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Unidade III

Unidade III
5 BOVINOCULTURA LEITEIRA

5.1 Introdução geral

Cerca de 21% da pecuária no Brasil são voltados para a produção de leite.

De acordo com o Riispoa (Regulamento da Inspeção Industrial e Sanitária dos Produtos de Origem
Animal), é feita a classificação do leite em A, B e C. O leite A é totalmente mecanizado e beneficiado
na propriedade rural, sendo produzido nas granjas leiteiras, e apresenta maior valor. Por sua vez, o leite
tipo B é produzido em estábulo leiteiro, possui ordenha mecanizada e é enviado para ser processado
no laticínio. Já o leite C é de ordenha manual e é mandado para processamento no laticínio (em alguns
lugares, ainda é enviado em latão). É aquele que possui menor valor e vem produzido na fazenda leiteira.

O leite B e o C se juntam para formar o leite cru refrigerado, levado para o laticínio em caminhões
tanque a granel a cada dois dias e mantido no tanque de refrigeração.

5.2 Principais raças e cruzamentos

Existem raças zebuínas leiteiras, tais como Gir, Guzerá e Sindi Vermelha. A raça Gir apresenta pelagem
variada e gavião (ponta da orelha voltada para face).

Figura 32 – Vaca da raça Gir leiteira (Feileite, 2006)

A raça Guzerá pode ser cinza ou branca e apresenta chifres simétricos em forma de lira. Já são aceitos
animais descornados (mochados), mas não existe o Guzerá mocho natural (que nasce com ausência dos
chifres).

Por fim, a raça Sindi é bastante adaptada; porém, não há muitos animais no Brasil. Sua pelagem
característica é vermelha.
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CADEIAS PRODUTIVAS I

Figura 33 – Vaca da raça Guzerá (Feileite, 2010)

Há raças puras leiteiras europeias, como a Holandesa – a maior do mundo em termos de quantidade
de litros de leite produzidos –, a Jersey, a Pardo Suíço, a Guernsey e a Airshire. A raça Jersey é a que
apresenta maior taxa de gordura no leite. Pardos suíços são animais de grande porte; hoje há animais
voltados para rendimento de carcaça.

Figura 34 – Vaca da raça Holandesa, de pelagem vermelha e branca (Feileite, 2010)

Figura 35 – Vaca da raça Holandesa, de pelagem preta e branca (Feileite, 2006)

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Lembrete

A raça Holandesa é a maior produtora de leite no mundo.

Figura 36 – Vaca Jersey (Feileite, 2010)

Há raças de dupla aptidão, como Red Poll, Simental, Normando e Caracu. As mais comuns são a
Simental, que tem pelagem alaranjada e cara branca, e a Caracu, amarelada, que descende de bovinos
portugueses e é muito adaptada.

Figura 37 – Vaca Simental (Feileite, 2008)

Por fim, existem as raças sintéticas leiteiras (5/8 de sangue taurino e 3/8 de sangue zebuíno), tais
como Girolanda, Guzolando, Lavínia e Simbrasil. Dentre as sintéticas, a raça que predomina é a Girolanda.
Ela é a raça que possui maior rusticidade dentre todas.

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Figura 38 – Vaca Girolanda (Feileite, 2008)

Lembrete

As raças sintéticas, tanto em bovinos de corte quanto leiteiros, são


aquelas que apresentam melhor resistência a temperaturas elevadas e
agentes de doenças.

5.3 Instalações para bovinos leiteiros

5.3.1 Instalações gerais para animais adultos

5.3.1.1 Cochos para alimentação

São necessários 50 cm lineares de cocho de alimentação para cada vaca. Se o cocho estiver no meio
de dois currais, dois animais podem comer (um de cada lado). Os cochos devem ter cantos arredondados,
com revestimento de cerâmica, largura de 60 a 80 cm e profundidade de 25 a 50 cm.

5.3.1.2 Aguadas

Devem existir em todos os locais para que se evitem longas caminhadas, havendo assim menos gasto
de energia por parte dos animais. Conforme aumenta a produção de leite, também aumenta o consumo
de água, sendo necessário bebedouro perto da sala de ordenha, pois isso estimula a produção. Para água,
o ideal é cocho de 60 cm lineares/vaca, sendo necessários no mínimo dois pontos de água/lote.

É necessário limpar o bebedouro de uma a duas vezes por semana. Também deve haver proteção
para a vaca não entrar no bebedouro.

Sua largura é de 25 a 30 cm; sua profundidade, entre 15 e 20 cm.

5.3.1.3 Canaletas

As canaletas facilitam a higienização. Elas não devem ser muito profundas, sua profundidade deve
ser entre 12 e 15 cm, com largura entre 30 e 40 cm e declividade em direção as canaletas de 1 a 2%.
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5.3.1.4 Contenção

Correntes presas a argolas com 20 cm de altura do chão, no cocho, com espaçamento entre 1,00 e
1,20 m, para que os animais não deitem após ordenha. A contenção também poderá ser realizada com
canzil.

5.3.1.5 Pedilúvio

Caixa de cimento na entrada e saída da sala de ordenha, de 2,0 por 2,5 metros, com cerca de 25
cm de profundidade. Nele, há o uso de cal virgem, formol ou sulfato de cobre. Antes do pedilúvio, deve
existir um pré‑pedilúvio para que a vaca defeque primeiro nele.

5.3.1.6 Instalação para touros

Devem ficar separados das vacas em baias de 3,0 por 4,0 metros, com piquete conjugado.

5.3.1.7 Instalação para novilhas e vacas secas

Devem ficar em piquetes ou pastos com cochos e um mês antes do parto devem ser destinadas ao
piquete maternidade. O tempo que elas permanecem secas é de dois meses.

5.3.2 Instalações para bezerros

Com uso de alta tecnologia, a mortalidade chega a no máximo 2% dos animais; já com baixa
tecnologia, a mortalidade passa de 25%. A umidade relativa ideal é de 50 a 70% e com temperatura
entre 15 e 21 ºC.

Como instalações para bezerros, há gaiolas ou cabanas tropicais. É um local seco e protegido
contra o vento que possui cocho dentro e bebedouro fora. A cama deve ser trocada diariamente e sua
cobertura deve ser pintada de branco. Esse tipo de instalação evita o contato com outros bezerros,
reduzindo a taxa de mortalidade. Há também as super cabanas, para seis a oito bezerros.

Existe também o bezerro criado a pasto, método que estimula o consumo de forragem verde mais
cedo. Há o cocho para alimentação, que deve ser em área com boa drenagem, próximo ao estábulo, e o
terreno deve ser em nível superior ao nível do curral ou esterqueira.

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Figura 39 – Cabana tropical, USP (Pirassununga, 2007)

5.3.3 Instalações para vacas em produção

No local onde ficam as vacas deve haver cama, sendo o melhor tipo a areia.

São necessárias ventilação e nebulização. No que se refere à ventilação, deve haver distância de seis
a nove metros de um ventilador para outro; quanto à nebulização, ela deve ser cerca de 15 litros de água
por dia para cada vaca.

Como modelo intensivo, há o free stall (o índice zootécnico é melhor no modelo intensivo), que
possui área de alimentação e de descanso individual. Já para propriedades médias, existe o loosing
housing, com área de alimentação e de descanso e um piquete pequeno. Outro modelo, utilizado em
locais com clima muito frio (não é utilizado no Brasil), é o tie stall, uma baia com cocho individual –
nele, as vacas ficam presas na baia. Por fim, citamos também o pastejo rotacionado para propriedades
maiores, que necessita de maior extensão de terras. Ele deve ter sombra natural, podendo ser utilizadas
árvores como a Sibipiruna, a Sapucaia e a Tipuana, mas também há a opção pela sombra artificial (como
sombrite). No entanto, existem problemas de lama na época das águas. Nos casos de criações sem
sombra, a produção de leite chega a cair 20%.

Figura 40 – Uso de ventiladores (Feileite, 2008)

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5.4 Ciclo de produção de vacas leiteiras

O ciclo é igual para todas as vacas, o que varia é a quantidade de produção de cada uma. Iniciado
quando nasce o bezerro, o ciclo tem quatro fases: a fase I é delimitada pelo pico da produção de leite
(quando o bezerro apresentar cerca de dois meses de idade); na fase II, há pico do consumo de ração
(entre dois e sete meses após o nascimento do bezerro); já na fase III, cai a produção de leite e o
consumo de ração (quando o bezerro tem entre sete e dez meses); por fim, a fase IV é o período seco,
quando não há produção de leite. Ele ocorre cerca de dois meses pré‑parto, para que haja descanso da
glândula mamária e no próximo parto ela atinja a produção máxima. A vaca para ser considerada viável
deve ter um parto a cada 12 meses, ou seja, o ciclo de produção da vaca dura 12 meses; assim, o período
seco ocorre nos dois últimos meses do ciclo produtivo.

5.5 Noções sobre o manejo reprodutivo em bovinos leiteiros – estação de


monta

Dizem que não é feita estação de monta em bovinos leiteiros, mas isso pode ser realizado em novilhas
por questão do leite extra‑cota.

