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MÓDULO VI Reencarnação

Vigésima Quinta Aula: O esquecimento do passado: justificativas da sua necessidade.

Objetivo específico: Justificar a necessidade do esquecimento do passado.

Conteúdo básico:

■ Por que perde o Espírito encarnado a lembrança do seu passado? Não pode o homem, nem
deve saber tudo. Deus assim o quer em sua sabedoria [...]. Esquecido de seu passado ele é mais
senhor de si. Allan Kardec: O livro dos espíritos, questão 392.

■ Em vão se objeta que o esquecimento constitui obstáculo a que se possa aproveitar da


experiência de vidas anteriores [...]. Com efeito, a lembrança traria gravíssimos inconvenientes.
Poderia, em certos casos, humilhar-nos singularmente, ou, então, exaltar-nos o orgulho e, assim,
entravar o nosso livre-arbítrio. Em todas as circunstâncias, acarretaria inevitável perturbação
nas relações sociais. Allan Kardec: O evangelho segundo o espiritismo. Cap. 5, item 11.

■ Não temos, é certo, durante a vida corpórea, lembrança exata do que fomos e do que fizemos
em anteriores existências; mas temos de tudo isso a intuição, sendo as nossas tendências
instintivas uma reminiscência do passado. Allan Kardec: O livro dos espíritos, questão 393 –
comentário.

Subsídios:

Mergulhado na vida corpórea, perde o Espírito, momentaneamente, a lembrança de suas


