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MÓDULO VI Reencarnação
Conteúdo básico:
■ Por que perde o Espírito encarnado a lembrança do seu passado? Não pode o homem, nem
deve saber tudo. Deus assim o quer em sua sabedoria [...]. Esquecido de seu passado ele é mais
senhor de si. Allan Kardec: O livro dos espíritos, questão 392.
■ Não temos, é certo, durante a vida corpórea, lembrança exata do que fomos e do que fizemos
em anteriores existências; mas temos de tudo isso a intuição, sendo as nossas tendências
instintivas uma reminiscência do passado. Allan Kardec: O livro dos espíritos, questão 393 –
comentário.
Subsídios:
íntimo. De todo modo, ele se sentiria humilhado em presença daquelas a quem houvesse
ofendido. Para nos melhorarmos, outorgou-nos Deus, precisamente, o de que necessitamos e
nos basta: a voz da consciência e as tendências instintivas. Priva-nos do que nos seria prejudicial.
Ao nascer, traz o homem consigo o que adquiriu, nasce qual se fez; em cada existência, tem um
novo ponto de partida. Pouco lhe importa saber o que foi antes: se se vê punido, é que praticou
o mal. Suas atuais tendências más indicam o que lhe resta a corrigir em si próprio e é nisso que
deve concentrar-se toda a sua atenção, porquanto, daquilo de que se haja corrigido
completamente, nenhum traço mais conservará. As boas resoluções que tomou são a voz da
consciência, advertindo-o do que é bem e do que é mal e dando-lhe forças para resistir às
tentações. Aliás, o esquecimento ocorre apenas durante a vida corpórea. Volvendo à vida
espiritual, readquire o Espírito a lembrança do passado; nada mais há, portanto, do que uma
interrupção temporária, semelhante à que se dá na vida terrestre durante o sono, a qual não
obsta a que, no dia seguinte, nos recordemos do que tenhamos feito na véspera e nos dias
precedentes. E não é somente após a morte que o Espírito recobra a lembrança do passado.
Pode dizer-se que jamais a perde, pois que, como a experiência o demonstra, mesmo encarnado,
adormecido o corpo, ocasião em que goza de certa liberdade, o Espírito tem consciência de seus
atos anteriores; sabe por que sofre e que sofre com justiça. A lembrança unicamente se apaga
no curso da vida exterior, da vida de relação. Mas, na falta de uma recordação exata, que lhe
poderia ser penosa e prejudicá-lo nas suas relações sociais, forças novas haure ele nesses
instantes de emancipação da alma, se os sabe aproveitar. Percebemos, dessa forma, que no
esquecimento do passado [...] a bondade do Criador se manifesta, porquanto, adicionada aos
amargores de uma nova existência, a lembrança muitas vezes aflitiva e humilhante, do passado,
poderia turbá-lo [o Espírito] e lhe criar embaraços. Ele apenas se lembra do que aprendeu, por
lhe ser isso útil. Se às vezes lhe é dado ter uma intuição dos acontecimentos passados, essa
intuição é como a lembrança de um sonho fugitivo. Ei-lo, pois, novo homem, por mais antigo
que seja como Espírito. Adota novos processos, auxiliado pelas suas aquisições precedentes. O
esquecimento do passado, [...] obedecendo às leis superiores que presidem ao destino,
representa a diminuição do estado vibratório do Espírito, em contato com a matéria. Esse olvido
é necessário, e, afastando-se os benefícios espirituais que essa questão implica, à luz das
concepções científicas, pode esse problema ser estudado atenciosamente. Tomando um novo
corpo, a alma tem necessidade de adaptar-se a esse instrumento. Precisa abandonar a bagagem
dos seus vícios, dos seus defeitos, das suas lembranças nocivas, das suas vicissitudes nos
pretéritos tenebrosos. Necessita de nova virgindade; um instrumento virgem lhe é então
fornecido. Os neurônios desse novo cérebro fazem a função de aparelhos quebradores da luz; o
sensório limita as percepções do Espírito, e, somente assim, pode o ser reconstruir o seu destino.