Pensando na lei da oferta e da procura, deve ser realizada estação de monta em novilhas leiteiras,
entre julho e outubro, para os bezerros nascerem entre abril e julho. Isso quer dizer que na época da
seca, quando há menor produção de leite no país, o produtor consegue vender mais leite a um preço
elevado e aumentar sua cota no laticínio.

Em relação à cota, na época da seca o laticínio calcula a média de produção de leite; essa será a cota.
Então, na época da chuva, eles pagam um valor digno para a quantidade de cota e, do que ultrapassar
isso, o valor pago por litro será bastante inferior, muitas vezes cerca de 50% a menos.

Ou seja, se a cota na época da seca for de 100 litros/dia, na época da chuva, caso a produção seja de
300 litros/dia, em 100 litros eles pagam o valor real e no excedente – ou seja, os outros 200 litros que
passam da cota – eles pagam cerca de 50% a menos.

Outra vantagem do esquema de estação de monta em animais leiteiros é que as vacas entrarão no
período seco (no qual não irão produzir leite) na época das águas (chuva), havendo assim disponibilidade
de pasto, o que faz com que não seja necessário gastar com ração para as vacas que não estarão
produzindo.

5.6 Número de novilhas necessárias para um plantel em função da idade a


primeira cria

Para ter uma adequada produção de leite, deve ser feita uma adequada seleção do rebanho, evitando
vacas com mastite, problemas de cascos, baixa produção e também aquelas que não produzam um
bezerro por ano. Caso esteja dentro do padrão correto, a porcentagem de descarte de vacas é de cerca
de 25% do lote/ano. O segundo fator a ser considerado para esse cálculo, mesmo não sendo comum, é
o índice de mortalidade de novilhas e vacas (algo em torno de 2,5%).
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Pegando como modelo um plantel de 100 vacas, temos o seguinte: em casos em que o primeiro
parto ocorre aos 24 meses, precisamos de 55 novilhas no rebanho, pois como o descarte é de 25%, em
dois anos iremos retirar do plantel 50 animais e, como a mortalidade pode ser ao redor de 2,5%, em dois
anos pode haver a morte de cinco animais, totalizando 55 novilhas. Para idade em que a primeira cria é
de 30 meses, precisamos de 69 novilhas, e para idade em que o primeiro parto é de 36 meses, precisamos
de 83 novilhas.

Dependendo da nutrição, as fêmeas podem entrar em cio até por volta de 12 meses de vida. O ideal
é iniciar no terceiro cio, começando a reprodução aos 14 meses.

Portanto, o ideal economicamente é reduzir a idade ao primeiro parto, bem como reduzir a
porcentagem de descarte. Por definição de melhoramento genético, teoricamente a vaca é viável
até a sexta cria, tendo o pico de produção na terceira cria e quando o bezerro chega aos dois meses
de idade.

5.7 Criação e desenvolvimento de bezerros – manejo do crescimento

Geralmente, o bezerro tem grande ganho de peso na puberdade. A puberdade ocorre em relação ao
seu peso vivo, entre 270 e 310 kg; dependendo da nutrição do animal, isso pode ocorrer com 10 meses
(que é mais comum em bovino leiteiro) ou aos dois anos (mais comum em bovino de corte). A fêmea
passa a ser produtiva quando der cria; então, o melhor é entrar em puberdade mais cedo.

A alimentação para bezerros é composta do seguinte: ao nascer, ele se alimenta de colostro (até o
terceiro dia de vida), precisando recebê‑lo nas primeiras 24 horas para que fique imunizado. Do quarto
dia em diante, ele recebe leite. Entre um e dois meses de vida, é ideal começar a fornecer alimentos
sólidos, como volumoso (para bezerros, o ideal é feno) e concentrado (que, para bezerros, deve ter
palatabilizante, como leite em pó).

Caso os bezerros recebam apenas leite entre o nascimento e seus 90 dias de idade, eles terão uma
taxa de crescimento muito elevada, ao redor de 1,5% ao dia. Porém, além disso ser antieconômico,
irá interferir na característica reprodutiva do animal em vida adulta. O ideal é fornecer leite mais
sólido para a bezerra fêmea, assim ela crescerá cerca de 0,875% ao dia, e não 1,5%. Com essa taxa de
crescimento, há um completo desenvolvimento do osso, parcial desenvolvimento de musculatura e não
há desenvolvimento de gordura.

O bezerro que recebe só leite é geralmente o macho em produções leiteiras. Ele é chamado de vitelo,
sendo um animal que cresce muito e vive cerca de quatro meses.

Ainda sobre o aleitamento, existe o aleitamento liberal e o desaleitamento precoce. No


aleitamento liberal, deixa‑se o bezerro mamar por um período a mais e à vontade, assim ele terá um
desenvolvimento maior e será comercializado mais rápido. Isso é feito geralmente com bezerros do sexo
masculino. Já o desaleitamento precoce força o animal a virar ruminante mais cedo, sendo um método
mais econômico, pois há mais leite para a venda. Nesse método ocorre um crescimento de 0,875% ao
dia e existe garantia do crescimento ósseo.
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5.8 Ordenha: noções do funcionamento da ordenhadeira mecânica

O princípio da ordenhadeira mecânica é o oposto da manual. Na ordenha manual, apesar de haver


ação da ocitocina, a pessoa vence a força, fazendo pressão sobre o local, e consegue abrir o esfíncter
do teto para o leite sair. Já na ordenhadeira mecânica, o que faz sair o leite seria uma pressão negativa
sobre o esfíncter do teto.

Na ordenhadeira mecânica, há a membrana rígida (fração metálica) e a membrana de borracha;


entre elas, há a câmara de pulsação. O que faz sair o leite da glândula é a aplicação de vácuo (retirada
de ar) no teto. Quando o ar está entre a membrana rígida e a de borracha, o esfíncter fica fechado; ao
retirar o ar, forma‑se uma pressão negativa e abre‑se o esfíncter.

5.9 Manejo sanitário

Em relação à ordenha propriamente dita, em primeiro lugar vem a condução das vacas até a sala de
ordenha, a qual deverá ocorrer sem agressões, para reduzir o estresse. A sala de espera deve ter sombras,
bebedouros, ventiladores e aspersores, e os animais deverão ficar ali no máximo uma hora – o modelo
balde ao pé atende a duas vacas por vez, sendo 15 vacas por hora em média.

Deve‑se realizar a linha de ordenha iniciando pelas novilhas (vacas de primeira cria); em seguida, vêm
as vacas sadias; depois, as vacas que já foram tratadas de mastite; e por último, as vacas em tratamento
(leite não comercializado). É importante realizar regularmente o CMT, que verifica celularidade e pH (o
pH normal do leite é entre 6,2 e 6,8), para detectar mastite subclínica e mastite clínica. Para isso, deve‑se
utilizar caneca de fundo escuro.

Antes de realizar a ordenha, não se deve lavar o úbere do animal, e sim realizar o pré‑dipping
(imersão dos tetos em antisséptico) e secar com papel toalha descartável. Após a ordenha, deve‑se
realizar o pós‑dipping e evitar que as vacas deitem por pelo menos uma hora. Depois, é realizada a
desinfecção das teteiras.

Para evitar mastite, também é importante a secagem correta das vacas (que ficam dois meses em
período seco). Elas devem ser transferidas de piquetes, sendo também necessário esgotar bem a glândula
mamária, restringir a alimentação e fornecer água à vontade, além de se observar o úbere diariamente
durante duas semanas.

5.10 Melhoramento genético em bovinos leiteiros

5.10.1 Características gerais a selecionar em bovinos leiteiros

Em geral, devemos selecionar em vacas leiteiras a produção de leite, a qual deve ser alta e ocorrer
durante bastante tempo. Além disso, devemos selecionar o tipo, apresentando longevidade associada à
produção de leite durante bastante tempo. Deverá ser selecionada também a composição do leite, que
deve ter alto valor no mercado, respeitando o mínimo de 3% de gordura.

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5.10.2 Características ideais para vacas leiteiras

A vaca deve possuir, em geral, úbere grande e elástico. Ela precisa ter costela comprida e bem
arqueada para seu organismo poder ter bom funcionamento, o que acondicionará em boa produção. A
fêmea deve possuir pescoço “lançado”, ou seja, delicado e comprido.

Em bovinos leiteiros, dizemos que a vaca deve possuir o chamado “triângulo leiteiro” (forma de
cunha), ou seja, deve ser retilínea no dorso e apresentar bom úbere no posterior aliada à boa profundidade
para o bom funcionamento corporal e um pescoço fino e lançado, ou seja, delicado e comprido. O outro
“triângulo” diz respeito um pouco ao perímetro torácico, mostrado o ideal, para melhor capacidade
respiratória; porém, não pode ser muito largo. O peito, na fêmea, deve ser mais delicado para não
apresentar característica de macho.

5.10.3 Concurso/controle leiteiro

Para o controle leiteiro, por exemplo, são feitas duas análises de produção de leite em períodos
diferentes: tira‑se a média diária e multiplica‑se o valor pelo período que a vaca produziu (em dias). O
controle leiteiro serve para identificar as vacas com maior produção no rebanho.

Observação

Na Colômbia, iniciou‑se o desenvolvimento do controle leiteiro para


raça Brahman, que lá está sendo utilizada como zebuína leiteira.