existências anteriores, como se um véu as cobrisse. Todavia, conserva algumas vezes vaga
consciência dessas vidas, que, mesmo em certas circunstâncias, lhe podem ser reveladas. Esta
revelação, porém, só os Espíritos superiores espontaneamente lhe fazem, com um fim útil,
nunca para satisfazer a vã curiosidade [...]. O esquecimento das faltas praticadas não constitui
obstáculo à melhoria do Espírito, porquanto, se é certo que este não se lembra delas com
precisão, não menos certo é que a circunstância de as ter conhecido na erraticidade e de haver
desejado repará-las o guia por intuição e lhe dá a ideia de resistir ao mal, ideia que é a voz da
consciência, tendo a secundá-la os Espíritos superiores que o assistem, se atende às boas
inspirações que lhe dão. O homem não conhece os atos que praticou em suas existências
pretéritas, mas pode sempre saber qual o gênero das faltas de que se tornou culpado e qual o
cunho predominante do seu caráter. Bastará então julgar do que foi, não pelo que é, sim, pelas
suas tendências. As vicissitudes da vida corpórea constituem expiação das faltas do passado e,
simultaneamente, provas com relação ao futuro. Depuram-nos e elevam-nos, se as suportamos
resignados e sem murmurar. A natureza dessas vicissitudes e das provas que sofremos também
nos podem esclarecer acerca do que fomos e do que fizemos, do mesmo modo que neste mundo
julgamos dos atos de um culpado pelo castigo que lhe inflige a lei. Assim, o orgulhoso será
castigado no seu orgulho, mediante a humilhação de uma existência subalterna; o mau rico, o
avarento, pela miséria; o que foi cruel para os outros, pelas crueldades que sofrerá; o tirano,
pela escravidão; o mau filho, pela ingratidão de seus filhos; o preguiçoso, por um trabalho
forçado, etc. Em vão se objeta que o esquecimento constitui obstáculo a que se possa aproveitar
da experiência de vidas anteriores. Havendo Deus entendido de lançar um véu sobre o passado,
é que há nisso vantagem. Com efeito, a lembrança traria gravíssimos inconvenientes. Poderia,
em certos casos, humilhar-nos singularmente, ou, então, exaltar-nos o orgulho e, assim,
entravar o nosso livre-arbítrio. Em todas as circunstâncias, acarretaria inevitável perturbação
nas relações sociais. Frequentemente, o Espírito renasce no mesmo meio em que já viveu,
estabelecendo de novo relações com as mesmas pessoas, a fim de reparar o mal que lhes haja
feito. Se reconhecesse nelas as a quem odiara, quiçá o ódio se lhe despertaria outra vez no
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íntimo. De todo modo, ele se sentiria humilhado em presença daquelas a quem houvesse
ofendido. Para nos melhorarmos, outorgou-nos Deus, precisamente, o de que necessitamos e
nos basta: a voz da consciência e as tendências instintivas. Priva-nos do que nos seria prejudicial.
Ao nascer, traz o homem consigo o que adquiriu, nasce qual se fez; em cada existência, tem um
novo ponto de partida. Pouco lhe importa saber o que foi antes: se se vê punido, é que praticou
o mal. Suas atuais tendências más indicam o que lhe resta a corrigir em si próprio e é nisso que
deve concentrar-se toda a sua atenção, porquanto, daquilo de que se haja corrigido
completamente, nenhum traço mais conservará. As boas resoluções que tomou são a voz da
consciência, advertindo-o do que é bem e do que é mal e dando-lhe forças para resistir às
tentações. Aliás, o esquecimento ocorre apenas durante a vida corpórea. Volvendo à vida
espiritual, readquire o Espírito a lembrança do passado; nada mais há, portanto, do que uma
interrupção temporária, semelhante à que se dá na vida terrestre durante o sono, a qual não
obsta a que, no dia seguinte, nos recordemos do que tenhamos feito na véspera e nos dias
precedentes. E não é somente após a morte que o Espírito recobra a lembrança do passado.
Pode dizer-se que jamais a perde, pois que, como a experiência o demonstra, mesmo encarnado,
adormecido o corpo, ocasião em que goza de certa liberdade, o Espírito tem consciência de seus
atos anteriores; sabe por que sofre e que sofre com justiça. A lembrança unicamente se apaga
no curso da vida exterior, da vida de relação. Mas, na falta de uma recordação exata, que lhe
poderia ser penosa e prejudicá-lo nas suas relações sociais, forças novas haure ele nesses
instantes de emancipação da alma, se os sabe aproveitar. Percebemos, dessa forma, que no
esquecimento do passado [...] a bondade do Criador se manifesta, porquanto, adicionada aos
amargores de uma nova existência, a lembrança muitas vezes aflitiva e humilhante, do passado,
poderia turbá-lo [o Espírito] e lhe criar embaraços. Ele apenas se lembra do que aprendeu, por
lhe ser isso útil. Se às vezes lhe é dado ter uma intuição dos acontecimentos passados, essa
intuição é como a lembrança de um sonho fugitivo. Ei-lo, pois, novo homem, por mais antigo
que seja como Espírito. Adota novos processos, auxiliado pelas suas aquisições precedentes. O
