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Português, 7.º, 8.º e 9.

º anos

Os recursos expressivos

Nos últimos anos, contactaste com uma série de recursos expressivos:


a enumeração, a personificação, a comparação, a anáfora, a perífrase
e a metáfora.

Consulta também as páginas 286 e 287 do teu manual Entre


Palavras 9
Português, 7.º, 8.º e 9.º anos

Recorda
Enumeração – apresentação sucessiva de elementos que mantêm entre si uma
relação de sentido, como forma de intensificar uma ideia.
Ex.: “Era inteligente, corajosa, boa companheira, generosa e tinha espírito de iniciativa.”
Luísa Costa Gomes, A Pirata, 2.ª ed., Dom Quixote, 2006

Personificação – atribuição de características humanas a seres inanimados ou


não humanos.
Ex.: “O sapo e a raposa resolveram e acordaram fazer uma sementeira a meias.”
Ataíde de Oliveira (rec.), in Contos Tradicionais Portugueses, Figueirinhas, 1975

Comparação – estabelecimento de uma relação de semelhança por meio da


conjunção como ou de outras palavras e expressões equivalentes (à
semelhança de, tal, parecer, assemelhar-se, lembrar…).
Ex.: “O pai, danado, só argumentava às bicadas, a picá-lo como se pica um boi.”
Miguel Torga, Bichos, 20.ª ed., Dom Quixote, 2002
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Anáfora – repetição de uma palavra ou grupo de palavras, no início de frases


ou de versos sucessivos.
Ex.: “É ter cá dentro um astro que flameja,
É ter garras e asas de condor!”
Florbela Espanca, Sonetos, Bertrand, 1978

Perífrase – utilização de várias palavras para exprimir o que se poderia dizer


com menos.
Ex.: “[…] mesmo que o dia esteja forrado de cinza e chumbo e água desprendida dos
olhos lacrimejantes do céu.” (= mesmo que o dia esteja escuro e chuvoso)
Alexandre Honrado, Sentados no Silêncio, Ambar, 2000

Metáfora – identificação de duas realidades distintas a partir de elementos


semelhantes entre as duas.
Ex.: “Eles não sabem que o sonho
é tela, é cor, é pincel,”
António Gedeão, Poemas Escolhidos, Sá da Costa Ed., 1999
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Observa
No entanto, não basta identificar os recursos expressivos, é importante
compreender o seu valor expressivo, ou seja, qual o seu objetivo no texto, a
forma como contribuem para enriquecer o texto.
Repara nos seguintes exemplos.

“Subiu escadas, desceu escadas, entrou e saiu de cada sala, deu voltas ao
jardim, tornou a correr a casa toda. Até que de repente parou e foi
enroscar-se, como sempre, aos pés do meu pai, quer dizer, em frente da
cadeira vazia onde meu pai costumava sentar-se.”
Manuel Alegre, Cão como Nós, 3.ª ed., Dom Quixote, 2002

A enumeração das ações do cão (1.º período) demonstra que este


vasculhou a totalidade da casa em busca do ente querido. As antíteses
(sublinhados) transmitem-nos a ideia de movimento e de agitação.
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Exemplos (continuação)

“Procuravam a polícia, os bombeiros, o exército, o ministério, a presidência,


até mesmo a NATO pelo telefone.”
Mário-Henrique Leiria, Contos do Gin-Tonic, Ed. Estampa, 2007

A enumeração indica-nos que foram solicitadas todas as formas de


auxílio.

“Lá ao fundo o bolo abominável sorria, a limpar o creme que lhe escorria ao
de leve entre o açúcar.”
Mário-Henrique Leiria, Contos do Gin-Tonic, Ed. Estampa, 2007

A personificação do bolo contribui para o carácter insólito deste conto,


em que há um bolo, numa pastelaria, que desafia um cliente.
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Observa
Repara agora na lista de recursos na grelha abaixo e nalguns dos valores
expressivos habitualmente associados a cada um dos recursos.

Recurso expressivo Valor expressivo


Apresentar características da personagem, local ou ato; evitar
1. Perífrase
repetições; valorizar ou desvalorizar um determinado facto.

2. Anáfora Destacar palavras ou expressões, realçando a sua importância.

Salientar características semelhantes entre realidades distintas,


3. Metáfora levando o leitor a refletir sobre elas; sensibilizar o leitor através da
imaginação.

4. Enumeração Reforçar uma ideia.

5. Comparação Estabelecer semelhanças entre duas realidades diferentes.

6. Personificação Humanizar as personagens, por vezes, com objetivos pedagógicos.


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Observa
Este ano, aprenderás a identificar mais três recursos: a aliteração, o pleonasmo e
a hipérbole.

Aliteração – repetição intencional de sons consonânticos (isto é, sons de


consoantes) dentro da mesma palavra ou em várias palavras seguidas.