Quanto ao concurso leiteiro, ele existe para analisar qual é a vaca com maior produção de leite dentre
aquelas que estarão em competição. Ele deve ser realizado a cada 30 dias, durante toda a lactação da
vaca. Para analisar a produção diária da vaca, deve ser feito em primeiro momento a esgota; 16 horas
depois, realiza‑se a primeira ordenha e, 8 horas depois, a segunda ordenha. Isso quer dizer que faz‑se a
esgota às 15 h do dia 1, por exemplo; então, realiza‑se a primeira ordenha às 7 h do dia 2 e a segunda
ordenha às 15h do dia 2, verificando a produção diária. A segunda ordenha deve ser feita 24 horas após
a esgota.

5.10.4 Características de tipo: características morfológicas ideais na vaca leiteira

• Características corporais:

— Perímetro torácico: o ideal são valores intermediários ou acima da média. Quanto maior,
melhor, devido à presença de coração e pulmão nessa região.

— Comprimento de garupa: vai da ponta do íleo à ponta do ísquio. O ideal são valores acima da
média – na raça Gir, por exemplo, acima de 40 cm, pois, quanto maior, maior a capacidade de
se ter um grande úbere.

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— Largura entre ísquios: deve ter garupa larga, comprida e com boa abertura entre ísquios, para
proporcionar melhor passagem do bezerro durante o parto. Também é importante para maior
largura de úbere e maior produção de leite.

— Largura entre íleos: segue o mesmo objetivo anterior, porém, o ísquio é mais importante.

— Ângulo da garupa: quanto a esta característica, o ideal é valor intermediário, pois uma garupa
muito inclinada prejudica aprumos e uma reta pode trazer problemas de parto.

• Características de pernas e pés:

— Ângulo dos cascos: o ideal é valor médio (ao redor de 45º), pois o ângulo alto pode acarretar
em força sobre a articulação e o ângulo baixo força sobre o talão.

— Posição das pernas: o ideal são pernas paralelas, uma vez que pernas muito retas ou curvas
atrapalham a caminhada, principalmente em modelos extensivos (a pasto).

— Posição do jarrete: o ideal é o intermediário, pois o ganchudo (voltado para dentro)


atrapalha a caminhada e ocupa espaço de úbere e o arqueado (voltado para fora) atrapalha
a caminhada.

• Características do sistema mamário:

— Ligamento anterior do úbere: quanto mais forte, melhor.

— Altura do úbere posterior: quanto mais alto o úbere, melhor, ou seja, quanto mais comprido
(para cima, em direção ao dorso), melhor, pois haverá maior produção de leite; para isso, o
períneo deve ser o mais curto possível.

— Largura do úbere posterior: quanto mais largo, melhor, pois haverá melhor produção de leite.

— Profundidade do úbere: o ideal é o valor intermediário, pois o raso produz pouco e o profundo
está sujeito a traumatismos, muitas vezes passando o jarrete.

— Comprimento das tetas: o ideal é o valor intermediário, pois comprida ou curta dificulta a
mamada do bezerro e também a ordenha mecânica ou manual. Para a raça Gir, a média é de
aproximadamente 7,5 cm.

— Diâmetro das tetas: o ideal é o valor intermediário. No caso da raça Gir, esse valor é de
aproximadamente 3,3 cm, não sendo ideal nem fino e nem grosso para não atrapalhar
a mamada e a ordenha. Essa característica foi fácil de selecionar, pois apresenta alta
herdabilidade.

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Saiba mais

Para saber mais sobre bovinos leiteiros, leia sobre bovinocultura leiteira no
site da Embrapa:

EMBRAPA. Gado de leite. [s.d.]. Disponível em: <https://www.embrapa.br/


gado‑de‑leite>. Acesso em: 12 nov. 2014.

6 OVINOCULTURA

Figura 41 – Ovinos (Pirassununga‑SP, 2006)

6.1 Introdução

Os ovinos foram uma das primeiras espécies a serem domesticadas pelo ser humano, são difundidos
pela maior parte das regiões terrestres. São animais destinados para a produção de carne, leite, lã e pele/
couro, produtos estes obtidos por meio de diferentes sistemas de produção com diversos propósitos, sendo
que cada um tem a sua finalidade. Dessa forma, cada propósito de produção apresenta uma particularidade,
e assim a adoção de práticas corretas dos manejos nutricionais, sanitários e reprodutivos podem contribuir
para garantir o sucesso da criação. Com o rápido crescimento populacional do planeta, a demanda por
produtos de origem animal tem excedido a produção, o que faz com que as melhorias nos sistemas
de produção animal sejam de fundamental importância não apenas para aumentar a rentabilidade da
atividade, mas também para suprir a demanda mundial. Assim, diversas metodologias têm sido exploradas.

Por mais que a criação seja especializada em um produto específico, diversos subprodutos são
gerados. É interessante que esses subprodutos sejam explorados racionalmente, de forma a gerar rendas
secundárias e também para minimizar impactos ambientais.

Em todo o mundo, o rebanho de ovinos apresenta cerca de 1,9 bilhões de animais. Nos últimos 15
anos, vem apresentando decréscimo constante, e a principal razão para esse fato está na queda do valor
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comercial da lã. Em contrapartida, ocorreu um aumento na produção de carne: no início da década


de 1990, a produção de carne era de aproximadamente sete milhões de toneladas; já em 2006, essa
produção alcançou a marca de nove milhões de toneladas. Esses dados demonstram que nesses anos
ocorreu em todo o mundo a especialização do rebanho, sendo priorizados a produção de carne e o
aumento de produtividade.

No Brasil, estima‑se que o rebanho ovino seja de aproximadamente 17 milhões de cabeças, 60% dos
quais localizados no Nordeste, seguido de 25% no Sul, 6,4% no Centro Oeste, 4% no Sudeste e 4,6%
em diversos estados brasileiros.

Rebanho de ovinos (%)


60% Nordeste
25% Sul
6,4% Centro Oeste
4,6% Demais estados
4 % Sudeste

Figura 42 – Mapa do Brasil

Ainda no Brasil, o consumo de carne ovina gira em torno de 130.000 toneladas por ano, 35% das
quais concentradas no estado de São Paulo – o que equivale a 45 mil toneladas de carne por ano. Na
capital paulista, o consumo de carne ovina é de 33.750 toneladas aproximadamente, ou seja, 75% do
mercado estadual e 26,25% do mercado nacional. No Sudeste brasileiro, o consumo por habitante de
carne ovina é de 1,2 kg/ano, quantidade irrisória quando comparada ao consumo das demais carnes. O
poder aquisitivo dos consumidores finais é o grande orientador no consumo.

Mesmo sendo tradicional no Sul e no Nordeste brasileiro, a produção da ovinocultura brasileira


não tem conseguido atender à demanda interna. Somente o manejo reprodutivo e sanitário adequado,
quando associado aos princípios básicos da criação desses animais, pode possibilitar o uso dos recursos
forrageiros disponíveis de forma a transformar essa atividade em uma alternativa de renda viável para
os produtores rurais.

Atualmente, considera‑se como ideal o sistema de produção de carne preconizado de confinamento


de cordeiros, com dietas de alta proporção de concentrado. Os animais jovens são mais exigentes em
termos nutricionais, apresentam ganho de peso rápido e eficiente e atingem idade precoce para o
abate, aumentando a taxa de desfrute do rebanho, o que contribui para um maior giro de capital.
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Embora o sistema de confinamento e abate precoce seja realizado de forma eficiente, especialmente por
produtores que atingem nichos de mercado específico, com maior remuneração, a criação de ovinos em
pastagem de boa qualidade costuma ser a forma mais econômica para produção de carne.

Assim, neste sentido, devem ser estudados e desenvolvidos diferentes sistemas e estratégias de
produção de carne ovina de forma a se buscar uma maior eficiência econômica e menor custo de
produção. Isso ocorre devido aos diferentes segmentos de mercado para esse produto, tanto na capital
do estado de São Paulo, maior consumidor nacional, como nas demais regiões brasileiras.

6.2 Produção de lã

A lã apresenta características especiais de resistência, isolamento térmico e elasticidade, juntamente


com a capacidade de absorver umidade. Ela é um recurso natural renovável devido à presença de
pequenas bolsas de ar, sendo conhecida como um isolante do frio e do calor natural. Cada fibra é
constituída de milhões de moléculas que possuem a capacidade de se esticar e se retrair. Sua estrutura
permite que a lã mantenha a temperatura corporal constante e confortável, em uma gama de climas e
temperaturas, podendo ser utilizada sob diversas formas, de acordo com o processamento.

As fibras de origem vegetal possuem suas produções limitadas em determinadas regiões do país. Os
diversos fatores que afetam a produção de lã, tanto de forma natural como fisiológica, têm sido estudados em
diversas raças ovinas, em especial no Merino Australiano. Já é conhecido que o crescimento da lã não ocorre
de maneira uniforme no decorrer do ano e que as variações são decorrentes do ritmo de crescimento, que
é controlado por meio do fotoperíodo, das condições reprodutivas dos animais e das variações nutricionais.