esquecimento do passado, [...] obedecendo às leis superiores que presidem ao destino,
representa a diminuição do estado vibratório do Espírito, em contato com a matéria. Esse olvido
é necessário, e, afastando-se os benefícios espirituais que essa questão implica, à luz das
concepções científicas, pode esse problema ser estudado atenciosamente. Tomando um novo
corpo, a alma tem necessidade de adaptar-se a esse instrumento. Precisa abandonar a bagagem
dos seus vícios, dos seus defeitos, das suas lembranças nocivas, das suas vicissitudes nos
pretéritos tenebrosos. Necessita de nova virgindade; um instrumento virgem lhe é então
fornecido. Os neurônios desse novo cérebro fazem a função de aparelhos quebradores da luz; o
sensório limita as percepções do Espírito, e, somente assim, pode o ser reconstruir o seu destino.
Para que o homem colha benefícios da sua vida temporária, faz-se mister que assim seja. Sua
consciência é apenas a parte emergente da sua consciência espiritual; seus sentidos constituem
apenas o necessário à sua evolução no plano terrestre. Daí a exiguidade (=escassez) das suas
percepções visuais e auditivas, em relação ao número inconcebível de vibrações que o cercam.
Todavia, como o esquecimento não é absoluto, [...] dentro dessa obscuridade requerida pela
sua necessidade de estudo e desenvolvimento, experimenta a alma, às vezes, uma sensação
indefinível... É uma vocação inata que a impele para esse ou aquele caminho; é uma saudade
vaga e incompreensível, que a persegue nas suas meditações; são os fenômenos introspectivos,
que a assediam frequentemente. Nesses momentos, uma luz vaga da subconsciência atravessa
a câmara de sombras, impostas pelas células cerebrais, e, através dessa luz coada, entra o
Espírito em vaga relação com o seu passado longínquo; tais fatos são vulgares nos seres
evolvidos, sobre quem a carne já não exerce atuação invencível. Nesses vagos instantes, parece
que a alma encarnada ouve o tropel das lembranças que passam em revoada; aversões antigas,
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amores santificantes, gostos aprimorados, de tudo aparece uma fração no seu mundo
consciente; mas, faz-se mister olvidar o passado para que se alcance êxito na luta. É oportuno
lembrar que – conforme nos esclarece o Espiritismo –, a nitidez das lembranças acompanha o
nosso progresso espiritual. Assim como as fibras do cérebro são as últimas a se consolidarem no
veículo físico em que encarnamos na Terra, a memória perfeita é o derradeiro altar que
instalamos, em definitivo, no templo de nossa alma, que, no Planeta, ainda se encontra em fases
iniciais de desenvolvimento. É por isso que nossas recordações são fragmentárias... Todavia, de
existência a existência, de ascensão em ascensão, nossa memória gradativamente converte-se
em visão imperecível, a serviço de nosso espírito imortal... Léon Denis assinala que o [...]
esquecimento do passado é a condição indispensável de toda prova e de todo progresso. O
nosso passado guarda as suas manchas e nódoas. Percorrendo a série dos tempos, atravessando
as idades de brutalidade, devemos ter acumulado bastantes faltas, bastantes iniquidades.
Libertos apenas ontem da barbaria, o peso dessas recordações seria acabrunhador para nós. A
vida terrestre é, algumas vezes, difícil de suportar; ainda mais o seria se, ao cortejo dos nossos
males atuais, acrescesse a memória dos sofrimentos ou das vergonhas passadas. A recordação
de nossas vidas anteriores não estaria também ligada à do passado dos outros? Subindo a cadeia
de nossas existências, o entrecho de nossa própria história, encontraríamos o vestígio das ações
de nossos semelhantes. As inimizades perpetuar-se-iam; as rivalidades, os ódios e as discórdias
agravar-se-iam de vida em vida, de século em século. Os nossos inimigos, as nossas vítimas de
outrora, reconhecer-nos-iam e estariam a perseguir-nos com sua vingança. Bom é que o véu do
esquecimento nos oculte uns aos outros, e que, apagando momentaneamente de nossa
memória penosas recordações, nos livre de um remorso incessante. O conhecimento das nossas
faltas e suas consequências, erguendo-se diante de nós como ameaça medonha e perpétua,
paralisaria os nossos esforços, tornaria estéril e insuportável a nossa vida. Sem o esquecimento,
os grandes culpados, os criminosos célebres estariam marcados a ferro em brasa por toda a
eternidade. Vemos os condenados da justiça humana, depois de sofrida a pena, serem
perseguidos pela desconfiança universal, repelidos com horror por uma sociedade que lhes
recusa lugar em seu seio, e assim muitas vezes os atira ao exército do mal. Que seria se os crimes
do passado longínquo se desenhassem aos olhos de todos? Quase todos temos necessidade de
perdão e de esquecimento. A sombra que oculta as nossas fraquezas e misérias conforta-nos o
ser, tornando-nos menos penosa a reparação.

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