Ex.: “Casas, carros, casas, casos. A repetição do som [k] sugere


Capital
um ambiente agitado.
encarcerada.”
David Mourão-Ferreira, Obra Poética 1948-1988,
4.ª ed., Presença, 2001

Ex.: “O rato roeu a rolha da garrafa do rei da Rússia.” O objetivo desta aliteração é
reproduzir o ruído que o rato
faz ao roer.
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Pleonasmo – consiste em reforçar uma ideia pela repetição de palavras e


expressões redundantes, desnecessárias.

Ex.: – Sai lá para fora! A repetição de palavras


redundantes reforça a
ideia que se quer
Ex.: – Sobe cá acima! Quero mostrar-te um jogo. exprimir.
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Hipérbole – emprego de termos exagerados, a fim de pôr em destaque


determinada realidade.

Obviamente, a mochila não


Ex.: “a mochila a pesar toneladas de tanto pesa toneladas. Ao
livro e tanto dossier.” exagerar a realidade, o
Alice Vieira, Trisavó de Pistola à Cinta, Caminho, 2001 narrador destaca o peso
excessivo da mochila.

Ex.: “as velhas escadas que os bichos da Neste excerto, há duas


madeira roem devagarinho toda a hipérboles. A primeira realça
noite e todo o dia, pouco se importando o trabalho contínuo e
com as milhentas camadas de cera que persistente dos bichos da
ali se aplicam semanalmente.” madeira; a segunda salienta o
António Mota, Cortei as Tranças, 4.ª ed., Edinter, 1998 tratamento permanente que é
dado às escadas.
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Os recursos expressivos
Este ano, aprenderás a identificar mais três recursos: antítese, eufemismo e
ironia.

Antítese – exprime um contraste ou oposição entre duas ideias, objetos ou seres.

Ex.: “E apenas conseguimos ouvir o barulho


da tampa a abrir e a fechar a caixa que Sugere uma ideia de
movimento, sendo que são
estava num canto da sala, e que tinha dentro
movimentos opostos.
a roupa.”
António Mota, Pardinhas, Ed. Gailivro, 2005 Salienta-se que os populares
se mantinham ininterrupta-
“No entanto, os populares, mantendo-se dia mente naquele local.
e noite à porta do tribunal, são perentórios (Podemos considerar que
simultaneamente existe aqui um
na acusação dos sete mineiros […].” exagero, pelo que podemos
Alice Vieira, Bica Escaldada, Casa das Letras, 2005 considerar também a existência
de uma hipérbole.)
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Eufemismo – exprime uma realidade ou ideia consideradas desagradáveis de


uma forma suavizada.
Recurso a dois eufemismos
que visam suavizar a ideia
Ex.: “roga a Deus, que teus anos encurtou, da morte. Perante a morte
que tão cedo de cá me leve a ver-te,” da amada, também o
Luís de Camões, Lírica Completa, INCM, 1994
sujeito poético deseja
morrer.

Em vez de se dizer “Ele


Ex.: Ele faltou à verdade durante o mentiu.” utiliza-se uma
julgamento. expressão menos
agressiva.
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Ironia – exprime-se uma ideia dizendo precisamente o contrário.

O adjetivo destacado
caracteriza as notas,
Ex.: Ele tirou umas notas fantásticas e, por atribuindo-lhe características
isso, está de castigo. opostas às reais, o que é
percetível através do contexto.
É uma forma de crítica, neste
caso, ao aluno.

Pretende-se destacar o
Ex.: – Não preparaste a tua apresentação? resultado da falta da
Vai correr muito bem! preparação, apresentando um
resultado inverso ao provável e
criticando o interlocutor.
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Os recursos expressivos
Este ano, aprenderás a identificar mais três recursos: símbolo, alegoria e
sinédoque.

Símbolo – relação que associa algo (objeto, ser animado…) a uma ideia, a um
conceito, a um sentimento.
O bode carregado pelo Judeu
Ex.: “Tanto que Brízida Vaz se embarcou,
no Auto da Barca do Inferno
veo um judeu, com um bode às costas”
representa o judaísmo, a sua
Gil Vicente, Auto da Barca do Inferno, Porto Editora, 2014
religião.

A roca é um objeto utilizado


Ex.: “No entanto, um grande temor enchia para fiar e, neste excerto,
o palácio, onde agora reinava uma simboliza a mulher. Por outro
mulher entre mulheres. […] Uma roca lado, a espada era um objeto
não governa como uma espada.” associado à guerra e,
“A Aia”, Eça de Queirós, Contos, Porto Editora, 2011
portanto, aos homens.
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Alegoria – série de imagens (metáforas, comparações) utilizadas para concretizar


um pensamento ou uma realidade abstrata.

Ex.: “chegamos sùpitamente a um rio, o qual


per força havemos de passar em um de Os dois batéis
dous batéis que naquele porto estão, representam a salvação
scilicet, um deles passa pera o paraíso, e o dos homens (o paraíso) ou
outro pera o inferno” a sua perdição (o inferno).
Auto da Barca do Inferno, in Teatro de Gil Vicente, apresentação e
leituras de António José Saraiva, Portugália, 1959
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Sinédoque – consiste em tomar a parte pelo todo ou vice-versa, o singular


pelo plural ou vice-versa.