6.2.1 Tosquia

A retirada da lã, chamada de tosquia, é realizada de forma periódica, em um ciclo de um ano,


podendo ser feita em um ciclo menor de até duas vezes ao ano em raças que possuem lãs longas. A
maturação de sementes, que podem aderir à lã, é um dos fatores determinantes da época de tosquia,
assim como é importante a época de beneficiamento, que costuma ser realizado no período de outubro
a dezembro, sempre após a secagem do orvalho.

Deve ser realizada em um local que possui o piso cimentado e/ou com gradil de proteção, de forma
a guardar a lã, sendo normalmente feita por pessoas especializadas na função. Os tipos de lãs devem ser
separados e identificados em embalagens de 125 a 180 kg cada.

A tosquia pode ser feita com um martelo, com média de 30 ovinos/dia, ou de forma elétrica, com
média de 80 a 150 ovinos/dia. A idade do animal também é determinante para o tipo de lã produzida:
animais velhos apresentam lãs mais finas que aqueles mais jovens.

6.2.2 Características da lã

Dentre as características da lã, uma das principais é o diâmetro da fibra, que é um dos maiores
responsáveis pela estrutura do veio que determina o tipo do produto final. A finura da lã é estimada
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a partir do número de ondulações por polegadas: quanto maior o número de ondulações, menor será
o diâmetro da lã. Diversos fatores, ambientais, sanitários, nutricionais e fisiológicos podem afetar
o diâmetro da fibra. O comprimento da fibra também é de grande importância, pois é a partir do
comprimento que se determina o tipo de processamento a que a lã será submetida. Fibras de lã curtas
são eliminadas produzindo um fio suave, que apresenta maior valor comercial.

A lã apresenta a seguinte composição química: C42H147O15N5S15. Ela possui 52% de carbono, de 22


a 25% de oxigênio, de 16 a 17% de nitrogênio, 7% de hidrogênio e entre 3 e 4% de enxofre em sua
composição. Sendo o enxofre responsável pela resistência e elasticidade da lã.

As escamas presentes na cutícula da lã são responsáveis pelo seu brilho. As lãs finas apresentam
grande número de escamas, o que gera menor brilho; em contrapartida, as lãs grossas possuem pequenas
quantidades de escamas, gerando um maior brilho.

Quanto à resistência, do ponto de vista têxtil, a lã deve ser a mais resistente possível à tração. Lãs
fracas se rompem com maior facilidade durante o processo industrial, afetando seu valor comercial. A
indústria se interessa pela lã lavada, mas a cor de lã suja também é importante para o comprador, pela
dificuldade de predizer se essa cor desaparecerá ou não após a lavagem industrial. Pelo fato de poderem
ser tingidas por uma maior variedade de cores, as lãs de cor clara são mais valorizadas, uma vez que as
podem ser tingidas com uma maior variedade de cores, em comparação às lãs amareladas.

Dentre os defeitos mais comuns na coloração das lãs, podemos citar as fibras pigmentadas,
característica de alta herdabilidade, e as colorações amareladas, originadas da cor de suarda e causas
bacterianas.

A lã apresenta diversas propriedades: seu diâmetro médio varia conforme a região do corpo e a
idade do animal, sendo que as regiões da paleta, costela, anca, quarto e lombo costumam apresentar
lãs mais finas. O sexo do animal também interfere na questão da finura da lã: as ovelhas possuem lã
mais fina, seguida dos machos castrados, enquanto os carneiros inteiros (não castrados) possuem lã
mais grossa. De forma geral, apesar de apresentar uma lã mais grossa, o peso do velo dos machos é
cerca de 20% superior ao peso do velo das fêmeas. Machos castrados apresentam lãs um pouco mais
finas que a lã de machos não castrados e peso de velo 12% superior ao de ovelhas na mesma idade.
Animais de raças puras apresentam lã com mais uniformidade do diâmetro fino. Fibras mais finas são
também mais curtas.

O comprimento também apresenta variação conforme a raça do animal. O comprimento natural


(também conhecido como relativo) é o comprimento que a lã apresenta ao ser distendida normalmente;
já o comprimento absoluto (efetivo) é o apresentado quando as ondulações da lã são distendidas.

A ondulação da lã permite com que seja avaliada a uniformidade e a qualidade da lã; quanto maior
as ondulações, maior será o comprimento absoluto da lã. No que se refere à terminação, é chamado de
mecha o conjunto de fibras ligadas entre si e de velo, o conjunto de mechas da lã do corpo que cresceu
durante o período de um ano; já o conjunto de lã da região das patas e barrigas é chamado de garreio
e apresenta menor preço no mercado.
98
CADEIAS PRODUTIVAS I

A lã também apresenta elasticidade e brilho. O brilho é causado pelas escamas do material que
refletem a luz; já a elasticidade é determinada a partir da capacidade do material retornar à sua posição
inicial após tracionamento. Será considerado mais elástico o material que retornar em menor tempo
ao seu posicionamento inicial. Assim, lãs finas possuem maiores elasticidades que as lãs mais grossas.

A resistência também é outro fator avaliado na lã. De forma geral, a resistência da lã é menor quando
comparada com as demais fibras; porém, a lã apresenta boa flexibilidade quando submetida à torção.

Suavidade também é um fator analisado nas lãs. Ela é indicada por meio do tato e depende das
condições de criação dos animais: as lãs mais ásperas ocorrem em locais que apresentam chuva
demasiada e campos mais pobres e em animais de raças de corte que apresentam diâmetro reduzido.

O produto das glândulas sudoríparas e sebáceas dos ovinos é conhecido como suarda e ele é
responsável pela lubrificação e proteção das fibras da lã contra a feltragem. A lanolina é outro produto
encontrado na lã, sendo sua gordura natural um pigmento da lanaurina.

Outra característica da lã é a higroscopia, ou seja, sua capacidade de absorver água, que deve ser de
16 a 18% (faixa considerada normal). O excesso de umidade é prejudicial, pois pode causar a presença
de fungos que destroem a lã e também deixar a lã empastada (aspecto de crosta). A umidade não deve
chegar a 40% de água na lã; caso haja água em excesso, ela apresenta um aspecto de carbonizada.

Por ser um produto natural de origem animal, a lã pode apresentar naturalmente diversas tonalidades
de cores – ela é originalmente amarelada e fica branca após o processo de lavagem. As cores preta,
marrom, cinza, vermelha e rosada dependem do local onde os animais são criados.

Quando criados em regime de pastagem, os ovinos não apresentam um ritmo constante na produção
de lã, o que ocorre devido às diversas variações na disponibilidade do alimento ao longo do ano. Esse fato
afeta a resistência e a produção de lã; assim, é importante que ocorra a suplementação alimentar em
épocas críticas. Durante o período de gestação, a nutrição deficiente, além de prejudicar a produção da
ovelha, gera uma diminuição definitiva na capacidade de produção de lã da futura cria. A resistência das
mechas e o peso dos velos das ovelhas também são características influenciadas quando as exigências
nutricionais não são atendidas durante o período de gestação e lactação. Após o parto e durante a fase
de aleitamento, há a diminuição do crescimento da lã, que será normalizado após o desmame da cria.

A idade do animal também é um fator importante relacionado ao crescimento da lã e às dimensões


de suas fibras. Comparando animais do mesmo sexo, com o aumento da sua idade, de forma geral, para
peso do velo, ocorre um aumento entre os três e os cinco anos de idade, e logo diminui (em torno de 2
a 4% ao ano). Já o diâmetro da fibra tende a aumentar a partir da primeira tosquia.

A cobertura da lã, juntamente com o seu comprimento e diâmetro, varia de acordo com a raça de
cada animal. Animais de raças especializadas na produção de lã, altamente selecionados, tendem a
apresentar velos de muita uniformidade e qualidade. A lã também pode apresentar diversos tipos de
defeitos; dentre os mais comuns estão a sarna (causada por Psoroptes ovis) e os cruzamentos entre lãs
finas e grossas.
99
Unidade III

Os parasitas intestinais são as maiores causas de enfermidades dos ovinos. Essas infecções são
responsáveis por reduzirem substancialmente o rendimento da lã, fato que ocorre principalmente em
ovelhas gestantes e lactantes. Nessas circunstâncias também pode ocorrer a redução no diâmetro e
resistência das fibras. A infestação de fungos pode deixar a lã com o aspecto de crosta (empastada).

Outro fator importante é a falta de resistência. Carência alimentar, infecções, febre e metrites podem
causar uma irregularidade na nutrição dos folículos, gerando falhas na constituição das fibras da lã, que,
mais fracas, se rompem ao serem tracionadas.

A alimentação adequada dos ovinos é importante para a produção de lã, tanto no quesito qualidade
como em quantidade. O consumo de matéria seca digestível e a produção de lã apresentam uma relação
de forma linear, sendo o efeito da nutrição evidente ao compararmos os pesos de velos limpos em
grupos de ovinos similares, mas que possuem idades, tipos de piquetes e tipos de pastagem diferentes.
Há também diferenças de comprimento, diâmetro e resistência das fibras. Assim, quando se oferece
uma alimentação adequada, há uma clara melhoria no diâmetro da fibra, que passa a ser igual da
base à ponta; da mesma forma, uma alimentação deficiente causa redução no diâmetro das fibras,
de modo que o estrangulamento da fibra corresponderá à época da penúria fisiológica. Quando esta
é prolongada, ocorre a redução do diâmetro em maior extensão, de forma que as fibras apresentem
diferentes diâmetros em sua extensão.