Para que o homem colha benefícios da sua vida temporária, faz-se mister que assim seja. Sua
consciência é apenas a parte emergente da sua consciência espiritual; seus sentidos constituem
apenas o necessário à sua evolução no plano terrestre. Daí a exiguidade (=escassez) das suas
percepções visuais e auditivas, em relação ao número inconcebível de vibrações que o cercam.
Todavia, como o esquecimento não é absoluto, [...] dentro dessa obscuridade requerida pela
sua necessidade de estudo e desenvolvimento, experimenta a alma, às vezes, uma sensação
indefinível... É uma vocação inata que a impele para esse ou aquele caminho; é uma saudade
vaga e incompreensível, que a persegue nas suas meditações; são os fenômenos introspectivos,
que a assediam frequentemente. Nesses momentos, uma luz vaga da subconsciência atravessa
a câmara de sombras, impostas pelas células cerebrais, e, através dessa luz coada, entra o
Espírito em vaga relação com o seu passado longínquo; tais fatos são vulgares nos seres
evolvidos, sobre quem a carne já não exerce atuação invencível. Nesses vagos instantes, parece
que a alma encarnada ouve o tropel das lembranças que passam em revoada; aversões antigas,
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amores santificantes, gostos aprimorados, de tudo aparece uma fração no seu mundo
consciente; mas, faz-se mister olvidar o passado para que se alcance êxito na luta. É oportuno
lembrar que – conforme nos esclarece o Espiritismo –, a nitidez das lembranças acompanha o
nosso progresso espiritual. Assim como as fibras do cérebro são as últimas a se consolidarem no
veículo físico em que encarnamos na Terra, a memória perfeita é o derradeiro altar que
instalamos, em definitivo, no templo de nossa alma, que, no Planeta, ainda se encontra em fases
iniciais de desenvolvimento. É por isso que nossas recordações são fragmentárias... Todavia, de
existência a existência, de ascensão em ascensão, nossa memória gradativamente converte-se
em visão imperecível, a serviço de nosso espírito imortal... Léon Denis assinala que o [...]
esquecimento do passado é a condição indispensável de toda prova e de todo progresso. O
nosso passado guarda as suas manchas e nódoas. Percorrendo a série dos tempos, atravessando
as idades de brutalidade, devemos ter acumulado bastantes faltas, bastantes iniquidades.
Libertos apenas ontem da barbaria, o peso dessas recordações seria acabrunhador para nós. A
vida terrestre é, algumas vezes, difícil de suportar; ainda mais o seria se, ao cortejo dos nossos
males atuais, acrescesse a memória dos sofrimentos ou das vergonhas passadas. A recordação
de nossas vidas anteriores não estaria também ligada à do passado dos outros? Subindo a cadeia
de nossas existências, o entrecho de nossa própria história, encontraríamos o vestígio das ações
de nossos semelhantes. As inimizades perpetuar-se-iam; as rivalidades, os ódios e as discórdias
agravar-se-iam de vida em vida, de século em século. Os nossos inimigos, as nossas vítimas de
outrora, reconhecer-nos-iam e estariam a perseguir-nos com sua vingança. Bom é que o véu do
esquecimento nos oculte uns aos outros, e que, apagando momentaneamente de nossa
memória penosas recordações, nos livre de um remorso incessante. O conhecimento das nossas
faltas e suas consequências, erguendo-se diante de nós como ameaça medonha e perpétua,
paralisaria os nossos esforços, tornaria estéril e insuportável a nossa vida. Sem o esquecimento,
os grandes culpados, os criminosos célebres estariam marcados a ferro em brasa por toda a
eternidade. Vemos os condenados da justiça humana, depois de sofrida a pena, serem
perseguidos pela desconfiança universal, repelidos com horror por uma sociedade que lhes
recusa lugar em seu seio, e assim muitas vezes os atira ao exército do mal. Que seria se os crimes
do passado longínquo se desenhassem aos olhos de todos? Quase todos temos necessidade de
perdão e de esquecimento. A sombra que oculta as nossas fraquezas e misérias conforta-nos o
ser, tornando-nos menos penosa a reparação.