só quando cruza a Ipiranga e a avenida São João
É que quando eu cheguei por aqui eu nada entendi
Da dura poesia concreta de tuas esquinas
Da deselegância discreta de tuas esquinas
Da deselegância discreta de tuas meninas
Ainda não havia para mim Rita Lee
A tua mais completa tradução
Alguma coisa acontece no meu coração
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Que só quando cruza a Ipiranga e a avenida São João


Quando eu te encarei frente a frente não vi o meu rosto
Chamei de mau gosto o que vi de mau gosto
É que Narciso acha feio o que não é espelho
E à mente apavora o que ainda não é mesmo velho
Nada do que não era antes quando não somos mutantes
E foste um difícil começo afasto o que não conheço
E quem vem de outro sonho feliz de cidade
Aprende depressa a chamar-te de realidade
Porque és o avesso do avesso do avesso do avesso
Do povo oprimido nas filas nas vilas favelas
Da força da grana que ergue e destrói coisas belas
Da feia fumaça que sobe apagando as estrelas
Eu vejo surgir teus poetas de campos e espaços
Tuas oficinas de florestas teus deuses da chuva
Panaméricas de áfricas utópicas túmulo do samba mais possível novo quilombo de
Zumbi
E os novos baianos passeiam na tua garoa
E os novos baianos te podem curtir numa boa
(Caetano Veloso)

18. Sampa refere-se à cidade de São Paulo. O texto relaciona lugares de São Paulo, bem
como poetas, músicos e movimentos culturais que agitavam essa cidade na época em
que foi escrito. Identifique três dessas referências.

R: “[...] Que só quando cruza a Ipiranga e a avenida São João [...]”,


Primeira Referência: Alusão a um trecho da música Ronda, composta por
Vanzolini.
Segunda Referência: O autor menciona o cruzamento entre duas ruas importantes
de São Paulo.
“[...] Ainda não havia para mim Rita Lee [...]”
Terceira Referência: Menção a cantora Rita Lee, que é um grande destaque da
música brasileira.

19. A mitologia grega apresenta o mito de Narciso. Conta a narrativa mítica que
Narciso, rapaz dotado de grande beleza, um dia, ao curvar-se sobre as águas cristalinas
de uma fonte, para matar a sede, viu sua imagem refletida no espelho d’água e
apaixonou-se por ela. Suas tentativas frustradas de aproximar-se dessa bela imagem
levaram-no ao desespero e à morte. Transformou-se, então, na flor que tem o seu nome.
Freud, ao estudar esse mito, considera-o uma explicação da existência de personalidades
que só amam a própria imagem.
a) Indique a passagem do texto que faz referência ao mito de Narciso

R: “[...]É que Narciso acha feio o que não é espelho [...]”


.
b) Qual é o sentido dessa passagem, tomando como referência o mito de Narciso?

R: Na passagem, o cantor afirma que narciso acha feio o que não é espelho,
fazendo referência ao mito grego de Narciso e ao termo “narcisismo”, que
caracteriza uma pessoa egocêntrica.
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20. É um clichê muito difundido a afirmação de que São Paulo, ao contrário do Rio,
nunca produziu samba. Indique a passagem do texto em que se faz alusão a isso.

R:

21. Todas as coisas têm um avesso e um direito. O poeta considera a realidade o avesso
do sonho (“e quem vem de outro sonho feliz de cidade\aprende depressa a chamar-te de
realidade”). Pode-se dizer que o poeta julga que em São Paulo não há lugar para o
sonho, a poesia? Explique.

R: Não, o poeta julga que aquilo que é sonho em outras cidades, é encontrado em
São Paulo como realidade.

22. O quilombo de Palmares, um dos maiores redutos de escravos foragidos do Brasil


colonial, estava organizado como um verdadeiro Estado, sob a chefia de Ganga-Zumba.
Quando começaram as lutar para destruir o quilombo, os negros, liderados por Zumbi,
resistiram aguerridamente. Que significa a passagem “mais possível novo quilombo de
Zumbi”?

R: Está sendo feita uma analogia entre a cidade de São Paulo e a organização do
quilombo de Palmares.

23. Há no texto uma referência a uma particularidade climática de São Paulo, que serviu
durante muito tempo de designativo da cidade. Qual é ela?

R: “[...] E os novos baianos passeiam na tua garoa [...]”. A cidade de São Paulo é
muito conhecida por “terra da garoa”, por ter chuvas finas frequentemente.

24. O sentido global construído pelo poema autoriza concluir que:

R: O amor para São Paulo se ganha gradativamente.

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