A lã deve possuir coloração uniforme, alta umidade e calor, presença de lanaurina (pigmento amarelo
da suarda), resíduo de remédios ou, raramente, presença de bactérias responsáveis por lãs de tonalidade
verdes e azuis e, mais frequentemente, a utilização inadequada de tintas.

As condições do meio ambiente também influenciam na qualidade da lã produzida, em especial a


temperatura e a umidade relativa do ar. Altas temperaturas favorecem a congestão da derme, o que pode
levar à má circulação das camadas mais profundas. Isso se contrapõe à nutrição dos folículos pilosos,
fazendo com que as fibras se tornem finas e curtas, além do efeito indireto no consumo voluntário.
Em temperaturas frias constantes, ocorre o efeito inverso, o que torna as fibras mais grossas e longas.
Temperaturas do ar entre 5 °C e 40 °C são as de maior ocorrência e viabilizam a criação de ovinos
lanados e deslanados.

Já no que se refere à umidade relativa do ar, quando ela se encontra em torno de 90% (alta), diminui
a produção de lã – o que afeta as suas propriedades, em especial a sua suavidade ao tato. Nos casos de
umidade abaixo de 40%, a lã se torna menos elástica e resistente, pela diminuição da suarda. Binômios
que apresentam altas temperaturas, associadas à alta umidade relativa do ar, são os mais prejudiciais,
pois provocam a feltragem da lã.

6.2.3 Processamento da lã

A primeira etapa do processamento da lã é a lavagem. Nela, a lã crua é lavada através de uma série
de tubos contendo solução de água e sabão. Nesse processo, a lanolina (gordura natural) é removida e
cerca de 40 a 60% de seu peso original pode ser perdido.

100
CADEIAS PRODUTIVAS I

Em seguida há o tingimento, etapa em que as fibras brancas são tingidas de modo uniforme.

O próximo passo é a cardagem, na qual ocorre a mistura de vários comprimentos de fibra, há remoção
do material vegetal e as fibras são esticadas para que fiquem na mesma direção.

Depois há o pente, que é o processo no qual as fibras curtas são removidas e as mais longas são
esticadas, formando fios firmemente entrelaçados.

Por último, há a fiação, tecelagem e complemento – combinação de umidade, temperatura, fricção


e pressão para encolher o material, dando a ele uma aparência mais macia.

6.2.4 Classificação das lãs

Devido à grande variedade de processos de produção e obtenção da lã, foi necessário criar uma
forma de classificá‑la. Essa classificação está relacionada às exigências do mercado.

A escala Bradford é utilizada de forma a agrupar lãs em classes, que correspondem ao rendimento
teórico que a lã pode produzir em fio. A classificação se baseia na média da finura do fio e essa escala
expressa a quantidade das meadas de lã com 560 jardas (o que equivale a 512,064 m em extensão) de fio
que pode ser obtido a partir de uma libra (0,4537 kg) de lã já lavada. A numeração de Bradford sempre
é seguida de ’s, significando libra fiada.

Segue uma tabela com a classificação das lãs:

Tabela 2 – Classificação das lãs

Classes de lãs Escala Bradford Finura (micras) Comprimento (m)


Merina > 64’s 20 a 21 5 a 10
Amerinada 60–64’s 22 a 24 Mínimo 6
Prima A 60’s 23 a 24 8 a 18
Prima B 58’s 25 a 26 Mínimo 10
Cruza 1 56’s 27 a 29 Mínimo 10
Cruza 2 54–50’s 30 a 32 Mínimo 12
Cruza 3 48–46’s 32 a 34 Mínimo 13
Cruza 4 44’s 35 a 38 14 a 20
Cruza 5 36–40’s 40 a 42 Mínimo 15
Crioula ‑‑‑‑ 20 a 60 12 a 15

Fonte: Borges; Gonçalves (2002).

Essas classes ainda possuem subdivisões:

• supra: considerada com grau máximo, ocorre com lãs de ovinos que possuem alta pureza racial.
As lãs supras são provenientes de velos com peso médio elevado;
101
Unidade III

• especial: lãs procedentes de rebanhos que possuem grande pureza racial, finura relativa ao
comprimento e mechas de comprimento e coloração natural;

• boa: lãs que apresentam uma menor uniformidade e boa suavidade, mas coloração irregular,
tendo comprimento não inferior a ¾ do normal de cada raça;

• corrente: lãs que apresentam grande desuniformidade de fibras, com mechas com metade do
comprimento normal, falta de resistência e velos com baixo peso;

• mista: considerada refugo, são lãs provenientes de animais velhos e doentes, que não possuem
nenhuma qualidade e cujas fibras são muito desuniformes, sem resistência. Essas lãs podem ser
causadas por verminoses e aftosa.

Devemos lembrar que essas subclasses podem estar presentes em todas as classes apresentadas
anteriormente. Dessa forma, a lã merina, por exemplo, pode apresentar qualquer uma das
subclasses, como lã merina supra, merina especial e até merina mista, assim como as demais
classes de lãs.

6.3 Produção de carne

Conforme já citado anteriormente, a ovinocultura, mesmo sendo tradicional no Sul e no Nordeste


brasileiro, não tem conseguido atender à demanda de carne interna. A carne de cordeiro é a mais apreciada
no país, porém a sua oferta ocorre de forma sazonal e incipiente. Isso acontece de forma geral, uma vez
que grande parte do rebanho brasileiro é composta de raças produtoras de lãs, ou raças mistas.

Para que a atividade voltada para a produção de carne se torne um sucesso, é necessário atentar‑se
ao aumento das taxas de reprodução, ao menor intervalo entre partos, à precocidade sexual e de
acabamento dos animais, ao rendimento da carcaça e à qualidade da carne. Tradicionalmente, os
sistemas de produção utilizam‑se de pastagens, nas quais existem limitações nutricionais devido
à produção forrageira que, se não forem observadas e corrigidas, podem gerar baixos índices de
produção.

Quando ocorre uma baixa disponibilidade de nutrientes, a eficiência da produção é afetada, além
de haver diminuição da fertilidade. Até a sobrevivência das crias é afetada, assim como a eficiência
reprodutiva dos animais, a qual é agravada por fatores como consanguinidade.

A exploração racional envolve as fases de produção, recria e terminação, as quais podem ser realizadas
em pastejo direto, confinamento ou de forma mista. Cada uma apresenta vantagens e desvantagens.

No Brasil, os animais de abate são divididos de acordo com seus tipos de carcaça e são classificados
conforme a idade e o sexo. Eles se enquadram nas seguintes categorias:

• Cordeiro: animais entre 4 a 6 meses de idade, com peso vivo entre 15 e 25 kg. Apresentam ossos
finos, carne rosada e lisa e apresentam cerca de 22% de gordura. Os cordeiros são os animais com
102
CADEIAS PRODUTIVAS I

maior aceitação no mercado. Eles possuem melhores carcaças e custo‑benefício, sendo assim os
mais estudados. Devido às suas qualidades, são os principais animais abatidos para a produção de
carne.

• Borrego: animais com idade entre 12 a 18 meses, com peso vivo entre 30 a 50 kg, apresentam
uma ossatura mais desenvolvida, o que faz com que o rendimento de sua carcaça seja entre 38 a
43%. A carne do borrego é mais vermelha comparada à dos cordeiros e possuem mais gordura em
sua carcaça (cerca de 35%). Por apresentar um maior peso que os cordeiros no abate, os borregos
também possuem boa aceitação no mercado.

• Capão: são machos adultos. Possuem maior peso vivo, entre 45 a 50 kg, e rendimento de carcaça
em torno de 41%. Sua carne é vermelha intensa e com a maior quantidade de gordura, que
chega a ser considerada excessiva. A vantagem dos borregos costuma ser o rendimento de sua
carcaça, cerca de 44%, embora isso se deva ao grande percentual de gordura apresentado, e é essa
quantidade de gordura que faz com que a carne do animal capão não tenha tanta aceitação no
mercado quanto comparada às carnes do cordeiro e do borrego.

• Carneiro: são machos adultos que não podem ser aproveitados para reprodução. Possuem
musculatura mais escura e ossos pesados, além de excesso de gordura, fato que faz com que sua
carne apresente um sabor diferenciado. Esse sabor faz com que sua carne seja costumeiramente
comercializada após ser beneficiada, na forma de embutidos, charque, linguiça ou defumados.
Assim, a carne de carneiro costuma ter baixo valor comercial.

• Ovelha: geralmente, são animais com idade avançada. Apresentam maior carcaça (com rendimento
de 40%), com ossos mais pesados, carne com coloração vermelha bastante escura e musculatura
rígida, para que não tenha muita palatabilidade.