Utiliza-se a palavra
Ex.: "Despois, na costa da Índia, andando cheia
“lenho” (madeira) para
De lenhos inimigos e artefícios“
Luís de Camões, Os Lusíadas, Canto III, estância 42, referir os navios, ou seja,
Porto Editora, 2013 um dos materiais
utilizados na sua
construção para designar
o todo.
Ex.: “Tomar ao Mouro forte e guarnecido
Toda a terra que rega o Tejo ameno;
Pois contra o Castelhano tão temido Uso do singular para
Sempre alcançou favor do Céu sereno.” designar todos os mouros
Luís de Camões, Os Lusíadas, Canto I, estância 25, e todos os castelhanos.
Porto Editora, 2013
Em síntese: Português, 7.º, 8.º e 9.º anos
Comparação Compara duas ou mais realidades com a expressão como ou outra parecida: é
semelhante”, “lembra”,etc., Ex: Meu tio é como o meu pai ; meu tio parece meu pai.
Metáfora Compara duas ou mais realidades sem a palavra “como” ou “parece”, é semelhante, etc.,
Ex: Minha mãe é a flor dos meus olhos.
Adjetivação É uma sucessão de adjetivos, Ex: Os heroicos, valentes e destemidos portugueses
conquistaram o mundo.
Antítese Coloca duas realidades contrárias lado a lado. Ex: O tempo claro torna o dia escuro.
Aliteração Repetição do mesmo som no verso ou frase Ex: Galgam os gatos, guturais, gritando.
Anáfora Repetição da mesma palavra/ expressão em início de verso ou frase, Ex: “E todos se
conhecem / E todos se devem amar.
Ironia Quer dizer-se o contrário do que se diz, Ex: Andas a ter um comportamento exemplar
(quando na realidade se porta mal)
Perífrase Dizer com muitas palavras o que se pode dizer em poucas, Ex: Chama-se por aquele que
o mundo veio salvar” (Cristo)
Pleonasmo Repetição de uma mesma ideia , Ex: “O fogo arde”
Personificação Atribuição de características humanas ao que não o é, Ex: As bonecas falam”
Eufemismo Anunciar uma realidade trágica por palavras suaves, Ex: Ele está com os anjinhos (ele
morreu)
Enumeração É a lista de compras: uma sucessão de nomes, Ex: Comprei pão, ovos, fiambre e batatas
Hipérbole É um exagero da realidade, Ex: Avisei-te mil vezes”
Símbolo Palavra que remete para uma ideia, Ex: a pomba é símbolo de paz
Alegoria É uma imagem para representar uma ideia, Ex: o diabo é uma alegoria do mal.
Sinédoque É tomar uma parte pelo todo, Ex “Peito ilustre lusitano” para se referir ao povo
Vamos praticar: CA. do teu Manual Entre Palavras 9, P 67 Português, 7.º, 8.º e 9.º anos
Frase Recurso Expressivo
1.1. De noite choveu muito, de dia esteve um sol radioso! Antítese
1.2. O senhor João adoeceu, a doença agravou-se: já não está connosco. Eufemismo
1.3. O Carlos é um leão a lutar! Metáfora
1.4. A floresta era tão densa que reinava nela uma escuridão perpétua! Hipérbole
1.5. O mar era uma placa azulada e lisa. Metáfora
1.6. Era um dia de sol! Era um dia de extrema beleza. Era um dia de felicidade. Anáfora
1.7. A floresta enterneceu-se! Personificação
1.8. Toda a praia parecia um território dourado pelo sol. Comparação
1.9. As torneiras do céu abriram-se e choveu muito naquele mês. Metáfora
1.10. Estudaste tanto que tiveste esta nota ridícula. Ironia
1.11. Subiu pela rua acima à procura do cão fugido. Pleonasmo
1.12. Vem vindo um vulto velozmente andando Aliteração
1.13. Acordei com aquele tique-taque, tique-taque, tique-taque habitual. Onomatopeia
1.14. “(…) essas rudes análises, apoderando-se da Igreja, da Realeza, da Burocracia, da
Enumeração
Finança, de todas as coisas santas (…)”
1.15. A chuva provocou um verdadeiro dilúvio. Hipérbole
2. Atenta na metáfora presente na frase “Molhadas, as escadas eram verdadeiros limos escorregadios”

2. 1. Explica em que medida é expressiva

Trata-se de uma metáfora expressiva, pois tal como os limos são escorregadios
também as escadas molhadas o eram.

2. 2. Mostra como a hipérbole, nesta frase, se associa à metáfora.


Além da metáfora anteriormente referida, também se pode considerar um hipérbole
(exagero) uma vez que por mais molhadas que estejam as escadas, nunca serão tão
escorregadias como os limos..

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