A qualidade da carne ovina e as características de sua carcaça são relacionadas com a gordura
intramuscular. Isso tem relação direta com a espessura, consistência e textura da carne. De forma
geral, a qualidade da carne está diretamente relacionada com o diâmetro médio das fibras musculares,
responsáveis pela maciez, suculência e sabor da carne. Quando há elevado diâmetro das fibras, ocorre
maior proporção de substância branda em relação ao tecido conjuntivo. Sua produção abrange o
período entre a concepção e o desmame. Assim, o desempenho da matriz e da cria depende de
diversos fatores.

A carne ovina apresenta consistência elevada, alta digestibilidade proteica (em torno de 97%)
e da gordura (próximo a 96%). Apresenta baixo pH, glicogênio residual e pequenas perdas por
congelamento, além de variações em função da idade, do sexo e do acabamento (teores de gordura
e água) dos animais.

Considera‑se o fator nutricional de fundamental importância. Ovelhas, quando estão em boas


condições, possuem maiores taxas de ovulação e geram crias mais pesadas desde seu nascimento até o
desmame, fato este que eleva a prolificidade e a taxa de sobrevivência das crias.

103
Unidade III

6.4 Manejo de crescimento

Quando bem alimentadas e manejadas, as crias mais pesadas apresentam altas taxas de crescimento,
podendo ser entendidas como maior produção por animal por ano. Entretanto, deve‑se estar atento
também ao manejo sanitário, principalmente no período pré‑parto e do início de lactação, uma vez que
nessas épocas as ovelhas estão mais propensas às verminoses e há eliminação de grandes quantidades
de ovos dos parasitas, o que pode causar problemas para as crias.

Em regiões onde há alta precipitação pluviométrica, a desmama tardia esbarra no grave problema
das verminoses, o que costuma ser agravado por altas lotações e boas condições de pasto. Desta forma,
sugere‑se que a desmama seja feita de forma precoce, aos 45 dias de idade, evitando assim que ocorram
perdas por mortalidade.

A fase de cria caracteriza‑se, a princípio, pela permanência das crias com as ovelhas, em regime de
pastejo. Para obter maiores pesos ao desmame, é recomendado que ocorra a suplementação alimentar
com concentrados a partir do sétimo dia de idade; para isso, pode‑se utilizar o alimentador privativo
(creep feeding), assim o cordeiro já estará adaptado à alimentação sólida após o desmame, evitando o
estresse e possível perda de peso.

A suplementação alimentar de cordeiros com concentrados em local exclusivo a eles, conhecida


como creep feeding, deve ser iniciado a partir dos 7 a 10 dias de idade, com os animais ainda em
fase de amamentação. Essa suplementação torna‑se uma prática viável, pois com ela é possível que
ocorra o desmame desses animais precocemente com bom peso. Se confinados, os animais já estarão
acostumados ao tipo de alimento, e assim exige‑se menos das fêmeas lactantes.

O consumo de alimento pelos cordeiros, entre duas e seis semanas de idade, costuma ser
afetada pela palatabilidade e pelas condições do creep. Ele deve ser de fácil acesso, com boa
luminosidade e se localizar próximo ao ponto de descanso preferencial do rebanho. Os filhotes
possuem preferência pela ração farelada até quatro semanas de idade; após quatro a cinco
semanas, os filhotes passam a aceitar dietas peletizadas, podendo consumir grãos inteiros já a
partir da quinta semana de idade.

O pico de produção de leite das ovelhas varia de 30 a 40 dias, dependendo da raça de cada animal.
As raças mais específicas para a produção de leite têm maior persistência de lactação; assim, possuem o
pico de produção mais tardio (o inverso ocorre com os animais de raças menos especializadas). Devido a
esta situação fisiológica, a partir desse momento, o cordeiro aumenta de forma drástica o consumo de
alimentos sólidos, uma vez que o leite já não é mais suficiente para atender a todas as suas necessidades
nutricionais. Por esse motivo, o creep feeding possibilita um incremento no ganho de peso desses
animais, pois é nessa fase que o cordeiro apresenta elevado ritmo de crescimento, devido à deposição
dos tecidos ósseos, do muscular e também do adiposo.

Ainda deve‑se considerar a nutrição dos cordeiros nos seus últimos dois meses de vida intrauterina
(flushing para ovelha). Geralmente, filhotes nascidos mais pesados apresentam maiores possibilidades
de sobrevivência durante as primeiras 72 horas de vida.
104
CADEIAS PRODUTIVAS I

Observação

Para determinar qual a melhor idade para o desmame, é necessário que


seja levado em consideração qual é o objetivo da criação.

O cordeiro superprecoce apresenta idade de desmame entre 25 e 45 dias. Para o precoce,


que é utilizado em criações destinadas à produção de carne, sendo o mais comum e indicado no
Brasil, o desmame se dá entre 45 e 90 dias de idade. O desmame considerado tardio ocorre após
os 91 dias de idade. Essa situação não é recomendada por ser praticada em rebanhos criados
de maneira extensiva e não deve ser adotada, uma vez que as propriedades que trabalham com
manejo extensivo geralmente possuem baixo nível tecnológico e, por consequência, apresentam
baixa produtividade e rentabilidade.

O período entre o desmame e o peso mínimo que a cria precisa para entrar em reprodução ou
terminação é chamado de fase de recria. Para animais destinados ao abate, o peso mínimo para entrar
em confinamento de forma a ser economicamente viável é de 15 kg. Assim, algumas vezes a fase de
recria poderá ser desnecessária.

Quanto ao ganho de peso (GPD), consideram‑se bons os ganhos entre 130 e 250 gramas por dia para
as condições do rebanho brasileiro e de 350 gramas por dia para o rebanho europeu. Esses dados podem
ser utilizados para a avaliação do desempenho produtivo e da eficiência da dieta.

Devido às adversidades encontradas, é necessária a tecnificação dos sistemas de produção,


principalmente devido à tendência de intensificar o processo de terminação de cordeiros, de modo
a agilizar os negócios e a produção de carne ovina de qualidade. Nesse aspecto, podemos destacar
a introdução da desmama precoce associada ao uso do creep feeding, seguida pela terminação dos
cordeiros em regime de confinamento.

Para que o sistema seja viável economicamente, alguns pontos devem ser analisados. Dentre
eles, destacamos: salubridade e conforto do ambiente, duração do confinamento, utilização de
subprodutos e compatibilização do nível nutricional e do potencial genético do animal. Para o sucesso
do confinamento, também é recomendado fazer previamente uma análise do mercado e da relação
custo x benefício.

A melhoria no manejo de forma correta das pastagens leva a um melhor nível nutricional do rebanho,
de modo a gerar maiores taxas de ovulação das ovelhas e maior peso do filhote ao nascer e no período
de desmame. Essas duas últimas são fundamentais para aumentar a taxa de sobrevivência (com mais kg
de cordeiro desmamado/ovelha) (SILVEIRA, 1990).

Já a eficiência reprodutiva está ligada ao somatório da fertilidade, prolificidade e sobrevivência dos


cordeiros e possui grande dependência genética. Já é sabido que a consanguinidade diminui a eficiência
reprodutiva de forma a prejudicar a produção de carne.

105
Unidade III

A terminação de cordeiros em confinamento para a produção de carne tem se mostrado viável


economicamente quando comparamos a cordeiros terminados em pastagem, que normalmente
apresentam maior mortalidade e riscos de infecções por verminoses.

Diversos estudos demonstram que os ovinos apresentam uma característica comportamental


marcante de seletividade alimentar. Eles ingerem grande proporção de folhas, em detrimento de extratos
menos nutritivos, como caule e matéria inerte. Dessa forma, infere‑se que cordeiros em pastagens de
qualidade apresentam menores ganhos, que não são muito distantes daqueles obtidos por cordeiros
em sistema de confinamento. O sistema de confinamento apresenta como grande vantagem menor
mortalidade quando comparado aos regimes de pasto, nos quais há infecções endoparasitárias, em
especial causadas por Haemonchus contortus, uma das principais causas de morte entre ovinos.

Para recuperar os gastos com os custos adicionais das instalações do confinamento, deve‑se buscar
utilizar animais que possuam alto potencial genético para ganho de peso e boa conversão alimentar e
que apresente uma deposição de gordura adequada na carcaça.

O ganho de peso é a variável importante para a avaliação do desempenho produtivo e da eficiência


da dieta. O conhecimento prévio da faixa etária em que ocorre maior taxa de crescimento permite ao
produtor programar o sistema de terminação dos cordeiros de forma que o abate ocorra na fase em que
a eficiência de conversão inicie seu decréscimo.

Diversos estudos indicam que a maior taxa de crescimento ocorre entre um e cinco meses de idade,
atingindo o ponto máximo entre 70 e 90 dias. Sexo e tipo de parto também exercem efeito sobre o ganho
de peso, de forma que os machos, normalmente, ganham mais peso do que fêmeas, assim como animais
de gestação única ganham mais peso quando comparados a animais oriundos de gestações múltiplas.
Utilizando os manejos nutricional, reprodutivo e sanitário adequados e compatíveis, a heterose pode ser
utilizada para melhorar a eficiência no ganho de peso.

Quando aplicado ao rebanho brasileiro, seu potencial genético pode ser melhorado, o que pode ser
feito aproveitando as raças existentes, introduzindo raças mais produtivas ou ainda por meio do uso de
cruzamentos.

Os cruzamentos parecem ser mais viáveis, podendo‑se aproveitar ventres econômicos, mais
resistentes e adaptados às regiões, cruzados com carneiros de raças produtoras de carne. Há também
o uso da mestiçagem: primeiro, cruza‑se as ovelhas locais com animais de raças com aptidão leiteira, e
as fêmeas geradas a partir deste cruzamento devem ser acasaladas com carneiros de raças produtoras
de carne.

Quando se pretende diminuir os custos com alimentação, mas sem que o desempenho dos animais
seja afetado, é válida a busca por alimentos alternativos. A alimentação do rebanho é responsável por
uma grande parcela no custo variável da produção, chegando a 60 a 80% no confinamento de ovinos
de corte. Com o objetivo de reduzir os custos, a utilização de resíduos de culturas vegetais e animais na
alimentação dos cordeiros em terminação tem sido uma boa opção, pois além de maximizar os lucros
do produtor, contribui na redução do impacto ambiental.
106
CADEIAS PRODUTIVAS I

A região Sudeste do Brasil apresenta grande opção de subprodutos, destacando‑se os resíduos de


panificação, os subprodutos da industrialização do palmito, a polpa cítrica, a atividade pesqueira, nas
formas de descarte da comercialização e do processamento, a casca de café e os dejetos de suínos. Todas
essas opções têm proporcionado resultados bem satisfatórios em cordeiros de confinamento.

6.5 Manejo de ovinos em pastagem

A terminação em pastejo pode se apresentar de forma satisfatória quando respeitadas as condições


técnicas e econômicas locais. No âmbito brasileiro, a estacionalidade na produção das forrageiras é
um problema para a ovinocultura, pois há alternância entre os períodos de alta e baixa produção de
forragem e o período de escassez coincide com o frio de inverno. Isso limita a produção do pasto pela
falta de umidade, causando insuficiência para atender às exigências para a manutenção dos ovinos.

Uma ovinocultura eficiente e viável (economicamente) fica na dependência do crescimento natural


das forrageiras. Assim, a reserva de alimentos para a suplementação dos animais nos períodos críticos
deve ser fundamental, com o objetivo de minimizar os efeitos negativos da escassez de forragem no
desempenho dos animais.

Para um manejo adequado das pastagens, com o objetivo de serem utilizadas por ovinos, é necessário
analisar dois aspectos: a obtenção de forragem em níveis elevados, qualitativamente e quantitativamente,
e a manutenção de um reduzido nível de contaminação por ovos e larvas de helmintos. Para a exploração
intensiva das áreas disponíveis, deve‑se determinar o número total de matrizes de criação, de forma
a determinar a carga animal máxima. Para isso, deve‑se ter como base a área de pastagens de fato
disponível e o potencial de produção anual de MS, da forrageira predominante.

As pastagens devem ser manejadas, sempre, em esquema de rotação, visando principalmente manter
no menor nível possível a infestação da forragem por larvas de helmintos. Assim, devem‑se evitar os
períodos de ocupação superiores a cinco ou seis dias, o que minimiza a exposição dos animais às larvas
infestantes eclodidas durante o mesmo ciclo de pastejo, gerando a autoinfecção. Quando a população
de larvas se tornar significativa, os animais já não estarão naquela área de pastagem, cuja forragem já
estará bastante rebaixada, e as larvas ficarão sem hospedeiros e expostas às intempéries climáticas.

O período de repouso da pastagem varia em relação à época do ano, das condições climáticas, da
forrageira e das condições de fertilidade do solo. De forma geral, considera‑se suficiente um período
de 35 a 45 dias para que se tenha uma boa recuperação da forrageira, além de uma considerável
diminuição na quantidade de larvas. Com o uso do pastejo rotacionado, melhora‑se o manejo sanitário,
além de ocorrer a maximização da utilização do pasto, em especial nas regiões em que o valor das terras
é alto. As forrageiras mais indicadas são aquelas que suportam o manejo baixo, que possuem intensa
capacidade de rebrota a partir das gemas basais e que tenham sistema radicular bem desenvolvido,
garantindo uma boa fixação ao solo.

Dentre as categorias dos ovinos, as ovelhas em final de gestação e início de lactação juntamente com
os cordeiros a partir do desmame são os animais que estão mais suscetíveis às verminoses, então devem
ser destinados às pastagens descontaminadas. Caso isso não seja possível, deve‑se dar preferência aos
107
Unidade III

últimos, por serem eles os mais susceptíveis. Para que seja retardada a recontaminação das pastagens,
é necessário administrar ao rebanho de ovinos um anti‑helmíntico de amplo espectro antes que os
animais sejam introduzidos nas pastagens.

Alguns aspectos devem ser pensados na produção de carne ovina: o desempenho reprodutivo da
ovelha, a velocidade de crescimento dos cordeiros e o nível nutricional disponível para os animais são
de grande importância.

Há algumas formas que podem ser adotadas para melhorar o desempenho na produção de carne
ovina. Devem ser selecionados animais que apresentem maior fertilidade, taxa alta de natalidade e
capacidade de produção de leite, de forma que gerem filhotes que apresentem grande eficiência no
uso do alimento disponível. Também pode‑se usar raças exóticas que apresentem esses atributos, como
forma de introduzi‑los na genética do grupo (conforme já explicado anteriormente, deve‑se utilizar
cruzamentos de 1ª e 2ª gerações).

Para programar o sistema de terminação dos cordeiros, é necessário o conhecimento da faixa


etária em que ocorre o maior crescimento, de forma que os animais sejam utilizados antes que esse
crescimento comece a diminuir. Nas condições de produção brasileiras, a faixa para terminação dos
cordeiros amplia‑se de dois a cinco meses de vida. Conforme já informado anteriormente, o sexo e o
tipo de parto influenciam no GPD (ganho de peso diário) e animais resultantes de gestação múltipla
apresentam menor velocidade de ganho de peso quando comparados aos animais de partos simples.

A estrutura de comercialização da carne ovina deveria ser mais atuante, de forma a reverter a baixa
demanda do produto. Os produtores também devem trabalhar de modo a evitar sazonalidade de produção
e fazendo a oferta de carcaças heterogêneas diminuir, oferecendo ao mercado um produto de melhor
qualidade. Também é possível melhorar o mercado oferecendo ao consumidor novos cortes e derivados.

6.6 Principais raças

6.6.1 Raças lanadas

As raças lanadas são aquelas que apresentam lã da testa aos pés.

• Exemplo de raças para lã:

— Merino australiano: é um ovino de grande produção de lã e adaptado ao sistema de criação


extensiva. A lã é bem suave ao tato e de cor branca característica; basta colorir, enquanto as
outras precisam ser descoloridas e coloridas novamente. Raça pura para lã, as vísceras têm
muito peso. São possíveis duas tosquias por ano, com cerca de 2,5 kg cada tosquia.

• Exemplos de raças mistas lã/carne:

— Ideal: também chamada de Polwarth, tem ¾ de sangue Merino Australiano e ¼ Lincoln, com
60% voltada para lã e 40% para carne. Apresenta lã mais grossa que a Merino.
108
CADEIAS PRODUTIVAS I

— Corriedale: raça de menor porte, possui 50% de sangue Merino e 50% Lincoln.

— Romney Marsh: é uma das poucas raças adaptadas a solos mais úmidos, com 60% voltada para
carne e 40% para lã.

• Exemplos de raças para carne:

— Ile de France: gigante francês, é um animal de grande porte, com bom desenvolvimento de
massa muscular nas regiões nobres, como pernil, lombo e paleta.

— Poll Dorset: raça que foi introduzida no Brasil em 1991. Embora de origem australiana, os
melhores rebanhos são da Nova Zelândia.

Essas duas últimas são de grande porte. Sendo assim, apresentam um pernil grande e o preço é alto.

— Texel: de alta fertilidade, faz cruzamento com a Dorper (rústica), resultando na Dortex. Apesar
de sua lã ser de coloração branca, ela tem baixa qualidade, pois o animal é do tipo carne. Sua
carcaça tem baixo teor de gordura.

Figura 43 – Raça Texel (Feinco, 2010)

— Dorper: rústica e de pouca fertilidade, é cara‑preta, mas também pode ser inteira branca, casos
em que é chamada White Dorper.

109
Unidade III

Figura 44 – Raça Dorper (Feinco, 2010)

— Suffolk: pertence aos caras negras. Possui a cara e os membros desprovidos de lã e pelos pretos.
É um animal precoce que produz carcaça magra e tem boa habilidade materna.

— Hampshire Down: semelhante à Suffolk, é cara negra, mas possui lã na testa. Os membros
também são pretos, mas não inteiramente, e sim apenas até o jarrete (acima disso é lanado),
diferindo da Suffolk.

• Exemplos de raças para leite:

— Bergamácia: raça de origem italiana utilizada para produção de leite e queijo (Roquefort).
Possui o ventre fundo e tem “muita víscera” (muito peso de vísceras). É um animal de grande
porte, com pelagem branca e lã que geralmente cobre metade do corpo, e possui orelhas longas.
As ovelhas são muito prolíferas e com boa habilidade materna. Sua lã é ruim, embaraçada, de
baixíssima qualidade. A lactação dura em média cinco meses.

— Lacaune: raça lanada, está há menos tempo no Brasil.

6.6.2 Raças deslanadas

A seguir, alguns exemplos de raças lanadas:

• Carne, leite e couro (alguns criadores de ovinos preferem adotar o termo “pele”):

— Santa Inês: possui cor mais escura que a morada nova. É uma raça de grande porte que
produz boas carcaças. O couro é forte e resistente. Pode se reproduzir em qualquer época
do ano e geralmente apresenta partos duplos (gemelares). Para produzir leite, é necessária a
suplementação. A pelagem pode ser branca, vermelha, preta, marrom ou pintada.

110
CADEIAS PRODUTIVAS I

Figura 45 – Raça Santa Inês (Feinco, 2010)

• Carne e couro:

— Morada Nova: raça nativa do Nordeste brasileiro, é rústica, menor que a Santa Inês e de cor
marrom, vermelha ou branca. Pode parir em qualquer época, pois pode entrar em cio durante
o ano todo.

— Somalis: animal branco, com regiões do corpo pretas, tem reserva de energia na região da cauda.

• Couro:

— Karakul: voltada para produção de couro, apresenta pelagens variadas. Alguns possuem lã, a
qual é ruim, embaraçada.

*No Brasil, há também animais SRDs (sem raça definida), obtidos de vários cruzamentos.

Saiba mais

Para saber mais sobre produção de ovinos, informe‑se no site da


Associação Paulista de Criadores de Ovinos:

<www.aspaco.org.br>.

Resumo

A pecuária bovina leiteira representa cerca de 20% do segmento


da pecuária no Brasil, podendo ser realizada em modelo extensivo
(exclusivamente a pasto) ou com os animais confinados.

111
Unidade III

Há diferentes formas de produção de leite: o leite tipo C é


produzido através de ordenha manual, o tipo B é proveniente de
ordenha mecânica e destinado ao processamento em laticínio e o
tipo A é totalmente mecanizado e beneficiado dentro da propriedade
rural.

De forma geral, podemos dizer que a produção de leite pode ser


realizada de maneira manual, modo no qual ocorre menor controle sobre
os animais e em uma produção em menor escala, ou mecanizada, em que
há maior controle de animais e produção. Nesta, o free stall, na qual há
uma área de confinamento e um piquete anexo para os animais, aparece
como instalação principal.

Existem raças bovinas especializadas quase exclusivamente para a


produção de leite e derivados. Dentre elas, podemos citar as raças Holandesa,
Jersey e Pardo Suíço, que apresentam menor resistência a agentes de
doença e ambientes com temperaturas elevadas. Existem também raças
zebuínas que podem ser utilizadas na produção leiteira; embora sejam
menos produtivas, elas apresentam maior resistência, tais como as raças
Gir leiteira e Guzerá.

Assim como nos bovinos de corte, dentre os bovinos leiteiros há raças


sintéticas. A principal delas é a Girolanda (resultante do cruzamento entre
animais de raça Gir com raça Holandesa), sendo esta a que apresenta maior
resistência ao clima tropical e a doenças dentre todas as raças bovinas
leiteiras existentes no país.

Os ovinos são pequenos ruminantes que têm apresentado amplo


crescimento no Brasil. Inicialmente, eram manejados exclusivamente
em pastagens (modelo extensivo); atualmente, há diversos plantéis
realizados em confinamento (modelo intensivo) e semiconfinados (modelo
semi‑intensivo).

As finalidades comerciais dessa espécie são produção de carne, lã,


leite e couro (em nosso país, predomina a produção de carne). Sua
produção de lã tem apresentado grande crescimento, são fundamentais
os métodos de manejo para sua obtenção e retirada, sendo a principal
raça no Brasil voltada para esse fim a Merino Australiano. Já para
a produção leiteira, que vem crescendo cada vez mais no país, as
principais raças são a Bergamácia e Lacaune. A produção de couro,
por sua vez, é relacionada com a raça Karacul. No Brasil, o maior
predomínio é na produção de carne, havendo inúmeras raças voltadas
para esse fim.

112
CADEIAS PRODUTIVAS I

Há raças deslanadas (Santa Inês e Morada Nova) e raças lanadas. Vale


ressaltar que raça lanada não é única e exclusivamente voltada para a
produção de lã; as principais raças lanadas criadas no país são destinadas à
produção de carne, sendo as principais as seguintes: Dorper, Suffolk, Texel
e Ile de France.

Exercícios

Questão 1. (ENADE, 2013) Atualmente a inseminação artificial em tempo fixo (IATF) pode ser aplicada
rotineiramente nas fazendas. Os programas de IATF são desenvolvidos para controlar a função luteínica e
folicular, permitindo, assim, uma taxa de prenhez satisfatória por inseminação. Esses programas podem
ser considerados uma importante ferramenta de manejo reprodutivo de bovinos.

Acerca dos benefícios proporcionados por essa técnica, avalie as afirmações que se seguem.

I – A redução do manejo de observação de cios juntamente com a possibilidade de maior uniformização


dos lotes estão entre as maiores vantagens da técnica.

II – A IATF em comparação com a inseminação artificial convencional proporciona a obtenção de


animais com valor genético superior.

III – A utilização de touros com altos valores genéticos na IATF reduzirá o intervalo de gerações da
população, permitindo, assim, maior ganho genético.

IV – O protocolo hormonal utilizado na IATF proporciona superovulação e, assim, permite inseminação


de todos os animais em horário preestabelecido, o que facilita o manejo.

V – A técnica permite a inseminação de um grande número de animais em curto período de tempo,


possibilitando, assim, a obtenção de maiores índices de prenhez no início da estação de monta.

É correto apenas o que se afirma em:

A) I.

B) I e V.

C) II e III.

D) IV e V.

E) II, III e IV

Resposta correta: alternativa B.


113
Unidade III

Análise das afirmativas

I – Afirmativa correta.

Justificativa: são muitos os benefícios proporcionados pela implantação de um programa de


inseminação artificial em tempo fixo (diminuição do intervalo entre partos, melhoramento genético,
ganho de eficiência reprodutiva, nascimentos concentrados, homogeneidade de bezerros), que apesar
de ser uma tecnologia relativamente nova, tem sido cada vez mais adotada nos rebanhos bovinos em
todo o Brasil.

II – Afirmativa incorreta.

Justificativa: a diferença de animais nascidos em diversos meses do ano dificulta, inclusive, o controle
zootécnico do rebanho. Os desníveis de peso e idade prejudicam o manejo dos animais e afetam a seleção
dos melhores espécimes ao final da desmama. Para evitar que isso ocorra, os pecuaristas utilizam a
inseminação artificial em tempo fixo para uniformizar as características dos bezerros e ainda aproveitar
o período das chuvas para que a pastagem esteja adequada na época do nascimento.

III – Afirmativa incorreta.

Justificativa: podem-se considerar outros fatores que colocam a IATF como um procedimento
vantajoso para os produtores. No desmame, as crias têm 10 kg a mais quando comparadas com os filhos
da monta natural; a concepção é antecipada em 20 dias; e há redução de 1/3 no número de touros de
repasse necessários.

IV – Afirmativa incorreta.

Justificativa: as vacas tratadas com protocolos de IATF que não se tornaram gestantes na primeira
tentativa tendem a apresentar maior taxa de prenhez na estação de monta em relação às não tratadas,
em função da indução de ciclicidade promovida pelo tratamento hormonal. Isso aumenta a eficiência
reprodutiva do rebanho.

V – Afirmativa correta.

Justificativa: essa tecnologia caracteriza-se pela sincronização do cio e da ovulação em vacas,


eliminando a necessidade de detecção de cio e possibilitando a inseminação artificial de uma grande
quantidade de animais em apenas algumas horas. Com essa inseminação, aproximadamente 50% dos
animais tornam-se gestantes. O restante dos animais que não se tornaram gestantes é colocado com
o touro para monta natural pelo resto da estação reprodutiva ou são submetidos à observação de cio
para que sejam novamente inseminados. “Uma série de avaliações mostrou que, ao final da estação
de monta, animais que são tratados para IATF apresentam uma antecipação do momento médio em
que as gestações ocorrem e um incremento da taxa de prenhez geral ao término da estação de monta,
aumentando a eficiência reprodutiva desses rebanhos”.

114
CADEIAS PRODUTIVAS I

Questão 2. (CESGRANRIO, 2013) Na bovinocultura de corte, a taxa de desfrute mede a capacidade


do rebanho em gerar excedente, ou seja, representa a produção (em arrobas ou cabeças) em um
determinado espaço de tempo em relação ao rebanho inicial. Essa taxa avalia a relação percentual entre
o número de animais excedentes e o total do rebanho.

Nesse sentido, a taxa de desfrute:

A) exclui as vacas descartadas do total do rebanho.

B) exclui os bezerros em aleitamento do total do rebanho.

C) exclui os novilhos em idade de abate dos animais excedentes.

D) é superior à taxa de abate, já que exclui do rebanho excedente animais destinados a outros fins,
tais como reprodução ou recria.

E) é diferente da taxa de abate, mesmo que todos os animais extraídos do rebanho sejam destinados
ao abate como acontece em atividades de terminação.

Resolução desta questão na plataforma.

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